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DOI: http://dx.doi.org/10.22296/2317-1529.

2005v7n1p127

EMPREENDEDORISMO trangimentos à acumulação, além de uma alteração so-


URBANO: ENTRE O cial da própria base produtiva.
DISCURSO E A PRÁTICA A análise econômica é então acionada, principal-
Rose Compans mente, a partir da escola francesa da regulação, tratan-
São Paulo: Editora Unesp, 2005. do do rearranjo espacial/locacional da produção e do
papel substancial dos chamados serviços avançados na
Juliano Pamplona Ximenes Ponte economia contemporânea. Apesar dos aventados efei-
Arquiteto e Urbanista, doutorando do IPPUR-UFRJ. tos de “reestruturação” do capital, a autora contesta a
idéia de um capital totalmente “desterritorializado”,
A concepção de que nossas cidades e regiões de- quase etéreo, como parecem acreditar certos autores.
vam competir entre si e atrair investimentos é, hoje, he- Haveria mesmo o reforço do papel das estruturas ma-
gemônica. Uma crítica a tal concepção pressupõe uma teriais, físicas (tecnologias e infra-estruturas de trans-
predisposição à desconstrução de pré-noções – ao mes- portes e telecomunicações, por exemplo) na reconfigu-
mo tempo uma postura metodológica e uma abertura ração dos capitais fixos dispostos no território.
ao movimento entre o concreto e o abstrato, na análise Outra questão é a do papel do poder local. Consi-
histórica. A crítica da adoção, cada vez mais freqüente, derado por alguns como mais próximo das demandas
do Planejamento Estratégico no âmbito do Planejamen- territoriais específicas e, ao mesmo tempo, capaz de pro-
to Urbano e Regional faz parte dessa desconstrução. mover articulações políticas e intersetoriais, o poder lo-
No campo do Planejamento em geral, as con- cal torna-se quase um fetiche, sendo objeto de discursos
cepções estratégicas passaram a circular, disseminando propositivos dos defensores do planejamento estratégico
conceitos e fundamentando consultorias destinadas ao de cidades. O poder local, nesses discursos, seria capaz
aparato estatal. A crítica do Planejamento Estratégico, de catalisar o projeto de soerguimento socioeconômico
por sua vez, colocou para si o desafio, ao mesmo tem- urbano, menos por sua capacidade de investimento e
po, de empreender esforço teórico e análise aplicada mais por estar, espacial e culturalmente, próximo das co-
das práticas que ele sustenta. É desse duplo exercício letividades, captando seus anseios e evitando a ruptura
que foi elaborado o livro Empreendedorismo urbano, de social mediante a produção de uma hegemonia articu-
Rose Compans, resultante da tese de doutoramento lada entre o público e o privado, o empresariado e o
que recebeu o Prêmio Brasileiro “Política e Planeja- Estado, incorporando movimentos sociais e homoge-
mento Urbano e Regional”, da ANPUR em 2003. neizando demandas em direção a um projeto de cida-
Destaca-se no trabalho, em primeiro lugar, a in- de coeso e virtualmente unitário, monolítico – o que
tenção de sistematizar o debate político e econômico não garantiria a pluralidade dentre os contemplados.
do desenvolvimento urbano recente no que tange às Nesse aspecto, assistimos ao desenvolvimento de
novas estratégias de desenvolvimento territorial. Em propostas de reorganização do processo político e dos
seguida, a preocupação de situar tais estratégias histo- procedimentos deliberativos no interior do poder insti-
ricamente, relativizando o Planejamento Estratégico tuído. As instituições, assim, são chamadas a participar
como “teoria” e “técnica” de intervenção nos sistemas de uma concertação em geral assumida previamente co-
urbanos. Por fim, o esforço de aplicar a análise ao caso mo democrática e horizontal, não-hierárquica, em que
do município do Rio de Janeiro, dele extraindo especi- a prática reflete a assimetria na coalizão de forças. A
ficidades, limites e possibilidades. própria democracia representativa e todos os seus vícios
Contextualizando o debate, Compans sustenta são postos em questão para então serem substituídos por
que a adoção da idéia de “governança urbana” e de modelos flexíveis, ágeis, informalizados e com contro-
“planejamento estratégico de cidades” não exprimiria le coletivo reduzido, posto que tornados procedimen-
apenas a emergência de novas técnicas de gestão urbana tos decisórios “eficientes”, de uma perspectiva “empre-
e ordenamento territorial. Seria, antes, parte de uma sarial”. Na transposição entre práticas empresariais de
nova forma de modernização capitalista, baseada em competição e a gestão territorial urbana, resta a per-
alterações na espacialidade da cidade, na redução de gunta: será que não estamos diante de um processo de
riscos ao investidor privado e na eliminação dos cons- esvaziamento (retórico e concreto, no campo da práxis)

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das possibilidades de embate e resolução de questões tagnação econômica e pela saída de empresas desde os
conflituosas estruturais? Não estamos assistindo à cria- anos 1980. A procedência da consultoria não é casual.
ção de um “modelo” de “política” e de efetivo governo Barcelona é, hoje, difusora de um modelo de interven-
territorializado que, sob o discurso da atuação detida e ção e política urbana cuja pretensão é a de recolocar as
próxima, eficiente e ágil, despolitiza o embate? cidades num contexto de economia globalizada. Essas
No que diz respeito à reestruturação produtiva, a intenções são vistas como “respostas” à crise que se en-
autora discute os impactos sobre o mercado de traba- tende associada à reestruturação produtiva do capital e
lho e aponta a flexibilização das relações e das garantias às formas flexíveis da acumulação: flexibilização, desre-
contratuais como evidências da nova dinâmica do capi- gulamentação, empreendedorismo e mecanismos de
tal internacional: as empresas lograriam êxito em mi- parceria público-privada.
grar, planejar e implantar atividades em territórios que A adoção do Planejamento Estratégico de Cida-
se esforçam para deter características favoráveis, atrati- des apresenta-se como expressão de coalizão de interes-
vas e “competitivas”. Essa competitividade definiria, ses em torno da reconfiguração morfológica e funcio-
por sua vez, uma homogeneização crescente das condi- nal da cidade e da redefinição de suas prioridades
ções objetivas da produção e da acumulação e, ao mes- administrativas e orçamentárias. Uma série de instru-
mo tempo, instauraria o paradoxo da impossibilidade mentos legais é assim efetivada para tornar possíveis a
de “diferenciação” dos territórios, expostos à mesma ló- competitividade e a atratividade: operações interliga-
gica de valorização e de escolha locacional. É particu- das, desregulamentação favorável a condomínios ou
larmente dramática essa dimensão do capitalismo flexí- empreendimentos específicos (hospitais privados,
vel – a capacidade de influenciar as institucionalidades shopping centers, apart-hotéis), alterações do Plano Di-
e de se converter, em novas bases, numa força atuante retor Urbano, intervenções urbanísticas “pontuais” e
no campo de poder do Estado e das políticas urbanas, “catalíticas” e reorganização administrativa da prefeitu-
assim como das econômicas. A própria idéia-motriz da ra municipal. Em todas essas medidas, está presente a
“parceria público-privada”, além de ter um caráter de pretensão a atuar nas esferas de decisão e de comunica-
subsídio a interesses privados e de classe, aponta tam- ção da política urbana, promovendo a apropriação pri-
bém para uma redefinição das formas de apropriação vada (com freqüência, empresarial) de nichos do poder
do produto social e da definição de prioridades. via mecanismos relativamente sutis da tomada de deci-
Trata-se, inegavelmente, de uma prática política sões “participativas” e “sustentáveis”.
(embora essa dimensão lhe seja ritualmente negada, O discurso do desenvolvimento econômico pare-
como se fora apenas questão de “eficiência” e “coope- ce ter a função de negociar os termos desiguais da re-
ração”) de notável hegemonia, ainda que contraditória, configuração do assentamento historicamente produzi-
uma vez que “delega” a determinadas instâncias do po- do que é a cidade e, no caso específico, de colocar a
der estatal a competência de gerir as condições institu- proeminência da competitividade como valor a cultivar,
cionais e a provisão de garantias à acumulação, com coletivamente; não mais como o liberalismo burguês
claros impactos sobre os poderes locais e a soberania faz com a democracia, a partir da abstração da idéia de
dos Estados-nação. Essa transferência de atribuições universalidade, mas como civismo socialmente com-
não está isenta da histórica assimetria de apropriação partilhado, como estratégia “obrigatória” de reversão da
do poder político no Estado capitalista. crise pós-globalização, em que a (pós) modernização se
O estudo de caso apresentado pela autora é o do apresenta como necessidade e oportunidade.
município do Rio de Janeiro, onde foi contratada con- No Rio de Janeiro, frentes de expansão de algum
sultoria para elaboração do Plano Estratégico da Cidade, laissez--faire imobiliário se abrem e mobilizam recursos
na primeira metade dos anos 1990. Esse Plano, elabo- e adaptações legislativas diversas. A paisagem urbana de-
rado por equipe catalã, é apresentado como elemento corrente incluirá lagoas poluídas por condomínios de
fundamental de uma política de ordenamento territorial luxo, sistemas viários articulando trechos de “cidadelas”,
(que pressupõe concepções de administração pública e por edifícios de gabarito aumentado sob mecanismos
de urbanismo) que se pretende catalisadora do soergui- “redistributivos” (cujo recurso se converte no financia-
mento socioeconômico da cidade, atravessada pela es- mento da urbanização do seu próprio entorno) e por in-

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tervenções urbanísticas pontuais limitadas à concepção SUSTAINABLE PLACE


espetacular da cidade, numa clara apropriação do que Christine Phillips
há de mais “comportamental” e imagético na idéia de West Sussex, England: Wiley-Academy, 2003. 218p.
identidade visual urbana das correntes tradicionais do
desenho urbano anglo-saxão. Todos esses elementos su- Roberto Anderson de Miranda Magalhães
gerem, se não uma mudança de paradigma da gestão ur- Doutorando do Prourb/UFRJ e coordenador da Área
bana contemporânea, pelo menos uma nova forma de os de Urbanismo do Centro de Arquitetura e Artes da USU
capitais privados se reproduzirem na cidade pós-fordista.
O Planejamento Estratégico (antiga técnica mili- Segundo Roger-Machart (1997),1 grande parte da
tar, depois convertida em modelo empresarial) e a Par- literatura sobre cidades sustentáveis permanece focada
ceria Público-Privada seriam, portanto, ferramentas nesse conceito, buscando explicar por que e como as ci-
com efeito de promoção da acumulação capitalista em dades deveriam ser sustentáveis. No entanto, haveria
bases até certo ponto renovadas, dadas as exigências pouca exploração acerca dos meios de sua implementa-
contemporâneas da produção e dos serviços a ela corre- ção. O livro de Christine Phillips torna-se interessante
latos, bem como do capital financeirizado. O Planeja- na medida em que tenta definir um método de avalia-
mento Estratégico opera primordialmente no plano da ção da sustentabilidade urbana e sua aplicação, forne-
retórica, dos discursos e da argumentação, uma vez que cendo material para uma crítica da “insustentabilidade”
costuma revestir de articulação intersetorial procedi- das cidades. A autora doutorou-se pelo AA Environ-
mentos de produção ritualizada de consenso político. ment & Energy Studies Programme entre 1995/1998,
As parcerias, por sua vez, se mostram como instrumen- na Inglaterra, e sua experiência anterior esteve ligada às
tos de priorização de investimento em atividades e in- artes, tendo trabalhado como perspectivista em vários
fra-estruturas rentáveis, em detrimento daqueles – “ul- projetos, como o Victoria & Alfred Waterfront.
trapassados” – investimentos universalistas do Estado Sustainable place divide-se em duas partes. Na
de Bem-Estar Social. A autora coloca uma hipótese primeira, a autora apresenta dois estudos de caso: San
provocativa, em caráter provisório, ao final do texto: a Giminiano (Itália) e Ludlow (Inglaterra), onde aplica
promoção dos setores imobiliário, comercial de médio sua metodologia de análise das condições de sustenta-
e alto padrão e de serviços avançados não teria relação bilidade. Na segunda parte, apresenta três projetos que
com o fato de esses buscarem maior rentabilidade e têm o mérito de trazer informações úteis para a cons-
também por estarem ligados mais diretamente à base tituição de um “desenho urbano ecológico”. Em ambas
fiscal dos municípios do que a produção industrial? as partes, percebe-se que a autora parece crer numa
Valendo-se do inegável apelo filosófico da crítica sustentabilidade objetiva, mensurável a partir de indi-
ao modernismo funcionalista e suas mazelas, o Plane- cadores ou construída a partir de projeto.
jamento Estratégico, seu urbanismo just in time e seu Citando Yannas (1998),2 Phillips relaciona algu-
planejamento urbano flexível representariam uma mas considerações em relação ao microclima das cidades
“neoliberalização” da política urbana. Como tal, exi- como a atenção à forma das construções, cujas densi-
bem contradições entre retórica (a “desregulamenta- dade e tipo interferem com os fluxos de ar, a visão do
ção”) e prática concreta (os vários subsídios e priorida- sol e do céu e a área de superfície exposta; sublinha
des). Analisar a dimensão e, principalmente, os efeitos a necessidade de se evitar a “Rua Canyon”, já que a
e o aspecto qualitativo desse modelo contemporâneo proporção entre a largura e a altura das edificações,
de incorporação da política urbana à regulação capita- bem como a sua orientação influenciam as condições
lista não é apenas uma tarefa política, mas parte do de conforto termal e visual, e a poluição; a atenção ao
processo de construção de conhecimento e de seu re- desenho das edificações e à capacidade termal e ao al-
batimento social. Em que pese o caráter parcial da crí-
1 ROGER-MACHART, C. The sustainable city – myth or reality? T&CP,
tica, próprio do processo de sedimentação e amadure- fev. 1997, p.53-5.
cimento de sua construção, o debate está posto e em 2 YANNAS, S. Living with the city. Urban design and environmental sus-
tainability. In: Environmentally Friendly Cities, James and James (Lon-
curso, para que seja possível identificar os sentidos dos don). Proceedings of PLEA (Passive and Low Energy Architecture) inter-
novos modelos de política urbana. national conference, 1998.

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