EccoS Revista Científica

ISSN: 1517-1949
eccos@uninove.br
Universidade Nove de Julho
Brasil

Ramos Coutinho, Gerusa

Reseña de Para entender o mundo financeiro de Paul Singer
EccoS Revista Científica, vol. 3, núm. 2, dezembro, 2001, pp. 121-124
Universidade Nove de Julho
São Paulo, Brasil

Disponible en: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=71530210

Cómo citar el artículo

Número completo
Sistema de Información Científica
Más información del artículo Red de Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal
Página de la revista en redalyc.org Proyecto académico sin fines de lucro, desarrollado bajo la iniciativa de acceso abierto

SINGER, Paul. Para entender o mundo financeiro. São Paulo:
Contexto, 2000.
O MISTERIOSO UNIVERSO DAS FINANÇAS NO CAPITALISMO
No fim do século XX, percebe-se
um aumento no fluxo de investimentos
financeiros no mundo, representado pelo
elevado volume de capital que circula
entre os países. O aspecto financeiro
ocupou tanto espaço nas economias
que alguns economistas a tratam como
‘Globalização Financeira’, diferenciando-a
da ‘Globalização Produtiva’. Segundo o
economista Reinaldo Gonçalves1, veri-
fica-se a ocorrência simultânea de três
processos: expansão elevada dos fluxos
financeiros internacionais (empréstimos
e investimentos de portfólio), intensifi-
cação da concorrência no mercado de
capitais e uma maior integração entre os
sistemas financeiros nacionais.
Num processo de autoproteção
contra as perdas de rentabilidade de seus
investimentos produtivos, empresas e
corporações investem parcelas cada vez
mais expressivas de seu capital na espe-
culação financeira – compra de títulos,
ações, papéis etc. –, buscando remune-
ração elevada, menor risco e realização
rápida dos ganhos. São capitais voláteis,
Resenhas
EccoS Rev. Cient., UNINOVE, São Paulo: (n. 2, v. 3): 121-138
Gerusa Coutinho Ramos* *Bacharel e Mestre em Ciências
Econômicas (UFPB). Profes-
sora do Centro Universitário
Ibero-Americano – U NIBERO .
praticamente isentos dos controles dos Coordenadora pedagógica e ins-
mercados nacionais, que se deslocam à trutora em cursos de qualificação
profissional.
feérica velocidade proporcionada pelas
tecnologias de transmissão de dados.
Trata-se de um ganho em torno da
valorização do dinheiro, que não é
oriundo da produção, vale dizer, não
é considerado riqueza, embora possa
apropriar-se de parcela dela.
E
Explicar a lógica misteriosa de va- 1
G ONÇALVES , Reinaldo (org.).
C
lorização e remuneração de ativos não- A nova economia internacional:
C
uma perspectiva brasileira. Rio de
produtivos é o objetivo a que se propôs Janeiro: Campus, 1998. O
S
o professor e economista Paul Singer,
em Para entender o mundo financeiro, R
tarefa à qual nos entregamos prazero- E
samente. Nesta obra, num louvável V.
esforço didático de atingir especialistas C
e cidadãos comuns, reféns desta etapa de I
financeirização exacerbada do capitalismo, E
N
o autor procura retirar as cortinas que T.
escondem o mundo misterioso das finan-
ças – principalmente aquelas que se valem n. 2
dos métodos quantitativos –, tornando-o v. 3
mais acessível e compreensível. O tema
é da maior importância, tendo em vista dez.
que o fim do século XX foi marcado 2001
121
 Resenhas
EccoS Rev. Cient., UNINOVE, São Paulo: (n. 2, v. 3): 121-138
por diversas crises financeiras (México,
Rússia, Ásia, Argentina, Turquia) que
atingiram os países em desenvolvimento
e subdesenvolvidos, e serviram para
pensarmos nos resultados da globaliza-
ção produtiva e financeira.
O livro divide-se em três partes. Na
primeira, Singer trata dos fundamentos
das finanças e sua natureza; na segunda,
aborda a relação entre finanças e Estado;
na terceira, enfatiza o significado da
crise financeira, apresentando, inclu-
sive, uma possibilidade de organização
de um sistema financeiro acessível para
os pobres.
O economista procura apresentar
as categorias fundamentais que explicam
E
C o funcionamento das finanças no capi-
C talismo. Demonstra que o misterioso
O mundo das finanças reduz o espaço de
S
tempo entre a produção e a circulação de
R bens e serviços, amplia o acesso a bens e
E investimentos por meio dos empréstimos
V.
oferecidos pelas instituições financeiras e
C identifica as transações financeiras mais
I conhecidas – os empréstimos de dinhei-
E ro, aluguel de bens, contratos de seguro
N
T. e compra/venda de ações de sociedades
anônimas, transações que implicam ris-
n. 2 co, prazos, juros e garantias reais.
v. 3 O autor demonstra diferenças su-
tis no mundo das finanças como, por
dez. exemplo, a diferença entre ativos reais
2001 e ativos financeiros, além de explicar
122
que a movimentação destes se dá por
meio de operações que resultam em
rendimentos dependentes do prazo da
transação e do risco: quanto maior o
prazo, maior o rendimento; se o risco
é elevado, os rendimentos são maiores;
se o risco é pequeno, a rentabilidade é
menor.
Na relação entre finanças e Estado,
Singer faz um interessante questionamento
a respeito do processo de geração de valor
nas cadeias financeiras, quando se per-
gunta sobre qual é o limite da função
das finanças no fomento à produção,
ao emprego e ao lucro. Percebe-se que
o autor responde ao questionamento
mostrando a função dos intermediários
financeiros e a relação de confiança
entre seus agentes na constituição de
reservas, ou seja, desenvolve o tema
em um excelente nível de objetividade,
estabelecendo uma relação com a cons-
trução das categorias econômicas. Deixa
claro que, na relação entre finanças e
Estado, as autoridades monetárias têm
a função de regular o funcionamento
do mercado financeiro, exigindo dos
bancos a organização de reservas obri-
gatórias acima do normal.
Segundo Singer, “o sistema financei-
ro produz um multiplicador de valor tan-
to maior quanto mais numerosos forem
os capitais ociosos (dinheiro entesourado)
que ele repõe em circulação. Se por efeito

dele a economia real se multiplicasse na
mesma medida, o valor dos ativos reais e o
dos ativos financeiros cresceriam no mes-
mo ritmo” (p. 8). Os problemas surgem
quando existe incompatibilidade entre o
crescimento dos ativos reais e o dos ativos
financeiros: uma grande quantidade de di-
nheiro em circulação, gerada pela emissão
de moeda e aumento da liquidez, pode
provocar inflação e também aumentar
o risco de crédito daquela proporção de
empréstimos não devolvida.
A política monetária é um impor-
tante instrumento de intervenção na
economia. Para Singer, ela procura cum-
prir três objetivos: manter a economia
em pleno emprego, estabilizar os preços
e equilibrar o balanço de pagamentos.
Tais objetivos são incompatíveis, pois
uma economia em pleno emprego gera
inflação e déficit nas contas externas; se
a política monetária é expansionista, o
aumento da oferta de moeda provoca
inflação. Então, a estratégia é diminuir a
oferta de moeda para baixar a inflação.
Nesse contexto de avanço do
capital financeiro, que, obviamente,
tende a favorecer os detentores de ca-
pitais, é preciso valorizar as alternativas
apresentadas pelos cidadãos pobres,
na tentativa de construir um sistema
financeiro acessível e viável para todos.
O autor, envolvido desde há muito
com as causas populares, lembra-nos
Resenhas
EccoS Rev. Cient., UNINOVE, São Paulo: (n. 2, v. 3): 121-138
de experiências bem-sucedidas das co-
operativas de crédito européias, que se
baseiam na confiança, solidariedade e
ajuda mútua. Nesse sistema, os associa-
dos da cooperativa investem capital e/ou
tomam dinheiro emprestado quando
necessitam, com juros bastante inferio-
res àqueles cobrados pelos bancos e risco
financeiro mínimo, já que as pessoas,
pelo fato de se conhecerem, confiam
umas nas outras.
Outra experiência relatada por Sin-
ger é o Banco do Povo, modelo criado em
Bangladesh, em 1977, após um período
de fome que assolou esta que é uma
das regiões mais populosas do mundo.
Pesquisando as causas da pobreza, o
E
professor Yunus, que ministra Economia C
na universidade de Chittagong, percebeu C
que os sem-terra e as mulheres estavam O
S
entre os mais pobres, o que o levou a
organizar um sistema de microcréditos R
dirigido às populações pobres da capital E
de Bangladesh. A experiência foi tão exi- V.
tosa que deu origem ao Grameen Bank C
– banco da aldeia ou banco dos pobres. I
O sistema de microcréditos funciona E
N
por meio de um trabalho coordenado T.
por agentes de créditos, que organizam
as mulheres em grupos solidários. O n. 2
crédito é liberado por meio de um aval v. 3
também solidário, em que a quitação
parcelada do empréstimo dado ao grupo dez.
é de responsabilidade de cada um de seus 2001
123
 Resenhas
EccoS Rev. Cient., UNINOVE, São Paulo: (n. 2, v. 3): 121-138

membros. Em 1998, este banco possuía
2,4 milhões de clientes-proprietários.
Diante do quadro de avanço da
globalização financeira – fria, competi-
tiva e individualista – e da organização
de um terceiro setor que se tem orien-
tado pela defesa dos interesses coletivos
dos desiguais, inclusive os de natureza
econômica, o livro merece indicação
de leitura, até porque este misterioso
mundo faz parte de nossas vidas. Para
entender o mundo financeiro, contribui
para desvendá-lo, expondo a lógica e os
interesses que o comandam. Como este
brilhante economista tem a capacidade
de transformar os assuntos polêmicos da
Ciência Econômica em algo simples e
objetivo, ao mesmo tempo em que im-
põe qualidade ao trabalho acadêmico,
inspira mentes e vidas solidárias.
Este é um trabalho para ser lido
e debatido nas salas de aula, locus de
produção do conhecimento, mas pode
e deve extrapolar os limites do ambiente
acadêmico e ser lido pela dona de casa,
o dono da padaria, o gerente de banco,

E
C
C
O
S

R
E
V.

C
I
E
N
T.

n. 2
v. 3

dez.
2001

124