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Cassiopeia foi o primeiro longa-metragem digital do mundo feito em computadores pessoais entre 1992-1996, mas foi ofuscado pela estreia de Toy Story em 1995. Embora pioneiro tecnologicamente, Cassiopeia teve dificuldades infraestruturais e burocráticas e não obteve o reconhecimento devido, apesar de sua animação inovadora e mensagem de solidariedade.
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Breve crítica do filme Cassiopéia (1996), de Clóvis Vieira.
Cassiopeia foi o primeiro longa-metragem digital do mundo feito em computadores pessoais entre 1992-1996, mas foi ofuscado pela estreia de Toy Story em 1995. Embora pioneiro tecnologicamente, Cassiopeia teve dificuldades infraestruturais e burocráticas e não obteve o reconhecimento devido, apesar de sua animação inovadora e mensagem de solidariedade.
Cassiopeia foi o primeiro longa-metragem digital do mundo feito em computadores pessoais entre 1992-1996, mas foi ofuscado pela estreia de Toy Story em 1995. Embora pioneiro tecnologicamente, Cassiopeia teve dificuldades infraestruturais e burocráticas e não obteve o reconhecimento devido, apesar de sua animação inovadora e mensagem de solidariedade.
Pouca gente se lembra, mas em 1996 o cinema brasileiro já contabilizava um
filme 100% digital. Iniciada em 1992, Cassiopeia, animação dirigida por Clóvis Vieira, que levou quatro anos para ficar pronta, com orçamento aproximado de US$ 1,2 milhão. Cassiopeia era um sério candidato ao posto de primeiro longa-metragem digital já feito no mundo, se não fosse uma série de contratempos e a poderosa mobilização da Disney. Embora tenha sido iniciado depois, Toy Story, de John Lasseter, produto de uma união às pressas entre a Disney e a Pixar, acabou sendo lançado ainda em novembro de 1995, pouco antes que o filme de Vieira, mas com a propaganda e difusão maciça habituais de um legítimo blockbuster. Enquanto o americano era criado por meio de softwares de última geração, Cassiopeia era produzido em dezessete lentos PCs 486, por uma equipe razoavelmente menor. Quando o filme estava perto de ser finalizado nos EUA, com lançamento previsto ainda em 1995, um erro dos profissionais americanos causou novo atraso. Toy Story passava na frente. Cassiopeia havia sido concluído ainda em 1995, mas o filme precisou aguardar uma janela de exibição nas salas brasileiras, o que não aconteceu antes de 1996. Contudo, ainda que tenha sido eclipsado pela superprodução da Disney-Pixar, de certa maneira Cassiopeia continua sendo o primeiro longa digital já feito no mundo em computadores pessoais. Isso porque os personagens de Lasseter, visualmente mais complexos, foram inicialmente modelados fora do computador, em bonecos que depois foram digitalizados, enquanto o brasileiro foi totalmente criado em PCs desde o início, resultando num longa-metragem 100% digital – a exceção, é claro, da trilha sonora, da sonoplastia e das vozes, dubladas por atores. As dificuldades infraestruturas e a burocracia acabaram por drenar muito da energia de Vieira e sua equipe, os quais, em outro contexto, talvez pudessem ter se dedicado mais a minúcias estéticas. Esquemático como seus personagens totalmente criados por computador, o roteiro parece não ter seduzido seu público e a crítica. Nem mesmo o pioneirismo tecnológico da animação parece ter angariado o reconhecimento que lhe cabe, sobretudo fora do meio acadêmico ou da historiografia mais atenta. Em termos de contribuição ao gênero ficção científica, o filme não aporta com nenhuma grande novidade. Baseia-se numa história modesta de aventura espacial – space opera –, com personagens estereotipados visando a identificação com um público de crianças, porém com uma mensagem educativa absolutamente bem-vinda: a de solidariedade com as minorias e de valorização do pacifismo. Curioso notar que, assim como Tron: uma odisseia eletrônica (1982), de Steven Lisberger, entre muitos outros casos, Cassiopeia é mais um exemplo de salto tecnológico em cinema colado ao gênero ficção científica – algo, no entanto, extremamente raro no Brasil. Voltado ao público infantil, o filme narra a aventura de salvamento do pacífico planeta Atenéia, que está tendo a energia de seu sol drenada pela espaçonave de alienígenas belicosos, vindos de outra dimensão. Os personagens dos heróis Chip, Chop, Feel, Thot, Dra. Lisa, Leonardo e Galileu parecem robozinhos que, com exceção de Leonardo, movimentam-se controlando a gravidade. Os vilões, liderados por Shadowseat, parecem criaturas orgânicas, semelhantes a insetos. Diferente dos filmes d'Os Trapalhões e mesmo das animações da Turma da Mônica, de Mauricio de Sousa, a animação não aposta na paródia de filmes americanos, muito embora seu enredo e estilo mimetizem o de produções estrangeiras do gênero. De toda maneira, eis aqui uma boa oportunidade para resgatarmos o valor deste filme que, nos anos 1990, constituiu uma das mais ousadas iniciativas em audiovisual do mundo. Hoje, depois de três filmes da franquia Toy Story, de Star Wars: episódio I – a ameaça fantasma (1999), de George Lucas, e de Avatar (2009), de James Cameron, o cinema digital veio para ficar. Parece invenção de americanos de uma galáxia distante. Mas tudo pode muito bem ter começado lá atrás em Cassiopeia, pequeno astro – brasileiro – de criatividade, por muito tempo perdido na vasta constelação do cinema mundial.