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CAMPUS CURITIBA
DEPARTAMENTO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA E DE
MATERIAIS – PPGEM
CURITIBA
OUTUBRO – 2016
RODRIGO ESPERANÇA DA CUNHA PIMENTEL DE MEIRA
CURITIBA
OUTUBRO – 2016
RESUMO
The goal of this work is to numerically investigate the flow of power law and Bingham fluids
next to the interface between a free and a porous region (fluid-porous interface) using the lattice
Boltzmann method. For this, the flow in a channel partially filled by a porous material is
studied. The porous region is located in the bottom half of the channel and is analyzed
considering a pore level approach in which the porous medium is represented by a set of solid
square obstacles. Results show the influence of various non-dimensional parameters on the
friction fator of the flow occuring in free region of the channel. In general, decreasing the power
law index, Reynolds number (inertial parameter) or number of obstacles composing the porous
domain causes the reduction of the friction factor in comparison to the case where the fluid-
porous interface is replaced by an impermeable wall. The same behavior occurs when
increasing the Bingham number (non-dimensional yield stress) or porosity. Moreover, the
application of the fluid-porous interface model developed by Ochoa-Tapia e Whitaker (1995b)
for Newtonian flows is used to describe the flow of power law fluids by variyng the stress jump
coefficient with the power law index.
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 18
1.1 Motivação ............................................................................................... 18
1.2 Caracterização do problema ...................................................................... 21
1.3 Abordagem do problema ........................................................................... 22
1.4 Objetivos................................................................................................. 24
1.5 Organização do trabalho ........................................................................... 24
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................ 26
2.1 Escoamento junto à interface fluido-porosa: fluido newtoniano ..................... 26
2.2 Escoamento junto à interface fluido-porosa: fluidos não newtonianos ............ 32
2.3 Síntese do capítulo ................................................................................... 34
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................... 36
3.1 Fluidos newtonianos e não newtonianos ..................................................... 36
3.2 Meios porosos.......................................................................................... 42
3.3 Fator de atrito e número de Reynolds ......................................................... 47
3.4 Síntese do capítulo ................................................................................... 50
4 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ................................................................ 52
4.1 Geometria e condições de contorno e inicial ................................................ 52
4.2 Hipóteses simplificadoras e equações de balanço ......................................... 53
4.3 Parâmetros adimensionais do problema ...................................................... 54
4.4 Síntese do capítulo ................................................................................... 56
5 MÉTODO LATTICE BOLTZMANN .............................................................. 57
5.1 Histórico ................................................................................................. 57
5.2 Conceitos básicos sobre teoria cinética dos gases ......................................... 58
5.3 Modelo de He e Luo (1997)....................................................................... 61
5.4 Estruturas de retículo ................................................................................ 64
5.5 Equivalência entre o modelo HL e as Equações de Navier-Stokes – Expansão de
Chapman-Enskog................................................................................................ 65
5.6 Adaptação do modelo HL para o escoamento de fluidos de lei de potência e
Bingham ............................................................................................................ 70
5.7 Condições de contorno.............................................................................. 71
5.8 Metodologia para o teste de sensibilidade à discretização espacial (Δx) e temporal
(Δt) 75
5.9 Estrutura do código computacional ............................................................ 77
5.10 Síntese do capítulo .............................................................................. 78
6 PROBLEMAS DE VERIFICAÇÃO ................................................................ 79
6.1 Escoamento entre placas planas e paralelas ................................................. 79
6.2 Escoamento em canal poroso ..................................................................... 82
6.3 Síntese do capítulo ................................................................................... 86
7 RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................... 87
7.1 Parâmetros de análise do problema ............................................................ 87
7.2 Influência da interface fluido-porosa sobre o escoamento na região livre ........ 89
7.3 Análise paramétrica .................................................................................. 92
7.4 Estudo da adaptação dos modelos analíticos BJ, NN e OTW ao escoamento de
fluido de lei de potência ..................................................................................... 106
7.5 Síntese do capítulo ................................................................................. 112
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 114
8.1 Sugestões para trabalhos futuros .............................................................. 115
REFERÊNCIAS ............................................................................................... 116
APÊNDICE A – PARÂMETROS ADIMENSIONAIS DO ESCOAMENTO EM
CANAL PARCIALMENTE POROSO ............................................................... 125
A.1 Fluido de lei de potência ......................................................................... 125
A.2 Fluido de Bingham ................................................................................. 127
APÊNDICE B – RESULTADOS INTERMEDIÁRIOS DO MÉTODO LATTICE
BOLTZMANN ................................................................................................. 130
B.1 Função de equilíbrio do modelo de He e Luo (1997) – Equação 5.11 ........... 130
B.2 Momentos de ordem zero e um das funções distribuição de velocidade do modelo
de He e Luo (1997) – Equações 5.13 e 5.14 ......................................................... 134
B.3 Momentos de ordem zero e um das parcelas de não equilíbrio das funções
distribuição de velocidade – Equações 5.26 e 5.27 ................................................ 137
B.4 Obtenção da equação da conservação da quantidade de movimento linear –
expansão de Chapman-Enskog ........................................................................... 138
APÊNDICE C – TESTES DAS CONDIÇÕES DE CONTORNO DO LBM............ 144
C.1. Comparação entre as formulações padrão e intermediária da condição de bounce-
back 144
C.2. Avaliação da condição de contorno periódica de Liao e Jen (2008) ............. 146
APÊNDICE D – RESULTADOS DOS TESTES DE SENSIBILIDADE À Δx E Δt PARA
OS PROBLEMAS DE VERIFICAÇÃO E O ESCOAMENTO EM CANAL
PARCIALMENTE POROSO ............................................................................. 148
D.1 Escoamento entre placas planas e paralelas ............................................... 148
D.2 Escoamento em canal poroso ................................................................... 149
D.3 Escoamento em canal parcialmente poroso – fluido de lei de potência ......... 150
D.4 Escoamento em canal parcialmente poroso – fluido de Bingham ................. 150
APÊNDICE E – EXPRESSÕES PARA A RELAÇÃO Cf,p/Cf,i SEGUNDO OS
MODELOS BJ, NN e OTW ............................................................................... 151
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 – Exemplos de meios porosos. (a) rocha carbonática, (b) osso humano, (c)
espuma metálica e (d) asfalto permeável. ........................................................... 18
Figura 1.2 – Exemplos de escoamentos de fluidos de lei de potência ou Bingham
ocorrendo junto à interface fluido-porosa. (a) fluido de perfuração escoando no
espaço anular entre a coluna de perfuração e o reservatório, (b) escoamento de
sangue em vasos sanguíneos e (c) filtração tangencial de fluido com partículas
em suspenção. ........................................................................................................ 20
Figura 1.3 – Esboço do perfil de velocidades do escoamento em canal parcialmente
poroso..................................................................................................................... 21
Figura 1.4 – Representação das escalas de análise de um fluido.............................. 23
Figura 3.1 – Viscosidade aparente em função da taxa de cisalhamento para uma
solução diluída de poliacrilamida em xarope de glicose. .................................. 37
Figura 3.2 – Comportamento típiuco do gtráfico τ × para fluidos newtonianos,
pseudoplásticos, dilatantes e viscoplásticos. ....................................................... 39
Figura 3.3 – Comparação entre os modelos de Bingham e Papanastasiou em termos
da variação da viscosidade aparente em função da taxa de cisalhamento para
diferentes valores de np. ....................................................................................... 42
Figura 3.4 – Abordagens homogênea e heterogênea do meio poroso. ..................... 44
Figura 3.5 – Escalas de análise micro, meso e macroscópica da interface-fluido
porosa..................................................................................................................... 46
Figura 4.1 – Geometria e condições de contorno do escoamento em canal
parcialmente poroso. ............................................................................................ 52
Figura 5.1 – Representação do volume de controle hexadimensional dxαdcα. ........ 59
Figura 5.2 – Processos de deslocamento e colisão. ..................................................... 62
Figura 5.3 – Estrutura de retículo D2Q9. ................................................................... 65
Figura 5.4 – Funções distribuição fi indeterminadas após a etapa de deslocamento
na fronteira S. ....................................................................................................... 72
Figura 5.5 – Funções distribuição fi indeterminadas (setas tracejadas) após a etapa
de deslocamento nas fronteiras N, S, L, O. ........................................................ 73
Figura 5.6 – Formulações da condição de bounce-back (a) padrão e (b)
intermediária. ........................................................................................................ 74
Figura 5.7 – Fluxograma do código computacional. ................................................. 78
Figura 6.1 – Geometria e condições de contorno do escoamento de fluido de lei de
potência entre placas planas e paralelas. ............................................................ 79
Figura 6.2 – Escoamento entre placas planas e paralelas. Perfis de velocidade para
(a) fluido de lei de potência para Relp = 100 e diferentes valores de n e (b) fluido
de Bingham para ReBi = 100 e diferentes valores de Bi. .................................... 81
Figura 6.3 – Geometria e condições de contorno do escoamento de fluido de lei de
potência em meio poroso utilizando a abordagem heterogênea. ...................... 83
Figura 6.4 – Gráfico ṁ × (–Δp/L) para o escoamento de fluido de lei de potência em
canal poroso: NO = 2, ϕ = 0,75 e n = 0,25; 1,00 e 4,00. ...................................... 84
Figura 6.5 – Gráfico ṁ × –Δp/L para o escoamento de fluido de Bingham em canal
poroso: NO = 2, ϕ = 0,75 e τ0 = 0,00; 0,10; 1,00 e 10,00 Pa. .............................. 85
Figura 7.1 – (a) Campos e (b) perfis de velocidade dos escoamentos entre placas
planas e paralelas e em canal parcialmente poroso para Relp = 1,00, ϕ = 0,75,
NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e n =1,00....................................................................... 89
Figura 7.2 –Campo vetorial de velocidade na região da interface fluido-porosa à
montante do obstáculo (à esquerda) e detalhe na região lateral do obstáculo (à
direita) para o escoamento em canal parcialmente poroso para Relp = 1,00, ϕ =
0,75, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e n =1,00.............................................................. 90
Figura 7.3 – Variação de (a) u1 e (b) u2 junto à interface fluido-porosa na direção x1
para Relp = 1,00, ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e n =1,00. ......................... 91
Figura 7.4 – Comparação entre os escoamentos entre placas planas e paralelas (à
esquerda) e em canal parcialmente poroso (à direita) para Relp = 1,00, ϕ = 0,75,
NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e n =1,00: campos de (a) tensão e (b) pressão. ......... 92
Figura 7.5 – Cf,p/Cf,i em função do número de Reynolds para ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp
/Dh,rl = 1,00: (a) fluido de lei de potência e (b) fluido de Bingham. .................. 93
Figura 7.6 – Perfis de velocidade (à esquerda) e detalhe na região da interface fluido-
porosa (à direita) para ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e diferentes valores de
Relp: (a) n = 0,25, (b) 1,00 e (c) 4,00. .................................................................... 95
Figura 7.7 – Campo vetorial de velocidade na região da interface fluido-porosa à
montante do obstáculo para ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e Relp = 100 (à
esquerda) e Relp = 103 (à direita): (a) n = 0,25 e (b) 4,00. ................................. 96
Figura 7.8 – Perfis de velocidade (à esquerda) e detalhe na região da interface fluido-
porosa (à direita) para ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e diferentes valores de
Bi: (a) ReBi = 100 e (b) ReBi = 103. ........................................................................ 97
Figura 7.9 – Cf,p/Cf,i em função da porosidade para Relp = 100, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl =
1,00: (a) fluido de lei de potência e (b) fluido de Bingham. .............................. 98
Figura 7.10 – Perfis de velocidade (à esquerda) e detalhe na região da interface
fluido-porosa (à direita) para Relp = 100, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e diferentes
valores de ϕ: (a) n = 0,25, (b) 1,00 e (c) 4,00. ...................................................... 99
Figura 7.11 – Perfis de velocidade (à esquerda) e detalhe na região da interface
fluido-porosa (à direita) para ReBi = 100, ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e
diferentes valores de Bi. ..................................................................................... 100
Figura 7.12 – Variação de u1 (a) e u2 (b) junto à interface fluido-porosa (x2 = 1,5625
× 10-3) na direção x1 para Relp = 100, ϕ = 0,75, Dh,rp /Dh,rl = 1,00, n = 0,25 e
diferentes valores de NO. ................................................................................... 102
Figura 7.13 – Cf,p/Cf,i em função do número de obstáculos para Relp = 100, ϕ = 0,75,
Dh,rp /Dh,rl = 1,00: (a) fluido de lei de potência e (b) fluido de Bingham. ........ 103
Figura 7.14 – Cf,p/Cf,i em função de Dh,rp/Dh,rl para Relp = 100, ϕ = 0,75, NO = 2: (a)
fluido de lei de potência e (b) fluido de Bingham............................................. 104
Figura 7.15 – Perfis de velocidade (à esquerda) e detalhe na região da interface
fluido-porosa (à direita) para Relp = 100, ϕ = 0,75, NO = 2 e diferentes valores
de Dh,rp /Dh,rl : (a) n = 0,25 e (b) Bi = 0,40. ......................................................... 106
Figura 7.16 – Curvas Cf,p/Cf,i × σ obtidas através dos modelos BJ (α = 27,00), NN (μef
/μ = ϕ-1) e OTW (β = -5.85) e do LBM para o escoamento em canal parcialmente
poroso para Relp = 1,00, ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp = 1,00, n =1,00. ..................... 108
Figura 7.17 – Perfis de velocidade (à esquerda) com detalhe na região da interface
fluido-porosa (à direita) para o escoamento em canal parcialmente poroso para
Relp = 1,00, ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp = 1,00, n =1,00 e diferentes valores de Dh,rl.
.............................................................................................................................. 109
Figura 7.18 – Resultados para Cf,p/Cf,i em função de σ obtidos através do LBM para
Relp = 100, ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp = 1,00 e diferentes valores n....................... 110
Figura 7.19 – Curvas Cf,p/Cf,i × σ obtidas através do modelo OTW para diferentes
valores de β. ......................................................................................................... 111
Figura 7.20 – Comparação entre os resultados apresentados na Figura 7.18 e o
modelo OTW considerando os valores de β apresentados na Tabela 7.8. ..... 112
Figura C.1 – Análise das condições de contorno de bounce-back. Comparação entre
os perfis de velocidade analítico e obtidos com bounce-back (a) padrão e (b)
intermediário. À esquerda: perfis de velocidade ao longo de toda a seção
transversal do canal. À direita: detalhe da região próxima a parede inferior.
.............................................................................................................................. 145
Figura C.2 – Canal parcialmente poroso com diferentes comprimentos. (a) L = 0,25
e (b) L = 0,50. ....................................................................................................... 146
Figura C.3 – Perfis de velocidade do escoamento em canal parcialmente poroso em
diferentes posições do canal. .............................................................................. 147
LISTA DE TABELAS
Símbolos Romanos
Símbolos Gregos
Subscritos
1.1 MOTIVAÇÃO
(c)
(d)
Figura 1.1 – Exemplos de meios porosos. (a) rocha carbonática, (b) osso humano, (c) espuma
metálica e (d) asfalto permeável.
Fonte: (a) GLOBO, (b) BRITANNICA, (c) WIKIPÉDIA e (d) MOREINSPIRATION.
18
Em certas circunstâncias, observa-se o escoamento de fluidos ocorrendo junto a
materiais porosos como os citados no parágrafo anterior. Prasad (1991) destaca a
interação entre isolantes térmicos fibrosos ou granulares e a vizinhança ao redor, a
convecção da água junto às rochas em sistemas geotérmicos, o contato das águas de
oceanos com o leito marinho, o processo de solidificação dendrítica de alguns tipos de
ligas metálicas, assim como a lubrificação das articulações sinoviais (e.g., ombros e
joelhos) e de rolamentos porosos. Outros exemplos nos quais se aplica a modelagem do
escoamento junto à interface entre uma região livre e outra porosa (interface fluido-
porosa) são: processos de secagem de alimentos e cimento (MOSTHAF et al., 2014),
filtragem industrial (HANSPAL et al., 2006), coletores solares (AL-NIMR e ALKAN,
1997), trocadores de calor (MOROSUK, 2005), perfuração de poços de petróleo e gás
(MARTINS, 2004; MARTINS-COSTA et al., 2013), escoamento de filmes líquidos sobre
superfícies rugosas (SADIQ e USHA, 2010), moldagem por transferência de resina
(YANG et al., 2008), propagação de incêndios em florestas (SÉRO-GUILLAUME e
MARGERIT, 2002) e fluxo de sangue em vasos sanguíneos e de outros fluidos biológicos
em órgãos do corpo humano (RAO e MISHRA, 2004).
Devido à quantidade de aplicações, o estudo de fenômenos de transporte junto à
interface fluido-porosa tem sido realizado de forma extensiva, sendo considerados
diversos níveis de complexidade do problema, desde o escoamento de fluido newtoniano,
laminar e isotérmico (BEAVERS e JOSEPH, 1967; OCHOA-TAPIA e WHITAKER,
1995b) até, por exemplo, escoamentos turbulentos (SILVA e DE LEMOS, 2003),
conveção forçada (KUZNETSOV, 1999) ou natural (GOBIN e GOYEAU, 2008) e
transferência de massa (GOBIN et al., 2005). Segundo Chandesris e Jamet (2006), o
principal desafio consiste na modelagem adequada da zona de transição entre as regiões
livre e porosa de modo a descrever corretamente os fluxos de massa, quantidade de
movimento e energia na região interfacial.
Particularmente, o escopo deste trabalho se restringe aos casos em que o fluido
escoando junto à interface fluido-porosa apresenta comportamento não newtoniano, mais
especificamente, segundo os modelos de lei de potência ou Bingham. As considerações
físicas e matemáticas destes modelos são apresentadas em detalhes no Capítulo 3, mas
vale ressaltar que dos exemplos citados anteriormente, os fluidos de perfuração utlizados
pela indústria petrolífera, o sangue e os fluidos com partículas sólidas em suspensão são
modelados como fluidos de lei de potência ou Bingham (CHHABRA e RICHARDSON,
2008). A Figura 1.2 ilustra situações em que estes fluidos escoam em contato com uma
19
superfície permeável, caracterizando-se, assim, o escoamento junto a interface fluido-
porosa.
(a)
(b)
(c)
filtrado
suspensão membrana
(região fluida) (região porosa)
filtrado
Figura 1.2 – Exemplos de escoamentos de fluidos de lei de potência ou Bingham ocorrendo junto à
interface fluido-porosa. (a) fluido de perfuração escoando no espaço anular entre a coluna de
perfuração e o reservatório, (b) escoamento de sangue em vasos sanguíneos e (c) filtração tangencial
de fluido com partículas em suspenção.
Fonte: (a) LEARNTODRILL, (b) WISEGEEK e (c) LIQTECH
20
interior de vasos capilares, cujas paredes são permeáveis de modo a permitir a passagem
de nutrientes e substâncias químicas. Por fim, a Figura 1.2c retrata o processo de filtragem
tangencial no qual um fluido com partículas em suspensão escoa sobre uma membrana
permeável que permite a separação das partículas de maior granulometria do filtrado
composto por fluido e partículas menores.
x2 hrf
x2 0
x1 , u1
Zona de transição
Região porosa uD
x2 hrp
x1 0 x1 L
Tal geometria remete aos experimentos realizados por Beavers e Joseph (1967),
cujo trabalho representou o primeiro esforço no sentido de modelar o escoamento junto à
interface fluido-porosa. A principal questão a ser investigada é a influência do meio
poroso sobre o escoamento na região livre, a qual se traduz no modo como o perfil de
velocidades se comporta na zona de transição entre as regiões porosa e livre. Conforme
ilustrado na Figura 1.3, a zona de transição é caracterizada pela passagem de um perfil de
velocidade aproximadamente uniforme, uD, no interior da região porosa (suficientemente
longe da zona de transição e da placa inferior) para um perfil aproximadamente parabólico
21
na região livre. É importante notar que a presença do meio poroso induz uma vazão
mássica através da região livre superior àquela esperada no caso em que o meio poroso é
substituído por uma parede impermeável, já que a velocidade do escoamento na interface
fluido-porosa é maior do que zero (Figura 1.3).
22
Através da análise dos fluxos de massa, quantidade de movimento e energia em um
volume de controle infinitesimal, obtém-se as respectivas equações de conservação que
descrevem o escoamento. Finalmente, a escala mesoscópica se encontra numa posição
intermediária, não sendo possível distinguir cada partícula individualmente nem
considerar o fluido como um meio contínuo. Neste caso, o fluido é caracterizado de forma
estatística através de funções distribuição de velocidade, f (xα,cα,t), que correspondem ao
número provável de partículas dentro de determinadas faixas de posição e velocidade num
dado instante de tempo. xα e cα representam, respectivamente, posições do espaço físico
e de velocidades e t um instante de tempo. Através das funções distribuição, determina-
se as propriedades macroscópicas do fluido, como massa específica, velocidade e energia
interna (GUO e SHU, 2013).
f x , c , t
F ,5 F ,1
F ,2
F ,4
F ,3
23
Boltzmann para todo o espectro de velocidades, o que confere maior eficiência ao método
(CHEN e DOOLEN, 1998; MOHAMAD, 2011).
Sukop e Thorne Jr (2007) destacam o aumento do número de trabalhos científicos
envolvendo o LBM nas últimas décadas com aplicações em diversas áreas da ciência e
da engenharia. Guo e Shu (2013) apresentam modelos do LBM, com potenciais
aplicações na área de engenharia térmica, desenvolvidos para a solução de escoamentos
turbulentos, multifásicos, compressíveis, com transferência de calor, em escala
microscópica e em meios porosos. Também são encontrados na literatura modelos para o
escoamento de fluidos não newtonianos (PHILLIPS e ROBERTS, 2011), combustão
(YAMAMOTO et al., 2002) e mudança de fase (MILLER, 2001).
1.4 OBJETIVOS
24
No Capítulo 3 é apresentada a fundamentação teórica necessária para o
desenvolvimento deste trabalho, sendo apresentados conceitos básicos sobre fluidos
newtonianos e não newtonianos, meios porosos, bem como a definição de fator de atrito.
Em seguida, no Capítulo 4, realiza-se a formulação do problema, sendo
apresentadas a geometria, as condições de contorno e inicial, as hipóteses simplificadoras
e as equações de balanço que descrevem o problema. Além disso, os parâmetros
adimensionais que caracterizam o escoamento em canal parcialmente poroso são
identificados.
O método lattice Boltzmann é apresentado no Capítulo 5, destacando-se aspectos
introdutórios do método, o modelo de He e Luo (1997), a estrutura de retículo D2Q9 e o
acoplamento dos modelos de lei de potência e Bingham. Ademais, são apresentadas as
condições de contorno utilizadas na modelagem do escoamento em canal parcialmente
poroso, a metodologia utilizada para o desenvolvimento dos testes de sensibilidade à
malha, bem como uma noção geral da estrutura do código de programação.
No Capítulo 6 são apresentados os estudos de dois problemas de verificação
utilizados para avaliar a implementação numérica do LBM e a sua capacidade na solução
do escoamento de fluido de lei de potência e Bingham em diferentes geometrias.
Particularmente, são abordados os escoamentos entre placas planas e paralelas e em canal
poroso.
As análises do escoamento em canal parcialmente poroso são apresentadas no
Capítulo 7, no qual são discutidas as influências do meio poroso sobre o escoamento na
região livre do canal, bem como o comportamento do fator de atrito em função da variação
de cada parâmetro adimensional do problema. Além do mais, neste capítulo é estudada a
adaptação de modelos analíticos que descrevem a interface fluido-porosa para o
escoamento de fluidos newtonianos para o fluidos de lei de potência.
Finalmente, no Capítulo 8 é apresentada a conclusão do trabalho, no qual são
considerados os principais resultados obtidos e algumas sugestões para trabalhos futuros.
25
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
NEWTONIANO
du1
uint uD 2.1
dx2 x2 0 K
26
da região livre, K a permeabilidade do meio poroso, uD a velocidade média do escoamento
na região porosa (velocidade de Darcy) e α um parâmetro empírico associado ao meio
poroso (coeficiente de deslizamento). A Equação 2.1 pode ser vista como uma
aproximação do gradiente de velocidade na zona de transição entre as regiões livre e
porosa, o qual é proporcional, através do parâmetro α, à variação da velocidade de uD (no
interior da região porosa) a uint (na interface fluido-porosa) ao longo de um comprimento
característico da região porosa representado por K1/2.
Para validar o modelo BJ, Beavers e Joseph (1967) analisaram a relação entre a
variação do parâmetro σ = 0,5Dh,rl/K1/2 e o acréscimo percentual de vazão mássica na
região livre, Φ, o qual é dado por:
mrl m pp
2.2
m pp
sendo ṁrl a vazão mássica através da região livre na presença do material poroso e ṁimp
quando o mesmo é impermeável.
Considerando as características do experimento conduzido, no qual o escoamento
é promovido por um gradiente de pressão igualmente aplicado nas regiões livre e porosa,
a expressão analítica de Φ para o modelo BJ, ΦBJ, é dada por:
3 2
BJ
1
2.3
Dh ,rl
2.4
2 K
27
aloxite), mostraram que Φ cresce assintoticamente com a redução de σ, podendo alcançar
valores superiores a 1,2. De um modo geral, o modelo BJ apresentou resultados
qualitativamente coerentes com os resultados experimentais. Para uma faixa de σ
variando aproximadamente entre 2 e 90, o parâmetro α, que se mostrou independente do
fluido, variou entre 0,1 e 4,0 em função da amostra de meio poroso utilizada.
Em um estudo posterior, Sahraoui e Kaviany (1992) analisaram o escoamento
junto à interface fluido-porosa através de simulação numérica direta, representando o
meio poroso através de um conjunto de cilindros sólidos. Os resultados obtidos
mostraram que o parâmetro α depende da porosidade, efeitos inerciais, altura da região
livre, posição da interface fluido-porosa, direção do escoamento e acabamento superficial
do meio poroso.
Beavers et al. (1970) avaliaram o fator de atrito, Cf, do escoamento na região livre
do canal, confrontando resultados obtidos experimentalmente e através do modelo BJ. Os
autores identificaram que o produto Cf Re é constante para uma determinada configuração
geométrica de canal e meio poroso (σ e α fixos), sendo Re o número de Reynolds baseado
na velocidade média do escoamento e na altura da região livre. Especificamente, pode-se
mostrar que o produto Cf Re é inversamente proporcional a (1 + Φ). Desta forma, constata-
se que Cf Re diminui na presença da interface fluido-porosa, sendo este efeito tanto maior
quanto maior o acréscimo percentual de vazão mássica na região livre, ou seja, quanto
menor a altura da região livre ou maiores forem a permeabilidade do meio poroso e o
parâmetro α.
Neale e Nader (1974) propuseram a inclusão do termo de Brinkman, associado ao
arrasto viscoso do fluido com a matriz sólida do meio poroso, na modelagem do
escoamento através do meio poroso. Desta forma, é possível capturar a penetração dos
efeitos viscosos na zona de transição entre as regiões livre e porosa. No modelo
apresentado por Neale e Nader (1974), neste trabalho denotado por NN, a interface fluido-
porosa é representada pela continuidade da velocidade e da tensão de cisalhamento, a qual
é calculada utilizando a viscosidade efetiva associada ao termo de Brinkman, μef, pelo
lado do meio poroso:
u1 x u1 x 2.5
2 0 2 0
28
du1 du1
ef 2.6
dx2 x2 0
dx2 x2 0
du1 du1
ef uint 2.7
dx2 x2 0 dx2 x2 0 K
29
sendo β um parâmetro empírico associado ao meio poroso (coeficiente de salto de tensão)
e μef = μ/ϕ, com ϕ representando a porosidade do meio poroso. Para o caso particular em
que β = 0, o modelo OTW de Ochoa-Tapia e Whitaker (1995b) se reduz ao modelo NN
(ver Equações 2.6 e 2.7).
O acréscimo percentual de vazão mássica na região livre previsto pelo modelo de
Ochoa-Tapia e Whitaker (1995b), ΦOTW, é dado por:
OTW
3 2
2.8
1
30
e/ou a complexidade matemática associada ao conhecimento da geometria do meio
poroso na zona de transição tornam a aplicação prática destes modelos menos atrativa.
Algumas análises encontradas na literatura dispensam a modelagem matemática
da interface fluido-porosa, sendo que o efeito da zona de transição entre as regiões livre
e porosa é dado pela variação das propriedades do meio poroso na região interfacial.
Nestas abordagens, o escoamento é representado por um único conjunto de equações tanto
na região livre quanto na porosa, de modo que não se faz necessária a utilização de
condições de contorno representando a interface fluido-porosa (utilizadas para acoplar
diferentes conjuntos de equações). De especial interesse para este trabalho é a
representação do meio poroso através de obstáculos sólidos, como nos trabalhos de James
e Davis (2001), Nabovati e Sousa (2008), Nabovati e Amon (2013) e Meira et al. (2014),
além do já citado estudo de Sahraoui e Kaviany (1992).
James e Davis (2001) analisaram os escoamentos de Couette (i.e., placa superior
do canal se movendo com velocidade constante) e Poiseuille em um canal parcialmente
poroso bidimensional utilizando um método de singularidade. O meio poroso foi
representado através de diferentes arranjos de obstáculos sólidos circulares. No caso do
escoamento de Poiseuille, observou-se que a diferença entre a velocidades na interface
fluido-porosa no interior do meio poroso é influenciada pela porosidade e pela altura da
região livre. Considerando os casos analisados, os autores concluem que para ϕ < 0,99 a
velocidade de deslizamento pode ser aproximada pela velocidade do escoamento no
interior do meio poroso, já que a diferença entre ambas tem magnitude inferior a 10% da
velocidade máxima do escoamento na região livre. Além do mais, os autores verificaram
que, em comparação aos resultados numéricos, o modelo NN superestima a velocidade
do escoamento na interface fluido-porosa.
Utilizando o LBM, Nabovati e Sousa (2008) simularam o escoamento de fluido
newtoniano em canal parcialmente poroso bidimensional, representando o meio poroso
através de obstáculos sólidos e quadrados distribuídos de forma aleatória na parte inferior
do canal. Os resultados apresentados mostraram que a velocidade do escoamento na
interface fluido-porosa aumenta com a porosidade. Os autores apresentam a curva Φ × σ,
mantendo a altura da região livre constante e variando a permeabilidade do meio poroso
através da porosidade, verificando que o modelo numérico é qualitativamente coerente
com o modelo BJ, com o parâmetro α aumentando linearmente com a porosidade.
Nabovati e Amon (2013) estudaram, através de um modelo tridimensional do
LBM, o escoamento em canal parcialmente poroso, no qual o meio poroso é representado
31
por um emaranhado de fibras. Analisando o efeito da porosidade sobre o escoamento, os
autores verificaram que à medida que a porosidade diminui, menores são a velocidade do
escoamento na interface fluido-porosa, a espessura da zona de transição entre as regiões
livre e porosa, bem como o acréscimo percentual de vazão mássica na região livre. A
comparação dos resultados numéricos com os modelos os modelos BJ e OTW mostrou a
existência de uma relação linear entre a porosidade e os parâmetros α e β.
Também utilizando o LBM, Meira et al. (2014) analisaram o escoamento de fluido
newtoniano em canal parcialmente poroso, de modo similar a Nabovati e Sousa (2008),
considerando um arranjo uniforme dos obstáculos. As análises foram realizadas para
diferentes valores de porosidade, número de obstáculos e alturas da região livre,
resultando numa variação de σ entre 2,3 e 111,5. As análises apresentadas mostraram que
o modelo OTW representou melhor o modelo numérico investigado em relação ao
modelo BJ. Considerando os casos analisados, o parâmetro β, ajustado através do método
dos mínimos quadrados, variou entre –4,72 e –7,80, com R2 apresentando valores
superiores a 0,98. Nesse sentido, foi proposta uma correlação para o parâmetro β em
função da porosidade e da quantidade de obstáculos compondo o meio poroso.
32
A seguir são destacados os trabalhos cujas análises e resultados são mais
relevantes para o problema do escoamento em canal parcialmente poroso investigado no
presente trabalho.
Chen et al. (2009) utilizaram o LBM para simular o escoamento de um fluido de
lei de potência em um canal bidimensional parcialmente preenchido por um meio poroso
homogêneo. A resistência do meio poroso ao escoamento do fluido é modelada através
de uma condição de bounce-back parcial, determinada pela fração volumétrica da fase
sólida no meio poroso (1 – ϕ) e que dispensa a definição de uma condição de contorno
para a interface fluido-porosa. Os autores verificaram que, para um gradiente de pressão
constante, a velocidade do escoamento na interface fluido-porosa, bem como a penetração
dos efeitos viscosos no meio poroso, é tanto maior quanto maior o índice de lei de
potência, n, e menor o o valor de (1 – ϕ).
Através da teoria de misturas, Martins-Costa et al. (2013) modelaram o
escoamento de fluido de lei de potência em canal parcialmente poroso, sendo a interface
fluido-porosa representada por condições de compatibilidade para a velocidade e sua
derivada, as quais levam em conta a porosidade e um parâmetro escalar associado à
estrutura do meio poroso. O conjunto de equações foi resolvido através do método Runge-
Kutta de quarta ordem e os resultados apresentados corroboram os obtidos por Chen et
al. (2009), ou seja, a velocidade do escoamento na interface fluido-porosa aumenta com
n.
Silva et al. (2016) propuseram um modelo matemático para a representação da
interface fluido porosa para o escoamento de fluido de lei de potência baseado no modelo
OTW, sendo que a Equação 2.7 é modificada para:
sendo ηrl, ηrp e ηint, respectivamente, as viscosidades aparentes do fluido nas regiões livre,
porosa, e na interface. Para mais detalhes consultar as definições apresentadas por Silva
et al. (2016). Os autores analisaram o escoamento entre placas planas e paralelas sobre as
quais se faz presente um meio poroso de tal forma que a região livre se encontra na região
central do canal. Considerando a variação do índice de lei de potência para uma vazão
mássica total através do canal constante, observou-se que à medida que n cresce a vazão
33
mássica total no canal se redistribui de tal forma que a vazão na região porosa aumenta e
na região livre diminui. Os resultados apresentados não indicam qualquer relação entre n
e a velocidade do escoamento na interface fluido-porosa.
Considerando o escoamento de fluido de Bingham, Avinashi et al. (2013)
estudaram analiticamente o escoamento em um tubo cônico de paredes porosas,
utilizando o modelo BJ para representar a interface fluido-porosa. Os autores verificaram
que a velocidade do escoamento na interface fluido-porosa é tanto maior quanto maior
for a tensão limite de escoamento do fluido.
Analisando o escoamento de fluido de Herschel-Bulkey (i.e., fluido de lei de
potência com tensão limite de escoamento) em canal parcialmente poroso, Cloète (2013)
estendeu o modelo proposto por Neale e Nader (1974). Diferentemente do observado por
Chen et al. (2009) e Martins-Costa et al. (2013), os resultados obtidos por Cloète (2013)
mostram que à medida que o índice de lei de potência diminui, maior é a velocidade do
escoamento na interface fluido-porosa. A diferença entre o comportamento observado por
Cloète (2013) com relação aos trabalhos de Chen et al. (2009) e Martins-Costa et al.
(2013) pode ser creditada à combinação dos valores de gradiente de pressão, índice de
consistência e altura da região livre escolhidos por cada autor. Considerando a análise da
influência da tensão limite de escoamento, Cloète (2013) observou que quanto maior a
tensão menor é a velocidade do escoamento na interface fluido-porosa.
34
anteriores tanto em relação à modelagem do meio poroso quanto às análises realizadas.
No presente trabalho o meio poroso é representado através de um conjunto de obstáculos
sólidos e quadrados, enquanto nos demais estudos (CHEN et al., 2009; MARTINS-
COSTA et al., 2013; CLOÈTE, 2013; AVINASHI et al., 2013; SILVA et al., 2016) o
domínio poroso é representado por equações dependentes de coeficientes que
representam a resistência do meio poroso ao escoamento. Em decorrência da abordagem
escolhida para a representação do meio poroso, a definição de uma condição de contorno
para a interface fluido-porosa é dispensável para o presente trabalho, assim como no caso
de Chen et al. (2009), e diferentemente de Martins-Costa et al. (2013), Cloète (2013) e
Avinashi et al. (2013) e Silva et al. (2016). Nesse sentido, os resultados obtidos no
presente trabalho contribuem para corroborar resultados já disponíveis na literatura, mas
obtidos através de uma abordagem diferente.
Com relação às análises realizadas, na literatura não há estudos que investiguem
os parâmetros adimensionais que descrevem o problema aqui investigado nem a
influência destes parâmetros sobre o fator de atrito na região livre do canal. Outra
contribuição do presente trabalho é o estudo da adaptação dos modelos propostos por
Beavers e Joseph (1967), Neale e Nader (1974) e Ochoa-Tapia e Whitaker (1995b) ao
escoamento de fluidos de lei de potência considerando a abordagem heterogênea do meio
poroso.
35
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1
u u
3.2
x x
36
i) fluidos independentes do tempo: a taxa de cisalhamento num dado ponto
e instante de tempo depende exclusivamente da tensão de cisalhamento;
ii) fluidos dependentes do tempo: a relação entre tensão e taxa de
cisalhamento depende do histórico de cisalhamento do fluido (fluidos
tixotrópicos e reopéticos);
iii) fluidos viscoelásticos: comportamento simultâneo de um fluido puramente
viscoso e um sólido elástico (CHHABRA e RICHARDSON, 2008).
Segundo Chhabra e Richardson (2008), apesar de em grande parte dos casos ser
possível encontrar um comportamento dominante, a maioria dos fluidos exibem, em
maior ou menor grau, caraterísticas pertencentes aos três grupos descritos.
Particularmente, os fluidos independentes do tempo podem ser identificados como
puramente viscosos (pseudoplásticos ou dilatantes) ou viscoplásticos (IRGENS, 2014).
Fluidos pseudoplásticos são aqueles cuja viscosidade diminui com o aumento da taxa de
cisalhamento, podendo-se citar como exemplos iogurte, ketchup, maionese, sangue,
creme dental, protetor solar, fluidos de perfuração utilizados na indústria petrolífera, além
de polímeros fundidos, como polipropileno e poliestireno (CHHABRA e
RICHARDSON, 2008). Em geral, fluidos pseudoplásticos apresentam patamares de
viscosidade constante para baixas e altas taxas de cisalhamento. A Figura 3.1 exemplifica
tal comportamento para uma solução diluída de poliacrilamida em xarope de glicose, a
qual apresenta uma tendência de viscosidade constante para baixas e altas taxas de
cisalhamento.
101
Modelo de lei de
potência
, Pa s 100
10-1
10-2 100 102 104
, s -1
Figura 3.1 – Viscosidade aparente em função da taxa de cisalhamento para uma solução diluída de
poliacrilamida em xarope de glicose.
Fonte: Adaptado de Barnes (2000).
37
Por outro lado, fluidos dilatantes se comportam de maneira oposta, ou seja, a
viscosidade aumenta com a taxa de cisalhamento, como é o caso de suspensões
concentradas de caulim, dióxido de titânio e soluções de amido de milho em água
(CHHABRA e RICHARDSON, 2008).
Fluidos viscoplásticos são aqueles que apresentam tensão limite de escoamento,
τ0, de modo que quando submetidos a uma tensão, τ, inferior a τ0, o fluido se comporta
como um material sólido. Na revisão feita por Barnes (1999) a existência de uma tensão
limite de escoamento é questionada, sendo creditada à limitação temporal e imprecisão
dos equipamentos utilizados em experimentos reológicos. Apesar disso, Barnes (1999) e
Chhabra e Richardson (2008) defendem a utilidade, do ponto de vista prático, de se
considerar a existência da tensão limite de escoamento. Alguns exemplos de fluidos
viscoplásticos e suas respectivas tensões limite de escoamento citados por Barnes (2000)
são ketchup e fluido de perfuração (~ 15 Pa), mostarda (~ 60 Pa), maionese (~ 90 Pa) e
pasta de tomate (~125 Pa), além de cremes dentais, concreto fresco e sangue.
A relação entre tensão e taxa de deformação para fluidos independentes do tempo
é análoga à de fluidos newtonianos, sendo expressa em termos da viscosidade aparente,
:
3.3
1
2
3.4
38
observa-se que a tensão de cisalhamento cresce a uma taxa menor à medida que a taxa de
deformação aumenta. Fluidos dilatantes apresentam comportamento inverso, já que a
viscosidade do fluido aumenta com a taxa de deformação. Para fluidos viscoplásticos a
curva τ × cruza o eixo τ em τ = τ0, representando o comportamento de um material
sólido ( = 0), para τ < τ0, e de um fluido ( > 0), quando τ > τ0. No caso da Figura 3.2,
o exemplo de fluido viscoplástico mostrado se comporta como um fluido newtoniano
quando escoa, apresentando uma relação linear entre tensão e taxa de deformação.
Fluido
viscoplástico
Fluido dilatante
Fluido
newtoniano
0
Fluido pseudoplástico
Figura 3.2 – Comportamento típiuco do gtráfico τ × para fluidos newtonianos, pseudoplásticos,
dilatantes e viscoplásticos.
de cisalhamento para a qual a curva log × log é uma reta, como ilustra a Figura
39
3.1, de modo que os autores destacam que a sua utilização deve ser realizada com cautela,
já que fica restrita à faixa de taxas de cisalhamento para a qual o ajuste do modelo é
válido.
A relação entre tensão e taxa de deformação para um fluido de lei de potência é
dada por (BIRD et al., 1987):
n 1
c 3.5
c
n 1
3.6
40
0 p para 0
3.7
0 para 0
0
P para 0
3.8
para 0
0
P
1 e
n p
3.9
0
P
1 e
n p
3.10
41
Para que o modelo de Papanastasiou (1987) reproduza o fluido de Bingham de
modo adequado, deve-se ajustar o parâmetro np, que, por sua vez, depende da ordem de
comparação à Equação 3.8, mostrando que à medida que np cresce, melhor é o ajuste entre
Bingham
5 0
Papanastasiou - np = 10
10 Papanastasiou - np = 10
2
4
Papanastasiou - np = 10
6
4 Papanastasiou - np = 10
10
3
. 10
()
2
10
1
10
0
10
-6 -4 -2 0 2 4 6
10 10 10 10. 10 10 10
Nield e Bejan (2006) definem um meio poroso como uma matriz sólida, rígida ou
pouco deformável, com vazios (poros) interconectados em seu interior por onde pode
ocorrer o escoamento de um ou mais fluidos. Além de poros interconectados, que são
aqueles unidos a mais de um poro, também podem existir poros cegos (i.e., unidos a
apenas outro poro) e isolados (i.e., sem conexão a nenhum outro poro). A medida da
fração volumétrica de poros em um meio poroso é dada pela porosidade, ϕ, a qual é
expressa matematicamente por:
42
Vp
3.11
Vt
V pi
ef 3.12
Vt
sendo Vpi o volume de poros interconectados. Neste trabalho, os poros são considerados
sempre interconectados de modo que ϕ = ϕef.
O arranjo, conexão, morfologia, textura, volume, diâmetro hidráulico e área
superficial dos poros, entre outros fatores, conferem ao meio poroso uma determinada
resistência ao escoamento dos fluidos (CIVAN, 2011). Tal resistência é medida através
da permeabilidade, K, cuja definição é dada pela lei de Darcy (NIELD e BEJAN, 2006):
K dp
uD 3.13
dx1
43
Fase fluida
Fase sólida
Interface
Abordagem Abordagem
heterogênea homogênea
u 0 3.14
t x
u u p
u 3.15
t x x x
44
Através da abordagem heterogênea, torna-se possível conceber modelos mais
representativos do problema em análise, utilizando a geometria real (ou a mais próximo
possível) do meio poroso. No caso dos fluidos de lei de potência e Bingham tal abordagem
pode ser de fundamental importância, já que a viscosidade do fluido varia com a taxa de
deformação, a qual, por sua vez, depende fortemente da geometria do meio poroso.
Dullien (1991) ressalta a importância da consideração da geometria do meio poroso no
entendimento da física envolvida em fenômenos de transporte em meios porosos.
Entretanto, a alta irregularidade geométrica do meio poroso pode tornar inviável a
obtenção de um modelo fiel da estrutura porosa, fazendo-se necessária a realização de
simplificações, como é o caso dos modelos de leito de esferas ou fibras, obstáculos
sólidos, tubos capilares e rede de poros (DULLIEN, 1992).
Considerando a abordagem homogênea, a modelagem mais simples do
escoamento em meios porosos é dada pela Equação 3.13, a qual foi determinada
experimentalmente por Henri Darcy (DARCY, 1856). Conforme exposto anteriormente,
a abordagem homogênea e, por consequência, a Equação 3.13, ignora os detalhes
geométricos do meio poroso, cujas influências são incorporadas na definição da
permeabilidade.
A aplicação da Equação 3.13 possui diversas restrições inerentes aos
experimentos realizados, sendo válida somente para escoamentos incompressíveis e
isotérmicos de fluidos newtonianos com baixa velocidade em meios porosos uniformes
(i.e., porosidade e permeabilidade constantes), isotrópicos (i.e., propriedades
independentes da direção) e com baixa permeabilidade (LAGE, 1998). Para superar tais
limitações, extensões da lei de Darcy são propostas na literatura, levando em conta, por
exemplo, os arrastos viscoso (termo de Brinkman) e de forma (termo de Forchheimer),
associados ao contato entre o fluido e a matriz sólida do meio poroso (NIELD e BEJAN,
2006; LAGE, 1998). A equação de Darcy-Brinkman-Forchheimer, considerando o
escoamento unidirecional (na direção x1), é expressa por:
dp d 2u1 cF
u1 ef 2
u1 u1 3.16
dx1 K dx2 K
termo de Darcy termo de Brinkman termo de Forchheimer
45
Para o escoamento de fluido de lei de potência, são encontradas na literatura
adaptações e/ou modificações da Equação 3.16 para as quais a permeabilidade e os termos
de Darcy e Brinkmann são modificados de modo a considerar o comportamento não
newtoniano do fluido (SHENOY, 1993; NAKAYAMA E SHENOY, 1993; HADIM,
2006, SILVA et al., 2016). No caso do fluido de Bingham, são propostas equações
baseadas em modelos de tubos capilares e no escoamento ao redor de esferas (VRADIS
et al., 1993), bem como em resultados experimentais (CHEVALIER et al., 2013) e
numéricos (TALON e BAUER, 2013), levando em conta, entre outros fatores, aspectos
geométricos do meio poroso, propriedades do fluido e o gradiente de pressão crítico,
(–Δp/L)c, abaixo do qual o fluido não é capaz de escoar através do meio poroso.
Zona de
Fase fluida Interface
Região fluida transição não-
x2 , u2 fluido-porosa
Fase sólida uniforme
x2 0
x1 , u1
Região porosa
x2 hrp
46
qual as propriedades do meio poroso (e.g., porosidade e permeabilidade) variam de forma
contínua do domínio poroso para o domínio fluido. Na escala macroscópica as
propriedades são descontínuas na interface fluido-porosa, a qual é definida através de uma
ou mais condições de contorno (e.g., Equação 2.1, Equações 2.5 e 2.6 ou 2.7), que
acoplam os conjuntos de equações que modelam o escoamento em cada região.
As equações que modelam escoamentos nos quais se faz presente uma interface
fluido-porosa são determinadas em função da escala de análise adotada. A escala
microscópica fica restrita à utilização das equações de conservação da massa, Equação
3.14, quantidade de movimento linear, Equação 3.15, e constitutiva do fluido, sendo a
influência do meio poroso sobre o escoamento dada pela interação entre o fluido e a
superfície da fase sólida do meio poroso. Já nas abordagens meso e macroscópicas se
utiliza a Equação 3.16, sendo o termo de Brinkmann responsável pela captura de efeitos
de camada limite na zona de transição entre as regiões livre e porosa. O termo de
Forchheimer, cuja influência é mais significativa para escoamentos com maior inércia,
contabiliza o arrasto de forma proporcionado pela matriz sólida. Mais detalhes sobre os
termos de Brinkman e Forchheimer podem ser encontrados nas discussões realizadas por
Nield e Bejan (2006) e Nield (2000).
p Dh
Cf
L 4
3.17
1
u 2
2
47
sendo ū a velocidade média do escoamento na região livre e Dh = 4A/P o diâmetro
hidráulico do canal, com A e P representando, respectivamente, a área e o perímetro da
seção transversal. No caso de um canal formado por duas placas planas e paralelas Dh é
igual ao dobro da distância entre as placas, enquanto para um tubo circular Dh é o próprio
diâmetro.
Para o caso de um fluido newtoniano, considerando a expressão para a pressão em
função da velocidade média, dada pela Equação 3.18, o fator de atrito pode ser escrito
conforme a Equação 3.19:
p 48 un
3.18
L Dh2
24
C f ,n 3.19
Ren
sendo Ren o número de Reynolds para o escoamento de fluido newtoniano entre placas
planas e paralelas, dado por:
un Dh
Re n 3.20
1n
p Dh
1n
p Dh Dh
ulp 3.21
L 4c 8 4 n L 48c,mod
48
24 3.22
C f ,lp
ulp2 n Dhn
c ,mod
1 4
n
c ,mod c 8 3.23
12 n
ulp2 n Dhn
Relp 3.24
c ,mod
p 48 p u Bi
2 3.25
L Dh 1 3Bi 4 Bi
3
24
C f , Bi 3.26
u Bi Dh
p ,mod
49
sendo ηp,mod e Bi, respectivamente, a viscosidade plástica modificada e o número de
Bingham, dados por:
p
p ,mod 3.27
1 3Bi 4 Bi
3
2 0
Bi 3.28
p L Dh
uBi Dh
Re Bi 3.29
p ,mod
50
interface fluido-porosa. Finalmente, definiu-se o conceito de fator de atrito e número de
Reynolds, sendo obtidas expressões de Re para o escoamento de fluidos newtonianos, de
lei de potência e Bingham, de tal forma que o produto Cf Re seja uma constante,
independentemente do fluido.
51
4 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA
p pref p p pref
u1 u2 0
x2 Dh , rf 2
x2 , u2
Interface fluido-porosa D
x2 0
x1 , u1
d
D
d
x2 Dh ,rp 2
u1 u2 0 u1 u2 0
x1 0 x1 L
52
estejam na posição x2 = 0. As dimensões D e d são calculadas em termos de Dh,rp, ϕ, e
NO, conforme as expressões abaixo:
Equation Chapter (Next) Section 1
Dh ,rp
D 1 4.1
2 NO
Dh ,rp
d 1 1 4.2
2 NO
53
u1 u2
0 4.3
x1 x2
u1 u u p 11 21
u1 1 u2 1
t x1 x2 x1 x1 x2
4.4
u2 u u p 12 22
u1 2 u2 2
t x1 x2 x2 x1 x2
As Equações 4.3 e 4.4 possuem como incógnitas u1, u2, p, τ11, τ12, τ21, τ22, sendo
necessário mais quatro equações para a solução do escoamento. Para tanto, são utilizadas
as equações constitutivas dos fluidos, por exemplo, Equação 3.5, no caso do fluido de lei
de potência, e Equação 3.9, para o fluido de Bingham, considerando o modelo de
regularização de Papanastasiou (1987).
54
i) fluido de lei de potência: ρ, ηc,mod, n, ūlp, Dh,rl, Dh,rp, ϕ, NO
ii) fluido de Bingham: ρ, ηp,mod, τ0, ūBi, Dh,rl, Dh,rp, ϕ, NO
sendo ūlp e ūBi dados, respectivamente, pelas Equações 3.21 e 3.25. A escolha de ūlp e ūBi
como valores de referência para a velocidade se deu pelo fato de que, através da condição
de contorno de pressão utilizada neste trabalho não é possível saber, a priori, qual será a
velocidade média do escoamento na região livre do canal parcialmente poroso.
Considerando como conjunto de dimensões primárias as unidades de
comprimento, velocidade e tensão, respectivamente, metro (m), metro por segundo (m/s)
e Pascal (Pa.sn ou Pa.s) e definindo Dh, ūlp e ηc,mod e Dh, ūBi e ηp,mod, como conjuntos de
variáveis repetitivas, respectivamente, para o fluido de lei de potência e Bingham, obtém-
se os seguintes parâmetros adimensionais:
ulp2 n Dhn,rl
1,lp Relp 4.5
c ,mod
u Bi Dh ,rl
1, Bi Re Bi 4.6
p ,mod
2,lp n 4.7
0
2, Bi 24 Bi 4.8
p ,mod u Bi
Dh ,rl
3 4.9
4 NO 4.10
55
Dh,rp
5 4.11
Dh,rl
56
5 MÉTODO LATTICE BOLTZMANN
5.1 HISTÓRICO
57
Algumas modificações notáveis que culminaram nos modelos atuais do LBM foram a
introdução de funções distribuição para a representação das partículas (MCNAMARA e
ZANNETTI, 1988), como a distribuição de Maxwell utilizada por Qian1 (1990 apud
QIAN et al., 1992) e a representação das colisões através da aproximação BGK proposta
por Bhatnagar et al. (1954) e introduzida no LBM por Qian et al. (1992).
Apesar de historicamente ter evoluído a partir do LGCA, o LBM pode ser visto
como uma solução da equação de transporte de Boltzmann (GUO e SHU, 2013). Este
ponto de vista será adotado para a apresentação do LBM neste capítulo, de modo que se
torna importante a apresentação de alguns conceitos e equações da teoria cinética dos
gases, notadamente, a noção de função distribuição de velocidade, a equação de transporte
de Boltzmann, a distribuição de Maxwell e os momentos da função distribuição de
velocidade.
f f f
df dt dx dc 5.1
t x c
1 QIAN, Yue Hong. Gaz sur réseaux et théorie cinétique sur réseaux appliquée à
l'équation de Navier-Stokes. 1990. Tese de Doutorado.
58
f x , c , t dx dc
c dc
c
x x dx
df f f F f
c 5.2
dt t x m c
Considerando estas hipóteses e a colisão entre partículas com velocidade entre cαꞌ
e cαꞌ + dcαꞌ e cαꞌꞌ, i.e, f ꞌ= f (xα,cαꞌ,t), e cαꞌꞌ + dcαꞌꞌ, i.e, e f ꞌꞌ= f (xα,cαꞌꞌ,t), pode-se mostrar que
df /dt é dado por (KREMER, 2005):
df
f f f f c c d dc
dt
5.3
59
com o sobrescrito ~ indicando os valores pós-colisionais, ς a seção transversal diferencial
de choque e dΩ o elemento de ângulo sólido associado ao espalhamento das partículas.
2
m 3 2 kBT c u c u
m
fM e 5.4
m 2 k BT
k m c c f x , c , t dc 5.5
k-vezes
0 mf x , c , t dc 5.6
60
u 1 mc f x , c , t dc 5.7
1 1
m c c f x , c , t dc
2
e 2 5.8
2
Com base nos conceitos da teoria cinética dos gases, o LBM considera o fluido
como um sistema de partículas, representadas por f (xα,cα,t), as quais realizam seguidos
processos de deslocamento e colisões. A evolução temporal do estado do sistema ocorre
em intervalos de tempo Δt, sendo que os deslocamentos e as colisões entre conjuntos de
partículas se dão num domínio espacial discretizado como um retículo de nós (lattice). A
cada passo de tempo, as partículas colidem umas com as outras nos nós do retículo e se
deslocam para os nós vizinhos segundo um conjunto finito e pré-definido de orientações
e velocidades, respectivamente, i e cα,i, determinados de acordo com estrutura de retículo
adotada, como será visto na Seção 5.4.
A Figura 5.2 ilustra um ciclo dos processos de colisão e deslocamento ocorrendo
num retículo bidimensional com nove orientações de deslocamento (incluindo o
deslocamento nulo). Considerando a análise das partículas que se deslocam para o nó E
(o deslocamento demais partículas não foi mostrado para manter a clareza da figura), ao
longo do intervalo de tempo Δt, observa-se o deslocamento das partículas dos nós
vizinhos (A, B, C, D, F, G, H e I). Após o deslocamento, as partículas se chocam umas
com as outras e as colisões causam a redistribuição do número total de partículas em E
entre as possíveis orientações de deslocamento. No próximo intervalo de tempo Δt ocorre
uma nova etapa de deslocamento, na qual as partículas em E se deslocam para os nós
vizinhos, havendo um novo processo de colisão e assim por diante.
61
N f5 f2 f6
x2
Retículo
L O fi : f3 f0 f1
x1
S f7 f4 f8
A B C A B C A B C
D E F D E F D E F
G H I G H I G H I
Deslocamento Deslocamento
t Colisão t
fi x x ,i , t t fi x , t Qi t 5.9
62
1
Qi fi eq x , t fi x , t 5.10
sendo Τ o fator ou tempo de relaxação de fi até o valor de equilíbrio local fi eq. A ideia
central da aproximação BGK é que as colisões tendem a levar o fluido a um estado de
equilíbrio, de modo que não é necessário conhecer os detalhes das colisões ou resolver o
complexo termo integral dado pela Equação 5.3 (BHATNAGAR et al., 1954). No modelo
HL, fi eq é calculado com base na distribuição de Maxwell (Equação 5.4), sendo expresso
por:
c u c u c u u u
fi eq wi 0 ,i2 ,i 4 ,i 2 5.11
cs 2cs 2cs
uref
Ma 5.12
cs
63
x , t f i x , t 5.13
i
1
u x , t
0
c f x , t
i
,i i 5.14
Seguindo a notação DaQb proposta por Qian et al. (1992), com a correspondendo
ao número de dimensões espaciais e b ao número de orientações/velocidades de
deslocamento das partículas, as estruturas de retículo mais comuns, segundo Guo e Shu
(2013), são: D1Q3, D1Q5, D2Q7, D2Q9, D3Q15 e D3Q19. Para a simulação de
escoamentos bi e tridimensionais são destacados, respectivamente, os modelos D2Q9 e
D3Q15, os quais apresentam o menor número de orientações/velocidades de
deslocamento que garante a reprodução das equações de conservação da massa e
quantidade de movimento linear (MOHAMAD, 2011; VIGGEN, 2009).
As estruturas de retículo são caracterizadas pelas orientações e velocidades de
deslocamento das partículas, bem como pelo fator de ponderação e a velocidade do som
(respectivamente i, cα,i, wi e cs). Tomando como exemplo o modelo D2Q9, utilizado neste
trabalho, os nós do retículo são distribuídos conforme uma malha cartesiana
bidimensional, sendo que a distância horizontal (segundo o eixo x1) e vertical (segundo o
eixo x2) entre dois nós vizinhos é igual a Δx (retículo regular). As nove velocidades de
deslocamento cα,i do modelo D2Q9 são calculadas por:
0, 0 para i0
c ,i
cos i 1 2 , sen i 1 2 c para i 1, 2,3, 4 5.15
cos 2i 9 4 , cos 2i 9 4 c 2 para i 5, 6, 7,8
64
com c = Δx/Δt. Desta forma, para i = 0, a velocidade de deslocamento das partículas é
nula; para i = 1, 2, 3, 4, as partículas se movimentam com velocidade c nas direções x1 e
x2; e para i = 5, 6, 7, 8, o deslocamento ocorre nas direções diagonais com velocidade
21/2c, conforme mostrado na Figura 5.3. Os valores de wi, cs e cα,i para o modelo D2Q9
são apresentados na Tabela 5.1.
x
f5 f2 f6
x2 x
fi : f3 f0 f1
x1
f7 f4 f8
f i 0 f i 1 f i 2 f i O 3
0 1 2
5.16
65
1 O 2 5.17
x x
1 2 2 O 3 5.18
t t t
com fi (1) e fi (2) representando o desvio de fi com relação ao equilíbrio fi (0) = fi eq. Os
sobrescritos (1) e (2) nas variáveis xα e t identificam diferentes escalas de grandeza
associadas às potências de ξ. Segundo Wolf-Gladrow (2000) ξ representa o número de
Knudsen, Kn, dado por:
llcm 5.19
Kn
lref
sendo llcm e lref, respectivamente, o livre caminho médio das partículas e o comprimento
de referência do escoamento.
Considerando a Equação 5.9 e a expansão em série de Taylor de
fi (xα + cα,iΔt, t + Δt) até os termos de segunda ordem em Δt e Δxα,i, dada pela Equação
5.20 (SPIEGEL, 1968), tem-se a Equação 5.21:
fi x c ,i t , t t f i x , t x ,i f i x , t t f i x , t
x t
5.20
1 2
x ,i x ,i 2x ,i t t fi x , t
2 x x x t t t
t
1 eq
f f i 1 c ,i
t x
c ,i f i 5.21
2 t x
i
66
0 fi eq 0 fi 0 5.22
1 1 0
1 fi 1 1 1 c ,i fi 5.23
t x
1 2
2 fi
5.24
1 t 0
2 2 f i 1 1 c ,i f i fi
0
c
t t x 2 t x
, i
1 1
1 2 t 1
2 fi 2 2 fi 1 1 c ,i 1
0
2 i
f 5.25
t
t x
1 fi 1 2 fi 2 0 5.26
i i
1 c ,i fi 1 2 c ,i fi 2 0 5.27
i i
67
Considerando as Equações 5.22, 5.26 e as definições de massa específica e
quantidade de movimento linear, expressas, respectivamente, pelas Equações 5.13
e 5.14, o cálculo do momento de ordem zero da Equação 5.23 é dado por:
1 1 0
1
f i 1 1 1 c ,i f i
t x
i i
1
1 f i 1 1 f i eq 1 1 c ,i f i eq
1
5.28
i t i x i
0 1 1
1 0u
t x
1
u
0 1 1 0 1
t x
0 2 5.29
t
2
u 2
1 0 1
0
t
1
x t
2
1 1 2 2 0 1 1 u 0 5.30
t t x
1 u
0
0 t x
da ordem de Ma2, de modo que a Equação 5.30 pode ser reescrita como:
68
u
O Ma 2 0 5.31
x
u u
0 u
t x
5.32
t u
2 u
x
cs2
x
0 cs O Ma
3
2 x x
p cs2 5.33
t
0cs2 5.34
2
69
5.6 ADAPTAÇÃO DO MODELO HL PARA O ESCOAMENTO DE FLUIDOS DE
LEI DE POTÊNCIA E BINGHAM
deformação:
t
5.35
0 cs2 2
n 1
t
c 2 5.36
0 cs 2
0 n
1
0cs2
p
1 e p
t
2
5.37
O cálculo das Equações 5.36 e 5.37 depende do cálculo de , que, por sua vez, é
realizado em termos da parte de não equilíbrio das funções distribuição, fi neq = fi – fi eq,
como será mostrado a seguir. Analisando a Equação A.87, obtida durante a dedução da
70
equação da conservação da quantidade de movimento linear na Seção B.4 do Apêndice
u u 1
x x
0cs2
ci
c 1 fi
,i ,i
1
5.38
1
c2 c c
i
,i f neq
,i i 5.39
0 s
fi eq.
71
N f5 f2 f6
x2
Retículo
L O fi : f3 f0 f1
x1
S f7 f4 f8
A B C A B C
D E F D E F
S G H I S G H I
Deslocamento
Colisão t
72
N f5 f2 f6
x2
Retículo
L O fi : f3 f0 f1
x1
S f7 f4 f8
N O S L
Figura 5.5 – Funções distribuição fi indeterminadas (setas tracejadas) após a etapa de deslocamento
nas fronteiras N, S, L, O.
5.7.1 Bounce-back
Bounce-back é a condição de contorno que representa o não deslizamento do
fluido sobre uma superfície sólida e estática. Do ponto de vista do LBM, a condição de
bounce-back consiste na inversão do sentido do movimento das partículas que colidem
contra uma superfície. Considerando a fronteira S da Figura 5.4, a condição de bounce-
back estabelece que as funções f2, f5, f6 devem assumir, respectivamente, os valores de f4,
f8, f7. Ou seja, as partículas representadas pelas funções f4, f8, f7, que colidiram contra a
parede, retornam para o interior do domínio de solução por meio das funções f2, f5, f6.
Assim, com f2 = f4, f5 = f8 e f6 = f7 e levando em conta que na fronteira S f1 = f3, é possível
verificar, através da Equação 5.14, que u1 = u2 = 0.
Na literatura são encontrados diferentes variações da condição de bounce-back
(GUO e SHU, 2013), destacando-se aqui as formulações denominadas por Guo e Shu
(2013) como padrão e intermediária. A formulação padrão considera a fronteira sólida
exatamente sobre os nós da malha, como mostra a Figura 5.6a, enquanto na formulação
intermediária, ilustrada na Figura 5.6b, há um deslocamento de Δx/2. Segundo Succi
(2001), as formulações padrão e intermediária possuem, respectivamente, precisão de
primeira e segunda ordem. Com base nesta afirmação e nos resultados apresentados na
Seção C.1 do Apêndice C, a formulação intermediária é utilizada neste trabalho.
73
(a) (b)
x 2
Fronteira
x
sólida x 2
Fronteira
sólida
p
fi ,O fi ,L wi para i 1,5,8
cs2
5.40
p
fi ,L fi ,O wi para i 3, 6, 7
cs2
74
com os subscritos O e L indicando as fronteiras em que se localizam as funções fi.
Na Seção C.2 do Apêndice C é apresentado o estudo realizado para a verificação
da periodicidade imposta pelo modelo de Liao e Jen (2008), no qual o escoamento em
canal parcialmente poroso é avaliado para diferentes comprimentos de canal.
t
Ma uref 3 5.42
x
Sabendo que EMa Ma2, tem-se que EMa Δt2/Δx2, de modo que:
75
Et 5.43
EMa
Ex
3 t 1
lb 5.44
0 x 2 2
76
5.9 ESTRUTURA DO CÓDIGO COMPUTACIONAL
77
Início
Etapa de deslocamento
Convergência da
simulação? Não
Sim
Neste capítulo foram abordados diversos aspectos do LBM, tais como a origem
do método e conceitos fundamentais da teoria cinética dos gases, passando pelo modelo
proposto He e Luo (1997), estrutura de retículo D2Q9, condições de contorno,
metodologia para o teste de sensibilidade à Δx e Δt e a estrutura do código computacional.
Destaca-se a apresentação da equivalência entre o modelo HL e as equações de Navier-
Stokes para fluidos incompressíveis, bem como a incorporação do comportamento não
newtoniano dos fluidos de lei de potência e Bingham por meio da variação local do fator
de relaxação com a taxa de cisalhamento.
78
6 PROBLEMAS DE VERIFICAÇÃO
p pref p p pref
u1 u2 0
x2 , u2 x2 h
x1 , u1
x2 h
x1 0 u1 u2 0 x1 L
Figura 6.1 – Geometria e condições de contorno do escoamento de fluido de lei de potência entre
placas planas e paralelas.
79
Equações 4.3 e 4.4, os perfis de velocidade analíticos para os fluidos de lei de potência e
Bingham, são dados, respectivamente, por (BIRD et al., 2002):
Equation Chapter (Next) Section 1
1 1 n
Dh n 4 x2
1n
p Dh D
u1 x2 1 para h x2 0
L 4c 4 n 1 Dh
4
6.1
1 1 n
Dh n 4 x2
1n
p Dh Dh
u1 x2 1 para 0 x2
L 4c 4 n 1 Dh
4
p D
2 4 x 2 D 4 x2 Dh
u1 x2 h 1 2 0 h 1 para x2 xN
L 32 p Dh 4 p Dh 4
p D
2
u1 x2 u N h 2 Bi 1 xN x2 xN
2
para
L 32 p 6.2
p D
2 4 x 2 D 4 x2 Dh
u1 x2 h 1 2 0 h 1 para xN x2
L 32 p Dh 4 p Dh 4
80
As Figura 6.2a e b apresentam, respectivamente, a comparação entre os perfis de
velocidade numéricos e analíticos para os fluidos de lei de potência e Bingham.
Considerando o fluido de lei de potência (Figura 6.2a), observa-se que a velocidade do
escoamento diminui na região central do canal com a redução de n, ao passo que nas
proximidades das paredes ocorre o inverso, ou seja, quanto menor o valor de n maior é a
velocidade. Este comportamento se justifica pela variação da viscosidade aparente com a
taxa de cisalhamento e ao índice de lei de potência, conforme a Equação 3.6. Levando em
conta que a velocidade média do escoamento se mantém constante com a variação de n e
supondo a redução progressiva de n, a viscosidade aparente do fluido diminui cada vez
mais em regiões com altas taxas de cisalhamento (próximo às paredes) e a velocidade do
escoamento, por consequência, aumenta. Por outro lado, em regiões com baixas taxas de
cisalhamento (região central) a viscosidade aparente aumenta, de tal forma que a
velocidade do escoamento diminui.
(a) (b)
0.20 0.20
x2
-0.20 -0.20
Figura 6.2 – Escoamento entre placas planas e paralelas. Perfis de velocidade para (a) fluido de lei
de potência para Relp = 100 e diferentes valores de n e (b) fluido de Bingham para ReBi = 100 e
diferentes valores de Bi.
Para o caso do fluido de Bingham (Figura 6.2b), nota-se que quanto maior o valor
de Bi, maior é a espessura e menor é a velocidade da região não cisalhada. Considerando
a definição de Bi (Equação 3.28), nota-se que o aumento de Bi reflete o crescimento da
tensão limite de escoamento do fluido em relação ao gradiente de pressão que promove o
escoamento. Nesse sentido, maior deve ser a região do canal em que a tensão
81
proporcionada pelo gradiente de pressão não excede a tensão limite de escoamento.
Considerando que a velocidade média do escoamento é mantida constante com a variação
de Bi, a velocidade do fluido nas proximidades da parede aumenta com Bi, de modo a
compensar a redução da velocidade observada na região central.
Como pode ser observado na Figura 6.2, a concordância entre os resultados
numéricos e analíticos para ambos os fluidos é satisfatória. O erro percentual máximo,
Ep, entre as soluções analítica e numérica é inferior a 1,25%, no caso do fluido de lei de
potência, e 1,70%, para o fluido de Bingham, sendo Ep calculado por:
lbm 6.3
Ep 1
ref
com φ representando alguma variável do problema, que neste caso é u1. Os subscritos lbm
e ref indicam, respectivamente, resultados obtidos através do LBM e de referência, que
neste caso são dados pelas Equações 6.1, no caso do fluido de lei de potência, e 6.2, para
o fluido de Bingham.
1
p n
m 6.4
L
Como consequência da relação dada pela Equação 6.4, a curva ṁ × –Δp/L, quando
plotada em escala logarítmica, deve ser representada por uma reta de coeficiente angular
(ca) igual a 1/n.
82
Com relação ao escoamento de fluido de Bingham, observa-se a existência de um
gradiente de pressão crítico, (–Δp/L)c, abaixo do qual o fluido não escoa através do meio
poroso. Utilizando o LBM e uma abordagem homogênea do meio poroso, Talon e Bauer
(2013) identificaram três comportamentos distintos para a relação ṁ × (–Δp/L), descritos
a seguir. Para gradientes de pressão suficientemente superiores a (–Δp/L)c, a relação entre
ṁ e (–Δp/L) é linear, como no caso de um fluido newtoniano (ver Equação 3.13). Nesse
regime, o fluido escoa por todos os canais formados pela interconexão dos poros. À
medida que o gradiente de pressão é reduzido, nota-se uma região em que vazão mássica
é reduzida abruptamente com o gradiente de pressão, comportamento associado à queda
da quantidade de canais através dos quais o fluido consegue escoar. Quando o gradiente
de pressão aplicado é suficientemente próximo a (–Δp/L)c, a relação entre ṁ e (–Δp/L)
volta a ser linear, com a existência de apenas um canal de escoamento, cuja geometria se
mostra mais propícia para que o gradiente de pressão supere a tensão limite de
escoamento do fluido.
A geometria e as condições de contorno do escoamento em canal poroso,
mostradas na Figura 6.3, são idênticas às do escoamento em canal parcialmente poroso,
apresentadas na Seção 4.1, com Dh,rl = 0,00.
x2 , u2 p pref p p pref
u1 u2 0 D
x2 0
x1 , u1
d
D
d
x2 Dh ,rp 2
u1 u2 0 u1 u2 0
x1 0 x1 L
Figura 6.3 – Geometria e condições de contorno do escoamento de fluido de lei de potência em meio
poroso utilizando a abordagem heterogênea.
83
gradativamente reduzido até valores próximos de (–Δp/L)c, quando fica evidenciado o
desvio do comportamento newtoniano através do comportamento assintótico de ṁ com a
redução de (–Δp/L).
Os resultados apresentados a seguir foram obtidos através de retículos com 160
nós na direção x2 e relações Δx/Δt (dependentes do gradiente de pressão) para as quais a
influência do número de Mach do escoamento possa ser desprezada. Considerando o
escoamento de fluido de Bingham, utilizou-se np = 100. Os testes de sensibilidade a Δx e
Δt, bem como para o ajuste de np, são apresentados na Seção D.2 do Apêndice D.
Na Figura 6.4 são apresentados, em escala logarítmica, os resultados de ṁ em
função de (–Δp/L) obtidos numericamente para o escoamento de fluido de lei de potência
para n = 0,25; 1,00 e 4,00 (símbolos), bem como retas com coeficientes angulares iguais
a 1/n (linhas sólidas).
-2
10
.
m
10
-3 LBM - n = 0,25
LBM - n = 1,00
LBM - n = 4,00
retas c/ c.a. = 1/n
50 100 150
-p/L
Figura 6.4 – Gráfico ṁ × (–Δp/L) para o escoamento de fluido de lei de potência em canal poroso:
NO = 2, ϕ = 0,75 e n = 0,25; 1,00 e 4,00.
84
identificados dois comportamentos distintos. Para gradientes de pressão suficientemente
altos, observa-se um comportamento linear da curva ṁ × (–Δp/L), enquanto para
gradientes de pressão mais baixos, tem-se um regime não linear, no qual a queda da vazão
mássica é mais acentuada. Quanto maior o valor de τ0, maior é o gradiente de pressão para
o qual ocorre a transição entre os regimes linear e não linear, já que o gradiente de pressão
necessário para superar a tensão limite de escoamento e promover o início do escoamento
do fluido deve ser maior.
1 LBM - 0 = 0,00 Pa
10 LBM - 0 = 0,10 Pa
LBM - 0 = 1,00 Pa
LBM - 0 = 10,00 Pa
0
10
-1
. 10
m
-2
10
-3
10
-4
10 0 1 2 3 4 5
10 10 10 10 10 10
-p/L
Figura 6.5 – Gráfico ṁ × –Δp/L para o escoamento de fluido de Bingham em canal poroso: NO = 2,
ϕ = 0,75 e τ0 = 0,00; 0,10; 1,00 e 10,00 Pa.
As linhas tracejadas presentes na Figura 6.5, associadas a cada valor de τ0, indicam
os valores teóricos de (–Δp/L)c determinados através da análise dos gradientes de pressão
para os quais o fluido se comportaria como um material sólido ao escoar nos pequenos
canais formados no espaço entre os obstáculos. Os valores dos gradientes de pressão
críticos, calculados através da Equação 3.28 considerando Bi = 0,50, são: 1,54; 15,36 e
153,60 Pa, respectivamente, para τ0 = 0,10; 1,00 e 10,00 Pa. É possível notar que os
comportamentos assintóticos das curvas ṁ × (–Δp/L) com a redução de (–Δp/L) se
mostram coerentes com os limites estabelecidos pelas linhas tracejadas.
Infelizmente, a instabilidade numérica das simulações com gradientes de pressão
mais próximos dos valores indicados pelas linhas tracejadas não permitiu a ampliação da
faixa de (–Δp/L) analisada, motivo pelo qual não foi possível determinar a eventual
existência do terceiro regime de escoamento (regime linear para gradientes de pressão
suficientemente próximos ao valor crítico) apontado por Talon e Bauer (2013). Vale
85
ressaltar que a geometria regular do meio poroso analisado no presente trabalho pode não
propiciar a existência de um único caminho preferencial ao qual Talon e Bauer (2013)
associam o terceiro regime de escoamento.
86
7 RESULTADOS E DISCUSSÕES
87
Os valores de ϕ e NO foram definidos de modo que a configuração de meio poroso
menos permeável (i.e., menor porosidade e maior número de obstáculos) proporcionasse
uma relação Cf,p/Cf,i inferior a 0,99 no caso do escoamento de fluido newtoniano,
chegando-se a ϕ = 0,51, 0,75 e 0,96 e NO = 1, 2 e 4. A faixa de valores para a relação
entre os diâmetros hidráulicos, Dh,rl/Dh,rp, varia entre 0,50 e 2,00, de tal forma que o caso
com menor diâmetro hidráulico (Dh,rl/Dh,rp = 0,50) é capaz de acomodar ao menos um
obstáculo quando NO = 2. Com relação aos modelos de fluido de potência e Bingham,
tentou-se abranger a mais extensa faixa de valores de n e Bi possível, considerando os
exemplos de fluidos apresentados no Capítulo 3, bem como a estabilidade numérica, o
tempo computacional e a precisão das simulações. Nesse sentido o valor de n ficou
limitado entre 0,25 e 4,00 (valor escolhido arbitrariamente para manter a simetria com
relação ao caso newtoniano), enquanto a faixa de Bi variou entre 0,00 (caso newtoniano)
e 0,40. Vale ressaltar que para valores maiores ou iguais a 0,50 o gradiente de pressão
não é capaz de promover o cisalhamento do fluido no caso do escoamento entre placas
planas e paralelas. Finalmente, a faixa de número de Reynolds, variando entre 100 e 103,
foi determinada de modo que fosse possível observar a influência da inércia do
escoamento dentro do regime laminar.
Considerando as faixas de variação de cada um dos parâmetros adimensionais
citados acima, define-se o caso de referência (destacado em negrito na Tabela 7.1) para o
estudo paramétrico do problema: ϕ = 0,75; NO = 2; Dh,rp/Dh,rl = 1,00 e Relp ou ReBi = 100,
com base no qual cada parâmetro indicado na Tabela 7.1 é variado individualmente. As
exceções são o índice de lei de potência e o número de Bingham, que são avalaidos para
toda a faixa de valores apresentada na Tabela 7.1 em todas as análises (a menos que seja
dito o contrário).
Os resultados apresentados a seguir consideram uma malha espacial com 320 nós
na direção x2 e relações Δx/Δt (dependentes do número de Reynolds e do índice de lei de
potência) para as quais a influência do número de Mach do escoamento é desprezível.
Para o escoamento de fluido de Bingham adotou-se np = 100. Os testes de sensibilidade a
Δx e Δt, assim como para o ajuste de np, são mostrados na Seção D.3 do Apêndice D.
88
7.2 INFLUÊNCIA DA INTERFACE FLUIDO-POROSA SOBRE O ESCOAMENTO
NA REGIÃO LIVRE
(a) (b)
u
U
1.60 0.40
1.40
Canal parcialmente poroso
1.20
Placas planas e paralelas
1.00 0.20
0.80
0.60
0.40
x2
0.00
0.20 0.05
0.00
-0.20 0.00
-0.05
-0.40 0.00 0.10
Figura 7.1 – (a) Campos e (b) perfis de velocidade dos escoamentos entre placas planas e paralelas e
em canal parcialmente poroso para Relp = 1,00, ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e n =1,00.
89
Para ilustrar melhor o comportamento do escoamento na região da interface
fluido-porosa, a Figura 7.2 apresenta o campo vetorial de velocidade com foco no
obstáculo adjacente à interface fluido-porosa. Através da análise da Figura 7.2 é possível
verificar a formação de uma zona de recirculação na lateral do obstáculo, bem como
constatar que o escoamento na região da interface-fluido porosa não é retilíneo, como
consequência da passagem do fluido ao redor do obstáculo.
0.03 0.00
0.02 -0.02
0.01 -0.04
-0.06
x2
0.00 x2
-0.01 -0.08
-0.10
-0.02
u1 = 0.10 m/s u1 = 0.10 m/s
-0.12
-0.03
0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09 0.00 0.02 0.04 0.06 0.08 0.10 0.12
x1 x1
90
(a) (b)
0.20 0.20
0.15 0.15
0.10 0.10
u1
u2
0.05 0.05
0.00 0.00
-0.05 -0.05
0.00 0.05 0.10 0.15 0.20 0.25 0.00 0.05 0.10 0.15 0.20 0.25
x1 x1
Figura 7.3 – Variação de (a) u1 e (b) u2 junto à interface fluido-porosa na direção x1 para Relp =
1,00, ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e n =1,00.
91
(a) (b)
T p -Ppref
14.0 14.00
13.0 12.00
12.0 10.00
11.0 8.00
10.0 6.00
9.0 4.00
8.0 2.00
7.0 0.00
6.0 -2.00
5.0
4.0
3.0
2.0
1.0
0.0
Figura 7.4 – Comparação entre os escoamentos entre placas planas e paralelas (à esquerda) e em
canal parcialmente poroso (à direita) para Relp = 1,00, ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e n =1,00:
campos de (a) tensão e (b) pressão.
92
7.3.1 Número de Reynolds (Relp e ReBi)
A Figura 7.5 mostra a variação de Cf,p/Cf,i em função de Relp (a) e ReBi (b) para as
faixas de n e Bi apresentadas na Tabela 7.1, exceto Bi = 0,40, que não foi analisado devido
ao alto custo computacional envolvido.
(a) (b)
1.00 1.00
0.95 0.95
Cf,p/Cf,i
Cf,p/Cf,i
0.90 0.90
n = 0,25
n = 0,50
0.85 n = 1,00 0.85 Bi = 0,00
n = 2,00 Bi = 0,10
n = 4,00 Bi = 0,20
0.80 0 1 2 3 0.80 0 1 2 3
10 10 10 10 10 10 10 10
Relp ReBi
Figura 7.5 – Cf,p/Cf,i em função do número de Reynolds para ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00: (a)
fluido de lei de potência e (b) fluido de Bingham.
93
Tabela 7.2 – Valores de Cf,p/Cf,i para diferentes de números de Reynolds e índices de lei de potência.
Relp
n 100 101 102 103 Δ% (Relp)
0,25 9,29E-01 9,29E-01 9,31E-01 9,46E-01 1,76%
0,50 9,40E-01 9,40E-01 9,42E-01 9,54E-01 1,51%
1,00 9,48E-01 9,48E-01 9,50E-01 9,60E-01 1,27%
2,00 9,56E-01 9,56E-01 9,58E-01 9,68E-01 1,21%
4,00 9,65E-01 9,65E-01 9,67E-01 9,77E-01 1,21%
Δ% (n) 3,73% 3,73% 3,74% 3,19%
Tabela 7.3 – Valores de Cf,p/Cf,i para diferentes de números de Reynolds e números de Bingham.
ReBi
Bi 100 101 102 103 Δ% (ReBi)
0,00 9,48E-01 9,48E-01 9,50E-01 9,60E-01 1,27%
0,10 9,48E-01 9,48E-01 9,51E-01 9,63E-01 1,54%
0,20 9,44E-01 9,44E-01 9,47E-01 9,62E-01 1,83%
Δ% (Bi) 0,43% 0,44% 0,38% 0,31%
94
(a)
n = 0,25 n = 0,25
0.40 0.05 Relp = 10
0
1
Relp = 10
2
0.20 Relp = 10
3
Relp = 10
x2
x2
0.00 0.00
0
-0.20 Relp = 10
1
Relp = 10
2
Relp = 10
3
-0.40 Relp = 10 -0.05
(b)
n = 1,00 n = 1,00
0.40 0.05 Relp = 10
0
1
Relp = 10
2
0.20 Relp = 10
3
Relp = 10
0.00
x2
x2
0.00
0
-0.20 Relp = 10
1
Relp = 10
2
Relp = 10
3
-0.40 Relp = 10 -0.05
(c)
n = 4,00 n = 4,00
0.40 0.05 Relp = 10
0
1
Relp = 10
2
0.20 Relp = 10
3
Relp = 10
x2
x2
0.00 0.00
0
-0.20 Relp = 10
1
Relp = 10
2
Relp = 10
3
-0.40 Relp = 10 -0.05
95
Complementado as análises, a Figura 7.7 apresenta comparações entre
escoamentos com Relp =100 e 103 para n = 0,25 (a) e 4,00 (b), apresentando os campos
vetoriais de velocidade na região à montante do obstáculo junto à interface fluido-porosa.
É possível notar que o aumento de n ou Relp faz com que uma maior quantidade de fluido
seja levada para a zona de recirculação formada na lateral do obstáculo, de tal forma que
a vazão na região livre do canal diminui, provocando o aumento de Cf,p/Cf,i.
0.02 0.02
0.01 0.01
x2
x2
0.00 0.00
n = 0,25 n = 0,25
-0.01 -0.01
-0.02 -0.02
u1 = 0.10 m/s u1 = 0.10 m/s
-0.03 -0.03
0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09
x1 x1
0.02 0.02
0.01 0.01
x2
x2
0.00 0.00
n = 4,00 n = 4,00
-0.01 -0.01
-0.02 -0.02
u1 = 0.10 m/s u1 = 0.10 m/s
-0.03 -0.03
0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09
x1 x1
96
é pouco influenciada pela variação de Bi, confirmando o comportamento das curvas
Cf,p/Cf,i × ReBi mostradas na Figura 7.5b. Além do mais, nota-se que a variação da
velocidade na interface fluido-porosa não apresenta relação direta com o numéro de
Bingham.
(a)
0 0
ReBi = 10 ReBi = 10
0.40 Bi = 0,00
0.01 Bi = 0,10
Bi = 0,20
0.20
0.00
x2
x2
0.00
-0.20
Bi = 0,00 -0.01
Bi = 0,10
-0.40 Bi = 0,20
(b)
3 3
ReBi = 10 ReBi = 10
0.40 Bi = 0,00
0.01 Bi = 0,10
Bi = 0,20
0.20
0.00
x2
x2
0.00
-0.20
Bi = 0,00 -0.01
Bi = 0,10
-0.40 Bi = 0,20
97
(a) (b)
1.00 1.00
0.95 0.95
Cf,p/Cf,i
Cf,p/Cf,i
0.90 0.90
n = 0,25
n = 0,50 Bi = 0,00
0.85 n = 1,00 0.85 Bi = 0,10
n = 2,00 Bi = 0,20
n = 4,00 Bi = 0,40
0.80 0.80
0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00
Figura 7.9 – Cf,p/Cf,i em função da porosidade para Relp = 100, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00: (a) fluido de
lei de potência e (b) fluido de Bingham.
98
(a)
n = 0,25 n = 0,25
0.40 0.05 = 0,51
= 0,75
x2
0.20 = 0,96
x2
0.00 0.00
-0.20
= 0,51
= 0,75
-0.40 = 0,96 -0.05
(b)
n = 1,00 n = 1,00
0.40 0.05 = 0,51
= 0,75
0.20 = 0,96
x2
x2
0.00 0.00
-0.20
= 0,51
= 0,75
-0.40 = 0,96 -0.05
(c)
n = 4,00 n = 4,00
0.40 0.05 = 0,51
= 0,75
0.20 = 0,96
0.00
x2
x2
0.00
-0.20
= 0,51
= 0,75
-0.40 = 0,96 -0.05
99
Retomando a análise da Figura 7.9a, verifica-se que a variação de n causa
primordialmente o deslocamento vertical da curva Cf,p/Cf,i × ϕ, de tal forma que, para um
determinado valor de porosidade fixo, quanto menor o valor de n, menor é a razão Cf,p/Cf,i.
O efeito da variação de n é mais pronunciado para maiores valores de ϕ, o que pode ser
constatado a partir dos perfis de velocidade mostrados na Figura 7.10. A variação da
velocidade do escoamento na interface fluido-porosa com o índice de lei de potência é
mais acentuada para ϕ = 0,96, passando de aproximadamente 1,90×10-2 m/s (n = 0,25)
para 1,42×10-2 m/s (n = 4,00).
No caso do escoamento de fluido de Bingham, nota-se que a influência de Bi sobre
as curvas Cf,p/Cf,i × ϕ é menos pronunciada para 0,00 < Bi < 0,20, ao passo que para Bi =
0,40 Cf,p/Cf,i apresenta uma redução mais significativa. A Figura 7.11 apresenta os perfis
de velocidade para Bi = 0,00; 0,10; 0,20 e 0,40, para o caso em que ϕ = 0,75, verificando-
se que, para Bi variando entre 0,00 e 0,20, as velocidades na interface fluido-porosa são
bastante próximas, enquanto para Bi = 0,40 observa-se que a velocidade aumenta. Tais
resultados confirmam o comportamento das curvas Cf,p/Cf,i × ϕ mostradas na Figura 7.9b.
= 0,75 = 0,75
0.40 Bi = 0,00
0.01 Bi = 0,10
0.20 Bi = 0,20
Bi = 0,40
x2
x2
0.00 0.00
-0.20 Bi = 0,00
Bi = 0,10
Bi = 0,20 -0.01
-0.40 Bi = 0,40
100
variação percentual de Cf,p/Cf,i com Bi é de até 5,07% (para ϕ = 0,96) e com ϕ de até
16,91% (para Bi = 0,40).
Tabela 7.4 – Valores de Cf,p/Cf,i para diferentes porosidades e índices de lei de potência.
ϕ
n 0,51 0,75 0,96 Δ% (ϕ)
0,25 9,76E-01 9,29E-01 8,08E-01 16,99%
0,50 9,77E-01 9,40E-01 8,25E-01 15,55%
1,00 9,80E-01 9,48E-01 9,85E-01 13,17%
2,00 9,83E-01 9,56E-01 9,81E-01 10,38%
4,00 9,87E-01 9,65E-01 9,06E-01 8,16%
Δ% (n) 1,34% 3,73% 10,82%
101
à influência do obstáculo seguinte de forma mais pronunciada. Nesse sentido, a
resistência experimentada pelo fluido é maior. Tal afirmação é corroborada pela Figura
7.12, que mostra as variações de u1 e u2 junto à interface fluido-porosa (x2 = 1,56 × 10-3)
ao longo da direção x1 para NO = 1, 2 e 4 e n = 0,25.
(a) (b)
0.30 0.30 NO = 4
NO = 2
NO = 1
0.20 0.20
u1
u2
0.10 0.10
0.00 0.00
NO = 4
NO = 2
-0.10 NO = 1 -0.10
Figura 7.12 – Variação de u1 (a) e u2 (b) junto à interface fluido-porosa (x2 = 1,5625 × 10-3) na
direção x1 para Relp = 100, ϕ = 0,75, Dh,rp /Dh,rl = 1,00, n = 0,25 e diferentes valores de NO.
102
(a) (b)
1.00 1.00
0.95 0.95
Cf,p/Cf,i
Cf,p/Cf,i
0.90 0.90
n = 0,25
n = 0,50 Bi = 0,00
0.85 n = 1,00 0.85 Bi = 0,10
n = 2,00 Bi = 0,20
n = 4,00 Bi = 0,40
0.80 0.80
1 2 3 4 1 2 3 4
NO NO
Figura 7.13 – Cf,p/Cf,i em função do número de obstáculos para Re lp = 100, ϕ = 0,75, Dh,rp /Dh,rl = 1,00:
(a) fluido de lei de potência e (b) fluido de Bingham.
Tabela 7.6 – Valores de Cf,p/Cf,i para diferentes números de obstáculos e índices de lei de potência.
NO
n 1 2 4 Δ% (NO)
0,25 8,66E-01 9,29E-01 9,67E-01 10,37%
0,50 8,85E-01 9,40E-01 9,70E-01 8,82%
1,00 8,99E-01 9,48E-01 9,74E-01 7,72%
2,00 9,12E-01 9,56E-01 9,78E-01 6,74%
4,00 9,25E-01 9,65E-01 9,83E-01 5,84%
Δ% (n) 6,38% 3,73% 1,65%
Tabela 7.7 – Valores de Cf,p/Cf,i para diferentes números de obstáculos e números de Bingham.
ϕ
Bi 1 2 4 Δ% (NO)
0,00 8,99E-01 9,48E-01 9,74E-01 7,72%
0,10 9,00E-01 9,48E-01 9,74E-01 7,67%
0,20 8,97E-01 9,44E-01 9,72E-01 7,77%
0,40 8,70E-01 9,27E-01 9,65E-01 3,95%
Δ% (Bi) 3,32% 2,23% 0,94%
103
7.3.4 Relação entre diâmetros hidráulicos (Dh,rp/Dh,rl)
A Figura 7.14 apresenta as curvas Cf,p/Cf,i × Dh,rp/Dh,rl para o escoamento de fluido
de lei de potênca (a) e Bingham (b), respectivamente, para 0,25 < n < 4,00 e
0,00 < Bi < 0,40, mostrando que Cf,p/Cf,i se mantém constante com a variação de Dh,rp/Dh,rl.
(a) (b)
1.00 1.00
0.95 0.95
Cf,p/Cf,i
Cf,p/Cf,i
0.90 0.90
n = 0,25
n = 0,50 Bi = 0,00
0.85 n = 1,00 0.85 Bi = 0,10
n = 2,00 Bi = 0,20
n = 4,00 Bi = 0,40
0.80 0.80
0.50 1.00 1.50 2.00 0.5 1.0 1.5 2.0
Dh,rp/Dh,rf Dh,rp/Dh,rf
Figura 7.14 – Cf,p/Cf,i em função de Dh,rp/Dh,rl para Relp = 100, ϕ = 0,75, NO = 2: (a) fluido de lei de
potência e (b) fluido de Bingham.
Tabela 7.8 – Valores de Cf,p/Cf,i para diferentes relações de diâmetros hidráulicos e índices de lei de
potência.
Dh,rp/Dh,rl
n 0,50 1,00 2,00 Δ% (Dh,rp/Dh,rl)
0,25 9,29E-01 9,29E-01 9,29E-01 0,01%
0,50 9,40E-01 9,40E-01 9,40E-01 0,00%
1,00 9,48E-01 9,48E-01 9,48E-01 0,00%
2,00 9,56E-01 9,56E-01 9,56E-01 0,00%
4,00 9,65E-01 9,65E-01 9,65E-01 0,00%
Δ% (n) 3,72% 3,73% 3,71%
104
Tabela 7.9 – Valores de Cf,p/Cf,i para diferentes relações de diâmetros hidráulicos e números de
Bingham.
Dh,rp/Dh,rl
Bi 0,50 1,00 2,00 Δ% (Dh,rp/Dh,rl)
0,00 9,48E-01 9,48E-01 9,48E-01 0,00%
0,10 9,48E-01 9,48E-01 9,48E-01 0,00%
0,20 9,44E-01 9,44E-01 9,44E-01 0,00%
0,40 9,27E-01 9,27E-01 9,27E-01 0,00%
Δ% (Bi) 2,27% 2,27% 2,27%
105
(a) 0.50
n = 0,25
0.15
Dh,rp/Dh,rl = 2,00
0.10 Dh,rp/Dh,rl = 1,00
Dh,rp/Dh,rl = 0,50
0.00 0.05
n = 0,25
0.00
x2
x2
-0.05
-0.50
Dh,rp/Dh,rl = 2,00 -0.10
Dh,rp/Dh,rl = 1,00
Dh,rp/Dh,rl = 0,50 -0.15
-1.00
0.00 0.50 1.00 0.00 0.10 0.20 0.30
u1 u1
(b) 0.50
Bi = 0,40
0.15
Dh,rp/Dh,rl = 2,00
0.10 Dh,rp/Dh,rl = 1,00
Dh,rp/Dh,rl = 0,50
0.00 0.05
Bi = 0,40
0.00
x2
x2
-0.05
-0.50
Dh,rp/Dh,rl = 2,00 -0.10
Dh,rp/Dh,rl = 1,00
Dh,rp/Dh,rl = 0,50 -0.15
-1.00
0.00 0.50 1.00 0.00 0.10 0.20 0.30
u1 u1
106
no presente trabalho (abordagem heterogênea do meio poroso através de obstáculos
quadrados distribuidos de forma uniforme). Em seguida, o modelo tido como mais
adequado é analisado de modo a incorporar o comportamento não newtoniano do fluido
de lei de potência. A mesma análise não é realizada para o caso do fluido de Bingham
devido à falta de uniformidade nos resultados em termos da variação de Bi.
Dentro do contexto do presente trabalho, que avalia a influência da interface
fluido-porosa sobre o fator de atrito na região livre do canal, os modelos BJ, NN e OTW
apresentam, respectivamente, as seguintes expressões para Cf,p/Cf,i, conformes as
deduções apresentadas no Apêndice E:
Equation Chapter (Next) Section 1
2
Cf ,p 3 2
1 7.1
C f ,i
BJ 1
2
Cf ,p 3 2 ef
1
7.2
C f ,i 1 ef
NN
2
Cf ,p 3 2
1
7.3
C f ,i 1
OTW
107
Dh,rp = 1,00 com Dh,rl assumindo os seguintes valores: 0,75; 1,00 e 1,25. A permeabilidade
K do meio poroso foi estimada através da lei de Darcy (Equação 3.13) considerando o
caso newtoniano.
7.4.1 Análise dos modelos BJ, NN e OTW para o escoamento de fluido newtoniano
A Figura 7.16 apresenta os resultados para o escoamento de fluido newtoniano
obtidos através do LBM para a variação de Cf,p/Cf,i em função de σ, bem como as curvas
Cf,p/Cf,i × σ previstas pelos modelos BJ, NN e OTW (respectivamente, Equações 7.1, 7.2
e 7.3) considerando α = 27,00, μef /μ = ϕ-1, conforme sugerido por Ochoa-Tapia e Whitaker
(1995b) e β = –5,85. O ajuste dos parâmetros α e β foi obtido através do método dos
mínimos quadrados, sendo considerada a minimização da expressão S:
C f , p C f ,i ma,k
2
l
S 1 7.4
f , p f ,i lbm,k
k 1 C C
1.00
0.90 LBM
BJ - = 27,00
NN - ef / = 1/
Cf,p/Cf,i
0.70
0.60
14 16 18 20 22
Figura 7.16 – Curvas Cf,p/Cf,i × σ obtidas através dos modelos BJ (α = 27,00), NN (μef /μ = ϕ-1) e
OTW (β = -5.85) e do LBM para o escoamento em canal parcialmente poroso para Relp = 1,00, ϕ =
0,75, NO = 2, Dh,rp = 1,00, n =1,00.
108
As curvas apresentadas na Figura 7.16 mostram que o modelo OTW é o que
melhor representa os resultados numéricos, seguido do modelo BJ e, por fim, do modelo
NN. Os coeficientes de determinação, R2, dos ajustes dos modelos OTW, BJ e NN são,
respectivamente, iguais a 0,99, 0,50 e –358,47, ficando evidente que o modelo NN,
utilizado em conjunto com a relação μef /μ = ϕ-1, não se aplica à modelagem do problema
tratado neste trabalho. Considerando a melhor representação dos resultados numéricos
através do modelo OTW, a adaptação dos modelos analíticos ao escoamento de fluido de
lei de potência se restringiu a este modelo.
Ainda analisando a Figura 7.16 é possível notar que a razão Cf,p/Cf,i aumenta com
o parâmetro σ. Para ilustrar tal comportamento, a Figura 7.17 apresenta os perfis de
velocidade para os casos apresentados na Figura 7.16.
0.60
0.05 = 13,45 (Dh,rl = 0,75)
0.40 = 17,94 (Dh,rl = 1,00)
= 22,42 (Dh,rl = 1,25)
0.20
0.00
x2
x2
0.00
-0.20
= 13,45 (Dh,rl = 0,75)
= 17,94 (Dh,rl = 1,00) -0.05
-0.40 = 22,42 (Dh,rl = 1,25)
Figura 7.17 – Perfis de velocidade (à esquerda) com detalhe na região da interface fluido-porosa (à
direita) para o escoamento em canal parcialmente poroso para Relp = 1,00, ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp =
1,00, n =1,00 e diferentes valores de Dh,rl.
Através dos perfis de velocidade mostrados na Figura 7.17 é possível perceber que
a velocidade do escoamento na interface fluido-porosa diminui com o aumento de σ, de
tal forma que Cf,p/Cf,i aumenta. No limite em que a região livre é suficientemente alta, a
velocidade do escoamento na interface fluido-porosa se torna insignificante em relação à
velocidade média do escoamento na região livre, de modo que a interface fluido-porosa
pode ser aproximada por uma parede sólida.
109
7.4.2 Adaptação do modelo OTW para o escoamento de fluido de lei de potência
A Figura 7.18 apresenta os resultados para Cf,p/Cf,i em função de σ obtidos através
do LBM para n = 0,25; 0,50; 1,00; 2,00 e 4,00.
1.00
0.95
Cf,p/Cf,i
0.90
LBM - n = 0,25
LBM - n = 0,50
0.85 LBM - n = 1,00
LBM - n = 2,00
LBM - n = 4,00
0.80
14 16 18 20 22
Figura 7.18 – Resultados para Cf,p/Cf,i em função de σ obtidos através do LBM para Relp = 100, ϕ =
0,75, NO = 2, Dh,rp = 1,00 e diferentes valores n.
1.00
0.95
Cf,p/Cf,i
0.90
OTW - = -5,00
0.85 OTW - = -7,00
OTW - = -9,00
OTW - = -11,00
0.80
14 16 18 20 22
110
Figura 7.19 – Curvas Cf,p/Cf,i × σ obtidas através do modelo OTW para diferentes valores de β.
Através dos dados apresentados na Tabela 7.10, verifica-se que, dentro da faixa
de n analisada, β diminui com o aumento de n e a qualidade do ajuste do modelo OTW
aos resultados é satisfatória, com valores de R2 maiores ou iguais a 0,97. A Figura 7.20
reapresenta os resultados mostrados na Figura 7.18 incluindo o ajuste do modelo OTW
considerando os valores de β apresentados na Tabela 7.10.
111
1.00
0.95
0.90
LBM - n = 0,25
Cf,p/Cf,i
LBM - n = 0,50
0.85 LBM - n = 1,00
LBM - n = 2,00
LBM - n = 4,00
0.80 OTW - = -3,96
OTW - = -4,86
OTW - = -5,85
0.75 OTW - = -7,21
OTW - = -9,37
0.70
14 16 18 20 22
Figura 7.20 – Comparação entre os resultados apresentados na Figura 7.18 e o modelo OTW
considerando os valores de β apresentados na Tabela 7.8.
C1 C2 ln n
1
7.5
com C1 = 1,74 × 10-1 e C2 = 4,87× 10-2, sendo que C1 e C2 devem ser dependentes de ϕ e
NO, variando em função da configuração do meio poroso. Quando a correlação dada pela
Equação 7.5 é aplicada ao modelo OTW (Equação 7.3), os valores para a razão Cf,p/Cf,i
apresentam erro percentual inferior a 0,44% em relação aos valores apresentados na
Figura 7.18.
112
da variação de Bi se mostrou pouco significartivo para 0,00 < Bi < 0,20, enquanto para
Bi = 0,40, observa-se a redução de Cf,p/Cf,i. Por fim, foi estudada a adaptação do modelo
OTW ao escoamento de fluido de lei de potência, obtendo-se uma correlação para o
parâmetro β em função do índice de lei de potência.
113
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
114
8.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
115
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124
APÊNDICE A – PARÂMETROS ADIMENSIONAIS DO
ESCOAMENTO EM CANAL PARCIALMENTE POROSO
b c
kg a m kg
3
m 2n kg c 1ma b c 3 s
b 2 n c
A.2
m s ms
Para que Π1,lp seja um parâmetro adimensional os expoentes das dimensões kg, m
e s da Equação A.2 devem ser nulos, de tal forma que se obtém o seguinte sistema de
equações:
c 1 0
abc3 0 A.3
b 2 n c 0
125
Resolvendo o sistema de equações dado na Equação A.3, obtém-se a = n,
b = 2 – n e c = –1, de modo que a forma final de Π1,lp é dada por:
ulp2 n Dhn,rl
1,lp A.4
c ,mod
2,lp n A.6
3 A.7
4 NO A.8
126
O conjunto de equações envolvento os expoentes a, b e c que tornam Π5
adimensional é dado por:
a b c 1
b 2 n c 0 A.10
c0
Dh ,rp
5 A.11
Dh ,rl
b c
kg a m kg
3
m c 1 a b c 3 b c
kg m s A.13
m
s ms
Para que Π1,Bi seja um parâmetro adimensional, os expoentes das dimensões kg,
m e s devem ser nulos, de tal forma que se obtém o seguinte sistema de equações:
127
c 1 0
a bc 3 0 A.14
b c 0
u Bi Dh , rl
1, Bi A.15
p ,mod
b c
kg a m kg
2
m c 1 a b c 1 2 b c
kg m s A.17
ms s ms
Para que Π2,Bi seja um parâmetro adimensional, os expoentes das dimensões kg,
m e s devem ser nulos, de tal forma que se obtém o seguinte sistema de equações:
c 1 0
a b c 1 0 A.18
2 b c 0
128
Dh ,rl
2, Bi 0 A.19
p ,mod u Bi
Isolando ūBi na Equação 3.25 e substituindo na Equação A.19 e Π2,Bi pode ser
escrito como:
Dh ,rl
2, Bi 0
p ,mod uBi
Dh ,rl A.20
0 24 Bi
p D
2
p ,mod
L 48 p
1 3Bi 4 Bi 3
h , rl
129
APÊNDICE B – RESULTADOS INTERMEDIÁRIOS DO
MÉTODO LATTICE BOLTZMANN
A dedução da expressão para a função de equilíbrio dada pela Equação 5.11 parte
da distribuição de Maxwell, fM, dada pela Equação A.21 na qual se considera a velocidade
do som para um gás ideal (BEJAN, 2006), cs2 = m/kBT. Desta forma, a Equação A.22 é
reescrita como:
Equation Section (Next)
3 c u c u
1 2 2 cs2
fM e B.1
m 2 cs2
3 1 1
1 2 2c 2
ca ca
2 cs2
2 ca ua ua ua
fM e
s
e B.2
m 2 cs2
130
3 1
1 2 2c c c 1 1 2
1 2 2 c u u u 4 2 c u u u
2
fM e
s
Como a expansão em série de Taylor foi realizada apenas até os termos de segunda
ordem, a Equação B.3 só é válida para baixos valores de 1/2cs2[2(cαuα) – (uαuα)], ou seja,
baixos valores de uα. Desta forma, os termos proporcionais a |uα|3 e |uα|4 e, portanto,
proporcionais a Ma3 e Ma4, são desprezados, obtendo-se:
c u c u c u u u
3 1
1 2 2c 2
c c
fM e
s
1 2 B.4
m 2 cs2 cs 2cs4 2cs2
c u
fi eq Kwi 1 ,i2
c ,iu c ,iu u u B.5
cs 2cs4 2cs2
c u c ,iu c ,iu u u
fi eq Kwi 1 ,i2
2cs4 2cs2
B.6
i i cs
u u u u u
K wi K w c i ,i K w c
i c
,i ,i K w i B.7
i cs2 i 2c 4
s i 2cs2 i
131
Finalmente, o valor de K é obtido conforme a Equação B.9, considerando-se as
seguintes condições:
w 1
i
i
w c
i
i ,i 0 B.8
w c c
i
i ,i ,i cs2
u u u u u u u u
KK 4
cs2 K 2
K K 4 cs2 K 2 K B.9
2c s 2cs 2c s 2c s
sendo δαβ o delta de Kronecker (SPIEGEL, 1959). As restrições impostas pela Equação
B.8 são condições de isotropia das estruturas de retículo (VIGGEN, 2009), necessárias
para que o LBM reproduza de forma satisfatória as equações da massa e da quantidade
de movimento linear para um fluido newtoniano. As estruturas de retículo DaQb
apresentadas na seção 5.4 atendem às restrições dadas pela Equação B.8.
Desta forma, a função de equilíbrio dada pela Equação B.5 é reescrita como:
c u
fi eq wi 1 ,i2
c ,iu c ,iu u u B.10
cs 2cs4 2cs2
c u
fi eq wi 0 1 ,i2
c ,iu c ,iu u u
B.11
cs 2cs4 2cs2
132
c u
fi eq wi 0 1 ,i2
c ,iu c ,iu u u w B.12
i
cs 2cs4 2cs2
c u
f i eq wi 0 1 ,i2
c ,iu c ,iu u u
B.13
cs 2cs4 2cs2
133
B.2 MOMENTOS DE ORDEM ZERO E UM DAS FUNÇÕES DISTRIBUIÇÃO DE
f x c
i
i ,i t , t t fi x , t
i
B.14
c f x c
i
,i i ,i t , t t c ,i fi x , t
i
B.15
f x c t , t t f x , t Q t
i
i ,i
i
i
i
i
Q t f x , t f x c t , t t 0
i i i ,i
B.16
i i i
Q 0 i
i
c f x c t , t t c f x , t c Q t
i
,i i ,i
i
,i i
i
,i i
c Q t c f x , t c f x c t , t t 0
,i i ,i i i, i i ,i
B.17
i i i
c Q 0 ,i i
i
134
Utilizando as Equações B.16 e B.17 em conjunto com os momentos de ordem zero
e um da Equação 5.10 (definição do operador colisão através da aproximação BGK),
obtém-se, respectivamente:
f x , t f x , t
i
i
i
i
eq
B.18
c f x , t c
i
,i i
i
,i i f eq x , t B.19
c u c ,iu c ,iu u u
f i wi wi 0 ,i2
2cs4 2cs2
B.20
i i
cs
u u u u u
f
i
i wi 0
i cs2
w c
i
i ,i 0
2c 4 w c
i
i c
,i i , 0
2cs2
w
i
i B.21
s
u u u u
fi
i 0
2c 4
cs2 0
2cs2
B.22
s
135
u u uu
f
i
i 0
2cs2
0 2
2cs
B.23
c u c ,iu c ,iu u u
c ,i f i c ,i wi c ,i wi 0 ,i2
2cs4 2cs2
B.24
s
i c
i
u
c
i
,i i f c ,i wi 0
i cs2
w c
i
i c
,i ,i
B.25
u u u u
4 i ,i ,i ,i w c
0 w c c c 0 2 i ,i
2cs i 2cs i
c
i
f 0u
,i i B.26
136
B.3 MOMENTOS DE ORDEM ZERO E UM DAS PARCELAS DE NÃO EQUILÍBRIO
DAS FUNÇÕES DISTRIBUIÇÃO DE VELOCIDADE – EQUAÇÕES 5.26 E
5.27
f f
i
i
i
i
eq
fi 2 fi
i
1
i
2
B.27
fi 1 2
fi 2
0
i i
c
i
,i if c ,i f i eq c ,i f i 2 c ,i fi
i i
1
i
2
B.28
c ,i f i 1 2
c ,i i f 2
0
i i
k fi k 0 B.31
i
k c ,i fi k 0 B.32
i
com k = 1 e 2.
Desta forma, conclui-se que os momentos de ordem zero e um de fi(1) e fi(2) não
contribuem para o cálculo da massa específica e da quantidade de movimento linear.
137
B.4 OBTENÇÃO DA EQUAÇÃO DA CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE
u 0
0 1 0 1 1 c ,i c ,i fi B.33
t x i
u t 1
0 2 0 2 1 1
2 i
c c f B.34
t x
, i , i i
1 0 1 1
x c ,i c ,i f i e x c ,i c ,i f i , cujos cálculos detalhados são
i i
apresentados a seguir.
1 0
B.4.2 Termo x c ,i c ,i f i
i
0
1 ,i ,i i
c c f 1 c ,i c ,i fi eq B.35
x i x i
138
0
1 ,i ,i i
c c f
x i
B.36
c u c u c u uu
1 c ,i c ,i wi wi 0 ,i2 ,i 4 ,i 2
x i cs 2 cs 2cs
0 u
x i
1
c , i c , i f i
x i
1
wi c , i c , i 0 2 wi c , i c , i c , i
cs i B.37
uu uu
1 0 4 wi c ,i c ,i c ,i c ,i 0 2 wi c ,i c ,i
x 2 cs i 2cs i
w c i c c
,i ,i ,i 0
i
B.39
wi c ,i c ,i c ,i c ,i cs4
i
0
1 ,i ,i i
c c f
x i
B.40
uu
1 cs2 0 4 cs4 0 2 cs2
uu
x 2cs 2cs
0
1 ,i ,i i
c c f
x i
B.41
u u u u u u uu
1 cs2 0 0 0 0
x 2 2 2 2
139
0
c c f 1 cs2 0u u
1 ,i ,i i
B.42
x i x
1 1
B.4.2 Termo x c ,i c ,i f i
i
t 1
1
1 c ,i c ,i f i
x 2 i
B.43
t 0 0
1 1 c ,i c ,i f i 1 c ,i c ,i c ,i f i
x 2 t i x i
1 0 1 0
t c ,i c ,i f i e x c ,i c ,i c ,i f i .
i i
1 0
B.4.2.1 Termo t c ,i c ,i f i
i
Considerando a Equação B.42 pode-se escrever:
0
c c f 1 cs2 0u u
1 ,i ,i i
B.44
t i t
0 2 u u
1
t i
c , i c , i f i
t
1
cs 0 u
t 1
0u 1
t
B.45
140
As derivadas temporais da Equação B.45 podem ser substituídas, utilizando as
Equações 5.28 e B.33, resultando em:
0
1 ,i ,i i
c c f
t i
B.46
u 0 0
0 1 cs2 u 1 c ,i c ,i fi u 1 c ,i c ,i f i
x x i x i
0
1 ,i ,i i
c c f
t i
B.47
u 2
0 1 cs u 1 cs 0u u u 1 cs 0u u
2 2
0
1 ,i ,i i
c c f
t i
u u u u u
0 1
cs2 u 1
cs2 u 1
cs2 0u 1
0u B.48
x x x x x
1
u u u u u
0 1
cs2 u 1
cs2 u 1
cs2 0 1
0u u
x x x x x
1
0 u u u x1 e 0u u u x ), obtém-se a Equação B.49 (HE e LUO, 1997):
1
0 u
c c f 0 1 cs2 O Ma 3
1 ,i ,i i
B.49
t i x
141
1 0
B.4.1.2 Termo x c ,i c ,i c ,i f i
i
Utilizando a Equação 5.22, pode-se escrever:
0
1 ,i ,i ,i i
c c c f 1 c ,i c ,i c ,i f i eq B.50
x i x i
0
1 ,i ,i ,i i
c c c f
x i
B.51
c u c uc u uu
1 c ,i c ,i c ,i wi wi 0 ,i2 ,i 4 ,i 2
x i cs 2c s 2cs
0 u
1 ,i ,i ,i i
c c c f 1 wi c ,i c ,i c ,i 0 2 w c i c c c
,i ,i ,i ,i
x i x i cs i
u u u u
1 0
x
2cs4
w c
i c c c c
,i ,i ,i ,i ,i 0
2cs2
w c
i c c
,i ,i ,i
i i
B.52
w c c c
i
i ,i ,i c c
,i ,i ,i 0 B.53
0 u
c c c f 1 0 2 cs4
1 ,i ,i ,i i
B.54
x i x cs
142
Rearranjando e simplificando o lado direito da Equação B.54, obtém-se:
0
u u u
x i
1
c , i c , i c , i f i
0 c 2
s
x1
x 1
1
x
B.55
t 1
1
1 c ,i c ,i f i
x 2 i
B.56
t u u
1 0 cs2 1 1 O Ma 3
x 2
x x
Finalmente, aplicando as expansões dadas pelas Equações 5.16, 5.17 e 5.18 nas
Equações B.33 e B.34, considerando as Equações B.42 e B.56, obtém-se:
u
0
t
x
0u u
B.57
t u u
x
cs2
x
0 cs
2
2
x x
O Ma
3
143
APÊNDICE C – TESTES DAS CONDIÇÕES DE
CONTORNO DO LBM
144
(a)
0.20 LBM - formulação padrão
Eq. 6.1
-0.15
x2
0.00 Eq. 6.1
-0.20
-0.20
-0.25
0.00 0.50 1.00 1.50 0.00 0.10 0.20 0.30
u1 u1
(b)
0.20 LBM - formulação intermediária
Eq. 6.1
-0.15
x2
-0.20
-0.25
0.00 0.50 1.00 1.50 0.00 0.10 0.20 0.30
u1 u1
145
C.2. AVALIAÇÃO DA CONDIÇÃO DE CONTORNO PERIÓDICA DE LIAO E JEN
(2008)
x2 Dh , rf 2 x2 Dh , rf 2
x2 , u2 x2 , u2
x2 0 x2 0
x1 , u1 x1 , u1
x2 Dh ,rp 2 x2 Dh ,rp 2
x1 0, 00 x1 L 0, 25 x1 0, 00 x2 0, 25 x1 L 0,50
Figura C.2 – Canal parcialmente poroso com diferentes comprimentos. (a) L = 0,25 e (b) L = 0,50.
u x1 , x2 u x1 l , x2 C.1
146
0.40
0.20
x2
0.00
-0.20
x1 = 0,00
x1 = 0,50
-0.40 x1 = 1,00
147
APÊNDICE D – RESULTADOS DOS TESTES DE
SENSIBILIDADE À Δx E Δt PARA OS PROBLEMAS DE
VERIFICAÇÃO E O ESCOAMENTO EM CANAL
PARCIALMENTE POROSO
Para os escoamentos dos fluidos de lei de potência e Bingham entre placas planas
e paralelas, testes preliminares indicaram que os casos mais críticos, dentro das faixas
analisadas neste trabalho, correspondem, respectivamente, a n = 0,25 e Bi = 0,40. Nesse
sentido, os testes de sensibilidade a Δt e Δx, para n = 0,25 e Bi = 0,40 são apresentados,
respectivamente, pelas Tabelas D.1 e D.2.
148
Tabela D.1 – Teste de sensibilidade à Δx e Δt para o escoamento de fluido de lei de
potência entre placas planas e paralelas para n = 0,25.
149
Tabela D.3 – Teste de sensibilidade à Δx e Δt para o escoamento de fluido de lei de
potência em canal poroso para n = 0,25 e (–Δp/L) = 48 Pa/m.
BINGHAM
150
APÊNDICE E – EXPRESSÕES PARA A RELAÇÃO Cf,p/Cf,i
SEGUNDO OS MODELOS BJ, NN E OTW
Este capítulo mostra as deduções das Equações 7.1, 7.2 e 7.3, expressões analíticas
para a razão Cf,p/Cf,i de acordo com os modelos BJ, NN e OTW, respectivamente.
Considerando a definição de fator de atrito dada pela Equação 3.17, calcula-se
Cf,p/Cf,i:
Equation Section (Next)
p Dh
L 4
1
Cf ,p u p u E.1
2 i
C f ,i p Dh up
L 4
1
ui
2
2
1
Cf ,p ui mi 1
E.2
C f ,i u p mp m p mi 1
1 m
i
sendo ṁ = ρū(Dh /2) a vazão mássica através da região livre. A Equação E.2 mostra que
a razão Cf,p /Cf,i pode ser escrito em função do acréscimo percentual de vazão mássica na
região livre, Φ, o qual apresenta expressão analítica para os modelos BJ, NN e OTW,
conforme as Equações 2.3, 2.8 (para β = 0) e 2.8, respectivamente. Combinando a
Equação E.2 individualmente com as Equações 2.3, 2.8 (para β = 0) e 2.8, obtém-se
respectivamente:
151
2
Cf ,p 3 2
1 E.3
C f ,i
BJ 1
2
Cf ,p 3 2 ef
1
E.4
C f ,i 1 ef
NN
2
Cf ,p 3 2
1
E.5
C f ,i 1
OTW
152