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“Eu acho que o lugar de fala, nesse sentido, acaba sendo uma postura ética. Como
que eu, do grupo que é localizado no poder, posso contribuir para uma sociedade
menos desigual” – Djamila Ribeiro
Não vejo forma melhor de começar esse texto senão pela citação acima.
Não é segredo que, frente à grande polêmica que a discussão sobre lugar de
fala trouxe, fiquei apreensivo sobre escrever sobre o tema. Talvez não seja
minha culpa, afinal, como homem branco, antes mesmo de começar a debater o
assunto, já me foi dito que eu não tenho lugar de fala algum, que não devo
palpitar em outras lutas – curiosidade, até da luta LGBT, grupo do qual faço
parte, já fui excluído, mas isso é assunto para outro texto.
Dessa forma, a obra foi engendrada para que o leitor entenda o lugar de
fala de uma maneira pedagógica. O texto é iniciado por meio de uma
contextualização histórica, mostrando a trajetória da mulher negra durante os
séculos. O objetivo dessa estratégia, acredito eu, é “descontemporanizar” a luta,
ou seja, mostrar que a luta da mulher negra é antiga, que não é um capricho do
mundo moderno. Estudar os eventos passados é necessário para compreender
os eventos que levaram ao presente e é a chave para saber como mudá-lo.
Mulheres como Sojouner Truth, Francis Gage, Judith Butler, Giovana
Xavier fazem parte da seleção de autoras e feministas negras que contribuíram
para a obra de Djamila. É interessante dizer que a escolha de autoras não serviu
somente como aporte teórico para os argumentos, mas também para dar
visibilidade a essas autoras. Pessoalmente, não conhecia muitas delas e tenho
certeza que a maior parte do público também não.
No entanto, não cabe a esse indivíduo representar uma luta da qual ele
não faz parte. Nas palavras da autora, uma travesti negra pode não se sentir
representada por um homem branco, mas isso não o impede de teorizar sobre a
realidade dela e contribuir, do seu lugar de fala, para uma maior igualdade.
Defender a inserção todos os indivíduos na discussão, de forma que cada um
exerça o seu papel na luta por direitos iguais a todos, é um grande passo em
direção à igualdade e um dos grandes diferenciais dessa obra. Esta integra
pessoas ao invés de criar barreiras entre elas.