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A pergunta é inevitável.
Bem, esse medo você já superou... e você não tem mais aquela
idade! Mas, o temor é parecido, você quer competir com aquela
sua própria “outra vez” ou, simplesmente, você quer competir
com um(a) suposto(a) rival...!
TEXTO 2 – O RELATO
"Não deveis desanimar para não acabardes caindo na comparação de si próprios com meros
animais movidos por instintos" – diz o soberano da Pérsia, em um de seus pergaminhos.
Os deuses precisam, por vezes, fazerem-se entender na linguagem humana, mas isto é
muito dificultoso – e é daí que surge a necessidade do uso de símbolos.
O que é que estaria na base da atração incessante entre homem e mulher ao longo dos
tempos?
É necessário aprofundar essa investigação, que havia sido proibida na Idade das Trevas,
quando então muitos reis opressores resolveram formar conluios com a Igreja, tão somente
no intuito de atribuir culpa aos homens e mulheres que mantivessem prática regular de
acasalamento voltado para o prazer e realização pessoal.
O confisco de bens somou-se à imposição de penitências que incluíam até mesmo a entrega
de companheiros ou companheiras à Inquisição.
Foram divulgadas versões horripilantes sobre um suposto pecado original que seria
caracterizado pela cópula que não visasse à mera multiplicação da espécie.
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Com isso, casais eram separados ou jovens filhas eram entregues às mãos de determinados
sacerdotes maníacos, cuja sanha nada tinha de supersticiosa e, ao contrário, tinha a ver com
a satisfação dos próprios instintos bestiais.
No entanto, o romantismo vem sobrevivendo a todos esses frios ataques dos diversos tipos
de tabu, desde bem antes desses cruéis abusos religiosos, numa espécie de reação
psicológica que remonta à época em que as rotas marítimas dos tempos bárbaros originaram
muitos entrepostos comerciais que, no início, tinham como oferta principal o papiro –
importante meio para o desenvolvimento da escrita que propiciava magnífico intercâmbio
entre os egípcios e os fenícios. Não é de estranhar que a partir da invenção da púrpura,
usada para tingir tecidos, os fenícios começassem a intensificar a decoração artística de cada
peça das especialíssimas rendas destinadas a vestir os belos corpos de princesas, rainhas e
odaliscas com predominância de finos tecidos. Estes passaram a ser o alvo tanto de filósofos
quanto de guerreiros.
O amor de uma bela mulher suscitava a elaboração de um belo tratado filosófico, com a
mesma facilidade com que inspiraria os feitos heróicos de adagas com as quais se
decapitavam inimigos nas batalhas campais ou em alto mar.
Para que comecemos a esclarecer, falemos sobre a "antiga tribo das Evaicedeans", que
representa (psicologicamente) o fim da triste experiência do inverno glacial tântrico ocorrido
na alma feminina há muitos milênios. Essa revelação, trazida por novos pergaminhos, é tida
como uma espécie de indício de que existiu uma misteriosa linhagem esquecida da primeira
mulher, simbolizada por Eva (do livro bíblico de Gêneses) no contexto da origem da
afetividade humana.
Os sábios do grau do Rei Salomão conheciam toda a saga desse povo – e de como a
humanidade viveu dias difíceis por causa da tradição que se espalhara pela qual se dizia que
Adão e Eva haviam caído em pecado pelo simples fato de conhecerem o prazer sexual.
Meu irmão, minha irmã, passo ao relato conforme o original de um dos pergaminhos.
No princípio dos tempos – entenda bem, meu irmão ou minha irmã -, os olhos não se
sujeitavam àquilo que viam, estando o homem e a mulher confinados ao instinto de
procriação. A Natureza apenas ensinava a lei da sobrevivência, somente restando-lhes a
própria intuição como modo seguro de algo vir a ser revelado.
Até que o fenômeno natural de um reflexo na superfície das águas límpidas de um rio fez a
beleza aparecer pela primeira vez ao casal de humanos que ali saciava sua sede.
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Neste ponto, quem lê estas palavras pode estar agora tendo os primeiros lampejos de uma
verdade universal perpassando vagamente o seu entendimento.
- "É verdade? Teria sido escondida na profundeza do rio... a tal maçã ?"
Você sempre tem estado em busca daquele misterioso elo representado por um fruto
proibido, não é?
Mas, em verdade lhes asseguro, tudo está relacionado com os olhos que contemplaram
aquele reflexo e com as ondulações do vento sobre a superfície da água naquele rio.
Mizfen, a primeira mulher a ser refletida naquele espelho natural improvisado, pareceu
graciosamente mais bela aos olhos de Doxtus - o seu par, o seu homem. Havia uma
sinuosidade que antes não houvera sido notada por ele. E isso foi como se escamas caíssem
dos olhos de ambos.
Doxtus acordou do torpor em que havia estado durante quase uma década. O olfato, o
paladar, o tato – enfim, os sentidos -, cada um destes foi renovado em suas impressões
sobre o corpo daquela mulher.
Mizfen, a primeira mulher realmente desejada, conheceu o prazer durante muitos sóis e luas,
até que Doxtus chegou à exaustão. Felizmente, a Natureza permitiu que por alguns
momentos ela entendesse, durante seu próximo ciclo de mênstruos, que algo diferente
acontecera entre os dois. Foi o primeiro registro da chamada "pausa necessária".
O fato é que Doxtus agora havia passado a ser também um ponto de referência para Mizfen
no meio natural em que viviam. Ela, a fêmea, já não tinha mais aqueles pesadelos noturnos
nos quais outros espécimes machos do reino animal pareciam assumir o lugar do ser par, em
violenta possessão sexual.
A aurora dos tempos – entenda-se aqui: "dos tempos tântricos" – havia chegado.
Mizfen, certa noite, teve em sonhos uma iluminação nova. Enquanto um novo ciclo de
mênstruos chegava, para perplexidade de Doxtus, ela pôs em prática o resultado de tudo
com que sonhara naquele transe noturno.
Doxtus ficou encantado ao perceber que os seus estímulos aplicados ao corpo de sua
companheira, uma vez reunidos aos recursos de encantamentos idealizados por ela própria,
fizeram com que as formas femininas ressurgissem cada vez mais encantadoras.
Neste ponto, meu irmão ou minha irmã, lendo estas palavras, você provavelmente já
descobriu o quanto sua intuição estava certa.
De fato, dessa forma, o Homem – aqui representado por Doxtus – aprendeu o renovo dos
ciclos da sedução. Em um futuro não muito distante haveria problemas. Sim, pois Doxtus
descobriu que outras fêmeas copiavam a sua querida Mizfen, passando elas a tentar seduzi-
lo em desafios semelhantes que provocaram enciumadas e sangrentas batalhas entre
mulheres e mulheres, muitas das quais preferiram migrar para novos relacionamentos ao
perceberem que Mizfen era mais forte e sagaz na descoberta de novos meios para seduzir o
seu par.
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Incrivelmente, meu irmão ou minha irmã, tudo isso acabou gerando as primeiras crises
motivadas por ciúmes entre seres humanos.
Reza a lenda que Modimis, respeitado sacerdote, era considerado uma espécie de cientista
observador daquele jeito rudimentar de entender os mistérios do corpo humano. Teria sido
ele o primeiro a relacionar os ciclos lunares à aparição dos mênstruos nas fêmeas.
- "Faça do seu corpo sua alma, pois assim conhecerá a aurora dos tempos, e sob o olhar da
pessoa amada você estará ressurgindo em novidade que a encantará".
Nessa afirmação feita logo acima, de forma direta, resumem-se todas as profecias sobre a
felicidade entre os humanos nas épocas vindouras.
Faremos aqui uma pausa na divulgação desses impressionantes aspectos peculiares aos
nossos prováveis ancestrais, a antiga tribo das Evaicedeans.
Essa é apenas uma das várias jornadas pelas quais as mulheres precursoras da saudável
vaidade feminina fizeram a revolução que livrou o espécime masculino do inverno glacial
tântrico, que primeiramente houvera ocorrido na alma feminina.
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‘Mago Ykhro’ é pseudônimo do autor brasileiro que tem perfil cadastrado nos sites
‘Artigonal.com’/Brasil e ‘Recanto das letras’, sendo de sua propriedade intelectual os personagens e
textos aqui publicados.