Março/2018 Andando pelo mundo, seja visitando cada continente ou fa- zendo um ziguezague entre casa e trabalho, a gente quer ver esse mundo como ele é. Mesmo que a gente tente muitas vezes escapar da realidade, nosso desejo profundo é entender como ele funciona e poder aplicar toda essa sabedoria em nos fa- zer mais felizes. Tem vezes que a gente até acredita que já entendeu. Olhamos e vemos cada elemento diferente que compõe o mundo. Nas ruas de uma cidade, por exemplo, a gente vê as pessoas em seus diversos instrumentos de transporte: a pé, de bicicleta, nos carros, nos ônibus. Também em locomoção, nos colocamos como personagens do jogo em alguma dessas cate- gorias, e jogamos sob as regras – sejam regras explicitamente dadas por instituições, ou regras que aprendemos usar com experiência, ou ainda que recebemos como conselhos. Em cada situação vamos nos comportar diferente, então precisamos distinguir entre todas as situações possíveis. Uma possível situação é estarmos caminhando completamente sozi- nhos na rua. Outra situação é estarmos em uma rua apenas com pedestres. Mais uma situação é ser a única pessoa de bicicleta numa rua cheia de carros. Mas cada situação é defi- 2
nida apenas por conceitos que conseguimos captar observando
– ignoramos a maior parte da informação. Uma informação que pode acabar sendo ignorada é o estado mental de cada indivíduo na rua. Alguns pedestres podem estar estressados, alguns motoristas podem estar sonolentos. Mesmo que você esteja sempre andando na rua, nem sempre temos como saber qual é o estado mental das pessoas ao redor, então não podemos usar essa informação para decidir como agir. O que podemos fazer é adotar um procedimento genérico que seja o mais adequado possível para todos os casos possíveis. Imagine que você está esperando o semáforo fechar para atravessar a rua. O sinal fica amarelo, indicando aos carros que em seguida vai fechar. De longe, um carro se aproxima. Talvez ele fique tentado pela ideia de não parar e passar no sinal amarelo, o que não é proibido, mas se ele fizer essa es- colha é possível que não dê tempo de passar antes que o sinal feche. Um mau motorista atrasado passaria; um motorista passeando, não. Essa é uma informação que você não tem, então aconselho você a esperar. Ambas possibilidades repre- sentam a mesma situação pra você, apesar de terem resultados diferentes. Caso você esteja caminhando sozinho na rua, o problema de não conhecer o estado mental das pessoas não é um problema, porque como não tem ninguém, não tem nenhuma informação escondida da natureza de estados mentais. Caso você esteja na rua com uma única pessoa apenas, a informação escondida é apenas o estado mental dela – você pode focar nas possi- bilidades de comportamento dessa pessoa apenas. Com mais pessoas, essa previsão fica mais complicada devido ao grande número de possibilidades – o número de todas as possíveis combinações de estados mentais. Quando estiver na rua, pense em quanta informação você está ignorando por não ter acesso a ela. Quando você intera- gir com as pessoas, veja que seu julgamento é baseado no que 3
você observa e no que você assume como verdade. Quando o
número de possíveis microestados – imperceptíveis – que re- presentam o mesmo macroestado – que observamos – é um número grande, a entropia desse macroestado é grande. E aí? Mesmo se formos atrás de todas as informações para ter conhecimento total do mundo, sempre haverá informações es- condidas. No início podem até parecer informações inúteis. Mas, com o tempo, qualquer informação inútil se torna vali- osa. A entropia não para de crescer. Apenas tenha ciência de que não sabemos tudo and that’s okay.