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3 UNIDADE 1 - Introdução
8 UNIDADE 2 - Definição de conceitos principais
8 2.1 Saúde

9 2.2 Qualidade de vida

11 2.3 Atividade física

11 2.4 Aptidão física

13 UNIDADE 3 - Epidemiologia
13 3.1 Noções gerais sobre epidemiologia

SUMÁRIO
17 3.2 Paciente crônico: características biopsicossociais

18 3.3 Doenças crônicas não transmissíveis (DCNT)

19 3.4 Fatores de risco para as doenças

21 UNIDADE 4 - Promoção da saúde, prevenção primária, secundária e terciária


23 4.1 Aspectos preventivos e terapêuticos do exercício físico

27 4.2 O profissional de educação física e a equipe multiprofissional de saúde

29 4.3 Academia da Saúde

31 4.4 NASF
32 UNIDADE 5 - Benefícios da Atividade Física em Situações Especiais
32 5.1 Atividade física na promoção da saúde do idoso

35 5.2 Atividade física e diabetes

38 5.3 Atividade física e hipertensão arterial

40 5.4 Atividade física e controle de peso

42 UNIDADE 6 - Saúde x Doença: Transtornos Alimentares e da Imagem Corporal


44 6.1 Anorexia

44 6.2 Bulimia

46 6.3 Dismorfia muscular ou vigorexia

46 6.4 Abuso de substâncias nos esportes

48 REFERÊNCIAS
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UNIDADE 1 - Introdução
Se eu dissesse que possuo uma fór- deixados em abertos, para aguçar o senso
mula que vai auxiliá-lo a viver mais crítico, e apenas serão fechados em se-
tempo, evitar – e mesmo curar – al- ções posteriores). Desta forma, isso justi-
gumas doenças, aliviar o estresse e fica os constantes ires e vires do tema.
torná-lo mais forte com praticamen-
Da mesma forma, inicialmente já justifi-
te nenhum efeito colateral perni-
camos o uso de algumas citações de cita-
cioso, provavelmente você pagaria
ções (apuds), o que não é recomendado do
uma boa quantia por ela. Mas, se eu
ponto de vista da metodologia da pesqui-
lhe dissesse que ela é gratuita? Pro-
sa, porém, se fez necessário em algumas
vavelmente você demonstraria um
situações devido à dificuldade em se loca-
certo ceticismo e diria a si mesmo:
lizar algumas obras originais. Sugerimos
“É bom demais para ser verdade”,
que, na introdução, anotem as questões
“Ninguém consegue algo por nada”
que mais despertaram sua curiosidade ou
ou “Se é tão bom assim, por que nem
dúvidas e após o estudo da apostila reve-
todos a possuem?”. A verdade é que
jam se as mesmas ficaram realmente cla-
eu possuo uma fórmula como essa,
ras. Bons estudos!
e ela não custa nada. Mas você não
pode tê-la por nada. Você deve fazer Não é novidade lermos, vermos por aí e
um investimento. A fórmula é ativi- ouvirmos falar sobre os benefícios da ati-
dade física – simples física – simples vidade física para a nossa estética, para a
exercícios. E se você investir pelo nossa mente e para o bem-estar do nosso
menos trinta minutos, três vezes por corpo, ou seja, a atividade física é benéfi-
semana, numa atividade moderada- ca para a nossa saúde.
mente vigorosa, você pode obter os
benefícios por mim descritos (NIE- Figura 1: O remédio
MAN, 1999, p.3).

Antes de você começar a leitura des-


ta seção da apostila, pedimos desculpas
caso o texto apareça fragmentado, cheio
de idas e voltas. Sabemos que um bom
texto científico deve ser contínuo, de for-
ma a não deixar o leitor confuso; nas de-
mais seções tentamos seguir esse princí-
pio à risca. Porém na introdução, o texto
fragmentado faz parte do estilo adotado:
tentamos, a partir de uma “fórmula” apre-
sentada na epígrafe, levantar uma série
de questionamentos (alguns dos quais se-
rão concluídos nessa seção, outros serão Fonte: Facebook (2014).
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Esta apostila sobre “Atividade física e porcionem bem-estar físico, social e


saúde” tentará expor algumas ideias rela- mental, ou seja, aumentar o limiar da
tivas a esta realidade – que, além de não saúde e evitar doenças físicas e psi-
ser tão atual, não é apenas tema de de- cossomáticas (LEITE, 2000, p.4).
bates de meios científicos, mas, principal-
Mais do que isso, para a equipe multi-
mente, de meios de conversas informais.
profissional de saúde – todos os profis-
Isto é de suma importância, pois quando
sionais da área de saúde que trabalham
um assunto relacionado à saúde, em es-
juntos em busca de cuidar melhor do pa-
pecial, à prevenção de doenças, chega ao
ciente – aqui, em especial, para o profis-
senso comum, cabe também à população
sional da educação física, sua responsa-
a responsabilidade por também promo-
bilidade é ainda maior. Um profissional
ver sua própria saúde e prevenir doenças.
de grande importância para a sociedade,
Essa preocupação com a saúde e, mais do
mas que, durante muito tempo de sua tra-
que isso, a conscientização de que um dos
jetória profissional foi visto apenas como
meios de se prevenir doenças e contro-
um educador (não desmerecendo esta
lar aquelas já instaladas se dá através da
função, a qual é de vital importância), po-
adoção de um estilo de vida saudável, tem
rém ele pode ir além, ele é um profissio-
sido amplamente disseminada por vários
nal da educação e da saúde e, com isso,
canais de comunicação. Grandes exem-
sua atuação deixa de ser voltada apenas à
plos disso são a citação de Nieman (1999),
prática (o que normalmente esses profis-
retirada de um livro científico da área e a
sionais mais gostam de fazer), mas cabe
figura 1 (s.d.), retirada das redes sociais.
a ele também o compromisso de ter uma
Independente dos meios de circulação e
formação teórica continuada, em busca
do público-alvo aos quais cada tipo de ma-
de atualizações que lhe permitam ser um
terial está direcionado, ambos carregam,
multiplicador de conhecimentos, além de
como essência, o mesmo tipo de conteú-
poder exercer sua prática com conheci-
do: a benéfica relação entre atividade fí-
mentos mais atuais. Mais adiante iremos
sica e saúde.
expor brevemente essa trajetória da Edu-
Ressaltamos a importância de que esse cação Física de forma a contextualizar a
debate saia dos meios acadêmicos, atinja nossa área de interesse: o profissional da
os meios “saudáveis”, já preocupados em educação física enquanto profissional da
manter um padrão de vida satisfatório, área da saúde.
mas, principalmente os sedentários, que
Em relação a reiterar a necessidade de
devem estar dispostos a mudar seu estilo
mantermos sempre o conhecimento atu-
de vida em busca de saúde. Podemos ver
alizado, vamos voltar à nossa epígrafe.
a preocupação expressa na relação entre
Pode parecer contraditório essa citação
atividade física e saúde também na cita-
ser de 1999, assim como muitas obras
ção a seguir:
nesta apostila serem um pouco mais anti-
Para alguns estudiosos, os indiví- gas. Deixamos aqui a explicação para esse
duos sedentários procuram fazer fato: o conhecimento científico precisa
exercícios para que estes lhe pro- ser atualizado, porém, algumas obras são
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referência e merecem ser reforçadas, por deixam a relação entre atividade física e
trazerem bons argumentos de autorida- saúde bastante clara, como veremos ao
de, os quais continuam sendo utilizados longo da apostila. Observa-se que, se-
até os dias de hoje. A mensagem geral gundo Taylor (apud LEITE, 2000, p.4), o
que pretendemos passar através desta indivíduo busca na prática dos exercícios
apostila, a qual ficou evidente na nossa físicos:
epígrafe, é que a atividade física é um im-
lazer; estabilidade emocional; de-
portante meio através do qual é possí-
senvolvimento intelectual; consci-
vel alcançar saúde. Aqui sempre iremos
ência estética; competência social;
reforçar a ideia de que a atividade física
desenvolvimento moral; autorrea-
pode auxiliar na prevenção de doenças e
lização; desenvolvimento das capa-
na melhora da qualidade de vida das pes-
cidades motoras; desenvolvimento
soas.
físico-orgânico.
Ao longo desta apostila, muitas defi-
Destacamos que, ao contrário da epí-
nições serão feitas para que o conteú-
grafe, não fica explícita a busca do espor-
do possa ser bem compreendido. Alguns
te como forma de prevenção ou promoção
desses termos, tais como atividade físi-
da saúde. É notório que a partir de nossa
ca, saúde, qualidade de vida, prevenção,
visão de saúde como um completo estado
promoção da saúde, equipe multidiscipli-
de bem-estar físico mental e social, a par-
nar, já foram citados e talvez você esteja
tir desses nove motivos consegue-se ter
se perguntando o que serão essas pala-
subentendido que através do esporte, o
vras. Não se preocupe, o nosso objetivo
indivíduo está buscando a saúde como um
aqui é falar bastante sobre elas, portan-
todo.
to, as mesmas serão muito bem definidas
nas próximas seções. Para o momento, é Atualmente, as pessoas sabem que
suficiente que vocês compreendam ati- precisam se manter ativas fisicamente
vidade física como qualquer movimento para serem saudáveis; e, para que a ativi-
corporal cujo gasto energético seja maior dade física seja desempenhada correta-
que durante o repouso. Também precisam mente, é indispensável a atuação do pro-
entender saúde enquanto um estado de fissional de educação física que, como já
bem-estar biopsicossocial e espiritual, ou foi falado, além de ser um profissional da
seja, saúde não se limita à ausência de do- área da educação é também um membro
enças. A partir dessas definições, podere- da equipe multiprofissional de saúde (as-
mos avançar um pouco mais num estudo sim como o médico, o enfermeiro, o fisio-
teórico generalizado, ainda superficial, in- terapeuta, o psicólogo, dentre outros pro-
trodutório, que é o objetivo dessa seção. fissionais que visam o cuidado do cliente).
Mas, será que sempre ocorreu assim?
Na epígrafe, Niemam (1999) apresen-
Como não é o foco desse material definir o
tou a atividade física como uma espécie
percurso histórico da Educação Física en-
de fórmula milagrosa para se viver mais,
quanto profissão no Brasil, iremos apenas
prevenir e curar doenças do corpo e da
discorrer sobre alguns detalhes que nos
mente. Porém, outros autores também
ajudam a compreender como aspectos só-
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cio-histórico-culturais influenciaram esse mais, é um profissional da educação e da


percurso para que, com todo o embasa- saúde. Como reforçamos desde o início,
mento teórico e prático adquirido, o pro- como aqui o nosso foco é atividade física e
fissional da área viesse a compor a equipe saúde, iremos deixar a educação um pou-
multiprofissional de saúde. co de lado.

Segundo Leite (2000), a partir da déca- Recapitulando o conceito de saúde


da de 70, observa-se a massificação do es- como algo subjetivo e complexo, não é
porte, do cuidado do corpo, da corrida, da de se esperar que para se ter saúde, não
ginástica. No decorrer do percurso históri- seria necessário apenas a atuação de um
co, muitas mudanças foram acontecendo único profissional, mas de toda uma equi-
para que a educação física chegasse ao pe. Desta forma, o profissional da edu-
estágio que está hoje em dia. Até que, de cação física merece destaque através de
acordo com o CREF/6 (s.d), uma importan- medidas que visam à prevenção em seus
te conquista para a Profissão ocorreu em diferentes níveis ou mesmo a reabilitação,
1988, com a criação da Lei Federal 9.696, pois estudos como os de Guedes; Guedes
que regulamentou a Profissão de Educa- (2005), Araújo; Araújo (2000), Pitanga
ção Física, surgindo assim o Conselho Fe- (2002), Bagrichevschi; Estevão (2005),
deral e os Conselhos Regionais de Educa- Benedetti; Petroski; Gonçalves (2003),
ção Física. Este foi um importante avanço Gualanno; Tinucci (2011), Coelho; Burini
para a área, pois a partir desta data, so- (2009), dentre outros citados ao longo da
mente os profissionais regularmente re- apostila mostram que há relação entre a
gistrados no Conselho poderiam exercer atividade física e a saúde (seja física ou
sua profissão no Brasil. Entende-se esse psicossocial).
momento como um avanço para os pro-
Como membro da equipe multidisci-
fissionais, que passam a ter seu campo de
plinar/interdisciplinar, o profissional da
trabalho definido apenas para os profis-
educação física poderá atuar em diversos
sionais devidamente graduados e regu-
espaços, tais como academias de ginás-
lamentados e, principalmente, para a po-
tica, estúdios fitness, nas ruas, escolas,
pulação, confiante de que irá contar com
instituições de longa permanência para
a atenção de profissionais devidamente
idosos, hospitais, centros de reabilitação
preparados academicamente para o de-
diversos, clínicas, centros de prevenção,
sempenho de suas funções.
instituições de saúde pública, dentre ou-
Tendo em vista tudo o que foi acon- tros espaços. Sua atuação será sempre em
tecendo no contexto histórico durante equipe com outros profissionais de saúde,
esse período, consegue-se compreender porém no momento, ele poderá trabalhar
brevemente de onde surgiu e para onde sozinho, mas sempre se lembrando de
caminha a Educação Física, sim, pois não que sua prática sempre deverá ser feita
acreditamos que tudo irá parar por aqui. em conjunto com o trabalho dos outros
Focando apenas o contexto brasileiro, colegas da equipe de saúde. Ou seja, mes-
desde o início foram muitas mudanças, o mo que o médico, o fisioterapeuta, o nu-
profissional tem se destacado cada vez tricionista, o farmacêutico e o psicólogo
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não dividam o mesmo espaço com ele, ao


atuar com um indivíduo hipertenso, todos
os profissionais deverão considerar seu
trabalho em conjunto, visando o bem-es-
tar do indivíduo, já que todos visam o seu
cuidado e sua saúde como um todo biopsi-
cossocial e espiritual.

Em síntese, é papel do profissional da


educação física, orientar a promoção da
saúde e a prevenção das doenças através
da adoção de um estilo de vida saudável
e ativo, atuar na reabilitação de doenças
que já se instalaram pela prática da ativi-
dade física. Destacam-se, dentre as prin-
cipais obras citadas, Leite (2000), Nieman
(1999), Araújo; Araújo (2000), Powers;
Howley (2000), Pitanga (2002), Lacerda;
Guzzo (2005), Buss (2000); SBD (2014),
SBH (2014), Weinberg; Gould (2006).

O objetivo geral desta apostila é re-


lacionar a prática de atividade física à
promoção, à melhoria e à reabilitação da
saúde. Os principais objetivos específicos
são definir os conceitos de atividade físi-
ca, aptidão física e saúde; compreender
a atuação do profissional de educação fí-
sica na equipe interdisciplinar de saúde;
apresentar os três níveis de prevenção e
a promoção da saúde; conhecer a relação
entre epidemiologia e atividade física; in-
vestigar aspectos relacionados à saúde, à
doença, ao corpo, à mídia e à contempora-
neidade; apresentar relatos da prática da
atividade física como agente de promoção
de saúde em algumas situações.
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UNIDADE 2 - Definição de conceitos principais

Não apenas os meios científicos, mas de atividade física. Disso pode-se concluir
também a mídia e o senso comum em ge- que o participante regular de atividade
ral bombardeiam informações sobre como física apresenta melhores níveis de apti-
a prática regular da atividade física pode dão física, tornando-se, provavelmente,
contribuir para a melhoria da qualidade mais ativo. Como os níveis de aptidão fí-
de vida de pessoas de diferentes idades, sica também se relacionam ao estado de
etnias, condições de saúde, socioeconô- saúde, este sofre influência dos índices
micas, sejam elas homens ou mulheres. de aptidão física (mas também influen-
Porém, esta é uma consideração bastante ciam este índice). O diagrama a seguir ilus-
informal, que não serve de embasamento tra bem o que foi apresentado, ou seja, as
teórico a nível de uma pós-graduação. variáveis de aptidão e saúde (bem-estar,
morbidade e mortalidade) são interde-
Durante sua formação, o acadêmico
pendentes, porém lazer e trabalho tam-
de educação física aprende mais do que
bém podem ser compreendidos como for-
isso. Ele entende que, segundo Guedes e
mas de atividades físicas:
Guedes (1995), a prática de atividade físi-
ca influencia nos níveis de aptidão física,
os quais interferem nos níveis de prática
Figura 2: Relação entre atividade física habitual, aptidão física e saúde.

Fonte: Bouchard et al. (apud ARAÚJO; ARAÚJO, 2000, p.197).

Apesar de sua aparente simplicida- dade física (GUEDES; GUEDES, 1995,


de, é forçoso admitir que aspectos p. 10).
voltados à hereditariedade, ao estilo
de vida, às condições ambientais e
aos atributos pessoais podem afetar
a inter-relação atividade física, apti-
2.1 Saúde
dão física e saúde, tornando o mode- Inicialmente, com a chamada noção
lo bem mais complexo e dependente dicotômica, entendia-se saúde apenas
de outros fatores. Ademais, o mo- como ausência de doenças. A Organização
delo apresenta algumas implicações Mundial de Saúde (OMS) tornou este con-
importantes que podem comprome- ceito mais abrangente, ao preconizar saú-
ter de maneira decisiva a promoção de como o estado de mais completo bem-
da saúde mediante a prática da ativi- -estar físico, mental e social e espiritual,
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e não apenas a ausência de enfermidade. Torna-se importante ressaltar que a


educação física ainda carrega uma linha
Esta definição marca um avanço na área
de pensamento de privilegiar os proces-
da saúde, já que engloba aspectos físicos,
sos biológicos em detrimento dos socio-
psíquicos e sociais. A partir daí passa-se a
culturais quando se leva em conta o pro-
pensar não apenas na cura de patologias,
cesso saúde-doença. Dessa forma, ao se
mas nas práticas de prevenção e promo-
relacionar “educação física e saúde” acaba
ção da saúde (prioridade da Saúde, em es-
se criando uma relação de causa e efeito
pecial, da Saúde Pública na atualidade).
entre exercício e saúde, ou seja, a saúde
Nessa perspectiva, fica evidente que parece ficar, a priori, como consequência
o estado de ser saudável não é algo da prática regular de exercícios físicos.
estático; pelo contrário, é necessário Parecem não se levar em conta fatores
adquiri-lo e reconstruí-lo de forma importantes como condições econômicas,
individualizada e constantemente saneamento básico, condições educacio-
ao longo de toda a vida, oferecendo nais, condições nutricionais, condições de
indícios de que a saúde é também moradia e lazer, dentre outros que tam-
domínio educacional e, por sua vez, bém influenciam na saúde do indivíduo
deva ser tratada não apenas com (BAGRICHEVSCHI; ESTEVÃO, 2005).
base em referências de natureza
biológica e higienista, mas, sobretu-
do, num contexto didático-pedagó-
2.2 Qualidade de vida
gico (GUEDES; GUEDES, 1995, p. 11).
Assim como mencionamos a respeito da
Como consequência dessa definição,
divulgação em massa sobre a relação en-
tem-se a necessidade do cliente ser abor-
tre atividade física e saúde, “qualidade de
dado por uma equipe multidisciplinar que
vida” é um termo amplamente abordado
dê atenção para o mesmo a partir de um
dos meios científicos ao cotidiano. A OMS
pressuposto biopsicossocial.
(2005) define qualidade de vida como:
Outra definição, mais recente, aborda
[...] a percepção que o indivíduo tem
com mais detalhes o conceito, também de
de sua posição na vida dentro do con-
maneira holística. Define saúde como:
texto de sua cultura e do sistema de
[...] resultante das condições de ali- valores de onde vive, e em relação a
mentação, habitação, educação, ren- seus objetivos, expectativas, padrões
da, meio ambiente, trabalho, transpor- e preocupações. É um conceito muito
te, emprego, lazer, liberdade, acesso e amplo que incorpora de uma maneira
posse da terra e acesso aos serviços complexa a saúde física de uma pes-
de saúde. É assim, antes de tudo, o re- soa, seu estado psicológico, seu nível
sultado das formas de organização so- de dependência, suas relações sociais,
cial da produção, as quais podem ge- suas crenças e sua relação com carac-
rar desigualdades nos níveis de vida. terísticas proeminentes no ambiente
(FLEURY, 1992, p.170 apud BAGRICHE- (OMS, 1994 apud OMS, 2005).
VSCHI; ESTEVÃO, 2005, p.71)
10

A avaliação da qualidade de vida de de- cada caso é um caso, há exceções, já que


terminado indivíduo varia em função das essa avaliação depende do próprio indiví-
três dimensões nas quais o sujeito encon- duo.
tra-se inserido: física, psicológica e social.
Quando falamos na relação entre a
Desta forma, a qualidade de vida em saú-
atividade física e a qualidade de vida,
de relaciona-se à capacidade de viver sem
precisamos estar conscientes de que
doenças ou mantê-las sob controle. A par-
essa relação pode ser negativa, seja
tir deste pressupossto, pode-se inferir o
pela ausência de resultados positivos
quanto que a atividade física ocupa o seu
para a saúde, seja pela ausência de
espaço na promoção de uma melhor quali-
atividade física ou também por efeitos
dade de vida, como pode ser verificado na
deletérios que a atividade física pode
citação a seguir.
causar à saúde e consequentemente
Quando vista de forma mais focaliza- à qualidade de vida do cidadão. Quan-
da, qualidade de vida em saúde coloca do ampliamos os efeitos de uma vida
sua centralidade na capacidade de vi- ativa fisicamente para além da saúde
ver sem doenças ou de superar as di- e colocamos os efeitos do exercício,
ficuldades dos estados ou condições adequadamente realizado, como fator
de morbidade. Isso porque, em geral, indispensável para a melhoria na qua-
os profissionais atuam no âmbito em lidade de vida de um dado indivíduo,
que podem influenciar diretamente, aí estamos partindo da premissa de
isto é, aliviando a dor, o mal-estar e as que alguém inativo e sedentário não
doenças, intervindo sobre os agravos tem boa qualidade de vida. Contudo, a
que podem gerar dependências e des- classificação de uma qualidade de vida
confortos, seja para evitá-los, seja mi- boa ou ruim está diretamente relacio-
norando consequências dos mesmos nada à maneira do indivíduo entender
ou das intervenções realizadas para o sentido da vida. Talvez um indivíduo
diagnosticá-los ou tratá-los (MINAYO; de 30 anos, intelectual, artista plás-
HARTZ; BUSS, 2000, p.16). tico, fumante moderado, com nível
normal de estresse inerente à profis-
É um conceito subjetivo, relacionado a
são e sedentário, seja um candidato
padrões históricos, culturais, sociais e até
em potencial para contrair doenças
mesmo individuais, pois depende da auto-
crônico-degenerativas, mas que, se
avaliação por parte do indivíduo, ou seja,
arguido sobre o seu nível de qualida-
eu não posso avaliar a qualidade de vida
de de vida, responda que o considera
de outra pessoa como boa ou ruim, apenas
bom e que esse o satisfaz. A questão
ele (ou ela) tem condições de fazer esse
da qualidade de vida passa até mesmo
julgamento a partir de sua própria percep-
pelas expectativas (baixas ou altas)
ção. Como é possível observar na citação a
das pessoas em relação à sua vida e
seguir, parece ser automático relacionar-
à sua saúde (ARAÚJO; ARAÚJO, 2000,
mos sempre a atividade física a uma boa
p.195-196).
qualidade de vida, porém o profissional da
educação física precisa compreender que
11

2.3 Atividade física Araújo e Araújo (2000), na figura a se-


guir, propuseram uma adaptação do es-
“A atividade física é definida como quema de Bouchard et al., o qual busca de-
qualquer movimento corporal, produzido monstrar que a atividade física habitual,
pelos músculos esqueléticos, que resulta como lazer e trabalho, pode influenciar a
em gasto energético maior do que os ní- aptidão física, a qual é correlacionada com
veis de repouso” (CARPESEN et al., 1995, o nível habitual de atividade física. Tam-
apud GUEDES; GUEDES, 1995, p. 11). Nie- bém é possível inferir que a aptidão física
man (1999) complementa que o objetivo é influenciada pela saúde (compreendem-
final da promoção da atividade física é a -se aqui os conceitos de bem-estar, mor-
promoção da saúde. bidade e mortalidade), a qual influencia
tanto o nível de atividade física habitual,
quanto o nível de aptidão física. Porém,
2.4 Aptidão física como se pode observar nesse modelo, há
outras variáveis que também constituem
Segundo Nieman (1999), define-se ap- o estilo de vida e influenciam na saúde: as
tidão física como uma condição na qual a condições ambientais, as características
pessoa tem energia suficiente para reali- pessoais e genéticas.
zar suas atividades de vida diária, recrea-
tivas e exercícios, em geral, sem apresen-
tar fadiga. Segundo Guedes e Guedes: Figura 03: Modelo descrevendo um
Em síntese, os índices de aptidão fí- esquema complexo na relação en-
sica seriam moduladores dos atribu- tre atividade física habitual, aptidão
tos voltados à capacidade de realizar física e saúde
esforços físicos que possam garantir
a sobrevivência das pessoas em boas
condições orgânicas no meio ambien-
te em que vivem (1995, p. 16).

A aptidão física, atividade física e saú-


de são atributos inter-relacionados (como
foi possível observar no diagrama da pá-
gina 10),

Fazem parte da aptidão física relacio-


nada à saúde aqueles componentes
que apresentam relação diretamen-
Fonte: ARAÚJO; ARAÚJO (2000, p. 198).
te proporcional ao melhor estado de
saúde e, adicionalmente, demonstram
adaptação positiva à realização regu-
lar de atividade física e programas de
exercícios físicos (GUEDES; GUEDES,
1995, p. 19).
12

Atividade física e aptidão física são


diferentes, porém inter-relacionadas
formas de medida. A primeira é uma
opção comportamental, enquanto que
a segunda é parcialmente determina-
da por fatores genéticos, sendo que
atividade física regular pode melhorar
a aptidão física. (PITANGA, 2002, p.51)

Nieman (1999) postula que a aptidão


relacionada à saúde é inversamente pro-
porcional ao risco de doenças crônicas.
Dentre os componentes da aptidão re-
lacionada à saúde que podem ser men-
surados, o autor destaca a resistência
cardiorrespiratória, a aptidão musculo-
esquelética e uma composição corpórea
ideal.

[...] os programas direcionados a aten-


der aos componentes da aptidão física
relacionada à saúde, seguramente se
constituem em mecanismos impres-
cindíveis na medida em que contri-
buem para que se possa inibir o apa-
recimento dos fatores de risco que
mais tarde venham a contribuir para o
surgimento de sintomas relacionados
às disfunções de caracteres crônico-
-degenerativos, mediante maior pro-
teção contra problemas e distúrbios
associados às doenças hipocinéticas,
isto é, aquelas relacionadas ou causa-
das pela falta de atividade física (GUE-
DES; GUEDES, 1995, p. 18).
13

UNIDADE 3 - Epidemiologia

3.1 Noções gerais sobre epi- Segundo Powers e Howley (2000), nos
EUA, nos últimos 100 anos, a principal
demiologia causa de morte deixou de ser as doenças
Como esta apostila tem como tema infecciosas, como a tuberculose e a pneu-
“atividade física e saúde”, aqui iremos en- monia, passando a ser as doenças dege-
focar a importância da epidemiologia nos nerativas, como o câncer e as doenças
estudos sobre a distribuição e os deter- cardiovasculares. Essas últimas são multi-
minantes das condições de saúde, assim causais, podendo-se destacar fatores ge-
como do uso dessas informações para a néticos (não podem ser modificados, são
prevenção e o controle das doenças, no inatos), ambientais e comportamentais
nosso caso, através da atividade física. (esses dois últimos podem ser modifica-
dos pelo indivíduo). Os autores costumam
Define-se epidemiologia como: o “es- falar em uma rede de causas, já que os
tudo da distribuição e as determinantes denominados fatores de risco interagem
das condições ou eventos relacionados à entre si, além disso, vale a pena destacar
saúde em populações específicas e a apli- que é de extrema importância o desen-
cação deste estudo no controle dos pro- volvimento de programas de prevenção
blemas de saúde” (CHOW; WILMORE, 1984 voltados à saúde pública para que a po-
apud POWERS; HOWLEY, 2000, p.256). pulação se eduque e se torne responsável
Assim, a epidemiologia é utilizada para pela sua própria saúde. Importante desta-
estabelecer a causa da doença (e assim car que algumas dessas doenças degene-
adotar-se estratégias de prevenção); para rativas podem ter seu início retardado ou
se traçar a história natural de uma doen- impedido se alguns fatores ambientais ou
ça; para descrever o estado de saúde de comportamentais forem modificados.
determinadas populações e para reali-
zar uma intervenção (POWERS; HOWLEY,
2000).

Fletcher e Fletcher (2006) elucidam a


importância da epidemiologia clínica por
ser esta a ciência que objetiva desenvol-
ver e aplicar métodos de observação clí-
nica que conduzam a conclusões válidas,
evitando-se, assim, a ocorrência de erros.
A epidemiologia clínica é de grande impor-
tância, pois, a partir dela, os especialistas
podem obter as informações mais rele-
vantes sobre o paciente para, com elas,
tomarem as melhores decisões no que diz
respeito ao seu cuidado.
14

Figura 04: Modelo epidemiológico expostas a determinados fatores de ris-


que mostra a interação complexa en- co tenham mais probabilidade de contrair
tre os fatores de risco associados ao determinadas doenças do que as pessoas
desenvolvimento das DCNT (exemplo: que não foram expostas a esses fatores.
doenças cardiovasculares) Ainda a esse respeito, ao se estudar a
epidemiologia do envelhecimento, faz-se
um aprofundamento em alguns aspectos
epidemiológicos que irão ser de interesse
do profissional da educação física. Me-
didas atualmente consideradas simples
como a adoção de medidas de saneamen-
to básico, o surgimento dos antibióticos
e das vacinas foram responsáveis pelo
aumento da expectativa de vida e pela
mudança no padrão epidemiológico apre-
sentado anteriormente: a diminuição das
mortes por doenças infectocontagiosas
(RAMOS, 2002). A partir dessa transição
epidemiológica, temos uma nova realida-
de.

A Transição Epidemiológica é o resul-


tado das variações comportamentais
Fonte: POWERS; HOWLEY (2000, p.257). dos padrões de morbimortalidade e
fecundidade, que determinam mudan-
ças na estrutura populacional, ao se
Pitanga (2002) aponta que o sedenta- processarem as alterações na manei-
rismo se destaca, nesse paradigma, como ra de adoecer e morrer. Laurenti de-
um dos fatores de risco para os agravos à fine a Transição Epidemiológica como
saúde, daí a íntima relação entre epide- ‘uma evolução gradual dos problemas
miologia, saúde e atividade física. de saúde caracterizados por alta mor-
Já definimos os conceitos de epidemio- bidade e mortalidade por doenças in-
logia, saúde e atividade física, agora fa- fecciosas que passa a se caracterizar
lamos de risco, palavra que ouvimos em predominantemente por doenças crô-
nosso cotidiano. Mas, na epidemiologia, nicas não-transmissíveis’ (PINHEIRO;
o que é risco? Fletcher e Fletcher (2006) FREITAS, CORSO, 2004, p.525).
mostram que risco, de maneira geral, re- Podemos inferir que a prevenção e a
laciona-se com a probabilidade da ocor- cura das doenças que anteriormente di-
rência de um evento adverso. Porém, na zimava a população não dependiam muito
epidemiologia, os autores ilustram que dos próprios indivíduos (apesar de que an-
o termo está relacionado mais especifi- tes da descoberta dos antibióticos e das
camente à probabilidade de que pessoas vacinas, por exemplo, algumas matavam
15

em um curto intervalo de tempo). Atual- da eficiência do sistema imunológico,


mente, a situação é diferente. Como já foi fato que pode reduzir a incidência de
abordado, as doenças que dizimam gran- alguns tipos de câncer e melhorar a re-
de parte da população são as doenças sistência de pacientes com AIDS. Por
degenerativas (ou doenças crônicas não outro lado, a adoção de estilo de vida
transmissíveis – DCNT – tema que será ativo fisicamente, irá proporcionar
abordado a seguir). Para essas doenças mudança de comportamento dos in-
não há vacina, as medidas de saneamen- divíduos. Além disto, poderíamos pro-
to não trazem o controle das mesmas, há porcionar modificações no meio am-
necessidade de grande participação do in- biente, mediante a criação de espaços
divíduo em seu tratamento: mudança de adequados para prática de atividade
hábitos alimentares, adoção de atividade física. Finalmente, as constatações da
física regular, remédios de uso contínuo, influência dos fatores genéticos, não
visitas regulares a uma equipe multipro- apenas nos níveis de aptidão física das
fissional de saúde. Em síntese, o pacien- pessoas, como também no nível de
te passa a ser responsável pelo sucesso atividade física habitual e participação
de seu tratamento, a doença não leva ao em exercícios, nos levam a acreditar
óbito num curto prazo de tempo, mas suas que os atuais estudos sobre o genoma
complicações oneram todo o sistema de humano podem, também, contribuir
saúde. O grande desafio da saúde pública para sedimentar a relação atividade fí-
frente a essas doenças é ainda maior se sica e saúde. Desta forma, as políticas
levarmos em conta o contingente nume- públicas de promoção de atividades fí-
roso de idosos no Brasil e no mundo (RA- sicas devem privilegiar os aspectos ci-
MOS, 2002). tados anteriormente, assim entende-
mos que os determinantes de ordem
O profissional da educação física pode
biopsicossocial, comportamentais e
compor a equipe multiprofissional de for-
ambientais estariam contemplados,
ma a atuar na prevenção e na promoção
contribuindo como um dos meios para
da saúde em meio a essa realidade epi-
que as pessoas ficassem mais próxi-
demiológica. A citação a seguir relaciona
mas ao polo positivo da saúde. (PITAN-
melhor os benefícios da atividade física
GA, 2002, p. 51)
para a saúde a partir das três variáveis já
abordadas anteriormente: genéticas, am- Sabe-se que os programas de atividade
bientais e comportamentais: física corretamente prescritos e adequa-
dos são benéficos para a saúde do pon-
Desta forma, a atividade física rela-
to de vista da prevenção, manutenção e
cionada à saúde, no contexto das re-
aprimoramento da capacidade funcional.
des multicausais, aparece como um
Por outro lado, a falta de atividade físi-
dos fatores que poderia modificar o
ca regular contribui para o surgimento
risco dos indivíduos para adoecerem.
das doenças crônico-degenerativas, tais
Em primeiro lugar, existem evidên-
como a hipertenção arterial, as cardio-
cias bastante significativas da influ-
patias coronarianas, o diabetes melitus e
ência da atividade física na melhoria
a obesidade. Essas doenças atualmente
16

são a principal causa de mortalidade entre Nos aspectos preventivos, os exercí-


os adultos (GUEDES; GUEDES, 1995). cios físicos são prescritos e orientados
com a finalidade de promover adapta-
A partir da era epidemiológica das do-
ções fisiológicas que venham a dimi-
enças crônico-degenerativas surgem
nuir a probabilidade de ocorrerem dis-
diversos estudos epidemiológicos re-
funções orgânicas que possam levar
lacionando atividade física como meio
ao aparecimento de doenças crôni-
de promoção da saúde, sendo que
co-degenerativas. (GUEDES; GUEDES,
nas últimas três décadas, numero-
1995, p. 58).
sos trabalhos têm consistentemente
demonstrado que altos níveis de ati- Em outro momento, nesta mesma
vidade física ou aptidão física estão apostila, os níveis de prevenção serão
associados à diminuição no risco de mais detalhadamente abordados, porém
doença arterial coronariana, diabetes, aqui iremos apenas mencionar esses dife-
hipertensão, osteoporose. (PITANGA, rentes tipos de indivíduos, em relação às
2002, p.51) suas patologias e ao tipo de atividade fí-
sica indicada para cada um desses grupos.
A crescente modernização traz melho-
Em relação àqueles que possuem fatores
ra geral na qualidade de vida das pesso-
de risco para o surgimento de doenças
as, porém, como consequência negativa,
crônico-degenerativas ou que já possuem
acaba por resultar o sedentarismo que,
essas doenças instaladas, observa-se
consequentemente, pode ocasionar as
que:
patologias supracitadas e impactar nega-
tivamente nessa qualidade de vida. (GUE- No aspecto terapêutico, porém, os
DES; GUEDES, 1995). Nesse contexto, a exercícios físicos apresentam dois ob-
atividade física pode ser uma alternativa jetivos básicos: atenuar eventuais dis-
viável para romper esse ciclo vicioso bus- túrbios e incapacidades orgânicas que
cando a promoção da saúde por meio dos possam contribuir para o aparecimen-
aspectos preventivos e terapêuticos. to das doenças crônico-degenerativas
e promover melhorias das funções
Segundo os autores supracitados, é
afetadas e dificultar o surgimento de
possível dividir os indivíduos em três clas-
novas complicações em indivíduos
ses em relação à prática de exercícios fí-
portadores de doenças crônico-dege-
sicos: os aparentemente sadios; aqueles
nerativas já clinicamente manifesta-
que apresentam fatores de risco para as
das, na tentativa de reverter o quadro
doenças crônico-degenerativas e os por-
patológico (GUEDES; GUEDES, 1995, p.
tadores de doenças crônico-degenerati-
58).
vas clinicamente manifestadas. Para es-
ses três grupos, é possível inferir que nos Sintetizando, a partir de tudo o que foi
primeiros, a atividade física terá caráter visto sobre a epidemiologia, compreende-
preventivo, enquanto que nos demais já -se que alguns fatores de risco para as do-
se deve visar uma ação terapêutica. enças crônicas não transmissíveis (DCNT)
são genéticos e não podem ser modifica-
dos, porém outros podem ser modifica-
17

dos e dependem não apenas da atuação que é portador de uma doença incurável.
da equipe multidisciplinar – incluindo-se Muitos pacientes com histórico de lon-
o profissional da educação física – mas, gas e frequentes internações costumam
principalmente do próprio indivíduo. Cabe manter a doença crônica, pois com isso re-
a ele, a partir de seu próprio engajamento cebem cuidados que não receberiam fora
na mudança de seu estilo de vida, preve- do ambiente hospitalar. Outros demons-
nir as doenças e atuar para o controle das tram uma necessidade psicológica de vi-
mesmas. ver todo o drama da doença crônica. O
paciente luta constantemente no sentido
[...] Semelhantemente a outros com-
de compreender e aceitar a doença para
portamentos de promoção da saúde,
assim conseguir viver esta nova condição.
como hábitos alimentares saudáveis,
Isto não é fácil.
abstinência ao fumo, controle da in-
gestão ao álcool e níveis satisfatórios A personalidade do paciente crônico é
da prática de exercícios físicos deve- marcada por quatro características mar-
rão ser cultivados desde as idades cantes, as quais veremos a seguir (ANGE-
mais precoces e persistir, necessaria- RAMI-CAMON, 2011):
mente, ao longo de toda a vida (GUE-
Regressão: mesmo que de manei-
DES; GUEDES, 1995, p. 68).
ra inconsciente, os profissionais de saúde
Importante agora compreender um e os familiares desejam que o paciente se
pouco mais sobre os aspectos psicológi- torne passivo e regredido, de forma que
cos do funcionamento do paciente crôni- facilite a realização dos cuidados e a acei-
co, em especial aquele portador das do- tação de sua condição de doente. Isso,
enças crônicas não transmissíveis, grande por outro lado, acaba por contribuir para a
escopo dessa seção sobre epidemiologia, cronicidade do paciente.
para darmos prosseguimento a este ma-
Passividade: o paciente deixa de
terial.
ser agente de seu tratamento, passan-
do a responsabilidade à equipe de saúde
e aos familiares, o que também contribui
3.2 Paciente crônico: carac- para a cronicidade emocional.

terísticas biopsicossociais Dependência: a regressão pode


levar o paciente a ficar mais dependente
Uma Doença crônica é uma doença que que o necessário.
não é resolvida num tempo curto, definido
usualmente em seis meses. As doenças Sensibilidade às frustrações: os
crônicas são doenças que não necessa- pacientes tornam-se mais vulneráveis a
riamente põem em risco a vida da pessoa ameaças ao seu corpo e à sua autoestima.
num prazo curto (como a alergia), mas po-
Em relação a essas quatro característi-
dem ser sérias ou fatais (como a AIDS). Po-
cas, torna-se essencial para o profissional
dem ou não manifestar sintomas.
da educação física conhecê-las e assim
É denominado paciente crônico aquele agir de forma a compreender determina-
18

das reações comuns à personalidade do 3.3 Doenças crônicas não


paciente crônico e também não reforçar
algumas características que não são be- transmissíveis (DCNT)
néficas a ele, as quais acabam sendo re- São doenças de longo curso de dura-
forçadas por todos à sua volta. É muito im- ção, que não são transmitidas pelo con-
portante, no caso das DCNT, não reforçar tato direto ou indireto com o paciente
no indivíduo a passividade, a regressão e contaminado. Não existem vacinas para
a dependência, já que ele deve ser agen- se erradicar ou prevenir essas doenças;
te de seu tratamento, adotando uma mu- as medidas preventivas existentes são
dança radical em seu estilo de vida, o que menos eficientes em pessoas de baixo ní-
não pode, em hipótese alguma, ficar a cri- vel socioeconômico e educacional. Poucas
tério dos outros. A sensibilidade às frus- opções de tratamento eficaz, incuráveis,
trações também precisa ser muito bem muitas delas associadas ao avanço da ida-
trabalhada, pois o indivíduo com as DCNT de. Exemplos: diabetes, câncer, hiperten-
precisa aprender a lidar com as adversida- são arterial, lúpus, insuficiência renal crô-
des do dia a dia, as quais podem aconte- nica, Alzheimer, entre outras.
cer até mesmo no meio dos esportes, seja
através de um desempenho aquém do As DCNT podem ser caracterizadas
esperado, um comentário desagradável, por doenças com história natural pro-
dentre outros fatores negativos que po- longada, múltiplos fatores de risco
dem afetar negativamente a autoestima. complexos, interação de fatores etio-
lógicos desconhecidos, causa neces-
Parece que o doente crônico entrega sária desconhecida, especificidade
sua vida para um outro – a equipe de saú- de causa desconhecida, ausência de
de – delegando a eles a tarefa de restituir participação ou participação polêmica
seu bem-estar biopsicossocial. O profis- de micro-organismos entre os deter-
sional sabe que isto não será possível, minantes, longo período de latência,
mas lidar com essa fantasia por parte do longo curso assintomático, curso clí-
paciente não é fácil: muitas expectativas nico em geral lento, prolongado e per-
são depositadas e ele sabe que isto será manente, manifestações clínicas com
em vão, o paciente pode tornar-se agres- períodos de remissão e de exacerba-
sivo com o profissional, que pode reagir ção, lesões celulares irreversíveis e
com frustração e impaciência (ANGERA- evolução para diferentes graus de in-
MI-CAMON, 2011). capacidade ou para a morte (LESSA,
O paciente crônico, desde seu diagnós- 1998 apud PINHEIRO, FREITAS, COR-
tico e durante todo o curso de seu trata- SO, 2004, p. 524)
mento merece receber, de toda a equipe As DCNT são doenças que mais deman-
de saúde, respeito, consideração e ajuda. dam ações, procedimentos e serviços de
saúde. Podem ser compreendidas como
consequências da urbanização, de mudan-
ças no estilo de vida e da globalização. Ao
mesmo tempo que os custos dos serviços
19

de saúde para o controle e o tratamento 3.4 Fatores de risco para as


das mesmas são altos (principalmente de-
vido ao longo curso das mesmas), a pre- doenças
venção dessas doenças normalmente im- Sabe-se que existe um número muito
plica em baixos custos, além de mudanças grande de doenças, dentre as quais é pos-
no estilo de vida (MALTA et al., 2006). sível apontar diferentes meios de con-
O doente deseja ser do jeito que era an- traí-las e formas de evitá-las. Como já foi
tes do aparecimento de sua doença crô- elucidado anteriormente, quando esses
nica, já que esta tira sua liberdade e seu fatores de risco dizem respeito a fatores
autocontrole. Porém, para estas doenças genéticos, não há o que fazer para modi-
que não há possibilidade de recuperação, ficar essa bagagem inata que o indivíduo
cabe ao paciente o esforço para se adap- carrega, mas, em muitos casos, como nas
tar com a doença, ou seja, se reestruturar DCNT, há incidência de fatores multicau-
para poder viver, na medida do possível, sais e o indivíduo pode modificar as variá-
com qualidade, apesar das perdas e limi- veis ambientais e comportamentais.
tações impostas pela doença. Isso inclui, A importância relativa de cada um
por exemplo, uma dieta regrada, o uso de desses componentes pode variar de-
medicações, inclusão de exercícios físicos pendendo do genótipo, da idade e dos
em sua rotina, abster-se de álcool e fumo, hábitos de vida das pessoas; no en-
limitar sua ingestão de água, dentre ou- tanto, todos demonstram relação bas-
tras mudanças drásticas. tante estreita com o melhor estado de
Essas mudanças no estilo de vida geram saúde (GUEDES; GUEDES, 1995, p. 19).
insatisfação, revolta, mas é importante O esquema ilustrado na figura a seguir
que o profissional consiga prestar infor- mostra de maneira sintética, os principais
mações adequadas, dar o apoio necessá- fatores de risco para as doenças, divididos
rio, desejando que o paciente consiga o em três grupos: genéticos/biológicos, am-
equilíbrio: levar uma vida relativamente bientais e comportamentais. A atuação do
normal, mesmo na condição de doente profissional de educação física, conforme
crônico. vem sendo destacado, ocorre nas duas úl-
É muito mais fácil se adaptar a uma do- timas categorias, aquelas que podem ser
ença aguda que só exige uma aceitação modificadas pelo indivíduo.
temporária de suas limitações que aceitar
o fato de que nunca se curará, que depen-
derá dos outros e que sua condição de
doente irá piorar à medida que a doença
progrida.
20

Figura 05: Principais categorias de fatores de risco

Fonte: U.S., (1979 apud POWERS; HOWLEY, p.258).

Frente à variabilidade de doenças e trema importância, não apenas pela


fatores de risco ao longo deste material, sua ação direta na redução dos riscos
estamos voltando nossos olhares para as prospectivos das doenças crônico-de-
DCNT – foco dessa seção. A ANS (2009) generativas, mas, sobretudo, pela in-
aponta como fatores de risco relevantes terferência na magnitude dos outros
a obesidade, o sobrepeso, a inatividade fatores de risco modificáveis (GUE-
física, o tabagismo e o consumo do álcool. DES; GUEDES, 1995, p. 63).

Outros fatores são menos importan-


tes, como sexo, idade, história fa-
miliar, estresse emocional, também
contribuem para o aparecimento de
acidentes crônico-degenerativos,
identificados como fatores secundá-
rios [...] O sexo, a idade e a história fa-
miliar são os fatores de risco não mo-
dificáveis. Os demais fatores de risco
são considerados modificáveis, de-
monstrando forte associação com os
hábitos de vida. Na maioria das vezes,
os fatores de risco não agem isolada-
mente, mas sim em conjunto, fazendo
com que a possibilidade de ocorrência
das disfunções crônico-degenerativas
aumente em proporção exponencial.
[...] Entretanto, resultados de pesqui-
sas mais recentes têm sugerido que
os programas regulares de exercícios
físicos devem ser considerados de ex-
21

UNIDADE 4 - Promoção da saúde, preven-


ção primária, secundária e terciária
Segundo Buss (2000), verificam-se [...] uma estratégia promissora para
progressos mensuráveis nas condições enfrentar os múltiplos problemas de
de vida e saúde das populações, na maio- saúde que afetam as populações hu-
ria dos países, nos últimos séculos. Essas manas e seus entornos neste final de
melhorias se dão, principalmente, devido século. Partindo de uma concepção
aos avanços políticos, sociais, econômi- ampla do processo saúde-doença e de
cos e ambientais na saúde pública e na seus determinantes, propõe a articu-
medicina. Entretanto, as desigualdades lação de saberes técnicos e populares,
também continuam marcantes em muitos e a mobilização de recursos institucio-
países. Observa-se, em algumas regiões, nais e comunitários, públicos e priva-
a permanência de problemas já resolvi- dos, para seu enfrentamento e reso-
dos em outras, assim como o surgimento lução (p.165).
de alguns novos e o crescimento de ou-
A partir dessa definição, acrescenta-
tros já existentes. Para solucionar tais
mos que o conceito de promoção de saúde
problemas (como, por exemplo, a AIDS, as
reforça também a importância do prota-
doenças crônicas não transmissíveis, ou o
gonismo do indivíduo como agente ativo
estresse) têm sido investidos muitos re-
de seu estado de saúde (ao contrário de
cursos em assistência médica curativa e
ocupar uma posição passiva, onde apenas
individual, porém, sabe-se que esse não
a equipe de saúde tomava as decisões e
é o caminho mais eficaz. A solução para
ações e o paciente, passivo, acatava as
esses problemas consiste em medidas
mesmas) (BUSS, 2000).
preventivas e a promoção da saúde, além
da melhoria das condições de vida da po- Em relação ao controle do indivíduo,
pulação em geral, ou seja, retirar o foco do essa outra citação traz mais detalhes
individual e voltar para o grupo, prevenir acerca de uma definição sobre a promo-
ao invés de remediar. ção da saúde, a qual pode ser de interesse
para o profissional da educação física por
Fala-se muito, atualmente, em promo-
abordar aspectos passíveis de mudanças,
ção da saúde, porém esse é um conceito
tais como estilo de vida e dieta, que impli-
que traz consigo uma série de conceitos,
cam em saúde:
provenientes de diversos autores das
áreas da saúde pública e da saúde cole- [...] os programas ou atividades de
tiva. Numa tentativa de discutir o tema, promoção da saúde tendem a con-
Buss (2000) abordou, em seu artigo de centrar-se em componentes educati-
revisão, vários autores e documentos que vos, primariamente relacionados com
trataram do assunto nas últimas décadas. riscos comportamentais passíveis de
Assim, para fins didáticos, iremos compre- mudanças, que estariam, pelo menos
ender a promoção da saúde como: em parte, sob o controle dos próprios
indivíduos. Por exemplo, o hábito de
fumar, a dieta, as atividades físicas,
22

a direção perigosa no trânsito (BUSS, bito de exercitar-se deve ser mantido


2000, p.166). e estimulado pela escola e pela famí-
lia. As escolas devem oferecer progra-
Além da promoção da saúde, a preven-
mas com atividades aeróbicas para as
ção é outra estratégia que se faz muito
crianças incluindo a natação, as dan-
importante. Assim como o que foi aborda-
ças, a corrida, a recreação, o esporte
do na promoção da saúde, o foco é o gru-
e, como fator de prevenção da oste-
po, não o indivíduo.
oporose, algum trabalho com peso. A
O conceito PP é proveniente da saúde intensidade, duração e a frequência
pública e refere-se à ação que bus- das atividades devem ser individuais e
ca evitar a incidência de doenças. As progressivas, serem do conhecimen-
ações neste campo sempre têm como to do participante e considerados nos
alvo grupos e não indivíduos (LACER- programas escolares. Como normal-
DA JR; GUZZO, 2005, p.241). mente na vida adulta, o exercício físico
é afastado do estilo de vida das pes-
A partir dos estudos de alguns auto-
soas, idealmente, a escola deve pre-
res, como Goldston (1980 apud LACERDA
parar o adulto para ser independente
JR; GUZZO, 2005) e Leavell e Clark (1976
no futuro. O exercício físico deve ser
apud BUSS, 2000), as estratégias de pre-
praticado na maioria dos dias da se-
venção podem ser divididas em três ní-
mana, senão em todos os dias, por
veis, os quais serão elucidados a seguir.
pelo menos 30 minutos, de uma vez
O primeiro desses níveis é denominado ou dividindo a sua realização em di-
prevenção primária e se caracteriza por ferentes momentos. O indivíduo sau-
ações dirigidas a grupos amplos, antes do dável deve ser capaz de planejar um
estabelecimento de uma doença, ou seja, programa individual de exercício físico
busca-se atingir uma saúde geral melhor que contemple atividades planejadas
pela proteção do homem contra os agen- para as férias e para viagens de traba-
tes nocivos do meio. A educação em saú- lho, momentos que contribuem para a
de aparece como um grande diferencial falta de continuidade e de aderência
(GOLDSTON, 1980 apud LACERDA JR; GU- das pessoas aos programas. (ARAÚJO;
ZZO, 2005; LEAVELL; CLARK,1976 apud ARAÚJO, 2000, p. 198-199)
BUSS, 2000). Entendemos que o profis-
Já o segundo nível, denominado pre-
sional da educação física tem um grande
venção secundária, ocorre após a identifi-
diferencial na prevenção primária como
cação de fatores de risco. Objetiva evitar
agente da educação em saúde, especial-
que o problema se torne crônico através
mente por poder atuar com o ser humano
do diagnóstico e intervenção precoces
em diferentes estágios de seu desenvol-
(LACERDA JR; GUZZO, 2005). Pode-se citar
vimento. A citação a seguir ilustra isso de
como exemplo um filho de pai diabético,
maneira detalhada, explicativa e direta:
sem nenhuma doença diagnosticada no
A prevenção primária começa nos pri- momento, que procura a atenção de uma
meiros anos escolares e deve continu- equipe multidisciplinar em saúde em bus-
ar ao longo da vida do indivíduo. O há- ca de mudança de estilo de vida visando à
23

prevenção da doença no futuro devido ao O papel da reinserção do exercício fí-


seu histórico familiar. sico na reversão – parcial ou total – da
condição patológica induzida pelo se-
Podemos ver na citação a seguir um
dentarismo também se faz premente.
exemplo da atuação do profissional da
Além disso, o profissional de Educação
educação física num nível de prevenção
Física responsável pelo tratamen-
secundária, ou seja, em indivíduos cujos
to secundário e terciário de doenças
fatores de risco para doenças cardiovas-
crônicas deve também se aprofundar
culares identificados. Vê-se a importância
em conceitos de fisiopatologia, sinto-
da atuação da equipe multidisciplinar, res-
mas e quadro clínico de determinada
saltando-se o trabalho do profissional da
doença, assim como nos benefícios e
educação física na prevenção de maiores
riscos inerentes à prática de ativida-
riscos à saúde do indivíduo.
de física para tal condição específica.
Em relação à prevenção secundária, Tais medidas tornam-se essenciais
indivíduos com doenças cardiovascu- àquele profissional de Educação Físi-
lares crônicas precisam de atividades ca que visa compor com competência
rotineiras, com supervisão apropria- uma equipe transdisciplinar de saúde
da e incremento progressivo; aqueles (GUALANO; TINUCCI, 2011, p.41).
que não possuem supervisão devem
iniciar caminhadas de forma gradati-
va. Naturalmente, qualquer programa 4.1 Aspectos preventivos e te-
deve ser iniciado o mais precocemente
possível, logo que os sinais vitais es- rapêuticos do exercício físico
tejam estáveis, e sob controle médico. Após a compreensão de conceitos rela-
(ARAÚJO; ARAÚJO, 2000, p. 199) tivos à epidemiologia, promoção da saú-
Finalmente, o último nível, denominado de, prevenção primária, secundária e ter-
prevenção terciária, é o mais específico de ciária, torna-se mais fácil compreender os
todos os níveis. Seu foco é a reabilitação aspectos preventivos e terapêuticos do
ou diminuir os efeitos de uma doença já exercício físico, assim como associá-los
instalada (LACERDA JR; GUZZO, 2005). aos fatores de risco para as doenças, à pro-
Nesse caso, como exemplo, citamos o pro- moção da saúde e aos diferentes níveis de
fissional de educação física que atua com prevenção. Importante não se esquecer
um grupo de idosas portadoras de oste- da abordagem de saúde incluir aspectos
oporose. Na citação a seguir, observa-se biopsicossociais. Assim, a importância da
que, mesmo como a tendência atual é atividade física como estratégia preventi-
priorizar a prevenção primária e a promo- va e terapêutica também irá compreender
ção à saúde, nós, profissionais, acabamos todos esses níveis no qual o ser humano
ainda encontrando mais frentes de traba- está inserido, não apenas o corpo biológi-
lho nos setores voltados à prevenção se- co, no qual o profissional da educação físi-
cundária ou terciária: ca costuma naturalmente intervir através
de sua prática rotineira.

A Agência Nacional de Saúde Suple-


24

mentar (ANS, 2009) elucida uma série de preserva a independência (ANS, 2009).
fatores de proteção para as doenças, den-
Leite (2000) faz algumas ponderações
tre eles podem-se destacar a atividade fí-
muito pertinentes no que diz respeito ao
sica e a alimentação saudável. Em linhas
esporte recreativo. Segundo ele, para que
gerais, esse manual técnico elucida que a
campanhas publicitárias motivacionais do
atividade física pode trazer uma série de
tipo “Mexa-se” sejam válidas, faz-se ne-
benefícios para praticantes de diversas
cessário que a atividade física seja devi-
idades, tais como:
damente orientada por profissionais com-
consciência corporal; petentes e atentos. Não basta ter local
disponível (como clubes, praças públicas)
aumento da capacidade intelectu-
ou partir para a educação à saúde e espe-
al;
rar que cada indivíduo faça a sua parte por
melhoria da capacidade cardiovas- si só.
cular e respiratória;
Programas de reabilitação do cardiopa-
redução dos fatores de risco para ta com a prática de exercícios físicos pro-
as DCNT; porcionam benefícios psicossociais, tais
como diminuição da ansiedade e depres-
diminuição dos níveis de massa
são ocasionadas pela doença, melhora da
gorda e aumento da massa magra;
autoestima e consequente reinserção so-
prevenção de osteoporose e doen- cial e profissional. A partir de todas essas
ças nos ossos e articulações; mudanças, o cardiopata pode encontrar
o incentivo para modificar os hábitos não
aumento da força muscular; saudáveis e então atingir a necessária
aumento da resistência dos ten- mudança em seu estilo de vida. (GUEDES;
dões e ligamentos; GUEDES, 1995).

melhoria do sistema imunológico; Os indivíduos portadores de doenças


orgânicas, metabólicas e psicossomá-
diminuição da depressão, ansieda- ticas (pacientes cardíacos, obesos,
de e alívio do estresse; portadores de depressão e ansieda-
aumento da autoestima. de) procuram fazer exercícios fiscos
para recuperarem parte de suas capa-
Além desses, os em relação à infância, cidades funcionais que foram debilita-
a atividade física auxilia a criança a adotar das pela doença, reintegração social
um estilo de vida ativo na vida adulta; aju- e preenchimento de “vazios existen-
da no tratamento da asma (natação). Para ciais” que acompanham as doenças
o idoso, destacam-se a redução de que- crônicas e/ou psicossomáticas. (LEITE,
das e possíveis lesões; auxilia no trata- 2000, p.4-5).
mento de dores; auxilia no tratamento de
DPOC; melhora a qualidade do sono; auxi- Doenças crônicas já foram definidas
lia no tratamento das demências; auxilia anteriormente. Já as doenças psicossomá-
no tratamento da constipação intestinal; ticas não levam ao óbito, porém também
25

impactam negativamente a qualidade de funcional em consensos e diretrizes sobre


vida do indivíduo que sofre com elas. A o assunto, publicados pelas sociedades
psicossomática é o “estudo das relações nacionais, como a Sociedade Brasileira
entre as emoções e os males do corpo” de Cardiologia, Hipertensão e Diabetes,
(HOWARD; LEWIS, 1999, p. 6), ou seja, dentre outros, como se pode observar a
como temos reforçado na apostila, o ser seguir:
humano não é apenas corpo, é biopsicos-
social. Corpo e mente não podem ser se-
parados, como costumamos acreditar. Fa-
lar em doença psicossomática é o mesmo
que entender que o ser humano consegue
somatizar situações e/ou ideias desagra-
dáveis.

Ao se estudar a relação entre a ativida-


de física e a prevenção ou tratamento de
doenças do adulto e do idoso ou melhoria
da capacidade funcional do idoso, estudos
apontam como resultados redução dos ní-
veis de gordura corporal, diminuição da
pressão arterial, a melhora do perfil lipídi-
co e da sensibilidade à insulina, o aumen-
to do gasto energético, da massa e força
muscular, da capacidade cardiorrespirató-
ria, da flexibilidade e do equilíbrio. (COE-
LHO; BURINI, 2009)

A vida sedentária tem sido considera-


da como um dos fatores de risco co-
ronariano (infarto do miocárdio, mor-
te súbita, angina prectoris). A prática
regular de exercícios físicos tem sido
considerada “fator de proteção” con-
tra processos degenerativos no orga-
nismo, principalmente doenças como
arteroclerose sistêmica, obesidade,
hipertensão arterial e distúrbios psi-
cossomáticos leves e moderados (LEI-
TE, 2000, p.5).

A tabela a seguir é uma compilação re-


alizada por Coelho e Burini (2009) a partir
de dados coletados sobre prevenção e tra-
tamento de algumas DCNT e incapacidade
26

Tabela 01: Prevenção e tratamento de DCNT e incapacidade funcional

Fonte: COELHO; BURINI (2009, p.941).


27

Os autores supracitados enfatizam que 4.2 O profissional de educa-


há uma visível diferença entre atividade
física para prevenção de doenças crôni- ção física e a equipe multi-
cas e para alcançar objetivos fitness, ou profissional de saúde
seja, a quantidade e a qualidade de exer-
Com o constante avanço científico nas
cícios necessárias para se atingir efeitos
disciplinas relacionadas à saúde, surgem
benéficos à saúde pode ser diferente da-
cada vez mais profissionais devidamente
quela necessária para se alcançar um bom
capacitados e regulamentados para tra-
condicionamento físico. Além disso, não
balhar, dentro de sua área de atuação, vi-
se pode deixar de levar em conta que as
sando o bem-estar de seu cliente. Assim,
recomendações de atividades físicas ex-
vemos que, se antigamente um agravo
postas nesse quadro não podem ser tão
relacionado à área da saúde era encami-
generalizadas. O professor de educação
nhado como de responsabilidade exclusi-
física sempre deve levar em conta as dife-
va do médico, hoje se entende que deve-
renças individuais, além de fatores como
mos considerar o ser humano como um ser
sexo, idade, estado de saúde e preferên-
holístico, ou seja, um ser biopsicossocial
cias.
e espiritual. Desta forma, pode parecer
Os mecanismos que ligam a ativi- reducionista atribuir a responsabilidade
dade física à prevenção e ao trata- pela prevenção ou reabilitação da saúde
mento de doenças e à incapacidade a apenas um profissional, por isso passa-
funcional envolvem principalmente mos a falar na equipe interdisciplinar em
a redução da adiposidade corporal, a saúde. A partir daí alguns pontos mere-
queda da pressão arterial, a melhora cem ser abordados:
do perfil lipídico e da sensibilidade à
Quem é essa equipe interdiscipli-
insulina, o aumento do gasto ener-
nar?
gético, da massa e da força muscular,
da capacidade cardiorrespiratória, Onde o profissional da educação fí-
da flexibilidade e do equilíbrio. sica entra nessa história?
No entanto, existe importante distin- Venho abordando “profissional da
ção entre atividade física para prevenção educação física”, mas normalmente ve-
de doenças crônicas, para o bom condi- mos falar do “professor de educação físi-
cionamento físico e para o tratamento de ca”. Professor é um profissional da educa-
doenças, associada tanto ao tipo quanto à ção ou da saúde?
frequência, à intensidade e à duração das
atividades realizadas. (COELHO; BURINI, Vamos responder a essas e mais algu-
2009, p.945) mas questões.

Começamos pela questão da equipe in-


terdisciplinar. É uma equipe formada por
diversos profissionais, de saberes dife-
rentes, oriundos de formações acadêmi-
cas diferentes, o que lhes proporcionam
28

diferentes perspectivas de atuação, uma sentir cerceado pelos colegas de outras


espécie de troca de saberes que se com- profissões). Dividem-se conhecimentos,
plementarão, visando o bem-estar do somam-se experiências, todos saem ga-
cliente, que é abordado de maneira holís- nhando.
tica.
Mas e o profissional da educação físi-
Oliveira e colaboradores bem comple- ca? Ele faz parte da equipe de saúde? Ele
mentam essa definição ao afirmarem que: não é um profissional de educação? Agora
iremos aprofundar um pouco mais nossa
Interdisciplinaridade pode ser con-
discussão para chegarmos à nossa área
siderada como uma troca intensa de
de interesse.
saberes profissionais em diversos
campos, exercendo, dentro de um Temos, atualmente, 14 profissões
mesmo cenário, uma ação de reci- de nível superior, reconhecidas pelo
procidade, mutualidade, que pressu- Conselho Nacional de Saúde como
põe uma atitude diferenciada diante da área de saúde: Biomedicina, Bio-
de um determinado problema (2011, logia, Educação Física, Enfermagem,
p.28). Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiolo-
gia, Medicina, Medicina Veterinária,
Conceitualmente, caso quisermos
Nutrição, Odontologia, Psicologia,
aprofundar mais o estudo, encontraremos
Serviço Social e Terapia Ocupacional.
uma diferença entre os termos multidisci-
Temos, ainda, inúmeras profissões
plinar e interdisciplinar, porém como en-
formais de nível médio que partici-
contramos obras que se referem à “equi-
pam ativamente da atenção à saúde.
pe interdisciplinar em saúde” e outras que
(VELLOSO, s.d., p.25)
se referem à “equipe multidisciplinar em
saúde”, aqui estamos abordando os dois O profissional da educação física, a
termos como se ambos tivessem o mesmo exemplo de outros profissionais que inte-
significado. gram a equipe multiprofissional de saúde,
é tanto da área da saúde (bacharelado)
Assim, entendemos a importância do
como da educação (licenciatura). Nesta
trabalho em equipe multiprofissional, já
apostila, como estamos enfatizando des-
que, em primeiro lugar, o cliente (ou aluno,
de a introdução, reforçaremos a importân-
caso prefiram), foco do nosso trabalho,
cia do seu enfoque como um profissional
sairá ganhando com a atenção de todos
da saúde, já que nosso foco é falar sobre
os profissionais, cada um a partir do ponto
“atividade física e saúde”. A Resolução
de vista de sua especialidade profissional.
218/97 (BRASIL, 1997) reconhece o Pro-
Não podemos também deixar de lado que
fissional da Educação Física, assim como
o profissional – independente de qual seja
outros 12 outros profissionais, como inte-
a sua área de atuação – também sai ga-
grantes da equipe interdisciplinar de saú-
nhando, já que na equipe interdisciplinar
de. Isso realmente foi bastante recente.
todos precisam trabalhar com total auto-
nomia (em sua área de saber, sem invadir Entendemos que para poder se re-
a área de conhecimento do outro e sem se conhecer, efetivamente, como área
29

‘promotora da saúde, a Educação Fí- sionais e pesquisadores da área de


sica precisa incorporar a mudança do Educação Física – especialistas de
próprio conceito de saúde, ressaltan- formação no uso dessa ferramenta
do antes de tudo, as inter-relações – a obrigação de alavancar sua pro-
com a equidade social, postura que, moção, seja na condução de estudos
de forma alguma, a fará perder sua clínicos e mecanísticos de qualidade,
especificidade e legitimidade frente seja na prescrição de exercícios efe-
às questões do movimento huma- tiva e segura a uma população. [...]
no. Parece sensato que para ocorrer O exercício físico é uma ferramenta
tal avanço, a área precise expugnar barata, segura, não patenteável e,
todo o arsenal de discursos e ações quando prescrita de maneira cor-
pragmáticas moralizantes utilizadas reta, põe fim à necessidade de uma
para combater o sedentarismo, ideia vasta gama de medicamentos (GUA-
que se tornou tão cara à área nas úl- LANO; TINUCCI, 2011, p.40).
timas décadas. (BAGRICHEVSCHI; ES-
Como parte integrante da equipe mul-
TEVÃO, 2005, p.72)
tiprofissional em saúde, o profissional da
Como veremos mais à frente, pensa- educação física atualmente já encontra
mos na importância desse profissional, espaço em programas do Sistema Único
por exemplo, na prevenção da hiperten- de Saúde – SUS. A seguir veremos exem-
são arterial, atuando junto à comunidade plos disso.
em programas que visam minimizar o se-
dentarismo. Além do profissional da edu-
cação física, um programa interdisciplinar
de impacto poderia incluir o médico, o en-
4.3 Academia da Saúde
fermeiro, o nutricionista, o psicólogo, o O ato de exercitar-se precisa estar
farmacêutico, dentre outros profissionais incorporado não somente ao cotidia-
da saúde que pudessem atuar em conjun- no das pessoas, mas também à cul-
to de maneira a prevenir a hipertensão tura popular, aos tratamentos médi-
ou minimizar os danos já instalados pela cos, ao planejamento da família e à
patologia num grupo de indivíduos. A ci- educação infantil. Essa necessidade
tação a seguir mostra a importância do se dá por diferentes fatores: do fa-
profissional da educação física na equipe tor social, quando se proporciona ao
de saúde: homem o direito de estar ativo fisica-
mente em grupo, ao fator econômi-
Na classe médica em geral, a ativi-
co, quando se constata que os custos
dade física permanece desconheci-
com saúde individual e coletiva caem
da e, como tal, ignorada. De maneira
em populações fisicamente ativas.
similar, nutricionistas, enfermeiros,
(ARAÚJO; ARAÚJO, 2000, p.194)
fisioterapeutas e psicólogos não re-
cebem formação que lhes capacitam Esse assunto é tão relevante que ire-
adequadamente para a prescrição mos citar um exemplo que relata uma rea-
de exercício. Cabe, pois, aos profis- lidade do Brasil. O SUS – Sistema Único de
30

Saúde – visa ao cuidado da população ini- meiro, técnico de enfermagem e agente


cialmente no ambiente onde cada ser hu- comunitário de saúde) para desenvolve-
mano vive. Para que o cuidado às pessoas rem atividades nos espaços e nos equipa-
seja garantido foi criada a Atenção Básica, mentos pertencentes ao programa supra-
dentre outras ações em saúde, inclusive citado (BRASIL, 2013).
as Academias da Saúde (DAB, s.d.). Mesmo
Importante destacar que o documen-
sendo de suma importância, não iremos
to não deixa claro que essas atividades
detalhar o funcionamento da Atenção Bá-
deverão ser desenvolvidas por um profis-
sica aqui para não fugir ao escopo deste
sional de educação física, porém apenas
material, apenas tentamos contextualizar
colocar os equipamentos nas praças pú-
para mostrar que mesmo dentro das equi-
blicas, segundo Dominguez (2011), não se
pes do SUS, o profissional da educação fí-
caracteriza como Academia da Saúde.
sica tem o seu local de destaque.
Segundo Steinhilber (apud DOMIN-
As Academias da Saúde foram criadas
GUEZ, 2011), a entrada do profissional da
em 2011 pelo Ministério da Saúde como
educação física no SUS ocorreu antes do
uma estratégia voltada à comunidade
Academia da Saúde, em 2008, com a pro-
para a promoção da saúde e a adoção de
mulgação da Portaria 154, a qual permitiu
hábitos de vida mais saudáveis, algo rele-
a atuação desse profissional nos Núcle-
vante frente à grande incidência de doen-
os de Apoio à Saúde da Família (NASF),
ças crônicas não transmissíveis, como, por
juntamente com as equipes de Saúde da
exemplo, diabetes e hipertensão, as quais
Família. O profissional da educação física
necessitam, por parte do paciente, a ado-
possui todo um diferencial, pois a forma-
ção de um estilo de vida mais saudável.
ção deste permite atuar no sentido de
(DAB, 2014)
promover a saúde, prevenir doenças e re-
Seu objetivo é promover práticas abilitar os pacientes. “A Academia da Saú-
corporais e atividade física, promo- de é também oportunidade de fortalecer
ção da alimentação saudável, educa- o papel dos profissionais de Educação
ção em saúde, entre outros, além de Física como parte da equipe do Sistema
contribuir para produção do cuidado Único de Saúde, cuja entrada é recente”
e de modos de vida saudáveis e sus- (DOMINGUEZ, 2011, p.108).
tentáveis da população. Para tanto,
Em outros locais onde funciona progra-
o Programa promove a implantação
ma semelhante, como em Recife, há con-
de polos do Academia da Saúde, que
curso para o profissional da educação físi-
são espaços públicos dotados de in-
ca que pode atuar nas praças ou em CAPS.
fraestrutura, equipamentos e pro-
fissionais qualificados. (DAB, 2014, O programa enfatiza a importância de
s.p.) se cuidar não apenas do corpo, mas dos
aspectos biopsicossociais, por isso o pro-
Observa-se na Portaria que instituiu a
grama Academia da Saúde não enfatiza
publicação das academias que os municí-
apenas a prática de exercícios físicos vi-
pios podem contratar profissionais além
sando à modificação do esquema corporal
da equipe básica de saúde (médico, enfer-
31

ou a alimentação saudável. 4.4 NASF


O programa nacional marca a ocu- O NASF (Núcleo de Apoio à Saúde da Fa-
pação pela saúde pública de um uni- mília) é uma equipe interprofissional que
verso quase inteiramente dominado atua no sentido de apoiar os profissionais
pelo comércio. Os principais benefí- da Equipe Saúde da Família, Equipes de
cios da atividade física ficam enco- Atenção Básica, compartilhando práticas
bertos diante do apelo ao cuidado e saberes nos territórios assistidos por
estético com o corpo, num círculo em essas equipes. O SUS criou essas equipes
que se estimulam exercícios exage- visando ampliar a abrangência das ações
rados em academias privadas, con- da atenção básica, visando à integralida-
sumo de suplementos vitamínicos de do cuidado. Dentre os profissionais que
e dietas restritivas. (DOMINGUEZ, compõem a equipe, destaca-se o Profes-
2011, p.108) sor/ Profissional da educação física. (DAB,
Os equipamentos instalados em praças 2014).
públicas acabam por proporcionar expe- O NASF não precisa ter uma estrutura
riência ao ar livre (tão rara em pessoas própria, pode funcionar, por exemplo, em
que vivem trancadas em casas e em es- parques, na própria Academia da Saúde,
critórios), convívio com outras pessoas, escolas, dentre outros espaços, visando
momentos de relaxamento, o que tam- prevenção, promoção da saúde, educação
bém traz benefícios. Segundo Dominguez permanente, discussão de casos, cons-
(2011), há alunos do programa Academia trução conjunta de projetos terapêuticos
da Cidade de Recife que relatam perda com as equipes, dentre outras estratégias
significativa de peso após o ingresso no (DAB, 2014).
programa, como também diminuição dos
sintomas de depressão, maior motivação,
maior interação entre o grupo (em pacien-
tes psiquiátricos), socialização (em de-
pendentes químicos), dentre outros.

Nesse sentido, a Portaria nº 2.681


estabelece oito eixos em torno dos
quais as atividades do polo devem
ser desenvolvidas: práticas corpo-
rais e atividades físicas, promoção
da alimentação saudável, mobiliza-
ção da comunidade, educação em
saúde, práticas artísticas e culturais,
produção do cuidado e de modos de
vida saudável, práticas integrativas
e complementares, e planejamento
e gestão. (DAB, 2014, s.p.)
32
UNIDADE 5 - Benefícios da Atividade Física
em Situações Especiais
Após realizarmos uma quebra propo- tem melhor o tempo que lhes resta
sital na linha de raciocínio anterior para de maneira saudável, independente,
contextualizarmos sobre a importân- com autonomia, sentindo-se bem e,
cia do profissional da educação física na dentro do possível, com melhor quali-
equipe multiprofissional de saúde iremos dade de vida. [...] Os exercícios físicos
expor algumas situações especiais onde são fatores de restauração da saúde
é visível a relação entre atividade física e que proporcionam maior equilíbrio
saúde (seja prevenção, promoção ou rea- nesta etapa da vida (BENEDETTI; PE-
bilitação). TROSKI; GONÇALVES, 2003, p.70).

Pelo que foi possível observar até aqui Compreende-se como senescência o
através de pesquisas bibliográficas reali- processo fisiológico de envelhecimento
zadas em diferentes materiais, tais como que compreende alterações nas funções
Leite (2000), Nieman (1999), Powers, orgânicas e mentais. Essas alterações se
Howey (2000), ANS (2009), a atividade dão exclusivamente em decorrência do
física aparece como fator de proteção processo natural de envelhecimento no
(junto com alguns outros) para algumas organismo. Esse processo sofre varia-
doenças, em especial as DCNT, ao mesmo ções em decorrência de fatores ligados
tempo em que o fato de não fazer ativi- ao estilo de vida que o indivíduo assume
dade física regularmente aparece como desde a infância e adolescência, como,
fator de risco (dentre outros fatores) por exemplo, prática regular de exercício
para esse mesmo tipo de doenças. físico ou sedentarismo, hábitos nutricio-
nais, tipo de atividade nutricional, vícios,
Como devido às limitações de espaço
dentre outros (LEITE, 2000).
para desenvolver a apostila fica impossí-
vel abordar, em particular, todas as situa- Segundo Nóbrega et al. (1999), o en-
ções que envolvam os benefícios da ati- velhecimento é um ciclo vicioso marcado
vidade física, selecionamos aqui alguns por eventos biopsicossociais, ilustrados
casos – em especial os fatores de risco na figura a seguir. Porém, nos indivíduos
relacionados às DCNT (como o avanço da que têm um estilo de vida ativo e saudá-
idade) – os quais serão abordados a se- vel as alterações que vão surgindo com a
guir. Vale a pena ressaltar que, para um idade podem ser minimizadas, assim, tor-
maior aprofundamento sobre o tema, ao na-se compreensível que a qualidade de
final da apostila, nas referências, é possí- vida do idoso será melhor.
vel recorrer às obras completas consulta-
das para a confecção deste material.

5.1 Atividade física na pro-


moção da saúde do idoso
É um desafio fazer com que os ido-
sos durante sua existência aprovei-
33

Figura 06: Ciclo vicioso do envelhecimento


Fonte: NÓBREGA et al. (1999, p.208).

Segundo Leite (2000), sabe-se que imperceptíveis.


a incidência de doenças degenerativas
Mesmo com todas as limitações que
aumenta significativamente após os 35
possam ou não vir acompanhadas do pro-
anos, mas é imprescindível fazer uma bre-
cesso de envelhecimento “homem é um
ve diferenciação entre envelhecimento
ser em movimento e a atividade física
saudável e patológico.
exerce um papel muito importante em re-
Rowe e Khan (1998), estudiosos do as- lação aos idosos, nos aspectos de saúde,
sunto, definiram o envelhecimento nor- sociabilidade e vitalidade” (LEITE, 2000,
mal como aquele marcado por eventos p.236). Assim, observa-se que a atividade
físicos, cognitivos e sociais já esperados física é uma forma viável de se alcançar a
para essa fase da vida, como, por exem- qualidade de vida na terceira idade. É es-
plo, pequeno déficit visual e diminuição na sencial acabar com o sedentarismo, mas,
velocidade de realização das tarefas. Já o para isso, os exercícios físicos precisam
envelhecimento patológico é aquele mar- ser adaptados para o estado físico e psí-
cado por uma série de perdas associadas quico de cada idoso. Mais uma vez refor-
à idade, como, por exemplo, as doenças çamos a importância não somente do pro-
degenerativas, como o Alzheimer. Final- fissional da educação física, mas de toda a
mente, temos o envelhecimento bem su- equipe multidisciplinar de saúde, em bus-
cedido, que é aquele além das expectati- ca dos melhores resultados possíveis para
vas, onde os declínios são praticamente o idoso.
34

A importância das atividades é justifi- se atentar sempre aos aspectos psicosso-


cada não apenas por teóricos da educação ciais, mas em relação aos aspectos fisioló-
física. Uma das teorias sociológicas do en- gicos, algumas particularidades precisam
velhecimento, a Teoria da Atividade, ilus- ser levadas em conta:
tra bem isso.
Os idosos apresentam menores ín-
Segundo essa teoria, quanto mais ati- dices de flexibilidade, elasticidade
vas as pessoas se mantêm ao longo da muscular e mineralização óssea. Esses
vida melhor será seu processo de enve- declínios de função de todo o aparelho
lhecimento (PAPALIA; OLDS, FELDMAN, locomotor reduzem a aptidão motora
2006). Independente da idade, as neces- do idoso, que apresenta uma maior in-
sidades psicológicas e sociais se mantêm, cidência de artrose, fraturas e osteo-
portanto, é importante que o indivíduo porose. O grau de limitação da função
mantenha suas relações sociais (SIQUEI- do aparelho locomotor depende do
RA, 20002). quanto sedentário foi ou é o indivíduo.
Idosos que mantiveram programas de
Para Deps (2006), o desempenho de
ginástica e de desenvolvimento de for-
atividades contribui para reforçar o valor
ça desde a juventude apresentam em
social, reforçam o autoconceito e o senti-
geral níveis de força muscular e flexi-
mento de autoeficácia. Isso tudo auxilia o
bilidade bastante satisfatórios para
idoso a lidar com as situações estressan-
tarefas físicas simples ou mesmo com-
tes de perdas e declínio das forças físicas,
plexas. [...] No idoso, a coordenação, o
comuns nessa etapa da vida.
equilíbrio, os reflexos neuromotores,
Numa pesquisa realizada com idosos entre outros, diminuem com o avan-
integrantes de grupos, Miranda e Banhato çar da idade, tornando muitas tarefas
(2008) concluíram que, naquela amostra, simples, como arrumar própria a cama,
os idosos entrevistados atribuíram à ati- servir um café, vestir-se sem auxílio do
vidade uma forma de crescimento pesso- outro, bastante complicadas. (LEITE,
al, ao mesmo tempo em que reforça neles 2000, p. 236).
os sentimentos de valor pessoal, o que é
Nóbrega e colaboradores (1999) apon-
muito importante nessa faixa etária.
tam outras importantes alterações, tais
Muitas vezes, o idoso, já aposentado, como alterações estruturais cardíacas,
terá a atividade física como a substituta limitações cardiovasculares, redução da
de sua atividade de trabalho num momen- força máxima e da massa óssea.
to de lidar com perdas (da saúde, saída dos
A AF se constitui em um excelen-
filhos de casa, de entes queridos).
te instrumento de saúde em qualquer
Porém, antes de iniciar qualquer tipo faixa etária, em especial no idoso, in-
de atividade física, faz-se necessária uma duzindo várias adaptações fisiológicas
consulta médica para a realização de uma e psicológicas, tais como:
avaliação detalhada e a investigação dos
– aumento do VO2 máx;
fatores de risco (POWERS; HOWEY, 2000).
O profissional da educação física precisa – maiores benefícios circulatórios
35

periféricos; ao fato de que as perdas relacionadas ao


– aumento da massa muscular; processo de envelhecimento e a institu-
– melhor controle da glicemia; cionalização em si podem interferir nega-
tivamente na autoestima, na autoimagem
– melhora do perfil lipídico;
e, consequentemente, na qualidade de
– redução do peso corporal; vida dos idosos. Dentre os resultados, foi
– melhor controle da pressão arte- possível realizar um trabalho mesmo com
rial de repouso; as pessoas mais debilitadas, o que melho-
– melhora da função pulmonar; rou a imagem corporal delas. A atividade
– melhora do equilíbrio e da marcha; física, além de prevenir a dependência,
foi percebida como um estímulo para o
– menor dependência para realiza-
bem-estar das idosas, pois, melhora a au-
ção de atividades diárias;
tonomia e a independência e, consequen-
– melhora da autoestima e da auto-
temente, a autoestima e a autoimagem.
confiança;
Ao final do projeto, os pesquisadores
– significativa melhora da qualidade também puderam concluir o quanto seria
de vida (NOBREGA et al., 1999, p.209) importante a contratação de profissionais
A atividade física pode auxiliar a recu- da educação física nas instituições de lon-
perar o ritmo e a expressividade do corpo, ga permanência para idosos.
agilizar os reflexos, garantir flexibilida-
de, prevenir rigidez articular, melhorar a
5.2 Atividade física e diabe-
capacidade cardiorrespiratória, o sono, tes
diminui a incidência de lesões, melhora a Para fins didáticos, a literatura pes-
saúde física e mental, em síntese, a ati- quisada sobre epidemiologia enfatiza o
vidade física auxilia a tornar o idoso mais aumento alarmante de um subtipo dessa
autossuficiente (NIEMAN, 1999). patologia na atualidade, portanto, aqui
iremos nos concentrar apenas às ques-
Em suma, muitos estudos têm mos-
tões relacionadas à atividade física e o
trado que o exercício físico pode “re-
portador de diabetes melitus tipo 2.
juvenescer” a velhice, atenuando: 1) o
grau de osteoporose; 2) a redução dra- A Sociedade Brasileira de Diabetes
mática da capacidade máxima cardior- (SBD, s.d.) define o diabetes tipo 2 ou não
respiratória após os 30 anos; 3) a per- insulinodependente como o tipo que aco-
da de massa muscular e 4) o aumento mete mais de 90% da população, normal-
da gordura corporal com o avançar da mente maiores de 40 anos. Atualmente,
idade (LEITE, 2000, p.239). porém, devido aos maus hábitos nutricio-
nais, sedentarismo e stress, observa-se
Benedetti, Petroski e Gonçalves (2003)
também esse tipo de diabetes em pesso-
fizeram uma proposta de intervenção de
as mais jovens.
incluir um programa de prática sistemá-
tica de exercícios físicos na rotina de um Segundo Powers e Howey (2000), os
grupo de idosas internas numa instituição sinais de advertência da doença são mic-
asilar. Justificou-se esse programa devido ção frequente; sede e fome exagerada;
36

perda rápida de peso; fraqueza; fadiga; ir- O diabetes reduz a expectativa de


ritabilidade; náuseas e vômitos. vida em 5-10 anos e aumenta o risco de
doença arterial coronariana (DAC) em
Segundo as Diretrizes da Sociedade
2-4 vezes. O exercício é um forte aliado
Brasileira de Diabetes (2014), o número
na predição desse risco nos diabéticos,
de diabéticos é crescente devido a outros
assim como na sua redução por meio
fatores, além dos já citados anteriormen-
da prática regular (SBD, 2014, p.41).
te, como crescimento e envelhecimento
populacional, maior urbanização e maior Como já foi falado anteriormente, a pre-
sobrevida dos portadores da doença. En- venção primária remete-se à educação em
tretanto, mesmo percebendo que a ex- saúde, tarefa de grande responsabilidade
pectativa de vida deles é maior, sabe-se para todos os profissionais da equipe in-
que os custos econômicos da doença im- terdisciplinar de saúde, dentre eles, o pro-
pactam o indivíduo, a família, a socieda- fessor de educação física. Nieman (1999)
de e o Estado. Para o paciente e a doença corrobora desse ponto de vista ao falar
existe também toda a carga de dor, ansie- sobre a importância dos profissionais da
dade, sofrimento, possível abandono do saúde encorajarem os pacientes diabéti-
trabalho, depressão, dentre outros incon- cos a fazerem algum exercício físico. En-
venientes psicossociais que podem ser tretanto, o autor relata que, num estudo
associados à patologia. realizado, poucos pacientes afirmaram já
terem recebido esse tipo de orientação.
Nieman (1999) reforça que grande par-
cela dos casos de diabetes tipo 2 poderia Em relação à prevenção secundária, há
ser evitável e tratável por meio da melho- o controle metabólico, da hipertensão e
ria nos hábitos no estilo de vida, ou seja, da dislipidemia, prevenção das possíveis
dieta ideal a longo prazo, exercícios físicos complicações (úlceras e possíveis ampu-
e obtenção do peso ideal. Na maioria dos tações em membros inferiores, problemas
casos, havendo essa real mudança, não se oculares, dentre outros). Observa-se que,
faz necessária a administração de medi- nessas diretrizes, o papel do profissional
camentos. da educação física encontra-se em nível
de prevenção primária, porém ocupando
Pensar em prevenção primária da do-
um local de destaque.
ença é essencial, pois, como já vimos, mi-
nimizam-se os custos e é possível garantir Há evidências de que o exercício físi-
um melhor tratamento ao paciente. No co atua na prevenção do diabetes, espe-
caso do diabetes tipo 2, a prevenção con- cialmente em grupos de risco, como, por
siste em intervenções na dieta, inclusão exemplo, os obesos e aqueles com históri-
de atividades físicas na rotina visando à co familiar de diabetes. A incidência de dia-
redução de peso, pôr fim ao tabagismo. betes tipo 2 é menor dentre os indivíduos
Importante destacar que esses tipos de ativos e com melhor condição aeróbica.
prevenção enfocam os aspectos modifi- Porém, os diabéticos apresentam menor
cáveis, já que alguns, como o histórico fa- condição aeróbica, menos força muscular
miliar, não podem ser modificados (SBD, e menos flexibilidade se comparados com
2014). pessoas em igual condição (idade e sexo),
37

porém, não diabéticas. Por outro lado, os prometimento sistêmico ocasionado pela
diabéticos fisicamente ativos apresentam doença. Nesse sentido, antes de se iniciar
melhor prognóstico se comparados com qualquer atividade, é essencial que o dia-
os inativos (SBD, 2014). bético se submeta a uma avaliação com-
pleta, incluindo avaliações cardiológica,
Ainda as Diretrizes da SBD (2014) elu-
vascular, renal, oftalmológica e o teste er-
cidam que, de maneira geral, qualquer
gométrico, caso o diabético queira iniciar
atividade física pode ser executada pelo
um programa de exercícios de intensida-
diabético, porém a equipe multidisciplinar
de moderada a alta e atenda às condições
deve estar atenta para quaisquer compli-
abaixo:
cações e limitações impostas pelo com-

Tabela 02: Avaliação do paciente com Diabetes melitus antes


do início do programa de exercícios físicos
Fonte: SDB (2014, p.42).

No tratamento do diabetes pode- res concentrações basal e pós-prandial


mos destacar que o exercício físico é de insulina, bem como pela redução da
um importante aliado, atuando sobre o hemoglobina glicada nos diabéticos fi-
controle glicêmico e sobre outros fato- sicamente ativos, quando em compa-
res de comorbidade, como a hiperten- ração com os sedentários (SBD, 2014,
são e a dislipidemia, e reduzindo o risco p.41).
cardiovascular. [...] o exercício facilita o
É recomendável iniciar o programa de
metabolismo glicídico e sua eficiência,
exercícios com atividades leves, aumen-
melhorando a regulação glicêmica, o
tando gradativamente sua intensidade e
que pode ser observado pelas meno-
duração, assim, pode-se conseguir o con-
38

trole adequado da glicemia, minimizando quecimento. Exercícios de fortalecimen-


as chances de ocorrência de uma resposta to, resistência, flexibilidade também são
hipoglicêmica. Com isso, cria-se a habitua- indicados. A frequência mais indicada é
ção ao exercício, além de atingir os benefí- diária, ou pelo menos a cada dois dias e a
cios realizados à sensibilidade da insulina duração dos exercícios deve ser planejada
e perda de peso (POWERS; HOWEY, 2000). de forma a minimizar os riscos de hipogli-
cemia. “A recomendação mais atual para
A SBD (2014) indica para o diabéti-
diabéticos é de 150 minutos de exercícios
co exercícios aeróbicos envolvendo os
de moderada intensidade por semana ou
grandes grupos musculares (como, por
75 minutos de exercícios de alta intensi-
exemplo, caminhada, natação, corrida, ci-
dade por semana ou uma combinação de
clismo), prescritos de forma contínua ou
ambos” (p.42). A intensidade de exercício
intervalada, precedidos por exercícios de
recomendada pode ser ilustrada no qua-
aquecimento e finalizados pelos de desa-
dro abaixo:

Tabela 03: Classificação da intensidade do exercício


Fonte: SBD (2014, p.42).

5.3 Atividade física e hiper- repousa brevemente entre uma batida e


outra a pressão cai e é denominada dias-
tensão arterial tólica. (NIEMAN, 1999) Assim, a partir des-
Para definirmos o que é hipertensão sa definição essencialmente simplista,
arterial faz-se necessário, primeiramen- compreendemos que a pressão arterial é
te, recorrermos a uma simplificada defini- indispensável à nossa sobrevivência.
ção de pressão arterial.
A hipertensão arterial é uma patolo-
As artérias são os vasos sanguíneos gia relacionada a esta pressão do sangue
que transportam o sangue do coração contra as paredes das artérias. Segundo
para todos os órgãos e tecidos do corpo. a SBH (2014), a tabela a seguir mostra os
Esse sangue realiza uma força contra a níveis das pressões sistólica e diastólica
parede das artérias, força que é chama- no organismo humano. Observem quando
da de pressão arterial. A pressão é maior ela é considerada normal e os casos onde
quando o coração se contrai, bombeando já se considera que há hipertensão.
sangue para as artérias, o que chamamos
de pressão sistólica. Quando o coração
39

Tabela 04: Definições e classificações dos níveis de pressão


arterial no consultório em mmHg
Fonte: SBH (2014, p.13).

Nieman (1999, p.195) adverte que a néfica tanto para a prevenção quanto
hipertensão arterial é definida como uma para o tratamento da hipertensão arte-
“assassina silenciosa” por ser uma doença rial, assim como para a redução do risco
que não costuma apresentar sinais pre- de mortalidade. Exercícios aeróbicos, tais
coces, porém, seus riscos a longo prazo como caminhada, corrida, ciclismo e nata-
podem ser muito graves, incluindo o óbi- ção, em frequência de 5 a 7 dias por sema-
to. A Sociedade Brasileira de Hipertensão na, em treinos de intensidade moderada,
(s.d.) postula que a doença ataca os vasos, de 30 minutos de duração mostraram-se
coração, rins e cérebro, homens e mulhe- satisfatórios. Treinos isométricos não são
res, brancos e negros, de todas as idades recomendados. (SBH, 2014)
e condições socioeconômicas.
Segundo Nieman (1999), quando uma
Assim como o diabetes é uma doença pessoa pratica atividade aeróbica sua
que pode ser prevenida ou tratada desde pressão arterial sobe acentuadamente.
o início, minimizando custos financeiros e Após o término da atividade, a tendência
sofrimentos biopsicossociais para todos é a pressão cair abaixo dos níveis normais
os envolvidos. A aderência ao tratamen- por um período de 30 a 120 minutos. Nos
to é de suma importância, assim como hipertensos esse efeito é bastante inten-
a atenção multidisciplinar, que inclui o so.
profissional da educação física. Nieman
Importante destacar que, segundo
(1999) mostra que, além da importância
Powers e Howey (2000), nos hipertensos
da terapêutica medicamentosa, o trata-
que praticam atividade física e fazem uso
mento da hipertensão arterial implica em
de medicação, é importante realizar afe-
mudanças no estilo de vida, que incluem
rição frequente da pressão arterial, pois,
perda de peso, mudanças no padrão nu-
caso necessário, o médico deverá ser in-
tricional (principalmente redução de sal e
formado para que, a critério dele, o esque-
ingestão de potássio), limitar ingestão al-
ma medicamentoso possa ser alterado.
coólica, praticar exercícios regularmente.
“Em outras palavras, a prática de exercí-
A atividade física regular pode ser be- cios pode diminuir a pressão arterial pelos
40

efeitos benéficos e aditivos das sessões O profissional da educação física deve


regulares de atividade física” (NIEMAN, ter todo um cuidado ao lidar com o obeso,
1999, p.198). visto que esse pode ter sua autoestima
abalada. Leite (2000) aponta alguns fato-
5.4 Atividade física e contro- res que podem dificultar, no obeso, a rea-
le de peso lização dos exercícios, como o excesso de
peso pode dificultar a realização dos mo-
“Alguns denominaram nossa época
vimentos, o exercício em si pode causar
como a ‘era da ansiedade calórica’, na qual
desconforto, o obeso, por sua autoima-
nós temos como padrão de beleza a ma-
gem negativa, pode se recusar a realizar
greza, mas, como hábito de vida, a abun-
atividade física em locais públicos e ficar
dância” (NIEMAN, 1999, p.227).
entediado de fazer exercícios sempre em
A obesidade é uma doença crônica não casa, sozinho.
transmissível caracterizada pelo acúmulo
Em resumo, os exercícios aeróbicos
excessivo de gordura, a qual acarreta uma
moderados durante a redução de peso
série de prejuízos à saúde dos indivíduos,
auxiliam a melhorar o estado de saúde
inclusive favorecer o surgimento de pato-
e a aptidão física do indivíduo, enquan-
logias que, a longo prazo, podem evoluir
to o poder real atrás da perda de peso
para o óbito, como o diabetes tipo 2 e ou-
origina-se de uma redução no número
tras doenças. Envolve fatores genéticos
de calorias (em articular, de gorduras
(como já discutimos, os quais não podem
dietéticas) consumidas (NIEMAN, 1999,
ser modificados), e ambientais, ou seja,
p.240).
passíveis de mudança (PINHEIRO; FREI-
TAS; CORSO, 2004). Segundo Nieman (1999), dentre os
riscos associados à obesidade podem-se
As causas da obesidade podem ser
destacar dificuldades emocionais (como
neurológicas, endócrinas, genéticas, esti-
baixa autoestima e depressão) aumento
lo de vida sedentário, farmacológicas, am-
de osteoartrite; aumento de incidência de
bientais e psicológicas. Para o profissional
hipertensão arterial e diabetes; aumen-
da educação física, torna-se muito impor-
to dos níveis de colesterol; aumento dos
tante investigar quando os agravantes
riscos de doença cardíaca, câncer e mor-
da obesidade são distúrbios psicológicos,
te prematura. O autor pontua que um dos
inatividade física e influência genética. O
grandes problemas é que a maioria dos
sedentarismo pode ser causa ou efeito da
tratamentos enfoca a obesidade como
obesidade. (LEITE, 2000).
uma doença aguda (que se resolve num
Em outras palavras, mesmo que o curto período de tempo), sendo que, na
exercício não auxilie uma pessoa a verdade, é uma doença crônica (que já es-
perder rapidamente grandes quanti- tudamos anteriormente, como a própria
dades de peso corporal, se o objetivo hipertensão arterial). O objetivo final de
é evitar sua recuperação, o exercício um tratamento para a obesidade é a re-
regular pode ser a sua chave (NIEMAN, educação alimentar, perda de peso e sua
1999, p.242). manutenção, portanto, são recomendá-
41

veis programas que incluam dieta, exercí-


cios, modificação de comportamento, vi-
sando sempre resultados de longo prazo.

Em conjunto com os profissionais de


saúde, é importante que o usuário dos
serviços de saúde reconstrua o modelo
de vida saudável e incorpore mudan-
ças de estilo de vida. Não desprezando
as limitações socioeconômicas, pre-
sentes na vida da maioria dos usuá-
rios dos serviços públicos de saúde no
Brasil, é fundamental que a população
portadora de excesso de peso assuma
o ônus de reestruturar suas práticas
mais cotidianas de saúde, empenhan-
do-se no aumento de seu tempo de
prática de atividade física, bem como
a opção por alimentos menos ricos em
gordura e menos energéticos (PINHEI-
RO; FREITAS; CORSO, 2004, p.531).
42
UNIDADE 6 - Saúde x Doença: Transtornos
Alimentares e da Imagem Corporal
Numa sociedade marcada pelo culto contribuem para o desenvolvimento e a
ao corpo, onde a necessidade de se mos- manutenção do transtorno (BORGES et
trar se faz evidente, marcada pela busca al., 2006).
incessante aos ideais de beleza impos-
Dentre os fatores psicológicos, um que
tos pela mídia, os quais são muitas vezes
merece destaque é a autoestima. Ter
inatingíveis pela maioria das pessoas, os
uma boa autoestima é fator protetor não
transtornos alimentares e da imagem
apenas para os transtornos alimentares,
corporal tornam proporções alarmantes
mas, sem sombra de dúvidas, uma pes-
e merecem a atenção do profissional da
soa com boa autoestima é uma pessoa
educação física.
mais saudável, que lida melhor com as
Os atletas se submetem a rígidos adversidades impostas pela vida. Mas, o
programas de exercícios por moti- que é autoestima? Segundo Papalia, Olds
vações intrínsecas muitas vezes não e Feldman (2006), autoestima significa
decifradas, que incluem autorrealiza- gostar de si mesmo de modo genuíno e
ção, competência social, prazer pelo altruísta; não se trata de excesso de va-
sucesso, estabilidade emocional, de- lorização de si mesmo ou de arrogância
senvolvimento moral e, por último, e egocentrismo. Gostamos do que real-
melhora das capacidades motoras mente somos, aceitando nossas próprias
e cardiorrespiratórias (LEITE, 2000, habilidades e limitações. O papel do outro
p.4). é importante no desenvolvimento da au-
toestima, sejam eles familiares, amigos,
Definem-se como transtornos alimen-
ou mesmo desconhecidos. Afirmar que
tares, os transtornos psiquiátricos que
um sujeito possui uma autoestima eleva-
se caracterizam por alterações graves
da é o mesmo que dizer que ele tem um
no comportamento alimentar. Esse pro-
julgamento positivo de si mesmo.
blema acomete, em sua maioria, adoles-
centes e adultos jovens do sexo femini- A partir dessa definição, é possível
no, entretanto, não se deve utilizar esse perceber que a autoestima de uma pes-
padrão como regra, já que os transtor- soa com transtorno alimentar (ou às vias
nos acometem também pessoas do sexo de desenvolver um desses transtornos)
masculino, mais maduras, de diferentes não é positiva, por isso, é necessária uma
classes socioeconômicas. As consequên- atenção especial no que diz respeito à
cias são graves, não apenas do aspecto atenção a este público-alvo, o que será
físico, mas do ponto de vista biopsicos- melhor elucidado a seguir.
social, podendo inclusive culminar com
Outro conceito que precisa ser escla-
a morte. Assim como a doença afeta a
recido e que caminha muito próximo da
qualidade de vida como um todo, há de se
autoestima é a autoimagem. Define-se
compreender que fatores biológicos, ge-
autoimagem como a forma como as pes-
néticos, psicológicos, familiares e sociais
soas vêm e percebem o seu próprio cor-
43

po, percepção essa que sofre influência sinaliza pesquisa de Pereira e colabora-
de aspectos físicos, psicológicos e cultu- dores (2009).
rais. Importante destacar que a insatis-
Para ilustrar melhor o conceito de au-
fação com a imagem corporal é comum
toimagem, a figura a seguir mostra a
nos transtornos alimentares, associados
escala de Stunkard et al. (1983), instru-
à adolescência, como também na fase do
mento utilizado por profissionais da edu-
envelhecimento, marcada por uma série
cação física para avaliar a percepção cor-
de mudanças no esquema corporal, como
poral dos indivíduos.

Figura 07: Conjunto de silhuetas proposto por Stunkard et al. para avaliação da imagem corporal
Fonte: PEREIRA et al. (2009, p.56).
Os distúrbios alimentares podem ser Estratégias simples, como não incenti-
ocasionados tanto por fatores invariá- var um atleta de competição a utilizar es-
veis – como genética, personalidade e tratégicas como jejum, restrição de líqui-
antecedentes familiares – quanto por dos, uso de diuréticos e laxantes antes de
fatores mutáveis, como aqueles relacio- pesagem são muito válidas, pois podem
nados ao ambiente esportivo e sociocul- trazer consequências negativas à saúde
tural (WEINBERG; GOULD, 2006). Por isso dos atletas a longo prazo (WEINBERG;
é importante que o profissional da edu- GOULD, 2006).
cação física compreenda esses fatores e
Comentários de técnicos e compa-
encaminhe o atleta para ajuda profissio-
nheiros de equipe podem ser perigosos
nal caso detecte algo anormal com ele.
no sentido de parecerem pressão para a
Em muitos dos casos, o profissional da
perda de peso. Um bom técnico conhece
educação física (seja ele técnico, instru-
métodos seguros e efetivos para o con-
tor, professor, personal trainer) é o pri-
trole de peso e deve incentivar seus atle-
meiro a perceber que há algo errado com
tas a utiliza-los. “Nunca se sabe quan-
a pessoa que apresenta os sintomas. O
to um comentário descuidado, mesmo
problema é grave, precisa de tratamento
quando a intenção é fazer piada, pode ser
multiprofissional e não irá se corrigir so-
interpretado erroneamente e contribuir
zinho.
para um distúrbio alimentar” (WEINBERG;
44

GOULD, 2006, p.437). rante as refeições, observa-se que essas


pessoas beliscam a comida, remexem o
A citação provém de autores interna-
prato, comem alimentos pouco calóri-
cionais, porém, num estudo recente com
cos e mentem sobre a sua alimentação
ginastas brasileiras Fortes, Almeida e
(WEINBERG; GOULD, 2006).
Ferreira (2014) perceberam que a inter-
nalização do ideal de magreza influen- Geralmente os pacientes relatam
ciou uma amostra de jovens atletas de que o início do quadro se deu após
ginástica artística do sexo feminino a um fator estressante como algum co-
adotarem comportamentos compulsivos mentário sobre seu peso, ou o término
e purgativos, ou seja, bulímicos. Além de relacionamento, ou perda de ente
da cobrança da mídia por esses ideias querido. Paulatinamente, o paciente
de beleza, muitas vezes inatingíveis na passa a viver exclusivamente em fun-
pesquisa, também foi possível observar ção da dieta, do peso, da forma corpo-
que muitos treinadores também fazem ral, das atividades físicas, de tabela
cobranças nocivas para essas jovens. Os de calorias e do medo patológico de
pesquisadores concluíram que esses pro- engordar. Concomitantemente, es-
fissionais da educação física poderiam ses pacientes apresentam traços de
auxiliar muito as atletas caso mostras- personalidade como preocupações e
sem para elas que em muitas situações cautela em excesso, medo de mudan-
os corpos mostrados pela mídia não se ças, hipersensibilidade e gosto pela
passam de modelos inatingíveis. ordem. (BORGES et al. 2006, p.341)

6.1 Anorexia 6.2 Bulimia


Segundo Borges e colaboradores A bulimia é um transtorno alimentar
(2006), a anorexia nervosa é um trans- também sério, porém sua gravidade é me-
torno alimentar que se caracteriza por nor que a anorexia. Normalmente, os bu-
perda significativa de peso que acon- límicos são pessoas de baixa autoestima
tece após ocorrência de dieta extrema- que se tornam depressivas e, num com-
mente restrita. A pessoa que sofre com portamento compulsivo, comem excessi-
esse transtorno apresenta uma verda- vamente numa tentativa de se sentirem
deira busca desenfreada pelo padrão de melhor. Porém, com a ingestão excessiva
magreza que deseja atingir e a sua au- surge o sentimento de culpa, assim o in-
toimagem encontra-se distorcida. Além divíduo induz o vômito ou toma laxantes
disso, as mulheres com esse problema numa tentativa de expelir o que foi inge-
começam a apresentar alterações do ci- rido compulsivamente. Ao contrário do
clo menstrual. que acontece com o anoréxico, o bulími-
co sabe que tem um problema, porém em
O portador da anorexia nervosa pos-
alguns casos a bulimia pode levar à ano-
sui o agravante de não se enxergar como
rexia. No dia a dia é comum observar que
anormal, correndo sério risco de morte
essas pessoas escondem comida e desa-
por inanição ou devido a complicações
parecem após as refeições (normalmen-
decorrentes de seu estado de saúde. Du-
te é comum o vômito ou a diarreia como
45

efeito dos laxantes) (WEINBERG; GOULD, Como pessoas com esses transtornos
2006). estão presentes em diferentes locais
e contextos, é muito importante que o
Embora a anorexia e a bulimia sejam
profissional da educação física conheça
de especial preocupação nos esportes
suas características em busca de dife-
que enfatizam a forma (p. ex., ginás-
renciá-los, além de, como será elucidado
tica, mergulho e patinação artística)
a seguir, também atuar em prol da pro-
ou o peso (p. ex., luta), há atletas com
moção e da reabilitação da saúde desses
distúrbios alimentares em uma gran-
indivíduos. A tabela a seguir visa fazer
de variedade de esportes (WEINBERG;
uma comparação ente as características
GOULD, 2006, p.437).
clínicas da anorexia e da bulimia.

Tabela 05: Diferenças clínicas entre anorexia e bulimia


Fonte: adaptado de Philippi, S. T. et al. (2004 apud BORGES et al. 2006, p. 345).
46

6.3 Dismorfia muscular ou ticas, já há mulheres com o transtorno.


Muitos profissionais da educação física,
vigorexia até sem perceber, apresentam os sin-
Ao contrário do que foi abordado até tomas e, assim como seus clientes, pre-
aqui, com a anorexia e bulimia, transtor- cisam de tratamento adequado. Não se
nos associados à percepção da imagem pode confundir vaidade, saúde, busca da
corporal que atingem principalmente beleza dentro de padrões saudáveis, res-
mulheres, a dismorfia muscular (ou vigo- peitando-se o biótipo de cada um, com a
rexia) é um transtorno que acomete, em busca desenfreada pela beleza, pela for-
sua maioria, indivíduos do sexo masculi- ça, pelo inatingível, rompendo o limite da
no. Segundo Assunção (2002), a preocu- saúde física e mental.
pação desses homens em relação à sua
autoimagem diz respeito a tornarem-se 6.4 Abuso de substâncias
fortes e musculosos, padrão de corpo
ideal, imposto pela mídia, ou seja, seme-
nos esportes
lhante ao que ocorre com o padrão de cor- Uma das razões para os atletas utiliza-
po magro, almejado por muitas mulheres. rem drogas é a melhora de seu desempe-
Outro fator que se assemelha à anorexia nho. Para vencer uma competição, mes-
diz respeito à busca de tratamento: em mo por meios ilícitos, atletas recorrem a
ambos os casos os indivíduos não reco- drogas que acarretam riscos à saúde em
nhecem estarem doentes, por isso é im- busca de aumento de força, resistência,
portante que o profissional da educação alerta e agressividade, ao mesmo tem-
física e os familiares se atentem aos si- po em que diminuem a fadiga, o tempo
nais de alerta e a equipe multidisciplinar de reação e ansiedade. Outra razão não
se empenhe para conscientizar o indiví- diz respeito às competições, mas àque-
duo sobre o problema e a necessidade de les praticantes de exercícios físicos que
tratamento. usam esteroides para parecerem mais
bonitos, atraentes para o sexo oposto,
Um homem grande e musculoso que mais fortes (WEINBERG; GOULD, 2006).
tem a dismorfia muscular sente-se pe-
queno e franzino quando se olha no es- As anfetaminas e diuréticos diminuem
pelho. Em consequência dessa percepção o peso rapidamente, por isso, atletas
distorcida adota algumas medidas, tais utilizam antes de competirem numa ca-
como dieta hiperproteica, suplementos tegoria de peso mais baixa. A razão mais
alimentares, uso de anabolizantes, ativi- comum para o uso de drogas recreativas
dade física exagerada (focam na muscu- entre os atletas é psicológica. As compe-
lação e rejeitam atividade aeróbica). As tições geram estresse e ansiedade, ou-
consequências desse estilo de vida im- tros querem desenvolver autoconfiança
pactam o funcionamento biopsicossocial (WEINBERG; GOULD, 2006).
do indivíduo (OLIVARDIA, 2001 apud AS- Amigos, pais e técnicos frequente-
SUNÇÃO, 2002). mente estabelecem altas expectati-
A dismorfia muscular atualmente é vas de sucesso e os atletas podem ver
muito frequente nas academias de ginás- as drogas como um recurso para aju-
47

dar a combater suas fontes de estres-


se e proteger a autoestima. Portanto,
os profissionais de condicionamento
e esporte têm um papel importante
a desempenhar no aumento da auto-
estima dos participantes. Agindo as-
sim, eles podem erguer uma barreira
ao abuso de substâncias. Felizmente,
esporte e afetividade física parecem
ser excelentes veículos para melho-
rar a autoestima (WEINBERG; GOULD,
2006, p.443).

O profissional da educação física pode


atuar na prevenção do abuso de substân-
cias ilícitas entre os esportistas. É impor-
tante promover a autoestima e a auto-
confiança dos esportistas, pois, como já
foi comentado, assim eles terão menor
probabilidade de recorrerem às drogas.
O técnico não pode manter a pressão de
vencer a qualquer custo, pois esse am-
biente de pressão excessiva também
pode ser muito patológico para alguns. O
profissional também deve preocupar-se
em dar um bom exemplo em relação ao
uso de substância, lembrando-se de que
ele é um formador de opiniões e que seu
comportamento será imitado. “O técnico
que deixa que o resultado de desempe-
nho suplante a preocupação com a saúde
e o bem-estar do jogador e tão desones-
to e antiético na realização de seu tra-
balho quanto o atleta que toma drogas”
(WEINBERG; GOULD, 2006, p.444).
48

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