Вы находитесь на странице: 1из 123

História e

Economia
Revista Interdisciplinar

História e Economia Revista Interdisciplinar 1


2 História e Economia Revista Interdisciplinar
História e
Economia
Revista Interdisciplinar

História e Economia Revista Interdisciplinar 3


HISTÓRIA E ECONOMIA - revista interdisciplinar.
Brazilian Business School. - v. 8, n. 1, (2011). - São Paulo:
Meca Comunicação Estratégica, 2011

Semestral
ISSN 1808-5318

1. História - Periódicos 2. Economia - Periódicos 3. Finanças -


Periódicos 4. Brasil - Periódicos I. Brazilian Business School.

CCD 330.981

4 História e Economia Revista Interdisciplinar


Expediente

História e Economia
Revista Interdisciplinar
BBS – Brazilian Business School
Editor: John Schulz
Vice editor: Adalton Francioso Diniz
Secretário geral: Roberta Barros Meira
Secretário adjunto: Anderson Floriano
Conselho editorial:
Adalton Franciozo Diniz (Faculdade Cásper Líbero;PUC/SP) • André Villela (EPGE/FGV) • Antônio
Penalves Rocha (USP) • Carlos Eduardo Carvalho (PUC/SP) • Carlos Gabriel Guimarães (UFF) • Fla-
vio Saes (USP) • Gail Triner (Rutgers University) • Jaime Reis (ICS - Universidade de Lisboa) • John
Schulz (BBS) • John K. Thornton (Boston University) • Jonathan B. Wight (University of Richmond)
• José Luis Cardoso (ICS - Universidade de Lisboa) • Marcos Cintra (Unicamp) • Pedro Carvalho
de Mello (ESALQ) • Renato Leite Marcondes (USP/Ribeirão Preto) • Ricardo Feijó (USP/Ribeirão
Preto) • Steven Topik (University of California Irvine) • Vitoria Saddi (INSPER)

Agradecimento aos pareceristas externos:


Raimundo Cláudio Gomes Maciel (UFAC)
Wolfgang Adolf Karl Döpcke (UNB)
Benedicto Heloiz Nascimento (USP)
Chiara Vangelista (Universita Degli Studi Di Genova)
Marcelo Magalhães Godoy (UFMG)
Maria Aparecida Borrego (Museu Paulista-USP)
Henrique Soares Carneiro (USP)
Rita de Cássia Marques (UFMG)
Bruno Guilherme Feitler (Unifesp)
Pedro Antônio Vieira (UFSC)
Alicia Ruiz Olalde (UFRB)
Sérgio Marley Modesto Monteiro (UFRGS)
Giuliano Contento de Oliveira (Unicamp)
Roberto Vermulm (USP)
Marina Honório Szapiro (UFRJ)
Angelita Matos Souza (UNESP)
Marcos Cordeiro Pires (UNESP)
Ricardo Basilio Weber (IBMEC-RJ)

Projeto gráfico e arte: Meca Comunicação Estratégica – Tel. 55 11 2447-0681


Apoio editorial: Denise Freitas
Diagramação: Valter Luiz de Freitas
Tiragem: 1.000 exemplares
Impressão: Neoband

BBS – Brazilian Business School


Al. Santos, 745 – 1º andar – São Paulo – SP – Brasil
Tel. 55 11 3266-2586 – Fax 55 11 3289-3345
revistahistoriaeconomia@gmail.com – www.bbs.edu.br

História e Economia Revista Interdisciplinar 5


6 História e Economia Revista Interdisciplinar
Sumário

Apresentação

O momento de História e Economia


The moment of História e Economia
Conselho editorial.....................................................................................................................................9

Nota do editor
Editor’s note
John Schulz.............................................................................................................................................11

Artigos

French Education in Science and the Puzzle of Retardation, 1790-1840


Margaret C. Jacob...................................................................................................................................13

Development Theories and Development Experience: Half a Century Journey


Vladimir Popov........................................................................................................................................39

A política comercial do Brasil no contexto internacional, 1889-1945


Paulo Roberto de Almeida ....................................................................................................................59

A Fazenda Pau d’Alho de Campinas: as cadernetas como registros da contabilidade dos


“colonos” (1927-1931)
Rogério Naques Faleiros........................................................................................................................79

A concorrência no mercado de trabalho médico no Brasil do século XIX


Alisson Eugênio ....................................................................................................................................95

Roteiro para submissão de artigos...................................................................................121

História e Economia Revista Interdisciplinar 7


8 História e Economia Revista Interdisciplinar
O momento de História e Economia
The moment of História e Economia

O País e as Disciplinas The Country and the Disciplines

D
e proporções continentais, o Brasil
se fechou em si mesmo ao longo da
segunda metade do século 20. A in-
O f continental proportions Bra-
zil looked predominantly inwards
throughout most of the second half
dustrialização tardia do País materializada sob of the twentieth century. Import substitution and
a forma de substituição de importações foi o autarky dominated thinking accross the political
tema dominante nesse período. Durante as últi- spectrum. Over the past two decades; the outlook
mas duas décadas, entretanto, a visão do Brasil changed dramatically with both the “left” and
mudou de forma significativa. Tal episódio teve the “right” searching outside for new ideas and
também repercussão na academia, observando for material fulfillment. Historians and econo-
um movimento no qual tanto a “esquerda” quan- mists seek to understand the world including ar-
to a “direita” passaram a buscar novas idéias de eas with which Brazil had little previous contact.
fora do País. Os historiadores e economistas pro- Today South Korea and India may be role models
curaram entender o mundo inclusive em áreas and are at least “benchmarks” for Brazil.
nas quais o Brasil possuía pouco contato prévio.
Meanwhile Brazil, which led the world
Atualmente, a Coréa do Sul e a Índia podem ser
in economic growth for a number of decades,
modelos para o Brasil.
and which recently overcame near hyperinfla-
Neste ínterim, o Brasil, que liderou o tion, has something to tell the rest of the world.
mundo em termos de crescimento econômico
por diversas décadas e, recentemente, superou We view História e Economia as a multi-
um processo de pré-hiperinflação, tem muito a lingual forum for both Brazilian and internation-
contar para o mundo. Ao nosso ver, História e al scholars. We also see our journal as a means
Economia é um fórum multilinguístico para es- by which Brazilian researchers communicate the
tudiosos brasileiros e de outros países. Também Brazilian experience to academics and other in-
entendemos que esta revista é uma forma na qual terested parties abroad.
os pesquisadores do Brasil podem expressar suas
Interdisciplinary studies have been in
experiências a acadêmicos e demais interessados
vogue at least since the appearance of the An-
no exterior.
nales in 1929. In practice, historians, although
Os estudos interdisciplinares estiverem influenced by ideas from many fields, rarely un-
em voga, no mínimo a partir da publicação dos dertake research in conjunction with scholars
Annalles em 1929. Os historiadores, em sua trained in other disciplines. Collective studies
grande maioria, apesar de serem influenciados tend to be by groups of historians. Brazil has a

História e Economia Revista Interdisciplinar 9


por idéias de áreas distintas, raramente produzi- large number of outstanding economists whose
ram trabalhos em co-autoria com acadêmicos de work on economic history is recognized around
outras disciplinas. Esforços coletivos tendem a the world. This tradition started with Celso
incluir apenas historiadores. Esta revista preten- Furtado in the fifties if not earlier. We intend to
de ser um fórum de propagação de idéias ino- take advantage of this existing situation to en-
vadoras de historiadores e economistas. De fato, courage research and communication by schol-
o Brasil tem um grande número de economistas ars of both disciplines.
cujos trabalhos de história econômica possuem
reconhecimento internacional e contribuíram História e Economia dedicates itself to
para o avanço da história. Tal tradição teve início three areas: General Economic History, Finan-
nos anos 50 com Celso Furtado, senão antes. As- cial History and the History of Economic Ideas.
sim, usando da credibilidade desses acadêmicos Within Financial History we include money, fi-
brasileiros, o intuito da revista é o de estimular nancial institutions and instruments, and public
a pesquisa e a comunicação por acadêmicos das finance. The History of Economic Ideas encom-
duas disciplinas. passes the adaptations that relatively backward
economies, such as Brazil and Portugal, have
A revista abarca três áreas: história eco- made of economic thought from the “advanced”
nômica geral, história financeira e história das countries.
idéias econômicas. Em história financeira inclu-
ímos moeda, instituições e instrumentos finan- It is on the intersections of history and
ceiros e finanças públicas. A história das idéias economics and of Brazil and the world where we
econômicas abrange as adaptações que econo- wish to make our contribution.
mias, como as do Brasil e de Portugal, termina-
Editorial board
ram por implementar no pensamento econômico
tradicional.

Será por meio do encontro entre história


e economia e do Brasil com o mundo que esta
revista deverá fazer sua contribuição.

Conselho editorial

10 História e Economia Revista Interdisciplinar


Nota do editor
Editor’s note

E
m um momento em que o equilíbrio
do poder e da riqueza mundial parece
estar mudando abruptamente, temos
A t a moment when the balance of world
power and wealth appears to be chan-
ging abruptly, we are pleased to pre-
o prazer de apresentar dois instigantes trabalhos sent two thought-provoking pieces which reflect
que refletem sobre tais acontecimentos dramáti- on such dramatic events: “French Education in
cos: “French Education in Science and the Puzz- Science and the Puzzle of Retardation, 1790-
le of Retardation: 1790-1840” por Margaret C. 1840” by Margaret C. Jacob and “Development
Jacob e “Theories and Development Experience: Theories and Development Experience: Half a
Half a Century Journey” por Vladimir Popov. Century Journey” by Vladimir Popov.
França, Grã-Bretanha e os Países Baixos France, Britain, and the Low Countries
lideraram o mundo da tecnologia durante o sé- led the world in technology during the 18th
culo XVIII. A Revolução Industrial começou na century. The industrial revolution began in Bri-
Grã-Bretanha, por razões que incluem a geogra- tain, for reasons which include geography and
fia e recursos, bem como instituições e tecnolo- resources as well as institutions and technolo-
gia, e rapidamente foi irradiada para os outros gy, and quickly radiated out to the other two.
dois. O artigo de Jacob discute particularidades Jacob’s article discusses specifics of French (and
da educação científica francesa (e Bélgica) quan- Belgian) scientific education as compared to that
do comparada com a da Grã-Bretanha durante o of Britain during the period of the industrial re-
período da Revolução Industrial e sua consolida- volution and its subsequent consolidation
ção subsequente
Popov’s study covers our own epoch with
O estudo de Popov cobre nossa própria emphasis on the rise of China. Here he demons-
época com ênfase na ascensão da China. Aqui ele trates the success of that country’s pragmatism
demonstra o sucesso do pragmatismo desse país as compared to the approaches of more ideolo-
em comparação com as abordagens dos governos gical governments and agencies in other areas
mais ideológico e agências em outras áreas do of the globe.
globo.
Returning to our concerns with Brazil,
Voltando às nossas preocupações com we have Paulo Roberto de Almeida’s “A politica
o Brasil, temos Paulo Roberto de Almeida “A commercial do Brasil no contexto internacional,
politica comercial do Brasil no Contexto Inter- 1889-1945”. This work represents a small part
nacional, 1889-1945”. Este trabalho representa of this distinguished diplomat’s considerable

História e Economia Revista Interdisciplinar 11


Nota do editor

uma parte pequena do considerável corpo de body of research.


pesquisa deste distinto diplomata.
With the recent increase of transfer pay-
Com o recente aumento das transferên- ments, today Brazil seems headed toward more
cias, hoje o Brasil parece caminhar no sentido de equality for all of its citizens. Rogério Naques
mais igualdade para todos os seus cidadãos. O Faleiros’ study “A Fazenda Pau d ‘Alho de Cam-
estudo de Rogério Naques Faleiros “A Fazenda pinas: As cadernetas como registros de contabi-
Pau d ‘Alho de Campinas: As cadernetas como lidade dos ‘colonos’ (1927-1931)” sheds light on
registros de Contabilidade dos ‘colonos ‘(1927- the difficulties facing immigrant laborers at the
1931)” lança luz sobre as dificuldades que en- time of the Depression. Accumulating sufficient
frentam os trabalhadores imigrantes na época da resources to buy one’s own farm seems to have
Depressão. Acumular recursos suficientes para become particularly difficult at this juncture.
comprar a sua própria fazenda parece ter se tor-
nado particularmente difícil neste momento. The final article, Alisson Eugenio’s “A
concorrência no Mercado de trabalho médico
No artigo final, Alisson Eugenio “A no Brasil do século XIX” addresses the attempt
concorrência no mercado de trabalho médico of the medical profession to eliminate its non-
no Brasil do século XIX” aborda a tentativa scientific rivals.
da profissão médica para eliminar seus rivais
não-científicos. In addition to these articles, we are proud
to announce that we co-financed an important
Além desses artigos, estamos orgulhosos study by a member of our editorial board: Re-
de anunciar que financiamos um importante estu- nato Leite Marcondes, Diversos e Desiqual: O
do por um membro de nosso conselho editorial: Brasil Escravista na Década de 1870 (Funpec
Renato Leite Marcondes, Diversos e Desiqual: Editora, Ribeirão Preto).
O Brasil Escravista na Década de 1870 (Funpec
Editora, Ribeirão Preto). We are now in the process of a campaign
to include Africa, especially its Lusophone part,
Estamos agora no processo de uma cam- into our journal. Towards this end, we welcome
panha para incluir a África, especialmente a par- a renowned Africanist, John K. Thornton of Bos-
te lusófona em nossa revista. Para este fim, da- ton University, to our editorial board.
mos as boas-vindas a um africanista de renome,
John K. Thornton da Universidade de Boston, ao
nosso conselho editorial.

12 História e Economia Revista Interdisciplinar


French Education in Science
and the Puzzle of
Retardation, 1790-1840

Margaret C. Jacob
University of California
mjacob@history.ucla.edu

Resumo
Esse ensaio traça os altos e baixos da educação científica francesa de 1780 até 1840. Começa com a descoberta de que no depar-
tamento do norte, matemática e ciência foram descartadas do currículo universitário após 1815. A educação passou a ser papel da
História cultural. No caso francês, temos outro exemplo de um fator cultural exercendo papel no desenvolvimento industrial e sua
contribuição pra sua desaceleração. A chave para a compreensão desta um tanto bizarra reação ao saber científico está no fato da
contrapartida católica frente à revolução francesa.
.
Palavras-chaves: França; Restauração. Ciência

Abstract
The essay traces the ups and downs of French scientific education from the 1780s to 1840. It began with the discovery that in the
Department of the North mathematics and science dropped out of the curriculum of the colleges after 1815. Education belongs to
cultural history and in the French case we have another example of a cultural factor playing into industrial development, and con-
tributing to retardation. The key for understanding this rather bizarre reaction to scientific learning lies in the Catholic reaction to
the French Revolution

Key words: France; Restoration; Science

História e Economia Revista Interdisciplinar 13


French Education in Science and the Puzzle of Retardation, 1790-1840

R
etardation is a mean word. Recently by the hospitality of their engineering hosts,
it has become impolite to apply it to French engineers scurried about the coal fields
people with disabilities or learning of Britain making exact descriptions of the types
disorders, whatever their source. Perhaps natio- and quantities of coal to be found in each. Com-
nal economies should also be exempt from such petition did not preclude the fraternizing of men
seemingly harsh judgment. Surely retardation in of science; lest we forget, there was still com-
productivity can only be understood in relation to petition between rivals who saw themselves as
someone else’s advance, and, of course, what we directly comparable.
label as “retarded” may have seemed quite nor-
mal to contemporaries. How dare we arrogantly The custom of comparing relative pro-
tumble into the past and pronounce a-historical gress between France and England was well in
judgment? Not least using the term conjures up place by the second half of the eighteenth cen-
the developed vs. the underdeveloped, and hence tury. French spies routinely arrived in British
the chest-thumping of the West. Such is not the towns and cities, prowling for information about
intention. For reasons of capital development innovations, or simply about the relative prices
and agricultural productivity, the area bounded paid for things as varied as coal and cloth. Ela-
by Great Britain, the Low Countries and France borate reports were then filed with the Ministry
seemed, then and now, as the region in Europe of the Interior in Paris where officials watched
most likely to advance economically and break nervously for signs of the British having made
out of the Malthusian trap. France did not, but advantageous improvements. When introducing
only by comparison to England and Belgium. a new invention, in this instance for improving
Economic historians who ignore culture have the sheen on silk, the inventor proudly noted
quantified the retardation onto its Procrustean his many trips to England and “the superiority
bed; it is time for a new approach. of luster that the makers …[in England] ap-
ply to cottons, silk fabrics, and ribbons,” and
We dare to say “retarded” in relation to
he proclaimed, the same luster can now be ob-
France in the first half of the nineteenth century
tained in France, thanks to his invention.3 He
precisely because the French living in the period
was rewarded with a fifteen year patent, free of
were capable of making similar observations,
charge. The inventor of a new pump for lifting
even if they shied away from using the word
water who claimed that he had spent many years
when describing their anxieties about “our rival,”
studying “mechanical objects” assured the state
England. It had become a mirror, and in it could
that his pump delivered “a greater force than the
be reflected French deficiencies. (NORMAND;
English steam engine.”4
MOLÉON, 1824, 47)1 French observers sent by
the government to Britain routinely remarked on Traffic in the direction of England to
how the English had vastly improved the use of France also increased decade by decade, even
coal in the manufacture of iron, thus they had into the revolutionary 1790s when British radi-
achieved “a marked superiority…over all other cals like James Watt, Jr. - much to the annoyance
European countries.” The French engineer wan- of his father of steam engine fame - marched with
ted “to hope that France will not remain always the Jacobins through the streets of Paris. His po-
foreign to this new source of prosperity.” (DU-
of iron as observed in different coal-rich areas.
FRÉNOY; BEAUMONT, 1827, 353-54)2 Aided 3 Archives nationales, Paris [hereafter AN], F12 998, year 6, 9 vendredi,
1 French accent marks not present in the original have not been added. request by C. Bardel.
2 Report by MM. Dufrénoy and Élie de Beaumont on the manufacturing 4 AN, F 12 997, dossier Laine and Varennes, 1792.

14 História e Economia Revista Interdisciplinar


litical ardor for French revolutionary politics did mechanical and chemical arts, especially those
not prevent him from commenting extensively found in France and not seen in England.8 As it
on factories and industrial processes observed, happens he was asking the very questions that
in one instance, in the cotton factories of Rouen. a comparative historian would pose when trying
There he was surprised by the vast scale of the to understand the cultural roots of French indus-
weaving operation of the Oberkampfs. Watt Jr., trial retardation. Boulton had many motives, not
like the French themselves, had seen something least among them gaining access to a quantita-
important there. In the first decade of the new tive understanding of the energy used, and still
century, during the reign of Napoleon, French needed, in various hydraulic projects where one
officials charged with inspecting the seconda- of his steam engines might find a place.9 He es-
ry schools of Rouen insisted that the education pecially wanted to know how much it would cost
given be tailored to the needs of industry, parti- to import coal from England and concluded that
cularly in the city that was the most industrially “France ought to seek to work her coals and not
advanced in France.5 depend on wood only.”

Perhaps the most curious and helpful Perhaps Boulton and Watt were looking
observations made by the many British visi- for men like themselves. Boulton wanted to
tors to France in the 1780s come from the no- know about “all publick meetings and schools for
tes taken by none other than Watt’s partner, the the promotion of human knowledge and arts.”10
brilliant industrialist, Matthew Boulton (who Most helpfully for us, he made a list that inclu-
was accompanied for all, or part, of the time by ded the Royal Academy of Sciences, the Socie-
James Watt.)6 They were guests of the French ty of Agriculture and Economical Arts, schools
King and received contracts for work to be done for millers, bakers, metallurgy, public medicine,
at Versailles.7 But other matters, largely to do surgery, design and painting, as well as chemis-
with scientific education, preoccupied Boulton. try, architecture (where drawing, geometry and
In the 1780s, through his comparative eyes, we mathematics were taught), the King’s library, the
can see what a few years later the French revo- Royal School of Hydrostatics, and a Lycée in the
lutionaries saw and sought to correct by a new Palais Royale where twice a day lectures could
industrial and educational policy implemen- be heard “in all the sciences.” In addition the-
ted by the mid-1790s. He made lists of all the re were ten different private lectures open every
5 Archives Departementales-Seine-Maritime, Rouen, MS 1T 579: day and free. Boulton was looking for the Paris
Collèges et Lycées, Affaires générales au sujet des écoles secondaires;
AN, Procès-verbal de la Visite des Ecoles Secondaire de la Ville de
version of public science and he found it easily
Rouen, “...et dans les maisons d’Education dont les directeurs avaient without the benefit of independent or unlicensed
sollicité, pour l’an 12, le titre de l’Ecole Secondaire. Ils sont précédé à
l’examen du mode d’enseignement suivi dans chacune, et ont interrogé newspapers. The Journal de Paris regularly lis-
les élèves depuis les premiers élémens du langue jusqu’au degré
d’instruction le plus élevé qu’offre chaque pensionnat. Observations ted lectures in the city. In addition Boulton noted
Générales...on a remarqué du Cn. Bricard, quelques élèves ont produit
des dessins qui annoncent de véritable dispositions, et a cet égard on schools for the deaf, dumb and blind, for recre-
doit faire observer, qu’il est important de maintenir le gout du dessin
dans une ville qui est la plus forte de l’Industrie française, tous les sujets
ations like riding and fencing, and multiple near
de cette industrie ont de plus ou moin loins, le Dessin pour Caze (?), si
l’art du Dessin se perfectionne, les machines se multipliant, les procédés 8 BCL, MS 3782/12/107/28, dated 1800, ff. 15-16, in this instance
acquière plus de simplicité, les ouvrages manuels plus de commodité et possibly a request he made to his French visitors, Mr. and Mrs. Gautier
de gout, et l’industrie nationale obtient une meilleur concurrence dans and de Luc.
les marchés étrangers.” 9 BCL, MS 3782/12/108/49, 1786-87, f. 9 notes on the water supply
6 Birmingham Central Library (hereafter BCL), UK, Papers of Matthew of Paris with assistance from M. Deparceux, f. 18 on the cost of coal
Boulton, MS 3782/12/107/14, 1786. Watt is there in January 1787 at imported from Swansea or Newcastle, £1.3.0 per ton with extensive notes
Calais. and measurements of the water works at Marly and Challiot.
7 D1583/2/33 Letter, Boulton to  Wilson regarding Baron Stein, and of
work proposed for the King of France, 27 Jan 1787. .
10 Ibid., ff. 18-24

História e Economia Revista Interdisciplinar 15


French Education in Science and the Puzzle of Retardation, 1790-1840

university-level Colleges.11 Allowing for bias and provincialism in


Boulton’s assessments, what can we extract from
Boulton discovered that all sorts of them that hint at the industrial gaps that would
science could be found in the French capital (the open between France and England in the period
provinces were a different matter), but what did after 1800? Boulton noted a gap in general pros-
this translate into, in terms of improved manu- perity that other observers of France had also
facturing? Again, Boulton made his lists. He recorded. He tells us about French artisanal su-
found French inns to be inferior (in part because periority in a variety of consumer goods and ti-
they did not serve tea), tables, chairs and pottery me-keeping devices, and in linen and silk. When
were inferior, and in general he determined that describing “cloth” – we may assume cotton and
“the riches of the country seem to be all applied wool - Boulton put it in the plus column for En-
to the use of the king.” Some of Boulton’s ob- gland.14 Add to the mix, means of transportation,
servations were fairly stereotypical of English iron and steel production and instruments to te-
reactions to Gallic customs. But then Boulton ach applied mechanics, and therein the English,
got serious and found significant French superio- he believed, excelled.
rity in jewelry, watches, clocks, vases (“far su-
perior,”) wine, snuff boxes, fine silk and velvet, In the 1780s, through the eyes of Boul-
wooden shoes, bleaching of linen and silk, better ton can be seen what, but a few years later, the
presses for cutting, coining money, better rolling French revolutionaries saw and sought to correct
of lead pipes, and the superiority of just about all by a new industrial and educational policy im-
the artisanal goods coming from Lyons.(PEREZ, plemented by the mid-1790s. Curiously Boulton
2008, 232-263)12 Boulton made an assessment had also identified elements increasingly thought
of where he thought English superiority lay: to be critically important for early industrial de-
optical, mathematical and philosophical instru- velopment: mechanical knowledge focused on
ments, coaches, chaises and all carriages, “all application, machines made of iron and steel,
useful things in iron, steel, doors, lathes, tables productivity in coal extraction, improved trans-
and drawers and tables.” In sum, the common portation, a general prosperity that made surplus
people back home lived better and English life capital more readily available.15
in general was more convenient with greater ne-
atness and cleanliness in evidence. Watt, on the The vision of both Boulton and Watt of
other hand, had nothing but praise for the quality what was needed for success in the business of
of metal working used in French cylinders inten- power technology informed the education they
ded for the steam engine of Periers.13 insisted upon for their sons. Despite his own debt
11 BCL, MS 3782/12/108/49, ff. 32-33. For science in the French to artisanal practice, Watt demanded that they
capital see essays by Michael R. Lynn and Lissa Roberts, in Bernadette
Bensaude-Vincent and Christine Blondel, eds. Science and Spectacle in
have an even more rigorous and formal scientific
the European Enlightenment (Aldershot, UK: Ashgate, 2008), pp. 65-74, and mathematical education than was available
129-140.
12 For some confirmation of what Boulton saw in Paris see André to him - although it did include bookkeeping.
Guillerme, La naissance de l’industrie à Paris. Entre sueurs et vapeurs:
1780-1830 (Seyssel: Champ Vallon, 2007), pp.312-16. Other contemporaries also observed that Fren-
13 http://www.cornish-mining.org.uk/story/boulton_watt/volume2.
htm, MS D1583/2/31, Letter,  Ann Watt to Wilson, January 9, 1787, “I no purpose for he was sorry to say that many of our Artists might learn
had the pleasure of receiving your of the 5th this morning inclosing the from France more than the French now can learn of us that their late
account for Dec[embe]r which is sent to Mr. Pearson I am very sorry to improvements were immense.”
hear of the three Engines you mention as it may be the cause of some 14 BCL, MS 3782/12/108/49, f. 36. This notebook contains these crucially
quarreling but the Cornish gen[tleme]n need give themselves no trouble important comparisons.
to prevent Engines being sent out of the Kingdom Mr. Watt wrote me that 15 For a detailed treatment of these factors and many more, see Joel
he saw Cylinders cast & bored by Mr. Perrier better done than any of Mr. Mokyr, The Enlightened Economy. An Economic History of Britain 1700-
Wilkinson’s & that all the noise that was made about the tool bill was to 1850 (New Haven, CT., Yale University Press, 2009).

16 História e Economia Revista Interdisciplinar


ch education needed to be turned in the service patenting law benefitted a class of men who
of “national industry, education in the arts and could afford the fifteen hundred livres needed to
crafts” as was the case among France’s compe- secure a patent for fifteen years.
titors. A petition by Parisian citizens went on to
call for education in descriptive and applied ge- The new system of awarding patents or
ometry, physical and chemical experiments and brevets meant that the inventor’s device did not
elementary machinery. (GREVET, 2001, 300)16 have to pass a formal test organized by the aca-
demicians. From the 1790s the ministers of state
The Parisians were on to something. responsible for granting patents still needed to
With the French Revolution came a new genera- understand what principles had been applied in
tion of leaders who were convinced that France the new technology. They received in detail a
lagged behind Britain, a situation that had to be description of what sort of technical knowledge
corrected. By the 1790s these leaders of the new of mechanics or chemistry had enabled the in-
regime – reacting against what they believed was ventor to create his device. Where such know-
a clerically induced backwardness - embraced ledge had been used, patent applicants spelled it
with enthusiasm the Baconian vision of learning out in some detail as a part of the application:
intended for industrial application. They wanted “the physical principles of this invention reside
industrial development, and the mechanical arts in the general law of hydrostatics.” 19 Some-
were at the center of their vision.17 In 1791 a new times inventors made it clear that they did not
system for awarding patents was instituted and know the physical or chemical principles at work
within the next few years inventors of everything in their process. Well into the 1820s the French
- a new system for navigating canals (by the government awarded prizes at public expositions
American Robert Fulton), building better pianos, for innovations that ranged from a new model of
reducing the cost of printing school books, and a steam engine for use in a Saint-Quentin fac-
improving the speed of ships - applied for patent tory to improvements in solid colors for cottons.
protection. The ministers charged with their is- (NORMAND; MOLÉON, 1824, 25-35)
sue had a background in science such that they
could assess, according to “the theory of affini- Education in science did not insure em-
ties,” if the patentee’s chemical process would ployment in industry. In 1808 the Manuel du
indeed produce “soda and sulphate of soda.” négociant listed sixty-four “mechanists and ma-
The chemist Berthollet assessed the viability of chinists” at work in Paris. By contrast there were
the application. The applicant argued plausibly 400 government-employed engineers of bridges
that national benefits in such production would and roads and hundreds of others occupied by the
follow and eliminate French dependence on Bri- state in artillery, the overseeing of fortifications,
tish imports such as Epsom salts.18 Yet the new mines, geography, and the marine. (GUILLER-
ME, 2007, 317-18)20 Nevertheless real efforts
16 Quoted from the Parliamentary Archives, vol. 64, pp. 233-39
17 “Ces arts, que l’idiome de l’ancien régime avait cru avilir en les were being made to inculcate knowledge suita-
nommant arts mécaniques, ces arts abandonnés longtemps à l’instinct
et à la routine, sont pourtant susceptibles d’une étude profonde et d’un ble for industry. In 1808 at the Conservatoire
progrès illimité. Bacon regardait leur histoire comme une branche 19 Cited from a patent mémoire by one Schmidt from 1799 in Jérôme
principale de la philosophie. Diderot souhaitait qu’ils eussent leur Baudry “La technique et le politique: la constitution du régime de brevets
académie; mais que le despotisme était loin d’exaucer son voeur qu’il moderne pendant la Révolution (1791-1803)” M.A. thesis, École des
était loin de le comprendre il n’envisageait dans les arts que des esclaves Hautes Etudes en Sciences Sociales, Paris, 2008-09. Kindly brought to
d’un vain luxe, et non des instruments du bonheur social.” Found in my attention by the author. He has mined the 215 brevet applications
François de Neufchâteau, Circulaire aux Administration centrales found at the Institute National de la Propriété Industrielle, Paris.
de Départements et Commissaires du Directoire exécutif près de ces 20 For the new patents see AN, F12 998. See the brevet awarded on 24
Administrations, 9 Fructidor, Year VI, located in AN, MSS F12 985. Messidor, year 7 to Henry-Joseph Girard, Paris, for a new machine to
18 AN, F12 997, “Memoire” of M. Carny, May, 1789. increase the speed of boats, complete with mathematical explanation.

História e Economia Revista Interdisciplinar 17


French Education in Science and the Puzzle of Retardation, 1790-1840

des arts et métiers, the main training school in Amid all of their jealous looking-over-
applied mechanics, leading industrialists such as the-shoulder Boulton was one of the few com-
the cotton manufacturer, Milne, were employed mentators, either French or English, who men-
as “chief of the practical school de filature” and tioned the state of mathematical and scientific
he was joined by skilled machine makers like J. education in either place. In this regard there
Montgolfier of ballooning fame. All mention of is growing evidence suggesting that the British
machines and application disappeared from the were further ahead in such education by the mi-
faculty positions by January 1816. Application ddle of the eighteenth century.24 Whatever the
reappeared in 1821 when the conservatory hi- case then, after 1789, the French reformers and
red three professors in “chemistry applied to the revolutionaries brought to power made educa-
arts, mechanics applied to the arts, and indus- tion a corner stone of the new mindset they ho-
trial economy” and they are paid more than the ped to create. At the center of the educational
professors of geometry and design.21 reforms lay the new écoles centrales established
in every province with teachers drawn mostly
French Education in Science after
from the laity. This bold experiment - under-
1789 taken in 1795 amid enormous financial and mili-
Despite the elitism of the patent fee, the tary distress - laid great emphasis on the teaching
post-1789 goal for industrial progress had an ega- of mathematics and science aimed at application.
litarian tendency. By 1792 visionaries like Mar- Zealous for the success of the new secondary
quis de Condorcet, now in positions of authority school curriculum, teachers from all over the
in government, proposed the reorganization of country wrote to Paris to complain that they did
traditional secondary education and placed the not have the demonstration instruments they ne-
mechanical arts and the practical elements of eded to teach the application of mechanics to real
commerce front and center in the curriculum of bodies in time and space. Yet they persevered.
the secondary schools. (BACZKO, 2000)22 He A similar curriculum that stressed mathematics
even believed that all new science–oriented fa- and physics was put in place for the training of
culties could be found to staff his grand experi- all engineers.
ment in progressive education intended to create
a new democratic citizen. Increasingly in the By 1802 the curriculum of the French
1790s a working assumption held sway: English secondary schools had expanded to include Eu-
industrial prowess depended upon their superior clidian geometry, works by Descartes and espe-
machines, and education in physics, mechanics, cially Newton and the major Newtonians.25 Very
and mathematics would promote innovation.23 little was added to the scientific reading list until
21 AN, F 1b I, 34, salaries and employees listed for 1808-09, among the 1830s, although as we are about to see, gra-
other dates. Milne’s name no longer appears after September 1814.
For January 1816 list of faculty and salaries see No. 41. Gaultier, the dually much was subtracted. During the reign
professor of Geometry, remained. A position appears for “Du dessin de
la Mécanique.” Salaries, with the exception of the director, are now lower of Napoleon the commitment remained to teach
than those before 1815. The new professors are Clement, Dupin and Say.
22 Condorcet, Rapport et projet de décret sur l’organization générale de
workers of every kind to calculate and to “know
l’instruction publique (avril 1792-décembre 1792,) p. 221. machines they employ.” Their machines for extraction are more complex
23 AN, F/14/4250 1805 Statistique minéralogique du Département du than ours (they are also near the sea); we need to develop our navigation
Leman..., entire discussion of all mining of every substance; machines system to compete.
never mentioned. Written by Lelivec, Engineer of the mines; Mémoire sur 24 http://www.cardiff.ac.uk/carbs/research/
les Mines de houille et le commerce de...Jemappes.... Competition with working papers/accounting_finance/A2009_2.pdf
England cited as critically important (year 10); their coal is superior 25 AN, F 17 1559, “Liste des ouvrages …approuves de 1802-1830,”
and accounts for their preeminence particularly from the produce of in 1802 works by Newton and Newtonians such as Keill, Gregory and
Northumberland; the coals of Jemappes are comparable “the work of Maclaurin, also Daniel Bernoulli, Euler, s’Gravesande, LaGrange,
exploitation in England has the advantage over those of this department Cassini, Monge, Camus, Desaguliers, Musschenbrock, Haΰy, among
... because of the conduct of the operation and the perfection of the others.

18 História e Economia Revista Interdisciplinar


descriptive geometry and … the notions of phy- ticed. The content of an apprenticeship is near-
sics and chemistry [and] to study the mechanism ly impossible to reconstruct. Similarly British
of machines.”26 education, unlike French, was entirely decentra-
lized, and only a school-by-school search can tell
The minister in charge of overseeing pu- us what was actually being taught. Where we
blic instruction received reports from England know particular school systems, in the case of
about its educational system, and was informed those run by Quakers, we can establish linkages
that while French penmanship excelled, the tea- between the teaching of natural philosophy and
ching of mathematics “has acquired the greatest mathematics and careers in industry.28
perfection with the English.” The ability to use
arithmetic and algebra can even be seen among Neither apprenticeship, nor scientific
porters and valets in London, the report conclu- lecturing, was commonplace in France, and the-
ded. All this comparative information assisted re certainly were no Quakers to speak of. As a
in the establishment of the elite lycées, a natio- result the curriculum of the secondary schools
nal system of superior secondary education that became increasingly important for a mechanical
gave serious attention to science and mathema- education suitable for industry. The post 1789
tics including a “professor of applied mechanics French administrators sought to maintain that se-
for the arts and crafts and technology.”27 Note cular orientation and hence they were also clear
that a minority of boys and even fewer girls (in on another vexed subject. The new secondary
any country) engaged in secondary education in schools were not to be in the business of teaching
this period, and in 1802 when the lycées replaced religion. That prohibition would be lifted during
the ecoles centrales they were meant to educate a the reaction that came in the years after 1815 and
mere 6400 pupils. the restoration of monarchy and church.29

The Napoleonic administrators had fi- With the restoration in 1815 the secular
gured out what anecdotal evidence confirms. If authorities continued the rhetoric of being com-
a young man was going to make a career in in- mitted to the Baconian ideal of utility. They also
dustry, and particularly in the application of ma- put in place the Royal Institute where scientists,
chinery and its maintenance, in his youth he had among other savants, gathered and coveted the
to receive education in geometry and algebra, distinction of membership. Contemporaries
in basic mechanics of a Newtonian sort, and of believed the Institute had come to “realize the
course he had to be literate and numerate. Many thought of the celebrated Bacon.”30 After the
British young men, like James Watt, or the cotton Napoleonic wars praise for Baconianism did not,
28 Friends Library, Euston Road, London, MS note book for good
barons, M’Connel and Kennedy, received such penmanship of William Sturge 1797, Ackworth School, MS Box G
1/5/1-2; and for the correlation between attendance at Ackworth and
an education when they were apprentices, also, a career in industry see Edward Milligan, Biographical Dictionary of
as in the case of the linen manufacturer in Le- British Quakers in Commerce and Industry, 1775-1920, (York, UK:
Sessions Book Trust, 2007) pp. 552-555 for students at Ackworth from
eds, John Marshall, through self-education. In- 1779. For a similar curriculum see Minute book of Joseph Sam’s
School, 1809-1828, at Darlington, County Durham, MS vol. S.25. On
deed fully two-thirds of inventors and improvers apprentices see http://www.nber.org/papers/w16993.pdf where is found
NBER WORKING PAPER SERIES, Ralf Meisenzahl and Joel Mokyr,
found in the eighteenth century had been appren- “The Rate and Direction of Invention in the British Industrial Revolution.
Incentives and Institutions,” National Bureau of Economic Research,
26 Exposé de la situation de l’Empire Français. 1806 et 1807 .Paris : 1050 Massachusetts Avenue, Cambridge, MA 02138, April 2011.
Imperial Printer, 1807, p. 18. A similar claim is made in the exposé of 29 Discours prononcé par Roederer, Orateur du Gouvernement sur le
1809. projet de loi relative à l’Instruction publique…11 floréal an 10; 1 mai
27 AN, MS 29 AP 75, the private papers of Roederer, ff. 395-99, see 1802, pp. 12-14. Found at f. 681, AN, 29 AP 75.
article 12. See f. 619 for the structure of the lessons in physics and its 30 Mémorial universel de l’industrie française. Paris: Didot, 1821, p.
application and f. 666 on the suppression of the ecoles. 497.

História e Economia Revista Interdisciplinar 19


French Education in Science and the Puzzle of Retardation, 1790-1840

however, absolve the English of their failings. what needed to be addressed. Now, state of the
The French said that, unlike their English coun- art instruction was to be based upon manuals on
terparts, they innovate “for the entire world” English mechanics.32
while the English “are jealous and envious.”
French critics complained that some people think The gap in the application of steam
that everything coming from across the Channel was one of the prime reasons why French com-
must be wonderful and are possessed of a foo- mentators said that “the imagination is con-
lish “Anglomania.” (NORMAND; MOLEÓN, founded when contemplating the astonishing
1824, 48-51) The more the English aspire to su- impact made on English industry by the genius
premacy, some said, the more the French realize in mechanics.” (CHAMBER OF COMMERCE,
that all their achievements originate with the fli- 1825, 10)33 Perhaps predictably, from 1818
ght of French Protestants after 1685 when Louis to 1823 over twenty treatises on industrial me-
XIV revoked their religious liberty. The French, chanics poured from the French presses. In the
went the complaint, had already initiated those same period an estimated six thousand English
industries from which the English now benefit. mechanicians, artisans, mill-wrights, and master
The moral of the story of French industry consis- engineers were lured to France. In the 1830s the
ted in never ceasing to contest the preeminence tri-weekly newspaper, L ‘Europe industrielle, re-
of England in this “war of industry.” gularly reported on the number of steam engines
and horsepower at work in Birmingham, or the
But gaps remained. In 1818 the Pari- state of English canal building and railroad cons-
sian Conservatory charged with the task of main- truction. Generally it also kept its eye on other
taining state of the art mechanical devices pos- European countries and their relative industrial
sessed sophisticated batteries coming from the progress. (GUILLERME, 2007, 321-22) Some-
work of Volta, machines of every sort for spin- thing else, not simply the high cost of labor or the
ning and weaving cotton as well as many other absence of coal, had to be at work in the puzzle
textiles, pneumatic machines, hydraulic ones, of French industrial retardation.
multiple measuring devices, but curiously and
The Contrast with Belgium
tellingly, not a single steam engine which, had it
been state of the art, would have been made by Once the French revolutionaries captu-
Watt or modeled on his design. (CHRISTIAN, red the territory, schools in the area known as the
1818) When in 1822-23 an engineer appeared Austrian Netherlands (Belgium) had imposed
in Paris with the ability to build steam engines upon them a similar curriculum, rich in natural
they were praised for being able “to rival those history, mathematics, physics and chemistry. In
of England.”31 The neglect in teaching applied 32 AN, F 14 11057, “Note sur l’organisation de l’Ecole des Ponts
et Chaussées par M. Navier, ingénieur en chef Septembre 1830,
mechanics at the main Parisian engineering Rapport sur le cours de Mécanique appliquée de l’ecole des Ponts et
Chaussées, L’ingénieur en chef soussigné a commencé à faire les leçons
school may very well have contributed to the de mécanique appliqué en 1819. M. Eisenman n’ayant rien écris sur
cette matière, on ne peut dire en quoi consistait l’instruction dans il était
malaise into which French mechanical applica- chargé avant cette époque. Les Ingénieurs qui cherchent dans leurs
tions appears to have fallen. Certainly in 1830, souvenirs quelques traces de cette instruction n’en retrouvent presque
aucune…. Enfin il serait indispensibles de le procurer une ou deux des
when educational reform was everywhere dis- meilleures encyclopédies anglaises, qui sont des sources précieuses
d’instruction. Ces ouvrages existent à la Bibliothèque de l’institut, et
cussed, the absence of interest in application at l’expérience vous apprend chaque jour qu’il est impossible quand on
en est privé de l’occuper conversablement des sciences et des arts, et
the engineering school figured high on the list of d’en suivre les progrès. Il est inutile d’ajouter qu’outre ces collections, il
faudrait que la bibliothèque peut avoir les ouvrages utiles qui paraissent
31 This is Bresson fils; see Charles Malo, Bazar Parisien, ou tableau journellement.”
raisonné de l’industrie (Paris: au bureau du Bazar, 1822-23), pp. 66-67. 33 from the preliminary discourse introducing the translation.

20 História e Economia Revista Interdisciplinar


Liège, one of the industrial centers of early nine- by the Royal College and a gymnasium, and the
teenth century Belgium, the teacher of physics curriculum found in the schools continued to in-
and chemistry was instructed to pay particular at- clude mathematics, physics and chemistry well
tention to the machines and manufactures of the into the late 1820s. By that decade the Univer-
Department, and both the theoretical and practi- sity of Liège offered a long and complex course
cal aspects of simple and double-action fire en- in mineralogy, botany, physics with attention to
gines. The newly created Department was sent machines and metallurgy.36 In 1817 the ministry
significant equipment for teaching physics and insisted that at Mons a course in mineralogy was
chemistry, everything from devices to measure needed because of the rich iron and coal depo-
the impenetrability of air, to levers, weights, a sits that lay in its region.37 As early as 1822 the
hydrostatic balance for measuring specific gra- normal school in Mons offered yearly a short
vities, inclined planes and pulleys, a machine to course on steam. By 1833, after Belgian Re-
demonstrate the effects of gravity, even a small volution of 1830 that created the modern state,
carriage that moves by the force of steam. Some industrial schools were established in Liège and
of this equipment had been seized from the Fren- Ghent. Mathematics and science, especially ap-
ch homes of fleeing nobility and clergy. The plied science, took pride of place.38 By then tho-
text books employed were also state of the art, se Belgian cities were universally recognized as
and in some cases taught physics for engineers. major centers for mining and the new industrial
The Parisian minister made it clear that the ins- production of cotton cloth.
truments would augment “the powerful influen-
ce that the progress of physics and chemistry From the 1790s onward in Belgium we
must have on the prosperity of the Republic.”34 find a straight line of development that runs from
In the humanities in 1812-13 the emphasis lay the schools introduced by the French revolutio-
on the classics, French literature, and devotion naries to education in a truly industrial era. As
to God, King and Country, by which was meant early as the 1790s the French invaders believed
Napoleon and France.35 Despite the chauvinism, that in order to promote well-being, “a new
the French overseers in Belgium had assisted in manner of existing depends over all on the flou-
laying a firm foundation in scientific education. rishing state of …manufacturing and commerce,
After 1815 it was up to the newly liberated Bel- it is urgent” that the sciences be cultivated.39 Af-
gians to continue or neglect it. ter 1815 the Dutch administrators who took over
the country maintained that commitment and
When in 1815 the Kingdom of the Low most important, retained complete control over
Countries was formed, the religious orders re-
36 Archives nationales, Paris, F 17 1344/23, archives for the écoles
turned in force, but the Dutch king’s ministers centrales of Liège for the year 10 and Archives de état, Liège (AEL),
Fonds Français Préfecture, inv. # 448, p. 22. For expenditures on books
remained in charge of education. Belgium be- see Inv. #449-4 to 449-11. For the period after 1815 see Archives de
état, Liège, Fonds Hollandais, inv. Nr. 277, 880 for the religious orders,
came part of a newly created kingdom. Indeed and 889 for prizes in mathematics. For the courses in 1817, ARA, Biza,
2.04.01, inv nr 3993, and mathematics are introduced in the education of
when they found deficiencies in the teaching of girls; see ARA, Binnenlandse Zaken (1813-1864) 2.04.01 inv. Nr 3992.
science relevant to a region, such as mineralogy For the university see the University of Liège, General Library, MSS
1310, 6164, 2038, 4028-29, 4035, 4037, and 4050-51.
in iron and coal regions, the Dutch administra- 37 Algemeen Rijksarchief, The Hague (ARA), Archief van Binnenlandse
Zaken. I796-18I3. (BZ). 2.04.01, inv. Nr 4000, October 1815-31 March
tors moved to correct it. The lycée was replaced 1818, letter of January 9, 1817.
38 Bibliothèque Léon Graulich, University of Liège, 23323 B for the
34 Archives d’état, Liège (AEL), Fonds Français Préfecture, inv. Nr 448 society formed to promote the arts and sciences; Stads Archief, Ghent, U,
from the Year 9, and 449-4. inventaris nr. 1424 to 1427; for the course on steam see Archives d’état,
35 AN AB XIX 514, “Cahier de devoir de H.F. Jaubert, a Lycée de Mons, Fonds Française et Hollandais, Province Hainaut, inv. Nr 756.
Liège.” 39 AEL, Fonds Française Préfecture, Inv. Nr 448

História e Economia Revista Interdisciplinar 21


French Education in Science and the Puzzle of Retardation, 1790-1840

education. clearly in many places in France, unlike Bel-


gium, that commitment was being honored more
Whether in France, or the French-con- in the breech than the execution.42 By the 1840s
trolled Low Countries, during the era of Napo- French educators travelled to Belgium to observe
leon (1800-1815) the emphasis on mathematical their schools and universities.43
training and applied science remained high on
the list of what the central government wanted French Education in Science and
for education. (BACZKO, 2000, 464)40 In 1815 Mathematics after 1815
with the loss of Belgium, and the French Resto- Late in the reign of Napoleon a reformer
ration of hereditary monarchy and Church, the within the Ministry that oversaw religion penned
commitment of the central authorities remained, an angry treatise on the state of religion and the
at least in principle, to the teaching of science clergy in France. Everything from celibacy to
and mathematics in the secondary schools.41 Yet the education they received warranted reform,
40 For primary sources see Archives Departmentales, Seine-Maritime and the author noted in passing that among cle-
1T 579: Collèges et Lycées, Affaires générales au sujet des écoles
secondaires, An XI-1810, Arrêté Portant règlement pour les Écoles rical failings stood the complete refusal to un-
secondaires communales de Saint-Cloud, le 19 Vendémiaire, an 12 de
la République....(6) Dans la 6e on enseignera l’arithmétique jusqu’aux dertake study in “les sciences mathematiques et
fractions décimales exclusivement, et les élémens de l’historie naturelle.
Dans la 5e le reste de l’arithmétique, les premiers élémens de physique, physiques.” By comparison to the “rapid march
et quelques propositions de géométrie nécessaires pour la pratique
des opérations plus faciles du toisé et de l’arpentage….S’il y a sept
of all the sciences, the general perfection of their
Professeurs, le septième fera les 2e et 1er classes de mathématiques. methods, theology has remained stationary.”44
Dans la 2e on enseignera les élémens d’algèbre et ceux de chimie; Dans
la 1er la trigonométrie, l’application de l’algèbre à la géométrie, les Even allowing for bias, there is little evidence
élémens de minéralogie; on y joindra les principes généraux de physique,
de l’équilibre des fluides, et quelques notions d’électricité, et magnétisme. to contradict this anonymous assessment of cle-
S’il y a huit Professeurs, l’enseignement sera en tout semblable à celui
des lycées....Le Ministre de l’intérieur, signé Chantal. Cf. AD-Seine- rical education at the opening of the nineteenth
Maritime 1T 1641: Correspondence a propos de établissements, Lycée
de Rouen; Correspondence...tableau horaires de classes...sciences
century.
physiques, mars 1810; “Monsieur le Proviseur, J’ai l’honneur de vous
adresser le tableau des livres élémentaires que j’ai cru servir mettre entre
les mains des élèves auxquels je suis chargé ?? les Sciences physiques…. In 1812 when the church was directed
Les Physique de Haüy est le meilleur livre élémentaire que le Professeur
a cru pouvoir mettre entre les mains des élèves. S’gravensend (sic),
by the university to consolidate its ecclesiasti-
Desaguliers, Mariotte, Mussenbrock, Voller Seroni les auteurs que le cal secondary schools and to put them in towns
Professeurs consultera particulièrement pour étendre sera implications
et agrandir les idées des élèves. L’expérience précédence ou suivra la where their students could take courses at a lycée
théorie autant que l’état actuel des appareils qui malheursement laisse
beaucoup a désire, pourra le permettre.” CF. AD-Seine-Maritime, 1T or college, Cardinal Joseph Fesch, Archbishop
573: Enseignement Secondaire, École Secondaire, Affaires Générales Biot. Physique, Les ouvrages de MM. Haüy, Biot, Beudant; Chimie, Les
relatifs à l’administration et á l’enseignement, an VII – X, Arrivé le 19 ouvrages de MM. Thénard, Thompson.
Vendôme an 8, Cours de l’École Centrale pour l’an VIII, Administration 42 AD-Seine-Maritime, 1T 1656: Correspondence à propos des
Centrale du Département de la Seine Inférieure, a Ses Citoyens....C’est établissements, Lycée de Rouen...organisation d’un cours d’instruction
ici le lieu, Citoyens, de remettre sous vos yeux, l’organisation sage des commerciale..., 1826-1828, Université de France, Extrait du Registre des
Institutions républicaines et l’analyse des divers genres d’Instruction Délibérations du Conseil royal de l’Instruction publique; Procès-verbal
que l’on trouve dans l’École centrale, complètement organisée dans ce de la séance du 16 septembre 1826....Vu le Statut du 4 septembre 1821;
Département, d’après la loi du 5 Brumaire, an IV...L’École centrale de Vu les rapports des Inspecteurs généraux des études et les observations
ce Département contient neuf Cours, Celui de Dessin; Celui d’Historie des Recteurs et de Proviseurs; Considérant que les dispositions du susdit
naturelle; Celui de Langues anciennes; Celui de Mathématiques; Celui statut relatives à l’enseignement des sciences physiques et mathématiques
de Physique et de Chymie expérimentale; Celui de Grammaire générale; et de l’histoire n’ont obentu jusqu’a présent que des résultats incomplète.
Celui de Belles-Lettres; Celui d’Histoire; Celui de Législation. Cf. AD-Seine-Maritime, IT 864: Fonds de l’Académie, Instruction
41 AD-Seine-Maritime, MS 1T 862: Fonds de l’Académie, ministérielles et correspondance diverse adressées au recteur, 1819-
Correspondence au recteur, 1808-1822, Université de France, Statut 1822, Commission de l’Instruction Publique … Paris, le 30 novembre
Portant Réglement sur la discipline et les études des lycées et des 1819, “Monsieur le Recteur, la Commission a senti la nécessité de donner
collèges; Procès-verbal de la séance du 25 septembre 1821; Liste des dans tous les Collèges Royaux, une direction fixé et un forme aux cours de
Livres adoptés par Le Conseil Royal de L’Instruction Publique, Pour sciences physiques, qui malgré le zèle et le talent de Professeurs, n’ont eu
l’Année Scolaire de 1821-1822; (6) Arithmétique de Bezout, ou de jusqu’à ce jour faute de d’unité, que des résultats incomplètes.”
MM. Lecroix, Bourdon ou Reynaud; Géométrie de M. Legendre ou de 43 AN F 17 8838, folder labeled Paris, first document on education in
M. Lacroix; Algèbre de M. Bourdon, ou de M. Reynaud; ou Algèbre de arrondisements 4 to 9 Pension Verdot.
M. Lacroix, avec le complément; Résolution des équations numériques, 44 AN, Paris, MS f 19 326, “Mémoire sur l’Etat de la Religion & du
de M. Lagrange. Statique de M. Poinsot. Application de l’algèbre à clergé en France,” document unnumbered, 65 ff, f. 21-23 “pour les
la géométrie, d’après les Traités de MM. Lacroix, Poullet de Lisle, sciences mathématiques & physiques il n’est pas du tout question.” It
Reynaud; ou d’après le Traité des courbes du 2e degré, de M. Biot. is undated but placed in the files with documents from 1812, followed by
Abrège d’astronomie de M. Delambre ou Astronomie physique de M. documents from 1808.

22 História e Economia Revista Interdisciplinar


of Lyon, took umbrage at the imposition. When did not stop the Napoleonic administrators in
at the height of his power Fesch had persuaded their quest to add secular elements to the edu-
the Pope to come to Paris and crown Napoleon cation offered in the ecclesiastical secondary
as emperor. Despite receiving many honors by schools. After 1812 the reorganization led to the
1812 Fesch had felt the cold chill that came from closing of a number of ecclesiastical secondary
Napoleon’s growing disputes with the papacy. schools, or their removal to more remote towns
Fesch had little to lose when he wrote to the where there was no college or lycée. The Uni-
Grand Master of the University and the Ministry versity wanted to give the clergy knowledge of
of Cults to inform them that philosophy under- the human sciences so that they might better
taken by students possibly destined for the pries- understand “the actual state of society… [and]
thood had to be under the oversight of a bishop. acquire the right to speak with knowledge of
the cause that made the glory of the century and
When it came to the physics taught in the forcefully leave behind the abuse of science.”46
French secondary schools the archbishop bitterly Yet despite being nearer to training in science
complained that he would not even speak about or mathematics, little evidence exists that the
physics, in a century where it has been used to training of priests paid any more attention to
efface the name of the Creator and his works and subjects other than philosophy, theology and the
“the observation of nature serves to destroy re- humanities. Certainly in 1828, when assessing
vealed Religion; it has never been more essential the need for special new schools for more and
than today to allow the Bishop to direct the study better educated priests, no mention is made of
of physics …to protect the students of the Sanc- mathematics or science in a proposal to improve
tuary from an insidious philosophy that would the curriculum.47 Eleven years later the superior
oppose the religion of Jesus Christ, the human of the College of Saint-Joseph in Lille proclai-
traditions and same elements of the world.”45 med “we are resisting with all our strength the
Everything about the post-1789 world that the forces that are precipitating the University in the
church hated came from the philosophes and direction of the almost exclusive study of the na-
their slavish devotion to scientific learning with tural sciences, and we are faithful, as far as is
its materialist tendencies. possible, to the old traditions of the Schools.”48
Arguably the whole of the nineteenth century wi-
Archbishop Fesch spoke for the Church
tnessed constant strife between liberal secularists
and its attitude toward science. But such views
and the Catholic clergy over who would control
45 AN 19 4062, letter of 10 January 1812. And for his response to
individual cases of possible closure see his letter of 10 December 1811 French education whether primary or secondary.
in AN F 19 4062 and the response, where Fesch is told that the decree
does not permit any exceptions, 23 December 1811; the same letter of
10 January 1812 is also sent to the Ministry of Cults, “Je ne parle point The strife began during the reign of Na-
de l’étude de la physiques dans un Siècle où on semble prendre à tache
d’effacer le nome du Créateur de dessus ses ouvres et de se servir de poleon and was only exacerbated with the res-
l’observation de la nature pour détruire la Religion révélé: il n’a jamais
été plus essential qu’aujourd’hui de laisser aux Evêque la direction toration of the monarchy and church in 1815.
de l’étude de la physique, affine qui suivant le precept de l’Apôtre ils
puissant prémunir les Elèves du Sanctuaire d’une philosophie insidieuse
It brought a renewed emphasis on religious
qui voudrait oppose á la Religion de Jésus Christ, les traditions
humaines et les éléments même du monde . Videte ne quis vos decipiate 46 AN F 19 4062, letter of response to Fesch, from the Grand Master of
per philosophiam et inanem fallaciam secundium traditionem hominum, the Imperial University, 23 January 1812.
secundium elementa mundi, et non secundium Christum.” Underlining 47 AN, MS F 19 326, “Rapport de l’évêque de Beauvais (Mgr. Feutrier)
in the original. Such sentiments could also be found among British Mre. des affaires ecclésiastiques au Roi, 16 juin 1828.” On the
right-wing Tories: Thomas Whiting, Mathematical, Geometrical, and reorganization see AN F 19 4062, “Université Impériale. Etat des ecoles
Philosophical Delights...A Eulogium on the Newtonian Philosophy secondaires ecclésiastiques actuellement existantes.”
(London: T.N. Longman, 1798), p.19, “the Democratic school would 48 Quoted from the archives of the Institution libre du Sacré-Coeur,
make us believe, that particles, of inert, matter, from their most chaotic Tourcoing, in Robert Gildea, Education in Provincial France 1800-1914
state, could dance, into form and order....” (Oxford, UK, Clarendon Press, 1983), p. 195.

História e Economia Revista Interdisciplinar 23


French Education in Science and the Puzzle of Retardation, 1790-1840

instruction and the moral probity of French stu- as the mathematician, A. Cauchy wrote off the
dents, while the clergy were returned to their entire eighteenth century as “the source of cala-
preeminent place in primary school education.49 mities without number…the abuse of talent and
French clerically controlled schools in the ei- science.”51
ghteenth century had a spotty, but real concern
for technical education; in 1815, after a genera- Position papers circulating in the Minis-
tion of secularization and anticlericalism, when try of Ecclesiastical Affairs around 1815 decried
the clergy returned, they threw their considerable how - for a generation - education had breed
educational zeal in the direction of re-Christiani- license and passion. Only a return to teaching
zation. (PRÉVOT, 1964, 87-100) The new Res- morality, respect for king and God, and not least
toration government embodied a profound reac- the history of France, will free the young from
tion against what it regarded as the excesses of “the vices of the revolution.”52 In secondary
the French Revolution, and education now had schools the pupils were to be instructed on the
to be reformed. “Religion and love of the King abuses introduced by the enlightened “l’esprit
must be made the base of education,” inculcated philosophique.”53 Needless to say, all the works
without ceasing, and state inspections in every by the philosophes were off their reading lists.
district were to report back to the Ministry of the In addition the post-1815 ministers charged with
Interior that all children in primary schools recei- overseeing education were vigilant that books
ved religious and moral instruction. inspiring “in the children of the inferior classes
the sentiments of animosity toward the more ele-
Even when in the service of religious vated classes” also be banned.54
piety, the system of state inspectors inherited
from Napoleon did not set well with the Church. The school inspections from 1817 to
Given that the Rectors of the Academies were 1820 tell an important story about the lack of
in charge of overseeing all aspects of education, scientific education in the French secondary
the Archbishop of Paris pointedly informed the schools. At the Academy in Clermont-Ferrand,
king, “that anywhere the rector of the academy the Academy at Metz, at Pau, at the relatively
will be an irreligious man; your people will be new colleges in Corsica, in the north at Caen
without religion.” The entire discussion of the (where mathematics was taught) the inspectors
academies that regionally oversaw secondary evince little, if any interest in the teaching of
education was framed within the context of what either physics or chemistry – even, as in Metz,
the Archbishop saw as the excesses of the French where the faculty possessed one teacher of phy-
Revolution when “the rights of man became the sics. At least in Lyon the academy had a zea-
universal catechism.” In 1818 a test of religious lous teacher of physics who had no instruments,
probity was imposed, a certificate of morality no minerals, plants or acids. No such instructor
and the profession of the Catholic religion were appears in the documentation about Marseilles
required of all primary school teachers.50As late where none of the professors have time for, or
as the 1840s even royalist men of science, such 51 A. Cauchy, “Sur la recherché de la vérité,” Bulletin de l’Institut
Catholique, second installment, April 14, 1842, p. 21. Reference kindly
49 Archives Departmentales, Seine-Maritime, MS 1T 873: Fonds de supplied by Amir Alexander.
l’Académie, Administration générale, Lettres ministérielles au recteurs 52 AN, MS F 19 326, ff. 425-430.
au sujet du personnel, 1823-1826; see letters for 1826 to, and from Paris, 53 Archives nationales, Paris, F17 11752, Commission de l’instruction
Ministère des Affaires ecclésiastiques et de l’Instruction publique. publique, 27 juin 1816. On the approval of books hostile to the
50 Archives historiques de diocese de Paris, 4 rue de L’Asile Popincourt, Enlightenment see “Liste générale des ouvrages qui ont été adoptés….
Paris 11, letter of 1816, n.d. addressed to “Sire.” For the certificates pour l’usage des Collèges…depuis 1802” # 258 a work by de Portalis.
see AN F/17/10172/180, letter of 17 April 1818 from the rector of the 54 AN, F 17 23396, book # 244, “Commission charge de la révision
Academy of Lyon. des livres,” 1831.

24 História e Economia Revista Interdisciplinar


interest in mathematics. The Academy at Tou- In 1818 a popular work, receiving the
louse insisted that it must have mathematics and prize for the best book from the Société pour l’
science in part because of the local medical scho- instruction élémentaire, presented a young man,
ol, and saw to it that physics and chemistry were a small-time buyer and seller of goods, who tra-
taught in the early 1820s. It also taught pure and vels about the country-side, accompanied by a
applied mathematics and lacked only someo- priest, and sheds light and joy wherever he goes.
ne sufficiently qualified to occupy the chair of He praises religion and the king – many times
physics. At Dijon physics was promoted at the – and extols the merits of everything from mu-
academy but at the College Royal (the colleges tual education (where children teach one ano-
were roughly on the level of lycées) the chairs ther), the national guard, the payment of taxes
of physics and mathematics were vacant but the and the metric system, to vaccination. Primly
subjects were nonetheless taught. Rectors of he preaches against the insolence of servants to-
the academies instructed that physics and che- ward their masters, the perils of over-eating and
mistry be taught in the commercial towns and drinking, and the indolence and laziness of the
cities, but it is unclear if anyone followed their locals. He ends by proclaiming that a general
instructions.55 prosperity will come, and that all men must dedi-
cate themselves to France. In this way they will
Although the inspector’s report of the demonstrate to other nations their superiority.
circumstances into which scientific education (JUSSIEU, 1918)
had fallen was clear, there was no real interest
in anything other than the religious devotion of The prize book went through multiple
the students and the state of the humanities. One editions over the next fifty or more years. Yet
exception can be seen in the reports of A-M Am- the enduring smugness of the little boy, Simon,
père who decried the condition of science into belied an under- the- surface anxiety. The Fren-
which the academy at Dijon had fallen but prai- ch authorities nervously looked at instructional
sed the situation at Caen. The inspectors, howe- methods in Holland and England and sought to
ver, evince no burning love of the clergy, and are imitate them. Students were mutually to instruct
first and foremost out to have them submit to the one another, in imitation of the method known
will of the University, the administrative body as Lancastrian; reading, writing and arithmetic
(not a teaching institution) charged with the task remained at the core of primary education, but
of overseeing primary and secondary education the local curé and a committee of the district
for the nation. Devotion to religion was all part were to maintain “the order of morals and re-
of order and obedience.56 ligious instruction.” Protestants and Jews had
55 AN F 17 6809/1, ff. 189-355, ad f. 356 for the conditions at Lyon; to be educated separately. Conservative clerics
f. 327 for mathematics at Marseilles; f. 378 for Toulouse, report of
14 July 1817; Dijon f. 163 but placed after f 210 and between f. 209 bitterly opposed mutual instruction regarding it
which are out of order. For Toulouse see F 17 6810, f. 493 filed out of
order and dated 1823. For the near absence of scientific education in as a subversion of priestly authority. Even in
the colleges of the Côte d’Or, see ff. 165 with mathematics present in
about half of the schools. The majority of the faculty was by far laity. See
1816 when the method was new and introduced
Archives Departmentales, Seine-Maritime, IT 864: Fonds de l’Académie, by some Christian Brothers the leadership of the
Instruction ministérielles et correspondance diverse adressées au
recteur, 1819-1822, Commission de l’Instruction Publique, Division du Church viewed it with suspicion and eventually
Personnel, Bureau de Coll. Roy, Paris, le 30 novembre 1819 Monsieur
le Recteur, la Commission a senti la nécessité de donner dans tous les it largely disappeared from the schools.57
Collèges Royaux, une direction fixé et un forme aux cours de sciences AN F 17 6810 for the instructions to the inspectors of studies, 1823 where
physiques, qui malgré le zèle et le talent de Professeurs, n’ont eu jusque there is no mention of science.
à ce jour faute de d’unité, que des résultats incomplètes. 57 AN F 17 23396, Enseignement mutuel, Ecole des Lisieux, 7 November,
56 AN 17 6809/1, f. 406. Ampère insists that the physics course must be 1819. See the correspondence of the Archbishop of Paris for 1816,
experimental. His report on Caen is in AN F 17 6810, 16 June 1829. See Archives historiques de diocese de Paris, Paris 9, letter of 9 February

História e Economia Revista Interdisciplinar 25


French Education in Science and the Puzzle of Retardation, 1790-1840

In general the restored Catholic Church serve the downward course of scientific and te-
could only have been pleased, despite the persis- chnical education after the Restoration. Indeed,
tent complaining of its ultra royalist right-wing. after police reports about it in 1826, the Royal
The state subsidized novitiates for the training Academic Society of the Sciences, an originally
of orders of Christian brothers, while religious non-royal and republican body, was prohibited,
books were being diligently distributed in the re- and its members left to protest that they had ne-
Christianized schools. 58 In the further reaction ver spoken a word about “politics or religion.”62
of 1822, when the nobleman and bishop of Paris,
Denis Frayssinous, became Grand Master of the At the same time and at the height of the
University that oversaw all public education, he reaction, the police spied on the free and public
made it clear that pupils must have “their eyes on lectures given by Parisian professors at the Con-
sacred objects; that are the true way to give them servatoire des arts et métiers and found that they
religious habits.”59 As early as 1808, when new contained eulogies “to liberty and equality…and
guidelines were issued for education he believed that a King is more often an ignorant and unjust
“in the uniformity of education, the fidelity to the man.” Among the greatest offenders, M. Dupin,
Emperor and that … the pupils be attached to a teacher of geometry and applied mechanics,
their Religion…education will be based on the also had accomplices teaching literature, chemis-
precepts of the Catholic Church.” 60 Therein lay try and economics, when, the police said, they
his single-minded concern. were not teaching sedition. When Dupin lec-
tured the amphitheatre was packed by attentive
In multiple orations, many centered on young men preparing for careers in manufactu-
the horrors of the French Revolution, Bishop ring, commerce and students of mathematics – or
Frayssinous made clear his belief that the phi- so the spies reported. Particular surveillance had
losophes of the eighteenth century had planted also to be placed on the courses in chemistry and
the seeds of revolution. They had exaggerated industrial economy. Perhaps all learning inten-
the advantages of the sciences, letters and arts - ded for industrial development had become inhe-
all became more commonplace than ever before. rently suspect. Certainly such applied instruc-
Their popularity coincided with the revolution, tion was described as consistently anti-monar-
one of the greatest calamities that ever afflic- chical and irreligious. In the mind of the police
ted the earth. (FRAYSSINOUS, 1843, 39-40)61 authorities such liberal groups sought “to exploit
While the good bishop could acknowledge the all types of industry, all human knowledge in the
achievements of science, he did so only as an interest of the revolution.” The three great “po-
after-thought. (FRAYSSINOUS, 601) Given his wers of modern time…the financial aristocracy,
attitude toward secular learning and the French the scientific and the industrial” will prepare the
Revolution, we cannot be surprised when we ob- triumph of a new liberal and revolutionary or-
1816 from Archbishop Alex. Ang. Duke de Reims to Comte de Vaublanc, der.63 In addition industrialists and merchants,
Minister of the Interior. 62 AN, F 17 3038, pamphlet dated 27 December 1826, “Les membres de
58 Ibid., Paris 6 janvier 1820, “Rapport” presented to the secretary of la commission administrative, charge de réclamer après du Ministre de
state for the ministry of the interior on religious books being distributed l’intérieur, contre son arête du 31 janvier 1826….” For the reports see
in the schools. Cf., the entire folder, F17 12451 for the payment of F 7 6689, from the Prefecture of police to the Ministry of the Interior, 30
expenses for educating the Brothers of Christian Doctrine and the January 1826, it had become associated with certain Masonic lodges.
Brothers of Christian Schools. 63 AN, F 7 6965, #12,391 Paris 14 January 1825, to the prefect of
59 Circulaire de Mgr Frayssinous, June 1822; BFM, Fol-R Pièce-205. Police. There is particular concern over M. Dupin. For his teaching of
60 AN, AB xix 514, letter of 3 8bre 1818, underlining in the original. geometry and applied mechanics see first item in this dossier dated 13
61 For a secondary work that contains the same sentiments see Alexis October 1828. For Clement teaching chemistry and Say on the industrial
Chevalier, Les frères des écoles chrétiennes: et l’enseignement primaire economy see #12, 391, Paris, 17 December 1824, labeled confidential;
après la révolution, 1787-1830 (Paris: Libraire Poussielgne Frères, #12391 on filled lecture halls. See # 12, 395 for a teacher of mathematics
1887). with liberal opinions, and May 4, 1827 for liberals meeting in the room

26 História e Economia Revista Interdisciplinar


at least in Rouen, had become suspect because that is enough.65
of “the violence of the revolutionary opinion.”
This premier industrial city, according to the After the Revolution of 1830 the sta-
police, had become “the theatre of intrigue.” It te changed the agenda for public education,
was also the case that certain industrialists for- and while religion remained important, school
ged ties with secret societies of liberals in search inspectors were told to pay particular attention
of a way to return to the principles of the French “to the diverse parts of commercial and indus-
Revolution. An air of liberal conspiracy hung trial” education, to this necessity of our age.66
over the 1820s. (NEELY, 1991)64 But the damage, arguably, had been done. The
change in direction came after nearly twenty ye-
Such police reports fed the extreme re- ars – a generation of young people being educa-
action in that decade. Then and thereafter, du- ted – when the educational ideals of the French
ring the first half of the nineteenth century, the Revolution were systematically undermined. In
Church engaged in a massive, encyclopedic 1831 inspectors reported that “the colleges had
effort to undo the damage done by Diderot and fallen under the empire of the clergy” and urged
the philosophes and to create its antidote, “une that at least one inspector always be a mathema-
science catholique.” (DORD-CROUSLÉ, 2009, tician. That said, the record should also show
177-210) This French Catholic reaction to the that in some colleges, Montpellier and Caen for
culture of the Enlightenment, given the role of example, a high degree of scientific education
the clergy in primary and secondary education, could be found by the late 1828s while in places
had consequences for the training of a new gene- like Grenoble where mathematics and chemis-
ration of engineers and industrialists. Certainly try were needed for mining and commerce the
in 1830 when another revolution brought in a courses were available. By very late in the 1820s
more liberal monarch, clerical supporters thou- the University had begun inspections specifically
ght that during the last fifteen years the bishops aimed at the state of the sciences in the various
had followed an “absurd theology,” and “one of academies and colleges. Some of the pressure
them had told me it is dangerous that the peo- for scientific teaching may have come from the
ple would be instructed….” They are better off general public that crowded around open windo-
working the soil or pursuing a craft - for the laity ws and doors to hear the courses on physics and
chemistry.67
of a Masonic lodge; #12394 for another “venerable” of a lodge. See
also AN F 76915 letter of 8 March 1826, in # 8351 on a literary society
in Paris, L’Athènée. For a memoire that ties all these projects, science,
Science in the Industrial Heartland:
industry and finance, the conservatory, the lectures of Dupin, under the
banner of revolution and liberalism see Prefecture de police, Paris 26
The Department of the North
mar 1825, in AN F 7 6689/23 and in the same box, 26 March 1825.
64 In particular chapter 7 and Gilles Malandain, L’introuvable complot. If we take the department of the North
Attentat enquête et rumeur dans la France de la Restauration (Paris:
EHESS, 2011). See also AN F 7 6689/ 26, letter of 8 January 1821 from and the area around Calais, close to what was
Prefecture de la Seine-Inférieure, about the secret Society of Reformers.
There are reports in the dossier from various cities, Calvados, Marseille,
(then and now) Belgium, it is possible to obser-
Besançon, including a report on the Masonic lodges in Paris, 1 June
1825 from the Prefecture of the Police, and one from Poitiers on a society 65 AN F 19, 860, Poulard, the bishop of Autun to the Minister of Public
”prétendue maçonnique.” In the same box, ff. 307-319, information about Instruction and Religion, not dated, but from 1830 as seen by the other
a Masonic group with the name of Misaim, 8 8bre 1822, from Montpellier, letters in the dossier.
also Paris 7 May 1825, f. 503-22; 362; much of this box is devoted to 66 AN F 17 6810, f. 224, “Instructions à M.M. les Inspecteurs
this group. On freemasonry in the politics of the Restoration see Alan B géneréraux …de 1832.”
Spitzer, Old Hatreds and Young Hopes. The French Carbonari against the 67 For the academy at Montpellier, see AN F 17 6810, f. 416 report on
Bourbon Restoration (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1971), the faculty of science, 22 July 1828; same box f 549 for Grenoble, 1826;
pp. 219-24. The link between industrialists and the Charbonnerie is made for Toulouse, 1827, f. 450 where chemistry for industrial arts is taught as
in Joel-Noël Tardy, “Le flambeau et le poignard. Les contradictions de is physics which has a following among young army officers; f. 263, 1831
l’organization clandestine des libéraux français, 1821-1827,” Revue on the academy at Rennes and the need for a mathematician; the crowds
d’histoire moderne & contemporaine, vol. 57-1, 2010, p. 73. can be found in 1830 in Toulouse, f. 290, 25 July 1830 .

História e Economia Revista Interdisciplinar 27


French Education in Science and the Puzzle of Retardation, 1790-1840

ve the revolutionary curriculum at its birth after directives coming out of Paris remained comple-
1789-- and at its eventual demise after 1815. tely silent on the subject of religious education
The North is not just any province from the pers- or the traditional classical education, although by
pective of industrial development. Just south 1807 the Ministry of the Interior demanded that
of the department of Jemappes, seized from the the lay faculty not spend its time teaching the ca-
Austrians in 1795, this northern region of Fran- techism devoted, as it was, to dogma. Much to
ce was its most populous, had access to Belgian the annoyance of the local ecclesiastics, that was
and French coal, and its engineers could witness to be done by priests in a separate place outsi-
the advanced state of machine technology found de of the school. All secondary schools were to
at the Austrian/Belgian coal mines. By contrast, follow the directive. Undeterred by the law, the
at the famous French mine owned by the Anzin clergy in the Department struck back and took to
Company, Newcomen engines had been installed ringing church bells and holding public proces-
late in the eighteenth century but little was done sions.72 As in many other places in revolutionary
to maintain them in good working order.68 France, the practice of religion had become de-
eply vexed.
After 1795 the schooling for French stu-
dents aged at least fourteen in the department of The secondary school curriculum could
the North paid a new attention to mathematics, also be easily filled with other secular subjects.
especially as it applied to actual bodies. Even By 1800 schools in Lille, as well as Namur (it
the calculus was introduced although scientific now within a department of France) had added
instruction came more slowly.69In 1795 the de- electricity, gases and air pressure to the curricu-
cree went out throughout the department that the lum.73 In less than ten years the city of Lille de-
new schools were to have four new classrooms, manded a public course in physics with salaries
each for mathematics, physics, chemistry and and instruments for demonstrations paid for by
natural history.70 The following year further uni- the Ministry of the Interior.74 By the 1820s its
formity was added to the science curriculum and industrial prowess was honored during a royal
the professors were instructed about the order in visit in 1827.75
which the science topics should be taught.71 The
68 Reed G. Geiger, The Anzin Coal Company. Big Business in the Early
But after 1815 something happened to
Stages of the French Industrial Revolution (Newark, DE: University of
Delaware Press, 1974), pp. 58, 86-87.
scientific education in the secondary schools
69 Archives Departmentales du Nord (ADN), Lille, Séries L 4840, of the Department of the North. In most cases
printed circular, Programme d’exercices publics, qui auront lieu a
le école centrale du département du nord, établie a Lille, les 28 et 29 mathematical instruction continued, but physical
Fructidor, an VI de al République, (Lille, chez Jacquez). Cf. AN F 19 456,
Cambrai , 19 janvier 1807, the secondary school in Cambrai had two and chemical science largely disappeared. In
professors of mathematics out of five faculty. See also Nicole Hulin, “La
place des sciences naturelles au sein de l’enseignement scientifique au 1816 physics was still being taught at the Colle-
XIXe siècle/The place of natural science within the 19th-century science ge Royal but only four students elected to take it.
curriculum.”  Revue d’histoire des sciences, 1998, Tome 51 n°4. pp. 409-
434. The curriculum had returned to being overwhel-
70 Ibid., Séries L 4840, Extrait des registres du comite d’instruction
publique, règlement de police pour les ecoles centrales…8 ventôse, l’an 72 Lille, Series L 4840. For annoyance see letter of 10 February 1807 to
3 de la république; circular printed at Douai. the Minister of the Interior, 9 February 1807.
71 Ibid., Extrait des registres des délibérations de l’administration 73 Programme d’exercices publics, qui auront lieu a l’ecole centrale…
centrale du Department de la Moselle, 25 Prairial 4th year… (1796). Lille, year 8 p. 6 where gases and air pressure is being taught, also
Here the guidelines call for math and physics and experimental chemistry; electricity. For teaching the catechism outside the school see AN, F 19
article 5 “la physique sera enseignée pendant les sept premiers mois de 456, Cambrai, 19 January 1807, from the prefect of the department of
l’année, et la chimie, pendant les cinq autres. Le professeur enseignera la the north.
première science dans l’ordre suivant, propriétés des corps, mouvement, 74 ADN, Lille, Box 1 T /19/1-4 minister of interior in 1809 has received
statique, hydrostatique… feu, lumière électricité….”This circular is a request to set up a free course in experimental physics and giving money
printed in Metz and to be sent to the Department of the North. See also for salary and instruments; course of chemistry in place in the 1820s
Avis du jury d’instruction nomme…pour la formation de l’ecole centrale 75 [Anon.] Relation du séjour du Roi a Lille…Le 7 et 8 Septembre 1827
de Maubeuge. (Lille; Reboux-Leroy), pp. 47-51; 95-100.

28 História e Economia Revista Interdisciplinar


mingly classical.76 In 1822 at the College de who were convinced that the teaching of mathe-
Cambrai, mathematics, including geometry, was matics and mechanics, particularly in the North,
being taught, but not physics or mechanics. In would result in further industrial development
1822 the College d’ Armentieres was teaching and wealth for the state. (DUPIN, 1826, 25-57)
neither mathematics nor science but the follo-
wing year the college instituted the teaching of The department of the North should not
arithmetic, the metric system, and the fundamen- be uniquely faulted. If we take the department of
tals of algebra. So too the College du Quesnoy in the Eure in Normandy, its secondary schools also
1823 taught neither math nor science. The Col- overseen by the Imperial University and the Aca-
lege de Tourcoing taught commercial arithmetic; demy of Rouen, the situation appears not very
College de Baillaud and the College de Lille different. Rouen was of course a major center
offered mathematics only. In 1824 at the Col- for the production of cotton cloth, and from the
lege de Valenciennes the inspector complained 1790s onward we can document a concentrated
that the math exercises and problems were all too interest in the acquisition of steam engines.79
easy. In 1822 the inspection of the secondary Even before 1815 its colleges by and large taught
schools in the region overseen by the Academy mathematics but very little science. Exceptions
of Douai found geometry - but no science. By were duly noted in the reports to the Academy.
1840 the situation with physics in the secondary At the college of Evreux, the principal “was pro-
schools under the direction of the Academy had fessor of mathematics at the l’ecole central, and
changed somewhat and at least one possessed a as a result many of his students have gone on to
“cabinet de physique” and the teaching was un- attend l’ecole polytechnique.” Throughout the
der the direction of a layman. In other places it country, the ecoles centrales had been abando-
still left much to be desired.77 ned in 1802 and renamed as secondary schools
known as lycées. In 1814 a teacher at one of
In addition the ecclesiastical seconda- them in Rennes requested that he be allowed to
ry schools – for young men who might become set up a course of instruction in mechanics and
priests - displayed neglect for science, thus sug- the local principal wrote to ask if it would be
gesting that if their graduates became clergy and permitted under the laws and statutes of the Uni-
went into teaching they would be forced to stay versity. We do not know what answer he recei-
away from those subjects or work awfully hard ved although the principal noted that it would be
to catch up. If one of them then went on to the more suitable for persons of an advanced age. At
seminary in the region he would have received Toulouse the academicians taught a significant
little help. A letter of 1828 to the Ministry of number of students; they received instruction in
Education reported that the seminary in Cambrai mathematics but not in science.80 Only in 1826
also taught neither mathematics nor science.78 did the royal council on public instruction, now
These deficiencies were noted by liberal critics a part of the Ministry of Ecclesiastical Affairs,
76 ADN, MS 2 T 1712 Rapport on the College Royal of 1816.
77 AN F 17 8838, letter of 5 February 1840 from the inspector Vincent
mandate that more complex mathematics and
to the Inspection extraordinaire des Institutions et pensions on the school physics be taught in the colleges. It is not clear
of the abbé Haffreingue in Boulogne sur Mer, in folder labeled Douai.
In this region a number of students also took lessons at the College that much changed in the wake of that decree. It
Royal. See also in same place, “Exposé sommaire de la situation des
établissements privés d’instruction secondaire du ressort de l’Académie had been preceded by one of 1821 that had little
de Douai.” 79 AN F12 997, Dossier # 73, from the Department de La Seine-
78 All these examples are drawn from ADN, MS 1 T /19/1-4 ; AN F17 inférieure, for many applications to patent steam engines.
10384, letter of 20 September 1823 from Douai to the Grand Master of 80 AN F17 8837, folio size dossier “Université Impériale, Académie
the University on the suppression of “clandestine” primary schools and de Toulouse, Department de la haute Garonne, Etat des chefs
the new ones now authorized by the state. d’establissment…,” c. 1820.

História e Economia Revista Interdisciplinar 29


French Education in Science and the Puzzle of Retardation, 1790-1840

or no effect and in 1828 the ministry noted “the and chemistry were introduced into the curricu-
repugnance of the students” for mathematical lum. In 1838-40 the list of books upon which
studies. The following year the university de- the pupils were to be examined included the an-
manded that each academy report on the morals, cient classics, mathematics, from arithmetic to
religion and politics of every faculty member. In trigonometry, plenty of geography and history,
sum, from 1805 to 1826 where physics was tau- but next to nothing in physics and chemistry. Yet
ght at all, it was given as a single, very general the 1830s reveal a watershed and in the provin-
course in the lycées.81 cial colleges extra funds had to be allocated to
augment the cabinet of physics and the chemistry
Paris and Elsewhere
laboratory.85
In the mid 1830s the university was still
struggling with the professors in Paris to take up By 1842 students in the 4th to 9th districts
the teaching of mathematics in its complexity. of central Paris could receive their scientific edu-
They may have been unwittingly assisted by a cation by also attending the College Royal or by
new school established to teach “English youth going to one of a number of secondary schools
apparently from industrial families” intended to dedicated to the sciences and functioning as a
occupy places in industry. Living languages, as pathway to the École Central des Arts et Ma-
opposed to Latin, history, geography, physics, nufactures. By this date it became possible to
chemistry and mathematics were the main fo- chose a course of education for “professions
cus of the school. There was also an emphasis properly described as industrial” although not
on application. Around the same time in Paris many students chose it, and it was predominan-
students could also attend “an industrial institu- tly scientific. In such schools students learned
tion” and it appears to be recently established.82 also about the design of machines, but in general
At the Royal College of Saint Louis in Paris stu- the inspectors took a dim view of their morals
dents wanting to make their way to the polytech- and behavior. Two schools were evidently de-
nic gravitated to a particular professor. Indeed it dicated to the study of commerce and elementa-
would seem that by the late 1830s the students ry industry. Graduates were able to apply to the
are now eager to receive the best possible educa- École polytechnique or one of the special schools
tion for a scientific or engineering career.83 Pre- that emphasized practical application. All could
dictably the professors of physics were deman- avail themselves of instruction at one of colleges
ding an end to their “shocking inequality” and in the vicinity such as the College St. Louis.86
requesting equal pay and status with those in the
humanities.84 Also in this decade natural history In 1840 national examiners specifically
81 See the dossier assembled under 9 June 1829 from the Ministry of in mathematics and science were appointed, and
Public Instruction to all the rectors; AN F 17 8858. See Nicole Hulin, May 1742 from Paris to the Ministry.
“Le problème de physique aux xix e et xxe siècles,” in Pierre Caspard, 85 AN F 17 8838, rector of the Academy of Angers, 21 December 1835.
ed Travaux d’élèves pour une histoire des performances scolaires et de 86 AN, F/17/1557, “Liste de MM les Examinateurs des Livres
leur évaluation XIXe-xxe siècles, no 54, 1992, pp. 48-49. Classiques,” the first list of 1840 containing no books in physics or
82 AN F17/6894, dated September 1826; F17 6894, letter dated 20 chemistry, but the second list “presented for university adoption”
November 1828; see in the same box letter of 8 October 1833 on Paris. introduced only in 1839, Deguin, Cours Élémentaire de Physique, 2nd
For the school for English pupils see AN F 17 8838, school of M. edition, and Pierre Isidore, Exercises sur la physique. Later in the same
Houseal, described in letter of 14 May 1833; and under Mr. Gignoux year Olivier, Mécanique usuelle and Pinaud, Programme d’un cours
see mention of the industrial institution in the same letter. Élémentaire de Physique were suggested. In 1840 chemistry made its
83 AN, F17 8837, folder labeled “Collèges, Institutions, et Pensions appearance in a work by Burnouf. For the behavior of students in the
1812-1813,” within that report labeled “Rapport sur les établissements school dedicated to the sciences see F 17 8838, entire folder (40 ff)
d’instruction publique du Dept. de l’Eure pour l’année 1811.” The about Paris, report of November 1842; not least, the science students
entire box is relevant. See AN f 17 6894, letter of 19 November 1838 smoked. For the school dedicated to commerce and industry see
from the College to the inspector general. Pension Chalamet and it cost 25 fr. a month. For education suited to
84 AN F17, 6894, letter of 16 August 1839 signed by the professors the industrial professions see F 17 8838, letter of 9 December on the
and addressed to the Ministry. For “shocking inequality” see letter of 2 10th and 11th arrondisements.

30 História e Economia Revista Interdisciplinar


throughout the 1840s books in every field beca- late a cause. Not everyone approved of the edu-
me more numerous and more sophisticated. As- cational innovation that came with the French
sessing the condition of primary and secondary Revolution. The Church initiated a clerically led
education in 1840 inspectors still found the grea- assault against a secular educational establish-
test weaknesses to be in the fields of mathematics ment that, it claimed, valued moral instruction
and the sciences. A survey of the Department of less than the culture of the sciences.89
the Vosges found that “various notions in physics
and chemistry are badly taught.” At a school for As early as 1815 the restored monarchy
boys 8 to 15 in Colmar natural history, physics initiated a renewed emphasis upon Catholic reli-
and chemistry were not taught at all. At ano- gious instruction and the clergy got the right to
ther school in the district mathematics, as well oversee all Catholic religious instruction in the
as physics and chemistry were taught “as [far schools. Both primary and secondary schools
as] possible without instruments or laboratory.” saw an influx of clerical educators. By 1824 the
The inspector noted the need to improve the Ministry of Ecclesiastical Affairs and Instruction
education in “physical and industrial sciences” had an overall budget of 25 million francs a year
and that in manufacturing towns more scientific for clerical salaries versus one of 1.8 million for
and less literary education had been attempted. the staffing of the royal colleges and the primary
When reporting on a school run the Brothers of schools. Even if we assume that only a small
the Christian Retreat, the inspectors found that, portion of the first actually taught, and every one
while the instruction followed “le mode univer- of the second were lay, the ratio is a remarkable
sitaire,” the exception appeared in the total ne- one.90
glect of the sciences. In Rouen by 1840 students
Although overall civilian control throu-
in need of courses in mathematics and science
gh the Ministry of the Interior was maintained,
received them at the local college.87In the 1850s
the clergy were directly involved in curricular
the Paris lycée requested that mechanics become
oversight. If the Church had had its way, the
mandated in the curriculum as it was directly re-
clergy would have had their power-sharing fur-
levant to “the industrial life.” The race was on
ther enhanced by royal decree. As even one of
to find, and buy, the necessary machines for an
the liberal leaders of primary school education
education in mechanics.88
put it, “the foundation of instruction with us as
Rightfully we may ask, what happened in all Christian schools is religious morality.”91
to the scientific education of the generation be- There were ideological nuances in the Catho-
tween 1810 and 1840? If we assume that a set lic vision of education but no faction embraced
of discrete decisions, made as always within the science wholeheartedly. Note, however, as late
limits imposed by budgetary constraints, down- as the 1820s, inspectors of localities all over the
graded math and science and favored religious country reported to their academies that clandes-
and classical subjects, then it is possible to postu- 89 L’ ami de la religion et du roi, Sur l éducation publique et sur les
87 AN F 17 8838, Rector of the University of France to the Ministry of lycées, pp. 1-5, vol. 5, 1814.
Public Instruction, 30 January 1840; letter of 20 February 1840 from 90 For a summary of this legislation see M. Chatillon, Almanach du
Strasbourg from the inspector discussing a school in the arrondisement clergé de France (Paris: Guyot, 1824), pp. 525-39. For salaries see first
of Colmar; letter of 19 February 1840 discussing the absence of the dossier, AN F 19 1340 A.
laboratory; for education under the brothers see letter of 1840 (without 91 See the appeal of 1828 from the minister, the secretary of state
month or date), Academy of Aix, concerning Sainte Croix. For Rouen see for public instruction, to increase the role of the local bishops in the
AN F 17 8838, letter of 10 January 1840 to the Academy of Rouen from committees that oversee the instruction of children, Journal d Éducation,
the rector (at bottom of box). no. vii, Avril, 1828, pp. 181-86; the quote comes from an oration by the
88 Ibid., letter of 16 March 1857 to the head of the Ministry of Public titular head of the society for mutual education, p. 383, same journal,
Instruction. August, 1828.

História e Economia Revista Interdisciplinar 31


French Education in Science and the Puzzle of Retardation, 1790-1840

tine primary schools continued to exist. They rians and their “classes in mathematics, physics
were deemed to be irreligious, and their existen- and chemistry would be suppressed.” 95 Parents
ce suggests that not every family endorsed the would justifiably be alarmed. Curiously the ac-
project of re-Christianization.92 tual speech, which survives, said nothing about
seminarians nor science; the authorities made
Re-Christianization
the linkage and in the process tell us what other
Revived Catholicism had zealous and sources asserted, that science had no place in a
impassioned advocates. At one extreme the ul- clerical education. When the inspector, the abbé
tra-royalist supporters of king and church belie- Eliçagaray made his way to the medical college
ved that the previous century had rendered multi- at Montpellier and began to lecture on the virtues
ple injustices against educational institutions, all and orders of the government, some students
in the name of “what called itself philosophy.”93 started to murmur - much to the annoyance of
The suspicions roused by enlightened philoso- the abbé.
phies extended all the way to science itself. Ma-
terialism lurked in those precincts, and science When lecturing to the professors and
had fostered its rise. The ultra- royalists belie- students at Royal College in Marseille, the ar-
ved it impossible “to open a book of science chives tell us that in fact the inspector had said
without finding there the principles subversive nothing about science. Instead he ignored all se-
of all religion, all morality, education, and ins- cular subjects in the interest of insisting that first
tead of being a benefit, it has become a true dan- and foremost the collegians needed to realize
ger.” Societies that exist “with erroneous sys- that “politics and religion can never be separa-
tems in chemistry or in physics” exhibit a form ted.” Liberals are rebels, factious, revolutionary
of moral corruption; science can be ignored, “a and Jacobin. Furthermore, he did say, “we have
people are able to attain a very high degree of no need of savans…we want subjects faithful
civilization without knowing the true causes of and devout. Make savans if you want; it is your
gravitation.”94 affair, but have all the men [possess] a royalism
pure and ardent.”96 The satire had put into print
Such anti-science ideas circulated wi- words that the abbé had not said – but it captured
dely. A liberal satire aimed against the ultra sentiments that had been implied.
royalist assault on science – one that came to the
attention of the police – put words in the mouth Reactionary forces had become deeply
of the inspector of public education in Marseille involved in the educational system and they were
that “physics, mathematics, chemistry, finally, all in open revolt against the Enlightenment and its
the sciences that you are taught are only perni- errant step-children, science and the French Re-
cious to the sociability of men. Our King has no volution. They were convinced that a philoso-
need of savants, he wants monarchist and reli- phical education, as found in England, must be
gious men - oh I made a mistake, religious and a liberal one.97 In the post-1815 ideological wars
monarchical men.” The authorities found the it would appear that in some places science and
satire particularly sinister because it insinuated mathematics suffered co-lateral damage. If the
95 AN F 7, 6915, #8314, printed journal, Le Caducée, dated 18 June
that all students would be treated like semina- 1821, supposedly spoken by the inspector on his first visit to the college
in Marseille. For the letter describing the damage done, see Marseille le
92 AN, F17 10384, reports on primary schools during the early 1820s. 23 June 1821 from the Prefect of Bouches-du-Rhône.
93 La Foudre, 15 October 1823, p. 54. In the following year this journal 96 AN F 7 6915, #8310, “Discours de Mr Eliçagaray aux Professeurs du
is bought up secretly by the moderate right-wing government. Collège Royal de Marseille.”
94 Ibid, #48, n.d., but 1822-23, pp. 6-7. 97 La Foudre, Ibid, # 42, 1821, p. 415.

32 História e Economia Revista Interdisciplinar


national granting of doctorates in science and education throughout the country, the topic of
mathematics may be taken as indicative, in the science in relation to religion produced nervou-
period from 1811 to 1816 eleven highest degrees sness. Just a few years earlier in 1820, at a time
were awarded, and the situation remained at one of student unrest, moderate conservatives thou-
or two a year until the 1830s.98 ght the university professors were responsible
for “the atheism that hides itself in our schools
One removed from the extreme fostered under the veil of indifference.”102 Similar senti-
by the ultra-royalists, less radical royalists dis- ments prevailed in Catholic circles well into the
played little overt hostility toward science per se, 1850s.
but they also evinced not even a passing interest
in its advance or its application. The Enlighten- The 1820s were precarious for the edu-
ment did not get off as lightly. The hostility to- cational fortunes of French science, and in this
ward “le siècle des lumiéres” found among ultra intimidating environment anonymous critics de-
conservatives also prevailed among the less ra- cried its avoidance and the penchant for Aquinas
dical conservatives, suggesting one reason why and scholasticism found among the clergy.103 In
they displayed so little interest in matters scien- the period from 1809 into the 1840s the books
tific or, for that matter, industrial. The leading approved for use in the secondary school curricu-
right-wing daily of the 1820s looked upon En- lum featured basic physics, and only in the 1830s
glish affairs and saw only disorder, worker un- turned toward industrial application.104 By that
rest, and the abuses of child labor - nothing of an decade when the political wind shifted somewhat
industrial or economic nature penetrated its gaze. toward the left, school reform was once again on
Nor were scientific lectures in Paris advertised in the agenda. A new society founded in Paris in
most of its pages.99 1831 offered a renewed educational agenda that
called for physical and moral education to be
Yet more moderate conservatives follo- sure, but also “scientifique et industrielle” edu-
wed the science of the day and reported on it in cation.105 Only in the 1830s do we find curricula
the pages of their daily newspaper. They recom- and books introduced in French primary schools
mended books on astronomy and urged parents that addressed geometry and applied mecha-
and teachers to present them to their children and nics.106 By that decade mature industrial leaders
students, to call attention to “the universal provi- of the new generation, particularly if educated in
dence that reigns in the world.” 100 But Restora- the region of the north, lacked a basic familiarity
tion Catholic ambivalence toward science meant with applied mechanics. It is reasonable to argue
that when a new professor of medicine gave his that knowledge not present has consequences for
inaugural address he had to assure his audience industrial development.
that doubt about the truths of religion is not the
fault of science but rather of “faux savoir” whi- In 1843 one of the largest cotton manu-
ch judges without actually knowing.101 Even at facturers in the Department of the North decided
the Royal University, charged with overseeing 102 Ibid, 1 July 1820, # 183, p. 4.
98 AN F17 5577 for the years from 1811 to the 1860s where the numbers 103 [Par un Professeur] Nouveau plan d’éducation, épitre adressée a
steadily increased decade by decade. tous les membres du corps enseignant et aux pères de famille (Paris:
99 For example see Le Drapeau Blanc, 30 June 1819, # 15, and inter chez tous les marchands de nouveautés, 1828).
alia for the period 1819-1828. On 16 November 1819 # 154, and #158 a 104 AN 17 1559, “Liste générale des livres qui on l’été autorisés pour
notice appears for ‘the spectacle of experimental and amusing physics’ l’enseignement des sciences…”, from 1809-1845.
by M. Rossi. 105 AN, F17 3038 dossier “Société des Méthodes d’enseignement.”
100 La Quotidienne, 4 January 1823, no. 4, p. 4; 9 January, 1823, no. 106 AN F17 1559, ff. 36-41; “Liste des ouvrages...”, dated 1843, f. 43
9, p. 4. one work dates from 1828 and concerns the application of geometry to
101 Ibid. , 11 March 1823, # 70, p. 2 industry.

História e Economia Revista Interdisciplinar 33


French Education in Science and the Puzzle of Retardation, 1790-1840

to modernize his factory and introduce state of are adding scientific culture to the mix. Sure-
the art equipment. Mr. Motte of Motte, Bos- ly the point here is that it all mattered.108 Homo
suet et Cie. arranged to have all the equipment economicus possessed in some places, and not
shipped from Britain and installed by English others, certain cultural components which could
workers, and more to the point, he bragged that be used to an industrial advantage. French in-
they did all of this, despite import taxes, chea- dustrial retardation had many roots, to be sure,
per than if he had used French equipment and but deficiencies in scientific education for boys
workers.107 We know that British workers were (the situation was even worse for girls) must
not underpaid relative to their French counter- now be added to the story. That said, the French
parts. What the cost differential reveals is the must be given their due. In the area of chemical
relative scarcity of equipment and skilled Fren- dying and bleaching of fabrics, they led the way
ch workers relative to what could be obtained and in the process carved out an area of expertise
in Britain at less the cost, even with shipping that would make French fashion the envy of the
of men, machines and import taxes taken into world.109 The last word: developing countries ig-
account. A critical mass of skill, of mechanical nore education at their peril.
knowledge and know-how, made a difference.
It created a knowledge gap in available power
technology between Britain and the rest of the
world, for which French industry, somewhat un-
fairly, has had to carry the burden of proof. The
gap would only be closed in the half century after
1850 and then slowly.

The evidence continues to mount that


the era of the Industrial Revolution also witnes-
sed the first industrially based knowledge eco-
nomy in the world. No single causal explanation
should be advanced for why parts of Western
Europe, then America, industrialized first. For
decades economic history has been written as if
culture and knowledge were irrelevant. All that
matters, economic historians claimed, were high
wages or low fuel costs, or secure titles to land,
low taxation - but now belatedly, a few people
107 Archives de le Monde du Travail, Roubaix, MS 1988007-0016 Motte
MSS, a memoire of 1943 by Gaston Motte says that his grandfather
introduced equipment of English origin in 1843. There is a report is
by Kuhmann, and given to the Jury départemental du Nord, found in
folder labeled 1830-1845; “l’ateliers de construction tous les métiers
sans exception sont venus de l’Angleterre, la levée de la prohibition a la
sortie avant permis aux constructeurs anglais…en France a des prix bien
inferieurs a ceux auxquels nous pouvons construire” typed script toward
bottom of the box. For an overview of cotton manufacturing in the region 108 Here let me endorse the sentiments found in Joyce Appleby, The
see Mohamed Kasdi and Frederic Ghesquier Krajewski, “L’industrie Relentless Revolution. A History of Capitalism (New York: W.W. Norton,
textile entre campagnes et villes. Deux filières textiles en Flandres du 2010), pp. 155-162. For a refreshing approach to the problem of French
xviii siècle au milieu du XIXe siècle,” Revue du Nord, no. 375-76, 2008, retardation see Morgan Kelly, Joel Mokyr, Cormac Ơ Gráda, “Precocious
pp. 497-530. Between 1805 and 1843 12% of all cotton manufactures in Albion: Factor Prices, Technological Change and the British Industrial
the country came from this department. The centers were Lille, Roubaix, Revolution,” unpublished paper, circulated UCLA May 6 2011.
and Tourcoing (p.515). 109 Guillerme, La naissance , pp. 343-75.

34 História e Economia Revista Interdisciplinar


Bibliography
Primary Sources (manuscript)

Algemeen Rijksarchief, The Hague (ARA), Archief van Binnenlandse Zaken. I796-18I3.

Archives départementales, Lille

Archives d’état, Liège (AEL), Fonds Français Préfecture

Archives d’état, Liège, Fonds Hollandais,

Archives d’état, Mons, Fonds Française et Hollandais, Province Hainaut

Archives Departmentales, Seine-Maritime 1T 579: Collèges et Lycées, Rouen ; 1T 573: Ensei-


gnement Secondaire, École Secondaire, Affaires Générales relatifs à l’administration et á l’enseigne-
ment, an VII – X, Arrivé le 19 Vendôme an 8 ; MS 1T 862: Fonds de l’Académie

Archives historiques de diocèse de Paris, 4 rue de L’Asile Popincourt, Paris, 11

Archives du Monde du Travail, Roubaix, MS 1988007-0016

Archives nationales, Paris, MSS AB xix 514, séries F7, F12, F1b, F14, F17, F19, MS 29 AP 75,

Birmingham Central Library, UK, Papers of Matthew Boulton and James Watt

Electronic archives: http://www.cornish-mining.org.uk/story/boulton_watt/volume2.htm

Friends Library, Euston Road, London, MS William Sturge 1797, Ackworth School, MS Box
G 1/5/1-2

University of Liège, General Library, MSS

Printed:

Annales des mines, second séries (Paris: Treuttel et Wurtz, 1827)

Chambre of Commerce, Enquête faite par ordre du Parlement d’Angleterre pour constater les
progrès de l’industrie en France (Paris: Boudouin, 1825)

M. Chatillon, Almanach du clergé de France (Paris: Guyot, 1824)

Charles Dupin, Effets des l’enseignement populaire de la lecture, de l’écriture et de l’arithmé-


tique, de la géométrie et de la mécanique … (Paris; Bachelier, 1826)

Exposé de la situation de l’Empire Français. 1806 et 1807 (Paris, Imperial Printer, 1807)

História e Economia Revista Interdisciplinar 35


French Education in Science and the Puzzle of Retardation, 1790-1840

La Foudre, 1820s

L.P. de Jussieu, Simon de Nantua, ou le Marchand Forain (Paris: chez L. Colas, 1818)

L. Le Normand and J.G. V de Moléon, Description des expositions des produits de l’industrie
française, faites a Paris depuis leur Origine jusqu’a celle de 1819 inclusivement (Paris: Bachelier, 1824).

Thomas Whiting, Mathematical, Geometrical, and Philosophical Delights...A Eulogium on the


Newtonian Philosophy (London: T.N. Longman, 1798).

Secondary Sources

Lise Andries, éd. La Construction des savoirs XVIIIe –XIXe siècles (Lyon: Presses Universi-
taires, 2009)

Joyce Appleby, The Relentless Revolution. A History of Capitalism (New York: W.W. Norton,
2010)

Jérôme Baudry “La technique et le politique: la constitution du régime de brevets moderne


pendant la Révolution (1791-1803)” M.A. thesis, École des Hautes Etudes en Sciences Sociales, Paris,
2008-09.

B. Baczko, éd. Une Éducation pour la Démocratie. Textes et projets de l’époque révolutionnaire
(Geneva: Droz, 2000).

Alexis Chevalier, Les frères des écoles chrétiennes: et l’enseignement primaire après la révolu-
tion, 1787-1830 (Paris: Libraire Poussielgne Frères, 1887)

Electronic essays: http://www.cardiff.ac.uk/carbs/research/

working papers/accounting_finance/A2009_2.pdf

Bernadette Bensaude-Vincent and Christine Blondel, eds. Science and Spectacle in the Europe-
an Enlightenment (Aldershot, UK: Ashgate, 2008)

S.R. Epstein and Maarten Prak, eds., Guilds, Innovation and the European Economy, 1400-
1800 (Cambridge UK, Cambridge University Press, 2008).

Robert Gildea, Education in Provincial France 1800-1914 (Oxford, UK, Clarendon Press, 1983)

André Guillerme, La naissance de l’industrie à Paris. Entre sueurs et vapeurs: 1780-1830 (Seys-
sel: Champ Vallon, 2007)

René Grevet, L’avènement de l’école contemporaine en France, 1789-1835 (Villeneuve


–d’Ascq [Nord]: Presses universitaires du Septentrion, 2001)

36 História e Economia Revista Interdisciplinar


Mohamed Kasdi and Fréderic Ghesquier Krajewski, “L’industrie textile entre campagnes et
villes. Deux filières textiles en Flandres du xviii siècle au milieu du XIXe siècle,” Revue du Nord, no.
375-76, 2008

Charles Malo, Bazar Parisien, ou tableau raisonné de l’industrie (Paris: au bureau du Bazar,
1822-23)

Mémorial universel de l’industrie française (Paris: Didot, 1821),

Edward Milligan, Biographical Dictionary of British Quakers in Commerce and Industry, 1775-
1920, (York, UK: Sessions Book Trust, 2007)

Gilles Malandain, L’introuvable complot. Attentat enquête et rumeur dans la France de la Res-
tauration (Paris: EHESS, 2011)

Joel Mokyr, The Enlightened Economy. An Economic History of Britain 1700-1850 (New
Haven, CT., Yale University Press, 2009)

Sylia Neely, Lafayette and the Liberal Ideal 1814-1824. Politics and Conspiracy in the Age of
Reaction (Carbondale, IL: Southern Illinois University Press, 1991)

Prévot, André, L’Enseignement Technique chez les Frères des Écoles Chrétiennes au XVIII e et
aux XIXe siècles (Paris; Ligel, 1964)

Alan B Spitzer, Old Hatreds and Young Hopes. The French Carbonari against the Bourbon
Restoration (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1971)

Joel-Noël Tardy, “Le flambeau et le poignard. Les contradictions de l’organization clandestine


des libéraux français, 1821-1827,” Revue d’histoire moderne & contemporaine, vol. 57-1, 2010

História e Economia Revista Interdisciplinar 37


38 História e Economia Revista Interdisciplinar
Development Theories and
Development Experience:
Half a Century Journey

Vladimir Popov
New Economic School, Moscow
vpopov@nes.ru

Resumo
Este trabalho examina o impacto que as teorias de desenvolvimento tiveram nas políticas de desenvolvimento e o impacto inverso
dos atuais sucessos e insucessos no pensamento sobre desenvolvimento. Argumenta-se que o pensamento sobre desenvolvimento
se encontra em uma “encruzilhada”. Teorias desenvolvimentistas no período pós-guerra passaram por um ciclo completo. Desde
o “big push” e ISI, passando pelo pensamento consensualmente neoliberal de Washington, chegando no entendimento que nem os
trabalhos mais antigos, tampouco os novos trabalhos de engenharia abordam com sucesso a questão do desenvolvimento. Nesse
meio tempo, “milagres econômicos” no leste da Ásia foram realizados sem muita confiança no histórico do pensamento desenvolvi-
mentista. Ocorrendo simplesmente como experimentações de políticos com “mãos de ferro”.
Palavras-chaves: Crescimento, Teorias, Experiência

Abstract
This paper examines the impact that development theories have had on development policies, and the inverse impact of actual
successes and failures in the global South on development thinking. It is argued that development thinking is at the cross-roads.
Development theories in the postwar period went through a full circle – from Big Push and ISI to neo-liberal Washington consensus
to the understanding that neither the former, nor the later really works in engineering successful catch-up development. Meanwhile,
economic miracles were manufactured in East Asia without much reliance on development thinking and theoretical background – just
by experimentation of the strong hand politicians.

Key words: Growth, Theories, Experience.

História e Economia Revista Interdisciplinar 39


Development theories and development experience: half a century journey

A
s Leo Tolstoy claimed in “Anna Kare- red India, Burma, Argentina and Hong Kong as
nina”, “happy families are all alike; nations expected to achieve 3% annual growth
every unhappy family is unhappy in per capita for a 5 year period. India, Burma and
its own way”. This wisdom, however, can be har- Argentina all achieved about 1.5% growth, whe-
dly applied to the development success of coun- reas Hong Kong did much better. Chile, Egypt,
tries: it appears that success stories in the deve- Ghana and Jordan were also named for their unu-
lopment and transition world are as different as sually good growth prospects. But no one seems
they can be. It is not uncommon to come across to have selected South Korea or Taiwan (TOYE,
contradictory statements about the reasons of 1989).
economic success: economic liberalization and
Today, the conventional wisdom seems
free trade are said to be the foundations of rapid
to point out to democratic countries encouraging
growth in some countries, whereas successes of
individual freedoms and entrepreneurship, like
other countries are credited to industrial policy
Mexico and Brazil, Turkey and India, as future
and protectionism; foreign direct investment that
growth miracles, whereas rapidly growing cur-
are normally considered as a factor contributing
rently authoritarian regimes, like China and Vie-
to growth, did not play any significant role in
tnam or Iran and Egypt, are thought to be doo-
the developmental success of Japan, South Ko-
med to experience a growth slowdown, if not a
rea and pre-1990s China. Privatization of state
recession, in the future. According to Goldstone
enterprises, foreign aid, free trade, liberalization
(2009),
of the financial system, democratic political ins-
titutions – all these factors, just to name a few, a country encouraging science and
are usually believed to be pre-requisites of suc- entrepreneurship will thrive regardless of ine-
cessful development, but it is easy to point out to quality: hence India and Brazil, and perhaps
success stories, not associated with these factors. Mexico, should become world leaders. But
I say countries that retain hierarchical patro-
In the 1970s the breathtaking economic nage systems and hostility to individualism
success of Japan that transformed itself into a de- and science-based entrepreneurship, will fall
veloped country just in two postwar decades was behind, such as Egypt and Iran.
explained by “Japan incorporated” structure of
the economy – special relations between (a) the According to another variety of this
government and companies (MITI), (b) between popular view, rapid growth could be achieved
banks and non-financial companies (bank-based under authoritarian regime only at the catch up
financial system), (c) between companies and stage, not at the innovative stage: once a country
workers (life time employment). After the stag- approaches the technological frontier and it be-
nation of the 1990s, and especially after 1997 comes impossible to grow just by copying inno-
Asian financial crisis that affected Japan as well, vations of the others, it can continue to advance
these same factors were largely labeled as clear only with free entrepreneurship, guaranteed indi-
manifestations of “crony capitalism” that should vidual freedoms and democratic political regime.
be held responsible for the stagnation (POPOV,
This may be true and may be not, we still
2008).
do not have enough evidence for the innovation-
In 1960 Rosentein-Rodan, widely regar- based growth. For one thing, on all measures of
ded as the author of the Big Push theory, favo- patent activity, Japan, South Korea and China

40 História e Economia Revista Interdisciplinar


are already ahead or rapidly catching up with America and dead end of the Soviet type eco-
the US. The patent office of the United States of nomic model in the 1970s-80s), whereas every
America, which consistently issued the highest region of developing world that became the
number of patents since 1998, was overtaken in experimental ground for Washington consensus
2007 by the patent office of Japan. The patent type theories, from Latin America to Sub-Sahara
office of China replaced the European Patent Africa to former Soviet Union and Eastern Euro-
Office as the fourth largest office in terms of pe, revealed the flaws of neo-liberal doctrine by
issuing grants (after Japan, the US and Korea). experiencing a slowdown or even a recession in
The number of resident patent filings per $1 of the 1980s-90s.
GDP and $1 of R&D spending is already higher,
sometimes considerably higher, in Japan, Korea To reiterate, neither structuralists, nor
and China than in the US (WIPO, 2009). neo-classical developmental theoreticians can
claim credit for at least one case of economic mi-
And the evidence for the catch up growth racle. Big Push and import substitution models,
is controversial to say the least. Imagine, for ins- as well as economic liberalization theories that
tance, that the debate about future economic mi- inspired economic policies in different countries
racles is happening in 1960: some were betting and different periods, never and nowhere led to
on more free, democratic and entrepreneurial outcomes that today could be characterized as
India and Latin America, whereas the other pre- economic, much less social, success.
dicted the success of authoritarian (even someti-
mes communist), centralized and heavy handed The policy of multilateral institutions –
government interventionist East Asia… GATT/WTO, IMF, WB – could have been co-
herent in its own way: in different periods it was
Ideas matter a great deal. As Karl Marx based on relatively coherent, even though not
put it, “material force can only be overthrown necessarily the same, set of economic theories.
by material force, but theory itself becomes a But this policy, as well as development theories,
material force when it has seized the masses” cannot be held responsible for engineering deve-
(MARX-ENGELS READER, 1972, 60). Howe- lopment successes, let alone economic miracles.
ver, development thinking of the second half of Japan, Hong Kong and Taiwan, Singapore and
the XX century can hardly be credited for “ma- South Korea, South East Asia and China achie-
nufacturing” development success stories. It is ved high growth rates without much advise and
difficult, if not impossible, to claim that either credits from IMF and the WB (and in case of
the early structuralist models of the Big Push, Hong Kong, Taiwan and China – without being
financing gap and basic needs, or the later neo- members of GATT/WTO for a long time).
liberal ideas of Washington consensus that do-
minated the field since the 1980s has provided Economic miracles were manufactured
crucial inputs to economic miracles in East Asia, in East Asia without much reliance on develo-
for instance. On the contrary, it appears that de- pment thinking and theoretical background –
velopment ideas, either misinterpreted or not, just by experimentation of the strong hand po-
contributed to a number of development failu- liticians. The 1993 World Development Report
res – USSR and Latin America of the 1960s-80s “East Asian Miracle” admitted that non-selec-
demonstrated the inadequacy of import-substi- tive industrial policy aimed at providing better
tutions model (debt crisis of the 1980s in Latin business environment (education, infrastructure,

História e Economia Revista Interdisciplinar 41


Development theories and development experience: half a century journey

coordination, etc.) can promote growth, but the The Big Push: Theories and
issue is still controversial. Structuralists claim Practice
that industrial policy in East Asia was much
To what extent development thinking
more than creating better business environment
influenced actual policies in developing coun-
(that it was actually picking up the winners),
tries? Development efforts of the 1950s and
whereas neo-liberals believe that liberalization
1960s were dominated by ideas of “Big Push,”
and deregulation should be largely credited for
“Take off,” “Incremental Capital-Output Ratio,”
the success.
“Two-Gaps,” etc., all of which focused on ag-
It is said that failure is always an orphan, gregate growth rate to be achieved through large
where as success has many parents. No wonder, doses of physical capital investment. The logic
both neo-classical and structuralist economists was seemingly flawless: savings rate is low in
claimed that East Asian success stories prove developing countries, so they may stay in a bad
that they were saying all along, but it is obvious equilibrium forever (development trap – just
that both schools of thought cannot be right at enough investment to create jobs for the new
the same time. entrants into the labor force, but not enough to
increase capital/labor ratio), unless there is a Big
Why there emerged a gap between de- Push – mobilization of domestic savings or im-
velopment thinking and development practice? port of savings from abroad. The Big Push can
Why development successes were engineered ensure a transition to a good equilibrium, where
without development theories, whereas deve- it would be possible to stay on a growth trajec-
lopment theoreticians failed to learn from real tory. Savings gap is another side of the foreign
successes and failures in the global South? It exchange gap: not enough domestic savings to
appears that development thinking in the postwar finance investment, not enough foreign exchange
period went through a full evolutionary cycle – earned from export to finance imports of invest-
from dirigiste theories of Big Push, financing gap ment goods. What is the answer to the lack of
and import substitution industrialization (ISI – savings to make investment needed to exit the
1950-70s) to neo-liberal deregulation wisdom of poverty trap? Forced mobilization of domestic
“Washington consensus” (1980-90s), to the un- savings or foreign borrowings to finance import
derstanding that catch up development does not of machinery to carry out industrialization.
happen by itself in a free market environment,
but with a lack of understanding what particular The Big Push ideas are usually attributed
kind of government intervention is needed for to Rosentein-Rodan (1943) and to Murphy, Sh-
manufacturing fast growth (2000 – onwards). leifer, and Vishny (1989), but there were earlier
predecessors in the 1920s – “the theory of primi-
His paper examines the impact that de- tive socialist accumulation” of Preobrazhensky
velopment theories had on development poli- (1926/1965) and the two sector Feldman-Maha-
cies, and the inverse impact of actual successes lanobis model (FELDMAN, 1928/1964), which
and failures in the global South on development is now acknowledged by researchers1 and even
thinking. It also seeks to examines the possibili- 1
Bardhan (1993) writes about the emergence of development
economics: “ In the third decade of this century it briefly flourished in
ties for the new development paradigm. the Soviet Union, dwelling on the problems of capital accumulation in a
dual economy and of surplus mobilization from agriculture, and on the
characteristics of the equilibrium of the family farm: the best products
of this period, the dual economy model of Preobrazhenski (1926
[1965]), the two-sector planning model of Feldman (1928 [1964]) and

42 História e Economia Revista Interdisciplinar


omniscient Wikipedia2. Figure 7. Grain production, procure-
ment, and export in the USSR in the 1920s-
The Big Push in practice in the 1930s in 30s, million tons
the USSR was associated with enormous costs,
but is exonerated by many even
today as the only possible stra-
tegy to create heavy and defense
industry in the agrarian country
in the short period of time before
the start of the Second World War
(for a summary of debates see:
SHMELEV, POPOV, 1989, Chap-
ter 2) . The share of investment in
GDP increased from 13% in the
late 1920s to 26% in the 1930s,
annual grain procurements by the
state doubled from 11 mln. tons to over 20 mln. Source: Malafeev A.N. Istoriya Tsenoo-
tons over the same period, export of grain – the brazovaniya v SSSR.1917-1963 (The History
major source of hard currency needed to pay for of Price Formation in the USSR.1917-63).M.,
the imported machinery – grew from virtually 1964, pp. 126-127, 136-137, 173.
nothing in the 1920s to 5 mln. tons in 1930-31
(fig. 7). Collective farms created in 1929-30 had Interestingly enough, though, the growth
to deliver grain to the state at symbolic prices rates of labor productivity in the 1930s, the pe-
(not even covering 10% of the costs). The result riod of dramatic structural shifts, were high (3%
was the reduction of peasants’ consumption and a year), but not exceptional, whereas the highest
the famine of 1932-33 that took 5 mln. lives. growth rates were observed in the 1950s (6 %)
– fig. 8. The TFP growth rates over decades in-
Stalin (1976) claimed that this was the creased from 0.6 percent annually in the 1930s
only possible strategy of rapid industrialization. to 2.8 percent in the 1950s and then fell mono-
“‘We are fifty to a hundred years behind the ad- tonously becoming negative in the 1980s (table
vanced countries. We have to make good this 1). The decade of the 1950s was thus the “golden
distance in ten years. Either we do this or they period” of Soviet economic growth (fig. 8). The
crush us…”, - he said in 1931, exactly 10 years patterns of Soviet growth of the 1950s in terms
before the Nazi Germany invaded the USSR. He of growth accounting were very similar to the Ja-
even claimed that the elimination of prohibition panese growth of the 1950s-70s and Korean and
in 1926 (allowing the government to receive ex- Taiwanese growth in the 1960-80s—fast incre-
cise taxes from sales of alcohol) was a price to ases in labor productivity counterweighted the
pay for the reluctance of Western countries to decline in capital productivity, so that the TFP
provide the USSR with credits for industrializa- increased markedly (table 1).
tion (see Box).

the peasant economy model of Chayanov (1925 [1966]) came to be


regarded as landmarks in the post-World War II literature, after these
works were translated into English”.
2 Http://en.wikipedia.org/wiki/Mahalanobis_model

História e Economia Revista Interdisciplinar 43


Development theories and development experience: half a century journey

BOX. Big Push Soviet style

“When we introduced the vodka monopoly we were confronted with the alternatives:

either to go into bondage to the capitalists by ceding to them a number of our most important mills and factories
and receiving in return the funds necessary to enable us to carry on,

or to introduce the vodka monopoly in order to obtain the necessary working capital for developing our industry
with our own resources and thus avoid going into foreign bondage.

Members of the Central Committee, including myself, had a talk with Lenin at the time, and he admitted that
if we failed to obtain the necessary loans from abroad we should have to agree openly and straightforwardly to
adopt the vodka monopoly as an extraordinary temporary measure.

That is how matters stood when we introduced the vodka monopoly.

Of course, generally speaking, it would be better to do without vodka, for vodka is an evil. But that would mean
going into temporary bondage to the capitalists, which is a still greater evil. We, therefore, preferred the lesser
evil. At present the revenue from vodka is over 500 million rubles. To give up vodka now would mean giving up
that revenue; moreover there are no grounds for asserting that this would reduce drunkenness, for the peasants
would begin to distil their own vodka and to poison themselves with illicit spirits….

I think that we should, perhaps, not have to deal with vodka, or with many other unpleasant things, if the West-
European proletarians took power into their hands and gave us the necessary assistance. But what is to be done?
Our West-European brothers do not want to take power yet, and we are compelled to do the best we can with our
own resources. But that is not our fault, it is—fate.

As you see, our West-European friends also bear a share of the responsibility for the vodka monopoly.

Source: STALIN, J. (1927).   Interview Figure 8. Annual average labor producti-


with Foreign Workers’ Delegations. November 5, vity growth rates in Soviet economy, %
1927. Works, Vol. 10, August - December, 1927.
Foreign Languages Publishing House, Moscow,
1954 (Original source: Сталин И.В. Беседа
с иностранными рабочими делегациями 5
ноября 1927 г. Cочинения. – Т. 10. – М.: ОГИЗ;
Государственное издательство политической
литературы, 1949. С. 206–238).

Soviet catch-up development, however,


looked impressive until the 1970s. In fact, in the
1930s to 1960s, the USSR and Japan were the
only two major developing countries that succes-
sfully bridged the gap with the West (figs.1, 2, Source: EASTERLYT; FISHER, 1995.
9). But high Soviet economic growth lasted only
for less than two decades, whereas in East Asia, Among many reasons for the decline in
it continued for three to four decades, propelling growth rate in the USSR in the 1960s-1980s, the
Japan, South Korea, and Taiwan to the rank of inability of a centrally planned economy to ensu-
developed countries. re adequate flow of investment into replacement
of retired fixed capital stock appears to be most

44 História e Economia Revista Interdisciplinar


crucial (Popov, 2007c). The task of renovating If this explanation is correct, a centrally
physical capital contradicted the short-term goal planned economy is doomed to experience a
of fulfilling planned targets, and Soviet planners growth slowdown after three decades of high
therefore preferred to invest in new capacities growth following a Big Push. In this respect,
instead of upgrading old ones. Hence, after the the relatively short Chinese experience with the
massive investment of the 1930s in the USSR CPE (1949/59-79) looks superior to the Soviet
(the Big Push), the highest productivity was excessively long experience (1929-91). This is
achieved after the period equal to the service life one of the reasons to believe that transition to
of capital stock (about twenty years) before the- the market economy in the Soviet Union would
re emerged a need for massive investment into have been more successful if it had started in the
replacing retired stock. Afterwards, capital stock 1960s.
started to age rapidly, sharply reducing capital
productivity and lowering labor productivity and The second major shortcoming of the
the TFP growth rate. Big Push strategy in the USSR was the excessive
reliance on import substitution. Even in market
Figure 9. PPP GDP per capita in the economies that did not have the problem of re-
USSR and Russia, % of the US level placing capital stock like the centrally planned
economies, but that tried to carry out import
substitution policies for too long the results were
disappointing. In the 1950s-70s in Latin Ame-
rica, India, and Africa this strategy more often
than not led to the creation of non-viable “white
elephants” and “industrial dinosaurs” that could
operate behind the wall of protection with impli-
cit and explicit subsidies, but that failed to pass
the efficiency test once they were exposed to the
winds of international competition.
Source: MADDISON, 2008.
Washington Consensus versus the
Table 1. Growth accounting for the Big Push
USSR and Asian economies, Western data,
After the debt crisis of the early 1980s
1928-87 (annual averages, %)
and especially after the Soviet collapse in 1991,
Period/ country Output Capital Capital/ TPF growth TPF growth assum- Big Push and ISI ideas were
per per output (unit elasticity ing 0.4 elasticity of
worker worker ratio of substitution) substitution totally compromised and the
USSR (1928-39) 2.9 5.7 2.8 0.6 pendulum of development
USSR (1940-49) 1.9 1.5 -0.4 1.3 thinking swung to the right –
USSR (1950-59) 5.8 7.4 1.6 2.8 1.1
excessive government inter-
USSR (1960-69) 3.0 5.4 2.4 0.8 1.1
vention was proclaimed to be
USSR (1970-79) 2.1 5.0 2.9 0.1 1.2
USSR (1980-87) 1.4 4.0 2.6 -0.2 1.1 the major reason for develop-
ment failures. The slogans of
Japan(1950/57/65/-85/88/90) 2.3 - 3.2 1.7 - 2.5 the day formulated in the Wa-
Korea (1950/60/65-85/88/90) 2.8 – 3.7 1.7 - 2.8 shington consensus were libe-
Taiwan (1950/53/65-85/88/90) 2.6 – 3.1 1.9-2.4

História e Economia Revista Interdisciplinar 45


Development theories and development experience: half a century journey

ralization, deregulation, macro-stabilization, do- results of the Big Push and ISI experiments. In
wnsizing of the government, privatization, and 1980-2000 the gap between developed and deve-
opening up of closed economies – elimination of loping countries actually increased for all regions
barriers in trade and capital flows (although not of the South except for East Asia (O’CAMPO;
in international migration). Even East Asian suc- JOMO; VOS, 2007). Over the 1980s, the econo-
cess was explained mostly by deregulation and mies of the middle income developing countries
smaller size of the Asian governments. and of sub-Saharan Africa actually contracted.
Transition economies in the 1990s experienced
The Structural Adjustment Programs transformational recession that was either com-
(SAP) implemented in 1980s and 1990s focused parable (Eastern Europe) or greater in magnitude
on reduction of budget deficit, liberalization of (former Soviet Union) than the Great Depression
prices, privatization of assets, liberalization of of the 1930s.
trade and investment, etc. They urged the debt-
distressed countries to adopt “sensible econo- Meanwhile, East Asia, was growing se-
mic policies”, a term that encompassed not just veral times faster than others (fig. 5).It was gro-
macroeconomic stabilization on a grand scale wing faster than other regions even in the 1950s-
but also microeconomic measures of thorough 70s, but this growth accelerated dramatically af-
market liberalization. In 1988 this position was ter the Deng’s reforms in China 1979. From the
formalized; in a concordat aimed at improving 1980s India and South Asia became the second
policy coherence, the IMF and the World Bank fastest growing region – their per capita GDP
agreed that adjustment lending would be availa- growth increased to 3% a year in the 1980s, 4%
ble only to countries undergoing an IMF stabili- in the 1990s and 6-7% in 2000-08. Fast Indian
zation program (TOYE, 2009). growth is sometimes attributed to the deregula-
tion reforms of the 1990s, but it was shown that
A further concordat was provoked in it actually started in the early 1980s, well before
1997-8 by wrangles over who had the right to deregulation reforms were launched (GHOSH,
do what during the Asian crisis. The establish- 20073). Like the Chinese, Indian growth was ba-
ment of the WTO introduced a third dimension sed on the achievements of the 1950s-70s period
to policy coherence. A three-way “Joint Declara- of ISI and mobilization of domestic savings: the
tion of Coherence”, issued at the ill-fated Seattle savings rate (as a % of GDP) doubled in recent
Ministerial Meeting of the WTO (1999), empha- 50 years, going up from 12-15% in the 1960s,
sized their shared belief that trade liberalization to 16-20% in the 1970s, 15-23% in the 1980s,
was essential to the promotion of global growth 23-25% in the 1990s, and to 24-35% in 2000-08
and stability. It supported the use of informal (WDI database).
cross-conditionality in lending to ensure that
borrowing governments liberalized their trade With fast growth of East and South
regimes. In the last twenty years, IMF-Bank- Asia the understanding that mobilization of do-
WTO policy coherence has markedly increased, mestic savings is crucial may be coming back.
but it has been policy coherence in the service The Big Push ideas may be gradually returning
of the neo-liberal policy agenda (TOYE, 2009). now, albeit in a renewed form. “The UN Mil-

3 “It is now accepted that the shift to a higher economic growth


The results of the Washington consen- trajectory in India came about not in the 1990s, after neo-liberal
economic reforms, but a decade earlier, from the early 1980s”
sus policies were even more frustrating than the (GHOSH, 2007).

46 História e Economia Revista Interdisciplinar


lennium Project recommended in January 2005 Figure 10. Average annual growth rates
“a big push of basic investments between now of GDP per capita and average current account
and 2015” while its Director suggests that “[A] as a % of GDP, 1970-2007
combination of investments … can ena-
ble African economies to break out of the
poverty trap. These interventions need to
be applied … jointly since they strongly
reinforce one another” (Sachs, 2005:208).
British PM Blair’s Commission for Africa
launched a report that claims that “Africa
requires a comprehensive ‘big push’ on
many fronts at once.” In July 2005 the G-8
Summit similarly considered an increa-
se in aid to Africa to finance such a ‘Big
Push’” (BEZEMER; DIRK & DEREK
HEADEY, 2006). Source: WDI database.

In fact, countries that managed to achie- This is known as the Feldstein-Horioka


ve high growth rates were mostly net creditors, puzzle (FELDSTEIN; HORIOKA, 1980) – high
not net borrowers; their current accounts were correlation between domestic savings and in-
positive, i.e. they were saving more than they vestment even among countries with relatively
were investing (fig. 10). Even controlling for open capital accounts, contrary to the prediction
the level of development, PPP GDP per capita in of the theory that capital should flow to countries
the middle of the period, 1975, the relationship with better investment climate and rates of return
between the current account surplus and growth on investment. With high domestic savings rate
rates is still positive and significant: comes high investment rate, which usually, al-
though not always, leads to faster growth.
y = 0.68* Ycap + 0.12***CA + 0.05,
In the words of Paul Krugman (2009),
(1.80) (3.44) since the early 1980s there have been three big
waves of capital flows to developing countries,
N=91, R2 = 0.23, robust standard er- but none of them resulted in a growth miracle.
rors, T-statistics in brackets below, “The first wave was to Latin American countries
that liberalized trade and opened their markets in
where
the wake of the 80s debt crisis. This wave ended
y –annual average growth rates of per ca- in grief, with the Mexican crisis of 1995 and the
pita GDP in 1960-99, %, delayed Argentine crisis of 2002.

Ycap – logarithm of The second wave was to Southeast Asian


per capita PPP GDP in 1975, economies in the mid 90s, when the Asian eco-
CA – average current account to GDP ratio in nomic miracle was all the rage. This wave ended
1960-99,% in grief, with the crisis of 1997-8.

História e Economia Revista Interdisciplinar 47


Development theories and development experience: half a century journey

The third wave was to eastern Europe- magnitude of aid (about $100 billion annually) is
an economies in the middle years of this decade. too small to make a decisive difference (0.3% of
This wave is ending in grief as we speak. GDP of recipient countries, less than total net ca-
pital flows by the order of magnitude and several
There have been some spectacular deve- times smaller than just remittances from migrant
lopment success stories since 1980. But I’m not labor). The irony also is that aid, emergency aid
aware of any that were mainly driven by external excluded, is usually used efficiently in countries
finance. The point is not necessarily that inter- that have relatively good institutional capacity
national capital movement is a bad thing, which and can mobilize domestic savings themselves,
is a hotly debated topic. Instead, the point is that whereas in countries with weak institutions and
there’s no striking evidence that capital flows lack of domestic savings, where aid is most nee-
have been a major source of economic success” ded, it is often squandered. In countries that grow
(KRUGMAN, 2009). fast aid works, in countries that do not grow, aid
doesn’t help much, except in emergency.
In view of this evidence, the developing
country policy choice of a determined attempt On top of that, the magnitude of foreign
to rely on external financing is ironic. It is also assistance seems to depend mostly not on the ne-
ironic that while development economists are eds of the South, but on the attitude of the West
preoccupied by “capital flowing uphill” problem towards developing countries and the balance of
(from developing to developed countries), the forces between the West and the South. Plotting
best growth record is exhibited exactly by coun- the relative size of ODA over recent 5 decades
tries with positive current accounts and large re- reveals at least two important trends (fig. 11).
serve accumulation that are generating this uphill First, despite rhetoric and intuition that more aid
movement of capital. should be given to poorer countries in difficult ti-
mes, it appears that aid increased when resource
Marshal plan for Western Europe right
(oil) prices were high, and decreased, when they
after the Second World War may have been the
were low. Arguably, the bargaining positions of
first and the last success story of foreign finan-
the South improved in times of more favorable
cing contributing substantially to economic revi-
terms of trade, so the West was trying to ensure
val. But even in this case it could be argued that
that the greater financial independence of deve-
without appropriate domestic (European) institu-
loping countries is not translated into more leftist
tions and mobilization of domestic savings, the
political orientation. Second, the clear leveling
(relatively) rapid growth would not happen. Fo-
off between 1991 and 2001, after the collapse of
reign financing of Japan after the Second World
the Soviet Union and before the 9/11 terrorist at-
War was insignificant, whereas Japanese postwar
tack, was probably caused by the perception of
growth was more impressive than European.
reduced security threats to the West in the period
The same could be said about aid – offi- “after communism – before terrorism”.
cial development assistance (ODA). Whereas
Arguably, aid is an over-researched is-
from the point of view of a developing country,
sue and is less important than possible gains
it is certainly better to have assistance from abro-
from any of the following reforms: elimination
ad than not to have it, aid alone cannot become a
of Western protectionism and especially agricul-
crucial factor promoting development. The sheer
tural subsidies; more benevolent attitude of the

48 História e Economia Revista Interdisciplinar


West towards trade and exchange rate protectio- although not a sufficient conditions of the deve-
nism of the South; loosening of the intellectual lopment success.
property rights (IPR) regime for the South; allo-
wing freer international migration of low skilled Why the Big Push does not work with
labor and efforts to stop brain drain from the mostly external savings? One reason may be that
South; control over the capital account and over domestic savings follow investment opportuni-
FDI; recognition that the reduction of pollution ties – countries with strong institutions that crea-
should be done primarily by the West and that te good investment climate raise the national sa-
per capita emissions in the South can be as high vings rate nearly automatically. The other reason
as in the North; understanding that labor, envi- may be the proliferation in the global South of
ronmental and human right standards in the Sou- the special type of industrial policy that promo-
th could differ from that in the North. tes growth of tradable goods and export sectors
– undervaluation of domestic currency via accu-
Figure 11. ODA and official aid to deve- mulation of foreign exchange reserves. This non-
loping countries in current dollars (left scale) and selective industrial policy became very common
oil prices per barrel in 2007 dollars (right scale) in Asian countries in the second half of the XX
century – first in Japan and South Korea in the
1950s-70s (before 1985 Plaza Accord), then in
China since the 1980s – and later, since the 1997
Asian financial crisis – virtually in all major de-
veloping countries. This policy allowed keeping
in check wages and prices for non-tradables,
while giving a huge boost to tradables, exports,
profits, savings and investment (POLTEROVI-
CH; POPOV, 2004; GOSH, 2007; SPIEGEL,
2007; RODRIK, 2008).

This way or the other, economic miracles


Source: WDI database. happened only in countries that relied on mobili-
zation of domestic savings, not in countries that
To conclude, not all the countries that were seeking to bridge the financing gap through
pursued the strategy of the mobilization of do- borrowing abroad, as development economists
mestic savings achieved a breakthrough, some suggested. The crucial question then is how the
failed, but without such a mobilization there national governments can mobilize domestic sa-
were no breakthroughs either. The same seems vings and to alter the allocation of resources in
to be true about protectionism and industrial po- such a way as to achieve rapid, balanced sustai-
licy: not all the governments that tried to interfe- nable and equitable growth. This is not only a
re into the allocation of resources by the market matter of getting policies right, but also of ha-
managed to succeed, but without such interfe- ving the appropriate institutional capacity that
rence there were no economic miracles. To put allows to design, adopt and enforce these right
it differently, mobilization of domestic savings policies.
and government policy of allocating these sa-
vings across industries appear to be a necessary, Development thinking is at the cross-

História e Economia Revista Interdisciplinar 49


Development theories and development experience: half a century journey

roads. Development theories in postwar period industrial strategy.


went through a full circle – from Big Push and
New Paradigm
ISI to neo-liberal Washington consensus to the
understanding that neither the former, nor the la- The confusion in development thinking
ter really works in engineering successful catch- of the past decade may be a starting point for the
up development. formation of new paradigm. There is an emer-
ging understanding that without mobilization of
The Big Push theorists were right in ar- domestic savings and industrial policies there
guing for the mobilization of savings, but their may be no successful catch up development. Na-
theories had a couple of weaknesses. First, it tur- tional development strategies for countries at a
ned out that foreign savings alone, without mo- lower level of development should not copy eco-
bilization of domestic savings, cannot produce nomic policies used by developed countries; in
rapid growth. There were no cases of economic fact, it was shown more than once that Western
miracles based solely on foreign, not domestic, countries themselves did not use liberal policies
savings. Second, quite a number of national ex- that they are advocating today for less develo-
periments involving mobilization of domestic ped countries when they were at similar stages of
savings on a massive scale failed. Domestic sa- development (CHANG, 2002; REINERT, 2007;
ving is a necessary, but not a sufficient condition FINDLAY, O’ROURKE, 2007).
of fast growth. Mobilization of domestic savin-
gs and even successful transformation of these This general principle – that good poli-
savings into investment, does not guarantee fast cies are context dependent and there is no uni-
growth. Investment should be channeled to pro- versal set of policy prescriptions for all countries
jects with highest externalities and these projects at all stages of development – is definitely shared
have to finally pass the test of world market com- by most development economists. But when it
petition. Import substitution strategy could be comes to particular policies, there is no consen-
good at the initial stages of the Big Push, but if it sus. The future of development economics may
is not later supplemented by export orientation, be the theory, explaining why at particular stages
it leads to the dead end: creation of non-viable of development (depending on per capita GDP,
industrial complexes not able to compete in the institutional capacity, human capital, resource
world market. Protection is a necessary condition abundance, etc.) one set of policies (tariff pro-
of take-off growth, but should be supplemented tectionism, accumulation of reserves, control
with export promotion, if growth is to continue. over capita; flows, nationalization of resource
enterprises – to name a few areas) is superior to
Washington consensus was an overreac- another�. The art of the policymakers then is to
tion to the failure of ISI and the debt crisis of the switch the gears at the appropriate time not to
1980s – it threw the baby out of the bath together get into the development trap. The art of the de-
with the bathwater. It denounced not only im- velopment theoretician is to fill the cells of the
port substitution, but also all types of industrial periodic table of economic policies at different
policies. And it denounced the need for special stages of development.
efforts to mobilize domestic savings. Meanwhi-
le, the examples of fast growers – Asian tigers, The secret of “good” industrial policy in
South East Asia, China and India – all pointed East Asia, as opposed to “bad” industrial policy
out to the need for such mobilization and for the in the former Soviet Union, Latin America and

50 História e Economia Revista Interdisciplinar


Africa may be associated with the ability to reap gredient was economic liberalization, whereas in
the benefits of export externality (KHAN, 2007; SSA and LA, there was a lack of state capacity,
GIBBS, 2007). Exporting to the world markets, not a lack of market liberalization. Why did libe-
especially to developed countries, allows upgra- ralization work in China and Central Europe but
ding quality and technology standards and yiel- not in CIS? Because in CIS, it was carried out in
ds social returns that are greater than returns to such a way as to undermine state capacity—the
particular exporters. It was shown that the gap precious heritage of the socialist past, whereas in
between the actual level of development and the Central Europe and even more so in China, sta-
hypothetical level that corresponds to the degree te capacity did not decline substantially during
of sophistication of a country’s export is stron- transition.
gly correlated with productivity growth rates
(HAUSMANN; HWANG; RODRIK, 2006). To Take a closer look at the Chinese case.
put it differently, it pays off to promote exports It is important to realize that the rapid catch-up
of sophisticated and high tech goods. Not all the development of the post-reform period is due
countries that try to promote such export succe- not only to and even not so much to economic
ed, but those that do not try do not ever engineer liberalization and market-oriented reforms. The
growth miracles. pre-conditions for the Chinese success of the last
thirty years were created mostly in the preceding
Manufacturing growth is like cooking a period of 1949-76. In fact, it would be no exag-
good dish—all the necessary ingredients should geration at all to claim that without the achieve-
be in the right proportion; if only one is under- ments of Mao’s regime, the market-type reforms
or overrepresented, the “chemistry of growth” of 1979 and beyond would have never produced
does not happen. Fast economic growth can the impressive results that they actually produ-
materialize in practice only if several necessary ced. In this sense, economic liberalization in
conditions are met simultaneously. In particular, 1979 and beyond was only the last straw that
rapid growth requires a number of crucial inputs broke the camel’s back. The other ingredients,
― infrastructure, human capital, even land dis- most importantly strong institutions and human
tribution in agrarian countries, strong state ins- capital, had already been provided by the pre-
titutions, and economic stimuli among other vious (Mao’s) regime. Without these other ingre-
things. Once one of the essential ingredients is dients, liberalization alone in different periods
missing, growth just does not take off. Rodrik, and different countries was never successful and
Hausmann, and Velasco (2005) talk about “bin- sometimes counterproductive, to put it mildly,
ding constraints” that hold back economic gro- like in Sub-Saharan Africa in the 1980s.
wth; finding these constraints is a task in “growth
diagnostics.” In some cases, these constraints are Market-type reforms in China in 1979
associated with a lack of market liberalization, and beyond brought about the acceleration of
in others, with a lack of state capacity or human economic growth because China already had an
capital or infrastructure. efficient government that was created by CCP
after the Liberation and that the country did not
Why did economic liberalization work have in centuries4 (LU, 1999). Through the par-
in Central Europe but not in SSA and LA? The
4 To a lesser extent, this is true for India: market-type reforms in the
answer, according to the outlined approach, 1990s produced good results because they were based on previous
achievements of the import substitution period (NAYYAR, 2006).
would be that in Central Europe, the missing in-

História e Economia Revista Interdisciplinar 51


Development theories and development experience: half a century journey

ty cells in every village, the communist govern- se socialist model. There is less certainty about
ment in Beijing was able to enforce its rules and whether the Cultural Revolution can be excluded
regulations all over the country more efficiently from the “package” of subsequent policies ―
than Qing Shi Huang Di or any emperor since this mass movement was very much in line with
then, not to mention the Kuomintang regime socialist developmental goals and most probably
(1912-49). While in the late nineteenth century, prevented the inevitable bureaucratization of
the central government had revenues equiva- the government apparatus that occurred in other
lent to only 3 percent of GDP (against 12 per- communist countries.5 But the point to make
cent in Japan right after the Meiji Restoration) here is that even without excluding these perio-
and under the Kuomintang government, they ds, Chinese development in 1949-79 was much
increased to only 5 percent of GDP, Mao’s go- better than that of most countries in the world
vernment left the state coffers to Deng’s reform and that this development laid the foundations of
team with revenues equivalent to 20 percent of the truly exceptional success of the post-reform
GDP. The Chinese crime rate in the 1970s was period.
among the lowest in the world (SHANDONG,
2009), a Chinese shadow economy was virtually To put it differently, by the end of the
non-existent, and corruption, as estimated by 1970s, China had virtually everything that was
Transparency International even in 1985, was needed for growth except some liberalization of
the lowest in the developing world. In the same markets — a much easier ingredient to introdu-
period, during “clearly the greatest experiment in ce than human capital or institutional capacity.
the mass education in the history of the world” But even this seemingly simple task of economic
(UNESCO-sponsored 1984 report), literacy rates liberalization required careful management. The
in China increased from 28 percent in 1949 to USSR was in a similar position in the late 1980s.
65 percent by the end of the 1970s (41 percent True, the Soviet system lost its economic and
in India). social dynamism, growth rates in the 1960s-80s
were falling, life expectancy was not rising, and
The Great Leap Forward (1958-62) crime rates were slowly growing, but institutions
and the Cultural Revolution (1966-76) are said were generally strong and human capital was lar-
to be the major failures of Chinese development. ge, which provided good starting conditions for
True, output in China declined three times in reform. Nevertheless, economic liberalization in
the whole post-Liberation period: in 1960-62, China (since 1979) and in the USSR (since 1989)
by over 30 percent, in 1967-68, by 10 percent, and later, Russia produced markedly different
and in 1976, by 2 percent (WDI database). The outcomes (POPOV, 2000, 2007a)6.
Great Leap Forward produced a famine, a rise in 5 On June 15, 1976, when Mao’s illness became more severe, he called
Hua Guofeng and some others in and said to them: “I am over eighty
mortality and a reduction in the population. But now, and when people get old, they like to think about post-mortal
things … In my whole life, I have accomplished two things. One is the
if these major setbacks could have been avoided, fight against Jiang Jieshi [Chiang Kai-shek] for several decades and
kicking him out onto a few islands and fighting an eight-year resistance
Chinese development in 1949-79 would look war against the Japanese invasion that forced the Japanese to return to
even more impressive. Most researchers would their home. There has been less disagreement on this matter… The other
thing is what you all know, that is, launching the “Cultural Revolution.”
probably agree that the Great Leap Forward that Not very many people support it, and quite a number of people are
against it. These two things are not finished, and the legacy will be
inflicted the most significant damage could have passed onto the next generation. How to pass it on? If not peacefully,
then in turbulence, and, if not managed well, there will be foul wind and
been avoided in the sense that it did not follow rain of blood. What are you going to do? Only heaven knows” (People’s
Web, 2003).
logically from the intrinsic features of the Chine- 6 Unlike Russia after 1991, it so far seems as if China in 1979-2010
managed to better preserve its strong state institutions—the murder rate

52 História e Economia Revista Interdisciplinar


The emerging theory of stages of deve-
lopment would hopefully put the pieces of our
knowledge together and will reveal the interac-
tion and subordination of growth ingredients.
Successful export oriented growth model a la
East Asian tigers seems to include, but is not li-
mited to:

Building strong state institutions capa-


ble of delivering public goods (law and order,
education, infrastructure, health care) needed for
development

Mobilization of domestic savings for in-


creased investment

Gradual market type reforms

Export-oriented industrial policy, in-


cluding such tools as tariff protectionism and
subsidies

Appropriate macroeconomic policy –


not only in traditional sense (prudent, but not ex-
cessively restrictive fiscal and monetary policy),
but also exchange rate policy: undervaluation of
the exchange rate via rapid accumulation of fo-
reign exchange reserves.

in China is still below 3 per 100,000 inhabitants compared to about 30


in Russia in 2002 and about 20 in 2008 (Popov, 2007c). True, in the
1970s, under the Maoist regime, the murder rate in Shandong Province
(the national statistics is absent) was less than 1 (Shandong, 2009), and
in 1987, it was estimated to be 1.5 for the whole of China (WHO, 1994).
The threefold increase in the murder rate during the market reforms
is comparable with the Russian increase, although Chinese levels are
nowhere near the Russian levels.

História e Economia Revista Interdisciplinar 53


Development theories and development experience: half a century journey

References

Acemoglu, Daron, Philippe Aghion, and Fabrizio Zilibotti. Distance to Frontier, Selection, and
Economic Growth. June 25, 2002a. (http://post.economics.harvard.edu/faculty/aghion/papers/Distan-
ce_to_Frontier.pdf)
Acemoglu, Daron, Philippe Aghion and Fabrizio Zilibotti. Vertical Integration and Distance to
Frontier. August 2002b. (http://post.economics.harvard.edu/faculty/aghion/papers/vertical_integration.
pdf)
Acemoglu, Daron and James A. Robinson. “Why Did the West Extend the Franchise? Growth,
Inequality and Democracy in Historical Perspective”, Quarterly Journal of Economics, CXV, 1167-
1199, 2000.
Acemoglu, Daron and James A. Robinson. Economic Backwardness in Political Perspective.
Unpublished paper. July 2005.
Acemoglu, Daron and James Robinson. Economic Origins of Dictatorship and Democracy,
Cambridge University Press, 2006.
Bardhan, Pranab. Economics of Development and the Development of Economics. - Journal
of Economic Perspectives, Vol. 7, No. 2, 1993 (Spring, 1993), pp. 129-142.
Bourguignon, François and Christian Morrisson, ‘Inequality among world citizens: 1820-1992’,
American Economic Review 92(4), 2002, 727–744.
Chandrasekhar, C.P. Financial Policies. UN DESA, 2007;
Chang, H.-J. Kicking Away the Ladder. Cambridge University Press, 2002.
Chang, Ha-Joon. State Owned Enterprise Reform. UN DESA Policy Note, 2007 (http://esa.
un.org/techcoop/documents/PN_SOEReformNote.pdf).
Easterly, W. The Lamentable Return of the Big Push. Proceedings of the German Development
Economics Conference, Kiel 2005 / Verein für Socialpolitik, Research Committee Development Eco-
nomics, at http://opus.zbw-kiel.de/volltexte/2005/3485/.
Easterly, W., Fisher, S. 1995. The Soviet Economic Decline. – The World Bank Economic Re-
view, Vol. 9, No.3, pp. 341-71.
Feldman, G.A. ‘On the theory of growth rates of national income’, 1928, translated in: N.
Spulber, ed., Foundations of Soviet strategy for economic growth. Bloomington, IN: Indiana University
Press, 1964
Feldstein, Martin; Horioka, Charles. “Domestic Saving and International Capital Flows”, Eco-
nomic Journal 90, 1980 314–329, http://www.jstor.org/stable/2231790?origin=crossref
Findlay, Ronald. ‘The Trade-Development Nexus in Theory and History. UNU-WIDER Annual
Lecture, October, 2009.artment of Economics, Columbia University
Findlay, Ronald, Kevin H. O’Rourke. Power and Plenty: Trade, War and the World Economy
in the Second Millennium. Princeton University Press, 2009.
Galor, Oded . Economic Growth in the Very Long-Run. - Prepared for the New Palgrave Dic-
tionary of Economics - 2nd edition (S. Duraluf and L. Blume, eds.), 1998.
Galor, Oded, D. Weil Population, Technology, and Growth: From Malthusian Stagnation to the
Demographic Transition and Beyond. – American Economic Review, 90(4):806-828, September, 2000.
Galor, Oded and Omer Moav. Natural Selection and the Evolution of Life Expectancy. August
24, 2004 (http://129.3.20.41/eps/ge/papers/0409/0409004.pdf).

54 História e Economia Revista Interdisciplinar


Ghosh, Jayati. Macroeconomic and Growth Policies. Background Note. UN DESA, 2007.
Gibbs, Murray Trade Policy. UN DESA, 2007.
Goldstone Jack A. Unraveling the Mystery of Economic Growth. A review of Gregory Clark’s
“A Farewell to Alms: A Brief Economic History of the World”. Princeton and Oxford: Princeton Uni-
versity Press. September, 2007. – World Economics, Vol. 8, No. 3, July–September 2007.
Goldstone, J. Comments on Popov, 2009. Unpublished.Hausmann, Ricardo, Jason Hwang, and
Dani Rodrik (2006). “What You Export Matters,” NBER Working Paper, January 2006.
Khan, Mushtaq H. Investment and Technology Policies. UN DESA, 2007;
Kim, Dong Hyeon and Shu-Chin Lin (2009). “Trade and Growth at Different Stages of Eco-
nomic Development”, Journal of Development Studies, 45.8, 2007, pp.1211-24.
Krugman, Paul. Finance mythbusting, third world edition. Nov 10, 2009. – Paul Krugman’s
blog: http://krugman.blogs.nytimes.com/2009/11/09/finance-mythbusting-third-world-edition/
Lu, Aiguo. China and the Global Economy Since 1840. New York, St. Martins Press, 1999.
Maddison, A. Statistics on World Population, GDP and Per Capita GDP, 1-2006 AD
(http://www.ggdc.net/maddison/Historical_Statistics/horizontal-file_09-2008.xls)
Malafeev, A.N. Istoriya Tsenoobrazovaniya v SSSR.1917-1963(The History of Price Forma-
tion in the USSR.1917-63). M., 1964, pp. 126-127, 136-137, 173.
Marx, Karl. Contribution to the Critique of Hegel’s Philosophy of Right (1843). Marx-Engels
Reader. Ed. By Robert Tucker. Oxford University Press, 1972.
Milanovic, Branko, 2009. “Global inequality recalculated: The effect of new 2005 PPP esti-
mates on global inequality,” MPRA Paper 16538, University Library of Munich, Germany.
Milanovic, Branko, Peter H. Lindert, Jeffrey G. Williamson (2008). Pre-Industrial Inequality:
An Early Conjectural Map. Mimeo, August 23, 2007 (http://www.economics.harvard.edu/faculty/wil-
liamson/files/Preindustrial_inequality.pdf)
Murphy, KM, A Shleifer, RW Vishny: Industrialization and the Big Push. The Journal of Politi-
cal Economy Vol. 97, 1989, pp. 1003-1026
Naughton, Barry, Economic Reform in China. Macroeconomic and Overall Performance. - In:
The System Transformation of the Transition Economies: Europe, Asia and North Korea. Ed. by D. Lee.
Yonsei University Press, Seoul, 1997.
Nayyar, Deepak. INDIA’S UNFINISHED JOURNEY. Transforming Growth into Develop-
ment. – Modern Asian Studies, Volume 40, Number 3, July 2006
O’Campo, Jose Antonio, Jomo K.S. and Rob Vos. Explaining Growth Divergences. In: Growth
Divergences. Explaining Differences in economic Performance. Ed. by Jose Antonio O’Campo,. Orient
Longman, Hyderabad, 2007.
Ortiz, Isabel . Social Policy UN DESA, 2007.
People’s Web. “Today in History: Mao Zedong Said: I Did 2 Things in My Life”. June 15, 2003
(http://www.people.com.cn/GB/tupian/1097/1914967.html). In Chinese.
Polterovich, V., V. Popov Accumulation of Foreign Exchange Reserves and Long Term Econo-
mic Growth. – In: Slavic Eurasia’s Integration into the World Economy. Ed. By S. Tabata and A. Iwa-
shita. Slavic Research Center, Hokkaido University, Sapporo, 2004.(http://www.nes.ru/%7Evpopov/
documents/EXCHANGE%20RATEGrowthDEC2002withcharts.pdf).
Polterovich, V., Popov, V. Appropriate Economic Policies at Different Stages of Development.

História e Economia Revista Interdisciplinar 55


Development theories and development experience: half a century journey

NES, 2005 - http://www.nes.ru/english/research/pdf/2005/PopovPolterovich.pdf. 


Polterovich, V., Popov, V. Stages of  Development, Economic Policies and New World  Eco-
nomic Order.   Paper presented at the Seventh Annual Global Development   Conference in St. Pe-
tersburg, Russia. January 2006.(http://http-server.carleton.ca/~vpopov/documents/NewWorldEconomi-
cOrder.pdf).
Polterovich, V., Popov, V. Democratization, Quality of Institutions and Economic Growth. –
In: Political Institutions And Development. Failed Expectations and Renewed Hopes. Edited by Nata-
lia Dinello and Vladimir Popov, Edward Elgar Publishing, 2007.
Polterovich, V., Popov, V. and Tonis, A. Resource abundance, political corruption, and instabil-
ity of democracy. -  NES Working Paper # WP2007/73 (http://www.nes.ru/russian/research/pdf/2007/
PolterPopovTonisIns.pdf).  
Polterovich, V., Popov, V. and Tonis, A. Mechanisms of resource curse, economic policy and
growth. NES Working Paper, 2008. # WP/2008/082 (http://www.nes.ru/english/research/pdf/2008/Pol-
terivich_Popov.pdf).
Popov, V. Shock Therapy versus Gradualism: The End of the Debate (Explaining the Magnitude
of the Transformational Recession) – Comparative Economic Studies, Vol. 42, No. 1, Spring 2000, pp.
1-57 (http://www.nes.ru/%7Evpopov/documents/TR-REC-full.pdf);
Popov, V. Shock Therapy versus Gradualism Reconsidered: Lessons from Transition Econo-
mies after 15 Years of Reforms. – Comparative Economic Studies, Vol. 49, Issue 1, March 2007a, pp.
1-31(http://www.nes.ru/%7Evpopov/documents/Shock%20vs%20grad%20reconsidered%20-15%20
years%20after%20-article.pdf).
Popov, V. Life Cycle of the Centrally Planned Economy:  Why Soviet Growth Rates Peaked in
the 1950s. In: Transition and Beyond. Edited by: Saul Estrin, Grzegorz W. Kolodko and Milica Uvalic.
Palgrave Macmillan, 2007b.
Popov, V. Russia Redux. – New Left Review, No. 44, march-April,2007c.
Popov, V. Lessons from the Transition Economies. Putting the Success Stories of the Postcom-
munist World into a Broader Perspective. - UNU/WIDER Research Paper No. 2009/15.
Popov, V. Why the West Became Rich before China and Why China Has Been Catching Up
with the West since 1949: Another Explanation of the “Great Divergence” and “Great Convergence”
Stories. -NES/CEFIR Working paper # 132, October 2009.
Preobrazhenski, E., The New Economics. (1926), Oxford: Clarendon Press, [1965].
Reinsert, Erik S. How Rich Countries Got Rich… And Why Poor Countries Stay Poor. Cons-
table, London, 2007.
Rodriguez, Francisco. Openness and Growth: What have We Learned? – In: Growth Divergen-
ces. Explaining Differences in economic Performance. Ed. by Jose Antonio O’Campo, Jomo K.S. and
Rob Vos. Orient Longman, Hyderabad, 2007.
Rodriguez, Francisco and Dani Rodrik. TRADE POLICY AND ECONOMIC GROWTH: A
Skeptic’s Guide to the Cross-National Evidence. CEPR Discussion Paper No. 2143, 1999.
Rodrik, Dani . Getting Institutions Right. CESifo. Journal for Institutional Comparisons. Vol.
2, No. 4, Summer 2004.
Rodrik, Dani, R. Hausmann, A. Velasco (2005). Growth Diagnostics. 2005. http://ksghome.
harvard.edu/~drodrik/barcelonafinalmarch2005.pdf

56 História e Economia Revista Interdisciplinar


Rodrik, Dani WHAT’S SO SPECIAL ABOUT CHINA’S EXPORTS? Harvard University, Ja-
nuary 2006. Http://www.hks.harvard.edu/fs/drodrik/Chinaexports.pdf
Rodrik, Dani The Real Exchange Rate and Economic Growth revised, October 2008. Un-
dervaluation is good for growth, but why? Http://www.hks.harvard.edu/fs/drodrik/RER%20and%20
growth.pdf
Rodrik, Dani, Arvind Subramanian and Francesco Trebbi. Institutions Rule: The Primacy of
Institutions over Geography and Integration in Economic evelopment. October, 2002 2002 (http://ks-
ghome.harvard.edu/~.drodrik.academic.ksg/institutionsrule,%205.0.pdf).
Rosenstein-Rodan, P.N. The Problems of Industrialisation of Eastern and South-Eastern Euro-
pe. The Economic Journal, Vol. 53, No. 210/211. Jun. - Sep., 1943, pp. 202-211.
O’Rourke, K. H. and R. Sinnott, 2001. “The Determinants of Individual Trade Policy Preferen-
ces: International Survey Evidence,” Trinity College Dublin Economic Papers 200110, Trinity College
Dublin Economics Department.
O’Rourke, Kevin H. & Jeffrey G. Williamson, 2002. “From Malthus to Ohlin: Trade, Growth
and Distribution Since 1500,” NBER Working Papers 8955.
Sachs, J.D. and A.M. Warner . The big push, natural resource booms and growth. – Journal of
Development Economics, vol.59, 1999, 43-76.
Shandong. Shandong Province data base [Shandong sheng shengqing ziliaoku],
2009. Http://www.infobase.gov.cn/bin/mse.exe?seachword=&K=a&A=16&rec=42&run=13
http://bbs.tiexue.net/post_1207004_1.html .
Shmelev, N. Popov, V. The Turning Point: Revitalizing the Soviet Economy. Doubleday, 1989.
Spiegel, Shari. Macroeconomic and Growth Policy. Policy Note. UN DESA, 2007.
Stalin, J.  Interview with Foreign Workers’ Delegations. November 5, 1927. Works, Vol. 10,
August - December, 1927. Foreign Languages Publishing House, Moscow, 1954.
Stalin, J. V. THE TASKS OF ECONOMIC EXECUTIVES.From J. V. Stalin, Problems of Len-
inism, Foreign Languages Press, Peking, 1976, pp. 519-31. http://marx2mao.com/Stalin/TEE31.html
Toye, John. Development Theory and Experiences of Development. Issues for the Future, 1989
Toye, John. Development in an interdependent world: old issues, new directions? Background
paper for WESS 2010.
WDI database. World Bank, 2010.
Williamson, Jeffrey G. Winners and Losers over Two Centuries of Globalization, 2002 WIDER
Annual lecture 6. WIDER/UNU, November 2002.
WIPO. World Intellectual Property Indicators. WIPO, Geneva, 2009.

História e Economia Revista Interdisciplinar 57


58 História e Economia Revista Interdisciplinar
A política comercial do Brasil
no contexto internacional, 1889-1945*

Paulo Roberto de Almeida


Doutor em Ciências Sociais, mestre em Planejamento Econômico, diplomata de carreira
pralmeida@mac.com

Resumo
Descrição e análise da política comercial do Brasil no contexto internacional durante a República Velha e na Era Vargas, com
comparação de níveis tarifárias e práticas aplicadas ao comércio exterior.

Palavras-chaves: Brasil. Política Comercial. República Velha (1889-1930). Era Vargas (1030-1945). Comparação com outros
países.

Abstract
Descriptive analysis of the Brazilian trade policy in the international context, during the Old Republic and the Vargas Era, with
comparison of tariff schedules and associated trade practices.

Key words: Brazil. Trade Policy. Old Republic (1889-1930). Vargas Era (1030-1945). Comparison with other countries.

História e Economia Revista Interdisciplinar 59


A política comercial do Brasil no contexto internacional, 1889-1945

Uma política comercial persistente- meio de adicionais em direitos de exportação.


mente defensiva Não raro, algumas províncias, motivadas politi-
camente a proteger os produtos locais, se esme-

D
escontado o período inicial de sua
ravam em discriminar os de fabricação ‘estran-
vida independente, quando ele teve
geira’, o que incluía inclusive produtos de outros
de acomodar-se à herança diplomáti-
estados: no decorrer do Império, alguns gover-
ca deixada pela sujeição portuguesa aos interes-
nos estrangeiros fizeram reclamações contra esse
ses comerciais britânicos – um largo período que
tipo de discriminação (ALMEIDA, 2005, 288).
se estende de 1808 até 1844 –, o Brasil sempre
foi, pelo resto do Império e em toda a República,
O padrão geral da definição de novas
um país de tarifas excessivamente elevadas. Não
pautas aduaneiras, bem como das periódicas
se pode dizer, contudo, que ele tenha sido um
revisões tarifárias, no Brasil como em outros
país voluntária e conscientemente protecionista,
países da região, sempre foi no sentido da sua
no sentido estrito do termo, durante todo esse
elevação, muito raramente na outra direção. As
tempo, inclusive porque havia poucas indústrias
motivações protetoras e defensivas nem sempre
a proteger. De modo geral, as necessidades fis-
estavam bem fundamentadas, ou então, elas não
cais primaram sobre as intenções protecionistas,
eram facilmente detectáveis na estrutura da pauta
tanto porque as autoridades do Tesouro se esme-
de importação, cujas alíquotas eram construídas
raram também em taxar as exportações: a partir
no mais das vezes para produzir receitas para o
de um mínimo de 2%, que D. João VI já consi-
Estado, antes que para proteger alguma indústria
derava excessivo, a Regência elevou os impostos
bem identificada (no mais das vezes, aliás, ine-
de exportação para 7%, valor que foi mantido ir-
xistente). A valoração aduaneira era deficiente ou
regularmente pelo resto do período monárquico,
simplesmente arbitrária, o que podia converter
com algumas reduções temporárias a 5% (IHGB,
uma tarifa ad valorem aparentemente moderada
1922, 1094).
em um peso efetivo maior do que o incidente no-
Desde que ele conseguiu se libertar da minalmente sobre o preço do produto.
“tarifa inglesa” – estabelecida em 1810, conti-
nuada tal qual em 1827, e mantida contra a sua As reformas tarifárias, e suas revisões,
vontade até a introdução da Tarifa Alves Branco seguiam mais os imperativos da balança comer-
–, o Brasil estabeleceu alíquotas elevadas na im- cial e seus efeitos cambiais secundários – ou
portação de produtos, mais por razões fiscais do seja, procuravam seguir os problemas acarreta-
que propriamente industrializantes, embora esse dos pela volatilidade do mil-réis, ou a situação
tipo de motivação também tenha estado presente errática das rendas do Estado – do que propria-
em diversos momentos de revisões tarifárias ao mente alguma política industrial bem definida. O
longo do Império e, mais enfaticamente, a par- nível mais elevado da tarifa ad valorem fixado no
tir da República. Os desincentivos ao comércio decurso das diversas reformas tarifárias ao longo
exterior – e, por extensão, à própria produção do Império se situou entre 50 e 60%, como se
nacional, ao gravar os insumos importados para pode constatar na tabela 1.
transformação local – eram ainda acrescidos li-
Mesmo numa situação de dependência
nearmente, pelo fato de as províncias no Império
de bens estrangeiros para o essencial das neces-
e os estados na República se empenharem em
sidades de consumo e de investimento do apare-
aumentar suas parcas receitas impositivas por
lho produtivo, os sentimentos nacionalistas eram

60 História e Economia Revista Interdisciplinar


predominantes em quase todos os países latino- panhava a variação do câmbio, que, obviamente
americanos, com um viés sempre mais forte na variava muito, ao sabor das flutuações dos pre-
retenção das importações do que na promoção do ços de principal produto de exportação, o café.
comércio exterior como um todo. Esses instintos De fato, a despeito das receitas crescentes com
se viram aparentemente justificados a partir da as exportações totais de café, dada a expansão da
crise dos anos 1930, quando a obsessão pelo es- produção ao longo do tempo, os valores obtidos
trangulamento cambial – talvez nunca superada por cada saca de café no mercado internacional
nas décadas que se seguiram – serviu para exa- variavam bastante, o que impactava a cotação do
cerbar, desta vez de modo mais explícito, o com- câmbio na praça do Rio de Janeiro e, portanto,
portamento protecionista das elites industriais as receitas públicas: o valor de uma saca podia
e políticas. Cabe também mencionar a possível variar entre 1,4 libras esterlinas, como ocorreu,
utilização da tarifa como uma espécie de arma em média, nos anos 40 do século 19, e um má-
política, nem sempre dirigida contra a concor- ximo de 3,1 libras, como foi o caso na década
rência estrangeira, e mais voltada, talvez, para a que se seguiu à Guerra do Paraguai (BUESCU,
redistribuição de renda entre grupos sociais, se- 1974, 128).
gundo configurações domésticas de poder.
Ao ter início a República, o novo minis-
Sem dispor de uma reflexão econômica tro, Rui Barbosa, decidiu que uma parte uma par-
própria, em vista da ausência geral de especia- te do imposto teria de ser paga em moeda forte,
listas nessa área, os países latino-americanos o que significou a introdução da quota-ouro (à
tendiam a seguir as políticas comerciais dos eu- razão de 2% da tarifa), com vistas, justamente,
ropeus, ou dos norte-americanos, mesmo quan- a preservar o nível das receitas fiscais. Antes de
do os níveis de industrialização eram totalmente deixar o ministério, Rui Barbosa conduziu uma
distintos – e eles sempre o foram, sobretudo no nova reforma tarifária: mandou efetuar, no final
final do século 19 e na primeira metade do se- de 1890, uma revisão em cerca de 1.100 itens
guinte. Nesse sentido, uma análise das políticas da pauta de importação, a partir da qual a maior
comerciais seguidas pelo Brasil não pode ser fei- parte ficou estabelecida em taxas fixas, mas ele
ta com referência apenas ao processo doméstico também determinou a aplicação de uma tarifa
de formulação de políticas públicas – neste caso, adicional ad valorem a 89 deles; o nível mais
seria inclusive incongruente, tendo em vista as elevado da alíquota era de 60%.
necessárias interações com os fluxos externos e
as reações às políticas tarifárias dos demais paí- As motivações, como no caso americano
ses –, mas essencialmente no contexto das polí- até essa época, eram basicamente fiscais, dada a
ticas e práticas de comércio internacional segui- enorme dependência das receitas gerais do Es-
das pelos demais países, entre eles alguns latino- tado dos recolhimentos efetuados nos portos de
americanos, com ênfase no caso da Argentina. entrada. De fato, contrariamente ao que se consi-
dera como sendo um posicionamento claramente
A herança do Império e as em favor da industrialização protegida, no caso
inovações da República dos EUA foram as preocupações com as receitas
A última tarifa do Império, implementa- da União que estiveram por trás das altas taxas
da pelo ministro da fazenda João Alfredo em ja- alfandegárias cobradas no decorrer do século 19:
neiro de 1889, era de tipo móvel, ou seja, acom- “antes da adoção do imposto de renda no sécu-
lo 20, os impostos de importação financiavam

História e Economia Revista Interdisciplinar 61


A política comercial do Brasil no contexto internacional, 1889-1945

90% do governo americano” (THORNTON- sos outros países, a começar pela França; o ní-
EKELUND, 2004, 13). Mais até do que o temor vel ad valorem mais elevado foi então fixado em
da concorrência britânica contra a “indústria 84%. Pouco depois, em março de 1897, o mi-
infante” do país, foi a necessidade de assegurar nistro Bernardino de Campos efetuou mudanças
uma fonte de receita regular e constante para o na pauta, com a redução em certos itens e um
Estado, em face de tantas reviravoltas do ciclo aumento considerável em outros; o nível mais
econômico, que respondeu pelo protecionismo elevado ad valorem subiu então a 200%, o que
fiscal nos EUA (TAUSSIG, 1964). talvez possa ser explicado pelas necessidades de
recursos em função da guerra que estava sendo
O grande princípio da Constituição re- conduzida nos sertões da Bahia.
publicana de 1891 foi a descentralização, assim
como a obra da Regência tinha sido a centraliza- Como pode acontecer nesses casos, a re-
ção, inclusive e principalmente no plano tribu- ceita geral registrou então um declínio, a partir
tário: em 1835, os legisladores desse período de da aplicação de valores tarifários nominais mais
transição tinham concentrado na União 58 rubri- elevados, o que resultou na diminuição as impor-
cas de receitas, inclusive os impostos de exporta- tações. Esse efeito, identificado mais tarde por
ção, todos os do ‘Município Neutro’ (Rio de Ja- Keynes a partir de observações empíricas, foi
neiro), os de transmissão de propriedade, indús- formalizado nos anos 1970 pelo economista Ar-
trias e profissões, predial e outros. A reação, em thur Laffer, que demonstrou graficamente que a
1891, se fez no sentido contrário, travando-se um curva das receitas fiscais é decrescente quando as
embate difícil na Constituinte, que, finalmente, alíquotas incidentes são exageradamente eleva-
transferiu aos estados os impostos de exportação, das. Consoante sua frustrante descoberta prática,
o predial e o de indústrias e profissões. Como re- poucos meses depois, o próprio ministro Ber-
sultado, já no orçamento de 1892, para fazer face nardino de Campos implementou, em dezembro
às despesas federais, teve a União de aplicar um de 1897, uma revisão parcial da tarifa anterior,
adicional de 50% sobre os direitos aduaneiros operando uma redução em vários itens, com o
em geral (menos bacalhau, charque, feijão, mi- objetivo de aumentar a receita geral das alfânde-
lho e arroz), de 60% sobre bebidas e sedas e de gas. Essa reforma, conduzida por uma comissão
10% para o expediente de gêneros livres, assim presidida por Leopoldo de Bulhões, foi acusada
como para trâmites aduaneiros, como capatazia e de livre-cambista pelos setores industriais (SIL-
armazenagem (BOUÇAS, 1946, 114). VA, 1969, 221). Essa redução temporária dos ní-
veis tarifários não inverteu, contudo, a tendência
O trabalho – aparentemente constante e geral à elevação das barreiras alfandegárias em
regular – de revisão das tarifas brasileiras con- quase todos os países latino-americanos: ao final
tinuou o seu movimento ascensional pelo resto desse período que ficou conhecido como uma su-
da última década do século 19: em 1896, já sob posta belle époque, os países da América Latina
a presidência Rodrigues Alves, a revisão tarifária eram os mais protecionistas do planeta: por volta
consistiu na supressão do adicional ad valorem de 1913, a tarifa média no Uruguai era de 35%,
aos itens anteriormente contemplados, mas em de quase 40% no Brasil e acima de 45% na Vene-
compensação ocorreu a definição de duas pau- zuela (BULMER-THOMAS, 2003, 139)
tas, uma geral e outra mínima, para utilização em
função das conveniências da política comercial, Num momento em que os Estados Uni-
de acordo com o que se fazia então em diver- dos, o outro país, junto com a Argentina, notoria-

62 História e Economia Revista Interdisciplinar


mente protecionista no hemisfério, podiam se dar Taxonomia tarifária e
ao luxo de contrair acordos comerciais preven- evolucionismo extrativo no
do reduções tarifárias (ainda que não em bases plano fiscal
NMF universais), posto que, a partir de então,
menos dependentes das receitas alfandegárias, o Mutáveis em seus níveis como podiam
Brasil ainda dependia fundamentalmente dos im- ser as alíquotas tarifárias dos EUA e do Brasil,
postos de importação para satisfazer a maior par- elas se apresentavam, em todo caso, com uma
te das necessidades financeiras do Estado. A evo- estrutura relativamente uniforme, ou seja, uma
lução econômica e política nos EUA e no Brasil pauta composta de grandes categorias de pro-
– como em muitas outras esferas da vida pública dutos, divididos em seções organizadas por es-
– foi essencialmente similar, mas com várias dé- pécies, à la Linné, dentro das quais se inseriam,
cadas de distância: desde o início de sua organi- de modo essencialmente racional, as dezenas ou
zação republicana, o governo federal americano centenas de itens de cada classe. Diferente era a
dependia essencialmente das receitas alfandegá- situação da Argentina, até o início do século 20
rias para cobrir a quase totalidade de suas despe- pelo menos, posto que as tarifas eram estabeleci-
sas. Num período de mais de cem anos, até 1894, das em função das necessidades do Tesouro, sem
as tarifas de importação representavam a maior qualquer ordenamento específico, a não ser em
fonte de renda para o governo federal americano, função do grau extrativista das taxas impostas.
ultrapassando todas as demais receitas, inclusive
A tarifa argentina de 1885, por exemplo,
a venda de terras públicas (ISAACS, 1948, 283).
compreendia seis grandes categorias, agrupadas
Nessa época, as receitas advindas do comércio
linearmente segundo a alíquota aplicada, em ní-
exterior no Brasil representavam mais de dois
veis ad valorem decrescentes. A pauta partia da
terços das receitas totais do Estado central (não
taxa de 55% (tabaco), descia para 50% (armas
considerando, aqui, que as províncias, depois es-
e perfumes), passava então para 45% (roupas e
tados, também cobravam taxas sobre a entrada e
confecções; botas e sapatos; selas e arreios; car-
saída de mercadorias).
ruagens; móveis; objetos de arte), e daí despen-
Nos EUA, a partir de 1894, um cenário cava para 10% (ferro não galvanizado em placas,
muito diferente se impôs, mas até 1910 as tari- lingotes e barras; sal; papel), para 5% (todos os
fas ainda representavam a metade das receitas tipos de máquinas para a agricultura e a indús-
fiscais da União, situação que começa a mudar tria, caldeiras; livros) e para 2% (pedras pre-
sensivelmente desde então. Já em 1927, essas re- ciosas). Completavam essa lista à la Jorge Luis
ceitas tinham caído a 25% do total e continuaram Borges duas categorias especiais: uma sétima de
a diminuir daí para a frente. Em 1939, por exem- produtos taxados com tarifas específicas (trigo;
plo, apenas a título de comparação, as receitas café; macarrão, biscoitos, farinha e compos-
recolhidas com a venda de cigarros e produtos tos de milho; chá, mate, açúcar, vinho, cerveja;
de tabaco em geral superavam 500 milhões de querosene; velas; cartas de jogar e fósforos), e
dólares, quando as tarifas alfandegárias mal ul- uma última de itens livres de qualquer imposição
trapassavam 300 milhões. No caso dos EUA, fiscal (navios e maquinarias para navios; carvão;
elas se mantiveram, sobretudo, como uma arma arame para cercas, fio telegráfico; animais vivos,
de diplomacia comercial (ISAACS, 1948, 283). peixe, frutas frescas; móveis e ferramentas de
imigrantes; ouro e prata; plantas; ferro e aço para
ferrovias, locomotivas; pólvora de minas; artigos

História e Economia Revista Interdisciplinar 63


A política comercial do Brasil no contexto internacional, 1889-1945

de culto; sementes agrícolas). Finalmente, havia nistas e necessidades fiscais foram determinan-
uma taxa de 4% na exportação de lã não pentea- do, ao longo da primeira metade do século 20,
da, animais selvagens, peles, plumas de avestruz, aumentos sucessivos nas alíquotas aplicadas na
etc. Argentina, que se aproximaram de uma média de
33%, como se depreende das tabelas de tarifas
As revisões efetuadas nos anos seguintes comparadas.
se destinaram, sobretudo, a subir um produto de
categoria, até que alcançasse a tarifa (aparente- No confronto com o Brasil, a Argentina
mente máxima) de 50%. Deve-se registrar que a apresentou médias tarifárias sistematicamente
Argentina, com um quarto da população do Bra- menores, ainda que a distância tenha diminuído
sil, mantinha um volume de comércio exterior ao longo do tempo, com uma quase equiparação
três vezes mais elevado, o que se refletia, obvia- a partir dos anos 1930. A despeito de taxas tam-
mente, na sofisticação de suas elites dirigentes bém elevadas para o ingresso de certos produtos
e nos salários elevados de seus trabalhadores. adquiridos no exterior – como conseqüência das
Segundo cálculos do historiador econômico Je- necessidades do Estado – a Argentina seguiu, até
ffrey Williamson, em 1900, os salários reais dos aquela época, uma política comercial mais próxi-
trabalhadores argentinos eram três vezes supe- ma da liberdade de comércio, com muitos produ-
riores aos de seus contrapartes na Itália, de onde tos isentos de direitos de importação (ABREU,
vinham, aliás, grande parte dos imigrantes entra- 1994).
dos no país platino (WILLIAMSON, 1999). É
Competição duvidosa na
bem verdade que o declínio econômico contínuo
da Argentina no decorrer do século 20, sobretudo
escalada tarifária
a partir dos anos 1930, fez com que esses salários Um esforço de comparação das médias
já estivessem equiparados em meados do século tarifárias dos principais países com os quais o
e que, por volta dos anos 1980, o trabalhador ita- Brasil mantinha maior intensidade de comércio
liano ganhasse, em média, quatro vezes mais do nesse período nem sempre é factível, dadas as
que o seu primo imigrante do cone sul (BERNS- dispersões das alíquotas, as classes diferentes de
TEIN, 2008, 341). A rigor, esses dados servem produtos e a própria orientação da política co-
apenas para corroborar a velha evidência do peso mercial, em função dos níveis de industrializa-
negativo sobre rendas e salários decorrentes do ção de cada país, do grau de abertura ao comér-
descolamento de toda e qualquer economia do cio internacional – que depende, em grande me-
comércio internacional. dida, da dotação relativa de fatores – e da própria
ideologia dos dirigentes políticos. É possível,
Decidindo-se, finalmente, por adotar contudo, comparar-se o grau de proteção efetiva
uma taxonomia mais racional, o governo argen- existente em cada país, mediante a “montagem”
tino agrupou, mediante uma lei de 1905, todos de uma alíquota tarifária média a partir das ta-
os bens em vinte categorias, a começar pelos li- xas de importação como fração do valor total
vres de tarifas (como equipamentos ferroviários das importações. Esse tipo de exercício foi con-
e máquinas), e submeteu todos os demais a uma duzido pelos economistas Michael A. Clemens
média de 20% ad valorem, com várias exceções e Jeffrey G. Williamson (2001), que alinharam
(manufaturas sem similar ficavam entre 5 e 20%, essas médias anuais pelo espaço de um século,
e similares na faixa de 30 a 50%). Obviamente, desde a segunda metade do século passado até
sentimentos nacionalistas, instintos protecio-

64 História e Economia Revista Interdisciplinar


meados do século 20. Não é preciso dizer que radas. Registre-se, ademais, que a tarifa média
os países latino-americanos sempre foram – e foi construída apenas com os impostos de im-
provavelmente continuam sendo – os campeões portação, sendo que o Brasil também gravava,
absolutos das tarifas elevadas, em alguns casos significativamente as suas próprias exportações,
até o exagero. Outros países, alegadamente pro- cujos impostos representavam entre 10 e 18%
tecionistas, em função de alíquotas altas em de- das receitas totais do Estado, nesse mesmo perí-
terminadas categorias especiais, ou de produtos odo. Em todo caso, o Brasil ultrapassou a média
seletivamente protegidos em função de lobbies dos EUA poucos anos depois do final da guerra
ou políticas estatais, acabam sendo beneficiados do Paraguai e, pelo resto do período considerado,
por esse tipo de abordagem, posto que a metodo- manteve-se sistematicamente acima dos EUA e
logia seguida, pode, por um lado, distorcer deter- da Argentina – à razão de um terço adicional,
minadas incidências da proteção comercial, ela aproximadamente – os dois outros países mais
permite, por outro, uma visão geral mais clara protecionistas desta seleção.
sobre a orientação geral da política comercial do
país em questão. As correções tarifárias iniciadas por Rui
Barbosa, e continuadas nos dez anos seguintes,
A tabela 2 coleta seletivamente algumas sempre com a intenção de aumentar as receitas
dessas informações sobre as alíquotas médias do Estado, eram uma verdadeira tarefa de Sísifo,
praticadas pelos principais parceiros comerciais posto que os desequilíbrios internos e externos
do Brasil no período anterior ao início da Repú- se agravaram durante todo o período. A inflação
blica no Brasil, permitindo uma primeira visão iniciada com o encilhamento desorganizou as fi-
geral dos instintos protecionistas de cada um de- nanças do Estado, o que também se refletiu na
les na segunda metade do século 19 (o Japão não taxa de câmbio: de 13 mil-réis por libra esterlina
era, nem de longe, parceiro comercial do Brasil em 1889, a paridade se elevou a 34 mil-réis dez
nessa época, mas figura na tabela para fins com- anos mais tarde.
parativos, apenas). Entre 1865 e 1889, a tarifa
Ajuste fiscal pela via das
brasileira foi de 25,7% a 41,4, passando por um
pico de 58,2, em 1887, ao passo que a tarifa ame-
receitas alfandegárias
ricana não chegou a exceder 41%, se situando A consolidação do governo republica-
numa faixa média de 32,3%, bem abaixo de uma no – ameaçada no início por revoltas militares e
média aparente do Brasil, para esse período, em ameaças de ‘retorno monarquista’ – confirmou,
torno de 39,4%. O outro país mais protecionis- outrossim, a agravação das tendências prote-
ta, a Argentina, ainda ostentava, nessa fase, uma cionistas. O governo Campos Salles, da mesma
média tarifária de 25,5%. forma como vários outros antes ou depois dele,
foi, provavelmente, um dos mais contraditórios
O que se pode concluir, à vista da tabela da história econômica brasileira: empossado sob
2, é que, com a exceção das alíquotas elevadas o signo da austeridade e da ortodoxia liberal, foi
apresentadas pelos EUA recém saídos da guerra levado a praticar uma das políticas fiscais mais
civil, quando legitimamente a União aumentou extorsivas de que se tem notícia na trajetória da
substancialmente as tarifas alfandegárias, como Receita brasileira. O presidente e o seu ministro
meio de enfrentar as despesas militares e as da da Fazenda, o médico Joaquim Murtinho, come-
reconstrução posterior, o Brasil se apresenta çaram o governo mediante um severo ajuste nas
como o campeão absoluto das alíquotas exage-

História e Economia Revista Interdisciplinar 65


A política comercial do Brasil no contexto internacional, 1889-1945

contas públicas, com vistas a honrar o acordo de simplesmente, de urgentes necessidades fiscais.
renegociação da dívida externa brasileira que o O remédio foi amargo, mas parece ter funciona-
presidente eleito – mas ainda não empossado – do: o equilíbrio financeiro foi restabelecido e o
tinha concluído com os banqueiros oficiais do câmbio baixou de 34 a 22 mil-réis por libra.
Brasil, os Rothschilds, em Londres, no decorrer
de 1898. Para isso, e contra todos os seus princí- Os sentimentos protecionistas, pro-
pios de gestão econômica, o ministro Murtinho gressivamente crescentes na República, podem
impôs um programa de aumento de arrecada- explicar, em todo caso, a incidência de tarifas
ção que pode ter sido um dos mais violentos da específicas elevadas, mas os principais pro-
história do Brasil e disso não escapou a política pósitos eram os de fazer caixa para enfrentar
comercial. as obrigações internas e externas da Repúbli-
ca. Sobre isso se deve agregar as necessidades
Decidida em novembro de 1899, mas dos estados, cujas taxas de exportação também
implementada em 1900, a assim chamada Tarifa constituíam o essencial de suas receitas. Em São
Murtinho elevou bastante os direitos de importa- Paulo, por exemplo, a exportação de café con-
ção, podendo ser designada como a maior tarifa seguia encher os cofres do estado, enquanto que
do hemisfério americano e, possivelmente, uma no Pará e no Amazonas o mesmo ocorria com a
das maiores do mundo. Animada por objetivos borracha natural. O Brasil, aliás, não constituía
essencialmente fiscais, como quase sempre ocor- uma federação, posto que mesmo produtos ‘ex-
reu nesses casos, a aplicação de tarifa ad valorem portados’ para outros estados pagavam impostos
passou a ser imposta a 142 itens (sobre um to- de ‘exportação’. Nesse sentido, a situação não
tal de 1.070 categorias, correspondendo a 2.839 parece ter mudado muito desde então e o Brasil
itens), sendo o nível mais elevado o de 100%. talvez, seja, dos países integrantes do Mercosul,
Ainda assim, como praticado nesses tempos de aquele que ainda precisa construir a unificação
guerra tarifária, ele preservou a dupla pauta, ou de seu mercado interno, assemelhando-se, nesse
seja: a aplicação da tarifa mínima ao tratamen- particular, às unidades políticas alemãs do perí-
to de favor e uma tarifa em dobro como arma odo anterior ao Zollverein, à situação da Itália
de represália comercial. A tabela 3 registra as pré-unificação, ou, quiçá, à situação da França
reformas tarifárias empreendidas nos primeiros medieval.
dez anos da República, constatando-se uma certa
Compensações e retaliações, em
continuidade no número de itens da pauta adua-
neira, mas uma grande variação da tarifa máxima
perfeita reciprocidade
ad valorem. A Tarifa Murtinho de 1900 permaneceu
essencialmente a mesma até a crise dos anos
A cota-ouro de 2%, que tinha sido supri- 1930, embora com diversas revisões durante o
mida em 1891, foi restabelecida em dezembro de período. Seguindo o exemplo francês, as tarifas
1898, logo ao início da administração Campos poderiam seguir o padrão ‘normal’, isto é, eleva-
Salles, sobre a base de 10% da tarifa. Ela ainda do, ou serem ainda mais ofensivas, adquirindo
sofreu uma elevação a 15%, em junho de 1899, então o caráter de retaliação contra os que prati-
antes de ser fixada na Tarifa Joaquim Murtinho cavam, justamente, tarifas elevadas ou discrimi-
ao nível de 25%. Mais uma vez, não houve ne- navam contra o principal produto de exportação,
nhuma inspiração protecionista, sobretudo no no caso do Brasil, basicamente o café. Isenções
caso do ministro Murtinho; se tratava, pura e

66 História e Economia Revista Interdisciplinar


e franquias especiais podiam ser atribuídas a pode constatar pela tabela 4. O país menos prote-
determinadas categorias de bens, ou segundo as cionista de todos continuava sendo, obviamente,
negociações empreendidas com os países im- a Grã-Bretanha, ainda que, a partir do final do
portadores dos principais bens de exportação do século 19, líderes conservadores tenham iniciado
Brasil, como ocorreu com os EUA logo no início um movimento em favor da reforma da política
da gestão Rio Branco. Ao mesmo tempo, outras comercial, pedindo a adoção de tarifas mínimas
disposições eram adotadas para defender o nível e o estabelecimento de algum tipo de preferência
das receitas, como veio a ser estabelecido, por imperial, com a dupla justificativa do aumento
exemplo, com a tarifa ouro, elevada para 35% das tarifas nos parceiros mais importantes e da
em 1905 (ela chegaria a 60% em 1922). Diversas necessidade de receitas fiscais (inclusive para
outras reformas de oportunidade implicaram em pagar os custos das guerras coloniais e os da
mudanças nos valores de alguns itens, sempre em manutenção do mais vasto império conhecido na
função das circunstâncias das contas públicas. história).

Sempre propenso a seguir a França nos Curiosamente, coube a um antigo liberal,


terrenos os mais diversos – da filosofia à moda, Joseph Chamberlain, convertido em conservador
ainda que sempre dependente financeiramente no final do século, dar a partida ao movimento
da Grã-Bretanha –, o Brasil também seguiu a pela reforma tarifária, por meio de um famoso
maneira francesa de praticar política comercial, discurso, em maio de 1903, no qual ele atacava
o que, no caso das tarifas, adquiriu contornos o livre comércio e já pedia o estabelecimento de
de retaliação. As práticas brasileiras adotaram uma preferência imperial (CHAMBERLAIN,
o mesmo esquema dual: aos acolhedores, a tari- 1903, 4-7). A campanha foi um desastre para o
fa ‘normal’, aos recalcitrantes, a máxima. Mais partido conservador, colocando os liberais no
adiante, a guerra facilitou a adoção de alíquotas poder por quase vinte anos, mas deixou, talvez, a
mais elevadas em quase todos os países, inclu- semente da futura revisão tarifária protetora, que
sive para compensar a perda de receitas com a começou lentamente, com a guerra, foi se desen-
inflação de preços, que corroia os valores das ta- volvendo setorialmente durante os anos 1920,
rifas específicas. Assim por exemplo, em 1918, para instalar-se resolutamente a partir de 1932.
a França aumentou a tarifa máxima de 10 para
40%, ao passo que a tarifa mínima foi de 5 para Durante o período que antecede a guer-
20%. Não satisfeito, o governo francês começou ra, as tarifas da Grã-Bretanha, junto com as do
ainda a aplicar os licenciamentos de maneira Japão, ainda permanecem as mais baixas de to-
mais extensiva. O Brasil, de sua parte, já contava dos os principais parceiros comerciais do Brasil,
com uma lei do similar nacional desde o início sendo que a Alemanha e a França começam um
do século, o que facilitou a tarefa de contenção lento movimento ascensional. A Argentina con-
da entrada de produtos estrangeiros. segue ultrapassar aos EUA na proteção defensi-
va, com médias respectivas de 25% e 23%, ao
Nesse período, que vai da última déca- passo que o Brasil continua a ser o campeão das
da do século 19 até o início da primeira guerra barreiras alfandegárias, com uma tarifa média de
mundial, o Brasil continuou a exibir as maiores 39%. De maneira geral, desde o início do século
médias tarifárias dentre todos os seus principais 20, os países só aceitam reduzir suas tarifas em
parceiros comerciais, indo de 30% a quase 50% bases bilaterais, na mais estrita reciprocidade,
no leque das receitas de importação, como se obviamente sem a cláusula NMF e com nego-

História e Economia Revista Interdisciplinar 67


A política comercial do Brasil no contexto internacional, 1889-1945

ciações produto a produto, numa estratégia de estrangeira. De fato, como se pode observar na
pequenos movimentos, posto que as alíquotas e tabela 5, em diversos países, as tarifas que so-
as posições dos produtos estavam sempre sendo frem aumento, entre 1913 e 1925, são geralmen-
objeto de alguma revisão oportunista (e obvia- te aquelas aplicadas a produtos manufaturados,
mente defensiva). ao passo que as tarifas gerais permanecem rela-
tivamente estáveis. O movimento é, no entanto,
Durante a guerra, mesmo se os países contraditório posto que, com o aumento das ati-
adotam alíquotas nominais mais elevadas, por vidades industriais internas e das receitas corres-
razões essencialmente fiscais, ocorre uma nítida pondentes de produção e consumo, os governos
diminuição do volume total das receitas, tanto começam a dispor de outras fontes de recursos e
pela diminuição do quantum das importações, passam, assim, a depender menos das receitas de
como em virtude da erosão inflacionária sobre as importação, podendo, portanto, aceitar acordos
tarifas específicas. Ao final do conflito, inclusi- recíprocos de desarme tarifário bilateral com o
ve em função das dívidas públicas e dos demais objetivo de abrir novos mercados aos seus pro-
encargos assumidos pelos governos, não ocorre, dutos industriais e agrícolas.
como eventualmente se poderia esperar, uma di-
minuição do ímpeto arrecadador sobre os movi- As políticas setoriais vão se sofisticando,
mentos das alfândegas. Ao contrário, tão pronto com a adoção de regimes especiais para deter-
os governos puderam tomar as primeiras dispo- minadas indústrias. Dependendo do país, lobbies
sições comerciais no pós-guerra, reiniciou-se o agrícolas ou industriais, atuando via parlamen-
recrudescimento alfandegário, desta vez com a tos ou diretamente mediante pressões sobre os
participação da Grã-Bretanha, que durante mais executivos, atuam decisivamente para revisar as
de meio século tinha permanecido fiel aos prin- categorias tarifárias ou para acoplar novos me-
cípios do livre comércio (inclusive com o apoio canismos defensivos às políticas comerciais. No
dos trabalhadores e do Partido Trabalhista). caso do Brasil, são feitas mudanças em alguns
Tem início, então, aquilo que alguns historiado- itens, ao longo dos anos, bem como, sob pressão
res chamam de ‘desglobalização’ (FINDLAY- de grupos de comerciantes, são introduzidas al-
O’ROURKE, 2007, 429). gumas isenções e franquias especiais a determi-
nadas categorias de bens importados. Em 1919
As barreiras se ampliam, mesmo
ocorre uma tentativa de reforma liberalizante,
com a retomada dos negócios sob iniciativa do ministro da Fazenda Homero
As razões do incremento das defesas Batista, que se defronta, porém, com a oposição
comerciais efetivas após a primeira guerra mun- industrial organizada na Câmara: uma versão
dial – não apenas pela via tarifária, mas mediante mais protecionista da tarifa, patrocinada pelo
outros mecanismos protecionistas – têm basica- deputado Paulo de Frontin, é, contudo, barrada
mente a ver, desta vez, com as políticas indus- no Senado.
triais: levados pelas necessidades do conflito a
construir uma base industrial própria, utilizando Em 1922, além da aplicação da tari-
recursos basicamente nacionais, os países foram fa máxima, elevando a 100% os direitos sobre
se deixando seduzir pelos apelos de seus indus- mercadorias de determinados países, o governo
triais em favor da introdução de barreiras explí- ainda é autorizado a aplicar 20% adicionais ad
citas (e outras menos visíveis) à concorrência valorem, como medida de retaliação em caso
de dumping. Em compensação, fica autorizada

68 História e Economia Revista Interdisciplinar


a aplicação de tarifa diferencial para artigos de democratas livre-cambistas, proclamando a tra-
países que concedem compensações à produção dicional política do partido em favor de uma ta-
brasileira, o que será aproveitado em acordo com rifa voltada unicamente para fins de arrecadação
os EUA. Em 1924, como para confirmar a sem- de rendas para o Estado (ISAACS, 1948, 225).
pre presente criatividade fiscal das autoridades Com a vitória dos republicanos, “a Tarifa pro-
do setor, se tem a introdução de uma taxa de 2% tecionista Fordney-McCumber [1922] foi pro-
para financiar a Caixa de Portos, além de uma mulgada pelo presidente Harding. Logo em se-
“taxa de estatística” de 0,2%. A partir daí se am- guida, os impostos de importação estavam acima
pliam as restrições em caso de comércio desleal, de 40%” (BERNSTEIN, 2008, 350). Ao mesmo
o que nada mais era do que uma imitação do que tempo, porém, a legislação previa um dispositivo
vinham fazendo com maior intensidade e maior flexível, pelo qual se dava ao presidente autori-
rigor na arrecadação os principais parceiros co- dade para revisar as alíquotas para cima ou para
merciais do Brasil. Alguns tratamentos especiais baixo no limite de 50% do valor nominal, sob
não visavam unicamente quem tinha acesso às recomendação de uma Comissão de Tarifas. A
autoridades econômicas: em 1927, o próprio go- despeito de uma violenta campanha dos demo-
verno se premia com disposições tarifárias mais cratas contra a tarifa protetora dos republicanos,
favoráveis, com a redução a 40% dos direitos estes mantiveram, e até exacerbaram, sua posi-
aplicados no caso de importações para o setor ção restritiva pelas duas eleições seguintes, até
público. chegar à famigerada Tarifa Hawley-Smoot de
1930, sancionada pelo presidente Hoover, indi-
Os EUA, numa primeira fase, seguem a ferente aos apelos desesperados de centenas de
tendência inversa, com uma diminuição notável economistas. Um manifesto publicado no dia 5
dos direitos aduaneiros. Com a eleição de Woo- de maio de 1930 no New York Times, assinado
drow Wilson, os democratas introduzem o que por 1.028 economistas – entre eles Irving Fisher,
eles chamam de “tarifa competitiva”. A despeito Frank Taussig e Clair Wilcox –, já alertava para
de uma seção anti-dumping ter sido introduzida as “evidências de que esse tipo de ação levaria
desde 1909, os ímpetos protecionistas são rela- inevitavelmente os demais países a responder na
tivamente contidos: com a introdução da Tari- mesma moeda, levantando tarifas retaliatórias
fa Underwood, em 1913, a média nominal das contra os nossos bens”, ademais do “azedume
alíquotas cai de 40% para 29% (ISAACS, 1948, que uma política de tarifas altas inevitavelmen-
221). Açúcar e lã são acrescentados à lista livre, te injetaria em nossas relações internacionais”
que é estendida também a diversos outros produ- (ISAACS, 1948, 233-34).
tos agrícolas. Segundo um autor, essa tarifa “re-
duziu gradualmente os impostos de importação Nos demais países, a tendência também
a um piso histórico de 16% em 1920” (BERNS- aponta para o aumento da proteção, sobretudo no
TEIN, 2008, 349). caso da França, que revisa constantemente seus
coeficientes de correção sobre os níveis específi-
As eleições de 1920 assistiram nova- cos para contrabalançar os efeitos da inflação e
mente ao confronto entre os republicanos pro- da erosão cambial. Em abril de 1926, as taxas al-
tecionistas – que reafirmavam sua adesão ao fandegárias foram incrementadas em 30%, com
princípio de uma “tarifa protetora”, para a “pre- a duplicação desse aumento em agosto seguinte
servação do mercado doméstico para o trabalho, (ISAACS, 1948, 369). Como diversos acordos
a agricultura e a indústria americanos” – e os

História e Economia Revista Interdisciplinar 69


A política comercial do Brasil no contexto internacional, 1889-1945

comerciais reduziam o impacto da proteção efe- l’Échange International (1929), eles fizeram tra-
tiva, os franceses começaram a utilizar extensa- duzir e publicar no Brasil (LOVE, 1996). Oito
mente o mecanismo das cotas: depois de 1931, as décadas depois, houve mudança de legitimador
tarifas já não mais presidiam à política comercial teórico – em favor de um coreano de Cambridge,
francesa, reduzida aos controles quantitativos. Ha-Joon Chang (2002, 2004, 2007, 2009) –, mas
os argumentos permanecem substancialmente si-
A tabela 6 ilustra a situação real dos milares aos que já tinham sido enunciados por
dispositivos tarifários a serviço dos principais Friedrich List um século e meio atrás.
parceiros do Brasil na década de 20 (mas o Ja-
pão, repita-se, figura na tabela apenas a título Curiosamente, o próprio Manoïlescu re-
ilustrativo). A Grã-Bretanha, como se constata, conhecia que List “jamais recomendou a adoção
movimenta-se gradualmente de uma média infe- de uma proteção permanente. Mais ainda, List
rior a 5% no período anterior à guerra para uma combateu o protecionismo, enquanto regime
faixa próxima do dobro desse valor. Alemanha e permanente de apoio à produção nacional. O seu
França seguem tendência similar, ao passo que sistema preconiza a proteção provisória (instruti-
os EUA, a despeito das altas tarifas nominais, va) apenas para as indústrias e apenas para certos
apresentam uma média tarifária mais moderada países que se encontram numa certa fase de sua
no decurso dos anos 1920, com um valor próxi- evolução econômica e social” (1929, 6). Em ou-
mo de 14% para os anos republicanos. Tanto o tros termos, a proteção seria a exceção ao princí-
Brasil quanto a Argentina prosseguem na esca- pio geral do livre comércio. Como sempre acon-
lada tarifária, embora as médias possam parecer tece nesses casos, a justificativa ‘científica’ para
reduzidas em função do decréscimo de arreca- a exceção temporária acabou tornando-se a regra
dação em decorrência da perda de valor real das permanente das políticas comerciais no Brasil e
tarifas específicas. em quase todos os países latino-americanos pelo
meio século seguinte.
De fato, como se pode constatar pela ta-
bela 7, o valor nominal para as tarifas brasileiras Descida para o abismo
durante os anos 1920 foi de 31,3%, confirmando protecionista: a guerra por
o ‘sucesso’ político dos industriais brasileiros. outros meios
Aliás, no último ano registrado na tabela, em Ao ter início a crise que mergulharia o
1928, é criado o Centro das Indústrias de São mundo em profunda depressão por quase uma
Paulo, sob a presidência de Roberto Simonsen, década, o Brasil ainda manejava a mesma tarifa
um dos paladinos da proteção comercial no aduaneira que tinha sido aprovada pelo ministro
Brasil, além de ser, como é conhecido, um dos Joaquim Murtinho em 1900, acrescida das revi-
mais intelectualizados defensores de uma polí- sões de ocasião a que protecionistas (muitos) e
tica protecionista para o país, com base no que liberais (poucos) impulsionaram de maneira algo
ele considerava serem, prima facie, evidências errática ao longo de três décadas. Ainda que de
do protecionismo tarifário nos países pioneiros modo mais instintivo do que fundamentadas em
da industrialização protecionista. Os industriais dados econômicos concretos, as novas autori-
paulistas, durante a década seguinte, se dariam dades econômicas buscaram preparar o Brasil
muito bem com as teorias protecionistas do eco- para o que aparecia, tão somente, como uma
nomista romeno Mihail Manoïlescu, cujo livro inversão temporária de ciclo. De fato, no início
mais famoso, Théorie du Protectionnisme et de

70 História e Economia Revista Interdisciplinar


se pensou que a recuperação poderia voltar em como fonte de recursos para o Tesouro, sendo
pouco tempo: em janeiro de 1930, o presidente substituída por mecanismos de retenção, como
do City Bank de New York demonstrou confian- as restrições quantitativas (cotas) e o controle
ça na capacidade de recuperação de Wall Street, qualitativo, tipicamente a obrigatoriedade de
acreditando que a saída de capitais da praça ame- licenciamento prévio para importações, regime
ricana poderia contribuir para o restabelecimen- que perduraria por décadas (Idem).
to do equilíbrio mundial (THE ECONOMIST,
15.02.1930, 355). Num contexto de restrições de todo o
tipo – entre 1929 e 1932, o comércio interna-
Não obstante, tão pronto os primeiros cional sofreu uma contração de 60% –, o Brasil
efeitos da quebra da bolsa de Nova York se fize- até que não foi o mais agressivo dos protecionis-
ram sentir sobre os preços das commodities, em tas, destacando-se, nesse particular, a Alemanha
especial do café, o governo provisório – saído da nazista, que já em meados da década consegue
revolução de outubro de 1930 – procurou adap- ultrapassar a média tarifária brasileira. A tabela
tar-se às novas condições ambientes do sistema 9 permite confirmar, por outro lado, o vigor da
internacional. Ao lado da centralização cambial, escalada protecionista da Grã-Bretanha, sobre-
o governo deu início aos preparativos para a re- tudo a partir do estabelecimento da preferência
visão da antiga Tarifa aduaneira, fixando crité- imperial, consagrada na conferência de Ottawa
rios que deveriam orientar tal reforma. Apesar de 1932. A consequência mais evidente foi o au-
do decreto de autorização datar de 1931, a nova mento da dependência recíproca das colônias e
tarifa só foi adotada em meados de 1934, já sob dominions em relação à metrópole – as impor-
a gestão do ministro Oswaldo Aranha à frente da tações britânicas da Commonwealth passam de
Fazenda, quando também foi criado o Conselho 29% em 1929 a 40% em 1938, ao passo que suas
Federal do Comércio Exterior (sob a presidência exportações saltam de 43,5% para 50% no mes-
de um representante do Itamaraty). mo período –, o que é acompanhado, porém, de
um não desejado aumento nos preços de consu-
A atualização da nomenclatura foi feita mo e, portanto, dos níveis de inflação.
pelo aumento do número de itens da pauta de
1.070 para 1.897; houve a manutenção do me- Excluída a Alemanha nazista, que pra-
canismo de direitos específicos (réis/kg) e as po- ticava deliberadamente a mais pura autarquia
sições com direitos ad valorem foram reduzidas econômica, a Grã-Bretanha disputa com o Brasil
a apenas 7; como no modelo francês original, a preeminência nesse concurso de tarifas eleva-
foram fixados direitos gerais e mínimos e o ní- das, ambos perseguidos de perto pela Argentina e
vel médio de proteção dos direitos aduaneiros pela França. Numa aparente defesa do Brasil, po-
ficou em torno de 35%. A medida mais contro- de-se dizer que seus instintos defensivos aponta-
versa, quiçá, tenha sido a extinção da cobrança ram para baixo, ao contrário da maior parte dos
em ouro, o que certamente atuou no sentido da seus parceiros, mas esse declínio, obviamente,
redução das receitas aduaneiras, já que o instru- foi totalmente involuntário, sendo mais o resul-
mento permitia a manutenção do valor real da tado de uma má gestão da política comercial, em
tarifa, em vista da crescente desvalorização da especial a tarifária, do que um surto repentino e
moeda nacional (Silva, 1969, 224-26). De fato, benfazejo de liberalismo comercial. De forma
como se pode constatar por meio da tabela 8, a geral, a importância das tarifas tende a diminuir
partir de 1934, a tarifa foi perdendo importância em todos os países, sendo elas substituídas por

História e Economia Revista Interdisciplinar 71


A política comercial do Brasil no contexto internacional, 1889-1945

mecanismos de licenciamento prévio, como, no


caso do Brasil, a criação da Carteira de Exporta-
ção e de Importação do Banco do Brasil, a partir
de 1941. O quadro analítico 10 resume, para o
período 1889-1945, os principais elementos ins-
titucionais da política comercial brasileira, vista
em perspectiva evolutiva.

Por outro lado, a despeito de todo o mal


que se disse – e que continua sendo repetido ain-
da hoje – a respeito da Tarifa Hawley-Smoot,
o movimento nos EUA também caminhou no
sentido do protecionismo mais exacerbado, so-
bretudo a partir da adoção do Reciprocal Trade
Agreement Amendment, que, em junho de 1934,
concedeu mandato ao presidente para negociar
acordos de redução recíproca de tarifas até o li-
mite de 50% das alíquotas fixadas na Hawley-
Smoot (ISAACS, 1948, 250-51). Assim, no final
da década, a média tarifária dos EUA, medida
pelas receitas de importação, segundo a metodo-
logia Clemens-Williamson, já era, a mais baixa
dos parceiros comerciais mais importantes do
Brasil (que também se beneficiou de um acordo
de reciprocidade em 1935, com base na cláusula
NMF).

Depois de todos os pecados protecionis-


tas praticados no terreno comercial e cambial ao
longo dos anos 1930, os EUA evoluem progres-
sivamente para posições decididamente multila-
teralistas, aproveitando-se, inclusive, da situação
de fraqueza da Grã-Bretanha para dela exigir,
durante a guerra, o término de práticas discrimi-
natórias e futuras concessões comerciais. Por um
acordo concluído em fevereiro de 1942, os EUA
obtêm da Grã-Bretanha a promessa de elimina-
ção da preferência imperial, depois do conflito,
“o que para [o Secretário de Estado] Cordell Hull
tinha sido, sob todos os pontos de vista, um ob-
jetivo de política externa mais importante do que
a contenção do poder totalitário” (JOHNSON,
1998, 310).

72 História e Economia Revista Interdisciplinar


Bibliografia

Abreu, M. de P., ‘The political economy of protectionism in Argentina and Brazil, 1880-1930’,
in P. H. Lindert, J. V. Nye e J.-M. Chevet (eds.), Political Economy of Protectionism and Commerce,
Eighteen-Twentieth Centuries, Proceedings of the Eleventh International Economic History Congress,
Section B7. Milan, September 1994

Almeida, Paulo Roberto de. Formação da Diplomacia Econômica no Brasil: as relações econô-
micas internacionais no Império (São Paulo: Senac-SP, 2005)

Bernstein, William J. A Splendid Exchange: How Trade Shaped the World. New York: Atlantic
Monthly Press, 2008

Bouças, Valentim F. História da Dívida Externa da União. Rio de Janeiro: Conselho Técnico de
Economia e Finanças do Ministério da Fazenda; Jornal do Comércio de Rodrigues & C., 1946; vol. XV
da série “Finanças do Brasil”.

Buescu, Mircea. Evolução Econômica do Brasil. 2ª ed.; Rio de Janeiro: APEC, 1974)

Bulmer-Thomas, Victor. The economic history of Latin America since independence. 2a. ed.;
Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

Clemens, Michael; Williamson, Jeffrey: A Tariff-Growth Paradox?: Protection’s Impact the


World Around, 1875-1997. NBER Working Paper No. 8459, September 2001. Import Duties over im-
ports, 35 countries, 1865-1950; available: http://www.nber.org/papers/w8459)

Chamberlain, Joseph. “I believe in a British Empire and I do not believe in a Little England”,
Birmingham, 15.05.1903. In: Brian MacArthur (Ed.) The Penguin Book of Twentieth-Century. New
York: Penguin, 1992, p. 4-7

Chang, Ha-Joon. Kicking Away the Ladder: Development Strategy in Historical Perspective.
Londres: Anthem Press, 2002

———. Chutando a Escada: estratégia de desenvolvimento em perspectiva histórica. São Pau-


lo: UNESP, 2004. ———. Bad Samarithans: The Myth of Free Trade and the Secret History of Capi-
talism. Londres: Bloomsbury, 2007. ———. Maus Samaritanos: o mito do livre-comércio e a história
secreta do capitalismo.Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

Findlay, Ronald; O’Rourke, Kevin H. Power and Plenty: Trade, War, and the World Economy
in the Second Millenium. Princeton: Princeton University Press, 2007.

IHGB - Instituto Historico e Geographico Brasileiro. Diccionario Histórico, Geographico e Eth-


nographico do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1922; Introducção Geral, Primeiro Volume

Johnson, Paul. Tempos Modernos: o mundo dos anos 20 aos 80. 2a. ed.; Rio de Janeiro: Instituto

História e Economia Revista Interdisciplinar 73


A política comercial do Brasil no contexto internacional, 1889-1945

Liberal, 1998.

Mihail Manoïlescu, Théorie du Protectionnisme et de l’Échange International. Paris: Marcel


Giard, 1929.

Isaacs, Asher. International trade: Tariff and Commercial Policies. Chicago: Richard D. Irwin,
1948.

Love, Joseph. Crafting the Third World: Theorizing Underdevelopment in Rumania and Brazil
. Stanford, Calif.: Stanford U. Press, 1996.

Silva, Gerson Augusto da. ‘La Reforma Aduanera en Brasil’. In: Macario, Santiago ET ali.
Hacia una Tarifa Externa Común en América Latina. Buenos Aires: BID-INTAL, 1969, p. 215-255
Taussig, Frank W. The Tariff History of the U.S.A. New York: Capricorn, 1964.

Thornton, Mark; Ekelund Jr., Robert B. Tariffs, Blockade and Inflation: The Economics of the
Civil War. Wilmington, DE: Scholarly Resources, 2004.

Williamson, Jeffrey G. ‘The evolution of global labor market since 1830’. In: O’Rourke, Kevin
and Williamson, Jeffrey. Globalization and History: The Evolution of a 19th Century Atlantic Economy.
Massachusetts: The MIT Press, 1999.

74 História e Economia Revista Interdisciplinar


Tabelas e quadros analíticos:

1. Reformas tarifárias no Império, 1844-1887


Ano Tarifa No. total de No. de itens ad Maior nível ad

(Decreto no.) categorias valorem valorem


1844 Manuel Alves Branco (376) 2.162 46 60%
1857 J. M. Wanderley (1.914) 1.704 75 50%
1860 A. M. da Silva Ferraz (2.004) 1.530 313 50%
1869 Visconde de Itaboraí (4.343) 1.275 236 50%
1874 Visconde de Rio Branco (5.580) 1.277 215 50%
1881 J. A. Saraiva (8.360) 1.129 88 50%
1887 J. Belisário S. de Souza (9.746) 1.104 91 60%
Fonte: Silva, 1969, p. 222.

2. Tarifas Aduaneiras Comparadas, 1865-1889


(Média tarifária a partir de receitas de importações sobre importações totais)
Ano G.-B. EUA Alem. França Japão Argent. Brasil
1865 8,3 33,7 3,7 4,7 4,9 17,5 25,7
1870 7,1 40,9 3,7 2,9 1,8 24,6 31.0
1872 5,7 38,5 3,7 3,1 5,0 23,4 37,9
1880 4,7 30,1 5,8 5,2 7,1 26,4 37,2
1885 5,5 30,3 7,4 7,2 7,2 25,1 36,2
1887 5,6 29,4 8,1 8,1 9,3 30,0 58,2
1888 5,1 28,4 8,7 8,8 7,0 28,3 47,6
1889 4,7 27,5 8,7 8,1 7,1 28,3 41,4
Fonte: Clemens-Williamson, 2001.

3. Reformas tarifárias ao início da República, 1890-1900


Ano Tarifa No. total de No. de itens ad Maior nível ad
(Decreto no.) categorias valorem valorem
1890 Rui Barbosa (836) 1.085 89 60%
1896 Rodrigues Alves (2.261) 1.085 89 84%
1897 Bernardino de Campos (2.743) 1.071 116 200%
1900 Joaquim Murtinho (3.617) 1.070 142 100%
Fonte: Silva, 1969, p. 222.

História e Economia Revista Interdisciplinar 75


A política comercial do Brasil no contexto internacional, 1889-1945

4. Tarifas Aduaneiras Comparadas, 1890-1913


(Média tarifária a partir de receitas de importações sobre importações totais)
Ano G.-B. EUA Alem. França Japão Argent. Brasil
1890 4,8 26,6 8,8 8,0 5,4 33.4 39,4
1893 4,9 23,6 8,5 11,2 3,5 28,9 24,2
1896 4,8 20,7 10,1 10,7 2,6 23,9 35,4
1897 4,8 22,1 9,4 10,8 2,4 25,7 41,0
1900 4,6 27,0 8,1 8,8 5,8 26,5 30,1
1903 6,4 26,9 8,5 8,4 5,2 24,9 38,9
1905 6,4 25,1 8.8 8,6 7,0 23.9 49,3
1907 5,1 23,4 7,4 8,2 9,5 23,0 44,6
1910 4,5 21,0 7,4 8,2 7,8 21,6 41,9
1913 4,4 17,7 6,3 9,2 10,1 20,8 34,2
Fonte: Clemens-Williamson, 2001.

5. Tarifas Gerais e de Manufaturados, 1913 e 1925

Manufaturados Todos os bens

1913 1925 1913 1925

Alemanha 13 20 12 12
Argentina 28 29 26 26
Bélgica 9 15 6 8
Estados Unidos * 44 (25) 37 33 (17) 29
França 20 21 18 12
Grã-Bretanha - 5 - 4
Hungria 18 27 18 23
Índia 4 16 4 14
Itália 18 22 17 17
Países Baixos 4 6 3 4
Suíça 9 14 7 11
Tchecoslováquia 18 27 18 19
Fonte: Findlay-O’Rourke, 2007, 444; EUA * (equivalente ad valorem)

76 História e Economia Revista Interdisciplinar


6. Tarifas Aduaneiras Comparadas, 1920-1930
(Média tarifária a partir de receitas de importações sobre importações totais)
Ano G.-B. EUA Alem. França Japão Argent. Brasil
1920 7,7 6,4 --- 3,1 3,2 9,5 16,5
1922 13,0 14,7 --- 6,4 6,2 12,5 19,0
1924 9,4 14,9 3,9 3,2 4,6 15,0 20,5
1926 8,3 13,4 9,4 2,5 6,2 15,5 21,5
1927 8,8 13,8 8,9 4,7 6,6 17,5 25,0
1928 9,3 13,3 7,9 6,6 7,1 17,0 25,5
1929 9,7 13,5 8,2 7,5 6,7 17,0 26,0
1930 11,5 14,8 10,5 8,5 7.3 16,5 26,5
Fonte: Clemens-Williamson, 2001.

7. Brasil: média tarifária nominal aplicada, 3.8. Brasil: peso dos impostos de importação,
1919-1928 1883-1950
Ano Tarifa % Ano Tarifa % Períodos % sobre valor % sobre as recei-
1919 21,8 1924 32,1 das importações tas da União
1920 24,0 1925 32,1 1883-1892 28 47
1921 39,0 1926 35,0 1893-1902 24 58
1922 27,0 1927 35,1 1903-1912 28 54
1923 31,5 1928 35,7 1913-1922 32 36
Fonte: Silva, 1969, p. 223. 1923-1932 37 37
1933-1942 23 28
1943-1950 7 8
Fonte: Silva, 1969: 225

9. Tarifas Aduaneiras Comparadas, 1931-1940


(Média tarifária a partir de receitas de importações sobre importações totais)
Ano G.-B. EUA Alemanha França Japão Argentina Brasil
1931 14,1 17,8 17,1 13,8 9,0 26,5 30,8
1932 19,4 19,6 23,8 17,5 7,6 27,2 31,6
1933 24,0 19,8 25,5 15,4 6,0 25,7 30,8
1935 24,5 17,5 30,1 16,9 6,2 23,2 22,9
1937 20,6 15,6 29,0 16,4 5,2 21,4 22,1
1938 24,1 15,5 33,4 16,6 6,6 22,5 20,3
1939 25,6 14,4 32,2 21,7 5,2 18,9 20,7
1940 22,7 12,5 28,2 16,1 4,4 15,9 19,7
Fonte: Clemens-Williamson, 2001.

História e Economia Revista Interdisciplinar 77


A política comercial do Brasil no contexto internacional, 1889-1945

10. Brasil: evolução da política comercial, 1889-1945

Data Medida Características

1889 (26.01) Tarifa João Alfredo Última tarifa do Império, de tipo móvel, acompanhando a variação do
câmbio;

1890 (10.03) Tarifa Rui Barbosa Introdução da quota-ouro: uma parte do imposto teria de ser paga em
moeda forte: originalmente 2%, que subiu para 10% em 1898, para
25% em 1900, para 35% em 1905 e 60% em 1922;

1890 (11.10) Rui Barbosa Reforma tarifária: cerca de 1.100 itens, a maior parte a taxas fixas, com
aplicação de tarifa adicional ad valorem a 89 deles; nível mais elevado
ad valorem: 60%;
1896 (20.04) Tarifa Rodrigues Alves Tarifa altamente protecionista: supressão do adicional, mas definição
de duas pautas, uma geral e outra mínima, para utilização de acordo
com conveniências da política comercial; nível mais elevado ad va-
lorem: 84%;
1897 (04.03) Bernardino de Campos Mudanças na pauta, com redução em certos itens e aumento consid-
erável em outros; nível mais elevado ad valorem: 200%;
1897 (17.12) Bernardino de Campos Revisão da tarifa anterior, para aumentar a receita geral das alfândegas,
via redução de vários itens;

1899 (22.11) Tarifa Joaquim Murtinho Implementada em 1900, a Tarifa Murtinho elevou bastante os direitos
de importação, com objetivos, porém, essencialmente fiscais; aplicação
da tarifa ad valorem a 114 itens, sobre 1.070, sendo o nível mais eleva-
do 100%; preservou a dupla pauta: aplicação da tarifa mínima ao trata-
mento de favor e tarifa em dobro como arma de represaria comercial;
1911 e 1925: isenções e franquias especiais a determinadas catego-
1911 Revisões e reformas rias de bens ou de importadores; eliminação dos regimes especiais em
1918 parciais da Tarifa 1927;
1918 Revisão parcial dos 1912 e 1918: mudanças nos valores de alguns itens;
1930 regimes aplicados ao 1922: além da aplicação da tarifa máxima, elevando a 100% os di-
comércio exterior reitos sobre mercadorias de determinado país, pode-se aplicar ainda
20% adicionais, como medida de retorsão (anti-dumping); aplicação de
tarifa diferencial para artigos de países que concedem compensações à
produção brasileira;
1924: introdução de taxa de 2% para a Caixa de Postos e de taxa de
estatística de 0,2%;
1925-1927: aplicação de restrições em caso de comércio desleal;
1927: redução a 40% dos direitos aplicados, para importações do setor
público;
Decreto autorizando a revisão geral na Tarifa aduaneira, fixando crité-
1931 (08.09) Governo Provisório rios que deveriam orientar a reforma; monopólio de compra de divisas
e regime de controle cambial;
Atualização da nomenclatura, aumentando o número de itens de 1.070
1934 (09.06) Oswaldo Aranha para 1.897; manutenção de direitos específicos (réis/kg); redução para
7 as posições com direitos ad valorem; direitos gerais e mínimos; ex-
tinção da cobrança em ouro; nível médio de proteção dos direitos ad-
uaneiros era de 35%;
Medidas de liberalização e de restrição no mercado de divisas e in-
1939 Decretos de Vargas trodução do sistema de licenças prévias para importação; revisão dos
1941 direitos em função da mudança de moeda; atuação intensa do Conselho
Federal do Comércio Exterior, num sentido restritivo da saída de divi-
sas e garantidor do abastecimento interno.

Fontes: Paulo Roberto de Almeida, Formação da Diplomacia Econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império (2ª ed.; São
Paulo: Senac: Brasília: Funag, 2005, Quadro 25.1, p. 579-581), com base em: Afonso de Toledo Bandeira de Mello, Politica Commercial do Brasil. Rio
de Janeiro: Typ. do Departamento Nacional de Estatística, 1933; Gerson Augusto da Silva, Estudos Aduaneiros. Brasília: Ministério da Fazenda-Escola
de Administração Fazendária, 1983; Hildebrando Accioly, Actos internacionaes vigentes no Brasil (Rio de janeiro: Pongetti, 1937, 2 v.

78 História e Economia Revista Interdisciplinar


A Fazenda Pau d’Alho de Campinas:
as cadernetas como registros da contabilidade
dos “colonos” (1927-1931) 1

Rogério Naques Faleiros


Professor Adjunto do Departamento de Economia da Universidade
Federal do Espírito Santo
rogerionaques@yahoo.com.br

Resumo
A utilização das cadernetas como forma de controle da contabilidade dos colonos nas fazendas foi regularizada pela Lei 1.299,
de 27 de dezembro de 1911, a conhecida Lei do Patronato Agrícola, que tinha como orientação a defesa dos interesses dos
trabalhadores, orientação tomada em função das pressões internacionais exercidas por outros países (notadamente Itália e Espanha)
que reclamavam melhores condições de vida aos trabalhadores imigrantes. Após os registros dos débitos e créditos dos colonos as
cadernetas eram registradas em Cartório, sendo as anotações lá contidas transformadas em documento público reconhecido pelo
Tabelião. A partir de pesquisa realizada no Centro de Memória da UNICAMP (CMU), objetivamos discutir as condições de trabalho
e as formas de remuneração dos colonos que trabalharam na fazenda Pau d’Alho, em Campinas, entre 1927 e 1931, destacando os
arranjos efetivados por ocasião da grande crise mundial, promovendo assim o debate com a bibliografia sobre o tema.

Palavras-Chave: Cafeicultura, Crise de 1929, colonos.

Abstract
This work investigates the use of passbooks as a way to control the accounts of the “farm laborers”. This use was regulated by
law 1,299 of 27 December 1911, in order to defend the workers´ interests. It came about through international pressures from
European countries (notably Italy and Spain) who were demanding better living conditions for their migrant workers. The debits
and credits of the workers were recorded in the public record offices and were transformed into a public document recognized by the
Notary. Through research conducted at the in Centro de Memória da UNICAMP (CMU), we intend to discuss the working conditions
and remuneration system of the “workers” from Pau d’Alho plantation Farm, Campinas, between 1927 and 1931. Highlighting the
arrangements in the context of the great economic crisis, we hope to promote the debate with the existing literature on the subject.

Keywords: Coffee economy, Crisis of 1929, “colonos”

1
Versão modificada dste texto foi apresentado no I Seminário sobre o
1Café. História
Versão e Cultura
modificada Material,
do texto realizado
que foi em Itu/SP,
apresentado em 2006. sobre o Café. História e Cultura Material, realizado em Itu/SP, em 2006.
no I Seminário

História e Economia Revista Interdisciplinar 79


A Fazenda Pau d’Alho de Campinas:as cadernetas como registros da contabilidade dos “colonos” (1927-1931)

N
este artigo examinaremos uma docu- cretário da Agricultura e, entre suas atribuições,
mentação que julgamos muito impor- destacamos:
tante para o debate sobre as condições
de trabalho e de remuneração dos colonos nas - Promover por todos os meios ao seu al-
fazendas de café. Trata-se de vinte Cadernetas cance a fiel execução do decreto federal n. 6.437,
de Colonos da Fazenda Pau d’Alho registradas de 27 de março de 1907, e mais disposições so-
entre os anos de 1929 e 1931 que nos fornecem bre colonização e imigração do estado, procuran-
valiosas informações a respeito das condições de do, além disso, resolver, por meios “suasórios”
trabalho na fazenda, da composição da remune- quaisquer dúvidas que por ventura surjam entre
ração, do total recebido, dos gastos e dos saldos - os operários agrícolas e seus patrões;
o que nos permite ter uma melhor visão sobre as
- Intentar e patrocinar as causas para co-
possibilidades de ascensão social a partir do tra-
brança de salários agrícolas e para o fiel cum-
balho nas lavouras de café em Campinas. Nem
primento dos contratos nos termos da legislação
todas as cadernetas eram de colonos, algumas
vigente;
eram de camaradas que prestaram serviço por
um ano ou alguns meses e não necessariamente - Fiscalizar as cadernetas dos operários
na lavoura de café; em apenas uma caderneta a agrícolas, afim de verificar si estas se revestem
contabilidade cobria um período de quatro anos, das formalidades prescritas pela lei federal n.
prazo geralmente praticado pelos contratos la- 6.347 de 27 de março de 1907;
vrados em cartório, mas recorrentemente as ca-
dernetas pesquisadas cobriam o período entre se- - Fiscalizar as agências e sub-agências de
tembro de 1929 e setembro de 1931. Partiremos venda de passagens e de câmbio aos operários
agora à análise destas cadernetas. agrícolas;
As cadernetas custavam aos colonos
- Levar ao conhecimento das autoridades
1$5002 e na parte inicial da brochura de capa
competentes as queixas dos operários agrícolas
dura constava obrigatoriamente a lei que regu-
relativamente a atentados contra sua pessoa, fa-
lava a utilização desta forma de controle dos
mília e bens;
haveres e deveres da relação fazendeiro-colono.
Tratava-se da Lei n. 1299, de 27 de dezembro - Promover a organização e fiscalizar o
de 19113, a Lei do Patronato Agrícola, aprovada funcionamento de cooperativas entre os operá-
por Manoel Joaquim de Albuquerque Lins, “pre- rios agrícolas para assistência médica, farmacêu-
sidente” do estado de São Paulo naquela data. tica e ensino primário.
O Patronato Agrícola4 seria subordinado ao Se-
2 Este valor foi lançado como “dever” aos colonos sob a discrimi- Como documentos civis as cadernetas
nação “caderneta”, entretanto, segundo a Lei 1.299, capítulo II, as
cadernetas deveriam ser fornecidas gratuitamente pela “Agência Offi- só tinham validade jurídica após o registro nas
cial de Collocação” aos imigrantes em seu primeiro estabelecimento, o
que demonstra que os colonos por nós pesquisados já estavam a algum notas do Tabelião, o que, segundo a Lei 6.437,
tempo trabalhando na lavoura já que em todos consta o débito de 1$500
referente á caderneta.
deveria ser feito gratuitamente. As cadernetas da
3 A Lei n. 1.299 visava cumprir em nível estadual o Decreto Federal Fazenda Pau d’Alho foram registradas nas notas
6.437, de 27 de março de 1907, assinado pelo então presidente Affonso
Penna, que “Aprova o regulamento para a execução das leis 1.150, de do 4º Ofício Civil de Campinas e tal registro era
05 de janeiro de 1904 e n. 1.607, de 29 de dezembro de 1906”, referen-
tes a dívidas provenientes de salários de trabalhadores agrícolas. In: feito no Termo de Abertura e após o lançamento
Caderneta de Colonos da Fazenda Pau d’Alho – Campinas. Fundo do
Tribunal de Justiça de Campinas, Cx. 1, livros 01-20. Arquivos Históri- dos débitos e créditos dos trabalhadores, formali-
cos – Centro de Memória – UNICAMP. “tornar efetivas as leis decretadas pela União Federal e pelo Estado de
4 O Patronato Agrícola foi fundado em 1911 e tinha como finalidade S.Paulo em favor do imigrante e outros operários agrícolas”.   

80 História e Economia Revista Interdisciplinar


zando-se os números constantes na contabilidade sentido, visando um melhor controle das rela-
e caso existissem saldos a serem liquidados futu- ções de trabalho e da alocação da mão-de-obra,
ramente a própria caderneta se apresentava como foi criada em 1906 a Agência Oficial de Colo-
um “título de dívida”, segundo o artigo quarto cação, desde então, responsável pelos destinos
desta mesma lei. Era, no final das contas, o Ta- dos imigrantes que chegavam à Hospedaria e lá
belião que sacramentava a “oficialidade” de tal passavam os seus oito primeiros dias no Brasil.
documento. Existia também a Lei 673, de 09 de setembro de
1899, que garantia o transporte da Hospedaria
Acreditamos que a legislação que re- até a estação de trem mais próxima à fazenda, e
gulava as cadernetas possuía um duplo sentido. em 1907 foi criada a Inspetoria da Imigração do
Primeiramente deve-se lembrar que em 26 de Porto de Santos cuja finalidade era recepcionar
março de 1902 o governo italiano publicou o os imigrantes recém chegados da viagem. Assis-
“Decreto Prinetti”, proibindo a imigração subsi- tia-se no início do século XX a consolidação de
diada de trabalhadores italianos para as lavouras todo um aparato institucional para receber, dis-
do Brasil mediante as inúmeras denúncias das tribuir e transportar os trabalhadores do porto de
péssimas condições de vida que estes trabalha- Santos às lavouras de café, num grande esforço
dores encontravam nas colônias. No mesmo sen- do poder público para viabilizar esta atividade
tido publicou-se na Espanha o “Real Decreto” de econômica5. Neste contexto insere-se a criação
26 de agosto de 1910, o que significa dizer que das cadernetas útil “retrato” da situação do tra-
dadas as condições o governo brasileiro e o pau- balho em São Paulo.
lista encontravam obstáculos cada vez maiores
para angariar as massas de trabalhadores neces- Evidentemente, tais medidas, além de
sárias ao complexo cafeeiro. uma resposta das autoridades federais e estadu-
ais frente aos abusos cometidos, tinham como
Talvez visando reverter este cenário objetivo garantir um fluxo contínuo e significa-
e tentando garantir a continuidade da imigração tivo de mão-de-obra para a economia cafeeira,
em grande escala uma melhor regulamentação e, mais do que isso, manter os níveis de oferta
das relações de trabalho na lavoura foi buscada de trabalho superiores aos níveis da demanda,
pelos governos federais e estaduais. Com as leis impedindo-se assim a prática de salários mais
acima citadas objetivava-se ter um controle mais elevados, como poderíamos supor em um con-
próximo das condições de remuneração a partir texto de escassez de mão-de-obra (VANGELIS-
da emissão das cadernetas e de sua aceitação TA, 1991, 155) 6. Os arranjos institucionais do
como comprovante básico da contabilidade dos início do século XX, entre estes as cadernetas,
colonos, tentando com isso evitar ou pelo menos possuíam então uma dupla função: “melhorar”
minimizar os desmandos que certamente ocor- as formas de gerenciamento e alocação da mão-
riam em uma sociedade cujo passado sempre 5 Em 1911, as tentativas de institucionalizar os serviços de imigração
e de trabalho culminaram com a criação do DET – Departamento Esta-
desvalorizara o trabalho e que certamente faziam dual do Trabalho, que englobava a Inspetoria de Imigração no porto de
Santos,  a Hospedaria dos Imigrantes e a Agência Oficial de Colocação. 
ecos no exterior. Cf. (PETRONE,1978,113).
6 Se bem que Chiara Vangelista, ao fazer uma série de exercícios
quantitativos sobre a oferta, demanda e salários no estado de São Paulo
Com esta legislação os trabalhadores no final do século XIX e início do XX conclui ser impossível fazer uma
relação direta e proporcional entre o número de entrada de imigrantes
armavam-se de um documento público, por su- e os níveis salariais praticados. Segundo a autora “o incremento da
mão-de-obra não parece corresponder a uma queda proporcional do
posto registrado em cartório, que comprovava salário nominal das ocupações mais ligadas à organização da fazenda;
do mesmo modo, o incremento da oferta não apresenta relações signifi-
o real andamento dos deveres e haveres. Neste cativas com o aumento dos salários nominais”.

História e Economia Revista Interdisciplinar 81


A Fazenda Pau d’Alho de Campinas:as cadernetas como registros da contabilidade dos “colonos” (1927-1931)

de-obra visando o reconhecimento internacional neira os colonos, criando mecanismos que na


das “boas” condições de trabalho nas lavouras de verdade muito mais incentivavam a desistência
café e manter os fluxos populacionais necessá- do trabalho - ou até mesmo a própria fuga - ao
rios para a viabilidade do café, fluxos estes con- invés de fixar a mão-de-obra na fazenda. Nas pri-
sumidos em grande parte pelo avanço da fron- meiras experiências com o trabalhador livre as
teira agrícola. Do ponto de vista do trabalhador despesas iniciais com transporte, aluguéis, mé-
este esforço de legislação parecia garantir um dicos e farmácia, criavam débitos impossíveis de
conjunto de direitos anteriormente não existen- serem pagos, o que comprometia a futura renda
tes, já para os fazendeiros fornecia garantias de dos colonos e abria espaço para os desmandos
uma relação de trabalho mais estável, pois com a dos fazendeiros e o não reconhecimento de uma
abertura das cadernetas e o registro em cartório relação de trabalho estabelecida entre iguais,
criavam-se instrumentos que coibiam a migração aproximando as condições do trabalho livre às
dos colonos para as regiões de fronteira. condições da escravidão. Evidentemente, após a
imigração subsidiada e todo o conjunto de leis
Além dos artigos e das legislações acima citadas, as dívidas diminuíram sobrema-
federal e estadual, as cadernetas também conti- neira, mas, endividamentos contraídos ao longo
nham um contrato de trabalho, elaborado pela de quatro anos eram possíveis e mesmo recorren-
Agência de Colocação. Segue abaixo um modelo tes apesar dos subsídios. Talvez visando superar
de contrato: este entrave os contratos de caderneta evitavam
endividamentos de grande monta, mais um indí-
Os artigos acima citados compunham
cio de que a função primordial deste tipo de con-
o contrato de trabalho da caderneta, homogenei-
trato era fixar a mão-de-obra e o cumprimento
zando as relações submetidas a tais cláusulas, se
dos prazos estabelecidos e não necessariamente
bem que, em linhas gerais, os contratos da ca-
melhorar as condições de trabalho no campo.
derneta pouco diferem dos contratos encontra-
Ao limitar-se a possibilidade de empréstimos ao
dos nos cartórios onde também se definiam as
colono o fazendeiro também se protegia pois se
formas de acesso a partes de terras destinadas
o colono debandasse as perdas seriam minimi-
ao plantio de alimentos, o pasto para animais,
zadas; temos que pensar que tratava-se de um
a remuneração pelo trato de cada mil pés, quais
contexto de grande mobilidade de mão-obra,
culturas poderiam ser cultivadas intercaladamen-
sobretudo nas regiões de mais antigo desenvol-
te, as multas rescisórias e, no caso das parcerias,
vimento do café, e que frente a esta característica
a formas de divisão do produto ou, no caso das
a legislação buscava de todas as formas proteger
empreitadas, o fornecimento da produção de café
os fazendeiros contra a temível possibilidade de
dos últimos anos ao colono.
escassez de mão-de-obra.
Interessante notar no artigo terceiro
Ainda neste sentido o artigo 8º previa
a impossibilidade de avultados empréstimos de
punições ao trabalhador que não cumprisse os
dinheiro aos colonos, sendo possível apenas o
prazos estipulados, no caso, a perda de metade
“estritamente necessário para a alimentação
de tudo o que houvesse ganhado naquele ano
dos recém-chegados ou no caso de moléstia”. A
agrícola, o artigo 11º previa também que os “ani-
bibliografia sobre o colonato, em especial Emília
mais, mantimentos e roças” que os colonos tives-
Viotti da Costa (1979), destaca que o endivida-
sem cultivado pertenceriam aos fazendeiros em
mento para com o fazendeiro onerava sobrema-

82 História e Economia Revista Interdisciplinar


caso de desistência destes, ou seja, o trabalhador do o direito de escolha pressuposto no artigo 13º.
que rompesse unilateralmente o contrato seria
alienado de quaisquer direitos sobre a “remune- Temos que considerar também a
ração invisível”, aquela composta pela produção existência de um complexo sistema de criação
de subsistência (e eventual mercantilização). de “moedas locais” tais como vales, bilhetes e
cartas de crédito assinadas pelos fazendeiros
O artigo 13º traz um elemento interes- que exerciam a função de “equivalente geral”
sante ao permitir que o colono possa comprar circunscrita ao espaço da fazenda, e como tal,
os gêneros de que precisar onde lhe convier. A viabilizava o monopólio. Com estes “instrumen-
existência de tal artigo indica que a prática do tos” os fazendeiros liquidavam seus débitos sem
“monopólio” era recorrente nas fazendas de café contar necessariamente com o mil-réis já que
e, segundo argumentação que desenvolvemos eram lançados e depois retirados de circulação
em outro estudo (FALEIROS, 2008), a partir via mercearia da fazenda. Muito provavelmente
das Mercearias existentes nas propriedades os os débitos existentes entre os trabalhadores da
fazendeiros estreitavam o mercado dos colo- mesma fazenda também fossem liquidados com
nos impondo-lhes a obrigatoriedade de consu- os “vales do Coronel”, surgindo assim todo um
mir naquele estabelecimento, e por outro lado, sistema de circulação “monetária” entre os ho-
impunham-se como compradores dos gêneros mens do café de uma determinada propriedade.
produzidos pelos trabalhadores tais como arroz, Evidentemente, nos momentos de crise, o valor
milho, feijão e o próprio café que detinham em dos vales tendia a se deteriorar já que, no fundo,
regime de parceria ou de empreitada. Acredita- a sustentação de todo o sistema de liquidação de
mos que os fazendeiros exerciam uma espécie de créditos e débitos esta embasada na credibilidade
arbitragem estabelecendo diferenciais nos preços do emissor: o fazendeiro de café. Este sistema
de compra e venda e via “mercado” extraíssem certamente extravasava as fronteiras da fazenda
ganhos sobre os colonos. e atingia as vizinhanças, compostas por peque-
nos sitiantes e agregados que também tinham a
Evidentemente o contrato da caderneta mercearia da fazenda como principal fornecedor.
abre condições legais de rompimento deste mo- O que estamos tentando dizer é que arranjos tí-
nopólio, entretanto, é possível que isto não tenha picos da sociedade clânica de Oliveira Vianna
se efetivado na prática, pois, se pensarmos na di- (1987)7 se manifestavam também sob o ponto
fusão espacial do meio rural, concluiremos que de vista “monetário”, definindo-se a extensão da
muitas vezes o “mercado” mais próximo estava circulação de vales e bilhetes pela extensão da
muito distante dos colonos, que teriam que se influência do poder do fazendeiro. Tais indícios
deslocar para os arraiais mais próximos ou mes- nos levam a suspeitar da viabilidade e da aplica-
mo para a cidade para encontrar a possibilidade bilidade do 13º artigo do contrato.
de preços mais satisfatórios. Outra característica
do sistema de trabalho estabelecido e que cor- Passemos agora para a análise das re-
robora a continuidade do “monopólio” das mer- ceitas e dos gastos dos colonos. Como dissemos
7 “Só a sombra patriarcal deste grande senhor de engenhos, de
cearias era o fato de em muitos casos os débitos estâncias, de cafezais vivem o pobre e o fraco com segurança e tran-
qüilidade. Pela sua riqueza, pelo seu poder, pelo seu prestígio, mesmo
do fazendeiro para com o colono não serem li- pela sua força material, só ele é capaz, neste regime de pilhagem e
quidados em dinheiro, mas em contas correntes prevaricação gerais, de reagir contra as arbitrariedades e as injustiças.
Só ele, no mundo rural, tem meios para dar à sua patronagem uma
nas mercearias. Transformavam-se as dívidas em eficiência prática que nem a patronagem do cura, ou do médico, ou do
advogado, ou mesmo da autoridade local possui”. (Oliveira Vianna:
créditos na mercearia da fazenda, impossibilitan- 1987,p. 142-3).

História e Economia Revista Interdisciplinar 83


A Fazenda Pau d’Alho de Campinas:as cadernetas como registros da contabilidade dos “colonos” (1927-1931)

anteriormente pesquisamos vinte cadernetas, riam as remunerações dos colonos. No caso das
dentre as quais existiam vínculos de colonos e cadernetas que pesquisamos a remuneração era a
de camaradas. A partir das cadernetas elabora- mesma: 37$000 pelo trato de mil pés café locali-
mos gráficos constituídos pelas curvas de receita zados na parte de terras denominada “Palmeiras”
total, gastos totais e saldos. Com esta documen- e 32$000 pelo trato de mil pés de café na parte de
tação acreditamos ser possível ter uma melhor terras denominada “Terra Roxa”. Os colonos re-
noção das reais possibilidades de ascensão social ceberiam também 1$500 por cada alqueire de 50
dos colonos; até agora nos limitamos a algumas litros colhido e 4$500 por diárias de serviços ex-
inferências sobre as relações de parceria e em- tras executados. Como o período abrangido por
preitada a partir das cláusulas estabelecidas em esta documentação engloba uma crise de grande
contrato que foram construídas a partir do esta- magnitude, veremos que a remuneração previa-
belecimento de uma determinada produtividade mente definida foi rebaixada em quase todos os
(via dados de Camargo) e dos preços praticados casos, o valor pago pelos alqueires colhidos após
nas escrituras de compra e venda de café, além, 1929 reduziu-se em um terço assim como tam-
é claro, das remunerações estabelecidas em con- bém foi reduzido consideravelmente o valor das
trato quando tratavam de remuneração em di- diárias de serviço.
nheiro. Evidentemente não possuímos condições
de realizar maiores apontamentos sobre a renda Eram estas as principais remunerações
oriunda das lavouras de gêneros de subsistência, dos colonos, que, aliás, eram acertadas bimes-
justamente por que é impossível inferir alguma tralmente. Os gastos principais referiam-se a
coisa sobre as quantidades produzidas e também adiantamentos, médico, farmácia e principal-
sobre os preços praticados. mente às chamadas “Ordens”, gasto que não era
discriminado separadamente, mas acreditamos
As cadernetas, infelizmente, também ser composto pelos débitos acumulados nas mer-
não nos fornecem uma maior noção neste senti- cearias das fazendas. Nas cadernetas, a palavra
do, mas é bem provável que as rendas provenien- “ordem” vinha seguida de um número, muito
tes das lavouras de alimentos não fossem muito provavelmente o número da folha do registro
dilatadas já que todos os contratos de cadernetas, dos gastos do colono no livro do estabelecimen-
registrados entre 1927 e 1931, versam sobre la- to. Nestas condições conseguimos descobrir qual
vouras já formadas cabendo aos colonos o plan- era o montante gasto mediante esta discrimina-
tio de apenas uma fileira de milho e quatro de ção, mas não possuímos uma maior exatidão
feijão em cada rua do café e uma roça por fora desagregada, o que se sabe é que as “ordens”
cuja extensão era definida proporcionalmente ao oneravam pesadamente as contas do colono,
número de cafeeiros contratados. Acreditamos compondo de oitenta a cem por cento os gastos
que nestas condições a produção excedente de totais dos colonos.
alimentos deveria ser muito diminuta o que pou-
co somaria às contas dos colonos, por isso, de As despesas médicas faziam-se pre-
agora em diante, as possíveis rendas oriundas das sentes em todos os bimestres, custando 10$000
lavouras de subsistência serão desconsideradas. aos colonos, as despesas com farmácia eram va-
riáveis, mas não oneravam muito o orçamento,
Nas “condições específicas” dos con- girando em torno de 5$000 a 10$000 por bimes-
tratos da Agência Oficial de Colocação, como no tre. Como o artigo 15º do contrato da Agência de
modelo acima transcrito, se definiam quais se- Colocação previa a formação de uma coopera-

84 História e Economia Revista Interdisciplinar


tiva médica e farmacêutica, acreditamos que os base da sua remuneração. Vejamos abaixo a evo-
valores debitados com o serviço médico eram lução de seus saldos entre 1927 e 1931:
fixos por conta da existência de alguma forma
de convênio que abatia bimestralmente um deter- Gráfico 1
minado valor das contas dos colonos precisando
Fonte: Caderneta do colono Aurélio Be-
estes ou não do atendimento.
nedicto. Fazen-
da Pau d’Alho.
(1927-1931).
Fundo do Tribu-
nal de Justiça de
Campinas (TJC).
Cx. 01, livros 01
a 20. Arquivos
Históricos – Cen-
tro de Memória
– UNICAMP.

Interes-
sante notar que
de dezembro de
1927 a fevereiro
de 1930 Benedic-
Os contratos também não explicitavam
to recebia os saldos bimestrais em dinheiro. A
a quantidade de cafeeiros contratados, o que in-
partir desta data, em função da crise, o colono ao
ferimos a partir das receitas dos colonos. Aliás, a
invés de receber os valores que lhe eram devidos
forma de acerto com os colonos era muito varia-
passou a acumular saldos, que eram transporta-
da: alguns recebiam por dias de serviço, outros
dos de um bimestre a outro, o que indica que no
pelo trato de mil pés, outros eram remunerados
contexto de dificuldades econômicas as estraté-
pelas duas formas, como observemos o caso do
gias de “contabilidade” foram transformadas e,
colono Aurélio Benedicto, italiano, que entre
dadas as restrições do contexto, outras formas
1927 e 1931 trabalhou na fazenda Pau d’Alho.
de remuneração se estabeleceram; muito prova-
No seu acerto bimestral contava a discriminação
velmente as ordens eram abatidas destes saldos
de tantos “dias de serviço” que variavam entre
e a relação de trabalho deixava de pressupor a
3$000 e 4$000 antes da crise e entre 1$670 e
existência real do dinheiro, exercendo este, neste
3$500 após abril de 19308. Em média o colono
momento, apenas a função de medida de valor,
trabalhava cinqüenta dias por bimestre, ou reu-
referenciando débitos e créditos, mas não sendo
nia sob seu comando esta capacidade de trabalho
utilizado como meio de pagamento. A “enge-
bimestral já que a expressão “colono” designa-
nhosa” contabilidade da fazenda se adaptara às
va toda a família e a remuneração referia-se ao
condições estreitando a circulação do dinheiro
potencial de trabalho do grupo familiar. No caso
no espaço dos cafezais.
deste colono o acúmulo de diárias compunha a
8 Caderneta do colono Aurélio Benedicto. Fazenda Pau d’Alho. Fundo
do Tribunal de Justiça de Campinas (TJC). Cx. 01, livros 01 a 20. Sobre os saldos deste colono, perceba
Arquivos Históricos – Centro de Memória – UNICAMP.

História e Economia Revista Interdisciplinar 85


A Fazenda Pau d’Alho de Campinas:as cadernetas como registros da contabilidade dos “colonos” (1927-1931)

no gráfico um (01) que dificilmente ultrapassa- nheiro bem superiores ao caso de Benedicto.
vam a casa dos 150$000 por bimestre. Entre de- Trata-se de Ceccato José, também italiano, con-
zembro de 1927 e abril de 1930 (quatorze bimes- tratado para cuidar de oito a nove mil cafeeiros,
tres) Benedicto recebeu 1:111$750, numa média conforme deduzimos da remuneração obtida pe-
de 79$410 por bimestre. A partir deste momento las carpas no cafezal. Dentre todas as contabili-
os saldos passaram a ser acumulados, aumentan- dades pesquisadas esta foi a que apresentou os
do ou diminuindo bimestralmente, contabilizan- saldos mais consideráveis mesmo sendo os valo-
do um saldo final de 112$685. Se pensarmos que res definidos para o trato, a colheita e as diárias
esta remuneração referia-se a toda a mão-obra exatamente iguais aos dos outros colonos. O que
familiar perceberemos que os valores dos saldos define, então, a diferença dos saldos de Ceccato
eram muito reduzidos em relação aos valores to- José para com os saldos das outras contabilida-
tais recebidos, demonstrando que os gastos prati- des já que as remunerações são as mesmas? Ora,
camente esterilizavam maiores possibilidades de a diferença básica parece residir no tamanho do
acúmulo de dinheiro. Evidentemente temos que grupo familiar; chega-se a registrar no nome de
considerar que os colonos não possuíam despe- Ceccato quase oitenta dias de serviço por bimes-
sas com moradia, gastos iniciais com desloca- tres e quantidades muito grandes de alqueires
mento para a fazenda (já que eram subsidiados colhidos10, além dos valores fixos estabelecidos
pelo governo) e gastos reduzidos com alimenta- pelos tratos dos cafeeiros
ção, já que tinham direito à produção de alimen-
tos e à criação de alguns animais (galinhas, por- Gráfico 2
cos e vacas, uma ou outra).
Difícil, senão impossível,
mensurar estes elementos,
que certamente compu-
nham a base de sustentação
das relações de trabalho no
campo, pois em termos de
remuneração em dinheiro o
que se conclui da observa-
ção é que colonos como Au-
rélio Benedicto possuíam
mínimas possibilidades de
ascensão social: em quatro
anos de trabalho de toda a
sua família recebeu apro-
ximadamente 1:200$0009,
o necessário para sua reprodução e perpetuação
Fonte: Caderneta do colono Cecca-
como colono.
to José. Fazenda Pau d’Alho.(1929-1931).
A pesquisa com as cadernetas também Fundo do Tribunal de Justiça de Campinas
evidenciaram um caso onde o colono conseguiu 10 Em agosto de 1930 registrou-se a colheita de 263 alqueires a 1$000.
11 Este colono registra gastos com o pagamento de nove carretos de
ao longo de dois anos acumular valores em di- milho, evidenciando que a produção de alimentos desta família também
9 Cerca de oitenta e quatro dólares ao câmbio de 1931. deveria ser considerável.

86 História e Economia Revista Interdisciplinar


(TJC). Cx. 01, livros 01 a 20. Arquivos His- de observação onde os saldos eram muito redu-
tóricos – Centro de Memória – UNICAMP. zidos, conforme pode se verificar nos gráficos
em anexo. Esta contabilidade, em comparação
No caso deste colono deve se consi- com as outras, nos demonstra a exatidão da tese
derar também que as despesas com as chamadas de Verena Stolcke segundo a qual as melhores
“ordens” só passam a vigorar a partir de dezem- possibilidades de acúmulo de dinheiro concen-
bro de 1930, denotando que até esta data, por travam-se nas famílias mais extensas, pois justa-
conta do número de braços na lavoura, a unidade mente este maior potencial de força de trabalho
familiar também conseguia minimizar os gastos garantia ao chefe do grupo quantias mais signifi-
na mercearia11, pelo menos até esta data. Deste cativas, conforme se deduz do quadro abaixo:
momento em diante registram-se ordens de até
460$000, avultada quantia que corrobora a hipó- Quadro 1 – Rendimentos de três famí-
tese de que se tratava de uma família extensa. lias de imigrantes em 1922.
Assim como os outros colonos
Ceccato também se submete Quadro 1 – Rendimentos de três famílias de imigrantes em 1922.
paulatinamente a uma diminui- Família com Família com Família com 4
ção do preço das tarefas; a diá- 10 elementos 5 elementos elementos
ria foi reduzida de 4$500 para Nº de trabalhadores 6 2 1
4$000 e depois para 3$000, o va- Rel. consumidores/produtores 1.66 2.5 4
Cafeeiros por família 16.000 7.000 3.000
lor pago pela colheita do alqueire
Rendimento das carpas anuais 2:400$000 1:050$000 450$000
de 50 litros diminuiu dos 1$500
Ganhos com a colheita 480$000 240$000 70$000
estabelecidos em contrato para
Trabalho extraordinário 600$000 460$000 120$000
1$000 e o trato por mil pés de
Gastos anuais 2:350$000 1:130$000 780$000
37$000 na Palmeiras e 32$000
na Terra Roxa para 23$000 e Fonte: STOLCKE,1986, 46
20$000 respectivamente. Após
abril de 1930 este colono também deixa de rece-
ber pro bimestre e passa a acumular saldos com o Conforme assinala Chiara Vangelista
fazendeiro, que perfaziam 3:595$519 ao final do (1991), a economia cafeeira era composta por
contrato, excetuando-se deste valor os 558$829 múltiplas demandas de mão-de-obra e múltiplos
e os 533$339 recebidos nos dois primeiros bi- tipos de oferta de trabalho. Colonos, camaradas,
mestres. Observamos no gráfico dois (02) a con- trabalhadores individuais, imigrantes ou nacio-
tabilidade de Ceccato José durante a vigência do nais, ocupavam distintas funções na fazenda e
contrato, e justamente nos meses em que se cre- na cidade. Isso se revela também nas cadernetas
dita o dinheiro referente às carpas anuais é que pesquisadas onde encontramos os camaradas,
se registram os maiores saldos. Também há que mão-de-obra extremamente fugidia, instável e
se considerar o registro de serviços de selaria, o incerta utilizada durante poucos dias ou meses
que demonstra que este núcleo familiar exercia para específicas necessidades da fazenda. É o
funções fora do cafezal, notadamente serviços caso de Manoel Pedro, Francisco Braz, Ecto-
que exigiam certa qualificação. re Campagnole e Marculino Moraes que foram
contratados pela fazenda Pau d’Alho por perío-
Cabe considerar que o caso deste colo- dos não superiores cinco meses (ver anexo II).
no constitui uma louvável exceção num universo Difícil dizer se exerciam tarefas diretamente li-

História e Economia Revista Interdisciplinar 87


A Fazenda Pau d’Alho de Campinas:as cadernetas como registros da contabilidade dos “colonos” (1927-1931)

gadas à lavoura de café, pois as cadernetas re- cafeeiro, recorrente nas lavouras em formação
gistram apenas os dias de serviço não discrimi- e reduzida nas lavouras já formadas das regiões
nando a atividade; os camaradas tanto poderiam antigas. Sob o ponto de vista da remuneração em
ser alocados na colheita quanto em alguma etapa dinheiro intuímos que as diferenças dos valores
do beneficiamento (secagem, cata, ensacamento, pagos pelo trato, pela colheita e pelas diárias não
etc.), poderiam também, eventualmente fazer a deviam ser muito discrepantes entre as regiões
carpa ou derrubar matas, empilhar madeira, en- mais antigas e as mais novas, pois não acredita-
fim, uma série de atividades de colocação não mos que a maior lucratividade das fazendas da
duradoura definidas a partir das necessidades fronteira se revertesse em melhoras das cláusulas
imediatas. Em comum com os colonos possuem contratuais envolvendo dinheiro. Parece ser sim
a recorrência de pequenos saldos acumulados a disponibilidade de terra o grande atrativo para
durante o período de trabalho (ver gráficos em os trabalhadores que se dirigiam à fronteira.
anexo).

De uma forma geral as cadernetas pa-


recem denunciar que as possibilidades de acú-
mulo de dinheiro por parte dos colonos eram
diminutas, entretanto, tal afirmação deve ser
relativizada por três motivos; primeiro, em caso
de famílias mais numerosas o pai poderia “ge-
renciar” uma quantidade maior de mão-de-obra
de modo a auferir um número maior de diárias,
mais alqueires colhidos de café e a capacidade
de tratar de um número maior de cafeeiros; em
segundo lugar, deve-se considerar que as cader-
netas cobrem justamente o momento mais agudo
da crise cafeeira, contexto de visível redução das
remunerações dos colonos e dos camaradas; em
terceiro lugar, há que se considerar que não se
tratava de contratos de formação de novos cafe-
eiros e sim do trato de lavouras já consolidadas,
justamente por não ser Campinas, naquele mo-
mento, uma região de fronteira.

O conjunto destes fatores nos leva a


concluir que as remunerações aos colonos na-
quele período não eram as mais atrativas, tal-
vez por isso a recorrência dos saldos quase in-
significantes registrados nas cadernetas. Nossa
hipótese (Faleiros: 2010) é que nas regiões de
fronteira os contratos eram mais atrativos, dada
a maior produtividade dos cafeeiros e a maior
disponibilidade de espaço para o plantio inter-

88 História e Economia Revista Interdisciplinar


Bibliografia

COSTA, Emília Viotti. Da senzala à colônia. São Paulo: Difel, 1979.

FALEIROS, Rogério Naques. Homens do café: Franca 1880-1920. Ribeirão Preto: Holos, Edi-
tora/Fapesp, 2008.

FALEIROS, Rogério Naques. Fronteiras do café: fazendeiros e “colonos” no interior paulista.


Bauru: Edusc/Fapesp, 2010.

FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. Homens livres na ordem escravocrata. 3ª edição. São
Paulo: Kairós, 1983.

OLIVEIRA VIANNA, Francisco José. Populações meridionais do Brasil. Populações rurais do


centro-sul. Vol. I. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; Eduff, 1987.

PETRONE, Maria Theresa S. Imigração. In: Historia Geral da Civilização Brasileira. O Brasil
Republicano, 2º vol., tomo III. São Paulo: Difel, 1978.

STOLCKE, Verena. Cafeicultura. Homens, mulheres e capital. (1850-1980). São Paulo: Brasi-
liense, 1986.

VANGELISTA, Chiara. Os Braços da lavoura. Imigrantes e “caipiras” na formação do mercado


de trabalho paulista (1850-1930). São Paulo: Hucitec, Instituto Italiano di Cultura, Instituto Cultural
Ítalo-Brasileiro, 1991.

ANEXO I – CONTABILIDADE DE UM COLONO

Aurélio Benedicto Mil-Réis


Ano Mês Dia Discriminação Deve Haver

1927 12 31 56½ dias de serviço a 4,000 226,000


3 quilos de café 3,000
adiantamento 100,000
Total 103,000 226,000
Recebeu 123,000

1928 2 28 42¾ dias de serviço a 4,000 171,000
15 quilos de café 15,000
adiantamento 100,000
1 leitoa 15,000
Total 130,000 171,000
Recebeu 41,000

1928 4 30 44¾ dias de serviço a 4,000 179,000
1 carreto 2,000
Farmácia 1,000
adiantamento 70,000
Total 73,000 179,000
Recebeu 106,000

1928 6 30 48 dias de serviço a 4,000 192,000

História e Economia Revista Interdisciplinar 89


A Fazenda Pau d’Alho de Campinas:as cadernetas como registros da contabilidade dos “colonos” (1927-1931)

Aurélio Benedicto Mil-Réis


Ano Mês Dia Discriminação Deve Haver

Médico 10,000
adiantamento 40,000
Total 50,000 192,000
Recebeu 142,000

1928 8 31 13½ quilos de café 13,500
Médico 10,000
49 dias de serviço a 3,000 147,000
adiantamento 15,000
Farmácia 3,000
Total 41,500 147,000
Recebeu 105,500

1928 10 31 Médico 10,000
adiantamento 50,000
10 quilos de café 10,000
47 dias de serviço a 3,000 141,000
Total 70,000 141,000
Recebeu 71,000

1928 12 31 43½ dias de serviço a 3,500 187,250
um litro e duas garrafas de leite 1,100
14½ quilos de café 14,500
adiantamento 70,000
Médico 10,000
Conserto de um machado 2,000
Farmácia 6,000
Total 103,600 187,250
Recebeu 83,650

1929 2 28 Médico 10,000
03 garrafas de leite a 0,200 0,600
adiantramento 70,000
47 dias de serviço a 3,500 164,500
11 quilos de café 11,000
Farmácia 2,000
Total 93,600 164,500
Recebeu 70,900

1929 4 30 Médico 10,000
adiantamento 65,000
43 dias de serviço a 3,500 150,500
Farmácia 2,000
Total 77,000 150,500
Recebeu 73,500

1929 6 30 Médico 10,000
45 dias de serviço a 3,500 157,500
adiantamento 85,000
01 garrafa de leite 0,300
Total 95,300 157,500
Recebeu 62,200

1929 8 31 Médico 10,000
55 dias de serviço a 3,500 192,500
05 quilos de café 5,000
adiantamento 100,000
Farmácia 6,000
Total 121,000 192,500
Recebeu 71,500

1929 10 31 Médico 10,000

90 História e Economia Revista Interdisciplinar


Aurélio Benedicto Mil-Réis
Ano Mês Dia Discriminação Deve Haver

41 dias de serviço a 3,500 143,500


7½ quilos de café 7,500
adiantamento 85,500
Farmácia 4,500
Total 107,500 143,500
Recebeu 36,000

1929 12 31 22 dias de serviço a 3,500 77,000
29 dias de serviço a 2,500 72,500
Médico 10,000
5 quilos de café a 1,000 5,000
adiantamento 70,000
Total 85,000 149,500
Recebeu 64,500

1930 2 28 59 dias de serviço a 2,500 147,500
4 quilos de café a 1,000 4,000
adiantamento 65,000
Médico 10,000
Farmácia 3,000
Total 82,000 147,500
Recebeu 65,500

1930 4 30 56½ dias de serviço a 2,500 141,250
Ordens 100,000
Médico 10,000
Total 110,000 141,250
Saldo Acumulado 31,250
Saldo do Bimestre 31,250

1930 6 30 Saldo Transportado 31,250
58 dias de serviço a 1,670 96,760
Ordens 70,000
Médico 10,000
04 quilos de café 4,000
Total 84,000 128,010
Saldo Acumulado 44,010
Saldo do Bimestre 12,760

1930 8 31 Saldo Transportado 44,010
60 dias de serviço a 1,670 100,000
Médico 10,000
Ordens 90,000
Total 100,000 144,010
Saldo Acumulado 44,010
Saldo do Bimestre -

1930 10 31 Saldo Transportado 44,010
02 meses de serviço a 50,000 100,000
Médico 10,000
Ordens 90,000
Total 100,000 144,010
Saldo Acumulado 44,010
Saldo do Bimestre -

1930 12 31 Saldo Transportado 44,010
02 meses de serviço 100,000
Médico 10,000
Ordens 90,000
Total 100,000 144,010
Saldo Acumulado 44,010
Saldo do Bimestre -

História e Economia Revista Interdisciplinar 91


A Fazenda Pau d’Alho de Campinas:as cadernetas como registros da contabilidade dos “colonos” (1927-1931)

Aurélio Benedicto Mil-Réis


Ano Mês Dia Discriminação Deve Haver

1931 2 28 Saldo Transportado 44,010


59 dias de serviço a 1,670 98,300
Ordens 120,000
Médico 10,000
Total 130,000 142,310
Saldo Acumulado 12,310
Saldo do Bimestre (31,700)

1931 4 30 Saldo Transportado 12,310
02 meses de serviços a 50,000 100,000
Médico 10,000
Ordens 80,000
Total 90,000 112,310
Saldo Acumulado 22,310
Saldo do Bimestre 10,000

1931 6 30 Saldo Transportado 22,310
02 meses de serviços a 50,000 100,000
Ordens 100,000
Total 100,000 122,310
Saldo Acumulado 22,310
Saldo do Bimestre -

1931 8 31 Saldo Transportado 22,310
02 meses de serviços a 50,000 100,000
Ordens 50,000
06 quilos de café 3,000
Total 53,000 122,310
Saldo Acumulado 69,310
Saldo do Bimestre 47,000

1931 9 30 Saldo Transportado 69,310
01 mês de serviço a 50,000 50,000
2½ quilos de toucinho a 2,500 6,625
Total 6,625 119,310
Saldo Acumulado 112,685
Saldo do Bimestre 43,375

92 História e Economia Revista Interdisciplinar


História e Economia Revista Interdisciplinar 93
A Fazenda Pau d’Alho de Campinas:as cadernetas como registros da contabilidade dos “colonos” (1927-1931)

94 História e Economia Revista Interdisciplinar


A concorrência no mercado
de trabalho médico no Brasil do século XIX*

Alisson Eugênio
Professor Adjunto da Universidade Federal de Alfenas
alissoneugenio@yahoo.com.br

Unam-se os médicos, como filhos de uma mesma mãe, façam


do esplendor da classe médica glória própria, e da comodidade do povo
bem comum, que a medicina recuperará suas honras e a humanidade os
benefícios que lhe compete. (LEITE, 1849)

Resumo
Esse texto analisa, em face da experiência ocidental, particularmente européia, o empenho da elite médica que atuava no Brasil
oitocentista, defensores da alopatia, para eliminar do mercado de trabalho de sua profissão os demais prestadores de serviço da
cura que não eram reconhecidos por ela como profissionais da medicina.

Palavras-chaves: medicina, trabalho e concorrência

Abstract
From the perspective of western, particularly European experience this text analyses the attempt by the 19th century Brazilian me-
dical elite to defend scientific medicine and intending to banish from the market and the medical community other cure professionals
who were not recognized as part of regular medicine.

Key words: medicine, work and competition

História e Economia Revista Interdisciplinar 95


A concorrência no mercado de trabalho médico no Brasil do século XIX

A
o longo da segunda metade do século época colonial (porque a Coroa portuguesa proi-
XVIII, com a crescente importância biu a abertura de instituições de ensino na Colô-
atribuída à saúde como fator de pro- nia para mantê-la dependente até no plano cientí-
gresso, os Estados começaram a ter maior preo- fico), ela permitiu a qualquer interessado prestar
cupação com a qualidade dos serviços médicos. serviço de saúde, desde que, após pagamento de
Por isso, além de promoverem, com base na uma taxa, fosse examinado e aprovado por uma
Ilustração, a renovação do ensino de medicina, comissão competente.
procuraram ampliar o controle sobre os agentes
da arte de curar. No entanto, com a criação da Faculda-
de de Medicina do Rio e a de Salvador em 1832
Esse processo pode ser observado, pelo e a imigração de doutores estrangeiros para o
menos no Ocidente, em todos os países, inclusive Brasil, desencadeou-se nas suas grandes cidades
naqueles mais afinados com o ideário reformista um processo de expansão da oferta de médicos.
das elites do pensamento ilustrado, como França Esses, de um modo geral, foram se comportan-
e Inglaterra. Nessas nações, mesmo sendo balu- do cada vez mais com intolerância em relação
artes do avanço científico moderno, cujas me- à prestação de serviços terapêuticos por leigos,
dicinas eram referência internacional, o esforço à medida que o seu campo de conhecimento
para se eliminar o conjunto agentes da cura sem foi se institucionalizando, tal como seus pares
formação acadêmica do mercado de prestação de europeus.
serviço de saúde revela que mesmo nelas os mé-
dicos ainda não havia conseguido monopolizar Como a atuação de pessoas sem prepa-
tal mercado (PFEIFFER, 1985). ração acadêmica na área de saúde era um fato
também marcante nos principais centros de re-
Em várias formações nacionais e elite ferência do saber médico, ela pode ser explicada
médica procurou aproximar-se do Estado para por fatores que, não obstante suas particularida-
controlar o exercício da cura, pressionando-o des nas formas como se manifestaram em cada
para tomar medidas que tornassem a prestação território nacional, foram observados nos mais
de serviços de saúde uma atividade exclusiva de diversos países do século XIX, como na Inglater-
pessoas capacitadas profissionalmente. Em Por- ra, segundo o estudo de Jane Peterson (1978), em
tugal, por exemplo, com esse objetivo foi criado França, conforme o trabalho de Gérard Jorland
em 1782 um órgão, denominado Protomedicato. (2010), e no Brasil de acordo com a pesquisa de
A sua criação destinou-se a tentar conter o “per- Gabriela dos Reis Sampaio (2002). Primeiro: o
nicioso abuso e a extrema facilidade com que povo tinha a sua própria terapêutica, porque, du-
muitas pessoas faltas de princípio e conheci- rante séculos, como havia poucos profissionais
mentos necessários” se animavam “a exercitar de medicina disponíveis, ele se acostumou com
a faculdade de medicina e a arte de cirurgia” formas alternativas de cura. Segundo: mesmo
(MACHADO, 1978, 35). Com a instalação da fa- quando começou a haver maior disponibilidade
mília real no Rio de Janeiro em 1808, esse órgão de pessoal formado em tal campo de conheci-
foi substituído pela Fisicatura-mor que, com as mento, os seus preços eram inacessíveis à maio-
mesmas obrigações do anterior, atuou até 1828, ria da população. Terceiro: suas terapias ainda
quando, ao ser extinta, suas atribuições foram apresentavam baixo grau de resolutibilidade em
incorporadas pelas Câmaras Municipais. Nesse relação à maior parte das doenças.
período, dada a escassez de médicos herdada da

96 História e Economia Revista Interdisciplinar


Por isso, era comum que curiosos se ar- Em todas as profissões há uma auto-
rogassem entendimento nos assuntos da saúde ridade, ou tribunal, que proteja seu exercício;
mas a medicina, desde a abolição da Fisicatura-
alheia, como ilustrou Joaquim Manoel de Mace-
mor, tribunal que, apesar de seus defeitos (que
do em A Moreninha (1844), na cena em que uma se podiam remediar) muitos benefícios prestava
moradora da casa onde boa parte desse romance à medicina, tem se conservada acéfala, de sorte
se passa subitamente desmaiou quando a dona que qualquer um não é só médico de si mesmo,
da dita casa e seus convidados conversavam no como do público; em vez de ser ela o templo
jardim. Assim que souberam disso, todos foram sagrado, cuja entrada deveria ser vedada ao
profano, é a Torre de Babel, onde todos dão sua
acudi-la, entre os quais algumas matronas. Uma
razão, nascendo daí, segundo nossa mesquinha
delas logo interveio dizendo: “Isto foi o jantar inteligência, o seu descrédito, o prejuízo para
que lhe deu fraqueza”, supondo muito jeito para a saúde pública e a imoralidade para o Estado.
cura, e continuou seu diagnóstico acrescentando (LEITE, 1849,31)
a esta causa o tempo frio, pedindo na seqüên-
cia “um copo de vinho”. Outra, discordando da Por esse motivo, ele solicitou do poder
primeira, exclamou: “São maleitas! quem olha público o seguinte: “Legislação sanitária e tri-
para o nariz diz logo que são maleitas.1∗ Eu já bunais de saúde pública que velem pela saúde
vi curar uma mulher que teve o mesmo mal com do povo e protejam a classe médica dos insultos
cauda de cobra moída, torrada e depois desfeita dessa corte de parasitas”, referindo-se especial-
num copo de água tirada do pote velho com um mente aos charlatães, “que se nutrem do sangue
coco novo e com a mão esquerda pelo lado da da humanidade”. (LEITE, 1949, 36)
parede”. Uma terceira gritava: “São lombrigas”,
Essa solicitação foi mais uma das que es-
uma quarta disse que era “ataque de estupor”
tavam sendo feitas como forma de cobrar do Es-
e uma quinta concluiu que se tratava de “espí-
tado um órgão fiscalizador do exercício da medi-
rito maligno”, sendo mais acreditada do que as
cina, o qual as atendeu criando, em 1850, a Junta
demais, propondo que viesse logo “um padre
de Higiene Pública (posteriormente, em 1851,
com água benta e o seu breviário”. (MACEDO,
rebatizada e regulamentada como Junta Central
2002, 83)
de Higiene Pública) para cumprir essa e outras
Mais do que dar palpites no plano do- funções. Não obstante, até a adoção de leis no
méstico quando a ocasião exigia, muitos dos que final do século XIX que tornaram crime tal exer-
se julgavam capazes de identificar e remediar cício sem a devida habilitação, muitas pessoas
as doenças dos outros ofereciam seus préstimos sem formação acadêmica continuaram prestando
sem maiores entraves, tanto e principalmente serviços relacionados a esse campo de conheci-
nas localidades onde havia carência de médicos, mento, sobretudo no vasto interior do país onde a
quanto nas que se encontravam bem providas fiscalização dificilmente conseguia chegar.
deles, enquanto no país não foram adotadas leis
Com efeito, os médicos precisavam se
repressivas contra o exercício ilegal da medicina
organizar para a defesa dos seus interesses cor-
e criado um novo órgão que, depois da extinção
porativos, como alertou uma comissão da Aca-
da Fisicatura-mor em 1828, pudesse fiscalizar
demia Imperial de Medicina em um texto publi-
esse setor de serviços. Em relação a isso, Tobias
cado na Gazeta Médica do Rio de Janeiro no dia
Rabelo Leite, em uma tese concluída em 1849 na
primeiro de novembro de 1862:
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro disse:
1 *
Quer dizer, malária.

História e Economia Revista Interdisciplinar 97


A concorrência no mercado de trabalho médico no Brasil do século XIX

Há muito tempo que a medicina como mulo do estudo da medicina, enfatizou a necessi-
instituição se ressente do isolamento dos seus dade de criar associações médicas que, além das
representantes, e que a prática de uma tão nobre questões referentes à saúde pública, “tomassem
como liberal ciência tem sido prostituída e pro-
a seu cargo o zelo de defender os interesses da
fanada, de modo a fazer sangrar o coração dos
médicos, que amando a sua profissão prezam profissão”. Pois, mesmo onde havia significativa
a própria dignidade, e como isso não fosse o oferta de pessoal formado nesse campo de co-
bastante, ainda a clínica, em grande parte assal- nhecimento, a população continuava afeita aos
tada por profanos, não oferece vantagens que serviços prestados pelos agentes das artes de
abriguem da miséria o médico tornado inválido
curar desprovidos de habilitação acadêmica.4
pela velhice ou inesperada moléstia, forçando
desta sorte o desgraçado ou sua família a esten-
Um dos agentes das artes de curar
der a mão à caridade pública, implorando o pão
que o deve alimentar.2 que concorriam com os médicos foi o barbeiro-
sangrador. Na verdade, essa expressão define um
Em face dessa incômoda situação, aque- dos ramos de atividade dos tradicionais barbei-
la comissão na seqüência do documento acima ros, que não só cortavam cabelo e faziam barba,
citado exortou a classe médica para engajar-se mas também lidavam com doentes, praticando
na defesa das suas prerrogativas profissionais pequenas cirurgias, como extração de dentes,
dizendo: ou tentando aliviar alguma de suas dores com
aplicação de ventosas ou sanguessugas (popu-
“É tempo, pois, de reunirmos e consti-
larmente conhecida como bichas). Esses agentes
tuirmos uma associação que tenha em vista tra-
balhar incessantemente nos direitos e deveres
da cura foram muito comuns no Ocidente pelo
inerentes à corporação médico-farmacêutica do menos até o final do século XIX. No Reino Uni-
país, que proteja seus interesses científicos, mo- do, por exemplo, uma emenda à Lei de Saúde
rais e materiais, que faça cessar o isolamento Pública foi promulgada em 1886 para proibição
dos médicos e farmacêuticos, tão prejudiciais do uso de terapias, praticadas por terapeutas
aos interesses da sociedade como aos da corpo-
sem formação universitária, e médicos por eles
ração (...), que tire a máscara à impostura e per-
siga o exercício ilegal da medicina e farmácia, influenciados, condenadas pelas elites médicas
solicitando dos poderes do Estado novas leis e empenhadas na reformulação do seu campo de
regulamentos, e dos magistrados a aplicação conhecimento, conforme apurou Janne Peterson
das existentes, no interesse da saúde pública e (1978, 40).
dignidade profissional, e que finalmente esta-
beleça uma caixa de socorros para sócios que A existência deles durou enquanto a me-
por velhice ou enfermidade não puderem mais
dicina ainda estava influenciada pela teoria dos
exercer a profissão, bem como as suas viúvas,
filhos e irmãos”.3 humores formulada na Antiguidade por Hipócra-
tes (retirar sangue, nesse quadro teórico, tinha
O mesmo engajamento pode igualmente como objetivo a eliminação de humores impu-
ser observado em Salvador. Em um editorial da ros considerados responsáveis pelo desequilíbrio
Gazeta Médica da Bahia, publicado em 15 de causador de enfermidades), como mostra Youn-
março de 1868, sua direção, ao discutir “a pos- gson em seu estudo sobre a revolução científica
sibilidade de reunir-se um congresso médico no em medicina na Inglaterra vitoriana (1979). No
Brasil”, com vistas, entre outras coisas, ao estí- entanto, após a consolidação do saber médico
revolucionário (isto é, reestruturado a partir das
2 Gazeta Médica do Rio de Janeiro, ano 1, nº. 11, 01/11/1862, p. 131.
3 Idem. 4 Gazeta Médica da Bahia, ano 2, nº. 41, 15/03/1868, p. 193.

98 História e Economia Revista Interdisciplinar


descobertas da geração de Pauster) ainda era Jean Baptiste Debret, Viagem pitoresca e históri-
possível encontrá-los atuando em muitos países ca ao Brasil (1816-1831)
ainda no início do século XX. No Brasil era pos-
sível vê-los, por exemplo, em Belo Horizonte, Além dos que exerciam o seu ofício em
onde, segundo Betânia Gonçalves Figueiredo, barbearias, havia muitos barbeiros ambulantes,
o sr. Moura, proprietário de uma barbearia, san- os quais prestavam os seus serviços na maioria
grava seus clientes ou alugava sanguessugas para das vezes na rua mesmo, provocando em algu-
médicos que ainda se apoiavam nesse método te- mas pessoas certo desagrado. Entre eles, destaca-
rapêutico. (1997, 131). se Joaquim Manoel de Macedo, notório escritor
de meados do século XIX, também formado em
A popularidade desses agentes da cura medicina, que em um texto intitulado Um pas-
pode ser observada nos jornais da época em di- seio pela cidade do Rio de Janeiro, fez o seguin-
versas nações. No Brasil, de acordo com estu- te comentário a respeito disso:
dos de Licurgo de Castro Santos Filho, no Rio
É desagradável o ver-se em uma ca-
de Janeiro, antes da tradicional rua do Ouvidor
pital como a nossa um preto sentado em um
ser ocupada pelas lojas dos modistas, ali esta- banquinho no meio da rua, com a cara entregue
vam instaladas várias barbearias, como de resto às mãos de outro que o ensaboa e barbeia como
em outros logradouros. Inclusive, algumas delas se estivesse em sua loja, e logo mais adiante
anunciavam os seus serviços em periódicos, o outro, com a boca na ponta de uma ventosa de
que acontecia de um modo geral em todo país. cifre, a chupar o sangue de um paciente que se
entrega a essa operação, tendo por leito a cal-
No Jornal do Comércio, no dia 24 de janeiro
çada da rua.
de 1845, por exemplo, o leitor podia encontrar
anúncios como esse: “Aplicam-se bichas a tre-
zentos réis na antiga casa
do barbeiro, rua do sabão
nº. 223, em frente ao largo, e
tudo o mais que diz respeito
à arte do barbeiro”. Na vila
do Desterro, em Santa Catari-
na, o mesmo poderia ser lido
no Jornal O Argos que, entre
tantas edições, no dia quator-
ze de junho de 1859, publicou
o seguinte anúncio: “Na rua
do Príncipe, nº. 12, alugam-
se, vendem-se e aplicam-se
bichas e ventosas e também
se sangra e tiram-se dentes
por preço cômodos a quem
convier” (FILHO, 1991,
441-433).

3) Loja de barbeiros:

História e Economia Revista Interdisciplinar 99


A concorrência no mercado de trabalho médico no Brasil do século XIX

Em tais instituições, no caso brasileiro,


desde 1832, a elite médica procurava capacitar
parteiras. Com isso, almejava, por um lado, a
diminuição dos altos índices de mortalidade das
parturientes e dos recém-nascidos, causados por
problemas relacionados com assepsia e infecção,
por outro, buscava controlar o ofício delas e, ao
mesmo tempo, submetê-las à sua autoridade. En-
tretanto, o acesso à formação acadêmica era qua-
se impossível para grande parte das interessadas.
Porque a oferta de curso de obstetrícia no país, e
mesmo nas nações consideradas mais avançadas,
4) O cirurgião negro: Jean Baptiste
era modestíssima e as escolas ou hospitais que
Debret, Viagem pitoresca e histórica ao Brasil
os ofereciam ficavam muito distantes da maioria
(1816-1831)
das candidatas. Além disso, as exigências para
admiti-las foram aumentando ao longo do século
As parteiras também foram tão popu-
XIX, acompanhado o processo de consolidação
lares quanto os barbeiros. A arte de partejar foi
do saber médico e o da hospitalização dos partos.
uma atividade quase exclusivamente exercida
por mulheres até pelo menos o final do século
No Império, a partir de 1832, as inscri-
XIX no mundo inteiro, por dois motivos essen-
ções às vagas do referido curso eram aceitas após
ciais: o problema da interdição do corpo femini-
comprovação de conhecimento de leitura e escri-
no e a raridade de obstetras, principalmente no
ta. Com a reforma dos estatutos das suas faculda-
vasto interior dos países. A popularidade delas
des de medicina em 1854, passou-se a exigir não
foi ilustrada por Machado de Assis em sua prosa
só a habilidade com a leitura e a escrita, mas tam-
literária, na cena em que um dos seus emblemá-
bém as quatro operações fundamentais da mate-
ticos protagonistas, Brás Cubas, comenta o seu
mática e noções de francês. Já em 1879, mais do
nascimento: “Naquele dia, a árvore dos Cubas
que lidar instrumentalmente com a palavra im-
brotou uma graciosa flor. Nasci; recebeu-me nos
pressa, teriam que prestar exames de português
braços a Pascoela, insigne parteira minhota, que
e na língua francesa, bem como em aritmética,
se gabava de ter aberto a porta ao mundo a uma
álgebra e geometria.
geração inteira de fidalgos”. (ASSIS, 1997,35)
Nos países onde restrições como essa fo-
Havia dois tipos dessas agentes da arte
ram impostas, a maior parte das parteiras conti-
de partejar. As que praticavam partos eventu-
nuou a exercer o seu ofício sem formação acadê-
almente e sem remuneração, quando uma mais
mica. Conseqüentemente, segundo observação
experiente não estivesse disponível, e aquelas
de um médico da época, Tobias Rabelo Leite,
consideradas especialistas que cobravam pelos
em uma tese dedicada à necessidade de reforçar
seus serviços. Essas, por sua vez, se dividiam en-
a “polícia médica no país”: “A arte de parto
tre as que apenas acumulavam um saber prático
entre nós está entregue a mulheres ignorantes e
transmitido de geração em geração, a maioria, e
supersticiosas que todos os dias comprometem
as formadas nos cursos de obstetrícia oferecidos
a saúde e a vida de muitas mães de família e de
pelas instituições médicas
multidão de crianças”. (LEITE, 1849, 33)

100 História e Economia Revista Interdisciplinar


Desse modo, médicos que comandavam da Bahia, de “um centro onde as parteiras, sob a
inspetorias de saúde pública nas províncias re- direção de um médico, fizessem um pequeno cur-
correntemente solicitavam maior controle sobre so em um ano de prática, a fim de se habilitarem
as que exerciam essa arte. Por exemplo, no rela- convenientemente”.7
tório da Inspetoria de Saúde Pública do governo
de Minas Gerais, destinado ao então chefe do po- Embora difícil, houve quem conseguisse
der executivo, José da Silva, lido na Assembléia ter acesso aos poucos cursos no país que forma-
da Província no dia três de fevereiro de 1846, de- vam parteiras, apesar de suas exigências, prin-
pois de serem cobradas, contra os charlatões, “as cipalmente depois da reforma das faculdades
mais enérgicas providências”, sob a alegação de de medicina do Rio e da Bahia em 1854. Uma
se tratarem de pessoas “tão ignorantes que nem delas, conhecida no seu tempo por Mm. Duro-
sabem a própria língua”, motivo pelo qual, entre cher (1809-1894), veio da França para o Rio de
outros, vão “ceifando quantas vítimas lhes caem Janeiro com sua mãe ainda criança em 1816. Na
nas mãos”, recomendou-se: “Não menos cuida- faculdade de medicina dessa cidade, depois de
do merecem as nossas parteiras, tão ignorantes ver malogrado sua investida em outros ofícios,
pela maior parte que nem ler e escrever sabem, matriculou-se em 1834 no curso de partos.
sendo-lhes, contudo, permitido entre nós o exer-
Após alguns anos de experiência, a noto-
cício da difícil e laboriosa arte obstétrica, e as-
riedade por ela alcançada foi tão grande que aca-
sim vão muitas vezes causando males duplos,
bou sendo nomeada como parteira da casa impe-
matando a mãe e o filho”.5
rial em 1866 e aceita como sócia da Academia
Por esse motivo, no mesmo relatório co- Imperial de Medicina em 1871, tendo publicado
brou-se dos deputados a elaboração de leis para a um livro sobre amas-de-leite em 1849 e vários
imperiosa necessidade de se controlar a atuação artigos nos periódicos de tal associação médica.
delas, pois: Assim, tornou-se uma figura ideal do perfil que
os integrantes da elite médica desejavam formar
Não pode deixar de ser eminentemen- em seus centros de formação acadêmica para
te condenável o arrojo com que elas pela maior exercer a arte de partejar, desejo esse motivado
parte se julgam aptas para terminarem os mais
não só por razões de saúde pública, mas também
dificultosos partos, recorrendo só aos socorros
da arte quando estes já são impossíveis. Não pelos seus interesses corporativos. Interesse que
faltando na aplicação de bebidas espirituosas, está vinculado ao esforço deles para restringirem
e outras substâncias, com que muitas vezes a prática da medicina apenas às pessoas diploma-
causam males irremediáveis, não pode deixar das neste campo de conhecimento.
de nos admirarmos a ousadia com que algumas
chegam a fazer amputações de braços, e outras Se os barbeiros limitavam as suas ativi-
operações semelhantes, produzindo com estas
dades terapêuticas à aplicação de sanguessugas,
manobras os mais escandalosos assassinatos.6
à extração de dentes e à cirurgia simples, e se as
Em face disso, a referida Inspetoria no parteiras concentravam-se nos partos, os curan-
mesmo documento pediu para eles tomarem deiros prestavam serviços mais amplos. Pois,
medidas que obstassem esses descalabros. Para além de lidarem com vários tipos de problemas
tanto sugeriu, por exemplo, a criação em Minas de saúde, receitavam, manipulavam e vendiam
Gerais, seguindo o exemplo do Rio de Janeiro e remédios à base de ervas medicinais significati-
5 APM, Relatórios dos presidentes da província, 1846, p. 35.
6 Idem. 7 APM, Relatório dos presidentes da província, 03/02/1846, p. 36.

História e Economia Revista Interdisciplinar 101


A concorrência no mercado de trabalho médico no Brasil do século XIX

vamente eficazes. América, que zombando da falaciosa medicina


proclamou, autoritate qua fungit, a superiorida-
Com efeito, eles foram figuras muito de dos curandeiros sobre os médicos. Não se
populares em todo o mundo, alcançando fama e enraiveçam, porque perdem seu tempo; corre-
rei imediatamente para o hospital ou para a rua
respeito, como o pai Manoel em Recife que até
da Quitanda e nada sofrerei.8
chegou a receber uma autorização do chefe do
governo provincial para atuar em um hospital lo- Apesar da implacável perseguição pro-
cal nos tempos da epidemia de cólera em meados movida pela elite médica que atuava no Brasil
dos anos 1850. Esse episódio acabou constran- contra esses agentes da cura desde a formação
gendo os médicos da capital pernambucana, os das primeiras turmas na Faculdade de Medicina
quais se sentiram bastante desprestigiados com a do Rio de Janeiro e na da Bahia, em sintonia com
presença de um indivíduo sem formação acadê- o que estava ocorrendo no Ocidente, durante
mica em uma instituição hospitalar. todo o século XIX os serviços prestados por eles
tiveram ampla aceitação, sobretudo onde havia
Fato semelhante ocorreu na capital im-
crônica ausência de médicos. Em uma cidade do
perial alguns anos depois, motivando um comen-
interior do Império, Baependi, situada na Pro-
tário crítico de Cyrilo Silvestre em sua crônica
víncia de Minas Gerais, por exemplo, seu comis-
periódica publicada na Gazeta Médica do Rio de
sário vacinador, ao atribuir em 1874 às terapias
Janeiro:
dos curandeiros a pouca procura pela vacina an-
Receei é verdade algum grave casti- tivariólica, solicitou do governo, “para o bem da
go, por ter ousado falar no hospital da Mise- humanidade sofredora”, “medidas enérgicas”
ricórdia. Porém o receio logo passou, depois contra toda espécie deles, “inclusive os de feiti-
que tive a notícia da honrosa aquisição, que
ço” por serem “abundantes nesta região”.9
havia feito este estabelecimento, de um curio-
so curandeiro, especialista no tratamento da
Na década seguinte, quando entre 1882
raiva ou hidrofobia, chamado com todas as
formalidades do estilo para salvar das garras e 1886 houve uma reestruturação dos serviços
da morte uma desgraçada mulher, que sendo de saúde pública no Império, a partir da qual
mordida por um cão danado, e que apesar da foram criadas delegacias de higiene municipais
ciência do miraculoso esculápio, deixou este para cuidarem do saneamento das povoações e
mundo de ilusões e foi habitar o das realida-
remediarem os males que afetavam os seus ha-
des, servindo-lhe na viagem de documento um
passaporte assinado, sem dúvida alguma, por bitantes, a perseguição aos curandeiros que até
um colega condescendente, pois do contrário então estava quase restrita às grandes cidades au-
vedada lhe seria a passagem. Confesso since- mentou. Assim, em Santo Antônio do Monte, o
ramente que logo que acabei de ler em todos delegado de higiene relatou que, “para melhorar
os jornais a notícia de tão científica solução,
o péssimo estado” da “prática da medicina” na
respirei mais levemente. Quem cura os efei-
localidade, multou “para o bem da humanidade”
tos da raiva determinada pela dentada do cão,
curará também os que forem mordidos pela os curandeiros com o objetivo de impedir os tan-
mesma raiva de homens sãos que não gostam e tos abusos cometidos por eles.10
não querem ouvir as verdades. Que feliz acha-
do! não temo doravante a vingança dos meus Contudo, esses agentes populares das
inimigos. A competência do bem-aventurado
8 Gazeta Médica do Rio de Janeiro, ano 1, nº. 7, 1/09/1862, p. 75.
missionário está reconhecida e recomendada 9 APM, Relatórios de saúde pública, PP 1-26, cx. 3, 1871, p. 3.
pelo primeiro hospital do Brasil e talvez da 10 APM, Relatórios de saúde pública, PP 1-26, cx. 5, 1888, sem
paginação.

102 História e Economia Revista Interdisciplinar


artes de curar continuaram atuando sem maio- dos curandeiros e a ação dos charlatães o fato de
res obstáculos, pelo menos no vasto interior mi- que “quase todos os médicos, tanto nacionais
neiro, como a documentação permite observar. quanto os estrangeiros, por bem óbvia razão”
Em Pará de Minas, a sua delegacia de higiene preferiam se estabelecer “nas capitais e em um
foi abandonada pelo delegado, pois este alegou pequeno número de vilas”, conforme comentário
“não poder exercer o cargo, tanto por causa de Pedro Dornellas Pessoa, em uma reunião da
de não encontrar garantia nenhuma das outras Sociedade de Medicina de Pernambuco ocorrida
autoridades desta cidade, quanto por causa dos no final de 1841.14 A dita “óbvia razão” está re-
abusos dos curandeiros, e até mesmo dos farma- lacionada com os interesses materiais da classe
cêuticos licenciados, que praticam toda a sorte médica, pois, como Souza Costa explicou em
de abusos infringindo as disposições do Regula- 1863 na abertura da Gazeta Médica do Rio de
mento Sanitário”. O mesmo ocorreu em Passos, Janeiro, “a falta de facultativos que existe em
porque “a Câmara Municipal se recusou tornar lugares onde o comércio e a indústria ainda não
efetivas as multas contra os curandeiros e outros puderam chegar” se dá por causa das “poucas
infratores das disposições sanitárias do país”.11 vantagens” que aí “encontram no exercício da
profissão”.15
Isso quer dizer que o poder municipal
fazia pouco esforço para impedir a atuação dos Por esse motivo, em diversas localidades
curandeiros. Pois esses prestavam seus serviços faltava pessoal formado em medicina, como em
sem que as autoridades lhes tolhessem os passos, São Bento do Tamanduá, cuja Câmara Municipal
como Luiz Tenoti que, segundo o delegado de em 1855 relatou à Inspetoria de Saúde da Pro-
higiene de Araxá, era uma dessas pessoas “au- víncia de Minas Gerais que em todo este termo
dazes” que não faziam seleção dos meios para existiam apenas “um ou outro curioso” que em
alcançar os fins desejados, desprezando impune- casos ordinários socorriam os enfermos.16 Ou em
mente “as leis brasileiras.12 Dores do Indaiá, cuja vereança em 1871 infor-
mou à mesma Inspetoria de que não havia “em
Às vezes, o descaso das Câmaras Muni- todo Município um só cirurgião” que pudesse
cipais era tão grande em relação a esse problema, “acudir a humanidade sofredora”.17
que em alguns municípios até os charlatães atu-
avam livremente. Foi o que ocorreu, entre tantos Para resolver esse problema, na década
outros lugares, em Rio Pardo. Segundo infor- de 1860 cogitou-se a possibilidade de se abrirem,
mações do chefe de polícia local, “um homem nas províncias mais distantes das que sediavam
estúpido e sem luzes de estudos e prática alguma as duas faculdades de medicina do país, insti-
de medicina e nem cirurgia” vivia “enganando tuições de ensino que oferecessem cursos técni-
o povo intitulando-se doutor, fazendo receita a cos de saúde, o que desagradou a alguns médi-
dez mil reis cada uma, e usando de botica sem cos. Um deles, Cyrilo Silvestre, a esse respeito
ser boticário”.13 comentou:

Muito contribuía para a popularidade Ao passo que a ciência hipocrática se


vai aniquilando na Santa Casa da Misericórdia,
11 Idem. O referido regulamento, no seu artigo 6º, aprovado em 1882,
dispõe que os farmacêuticos não poderão fornecer medicamentos senão 14 Anais da Medicina Pernambucana, ano 1, nº. 1, 1842, p. 35.
à vista de receitas assinadas por facultativos matriculados nas câmaras 15 Gazeta Médica do Rio de Janeiro, ano 2, nº. 22, 15/11/1863, p. 259.
municipais, sob pena de multa de 100 mil réis. 16 APM, Ofícios do governo da província, SP 574, 1855, p. 99.
12 Idem. 17 APM, Relatórios de saúde pública, PP 1-26, cx. 3, 1871, sem
13 Ibidem, cx. 2, 1870, p. 10. paginação.

História e Economia Revista Interdisciplinar 103


A concorrência no mercado de trabalho médico no Brasil do século XIX

o Exmº Sr. Conselheiro Jobim e de acordo com em geral.


ele o Dr. Feital querem que o governo multipli-
que as escolas médicas, criando-as no centro Dessa maneira, como os efeitos da Ilus-
de algumas províncias longínquas, sem grande tração na cultura popular foram tardios e muito
aparato, nem pessoal numeroso, e destinando-
limitados, a religiosidade continuou sendo um
as a instruírem superficialmente alguns curio-
sos, que sem o pomposo título de doutor pos- fator fundamental no imaginário social para con-
sam todavia curar e matar por sua conta a pobre frontar as enfermidades no mundo inteiro, tanto
humanidade. Desgraçada! que sorte cruel vos no plano pessoal, quando elas atacavam indiví-
guarda!18 duos isoladamente, quanto no plano coletivo,
quando se manifestavam de forma epidêmica.
Para reforçar a sua objeção a essa pro- Razão pela qual é possível compreender a circu-
posta, ele questionou: “Se das faculdades do lação de anúncios em jornais da capital imperial,
Rio de Janeiro e da Bahia, convenientemente oferecendo a troco de alguns réis orações para
montadas, com um professorado ilustrado, saem benzer casas, ou palavras santíssimas, contra os
muitas vezes doutores indoutos que”, em sua terríveis estragos das pestes, como a de cólera
opinião, “deveriam responder pelos” irrepará- que, ao devastar o Brasil em 1855, foi retratada
veis erros “que praticam, o que não acontecerá” em um soneto baiano intitulado Entre a morte e a
quando forem montadas “as projetadas esco- fé, em que se lê em um dos seus versos o seguin-
las?” Ao que respondeu: o aumento da “enorme te: “Sim, sois vós, meu Jesus! Sois vos somente
povoação dos cemitérios, a viuvez, a orfandade, em tão negra e medonha tempestade o certo am-
o luto, o desespero e, finalmente, a miséria”.19 paro desta aflita gente!”.21

Como aquela proposta não foi levada É por isso então, junto com as razões an-
adiante, devido às controvérsias geradas por ela, teriormente citadas, que “o povo ignorante mais
a população do interior continuou “entregue ama o prestígio e as maravilhas do curandeiro
às mãos ignorantes dos curandeiros da roça”, do que a simplicidade do homem da arte”, como
como lamentou Júlio de Moura em uma corres- comentou Souza Costa em um texto publicado
pondência científica publicada na Gazeta Médi- na Gazeta Médica do Rio de Janeiro no ano de
ca da Bahia no ano de 1868. 20 1863.22 E isso ocorria até mesmo no coração
da Europa ilustrada. O estudo de Robert Dar-
Se a falta de médicos na maioria das
ton sobre o mesmerismo em relação ao século
localidades onde não havia médicos explica o
XVIII francês, os documentos digitalizados do
porquê da popularidade dos curandeiros, não
Archive Nationale, section du XIXeme siècle e
se pode atribuir somente a ela a ampla aceita-
as páginas de anúncio da Gazeta de Paris dão-
ção deles. Pois, mesmo nas capitais dos países
nos cabais testemunhos de que tal realidade não
considerados mais avançados em medicina, onde
era típica de países considerados atrasados pelo
estavam sediadas as suas principais instituições
eurocentrismo.23
médicas, eles também eram muito comuns por
pelo menos um motivo: sua combinação de ervas O charlatanismo, quer dizer, artifícios
e raízes com os mais variados elementos religio-
sos era há séculos muito aceita pela população 21 Apud, respectivamente, Filho, Licurgo de Castro Santos (1991) p.
443 e David, Onildo Reis (1996) p. 100.
22 Gazeta Médica do Rio de Janeiro, ano 2, nº.
18 Gazeta Médica do Rio de Janeiro, ano 1, nº. 7, 01/09/1862, p. 76. 22, 15/01/1863, p. 259.
19 Idem. 23 A consulta da documentação francesa a esse respeito pode ser
20 Gazeta Médica da Bahia, ano 2, nº. 41, 15/03/ 1868, p. 200. consultada em www.bium.univ-paris5.fr

104 História e Economia Revista Interdisciplinar


usados por pessoa que “alardeia saber que não tamanhos e tão profundos efeitos. Agora, po-
possui, ou que ostentando uma conduta miste- rém, que cá estou do outro lado da vida, posso
confessar tudo: o que me influiu primeiramente
riosa faz crer que possui saber secreto nesta ou
foi o gosto de ver impressas nos jornais, mos-
naquela ciência ou arte”, foi outro grande pro- tradores, folhetos, esquinas, e enfim nas caixi-
blema enfrentado pelos médicos para proteção nhas do remédio, estas palavras: Emplasto Brás
dos seus interesses materiais e os da saúde pú- Cubas. Para que negá-lo! Eu tinha a paixão do
blica.24 Até o final do século XIX, os charlatães arruído, do cartaz, do foguete de lágrimas. Tal-
encontravam menos obstáculos para exploração vez os modestos me arguam em defeito; fio, po-
rém, que esse talento me irão de reconhecer os
da boa fé das pessoas, devido à ausência de leis
hábeis. Assim, a minha idéia trazia duas faces,
mais duras contra a sua atuação. Assim, muitas como as medalhas, uma virada para o público,
terapias “milagrosas” e remédios “infalíveis” outro para mim. De um lado, filantropia e lu-
contra todo tipo de doença, inclusive as incurá- cro, de outro lado, rede de nomeada. Digamos:
veis, eram anunciadas pelos jornais. amor da glória. (ASSIS, 1997, 19)

A esse respeito Tobias Rabelo Leite Conforme avaliou Cyrilo Silvestre em


escreveu em 1849 na sua tese sobre “polícia sua crônica na Gazeta Médica do Rio de Janei-
médica”: ro, além das pessoas sem formação acadêmica
que “mercadejavam na praça do charlatanismo
“E incrível que em um país que aspira a saúde e vida dos seus semelhantes”, muitos
as honras da civilização se propalem pelas fo-
indivíduos que ao “lançar mão da profissão
lhas públicas, no centro da capital do Império,
médica”, como “senhores de um pergaminho,
à face das primeiras autoridades, virtudes infi-
nitas de remédio cuja fórmula é desconhecida, obtido muitas vezes Deus sabe como, aprovei-
e que se permita a qualquer pessoa vendê-lo ao tando-se das prerrogativas que ele concede,” o
povo incauto, que sempre se deixa levar pelos desonravam “a todos os momentos, faltando ao
pomposos anúncios e pelos inúmeros atestados juramento que prestaram”. 25 Isso porque entre
adrede arranjados, até colher ele por si o desen-
os médicos havia os que, para “descrédito da
gano”. (LEITE, 1849, 26)
profissão”, lançavam mão de meios para atração
Isso era tão comum que acabou sendo de clientes que os aproximavam dos charlatães,
alvo da ironia de Machado de Assis nas pági- levando a direção da Gazeta Médica da Bahia a
nas de Memórias póstumas de Brás Cubas, cujo publicar em seus editoriais o código de ética mé-
personagem principal conta que certa vez teve a dica adotado pela Associação Médica America-
idéia da “invenção de um medicamento sublime, na, como forma de reforçar o seu compromisso
um emplasto anti-hipocondríaco, destinado a com a luta para a sua classe profissional atingir
aliviar a nossa melancólica humanidade”. Com a “maior pureza de caráter e o mais alto grau
esse e outros objetivos, explicou o que o motivou de perfeição moral”. Com esse objetivo, em
a levar a sua idéia adiante: um dos parágrafos do artigo primeiro do referi-
do documento, encontra-se a seguinte restrição:
Na petição de privilégio que então “É aviltar a dignidade da profissão, recorrer a
redigi, chamei a atenção do governo para esse
anúncios públicos, cartões, ou bilhetes, chaman-
resultado verdadeiramente cristão. Todavia,
do a atenção dos indivíduos afetados de certas
não neguei aos amigos as vantagens pecuni-
árias que deveriam resultar da distribuição de moléstias”.26
24 Definição apresentada no editorial da Revista Médica Brasileira, 25 Gazeta Médica do Rio de Janeiro, ano 1, nº. 7, 01/09/1862, p. 80.
ano 5, nº. 1, 1839, p. 7. 26 Gazeta Médica da Bahia, ano 2, nº. 33, 15/11/1867, p. 97.

História e Economia Revista Interdisciplinar 105


A concorrência no mercado de trabalho médico no Brasil do século XIX

Algumas folheadas nas páginas dos jor- sufocada no meio das invasões bárbaras do
nais que circulavam na Europa e nos EUA duran- charlatanismo! Tudo me parecia augurar este
doloroso destino, porque eu via, e ainda vejo
te a segunda metade do século XIX mostram que
infelizmente, como em nosso país se procura
muitos médicos ignoraram esse documento, ou defraudar e prostituir a mais bela, a mais nobre,
algumas de suas restrições, como a anteriormen- a mais opulenta de todas as artes humanas.29
te apresentada, bem como vários farmacêuticos,
os quais anunciavam, com artifícios charlatanes- Trata-se apenas de uma incipiente visão
cos, remédios para os mais diversos tipos de en- de que os charlatães poderiam ser vencidos com
fermidades. Em razão disso, a direção do mesmo a união dos médicos, porque estes ainda se res-
periódico os exortou a mudarem de atitude com sentiam da falta de maior e mais eficaz fiscali-
essas palavras: “Longe de imitarmos o charlata- zação por parte dos poderes públicos sobre “o
nismo, combatamo-lo antes pela união de nossas charlatanismo que ameaça, como a hidra de
forças, com a consciência do nosso dever, com o Lernes30*, estender milhares de cabeças pelas
exemplo da nossa lealdade e a pureza de nossas nossas cidades, pelas nossas vilas, pelas nossas
intenções”. Afinal, “em nenhum país é mais ne- aldeias”, como comentou o mesmo autor.31
cessária a confraternidade e a união da classe
médica do que no Brasil, onde nos vemos de- Esse ressentimento se explica pelo fato
sajudados da proteção oficial contra a invasão de o exercício ilegal da medicina e da farmácia
crescente do charlatanismo”, entre aqueles “que ser, pelo menos no caso brasileiro, uma herança
consideram a nossa profissão um apostolado, um colonial difícil de enfrentar, por causa da dificul-
sacerdócio, e não uma ocupação lucrativa”.27 dade de se fiscalizar a atuação dos seus agentes
no seu vasto território, o que muitas vezes es-
Essa exortação expressa, portanto, o es- timulava até mesmo alguns estrangeiros que vi-
forço da elite médica para combater os charla- nham para cá se passarem por pessoas formadas
tães, não só para proteger a saúde pública, mas em tais campos de conhecimento. Em relação
também para justificar as suas demandas cor- a esse problema, Bento Pinto de Vasconcelos,
porativas, como afirmou-se em um editorial do responsável pelo relatório de saúde pública de
periódico em tela: “É tempo de cuidarmos dos 1828, procurou chamar a atenção das autoridades
nossos interesses profissionais”, e “dos nossos provinciais para “a excessiva entrada de estran-
créditos científicos como povo civilizado e das geiros no Império”, segundo ele, “muito escan-
garantias que as nossas qualificações profissio- dalosa”, porque, entre os quais, “tem entrado
nais possam oferecer à saúde das populações”.28 um enxame de semelhante gente, inculcando-se
professores da arte de curar, espalhando-se pe-
Engajados nesse esforço, alguns médicos los sertões das províncias”. Com efeito, “tem-
começaram a apresentar um incipiente otimismo se visto muitos estragos de suas experiências e
quanto à vitória contra o charlatanismo, como depravadas conseqüências”, e, não obstante, “o
Júlio de Moura em um texto publicado em 1868: povo crédulo e sempre amante das novidades
De longa data me parecia que a rege- se entrega cegamente a eles, apesar dos tristes
neração da nossa arte no Brasil era uma coisa 29 Ibidem, ano 2, nº. 41, 15/03/1868, p. 198.
ainda por se esperar do futuro, uma revolução 30 *O autor faz alusão ao monstro mitológico que Hércules (Heracles)
matou no segundo dos dez trabalhos a ele impostos por Zeus. O referido
a tentar-se remota, lenta, que devia sempre ser monstro, uma serpente com 9 cabeças, vivia no pântano de Lerna, de
onde, de tempos em tempos, saía e destruía rebanhos e plantações
27 Ibidem, ano 2, nº. 32, 31/10/1867, p. 87-88. inteiras.
28 Ibidem, ano 2, nº. 39, 15/02/1868, p. 172. 31 Ibidem, p. 199.

106 História e Economia Revista Interdisciplinar


exemplos”. Tendo dito isso, continuou a sua ad- período no qual elas foram acumulando pesso-
vertência relatando o seguinte caso ocorrido em al capacitado, associações científicas, imprensa
Baependi: especializada e órgãos destinados a exercer vigi-
lância sobre o exercício da medicina e farmácia.
Acha-se em Aiuroca um francês de
Entretanto, em regiões onde havia carência de
nome François Duberge que se intitula médico
de Montepelier, fazendo papel de doutor, san-
pessoas habilitadas em tais campos de conheci-
grando pelas casas com a lanceta na mão, sa- mento, como no interior de Minas, o problema
crificando vítimas sem pejo e nem freio algum. do seu exercício ilegal continuou preocupante,
Os magistrados a quem o governo delegou a conforme informam os relatórios dos inspeto-
vigilância da saúde pública são mudos espec- res de saúde pública. Em um deles, relatou-se o
tadores, e como até agora não apareceu provi-
seguinte:
dência alguma nesse assunto de tanto melindre
comunico a Vossa Excelência o fato para dar o
É muito difícil e quase impossível dar
fim que julgar correta ao bem da humanidade.32
execução dos destinos das leis que regem este
ramo de serviço público, visto que não se pode
Na década de 1860, casos como esse privar, mesmo com toda a vigilância, o exer-
aconteciam raramente em cidades onde havia cício dos entendidos e práticos no socorro à
significativa oferta de médicos, sobretudo no pobreza desvalida que coberta de sofrimentos,
Rio de Janeiro e em Salvador que possuíam uma deles se valem, o que não obstante tenho por
classe médica organizada, o que foi comentado circulares enviado aos subdelegados de polícia,
para publicarem editais contendo os artigos que
por Cyrilo Silvestre dessa maneira:
proíbem os exercícios da Medicina àqueles que
não se acham habilitados.34
Já vai longe o tempo em que o Brasil,
à míngua de médicos formados e competente-
mente autorizados a exercerem a profissão, era
Mas essa proibição desacompanhada de
devastado por uma audaz e desenfreada corte repressão favorecia a atuação dos charlatães, le-
de charlatões, que munidos de falsos títulos vando alguns juízes de paz a pedirem providên-
arrogavam-se o direito de curar, sem que as au- cias urgentes contra eles, como o de Curvelo, que
toridades do país lhes embargassem os passos. “pelo amor da saúde pública e do povo deste
Alguns destes impostores conseguiram adquirir
lugar”, solicitou a intervenção do governo pro-
rendosa clientela, e o que mais admira, goza-
ram de certa reputação, graças à ignorância do vincial nesse município devido à gravidade dos
povo, que então vivia mergulhado em profun- fatos por ele observados, como esse:
das trevas e ainda no berço da civilização. Com
a criação das faculdades de medicina em 1831, Nos últimos dias de junho do ano
semelhantes zangões da saúde pública, atemo- corrente, apareceu aqui um indivíduo de nome
rizados pela justa perseguição dos homens da Germano Souza Batalha, dizendo que vinha
ciência, abandonaram a estes o campo que de explorar um lavra de diamantes. Mas tal lavra
direito lhes pertence, e salvo um ou outro mais ele não explora. Ao contrário, arvora-se como
corajoso e temerário, retiraram-se para o centro médico e farmacêutico, aproveitando-se da cre-
de certas províncias menos civilizadas, onde dulidade do povo, pondo-se a receitar e a mani-
continuam em suas proezas.33 pular remédios. Ora, ilustríssimo Senhor, o in-
divíduo citado é quase analfabeto, e como pode
De fato, se passar por médico ou farma- ser ele apto para conhecer uma ciência que é o
complexo das matemáticas, clínicas, Botânicas
cêutico em cidades que sediavam instituições
e Ciências Naturais ? A resposta é óbvia: arrojo
médicas ficou difícil e arriscado depois de um
32 APM, Relatórios de saúde pública, PP 1-26, cx-1, 1828, p. 4. 34 APM, Correspondências das Secretarias de Governo, SG 526, 1869,
33 Gazeta Médica do Rio de Janeiro, ano 1, nº. 13, 01/12/1862, p. 149. p. 40.

História e Economia Revista Interdisciplinar 107


A concorrência no mercado de trabalho médico no Brasil do século XIX

e embuste por parte dele e credulidade e igno- Senhor, e vede se há algum equilíbrio entre o
rância do povo. Não havendo subdelegado de farmacêutico e o negociante, porque pagamos
polícia no distrito onde ele atua, não tem sido nós direitos gerais e provinciais, e cuja função
compelido a exibir os seus títulos. Espero que demandando estudos nos impede de acumular
Vossa Senhoria, com autoridade e Homem de outras. Ora, a medicina deve estar ao alcance
Ciências, por respeito à Nobre Classe a qual de todos? Ao estar, ou devendo estar, então
pertence e por amor à humanidade, fará o dito fechem as Academias e deixe o povo ao livre
Germano parar com os seus abusos.35 exercício da profissão. Ilustríssimo Senhor, é
necessário um paradeiro nisto, pois a medicina
Em relação às atividades de formulação, está ao desdém, e isto é uma coisa que ofende
a Saúde Pública, devendo merecer mais con-
manipulação e venda de remédios, desde a aber-
siderações do que já mereceu, imitando o que
tura de cursos de farmácia no Brasil na década de já fizeram os países cultos. Deve prevalecer o
1830, no de Rio de Janeiro (1832), em Salvador interesse particular em detrimento do público?
no mesmo ano e em Ouro Preto (1839), começou Quem vende remédios indistintamente e sem
a ocorrer maior preocupação com a regulamen- habilitação faz com que a Saúde Pública seja
tação do exercício dessas atividades. Antes da uma quimera. Pobre Humanidade...36
criação desses cursos, eram os práticos sem di-
Apesar da contundência desse texto en-
ploma universitário que exerciam tais atividades.
dereçado às autoridades provinciais, em que
Porém, a partir da inauguração da Junta Central
o seu autor, representando os interesses da sua
de Higiene Pública em 1851, a atuação deles aos
classe profissional e o da saúde pública, solicita
poucos foi ficando cada vez mais restrita à co-
a exclusividade da comercialização de medica-
mercialização de medicamentos.
mentos aos que estavam legalmente autorizados
Mas o processo de imposição dessa res- para o exercício de tal atividade, em muitas loca-
trição foi tenso, como a documentação permite lidades a situação não havia mudado. Em 1888,
observar. Um exemplo disso encontra-se em um por exemplo, vários delegados de higiene pro-
texto extremamente crítico de um farmacêutico curaram levar “ao conhecimento dos poderes da
residente no Município de Formiga, interior de Província” de Minas o “costume generalizado
Minas, Joaquim Ferreira Pires, datado em 25 de até mesmo de negociantes em venderem drogas,
outubro de 1870, no qual ele diz: mesmo as corrosivas”, que estava provocando
graves problemas sanitários, como em Catagua-
Já tendo representado à Inspetoria ses, onde ocorreu o “envenenamento de uma
sobre os abusos no exercício da Medicina e
criança”.37
Farmácia, e nenhum resultado obtido, rogo
respeitosamente que este órgão se digne coibir
Na área farmacêutica, além desse costu-
estes abusos atentatórios aos direitos dos far-
macêuticos. Aqui, como em muitos pontos des- me havia também o de se anunciarem remédios
ta província, há tantas boticas em negócios de como se fossem infalíveis e universais (ou seja,
fazendas, porque não contentes em negociarem considerados pelos seus fabricantes eficazes
nos seus próprios ramos, trazem do Rio de Ja- contra diversas doenças), cujas fórmulas por isso
neiro sortimentos de drogas e remédios. Quem
eram mantidas em segredo, contrariando o ideal
deve merecer mais a atenção, a saúde pública
ou os negociantes especuladores e oportunis-
da Ilustração de que o objetivo do saber deve ser
tas? Toda a tolerância é permitida em favor o de favorecer a melhora da vida humana. Agin-
dos ditos negociantes. Comparai, Ilustríssimo do dessa maneira, os responsáveis por anúncios
35 APM, Relatórios de Saúde Pública, PP 1-26, cx. 3, 1871, sem 36 Idem.
paginação. 37 Ibidem, cx.5, 1888, sem paginação.

108 História e Economia Revista Interdisciplinar


e pela fabricação de medicamentos que suposta- compõe e o ávido especulador encarece, apre-
mente tinham essas características começaram a goando suas virtudes exageradas e até falsas”,
ser, a partir da segunda metade do século XVIII, obtidas de plantas “reveladas pelos indígenas,
acusados de charlatões, oportunistas, inimigos ou camponeses experientes”, como a “salsapa-
da saúde pública e meros mercadores que alme- rilha, guaiaco, ipecacuanha, quassia, quina”.38
javam fazer fortuna à custa da dor alheia. Um
dos tantos médicos europeus que fizeram essa Segundo alguns médicos, tudo isso co-
acusação foi José Henriques Ferreira em um li- meçava às vezes com “o espírito de exageração
vro publicado em Lisboa no ano de 1785, cujo dos viajantes” em relação às propriedades me-
título evidencia o seu objetivo: Discurso críti- dicinais dessas plantas. Foi o que argumentou
co em que se mostra o dano que têm feito aos Francisco da Silva Castro em um artigo publi-
doentes os remédios de segredos e composições cado originalmente no Diário do Grão-Pará, ao
ocultas, não só pelos charlatões e vagabundos, relatar a apresentação de uma droga amazônica,
mas também pelos médicos que os têm imitado. o uirary39*, à Academia Real de Ciências de Es-
tocolmo, que até então estava envolta no “véu
No Brasil, José Maria Bomtempo foi um do maravilhoso”, apesar de seu costumeiro uso
dos primeiros que questionaram os medicamen- pelos indígenas. 40
tos anunciados com essas características em uma
obra intitulada Esboço de um sistema médico, na Era a partir de drogas como essa, re-
qual fez a seguinte reflexão: tiradas das florestas tropicais pelos botânicos
estrangeiros (genericamente conhecidos como
Para o cúmulo da miséria humana (...) viajantes), que a indústria farmacêutica fabricava
tem aparecido série de impostores, os quais remédios e os anunciava como infalíveis e uni-
querendo fazer fortuna, ousaram introduzir, e
versais sem muitas vezes revelar a sua fórmula.
facilmente levados pela credulidade dos povos,
tem efetivamente introduzido, ou o uso dos re- Na década de 1860, o aumento de anúncios de
médios para próprias e determinadas moléstias, medicamentos com essas especificidades levou a
ou de outros chamados universais, para todas Junta Central de Higiene Pública a se empenhar
e quaisquer enfermidades; e é notável não só para obstá-los, seguindo suas congêneres de ou-
a confiança com a qual aqueles se sujeitam a
tras partes do mundo, como resultado das pres-
semelhante uso, mas maravilha ver o abando-
no e a preponderância que se dá a remédios,
sões das elites médicas, “requisitando do dele-
cuja fórmula é segredo; e por conseguinte dar- gado de polícia a multa que impõe a lei àqueles
se a aplicar um remédio que não se sabe o que que vendem remédios secretos, para aplicá-la a
é ou cuja natureza e composição se ignora. um crescido número de farmacêuticos”, os quais
(BOMTEMPO, 1825,54) “enchem cotidianamente páginas de jornais com
anúncios bombásticos”, como noticiou Cyrilo
Depois dele, vários outros autores con-
Silvestre. Segundo ele, anunciavam as mais di-
tinuaram fazendo inúmeras reflexões sobre esse
versas invencionices: “Pomadas milagrosas, eli-
tema com o mesmo teor crítico ao longo do sécu-
xires de longa vida, pílulas para a regeneração
lo XIX. Em uma delas, publicada na abertura dos
do sangue, pastilhas infalíveis para todas as mo-
Anais da Medicina Pernambucana no início da
década de 1840, procurou-se denunciar as “pre- 38 Anais da Medicina Pernambucana, ano 1, nº.1, 1842, p. 3.
39 *Termo da língua tupi, usado pela tribo dos ticunas, para designar
parações exóticas que a multiforme indústria uma substância extraída de um cipó do gênero dos estricninos, confor-
me definição de Humboldt, segundo o autor do referido artigo.
inventa, que também a perniciosa charlatania 40 Esse artigo foi republicado na Gazeta Médica da Bahia, ano 2, nº.
39, 15/02/1868, p. 172.

História e Economia Revista Interdisciplinar 109


A concorrência no mercado de trabalho médico no Brasil do século XIX

léstias do peito, injeções que curam em 24 horas médios secretos, ou tomarem parte, de qualquer
qualquer hemorragia, xaropes que restabelecem forma, em seu fabrico e venda”.44
os tísicos no último período da moléstia”, etc.41
Um dos profissionais que acataram essa
Após informar das providências que recomendação, conforme foi noticiado na Gaze-
esse órgão estava tomando para “cortar pela ta Médica da Bahia, foi Vicente Sabóia, ao abor-
raiz uma ilegalidade por longos anos tolerada dar esse assunto em suas aulas para “por a salvo
e de alguma sorte sancionada pelo costume”, tal do pernicioso charlatanismo os seus jovens ou-
médico sugere “que antes do grande golpe ser vintes e precavê-los contra a cobiça desonesta
dado [contra] os infratores” devem-se avisá- que explora a credulidade pública sem pejo nem
los de que “não podem continuar impunemente consciência”, a qual, “em certas gazetas diá-
na marcha que vão”, para tentar regenerar os rias”, como era comum, “refugiam-se ao lado
“que possuem um diploma por uma Faculdade dos Ayes, Bristols e Holloways, à sombra do
respeitável”.42 Mas, ao que parece, a medida anúncio industrial”.45 Tal cobiça estava passan-
não surtiu efeito, porque remédios supostamente do dos limites, por exemplo, em relação aos “es-
infalíveis e universais e de composição secreta treitamentos de uretras”, ao ponto de, segundo
continuaram sendo anunciados fartamente. Por esse médico, “os charlatões apregoarem pelos
isso, vários médicos enviaram textos aos órgãos jornais que os seus operados ficarão curados
da imprensa especializada em suas áreas de atu- instantaneamente, sem necessidade de comple-
ação, com o objetivo de, ao publicá-los, chamar tarem a cura com a passagem das sondas”, que
a atenção da opinião pública para a gravidade do “não há nenhum saltimbanco que não anuncie
problema. Afinal, como determinava o código de que possui um meio fácil de curá-los”.46
ética da Associação Médica Americana, confor-
me a elite desse campo de conhecimento no Bra- Por essa razão que na Gazeta Médica
sil recorrentemente reiterava: da Bahia os seus diretores procuraram divulgar
na íntegra, em números seqüenciados, o código
“É dever dos médicos, que são fre- de ética da Associação Médica Americana, para,
qüentes testemunhas dos excessos cometidos conforme suas palavras, “cumprimos um indecli-
pelos charlatões e dos prejuízos à saúde, e
nável dever que nos impõe a consciência”, entre
até da destruição da vida, causados pelo uso
dos remédios secretos, esclarecer o público os quais, o de lutar para que “não convertam a
sobre estes assuntos e mostrar os danos que nobre profissão a que pertencemos em uma mera
sofrem aqueles que não conhecem os embus- indústria”. Com esse objetivo, publicaram em
tes e pretensões dos industriosos charlatões suas páginas críticas contundentes contra “os
impostores”.43
mercadores de remédios e de curas”, como a
“turba dos Holloways, Bristols, Ayes, Dehauts,
Para isso, essa Associação recomendava
Kemps, e uma infinidade de outras”, chamando-
aos médicos o seguinte: “Empregar toda influên-
os ironicamente de “beneméritos da humanida-
cia que possuem, como professores nas escolas
de, que se aproveitam no Brasil de uma tolerân-
de farmácia, manifestando suas preferências a
cia incrível para exercerem a sua indústria com
respeito das boticas a quem devem ser enviadas
a aprovação tácita da imprensa, da polícia sani-
suas receitas”, com o objetivo de “dissuadirem
os droguistas e farmacêuticos de venderem re-
41 Gazeta Médica do Rio de Janeiro, ano 2, nº. 15, 01/08/1863, p. 179. 44 Idem.
42 Idem. 45 Ibidem, ano 2, nº. 46, 31/03/1868, p. 257.
43 Gazeta Médica da Bahia, ano 2, nº. 34, 30/11/1867, p. 111. 46 Idem.

110 História e Economia Revista Interdisciplinar


tária e do público médico”.47 um remédio (...) que tanto bulha tem feito e por
ventura fará”.51
Certa vez, a direção desse periódico em
um de seus editoriais fez a seguinte avaliação a A sua previsão de que a venda desse me-
respeito disso: “A vertigem do anúncio tem ido dicamento aumentaria significativamente acabou
já muito longe, e a continuar assim ninguém se confirmando, pois a sua popularidade cresceu
pode calcular aonde irá parar esta indústria no significativamente de forma que em vários pe-
presente século, especialmente em novo país”.48 riódicos especializados em medicina tornou-se
Isso porque, além dos mais exagerados con- alvo de recorrentes críticas. Na Revista Médica
teúdos de suas propagandas, os mercadores de Fluminense, por exemplo, em 1835 foi publica-
remédios se apropriavam da imagem de alguns do um artigo que, em face do uso generalizado
profissionais do saber médico para reforçar o desse remédio, levantou o seguinte problema: “A
apelo comercial dos seus produtos, como a do opinião favorável que têm obtido entre o vulgo o
falecido conselheiro Jonathas Abbot, cuja famí- vomitório e o purgante de Le Roy será devida ao
lia permitiu a um anunciante usá-lo para divulgar pouco uso que fazem atualmente os facultativos,
“pílulas de composição não declarada” em car- desprezando sem razão a medicina humoral dos
tazes “afixados nas esquinas a toque de caixa”.49 antigos?” 52

“Singular contraste!” Foi o que a dire- Alguns anos mais tarde, os membros da
ção do mesmo periódico comentou a respeito, Sociedade de Medicina de Pernambuco publica-
acrescentando que “o nome dos homens emi- ram o seu parecer sobre uma consulta feita a eles
nentes não é herança exclusiva de suas famílias, pela Câmara Municipal de Recife em relação à
pois pertence também à classe que se desvanece solicitação de Ignácio José do Couto “para abrir
de os ter possuído no seu seio, à historia e à hu- no Bairro de Santo Antônio um depósito do me-
manidade”. Dessa forma, considerou o ocorrido, dicamento conhecido vulgarmente pelo remédio
além de um “desacato à memória de um colega de Le Roy”. Em resposta disseram: “A Câmara
ilustre”, uma grave ofensa “à dignidade das pro- Municipal deve negar a permissão solicitada”
fissões médica e farmacêutica”.50 e, além disso, “por todos os meios a seu dispor
deve impedir, como determinam as disposições
Um dos medicamentos mais criticados da legislação vigente, nas boticas ou fora delas
ao longo do século XIX pela elite médica foi a venda deste ou quaisquer outros remédios ati-
purgante Le Roy, por ser anunciado como infa- vos (...) a não serem os pedidos com receita de
lível, universal e sem revelação da sua fórmula. facultativo”. Porque:
Os ataques contra o seu fabricante começaram a
ser feitos desde o final do período colonial, quan- É notório a abuso que deles fazem
do José Maria Bomtempo lamentou a comercia- nesta Província a ignorância e a sórdida avidez,
aplicando-os a todas as moléstias, em todos os
lização de drogas com essas supostas qualidades,
graus, não obstante quaisquer contra indicações
dizendo o seguinte: “Mal pensaria eu que, entre- constitucionais ou mórbidas, causando assim
gue ao trabalho e tarefa que acabo de luminar, ora inflamações rapidamente mortais, ora alte-
novamente me veria obrigado a não largar a rações orgânicas nas vísceras abdominais (...),
pena e ocupar-me também na luta e guerra sobre o que tudo faz não pequeno número de vítimas;
47 Ibidem, ano 2, nº. 32, 31/10/1867, p. 87. e atendendo que um depósito de tais remédios
48 Ibidem, ano 2, nº. 47, 15/06/1868, p. 265.
49 Idem. 51 Bomtempo, José Maria. Op. cit, p. 95.
50 Idem. 52 Revista Médica Fluminense, ano 1, nº. 9, 1835, p. 13.

História e Economia Revista Interdisciplinar 111


A concorrência no mercado de trabalho médico no Brasil do século XIX

vendidos, como geralmente são, sem receita de atrozes e pungentes provenientes de treze cha-
facultativo, no centro da cidade só pode ter por gas abertas espalhadas por diferentes partes do
fim facilitar a venda.53 seu corpo, sendo uma das quais sobre o peito do
pé”, que “o privava de andar causando-lhe as
Na Gazeta Médica do Rio de Janeiro, o
dores mais agonizantes”. Assim, “atormentado
Le Roy também foi alvo de ataques, como os de
por tais aflições e dores, e quase aborrecido da
Torres Homem que, analisando uma epidemia
continuação de semelhante vida, tendo posto de
reinante na época, relacionada possivelmente
parte toda a fé e confiança nas medicinas, (...)
com alimentação, aproveitou a ocasião para cri-
não lhe restava mais esperança alguma, pois
ticar o uso generalizado que as pessoas estavam
resignado esperava com paciência o termo fi-
fazendo dele:
nal dos seus multiplicados sofrimentos”. Mas
A respeito dos purgatórios, podemos então, “eis que milagrosamente por fortuna sua
dizer sem medo de errar que o povo os julga lhe receitaram o grande purificador de sangue,
únicos remédios para maior parte das molés- Salsaparilha de Bristol, e mediante a sua gran-
tias. Na classe baixa então, principalmente de eficácia e excelência ele se achou dentro de
entre pretos, não podem conceber tratamento
pouco tempo livre de seu irremediável estado de
algum sem ser procedido, acompanhado e su-
cedido de purgantes; quer nos hospitais, quer desespero”.55
na clínica civil, o médico se vê constantemente
perseguido pelos doentes, que duas a três ve- Já o seu concorrente, fabricante da Sal-
zes por semana querem ser purgados. Mesmo saparilha Parisiense, justificou o lançamento
entre pessoas esclarecidas encontra-se essa dessa marca para o público brasileiro da seguinte
exigência; bem raras vezes o facultativo é cha- maneira:
mado, que não saiba logo que já se administrou
uma libra de solução de citrato de magnésia ao As numerosas falsificações a que está
doente,se trata de um membro de família, ou sujeita desde alguns anos a essência de salsa-
três colheres da mistura purgativa de Le Roy, parrilha, sobretudo no Brasil, a má preparação
se trata de um escravo.54 de todas as que estão espalhadas no comércio
de casas de drogas e boticas por indústrias de
Para saber até que ponto as críticas mé- New York, completamente estranhas à medici-
dicas aos medicamentos como esse eram justas, na e à farmácia que dão a si mesmos os títu-
vale a pena conhecer o conteúdo dos anúncios por los de doutores e boticários, enfim, o interesse
da humanidade empenharam os sr. Grimault e
meio dos quais alguns deles eram divulgados. Os
Cia, farmacêuticos da Corte Imperial da Fran-
fabricantes da Salsaparilha de Bristol, por exem-
ça e possuidores da mais importante farmácia
plo, chamava atenção dos leitores com letras gar- de Paris, a oferecer ao público brasileiro uma
rafais e frases exclamativas como “UMA VIDA nova essência de salsaparilha vermelha da Ja-
SALVA!”, seguidas de histórias de pessoas que maica, a mais estimada e a mais rara de todas,
alcançavam sucesso terapêutico com o seu uso. mais ainda que os da Japicanga, ou salsaprilha
do Brasil, conjuntamente com todas as novas
Segundo eles, “não temos conhecimento algum
descobertas vegetais depurativas feitas pelos
de nenhum caso que tão perfeitamente mostre de
sábios datando de alguns anos56
uma maneira a mais clara e persuasiva o poder
da Ciência Médica sobre a moléstia; qual seja, a Uma das marcas mais anunciadas da
de Antônio Joaquim Pereira, da Bahia,”, o qual, época era a Ayer. Pelos jornais os leitores pode-
“havia mais de um ano que sofria as dores mais
53 Anais da Medicina Pernambucana, ano 1, nº. 2, 1842, p. 81-82. 55 HPMG, Diário de Minas, ano 1, nº. 110, 12/10/1866, p. 4.
54 Gazeta Médica do Rio de Janeiro, ano 2, nº. 6, 15/03/1864, p. 63. 56 Ibidem, nº. 4, 05/06/1866, p. 4.

112 História e Economia Revista Interdisciplinar


riam encontrar, além do seu peitoral de cereja, a convertam a nobre profissão a que pertencem
sua salsaparilha, as suas pílulas cartáticas, con- em uma mera indústria, em uma especulação
corrente do purgante Le Roy, e os seus remédios mercantil”.59
“infalíveis nas febres intermitentes” e demais
afecções febris. Em relação ao seu inventor, os Todavia, a conversão da medicina em
editores da Gazeta Médica da Bahia, engajados um grande negócio estava tão evidente, que o
como estavam em combater “os mercadores de dramaturgo Martins Pena em 1844 a ilustrou na
remédios e de curas”, porque anunciavam pro- comédia Os Três Médicos, protagonizada pelos
dutos e técnicas que prometiam curar radical e doutores Cautério, alopata, Milésimo, homeopa-
infalivelmente as mais diversas doenças, sem ta, e Aquoso, hidropata. Ao longo das cenas, eles
muitas vezes revelar as suas fórmulas, levanta- se insultam, chamando uns aos outros, por exem-
ram a seguinte questão: plo, de coveiros, defendendo as suas especialida-
des, como o hidropata, para o qual “a hidropatia
Pensará alguém que o célebre dr. Ayer, faz milagres!”, e por isso diz: “Água fria e mais
que ocupa hoje no Brasil o trono do anúncio água fria é a grande panacéia universal. Água
médico-industrial, e tem o privilégio de alas-
para tudo, em tudo, com tudo e por tudo, água
trar a quarta página dos jornais com propa-
ganda bombástica e ridícula das maravilhas da por todas as partes... E salve a humanidade!” 60
sua indústria, pudesse fazer outro tanto no seu
país, onde uma corporação médica das mais Nessa comédia, o enfermo, o sr. Mar-
distintas do mundo prescreve a seus membros, cos, começou a tentativa de restabelecer sua saú-
e aconselha aos médicos em geral, as mais sa- de com o dr. Cautério. Mas, como não obtinha
lutares máximas da honra, do desinteresse e da sucesso, acabou se conformando com seu estado,
honestidade profissional, sem incorrer, pelo
afirmando ao seu filho Miguel que “a ciência é
menos, no severo desprezo da classe que ele
degrada e avilta com um tráfico imoral?57 muitas vezes ineficaz”. Por isso, este lhe sugeriu
“um médico homeopata”, e depois um amigo
Em seguida, afirmaram que a invenção da família, o sr. Lino, indicou um hidropata ar-
de medicamentos com todas as virtudes anun- gumentando “que se não faz bem, também não
ciadas nos jornais não passava de oportunismo faz mal”, o que fez o médico alopata sentir-se
comercial, já que se um “remédio é realmente desprestigiado e desabafar da seguinte maneira
eficaz, todo o segredo sobre ele será incompa- nesse diálogo:
tível com a beneficência”, conforme os médicos
− Má vida, sr. Lino, má vida é a do
influenciados pela Ilustração criticavam desde a
médico!
segunda metade do século XVIII. Pois, “se sua
importância e valor estão unicamente no misté- Lino − O doutor zomba; dizem que é
das melhores...
rio, semelhante dolo implica ou miserável igno-
Cautério − Um capital e avultados
rância ou avareza fraudulenta”.58 lucros...

Os anúncios de medicamentos com essas Cautério − Sempre estão questão de


dinheiro ... Questão eterna!
características revelam que boa parte dos médi-
cos e farmacêuticos tinha maior interesse pelo Lino − E vital!
Cautério − Não contam os incômodos,
lado lucrativo de suas profissões, apesar da sua
os dissabores e os desgostos que passamos. E
elite sugerir reiteradamente o seguinte: “Não 59 Idem.
57 Gazeta Médica da Bahia, ano 2, nº. 32, 31/10/1867, p. 87. 60 Pena, Martins. Comédias. Rio de Janeiro, Ministério da Educação/
58 Idem. Instituto Nacional do Livro, 1956, p. 249.

História e Economia Revista Interdisciplinar 113


A concorrência no mercado de trabalho médico no Brasil do século XIX

os calotes... Somos criados do povo. Julgam-se é hoje empregada por todos os médicos afama-
todos com o direito ao nosso saber, tão ardua- dos, para o tratamento de muitas moléstias, mes-
mente adquirido e tão pouco reconhecido! Não
mo para as que resistem a outras medicações”.64
temos hora, dia nem descanso ... salva-se o do-
ente, agradece-se à natureza; morre o doente,
Apesar de todas as críticas a esse respei-
culpa-se o médico (...).
Lino − Esse é o único lado mau. E o to, produtos e mais produtos farmacológicos per-
bom? maneciam sendo divulgados pelos principais jor-
Cautério, levantado-se − O único? nais do período em tela. Como forma de ilustrar
E essa súcia de inovadores, magnetizadores, essa permanência, alguns deles seguem integral
hidropatas e homeopatas com que lutamos to-
ou parcialmente reproduzidos abaixo.65
dos os dias? (tira um Jornal do Comércio da
algibeira). Aqui estão nestas colunas as mais
nojentas diatribes, os mais asquerosos insul-
tos que esses charlatões cospem contra nossa
face.61

Esse desabafo simboliza as críticas das


elites médicas das mais diversas nações ociden-
tais, defensora da alopatia, aos membros da sua
classe profissional que aderiam às inovações te-
rapêuticas sem comprovação científica, como as
de Cyrilo Silvestre. Segundo ele, vários exageros
eram cometidos por aqueles adeptos de modis-
mos duvidosos que penetravam “no âmago das
famílias”, recorrendo a alguns artifícios seduto-
res “para esvaziar-lhes a bolsa a troco de pre-
tendidas curas miraculosas”, como se vê anun- 5.1) Escova eletromagnética: Diário de Minas (1866)
ciado “cotidianamente em todos os jornais”,
pelos divulgadores do “magnetismo, sonambu-
lismo e mesmerismo”.62

De fato, nas “folhas públicas” da época,


podem-se encontrar propagandas destes tipos de
terapias que prometiam solucionar problemas de
saúde, usando recursos extraordinárias. Um de-
les foi a escova eletromagnética “que prestará
grandes serviços”, segundo o seu anunciante,
proprietário de um depósito recém-instalado na
rua do Ouvidor, nº. 33, no Rio de Janeiro, o sr.
Didier Roiffé, que, para reforçar os apelos publi-
citários desse invento, mencionou que consta no
5.3) Hungüento de Holloway (Pomada contra feri-
“Moniteur De La Pharmacie63* que a eletricidade das): Diário de Minas (1866)

61 Ibidem, p. 247-248. 64 HPMG, Diário de Minas, ano 1, nº. 4, 05/06/1866, p. 4.


62 Gazeta Médica do Rio de Janeiro, ano 1, nº. 5, 01/03/1863, p. 220. 65 Esses anúncios foram retirados das edições do ano de 1866 dos
63 * Nome de um periódico francês especializado em farmácia. jornais Diário de Minas.

114 História e Economia Revista Interdisciplinar


Os homeopatas também foram consi-
derados charlatães pela elite médica em pra-
ticamente todo o Ocidente, que os acusava de
converter a medicina em um negócio e, por isso,
procurou desqualificá-la perante a opinião pú-
blica. Um dos seus críticos mais ácidos, Cyrilo
Silvestre, comentou em sua crônica que, “quan-
do a homeopatia, arribando às nossas praias,
procurou instalar-se no Rio de Janeiro, pela ne-
cessidade que teve o seu introdutor de criar pro-
sélitos que se incumbissem de propagá-la, uma
epidemia de doutores homeopatas se desenvol-
veu da noite para o dia”. Isso porque, segundo
ele, “o finado dr. Mure conferiu diploma de mé-
dico a quanto caixeiro de botica o solicitava e a
todo indivíduo desempregado que recorria à sua
proteção”. Assim, “as doutrinas de Hahnemann
foram se espalhando entre nos”, seduzindo “al-
guns médicos legalmente autorizados pelas nos-
sas faculdades”.66

Após tais comentários, relatou o se-


guinte caso, como forma de reforçar os seus
ataques contra abusos cometidos durante o pro-
5.2) Peitoral de Kemp (xarope de anacahuita): Diá- cesso inicial de expansão das idéias e práticas
rio de Minas (1866) homeopáticas:

Tive notícia de um fato, cujas provas


possuo, que denota o maior cinismo da parte do
seu autor, e revela muito do desleixo nas nossas
autoridades policiais, tornando-se um escânda-
lo digno de ser severamente punido. Um indiví-
duo que trabalhava como oficial de ourives, por
não colher vantagens do seu penoso trabalho,
anuiu ao convite de um médico homeopata-
magnetizador e foi servir-lhe de exemplo vivo
nas sessões magnético-espirituais que ele dava,
onde exibia provas do milagroso poder do mag-
netismo e da mágica influência do espírito nos
atos humanos. Algum tempo depois, desgosto-
so com o seu novo emprego, o antigo oficial de
ourives decidiu-se a seguir outro rumo, e con-
trariado por ter deixado a sua oficina, exigiu
do homeopata um novo meio de subsistência,
5.4) Pílulas de Holloway (purificação do sangue):
66 Gazeta Médica do Rio de Janeiro, ano 1, nº. 13, 01/12/1862, p.
Diário de Minas (1866) 150-151.

História e Economia Revista Interdisciplinar 115


A concorrência no mercado de trabalho médico no Brasil do século XIX

com o qual pudesse sem muito trabalho ganhar era médico. Tomara o título para ajudar a pro-
bastante dinheiro. O doutor magnetizador, de- paganda da nova escola”. (ASSIS, 2001,22)
pois de pensar algum tempo, perguntou-lhe, _
queres ser médico? Sim, respondeu-lhe o ouri- Com o aumento de prosélitos, a homeo-
ves. Pois bem, vai amanhã à minha casa que te
patia foi sendo consolidada e, aos poucos, livros
darei um diploma. (...) Seis dias se passaram;
em todos os cantos da cidade eram distribuídos destinados ao público leigo, como “a bem co-
cartões, tendo um me chegado às mãos, no qual nhecida obra do dr. Cochrane, Medicina domés-
se lê: A. A. da S. dr. Homeopata pelo Instituto tica homeopática”, começaram a ser anunciados
Homeopático do Brasil.�67 nos jornais, como no O Constitucional.� 69Pela
mesma razão, foram surgindo farmácias espe-
Para a direção da Gazeta Médica da cializadas na manipulação e venda de remédios
Bahia, a “proteção ao charlatanismo audaz” fa- homeopáticos. Em Ouro Preto, por exemplo,
cilitava esses abusos, uma vez que estava sendo na rua da Ajuda, nº. 61, estava funcionando o
“acariciado até por altos funcionários”, porque, “Grande Laboratório Homeopático”, no qual,
depois que “um ministro de Estado, por simples “o público” poderia encontrar “o mais completo
aviso, autorizou a um simulacro de escola home- sortimento de boticas homeopáticas” e “todos
opática do Rio de Janeiro a outorgar certifica- os medicamentos”, bem como “as mais diversas
dos de habilitação a quem ela quisesse”, abusos substâncias medicinais”, vindos “diretamente
começaram a se repetir. Como em São José do dos grandes laboratórios de Londres”.�70
Norte, Rio Grande do Sul, cuja Câmara Muni-
cipal, declarou “em documento público que não Assim, a homeopatia no Brasil foi se
só prestava auxílio e proteção a um homeopata, consolidando a partir dos esforços iniciais de
mas ainda punha à sua disposição as salas do Benoit Mure na década de 1840, passando pela
paço municipal para seu consultório”.�68 criação do Instituto Hahnemanniano�71* e pela
implantação de disciplinas homeopáticas nos
Apesar de todo esse ataque, a home- centros de formação médica no tempo do Impé-
opatia estava atraindo cada vez mais adeptos rio, até a fundação da primeira faculdade e do
e começando a sofrer também com a ação de primeiro hospital nessa área da medicina, respec-
charlatães. Essa ação foi retratada no romance tivamente em 1912 e 1916. Isso quer dizer que,
Dom Casmurro de Machado de Assis, cujo pro- apesar de terem tentado, os alopatas não conse-
tagonista, Bentinho, conta que na fazenda do seu guiram convencer o Estado e a população de que
pai havia aparecido um sujeito, José Dias, “ven- a homeopatia era uma modalidade de charlata-
dendo-se como médico homeopata”, portando nismo e impedir seu processo de consolidação.
um manual e uma botica. Quando isso ocorreu, Mas, ao longo do século passado, acabaram
lá estava grassando um surto de febres que aco- incorporando-a ao saber médico como uma es-
meteu uma escrava e um feitor, os quais foram pecialidade, evitando maiores divergências que
curados pelo referido suposto homeopata, que poderiam provocar desgaste à imagem da própria
por isso conquistou a confiança da família. Certo medicina.
dia, as febres voltaram, e dessa vez com muito
mais força, afetando a escravaria, que foi entre- Além disso, obtiveram êxito contra os
gue aos seus cuidados. Porém, como a tarefa era barbeiros, os curandeiros, as parteiras e os char-
69 HPMG, O Constitucional, ano 3, nº. 96, 01/07/1868, p. 4.
difícil demais, ele “acabou confessando que não 70 Idem
67 Idem. 71 *Destinado a formar médicos homeopatas, entre outras funções. O
68 Gazeta Médica da Bahia, ano 2, nº. 39, 15/02/1868, p. 171. nome remete ao pai da homeopatia, Hahnemann.

116 História e Economia Revista Interdisciplinar


latães, pois, seguindo a tendência mundial, as
autoridades públicas brasileiras passaram a to-
mar medidas mais restritivas aos que prestavam
serviços de saúde sem habilitação profissional,
ao incluírem no Código Penal de 1890 alguns
artigos com esse objetivo, como o 156 em que
foi determinado o seguinte: “Exercer a medicina
em qualquer dos seus ramos e a arte dentária
ou farmácia; praticar a homeopatia, a dosime-
tria, o hipnotismo ou magnetismo animal, sem
estar habilitado segundo as leis e regulamentos
(Pena: prisão de um a seis meses e multa de
100$ a 500$00)”.�72

Em conclusão pode-se dizer o seguinte:


1) o que estava acontecendo no Brasil exempli-
fica o que vinha ocorrendo em todo o Ocidente,
como resultado do avanço do saber médico, da
sua maior aproximação como Estado, ao se tor-
nar um saber estratégico para as sociedades mo-
dernas, da, com efeito, proliferação de centros de
formação médica, da maior organização desses
profissionais em associações científicas, bem
como em associações de defesa de seus interes-
ses profissionais, e da sua maior inserção na im-
prensa como estratégia de influenciar a opinião
pública; 2) por trás do discurso da proteção da
saúde da população, alegando que os prestado-
res de serviços da cura sem formação acadêmica
punha em risco a saúde pública, estava o esforço
para eliminá-los como concorrentes do merca-
do de trabalho em tal ramo de serviço; 3) a sua
maior aproximação com o Estado foi um recurso
político para a criação de leis que punem rigo-
rosamente o exercício da medicina porque não
tem diploma universitário. Além do esforço para
aprimorar o seu saber, foi dessa forma que as
elites médicas no ocidente, exemplificadas nesse
estudo pelo caso brasileiro, conseguiram mono-
polizar para sua categoria profissional o mercado
de trabalho médico.

72 Apud Coelho, Edmundo Campos (1999) p. 138, nota 64.

História e Economia Revista Interdisciplinar 117


A concorrência no mercado de trabalho médico no Brasil do século XIX

Bibliografia

ADAM, Philippe e HERZLICH, Claudine. Sociologia da doença e da medicina. Bauru, Edusc,


2001.

ALENCASTRO, Luiz Felipe de. Vida privada e ordem privada no Império. In: História da vida
privada no Brasil: Império, v.2. 8º reimp. São Paulo, Cia. das Letras, 2006.

ARAÚJO, Alceu Maynard de. Medicina rústica. São Paulo, Cia. Nacional, 1977.

BARBOSA, Francisco C.J. Caminhos da cura: a experiência dos moradores de Fortaleza com
a saúde e a doença (1850-1880). São Paulo, PUC, Tese de Doutorado, 2002.

BENCHIMOL, Jaime. Dos micróbios aos mosquitos: a febre amarela e a revolução pasteuriana
no Brasil. Rio de Janeiro, Fiocruz/ UFRJ, 1999.

BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência. São Paulo, Ed. Unesp, 2004.

________. Campo de poder, campo intelectual e habitus de classe. In: A economia das trocas
simbólicas. 5ª ed., São Paulo, Perspectiva, 2001.

BREILH, Jaime. Epidemiologia, economia, política e saúde. São Paulo, Hucitec/Unesp,


1991.

CANGUILHEN, Georges. O Normal e o patológico. 5ª ed. Rio de Janeiro, Forense, 2002.

CHALHOUB, Sidney et al. Artes e ofícios de curar no Brasil. Campinas, Unicamp, 2003

________. Cidade febril. 2ª ed., Rio de Janeiro, Cia. das Letras, 1999.

COELHO, Edmundo dos Santos. As profissões imperiais. Rio de Janeiro, Record, 1999.

CORADINI. Odaci Luiz. Grandes famílias e elite profissional na medicina no Brasil. In: Histó-
ria, ciências e saúde, V.3, nº3, 1997.

DAVID, Onildo Reis. O inimigo invisível: epidemia na Bahia no século XIX. Salvador, Sarah
Letras/ Ed. UFBA, 1996.

DE SWAAN, Abraan. In care of the stat: health care, education and wefare in Europe in the
modern era. Cambridge, Polity Press, 1990.

EDLER, Flávio. As reformas do ensino médico e a profissionalização da medicina na corte. São


Paulo, Dissertação de Mestrado, USP, 1992.

EUGÊNIO, Alisson. Reforming habits: the struggle against poor health conditions in 19th cen-
tury Brazil. Saarbrucken: Verlarg, 2010.

118 História e Economia Revista Interdisciplinar


JORLAND, Gérard. Une société à soinger: hygiene et salubrité publique em France au XIXeme
siécle. Paris, Gallimard, 2010.

FERREIRA. Luiz Otávio. O nascimento de uma instituição científica: os periódicos médicos da


primeira metade do século XIX. São Paulo, Tese de Doutorado em História, USP, 1996.

FIGUEIREDO, Betânia Gonçalves A Arte de curar e seus agentes no século XIX na Província
de Minas Gerais. São Paulo, Tese de Doutorado em Sociologia, USP, 1997.

FILHO, Lycurgo de Castro Santos. História da medicina brasileira. 2ª ed, v.2, São Paulo,
Hucitec,

FOUCAULT, Michel. O Nascimento da clínica. 4ª ed. Rio de Janeiro, Forense Universitária,


1994.

FREIDSON, Eliot. Profession of medicine. Nova York, Harper e Row Publishers, 1970.

HOCHMAN, Gilberto. A era do saneamento. São Paulo, Hucitec, 1998.

________ e ARMUS, Diego (orgs). Cuidar, controlar, curar: ensaios históricos sobre saúde e
doença na América Latina e no Caribe. Rio de Janeiro, Fiocruz, 2004.

KURY, Lorelai Brilhante. O império dos miasmas: a Academia Imperial de Medicina. Niterói,
Dissertação de Mestrado em História, UFF, 1990.

LYDA, Massako. Cem anos de saúde pública no Brasil: a cidadania negada. São Paulo,
Ed.Unesp, 1993.

LUZ, Madel Terezinha. As instituições médicas no Brasil. Rio de Janeiro, Graal, 1979.

MACHADO, Helena (org). Profissões de saúde: uma abordagem sociológica. Rio de Janeiro,
Fiocruz, 1996.

MACHADO, Roberto. Danação da norma. Rio de Janeiro, Graal, 1978.

MAC NEILL, William. Plagues and peoples. New York, Doubleday, 1976.

MONTEIRO, Márcia e GOMES, Fernando. A saúde em Alagoas no Brasil Império. Maceió,


Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, 2004.

NASCIMENTO, Dilene Raimundo e CARVALHO, Diana Maul (org). Uma história brasi-
leira das doenças. Brasília, Ed. Paralelo 15, 2004.

NETO, André de Faria P. Ser médico no Brasil. Rio de Janeiro, Fiocruz, 2001.

PETERSON, M. Janne. The medical profession in mid-victorian. Berkeley, University of Cali-

História e Economia Revista Interdisciplinar 119


A concorrência no mercado de trabalho médico no Brasil do século XIX

fornia, 1978.

PFEIFFER, Carl J. Art and pratice of Western medicine in the early nineteenth century. London,
Mc Farland, 1985.

PIMENTA, Tânia Salgado. O exercício das artes de curar no Rio de Janeiro (1828-1855).
Campinas, Tese de Doutorado em História, Unicamp, 2003.

SAMPAIO, Gabriela dos Reis. Nas trincheiras da cura: as diferentes medicinas no Rio de
Janeiro imperial. Campinas, Ed. Unicamp, 2002.

YOUNGSON, A. J. The scientific revolution in victorian medicine. New York, Holmers and
Meier,

1979.

120 História e Economia Revista Interdisciplinar


Roteiro para submissão de artigos
Guidelines for submission of papers

1. A revista História e Economia publica 1. História e Economia publishes ar-


artigos de história econômica, história financeira ticles on financial history, economic history and
e história das idéias econômicas. the history of economic ideas.
2. A revista também recebe resenhas 2. We accept book reviews and disserta-
de livros e comunicações sobre dissertações de tion summaries.
mestrado e doutorado.
3. The journal publishes papers accord-
3. A publicação dos artigos ocorre con- ing to their approval by the editorial board.
forme a aprovação dos textos pelo conselho
4. The articles must not exceed 30 pag-
editorial.
es (double spaced), including references and
4. Os artigos não devem exceder 30 pá- footnotes.
ginas (espaçamento duplo), incluindo notas de
5. The manuscript submitted to the jour-
rodapé e referências bibliográficas.
nal should be original. In special cases, we may
5. O texto submetido para a revista accept the simultaneous publication in another
deve ser original. Em casos especiais, podere- foreign journal.
mos aceitar a publicação simultânea em revista
6. We welcome articles in Portuguese,
estrangeira.
Spanish, English and French.
6. Recebemos artigos em português, es-
7. The originals must be edited in MS
panhol, inglês e francês.
Word.
7. Os originais devem ser editados em
8. The figures, tables and graphics
MS Word.
should be edited in black and white and included
8. As figuras, tabelas e gráficos devem in the file containing the article. In case the orig-
ser editados em preto e branco. Caso tais figu- inal figure, table or graph was created in a pro-
ras tenham sido geradas em outros programas gram different from MS Word, we must receive a
que não MS Word (por exemplo: Excel, Power separate file containing the object in its original
Point), o autor deve enviar um arquivo separado format.
contendo o objeto no seu formato original.
9. We must receive an additional file
9. Devemos receber um arquivo adicio- with the name of the authors, complete mailing
nal com o(s) nome(s) do(s) autor(es), endereço address containing the institutional affiliation,
completo para correspondência contendo afi- position, title, phone number and email address.
liação institucional, posição, titulação, telefone We request the author to include the title in its
para contato e e-mail. É necessário que o autor original language as well as its English transla-
inclua neste arquivo o título do artigo no idioma tion. In addition, the author should enclose an
original e sua tradução para o inglês. Além dis- executive summary in the original language and
so, o autor deve incluir uma resenha do texto no in English. The executive summary and the Eng-
idioma original e em inglês. A resenha em ambos lish translation should not exceed 150 words.
os idiomas não devem exceder 150 palavras.

História e Economia Revista Interdisciplinar 121


10. As referências bibliográficas devem 10. The references must be detailed and
ser detalhadas e completas, elaboradas de acordo complete. Historical data and tables should
com a NBR 6023 da ABNT. Os dados históricos specify the sources used. In case of original/
e as tabelas devem especificar as fontes utiliza- primary sources, the author must provide the ar-
das. Em caso de fontes primárias (originais), o chive’s name, section, box (if it is applicable) and
autor deve fornecer o nome do Arquivo (ou Ins- all the relevant information.
tituto, Instituição), a caixa, seção (se for aplicá-
11. The files can be sent by email to: he@
vel) e todas as demais informações que julgar
bbs.edu.br, in a 31/2 “ floppy disks or CD-ROM.
relevantes.
12. Only the articles that meet the above
11. Os arquivos podem ser enviados
requirements are submitted to the Editorial
por e-mail para: he@bbs.edu.br. De modo al-
Board.
ternativo, recebemos arquivos em disquetes ou
CD-ROM. 13. All the manuscripts submitted to this
journal will receive written evaluations by the
12. Somente artigos que satisfizerem os
board members.
requerimentos acima serão submetidos para o
comitê editorial. 14. The submission of a manuscript to us
implies authorization for future publication by
13. Todos os textos submetidos à revista
its author. No royalties will be paid.
receberão avaliações escritas dos membros do
comitê editorial. 15. História e Economia will send a writ-
ten letter and an email to the author. In case of
14. O recebimento do texto pela revista
approval, some changes may be suggested.
automaticamente implica em autorização para
futura e eventual publicação. A revista não paga 16. The journal will keep the originals.
qualquer tipo de royalties para o autor.
Submission of originals
15. A revista História e Economia deve Originals should be sent to:
enviar uma carta e um e-mail para o autor acu-
Roberta Barros Meira
sando o recebimento dos originais (caso o artigo
BBS – Brazilian Business School
seja aprovado, algumas mudanças podem ser
sugeridas). Institute of History and Economics
Alameda Santos, 745 • 1º andar
16. A revista não devolverá nenhum tex-
to recebido. Cerqueira César • São Paulo, SP
CEP 01419-001 • Brazil
Envio de artigos email: revistahistoriaeconomia@gmail.com
Os artigos podem ser enviados para:
Roberta Barros Meira
BBS – Brazilian Business School
Instituto de História e Economia
Alameda Santos, 745 • 1º andar
Cerqueira César • São Paulo, SP
CEP 01419-001 • Brasil
e-mail: revistahistoriaeconomia@gmail.com

122 História e Economia Revista Interdisciplinar


História e Economia Revista Interdisciplinar 123

Вам также может понравиться