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Tendo esse caráter real, corolário lógico é o direito de seqüela. Portanto, o condomínio,
credor das taxas de condomínio, tem o direito de seqüela e ir buscar o objeto do seu
direito, no caso, o imóvel, nas mãos de quem quer que seja, eis que é a garantia da
divida.
Silvio de Salvo Venosa, ao tratar do direto de seqüela, esclarece bem o que significa o
instituto, senão vejamos:
Mais adiante, agora falando especificamente do condomínio edilício, nos remete agora
outra lição, e afirma categoricamente.
“As despesas de condomínio, a exemplo dos tributos oneram a própria coisa”.
(Venosa, Silvio de Salvo. “Direito Civil”. 3ª edição – São Paulo, Atlas, 2003. vol. 3,
pág. 312).
Diante do acima exposto, não há como acatar o entendimento contrário, ou seja, que
seja uma obrigação meramente pessoal. A divida de condomínio tem o ônus de
representar uma divida de caráter real e como tal, segue a coisa onde quer que esteja.
Se fosse tão simples assim, bastava que o condômino inadimplente alienasse o imóvel
para se livrar do pagamento das taxas de condomínio.
E isso vem em prejuízo da própria comunidade condominial, alem de causar
insegurança e sentimento de injustiça, pois os demais condomínios ficariam a mercê de
pagar por aquele que, por meios fraudulentos, deixa de pagar sua contribuição.
A embargante ao retomar o imóvel objeto da presente ação, foi atingida pela sentença
proferida nos autos principais.
“Artigo 42. A alienação da coisa ou do direito litigioso, a titulo particular, por ato entre
vivos, não altera a legitimidade das partes.
Parágrafo 3º. A sentença, proferida entre as partes originarias, estende seus efeitos ao
adquirente ou cessionário”.
Segundo o artigo acima citado, aquele que adquirir bem que sobre ele incide um litígio,
fica ele atrelado à sentença proferida.
Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery, na obra “Código Civil Comentado”, 4ª
edição, São Paulo, Ed. Revista dos Tribunais, 1999, na pagina 464, explicita bem o
significado do parágrafo supra citado.
“Os efeitos da sentença proferida entre as partes originárias, incluindo aqui o alienante
da coisa ou direito litigioso, atingirão todos os adquirentes. Se houver cadeia sucessiva
de alienação, todos os adquirentes serão atingidos pela sentença”.
Em exemplo fornecido pelos autores Luiz Rodrigues Wambier, Flavio Renato Correia
de Almeida e Eduardo Talamini, no livro “Curso Avançado de Processo Civil – Processo
de Execução”, 3ª edição, São Paulo, Ed. Revista dos Tribunais, pág. 111, podemos
compreender bem do que se trata:
Como exposto, estamos tratando aqui de obrigação real e de uma sentença que atingiu a
embargante.
Portanto, nos termos da legislação vigente, o bem objeto da discussão nos embargos de
terceiro é atingível pela penhora, e como conseqüência lógica, ser alienado em hasta
pública. É o que se requer.
Alega a embargante que o condomínio embargado é parte ilegítima, por que a cobrança
é feita por empresa especializada.
O fato de o condomínio contratar uma empresa para efetuar a cobrança das taxas de
condomínio, não retira a titularidade do seu credito.
O condomínio é o único titular para efetuar a cobrança das taxas de condomínio, mesmo
que se utilize de serviços de terceiros ou empresa especializada para fazer a cobrança..
Vicente Greco Filho in Direito Processual Civil Brasileiro, Ed. Saraiva, 1998, pág.
100/101, ensina:
“No caso de pessoas jurídicas, serão elas, de regra, representadas por aqueles que os
estatutos da entidade assim dispuserem. De regra, serão os diretores da entidade ou o
presidente, dependendo da posição do respectivo estatuto constitutivo. Essas sociedades,
bem como as fundações, estarão em juízo por meio dessas pessoas, seus representantes
legais. Para aquelas entidades que não têm personalidade jurídica, o Código de Processo
enuncia os seus representantes legais no art. 12. A massa falida será representada pelo
síndico; o espólio, pelo seu inventariante; as sociedades sem personalidade jurídica, pela
pessoa a quem couber a administração dos bens; o condomínio, pelo administrador ou
pelo síndico.” (grifamos)
A empresa Garante Serviços de Apoio S.C Ltda., presta serviços na área da cobrança
das taxas condominiais, não existindo, de forma alguma, o instituto da sub-rogação ou
da cessão de crédito, como quer fazer crer a embargante.
Na hipótese supra relatada, o artigo 987 do mesmo Codex, nos remete aos artigos 1.065
a 1.078, especialmente os artigos 1.067 e 1.069, ora transcrito:
“art. 1.069: A cessão de crédito não vale em relação ao devedor, senão quando a ele
notificado, mas por notificado se tem o devedor que, em escrito público ou particular,
se declarou ciente da cessão feita.” (grifou-se)
Assim, não existe a incidência dos institutos da sub-rogação nem tampouco da cessão de
crédito, sendo o condomínio legítimo para propor a presente demanda.
Destarte, em face dos citados dispositivos legais e da festejada doutrina pátria, percebe-
se que para a existência da alegada “cessão de crédito” mister a notificação expressa do
devedor acerca da substituição do credor, bem como sua ciência inequívoca declarada
documentalmente, sendo que tais situações não se confundem com o local indicado
pelo síndico para o pagamento das cotas, o qual realiza-se na empresa Garante.
E mais:
Segundo decidido pelo TA/PR (9ª Câmara Cível, Ac. 634, Rel. Juiz Luiz César
Nicolau), “estabelecendo o contrato celebrado entre a administração do
condomínio e a empresa de cobrança que esta se sub-roga no direito ao credito
somente nos casos de rescisão ou não renovação, a legitimidade para promover a
ação de cobrança é do condomínio, enquanto vigente aquele”
“AÇÃO DE COBRANÇA – TAXAS DE CONDOMÍNIO – VERBAS
ADIANTADAS POR EMPRESA ESPECIALIZADA – SUB-ROGAÇÃO DO
DIREITO DE AÇÃO – INEXISTÊNCIA – LEGITIMIDADE “AD CAUSAM” DO
CONDOMÍNIO. Tem o Condomínio legitimidade ativa para promover a cobrança
das taxas condominiais perante o condômino inadimplente, apesar do
adiantamento do pagamento feito em virtude de contrato de garantia de taxas de
condomínio celebrado com terceiro, porque referido contrato prevê a sub-rogação
do crédito apenas nas hipóteses de pagamento feito pelo condômino e na rescisão
do contrato, e não na de inadimplência. Apelo provido. (TAPR – AC 14153, 3 Cam
Civ, Ap Civ 163.185-0, Rel. Juiz Domingos Ramina, julg. 10/04/2001)
Não obstante, estando o condômino em falta para o Condomínio no que diz respeito ao
pagamento pontual de suas contribuições condominiais, o Condomínio, por intermédio
de seu síndico, possui o dever para com os demais condôminos de exigir o
ressarcimento de tais taxas, vez que o longo período de atraso onera injusta e
excessivamente toda a coletividade condominial.
Contudo, cumpre esclarecer à Vossa Excelência que o Condomínio, além de ser legítimo
para figurar no pólo ativo da presente ação de cobrança, possui o mais amplo interesse
de agir.
Arruda Alvim (op. cit., págs. 343/346), ensina acerca do tema em evidência:
De qualquer forma o condomínio, por mais uma vez é injustamente penalizado, pois já
onerados pela impontualidade da embargante, arca ainda com o tempo despendido na
demanda, além das verbas honorárias e custas processuais.
Com efeito, a improcedência do pedido pode gerar um total descrédito na justiça, bem
como assim fomenta um caos na sociedade, pois a mesma beneficia o inadimplente em
detrimento daqueles que cumprem pontualmente suas obrigações.
Além de tudo o que foi exposto, há que mencionar ainda que o imóvel, sendo a dívida
condominial de caráter propter rem, é a garantia de recebimento da dívida.
Do acórdão colhe-se
“Efetivamente, em ação de cobrança de cotas condominiais, a garantia do
condomínio está na possibilidade da execução recair sobre o próprio imóvel, portanto
aquele indicado como proprietário, junto ao Registro de Imóveis. Assim, inclusive já
me posicionei quando do julgamento das Apelações Cíveis nºs 70000119834 e
700001589779, das quais fui a Relatora junto a esta Câmara recursal.”
Dessa forma, além de tudo exposto, é o imóvel penhorado que garante o pagamento da
dívida condominial, pelo que os argumentos expostos pelo embargante não merecem
prosperar.
Como proprietária do imóvel deve responder por suas obrigações, e a principal delas é
efetuar o pagamento das taxas condominiais,
Não importando se quem usufruiu das benesses foram os promissários compradores.
Quem adquire um imóvel, seja a que título for, adquire suas dívidas de caráter propter
rem, e com elas deve arcar.
DA PROPRIEDADE DO IMÓVEL.
O art. 12 da Lei 4.591/64 determina que “... cada condômino concorrerá nas despesas
do condomínio...” e, para os efeitos dessa Lei, condômino é o proprietário que possui
o título registrado na Circunscrição Imobiliária competente.
Nesse diapasão, o artigo 4º da supra citada Lei vislumbra:
“Art. 4º: A alienação de cada unidade, a transferência de direitos pertinentes à sua
aquisição e a constituição de direitos reais sobre ela independerão do consentimento dos
condôminos.
Parágrafo único: A alienação ou transferência de direitos de que se trata este artigo
dependerá de prova de quitação das obrigações do alienante para com o respectivo
condomínio.” (grifo nosso)
O artigo 860 do mesmo Codex, em seu parágrafo único, é ainda mais incisivo:
“art. 860: Se o teor do registro de imóveis não exprimir a verdade, poderá o prejudicado
reclamar que se retifique.
Parágrafo único: Enquanto se não transcrever o título de transmissão, o alienante
continua a ser havido como dono do imóvel, e responde pelos seus encargos.” (grifo
nosso)
Também a Lei dos Registros Públicos, Lei 6.015/73, vislumbra que o registro
imobiliário é o único instrumento legal capaz de transferir a propriedade do imóvel,
como vemos a seguir:
“art. 172: No Registro de Imóveis serão feitos, nos termos desta Lei, o registro e a
averbação dos títulos ou atos constitutivos, declaratórios, translativos e extintivos de
direitos reais sobre imóveis reconhecidos em lei, inter vivos ou mortis causa, quer para
sua constituição, transferência e extinção, quer para sua validade em relação a
terceiros, quer para sua disponibilidade.”
Com efeito, não é possível, com a devida venia, ignorar toda uma legislação que
respalda o caráter da propriedade do imóvel ser configurada apenas com a transcrição
no registro imobiliário.
Assim, com essa assertiva em mente, o possuidor ou ocupante do imóvel não poderá
figurar sozinho no pólo passivo da ação de cobrança, sob pena de infringir todo o
robusto suporte jurídico que confere ao proprietário direitos, como também deveres.
Saliente-se, ainda, que qualquer estipulação contratual existente, ou até mesmo a posse
ou ocupação do imóvel, não são suficientes para caracterizar a propriedade, o domínio
do imóvel.
Assim, ainda que o condomínio autor tivesse (e tem) conhecimento do fato supra, não
há respaldo legal que ampare a presente cobrança em face do suposto atual proprietário.
Ademais, se o tivesse feito, a insegurança jurídica se tornaria insustentável, por criar
direitos e deveres somente entre as partes, e poderia ser por elas modificado a qualquer
momento, eis que não houve transcrição no Registro de Imóveis para que tenha validade
perante terceiros.
N. Termos,
P. Deferimento.
Curitiba, 01 de dezembro de 2006.