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COMISSÃO JULGADORA
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3
Agradecimentos
A Téia não posso agradecer. Por compartilhar o trabalho, dela também seus
resultados. Com ela divido seus frutos.
5
Resumo
Abstract
ÍNDICE
Introdução
Metodologia e Estrutura do Trabalho ................................................................. 1
Supostos e Hipóteses de Trabalho .................................................................. 12
Contexto dos Supostos e das Hipóteses de Trabalho...................................... 21
conceituai teórico.
fundamentais) se comparada com sua obra conceituai e que, por isto, pode ser
1973; Vorsteg, 1974; Elms, 1981). Há, muito mais frequentemente, aqueles que
a tomam como absolutamente importante porque revela todo o terror que uma
1973; Freedman, 1976; Bakan, 1980). São poucos, e mais recentes, os autores
apresentar uma análise mais abrangente deste tema de Skinner, uma análise
estudado.
textos do próprio autor- Isto implica que, certamente, algumas das análises e
interpretações aqui propostas podem ter sido abordadas por outros autores (cf.
leitura De toda a lista, apenas dois artigos não foram localizados (Thirst as an
Walden II, não localizado em inqlês, todos os textos foram lidos no original. Ao
mesmo quando havia uma clara indicação de que um texto tivesse sido
publicada até 1953, mais especificamente até Science and Human Behavior,
completa das publicações até 1953. Os dados que originaram este trabalho
independentes de seu conceituai teórico, que até mesmo fariam parte dele, não
surgiram algumas hipóteses que foram então analisadas a partir de nova leitura
explicitas, além, é claro, daquelas que, por muito importantes, não se referiam
análise dos textos publicados até 1953, por tornar—se claro que nesta data
como isto: um modelo para futuras investigações. Assim, por exemplo, poder-
foram então sendo relidos e mais uma vez foram sendo retirados deles
ciência do comportamento.
ciência do comportamento.
período abrangido por esta análise se encontram pelo menos dois grandes
humano.
assume-se que há entre elas a mais estreita ligação possível: aquela que diz
do texto de 1948, Walden II Por seu turno, as conclusões a que aqui se chega
começo dos anos 50, propor a ciência como alternativa única para urgentes e
vista formal, ou melhor, como produto formal, não como processo de sua
elaboração.
relação direta ou não com sua proposta para o homem e a sociedade (e que
autor.
Mas estes tatos precisam ser organizados de modo a que possam ser
controlado, de modo que, ao final, se é devedor de tatos que ele emitiu e que
produto, não deve reduzir os méritos da fonte de emissão destes tatos, que
através de uma história particular pôde discriminar certas variáveis que outros
não puderam. Além disto, é preciso considerar que o produto final, o relato
verbal que aqui é apresentado não é, de modo algum, imune a uma outra
autor.
12
tantos autores, não apenas uma tecnologia de investigação mas também uma
Leary, 1980; Abib, 1985; Smith, 1986) o matiz desse termo não é questão
ele não faz afirmações ontológicas sobre o mundo, até que é um materialista
que sua proposta não passa de uma tentativa de reconstruir uma sociedade
totalitária sob o disfarce de uma tecnocracia, ou que não poderia conter uma
proposta para o homem que não fosse apenas uma porção menor de sua obra,
subjetiva.
muito mais para referendar, para aprimorar, o que o próprio trabalho de Skinner
parecia mostrar.
conclusões.
apenas que agora revestidos de uma nova coloração porque seriam mais
sua proposta para uma ciência natural, experimental e descritiva - para garantir
que é efetiva no controle de seu objeto — para garantir o indivíduo como ser. A
concepções que foram sendo construídas desde muito cedo em seu trabalho.
do seu trabalho. Sem a proposta, e uma proposta factível, de uma ciência que
do autor. Entretanto, foram tornados marcos a partir dos quais foram sendo
que se não conduziu explicitamente suas pesquisas e sua obra, parece ter
este aspecto.
identificado nos anos entre 1931 e 1938 e culminaria com uma proposta
como mutuamente independentes. Pelo contrário, o que se tentou foi ver cada
encontradas
de 1948, Walden II, seja lido como parte integrante da obra cientifica do autor,
como texto que serviria como teste e como experimento de uma dada hipótese
e que, neste sentido, guarda ainda estreita relação com Science and Human
que discordam desta proposição, como Elms (1981), que o vê como produto de
mediadas por sua concepção do que é terapia e por outras afirmações que
faz sobre o papel deste livro em sua produção, por exemplo em 1979. Ou há
autores como Freedman (1.976), que o toma como uma utopia, ou como livro
que compõe, em conjunto com outros, uma proposta ideológica, sem valor
incorporada como única via de solução dos problemas humanos. Isto é visto
realizar através de sua obtenção pelos indivíduos. Porém, dado que esta
satisfação deveria ser universalmente atendida por uma sociedade gerida pela
sobrevivência que, por sua vez, adquiriria uma qualidade que empresta
que não pode superar, seja enquanto possibilidades que parece promover. O
formulação.
humano com vistas à melhoria da vida humana (Buckley, 1982; Segai, 1986).
não exclusivamente, para condições externas como um dos fatores que teria
o mundo. No caso de Skinner, isto parece ter sido traduzido pela afirmação de
(Skinner, 1979, Smith, 1986) parece indicar este mesmo caminho; de Bacon,
40, pode ser balanceada pela sugestão de que tal mudança, além de coerente
forma em muitos outros. O primeiro deles diz respeito a uma postura afirmada
1980). Seria importante para Skinner esta postulação ontológica para garantir a
outras fontes. As relações com Crozier e o contato com uma proposta que, na
Skinner as bases para a formulação de sua metodologia que foi frutífera não
unidade de estudo em 1931, como salienta Coleman (1981), mais que uma
26
mesmo em relação aos tropismos estudados por Crozier. E uma tentativa, que
também se caracteriza pela ênfase nos processos, uma vez que Skinner opta
pelo estudo das leis secundárias do reflexo, ou seja, claramente, por estudar
único no período, mas ao mesmo tempo permitiria, com muito maior facilidade,
generalidade aos seus dados, quando da aplicação das leis dai derivadas, para
sociedade.
Behavior of Orqanisms — tem sido visto como marco importante em sua obra.
antecedeu, por suporem que este é um sistema superado pelo próprio Skinner-
Coleman (1984) e por Catania (1988) que vêem ai não apenas a proposição de
um sistema explicativo, mas também o germe para aquilo que mais tarde se
mesmo que por outras vias, é em certa medida referendado por outros autores.
O que se quer dizer é que nos anos iniciais da produção de Skinner, além dos
o comportamento humano.
1937.
comportamento humano.
por acaso, isto ocorre durante a década de 40, num momento que aqui se
necessários alguns anos, mais alguns passos decisivos para que Skinner
epistemolóqicos. Skinner reafirma nos anos 40, para alguns, um monista que
comportamento humano.
30
positivismo no sentido amplo de uma visão de ciência que afirma sua função de
controle da vida social, mas também poderia se articular no que alguns autores
mesmo que não única, de intervenção sobre a realidade (Ulman, 1986; Ardila,
1980).
31
Richelle (1981), Malagodi (1986) e Segai (1987), é que Skinner - e não poderia
ser de outro modo, a não ser sacrificando sua coerência — não atribui á ciência
mas sim o papel mais importante na reforma total da sociedade. Esta torna-se
mais uma vez, isto exige uma proposta para toda a sociedade e para todas as
suas relações como o ambiente e que, nesta medida, se torna capaz de prever
individual ou social.
que são todos naturais - que permite e exige uma ciência toda poderosa — e a
fenômeno que causa uma oposição entre indivíduo e grupo. E o faz, como
termos de sua consequência imediata não se terá feito uma avaliação correta
dos valores e das metas da sociedade permite a Skinner trazer agora para o
adaptações em seu sistema que são efetuadas sem pejo e que, uma vez feitas,
qualquer papel a qualquer evento que sequer lembre uma determinação não
supostos que dirigem esta análise e só a sua exposição parece permitir que se
Skinner, só pode ser feita se for possível experimentar, se for possível aplicar o
científico, ainda que modesta, pela qual novas variáveis sendo identificadas,
PARTE I
artigos e livros (1). Este período, analisado neste trabalho, foi dividido em dois
entre os anos de 1938 e 1948- Cada momento é encarado, por sua vez, como
investigação e de síntese.
manifesto de uma nova ciência, que inclui uma proposta de trabalho para o
aplique. O livro de 1948 - Walden II - e os artigos dos anos entre 1948 e 1953
humanos.
38
Capitulo 1
PROPOSTA DE CIÊNCIA
são, porque e como são as propostas que tem para a solução dos problemas
humanos.
sua autobiografia (1976) que sua escolha da psicologia foi determinada, entre
por uma psicologia behaviorista, por uma psicologia de cunho objetivista, não é
psicologia teria sido de autoria de Wells, também de 1927, em que este afirma
termos:
Wells a Pavlov e que fosse assim interpretada por Skinner se este não
como carreira, feita por Skinner após um ano de frustrações e de tentativas mal
vinha fazendo até então» Deste ponto de vista, poder-se-ia afirmar que o
destacar alguns aspectos que já dão indícios, desde o inicio de seu trabalho,
primeiros podem ser vistos como anteriores ao inicio propriamente dito de seu
período.
que são relatos de pesquisa sobre o reflexo) são poucas, durante o períodos
literária sobre Gertrude Stein (1934a) (3) . O que se poderia considerar como
exceções de um segundo tipo e que são muito importantes para o que aqui se
Summator and a Method for the Studv of Latent Speech (1936f) e The
capitulo.
estudo parece conter a preocupação com uma formulação que permita uma
observada. Skinner não parece escolher uma definição que limite seu objeto de
de um outro caráter: a proposta por ele delineada diz respeito ao reflexo dos
Com isto, Skinner afirma sua ciência como ciência genérica, capaz de
ciência que não se confunde com outras ciências. Não se qualifica um tipo de
que se qualifica é uma forma de abordar os fenômenos que são seu objeto. A
44
mesmo pelos reflexos que são manipulados, mas pelas leis que são reveladas
que acaba por ser aparentemente reduzido ao reflexo, neste mesmo momento
comportamento. Mais uma vez, Skinner aborda de modo amplo o seu objeto e,
ao mesmo tempo, o faz de modo que parece facilitar a inclusão, mesmo que
possibilidade de tornar lei científica, relação ordenada, aquilo que até então
R= f(S) <1>”
(...)
46
R= f(S, A)
relações que até então não foram exploradas e que, sem dúvida, são
no sentido de que a mudança poderá ser trazida para o campo da ciência uma
escopo de sua ciência, mas sim de construir um sistema que desse conta
deles - e que, neste momento, Skinner parece acreditar possível via estudo do
reflexo.
entre dois eventos. O objeto de estudo aparece, assim, não como uma escolha
caracterizando o seu fazer como cientifico e sua ciência começa a tomar forma
e relações observáveis, e cujo limite é dado pelo próprio objeto de estudo; cuja
função das forças que sobre ele atuam" como a afirmação do reflexo em seus
"No entanto não é apenas por falta de nosso método que não podemos lidar
diretamente com esta única correlação entre comportamento como um todo e
49
não desfiguraria o objeto de estudo. Uma vez que se supõe que este existe, é
resultados de uma ciência sejam uma construção dos sujeitos que a produzem,
realidade de forma que seus resultados acabam por ser fiéis reproduções do
evento natural. Do ponto de vista do que aqui se defende este traço é muito
importante, uma vez que, se fosse de outro modo, seria difícil argumentar em
por excelência.
tomada por ele supunha uma extensão ao homem, mas apenas que, como dirá
50
(de seu projeto) uma ciência natural, excluiria a preocupação com o homem.
psicologia seria definido como sendo o comportamento. Também seria por isto
homem sea descrito por este sistema em construção. Durante estes anos
transformações que parecem ter favorecido, mais que dificultado, a tarefa que
enquanto meta.
parecia passível de estudo científico. Também seria necessário que estas leis
reflexos tal como vinham sendo definidos até então -; uma vez que estes estão
lado, uma outra ciência que os estudasse, de outro, que suas leis pudessem se
52
muito perto àquelas estudadas. Sem isto não se poderia, mesmo mais tarde,
tomá-los num nível de análise que embora acentuado, é muito mais molar do
parece ser tomado aí como uma “série de reflexos”, em que pese a vaguidade
importantes:
Skinner mais uma vez enfoca seu problema, aqui o 'drive', a partir da
organismo, seus resultados, uma vez que estes se resumirão a curvas que
esta interpretação:
ou mesmo o 'drive' que foi investigado. Ainda em outro artigo de 1932, Skinner
quimógrafo, o alimento etc. Fica a impressão de que isto ocorreria não apenas
realidade com que o cientista opera. Isto também ocorreria porque Skinner
55
acreditaria que estava construindo não apenas um sistema teórico, mas que a
coletivo.
O que ele parece buscar, a primeira vista, é uma medida mais adequada
colocado:
segundo lugar, que a validade desta lei independe do reflexo especifico. Mais
56
tendência de análise mais molar - que é fortalecida pelo fato de que Skinner
Skinner, já nesta data, parece tão seguro de que sua ciência, embasada
"O que dissemos para a fome se mantêm igualmente para outros 'drives',
"Tivemos pouco a nada a dizer sobre algo chamado 'drive'. Esta é uma
omissão real? A primeira forma provável de uma objeção é de que não
57
formulação para cada 'drive'; a mesma lei descreveria todos os 'drives'. A força
desta crença se expressa no fato de que Skinner faz esta afirmação tendo
seus dados.
condicionamento:
neste mesmo artigo, de dois tipos de reflexos. Skinner assim distingui os dois:
S’------------------ R’
aparece: alguns experimentos são suficientes para originar uma distinção que
transformação são tão fortes que apenas alguns anos mais tarde poderão ser
não é capaz aqui de pensar o que chama de reflexo do Tipo II, a não ser como
Em quarto lugar, fica claro que Skinner tem diante de si um novo campo,
uma vez que é possível que já então percebesse que o reflexo do Tipo II se
E bem verdade que a concepção de organismo por trás desta formulação ê por
seria fruto de uma associação temporal acidental entre dois reflexos existentes
aumento na taxa de respostas uma vez que se parei em os dois reflexos, e nas
extinção.
em 1933.
quase que o mesmo processo, quando até mesmo os seus dados mais crus
63
parecem indicar muitas outras diferenças, como por exemplo o fato de que a
(...) "é aparente que a curva típica para a extinção tem um caráter ondulatório."
(...) As transições algumas vezes são executadas suavemente, mas mais
frequentemente são abruptas. Uma vez que um efeito deste tipo é
presumivelmente continuo, podemos interpretar a transição suave como
representativa da mudança real na. força, e podemos, então, explicar as
transições abruptas apelando para alguns fatores perturbadores" (...)
(...)
"Uma descrição teórica simples da flutuação cíclica pode ser derivada da
suposição de que uma interrupção na cadeia normal de reflexos de ingestão
estabelece um efeito depressor que baixa a taxa de eliciação." (...)
"Um tal efeito depressor e tradicionalmente descrito como 'emocional'. Ele
aparece experimentalmente simplesmente como um decréscimo na força do
reflexo e pode ser definido como tal. Uma característica é que ele rapidamente
se adapta. Como já notamos acima, podem ser obtidas curvas de extinção que
não tem este efeito cíclico. A condição essencial é simplesmente que seja
provido um tempo para a adaptação." (1933a, pp.123, 125, 126)
derivada, origina pelo menos dois problemas. Por um lado, fortalece uma
uma ênfase nos estados estáveis: no caso da extinção, além de explicar cada
linear. Por outro lado, trata como simples efeitos de processos mais
sistemática e profundamente. Este aparece como desvio que pode ser corrigido
com a passagem do tempo, pode ser assim quase que eliminados algo que
está ali para atrapalhar e que por isto tem muito mais que ser deixado fora do
direção de uma descrição genérica do comportamento, uma vez que inclui mais
como comuns a todo e qualquer organismo. Procura descrever a lei geral que
das condições específicas em que ocorrem. Para desvendar esta lei geral é
que não exclui a possibilidade de que o que é descrito como resultado seja
porque é o seu inverso, para metodologia indispensável, uma vez que permite
organismo que não são mais vistas como eliciadas, do modo como o são no
reflexo do Tipo I, e que não são reforçadas, podem ainda assim ser explicadas.
durante os anos de 1934, 1935 e 1936. Reaparecem nos anos de 1936 e 1937
Extinction and their Relation to Drive, Skinner afirma estar dando mais um
é por acaso que as variáveis escolhidas são estas e, ao lado da. razão
explicitada, é possível que também o que fora anunciado em 1931 esteja sendo
década com o estudo do 'drive', para dai se afastar, com um custo que terá
num outro nível. E algumas das conclusões do experimento, que parecem uma
a relação da taxa com o número de respostas ainda por eliciar é modificada por
mudanças no 'drive' está de acordo com os presentes resultados. De acordo
com esta visão, um certo número de respostas, determinado por
condicionamento anterior, será observado na curva de extinção, não importa
qual seja o 'drive'." (...) "quanto menor o 'drive', menor a taxa inicial na
extinção, mas mais lento o declínio na taxa." (1936d, pp.308, 309)
papel do estimulo reforçador parece ser deslocado para um momento que não
a motivação.
período pode ser acompanhado em alguns dos artigos publicados nos anos de
operante. 0 primeiro passo nesta direção já fora dado quando da distinção dos
homem.
Deste modo, não apenas é possível descobrir a lei que rege instâncias
afirma que estas leis serão do mesmo tipo daquelas encontradas pela
transformação.
sua extensão.
"No Tipo I" (...) "o reflexo-a-ser-condicionado deve ser eliciado ao menos uma
vez como reflexo 'investigatório' incondicionado." (...) "No Tipo I o estado do
74
Quando em 1932 Skinner propôs pela primeira vez dois tipos de reflexo
unidade - e não mais como uma cadeia de dois reflexos – e como sendo
fortalecido por uma consequência que está no ambiente — e não como simples
uma relação que não é simples com o organismo: pelo menos três diferentes
apresenta mais uma distinção importante entre eles, que também indica a
"A essência do Tipo II é substituição de um estímulo por outro, ou, como Pavlov
afirmou, sinalização. Ele prepara o organismo, obtendo a eliciação de uma
resposta antes que o estímulo original tenha começado a atuar, e o faz
75
(...) "um reflexo, originalmente de baixa força, é fortalecido pelo reforçamento e"
(...) "através da falta de reforçamento, sua força retorna ao valor original." (...)
"Obviamente, não é uma concepção econômica ver todos os possíveis reflexos
condicionados como pré-existentes no organismo, num estado de estabilidade
reprimida." (1936a, p.129)
para uma nova formulação do comportamento, mas também para uma nova
Assim, este trecho parece fortalecer a hipótese de que as leis que Skinner
a lei e tem, portanto, uma regularidade que pode ser descoberta e expressa - e
serem estudados, mas cada um deles, não apenas com diferentes papéis em
no sentido de não mais defender a simples escolha (como que de um baú) dos
a produção humana não mais precisará ser vista como originada pela vontade,
e Skinner afirma:
"O comportamento operante não pode ser tratado com a técnica desenvolvida
para respondentes (Sherrington e Pavlov) porque na ausência de um estimulo
eliciador muitas das medidas da força do reflexo desenvolvidas para
respondentes são sem significado." (...) "Alguma outra medida deve ser usada
e da definição de operante é fácil chegar á taxa de ocorrência da resposta-
Esta medida mostrou-se significativa num grande número de mudanças
características na força." (1937a, p.493)
podem ser reinterpretados à luz desta nova formulação teórica, o que Skinner
fará em 1938- Por seu turno, pelo menos tão importantes como os dados -
tomados como medidas plenamente objetivas por Skinner - que acumulou, são
inato. Deste modo, Skinner abre caminho para concretizar uma ciência do
de Skinner, entre 1930 e 1937, alguns dos passos que são indicativos de uma
complexo do que a forma como aparece, sua concepção de que cabe à ciência
acreditava que uma ciência do comportamento teria que descrever, não apenas
Gertrudes Stein, poderia ser assumido como trabalho de crítica literária à parte
Mais importante para aquilo que aqui se defende são os artigos de 1936
e 1937, respectivamente, The Verbal Summator and a Method for the Study of
acabou por ser publicado apenas no final da década de 50. Não fica claro,
entretanto, quão profundo era seu envolvimento com o tema. Mas, a simples
Dentre os artigos deste período, The Verbal Summator and a Method for
funcionar como uma espécie de teste projetivo. O que é importante são alguns
dos argumentos que Skinner usa para justificar o equipamento. Logo no inicio
possível argumentar que neste momento Skinner ainda não dispunha de uma
verbal, entretanto não mais é possível argumentar que não considerasse esta
83
uma tarefa de sua ciência, ou que não tivesse em vista esta perspectiva, ou
"Um 'vocabulário' não existe num estado uniforme de força <num indivíduo>.
Uma resposta verbal pode ser tão fraca de modo a ser evocada por seu
estimulo adequado apenas depois de um considerável intervalo de tempo,
como quando temos dificuldade de lembrar um nome." (...) " Uma ciência do
comportamento verbal deve lidar com as condições da fala latente" (...) (1936f,
p.72)
comportamento encoberto (a fala latente) como fenômeno que faz parte de seu
demorou tantos anos para publicar seu livro sobre comportamento verbal:
primárias do reflexo. Por outro lado, isto pode ser uma indicação adicional de
formular é se este não teria se atrasado ainda mais, caso este esforço não
tivesse sido feito desde tão cedo. De qualquer ponto de vista que se analise,
aqui se levantou.
noções teóricas, estava pronto para apresentar uma síntese, para sistematizar
sua produção, e para propor que tal sistema se constituísse numa descrição
propusera em 1931
85
discutido, Skinner intitula seu livro, não por acasos teria pretendido deixar claro
teóricas não diferem, no seu essencial, do que foi sendo proposto no decorrer
partir de uma análise mais geral do livro. Ao final de seu texto, já nas
"O livro representa nada mais que uma análise experimental de uma amostra
representativa do comportamento. Extrapole quem quiser extra- polar. Se, ou
não, a extrapolação se justifica não pode ser decidido no momento." (1938,
p.442)
momentos (1948c, 1977) ter afirmado que estava, já aqui, fazendo suposições
86
homem.
desenvolver uma ciência que abarcasse fenômenos que jamais puderam ser
87
Também deste ponto de vista é que o livro de 1938 poderia ser visto como um
para (um programa de pesquisas) uma ciência cujo objeto de estudo era o
reflexo, apresenta-se alguns anos mais tarde como uma ciência já constituída,
Skinner não se furta, e parece querer mesmo enfatizar, que está construindo
estas características que lhe permitirão explicar seu objeto de estudo. Pelo
dados esparsos, mas como uma proposta que envolve, além de um conjunto
Dentre eles ressalta-se: "A estrutura ou todo formado pelos princípios ou fatos
foi uma escolha deliberada, ela tem, então, um peso considerável. Skinner
estaria apresentando e explicitando desde o inicio de seu livro "a estrutura", "os
realizou neste período; com a diferença que agora apresenta-os tendo em vista
é função.
tem como objetivo explicar, o que não se confunde com um mero compreender.
Skinner não busca descrever no sentido mais lato da palavra, mas descrever,
Skinner não apenas deixa claros seus pressupostos, como nos permite
comportamento.
que de início era pareado com o conceito de reflexo e, portanto, com uma
com o de resposta. Se isto, por um lado, torna-o mais molecular (de uma
comportamento uma redução; mas ao mesmo tempo parece ter ampliado este
conceito, no sentido de que agora seria possível uma maior liberdade no que
que é seu objeto de estudo esta relação, permitindo, assim, que se reconheça
priori:
resposta e não mais uma correlação, ele a associa, agora, à sua consequência
- sua relação com o mundo externo, com estímulos que são exteriores ao
sujeito, que o transformam, tornando esta relação muito mais maleável, muito
mais sutil:
“O termo reflexo será usado para ambos, operante e respondente, mesmo que
seu significado original seja aplicado apenas ao respondente.” (...) “O
condicionamento de um operante difere do de um respondente por envolver a
correlação de um estímulo reforçador com uma resposta.” (1938, p. 21)
momento em diante. Passa até mesmo, num certo sentido, a reinterpretar, sem
93
estivesse atentado mais para este fato, o importante é que, a partir desse
que Skinner defende uma ciência descritiva, mas não narrativa, uma ciência
que busca descobrir relações funcionais e leis gerais e não classificações, uma
"Uma vez postulado que todo comportamento é reflexo, não há mais interesse
teórico na mera listagem de reflexos." (1938, p.11)
Mais que isto, as leis que uma ciência do comportamento visa descobrir
são leis também genéricas por natureza, são leis estabelecidas segundo os
(...) <O> "tipo de predição a que uma ciência do comportamento deve se voltar
> a predição de propriedades quantitativas de reflexos representativos." (1938,
p.12)
estaria explicitando algo que parece ter entendido como sua posição há quase
uma década, mas também está tornando explícita sua crença na generalidade
naquela situação. É uma ciência que, capaz de descobrir a lei que rege os
– entendido como fenômeno genérico. Mais ainda, embora isto não seja
explicitado por Skinner neste momento, por que não seria positivista também
ciência uma função social na solução das relações do homem com a natureza?
estes, que levam Skinner a afirmar, já nas Conclusões, que além de positivista
sujeição dos eventos a uma lei natural e, de outro, por um método que, através
tornar o fenômeno descrito cientificamente tudo aquilo que até então esteve
referem ao comportamento humano. Até 1938 (exceção feita aos artigos sobre
"O leitor terá notado que quase nenhuma extensão ao comportamento humano
é feita ou sugerida. Isto não significa que se espera que ele esteja interessado
no comportamento do rato por seu próprio mérito. A importância de uma
ciência do comportamento deriva, em grande medida, da possibilidade de uma
eventual extensão aos problemas humanos." (...) "Penso que é verdade que a
direção da atual investigação foi determinada apenas pelas exigências do
próprio sistema. Ainda assim, teria, naturalmente, sido possível sugerir
aplicações ao comportamento humano, de maneira limitada, a cada passo.
Isto provavelmente teria tornado mais fácil a leitura, mas teria encompriidado
desnecessariamente o livro. Além disso, o leitor cuidadoso deveria ser capaz
de fazer aplicações como o autor." (1938, pp.441, 442)
97
possibilidades abertas por seu sistema, mas também parece assumir que estas
que uma ciência do comportamento pode e deve ser construída com base em
das leis que tal ciência estuda e a regularidade de seu objeto de estudo - os
pressupostos que Skinner assume também lhe permite supor que a escolha de
maneira que o faria em 1958); também pensava, e dava indicações disto, que
descrevem tais episódios. Deste ponto de vista, seria apenas porque as leis
100
tão aparentemente comuns – e por isto relevantes; seria esta confiança que
autor - não importa o que diga - não só “extrapolou” seu sistema para o
humanos por excelência, e tidos como dos mais complexos pelos psicólogos
tradicionais.
“A objeção a tais termos não é que eles são conceituais, mas que a análise a
eles subjacente é fraca (...)
A descrição e a organização tradicionais do comportamento, representadas
pelos conceitos de ‘vontade’, ‘cognição’, ‘intelecto’ etc não pode ser aceita na
medida em que se pretenda estar lidando com um mundo mental. Mas o
comportamento a que estes termos se aplicam é naturalmente parte do objeto
de uma ciência do comportamento." (1938, p.441)
deveria ser surpreendente o fato de, anos mais tarde, afirmar que os
101
já que ter tal confiança em sua ciência e nas possibilidades que ela traz que
seu sistema.
102
Capítulo 2
como a transição, em vários sentidos, para esta nova etapa – de uma proposta
para o próprio Skinner, assim como o foi para o mundo. Nestes dez anos ele
futuro (1).
e amadurecimento.
considerar é o tipo de artigo que Skinner publicou nos anos que antecederam a
dados. Três são relatos de pesquisa – sendo dois deles relativos a aspectos
obra de Skinner.
comportamento.
“Naquele admirável mundo novo que a ciência está preparando para a dona de
casa do futuro a jovem mãe aparentemente foi esquecida. Quase nada foi feito
para aliviar sua carga, simplificando e melhorando o cuidado dos bebês.”
(1945, p. 567)
pode ser sinal disto o fato de Skinner ter publicado este artigo em Cumulative
cuiddo com os bebês este mesmo berço reaparece). E mesmo o fato de que
metodologia privilegiada.
escapar dos choques. Ao final do artigo apresenta uma curva obtida com o seu
quase que intocada até então, mas sem dúvida fundamental de ser
especificamente da fome:
(...) “ou, (c) da força do comportamento que leva à ingestão de alimento” (...)
“Estas várias ‘fomes’ são relacionadas, embora não necesariamente de um
moo simples.” (...)
“Foi feita a afirmação de que numa ciência do comportamento um estado de
‘drive’ é mais convenientemente definido em termos da força do
comportamento adequado ao ‘drive’. Fome, neste sentido, é uma prontidão
para comer ou para executar qualquer resposta que leve a ingestão de
alimento.” (1940b, pp. 144, 145)
‘drive’: este passa a ser definido, mesmo que admitindo-se que tal suposição é
privação.
é que Skinner parece estar reeditando, em outro nível, uma preocupação que
uma preocupação com a expansão de seu método, com sua adoção por outros
é que aqui tais indicações de aparato são elas mesmas artigos e relatos -
108
publicações.
Isto para não citar o fato de que é neste período que Skinner começa a
utilizar como sujeito experimental o pombo. Bua confiança em que esta e uma
eram arbitrárias, e que por este motivo alargariam a generalidade dos dados
princípios.
epistemológico.
primeiros anos. Então, cada experimento continha uma descrição dos ratos em
pudesse ser uma variável relevante para o desempenho. Com o decorrer dos
anos este tipo de descrição foi abandonado. O tema volta agora revestido de
controladora do comportamento.
De qualquer modo, fica evidente que Skinner não descarta, muito pelo
comportamentais são devidas a fatores genéticos. Por outro lado, fica patente
parecem ter uma marca própria. Eles já chamam atenção pelo títulos Some
Parece impensável que nos anos 30, mesmo que estabelecesse relações entre
explicitar tais relações. Agora não só o faz, como o faz em dois de três artigos.
Também é relevante que no próprio texto dos artigos são feitas relações,
sem dúvida é importante que Skinner admita estar fazendo uma generalização
111
chama a atenção, não é o fato de que isto pudesse ser feito — já que não é
"A ansiedade tem pelo menos duas características definidoras; (1) é um estado
emocional, que de algum modo lembra o medo, e (2) o estimulo pertubador
que é o principal responsável [pelo estado] não precede ou acompanha o
estado, mas é 'antecipado' no futuro. Ambas as características precisam ser
clarificadas, sejam aplicadas ao comportamento do homem ou, como no
presente estudo, a um organismo inferior. Uma dificuldade reside na explicação
de comportamento que surge em 'antecipação' a um evento futuro. Uma vez
que um estímulo que ainda não ocorreu não pode atuar como causa, devemos
buscar uma variável presente." (...)
(...) "Num sentido mais amplo, então, antecipação deve ser definida como uma
reação a um estimulo presente S1 [som], a qual surge do fato de que S1 foi
seguido no passado por S2 [choque],onde a reação não é necessariamente
aquela originalmente obtida com S2."(1941c, p.313)
Como já foi salientado, neste trecho mais uma vez se percebe que
acordo com esta antecipação. Skinner aqui, pela primeira vez explicitamente,
Este experimento também traz á luz mais uma das marcas futuras de
que quase reduz a ansiedade a este aspecto, ou melhor, que acaba, na prática,
por reduzi-la.
"Um estimulo que origina, por exemplo, o 'medo' pode levar ações musculares"
(...) "e a uma generalizada reação autonômica do tipo comumente enfatizado
no estudo da emoção; mas de maior importância, em certos aspectos, é a
considerável mudança nas tendências do organismo de reagir de determinados
modos-" (...) "Nossa preocupação é mais frequentemente com a ansiedade
observada desta forma, como um efeito sobre o comportamento normal do
organismo, ao invés de uma suplementar e específica resposta do organismo,
no sentido estrito do termo." (1941c, p.314)
do organismo, e pode até mesmo ser interpretada como uma visão mais geral,
por ser tratada a partir de apenas uma das suas "características definidoras", e
exemplo.
Talvez o custo desta interpretação tenha se tornado tão alto que Skinner
ganhe força.
que utilizam animais publicados durante estes anos são muito relevantes.
organismo investigado.
num livro sobre comportamento verbal. Talvez uma das características mais
1941.
impressão de que Skinner estivesse buscando "as leis primárias" deste tipo de
pela definição de 1938, o comportamento verbal, pelo menos aquela parte sob
falante, mas sim como emissão (ou talvez eliciação) de respostas relacionadas
relevância, no que pode ser o embrião de uma análise que leve em conta o
autor, que mais tarde tanto marcariam sua produção dentro da psicologia.
ponto de vista da teoria literária, sem nenhum cuidado objetivo e sem ganhos
argumentar que o artigo sobre Gertrude Stein teria sido já uma tentativa deste
tipo).
(...) "uma classe de respostas verbais não é definida por sua força fonética
apenas, mas por suas relações funcionais." (...) "O que queremos saber, no
caso de muitos termos psicológicos tradicionais são, (lo) as condições
estimuladoras especificas sob as quais eles são emitidos (isto corresponde a
'encontrar os referentes') e (2o) (e esta é uma questão sistemática muito
importante), porque cada resposta é controlada por sua condição
correspondente. Esta última não é, necessariamente, uma questão genética. O
indivíduo adquire a língua da sociedade, mas a ação reforçadora da
comunidade verbal continua a desempenhar um papel importante na
manutenção das relações especificas entre estímulos e respostas que são
essenciais ao funcionamento adequado do comportamento verbal." (1945a,
122
p.373)
privados.
esta preocupação com a manutenção não deve ser entendida como ênfase que
verbal. Não só Skinner faz isto neste artigo, como enfoca a questão do
havia sido anunciada em 1938 (quando afirmava que termos como intelecto
(...) "as condições responsáveis pela relação 'semântica' padrão entre uma
resposta verbal e um estimulo particular" (...) " <envolvem> três termos
importantes: um estimulo, uma resposta e um reforçamento fornecido pela
comunidade verbal" (...) " As inter-relações significativas entre estes três termos
podem ser expressas dizendo-se que a comunidade reforça a resposta apenas
na presença do estimulo." (...)
Este esquema pressupõe que o estímulo atua sobre ambos, o falante e a
comunidade reforçadora; de outra forma a contingência não pode ser
adequadamente mantida pela comunidade- Mas esta condição está ausente no
caso de muitos termos 'subjetivos', que parecem ser resposta a estímulos
privados."
(...)
"Há pelo menos quatro maneiras pelas quais uma comunidade verbal, que não
tem acesso ao estimulo privado, pode gerar comportamento verbal em
resposta a eles."
(...)
(...) "Se estas são as várias possibilidades <e a lista é aqui oferecida como
exaustiva), então, podemos entender porque termos que se referem a eventos
privados nunca formaram um vocabulário estável e aceitável, de uso
razoavelmente uniforme" (...) (1945a, pp. 373, 374 e 376)
Em 1945, portanto, Skinner não só assumia a possibilidade de explicar o
todo.
124
"A distinção entre público e privado não é, de modo algum, a mesma que entre
físico e mental. Ai está porque o behaviorismo metodológico (que adota a
primeira) é muito diferente do behaviorismo radical" (...) "O resultado é que,
enquanto que o behaviorista radical pode, em alguns casos, considerar eventos
privados (inferencialmente talvez, mas nem por isto com menos significação), o
operacionalista metodológico manobrou para uma posição onde não pode."
(1945a, p.383)
mundo, Skinner admite que fazem parte deste mundo eventos privados. Mais
que isto, estabelece uma diferença clara, não apenas com outros sistemas
filosóficos. Parece, com isto, estar enfatizando que seu sistema é um sistema
cientifico, mas é também, como dirá mais tarde, uma filosofia da ciência. A
de uma forma sistemática: mais do que uma simples aplicação das leis e
Capítulo 3
do povo americanos uma sociedade que certamente se tornou muito mais rica
e poderosa, que sai da guerra com seu modelo social e econômico fortalecido
remanescentes. A ciência que foi capaz de, com a bomba atômica, acabar com
deixa de se inserir neste quadro mais geral- Para ele também, a ciência se
níveis, e assume como sua tarefa construir uma ciência capaz de resolver os
inicio de seu trabalho esta seria a sua maior meta: se Skinner sempre teve uma
agora envolvendo seu objeto de estudo privilegiado, que apenas por questões
homem e a sociedade.
Science and Human Behavior (1953) e quatro artigos (não se contam os artigos
indicar uma visão mais oceânica de sua ciência- Tem-se a impressão de que
Falta a 137
130
não conter dados obtidos empiricamente não retiraria da obra seu caráter
estão á sua disposição. A estrutura social existente é que é discutida. Tudo isto
desempenharia.
131
o seu leitor com um longo artigo sobre a psicologia experimental, onde defende
defendida, abre uma nova perspectivas qual exatamente será o escopo que
mesmo caminho trilhado nos anos 30. Trata-se agora de formular uma
como ciência que busca compreensão teórica das leis que regem o
comportamento.
e a sociedade.
certo nível de análise, como meio para a descrição dos organismos em termos
ciência definida pelo método. E, assim como em 1931 Skinner não propunha
ponto de vista, a palavra experimental tem muito mais do que o sentido de uma
modo, além de definir seu campo de atuação e sua visão de ciência, Skinner
muito especial.
metodologia até aqui desenvolvida por Skinner — adquire, por seu turno um
novo caráter quando se atenta para o fato de que agora permite-lhe excluir da
comportamento torna-se a única capaz de produzir tais soluções, uma vez que
estabelecerá uma relação entre ciência básica e aplicada muito mais produtiva.
tornar-se tecnologia, o que só pode ser obtido pela descrição plena de seu
objeto.
entendimento.
para sua explicação. Mais uma vez, parece haver um paralelo entre o que
por destruir suas próprias teorias. E interessante que aqui Skinner aborda o
aplicar esta mesma metodologia a estas situações e Skinner faz também esta
controlabilidade plena:
um controle, neste sentido, indireto e não mecânico. Esta afirmação traz pelo
situação concreta.
até aqui.
assumiria assim uma função muito mais importante do que se poderia supor á
leis essencialmente diferentes das que vinha descobrindo, mas, sem dúvida,
É como se Skinner não pudesse, a partir dai, tornar outro caminho senão
forma apenas parcial, ou mesmo marginal — para poder explicar não apenas o
problemas que são genéricos no sentido de serem gerais, mas que são
que se apresenta aqui, mas não é uma sociologia porque os supostos em que
princípio, ser satisfatórios para o grupo, mas também para todo e qualquer
indivíduo envolvido.
vida humana, seu objetivo é o mesmo que desde sempre Skinner defendeu -
este controle, que sempre existiu, passe a ser exercido pela ciência. Skinner
efetivo e eficiente para o controle da vida social humana. O que era objetivo
para a vida cotidiana, mas também para fenômenos que muitos vêem como
comportamento:
valor ideológico — como conjunto de idéias que podem dirigir a ação dos
desta gestão. E, dado relevante, a este papel Skinner atribui, aqui pelo menos,
uma sociedade que não poderá ser transformada a não ser por novas
Não parece que é algo muito diferente disto que será defendido em
parte, este o papel que estes dois livros desempenham na obra skinneriana.
and Human Behavior pode ser o momento máximo de teorização sobre fatos já
150
uma ciência com método e objeto próprios, com um conceituai teórico que no
distanciariam muito deste projeto. A resposta que aqui é dada à questão é que
exercício, quase uma brincadeira, que não faria parte de sua obra propriamente
científica.
comportamento, como também que muitos anos depois ainda não o mudaria
ainda, reconhece esta tecnologia como possível apenas a partir de uma ciência
mais tarde, parece manter sua posição sobre o papel da obra de 1948,
urgentes.
pessoais assumidas por Skinner - ou a ele imputadas por outros - ou não, e isto
não importa muito, mas o conteúdo trazido pelo livro expressaria uma tentativa
comportamento.
ao público em geral, gerando uma nova visão de mundo que permitiria a real
implementação destas soluções. Seria, assim, uma obra não apenas coerente
com Skinner, mas até mesmo fundamental. Mais ainda, poderia permitir, pela
154
Animais. Skinner estaria difundindo não apenas seu conceituai teórico, mas
tornasse mais viável a aceitação de sua ciência e de sua tecnologia: uma tarefa
comportamento individual.
"Eu adotei uma estratégia utópica padrão: um grupo de pessoas visitaria uma
comunidade e a ouviria descrita e defendida por um membro. Haveria um
capitulo sobre trabalho" (...). "Haveria capítulos sobre alimentação ~ cultivo,
armazenagem, preparo e distribuição" (...) "e sobre suprimentos e serviços,
incluindo medicina e odontologia. Haveria capítulos sobre o cuidado de
crianças, educação, treino ético e a família (mínima). Haveria lampejos
esparsos de diversões - música, teatro, arte, esporte - e uma vida diária no
estilo da casa de campo inglesa do século XIX, sem o problema de criados. Um
ou dois capítulos tratariam de religião e política, ou sua ausência."
(...) "Eu não sabia até terminar o livro que eu era ambos, Burris e Frazier." (...)
(...)
"Eu não precisei de muita imaginação. Muito da vida em 'Walden II' era a minha
própria, então." (...)
"Os temas que Frazier discute com Castle eu discutira com um grupo de
filósofos e críticos literários" (...) "Ao discutir as implicações de uma ciência e
uma tecnologia do comportamento com estes amigos, eu tomara uma posição
bastante extremada - que nem sempre gostaria de defender publicamente -
mas no livro eu poderia ir muito além." (1979, pp.296, 297)
magnitude que era inviável, não os resultados que tal experimento teria. E,
(...) "em uma nota intitulada 'O que eu tenho a dizer em 13 de janeiro de 1947',
eu listei quatro itens, dois dos quais como se segue:
157
enfatiza a experimentação, não apenas com animais, mais uma vez indicando
geral, uma vez que ele se refere explicitamente a este tipo de divulgação e não
que parece muito mais pretexto para uma discussão teórica, Skinner apresenta
etc. No artigo, Skinner afirma que esta possibilidade é dada pela noção de que
"Não é por acidente que a taxa de resposta é bem sucedida como um dado,
porque ela é particularmente adequada à tarefa fundamental de uma ciência do
comportamento- Se vamos predizer comportamento (e possivelmente controlá-
lo), devemos lidar com probabilidade de resposta. (1950, p.76)
propõe em Science and Human Behavior que se considera como talvez um dos
talvez não tivesse sido possível sem o trabalho de 1948- Science and Human
161
primeira coisa a ressaltar, entretanto, é que aqui também Skinner, num certo
sentido muito importante, não está seguindo a regra que ele mesmo parece ter
em que a teoria quase que se resume numa síntese, sem grandes saltos, de
mas talvez este fato não tenha sido frequentemente apontado pelo aparente
se poderia dizer que Skinner está teorizando no sentido que admite e mesmo
"A despeito dos problemas práticos, eu planejei um curso que, até onde eu
sabia, era completamente novo. Seus temas principais haviam sido concebidos
em discussões com meus colegas no Projeto Pombo e com os filósofos de
Minnesota e tinham sido gestados durante meu ano <com uma bolsa>
Guggenheim. Eu toquei em muitos deles em Walden II. Afirmei um ponto
central na conferência sobre Tendências Atuais na Psicologia na Universidade
de Pittsburgh, em 1947- Havia muitas disciplinas trabalhando com o
comportamento humano, mas cada uma tinha sua própria teoria; nós
precisávamos de uma única teoria adequada para ser usada quando quer que
o comportamento humano fosse discutido, ou quando quer que algo fosse feito
sobre isto- Tal teoria viria de uma análise experimental." (1983, p.17)
comportamento humano.
Também parece se fortalecer a hipótese de que nestes anos Skinner usou das
164
o de Walden II.
como objetivo privilegiado de sua ciência uma descrição que se traduz pelo
teórico parece ter exercido uma influência importantes embora não se possa
afirmar que sua posição em relação ao papel da ciência tenha mudado - uma
pode-se afirmar que a ênfase certamente é outra agora. Por outro lado, a
assumido como viável nesta época, parece ser a maior responsável por esta
estado no horizonte de sua ciência, o controle pode ter sempre sido seu
parceiro, uma vez que uma ciência natural do comportamento humano só faria
PARTE II
estas soluções.
dizer que é uma sociedade em que todos os objetivos, padrões, leis, práticas
são derivados dia ciência e da tecnologia. Significa dizer que tais práticas são
desenvolvimento. Significa dizer, ainda, que tais práticas são assumidas como
caráter técnico, devem estar nas mãos de técnicos e são criticáveis apenas a
que arrima tal pretensões sobre uma concepção de mundo muito especial.
recusa derivam, pelo menos em parte, a facilidade com que supõe que se
grupo- Além disto, uma sociedade planejada, como a defendida em Walden II,
resolvidas com razoável facilidade do ponto de vista, teórico para aqueles que
sido o fulcro do debate cientifico e político travado por todos aqueles que
repertório, uma vez instalados, além do que, do ponto de vista teórico, são
argumento de que este ê mais eficiente que o controle aversivo, porque não
neutra. Tudo isto tornaria o seu uso uma necessidade objetiva e sua
mesmo tempo em que prega que o critério de avaliação final de uma cultura é
das forças presentes que atuam sobre a sociedade, Skinner tem os olhos
quantitativo.
Pretende que sua ciência torne possível algo que parece negar do ponto
pretende que a sociedade planejada segundo sua ciência permita este salto,
Capitulo 4
"A política realmente não nos daria a oportunidade que nós queremos" (...) "na
pesquisa talvez" <esteja a possibilidade de solução de problemas> (...) "no
ensino não" (1948c, p.8).
"Pode não ser a ciência que é errada, mas apenas sua aplicação. Os métodos
da ciência têm sido enormemente bem sucedidos onde quer que tenham sido
tentados. Não precisamos nos retirar naqueles campos em que a ciência já
avançou. E necessário apenas trazer nossa compreensão da natureza humana
ao mesmo nível. Na verdade, esta pode ser nossa única esperança. Se nós
pudermos observar o comportamento humano cuidadosamente de um ponto de
vista objetivo, e pudermos vir a entendê-lo pelo que ele é, poderemos ser
capazes de adotar um curso de ação mais sensato. A necessidade de se
estabelecer tal equilíbrio é hoje largamente sentida, e aqueles que são capazes
de controlar a direção da ciência estão agindo de acordo com isto. Entende-se
que não há vantagem em aprofundar uma ciência da natureza a não ser que
ela inclua uma ciência similar da natureza humana, porque apenas assim os
resultados serão sabiamente utilizados. E possível que a ciência tenha vindo
em socorro e que a ordem será finalmente atingida no campo dos assuntos
humanos." (1953b, p.5)
modelos de ciência que nem sempre são preditivos para seus padrões, Skinner
também estabelece para estes aspectos da vida, e para a ciência que deles se
Walden II, após enumerar várias áreas de pesquisa, que vão do controle do
fazer qualquer distinção entre estas áreas, quanto ao método ou qualquer outro
"Só em nosso tempo de lazer" (...) "Nosso programa de ação é melhor do que o
das suas instituições educacionais onde aquele que seria cientista se sustenta
lecionando" (...) (quanto à pesquisa básica> "Se você quer dizer
desinteressada e sem finalidade, eu o desafio a citar cinco. Ao invés disto é um
trabalho pago pelos resultados." (1948c, p.58)
planejada como a que retrata, não apenas o interesse e a fecundidade da. arte
afirmações devam ser contextualizadas pela noção que permeia o livro de que
a tese de que para ele ambas são atividades sujeitas aos mesmos princípios
passa a ser explicitada no binômio previsão e controle, que pode ser facilmente
valor filogenético; adquire sentido porque satisfaria uma condição que garante
colocam. Skinner não tem dúvidas de que apenas uma forma de manipulação
é plenamente adequada:
<uma análise funcional do comportamento> (...) "deve ser feita dentro dos
limites de uma ciência natural. Não podemos assumir que o comportamento
tem quaisquer propriedades peculiares que requerem métodos únicos ou tipos
especiais de conhecimento." (1953b, pp.35, 36)
na qual está inserida, das condições materiais nas quais a ciência é produzida
e, num certo sentido, é não neutra, já que afeta pelo menos o ritmo de
particular.
Mas o impulso maior, mais básico e profundo, do fazer ciência não está
estatuto.
Não se trata, seja em Walden II, seja em Science and Human Behavior,
apenas ele parece ser reconhecido como cientifico. Neste modelo, a ciência
solução técnica porque gera a tecnologia que acaba servindo de teste que
confirma-se a noção de que se ciência pura e aplicada não são a mesma coisa
"O cientista pode não estar seguro sobre qual será a solução, mas, geralmente,
está seguro que encontrará uma resposta- E é um privilégio que certamente
não é partilhado pela filosofia." (1948c, p.132)
aplicação: não há fenômeno que não possa, pelo menos potencialmente, ser
desvendado pela ciência; não há, assim, fenómeno que não possa ser descrito,
que para honrá-lo necessita então pautar-se no modelo das ciências naturais,
níveis podem ter algum valor apenas pragmático, mas não são essenciais para
(...) "a previsão no campo das ciências sociais é muito duvidosa, mesmo
quando sabemos de que estamos falando." (1948c, p.139)
1947) não parece que Skinner adota uma postura tão diferente. A mesma
182
a ciência natural aquilo que vem sendo abordado como filosofia, ou mesmo
para Skinner, deve se basear em fatos, deve ser experimental no seu método,
(...) "o filósofo em busca de uma base racional para decidir o que é bom,
sempre me lembrou uma centopéia decidindo como andar. Simplesmente vai
em frente e anda! Todos nós sabemos o que é bom até que paremos para
pensar a respeito." (1948c, p.162)
183
são universais e num certo sentido imutáveis para Skinner, que afirma:
"Eu não vou falar sobre o destino mais do que falei sobre História. O passado
e o futuro são ambos irrelevantes. Nós não agimos por causa de um futuro
nem porque sabemos que haverá algum. Mas o homem muda. E característico
dele descobrir e controlar, e o mundo não permanece o mesmo, desde que
ele começa a trabalhar. (...) E esta característica sobreviverá numa
comunidade bem sucedida. Deve sobreviver ou então culturas menos
eficientes de alguma forma irão se sobrepor." (1948c, p.211)
manipulação e controle deste mundo — que como já foi apontado, têm valor
entanto, poder apontar diferenças nas leis que regem os padrões – e que
afirma que o destino também não tem importância - pelas mesmas razões,
teleológica. Para isto, utiliza a noção de que o futuro não é o alvo primeiro da
outro, ê visto, num primeiro momento, como apenas um efeito colateral, cuja
chamar de uma postura teleológica, uma vez que os padrões são escolhidos
por sua eficiência em relação aos problemas atuais e por seu resultado em
padrão ou cultura específica - e mesmo Walden II poderia ser visto como uma
para uma sociedade planejada segundo bases seguras e com alguma chance
Deste modo, por uma lado, a ciência e a tecnologia, como forma objetiva
"Eu podia entender a satisfação que homens como Castle podiam achar em
passar de problemas atuais para tratados antigos. Um livro antigo é um alivio
benvindo para a incerteza e desapontamento que são inevitáveis no estudo
científico de um campo novo. A pesquisa histórica pode substituir a
investigação cientifica e nos dar tempo para um cochilo honorável, enquanto
fingimos continuar." (1948c, pp.305, 306)
novos desafios, não apenas no sentido de que tenderá a aumentar sempre seu
"Você pode citar um único exemplo na história da ciência para confirmar o que
você disse <que o grande trabalho estava feito>? Quando foi que uma
descoberta cientifica tornou as coisas fáceis? Pode esclarecer alguns pontos
obscuros de antes ou simplificar uma dificuldade anterior, mas sempre revela
problemas que são mais obscuros e mais difíceis - e mais interessantes!"
(1948c, p.286).
do mesmo argumento que pode ser dirigido contra ele: torna a ciência natural e
pensamento dogmático; uma vez que esta ciência é que está aberta para
estritamente experimental; e uma vez que esta ciência é vista como a única
Skinner poderá propor, então, a sua ciência como grande força renovadora e
sociais;
interessados nisso fariam melhor voltando-se para outros meios tão logo
quanto possível. Qualquer grupo poderá ter auto-suficiência econômica se
contar com os recursos da tecnologia moderna e os problemas psicológicos da
vida grupai poderão ser resolvidos pela aplicação dos princípios da 'engenharia
comportamental.'" (1948c, p.15)
conjunturais ou específicos.
é qualquer outra ciência especifica que pode tomar para si esta tarefa, é
como os princípios teóricos que a informam, é engenharia que pode e deve ser
aplicada em áreas até então impensadas pela ciência e de maneira tão ampla
não apenas na vida social, mas na própria maneira de ser, num certo sentido,
parece confirmar a noção de que Skinner sempre teve tal preocupação, já que
não é preciso mudar o caráter metodológico da ciência que propõe para que
contrário, seria o exato caráter que sempre supôs como próprio de sua ciência
defesa de que este modelo pode e deve ser reduzido a uma forma especifica
não apenas como solução dos problemas humanos, e como solução que
permitiria uma nova qualidade de vida, mas também como solução urgente e
uso" que dela o homem tem feito - no que o autor confirma sua concepção de
geral. Deste modo, a "ciência das ciências" possibilita, aqui também, um novo
patamar para a ação humana, que deixaria de ser guiada por critérios
Mais uma vez se explicita o que Skinner quer dizer quando afirma a sua
ciência como "ciência das ciências": esta não apenas explica o fazer ciência, já
isolados, mas culturas, sociedades inteiras. Este caminho, que parece ter sido
tornar possível uma ciência da cultura, uma ciência capaz de gerar culturas
192
novas (das quais Walden II seria um exemplo) e de gerar uma cultura que
e, deste modo, permitirá que um homem novo se forme. Esta afirmação implica
ainda que a escolha da ciência como alternativa para a solução dos problemas
humanos é uma escolha que exige uma concepção de homem e de mundo que
atingido se uma dada forma de trabalho for seguida. Por trás desta prática se
sociedade assim gerida. Estes requisitos operam num paralelo aos supostos
194
dos resultados da ciência e dos próprios objetivos a serem atingidos pela sua
estratégias culturais; (c) que seu objeto de estudo pode e deve ser descrito em
termos de leis gerais, como consequência que pode ser controlado, isto é,
cultura; (d) que há necessidade de planejamento, o que quer dizer que deve se
uma variável independente de cada vez, e que seu objeto também seria
então, entretanto, Skinner parecia supor esta 'análise' apenas como passo
como uma característica que dá nome á sua ciência corrobora, nem certo
fenômeno:
"E comum falar de famílias, clãs, nações e outros grupos como se eles fossem
indivíduos." (...) No entanto, é sempre um indivíduo que se comporta. O
problema apresentado pelo grupo maior é explicar porque indivíduos se
comportam juntos." (...) "Podemos responder questões deste tipo, examinando
197
principio para a análise da sociedade, Skinner acaba por defender como seu
Skinner, mais uma vez, parece nâo reconhecer qualquer especificidade aos
fenômenos ditos grupais, sociais ou culturais, pelo menos do ponto de vista das
leis a que estão submetidos. Sua maior complexidade é mais uma vez
Skinner não reduzir sua ciência a uma ciência do indivíduo, mas propô-la como
ciência que tem como objeto último todo o grupo, a sociedade. Apenas porque
sentido de que são tomadas uma a uma, como no sentido de que são
medidas.
passo de modo que mesmo aqueles aspectos da vida social que num dado
descrição do mundo.
apenas com sistemas complexos, por exemplo o homem, mas também com
padrões culturais, uma vez que estes são assumidos como sendo
sentido de que sua prática segue uma metodologia semelhante; de que esta
prática só é possibilitada pela ciência básica, e neste caso pela 'análise' como
método daí derivado e pelo campo conceituai teórico ai produzido; de que esta
sociedade.
discussão de cada agência — mas também pela descrição de cada uma das
variáveis que controlam o padrão de cada agência e pela descrição dos efeitos
social como um todo. Este parece ser o programa de ação que parece ter
desconsidera, por causa desta marca, este ou aquele aspecto da vida humana
e da vida social. Pelo contrário, esta postura parece contribuir para uma
no fato de que Skinner se nega a assumir, por principio, que talvez tal
toda sua plenitude o fato de que as situações complexas nem sempre são
situações complexas.
fortalece um modelo causal VI-VD - e talvez aponte para uma das maiores
não ser capaz de gerar uma tecnologia Eficiente, muitas vezes às custas de
que estudas
manipuladas. Variáveis que não permitem tal enfoque são na maioria dos
como variáveis que são mantidas mais ou menos constantes, são apenas
é possível porque Skinner supõe que as leis que regem os fenômenos, mesmo
podem ser submetidos a ela e de que o são porque são controlados por
"Uma análise funcional básica, no entanto, nos fornece uma formulação única
<em oposição ás múltiplas formulações de diferentes campos> com a qual
podemos discutir problemas em todas estas áreas e chegar a considerar o
efeito do sistema social como um todo sobre o indivíduo." (1953b, p.40)
avaliar os resultados de qualquer ação - seria razâo para que esta passe a
gerenciar a cultura, uma vez que a atitude dai derivada seria exatamente o que
(...) "uma vez que a ciência do comportamento foi alcançada, não há alternativa
alguma, senão uma sociedade planejada. Não podemos deixar a humanidade
sob um controle acidental ou enviesado." (1948c, pp.260, 261)
205
vista, mesmo aqueles problemas até então intocados pela ciência experimental
passam a ser afetos a ela e a experimentação, por isto também, passa a ser
defendido como único dado que pode ser usado no planejamento da sociedade
por ser objetivo, e em alternativa que descarta outras possibilidades que, além
afirmando que a descrição das leis que regem os fenômenos emerge apenas
revisão das práticas culturais» Por principio, a prática social deveria derivar
postura anti-historicista também por principio. Este risco pode ser contornado
enquanto não houver algo que as substitua. O problema desta concepção está
Parece que pelo menos neste estágio seria impossível escapar a decisões não
controle, mas que no seu percurso permite que o próprio sujeito se reencontre
(Burrus) afirma:
algum tempo, mas apenas no sentido de que uma teoria anterior e superior
também ê esclarecedora: ali Skinner afirma apenas que o cientista não teoriza
até que tenha acumulado dados suficientes para tal» Com isto, argumenta por
coerente com uma proposta como Walden II, que se constitui, deste ponto de
se opõe é a teoria que ele entende como uma viseira que impede a percepção
um tal sistema, e que pode tornar-se critério de avaliação das teorias existentes
sistemas descritivos das leis gerais que regem o comportamento, mas pretende
"0 relato de um evento singular não gera problemas teóricos e não entra em
conflito com filosofias do comportamento humano. As leis ou sistemas
científicos que expressam uniformidades são prováveis de conflitar com teorias
porque reclamam o mesmo território. Quando uma ciência do comportamento
alcança o ponto de lidar com relações ordenadas encontra a resistência
daqueles que são aliados de concepções pré ou extra—científicas." (1953b,
p.17)
Human Behavior. Para Skinner não importa que na aplicação tecnológica não
incompatível com a tese aqui defendida de que ciência pura e aplicada são
'Walden II', responde que, além do fato de não estar preocupado com os
requisitos "acadêmicos",
"Além disso, não funcionaria. Haveria muitas influências cruzadas. 'Walden II' é
muito pequeno para manter dois grupos de crianças separados. Algum dia
poderá ser possível" (...) "E, nesse dia, poderá ser necessário também, porque
nesse dia teremos alcançado o ponto em que teremos que lidar com diferenças
muito sutis. No presente momento, não é necessário. Enfrentar todos os
problemas dos controles seria fetichizar o método cientifico. Mesmo nas
ciências exatas, nós frequentemente não pedimos controles. Se eu encosto um
fósforo numa mistura química e ocorre uma explosão, eu não preparo uma
segunda mistura para verificar se ela se incendiará sem o fósforo. 0 efeito do
fósforo é óbvio." (1948c, p.177)
própria ciência básica que informa a tecnologia empregada. Além disto, justifica
o menor nível de controle tecnológico tendo em vista que todo ele é sustentado
por uma base experimental o que garante que a tendência a ser seguida como
"0 ponto principal é que nós estimulamos nossa gente a olhar cada hábito e
costume tendo em vista um possível aperfeiçoamento. Uma atitude
constantemente experimental em relação a tudo -- é disso que precisamos.
Soluções para problemas de todo o tipo se seguem quase milagrosamente."
(1948c, p,32).
medida contra a qual se avalia não apenas as práticas culturais vigentes, mas
"ideologia" de uma cultura que se garantirá seu objetivo maior: sua própria
(...) "uma vez que a ciência do comportamento foi alcançada, não há alternativa
alguma, senão uma sociedade planejada. Não podemos deixar a humanidade
sob um controle acidental ou enviezado. Mas, usando os princípios do
reforçamento positivo – evitando cuidadosamente a força ou a ameaça de força
- podemos preservar uma sensação pessoal de liberdade." (1948c, pp.260,
261)
seja, Skinner defende não apenas que a ciência permite que se planeje, mas
que vai além dela e por isto mesmo a demonstra em toda a sua força <o que
lembra mais uma vez a tese de que para Skinner a ciência aplicada é mais que
(...) "São questões que dizem respeito às nossas próprias vidas! Nós só
podemos estudá-las numa cultura viva e, ainda, numa cultura sob controle
experimental." (1948c, p. 288) .
avaliada como inadequada; além disto, qualquer plano para uma sociedade
dos indivíduos também será avaliado como incorreto por assumir como seu
"Eu não tenho absolutamente nenhuma" <fé ilimitada na natureza humana> (...)
"Se você quer dizer que os homens são naturalmente bons ou naturalmente
preparados para se relacionarem bem. Não temos nada a ver com a filosofia da
bondade inata — ou mesmo do mal, se vem ao caso. Mas temos fé no nosso
poder de mudar o comportamento humano. Nós podemos construir o homem
adequado para a vivência de grupo - para a satisfação de todo o mundo. Essa
era a nossa crença, mas agora é um fato." (1948c, p.199)
como planos que seguem outros supostos que não o de sua ciência — por
216
defesa de que esta sociedade não seja baseada no uso da força) ê a noção
a única forma de planejamento que permite que se planeje para que o cidadão
(...) "planejei 'Walden II' - não como um arquiteto planeja uma construção, mas
como um cientista planeja um experimento de longa duração, incerto das
condições que irá encontrar, mas sabendo como lidar com elas, quando as
encontrar. Num certo sentido 'Walden II' é predeterminada, mas não como é
determinado o comportamento de uma colméia. A inteligência, não importa
quanto seja modelada e ampliada por nosso sistema educacional, ainda
funcionará como inteligência. Será usada para descobrir soluções para
problemas, aos quais uma colméia rapidamente sucumbiria. O que o plano faz
ê manter a inteligência no caminho certo, antes para o bem da sociedade do
que para o indivíduo inteligente – ou antes para o bem possível do que para o
bem imediato do indivíduo." (1948c, p.252)
Mais uma vez, Skinner dá um salto. Não defende sua ciência como um
sua forma de planejar são as únicas que garantem que o homem terá sua
217
exatamente isto: planejar para que o homem saiba descobrir soluções e não
planejar as soluções. Isto teria se tornado possível, mais uma vez, pela
conhecimento de suas leis e que, portanto, se ocupa dos processos que regem
"A evolução das culturas parece seguir o padrão da evolução das espécies. As
muitas formas diferentes de cultura que surgem correspondem ás 'mutações'
da teoria genética." (...) "Quando nos engajamos no planejamento deliberado
de uma cultura estamos, por assim dizer, gerando 'mutações' que podem
acelerar o processo evolucionário. 0 efeito poderia ser aleatório, mas também
há a possibilidade de que tais mutações possam ser especialmente adaptadas
á sobrevivência." (1953b, p.434)
quase em objeto de estudo - é que Skinner encontra a saída para esta sua
adquire um novo papel: torna-se caminho privilegiado para mudanças que são
qualitativas, que permitem descobrir não apenas novas estratégias, mas que
cultura pode independer da prática cientifica, já que a ciência ensina que todas
neutra e necessária.
adquirisse controle sem coerção, mas também seria possível, pela primeira vez
na história, construir uma sociedade em que aqueles que detêm o controle são
formação desta cultura, uma vez que é preciso que os homens, especialmente
ética não tem a conotação de que as decisões tomadas usarão qualquer outro
critério que não os objetivos critérios científicos, mas pode ser adjetivada assim
pelo menos no sentido de que é imperioso que se constitua tal cultura, que é
papel do cientista lutar por isto, que sua tarefa não se completa até que o faça,
e que sua ciência avançará tão mais rapidamente quanto mais rapidamente e
e nela intervir, mas também a tese de que Walden II e Science and Human
<A noção de controle> (...)"é ofensiva para muitos. E oposta a uma longa
tradição que vê o homem como agente livre, cujo comportamento é o produto
não de condições antecedentes especificáveis, mas de mudanças internas
espontâneas. Filosofias prevalecentes da natureza humana reconhecem uma
'vontade' interna que tem o poder de interferir em relações causais e que
tornam a predição e controle do comportamento impossíveis." (...) "O ponto de
vista alternativo insiste em reconhecer forças na conduta humana que nós
preferimos não reconhecer." (...) "A despeito de quanto esperemos ganhar da
suposição de que o comportamento humano é o objeto de estudo adequado de
uma ciência, ninguém que seja um produto da civilização ocidental pode fazê-lo
sem uma luta. Nós simplesmente não queremos tal ciência." (1953b, p.7)
comportamento, que pode ser num certo sentido traduzido pela noção de
coisa enfim. Nesta explicação talvez se perceba uma das razões porque a
Não busca as variáveis que são responsáveis pelos fatos narrados e deste
mundo, uma ideologia compatível com as propostas que dela são derivadas, e
que substitua a ideologia dominante do homem como agente livre; uma pré-
críticas que pretendem que uma ciência natural, descritiva e preditiva, não se
critica de que a ciência não pode ou não deve ditar as metas, os objetivos,
que uma cultura deve almejar. Se o cientista não é responsável pelo uso que
se faz da ciência, uma ciência adequada deve ser capaz de evitar até mesmo a
metodologia e uma tecnologia, ela pode e deve também ser capaz de prover
uma visão de mundo, que dirija a ação humana. Como resultado, a ciência do
soluções que são tão urgentes face aos problemas com que se defronta o
homem.
na forma, Skinner preconiza o mesmo papel para a ciência. Para tudo isto é
integrante de uma dada forma de agir no mundo. Para Skinner, tal controle
estudo, pelo menos as que são realmente relevantes, estão no mundo externo
226
todas as áreas relevantes da vida humana. E uma vez que, para Skinner, esta
discussão do controle que sua ciência preconiza é feita em pelo menos duas
concepção que deriva o tipo de controle social que a ciência torna possível.
sociedade como Walden II, mas também na discussão feita em Science and
Human Behavior:
pode ser evitado - não importa quão ardorosamente seja repudiado por aqueles
fugir aos problemas até hoje enfrentados pelo homem, tanto em relação ao
poder e ao abuso que dele tem sido feito, como no sentido muito mais
até hoje não pôde ser resolvido pelo homem; só o controle cientifico do
conta- Isto garantiria uma liberdade muito maior do que aquela pregada
seus abusos, o homem pode discutir uma nova forma de controle em que os
indicar que tal partilha não teria os resultados pregados em Science and
Human Behavior. Por outro lado, há que se considerar que também em Walden
da ciência, mas também as próprias metas a serem atingidas por sua via.
ética uma vez que passa a ser defendido como única alternativa de
abuso do controle, ou melhor, contra todo o controle que tem sido repudiado
apesar do uso quase fatal que dela o homem tem feito e que é atestado pela
dados da última não servem como justificativa (ou como negação) da primeira.
e políticas uma é responsável pelo mau uso da outra, e a solução para esta
questão só poderá ser encontrada no abandono da política, uma vez que esta
política e o governo por não usarem da experimentação, por não serem formas
governo nela fundado - não importa sua cor ideológica - são, por princípio,
que acaba por implicar uma séria deficiência técnica para a política. 0 que
resta como questão a responder é por que Skinner afirma isto como
de uma prática qualquer, funciona muito mais como uma amarra, uma vez que
las por uma relação que busca descobrir leis sociais ou leis históricas. Do
"Eu não vou falar sobre o destino, mais do que falei sobre História. O passado
e o futuro são ambos irrelevantes. Nós não agimos por causa de um futuro nem
porque sabemos que haverá algum. Mas o homem muda. E característico dele
descobrir e controlar, e o mundo não permanece o mesmo, desde que começa
a trabalhar. " (...) "E esta característica sobreviverá numa comunidade bem
sucedida. Deve sobreviver, ou então culturas menos eficientes de alguma
forma irão se sobrepor." (1948c, p.211)
233
skinneriana e serve, ainda, como base para sua critica da sociedade. Enquanto
vez que tenha sido superado. Restaria, assim, a uma perspectiva histórica lidar
com os relatos sobre os fatos e não com os fatos em si. Tal abordagem
descoberta das leis naturais que regem os fenômenos é a base de sua possível
experimentação.
sua descrição. Deste modo, ao discutir a história, Skinner não lhe atribui o
fato de que ela acaba, necessariamente, por ser manipulada pelos governos e
fundados podem acertar por acidente, uma vez que enfatizam as variáveis
"Mas sabem eles como conseguir o que querem? Sabem eles que tipo de
mundo satisfará 'os homens em geral'? Não. Mais uma vez estão novamente
adivinhando. Qualquer um pode sugerir mudanças que quase certamente
serão melhorias mas isto é remendo. Uma cultura conveniente só pode ser
descoberta por experimentação."
(...)
"Eu não estou argumentando por não haver governo, mas somente por
nenhuma das formas existentes. Queremos um governo baseado na ciência do
comportamento humano. Nada menos que isso produzirá uma estrutura social
permanente. Pela primeira vez na história estamos prontos para isso, porque
podemos agora lidar com comportamento humano segundo princípios
científicos simples." (1948c, p.198)
argumento historicista, mas para desqualificar a histórias esta não tem uso
padrão cultural muda não ê possível de ser recuperado por uma metodologia
não pode ser usada porque no melhor dos casos pode dizer o que já não
das quais ele, no presente, é uma função. Em Science and Human Behavior,
menos em parte a história, para Skinner, no melhor dos casos, permitem uma
narração, mas nunca uma descrição no sentido que defende para a ciência.
importa que isto seja contradito por sua preocupação com a experimentação,
está enfatizando o que foi selecionado e esta presente hoje. Uma vez que não
como em Science and Human Behavior, não passa de uma tentativa incipiente
homens dêem tão importante passo é a próxima questão que se coloca para
Skinner
Skinner o reconhece, por certas determinações culturais que têm impedido que
explicar estes padrões. E como se a história fosse usada para justificar o que a
ciência não pôde ainda fazer, mas jamais para explicar aquilo que o homem,
auxiliado pela ciência, pode vir a fazer. Mais uma vez a história é empregada
no máximo como narração, como passo até dispensável para uma real
história acaba por fazer com que ele aparentemente confunda o uso que faz da
homem não fez e, deste ponto de vista, só pode ser usada para reproduzir os
natural do fato de não haver uma tecnologia disponível para uma nova forma
comportamento:
(...) "'Utopia' em grego quer dizer 'lugar nenhum' (...) Bacon escolheu uma
Atlântida perdida e Shangri—La está isolada pelas mais altas montanhas do
mundo. Bellamy e Morris acharam necessário se afastar um ou dois séculos no
tempo. Fora da realidade, de fato! E a primeira regra de um romance utópico."
(...)
"0 único fato que eu poderia anunciar a plenos pulmões é que a Boa Vida
espera vocês - aqui e agora! (...) Não depende de mudança de governo ou das
maquinações do mundo da política. Não está aguardando uma melhoria da
natureza humana. Nesse preciso momento, temos as técnicas necessárias,
tanto materiais como psicológicas, para criar uma vida plena e satisfatória para
qualquer um." (1948c, p.196)
toda© as condições para esta nova sociedade. A cultura dai emergente teria,
escusas, tendo que assumir toda sua responsabilidade, garantindo, assim, que
agência para isto. Substitui-se a agência governamental por uma outra, uma
"Esse é o primeiro ponto na plataforma de 'Walden II'. Você não pode progredir
em direção à Boa Vida pela ação política! Sob nenhuma forma corrente de
governo. Você deve operar sobre um nível inteiramente distinto. O que você
precisa é de uma espécie de Comitê de Ação Apolítica: mantenha-se fora da
política e longe do governo, exceto para fins práticos e temporários. Não é
242
políticas e que têm sido estudadas pelas ciências sociais com base neste
que não podem ser reduzidos a leis cientificas nos moldes das ciências
que, na sua tentativa de controlar e moldar a cultura, assume forças que não
podem ser traduzidas em fenômenos físicos, não pode ser aceita como forma
"boa vontade" de um grupo de indivíduos, no caso, tanto dos que abririam mão
a critérios não científicos não podem ser eliminados neste momento. Mas, com
isto, Skinner acaba afirmando o que vinha negando até aqui, e propondo
porque:
(...) "há centenas de forças que impedem você e todos os homens de boa
vontade de até mesmo começarem um caminho em direção aos seus objetivos.
O que seu jovem amigo tem <o aluno brilhante>, eu aposto, é um verdadeiro
espírito de experimentação, mas como centenas de outros ele não tem
laboratório e técnicas." (1948c, p.170)
momento negativo exigido por tal mudança. A recusa da política como meio
244
pela simples "boa vontade", ou seja, por algo que está ainda aquém da política.
"0 que queremos dizer com o Bem? Como podemos encorajar as pessoas a
praticar a Boa Vida? E assim por diante. Nossa explicação não responde
perguntas deste tipo no sentido em que são usualmente feitas. Na abordagem
de uma ciência natural certos tipos de comportamento são observados quando
as pessoas vivem em grupo - tipos de comportamento que são dirigidos para o
controle do indivíduo e que operam para o beneficio de outros membros do
grupo. Definimos 'bem' e 'mal', 'certo' e 'errado' em relação a um conjunto de
práticas determinadas. Explicamos as práticas pela observação dos efeitos que
245
têm sobre o indivíduo e, por seu turno, sobre os membros do grupo, de acordo
com os processos básicos de comportamento.
A ética geralmente se preocupa em justificar práticas controladoras em lugar de
simplesmente descrevê-las." (1953b, p.328)
and Human Behavior, substitui a ética, não porque substitui ponto a ponto seu
papel, mas porque o substitui por um outro muito mais eficiente junto ao grupo
social não mais se perca no emaranhado da discussão verbal, mas que possa
pp.175, 176)
para o sujeito, mas, ao mesmo tempo, não é ética porque deriva seus
"racionais".
maior de avaliação da ética proposta é o beneficio que traz para o grupo o seu
aquele campo de ação que se ocupa com o controle de certo tipo de padrão
podem ser mais ou menos benéficas para si e para o grupo. Além disto,
por isto, parece agora querer afirmar que sua ciência contém aqueles aspectos
da vida até aqui considerados alheios a seu campo, e não que sua ciência
sua sobrevivência.
necessidade e o poder do controle ético tal como vem sendo exercido pela
indivíduo.
por isto não seria possível discutir, deste ponto de vista, os padrões
seja para o indivíduo. Uma ética experimental não apenas escaparia do apelo a
"Eu não posso reduzi-los a qualquer principio de 'maior bem' nem dar-lhe uma
justificação racional para qualquer ponto. Essa é a Boa Vida. Nós sabemos
disso. E um fato e não uma teoria. Tem uma justificação experimental, e não
racional. Quanto a seus conflitos de princípios, essa também é uma questão
experimental. Nós não gastamos nossas mentes quanto ao resultado da
disputa entre a Devoção e a Obrigação. Simplesmente arranjamos um mundo
no qual conflitos sérios ocorrem tão raramente quanto possível ou, com um
pouco de sorte, simplesmente não ocorrem." (1948c, p. 164)
Ao propor uma nova cultura, Skinner não apenas pretende criar um novo
padrão ético, mas assim como rejeitou a política e a história, rejeita agora a
ética e os valores. Há, no entanto, uma diferença: não afirma que não há uma
com a política e a história, pode-se ainda argumentar que, num certo sentido,
avaliados deste ponto de vista- A avaliação de algo que se diz cientifico tem
com que um princípio descreve um dado fenômeno. Deste modo, uma ética
avaliação que se admitiria dos princípios de Walden II. Isto quer dizer que só se
culturais. Por isto Walden II privilegia muito mais a discussão das técnicas e
dos resultados obtidos do que dos pressupostos que dirigem aquele padrão.
discussão; estes, só incorretamente são vistos como parte da ética pela cultura
uma só faceta, tanto no sentido de que os homens todos fariam parte de uma
que teriam um horizonte único e objetivo sobre o qual pautariam sua ação
finalmente os homens pautem sua ação não por causa das vantagens dos
natureza tão completamente nova que dificilmente poderia ser identificado com
cientifica ser capaz de avaliar exatamente quais são esta© variáveis e como
energia com discursos sobre a moral e a ética para substitui-los por uma
mas que está muito distante delas no sentido de ser completamente diversa,
tanto nas consequências que propicia, como nos meios de que se utiliza para
torná-las possíveis.
mente e por isto não podem ser utilizados por uma abordagem científica e
Ainda como critério, operam muito mais como justificativa para o controle
"Um critério tal como 'o maior bem para o maior número' representa um tipo de
explicação baseado no principio de máximos e mínimos, que tem
frequentemente se provado útil nas ciências físicas. No campo do
comportamento, entretanto, a definição do que está sendo maximizado e
minimizado é insatisfatória, como podemos suspeitar a partir da enorme
quantidade de discussão que termos como 'o maior bem' têm provocado.
Mesmo que estes termos pudessem ser definidos, a prática de classificar uma
prática controladora como maximizando ou minimizando uma tal entidade é
muito diferente de uma análise em termos de variáveis relevantes." (1953b,
pp.328, 329)
preciso ser feita em toda sua extensão: isto significa afirmar que qualquer
campo da atividade humana é e deve ser visto como passível de ser abordado
ganhos para a espécie - ganhos que aqui se revelam na cultura - que são
da vida humana.
próprias técnicas comportamentais não são neutras, que sua escolha já indica
opções que são até mesmo éticas. Possivelmente a dificuldade que significa
ser vista exatamente como uma escolha. No entanto, ele afirmará não se tratar
critérios, como a preponderância do grupo, por exemplo, e isto não parece ser
passível de discussão,
para o que já foi obtido em seu experimento de cultura; ou seja, afirmando que
isto poderia fortalecer a concepção de que sua proposta é eficaz, isto não a
indiscutível.
Obviamente Skinner tem uma certa consciência disto, tanto é assim que
em Science and Human Behavior encontra alguma utilidade para a ética, pelo
possibilidade de uma ética experimental. Por isto também se pode afirmar que
há valores sociais propostos por Skinner. É certo que o autor dirá que estes
o grupo. Não se trata aqui de criticar Skinner por propor uma nova maneira de
tentar avaliar e justificar certos padrões em lugar de outros (tentativa que além
do mais parece ser o que todos os filósofos ocupados com o homem tem
tentado fazer desde Platão). Trata-se, isto sim, de reconhecer os limites desta
são incontestáveis.
257
Capitulo 5
solução de problemas da cultura fica bastante clara, entretanto, isto não esgota
compatível com uma ciência natural, portanto, como organismo sujeito a leis
que sua ciência não poderia e não pretenderia tomar como seu objeto o
leis naturais. Entretanto, este enfoque não é coerente com sua proposta- Seu
visto não apenas como objeto privilegiado de sua ciência em alguns momentos,
dele que se faz a cultura, porque é ele que se comporta, que interfere no
que a soma das partes, dos indivíduos que o compõem (mesmo que ao discutir
258
indivíduo. No entanto, este indivíduo não interessa a Skinner por si só, mas
leis de ordem cultural apenas para propor a cultura como meta de sua ciência e
de sua tecnologia.
mundo para dois e não para um- Entretanto, só pode construí-lo a partir de
para o grupo, e a própria agência acaba por ser analisada do ponto de vista de
marcada por seu referencial de ciência, por seu conceituai teórico, mas
para a sociedade.
A determinação do comportamento
comportamento - como objeto de estudo da ciência - é regulado por leis que lhe
nas propostas que faz da e para a cultura. Tal suposto está enraizado em algo
que dele se fará - quanto mais se souber sobre o comportamento humano mais
"A ciência é mais que a mera descrição de eventos na medida em que eles
ocorrem- E uma tentativa de descobrir ordem, de mostrar que certos eventos
mantêm-se em relações ordenadas com outros eventos. Nenhuma tecnologia
prática pode ser baseada em uma ciência até que tais relações tenham sido
descobertas. Mas ordem não é apenas um produto final possível, é um
pressuposto de trabalho que deve ser adotado desde o inicio. Não podemos
aplicar os métodos da ciência a um objeto que se assume mover-se
caprichosamente. A ciência não apenas descreve, ela prediz. Lida não apenas
com o passado, mas com o futuro. Nem a predição é a última palavras na
medida em que condições relevantes podem ser alteradas, ou de outra forma,
controladas, o futuro pode ser controlado. Se vamos usar os métodos da
ciência no campo dos problemas humanos devemos assumir que o
comportamento é submetido a leis e determinado. Devemos esperar descobrir
que o que o homem faz ê o resultado de condições especificáveis e que, uma
vez que estas condições tenham sido descobertas, podemos antecipar e
nalguma medida determinar suas ações." (1953b, p.6)
apenas como suposto que torna passível de estudo compreensivo seu objeto,
deliberada deste objeto. Uma ciência que pretende ser capaz de moldar o
determinado,
do fenômeno.
"No entanto, quando nos voltamos ao que a ciência tem a oferecer não
encontramos muita sustentação para o ponto de vista ocidental. A hipótese de
que o homem não é livre é essencial para a aplicação do método cientifico ao
estudo do comportamento humano." (...) "Todas estas causas alternativas
estão fora do indivíduo. O próprio substrato biológico é determinado por
eventos anteriores num processo genético. Outros eventos importantes são
encontrados no ambiente não social e na cultura do indivíduo em seu sentido
mais amplo. Estas são a& coisas que fazem com que o indivíduo se comporte
como o faz. Ele não é responsável por elas e é inútil elogiá-lo ou culpá-lo por
elas. Não importa que o in- divíduo possa tomar para si o controle das variáveis
das quais seu próprio comportamento é uma função, ou, num sentido mais
amplo, que se engaje no planejamento de sua própria cultura. Ele faz isto
apenas porque é o produto de uma cultura que gera auto-controle ou o
planejamento cultural como modos de comportamento. O ambiente determina o
indivíduo, mesmo quando ele altera o ambiente." (1953b, p.448)
especificidade e singularidade que não pode ser prevista apenas como mais
uma manifestação de uma classe maior que, esta sim, é passível de ser
modo que mesmo o que aparentemente não foi previsto é, ainda assim,
até mesmo para o que aparentemente está livre da lei geral estabelecida pela
dado apenas pelo modelo das ciências naturais. Skinner não aceitará, sob
é necessário que todos eles sejam submetidos ao mesmo conjunto de leis. Não
se trata de negar que certos eventos existam, mas sim de afirmá-los como
negação da plena liberdade permite que ele explique porque é tantas vezes
fenômeno existe, pelo menos como sensação o que, afinal, é tudo que é. Por
estranho que pareça, pode-se considerar Skinner como um homem que tem
que negar que "liberadde sequer exista" por almejar um mundo em que todos
compartilhem dela.
determinado, o que quer dizer que os homens são sujeitos a leis naturais, que
em sua vida» Por seu turno, este tipo de planejamento, que exige a intervenção
possa obter uma cultura onde o controle é tão diluído e ao mesmo tempo tão
presente nos menores padrões comportamentais que nem mesmo é mais visto
"Nosso amigo Castle está preocupado com o conflito entre a ditadura a longo
prazo e a liberdade. Não sabe que está simplesmente levantando a velha
questão de determinismo e livre-arbítrio? Tudo o que acontece está contido
num plano original, ainda que, a cada estágio, o indivíduo pareça estar fazendo
escolhas e determinando a saída. 0 mesmo se aplica a 'Walden II'. Nossos
268
membros estão praticamente sempre fazendo o que querem fazer - o que eles
escolhem fazer ~ mas nós cuidamos para que eles queiram fazer precisamente
as coisas que são melhores para eles e para a comunidade- Seu
comportamento é determinado, ainda que eles sejam livres.
Ditadura e liberdade - determinismo e livre arbítrio" (.-.) "O que é isso senão
pseudo-questões de origem linguistica? Quando perguntamos o que o Homem
pode fazer do Homem, nós não queremos dizer a mesma coisa por 'homem'
em ambos os casos. Queremos perguntar o que alguns homens podem fazer
da humanidade. E esta é a questão central do século XX. Que tipo de mundo
podemos construir - nós que entendemos a ciência do comportamento?"
(1948c, pp. 293, 294)
da cultura Skinner escapa com maestria da possibilidade que tinha perante si:
"Num certo sentido 'Walden II' é predeterminada, mas não como é determinado
o comportamento de uma colmeia. A inteligência, não importa quanto seja
modelada e moldada por nosso sistema educacional, ainda funcionará como
inteligência. Será usada para descobrir soluções para problemas, aos quais
uma colméia rapidamente sucumbiria." (1948c, p.252)
269
prever exatamente cada instância, isto parece ser muito mais uma dificuldade
concepção analítica, Skinner supunha que não estaria descrevendo seu objeto
distinta; muito pelo contrário, está aplicando o mesmo modelo, que considera
"Eu não disse que o comportamento é sempre predizível, nem diria que o
tempo é sempre predizível- Há, com frequência, fatores demais a serem
considerados- Não podemos medir todos acuradamente e não poderíamos
realizar as operações matemáticas necessárias para a predição se tivéssemos
as medidas. O determinismo cientifico é, geralmente, uma suposição - mas,
não obstante, importante na avaliação do evento em questão." (1948c, p. 256)
sua determinação não é tido como provavelmente fixo e, ainda, mesmo o limite
relevantes para um dado fenômeno, é um limite muito mais que aceitável para
que talvez haja níveis da realidade não alcançáveis por uma proposta de
271
ciência determinista, o que não seria tão sério porque estes níveis não
convencido de que estes níveis existem por causa das condições em que está
apenas aparente.
Science and Human Behavior como um pressuposto de tra- balho, mais do que
serve até mesmo de critério de avaliação de cada técnica. Por outro lado,
trabalho. Mais uma vez, a relação que Skinner estabelece entre teoria a
que qualificam sua posição. Não se trata de defender que o homem é incapaz
ser percebida pela ciência, que o permite por seus supostos, seu método e
lhe a possibilidade de ser livre, num certo sentido muito mais importante, lhe
submissão à lei, tirando dela o maior beneficio possível. De certo modo, aquilo
273
genérico, passível de ser ele mesmo abordado a partir das leis que o regem,
Skinner pode supor a própria transformação como processo que faz parte das
o meio para agir sobre a natureza e transformar a si mesmo só pode ser dado
da maioria dos homens (não qualificada para tais tarefas), e o indivíduo parece
intervenção cientifica:
"A maioria das pessoas vive no dia-a-dia, ou se tiver algum plano a longo prazo
é pouco mais do que a antecipação de algum curso natural - pretendem ter
filhos, ver as crianças crescerem e assim por diante. A maioria das pessoas
não quer planejar. Elas querem ser livres da responsabilidade de planejar. 0
que pedem é simplesmente alguma segurança de que serão decentemente
satisfeitas. O resto é um desfrutar do dia-a-dia da vida." (1948c, pp.169, 170)
como é muito comum aos críticos de Skinner - existe como suposto, muito
em meros espectadores da lei natural; mas porque não cumpriria o que parece
conter quando de sua afirmação, uma vez que não amplia para todos os
moldes que qualquer outro fenômeno estudado pelas ciências naturais e, por
uma das pedras de toque de seu argumento de que não é possível fundar uma
comportamento.
concepção skinneriana.
o foi, como agente livre na escolha de suas ações, para ser visto como agente
que responde a determinações que dirigem sua ação. Por seu turno, o
mais satisfatória. Isto não quer dizer que não mais exista certo e errado,
apenas que não mais se atribui responsabilidade moral ao erro e, sim, que este
deve ser tratado como mais um problema técnico, para o qual há, ai sim,
sempre uma resposta correta, objetiva e possível que, além do mais, não
envolve punição:
"Nós não condenamos um homem por um trabalho mal feito. Afinal de contas,
se nós não louvamos, não seria justo culpá-lo." (...) <No caso de um trabalho
mal feito:> "Nós lhe daríamos um outro trabalho e traríamos um homem
competente para o seu lugar. Mas ele não seria censurado."
"Não jogamos um homem na prisão por doença." (...) "Um lapso moral ou
ético, quer em violação explícita do Código ou não, necessita de tratamento
e não de punição." (1948c, pp. 173, 174)
apresenta uma vez que um dado tipo de cultura esteja em andamento, mas se
acontece com Frazier em Walden II. Aqui, mais uma vez, a ciência do
comportamento se não fosse assumido que este é controlado por variáveis que
podem ser dele separadas e que podem deste modo ser, além de medidas,
porém de modo tal que é possível separá-las e manipulá-las, sem abrir mão de
"As variáveis externas das quais o comportamento é uma função provêm aquilo
que pode ser chamado de uma análise causal ou funcional. Pretendemos
predizer e controlar o comportamento de organismos individuais. Esta é nossa
'variável dependente' – o efeito para o qual devemos encontrar a causa.
Nossas 'variáveis independentes' - as causas do comportamento - são as
condições externas das quais o comportamento é uma função. Relações entre
as duas - a 'relação de causa-efeito' no comportamento - são as leis de uma
ciência. Uma síntese destas leis expressa em termos quantitativos conduz a
um quadro compreensivo do organismo como um sistema que se comporta."
(1953b, p.35)
nos tipos de variáveis que são escolhidas como relevantes. O caminho que
determinista de seu objeto de estudo. Nesta direção, num certo sentido, parece
Isto não quer dizer que Skinner não atribua papel algum a interferências
outras sobre o comportamento, como o aparato genético, mas apenas que lhes
atribui um papel secundário. Tais variáveis não são afetas à manipulação direta
e esta parece ser a principal razão para que sejam assumidas apenas como
permitir que a ciência atinja seus objetivos, uma vez que permitiria a
ambiente (1) .
Deste modo, mais que uma opção epistemológica entre outras, acaba por
apresentar sua opção como a única que tem condições plenas de se tornar
manipulada para fins de predição e controle acaba, assim, por ser apresentada
artigos, com a descrição da história genética de seus sujeitos e como isto vai
mesma perspectiva:
primeira formulação sistemática, Skinner estende mais uma vez esta noção ao
lhes qualquer especificidade real, recusa que talvez seja responsável pela
comportamento.
283
assim, embora Skinner não chegue ao ponto de definir o homem por esta
estímulo social. Outros homens são considerados estímulos, uma variável que,
organismo com o ambiente que até então Skinner não havia abordado.
comportamento.
não reconhece esta necessidade, afirmando que um episódio social deveria ser
cultura.
se constituir em meta de sua ciência, uma vez que é da sociedade que derivam
formação que depende do grupo que convive com o sujeito. Todos estes
vista é possível oferecer urna explicação integral do ser humano, tanto porque
como porque todos os aspectos são descritos pelo mesmo conjunto de leis: os
incorporar o homem em suas análises: este não apenas torna-se mais amplo,
por muitas das críticas que Skinner tem recebidos esta ampliação fortalece a
acaba por passar por uma redução: o mundo privado, pelo menos em termos
explora muito pouco, se é que o faz, esta possibilidade que seu sistema deixa
comportamento e a consequência.
efetuado pelo ambiente; embora aqui pelo ambiente a que cada indivíduo está
"O ambiente é construído de tal forma que certas coisas tendem a acontecer
juntas. O organismo é construído de tal forma que seu comportamento muda
quando entra em contato com tal ambiente. São três os casos principais. (1)
Certos eventos - como a cor e o gosto de fruta madura - tendem a ocorrer
juntos. Condicionamento respondente é o efeito correspondente sobre o
comportamento. (2) Certas atividades do organismo efetuam certas mudanças
no ambiente. Condicionamento operante ê o efeito correspondente sobre o
comportamento. (3) Certos eventos são as ocasiões nas quais certas ações
efetuam certas mudanças no ambiente A discriminação operante é o efeito
correspondente sobre o comportamento. Como resultado destes processos o
organismo que se encontra num ambiente novo eventualmente vem a se
comportar de maneira eficiente. 0 resultado não poderia ser obtido por
mecanismos hereditários porque o ambiente não ê suficientemente constante
de uma geração para outra." (1953b, p.125)
importante o operante, o qual por sua vez só pode ser pensado em sua relação
homem.
crítica dia fisiologia está implícito seu pragmatismo; mesmo que se possa
esta não seria apta á manipulação e por isto é pelo menos irrelevante para
propósitos práticos. A mesma critica numa certa medida pode ser feita à critica
ainda, muito provavelmente estão errados e neste caso são difíceis de serem
toda sua proposta para a sociedade pode ser melhor conduzida. Se supusesse
propor uma ciência que, sem negar o indivíduo e partindo dele, pretendesse
problemas humanos nos seus mais variados níveis e nas suas diferentes
proposta de que a cultura seja regida apenas por leis cientificamente derivadas,
uma visão de mundo em que tudo pode ser transformado, até mesmo as
intervenção. Uma atitude que permitisse conceber algum aspecto da vida como
mental poderia mais facilmente originar uma proposta distinta para tal
problema, uma proposta que exigiria uma outra metodologia ou uma outra
diferentes sujeitos a não ser que estas diferenças sejam diferenças detectáveis
no presente.
forma destes traços talvez não estejam cristalizadas, e que, pelo contrário,
sujeito à manipulação, e que por isto é relegado a um segundo plano, pode ser
culturais.
"Esta não é uma época notável nem na arte nem na música. Por que não?
Porque nossa civilização não pode produzir arte tão abundantemente como
produz ciência e tecnologia. Obviamente, porque estão faltando as condições
adequadas. E aqui que entra 'Walden II'. Aqui, as condições podem ser
alcançadas." (1948c, p.90)
até mesmo naquelas esferas até hoje intocadas pela cultura e sob tutela
planejadamente construída.
297
Skinner pode afirmar o indivíduo como objeto de seu conhecimento. Por outro
298
sobrevivência cultura.
sistema skinneriano.
299
Capitulo 6
para a sobrevivência
suas consequências, uma vez que tal afirmação traz em seu bojo várias outras:
não poderia ter como fulcro o indivíduo entendido como organismo que pode
sobre aquele- Em segundo lugar, que não só teria, já no período que aqui se
analisa, uma proposta para o homem, mas que teria uma proposta para toda a
psicologia
A tarefa que se impõe aqui é mostrar que o real papel que Skinner
300
para referendar esta hipótese: que Walden II não é obra alheia ao corpo da
Walden II e toda uma parte do livro Science and Human Behavior dedicados a
hipótese de sua importância para seu sistema, e, de outro, é coerente com sua
descrição de qualquer fenômeno. Por que outra razão afirmaria a cultura como
exortação que faz para outros fenômenos que tradicionalmente têm sido
natural?
"Por que o planejamento de uma cultura deveria ser tão grandemente legado
ao acaso? Não é possível mudar o ambiente social deliberadamente de modo
que o produto humano atenderá a especificações mais aceitáveis? (1953b, p.
426)
como critério de escolha das metas e das técnicas de intervenção social. Num
certo sentido, isto é plenamente coerente com sua perspectiva para a ciência:
natural.
que fortalece a proposta de uma ciência voltada para a cultura como meta-
Ora, no caso de uma ciência que tem como suposto que suas variáveis
mais simples manipulá-las em defesa do grupo como um todo, ou, pelo menos,
indivíduo. Assim, o que a natureza não foi capaz de solucionar, e muito menos
ciência.
<Nossa medida ativa para a paz é> (...) "apenas isso: nós não estamos
fazendo guerra! Nós não temos política imperialista - nenhuma intenção de
dominar os outros —, nenhum interesse em comércio exterior, exceto para
encorajar a felicidade e a auto-suficiência. 0 que é 'Walden II' senão um
grandioso experimento numa estrutura de mundo pacifico? Aponte qualquer
303
cultura.
ambiente social. O controle social, por seu turno, é exercido na sua forma mais
potente pelo grupo, tanto no controle grupai, como no controle das agencias
dela que Skinner teria operado uma inversão em seu sistemas não mais o
alvo também cada indivíduo a partir das variáveis ambientais que diretamente
controlam seu comportamento. Mas, mais uma vez, mesmo nestes casos, o
tem uma concepção de objeto que é imune aos objetivos que se propõe.
mais complexa. Isto é o que parece ocorrer quando do enfoque das relaçãoes
305
Skinner, mais que uma inversão, parece fazer uma ampliação. Toma como seu
reconhece que o poder de controle do grupo social não pode ser quantificado a
necessários para sua realização: se é que Skinner pode ser acusado de uma
não determinante. Mas Skinner sobrepõe a ela uma outra. O fato de assumir o
com a cultura e não apenas com o indivíduo, uma vez que apenas a
sociedade e a cada indivíduo- Isto o levará a não apenas propor uma ciência
deste modo, não pode deixar de ser alvo privilegiado de sua ciência. Isto não
reconhecer pelo menos interações entre variáveis que são especiais e que
ser que se manipule as variáveis relevantes que determinam sua ação. Isto só
"Todos temos interesses que estão em conflito com os interesses dos outros.
E nosso pecado original e não se pode remediar. Bem, 'os outros' é o que
chamamos 'sociedade'.E um adversário poderoso e sempre vence. Claro, uma
ou outra vez, um indivíduo prevalece momentaneamente e consegue o que
quer. As vezes, arremete contra a cultura de uma sociedade e a altera
ligeiramente em proveito próprio. Mas, a longo prazo, a sociedade acaba
ganhando, pois leva vantagem em número e idade. A quantidade vence a
unidade e o homem, a criança. A sociedade ataca cedo, quando o indivíduo
ainda está indefeso. Escraviza-o quase antes que possa superar a liberdade."
(1948c, p.107)
mais importante que se busque, mesmo que para alterar condições individuais,
dela derivadas são mais poderosas, mas também porque é nela que um
atribui á cultura uma relevância que tem contornos ontológicos. Ainda assim o
indivíduo principalmente como meio de agir sobre a cultura. Esta ação garantirá
sobrevivência. E esta atuação é a única que trará uma nova qualidade a este
práticas culturais, e porque, com isto, possibilitará uma nova qualidade a esta
individual.
de apenas trazer para este novo patamar uma prática quE tem caracterizado a
daria o aval para a intervenção e que pemitiria uma avaliação dos seus
resultados.
tem a oferecer. Esta, por sua vez, é parte da cultura: seu produto é uma prática
vista uma explicação que parece justificar sua existência, seu papel e sua
permanência como prática, mas que não é capaz de justificar seu surgimento.
uma vez que apenas a própria historicidade de sua inserção social permitiria
de ordem conceitual.
cientifico garantiria, assim, uma possibilidade que pode não estar contida em
leis que os regem é vista como o único meio de se tratar de problemas que são
subjetiva, e no mais das vezes incompleta, dos fenômenos é tida como a única
alternativa para que se possa libertar das amarras dai decorrentes: a única
atividade humana que detém esta metodologia é a ciência, uma vez que esta
básica é tornada assim importante, não apenas pelos conceitos que dela se
mundo que garante uma real possibilidade de nele intervir. E uma ciência que
toma por objeto o próprio homem é vista como a única capaz de desvendar as
realidade, os processos que não poderiam ser percebidos sem este treino e
aplicada e para o manejo das condições sociais não apenas do ponto de vista
apenas por aqueles que não podem entender os controles reais a que está
315
superar este limite, gerando a condição para que se planeje controles que são
intervenção.
Pode parecer estranho, mas poder-se-ia dizer que Skinner vê na ciência, que
que são importantes e que tornam os indivíduos iguais do ponto de vista dos
cultura, uma vez que é o critério da sobrevivência, trazido à tona pela ciência,
todo.
Não e verdade que afirmações que contêm 'deveria' ou 'deve' não tem lugar no
discurso científico. Há pelo menos um uso para o qual uma tradução aceitável
pode ser feita. Uma sentença que começa com 'Você deve' é frequentemente
uma predição de consequências reforçadoras. " (...) "Naturalmente, além disto,
a palavra 'deve' desempenha um grande papel no controle exercido pelo grupo
ético e pelas agências governamental e religiosa." (...) "Este uso exortatório
pode ser explicado da maneira usual. Nada mais é do que um comando
escondido e não tem mais conexão com um julgamento de valor do que com
uma afirmação de fato. A mesma interpretação é possível quando as
consequências reforçadoras são de natureza ética." (1953b, pp-428, 429)
normas que deveriam ser seguidas por um dado grupo por razões de natureza
que é abandonado pela ciência, uma vez que esta reconheceria a necessidade
de que o homem segue padrões morais ou éticos que em certo sentido seriam
fatos científicos, mesmo que estes se tornem critérios para decidir cursos de
éticas ou morais, uma vez que seriam apenas conjuntos de leis objetivas
modos este dirige a ação sobre a cultura não porque esta é uma meta extra-
planejamento.
parece perceber é que justamente onde poderia estar a força de sua proposta
de que sua ciência poderia lidar com os mais graves problemas humanos
sua ciência. Esta exclusão permite que se admita o que se poderia chamar de
circunstâncias e que são critério para avaliar qualquer cultura. Tudo isto torna
demonstrada - das práticas sugeridas, como critério maior para avaliação dos
uma relação muito especial entre a ciência básica e a tecnologia dela derivada:
como lei cientifica e uma vez que as leis que compõem um sistema teórico só
Apenas porque são os caminhos possíveis para algo mais do que a construção
a ser explicada pela própria ciência, a um só tempo atribui a uma prática que é
possibilidade de se tornar marca social que por sua mera existência assegura a
323
sucedidas, tanto porque demonstraria a correção das leis que o regem, como
teoria.
pode ser testada por ela. A cultura, que se torna o experimento maior de uma
cultural será possível avaliar cada prática cultural, os princípios que informam
toda a comunidade, condição para o seu bom andamento. Serve também como
religiosas:
"'Walden II' não é uma comunidade religiosa. Difere quanto a isso de todas as
comunidades razoavelmente estáveis do passado. Não damos nenhum treino
religioso a nossas crianças, se bem que os pais podem dá-lo se quiserem.
Nossa concepção de homem não é extraída da Teologia, mas do exame
cientifico do próprio homem. E não reconhecemos verdades reveladas sobre o
bem e o mal nem as leis ou os códigos de uma sociedade bem sucedida.
O fato é simplesmente que as práticas religiosas que nossos membros
trouxeram a 'Walden II' decaíram pouco a pouco, como o beber e o fumar." (...)
"Não necessitamos de religião formal, nem com ritual, nem como filosofia."
(1948c, p.201)
outras formas de controle social, como, por exemplo, a religião. Ou seja, como
soluções. E neste sentido que a mesma atitude experimental é usada para que
empregadas pelo grupo social para seu próprio beneficio. Ao argumentar que
esta não apenas permitiria avaliar o que está certo ou errado, mas permitiria
adquire também importância por seu papel quase profilático, por seu papel na
de obter respostas, uma vez que estas sejam necessárias; dai sua relevância.
problemas, seja qual for a sua ordem, estão indiscutivelmente na ciência que,
Este é o espirito que anima afirmações como a que se segue, quando Frazier
supor que estas condições são trazidas para o campo da ciência, como
como agente social, como ser que se comporta, como sujeito de intervenção. E
propõe uma cultura onde os valores não mais servem como guia ou como
critério de avaliação, uma cultura em que não existiriam valores. Sua critica aos
valores é que estes não são objetivamente definidos, e não são objetivamente
escolhidos, ou melhor, não são as opções corretas para um grupo social. Deste
ponto de vista, seriam valores muitas das normas que hoje regem
instituídos sem uma base científica e são preservados do mesmo modo. Isto
traria não apenas conflitos para os indivíduos que se vêem obrigados a segui-
los - por força do controle social, mas sem que isto signifique necessariamente
benefícios para si ou para o grupo - mas também para o grupo, para a cultura
como um todo, que acaba se baseando em conjuntos de normas que não são
sua ciência pode e deve ser usada no planejamento da cultura e que tem uma
tecnologia disponível para isto, à qual não se pode atribuir o mesmo estatuto
superior ás demais porque é não subjetiva. Ora, isto implica que se demonstre
científicas.
escolher entre alternativas distintas: seja com relação às metas que estabelece
para sua cultura, seja com relação aos procedimentos que defende para sua
critério de maior eficiência. 0 problema não estaria tanto no fato de que isto
330
avaliação das práticas culturais que não podem ser demonstradas como
sociedade é que uma cultura cientifica não deve usar força, ameaça de
pela sociedade, Skinner afirma que o controle aversivo, nas suas várias formas
controladoras:
"Uma classe" <de controle aversivo> (...) "é a restrição física - algemas, barras
de ferro, coerção forte. Essas são maneiras pelas quais modelamos o
comportamento humano segundo nossos desejos. São formas brutas e que
sacrificam a afeição do controlado, mas funcionam frequentemente."
(...)
<Burrus> "A ameaça de força seria uma outra."
<Frazier> "E aqui novamente não poderíamos encorajar qualquer lealdade por
parte do controlado- Terá, talvez, uma sombra maior de sensação de liberdade,
desde que ele sempre pode 'escolher agir e
aceitar as consequências', mas ele não se sente totalmente livre. Sabe que seu
comportamento está sob coerção."
(...)
"A questão de liberdade se coloca quando há repressão — seja física seja
psicológica. Mas repressão é somente um tipo de controle e a ausência de
repressão não é liberdade. Não é o controle que está ausente quando nos
sentimos 'livres', é o condenável controle pela força." (...) "Não dispomos de um
vocabulário de liberdade quando se trata do que queremos fazer" (...) "A
pergunta nunca se coloca. Quando os homens lutam por liberdade, lutam
contra as prisões e a polícia, ou a ameaça delas — contra a opressão» Nunca
lutam contra forças que os fazem agir como agem. E, ainda, parece ficar
subentendido que os governos operarão apenas através da força e da ameaça
de força e que todos os outros princípios serão deixados à educação, religião e
comércio- Se este continuar sendo o caso podemos desistir. Um governo
nunca poderá criar gente livre com as técnicas que lhe couberam.
A pergunta é: podem os homens viver em liberdade e em paz? E a resposta és
sim, se puderem construir uma estrutura social que satisfaça as necessidades
de todos e na qual cada um quererá observar o código de suporte." (1948c, pp.
256, 259, 260)
aversivo que está em pauta, mas também, e aparentemente talvez com maior
liberdade" que tal tipo de controle impede. Apesar de afirmar esta como uma
apenas retórica (em oposição ao que seus críticos costumam sustentar) sua
qualquer sociedade.
a leis naturais; no entanto, também opta, por principio, pela forma de controle
que leva a uma maior "sensação de liberdade", antes mesmo de avaliar sua
eficiência enquanto controle, ou pelo menos de modo que sua avaliação não
cerne de suas razões para a escolha do controle positivo, de modo que, pelo
alguma maneira, acaba por considerá-la, mesmo que lhe atribua outro nome e
que a suponha como possível de ser produzida e mantida apenas por uma
barata) uma vez que não gera contra-controle, e todos os problemas e aparato
333
que este acaba por exigir, é defendida por trazer maior bem-estar psicológico,
sua posição perante a ciência, negue que "liberdade sequer exista", talvez
que isto implica um real poder de manipulação por parte daquele indivíduo ou
Skinner é, muito mais, sua recusa, quase que por principio, de reconhecer em
governo sobre o cidadão, ou que não se exerceria algum tipo de "força", o que
Skinner considera essencial para sua concepção de homem. Trata-se, isto sim,
de defender que a força - que é apenas sinônimo de que algum agente social
eficiência, de modo que algo é mais eficiente porque traz mais felicidade, o que
acabaria por servir como critério último para que se implementasse o controle
positivo do comportamento.
fosse o controle daquele que controla. Deste ponto de vista, os homens não
tradutora das leis naturais, pode agora avaliar a própria lei natural? Em relação
<A força> "E temporariamente eficaz, isso é o pior. Isto explica as centenas de
anos de derramamento de sangue. Mesmo a natureza foi enganada. Nós
336
permitirá o surgimento quase que de uma nova "natureza humana". Isto teria
humana" - é usada para justificar sua tese, mas caracterizada pelo oposto do
"Da forma como usamos esses termos hoje em dia, governo significa poder -
fundamentalmente o poder de compelir á obediência" (...) "As técnicas de
governo são as que poderíamos esperar - usam a força ou a ameaça de força.
Mas isso é incompatível com a felicidade permanente — sabemos o suficiente
da natureza humana para estarmos seguros disso. Você não pode forçar um
homem a ser feliz. Ele nem ao menos pode ser feliz se for forçado a seguir um
padrão supostamente feliz." (1948c, p. 197)
que é natural, do que foi até este momento produto das relações do homem
337
princípios que deveriam reger a vida social, e de que a vida social deve ser
argumentos em defesa de outras marcas que tal controle geraria e que, muitas
"A velha escola cometeu o erro estupendo de supor que o inverso era
verdadeiro; que, removendo uma situação da qual a pessoa gostasse ou
estabelecendo uma de que ela não gostasse — em outras palavras, punindo-a
- seria possível reduzir a probabilidade de ela tornar a se comportar de uma
determinada maneira. Isso simplesmente não funciona. Já ficou estabelecido
acima de qualquer dúvida. O que está emergindo nesse estágio critico da
evolução da sociedade é uma tecnologia comportamental e cultural baseada só
no reforçamento positivo. Estamos gradativamente descobrindo — a um custo
indizível de sofrimento humano -- que, a longo prazo, a punição não reduz a
probabilidade da ocorrência de um ato. Estivemos tão preocupados com o
contrário, que sempre entendemos 'força' como significando punição. Não
338
Como já foi salientado, Skinner não nega a força, no sentido de que não
sucedida, apenas discute qual o melhor tipo de controle. A primeira vista, trata-
uma das fortes razões para a escolha de uma forma de controle em detrimento
de outra, de modo que se traz para o âmbito de uma decisão técnica, algo que
técnico da sociedade.
"Você não pode forçar a felicidade. Você não pode, a longo prazo, forçar nada.
Nós não usamos força! Tudo o que nós precisamos é de engenharia
comportamental adequada." (1948c, p.164)
mudança qualitativa que isto traria para a espécie como um todo, que de
passaria a espécie que apenas coopera, não mais necessitando competir para
controle do comportamento.
Mais uma vez um argumento que aparece como objetivo é usado para
padrão social que será proposto por Skinner: a recusa de uma cultura que está
Uma sociedade onde não há competição não precisa de forte lide- rança
pessoal, ou melhor, uma sociedade onde não existe forte liderança pessoal
Este parece ser mais um valor defendido por Skinner, pelo menos em 1948.
obtido. Não obstante, também pode ser entendido como um valor por outra
razão, uma vez que o próprio Skinner reconhece que mesmo uma cultura
favor.
população.
culturais." (...) "Isso é quase inevitável numa sociedade onde não há privilégios
econômicos. E impossível em qualquer outro lugar.
Deliberadamente dissimulamos a maquinaria de planejamento e administração
para conseguir o mesmo fim." (...)
Pela mesma razão" (...) "desencorajamos qualquer senso de história."
(1948c, pp.234, 235)
certos interesses que não são individuais e que mantêm certas estruturas
uma nova estrutura em que esta não mais exista, acaba por concebe-la como
Talvez aí esteja uma das condições que impedem Skinner de reconhecer que
comportamento e que, por isto mesmo, enfrentará oposição que vai além da
sequer pode ser vista como mudança, uma vez que se torna marca da. cultura
desde a sua implantação. Não há na história de Walden II, desde a sua origem,
ser deliberadamente construída- Pelo menos duas condições parecem ter sido
e o poder econômico jamais existiu, uma vez que não há propriedade privada,
não seria possível construir uma sociedade nas mesmas bases de Walden II, e
estas condições não podem ser obtidas na sociedade existente porque são a
outro lado, estas não são razões técnicas quando se toma como critério a
eficiência, já que o próprio Skinner reconhece, por exemplo, que uma cultura
poderia ser tão eficiente como Walden II, mesmo que baseada na figura de um
(...) "há muita coisa de errada em figuras pessoais de qualquer tipo- Afinal qual
é a função do líder? — Ou do herói?" (...) "Não é a de sustentar uma ciência
inadequada de governo? Numa sociedade pré—científica o melhor que o
indivíduo pode fazer é pôr toda a sua fé num líder e apoiá-lo, confiando em sua
benevolência contra o mau uso do poder delegado e em sua sabedoria para
governar justamente e fazer a guerra com sucesso. E o único caminho possível
quando governar continua sendo uma arte.
343
indivíduos e não de princípios- Tal discussão talvez revelasse que esta é uma
oporiam não outras formas também políticas, mas sim uma maneira apolítica,
defesa de uma cultura sem liderança pessoal - que aliás se aproxima bastante
344
para avaliar o bom funcionamento de uma cultura e é norma que poderia ser
mais uma vez naturalizá-la, está, portanto, em sua crença na ciência como
vista, pelo menos, uma das grandes marcas da cultura hoje e sempre foi a
os problemas humanos, quase que por imposição lógica leva a uma posição
democrática, já que não supõe necessário qualquer traço especial para que
por qualquer um que se interesse, ou, melhor ainda,, poderia ser obtido por
todos desde que fossem dadas - fossem planejadas - as condições para isto.
das "forças vigentes", deve ter um impulso para o futuro. Isto significa imprimir
Uma cultura terá tanto maior chance de sobreviver quanto mais for
assim quase que como uma consequência das outras marcas de uma cultura
que uma medida desta prática cultural, desta capacidade seria a própria
expandir, este principio parece coerente com a posição mais geral de Skinner
sobre ciência e, deste modo, num certo sentido,é naturalizado como os demais:
os critérios científicos são objetivos. Este critério também seria objetivo porque
biológico, é transferida para a cultura, e sua defesa ainda mais facilitada pelas
outros, também pode ser dito um valor, porque além de regra, de norma
mas é proposto como condição anterior a qualquer teste; mais que isto, só
pode ser confirmado pela história (que aliás Skinner tanto diz desprezar) como
hipótese 'ad hoc' - é possível que culturas que não sobreviveram tenham sido
demonstrar, com a certeza da descrição da lei científica, que esta foi, em cada
maior a ser buscado por uma sociedade. Isto só pode ser obtido pela
conhecer para prever e controlar; é suposto da ciência que não se pode prever
348
portanto, da ciência que uma sociedade poderá adquirir tais modos de ação e
aqui impensada e permitirá que o homem atinja um novo patamar na sua luta
pela sobrevivência, enquanto espécie. Mais que isto, que o fará, pela primeira
esta via é que Skinner os justifica como objetivos e naturais, e apenas como
gerida.
e de 1953, de que sua proposta é muito mais ampla do que se poderia supor:
sua marca de reformador social e sua crença na ciência como muito mais do
salientou, para Skinner, b isto quase que pode se transmutar em valor, já que
A sociedade proposta por Skinner traduz sua critica ao mundo tal como
uma vez, parece que um problema cuja raiz se encontra nos pressupostos que
uma análise cuidadosa da. estrutura social vigente, com vistas tas à sua
mudança para uma nova estrutura, da qual surgiria finalmente, não apenas
Capítulo 7
da estrutura da cultura é importante, uma vez que se afirmou que esta proposta
teria uma preocupação com a estrutura social muito mais ampla que uma
caracterizam a cultura seja aquela que aí está, seja aquela que uma ciência do
comportamento tem a propor. Portanto, esta análise seria necessária para que
controles sociais de que dispõe a cultura. Fariam, deste ponto de vista, parte
352
das soluções possíveis para eles. E preciso lembrar que, se isto está carreto,
entre os dois livros fica muito clara aqui. Walden II se caracteriza por
explicitamente propor algo no lugar do que ai está, enquanto que Science and
Human Behavior traz, principalmente, uma análise da cultura tal como é, com
que ambas são obras que compõem uma unidade — juntamente com o
texto de 1947. Mas uma leitura mais atenta acaba por fortalecer esta hipótese.
A aceitação do livro de 1953 parece ter estado condicionada a que este tivesse
Por outro lado, é neste aspecto que talvez se mostrem mais claramente
as diferenças entre as duas obras e ao mesmo tempo sua unidade. Não tanto
sociedade, mas no sentido de que possivelmente é esta condição que faz com
Enquanto que em 1948 obviamente isto foi levado em conta, uma vez que toda
economia.
pela prática- Do mesmo modo, fica claro que alguns dos problemas práticos
teórica do livro. Assim, mais uma vez, parece se fortalecer a hipótese de uma
relação que os experimentos de 1930 a 1938 têm com a obra de 1938, até
dos problemas que certamente deveriam ter sido considerados em 1948 e não
o foram reaparecem sob nova forma - mais uma vez é o caso, por exemplo, da
1948, em 1953 peca por não receber uma discussão abrangente e totalizadora
dos controles de grupo. Isto não significa que Skinner não perceba a
uma vez que determinam a maior parte dos controles relevantes e, até mesmo,
exercido pelas agências, sem dúvida, estas são e devem ser priorizadas.
cultura- Isto porque estas agências detêm a maior parte do controle - aversivo
Assim, a agência religiosa pode ser vista como quase que um braço
posição não é explícita, e talvez não esteja mesmo presente em Science and
Human Behavior, também fortalece esta hipótese, uma vez que se atribui
determinados momentos.
356
pouco ou nenhuma discussão de suas interações, o que acaba por levar a que
de cada uma delas. Isto fortalece a posição, que é pelo menos discutível, de
abordagem do sociedade que pode ser vista como simplista porque, se talvez
Walden II. A diferença é que em Science and Human Behavior ficam claras as
357
melhor, da cultura. Isto, em certo sentido, pareceria óbvio, uma vez que os
trata, num caso da proposta de uma nova cultura e, noutro, de uma critica á
cultura existente. Mas, uma vez que a ferramenta é a mesma nos dois casos,
simplificada e até simplista dos controles que operam numa dada agência, ou,
valores implícitos em sua proposta de sociedade, Skinner acaba por não poder
explicar a contento muitas das práticas que propõe, ou muitas das criticas que
cultural acaba por permitir muito mais criticas do que se Skinner reconhecesse
porque apontariam soluções reais para alguns dos mais sérios problemas da
explicitamente assumir que valores dirigem sua ação. Se isto traz problemas
mais critica do que propostas que escamoteiam suas reais origens. Deste
talvez acabem por atingir alguns dos mais importantes objetivos de uma ciência
referencial muito mais explícito que, pelo menos como modelo geral de análise,
uma vez que Skinner parte do suposto de que esta é uma necessidade e uma
possibilidade.
seja porque pode abrir uma nova perspectiva de interpretação do mundo, seja
porque esta perspectiva precisa ser criticada para que possa ser burilada. Aqui
comunidade.
"Uma Idade de Ouro, quer em arte ou música ou ciência ou paz ou fartura, está
fora do alcance de nossas técnicas econômicas e governamentais. Algo pode
ser feito por acidente, como ocasionalmente aconteceu no passado, mas não
deliberadamente. Nesse preciso instante, um número enorme de homens
inteligentes e mulheres de boa vontade estão tentando construir um mundo
melhor. Mas os problemas surgem mais rapidamente do que podem ser
361
resolvidos."(1948c, p.91)
leis que permitem prever os padrões mais efetivos, e como podem ser
tidos como agentes que se qualificam, apenas por seu conhecimento técnico.
Science and Human Behavior afirma que aqueles que acumularam riquezas
este controle e, por consequência, são tidos como mais capacitados para tanto.
dados. Assim, a oposição entre trabalho e capital, por exemplo, acaba por se
mas que não parece receber a ênfase e o cuidado que mereceria, diz respeito
como no pagamento do trabalho. O que fica por discutir é, não apenas quais
absoluto para cada uma das partes envolvidas na troca entre trabalho e salário,
empregadores as condições aversivas estão muito mais sob seu controle, para
questão.
364
de seu valor. A análise é feita de forma a parecer que poderia ser empregada
trabalho e a atribuição de seu valor. O que fica claro ali é que tal atribuição é
interessante que estes traços são mais claros em suas análises teóricas e
desvio que poderá ser corrigido pela aplicação, ou melhor pela avaliação, de
possível por se tratar de uma análise que se baseia nas transações individuais
diferente é supor, como parece o caso em Science and Human Behavior, que
sentido de que uma análise destas condições seria essencial para se avaliar a
própria agência.
como principio, apesar das condições reais geradas pelo sistema. Em Walden
Esta posição estaria implícita em toda sua proposta para Walden II, onde
trabalhos, que se garanta alguma parcela de trabalho manual para aqueles que
366
fazem trabalho intelectual, que se garanta que todo trabalho vale na razão
esperaria que o fizesse, que tudo isto só seria possível, talvez, não porque a
que não há propriedade privada, estrutura que, não importa o que afirme, não é
reconhece, em 1948 mesmo, que sua ciência poderia ser usada em sistemas
sociedade, mas não, como quer Skinner, que da própria ciência se pudesse
derivar tais supostos e, mais ainda, que estes seriam prontamente aceitos e
de decisões técnicas propostas por uma ciência qualquer. Seria preciso que
que não garante os mesmos parâmetros para cada um dos lados envolvidos e
propor Walden II. Entretanto, possivelmente por razões que são também de
Skinner acaba por fazer uma análise parcelada e por esta razão incompleta e
uma lei geral, que em nada diferiria em cada instância particular. A troca de
bens, efetuada pelo uso da moeda, é vista como um simples episódio em que
reforçadores são ganhos e perdidos e que, mais uma vez, se baseia na noção
cada troca particular - como o nível de privação "na população como um todo",
"0 uso do dinheiro na compra e venda nos permite avaliar bens como
avaliamos o trabalho - numa escala unidimensional simples." (1953b, p.394)
qualquer - seja ele capitalista ou não - mas não se constitui ela mesma na
369
solução. Para servir como ferramenta ela necessitaria, antes, estar inserida em
ela poderia instalar ou manter não derivam dela mesma, mas são
comportamento é fruto de uma dada cultura, por ela limitada e que mesmo a
Em Walden II, talvez isto não se torne tão claro porque Skinner já nos
que, como nas outras agências, o controle econômico pode ser excessivo e
são de algum modo considerados por Skinner. Apenas que em Science and
outras agências.
sistema econômico, mas que Skinner prefere abordar como se fossem apenas,
quebrado por uma eventual acumulação indevida de poder. Skinner afirma, por
"Todas estas medidas alteram o equilíbrio entre aqueles que possuem bens ou
trabalho e aqueles que possuem dinheiro; por isto alteram a frequência com
que certas transações econômicas ocorrem. O efeito é geralmente o de reduzir
a extensão em que o possuidor de riqueza é capaz de empregá-la no controle
de outros." (1953b, pp.400, 401)
fatores que estão na base da estrutura econômica. Escapa-lhe ainda que num
sistema econômico complexo uma boa parte das variáveis que são
determinantes, não apenas dos valores pagos pelo trabalho, mas também das
específica. Mais que isto, tal reconhecimento talvez implicasse uma análise
tudo isto só facilitaria sua critica da agência econômica- Mas, por outro lado,
Mais uma vez, Skinner toca uma questão importante e não a persegue:
trabalhadores:
(...)
"Se a razão não for muito alta — isto é, se a quantidade de trabalho requerida
por unidade de pagamento não for muito grande - e se o reforçamento é de
uma quantia significativa, o indivíduo caracteristicamente trabalhará numa alta
taxa."
(...)
"Um esquema de FR pode, de fato, ser efetivo demais. Ele leva não apenas a
altos níveis de atividade, mas também a muitas horas de trabalho, os quais
podem ser danosos." (...) "Uma outra objeção ao uso do esquema na indústria
é que o maior retorno ao trabalhador, que se segue à conversão a tal esquema
frequentemente parece justificar um aumento da razão. " (...)
(...)
"Trabalho é mais comumente pago por dia, semana, mês, ou ano. Estes
parecem ser esquemas de intervalo fixo <FI>. O tamanho do intervalo, como o
da razão é, em termos gerais, uma função de contingências anteriores que
afetam o indivíduo." (...) "E
necessário reforçamento substancial em intervalos menores antes
que pagamentos espaçados em intervalos tão longos como um mês sejam
efetivos. Para analisar uma tal história em detalhe teriamos que investigar
certos tipos de comportamento subsidiário, alguns deles verbais, que são
gerados por esquemas de reforçamento e que preenchem o espaço entre
(formam a ponte entre), digamos, trabalhar no primeiro dia do mês e ser
reforçado no último. Uma tal analise teria que incluir o efeito de acordos ou
contratos entre patrão e empregado.
Em qualquer caso, no entanto, salários recebidos em FI não se assemelham
(não são paralelos) aos reforçamentos intermitentes" (...). "No comportamento
humano certos estímulos importantes, comumente correlacionados com o
pagamento tornam possível uma discriminação temporal." (...) "Relógios e
calendários são mecanismos verbais planejados para suprir estímulos deste
tipo ao sujeito humano." (...) "Se não houvesse outros fatores
envolvidos, o pagamento pelo trabalho ao final de cada semana geraria apenas
uma pequena quantidade de trabalho logo antes do pagamento."
Portanto é necessário suplementar esquemas de FI com outras técnicas de
controle. 0 patrão ou supervisor é uma fonte de estimulação aversiva
contingente a qualquer comportamento que seja abaixo de certas
especificações, incluindo uma taxa mínima de produção. Parte do poder do
supervisor pode derivar de sua posição no grupo ético -- ele pode condenar a
preguiça ou o trabalho mal feito como ruim ou como algo de que se
envergonhar - mas, na medida em que 'ele não pode fazer nada pior que
despedir um homem', sua principal estimulação aversiva é a ameaça de
demissão. Em tal caso os salários servem simplesmente para criar uma
condição econômica padrão que pode ser aversivamente retirada. Com o
tempo o comportamento do empregado gera estimulação aversiva comparável;
ele trabalha na taxa exatamente acima daquela na qual ele se sente culpado
ou ameaçado." (...) "Uma linha de montagem movendo-se numa dada taxa
torna a contingência entre velocidade do trabalho e estimulação aversiva mais
clara." (...) "A linha de montagem tem o efeito de reduzir alguns dos atributos
pessoais da estimulação aversiva de um patrão, mas um perigo inerente a
qualquer sistema de ritmo é a tentação por parte do controlador de aumentar o
ritmo." (1953b, pp.385 a 389)
Skinner parece perceber, mas á qual não atribui, aqui, maior importância). Em
lugar, e isto não é menos importante, porque o que controla o controlador não
por Skinner, mas nenhum deles, ou mesmo o conjunto deles, parece ser
sequer porque certos esquemas são mais utilizados que outros, não se discute
esquemas — produzindo padrões que cada vez mais são satisfatórios a seus
possibilidades não são exploradas. Pelo menos tão importante quanto isto, a
não seria um problema não fosse a constante afirmação de Skinner de que sua
questões. Mais uma vez, em Walden II, parece se permitir saltos que não se
técnicas.
"Poderia argumentar que nós teríamos não uma força militar reduzida, mas sim
grandemente aumentada. Ainda teríamos indústria pesada, mas estariam tão
distribuídas que um bombardeio atômico seria difícil. Grandes centros de
população constituem um anacronismo" (...) "E nossa força de trabalho útil
seria duas ou três vezes maior do que a da última guerra, porque teríamos
desenvolvido ao último grau a força física e psicológica."
(...) "Ou eu poderia argumentar que a América não poderia ser convertida a
esse tipo de vida sem ter um tremendo efeito sobre o resto do mundo — o que
apagaria toda a ameaça de agressão." (1948c, p.206)
sociedade. Mesmo que tal transformação seja difícil, dado que não será
"Os que tem mais a ganhar são sempre os mais difíceis de convencer. Isso é
verdade também do trabalhador explorado - e pela mesma razão. Ambos
<trabalhador e mulher> foram mantidos em seus lugares, não por forças
externas, mas, muito mais sutilmente, por um sistema de crenças implantado
dentro de suas peles. Algumas vezes é tarefa sem esperança tentar sacudir as
cadeias de suas almas, mas pode ser feito," (1948c, p. 150)
classe média que vive do seu trabalho, sem se referir àqueles que constituem o
poder, seja porque detêm poder político, seja porque detêm poder econômico,
A pergunta que permanece é se isto se dá por força do tipo de análise que faz
que a ideologia interiorizada pela classe trabalhadora não lhe permite assumir
mudanças, por força de seu próprio conteúdo; ou seja, estes seriam a ponta de
"Ele há de querer, a longo prazo" (...) "Ele pode não concordar agora. Essa é a
falha fatal na reforma do trabalho. O programa pede uma campanha longa e
monótona na qual os lideres não só mantêm seus homens insatisfeitos mas
forjam um campo maior de insatisfação. Enquanto a reforma continuar sendo
uma batalha entre o trabalho e o capital, o líder trabalhista deve 'aumentar a
miséria' para elevar o moral de sua tropa. Ninguém sabe o quanto tornam mais
pesado o fardo do trabalho aqueles que tentam fazê-lo mais leve. Aqui, não há
batalha. Nós podemos admitir livremente que gostamos de trabalhar." (1948c,
p.163)
às reais condições de trabalho, é que são imputadas boa parte das razões
uma visão mais complexa das contradições e dos problemas gestados numa
uma análise mais realista dos limites impostos por estas contradições, e pelo
No entanto, nada disto impede que Skinner possa propor uma sistema
vigente. Entretanto, Skinner parece assumir estes supostos como tendo peso
comunidade.
transformando social. Mais uma vez, em Walden II isto é quase que mascarado
realidade:
"Gozamos de uma alto nível de vida, mas nossa riqueza pessoal é realmente
pequena. Os bens que consumimos não representam muito em cruzeiros e
tostões. Seguimos o principio de Thoreau de evitar posses desnecessárias."
(...) "Há pouco ou nenhum estrago ou perda na distribuição ou armazenamento,
e nenhum devido a necessidades mal calculadas. O mesmo se aplica para
outros produtos. Não sentimos a pressão dos artifícios promocionais que
estimulam o consumo desnecessário. Temos alguns carros e caminhões, mas
em número muito inferior do que as centenas de carros de família e os muitos
negócios que deveríamos possuir se não vivêssemos em comunidade." (...)
"Planejamos um padrão de vida muito alto com um baixa consumo de bens.
Consumimos menos do que o americano médio." (1948c, p.65)
do dinheiro.
"Créditos-trabalho são um tipo de dinheiro, mas não são moedas nem notas,
apenas lançamentos numa conta. Todos os bens e serviços são grátis" (...)
"Cada um de nós paga pelo que usa 1200 créditos-trabalho por ano, digamos,
4 créditos por dia de trabalho. Nós mudamos o valor dos créditos de acordo
com as necessidades da comunidade- Com 2 horas de trabalho por crédito,
numa jornada de 8 horas, poderíamos trabalhar com um grande lucro.
Entretanto, ficamos satisfeitos em viver um triz acima da bancarrota. 0 sistema
de lucro é ruim, mesmo quando o próprio trabalho obtém os lucros, porque a
tensão do excesso de trabalho não é aliviada nem mesmo por grandes lucros-
Tudo que pedimos é poder gastar com uma pequena margem de segurança;
ajustamos o valor do crédito-traba1ho de acordo com isso. No momento, é de
cerca de uma hora por crédito."
(...)
"Um sistema de créditos também possibilita avaliar um trabalho em termos do
desejo dos membros em executá-lo. Afinal de contas, um homem não está
fazendo mais nem menos do que a sua parte pelo tempo que gasta nisso: é o
que ele faz que importa. Então, nós simplesmente atribuímos valores diferentes
para tipos de trabalhos diferentes e os ajustamos de tempos em tempos,
baseados na demanda"
(...)
"Trabalhos mais agradáveis têm valores mais baixos." (...) "Ninguém ganha a
vida com isso <cuidar de flores), mas algumas pessoas gostam de empregar
algum tempo nesse trabalho e nós lhes pagamos por isso. A longo prazo, uma
vez ajustados os valores, todos os tipos de trabalhos são igualmente
desejados. Se não o fossem haveria uma maior procura do mais desejável e o
valor do crédito seria mudado. De vez em quando manipulamos a preferência
383
quando algum trabalho parece ser evitado sem causa." (1948c, pp.53, 54)
á sobrevivência.
moeda (o dinheiro) é a mesma, uma vez que o dinheiro tem o mesmo valor de
essenciais da realidade.
capitalista.
"O 'valor econômico' do trabalho ou outros serviços pessoais tem a ver, assim,
como o pareamento de efeitos reforçadores positivos e negativos. Os efeitos
reforçadores de duas tarefas poderiam ser diretamente comparados, mas o
dinheiro prove uma escala única na qual os valores econômicos de muitos tipos
diferentes de trabalho ou serviços podem ser representados. Nós já vimos que
o dinheiro tem certas vantagens como um reforçador generalizado; ele tem
dimensões razoavelmente simples, pode ser contingente a comportamento de
uma maneira inequívoca, e seus efeitos são razoavelmente independentes da
condição momentânea do organismo. O dinheiro tem uma vantagem especial
como representante de valor econômico porque diferentes quantidades podem
ser comparadas numa única escala; uma quantidade pode ser igual a uma
outra, duas vezes maior que outra e assim por diante. Esta escala padrão é tão
efetiva em comparar reforçadores que frequentemente é vista como
representando algum tipo de valor econômico independente, não associado a
consequências positivas ou negativas. A escala monetária é vista como uma
dimensão primária do valor. Mas a escala não teria significado sem a
comparação com outras consequências." (1953b, p.392)
Por seu turno, é esta mesma unidade de escala que permitiria que se
camadas que não podem consumir boa parte do que deveriam ou precisariam
são, em última instância, baseadas num equilíbrio (de ganhos e perdas) entre
vida econômica»
resposta que dá ao ser perguntado como era possível reduzir o trabalho médio
"A prova de um fato realizado? Não seja absurdo! Mas talvez possa satisfazê-lo
contando como sabíamos que isso podia ser realizado antes de tentarmos."
(...)
"Tomemos uma semana padrão de sete dias com 8 horas diárias. (A semana
de 40 horas ainda não chegou a todos os ramos da vida. Muitos fazendeiros
chamá-la-iam de férias.) Isso são quase 3000 horas por ano. Era nosso plano
reduzi-las para 1500, mas como teríamos certeza de que poderíamos reduzir o
horário pela metade?"
(...)
"Em primeiro lugar, temos o fato óbvio de que 4 horas é mais que metade de 8.
0 efeito de um dia de 4 horas será eventualmente enorme, desde que o
restante do tempo do indivíduo não seja passado sob muita tensão. Tomemos
uma estimativa moderada que leve em conta tarefas que não podem ser
aceleradas e digamos que as nossas cinco horas equivalem a 8 normais."
(...)
"Em segundo lugar" (...) "temos a motivação adicional provinda da situação de
um homem trabalhar para si mesmo ao invés de para um patrão em busca de
lucro. Trata-se de um verdadeiro 'salário-incentivo' e o efeito é prodigioso.
Evitam-se desperdícios, a mão-de-obra é melhor e jamais se ouviu falar de
morosidade voluntária. Poderíamos dizer que quatro horas de alguém aqui
387
Nesta análise Skinner, mais que soluções, parece aponta alguns dos
como o setor terciário e o financeiro. Outros, ainda, apontam para aspectos que
ao fato de que aqui também Skinner é capaz de ver nestes aspectos da vida
estrutura econômica, ou seja, não pode ver nestes aspectos que são de ordem
tal estrutura que, por seu turno, exige transformações de cunho político.
"Nós não temos necessidade de fortuna. E até que você me mostre que a
fortuna pode ser feita sem fazer alguns pobres no caminho, este é um objetivo
que nós estamos contentes em dispensar."
(...)
"A fama é também ganha às custas dos outros. Mesmo as honras bem
merecidas de cientistas ou estudiosos são injustas para muitas pessoas
igualmente dedicadas que não obtiveram honrarias. Quando uma pessoa
consegue um lugar ao sol, outras são colocadas numa sombra mais densa. Do
ponto de vista do grupo como um todo, não há ganho nenhum e talvez haja
alguma perda."
(...)"Nós nos opomos à competição pessoal." (...) "Nunca destacamos qualquer
membro em qualquer aprovação especial. Deve haver alguma outra fonte de
satisfação em nossos trabalhos ou jogos ou então consideramos o feito como
trivial. Um triunfo sobre um outro homem nunca é um ato louvável. Nossa
decisão de eliminar engrandecimentos pessoais decorreu naturalmente do fato
de pensarmos no grupo todo." (1948c, p.171)
a sobrevivência da cultura.
a formulada em Walden II, está de acordo com a critica que é feita em Science
espécie. No entanto, em Science and Human Behavior esta critica não serve
de base para uma análise realmente alternativa da economia, porque peca pelo
outro oposto metodológico; pela falta de uma análise que envolva grupos de
característicos.
mercadorias, por exemplo, e afirmar que comprar e vender são tão comuns que
história trocando brinquedos, sendo reforçada pelo que obtém e sendo afetada
seja possível concordar com esta análise no sentido de como são educados os
manutenção da agência.
Skinner aborda desde problemas que parecem ser de origem quase que moral,
392
"Nós não fazemos propaganda. Este é um principio básico. Não nego que isso
seria possível- (...) Algo nesse sentido tem sempre sido feito por governos bem
organizados - para facilitar o recrutamento de exércitos, por exemplo. Mas não
aqui. Você pode dizer que nós fazemos propaganda de todos os trabalhos (...).
Se podemos tornar o trabalho mais agradável por um treinamento adequado,
por que não fazê-lo?" (1948c, p.55)
Isto indicaria que aquilo que pode ser em certos momentos abordado
agência, de outro, uma interpretação que exige mudanças que são essenciais.
como são distribuídos em Walden_II, reconhece que são especiais, que têm e
valor absoluto. Reconhece ainda que isto é possível porque toda a estrutura
Mais ainda, fica claro algo que parece ser uma deficiência da análise da cultura
análise.
ele faz questão de criticar), mas sim na não gerência técnica da vida
parece que aqui mais do que nunca esta duplicidade de princípios e de critérios
de sua obra, parecem se explicitar alguns dos limites que uma proposta de
ciência como a skinneriana teria. Por sua vez, muitas das possibilidades de
interação que Skinner parece acreditar ser fundamental entre ciência básica
potencialidades.
têcnico-cientifica da cultura
skinneriana da agência.
que pode ser visto como a agência propriamente dita - aqueles envolvidos no
formas de controle por eles utilizadas, as quais, por sua vez, acabam reduzidas
Deste modo, mais uma vez, a agência governamental pode ser definida
quais deveria mover-se a agência constituída. No entanto, não parece ser este,
para Skinner, o caminho natural, uma vez que supõe uma tendência das
controle ético que pode tê-los levado a se constituir como tal e a usar do
mesmo controle aversivo das agências cuja composição original não se havia
398
Skinner, desta maneira, parece abrir mão de pelo menos duas coisas
importantes: o controle ético exercido pelo grupo sobre a agência que seria o
parâmetro pelo qual a agência poderia ser avaliada como um sistema social em
que dois conjuntos de forças interagem se esfacela, uma vez que não mais
agência, bem como suas normas de funcionamento, seu padrão, não é usado
Mas Skinner faz, em 1953, uma ressalva sobre esta interpretação que é
embora não sua descrição, é com o cidadãos os controles que são exercidos
em vista o que a precede no texto, também indica a redução que Skinner faz
constituição) do governo, ao final das contas, sua ação e seu controle são do
mesmo tipo. Também por esta via todas as agências governamentais são
idênticos entre si. Mais ainda, Skinner possivelmente está apontando para os
formas, pode ser interpretada como uma tentativa de entender a ação política,
propostas de organização social e política. Mais que isto, não pode ser
sistemas e não são vistos como forças com real potencial de transformação da
que o que os homens pensam, sentem, precisam são produtos de sua vida
controle aversivo não pode ser entendida como o fim de toda forma de contra-
outro tipo de deslize comum em sua análise da sociedade. Toma como ponto
ponto de vista de maior parte dos casos, não é completamente analisada por
Skinner, uma vez que ele não discute em toda sua extensão as razões de tal
governamental.
podem prescindir, e Skinner faz parecer que podem, da análise das condições
tais anseios.
que não é uma análise que permite que se discuta por que diferentes nações
ou mesmo grupamentos sociais são mais eficazes que outros. Assim, mesmo
"O 'direito' de um governante era um mecanismo antigo para explicar seu poder
de ditar regras.'Direitos humanos', tais como justiça, liberdade e seguridade
são mecanismos para explicar o contra-controle exercido pelos governados."
(...) "'Direitos humanos' são maneiras de representar certos efeitos de práticas
governamentais - efeitos que, em geral, são positivamente reforçadores e que,
portanto, são chamados de bons. 'Justificar' nestes termos um governo é
apenas um modo indireto de apontar para o efeito do governo de reforçar o
comportamento do grupo que o mantém." (1953b, p.349)
enfatiza o fato também quase óbvio, de que mesmo que este seja o caso, as
que, uma vez que frequentemente é exercido na forma de poder para punir,
na proposta de Walden II. Ali, ao lado de uma sociedade sem controle aversivo,
uma sociedade em que "os homens se sintam livres", e é este também o papel
positivo, mas em que certos indivíduos têm privilégios sobre outros. Ao propor
sua sociedade, Skinner tem clareza disto e manipula tal variável propondo uma
que são úteis a seus interesses e que se caracterizam por garantir que os
constantes novas exigências do meio, mas o faz sem prejudicar o bem estar do
não devem ser politicamente embasados e o de que não podem usar (às vezes
no desgaste que tudo isto gera, sem falar no perigo real em relação à
<Nossa medida ativa para a paz é> (...) "apenas isso: nós não estamos
fazendo guerra! Nós não temos política imperialista - nenhuma intenção de
dominar os outros -, nenhum interesse em comércio exterior, exceto para
encorajar a felicidade e a auto-suficiência. O que é 'Walden II' senão um
grandioso experimento numa estrutura de mundo pacifico? Aponte qualquer
internacionalista que realmente saiba o que qualquer tipo de sociedade ou de
cultura ou de governo fará para a paz. Ele não sabe. Estará só conjeturando!
Através das maquinações do poder político ele pode, se tiver sorte, fazer, em
surdina, um teste experimental, mas quase certamente de tal forma que o
resultado não provará nada. Poderá, através de algum acidente colossal,
conseguir a paz mundial, talvez permanente. Mas a probabilidade é
desprezível. O mundo político não produz o tipo de dados necessários para a
solução científica dos problemas básicos." (1948c, p. 205)
poder produzir um mundo melhor para a maioria e não para alguns apenas;
"Eu não estou argumentando por não haver governo, mas somente por
nenhuma das formas existentes. Queremos um governo baseado na ciência do
comportamento humano. Nada menos que isso produzirá uma estrutura social
permanente. Pela primeira vez na história estamos prontos para isso, porque
podemos agora lidar com comportamento humano segundo princípios
científicos simples. (1948c, p.198)
como a ação humana voltada para o controle de grandes grupos sociais - pelo
comportamento.
solucionar os problemas da cultura, seja a curto ou a longo prazo, a não ser por
acidente. Mais uma vez, como já foi seguidas vezes apontado, a base para a
(...) "uma vez que a ciência do comportamento foi alcançada, não há alternativa
alguma, sento uma sociedade planejada. Não podemos deixar a humanidade
sob um controle acidental ou enviezado. Mas, usando os princípios do
reforçamento positivo – evitando cuidadosamente a força ou a ameaça de força
- podemos preservar uma sensação pessoal de liberdade." (1948c, pp.260,
261)
seu método, uma atitude gerada por estes métodos, representa uma visão de
411
Human Behavior não parecem diferir tanto: enquanto que em 1948 Skinner
aversivas; em segundo lugar, porque a agência que codifica a lei não se ocupa
413
para todos.
técnica necessária que avaliaria a sua eficácia tendo em vista o bem estar
não o bem estar da agencia, até porque este é mais um dos resultados do
entre grupos, ou mesmo a oposição grupo e indivíduo, uma vez que dele se
que o homem teria responsabilidade pessoal por seus atos, ou seja, que pode
ser legalmente imputado por seus atos. Para ele esta concepção está na base
dos governos politicamente geridos- Tais concepções tem que ser afastadas
em uma sociedade cientificamente gerida, e isto mais uma vez traz à tona a
socialmente e apenas o vastíssimo escopo que tem a ciência pode tornar esta
pessoal, no entanto, peca, não por ser determinista, mas por não reconhecer
esta passa a ser muito mais que mera depositária do poder de controlar
avaliada pelo tipo de uso que dele faz, ou melhor, pelo tipo de controle que
como aquela proposta em Walden II. Assim como em 1953 Skinner critica a
cidadãos, em 1948, esta noção está presente nas afirmações de que o que
àquilo que lhes é imposto como controle, e que este só poderá ser
técnico-científica.
"Quando uma agencia governamental se volta para técnicas auxiliares que não
são baseadas na punição, o conceito de homem como um 'agente responsável'
cai em desuso- Esta é uma prova adicional de que o conceito simplesmente
serve para racionalizar o uso da punição como técnica de controle." (1953b, p-
346)
isto, são colocados nas mãos de uns poucos especialistas, o que não torna os
homens agora não livres, mas apenas garante um governo capaz de solucionar
mundo até hoje enfrentou sem solução: a não existência de qualquer forma de
da liberdade — para punir, para decidir, para ser punido. Uma nova realidade
se instalaria da qual não faria parte este conjunto de dilemas que são reais,
transforma num novo ponto zero e que, portanto, não precisa ser
mesma posição parece fazer com que Skinner acabe por minimizar a
ativamente sua própria existência. Talvez por isto seja possível parear tão
419
noção de que a mudança social só pode ser trazida por uma transformação
técnico-científica.
de produzir seu próprio mundo, capacidade que poderia ser analisada como
fruto do controle a que está submetido (uma possibilidade que não parece
população.
social(ais) com outro(s). Exemplo claro disto está na análise da economia, mas
por isto é preciso pelo menos qualificar o argumento de que Skinner é anti-
não permitem o atingi mento dos objetivos que se propõe na letra. No entanto,
ser exatamente sua concepção, uma vez que mesmo em Walden II, uma nova
sociedade, é assim que Skinner descreve sua população. Mesmo que se diga
que ali não mais se trata de questão de poder para alguns em detrimento de
controle pré-científico.
"Nós não só temos o que fazer com essa gente <a maioria, o cidadão comum>,
nós lhes temos respeito. A maioria das pessoas vive no dia—a—dia ou, se tiver
algum plano a longo prazo, é pouco mais do que a antecipação de algum curso
natural -- pretendem ter filhos, ver as crianças crescerem e assim por diante. A
maioria das pessoas não quer planejar. Elas querem ser livres da
responsabilidade de planejar. 0 que pedem é simplesmente alguma segurança
de que serão decentemente satisfeitos. 0 resto é um desfrutar do dia-a-dia da
vida." (...) "Pessoas desse tipo são completamente felizes aqui. E elas pagam
por isso. Não são parasitas e eu não vejo porque você as considera com
desdém. Elas são a estrutura de uma comunidade - sólida, fidedigna,
essencial." (1948c, pp.169, 170)
comportamento humano de longa data são tidas como genéricas por Skinner;
especialista.
"Nosso único governo é uma junta de Planejadores" (...) "Há seis Planejadores,
geralmente três homens e três mulheres" (...) "Tais Planejadores podem servir
por dez anos, mas não mais." (...) "Os Planejadores são encarregados do
sucesso da comunidade. Eles estabelecem a política, revisam o trabalho dos
Administradores, estão atentos ao estado da nação em geral. Eles também tem
algumas funções judiciais. São-lhes conferidos 600 créditos por ano pelos seus
serviços, o que deixa margem a um débito de 2 créditos por dia, que devem ser
ganhos num trabalho estritamente físico.
(...)
<Administradores são> (...) "especialistas cuidando das divisões e serviços de
'Walden II'." (...) "Eles programam o trabalho a ser realizado e sua tarefa é
dirigir, o que continuam fazendo depois de terem designado tanto quanto o
possível o trabalho dos outros. São os mais trabalhadores entre nós. E uma
pessoa excepcional que pretende e acha um lugar como Administrador. Ele
deve ter habilidade e uma preocupação pelo bem-estar da comunidade."
(...)
"Os administradores não são personagens honorárias, porém cuidadosamente
treinadas e especialistas experimentados. Como poderiam os membros julgar a
sua habilidade? (...) Você trabalha para ser Administrador através de posições
intermediárias que compreendem uma grande responsabilidade e provêem a
423
seus poderes dentro dos limites estabelecidos, e que são tidos como condição
Skinner afirma:
"Nós não fazemos propaganda. Este é um princípio básico. Não nego que isso
seria possível. (...) Algo nesse sentido tem sempre sido feito por governos bem
organizados - para facilitar o recrutamento de exércitos, por exemplo. Mas não
aqui. Você pode dizer que nós fazemos propaganda de todos os trabalhos (...).
Se pode- mos tornar o trabalho mais agradável por um treinamento adequado,
por que não fazê-lo?" (1948c, p. 55)
indesejáveis. E mais uma vez interessante que isto poderia ser interpretado
entendida por alguns dos críticos de Skinner, estaria assegurada por esta via;
religiosamente geridas.
pela visão de mundo que este conhecimento acarreta. O impulso para o futuro,
tal confusão não parece séria a ponto de impedir que se analise seu
Se 'Walden II' não pode ser considerada uma sociedade fascista, isto se
mais uma vez recai no que ele considera ser uma decisão cientifica, ou seja, o
seu argumento- Sua visão de mundo o impede de supor que o cidadão não é
grupo que se constitui por razões as mais diversas. Mais uma vez, sua análise
da política é imperfeita, na medida em que não pode reconhecer que não são
não parece capaz de estender esta análise para sua interpretação mais geral
externas? Você acha que um homem vai às urnas por qualquer efeito que o
cômputo de um voto tem? De jeito nenhum." (...) "Quase sempre o homem não
tem uma razão lógica para votar. As possibilidades de alterar o resultado final
são demasiado pequenas para alterar o seu comportamento de um modo
apreciável." (1948c, pp.201, 262)
suposto, na medida em que afirma que o povo realmente não tem competência
técnica para avaliar e que, portanto, não deve ser eleitor de seus governantes.
portanto, que o problema não estaria no voto de eleitores incapazes, mas sim,
numa estrutura de poder que não pode jamais ser eficiente, ou melhor, na
Skinner não utiliza e, até mesmo, parece reconhecer uma certa vantagem
pragmática de tal sistema, que poderia levar à sua própria transformação: tanto
"Votar é um meio de pôr a culpa no povo pela situação. O povo não faz as
regras, é o bode expiatório. E o povo vai ás urnas de tempos em tempos, para
renovar o seu direito ao titulo."
428
(...)
"O povo é governante capaz? Não. E ele se torna cada vez menos capaz, em
termos relativos, à medida que a ciência de governar avança." (...).
"Uma coisa que o povo sabe" (...) "e uma coisa a respeito da qual deveria ser
ouvido, é como está apreciando a situação, e talvez, como gostaria que fosse.
O que as pessoas notoriamente não sabem é como conseguir o que querem.
E assunto para especialistas." (1948c, p.263)
ciência avance suficientemente e que se torne poder, para que então suas
alguma forma, participar do poder, o povo ê muito mais massa manipulada que
identificar e destino que pode traçar, ou pelo menos escolher. Um dos grandes
problemas desta concepção está na análise que Skinner não faz de como
como 'Walden II' a democracia já não é mais necessária, mas o mesmo parece
transformação ai contidas.
minoria aquelas massas que sempre estiveram ausentes do poder, isto assume
seria quase insuportável, uma vez que suporia a convicção de que esta maioria
numérica se torna minoria real dada uma sua incapacidade natural de obter o
pretendesse demonstrar que o povo só pode ter sua vida melhorada por um
governo que dele prescinda para tudo aquilo que é essencial e importante na
principio democrático que diz refutar de que se governa para a maioria, mesmo
iguais à vida, de igual acesso aos bens materiais e aos bens culturais é
sociedade, isto diz muito em relação a que tipo de sociedade Skinner deseja
pelo próprio Skinner em Walden II. Embora ele assuma o problema apenas
"As pessoas tem tanta voz quanto elas precisam. Elas podem aceitar ou
protestar e muito mais eficazmente do que numa democracia. E todos nós
participamos igualmente da riqueza comum, que é a intenção mas não o
resultado do programa democrático." (...) "Não há privilégios hereditários, de
nenhuma forma. Você está se queixando é de nosso procedimento não -
democrático fora da comunidade e eu concordo com você em que ele é
desprezível. Eu gostaria que fosse possível agir em relação ao mundo da
mesma forma que agimos entre nós, mas o mundo insiste em que as coisas
devam ser de outra maneira." (1948c, p.233)
comportamento.
que o que Skinner critica neste caso realmente são os métodos, uma vez que
estes não levarão aos propalados objetivos e valores defendidos por uma
proposta socialista.
"Eu só posso ver quatro coisas erradas na Rússia" (...) "Como originariamente
concebida era uma boa tentativa. Brotou de impulsos humanitários que são
lugar comum em Walden II. Mas, rapidamente, desenvolveu certas fraquezas.
Há quatro e elas eram inevitáveis. Eram inevitáveis simplesmente, porque a
tentativa foi feita ao nível político."
(...)
"A primeira" (...) "é uma perda da mentalidade de experimentação. Muitos
experimentos promissores foram simplesmente abandonados. O cuidado em
grupo das crianças, a alteração da estrutura da família, o abandono da religião,
os novos tipos de incentivo pessoal - todos esses problemas foram 'resolvidos'
voltando a práticas que tem prevalecido por séculos nas sociedades
capitalistas. Era o antigo problema. Um governo no poder não pode
experimentar. Precisa conhecer as respostas ou, pelo menos, fingir que as
conhece." (...) "A experimentação revolucionária está morta."
(...)
(...)"Em segundo lugar a Rússia usou propaganda demais- Tanto com o próprio
povo, quanto para o mundo exterior." (...) "E um defeito sério porque tornou
impossível avaliar o seu êxito." (...) "Você pode dizer que é um expediente
temporário para anular a propaganda da. cultura anterior. Mas essa
necessidade foi há muito tempo superada e a propaganda ainda continua." (...)
"Tanto quanto sabemos, a cultura toda ruiria, se as atitudes que a suportam
fossem afastadas. E o pior é que é difícil de imaginar que algum dia elas
possam ser afastadas. A propaganda impossibilita o progresso em direção a
uma forma de sociedade na qual ela seja desnecessária."
(...)
"A terceira fraqueza do governo soviético é o uso de heróis. A primeira função
do herói na Rússia, como em qualquer outro lugar, é remendar uma falha
estrutural do governo. As decisões importantes não são tomadas na base de
um conjunto de princípios, são atos pessoais. O processo de governar é uma
arte e não uma ciência. E o governo dura tanto, ou é tão bom quanto o artista.
Quanto a segunda função do herói, quanto duraria o comunismo, se as fotos de
432
o fato de que a experiência soviética não foi capaz de construir seus próprios
metodologias que são mais adequadas a outras culturas. 0 que Skinner poderia
ter percebido é que este problema seria enfrentado por qualquer cultura que
agência.
socialistas, uma análise precária dos reais determinantes das práticas de uma
podem parecer semelhantes talvez não possam ser assumidos como tal, uma
métodos, como a democracias esta crítica, que é um principio que dirige sua
análise das sociedades existentes, teria que passar a ser apenas mais um dos
os valores de uma cultura que precisam ser analisados a partir desta relação.
crítica à economia levanta o problema desta ciência não ser capaz de prever o
por pensar que todos os indivíduos são iguais, ou melhor, tem igual poder de
mas há alguns em que parece estar tão preocupado com o indivíduo enquanto
ser genérico, e em que parece assumir com tanta certeza que um mero
conjunto deles compõe uma sociedade, que não percebe que as relações
de que são fruto de sua própria organização, fazem parte tão integrante como
434
Mesmo que se concorde, portanto, com Skinner, na. sua análise de que
largas perdas para o grupo como um todo — isto não autorizaria a conclusão
entanto parece ter tanta confiança em sua proposta e ao mesmo tempo é tão
coerente com alguns dos pressupostos que prega que, em Walden II chega a
bastante alto para a coerência de seu sistema. Para propor tal expansão tem
que recorrer á ação política, tanto na forma de voto, como de pressão política,
chegando mesmo a ter que admitir uma ação política direta (como a
"Logo que formos maioria numa localidade, poderemos nossos direitos sob
uma forma democrática de governo e tomar o controle."
435
(...)
"Mas estou falando de negócios práticos, tais como recobrar os impostos em
forma de serviços úteis. Temos todas as intenções de meter-nos na política
democrática para propósitos desse tipo, logo que for possível. Reorganizando o
município e o governo da região, poderíamos reduzir os impostos, recobrar
nossos próprios impostos na forma de salários, colocando nossa gente em
operação, e, ao mesmo tempo, elevar a região até os nossos padrões. O
sistema escolar naturalmente cairia em nossas mãos e deveríamos ser
capazes de adaptar algumas escolas para nosso uso próprio e ainda evitar o
imposto duplo de educação particular. Quem poderia se opor a isso (...)
"E o desejo da maioria (...) E, se bem que reconheça que esta é uma forma de
despotismo, devemos usá-la temporariamente para obter o melhor governo
para todos." (1948c, p.231, 232)
que ninguém mais a "empurra". Ou seja, para sua constituição foi necessária
implantação.
"Você poderia dizer que eu dei o primeiro empurrão, mas eu não estou
empurrando agora- Não há quem o empurre agora, este é o 'x' do problema-
Levante-o da maneira certa e ele andará por si mesmo." (1948c, pp. 233,
234)
a sociedade.
437
Notas
Capitulo 1
2 . Skinner (1976), afirma que após sua graduação decidiu tentar a carreira
de escritor por um ano, com acordo de seus pais. Foi um ano de frustrações,
em que após desistir de escrever tentou outros trabalhos, até que decidiu-se
Coleman (1981) retoma estes fatos para concluir, a partir das leituras de
Skinner no período e de seu relato, que esta não foi uma decisão arbitrária.
associada á critica literária, pela relação que Skinner estabelece entre esta
skinneriano entre 1931 e 1938 afirma que inicialmente Skinner parecia abraçar
este período.
438
realmente intatos, Skinner também opta por uma perspectiva mais molar, neste
caso em relação à unidade de estudo que escolhe, uma vez que Crozier
estudava tropismos.
que também este termo parece ser usado, pelo menos algumas vezes, como
sinónimo de resposta.
7 . A periodização do da obra de Skinner que conduz este trabalho não foi feita
para efeito de análise ao artigo de 1931, The Concept of the Reflex in the
8. 0 termo 'summator' tem como tradução literal somador que apenas em certo
humano.
Capitulo 2
teórico ou metodológico que ele pode ter influenciado, mas também a respeito
tecnologia.
final do período.
441
(1941a), que segundo Skinner foi apresentado como uma conferência, talvez
p.251).
Capítulo 3
sendo devido ao acaso, e esta interpretação tem sido aceita por muitos de seus
Deste modo, não é surpreendente que agora se refira a Walden II como fruto
do acaso.
possam ser medidos através da taxa. No caso de uma ciência que agora se
seu produto único; e que seriam estudados então a partir destes aspectos. 0
problema está em que esta posição francamente analítica peca pelo fato de
Skinner desconsiderar que aqui claramente o produto não é igual à soma das
sua consequência.
comportamento com a mesma precisão. Este tipo de afirmação que pode ser
usada para mostrar o possível caráter menor de um trabalho como Walden II,
aplicada.
Capítulo 4
representavam.
primeiro uso, no entanto não se confunde com ele. Neste item, o primeiro uso
leitor. Isto porque se optou frequentemente por não usar outros termos – como
Capítulo 5
Capítulo 7
menos explicitamente, não é positivo, uma vez que tem sérias criticas à
'capitalista'.
razões para tal escolha são devidas a uma discordância teórica ou política das
expressa por Thoreau: o mesmo ideal de que o indivíduo, enquanto tal, pode
mesmo tempo, seu desprezo pelas análises advindas das ciências sociais, aqui
Posfácio
Guimarães Rosa, com a sabedoria dos homens que sabem olhar para a
realidade, afirma que o importante não está na outra margem do rio, mas se
pelo esforço e pelos motivos de Skinner. Nasceu inclusive o respeito por seus
limites. Hoje eles não parecem ser critério para abandonar um modo de ver o
mundo, mas, muito mais, para tentar contribuir para esta concepção.
modos que são muito mais amplos do que o que aqui se apresenta. O penoso
exige o conhecimento do que foi produzido, o qual só pode ser adquirido pelo
— adentramos em campos que são tão fundamentais para nossas vidas e que,
Tanto por suas limitações formais, como pelas limitações que o produto de um
certamente são colocados também pela obra de Skinner, que tentei respeitar
em todos os momentos.
adquiridos para com o trabalho de Skinner se deve aos seus motivos tanto
tentar tornar seus ideais realidade. Acredito hoje que Skinner nunca abriu mão
do mundo.
São poucos os homens capazes de ter uma visão tão ampla de mundo,
como qualquer outro, fugir às limitações de seu tempo, de sua história de vida.
E me pergunto quantas vezes não cobrei de meu amigo que tivesse sido
capaz exatamente disto. Especialmente devo tê-Io feito nos momentos em que
que seu pai não é capaz de todas as coisas. Entretanto, também há nesta
449
outro e que sua existência é caminho para a transformação, ainda que isto
pequenas coisas que aprendi a fazer e que hoje quero fazer: os artigos, a
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