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 Liberdade por um fio: história dos quilombos do Brasil

*Introdução: Uma história da liberdade – João José Reis e Flávio dos Santos Gomes (p.9-15)

- A escravidão de africanos nas Américas custou cerca de 15 milhões ou mais de homens e


mulheres arrancados de suas terras. A participação do Brasil foi enorme e estima-se que 40%
dos escravos africanos tenham vindo para território brasileiro.

- O trafico de escravos foi um grande empreendimento comercial e cultural que marcou a


formação do mundo moderno e a criação de um sistema econômico mundial.

- Foram os africanos que constituíram a principal força de trabalho durante os 300 anos de
escravidão.

- A escravidão penetrou cada aspecto da vida brasileira. “Além de movimentarem engenhos,


fazendas, minas, cidades, plantações, fábricas, cozinhas e salões, os escravos da África e seus
descendentes imprimiram marcas próprias sobre vários outros aspectos da cultura material
espiritual deste país, sua agricultura, culinária, religião, língua, música, artes, arquitetura” p.9

- Onde houve escravidão houve resistência. Esta resistência se manifestou de diversas formas,
negociavam espaços de autonomia com os senhores, faziam corpo mole no trabalho,
quebravam ferramentas, agrediam senhores e feitores, incendiavam plantações, rebelavam-se
individual ou coletivamente.

- Houve um tipo de resistência que pode ser caracterizado como a mais típica da escravidão,
trata-se da fuga e formação de grupos de escravos fugidos.

- A fuga, entretanto, nem sempre levava a formação desses grupos, os escravos terminavam
procurando se diluir no anonimato da massa escrava e negros livres. O destino destes após a
fuga eram as cidades, onde a população não se estranhava com a circulação de pessoas de
diversas matizes raciais.

- No Brasil os grupos de escravos fugidos que se organizavam em sociedades eram chamados


de quilombos e mocambos e seus membros de quilombolas, calhambolas ou mocambeiros.

- Os estudos sobre o aquilombamento se espalham pelo continente americano, por terem


constituído uma espécie de comunidade relativamente independente os quilombos da Jamaica
e Suriname foram estudados a partir de dentro, por exemplo, as fontes orais e a memória
ainda viva de seus descendentes. Apesar de existirem as chamadas “remanescentes de
quilombos”, que podem traçar seu passado até agrupamentos constituídos antes da abolição
no Pará, na maior parte do Brasil os quilombos só podem ser estudados por fontes
problemáticas - relatos de estrangeiros, sempre ligados as forças repressoras.

- Diversos autores estudaram os quilombos brasileiros, especialmente Palmares. No final do


séc. XVII cronistas já falam da resistência e dificuldade de erradicar os quilombos, mas
somente a partir dos anos 1930 apareceriam as primeiras reflexões mais sistemáticas com
relação aos quilombos. A corrente formada por Nina Rodrigues, Arthur Ramos, Edison
Carneiro e, posteriormente, Roger Bastide, teve uma interpretação culturalista da questão
quilombola. Acreditavam que a organização social dos quilombos era por conta de um esforço
“contra-aculturativo”, em resistência aos europeus. p.11

- O norte-americano R. K. Kent, influenciado pelos culturalistas, entendia o quilombo como


um projeto “restauracionista”, onde os fugitivos almejariam restaurar a África no Brasil.
Visões culturalistas ou restauracionistas acabaram por criar uma concepção popular do
quilombo como uma comunidade isolada e isolacionista, uma espécie de alternativa a
sociedade escravocrata onde todos seriam livres como teriam sido na África, uma África
consideravelmente romantizada.

- Os autores sugerem que o mais vantajoso seria investigar como os quilombolas


“continuavam em seus refúgios, com ritmo e meios diferentes, a formação de uma sociedade
afro-brasileira que havia começado nas senzalas”. p.12

- No processo de criação dessas novas sociedades, contribuíram fundamentalmente


instituições e visões de mundo trazidas pelos africanos. As trocas culturais e alianças sociais
foram intensas entre os africanos e também ocorreram com os habitantes locais, negros e
mestiços nascidos aqui, brancos e índios. Segundo os autores, “para esse processo de
construção de novas instituições, culturas e relações sociais que se deve voltar o
estudioso[...]” p.12

- Desde fins dos anos 1950, os estudos sobre rebeldia escrava se popularizaram, paralelamente
à ascensão dos movimentos de esquerda. Clóvis Moura em 59 revisitou os quilombos a partir
de uma perspectiva mais estritamente marxista, num mesmo momento que vários estudiosos
lutavam para combater a concepção da “democracia racial” de Freyre. Enquanto a “escola
paulista” (Floresta, FHC e Octavio Ianni) em seu revisionismo colocou a resistência escrava
em segundo plano, para enfatizar a coisificação do escravo, Clóvis e alguns de seus
posteriores privilegiaram esta resistência.

- Os seguidores da historiografia de Clóvis Moura entendiam os quilombos como uma


negação do regime de cativeiro por meio da criação de uma sociedade alternativa livre, ideia
que retorna por outros meios à tese do isolamento do quilombo. Segundo a análise marxista
de Clóvis e seus seguidores, os quilombolas não teriam alcançado o “nível” de consciência de
classe suficiente para propor a destruição do sistema escravocrata como um todo. “Adeptos de
um evolucionismo mais ou menos disfarçado, esses autores substituem a investigação dos
sentidos que o próprio escravo emprestava a suas ações por uma lamentação de que ele não
alcançasse o sentido da História tão bem entendido pelo historiador”. p.13

- Os estudos mais recentes sobre os quilombos, que foram produzidos nos anos 1980 e 1990,
são, em muitos casos, herdeiros das análises culturalistas e marxistas. No entanto, renovaram
a discussão do fenômeno pois desistiram da busca de africanismos e da rigidez do marxismo
tradicional, atualizando o debate a partir de novas perspectivas da historiografia recente.

- A coletânea organizada por João José Reis e Flávio dos Santos Gomes tem como objetivo
apresentar como estão sendo estudados os quilombos no Brasil, apresentando textos de
autores de diferentes “escolas” e visando apresentar um quadro amplo das várias
possibilidades interpretativas.

- O primeiro texto apresentado é o ensaio de Pedro Paulo Funari sobre os primeiros resultados
de sua pesquisa arqueológica na serra da Barriga. A arqueologia se mostra uma perspectiva
nova de abordagem no estudo sobre quilombos no Brasil e pode iluminar questões
impossíveis de serem alcançadas com a documentação convencional. Uma das hipóteses
trabalhadas por Funari é que a presença indígena pode ter sido mais significativa que se supõe
sustentando seu argumento com base no tipo de cerâmica presente em cada localidade.
Hipótese esta que pode ajudar a redimensionar a interpretação africanocêntrica de Palmares.

- O historiador e antropólogo Richard Price, que estudou por muito tempo um povo
quilombola da floresta do Suriname que conseguiu um tratado de paz e vive até hoje com sua
cultura e identidade próprias, se dedicou a imaginar o que Palmares teria se tornado caso
tivesse sobrevivido até nossos dias.

- Ronaldo Vainfas se dispõe a discutir a questão palmarina se utilizando principalmente de


fontes originárias do clero, pois no Brasil diversos letrados de batina pensaram e escreveram
sobre aquela comunidade. Os jesuítas foram, entre os padres, os que mais escreveram sobre a
escravidão, legitimando-a, e até praticando-a, entretanto só um escreveu diretamente sobre
Palmares. Este foi Antonio Vieira, que descartou a possibilidade de pacificação com a
comunidade de Palmares, considerando os quilombolas irredutíveis. As reflexões de Vieira e
outros jesuítas propunham uma reforma na escravidão para assim diminuir as chances de
revoltas escravas da dimensão de Palmares.

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