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das possibilidades de embate e resolução de questões tagnação econômica e pela saída de empresas desde os
conflituosas estruturais? Não estamos assistindo à cria- anos 1980. A procedência da consultoria não é casual.
ção de um “modelo” de “política” e de efetivo governo Barcelona é, hoje, difusora de um modelo de interven-
territorializado que, sob o discurso da atuação detida e ção e política urbana cuja pretensão é a de recolocar as
próxima, eficiente e ágil, despolitiza o embate? cidades num contexto de economia globalizada. Essas
No que diz respeito à reestruturação produtiva, a intenções são vistas como “respostas” à crise que se en-
autora discute os impactos sobre o mercado de traba- tende associada à reestruturação produtiva do capital e
lho e aponta a flexibilização das relações e das garantias às formas flexíveis da acumulação: flexibilização, desre-
contratuais como evidências da nova dinâmica do capi- gulamentação, empreendedorismo e mecanismos de
tal internacional: as empresas lograriam êxito em mi- parceria público-privada.
grar, planejar e implantar atividades em territórios que A adoção do Planejamento Estratégico de Cida-
se esforçam para deter características favoráveis, atrati- des apresenta-se como expressão de coalizão de interes-
vas e “competitivas”. Essa competitividade definiria, ses em torno da reconfiguração morfológica e funcio-
por sua vez, uma homogeneização crescente das condi- nal da cidade e da redefinição de suas prioridades
ções objetivas da produção e da acumulação e, ao mes- administrativas e orçamentárias. Uma série de instru-
mo tempo, instauraria o paradoxo da impossibilidade mentos legais é assim efetivada para tornar possíveis a
de “diferenciação” dos territórios, expostos à mesma ló- competitividade e a atratividade: operações interliga-
gica de valorização e de escolha locacional. É particu- das, desregulamentação favorável a condomínios ou
larmente dramática essa dimensão do capitalismo flexí- empreendimentos específicos (hospitais privados,
vel – a capacidade de influenciar as institucionalidades shopping centers, apart-hotéis), alterações do Plano Di-
e de se converter, em novas bases, numa força atuante retor Urbano, intervenções urbanísticas “pontuais” e
no campo de poder do Estado e das políticas urbanas, “catalíticas” e reorganização administrativa da prefeitu-
assim como das econômicas. A própria idéia-motriz da ra municipal. Em todas essas medidas, está presente a
“parceria público-privada”, além de ter um caráter de pretensão a atuar nas esferas de decisão e de comunica-
subsídio a interesses privados e de classe, aponta tam- ção da política urbana, promovendo a apropriação pri-
bém para uma redefinição das formas de apropriação vada (com freqüência, empresarial) de nichos do poder
do produto social e da definição de prioridades. via mecanismos relativamente sutis da tomada de deci-
Trata-se, inegavelmente, de uma prática política sões “participativas” e “sustentáveis”.
(embora essa dimensão lhe seja ritualmente negada, O discurso do desenvolvimento econômico pare-
como se fora apenas questão de “eficiência” e “coope- ce ter a função de negociar os termos desiguais da re-
ração”) de notável hegemonia, ainda que contraditória, configuração do assentamento historicamente produzi-
uma vez que “delega” a determinadas instâncias do po- do que é a cidade e, no caso específico, de colocar a
der estatal a competência de gerir as condições institu- proeminência da competitividade como valor a cultivar,
cionais e a provisão de garantias à acumulação, com coletivamente; não mais como o liberalismo burguês
claros impactos sobre os poderes locais e a soberania faz com a democracia, a partir da abstração da idéia de
dos Estados-nação. Essa transferência de atribuições universalidade, mas como civismo socialmente com-
não está isenta da histórica assimetria de apropriação partilhado, como estratégia “obrigatória” de reversão da
do poder político no Estado capitalista. crise pós-globalização, em que a (pós) modernização se
O estudo de caso apresentado pela autora é o do apresenta como necessidade e oportunidade.
município do Rio de Janeiro, onde foi contratada con- No Rio de Janeiro, frentes de expansão de algum
sultoria para elaboração do Plano Estratégico da Cidade, laissez--faire imobiliário se abrem e mobilizam recursos
na primeira metade dos anos 1990. Esse Plano, elabo- e adaptações legislativas diversas. A paisagem urbana de-
rado por equipe catalã, é apresentado como elemento corrente incluirá lagoas poluídas por condomínios de
fundamental de uma política de ordenamento territorial luxo, sistemas viários articulando trechos de “cidadelas”,
(que pressupõe concepções de administração pública e por edifícios de gabarito aumentado sob mecanismos
de urbanismo) que se pretende catalisadora do soergui- “redistributivos” (cujo recurso se converte no financia-
mento socioeconômico da cidade, atravessada pela es- mento da urbanização do seu próprio entorno) e por in-
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