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03/07/2018 O ARBITRÁRIO DO SIGNO, O SENTIDO E A REFERÊNCIA

O ARBITRÁRIO DO SIGNO, O SENTIDO E A REFERÊNCIA

Fábio Della Paschoa Rodrigues

Ao propor a língua como um sistema de signos, Saussure assinalou a importância da questão do


arbitrário do signo lingüístico, mas deixou o mundo fora de sua análise. Antes dele, Frege já notara essa
questão, postulando, porém, uma teoria semântica que não prescindia do “exterior” à língua, utilizando-se
do arcabouço teórico da Filosofia e da Lógica em suas análises. Benveniste, no caminho de Saussure,
retoma a questão da natureza do signo lingüístico para problematizá-la e propor outro esquema teórico.

Neste trabalho analisaremos brevemente alguns postulados desses três teóricos, extraindo partes
relevantes de alguns de seus textos fundamentais [1] , analisando suas posições, confrontando-as e tirando
algumas conclusões. Trata-se de um resumo de suas idéias, um estudo comparativo que, obviamente, não
pretende esgotar o assunto, nem mesmo chegar a uma conclusão definitiva.

O filósofo alemão Gottlob Frege escreve, em 1892, o artigo “Über Sinn und Bedeutung” – “Sobre o
Sentido e a Referência” (1978). Nele concebe o sinal, ou nome próprio [2] , como a união de uma referência (a
coisa por ele designada) e um sentido (o “modo de apresentação” do objeto):

A conexão regular entre o sinal, seu sentido e sua referência é de tal modo que ao sinal corresponde um
sentido determinado e ao sentido, por sua vez, corresponde uma referência determinada, enquanto que a uma
referência (a um objeto) não deve pertencer apenas um único sinal. (Frege, 1978:63)

Porém, nem sempre ao sentido corresponde uma referência: “entender-se um sentido nunca assegura
sua referência” (Frege, 1978:63). Tomemos, por exemplo, expressões como “inferno astral”, “qualquer
passageiro daquele trem”, “a Iara” etc.; apesar de podermos apreender o sentido de tais expressões, elas não
nos garantem uma referência.

Além desses componentes do sinal – o sentido e a referência, Frege introduz outro componente: a
representação associada ao sinal. Diferentemente do sentido do sinal, que seria uma imagem apreendida
coletivamente, portanto, de modo mais “objetivo”, a representação é inteiramente subjetiva:

Se a referência de um sinal é um objeto sensorialmente perceptível, minha representação é uma imagem


interna, emersa das lembranças de impressões sensíveis passadas e das atividades, internas e externas, que
realizei. (...) A representação é subjetiva: a representação de um homem não é a mesma de outro. (...) A
representação, por tal razão, difere essencialmente do sentido de um sinal, o qual pode ser a propriedade
comum de muitos, e portanto, não é uma parte ou modo da mente individual (...) (Frege, 1978:64-5)

Frege (1978:65) resume [3] a constituição do nome próprio:

A referência de um nome próprio é o próprio objeto que por seu intermédio designamos; a representação que
dele temos é inteiramente subjetiva; entre uma e outra está o sentido que, na verdade, não é tão subjetivo
quanto a representação, mas que também não é o próprio objeto.

Percebemos claramente que Frege “introduz” o “mundo real” em suas considerações. Ele explicita
que o sinal designa uma “referência” (a coisa do mundo real que é designada). Mas a conexão entre o sinal
e a coisa designada, para Frege (1978:62-3), é arbitrária: “ninguém pode ser impedido de empregar
qualquer evento ou objeto arbitrariamente produzidos como um sinal para qualquer coisa”. O que é
arbitrário é a conexão entre o sinal e a referência; esta conexão, para Frege, pode ser alterada, ou
deformada, pelo falante.

Ao contrário, Saussure concebe a língua como um sistema de signos que por si só dão conta da
significação. Ao conceituar o que é signo, ele deixa marcada a distinção entre entidades psíquicas (que
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constituiriam o signo) e físicas (que lhe seriam estranhas):

Os termos implicados no signo lingüístico são ambos psíquicos e estão unidos, em nosso cérebro, por um
vínculo de associação. (...) O signo lingüístico une não uma coisa e um palavra, mas um conceito e uma
imagem acústica. Esta não é o som material, coisa puramente física, mas a impressão psíquica desse som, a
representação que dele nos dá o testemunho de nossos sentidos (...) O signo lingüístico é, pois, uma entidade
psíquica de duas faces (...) Esses dois elementos estão intimamente unidos e um reclama o outro. (Saussure,
1970:79-80 – grifos meus)

Essa distinção é fundamental à concepção saussureana da língua como sistema auto-suficiente, que
prescinde do mundo para se explicar. Logo, o princípio da arbitrariedade do signo, que é o primeiro
princípio enunciado por Saussure e, segundo ele mesmo, o de primordial importância na análise lingüística
(1970:82), não estaria relacionado com a conexão do signo com o mundo, com a coisa do mundo real
designada pelo signo. Os componentes do signo, destacados na passagem citada acima, a saber, o
conceito (significado) e a imagem acústica (significante), é que sofrem uma conexão arbitrária:

O laço que une o significante ao significado é arbitrário ou então, visto que entendemos por signo o total
resultante da associação de um significante com um significado, podemos dizer mais simplesmente: o signo
lingüístico é arbitrário. (1970:81)

Mas deve-se tomar cuidado: ao simplificar que o signo é arbitrário, pode parecer que ele esteja à
mercê do falante, que poderia associá-lo livremente a outras significações:

A palavra arbitrário requer também uma observação. Não deve dar a idéia de que o significante dependa da
livre escolha do que fala (...); queremos dizer que o significante é imotivado, isto é, arbitrário em relação ao
significado, com o qual não tem nenhum laço natural na realidade. (Saussure, 1970:83)

Língua e pensamento são indissociáveis, tal uma folha de papel, um sendo o verso e outro o anverso
da folha: ao rasgarmos o papel, afetamos ambos os lados da folha. Esta metáfora, utilizada por Saussure,
pode ser ampliada, ou antes reduzida, aos componentes do signo, o significado e o significante. A língua,
para Saussure, é a expressão do pensamento que, sem ela, é uma “massa amorfa e indistinta”. A
expressão não se dá diretamente do pensamento aos sons: ela é mediada pela língua, que é um sistema
de signos. É na relação que se estabelece no sistema que os signos adquirem seu valor, que significam. A
língua não é um sistema de signos justapostos, mas uma rede de signos que se relacionam e, assim,
significam. Entra aqui, na análise de Saussure, a metáfora do jogo de xadrez: cada peça se define, adquire
valor, na relação que tem com as outras peças do jogo. Os signos, também, se definem negativamente,
pela oposição com outros signos do sistema. Mas há que se distinguir, como acentua Saussure, o valor
lingüístico da significação. O valor é um elemento da significação. A significação, para ele, refere-se ao
signo lingüístico internamente, no seu componente conceitual. Temos, então, um paradoxo:

(...) de um lado, o conceito nos aparece como a contraparte da imagem auditiva no interior do signo e, de
outro, este mesmo signo, isto é, a relação que une seus dois elementos, é também, e de igual modo, a
contraparte dos outros signos da língua. (Saussure, 1970:133) [4]

A interpretação do signo se dá, então, em duas direções: vertical, entre seus componentes
(significante e significado); e horizontal, na relação com outros valores semelhantes. Sem estas relações de
diferentes direções não haveria significação.

Benveniste retoma a discussão de Saussure, sobre o arbitrário do signo, colocando-a em novos


termos. Ele não refuta o pensamento saussureano, mas perscruta o texto de Saussure, apontando certas
confusões, decorrentes da exclusão do mundo na análise da língua como um sistema de signos.

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Para Benveniste (1991:56), a relação entre significado e significante não é arbitrária: “o que é
arbitrário é que um signo, mas não outro, se aplica a determinado elemento da realidade, mas não a outro”.

Ao retirar de sua análise o mundo exterior, Saussure exclui dela a questão do arbitrário:

A natureza do signo lingüístico não tem nada que ver com isso [com a realidade], se o definirmos com o fez
Saussure, pois o próprio dessa definição consiste precisamente em não encarar senão a relação do
significante e do significado. O domínio do arbitrário fica assim relegado para fora da compreensão do signo
lingüístico. (Benveniste, 1991:57)

No entanto, por um deslize formal, ele introduz a questão em suas discussões. É aí que se perde.
Para Benveniste, quando Saussure se refere à arbitrariedade do signo ele discute na verdade a
significação, não o signo lingüístico: “o arbitrário só existe em relação com o fenômeno ou o objeto material
e não intervém na constituição própria do signo.” (1991:57)

Ao afirmar, porém, a arbitrariedade do signo, Saussure inclui, sem o pretender, a realidade na


definição inicial. Quando diz que o signo é arbitrário, diz na realidade que é arbitrário em relação à coisa
designada, como já havia afirmado Frege (1978). O deslize parece decorrer de uma simplificação feita por
Saussure:

O laço que une o significante ao significado é arbitrário ou então, visto que entendemos por signo o total
resultante da associação de um significante com um significado, podemos dizer mais simplesmente: o signo
lingüístico é arbitrário. (Saussure, 1970:81 – grifos meus)

Ora, a relação que une os componentes do signo não poder ser tomada como sendo o próprio signo,
mas sim o “total resultante” dessa associação. Daí, Benveniste (1991: 55) propor: “entre o significante e o
significado, o laço não é arbitrário; pelo contrário, é necessário”. Aliás, vemos essa relação necessária
explícita no texto do próprio Saussure (1970:80), quando diz: “esses dois elementos estão intimamente
unidos e um reclama o outro”.

A confusão entre o que é arbitrário no signo lingüístico tem relações com a discussão entre sentido e
referência, que também é tratada por Benveniste (1989). Para ele, “o sentido de uma palavra é seu
emprego” e o referente “é o objeto particular a que a palavra corresponde no caso concreto da
circunstância ou do uso.” E adverte: “é desta confusão extremamente freqüente entre sentido e referência,
ou entre referente e signo, que nascem tantas discussões vãs sobre o que se chama o princípio da
arbitrariedade do signo”. (Benveniste, 1989:231)

Resta-nos, depois de um século de discussão sobre o signo (e mais propriamente, o signo


lingüístico), lançar luzes sobre os escritos teóricos para que nós mesmos possamos trilhar no caminho
tortuoso da significação. Lançamos aqui breves feixes de luz sobre as questões. Parece-nos relevante e
necessária a distinção entre sentido e referência. Vamos na trilha aberta por Benveniste, considerando a
relação significado-significante necessária. Concordamos com Frege e também com Benveniste que a
arbitrariedade se dá na conexão do signo com a coisa do mundo, o seu referente. Acreditamos que uma
teoria semântica não pode prescindir das coisas as quais os signos designam, seja dizer, das referências
das coisas. Sem elas, não conseguimos dar conta de explicar a significação lingüística.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENVENISTE, E. “Natureza do signo lingüístico” In: Problemas de Lingüística Geral I. Campinas:


Pontes/Unicamp, 1991, pp. 53-59.

http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/a00001.htm 3/4
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_____________. “A forma e o sentido na linguagem” In: Problemas de Lingüística Geral II. Campinas:
Pontes/Unicamp, 1989, pp. 220-242.

REGE, G. “Sobre sentido e a referência” In: Lógica e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Cultrix/USP, 1978,
pp. 59-86.

AUSSURE, F. “Natureza do signo lingüístico” In: Curso de Lingüística Geral. São Paulo: Cultrix, 1970, pp. 79-
84.

____________. “O valor lingüístico” In: Curso de Lingüística Geral. São Paulo: Cultrix, 1970, pp. 130-141.

[1] Vide referências bibliográficas no fim deste trabalho.

[2] Pode-se tentar uma aproximação do conceito de sinal, nome próprio com o conceito de signo lingüístico.
Porém, Frege concebe o nome próprio consistindo de uma ou mais palavras, ou mesmo de outros sinais. Fica
aqui, então, uma ressalva.

[3] A análise de Frege estende-se às sentenças completas, das quais não trataremos aqui.

[4] Esta observação faz-se necessária, na medida em que o paradoxo está no próprio texto de Saussure. No
entanto, não discutiremos como ele resolve a questão (cf. Saussure, 1970:133-136).

http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/a00001.htm 4/4

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