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Economia
Revista Interdisciplinar
Semestral
ISSN 1808-5318
CCD 330.981
História e Economia
Revista Interdisciplinar
BBS – Brazilian Business School
Editor: John Schulz
Vice editor: Adalton Francioso Diniz
Secretário geral: Roberta Barros Meira
Secretário adjunto: Anderson Floriano
Conselho editorial:
Adalton Franciozo Diniz (Faculdade Cásper Líbero;PUC/SP) • André Villela (EPGE/FGV) • Antônio
Penalves Rocha (USP) • Carlos Eduardo Carvalho (PUC/SP) • Carlos Gabriel Guimarães (UFF) • Fla-
vio Saes (USP) • Gail Triner (Rutgers University) • Jaime Reis (ICS - Universidade de Lisboa) • John
Schulz (BBS) • John K. Thornton (Boston University) • Jonathan B. Wight (University of Richmond)
• José Luis Cardoso (ICS - Universidade de Lisboa) • Marcos Cintra (Unicamp) • Pedro Carvalho
de Mello (ESALQ) • Renato Leite Marcondes (USP/Ribeirão Preto) • Ricardo Feijó (USP/Ribeirão
Preto) • Steven Topik (University of California Irvine) • Vitoria Saddi (INSPER)
Apresentação
Nota do editor
Editor’s note
John Schulz.............................................................................................................................................11
Artigos
D
e proporções continentais, o Brasil
se fechou em si mesmo ao longo da
segunda metade do século 20. A in-
O f continental proportions Bra-
zil looked predominantly inwards
throughout most of the second half
dustrialização tardia do País materializada sob of the twentieth century. Import substitution and
a forma de substituição de importações foi o autarky dominated thinking accross the political
tema dominante nesse período. Durante as últi- spectrum. Over the past two decades; the outlook
mas duas décadas, entretanto, a visão do Brasil changed dramatically with both the “left” and
mudou de forma significativa. Tal episódio teve the “right” searching outside for new ideas and
também repercussão na academia, observando for material fulfillment. Historians and econo-
um movimento no qual tanto a “esquerda” quan- mists seek to understand the world including ar-
to a “direita” passaram a buscar novas idéias de eas with which Brazil had little previous contact.
fora do País. Os historiadores e economistas pro- Today South Korea and India may be role models
curaram entender o mundo inclusive em áreas and are at least “benchmarks” for Brazil.
nas quais o Brasil possuía pouco contato prévio.
Meanwhile Brazil, which led the world
Atualmente, a Coréa do Sul e a Índia podem ser
in economic growth for a number of decades,
modelos para o Brasil.
and which recently overcame near hyperinfla-
Neste ínterim, o Brasil, que liderou o tion, has something to tell the rest of the world.
mundo em termos de crescimento econômico
por diversas décadas e, recentemente, superou We view História e Economia as a multi-
um processo de pré-hiperinflação, tem muito a lingual forum for both Brazilian and internation-
contar para o mundo. Ao nosso ver, História e al scholars. We also see our journal as a means
Economia é um fórum multilinguístico para es- by which Brazilian researchers communicate the
tudiosos brasileiros e de outros países. Também Brazilian experience to academics and other in-
entendemos que esta revista é uma forma na qual terested parties abroad.
os pesquisadores do Brasil podem expressar suas
Interdisciplinary studies have been in
experiências a acadêmicos e demais interessados
vogue at least since the appearance of the An-
no exterior.
nales in 1929. In practice, historians, although
Os estudos interdisciplinares estiverem influenced by ideas from many fields, rarely un-
em voga, no mínimo a partir da publicação dos dertake research in conjunction with scholars
Annalles em 1929. Os historiadores, em sua trained in other disciplines. Collective studies
grande maioria, apesar de serem influenciados tend to be by groups of historians. Brazil has a
Conselho editorial
E
m um momento em que o equilíbrio
do poder e da riqueza mundial parece
estar mudando abruptamente, temos
A t a moment when the balance of world
power and wealth appears to be chan-
ging abruptly, we are pleased to pre-
o prazer de apresentar dois instigantes trabalhos sent two thought-provoking pieces which reflect
que refletem sobre tais acontecimentos dramáti- on such dramatic events: “French Education in
cos: “French Education in Science and the Puzz- Science and the Puzzle of Retardation, 1790-
le of Retardation: 1790-1840” por Margaret C. 1840” by Margaret C. Jacob and “Development
Jacob e “Theories and Development Experience: Theories and Development Experience: Half a
Half a Century Journey” por Vladimir Popov. Century Journey” by Vladimir Popov.
França, Grã-Bretanha e os Países Baixos France, Britain, and the Low Countries
lideraram o mundo da tecnologia durante o sé- led the world in technology during the 18th
culo XVIII. A Revolução Industrial começou na century. The industrial revolution began in Bri-
Grã-Bretanha, por razões que incluem a geogra- tain, for reasons which include geography and
fia e recursos, bem como instituições e tecnolo- resources as well as institutions and technolo-
gia, e rapidamente foi irradiada para os outros gy, and quickly radiated out to the other two.
dois. O artigo de Jacob discute particularidades Jacob’s article discusses specifics of French (and
da educação científica francesa (e Bélgica) quan- Belgian) scientific education as compared to that
do comparada com a da Grã-Bretanha durante o of Britain during the period of the industrial re-
período da Revolução Industrial e sua consolida- volution and its subsequent consolidation
ção subsequente
Popov’s study covers our own epoch with
O estudo de Popov cobre nossa própria emphasis on the rise of China. Here he demons-
época com ênfase na ascensão da China. Aqui ele trates the success of that country’s pragmatism
demonstra o sucesso do pragmatismo desse país as compared to the approaches of more ideolo-
em comparação com as abordagens dos governos gical governments and agencies in other areas
mais ideológico e agências em outras áreas do of the globe.
globo.
Returning to our concerns with Brazil,
Voltando às nossas preocupações com we have Paulo Roberto de Almeida’s “A politica
o Brasil, temos Paulo Roberto de Almeida “A commercial do Brasil no contexto internacional,
politica comercial do Brasil no Contexto Inter- 1889-1945”. This work represents a small part
nacional, 1889-1945”. Este trabalho representa of this distinguished diplomat’s considerable
Margaret C. Jacob
University of California
mjacob@history.ucla.edu
Resumo
Esse ensaio traça os altos e baixos da educação científica francesa de 1780 até 1840. Começa com a descoberta de que no depar-
tamento do norte, matemática e ciência foram descartadas do currículo universitário após 1815. A educação passou a ser papel da
História cultural. No caso francês, temos outro exemplo de um fator cultural exercendo papel no desenvolvimento industrial e sua
contribuição pra sua desaceleração. A chave para a compreensão desta um tanto bizarra reação ao saber científico está no fato da
contrapartida católica frente à revolução francesa.
.
Palavras-chaves: França; Restauração. Ciência
Abstract
The essay traces the ups and downs of French scientific education from the 1780s to 1840. It began with the discovery that in the
Department of the North mathematics and science dropped out of the curriculum of the colleges after 1815. Education belongs to
cultural history and in the French case we have another example of a cultural factor playing into industrial development, and con-
tributing to retardation. The key for understanding this rather bizarre reaction to scientific learning lies in the Catholic reaction to
the French Revolution
R
etardation is a mean word. Recently by the hospitality of their engineering hosts,
it has become impolite to apply it to French engineers scurried about the coal fields
people with disabilities or learning of Britain making exact descriptions of the types
disorders, whatever their source. Perhaps natio- and quantities of coal to be found in each. Com-
nal economies should also be exempt from such petition did not preclude the fraternizing of men
seemingly harsh judgment. Surely retardation in of science; lest we forget, there was still com-
productivity can only be understood in relation to petition between rivals who saw themselves as
someone else’s advance, and, of course, what we directly comparable.
label as “retarded” may have seemed quite nor-
mal to contemporaries. How dare we arrogantly The custom of comparing relative pro-
tumble into the past and pronounce a-historical gress between France and England was well in
judgment? Not least using the term conjures up place by the second half of the eighteenth cen-
the developed vs. the underdeveloped, and hence tury. French spies routinely arrived in British
the chest-thumping of the West. Such is not the towns and cities, prowling for information about
intention. For reasons of capital development innovations, or simply about the relative prices
and agricultural productivity, the area bounded paid for things as varied as coal and cloth. Ela-
by Great Britain, the Low Countries and France borate reports were then filed with the Ministry
seemed, then and now, as the region in Europe of the Interior in Paris where officials watched
most likely to advance economically and break nervously for signs of the British having made
out of the Malthusian trap. France did not, but advantageous improvements. When introducing
only by comparison to England and Belgium. a new invention, in this instance for improving
Economic historians who ignore culture have the sheen on silk, the inventor proudly noted
quantified the retardation onto its Procrustean his many trips to England and “the superiority
bed; it is time for a new approach. of luster that the makers …[in England] ap-
ply to cottons, silk fabrics, and ribbons,” and
We dare to say “retarded” in relation to
he proclaimed, the same luster can now be ob-
France in the first half of the nineteenth century
tained in France, thanks to his invention.3 He
precisely because the French living in the period
was rewarded with a fifteen year patent, free of
were capable of making similar observations,
charge. The inventor of a new pump for lifting
even if they shied away from using the word
water who claimed that he had spent many years
when describing their anxieties about “our rival,”
studying “mechanical objects” assured the state
England. It had become a mirror, and in it could
that his pump delivered “a greater force than the
be reflected French deficiencies. (NORMAND;
English steam engine.”4
MOLÉON, 1824, 47)1 French observers sent by
the government to Britain routinely remarked on Traffic in the direction of England to
how the English had vastly improved the use of France also increased decade by decade, even
coal in the manufacture of iron, thus they had into the revolutionary 1790s when British radi-
achieved “a marked superiority…over all other cals like James Watt, Jr. - much to the annoyance
European countries.” The French engineer wan- of his father of steam engine fame - marched with
ted “to hope that France will not remain always the Jacobins through the streets of Paris. His po-
foreign to this new source of prosperity.” (DU-
of iron as observed in different coal-rich areas.
FRÉNOY; BEAUMONT, 1827, 353-54)2 Aided 3 Archives nationales, Paris [hereafter AN], F12 998, year 6, 9 vendredi,
1 French accent marks not present in the original have not been added. request by C. Bardel.
2 Report by MM. Dufrénoy and Élie de Beaumont on the manufacturing 4 AN, F 12 997, dossier Laine and Varennes, 1792.
Perhaps the most curious and helpful Perhaps Boulton and Watt were looking
observations made by the many British visi- for men like themselves. Boulton wanted to
tors to France in the 1780s come from the no- know about “all publick meetings and schools for
tes taken by none other than Watt’s partner, the the promotion of human knowledge and arts.”10
brilliant industrialist, Matthew Boulton (who Most helpfully for us, he made a list that inclu-
was accompanied for all, or part, of the time by ded the Royal Academy of Sciences, the Socie-
James Watt.)6 They were guests of the French ty of Agriculture and Economical Arts, schools
King and received contracts for work to be done for millers, bakers, metallurgy, public medicine,
at Versailles.7 But other matters, largely to do surgery, design and painting, as well as chemis-
with scientific education, preoccupied Boulton. try, architecture (where drawing, geometry and
In the 1780s, through his comparative eyes, we mathematics were taught), the King’s library, the
can see what a few years later the French revo- Royal School of Hydrostatics, and a Lycée in the
lutionaries saw and sought to correct by a new Palais Royale where twice a day lectures could
industrial and educational policy implemen- be heard “in all the sciences.” In addition the-
ted by the mid-1790s. He made lists of all the re were ten different private lectures open every
5 Archives Departementales-Seine-Maritime, Rouen, MS 1T 579: day and free. Boulton was looking for the Paris
Collèges et Lycées, Affaires générales au sujet des écoles secondaires;
AN, Procès-verbal de la Visite des Ecoles Secondaire de la Ville de
version of public science and he found it easily
Rouen, “...et dans les maisons d’Education dont les directeurs avaient without the benefit of independent or unlicensed
sollicité, pour l’an 12, le titre de l’Ecole Secondaire. Ils sont précédé à
l’examen du mode d’enseignement suivi dans chacune, et ont interrogé newspapers. The Journal de Paris regularly lis-
les élèves depuis les premiers élémens du langue jusqu’au degré
d’instruction le plus élevé qu’offre chaque pensionnat. Observations ted lectures in the city. In addition Boulton noted
Générales...on a remarqué du Cn. Bricard, quelques élèves ont produit
des dessins qui annoncent de véritable dispositions, et a cet égard on schools for the deaf, dumb and blind, for recre-
doit faire observer, qu’il est important de maintenir le gout du dessin
dans une ville qui est la plus forte de l’Industrie française, tous les sujets
ations like riding and fencing, and multiple near
de cette industrie ont de plus ou moin loins, le Dessin pour Caze (?), si
l’art du Dessin se perfectionne, les machines se multipliant, les procédés 8 BCL, MS 3782/12/107/28, dated 1800, ff. 15-16, in this instance
acquière plus de simplicité, les ouvrages manuels plus de commodité et possibly a request he made to his French visitors, Mr. and Mrs. Gautier
de gout, et l’industrie nationale obtient une meilleur concurrence dans and de Luc.
les marchés étrangers.” 9 BCL, MS 3782/12/108/49, 1786-87, f. 9 notes on the water supply
6 Birmingham Central Library (hereafter BCL), UK, Papers of Matthew of Paris with assistance from M. Deparceux, f. 18 on the cost of coal
Boulton, MS 3782/12/107/14, 1786. Watt is there in January 1787 at imported from Swansea or Newcastle, £1.3.0 per ton with extensive notes
Calais. and measurements of the water works at Marly and Challiot.
7 D1583/2/33 Letter, Boulton to Wilson regarding Baron Stein, and of
work proposed for the King of France, 27 Jan 1787. .
10 Ibid., ff. 18-24
des arts et métiers, the main training school in Amid all of their jealous looking-over-
applied mechanics, leading industrialists such as the-shoulder Boulton was one of the few com-
the cotton manufacturer, Milne, were employed mentators, either French or English, who men-
as “chief of the practical school de filature” and tioned the state of mathematical and scientific
he was joined by skilled machine makers like J. education in either place. In this regard there
Montgolfier of ballooning fame. All mention of is growing evidence suggesting that the British
machines and application disappeared from the were further ahead in such education by the mi-
faculty positions by January 1816. Application ddle of the eighteenth century.24 Whatever the
reappeared in 1821 when the conservatory hi- case then, after 1789, the French reformers and
red three professors in “chemistry applied to the revolutionaries brought to power made educa-
arts, mechanics applied to the arts, and indus- tion a corner stone of the new mindset they ho-
trial economy” and they are paid more than the ped to create. At the center of the educational
professors of geometry and design.21 reforms lay the new écoles centrales established
in every province with teachers drawn mostly
French Education in Science after
from the laity. This bold experiment - under-
1789 taken in 1795 amid enormous financial and mili-
Despite the elitism of the patent fee, the tary distress - laid great emphasis on the teaching
post-1789 goal for industrial progress had an ega- of mathematics and science aimed at application.
litarian tendency. By 1792 visionaries like Mar- Zealous for the success of the new secondary
quis de Condorcet, now in positions of authority school curriculum, teachers from all over the
in government, proposed the reorganization of country wrote to Paris to complain that they did
traditional secondary education and placed the not have the demonstration instruments they ne-
mechanical arts and the practical elements of eded to teach the application of mechanics to real
commerce front and center in the curriculum of bodies in time and space. Yet they persevered.
the secondary schools. (BACZKO, 2000)22 He A similar curriculum that stressed mathematics
even believed that all new science–oriented fa- and physics was put in place for the training of
culties could be found to staff his grand experi- all engineers.
ment in progressive education intended to create
a new democratic citizen. Increasingly in the By 1802 the curriculum of the French
1790s a working assumption held sway: English secondary schools had expanded to include Eu-
industrial prowess depended upon their superior clidian geometry, works by Descartes and espe-
machines, and education in physics, mechanics, cially Newton and the major Newtonians.25 Very
and mathematics would promote innovation.23 little was added to the scientific reading list until
21 AN, F 1b I, 34, salaries and employees listed for 1808-09, among the 1830s, although as we are about to see, gra-
other dates. Milne’s name no longer appears after September 1814.
For January 1816 list of faculty and salaries see No. 41. Gaultier, the dually much was subtracted. During the reign
professor of Geometry, remained. A position appears for “Du dessin de
la Mécanique.” Salaries, with the exception of the director, are now lower of Napoleon the commitment remained to teach
than those before 1815. The new professors are Clement, Dupin and Say.
22 Condorcet, Rapport et projet de décret sur l’organization générale de
workers of every kind to calculate and to “know
l’instruction publique (avril 1792-décembre 1792,) p. 221. machines they employ.” Their machines for extraction are more complex
23 AN, F/14/4250 1805 Statistique minéralogique du Département du than ours (they are also near the sea); we need to develop our navigation
Leman..., entire discussion of all mining of every substance; machines system to compete.
never mentioned. Written by Lelivec, Engineer of the mines; Mémoire sur 24 http://www.cardiff.ac.uk/carbs/research/
les Mines de houille et le commerce de...Jemappes.... Competition with working papers/accounting_finance/A2009_2.pdf
England cited as critically important (year 10); their coal is superior 25 AN, F 17 1559, “Liste des ouvrages …approuves de 1802-1830,”
and accounts for their preeminence particularly from the produce of in 1802 works by Newton and Newtonians such as Keill, Gregory and
Northumberland; the coals of Jemappes are comparable “the work of Maclaurin, also Daniel Bernoulli, Euler, s’Gravesande, LaGrange,
exploitation in England has the advantage over those of this department Cassini, Monge, Camus, Desaguliers, Musschenbrock, Haΰy, among
... because of the conduct of the operation and the perfection of the others.
The Napoleonic administrators had fi- With the restoration in 1815 the secular
gured out what anecdotal evidence confirms. If authorities continued the rhetoric of being com-
a young man was going to make a career in in- mitted to the Baconian ideal of utility. They also
dustry, and particularly in the application of ma- put in place the Royal Institute where scientists,
chinery and its maintenance, in his youth he had among other savants, gathered and coveted the
to receive education in geometry and algebra, distinction of membership. Contemporaries
in basic mechanics of a Newtonian sort, and of believed the Institute had come to “realize the
course he had to be literate and numerate. Many thought of the celebrated Bacon.”30 After the
British young men, like James Watt, or the cotton Napoleonic wars praise for Baconianism did not,
28 Friends Library, Euston Road, London, MS note book for good
barons, M’Connel and Kennedy, received such penmanship of William Sturge 1797, Ackworth School, MS Box G
1/5/1-2; and for the correlation between attendance at Ackworth and
an education when they were apprentices, also, a career in industry see Edward Milligan, Biographical Dictionary of
as in the case of the linen manufacturer in Le- British Quakers in Commerce and Industry, 1775-1920, (York, UK:
Sessions Book Trust, 2007) pp. 552-555 for students at Ackworth from
eds, John Marshall, through self-education. In- 1779. For a similar curriculum see Minute book of Joseph Sam’s
School, 1809-1828, at Darlington, County Durham, MS vol. S.25. On
deed fully two-thirds of inventors and improvers apprentices see http://www.nber.org/papers/w16993.pdf where is found
NBER WORKING PAPER SERIES, Ralf Meisenzahl and Joel Mokyr,
found in the eighteenth century had been appren- “The Rate and Direction of Invention in the British Industrial Revolution.
Incentives and Institutions,” National Bureau of Economic Research,
26 Exposé de la situation de l’Empire Français. 1806 et 1807 .Paris : 1050 Massachusetts Avenue, Cambridge, MA 02138, April 2011.
Imperial Printer, 1807, p. 18. A similar claim is made in the exposé of 29 Discours prononcé par Roederer, Orateur du Gouvernement sur le
1809. projet de loi relative à l’Instruction publique…11 floréal an 10; 1 mai
27 AN, MS 29 AP 75, the private papers of Roederer, ff. 395-99, see 1802, pp. 12-14. Found at f. 681, AN, 29 AP 75.
article 12. See f. 619 for the structure of the lessons in physics and its 30 Mémorial universel de l’industrie française. Paris: Didot, 1821, p.
application and f. 666 on the suppression of the ecoles. 497.
however, absolve the English of their failings. what needed to be addressed. Now, state of the
The French said that, unlike their English coun- art instruction was to be based upon manuals on
terparts, they innovate “for the entire world” English mechanics.32
while the English “are jealous and envious.”
French critics complained that some people think The gap in the application of steam
that everything coming from across the Channel was one of the prime reasons why French com-
must be wonderful and are possessed of a foo- mentators said that “the imagination is con-
lish “Anglomania.” (NORMAND; MOLEÓN, founded when contemplating the astonishing
1824, 48-51) The more the English aspire to su- impact made on English industry by the genius
premacy, some said, the more the French realize in mechanics.” (CHAMBER OF COMMERCE,
that all their achievements originate with the fli- 1825, 10)33 Perhaps predictably, from 1818
ght of French Protestants after 1685 when Louis to 1823 over twenty treatises on industrial me-
XIV revoked their religious liberty. The French, chanics poured from the French presses. In the
went the complaint, had already initiated those same period an estimated six thousand English
industries from which the English now benefit. mechanicians, artisans, mill-wrights, and master
The moral of the story of French industry consis- engineers were lured to France. In the 1830s the
ted in never ceasing to contest the preeminence tri-weekly newspaper, L ‘Europe industrielle, re-
of England in this “war of industry.” gularly reported on the number of steam engines
and horsepower at work in Birmingham, or the
But gaps remained. In 1818 the Pari- state of English canal building and railroad cons-
sian Conservatory charged with the task of main- truction. Generally it also kept its eye on other
taining state of the art mechanical devices pos- European countries and their relative industrial
sessed sophisticated batteries coming from the progress. (GUILLERME, 2007, 321-22) Some-
work of Volta, machines of every sort for spin- thing else, not simply the high cost of labor or the
ning and weaving cotton as well as many other absence of coal, had to be at work in the puzzle
textiles, pneumatic machines, hydraulic ones, of French industrial retardation.
multiple measuring devices, but curiously and
The Contrast with Belgium
tellingly, not a single steam engine which, had it
been state of the art, would have been made by Once the French revolutionaries captu-
Watt or modeled on his design. (CHRISTIAN, red the territory, schools in the area known as the
1818) When in 1822-23 an engineer appeared Austrian Netherlands (Belgium) had imposed
in Paris with the ability to build steam engines upon them a similar curriculum, rich in natural
they were praised for being able “to rival those history, mathematics, physics and chemistry. In
of England.”31 The neglect in teaching applied 32 AN, F 14 11057, “Note sur l’organisation de l’Ecole des Ponts
et Chaussées par M. Navier, ingénieur en chef Septembre 1830,
mechanics at the main Parisian engineering Rapport sur le cours de Mécanique appliquée de l’ecole des Ponts et
Chaussées, L’ingénieur en chef soussigné a commencé à faire les leçons
school may very well have contributed to the de mécanique appliqué en 1819. M. Eisenman n’ayant rien écris sur
cette matière, on ne peut dire en quoi consistait l’instruction dans il était
malaise into which French mechanical applica- chargé avant cette époque. Les Ingénieurs qui cherchent dans leurs
tions appears to have fallen. Certainly in 1830, souvenirs quelques traces de cette instruction n’en retrouvent presque
aucune…. Enfin il serait indispensibles de le procurer une ou deux des
when educational reform was everywhere dis- meilleures encyclopédies anglaises, qui sont des sources précieuses
d’instruction. Ces ouvrages existent à la Bibliothèque de l’institut, et
cussed, the absence of interest in application at l’expérience vous apprend chaque jour qu’il est impossible quand on
en est privé de l’occuper conversablement des sciences et des arts, et
the engineering school figured high on the list of d’en suivre les progrès. Il est inutile d’ajouter qu’outre ces collections, il
faudrait que la bibliothèque peut avoir les ouvrages utiles qui paraissent
31 This is Bresson fils; see Charles Malo, Bazar Parisien, ou tableau journellement.”
raisonné de l’industrie (Paris: au bureau du Bazar, 1822-23), pp. 66-67. 33 from the preliminary discourse introducing the translation.
instruction and the moral probity of French stu- as the mathematician, A. Cauchy wrote off the
dents, while the clergy were returned to their entire eighteenth century as “the source of cala-
preeminent place in primary school education.49 mities without number…the abuse of talent and
French clerically controlled schools in the ei- science.”51
ghteenth century had a spotty, but real concern
for technical education; in 1815, after a genera- Position papers circulating in the Minis-
tion of secularization and anticlericalism, when try of Ecclesiastical Affairs around 1815 decried
the clergy returned, they threw their considerable how - for a generation - education had breed
educational zeal in the direction of re-Christiani- license and passion. Only a return to teaching
zation. (PRÉVOT, 1964, 87-100) The new Res- morality, respect for king and God, and not least
toration government embodied a profound reac- the history of France, will free the young from
tion against what it regarded as the excesses of “the vices of the revolution.”52 In secondary
the French Revolution, and education now had schools the pupils were to be instructed on the
to be reformed. “Religion and love of the King abuses introduced by the enlightened “l’esprit
must be made the base of education,” inculcated philosophique.”53 Needless to say, all the works
without ceasing, and state inspections in every by the philosophes were off their reading lists.
district were to report back to the Ministry of the In addition the post-1815 ministers charged with
Interior that all children in primary schools recei- overseeing education were vigilant that books
ved religious and moral instruction. inspiring “in the children of the inferior classes
the sentiments of animosity toward the more ele-
Even when in the service of religious vated classes” also be banned.54
piety, the system of state inspectors inherited
from Napoleon did not set well with the Church. The school inspections from 1817 to
Given that the Rectors of the Academies were 1820 tell an important story about the lack of
in charge of overseeing all aspects of education, scientific education in the French secondary
the Archbishop of Paris pointedly informed the schools. At the Academy in Clermont-Ferrand,
king, “that anywhere the rector of the academy the Academy at Metz, at Pau, at the relatively
will be an irreligious man; your people will be new colleges in Corsica, in the north at Caen
without religion.” The entire discussion of the (where mathematics was taught) the inspectors
academies that regionally oversaw secondary evince little, if any interest in the teaching of
education was framed within the context of what either physics or chemistry – even, as in Metz,
the Archbishop saw as the excesses of the French where the faculty possessed one teacher of phy-
Revolution when “the rights of man became the sics. At least in Lyon the academy had a zea-
universal catechism.” In 1818 a test of religious lous teacher of physics who had no instruments,
probity was imposed, a certificate of morality no minerals, plants or acids. No such instructor
and the profession of the Catholic religion were appears in the documentation about Marseilles
required of all primary school teachers.50As late where none of the professors have time for, or
as the 1840s even royalist men of science, such 51 A. Cauchy, “Sur la recherché de la vérité,” Bulletin de l’Institut
Catholique, second installment, April 14, 1842, p. 21. Reference kindly
49 Archives Departmentales, Seine-Maritime, MS 1T 873: Fonds de supplied by Amir Alexander.
l’Académie, Administration générale, Lettres ministérielles au recteurs 52 AN, MS F 19 326, ff. 425-430.
au sujet du personnel, 1823-1826; see letters for 1826 to, and from Paris, 53 Archives nationales, Paris, F17 11752, Commission de l’instruction
Ministère des Affaires ecclésiastiques et de l’Instruction publique. publique, 27 juin 1816. On the approval of books hostile to the
50 Archives historiques de diocese de Paris, 4 rue de L’Asile Popincourt, Enlightenment see “Liste générale des ouvrages qui ont été adoptés….
Paris 11, letter of 1816, n.d. addressed to “Sire.” For the certificates pour l’usage des Collèges…depuis 1802” # 258 a work by de Portalis.
see AN F/17/10172/180, letter of 17 April 1818 from the rector of the 54 AN, F 17 23396, book # 244, “Commission charge de la révision
Academy of Lyon. des livres,” 1831.
In general the restored Catholic Church serve the downward course of scientific and te-
could only have been pleased, despite the persis- chnical education after the Restoration. Indeed,
tent complaining of its ultra royalist right-wing. after police reports about it in 1826, the Royal
The state subsidized novitiates for the training Academic Society of the Sciences, an originally
of orders of Christian brothers, while religious non-royal and republican body, was prohibited,
books were being diligently distributed in the re- and its members left to protest that they had ne-
Christianized schools. 58 In the further reaction ver spoken a word about “politics or religion.”62
of 1822, when the nobleman and bishop of Paris,
Denis Frayssinous, became Grand Master of the At the same time and at the height of the
University that oversaw all public education, he reaction, the police spied on the free and public
made it clear that pupils must have “their eyes on lectures given by Parisian professors at the Con-
sacred objects; that are the true way to give them servatoire des arts et métiers and found that they
religious habits.”59 As early as 1808, when new contained eulogies “to liberty and equality…and
guidelines were issued for education he believed that a King is more often an ignorant and unjust
“in the uniformity of education, the fidelity to the man.” Among the greatest offenders, M. Dupin,
Emperor and that … the pupils be attached to a teacher of geometry and applied mechanics,
their Religion…education will be based on the also had accomplices teaching literature, chemis-
precepts of the Catholic Church.” 60 Therein lay try and economics, when, the police said, they
his single-minded concern. were not teaching sedition. When Dupin lec-
tured the amphitheatre was packed by attentive
In multiple orations, many centered on young men preparing for careers in manufactu-
the horrors of the French Revolution, Bishop ring, commerce and students of mathematics – or
Frayssinous made clear his belief that the phi- so the spies reported. Particular surveillance had
losophes of the eighteenth century had planted also to be placed on the courses in chemistry and
the seeds of revolution. They had exaggerated industrial economy. Perhaps all learning inten-
the advantages of the sciences, letters and arts - ded for industrial development had become inhe-
all became more commonplace than ever before. rently suspect. Certainly such applied instruc-
Their popularity coincided with the revolution, tion was described as consistently anti-monar-
one of the greatest calamities that ever afflic- chical and irreligious. In the mind of the police
ted the earth. (FRAYSSINOUS, 1843, 39-40)61 authorities such liberal groups sought “to exploit
While the good bishop could acknowledge the all types of industry, all human knowledge in the
achievements of science, he did so only as an interest of the revolution.” The three great “po-
after-thought. (FRAYSSINOUS, 601) Given his wers of modern time…the financial aristocracy,
attitude toward secular learning and the French the scientific and the industrial” will prepare the
Revolution, we cannot be surprised when we ob- triumph of a new liberal and revolutionary or-
1816 from Archbishop Alex. Ang. Duke de Reims to Comte de Vaublanc, der.63 In addition industrialists and merchants,
Minister of the Interior. 62 AN, F 17 3038, pamphlet dated 27 December 1826, “Les membres de
58 Ibid., Paris 6 janvier 1820, “Rapport” presented to the secretary of la commission administrative, charge de réclamer après du Ministre de
state for the ministry of the interior on religious books being distributed l’intérieur, contre son arête du 31 janvier 1826….” For the reports see
in the schools. Cf., the entire folder, F17 12451 for the payment of F 7 6689, from the Prefecture of police to the Ministry of the Interior, 30
expenses for educating the Brothers of Christian Doctrine and the January 1826, it had become associated with certain Masonic lodges.
Brothers of Christian Schools. 63 AN, F 7 6965, #12,391 Paris 14 January 1825, to the prefect of
59 Circulaire de Mgr Frayssinous, June 1822; BFM, Fol-R Pièce-205. Police. There is particular concern over M. Dupin. For his teaching of
60 AN, AB xix 514, letter of 3 8bre 1818, underlining in the original. geometry and applied mechanics see first item in this dossier dated 13
61 For a secondary work that contains the same sentiments see Alexis October 1828. For Clement teaching chemistry and Say on the industrial
Chevalier, Les frères des écoles chrétiennes: et l’enseignement primaire economy see #12, 391, Paris, 17 December 1824, labeled confidential;
après la révolution, 1787-1830 (Paris: Libraire Poussielgne Frères, #12391 on filled lecture halls. See # 12, 395 for a teacher of mathematics
1887). with liberal opinions, and May 4, 1827 for liberals meeting in the room
ve the revolutionary curriculum at its birth after directives coming out of Paris remained comple-
1789-- and at its eventual demise after 1815. tely silent on the subject of religious education
The North is not just any province from the pers- or the traditional classical education, although by
pective of industrial development. Just south 1807 the Ministry of the Interior demanded that
of the department of Jemappes, seized from the the lay faculty not spend its time teaching the ca-
Austrians in 1795, this northern region of Fran- techism devoted, as it was, to dogma. Much to
ce was its most populous, had access to Belgian the annoyance of the local ecclesiastics, that was
and French coal, and its engineers could witness to be done by priests in a separate place outsi-
the advanced state of machine technology found de of the school. All secondary schools were to
at the Austrian/Belgian coal mines. By contrast, follow the directive. Undeterred by the law, the
at the famous French mine owned by the Anzin clergy in the Department struck back and took to
Company, Newcomen engines had been installed ringing church bells and holding public proces-
late in the eighteenth century but little was done sions.72 As in many other places in revolutionary
to maintain them in good working order.68 France, the practice of religion had become de-
eply vexed.
After 1795 the schooling for French stu-
dents aged at least fourteen in the department of The secondary school curriculum could
the North paid a new attention to mathematics, also be easily filled with other secular subjects.
especially as it applied to actual bodies. Even By 1800 schools in Lille, as well as Namur (it
the calculus was introduced although scientific now within a department of France) had added
instruction came more slowly.69In 1795 the de- electricity, gases and air pressure to the curricu-
cree went out throughout the department that the lum.73 In less than ten years the city of Lille de-
new schools were to have four new classrooms, manded a public course in physics with salaries
each for mathematics, physics, chemistry and and instruments for demonstrations paid for by
natural history.70 The following year further uni- the Ministry of the Interior.74 By the 1820s its
formity was added to the science curriculum and industrial prowess was honored during a royal
the professors were instructed about the order in visit in 1827.75
which the science topics should be taught.71 The
68 Reed G. Geiger, The Anzin Coal Company. Big Business in the Early
But after 1815 something happened to
Stages of the French Industrial Revolution (Newark, DE: University of
Delaware Press, 1974), pp. 58, 86-87.
scientific education in the secondary schools
69 Archives Departmentales du Nord (ADN), Lille, Séries L 4840, of the Department of the North. In most cases
printed circular, Programme d’exercices publics, qui auront lieu a
le école centrale du département du nord, établie a Lille, les 28 et 29 mathematical instruction continued, but physical
Fructidor, an VI de al République, (Lille, chez Jacquez). Cf. AN F 19 456,
Cambrai , 19 janvier 1807, the secondary school in Cambrai had two and chemical science largely disappeared. In
professors of mathematics out of five faculty. See also Nicole Hulin, “La
place des sciences naturelles au sein de l’enseignement scientifique au 1816 physics was still being taught at the Colle-
XIXe siècle/The place of natural science within the 19th-century science ge Royal but only four students elected to take it.
curriculum.” Revue d’histoire des sciences, 1998, Tome 51 n°4. pp. 409-
434. The curriculum had returned to being overwhel-
70 Ibid., Séries L 4840, Extrait des registres du comite d’instruction
publique, règlement de police pour les ecoles centrales…8 ventôse, l’an 72 Lille, Series L 4840. For annoyance see letter of 10 February 1807 to
3 de la république; circular printed at Douai. the Minister of the Interior, 9 February 1807.
71 Ibid., Extrait des registres des délibérations de l’administration 73 Programme d’exercices publics, qui auront lieu a l’ecole centrale…
centrale du Department de la Moselle, 25 Prairial 4th year… (1796). Lille, year 8 p. 6 where gases and air pressure is being taught, also
Here the guidelines call for math and physics and experimental chemistry; electricity. For teaching the catechism outside the school see AN, F 19
article 5 “la physique sera enseignée pendant les sept premiers mois de 456, Cambrai, 19 January 1807, from the prefect of the department of
l’année, et la chimie, pendant les cinq autres. Le professeur enseignera la the north.
première science dans l’ordre suivant, propriétés des corps, mouvement, 74 ADN, Lille, Box 1 T /19/1-4 minister of interior in 1809 has received
statique, hydrostatique… feu, lumière électricité….”This circular is a request to set up a free course in experimental physics and giving money
printed in Metz and to be sent to the Department of the North. See also for salary and instruments; course of chemistry in place in the 1820s
Avis du jury d’instruction nomme…pour la formation de l’ecole centrale 75 [Anon.] Relation du séjour du Roi a Lille…Le 7 et 8 Septembre 1827
de Maubeuge. (Lille; Reboux-Leroy), pp. 47-51; 95-100.
or no effect and in 1828 the ministry noted “the and chemistry were introduced into the curricu-
repugnance of the students” for mathematical lum. In 1838-40 the list of books upon which
studies. The following year the university de- the pupils were to be examined included the an-
manded that each academy report on the morals, cient classics, mathematics, from arithmetic to
religion and politics of every faculty member. In trigonometry, plenty of geography and history,
sum, from 1805 to 1826 where physics was tau- but next to nothing in physics and chemistry. Yet
ght at all, it was given as a single, very general the 1830s reveal a watershed and in the provin-
course in the lycées.81 cial colleges extra funds had to be allocated to
augment the cabinet of physics and the chemistry
Paris and Elsewhere
laboratory.85
In the mid 1830s the university was still
struggling with the professors in Paris to take up By 1842 students in the 4th to 9th districts
the teaching of mathematics in its complexity. of central Paris could receive their scientific edu-
They may have been unwittingly assisted by a cation by also attending the College Royal or by
new school established to teach “English youth going to one of a number of secondary schools
apparently from industrial families” intended to dedicated to the sciences and functioning as a
occupy places in industry. Living languages, as pathway to the École Central des Arts et Ma-
opposed to Latin, history, geography, physics, nufactures. By this date it became possible to
chemistry and mathematics were the main fo- chose a course of education for “professions
cus of the school. There was also an emphasis properly described as industrial” although not
on application. Around the same time in Paris many students chose it, and it was predominan-
students could also attend “an industrial institu- tly scientific. In such schools students learned
tion” and it appears to be recently established.82 also about the design of machines, but in general
At the Royal College of Saint Louis in Paris stu- the inspectors took a dim view of their morals
dents wanting to make their way to the polytech- and behavior. Two schools were evidently de-
nic gravitated to a particular professor. Indeed it dicated to the study of commerce and elementa-
would seem that by the late 1830s the students ry industry. Graduates were able to apply to the
are now eager to receive the best possible educa- École polytechnique or one of the special schools
tion for a scientific or engineering career.83 Pre- that emphasized practical application. All could
dictably the professors of physics were deman- avail themselves of instruction at one of colleges
ding an end to their “shocking inequality” and in the vicinity such as the College St. Louis.86
requesting equal pay and status with those in the
humanities.84 Also in this decade natural history In 1840 national examiners specifically
81 See the dossier assembled under 9 June 1829 from the Ministry of in mathematics and science were appointed, and
Public Instruction to all the rectors; AN F 17 8858. See Nicole Hulin, May 1742 from Paris to the Ministry.
“Le problème de physique aux xix e et xxe siècles,” in Pierre Caspard, 85 AN F 17 8838, rector of the Academy of Angers, 21 December 1835.
ed Travaux d’élèves pour une histoire des performances scolaires et de 86 AN, F/17/1557, “Liste de MM les Examinateurs des Livres
leur évaluation XIXe-xxe siècles, no 54, 1992, pp. 48-49. Classiques,” the first list of 1840 containing no books in physics or
82 AN F17/6894, dated September 1826; F17 6894, letter dated 20 chemistry, but the second list “presented for university adoption”
November 1828; see in the same box letter of 8 October 1833 on Paris. introduced only in 1839, Deguin, Cours Élémentaire de Physique, 2nd
For the school for English pupils see AN F 17 8838, school of M. edition, and Pierre Isidore, Exercises sur la physique. Later in the same
Houseal, described in letter of 14 May 1833; and under Mr. Gignoux year Olivier, Mécanique usuelle and Pinaud, Programme d’un cours
see mention of the industrial institution in the same letter. Élémentaire de Physique were suggested. In 1840 chemistry made its
83 AN, F17 8837, folder labeled “Collèges, Institutions, et Pensions appearance in a work by Burnouf. For the behavior of students in the
1812-1813,” within that report labeled “Rapport sur les établissements school dedicated to the sciences see F 17 8838, entire folder (40 ff)
d’instruction publique du Dept. de l’Eure pour l’année 1811.” The about Paris, report of November 1842; not least, the science students
entire box is relevant. See AN f 17 6894, letter of 19 November 1838 smoked. For the school dedicated to commerce and industry see
from the College to the inspector general. Pension Chalamet and it cost 25 fr. a month. For education suited to
84 AN F17, 6894, letter of 16 August 1839 signed by the professors the industrial professions see F 17 8838, letter of 9 December on the
and addressed to the Ministry. For “shocking inequality” see letter of 2 10th and 11th arrondisements.
tine primary schools continued to exist. They rians and their “classes in mathematics, physics
were deemed to be irreligious, and their existen- and chemistry would be suppressed.” 95 Parents
ce suggests that not every family endorsed the would justifiably be alarmed. Curiously the ac-
project of re-Christianization.92 tual speech, which survives, said nothing about
seminarians nor science; the authorities made
Re-Christianization
the linkage and in the process tell us what other
Revived Catholicism had zealous and sources asserted, that science had no place in a
impassioned advocates. At one extreme the ul- clerical education. When the inspector, the abbé
tra-royalist supporters of king and church belie- Eliçagaray made his way to the medical college
ved that the previous century had rendered multi- at Montpellier and began to lecture on the virtues
ple injustices against educational institutions, all and orders of the government, some students
in the name of “what called itself philosophy.”93 started to murmur - much to the annoyance of
The suspicions roused by enlightened philoso- the abbé.
phies extended all the way to science itself. Ma-
terialism lurked in those precincts, and science When lecturing to the professors and
had fostered its rise. The ultra- royalists belie- students at Royal College in Marseille, the ar-
ved it impossible “to open a book of science chives tell us that in fact the inspector had said
without finding there the principles subversive nothing about science. Instead he ignored all se-
of all religion, all morality, education, and ins- cular subjects in the interest of insisting that first
tead of being a benefit, it has become a true dan- and foremost the collegians needed to realize
ger.” Societies that exist “with erroneous sys- that “politics and religion can never be separa-
tems in chemistry or in physics” exhibit a form ted.” Liberals are rebels, factious, revolutionary
of moral corruption; science can be ignored, “a and Jacobin. Furthermore, he did say, “we have
people are able to attain a very high degree of no need of savans…we want subjects faithful
civilization without knowing the true causes of and devout. Make savans if you want; it is your
gravitation.”94 affair, but have all the men [possess] a royalism
pure and ardent.”96 The satire had put into print
Such anti-science ideas circulated wi- words that the abbé had not said – but it captured
dely. A liberal satire aimed against the ultra sentiments that had been implied.
royalist assault on science – one that came to the
attention of the police – put words in the mouth Reactionary forces had become deeply
of the inspector of public education in Marseille involved in the educational system and they were
that “physics, mathematics, chemistry, finally, all in open revolt against the Enlightenment and its
the sciences that you are taught are only perni- errant step-children, science and the French Re-
cious to the sociability of men. Our King has no volution. They were convinced that a philoso-
need of savants, he wants monarchist and reli- phical education, as found in England, must be
gious men - oh I made a mistake, religious and a liberal one.97 In the post-1815 ideological wars
monarchical men.” The authorities found the it would appear that in some places science and
satire particularly sinister because it insinuated mathematics suffered co-lateral damage. If the
95 AN F 7, 6915, #8314, printed journal, Le Caducée, dated 18 June
that all students would be treated like semina- 1821, supposedly spoken by the inspector on his first visit to the college
in Marseille. For the letter describing the damage done, see Marseille le
92 AN, F17 10384, reports on primary schools during the early 1820s. 23 June 1821 from the Prefect of Bouches-du-Rhône.
93 La Foudre, 15 October 1823, p. 54. In the following year this journal 96 AN F 7 6915, #8310, “Discours de Mr Eliçagaray aux Professeurs du
is bought up secretly by the moderate right-wing government. Collège Royal de Marseille.”
94 Ibid, #48, n.d., but 1822-23, pp. 6-7. 97 La Foudre, Ibid, # 42, 1821, p. 415.
to modernize his factory and introduce state of are adding scientific culture to the mix. Sure-
the art equipment. Mr. Motte of Motte, Bos- ly the point here is that it all mattered.108 Homo
suet et Cie. arranged to have all the equipment economicus possessed in some places, and not
shipped from Britain and installed by English others, certain cultural components which could
workers, and more to the point, he bragged that be used to an industrial advantage. French in-
they did all of this, despite import taxes, chea- dustrial retardation had many roots, to be sure,
per than if he had used French equipment and but deficiencies in scientific education for boys
workers.107 We know that British workers were (the situation was even worse for girls) must
not underpaid relative to their French counter- now be added to the story. That said, the French
parts. What the cost differential reveals is the must be given their due. In the area of chemical
relative scarcity of equipment and skilled Fren- dying and bleaching of fabrics, they led the way
ch workers relative to what could be obtained and in the process carved out an area of expertise
in Britain at less the cost, even with shipping that would make French fashion the envy of the
of men, machines and import taxes taken into world.109 The last word: developing countries ig-
account. A critical mass of skill, of mechanical nore education at their peril.
knowledge and know-how, made a difference.
It created a knowledge gap in available power
technology between Britain and the rest of the
world, for which French industry, somewhat un-
fairly, has had to carry the burden of proof. The
gap would only be closed in the half century after
1850 and then slowly.
Algemeen Rijksarchief, The Hague (ARA), Archief van Binnenlandse Zaken. I796-18I3.
Archives nationales, Paris, MSS AB xix 514, séries F7, F12, F1b, F14, F17, F19, MS 29 AP 75,
Birmingham Central Library, UK, Papers of Matthew Boulton and James Watt
Friends Library, Euston Road, London, MS William Sturge 1797, Ackworth School, MS Box
G 1/5/1-2
Printed:
Chambre of Commerce, Enquête faite par ordre du Parlement d’Angleterre pour constater les
progrès de l’industrie en France (Paris: Boudouin, 1825)
Exposé de la situation de l’Empire Français. 1806 et 1807 (Paris, Imperial Printer, 1807)
La Foudre, 1820s
L.P. de Jussieu, Simon de Nantua, ou le Marchand Forain (Paris: chez L. Colas, 1818)
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Restoration (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1971)
Vladimir Popov
New Economic School, Moscow
vpopov@nes.ru
Resumo
Este trabalho examina o impacto que as teorias de desenvolvimento tiveram nas políticas de desenvolvimento e o impacto inverso
dos atuais sucessos e insucessos no pensamento sobre desenvolvimento. Argumenta-se que o pensamento sobre desenvolvimento
se encontra em uma “encruzilhada”. Teorias desenvolvimentistas no período pós-guerra passaram por um ciclo completo. Desde
o “big push” e ISI, passando pelo pensamento consensualmente neoliberal de Washington, chegando no entendimento que nem os
trabalhos mais antigos, tampouco os novos trabalhos de engenharia abordam com sucesso a questão do desenvolvimento. Nesse
meio tempo, “milagres econômicos” no leste da Ásia foram realizados sem muita confiança no histórico do pensamento desenvolvi-
mentista. Ocorrendo simplesmente como experimentações de políticos com “mãos de ferro”.
Palavras-chaves: Crescimento, Teorias, Experiência
Abstract
This paper examines the impact that development theories have had on development policies, and the inverse impact of actual
successes and failures in the global South on development thinking. It is argued that development thinking is at the cross-roads.
Development theories in the postwar period went through a full circle – from Big Push and ISI to neo-liberal Washington consensus
to the understanding that neither the former, nor the later really works in engineering successful catch-up development. Meanwhile,
economic miracles were manufactured in East Asia without much reliance on development thinking and theoretical background – just
by experimentation of the strong hand politicians.
A
s Leo Tolstoy claimed in “Anna Kare- red India, Burma, Argentina and Hong Kong as
nina”, “happy families are all alike; nations expected to achieve 3% annual growth
every unhappy family is unhappy in per capita for a 5 year period. India, Burma and
its own way”. This wisdom, however, can be har- Argentina all achieved about 1.5% growth, whe-
dly applied to the development success of coun- reas Hong Kong did much better. Chile, Egypt,
tries: it appears that success stories in the deve- Ghana and Jordan were also named for their unu-
lopment and transition world are as different as sually good growth prospects. But no one seems
they can be. It is not uncommon to come across to have selected South Korea or Taiwan (TOYE,
contradictory statements about the reasons of 1989).
economic success: economic liberalization and
Today, the conventional wisdom seems
free trade are said to be the foundations of rapid
to point out to democratic countries encouraging
growth in some countries, whereas successes of
individual freedoms and entrepreneurship, like
other countries are credited to industrial policy
Mexico and Brazil, Turkey and India, as future
and protectionism; foreign direct investment that
growth miracles, whereas rapidly growing cur-
are normally considered as a factor contributing
rently authoritarian regimes, like China and Vie-
to growth, did not play any significant role in
tnam or Iran and Egypt, are thought to be doo-
the developmental success of Japan, South Ko-
med to experience a growth slowdown, if not a
rea and pre-1990s China. Privatization of state
recession, in the future. According to Goldstone
enterprises, foreign aid, free trade, liberalization
(2009),
of the financial system, democratic political ins-
titutions – all these factors, just to name a few, a country encouraging science and
are usually believed to be pre-requisites of suc- entrepreneurship will thrive regardless of ine-
cessful development, but it is easy to point out to quality: hence India and Brazil, and perhaps
success stories, not associated with these factors. Mexico, should become world leaders. But
I say countries that retain hierarchical patro-
In the 1970s the breathtaking economic nage systems and hostility to individualism
success of Japan that transformed itself into a de- and science-based entrepreneurship, will fall
veloped country just in two postwar decades was behind, such as Egypt and Iran.
explained by “Japan incorporated” structure of
the economy – special relations between (a) the According to another variety of this
government and companies (MITI), (b) between popular view, rapid growth could be achieved
banks and non-financial companies (bank-based under authoritarian regime only at the catch up
financial system), (c) between companies and stage, not at the innovative stage: once a country
workers (life time employment). After the stag- approaches the technological frontier and it be-
nation of the 1990s, and especially after 1997 comes impossible to grow just by copying inno-
Asian financial crisis that affected Japan as well, vations of the others, it can continue to advance
these same factors were largely labeled as clear only with free entrepreneurship, guaranteed indi-
manifestations of “crony capitalism” that should vidual freedoms and democratic political regime.
be held responsible for the stagnation (POPOV,
This may be true and may be not, we still
2008).
do not have enough evidence for the innovation-
In 1960 Rosentein-Rodan, widely regar- based growth. For one thing, on all measures of
ded as the author of the Big Push theory, favo- patent activity, Japan, South Korea and China
coordination, etc.) can promote growth, but the The Big Push: Theories and
issue is still controversial. Structuralists claim Practice
that industrial policy in East Asia was much
To what extent development thinking
more than creating better business environment
influenced actual policies in developing coun-
(that it was actually picking up the winners),
tries? Development efforts of the 1950s and
whereas neo-liberals believe that liberalization
1960s were dominated by ideas of “Big Push,”
and deregulation should be largely credited for
“Take off,” “Incremental Capital-Output Ratio,”
the success.
“Two-Gaps,” etc., all of which focused on ag-
It is said that failure is always an orphan, gregate growth rate to be achieved through large
where as success has many parents. No wonder, doses of physical capital investment. The logic
both neo-classical and structuralist economists was seemingly flawless: savings rate is low in
claimed that East Asian success stories prove developing countries, so they may stay in a bad
that they were saying all along, but it is obvious equilibrium forever (development trap – just
that both schools of thought cannot be right at enough investment to create jobs for the new
the same time. entrants into the labor force, but not enough to
increase capital/labor ratio), unless there is a Big
Why there emerged a gap between de- Push – mobilization of domestic savings or im-
velopment thinking and development practice? port of savings from abroad. The Big Push can
Why development successes were engineered ensure a transition to a good equilibrium, where
without development theories, whereas deve- it would be possible to stay on a growth trajec-
lopment theoreticians failed to learn from real tory. Savings gap is another side of the foreign
successes and failures in the global South? It exchange gap: not enough domestic savings to
appears that development thinking in the postwar finance investment, not enough foreign exchange
period went through a full evolutionary cycle – earned from export to finance imports of invest-
from dirigiste theories of Big Push, financing gap ment goods. What is the answer to the lack of
and import substitution industrialization (ISI – savings to make investment needed to exit the
1950-70s) to neo-liberal deregulation wisdom of poverty trap? Forced mobilization of domestic
“Washington consensus” (1980-90s), to the un- savings or foreign borrowings to finance import
derstanding that catch up development does not of machinery to carry out industrialization.
happen by itself in a free market environment,
but with a lack of understanding what particular The Big Push ideas are usually attributed
kind of government intervention is needed for to Rosentein-Rodan (1943) and to Murphy, Sh-
manufacturing fast growth (2000 – onwards). leifer, and Vishny (1989), but there were earlier
predecessors in the 1920s – “the theory of primi-
His paper examines the impact that de- tive socialist accumulation” of Preobrazhensky
velopment theories had on development poli- (1926/1965) and the two sector Feldman-Maha-
cies, and the inverse impact of actual successes lanobis model (FELDMAN, 1928/1964), which
and failures in the global South on development is now acknowledged by researchers1 and even
thinking. It also seeks to examines the possibili- 1
Bardhan (1993) writes about the emergence of development
economics: “ In the third decade of this century it briefly flourished in
ties for the new development paradigm. the Soviet Union, dwelling on the problems of capital accumulation in a
dual economy and of surplus mobilization from agriculture, and on the
characteristics of the equilibrium of the family farm: the best products
of this period, the dual economy model of Preobrazhenski (1926
[1965]), the two-sector planning model of Feldman (1928 [1964]) and
“When we introduced the vodka monopoly we were confronted with the alternatives:
either to go into bondage to the capitalists by ceding to them a number of our most important mills and factories
and receiving in return the funds necessary to enable us to carry on,
or to introduce the vodka monopoly in order to obtain the necessary working capital for developing our industry
with our own resources and thus avoid going into foreign bondage.
Members of the Central Committee, including myself, had a talk with Lenin at the time, and he admitted that
if we failed to obtain the necessary loans from abroad we should have to agree openly and straightforwardly to
adopt the vodka monopoly as an extraordinary temporary measure.
Of course, generally speaking, it would be better to do without vodka, for vodka is an evil. But that would mean
going into temporary bondage to the capitalists, which is a still greater evil. We, therefore, preferred the lesser
evil. At present the revenue from vodka is over 500 million rubles. To give up vodka now would mean giving up
that revenue; moreover there are no grounds for asserting that this would reduce drunkenness, for the peasants
would begin to distil their own vodka and to poison themselves with illicit spirits….
I think that we should, perhaps, not have to deal with vodka, or with many other unpleasant things, if the West-
European proletarians took power into their hands and gave us the necessary assistance. But what is to be done?
Our West-European brothers do not want to take power yet, and we are compelled to do the best we can with our
own resources. But that is not our fault, it is—fate.
As you see, our West-European friends also bear a share of the responsibility for the vodka monopoly.
ralization, deregulation, macro-stabilization, do- results of the Big Push and ISI experiments. In
wnsizing of the government, privatization, and 1980-2000 the gap between developed and deve-
opening up of closed economies – elimination of loping countries actually increased for all regions
barriers in trade and capital flows (although not of the South except for East Asia (O’CAMPO;
in international migration). Even East Asian suc- JOMO; VOS, 2007). Over the 1980s, the econo-
cess was explained mostly by deregulation and mies of the middle income developing countries
smaller size of the Asian governments. and of sub-Saharan Africa actually contracted.
Transition economies in the 1990s experienced
The Structural Adjustment Programs transformational recession that was either com-
(SAP) implemented in 1980s and 1990s focused parable (Eastern Europe) or greater in magnitude
on reduction of budget deficit, liberalization of (former Soviet Union) than the Great Depression
prices, privatization of assets, liberalization of of the 1930s.
trade and investment, etc. They urged the debt-
distressed countries to adopt “sensible econo- Meanwhile, East Asia, was growing se-
mic policies”, a term that encompassed not just veral times faster than others (fig. 5).It was gro-
macroeconomic stabilization on a grand scale wing faster than other regions even in the 1950s-
but also microeconomic measures of thorough 70s, but this growth accelerated dramatically af-
market liberalization. In 1988 this position was ter the Deng’s reforms in China 1979. From the
formalized; in a concordat aimed at improving 1980s India and South Asia became the second
policy coherence, the IMF and the World Bank fastest growing region – their per capita GDP
agreed that adjustment lending would be availa- growth increased to 3% a year in the 1980s, 4%
ble only to countries undergoing an IMF stabili- in the 1990s and 6-7% in 2000-08. Fast Indian
zation program (TOYE, 2009). growth is sometimes attributed to the deregula-
tion reforms of the 1990s, but it was shown that
A further concordat was provoked in it actually started in the early 1980s, well before
1997-8 by wrangles over who had the right to deregulation reforms were launched (GHOSH,
do what during the Asian crisis. The establish- 20073). Like the Chinese, Indian growth was ba-
ment of the WTO introduced a third dimension sed on the achievements of the 1950s-70s period
to policy coherence. A three-way “Joint Declara- of ISI and mobilization of domestic savings: the
tion of Coherence”, issued at the ill-fated Seattle savings rate (as a % of GDP) doubled in recent
Ministerial Meeting of the WTO (1999), empha- 50 years, going up from 12-15% in the 1960s,
sized their shared belief that trade liberalization to 16-20% in the 1970s, 15-23% in the 1980s,
was essential to the promotion of global growth 23-25% in the 1990s, and to 24-35% in 2000-08
and stability. It supported the use of informal (WDI database).
cross-conditionality in lending to ensure that
borrowing governments liberalized their trade With fast growth of East and South
regimes. In the last twenty years, IMF-Bank- Asia the understanding that mobilization of do-
WTO policy coherence has markedly increased, mestic savings is crucial may be coming back.
but it has been policy coherence in the service The Big Push ideas may be gradually returning
of the neo-liberal policy agenda (TOYE, 2009). now, albeit in a renewed form. “The UN Mil-
The third wave was to eastern Europe- magnitude of aid (about $100 billion annually) is
an economies in the middle years of this decade. too small to make a decisive difference (0.3% of
This wave is ending in grief as we speak. GDP of recipient countries, less than total net ca-
pital flows by the order of magnitude and several
There have been some spectacular deve- times smaller than just remittances from migrant
lopment success stories since 1980. But I’m not labor). The irony also is that aid, emergency aid
aware of any that were mainly driven by external excluded, is usually used efficiently in countries
finance. The point is not necessarily that inter- that have relatively good institutional capacity
national capital movement is a bad thing, which and can mobilize domestic savings themselves,
is a hotly debated topic. Instead, the point is that whereas in countries with weak institutions and
there’s no striking evidence that capital flows lack of domestic savings, where aid is most nee-
have been a major source of economic success” ded, it is often squandered. In countries that grow
(KRUGMAN, 2009). fast aid works, in countries that do not grow, aid
doesn’t help much, except in emergency.
In view of this evidence, the developing
country policy choice of a determined attempt On top of that, the magnitude of foreign
to rely on external financing is ironic. It is also assistance seems to depend mostly not on the ne-
ironic that while development economists are eds of the South, but on the attitude of the West
preoccupied by “capital flowing uphill” problem towards developing countries and the balance of
(from developing to developed countries), the forces between the West and the South. Plotting
best growth record is exhibited exactly by coun- the relative size of ODA over recent 5 decades
tries with positive current accounts and large re- reveals at least two important trends (fig. 11).
serve accumulation that are generating this uphill First, despite rhetoric and intuition that more aid
movement of capital. should be given to poorer countries in difficult ti-
mes, it appears that aid increased when resource
Marshal plan for Western Europe right
(oil) prices were high, and decreased, when they
after the Second World War may have been the
were low. Arguably, the bargaining positions of
first and the last success story of foreign finan-
the South improved in times of more favorable
cing contributing substantially to economic revi-
terms of trade, so the West was trying to ensure
val. But even in this case it could be argued that
that the greater financial independence of deve-
without appropriate domestic (European) institu-
loping countries is not translated into more leftist
tions and mobilization of domestic savings, the
political orientation. Second, the clear leveling
(relatively) rapid growth would not happen. Fo-
off between 1991 and 2001, after the collapse of
reign financing of Japan after the Second World
the Soviet Union and before the 9/11 terrorist at-
War was insignificant, whereas Japanese postwar
tack, was probably caused by the perception of
growth was more impressive than European.
reduced security threats to the West in the period
The same could be said about aid – offi- “after communism – before terrorism”.
cial development assistance (ODA). Whereas
Arguably, aid is an over-researched is-
from the point of view of a developing country,
sue and is less important than possible gains
it is certainly better to have assistance from abro-
from any of the following reforms: elimination
ad than not to have it, aid alone cannot become a
of Western protectionism and especially agricul-
crucial factor promoting development. The sheer
tural subsidies; more benevolent attitude of the
ty cells in every village, the communist govern- se socialist model. There is less certainty about
ment in Beijing was able to enforce its rules and whether the Cultural Revolution can be excluded
regulations all over the country more efficiently from the “package” of subsequent policies ―
than Qing Shi Huang Di or any emperor since this mass movement was very much in line with
then, not to mention the Kuomintang regime socialist developmental goals and most probably
(1912-49). While in the late nineteenth century, prevented the inevitable bureaucratization of
the central government had revenues equiva- the government apparatus that occurred in other
lent to only 3 percent of GDP (against 12 per- communist countries.5 But the point to make
cent in Japan right after the Meiji Restoration) here is that even without excluding these perio-
and under the Kuomintang government, they ds, Chinese development in 1949-79 was much
increased to only 5 percent of GDP, Mao’s go- better than that of most countries in the world
vernment left the state coffers to Deng’s reform and that this development laid the foundations of
team with revenues equivalent to 20 percent of the truly exceptional success of the post-reform
GDP. The Chinese crime rate in the 1970s was period.
among the lowest in the world (SHANDONG,
2009), a Chinese shadow economy was virtually To put it differently, by the end of the
non-existent, and corruption, as estimated by 1970s, China had virtually everything that was
Transparency International even in 1985, was needed for growth except some liberalization of
the lowest in the developing world. In the same markets — a much easier ingredient to introdu-
period, during “clearly the greatest experiment in ce than human capital or institutional capacity.
the mass education in the history of the world” But even this seemingly simple task of economic
(UNESCO-sponsored 1984 report), literacy rates liberalization required careful management. The
in China increased from 28 percent in 1949 to USSR was in a similar position in the late 1980s.
65 percent by the end of the 1970s (41 percent True, the Soviet system lost its economic and
in India). social dynamism, growth rates in the 1960s-80s
were falling, life expectancy was not rising, and
The Great Leap Forward (1958-62) crime rates were slowly growing, but institutions
and the Cultural Revolution (1966-76) are said were generally strong and human capital was lar-
to be the major failures of Chinese development. ge, which provided good starting conditions for
True, output in China declined three times in reform. Nevertheless, economic liberalization in
the whole post-Liberation period: in 1960-62, China (since 1979) and in the USSR (since 1989)
by over 30 percent, in 1967-68, by 10 percent, and later, Russia produced markedly different
and in 1976, by 2 percent (WDI database). The outcomes (POPOV, 2000, 2007a)6.
Great Leap Forward produced a famine, a rise in 5 On June 15, 1976, when Mao’s illness became more severe, he called
Hua Guofeng and some others in and said to them: “I am over eighty
mortality and a reduction in the population. But now, and when people get old, they like to think about post-mortal
things … In my whole life, I have accomplished two things. One is the
if these major setbacks could have been avoided, fight against Jiang Jieshi [Chiang Kai-shek] for several decades and
kicking him out onto a few islands and fighting an eight-year resistance
Chinese development in 1949-79 would look war against the Japanese invasion that forced the Japanese to return to
even more impressive. Most researchers would their home. There has been less disagreement on this matter… The other
thing is what you all know, that is, launching the “Cultural Revolution.”
probably agree that the Great Leap Forward that Not very many people support it, and quite a number of people are
against it. These two things are not finished, and the legacy will be
inflicted the most significant damage could have passed onto the next generation. How to pass it on? If not peacefully,
then in turbulence, and, if not managed well, there will be foul wind and
been avoided in the sense that it did not follow rain of blood. What are you going to do? Only heaven knows” (People’s
Web, 2003).
logically from the intrinsic features of the Chine- 6 Unlike Russia after 1991, it so far seems as if China in 1979-2010
managed to better preserve its strong state institutions—the murder rate
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Resumo
Descrição e análise da política comercial do Brasil no contexto internacional durante a República Velha e na Era Vargas, com
comparação de níveis tarifárias e práticas aplicadas ao comércio exterior.
Palavras-chaves: Brasil. Política Comercial. República Velha (1889-1930). Era Vargas (1030-1945). Comparação com outros
países.
Abstract
Descriptive analysis of the Brazilian trade policy in the international context, during the Old Republic and the Vargas Era, with
comparison of tariff schedules and associated trade practices.
Key words: Brazil. Trade Policy. Old Republic (1889-1930). Vargas Era (1030-1945). Comparison with other countries.
D
escontado o período inicial de sua
ravam em discriminar os de fabricação ‘estran-
vida independente, quando ele teve
geira’, o que incluía inclusive produtos de outros
de acomodar-se à herança diplomáti-
estados: no decorrer do Império, alguns gover-
ca deixada pela sujeição portuguesa aos interes-
nos estrangeiros fizeram reclamações contra esse
ses comerciais britânicos – um largo período que
tipo de discriminação (ALMEIDA, 2005, 288).
se estende de 1808 até 1844 –, o Brasil sempre
foi, pelo resto do Império e em toda a República,
O padrão geral da definição de novas
um país de tarifas excessivamente elevadas. Não
pautas aduaneiras, bem como das periódicas
se pode dizer, contudo, que ele tenha sido um
revisões tarifárias, no Brasil como em outros
país voluntária e conscientemente protecionista,
países da região, sempre foi no sentido da sua
no sentido estrito do termo, durante todo esse
elevação, muito raramente na outra direção. As
tempo, inclusive porque havia poucas indústrias
motivações protetoras e defensivas nem sempre
a proteger. De modo geral, as necessidades fis-
estavam bem fundamentadas, ou então, elas não
cais primaram sobre as intenções protecionistas,
eram facilmente detectáveis na estrutura da pauta
tanto porque as autoridades do Tesouro se esme-
de importação, cujas alíquotas eram construídas
raram também em taxar as exportações: a partir
no mais das vezes para produzir receitas para o
de um mínimo de 2%, que D. João VI já consi-
Estado, antes que para proteger alguma indústria
derava excessivo, a Regência elevou os impostos
bem identificada (no mais das vezes, aliás, ine-
de exportação para 7%, valor que foi mantido ir-
xistente). A valoração aduaneira era deficiente ou
regularmente pelo resto do período monárquico,
simplesmente arbitrária, o que podia converter
com algumas reduções temporárias a 5% (IHGB,
uma tarifa ad valorem aparentemente moderada
1922, 1094).
em um peso efetivo maior do que o incidente no-
Desde que ele conseguiu se libertar da minalmente sobre o preço do produto.
“tarifa inglesa” – estabelecida em 1810, conti-
nuada tal qual em 1827, e mantida contra a sua As reformas tarifárias, e suas revisões,
vontade até a introdução da Tarifa Alves Branco seguiam mais os imperativos da balança comer-
–, o Brasil estabeleceu alíquotas elevadas na im- cial e seus efeitos cambiais secundários – ou
portação de produtos, mais por razões fiscais do seja, procuravam seguir os problemas acarreta-
que propriamente industrializantes, embora esse dos pela volatilidade do mil-réis, ou a situação
tipo de motivação também tenha estado presente errática das rendas do Estado – do que propria-
em diversos momentos de revisões tarifárias ao mente alguma política industrial bem definida. O
longo do Império e, mais enfaticamente, a par- nível mais elevado da tarifa ad valorem fixado no
tir da República. Os desincentivos ao comércio decurso das diversas reformas tarifárias ao longo
exterior – e, por extensão, à própria produção do Império se situou entre 50 e 60%, como se
nacional, ao gravar os insumos importados para pode constatar na tabela 1.
transformação local – eram ainda acrescidos li-
Mesmo numa situação de dependência
nearmente, pelo fato de as províncias no Império
de bens estrangeiros para o essencial das neces-
e os estados na República se empenharem em
sidades de consumo e de investimento do apare-
aumentar suas parcas receitas impositivas por
lho produtivo, os sentimentos nacionalistas eram
90% do governo americano” (THORNTON- sos outros países, a começar pela França; o ní-
EKELUND, 2004, 13). Mais até do que o temor vel ad valorem mais elevado foi então fixado em
da concorrência britânica contra a “indústria 84%. Pouco depois, em março de 1897, o mi-
infante” do país, foi a necessidade de assegurar nistro Bernardino de Campos efetuou mudanças
uma fonte de receita regular e constante para o na pauta, com a redução em certos itens e um
Estado, em face de tantas reviravoltas do ciclo aumento considerável em outros; o nível mais
econômico, que respondeu pelo protecionismo elevado ad valorem subiu então a 200%, o que
fiscal nos EUA (TAUSSIG, 1964). talvez possa ser explicado pelas necessidades de
recursos em função da guerra que estava sendo
O grande princípio da Constituição re- conduzida nos sertões da Bahia.
publicana de 1891 foi a descentralização, assim
como a obra da Regência tinha sido a centraliza- Como pode acontecer nesses casos, a re-
ção, inclusive e principalmente no plano tribu- ceita geral registrou então um declínio, a partir
tário: em 1835, os legisladores desse período de da aplicação de valores tarifários nominais mais
transição tinham concentrado na União 58 rubri- elevados, o que resultou na diminuição as impor-
cas de receitas, inclusive os impostos de exporta- tações. Esse efeito, identificado mais tarde por
ção, todos os do ‘Município Neutro’ (Rio de Ja- Keynes a partir de observações empíricas, foi
neiro), os de transmissão de propriedade, indús- formalizado nos anos 1970 pelo economista Ar-
trias e profissões, predial e outros. A reação, em thur Laffer, que demonstrou graficamente que a
1891, se fez no sentido contrário, travando-se um curva das receitas fiscais é decrescente quando as
embate difícil na Constituinte, que, finalmente, alíquotas incidentes são exageradamente eleva-
transferiu aos estados os impostos de exportação, das. Consoante sua frustrante descoberta prática,
o predial e o de indústrias e profissões. Como re- poucos meses depois, o próprio ministro Ber-
sultado, já no orçamento de 1892, para fazer face nardino de Campos implementou, em dezembro
às despesas federais, teve a União de aplicar um de 1897, uma revisão parcial da tarifa anterior,
adicional de 50% sobre os direitos aduaneiros operando uma redução em vários itens, com o
em geral (menos bacalhau, charque, feijão, mi- objetivo de aumentar a receita geral das alfânde-
lho e arroz), de 60% sobre bebidas e sedas e de gas. Essa reforma, conduzida por uma comissão
10% para o expediente de gêneros livres, assim presidida por Leopoldo de Bulhões, foi acusada
como para trâmites aduaneiros, como capatazia e de livre-cambista pelos setores industriais (SIL-
armazenagem (BOUÇAS, 1946, 114). VA, 1969, 221). Essa redução temporária dos ní-
veis tarifários não inverteu, contudo, a tendência
O trabalho – aparentemente constante e geral à elevação das barreiras alfandegárias em
regular – de revisão das tarifas brasileiras con- quase todos os países latino-americanos: ao final
tinuou o seu movimento ascensional pelo resto desse período que ficou conhecido como uma su-
da última década do século 19: em 1896, já sob posta belle époque, os países da América Latina
a presidência Rodrigues Alves, a revisão tarifária eram os mais protecionistas do planeta: por volta
consistiu na supressão do adicional ad valorem de 1913, a tarifa média no Uruguai era de 35%,
aos itens anteriormente contemplados, mas em de quase 40% no Brasil e acima de 45% na Vene-
compensação ocorreu a definição de duas pau- zuela (BULMER-THOMAS, 2003, 139)
tas, uma geral e outra mínima, para utilização em
função das conveniências da política comercial, Num momento em que os Estados Uni-
de acordo com o que se fazia então em diver- dos, o outro país, junto com a Argentina, notoria-
de culto; sementes agrícolas). Finalmente, havia nistas e necessidades fiscais foram determinan-
uma taxa de 4% na exportação de lã não pentea- do, ao longo da primeira metade do século 20,
da, animais selvagens, peles, plumas de avestruz, aumentos sucessivos nas alíquotas aplicadas na
etc. Argentina, que se aproximaram de uma média de
33%, como se depreende das tabelas de tarifas
As revisões efetuadas nos anos seguintes comparadas.
se destinaram, sobretudo, a subir um produto de
categoria, até que alcançasse a tarifa (aparente- No confronto com o Brasil, a Argentina
mente máxima) de 50%. Deve-se registrar que a apresentou médias tarifárias sistematicamente
Argentina, com um quarto da população do Bra- menores, ainda que a distância tenha diminuído
sil, mantinha um volume de comércio exterior ao longo do tempo, com uma quase equiparação
três vezes mais elevado, o que se refletia, obvia- a partir dos anos 1930. A despeito de taxas tam-
mente, na sofisticação de suas elites dirigentes bém elevadas para o ingresso de certos produtos
e nos salários elevados de seus trabalhadores. adquiridos no exterior – como conseqüência das
Segundo cálculos do historiador econômico Je- necessidades do Estado – a Argentina seguiu, até
ffrey Williamson, em 1900, os salários reais dos aquela época, uma política comercial mais próxi-
trabalhadores argentinos eram três vezes supe- ma da liberdade de comércio, com muitos produ-
riores aos de seus contrapartes na Itália, de onde tos isentos de direitos de importação (ABREU,
vinham, aliás, grande parte dos imigrantes entra- 1994).
dos no país platino (WILLIAMSON, 1999). É
Competição duvidosa na
bem verdade que o declínio econômico contínuo
da Argentina no decorrer do século 20, sobretudo
escalada tarifária
a partir dos anos 1930, fez com que esses salários Um esforço de comparação das médias
já estivessem equiparados em meados do século tarifárias dos principais países com os quais o
e que, por volta dos anos 1980, o trabalhador ita- Brasil mantinha maior intensidade de comércio
liano ganhasse, em média, quatro vezes mais do nesse período nem sempre é factível, dadas as
que o seu primo imigrante do cone sul (BERNS- dispersões das alíquotas, as classes diferentes de
TEIN, 2008, 341). A rigor, esses dados servem produtos e a própria orientação da política co-
apenas para corroborar a velha evidência do peso mercial, em função dos níveis de industrializa-
negativo sobre rendas e salários decorrentes do ção de cada país, do grau de abertura ao comér-
descolamento de toda e qualquer economia do cio internacional – que depende, em grande me-
comércio internacional. dida, da dotação relativa de fatores – e da própria
ideologia dos dirigentes políticos. É possível,
Decidindo-se, finalmente, por adotar contudo, comparar-se o grau de proteção efetiva
uma taxonomia mais racional, o governo argen- existente em cada país, mediante a “montagem”
tino agrupou, mediante uma lei de 1905, todos de uma alíquota tarifária média a partir das ta-
os bens em vinte categorias, a começar pelos li- xas de importação como fração do valor total
vres de tarifas (como equipamentos ferroviários das importações. Esse tipo de exercício foi con-
e máquinas), e submeteu todos os demais a uma duzido pelos economistas Michael A. Clemens
média de 20% ad valorem, com várias exceções e Jeffrey G. Williamson (2001), que alinharam
(manufaturas sem similar ficavam entre 5 e 20%, essas médias anuais pelo espaço de um século,
e similares na faixa de 30 a 50%). Obviamente, desde a segunda metade do século passado até
sentimentos nacionalistas, instintos protecio-
contas públicas, com vistas a honrar o acordo de simplesmente, de urgentes necessidades fiscais.
renegociação da dívida externa brasileira que o O remédio foi amargo, mas parece ter funciona-
presidente eleito – mas ainda não empossado – do: o equilíbrio financeiro foi restabelecido e o
tinha concluído com os banqueiros oficiais do câmbio baixou de 34 a 22 mil-réis por libra.
Brasil, os Rothschilds, em Londres, no decorrer
de 1898. Para isso, e contra todos os seus princí- Os sentimentos protecionistas, pro-
pios de gestão econômica, o ministro Murtinho gressivamente crescentes na República, podem
impôs um programa de aumento de arrecada- explicar, em todo caso, a incidência de tarifas
ção que pode ter sido um dos mais violentos da específicas elevadas, mas os principais pro-
história do Brasil e disso não escapou a política pósitos eram os de fazer caixa para enfrentar
comercial. as obrigações internas e externas da Repúbli-
ca. Sobre isso se deve agregar as necessidades
Decidida em novembro de 1899, mas dos estados, cujas taxas de exportação também
implementada em 1900, a assim chamada Tarifa constituíam o essencial de suas receitas. Em São
Murtinho elevou bastante os direitos de importa- Paulo, por exemplo, a exportação de café con-
ção, podendo ser designada como a maior tarifa seguia encher os cofres do estado, enquanto que
do hemisfério americano e, possivelmente, uma no Pará e no Amazonas o mesmo ocorria com a
das maiores do mundo. Animada por objetivos borracha natural. O Brasil, aliás, não constituía
essencialmente fiscais, como quase sempre ocor- uma federação, posto que mesmo produtos ‘ex-
reu nesses casos, a aplicação de tarifa ad valorem portados’ para outros estados pagavam impostos
passou a ser imposta a 142 itens (sobre um to- de ‘exportação’. Nesse sentido, a situação não
tal de 1.070 categorias, correspondendo a 2.839 parece ter mudado muito desde então e o Brasil
itens), sendo o nível mais elevado o de 100%. talvez, seja, dos países integrantes do Mercosul,
Ainda assim, como praticado nesses tempos de aquele que ainda precisa construir a unificação
guerra tarifária, ele preservou a dupla pauta, ou de seu mercado interno, assemelhando-se, nesse
seja: a aplicação da tarifa mínima ao tratamen- particular, às unidades políticas alemãs do perí-
to de favor e uma tarifa em dobro como arma odo anterior ao Zollverein, à situação da Itália
de represália comercial. A tabela 3 registra as pré-unificação, ou, quiçá, à situação da França
reformas tarifárias empreendidas nos primeiros medieval.
dez anos da República, constatando-se uma certa
Compensações e retaliações, em
continuidade no número de itens da pauta adua-
neira, mas uma grande variação da tarifa máxima
perfeita reciprocidade
ad valorem. A Tarifa Murtinho de 1900 permaneceu
essencialmente a mesma até a crise dos anos
A cota-ouro de 2%, que tinha sido supri- 1930, embora com diversas revisões durante o
mida em 1891, foi restabelecida em dezembro de período. Seguindo o exemplo francês, as tarifas
1898, logo ao início da administração Campos poderiam seguir o padrão ‘normal’, isto é, eleva-
Salles, sobre a base de 10% da tarifa. Ela ainda do, ou serem ainda mais ofensivas, adquirindo
sofreu uma elevação a 15%, em junho de 1899, então o caráter de retaliação contra os que prati-
antes de ser fixada na Tarifa Joaquim Murtinho cavam, justamente, tarifas elevadas ou discrimi-
ao nível de 25%. Mais uma vez, não houve ne- navam contra o principal produto de exportação,
nhuma inspiração protecionista, sobretudo no no caso do Brasil, basicamente o café. Isenções
caso do ministro Murtinho; se tratava, pura e
ciações produto a produto, numa estratégia de estrangeira. De fato, como se pode observar na
pequenos movimentos, posto que as alíquotas e tabela 5, em diversos países, as tarifas que so-
as posições dos produtos estavam sempre sendo frem aumento, entre 1913 e 1925, são geralmen-
objeto de alguma revisão oportunista (e obvia- te aquelas aplicadas a produtos manufaturados,
mente defensiva). ao passo que as tarifas gerais permanecem rela-
tivamente estáveis. O movimento é, no entanto,
Durante a guerra, mesmo se os países contraditório posto que, com o aumento das ati-
adotam alíquotas nominais mais elevadas, por vidades industriais internas e das receitas corres-
razões essencialmente fiscais, ocorre uma nítida pondentes de produção e consumo, os governos
diminuição do volume total das receitas, tanto começam a dispor de outras fontes de recursos e
pela diminuição do quantum das importações, passam, assim, a depender menos das receitas de
como em virtude da erosão inflacionária sobre as importação, podendo, portanto, aceitar acordos
tarifas específicas. Ao final do conflito, inclusi- recíprocos de desarme tarifário bilateral com o
ve em função das dívidas públicas e dos demais objetivo de abrir novos mercados aos seus pro-
encargos assumidos pelos governos, não ocorre, dutos industriais e agrícolas.
como eventualmente se poderia esperar, uma di-
minuição do ímpeto arrecadador sobre os movi- As políticas setoriais vão se sofisticando,
mentos das alfândegas. Ao contrário, tão pronto com a adoção de regimes especiais para deter-
os governos puderam tomar as primeiras dispo- minadas indústrias. Dependendo do país, lobbies
sições comerciais no pós-guerra, reiniciou-se o agrícolas ou industriais, atuando via parlamen-
recrudescimento alfandegário, desta vez com a tos ou diretamente mediante pressões sobre os
participação da Grã-Bretanha, que durante mais executivos, atuam decisivamente para revisar as
de meio século tinha permanecido fiel aos prin- categorias tarifárias ou para acoplar novos me-
cípios do livre comércio (inclusive com o apoio canismos defensivos às políticas comerciais. No
dos trabalhadores e do Partido Trabalhista). caso do Brasil, são feitas mudanças em alguns
Tem início, então, aquilo que alguns historiado- itens, ao longo dos anos, bem como, sob pressão
res chamam de ‘desglobalização’ (FINDLAY- de grupos de comerciantes, são introduzidas al-
O’ROURKE, 2007, 429). gumas isenções e franquias especiais a determi-
nadas categorias de bens importados. Em 1919
As barreiras se ampliam, mesmo
ocorre uma tentativa de reforma liberalizante,
com a retomada dos negócios sob iniciativa do ministro da Fazenda Homero
As razões do incremento das defesas Batista, que se defronta, porém, com a oposição
comerciais efetivas após a primeira guerra mun- industrial organizada na Câmara: uma versão
dial – não apenas pela via tarifária, mas mediante mais protecionista da tarifa, patrocinada pelo
outros mecanismos protecionistas – têm basica- deputado Paulo de Frontin, é, contudo, barrada
mente a ver, desta vez, com as políticas indus- no Senado.
triais: levados pelas necessidades do conflito a
construir uma base industrial própria, utilizando Em 1922, além da aplicação da tari-
recursos basicamente nacionais, os países foram fa máxima, elevando a 100% os direitos sobre
se deixando seduzir pelos apelos de seus indus- mercadorias de determinados países, o governo
triais em favor da introdução de barreiras explí- ainda é autorizado a aplicar 20% adicionais ad
citas (e outras menos visíveis) à concorrência valorem, como medida de retaliação em caso
de dumping. Em compensação, fica autorizada
comerciais reduziam o impacto da proteção efe- l’Échange International (1929), eles fizeram tra-
tiva, os franceses começaram a utilizar extensa- duzir e publicar no Brasil (LOVE, 1996). Oito
mente o mecanismo das cotas: depois de 1931, as décadas depois, houve mudança de legitimador
tarifas já não mais presidiam à política comercial teórico – em favor de um coreano de Cambridge,
francesa, reduzida aos controles quantitativos. Ha-Joon Chang (2002, 2004, 2007, 2009) –, mas
os argumentos permanecem substancialmente si-
A tabela 6 ilustra a situação real dos milares aos que já tinham sido enunciados por
dispositivos tarifários a serviço dos principais Friedrich List um século e meio atrás.
parceiros do Brasil na década de 20 (mas o Ja-
pão, repita-se, figura na tabela apenas a título Curiosamente, o próprio Manoïlescu re-
ilustrativo). A Grã-Bretanha, como se constata, conhecia que List “jamais recomendou a adoção
movimenta-se gradualmente de uma média infe- de uma proteção permanente. Mais ainda, List
rior a 5% no período anterior à guerra para uma combateu o protecionismo, enquanto regime
faixa próxima do dobro desse valor. Alemanha e permanente de apoio à produção nacional. O seu
França seguem tendência similar, ao passo que sistema preconiza a proteção provisória (instruti-
os EUA, a despeito das altas tarifas nominais, va) apenas para as indústrias e apenas para certos
apresentam uma média tarifária mais moderada países que se encontram numa certa fase de sua
no decurso dos anos 1920, com um valor próxi- evolução econômica e social” (1929, 6). Em ou-
mo de 14% para os anos republicanos. Tanto o tros termos, a proteção seria a exceção ao princí-
Brasil quanto a Argentina prosseguem na esca- pio geral do livre comércio. Como sempre acon-
lada tarifária, embora as médias possam parecer tece nesses casos, a justificativa ‘científica’ para
reduzidas em função do decréscimo de arreca- a exceção temporária acabou tornando-se a regra
dação em decorrência da perda de valor real das permanente das políticas comerciais no Brasil e
tarifas específicas. em quase todos os países latino-americanos pelo
meio século seguinte.
De fato, como se pode constatar pela ta-
bela 7, o valor nominal para as tarifas brasileiras Descida para o abismo
durante os anos 1920 foi de 31,3%, confirmando protecionista: a guerra por
o ‘sucesso’ político dos industriais brasileiros. outros meios
Aliás, no último ano registrado na tabela, em Ao ter início a crise que mergulharia o
1928, é criado o Centro das Indústrias de São mundo em profunda depressão por quase uma
Paulo, sob a presidência de Roberto Simonsen, década, o Brasil ainda manejava a mesma tarifa
um dos paladinos da proteção comercial no aduaneira que tinha sido aprovada pelo ministro
Brasil, além de ser, como é conhecido, um dos Joaquim Murtinho em 1900, acrescida das revi-
mais intelectualizados defensores de uma polí- sões de ocasião a que protecionistas (muitos) e
tica protecionista para o país, com base no que liberais (poucos) impulsionaram de maneira algo
ele considerava serem, prima facie, evidências errática ao longo de três décadas. Ainda que de
do protecionismo tarifário nos países pioneiros modo mais instintivo do que fundamentadas em
da industrialização protecionista. Os industriais dados econômicos concretos, as novas autori-
paulistas, durante a década seguinte, se dariam dades econômicas buscaram preparar o Brasil
muito bem com as teorias protecionistas do eco- para o que aparecia, tão somente, como uma
nomista romeno Mihail Manoïlescu, cujo livro inversão temporária de ciclo. De fato, no início
mais famoso, Théorie du Protectionnisme et de
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Alemanha 13 20 12 12
Argentina 28 29 26 26
Bélgica 9 15 6 8
Estados Unidos * 44 (25) 37 33 (17) 29
França 20 21 18 12
Grã-Bretanha - 5 - 4
Hungria 18 27 18 23
Índia 4 16 4 14
Itália 18 22 17 17
Países Baixos 4 6 3 4
Suíça 9 14 7 11
Tchecoslováquia 18 27 18 19
Fonte: Findlay-O’Rourke, 2007, 444; EUA * (equivalente ad valorem)
7. Brasil: média tarifária nominal aplicada, 3.8. Brasil: peso dos impostos de importação,
1919-1928 1883-1950
Ano Tarifa % Ano Tarifa % Períodos % sobre valor % sobre as recei-
1919 21,8 1924 32,1 das importações tas da União
1920 24,0 1925 32,1 1883-1892 28 47
1921 39,0 1926 35,0 1893-1902 24 58
1922 27,0 1927 35,1 1903-1912 28 54
1923 31,5 1928 35,7 1913-1922 32 36
Fonte: Silva, 1969, p. 223. 1923-1932 37 37
1933-1942 23 28
1943-1950 7 8
Fonte: Silva, 1969: 225
1889 (26.01) Tarifa João Alfredo Última tarifa do Império, de tipo móvel, acompanhando a variação do
câmbio;
1890 (10.03) Tarifa Rui Barbosa Introdução da quota-ouro: uma parte do imposto teria de ser paga em
moeda forte: originalmente 2%, que subiu para 10% em 1898, para
25% em 1900, para 35% em 1905 e 60% em 1922;
1890 (11.10) Rui Barbosa Reforma tarifária: cerca de 1.100 itens, a maior parte a taxas fixas, com
aplicação de tarifa adicional ad valorem a 89 deles; nível mais elevado
ad valorem: 60%;
1896 (20.04) Tarifa Rodrigues Alves Tarifa altamente protecionista: supressão do adicional, mas definição
de duas pautas, uma geral e outra mínima, para utilização de acordo
com conveniências da política comercial; nível mais elevado ad va-
lorem: 84%;
1897 (04.03) Bernardino de Campos Mudanças na pauta, com redução em certos itens e aumento consid-
erável em outros; nível mais elevado ad valorem: 200%;
1897 (17.12) Bernardino de Campos Revisão da tarifa anterior, para aumentar a receita geral das alfândegas,
via redução de vários itens;
1899 (22.11) Tarifa Joaquim Murtinho Implementada em 1900, a Tarifa Murtinho elevou bastante os direitos
de importação, com objetivos, porém, essencialmente fiscais; aplicação
da tarifa ad valorem a 114 itens, sobre 1.070, sendo o nível mais eleva-
do 100%; preservou a dupla pauta: aplicação da tarifa mínima ao trata-
mento de favor e tarifa em dobro como arma de represaria comercial;
1911 e 1925: isenções e franquias especiais a determinadas catego-
1911 Revisões e reformas rias de bens ou de importadores; eliminação dos regimes especiais em
1918 parciais da Tarifa 1927;
1918 Revisão parcial dos 1912 e 1918: mudanças nos valores de alguns itens;
1930 regimes aplicados ao 1922: além da aplicação da tarifa máxima, elevando a 100% os di-
comércio exterior reitos sobre mercadorias de determinado país, pode-se aplicar ainda
20% adicionais, como medida de retorsão (anti-dumping); aplicação de
tarifa diferencial para artigos de países que concedem compensações à
produção brasileira;
1924: introdução de taxa de 2% para a Caixa de Postos e de taxa de
estatística de 0,2%;
1925-1927: aplicação de restrições em caso de comércio desleal;
1927: redução a 40% dos direitos aplicados, para importações do setor
público;
Decreto autorizando a revisão geral na Tarifa aduaneira, fixando crité-
1931 (08.09) Governo Provisório rios que deveriam orientar a reforma; monopólio de compra de divisas
e regime de controle cambial;
Atualização da nomenclatura, aumentando o número de itens de 1.070
1934 (09.06) Oswaldo Aranha para 1.897; manutenção de direitos específicos (réis/kg); redução para
7 as posições com direitos ad valorem; direitos gerais e mínimos; ex-
tinção da cobrança em ouro; nível médio de proteção dos direitos ad-
uaneiros era de 35%;
Medidas de liberalização e de restrição no mercado de divisas e in-
1939 Decretos de Vargas trodução do sistema de licenças prévias para importação; revisão dos
1941 direitos em função da mudança de moeda; atuação intensa do Conselho
Federal do Comércio Exterior, num sentido restritivo da saída de divi-
sas e garantidor do abastecimento interno.
Fontes: Paulo Roberto de Almeida, Formação da Diplomacia Econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império (2ª ed.; São
Paulo: Senac: Brasília: Funag, 2005, Quadro 25.1, p. 579-581), com base em: Afonso de Toledo Bandeira de Mello, Politica Commercial do Brasil. Rio
de Janeiro: Typ. do Departamento Nacional de Estatística, 1933; Gerson Augusto da Silva, Estudos Aduaneiros. Brasília: Ministério da Fazenda-Escola
de Administração Fazendária, 1983; Hildebrando Accioly, Actos internacionaes vigentes no Brasil (Rio de janeiro: Pongetti, 1937, 2 v.
Resumo
A utilização das cadernetas como forma de controle da contabilidade dos colonos nas fazendas foi regularizada pela Lei 1.299,
de 27 de dezembro de 1911, a conhecida Lei do Patronato Agrícola, que tinha como orientação a defesa dos interesses dos
trabalhadores, orientação tomada em função das pressões internacionais exercidas por outros países (notadamente Itália e Espanha)
que reclamavam melhores condições de vida aos trabalhadores imigrantes. Após os registros dos débitos e créditos dos colonos as
cadernetas eram registradas em Cartório, sendo as anotações lá contidas transformadas em documento público reconhecido pelo
Tabelião. A partir de pesquisa realizada no Centro de Memória da UNICAMP (CMU), objetivamos discutir as condições de trabalho
e as formas de remuneração dos colonos que trabalharam na fazenda Pau d’Alho, em Campinas, entre 1927 e 1931, destacando os
arranjos efetivados por ocasião da grande crise mundial, promovendo assim o debate com a bibliografia sobre o tema.
Abstract
This work investigates the use of passbooks as a way to control the accounts of the “farm laborers”. This use was regulated by
law 1,299 of 27 December 1911, in order to defend the workers´ interests. It came about through international pressures from
European countries (notably Italy and Spain) who were demanding better living conditions for their migrant workers. The debits
and credits of the workers were recorded in the public record offices and were transformed into a public document recognized by the
Notary. Through research conducted at the in Centro de Memória da UNICAMP (CMU), we intend to discuss the working conditions
and remuneration system of the “workers” from Pau d’Alho plantation Farm, Campinas, between 1927 and 1931. Highlighting the
arrangements in the context of the great economic crisis, we hope to promote the debate with the existing literature on the subject.
1
Versão modificada dste texto foi apresentado no I Seminário sobre o
1Café. História
Versão e Cultura
modificada Material,
do texto realizado
que foi em Itu/SP,
apresentado em 2006. sobre o Café. História e Cultura Material, realizado em Itu/SP, em 2006.
no I Seminário
N
este artigo examinaremos uma docu- cretário da Agricultura e, entre suas atribuições,
mentação que julgamos muito impor- destacamos:
tante para o debate sobre as condições
de trabalho e de remuneração dos colonos nas - Promover por todos os meios ao seu al-
fazendas de café. Trata-se de vinte Cadernetas cance a fiel execução do decreto federal n. 6.437,
de Colonos da Fazenda Pau d’Alho registradas de 27 de março de 1907, e mais disposições so-
entre os anos de 1929 e 1931 que nos fornecem bre colonização e imigração do estado, procuran-
valiosas informações a respeito das condições de do, além disso, resolver, por meios “suasórios”
trabalho na fazenda, da composição da remune- quaisquer dúvidas que por ventura surjam entre
ração, do total recebido, dos gastos e dos saldos - os operários agrícolas e seus patrões;
o que nos permite ter uma melhor visão sobre as
- Intentar e patrocinar as causas para co-
possibilidades de ascensão social a partir do tra-
brança de salários agrícolas e para o fiel cum-
balho nas lavouras de café em Campinas. Nem
primento dos contratos nos termos da legislação
todas as cadernetas eram de colonos, algumas
vigente;
eram de camaradas que prestaram serviço por
um ano ou alguns meses e não necessariamente - Fiscalizar as cadernetas dos operários
na lavoura de café; em apenas uma caderneta a agrícolas, afim de verificar si estas se revestem
contabilidade cobria um período de quatro anos, das formalidades prescritas pela lei federal n.
prazo geralmente praticado pelos contratos la- 6.347 de 27 de março de 1907;
vrados em cartório, mas recorrentemente as ca-
dernetas pesquisadas cobriam o período entre se- - Fiscalizar as agências e sub-agências de
tembro de 1929 e setembro de 1931. Partiremos venda de passagens e de câmbio aos operários
agora à análise destas cadernetas. agrícolas;
As cadernetas custavam aos colonos
- Levar ao conhecimento das autoridades
1$5002 e na parte inicial da brochura de capa
competentes as queixas dos operários agrícolas
dura constava obrigatoriamente a lei que regu-
relativamente a atentados contra sua pessoa, fa-
lava a utilização desta forma de controle dos
mília e bens;
haveres e deveres da relação fazendeiro-colono.
Tratava-se da Lei n. 1299, de 27 de dezembro - Promover a organização e fiscalizar o
de 19113, a Lei do Patronato Agrícola, aprovada funcionamento de cooperativas entre os operá-
por Manoel Joaquim de Albuquerque Lins, “pre- rios agrícolas para assistência médica, farmacêu-
sidente” do estado de São Paulo naquela data. tica e ensino primário.
O Patronato Agrícola4 seria subordinado ao Se-
2 Este valor foi lançado como “dever” aos colonos sob a discrimi- Como documentos civis as cadernetas
nação “caderneta”, entretanto, segundo a Lei 1.299, capítulo II, as
cadernetas deveriam ser fornecidas gratuitamente pela “Agência Offi- só tinham validade jurídica após o registro nas
cial de Collocação” aos imigrantes em seu primeiro estabelecimento, o
que demonstra que os colonos por nós pesquisados já estavam a algum notas do Tabelião, o que, segundo a Lei 6.437,
tempo trabalhando na lavoura já que em todos consta o débito de 1$500
referente á caderneta.
deveria ser feito gratuitamente. As cadernetas da
3 A Lei n. 1.299 visava cumprir em nível estadual o Decreto Federal Fazenda Pau d’Alho foram registradas nas notas
6.437, de 27 de março de 1907, assinado pelo então presidente Affonso
Penna, que “Aprova o regulamento para a execução das leis 1.150, de do 4º Ofício Civil de Campinas e tal registro era
05 de janeiro de 1904 e n. 1.607, de 29 de dezembro de 1906”, referen-
tes a dívidas provenientes de salários de trabalhadores agrícolas. In: feito no Termo de Abertura e após o lançamento
Caderneta de Colonos da Fazenda Pau d’Alho – Campinas. Fundo do
Tribunal de Justiça de Campinas, Cx. 1, livros 01-20. Arquivos Históri- dos débitos e créditos dos trabalhadores, formali-
cos – Centro de Memória – UNICAMP. “tornar efetivas as leis decretadas pela União Federal e pelo Estado de
4 O Patronato Agrícola foi fundado em 1911 e tinha como finalidade S.Paulo em favor do imigrante e outros operários agrícolas”.
anteriormente pesquisamos vinte cadernetas, riam as remunerações dos colonos. No caso das
dentre as quais existiam vínculos de colonos e cadernetas que pesquisamos a remuneração era a
de camaradas. A partir das cadernetas elabora- mesma: 37$000 pelo trato de mil pés café locali-
mos gráficos constituídos pelas curvas de receita zados na parte de terras denominada “Palmeiras”
total, gastos totais e saldos. Com esta documen- e 32$000 pelo trato de mil pés de café na parte de
tação acreditamos ser possível ter uma melhor terras denominada “Terra Roxa”. Os colonos re-
noção das reais possibilidades de ascensão social ceberiam também 1$500 por cada alqueire de 50
dos colonos; até agora nos limitamos a algumas litros colhido e 4$500 por diárias de serviços ex-
inferências sobre as relações de parceria e em- tras executados. Como o período abrangido por
preitada a partir das cláusulas estabelecidas em esta documentação engloba uma crise de grande
contrato que foram construídas a partir do esta- magnitude, veremos que a remuneração previa-
belecimento de uma determinada produtividade mente definida foi rebaixada em quase todos os
(via dados de Camargo) e dos preços praticados casos, o valor pago pelos alqueires colhidos após
nas escrituras de compra e venda de café, além, 1929 reduziu-se em um terço assim como tam-
é claro, das remunerações estabelecidas em con- bém foi reduzido consideravelmente o valor das
trato quando tratavam de remuneração em di- diárias de serviço.
nheiro. Evidentemente não possuímos condições
de realizar maiores apontamentos sobre a renda Eram estas as principais remunerações
oriunda das lavouras de gêneros de subsistência, dos colonos, que, aliás, eram acertadas bimes-
justamente por que é impossível inferir alguma tralmente. Os gastos principais referiam-se a
coisa sobre as quantidades produzidas e também adiantamentos, médico, farmácia e principal-
sobre os preços praticados. mente às chamadas “Ordens”, gasto que não era
discriminado separadamente, mas acreditamos
As cadernetas, infelizmente, também ser composto pelos débitos acumulados nas mer-
não nos fornecem uma maior noção neste senti- cearias das fazendas. Nas cadernetas, a palavra
do, mas é bem provável que as rendas provenien- “ordem” vinha seguida de um número, muito
tes das lavouras de alimentos não fossem muito provavelmente o número da folha do registro
dilatadas já que todos os contratos de cadernetas, dos gastos do colono no livro do estabelecimen-
registrados entre 1927 e 1931, versam sobre la- to. Nestas condições conseguimos descobrir qual
vouras já formadas cabendo aos colonos o plan- era o montante gasto mediante esta discrimina-
tio de apenas uma fileira de milho e quatro de ção, mas não possuímos uma maior exatidão
feijão em cada rua do café e uma roça por fora desagregada, o que se sabe é que as “ordens”
cuja extensão era definida proporcionalmente ao oneravam pesadamente as contas do colono,
número de cafeeiros contratados. Acreditamos compondo de oitenta a cem por cento os gastos
que nestas condições a produção excedente de totais dos colonos.
alimentos deveria ser muito diminuta o que pou-
co somaria às contas dos colonos, por isso, de As despesas médicas faziam-se pre-
agora em diante, as possíveis rendas oriundas das sentes em todos os bimestres, custando 10$000
lavouras de subsistência serão desconsideradas. aos colonos, as despesas com farmácia eram va-
riáveis, mas não oneravam muito o orçamento,
Nas “condições específicas” dos con- girando em torno de 5$000 a 10$000 por bimes-
tratos da Agência Oficial de Colocação, como no tre. Como o artigo 15º do contrato da Agência de
modelo acima transcrito, se definiam quais se- Colocação previa a formação de uma coopera-
Interes-
sante notar que
de dezembro de
1927 a fevereiro
de 1930 Benedic-
Os contratos também não explicitavam
to recebia os saldos bimestrais em dinheiro. A
a quantidade de cafeeiros contratados, o que in-
partir desta data, em função da crise, o colono ao
ferimos a partir das receitas dos colonos. Aliás, a
invés de receber os valores que lhe eram devidos
forma de acerto com os colonos era muito varia-
passou a acumular saldos, que eram transporta-
da: alguns recebiam por dias de serviço, outros
dos de um bimestre a outro, o que indica que no
pelo trato de mil pés, outros eram remunerados
contexto de dificuldades econômicas as estraté-
pelas duas formas, como observemos o caso do
gias de “contabilidade” foram transformadas e,
colono Aurélio Benedicto, italiano, que entre
dadas as restrições do contexto, outras formas
1927 e 1931 trabalhou na fazenda Pau d’Alho.
de remuneração se estabeleceram; muito prova-
No seu acerto bimestral contava a discriminação
velmente as ordens eram abatidas destes saldos
de tantos “dias de serviço” que variavam entre
e a relação de trabalho deixava de pressupor a
3$000 e 4$000 antes da crise e entre 1$670 e
existência real do dinheiro, exercendo este, neste
3$500 após abril de 19308. Em média o colono
momento, apenas a função de medida de valor,
trabalhava cinqüenta dias por bimestre, ou reu-
referenciando débitos e créditos, mas não sendo
nia sob seu comando esta capacidade de trabalho
utilizado como meio de pagamento. A “enge-
bimestral já que a expressão “colono” designa-
nhosa” contabilidade da fazenda se adaptara às
va toda a família e a remuneração referia-se ao
condições estreitando a circulação do dinheiro
potencial de trabalho do grupo familiar. No caso
no espaço dos cafezais.
deste colono o acúmulo de diárias compunha a
8 Caderneta do colono Aurélio Benedicto. Fazenda Pau d’Alho. Fundo
do Tribunal de Justiça de Campinas (TJC). Cx. 01, livros 01 a 20. Sobre os saldos deste colono, perceba
Arquivos Históricos – Centro de Memória – UNICAMP.
no gráfico um (01) que dificilmente ultrapassa- nheiro bem superiores ao caso de Benedicto.
vam a casa dos 150$000 por bimestre. Entre de- Trata-se de Ceccato José, também italiano, con-
zembro de 1927 e abril de 1930 (quatorze bimes- tratado para cuidar de oito a nove mil cafeeiros,
tres) Benedicto recebeu 1:111$750, numa média conforme deduzimos da remuneração obtida pe-
de 79$410 por bimestre. A partir deste momento las carpas no cafezal. Dentre todas as contabili-
os saldos passaram a ser acumulados, aumentan- dades pesquisadas esta foi a que apresentou os
do ou diminuindo bimestralmente, contabilizan- saldos mais consideráveis mesmo sendo os valo-
do um saldo final de 112$685. Se pensarmos que res definidos para o trato, a colheita e as diárias
esta remuneração referia-se a toda a mão-obra exatamente iguais aos dos outros colonos. O que
familiar perceberemos que os valores dos saldos define, então, a diferença dos saldos de Ceccato
eram muito reduzidos em relação aos valores to- José para com os saldos das outras contabilida-
tais recebidos, demonstrando que os gastos prati- des já que as remunerações são as mesmas? Ora,
camente esterilizavam maiores possibilidades de a diferença básica parece residir no tamanho do
acúmulo de dinheiro. Evidentemente temos que grupo familiar; chega-se a registrar no nome de
considerar que os colonos não possuíam despe- Ceccato quase oitenta dias de serviço por bimes-
sas com moradia, gastos iniciais com desloca- tres e quantidades muito grandes de alqueires
mento para a fazenda (já que eram subsidiados colhidos10, além dos valores fixos estabelecidos
pelo governo) e gastos reduzidos com alimenta- pelos tratos dos cafeeiros
ção, já que tinham direito à produção de alimen-
tos e à criação de alguns animais (galinhas, por- Gráfico 2
cos e vacas, uma ou outra).
Difícil, senão impossível,
mensurar estes elementos,
que certamente compu-
nham a base de sustentação
das relações de trabalho no
campo, pois em termos de
remuneração em dinheiro o
que se conclui da observa-
ção é que colonos como Au-
rélio Benedicto possuíam
mínimas possibilidades de
ascensão social: em quatro
anos de trabalho de toda a
sua família recebeu apro-
ximadamente 1:200$0009,
o necessário para sua reprodução e perpetuação
Fonte: Caderneta do colono Cecca-
como colono.
to José. Fazenda Pau d’Alho.(1929-1931).
A pesquisa com as cadernetas também Fundo do Tribunal de Justiça de Campinas
evidenciaram um caso onde o colono conseguiu 10 Em agosto de 1930 registrou-se a colheita de 263 alqueires a 1$000.
11 Este colono registra gastos com o pagamento de nove carretos de
ao longo de dois anos acumular valores em di- milho, evidenciando que a produção de alimentos desta família também
9 Cerca de oitenta e quatro dólares ao câmbio de 1931. deveria ser considerável.
gadas à lavoura de café, pois as cadernetas re- cafeeiro, recorrente nas lavouras em formação
gistram apenas os dias de serviço não discrimi- e reduzida nas lavouras já formadas das regiões
nando a atividade; os camaradas tanto poderiam antigas. Sob o ponto de vista da remuneração em
ser alocados na colheita quanto em alguma etapa dinheiro intuímos que as diferenças dos valores
do beneficiamento (secagem, cata, ensacamento, pagos pelo trato, pela colheita e pelas diárias não
etc.), poderiam também, eventualmente fazer a deviam ser muito discrepantes entre as regiões
carpa ou derrubar matas, empilhar madeira, en- mais antigas e as mais novas, pois não acredita-
fim, uma série de atividades de colocação não mos que a maior lucratividade das fazendas da
duradoura definidas a partir das necessidades fronteira se revertesse em melhoras das cláusulas
imediatas. Em comum com os colonos possuem contratuais envolvendo dinheiro. Parece ser sim
a recorrência de pequenos saldos acumulados a disponibilidade de terra o grande atrativo para
durante o período de trabalho (ver gráficos em os trabalhadores que se dirigiam à fronteira.
anexo).
FALEIROS, Rogério Naques. Homens do café: Franca 1880-1920. Ribeirão Preto: Holos, Edi-
tora/Fapesp, 2008.
FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. Homens livres na ordem escravocrata. 3ª edição. São
Paulo: Kairós, 1983.
PETRONE, Maria Theresa S. Imigração. In: Historia Geral da Civilização Brasileira. O Brasil
Republicano, 2º vol., tomo III. São Paulo: Difel, 1978.
STOLCKE, Verena. Cafeicultura. Homens, mulheres e capital. (1850-1980). São Paulo: Brasi-
liense, 1986.
Médico 10,000
adiantamento 40,000
Total 50,000 192,000
Recebeu 142,000
1928 8 31 13½ quilos de café 13,500
Médico 10,000
49 dias de serviço a 3,000 147,000
adiantamento 15,000
Farmácia 3,000
Total 41,500 147,000
Recebeu 105,500
1928 10 31 Médico 10,000
adiantamento 50,000
10 quilos de café 10,000
47 dias de serviço a 3,000 141,000
Total 70,000 141,000
Recebeu 71,000
1928 12 31 43½ dias de serviço a 3,500 187,250
um litro e duas garrafas de leite 1,100
14½ quilos de café 14,500
adiantamento 70,000
Médico 10,000
Conserto de um machado 2,000
Farmácia 6,000
Total 103,600 187,250
Recebeu 83,650
1929 2 28 Médico 10,000
03 garrafas de leite a 0,200 0,600
adiantramento 70,000
47 dias de serviço a 3,500 164,500
11 quilos de café 11,000
Farmácia 2,000
Total 93,600 164,500
Recebeu 70,900
1929 4 30 Médico 10,000
adiantamento 65,000
43 dias de serviço a 3,500 150,500
Farmácia 2,000
Total 77,000 150,500
Recebeu 73,500
1929 6 30 Médico 10,000
45 dias de serviço a 3,500 157,500
adiantamento 85,000
01 garrafa de leite 0,300
Total 95,300 157,500
Recebeu 62,200
1929 8 31 Médico 10,000
55 dias de serviço a 3,500 192,500
05 quilos de café 5,000
adiantamento 100,000
Farmácia 6,000
Total 121,000 192,500
Recebeu 71,500
1929 10 31 Médico 10,000
Alisson Eugênio
Professor Adjunto da Universidade Federal de Alfenas
alissoneugenio@yahoo.com.br
Resumo
Esse texto analisa, em face da experiência ocidental, particularmente européia, o empenho da elite médica que atuava no Brasil
oitocentista, defensores da alopatia, para eliminar do mercado de trabalho de sua profissão os demais prestadores de serviço da
cura que não eram reconhecidos por ela como profissionais da medicina.
Abstract
From the perspective of western, particularly European experience this text analyses the attempt by the 19th century Brazilian me-
dical elite to defend scientific medicine and intending to banish from the market and the medical community other cure professionals
who were not recognized as part of regular medicine.
A
o longo da segunda metade do século época colonial (porque a Coroa portuguesa proi-
XVIII, com a crescente importância biu a abertura de instituições de ensino na Colô-
atribuída à saúde como fator de pro- nia para mantê-la dependente até no plano cientí-
gresso, os Estados começaram a ter maior preo- fico), ela permitiu a qualquer interessado prestar
cupação com a qualidade dos serviços médicos. serviço de saúde, desde que, após pagamento de
Por isso, além de promoverem, com base na uma taxa, fosse examinado e aprovado por uma
Ilustração, a renovação do ensino de medicina, comissão competente.
procuraram ampliar o controle sobre os agentes
da arte de curar. No entanto, com a criação da Faculda-
de de Medicina do Rio e a de Salvador em 1832
Esse processo pode ser observado, pelo e a imigração de doutores estrangeiros para o
menos no Ocidente, em todos os países, inclusive Brasil, desencadeou-se nas suas grandes cidades
naqueles mais afinados com o ideário reformista um processo de expansão da oferta de médicos.
das elites do pensamento ilustrado, como França Esses, de um modo geral, foram se comportan-
e Inglaterra. Nessas nações, mesmo sendo balu- do cada vez mais com intolerância em relação
artes do avanço científico moderno, cujas me- à prestação de serviços terapêuticos por leigos,
dicinas eram referência internacional, o esforço à medida que o seu campo de conhecimento
para se eliminar o conjunto agentes da cura sem foi se institucionalizando, tal como seus pares
formação acadêmica do mercado de prestação de europeus.
serviço de saúde revela que mesmo nelas os mé-
dicos ainda não havia conseguido monopolizar Como a atuação de pessoas sem prepa-
tal mercado (PFEIFFER, 1985). ração acadêmica na área de saúde era um fato
também marcante nos principais centros de re-
Em várias formações nacionais e elite ferência do saber médico, ela pode ser explicada
médica procurou aproximar-se do Estado para por fatores que, não obstante suas particularida-
controlar o exercício da cura, pressionando-o des nas formas como se manifestaram em cada
para tomar medidas que tornassem a prestação território nacional, foram observados nos mais
de serviços de saúde uma atividade exclusiva de diversos países do século XIX, como na Inglater-
pessoas capacitadas profissionalmente. Em Por- ra, segundo o estudo de Jane Peterson (1978), em
tugal, por exemplo, com esse objetivo foi criado França, conforme o trabalho de Gérard Jorland
em 1782 um órgão, denominado Protomedicato. (2010), e no Brasil de acordo com a pesquisa de
A sua criação destinou-se a tentar conter o “per- Gabriela dos Reis Sampaio (2002). Primeiro: o
nicioso abuso e a extrema facilidade com que povo tinha a sua própria terapêutica, porque, du-
muitas pessoas faltas de princípio e conheci- rante séculos, como havia poucos profissionais
mentos necessários” se animavam “a exercitar de medicina disponíveis, ele se acostumou com
a faculdade de medicina e a arte de cirurgia” formas alternativas de cura. Segundo: mesmo
(MACHADO, 1978, 35). Com a instalação da fa- quando começou a haver maior disponibilidade
mília real no Rio de Janeiro em 1808, esse órgão de pessoal formado em tal campo de conheci-
foi substituído pela Fisicatura-mor que, com as mento, os seus preços eram inacessíveis à maio-
mesmas obrigações do anterior, atuou até 1828, ria da população. Terceiro: suas terapias ainda
quando, ao ser extinta, suas atribuições foram apresentavam baixo grau de resolutibilidade em
incorporadas pelas Câmaras Municipais. Nesse relação à maior parte das doenças.
período, dada a escassez de médicos herdada da
Há muito tempo que a medicina como mulo do estudo da medicina, enfatizou a necessi-
instituição se ressente do isolamento dos seus dade de criar associações médicas que, além das
representantes, e que a prática de uma tão nobre questões referentes à saúde pública, “tomassem
como liberal ciência tem sido prostituída e pro-
a seu cargo o zelo de defender os interesses da
fanada, de modo a fazer sangrar o coração dos
médicos, que amando a sua profissão prezam profissão”. Pois, mesmo onde havia significativa
a própria dignidade, e como isso não fosse o oferta de pessoal formado nesse campo de co-
bastante, ainda a clínica, em grande parte assal- nhecimento, a população continuava afeita aos
tada por profanos, não oferece vantagens que serviços prestados pelos agentes das artes de
abriguem da miséria o médico tornado inválido
curar desprovidos de habilitação acadêmica.4
pela velhice ou inesperada moléstia, forçando
desta sorte o desgraçado ou sua família a esten-
Um dos agentes das artes de curar
der a mão à caridade pública, implorando o pão
que o deve alimentar.2 que concorriam com os médicos foi o barbeiro-
sangrador. Na verdade, essa expressão define um
Em face dessa incômoda situação, aque- dos ramos de atividade dos tradicionais barbei-
la comissão na seqüência do documento acima ros, que não só cortavam cabelo e faziam barba,
citado exortou a classe médica para engajar-se mas também lidavam com doentes, praticando
na defesa das suas prerrogativas profissionais pequenas cirurgias, como extração de dentes,
dizendo: ou tentando aliviar alguma de suas dores com
aplicação de ventosas ou sanguessugas (popu-
“É tempo, pois, de reunirmos e consti-
larmente conhecida como bichas). Esses agentes
tuirmos uma associação que tenha em vista tra-
balhar incessantemente nos direitos e deveres
da cura foram muito comuns no Ocidente pelo
inerentes à corporação médico-farmacêutica do menos até o final do século XIX. No Reino Uni-
país, que proteja seus interesses científicos, mo- do, por exemplo, uma emenda à Lei de Saúde
rais e materiais, que faça cessar o isolamento Pública foi promulgada em 1886 para proibição
dos médicos e farmacêuticos, tão prejudiciais do uso de terapias, praticadas por terapeutas
aos interesses da sociedade como aos da corpo-
sem formação universitária, e médicos por eles
ração (...), que tire a máscara à impostura e per-
siga o exercício ilegal da medicina e farmácia, influenciados, condenadas pelas elites médicas
solicitando dos poderes do Estado novas leis e empenhadas na reformulação do seu campo de
regulamentos, e dos magistrados a aplicação conhecimento, conforme apurou Janne Peterson
das existentes, no interesse da saúde pública e (1978, 40).
dignidade profissional, e que finalmente esta-
beleça uma caixa de socorros para sócios que A existência deles durou enquanto a me-
por velhice ou enfermidade não puderem mais
dicina ainda estava influenciada pela teoria dos
exercer a profissão, bem como as suas viúvas,
filhos e irmãos”.3 humores formulada na Antiguidade por Hipócra-
tes (retirar sangue, nesse quadro teórico, tinha
O mesmo engajamento pode igualmente como objetivo a eliminação de humores impu-
ser observado em Salvador. Em um editorial da ros considerados responsáveis pelo desequilíbrio
Gazeta Médica da Bahia, publicado em 15 de causador de enfermidades), como mostra Youn-
março de 1868, sua direção, ao discutir “a pos- gson em seu estudo sobre a revolução científica
sibilidade de reunir-se um congresso médico no em medicina na Inglaterra vitoriana (1979). No
Brasil”, com vistas, entre outras coisas, ao estí- entanto, após a consolidação do saber médico
revolucionário (isto é, reestruturado a partir das
2 Gazeta Médica do Rio de Janeiro, ano 1, nº. 11, 01/11/1862, p. 131.
3 Idem. 4 Gazeta Médica da Bahia, ano 2, nº. 41, 15/03/1868, p. 193.
3) Loja de barbeiros:
Como aquela proposta não foi levada É por isso então, junto com as razões an-
adiante, devido às controvérsias geradas por ela, teriormente citadas, que “o povo ignorante mais
a população do interior continuou “entregue ama o prestígio e as maravilhas do curandeiro
às mãos ignorantes dos curandeiros da roça”, do que a simplicidade do homem da arte”, como
como lamentou Júlio de Moura em uma corres- comentou Souza Costa em um texto publicado
pondência científica publicada na Gazeta Médi- na Gazeta Médica do Rio de Janeiro no ano de
ca da Bahia no ano de 1868. 20 1863.22 E isso ocorria até mesmo no coração
da Europa ilustrada. O estudo de Robert Dar-
Se a falta de médicos na maioria das
ton sobre o mesmerismo em relação ao século
localidades onde não havia médicos explica o
XVIII francês, os documentos digitalizados do
porquê da popularidade dos curandeiros, não
Archive Nationale, section du XIXeme siècle e
se pode atribuir somente a ela a ampla aceita-
as páginas de anúncio da Gazeta de Paris dão-
ção deles. Pois, mesmo nas capitais dos países
nos cabais testemunhos de que tal realidade não
considerados mais avançados em medicina, onde
era típica de países considerados atrasados pelo
estavam sediadas as suas principais instituições
eurocentrismo.23
médicas, eles também eram muito comuns por
pelo menos um motivo: sua combinação de ervas O charlatanismo, quer dizer, artifícios
e raízes com os mais variados elementos religio-
sos era há séculos muito aceita pela população 21 Apud, respectivamente, Filho, Licurgo de Castro Santos (1991) p.
443 e David, Onildo Reis (1996) p. 100.
22 Gazeta Médica do Rio de Janeiro, ano 2, nº.
18 Gazeta Médica do Rio de Janeiro, ano 1, nº. 7, 01/09/1862, p. 76. 22, 15/01/1863, p. 259.
19 Idem. 23 A consulta da documentação francesa a esse respeito pode ser
20 Gazeta Médica da Bahia, ano 2, nº. 41, 15/03/ 1868, p. 200. consultada em www.bium.univ-paris5.fr
Algumas folheadas nas páginas dos jor- sufocada no meio das invasões bárbaras do
nais que circulavam na Europa e nos EUA duran- charlatanismo! Tudo me parecia augurar este
doloroso destino, porque eu via, e ainda vejo
te a segunda metade do século XIX mostram que
infelizmente, como em nosso país se procura
muitos médicos ignoraram esse documento, ou defraudar e prostituir a mais bela, a mais nobre,
algumas de suas restrições, como a anteriormen- a mais opulenta de todas as artes humanas.29
te apresentada, bem como vários farmacêuticos,
os quais anunciavam, com artifícios charlatanes- Trata-se apenas de uma incipiente visão
cos, remédios para os mais diversos tipos de en- de que os charlatães poderiam ser vencidos com
fermidades. Em razão disso, a direção do mesmo a união dos médicos, porque estes ainda se res-
periódico os exortou a mudarem de atitude com sentiam da falta de maior e mais eficaz fiscali-
essas palavras: “Longe de imitarmos o charlata- zação por parte dos poderes públicos sobre “o
nismo, combatamo-lo antes pela união de nossas charlatanismo que ameaça, como a hidra de
forças, com a consciência do nosso dever, com o Lernes30*, estender milhares de cabeças pelas
exemplo da nossa lealdade e a pureza de nossas nossas cidades, pelas nossas vilas, pelas nossas
intenções”. Afinal, “em nenhum país é mais ne- aldeias”, como comentou o mesmo autor.31
cessária a confraternidade e a união da classe
médica do que no Brasil, onde nos vemos de- Esse ressentimento se explica pelo fato
sajudados da proteção oficial contra a invasão de o exercício ilegal da medicina e da farmácia
crescente do charlatanismo”, entre aqueles “que ser, pelo menos no caso brasileiro, uma herança
consideram a nossa profissão um apostolado, um colonial difícil de enfrentar, por causa da dificul-
sacerdócio, e não uma ocupação lucrativa”.27 dade de se fiscalizar a atuação dos seus agentes
no seu vasto território, o que muitas vezes es-
Essa exortação expressa, portanto, o es- timulava até mesmo alguns estrangeiros que vi-
forço da elite médica para combater os charla- nham para cá se passarem por pessoas formadas
tães, não só para proteger a saúde pública, mas em tais campos de conhecimento. Em relação
também para justificar as suas demandas cor- a esse problema, Bento Pinto de Vasconcelos,
porativas, como afirmou-se em um editorial do responsável pelo relatório de saúde pública de
periódico em tela: “É tempo de cuidarmos dos 1828, procurou chamar a atenção das autoridades
nossos interesses profissionais”, e “dos nossos provinciais para “a excessiva entrada de estran-
créditos científicos como povo civilizado e das geiros no Império”, segundo ele, “muito escan-
garantias que as nossas qualificações profissio- dalosa”, porque, entre os quais, “tem entrado
nais possam oferecer à saúde das populações”.28 um enxame de semelhante gente, inculcando-se
professores da arte de curar, espalhando-se pe-
Engajados nesse esforço, alguns médicos los sertões das províncias”. Com efeito, “tem-
começaram a apresentar um incipiente otimismo se visto muitos estragos de suas experiências e
quanto à vitória contra o charlatanismo, como depravadas conseqüências”, e, não obstante, “o
Júlio de Moura em um texto publicado em 1868: povo crédulo e sempre amante das novidades
De longa data me parecia que a rege- se entrega cegamente a eles, apesar dos tristes
neração da nossa arte no Brasil era uma coisa 29 Ibidem, ano 2, nº. 41, 15/03/1868, p. 198.
ainda por se esperar do futuro, uma revolução 30 *O autor faz alusão ao monstro mitológico que Hércules (Heracles)
matou no segundo dos dez trabalhos a ele impostos por Zeus. O referido
a tentar-se remota, lenta, que devia sempre ser monstro, uma serpente com 9 cabeças, vivia no pântano de Lerna, de
onde, de tempos em tempos, saía e destruía rebanhos e plantações
27 Ibidem, ano 2, nº. 32, 31/10/1867, p. 87-88. inteiras.
28 Ibidem, ano 2, nº. 39, 15/02/1868, p. 172. 31 Ibidem, p. 199.
e embuste por parte dele e credulidade e igno- Senhor, e vede se há algum equilíbrio entre o
rância do povo. Não havendo subdelegado de farmacêutico e o negociante, porque pagamos
polícia no distrito onde ele atua, não tem sido nós direitos gerais e provinciais, e cuja função
compelido a exibir os seus títulos. Espero que demandando estudos nos impede de acumular
Vossa Senhoria, com autoridade e Homem de outras. Ora, a medicina deve estar ao alcance
Ciências, por respeito à Nobre Classe a qual de todos? Ao estar, ou devendo estar, então
pertence e por amor à humanidade, fará o dito fechem as Academias e deixe o povo ao livre
Germano parar com os seus abusos.35 exercício da profissão. Ilustríssimo Senhor, é
necessário um paradeiro nisto, pois a medicina
Em relação às atividades de formulação, está ao desdém, e isto é uma coisa que ofende
a Saúde Pública, devendo merecer mais con-
manipulação e venda de remédios, desde a aber-
siderações do que já mereceu, imitando o que
tura de cursos de farmácia no Brasil na década de já fizeram os países cultos. Deve prevalecer o
1830, no de Rio de Janeiro (1832), em Salvador interesse particular em detrimento do público?
no mesmo ano e em Ouro Preto (1839), começou Quem vende remédios indistintamente e sem
a ocorrer maior preocupação com a regulamen- habilitação faz com que a Saúde Pública seja
tação do exercício dessas atividades. Antes da uma quimera. Pobre Humanidade...36
criação desses cursos, eram os práticos sem di-
Apesar da contundência desse texto en-
ploma universitário que exerciam tais atividades.
dereçado às autoridades provinciais, em que
Porém, a partir da inauguração da Junta Central
o seu autor, representando os interesses da sua
de Higiene Pública em 1851, a atuação deles aos
classe profissional e o da saúde pública, solicita
poucos foi ficando cada vez mais restrita à co-
a exclusividade da comercialização de medica-
mercialização de medicamentos.
mentos aos que estavam legalmente autorizados
Mas o processo de imposição dessa res- para o exercício de tal atividade, em muitas loca-
trição foi tenso, como a documentação permite lidades a situação não havia mudado. Em 1888,
observar. Um exemplo disso encontra-se em um por exemplo, vários delegados de higiene pro-
texto extremamente crítico de um farmacêutico curaram levar “ao conhecimento dos poderes da
residente no Município de Formiga, interior de Província” de Minas o “costume generalizado
Minas, Joaquim Ferreira Pires, datado em 25 de até mesmo de negociantes em venderem drogas,
outubro de 1870, no qual ele diz: mesmo as corrosivas”, que estava provocando
graves problemas sanitários, como em Catagua-
Já tendo representado à Inspetoria ses, onde ocorreu o “envenenamento de uma
sobre os abusos no exercício da Medicina e
criança”.37
Farmácia, e nenhum resultado obtido, rogo
respeitosamente que este órgão se digne coibir
Na área farmacêutica, além desse costu-
estes abusos atentatórios aos direitos dos far-
macêuticos. Aqui, como em muitos pontos des- me havia também o de se anunciarem remédios
ta província, há tantas boticas em negócios de como se fossem infalíveis e universais (ou seja,
fazendas, porque não contentes em negociarem considerados pelos seus fabricantes eficazes
nos seus próprios ramos, trazem do Rio de Ja- contra diversas doenças), cujas fórmulas por isso
neiro sortimentos de drogas e remédios. Quem
eram mantidas em segredo, contrariando o ideal
deve merecer mais a atenção, a saúde pública
ou os negociantes especuladores e oportunis-
da Ilustração de que o objetivo do saber deve ser
tas? Toda a tolerância é permitida em favor o de favorecer a melhora da vida humana. Agin-
dos ditos negociantes. Comparai, Ilustríssimo do dessa maneira, os responsáveis por anúncios
35 APM, Relatórios de Saúde Pública, PP 1-26, cx. 3, 1871, sem 36 Idem.
paginação. 37 Ibidem, cx.5, 1888, sem paginação.
léstias do peito, injeções que curam em 24 horas médios secretos, ou tomarem parte, de qualquer
qualquer hemorragia, xaropes que restabelecem forma, em seu fabrico e venda”.44
os tísicos no último período da moléstia”, etc.41
Um dos profissionais que acataram essa
Após informar das providências que recomendação, conforme foi noticiado na Gaze-
esse órgão estava tomando para “cortar pela ta Médica da Bahia, foi Vicente Sabóia, ao abor-
raiz uma ilegalidade por longos anos tolerada dar esse assunto em suas aulas para “por a salvo
e de alguma sorte sancionada pelo costume”, tal do pernicioso charlatanismo os seus jovens ou-
médico sugere “que antes do grande golpe ser vintes e precavê-los contra a cobiça desonesta
dado [contra] os infratores” devem-se avisá- que explora a credulidade pública sem pejo nem
los de que “não podem continuar impunemente consciência”, a qual, “em certas gazetas diá-
na marcha que vão”, para tentar regenerar os rias”, como era comum, “refugiam-se ao lado
“que possuem um diploma por uma Faculdade dos Ayes, Bristols e Holloways, à sombra do
respeitável”.42 Mas, ao que parece, a medida anúncio industrial”.45 Tal cobiça estava passan-
não surtiu efeito, porque remédios supostamente do dos limites, por exemplo, em relação aos “es-
infalíveis e universais e de composição secreta treitamentos de uretras”, ao ponto de, segundo
continuaram sendo anunciados fartamente. Por esse médico, “os charlatões apregoarem pelos
isso, vários médicos enviaram textos aos órgãos jornais que os seus operados ficarão curados
da imprensa especializada em suas áreas de atu- instantaneamente, sem necessidade de comple-
ação, com o objetivo de, ao publicá-los, chamar tarem a cura com a passagem das sondas”, que
a atenção da opinião pública para a gravidade do “não há nenhum saltimbanco que não anuncie
problema. Afinal, como determinava o código de que possui um meio fácil de curá-los”.46
ética da Associação Médica Americana, confor-
me a elite desse campo de conhecimento no Bra- Por essa razão que na Gazeta Médica
sil recorrentemente reiterava: da Bahia os seus diretores procuraram divulgar
na íntegra, em números seqüenciados, o código
“É dever dos médicos, que são fre- de ética da Associação Médica Americana, para,
qüentes testemunhas dos excessos cometidos conforme suas palavras, “cumprimos um indecli-
pelos charlatões e dos prejuízos à saúde, e
nável dever que nos impõe a consciência”, entre
até da destruição da vida, causados pelo uso
dos remédios secretos, esclarecer o público os quais, o de lutar para que “não convertam a
sobre estes assuntos e mostrar os danos que nobre profissão a que pertencemos em uma mera
sofrem aqueles que não conhecem os embus- indústria”. Com esse objetivo, publicaram em
tes e pretensões dos industriosos charlatões suas páginas críticas contundentes contra “os
impostores”.43
mercadores de remédios e de curas”, como a
“turba dos Holloways, Bristols, Ayes, Dehauts,
Para isso, essa Associação recomendava
Kemps, e uma infinidade de outras”, chamando-
aos médicos o seguinte: “Empregar toda influên-
os ironicamente de “beneméritos da humanida-
cia que possuem, como professores nas escolas
de, que se aproveitam no Brasil de uma tolerân-
de farmácia, manifestando suas preferências a
cia incrível para exercerem a sua indústria com
respeito das boticas a quem devem ser enviadas
a aprovação tácita da imprensa, da polícia sani-
suas receitas”, com o objetivo de “dissuadirem
os droguistas e farmacêuticos de venderem re-
41 Gazeta Médica do Rio de Janeiro, ano 2, nº. 15, 01/08/1863, p. 179. 44 Idem.
42 Idem. 45 Ibidem, ano 2, nº. 46, 31/03/1868, p. 257.
43 Gazeta Médica da Bahia, ano 2, nº. 34, 30/11/1867, p. 111. 46 Idem.
“Singular contraste!” Foi o que a dire- Alguns anos mais tarde, os membros da
ção do mesmo periódico comentou a respeito, Sociedade de Medicina de Pernambuco publica-
acrescentando que “o nome dos homens emi- ram o seu parecer sobre uma consulta feita a eles
nentes não é herança exclusiva de suas famílias, pela Câmara Municipal de Recife em relação à
pois pertence também à classe que se desvanece solicitação de Ignácio José do Couto “para abrir
de os ter possuído no seu seio, à historia e à hu- no Bairro de Santo Antônio um depósito do me-
manidade”. Dessa forma, considerou o ocorrido, dicamento conhecido vulgarmente pelo remédio
além de um “desacato à memória de um colega de Le Roy”. Em resposta disseram: “A Câmara
ilustre”, uma grave ofensa “à dignidade das pro- Municipal deve negar a permissão solicitada”
fissões médica e farmacêutica”.50 e, além disso, “por todos os meios a seu dispor
deve impedir, como determinam as disposições
Um dos medicamentos mais criticados da legislação vigente, nas boticas ou fora delas
ao longo do século XIX pela elite médica foi a venda deste ou quaisquer outros remédios ati-
purgante Le Roy, por ser anunciado como infa- vos (...) a não serem os pedidos com receita de
lível, universal e sem revelação da sua fórmula. facultativo”. Porque:
Os ataques contra o seu fabricante começaram a
ser feitos desde o final do período colonial, quan- É notório a abuso que deles fazem
do José Maria Bomtempo lamentou a comercia- nesta Província a ignorância e a sórdida avidez,
aplicando-os a todas as moléstias, em todos os
lização de drogas com essas supostas qualidades,
graus, não obstante quaisquer contra indicações
dizendo o seguinte: “Mal pensaria eu que, entre- constitucionais ou mórbidas, causando assim
gue ao trabalho e tarefa que acabo de luminar, ora inflamações rapidamente mortais, ora alte-
novamente me veria obrigado a não largar a rações orgânicas nas vísceras abdominais (...),
pena e ocupar-me também na luta e guerra sobre o que tudo faz não pequeno número de vítimas;
47 Ibidem, ano 2, nº. 32, 31/10/1867, p. 87. e atendendo que um depósito de tais remédios
48 Ibidem, ano 2, nº. 47, 15/06/1868, p. 265.
49 Idem. 51 Bomtempo, José Maria. Op. cit, p. 95.
50 Idem. 52 Revista Médica Fluminense, ano 1, nº. 9, 1835, p. 13.
vendidos, como geralmente são, sem receita de atrozes e pungentes provenientes de treze cha-
facultativo, no centro da cidade só pode ter por gas abertas espalhadas por diferentes partes do
fim facilitar a venda.53 seu corpo, sendo uma das quais sobre o peito do
pé”, que “o privava de andar causando-lhe as
Na Gazeta Médica do Rio de Janeiro, o
dores mais agonizantes”. Assim, “atormentado
Le Roy também foi alvo de ataques, como os de
por tais aflições e dores, e quase aborrecido da
Torres Homem que, analisando uma epidemia
continuação de semelhante vida, tendo posto de
reinante na época, relacionada possivelmente
parte toda a fé e confiança nas medicinas, (...)
com alimentação, aproveitou a ocasião para cri-
não lhe restava mais esperança alguma, pois
ticar o uso generalizado que as pessoas estavam
resignado esperava com paciência o termo fi-
fazendo dele:
nal dos seus multiplicados sofrimentos”. Mas
A respeito dos purgatórios, podemos então, “eis que milagrosamente por fortuna sua
dizer sem medo de errar que o povo os julga lhe receitaram o grande purificador de sangue,
únicos remédios para maior parte das molés- Salsaparilha de Bristol, e mediante a sua gran-
tias. Na classe baixa então, principalmente de eficácia e excelência ele se achou dentro de
entre pretos, não podem conceber tratamento
pouco tempo livre de seu irremediável estado de
algum sem ser procedido, acompanhado e su-
cedido de purgantes; quer nos hospitais, quer desespero”.55
na clínica civil, o médico se vê constantemente
perseguido pelos doentes, que duas a três ve- Já o seu concorrente, fabricante da Sal-
zes por semana querem ser purgados. Mesmo saparilha Parisiense, justificou o lançamento
entre pessoas esclarecidas encontra-se essa dessa marca para o público brasileiro da seguinte
exigência; bem raras vezes o facultativo é cha- maneira:
mado, que não saiba logo que já se administrou
uma libra de solução de citrato de magnésia ao As numerosas falsificações a que está
doente,se trata de um membro de família, ou sujeita desde alguns anos a essência de salsa-
três colheres da mistura purgativa de Le Roy, parrilha, sobretudo no Brasil, a má preparação
se trata de um escravo.54 de todas as que estão espalhadas no comércio
de casas de drogas e boticas por indústrias de
Para saber até que ponto as críticas mé- New York, completamente estranhas à medici-
dicas aos medicamentos como esse eram justas, na e à farmácia que dão a si mesmos os títu-
vale a pena conhecer o conteúdo dos anúncios por los de doutores e boticários, enfim, o interesse
da humanidade empenharam os sr. Grimault e
meio dos quais alguns deles eram divulgados. Os
Cia, farmacêuticos da Corte Imperial da Fran-
fabricantes da Salsaparilha de Bristol, por exem-
ça e possuidores da mais importante farmácia
plo, chamava atenção dos leitores com letras gar- de Paris, a oferecer ao público brasileiro uma
rafais e frases exclamativas como “UMA VIDA nova essência de salsaparilha vermelha da Ja-
SALVA!”, seguidas de histórias de pessoas que maica, a mais estimada e a mais rara de todas,
alcançavam sucesso terapêutico com o seu uso. mais ainda que os da Japicanga, ou salsaprilha
do Brasil, conjuntamente com todas as novas
Segundo eles, “não temos conhecimento algum
descobertas vegetais depurativas feitas pelos
de nenhum caso que tão perfeitamente mostre de
sábios datando de alguns anos56
uma maneira a mais clara e persuasiva o poder
da Ciência Médica sobre a moléstia; qual seja, a Uma das marcas mais anunciadas da
de Antônio Joaquim Pereira, da Bahia,”, o qual, época era a Ayer. Pelos jornais os leitores pode-
“havia mais de um ano que sofria as dores mais
53 Anais da Medicina Pernambucana, ano 1, nº. 2, 1842, p. 81-82. 55 HPMG, Diário de Minas, ano 1, nº. 110, 12/10/1866, p. 4.
54 Gazeta Médica do Rio de Janeiro, ano 2, nº. 6, 15/03/1864, p. 63. 56 Ibidem, nº. 4, 05/06/1866, p. 4.
os calotes... Somos criados do povo. Julgam-se é hoje empregada por todos os médicos afama-
todos com o direito ao nosso saber, tão ardua- dos, para o tratamento de muitas moléstias, mes-
mente adquirido e tão pouco reconhecido! Não
mo para as que resistem a outras medicações”.64
temos hora, dia nem descanso ... salva-se o do-
ente, agradece-se à natureza; morre o doente,
Apesar de todas as críticas a esse respei-
culpa-se o médico (...).
Lino − Esse é o único lado mau. E o to, produtos e mais produtos farmacológicos per-
bom? maneciam sendo divulgados pelos principais jor-
Cautério, levantado-se − O único? nais do período em tela. Como forma de ilustrar
E essa súcia de inovadores, magnetizadores, essa permanência, alguns deles seguem integral
hidropatas e homeopatas com que lutamos to-
ou parcialmente reproduzidos abaixo.65
dos os dias? (tira um Jornal do Comércio da
algibeira). Aqui estão nestas colunas as mais
nojentas diatribes, os mais asquerosos insul-
tos que esses charlatões cospem contra nossa
face.61
com o qual pudesse sem muito trabalho ganhar era médico. Tomara o título para ajudar a pro-
bastante dinheiro. O doutor magnetizador, de- paganda da nova escola”. (ASSIS, 2001,22)
pois de pensar algum tempo, perguntou-lhe, _
queres ser médico? Sim, respondeu-lhe o ouri- Com o aumento de prosélitos, a homeo-
ves. Pois bem, vai amanhã à minha casa que te
patia foi sendo consolidada e, aos poucos, livros
darei um diploma. (...) Seis dias se passaram;
em todos os cantos da cidade eram distribuídos destinados ao público leigo, como “a bem co-
cartões, tendo um me chegado às mãos, no qual nhecida obra do dr. Cochrane, Medicina domés-
se lê: A. A. da S. dr. Homeopata pelo Instituto tica homeopática”, começaram a ser anunciados
Homeopático do Brasil.�67 nos jornais, como no O Constitucional.� 69Pela
mesma razão, foram surgindo farmácias espe-
Para a direção da Gazeta Médica da cializadas na manipulação e venda de remédios
Bahia, a “proteção ao charlatanismo audaz” fa- homeopáticos. Em Ouro Preto, por exemplo,
cilitava esses abusos, uma vez que estava sendo na rua da Ajuda, nº. 61, estava funcionando o
“acariciado até por altos funcionários”, porque, “Grande Laboratório Homeopático”, no qual,
depois que “um ministro de Estado, por simples “o público” poderia encontrar “o mais completo
aviso, autorizou a um simulacro de escola home- sortimento de boticas homeopáticas” e “todos
opática do Rio de Janeiro a outorgar certifica- os medicamentos”, bem como “as mais diversas
dos de habilitação a quem ela quisesse”, abusos substâncias medicinais”, vindos “diretamente
começaram a se repetir. Como em São José do dos grandes laboratórios de Londres”.�70
Norte, Rio Grande do Sul, cuja Câmara Muni-
cipal, declarou “em documento público que não Assim, a homeopatia no Brasil foi se
só prestava auxílio e proteção a um homeopata, consolidando a partir dos esforços iniciais de
mas ainda punha à sua disposição as salas do Benoit Mure na década de 1840, passando pela
paço municipal para seu consultório”.�68 criação do Instituto Hahnemanniano�71* e pela
implantação de disciplinas homeopáticas nos
Apesar de todo esse ataque, a home- centros de formação médica no tempo do Impé-
opatia estava atraindo cada vez mais adeptos rio, até a fundação da primeira faculdade e do
e começando a sofrer também com a ação de primeiro hospital nessa área da medicina, respec-
charlatães. Essa ação foi retratada no romance tivamente em 1912 e 1916. Isso quer dizer que,
Dom Casmurro de Machado de Assis, cujo pro- apesar de terem tentado, os alopatas não conse-
tagonista, Bentinho, conta que na fazenda do seu guiram convencer o Estado e a população de que
pai havia aparecido um sujeito, José Dias, “ven- a homeopatia era uma modalidade de charlata-
dendo-se como médico homeopata”, portando nismo e impedir seu processo de consolidação.
um manual e uma botica. Quando isso ocorreu, Mas, ao longo do século passado, acabaram
lá estava grassando um surto de febres que aco- incorporando-a ao saber médico como uma es-
meteu uma escrava e um feitor, os quais foram pecialidade, evitando maiores divergências que
curados pelo referido suposto homeopata, que poderiam provocar desgaste à imagem da própria
por isso conquistou a confiança da família. Certo medicina.
dia, as febres voltaram, e dessa vez com muito
mais força, afetando a escravaria, que foi entre- Além disso, obtiveram êxito contra os
gue aos seus cuidados. Porém, como a tarefa era barbeiros, os curandeiros, as parteiras e os char-
69 HPMG, O Constitucional, ano 3, nº. 96, 01/07/1868, p. 4.
difícil demais, ele “acabou confessando que não 70 Idem
67 Idem. 71 *Destinado a formar médicos homeopatas, entre outras funções. O
68 Gazeta Médica da Bahia, ano 2, nº. 39, 15/02/1868, p. 171. nome remete ao pai da homeopatia, Hahnemann.
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