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3.

A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE

A função social da propriedade é um dos princípios fundamentais do Direito


Agrário. Tem um grau de importância tão alto que está elevado à garantia fundamental
pelo art. 5º da Constituição Federal, sendo elevado à cláusula pétrea pelo art.60, §4º, IV.
Sendo exatamente essa inclusão como garantia e direito fundamental a grande diferença
entre a atual Constituição e a forma como o princípio estava anteriormente regulado. 1
Durante um grande lapso temporal prevaleceu a idéia de que a propriedade
apenas precisava satisfazer o proprietário, dogma sustentado na idéia de direito natural
do homem e que pode ser denominado de função individual ou privada da propriedade
rural. O primeiro questionamento sobre essa visão individualista da propriedade veio
com São Tomás de Aquino quando concluiu na sua Summa Contra Gentiles que cada
coisa atinge sua ótima colocação quando é ordenada para seu próprio propósito. Foi daí
que começou a gestação da função social da propriedade. Marx com seu livro O capital
e Auguste Comte também foram importantes para uma visão mais social do direito de
propriedade 2. “Desenvolvida a partir das idéias de León Duguit(Souza, 2004:528), a
função social da propriedade passou a ser um dos diversos instrumentos jurídicos que
buscaram regular a concepção de ordem social, que vem paulatinamente se estruturando
juridicamente nos Estados da pós-modernidade” 3.
O advento do Estado social acrescentou a dimensão social e econômica à
dimensão política do Estado liberal, através da limitação e controle dos poderes
econômicos e sociais privados e a tutela dos mais fracos. Caracterizado por um maior
intervencionismo estatal nas relações privadas e anteriormente vistas de maneira
individualista4.
A função social da propriedade está positividade desde a Constituição de 1934,
quando se iniciou o Estado social brasileiro5, sendo que até a Constituição de 1969 foi
apenas esculpida como princípio sem que seus limites e a sua abrangência fossem

1
TEPEDINO, Gustavo. Temas de Direito Civil. 3 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 307 Apud
MACEDO, Tatiana Bandeira de Camargo. Trabalho escravo em terras economicamente produtivas: a
possibilidade de desapropriação-sanção. Jus Navigandi, Teresina, ano 17, n. 3255, 30 maio 2012 .
Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/21889>. Acesso em: 25 jul. 2013.
2
BARROS, Wellington Pacheco. Curso de Direito Agrário. Vol. 2, 5ª Ed. Ed. Saraiva, 2012 p.42.
3
MAUÉS, Herena Neves. A redução de trabalhadores à condição análoga à de escravidão como
fator de descumprimento da função social da propriedade rural. p. 2752 Disponível em:
<http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/bh/herena_neves_maues.pdf>. Acesso em 25 jul 2013
4
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Princípios sociais dos contratos no CDC e no novo Código Civil. Direitos &
Deveres. Maceió ,ano III, v. 6. Edufal. Jan./dez. 2000. p.229.
5
Idem. p. 239.
pormenorizados6. A lei n. 4.504 de 30 de novembro de 1964, que dispõe sobre o
Estatuto da Terra, fala sobre o princípio em seu art. 2º,em seu art. 12, em seu art.13, em
seu art. 18 e em seu art. 47. O primeiro trata de conceituar o princípio e de dispor os
pressupostos para o cumprimento deste na seguinte redação:
Art. 2° É assegurada a todos a oportunidade de acesso à propriedade da terra,
condicionada pela sua função social, na forma prevista nesta Lei.
§ 1° A propriedade da terra desempenha integralmente a sua função social
quando, simultaneamente:
a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela
labutam, assim como de suas famílias;
b) mantém níveis satisfatórios de produtividade;
c) assegura a conservação dos recursos naturais;
d) observa as disposições legais que regulam as justas relações de trabalho
entre os que a possuem e a cultivem.
§ 2° É dever do Poder Público:
[...]
b) zelar para que a propriedade da terra desempenhe sua função social,
estimulando planos para a sua racional utilização, promovendo a justa
remuneração e o acesso do trabalhador aos benefícios do aumento da
produtividade e ao bem-estar coletivo.

Ao colocar como dever do Poder Público o zelo pela justa remuneração e o


acesso do trabalhador ao aumento da produtividade e ao bem-estar coletivo, o legislador
decidiu utilizar o princípio da função social da propriedade como um dos fundamentos
jurídicos que proíbem as relações injustas de trabalho, incluindo aí a proibição ao
trabalho escravo. Ao citar o acesso aos benefícios do aumento da produtividade, o
legislador provavelmente também se inspirou no conceito marxista de mais-valia. “O
valor de uso da força de trabalho consiste precisamente na capacidade, que lhe é
exclusiva, de criar um valor de grandeza superior à sua própria. O dono do capital e
empregador do operário se apropria deste sobrevalor ou mais-valia sem retribuição”. 7
No estado social em que vivemos, no qual nossa Constituição de 1988 em seu
art. 170 estabelece que as atividades econômicas precisam respeitar os ditames da
justiça social, é justo procurar diminuir a mais-valia visando um acesso mais justo do
trabalhador nos lucros provenientes de seu próprio suor. Assim como que também é
justo que a acumulação exacerbada de riquezas, que tanto influi na desigualdade social,
seja diminuída. O art. 184 também procura estabelecer a justiça social ao enunciar que
as propriedades que não cumprirem a função social estarão sujeitas à desapropriação.

6
BARROS, Wellington Pacheco. Curso de Direito Agrário. Vol. 2, 5ª Ed. Ed. Saraiva, 2012. p.43.
7
GORENDER, Jacob. Apresentação do livro O Capital. São Paulo: Ed. Nova Cultural Ltda, 1996. p.37
O artigo 186 da atual Constituição Federal também trata dos requisitos
necessários para que a função social da propriedade seja cumprida. Também é
perceptível a preocupação em regular justas relações trabalhistas. In verbis:

Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,


simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei,
aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do
meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos
trabalhadores.

A função social da propriedade, em que cuja a dignidade da pessoa humana


está entre seus pilares, demonstra que os interesses sociais devem prevalecer sobre os
interesses privados e econômicos. Mesmo o direito particular do indivíduo precisa
denotar uma função social. A promoção do solidarismo pretende propiciar uma
sociedade mais livre e justa. A redução do trabalhador à condição análoga à de escravo
é uma deplorável situação muito encontrada na realidade fática que ainda demonstra o
quanto um ser humano pode ser desumano em seu afã por recursos econômicos
mundanos. Provavelmente o mais alto nível que se pode chegar no desrespeito da
função social da propriedade.

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