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RESUMO
Este artigo de caráter bibliográfico tem como objetivo apontar a influência da brincadeira e do jogo na
formação do comportamento social da criança nas primeiras séries escolares, a partir da teoria de
Vygotsky e de outros autores. Os principais elementos discutidos desta teoria são: a brincadeira como
atividade principal da criança na idade pré-escolar, o desenvolvimento da Zona de desenvolvimento
proximal por meio da brincadeira, a satisfação das necessidades da criança por meio do brincar, a
razão pela qual cada período do desenvolvimento pede brinquedos específicos, a formação social da
criança pré-escolar sob influência de jogos e do brinquedo na formação social da criança pré-escolar,
além da definição dos termos brinquedo, brincadeira e jogo e de uma abordagem das brincadeiras no
contexto escolar.
ABSTRACT
This bibliographical article aims to point out the influence of play and games in the formation of social
behavior of children in the early grades, from the theory of Vygotsky and other authors. The main
elements of this theory are discussed: play as a core activity of the child in preschool, the development
of the zone of proximal development through play, meeting the needs of children through play, the
reason why each period development calls for specific toys, the social formation of the preschool child
under the influence of games and toys in the social formation of the preschool child, in addition to the
definition of terms toy play and play and approach the games in the school context.
1 INTRODUÇÃO
1
GT1 Educação de Crianças, Jovens e Adultos.
2
Graduando de Licenciatura em Pedagogia pela Universidade Tiradentes - Aracaju / Sergipe. Estagiário do
Serviço Social da Indústria - SESI/Sergipe (2012-2013). Membro do Grupo de pesquisa Políticas Públicas,
Gestão Sócio Educacional e Formação de Professor, atuação na linha de Pesquisa Práticas Investigativas na
Educação Superior e na Educação Rural (GPGFOP/Unit/CNPq). E-mail: maris_valdo19@hotmail.com
3
Possui graduação em Pedagogia pela Universidade Federal de Sergipe (1982). Especialização em Alfabetização
- PUC/Minas.(1989) Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN.
Estatutária e pesquisadora da Sec. Municipal de Educação, estatutária da rede Estadual de ensino. Professora
Assistente III da Universidade Tiradentes. Tem experiência na área de Educação, atuando principalmente nos
seguintes temas: Projeto de Interdisciplinaridade, Sociologia e Política e Sociedade. E-mail:
joana_unit70@yahoo.com.br
Com o foco nas evidências sobre as contribuições que a brincadeira oferece ao
desenvolvimento infantil e a aprendizagem no contexto escolar, este estudo estará
principalmente focado nas características e influências do brincar sobre a criança.
Para perceber o quanto é importante o ato de brincar na construção e no
desenvolvimento do conhecimento de uma criança, é preciso observá-la brincando. É possível
aprender muito a partir desta observação e se formos atentos e sensíveis, poderemos verificar
os percursos caminhos que ela trilha ao aprender sem a interrupção direta de um adulto.
Brincando, a criança aprende a lidar com o mundo a sua volta, recria situações cotidianas,
forma sua personalidade e experimenta sentimentos básicos.
Para Vygotsky (2007), o desenvolvimento mental da criança é um processo em
construção e aquisição do controle ativo sobre funções que inicialmente são passivas. Desde
os primeiros dias, as atividades desenvolvidas pela criança adquirem um significado próprio
em um sistema de comportamento social e, sendo dirigidas a objetivos definidos, são
desviados através do reflexo do ambiente da criança. Daí que, de início, o caminho do objeto
até ela e vice-versa passa através de outra pessoa. Neste sentido, o processo de resolução de
problemas em conjunto com outrem não é diferenciado pela criança no que diz respeito aos
papéis desempenhados por ela e por quem a auxilia.
A aprendizagem, criando o que Vygotsky (2007) denominou de "zona de
desenvolvimento proximal", desperta vários processos internos capazes de operar somente
quando a criança interage com pessoas em seu ambiente, e quando em cooperação com seus
companheiros.
Estes processos, uma vez internalizados, tornam-se parte das aquisições de
desenvolvimento independentes da criança. Mais uma vez, portanto, sua concepção destaca o
valor do interlocutor, daquele que dialoga com a criança no seu desenvolvimento.
É preciso evidenciar que em todas as concepções teóricas sobre a educação e o
desenvolvimento da criança pequena e na bibliografia em geral, a brincadeira é vista como um
importante recurso no desenvolvimento integral e na construção de conhecimentos. A
brincadeira é a atividade que presente no mundo cotidiano de qualquer criança, independente
dos recursos disponíveis, do local onde vive, do grupo social e da cultura na qual esteja
inserida. Dentro dessa perspectiva, este artigo tem o real objetivo de refletir acerca do grande
valor do ato de brincar na construção do conhecimento, pois permite que a criança explore seu
mundo interior e descubra os elementos exteriores em si, pratique a socialização e adquira
qualidades imprescindíveis para seu desenvolvimento físico e mental.
2 DEFINIÇÃO DOS TERMOS BRINQUEDO, BRINCADEIRA E JOGO
Para caracterizar o objeto lúdico, cada idioma possui um termo específico, que
identifica e qualifica o material concreto utilizado na brincadeira infantil. O vocábulo
“brinquedo”, utilizado por nós brasileiros, é “toy” na língua inglesa, "jouet” na língua
francesa, “juguete” na língua espanhola e “giocatollo” na língua italiana, com clara distinção
semântica.
O brinquedo, segundo Vygotsky (2007), é o mundo ilusório e imaginário onde os
desejos não realizáveis podem ser realizados. É no brinquedo que a criança aprende a agir
numa esfera cognitiva em vez de uma esfera visual externa, dependendo das motivações e
tendências internas e não dos incentivos fornecidos pelos objetos externos. Numa situação
imaginária, a criança dirige seu comportamento pelo significado desta situação. Esta seria a
primeira manifestação de libertação da criança em relação às restrições situacionais. Assim,
podemos dizer que o brinquedo é um estágio entre as restrições puramente situacionais da
primeira infância e o pensamento adulto que, por sua vez, pode ser totalmente desprendido de
situações reais.
Walter Benjamin (2002) fez algumas importantes reflexões acerca do lúdico, levando
em consideração o seu aspecto cultural. Brinquedo e brincar, para ele, estão associados, e
documentam como o adulto se coloca em relação ao mundo infantil, pois os estudos de
Benjamin mostraram como, desde as origens, o brinquedo sempre foi um objeto criado pelo
adulto para a criança. Segundo ele, acreditava-se erroneamente que o conteúdo imaginário do
brinquedo é que determinava as brincadeiras infantis, quando na verdade quem faz isso é a
criança. Por esta razão, quanto mais atraentes forem os brinquedos, mais distantes estarão do
seu valor como instrumentos do brincar.
É através do ato de brincar que a criança vê e constrói o mundo, demonstra aquilo que
tem dificuldade de expor em palavras. Sua escolha é motivada por processos e desejos
intrínsecos, pelos seus problemas e ansiedades. É brincando que a criança aprende que,
quando se perde no jogo, o mundo não se acaba. Ainda assim é preciso considerar que o ato
de brincar permite que a criança se encontre com o mundo de corpo e alma. Percebe como ele
é e as contribuições elementares importantes para a sua vida, desde hábitos mais
insignificantes, até os fatores que determinam a cultura de seu tempo.
Para tanto, o termo brinquedo deve ser visto como o objeto base para a brincadeira, ou
seja, o objeto que desenrola, pela sua imagem, a atividade lúdica da criança. A brincadeira por
si deverá ser identificada como uma atividade não estruturada, que gera satisfação, que possui
um fim em si e que pode trazer regras perfeitamente enunciadas ou subentendidas. O jogo,
como objeto, será distinguido como algo que possui regras pré-estabelecidas e explícitas com
um fim lúdico, entretanto, como atividade será considerado sinônimo de brincadeira.
Para esse autor, o nível de desenvolvimento real refere-se a tudo aquilo que a criança
já tem consolidado em seu desenvolvimento, e que ela é capaz de realizar sozinha sem a
interferência de um adulto ou de uma criança mais experiente. Já a “zona de desenvolvimento
proximal” refere-se aos processos mentais que estão em construção na criança, ou que ainda
não amadureceram. A “zona de desenvolvimento proximal” é, pois, um domínio psicológico
em constantes transformações, aquilo que a criança é capaz de fazer com a ajuda de alguém
hoje, ela conseguirá fazer sozinha amanhã. É nesse sentido que a brincadeira pode ser
considerada um excelente recurso a ser usado quando a criança chega na escola, por ser parte
essencial de sua natureza, podendo favorecer tanto aqueles processos que estão em formação,
como outros que serão completados.
A partir do que foi discutido é possível compreender o papel da brincadeira nas
instituições de educação infantil e a importância em se oferecer às crianças a oportunidade de
conhecerem e reelaborarem as experiências do mundo em que vivem a partir das interações
com as experiências das outras crianças e também dos professores que interagem com elas.
Assim, a atividade de brincadeira constitui-se como uma mola propulsora do processo
de desenvolvimento desta criança, possibilitando também um importante intercâmbio social
para ela que anseia por conhecer o mundo e o faz a partir das interações com as diferentes
infâncias vividas pelo grupo de crianças com a qual convive e também nas interações com os
adultos.
É histórica a valorização dada pelas escolas ao brincar. Valorizar neste sentido significa
cada vez mais levar o brinquedo para a sala de aula e também fornecer aos profissionais
conhecimentos para que possam entender o brincar, assim como utilizá-lo para que auxilie na
construção do aprendizado da criança. Para que isso aconteça, o adulto deve se tornar
presente e participar dos momentos lúdicos.
Os profissionais que atuam na educação de crianças deve saber que podemos sempre
desenvolver a motricidade, à atenção e a imaginação delas. Em qualquer época da vida de
crianças e adolescentes e porque não de adultos, as brincadeiras devem estar presentes.
Brincar não é coisa apenas de crianças pequenas, erra a escola ao subsidiar sua ação,
dividindo o mundo em lados opostos: de um lado o jogo da brincadeira, do sonho, da fantasia
e do outro: o mundo sério do trabalho e do estudo. Independente do tipo de vida que se leve,
todos adultos, jovens e crianças precisam da brincadeira e de alguma forma de jogo, sonho e
fantasia para viver.
Brincadeira e aprendizagem são consideradas ações com finalidades bastante
diferentes, no entanto podem dividir o mesmo espaço e tempo desde que a brincadeira seja
realizada de forma direcionada com foco na aprendizagem, afinal é através das brincadeiras
que a criança representa o discurso externo e o interioriza, construindo seu próprio
conhecimento. O adulto transmite à criança uma certa forma de ver as coisas.
Se quisermos que a criança aprenda a observar, se quisermos que ela realmente veja o
que olha, temos que escolher o momento certo para apresentar-lhe o objeto, motivá-la e dar-
lhe tempo suficiente para que sua percepção penetre no objeto. Teremos também que
respeitar o seu interesse.
Insistir quando a criança já está cansada é propiciar o aparecimento de certas reações
negativas. Aprender a ver é o primeiro passo para o processo de descoberta. É o adulto quem
proporciona oportunidades para à criança ver coisas interessantes, mas é indispensável que
respeitemos o momento de descoberta dela para que possa desenvolver a capacidade de
concentração.
Pode-se afirmar que o Brincar enquanto promotor da capacidade e potencialidade da
criança deve ocupar um lugar especial na prática pedagógica, tendo como espaço
privilegiado, a sala de aula. Nesse sentido, muito pode ser trabalhado a partir de jogos e
brincadeiras. Contar, ouvir histórias, dramatizar, jogar com regras, desenhar entre outras
atividades, constituem meios prazerosos de aprendizagem.
À medida que a criança interage com os objetos e com outras pessoas, construirá
relações e conhecimentos a respeito do mundo em que vive. Aos poucos, as escolas, a
família, em conjunto, deverão favorecer uma ação de liberdade para a criança, uma
sociabilização que se dará gradativamente, através das relações que ela irá estabelecer com
seus colegas, professores e outros pessoas.
Para que isso aconteça, a criança não deve sentir-se bloqueada, nem tão pouco oprimida
em seus sentimentos e desejos. Suas diferenças e experiências individuais devem,
principalmente na escola, ter um espaço relevante sendo respeitadas nas relações com o
adulto e com outras crianças. Brincando em grupo as crianças envolvem-se em uma situação
imaginária onde cada um poderá exercer papéis diversos aos de sua realidade, além de que,
estarão necessariamente submetidas a regras de comportamento e atitude.
Santos (1997) diz que “brincar é a forma mais perfeita para perceber a criança e
estimular o que ela precisa aprender e se desenvolver. Se a escola não atua positivamente,
garantindo possibilidades para o desenvolvimento da brincadeira, ela ao contrário, age
negativamente impedindo que esta aconteça”.
Diante desta realidade, faz-se necessário apontar para o papel do professor na garantia e
enriquecimento da brincadeira como atividade social da infância. Considerando que a
brincadeira deva ocupar um espaço central na educação, o professor é figura fundamental
para que isso aconteça, criando os espaços, oferecendo material e partilhando das
brincadeiras.
Agindo desta maneira, o professor estará possibilitando às crianças uma forma de
assimilar à cultura e modos de vida adultos, de forma criativa, social e partilhada. Estará,
ainda, transmitindo valores e uma imagem da cultura como produção e não apenas consumo.
Devemos ter espírito aberto ao lúdico, reconhecer a sua importância enquanto fator de
desenvolvimento da criança. Seria importante termos na sala de aula um cantinho com alguns
brinquedos e materiais para brincadeiras. Na verdade qualquer sala de aula disponível é
apropriada para as crianças brincarem. Podemos ensinar as crianças também, a produzir
brinquedos. O que ocorre geralmente nas escolas é que o trabalho de construir brinquedos
com sucatas, fica restrito às aulas de arte, enquanto professores poderiam desenvolver
também este trabalho nas áreas de teatro, música, ciências etc, integrando aos conhecimentos
que são ministrados.
A tensão entre o desejo da criança e a realidade objetiva é que da origem ao lúdico
acionado pela imaginação. Assim podemos afirmar que as brincadeiras por abrir espaços para
o jogo da linguagem com a imaginação, se configura como possibilidade da criança forjar
novas formas conceber a realidade social e cultural em que vive, além de servir como base
para a construção de conhecimentos e valores. Isto faz com que o Brincar seja uma grande
fonte de desenvolvimento e aprendizagem.
Nesse sentido, vale relatar uma experiência vivida em uma turma de Educação Infantil
com crianças de 5 anos enquanto estagiário do Serviço Social da Indútria – SESI (2012 –
2013). Assim, com ênfase no artigo 4º das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil (2009), o planejamento escolar visualiza a criança como centro dele, propondo
atividades lúdicas direcionadas com uso de brinquedos e jogos. Em uma determinada
execução de atividades, as crianças foram levadas para participarem de atividades lúdicas no
pátio da escola. A brincadeira foi a “amarelinha”, esta trouxe momentos de interações bem
significativas em que as crianças interagiam-se umas com as outras e nesta interação, os
colegas mais experientes, iam ensinando a brincadeira para os colegas menos experientes e
dentro de poucos dias todos já sabiam brincar de amarelinha.
A cada dia foi perceptível a necessidade de se investir cada vez mais no brincar, pois, o
ensino sistemático não é o único fator responsável por alargar os horizontes da zona de
desenvolvimento proximal da criança, o brinquedo também é uma importante fonte de
promoção deste desenvolvimento. Já em atividades com material concreto como os
“bloquinhos de montar”, ao observar o comportamento das crianças é bem notável a interação
entre elas e o brinquedo – conversam, riem, gritam... ou seja, a brincadeira infantil constiui-se
numa atividade em que as crianças, sozinhas ou em grupo, procuram compreender o mundo e
as ações humanas nas quais se inserem cotidianamente.
Na concepção de Vygotsky (2007), a criatividade entendida como um processo psíquico
se constrói na criança desde muito cedo e se desenvolve em conjunto com outras funções
superiores, como a imaginação, o pensamento, a memória e a brincadeira e mesmo o
brinquedo não sendo o aspecto predominante da infância, ele exerce uma enorme influência
no desenvolvimento infantil.
A relação da brincadeira e o desenvolvimento da criança permite que se conheça com
mais clareza importantes funções mentais, com o desenvolvimento do raciocínio da
linguagem. Vygotsky (2007) revela como o jogo infantil aproxima-se da arte, tendo em vista
necessidade da criança criar para si o mundo às avessas para melhor compreendê-lo, atitude
que também define a atividade artística.
Sendo a brincadeira resultado de aprendizagem, e dependendo de uma ação
educacional voltada para o sujeito social criança, devemos acreditar, que adotar jogos e
brincadeiras como metodologia curricular, possibilita à criança base para subjetividade e
compreensão da realidade concreta.
É preciso que nós professores nos coloquemos como participantes, acompanhando todo
o processo da atividade, mediando os conhecimentos através da brincadeira e do jogo, afim
de que estes possam ser reelaborados de forma rica e prazerosa. Se os estímulos estiverem
adequados ao estágio de desenvolvimento em que a criança se encontra, as experiências
vividas resultarão em aprendizagens ricas e duradouras.
No contexto escolar, propor brincadeiras como aprendizagem, aproxima-se do trabalho.
Evidencia-se que o brincar transformado em instrumento pedagógico na educação, vai
favorecer a formação da criança para cumprir seu papel social, e mais tarde de adulto. A
hora do intervalo é uma oportunidade para as crianças estabelecerem amizades através da
brincadeira livre. A brincadeira tem sido creditada como um papel central nas amizades. E a
amizade pode ser utilizada, posteriormente, como suporte para o ajustamento escolar em
habilidades comunicativas e sociais e nos trabalhos em classe.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
BROUGÈRE, Gilles. Brinquedo e cultura. São Paulo: Cortez, 1995. Curricular Nacional
para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.
SANTOS, Marli, dos Pires, Santa- (Org) Brinquedoteca, o Lúdico em diferentes contextos.
Petrópolis, RJ, Vozes, 1997.