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E ORGANIZACIONAL.
Resumo
Este estudo objetivou compreender como ocorre o processo de identificação social e
organizacional de mulheres operárias da construção civil. Para tanto, realizou-se uma pesquisa
exploratória de caráter qualitativo. Os resultados demonstraram que a inserção das mulheres
nesse ambiente de trabalho com predomínio masculino se deu devido à busca por independência
financeira e descontentamento com trabalhos anteriores. Os colegas homens tem uma
representação positiva das mulheres, uma vez que conseguem perceber suas potencialidades.
Também se observou que as mulheres, desde que começaram a trabalhar, procuraram obter
respeito frente aos homens pelo seu trabalho. Por fim, constatou-se que as mulheres se
identificam com a organização onde trabalham e se consideram parte da mesma. Tal fato se
demonstrou determinante para a consolidação e aceitação de sua identidade social.
Abstract
This study aimed to understand how is the process of social and organizational identification of
women workers of the civil construction. To this end, was performed an exploratory qualitative
research study. The results demonstrated that the insertion in this male predominance
environment was due to obtain financial independence and dissatisfaction with previous work.
Colleagues, has a positive representation of women, since they can realize their potential.
Women, since they started working, they pursuit gain respect for their work and behavior in
front of their colleagues. Finally, it was found that women identify with the organization they
work and consider themselves part of it. This fact is proved decisive for the consolidation and
acceptance of their social identity.
4 Método
Elementos de
Categorias de Análise
Análise
Escolha da Profissão
Sentimento em relação ao ambiente de trabalho, predominantemente
masculino
Parte 1 -
Percepção sobre o tratamento recebido
Quadro 2
Percepção sobre a aceitação no grupo, pelos colegas, família e amigos
Percepção sobre como os colegas homens enxergam o trabalho feminino
Identificação
Identificação com o trabalho
Social
Sentimentos em relação às regras estipuladas pelo grupo
Relação com os colegas homens e com as colegas mulheres
Respeito x Atitudes no trabalho e em casa Parte 2 -
Percepção sobre a visão do outro em relação ao trabalho feminino Quadro 3
Percepção sobre a produtividade
Preferência em trabalhar com homens x mulheres
Identificação com a empresa onde trabalha
Percepção sobre o valor de trabalhar na empresa
Percepção sobre sucesso na profissão x sucesso da empresa
Identificação
Percepção sobre a identidade da empresa Quadro 4
Organizacional
Importância de fazer parte da empresa
Percepção sobre os valores da organização x valores individuais
Identificação com a empresa (organização) x inserção no grupo de trabalho
Quadro 1 – Elementos e Categorias de Análise
Fonte: Elaborado pelos autores
Para os colegas e gestores, o roteiro de entrevistas teve por objetivo verificar como eles
percebem a inserção das mulheres na construção civil, especificamente as operárias de obra, se
gostam do trabalho executado por elas e se existe boa aceitação das mulheres pelo grupo, entre
outras questões.
As entrevistas tiveram uma duração média de 50 minutos, foram gravadas em áudio e
transcritas para posterior análise. Quanto ao desenvolvimento das mesmas, pode-se dizer que
ocorreram de forma agradável e cordial, permitindo abordar com tranquilidade todas as
questões propostas. As transcrições foram feitas de forma contínua, não alterando a sequência
e o conteúdo dos relatos. Para a análise das entrevistas, a fim de preservar a identidade dos
respondentes, optou-se por nomear as mulheres entrevistadas como E1, E2, ..., E6; os colegas
homens, como H1 e H2; e os gestores como G1 e G2.
No intuito de melhor visualizar as questões de análise para o problema proposto, os
principais trechos das entrevistas com as mulheres operárias foram dispostos em quadros,
contemplando as categorias de análise pré-definidas, seguidos dos comentários e percepções
dos colegas e gestores e do respaldo teórico pertinente ao assunto.
5 Resultados
Em relação ao perfil das operárias entrevistadas neste estudo, a média de idade foi de
38 anos, tendo quatro delas entre 41 e 50 anos. Quanto à escolaridade das entrevistadas, quatro
delas afirmaram possuir apenas o ensino fundamental e as outras duas o ensino médio. Quanto
ao tempo em que as mulheres estão nessa profissão, quatro delas estavam entre 3 e 4 anos e
duas delas estão na profissão há 2 meses apenas. Em relação a empregos anteriores, as
entrevistadas apontaram diversas atividades, entre elas: auxiliar de cozinha, servente, diarista,
camareira, doméstica, trabalho em agricultura, em restaurante, em lavanderia e em loja.
No que diz respeito aos dois colegas homens entrevistados, ambos são casados e
possuem 2º grau completo, desempenhando as funções de contramestre (há 4 anos) e almoxarife
(há 8 anos), tendo, respectivamente, 24 e 39 anos de idade.
Quanto ao perfil dos gestores entrevistados, o engenheiro possui 27 anos, com curso
superior e MBA, é solteiro e está na empresa há 4 anos e meio. O mestre de obras possui 53
anos, com ensino fundamental incompleto, casado e atua na construção civil há 35 anos, sendo
20 anos na empresa atual e 15 anos como mestre de obras.
A segunda parte do roteiro de entrevistas destinado às mulheres operárias da
organização em estudo teve por objetivo verificar a identificação social das mesmas. O Quadro
2 mostra a primeira parte das categorias de análise referentes à Identificação Social, objetivando
contemplar o máximo de respostas obtidas
Para nós aqui hoje, a mulher está só trabalhando com acabamento. Elas fazem
piso, rejunte, textura, limpeza (...) elas passam a massa niveladora, massa
corrida (...) o tratamento é um pouco diferenciado; mas em termos de serviço,
o serviço é o mesmo (...) Aqui é só acabamento mesmo. Em uma outra obra
da construtora, não aqui, as mulheres faziam tudo (...) regularizava as paredes,
enchia, tapava buraco, pois as vezes ao retirar a forma fica algum defeito, tinha
até homem serventiando elas (H1).
Por meio das falas dos operários homens e dos gestores, foi possível observar que não
existe, por parte da organização, qualquer preferência por trabalhador quanto ao gênero.
Entretanto, pelo fato de a organização utilizar dois processos construtivos, existe um tratamento
diferenciado quando se trata de obra em que a alvenaria é de concreto, isto se deve ao fato de
que as formas utilizadas são extremamente pesadas (aproximadamente 60 Kg) e, nesse caso, as
mulheres são designadas a trabalhar somente na parte de acabamento. Quando o processo
utilizado é alvenaria de tijolos, segundo o mestre de obras e o engenheiro, as mulheres
trabalham desde as fundações até os arremates finais da obra, sem nenhum problema.
Salientaram também que as mulheres conseguem um melhor resultado em relação aos homens,
uma vez que elas são mais detalhistas. De acordo com a percepção das mulheres, esse trabalho
lhes é designado porque elas são mais cuidadosas e detalhistas (E2, E5, E6), e não por conta de
o serviço ser leve, pois elas entendem que também são capazes de fazer serviço pesado (E1, E2,
E4).
Da mesma forma, os colegas homens e os gestores foram questionados sobre como é a
aceitação das mulheres no grupo, e se acham que elas sofrem algum tipo de preconceito, ao que
responderam:
Eu, se tiver que cobrar do homem cobro, se tiver que cobrar da mulher cobro,
pra mim é indiferente. (...) da administração (...) da parte dos colegas, eu nunca
recebi uma reclamação de mulher em função de algum assédio ou alguma
coisa assim. Acho que nada, (...) não levou muito tempo assim pro pessoal
aceitar bem as mulheres (G1).
Até nóis mesmo até nóis que nunca tinha trabalhado (...) é, é diferente, no
começo é um pouco diferente (...) (G2).
Olha vou te dizer assim, 70 % deles têm um preconceito e 30% não. Não tá
bem aceito ainda (H1).
É mais ou menos isso. Não tá bem aceito ainda (...) tinha até um que ficou
meio de cara, ela pedreiro e ele servente (H2).
É um preconceito tipo meio assim também. Ela pedreiro e ele servente. Ela
fazia melhor do que ele, então ele tinha um quê ali (...) ele não aceitava ela
mandar nele (H1).
Vamo deixar pra passar a textura em cima do rodapé para as mulheres, isso é
serviço das mulheres (...) sempre tem um quesinho no meio ali, pois as vezes
eles fazem tal serviço e dizem, até aqui eu fiz, agora daqui é deixá as mulher,
aqui é serviço de mulher. (H1).
Como é possível perceber nos trechos das entrevistas, parece haver certa discordância
entre as percepções dos gestores e dos colegas homens. Conforme a fala de G1, as mulheres
são bem aceitas pelo grupo, graças a um trabalho realizado pela empresa, onde os homens foram
preparados para a vinda das mesmas: “a gente fez um trabalho com os homens dizendo, a partir
de agora vai começar a trabalhar mulher, vão ter que manter respeito e foi repetindo que... o
pessoal agora tá normal” (G1) (...) É que faz tanto tempo que tá automático já (G2).
No entanto, percebe-se a existência de uma tentativa de divisão do trabalho por gênero,
havendo uma tendência por parte de alguns homens de não querer realizar determinados
serviços por defini-los como sendo de mulher, criando uma noção de que existem “trabalhos de
mulheres e trabalhos de homens”. Além disso, verificou-se que alguns homens não gostam de
serem mandados ou estarem hierarquicamente inferiores às mulheres em suas atividades.
Porém, embora os colegas homens tenham essa percepção, eles acreditam que essa
situação com o tempo irá mudar, pois as mulheres entraram na construção civil com o propósito
de lutar pelo seu espaço de trabalho, conforme apontam os fragmentos discursivos:
Ela vai se adaptando, com o tempo ela vai gostando do serviço (...) Ela acaba
gostando de trocar uma porta, passar uma massa e ela vai gostando e tu vê a
diferença a hora que tu olha, o falar dela é diferente (...) (H1).
Para Cappelle et al. (2009), os indivíduos são influenciados pelo contexto, pela cultura,
pelas estruturas e interações sociais ao construir sua identidade social. Nessas circunstâncias,
vários papeis são assumidos nos diferentes momentos e lugares, até que os indivíduos passem
a ser aceitos por outros com quem se relacionam. O fato de viver sob uma estrutura institui uma
espécie de mentalidade coletiva, com a qual o indivíduo se conforma, assimilando suas regras
e normas de comportamento.
Quando questionados como os colegas homens enxergam o trabalho das mulheres, tanto
H1 quanto H2 concordam que a mulher é mais caprichosa, de forma geral.
(...) elas são mais detalhistas. Se tu botar um carreiro de casa feito por homem
e outro por mulheres, tu nota a diferença ao chegar na casa. Por que as
mulheres deixa brilhando tudo. O homem, ah esse rejuntezinho que tá
faltando, isso não dá bola, fica embaixo, ninguém vai ver. A mulher não (H1).
(...) a mulher, ela atende mais o cara (...) ela tem mais vergonha, vamos se
dizer assim, fala uma ou duas vezes elas tentam caprichar (G2).
Eles tão achando o trabalho delas bom. Como to te dizendo, o que nós
enxergamo eles enxergam. Tanto que às vezes tem alguns serviços que eles
querem passar para elas. Tipo, isso elas fazem bem, vamos deixar para elas
(...) eles querem fazer o grosseiro e que as mulheres façam o acabamento (H1).
Como é possível perceber nas falas dos colegas homens e dos gestores, o trabalho
realizado pelas mulheres é bem aceito e valorizado pelo grupo, à medida que é avaliado como
bem feito. Na concepção de Wachelke (2012, p. 187), “é necessário que o indivíduo sinta-se
como parte do grupo, que perceba a importância de uma pertença grupal, para que a instância
coletiva possa influenciar seu comportamento ou pensamento”.
Ao adentrarem no espaço masculino, algumas famílias começam a ter um novo arranjo,
onde a responsabilidade de cuidar do lar, da família e dos filhos é compartilhada pelos maridos,
ou até mesmo assumida por eles, como aponta o trecho da fala de E6: eu lá em casa, agora o
marido é o dono de casa, ele cuida da casa, ele cuida de filha. Segundo Siqueira (2002), a
inserção das mulheres no mercado de trabalho ultrapassa o âmbito do trabalho, alterando
também as organizações familiares. Perticarrari, Cockell e Lima (2007) complementam,
dizendo que a inserção feminina no trabalho tem provocado mudanças na identidade do homem
como provedor da casa, havendo uma perda relativa de sua importância enquanto chefe de
família.
O Quadro 3 apresenta o segundo bloco das categorias de análise e os principais
fragmentos discursivos que tem por objetivo distinguir os traços característicos da Identificação
Social das entrevistadas.
Até para pegar o ônibus (...) Se uma tá atrasada as outras perdem o ônibus
E4
também (risos)
As vezes tem carona, aí se tem carona só para uma, as outras ninguém vai (...) E5
A gente tenta ser colega mesmo, sempre uma ajudando a outra e ensinando a
E6
outra, nada é nosso aqui, é da empresa (...)
Graças a Deus, nunca tive envolvimento nenhum com colega, acho que isso é
E1
uma regra que, posso mudar amanhã, mas pra mim, colega é colega (...)
Relação com os Eu dou bom dia e as vezes chego e não dou bom dia, recebo bom dia várias
E2
colegas homens e vezes e não respondo (risos)
com as colegas Eu me relaciono bem, dou bom dia pra todo mundo (...) E5
mulheres Entre mulher a gente fala bobagem né, com os colega homens tem que maneirar
(...) a gente parece um homem mesmo, eles só veem que a gente é uma mulher E6
mesmo numa festa, quando a gente tá toda espichada, arrumada (...)
Em casa eu quero ser mais feminina (...) em casa eu já tento..., na sexta-feira eu
já vejo o que vou fazer no sábado, é a minha unha, vou pintar meu cabelo, vou E1
tentar botar um saltinho para ir no (...)
Às vezes, eu tento ser e as vezes não consigo. Tô sempre desse jeito. Eu chego
E5
em casa e acho que tô aqui (...)
Respeito x Eu já sou mais meio estilo de cá mesmo (...) eu já sou mais simples mesmo.
Atitudes no Não pinto unha. A única coisa, a minha vaidade, é pintar o cabelo (...) não
E6
trabalho e em gosto de maquiagem, não uso salto. Vestido é muito difícil. É calça jeans e
casa tênis (...)
Se algum (colega) tenta ultrapassar a brincadeira e coisa a gente dá um puxão
neles (...) mas isso é raro acontecer (...) eu não tenho queixa de nenhum E1
colega (...)
Às vezes nem precisa falar nada, basta ficar isolada, isolar eles (...) é raro
E5
acontecer mesmo (...)
Percepção sobre Outro dia teve um colega nosso que disse que ele não consegue mais nos ver
E1
a visão do outro como mulher, né. Que pra nós, nós somos todos iguais a eles (...)
em relação ao O nosso modelito parece de homem (...) E4
trabalho Eles nos acham competente. A gente faz até melhor às vezes do que eles, que
E5
feminino nem eles dizem (...)
Na força física eles produzem mais. Mas a gente também produz bastante (...) E1
Percepção sobre Acho que é eles né, eu acho que ainda é eles (...) a gente encosta um
E5
a produtividade pouquinho neles também, a gente anda quase ali (...)
Preferência em Com os homens (...) eles tentam até ajudar a gente. Eles são muito cavalheiros E1
trabalhar com Mulher tá sempre concorrendo com mulher, né (...) E3
homens/mulheres Eu já tive servente homem, servente mulher, eu não vejo diferença (...) E6
Quadro 3 – Categorias de análise referentes à Identificação Social – Parte 2.
Fonte: Dados da pesquisa.
Estas que estão aqui não tem esse problema, se tiver que descarregar uma
carreta de piso aí (...) estas aqui não tem frescura (G1).
Vim pintada para o serviço não, elas vem de cara e coragem, como diz o outro
(...) É diferente uma mulher de escritório, ele tá de terno, aí botam aqueles...
Agora aqui a mulher, por tá de uniforme, botina igual a nós, tu já nota a
diferença, mas no serviço é normal; mas sai dali, é normal, vai pra casa dela,
bota a roupa dela. No serviço ali, claro, tem umas que quebram mais piso, aí
tu já vê que botam mais marreta, tem aquela diferença, né (H1).
Anos atrás, mulher trabalhando na construção civil não podia, não podia uma
mulher passando na frente que sempre tinha um largando uma piadinha. Agora
não (E4).
Acho que vai da convivência. A gente trabalhava com uma aqui. E ela quando
chegou aqui, dizia não vou tomar café nesse copo, esse copo tá assim, com
poeira vou lavar. E depois de um tempo tomava. Ela se adaptou (...) se
acostuma com o ambiente (...) ela vai se adaptando, com o tempo ela vai
gostando do serviço (H2).
Ao serem perguntadas se elas acham que fazem um trabalho melhor do que o dos
homens, a maioria das mulheres acredita que o seu trabalho é melhor do que o dos colegas,
especialmente nos acabamentos, o que corrobora o pensamento dos homens:
Ah não!!! nessa tarefa que estão hoje, sem sombra de dúvida. Elas são 100%
(...) o homem pode até chegar perto. Mas não... (H1).
(...) começou (a contratação) pela escassez de mão de obra, isso a uns 3 anos
atrás, acho, que a gente começou a contratar mulheres, 3 anos e meio, eu acho,
e foi aumentando a contratação pela qualidade do acabamento, sim. Começou
pela escassez de mão de obra (G1).
Nós mesmo, aqui nós teria mais mão de obra de acabamento, mas nós
preferimos contratar mais mulheres para fazer (G2).
(...) tu vai pedir para eles fazer um serviço e eles dizem assim: não, isso é pra
mulher. Sempre tem um preconceito assim. Não que eles não deem o braço a
torcer. Acham até o serviço da mulher melhor. Eles dizem, as mulher fazem
bem. Mas isso é pra mulher, esse rejunte deixa pra mulher, esse serviço deixa
para a mulher. Ehhh. Sempre tem um quesinho assim (H1).
Contudo, para as mulheres operárias, essa distinção não lhes agride, mas sim,
reconhecem que tem muito a aprender com os homens nesta profissão, ainda nova para o
universo de atuação feminino.
Eu acho que tenho muito que aprender com eles ainda. É, a gente procura, na
medida que eu aprendi muito com os pedreiros, principalmente com os
pedreiros mais antigos, né, os mais velhos. Aí eu procuro adquiri, tento fazer
igual o que eles fazem; mas nunca sai igual, sai um pouquinho melhor (risos);
mas aprendi muito com eles, eles nunca reclamaram do meu trabalho (E1).
Na parte inicial, que é a parte pesada, o homem produz mais, que é a parte
mais pesada, para esse tipo de obra, nós usamos formas e as formas são muito
pesadas, a mulher não aguenta, mas nessa parte de acabamento final a mulher
produz mais (G2).
A mulher ela te escuta melhor, ela tenta aprender. Elas estão sempre
antenadas. O homem não. Se ele fez errado aqui e tu mostra para ele. Na outra
ele faz errado de novo por que eles acham que sabem tudo e não sabem. E a
mulher se errou aqui na outra ele não erra mais, por que ela aprende com o
erro (H1).
A parte que dá até onde nosso corpo aguenta nós fizemo bem feito (E5).
(...) muitas dizem aí que não deixam mais de trabalhar em obra prá trabalhar
em faxina, só que não tenha mesmo serviço em obra prá saírem da obra... um
pouco pelo financeiro e outro que gostaram, né, de trabalhar em obra (G2).
(...) tu dá um serviço novo para ela, tu vê a alegria nela, tu diz é assim que tu
faz, e é pra ti ver a alegria e vontade que ela tem. Tu convivendo no canteiro,
tu vê as diferença (H1)
Olha só, minha filha trabalha no mesmo ramo que eu, só em outro lugar. A
firma já demora para pagar. Ela fica um mês, um mês e pouco esperando para
receber. Então, não é que nem nóis. Nóis é chova ou não chova, nosso dinheiro
tá ali (E1) (Grifo dos autores).
(...) a gente faz as coisas pensando que poderia ser uma casa pra mim (...)
Como eu disse pro engenheiro um dia que ele chegou e disse (...) tu olha bem
o que tu tá fazendo, era um negócio de eletricidade, que tinha que tapar um
buraco. Aí eu disse, fulano, eu vou fazer como se eu tivesse fazendo pra mim.
Aí ele disse, então pode deixar que eu já tô saindo, que se fosse tua, tu ia fazer
perfeito (E1)
(...) a gente olha e pra nós é um orgulho ver aquele monte de gente ali. E
saber que em cada detalhe tem o nosso ali (E4).
Em suas falas, as entrevistadas demonstraram que quando se tem orgulho do que se faz,
seja lá o que for, é preciso que se imponha respeito para preservar sua identidade no trabalho e
conservar seu posto. Essa valorização faz com que não sofram preconceitos dos amigos,
familiares e colegas de trabalho.
6 Conclusão
Referências
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