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Ecologia e Conservação de

Recursos Naturais
Prof. Dra. Dionéia Evangelista Cesar Prof. Fabrício Alvim Carvalho
Temas: Temas:
• O Conhecimento Ecológico • Biodiversidade
• Componente Abiótico • Ecologia da paisagem
• Componente Biótico • Invasões biológicas
• Interações e Fluxos • Restauração ecológica
• Mudanças climáticas

Juiz de Fora
2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DE
JUIZ DE FORA

Reitor
Henrique Duque de Miranda Chaves Filho
Vice-Reitor
José Luiz Rezende Pereira

CENTRO DE EDUCAÇÃO A
DISTÂNCIA/UFJF

Diretor
Flávio Iassuo Takakura
Coordenador Geral
José Antonio Aravena Reyes

Setor de Produção de Material Didático


Coordenadora: Liamara Scortegagna
Capa: Liliane da Rocha
Diagramação e Projeto Gráfico: Anderson Marques Pinto
Sumário
O CONHECIMENTO ECOLÓGICO..................................................................... 4
1- FUNCIONALIDADE E RESPOSTAS....................................................................14

2- SISTEMAS ALTAMENTE SUBSIDIADOS.............................................................14

COMPONENTE ABIÓTICO..................................................................................16
1- ENERGIA E MATÉRIA.......................................................................................17

2- CICLOS BIOGEOQUÍMICOS............................................................................18

3- NUTRIENTES NOS AMBIENTES AQUÁTICOS E TERRESTRES..............................22

4- FATORES LIMITANTES......................................................................................22

COMPONENTE BIÓTICO....................................................................................24
1- FOCO NA POPULAÇÃO..................................................................................25

2- FOCO NA COMUNIDADE...............................................................................31

3- BIODIVERSIDADE...........................................................................................37

INTERAÇÕES E FLUXOS.......................................................................................40
1- COMPETIÇÃO INTRAESPECÍFICA.....................................................................41

2- COMPETIÇÃO INTERESPECÍFICA.....................................................................42
3- PREDAÇÃO....................................................................................................43

4- CADEIA ALIMENTAR.......................................................................................45

5- FLUXOS..........................................................................................................46

BIODIVERSIDADE..................................................................................................55

ECOLOGIA DA PAISAGEM..................................................................................64

RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA.............................................................................81

MUDANÇAS CLIMÁTICAS...................................................................................90

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA E SUGERIDA..................................................99


O CONHECIMENTO
ECOLÓGICO
Ecologia é uma CIÊNCIA. Embora pareça óbvio, esta afirmativa tem sido questionada
pela escassez de leis universais como em outras ciências. Muito do que foi postulado desde a
sua origem ainda vem sofrendo profundas modificações, principalmente ao ser aplicado nas
regiões tropicais. Nem por isso deixa de seguir o método científico da observação, definição
da pergunta, formulação da hipótese, desenvolvimento de experimento, análise dos dados e
conclusão. Pessoalmente, acredito que falte aos nossos alunos o contato com o pensamento
científico ao longo de sua formação. Muitas vezes as repetições de padrões e de exemplos
distantes da realidade do aluno imperam.

O MÉTODO CIENTÍFICO tem como base a


observação. É a partir da observação que exercitamos
nossa capacidade de questionar, de duvidar, de voltar
à fase dos por quês. Aqui está nossa dificuldade
enquanto educadores: despertar nos nossos alunos a
curiosidade, o questionamento. Muito além de seguir
roteiros ou repetições de perguntas já respondidas.
Um desafio!! Um grande desafio num mundo onde
a gama de informações cresce aceleradamente e o
acesso a estas informações vêm se modificando. A
vivência escolar também deve ser transformada na
busca de uma sintonia com essa realidade.

O conhecimento é construído com as perguntas e


só então hipóteses são levantadas para respondê-las.
A técnica, o método, os equipamentos não devem
sobrepor à PERGUNTA.Só conseguimos elaborar
perguntas observando...

Observar, enxergar hoje em dia pode ser sinônimo de “simplesmente” LEITURA!! Diferentemente da
época dos historiadores naturais, navegamos em outros mares. Mares muitas vezes virtuais.

Além da leitura, em alguns casos, a observação só pode ser realizada com a utilização de instrumentos
que nos possibilite “enxergar” em diferentes escala. A escala da observação é variável. Assim, podemos
utilizar instrumentos que nos distancie e nos permita enxergar numa macro-escala como satélites.
Ou instrumentos que nos aproxime e permita a visualização em micro-escala como os microscópios.
Muito mais difícil questionar aquilo que não enxergamos... aquilo que não conhecemos... que temos
que imaginar! A lua todos os dias no céu instiga os seus observadores: - teria ela um dragão?- um
coelhinho? Um queijo? Por outro lado, um dos conceitos da ecologia microbiana – alça microbiana –
só foi estabelecido no início da década de 80, vários anos após as primeiras expedições lunares. Sem
enxergar os microrganismos a geração espontânea perpetuou por décadas como verdade científica.

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A Ecologia é ainda, uma ciência com vários paradoxos e distorções. Nas últimas décadas,
tornou-se um assunto popular influenciando decisões, comportamento e ações políticas. Os
temas ecológicos tornaram presentes em nossos dias, nos jornais, revistas, televisão, debates etc.
A palavra ecológico/a virou adjetivo para os mais diversos produtos e ações com conotações
positivas. Entretanto, a percepção real da ecologia no nosso cotidiano ainda é contraditória e
confusa e quase nunca tem haver com a ciência em si.

Muitas vezes a percepção de ecologia se mistura com a percepção da natureza, que


se mistura com toda exuberância do verde das florestas ou azul dos mares. Assim, fica no
imaginário, de uma forma emotiva, como na fotografia de um cenário de um lugar paradisíaco.
Porém, esta é uma visão estanque, parada, congelada em um determinado momento.
Dificilmente entra nesse imaginário o calor ou o frio intensos, os espinhos, o incômodo com
algum animal ali existente, nem a pedra no meio do caminho. Não é apenas em Abrolhos/
BA, Bonito/MS, Fernando de Noronha/PE que estudamos ecologia. A própria percepção dos
“paraísos ecológicos” acaba sendo baseada principalmente na cultura local do observador.
Assim, uma pessoa que vive em regiões temperadas onde bosques com coloração e tamanhos
de sua vegetação bastante uniforme pode ser levado a concluir que numa situação onde esta
coloração tenha seu espectro de cor aumentado é resultado de um desequilíbrio, perturbação.
Por outro lado, essa percepção de diferentes tonalidades, com grande variação na coloração de
bosques na região tropical pode não ser percebida como desequilíbrio.
Complementar, ou contrariamente, à visão ecológica de natureza paradisíaca está a
abordagem da ecologia ligada a destruição do planeta e sua salvação. Neste caso, a ecologia
aparece como a ciência que vai salvar o planeta. Ela não é, pode no máximo ser uma das

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ciências que vai estudar e apontar possíveis caminhos. Dificilmente locais como lixão, esgoto,
ou qualquer outro ambiente degradado, “não verde” é associado à ecologia. Raramente são
citados como local de desejo de uma aula prática de ecologia, por exemplo.
Devemos ressaltar também que qualquer destruição tem diferentes pontos de vista
e a solução muitos outros. Alguns inclusive acreditam que não há destruição, mas apenas
modificações naturais. No entanto, o que é natural? Seria tudo resultado de processos
evolutivos? Alguém acredita que o planeta e seres vivos que encontramos nele hoje são os
mesmos de milhares de anos atrás? Sim, existem pessoas que pensam assim, principalmente
com bases religiosas. Nessa situação o nosso papel de professores pode ganhar uma maior
responsabilidade e discernimento. E será que alguém pensa que o planeta e os seres vivos que
encontramos hoje serão os mesmos daqui milhares de anos? Pelo menos muitos acreditam e/ou
desejam que indivíduos descendentes da espécie Homo sapiens estarão aqui no futuro. Muitos
utilizam como justificativa para a salvação do planeta. Afinal, “que planeta vamos deixar para
nossos filhos e netos” é uma frase repetida por eles. Esta abordagem nos chega diariamente e
está muito mais ligado ao chamado ecologismo.
Quanto às soluções propostas, além de como salvar é questionável quem salvar. Os
animais e plantas bonitinhos? Ou salvar o homem e as espécies de importância para a sua saúde,
alimentação e diversão? E aqueles seres que não enxergamos, mas são essenciais na manutenção
da vida no planeta como um todo? E aqueles que não são simpáticos ou fofinhos? Diferentes
civilizações podem ter respostas diferentes de acordo com suas necessidades e vivências.
Normalmente, a ecologia que nos é apresentada pelos meios de comunicação, na
maioria das vezes, não se dá na forma de definições e explicações acadêmicas, mas, mostrando
as consequências do desconhecimento e desprezo por parte do homem pela ciência ecológica.
Ao contrário do que possa parecer, no entanto, ecologia não é sinônimo de ambientalismo
ou de ciência que estuda a poluição e outras formas de degradação ambiental provocadas
pela espécie humana. Não que a ecologia nada tenha o que dizer sobre a crise ambiental
contemporânea, mas no sentido de que ela não é a única ciência que tem o que dizer sobre essa
crise. Se a Ecologia busca conhecer as interações dos seres vivos entre si e com seu ambiente,
a perturbação destas interações pode provocar distúrbios e consequências desagradáveis para
a economia, saúde e bem estar das pessoas em diversas partes do planeta. A Ecologia estuda
o efeito destas perturbações, mas, não somente. O conhecimento básico também é necessário
além do aplicado. Assim temos diferentes áreas da ecologia com suas peculiaridades e
características que tem avançado cada vez mais. Questões ambientais no Brasil vêem tomando
espaço na política. Observamos o surgimento de logótipos de partidos políticos com referência
às plantas e animais, e até mesmo o termo ecológico no nome de partido. Eventos extremos
sejam climáticos ou ambientais começam a ser associados com questões políticas. Entretanto,
outros problemas como lixo, saúde, economia (prima da ecologia), engarrafamento muitas vezes
são visto separadamente. E podem sim serem estudados e analisados sobre a ótica ecológica.
A Ecologia pode ser estudada em diferentes escalas de tempo. Pode-se fazer ecologia
estudando fósseis de indivíduos que não existem mais. Pode-se fazer ecologia numa escala de

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horas até de séculos, afinal existem organismos que vivem horas, assim como existem aqueles
que vivem séculos. É possível também fazer ecologia prevendo o futuro na tentativa de manejar
e conservar determinado ecossistema. Como por exemplo, a partir da modelagem ecológica é
possível estimar o crescimento de uma determinada população nos próximos 50 anos.
Também é estudada em diferentes escalas espaciais. Afinal, se existem seres microscópios,
e para eles uma gota de água pode ser quase que infinita. Na outra ponta da escala temos a
biosfera como extremo, uma vez que ainda não se pode afirmar com certeza a existência de
vida em outros lugares além do nosso planeta. No entanto, se isso for comprovado em algum
momento será possível fazer ecologia também neste lugar, pois se existe vida interagindo num
ambiente qualquer é possível seu estudo através da ecologia. Assim, podemos estudar numa
gota de água congelada há centenas de anos, num prédio residencial, numa parede mofada,
no lixão de alguma cidade de Minas Gerais, nos rios do nordeste, na Amazônia Peruana, no
Continente Africano, etc. Nós definimos a escala espacial e temporal que vamos trabalhar, de
acordo com a pergunta a ser respondida.
Esperamos que esta sucinta introdução venha estimular vocês a se dedicarem ao estudo
da Ecologia, uma ciência relativamente recente, interdisciplinar e de grande importância para
os seres vivos, inclusive do homem. Mais do que isso, esperamos contribuir e incentivar na
tarefa de formar cidadãos críticos.

ECOLOGIA
De acordo as referências de nossos livros textos, temos sobre os conceitos de Ecologia o
que segue. A da palavra Ecologia vem do grego Oikos que significa casa. Estudo do “ambiente
da casa” inclui todos os organismos contidos nela e todos os processos funcionais que a tornam
habitáveis. A Ecologia foi definida primeiramente por Ernest Haeckel em 1866, como a ciência
que estuda a relação dos organismos (vegetais, animais microrganismos) entre si e com o meio
ambiente. A definição de Odum ressalta o paradigma de ecossistema como sendo o estudo da
estrutura e função da natureza.
Para Krebs (1972), a Ecologia é o estudo científico das interações que determinam a
distribuição e a abundância dos organismos. O ambiente de um organismo consiste em um
conjunto de influências externas exercidas sobre ele, as quais são representadas por fatores e
fenômenos. Tais fatores podem ser físicos e químicos (abióticos) ou mesmo outros organismos
(bióticos). As interações da definição de Krebs, naturalmente, são interações com estes
fatores. O ambiente, portanto, conserva aqui a posição central concedida por Haeckel em
sua definição. A definição de Krebs tem o mérito de localizar o tema central da Ecologia: a
distribuição e abundância dos organismos – onde os organismos ocorrem, quantos ocorrem em
um determinado local e por quê? “Sendo assim, a Ecologia é definida como o estudo científico
da distribuição e abundância de organismos e das interações que determinam a distribuição e a
abundância”. Ricklefs em 1980 definiu Ecologia como o estudo do meio ambiente, enfocando
as inter-relações entre os organismos e seu meio circundante. Assim como Krebs, Townsend e

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Rickefs, Fenchel também definem ecologia a partir do paradigma de população como o estudo
dos princípios que governam os padrões temporais e espaciais das populações de organismos.
Integrando todas estas definições, teremos Ecologia como o estudo científico dos processos que
influenciam a distribuição e abundância dos organismos, as interações entre organismos e, as
interações entre organismos e as transformações e fluxos de energia e matéria.
A Ecologia atua em uma amplitude de escalas: escalas temporais, escalas espaciais
e escalas “biológicas”. Eventos ecológicos frequentemente apresentam correlação espaço-
temporal, quanto menor o espaço, mais rápidos são os processos que ocorrem ali. E como
citado acima, as escalas das pesquisas ecológicas dependem das perguntas a serem respondidas
e são definidas pelo pesquisador. Cabe também aos pesquisadores desenvolverem ferramentas
apropriadas para trabalhar na diferentes escalas de tempo - passado, presente e futuro. Por
exemplo, algumas questões do passado (seres vivos que não estão mais vivos!!!) são respondidas
com o auxílio de radioisótopos e questões do futuro (seres vivos que ainda nem vivos estão!!!)
através de modelagens. A experimentação na Ecologia segue os mesmos critérios de outras
ciências como, por exemplo: ter a capacidade de ser reproduzido, possuir réplicas e controle,
etc. Os dados resultantes também devem seguir as análises pertinentes, que muitas vezes são
transformados em números e gráficos que mais parecem com as ciências exatas.
Lembrando também que a Ecologia é interdisciplinar e interage com outras ciências
basicamente nas seguintes formas:
1- Interações com outras ciências biológicas cuja doutrina é essencial para o
desenvolvimento teórico da ecologia moderna. Por exemplo, a microbiologia, a
zoologia e botânica.
2- Ciências que fornecem ferramentas de trabalho ou novas abordagens metodológicas,
por exemplo, a informática, a matemática, e a estatística.
3- Ciências aplicadas que podem utilizar o conhecimento ecológico, por exemplo, o
direito e as engenharias.

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De acordo com Odum (1985) a melhor maneira de delimitar a ecologia é considerar o
conceito de níveis de organização. Comunidade, população, organismos, órgãos e gene são
termos comumente utilizados para denominar níveis bióticos mostrados num arranjo hierárquico
do maior até o menor. A interação de cada nível com o ambiente físico (matéria e energia)
produz os sistemas funcionais característicos. A ecologia trata principalmente dos níveis de
sistema além daquele do organismo. Abaixo iremos fornecer alguns conceitos fundamentais
para que as unidades ecológicas possam ser mais bem entendidas. Dentro de cada nível de
organização diferentes padrões e atividades são mensuráveis.

∙∙ (I) Indivíduo: neste nível fazemos muitas outras ciências, como anatomia, fisiologia,
mas não ecologia. A menos que, o indivíduo seja o “bloco do eu sozinho”, isto
é, que seja o único representante de uma população. Entretanto em Ecologia,
é necessário conhecer e distinguir um organismo de outro e isto nem sempre é
fácil. O que é um indivíduo num recife de coral? Um indivíduo de grama, como
diferenciar? Seria uma semente um indivíduo?
∙∙ (P) População: é o conjunto dos indivíduos de uma mesma espécie, que habitam
uma determinada área, num espaço de tempo definido. A foco aqui é conhecer,
saber indentificar uma espécie e distinguí-la de outras. Algumas espécies por
exemplo podem apresentar diferentes morfologia ao longo do ciclo de vida. Por
exemplo, espécies que diferenciam na forma de ovo, pulpa, larva e adulto.
∙∙ (C) Comunidade: Conjunto de plantas, animais e micro-organismos que vivem, em
um ambiente e interegam entre si, formando um sistema vivente distinto com sua
própria composição, estrutura, relações ambientais, desenvolvimento e função. A
dificuldade de conhecer todas populações de um determinado local muitas vezes
torna irreal o estudo de comunidade no “sensu strito”.

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∙∙ (E) Ecossistema: Sistema naturais ou artificiais, limitados por um espaço físico,
onde interagem fatores bióticos e abióticos caracterizando determinadas estruturas
e funções. Os ecossistemas possuem um ambiente de entrada e de saída com fluxo
de energia e ciclagem de matéria.
∙∙ Biosfera: Sistema integrado de organismos vivos e seus suportes, compreedendo
o envelope periférico do planeta terra com a atmosfera circundante estendendo-
se para cima e para baixo até onde exista naturalmente qualquer forma de vida.
Numa nave espacial habitada por qualquer ser vivo é possível fazer ecologia. Se
apresença de vida for registrada em outros locais estes limites devem ser ampliados.

A VISÃO ECOSSISTÊMICA
A análise do ecossistema nos leva ao conhecimento da sua estrutura e funcionamento
que podem subsidiar medidas de conservação, recuperação, mitigação de impactos ambientais
negativos. Neste nível da ecologia podemos colocar na balança todos os componentes que
constituem o ecossistema seja a massa viva (biomassa) ou não. Além do fluxo de energia
desde a entrada até a sua saída do ecossistema. A ciclagem de matéria, as interações e
processos que ali acontecem também são objetos de estudo. Assim, os atributos medidos
num ecossistema são, por exemplo, biomassa, produtividade, fluxo de energia, ciclagem de
matéria, resiliência, estabilidade.
Segundo a literatura, Arthur Tansley em 1938 utilizou a palavra ecossistema para referir a
comunidade de organismos e seu ambiente como uma unidade. Segundo Tansley a comunidade
não poderia se separar do ambiente em que vive. As características físicas do ambiente mais as
influências climáticas determinam quais espécies formam a estrutura básica da comunidade.
Em um ecossistema, os seres vivos (plantas, animais, fungos e bactérias) interagem entre si e com
o ambiente por meio da ciclagem de nutrientes e do fluxo de energia. Assim, a comunidade, o
fluxo de energia e a ciclagem de nutrientes são componentes e processos que tornam funcional
um ecossistema.
Lugo e Morris (1982) atentam para um exemplo de como os organismos tomam parte do
fluxo energético dos sistemas e podem exercer influências sobre estes, modificando-o e, desta
forma, trazendo benefícios para o ambiente. Em bosques tropicais úmidos, formigas cortadeiras
podem consomir grande quantidade de folhas, levando a uma diminuição na produtividade
primária do bosque. Entretanto, os resíduos de seus formigueiros são ricos em nutrientes minerais
(principalmente fosfato) que contribuem para o enriquecimento do solo. Tal fator acelera a
produtividade primária do bosque, compensando o consumo de tecido fotossintético por essas
formigas. Assim, juntamente com outros consumidores, as formigas podem contribuir para a
maior produtividade das plantas e aumentam a potência dos fluxos energéticos do sistema.
Relembrando, os ecossistemas são delimitados pelos pesquisadores, e possuem um
ambiente de entrada e um ambiente de saída acoplados e essenciais para que o ecossistema

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funcione e se mantenha. Nestes sistemas abertos, a energia (E) flui e a matéria (M) cicla, assim
temos energia e matéria entrando e saindo. A energia segue as leis da termodinâmica ao fluir num
ecossistema. Matéria pode ser indivíduos que entram e saem do sistema através da imigração e
emigração e/ou elementos complexos ou não, compostos orgânicos, inorgânicos, etc. A matéria
pode ser estocada ou processada em diferentes velocidades ligando os componentes bióticos
e abióticos. Assim, as comunidades dentro do ecossistema interagem entre si e com o meio de
diferentes maneiras e intensidades. Além disso, os ecossistemas podem modificar seus limites
ao longo do tempo.

Parâmetros do ecossistema:
∙∙ Quanto maior o ecossistema, menos dependente do exterior.
∙∙ Quanto mais alta a taxa metabólica, maiores são as entradas e saídas.
∙∙ Quanto maior o desequilíbrio na razão autotrófico/heterotrófico, mas elementos
externos são necessários para reequilibrar.
∙∙ Sistemas jovens diferem de sistemas maduros.
∙∙ Normalmente, nos ecossistemas jovens temos o investimento no crescimento,
enquanto nos maduros o principal investimento é na manutenção.

Os organismos interagem entre si e com o ambiente em que vivem. Observa-se as


unidades necessárias para o funcionamento: entrada de energia solar (e outras formas); água,
nutrientes (compostos abióticos básicos – orgânicos e inorgânicos) em solos, sedimentos e água;
e organismos autotróficos e heterotróficos que compreendem as redes alimentares bióticas.
Os sistemas terrestres e aquáticos funcionam de maneira semelhantes, mas as espécies são,
em grande parte, diferentes. Os produtores nos ambientes aquáticos são algas (fitoplâncton e
macroalgas) e plantas de pequeno porte como macrófitas, ao contrário de ambientes terrestres
onde encontramos plantas de grande porte.
Uma das características fundamentais de um ecossistema é a homeostase. Os
ecossistemas alcançam um estado de equilíbrio por meio de mecanismos de auto-regulação ou
retroalimentação. Diante de uma alteração, o sistema aciona seus mecanismos homeostáticos
para garantir a normalidade.

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Os ecossistemas são ricos em redes de informações que compreendem fluxo de
comunicação físicos e químicos que interligam as partes e governam ou regulam o sistema
como um todo, sendo, desta forma, suas funções de controle internas e difusas, ao contrário das
funções externas de mecanismos cibernéticos (de Kybernetes, piloto ou governador) elaborados
pelo homem. O controle dos ecossistemas depende da retroalimentação, que ocorre quando
uma parte da saída volta para o sistema como entrada. A retroalimentação positiva acelera
os desvios e é naturalmente necessária para o crescimento populacional e, para se evitar o
supercrescimento populacional é necessário haver a retroalimentação negativa. O manejo dos
ecossistemas dependem desse conhecimento.

Nos ecossistemas as inter-relações dos ciclos materiais e do fluxo de energia, junto com
as retroalimentações dos subsistemas geram uma homeostasia autocorretiva que não precisa
de controle externo. Os subsistemas microbianos que regulam o armazenamento e a liberação
de nutrientes e os subsistemas predador-presa que regulam a densidade populacional, são
exemplos de mecanismos de controle nos ecossistemas.
Os componentes dos ecossistemas estão interligados em redes por vários mensageiros
físicos e químicos (muitas vezes análogos ao sistema nervoso e endócrino). As energias de
ligação que interligam os componentes tornam-se mais difusas e fracas com um aumento na
escala do tempo e do espaço. Porém nos ecossistemas, estas ligações fracas são bem numerosas
de energia e de informações química.
Segundo Odum, causas de baixa energia que produzem efeitos de alta energia são
ubíquas nas redes de um ecossistema; insetos parasitos num ecossistema de campo de gramíneas
representam uma parte muito pequena (0,1%) do metabolismo total da comunidade, porém,
podem ter um efeito de controle proporcionalmente muito maior sobre o total do fluxo primário
de energia pelo impacto de seu parasitismo de insetos herbívoros. Tais interações estabilizam
os ecossistemas, impedindo a herbivoria excessiva.
Além do controle pela retroalimentação a redundância nos componentes funcionais
também contribui para a estabilidade dos ecossistemas. A redundância (mais de uma espécie
ou componente tendo a capacidade de realizar uma dada função) também aumenta o grau
de estabilidade. Por exemplo, se vários autotróficos estiverem presentes, cada uma com uma
diferente faixa operacional de temperatura, a taxa de fotossíntese da comunidade como um
todo pode permanecer estável apesar da mudança na temperatura. Se várias espécies exercem a
mesma função no sistema (por exemplo, organismos produtores), uma espécie pode compensar
a outra ao promover vias alternativas para os fluxos de energia e materiais.

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1- FUNCIONALIDADE E RESPOSTAS
Qualquer que seja o ecossistema possui uma amplitude de funcionamento onde as
oscilações são consideradas normais – faixa normal de operação. Somente conhecendo a faixa
normal de operação podemos avaliar a resistência e resiliência do ecossistema quando uma
perturbação ocorrer. Por outro lado, a perturbação só ocorre quando o ecossistema sai da faixa
normal de operação. Assim, se eu não conheço a faixa normal de operação não posso afirmar
que houve uma perturbação. Qualquer avaliação de um acidente, distúrbio, desastre ou algo
do gênero só é possível com a informação prévia do ecossistema. Sem esse conhecimento,
o derramamento de um litro ou milhares de água oxigenada num córrego não pode ser
considerado uma perturbação. Isto é, dependendo do ecossistema um litro de água oxigenada
pode causar um estrago e tirar o ecossistema da sua faixa normal de operação. Enquanto,
milhares deles pode ser apenas uma oscilação dentro da faixa normal de funcionamento. Além
do que, o derramamento de água num ecossistema “machucado ou ferida”, por exemplo, pode
ser uma grande perturbação podendo inclusive levar ao desaparecimento deste ecossistema.
A possibilidade do ecossistema em manter ou retornar às condições originais de
funcionamento após um distúrbio caracteriza sua capacidade de Estabilidade. Entretanto, em
determinadas situações as modificações impostas de modo contínuo e de elevada intensidade,
o ecossistema não consegue absorver estas mudanças trazendo distúrbios para o sistema como
um todo. O ecossistema mantém sua estrutura de comunidade, seu fluxo de energia e material,
respondendo as interferências e, quanto menos flutuar e/ou recuperar-se mais rapidamente, mais
estável é o sistema. A estabilidade apresenta-se de duas maneiras: estabilidade de resistência
que indica a capacidade de um ecossistema de resistir à perturbações e de manter intacta sua
estrutura e seu funcionamento e, estabilidade de resiliência (ou elasticidade), que se refere à
capacidade de se recuperar quando o sistema é desequilibrado por uma perturbação. Estes
conceitos são muito importantes, pois muitas vezes é necessário analisar e avaliar a estabilidade
dos sistemas de acordo com sua manutenção e/ou velocidade de recuperação, após impacto
conseqüente de alguma perturbação natural ou artificial. Quanto mais tempo o ecossistema
demora para voltar a faixa normal de operação menor é sua elasticidade. E, quanto mais distante
da faixa normal, maior o impacto da perturbação, menor é a resistência do ecossistema.

2- SISTEMAS ALTAMENTE SUBSIDIADOS


Atividades como a caça e a pesca estão entre as mais antigas exercidas pelo homem,
porém a exploração direta da natureza é realizada atualmente por práticas às vezes
inadequadas para o sustento da população humana. A grande maioria dos recursos alimentares
humanos provém de cultivos, geralmente as monoculturas, onde as espécies são manejadas
por procedimentos especializados que possibilitam maximizar sua produtividade – seja como
monoculturas de cereais ou a criação de animais para a produção de carne. Somente as

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monoculturas possibilitam maximizar a produção de alimentos, pois permitem ao agricultor
controlar e otimizar a densidade das populações. Entretanto, o custo dessas atividades pode ser
bastante alto devido ao grande investimento no controle de pragas e doenças, que encontram
nas monoculturas, condições ideais para se desenvolverem.
Os agrossistemas são ecossistemas criados pelo homem que diferem pela sua
homogeneidade espacial, sua pobreza específica (monoculturas com apenas uma espécie), a
uniformidade genética das espécies cultivadas e sua dependência do homem (necessidades de
minerais, água e proteção contra destruidores). Nos sistemas agrícolas modernos a energia fóssil
é utilizada em grandes quantidades para movimentar ou acionar os instrumentos agrícolas.
A produtividade e a complexidade de um sistema dependem não somente de seu
potencial genético, mas do balanço entre os fatores que impulsionam a produtividade e
os fatores de tensão. Em sistemas de alta complexidade biológica há maior intensidade de
interações entre os organismos e condições favoráveis ao crescimento. Neste caso, a competição
biológica consumirá uma porção significativa das reservas de energia do sistema. Por outro
lado, ambientes físicos pobres, induzem os organismos a adaptações fisiológicas e há menos
interações entre os organismos. Nestes ambientes, as reservas energéticas são destinadas às
adaptações necessárias a superação das limitações ambientais. Algumas florestas tropicais e
desertos são exemplos desses sistemas.
Nos ambientes dominados por fatores físicos, o custo da produção agrícola é muito alto
e a agricultura não é economicamente viável. No outro extremo, a competição das plantas e
animais obriga o agricultor a combater constantemente estes organismos (alto custo no controle
de pragas). As zonas temperadas são intermediárias entre esses extremos O êxito do monocultivo
ocorre nessas regiões intermediárias, onde a soma das tensões físicas e biológicas é mínima. O
êxito se associa geralmente as flutuações climáticas. Nessas zonas, condições extremas como
a caída de neve, são seguidas por condições favoráveis para o crescimento vegetal por haver
redução da competição biológica. Essas condições são oportunas para o agricultor aplicar o
monocultivo antes que retorne o período de tensão.
Os sistemas de policultivos simulam a diversidade natural das espécies, de maneira que a
proliferação de agentes destruidores é reduzida; as pragas não podem consumir toda a plantação
porque enfrentam uma variedade de plantas com características distintas. O rendimento total
nesses sistemas é maior que no monocultivo, mas o rendimento de um produto específico é
menor. Nesses sistemas de cultivo múltiplo, há menor requerimento de energia e desta forma,
menor é o custo de produção.
É possível aumentar os rendimentos de um ecossistema com grande eficiência se as
condições naturais do ambiente são favoráveis à atividade desejada. Se a simulação de sistemas
projeta sistemas que recebem um importante aporte de energia, podem-se obter bons resultados.
Entretanto, quando a atividade desejada é muito estranha às condições do ambiente, acaba-
se por recorrer ao subsídio intensivo, a inversão exagerada de energia, à manipulação dos
sistemas naturais, e correr o risco de criar situações potencialmente instáveis e improdutivas na
ausência de uma contínua intervenção.

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COMPONENTE ABIÓTICO
1- ENERGIA E MATÉRIA
Como mencionado acima, qualquer ecossistema é sustentado por alguma forma de
energia, destaque para a energia solar. A energia entra e sai do ecossistema num sentido único
seguindo as leis da termodinâmica.

1ª. Lei da Termodinâmica - Conservação de Energia


2ª. Lei da Termodinâmica – Entropia

Dentro da cadeia alimentar apenas um parcela da energia é transferida para o nível


trófico seguinte, parte é convertida em biomassa e parte é liberada na forma de calor. A eficiência
energética é variável entre ecossistemas e dentro do mesmo ecossistema ao longo do tempo.
Dentre os mais eficientes destacam-se aqueles com a participação microbiana.
O nosso planeta Terra é composto por estruturas geológicas diferentes, com diferentes
elementos químicos. Desta maneira as forças gravitacionais interagem com esses elementos com
intensidades diferentes. Entretanto, a quantidade de matéria no nosso planeta não modificou
significativamente nos últimos anos. A quantidade de matéria que entrou no ecossistema como
meteoros e poeiras cósmicas têm a contrapartida dos satélites e lixo espaciais que saíram. O que
modificou neste período foram a distribuição destes elementos e a forma na qual encontramos
cada um dos elementos. Por exemplo, o ouro deixou de ser encontrado apenas nas minas e
passaram a ser encontrados pulverizados em computadores, nos pescoços, dedos, dentes de
alguns humanos, na microscopia eletrônica de varredura e seu isótopo 198
Au no tratamento
de doenças como câncer. O mesmo acontece com o alumínio e qualquer outro elemento da
tabela periódica.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 17


Assim, a distribuição os elementos químicos no planeta não se dá de forma igualitária.
Dificilmente encontramos um ambiente homogêneo quanto à sua distribuição de recursos,
com poucas exceções em uma pequena escala espacial.

2- CICLOS BIOGEOQUÍMICOS
Os elementos químicos tendem a circular na biosfera em vias características, do
ambiente aos organismos e destes, novamente ao ambiente. Estas vias mais ou menos circulares
se chamam ciclos biogeoquímicos, e descrevem o movimento de todos os elementos que
compõem a terra. Estes movimentos de matéria contribuem para a manutenção das condições
que sustentam a vida do planeta.
Os ciclos biogeoquímicos se referem ao intercâmbio de nutrientes de diferentes ecossistemas
em escala global. Denomina-se balanço de nutrientes ao estudo do fluxo de nutrientes dentro e
através dos ecossistemas. O balanço externo de nutrientes considera as entradas e as saídas dos
nutrientes de um ecossistema completo. O balanço interno de nutrientes considera as trocas de
nutrientes em subsistemas ou nos componentes de um ecossistema particular.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 18


1- Ciclo da água ou hidrológico.
2- Ciclos dos macro e micronutrinentes: minerais em geral
3- Ciclos sedimentares: fósforo, enxofre, cálcio, magnésio e potássio.
4- Ciclos gasosos: carbono, nitrogênio e oxigênio

Normalmente os livros didáticos apresentam os ciclos biogeoquímicos de forma singular,


com os mesmos exemplos de vias não explorando as inúmeras probabilidades de vias. Vale à
pena lembrar que cada elemento pode ser encontrado em diversas formas e lugares, podendo
ficar estocado ou sendo transformado em diferentes intervalos de tempo. Assim, a quantidade
de matéria, seja qual for, no nosso planeta é finita. Os elementos podem formar moléculas
complexas e se transformar. E aí sim, a quantidade de cada forma pode se modificar várias
vezes ao longo do tempo. Desta forma, o conceito de renovável seria ampliado. Renovável e
não renovável são conceitos arbitrários dados matérias que transformam (renovável) ou não
(não renovável) num período igual ou inferior ao tempo de vida dos seres humanos. Entretanto,
podemos esperar que qualquer que seja a matéria pode ter sua ciclagem acelerada ou retardada
por tecnologias já desenvolvidas ou em desenvolvimento.
Certas atividades humanas podem interferir nos fluxos de matéria e causar a
transformação de compostos a estados tóxicos acarretando grave impacto ambiental e grandes
prejuízos aos sistemas naturais. Devido a interação entre as comunidades ecológicas e entre
mosaicos de comunidades, as atividades que ocorrem em uma parte do sistema podem refletir-
se a uma região maior, e em alguns casos ter um efeito global. Como exemplo o uso do DDT,
de substâncias radiativas e de mercúrio e cromo em combustíveis de veículos. Estes compostos
são dispersos por todo o planeta, incluindo zonas onde nunca tenham sido utilizados (como as
regiões polares).

BRILHANTE CRISTALINO
O ciclo da água é associado ao sucesso da vida no nosso planeta. Qualquer que seja
o organismo, por mais asqueroso, nojento e até mesmo o pior dos predadores tem água em
sua constituição, e um dia morrerão liberando essa água para outro local. Além da água
armazenada nos organismos, que são distribuídos heterogeneamente, o restante da água no
planeta também não está distribuída de forma homogênea. A movimentação da água ao longo
do tempo também. Por exemplo num mesmo local temos ano com pouca e outro com muita
chuva. Embora a maior parte da superfície do planeta seja coberta por água, a qualidade
restringe sua utilização por alguns organismos, principalmente o homem. Se pensarmos que
os organismos marinhos utilizam a água salgada para viver, toda água é um recurso para
manutenção da vida. Entretanto, normalmente o termo recurso é utilizado quando beneficia
diretamente a sobrevivência da espécie Homo sapiens. Neste caso, apenas uma pequena
parcela da população humana alimenta-se de organismos marinhos.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 19


Seguindo a abordagem de Towsend, a energia radiante provoca a evaporação da água
para atmosfera; os ventos a distribuem sobre a superfície da terra e através da precipitação a
água retorna para a terra. Parte da água cai no solo e torna a evaporar. Outra parte escorre pela
superfície até os mares e rios. Certa quantidade se infiltra na terra e abastece os lençóis d’água
subterrâneos. Estes também irão abastecer rios, lagos, mares e fontes, fechando o ciclo.
O ciclo hidrológico prossegue independente da presença da biota. Entretanto, a
vegetação pode modificar significativamente os fluxos que nele ocorrem. A vegetação pode
evitar que a água chegue aos cursos d’água e causar o seu retorno a atmosfera; retendo parte
da água na folhagem e absorvendo água do solo. Desta forma, o desmatamento em larga escala
aumenta a força das correntes de água junto com sua carga de nutrientes, podendo determinar
a perda e o empobrecimento do solo e acentuar a gravidade das enchentes.
Existe um estoque fixo de água no planeta que é continuamente reciclada. Atualmente
a espécie humana usa direta ou indiretamente, mais do que a metade do suprimento de água
acessível no mundo e, muitos países sofrem com a escassez crônica de água. Em escala global, a
agricultura é o maior consumidor de água doce, atingindo cerca de 70% das fontes disponíveis
e mais do que 90% em partes da América do Sul, Ásia Central e África. A indústria é outra
grande consumidora de água. Você sabe quanto de água é utilizada, por exemplo, no processo
de clarificação do papel higiênico de dupla fase? Nada contra, apenas uma provocação às
mesmices propagadas como medidas de redução do consumo de água.
Além das geleiras, outros estoques de água são os aqüíferos subterrâneos. Eles estão sendo
considerados como uma alternativa a escassez de água. Contudo o bombeamento dos aquíferos
muitas vezes é feito de uma maneira mais rápida do que os aquíferos podem ser recarregados.

OURO NEGRO
O Carbono é um dos elementos mais abundantes e pode ser encontrado nas mais diversas
formas, e separado em orgânico e inorgânico, dissolvido e particulado, etc. Como os outros
elementos químicos, a quantidade de carbono no planeta não modificou significativamente nos
últimos tempos. O que modificou foi a aceleração de algumas vias do seu ciclo. Por exemplo,
no início da revolução com a utilização de carvão o estoque de carbono na forma de carvão
foi utilizado mais rapidamente do que reposto. Hoje estamos acelerando a transformação do
carbono estocado por milênios na forma de combustíveis fósseis em dióxido de carbono. O
tempo para este carbono ser fixado e transformado em petróleo novamente é muito mais lento.
Este deslocamento de tempo entre os processos têm motivado a busca de alternativas de outras
fontes de carbono como ciclos mais rápidos, ou formas de acelerar a fixação do CO2.
O cultivo de organismos fotossintéticos é uma saída. Entretanto, nem todos os organismos
fixam o CO2 na mesma velocidade e nem o tempo todo. A fixação depende de diversos fatores,
como o local onde estes organismos se encontram no planeta e a época do ano (disponibilidade de
luz), especialmente nas regiões polares e temperadas. Não só a quantidade de luz, mas também

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 20


as qualidades dessa luz interferem na fixação. Além da luz, a disponibilidade e qualidade de
nutrientes também influenciam. O tamanho e idade dos organismos fotossintetizantes devem
ser levados em consideração. Por exemplo, florestas maduras tendem a consumir para a sua
manutenção tudo o que produz. Uma floresta com plantas jovens tendem a fixar mais do
que aquelas com plantas velhas. Entretanto, estudos recentes têm demonstrado que apesar de
fixar pouco, a quantidade por área ocupada é significativa. A razão superfície/volume destes
organismos. Aqueles com maior razão superfície:volume terão maior absorção de nutrientes e
energia luminosa. Para simplificar usaremos como exemplo os quadrados abaixo. O quadrado
menor possui maior razão superfície:volume e consequentemente maior absorção.

Ainda está sendo questionado se o aumento da concentração de CO2 aumentará a


fixação do carbono. O que se sabe é que a mudança na concentração de CO2 está diretamente
relacionada com o pH das águas no planeta conforme figura abaixo. A acidificação das águas
afeta consequentemente na fixação do carbono pelos organismos fitoplanctônicos, macro-
algas, macrófitas.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 21


Microrganismos também são capazes de absorver o carbono orgânico dissolvido e
incorporar na sua biomassa, que ao ser predada entrará na cadeia alimentar – alça microbiana.
Entretanto, as bactérias podem morrer ou respirar este carbono devolvendo para o ambiente.

JOIAS INVISÍVEIS
Ao falar do ciclo do nitrogênio temos que incluir os microrganismos, essenciais em
algumas etapas da sua transformação. As bactérias podem absorver também o nitrogênio nas
diferentes formas e incorporar à sua biomassa (proteína bacteriana). Ou algumas podem oxidar
ou reduzir as diferentes formas sem incorporar à biomassa.
O seguinte link http://www.icb.usp.br/~bmm/jogos/nitrogenio%20manual.pdf traz um
jogo “Viagem do átomo de nitrogênio” desenvolvido pela Sociedade Americana de Microbiologia
como uma opção didática para apresentar o ciclo do nitrogênio. Com esse jogo podemos
exemplificar como os ciclos são únicos e que a chances de um átomo de nitrogênio fazer a
mesma viagem que outro átomo é muito pequena. Podemos também discutir proporção de
formas de nitrogênio e a velocidade de transformação. O gás nitrogênio é forma mais abundante
de nitrogênio, a chance de um átomo na forma de nitrogênio ser fixado por cianobactérias ou
relâmpagos é muito pequena. Assim ao parar sua viagem como gás nitrogênio a tendência é
permanecer como gás nitrogênio muito tempo. Vale à pena conferir!!!

3- NUTRIENTES NOS AMBIENTES


AQUÁTICOS E TERRESTRES
Semelhança entre os dois sistemas nas transformações biológicas e químicas. No
ambiente terrestre estão na superfície do solo, com acesso mais fácil enquanto no ambiente
aquático estão presentes predominantemente no sedimento do fundo, muitas vezes distantes
dos sítios de produção primária.
A assimilação de nutrientes do solo pelas plantas é mais rápida que a sua reposição pela
meteorização da rocha mãe. Nitrogênio, fósforo e o enxofre, ao contrário do cálcio, Magnésio,
sódio, e potássio, se encontram pouco representados na rocha mãe. A produção vegetal
necessita da rápida regeneração dos nutrientes. O constante aporte de material da vegetação
e sua posterior decomposição constituem uma importante via de fornecimento de elementos
minerais e orgânicos para o solo.

4- FATORES LIMITANTES
Qualquer condição que se aproxime ou exceda os limites de tolerância é uma condição
limitante ou um fator limitante. E, sob condições de estado constante, o material essencial que

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 22


está disponível em quantidades que mais se aproximam da necessidade mínima tende a ser o
fator limitante. Uma alta concentração ou disponibilidade de algumas substâncias, ou a ação
de um fator que não fosse o fator mínimo, pode modificar a taxa de utilização deste último.

Limite de tolerância: Os organismos apresentam um mínimo e um máximo ecológicos


e podem ter amplas (euri) ou estreitas (esteno) faixas de tolerância.

1- Larga faixa de tolerância para um fator e estreita para outro


2- Larga faixa de tolerância para todos tem ampla distribuição
3- Condições adversas para um fator modificam a faixa de tolerância de outro
4- Os organismos tendem a viver não utilizando toda a faixa de tolerância
5- Na época de reprodução (sementes, ovos, embriões, etc) as faixas de tolerância
são mais estreitas.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 23


COMPONENTE BIÓTICO
1- FOCO NA POPULAÇÃO
Como sabemos, uma população é constituída de indivíduos de uma mesma espécie
numa dada área. Mas nem sempre é fácil quantificar um indivíduo, ou separar um indivíduo
do outro como os liquens, corais, etc. Conhecer a espécie em todas as fases de vida e saber
diferenciá-la das demais é primordial ao se trabalhar nesse nível da ecologia. O conhecimento
de uma população permite também o seu manejo e manipulação.
Quando falamos de população englobamos a dinâmica, o componente tempo é
essencial. Alguns dos instrumentos mensuráveis da população são as taxas, seja de crescimento,
natalidade, mortalidade, migratória. Podemos lembrar os censos do IBGE utilizado para
população humana: quantos indivíduos nasceram, quantos morreram, quantos chegaram,
quantos saíram num determinado intervalo de tempo. O censo é uma das inúmeras técnicas
de levantamento de uma populações. Muitas são as técnicas de amostragens que são utilizadas
segundo a população a ser estudada e a pergunta a ser respondida.
Dentro do limite geográfico uma população vive dentro de manchas de habitat apropriado,
cuja abundância numérica de organismos varia de acordo com o suprimento de alimento, a taxa
depredação e outros fatores ecológicos que podem influenciar o tamanho populacional.

As populações apresentam uma série de características próprias como:

∙∙ Densidade populacional (número de indivíduo em uma determinada área ou volume)


∙∙ Potencial biótico
∙∙ Taxas de natalidade e mortalidade
∙∙ Porcentagem de indivíduos em diferentes classes etárias
∙∙ Porcentagem de indivíduos machos e fêmeas
∙∙ Variações genéticas

A natalidade, mortalidade, imigração e emigração irão determinar o comportamento


dinâmico de uma população. Assim, o número de indivíduos de uma data espécie, em uma
área, em determinado momento, é igual ao número de indivíduos existente em um momento
anterior + natalidade - mortalidade + imigração - emigração.
Se considerarmos uma população fechada (sem migração) sua dinâmica dependerá
somente da natalidade (n) e mortalidade (m). Se n>m a população tende a crescer. Assim a taxa
de natalidade e de mortalidade definirá o futuro da população.
Percebe-se a importância de se saber qual o tamanho de uma população, qual a sua
abundância. O número de indivíduos por si só, propicia informações importantes sobre uma
dada população.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 25


São vários os fatores que podem promover flutuações na abundância populacional, muitas
vezes de maneira interativa. Alguns fatores que podem promover flutuações na abundância:

∙∙ Condições físicas e químicas do ambiente


∙∙ Disponibilidade de recursos
∙∙ Ciclo de vida
∙∙ Competição, predação e parasitismo.

Muitas vezes é necessário realizar uma amostragem de uma determinada espécie para
se estimar o número de indivíduos em uma determinada área. Um dos métodos para se estimar
o tamanho de uma população, especialmente populações de animais, é o método de “Captura
e Recaptura” exemplificado abaixo.

1- Animais são capturados e marcados.


Número marcado = M (neste caso igual a 10)

2- Os animais marcados são liberados para o ambiente


3- Recaptura. C animais São capturados da população. Número de captura = C
(neste caso C=12)

4- Dos C animais alguns deles estão marcados. Eles são os animais recapturados.
Número de animais recapturados = R (neste caso R é igual a 2).
5- A proporção de animais marcados no número de capturados é R/C (neste
exemplo 2/12).

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 26


6- Presume-se que a proporção de animais marcados em toda a população (N) é a
mesma que a proporção nos animais capturados.
Assim R/C=M/N (neste exemplo 2/12=10/N)
Assim N=CM/R (neste exemplo N=12 x 10/2=60
60 é número estimado de indivíduos na população.

Nos livros de Towsend e Ricklefs (disponíveis no Siga) encontramos a discussão de


populações distribuídas em manchas. Assim, muitos estudos sobre abundância consideram as
populações fechadas, e desconsideram as imigrações e emigrações, entretanto a migração pode
ser um fator vital na determinação e/ou regulação populacional. A maioria das populações é
fragmentada e pode incluir manchas com dinâmicas bastante diferentes.
Os habitats naturalmente apresentam-se como um mosaico de manchas, o que significa
que muitas populações estão divididas em populações menores .O mundo em mosaicos
de habitats fez surgir modelos de população. Um deles é o modelo de metapopulações,
que pode ser definida como um conjunto de populações com movimentos ocasionalmente
entre elas.
Um outro modelo é o denominado de fonte-poço. Este modelo assume que há diferenças
na qualidade das manchas de habitats adequados. Manchas de qualidade elevada (fonte) os
indivíduos produzem mais descendes do que é exigido para substituí-los (população-fonte)
e os filhotes excedentes migram para outras manchas, geralmente mais pobres, onde poucos
filhotes são normalmente produzidos não conseguindo suprir as perdas por mortalidade
(populações-poço).
Um outro modelo seria o de populações relictuais, nas quais não há fluxo de organismos
entre os fragmentos, as populações são perdidas pouco a pouco, pois a recolonizarão não
compensa as perdas, a tendência é das populações se extinguirem.
O incremento total no tamanho da população representa a soma das contribuições de
cada indivíduo durante certo intervalo de tempo. Assim a taxa de aumento percapita (ou por
indivíduo) é dada por dN/dt.(1/N). Na ausência de qualquer força (por exemplo, a competição
intraespecífica) que aumente a taxa de mortalidade, este aumento populacional é constante e
tão alto quanto possível. Ela é denominada taxa intrínseca de aumento natural e representada
por r. Com isso: dN/dt.(1/N)=r.
A taxa líquida de aumento para a população total é: dN/dt=rN. O r expressa a diferença
entre a natalidade e mortalidade (r=b-d) (Townsend et al., 2003).
O maior realismo é incluir nesta situação algum fator que controle o crescimento
populacional, por exemplo, a competição intraespecífica.
Nesta equação, a competição intraespecífica aparece como o termo (k - N)/k; quando
N se aproxima de K (capacitade de suporte), K-N se aproxima de zero. Um equilíbrio estável é
atingido quando N=K e o tamanho da população atingiu a capacidade de suporte.
Os indivíduos de uma população competem entre si (competição intra-específica) e
com indivíduos de outras espécies (competição interespecífica). Desta forma aproximaremos

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 27


mais da realidade dos fatores que interferem no crescimento de uma população se incluirmos
na equação, a competição interespecífica.

N1 = Tamanho da população da espécie 1


N2 = Tamanho da população da espécie 2
K1 = Capacidade de suporte da população 1
r1 = taxa intrínseca de crescimento natural da população 1

O coeficiente de competição α12 pode ser definido como o grau no qual cada indivíduo
da espécie 2 usa os recursos dos indivíduos da espécie 1.

α12 = 1 - Indivíduos das duas espécies têm o mesmo peso competitivo.


α12 < 1 - Efeito da competição intraespecífica é maior que o efeito da competição
interespecífica.
α12 > 1 - Efeito da competição interespecífica é maior que o efeito da competição
intraespecífica.

O comportamento do modelo Lotka-Volterra (equação acima) é investigado utilizando


curvas chamadas isóclinas de crescimento zero.
Vamos considerar primeiramente a população 1.

Em qualquer ponto da curva dN1/dt é igual a zero (isóclina de crescimento nulo)

Assim:

N1 = 0 N2 = K1/ α12

N2 = 0 N1 = K1

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 28


Sobre a isóclina: dN/dt = 0
Abaixo da isóclina: dN/dt < 0
Acima da isóclina: dN/dt > 0

Agora, o que aconteceria se as duas populações estivessem juntas?

No exemplo acima a população 1 vence a competição e extingue a população 2. Todos


os passos para se montar a isóclina de crescimento zero para a população 1 podem ser dados
para a população 2.

DISTRIBUIÇÃO DOS INDIVÍDUOS DENTRO DAS POPULAÇÕES


A distribuição de indivíduos em uma população descreve a distância relativa entre um
e outro. Os padrões de distribuição são classificados como distribuição agregada, uniforme e
aleatória consequentemente nos esquemas abaixo.

A distribuição uniforme surge de interações diretas entre os indivíduos, mantendo


uma distância mínima entre si e seu vizinho mais próximo. A distribuição agregada resulta da
predisposição social em formar grupo, das distribuições agregadas de recursos e das tendências
da prole permanecer junto aos pais. Na ausência de antagonismo social os indivíduos podem

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 29


se distribuir aleatoriamente. Assim, quando há ampla oferta de alimento em um habitat os
indivíduos podem distribuir-se aleatoriamente.

NICHO ECOLÓGICO
∙∙ J. Grinnell 1917 - “duas espécies no mesmo território geral não podem ocupar
durante muito tempo o mesmíssimo nicho ecológico” – dava uma dimensão de
micro hábitat.
∙∙ C. Elton (1927) – usou o termo nicho no sentido de posição funcional de um
organismo na sua comunidade, enfatizando relações energéticas.
∙∙ G. Hutchinson (1957) – estabeleceu a concepção de nicho como um espaço
hipervolumétrico, com dimensões sobre as quais se podia representar a posição
das populações.
∙∙ A teoria do nicho contém uma combinação de noções da Teoria dos Conjuntos,
de autoecologia (tolerância fisiológica), adaptação (Nova Síntese da Teoria de
Evolução) e com o Princípio da Exclusão competitiva

A expressão multi-dimensional de onde e como uma espécie vive, sendo as dimensões


os gradientes ambientais de fatores físicos ou bióticos que afetam a população.

Esquema conceito multi-dimensional de nicho ecológico. A distribuição dos organismos


como resultado de diferentes fatores como pluviosidade, temperatura, luminosidade e vários
outros eixos.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 30


2- FOCO NA COMUNIDADE
O termo “comunidade” tem uma história de uso bastante flexível na literatura ecológica,
quase sempre para fazer referência a um agrupamento de espécies que vivem temporariamente
juntas. Dos três níveis tradicionais de estudo em ecologia (organismos individuais, populações
de indivíduos, comunidades de espécies), a comunidade representa o mais arbitrário e abstrato
de todos, pois, como nem todas as espécies que vivem juntas interagem de modo significativo,
muitas vezes é difícil decidir quem participa ou não da comunidade. A rigor, na ausência de
mudanças bruscas de hábitat, quando a paisagem natural tende então a diferir de modo mais
evidente, a delimitação de comunidades é quase sempre uma decisão arbitrária, que varia de
acordo com os interesses do observador.
Dificuldades metodológicas e operacionais, no entanto, não impedem que comunidades
sejam um foco recorrente de estudos científicos. Antes de mais nada, o enfoque comunitário é
necessário para investigar de modo apropriado uma série de fenômenos ecológicos emergentes
(ciclagem de nutrientes, mimetismo, partilha de recursos, sucessão etc.), que não poderiam ser
explicados ou reduzidos ao nível populacional - a exemplo, aliás, do que ocorre com atributos
populacionais, que não podem simplesmente ser reduzidos ao nível individual.
Uma comunidade pode ser definida como um conjunto de populações vivendo em
uma mesma área e interagindo entre si, formando um sistema vivente distinto com sua própria
composição, estrutura, relações ambientais, desenvolvimento e função.
O estudo da ecologia de comunidades é de grande importância, pois sua estrutura e
composição pode fornecer informações sobre a “saúde” do ambiente, ou seja, sobre a qualidade
ecológica do meio. Estudos têm utilizados abributos ecológicos relacionados à comunidade para
avaliarem o grau de poluição ou perburbação ambiental de um sistema terrestre ou aquático.
É relativamente comum lermos em jornais e revistas, que um ógão ambiental ou pesquisadores
de universidades estão monitorando a qualidade da água de um rio através da comunidade de
peixes e/ou de outros organismos aquáticos.
As propriedades de uma comunidade são a presença de muitas espécies em determinada
área, recorrência no tempo e no espaço e presença de mecanismos homeostáticos que
proporcionam uma estabilidade dinâmica.

DESCRIÇÃO DA ESTRUTURA DE UMA COMUNIDADE


Os atributos mensuráveis de uma comunidade são:
∙∙ Composição específica
»» grande dificuldade – formas imaturas, espécies exóticas
∙∙ Diversidade
»» Riqueza: espécies dominantes, menos comuns e raras

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 31


»» Equabilidade: grau de homogeneidade de ocorrência numérica
∙∙ Formas de crescimento ou estrutura dos organismos
∙∙ Estrutura espacial
»» estratificação: descrição estrutural do componente vertical
»» zonação: estratificação horizontal
∙∙ Associações tróficas
∙∙ Fenômenos de interdependência: associações sinérgicas ou antagônicas
∙∙ Dinâmica temporal
»» ciclos diurnos: migrações verticais na coluna d´água - plâncton
»» Sazonais – fenologia das plantas, fases do ciclo de vida animais
»» Sucessionais

São vários os índices existentes que nos permiterm realizar um estudo sobre comunidades.
Alguns destes índices que são fundamentais para se caracterizar a comunidade a diversidade
biológica de uma determinada área. Uma altermnativa é a utilização de botões de diferentes
formatos, cores e tamanhos para exercitar a utilização destes índices. Entretanto usaremos a
figura abaixo, supondo que cada letra seja uma espécie que compõem a comuidade.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 32


A partir da figura podemos montar a tabela.

Espécies Abundância Abundância relativa (N1/∑N)


A 10 0,29
B 7 0,20
C 6 0,17
D 5 0,14
E 4 0,11
F 3 0,09
Total (∑N) 35 1

Total de organismos: (∑N) = N1+ N2 + N3 + N4 + N5 + N6

Proporção das espécies: N1/∑N, N2/∑N... N6/∑N

Um modo de caracterizar uma comunidade consiste em saber quantas espécies estão


presentes, no caso acima temos 6 espécies. Podemos observar na tabela a bundância absoluta e
abundância relativa de cada espécie. O número de espécies em uma área, ou seja a riqueza de
espécies varia com o número de organismos de uma amostra, desda forma, até um determidado
limite a riqueza aumenta com o aumento do número de organismos. As espécies mais comuns
estarão representadas comumente nas primeiras amostras e a medida que se toma mais amostras
é provavel que outras espécies mais raras sejam adicionadas na lista.

A abundância relativa das espécies é outro aspecto importante. Como a riqueza, a


uniformidade na repartição de indívíduos entre as espécies é um componente importante para
se obter o índice de diversidade.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 33


Observe que as duas comunidades abaixo (A e B) apresentam o mesmo número de
indivíduos (N igual a 12) e o mesmo número de espécies (riqueza igual a 4), entretanto a
proporção de indivíduos em cada espécie não é a mesma. A comunidade A tem uma espécie
com dominância numérica bem superior as demais, o que não acontece com a comunidade
B, na qual as espécies são mais uniformemente distribuídas e portanto, terá um maior valor do
índice de diversidade.

O índice de Shannon é um dos diversos existentes para se calcular a diversidade de uma


data comunidade. O índice de diversidade tem várias aplicabilidades importantes, podendo ser
usada por exemplo, para aferir o grau de perturbação de um ambiente.
Indice de diversidade de Shannon:
H’= -∑pi x (lnpi)

Vamos a partir dos dados da tabela anterior calcular o índice de diversidade de Shannon:
pi = abundância relativa.

Espécies Abundância pi lnpi pi x lnpi


A 10 0,29 -1,24 -0,35
B 7 0,20 -1,61 -0,32
C 6 0,17 -1,77 -0,30
D 5 0,14 -1,97 0,28
E 4 0,11 -2,21 -0,25
F 3 0,09 -2,41 -0,21
Total 35 1 -1,72

H’= 1,72

Para uma comunidade com S espécies, o valor máximo possível do Índice de Shannon
é ln de S, isto ocorre quando todas as espécies apresentam igual frequência.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 34


Assim Hmáx é igual a ln de S (S é o número de espécie, neste caso igual a 6), ou seja,
Hmáx igual a 1,79.
U (Uniformidade) é igual H’/Hmáx. Neste caso 0,96 (elevada Uniformidade). Quanto
maior a dominância numérica por parte de algumas poucas espécies menor é o valor da
Uniformidade.

Outro índice bastante fácil de se usar é o Índice de Simpson.

D = 1/∑pi2

Vamos usar a tabela abaixo para calcular Índice de diversidade de Simpson.

Espécies Abundância pi pi2


A 10 0,29 0,084
B 7 0,20 0,040
C 6 0,17 0,029
D 5 0,14 0,020
E 4 0,11 0,012
F 3 0,09 0,008
Total 35 0,193

D = 1/∑pi2
D = 1/0,193
D = 5,181
E=D/S → E = Equidade
D = Índice de diversidade de Simpson
S = Número de espécies
E = 5,181/6=0,86.

Quando tralhamos com


comunidades de áreas diferentes torna-
se necessário verificarmos o grau de
similaridade entre elas, e podemos
verificar o quanto são similares de forma
qualitativa e/ou quantitativa.
Os coeficientes binários tratam
somente com dados de presença e
ausência. Abaixo um exemplo básico
para o cálculo binário.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 35


Onde:
a = número de espécies presente na amostra A e na amostra B
b = número de espécies presente na amostra B e ausente na amostra A
c = número de espécies presente na amostra A e ausente na amostra B
d = número de espécies ausentes em amba as amostras.

Há vários métodos binários de similaridde disponíveis na literatura. Os dois descritos


abaixo são aos comumentes mais usados.

Coeficiente de Jaccard
Sj = a/a+b+c
Sj = Coeficiente de similaridade de jaccard

Coeficiente de Sorensen
Ss = 2a/2a+b+c
Ss = Coeficiente de similaridade de Sorensen

Exemplo: Vamos considerar que cada símbolo presente nas comunidades A e B seja
uma espécie diferente.

Comunidade A Comunidade B
▼ ▼
☻ ☼
♣ ♣
♫ ♫

Ω Ω
∆ ∆
╟ ╟
● ●

Coeficiente de Jaccard
Sj = a/a+b+c
Sj = 7/7+2+2
Sj = 0,63 ou 63% de similaridade

Índice de Similaridade de Morisita, é um índice quantitativo, considera também o


número de organismos presente nas comunidades.

Cλ = ∑XijXik/ (λ1+ λ1)*NjNk

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 36


Cλ - Índice de Similaridade de Morisita
Xij, Xik = número de indivíduos da espécie i nas amostras J e K
Nj = Número total de indivíduos na amostra J
Nk = Número total de indivíduos na amostra K

λ1=∑[Xij(Xij-1)]/ Nj(Nj-1)

λ2=∑[Xik(Xik-1)]/ Nk(Nk-1)

O valor do índice varia de 0 a 1.

Em uma comunidade alguns organismos morrem e são substituídos por outros que
nascem, os quais darão continuidade à dinâmica do ambiente, participando ativamente da
ciclagem de nutrientes e do fluxo de energia. Assim, essa substituição de organismos ocorre
de forma natural no ambiente, onde os organismos são substituídos ao longo do tempo,
permitindo a reconstituição da comunidade e consequentemente, sem prejuízo para o
funcionamento do sistema.

3- BIODIVERSIDADE
O termo biodiversidade está frequentemente presente tanto na mídia popular quanto na
literatura científica, muitas vezes sem uma definição do seu significado. O termo biodiversidade
é usado para expressar número de espécies presentes em uma unidade geográfica definida
Entretanto, além da riqueza de espécies, existe outro componete que defini a biodiversidade
que é a uniformidade ou a proporção relativa de indíviduos de cada espécie.
A biodiversidade atual é resultado da evolução, na qual a biosfera passou por mudanças,
especialmente mudanças climáticas permanentes e um certo número de catástrofes pertuboui
consideravelmente o curso da evolução. Seu estudo pode ser abordado em diferentes níveis de
complexidade.
Diversidade genética: Variabilidade da composição genética de indivíduos dentro de
espécies e de populações ou entre populações. É representada pelas diversas populações de uma
mesma espécie (variabilidade interpopulação) geograficamente isoladas, ou pelos diversos tipos
de constituição genética dento de uma mesma população (variabilidade intrapopulação). É de
importância fundamental para que os organismos possam evoluir e se adaptar às modificações do
meio (mudanças climáticas, presença de novos organismos patogênicos ou competidores, etc).
Diversidade de espécies: Corresponde ao número e a variedade de espécies presentes
em uma determinada área. Pode ser avaliada em três níveis: o da biocenose, o de uma região
relativamente extensa e o de de um grande grupo sistemático. A medição da diversidade de

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 37


uma biocenose é frequentemente dificil devido ao grande número de espécies presentes e pelo
fato das biocenoses nem sempre ter limites bem definidos. Assim, as medidas de diversidade
geralmente se restringem a determinados grupos taxonômicos, como por exemplo, a diversidade
de aves em uma dada área. Quando não é possível identificar os indivíduos em nível de espécie,
é possível medir a diversidade considerando outros níveis de classificação como gênero, família,
ordem ou mesmo tipos morfológicos. A diversidade de espécies é geralmente medida através
dos indices de diversidade já descritos.
Diversidade de ecossistemas: Corresponde a diversidade estrutural e funcional dos
ecossistemas que estão presentes em uma região. È mais dificil de ser avaliada pois os limites
entre os ecossitemas são bastante tênues.
Diversidade de paisagens: É resultante do mosaico criado pelos ecossistemas em
interação. Pode ser descrita em função da suprfície de diversos ecossistemas e da distância entre
eles, do número de bordas, do grau de conectividade entre os diversos hábitats , do clima, da
geomorfologia e da interferência do homem, responsável, por exemplo, pela fragmentação de
hábitats. Em escala global, a diversidade de ecossistemas é uma função do clima e corresponde
aos grandes biomas.

AS VARIAÇÕES GEOGRÁFICAS DA BIODIVERSIDADE


A diversidade de espécies cresce em direção às baixas latitudes. A biodiversidade
tendem a ser baixa nos desertos e regiões polares, moderada nas regiões temperadas e máxima
nas regiões tropicais, especialmente nas florestas úmidas e mangues. O aumento do número
de espécies em direção ao Equador também ocorre nos oceanos. A ictiofauna de ambientes
límnicos também parece seguir esse padrão. Porém esse gradiente é frequente mas não geral.
Algumas espécies de insetos (como espécies de insetos parasitas entomófagos, os pulgões e
as abelhas), apresentam pico de diversidade extratropical. Entre os vegetais, o mesmo ocorre
com as coníferas. Outros exemplos são os fungos do grupo dos Políporos, as salamandras e os
Foraminíferos planctônicos, no ambiente marinho.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 38


Algumas hipóteses foram formuladas para explicar as causas da maior biodiversidade
nos trópicos, embora nenhuma parece poder explicar todos os casos observados. Entre elas:
A maior estabilidade climática das regiões tropicais em relação as regiões temperadas,
que teria favorecido a evolução de espécies e diminuido as taxas de extinção, principalmente
de espécies mais sensíveis a variações mais acentuadas de temperatura, como as espécies
frugívoras;
A especialização das espécies, em que espécies de regiões tropicais têm nichos mais
especializados que as das regiões temperadas, o que permie uma maior possibilidade de
coexistência entre elas;
A heterogeneidade espacial, que aumenta em direção aos trópicos, o que permite a
coabitação de maior número de espécies. Em escala regional, a maior heterogeneidade espacial
é grande nas baixas latitudes, pois ali se encontram, em função da altitude, hábitats tropicais,
subtropicais, temperados;
A energia recebida e a produtividade primária, que é a teoria conhecida pelos ecólogos
comoa mais plausível. Diversos esttudos monstraram que a biodiversidade e a energia disponível
são estreitamente correlacionadas. Na América do Norte, a evapotranspiração potencial (ETP),
que representa uma boa medida da energia disponível, é correlacionada a diversidade de
mamíferos e outros vertebrados terrrestres. O valor de ETP explica também 76% da riqueza
específica de árvores, sendo que os ambientes quentes e úmidos abrigam mais espécies de
árvores que os demais. Em diversas regiões do planeta, o numero de espécies de árvores está
em função da produtividade primária. As zonas áridas são desfavoráveis às arvores e um pouco
menos aos vertebrados, mas para os dois grupos de organismos a diversidade aumenta com a
energia solar recebida. Quando o fator energia é eliminado, as varições da biodiversidade que
subsistem podem ser explicadas por variações topográficas e fatores históricos.
Além da latitude outros gradientes podem influenciar a riqueza de espécies nos
ecossistemas:
∙∙ Topografia (altitude), nas regiões tropicais e temperadas há uma diminuição
geralmente regular, da biodiversidade conforme a altitude. Nas montanhas dos
desertos no sudoeste dos Estados Unidos, a diversidade de espécies vegetais atinge
seu máximo em altitudes intermediárias, devido às influências antagônicas da
aridez e da altitude. A aridez diminui até certa altitude, o que permite o aumento
da diversidade; depois a influência da altitude é maior (Dajoz, 2005);
∙∙ Leste-oeste (longitude);
∙∙ Barreiras geográficas (cadeias montanhosas);
∙∙ Efeito-penísula, em que há queda da diversidade.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 39


INTERAÇÕES E FLUXOS
No ambiente os organismo interagem entre si. Didaticamente estudamos estas interações
par a par embora no ambiente uma mesma espécie possa interagir com várias outras. As formas
de interações podem modificar também ao longo do ciclo de vida de um indivíduo. Estas
interações podem ocorrer entre indivíduos da mesma espécie (intraespecífica) ou entre espécies
diferentes (interespecífica). Muitos autores tendem a classificar as interações em harmônicas
ou desarmônicas, obrigatórias ou facultativas.Entretanto, esta é uma classificação arbitrária e
subjetiva. O que é harmônico pra mim pode ser desarmônico para você. O que é harmônico
para o observador pode não ter o mesmo significado para as populações em estudo.
A competição, por exemplo, é uma interação entre indivíduos da mesma espécie
(intraespecífica) ou entre espécies (interespecífica), provocada pela necessidade comum de um
recurso limitado, e conducente à redução de sobrevivência, crescimento e/ou a reprodução
dos indivíduos competidores.

1- COMPETIÇÃO INTRAESPECÍFICA
A competição aumenta a taxa de mortalidade e diminui a taxa de natalidade. Neste
caso a natalidade e a mortalidade são dependentes da densidade. Sendo assim quanto maior
a densidade menor a natalidade e maior a mortalidade. Quando os organismos competem
por recurso (por exemplo, alimento) a energia que poderia ser alocada para a reprodução
é direcionada para competição, e, portanto o processo reprodutivo recebe menos energia.
Considera-se também que a competição diminui a sobrevivência dos organismos e diminui sua
possibilidade de reprodução.
A dependência da densidade e a competição intraspecífica, por exemplo, estão
intimamente relacionadas. Sempre que houver competição seu efeito sobre a sobrevivência, a
fecundidade ou a combinação de ambos é dependente da densidade.

Competição intraespecífica e a regulação do


tamanho da população
À medida que ocorre o aumento da densidade a taxa de natalidade per capita diminui e
a taxa de mortalidade per capita aumenta. Deve existir um ponto com uma densidade em que as
curvas se cruzam. Com densidades inferiores a este ponto a taxa de natalidade é maior que a taxa
de mortalidade e a população cresce. Com densidade superior a este ponto a taxa de mortalidade
é maior que a taxa de natalidade. Na densidade de interseção as taxas são iguais e não produzem
mudanças no tamanho da população. Esta densidade representa um equilíbrio estável.
A competição atua sobre a natalidade e mortalidade regulando o tamanho das
populações até uma densidade estável: natalidade = mortalidade. Esta densidade recebe o

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 41


nome de capacidade de suporte (= K), e representa o tamanho da população que pode ser
mantida por um recurso do ambiente sem que ocorra alteração no tamanho da mesma.
Taxa líquida de recrutamento: é a quantidade em que muda o tamanho da população
em uma fase ou durante um intervalo de tempo. O número de indivíduos adicionais é reduzido
em densidades mais baixas, aumenta à medida que aumenta a densidade, diminui de novo
até alcançar a capacidade de suporte e logo é negativa (mais morte que nascimento), quando
a densidade inicial é maior que K. O recrutamento total é pequeno quando existem poucos
indivíduos para dar a luz e também quando a competição intraespecífica é intensa (elevada
densidade de organismos). A população alcança um aumento mais rápido, em uma densidade
intermediária.

Figura: Recrutamento x densidade

2- COMPETIÇÃO INTERESPECÍFICA
Princípio da exclusão competitiva
Um competidor interespecífico forte elimina invariavelmente um competidor
interespecífico fraco. Esta situação é analisada sob o ponto de vista da teoria de nichos. O
nicho pode se caracterizado como fundamental ou efetivo.
Nicho fundamental: nicho de uma espécie na ausência de competidores. Definido como
uma combinação de fatores que permitem que a espécie mantenha uma população viável.
Na presença de competidores a espécie pode ser limitada a um nicho efetivo, cuja
natureza exata do nicho está determinada pelos tipos de espécies competidoras presentes. Pode
existir parte do nicho fundamental de uma espécie em que, como resultado da competição
interespecífica ela não possa reproduzir ou sobreviver. Pode-se dizer que os competidores
interespecíficos fracos carecem de um nicho efetivo guando se encontram em competição com
um competidor forte.
Competidores coexistentes mostram freqüentemente diferenciação dos nichos efetivos.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 42


Princípio da exclusão competitiva ou princípio de Gause
Se duas espécies competidoras coexistem em um ambiente estável, o fazem como
resultado da diferenciação de nichos (diferenciação em seus nichos efetivos). Sem dúvida, se
não existe diferenciação uma das espécies irá eliminar ou excluir o outro competidor.
As diferenças dos nichos tendem concentrar mais efeitos competidores dentro da
espécie que entre as espécies. Interação interespecífica menos importante que a competição
intraespecífica permite a coexistência entre duas espécies. Qualquer grau de diferenciação
entre os nichos permitirá a coexistência. Por exemplo, o tamanho do alimento a ser ingerido
ou o alimento situado em alturas diferentes em um bosque ou em profundidades diferentes em
um lago.
O nicho pode ser representado pelas curvas de utilização de recursos. Quanto mais se
superpõem as curvas de utilização das espécies adjacentes devido a expansão de nicho, tanto
mais competem estas espécies.

3- PREDAÇÃO
Predadores são aqueles que consomem tudo ou parte de suas presas e aqueles que
meramente reduzem o crescimento, fecundidade ou sobrevivência da presa. Exclui os detritívoros
(consumo de matéria morta). Em termos gerais, os consumidores afetam a distribuição e a
abundância dos recursos que consomem e vice-versa.

O efeito da predação sobre a população de uma presa


Dado que os efeitos da predação sobre as presas individuais são geralmente daninhos
pode parecer que o efeito imediato da predação sobre uma população de presas ou plantas seja
também previsivelmente prejudicial. Sem dúvida estes efeitos não são sempre previsíveis, por
uma ou mais destas importantes razões:

I- Indivíduos mortos ou lesados não constituem uma amostra aleatória da população


em conjunto.
II- Os indivíduos que escapam da predação exibem geralmente reações que
compensam a perda dos indivíduos eliminados. Geralmente os indivíduos lesados

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 43


são presas mais frequentes, assim os indivíduos cassados eram os que tinham
menor probabilidade de se reproduzir.
III- O impacto da predação pode ser limitado também por reações de compensação
que se produz entre os sobreviventes (resultando na diminuição da competição
intraespecífica).

Os efeitos do consumo sobre os consumidores


Que a comida exerce efeitos benéficos sobre os predadores individuais não é difícil de
imaginar. Alimento consumido conduz um aumento da taxa de crescimento, de desenvolvimento
e de natalidade e diminuição da taxa de mortalidade.
Muitos dos efeitos de migrações refletem respostas de consumidores individuais diante a
distribuição de alimento disponível. Sem dúvida as relações entre taxa de consumo e benefícios
para o consumidor podem se ver complicadas por vários motivos. Não é de se esperar que a
taxa de nascimento, crescimento e sobrevivência aumentem indefinidamente à medida que
aumenta o alimento disponível. Os consumidores acham-se saciados. A taxa de consumo
acaba alcançando uma plataforma, que é independente da quantidade de alimento disponível
e, portanto o benefício para o consumidor alcança também a plataforma, assim existe um limite
no prejuízo que o predador pode causar sobre as presas.

Amplitude e composição das dietas dos predadores


A amplitude da dieta varia com os distintos tipos de consumidores. Existem predadores
especialistas que se alimentam exclusivamente de um tipo de alimento. Porém muitos predadores
têm uma dieta relativamente ampla. Os parasitos, os parasitóides são tipicamente especialistas
e são com freqüência monófagos, os herbívoros são representantes em todas as categorias. Os
herbívoros parasitos são amplamente especialistas.

Preferências alimentares
Não devemos pensar que as espécies polífagos e oligófagos colhem indiscriminadamente
qualquer alimento dentro de sua amplitude de comidas. Ao contrário, sempre ocorre certo grau
de preferência.
Tecnicamente, se diz que um animal apresenta uma preferência por um tipo particular
de alimento quando a proporção deste alimento na dieta do animal é mais elevada que sua
proporção no ambiente em que vive. Consequentemente, para medir a preferência alimentar
no campo, é necessário examinar a dieta do animal (geralmente através da análise do conteúdo
estomacal) e também determinar a disponibilidade dos diferentes tipos de alimento no ambiente.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 44


4- CADEIA ALIMENTAR
Todos os organismos precisam alimentar para nutrirem-se, sendo que um organismo
pode ser alimento do outro.
Uma cadeia alimentar tem muitos elos e a posição de um organismo em uma cadeia
alimentar é denominada de nível trófico. Sendo assim as vegetais, cianobactérias, algas,
flagelados autotróficos são denominadas produtores (primeiro nível trófico), os herbívoros,
consumidores primários; os carnívoros que consomem herbívoros, consumidores secundários
(carnívoros primários) e os carnívoros que se alimentam dos carnívoros primários, são
consumidores terciários (carnívoros secundários).
As cadeias alimentares podem ser controladas de baixo pra cima (controle ascendente)
ou de cima pra baixo (controle descedente). O controle ascendente ocorre quando o nível
trófico inferior controla (número, biomassa ou metabolismo) o nível trófico seguinte. Os
produtores são controlados por nutrientes e luz (controle ascendente) ou por herbívoros
(controle descendente). Normalmente, o controle descendente afeta primeiramente o número
de organismos e o controle ascendente afeta o metabolismo. Logicamente, nos ecossistemas os
dois tipos de controles podem acontecer simultaneamente, às vezes com o predomínio de um
ou de outro.
A alça microbiana também pode ocorre juntamente com a chamada cadeia clássica
em muitos ambientes. O predomínio de uma ou de outra vai depender de fatores como as
populações presentes, a disponibilidade de luz e nutriente, etc.
O vídeo de acesso livre “Como lobos mudam os rios é um belíssimo exemplo de como
o manejo de uma população pode afetar não só a comunidade inteira mas também o ambiente.
Assista em https://www.youtube.com/watch?v=zyMMDDVaXxg.

REDE ALIMENTAR
Coleção ou matriz de cadeias alimentares. Mais realista que as cadeias. Na rede ocorre
a presença de animais onívoros. Nas redes alimentares podemos encontrar alças ou ciclos.
Como exemplo temos a alça microbiana que é formada quando bactérias absorvem matéria
orgânica dissolvida disponível no ambiente e ao ser consumida pelo seus predadores entra
novamente na cadeia clássica.
Produtividade dos herbívoros é inferior a das plantas. A energia restante para onde vai?
∙∙ Cadeia de detritos
∙∙ Excremento (alimento não absorvido)
∙∙ Respiração (não convertida em biomassa)

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 45


5- FLUXOS
O fluxo de energia dentro dos ecossistemas é unidirecional seguindo as leis da
termodinâmica. Assim, ao longo do ecossistema a energia é transformada de um tipo em outro,
mas não pode ser criada nem destruída (1ª. Lei da Conservação da energia). Por exemplo,
produtores transformam energia radiante, ou eletromagnética em energia química. O processo
visa basicamente a fornecer energia (ATP) e poder redutor (NADPH) para que a planta possa
sintetizar carboidratos a partir do dióxido de carbono (CO2). Durante esta transformação
ocorre liberação de energia na forma de calor já que nenhum processo que implique numa
transformação energética ocorrer espontaneamente, a menos que haja uma degradação de
energia de uma forma concentrada numa forma mais dispersa (2ª. Lei da Termodinâmica - Lei
da Entropia). Assim sendo, nenhuma transformação de energia é 100% eficiente. A entropia é
uma medida de energia não disponível, que resulta das transformações energéticas. Da energia
luminosa que chega a um terreno, as plantas assimilam só uma parte, os herbívoros obtêm
menos dessa energia, porque as plantas utilizam uma parte para a sua manutenção e essa
energia deixa de estar disponível para os herbívoros. A energia que passa de um nível trófico
para o outro raramente chega a 30%. Usualmente as cadeias não são muito longas, pois são
limitadas pela quantidade de energia, tamanho do predador e estabilidade das cadeias.
Da energia solar total que chega ao nosso planeta parte é refletida, parte é absorvida pelas
nuvens, gases atmosféricos, parte é absorvida pelos produtores primários. Lembrando que os
produtores podem estar localizados em diferentes altitudes, latitudes, e profundidades na coluna
d´água, etc. E lembrando, ainda, que estes produtores tem diferentes tamanhos, formas e razões
superfícies/volumes que resultaram em taxas de absorção da energia luminosa distintas.
Os organismos podem ser classificados de acordo com a sua fonte de energia, fonte de
elétrons, e de aceptor final de elétrons, conforme esquema abaixo.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 46


A transferência de energia dentro de um ecossistema gera uma pirâmide energética
unidirecional com a base sempre maior que o topo. A sequência de relações alimentares através
das quais a energia é transferida no ecossistema é chamada cadeia alimentar. Dentro de cada
nível trófico, seja produtor, consumidor ou decompositor, temos normalmente uma variedade
de espécies, cada uma com taxas de absorção ou consumo distintas que resultaram numa única
eficiência de transferência de energia.

PRODUÇÃO PRIMÁRIA

Produtividade primária: Taxa na qual a energia radiante é convertida em compostos


orgânicos pela atividade fotossintética e quimiossintética dos produtores (segundo Odum) ou a taxa
em que a biomassa é produzida por unidade de área pelos vegetais e algas (segundo Townsend).
A produtividade do sistema não deve ser confundida com a biomassa do sistema ou com
a produção total de alguma substância. Estas medidas não incluem a dimensão de tempo, são
medidas instantâneas. Entretanto, quando o termo “produção” refere-se a uma quantidade de
matéria orgânica acumulada, um elemento de tempo fica pressuposto. Desta forma, para evitar a
confusão, deve-se citar o intervalo de tempo (Ex: quantidade de produção agrícola em um ano).
Métodos de determinação da produção primária:
∙∙ Número de indivíduos novos: a produção pode ser calculada a partir da variação
do número de indivíduos dentro de um intervalo de tempo. Para a realização
da contagem instrumentos como microscópio e citômetro de fluxo, no caso
de fitoplâncton. Porém, só a contagem pode não ser o suficiente e medidas
morfométricas devem ser também consideradas. Uma vez que, pode haver o

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 47


crescimento em tamanho sem a formação de novos indivíduos. Neste caso, muitas
vezes as medidas são realizadas separando por classes de tamanhos.

Concentração do teor de clorofila: a variação no teor do pigmento de clorofila num


intervalo de tempo também pode ser utilizada na determinação da produção primária. O teor
de clorofila pode ser medido diretamente com fluorímetro portátil ou a partir da extração do
pigmento. Várias são as metodologias para a extração deste pigmento: mecânica (trituração),
com utilização de solventes (acetona e álcool, por exemplo). Após a extração a concentração
de clorofila, a leitura é realizada com fluorímetro ou espectrofotômetro partindo de uma reta
padronizada com concentrações conhecidas.

Imagens de satélites, calibradas com coletas simultâneas de amostras in situ para análise
de número de indivíduos e teor de clorofila tem sido utilizadas no mapeamento da produção
primária nos oceanos e florestas tropicais.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 48


∙∙ Produção de biomassa: a biomassa é quantidade da massa orgânica viva existente
num determinado espaço. É a massa de organismos por unidade de área de solo
(ou água, sedimento) e é expresso geralmente em unidades de energia (p.ex.,
joules por metro quadrado), matéria orgânica úmida ou seca (p.ex., toneladas por
hectares, mg de C por mL). Os organismos (ou suas partes) deixam de ser vistos
como biomassa quando morrem (ou são mortos), esses tornam componentes da
matéria orgânica morta.

Medir a biomassa significa colocar na balança os diferentes


níveis tróficos ou classes de organismos que compõe a
comunidade. Algumas vezes a sensibilidade das balanças
não são suficientes para terminar o peso. Assim, o material
é concentrado em filtros ou a biomassa é calculada a partir
da forma geométrica (altura, largura, comprimento) dos
organismos presentes.O cálculo também é possível partindo
de imagens de satélites calibradas com amostragens in situ
da comunidade.

∙∙ Produção de oxigênio, conhecido como o método dos frascos claros e escuros.


O método se baseia na mensuração do oxigênio liberado durante o processo da
fotossíntese em ambientes aquáticos. Para isto geralmente o oxigênio é medido em
frascos claros e escuros incubados durante um determinado período de tempo in
situ ou em bioensaios. Nos frascos claros teremos produção e respiração, enquanto
nos frascos escuros apenas a respiração. Ao medirmos a produção de oxigênio
assumimos que uma molécula de CO2 foi fixada.
Em bioensaios laboratoriais, sacos de filó pretos podem ser utilizados com diferentes
tamanhos de malha para simular gradiente de luminosidade. A construção de
curva P x I também pode ser realizada com a exposição de frascos claros e escuros
colocados em diferentes distâncias partindo da fonte luminosa. A diferença na
concentração de oxigênio é medida após um determinado tempo de incubação
com auxílio de oxímetro ou métodos químicos (titulação ou espectrometria). 

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 49


∙∙ Incorporação de carbono radioativo (14CO2). Trata-se de um método utilizada
para mensurar a produção primária em ambientes aquáticos. Carbonato radioativo
inorgânico (H14CO3) é adicionado em frascos claros e escuros. Após uma exposição
durante intervalo de tempo, o conteúdo de ambos os frascos é filtrado em filtros
de membrana (0.2-0.4 mm). Este filtros, após um tratamento para eliminação do
carbono inorgânico, são levados a um cintilador para que a radioatividade neles
presente seja mensurada. Paralelamente, é feita a determinação do conteúdo em
carbono inorgânico da água.

∙∙ Absorção de CO 2 : Este método se baseia na determinação das taxas de absorção


de gás carbono pelos produtores. No caso de vegetais, ele pode ser empregado
tanto em comunidades inteiras quando em plantas isoladas em laboratório. Em
ambientes abertos esta taxa é determinada a partir da análise de variações diurnas
nos gradientes de CO2 observados ao longo de diferentes estratos de vegetação
arbórea. Normalmente são empregadas grandes torres ao longo da qual são
colocados sensores capazes de medir as variações de concentrações de CO2,
temperatura e umidade relativa do ar e velocidade dos ventos. O objetivo do
método é o de estimar o fluxo de CO2 entre a cobertura vegetal, o ar livre e o solo
por meio de medidas dos gradientes verticais de concentração do gás carbônico.
Para esse cálculo é necessário o conhecimento do coeficiente de transferência
turbulenta, de acordo com a lei de Fick.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 50


O aparelho capaz de medir as concentrações de gás carbono é o analisador de gases
baseado na emissão de radiação infra-vermelho (Infrared Gas Analyzer, IRGA). O aparelho
consiste de uma fonte de radiação IR que a emite através de um sistema de câmaras transparentes
contendo gases. Em duas dessas câmaras passa a amostra gasosa contendo CO2 e, em outra,
existe um gás referência (nitrogênio). As diferenças geradas pela absorção diferencial da
radiação IR pelos gases nessas câmaras são detectadas e amplificadas eletronicamente.

Torres formando anéis têm sido utilizadas em projetos medindo o enriquecimento de


dióxido de carbono livres no ar (FACE). Para tanto, sensores são medindo dióxido e
carbono e outras variáveis são colocados em cada uma delas.

A absorção de carbono pelas plantas também pode ser feita ao nível de indivíduos em um
sistema fechado. Neste caso, uma parte do tecido fotossintético da planta é colocada em uma câmara
transparente especial, onde existem sensores capazes de medir a temperatura e a umidade relativa.
Nessa câmara, existem também orifícios dotados de válvulas onde pode ser extraída uma amostra
de ar para ser injetada no aparelho analisador de carbono. Há, ainda, um pequeno ventilador
dentro da câmara que impede a formação de microgradientes gasosos. Amostras do ar no interior
desta câmara são tomadas em intervalos regulares, normalmente de algumas dezenas de segundos,
dependendo da planta considerada. A taxa de assimilação fotossintética (F) pode ser estimada a
partir das diferenças nas concentrações de CO2 ocorridas num intervalo de tempo determinado.
Câmaras de incubação e IRGA também são utilizadas na determinação de dióxido de
carbono em ambientes aquáticos.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 51


A quantidade de energia química fixada pelos produtores por unidade de área, por
unidade de tempo diz respeito à produtividade primária total ou produção primária bruta
(PPB). Esta energia não representa o alimento disponível que pode ser potencialmente utilizada
pelos animais.
Para sintetizar a matéria orgânica os autótrofos devem realizar trabalho e a energia para
isso é obtida a partir da oxidação de substâncias orgânicas pela respiração.
Produção primária bruta menos a respiração, constitui a energia de alimento
potencialmente disponível ou avaliável para os heterótrofos, e é designada Produção primária
líquida (PPL).
PPB – R = PPL

Eficiência fotossintética = energia total fixada na fotossíntese/total de energia que chega ao campo.

Energia total fixada na fotossíntese = PPL+R

PPL = Produção primária lÍquIda

R = Respiração

EFICIÊNCIA DE TRANSFERÊNCIA DE ENERGIA NOS ECOSSISTEMAS


A proporção da produção primária líquida que flui ao longo de cada uma das possíveis
via de energia depende da eficiência de transferência com que a energia é utilizada e passada
para o nível seguinte.

Eficiência de transferência
Eficiência de consumo: (In/Pn-1)x100
Eficiência de absorção: (An/In)x100
Eficiência de produção: (Pn/An)x100
Pn-1 = quantidade de energia no nível trófico anterior
In = energia ingerida; An = energia absorvida; Pn = produção líquida

No gráfico a seguir, a maior contribuição para redução de um dos gases que intensifica
o efeito estufa (CO2) acontece no tempo 6. É neste tempo que a produção primária bruta é
maior. Lembrando que, a medida de produção é resultante do somatório da atividade de todos
os produtores presentes com diferentes morfologias, metabolismo, razões superfície:volume,
número de indivíduos e de populações. Observamos também que não necessariamente uma
maior biomassa significa maior produção. Os produtores presentes nesse sistema podem
modificar seu metabolismo ao longo do tempo.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 52


RESPIRAÇÃO
A eficiência de um sistema depende, portanto, não só da produção, mas também da
respiração. Entretanto, dados de medidas de respiração são escassos quando comparados com
o volume de dados globais de produção.
A respiração pode ser medida também pela concentração de CO2 ou de O2 durante um
intervalo de tempo. Devemos realizar as medidas no escuro ou utilizando garrafas escuras onde
teremos a atividade respiratória tanto dos heterotróficos como dos autotróficos. As garrafas
claras não são utilizadas porque além da respiração, nelas temos também a produção. Desta
maneira, a concentração de CO2 ou O2 pode não variar nas garrafas claras porque ao mesmo
tempo em que CO2 é fixado ele pode ser respirado.
Os métodos de mensuração destes gases são os mesmo descritos anteriormente nas
medidas de produção – IRGA ou métodos químicos.

DECOMPOSIÇÃO
A literatura define decomposição como desintegração gradual da matéria orgânica morta,
em compostos simples e inorgânicos, com consequente liberação de energia. Compreende
um conjunto de processos físicos e biológicos de fragmentação e resulta na remineralização
da matéria orgânica. A decomposição é um processo de degradação (muitas vezes oxidação
enzimática) de restos orgânicos (como folhas, galhos, excremento e animais mortos) que resulta
na liberação de nutrientes minerais. É um processo fundamental para os ecossistemas, pois os
nutrientes liberados serão abosrvidos por algas e macrófitas aquáticas (ambiente aquáticos)

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 53


e por outras plantas no ambiente terrestre. Além destes produtores, microorganismos como
bactérias e arquéias também podem absorver estes nutrientes e incorporar à biomassa.
Os detritos orgânicos estão em todas as partes e podem ser definidos como a matéria
orgânica recentemente morta ou parcialmente decomposta. Ou material finamente fragmentado
proveniente de decomposição e quebra de restos de organismos.
Em alguns locais, uma parte considerável das folhas não chega aos herbívoros, e vai
compor o detrito vegetal sobre o solo ou sedimento de um lago, sendo assim, grande parte das
folhas e galhos, irá compor o reservatório de detritos. Em locais com cobertura vegeta, quando
da sua retirada, faz que muitos nutrientes sejam carreados pela água da chuva para rios e
córregos empobrecendo o solo.
Nutrientes retidos nos detritos serão regenerados em formas reutilizáveis pelas produtores
e microrganismos.
O manejo do solo inadequado pode eliminar decompositores (fungos e bactérias, os
quais apresentam um papel central na decomposição) e detritívoros (muitos invertebrados) e,
consequentemente, interferir no processo de decomposição da matéria orgânica. Os organismos
presentes no solo são fundamentais para a regeneração de nutrientes e para a produção de
biomassa vegetal.
Quando folhas, galhos, frutos e sementes caem no solo passam por uma sequência
de processos:

1- Lixiviação (sais, açúcares e aminoácidos)


2- Fragmentação e consumo por parte dos animais detritivoros
3- Degradação dos compostos lenhosos pelos fungos
4- Decomposição de quase tudo pelas bactérias.

A diferença da velocidade de decomposição dos detritos depende da quantidade de


lignina e nitrogênio nos mesmos. Além da diversidade local de espécies microbianas e suas
taxas metabólicas.
Os elementos são regenerados e assimilados muito rapidamente, esse padrão tem
importantes implicações para a agricultura e para a conservação tropical. A decomposição em
regiões tropicais não permite a formação de um reservatório substancial de nutrientes como
ocorre em regiões temperadas e isto é fundamental para o manejo adequado do solo. Em
regiões tropicais, as condições climáticas favorecem a decomposição rápida. Os nutrientes
são rapidamente liberados da matéria orgânica morta, ficando no solo de onde podem ser
absorvidos pelas raízes das plantas e/ou carreados pela água da chuva. Neste tipo de condições,
a maioria dos nutrientes se encontra na biomassa viva. Em consequencia, a retirada da floresta
com o intuito de conseguir colheitas abundantes, não se realiza, pois a quantidade de nutrientes
nesses solos não é suficiente para sustentar atividades agrícolas continuamente.
O processo de decomposição mantém a funcionalidade do ecossistema, possibilitando
que parte do carbono incorporado na biomassa vegetal retorne à atmosfera como CO2 e outra
parte, juntamente com os elementos minerais, seja incorporada ao solo.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 54


BIODIVERSIDADE
O que é a biodiversidade
O Termo “biodiversidade”, ou “diversidade biológica”, é amplamente utilizado para
designar a variedade de espécies. Em termos ecológicos, a biodiversidade representa a medida do
número, da variedade e da variabilidade de organismos em todos os níveis. Inclui a diversidade
dentro de espécies, entre espécies e entre os ecossistemas. O conceito abrange também a forma
como esta diversidade muda a partir de um local para outro e ao longo do tempo.
A biodiversidade está em toda parte, tanto em terra como na água. Ela inclui todos
os organismos, de bactérias microscópicas às plantas mais complexas e animais. Mas essa
vasta gama de espécies dificulta a documentação das estimativas globais da biodiversidade.
De acordo com os dados da última “Avaliação Ecossistêmica do Milênio” (http://www.maweb.
org/), até 2005 já existiam de 1,7 a 2 milhões de espécies catalogadas, mas estima-se que o
número total de espécies no planeta varie entre 5 a 30 milhões.
Na ecologia, diversidade pode ser entendida sob diversas óticas, a depender da
abordagem científica. A diversidade de espécies, cuja definição já foi fornecida anteriormente, é
o componente mais óbvio, mas não o único, da biodiversidade. Outro componente importante
é a diversidade genética, que permite que a vida na Terra se adapte e sobreviva a drásticas
mudanças ambientais. Também há a diversidade de ecossistemas, que trata da variedade de
florestas, desertos, campos, dentre outros, abordado mais a frente no tópico Biomas. Cada um
desses ecossistemas é um armazém de diversidade genética e de espécies. Outro componente
importante da biodiversidade é a diversidade funcional, que representa a variedade de processos
ecológicos, como ciclagem de matéria, fluxo de energia e outros componentes tróficos nas
interações entre as espécies.

Como a biodiversidade é medida


Como a biodiversidade é tão abrangente, os ecólogos a estudam através de medidas e
índices, sendo a mais simples a riqueza de espécies – o número de espécies em determinada
área – considerada como uma medida qualitativa da biodiversidade. Outra forma importante de
caracterizar a biodiversidade é pela abundância relativa das espécies, uma medida quantitativa
da biodiversidade. Eis uma síntese das formas de se medir a biodiversidade:
Riqueza – é a simples contagem de número de espécies em determinada área amostrada.
Abundância – é o quanto há de organismos. A abundância pode ser quantificada pela
densidade, frequência, cobertura ou biomassa dos indivíduos das diferentes espécies em
uma área amostrada. O propósito é avaliar, em termos proporcionais, quais as espécies mais
importantes ecologicamente na área. Assim é possível reconhecer quais as espécies dominantes
(aquelas de maior importância quantitativa) e quais as espécies raras (aquelas com baixa
representatividade quantitativa).

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 56


Distribuição – é onde a quantidade ou a variação da biodiversidade ocorre.
Normalmente a distribuição e a abundância estão intimamente relacionadas e são, portanto,
geralmente tratados em conjunto sob o título de quantidade. No entanto, a quantidade pode
não ser sempre suficiente para estimar a biodiversidade, pois as espécies se distribuem em
locais preferenciais.
Essas informações qualitativas e quantitativas são utilizadas no cálculo de índices de
diversidade, que geram valores que indicam o quão a área amostrada é diversa, permitindo
comparações com outras áreas. Para tanto, é preciso utilizar amostragens adequadas e
padronizadas para comparações, o que por si só representa um vasto campo de estudos.
Dentre os índices de diversidade, o mais aplicado mundialmente é o índice de diversidade
de Shannon (H’), baseado na transformação logarítmica da densidade das espécies.

A distribuição da biodiversidade
A distribuição da biodiversidade no planeta é delimitada através dos biomas.
Bioma é um conceito estabelecido para classificar ambientes com base na composição
predominante da vegetação. O padrão climático (temperatura e precipitação) representa
o principal aspecto utilizado neste sistema de classificação. Os ecossistemas pertencentes
ao mesmo tipo de bioma em diferentes partes do mundo desenvolvem uma estrutura de
vegetação e funcionamento semelhantes, incluindo produtividade e taxas de ciclagem
de nutrientes, e assim os biomas proporcionam pontos de referencia convenientes para
comparar os processos ecológicos numa escala global.
Um dos esquemas mais amplamente adotado para definição dos Biomas é o
sistema de zona climática, desenvolvido pelo ecólogo alemão Heinrich Walter em 1965.
Esse sistema possui nove divisões (Tabela 1), baseadas no curso anual de temperatura
e precipitações. Esse sistema de classificação climático em escala global considera os
biomas parcialmente homogêneos dentro de suas fronteiras hipotéticas. Mas a vegetação
responde de maneira diferenciada, uma vez que todo bioma apresenta gradientes locais
de condições físicas, químicas, topográficas, geológicas e hidrográficas bem peculiares.
A variabilidade destes aspectos leva a formação de mosaicos heterogêneos de vegetação,
fundamentais para a manutenção da biodiversidade. Por esse motivo, o ecólogo Robert
H. Whittaker propôs em 1975 uma abordagem específica para a relação entre os biomas
e as variáveis climáticas. Ele definiu os biomas por sua estrutura da vegetação e elaborou
um diagrama climático no qual plotou as fronteiras aproximadas dos grandes biomas em
relação às médias anuais de temperatura e precipitação (Figura 1).
O tema Biomas recebe diferentes abordagens na literatura científica, e suas
categorias podem variar de 7 a 11 (ou ainda mais), dependendo da obra. No Brasil, país
de grande extensão territorial e grande heterogeneidade na distribuição da vegetação,

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 57


a classificação de biomas, embora baseado nos biomas mundiais, é diferenciada por
enfatizar as grandes regiões climáticas. Por exemplo, o Cerrado é considerado uma savana
pois cerca de 70% de sua cobertura apresenta vegetação similar à savânica (denominada
cerrado sentido restrito). Porém os 30% restantes apresentam florestas sazonais e campos,
que se enquadrariam em categorias mundiais distintas. Outro exemplo, o Pantanal, nada
mais é que uma grande área de Cerrado (savana) com alagamento anual periódico, e
que recebeu a designação de bioma pelo apelo para conservação da biodiversidade. A
seguir são detalhados alguns aspectos ecológicos dos principais biomas mundiais, que
são encontrados no Brasil.
Floresta Pluvial Tropical: também denominada Floresta tropical úmida, é o bioma
mais produtivo do planeta, podendo atingir produtividade fotossintética superior a 1 kg
de Carbono fixado por metro quadrado por ano. Esta produtividade é resultado da elevada
e contínua radiação solar e abundância e regularidade na distribuição das chuvas. No
Brasil, os ecossistemas da Bacia Hidrográfica do Amazonas constituem os principais
exemplos para este tipo de bioma. Na tabela 1, corresponde a zona climática I.
Savana: consiste caracteristicamente em campos naturais com árvores esparsas,
entremeadas por áreas extensas sem vegetação arbórea. Embora a precipitação anual
possa atingir níveis comparáveis com áreas de floresta (de 900 a 1500 mm), a distribuição
das chuvas é sazonal, com 3 a 6 meses secos (< 50 mm). Os incêndios e a pastagem da
fauna exercem papeis importantes na manutenção do bioma, pois as gramíneas resistem
melhor a tais impactos. O Cerrado é a savana brasileira, e uma das mais diversas do
planeta. Na tabela 1, corresponde à zona climática II.
Floresta Pluvial sazonal: também denominada Floresta estacional tropical, apresenta
precipitação anual sazonal e menor que a floresta pluvial, com níveis comparáveis com
áreas de savana (de 900 a 1500 mm). A grande diferença está no período da distribuição
das chuvas, com até 3 secos (< 50 mm), fazendo com que as plantas tenham um período
menor de restrição hídrica. Representa boa parte das florestas tropicais, e no Brasil é
encontrada em encraves florestais no Cerrado, Caatinga, Amazônia, mas principalmente
na Mata Atlântica, cobrindo boa parte dos estados de Minas Gerais e São Paulo. Na
tabela 1, corresponde à zona climática II.
Campos temperados: também é denominado de bioma de campo ou, em alguns,
desertos temperados. Presente em todos os continentes, apresenta vegetação tipicamente
herbácea e ocupa vastas áreas, incluindo as pradarias da América do Norte e os Pampas
ou Campos Sulinos no sul do Brasil. É altamente susceptível a ação de queimadas e
práticas agropecuárias. Na tabela 1, corresponde a zona climática VII.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 58


Tabela 1- Classificação das zonas climáticas de Heinrich Walter e sua relação com a
classificação dos biomas mundiais segundo Robert H. Whittaker.

Nome do Bioma (Whittaker, 1975) Zona climática (Walter, 1965) Vegetação

I. Equatorial: Sempre úmido; Floresta pluvial


Floresta pluvial tropical ausência de sazonalidade na tropical sempre
temperatura verde

II. Tropical: Estação chuvosa no Floresta sazonal,


Floresta tropical sazonal / Savana
versão e estação seca no inverno arbustos ou savana

Vegetação desértica
III. Subtropical: Desertos quentes,
Deserto subtropical com grande
altamente sazonal, clima árido
superfície exposta

Xerófila ( adaptada
a seca), arbustos
Bosque / arbusto IV. Mediterrâneo sensíveis ao
congelamento e
bosques

Floresta temperada
Floresta pluvial temperada V. Temperado quente: perene, um pouco
sensível ao gelo

Resistente ao gelo,
Floresta sazonal temperada VI. Nemoral: decídua, floresta
temperada

Campos e desertos
Campo temperado / deserto VII. Continental (desertos frios):
temperados

Floresta de folhas
aciculadas,
Floresta boreal VIII. Boreal perenes, duras e
resistentes ao gelo
(Taiga)

Vegetação perene
baixa, sem
árvores, crescendo
Tundra IX. Polar
sobre solos
permanentemente
congelados

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 59


Figura 1- Diagrama proposto por Robert H. Whittaker (1975) para classificação dos grandes biomas
mundiais. (Fonte: http://pcg.wikidot.com/pcg-algorithm:whittaker-diagram).

Ameaças à biodiversidade
A biodiversidade é ameaçada por causas diretas e indiretas. As causas indiretas da perda
de biodiversidade incluem o crescimento da população e o desenvolvimento econômico. Já as
principais causas diretas são:
Perda do hábitat: Considerada a principal ameaça à biodiversidade. Embora possa ocorrer
naturalmente, através de secas, incêndios, vulcões, terremotos e mudanças de temperatura ou
precipitação sazonal, são as mudanças no uso da terra pelas atividades humanas os principais
motores da fragmentação, degradação e da perda do hábitat. A agricultura é geralmente a
mais impactante, mas também constam da lista a construção de infraestrutura, a exploração
madeireira, a mineração e a urbanização rápida. As lavouras representam hoje mais de 25% da
superfície terrestre, excluindo a Antártica.
Espécies exóticas invasoras: Considerada a segunda maior ameaça à biodiversidade,
a introdução, acidental ou intencional, de espécies invasoras de plantas ou de animais pode
ter um impacto devastador sobre as espécies naturais e ecossistemas. Uma espécie invasora
entra na teia trófica livre de predadores (“liberação ecológica”), o que aumenta sua vantagem

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 60


competitiva. Dependendo do seu grau de agressividade, pode apresentar grande crescimento
demográfico e eliminar gradativamente as espécies nativas, reduzindo a diversidade local. A
taxa de introdução de espécies exóticas e os riscos associados a elas se multiplicaram nos
últimos anos, em razão do crescimento da população humana e do aumento das viagens, do
comércio e do turismo.
Sobre-exploração e poluição : Os processos intensivos e insustentáveis de caça, pesca e
extração de matérias-primas estão aumentando a pegada ecológica, uma medida da demanda
humana pelos ecossistemas da Terra. A poluição ocorre quando os seres humanos emitem mais
resíduos do que o ecossistema pode absorver. Gases-estufa, fertilizantes, resíduos agrícolas
e tóxicos, todos perturbam interações, provocam eutrofizações, e impactam diretamente a
biodiversidade.

Como a biodiversidade nos serve


A biodiversidade é o componente fundamental dos ecossistemas, e desempenha
um papel importante na função de ecossistemas e em muitos serviços que prestam, assim
denominados como “serviços dos ecossistemas”, que são os benefícios que as pessoas obtêm
dos ecossistemas. Os serviços incluem a ciclagem de nutrientes e água, formação e retenção do
solo a polinização, a regulação do clima, bem como controle biológico de pragas e poluição.
Eis uma síntese dos serviços dos ecossistemas:

Serviços de provisionamento – suprem os elementos básicos para a sobrevivência, incluindo


alimentação, água potável, madeira, fibras, recursos genéticos, medicamentos, produtos
decorativos e culturais.

Serviços de regulação – mantém a qualidade do ar, purificam a água, tratam resíduos e


protegem de perigos naturais, erosão, pragas e doenças. As árvores nas áreas florestais
das cidades, por exemplo, contribuem na redução da poluição do ar e no controle
microclimático local.

Serviços de apoio – processos praticamente invisíveis dos quais todos os outros serviços do
ecossistema dependem. Por exemplo, a produção agrícola depende da formação do solo,
que por sua vez depende das condições climáticas, bem como de processos químicos e
biológicos.

Serviços culturais – benefícios não materiais por meio de beleza (paisagem), práticas
religiosas, recreação, dentre outros. A biodiversidade alimenta as lendas e inspira culturas,
história e artes.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 61


Ações para conservar a biodiversidade:
Felizmente, existem muitas ideias e informações para se preservar a biodiversidade. Eis o
que é recomendado na última “Avaliação Ecossistêmica do Milênio” (http://www.maweb.org/):

Áreas protegidas: As áreas protegidas são uma parte essencial de programas de conservação,
mas elas não são suficientes por si só para proteger toda a gama de biodiversidade, além
da dificuldade se se implementar. Para haver sucesso, locais para implementação de áreas
protegidas precisam ser cuidadosamente escolhidos, com critérios ecológicos e biogeográficos
bem definidos, garantindo que todos os ecossistemas regionais estejam bem representados. Além
disso, as áreas precisam ter um bom design e tamanho considerável, para uma conservação
mais eficaz. Atenção especial deve ser dada à prevenção e erradicação de espécies invasoras,
para que o controle não se torne inviável e dispendioso.

Ferramentas de mercado: Ações financeiras como os pagamentos diretos por serviços


ecossistêmicos ou transferências de direitos de propriedade sobre os particulares , podem
fornecer incentivos econômicos para a conservação da biodiversidade e de utilizar os serviços
dos ecossistemas de forma sustentável.

Integração com atividades agrícolas: a conservação da biodiversidade deve ser integrada


na agricultura, pesca, silvicultura e setores afins, preferencialmente a partir de práticas
agroflorestais. Esses setores são diretamente dependentes da biodiversidade, e sua perda irá
afetá-los diretamente. O setor privado pode fazer contribuições significativas, por exemplo,
através da adoção de certas práticas agrícolas não convencionais. Muitas empresas já mostram
uma maior responsabilidade corporativa e estão preparando seus próprios planos de ação da
biodiversidade.

Instrumentos legais: Os instrumentos legais, tanto internacionais como locais, são fundamentais
para uma boa política de conservação. Acordos internacionais precisam incluir medidas de
execução e ter em conta os impactos sobre a biodiversidade e as possíveis sinergias com
outros acordos. A maioria das ações diretas para impedir ou reduzir a perda de biodiversidade
precisa ser tomadas a nível local ou nacional. Leis e políticas adequadas desenvolvidas pelos
governos centrais podem permitir níveis locais de governo para fornecer incentivos para a
gestão sustentável dos recursos. Um bom exemplo de instrumento para a conservação é a
definição de “hotsposts”, ou seja, “áreas quentes” (ou prioritárias) para conservação no Planeta
(ver Quadro 1)

Divulgação e conscientização: Informando toda a sociedade sobre os benefícios da


conservação da biodiversidade, e considerando explicitamente os custos e benefícios entre
diferentes opções de consumo, de uma forma integrada, ajuda a maximizar os benefícios para
a sociedade. A restauração de ecossistemas é geralmente muito mais caro do que proteger
o ecossistema original, mas está se tornando cada vez mais importante à medida que mais
áreas se degradam.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 62


Quadro 1- Os “Hotspots” mundiais para a conservação da biodiversidade.

O conceito “Hotspot” foi criado em 1988 pelo ecólogo inglês Norman Myers para definição das
áreas prioritárias para conservação da biodiversidade na Terra. O propósito era identificar quais as
regiões que concentravam os mais altos níveis de biodiversidade e onde as ações de conservação
seriam mais urgentes.

Uma região e considerada “Hotspot” quando possui pelo menos 1.500 espécies endêmicas de
plantas e que tenha perdido mais de 3/4 de sua vegetação original.

A identificação e atualização destas áreas fica a cargo da ONG Conservação Internacional (CI). Hoje
existem 34 regiões definidas como “Hotspots”, que servem de hábitat para 75% dos mamíferos,
aves e anfíbios mais ameaçados do planeta. Mesmo assim, a soma da área de todos os “Hotspots”
corresponde a apenas 2,3% da superfície terrestre, onde se encontram 50% das plantas e 42% dos
vertebrados conhecidos.

No Brasil há dois “Hotspots”: os biomas Mata Atlântica e Cerrado. Para estabelecer estratégias
de conservação dessas áreas, a CI-Brasil colaborou com o Projeto de Ações Prioritárias para a
Conservação da Biodiversidade dos Biomas Brasileiros, do Ministério do Meio Ambiente. Centenas
de especialistas e representantes de várias instituições trabalharam juntos para identificar áreas
prioritárias para a conservação do Cerrado (em 1998) e da Mata Atlântica (em 1999).

(Fonte: Conservação internacional. http://geoconceicao.blogspot.com.br/2012/03/definicao-o-


conceito-hotspot-foi-criado.html).

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 63


ECOLOGIA DA PAISAGEM
O que é ecologia da paisagem
A ecologia da paisagem é uma nova área de conhecimento dentro da ecologia,
marcada pela existência de duas principais abordagens: uma ecológica, que enfatiza a
importância do contexto espacial (escalas) nos processos ecológicos, e a importância
dessas escalas em termos de conservação biológica; e a outra geográfica, que enfatiza o
estudo da influência do homem sobre a paisagem e a gestão do território. Como trata-se
de uma área de estudos recente, as definições de ecologia da paisagem variam em função
da abordagem (ecológica ou geográfica) e dos autores.
O estudo da ecologia da paisagem leva em conta que quando consideramos
áreas maiores de terra, a observação mais notável é que as áreas maiores contem uma
variedade maior de habitats, e uma grande área com muitos tipos diversos de habitats é
chamada de paisagem. A diversidade de uma paisagem não inclui apenas a variedade dos
tipos de habitat terrestres e aquáticos, mas também as formas pelas quais estes habitats
estão espacialmente arranjados. Nesse contexto, a ecologia da pasigaem é definida como
o estudo da composição das paisagens e o arranjo espacial dos habitats dentro dela,
e como estes padrões influenciam os indivíduos, as populações, as comunidades e os
ecossistemas em diferentes escalas espaciais.
O mosaico de habitat numa dada paisagem pode refletir as influencias que são
tanto históricas (ex: eventos geológicos e geográficos milenares) quanto modernas (ex:
catástrofes naturais e animais capazes de agir como “engenheiros de ecossistema”,
ou seja, que moldam seu habitat, como os castores). Mas o foco maior da ecologia da
paisagem consiste em entender como os impactos antropogênicos influenciam na divisão
da paisagem em fragmentos de habitats isolados de diferentes tamanhos e formas, qual
a relação dessa fragmentação na biodiversidade, e como os corredores de habitat e a
qualidade da matriz entre os fragmentos afetam os padrões da riqueza e substituição/
extinção de espécies locais. A abordagem de paisagem também auxilia a questionar
como os organismos diferentes percebem seu ambiente em diferentes escalas espaciais.
Em síntese, a ecologia da paisagem promove o exame de padrões ecológicos usando um
quadro espacial mais amplo.
Existem alguns conceitos elementares em ecologia de paisagem: corredor é uma
área homogênea de unidade de paisagem que se distingue das unidades vizinhas e que
apresenta disposição espacial linear; mancha é uma área homogênea de uma unidade
de paisagem, que se distingue das unidades vizinhas e tem extensões espacialmente
reduzidas e não lineares. Pequenos fragmentos florestais normalmente são considerados
como manchas em estudos de paisagem; matriz é uma unidade de paisagem que controla
a dinâmica da paisagem. A matriz pode tanto recobrir a maior parte da paisagem,
sendo dominante em termos de recobrimento espacial, quanto ter um maior grau de

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 65


conexão de sua área, com menor grau de fragmentação. Em estudos de fragmentação a
matriz é entendida como o conjunto de unidades de não-habitat para uma determinada
comunidade estudada, como por exemplo, uma grande área de pastagem ou canavial
(não-habitats) onde estão presentes pequenos fragmentos florestais (habitats).

Como quantificar a paisagem


A abordagem ecológica na perspectiva de paisagem pode parecer uma tarefa
assustadora devido ao desafio de quantificar os mosaicos da paisagem de grandes áreas.
De fato, trata-se de uma abordagem recente e que só foi possível devido às tecnologias
modernas de mapeamento, principalmente pela tecnologia do sensoriamento remoto. O
sensoriamento remoto é a coleta de informação geográfica a longa distância, podendo
ser entendido como uma coleção de informação de paisagens baseada em fotografias
tiradas de aviões ou satélites.
A tecnologia do sensoriamento remoto é baseada nos comprimentos de onda da
radiação solar. A radiação solar que atinge a superfície da Terra é refletida e cai num
intervalo de comprimento de onda, desde o ultravioleta até quase o infravermelho. Como
os diferentes objetos na superfície da Terra absorvem e refletem diferentes comprimentos
de onda, cada elemento ou paisagem (ex: florestas, campos, corpos de água) tem uma
assinatura única de comprimentos de onda refletidos. De fato, mesmos tipos de vegetação
podem ter assinaturas únicas de comprimentos de onda. Os pesquisadores usam estas
assinaturas para identificar os diversos elementos da paisagem em imagens de satélite.
Dessa foram, podem coletar grandes quantidades de dados no nível de paisagem de
qualquer parte do planeta, incluindo lugares de difícil acesso e/ou perigosos de se visitar.
A partir destes dados, são criados mapas digitais de unidades de terras, como montanhas,
linhas de costa, correntes de águas e fragmentos de habitats ao longo das paisagens.
Outra tecnologia muito útil no estudo da ecologia da paisagem é o Sistema de
Posicionamento Global (GPS). Projetado originalmente para fins militares, hoje é muito
utilizado em automóveis e telefones celulares para ajudar na navegação. Os satélites
orbitam em torno da Terra enviando sinais que podem ser detectados pelos receptores de
GPS, e quando sinais de pelo menos quatro satélites podem ser detectados, o receptor
pode calcular a latitude, longitude e altitude de qualquer lugar no planeta. O GPS pode
ser utilizado de várias formas em estudos de ecologia da paisagem, podendo desde
mapear a localização de árvores com precisão de poucos metros até seguir movimentos
de longa distância de animais portando transmissores de ondas de rádio (veja exemplo
no Quadro 1).

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 66


Quadro 1- Monitorando o mico-leão-dourado.

O mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia) é um primata


endêmico da Mata Atlântica de baixada costeira do Estado
do Rio de Janeiro. As pesquisas de campo com mico-leão-
dourado começaram em 1983 na Reserva Biológica de Poço
das Antas, RJ. Nesse período a espécie era ameaçada de
extinção, existindo poucas dezenas de indivíduos. Os micos
vivem em grupos com média de seis indivíduos, e para o
estudo das populações, um indivíduo em cada grupo usa um
radio-colar que facilita a localização do grupo. Todos os micos
são acostumados à presença de observadores humanos, e não
mudam seu comportamento na presença dos pesquisadores.
O monitoramento permite a coleta contínua de informações
sobre a demografia e relações genéticas, comportamento
e ecologia, movimentação dos grupos e uso do espaço,
morfologia e reprodução, coleta de amostras de pelo e de
sangue para estudos de genética e doenças, e coleta de fezes
para pesquisa hormonal. Estes dados são importantes para
ações de conservação da espécie em seu habitat natural.
(Fonte da imagem: Associação Mico-leão-dourado,
http://www.micoleao.org.br/)

Uma vez que os pesquisadores já tenham criado um mapa do mosaico da paisagem através
do sensoriamento remoto e coletado dados de localização dos organismos ou características
do habitat usando o GPS, é possível colocar toda esta informação junta usando um sistema
geográfico de informação (SIG ou GIS, do inglês Geographic information system). O SIG é uma
forma de juntar diferentes conjuntos de informações geográficas, incluindo mapas de solos,
vegetação, relevo, uso da terra, disponibilidade hídrica, distribuição de animais, etc. Quando
todos os dados são reunidos, os pesquisadores podem utilizar programas de computadores de
SIG para quantificar características do mosaico de paisagem e procurar por padrões de como
os organismos são afetados e/ou distribuídos por certas características.

Estrutura da paisagem
A estrutura da paisagem interfere diretamente na estrutura e dinâmica dos organismos,
alterando, por exemplo, as possibilidades de deslocamento pela paisagem e até mesmo os riscos
de extinção. Quando as atividades humanas ou eventos naturais dividem uma área grande e
contínua de habitat em vários habitats menores, dizemos que o habitat foi fragmentado. A
fragmentação de habitats pode ocorrer tanto em habitats aquáticos quanto terrestres, e quando
ocasionado por ação antropogênica, produz cinco efeitos principais: (1) a quantidade total de

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 67


habitats diminui; (2) o tamanho médio dos fragmentos diminui; (3) o número de fragmentos
de habitats aumenta; (4) a quantidade de borda dos habitats aumenta; e (5) o isolamento dos
fragmentos aumenta.
Um dos pontos centrais da ecologia da paisagem é entender como a fragmentação
afeta a biodiversidade. E considerando os cinco efeitos da fragmentação no habitat, aliada
às características de cada organismo, a resposta torna-se muito complexa. Os dois primeiros
efeitos – redução na área total de habitat e no tamanho médio dos fragmentos de habitat –
quase sempre causam uma redução na riqueza de espécies. Esse é um dos pilares da teoria
ecológica de “Biogeografia de Ilhas”, no qual grandes ilhas oceânicas contem mais espécies do
que as pequenas. Analogamente, os pequenos fragmentos isolados na matriz antropogênica da
paisagem são considerados como pequenas ilhas. A área do fragmento é, em geral, o parâmetro
mais importante para explicar as variações na riqueza de espécies. Os efeitos negativos na
biodiversidade podem ocorrer quando as áreas dos fragmentos ficam menores do que as áreas
mínimas necessárias para sobrevivência das populações. Essa área mínima varia em função
da espécie estudada. Outro fator relacionado à perda de área que afeta negativamente a
biodiversidade é a redução da heterogeneidade interna do habitat, perturbando assim aquelas
espécies que utilizam vários habitats (ex: espécies de aves). É certamente o conjunto ou parte
destes fatores relacionados à diminuição da área dos fragmentos de habitat que levam à redução
da biodiversidade.
Ao contrário do que se pode pensar, o terceiro efeito da fragmentação – o aumento
do número de fragmentos de habitats – não leva necessariamente a um aumento na
heterogeneidade de espécies na paisagem. Como explicado anteriormente, muitos destes
pequenos fragmentos não possuem mais a área mínima viável para algumas populações. Mas
o quarto fator – o aumento da quantidade de borda – é determinante nesse contexto. Quando
uma grande área de habitat é dividida em fragmentos menores, a quantidade de bordas
aumenta consideravelmente (Figura 1). Alguns dos efeitos de borda, proporcionados pelo
aumento da borda, são: exposição de espécies típicas de interior, alterações microclimáticas
como o aumento da luminosidade e intensidade de ventos em áreas de interior, e aumento
de espécies especialistas de bordas, dentre outros. Algumas espécies mais generalistas e
especializadas em viver em ecótonos (entre dois tipos de habitats) podem ser favorecidas,
sendo estas denominadas especialistas de bordas. Na maioria das vezes tais espécies são
competidoras mais eficazes, contribuindo na eliminação gradativa das espécies antes
presentes no habitat. Mas não é só o tamanho do fragmento que determina a intensidade dos
efeitos de borda. Os fragmentos de diferentes formas têm diferentes razões de borda/interior.
Um fragmento circular, por exemplo, contem a quantidade mínima de borda, enquanto um
longo e esguio, de mesma área, teria uma proporção muito mais alta de borda (Figura 2).
De maneira geral, o aumento da área sob o efeito de borda é um dos principais fatores
responsáveis pela diminuição da riqueza de espécies em nível local. Por esse motivo, fatores
como tamanho e formato dos fragmentos são fundamentais em estratégias de criação e design
de Unidades de Conservação, como Parques, Reservas e Estações Ecológicas.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 68


Figura 1- A quantidade de borda aumenta com a fragmentação da paisagem. Se 1 hectare de habitat
for dividido em 16 fragmentos, mesmo com poucas mudanças na área total, o perímetro total das
bordas sobre de 400 m para 1600 m, ou seja, um fator de 1:4.

Figura 2- O formato do fragmento importa para o efeito de borda. Mesmo possuindo a mesma área, o
fragmento (b), mais longo e esguio, tem uma área muito maior de borda, sendo mais susceptíveis aos
efeitos de borda.

O quinto fator – o aumento do isolamento dos fragmentos – também é um ponto


chave em ecologia da paisagem, principalmente por envolver aspectos da conectividade da
paisagem. O isolamento age negativamente na biodiversidade ao diminuir a taxa ou potencial
de imigração e deslocamento entre os fragmentos. Além da perda genética com o passar do
tempo (endogamia), algumas espécies que conseguem se manter em fragmentos isolados
podem vir a se tornar dominantes, e desta forma a diversidade do habitat diminui por uma
redução da riqueza e da equabilidade (a distribuição dos indivíduos pelas espécies) ecológica.

A conectividade da paisagem
A conectividade é a noção básica que se opõe à fragmentação da paisagem. A
conectividade pode ser definida como a capacidade da paisagem de facilitar os fluxos biológicos,
como animais, sementes, grãos de pólen, etc. Tal definição apresenta um duplo aspecto:
conectividade estrutural e conectividade funcional. A conectividade estrutural, ou espacial,
refere-se à paisagem em termos de arranjo espacial dos fragmentos de habitat, desnsidade e
complexidade dos corredores de habitat, e permeabilidade (capacidade de possibilitar fluxos

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 69


biológicos) da matriz. Já a conectividade funcional refere-se à resposta biológica específica
da espécie à estrutura da paisagem; ou seja, é uma medida da intensidade da união das
sub-populações numa unidade demográfica, sendo avaliada pelos fluxos de disseminação
ou pela intensidade de movimento inter-habitat dos organismos. Para muitos autores essa
conectividade leva à construção de uma “metapopulação”, ou seja, uma população dividida
em sub-populações entre as quais os indivíduos raramente se movem.
Um parâmetro que influi muito sobre a conectividade na paisagem é a permeabilidade da
matriz, podendo inclusive influenciar em processos de extinção de populações fragmentadas.
A permeabilidade da matriz pode ser estimada pela densidade de pontos de ligação e pelo
grau de resistência das unidades de paisagem aos fluxos biológicos. Tais pontos de ligação,
também conhecidos na literatura internacional como “stepping stones”, constituem pequenas
áreas (ou fragmentos) de habitat dispersas na matriz e que tem papel importante no movimento
de algumas espécies ou na persistência de espécies que não carecem de grandes porções de
habitat para sua sobrevivência. Mas a presença de tais pontos de ligação por si só não garantem
a conectividade, pois a permeabilidade da matriz dependerá bastante das características da
matriz. Por exemplo, em uma matriz dominada por canaviais, o fluxo de pequenos animais
(mamíferos, anfíbios, répteis) entre os fragmentos florestais (pontos de ligação) fica vulnerável à
presença de predadores, principalmente exóticos (cães, gatos, etc.); já as aves não terão tantos
problemas em transpor essa matriz.
Em paisagens fragmentadas, uma característica que pode diminuir os efeitos negativos
da fragmentação são os corredores de habitats. Os corredores são tipicamente faixas estreitas
de habitat que facilitam o movimento dos organismos entre os fragmentos adjacentes, sendo
fundamentais para o aumento da conectividade estrutural. Os corredores apresentam como
benefícios: aumento do fluxo de genes e a diversidade genética nas populações, aumento
da capacidade de dispersão de propágulos e presença de outras espécies, e permitem que
fragmentos que sofreram extinções locais sejam recolonizados, aumentando a diversidade
local. Mas os corredores também apresentam efeitos colaterais, por exemplo, ao facilitar o
movimento de predadores, competidores e patógenos entre os fragmentos de habitat. De
qualquer modo, os corredores são mais importantes para aqueles organismos que precisam
de uma conexão física contínua para se mover entre os fragmentos (ex: pequenos mamíferos).
Contudo, organismos como aves e insetos voadores podem transpor porções da matriz e
não necessitam necessariamente de um corredor físico. Outras espécies podem ser capazes
de locomover entre grandes fragmentos se alguns pequenos fragmentos estiverem presentes
no caminho, funcionando como pontos de ligação, que sirvam de locais para descanso
ou alimentação. Por isso, os custos e os benefícios do estabelecimento de corredores entre
fragmentos devem ser examinados antes que os gestores de recursos decidam gastar tempo e
recursos implementando tal estratégia.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 70


Como aumentar a conectividade da paisagem
Um dos pontos chave na ecologia da paisagem é definir estratégias de conectividade
da paisagem fragmentada. Dentre as estratégias existentes na literatura, duas opções são as
preferenciais para reconectar populações isoladas em fragmentos de habitat: o aumento e
melhora na rede de corredores e o aumento da permeabilidade da matriz.
Os corredores, como visto anteriormente, são reconhecidos por reduzirem os riscos de
extinção nos fragmentos de habitat, por favorecerem as re-colonizações de fragmentos a partir
dos fragmentos vizinhos e aumentarem a probabilidade de sobrevivência das populações na
paisagem como um todo. Um exemplo prático de aplicação de corredores para a conservação
de uma espécie consta no Quadro 2.
Já a substituição de uma matriz hostil e pouco permeável, geralmente com baixa
similaridade fisionômica e de espécies com os fragmentos de habitat, por uma matriz mais
permeável, com maior similaridade com os fragmentos de habitat, pode favorecer a manutenção
de espécies na paisagem fragmentada, desde que exista uma fonte de indivíduos, ou seja, um
fragmento maior onde as populações possam permanecer de forma estável. Quando esta fonte
não existir, uma matriz mais permeável pode favorecer as re-colonizações a partir de fragmentos
vizinhos. O aumento na densidade de pontos de ligação em uma paisagem é outra forma de
tornar a matriz mais permeável. Por exemplo, a presença de uma simples árvore frutífera em
uma matriz tipicamente agrícola pode ser considerada um ponto de ligação e favorecer o
fluxo de espécies de aves. Além disso, estas espécies podem funcionar como “núcleos de
regeneração”, onde as sementes defecadas por pássaros passageiros poderiam desencadear a
construção de uma nova área de floresta.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 71


Quadro 2. Conectando a paisagem do mico-leão-dourado.

Os principais problemas na sobrevivência do mico-leão-dourado é a falta de florestas com


tamanhos suficientes para abrigar populações e o isolamento entre as áreas, impedindo que os
micos se desloquem. Atualmente os micos vivem nas Reservas Biológicas de Poço das Antas e
União, assim como em florestas no interior de propriedades particulares, onde foram reintroduzidos
são monitorados. Porém, a maioria dessas florestas está isolada, não permitindo a troca natural
de indivíduos entre os grupos familiares, o que compromete a sobrevivência da espécie devido
principalmente ao cruzamento entre parentes próximos e à consangüinidade. Para unir novamente
os fragmentos de florestas isolados a Associação Mico-leão-dourado trabalha com os proprietários
rurais na implantação de corredores florestais, os quais são entendidos como faixas de florestas
entre os remanescentes de Mata Atlântica. O comprimento desses corredores é determinado
pela distância entre os fragmentos a serem conectados, e a largura ideal é a máxima possível,
garantindo um mínimo de 30 metros de largura. Uma vez implantado o corredor florestal, os
micos-leões-dourados e outros animais podem utilizar essas áreas para se deslocar, favorecendo a
reprodução, a variabilidade genética e a dispersão dos indivíduos desta espécie e de toda a biota.
As primeiras áreas de corredores foram implantadas na Reserva Biológica de Poço das Antas
(1996); posteriormente, o Programa de Conservação em Áreas Privadas passou a atuar também
em propriedades particulares onde ocorrem micos-leões-dourados reintroduzidos. O trajeto de
corredores proposto alcança cerca de 35 quilômetros.

(Fonte da imagem: Associação Mico-leão-dourado, http://www.micoleao.org.br/)

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 72


INVASÕES BIOLÓGICAS
O que é uma espécie invasora
O processo de invasão biológica (ou bioinvasão) é a segunda maior causa de perda de
biodiversidade no planeta, perdendo apenas para a destruição e fragmentação do habitat. Por
definição, espécies (de plantas, animais ou micro-organismos) introduzidas em um ecossistema
do qual não fazem parte originalmente são chamados de exóticas. As espécies exóticas recebem
diferentes termos, como espécie introduzida, não nativa ou alóctone, e podem ser caracterizar
de duas formas: estabelecidas e invasoras. Uma espécie exótica estabelecida consegue se
reproduzir e gerar descendentes férteis, com alta probabilidade de sobreviver no novo hábitat.
Já uma espécie exótica invasora é aquela que, uma vez estabelecida, expande sua distribuição
no novo hábitat, ameaçando todos os processos do ecossistema e a diversidade biológica nativa.
Os impactos das espécies exóticas invasoras são enormes e dificilmente reversíveis.
As espécies invasoras competem severamente com as espécies nativas, atuam como pragas
ou patógenos para espécies cultivadas ou domesticadas, ou mesmo disseminam agentes
infecciosos ou alérgicos. Os impactos das introduções sobre a biodiversidade nativa podem
ser diferenciados, desde imperceptíveis, sendo a espécie incorporada ao novo ambiente de tal
forma que passe a ser vista como nativa (ou naturalizada), até catastróficos, uma vez que estas
espécies podem causar profundas alterações no ambiente, de tal modo que este não consiga
se recuperar. É consenso que nem toda espécie exótica é uma invasora. De fato, poucas têm
sucesso em se tornarem uma invasora no novo ambiente. Mas se uma espécie exótica qualquer
conseguir se adaptar, propagar e exercer dominância, prejudicando processos naturais e
espécies nativas, estas sim são chamadas de espécies exóticas invasoras.
A globalização tem favorecido e potencializado o deslocamento e a introdução de
espécies no planeta. O crescimento da população humana e o livre comércio intercontinental
são alguns dos fenômenos contemporâneos que vem incrementando e modificando de forma
desproporcional as taxas e os mecanismos de introdução de espécies exóticas pelos seres
humanos. Isto está culminando em processos ecológicos relevantes como a homogeneização
biótica de alguns habitats ou até mesmo paisagens, na medida em que uma espécie invasora
se torna dominante. Esta é uma grande ameaça global, que envolve impactos ambientais e
econômicos, sendo tão preocupante quanto o processo de mudanças climáticas.

Quais as características das espécies invasoras


Dentre as características das espécies que se tornam invasoras, as mais notáveis são a
grande eficiência na competição por recursos, o que as levam a dominar as espécies nativas
originais, e a alta capacidade reprodutiva e de dispersão. Eis um resumo sobre alguns dos
principais atributos das espécies invasoras:
∙∙ Ausência de predadores, patógenos e doenças para manter a população sob
controle. Isto é conhecido como “liberação ecológica”, pois no novo ambiente a
espécie está livre de predadores.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 74


∙∙ Produção de grandes quantidades de propágulos (sementes) ou descendentes com
uma alta viabilidade de sobrevivência e propagação no ambiente.
∙∙ Utilização de mecanismos de dispersão de sucesso, como capacidade de se
locomover e transpor paisagens fragmentadas ou capacidade de atrair dispersores
(no caso de plantas).
∙∙ Capacidade de prosperar em ambientes perturbados. Possuir caráter oportunista
e ser generalista de habitat, não apresentando exigências específicas e complexas
de crescimento.
∙∙ Apresentar rápido crescimento, demonstrando capacidade de incorporação de
biomassa (recursos) no ambiente, o que melhora a vantagem competitiva. Possuir
mecanismos de competição eficientes, como alelopatia (produzir substâncias
químicas que inibem o crescimento de outras plantas próximas)
∙∙ Alterar as condições do habitat onde crescem para melhor atender a sua própria
sobrevivência e expansão. No caso de plantas, alterações nas características dos
solos, sombreamento e ciclagem de nutrientes são importantes.

As etapas da invasão biológica


Para ser considerada uma espécie invasora, a espécie deve passar obrigatoriamente
por quatro estágios fundamentais: transporte, introdução, estabelecimento/naturalização e
dispersão/invasão (expansão populacional) (Figura 1). Em cada um destes estágios a espécie
precisa transpor barreiras ou filtros ambientais (naturais ou artificiais), tais como barreiras
geográficas, cativeiros, sobrevivência, etc. Se alguma destas barreiras for eficiente para impedir
que a espécie sobreviva, o processo de invasão é interrompido. Por isso o processo de invasão
se restringe a tão poucas espécies em termos globais; mas uma vez invasora, transpondo todos
os estágios, o seu controle é extremamente difícil.

Figura 1- Principais etapas de um processo de invasão biológica. (Fonte: http://invasoras.uc.pt/saber-


mais/ ).

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 75


Principais espécies invasoras no Brasil
Até o ano de 2010, mais de 380 espécies exóticas invasoras já havia sido identificadas
no País, catalogadas pelo Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental
(http://www.institutohorus.org.br/). A base de dados mantida pelo instituto está em constante
atualização, e aponta que a principal motivação para o deslocamento das espécies é o uso
ornamental e a criação de animais de estimação que, juntas, representam cerca de 40% das
introduções intencionais e são a principal causa de introduções de espécies no Brasil.
Por ser um país de grandes dimensões e biodiversidade, é extremamente difícil selecionar
um grupo das principais e mais impactantes espécies invasoras presentes no Brasil. Dados do
Instituto Hórus, do Ministério do Meio Ambiente, além de grupos de pesquisas no tema
apresentam diferentes espécies invasoras de grande impacto ambiental e econômico. Abaixo
uma breve relação de algumas das espécies invasoras mais espalhadas e com alto potencial de
provocar impactos ambientais e econômicos no Brasil.
Algaroba (Prosopis juliflora). Planta nativa de regiões áridas e
semiáridas dos Estados Unidos e México, foi introduzida no
Brasil especialmente na caatinga nordestina, como forrageira
para cabras. Possui raízes profundas, que gera um
aprofundamento do lençol freático e consome muita água em
regiões áridas. Por esse motivo, apresenta folhagem durante
todo ano, mesmo na seca, sendo muito apreciada e difundida
pelos agricultores do semi-árido. Causa problemas como
invasão de pastagens e desgaste dos dentes dos animais, que Fonte: Wikipedia

sem poder se alimentar, podem morrer mais cedo.


Nim (Azadirachta indica). Planta nativa da Índia e distribuída
em diversos países, é outro exemplo de plantas típicas de
regiões de clima árido, sendo encontrada especialmente no
nordeste brasileiro. É usada no controle natural de pragas, e
disseminada por morcegos, tendo um potencial de invasão
muito grande. Acredita-se que sua introdução tenha
ocorrido por volta dos anos 2000, a partir do qual conseguiu
Fonte: Wikipedia
realizar uma destruição avassaladora de espécies nativas.
Braquiária (Urochloa brizantha). Planta nativa da África,
assim como praticamente todos os capins utilizados na
agropecuária brasileira. Introduzida durante o século XX,
está presente em pastagens de todo país. É uma espécie
que tem um forte impacto ambiental principalmente em
vegetações naturais no Cerrado, onde as espécies de capins
nativos são substituídos pela braquiária. Isso ocorre pelo seu
vigor de retorno, pois após eliminada, retorna rapidamente. Fonte: Wikipedia

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 76


Lírio-do-brejo (Hedychium coronarium). De origem asiática, o lírio-do-
brejo foi introduzido no Brasil como planta ornamental, sendo rapidamente
difundido pelo País inteiro, especialmente nas regiões Sul e Sudeste.
Típico de ambientes alagados como lagos e espelhos d’água, a espécie
possui grande capacidade de resistência. Causa problemas ao invadir
canais e riachos e entupir as tubulações e encrustar turbinas de
Fonte: Wikispecies hidrelétricas.

Dinoflagelado (Alexandrium tamarense). Introduzido a partir


do trânsito de navios, pela água de lastro (para os navios terem
estabilidade quando não estão cheios), o dinoflagelado é uma alga
microscópica presente hoje na costa brasileira. Foram identificadas
pela primeira vez na década de 1980, na Argentina, e na década de
1990, no litoral do Rio Grande do Sul. Geralmente imperceptíveis,
são produtoras de toxinas e costumam ser notadas apenas no Fonte: Wikipedia

chamado período de floração, quando se formam as marés vermelhas, com explosivo aumento de
suas populações. Como essas algas são consumidas pelas ostras, suas toxinas podem contaminá-las,
existindo épocas em que o consumo de ostras é proibido.

Coral-sol (Tubastraea coccinea). Originário da região ocidental


do oceano pacífico, o coral-sol é um dos corais mais
comercializados do mundo. É considerado muito competitivo,
por apresentar substâncias químicas nocivas e se reproduzir
rapidamente. O coral-sol foi introduzido em regiões portuárias
da costa brasileira, pelo sistema de água de lastro. O coral-sol
Fonte: Wikimedia cresce em rochas e embaixo d’àgua, expulsando qualquer outra
espécie que possa se fixar no lugar, além das espécies nativas. Por
isso, pode causar um impacto grande na estrutura do ecossistema.

Mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei). Molusco bivalve


originário da Ásia, chegou à América do Sul de modo acidental
na água de lastro de navios. A espécie já foi detectada em quase
toda a região Sul e em vários pontos do Sudeste e Centro-Oeste
brasileiro. Em sua fase larval é levado pela água até alojar-se
em superfícies sólidas, onde se fixa e cresce formando grandes
colônias. Por ter uma grande capacidade de reprodução e Fonte: Wikipedia

dispersão, além de praticamente não ter predadores no Brasil,


se espalha com rapidez. Seus impactos envolvem destruição
da vegetação aquática, competição com moluscos nativos,
entupimento de canos, dutos e sistemas de geração de energia
elétrica, além de prejuízos à navegação.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 77


Tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus). Nativa da região do
rio Nilo, no Egito, a tilápia-do-nilo, foi introduzida no Brasil
desde o século XX. Por possuir grande capacidade de
reprodução e comportamento onívoro, é considerada uma
grande predadora. A espécie tem um histórico de extinção de
outras espécies, sendo um problema grave em diversos países
Fonte: Wikipedia tropicais (africanos e asiáticos). Como tem grande apelo
comercial, sua introdução acidental em rios e lagoas
multiplicam os riscos de invasão biológica.

Mosquito-da-dengue (Aedes aegypti). Originário da Etiópia


e do Egito, o mosquito é conhecido por ser o vetor da
dengue. Foi introduzido no Brasil durante o transporte de
escravos africanos. Reproduz principalmente em recipientes
artificiais onde ocorre acúmulo de água. Apesar de ser
frequentemente associado a doenças, o mosquito nem
sempre está contaminado, podendo não representar um Fonte: Wikipedia

perigo em todos os casos.

Abelha africana (Apis melifera). Originária da áfrica, a


abelha africana foi introduzida no Brasil por iniciativa
governamental, a fim de aumentar a produção de mel do
país, espalhando-se rapidamente por toda a América do Sul.
Facilmente adaptável a ambientes diversificados (de florestas
temperadas a savanas), é considerada uma espécie bastante
Fonte: Wikipedia
agressiva. Como vive em grandes grupos (colmeias), é capaz
de afugentar espécies nativas de maiores portes, além de
competir com as abelhas nativas.

Caramujo-gigante-africano (Achatina fulica). É um molusco


terrestre oriundo da África. Foi introduzido no Brasil na década de
1980 como substituto do escargot. A espécie acabou não sendo
bem-aceita entre os consumidores, fazendo com que muitos
donos de criadouros, displicentemente, liberassem na natureza
sem tomar as devidas providências. Possui grande capacidade de
procriação (hermafroditismo), onde um único indivíduo é capaz
Fonte: Wikipedia
de originar aproximadamente 300 crias. A ausência de predadores
e sua alta capacidade de adaptação a diversos ambientes fizeram
com que se distribuísse praticamente por todo o país. Além de
serem hospedeiros de vermes de doenças sérias, como a meningite,
destroem plantas nativas e cultivadas, alimentando-se vorazmente
de qualquer tipo de vegetação.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 78


Como reduzir as ameaças da invasão biológica
Quando uma espécie invade um ecossistema, sua remoção é uma missão muito árdua,
praticamente impossível. Assim, a melhor maneira de limitar os impactos nocivos é evitar que
as espécies exóticas sejam introduzidas e se estabeleçam. Eis algumas formas de fazê-lo:
∙∙ Identificar as principais espécies invasoras em escala global e estabelecer tratados
internacionais que impeçam sua transferência entre países, assim como já acontece
para diversas espécies ameaçadas de extinção. Também é necessário reforçar
simultaneamente a inspeção de mercadorias de importação e exportação para
evitar o transporte acidental.
∙∙ Fomento a programas de investigação em massa para identificar as principais
características ecológicas e biológicas das espécies invasoras, os tipos de
ecossistemas que são vulneráveis, e os tipos de controles biológicos (predadores
naturais, parasitas, etc.) que poderiam ser utilizados para controlar suas populações.
Fomento a pesquisas de monitoramento em campo e por satélite, para desenvolver
modelos de prevenção.
∙∙ Exigir que os navios cargueiros esterilizem suas águas de lastro (ex: a partir do
bombeamento de nitrogênio para deslocar o oxigênio dissolvido e matar a maioria
dos organismos invasores) ou que as descarreguem e substituam por água salgada
antes de entrar nos portos.
∙∙ Educação do público sobre os efeitos da liberação de animais e plantas
exóticas no meio ambiente onde vivem, assim como os prejuízos ambientais e
econômicos vinculados.

Também existem práticas do cotidiano que qualquer cidadão pode fazer para ajudar a
prevenir ou retardar a propagação de espécies invasoras nocivas, tais como:
∙∙ Não cultivar plantas ornamentais ou frutíferas conhecidamente invasoras
∙∙ Não trazer espécies, nem bulbos ou sementes como recordações de viagens
∙∙ Evitar o cultivo e a distribuição de mudas de plantas e árvores exóticas invasoras
∙∙ Nunca soltar animais de estimação em ecossistemas naturais, como florestas,
campos, parques ou outros ambientes similares.
∙∙ Nunca jogar o conteúdo do aquário em ecossistemas aquáticos naturais
∙∙ Adotar medidas para evitar fugas dos criadouros ou tanques
∙∙ Plantar espécies nativas no jardim, o que também auxilia a disseminar sementes
para recuperar as áreas próximas.
∙∙ Castrar cães, gatos e outros animais exóticos
∙∙ Consultar os órgãos ambientais para saber como eliminar espécies exóticas
invasoras
∙∙ Comunicar casos de suspeita de invasão de espécies exóticas às Secretarias de
Meio Ambiente

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 79


A estratégia nacional sobre espécies exóticas invasoras
O governo brasileiro acordou para os problemas das invasões biológicas em 2001,
quando o Ministério do Meio Ambiente (MMA), em articulação com os diferentes setores da
sociedade, iniciou uma série de ações voltadas à prevenção das introduções, detecção precoce,
monitoramento, controle e erradicação de espécies exóticas invasoras. Essencialmente, estas ações
envolveram a revisão e desenvolvimento de instruções normativas, realização de inventários das
espécies exóticas ocorrentes nos diversos ecossistemas brasileiros, discussão da elaboração de
lista oficial de espécies exóticas invasoras em âmbito nacional, e estímulo à abertura de linhas de
financiamento de pesquisas no Fundo Nacional de Meio Ambiente (FNMA).
A primeira reunião sobre o tema “invasões biológicas” ocorreu em 2001, quando o MMA
e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) realizaram a “Reunião de Trabalho
sobre Espécies Exóticas Invasoras”, evento que contou com a colaboração do Governo dos Estados
Unidos e do Programa Global para Espécies Exóticas Invasoras (GISP). Em 2005, o MMA e o IBAMA,
em parceria com outras instituições de ensino e pesquisa realizaram o “I Simpósio Brasileiro sobre
Espécies Exóticas Invasoras”. O objetivo era ampliar a disseminação das informações levantadas
pelo Informe Nacional e envolver os diversos segmentos da sociedade na discussão do tema. Entre
os temas analisados, estavam: a legislação nacional e a regulamentação do uso de espécies de valor
econômico; prioridades para financiamento; sensibilização e educação; controle e monitoramento;
análise de risco; prevenção e detecção precoce. Este evento contou com mais de 400 participantes,
de sete países (África do Sul, Argentina, Brasil, Estados Unidos da América, Jamaica, Nova Zelândia
e Portugal), sendo o maior evento sobre invasões biológicas realizado no Brasil.
Mas o principal produto do governo brasileiro, através da Câmara Técnica Permanente
sobre Espécies Exóticas Invasoras, foi a elaboração da “Estratégia Nacional sobre Espécies
Exóticas Invasoras” aprovada pela CONABIO, por meio da Resolução nº 5, de 21 de outubro
de 2009. O documento final, com 23 páginas, prevê o estabelecimento de ações prioritárias
a serem desenvolvidas e/ou apoiadas pelo Governo Federal, com recomendações dos
mecanismos de ação a serem empregadas na prevenção, erradicação, mitigação e controle de
Espécies Exóticas Invasoras, sejam exóticas ao país ou ao ecossistema.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 80


RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
O que é restauração ecológica
É praticamente impossível encontrar algum ecossistema na Terra que não tenha sido afetado
ou degradado, direta ou indiretamente, pelas atividades humanas. Mas existem formas de mitigar,
pelo menos parcialmente, parte desse impacto. Uma das formas é por meio da restauração ecológica.
Segundo conceito da Sociedade Internacional para Restauração Ecológica (SER), a restauração
ecológica é uma atividade intencional que inicia ou acelera a recuperação de um ecossistema
degradado em relação à sua integridade e sustentabilidade. Assim, a restauração ecológica é uma
tentativa de retornar o ecossistema à sua trajetória histórica. O que não significa que o ecossistema
restaurado irá retornar necessariamente ao seu estado prévio, mesmo porque, as vias de reconstrução
do ecossistema dependem de eventos aleatórios de interação entre as espécies e o ambiente. Mas a
restauração ecológica parte de um ecossistema estável semelhante como referência, que funciona
como ponto de partida ideal para o planejamento da restauração (Quadro 1).

Quadro 1- O que é um ecossistema de referência.


Um ecossistema de referência deve ser um ecossistema do mesmo tipo e nas proximidades do
ecossistema a ser restaurado, que sirva como um modelo para o planejamento de um projeto de
restauração e posteriormente sua avaliação. Pode também ser entendido como um “controle”
para possíveis comparações.
O maior problema em um ecossistema de referência é que ele representar um retrato simples de
um único estado ou atributos do ecossistema. Assim, como veremos mais a frente em sucessão
ecológica, a referência selecionada pode ser apenas uma expressão de um entre vários estados
dentro da variação histórica (ou sucessional) do ecossistema, refletindo uma combinação peculiar
de eventos aleatórios ocorridos durante a trajetória de desenvolvimento do ecossistema. As fontes
de informação que podem ser usadas para descrever a referência incluem:
• Listas de espécies, inventários, descrições ecológicas e mapas da área antes do dano.
• Fotografias aéreas ou de solo, imagens de satélite e séries históricas indicando condições
físicas e bióticas anteriores ao dano.
• Relatos históricos e relatos de pessoas com familiaridade e longo tempo de convivência na
área anterior ao dano.
• Listas de espécies, inventários e descrições ecológicas de ecossistemas similares intactos e/ou
em maturidade (estabilidade ecológica).
• Espécies de coleções (herbários, museus, etc.).
• Evidências paleoecológicas (pólen fóssil, anéis de crescimento de árvores, carvão, fezes de
animais, etc.)
Um ecossistema a ser restaurado pode seguir uma trajetória ecológica (ex: presença de diferentes
espécies e grupos funcionais) e desenvolver-se de maneira diferente do ecossistema de referência.
Não há uma receita para a restauração perfeita. O ideal é que o ecossistema restaurado apresente
condições de funcionamento (e não somente de composição de espécies) próximas ao de referência.
(Fonte: Sociedade Internacional para Restauração Ecológica (SER): http://www.ser.org/resources/
resources-detail-view/ser-international-primer-on-ecological-restoration#6)

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 82


A restauração ecológica é baseada nos processos ecológicos do ecossistema, sua
dinâmica de desenvolvimento e de interações, o que implica em comprometer recursos
por prazos longos e indeterminados. Pode-se dizer que a estratégia da restauração
ecológica é imitar os processos naturais, deixando a natureza fazer a maior parte do
trabalho, pela sucessão ecológica.

A sucessão como princípio da restauração


ecológica
A sucessão ecológica é, resumidamente, o processo de instalação lento e gradual
de organismos em um determinado local. Quando este processo ocorre em uma área até
então desabitada (ex: rocha recém consolidada após derramamento de lava), diz-se que
ocorre sucessão primária; no caso de instalação de organismos em uma área que já se
constituía como um ecossistema (ex: área de floresta desmatada ou queimada), dizemos
que ocorre sucessão secundária (Figura 1).

Figura 1- Etapas de uma sucessão ecológica em uma floresta tropical. Os itens a e b


representam a sucessão primária, com início da colonização do ambiente. Os itens c a d
representam a sucessão secundária, com gradativa substituição de espécies e construção de um
ecossistema com maior biomassa (Fonte: http://damago.wordpress.com/#jp-carousel-6).

A sucessão primária pode ocorrer em rochas inabitadas, áreas cobertas por lava
vulcânica resfriada, ou até mesmo em telhados antigos. A ausência de nutrientes orgânicos
não permite a sobrevivência de organismos heterótrofos (que não produzem o próprio
alimento), e a escassez de nutrientes inorgânicos dificulta a sobrevivência de autótrofos
(que produzem o seu alimento) de grande porte. Devido à capacidade de síntese de
matéria orgânica e ao pequeno porte os primeiros organismos a se desenvolverem
nessas condições são os liquens, as cianobactérias e os musgos, que são chamados de

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 83


organismos pioneiros e constituem, juntamente com os consumidores e decompositores
desses seres, as comunidades pioneiras. Com o passar do tempo, a decomposição de
fezes, tecidos e organismos mortos produz nutrientes inorgânicos, como os nitratos e
o fosfatos, permitindo o estabelecimento e a sobrevivência de gramíneas, herbáceas,
e animais invertebrados e vertebrados de pequeno porte. Esses organismos constituem
as chamadas comunidades intermediárias ou seres, que propiciam o desenvolvimento
das árvores da vegetação “adulta” (geralmente de ciclo de vida longo), que formam as
comunidades mais estáveis (clímax).
A sucessão secundária ocorre em locais anteriormente povoados, cujas comunidades
saíram do estágio estável (clímax) por modificações naturais (ex: climáticas, queda
de árvores abrindo clareiras) ou pela intervenção humana (ex: desmatamento, corte,
queimadas). Nesses casos, a sucessão ocorre a partir das comunidades intermediárias
(seres), e na ausência de perturbações ambientais (ex: queimadas, poluição do ar e do
solo, agrotóxicos e novos desmatamentos) a comunidade pode se desenvolver até atingir
novamente o clímax. Porém, quase sempre os fatores de perturbação ambiental ocorrem,
dificultando ou até mesmo impedindo o processo de sucessão natural. O tempo para esse
processo acontecer é muito longo, podendo ultrapassar de décadas a séculos para alguns
tipos de ambientes florestais, mesmo na ausência total de problemas ambientais.
O estudo dos detalhes do processo de sucessão ecológica é, portanto, fundamental
para auxiliar o processo de dinâmica de restauração do ecossistema, seja aumentando a
velocidade da recomposição das espécies ou contornando as perturbações ambientais.
Um fator importante que deve ser sempre levado em consideração é que as espécies
têm diferentes necessidades e resistências com relação aos recursos, e por esse motivo
apresentam funções ecológicas distintas no ecossistema, podendo ser enquadradas em
grupos ecológicos sucessionais. Uma síntese dos principais grupos ecológicos sucessionais
aplicados em restauração consta no Quadro 2.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 84


Quadro 2. Grupos ecológicos sucessionais

Grupo ecológico sucessional é um conceito criado de acordo com o comportamento das espécies
florestais nos processos de sucessão ecológica, que ocorre por meios naturais quando surgem
clareiras na floresta tropical por queda ou morte de árvores. O enquadramento de uma espécie num
dado grupo sucessional é feito com base em informações ecológicas, como: densidade demográfica,
tipo de dispersão das sementes, velocidade de crescimento, existência ou não de dormência nas
sementes, se a reprodução ocorre na sombra ou a pleno sol. A classificação das espécies, quanto
à estratégia da dinâmica florestal adotada, é realizada com adaptação dos critérios propostos
principalmente por pesquisadores em duas linhas: (1) espécies pioneiras, secundárias iniciais,
secundárias tardias (ou secundária longeva) e clímax; e (2) espécies pioneiras e clímax (exigentes de
luz e tolerante à sombra).

Eis uma síntese das principais características dos grupos ecológicos sucessionais aplicados a florestas
tropicais úmidas:

Atributos Pioneira Secundária Secundária Clímax


inicial tardia
Crescimento Muito rápido Rápido Lento Lento / muito lento
Demanda de luz Muita luz Variável Variável Sombra (jovens) /
luz (adultas)
Demanda de Muito alta Alta Média Baixa / muito baixa
nutrientes
Resposta à Muito alta Alta Média / baixa Baixa / muito baixa
adubação
Longevidade das Muito curta Curta Longa Muito longa
folhas
Ciclagem de Muito rápida Rápida Lenta Muito lenta
nutrientes
Tempo de vida Muito curto (até Curto (10-25 Longo (25-100 Muito longo (>100
10 anos) anos) anos) anos)
Sementes Pequenas, grande Pequenas, Indefinido Grandes, pequena
(tamanho e quantidade grande quantidade
quantidade) quantidade
Sementes Longa (latentes no Longa (latentes Média / curta Curta
(viabilidade) solo) no solo)
Sementes Pássaros, Pássaros, Vento, animais Animais (médio
(dispersão) morcegos, vento morcegos, vento (pequeno a médio a grande porte),
porte) gravidade.
Forma de Qualquer área Grandes clareiras Pequenas clareiras Áreas sombreadas
regeneração aberta sob luz
Presença de Ausente ou pouco Presente em Presente Presente em grande
epífitas no tronco (musgos) pequena quantidade
quantidade

(Fonte: Kageyama et al. 2003. Restauração Ecológica de Ecossistemas Naturais ).

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 85


Existem três fatores que afetam como e em que velocidade a sucessão ecológica ocorre:
∙∙ Facilitação: processo no qual um conjunto de espécies torna uma área a espécies
com exigências diferentes. Por exemplo, conforme pequenos arbustos colonizam
áreas de pastagens abandonadas, criam condições de sombreamento para que
arvoretas e árvores menos tolerantes à intensa luminosidade possam colonizar
gradativamente a área.
∙∙ Inibição: processo no qual algumas espécies dificultam o estabelecimento e
desenvolvimento de outras. A inibição pode ocorrer quando algumas plantas
possuem alelopatia (compostos químicos que inibem o crescimento de plantas
vizinhas), como, por exemplo, a espécie arbórea exótica asiática “mangueira”
(Mangifera indica). Neste caso, a sucessão só avança quando uma perturbação
(natural ou antrópica) remove a espécie inibidora.
∙∙ Tolerância: processo no qual as espécies em estágios mais avançados de sucessão
(tardias) não são afetadas pelas que chegaram durante as fases anteriores (pioneiras e
iniciais), porque não estão em competição direta pelos recursos-chave. Por exemplo,
algumas espécies de árvores de sub-bosque tolerantes à sombra (ex: palmito-juçara,
Euterpe edulis) podem prosperar sob árvores mais antigas e de maiores portes em
uma floresta madura, pois não precisam competir por acesso à luz solar.

Os atributos do ecossistema restaurado


Um ecossistema pode ser considerado restaurado a partir do momento em que conta
com recursos bióticos suficientes para continuar seu desenvolvimento sem mais depender
de intervenções do homem. Deverá ser capaz de sustentar-se sozinho tanto em termos
estruturais quanto funcionais. Deverá ser capaz de possuir resiliência (a capacidade de um
sistema de retornar a um estado referencial após uma perturbação) às faixas normais de
variação de estresse ambiental e perturbação. Além disso, o ecossistema restaurado deverá
ser capaz de interagir com ecossistemas adjacentes na paisagem, através de fluxos bióticos
e abióticos.
Segundo conceitos da Sociedade Internacional para Restauração Ecológica (SER), existem
nove atributos que funcionam como a base para determinar se a restauração foi completada.
Estes atributos demonstram a trajetória adequada do desenvolvimento do ecossistema em
relação ao ecossistema de referência. Alguns atributos são diretamente mensuráveis, o que
gera mais facilidade em sua determinação. Outros precisam ser avaliados indiretamente, ou
de forma especulativa, e incluem a maior parte das funções dos ecossistemas, níveis tróficos,
dentre outros. Eis uma síntese destes atributos:
1- O ecossistema restaurado deve conter um conjunto típico de espécies
ocorrentes no(s) ecossistema(s) de referência e que provém de uma estrutura de
comunidade apropriada.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 86


2- Embora seja possível utilizar espécies exóticas na restauração, as espécies nativas
devem prevalecer, na maior extensão possível, na estrutura do ecossistema
restaurado, pois são aquelas que coevoluíram no ecossistema.
3- Todos os grupos funcionais necessários ao funcionamento e estabilidade do
ecossistema restaurado devem estar representados. Caso algum grupo não esteja
representado (ex: espécies clímax), o ecossistema restaurado deve ser capaz de ser
potencialmente colonizado pelos grupos faltantes no futuro.
4- O ambiente físico do ecossistema restaurado deverá ser capaz de sustentar
espécies suficientes e com estrutura populacional e reprodutiva adequadas para a
estabilidade contínua ao longo da trajetória da restauração.
5- O ecossistema restaurado deverá funcionar normalmente para seu estágio ecológico
de desenvolvimento, sem aparentar sinais de disfunção.
6- O ecossistema restaurado deverá estar adequadamente integrado na paisagem e
interagindo através de trocas e fluxos bióticos e abióticos
7- As ameaças potenciais à integridade do ecossistema restaurado devem ter sido
eliminadas ou reduzidas ao máximo possível.
8- O ecossistema restaurado deve ser resiliente o suficiente para suportar eventos
de estresses naturais periódicos (ex. secas ou chuvas em excesso), demonstrando
capacidade de manter a integridade do ecossistema.
9- O ecossistema restaurado deve ser sustentado no mesmo grau que o ecossistema de
referência. Também deve ter o potencial de, mesmo com as mudanças naturais nos
aspectos de sua biodiversidade, persistir sob as condições ambientais existentes.
Assim como em qualquer ecossistema estável, o ecossistema restaurado pode ser
capaz de sofrer mudanças na composição de espécies e outros atributos ecológicos
que podem evoluir conforme mudem as condições ambientais.

Principais técnicas de restauração ecológica


Os programas de restauração ecológica têm sido executados, tradicionalmente, com
alguns vícios que podem comprometer a conservação. Dentre estes destacam-se: uso quase
exclusivo de espécies arbóreas (que embora importantes, não são os únicos elementos do
ecossistema), uso de espécies exóticas (que podem ocasionar invasão e contaminação biológica)
e não utilização de princípios básicos de sucessão ecológica, dentre outras. Estas técnicas mais
tradicionais, como plantio de ároves, também são mais caras, o que muitas vezes inviabiliza o
programa de restauração.
Recentemente, a partir do final da década de 1990, diversos pesquisadores propuseram a
nucleação como uma das melhores formas de implementar a sucessão ecológica dentro de áreas
a serem recuperadas, ajudando a restituir a biodiversidade condizente com as características
naturais locais.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 87


Em termos bem resumidos, a nucleação representa a capacidade de uma espécie em
proporcionar uma melhora significativa nas qualidades ambientais do local a ser restaurado,
permitindo a posterior ocupação do ambiente por outras espécies. Assim, a nucleação pode
ser entendida como uma forma de sucessão ecológica em que a colonização de uma espécie
(na maioria das vezes, pioneira) provoca transformações no ambiente de forma a propiciar
condições para uma primeira comunidade natural, ou seja, facilita a chegada de outras plantas,
animais e microrganismos. O conceito de nucleação envolve diferentes técnicas de restauração,
que tem diferentes alvos funcionais, tais como solo, vegetação ou fauna associada. Abaixo uma
síntese das principais técnicas de nucleação:

Transposição de solo. Esta técnica envolve a coleta de porções superficiais de solo


(geralmente 20 a 50 cm de profundidade) em um ecossistema não degradado e sua alocação
ao longo da área a ser restaurada. Isso possibilita a recolonização biótica pela reintrodução de
populações de diversas espécies de micro, meso e macro fauna, além de sementes e propágulos
de espécies vegetais. Esta técnica representa uma forma eficiente de garantir a sobrevivência de
muitas populações de micro, meso e macro-organismos que vivem no solo.
∙∙ Transposição de Serrapilheira. A serrapilheira (ou folhedo) compreende o conjunto
de materiais que recobre o solo das florestas e inclui folhas, frutos, sementes e outros
componentes vegetais, além de conter elementos da fauna, especialmente micro-
organismos e insetos. A técnica de transposição de serrapilheira para a área a ser
restaurada pode fornecer um grande enriquecimento da fauna e flora, pois além
da matéria orgânica, traz também sementes, micro-organismos, insetos, pequenos
vertebrados, e outros elementos da biota nativa que vão ajudar a recolonizar a
biota da área a ser restaurada.
∙∙ Transposição de galharias. A transposição das galharias consiste em trazer
galhos e, eventualmente, troncos de uma área florestal adjacente. Estes resíduos
da exploração florestal são enleirados, que ao passar do tempo entrarão em
decomposição e incorporarão a matéria orgânica ao solo afetado. Este método cria
locais sombreados que possibilitam a rebrota e a germinação de espécies vegetais,
além de servir de abrigo para fauna, especialmente alguns predadores (ex: répteis),
e auxiliar a dispersão natural de sementes.
∙∙ Chuva de sementes. Esta técnica consiste na alocação de coletores, sacos ou
armadilhas (telas ou malhas finas), sob a copa de árvores. Assim, ao contrário
da coleta da serapilheira, somente as sementes são selecionadas. Muitas vezes
as sementes presentes na serrapilheira já foram atacados por fungos, patógenos
ou herbívoros, inviabilizando-as. Como aspecto positivo dessa técnica tem-se a
obtenção de sementes de espécies que talvez não sejam comumente cultivadas
em viveiros. As sementes coletadas podem ser utilizadas tanto para produção de
mudas em viveiros, quanto para lançamento manual na área a ser restaurada,
preferencialmente em áreas de serrapilheiras ou galharias.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 88


∙∙ Poleiros artificiais. Esta técnica tem como meta atrair pássaros ou outros animais que
possuem o hábito de pousar sobre determinadas superfícies, como por exemplo,
poleiros. Nesse processo estes animais costumam defecar e este comportamento
poderá enriquecer a área com novas espécies de plantas. Como alguns desses
animais podem possuir voos longos, podem trazer propágulos de regiões distantes,
o que aumenta a heterogeneidade em nível de paisagem. Os Poleiros podem ser
artificiais (varais), naturais vivos (arvoretas vivas) e naturais secos (bambus, galhos,
etc.,) e sua constituição pode ser bastante simples.
∙∙ Enriquecimento através do plantio de espécies “bagueiras”. O termo “bagueira”
refere-se à plantas que tem grande capacidade de atração de animais, e altamente
facilitadoras no processo de restauração. Normalmente estas espécies são plantadas
em consórcio com outras técnicas (ex. poleiros), formando “ilhas de diversidade”.
Elas também funcionam como abrigo temporário e sombreamento. Sua principal
função é atrair pássaros e pequenos mamíferos para dispersão de sementes.

É importante ressaltar que as técnicas de nucleação têm em comum o fato de, além
de normalmente representarem um processo ecológico, serem procedimentos de baixo custo,
pois utilizam materiais comumente de fácil acesso e obtenção. Outro aspecto positivo a ser
realçado é a possibilidade de aplicação dessas técnicas em pequenas áreas, tal como pequenas
propriedades, o que é de grande valia para proprietários rurais com baixa renda.

A restauração ecológica incentiva mais destruição?


Um dos contrapontos da restauração ecológica, argumentado por ambientalistas, é o
temor de que ela possa incentivar a degradação ambiental, na falsa impressão que quaisquer
dos danos antrópicos aos ecossistemas possam ser desfeitos e restaurados. Mas os pesquisadores
da restauração discordam desse argumento, tendo em vista que a prevenção da perturbação
ou deterioração dos ecossistemas é, por si só, mais barata e eficaz do que qualquer forma de
restauração ecológica. Além disso, qualquer ação de degradação está sujeita a penalidades
(crimes ambientais), e só pode ser realizada com a autorização ambiental do órgão competente.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 89


MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Introdução às mudanças climáticas
As mudanças no clima de nosso planeta são comuns, e ao longo dos seus 4,7 bilhões
de anos de existência, a Terra passou por longos períodos de resfriamento e aquecimento
globais. As mudanças climáticas são ocasionadas por eventos naturais diversos, como
erupções vulcânicas, intensidades solares, deslocamento de placas tectônicas e movimento dos
continentes, impactos de meteoros, dentre outros. Mesmo nos últimos períodos de existência
do planeta, mais exatamente nos últimos 900 mil anos, a temperatura da Terra passou por
intensos períodos de resfriamento e aquecimento global, conhecidos como períodos glaciais
e interglaciais (Figura 1). Assim, falar em mudanças climáticas envolve pensar em escalas de
tempo e escala, tendo em vista que o clima está sempre mudando, e isto tem acontecido como
todos os períodos da história do planeta que os cientistas foram capazes de estudar.

Figura 1- Diagrama mostrando as eras geológicas e os períodos glaciais e interglaciais da Terra.


Durante os últimos 600 milhões de anos, a Terra alternou entre períodos quentes/úmidos e frios/secos,
que são separados por períodos de climas mais amenos, como o que vivemos agora (Holoceno).
(Fonte: Life. The Science of Biology, 7ed. 2003).

Nos últimos 12 mil anos a nossa espécie vive em um período interglacial quente e úmido,
denominado Holoceno. Em poucas palavras, esse é um período quente que intercala uma
longa era glacial gelada. Esse período interglacial é caracterizado por um clima estável, quente
e úmido o suficiente para favorecer nossas práticas de agricultura conceber os padrões de vida
como a conhecemos, incluindo uma grande biodiversidade global. Mas é um período que se
caracteriza também por uma nítida, embora de difícil comprovação científica, influência do
homem nos padrões climáticos globais. De difícil comprovação porque alguns processos que
se tornaram jargões, como efeito estufa e aquecimento global, são processos que já ocorrem
naturalmente a milhares de anos, e sem os quais o ser humano não seria capaz de sobreviver no
planeta. Mas há evidências, cada vez maiores, que o planeta está sim ficando mais quente por
causa das atividades humanas, e que essa tendência levará a mudanças climáticas significativas
neste século, aparecendo como uma das mais sérias ameaças antropogênicas ao meio ambiente.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 91


As causas naturais das mudanças climáticas
As mudanças climáticas naturais são ocasionadas basicamente pela temperatura
e presença de substâncias da atmosfera, sendo estes processos intimamente relacionados e
dependentes entre si. Praticamente toda a energia que a Terra recebe é fornecida pelo sol,
com exceção de uma pequena quantidade advinda do magma do interior do planeta e de
forças de atrito das revoluções da lua em torno da Terra. A luz solar atinge o planeta em uma
gama de radiação eletromagnética, estando a maior parte nos comprimentos de onda visível
e infravermelho. Em condições normais, a atmosfera reflete cerca de 30% da radiação solar, a
atmosfera absorve cerca de 25%, e os 45% restantes chegam à superfície do planeta. À medida
que a superfície se aquece, mais energia é irradiada de volta para a atmosfera, sendo que parte
retorna para o espaço. Assim, atuando nessa retenção de energia solar absorvida e refletida,
a atmosfera tem papel fundamental na manutenção da temperatura e condições climáticas
globais. Esse é o chamado efeito estufa, um processo natural do clima da Terra.
A retenção de energia solar na atmosfera não ocorre por si só, e depende da presença
de gases, sendo os principais o vapor d’água, controlado pelo ciclo hidrológico, e o dióxido
de carbono (CO2), controlado pelo ciclo de carbono. Esses gases são formados por elementos
(ex: oxigênio e carbono) cuja disponibilidade na atmosfera depende muito das condições
globais de temperatura. Quatro processos – sedimentação, precipitação, oxidação e fotólise
– são responsáveis por alterar as concentrações de partículas e elementos químicos na
atmosfera, sendo a sedimentação e a precipitação os de maior magnitude. No processo de
sedimentação as partículas mais pesadas que o ar deixam de flutuar e se fixam no solo pela
atração gravitacional. Isso explica, por exemplo, a fixação do carbono em grandes bancos de
deposição (rochas calcárias) em épocas de glaciação, o que mantém o resfriamento por longos
períodos (motivo pelo qual os períodos de glaciação costumam ser mais longos que os de altas
temperaturas, veja Figura 1). Já o processo de precipitação permite a retirada de partículas da
atmosfera através da interação com moléculas de água, o que explica, por exemplo, o porque
a precipitação natural ser levemente ácida, já que envolve a combinação da água com o CO2
da atmosfera, o que forma ácidos carbônicos fracos.

Mudanças climáticas associadas às atividades humanas


Embora as mudanças climáticas sejam parte natural da história da Terra, há evidências
científicas que a atmosfera esteja ficando mais quente em função das atividades humanas.
E grande parte dessas informações surgiu a partir de 1988, quando os Estados Unidos e a
Organização Mundial de Meteorologia estabeleceram o Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC), que reúne mais de dois mil especialistas em estudos do clima de todo o
Mundo, com o propósito de documentar as mudanças climáticas do passado e fazer projeções
de mudanças climáticas futuras. De acordo com os estudos do IPCC, as concentrações de gases

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 92


de efeito estufa (Tabela 1) na atmosfera aumentaram significativamente a partir da revolução
industrial em meados do século XIX, mas especialmente a partir da década de 1950, quando
as concentrações desses gases foram potencializadas pela queima de combustíveis fósseis,
pela agricultura mecanizada e pela urbanização e tecnologias modernas (ex: refrigeração).
As emissões acompanham a demanda energética da população humana em franca expansão
exponencial, que demanda mais comida e tecnologia.
Tabela 1- Principais gases do efeito estufa resultantes das atividades humanas. (Adaptado de Tyler
Miller Jr. 2007. Ciência Ambiental. 11ª Edição)
Tempo médio Potencial de
Gases na atmosfera Fontes humanas aquecimento
(anos) (comparado ao CO2)
Queima de combustível fóssil
Dióxido de (carvão mineira e petróleo),
100 – 120 1
carbono (CO2) desmatamento e queima de
florestas

Arrozais, gases de bois, aterros


sanitários, vazamentos de gás
Metano (CH4) 12 – 18 23
natural, vegetações submersas
em reservatórios hídricos

Fertilizantes, queima de
Óxido nitroso
114 – 120 combustível fóssil, detritos de 296
(N2O)
animais, produção de nilon

Aparelhos de refrigeração (ar-


Clorofluorcarbonos
11 – 20 condicionado e refrigeradores), 900 – 8300
(CFCs)
espumas plásticas

Aparelhos de refrigeração (ar-


Hidrofluorcarbonos
15 – 390 condicionado e refrigeradores), 130 – 12700
(HFCs)
espumas plásticas

Impactos das mudanças climáticas


O IPCC lançou seu primeiro relatório em 2001, estando, em 2014, em seu quinto e mais
recente relatório. Esse novo relatório, com modelos teóricos mais aperfeiçoados, afirma com
maior certeza que o homem é o responsável pelo atual aquecimento do planeta, e alerta que
os perigos do aquecimento se tornaram mais graves. Embora o quinto relatório ainda não tenha
sido oficialmente lançado, as principais conclusões já foram publicadas no site do IPCC, dentre
as quais estão:

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 93


∙∙ O aquecimento global é fato. A principal causa do aquecimento é a emissão
de gases estufa pelas atividades humanas, com destaque para a emissão de gás
carbônico. A atmosfera e os oceanos aqueceram, o gelo e a neve diminuíram, e
as concentrações de gases do efeito estufa aumentaram. O planeta aqueceu em
média 0,85ºC entre 1880 e 2012. As três últimas décadas foram as mais quentes
desde 1850. O aumento da temperatura entre a média do período 1850-1900
e a média do período 2003–2012 foi em média 0,78ºC. O gelo está em recuo
acelerado na maior parte das regiões frias do mundo.
∙∙ Os oceanos têm acumulado a maior parte do aquecimento global, servindo como
um amortecedor para o aquecimento da atmosfera, estocando muito gás carbônico.
Com a contínua absorção de gás carbônico o mar está se tornando mais ácido.
No entanto, à medida que o oceano aquece, ele perde capacidade de absorver
gás carbônico, o que pode acelerar os efeitos atmosféricos quando ele atingir a
saturação. O nível do mar aumentou em torno de 19 cm entre 1901 e 2010 devido
à expansão térmica das águas.
∙∙ O aquecimento produz efeitos de longo prazo e pode afetar toda a biosfera, e
mesmo com a suspensão imediata das emissões de gás, haveria um aquecimento
adicional pela lentidão de algumas reações e pelos efeitos cumulativos. O regime
de chuvas, as correntes marinhas e o padrão dos ventos estão sendo perturbados,
aumentando os eventos de secas e enchentes severas. Os efeitos são sinérgicos
e se combinam para gerar novas causas, tendendo a amplificar em cascata o
aquecimento e agravar suas consequências.
∙∙ Se as emissões continuarem nos ritmos atuais, o aquecimento vai aumentar, podendo
chegar a 4,8ºC até 2100. Os efeitos negativos se multiplicarão e impactarão todos
os componentes do sistema climático, com graves repercussões sobre o bem estar
da humanidade e de todas as outras formas de vida. O mar elevaria mais, ficaria
ainda mais quente e ácido, haveria mais perda de gelo. As chuvas ficariam mais
irregulares e os episódios de climas severos de secas/alagamentos mais frequentes
e intensos, entre outras consequências.

O aumento da temperatura global apresenta, de maneira geral, efeitos nocivos e


imprevisíveis ao ser humano. Muitas áreas sofreriam prejuízos com o calor excessivo,
escassez de água e redução na produção de alimentos. Mas também há relatos de mudanças
benéficas, pelo menos em curto prazo. Algumas áreas poderiam se beneficiar com invernos
menos rigorosos, aumento de precipitação local e aumento da produção de alimentos.
Espécies de animais e plantas adaptadas a climas mais quentes, nativas ou cultivadas,
poderiam expandir suas populações e melhorar seu desempenho. Um exemplo claro é
a cana de açúcar, adaptada a climas quentes, que teria sua área expandida em regiões
tropicais e subtropicais no Planeta.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 94


Soluções das mudanças climáticas
Lidar com a ameaça das mudanças climáticas é difícil, pois ela tem muitas causas,
algumas ainda pouco conhecidas, os seus efeitos são desiguais e variam muito em escalas
espaciais e temporais, e ainda existem muitas controvérsias no meio científico com relação a
ocorrência de efeitos nocivos e como se deve trata-los. Diversas características das mudanças
climáticas levam a questões científicas, políticas, econômicas e éticas complexas e de difíceis
decisões. Para começar, o problema é global, o que requer cooperação internacional e uma
forma de pensar globalmente no custo/benefício das reduções de produção e emissão de gases.
É improvável que os tomadores de decisões políticas tenham a certeza científica adequada em
tempo hábil de mitigar um efeito nocivo das mudanças climáticas em escala local, o que se
torna bem mais difícil em escala global. Além disso, o problema é de longo prazo, o que exige
planejamento na execução dos planos de controle ambientais, o que pode ser politicamente
prejudicado dependendo dos processos de eleição e conjectura econômica. Finalmente, os
efeitos não são distribuídos de forma uniforme no planeta, o que implica que haverá ganhadores
e perdedores em termos ambientais e econômicos. A grande dificuldade é que não há como
precisar quais países e regiões serão os ganhadores e/ou perdedores, até que seja muito tarde
para mitigar os efeitos nocivos.
E quais seriam as opções? Existem, atualmente, três linhas de pensamento sobre como
lidar com as mudanças climáticas globais:
1- Esperar para ver: Levanta a necessidade de mais estudos científicos para uma melhor
compreensão do sistema climático global antes de se tomar decisões políticas e
econômicas controversas e de amplo alcance. O maior exemplo é o governo dos
Estados Unidos, que defende esta estratégia antagonicamente à redução gradativa
do consumo dos combustíveis fósseis.
2- Agir prontamente: nesse grupo estão cientistas e líderes políticos (principalmente
da União Europeia) que argumentam que já existe informação suficiente indicando
consequências ecológicas, econômicas e sociais nocivas, e que quanto antes agir,
melhor. Esse é a linha de pensamento que consolidou, por exemplo, o protocolo
de Kyoto, para redução de emissões de gases (Quadro 1).
3- Agir como estratégia de não-arrependimento: é baseada na realização de ações-
chave para desacelerar o aquecimento global, mesmo que a ameaça não se
materialize. Essas ações levariam a outros benefícios ambientais e econômicos.
Por exemplo, a redução do consumo de combustíveis fósseis, além da redução na
emissão de gases do efeito estufa, diminuiria a dependência de petróleo importado,
alterando suas políticas de segurança econômica e militar.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 95


Quadro 1- O Protocolo de Kyoto

O Protocolo de Kyoto é um tratado internacional que envolve compromissos mais rígidos para
a redução de emissão dos gases do efeito estufa. Foi criado no ano de 1997 em Kyoto (Quioto
em português), Japão. Para entrar em vigor, era necessário a assinatura de no mínimo 55 países,
responsáveis juntos pela emissão de 55% dos gases. A abertura para assinaturas teve inicio em 11
de dezembro de 1997 e entrou em vigor somente em fevereiro de 2005.

Os países que fazem parte teriam como obrigação reduzir a emissão de gases do efeito estufa,
em no mínimo 5,2% em comparação com os níveis de 1990 no período entre 2008 e 2012. As
metas de redução não são idênticas a todos os países, elas possuem valores diferentes em cada
um dos 38 países que mais emitem gases. Dentre as ações básicas para a diminuição da emissão
de gases estão:

• Uso de fontes de energia renovável;

• Reformulação no setor de transporte;

• Proteção das florestas e outros sumidouros de carbono;

• Diminuição do uso do gás metano.

Atualmente o Procoloto de Kyoto possui mais de 140 países em adesão. Os Estados Unidos não
faz parte, com a justificativa que sua economia seria muito afetada e muitas indústrias seriam
fechadas. Especialistas dizem que a ausência dos Estados Unidos enfraqueceu muito o Protocolo
de Kyoto, uma vez que somente esse país é responsável por um terço do total de emissões em
nosso planeta. Em 2014 o Protocolo de Kyoto se encontra mais enfraquecido do que quando foi
criado, em 1998. Tanto que a Organização das Nações Unidas prorrogou a validade do Protocolo
para 2020. Hoje, o grupo comprometido em reduzir emissões de acordo com as metas propostas
pelo protocolo se reduziu a 36 países: todos os países que integram a União Europeia, além de
Noruega, Austrália, Ucrânia. Vale ressaltar que, juntos, esses países são responsáveis por apenas
15% do total de emissões em todo o mundo de gases causadores do efeito estufa.

Caso o Protocolo de Kyoto fosse seguido de maneira correta, é estimado que a temperatura global
reduza entre 1,4°C e 5,8°C até 2100. Mas de acordo com comunidades cientificas a diminuição de
apenas 5,2% em relação aos níveis de 1990, não são suficientes para dar fim ao aquecimento global.
(Fonte: ONU. http://unfccc.int/kyoto_protocol/items/2830.php ).

Mas não há como depender apenas dos esforços dos governantes e tomadores de decisões.
Há mudanças de estilo de vida que podem ajudar a reduzir os impactos, especialmente nas
emissões de carbono. Dentre estas, destacam-se:
∙∙ Diminuir o uso dos combustíveis fósseis. Eliminar a queima de carvão, petróleo
e de gás natural é um desafio enorme, especialmente para cidadãos dos países
em desenvolvimento, que desejam os mesmos confortos e tecnologia que se
devem à energia desses combustíveis. Alternativas como biodiesel, energia
eólica e plásticos de origem vegetal são promissores. Reduzir viagens de longa
distância, principalmente aéreas, que são uma das fontes que mais crescem de

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 96


emissões de gases e libera as emissões no pior local possível (na alta atmosfera).
Também contribuem na redução, morar mais perto do trabalho, usar transporte
coletivo, optar por caminhar e andar de bicicleta (ou outro meio de transporte
que exija apenas energia humana), e trabalhar em casa e pelo computador (sem
deslocamento) alguns dias da semana.
∙∙ Atualizar a infra-estrutura. Construções e sistemas hidráulicos e elétricos antigos
apresentam tecnologia ultrapassada, o que ajuda no desperdício. Em locais frios
o investimento em maior isolamento e outras medidas com boa relação custo-
benefício para o controle da temperatura resultam em economia a longo prazo.
Estradas ruins podem reduzir a economia de combustível mesmo para os veículos
mais eficientes. O investimento em uma nova infra-estrutura das estradas e linhas
de transmissão de energia ajuda a reduzir as emissões de gases de efeito estufa e a
controlar o desperdício de energia.
∙∙ Ser eficiente. Evite produtos e ações que demandam alto consumo de energia, como
deixar luzes acesas desnecessariamente ou usar veículos esportivos com alto consumo
de combustível. A boa manutenção do veículo, como pneus estejam devidamente
calibrados, pode reduzir o consumo do veículo. O uso de lâmpadas fluorescentes,
refrigeradores, aparelhos de ar condicionado e outros aparelhos mais eficientes, como
os de categoria “A” do INMETRO, pode reduzir o consumo de eletricidade. Tirar os
aparelhos da tomada (os cidadãos americanos, por exemplo, gastam mais dinheiro em
eletricidade para alimentar aparelhos desligados do que ligados).
∙∙ Comer de forma mais inteligente. Optar por produtos orgânicos que não exigem
fertilizantes, e que preferencialmente não venham de muito longe. E diminuir o
consumo de carne confinada, qualquer que seja, pois exige quilos de ração para
produção de meio quilo de proteína.
∙∙ Interromper o corte de árvores e florestas, e planta árvores. Árvores são fundamentais
por reterem o carbono atmosférico. A madeira extraída dos trópicos representa 20%
das emissões de gases de efeito estufa de origem humana, e uma fonte que poderia
ser evitada de forma relativamente fácil. Melhores práticas agrícolas, juntamente
com a reciclagem de derivados de celulose (papel, papelão, etc), equilibrando a
quantidade de madeira extraída com a quantidade de novas árvores plantadas,
poderiam eliminar essa porção significativa das emissões. Comprar produtos com
madeira certificada de origem sustentável. As florestas são, a curto prazo, a melhor
esperança da humanidade para frear a mudança climática. Plantar e/ou restaurar
vastas áreas de florestas nativas deve ser incentivado.
∙∙ Controle de natalidade. Há quase 7 bilhões de pessoas vivendo no planeta, com
projeções de quase 10 bilhões até a metade do século. A ONU estima que são
necessários, em média, 22 hectares para sustentar um ser humano (alimentos,
vestuário e outros), o que mostra que a continuidade desse crescimento
populacional é insustentável. Ainda não se sabe ao certo quantas pessoas o planeta

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pode sustentar de forma confortável, mas está claro que o consumo de energia per
capita deve diminuir caso se queira controlar a mudança climática.
∙∙ Geoengenharia. O homem está em uma constante corrida tecnológica, e se tudo
mais falhar, a geoengenharia pode ajudar a amenizar alguns problemas. Projetos
de intervenções são reais, e envolvem, por exemplo: a liberação de partículas de
sulfato no ar para imitar os efeitos resfriadores de erupções vulcânicas; a fertilização
dos oceanos com ferro ou outros nutrientes para permitir que o plâncton absorva
mais carbono; a implantação de milhares de pequenos espelhos ou lentes no espaço
para desviar a luz solar; a utilização de películas reflexivas em vastas porções do
planeta para refletir a luz solar de volta ao espaço; o aumento da cobertura de
nuvens ou a refletividade das nuvens que já se formam; e a captura do dióxido
de carbono antes de sua emissão e seu armazenamento no subterrâneo, fundo do
oceano ou em minerais carbonatos, o que aparece como o esforço mais crucial no
combate à mudança climática global.

Ecologia e Conservação de Recursos Naturais 98


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CONSULTADA E
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