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BOXER, Charles. A Igreja militante a Expansão Ibérica, 1440-1770. Tradução: Vera Maria
Pereira. Companhia das Letras. 1978
Estado. Existia uma “[...] combinação de direitos, privilégios e deveres concedidos pelo papado
à Coroa de Portugal na qualidade de patrocinadora das missões católicas e dos estabelecimentos
eclesiásticos missioneiros na África, Ásia e Brasil” 2. No entanto, durante 100 anos só houve um
bispado no Brasil Colônia este situado na Bahia.3 Somente no século XVII a evangelização do
mundo colonial vai ser uma preocupação de Roma4 e isto nos diz muito sobre a realidade
religiosa das manifestações e expressões daquele período. O Estado não esteve tão presente
como deveria, as visitas pastorais eram raras e as medidas do Concílio de Trento só foram
efetivadas no século XIX. Havia um certo descaso e a Igreja parecia mais preocupada com as
coisas terrenas do homem que as coisas espirituais.
O universo religioso colonial era uma combinação da religiosidade trazida pela Igreja
católica com a religiosidade já existente na colônia portuguesa. A religião, seus símbolos e
dogmas ocupavam espaço considerável na preocupação cotidiana do homem colonial. Africanos
cultuavam santos católicos e orixás, no caso dos indígenas havia as santidades que foram
mistura de práticas indígenas e católicas, sendo a mais conhecida delas a Santidade de Jaguaribe.
Observamos que quando necessário esse sincretismo era tolerado, no entanto, a condenação e o
horror a essas manifestações eram constantes por parte das elites. Os viajantes estrangeiros, a
título de exemplo, diziam que os brasileiros de cor estavam desvirtuando o cristianismo fazendo
dele uma mistura de imoralidades.
Essas combinações foram observadas na Primeira Visitação do Santo Ofício ao Brasil em
1591. Os processos oriundos de Visitações, Devassas Eclesiásticas, Autos de Fé do Santo Ofício
revelam que a religiosidade na colônia tinha um lado alegre, mas o medo das perseguições do
Santo ofício estava bastante presente. Havia o sentimento que a religião oficial não dava conta
junto com muita incerteza, raiva, ira. Muitos estavam insatisfeitos com o cristianismo e
descontentes com os clérigos. As afirmações do povo beiravam a heresia pois estavam
desconfiados com a instituição devido às más condutas dos clérigos muitas vezes envolvidos em
rixas, jogatinas e bebedeiras. Por conseguinte, houve a carnavalização de alguns conceitos e
2
ibidem
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SOUZA, Laura de Mello e. O diabo e a terra de Santa Cruz.Companhia das Letras . 1986
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ibidem
muitas dúvidas a respeito da figura divina, reflexo da difícil vida na colônia e da violência
presente que de certa forma incentivava a descrença nos dogmas cristãos.
Devido a falta de ensino e descaso por parte dos senhores, os escravizado sabiam muito
pouco ou nada sobre as bases da religião oficial e seus dogmas. O povo não conhecia as bases do
cristianismo e a religiosidade estava repleta de paganismo. Muitos não sabiam que as suas
atitudes poderiam ser consideradas pecado. Contudo, conforme as sua necessidades e conforme
a sua lógica os escravizados assim como os índios assimilaram a religião oficial, o cristianismo.
Não existiam práticas exclusivamente cristãs, africanas, indígenas, judaicas no Brasil
colonial. Os elementos de cada uma estavam imbricados. O medo das visitações gerou denúncias
infundadas e confissões forçadas. A convivência, nem sempre tolerada, de diversos tipos de
cultos refletem até hoje na religiosidade brasileira que pode ser considerada mestiça, no entanto,
repleta de preconceitos. Desta forma, observamos que não havia uniformidade total naquele
período como não há hoje.