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Formação e Ocupação
SCARPELINE, ROSAELENA
Doutoranda – História da Arte
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas/UNICAMP – História da Arte
rscarpel@unicamp.br
RESUMO
A Casa Museu Rui Barbosa, situada no Rio de Janeiro, no bairro de
Botafogo, que foi residência de Rui e sua família por 28 anos, um casarão
em estilo neo-classico que foi vendida após sua morte em 1923, para
governo brasileiro para ser transformado em um Museu Biblioteca. Ao ser
institucionalizado como lugar de memória, deixou de ser residência de um
homem público e passou a ser um bem, uma referência à sociedade e a
nação. Uma casa que deve ser preservada, não só por ser um exemplar
arquitetônico de sua época, mas por ser um marco histórico, um
monumento, local onde deve ser reverenciada a presença de seu
proprietário, para que não caia no esquecimento coletivo seus feitos e
saberes. Nesse trabalho que ora apresentamos daremos destaque a parte
arquitetonica e decorativa, utilizando-os como documento, que nos
ajudaram a entender o uso da social da casa pela familia Rui Barbosa.
Escultura em ferro fundido de uma águia tendo nos pés uma cobra, que se
encontra no jardim frontal da residência de Rui Barbosa. A mesma já estava no local
quando da aquisição da residência.
5
Algumas das obras biográficas sobre Rui Barbosa utilizada na pesquisa:
BANDEIRA, Carlos Viana. Lado a lado com Rui: 1876-1923. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa,
1960.
COSTA, Antonio Joaquim. Rui Barbosa na intimidade. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 1949.
FREIRE, Laudelino. Rui: subsídios para o estudo de sua vida e obra. Rio de Janeiro: Casa de Rui
Barbosa, 1958
RUI sua casa e seus livros: edição comemorativa do cinqüentenário de inauguração da Casa de Rui
Barbosa, 1930-1908. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1980.
MACHADO, Mário Brockmann, (Org.). Rui Barbosa: fotobiografia. Rio de Janeiro: Fundação Casa
de Rui Barbosa, 1999.
MAGALHÃES, Rejane Mendes de Almeida. Rui Barbosa na Vila Maria Augusta. Rio de Janeiro:
FCRB, 1994.
MAGAHÃES JUNIOR. Rui, o homem e o mito. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.
MANGABEIRA, João. Ruy: o estadista da republica. São Paulo: Martins Fontes, 1960.
NERY, Fernando. Rui Barbosa: ensaio biográfico. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 1955
RUI Barbosa: cronologia da vida e da obra. 2. ed. rev. Rio de Janeiro: FCBR, 1999.
Nosso maior interesse ao pesquisar esse personagem foi estudar o
homem, em sua vida privada e familiar, filho dedicado, marido atencioso, pai
carinhoso, que mesmo tendo aberto sua casa para inúmeras reuniões
políticas, para incontáveis homens públicos em busca de orientação ou
apenas atrás de explicações, procurou manter um cotidiano familiar
pontuado de hábitos metódicos, onde havia espaço para a esposa, os filhos,
suas leituras e suas amadas roseiras. Muitas vezes os embates políticos
aconteceram dentro de sua própria casa morada tendo assim sua vida
privada e familiar invadida muitas vezes pela vida pública.
Rui foi casado com Maria Augusta Viana Bandeira, ele a conheceu
em fevereiro de 1876 em um sarao musical em Salvador/Bahia, apaixonou-
se por ela de imediato; casaram-se em 23 de novembro do mesmo ano.
Eles tiveram cinco filhos. Passaram os primeiros anos de vida morando em
Salvador, porém para atender melhor suas funções politicas, logo se
transferiram para o Rio de Janeiro, morando em várias casas de aluguel nos
bairros Catete e Flamengo.
6
A data de 1850 se encontra no frontão triangular com decorações em baixo relevo da Casa Museu
7
O estilo neoclássico na arquitetura trouxe o uso de calhas e condutores pluviais, tubulações de água para
o interior da residência, vidros planos, balcões de ferro fundido, lampiões de mecha circular para os
interiores, jardins laterais e frontal. PESAVENTO, Sandra J. O espetáculo da rua: memória do mundo.
Porto Alegre: Ed. UFRGS, 1996.
época. Pagou por ela 130.000$000rs. (cento e trinta contos de réis),
comprou-a em parcelas, através de hipoteca.
A casa foi construída na parte frontal e central do terreno. Esse
terreno fazia parte da Fazenda do Padre Clemente Martins de Mattos
durante o século XVII. Ela é considerada a construção mais antiga do bairro
do Botafogo. O Barão da Lagoa foi quem idealizou a configuração do jardim
frontal que a casa tem até os dias atuais, “um jardim de desenho romântico,
que se prolonga pelas alamedas laterais9“.
8
Auguste Victor Grand Jean de Montigny , arquieto que chegou ao Brasil junto com a Missão Francesa
em 1816. REIS, Claúdia Barbosa. Memória de um jardim. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui
Barbosa, 2007.p. 17
9
REIS, Claúdia Barbosa. Op. cit. 2007. p. 17
10
VIANA FILHO, Luiz. A vida de Rui Barbosa. 2.ed. São Paulo: Nacional, 1952. p.262
propriedade de José, Antonio Jannuzzi & Irmão, que começaram as obras
11
de imediato. Maria Augusta ia ela própria, supervisionar os trabalhos.
A casa já contava com uma modernização, possuía água encanada
quente e fria. Não há registro sobre qual foram os melhoramentos que Rui
encomendou ao construtor, o que se sabe é que foi colocada, na fachada
da construção lateral, lado direito, o nome de “Vila Maria Augusta”, uma
homenagem a sua esposa, e uma escada de ferro com dez degraus na
lateral da casa.
11
VIANA FILHO, Luiz, 1952, p. 261.
A posse da nova casa
12
O advogado e amigo de longa data Antonio d’Araújo Ferreira Jacobina foi encarregado por Rui para
tratar das questões financeiras em pendência no Rio de Janeiro. Tomaremos a liberdade de chamá-lo
apenas de Jacobina.
13
MAGALHÃES, Rejane Mendes de Almeida. Rui Barbosa na Vila Maria Augusta. Rio de Janeiro,:
FCRB, 1994. p 18
14
O cunhado de Rui era tratado em família pelo apelido de Carlito, todas as cartas de Rui endereçada a
ele seguem com esse tratamento. Assim Carlito é o apelido carinho de Carlos Viana Bandeira, que viveu
servindo Rui durante toda a sua vida.
15
Bijuca Dr João Luiz Viana, primo de Maria Augusta, tratado em família pelo apelido. BANDEIRA,
Carlos Viana. Lado a lado com Rui: 1876-1923. Rio de Janeiro: CRB, 1960. p.150
16
Coleção de cartas de Antonio de Araújo Ferreira Jacobina. Original data de 19 out. 1893. Arquivo
da Fundação Casa de Rui Barbosa.
muito na qualidade e no preço. Talvez valesse a pena comprar as cortinas
quando viesse.”17
Rui também foi aconselhado, a comprar na Inglaterra moveis e
tapetes para a nova casa, pois seriam mais baratos e de melhor
qualidade.18, pelo que pudemos observar pela correspôndencia trocada, por
problemas econômicos ele não adquiriu naquele momento. Porém diante da
insistência de Jacobina para que papeis de parede, moveis, cortinas e
tapetes fossem adquiridas em Londres, ele enviou duas correspondências
solicitando as medidas da casa:
Datada de 10 jan. 1895, Rui solicita: “me envie as medidas das treis
salas da frente, da casa da Rua S. Clemente, para que possa comprar
papel de paredes para elas” 19
Em correspondência de 29 jan. 1895, ele volta a tratar disso: “Em
todo caso, peço-lhe que mande a planta da área das salas e paredes do
salão da biblioteca, com as dimensões precisas de tudo, afim de que eu
possa mandar fazer aqui um jogo completo de estantes para a minha
livralhada, que vai crescendo....” 20
Já em correspondência com seu cunhado Carlito, de 06 março 1895,
Rui solicita: “Estamos contentes com as noticias, que me dás, sobre as
obras da casa. Peço-te que me envie as medidas das portas e janelas dos
principais aposentos, com o numero especificado delas e a altura dos tetos,
porque Cota21 deseja comprar aqui as cortinas...”22
Rui também passou orientações quanto ao plantio de flores no
jardim: “Manda-me plantar em S.Clemente, especialmente junto a parede da
casa, na parte onde se acha a sala de jantar, jasmineiros e roseiras –
trepadeiras (sobretudo Marechal Niel e Captain Christy Trepadeira) de modo
que subam para o terraço. Devendo-se comprar para isso os maiores pés
que se encontrarem. É recomendação de Cota.”23
17
Coleção de cartas de Antonio de Araújo Ferreira Jacobina. Original datado de 23 set. 1894.
Arquivo da Fundação Casa de Rui Barbosa
18
MAGALHÃES, Rejane Mendes de Almeida. Op. cit. p.18
19
BARBOSA, Rui. Mocidade e exílio, São Paulo: Nacional, 1940. p.279.
20
Idem. p.294
21
Cota é o apelido carinhoso com o qual Rui chama sua esposa. BANDEIRA, Carlos Viana. Op. cit.
p.195
22
Carta data enviada de Londres, em 06 de março de 1895, ao seu cunhado Carlito. Idem. p.193.
23
Ibidem. p.195
Ao retornarem ao Brasil julho de 1895, encontraram a nova casa
preparada para recebê-los, graças ao empenho de seus parentes e amigos,
que recebendo por carta as instruções de seus proprietários foram cuidando
da reforma, do jardim e dos pertences da família, a mudança da casa do
Flamengo para a nova residência foi orquestrada por seu cunhado e por seu
primo. Há relatos de que até os objetos de toalete se encontraram postos no
quarto e nos banheiros para receber a família.
Ao tomar posse da casa a família inseriu nela os objetos adquiridos
nas diversas viagens realizadas no exterior: um quadro adquirido em Madri,
a mobília da sala de jantar e a porcelana trazida da Inglaterra, lustres e
azulejos holandês, tapetes e sofás vindos da Argentina e os muitos livros
que o acompanharam e que foram adquiridos nas viagens. 24 Rui e sua
esposa moraram na casa da Rua São Clemente por 28 anos, nela criaram
os filhos e depois os netos.
24
MAGALHÃES, Rejane Mendes de Almeida, Op. cit. p.19
A arquitetura da casa morada
25
BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagens. Bauru: Edusc, 2004. p. 99
Consideramos que, as fotos dos ambientes luxuosos de sua
residência, principalmente nos espaços sociais e de trabalho, as fotos
familiares tiradas na residência, tanto na parte interna quanto na parte
externa, são fragmentos de histórias, elas foram utilizadas para entender o
ambiente sagrado da família de Rui Barbosa, tendo a casa como
representação do espaço familiar, partindo da premissa de que todos os
objetos que fazem parte da foto fazem parte integrante da historia familiar,
ali representada, registrando também a sua presença não como objetos
aleatórios, mas como cenário que se quis apresentar.
Na presente comunicação vamos apresentar apenas uma parte dos estudos
realizados, iremos apresentar os aspectos arquitetônico, decorativo e o
patrimônio móvel integrado a arquitetura. Analisamos que casa morada de
Rui Barbosa, não fugiu da influência recebida através dos magazines e
cinemas da época, era uma residência onde o luxo, a elegância e a
modernidade de seus moradores se faziam presente através do mobiliário,
dos adornos e de novos utensílios, muitos dos quais fazem parte da
exposição permanente da Casa Museu. A casa é preservada e através de
uma visitação podemos admirar marcos construtivos de uma época.
Jardim frontal, com pontes e lagos artificiais Escada frontal de acesso a residência
26
Os leões foram fundidos na Fundição Val d’Osne, a figura do leão eram as preferidas para a entrada
dos palacetes, pois evocava nobreza e distinção ao proprietário. Fundação Casa de Rui Barbosa.
www.casaruibarbosa.gov.br. Acesso em 03/03/2009
A casa possui três pavimentos, sendo que no andar térreo há as
entradas para a residência (social, familiar e de serviço) além do escritório
de um dos genros de Rui e a cocheira que foi posteriormente transformada
em garagem.
No primeiro andar na parte frontal, grandes e luxuosas salas de
recepção e música, o salão de festas, o gabinete de trabalho e a imensa
biblioteca. No mesmo andar com janelas voltadas para o jardim interno a
sala de conversa, a sala de jantar, sala de almoço, os quartos do casal e
dos filhos, quartos de vestir e repousar, banheiro e cozinha.
Salão de Festas com as paredes revestidas em papel de parede, nas cores verde e
vinho, de textura aveludada, com molduras douradas.
Sala de Música têm seu piso de soalho de madeira larga, as paredes são revestidas em papel
de parede na cor bege e seu forro é de estuque ornamentado e pintado com motivos florais,
em destaque o piano que pertenceu a Maria Augusta. Do lado direito vemos uma das portas
de madeira, duas folhas com bandeira de vidro colorido, os puxadores são em porcelana
com flores.
Sala de Jantar com paredes revestidas de papel de parede na cor bege com flores em
marrom, o mobiliário que o compõe veio da Inglaterra.
Os novos equipamentos
Destaque da
pintura parietal do
hall e escada de
acesso ao sótão.
Pinturas parietais em estilo pompeano, da Sala de Conversa
As paredes da Sala de Conversa receberam em 1889, uma nova
decoração com pinturas parietais, em estilo pompeano, inspirado na Casa
de La Picola Fontana, Pompéia, Itália27, seu teto é em estuque. Está sala dá
acesso a sacada elevada, com saída para o jardim interno da residência.
A Sacada de acesso ao jardim interno, é elevada e tem seu piso
sustentado por abobadilhas composta de arcos, possui colunas metálicas
ornamentadas, parapeito de serralheria decorada e lambrequins de ferro
ornado. Seu piso é hidráulico nas cores cinza, bege e branco, suas paredes
possuem pinturas parietais de estilo pompeano, seu forro é de madeira.
28
Essa reforma foi feita em fevereiro de 1900, nessa ocasião foi mandado instalar um chuveiro, que não
faz parte hoje da exposição permanente. BANDERIA, Carlos Viana. Op.cit. p. 224.
29
Foram encontradas informações anteriores que conflitam com a informação encontrada na legenda do
ambiente, onde é atribuída a reforma do banheiro ao segundo proprietário da casa Comendador Albino de
Oliveira Guimarães. REIS, Cláudia Barbosa. Saúde, higiene e toalete. Rio de Janeiro: Casa de Rui
Barbosa, 2002. p. 25.
30
Os azulejos desse ambiente são da marca Choisy Leroy, séc. XIX.. Fundação Casa de Rui Barbosa.
www.casaruibarbosa.gov.br. Acesso em 03/03/2009
31
As louças e ferragens desse banheiro, foram importadas da Inglaterra, por Amaral Guimarães & Cia.,
são da marca Johnsons Brothers/ Hamley Limted. Há, acoplado ao vaso sanitário um porta papel
higiênico em louça inglesa. REIS, Cláudia Barbosa. 2002. Op. cit. 26.
apenas uma pia de mármore com pés de madeira, para apoio e a cozinha
molhada, utilizada para o cozimento de alimentos. Segundo a
documentação encontrada, ela foi feita segundo o gosto de Da. Maria
Augusta, quando da reforma da casa, em 1893. Nela há duas pias
retangulares em mármore cinza com duas torneiras de bronze onde está
escrito quente e fria e, uma pia em forma de cone para aves e peixes, o
fogão a lenha é revestida de azulejos brancos. Há descrição que aqui havia
um elevador monta carga32.
Cozinha seca
Cozinha molhada
32
Há vestígios do elevador monta carga, que trazia e levava os alimentos do andar térreo. Fundação Casa
de Rui Barbosa. www.casaruibarbosa.gov.br. Acesso em 03/03/2009
Em toda área social da casa, no dormitório do casal e no quarto de
vestir de Da. Maria Augusta os forros são em estuque ornamentado
ricamente decorados com motivos florais e anjos.
33
MAGALHÃES, Rejane Mendes de Almeida. Op. cit. p.67
34
Graziou, engenheiro e paisagista francês, coordenou a Diretoria de Parques e Jardins da Casa Imperial
de 1869 a 1897, foi responsável pela criação de importantes praças e jardins públicos e privados. REIS,
Cláudia Barbosa. 2007. Op. cit. p. 17
Rui era um colecionador de
rosas, possuía mais de 300 mudas
em seu jardim, a qual cuidava
pessoalmente. Ele trouxe seu
canteiro de rosas da casa da Rua
Flamengo, ele foi transportado por
jardineiros contratados para a
nova casa. Aos poucos Rui foi
enriquecendo mais esse espaço,
trazendo mais flores de sua
preferência, as rosas. “A compra
de roseiras tornou-se para ele
Rui e suas amadas rosas, 1922 uma despesa norma. E no seu
“caixa”, pontualmente, consignava o preço pago pelos exemplares raros
com que enriquecia a coleção.“35 Com a venda da casa para o governo
brasileiro, em 1923, esse canteiro foi extinto.
No jardim interno há um kiosque todo em madeira, localizado no
centro de uma pequena ilha ladeada por agua era destinado a banhos nas
tardes quentes do verão. Parte do jardim que enamorou Rui e sua esposa
foi preservado e pode ser visitado, levando o visitante a sonhar com as
tardes idilicas do Rio de Janeiro no inicio do século XX.
35
VIANA FILHO, Luiz. Op. cit. p. 141
Conclusão: a casa enquanto documento
A materialidade da casa, cenário da memória, tem a beleza
arquitetônica expressa através do planejamento, edificação, simetria e
delicadeza de suas formas, mas principalmente pela posse de seu
proprietário, de usos e costumes que ali foram construídos e vividos. Para
Novais “Ao percorrer os espaços domésticos, vamos observar a
consagração do indivíduo e a exaltação de suas marcas de distinção. Por
meio de um sistema de convenções e ritos precisos vão se estabelecendo
oposições entre o formal e o informal, entre a solenidade e a privacidade,
que repercutiram nas estratégias de aparências e na conformação e
decoração dos ambientes”36
A casa de Rui Barbosa enquanto “documento" nos deu as pistas
sobre seu uso familiar e social dentro de seu um tempo histórico, final do
séc.XIX, inicio do séc.XX, na cidade do Rio de Janeiro, a qual passa por
grandes modificações urbanísticas e de costumes, afetando assim as
maneiras de morar e de tomar posse de uma casa, tornando-a ao mesmo
tempo elegante, pratica e confortável, em sintonia com os ditames do
período.
Podemos considerar que Rui sofreu a influência do moderno e do
consumo, selecionando e adquirindo os objetos para sua residência,
adaptando e modernizando os espaços, buscando praticidade, elegancia e
conforto. Rui e sua familia se cercaram de bens simbolicos que faziam parte
da linguagem silenciosa de sua casa. A suntuosidade de seus espaços
sociais foram retratados e comentados nos periodicos de época, na
sociedade do Rio de Janeiro.
A modernidade estava presente na arquitetura com a inserção dos
novos equipamentos construtivos como os canos de cobre dos banheiros e
cozinha, os azulejos e louças importadas da Inglaterra e da França, nas
claraboias em ferro fundido e vidros coloridos, nas janelas e portas de vidro
transparente, nos papeis de parede importados, nos forros estucados e nas
pinturas parietais feitas a gosto italiano.
36
NOVAIS, Fernando, coord. História da vida privada no Brasil: republica, da belle époque à era do
rádio. . São Paulo: Cia das letras, 1998. v.3. p. 489.
Sabemos que casa morada, ao se transformar em Casa Museu,
passa a ser considerada um patrimônio cultural, que segundo a definição de
Gonçalves37 designa o prédio, o lugar histórico, o conjunto de objetos e as
atividades e práticas sociais e culturais que ali aconteceram. Esses bens
culturais, para serem reconhecidos e apropriados pela comunidade, devem
ser identificados, classificados e exibidos e, relacionados a uma narrativa
histórica, ganhando assim o status de bens simbólicos, apresentando novos
significados em relação à sua materialidade arquitetônica e ao patrimônio
móvel, assim, por sua vez são considerados monumentos. “O caráter e o
significado de monumentos não correspondem à estas obras em virtude do
seu destino originário, somos nós, sujeitos modernos, quem lhe atribuímos”
Em uma casa museu, vemos esse mundo privado através das lentes
do presente, re-paginado e transformado em informação histórica e cultural.
Assim Casa Museu Rui Barbosa, é sem dúvida um patrimônio de nosso
país, é um lugar de memória, onde seus ambientes procuram representar
seu personagem símbolo, Rui Barbosa. Embora, em alguns momentos,
esse personagem não pode ser vislumbrado pela visita aos ambientes, nem
ele, nem sua família. Eles ficam escondidos pela beleza da materialidade
arquitetônica e pela exuberância do mobiliário.
Um visitante, sem referencias do personagem poderá sair da casa
pensando ser ali mais uma casa nobre do Rio de Janeiro, no inicio séc.XX
e, não um espaço consagrado à memória de Rui Barbosa e sua família.
37
GONÇALVES, José Reginaldo. A retórica da perda: os discursos de patrimônio cultural no Brasil.
Rio de Janeiro: UFRJ/IPHAN, 1996. p. 62.