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A abordagem

behaviorista do
comportamento
novo
A abordagem
behaviorista do
comportamento
novo

Carmen Silvia Motta Bandini


Julio Cesar Coelho de Rose
Copyright © desta ediqao:
ESETec Editores Associados, Santo Andró, 2006.
Todos os direitos reservados

Bandini, C.S.M.

A abordagem behaviorista do comportamento novo. Carmen Silvia


Motta Bandini & Julio Cesar Coelho de Rose. 1a ed. Santo André,
SP: ESETec Editores Associados, 2006.
110p. 21 cm
1. Psicología do Comportamento: pesquisa, aplicacoes
2. Behaviorismo
3. Análise do Comportamento

CDD 155.2
CDU 159.9.019.4 ISBN 85 88303 73 - 8

E S E T e c E d ito re s A s s o c ia d o s

C a p a : D iv a B e n e v id e s P in h o
(acrílico sobre tela)
www.divabenevidespinho.ecn.br

Solicitagao de exemplares: eset@uol.corn.br


Trav. Joáo Reía, 120 B - Vila Bastos - Santo André - SP
CEP 09041-070
Tel. 4990 56 83/ 4438 68 66
www.esetec.com.br
Sumário

Apresentagáo vii

Introdugáo 9

Urna introdugáo á nogáo de comportamento verbal ^


e á proposta de análise behaviorista radical
1. A definigáo de Comportamento Verbal e algumas
implicagdes 13
2. A Análise do Comportamento Verbal proposta por
Skinner 22
3. Os Operantes Verbais, algum as de suas
características e a Análise do Comportamento Verbal
4. Os diferentes tipos de Operantes Verbais 32
4.1 - O Mando 32
4 .2 -O ComportamentoEcóico 36
4.3 - O Comportamento Textual 38
4.4 - O Comportamento Intraverbal 40
4.5 - O Tacto 41
5. Os autoclíticos 45
6. As múltiplas causas do comportamento verbal e
a audiencia 49

O surgimento de comportamentos verbais novos 52


1. A concepgáo de Comportamento Novo na Análise
Skinneriana 52
2. A variabilidade comportamental como intrínseca
ao modelo causal de selegáo por conseqüéncias e 57
ao conceito de operante
2.1 - A Nogáo de Operante e sua Relagáo com a g.j
Variabilidade das Respostas
3. Os processos 63
3.1- O Processo de Generalizagáo e as Extensóes de Mandos e
Tactos 63
3.2 - A Recombinacjao na FormaQáo de Novas Respostas Verbais j q

3.3 - A Fungáo dos Processos Autoclíticos na Producjáo de Novas


Respostas Verbais 77
3.4- O Papel da Auto-Ed¡9áo do Comportamento Verbal no
Surgimento de Novas Respostas 80
3 . 5 - A Oiferenciagáo por A proxim acáo Sucessiva na
Aprendizagem de Novas Respostas 83

Os p ro ced im en to s e n vo lv id o s no s u rg im e n to de
comportamentos verbais novos ^5
1. Técnicas de autofortalecimento do Comportamento
Verbal 85
1.1 - A Manipulacáo de Estímulos 86
1.2- Mudancas no Nivel de Ed¡9áo do Comportamento Verbal 89
1.3- “Comportamento Verbal” Produzido de Forma Mecánica. 89
1.4 - Modifica9Óes de Variáveis Motiyacionais e Emocionáis do
Falante ou Escritor 90
1.5 - Utilizacáo de Períodos de “lncuba9áo” 90
2. A produgáo de novas respostas verbais nao disponíveis
no repertorio do falante 91
2.1 - A Modelagem Como um Procedímento 91
2.2 - Outras Técnicas Disponíveis 93

Comentários adicionáis 94
1. A ciéncia e a literatura como exemplos dos processos e g^
procedimentos apresentados

100
Referencias Bibliográficas
Apresentagáo

Se a apresentagáo de um livro tem, entre suas fungoes, a


de interessar o leitor no assunto e oferecer alguma referencia sobre
sua autoría, acho que posso ir logo dizendo do meu próprio
entusiasmo com esse livro escrito por Carmen e Julio, sobre temática
táo instigante quanto a de onde vem o comportamento novo, se é
possível explicar a originalidade e, sobretudo, se é possível urna
abordagem behaviorista do comportamento verbal novo.
R e su ltad o de um tra b a lh o longo e m inucioso de
“garimpagem” no Verbal Behavior de Skinner, o livro analisa e
sistematiza as explicagoes skinnerianas para o surgimento do
comportamento verbal novo. O texto, a um tempo rigoroso e
didático, torna acessíveis entre nós as análises de Skinner, ainda
pouco conhecidas e pouco compreendidas, sobre essa questao. A
organizagáo alcangada na apresentagáo do material representa, em
si mesma, urna contribuigáo valiosa para urna visáo integrada dos
diferentes e múltiplos processos e procedimentos que Skinner aponta
como possíveis fontes de comportamento verbal novo, mas que se
encontram dispersos ao longo do Verbal Behavior. A cuidadosa
preocupagáo dos autores com a precisáo conceitual e com os perigos
e maleficios de posigoes dogmáticas e “religiosas” adiciona um
im portante ingrediente as análises e consideragoes sobre
possibilidades e limites no campo teórico e ñas investigagoes
empíricas sobre a originalidade do comportamento verbal.
Urna fonte fundam ental para q ua lq u er estudioso do
comportamento, o livro também constituí excelente material didático
para o ensino de análise do comportamento e para a ampliagáo do
tratamento ao comportamento verbal.
Feitas essas breves consideragoes (para nao retardar o
encontró do leitor com os autores), preciso ainda de um momento
para manifestar o quanto fiquei honrada com o convite, de parte de
dois colegas por quem tenho enorme admiragáo e carinho, para
escrever esta apresentagáo. Tendo acompanhado Carmen desde
seu primeiro semestre no Curso de Graduagáo em Psicología da
UFSCar, é impossível nao ver o livro como um símbolo do seu
próprio desenvolvim ento como pessoa e como profissional,
pensadora, trabajadora, disciplinada e criativa. Sua parceria com
meu colega Julio de Rose, também seu professor e orientador,
resultou nessa obra que, tenho certeza, será fonte de prazer e de
conhecimento para muitos de nós. Agradego, emocionada, por esta
oportunidade, desejando ampio sucesso ao livro, certa de que o
sucesso editorial significará oportunidade de aprendizagem e de
enriquecimento para o leitor em geral e, especialmente, para os
jovens alunos que querem e merecem beber em boas fontes.

Sao Carlos, setembro de 2006


Deisy das Grapas de Souza
Departamento de Psicología da UFSCar
Introdugáo

Urna característica notável da linguagem humana é que


ela permite infinitas combinagóes de sons para a formagáo de
palavras, assim como de palavras para a formagáo de sentengas,
as quais, por sua vez, também podem ser combinadas de infinitas
maneiras, de modo a produzir sempre novos discursos. Nós
podemos escrever neste momento algo como “Nao há um elefante
marrom marchando agora sobre o campo de futebol!” e vocé, leitor
deste livro é capaz de entender a sentenga. Esta é urna sentenga
que nós nunca dissemos ou escrevemos antes (e provavelmente
nenhuma outra pessoa disse ou escreveu isso antes) e vocé está
lendo pela primeira vez; mesmo assim, somos capazes de dizer
isto e vocé é capaz de entender.
Essa “geratividade” da linguagem, ou seja, essa capacidade
de infinitos rearranjos de sons e palavras que podem ser sempre
novos e mesmo assim podem ser produzidos e entendidos, parece
ser um desafio intransponível para urna abordagem behaviorista.
Afinal de contas, as abordagens behavioristas baseiam-se, em geral,
no processo de condicionamento, e de que modo poderíamos
explicar em termos de condicionamento algo que pode ser sempre
novo? Parece evidente que nao fomos condicionados antes a
escrever “Nao há um elefante marrom marchando agora sobre o
campo de futebol!” e vocé nao foi condicionado a ler esta sentenga.
É certo que vocé provavelmente já teve contato com todas estas
palavras, mas nunca nesta ordem e com este significado.
10 Carmen S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

Esta propriedade gerativa parece indicar que a linguagem


nao é um comportamento como os outros, que ela é urna expressáo
do que se passa na nossa mente, urna ferramenta que podemos
usar de múltiplas maneiras para expressar as idéias sempre
diferentes que nossa mente formula.
Na verdade, nossa frase nao é táo original quanto parece.
O filósofo Alfred North Whitehead disse urna frase semelhante ao
psicólogo B. F. Skinner. W hitehead procurava, justam ente,
convencer Skinner da impossibilidade de urna análise behaviorista
da linguagem e desafiou Skinner a explicar porque ele tinha dito
“Nao há um escorpiáo negro caindo agora sobre esta mesa.”.
Skinner (1957) lembra que a frase foi dita durante um jantar e que
na manha seguinte ele comegou a esbogar o livro “Verbal Behavioi3’,
em que ele aceita o desafio de formular urna explicagao behaviorista
do comportamento verbal.
Nesse livro, Skinner procura descrever e explicar muitas
propriedades do comportamento verbal, com base nos principios e
leis que regem o comportamento, principalmente o comportamento
operante. Entre as propriedades que ele procura explicar, está
justamente a propriedade gerativa, a produgáo e compreensáo da
novidade.
Nosso propósito neste livro é sistematizar e analisar as
explicagóes de Skinner para o surgimento de comportamento verbal
novo. Acreditamos que esta é urna contribuigáo ao estudo do
comportamento verbal por vários motivos. Um destes motivos é o
fato de que as explicagóes dadas por Skinner ao surgimento do
comportamento novo sao pouco conhecidas e ainda é bastante
difundida a nogao de que a geratividade verbal nao pode ser
explicada em termos behavioristas. Outro motivo é o fato de que
as explicagóes do comportamento verbal novo estáo dispersas ao
longo do livro “ Verbal Behavior, que é bastante longo e complexo,
e aborda m últiplas propriedades do com portam ento verbal.
Apresentamos aqui este material organizado de urna nova maneira,
sistematizada com base nos processos e procedimentos que,
segundo Skinner, podem gerar o comportamento verbal novo.
Nossa a n á lise é b ásicam e n te co n ce itu a l e teó rica .
Queremos mostrar que urna teoría que aborde o comportamento
verbal novo é possível e foi formulada por Skinner em seu livro
Verbal Behavior. Nosso texto nao discute a validade empírica da
abordagem de Skinner. Esta é urna tarefa para a ciencia do
A abordagem behaviorista do comportamento novo 11

comportamento, cujas pesquisas deveráo confirmar ou refutar as


concepgóes do autor. Skinner deixa claro que sua proposta é um
exercício de interpretagáo do comportamento verbal. Urna das
fungóes de urna tal interpretagáo é fomentar a pesquisa empírica
sobre o assunto e um dos resultados mais comuns da pesquisa
empírica é a reformulagáo das concepgóes que Ihe deram origem.
O leitor nao deve, portanto, tomar as afirmagóes em nosso texto
como urna d o u trin a a cabada, com o fre q ü e n te m e n te sao
consideradas as abordagens psicológicas. O behaviorismo, ou mais
específicamente, o Behaviorismo Radical, formulado principalmente
por Skinner, é urna abordagem á ciencia do comportamento e, como
tal, admite que o que se conhece acerca do comportamento é
resultado dos esforgos de pesquisa e pode ser sempre reformulado
a partir de novas pesquisas.
Este texto é baseado em urna dissertagáo de mestrado, que
foi apresentada pela primeira autora ao Programa de Pós-Graduagáo
em Filosofía, da Universidade Federal de Sao Carlos, sob orientagáo
do segundo autor. O texto da tese foi, no entanto, bastante revisado,
e re-escrito em varias partes, com o objetivo de torná-lo mais claro
e didático, urna vez que este nos parece ser um tema importante
para a formagáo em Psicología, em relagáo ao qual há grande
carencia de material mais acessível., Esperamos ter tido algum
sucesso ao enfrentar o grande desafio que é a produgáo de um
texto ao mesmo tempo rigoroso e acessível.
Náo podemos deixar de expressar nosso reconhecimento
ás pessoas e instituigóes que contribuíram para este trabalho,
embora seja impossível registrar todas as contribuigóes relevantes
neste espago. A primeira autora contou, durante a realizagáo do
seu m e stra do , com urna bolsa do C o n selh o N acional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e recebeu apoio
também, durante a revisáo do texto, da Fundagáo de Amparo á
Pesquisa do Estado de Sáo Paulo (FAPESP) através de urna bolsa
de doutorado. O segundo autor tem sido também apoiado pelo
CNPq através de urna bolsa de produtividade em pesquisa. Dois
auxilios de agencias de fomento á pesquisa foram também de grande
im portancia. A elaboragáo do mestrado da primeira autora
beneficiou-se de um auxilio do CNPQ/PRONEX (Programa de
Auxilio a Núcleos de Excelencia) enquanto a revisáo do texto contou
com a u xilio da FAPESP/PRO NEX. Dos ¡números colegas
professores, que contribuíram com sugestóes e encorajamento para
12 Carmen S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

o trabalho, náo podemos deixar de mencionar os professores José


Antonio Abib e Nilza Michelleto, os quais participaram das bancas
de qualificagáo e/ou defesa da dissertagáo de mestrado que originou
este trabalho e a professora Deisy de Souza, que, além de estar
presente na banca de quaiificagáo, esteve sempre nos apoiando no
dia a dia de trabalho. Além deles, certamente ficam os nossos
agradecimientos aos demais alunos pós-graduandos e graduandos,
pesquisadores do nosso laboratorio.
O comportamento verbal é, como define Skinner, estabelecido
e mantido pela resposta dos ouvintes a ele. De acordo com a definigáo
de Skinner, escrever também é um comportamento verbal. Porém,
a resposta da maioria dos leitores fica inacessível a quem escreve.
Seria um grande prazer para nós se os leitores nos dessem a conhecer
suas respostas a este texto, enviando comentários e críticas, que
podem ser encam inhadas para nosso enderego eletrónico:
cbandini@suDeria.com.br e iuliocderose@vahoo.com.br.
Urna introdugáo á nogáo
de comportamento verbal
e á proposta de análise
behaviorista radical

Para urna análise do surgimento de comportamientos verbais


novos é necessária, primeiramente, urna breve introdugáo a alguns
conceitos relevantes. O surgimento de comportamientos novos
envolve diversos aspectos da análise skinneriana do comportamento
verbal, tais como suas unidades, suas múltiplas causas e os
diferentes tipos de relagoes funcionáis existentes. Sendo assim,
esses e outros aspectos seráo abordados neste capítulo.

1 - A DEFINIQÁO DE COMPORTAMENTO VERBAL E ALGUMAS


IMPLICAQÓES
Um dos requisitos básicos para a compreensáo da análise
do comportamento verbal proposta por Skinner (1957) é a realizagáo
de um exercício de “reaprendizagem” de tudo o que sabemos, ou
julgamos saber, sobre os fenómenos relacionados á linguagem.
Esse exercício é necessário porque Skinner anunciou ter elaborado
urna análise do comportamento verbal diferente de tudo o que já
havia sido apresentado por outros estudiosos até aquele momento
e, sendo assim, seu trabalho envolveu nao somente a apresentagáo
de suas idéias, mas também, o apontamento de porque as idéias
anteriores ás suas náo poderiam ser aproveitadas. O trabalho do
autor, entáo, focalizou náo somente sua própria explicagáo, mas
consistiu em urna grande colegáo de críticas ás teorías e abordagens
que trataram do tema no passado, em urna tentativa de por abaixo
muito do conhecimento previamente estabelecido sobre o assunto,
para assim estabelecer a sua visáo sobre os fatos verbais. Com
isso queremos dizer que muito do que o senso comum ou do que
outras teorías conhecem sobre comportamento verbal, e desta
14 Carmen S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

forma, m uito do que já conhecem os sobre o assunto, será


reinterpretado por Skinner segundo sua visáo filosófica e científica.
Além disso, tal exercício de reaprendizagem deve ser
realizado porque Skinner (1957) reinventou muitos dos termos
relacionados ao tema. Para distanciar o seu programa do proposto
por teorías mais tradicionais, o autor teve o cuidado de elaborar
novos nomes, que pudessem ser empregados para especificar
precisamente as suas definigoes. Como pode ser observado, a
própria opgáo pelo uso de “comportamento verbal” no lugar de
expressóes mais conhecidas, como “linguagem” ou “língua”, foi
fundamentada nessa tentativa de separagáo entre o que foi dito
sobre o assunto no passado e o que o autor disse em sua análise.
Mas, mais que urna simples substituigáo entre termos, o uso de
“comportamento verbal” teve a fungáo de estabelecer um novo
objeto de estudo, o qual náo pode ser compreendido como um
simples sinónimo dos termos substituidos. Assim, para cada novo
termo cunhado por Skinner, devemos esperar novas definigóes e
novos significados.
Dito isso, podemos iniciar nosso empreendimento de análise
da abordagem skinneriana do comportamento verbal. Skinner (1957)
considera que o comportamento verbal é um tipo de comportamento
operante, náo diferente, em termos das leis que o regem, dos
comportamientos operantes náo verbais. O comportamento operante,
de acordo com Skinner, é m odelado e m antido por suas
conseqüéncias: respostas que sao reforgadas (ou seja, produzem
conseqüéncias denominadas reforgadores ou reforgos) tém maior
probabilidade de serem repetidas no futuro. O comportamento
operante náo é, ao contrario do comportamento que Skinner denomina
respondente (também denominado de reflexo), eliciado por estímulos
antecedentes. No entanto, os estímulos antecedentes também sao
importantes para o comportamento operante: quándo um determinado
comportamento é reforgado na presenga de um determinado estímulo
(denominado estímulo discriminativo) ou logo após a ocorrénclaHgste
estímulo, mas náo em sua ausencia, a ocorréncia do estímulo
d is crim in a tivo ~ aum enta a p ro ba b ilid a d e de o corréncia do
comportamento. Segundo Skinner, portanto, para a análise do
comportamento operante é necessário considerar tres termos: a
resposta, o estím ulo presente quando ela ocorre (estím ulo
discriminativo) e as conseqüéncias que a resposta produz no
A nbordagem behaviorista do comportamento novo 15

timbiente. Diz-se, assim, que o comportamento operante é governado


por contingencias de tres termos, ou contingencias tríplices.
Assim, o comportamento verbal, segundo Skinner (1957) é
um tipo de comportamento operante, também governado por
i ontingéncias de tres termos. O que o distingue dos demais
i iperantes é o tipo especial de conseqüéncia que ele produz. Isso
porque, o comportamento verbal foi definido por Skinner como o
i omporíamento modelado e mantido por conseqüéncias mediadas,
i ) lermo mediado aqui indica que, diferentemente do comportamento
mío verbal, o com portam ento verbal ateta p rim e ra m e n te o
(.omportamento de outro individuo.
Para diferenciar essas duas formas de agáo, comportamento
verbal de náo verbal, Skinner (1957) utilizou um exemplo bastante
simples. Segundo ele, estamos diante de comportamento náo verbal
guando tal comportamento “altera o ambiente por meio de agáo
mecánica” (p. 1), como quando um homem caminha na diregáo de
um objeto e o pega. Nesse caso, há um contato físico e o objeto
muda de posigáo de acordo com as regras básicas de mecánica e
geometria. Já no caso do comportamento verbal há urna diferenga.
Como exemplificou Skinner, um homem sedento pode pedirá outro
homem um copo de água em vez de buscá-lo ele próprio. Nesse
segundo caso, as conseqüéncias últimas do comportamento verbal,
emitido pelo individuo denominado falante, sáo mediadas pela agáo
de outro homem, o ouvlnte, que trará o copo com água.
Mesmo que os sons produzidos pela fala possam ser
descritos físicamente, o resultado do pedido de água somente foi
alcangado pela mediagáo da agáo do ouvinte. Os sons náo foram
os eventos físicos que movimentaram o copo de água até o falante.
Isso significa dizer que, diferentemente do comportamento náo
verbal, o comportamento verbal é, por si mesmo, impotente em
relagáo ao mundo físico. Entretanto, o comportamento verbal náo
é menos físico que o náo verbal. Náo há nada de místico ou ¡material
na definigáo skinneriana. A mediagáo aqui descrita refere-se
sim p le sm e n te a urna rede am pia de eventos, in clu in do o
co m p orta m e n to do o u vin te , que afetam a e fe tiv id a d e do
comportamento do falante e dos quais dependem as conseqüéncias
desse comportamento.
No exemplo aqui apresentado foram indicados um falante e
um ouvinte distintos: o falante como sendo o individuo que “pediu a
água” e o ouvinte como o individuo que mediou as conseqüéncias
16 Carmen S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

de tal agáo. Contudo, Skinner (1957) considerou que nem sempre


esse é o caso: o falante e o ouvinte podem ser a mesma pessoa. É
fato que freqüentemente as pessoas falam consigo mesmas, ainda
que seja urna fala “encoberta”, que é normalmente denominada de
pensamento. Esse é um caso, segundo Skinner, em que o ouvinte
é o próprio falante.
Urna das primeiras implicagoes da definigáo apresentada
por Skinner (1957) para o comportamento verbal dá a esse tipo de
comportamento urna característica bastante especial. A agáo
realizada pelo falante, para ser definida como comportamento verbal,
náo está restrita á agáo vocal, como geraimente ocorre ñas teorías
tradicionais. Sendo o comportamento verbal urna agáo que tem
suas conseqüéncias m ediadas por outro individuo, há urna
ampliagáo do campo de análise, visto que essa definigáo náo
engloba somente a fala, mas também qualquer agáo que seja capaz
de afetar outro organismo. Sendo assim, em vez de “pedir a água”
por meio da fala como no exemplo acima, o falante poderia ter
apontado para um copo com água, obtendo-o da mesma forma. A
agáo de apontar seria também considerada um comportamento
verbal pela definigáo aqui apresentada.
Essa prim e ira d e fin ig á o de co m p orta m e n to verbal,
apresentada no primeiro capítulo do Verbal Behavior (Skinner, 1957),
foi refinada no oitavo capítulo. Após a apresentagáo de todos os
operantes verbais, de suas propriedades dinámicas e de suas
relagoes de co n tro le , S kin n e r re strin g íu a d e fin ig á o de
comportamento verbal, especificando melhor qual tipo de agáo
mediada por outro seria de fato objeto de sua análise. Segundo
ele, caso o comportamento verbal englobasse todo o comportamento
que tem e fe ito sobre o utro in d iv id u o , q u a lq u e r tipo de
comportamento social acabaría entrando nesta definigáo. Sendo
assim, a agáo verbal foi restringida áquela na qual as respostas do
ouvinte foram condicionadas. Isso significa dizer que, para que um
comportamento seja denominado verbal, o ouvinte deve ter sido
exposto a contingéncias anteriores que possibilitem que sua resposta
medeie o reforgo do comportamento do falante.
Esse é um ponto bastante especial da argumentagáo de
Skinner (1957), principalmente para o desenvolvimento dos objetivos
de nosso texto. Isso porque, a restrigáo ocasionada pela adigáo do
condicionamento do ouvinte na definigáo de comportamento verbal
pode ser alvo de discussáo, por no mínimo dois motivos. Primeiro
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 17

porque, apresentada desía forma, a definigáo do comportamento verbal


parece ir contra a possibilidade de que novas respostas possam surgir
no repertorio do faiante. Para Chomsky (1959), um dos maiores
críticos do Verbal Behavior (Skinner, 1957), por exemplo, considerar
que o ouvinte deva ser exposto a contingencias anteriores é equivalente
a considerar que o comportamento do ouvinte deva ser fruto de treino,
ou seja, implica no fato de que o ouvinte precise ser devidamente
exposto a um número de situagoes anteriores para responder ao
comportamento do falante de forma eficaz. Se esta afirmagáo for
verdadeira, entáo, de acordo com o argumento de Chomsky, como
poderla ser possível que o ouvinte respondesse ao comportamento
do falante em novas situagóes, ñas quais nao tivesse ocorrido qualquer
espécie de treino? Ou, dito em outras palavras, como um individuo
tornar-se-ia apto a mediar adequadamente o reforgo do comportamento
do falante guando estivesse diante de respostas novas para ele? O
fato é que, em multas situagóes cotidianas, somos capazes de nos
com portam os diante de palavras e sentengas arranjadas em
combiriagóes que nunca ouvim os antes, ou seja, diante de
comportamientos verbais novos, assim como também produzimos,
freqüentemente, novas combinagóes verbais. Sendo assim, a
definigáo de comportamento verbal náo seria suficiente para explicar
estas ocorréncias. Tentaremos responder a estas perguntas em
riosso segundo capítulo.
Um segundo motivo para possíveis críticas do refinamento da
definigáo de comportamento verbal apresentada por Skinner (1957)
direciona nossa atengáo para questóes relacionadas ao conceito de
significado. Poderíamos interpretar este refinamento da definigáo de
comportamento verbal como um indicador de que Skinner, após um
longo percurso no livro, náo conseguiu livrarsua análise do persistente
conceito de significado. Ao afirmar que o ouvinte deve ter urna historia
de reforgamenío para responder adequadamente como mediador do
reforgo do comportamento do faiante, parece existir a necessidade
de que o ouvinte “compartilhe do significado” da verbalizagáo do falante.
Para entendermos melhoresta questáo, pensemos em urna situagáo
em que, como no exemplo do pedido de água utilizado para definir o
comportamento verbal, o falante faiasse um idioma desconhecido.
Em um caso como esse, o pedido de água provavelmente náo seria
atendido pelo ouvinte. Argumenta-se que nesse caso o ouvinte náo
responde porque ele “desconhece o significado das palavras emitidas
pelo faiante”. Por outro lado, o ouvinte poderia responder ao mesmo
18 Carm en S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

falante de outro idioma, caso este último apontasse para o copo com
água em vez de formular o pedido em palavras. Pela explicagáo
tradicional, a eficácia do apontar para conseguir o copo com água
seria devido ao fato de que ambos “compartilham do significado da
agáo de apontar”. Neste último caso, críticas relacionadas ao
refinamento da definigáo de comportamento verbal poderiam ser
formuladas: o condicionamento do comportamento do ouvinte
retomaria a necessidade de que ambos, ouvinte e falante, possuíssem
um significado compartilhado do comportamento de pedir a água. A
confirmagáo de urna hipótese como essa indicaría que a análise de
Skinner seria menos original do que parece, envolvendo apenas
urna nova definigáo do conceito de significado, em termos de
condicionamento do ouvinte, ou seja, o ouvinte aprendería o
significado ao ser condicionado a reagir ao comportamento verbal.
É o caso, portanto, de que nesse momento as críticas de Skinner
ás teorías tradiclonais do significado sejam consideradas e que a
nogáo de significado que permeia a análise skinnerlana possa ser
comentada.
Para Skinner (1957), o qqe acontece quando um homem
responde á fala de outro é, sem dúvida alguma, urna questáo de
comportamento. Skinner considera, entretanto, que as teorias sobre
o comportamento verbal existentes naquela época localizavam os
determinantes do comportamento no interior do individuo, em sua
“cabega” ou “mente”. Urna dessas teorías foi denominada de
“expressáo de idéias”. Nela, as Idéias poderiam ter um caráter
imagético ou náo, e diferentes idéias com diferentes significados
poderiam ser expressas por diferentes arranjos de palavras. Sendo
assim, os significados poderiam ser compartilhados entre os
individuos e os diferentes arranjos possíveis evidenciariam as
características das idéias do individuo, como, por exemplo, sua
forga, clareza, criatividade etc.. Nessa mesma diregáo, Skinner
comentou sobre outras formas análogas de teorias, as quais
utilizavam, entretanto, o conceito de significado no lugar da nogáo
de idéias.
Posteriores a essa nogáo ¡nternalista surgiram também
doutrinas ñas quais a própria nogáo de significado se constituiu
como urna existencia ¡ndependente. Deste modo, os significados
foram colocados no mundo físico e poderiam ser observados como
parte deste. Nesses casos, foi concebida a nogáo de significado
atrelada a urna relagáo de referencia entre as palavras e os objetos
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 19

do mundo correspondentes a elas e, assim, as entidades lingüísticas


teriarn um correspondente no mundo. Outra form a teórica
sem elhante surgiu com a suposigáo de que a língua seria
independente do comportamento humano e esta seria equivalente
a um “instrumento” propiciador da comunicagáo. Aqui o objeto no
mundo seria representado por urna idéia, sendo as palavras
consideradas como instrumentos ou ferramentas que o individuo
utilizaría para expressar suas idéias.
De antemáo, Skinner (1957) critica essas formas teóricas,
“expressáo de idéias” e significado/referente, por desencorajarem
urna análise funcional do comportamento verbal. Se a análise do
comportamento verbal fosse baseada em nogóes como estas, ela
estaría voltada aos processos de formagáo de idéias ou á relagáo
entre o uso da fala ou da língua e o objeto por ela referido no mundo.
O comportamento aqui náo teria, portanto, qualquer importancia no
estudo e compreensáo do significado.
Além dessas críticas, outras se apoiaram no fato de que a
nogáo de “expressáo de idéias”, segundo Skinner (1957), náo
conseguiu identificar a contento um foco para suas análises, nem
elaborou métodos adequados para que urna análise causal pudesse
ser realizada. No caso de urna teoría do significado relacionada á
expressáo de idéias, há urna dificuldade muito grande em se provar
a existencia das próprias idéias. Estas' náo podem ser diretamente
observadas e as únicas evidencias de sua existencia sao as palavras
utilizadas para descrevé-las. Nesse sentido, Skinner apontou que
tais disciplinas estariam apelando para conceitos situados em níveis
de observagáo e explicagáo diferentes do nivel no qual está
localizado o evento objeto de estudo. Ñas palavras do próprio autor
“nós parecemos estar talando sobre dois níveis de observagáo,
embora exista, de fato, somente um” (p. 6). O nivel existente, para
o autor, é o nivel do comportamento. Para Skinner as idéias sáo
construidas pela amostra de comportamento que presenciamos,
ou seja, inferimos idéias porque alguns tipos de comportamientos
sáo emitidos.
Já no caso da teoría do significado, na qual a fala possui um
referente no mundo, Skinner (1957) mostra um cuidado maior em
suas críticas. Em primeiro lugar, ele aponía que é impossível que
cada coisa ou evento no mundo tenha urna palavra diferente para
designá-los e náo há, portanto, urna correspondencia perfeita como se
desejaria. Ou seja, sabemos que existem homónimos e urna palavra
20 Carm en S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

como manga, por exemplo, pode designar, no portugués, tanto urna


fruta como a parte de urna roupa. Como saber entáo a que tipo de
manga o falante se refere? Da mesma forma, Skinner considera que
nao sáo todas as palavras que tém referentes no mundo.1 Classes de
substantivos concretos, por exemplo, podem encontrar seus referentes
mais fácilmente, mas, e quanto aos substantivos abstratos, ás
conjungoes ou preposigoes? Conectivos como de ou para náo parecem
ter um objeto que corresponda a eles.
Mesmo quanto aos substantivos concretos, Skinner (1957)
leva sua crítica adlante e afirma náo ser possível chegar a um
consenso sobre se o que eles realmente desigrtam sáo classes que
envolvem todos os objetos aaquele tipo ou apenas o objeto que o
falante está designando naquele momento. Por exemplo, quando
o falante diz cadeira, ele se refere a urna cadeira determinada ou á
classe dos objetos classificados como cadeira?
Para responder a essas críticas, alguns teóricos adicionaram
á teoría da referencia a “intengáo do falante”, ou seja, o que o falante
‘‘queria dizer” com o que disse. Assim, o significado estarla no
propósito do falante, no que ele deseja dizer com sua resposta. Apela­
se agora para o “significado conotativo” das palavras (Abib, 1994).
Abib (1994) é categórico em apontar que esse é um caminho
que retorna a urna nogáo já desgastada na qual o uso da intengáo teve
que ser resgatado. Quando utilizamos nogóes como propósito ou
intengáo, fazemos com que urna análise científica seja impedida, pois
nada poderá ser dito sobre o comportamento do falante, visto que a
causa da agáo, a intengáo do falante, é interna. Recai-se, portanto, no
problema do estudo dos eventos mentáis e pouco pode ser
acrescentado sobre as causas efetivas do comportamento do faiante.
Diante de todas essas críticas, podemos dizer que a teoría
skinneriana náo considera legítimo o uso do significado? Porérn,
sem s ig n ific a d o , com o o o u vin te poderla re sp o n d e r ao
comportamento do falante?
Como resposta á primeira pergunta, podemos certamente
considerar que o abandono da nogáo de significado em um sentido
tradicional foi o caminho escolhido por Skinner. Como vimos, para
Skinner (1957) o mundo é mais difícil de ser analisado do que a
correspondencia regular existente entre fala e objeto, segundo a teoría
da referéncia, e urna análise do comportamento verbal deve lidar com

1 Ab¡b(1994; 1997) debate essa questáo com maior especificidade.


A abordagem behaviorista do com portam ento novo 21

sinónimos, metáforas, homónimos, abstragóes, entre outras


dificuldades enfrentadas pelos teóricos tradicionais daquela época.
Entretanto, ao analisarmos a obra deste autor, urna outra forma de
significado parece ser apresentada e, nossa tarefa neste momento
será a de analisar o lugar deste novo conceito de significado dentro
da proposta de estudo do comportamento verbal, a fim de verificarmos
o que o autor está realmente ¡ntroduzindo quando refina a definigáo
de comportamento verbal. Poderemos, entáo, responder nossa
segunda pergunta e compreender como o ouvinte torna-se capaz de
responder ao comportamento do falante.
Segundo Skinner (1957), o significado da agáo náo é urna
propriedade do comportamento e sim “urna propriedade das condigóes
sob as quais tai comportamento ocorre” (p. 13). Como “condigóes
sob as quais o comportamento ocorre” Skinner considera o estímulo
antecedente, a própria resposta e sua conseqüéncia. O autor afirma
que quando alguém compreeride o significado de alguma resposta,
esse individuo pode entender as variáveis, ou pelo menos algumas
délas, das quais o comportamento foi urna fungáo. Dito de outra
forma, ele pode ser capaz de inferir algo sobre as relagóes de controle
e as conseqüéncias daquela resposta. Assim, podemos concluir que
o significado faz parte das próprias contingencias e pode, entáo, ser
entendido como urna relagáo entre os eventos antecedentes, resposta
e conseqüéncia (Abib, 1994; 1997).
Segundo Abib (1997), dispensadas as nogóes de referencia
e expressáo de idéias, a filosofía do Behaviorism o Radical
apresentaria urna teoría funcional do significado, pois ao caracterizó­
lo pela relagáo entre os termos da contingéncia podemos considerar
que o comportamento verbal somente adquire significado de acordo
com as práticas de reforgamento de urna comunidade verbal. Em
si mesma, urna reposta verbal náo significa nada. Do mesmo modo,
verificamos que náo é o individuo que dá forma ao significado,
como ñas teorias tra d icio n a is: o sig n ifica d o faz parte das
contingéncias e é definido de acordo com as práticas da cultura.
Retornando agora á questáo do refinamento da definigáo de
comportamento verbal, podemos considerar que quando o ponto crucial
da ciassificagáo de um comportamento verbal passa a ser o
condicionamento do ouvinte, introduz-se a historia de reforgamento
individual do ouvinte e do falante. Como dito anteriormente, o
comportamento do ouvinte deve ter sido reforgado em ocasióes
22 Carm en S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

passadas, de acordo com as práticas culturáis, de modo a reforgar o


comportamento do falante. Skinner escreve:
Com portamento verbal é criado e m antido por um
am biente verbal - p o r pessoas que respondem ao
comportamento de certas maneiras por causa das práticas
do grupo do qual elas sáo membros. Essas práticas e a
interagáo resultante do falante e ouvinte originam o
fenómeno, o qual é considerado aqui sob a rubrica do
comportamento verbal. (Skinner, 1957, p. 226).
Dito isso e desde que, como foi dito acima, o significado possa
ser tomado como intrínseco á contingencia, podemos, entáo, chegar
á conclusao de que o condicionamento do comportamento do ouvinte
permite a inciusáo do significado, porém náo em um sentido tradicional
do termo. Na medida em que o ouvinte foi exposto a contingencias
prévias em seu ambiente verbal, ele agora pode inferir algo sobre as
variáveis das quais o comportamento do falante foi urna fungáo, ou
seja, ele pode responder de modo apropriado ao comportamento, o
que implica em saber o que aquele comportamento significa em um
sentido funcional do termo, como apontado por Abib (1997).
É possível entáo concluir que Skinner (1957) náo parece ter
incorrido no mesmo conceito de significado das teorias tradicionais,
as quais ele fortemente criticou. Se entendermos como interessante
a utilizagáo do termo significado dentro da análise skinneriana,
podemos, entáo, afirmar que o conceito de significado funcional
aqui utilizado parece ser perfeitamente compatível com urna análise
behaviorista radical e, sendo assim, a proposta de análise do
comportamento verbal apresentada pelo autor náo se configura,
em relagáo a este ponto, como urna reapresentagáo de velhos
problem as em urna nova roupagem . Podemos, entáo, dar
continuidade á nossa análise para agora apresentarmos qual a
proposta de Skinner para o estudo do comportamento verbal, sem
que permanega qualquer dúvida sobre a coeréncia de sua definigáo.2

2 - A ANÁLISE DO COMPORTAMENTO VERBAL PROPOSTA


POR SKINNER
O Verbal Behavior (Skinner, 1957) gerou críticas, oriundas
principalmente de teorias cognitivistas, por ser considerado urna obra
interpretativa de Skinner, visto que a maior parte da argumentagáo
nele contida náo vem adicionada a resultados experimentáis, como
acontece na maioria de suas outras publicagáes e que, em alguns
A abordagem behaviorista do comportamento novo 23

casos, a fundamentagáo dos argumentos está baseada ñas próprias


observagoes cotidianas do autor.
De fato, em algumas passagens do livro, Skinner (1957)
teve que reconhecerque algumas de suas interpretagoes náo haviam
ainda sido cornprovadas cientificamente. Um exemplo de tai
reconhecimento pode ser apresentado quando o autor trata da
independencia entre os diferentes operantes verbais, no caso de
urna resposta ser tomada como a mesma em duas formas de
comportamento distintas, comportamento vocal e comportamento
escrito. Sobre essa questáo Skinner escreveu:
Embora seja difícil provar que mudangas na resposta em
um meio ocasionam mudangas em respostas em outro meio
somente por meio da mediagáo de processos de tradugáo e
transcrigáo, ao menos o contrárío náo foi provado. (p. 195).
Urna análise desse trecho indica que, apesar de o autor
propor os processos de tradugáo e transcrigáo como urna possível
explicagáo para a relagáo entre respostas em diferentes meios, tal
proposta ainda náo estava comprovada. Entretanto, o autor procurou
manter sua posigáo como provável, afirmando que, de fato, ainda
náo havia conseguido provar que tais processos interferiam naquela
questáo, contudo também náo existiam fatos científicos que
rebatessem suas afirmagóes. Diante dessas ocasióes, Skinner
(1957) trabalhou como um otimista, indicando que, em um futuro
próximo, o desenvolvimiento de novas técnicas na ciencia do
comportamento poderia vir a validar seus argumentos.
N esses term os, o V erbal B e h a vio r foi tom ado
equivocadamente como urna obra meramente especulativa e
próxima das análises do senso comum, sendo a proposta de análise
do comportamento verbal nele apresentada fortemente criticada.
Segundo Donahoe & Palmer (1989), entretanto, as análises
interpretativas encontradas no Verbal Behavior sáo um segmento
natural de urna ciencia histórica como a Anáiise do Comportamento.
Dentro da perspectiva de urna filosofía baseada em argumentos
evolucionistas como o Behaviorismo Radical, os autores consideram
a existencia de urna impossibilidade intrínseca ao modelo, no qual
algumas características passadas náo estáo disponíveis para o
estudo na atualidade. Ou seja, comportamentos ocorridos no
passado náo podem ser estudados nos dias de hoje tal como foram
emitidos.2 Essa impossibilidade é característica de outras ciencias
24 Carm en S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

históricas, como a Biología Evolucionista ou a Cosmología, por


exemplo.
De acordo com esses autores (Donahoe & Palmer, 1989), á
medida que um comportamento complexo, como o caso dos
comportamentos verbais, por exemplo, é resultado de urna historia
de reforgamento, ou seja, de urna selegáo pelas conseqüéncias
dos comportamentos, lidamos com a necessidade de reconstrugáo
da historia do comportamento e, dessa forma, com a necessidade
da interpretagáo quando a experimentagáo náo pode ser realizada,
ou seja, quando náo é possível que se busque resultados pela
manipulagáo direta das variáveis. Urna ciencia histórica deve validar
a reconstrugáo como um m étodo possível e reconhecer a
interpretagáo como inerente ao modelo. O que deve ser deixado
claro é que a interpretagáo dos fenómenos complexos se baseia
nos dados empíricos encontrados e, desse modo, difere do senso
comum, o qual náo tem qualquer orientagáo científica em suas
argumentagóes.
Talvez, urna das questóes mais polémicas oriundas da
estrutura do Verbal Behavior seja a utilizagáo nesse livro, náo
somente da interpretagáo utilizada na reconstrugáo da historia do
comportamento verbal, mas também da interpretagáo quando
utilizada na extrapolagáo de resultados de experimentos anteriores
realizados com infra-humanos no campo do comportamento náo
verbal. Como afirma Skinner (1957), teorias tradicionais consideram
que a extrapolagáo desse tipo de resultado experimental náo poderia
ser legítima devido ao fato de que o comportamento verbal se
localiza em nivel explicativo superior ao do comportamento náo
verbal. Para o behaviorista radical, entretanto, essa é urna questáo
que náo se aplica, pois, como já foi dito, o comportamento verbal
náo re p re se n ta no B e h a vio rism o R adical urna form a de
comportamento de nivel explicativo diferente do comportamento
náo verbal, o que nos habilita a interpretar o comportamento verbal
com base nos principios e leis formulados a partir do estudo do
comportamento náo verbal, mesmo que estes estudos tenham sido
realizados com individuos náo humanos.2

2 Náo estamos aqui querendo afirmar que duas respostas podem ser emitidas
exatamente com a mesma topografía ou sob exatamente o mesmo controle. Apenas
queremos sinalizar o fato de que urna ciéncia histórica exige urna reconstrugáo para
indicar a evolugáo de um comportamento.
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 25

Em defesa da utilizagáo dos dados encontrados com animáis


náo humanos, Skinner (1953/1965) considera que os principios
básicos do comportamento náo precisam ser necessariamente
diferentes para espécies diferentes, e afirm ar urna diferenga
iníransponível entre espécies seria táo precipitado quanto afirmar
sua iguaidade total. Esse argumento pode ser considerado urna
conseqüéncia natural da forte influencia da teoria da evolugáo de
Darwin no Behaviorismo Radical:3 Skinner (1957) considera que o
organism o humano com partilha com outras espécies certos
processos comportamentais e, sendo assim, o estudo desses
processos pode ser realizado livre de restrigáo entre as espécies.
Nesse sentido, o autor afirmou que:
Trabalhos recentes tem mostrado que os métodos [utilizados
em experimentos com infra-humanos] podem ser estendidos
ao comportamento humano sem sérias modificagóes.
(Skinner, 1957, p. 3).
Segundo Skinner (1953/1965), o trabalho científico com
outras espécies também conserva outras vantagens quando
comparado ao realizado com participantes humanos. Ele possibilita
a facilidade de registro de dados por longos períodos de tempo,
elimina a possibilidade de interferencia das relagóes sociais no
experimento, permite o controle genético e histórico dos sujeitos e,
principalmente, viabiliza a realizagáo de urna maior gama de estudos
á medida que alguns experimentos seriam éticamente inviáveis se
realizados com humanos.
Dito isto, podemos entrar finalmente na proposta de análise
do comportamento verbal apresentada por Skinner (1957).
A primeira tarefa da análise proposta por Skinner (1957) é a
descrígao, ou seja, a definigáo da topografía da resposta. Em
seguida, é possível que se busque sua explicagáo, ou seja, as
condigóes relevantes para a ocorréncia do comportamento ou, em
outros termos, as variáveis das quais o comportamento é urna
fungáo. De posse dos resultados dessa primeira etapa, a busca da
previsáo e controle do comportamento pode ser realizada, tornándo­
se também possível o estudo de outras características de igual
importancia, como as que envolvem o episodio verbal como um
todo, as “propriedades dinámicas” das respostas e o surgimento de
novos comportamentos.

3A influéncia darwinista na filosofía behaviorista radical será melhor analisada no segundo


capítulo deste texto.
26 Carm en S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

Nessa análise, o foco principal é, sem dúvida, o comportamento


do talante4. Segundo Skinner (1957), a análise do comportamento
deve enfocar o comportamento dos talantes individualmente, visto que
o método busca descrever e explicar as respostas verbais e estas
sáo emitidas pelo falante. Vale lembrar, inclusive, que a restrigáo ao
comportamento do falante se dá porque o comportamento do ouvinte
nem sempre é comportamento verba!. Por exemplo, quando um ouvinte
traz um copo de água em resposta a um pedido, o comportamento de
trazer um copo de água náo é considerado, neste caso, urna resposta
verbal. Isso náo quer dizer que o comportamento do ouvinte náo
tenha im portancia nesta análise, principalm ente porque é o
comportamento dele que modela e mantém, de acordo com as práticas
de urna comunidade verbal, o comportamento do falante. Á medida
que o ouvinte se torna falante e o falante, ouvinte, podemos ver
constituida toda a dinamicidade e complexidade do episodio verbal e
ter garantida a importancia do comportamento de ambos.

3 - OS O P E R A N T E S V E R B A IS , A L G U M A S DE S U A S
C A R A C TE R ÍS T IC A S E A A N Á L IS E DO CO M PO RTAM ENTO
VERBAL
Os operantes verbais sáo as unidades de análise do
comportamento verbal. Entretanto, quando Skinner (1957) comenta
sobre os operantes verbais, observamos que os comentários sáo
relativos a respostas. Ele comenta a “probabilidade da resposta”,
“os estímulos que estabelecem ocasiáo para que urna resposta
acontega”, enfim, o termo operante divide seu espago na análise
com o termo resposta. Contudo, isso náo significa que ambos
possam ser utilizados como equivalentes. Assim, para que
possamos apresentar os operantes verbais de forma clara e precisa,
será necessário, antes, que algumas das diferengas existentes entre
esses termos sejam brevemente especificadas.
Logo nos dois primeiros capítulos do Verbal Behavior,
Skinner (1957) estabelece rápidamente a distingáo entre um
operante e urna resposta. Urna distingáo mais elaborada já havia

4 É importante lembrar que, de acordo com a definigáo de Skinner (1957), o termo


comportamento verbal náo se restringe á fala e incluí, também, a escrita, gestos e
varias outras formas de intercambio em que o comportamento e retorgaüo por
conseqüéncias mediadas pela agao de outro individuo. O termo “falante’’ é usado por
conveniencia, tendo claro que os conceitos aplicam-se também a outros modos de
comportamento verbal.
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 27

sido realizada em p u b lic a re s anteriores, como no Science and


Human Behavior de 1953 (Skinner, 1953/1965). Segundo Skinner
(1957), o termo resposta é utilizado comumente para referir-se a
um movimiento realizado pelo organismo. A resposta é o elemento
observável, o qual pode ser registrado em urna análise. Esse é um
termo emprestado da análise dos reflexos, nos quais urna resposta
é eliciada por um estimulo. Porém, nem sempre um estímulo pode
ser apontado corno o eliciador de urna resposta, pois algumas agóes
do organismo “operam” sobre o meio e tém um efeito conseqüente
sobre o organismo (Skinner, 1953/1965; 1957). isso significa dizer
que Skinner aplica o termo resposta também aos operantes, ou
seja, a comportamentos que nao sáo eliciados por estímulos
antecedentes. A relagáo entre os estímulos antecedentes e a própria
resposta, neste tipo de comportamento, é a de estabelecer urna
ñcasiáo para a emissáo da resposta.5 Contudo, tal relagáo náo é
inexoráveí como no caso do reflexo: a resposta pode ou náo ser
omitida, dependendo das variáveis presentes na situagáo.
Como um elemento observável, urna resposta ocorre e
termina no tempo. Ela desaparece nesse tempo e, desse modo,
náo pode ser controlada ou prevista porque já ocorreu. Desde que
urna análise do comportamento busque predizé-lo e controlá-lo, a
resposta náo pode ser a unídade da análise. A análise busca explicar
a resposta que ocorrerá em um tempo'futuro. Assim, a predigáo e
o controle exigem que respostas sejam agrupadas em classes, as
quais ocorrem ao longo do tempo. Ao mesmo tempo, a resposta
tem conseqüéncias sobre o ambiente. Chegamos, entáo, ao
operante: a classe de respostas mantida por suas conseqüéncias.
Temos, assim, que a resposta é urna instancia, um exemplo
ou caso do comportamento. Já o operante designa um tipo de
comportamento, urna classe definida pelas suas conseqüéncias. A
resposta pode ser descrita apenas pela sua forma e o operante
carrega consigo a característica de classe que faz referéncia á
relagáo da resposta com urna variável, o efeito sobre o ambiente.
Deste modo, o que podemos observar é urna resposta, que é um
exemplo singular, mas a análise está preocupada com leis que
determinern, prevejam e controlem resposías futuras, ou seja, a
análise trata da classe de respostas denominada operante.

11Veremos melhor esta relagáo quando discutirmos o conceito de probabilidade de


resposta, logo abaixo.
28 Carm en S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

O tamanho de urna unidade do comportamento verbal pode


variar bastante. Podemos denominar como urna unidade um simples
afixo, um som mínimo de fala ou frases ¡nteiras. O que está em
jogo aqui é o controle funcional, pois sendo o operante definido
como urna classe de respostas mantida por suas conseqüéncias,
ou seja, urna classe na qual cada resposta ocorre como fungáo de
certas variáveis, temos como decorréncia que quando existe controle
funcional, seja em um simples fonema ou em urna longa frase,
estaremos diante de urna unidade de análise (Skinner, 1957). Essas
unidades, principalmente os seus mínimos segmentos possíveis,
seráo de extrema importancia para a explicagáo do surgimento de
novos comportamentos, contida no próximo capítulo.
Em estudos voltados para comportamentos náo verbais,
Skinner apontou que a taxa de ocorréncia de urna classe de
respostas indicaria a torga de um operante (Abib, 1997), ou seja, a
forga de um operante poderia ser obtida por meio da freqüéncia
com que as respostas dessa classe ocorressem em um dado período
de tempo. Entretanto, Skinner (1957) apontou que no caso do
comportamento verbal o dado básico seria transferido da taxa de
resposta para sua probabilidade de ocorréncia. Isso foi necessário
devido a algumas diferengas entre o comportamento verbal e o náo
verbal, apontadas pelo autor. Vejamos porque.
Incialmente, vamos analisar o comportamento reflexo. No
caso dos reflexos o dado básico de análise é, comumente, a
m agnitude da resposta, pois neste tipo de com portam ento
encontramos um aumento gradual da magnitude da resposta durante
um “processo de aprendizagem”. A magnitude, entáo, ordena os
dados obtidos em experimentos com o comportamento reflexo. A
probabilidade de resposta náo é muito útil nesse sentido, pois em
muitas condigóes de estudo a ocorréncia da resposta, dado o
estímulo, é praticamente certa. Porém, quando tratamos dos
operantes, a ocorréncia de urna resposta diante de um estímulo
náo é, como apontado anteriormente, um fato ¡nexorável. A questáo
é que o operante é um fenómeno de emissáo de respostas e náo de
eliciacáo destas, por algum estímulo. O fato é que “nós náo gritamos
nossas respostas mais alto quando aprendemos material verbal.
Nem um rato pressiona a barra com mais forga no processo de
condicionamento” (Skinner, 1950/1972b, p. 73). A magnitude de
urna resposta varia quando algum valor arbitrario de energía de
resposta é diferencialmente reforgado ou em fungáo de variáveis
A abordagem behaviorista do comportamento novo 29

emocionáis, contudo, estes náo sáo tatos da relagáo entre o estímulo


discriminativo e a resposta.
Para que exista alguma ordenagáo dos dados relativos ao
comportamento operante é preciso, entáo, que se encontré outra
variável dependente satisfatória. Este papel é desempenhado pela
taxa de reposta. Quando o individuo “aprende” algum operante,
verifica-se que a taxa de respostas aum enta e quando tal
comportamento é colocado em extingáo, a taxa diminuí. A taxa de
respostas é, segundo Skinner (1950/1972b), o dado que varia de
forma significante para a diregáo esperada, ñas condigóes relevantes
para o processo de condicionamento. Ela permite que a análise
esteja baseada em condigóes observáveis e manipuláveis e também
que seja possível expressar as relagóes destas condigóes em termos,
segundo Skinner, objetivos.
Todavía, se o objetivo da ciencia do comportamento é
previsáo e controle, entáo, é preciso que ¡ídemos com a ocorréncia
de urna resposta no futuro e isso somente é possível por meio do
uso do conceito de probabilidade. É necessário, segundo Skinner
(1950/1972b), que sejamos capazes de avahar a probabilidade de
urna resposta e explorar as condigóes que a determinam. Contudo,
a taxa de respostas náo é urna medida de probabilidade de
ocorréncia de urna resposta, porque a taxa, obviamente, envolve a
própria ocorréncia da resposta. O que acontece é que, para Skinner,
a taxa funciona como um dado apropriado na formulagáo de tal
probabilidade, porque “nunca podemos observar a probabilidade
como tal” (Skinner, 1953/1965, p. 62), apenas podemos observar a
ocorréncia da resposta e, neste sentido, podemos observar a taxa.
Contudo, no caso do comportamento verbal, observar a taxa
de resposta náo seria um dado ordenador para se medir a forga de
urna resposta verbal. Isso porque, diferente de urna situagáo
controlada em laboratorio no estudo do comportamento náo verbal
- na qual o sujeito permanece em um ambiente simplificado e a
escolha do comportamento é direcionada para um comportamento
também simples, como o de pressáo á barra, escolhido por ser
fácilm ente estabeiecido e emitido pelo animal - no caso do
comportamento verbal, temos urna coridigáo peculiar: a taxa, ou
seja, a freqüéncia da emissáo da resposta, náo faz parte de um
episodio verbal natural. A repetigáo de urna mesma resposta náo
se mostra urna tarefa simples como a de pressáo á barra realizada
por um rato, pois dificilmente veremos um falante repetindo muitas
30 Carmen S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

vezes as mesmas unidades verbais (e muito provavelmente se


virmos um individuo repetindo a mesma resposta várias vezes, ele
receberá algum tipo de punigáo da comunidade verbal). Como
parece ser obvio, o falante náo emite a mesma resposta várias
vezes, em seguida, da mesma forma que um rato pressiona centenas
de vezes urna barra no laboratorio e obtém água ou comida. A
probabilidade de que urna resposta verbal ocorrerá em um dado
tempo, entáo, deverá variar atrelada a outras medidas de forga que
náo apenas a sua própria emissáo. Skinner (1957) escreveu:
Algumas partes de um repertorio verbal sao mais prováveis de
ocorrer que outras. Esta probabilidade é extremamente importante,
embora urna difícil concepgáo. Nosso dado básico náo é a
ocorréncia de urna dada resposta com tal, mas a probabilidade
de que ela ocorrerá em um dado tempo. Cada operante verbal
pode ser concebido como tendo urna probabilidade designávei
de emissáo sob circunstancias específicas - convenientemente
chamada de ‘forga’. Nós baseamos a nogáo de forga em muitos
tipos de evidencia, (p. 22)
Como conseqüéncia dessas diferengas, temos entáo que,
como medida de forga, a freqüéncia deixa de ser um dado
interessante. Skinner (1957) comenta que nesse caso torna-se
necessária a troca da taxa de respostas pela probabilidade de que
ela seja emitida. Teremos como dado básico, portanto, náo a
freqüéncia de ocorréncia da resposta, mas sua probabilidade de
ser emitida, ou seja, consideraremos que, em um determinado
ambiente e em um dado tempo, algumas respostas podem ocorrer
com urna maior probabilidade que outras.
Visto que a forga do operante verbal náo é medida pela
taxa de o co rré n cia , S kin n e r (1957) com enta que outras
características das respostas verbais podem ser tomadas para que
a forga délas seja avahada e, nesse sentido, tais características
podem ser tomadas como urna forma de medigáo da probabilidade
de ocorréncia das respostas. Ele considera: 1) a própria emissáo
da resposta; 2) o nivel de energía dessa resposta, como, por
exemplo, a intensidade ou volume em que ela é emitida; 3) a
velocidade da resposta, pois respostas tracas tendem a ser emitidas
de modo mais lento e hesitante e; 4) a repetigáo da resposta, pois
quando urna palavra é emitida várias vezes seguidas, tende-se a
interpretá-la como mais forte no repertorio do falante do que quando
emitida apenas urna vez. É importante destacar, contudo, que tais
a abordagem behaviorista do comportamento novo 31

medidas de forga se combinam e interagem entre si, mas que


i.nnbém tém suas limitagoes. Em alguns casos, quando outras
variáveis estáo atuando, elas podem nao indicar, de fato, forga da
imposta. Um individuo pode faiar baixo, por exemplo, por estar
mn um velorio, situagáo na qual faiar baixo foi reforgado por urna
comunidade verbal, enquanto faiar alto foi provavelmente punido.
I m um caso como este, verificamos que o nivel de energia da
resposta náo corresponde a urna condigao de fraqueza da mesma,
pois passa a depender de outras veriáveis situacionais.
Dito isso, podemos sumariar o que foi aqui apresentado como
i i proposta de análise skinneriana do comportamento verbal. Tendo
em vista que o objetivo principal é a descrigao da topografía da
resposta, bem com o sua e xplicagáo, e que a cie n cia do
comportamento tem o objetivo de predizer e controlar a ocorréncia
de repostas futuras, preocupando-se com urna classe de respostas
denominada operante, podemos concluir que temos entáo como
variáveis dependentes a probabilidade de ocorréncia de urna dada
resposta e, como variáveis independentes, as condigóes das quais
ossa resposta é urna fungáo (Skinner, 1957).
Um dado importante para a análise dos operantes verbais é
que existe urna “independéncia” entre eles, no que diz respeito ás
suas aquisigoes. Para Skinner (1957), os operantes podem atetar
uns aos outros no repertorio do individuo (como poderá ser analisado
no próximo capítulo), entretanto, isso náo significa dizer que a
uquisigáo de um operante garanta a aquisigáo, necessariamente,
de outro operante de tipo diferente, mesmo quando a topografía da
reposta é similar. Por exemplo, urna crianga pode ser capaz de
repetirá resposta “mamáe” logo após sua máe dizer“mamáe” (nesse
caso a resposta seria denominada ecóica) porém ela pode ser
incapaz de pedir pela presenga da máe, chamando “mamáe!”, sendo
incapaz, portanto, de emitir um mando (esses dois tipos de operantes
verbais, ecóicos e mandos, seráo analisados a seguir). Isso ocorre
porque, em diferentes tipos de operantes, a similaridade entre a
forma da resposta náo implica na identidade funcional, ou seja, os
controles dessas repostas sáo diferentes, como veremos a seguir.
As interagóes entre os tipos diferentes de operantes podem
existir. É possível, por exemplo, que os eventos que reforgam um
lipo de operante sejam estímulos discriminativos para a emissáo
de um outro tipo de operante. Se isso ocorre, veremos a crianga do
nosso exemplo anterior emitindo o mando “mamáe!” após ter emitido
32 Carmen S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

a resposta “mamáe!” como ecóica. Vários fatores podem influenciar


esta interagáo entre operantes distintos: a relagáo temporal entre
as respostas, a comunidade verbal, a topografía da resposta, entre
outros aspectos. Porém, para a análise proposta neste texto, apenas
devemos deixar claro que um individuo náo necessariamente
adquire, espontáneamente, um tipo de comportamento apenas por
adquirir outro com topografía similar (Skinner, 1957).
Q ua lq u er o p e ra n te ve rb al é, entáo, e sta b e le cid o
independentemente por meio de condicionamento operante, ou seja,
as respostas emitidas devem ser conseqüenciadas para que haja a
manutengáo ou aquisigáo do operante. Skinner (1957) argumenta
que náo há nada no estímulo antecedente (estímulo discriminativo)
que mostré qual a forma de urna resposta ou que evoque tal resposta.
Urna crianga que está aprendendo a faiar, por exemplo, náo sabe
como repetir urna resposta emitida pelos pais e ouvida por ela. O
estímulo em si náo Ihe diz como proceder para emitir urna resposta
similar á dos pais, ou seja, como movimentar o aparelho vocal para
produzir um som similar ao som produzido pelos pais. Sendo assim,
para que a crianga consiga emitir urna resposta similar á ouvida,
teria que emitir várias respostas, as quais seriam reforgadas, nesse
caso pelos pais ou pela própria crianga como ouvinte de seu
com portam ento, á m edida que gra da tiva m e nte fossem se
aproximando do estímulo auditivo anterior.6
Essas características sáo de extrema importancia para a
educagáo e também para o surgimento de novos comportamentos,
pois, em alguma medida, elas nos dáo um indicio de que, para
Skinner, comportamentos novos e criativos devem ser de alguma
forma propiciados ou produzidos.

4 - OS DIFERENTES TIPOS DE OPERANTES VERBAIS


Evidenciadas algumas características da unidade de análise
do comportamento verbal, é possível que os operantes verbais
possam ser agora descritos.
4.1 - O Mando
O mando foi o primeiro operante verbal comentado
Skinner no Verbal Behavior (1957), talvez pelo fato de que eletenha
algumas características náo comuns aos demais operantes. O que
6 A aprendizagern por aproximapao sucessiva ou modelagem será apresentada no
segundo e terceiro capítulos deste texto.
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 33

caracteriza principalmente um mando é o fato de este ser o único


operante verbal no qual urna resposta náo tem relagáo especificada
com um estímulo discriminativo anterior. Isso náo significa que
este seja um tipo de comportamento indeterminado ou que seus
antecedentes náo tenham qualquer importáncia para sua emissáo.
Como qualquer outro operante, verbal ou náo, o mando passa a
fazer parte do repertorio do individuo por meio de condicionamento
e, dessa forma, a contingencia de trés termos identificada em
qualquer operante se mantém, assim como as relagóes de
probabilidade do comportamento continuam sendo atetadas por
características do ambiente. O que fica em foco no mando,
entretanto, é que o reforgamento está fortemente associado ás
condigóes de estimulagáo aversiva ou privagáo.
A associagáo entre reforgo e condigóes aversivas/privagáo
é resultado do fato de que os mandos tém suas conseqüéncias
padronizadas, de certo modo, ñas diversas comunidades verbais.
Isso significa dizer que, desde que, para um determinado operante,
urna conseqüéncia em urna comunidade verbal seja mais comum
que outras, este operante torna-se fungáo da jungáo de tal
conseqüéncia e do nivel motivacional do individuo. Por exemplo,
se urna crianga pede um doce emitindo o mando “Doce!”, como
conseqüéncia ela muitas vezes recebe um doce (Skinner, 1957, p.
35). Pedir um doce será mais provável se a crianga estiver privada
de doces e menos provável se estiver saciada deles e o fato de
receber doces após pedi-los deve aumentar a probabilidade de que
esta resposta seja apresentada no futuro.
O exemplo acima nos permite verificar outra característica
desse tipo de operante verbal: o mando especifica seu reforgo e,
em alguns casos, especifica o comportamento do ouvinte também.
Vejamos um outro exemplo emprestado de Skinner (1957):~o mando
“Passe o sal” tem como conseqüéncia comum em urna comunidade
o recebimento de sal e, assim sendo, esta resposta náo só especifica
a conseqüéncia, o sal, como também o comportamento do ouvinte,
passar o sal (p. 36).
Há urna outra característica que diferencia o mando dos outros
operantes verbais: suaagáo em “beneficio^ do falante. Em condigóes
de privagáo/estimuFS^ao^avereTvaT^Taíanfe'^fmíé^m mando e é
consequenciado pelo ouvinte, que age ou removendo tal estimulagáo
aversiva, ou suprindo o falante privado com a conseqüéncia
especificada. Entretanto, podemos perguntar: se o beneficio é do
34 Carmen S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

falante, por que o comportamento do ouvinte se mantém? E como o


comportamento do ouvinte tem sua probabilidade de emissáo elevada?
O argumento utilizado por Skinner (1957) para esclarecer essas
questóes desenvolveu-se sobre urna análise do episodio verbal total,
ou seja, pela apresentagáo do comportamento do ouvinte e do falante
em ordem temporal. O comportamento de ambos foi analisado
separadamente, mantendo-se, contudo, o conhecimento e o respeito
ao tempo de ocorréncia natural de um episodio. O que Skinner
pretendeu com essa análise foi a ampliagáo da visualizagáo das
condigóes motivacionais controladoras da resposta do falante
(privagáo ou estimulagáo aversiva) e das contingéncias de reforgo
que mantém o comportamento de ambos, ouvinte e falante. O
exemplo analisado foi um “pedido” de páo: a presenga do ouvinte,
primeiramente, funciona como um estímulo discriminativo para a
resposta do falante, a saber, o mando “Páo, por favor”, visto que a
probabilidade de que o falante mande é aumentada na presenga de
outro. Tal mando, por sua vez, funciona como um estím ulo
discriminativo para o ouvinte, pois estabelece ocasiáo para que ele
emita o comportamento náo verbal especificado pelo mando de passar
o páo. Esse comportamento náo verbal conseqüéncia o mando do
falante e tem o efeito de reforgá-lo. Em seguida, é muito provável
que, em algumas culturas, o falante entáo referee o comportamento
do ouvinte agradecendo pelo páo com urna resposta do tipo “Muito
obrigado”, e que este último referee tal resposta emitindo outra do
tipo “Náo tem de qué” (p. 38). Mesmo que os agradecimentos náo
fagam parte da caracterizagáo de urna resposta como um mando,
estas respostas podem funcionar como um reforgo do comportamento
do ouvinte. Neste exemplo, caracterizado comumente como um
pedido, podemos ver quais os controles independentes que
movimentam o episodio verbal como um todo.
Além disso, outros fatores sáo importantes para a manutengáo
do comportamento do ouvinte. Em algumas situagóes, por exemplo,
Skinner (1957) considera que o falante pode estabelecer urna situagáo
aversiva, da qual o ouvinte somente pode sair quando medeia
adequadamente a conseqüéncia do mando. Essas situagóes sáo
geralmente conhecidas como ordens. Um exemplo fornecido por
Skinner, é o de um assalto: o falante diz “Máos ao alto. Seu dinheiro
ou sua vida!” (p. 38) e o ouvinte somente pode se livrar da ameaga
cedendo o dinheiro ao falante. Assim, diferentes formas de mandos
estabelecem diferentes situagóes para o ouvinte e podemos, entáo,
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 35

entender porque o comportamento do ouvinte de mediar a conseqüéncia


para o comportamento do falante é mantido.
A ssim , podem os co m p re e n d e r que, na verdade. a
probabilidade de reforgo para os mandos varia bastante, dependendo
de continaéncias sociais muito complexas. Por exemplo, quando
perquntamos as horas ou pedimos informaqáo sobre a localizaqáo
de cuna rúa, é muito provável que o ouvinte reforcé o mando
¡^formando as horas ou a localizaqáo da rúa (se o ouvinte tiver
relóqio ou souber a localizacao da rúa); ia um peainte que aborda
várias pessoas pedindo comida ou dinheiro provavelmente fará
muitos pedidos sem sucesso e seus mandos seráo reforqados em
esquema bastante intermitente.
Os mandos, como pode ser observado em nossos exemplos,
podem ser compreendidos como o que costumamos chamar de
pedidos, ordens, súplicas, perguntas, etc. Contudo sua classificaqáo
difere das classificagoes consideradas por Skinner (1957) como
tradicionais, as quais se baseiam, em geral, na intengáo do falante.
Isso porque, a análise skinneriana está fundamentada ñas várias
contingencias que atuam sobre o comportamento do ouvinte. Assim,
um mando pode ser considerado urna “ordem”, como vimos, se o
falante estimula aversivamente o ouvinte de forma que este somente
pode sa ir da situagáo aversiva se m ediar a conseqüéncia
especificada. Já urna “súplica” é um mando que gera urna disposigáo
emocional no ouvinte para promover o reforgo. Urna “pergunta”,
por sua vez, é um mando que especifica urna agáo verbal por parte
do ouvinte, por exemplo, ao dizer seu nome diante de “Qual é o seu
nome?” (p. 38). Quando ao executar a agáo especificada pelo mando
o ouvinte tem conseqüéncias positivas, o mando é um “conselho”.
Em urna “adverténcia” ou “aviso”, o ouvinte, ao atender o mando,
tem como conseqüéncia escapar de estimulagáo aversiva, como
em “Se beber, náo dirija”. Urna “permissáo” é um mando que cancela
urna ameaga que impedia o comportamento do ouvinte (“Podem
sair agora!”). Um “oferecimento” estende para o ouvinte reforgadores
disponíveis para o falante (“Pegue um!”). Por fim, um “chamado”,
é um mando em que, depois que o ouvinte atende ao mando, o
falante emite outro comportamento que funciona como reforgo para
o ouvinte. Neste último caso o “chamar” pode servir para atrair a
atengáo ou ser um vocativo, como chamar pelo nome. Assim,
Skinner tenta remover o critério de classificaqáo de dentro do falante,
36 Carm en S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

o que em seu modelo científico seria inaceitável, e tenta manté-lo nos


elementos observáveis.
Além das contingencias que afetam a probabilidade do ouvinte
fornecer a conseqüéncia para o mando, Skinner (1957) procura lidar
também com outros aspectos da resposta de mando (assim como
de outros operantes verbais) que ele denominou de propriedades
dinámicas. A probabilidade de emissáo das respostas verbais, assim
como a intensidade das respostas pode variar em urna escala bastante
grande. Por exemplo, o falante pode emitir um mando breve e em
baixo tom de voz ou pode emiti-lo repetidas vezes e em intensos
gritos, dentre outras possibilidades. Estas propriedades devem
interferir na probabilidade de eníissáo da resposta do ouvinte e na
intensidade em que será emitida tarrlbém. As variagóes na resposta
do falante, segundo Skinner, acontecem porque este pode estar em
diferentes estados de privagáo ou estimulagáo aversiva e porque pode
ter diferentes historias de reforgamento em emitir respostas do tipo.
De urna forma mais objetiva, isso significa dizer que o falante pode
ter sido reforgado em situagóes passadas ao em itir mandos
estabelecendo fortes condigóes aversivas ao ouvinte, por exemplo,
talando em um volume incomodó e fazendo ameagas. Ao mesmo
tempo, um forte estado de privagáo ou estimulagáo aversiva pode
levar a urna resposta com maior intensidade. Além disso, o status
superior do falante, ou seja, a condigáo estabelecida pelo faiante
anteriormente de propiciar situagóes de ameaga ou de perdas de
reforgadores para o comportamento do ouvinte, pode ser determinante
na obtengáo da conseqüéncia. Um chefe, por exemplo, pode, mesmo
com baixa intensidade de voz, estimular o ouvinte aversivamente, de
forma a obter a conseqüéncia desejada. .Da mesma forma, a
jntensid_ade.eaprobabilidade da resposta do ouvinte variam de acordo
com, além da própria predisposigáodo ou^rifeTernresponder ao mando
cfctilanfeT a efetividade daestimulagao aveTSiva'que'ófalante prqduz,
1S^ —« — — *"* - I *— ■ I- I i — I 1 ^ ^ —
3em cor
4.2 - O Comportamento Ecóico
Após esta breve apresentagáo do mando podemos passar á
descrigáo de q ua tro o utro s tip o s de o pe ra n te s ve rb a is:
comportamentos ecóico, textual, intraverbal e tacto. Eles tém em
comum sua relagáo especificada com um estímulo anterior, pois,
diferentes do mando, esses tipos de operantes verbais sáo
reforgados por conseqüéncias generalizadas, tais como estímulos
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 37

que indicam atengáo ou aprovagáo: contato visual, um sorriso, um


aceno com a cabega ou mesmo urna resposta verbal do tipo “Muito
bem!”. Assim, ao contrário do que ocorre no caso do mando, náo
há especificagáo do reforgo inclusa na resposta e prevalece um
controle frouxo pelos estados motivacionais do falante. O controle
principal é exercido pelo estímulo anterior, ou seja, por um estímulo
discriminativo. ,lSkinneri.1957t argumenta que o controle restrito
presente no mando, da privagáo ou estimulagáo aversiva em jungáo
com conseqüéncias fortémenté definidas pela comunidade verbal,
ñesses casos deu lugar a outro tipo de controle exercido agora por
um estímulo presente no ambiente do falante.
O primeiro desses comportamentos á ser abordado por
Skinner (1957) é o comportamento ecóico. Nesse tipo de operante
tem-se urna resposta verbal a qual produz um som similar ao som
do estímulo, ou seja, há urna resposta vocal controlada por um
estímulo verba! auditivo. Ó controle da resposta, nesse caso, é
cfeTloifíínaSo'co^ controle formal, visto que o som da resposta
corresponde ponto a ponto ao som produzido pelo estímulo7.
Um ecóico pode ter como estímulo antecedente um mando
do tipo “Diga X”, após o qual a resposta mais comumente reforgada
pela comunidade verbal é “X”. Entretanto, os ecóicos sáo bastante
comuns na ausencia de tais mandos. Por exemplo, em experimentos
que utilizam “associagáo de palavras”,'o experimentador instruí o
participante a Ihe dizer qualquer palavra que Ihe ocorra após ouvir
do próprio experimentador urna palavra qualquer. O participante
náo pode repetir a palavra produzida pelo experimentador. . Como
resultado, há muitas vezes um comportamento ecóico fraamentário.
com aljtilizagáp de rimas ou aliteragóes (Skinner, 1957, p. 56).
Urna sítuagao^xpM rn^tal como essa serve para ilustrar que
o comportamento ecóico é mais comum do que imaginamos. Em
situagóes naturais de conversas, por exemplo, esse tipo de operante
ocorre normalmente quando o falante emite determinada palavra, a qual
é repetida pouco depois por outro falante na continuagáo do diálogo
(um falante diz “dilema” no lugar de “problema” e o outro falante, por
este motivo, diz “dilema” também) ou alguma outra palavra de som
sim ilar é empregada (um fragm ento ecóicoj. Em situagóes

7O operante ecóico está relacionado ao que tradicionalmente denominamos de “¡mitapao”


vocal. O operante ecóico é, contudo, definido de forma mais precisa, em termos da
relagáo de controle entre o estímulo discriminativo e a resposta e pode i' icluir instancias
que normalmente náo chamaríamos de imitagáo.
38 Carm en S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

educacionais, um adulto que ensina a urna crianga o nome de um


objeto, muitas vezes o faz pedindo que a crianga repita o nome diante
do objeto. Nesse caso, o comportamento ecóico torna-se um facilitador
da aquisigáo de um outro tipo de operante verbal, a saber, o tacto (em
que a crianga, diante do objeto, diz o seu nome), o qual será analisado
mais tarde. Por estas e outras razóes, um repertorio ecóico é bastante
útil para o individuo e é estabelecido, principalmente, por meio de reforgo
educacional. Contudo, o reforgo próvido pela comunidade verbal para
esse tipo de operante verbal é variado, devido também ás suas múltiplas
fungóes. O fato de por meio de esse comportamento o falante poder
reconstruir um estímulo e reagir a ele de outras formas é urna
conseqüéncia naturalmente reforgadora do ecóico. Em situagóes
complicadas também é possível encontrarmos o falante repetindo o
que ouviu para, assim, tomar urna decisáo, por exemplo.
Segundo S kinner (1957), é bastante comum que o
comportamento ecóico seja confundido com respostas de auto-
estimulagáo, ñas quais o individuo costuma repetir atualmente algo
aprendido no passado. Porém, é possível diferenciar um ecóico
desses outros tipos de respostas. A questáo crucial para que tal
distingáo possa serfeita é a relagáo temporal com o estímulo verbal
que o individuo repete: o compojtamento é ecóico se o estímulo
verbal ocorre logo antes da resposta e funciona como estímulo
discriminativo para ela. Por outro lado, quando urna resposta
ácTquiñcla no passado é dita em urna ocasiáo presente, ela náo está
sob controle discrim inativo do estímulo vocal que a originou
anteriormente, mas sim, de outros estímulos discriminativos atuais
do ambiente do falante e, desta forma, náo pode ser considerada
um comportamento ecóico de acordo com sua definigáo. (A questáo
das relagóes temporais entre estímulo discriminativo, resposta e
conseqüéncia é bastante complexa na análise skinneriana. Contudo,
náo abordaremos essa questáo neste texto).
4.3 - O Comportamento Textual
Outro tipo de operante verbal sob controle de variáveis
similares ás controladoras do ecóico é o comportamento textual.
Neste tipo de operante verbal tem-se o estímulo visual ou tátil (no
caso do B ra ille ) co n tro la n d o urna re sposta vocal. Mais
especificamente, o comportamento textual seria comportamento
vocal controlado por estímulos verbais escritos ou impressos,
conhecidos como texto (Skinner, 1957). A correspondencia entre o
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 39

estímulo verbal antecedente e a resposta, nesse tipo de operante,


também é ponto a ponto, como no comportamento ecóico, porém
em sistemas dlmensionais diferentes.
O termo “comportamento textual.” como definido por Skinner

Skinner faz, no entanto, urna distingáo entre comportamento textual


e leitura. Comportamento textual é símplesmente a producáo, diante
de um texto, da resposta verbal correspondente. A leitura envolvería,
além disto, a “compreensáo” do texto, o que ocorreria quando o
individuo pudesse reagir apropiadam ente como ouvinte a seu
comportamento textual. O comportamento textual poderia, nesse
caso, ocorrer mesmo quando o individuo náo compreende o texto.
Isto poderia ocorrer quando, por exemplo, um individuo que sabe
ler em portugués pronuncia corretamente as palavras de um texto
em latim, sem, no entanto, compreender o texto.
Assim como os ecóicos, o com portam ento textual é
amplamente reforjado na comunidade verbal que o mantém. Há
principalmente reforgo educacional fornecido na aquisigáo de um
repertorio de leitura. Porém, o comportamento textual pode ser
naturalmente reforgador porque permite que o individuo possa reagir
adequadamente a contingencias envolvidas em muitas situagóes
práticas, pois na maioria das comunidades verbais de hoje, o individuo
capaz de ler o que encontra á frente po'de, com isso, ampliar suas
chances de sucesso, bem como evitar estimulagáo aversiva.
O comportamento textual, assim como o comportamento
ecóico, também é amplamente reforgado pela fungáo de possibilitar
a aquisigáo de outros tipos de operantes verbais, como os tactos e
os ¡níraverbais. Em um “dicionário ilustrado” , por exemplo, as
resposías textuais evocadas na presenga das figuras podem evocar
respostas de nomeagáo daquelas figuras, posteriormente. Da
mesma forma, um dicionário náo ilustrado pode passar a evocar
respostas intraverbais (Skinner, 1957, p. 67), as quais seráo
analisadas a seguir.
Por outro lado, no com portam ento textual náo há o
reforgamento diferencial automático que ocorre no comportamento
ecóico. Neste último, um falante pode “detectar” automáticamente
o grau de semelhanga entre sua produgáo ecóica e o estímulo verbal
correspondente, de modo que o grau de semelhanga reforga
aproximagóes cada vez maiores ao estím ulo discrim inativo,
i )íodelando, assim, um repertorio ecóico cada vez mais preciso8. Náo
40 Carmen S, M. Bandini & Julio C. C. de Rose

há essa possibilidade de “detectar” respostas ¡ncorretas no inicio da


aquisigáo do comportamento textual. Somente á medida que o
individuo desenvolve um repertorio de ieitura é que ele passa a
identificar respostas textuais incorretas, quando elas comprometen!
o sentido do texto.
4.4 - O Comportamento Intraverbal
Assim como os comportamentos ecóico e textual, existe
ainda mais um operante verbal sob controle de um estímulo verbal
anterior descrito por Skinner (1957). Esse tipo de operante verba!
náo mostra nenhuma correspondencia ponto a ponto entre o estímulo
e a resposta. O que existe aqui sáo estímulos vocais ou escritos
evocando respostas também vocais ou escritas. O estímulo verba!
anterior pode ter um tamanho completamente diferente do tamanho
da resposta correspondente, como, por exemplo, o estímulo “Dois
mais dois” evocar a resposta “Quatro”. Muito do comportamento
verbal que adquirimos sáo respostas desse tipo, como definigóes,
regras e fatos aprendidos na escola, deciamagóes de poesías sem
apoio de estimulagáo textual, algumas metáforas padronizadas,
máximas, ditados populares, tradugóes entre línguas, etc..
O com portam ento intraverbal tem a característica de
comportar urna seqüéncia de respostas que pode ser fácilmente
exemplificada com o cantarolar de urna cangáo ou de um hiño corno,
por exemplo, o Hiño Nacional brasileiro. Urna resposta controla a
emissáo da resposta subseqüente, entretanto, as respostas náo
estáo, necessariamente, sob o controle do elo ¡mediatamente
anterior. Sendo assim, urna vez interrompida tal seqüéncia é possível
que o individuo náo consiga retomá-la apenas emitindo o elo
precedente e, em certos casos, torna-se necessário que o individuo
emita toda a seqüéncia desde o seu inicio. Se, por exemplo, ao
cantar o Hiño Nacional, o individuo náo emitir um elo subseqüente,
muitas vezes será necessário voltar ao comego. Outro fator que
interióre na relagáo de controle do intraverbal é a emissáo de dois
elos iguais, os quais podem evocar respostas incorretas. Por
exemplo, ao cantara segunda parte do Hiño Nacional, urna pessoa8

8 O principal requisito para isso é que o falante tenha boa audigáo. Esta é urna das
principáis dificuldades na aprendizagem da linguagem oral porcriangas com deficiencia
auditiva, pois elas nao podem “detectar" a similaridade de suas produgoes vocais com
os modelos fornecidos pela comunidade verbal e deste modo náo podem adquirir um
repertorio ecóico.
A abordagem behaviorista do comportamento novo 41

pode, depois de “O Pátria amada, idolatrada, salve, salve!”, prosseguir


incorretamente com o elo que se segue a este trecho na primeira parte:
“Brasil, um sonho intenso, um raio vivido...”.
Um repertorio intraverbal também se constituí por meio de
condicionamento operante. Várias respostas sáo reforjadas pela
comunidade para um determinado estímulo: a resposta “um, dois,
tres” pode evocar outras respostas como “quatro, cinco¡ seis, sete...”
ou “tres, dois, um” ou “fogo!". Experimentos realizados com
associagáo de palavras.exempllficam tais possibilidades e indicam
que as respostas emitidas dependem da historia do falante.
4.5 - O Tacto
O termo tacto, criado por Skinner (1957), designa um tipo
de operante mantido por reforgo generalizado e controlado por
estímulos discriminativos náo verbais, tais como objetos, eventos,
ou propriedades de objetos ou eventos. Respostas como “cadeira”,
“carro vermelho”, “está chovendo”, “gol do Corinthians”91 0ou “meu
dente dói” podem ser exemplos de tacto. No entanto, a topografía
da resposta por si só náo assegura que ela seja um tacto, é
necessário que o operante seja m antido por reforgam ento
generalizado e o estímulo discriminativo seja algum aspecto do
ambiente náo verbal. Essa é a principal característica que torna o
tacto diferente dos demais operantes já descritos. No mando, a
énfase é colocada ñas condigóes de privagáo ou estimulagáo
aversiva. Nos comportamentos ecóico, textual e intraverbal existe
um estímulo discriminativo verbal que estabelece a ocasiáo para a
ocorréncia de urna resposta verbal. No.caso do tacto, o estímulo
anterior nao é verbal e sim urna proprieda3eHb ámhiftntft rñ m tu im
to3o ourcomoBerTominou SkfnrjefTuma"pfopriedade “do mundo do

" Este exemplo provocou acirrada discussáo entre os autores: o segundo autor defendía
que o gol fosse do Santos, mas a primeira autora exigiu que fosse do Corinthians.
10 É importante salientarmos que em alguns casos o tacto pode náo ser controlado,
efetlvamente, por urn objeto, um evento, ou por urna propriedade de um objeto ou evento.
As “mentiras” sáo exemplos de urna espécie de distorgáo do controle de estímulos.
Em casos especiáis de generalizagáo do reforgo, o falante pode passar a emitir respostas
que aumentam ou inventam fatos. Por exemplo, urna crianga perdeu o dinheiro dado
pela máe para comprar doces. Ao chegar em casa ela conta a máe que perdeu o
dinheiro e a máe Ihe dá dinheiro outra vez. O reforgo neste caso pode manter a resposta
de dizer que perdeu o dinheiro, sem que, de fato, isso tenha acontecido. Neste caso,
como disse Skinner (1957), o controle de estímulos é quebrado e o falante pode passar
11 descrever cenas que náo aconteceram: “como um artista criativo, o comportamento
dele (falante) é controlado agora, inteirarnehte, pelas contingencias de reforgo" (p. 150).
42 Carmen S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

qual o falante diz ‘faiar sobre" . O próprio termo tacto sugere

ante é que o
tacto atua em "beneficio” do ouvinte, ao contrario do mando. Ele
aumenta o contato do ouvinte com o próprio ambiente (coisas e
eventos) e essa é urna das razóes apontadas por Skinner (1957)
para que a comunidade verbal reforcé esse operante.
O controle exercido sobre o tacto pelo estímulo discriminativo
náo verbal se deve a um tipo de reforgamento similar ao dos
comportamentos ecóico, textual e intraverbal: o reforgo generalizado.
Quando o reforgador de um tacto é exclusivamente um reforgo
generalizado, temos o que Skinner (1957) denominou de tacto puro.
Entretanto, esse tipo de operante náo é muito comum e, em geral,
os tactos sáo misturados a características de outras relagóes verbais,
como, por exemplo, ás relagóes de mandos. Nesse último caso,
temos tactos impuros. Um exemplo de tato impuro seria a resposta
“está chovendo” dita por urna máe ao filho, em parte sob controle
discriminativo do evento (chover) e em parte porque esta resposta
produziu, no passado, urna conseqüéncia específica, o filho pegar
o guarda-chuva, de modo que “está chovendo” seria, em parte, urna
forma abrandada do mando “peque o guarda-chuva”.
O controle de estímulos nos tactos tem urna característica
peculiar: dois processos importantes, que atuam como reguladores
entre si, estáo presentes no estabelecimento deste tipo de operante,
a saber, a generalizagáo do controle de estímulos, responsável pelas
extensóes dos tactos11(as quais originam, por exemplo, as metáforas)
e a abstragáo. No primeiro caso, a generalizagáo do controle de
estímulos, ela é responsável pela ampliagáo do número de estímulos
discriminativos responsáveis pela ocasiáo na qual urna resposta
poderia ser emitida e com isso, o aumento das possibilidades de
emissáo de tactos. Isso acontece porque quando urna resposta,
membro de urna classe, é reforgada em urna dada ocasiáo, qualquer
estímulo ou propriedade de estímulo presente na ocasiáo pode exercer
controle sobre a emissáo daquela classe de respostas. Assim, em1 2

11As extensóes seráo analisadas em nosso próximo capítulo. Para o momento, apenas
consideraremos superficialmente o processo.
12 Assim como a extensáo está relacionada com o processo de generalizagáo, a
abstragáo está relacionada com o processo de discriminagáo: urna resposta é reforgada
somente em presenga de urna propriedade de estímulo e náo é reforgada na ausencia
desta propriedade. Falamos de abstragáo quando o que é discriminado é urna
propriedade abstrata dos estímulos, como a cor, forma, numerosidade etc., lim a
A abordagem behaviorista do comportamento novo 43

situagóes futuras, ñas quais o estímulo, ou alguma propriedade sua,


estiver presente, a resposta poderá ser emitida. No segundo caso, o
da abstragáo, tem-se o contrário, ou seja, a redugáo das situagóes
onde os tactos podem ser emitidos12. Tal restrigao é oriunda do
reforgamento próvido pela comunidade verbal, no qual urna resposta
é colocada sob controle de propriedades específicas de objetos ou
eventos (Skinner, 1953/1965; 1957). Á medida que a aeneralizacáo
expande o controle de estímulos, a abstragáo age no sentido inverso,
estabelecendo o controle cada vez mais restrito por propriedades ou
djmensóes dos estímulos tais como cor, forma, tamanho, peso. Assim,
respostas como “redondo”, “leve”, “agudo”, “intenso", “numeroso", etc.,
sao controladas pela propriedade específica, independentemente do
objeto, evento ou situagáo em que ocorram: a resposta “redondo (a)”
pode ocorrer diante de urna moeda, urna'bandeja, a íua, etc/. O
processo de abstragáo pode cstabeíecer respostas sob controle de
propriedades muito suíis como, por exemplo, quando o falante designa
o estilo de urna obra de arte.
O tacto parece ser considerado por Skinner (1957) como o
mais importante dos operantes verbais. Ele coloca o individuo em
“contato” com o mundo e também com o próprio mundo privado. O
que Skinner chama de “o mundo de dentro da pele”, ou seja, a
estimulagáo da qual apenas o próprio falante tería acesso, como
nossos sentimentos, por exemplo, com o uso do tacto, pode se
tornar pública (ou, como veremos a seguir, voltar a ser pública).
O fato de se encontrar “dentro da pele” do individuo náo faz,
segundo Skinner (1957), com que esse tipo de estimulagáo seja
diferente fisicamente da estimulagáo pública. A diferenga encontra­
se apenas na forma como a comunidade verbal tem acesso a esta
estimulagáo de maneira que possa modelara sua descrigao por parte
do individuo. Essa é urna questáo bastante curiosa e polémica da
análise skinneriana: segundo esse autor, o individuo náo seria capaz
de descrever o que se passa “dentro de sua pele” sem a presenga da

característica peculiar da abstragáo é que, segundo Skinner (1953/1965; 1957), esta


é um processo particularmente verbal. Isso se deve ao fato de que náo parecem existir
contingéncias naturais que reforcem urna resposta determinada apenas na presenga
de propriedades abstratas dos estímulos. Assim. se somente por meio dn:. I' m IIcu-.
culturáis é que os tactos abstratos se tornam'pqssíveis, entáo, poden wvi vi lililí ............
rif^ a „é ^ p m irw ^ -m fld ia d o _ p .or outro organismo, ou se ia . uim n n lin lm u to ó

de que urna.CQnliaaéncia natural oriqinasse um tacto absli.ii' ........ M llidh ih |U"


urna considerapáo como essa tem apenas um oarátor ......... ..........
44 Carmen S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

comunidade verbal, pois é a comunidade verbal que o ensina a


descrevertal estimulagáo privada, assim como ela ensina o individuo
a descrever a estimulagáo externa. Porém, quando o individuo
aprende a descrever a estimulagáo externa, esta é acessível a ele e
á com unidade verbal, de modo que esta pode reforgar
diferencialmente a acurácia das respostas. Assim, quando urna crianga
está aprendendo a dizer o nome de cores, ela é reforgada por ouvintes
adultos quando diz o nome correto e é corrigida quando diz um nome
errado. Nesse caso, o reforgamento diferencial pode ser feito de
maneira bastante acurada porque o adulto também enxerga as cores.
Mas, se imaginarmos urna comunidade verbal composta apenas por
pessoas que náo tém visáo de cores, urna crianga que tivesse visáo
normal de cores poderia náo aprender a descrevé-las, porque a
comunidade verbal náo poderia reforgar diferencialmente a resposta
para cada cor específica.
A situagáo da crianca que aprende a descreverseus eventos
privados eT^ecertoririodo. parecida com a da crianca que ve cores
nüma comunidade verbal de pessoas sem visáo de cor, pois ninguém
na comunidade verbal pode sentir as dores ou as emogóes que a
crianga sente. Mas a comunidade verbal consegue, por meios
paralelos, estabelecer um repertorio descritivo dos estímulos
privados, mesmo sem poder sentir o que está dentro da pele da
crianga.
Skinner (1957) descreve quatro maneiras pelas quais um
individuo pode aprender a descrever estímulos privados. Ñas duas
primeiras, a comunidade verbal reforga diferencialmente as respostas a
eventos privados. O processo é semelhante á modelagem de respostas
a estímulos públicos como, por exemplo, cores, com a diferenga de que
a comunidade verbal, sem poder sentir diretamente o que está dentro
da pele do individuo, baseia-se em eventos correlatos para poder fornecer
o reforgo diferencial. Na primeira maneira citada por Skinner, estes
eventos correlatos sao estím ulos públicos que norm almente
acompanhani a estimulagáo "privada. Com báse nestés estímulos
púbilcosTpór exemplo, urri ouvinte adulto pode muitas vezes, dar modelos
para tactos de eventos privados por parte de urna crianga, assim como
reforgar ou corrigir os tactos da crianga.. Por exemplo, o filho de um dos
autores deste livro, numa noite em que havia ficado acordado até bem
mais tarde do que sua hora habitual de dormir, disse que sentia dor.
Urna condigáo pública, ou sejá, a hora tardia para a crianga, permitiu
ao pai inferir que a estimulagáo privada da crianga náo era dor, mas
sim cansago, de modo que foi possível fo rn e ce r o modelo
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 45

para a resposta adequada. A segunda maneira citada por Skinner é


bastante similar, só que os eventos públicos correlatos sáo respostas
coiaterais á estimulagáo privada, como um individuo com dor de dente
que ieva á máo á bochecha. Na terceira forma citada por Skinner, a
comunidade ensina urna resposta a estímulos públicos e esta resposta
acaba sendo estendida a urna estimulagáo privada, com base em
propriedades comuns, como quando um individuo diz “eu estou
fervendo”. Urna quarta maneira citada por Skinner envolve a descrigáo
de comportamentos que diminuíram de escala até se tornarem
encobertos. Negses.casos, a comunidade ensina o individuo a
descrever seus comportamentos públicos e muitas vezes o próprio
individuo pode aplicar estas descrigóes a comportamentos similares
que se tomaram encobertos!
Nesse sentido, o tacto de eventos privados leva a um
conhecimento de si, que é posterior ao conhecimento do mundo,
pois as respostas sobre eventos privados somente podem ser
emitidas após respostas sobre eventos públicos terem sido
aprendidas. Outra conseqüéncia interessante dos tactos privados é
que o relato desse tipo de eventos náo pode ser considerado de
total confianga: a comunidade verbal pode náo ter reforgado
respostas adequadas para descrevé-los, por exemplo, e a acuidade
da descrigáo passa a ser efeito da acuidade com que determinada
comunidade reforga as respostas do individuo, variando, assim, de
comunidade para comunidade.

5 - OS AUTOCLÍTICOS
O último tipo de operante a ser tratado por Skinner (1957) foi
denominado autoclítico. Os autoclíticos, assim como os tactos,
represeníam um ponto importante na análise skinneriana do
comportamento verbal também relacionado ás discussoes acerca
da compreensáo do sujeito na teoría Behaviorista Radical. Vejamos
por que. Até o momento, o tratamento dos operantes verbais deixou
de lado algumas respostas verbais, tais como “se”, “portanto”, “que”,
entre outras, ou seja, deixou de tratar de respostas que sáo comuns,
porém náo sáo identificáveis como nenhum dos operantes verbais
descritos até aqui. Tais respostas costumam ser interpretadas, ñas
teo rias co nside ra da s com o tra d ic io n a is pelo autor, com o
“comportamentos intencionáis” do falante, porsugerirem urna agáo
intencional dó falante ao construir suas respostas verbais. Isso
porque, tais comportamentos sugerem selegáo e organizagáo,
46 Carm en S. M. Bandini & Juiio C. C. de Rose

aumeníam a énfase de urna resposta verbal, formulam condicionáis,


indicam se a resposta refere-se a um evento passado, entre outras
fungoes. Mas se a intengáo do falante náo é urna causa para o
comportamento, na visáo skinneriana de ciencia, como estas
respostas podem ser explicadas por Skinner?
O que acontece é que, apesar de dissolver um agente interno
controlador dos comportamentos verbais, a análise behaviorista radical,
segundo Skinner (1957), náo argumenta em favor de um falante que
náo ¡nterage com seu ambiente e que responde a estímulos sem saber
o que diz ou o que quer dizer. Contudo, como vimos apresentando até
o momento, Skinner também náo poderia, a esta altura, argumentar
em favor de conceitos considerados por ele como mentalistas para
satísfazer esta espécie de “consciencia” em manipular o próprio
comportamento verbal, de que dispóe o falante. A análise dos
autoclíticos, entáo, deve, necessariamente, ser voltada para urna
explicagáo que dé conta da produgáo deste tipo de comportamento,
mas que permanega no ámbito do modelo de ciencia aqui descrito.
Para efetuar tal tarefa, Skinner (1957) argumenta que o
comportamento verbal do individuo pode, da mesma forma que os
demais estímulos discriminativos relacionados aos outros operantes,
ser ele mesmo condigáo antecedente para a produgáo de repostas
verbais, controlando assim, a emissáo de outros operantes verbais.
Isso significa dizer que o próprio comportamento verbal do falante,
como um evento físico, pode ser discriminativo para a emissáo de
respostas verbais. Desse modo, podemos dizer que comportamento
como um estím ulo produzido no ambiente pode controlar o
comportamento verbal, ou seja, alguns dos comportamentos do falante
podem controlar outras partes de seu próprio comportamento. A
diferenga deste tipo de relagáo de controle, para as especificadas para
os demais operantes verbais controlados por estímulos discriminativos
verbais, é que, o efeito da reposta autoclítica modifica a agáo do ouvinte
a um outro operante verbal. Por exemplo, se sob um determinado
estado de privagáo o falante emite um mando, ele poderá ter maior
probabilidade de ser atendido se a resposta for, “Água, por favor” e
náo apenas “Água!”. O autoclítico, entáo, existe apenas acompanhado
de outros operantes verbais. Os autoclíticos, seguindo esta definigáo,
tém a fungáo de tornar o comportamento do falante mais efetivo, porque
indicam ou urna propriedade da resposta do falante ou urna propriedade
da circunstancia sob a qual tal resposta ocorre. Dito isso, podemos
descrever algumas fungóes dos autoclíticos, relacionadas a
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 47

comportamentos como selegáo, organizagáo ou énfase de urna resposta


verbal, como anunciado anteriormente.
A primeira destas fungoes apresentadas por Skinner (1957)
foi denominada pelo autor como fungáo descritiva. Segundo Skinner,
um autociítico descritivo pode descrever qual espécie de operante
o acompanha, quando, por exemplo, o falante utiliza urna resposta
como “Eu declaro...”; pode descrever a forga da resposta por meio
de autoclíticos como “Eu suponho...”; designa as relagóes entre a
resposta e outro comportamento verbal, do ouvinte ou do falante,
ou mesmo das circunstancias sob as quais ele ocorre, quando o
falante utiliza autoclíticos como “Eu admito que...” ou, pode aínda,
indicar as condigóes emocionáis do falante quando o autociítico
utilizado é do tipo “Sinto-m e feliz em d ize r...”, entre outras
possibilidades (pp. 315-316).
Assumindo outras fungoes, os autoclíticos também podem
ser qualificadores, principalmente dos tactos, informando o que
costumamos denominar de afirmagóes (“é”, “sim”, “certamente”, etc.)
ou negagóes. No caso das negagóes a discussáo torna-se
interessante porque indica como Skinner (1957) pode lidar com as
respostas verbais que descrevem eventos que náo aconteceram,
objetos que náo existem ou que náo estáo presentes no momento.
Essa é urna questáo controversa porque tais descrigóes náo podem
ser definidas tomando-se como base a* relagáo de tacto, visto que
um tacto está sob controle de um objeto, evento, ou de propriedades
de um objeto ou evento, ou seja, está sob controle de algo que está
presente no momento (ou que esteve presente ¡mediatamente
antes). Desta forma, como explicar urna resposta como “Náo está
chovendo, agora”? Dito de maneira mais clara, como explicar urna
resposta que descreve urna propriedade do ambiente que náo está
acontecendo no momento? Skinner comenta que respostas deste
tipo podem acontecer sob controle de outras respostas verbais e
u,'io pelo controle do objeto ou evento que costuma estimular aquela
■posta. Mais precisamente, isso significa dizer que tais respostas
ni ser fungáo de estimulagáo verbai, gerada pela comunidade,
- orno no seguinte exemplo fornecido por Skinner: o falante ouve a
pergunta “Está chovendo?” que controla sua resposta “Náo, náo
ustá chovendo” (p. 322). Contudo, em algumas outras ocaslóes, o
estimulo que controla a resposta á qual o autociítico acompanha pode
sor náo verba!. Por exemplo, algumas gotas de água podem controlar
48 Carm en S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

a resposta “Está chovendo” e o falante pode dizer “Náo, isto náo é


chuva” (pp. 32.2-323).
Outra fungáo importante dos autociíticos, descrita por Skinner
(1957) é a quantificadora. Aqui, como no caso dos autoclíticos
qualificadores de negagáo, a análise skinneriana abre caminho para
discussóes importantes porque tem relagáo direta com questóes de
análise iógica e lingüística. Mais precisamente, em muitos dos casos,
o autor deve lidar, mais urna vez, com respostas que náo podem ser
simplesmente entendidas como tactos. Vejamos um exemplo
emprestado de Skinner: na resposta “Todos os cisnes sáo brancas”,
Skinner deve admitir que seria impossível que o falante entrasse em
contato com todos os cisnes do mundo, para, entáo, emitir um tacto
como este. O falante pode, no máximo, talar por todos os cisnes que
já viu. Por este ¡imite de contato com o objeto, a partícula “Todos” do
exemplo utilizado, somente pode ter fungáo de exprimir “Sempre” ou
“Sempre é possível dizer isto”, ou seja, refere-se apenas a historia do
falante com o objeto, no caso, os cisnes (p. 329). O uso de “Todos” é
mantido pela comunidade porque modifica a reagáo do ouvinte para o
operante que acompanha este autociítico, neste caso, o tacto. O
ouvinte pode agir adequadamente em relagáo a resposta, porque com
o autociítico o falante especifica em algum grau a experiencia que
tem com os objetos dos quais está faiando.
Além dessas fungoes, Skinner (1957) afirma que muitas das
características do comportamento verbal envolvem a emissáo de
autoclíticos. A ordem na qual diferentes sons aparecem ñas palavras
ou de como as palavras sáo apresentadas em urna frase ou ainda a
ordem de relevá.nc.ia na qual jas variáveis devem ser apresentadas,
o u mesmo a pontuagao' u tilizada perdem ser consideradas,
geralmente, fungóes autocíticas. Isso porque, colocar as respostas
em d ete rm ina d a ordem tem e fe itos im p o rta n te s sobre o
comportamento do ouvinte. Por exemplo, e possível que o falante
enfatize urna determinada variável, manipulando a ordem em que
ela aparece em urna sentenga e, sendo assim, tal éufase poderá ter
efeito sobre o comportamento do ouvinte.
De urna forma mais abrangente, relacionar vários operantes
verbais pode ser considerado urna fungáo autoclítica, no que Skinner
(1957) chamou de autoclíticos relacionáis. Se um determinado
evento ou objeto evoca dois tactos separadamente, tais como
“Chocolate” e “Costoso”, por exemplo, o falante poderia emiti-los
separadamente. Contudo, poderá aumentar suas chances de reforgo
se disser “O chocolate é gostoso”, visto que consegue nesta resposta,
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 49

i Mdenar e agrupar os tactos em questáo, qualificando-os com o uso


do qualificadores de afirmagáo, no caso, a partícula “é” (p. 334). A
|ungáo da fungáo afirmativa e relacional dos autoclíticos recebe o
mime de predicagáo. O uso de autoclíticos relacionáis será melhor
•inalisado em nosso próximo capítulo, quando descrevermos as
fungoes gerativas dos processos autoclíticos.
Por fim, outra das fungoes autoclítlcas é a de manipular os
domáis operantes verbais em complexas cadeias de respostas. O
uso do autociítico “mas", por exemplo, organiza a disposigáo das
lasposías em urna composigáo informando ao ouvinte que a
Informagáo seguinte contraria a informagáo anterior. Ao mesmo
lempo, o uso de “e” informa o ouvinte que a próxima resposta pode
ser adicionada á informagáo anterior. Utilizando tais autoclíticos
para manipular grande quantidade de comportamento, o falante
oonsegue um efeito de modificar o comportamento do ouvinte em
relagáo aos operantes verbais que acompanham os autoclíticos.
Muitas outras características autocíticas foram citadas por
Skinner (1957). Contudo, acreditamos que a apresentagáo das
lungoes acima cumpre o pape! de indicar o aspecto mais relevante
relacionado ao autociítico, para nossos objetivos neste texto, de que
a manipulagao do comportamento verbal, mesmo que em grandes
quantidades de comportamento, como erncomposigóes, por exemplo.
tem urna explicacáo baseada na análise behaviorista radical. Como
qualquer outra forma de comportamento, os autoclíticos sáo
integrados ao repertorio do falante por meio de condicionamento
operante e sáo mantidos pelas conseqüéncias importantes que geram
na comunidade verbal, isso mostra que, independente de quáfa
forma oü fungáo dos autoclíticos; teremos, por meio deles, um
caminho para entendermos a produgáo do comportamento verbal.

6 - AS MÚLTIPLAS CAUSAS DO COMPORTAMENTO VERBAL E


A AUDÍÉNCfA
A apresentagáo realizada até o momento nos permite
comentar brevemente a ultima característica do comportamento
verbal importante para o desenvoivimenío desíe trabalho: o fato de
que o comportamento tem múltiplas causas.
A con'sideragáo de que o comportamento verbal tem múltiplas
causas surge da análise das relagóes funcionáis nos comportamonl<>s
verbais e indica que “a forga de urna resposta pode ser fungan <ln
mais de urna variávei” e que “urna variável pode atetar malt¡ da urna
50 Carm en S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

resposta” (Skinner, 1957, p. 227). No primeiro caso podemos considerar


o exemplo dado anteriormente, de um tacto como “está chovendo”,
que pode ter também urna fungáo de mando, sob controle de urna
conseqüéncia específica, como o ouvinte pegar o guarda-chuva. É muito
comum que respostas verbais específicas combinem fungdes dos
diferentes operantes verbais. Pode haver, inclusive, instancias ñas
quais urna resposta é emitida sob controle de urna variável, e urna
parte dessa reposta sob controle de outra (como num tacto em que
parte da resposta rima com um estímulo auditivo antecedente). Já no
segundo caso, poderíamos ter como exemplo um falante privado de
comida, onde a estimulagáo gerada pela condigáo de privagáo controlaría
diferentes respostas, tais como “Comida!” (um mando) ou “Estou com
fome” (um tacto) (p. 231).
O fato de o comportamento ser multideterminado náo é
reconhecido por Skinner (1957) como um problema para sua predigáo
ou controle, nem considerado como urna dificuidade para o método
científico. Segundo o autor, identificar múltiplas causas para o
comportamento apenas aumenta o trabalho da análise, que agora deve
procurar por todas as possibilidades de variáveis que interferem
simultáneamente na emissáo das respostas operantes. Náo ignoramos
o fato de que conhecer todas as variáveis das quais um comportamento
é fungáo parece ser impossível, contudo a multideterminagáo do
comportamento indica urna ampliagáo das possibilidades de análise.
A m últipla causagáo do com po rta m ento envolve, em
oráticam ente todos os casos de com portam ento verbal, a
combinagáo dos controles apresentados até o. momento com um
tipo de controle ainda náo mencionado, a saber, a audiencia. No
caso da audiencia temos que, desde que o comportamento verbal
ocorra normalmente na presenga de um ouvinte, mesmo que esse
ouvinte seja o próprio falante, os ouvintes funcionam náo somente
como mediadores do reforgo do comportamento do falante, mas
também como estímulos discriminativos para sua ocorréncia. Nesse
último caso, temos o que Skinner denominou de audiencia, ou seja,
o ouvinte considerado como estímulo discriminativo.
Assim, a multideterminagáo do comportamento indica que
esse pode ser determinado por diferentes audiéncias simultáneamente
ou por urna audiencia em combinagáo com outras variáveis. Do mesmo
modo, urna resposta pode ter diferentes efeitos sobre diferentes
audiéncias, como no caso das sátiras, alegorías e fábulas, ñas quais o
efeito da resposta sobre urna crianga, por exemplo, pode ser
A .ibordagem behaviorista do com portam ento novo 51

completamente diferente do efeito dessa mesma resposta para um


adulto (Skinner, 1957).
O fato de o comportamento verbal ser multideterminado
Indica um caminho para a análise do surgim ento de novos
' omportamentos verbais, pois ele amplia, em certo sentido, as
possibilidades de controle e de emissáo das respostas operantes,
Item como permite sua combinagáo, ou seja, possibilita a formagáo
de novas respostas. O que nos parece importante para o momento
b somente a apresentagáo dessa questáo, que em conjunto com as
demais questóes aqui apresentadas devem tornar possível o
desenvolvimiento de nossa análise.
O surgimento de
¡omportamentos verbais
novos

No capítulo anterior apresentamos brevemente algumas


impiicagoes da definigáo de comportamento verbal de Skinner, a
proposta de análise skinneriana para esse tipo de comportamento
e, também, cada um dos operantes verbais descritos pelo autor e
suas múltiplas causas.
Neste capítulo discutiremos a concepgáo skinneriana de
comportamento novo e relacionaremos o surgimento desses novos
comportamentos ao modelo causal de selegáo por conseqüéncias
e á definigáo de comportamento operante, utilizando como vínculo
da relagáo a nogáo de variabilidade comportamental, que embasa
a análise behaviorista radical. Por fim, poderemos entrar ñas
especificidades da produgáo de novos comportamentos verbais,
apresentando quais os processos envolvidos.

1 - A CONCEPQÁQ DE COMPORTAMENTO NOVO NA ANÁLISE


SKINNERIANA
No campo do comportamento verbal, o surgimento de novos
comportamentos é um assunto de grande importancia e interesse
tanto para o senso comum como para teóricos e cientistas de
diversas abordagens. Ao tratarmos de comportamento verbal,
lidamos com a criatividade dos escritores, dos artistas em geral
(ñas situagóes que envolvere esta forma de comportamento), com
a emissáo de respostas verbais novas nos diálogos cotidianos e
com o que é com um ente den o m in ad o de a qu isig á o e
desenvolvimento dos comportamentos verbais.
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 53

Contudo, dentro de urna filosofía como a behaviorista radical,


explicar o surgimento de novos comportamentos tem importancia,
também, por outro motivo: é necessário que o Behaviorismo dé
conta de explicar o surgimento de novas respostas verbais, por ser
esta urna concepjáo baseada na idéia de condicionamento. Isso
porque, se o comportamento verbal é compreendido como sendo
adquirido por meio de condicionamento operante, ou seja, se
respostas devem ser emitidas para que possam ser reforjadas,
entáo, como explicar o surgimento de novas respostas, as quais
ainda náo foram reforjadas porque estáo sendo emitidas pela
primeira vez? Somente se o Behaviorismo tiver argumentos
suficientes para responder a estas perguntas, poderá explicar muitos
fatos conceituaimente complexos de nossa vida cotidiana, dentre
os quais alguns exemplos sáo: como um individuo que está em
urna sitúa já o nova pode responder adequadamente á sitúa jáo, ou
como os individuos podem ser capazes de compreender grande
quantidade de material verbal novo - quando, por exemplo, léem
um novo livro e entendem seu enredo, mesmo nunca tendo sido
reforjados pela leitura deste livro.
Ressaltamos, entretanto, urna questáo relevante quando
tratamos de comportamento novo. Em urna análise do surgimento
de novas respostas, sabemos que urna resposta nunca é idéntica á
outra, ainda que as topografías sejam muito semelhantes. Nesse
sentido, toda resposta é nova em alguma medida. Contudo, urna
afirrnajáo como essa tornaría impossível o desenvolvimento de
urna ciéncia, pois náo permitiría a definí já o de um objeto de estudo,
á medida que nenhum evento poderia ser repetido. Devemos
salientar, desse modo, que o tratamento de novos comportamentos
neste texto náo considera a novidade nestes termos, pois, como
apresentado anteriormente, a própria definí já o de operante verbal
como urna classe de respostas deve eliminar tai possibilidade.
Skinner, em seu livro Tecnología do Ensino (1968), afirma que
os comportamentos podem ser novos em dois sentidos. Podem ser
novos apenas para o individuo que os apresenta pela primeira vez,
embora já fa ja m parte do repertorio de outros membros da mesma
cultura ou pelo menos já tenham sido emitidos por outros membros
em alguma ocasiáo, ou podem ser novos “em um sentido especial”,
oriundos de inovajoes semelhantes ás muta jó e s genéticas da teoría
da evolugáo de Darwin e, assim, novos para a comunidade verbal
como um todo. Nesse ú ltim o caso e sta m o s d ia nte dos
54 Carmen S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose A abordagem behaviorista do comportamento novo 55

comportamentos denominados criativos. Temos entáo que todo e a invengáo artística podem quase sempre ser atribuidas
é ^ia rivo men'° CnatlV° 6 n° V° ’ P° rém nem t0d° comPort:amento novo a urna espécie de programagáo fortuita das contingéncias
necessárias (p. 179).
com a nnr°án Hm eir° CaS?’ Skinner (1968) Parece estar trabalhando Por “programagáo fortuita das contingéncias necessárias”
com a nogao de que o individuo pode adquirir novos comportamentos
no sentido de que eles sáo novos porque aquele indivWuo n a o S podemos entender um arranjo de contingéncias constituido ao acaso
e que favorece o aparecimento de urna nova topografía de resposta.
ha? ’ p° rem outros 'ndivíduos de sua comunidade verbal já o
ha vía m adquirido e puderam, assim, ensiná-lo por meio de Entretanto, devemos ressaltar que é igualmente possível a execugáo
de um arranjo artificial, ou seja, um planejamento deliberado, que
condicionamento operante. Esse é o caso dos bebés os quais
aprendem a faiar, por exemplo, com o auxilio dos adultos- o tenha como efeito a maximizagáo da produgáo de contingencias
casuais e que, assim, resulte no mesmo efeito. Neste último caso,
a d Z s T " i V6rbal é n° V° Para 3 Crianpa’ mas " a° para os por exempio, é possível que os individuos aprendam náo os novos
adultos^ Também podemos incluir nesse caso a apresentagáo de
comportamentos, a cura de urna nova doenga, por exemplo, mas a
s rrc o n T ro te °d Sj á adqUírídos pe'° indi''idu». Rancio sao emitidos arranjar seus ambientes de forma que maximizem as agóes criativas
grande o l r t í l n° V° d° amblente- ° <-!'■« engloba quando, por exemplo, constróem um laboratorio com equipamentos
grande parte dos comportamentos verbais novos como oor
necessários e recebem urna formagáo completa sobre o assunto.
d fresposteseo irtnS6eS,d° S oporanles verbais e as recombinagoes Desta forma, um aspecto muito especial do pensamento
de respostao pertencentes ao repertório do falante.
O que precisa ser focalizado skinneriano surge ao tratarmos desse assunto: ao verificarmos que
sobie o surgimento de comportamento novo para o individuo é que novas respostas podem ser produzidas ou “contingéncias necessárias”
a resposta nao e nova para a comunidade verbal á qual ele pertence podem serarranjadas artificialmente, temos como conseqüéncia que
esmo assim, ela pode ser nova para o individuo ou ser nova por comportamento novo pode ser produzido. Desse modo, podemos
ser emitida em urna nova situagáo, sob novos controles Nestes considerar que a proposta de Skinner (1968) coloca ao alcance de
dois casos temos urna topografía de resposta já conhecida ou urna todos, em certo sentido, a p o ssibilid ad e de em issáo de
comportamentos criativos e aprendizagem de novas respostas, gomo
respectivamente" Send° emitÍda S° b Um novo controle’ vimos, a perspectiva behaviorista radical, ao colocar a criatividade a
^aprendizagem de novas respostas soTj controle do ambiente, retira
No caso descrito por Skinner (1968), do comportamento novo
a causa desses comportamentos do mundo interno do individuo, onde
O c o Z o n a te n m T * ' ^ ™ 'ap6os ge ral mente ela costuma ser colocácfa e, desta forma, torna possível
c rS vas n T l l ° qüf comumente está relacionado ás agoes qllé, diarifé de um ambierffe~aüe propicie riovos comportamentos ou
criativas ligadas, principalmente, á arte, á literatura e á ciéncia
com portamentos criativos, eles possam serHacfqüiridos pelos
-ssa diregao podemos faiar de comportamentos novos no sentido
de origináis nao somente para o individuo, mas também para a individuos. Dito de~outra maneira. a visáo behaviorista radical coloca
qualquer indlvídLiQ^omo passíveljJ a a p m ndé re criar, desde aue-o-
comunidade verbal á qual ele pertence. Skinner (1968) comenta:
L ambiente nronicie as condicoes n e c e s sá ria s ..
? Ue nOVaS f° rmas de a p a rta m e n to humano Porfim, a definigáo de novo no sentido de original apresentada
Z Z r n n Muito p0ufC0 do ^traordináno repertório do homem por Skinner (1968) também nos sinaliza outra questáo muito importante.
moderno era manifestado por seus ancestrais, digamos há Ao m a n ip u la r “co n tin g é n c ia s n e c e s s á ria s ” , m anipulam os
inte e cinco mil anos. (...) A descoberta científica e iiterária contingencias de alguma forma conhecidas. O mesmo acontece com
a mutagáo genética, que se origina de urna nova combinagáo das
partículas de material genético das células, que produzem, em outra
combinagáo, características novas. Com isso queremos dizer que a
= e H = = ^ S f nova resposta, mesmo que original para urna comunidade verbal, forma-
56 Carm en S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

se oriunda de algo já conhecido. Vejamos um exemplo fornecido


pelo próprio Skinner (1953/1965) ao tratar da aquisigáo do
comportamento operante, ocasiáo na qual ele considera que o
condicionamento operante modela o comportamento como um escultor
modela um pedago de argila: o resultado do artista, um objeto
aparentemente novo no sentido de original, é novo apenas por ser
distante formalmente do pedago de argila inicial. Porém, se rastreadas
as etapas de seu feitio, poderá se ver que foi paulatinamente
desenvolvido. Da mesma forma, o descobrimento da cura para urna
doenga, por exemplo, certam ente urna nova resposta para a
com unidade verbal, constituiu-se a partir de um arranjo de
contingéncias já disponíveis para seus membros, a manipulagáo de
técnicas químicas e de procedimentos médicos.
Contudo, algumas restrigoes podem ser levantadas quanto
ao critério da definigáo de comportamento novo e criativo aqui
apresentado, a saber, a novidade da resposta para urna determinada
comunidade verbal na qual o individuo emissor da resposta está
inserido. O fato de que um comportamento é novo para urna
determinada comunidade náo parece ser suficiente, em alguns
casos, para ating im o s a novidade do comportamento como a
descrita por Skinner (1968) ao comentar comportamento original
como equivalente ás novas formas de comportamento surgidas ao
longo da evolugáo para a espécie humana. Neste sentido, seria
plausível argumentamos que o comportamento devena ser novo
para qualquer individuo da espécie humana e, sendo assim, o critério
adotado deveria ser rígido, pressupondo urna ignorancia completa
de qualquer comunidade áquele comportamento. Assim, é possível
imaginamos, por exemplo, que urna solugáo para um problema
localizado ém urna determ inada com unidade já tenha sido
encontrada em outra. Qual seria, entáo, a originalidade da resposta
na cultura portadora do problema ainda sem solugáo? A originalidade
da resposta neste caso parece ser ofuscada pelo fato de que urna
resposta semeihante já foi emitida em outra comunidade.
Entretanto, a ignorancia completa de qualquer comunidade
áquele comportamento pode também apresentar problemas como
critério. Podemos igualmente imaginar a emissáo de duas respostas
quase simultáneas de solugáo de problemas em duas culturas
diferentes. Nesse caso, qual dos comportamentos seria criativo?
Nesse se n tid o , náo p o d e ria m o s c o n s id e ra r am bos os
comportamentos como origináis e, sendo assim, equivalentes ás
mutagóes genéticas como propóe Skinner (1968)?
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 57

Desse modo, consideramos que qualquer critério aqui utilizado


como divisor entre um comportamento novo e um comportamento
criativo é arbitrário em alguma medida, e, sendo assim, taremos
opgáo pelo uso do critério que identifica comportamento criativo em
cada comunidade. Skinner (1968) escreveu:
Cada urna das respostas que o compóe [o repertório do
homem moderno] deverá ter ocorrido pelo menos urna vez
quando ainda náo estava sendo transmitida como parte da
cultura (p. 179).
Entendemos, portanto, que a transmissáo como parte da
cultura náo exige um critério de ignorancia geral e completa por todos
os membros de qualquer cultura, e que um comportamento original
equivalente á “mutagáo genética”, como descrito por Skinner (1968),
pode ser emitido em diferentes culturas sem afetar a “criatividade”
do processo. O que está em jogo na definigáo de comportamento
origina!, portanto, é a ocorréncia, pela primeira vez, de urna resposta
produzida por um individuo de urna comunidade verbal.
Ressaltamos, ainda, que a divisáo entre comportamento
novo e comportamento criativo náo pretende ser dicotómica. Ao
contrário, como veremos no decorrer do texto, indicaremos que ela
é bastante tenue. Contudo, tai diferenciagáo se mostra interessante
á medida que nos permite ilustrar que muito da complexidade do
comportamento verbal é oriunda de urna “novidade” náo original e,
ao mesmo tempo, que o surgimento de comportamentos criativos
ou origináis pode ser propiciado por meio dos mesmos processos e
procedimentos que originam apenas comportamento novo.
. Dito isso, podemos prosseguircom outros aspectos especiáis
da análise de Skinner sobre o aomportamento-verba!.

2 - A V A R IA B IL ID A D E C O M P O R T A M E N T A L C O M O
IN S T R ÍN S E C A A O M O D E LO C A U S A L DE SELEQ Á O PO R
CONSEQÜÉNCIAS E AO CONCEITO DE OPERANTE
Para tratarmos do tema variabilidade comportamental,
resgataremos a nogáo de ciéncia histórica já comentada no primeiro
capítulo deste texto. Como analisado anteriormente, urna ciéncia
histórica como a Anáiise do Comportamento, assim como a Biología
Evolutiva e a Cosmología, trabalha com a reconstrugáo e interpretagáo
dos fatos e náo com os fatos propriamente ditos. Sendo assim, a
análise skinneriana efetua, em alguma medida, a reconstrugáo do
que possivelmente foi o processo evolutivo do comportamento ao
58 Carm en S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

longo da historia do individuo, visto que o estudo desse processo por


meio da manipulagáo direta de variáveis náo é possível.
O resgate da nogáo de ciéncia histórica nos parece
interessante neste momento exatamente porque o percurso proposto
por Skinner na reconstrugáo do processo de evolugáo comportamenta!
traz as ¡nformagoes necessárias para a apresentagáo e compreensáo
do papel de destaque da variabilidade comportamental na filosofía
Behaviorista Radical. Quando Skinner (1981/1987a; 1984/1987b)
trata da evolugáo do comportamento, ele propóe o modelo causal de
selegáo pelas conseqüéncias, no qual podemos verificar claramente
a fungáo da variabilidade nos processos de selegáo. Para
percorrermos esse caminho, sairemos do ámbito do Verbal Behavior
por algum tempo, e efetuaremos urna análise dos aspectos principáis
encontrados nos textos de Skinner relacionados á evolugáo do
comportamento.
Segundo Skinner (1981/1987a), a historia do comportamento
pode comegar a ser contada desde o aparecimento da primeira
molécula capaz de reproduzir-se. Essa reprodugáo funcionou como
urna primeira conseqüéncia e, a partir daí, segundo o autor, a selegáo
pelas conseqüéncias apareceu como um modo causal. Foi a partir
da primeira reprodugáo que, por meio da selegáo natural, tornou-se
possível o desenvolvimento das moléculas em células, órgáos e
organismos cada vez mais complexos, os quais poderiam se
reproduzir sob diversas condigóes e garantir, assim, a sobrevivéncia
da espécie. Temos nesse contexto o que Skinner denominou o
primeiro nivel de selegáo por conseqüéncias: comportamentos que
tinham algum valor de sobrevivéncia eram selecionados pelas
contingéncias ambientáis.
Nesse primeiro momento, o comportamento era parte da
dotagáo genética das espécies, ou seja, estava limitado a processos
biológicos como digestáo ou respiragáo, por exemplo. O que
costumamos chamar de comportamento, segundo Skinner (1981/
1987a), surgiu da evolugáo posterior da relagáo entre organismo e
ambiente. Essa relagáo entre o organismo e o ambiente também
trouxe algumas limitagóes, pois o comportamento selecionado no
primeiro nivel somente era efetivo diante de ambientes altamente
estáveis, ou seja, tais comportamentos eram úteis apenas em
condigóes muito semelhantes áquelas selecionadoras no passado
e, como conseqüéncia, os organism os ficavam lim itados a
determinadas situagóes ambientáis específicas.
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 59

A reprodugáo de um organismo em ambientes náo estáveis


somente foi possível, segundo ¿kinner (198171987a), por meio do
surgimento de dois processos, o condicionamento respondente e o
condición3™00*1"1riporantc No primeiro caso, respostas selecionadas
Tílbgeneticamente puderam ser colocadas sob o controle de novos
estímulos, enguanto no segundo, novas resoostas puderájTLaer
fortalecidas pelos eventos ¡mediatamente conseqüentes a elas.
N es s e p o n to '"d F ^ v o fu g a o T T o 3em ólfTTo tá F que os
condicionam entos, reflexo e operante, trouxeram ao cenário
evolutivo urna característica diferente: o desenvolvimento da
susceptibilidade á estimulagáo ambiental, ou seja, o organismo agora
dispunha, após variagóes biológicas, de urna sensibilidade aos
estímulos ambientáis. A partir daí, os organismos passaram a se
comportar de novas formas diante de novos ambientes e, no caso
do condicionamento operante, a susceptibilidade ao reforgo passou
a corresponder ao que Skinner denominou segundo nivel de selegáo
por conseqüéncias (Skinner, 1981/1987a; 1984/1987b). Enquanto
o primeiro nivel, o da selegáo natural, possibilitou a selegáo de
características que permitiam a sobrevivéncia da espécie, o segundo
nivel considera a selegáo de comportamentos apropriados para
situagóes de mudanga ambiental e, nesse sentido, a selegáo aqui
indicada náo necessariamente resulta na adaptagáo da espécie,
sendo varios dos comportamentos selecionados náo adaptativos.
A_selegao no segundo nivel se dá em um curto período de
tempo e, por esse motivo, há a possibilidade de que müitos novos
comportamentos possam ser selecionados. Foi, provavelmente,
dessas novas formas comportamentais que surgiu o comportamento
verbal. A musculatura vocal passou a estar sob controle operante
provavelmente após a selegáo de variacóes ñas inervagóes vocais.
Uom essa nova forma comportamental as pnggihilidaaoo Hy
adaptagáo ambiental do organismo foram amplamente elevadas. O
organismo agora podia, mais efetivamente, cooperar com os demais,
seguir instrugóes, regras, aconselhar, avisar outros em situagóes
perigosas, dentre outras possibilidades. Conseqüentemente, um
terceiro nivel de selegáo por conseqüéncias passou a ter especial
importancia, a selegáo cultural. Nesse nivel, o reforgamento passou
a estar voltado para a sobreviv^ncia^aS^rtipcF comoum todo e náo
para a aoaptacao~iñgividual dos seus membros O comportamento
"verbal, portanto, propTciou a evolucáo dos ambientes sociais e, dessa
ToTrna, possibilitou a evolugáo das culturas (Skinner, 198171987a).
60 Carm en S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

Temos, entáo, que o modelo de selegáo por conseqüéncias


prevé trés níveis diferentes de selegáo: 1) a selegáo filogenética,
na qual estaríam atuando contingéncias de sobrevivéncia da espécie;
2) a ontogenética, a qual permitiría a adaptagáo do individuo, por
meio do condicionamento operante, para as mudangas constantes
de seu ambiente atual; e, por fim, 3) a selegáo cultural, um tipo de
selegáo que permite a sobrevivéncia da cultura como um todo
(Skinner, 1981/1987a).
Esses trés níveis de selegáo surgiram sucessivamente ao
longo do tempo, e passaram a atuar simultáneamente. Por esse
motivo, sáo freqüentes algumas confusoes na distingáo entre qual
tipo de selegáo opera sobre o comportamento. Skinner (1981/1987a)
comenta que os processos podem agir em conjunto e, algumas
vezes, a agáo é redundante. Contudo, apesar de agirem ao mesmo
tempo, os níveis de selegáo tém tempos diferentes para o processo.
No segundo nivel o tempo de duragáo do processo de selegáo é
bastante curto e é ai onde localizamos a “aprendizagem ” de
comportamentos adquiridos ao longo da vida do individuo. No caso
da selegáo natural, por outro lado, o processo dura muito mais que
o tempo de vida de um individuo.
Com a agáo dos trés níveis de selegáo podemos entender
que o comportamento humano é fruto da interagáo entre as
contingéncias de sobrevivéncia, as contingéncias ontogenéticas e
as contingéncias culturáis, ou seja, incluí a relagáo entre a dotagáo
genética do individuo; as contingéncias de reforgo e urna série de
contingéncias especiáis mantidas pela evolugáo do ambiente social
(Skinner, 1981/1987a).
Com essa apresentagáo dos níveis de selegáo propostos
por Skinner (1981/1987a; 1984/1987b) e do modo de selegáo por
conseqüéncias podemos considerar alguns pontos importantes
relativos ao tema variabilidade comportamental. De antemáo,
podem os v e rific a r que existe no argum ento skin n erian o a
necessidade do surgimento de novos comportamentos, pois há a
necessidade da ocorréncia da variagáo para sustentar os processos
de selegáo em qualquer um dos trés níveis. Náo há a possibilidade
de selegáo sem que exista variagáo, ou seja, sem que exista o
surgimento de novos comportamentos.2 Neste sentido, os processos

Nos i mtlgos publicados por Skinner sobre o modo causal de selegáo por conseqüéncias
<i ¡i evolugáo do comportamento náo verbal e verbal (1987), o autor comenta
<l<iliill imi lamente as possívels variagóes ocorridas que resultaran!, após selegáo nos
I i An ii I vbIk , nos comportamentos disponíveis na atuaiidade.
A abordagem behaviorista do comportamento novo 61

de variagáo e selegáo sáo partes do sistema behaviorista radical,


que tem a ocorréncia de novos estados como urna de suas
características inerentes. Variagáo é, dessa forma, um conceito
chave na análise do comportamento.
É preciso salientar, contudo, que a necessidade de
variabilidade náo tica com prom etida quando náo é possível
localizarmos mudangas em espécies, comportamentos ou culturas.
Skinner(1981/1987a) comenta que se mudancas náo ocorrem. isto
se dá ou porque novas formas de comportamento ou de práticas
culturáis também náo ocorreram, ou porque estas ocorreram. mas
náo foram selecionadas pelo ambiente. Assim, podemos indicar
um caminho para explicar o fato de que organismos passam longos
períodos de tempo se comportando da mesma forma ou por que
algumas espécies de organismos pouco mudaram em milhares e
milhares de anos. De qualquer forma, devemos focalizar o fato de
qu^e somente podemos encontrar as mudangas típicas da evolugáo
onde existiu, em primeiro lugar, variagáo. ~~
2.1 - A Nogáo de Operante e sua Relagáo com a Variabilidade das
Respostas
Em um texto clássico de 1935, intitulado “ Thegenericnature
ofthe concepts ofstimulus and response", Skinner comenta a nogáo
de classe (Skinner, 1935/1972a). Nesse artigo o autor refere-se ao
reflexo, antes ainda de distinguir o comportamento reflexo do
comportamento operante. De qualquer forma, a idéia de classe
discutida naquela ocasiáo permaneceu para as apresentagdes
posteriores, pois Skinner defendeu ali que o reflexo deveria ser
considerado como urna correlagáo de classes (estímulo e resposta
seriam definidos como classes de eventos), apontando os problemas
em considerá-lo como urna classe de correlagoes em que estímulo
e resposta seriam definidos como eventos únicos e correlacionados.
O que nos interessa nesse momento é que identificar o
reflexo como urna correlagáo de classes implica em definir o termo
estímulo como um conjunto de eventos que podem ser bastante
diferentes entre si, porém que possuem alguma característica ou
propriedade comum que permite seu agrupam ento em urna
determinada classe. O mesmo pode ser aplicado ao termo resposta.
Diante da definigáo de estímulo e resposta como classes,
defendida já em 1935 por Skinner, podemos compreender melhor a
definigáo de operante realizada no primeiro capítulo deste texto
(Skinner, 1935/1972a). Temos aqui que o comportamento operante
62 Carmen S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

refere-se a urna classe de respostas, ou seja, a urna espécie de


comportamento a qual é reforgada por suas conseqüéncias, e nao
a urna única apresentagáo ou instancia de comportamento. Sendo
assim, temos que urna classe de comportamentos engloba urna
série de respostas com certas propriedades selecionadas pelas
conseqüéncias reforgadoras, as quais definem tal classe. A
propriedade que produz a conseqüéncia é o elemento comum a
todas as respostas na classe. A distingáo entre urna resposta como
urna instancia e o operante como urna classe de respostas pode
serfeita utilizando-se um exemplo apresentado por Skinner (1957):
fumar um cigarro entre as duas e duas e dez da tarde é o que
podemos denominar de resposta, enquanto o conjunto de respostas
englobadas no comportamento de “fumar cigarros” é o que podemos
denominar de operante3 (p. 20). Ora, se aotratarmos de um operante
estamos considerando urna classe de respostas (e urna classe de
estímulos), e se tais respostas podem ser diferentes entre si,
guardando apenas a propriedade selecionada pelas conseqüéncias
como elemento comum, entáo podemos inferir que, ao tratarmos
de operante, estamos trabalhando com urna nogáo na qual a
variabilidade das respostas torna-se intrínseca.
Dito isso, poderemos retornar ao Verba! Behavior (Skinner,
1957) para iniciarm os nossa análise voltada aos processos
co m p o rta m e n ta is re la cio n a d o s ao su rg im e n to de novos
com portam entos verbais. Podemos agora considerar que o
comportamento humano como um todo, segundo a análise do
Behaviorismo Radical, está intimamente relacionado a urna condigáo
de variagáo das respostas e, dessa forma, á produgáo do novo. A
possibilidade de variagáo, parece, assim, ter sido selecionada ao
longo da evolugáo. Nesse sentido, precisamos agora definir como,
ou seja, por meio de que tipo de processos e procedimentos4 os
novos comportamentos podem surgir no repertorio do individuo.

3Neste caso a classe de “fumar cigarros” foi representada por respostas com topografías
similares. Entretanto, é possível que a resposta de fumar um cigarro seja funcionalmente
diferente de outra resposta similar: um individuo pode fumar um cigarro como urna
forma de afrontar urna autoridade que náo permite o fumo em um determinado ambiente,
por exemplo. Nesse caso, outras respostas que náo sáo de fumar cigarros, ou seja,
que tém topografías diferentes, podem fazer parte dessa mesma classe.
4Os procedimentos sugeridos por Skinner seráo o tema de nosso próximo capítulo.
A abordagem behaviorista do comportamento novo 63

3 - OS PROCESSOS

3 . 1 - 0 Processo de Generalizagáo e as Extensóes de Mandos e


Tactos
Discutimos anteriorm ente a nogáo de comportamento
operante como sendo urna correlagáo de classes e náo urna classe
de correlagóes. Vimos, nesse sentido, que urna classe de estímulos
e urna classe de respostas englobam, respectivamente, estímulos
e respostas diferentes que guardam, porém, urna propriedade
comum que os define como pertencentes a urna mesma classe.
Podemos, entáo, discutir um primeiro processo comportamental
conseqüente dessa definigáo de operante, o qual é de extrema
importancia no surgimento de comportamentos novos.
Quando um operante, seja ele verbal ou náo, é reforgado
em presenga de um determinado estímulo, ele poderá ocorrer
também, diante de um estímulo diferente, que tenha propriedades
em comum com o~estimulo diante dcTqual o operante foi reforgádó.
Isto poderá ocorrer mesmo que áquele operante nunca tenha sido
reforgado diante do novo estímulo, pois este estímulo novo pode
também co nte r a propriedade que co ntro la o aum ento da
probabilidade do operante. Esse processo é denom inado
generalizagáo de estímulo (stimulus generalizaron), mas no caso
do comportamento verbal Skinner prefere o termo extensáo. Por
exemplo, um operante que tenha sido reforgado repetidamente em
presenga do acender de urna luz poderá ter sua probabilidade
aumentada também diante do inicio de um som, em razáo de urna
propriedade comum que é o inicio súbito de um estímulo. Um
exemplo verbal poderia ser a extensáo de um term o como
“e xplosáo”, originalm ente reforgado quando descreve urna
detonagáo produzida pela expansáo súbita de um gás, á
manifestagáo de um individuo que “explode” de alegría ou de raiva.
Nesse caso, a propriedade comum entre as duas ocasióes parece
ser urna manifestagáo súbita e intensa.
Urna generalizagáo náo pode ser considerada como um
comportamento do organismo no sentido de urna atividade por ele
realizada (Skinner, 1953/1965). O termo aponta apenas para o fato
de que propriedades de um estímulo é que estabelecem a ocasiáo
para a emissáo da resposta, o que possibilita que, quando estas
propriedades sáo encontradas em outros estímulos, possam ter o
mesmo efeito controlador.
64 Carmen S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

A generalizagáo de estím ulos é um dos processos


com portam entais responsáveis pelo surgim ento de novos
comportamentos. Neste caso, o comportamento náo é novo no sentido
de nunca ter sido antes apresentado, mas o é na medida em que pode
ser apresentado em novas ocasioes sob controle de novos estímulos,
embora, em algumas ocasióes, possamos encontrar novas respostas
para o individuo, que correspondem também ás novas respostas para
a comunidade verbal como um todo. O individuo que se encontré em
urna situagáo aparentemente nova, por exemplo, pode apresentar urna
resposta adequada porque propriedades dessa nova ocasiáo
correspondem a propriedades de um estímulo controlador da mesma
resposta no passado. No caso do comportamento verbal, condigóes
de estimulagáo que lembrem outras previamente reforgadas no
passado, mesmo que náo sejam idénticas ás anteriores, podem
influenciar no aumento da probabilidade de urna resposta. O processo
de generalizagáo é responsável por urna parte do que Skinner (1957)
denominou, como dito acima, extensóes dos operantes verbais, as
quais, como um todo, sáo exemplos de novos comportamentos.
A primeira descrigáo de extensáo de um operante verbal
resultante da generalizagáo de estímulos analisada pelo autor foi a
extensáo de um mando (Skinner, 1957). Por exemplo, é comum a
emissáo de mandos a “ouvintes” como objetos, bebés muito
pequeños ou animáis náo tremados, mesmo que estes mandos náo
tenham qualquer conseqüéncia, devido ao fato de que tais ouvintes
náo se caracterizam, de fato, como tal. Por exemplo, o falante
pode atirar urna bola e mandar que um cachorro náo treinado vá
buscá-la. Neste caso, as chances do falante ser atendido sáo
pequeñas: mesmo que o cachorro pegue a bola, provavelmente ele
náo a trará prontamente para o falante.
A extensáo do mando ocorre porque, no caso do falante e do
cachorro do nosso exemplo acima, o falante pode ter tido seu mando
reforgado em urna ocasiáo na qual um outro cachorro, treinado em buscar
bolas atiradas por humanos, Ihe trouxe a bola de volta. Temos entáo
que um mando pode náo ter sido reforgado pelo ouvinte da situagáo
atual, porém os “ouvintes” aqui escolhidos, como o cachorro náo treinado
do exemplo, tém alguma característica comum com ouvintes que
realmente reforgaram áquele mando no passado (cachorros treinados);
devido ao controle dessas propriedades semelhantes, o comportamento
de mandar pode ser emitido diante desse novo estímulo.
Em casos extremos o mando pode ser emitido, inclusive,
na ausencia de qualquer ouvinte. Isso significa que a forga da
resposta pode sertáo grande que quando propriedades de estímulos
anteriorm ente controladores de determinadas respostas sáo
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 65

encontradas em urna nova situagáo, o falante emite a resposta mesmo


na auséncia de um ouvinte (Skinner, 1957).
Entretanto, nem todas as formas de mandos estendidos sáo
controladas por estímulos efetivos como ocasiáo para a obtengáo de
reformadores. Mandos podem ser criados em analogía a outros
mandos aníigos e, riesses casos, foram denominados por Skinner
(1957) mandos mágicos. Em um mando mágico, um determinado
mando especifica um reformador adequado ao ser emitido sob controle
de um dado estado de privagáo ou de estimulagáo aversiva, porém a
resposta emitida nunca fora emitida sob esse tipo de controle e fazia
parte do repertório do individuo como um outro tipo de operante verbal.
Exemplos típicos de mandos mágicos sáo o que comumente
denominamos de desejos, bastante encontrados na literatura. Na prosa
e, principalmente, na poesía lírica, os mandos mágicos tém um papel
de destaque,.pois o escritor, em geral, escreve sob forte privagáo ou
estimulagáo aversiva: ele pode ter perdido seu amor ou estar afastado
dele por um longo tempo e, sendo assim, é possível que escreva
desejando o retorno de sua amada sem que essa conseqüéncia tenha
sido especificada dessa forma anteriormente e sem que o leitor possa
efetivamente trazer de volta a amada do escritor.
Skinner (1957) comenta que, devido á sua possíbilidade de
extensáo, os mandos sáo de grande importancia na literatura e sáo
comumente usados como vocativos (“Leitor, eu casei com ele”),
mandos de comportamentos verbais -(“Me chame de Ismael”) ou
mesmo para prender a atengáo do leitor (“Ougarn minhas changas,
e voces escutaráo...”) (Skinner, 1957, p. 49). Na maioria das vezes
em que mandos sáo utilizados em urna obra literaria, eles podem
ser considerados como mágicos devido á fraca. ou quase inexistente,
relagáo éntre o escritor e seu leitor.
A comunidade verbal, nos~casos das extensóes, tem um
importante papel: multas dessas respostas náo seriam emitidas pelos
talantes caso náo existisse o que se costuma denominar de “licenga
poética”, urna prática cultural na qual a comunidade literária permite
que multas espécies de respostas inusitadas, e em aiguns casos
até mesmo incorretas gramaticalmente, sejam emitidas sem que
sejam punidas. Nessa situagáo, a licenga poética descreve, portanto,
urna audiencia pouco punitiva e, como veremos a seguir, urna
audiéncia desse tipo pode ser importante para a selegáo de diferentes
partes do repertório do falante.
Além dos mandos estendidos, Skinner (1957) comenta que
é possível encontrarmos tactos estendidos oriundos também da
generalizagáo de estímulos.
novo 67
abordagem behaviorista do com portam ento
Carmen S. M. Bandini & Julio C. C. de Fióse A
66

Urna das prirneiras formas de extensáo de tactos observada comunidade verbal náo c<^ r® ^ ( ,(lg|gjCtg ^ ^ a^ j ter^ m o s <entáo,que>
,
por Skinner (1957) é a extensáo genérica. Como o próprio autor
exemplificou, urna extensáo desse tipo ocorre quando “o faiante
denomina como cadeira urna nova espécie de cadeira (p. 91)”. Nesse
caso de extensáo, segundo Skinner, as propriedades determinantes
da resposta tendem a ser propriedades práticas e por esse motivo os
estímulos responsáveis pela extensáo tendem a ser objetos. Deste
modo, a nova cadeira é assim denominada pelo seu uso na metafóricas podem ta ñ o se n tónico sobre o tacto no capítulo
quanto públicos como observa t P análise da resposta
comunidade verbal e, portanto, qualquer objeto que sirva como urna
cadeira pode ser assim denominado pelo falante, propiciando que o
tacto “cadeira” seja entáo reforgado pela comunidade. e c a s ° d0 even,°
Skinner (1957) salienta que náo há qualquer processo de controlador ser público. ~ t nha ainda reforgado
transferencia de fungáo ou algo parecido no qual urna dada resposta
seja transferida para um novo estímulo reconhecido como similar
pelo falante. O que ocorre nesses casos, segundo o autor, é
sim plesm ente a sim ila rid ad e de um estím ulo novo a outro medida que as respostas a tais propriedades passam ser
anteriormente eficaz em controlar a mesma resposta. A relagáo de
trés termos da contingencia continua sendo válida e náo existe pela comunidade, elas deixam ^ ^ ‘ f ^ e L i o . Skinner
qualquer espago para propriedades emergentes de transferencia. respostas padronizadas, como ac g podem realmente
As extensóes genéricas náo sáo as únicas possíveis. Outras (1957) comenta que A maioria
propriedades, que náo o efeito prático do objeto na comunidade ser consideradas como meta or - m e táfo ra s na a tu a lid a d e ,
verbal, podem passar a ter o controle de respostas em novas das re sp osta s que soam co das contudo hoje apenas
provavelmente o foram em epo ^ P e _ram^ te refor(?adas pe|a
situagóes. Metáforas sáo exemplos dessas outras formas de
generalizagáo do controle de estímulos. Diferente das extensóes correspondem a resposta q , dados por respostas
genéricas, que preservam as propriedades reforgadas pela comunidade verbal. Exemplos ISS ^ ,as intraverbais. Neste
comunidade verbal em urna nova situagáo, a extensáo metafórica como “perna da ocasiáo para
aumenta o número das propriedades passíveis de controlarem ^ " e r e m l « d a Pem seguida com,o em -Forte" evocando a
respostas verbais, pois respostas previamente reforgadas em urna
situagáo sáo utilizadas em situagóes náo antes propiciadoras de resposta Y o m o d m tó u ro -uma m e (.fora naanaliseskinneriana é o
seu reforgo pela comunidade verbal.
Para ilustrar esse outro tipo de extensáo de tactos,
analisemos um exemplo fornecido pelo próprio Skinner (1957): um
garoto que bebeu um pouco de refrigerante pela primeira vez relatou 0 95 7 )“ isoiar u n ir ^ 8*“ imnada ^ T a v ^ s íd o
que a bebida tinha “gosto de quando seu pé estava dormindo”. A
resposta prim eiram ente reforgada, a do pé “d orm in do ” , foi
provavelmente controlada pela imobiiidade do membro. Porém, o no caso da perna da mesa , p , sua importancia na
garoto também esteve exposto, naquela situagáo, ás pequeñas fisiológicas e anatómicas da pe r P resposta “perna”
pontadas características dessa situagáo de “dorméncia”. Já no caso
do gosto do refrigerante, sáo exatamente as leves pontadas que
controlaram a resposta de que o gosto era equivalente á dorméncia i fm Tpm pneTade do os.,mu,o gue coexistid com
dos pés. Esse é um caso no qual as características reforgadas pela
68 Carm en S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

as características fisiológicas e anatómicas do mernbro humano, a


saber, sua forma geométrica similar á base da mesa, passa a
controlar a resposta metafórica.
A ocorréncia das metáforas torna o comportamento verbal
mais efetivo. Skinner (1957) comenta que urna metáfora é, na
maioria das vezes, mais vantajosa que o uso de um tacto simples,
principalmente porque, quando familiar ao ouvinte, ela pode afetá-
io emocionalmente. Ao isolar propriedades de objetos que náo seriam
antes propriedades controladoras de respostas daquela classe, a
metáfora enriquece as práticas da comunidade ampliando o alcance
do tacto e as possibilidades de propriedades de estím ulos
controladores de urna mesma resposta. Nesse sentido, podemos
dizer que urna metáfora genuína é um recurso criativo que
incrementa náo somente o repertório individual, como também o
repertorio verbal da comunidade á qual o falante pertence.
O uso da metáfora como forma criativa é muito comum na
literatura, assim como os mandos mágicos. Ñas fábulas, alegorías
e sátiras, Skinner (1957) comenta que os autores utilizam as
metáforas relacionando eventos particulares com formas verbais
e, com elas, descrigóes que seriam realizadas com tactos comuns
tornam-se náo somente mais efetivas, como dito anteriormente,
mas também provocam fortes resultados emocionáis na audiencia,
cumprindo um dos propósitos da literatura. Vejamos o exemplo
retirado de um poema de Manuel Bandeira5, no qual o poeta compara
seus versos ao sangue:
(...)

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...


Tristeza esparsa... remorso váo...
Dói-me ñas veias. Amargo e quente,
cai, gota a gota, do coragao.
(...)
(Manuel Bandeira, 1917/1973, p 7).
No trecho do poema transcrito acima, caso o autor apenas
utilizasse tactos comuns para descrever seu sofrimento em escrever
seus versos, provavelmente náo obteria urna reagáo emocional táo
efetiva sobre o ouvinte.

5Bandeira, M. (1994) Desencanto. Em: Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Livraria
José Oympio Editora.
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 69

Apesar de contribuírem para o incremento das respostas


verbais de urna comunidade verbal, as metáforas náo sáo reforgadas
por qualquer comunidade. Para urna comunidade científica, por
exemplo, Skinner (1957) comenta que a metáfora náo se mostra
como um an?ó rm ^ ^ tn '^ n a c ró ~ p 6 ís ~ ¥ m textos científicos, o
comportamento verbal é mantido pejas conseqüéncias práticas
tomadas pelo ouvinte. Visto que a metáfora é controlada por
propriedades do estimuló que nao correspondem ás propPiedades
controladoras da resposta anteriormente reforgada pela comunidade,
otTseja, visto que" ela aumenta as~possibilidades de~corvtroTe~~da
resposta, as conseqüéncias práticas tomadas pelo o~u'vi7íté~podem
ser equivocadasHSégundo Skinner, o uso’Belácfes^s'tendfdos ná
comunidade científica fica restrito ao eventual uso de extensóes
genéricas, as quais respeitam as práticas reforgadoras origináis da
comunidade.6
O utras form a s de e xte n sóe s de ta c to s podem ser
encontradas. De acordo com Skinner (1957), os tactos podem
também ser estendidos á medida que um novo estímulo adquire
controle sobre urna resjaosta porque sempre acompanha o estímulo
original que estabelece ocasiáo para o reforgo. Nesse caso, temos
o que o autor denomiriou de extensáo metonímica. Um exemplo
fornecido nesse caso ilustra bem a questáo: o faiante pode dizer “A
Casa Branca negou os rumores”, apesar de ter sido o presidente a
negar os fatos (p. 100).
Da mesma forma que ocorre com as metáforas, Skinner
(1957) comenta que existem poucas extensóes metonímicas
espontáneas, no sentido de origináis. Qualquer associagáo de
estímulo, mesmo que acidental, pode gerar urna extensáo como
essa, porém a maioria das extensóes existentes é aparente e as
respostas foram reforgadas de forma independente e estabelecidas
como unidades funcionáis separadas. Atualmente, por exemplo, o
uso da expressáo “Casa Branca” como substituto de “presidente
dos Estados Unidos da América”, assim como o uso de “Planalto”
como substituto de “presidente do Brasil” tornou-se, na maioria dos
casos, um tacto padráo.
Outra forma de generalizagáo de estímulos é a extensáo
solecística. Nesse tipo de extensáo, entretanto, a propriedade do

6A questáo do uso da metáfora na ciéncia será abordada no próximo capítulo deste


texto, quando debateremos melhor esta questáo.
70 Carm en S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

estímulo que tem o controle da resposta é fracamente relacionada ao


estímulo que geralmente é reforgado pela comunidade verbal. Por
esse motivo, esse é um tipo de extensáo que, diferente das anteriores,
é muitas vezes punida pela comunidade verbal, á medida que esta
faiha em responder efetivamente a ela. Em geral, este tipo de extensáo
se apresenta como um erro ou engano, como quando, por exempio, o
individuo comenta urna dificuldade, denominando-a equivocadamente
de dilema (Skinner, 1957, p. 102).
Skinner (1957) ainda cita outras duas formas possíveis de
encontrarmos extensáo no controle de estímulos em tactos: algumas
nomeagoes, no sentido de dar nome a coisas ou pessoas e a
adivinhagáo, quando o falante emite urna resposta que seria um
tacto, aparentemente sem a presenga da estimulagáo necessária.
No primeiro caso a nomeagáo será a extensáo de um tacto quando,
por exemplo, os pais de urna crianga recém nascida colocarem no
bebé um nome de alguma figura famosa que admiram, ou de amigos
importantes ou de parentes, em sua homenagem. Nessas ocasióes,
teremos extensóes metafóricas se a crianga lembrar, por exemplo,
físicamente tais pessoas famosas ou amigas. Obviamente, existem
fatores culturáis responsáveis pela nomeagáo, entretanto, em alguns
casos, o controle é exercido por generalizagáo.
No caso da adivinhagáo, o falante que deve adivinhar um
nome do qual náo se lembra, ás vezes o faz porque, segundo Skinner
(1957), há alguma propriedade de estímulo na ocasiáo atual que
controla a resposta adequada por generalizagáo. A adivinhagáo,
entáo, náo é considerada pelo autor como urna questáo de
indeterminagáo ou de ausencia de controle.
A apresentagáo aqui realizada nos mostra urna parcela
importante do que podemos entender por novos comportamentos.
Partiremos agora para outra parcela, a recombinagáo de unidades
ou de fragmentos de respostas.
3.2 - A Recombinagáo ría Formagáo de Novas Respostas Verbais
É possível reconhecerm os duas form as distintas de
recombinagáo na formagáo de novas respostas verbais, ñas quais
provavelmente encontraremos a agáo de múltiplos controles: 1) a
recom binagáo de unidades m ínim as de operantes e 2) a
recombinagáo de fragmentos de respostas. No primeiro caso, as
unidades mínimas referem-se a unidades que foram estabelecidas
como funcionalmente independentes. Já no segundo caso, por outro
lado, os fragmentos de respostas recombinados náo sáo tomados
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 71

como independentes funcionalmente, apenas sáo fundidos a outros


fragmentos de outras respostas pela agáo de vários controles
diferentes. Analisaremos agora essas duas formas de recombinagáo.
3.2.1 - A recombinagáo de unidades mínimas
Como já discutido no capítulo anterior, tratar das unidades
do comportamento verbal náo é o mesmo que tratar de unidades
pré-estabelecidas em um sentido semántico ou gramatical. Sendo
assim, as unidades de análise reconhecidas como tal náo sáo
palavras ou fonemas a priorie sim respostas sob controle funcional
de variáveis ambientáis. O tamanho das unidades, entáo, pode variar
bastante, indo de um único som da fala até grandes frases.
As m enores unidades dos operantes tém um papel
importante na emissáo de respostas maiores. É possível que urna
grande resposta seja ela mesma urna unidade, mas é igualmente
viável que ela seja urna combinagáo de respostas menores
existentes no repertório do individuo. Em um exemplo fornecido
por Skinner (1957), quando um químico diz diaminodifenilmetano
esta resposta pode ser urna combinagáo de diferentes unidades
distintas, cada qual sob controle de variáveis específicas: diamino,
seguido de difenil, seguido de metano. Ou ainda, o afixo //, por
exemplo, pode sozinho constituir-se como urna unidade funcional
independente (p. 62). O que nos interessa nesse instante é apontar
que a combinagáo de pequeñas unidades disponíveis no repertório
do falante pode resultar em outras respostas e, em alguns casos,
novas respostas, inclusive em um sentido original.
Mínimas unidades ecóicas sáo mais fáceis de sererri
.¡pontadas devido á corresoondéncia^ormaT éntre estímulo e
respoSTa~JáTe°ñ ~ m ve l das m enores propriedades acústicas
kfentiticadaTáesse tipo de operante. Entretanto, segundo Skinner
(T957)rag~Trñidades mínlmas~ñao sáo. em peral, _as,unidades
aprendidas primeiramente pelo individuo. Urna crianga que está
,iprendendo a faiar, segundo o autor, aprende primeiro unidades
maiores. Skinner comenta que quanto rnaior a unidade, mais difícil
. i ocorréncia de recombinagóes. Nos casos dos operantes ecóicos,
por exemplo'somente após algum treino fornecido por um adulto,
as changas desenvolvem unidades menores e por meio dessas
unidades a crianga torna-se apta a ecoar um novo estímulo.
~ Quando ás unidades menores estáo disponíveis, no entanto,
' 1.1 •podem ser combinadas para produzir urna resposta mais complexa,
i |i '(¡poderia levar muito tempo para ser modelada como urna resposta
72 Carm en S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

unitária. Urna crianga pode, por exemplo, aprendera resposta ‘‘crocodilo”,


quando esta é reforgada na presenga de um crocodilo no zoológico.
Entretanto, urna crianga pequeña pode ter dificuldades para produzir
esses sons e um atalho no ensino é a combinagáo das unidades menores
constituintes da palavra, como as suas sílabas (“cro-co-di-lo”) ou até de
fonemas ou conjuntos de fonemas, quando os sons correspondentes a
“c”, “r” e “o” sáo combinados para produzir “ero” (Skinner, 1957, p. 62).
Mesmo que as unidades nunca tenham sido reforgadas antes nessa
combinagáo, a crianga pode se tornar apta a emitir a palavra crocodilo
diante do animal presente no zoológico. Segundo Skinner, grande parte
do repertório individual é assim formado e, como pode ser visto, a aquisigáo
de um repertório ecóico propicia a aquisigáo de outros operantes verbais.
Desde que o falante possa reconhecer mínimos operantes
ecóicos como funcionalmente independentes, novas formas de
comportamento podem ser elaboradas. Um programa educacional
que enfatize mínimas correspondencias entre estímulo verbal e
resposta verbal pode ser útil; entretanto, segundo Skinner (1957),
esse náo é um caminho necessário. Desde que várias respostas com
estímulos similares possam ser reforgadas, urna crianga será capaz
de tomar o estímulo similar como funcionalmente independente e,
dessa forma, utilizá-lo na recombinagáo com outros estímulos na
formagáo de novos operantes verbais. Urna situagáo apresentada
por Skinner pode nos fornecer um exemplo: urna crianga que adquiriu
urna dúzia de palavras complexas comegadas com a letra “b” pode
ecoar urna décima terceira palavra que come.ce corrí o mesmo som,
sem treino adicional, Quando, depois de tremada a ecoar várias
respostas comegadas com “b”, a crianga passar a ecoar outras náo
treinadas, o autor comenta que podemos reconhecer o “b" como um
operante ecóico funcionalmente independente e, desse modo, como
urna unidade que pode ser recombinada com outras unidades
diferentes, ajudando assim na formagáo de novos ecóicos (p. 63).
Um repertório de mínimos operantes ecóicos pode ser útil
para a reprodugáo de vários tipos de sons diferentes, como, por
exemplo, sons de pássaros, animáis, máquinas, sotaques regionais
ou individuáis e até mesmo na aprendizagem de urna outra língua.
Essa utilidade depende também da acurada exigida pela comunidade
verbal ao reforgar urna resposta ecóica. Respostas ecóicas acuradas
ajudam com maior eficácia na apresentagáo de novos ecóicos.
Tal repertório náo somente explica o surgimento de novos
ecóicos, como também explica a facilidade com que os talantes, em
goral, conseguem engajar-se em comportamentos desse tipo No caso
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 73

do comportamento ecóico, o estímulo diz mais para o fajante sobre


comojeTedeve executar a resposta do que um estFnulo~dlscriminativo
^ T i r i T l aHó7~por~exempio, pois o estímulo discrim inativo do
comportamiento ecSicoTSíriece referencia dé cómo a resposta final deve
soar, apesar de náo encontrarmos nenhuma referencia no próprio
estímulo, de quais os movimientos dos lábios e língua que devem ser
realizados. Já no caso do tacto, o estímulo discriminativo que controla
á resposta, riem forriece o modelo do som da resposta final, nem do
movimento cometo do aparato físico da fala para que a resposta seja
produzida. Dessa forma, um repertorio com mínimas unidades ecóicas
é excepcionalmente útil para que respostas novas possam serecoadas,
podendo fazer, assim, com que outros operantes póssam ser
fortalecidos. Por exemplo, na aprendizagem de urna segunda língua,
que emi geral é aprendida por meio do uso de comportamento ecóico,
o individuo pode ecoar a palavra “book” na presenga de um livro.
Posteriormente, o livro pode passar a ser um estímulo discriminativo
para a palavra "book” comio um tacto.
A facilitagáo de aprendizagem de outros operantes e de novas
respostas também pode ser encontrada quando o falante tem um
repertório de unidades mínimas de outros operantes verbais. No
caso do comportamento textual, contudo, há urna diferenga bastante
interessante no re p ertó rio m ínim o, quando com parado ao
comportamento ecóico: a unidade mínima no comportamento textual
depende do tipo de texto, pois existem diversos sistemas de escrita:
alfabético, silábico, ideográfico, pictográfico, fonético, entre outros.
De qualquer modo, um repertório textual de unidades mínimas,
estabelecido como funcionalmente ¡ndependente, facilita, assim como
no caso do ecóico, a recombinagáo dessas unidades em outras novas,
para os sistemas de escrita que possibilitam tal recombinagáo. A
escrita chinesa, em que cada caractere corresponde básicamente a
urna palavra, possibilíta pouca recombinagáo e o dominio do
comportamento textual nesta língua requer a aprendizagem de
milhares de caracteres. Na nossa escrita alfabética, a aprendizagem
da relagáo entre um pequeño conjunto de caracteres com os
respectivos sons possibilíta comportamento textual diante de
guáisquer novas páiávTás que venham a ser encontradas, mesmo
que sejam lá ó 'pouco fam iliares quanto desoxiadenosina o u
íTñíipoliorcetica.
' As unidades mínimas ecóicas e textuais, portanto, sáo
freqüentemente, operantes que náo sáo emitidos isoladamente (como,
74 Carm en S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

por exemplo, o som consonantal correspondente á letra “b”, que nem


mesmo poderia ser pronunciado sem o acompanhamento de urna
vogal), mas que podem ser combinados de infinitas maneiras. Assim,
a resposta diante de um novo estímulo náo precisa ser diretamente
condicionada, mas pode ser produzida como urna combinagáo das
unidades já adquiridas. Já os ¡ntraverbais náo podem serobtidos deste
modo, ou seja, como urna recombinagáo de unidades já adquiridas:
eles precisam ser diretamente condicionados. O mesmo vale para
grande parte dos tactos, que também náo podem ser obtidos a partir
de urna recombinagáo de unidades, e precisam ser diretamente
aprendidos, Mas, há muitos tactos que também podem serobtidos por
[ecombinagáo de unidades, embora estas geralmente náo sejam táo
peauenai^qnanirras4JñÍdades mínimas ecóicas ou textuais. Urna
resposta como diaminodifenilmetano, quando tem propriedades de
tacto7, pode ser urna combinagáo dos tactos diamino, difenile metano,
como já vimos, e diamino, por sua vez, pode ser urna combinagáo dos
tactos amina (sob controle de urna característica química) e di (sob
controle do número de vezes em que esta característica ocorre), com
a adigáo do afixo o. No entanto, nem toda resposta que pode ser
estruturalmente analisada como urna combinagáo de unidades formáis
(como diaminodifenilmetano) é realmente urna combinagáo de unidades
do ponto de vista funcional. Diaminodifenilmetano pode, em algumas
condigóes, funcionar como um tacto unitário, sob controle do composto
químico respectivo. Urna resposta como microcomputadorgeralmente
é adquirida^ como um tacto~unitárío sob~controle-cío o b jeto
respeHívo ^rriB o ra p o ssi^er morfológicamente analisada corno urna
combinagáo de computador (que também poderia ser analisada em
unidades menores) com o prefixo minero.
3 .2 .2 - A recombinagáo de respostas fragmentarías
Na formagáo de novas respostas, podemos náo somente
encontrar a recombinagáo de unidades menores de comportamento
como também a recombinagáo de fragmentos de respostas, urna
modalidade de recombinagáo que mostra de modo claro e preciso
o papel das múltiplas causas na produgáo de comportamento verbal.
As recombinagóes desse tipo, segundo o autor, podem ocorrer
quando dois operantes tém aproximadamente a mesma forga,

7Urna resposta deste tipo é mais comumente emitida como intraverbal ou textual, mas
pode ser um tacto quando emitida (geralmente por um químico) sob controle do próprio
composto químico ou de sua representado gráfica.
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 75

simultáneamente. Nessas ocasióes, eles podem se combinar ou se


fundir em urna nova resposta, que é geralmente urna forma distorcida.
Devemos considerar, entretanto, que nem todas as distorgóes sáo
fruto de recombinagáo de fragmentos de respostas e, ao mesmo
tempo, nem todas as recombinagóes desse tipo dáo origem a
respostas distorcidas. Sendo assim, de acordo com o resultado da
recombinagáo, elas podem ser maritidas ou ignoradas nos processos
de edigáo do comportamento verbal (de que trataremos adiante).
Aigumas condigóes ambientáis ou da historia de reforgamento
do falante podem facilitara recombinagáo de fragmentos de respostas
e exemplificam a agáo da múltipla causagáo: é possível que as
respostas e nvolvidas na recom binagáo náo tenham sido
condicionadas apropriadamente, o que favorece sua fragmentagáo;
se condicionadas adequadamente, condigóes de fadiga, de doenga
do falante ou o uso de drogas também podem funcionar como
propiciadores da recombinagáo; urna audiencia que “pressione” urna
determinada resposta ou respostas que sáo emitidas sob variáveis
que náo valorizam a forma do comportamento também sáo condigóes
que podem propiciar a recombinagáo de fragmentos de respostas.
Ao tratar deste tipo de recombinagáo, Skinner destaca trés
enfoques diferentes em sua análise: 1) como os tipos de operantes
contribuem para a recombinagáo, 2) a geometría da recombinagáo
e 3) os efeitos dessa nova resposta sóbre o ouvinte.
Sobre o primeiro enfoque, verificamos que as combinagóes
podem conter extensóes iguais ou diferentes de cada urna das
respostas. No caso da combinagáo de duas palavras, por exemplo,
a palavra nova formada pode conter a primeira metade da primeira
palavra e a metade final da segunda, ou ainda um pedago maior de
urna das palavras em questáo e outro menor da outra palavra. Da
mesma forma, a combinagáo pode ser entre frases ou mesmo entre
sílabas ou fonemas. Skinner (1957) inclusive salienta que as
recombinagóes de frases com várias palavras acabam sendo mais
comuns que a de outras formas de resposta. Isso se dá porque longas
frases sáo mais difíceis de ser rejeitadas nos processos de edigáo do
comportamento verbal. No caso da recombinagáo de palavras
poderíamos ter, por exemplo, a resposta “incrível” combinada com
“inacreditável” gerando “inacreditível” ou, no caso de frases inteiras,
como apresentado por Skinner, poderíamos ter algo do tipo “Vocé
está provavelmente verdadeiro” como resultado de “Vocé está
provavelmente certo” e “Isso é provavelmente verdadeiro” (p. 296).
76 Carm en S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

É importante destacam os que as recombinagóes podem


acontecer também com o comportamento verbal em diferentes
meios, ou seja, podem ocorrer em resposías verbais vocais ou em
comportamento verbal escrito.
Sobre o segundo enfoque citado por Skinner (1957), a
geometría ou mecánica da recombinagáo, o autor comenta que duas
respostas tém a mesma forga, em geral, quando sáo fungáo de
urna mesma variável, ou seja, quando estáo sob controle de um
mesmo estímulo, como, por exemplo, no caso da combinagáo de
“pedra" e “rocha”, que poderia gerar urna resposta estranha como
“rodra” (p. 299). Em situagóes onde diferentes aspectos do estímulo
evocam diferentes respostas náo costumam ocorrer recombinagóes.
As recombinagóes sáo bastante comuns entre tactos e
intraverbais, contudo estímulos textuais e ecóicos podem contribuir
para sua ocorréncia. A ocorréncia de tais fusóes pode ser resultado
de várias condigóes de controle diferentes, como, por exemplo,
diferentes audiéncias no controle da situagáo, controle fraco da
audiencia ou mesmo a geometría dos estímulos textuais. Variáveis
“negativas” também podem contribuir para tal recombinagáo, como,
por exemplo, variáveis que suprimem partes das respostas como a
própria punigáo da resposta em situagóes anteriores (Skinner, 1957).
Em relagáo ao resultado da recombinagáo, o terceiro enfoque
a prese n ta d o por S kin ne r (1957), o a uto r com enta que a
recombinagáo pode ser, e geralmente é, inefetiva ou ¡napropriada
(como seria o caso da resposta “rodra” como recombinagáo de
“pedra” e “rocha”). Diferentemente das recombinagóes de unidades
m ínimas, as quais aparentem ente sáo mais produtivas, as
recombinagóes de fragmentos podem gerar resultados menos
frutíferos. De qualquer forma, também é possível que a nova
resposta formada seja adequada e, assim, reforgada pelo ouvinte.
Nesses casos, podemos encontrar neologismos interessantes para
a cómuriídade verbal e respostas que, com o tempo, podem se
tornar parte da língua daquela comunidade. Nesse sentido, tais
recombinagóes também podem produzir comportamento novo em
um sentido original.
' " E ntré as respostas resultantes de recom binagáo de
fragm entos que se mostram adequadas podemos encontrar
respostas com efeitos de estilo bastante interessantes. Trocadilhos
sáo um exemplo dessas recombinagóes e podem ser consideradas
como distorgóes que provocam reagóes de humor nos ouvintes. Na
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 77

literatura podemos encontrar muitos exemplos de tais trocadilhos,


assim como as parodias e recombinagóes que envolvem rimas.
Nessas ocasióes, o resultado sobre o ouvinte costuma ser positivo
e a apresentagáo dessas respostas bem sucedidas pode ser
considerada um bom exemplo de originalidade literária ou artística.
3.3 - A Fungáo dos Processos Autoclíticos na Produgáo de Novas
Respostas Verbais
Como descrito no capítulo anterior, os autoclíticos sáo
operantes verbais que tém como urna das principáis conseqüéncias
a modificagáo do comportamento do ouvinte em relagáo á reposta
verbal emitida pelo falante. Isso se deve ao fato de, como vimos, o
autociítico ser urna forma de operante verbal que sinaliza ou clarifica
algo sobre as condigóes ñas quais a resposta foi emitida ou algo
sobre a condigáo do falante que emitiu tal resposta. Neste capítulo,
entretanto, mais do que para as fungoes apresentadas no primeiro
ca pítulo deste texto, estarem os voltados para as fungoes
manipulativas e relacionáis dos autoclíticos, a fim de verificarmos
seu papel fundamental na formagáo de novas respostas verbais.
Em primeiro lugar, devemos considerar que o comportamento
verbal é emitido sob controle de variáveis ambientáis, correspondendo
ás ordens específicas de agrupamento da resposta. No caso em que
o falante emite um mando como um pedido de água, por exemplo,
ele pode pedir “Água” e ser atendido, mas provavelmente seria
atendido mais fácilmente se pedir “Um copo de água, por favor”, ou
seja, com o auxilio de autoclíticos. No caso desta última resposta. a
ordem da emissáo da resposta corresponde a urna ordem reforcada
pela comunidade verbal como “gramaticalmente correta”. A resposta
“Um copo de água, por favor” náo é equivalente a, por exemplo,
“Água um copo de favor por” e esta última pode náo ser efetiva oara
produzir a conseqüéncia relevante.
Skinner (1957) considerou ordenar e agrupar as respostas
verbais como fungoes autoclíticas. Como afirmou Skinner, “as
respostas evocadas por urna situagáo sáo essencialmente náo
gramaticais até terem sido manipuladas autocliticamente” (p. 346).
Se um estímulo ambiental evoca dois tactos diferentes, por exemplo,
a ordem desses dois tactos pode ser diversa. O falante pode comentar,
por exemplo, “Chocolate! Gostoso!”, ou “Chocolate gostoso” ou ainda
“O chocolate é gostoso”, entre outras possibilidades (pp. 334-335).
Esta última possibilidade nos mostra um exemplo da fungáo relacional
dos autoclíticos: há urna ordem e um agrupamento específicos,
78 Carmen S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

“corretos gramaticalmente”, para a formagáo de urna resposta que pode


passar a ser, de fato, efetiva.
Com os exemplos apresentados acima, podemos perceber
que o comportamento verbal tende, em certo sentido, a ser emitido
em grandes unidades verbais. Skinner (1957) argumentou que tal
“tendencia” é oriunda do fato de que o ambiente se constituí de
urna historia de desenvolvimento e, dessa forma, reforga unidades
comportamentais maiores e mais complexas ao longo do tempo.
Urna resposta truncada como “Copo! Água!”, por exemplo, pode
ser aceitável em urna crianga; contudo a comunidade verbal, com
o tempo, passa a reforgar apenas respostas maiores tais como,
“Um copo de água, por favor”, compatíveis com o desenvolvimento
do repertório do falante. O autor comenta, contudo, como já
observamos, que nem sempre urna resposta mais complexa é fruto
apenas da recombinagáo de unidades menores, neste caso, “copo"
e “água”. A resposta “Um copo de água, por favor” pode ser urna
unidade funcional controlada como um todo por estím ulos
ambientáis. O que pretendemos exemplificar é que as unidades
verbais tendem a ser mais complexas do que os mandos do tipo
“Mamáe!”, descritos no capítulo anterior, e que as formagóes de
respostas maiores dependem, na maioria dos casos, da emissáo
de formas autoclíticas para a formagáo dos agrupamentos ordenados
e relacionáis de respostas.
O uso dos autoclíticos para favorecer a relagáo entre os
operantes e agrupá-los de forma eficaz pode nos fornecer um
primeiro exemplo de como os autoclíticos podem favorecer novas
respostas. Em primeiro lugar, temos que a ordem da reposta emitida
náo necessariamente corresponde á forma padráo reforgada pela
comunidade verbal. Em relagáo á “licenga poética”, já comentada
anteriormente, urna audiencia náo punitiva pode permitir o uso de
autoclíticos no que podemos denominar de “transgressáo criativa”
dos autores e artistas em geral: urna alteragáo da ordem trivial ou
padráo pode ser reforgada em urna comunidade literária, produzindo
um resultado novo para o individuo e em alguns casos para a
comunidade como um todo. Nestes casos, temos algumas inversóes
do que costumamos denominar de sujeito e predicado, por exemplo,
ou do uso primeiro de substantivos e posterior dos adjetivos etc.
Skinner (1957) comentou tais inversóes denominando-as de recursos
de retórica. Vejamos um exemplo do uso de comportamentos
autoclíticos resultando em novas respostas verbais. Neste caso,
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 79

Manuel Bandeira,8autor do poema, brinca com a ordem das respostas


verbais e compóe, desse modo, novas respostas.

“Antonio filho de JOÁO MANUEL GONQALVES DIAS


e VENÁNCIA MENDES FERREIRA
ANTONIO MENDES FERREIRA GONQALVES DIAS
ANTONIO FERREIRA GONQALVES DIAS
GONQALVES DUTRA
GONQALVES DANTAS
GONQALVES DIAS
GONQALVES GONQALVES GONQALVES GONQALVES
DIAS DIAS DIAS DIAS DIAS
DIAS GONQALVES
DIAS GONQALVES
GONQALVES, DIAS & CIA.
GONQALVES, DIAS & Cia.
Dr. ANTONIO GONQALVES DIAS
Prof. ANTONIO GONQALVES DIAS
EMERENCIANO GONQALVES DIAS
EREMILDO GONQALVES DIAS
AUGUSTO GONSALVES DIAS
limo, e Exmo. AUGUSTO GONQALVES DIAS
GONSALVES DIAS
DIAS GONQALVES
GONQALVES DIAS
(Manuel Bandeira, 1917/1973, p. 281).

Skinner (1957) comenta outras possibilidades de formagáo


de novas respostas com o uso de formas autoclíticas. Urna délas é
a possibilidade de recombinagáo de unidades e autoclíticos com no
seguinte exemplo: quando o falante adquire urna série de respostas,
tais como “O brinquedo do garoto", “O sapato do garoto” e “O chapéu
do garoto”, a forma verbal “A (o)_____ do garoto” torna-se disponível
para ser recombinada com outras respostas, como, por exemplo,
“A bicicleta do garoto”, quando o garoto adquire urna bicicleta. Em
um caso como esse, Skinner considera que os aspectos relacionáis

8 Bandeira, M. (1994) O nome em si. Em: E s tre la d a v id a in te ira . Rio de Janeiro:


Livraria José Oympio Editora.
80 Carmen S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

da situagáo (relagáo de pertencer ao garoto) fortaíecem urna “moldura


autoclítica” (“A ( o ) ______ do garoto”), enquanto a resposta que
“preenche” a moldura (“bicicleta) é controlada pelo objeto específico
adquirido pelo garoto.
Como considerou Skinner (1957), algumas respostas sáo
novas porserem geradas simplesmente pela jungáo dos autoclíticos
a outros operantes verbais disponíveis no repertório do falante. Nestes
casos, temos a recombinagáo de unidades disponíveis no repertório
do individuo acrescidas de autoclíticos, como afirmagóes, negagóes,
qualificagóes, entre outros. Casos mais complexos podem ser
encontrados no que denominamos, em geral, de composigáo, urna
forma propiciadora de novas respostas mencionada indiretamente
em todo este texto. Skinner denominou de composigáo os casos em
que a manipulagáo do comportamento verbal resulta em grandes
segmentos de comportamento, como obras literarias, por exemplo.
Em casos como este, quando ocorre grande quantidade de
manipulagáo, inclusive relacionada ao uso da pontuagáo, a
possibilidade de formagáo de novas respostas fica elevada.

3.4 - O Papel da Auto-Edigáo do Comportamento Verbal no


Surgimento de Novas Respostas
A edigáo do comportamento verbal tem um papel importante
no surgim ento de novas re sp osta s verbais. Como vim os
anteriormente, o falante manipula comportamento verbal com a
utilizagáo dos autoclíticos, que aumentam a eficácia da resposta
sobre o ouvinte, e o controle de variáveis pode ocasionara emissáo
de novas respostas verbais.
As re sp osta s ve rb a is tam bém tém e fe ito s sobre o
comportamento do próprio falante. Quando ocorrem recombinagóes
que resultam em palavras esíranhas ou “sem sentido” o falante pode
descartá-las antes que elas possam ser ouvidas pelo ouvinte.
Nessas ocasióes, Skinner (1957) aponta que quando urna palavra
é escrita equivocadamente, por exemplo, ela pode ser apagada e
corrigida pelo próprio escritor antes mesmo que ele termine de
escrevé-la. O mesmo pode acontecer com o comportamento verbal
vocal, embora nessa forma de comportamento a rejeigáo da resposta
seja mais inefetiva, devido ao fato de que o comportamento vocal
é, na maioria das vezes, público e mais fácilmente disponível ao
ouvinte que o comportamento de escrever. De qualquer forma, sinais
do uso de edigáo sáo localizados quando o falante, por exemplo,
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 81

leva sua máo a boca mostrando que aquela resposta era inadequada
ou quando o comportamento teve urna emissáo sub-audível e pode,
assim, ser revogado.
Os autoclíticos tém urna fungáo de destaque na rejeigáo de
urna resposta porque, segundo Skinner (1957), a emissáo de um
autociítico adequado pode cancelar tal resposta. Nesse sentido, o
falante pode utilizar um autociítico como “Náo” seguido da corregáo
da resposta equivocada ou mesmo um autociítico como “Náo era
isso o que eu gostaria de ter dito...”9 (p. 370).
Skinner (19571 considera a punigáo da resposta (ou a
“ameaca" de punigáo) como urna variável de grande importancia
na reieicáo de urna resposta. Em situagóes que sinalizam ocasióes
ñas auals determinadas respostas foram punidas anteriormente, a
forga daquele operante diminui e a resposta deve ser editada. Por
outro lado, conseqüéncias positivas também sáo importantes para
o processo de edigáo. O falante pode “testar” sub vocalmente se
sua resposta é adequada, e, se for adequada, pode erniti-la em tom
audível, por exemplo. Entretanto, o que nos interessa nesse
momento sobre o processo de edigáo é a possibilidade de que ele
náo ocorra, assim como, em outros casos, a sua ocorréncia em
fungáo de variáveis que aumentam a probabilidade de emissáo de
respostas novas.
Skinner (1957) salienta que algumas respostas verbais náo
sáo editadas devido á sua grande forga. O falante entáo pode relatar
a forga da resposta com o uso do autociítico “Eu náo pude resistir
dizer...” (p. 384). Como sinalizam os anteriorm ente, algumas
respostas podem ter a mesma forga simultáneamente e sáo emitidas
ao mesmo tempo em urna forma combinada. Nesse caso, o falante
pode tentar corrigi-ias após sua em issáo, entretanto essas

9 A utilizagáo de um autociítico como “Náo era isso que eu gostaria de ter dito...” traz á
tona novamente a questáo do significado relacionada a intengáo do ouvinte, já discutida
no primeiro capítulo deste texto. Skinner (1957), em nota de rodapé (p. 370), comenta
que urna análise funcional do significado, tal como ele propde, pode dar conta da
explicagáo de urna resposta como essa considerando que ela apenas refere-se á
identificagáo por parte do falante que, de acordo com urna agáo equivocada tomada
pelo ouvinte ou de sua própria agáo como ouvinte de si mesmo, ele náo respondeu
adequadamente para as variáveis em questáo. Quando o ouvinte toma urna agáo
equivocada diante da fala do falante, ele permite que o falante possa especificar melhor
quais as variáveis que estavam no controle de sua resposta. Sendo assim, urna
explicagáo via teoría do significado em um sentido tradicional fica vetada, como pudemos
reconhecer anteriormente.
82 Carmen S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

combinagoes podem resultar em respostas novas e origináis aceitas


pela comunidade verbal como interessantes e sáo, assim, mantidas
por suas conseqüéncias reforgadoras. Nesses casos, o falante náo
as edita para “corrigi-las” e elas podem passar a fazer parte do
repertório daquela comunidade em questáo.
A edigáo pode náo ocorrer, também, mesmo que a resposta
seja estranha para o falante. Nesses casos, mesmo que as respostas
náo sejam íáo fortes como no caso anterior, elas podem ser emitidas
sem edigáo, segundo Skinner (1957), principalmente quando há um
controle fraco das variáveis, dificuldades de auto-observagáo ou
quando o falante está sob efeito de drogas, estados de hipnose ou
sono. Nessas ocasióes, o com portam ento é emitido sem as
autocorrecoes'üDicasrdoprocesso de edicáó e algumas respostas
podem ser novas por serem combinacoes de fragmentos ou de
unidades de resoostas, ou serem respostas pertencentes ao
repertorio do individuo, porém. utilizadas agora em situagóes ñas
quais náo haviam sido diretamente reforgadas.
Por fim, podemos comervfaFcomo'um ponto importante do
processo de edigáo no surgimento eje comportamento novo a sua
ocorréncia em fungáo de audiéncias especiáis. Desde que, como
proposto por Skinner (1957), as práticas de urna comunidade verbal
modelem e mantenham o comportamento verbal, as diferentes
audiéncias propíciam vários graus de edigáo do comportamento do
falante. Como foi com entado anteriorm ente, as audiéncias
selecionam diferentes tipos de respostas no repertório dos individuos
e podem estar combinadas com outras variáveis na determinagáo
do comportamento.
Quando o faiante serve como audiéncia para o seu próprio
comportamento ele é, geralmente, livre de punigóes10. Se a punigáo
é urna das variáveis de destaque para a necessidade de edigáo de
urna resposta, Skinner (1957) considera que, para a maioria dos
casos, urna audiéncia náo punitiva deve favorecer a emissáo de
comportamento verbal e diminuir a atuagáo do processo de edigáo
das respostas verbais. Dessa forma, entáo, segundo Skinner, o falante

10 Esta questáo pode ser um pouco mais complexa.. Náo estamos excluindo a
possibilidade de que o individuo que é seu próprio ouvinte também puna, através, por
exemplo, de formas de autocrítica. Estas formas de autopunlgáo e seu possível efeito
poderiam ser, inclusive, um campo para investigagáo empírica. De qualquer modo,
parece razoavelrnente seguro afirmar que as pessoas dlzem a si mesmas coisas que
nao dlriam a outra audiencia.
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 83

pode comportar-se de urna maneira que náo se comportaría diante de


outros, como quando escreve seus segredos em um diário, por
exemplo. Com a emissáo de comportamento verbal aumentada diante
de audiéncias náo punitivas há urna maior probabilidade de que novas
respostas possam ser emitidas devido á variedade de respostas
emitidas.
Um ambiente literario funciona, como já foi mencionado, como
urna audiéncia deste tipo, ou seja, náo punitiva. As formas de
reforgamento próvidas pelo grupo em questáo sáo mais ampias, por
náo dependerem d ire tam en te da co rre sp on d en cia entre o
comportamento verbal do escritor e um dado estado de coisas no
mundo, ou seja, um escritor náo seria punido por escrever fatos que
náo ocorreram, urna vez que o ouvinte náo deve tomar nenhuma
agáo relacionada ao fato. Além disso, Skinner (1957) sinaliza que o
ambiente literário utiliza o que se costuma chamar de licenga poética.
Taí licenga favorece o uso de metáforas, mandos mágicos, múltiplos
eféitos e tactos distorcidos (tactos que, como foi dito anteriormente.
sáo emitidos sob o controle de estímulos que, em geral. controlam
outras formas de respostas: as mentiras ou invencoes podem ser
consideradas como urna forma de tacto distorcido), que já foram
aqontados como urna forma de comportamento novo. Podemos entáo
concluir que o ambiente literário tem elementos importantes no
surgimento de novos comportamentos. A escolha dos temas e dos
operantes utilizados náo somente é pouco punida, como também é
amplamente reforgada quando o falante (ou escritor) utiliza novas
respostas, favorecendo, desse modo, o aparecimento do que
costumamos chamar de criatividade.
3 . 5 - A Diferenciagáo por Aproximagáo Sucessiva na Aprendizagem
de Novas Resposías
A m odelagem é urna form a natural de selegáo por
conseqüéncias. Como indicamos no tópico sobre o modelo causal
de selegáo por conseqüéncias, o ambiente seleciona variagóes
comportamentais e tais variagóes, na maioria dos casos, constituem
mudangas em pequeña escala dos comportamentos em questáo.
Como indicou Skinner (1981/1987a), os comportamentos náo
apareceram no repertório dos individuos tal como os conhecemos
atualmente e versoes menos complexas devem ter feito parte do
repertório de nossos ancestrais. Da mesma forma, no nivel
ontogenético, o comportamento é selecionado e modelado no repertório
do individuo por meio de aproximagáo sucessiva.
84 Carmen S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

Quando Skinner (1953/1965) comentou sobre a manutengáo


do comportamento operante e considerou, como apresentado
anteriorm ente, que o condicionam ento operante m odela o
comportamento como um escultor modela um pedago de argila, ele
se referia exatamente ao processo de modelagern ou de diferenciagáo
por aproximagáo sucessiva. O resultado do artista, um objeto
aparentemente novo, é “novo” apenas por ser distante formalmente
do pedago de argila inicial, pois é possível que possamos verificar as
etapas de produgáo do objeto, as quais compreendem o reforgamento
de pequeñas variagóes de cada etapa anterior.
Diante de um comportamento complexo, portanto, devemos
reconhecer que sua forma final náo deve, necessariamente, ter sido
atingida em urna primeira tentativa. Quando, por exemplo, urna crianga
é capaz de repetir urna palavra dita pelos pais, ela provavelmente
deve ter emitido respostas próximas á resposta dos pais, porém apenas
parcialmente “corretas”. De fato, urna crianga náo emite balbucios
indiferenciados, típicos dos primeiros meses de vida, e logo em seguida
adquire repertório de frases complexas em urna única emissáo de
respostas: respostas intermediárias sáo necessárias.
Os procedimentos
envolvidos no surgimento
de comportamentos
verbais novos

Recapitulando o que vimos até o momento, podemos destacar


algumas características da análise funcional do comportamento verbal,
proposta por Skinner (1957): 1) as contingéncias am bientáis
selecionam. deoendendo das variáveis em questáo, um tioo de
operante verbal disponível no repertório do falante (ou a combinagáo
de dois ou mais tipos); 2) a variabilidade comportamental é um
conceito chave no modelo causal de selegáo por conseqüéncias e na
definigáo de comportamento operante e 3) alguns processos, como a
qeneralizacáo de estímulos (responsável pelo surgimento de
extensóes), os autoclíticos, a recombinagáo de unidades e a edicáo
de comportamento, contribuem para o aumento na variabilidade das
respostas e, com isso, para o surgimento de novos comportamentos
verbais.
Neste capítulo, verificarem os alguns procedim entos
descritos por Skinner (1957) como propiciadores de novas resposías
verbais, enfatizando que comportamento verbal novo pode ser
produzido de acordo com manipulagóes ambientáis, mesmo que
se trate do ambiente privado do falante, como em alguns casos de
manipulagáo de variáveis motivacionais ou emocionáis do falante.

1 - TÉCNICAS DE AUTOFORTALECIMENTO DO COMPORTAMENTO


VERBAL
Consideraremos agora algumas ocasioes ñas quais o falante
náo é capaz de responder adequadamente ao estímulo controlador
da resposta e, desta forma, urna resposta verbal fica faltando, mesmo
que em outras ocasioes o falante tenha respondido adequadamente
86 Carm en S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

em situagáo semelhante. Nessas ocasioes é preciso que se considere


alguns procedimentos utilizados pelo falante para “encontrar” ou
produzir urna resposta que náo está ¡mediatamente disponível em
urna determinada situagáo, ou seja, procedimentos que fortalegam
urna resposta que, por algum motivo, se encontra com urna baixa
forga no repertório do individuo. Skinner (1957) denominou estes
procedimentos de autofortaiecedores do comportamento.
Por autofortalecimento das respostas verbais podemos
entender a utilizagáo de técnicas empregadas pelo falante para o
aumento da disponibilidade de respostas já pertencentes ao seu
repertório com alguma forga (Skinner, 1957). Normalmente, tais
procedimentos devem ser utilizados pelo falante quando há algum
problema ou dificuldade com o controle de variáveis: o estímulo
pode náo ser suficientemente ciaro, a resposta pode ter sido
fracamente condicionada ou condicionada sem respeito á forma,
bem como a resposta pode ter sido aprendida inadequadamente.
Além disso, como o comportamento verbal possui múltiplas causas,
e, desta forma, urna variável pode evocar mais de urna resposta ao
mesmo tempo, é possível que a resposta do faltante esteja
enfraquecida por concorrer com outra resposta disponível com maior
forga no repertório do individuo. Este caso, pode ser exemplifícado
pela situagáo de quando tentamos dizer o nome de urna pessoa,
mas a resposta que nos ocorre é outro nome, que ¡nterfere com o
correto. Em situagóes como essas, podemos perceber que as
respostas já pertencem ao repertório do faiante, porém problemas
no controle das variáveis em questáo inviabilizam sua emissáo.
O ponto que nos ¡nteressa nos p ro ce d im e n to s de
autofortalecimento de comportamento verbal é o fato de que
encorajar o próprio comportamento, mesmo quando este já tenha
sido adquirido anteriormente, disponibiiiza urna maior gama de
respostas do repertório do in d ivid uo . Com o aum ento da
variabilidade, novas respostas podem surgir desses procedimentos.
Sendo assim, o autofortalecimento pode ser um caminho importante
no aumento da variacáo dessas repostas, inclusive para o
surgimento de novas respostas verbais em um sentido original.
1.1 - A Manipulagáo de Estímulos
A manipulagáo de estímulos é a primeira técnica apresentada
por Skinner (1957) para a produgáo de novas respostas verbais.
Quando o falante náo consegue responder adequadamente a um
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 87

objeto, por exemplo, urna saída possível para que urna resposta possa
ser emitida é a melhoria do contato com o referido objeto por meio
da manipulagáo de estímulos. Quando diante de um objeto o falante
é incapaz de dizer algo sobre ele, ou seja, se urna resposta adequada
está faltando, o falante pode manipular estímulos para que novas
variáveis passem a fazer parte da ocasiáo e, sendo assim, para que
essas possam controlar resposías existentes em seu repertório quando
náo estiverem disponíveis no primeiro contato. Dizer que a qualidade
da relagáo com o objeto é melhorada significa dizer que o falante
pode manipular variáveis que aumentam a probabilidade de emissáo
de urna resposta adequada por funcionarem como estím ulo
discriminativo suficiente para a emissáo da resposta.
A manipulagáo dos estímulos, segundo Skinner (1957), pode
consistir em simples comportamentos como, por exemplo, olhar
para o objeto por um período de tempo maior, aumentar os estímulos
utilizando instrumentos de aumento (urna lupa, por exemplo) ou
mesmo olhar o objeto em diversos ángulos diferentes. Urna forma
possível de resposta, nesses casos, é a metáfora, visto que, como
já comentado anteriormente, extensóes metafóricas sáo comuns
nos casos em que ve rifica m o s a fa lta de urna resposta
correspondente ao objeto em questáo.
Segundo Skinner (1957), outras técnicas simples podem
fornecer ao faiante a própria resposta que está faltando. Por
exemplo, se um consumidor vai a um supermercado e náo consegue
se lembrar de todos os produtos que deveria comprar, urna saída
seria produzir urna lista de compras antes de sair de casa.
Provavelmente, em casa, a estimulagáo sobre os produtos que
faltam será mais efetiva, visto que o individuo pode olhar em
d e te rm in a d o s locáis e v e rific a r que falta m coisas que
costumeiramente estáo ali. A lisia, entáo, é mais fácil de produzir.
Já quando o individuo está no supermercado, a estimulagáo
específica para produzir algumas respostas pode ser fraca ou pode
haver grande estjmulacáo que funciona como ocasiáo para a
emissáo de outras respostas, as quais podem ser, inclusive,
concorrentes ás respostas de nomear os produtos necessários.
Neste úitimo caso, o s¡.-jeito pode vir a comprar proautos que náo
precisava, por exemolo, devido á forte propaganda e acabar
deixando os que realmente eram necessários na prateleira.
A manipulagáo de estímulos também pode favorecer a aquisigáo
de respostas novas em um sentido original. Segundo Skinner (1957),
Carm en S. M. B andini s j„ |io c . c . de Rose
A abordagem behaviorista do comportamento novo 89

* forma
infantis), em novas situagóes, sob controle de outras audiéncias
com binar estímulos disDonívpk o P08taa' Por exemplo, podemos
(escrevenao agora sátiras, por exemplo).
profissoes com outros d/knn - m Uma lsta de tipos diferentes de
individuáis e ou,°a S SnS ° nára?dem Um° 1,8,8 “ m características 1.2 - Mudangas no Nivel de Edigáo do Comportamento Verbal
arranjos possiva s o o d lm „JpreocuPaí<ies cotidianas. Os Outra técnica apresentada por S kinner (1957) como
(alante, L p o r R
e
m
o
t nT ? 308,38 r'U'1Ca antes a™ “ aa Pelo autofortalecedora de respostas verbais e propiciadora de novas
xadrez”. U rn a o u tm S a „ „ ! • ^ ueir0 « « e » interossado respostas é a mudanga nos níveis de edigáo do comportamento
produgáo de novo material verbal n h8 & manipular estímulos para verbal. Skinner comenta que é possível que o faiante ou escritor
inversa. Em a m b o T o s T c a ^ a In v ^ repet!r Uma frase em «Sem modifique os níveis de edigáo do comportamento verbal “entrando
no processo de edigáo do c o m p o r t a m e n t o v ^ b a r " ^ 3 ° U rej6Ítada no clima ou no humor”, como quando o falante ou escritor utiliza
certos tipos de drogas ou estados de hipnose, por exemplo. Como
comportamentos t r iv ia f do fS a n te ° E ^ 0C° T U nseaparecem como vimos no capítulo anterior, um afrouxamento no nivel de edigáo do
outras form as de est m ulos * P° dem ÍndUSÍVe en9lobar comportamento permite que respostas novas, mesmo que estranhas
momento O f a l a n t e ^ apr6Sentados até o ou esquisitas, sejam emitidas em algumas situagóes.
maisreforgadora para sua fala n ’ h 'd& procurar porum a audiencia Mais que isso, entretanto, Skinner (1957) considera necessário
punitiva de s e u í * * * , d¡ante de uma h i é n d a que o falante construa variáveis relevantes para encorajar seu próprio
p u n itiv a pod e en?áo 'T n Z \ 3 ^ Uma "o va audiéncia náo comportamento verbal, como, por exemplo, repetindo comportamento
c o m p o rta m e n to de fa ia do ; e f° r?ad o ra ta n to para o previamente reforgado. Quando o falante ou escritor tem dificuldades
comportamento de mudar de audiencia eComUoa n t° ° próprio em emitir alguma resposta verbal, ele pode entáo suprir essa falta
reforgadora aumenta a nrohahn a ? ? om ovm os, uma audiéncia relendo uma carta, se o problema for conseguir comportamento verbal
com portam entorverbais fa u p f ° falante 86 engajar em necessário para escrever uma resposta ao autor daquela carta;
em quantidade S° mente ° aumento provocar respostas estranhas, se a resposta desejada for alguma
aumento da variabilidade das roso t ba ’ C° m° 3 possibi,|dade do resposta diferente ou esquisita ou até mesmo faiar em outro idioma
que um p r o c e d i m e ^ Isso significa dizer se há necessidade de que ele se apresente para uma audiéncia em
resposta que faltava diante de umohiot°de 1130 someníe prover urna outro Idioma. Skinner comenta que todas essas construgóes de
a utilizagáo de extensóes de nner f ° para ofalaníe- oomo provocar variáveis relevantes devem também conter em algum grau um
Procurar ñor n o , f ° peraníes ^rb a is , por exemplo.
relaxamento no nivel de edigáo das respostas emitidas: assim
segundo Skinner (1 957 T s ^ c o n s T r i ^ í iÍterários’ também pode, podemos verificar náo somente um aumento na produgáo de
estímulos. O escritor n e l 3d° C° m° manipulagáo de comportamento verbal, como na variabilidade das respostas.
como escrever fábulas história^'inf ^ n° Vas formas de escrever,
sua a ud iéncia As ¿ íe r e n tU f " í ■.satíras- entre outras, muda 1.3 - “Comportamento Verbal” Produzido de Forma Mecánica.
selecionadoras de diferentes re o e r t^ '8 " 8133 funcionam como Outra proposta de Skinner (1957) como uma técnica de
utilizadas em sátiras podem n J Ü ? Verbais; formas verbais autofortalecimento e produgáo de respostas verbais é a manipulagáo
utilizadas em e ’ portanto. "ao “mecánica” de variáveis ou de operantes verbais. Um tipo de
literario, o Jalante. e n S o .tfe d o n a L v í T ° ' A° mudar 0 esllto manipulagáo citado pelo autor é a manipulagáo randomica ou
e favorece outras (e novas) fn rm a 38 ormas c°mportamentais sistemática de letras ou palavras. O falante pode permutar e
mesmo tempo, e l? serbal. Ao combinar letras ou palavras aleatoriamente na tentativa de obter
perienciam ao seu repertório J nri " prt' 9ar respostas que já respostas adequadas á situagáo. O produto final é em grande parte
revogado nos processos de edigáo por sua incoeréncia ou
90 Carm en S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

esíranheza, entretanto, tal manipulagáo pode resultar em organizagóes


interessantes e aproveitáveis.
Com essa forma de manipulagáo, segundo o autor, é possível
que se atinja resultados humorísticos com a produgáo do que Skinner
(1957) denominou de “comportamento verbal distorcido”. O autor
comenta que a produgáo mecánica de respostas verbais também
incluí o rearranjo mecánico de variáveis relevantes, como quando
urna resposta intraverbal é quebrada pela ¡ntrodugáo mecánica de
um novo estímulo que produz uma resposta ainda náo relacionada
a tal intraverbal.
1.4 - Modificagóes de Variáveis Motivacionaís e Emocionáis do
Falante ou Escritor
A modificagáo nos níveis de privagáo/saciagáo e emocionáis
do falante ou do escritor também pode propiciar o autofortalecimento
do comportamento verbal. Por exemplo, o individuo pode gerar
condigóes aversivas das quais poderá escapar somente com a
produgáo de respostas verbais. Da mesma forma, um escritor pode
se colocar em um local isolado de contato social, ou seja, se manter
em privagáo de contato social, para produzir textos sobre a solídáo.
Nesse sentido, é possível que variáveis emocionáis também
sejam m anipuladas, como quando verificam os aum ento na
probabilidade de responder a uma carta quando o escritor relé a
carta minutos antes de iniciar a escrita de sua resposta. Nesses
casos, o escritor ou faiante pode também ouvir músicas, ler textos
“carregados de emogáo”, entre outras possibilidades, para conseguir
“entrar no clima” da composigáo desejada (Skinner, 1957).
1.5 - Utilizagáo de Períodos de “Incubagáo”
Skinner (1957) denominou de períodos de incubagáo aqueles
períodos nos quais o falante fica “sem pensar” em um assunto sobre
o qual as respostas verbais estáo faltando. Tais períodos de
incubagáo sáo comumente conhecidos como “dormir sobre o
problema”. Quando uma resposta que náo estava disponível ocorre
depois de um tai período de incubagáo, o senso comum e algumas
teorias explicam sua ocorréncia como um insight, provavelmente
oriundo do inconsciente do falante. Contudo, para Skinner, se náo
há motivos para considerarmos que processos obscuros como
insights produzam resposta abertas, entáo, náo há motivos também
para que se acredite que tais processos acontegam nos casos de
respostas encobertas ou “inconscientes”, apenas porque essas
respostas sáo emitidas abruptamente.
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 91

A explicagáo skinneriana para o surgimento das respostas


nestes casos, entáo, somente pode estar baseada ñas relagóes de
controle das respostas em questáo: o que acontece, na visáo de
Skinner (1957), é que os períodos de incubagáo favorecem que tais
variáveis oossam entrar em um arranjo mais eficaz para o
fnrtalpnimontn dn rosnaste, e entáo. podem tornar possível sua
emissáo. Dito de outra forma, as respostas surqem após os períodos
de incubagáo, porque tais períodos podem favorecer que variáveis
concorrentes ou competidoras desaparegam ou que outras variáveis
pertinentes entrem na situacáo, permitindo a emissáo da resposta.
Por exemplo, quando o falante náo é capaz de recordar o nome
correto de alguém e apenas consegue emitir uma resposta que
reconhece estar errada, favorecer períodos de incubagáo pode ser
eficaz em eliminar as variáveis controladoras da resposta incorreta,
propiciando assim a emissáo da resposta adequada. Segundo o
autor, um bom pensador sabe que em algumas ocasioes algumas
variáveis levam um período de tempo para entrarem em um arranjo
melhor para a emissáo de uma resposta. Assim, o bom pensador
pode "dormir” sobre o seu problema ou “pensar em alguma outra
coisa" para encontrar uma solugáo.
Neste ponto de nossa argumentagáo o leitor pode estar se
questionando sobre como os procedimentos de autofortalecimento
de uma resposta poderiam funcionar se o falante ainda náo
possuísse a resposta em questáo, ou seja, como tais procedimentos
seriam úteis para a aprendizagem de novas resposías. Por exemplo,
de que adiantaria mudar de audiéncia ou rearranjar variáveis se a
resposta requisitada na situagáo ainda náo faz parte do repertório
do falante? De fato, até aqui as técnicas de autofortalecimento
apresentadas, dizern respeito, geralmente, ao surgimento de
re sp o sta s d is p o n ív e is no re p e rtó rio do in d iv id u o , porém
enfraquecidas pelos motivos já discutidos. Trataremos a partir de
agora, entáo, dos procedimentos responsáveis pela emissáo de uma
resposta que está faltando no repertório do individuo porque ainda
náo foi adquirida pelo falante,

2 - A PRQDUQÁO DE NOVAS RESPOSTAS VERBAIS NÁO


DISPONÍVEIS NO REPERTÓRIO DO FALANTE

2.1 - A Modeiagem Como um Procedimiento


Como uma forma natural de selegáo pelas conseqüéncias, a
diferenciagáo por aproximagáo sucessiva, apresentada no capítulo
anterior, pode ser também considerada como um procedimento
A a b o rd a g e m b e h a v io ris ta do c o m p o r ta m e n to novo
93
92 Carmen S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

2 2 - Outras Técnicas Disponíveis


importante para a aprendizagem de novas respostas. Denominado por ' A modelagem náo é o único procedimento d ^ ^ n rv e l pa ^
Skinner de modelagem, o processo de selegáo torna-se um
instalagáo de respostas no reper o , n§0 d¡sp5 e de uma
procedí mentó na medida em que é planejado artificialmente como
comenta que em situagóes em q tas verba¡s podem ser
uma forma de instalar novas respostas no repertório de um individuo.
resposta que “precisa emitir, no P h_ „tan+e simples. Estas
A modelagem como um procedimento, consiste, segundo Skinner
instaladas por meio de algumas ec i g dos arranjos de
(1953/1955), em eieger uma resposta como sendo o comportamento
final a ser alcangado e reforgar formas cada vez mais próximas dessa
resposta, até que o comportamento final desojado seja emitido. O
reforgo de formas cada vez mais próximas da resposta final é
z& 'S ttsE B ssssr-
denominado de reforgo diferencial. Para entendermos esta questáo,
vejamos um exemplo relacionado ao estabelecim ento de um
repertório de comportamento ecóico em uma crianga. Um pai deseja pode viajar para conhecer no /os p . t¡aador buSca informagóes
que seu filho diga uma determinada palavra, por exemplo, “Papai”.
Por meio de um mando do tipo “Diga Papai”, o pai fornece um estímulo
discriminativo para que a crianga possa responder. Emitida a resposta, essas* ativictedes traaem para o
esta será reforgada se corresponder a “Papai” e corrigida se náo
corresponder a “Papai”. Contudo, se a crianga náo consegue faiar falante ou escritor novasrespostasi ver a 'rs ostas v e rba¡s. o
“Papai” ¡mediatamente, o procedimento de modelagem consistirá em c o m p o rta ^ n to d e ^ b s e ^ rd e t^ h a d a ^ n te ^ a jn W e n te é te ^ b é m
reforgar as respostas mais próximas de “Papai", como “Babaí” ou
“Papi”, ou respostas próximas destas, e, ao mesmo tempo, extinguir considerado por Skinner ( l » o ) , de ser “urn bom
as respostas mais distantes da resposta desejada. devidam ente reforgado, 0 c° r ^ ta ra ¡ndam a¡sonúm erode
Da mesma forma que o procedimento de modelagem pode observador” pode funcionar para , te Se uma viagem
instalar respostas simples como “Papai”, também pode ser útil para respostas disponíveis rio reperto i nQ repertorio de um
instalar respostas mais complexas, as quais podem, inclusive, serem pode aumentar o numero de tactos¡ P ajnda ma¡s este número
consideradas como novas em um sentido original. Por exemplo, falante, como vimos acima, pode a P Este é um tipo de
um professor pode modelar o comportamento dos seus alunos de se
comportamento fácilmente instalado pela comumc ^ ^verbal,
o falante for um 0Df rva? °" Co
a ae®a comUn¡dade nQVOque,
na
escrever textos. Escolhido um comportamento final como, escrever
em geral, utiliza perguntes do ipo ^ conheceu 0u aprendeu
sobre determinado assunto, eieger uma tese sobre esse assunto,
viagem que fez? ou Conte q for efjcaz em instalar
considerar os argumentos contra e a favor da tese e concluir o texto,
o professor pode reforgar diferencialmente as respostas emitidas com sua viagem.” , etc.. Se a c am biente favorecer a
pelo aluno, até que ele chegue a emitir o comportamento final esse tipo de com portam en o ysá-lo entáo, como um
observagáo cautelosa, o falante poderá usa ’
desejado. Este é um trabalho berri mais complexo e, talvez, mais
procedimento útil na aquisigáo ^ que
demorado que o do nosso exemplo anterior e deve, também Skinner (1957) argumenta que qualquer co np ^ fun?_o
depender de outros comportamentos do aluno, como, por exemplo, clarifica ou melhora a qu¡a!idade d j* u m ' de uma resposta.
o de pesquisar material sobre o assunto a ser escrito, ver filmes discriminativa importante e posaib P te¡evisáo, limpar o
relacionados e etc.. De qualquer forma, casos como estes podem, Comportamentos como o as,nton»a^t t
\U
e
m
ao final, produzir comportamento novo: o aluno pode emitir a
resposta final, produzindo um texto elaborado e com todos os
requisitos desejados pelo professor, e pode ao mesmo tempo,
S S " * * üvro empoeirado.
argumentar sobre a tese em questáo de uma forma nova para a
comunidade verbal na qual está inserido.
Comentários adicionáis

1 - A C IE N C IA E A L IT E R A T U R A CO M O E XEM PLO S DOS


PROCESSOS E PROCEDIMENTOS APRESENTADOS
Desde que o comportamento verbal possa ser analisado
como uma forma de comportamento definida dentro do modo causal
de selegáo por conseqüéncias (Skinner, 1957; 1981/1987a), podemos
verificar que o surgimento de novos comportamentos se dá por meio
dos processos de variagáo e selegáo ali especificados. As
modificagoes ambientáis podem gerar, e geralmente o fazem, novas
respostas verbais, as quais, juntamente com os procedimentos que
as originam, já foram mencionadas neste texto. Apresentaremos
agora alguns exemplos de produgáo de novos comportamentos
verbais, como as produgoes verbais científica e literária.
A comunidade científica, segundo Skinner (1957), mostra-se
como uma comunidade engajada na produgáo de comportamento
verbal novo, também em um sentido original, devido ao acumulo de
técnicas ao longo do tempo. A produgáo cientifica pode ser considerada.
em grande parte, como a produgáo de novas respostas verbais
construidas pela manipulagáo de variáveis ambientáis, ou seja, das
“contingéncias necessárias" especificadas por Skinner (1968).
Segundo Skiririer (1957), o dentista direciona-se de uma
série de respostas para outra série mais útil e adequada. Os dentistas
manipulam variáveis ambientáis e, com Isso, conseguem novos
comportamentos como resultado.1 As variáveis responsáveis por
essa produgáo sáo específicas. Uma das variáveis mais importantes

1 Nao estamos aquí querendo assumir qualquer posigao sobre uma Fiiosofia da
C iéncia do B eh aviorism o R adical. A pe na s destacam os alguns aspectos
apresentados por Skinner (1957) quanto ao caráter produtivo da ciéncia.
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 95

a serem destacadas é que, em uma comunidade científica a criagáo


de um sistema de regras e de um vocabulário próprio torna-se
necessária para que a confusáo ñas definigóes de termos e
procedimentos seja reduzida aó mínimo. Isso se dá, como vimos,
porque o ouvinte deve estar apto a tomar agóes adequadas diante
do comportamento verbal do cientista. Por exemplo: um relato
científico de um experimento deve permitir que o ouvinte, um outro
pesquisador, possa reproduzir o experimento ali especificado. Ao
mesmo tempo, o texto também deve ser suficientemente claro para
que o ouvinte possa tomar as agóes corretas sobre os termos
utilizados pelo falante e, dessa forma, estes devem ser bem definidos
e náo ambiguos. Neste sentido. Skinner argumenta que uma
extensáo metafórica, assim como as extensóes metonímicas e
solecísticas, náo sáo adequadas para o uso em textos científicos
porque minimizam a precisáo desejada. Desse modo, a comunidade
científica pode punir seus usos.
Contudo, devemos salientar que a busca por uma maior
precisáo científica nao excluí totalmente o uso de extensóes
metafóricas e Skinner (1957; 1968) menciona que em alguns casos
a m etáfora torna-se um recurso utilizado. Por exem plo, a
necessidade de uma m aior precisáo dos term os tem como
conseqüéncia a criagáo de novos termos e de um vocabulário
específico da comunidade científica. 'Tal vocabulário é, na maioria
das vezes, formado por extensóes metafóricas. Um exemplo pode
ser fornecido utilizando-se uma passagem do nosso primeiro
capítulo. Como vimos, o próprio Skinner, na busca de evitar
corifusóes entre a historia de usos de termos como “linguagem” ou
“língua”, optou pela utilizagáo do termo “comportamento verbal”
para designar o objeto de estudo de sua análise, cuidando para que
sua definigáo fosse apresentada dentro da perspectiva do
Behaviorismo Radical. Assim como o termo “comportamento
verba!”, Skinner (1957) utilizou outros novos termos na designagáo
dos operantes verbais, como tacto, que segundo o próprio autor faz
rnengáo “a fazer contato com”, mando e falante, por exemplo. Nesta
diregáo, portanto, a ciéncia permite, mesmo que inicialmente
apenas, o uso de termos metafóricos em alguma escala.
O uso de tais metáforas se faz em conjunto com outras
respostas verbais que enfatizam qual a propriedade do estímulo
controladora da resposta e minimizam, assim, a possibilidade de
ambigüidade do termo. Skinner (1957) escreve;
96 Carm en S. M. Bandini & Ju lio C. C. de Rose

Extensáo metafórica pode ocorrer, porém a propriedade


controladora é rápidamente enfatizada por contingéncias
adicionáis, as quais convertem a resposta em uma abstragáo;
ou a metáfora é roubada de sua natureza metafórica por
meio do uso de controle de estímulo adicional (p. 419).
Com algum a cautela, portanto, o uso da m etáfora é
reconhecido. Eia é utilizada e, a seguir, transformada em tactos
comuns ou abstragoes, por exemplo.
Porém, neste ponto podemos levantar um ponto irtteressaníe
sobre a relagáo entre metáfora e ciéncia. Numa metáfora, um tacto
é aplicado a um objeto ou situagáo na qual ele náo é normalmente
utilizado. A aplicagáo se dá com base numa propriedade que o
novo objeto ou situagáo tem em comum com a propriedade original,
ou seja, aquela em que o tacto em questáo é usualmente reforgado.
A metáfora tem, portanto, um caráter de originalidade, por, de certo
modo, isolar uma propriedade da nova situagáo, para a qual a
metáfora, por assim dizer, chama a atengáo da comunidade verbal.
Desta forma poderíamos. em certo sentido, considerar a própria
produgáo científica como uma produgáo metafórica: a produgáo
científica identifica novos controles ainda nao identificados
anteriormente, trazendo para a comunidade novas propriedades de
estímulos como controladoras de respostas.
Como outro aspecto importante, tíévemos destacar que as
práticas de uma comunidade científica exemplificam alguns dos
procedimentos apontados por Skinner (1957) como produtores de
novas respostas verbais, na medida em que sáo procedimentos
manipuladores de variáveis ambientáis. Com a utilízagáo de
métodos de experimentagáo, por exemplo, a comunidade traz para
si a apresentagáo de novos estímulos, os quais podem controlar
novas respostas verbais. Da mesma maneira, novos problemas
surgidos na comunidade verbal exigem a aplicagáo de técnicas de
produgáo de novos comportamentos para que uma solugáo possa
ser alcangada. Nesse sentido, a comunidade científica utiliza a
manipulagáo de estímulos ao manipular regras ou axiomas, ao
substituir termos por outros termos “equivalentes” ou escrever uma
expressáo ern “termos lógicos equivalentes”, por exemplo. Como
resultado, ela obtém novos estímulos, em geral novos estímulos
textuais tais como novas equagoes, expressóes, leis etc.. Desses
novos estímulos, novas respostas sáo produzidas, funcionando como
a “resolugáo dos problemas" pesquisados pela comunidade.
1
A abordagem behaviorista do comportamento novo 97

A descoberta de novo material pode fornecer á comunidade


novos tactos e novos intraverbais. A comunidade, entáo, confirma
e avalia a validada dessas novas respostas, como indicado por
Skinner (1957), pelo uso de variáveis adicionáis que aumentem a
probabilidade daqueia resposta, como quando a resposta controlada
por um objeto distante, um tacto fraco do tipo “Acho que é um
telescopio”, é confirmada pela aproximagáo do sujeito ao objeto, e
o tacto passa a ser “Eu sei que é um telescopio” (p. 425).
Quando novo material verbal é produzido, ele é descrito
por a utoclíticos e intraverbais específicos, que permitem a
reprodugáo e o surgimento de novas respostas. Nesse sentido,
podemos concluir que o conhecimento científico é um saber
construido sobre o conhecimento já adquirido, com a manipulagáo
das respostas já adquiridas, e direcionado para a produgáo de novos
estímulos, sobre os quais, mais tarde, novas respostas seráo obtidas.
A co m u nid a de iite rá ria , por o utro lado, reforga
comportamentos novos de forma distinta da comunidade científica,
pois, como vimos, ela reforga uma maior gama de novas respostas
e náo exige a precisáo de termos requerida na produgáo científica.
A criatividade ou originalidade em uma obra Iiterária, entáo, pode
ser diferente da de um texto científico, á medida que está ligada
tanto ao surgimento de novos co/nportamentos verbais, como
também ao uso de respostas novas náo origináis para a comunidade
verbal em questáo. Na literatura é possível classificarmos uma
obra como criativa, mesmo que essa náo apresente novos tactos,
mandos ou outro operante verbal novo qualquer. Da mesma forma,
é possível que eia seja ¡novadora, inclusive, para a comunidade
verbal na qual seu escritor está inserido porque o escritor pode
comportar-se ¡ivremente produzindo extensóes de tactos e mandos,
ou combinagoes de palavras conhecidas em arranjos inusitados,
entre outras formas propiciadoras de novas respostas. Vejamos
alguns exemplos de textos literários.
Em Memorias Postumas de Brás Cubas,2 de Machado de
Assis, encontramos exemplos interessantes da criatividade Iiterária:
o personagem Brás Cubas, autor das memorias, comega narrando
sua moríe, sinalizando para o leitor a novidade da estrutura Iiterária
de sua obra.

2 de Assis, M. (1994). Memórias Postumas de Brás Cubas. Sáo Paulo: Sipione.


(Trabalho original publicado em 1880).
98 Carm en S. M. Bandini & Julio C. C. de Rose

Suposto o uso vulgar seja comegar pelo nascimento, duas


consideragoes me levaram a adotar diferente método: a
primeira é que eu náo sou propriamente um autor defunto,
mas um defunto autor, para quem a campa foi outro bergo;
a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais
novo. (Machado de Assis, 1880/1994, p. 7).
Esse é um trecho rico para exemplificarmos o comportamento
verbal criativo. O uso do tacto distorcido “um defunto autor” mostra,
como argumentou Skinner (1957), que o comportamento do escritor
está controlado “simplesmente pelas contingéncias de reforgo” (p.
150), as quais ele próprio pode suprir como ouvinte de seu próprio
comportamento. Ou seja, há uma distorgáo do tacto pois o estímulo
controlador dessa resposta, em gerai, controla outras respostas
incompatíveis a essa. Sendo assim, o escritor acaba inventando a
possibilidade de já estar morto e escrever, mesmo assim, suas
memorias.
Ao mesmo tempo, o uso da extensáo metafórica “a campa
foi outro bergo” sugere ao leitor, como sinalizou Skinner (1957), muito
mais que o uso de um tacto simples. Para a comunidade verbal,
bergo e túmulo sáo, provavelmente, objetos antagónicos, um ligado
ao inicio da vida e outro ao seu final; no entanto, a metáfora identifica
aqui uma propriedade que ambos tém em comum, e esta aproximagáo
entre bergo e túmulo já serve de preámbulo ao tom ao mesmo tempo
humorístico e pessimista da obra.
Vejamos outro trecho onde encontramos o uso dos mesmos
recursos utilizados acirna, favorecendo o mesmo clima de novidade
e estranheza, pela distorgáo de um tacto de eventos passados:
Dito isso, expirei ás duas horas da tarde de uma sexta-feira
do mes de agosto de 1869, na minha beta chácara de
Catumbi. (Machado de Assis, 1880/1994, p. 7).
Além disso, uestes dois trechos encontram os outras
ca ra cte rística s citadas por S kin ne r (1957), re ferentes aos
procedimentos utilizados para a produgáo de novas respostas
verbais. Percebernos que o autor manipulou algumas variáveis ao
mudar a estrutura do texto: em vez de comegar narrando seu
nascimento (ou outro evento), urna resposta comumente reforgada
pela comunidade verbal, o autor-personagem, Brás Cubas, iniciou
o texto narrando sua morte (e prosseguirá com comentónos irónicos
sobre o seu sepuitamento).
A abordagem behaviorista do com portam ento novo 99

Outros vários exemplos poderiam ser aqui citados, indicando


os processos e procedimentos considerados por Skinner (1957) e
apresentados neste texto. Contudo, dispomos de indicios suficientes
para a compreensáo de como a perspectiva behaviorista radical
pode abordar a produgáo de novas respostas verbais. Parece-nos,
entáo, lícito argumentar, assim como fez Borges3 em seu conto A
Biblioteca de Babel:
“Com efeito, a Biblioteca incluí todas as estruturas verbais,
todas as variantes que permitem os vinte e cinco símbolos
ortográficos. (Borges, 1970/1976, p. 68).
No mesmo sentido da Biblioteca, podemos tomar o as
unidades verbais na análise skinneriana, que podem se combinar de
infinitas maneiras entre si e em suas relagóes com aspectos do
ambiente.

3 Borges, J. L. (1976). A Biblioteca de Babel. Em: F ic g ó e s . Porto Alegre: Editora


Globo, (primeira publicapáo em 1969).
Referencias Bibliográficas

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