Вы находитесь на странице: 1из 7

Debate – Sobre afetos e a virada afetiva, por Diogo Silva Corrêa | Blog do Sociofilo 15/06/18 11(58

Debate – Sobre afetos e a virada


afetiva, por Diogo Silva Corrêa
sociofilo outubro 26, 2017

Diogo Silva Corrêa (IESP-UERJ)

Clique aqui para texto em pdf

É inegável que o conceito de afeto tem sido um tema constante ao longo da


história da filosofia. A noção foi submetida a abordagens amplamente
variadas ao longo do tempo, e foi enfatizada mais fortemente em alguns
períodos do que em outros. De qualquer forma, embora possamos
encontrar algumas abordagens filosóficas que sublinhem suas
características positivas e afirmativas (como nas obras de Spinoza e
Nietzsche), a ênfase sobre os aspectos negativos e potencialmente
perigosos do afeto é certamente a posição padrão da filosofia ocidental.

https://blogdosociofilo.com/2017/10/26/sobre-afetos-e-a-virada-afetiva-por-diogo-silva-correa/ Página 1 de 7
Debate – Sobre afetos e a virada afetiva, por Diogo Silva Corrêa | Blog do Sociofilo 15/06/18 11(58

Lembremos, por exemplo, de como Descartes referia as paixões aos


animais e como Kant esforçou-se para nos persuadir da importância de
subordinar os afetos ao império da razão. Portanto, não é injusto afirmar
que a sujeição dos afetos ao entendimento é um leitmotiv central dos
pensadores da filosofia ocidental.

Descartes e Kant foram os ideólogos metafísicos da revolução científica que


ocorreu com o surgimento da ciência moderna no século XVI. Neste
momento, como Whitehead descreveu, ocorreu uma “bifurcação da
natureza”. A ciência dos modernos, para falar nos termos de Bruno Latour
(1991), separou o mundo em duas províncias ontológicas distintas: de um
lado, uma dimensão inerte, desencantada e objetiva, composta de coisas;
do outro lado, uma dimensão dinâmica, intencional e subjetiva, composta
de seres humanos. Em suma, de um lado o mundo natural e, de outro, o
mundo cultural. Precisamente no momento em que essa “ontologia
naturalista”, como Philippe Descola (2005) definiu em sua obra magna
Par-dèla nature et culture, adquiriu consistência, herdamos não apenas a
passagem do mundo aristotélico fechado para o universo infinito (para
evocar o livro clássico de Koyré), mas também uma terra feita
exclusivamente de uma matéria única e homogênea.

Não seria exagerado afirmar que a “virada afetiva” (ver Clough, 2007;
Seigworth e Gregg, 2010) é, antes de tudo, uma reação a essa visão um
tanto redutora de um mundo composto basicamente de matéria morta.
Mas, mais do que uma reação, eu gostaria de defender que a virada afetiva
é também uma inversão da bifurcação da natureza, uma vez que ela traz ao
primeiro plano as ditas qualidades secundárias, como cor, cheiro, toque,
textura, envelhecimento e morte. Em um sentido mais amplo, a virada
afetiva pode ser vista como a tomada de consciência de que a realidade e o
mundo não simplesmente se movem por relações mecânicas e impessoais,
mas se “comovem”, isto é, possuem um comportamento, uma
interioridade. Para recordar a imagem um tanto divertida proposta por
Latour em Face a Gaia, uma vez que colocamos as qualidades secundárias

https://blogdosociofilo.com/2017/10/26/sobre-afetos-e-a-virada-afetiva-por-diogo-silva-correa/ Página 2 de 7
Debate – Sobre afetos e a virada afetiva, por Diogo Silva Corrêa | Blog do Sociofilo 15/06/18 11(58

no primeiro plano e reeducamos a nossa atenção experimentamos algo


“como … uma versão da Disney da Bela Adormecida, [quando logo após
um toque de varinha mágica], todo agente passivo inerte de seu Palácio
começa a bocejar, a despertar do sono e torna-se impetuosamente
ocupado, dos anões ao relógio, das maçanetas das portas às chaminés”. A
virada afetiva, portanto, não é a proposição de uma (nova) visão de mundo
que nos leva a perceber a dimensão afetiva da realidade; em vez disso,
trata-se do reconhecimento de que a realidade é afetiva e intensiva na sua
dimensão mais básica e elementar.

Faz-se preciso enfatizar que, dentro desse cenário mais amplo, existem
diferentes abordagens nas ciências humanas a respeito dos afetos. Para ser
sintético, vou distinguir três abordagens principais: uma substantiva, uma
adjetiva e uma adverbial. No primeiro sentido, encontramos o afeto como a
própria substância do real. O afeto, aqui, não é tido como uma propriedade
da realidade, mas é a realidade em si mesma, isto é, a realidade para além
da correlação entre um sujeito ou um ser senciente e um objeto. Como um
filósofo francês diria, o afeito está relacionado simplesmente a um il y a.

Mas também encontramos uma abordagem adjetiva do afeto. E aqui é


fundamental a correlação entre um sujeito ou um ser senciente e o mundo.
Neste segundo sentido, o afeto não é uma substância, mas invariavelmente
uma propriedade de uma coisa ou de uma pessoa. É uma qualidade que
está sempre relacionada a um sujeito- no sentido gramatical da palavra
(um “substantivo”). Quando dizemos que alguém ou algo é afetuoso,
amoroso, caloroso, etc., é essa dimensão adjetiva do afeto que está sendo
expressa. Todas as abordagens cujos enquadramentos se concentram no
aspecto adjetivo do afeto geralmente concebem os afetos como “emoções”
ou “sentimentos”. Se tentarmos entender esse segundo sentido nos termos
da primeira definição, os afetos devem ser tratados como a forma como a
substância é revelada como uma qualidade ou propriedade de um ente
particular.

https://blogdosociofilo.com/2017/10/26/sobre-afetos-e-a-virada-afetiva-por-diogo-silva-correa/ Página 3 de 7
Debate – Sobre afetos e a virada afetiva, por Diogo Silva Corrêa | Blog do Sociofilo 15/06/18 11(58

Finalmente, há também um terceiro sentido de afeto. Quando tomado em


seu sentido adverbial, o afeto aparece em seus aspectos fluentes e
relacionais. Trata-se, aqui, da qualificação de um conjunto de relações. De
modo distinto àquele do segundo sentido, o afeto aqui não está relacionado
a um substantivo, mas a um verbo, um corte móvel de uma ação particular.
Visto sob o prisma do primeiro sentido, o afeto não é uma coisa em si
mesma, mas sim a substância em ação, uma maneira singular de fluir. O
afeto, portanto, é uma qualidade expressa em uma situação, portanto um
tipo de evento que compreende, pelo menos, três devires ou processos
diferentes: o corpo afetado, o corpo afetante e a situação em que esse
encontro ocorre.

Essas três maneiras de lidar com os afetos abrem duas grandes agendas de
pesquisa. No domínio do real antes da correlação entre sujeito e mundo, o
afeto é geralmente chamado ou descrito como intensidade, força, energia.
Neste plano, ele refere-se a uma espécie de tensão original constituída por
múltiplas virtualidades e potencialidades. Conceitos como “plano de
imanência” (Deleuze), o “pré-individual” (Simondon) e a “experiência
pura” (James) tentam compreender essa dimensão originária dos afetos,
antes do contato com um ser senciente. No domínio do organismo ou
corpo, o afeto é descrito como impressão ou sensação. Fenomenologias e
antropologias da cognição e dos sentidos (ver Howes, 2004, Ingold e
Howes, 2011), bem como abordagens do nível sensório-motor (ver Lakoff &
Johnson, 1999; Thompson, 2007; Protevi, 2010) tentam capturar essa
dimensão sensória e visceral do corpo vivido do ponto de vista do lado
afetado, isto é, da perspectiva do organismo.

Para concluir, gostaria de situar o afeto em um esquema vertical:

https://blogdosociofilo.com/2017/10/26/sobre-afetos-e-a-virada-afetiva-por-diogo-silva-correa/ Página 4 de 7
Debate – Sobre afetos e a virada afetiva, por Diogo Silva Corrêa | Blog do Sociofilo 15/06/18 11(58

Este esquema vertical situa afeto em um “entre”: de um lado, tem-se as


intensidades, as potências e as forças; do outro lado, o plano orgânico,
visceral ou sensório-motor. O afeto é o que os vincula. Ele é o primeiro
modo de manifestação da correlação entre organismo e ambiente ou meio
(milieu). Este raciocínio e sua exibição gráfica devem nos ajudar a entender
o porquê, seja nas abordagens substantivas, adverbiais ou adjetivas, o afeto
sempre é visto como algo infra ou extra-simbólico (ou infra ou extra-
representacional) (ver Massumi, 1995; Thrift, 2008). Não é por acaso que a
etologia é uma chave de referência fundamental para aqueles que de algum
modo se comprometem com a virada afetiva (ver Leys, 2011). Ao contrário
dos autores que consideram o plano simbólico e cognitivo da representação
como exclusividade dos humanos, os defensores das abordagens afetivas
procuram estabelecer um plano comum para os seres humanos e todos os

https://blogdosociofilo.com/2017/10/26/sobre-afetos-e-a-virada-afetiva-por-diogo-silva-correa/ Página 5 de 7
Debate – Sobre afetos e a virada afetiva, por Diogo Silva Corrêa | Blog do Sociofilo 15/06/18 11(58

outros seres sencientes: o que todos estes possuem em comum é o fato de


que são todos afetados por algo, isto é, todos eles são dotados do poder de
afetar e de ser afetado. Além disso, o plano afetivo não é apenas o que liga
todos os seres sencientes, mas também é um meio de olhar o plano
simbólico e representacional de uma maneira diferente. Para adaptar o
título do famoso livro de Durkheim sobre religião, o afeto pode ser visto
como a forma elementar de todo e qualquer o símbolo e representação (ver
Collins, 2004). Em outras palavras, o afeto – como aquilo que se situa
sempre “entre” a intensidade, a potência, a força e a impressão e a
sensação – é o solo primordial em que todos outros planos no esquema
acima se baseiam.

Referências bibliográficas

BLACKMAN, Lisa and VEEN, Couse (2010): “Affect,” Body & Society 16,
no. 7: 7. 5.

CLOUGH, Patricia (2007): “Introduction”.pp. 1-33 in Clough Patricia e


Halley Jean (eds.): The Affective Turn: Theorizing the Social. Durham:
Duke University Press.

COLLINS, Randall (2004). Interaction Ritual Chains. New York, Princeton


University Press.

DESCOLA, Philippe. Par-delà nature et culture. Paris, Gallimard, 2005.

HOWES, David. ed., (2004) Empire of the Senses: The Sensual Culture
Reader. Oxford and New York: Berg, 2004.

INGOLD, Tim & HOWES, David. (2011) “Worlds of sense and sensing the
world”, Social Anthropology 19(3): 313-31.

LATOUR, Bruno. Nous n’avons jamais été modernes. Paris, Lé découverte,


1991.

https://blogdosociofilo.com/2017/10/26/sobre-afetos-e-a-virada-afetiva-por-diogo-silva-correa/ Página 6 de 7
Debate – Sobre afetos e a virada afetiva, por Diogo Silva Corrêa | Blog do Sociofilo 15/06/18 11(58

_________. Facing Gaia. Paris, La découverte, 2015.

LAKOFF, George & JOHNSON, Mark. Philosophy in the flesh. Basic Books,
1999.

LEYS, Ruth (2011): “The Turn to Affect: A Critique”, Critical Inquiry, 37/3,
434–72

MASSUMI, Brian. The Autonomy of Affect. Cultural Critique (31), 1995, p.


83-109.

PROTEVI, John. (2010) Larval Subjects, autonomous systems, and e. coli


chemotaxis. In www.protevi.com/Deleuze_enaction.pdf

SEIGWORTH, Gregory; GREGG, Melissa eds. (2010): The Affect Theory


Reader. Durham: Duke University Press.

THOMPSON, Evan. (2007). Mind in Life: Biology, Phenomenology, and


the Sciences of Mind.Cambridge: Harvard University Press.

THRIFT, Nigel (2008): “Spatialities of Feeling”, 171-197 in Non-


Representational Theory: Space, Politics, Affect. Londres: Routledge.

https://blogdosociofilo.com/2017/10/26/sobre-afetos-e-a-virada-afetiva-por-diogo-silva-correa/ Página 7 de 7

Вам также может понравиться