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Esperar e ter esperança

Cartola, numa de suas músicas mais conhecidas, afirma que “o mundo é um


moinho” que tritura sonhos e reduz a pó ilusões, que os amores acabam em cinismo
e a vida, em abismo. O sentimento não é tão incomum. Inúmeras pessoas se veem
concordando com o mestre do samba por conta de experiências mal sucedidas,
eventos inesperados e tristes que vem puxar o tapete da alegria perene que um dia
acharam que teriam.
É uma verdade universal essa de que em algum momento sofreremos as
intempéries da vida e, como toda verdade universal, a literatura sapiencial, mais
especificamente Eclesiastes, aborda com maestria o tema. Diz o sábio: “Quando os
dias forem bons, aproveite-os bem; mas, quando forem ruins, considere: Deus fez
tanto um quanto o outro, para evitar que o homem descubra qualquer coisa sobre o
seu futuro.” (Ec 7.14)
Existe um desígnio do próprio Deus em se ter dias bons e dias maus. O
sofrimento, ou dias maus, nas palavras do pregador, por mais que seja indesejado, é
necessário, forja caráter, constrói homens e mulheres, não crianças. Como diz o
poeta:

Quem passou pela vida em branca nuvem


E em plácido repouso adormeceu,
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu,
Foi espectro de homem, e não homem,
Só passou pela vida, não viveu.

Deus não espera que sejamos sempre espectros de homens, versões pioradas
de nós mesmos porque tivemos medo de sofrer. Quem nasce e vive numa bolha,
longe dos problemas desse moinho que é o mundo, está fadado ao fracasso pela
própria fraqueza. Não só isso, mas qualquer projeto e sonho profissional almejado
vai exigir algo de nós, deixando ali marcas de dor; qualquer relacionamento envolve
mudança, auto sacrifício e por vezes perdas, o que também pode trazer lágrimas.
Jesus nunca escondeu isso de seus discípulos. Sua mensagem era dura:
“tomem sua cruz”, “tereis aflições”, “o mundo vos odiará”. Se você já ouviu de
alguém que se tornar cristão era o fim dos problemas, pode ter certeza que essa
pessoa estava errada. O mestre não é uma bolha protetora, mas companhia para
cada momento.
Entretanto, por mais que o mundo seja um moinho, é possível não se viver
uma vida de cinismo e sofrimento. Da mesma forma que há dias maus, há também
dias bons. Em outro verso, após deixar claro que momentos para alegrias e tristezas,
diz o sábio: “Descobri que não há nada melhor para o homem do que ser feliz e
praticar o bem enquanto vive. Descobri também que poder comer, beber e ser
recompensado pelo seu trabalho, é um presente de Deus.“ (Ec 3.12-13) A mensagem
é simples: aproveite os bons dias e se torne uma versão melhorada de você nos dias
maus.
Por fim, para aqueles momentos difíceis que parecem eternos, deixo a
sabedoria de Alexandre Dumas, nas palavras de Edmond Dantès, o homem que vive
para uma vingança e abandona tudo em prol da mulher amada: “É preciso ter
desejado morrer para saber como é bom viver. Portanto, vivam felizes, filhos diletos
do meu coração, e nunca se esqueçam de que, até o dia em que Deus dignar-se a
desvelar o futuro para o homem, toda a sabedoria humana estará nestas palavras:
Esperar e ter esperança.” Até mesmo para aqueles problemas sem solução, para os
sofrimentos que parecem eternos, Deus nos promete um tempo em que não haverá
mais lágrimas ou dor.
Esperar e ter esperança. Esperar porque os dias maus passam, nessa ou na
próxima vida; esperar crescendo em maturidade e paciência, com alegria não mais
infantil, mas profunda e plena: esperança de dias melhores. Esperança não tola,
infundada, mas um sentimento de pertencimento a Deus que derrama paz sobre
todos os seus filhos, que se entrega em nosso favor e vai nos acompanhar todos os
dias até a consumação dos séculos.

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