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Cassiopeia

por Alfredo Suppia

Pouca gente se lembra, mas em 1996 o cinema brasileiro já contabilizava um


filme 100% digital. Iniciada em 1992, Cassiopeia, animação dirigida por Clóvis Vieira,
que levou quatro anos para ficar pronta, com orçamento aproximado de US$ 1,2 milhão.
Cassiopeia era um sério candidato ao posto de primeiro longa-metragem digital já feito
no mundo, se não fosse uma série de contratempos e a poderosa mobilização da Disney.
Embora tenha sido iniciado depois, Toy Story, de John Lasseter, produto de uma
união às pressas entre a Disney e a Pixar, acabou sendo lançado ainda em novembro de
1995, pouco antes que o filme de Vieira, mas com a propaganda e difusão maciça
habituais de um legítimo blockbuster. Enquanto o americano era criado por meio de
softwares de última geração, Cassiopeia era produzido em dezessete lentos PCs 486,
por uma equipe razoavelmente menor. Quando o filme estava perto de ser finalizado nos
EUA, com lançamento previsto ainda em 1995, um erro dos profissionais americanos
causou novo atraso. Toy Story passava na frente. Cassiopeia havia sido concluído ainda
em 1995, mas o filme precisou aguardar uma janela de exibição nas salas brasileiras, o
que não aconteceu antes de 1996.
Contudo, ainda que tenha sido eclipsado pela superprodução da Disney-Pixar, de
certa maneira Cassiopeia continua sendo o primeiro longa digital já feito no mundo em
computadores pessoais. Isso porque os personagens de Lasseter, visualmente mais
complexos, foram inicialmente modelados fora do computador, em bonecos que depois
foram digitalizados, enquanto o brasileiro foi totalmente criado em PCs desde o início,
resultando num longa-metragem 100% digital – a exceção, é claro, da trilha sonora, da
sonoplastia e das vozes, dubladas por atores.
As dificuldades infraestruturas e a burocracia acabaram por drenar muito da
energia de Vieira e sua equipe, os quais, em outro contexto, talvez pudessem ter se
dedicado mais a minúcias estéticas. Esquemático como seus personagens totalmente
criados por computador, o roteiro parece não ter seduzido seu público e a crítica. Nem
mesmo o pioneirismo tecnológico da animação parece ter angariado o reconhecimento
que lhe cabe, sobretudo fora do meio acadêmico ou da historiografia mais atenta. Em
termos de contribuição ao gênero ficção científica, o filme não aporta com nenhuma
grande novidade. Baseia-se numa história modesta de aventura espacial – space opera
–, com personagens estereotipados visando a identificação com um público de crianças,
porém com uma mensagem educativa absolutamente bem-vinda: a de solidariedade com
as minorias e de valorização do pacifismo. Curioso notar que, assim como Tron: uma
odisseia eletrônica (1982), de Steven Lisberger, entre muitos outros casos, Cassiopeia é
mais um exemplo de salto tecnológico em cinema colado ao gênero ficção científica –
algo, no entanto, extremamente raro no Brasil. Voltado ao público infantil, o filme narra
a aventura de salvamento do pacífico planeta Atenéia, que está tendo a energia de seu
sol drenada pela espaçonave de alienígenas belicosos, vindos de outra dimensão. Os
personagens dos heróis Chip, Chop, Feel, Thot, Dra. Lisa, Leonardo e Galileu parecem
robozinhos que, com exceção de Leonardo, movimentam-se controlando a gravidade.
Os vilões, liderados por Shadowseat, parecem criaturas orgânicas, semelhantes a
insetos.
Diferente dos filmes d'Os Trapalhões e mesmo das animações da Turma da
Mônica, de Mauricio de Sousa, a animação não aposta na paródia de filmes americanos,
muito embora seu enredo e estilo mimetizem o de produções estrangeiras do gênero. De
toda maneira, eis aqui uma boa oportunidade para resgatarmos o valor deste filme que,
nos anos 1990, constituiu uma das mais ousadas iniciativas em audiovisual do mundo.
Hoje, depois de três filmes da franquia Toy Story, de Star Wars: episódio I – a ameaça
fantasma (1999), de George Lucas, e de Avatar (2009), de James Cameron, o cinema
digital veio para ficar. Parece invenção de americanos de uma galáxia distante. Mas
tudo pode muito bem ter começado lá atrás em Cassiopeia, pequeno astro – brasileiro –
de criatividade, por muito tempo perdido na vasta constelação do cinema mundial.

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