As características, às vezes desconcertantes, de uma
personalidade podem ser analisadas e entendidas de diversas formas. Há, porém, certos comportamentos e tendências que são inexplicáveis por meios que não se expandam além da observação de uma vivência específica. Há pessoas que acreditam em reencarnação, há outras que não acreditam, e há, ainda, aquelas que não creem na existência de um elemento vivente metafísico, isto a que chamamos O Espírito, a que eu chamaria O Ser. O ser que viveu no Século XIX na pessoa do compositor alemão Richard Wagner é analisado num romance espírita atribuído ao desencarnado Conde Rochester, e apresento aqui meus comentários a respeito, nos quais acrescento minhas próprias conclusões. Se o leitor não crê “nessas coisas”, não há razão para incômodo. Poderá ler, se quiser, e talvez até ache interessante, mesmo não crendo, ou poderá preferir não ler e passar a outras páginas.
O espírito Conde Rochester conta, no romance mediúnico
intitulado “O Romance de Uma Rainha”, a história da faraó Hatasu (Hatshepsout), onde ocorrem dois personagens extremamente malignos, o príncipe Horemzeb e seu mestre de magia, Tadar, um mago do mal, adorador de Moloc. Rochester afirma serem Horemzeb e Tadar, respectivamente, encarnações prévias de Ludwig II da Baviera e Richard Wagner. É mencionado o temperamento musical de Wagner, com suas composições marcadas de dissonâncias, dando-se a entender que o compositor expressava em suas obras seu desatino e o resquício das práticas tenebrosas que exercera em tempos do Egito faraônico.
É, de fato, coerente a identificação entre Tadar e Richard
Wagner, pela evidência de uma possível projeção do autor num de seus mais loucos personagens. Tadar parece ser revivido pelo próprio Wagner na figura de Klingsor, personagem de sua ópera “Parsifal”. Esta obra, segundo dizem, e ao que tudo indica, é a coroação de todo o trabalho wagneriano, na qual Wagner parece buscar a união mística com a Divindade, por meio da transfiguração do protagonista (Parsifal), que se transforma, subitamente, de um extremo néscio num ser onisciente, que derrota o “mal” representado por Klingsor, o qual estamos vendo como projeção (provavelmente involuntária) do próprio Wagner, ou de sua identidade pretérita, i.e., Tadar.
Cheguei a esta conclusão devido a aspectos similares entre os
dois, Tadar e Klingsor, que notei enquanto pensava neste caso, que andou me intrigando, e que agora parece nítido.
Note-se bem: Tadar usava Horemzeb para seduzir mulheres,
usava essências e bebidas hipnotizadoras, no palácio (havia um palácio, tal como o castelo mágico de Klingsor) ardiam espécies de incensos deletérios, e as mulheres sucumbiam ante os encantos trabalhados de Horemzeb.
Klingsor, analogamente, também queima essências, usa de
sortilégios, e, apenas fazendo uma inversão de sexos, utiliza-se das “donzelas-flores” e de Kundry, a maga sedutora, para seduzir e arruinar os Cavaleiros do Graal, que ficam como que aprisionados em seu palácio.
A analogia encaixa, dando sentido à projeção mencionada
acima, que - na figura de Klingsor - o compositor-dramaturgo teria feito de uma forma anterior de sua própria pessoa. Acho, porém, que deve ser considerado um detalhe importante. Podemos admitir o fato de que o indivíduo em pauta (já como o compositor alemão que conhecemos) estaria em plena busca de remissão, pois ele faz seu aspecto maligno (Tadar, representado por Klingsor) ser derrotado por Parsifal, o símbolo tanto da inocência quanto do conhecimento, o qual é um “Fal Parsi”, ou “tolo inocente” que, por força da compaixão Divina, se torna sábio: ,,Durch Mitleid wissend, der reine Tor” (“Sábio por compaixão, o inocente tolo”); esta expressão, melodicamente marcada por um dos clássicos Leitmotive (motivos condutores), é diversas vezes proferida nesta ópera - ou “Sagrada Festa Cênica” - de Wagner.
Desse modo, considerando-se que Wagner não escolheria sem
razões a lenda medieval que deu base à sua composição, e levando-se também em conta que ele trabalhava os argumentos básicos segundo seus próprios parâmetros, é admissível a hipótese de que o “Parsifal” seja um autêntico brado de contrição e de busca de remissão, tivesse ou não Wagner consciência disto.
Se concordamos que no “Lohengrin” e no “Tannhäuser” o bem
é muito associado ao dogmatismo - ao passo que no “Parsifal” o dogma assume um papel mais simbólico - vemos que “Parsifal” é a primeira obra de Wagner (e é a última de todas as suas obras) na qual se nota uma vitória plena e pura do bem, mesmo que falte aí o fator perdão (Klingsor, o mal, perece), mas isto pode ser entendido dentro do simbolismo geral da obra, posto que Wagner “mata” seu passado, sua malignidade
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