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Recebido em: 29/10/2014

Aprovado em: 21/11/2014

TIRADENTES, MAÇOM INICIADO?


(Tiradentes, initiated freemason?)

Marco Antônio de Moraes ¹

Resumo
O presente artigo tem por objetivo oferecer aos maçons e interessados uma análise bibliográfica sobre a su-
posta filiação maçônica de Tiradentes, considerado mártir da independência do Brasil.

Palavras-chaves: Tiradentes; inconfidência mineira; Maçonaria.

Abstract
This article aims to provide to freemasons and other interested parties a literature review about the al-
leged Masonic membership by Tiradentes, considered a martyr of the independence of Brazil.

Keywords Tiradentes; “inconfidência mineira”; Freemasonry.

¹ Marco Antônio de Moraes é professor e advogado aposentado. Mestre Instalado, MRA, 33º do REAA, membro das Lo-
jas Maçônicas Atlântida No. 06 e Abrigo do Cedro No. 08, ambas da GLMDF. E-mail: marco.moraes@apis.com.br

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Introdução nascimento.

Logo após a iniciação na Maçonaria, mui- Aos nove anos de idade, ele residia em
tos são os que tomam conhecimento das inúme- São João d’El Rey, em casa de parentes, quando
ras Lojas Maçônicas que adotam o nome de Tira- sua mãe veio a falecer. Aos 15 anos perdeu seu
dentes como patrono, em suas diferentes formas: pai, tendo então retornado a Pombal para traba-
“Tiradentes”, “Alferes Tiradentes”, “Joaquim José lhar na lavoura, com o seu padrinho, que tam-
da Silva Xavier”, dentre outras. De plano, surge a bém lhe ensinou o então raro ofício de “por e
dúvida: são homenagens ao mártir da Indepen- tirar dentes”.
dência ou Tiradentes teria sido maçom? Na idade adulta foi mascate em Minas
Com certa tristeza temos presenciado uma Novas, antes de entrar para a Companhia dos
discussão pouco acadêmica acerca do assunto, Dragões de Villa Rica, sede da Capitania das Mi-
mais próxima da paixão rancorosa, a qual, sem nas Gerais, atual Ouro Preto. Foi então promovi-
dúvida, conduz ao caminho certo para a perpetu- do de Comandante de Patrulha a Alferes em
ação da dúvida. Alguns maçons historiadores, em março de 1775 e, no ano seguinte, destacado pa-
seus livros e artigos publicados, já se excederam ra a 6ª Companhia do recém criado Regimento
e, não raro, trocaram até ofensas públicas. de Cavalaria Regular de Minas Gerais, sediado
em Villa Rica.
Nesse sentido, desenvolvemos o presente
artigo, esperando que possa, com o auxílio do Em dezembro de 1781 esteve no Rio de
Grande Arquiteto do Universo, com base na pes- Janeiro, sendo nomeado para o cargo de Co-
quisa científica, longe de qualquer sectarismo, mandante do Destacamento do Caminho do Rio,
oferecer aos maçons e interessados a verdade, com a finalidade de vigiar a estrada da Manti-
ou, se esta não for encontrada, que tenhamos queira, dar proteção aos viajantes e reprimir o
contribuído para alargar os horizontes da cultura contrabando de ouro e diamantes.
maçônica. O Alferes Xavier, como era conhecido na
época, não foi promovido a oficial em face da
sua pouca instrução, por manter a atividade de
Breves dados pessoais de Tiradentes “arrancador de dentes” e ter a “língua solta” e,
Joaquim José da Silva Xavier nasceu em finalmente, após ter sido destituído do cargo de
Minas Gerais, na Fazenda do Pombal, à margem Comandante do Destacamento do Caminho do
direita do Rio das Mortes, entre a Vila de São Jo- Rio, começou a falar mal, abertamente, do gover-
sé, hoje cidade de Tiradentes, e São João d’El no português.
Rey, tendo como pais, o português Domingos da Em maio de 1786 retirou da casa dos pais
Silva Santos e a brasileira Antônia da Encarnação a menor Antônia Maria do Espírito Santo, que,
Xavier, sendo o quarto filho entre seis a sete ir- em fevereiro de 1787, deu a luz a uma menina.
mãos. No mês imediato, o Alferes abandona a compa-
Foi batizado pelo padre João Gonçalves nheira, que tinha à época 16 anos de idade, e vi-
Chaves, na Capela de São Sebastião do Rio Abai- aja para o Rio de Janeiro, licenciando-se da Tro-
xo, em 12 de novembro de 1746, tendo como pa, permanecendo lá por um ano, para tentar
padrinho o “Tiradentes” Sebastião Ferreira Leitão. uma nova sorte, porém, sem êxito.
O assentamento do seu batizado foi encontrado No ano seguinte, 1788, ainda no Rio de Janeiro,
pelo historiador Augusto de Lima Júnior (1955), conheceu o engenheiro de minas, José Alvares
nos livros da Matriz de Nossa Senhora do Pilar, Maciel Filho, cunhado do capitão-mor de Villa
na Vila de São João d’El Rey, o qual calculou a Rica, e Domingos José Barbosa, recém formados
sua data de nascimento como 16 de agosto de em Coimbra, Portugal.
1746, já que não há notícias de seu registro de

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Em agosto do mesmo ano, o Tiradentes O Coronel Joaquim Silvério dos Reis, que
retornou para Villa Rica, encontrando o povo em ouvira inconfidências de Tiradentes, denunciou a
profunda inquietação, pois, em 18 de julho, o insurreição que se planejava ao Visconde de Bar-
Visconde de Barbacena, governador da Capitania bacena, que imediatamente suspendeu a derra-
das Minas Gerais, anunciara a cobrança, com ri- ma, uma vez que o movimento armado iria ter
gor, do débito da derrama2. início no dia da cobrança dos impostos atrasa-
Juntou-se, então, ao grupo formado pelas dos. Deu-se início à devassa da Inconfidência Mi-
seguintes personalidades da região: tenente co- neira ou Conjuração Mineira, com a prisão de
ronel Francisco de Paula Freire de Andrade, co- seus líderes.
mandante do Alferes; José Alvares Maciel Filho; Dias antes, Tiradentes, que tinha a incum-
vigário e latifundiário Carlos Correia de Toledo e bência de divulgar o movimento, viajara para o
Mello; Inácio José de Alvarenga Peixoto; padres Rio de Janeiro, com a finalidade de angariar fun-
José da Silva e Oliveira Rolim; cônego Luiz Vieira dos para a empreitada, vindo a ser preso no dia
da Silva; poeta Cláudio Manoel da Costa; e ou- 12 de maio de 1789, na rua dos Latoeiros, hoje
tros militares, fazendeiros e negociantes, que já denominada rua Gonçalves Dias, sem oferecer
conspiravam contra a Coroa Portuguesa. maior resistência.
Outras imposições do governo português Tiradentes não negou sua participação no
também traziam grande descontentamento à po- movimento, denominado de “Inconfidência Mi-
pulação: exigência de que todos deveriam traba- neira”. Os demais envolvidos abjuraram e a Rai-
lhar nas minas de ouro; proibição de instalação nha Dona Maria I de Portugal, no dia 20 de abril
de engenhos na região das minas; exclusividade de 1792, comutou as suas penas de morte para o
na retirada do sal para poucos comerciantes; fe- degredo perpétuo, deportando-os para a África.
chamento das fábricas de tecido, para que todos Já os religiosos tiveram processos à parte e, após
fossem obrigados a comprar tecidos fabricados condenados, foram enviados a Portugal. Enquan-
em Portugal; proibição do uso das estradas para to que Cláudio Manoel da Costa, que se defende-
o interior, por receio do contrabando de ouro. ra em cartas, acusando os companheiros da
Tais medidas, aliadas ao anúncio da derrama, conspiração, suicidou-se na prisão.
trouxeram forte descontentamento junto à classe Tiradentes foi enforcado às 11 horas do
dominante da região, principalmente os endivi- dia 21 de abril de 1792, três anos após sua pri-
dados, caso também de Tiradentes. são. Foi então esquartejado, sendo que a cabeça
O clube inicialmente era conhecido como foi para Villa Rica e os seus membros foram fin-
o Arcádia Ultramarina. Segundo Monteiro (1961), cados em postes na estrada entre Minas e Rio de
o clube foi fundado com a finalidade de sublevar Janeiro. A casa dele foi destruída e sobre a terra
a população a não pagar a derrama, as côngruas3 foi jogado sal.
e o quinto sobre o ouro minerado. Discutia-se,
também, a proclamação de um território inde-
pendente de Portugal. A suposta iniciação de Tiradentes
O lema da bandeira do Clube dos Poetas A Universidade de Coimbra era o berço
foi proposto por Cláudio Manoel da Costa, verso das ideias liberais, onde os filhos de brasileiros
de Virgílio: “Libertas Quae Sera Tamem”, Liberda- ilustres, ricos e poderosos estudavam, constando
de, Ainda que Tardia. que Cláudio Manoel da Costa, Tomás Antônio

2
Derrama: imposto criado em 1762 pela Coroa Portuguesa, no montante de 100 arrobas de ouro anual, a ser pago pela
população da Capitania das Minas Gerais, com a finalidade de cobrir a queda da produção de ouro. As cotas pessoais
eram estipuladas arbitrariamente.
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Côngrua: pensão que se pagava aos párocos para a sua sustentação.

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Gonzaga e Inácio Alvarenga Peixoto foram inicia- convicção, afirmou que “o certo é que a Maçona-
dos na Maçonaria naquela cidade, enquanto es- ria brasileira dos séculos XVIII e XIX era essencial-
tudantes, embora haja quem afirme que Cláudio mente política”.
Manoel da costa não era maçom. Porém, tais afirmações encontram forte
Naquela época, o absolutismo e o sistema oposição, no fato de que a primeira Loja Maçôni-
colonial europeu estavam em crise, os ideais de ca brasileira que se tem registro surgiu em Reci-
liberdade e princípios liberais estavam aguçados fe, Pernambuco, apenas em 1796, por iniciativa
entre os universitários, em face da recente guerra do botânico Manuel de Arruda Câmara, após
da independência americana (1776) e a Revolu- chegar da Europa, e denominava-se Areópago de
ção Francesa (1789). Alguns autores afirmam que Itambé. Há autores que afirmam que não se tra-
José Alvares Maciel Filho também teria sido inici- tava de uma Loja Maçônica, mas de outra socie-
ado na Maçonaria, em Coimbra, com 28 anos de dade secreta, nos moldes da Maçonaria, e inte-
idade, tendo chegado a Villa Rica no segundo grada por maçons e não maçons.
semestre de 1788. Tiradentes, como se sabe, morreu no dia
No tocante à probabilidade da iniciação 21 de abril de 1792, quando ainda não existia Lo-
de Tiradentes na Maçonaria ou à sua vida de ma- ja Maçônica regular no Brasil. Tiradentes jamais
çom, não existe qualquer registro e, nos sete vo- esteve em Salvador, Bahia, onde há a teoria da
lumes dos Autos Devassa4 da Inconfidência Mi- primeira Loja Maçônica naquele território, funda-
neira, publicados pela Biblioteca Nacional (1936),da em 14 de julho de 1797, na Barra, a qual de-
não há qualquer referência à iniciação de Tira- nominava-se “Cavaleiros da Luz”, fato que tam-
dentes ou sua condição de maçom. bém não encontra unanimidade. Também é sabi-
Por outro lado, o estudioso maçom José do que não existia estrada para os 1800 quilôme-
Castellani, em artigos publicados na revista “A tros que separam Salvador de Villa Rica.
Verdade”, números 298 e 300, abril e junho de Portanto, meu entender é de que Tiraden-
1992, afirmou que “profanos e principalmente tes não poderia ter sido iniciado na Maçonaria na
maçons irresponsáveis inventaram, não apenas Bahia enquanto mascateava ao norte de Minas,
sobre o Tiradentes, mas de modo geral tudo por volta de 1774, uma vez que esta ainda não
quanto é fato maçônico”. existia. A propósito, José Castellani, em “Os Ma-
O autor Joaquim Felício dos Santos (1868), çons na Independência do Brasil” (1993, p. 20-
no livro “Memórias do Distrito de Diamantino da 21), é taxativo ao afirmar:
Comarca do Serro Frio”, afirmou que “os conjura-
dos eram todos iniciados na Maçonaria, introdu- Muito já se falou e muito já se escre-
zida por Tiradentes, quando por aqui passou, veu sobre a participação maçônica na
vindo da Bahia, para Villa Rica” e mais “quando independência do Brasil.
Tiradentes foi removido da Bahia, trazia instru- De confiável, todavia, muito pouco.
ções secretas da Maçonaria para os patriotas de Como geralmente acontece, quando
Minas Gerais”. autores maçons tratam da História,
Marcelo Linhares (1988), no seu livro “A entra em jogo o ufanismo, a parciali-
Maçonaria e a Questão Religiosa do Segundo Im- dade, a tendência, que os leva a exa-
gerar os feitos maçônicos e as virtudes
pério”, escreveu que “de Tiradentes se diz haver
dos maçons envolvidos, ocultando ou
iniciado na Bahia, quando em seus primeiros escamoteando os defeitos e dourando
tempos de vida profissional mascateou no eixo a pílula, quando o seu aspecto não é
Minas-Bahia”. Mas, demonstrando não ter muita muito recomendável.

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Devassa: sindicância de um ato criminoso. Processo que contém as provas de um ato criminoso.

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Isso acabou criando uma História dis- rém, não citou Tiradentes como maçom.
torcida, inventada e maquinada, que
viria a influenciar algumas gerações de
Já Lima Júnior (1955, p.136-137) afirma
maçons, que passaram a repetir bale- que: “Iniciado na Maçonaria, tomava parte nas
las, as quais, com tanta repetição, qua- reuniões desta, no Rio de Janeiro e pregava suas
se chegaram a ter foros de verdade – doutrinas onde quer que se encontrasse" e tam-
uma mentira repetida muitas vezes, bém confirma que "...depois de ouvir minucioso
acaba sendo considerada uma verdade relatório do alferes Joaquim José, que regressara
– fazendo com que a historiografia do Rio de Janeiro onde mantivera contatos deci-
maçônica nacional chegasse a ser mo- sivos com os confrades das Lojas Maçônicas, e
tivo de descrédito, de desconsideração que lá dirigiam o movimento da insurreição...".
e até de chacota, para a comunidade No entanto, nos idos de 1788/89, não existia Loja
universitária brasileira e para as insti-
Maçônica no Rio de Janeiro, o que torna temerá-
tuições ligadas à História e que tratam
com a seriedade que ela merece e não
ria tal afirmação, sendo que a primeira só veio a
com o despojamento de certos autores ser fundada naquele Oriente em 1801, denomi-
maçons. nada Loja Maçônica Reunião, filiada ao Grande
Oriente de França, segundo o manifesto do Grão
-Mestre José Bonifácio de Andrada, publicado
Mais adiante (p. 25), foi contundente ao em 1832 (BUCHAUL, 2011).
tratar especificamente de Tiradentes:
Ainda, José Castellani, em “Os Maçons da
Independência”, relaciona a fundação das primei-
Existem, todavia, autores, que, aprovei- ra Lojas Maçônica no Brasil:
tando um período nebuloso e de gran- Resumindo: os primeiros tempos da Maçonaria
de carência de registros históricos, fa-
brasileira, até a fundação do Gr. O., seguem
lam da existência de Lojas, principal-
mente na Bahia, nos meados do século aproximadamente – já que a época é nebulosa,
XVIII, o que, por falta de qualquer pro- do ponto de vista documental – a seguinte cro-
va documental, é uma afirmação tão nologia dos principais fatos:
temerária quanto aquela dos que
apontam os conjurados mineiros, prin-
cipalmente o Tiradentes, como Ma- 1796 – Fundação, em Pernambuco, do
“Areópago de Itambé”, que não era
çons, sem que haja qualquer apoio
histórico documental para tal afirma- uma verdadeira Loja, pois, embora cri-
ado sob inspiração maçônica, não era
ção.
totalmente composto por Maçons;
1801 – Criação, em Niterói, da Loja
Não se pode negar que há indícios de que “União”;
maçons se envolveram na Inconfidência Mineira 1801 – Instalação da Loja “Reunião”,
e em outros acontecimentos históricos que se sucessora da “União”;
sucederam. Gustavo Barroso (1990), historiador
1802 – Criação, na Bahia, da Loja
pátrio dos mais afamados, afirmou que “a Maço-
“Virtude e Razão”;
naria estava envolvida na Conjuração Mineira”.
Ele só não disse como e por quais representan- 1804 – Fundação das Lojas
tes. “Constância” e “Filantropia”;
1806 – Fechamento, pela ação do Con-
Outro historiador, Pedro Calmon (2002)
de dos Arcos, das Lojas “Constância” e
afirmou que maçons participaram da Inconfidên- “Filantropia”;
cia Mineira, da Independência, da Abolição da
Escravatura e da Proclamação da República. Po- 1807 – Criação da Loja “Virtude e Ra-
zão Restaurada”, sucessora da Loja

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“Virtude e Razão”; Naturalmente, Gentil deixou-se levar pelo


1809 – Fundação, em Pernambuco, da entusiasmo, ao taxar de irracionais aqueles que
Loja “Regeneração”. não se contentam com as evidências que esposa,
já que usa a expressão evidência como uma cer-
teza. A verdade, principalmente a verdade que
Mário Verçosa (1985), em seu livro busca a Maçonaria, vai mais além. Se há dúvida,
“Registros Maçônicos”, acrescenta a Loja desaparece a certeza, de verdade ou de falsida-
“Cavaleiros da Luz”, em Salvador, Barra, como de. Afinal, temos uma longa escada a galgar. Evi-
fundada em 1797, filiada ao Grande Oriente de dências por evidências, de verdade ou de falsida-
França. de, as contrárias à tese Tiradentes-Maçom são
Em 1955, Tenório d’Albuquerque, baseado mais consistentes e mais racionais, contradizen-
na afirmação de Canêco Amassado, começou a do o modo de entender o último autor referido.
escrever seguidamente sobre Tiradentes-Maçom,
passando a surgirem daí inúmeras Lojas Tiraden-
tes, com a adoção do mártir da Inconfidência Mi- Considerações Finais
neira, como mártir maçom-brasileiro. Para se Essa indagação, se Tiradentes era maçom
comprovar tal afirmativa, basta levantar em cada iniciado, permanecerá ad eternum, enquanto a
Oriente a data de fundação das Lojas Tiradentes. própria Maçonaria, como instituição, não tomar a
Para Kurt Prober (1984), Tenório d’Albu- iniciativa de buscar a resposta, o que tem sido
querque criou o que chamou de “Herói Maçom”, feito até hoje, exclusivamente, por maçons estu-
denominando de “fábula Tiradentes-Maçom” tu- diosos e preocupados com a história da Maçona-
do que se refere a sua vida maçônica. Para al- ria brasileira.
guns, a assinatura de Tiradentes é uma prova da Sugere-se a designação, pelos órgãos ma-
sua condição de maçom. Kurt Prober contradiz, çônicos competentes, de um grupo de trabalho,
afirmando que a mesma possui cinco pontos: o constituído por historiadores, maçons e profa-
primeiro está depois da abreviação de Joaquim; nos, para num prazo compatível com a importân-
o segundo é solto, depois de J, de José; o tercei- cia e a complexidade do tema, buscar e oferecer
ro está abaixo da letra A, da abreviatura AS, de a verdade que todos nós almejamos. Ou, quem
Silva; o quarto está ao lado de X, de Xer, Xavier sabe, instituir-se um prêmio relevante dentro de
abreviado; e o quinto, no fim do nome, como um concurso aberto a professores e pesquisado-
ponto final. res de todos o país, abordando-se a questão. Só
Os três pontos, que acompanham as assi- a análise de fatos históricos, ainda que de difícil
naturas dos maçons, foram utilizados pela pri- catalogação, será capaz de trazer a verdade ou
meira vez num documento maçônico, no Grande dela se aproximar.
Oriente de França, em 1774 (RAGON, 2006). No
Brasil, somente após 1815 e, com certeza, em Referências Bibliográficas
1822.
ARÃO, Manoel de Oliveira Campos. História da Maço-
José Carlos Gentil (19--), atual Presidente naria no Brasil. Vol. 1. Recife, 1926.
da Academia de Letras de Brasília, ao publicar
BARROSO, Gustavo. História Secreta do Brasil, Volu-
um opúsculo intitulado “Tiradentes e a Maçona- me 1. Porto Alegre: Editora Revisão, 1990.
ria”, apresenta-se como um ferrenho defensor da
tese de que Tiradentes era um maçom iniciado, BIBLIOTECA NACIONAL. Autos da Devassa da Inconfi-
dência Mineira. 7 Volumes. Rio da Janeiro: Biblioteca
chegando ao despropósito de afirmar: “Ora, pre-
Nacional, 1936.
tender negar que Tiradentes tenha sido Maçom
constitui-se pelo menos numa irracionalidade, BUCHAUL, Ricardo B. Gênese da Maçonaria no Brasil.
porquanto as evidências traduzem o contrário”. São José dos Campos: Clube de Autores, 2011.

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CALMON, Pedro. História Social do Brasil. Volumes 1,


2 e 3. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2002.
CASTELLANI, José. Os Maçons na Independência do
Brasil. Londrina: A Trolha, 1993.
CASTELLANI, José. Revista A Verdade. No. 298, São
Paulo: Abril, 1992.
CASTELLANI, José. Revista A Verdade. No. 300, São
Paulo: Junho, 1992.
D’ALBUQUERQUE, Tenório. A Maçonaria e a Grandeza
do Brasil. São Paulo: Aurora, 1955.
DOS SANTOS, Joaquim Felício. Memórias do Distrito
de Diamantino da Comarca de Serro Frio. Rio de Ja-
neiro : Typ. Americana, 1868.
GENTIL, José Carlos. Tiradentes e a Maçonaria. Brasí-
lia: editado pelo autor, 19--.
LIMA JÚNIOR, Augusto de. História da Inconfidência
de Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial,
1955.
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sa do Segundo Império. Coleção Ruy Santos. Brasília:
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MAXWELL, Kenneth. A Devassa da Devassa. 3ª Edição.
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MONTEIRO,Clóvis. Esboços de história literária. Rio de
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POMBO, Rocha. História do Brasil. Volume 3. São Pau-
lo: Ed. Melhoramentos, 1964.
PROBER, Kurt. Catálogo dos Selos dos Maçons Brasi-
leiros. Rio de Janeiro: editado pelo autor, 1984.
RAGON, Jean Marie. Ortodoxia Maçônica: A Maçona-
ria Oculta e a Iniciação Hermética. São Paulo: Madras,
2006.
VERÇOSA, Mário. Registros Maçônicos. Manaus: Im-
prensa Oficial do Estado do Amazonas, 1985.

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