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ARTIGOS

As contribuições da teoria política


para o desenvolvimento da teoria
realista de relações internacionais
Giuliano Guidi Braga
Mestrando em Ciência Política pela
Universidade de São Paulo (USP)
(giulianobraga3@gmail.com)

Resumo
Os estudos das relações internacionais possuem suas origens nas teorias políticas. Este
artigo busca mostrar como os principais teóricos clássicos influenciaram os novos
teóricos do realismo nas relações internacionais.

Palavras-chave
Relações Internacionais; Realismo; Teoria Política

Alabastro: revista eletrônica dos alunos da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, São Paulo, ano 4, v. 2, n. 8, 2016, p. 85-90.
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As contribuições da teoria política para o desenvolvimento da teoria realista de relações internacionais
GIULIANO GUIDI BRAGA

Introdução Com o intuito de elucidar brevemente sobre


a teoria idealista para saber a que se contrapunham os
O pensamento teórico em Relações realistas farei uma pequena compilação das principais
Internacionais surgiu em um período em que os ideias propostas tanto por Angell, em “A Grande
cientistas políticos viram a necessidade de aplicar suas Ilusão” como por Wilson.
teorias, anteriormente presas ao espectro interno do Norman Angell (1909) possui uma visão mais
Estado, à participação do Estado no exterior. Surgindo economicista da situação do sistema internacional
como ciência em 1919, no País de Gales, as Relações dizendo que a partir da experiência obtida com a
internacionais passaram a agregar contribuições teóricas Primeira Guerra os Estados não tenderão mais a
da filosofia política, da ciência política, da geografia e entrar em guerra, pois essa ação seria muito onerosa
geopolítica, da história, bem como de outras áreas das para o Estado e, nesse período pós-guerra, poucos
ciências humanas. A partir dessa agregação teórica, possuem uma economia sólida para lidar com outro
passaram-se a ser produzidos os trabalhos científicos da conflito de grande porte. Coloca em primeiro plano
área internacional (JACKSON e SORENSEN, 2010). na relação dos Estados o direito internacional como
A linhagem histórica em que se viu a necessidade ordenador das relações interestatais, afirmando que
de criar um ramo científico que estudasse a participação isso proporcionaria uma maior igualdade jurídica para
do país no sistema internacional se caracteriza pelos o sistema internacional (ANGELL, 1909).
encerramentos dos conflitos referentes à Primeira Complementando essas ideias de Angell,
Guerra Mundial (1914-1919). A partir da experiência Woodrow Wilson em 1918 lança seus “14 pontos”. O
dos países na guerra, tendo em vista os efeitos internos ponto que teve maior impacto para sua importância
causados pela participação do país em um conflito nas teorias de relações internacionais foi o 14, que
internacional e as consequências onerosas para os países versava sobre a “Criação de uma sociedade das nações
europeus, a comunidade científica passa a dar ouvidos que assegure a independência política e a integridade
para duas teorias que nessa época surgiam: o realismo dos Estados grandes e pequenos” (WILSON, 1918),
clássico e o idealismo, formando o primeiro debate culminando na criação da Liga das Nações em 1919,
teórico em Relações Internacionais (CARR, 1981). surgindo como uma organização supraestatal que tinha
Encabeçaram esse debate os teóricos E. H. como principal objetivo a manutenção da paz mundial.
Carr, defendendo o realismo, e o ex-presidente norte- O sistema de decisões dentro da Liga das Nações era
americano Woodrow Wilson e Norman Angell, realizado de modo consensual, sendo a invasão da
defendendo o idealismo. Na linha temporal, o idealismo Manchúria pelo Japão e da Etópia pela Itália pontos que
ganhou destaque em 1918 quando Wilson publicou o geraram as controversas internas na organização. Com
documento popularmente conhecido como “Os 14 a eclosão da Segunda Guerra Mundial, a Liga viu-se
Pontos de Wilson” que trazia disposições relacionadas em um ambiente insalubre e foi dissolvida (WILSON,
ao arranjo do sistema internacional no pós-primeira 1918).
guerra. A nomenclatura de “idealismo” à teoria Apresentadas essas teorias, no ano de 1939,
proposta pelo ex-presidente foi cunhada pelos realistas vendo o fracasso da Liga das Nações e a inaplicabilidade
que surgiam como um contraponto à essas ideias das ideias apresentadas anteriormente, E. H. Carr
(JACKSON e SORENSEN, 2010). publica seu livro “Vinte Anos de Crise” colocando que

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o período entre guerras em que as ideias do idealismo que o hegemon, aquele que possui maior poder,
estavam em voga foram um período de crise para as predominantemente militar (o que Carr classifica como
relações entre os Estados. High Politics), deve usar a força virtuosamente, sabendo
De modo a colocar o plano estatal como quando usa-la e quando apelar para a diplomacia
principal, Carr diz que nenhum Estado está subordinado (CARR, 1981).
a uma Organização Internacional (OI), estando elas a Nasce no espectro teórico de relações
mercê das vontades dos membros que estão sempre internacionais a noção de sobrevivência de um
buscando benefícios próprios. Quanto à Liga das Estado perante os outros. Já que há a preocupação
Nações mais especificamente, Carr coloca que ela teve com a sobrevivência, as ações dos Estados devem ser
uma visão ingênua a não prever os conflitos ocorridos, minuciosamente calculadas.
sendo que a política internacional, na visão realista, está Outro teórico político que contribuiu para
baseada na disputa pelo poder (CARR, 1981). o desenvolvimento da teoria realista de relações
internacionais foi Hobbes. A noção de natureza humana
Influências das teorias políticas no realismo do realismo transportada para a natureza dos Estados
clássico em relações internacionais é formada através de um
híbrido entre as visões Maquiaveliana e Hobbesiana.
Como as primeiras teorias de relações Muito é utilizado sobre o Estado de Natureza
internacionais buscavam o resgate de outras ciências hobbesiano, em que os homens estão em um espectro
humanas, o embasamento teórico do realismo se pautou de guerra constante, transportando essa visão ao sistema
muito na visão de natureza humana e de contrato social internacional que é formado por Estados que estão
da filosofia política. Os principais nomes resgatados constantemente em tensões conflituosas. Isso dava uma
por essa teoria são Maquiavel e Hobbes. conotação negativa à anarquia no sistema internacional
Carr faz um resgate mais profundo a Maquiavel dizendo que os Estados não entrariam em guerras
ao adotar a visão de natureza humana maquiaveliana e constantemente por via de recursos, porém somente o
adaptando essa visão para as relações entre os Estados. fator anárquico do sistema internacional, já era preciso
Maquiavel propôs que as relações de poder são intrínsecas para que os Estados vivessem em um ambiente de
à natureza humana, prevendo uma certa imutabilidade inconstâncias (CARR, 1981).
da natureza humana, versando que as relações de poder Para os realistas, embora a anarquia gere esse
é que prevalecem em tempos de conflitos. Carr, adapta sistema de tensão ela é mais que necessária e um direito
essa visão ao propor a ingenuidade da Liga das Nações de todos os Estados, pois eles são os atores de força
ao não conseguir se sustentar em tempos conflituosos, maior no sistema internacional. O direito internacional
preconizando um certo pessimismo em relação à pode ser algo bom para os Estados na medida em que
natureza humana (VIOTTI e KAUPPI, 2010). pode servir como uma moderação. Porém a partir do
O mesmo transporte teórico pode ser visto momento em que o direito internacional passa a suprimir
quanto a visão de virtude dos homens, o que Maquiavel a ação dos Estados, é completamente compreensível
colocou como não apenas o uso da força, mas o uso que os Estados o ignorem.
virtuoso da força. Essa virtude nos Estados pode
ser encontrada nas relações de hegemonia, sendo

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O transporte teórico no realismo neoclássico Com esses princípios, Morgenthau conceituou


de modo legal as premissas da análise realista neoclássica.
Dando continuidade à linhagem histórica da Essas premissas levam considerações anteriormente
teoria realista, como sua primeira contribuição foi feitas por Hobbes e Maquiavel a respeito da natureza
marcada pelo período entre guerras, o realismo clássico humana e do Estado de Natureza hobbesiano.
ficou estagnado, buscando verificar os efeitos da guerra A contribuição teórica do trabalho de
ao sistema internacional. Ao passar tal período, houve Morgenthau versa também sobre temas essenciais tanto
uma adaptação teórica que levava em conta a experiência para a política quanto para as relações internacionais
vivida pelo mundo na Segunda Guerra Mundial e realizando uma discussão sobre o conceito de poder.
buscava entender os caminhos tomados pelo sistema O autor coloca veementemente em sua
nesse novo conflito não pautado pela guerra. obra a necessidade de balança do poder no sistema
O principal teórico que encabeçou esse período internacional. O equilíbrio de poder deve existir de modo
dou Hans Morgenthau, inaugurando o realismo a gerar um balanceamento entre as maiores potências.
neoclássico com a publicação de seu livro “Política Na época, o fator que caracterizava uma grande potência
entre as Nações” no ano de 1965. Sendo reflexo de um era sua nuclearização (obtenção de armas nucleares).
período relacionado com a transição de um mundo pós- Morgenthau teoriza que a nuclearização de um Estado
segunda guerra para uma maior definição do que seria a acaba por desenvolver o poder não utilizável, ou seja,
Guerra Fria que o sistema internacional estaria vivendo. o Estado possui o pode nuclear, mas sabe que se
Para Morgenthau, é essencial que Hobbes utiliza-lo pode gerar consequências para a população
e Maquiavel sejam citados em quaisquer obras do mundial, além disso, o Estado sabe que não é o único
realismo, já que passa a ser do cerne da teoria realista, a obter armas desse porte, podendo encontrar-se em
não importando a linha temporal que se encontre, a um ambiente de Destruição Mutua Assegurada (MAD).
noção de que a natureza dos Estados é conflituosa. Para Quanto ao que o autor classifica como poder utilizável.
os teóricos realistas neoclássicos, o sistema anárquico se Há uma maior possibilidade de uso desse poder, sendo
mostra como uma tentação ao conflito para os Estados representado pelo poder militar-bélico, em que seu uso
(MORGENTHAU, 1948). pode ser realizado com cautela, mas mesmo assim ele
De modo mais didático e racional, Morgenthau se mostra como necessário para a garantia da segurança
buscou deixar clara sua teoria ao expressar seis pontos de um Estado (MORGENTHAU, 1948).
que se mostram essenciais para uma análise realista Essa distinção de poder entra em uma visão
neoclássica, sendo eles: (1) política baseada em uma de virtude maquiaveliana em que o Estado sabe
natureza humana imutável; (2) a política não pode ser quando deve ou não deve utilizar a força que tem. O
reduzida à economia; (3) o autointeresse é um fator caso da utilização da bomba atômica em Hiroshima e
mínimo da condição dos Estados: todo Estado busca Nagazaki em 1945 podem ser condenadas como uma
garantir sua segurança própria e sua sobrevivência; (4) falta de liderança virtuosa nos Estados Unidos o que
a ética das relações internacionais é circunstancial; (5) acabou por permitir uma medida não racional para a
nações particulares não podem se impor a outras nações; situação. Porém essa visão poderia ser contraposta
(6) a atividade política pressupõe uma racionalidade por pelo argumento de que o Japão não tinha esse mesmo
parte do indivíduo (MORGENTHAU, 1948). poderio nuclear, não se configurando, portanto, como

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um cenário de MAD, já que o poderio nuclear não era do Ordenamento; (ii) Diferenciação Funcional; (iii)
mútuo. Distribuição das Capacidades.
De acordo com o primeiro princípio, Waltz
Noerealismo: uma revisita das teorias coloca que o ordenamento d sistema político doméstico
políticas deve ser centralizado e hierárquico, porém no âmbito
internacional, esse sistema deve ser descentralizado
Surgindo no final da década de 1970 até o e anárquico. Um fator de centralização que gerou
começo dos anos 1990, essa releitura da teoria realista controvérsias entre os neorrealistas foi a criação da
buscava adaptar os preceitos teóricos clássicos e Organização das Nações Unidas (ONU), dizendo que
neoclássicos para um sistema cuja participação das a organização pode se mostrara como um leviatã do
organizações internacionais estava em seu auge e a sistema internacional, resgatando a teoria de Hobbes
participação das forças transnacionais também estava (WALTZ, 1979).
começando a ganhar força. Em relação ao segundo princípio, os Estados
O principal teórico do neorrealismo é Kenneth internamente devem buscar uma diferenciação de suas
Waltz. Em suas principais obras, “Theory of International instituições, como a distinção clara entre os três poderes
Politics” publicado em 1979 e “O Homem, o Estado constitucionais. Porém, no âmbito externo, os Estados
e a Guerra” publicado em 1959. No primeiro, Waltz não possuem diferenciação alguma entre si, sendo que
inaugura a teoria neorrealista, já no segundo, inaugura todos os Estados possuem espectros econômicos,
a metodologia dos níveis de análise utilizada com políticos, culturais, etc. Todos os Estados possuem
frequência nas teorias das relações internacionais. a mesma função no sistema internacional (WALTZ,
Como o embasamento teórico do neorrealismo 1979).
de Waltz é baseado na metodologia dos níveis de Esse princípio a não diferenciação pode ser
análise, cabe uma rápida investigação do método. Os visto no terceiro princípio referente à Distribuição
níveis de análise podem ser divididos em três, sendo das Capacidades. Os Estados são iguais juridicamente,
eles: (a) Nível Sistêmico; (b) Nível Estatal; (c) Nível porém de modo pragmático a igualdade é medida entre
Societal. O primeiro deles diz respeito aos temas do as capacidades dos Estados, muitas vezes atribuídas ao
sistema internacional, buscando refletir sobre como plano militar, de acordo com o espectro neorrealista.
o sistema como um todo reage a diversos tipos de Isso só pode ocorrer em um sistema internacional
fatores de pressão. Já o segundo, versa sobre a visão anárquico que permita os Estados a se desenvolverem
do Estado e como o Estado e seus elementos internos, de modo particular (WALTZ, 1979).
colocado no patamar de ator principal, reage às pressões Para que esses princípios possam ocorrer nas
internacionais. Por fim, o terceiro rege sobre a visão relações internacionais, é necessária a lógica de Balanço
individual, levando em conta as lideranças e os grupos do Poder, que Waltz traduz para Equilíbrio de poder,
de pressão, abrangendo uma análise mais psicológica e sendo que, somente em m sistema que se preconize tal
antropológica para os casos (WALTZ, 1959). característica a anarquia pode ser benéfica de modo a
Waltz inaugura no aspecto teórico a proposição sempre trazer uma relação de bônus ao Estado.
de princípios de regimento do sistema internacional no
âmbito do Estado. Sendo tais princípios: (i) Princípio

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Conclusão HOBBES, T. Leviatã: Ou matéria, forma


e poder de um Estado eclesiástico e civil.
De acordo com o apresentado anteriormente, 1 ed. São Paulo: Martin Claret, 2014.
pode-se verificar que a teoria política acaba por tomar
um papel de pedra basilar das teorias de relações JACKSON, R; SORENSEN, G. Introdução às relações
internacionais. As contribuições tanto de Maquiavel internacionais. 2 ed. Oxford: Oxford Press, 2010.
quanto de Hobbes levaram à teoria realista uma certa
atemporalidade, devendo os teóricos adaptar tais teorias MAQUIAVEL, N. O príncipe. 4
clássicas aos elementos que surgiam de acordo com a ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
linha temporal no sistema internacional.
A partir do Realismo Clássico, passando pelo MORGENTHAU, H. A política entre as nações: A
Realismo Neoclássico e culminando no Neorrealismo, luta pelo poder e pela paz. 1 ed. Brasília: Funag, 2003.
a visão de natureza humana é maquiaveliana, adotando-
se a possibilidade e um Estado de Natureza hobbesiano SARFATI, G. Teorias de relações internacionais. 1
para o sistema internacional. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
Outros teóricos neorrealistas, como J. J.
Mearsheimer, buscaram trazer esse debate teórico para WALTZ, K. Man, the state and war: A theoretical
o século XXI. O debate mais icônico protagonizado por analisys. 1 ed. New York:
Mearsheimer defendendo o lado realista e Joseph Nye Columbia University Press, 1959.
Jr. defendendo o lado Liberal (evolução da teoria clássica
idealista) em que o principal ponto de discordância era a WALTZ, K. Theory of international politics. 1 ed.
ONU e as outras organizações internacionais. Massachussets: Addison-Wesley, 1979.
Isso mostra que, embora o centro das teorias
políticas tenha sido proposto em uma linha de tempo WOHLFORTH, W C. Realism in The Oxford
muito anterior a alguns elementos, ele ainda pode ser handbook of international relations.
transportado para os assuntos contemporâneos de New York: Oxford Press, 2008. p. 131-149.
modo a ser adaptado para atender as particularidades
que fazem parte do sistema internacional na época
estudada.

Referências bibliográficas

ANGELL, N. A grande ilusão. 1 ed. Brasília: Funag,


2002

CARR, E. H. Vinte anos de crise: 1919 - 1939. 1 ed.


Brasília: Funag, 1981.

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