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FLORIANÓPOLIS
2018
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC
CENTRO DE ARTES – CEART
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEATRO – PPGT
DOUTORADO EM TEATRO
FLORIANÓPOLIS
2018
RESUMO:
reflexão dos indivíduos sobre seu meio social e favorecer transformações? Como estimular
seus potenciais criativos com um caráter formador e transformador da relação do profissional
de saúde com a comunidade? Qual a pedagogia teatral a ser aplicada aos discentes resultando
um produto artístico que possibilite uma mudança de paradigmas na formação desse
profissional de saúde? Essa abordagem artística possibilita que a comunidade reflita e
questione conceitos básicos sobre o processo saúde-doença?
O teatro tem proporcionado esse questionamento na base curricular da disciplina de
odontologia coletiva, que tem suas diretrizes voltadas para a educação, prevenção e promoção
em saúde bucal e busca acrescentar ao acadêmico de odontologia uma visão integral de sua
função profissional e social. Essa incursão do teatro na área de saúde teve inicio para atenuar
dificuldades encontradas pelos acadêmicos do terceiro ano de odontologia quando em contato
com a comunidade, principalmente escolas de ensino fundamental, onde os discentes passam
por um estágio prestando serviços preventivos e de educação em saúde. A primeira visita
desses alunos na escola denunciava um total despreparo na relação interpessoal e pedagógica,
limitando as ações de educação em saúde aos modelos educativos convencionais em sala de
aula, como palestras sob a égide da tecnologia do “Data show”, que não se enquadra entre as
opções mais eficazes para aproximação com a comunidade. O odontólogo é um profissional
de saúde com formação extremamente técnica. Atende um paciente que se encontra quase
deitado e impossibilitado de se comunicar, apresenta-se todo paramentado com seu figurino
composto por jaleco de mangas compridas, gorro, máscara, óculos e luva. O contato humano
durante um tratamento dentário é quase inexistente. Conseqüentemente as questões de
relacionamento tornam-se o “calcanhar de Aquiles” no seu desenvolvimento. Historicamente
na área de saúde não eram enfatizadas as questões sociais e, nesse sentido, na década de 1990
foram intensificadas as discussões a respeito da formação profissional do odontólogo visando
ser mais voltada à realidade social, de modo a reduzir ou problematizar o impacto negativo
que o tecnicismo acarretava ao profissional. Para isso, foram sugeridas inserções do ensino de
ciências sociais (Psicologia, Antropologia e Sociologia) na grade curricular. Esta grade vem
sendo modernizada e a implementação das novas diretrizes curriculares nacionais em
odontologia propostas pela Associação Brasileira de Ensino Odontológico (ABENO) em
parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e o Ministério da Saúde (MS)
(MORITA et al, 2005) sugere um profissional com sensibilidade social e valoriza, além da
técnica, profissionais capazes de uma atenção integral mais humanizada, de trabalharem em
equipe e compreenderem a realidade em que vive a população assistida.
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saber mais sólido.” (ABIRACHED, 1980). Charles Dullin afirma ser possível ensinar para o
ator “a olhar, a ver um objeto, a prestar ouvidos ao que os outros dizem ou aos ruídos do
exterior, a tocar um objeto para sentir a sua matéria ou a suavidade ou a rugosidade que
possui, a reconhecer um cheiro, a sentir o gosto...” (DULLIN, 1946)
Porque, então, não deveriam ser imprescindíveis ao profissional de saúde as mesmas
faculdades e o mesmo aprendizado?
Em 2007, o Ministério da Cultura e o Ministério da Saúde promoveram o lançamento
do prêmio “Cultura e Saúde”, em um acordo de cooperação para o “desenvolvimento de ações
conjuntas que contribuam para garantir o acesso aos bens e serviços culturais, à qualificação
do ambiente hospitalar, das unidades de saúde, á promoção do diálogo entre as práticas
tradicionais em saúde e as políticas públicas de saúde, considerando as mais diversas
manifestações e linguagens que promovam a humanização e resignificação do cuidado em
saúde” (MINC, 2013). Este acordo tem o objetivo de fortalecer a interseção entre as duas
áreas. Tem o intuito de potencializar o atendimento das necessidades do cidadão buscando
ampliar e qualificar os processos de promoção em saúde, e reconhecer “a saúde como
qualidade de vida e a cultura como o espaço em que o homem se realiza em todas as suas
manifestações”.
O teatro é educativo por natureza. Permite ao sujeito observar-se, favorecendo o
autoconhecimento como também as relações estabelecidas na sociedade. O teatro vem do jogo
envolvendo pessoas que compartilham experiências à parte da realidade, dentro de
delimitações de espaço, tempo e regras. O jogo está intrínseco na educação e é por meio da
educação se processa o pleno desenvolvimento humano. No contexto educacional crianças e
jovens articulam o conhecimento dos sentimentos, do corpo e da imaginação, desenvolvendo
uma auto-estima positiva. (MEYER, 2002) Ao utilizar técnicas teatrais como instrumento de
informações em saúde, evita-se o caráter arbitrário, autoritário, paternalista e manipulador de
valores e práticas de saúde. Esta reflexão, feita por LEME (2005), justifica a utilização do
teatro como método de promoção de saúde. Sua pesquisa propõe a estruturação de um campo
teórico em Educação em Saúde realizado através do exercício da teatralidade. RUIZ-
MORENO (2005) relata uma experiência psicodramática chamada “O Jornal Vivo” como
estratégia de ensino-aprendizagem na saúde. A educação influencia e é influenciada pelas
condições de saúde, configurando-se como um campo de práticas e saberes que abrange
diferentes níveis de compreensão e intervenção junto aos sujeitos em seus processos de
saúde. O elemento teatral como estratégia educacional pode ser um recurso facilitador da
compreensão de fenômenos que envolvem inter-relações pessoais e contribui para o melhor
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hoje, na educação, uma maior preocupação com a integração social, com o desenvolvimento
critico, com a criatividade e a transformação. São necessárias formas inovadoras e alternativas
para favorecerem a formação de indivíduos cidadão, solidários, parceiros, ativos, pensantes,
livres, sujeitos de mudança e transformação. As vivencias do teatro não são apenas um
aprendizado individual e sim coletivo (KOUDELA, 1992).
Mas voltemos a Jacques Copeau, que publica um manifesto pelo teatro. A indignação
de um artista que se opõe a uma industrialização desenfreada e ao espírito de especulação e
baixeza que paralisava “uma arte que está morrendo, e que já nem sequer é discutida”.
(COPEAU, 2013) Movido pelo amor pela arte, pelo desapego, paciência, método,
inteligência, cultura, pretende construir as bases de um teatro que seja um ponto de reunião
para todos que desejam restituir beleza ao espetáculo.
Jacques Copeau, no inicio do século XX, queria restituir a “saúde” ao teatro, porém o
teatro pode ser o caminho para restabelecer a humanização da saúde no século XXI.
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BIBLIOGRAFIA:
ABIRACHED, Robert. "L'acteur et son jeu" [O Ator e seu Jogo], p. 154-166, in COUTY,
Daniel & REY, Alain (org.). Le Théâtre [O Teatro]. Paris: Bordas, 1980. — Tradução de José
Ronaldo FALEIRO.
CASTRO, Cláudia Maria de. (2008). A inversão da verdade: notas sobre O nascimento da
tragédia. Kriterion: Revista de Filosofia,49(117), 127-142. Retrieved October 22, 2013, from
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
512X2008000100007&lng=en&tlng=pt. 10.1590/S0100-512X2008000100007
FÉRAL, Josette. “Le jeu s´enseigne-t-il?” [O Jogo se ensina?], p. 11-36, in Mise en scène et
Jeu de l´acteur; le corps en scène [Encenação e jogo do ator; o corpo em cena]. Tomo II.
Montréal/Carnières: Jeu/Lansman, 2001. — Tradução de José Ronaldo FALEIRO.
Disponível em:
http://www.seer.unirio.br/index.php/opercevejoonline/article/viewFile/525/461
LEÃO, Raimundo Matos de. Jogando com Viola, improvisando com Stanislavski. Artigo,
disponível em: www.fsba.edu.br/dialogospossiveis/artigos.asp?ed=4