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Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr.

Francisco Mário

DEDICATÓRIA

Aos meus alunos, votos por me fazerem apreciar o lado simples e a


verdade científica e, estarmos juntos.

Sempre com sagrada memória eterna dos meus pais que muito cedo
partiram, mas que antes ensinaram uma certa forma de olhar os
valores e princípios da Justiça e o Direito.
A confessada estima e consideração do Professor Gabriel Tchitongo e,
com assaz jovialidade do Professor Dr. Manuel António Dias da Silva,
pelos seus ensinamentos cobertos de elegância e mestria em
observar, a interrogar e a confiar a justiça, e eu neste particular, tomei
o Direito o fio do prumo e a Justiça à ordem de igualdade.
Aos meus filhos por este trabalho e a minha formação privei-lhes
largamente o prestimoso amor de fonte de carinho de um pai, –
perdão.

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Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário

“As faculdades que presidem à conduta do homem são os desejos; a


coragem e a razão. Elas existem em todos homens, embora, em graus
diferentes. Há uns nos quais o desejo, os apetites grosseiros,
prevalecem: são almas tumultuosas, inferior, ávidas de dinheiro,
guiadas apenas pelo interesse material: devem constituir a classe dos
mercenários.
Noutros, é a coragem que domina, orientada pela razão: tem a
ambição da glória, querem triunfar e vencer, preferem ser fortes a ser
ricos: forma a classe dos guerreiros. Outros ainda, uma pequena
minoria, são inspirados pela razão: os filósofos que procuram a
verdade, onde quer que se encontre, vivem absorvidos na
contemplação pura das ideias, tem por única aspiração a sabedoria e a
virtude e não se deixam seduzir pela riqueza, nem pela glória:
constituem a classe dos magistrados”.

Platão – diálogo sobre a justiça cadernos culturais editorial INQUÉRITO


Lda. Lisboa, 2ª edição Tenacitas 2008, – tradução de Lobo Vilela, Pág.
16.

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ÍNDICE
DEDICATÓRIA ........................................................................................................................................... 1
ABREVIATURAS ...................................................................................................................................... 11
NOTA DE APRESENTAÇÃO ..................................................................................................................... 12
NORMAS CONSTITUCIONAIS COM MAIOR RELEVÂNCIA ECONÓMICA ............................................... 13
CAPÍTULO I ............................................................................................................................................. 25
1. INTRODUÇÃO AO DIREITO ECONÓMICO ................................................................................. 25
1.1.Noção do Direito Económico........................................................................................................... 28
1.1.1.Direito Económico ou Direito da Economia? .............................................................................. 28
1.2.Natureza e o Objecto do Estudo do Direito Económico ................................................................. 31
1.3.Sujeito da Relação Jurídica Económica (jus-económico) ............................................................... 31
1.4.Características do Direito Económico ............................................................................................. 33
1.5.O Direito Económico face a outros Direitos em Matéria Económica ............................................ 34
1.6.Fundamento da Autonomia do Direito Económico ....................................................................... 34
1.7. Relação entre o Direito e a Economia ...................................................................................... 36
1.8. Fontes do Direito da Economia ................................................................................................ 37
CAPÍTULO II ............................................................................................................................................ 38
2. CONSTITUIÇÃO ECONÓMICA.................................................................................................... 38
2.1. Noção da Constituição Económica ........................................................................................... 38
2.2. Constituição Económica Formal ............................................................................................... 41
2.3. Constituição Económica Material ............................................................................................ 41
2.4.3. Quanto ao Enquadramento Político ........................................................................................ 45
2.4.4. Quanto o Modo de Regulação do Sistema .............................................................................. 45
2.4.5. Função da Constituição Económica .......................................................................................... 46
Podemos assegurar que a Constituição Económica desempenha dentre outras funções que decorrem
do seu objecto e natureza ou dimensão das respectivas normas e princípios jurídicos de que deve
relevar, em primazia a natureza constitucional dos mesmos, comum a todos os objectivos específicos
de que se constitui, assim Constituição Económica desempenha as seguintes funções: .................... 46
a) Função Sistemática Central ou Unitária – exprime –se quer no primado da ........................... 46
Constituição, quer no principio da unidade da Constituição, quer no da conformidade com a
Constituição, tendo como o destinatário o legislador ou interprete-aplicador das norma da dimensão
da Constituição Económica; ................................................................................................................... 46
b) Função Estruturante e Legitimadora – revele-se neste sentido os aspectos do...................... 46
sistema económico e o estatuto do modelo económico, ou seja, delimita os poderes do Estado e
demais agentes que realizam ou participam na definição e execução da política económica da
organização e direcção da economia angolana; .................................................................................... 46

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c) Função de Garantia dos Direitos Liberdade e Garantias Económicas Fundamentais-.............. 46
- esta função realiza-se numa dimensão preceptiva contraposto do Estado, isto é, trave mestra do
sistema económico porque prescreve um conjunto de directrizes normativos de direitos e liberdades e
garantias económicas fundamentais que o Estado deve respeitar e assegura para que tal se
concretizem na sua plenitude. ............................................................................................................... 46
d) Função Directiva – realiza-se e manifesta-se através da dimensão prospectiva ou ................ 46
programática da Constituição Económica, nas suas directrizes ou objectivos económicos e nas
incumbências cometidas ao Estado ou outros agentes segundo as mais diversas formas de intervenção
ou concertação para sua concretização. Entretanto é uma função que não deixa reflectir certas
dimensões preceptivas dirigidas ao destinatários das respectivas normas, “máxime”- ao legislador e à
Administração Pública que lhes limita as suas acções em termos de eficácia vinculativa e do princípio
da proporcionalidade. ............................................................................................................................ 46
2.4.6. Âmbito e Sentido da Constituição Económica ........................................................................ 46
Na seara jurídica a doutrina tem se dividido quando se trata do âmbito e o sentido da Constituição
Económica, mas nesta controversa que assaca-se algumas contribuições valiosas que se alinham nas
três posições, designadamente:............................................................................................................. 46
- Segundo Prof. SOUSA FRANCO, o âmbito da Constituição Económica, deverá quanto ...................... 46
muito, ser delimitado com o recurso a critérios económicos, isto é, em função do sistema económico
das instituições ou de outras realidades subjacentes, onde os factores económicos teriam um papel
determinante; ........................................................................................................................................ 46
- Já SIMÕES PATRÍCIO, entende que a Constituição Económica emerge de critérios jurídicos, pois que
neste sentido ao Direito compete qualificar como constitucionais as normas que à luz dos seus
princípios, surjam como fundamentais. ................................................................................................. 46
- Para Prof. JORGE MIRANDA, sustenta que a Constituição Económica surge na relação dialéctica que
existe entre a norma constitucional e a realidade económica em jeito de síntese das duas primeiras
posições e que nós demos nota como posição adoptada, basta recordarmos a relação entre o direito e
economia para curar a “vexata quaestio”. ............................................................................................ 46
Ressaltar que nesta relação umbilical do Direito e da Economia, o Direito Económico não vai se ocupar
de todas matérias do tecido patrimonial, apenas aquelas questões atinentes a regulação e supervisão
económica em função da ordenação e direcção económica que se revelem fundamentais em termos
jurídico-económicos, pois que o âmbito da Constituição Económica radica no essencial do Direito
Economico e nos seus princípios gerais. ............................................................................................... 47
Segundo JOÃO PACHECO AMORIM, citando Prof. PAZ FERREIRA, o âmbito ou conteúdo e sentido da
Constituição Económica, situa-se em dois modelos económicos que podem ser normativizados por
uma Constituição, e que são designados de modelo de direcção central e planificada e modelo de
economia livre ou de Mercado. ............................................................................................................. 47
Portanto, o sentido da Constituição Económica angolano configura-se no sistema económico bicéfalo,
ou seja, sistema económico misto, - combinado de economia de Mercado e do planeamento
económico. Não podendo por via disso, apartar-se num insular sistema ao respeito dos princípios
estruturantes da CRA, designadamente: o Princípio da Democracia Económica e da Iniciativa Privada e,
do Estado Intervencionista, Regulador e de Justiça Social. .................................................................. 47
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2.4.7. Evolução da Constituição Económica Angolana ...................................................................... 47
2.4.8. Fontes da Constituição Económica Angolana .......................................................................... 47
2.4.9. As Revisões Constitucionais de 1975-1992 .............................................................................. 48
2.4.9.1. Constituição Económica Estatutária (1975-1991) ................................................................... 48
2.4.10. Constituição Económica de 2010 .............................................................................................. 48
2.4.11. Considerações Gerais ................................................................................................................ 48
CAPÍTULO III ........................................................................................................................................... 50
3. PRINCÍPIOS ECONÓMICAS FUNDAMENTAIS ESPECÍFICOS (Remissão) ................................... 50
CAPÍTULO IV ........................................................................................................................................... 51
4. PRINCÍPIOS NORMATIVOS E ESTRUTURANTES NO SISTEMA CIENTÍFICO DE DIREITO
ECONÓMICO .......................................................................................................................................... 51
4.1. Princípios da Supremacia da Constituição e Legalidade. ........................................................ 52
4.2. Princípio da Subordinação do Poder Económico ao Poder Político Democrático. ................. 53
4.3. Princípio da Democracia Económica ........................................................................................ 54
4.4. Princípio da Igualdade e da Justiça Social ................................................................................ 56
4.5. Princípio de Acesso a Justiça e da Tutela Jurisdicional Efectiva.............................................. 59
4.6. Princípio da Garantia dos Direitos e Liberdades Económicas Fundamentais ......................... 61
4.7. Princípio do Respeito pelos Direitos Fundamentais ................................................................ 62
4.8. Princípio de Livre Iniciativa Económica e Livre Concorrência ................................................. 65
4.9. Princípio da Propriedade Privada............................................................................................. 74
4.10. Princípio do Dirigismo Económico............................................................................................ 76
4.11. Princípio do Fomento da Economia e da Protecção das Micro, Pequenas e Médias Empresas
77
4.12. Princípio da Defesa do Ambiente ............................................................................................. 79
4.13. Princípio da Defesa do Consumidor ......................................................................................... 86
4.14. Princípio da Delimitação da Actividade Económica e das Reservas Públicas ......................... 87
4.15. Princípio da Coexistência de Sectores de Propriedade ........................................................... 92
4.16. Princípio do Mercado e do Planeamento .............................................................................. 118
4.17. Princípios da Economicidade .................................................................................................. 123
4.18. Princípios da Eficiência ........................................................................................................... 125
4.19. Princípio das Nacionalizações e das Privatizações ................................................................ 126
4.20.Princípio da Intervenção do Estado no Domínio Económico ..................................................... 134
Actividade económica do Estado – é distinta, por natureza da função própria do Estado como
legislador e como administrador da coisa pública, – era então entendido como excepcional à luz da

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doutrina liberal. Desde logo, as intervenções do Estado tiveram a sua causa no final do capitalismo
liberal e caracterizado por seguintes grandes notas: .......................................................................... 134
- A Grande Crise de 1929, do desemprego, da inflação, da fome, da bancarrota, etc.; ...................... 134
- KEYNES, apareceu neste momento para defender pela 1ª vez a intervenção do Estado, no sentido do
investimento público em tempos de recessão ; .................................................................................. 134
- O Estado passa à intervir directamente e indirectamente. ............................................................... 134
Segundo a doutrina liberal, os poderes públicos deveriam abster-se de actuar como agentes
económicos sob pena de falsearem as leis do mercado. Daí que as intervenções só fossem em princípio
admitidos quando justificado pela exigência de «falhas de mercado». .............................................. 134
4.20.1. Modalidades de Intervenção.................................................................................................. 134
4.20.2. Quando à Doutrina Inspiradora ............................................................................................. 134
A intervenção do Estado corresponde, ou a um conjunto desgarrado de instituições, praticas e actos,
ou a um sentido global e coerente de actuação funcional do Estado. ................................................ 134
Como doutrina e como modalidade de pratica histórica, é corrente distinguir intervencionismo
simples, dirigismo e planificação. Assim sendo: .................................................................................. 134
I – Intervencionismo Simples – existe quando o Estado, respeitando no essencial a liberdade de
actuação dos agentes económicos privados, procura realizar objectivos próprios relativos ao conjunto
da economia, condicionando ou influenciando com tal a actividade dos particulares. ...................... 134
II – Dirigismo (direcção económica) existe quando o Estado formula objectivos globais e pretende
propô-lo, ou até impô-los, aos sujeitos económicos. Dirige assim a sua actividade económica (em vez
de se limitar a corrigi-la), embora com respeito pelos princípios essenciais da liberdade económica e
pelo mercado como instrumento regulador. ....................................................................................... 134
III – Planificação – consiste quando o Estado define objectivos globais e sectoriais e estratégias de
comportamento por eles ditadas, impondo- as mediante o plano imperativo, a generalidade dos
sujeitos económicos, aos principais sujeitos económicos, ou só aos sujeitos produtivos. Deste modo o
Mercado deixa de ser o principal instrumento regulador do sistema, passando esse função a ser
exercida pelo plano. Importa aqui referenciar que o plano é diferente do sistema de planeamento
porquanto que o plano é um instrumento combatível com sistemas de economias colectivista ou
socialistas e o simples planeamento como mero instrumento de regulação é combatível com o sistema
de economia misto, se respeitar o no essencial as liberdades económicas de economia de Mercado.
134
4.20.3. Intervenção de Facto e Intervenção Jurídica ......................................................................... 134
A intervenção económica pode configura-se – grosso modo, como um mero comportamento de facto
do Estado e os seus órgãos e agentes, ou como comportamento juridicamente tipificado e configurado
de interferência nos factores de produção distribuição, comercialização e consumo de bens e serviços.
Assim sendo poder ser, designadamente: ........................................................................................... 134
4.20.3.1.Intervenção de Facto............................................................................................................. 135
A Intervenção de Facto pode corresponder a simples intervenção de política pura (actos materiais de
conteúdo político ou actos políticos), ou a actos económicos, sociais etc. ex. restrição de venda de
divisas pelas casa de câmbios ou bancos comercias sob instrução do BNA, proibição de vendas a grosso

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a pessoas singulares, conferencia de imprensa, discurso política de um entidade sobre um facto da
economia, desde que não se revista de um instrumento jurídico....................................................... 135
4.20.3.2. Intervenção Jurídica ............................................................................................................. 135
A Intervenção Jurídica é aquele que se integra na actuação do Estado através dos institutos jurídicos
destinados a articular o comportamento condicionado dos outros sujeitos económicos e o
comportamento condicionado do Estado através de um instrumento jurídico legal doutamente valido.
135
A intervenção jurídica comporta três formas, nomeadamente: ......................................................... 135
4.20.3.2.1.Intervenção Legislativa ...................................................................................................... 135
Quando o Estado produz através da AN normas jurídicas económicas de execução da Constituição ou
de ordenação económica; (Lei – providencia, Lei – medida, aprovar programas normativos) e
Nacionalizações e Confisco. ................................................................................................................. 135
4.20.3.2.2.Intervenção Administrativa ............................................................................................... 135
Consiste na pratica do Poder Executivo de actos materiais ou actividades materiais ex. obras publicas,
acto regulamentares dos actos administrativos de conteúdo concreto regidos pela Poder Executivo.
Exemplo: ............................................................................................................................................... 135
- Confisco (art. 97º, da CRA); ................................................................................................................ 135
- Requisição administrativa civil temporária(art. 37º, nº2, da CRA); ................................................... 135
- Expropriação por utilidade pública( art.37º, nº 2, da CRA); .............................................................. 135
- Privatizações( art.97º, in fine, da CRA). ............................................................................................. 135
Portanto a intervenção administrativa também pode – se classificar em três fundamentais de
intervenção: ......................................................................................................................................... 135
1 - A da criação de infra-estruturas, em que se incluem, por exemplo, as obras públicas e ordenamento
do território; ......................................................................................................................................... 135
2 - A da Polícia Económica, ou actuação económica preventiva, condicionando ............................... 135
previamente, autorizando ou licenciando a actividade dos sujeitos económicos. ............................. 135
A imposição de limites aos preços livres, regime geral de uma economia de Mercado, ilustra bem uma
forma de intervenção indirecta, mas de sentido restritivo e unilateral, ou seja, de polícia económica.
135
O sistema de preços vigente é previsto no Decreto Legislativo Presidencial nº 10/13, de 22 de
Novembro, entretanto, a fixação do regime de preços assenta na consideração de dois critérios
distintos, designadamente: a natureza dos bens (ou serviços) e a dimensão das Empresas e respectivo
volume de vendas. ............................................................................................................................... 136
A aplicação a cada tipo de bens ou serviços dos vários regimes de preços é feita por Despacho do
Decreto Presidencial, ou Ministério do Comércio, tendo em consideração os dois critérios apontados.
136
De acordo com os diplomas referidos, os preços dos bens ou serviços vendidos no Mercado interno
podem ser submetidos aos seguintes regimes: de preços máximos, de preços declarados, de preços

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contratados, de preços de margem de comercialização fixada, de preços vigiados e de preços livres,
em sinopse passamos a descrever a noção de cada um: ..................................................................... 136
Preços máximos - são aqueles cujo valor é fixado nos diferentes estádios da actividade económica
julgados convenientes, o qual não poderá ser ultrapassado............................................................... 136
Preços declarados - são os que têm de ser previamente comunicados à Administração, reservando-se
esta a faculdade de se lhes opor, caso não os considere justificados perante os elementos de que
dispõe e que as empresas são obrigadas apresentar. É fixado um prazo para a Administração poder
alterar os preços apresentados e começados eventualmente a praticar. ........................................... 136
Preços contratados - são os que resultam de acordos entre o Governo e as Empresas ou associações
patronais. O regime de preços contratados pode envolver a atribuição de benefícios fiscais, ou de
outra natureza, às Empresas por ele abrangidas. Ex: o preço de transporte de táxi inter-urbano. .... 136
Preços de margens de comercialização fixadas - são os que se estabelecem pela soma aos preços de
aquisição (ou de reposição) de um valor máximo correspondente aos encargos e ao lucro da revenda,
determinado por percentagem ou em termos absolutos, “ para esta associação de defesa do
consumidor, o regime de preços fixados deve limitar-se nos bens e serviços considerados de grande
impacto social, ou de carácter estratégico para o desenvolvimento económico e social do País, (nº 1,
do artº 8º, do Decreto Presidencial nº 206/11, de 29 Julho)”. ............................................................ 136
Preços vigiados - O regime de preços vigiados consiste na obrigatoriedade do envio pelas empresas,
para tal notificadas, em carta registada com aviso de recepção, para o Ministério do Comércio e Polícia
Económica. ........................................................................................................................................... 137
Preços livres - são todos os demais, portanto, se os bens ou serviços não se encontram sujeitos a um
dos regimes anteriormente apontados, seguramente o montante do preço determina-se pelos
mecanismos do mercado, ou seja, pela Lei da oferta e da procura. ................................................... 137
A principal infracção criminal resultante da inobservância da legislação sobre preços é o crime de
especulação previsto e punível pelo legislação penal competente, recortado no art. 42º, da Lei nº 6/99,
de 3 de Setembro, Lei das Infracções Contra Economia, traduzido na venda de bens ou prestações de
serviços a preços superiores aos resultantes da Lei. A vigilância do acatamento das leis e regulamentos
nesta matéria cabe à Polícia económica. ............................................................................................. 137
3- A de Fomento, atribuindo benefícios ou incentivos aos sujeitos económicos (privados ou
equiparados). ....................................................................................................................................... 137
4.20.3.3.3.Intervenção Judicial ........................................................................................................... 137
Consiste na intervenção económica do Estado através da actuação de tribunais, quer nos tribunais
comuns ou tribunais económicos., acórdão, sentença, jurisprudência e Recursos. ........................... 137
Qualquer modo, a doutrina dominante classifica também as intervenções como sendo .................. 137
mediatas, imediatas, unilaterais e bilaterais, globais, sectoriais, pontuais e avulsas, directas e
indirectas. ............................................................................................................................................. 137
Intervenção indirecta, quando o Estado age como agente de regulação económico-social e regula o
acesso à actividade económica, regula a concorrência e regula o consumo. ..................................... 137
Todavia, por seu turno, o CABRAL DE MONCADA - defende que os poderes intervêem directamente na
economia, quando prosseguem objectivos directamente económicos, represente-se sobre a economia

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ex: medidas de política fiscal, operações de open merket, que visem absolver o poder de compra,
bonificação de juros, abertura de linhas de crédito a favor da construção de infra- estruturas sociais,
definição de certos regimes jurídicos, fixação de rendas etc. com efeitos imediatos e mediatos na
economia. Neste caso estaremos em presença de intervenção do Estado sobre a economia. E quando
o Estado cria Empresas Públicas e administra directamente o ente de Direito Público ou Privado,
estaremos em presença da intervenção do Estado na Economia. ...................................................... 137
A intervenção do Estado em Angola verificou nas primeira horas da época revolucionário nos termos
do art. 2º, do Decreto – Lei nº 128/1975, de 7 de Outubro, que, segundo o corpo daquele diploma
legislativo prescreve que a intervenção poderá ser determinada por Despacho dos Ministro da
Economia ou Planeamento e Finanças, pese embora, que o legislador não ter empregado o devera, é
certo que não previra que outras entidades pudessem também intervencionar Empresas. ............. 137
Todavia, o certo é que verificou-se pois as intervenções estatais em Angola naquela época foram feitas
por dirigentes de todos ramos de actividade e Governadores de Província com assinável intervenção
de facto coberto do calor fervor da revolução, contrariando desta feita a legalidade do disposto no
Decreto – Lei nº 128/1975. .................................................................................................................. 137
Portanto face a Constituição de 2010, a intervenção reporta-se de ponto vista jurídico-legal nos termos
do art. 89º, 90º e 92º, da CRA., por via disso, como notadamente se observa no rácio essendi da norma
constitucional ora indicada, a intervenção visa alcançar certos valores fundamentais com base na
tríade Eficácia, Eficiência e Equidade - Estabilidade Económica. ......................................................... 138
O Estado ao intervir na economia deve respeitar o “Princípio da Subsidiariedade”, que a nossa
Constituição não consagrou expressamente, este princípio encontra-se consagrado em muitas
constituições. ....................................................................................................................................... 138
Mas é interessante perguntar o que é princípio de subsidiariedade?................................................. 138
Antes responder a vexata quaetio vamos procurar examinar o que significa subsidiariedade e depois
fazermos o jus do princípio em apreço. ............................................................................................... 138
4.20.3.3.3.1.Sub Princípio da Subsidiariedade ................................................................................... 138
Numa primeira aproximação, a Subsidiariedade – tem haver com caridade interajuda ao próximo,
fundada no espírito de tolerância social ao respeito a dignidade da pessoa humana, daí que a
intervenção económica do Estado é um princípio característico da «doutrina social da Igreja católica»
exposto, designadamente, nas Encíclicas Quadragésimo Ano, datada de 1931, de PIO XI e na
Centesimus Annus, datada 1991, de JOÃO PAULO II, muito embora com raízes muito antigas e na
doutrina católica do século XIX (a Encíclica Syllabus errorum de PIO IX). ........................................... 138
De acordo com aquele princípio, como sustenta o CABRAL DE MONCADA, o Estado deve respeitar a
liberdade e a vitalidade económicas do indivíduo e dos corpos intermédios espontaneamente
formados no seio da Sociedade Civil. Naquela última Enciclica afirma-se que ao intervir directamente,
irresponsabilizando a sociedade, o Estado assistencial provoca a perda de energias humanas e o
aumento exagerado do sector estadual, dominado por uma lógica burocrática e sem a preocupação de
servir os utentes, com enorme acréscimo de despesas. ..................................................................... 138
O Princípio da Subsidiariedade, aposta assim no primado da pessoa humana, da família e da associação
civil, na descentralização e no pluralismo económico, acentuando a responsabilidade primacial do
cidadão, enquanto parte activa da realidade económica e social, na realização do bem comum (art.
21º, al. i), da CRA)................................................................................................................................. 138
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Ao Estado fica reservado um papel subsidiário no sentido residual, não devendo intervir na economia
para além do estritamente necessário (princípio da necessidade) e da princípio da proporcionalidade .
138
4.20.3.3.3.2.Sub Princípio da Necessidade Económica ...................................................................... 139
A intervenção só se justifica assim se necessária para evitar situações de desequilíbrio económico e
social, ou quando apresenta natureza supletiva por um corpo social, apenas por si, não lograr certas
actividades por falta de meios ou desinteresse. .................................................................................. 139
A intervenção estatal na economia é admitida, todavia, em moldes menos restritivos do que os que
resultam do liberalismo económico alicerçado na referida teoria económica dos bens colectivos. .. 139
A consagração do referido princípio da subsidiariedade tem ainda como consequência a preferência
pela Outsourcing na contratação dos bens e serviços indispensáveis ao funcionamento do Estado. O
Estado abastece-se preferencialmente no sector privado em vez de através dos serviços da sua
Administração directa ou indirecta. ..................................................................................................... 139
Daqui resulta também um efeito de privatização insuflado no Estado regulador. Note-se, desde já, que
isto não significa que o regime jurídico da autsourcing seja totalmente privado, pois que, pelo
contrário, são aplicáveis as regras da contratação pública, à frente versadas, compreendendo
exigências de igualdade, não discriminação, transparência e concorrência efectiva. ........................ 139
CAPÍTULO V .......................................................................................................................................... 140
5.ÓRGÃOS DA ADMINISTRAÇÃO ECONÓMICA .................................................................................. 140
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................................... 166

ABREVIATURAS

AN Assembleia Nacional
Art. Artigo
AAVV Autores Vários
AAFDL Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa
Apud, Junto a; em… (citação de um autor ou de uma obra)
AADIC Associação Angolana dos Direitos do Consumidor
BNA Banco Nacional de Angola
CRA Constituição da República de Angola
CC Código Civil
CPC Código do Processo Civil
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DUDH Declaração Universal dos Direitos do Homem
E.P. Empresas Públicas
FMI Fundo Monetário Internacional
GATT General Agreement on Tariffs and Trade (Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio)
Ibidem Na mesma Obra
LDC Lei da Defesa do Consumidor
LCGC Lei das Cláusulas Gerais dos Contratos
Ob. Cit. Obra Citada
OPA Oferta Pública de Aquisição
OMA Organização Mundial das Alfandegas
OMC Organização Mundial do Comércio
OGE Orçamento Geral do Estado
Pág. Página
PAPAGRO Programa de Aquisição dos Produtos Agro-pecuários
PPP Pareceria Público Privada
PROF Professor
SADC Comunidade de Desenvolvimento da África Austral
SEF Saneamento Económico Financeiro
UEE União das Empresas Estatais
EU União Europeia
CE Constituição Económica
CP Constituição Política
TFUE Tratado de Funcionamento da União Europeia

NOTA DE APRESENTAÇÃO

O presente trabalho de Lições do Direito Económico, destina-se especialmente a


comunidade académica universitária do 3º ano jurídico do curso de licenciatura em Direito.

Neste passo, é evidente que em função do nosso pensamento esta “Sebenta” contém
uma análise sistemática científica dos conceitos básicos do Direito Económico, todavia, faz
uma abordagem integradora de utilidade académica universitária na dupla vertente científica
e didáctica reputada na formação do jurista capaz de dar uma resposta jurídico-económica
dos problemas que oscilam em torno do instituto de Mercado e o papel do Estado duma
nação que renasce na reconstrução económica, cujo desígnio é o desenvolvimento económico
e social sustentável de Angola coberto de justiça social, sob vigilância do Direito através da
Regulação e Supervisão genérica do processo económico. Atento que as sociedades
democráticas a partir da penúltima metade do século XX até actualmente assistiram uma
crescente veneração pelo Estado, aceitação fatalista de existência de tendências de

12
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
inevitáveis intervencionistas de um “capitalismo organizado”, “regulado ou guiado”1 e
“gerido” que nos faz produzir um pensamento evidenciado de aproximação entre as grandes
dicotomias de sistemas económicas ou modo de produção, designadamente: Sistema
Socialista e Sistema Capitalismo e que ao nosso ver os dois sistemas sobrevivem por
termologia e não já pelos factores tradicionais da sua proclamação da competitividade de um
lado e, por outro da planificação.

Qualquer modo a primeira parte, previamente, dedica-se a um corpo normativo


tipicizado na Lei fundamental com relevância jurídico – económica, e, à seguir, uma
abordagem da dogmática de Direito Económico, fontes do Direito Económico, na segunda
parte referir-se-á largamente os princípios estruturantes e científicos do Direito Económico e
alicerçados na charneira da Constituição Económica como expressão máxima que representa
de certo modo um dos acabados objectivos de ordenação da economia como emancipação
da ordem económica e do pensamento político constitucional e na parte final do percurso, a
organização económica postulada nos órgãos da direcção da Administração Económica
directa e indirecta2, e, temas de sistema financeiro e regulação.

Sem ignorar a diversidade de contribuições das várias famílias e especialistas jurídicas


para o desenvolvimento do Direito da Economia em Angola, sem para tal invadir a fronteira
do terreno do território alheio das disciplinas curricular do Direito leccionadas nesta
instituição académica, mas contudo, vamos atravessar diversas praças e avenidas de
conhecimentos científicos autorizadas da doutrina do Direito de outras áreas, para buscar e
tomar de empréstimo algumas ferramentas jurídicas que servem de arrimo do Direito
Económico, pois, o direito não é estanque.

Portanto, esperamos que esta pequena “Sebenta” revista–se de alguma utilidade como
guia de investigação, e, os leitores possam corrigir e fazer as contribuições julgadas valiosas.

NORMAS CONSTITUCIONAIS COM MAIOR RELEVÂNCIA ECONÓMICA

A Constituição de 2010, também conhecida na lide doutrinária angolana como


Constituição Política de CARLOS MARIA FEIJÓ3, de modo geral é uma Constituição largamente
económica, pois que, nele estão inseridas normas constitucionais com relevância jurídico-
económicas, atento o conteúdo e o desiderato que visam granjear.
Neste passo, podemos assinalar os conteúdos de preceitos de algumas normas com
relevância, ou de interesse económico na Constituição promulgada, aos 5 de Fevereiro de
2010, nomeadamente:
Artigo 1º
(República de Angola)

1
Mais desenvolvimento , ver SHUMPTER, J. A. (1926-1996), na sua obra : Capitalism, Socialism,and Democracy
(1942), Pág. 43, apud, FREIRE, MARIA PAULA – “Eficiência Económica e Restrições Verticais” editora AAFDL 2008,
Pág.21.
2
À luz dos princípios do Estado económico unitário e dos princípios de desconcentração e descentralização
administrativa económica, nos termos do proemio do art. 8º da CRA.
3
FEIJÓ, CARLOS MARIA, - Coordenador da Comissão Técnica da Elaboração da Constituição da República de
Angola de 2010.
13
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Angola é uma República soberana e independente baseada na dignidade da pessoa
humana e na vontade do povo angolano, que tem como objectivo fundamental a construção
de uma sociedade livre, justa, democrática, solidária, de paz, igualdade e progresso social.
Artigo 2º
(Estado Democrático de Direito)
1. A República de Angola é um Estado Democrático de Direito que tem como
fundamentos a soberania popular, o primado da Constituição e da lei, a separação de poderes
e interdependência de funções, a unidade nacional, o pluralismo de expressão e de
organização política e a democracia representativa e participativa.
2. A República de Angola promove e defende os direitos e liberdades fundamentais do
Homem, quer como indivíduo, quer como membro de grupos sociais organizados, e assegura
o respeito e a garantia da sua efectivação pelos poderes legislativo, executivo e judicial, seus
órgãos e instituições, bem como por todas as pessoas singulares e colectivas.
Artigo 3º
(Soberania)
1. A soberania, una e indivisível, pertence ao povo que a exerce através do sufrágio
universal, livre, igual, directo, secreto e periódico, do referendo e das demais formas
estabelecidas pela Constituição, nomeadamente para a escolha dos seus representantes.
2. O Estado exerce a sua soberania sobre a totalidade do território angolano,
compreendendo este, nos termos da presente Constituição, da lei e do direito internacional, a
extensão do espaço terrestre, as águas interiores e o mar territorial, bem como o espaço
aéreo, o solo e o subsolo, o fundo marinho e os leitos correspondentes.
3. O Estado exerce jurisdição e direitos de soberania em matéria de conservação,
exploração e aproveitamento dos recursos naturais, biológicos e não biológicos, na zona
contígua, na zona económica exclusiva e na plataforma continental, nos termos da lei e do
direito internacional.

Artigo 5º
(Organização do Território)
1. O território da República de Angola é o historicamente definido pelos limites
geográficos de Angola tais como existentes a 11 de Novembro de 1975, data da
Independência Nacional.
2. O disposto no número anterior não prejudica as adições que tenham sido ou que
venham a ser estabelecidas por tratados internacionais.
3. A República de Angola organiza-se territorialmente, para fins político- administrativos,
em Províncias e estas em Municípios, podendo ainda estruturar-se em Comunas e em entes
territoriais equivalentes, nos termos da Constituição e da lei.
4. A definição dos limites e das características dos escalões territoriais, a sua criação,
modificação ou extinção no âmbito da organização político- administrativa, bem como a
organização territorial para fins especiais, tais como económicos, militares, estatísticos,
ecológicos ou similares, são fixados por lei.

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Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
5. A lei fixa a estruturação, a designação e a progressão das unidades urbanas e dos
aglomerados populacionais.
6. O território angolano é indivisível, inviolável e inalienável, sendo energicamente
combatida qualquer acção de desmembramento ou de separação de suas parcelas, não
podendo nenhuma parte do território nacional ou dos direitos de soberania que sobre ele o
Estado exerce, ser alienada.
Artigo 6º
(Supremacia da Constituição e Legalidade)
1. A Constituição é a lei suprema da República de Angola.
2. O Estado subordina-se à Constituição e funda-se na legalidade, devendo respeitar e
fazer respeitar as leis.
3. As leis, os tratados e os demais actos do Estado, dos órgãos do poder local e dos entes
públicos em geral, só são válidos se forem conformes à Constituição.
Artigo 8º
(Estado unitário)
A República de Angola é um Estado unitário que respeita na sua organização os
princípios da autonomia dos órgãos do poder local e da desconcentração e descentralização
administrativas, nos termos da Constituição e da lei.
Artigo 13º
(Direito Internacional)
1. O direito internacional geral ou comum faz parte integrante da ordem jurídica
angolana.
2. Os tratados e acordos internacionais regularmente aprovados ou ratificados, vigoram
na ordem jurídica angolana após a sua publicação oficial e entrada em vigor na ordem jurídica
internacional e enquanto vincularem internacionalmente o Estado angolano.
3. Os actos jurídicos emanados dos órgãos competentes das organizações internacionais
de que Angola seja parte vigoram na ordem jurídica interna, desde que tal esteja estabelecido
nos respectivos tratados constitutivos.
Artigo 14º
(Propriedade privada e livre iniciativa)
O Estado respeita e protege a propriedade privada das pessoas singulares ou colectivas
e a livre iniciativa económica e empresarial exercida nos termos da Constituição e da lei.
Artigo 15º
(Terra)
1. A terra constitui propriedade originária do Estado que a gere e administra em nome
do povo angolano.
2. A terra pode ser transmitida às pessoas singulares ou colectivas, tendo em vista o seu
racional e efectivo aproveitamento, nos termos da Constituição e da lei.
3. São reconhecidos, às comunidades locais, o acesso e o uso das terras, nos termos da
lei.

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Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
4. O disposto nos números anteriores não prejudica a possibilidade de expropriação por
utilidade pública mediante justa indemnização, nos termos da lei.
Artigo 16º
(Recursos naturais)
Os recursos naturais, sólidos, líquidos ou gasosos existentes no solo, subsolo, no mar
territorial, na zona económica exclusiva e na plataforma continental sob jurisdição de Angola
são propriedade do Estado, que determina as condições para a sua concessão, pesquisa e
exploração, nos termos da Constituição, da lei e do Direito Internacional.
Artigo 21º
(Tarefas fundamentais do Estado)
Constituem tarefas fundamentais do Estado angolano:
a) Garantir a independência nacional, a integridade territorial e a soberania nacional;
b) Garantir os direitos, liberdades e garantias fundamentais;
c) Criar progressivamente as condições necessárias para tornar efectivos os direitos
económicos, sociais e culturais dos cidadãos;
d) Promover o bem-estar, a solidariedade social e a elevação da qualidade de vida do
povo angolano, designadamente dos grupos populacionais mais desfavorecidos;
e) Promover a erradicação da pobreza;
f) Promover políticas que permitam tornar universais e gratuitos os cuidados primários
de saúde;
g) Promover políticas que assegurem o acesso universal ao ensino obrigatório gratuito,
nos termos definidos por lei;
h) Promover a igualdade de direitos e de oportunidades entre os angolanos, sem
preconceitos de origem, raça, filiação partidária, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação;
i) Efectuar investimentos estratégicos, massivos e permanentes no capital humano, com
destaque para o desenvolvimento integral das crianças e dos jovens, bem como na educação,
na saúde, na economia primária e secundária e noutros sectores estruturantes para o
desenvolvimento auto-sustentável;
j) Assegurar a paz e a segurança nacional;
k) Promover a igualdade entre o homem e a mulher;
l) Defender a democracia, assegurar e incentivar a participação democrática dos
cidadãos e da sociedade civil na resolução dos problemas nacionais;
m) Promover o desenvolvimento harmonioso e sustentado em todo o território
nacional, protegendo o ambiente, os recursos naturais e o património histórico, cultural e
artístico nacional;
n) Proteger, valorizar e dignificar as línguas angolanas de origem africana, como
património cultural e promover o seu desenvolvimento, como línguas de identidade nacional
e de comunicação;
16
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
o) Promover a melhoria sustentada dos índices de desenvolvimento humano dos
angolanos;
p) Promover a excelência, a qualidade, a inovação, o empreendedorismo, a eficiência e a
modernidade no desempenho dos cidadãos, das instituições e das empresas e serviços, nos
diversos aspectos da vida e sectores de actividade;
q) Outras previstas na Constituição e na lei.
Artigo 23º
(Princípio da igualdade)
1. Todos são iguais perante a Constituição e a lei.
2. Ninguém pode ser prejudicado, privilegiado, privado de qualquer direito ou isento de
qualquer dever em razão da sua ascendência, sexo, raça, etnia, cor, deficiência, língua, local
de nascimento, religião, convicções políticas, ideológicas ou filosóficas, grau de instrução,
condição económica ou social ou profissão.
Artigo 27º
(Regime dos direitos, liberdades e garantias)
Os princípios enunciados neste capítulo são aplicáveis aos direitos, liberdades e
garantias e aos direitos fundamentais de natureza análoga estabelecidos na Constituição,
consagrados por lei ou por convenção internacional.
Artigo 29º
(Acesso ao direito e tutela jurisdicional efectiva)
1. A todos é assegurado o acesso ao direito e aos tribunais para defesa dos seus direitos
e interesses legalmente protegidos, não podendo a justiça ser denegada por insuficiência dos
meios económicos.
2. Todos têm direito, nos termos da lei, à informação e consulta jurídicas, ao patrocínio
judiciário e a fazer-se acompanhar por advogado perante qualquer autoridade.
3. A lei define e assegura a adequada protecção do segredo de justiça.
4. Todos têm direito a que uma causa em que intervenham seja objecto de decisão em
prazo razoável e mediante processo equitativo.
5. Para defesa dos direitos, liberdades e garantias pessoais, a lei assegura aos cidadãos
procedimentos judiciais caracterizados pela celeridade e prioridade, de modo a obter tutela
efectiva e em tempo útil contra ameaças ou violações desses direitos.
Artigo 37º
(Direito de propriedade, requisição e expropriação)
1. 1. A todos é garantido o direito à propriedade privada, bem como à sua transmissão,
nos termos da Constituição e da lei.
2. O Estado respeita e protege a propriedade e demais direitos reais das pessoas
singulares, colectivas e das comunidades locais, só sendo permitida a requisição civil
temporária e a expropriação por utilidade pública, mediante justa, pronta e adequada
indemnização, nos termos da Constituição e da lei.
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Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
3. O pagamento da indemnização a que se refere o número anterior é condição de
eficácia da expropriação.
Artigo 38º
(Direito à livre iniciativa económica)
1. A iniciativa económica privada é livre, sendo exercida com respeito pela Constituição
e pela lei.
2. A todos é reconhecido o direito à livre iniciativa empresarial e cooperativa, a exercer
nos termos da lei.
3. A lei promove, disciplina e protege a actividade económica e os investimentos por
parte de pessoas singulares ou colectivas privadas, nacionais e estrangeiras, a fim de garantir
a sua contribuição para o desenvolvimento do país, defendendo a emancipação económica e
tecnológica dos angolanos e os interesses dos trabalhadores.
Artigo 39º
(Direito ao ambiente)
1. Todos têm o direito de viver num ambiente sadio e não poluído, bem como o dever
de o defender e preservar.
2. O Estado adopta as medidas necessárias à protecção do ambiente e das espécies da
flora e da fauna em todo o território nacional, à manutenção do equilíbrio ecológico, à
correcta localização das actividades económicas e à exploração e utilização racional de todos
os recursos naturais, no quadro de um desenvolvimento sustentável e do respeito pelos
direitos das gerações futuras e da preservação das diferentes espécies.
3. A lei pune os actos que ponham em perigo ou lesem a preservação do ambiente.

Artigo 49º
(Liberdade de associação profissional e empresarial)
1. É garantida a todos os profissionais liberais ou independentes e em geral a todos os
trabalhadores por conta própria, a liberdade de associação profissional para a defesa dos seus
direitos e interesses e para regular a disciplina deontológica de cada profissão.
2. As associações de profissionais liberais ou independentes regem-se pelos princípios
da organização e funcionamento democráticos e da independência em relação ao Estado, nos
termos da lei.
3. As normas deontológicas das associações profissionais não podem contrariar a ordem
constitucional, os direitos fundamentais da pessoa humana e a lei.
Artigo 50º
(Liberdade sindical)
1. É reconhecida aos trabalhadores a liberdade de criação de associações sindicais para
a defesa dos seus interesses individuais e colectivos.
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Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
2. É reconhecido às associações sindicais o direito de defender os direitos e os interesses
dos trabalhadores e de exercer o direito de concertação social, os quais devem ter em devida
conta os direitos fundamentais da pessoa humana e das comunidades e as capacidades reais
da economia, nos termos da lei.
3. A Lei regula a constituição, filiação, federação, organização e extinção das associações
sindicais e garante a sua autonomia e independência do patronato e do Estado.
Artigo 57º
(Restrição de direitos, liberdades e garantias)
1. A lei só pode restringir os direitos, liberdades e garantias nos casos expressamente
previstos na Constituição, devendo as restrições limitar-se ao necessário, proporcional e
razoável numa sociedade livre e democrática, para salvaguardar outros direitos ou interesses
constitucionalmente protegidos.
2. As leis restritivas de direitos, liberdades e garantias têm de revestir carácter geral e
abstracto e não podem ter efeito retroactivo nem diminuir a extensão e o alcance do
conteúdo essencial dos preceitos constitucionais.
Artigo 74º
(Direito de acção popular)
Qualquer cidadão, individualmente ou através de associações de interesses específicos,
tem direito à acção judicial, nos casos e termos estabelecidos por lei, que vise anular actos
lesivos à saúde pública, ao património público, histórico e cultural, ao meio ambiente e à
qualidade de vida, à defesa dos consumidores, à legalidade dos actos da administração e
demais interesses colectivos.

Artigo 76º
(Direito ao trabalho)
1. O trabalho é um direito e um dever para todos.
2. Todo o trabalhador tem direito à formação profissional, justa remuneração, descanso,
férias, protecção, higiene e segurança no trabalho, nos termos da lei.
3. Para assegurar o direito ao trabalho, incumbe ao Estado promover:
a) A implementação de políticas geradoras de pleno emprego;
b) A igualdade de oportunidades na escolha da profissão ou género de trabalho e
condições para que não seja vedado ou limitado por qualquer tipo de discriminação;
c) A formação académica e o desenvolvimento científico e tecnológico, bem como a
valorização profissional dos trabalhadores.
4. É garantida aos trabalhadores a estabilidade no emprego, sendo proibidos os
despedimentos sem justa causa, nos termos da Constituição e da lei.
Artigo 78º
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Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
(Direitos dos consumidores)
1. O consumidor tem direito à qualidade dos bens e serviços, informação,
esclarecimento, garantia dos seus produtos e protecção na relação de consumo.
2. O consumidor tem direito a ser protegido no fabrico e fornecimento de bens e
serviços nocivos à saúde e à vida, devendo ser ressarcido pelos danos que lhe vier a causar.
3. A publicidade de bens e serviços de consumo é disciplinada por lei, sendo proibidas
todas as formas de publicidade oculta, indirecta ou enganosa.
4. A lei protege os consumidores e garante a defesa dos seus interesses.
Artigo 85º
(Direito à habitação e à qualidade de vida)
1. Todo o cidadão tem direito a habitação adequada e a qualidade de vida condigna.
2. Incumbe ao Estado promover as condições sociais e económicas para assegurar o
direito à habitação e à qualidade de vida.
Artigo 89º
(Princípios Fundamentais)
1. A organização e a regulação das actividades económicas assentam na garantia geral
dos direitos, liberdades económicas em geral, na valorização do trabalho, na dignidade
humana e na justiça social e em conformidade com os seguintes princípios fundamentais:
a) Papel do Estado de regulador da economia e coordenador do desenvolvimento
económico nacional harmonioso, nos termos da Constituição e da lei;
b) Livre iniciativa económica e empresarial, a exercer nos termos da lei;
c) Livre mercado, na base dos princípios e valores da sã concorrência, da moralidade e
da ética, previstos e assegurados por lei;
d) Respeito e protecção à propriedade e iniciativa privada;
e) Função social da propriedade;
f) Redução das assimetrias regionais e desigualdades sociais;
g) Concertação social;
h) Defesa do consumidor e do ambiente.
Artigo 90º
(Justiça Social)
O Estado promove o desenvolvimento social através de:
a) Adopção de critérios de redistribuição da riqueza que privilegiem os cidadãos e em
particular nos sectores mais vulneráveis e carenciados da sociedade;
b) Promoção da Justiça Social, enquanto incumbência do Estado, através de uma política
fiscal que assegure a justiça, a equidade e a solidariedade em todos os domínios da vida
nacional;

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Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
c) Fomento, apoio e regulação da intervenção do sector privado na realização dos
direitos sociais;
d) Remoção dos obstáculos de natureza económica, social, cultural que impeçam a real
igualdade de oportunidades entre os cidadãos;
e) A fruição por todos os cidadãos dos benefícios resultantes do esforço colectivo do
desenvolvimento nomeadamente na melhoria quantitativa e qualitativa do seu nível de vida.
Artigo 91º
(Planeamento)
1. O Estado coordena, regula e fomenta o desenvolvimento nacional, com base num
sistema de planeamento, nos termos da Constituição e da lei e sem prejuízo do disposto no
artigo 14.º da presente Constituição.
2. O planeamento tem por objectivo promover o desenvolvimento sustentado e
harmonioso do País, assegurando a justa repartição do rendimento nacional, a preservação do
ambiente e a qualidade de vida dos cidadãos.
3. A lei define e regula o sistema de planeamento nacional.
Artigo 92º
(Sectores económicos)
1. O Estado garante a coexistência dos sectores público, privado e cooperativo,
assegurando a todos tratamento e protecção nos termos da lei.
2. O Estado reconhece e protege ao uso e fruição de meio de produção pelas
comunidades rurais, nos termos da constituição, da lei e das normas consuetudinárias.
Artigo 93º
(Reservas públicas)
1. Constitui reserva absoluta do Estado exercício de actividades de banco central e
emissor.
2. A lei determina e regula as actividades económicas de reserva relativa do Estado, bem
como as condições de acesso às demais actividades económicas.
Artigo 94º
(Bens do Estado)
Os bens do Estado e demais pessoas colectivas de direito público integram o domínio
público ou o domínio privado, de acordo com a Constituição e a lei.
Artigo 95º
(Domínio público)
1. São bens do domínio público:
a) As águas interiores, o mar territorial e os fundos marinhos contíguos, bem como os
lagos, lagoas e cursos de águas fluviais, incluindo os respectivos leitos;
b) Os recursos biológicos e não biológicos existentes nas águas interiores, no mar
territorial, na zona contígua, na zona económica exclusiva e na plataforma continental;

21
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
c) O espaço aéreo nacional;
d) Os jazigos minerais, as nascentes de água minero-medicinais, as cavidades naturais
subterrâneas existentes no subsolo e outros recursos naturais existentes no solo e subsolo
com excepção das rochas, terras comuns e outros materiais habitualmente utilizados como
matéria-prima na construção civil;
e) As estradas e os caminhos públicos, os portos, os aeroportos e as pontes e linhas
férreas públicas;
f) As praias e a zona marítimo-terrestre;
g) As zonas territoriais reservadas a defesa do ambiente, designadamente os parques e
reservas naturais de preservação da flora e fauna selvagens, incluindo as infra-estruturas;
h) As zonas territoriais reservadas aos portos e aeroportos, como tais classificados por
lei;
i) As zonas territoriais reservadas para a defesa militar;
j) As zonas territoriais reservadas à defesa do ambiente;
k) Os monumentos e imóveis de interesse nacional, como tais classificados e integrados
no domínio público, nos termos da lei;
l) Outros bens que forem determinados por lei ou reconhecidos pelo direito
internacional.
2. Os bens do domínio público são inalienáveis, imprescritíveis e impenhoráveis.
3. A lei regula o regime jurídico dos bens do domínio público e define os que integram o
do Estado e das pessoas colectivas de direito público, o regime e formas de concessão, bem
como o regime de desafectação dos referidos bens.
Artigo 96º
(Domínio privado)
Os bens que não estejam expressamente previstos na Constituição e na lei como
fazendo parte do domínio público do Estado e demais pessoas colectivas de direito público,
integram o domínio privado do Estado e encontram-se sujeitos ao regime de direito privado
ou a regime especial, sendo a sua administração regulada por lei.
Artigo 97º
(Irreversibilidade das nacionalizações e dos confiscos)
São considerados válidos e irreversíveis todos efeitos jurídicos dos actos de
nacionalização e confisco praticados ao abrigo da lei competente, sem prejuízo do disposto
em legislação específica sobre reprivatizações.
Artigo 98º
(Direitos fundiários)
1. A terra é propriedade originária do Estado e integra o seu domínio privado, com vista
à concessão e protecção de direitos fundiários a pessoas singulares ou colectivas, e
comunidades rurais, nos termos da Constituição e da lei, sem prejuízo do disposto no n.º 3 do
presente artigo.
2. O Estado reconhece e garante o direito de propriedade privada sobre a terra,
constituído nos termos da lei.
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Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
3. A concessão pelo Estado de propriedade fundiária privada, bem como a sua
transmissão, apenas são permitidas a cidadãos nacionais, nos termos da lei.
Artigo 99º
(Sistema financeiro)
1. O sistema financeiro é organizado de forma a garantir a formação, a captação, a
capitalização e a segurança das poupanças, assim como a mobilização e a aplicação dos
recursos financeiros necessários ao desenvolvimento económico e social, em conformidade
com a Constituição e a lei.
2. A organização, o funcionamento e a fiscalização das instituições financeiras são
regulados por lei.
Artigo 100º
(Banco Nacional de Angola)
1. O Banco Nacional de Angola como banco central e emissor assegura a preservação do
valor da moeda nacional e participa na definição das políticas monetária, financeira e cambial.
2. Lei própria dispõe sobre a organização, funcionamento e as atribuições do Banco
Nacional de Angola.
Artigo 101º
(Sistema fiscal)
O sistema fiscal visa satisfazer as necessidades financeiras do Estado e outras entidades
públicas, assegurar a realização da política económica e social do Estado e proceder a uma
justa repartição dos rendimentos e da riqueza nacional.

Artigo 102º
(Impostos)
1. Os impostos só podem ser criados por lei que determina a sua incidência, taxa,
benefícios fiscais e garantias dos contribuintes.
2. As normas fiscais não têm efeito retroactivo, salvo as de carácter sancionatório,
quando sejam mais favoráveis aos contribuintes.
3. A criação de impostos de que sejam sujeitos activos os órgãos do poder local, bem
como a competência para a sua arrecadação, são determinados por lei.
Artigo 104º
(Orçamento Geral do Estado)
1. O Orçamento Geral do Estado constitui o plano financeiro anual ou plurianual
consolidado do Estado e deve reflectir os objectivos, as metas e as acções contidos nos
instrumentos de planeamento nacional.

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Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
2. O Orçamento Geral do Estado é unitário, estima o nível de receitas a obter e fixa os
limites de despesas autorizadas para todos os serviços, institutos públicos, fundos autónomos,
da segurança social, bem como para as autarquias locais em cada ano fiscal e deve ser
elaborado de modo a que todas as despesas nele previstas estejam financiadas.
3. A lei define as regras da sua elaboração, apresentação, adopção, execução e
fiscalização, bem como o processo a seguir quando não seja aprovado pela Assembleia
Nacional nos prazos definidos pela Constituição.
4. A execução do Orçamento Geral do Estado obedece ao princípio da transparência e
da boa governação e é fiscalizada pela Assembleia Nacional e pelo Tribunal de Contas, em
condições definidas por lei.
Artigo 105º
(Órgãos de soberania)
1. São órgãos de soberania o Presidente da República, a Assembleia Nacional e os
Tribunais.
2. A formação, a composição, a competência e o funcionamento dos órgãos de
soberania são os definidos na Constituição.
3. Os órgãos de soberania devem respeitar a separação e interdependência de funções
estabelecidas na Constituição.
5. O Presidente da República respeita e defende a Constituição, assegura o
cumprimento das leis e dos acordos e tratados internacionais, promove e garante o regular
funcionamento dos órgãos do Estado.
Artigo 198º
(Objectivos e princípios fundamentais)
1. A administração pública prossegue, nos termos da Constituição e da lei, o interesse
público, devendo no exercício das funções reger-se pelos princípios da igualdade, legalidade,
justiça, proporcionalidade, imparcialidade, responsabilização, probidade administrativa e
respeito pelo património público pelo agente público.
2. A prossecução do interesse público deve respeitar os direitos e interesses legalmente
protegidos dos particulares.
Artigo 200º
(Direitos e garantias dos administrados)
1. Os cidadãos têm direito de serem ouvidos pela administração pública nos processos
administrativos susceptíveis de afectarem os seus direitos e interesses legalmente protegidos.
2. Os cidadãos têm direito de serem informados pela administração sobre o andamento
dos processos em que sejam directamente interessados, bem como o de conhecer as decisões
que sobre eles forem tomadas.

3. Os particulares interessados devem ser notificados dos actos administrativos, na


forma prevista por lei, os quais carecem de fundamentação expressa quando afectem direitos
ou interesses legalmente protegidos.

24
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
4. É garantido aos particulares o direito de acesso aos arquivos e registos
administrativos, sem prejuízo do disposto na lei em matérias relativas à segurança e defesa, o
segredo de Estado, à investigação criminal e à intimidade das pessoas.
Artigo 223º
(Reconhecimento)
1. O Estado reconhece o estatuto, o papel e as funções das instituições do poder
tradicional constituídas de acordo com o direito consuetudinário e que não contrariam a
Constituição e a lei.
2. O reconhecimento das instituições do poder tradicional obriga as entidades públicas e
privadas a respeitarem, nas suas relações com aquelas instituições, os valores e normas
consuetudinários que se observarem no seio das organizações político-comunitárias
tradicionais e que não sejam conflituantes com a Constituição, nem com a dignidade da
pessoa humana.

CAPÍTULO I

1. INTRODUÇÃO AO DIREITO ECONÓMICO

O Direito Económico corresponde à uma disciplina científica e jurídica considerada nova


no ramo do Direito que, após de ter sido primeiramente desenvolvida na Alemanha e na
França, países com idêntica cultura jurídica, hoje na zona euro marca presença tanto nos
países de matriz romano germânico como também influenciou os países de matriz anglo-
saxónica através da união europeia, por via do Direito Económico Comunitário4.
Ao mesmo tempo começa a ganhar fascínio nítido de cidadania nos países lusófonos,
sendo Angola membro dessa comunidade, e, todavia, estas nótulas factológicas subjazem
numa disciplina pedagógica e científica com larga autonomia que vai ganhado o próprio
Direito Económico face a “summa divisio” da dicotomia dos grandes ramos do Direito (Direito
Público/Direito Privado), que vai ser um talão destes conhecimentos e que contribuem
4
Cfr. AZEVEDO, MARIA EDUARDA, – Temas de Direito da Economia, Almedina editora, 2013, Pág. 5.
25
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
decisivamente para lhe conferir uma indesmentível relevância incontornável ao nível nacional
e internacional.
Pelo que, importa assinalar que o estádio especial da economia angolana tida como
economia emergente voltada no crescimento económico, até então no passado recente há
mais de 12 anos configurava-se numa taxa considerada olímpica no contexto das economias
suportadas pelos recursos naturais e indexadas nos altos preços de petróleo nos Mercados
Internacionais, destacar como não deveria de ser de outra forma, notadamente a crise que
começou atear-se na baixa do preço do petróleo nos Mercados Internacionais no último
quarteto de 2014 e o mais caleidoscópico preço à oscilar aos 20 dólares/barril do “Brent” no
primeiro trimestre de 2016, que levou à corte dos Poderes Públicos da economia angolana
tomar medidas com repercussões quase imediatas na economia real e nas finanças públicas e
privadas com realce na balança de pagamentos de transacções correntes(ou simplesmente
conta corrente)5 e nas economias das finanças domesticas, pois que, a balança global
apresentava-se deficitária e a despesa nacional6, com transacções de bens e serviços
importados ser excessiva face as disponibilidades de reservas cambiais, e, por conseguinte,
manifestamente como era de esperar a sociedade exige das instituições do poder político -
económico e de ensino científico universitário alguma resposta adequada para resolução
deste dois macrocefálicos problemas, designadamente : O da crise, de uma lado, - pois que,
“as economias não existem para estarem em crise, nem para estarem em constante
crescimento”7, e o do outro da diversificação do risco ou como queiram, da diversificação da
economia como actualmente é apelidado, porquanto se se diversifica a economia através de
Lei-medida ou Lei-Princípio económico, por maioria da razão entender-se-á que deve-se
distribuir os sacrifícios económicos e financeiros para todos Agentes Económicos para evitar
as economias subterrâneas ou riquezas de boleia8, e, por conseguinte, seguramente
constituir-se-á mais direitos subjectivos e objectivos dos Agentes Económicos que antes
inexistentes e agora susceptíveis de nova Regulação do Direito.
Todavia, estes dois tenebrosos problemas, bifurcam a nossa ordem económica,
consubstanciados no combate a crise e outra os mecanismos de diversificação da economia,
como de certo modo se vê as crises, podem ser consideradas na fenomenologia jurídico-
económica de cíclicas, e, porém, será interessante, quanto muito, ser discutido em vários
sectores da sociedade e em ultima análise na Faculdade de Direito e dilucidar aquela dúvida
criada há anos o porque se estudava a Economia na Faculdade de Direito como disciplina
designado de Direito Económico ou Direito da Economia.
Para examinarmos estas inquietações acima destacadas e ensaiar uma proposta de
resolução é pertinente antes citarmos em primeiro lugar, o Prof. TEIXEIRA RIBEIRO, por ter
sido ele em Coimbra o renovador do ensino do Direito da Economia, ou simplesmente

5
Importa referir que, a Balança de Pagamentos – consiste no sistema de contas que permite registar todas as
operações reais ( mercadorias e serviços ) e todas as operações financeiras ( créditos e investimentos ) de um
País com o resto do mundo durante um certo período, e, está balança de pagamentos internacionais divide –se
: Balança de Transacções Correntes e Balança de Capitais.
6
A despesa nacional - consiste no conjunto de gastos ou despesas públicas do Estado e despesas das famílias e
empresas privadas.
7
Cfr. ROHA, ALVES, - Professor universitário da Católica – Luanda , extracto da dissertação na conferencia do dia
31 de Março de 2016 , organizada pela IMOGESTIN – imobiliária no Município do Lobito, sobre o tema
“Contexto Económico-Social e o Impacto no Mercado Imobiliário em Angola”, fonte www.angonoticias.
Consultado dia 1de Abril de 2016.
8
Como exemplo a Mercado Cambial informal que os operadores deste Mercado acumularam colossais riquezas
subterrâneas sob ilícito fiscal e ao arrepio a legalidade Cambial e branqueamento de capitais.
26
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Economia na década de 30, renovação valorizada na década seguinte, em Lisboa, por Dr.
PINTO BARBOSA, e, por conseguinte, a sua escola, porém o ilustríssimo Prof. TEIXEIRA
RIBEIRO (1966), exprimia as seguintes palavras: (…) “volto ao caso das ciências económicas há
que estudar nas Faculdades (de Direito) uma economia para juristas e nas Faculdades de
Economia uma economia para economistas. Sim que interessa aos juristas saber se a inflação
tem a origem na alta dos custos ou no aumento da procura…?
Mais do que a explicação dos fenómenos económicos, interessa aos juristas a sua
importância social, os quadros e as instituições que revelam”9. Por outro lado indagar-se
particularmente no caso de Angola, «Se a crise financeira e, de algum modo económica,
esteve na origem mais sonante da baixa do preço do petróleo ou da inópia da diversificação
da economia, sistema tributaria deficiente, indisciplina orçamental das despesas públicas e
do controlo das contas públicas ou outro fenómeno social a ele associado ?»10.
Um outro ilustre Prof. de Direito de Lisboa, MARCELLO JOSÉ DAS NEVES ALVES CAETANO
ou simplesmente Prof. MARCELLO CAETANO, depois de analisar os inconvenientes da
formação de economistas nas faculdades de Direito, também escreveu (1966); “Nem deve
uma Faculdade de Direito disputar as Faculdades de Economias as funções próprias destes,
pois com a mesma legitimidade com que se arrogasse conferir graus de Licenciatura em
ciências económicas, pretenderiam estas conferir os Licenciados em Direito (… )”11.
Se, como dissemos, este é um problema resolvido na seara jurídica há décadas em
Portugal, e distintamente também em Angola, é importante, o seu conhecimento, principiado
pelos pioneiros da academia do Direito Económico desta árdua actividade de ensino em
Angola que foi desencadeada na então única Faculdade de Direito da Universidade Pública –
Dr. Agostinho Neto, como ex: ilustrativo com alguma simpatia o Prof. FRANCISCO QUEIRÓS e
HELENA PRATA, mas sem preterir o mérito dos demais cultores do Direito Económico, porque
a história deixa sempre o seu registo para um futuro.
Entretanto, defende MANUEL JACINTO NUNES, no seu livro de Temas Económicos,
afirmando que “quem concebia há meio século que, na presidência dos EUA, um actor de
cinema - RONALDO REAGAN - sucederia um economista de formação – GEORGE W. BUSH
(…)12, e, em Angola poderá efectivamente no futuro próximo quiçá acontecer, como a história
recente já demonstrou os ex- Ministros das Finanças e Governador do BNA, e Ministro de
Estado junto do 1º Ministro e Chefe da Equipa Económica, ou Coordenação Económica do
Governo de Angola, como dissemos, foram os juristas económicos de formação e
desempenharam estas funções com brio assinalável13.
Contudo, para funcionamento harmonioso de um determinado sistema económico
requer um certo número de regras do Direito que asseguram apropriação e uso dos factores
de produção, distribuição, comercialização e consumo dos bens e serviços. Nas palavras
lapidares do Prof. MÁRIO EMILIO F. BIGOTTE CHORÃO (…) as relações económicas suscitam,

9
Cfr. NUNES, MANUEL JACINTO, – Temas Económicos – Imprensa Nacional – Casa da Moeda editora Portugal,
1989, Pág. 14.
10
Nossa. No mesmo sentido já no outro lugar em 2012/2013, em Lisboa já havia escrito, sobre o assunto sobre a
diversificação do risco em sede das recomendações do FMI, que outras economias já havia experimentado nos
choques cambiais, sobre o desígnio de “Doença Holandesa”, Cfr. Mário, Francisco, - “Fundo Soberano” -
Relatório do Mestrado Científico de Finanças Públicas – Privadas, FDUL 2013, Pág. 8.
11
Ibidem,
12
Ob. Cit. Pág. 14.
13
Mais recente nomeação por Decreto Presidencial de um jurista de formação na área das ciências jurídico –
económicas para ocupar as funções de Governador do BNA, demonstra a par da outras áreas do Direito o quão é
importante a formação nesta área do Direito.
27
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
como é óbvio, questões de justiça que pertencem ao Direito Regular . Se a distribuição das
riquezas não se submeter à justiça não se realizam os fins da ordem jurídica, nem, em
definitivo, o bem comum.(…), no mesmo sentido se pronunciou Dr. TEIXEIRA MARTINS, que,
(…) qualquer sistema económico exige um dado regime jurídico que assegure
normativamente como sistema(…)14.
Um regime jurídico que desde logo normatize as suas relações típicas de produção bem
como de troca, de consumo, etc., que além disso, sirva as necessidades do funcionamento
garantido os institutos e quadros jurídicos dentro dos quais as suas leis económicas possam
desenvolver-se. A economia constitui portanto, a concreta realidade sobre a qual o Direito vai
actuar.
Trata-se, pois, de uma realidade já dada ao Direito e que este recebe com a estrutura
que lhe é própria. Cumpre ao Direito acatar as exigências orgânicas e funcionais basilares do
sistema económico que constitui o objecto da sua regulamentação.

O Direito na sua função normadora está em condições de reagir sobre a economia


impondo do seu próprio ponto de vista ou bloquear tendências espontâneas do sistema
económico.

Portanto em última análise, no limite, o Direito intervém com intenções correctivas no


domínio económico por si e na sua lógica de desenvolvimento facilmente produziria, no caso
angolano a Economia assenta na Constituição de 2010 e submete-se à ela e legalidade
estrita15.

1.1.Noção do Direito Económico


1.1.1.Direito Económico ou Direito da Economia?
Sendo que o Direito Económico é um ramo de formação recente, distingue-se
amplamente o seu posicionamento perante a fisionomia da bifurcação das grandes famílias
tradicionais do Direito (Direito Público/Direito Privado), bem como, a sua natureza face o seu
objecto de estudo. Daí, vislumbrar a problematicidade da sua distinta denominação movediça
na indústria académica que gravita em torno do edifício jurídico da sua designação - Direito
Económico, ou Direito da Economia.
Ora bem, perante o imbróglio meramente académico da etimologia do léxico jurídico-
económico, foram avançadas várias ideias antagónicas para tentar a superação da tal
situação, dito de outro modo, o consenso não tem sido pacífico, pois que, o problema coloca-
se no vértice jurídico das costumadas disciplinas do curso de Direito com relevância
económica, designadamente; Direito Civil Patrimonial, o Direito das Obrigações, o Direito
Comercial, o Direito Administrativo da Economia, o Direito Financeiro, o Direito
Constitucional, o Direito Fiscal, e não tradicionais, o Direito Económico Penal, ou
simplesmente o Direito Penal Secundário, o Direito do Ambiente e Ordenamento do
Território, o Direito do Consumidor, o Direito de Concorrência, Direito de Regulação
Económica, Direito das Empresas, Direito das Sociedades Comerciais, o Direito do Trabalho, o
Direito Bancário, etc. para resolver a “vexata quaestio” sub judice, temos antes viajar no

14
Cfr. CHORÃO, MÁRIO EMÍLIO F. BIGOTTE, - Introdução ao Estudo do Direito, Lisboa 1984, Pág. 267.
15
Cfr. Art.6º da CRA.
28
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
tempo do seu surgimento na órbita da academia das ciências jurídico- económicas ou ciências
jurídico- empresariais como certo sector da doutrina apelida.
Assim sendo, para o surgimento do estudo das questões jurídico - económicas foi devido
as crises económicas e sociais verificadas na Europa a partir do século XIX, que muitos deles,
resultaram na radical mudança política, ou seja, Revolução Política contra o Capitalismo
Liberal e de abolição do poder absoluto das monarquias(onde não havia separação de
poderes) e que esta luta contra os desníveis sociais resultou na proclamação do Estado
democrático de direito que permitiu a intervenção do Estado no domínio económico no plano
regulatório e no plano organizatório da economia.
No entanto, de ponto de vista do conhecimento da história da humanidade que tivemos
acesso, as expressões idiomáticas jurídico-económicas16, designadamente: Direito Económico
e o Direito da Economia; tiveram a sua construção na escola alemã e francesa.
Cabendo a escola alemã a paternidade à expressão do designativo do Direito da
Economia, pois que, traduziria uma inclusão deste âmbito do Direito Público, ou Direito
Público da Economia, enquanto o designativo, ou seja, a expressão de Direito Económico, tem
sua origem na escola francesa, verteria no Direito Público-Privado, ou seja, dupla natureza
que é mais abrangente e misto com predomino do Direito Público, tendo em conta as funções
do Estado regulatório organizatório por via do Direito Administrativo da Economia17.
“Brevitatis causa”, podemos asseverar que as expressões acima destacadas, à luz da
unidade do sistema jurídico económico angolano e o carácter da ciência do Direito Económico
presidida pela dupla natureza (Público-Privada), aliás, como dizia JORGE MIRANDA, a
expressão “ Direito da Economia” poderia ser usada para recobrir um vasto conjunto de
sectores da ordem jurídica que versam sobre economia, uma vez que poucos deixarão de ter
algumas implicações nesta matéria18. Pois que o Direito não é estanque, dentro do seu escopo
final, que é decerto, de ordenação jurídica para cunhagem de um modelo económico
adequado aos anseios do povo angolano no contexto global emanado na Constituição de
2010; somos em síntese de preferir, à luz das ideias já trilhadas pela doutrina, o designativo
do Direito Económico, daí também inferir-se a sua natureza como Direito híbrido de dupla
natureza com predomínio Público, atento a forte intervenção do Estado na economia e sobre
a economia que se realiza e concretiza-se por via do Direito Administrativo.
O Direito Económico no cômputo geral, orienta o desenvolvimento económico e social
harmonioso para satisfação social da colectividade através dos instrumentos de regulação
jurídico-económico de aspectos macro-económicos (produção, distribuição de bens e serviços,
política fiscal, monetária e cambial e, o combate a inflação pleno emprego etc.) e aspectos
micro-económicas (preços, concorrência, defesa do consumidor etc.).

16
Porque é uma preciosidade linguística do que a uma verdadeira diferença de conteúdo, mais desenvolvimento
ver, PRATA, HELENA, - Lições de Direito Económico, Casa das Ideias. 2008, Pág. 13 e 55.
17
O Direito Económico Administrativo, é aquele que é constituído pelas normas de Direito Administrativo que
regula as formas de intervenção do Estado na Economia, quando actua sob formas administrativa, dispondo de
poderes especiais de autoridade. - SOUSA FRANCO, citado por FERREIRA, EDUARDO PAZ, – Direito da Economia,
Lisboa, AAFDL-2003. Pág. 43.
18
Apud, SANCHES, SALDANHA, – Direito Económico, um Projecto de Reconstrução, Pág. 21.
29
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Por conseguinte, para concretização desses objectivos, exige do Estado19, uma particular
actuação activa no campo económico, assumindo posições relevantes na dimensão dos três
poderes, nomeadamente:
- Poder Executivo, criação de empresa públicas e institutos de natureza económica, bem
como produzir legislação sob autorização da AN;
- Poder Legislativo - legislar no sentido de concretizar os objectivos constitucionais,
impondo severas limitações e restrições à actividade económica privada, sem excluir a
possibilidade das futuras nacionalizações e confiscos, e;
- Poder Judicial – na aplicação da Constituição Económica e da Lei, sancionando os
ilícitos ou delitos económicos através das medidas penais.
Mas de todo modo é interessante saber nesta sede, o que é o Direito Económico?
Vários autores tentaram trilhar e dar uma noção com a meritória aos doutrinadores
económicos portugueses que, desde logo, vamos privilegiar e seguir de perto o somatório das
definições por eles avançadas.
Assim sendo, o Prof. PAZ FERREIRA - define que, “o Direito da Economia em sentido
próprio constituiria um ramo autónomo que regula, segundo princípios próprios, a ordem
económica e as suas instituições”20.
Já os autores ANTÓNIO CARLOS, MARIA EDUARDA GONCALVES e MARIA MANUELA L.
MARQUES - definem o Direito Economico “como sendo um direito específico da ordenação da
economia, ou seja, é o estudo da ordenação (ou regulação) jurídica específica da organização
e direcção da actividade económica pelos poderes públicos e (ou) pelos poderes privados,
quando dotados de capacidade de editar ou contribuir para a edição de regras com carácter
geral, vinculativas dos agentes económicos”21.
Por seu turno, o Prof. MENEZES CORDEIRO - define o Direito Económico “como sistema
resultante da ordenação de normas e princípios jurídicos, em função da organização e
direcção da economia22.
Para o saudoso Prof. SOUSA FRANCO - o Direito Económico “como o ramo normativo do
Direito que disciplina, segundo princípios específicos e autónomos, a organização e a
actividade económica”23.
Para nós, a noção do Direito Económico – deve ser entendida como «um ramo autónomo
(de predominância do Direito Público), constituído por um conjunto de princípios, normas e

19
O Estado para sua compreensão organização jurídica, comporta varias acepções, nomeadamente:
a) Estado - na acepção Internacional, trata-se do Estado soberano, titular de direitos e obrigações na
esfera internacional.
b) Estado - na acepção constitucional - surge-nos o Estado como comunidade de cidadãos que, nos
termos do poder Constitucional que a si próprio se atribui, assume uma determinada forma política para
prosseguir os seus fins nacionais.
c) Estado - na acepção administrativa - o Estado é a pessoa colectiva pública que no seio da comunidade
nacional, desempenha sob a direcção do governo, a actividade administrativa, Cfr. In Curso Direito
Administrativo - Vol. I - DIOGO FREITAS DO AMARAL , Almedina editora 2ª edição 2001. Pág. 210-212.
20
FERREIRA, EDUARDO PAZ, – Direito da Economia, Lisboa, AAFDL-2003. Pág. 43.
21
Apud, PRATA, HELENA, - Lições de Direito Económico, Pág. 41.
22
Cfr. MENEZES, CORDEIRO, - Direito da Economia, Pág. 5.
23
Apud, FERREIRA, EDUARDO PAZ, – Direito da Economia, Lisboa AAFDL-2003. Pág. 24.
30
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
regras jurídicas que regulam, segundo regime próprio, a actividade económica dos agentes
económicos através da organização e direcção dos poderes públicos/privados da economia
com vista a tutela do interesse público»24.

1.2.Natureza e o Objecto do Estudo do Direito Económico


A ciência jurídica do Direito no plano económico, com o alargamento das funções do
Estado e de certo modo com o desenvolvimento da ciência e da técnica, levou o
desenvolvimento de algumas instituições económicas e a ciência do Direito adaptar-se a essas
novas figuras que a própria sociedade foi criando ao longo dos anos.
Nesta perspectiva, tem sido um dilema a classificação do Direito Económico como ramo
do Direito Público ou do Direito Privado de acordo os habituais distinções tradicionais,
porquanto em boa razão, denota-se que no Direito Privado há manifestação do um princípio
de igualdade dos sujeitos e, por seu turno no Direito Público identifica-se com a realidade da
manifestação da Ius Imperi25, por via da legalidade.
Todavia, é importante nesta sede afirmar qualificação do Direito Económico como
Direito misto com predominância do Direito Público, pois que, abarca no seio uma amálgama
de normas de fonte de produção privatística e de fonte produção pública.
Relativamente o objecto do Estudo do Direito Económico no essencial sem mais
tivergesões, tem como propósito de Estudar as formas de manifestação jurídica da relação
que existe entre o fenómeno político e o fenómeno económico na sociedade angolana.
Apesar de ser uma disciplina com identidade própria e autonomia científica, traduz-se na
justaposição ou reconfiguração de sectores de diversas disciplinas tradicionais conglobadas
por razões de afinidade e autonomizações por entendimentos de convivência prática ou
pedagógica26.
Conclusão: O DIREITO ECONÓMICO – funda-se no ramo do Direito Público, que tem por
objecto o estudo das relações entre os entes públicos e os conjuntos privados, na perspectiva
da intervenção do Estado na vida económica nos diversos sistemas económicos
designadamente:
1- SISTEMA ECONÓMICO PLANIFICADO
2- SISTEMA ECONÓMICO DE DIRECÇÃO CENTRAL
3- SISTEMA ECONÓMICO DA ECONOMIA DE MERCADO
O DIREITO ECONÓMICO passa a ser predominantemente de Direito Público pelas
finalidades que prosseguem, configura-se como DIREITO PÚBLICO DA ECONOMIA.

1.3.Sujeito da Relação Jurídica Económica (jus-económico)


A relação jurídica tem a sua origem, em termos conceptuais no direito Romano, como
generalidade de outras ideias comuns ao sistema jurídico ocidental, pois já os Romanos
falavam no conceito de “vinculum iuris” para exprimir a ideia de uma relação com relevância

24
A nossa construção.
25
Cfr. AAVV. – DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS/GONÇALVES, MARIA EDUARDA/MARQUES, MARIA MANUEL
LEITÃO, - Direito Económico – Almedina 5ª edição, 2004, Pág. 19.
26
Ibidem. Pág. 13.
31
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
para o direito e que colocavam em conexão duas ou mais pessoas relativamente a um objecto
ou coisa do comércio jurídico27. Entretanto, a construção da relação jurídica deveu-se
essencialmente à escola dos Pandectas dos alemãs no pleno século XX, com o SAVIGNY em
frente da broa da doutrina.
Posto isto, para aferirmos o sujeito da relação jurídica económica devemos em primeiro
lugar dar noção da relação jurídica e em seguida os sujeitos da relação jurídica. Porém, as
normas e princípios jurídicos que constituem qualquer ramo de Direito tem sempre como
centro as pessoas (singulares e colectivas), isto é, pessoas colectivas de Direito Público ou de
Direito Privado, como sendo os seus destinatários.
Contudo, para o Direito moderno dos nossos dias nos ordenamentos jurídico todo
individuo é pessoa para todos efeitos jurídicos e outras entidades, as pessoas não humanas
também são pessoas jurídicas próprio da construção do Direito, pois que, vêem reconhecidas
a personalidade jurídica nos termos da ex vi lege; (art. 2º, da CRA, art. 66º e 157º, da C.C.). Daí
resulta uma categoria geral, enquanto qualidade particular imputável a certas realidades que
tem uma vasta utilidade plena no Direito Económico, porque no espaço jurídico-económico,
as pessoas operam como centro de imputação de normas jurídicas nos termos gerais no plano
de desenvolvimento do labor económico, enquanto sujeitos que asseguram os instrumentos
as actividades relativas à produção, distribuição e consumo do Mercado dos bens escassos na
sociedade. Esta actividade projecta-se na actividade económica assumida pelos Agentes
Económico (Família28, Empresas, as Associações Económicas, o Consumidor, o Agrupamento
de Empresas, ou seja, as Famílias, Estado, Empresas e o Resto do Mundo).
Neste sentido a personalidade do jus-económico define-se como conjunto de direitos e
deveres atribuídos em função da organização e direcção económica; e será sujeito ius-
económico, todo centro de imputação das normas ius-económicas, atribuídos em função do
papel que cada um desempenha no seio do sistema económico29.
Relativamente a teoria da relação jurídica pode-se definir segundo a doutrina de
MANUEL DOMINGUES DE ANDRADE, - é uma relação da vida social disciplinada pelo direito,
mediante atribuição à uma pessoa (em sentido jurídico) de um direito subjectivo e a
correspondente imposição à outra pessoa de um dever ou de uma sujeição30.
O que será, no caso particular a relação jurídica económica?
Vamos tentar dar noção dessa relação atento as construções já predefinidas pela
doutrina civil e de algum modo do Direito Administrativo. Todavia, para todos efeitos da
construção do conceito sub judice, vamos convocar algumas noções já vergadas pelo Direito
Administrativo, que é, identitário com o Direito Público da Economia, assim sendo, a relação
jurídica administrativa segundo o conceito que nos foi facultado pelo um dos expoentes deste
entendimento, LUÍS CABRAL DE MONCADA, diz que, - “A relação jurídica Administrativa é,
desde modo, vínculo abstracto e geral ou individual e concreto constituído entre dois ou mais

27
Cfr. AAVV, DIOGO, LUÍS DA COSTA, - Noções e Conceitos Fundamentais de Direito, Quid Juris editora 2007,
Pág. 195.
28
As famílias no Direito Económico como instituição social não é sujeito jus económico por lhe escapar aquele
substrato jurídico de personalidade e capacidade jurídicas, ou seja, de ser centro de imputação de direitos e
obrigações (nosso).
29
Cfr. PRATA, HELENA, – Lições de Direito Económico, casa das ideias Pág. 138.
30
Cfr. ANDRADE, MANUEL A. DOMINGUES, – Teoria Geral da Relação Jurídica – vol. I, Sujeito e Objecto, Coimbra
2003, Reimpressão, Pág. 2.
32
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
sujeitos de direito por uma norma de direito administrativo ou por um acto individual
concreto, mediante o qual cada um dos intervenientes pode exigir de outro certa conduta
positiva ou negativa”31.
Assim, a noção da relação jurídica administrativa exprime o contacto jurídico
disciplinado entre sujeitos de direito. Neste contexto, ela pode ser considerada como uma
categoria geral do Direito. No âmbito do Direito Privado, o modelo da relação jurídica é a
paridade entre sujeitos de direito intervenientes, manifestando cada um e à sua maneira a
respectiva autonomia negocial (art. 38º, da CRA e art. 405º, da C.C).
Todo caso, não é muito alheio este conceito quanto à relação jurídica económica, pois
que, o Direito Administrativo mantém uma relação umbilical com o Direito Económico, ou
seja, o Direito Económico era considerado no antanho como Direito Administrativo
Económico, desde logo, portanto, nos termos desse percurso, afigura-se que as duas noções
da relação jurídica Administrativa e da teoria da relação jurídica (Direito Civil), tem como
denominadores comuns de qualquer ensaio que evidencia a relação jurídica económica.
Assim sendo, para nós, como mostrou GASTON BECHELARD, - “um conceito científico se
modifica em função do avanço das teorias e que na sua «última» acepção pode chegar a
negar a dialecticamente a sua acepção inicial”32.
Portanto, podemos inferir a partir da compreensão das contribuições dogmáticas
acima referenciadas e que, neste passo, a relação jurídica económica pode ser axiomada na
seguinte definição: - “um o vínculo geral e concreto que se estabelece entre dois sujeitos ou
mais Agentes Económicos disciplinado por uma norma de Direito Público ou Privado, contrato
ou por um acto individual concreto, mediante atribuição de um direito subjectivo ao um dos
intervenientes, do qual pode-se exigir de outrem certa conduta positiva ou negativa”33.

1.4.Características do Direito Económico


O Direito Económico é assinalado na ciência jurídica como sendo um Direito específico
da ordenação da economia, ou seja, é o estudo da ordenação (ou regulação) jurídica
especifica da organização e direcção da actividade económica pelos poderes públicos e (ou)
pelos poderes privados, quando dotados de capacidade de editar ou contribuir para a
edificação de regras com carácter geral e vinculativas dos Agentes Económicos34.
Qualquer modo, as características mais marcantes do Direito Económico são
consideradas as seguintes:
1- Carácter recente do Direito Económico, tanto no Direito angolano como noutros
ordenamentos jurídicos do Direito comparado, é sempre considerado como nova disciplina
em relação as disciplinas tradicionais, ou seja mais antigas do Direito, designadamente
Direito civil, Direito das Obrigações, Direitos Reais e etc.

31
Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, – Relação Jurídica Administrativa, Coimbra editora 2009, Pág. 13.
32
Cfr. AVV, DUROZOI, G, - Dicionário de Filosofia, dicionário temático, Porto Editora Lda. 2000, Pág. 82-83.
33
Definição nossa.
34
Cfr. PRATA, HELENA, – Pág. 41.
33
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
2- Mobilidade acentuada das normas jurídicas, esta característica afigura-se na falta de
codificação, consistindo numa soma de preceitos dispersos e alheados uns dos outros,
um leque de mensagens normativas avulsas dada ao carácter extravagante e da
dispersão das suas normas ius económicos contidas em diversos diplomas legais
(heterogeneidade) e quer pela sua evidente subordinação as políticas económicas e
sociais.
3- Carácter concreto das suas normas, diferente da generalidade e abstracção típica da
característica das normas jurídicas, as normas jurídicas do Direito Económico visam
disciplinar uma situação concreta da economia, ou seja, as normas de ius económicos são
concretas porque o Estado regula por meio de órgãos administrativos, os conflitos e
situações concretas, pelo uso de actos legislativo concreto, ex.: nacionalizações, confisco,
privatizações, regime de preços, regime do sector empresarial do Estado e etc.
4- Declínio da coercibilidade e imperatividade, o Estado recorre aos meios técnicos
económicos para penalizar, estimular e incentivar os agentes económicos, tomemos de
exemplos pragmáticos: O aumento de carga fiscal dos produtos importados (nova pauta
aduaneira de Angola), ou estimular a economia através de concessão de empréstimos,
auxílio do Estado, Protecção das Micro, Pequenas e Médias Empresas, (fomento), ou como
diria, promover determinadas actividade económica por recursos a normas-programáticas,
designadas Lei-quadro, leis-medidas de proibição das importação das viaturas com volante
a direita, ou usadas há mais de (3) três anos, determinação das quotas de importação de
certos produtos como a batata rena, franco, cimento e etc., Lei-princípio, contratos
económicos etc.

1.5.O Direito Económico face a outros Direitos em Matéria Económica


O Direito Económico como ciência jurídica que tem vindo autonomizar-se face os ramos
de Direito já existentes como Direito Comercial, certas áreas do Direito Civil, o Direito
Administrativo e o Direito Constitucional, mas sem perder de vista uma relação de
interdisciplinaridade, mas sem descurar, como é natural as dificuldades existentes nas zonas
de fronteira mal definidas no âmbito interno, internacional e recentemente o nível
comunitário. Pois bem, conhece-se largamente as afinidades com o Direito Comercial, Direito
Administrativo, Direito Processual, Direito Penal, Direito das Obrigações, Direitos Reais, e o
Direito Constitucional uma vez que é a Constituição que fixa as balizas da organização
económica35.
Como sustenta o Prof. EDUARDO PAZ FERREIRA, a outra fonte do problema consiste no
movimento no sentido de autonomizar todo o conjunto de disciplinas que corresponderiam
na sua génese ao Direito da Economia como o caso do Direito Agrário, do Direito do
Ambiente, do Direito da Informação, bem como do Direito Bancário e o Direito dos Valores
Mobiliários (Pelo menos nas suas componentes institucionais)36.

1.6.Fundamento da Autonomia do Direito Económico

35
Cfr. FERREIRA, EDUARDO PAZ, – Direito da Economia, Lisboa AAFDL-2003. Pág. 46.
36
Ibidem Pág. 46.
34
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
A questão da autonomia do Direito Público da Economia tem sido analisado na base dos
recortes que delimitam as suas características específicas atento a sua dupla designação como
Direito e como a Economia.
Segundo CABRAL DE MONCADA, entende que, o problema da autonomia do Direito
Económico nos obrigará a perspectiva-los, no seguinte:
- Como ramo do Direito autónomo, a semelhança do Direito de Trabalho, Direito Fiscal,
Direito Financeiro , Direito do Ambiente e etc., ou;
- Como disciplina científica dotada de autonomia, afigurando-se no curriculum de forma
individualizada, a par de outras disciplinas científicas37.
Ora, autonomia do Direito Económico como ramo do Direito Público é uma questão
complexa e convencional, na medida que surgem dificuldades na noção vaga e imprecisa. No
entendimento de CABRAL DE MONCADA, o ramo do Direito autónomo seria aquela cujas
normas, pelas suas características peculiares, lhe imprimem um centro específico afirmando-o
como corpo próprio de regras de direito individualizados e separados, orientadas por
preocupações específicas e reciprocamente relacionadas38.
O Direito Económico e a sua autonomia funda-se na intervenção do Estado na vida
económica, neste sentido, o Direito Económico vai ganhando características específicas,
normas e princípios próprios construído de direito que dá autonomia tanto científica e
pedagógica.
Mas, fala-se de uma interdisciplinaridade no estudo do Direito Económico que
ultrapassa o campo jurídico, querendo com isto sublinhar-se o especial peso que os temas
económicos assumem no objecto desta disciplina. Por vezes, chega mesmo a ver visto numa
óptica funcionalista, como mero instrumento da economia, um Direito ao serviço dos ditames
económicos, que apenas vê justificada a sua existência na medida em que cumpre esses
objectivos.
O Direito é assim um produto cultural por excelência, surge como uma instância
reguladora dotada de uma racionalidade que não se reduz à pura racionalidade económica.
No entanto essa autonomia é relativa, mas de todo modo, evolução económica e tecnológica
influencia a profundidade do Direito, obrigando-o a um processo de contínua adaptação39.
Daí que se justifica o recurso à conceitos indeterminados e cláusulas gerais, o menor
peso do formalismo e conceptualismo jurídico, e a importância da interpretação sistemática e
teleológica (…). Porém, procura-se a pluralidade de métodos, mostrando a parcialidade das
várias “ciências”.
Todavia, o estudo do Direito Económico vai-se consolidando por via da
interdisciplinaridade, isto é, normalmente pode ser entendida no sentido de compreender
alguns fenómenos jurídicos como responsabilidade civil do produtor, ou na formação de
contratos, sem antes ter uma compreensão razoável de ideias como eficiência (que não é o
mesmo que eficácia), ou assimetria de informação, de fenómenos como a economia do risco e
dos seguros e mobilizando os recursos intelectuais de uma e de outra janela científica.

37
Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, – Direito Económico, Pág. 113.
38
Ob. Cit. Pág. 113.
39
Cfr. PRATA, HELENA, - Lições de Direito Económico, Pág. 15.
35
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Tome-se como exemplo meramente ilustrativo a questão da compra e venda. Tanto é
regulada pelo Direito Civil, quanto pelo Direito Económico. Pelo primeiro sentido de se
estabelecerem normas regentes da relação contratual privatística entre comprador e
vendedor. Pelo último, na medida em que se dispõem regras determinadas da relação de
consumo, tendo em vista a protecção dos direitos e interesses económicos dos
consumidores40.
Note-se que o Direito Económico tem como característica marcante de efemeridade e a
flexibilidade das suas normas, pelo que;
Efemeridade – a transitoriedade (efemeridade) que se afere é devido ao facto de que
elas estão, necessariamente, adstritas à ideologia de determinada Constituição. Revogada ou
reformada esta, acrescentando-se palpáveis modificações em termos ideológicos,
consequentemente, muda-se aquela, para que, novamente, se adeqúe à nova ordem41.
E, flexível porque as normas jurídicos do Direito Económico no plano sancionatório
apresentam-se como normas sancionatórias mitigadas, ou fracas devido a tolerância que lhes
é característico, atento que os agentes económicos, ou seja, os sujeitos das actividades
económicas são os indivíduos particulares, o Estado, as empresas os órgãos nacionais,
internacionais e comunitários, bem como os titulares de direitos difusos e colectivos.
Portanto, o Direito Económico mais do que um ramo de Direito autónomo, é uma
diagonal – uma transversal – que corta os vários normas dos ramos de Direito que regulam a
matéria de dimensão económica42.

1.7. Relação entre o Direito e a Economia


A Economia como uma ciência da escassez e das escolhas fica espelhada numa lapidar
formulação de LIENEL ROBINS, que nos reporta de que, “a economia é uma ciência que
estuda o comportamento humano como uma relação entre fins e os meios escassos
43
susceptíveis de aplicação alternativas” .
As relações entre a Economia e o Direito não são uniformes e tem variado ao longo do
tempo, assim para o pensamento liberal, aliás, que lançou as bases da ciência económica, a
actividade económica é um dado natural, que é o prolongamento das liberdades individuais e
geradoras da riqueza44. Rege-se por uma lógica própria, totalmente racional e desenvolve-se
num meio institucional próprio designada de Mercado.

40
Ibidem. Pág. 22.
41
Ibidem Pág. 23.
42
Vide a nota nº1 Comentários de MONCADA, LUÍS CABRAL DE, – Direito Económico, Pág. 116.
43
Apud, ARAÚJO, FERNANDO, - Introdução a Economia, Vol. I, 2ª edição, 2004, Pág. 26.
44
Ob. Cit. Pág. 7.
36
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Neste sistema económico, à regra jurídica competiria assim favorecer o produto de giro
dos capitais, fornecendo a actividade económica um suporte normativo sistemático e
transparente dando assim a primazia da economia sobre o Direito.
Por seu turno no pensamento marxista também evidencia-se a primazia da actividade
económica sobre a regra jurídica, pois o sistema social próprio do capital baseado na
apropriação privada dos meios de produção caracteriza-se pela determinação da
superestrutura jurídica sobre infra-estrutura económica, aqui o jurista actua com a
neutralidade do Estado no terreno económico devido o peso ideológico do sistema, que
substitui de modo assinalável a justiça das prestações pela justiça formal.
“Inter alia” o pensamento liberal clássico, bem como o pensamento marxismo, a
economia era a rainha (alter-ego) e o direito seu servo obediente45.
Mas, contudo, foi E.U.A no séc. XIX em que o liberalismo aos poucos quebrou-se a
confiança dos Mercados como instrumento da riqueza, dando lugar a disciplina da
concorrência, por ter-se apercebido que o Mercado não podia funcionar de per si.
Por conseguinte, a relação entre a Economia e o Direito inventou-se o Direito com base
os valores de justiça, e, estranhos a actividade económica que vai reagir sobre a Economia
para tutelar os interesses públicos por via de intervenção do Estado na economia ou sobre a
economia (Regulação Social)46.

1.8. Fontes do Direito da Economia


Por fontes do Direito entende-se os modos de produção e revelação das normas
jurídicas. Em matéria de Direito Económico podemos encontrar as fontes tradicionais (a
Constituição, actos normativos, regulamentos) e as fontes não tradicionais (os acordos de
concertação económica; as varias formas contratualistas estabelecidas entre o Estado e os
particulares)47.

1.8.1. Fontes Tradicionais: Fontes Internas e Internacionais.


1.8.1.1.Fontes Internas
a) A Constituição – Naturalmente, é a primeira e a mais importante fonte do Direito,
porque é a Lei fundamental é a carta magna, portanto fixa as grandes balizas de toda
actividade económica como por exemplo os artigos: 2º, 8º, 12º, 14º, 15º, 16º, 38º, 78º,
89º, e ss da CRA.
b) Actos Normativos – Leis, Decretos-lei, Decretos, artigos: 125º, 126º, 167º da CRA.
c) Regulamentos – São um conjuntos de normas e princípios Jurídicos que regulam uma
determinada actividade económica art. 201º da CRA.

1.8.1.2.Fontes Internacionais:

45
Ob. Cit. Pág. 8.
46
Cfr. AZEVEDO, MARIA EDUARDO DE, – Temas de Direito de Economia, Almedina 2013, Pág. 44.
47
Cfr. AAVV. – DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS/GONÇALVES, MARIA EDUARDA/MARQUES, MARIA MANUEL
LEITÃO, - Direito Económico – Almedina 5ª edição, 2004, Pág. 21-25.
37
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
São fontes do Direito Económico Internacional os tratados Internacionais 48 e regionais,
efectivamente são numerosas as convenções Internacionais que vinculam o Estado em
matéria económica que ingressam na ordem económico através da transposição semi - plena
e plena nos termos densificado no corpo do art. 13º, da CRA, que prescreve o seguinte:
Artigo 13º
(Direito Internacional)
1. O direito internacional geral ou comum faz parte integrante da ordem jurídica
angolana.
2. Os tratados e acordos internacionais regularmente aprovados ou ratificados, vigoram
na ordem jurídica angolana após a sua publicação oficial e entrada em vigor na ordem jurídica
internacional e enquanto vincularem internacionalmente o Estado angolano.
3. Os actos jurídicos emanados dos órgãos competentes das organizações internacionais
de que Angola seja parte vigoram na ordem jurídica interna, desde que tal esteja estabelecido
nos respectivos tratados constitutivos.
Por outro lado confluem para efeitos das fontes do Direito Económico no plano
internacional a Lei nº 4/011, de 14 de Janeiro, Lei sobre os Tratados Internacionais ex.: GATT,
SADC, OMA, OMC etc.

1.8.1.3.Fontes não Tradicionais


Em consequência da evolução que se verifica no mundo actual tende ganhar uma
importância crescente no Direito da Economia, pois a regulação da actividade económica tem
origem pública, particular ou mista ex.: Acordos de concertação económica.

CAPÍTULO II

2. CONSTITUIÇÃO ECONÓMICA

2.1. Noção da Constituição Económica


A noção da Constituição Económica ocupa um lugar central para o estudo do Direito
Económico, havendo mesmo quem estruture a partir dessa noção fundadora do Direito
Económico, que represente a expressão mais acabada do objectivo da ordenação da
economia, aliás, JORGE REIS NOVAIS entende que a Constituição é o Direito, é uma norma
jurídica vinculativa, é a Lei, é a Lei fundamental que regula o funcionamento dos órgãos do

48
O Tratado de METHUEN, também referido como Tratado dos Panos e Vinhos, foi um tratado assinado entre a
Inglaterra e Portugal, em 17 de Dezembro de 1703. Foram seus negociadores o embaixador extraordinário
britânico JOHN METHUEN, por parte da Rainha Ana da Inglaterra, e D. MANUEL TELES DA SILVA, MARQUÊS DE
ALEGRETE –Portugal. Pelos termos, os portugueses se comprometiam a consumir os têxteis britânicos e, em
contrapartida, os britânicos, os vinhos de Portugal. - que levou Inglaterra a desenvolver a industria e Portugal
ficou no vinho e no fado até hoje.
Em Angola lembra dos celebres tratados de pesca entre Angola e União Soviéticas de pescar nas águas
soviéticas e angolanas vice-versa - , de melhoramento da produção de cana-de-açúcar e das videiras com os
cubanos e italianos respectivamente, o mais recente tratado (cambial) entre Angola-Namíbia de 2015 sobre a
circulação da moeda kwanza e Dólar Namibiano, que de algum modo foram negócios de Estado ilustrativamente
ruinosos para Agentes Económicos angolanos.
38
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Estado e dos poderes públicos e que acima de tudo, lhes impõe todo um conjunto de deveres
relativos à garantia dos direitos constitucionais49.
Porém, a ideia de Constituição Económica tem uma origem considerado como recente
tributado pela doutrina alemã, confundindo - se praticamente com a origem do Direito
Económico e ecos a preocupação demostrada pela Constituição de WEIMAR (de 1919)50, com

49
Cfr. NOVAIS, REIS JORGE – Em Defesa do Tribunal Constitucional , Almedina editora, 2014, Pág. 26.
50
A estrutura da Constituição de WEIMAR é claramente dualista: a primeira parte tem por objectivo a
organização do Estado, enquanto a segunda parte apresenta a declaração dos direitos e deveres fundamentais,
acrescentando às clássicas liberdades individuais os novos direitos de conteúdo social.
Essa estrutura dualista não teria minimamente chocado os juristas de formação conservadora, caso a
segunda parte da Constituição de WEIMAR se tivesse limitado à clássica declaração de direitos e garantias
individuais. Estes, com efeito, são instrumentos de defesa contra o Estado, delimitações do campo bem
demarcado da liberdade individual, que os Poderes Públicos não estavam autorizados a invadir. Os direitos
sociais, ao contrário, têm por objecto não uma abstenção, mas uma actividade positiva do Estado, pois o direito
à educação, à saúde, ao trabalho, à previdência social e outros do mesmo género só se realizam por meio de
políticas públicas, isto é, programas de acção governamental. Aqui, são grupos sociais inteiros, e não apenas
indivíduos, que passam a exigir dos Poderes Públicos uma orientação determinada na política de investimentos e
de distribuição de bens; o que implica uma intervenção estatal no livre jogo do mercado uma redistribuirão de
renda pela via tributária.
Essa orientação marcadamente social e não individualista aparece até mesmo nas disposições que o
constituinte classificou como se referindo a pessoas individuais. Assim é que o art. 113º, de modo pioneiro,
atribuiu a grupos sociais de expressão não alemã o direito de conservarem o seu idioma, mesmo em processos
judiciais, ou em suas relações com a Administração Pública. Marcou-se, desta forma, a necessária distinção entre
diferenças e desigualdades. As diferenças são biológicas ou culturais, e não implicam a superioridade de alguns
em relação a outros. As desigualdades, ao contrário, são criações arbitrárias, que estabelecem uma relação de
inferioridade ou superioridade de pessoas ou grupos em relação a outros. Assim, enquanto as desigualdades
devem ser rigorosamente prescritas, em razão do princípio da isonomia, as diferenças devem ser respeitadas ou
protegidas, conforme signifiquem uma deficiência natural ou uma riqueza cultural.
Mas foi, sem dúvida, pelo conjunto das disposições sobre a educação pública e o direito de trabalho que
a Constituição de WEIMAR organizou as bases da democracia social.
A secção sobre a vida económica abre-se com uma disposição de princípio, que estabelece como limite à
liberdade de mercado a preservação de um nível de existência conforme à dignidade humana (art. 151º).
A função social da propriedade foi marcada por uma fórmula que se tornou célebre: “a propriedade
obriga” (art. 153º, al. a). O projecto para a Constituição foi redigido por HUGO PREUSS, discípulo do historiador
do direito e teórico do antigo comunitarismo germânico, OTTO V. GIERKE. Desde a sua concepção, portanto, a
Constituição de WEIMAR se estruturava contraditoriamente, procurando conciliar ideias pré-medievais com
exigências socialistas ou liberais-capitalistas da civilização industrial.
A Constituição de WEIMAR e o Estado Social - A Constituição de WEIMAR formulou alguns dispositivos
em relação à ordem económica e social em texto por si só esclarecedor. Se ela reconhece a propriedade como
tal, por um lado, por outro diz no artigo 153º, que a propriedade impõe obrigações. Seu uso deve estar a serviço
do mais alto interesse comum. Quanto à propriedade da terra, o artigo 155º diz que o Reich (este nome foi
mantido!) será responsável pela inspecção do aproveitamento do solo, visando a coibição de abusos e a garantia
de que cada alemão tenha uma habitação saudável e que as famílias tenham um pedaço de terra suficiente para
a exploração económica de acordo com suas necessidades. O texto constitucional weimariano abre, inclusive, a
possibilidade de expropriação a bem do interesse comum e sob certas condições tornando a propriedade
colectiva (artigo 156º).
Instalada em 6 de Fevereiro de 1919, na cidade de WEIMAR a assembleia nacional constituinte encerrou
seus trabalhos em 31 de Julho seguinte, quando foi aprovada a nova Constituição por 272 votos contra 75 e
várias abstenções. Pouco antes, porém, em 9 de Julho, a assembleia havia ratificado o tratado de Versalhes, que
impôs à Alemanha indemnizações de guerra em montante desproporcional e insuportável. Como advertiu
KEYNES, as potências vencedoras criavam com isso as condições predisponentes de um futuro colapso financeiro
da República Alemã, tornando impossível a sua normal integração no concerto europeu do pós-guerra. O factor
desencadeante da bancarrota adveio dez anos após, com o colapso da Bolsa de Nova York e a grande depressão
39
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
certa antecipação, a Constituição Mexicana (1917) e a Lei Fundamental Russa( de 1918),
perante as questões económicas e sociais51, que de certo modo iniciaram a consagração
explicita de normas e princípios sobre matérias económicas e sociais, quebrando com aquela
tradição do modelo seguido pelas constituições politicas e, por conseguinte, obviando o seu
declínio consubstanciado no abandono da matriz do Estado Liberal puro, abstencionista
quanto a coisa “económica”, para salvaguardar a legitimação dos poderes do Estado ao
intervir na vida económica52.
Neste sentido, segundo o Prof. EDUARDO PAZ FERREIRA, a Constituição Económica
surge como uma consequência (ou instrumento) da passagem do Estado Liberal Clássico para
o Estado Intervencionista53. Hoje em dia podemos verificar que todos sistemas económicos
tem a Constituição Económica.
Ora bem, a Constituição Económica corresponde aos princípios fundamentais que
determinam as relações entre o poder político e a economia, ou mais amplamente, aos
princípios que regulam a relação entre a economia e o Estado e o quadro geral em que se
desenvolvem as actividades económicas de sujeitos de Direito Público e Privado54.
VITAL MOREIRA, define a Constituição Económica como um conjunto de preceitos e
instituições jurídicas que, garantindo os elementos definidores de um determinado sistema
económico (…)55.
Para HELENA PRATA, a Constituição Económica pode ser definida como um conjunto de
princípios, critérios, valores e regras fundamentais que presidem a vida económico e social56.
Pelo seu turno, OVÍDIO PAHULA, defende que o “ a Constituição Económica é o conjunto
de bases fundamentais da ordem jurídica da economia onde se define as normas e princípios
constitucionais atinentes aos direitos fundamentais de índole económico, (…)57.

mundial que se lhe seguiu. Abria-se, assim, o palco para a entrada em cena da barbárie nazista, que destruiu a
República de WEIMAR em poucas semanas, no início de 1933.
Importância histórica. Apesar das fraquezas e ambiguidades assinaladas, e malgrado sua breve vigência, a
Constituição de WEIMAR exerceu decisiva influência sobre a evolução das instituições políticas em todo o
Ocidente. O Estado da democracia social, cujas linhas-mestras já haviam sido traçadas pela Constituição
mexicana de 1917, adquiriu na Alemanha de 1919 uma estrutura mais elaborada, que veio a ser retomada em
vários países após o trágico interregno Nazi-Fascista e a 2ª Guerra Mundial. A democracia social representou
efectivamente, até o final do século XX, a melhor defesa da dignidade humana, ao complementar os direitos civis
e políticos — que o sistema comunista negava — com os direitos económicos e sociais, ignorados pelo liberal-
capitalismo. De certa forma, os dois grandes pactos internacionais de direitos humanos, votados pela Assembleia
Geral das Nações Unidas em 1966, foram o desfecho do processo de institucionalização da democracia social,
iniciado por aquelas duas Constituições no início do século.
Mas pergunta-se quem foi WEIMAR?
R/WEIMAR ´, não é uma pessoa física, é uma pessoa jurídica colectiva territorial germânica, ou seja, foi
e é uma, pequena e pacata cidade clássica germânica de intelectuais próximas de Gotha, de Erfurt e de Leipizig,
mas longe de Berlim, onde se realizou Assembleia Constituinte da Constituição de 1919, conhecida Como
Constituição de WEIMAR o jeito de enaltecer a cidade.
51
Apud, FERREIRA, EDUARDO PAZ, – Direito da Economia, Pág. 57; MENEZES, CORDEIRO – Direito da Economia.
52
Mas desenvolvimento ver também JOÃO, DOMINGOS FRANCISCO, -Temas Essenciais do Direito da Economia
Angolana, escolar editora Lobito 2014 Pág.38 e ss,
53
FERREIRA, EDUARDO PAZ, – Direito da Economia, Pág. 57.
54
Ob. Cit. Pág. 59.
55
Apud, VAZ, MANUEL AFONSO, – Direito Económico, 3ª edição, Coimbra Editora 1994. Pág. 113.
56
Cfr. PRATA, HELENA, - Lições de Direito Económico, Pág. 47.
57
Cfr. PAHULA, OVÍDIO, - Evolução da Constituição Económica Angolana, casa das ideias, 2009, Pág. 104.
40
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Todavia, a Constituição Económica é uma parte da Constituição Política e o seu objecto
não se confunde com a ordenação total, global e acabada da sociedade. Porque a Constituição
Económica, não se pode separar da democracia nem das exigências de um Estado de Direito.
Por conseguinte a Constituição Económica é, repete-se, no entanto, um conceito central
desde a Constituição de WEIMAR (Alemã) em qualquer estudo do Direito Económico…58.
Portanto, a expressão Constituição Económica é susceptível de reparos, por estar
sempre subjacente a ideológica política da partidocracia como uma forma mais latente de
organização do Estado Economico das sociedades actuais e de algum modo, como forma de
participação da cidadania económica, por outro lado, a Constituição Económica vai significar
os princípios jurídicos fundamentais de organização económica de uma determinada
comunidade política, ou seja, equivale a ordem económica fundamental.
É mister entretanto distinguir, o conceito ou expressão de Constituição Económica e a
Ordem Económica, hoc sensu, segundo VITAL MOREIRA, entende que a CONSTITUIÇÃO
ECONÓMICA - é o seguimento normativo da Constituição que trata dos princípios e regras
fundamentais da ordem económica.
Já a ORDEM ECONÓMICA - constitui-se de todas as normas ou instituições jurídicas que
tem por objecto as relações económicas59.
A Constituição Económica levanta alguns pontos de vista que divide a doutrina em duas
teorias ou concepções que pode ser designado de “Teorias da Constituição Formalista” e
“Teoria da Constituição Materialista”. Que em seguida vamos lhe dar assento pormenorizado.

2.2. Constituição Económica Formal


A Constituição Económica é uma parte da Constituição Política que trata matérias de
natureza económica, desde logo, este inserido no texto legal único que lhe confere uma
magnitude Constitucional no sentido formal. Pois que, a Constituição Formal segundo a
doutrina da Teoria Formalista, é alicerçado pelas normas (formais) que balizam o sistema
económico e são tidas como fonte primária de Direito Económico, isto significa dizer que, sua
validade e eficácia não se fundamenta em qualquer outra norma do ordenamento jurídico.
Porém, a Constituição Económica Formal- compreende apenas as normas integradas no
texto constitucional com objectivo de definir um quadro legal genérico de actividades
económicas ou outras que acabam produzir igualmente com efeito ordenador60.
Portanto, podemos concluir que a Constituição Económica Formal – pode ser lida como
um conjunto de normas jurídicas contidas no texto da Constituição Política que versam sobre
a matéria económica61.

2.3. Constituição Económica Material


Diversamente, em conformidade com a doutrina da Teoria Materialista a Constituição
Económica Material, integra o núcleo essencial de normas jurídicas que regem o sistema e os

58
Ob. Cit. Pág. 117.
59
Apud, PRATA, HELENA, - Lições de Direito Económico. Pág. 46.
60
Cfr. FERREIRA, EDUARDO PAZ, – Direito Económico. Pág. 62.
61
Nossa Definição.
41
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
princípios básicos das instituições económicas, quer constem, ou não no texto
Constitucional62. Dito de outro modo – a Constituição Económica Material – é o conjunto de
normas inseridas ou não no texto legal da Constituição Política.

2.4. Modalidades das Constituições Económicas


2.4.1. Quanto a Forma Jurídica
A Constituição como texto legal constituído por um conjunto de normas jurídicas poder
ser classificadas:
a) Explicitas – é aquela que, plasmada no texto Constitucional63, ou seja, configura-se no
conjunto de normas e princípios constitucionais relativos à economia, ordem
Constitucional da economia inseridas no texto legal da CRA.
b) Implícitas – são aquelas que, embora não elenquem no texto legal (Constituição)
duma forma aberta e clara a ordem jurídica da economia, o seu conteúdo encerra
sempre, ainda de forma oculta (um sinal, luz) repete-se, ainda de forma oculta a
ordem jurídico económico esta sempre em consonância com a Constituição Política e
económica64.
2.4.2. Quanto Ao Conteúdo Económico
a) Constituição Económica Capitalista65,- Consiste na livre empresa e do ponto de vista
jurídico – económico, pode ser identificado com a existência de instituições jurídico-
económicas típicas, tais como: Mercado, Empresa e o Capital, Iniciativa e Propriedade
Privada, também e identifica-se com a produção dinâmica fundando numa técnica
muito avançada, bem como o lucro e o ganho sendo como o seu como escopo
fundamental no quadro das actividades económicas66.

No sistema capitalista podemos distinguir três modelos principais:

62
Cfr. FRANCO, ANTÓNIO SOUSA, – Direito da Economia, 1º Volume. Pág. 93.
63
Cfr. PAHULA, OVÍDIO, – Evolução da Constituição Económica Angolana. Pág. 34.
64
O exemplo flagrante as Constituições liberais do século. XIX ver PAHULA, OVÍDIO. Pág. 33.
65
O Capitalismo é um sistema que integra, como essencial padrão cultural, científica e tecnológica que
corresponde um elevado índice de civilização, e a um tipo de civilização que busca o progresso constante, que se
radica no espírito de competição ou concorrência, o dinamismo e a inovação constante da economia, isto é,
busca incessante de novos produtos, novos mecanismos e novas técnicas. Entretanto, evolução histórica permite
distinguir fases ou tipos ou formas principais no sistema capitalista, designadamente:
- Capitalismo nascente, ou pré-capitalismo, ou capitalismo comercial e financeiro que nasceu na economia
urbana da europa no século XV-XIX, actividade financeiro de moeda e crédito vai se destacar e institucionalização
dos bancos e bolsa de valores.
- Capitalismo industrial – deu-se na Inglaterra e norte da América na XVIII (revolução industrial) na sua primeira
fase a maquinofactura que vai substituir a manufactura na sua segunda fase do capitalismo industrial acorre no
século XX, com utilização tecnológico mais sofisticado a descoberta do computador.
- Capitalismo de Maturidade – capitalismo tardio, social ou amadurecido, (capitalismo guiado)que vai consistir
na intervenção do Estado na economia para superar os desníveis ideológico, desemprego, saúde segurança social
e bem-estar. Mais desenvolvimento ver o prof. FRANCO, ANTÓNIO SOUSA, - Noções de Direito da Economia, vol.
I, AAFDL, 1982-1983, Pág. 118-120.
66
Ob. Cit. Pág. 35.
42
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
1-Reduzido peso do poder político e actividade económica desenvolvida
essencialmente com base na liberdade dos múltiplos sujeitos individuais e libertação do
Estado - abstencionismo (liberal).
2-Acentuado peso e diversidade de funções económicas do poder político, embora
com respeito pelos princípios fundamentais da propriedade privada e da liberdade individual;
o Estado intervém apenas para corrigir e defender o funcionamento do sistema, mas não para
o orientar ou dirigir – intervencionismo (com diversas inspirações).
3-O Estado propõe fins económicos próprios e procura dirigir ou orientar o
funcionamento da economia, embora sem suprimir de raiz as instituições e princípios básicos
da economia de Mercado – dirigismo (socialista ou não)67.
b) Constituição Económica Liberal – é aquela em que o Estado desempenha funções
mínimas, ou seja, Estado mínimo caracterizado pelo abstencionismo económico,
limita-se a proteger e a privilegiar as correcções ligeiras da economia, propriedade
privada dos meios de produção como sua pedra angular e regulação da economia
através da espontaneidade do Mercado tendo como base as suas diversas formas de
correcção68.
c) Constituição Económica Intervencionista – são aquelas que caracterizam com o
intervencionalismo do Estado nos vários domínios da economia na defesa do interesse
público.
d) Constituição Económica Dirigista – o Estado propõe-se aos objectivos económicos
próprios e procura dirigir ou orientar o funcionamento da economia, embora sem
suprimir no essencial as instituições e princípios básicos da economia de Mercado69.
O Dirigismo que se afere aqui, desdobra-se em:
1-Dirigismo Burocrático - aquela que a Administração Pública condiciona
casuisticamente o comportamento dos agentes económicos de direito privado, ou fazendo
depender de autorização prévia os seus actos económicos mais significativos, ou ainda fixando
os termos em que outros actos podem ser praticados fiscalizando, ou punindo estritamente o
afastamento de critérios gerais minuciosamente estabelecidos70.
Assim, o Estado passa interferir na actividade económica de diversas formas
designadamente: orientações administrativas, autorizações, alvarás, licenciamentos, licenças,
escrituras públicas para constituição de Empresas, etc. Incentivos, fiscais, fixação da tabela de
preços e marquem de lucro bem como a limitação de importação e exportação de certos
produtos através de manipulação de pauta aduaneira71. Este tipo de dirigismo é identificado

67
Cfr. FRANCO, ANTÓNIO SOUSA, – Direito da Economia. Pág. 122.
68
Ibidem.
69
Ibidem. 265.
70
Ibidem. Pág. 269.
71
Em conformidade com a rectificação nº 1/14, sobre o Decreto Legislativo Presidencial nº 10/13, de 22 de
Novembro publicado no Diário da República nº 225, I Série que aprovou a “Pauta Aduaneira dos Direitos de
Importação e Exportação” que vai regular a cobrança do imposto de consumo na importação.
Mas contudo, segundo o pensamento do Dr. DIGÉNESES DE OLIVEIRA, entende que este documento
veio para proteger a indústria nacional da concorrência externa, e aponta algumas vantagens e desvantagens:
a) Desvantagens
- Aumento dos preços.
- Especulação dos preços.
43
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
como um dirigismo administrativo, porque realiza-se através do Direito Administrativo da
Económico.
2-Dirigismo Produtivo – consiste na interferência do Estado na produção de bens e
serviços que em certa medida não são tradicionalmente produzido pela Administração
Pública, isto é, o Estado passa a produzir bens e serviços do Mercado, através das suas
Empresas Públicas desburocratizados e sujeitos a gestão empresarial, cujo regime de
funcionamento e disciplinar dos trabalhadores é do direito privado72, ex.: SONANGOL, ENDE,
PAPAGRO73, TAAG, ENANA, SECIL-MARÍTIMA, ANGOLA-TELECOM, EMUTRAC- E.P. (Lubango),
PORTO DO NAMIBE-E.P., CFM-CAMINHO DE FERRO DE MOÇÂMEDES, E.P.
A Constituição Económica Capitalista Dirigista - resume-se essencialmente pelo coabitação
com o modelo da economia de Mercado privilegiando o Estado a exercer o seu papel de
dirigente e regulador da economia, tendo como objectivo manter o bem-estar e o equilíbrio
máxime das outras vertentes vitais do sistema económico74.

e) Constituição Económica Socialista


A Constituição económica socialista75, - funda-se na apropriação de meios de produção
pela colectividade ou seja, caracteriza-se pela propriedade colectiva, bem como planeamento

- A procura de bens e serviço no mercado informal.


- Aumento de produtos sem qualidade de produção e fabrico (pirateados ou contrabandeados).
- Aumento de situações que comprometa à saúde e a integridade pública do Consumidor.
- Outras.

b) Vantagens
- Protecção da Industria Nacional.
- Aumento de receitas através da tributação.
- Atrair o investidor estrangeiro a produzir os seus produtos no País.
- Incentivar o mercado de pesquisa tecnológica.
- Passar para o Consumidor angolano o que é produzido localmente.
- Outras.

Portanto, a nova pauta aduaneira apresenta isenções de alguns produtos como o arroz, óleo, massa etc..
Está medida é tomada para que certos produtos (básicos) cheguem às mãos do Consumidor final a preços baixos
(cesta básica). É necessário que esses preços estejam fiscalizados conforme estabelece o Decreto Presidencial nº
206/11, de 29 de Julho que aprova as “Bases Gerais Para Organização do Sistema Nacional de Preços”,
respeitando ainda outros pressupostos inerentes nesta Lei de forma estancarmos a especulação dos preços
destes bens. Associação Angolana dos Direitos do Consumidor (AADIC), Site. www.aadic.org. consultado em 28
de Novembro de 2014.
72
As Empesas Públicas (E.P.) regem no seu funcionamento pelo Estatuto das Empresas Públicas nº 2/2013, de 3
de Setembro, Lei de Bases do Sector Empresarial Público, e de algum modo pela Lei nº 1/04, de 13 de Fevereiro,
Lei das Sociedades Comerciais.
Por conseguinte, os trabalhadores vinculadas as empresas públicas (E.P), regem-se pela disciplina
laboral prevista na Lei nº 7/2015, de 7 de Junho e diferentemente os funcionários e agentes administrativos
vinculados à Administração Pública, regem pela disciplina laboral do Estatuto disciplinar dos funcionários
públicos, Decreto nº 33/91, de 26 de Julho.
73
Programa de Aquisição dos Produtos Agro-pecuários (PAPAGRO).
74
Cfr. PAHULA, OVÍDIO, – Pág. 35-36.
75
As experiencias históricas de socialismo se apresentam em três fluxos principais – Doutrinas socialista do séc.
XVI –XIX Socialismo utópico de TOMÁS MORE; Socialismo tecnocrático de SAINT-SIMON; o socialismo
cooperativo de ROBERT OWEN e de FOURIER, o socialismo de PROUDHON; o socialismo catedrático alemão; o
44
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
económico, cujo plano é vinculativo a todas entidades em detrimento as leis de procura e
oferta-económica de mercado.

f) Constituição Económica Mista


A Constituição Económica mista, vai construir na combinação dos elementos do sistema
económico da economia central, ou planificada como do sistema económico da economia de
mercado que enraizada no mercado e no plano, este de constituição aproxima-se ao sistema
colhido pelo legislador angolano.

2.4.3. Quanto ao Enquadramento Político


a) Democráticos – são aquelas que consagram no seu texto, o princípio de Estado
Democrático de Direito (exemplo ilustrativo o art. 2º, da CRA) como regime
político.
b) Autoritárias – são aquelas em que o sistema económico combina com o regime
político totalitário a economia é o monopólio do regime político no poder e
inexistência de direitos fundamentais económicos sociais e culturais76.

2.4.4. Quanto o Modo de Regulação do Sistema

a) Constituição Económica Programática (Directiva)


Aquela que é constituído por conjunto de normas jurídicas alicerçado na alteração da
estrutura económica através da acção política dos órgãos do Estado. No Estado social as
normas constitucionais programáticos ou directivas consagram disposições como
consequência directa da Constituição Política no seu todo e na preservação de valores da sua
natureza específica77.
Portanto, as normas contidas na Constituição Programáticos são aquelas normas tarefas
do Estado por ex.: 21º;23º;35º e 89º, da CRA.

b) Constituição Económica Estatutária


Segundo LUÍS CABRAL DE MONCADA, – defende que a Constituição Económica Estatutária,
- como aquela que é composta pelo um conjunto de normas que disciplinam uma
determinada forma económica que justamente identificam como tal78. Dito numa outra
feição, diria que são normas jurídicas contidas na Constituição Económica que definem o
estatuto do ius económico ex.: a Propriedade; (art. 37º, da CRA)79, Banco Nacional de Angola;
(art. 100º, da CRA) e etc.

socialismo científico de KARL MARX - alemão) Por outro (socialismo revolucionário, igualitário colectivista,
nacionalista, e comunista). FRANCO, ANTÓNIO SOUSA, – Direito da Economia. Pág. 125 e ss.
76
Regimes totalitários vigorou em Portugal antes 25 de Abril e nos demais países como Coreia do Norte e Cuba.
77
Ob. Cit. Pág. 37.
78
Ob. Cit. Pág. 38.
79
Vide Art. 1302º, do CC.
45
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
2.4.5. Função da Constituição Económica
Podemos assegurar que a Constituição Económica desempenha dentre outras funções
que decorrem do seu objecto e natureza ou dimensão das respectivas normas e princípios
jurídicos de que deve relevar, em primazia a natureza constitucional dos mesmos, comum a
todos os objectivos específicos de que se constitui, assim Constituição Económica
desempenha as seguintes funções:

a) Função Sistemática Central ou Unitária – exprime –se quer no primado da


Constituição, quer no principio da unidade da Constituição, quer no da conformidade com a
Constituição, tendo como o destinatário o legislador ou interprete-aplicador das norma da
dimensão da Constituição Económica;

b) Função Estruturante e Legitimadora – revele-se neste sentido os aspectos do


sistema económico e o estatuto do modelo económico, ou seja, delimita os poderes do Estado
e demais agentes que realizam ou participam na definição e execução da política económica
da organização e direcção da economia angolana;

c) Função de Garantia dos Direitos Liberdade e Garantias Económicas Fundamentais-


- esta função realiza-se numa dimensão preceptiva contraposto do Estado, isto é, trave mestra
do sistema económico porque prescreve um conjunto de directrizes normativos de direitos e
liberdades e garantias económicas fundamentais que o Estado deve respeitar e assegura para
que tal se concretizem na sua plenitude.

d) Função Directiva – realiza-se e manifesta-se através da dimensão prospectiva ou


programática da Constituição Económica, nas suas directrizes ou objectivos económicos e nas
incumbências cometidas ao Estado ou outros agentes segundo as mais diversas formas de
intervenção ou concertação para sua concretização. Entretanto é uma função que não deixa
reflectir certas dimensões preceptivas dirigidas ao destinatários das respectivas normas,
“máxime”- ao legislador e à Administração Pública que lhes limita as suas acções em termos
de eficácia vinculativa e do princípio da proporcionalidade80.

2.4.6. Âmbito e Sentido da Constituição Económica


Na seara jurídica a doutrina tem se dividido quando se trata do âmbito e o sentido da
Constituição Económica, mas nesta controversa que assaca-se algumas contribuições valiosas
que se alinham nas três posições, designadamente:
- Segundo Prof. SOUSA FRANCO, o âmbito da Constituição Económica, deverá quanto
muito, ser delimitado com o recurso a critérios económicos, isto é, em função do sistema
económico das instituições ou de outras realidades subjacentes, onde os factores económicos
teriam um papel determinante;
- Já SIMÕES PATRÍCIO, entende que a Constituição Económica emerge de critérios
jurídicos, pois que neste sentido ao Direito compete qualificar como constitucionais as normas
que à luz dos seus princípios, surjam como fundamentais.
- Para Prof. JORGE MIRANDA, sustenta que a Constituição Económica surge na relação
dialéctica que existe entre a norma constitucional e a realidade económica em jeito de síntese

80
Cfr. Com mais desenvolvimento, JOÃO, DOMINGOS FRANCISCO, - Temas Essenciais do Direito da Economia
Angolana, escolar editora 2014, Pág.45.
46
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
das duas primeiras posições e que nós demos nota como posição adoptada, basta
recordarmos a relação entre o direito e economia para curar a “vexata quaestio”.
Ressaltar que nesta relação umbilical do Direito e da Economia, o Direito Económico
não vai se ocupar de todas matérias do tecido patrimonial, apenas aquelas questões atinentes
a regulação e supervisão económica em função da ordenação e direcção económica que se
revelem fundamentais em termos jurídico-económicos, pois que o âmbito da Constituição
Económica radica no essencial do Direito Economico e nos seus princípios gerais.
Segundo JOÃO PACHECO AMORIM, citando Prof. PAZ FERREIRA, o âmbito ou conteúdo
e sentido da Constituição Económica, situa-se em dois modelos económicos que podem ser
normativizados por uma Constituição, e que são designados de modelo de direcção central e
planificada e modelo de economia livre ou de Mercado81.
Portanto, o sentido da Constituição Económica angolano configura-se no sistema
económico bicéfalo, ou seja, sistema económico misto, - combinado de economia de
Mercado e do planeamento económico82. Não podendo por via disso, apartar-se num insular
sistema ao respeito dos princípios estruturantes da CRA, designadamente: o Princípio da
Democracia Económica e da Iniciativa Privada e, do Estado Intervencionista, Regulador e de
Justiça Social.

2.4.7. Evolução da Constituição Económica Angolana


2.4.8. Fontes da Constituição Económica Angolana
Antes da Constituição de 2010, de 5 de Fevereiro, o processo do constitucionalismo
angolano teve um percurso longo que nós vamos designar do período da “Pré-Constituição
Económica Angolana”83. Todavia este tem foi doutamente desenvolvido com brio assinalável
pelo Mestre OVIDIO PAHULA, que deu balizas antes não referencias à evolução da
Constituição Económica de Angola depois da independência.
Entretanto vamos trilhar este caminho e dar nota nesta desse do ilustre Prof. do
Lubango e projectarmos uma nova divisão sobre as épocas históricas da evolução do
constitucionalismo económico angolano.
De 1975-1988 – Época revolucionária - concretizado pela luta pela independência
económica, nacionalizações, confisco e apropriação de meios de produção e sistema
económico socialista e o plano cooperativo.
De 1988-1992 – Reforma económica – Programa de Saneamento Económico e
Financeiro, produção legislativa de natureza económica, ou seja, profunda reforma
económica, normas Constitucionais matérias tidas como inconstitucionais por certos círculos
da doutrina e outros nem por isso.
1992-2010 - época da estruturação e consolidação da Constituição Económica.

81
Apud, AMORIM, JOÃO PACHECO, - Direito Administrativo da Economia, Almedina 2014, Pág.100-101.
82
Pois que, podem combinar as seguintes opções:
-Consagrar um modelo de economia de mercado;
-Exprimir um esquema de economia mista;
-Sedimentar um esquema de economia centralizada;
-Traduzir uma superação da economia livre, e;
-surgir como totalmente neutra.
83
Pré-Constituição Económica Angolana, porque realça-se um movimento constitucional que culminam com
proclamação ou aprovação da CRA definitiva em 2010.
47
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Portanto, muitos princípios e normas jurídicas produzidas na Pré-Constituição
Económica concorreram para feitura da actual CONSTITUIÇÃO, ou seja, são provas óbvias e
recortadas como fonte da Constituição Económica Angolana, designadamente:
1- A Lei Constitucional
2- Leis Ordinárias Organizadoras (Ordenadoras) da Economia
3- Regras Consuetudinárias
4- Tratados Internacionais

2.4.9. As Revisões Constitucionais de 1975-1992


2.4.9.1. Constituição Económica Estatutária (1975-1991)
A Constituição económica estatutária (1975-1991) compreendia, entre outros
princípios fundamentais, os seguintes:
a) Independência económica virada para o bem-estar social das camadas populares
mais exploradas pelo colonialismo.
Este princípio aflora a base económica socializante e embora afirme nominativamente,
ex. professo, o socialismo, apenas o faz em modelos literalmente eufemísticos de metas de
inspiração socializante84.
b) Reconhecimento - e protecção dos diversos sectores da economia (pública,
cooperativa e privada).
c) A igualdade e justiça social constituía a “pedra angular” deste princípio
ideológico85.
d) Tributação progressiva dos impostos directos.
Aqui encontra-se vertido o princípio do socialismo de rendimento “igualitários” como
admissíveis86.
2.4.10. Constituição Económica de 2010
2.4.11. Considerações Gerais
A Lei Constitucional angolana de 1992 consagrou os princípios basilares da economia
de Mercado, a democracia económica e direitos fundamentais, que certamente, viriam ser
reforçados na Constituição de 2010. Por conseguinte, este constitucionalismo filia-se num
Modelo de Sistema de Governo Presidencial-Parlamentar e que radica-se nos seguintes
princípios gerais de organização económica:
1- Subordinação do Poder Económico ao Poder Político (art. 3º, 4º e 89º, da CRA);
2- Supremacia da Constituição e legalidade (art. 6º, da CRA);
3- Democracia económica (art. 2º, da CRA);

84
Cfr. GUERRA, JOSÉ ARMANDO MORAIS – Direito da Economia Angolana. Pág. 91 e ss.
85
Vide in Lei Constitucional Angolana de 11 de Novembro de 1975 (artigos 5º, 8º, 9º, 10º, 11º, 12º, 14º, 17º, e
18º).
86
Cfr. FRANCO, SOUSA – Noções de Direito da Economia – 1º Volume, reimpressão. Pág. 133 e ss.
48
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
4- Coexistência de sectores de titularidade de propriedade económica (Pública, Privada e
Cooperativa); (art. 92º, da CRA);
5- Garantia da propriedade privada e sua função social (art.37º e 89º, da CRA);
6- Liberdade de iniciativa económica privada empresarial, concorrência e reservas
Públicas (art. 38º, 93º e 95º, da CRA);
7- Eficiência e intervenção (art. 89º e 91º, da CRA);
8- Mercado e planeamento (art. 89º e 91º, da CRA);
9- Nacionalizações e privatizações (art. 97º, da CRA).
10- Direitos Económicos e Sociais;
a) Direito do Trabalho, liberdade de salários e rendimentos justos (art. 76º, da CRA);
b) Direito ao Ambiente (art. 39º, da CRA);
c) Direito do Consumidor (art. 78º, da CRA).
11- Princípio da Cláusula Aberta (art. 26º, nº 1, da CRA).
12- Limites materiais, temporais e circunstanciais (art. 233º, 235º, 236º e 237º, da CRA).
Segundo JOSÉ ARMANDO MORAIS GUERRA87, na vigência da Constituição de 1975 no
período que vai 1975-1991, sofreu aquela Lei Constitucional de ponto de vista estatístico em
média nove (9) revisões88, as relevantes foram a de 1991, Lei nº 12/91, de 6 de Maio, e a de
1992, Lei nº 23/92, de 16 de Setembro.
As revisões constitucionais que a Lei fundamental sofreu no período compreendido
entre 1975-1991 não mudaram, no essencial, a Constituição Económica, porquanto a revisão
de 7 de Fevereiro de 1978, por exemplo, só veio reforçar os comandos jurídicos económicos
da economia planificada e a forte intervenção do Estado na economia “opção socialista -
marxista” decidida pelo Iº Congresso do MPLA - Partido do Trabalho do então partido-Estado,
ou seja, partido único89.
A Lei Constitucional angolana na sua versão inicial, ainda que de modo implícito,
aflorava no seu conteúdo o princípio da independência político-económico erigido pelos
pilares jurídicos que afastam as relações económicas coloniais, neocoloniais e imperialistas,
onde o bem-estar social do povo explorado durante a época colonial constituía uma

87
Cfr. GUERRA, JOSÉ ARMANDO MORAIS, - Direito da Economia Angolana, edição ESCHER, 1994, Pág. 90.
88
Cfr. PAHULA OVÍDEO, - Evolução da Constituição Económica Angolana, casa das ideias editora 2009, Pág.97
- 1976 (Lei nº 71/76, de 11 de Novembro),
- 1977 (Lei nº 13/77, de 7 de Agosto),
- 1978 (Lei constitucional revista de 7 de Fevereiro de 1978),
- 1979 (Lei nº 1/79, de Janeiro),
- 1980 (Lei constitucional revista de 23 de Setembro de 1980),
- 1986 (Lei nº 1/86, de 1 de Fevereiro),
- 1987 (Lei nº 2/87, de 31 de Janeiro),
- 1991 (Lei nº 12/ 91, de 6 de Maio),
-1992 (Lei nº 23/92, de 16 Setembro)
89
Cfr. Artigos 2º e 9º, da Lei Constitucional revista de 7 de Fevereiro de 1978, com alteração completa da
redacção do artigo 9º e com a consagração hoc sensu do centralismo democrático e da propriedade socialista
dos meios de produção.
49
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
prioridade absoluta, sem perder de vista a erradicação total da exploração do homem pelo
homem90.
No essencial, resta-me delimitar os princípios fundamentais de ordem jurídica da
economia, do período sub judice no âmbito da Constituição Estatutário e Directiva.

CAPÍTULO III

3. PRINCÍPIOS ECONÓMICAS FUNDAMENTAIS ESPECÍFICOS (Remissão)

3.1. -Supremacia da Constituição e legalidade (art. 6º, da CRA);


3.2. - Democracia económica (art. 2º, da CRA);
3.3. - Coexistência de sectores de titularidade (art. 92º, da CRA);
3.4.- Livre acesso e reservas Públicas (art. 38º, 93º e 95º, da CRA);
3.5.- Eficiência e intervenção (art. 89º e 91º, da CRA);
3.6.- Mercado e planeamento (art. 89º e 91º, da CRA); e
3.7. - Nacionalizações e privatizações (art. 97º, da CRA).

90
Vide. Artigo 1º, da Lei constitucional de 11 de Novembro de 1975, cuja redacção completa é a seguinte:
“A República Popular de Angola é um Estado soberano, independente e democrático, cujo primeiro objectivo é
a total libertação do povo Angolano dos vestígios do colonialismo e da dominação e agressão do imperialismo
e a construção dum país próspero e democrático, completamente livre de qualquer forma de exploração do
homem”.
50
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário

CAPÍTULO IV

4. PRINCÍPIOS NORMATIVOS E ESTRUTURANTES NO SISTEMA CIENTÍFICO


DE DIREITO ECONÓMICO
Ora bem, neste prelúdio de escalpelização dos princípios normativos e estruturantes
no sistema científico de direito económico, entende-se na génese jurídica que o princípio
pode ser definido como (…) regra que se funda num juízo de valor e que constitui um modelo
para acção (…)91, mas para RONALD DWORKIN, o termo princípio diz respeito a um tipo de
norma cuja observação é um requisito de justiça ou equidade, ou de alguma outra dimensão
moral. Ao fundir pretensões jurídicas e morais, o texto da norma faz com que a validade de
um direito dependa não de uma determinada regra positiva, mas de complexas questões de
ordem moral e da necessidade de um direito sensível a estas questões, por natureza não
redutíveis à regra positiva92.

91
Vide in Universal, Dicionário integral de língua portuguesa, textos editora 2010, 3ª edição Pág. 1210.
92
Cfr. PRATA, HELENA, - Lições de Direito Económico, Pág. 32.
51
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Já VEZIO CRISAFULLI, entende que o princípio é, toda norma jurídica, considerada
como determinante de uma ou de muitas outras subordinadas, que a pressupõem,
desenvolvendo e especificando ulteriormente o preceito em direcções mais particulares
(menos gerais), das quais determinam e, portanto, resumem, potencialmente, o seu
conteúdo, sejam (…) estas efectivamente postas, sejam, ao contrário, apenas dedutíveis do
respectivo princípio geral que as contêm93.
Porém, o Direito na sua definição introdutória estudada no primeiro ano da
licenciatura em Direito elucida que, o Direito é um conjunto de princípios, normas e regras
jurídicas que disciplinam as condutas dos indivíduos numa determinada sociedade. Desde
logo, à luz dessa noção, os princípios do Direito Económico podem reportar as definições
gerais e específicos de um sector de actividade económica com cariz constitucional ou
ordinário.
Assim sendo, no nosso ordenamento jurídico podemos indicar alguns princípios
estruturantes e informadores, ou princípios expressivamente constitucionais da ordem
económica onde assenta à Constituição Económica angolana, nomeadamente:

4.1. Princípios da Supremacia da Constituição e Legalidade.


Historicamente, o princípio da legalidade, surge como reacção ao arbítrio judicial e da
administração pública que terminaram com incríveis abusos, pôs em perigo a segurança das
pessoas e dos seus haveres, ou seja, dos Agentes Económicos e a suas riquezas traduzidas
em bens económicos escassos, pois que, apenas servia conveniências individuais e interesses
da classe no poder, – A nobreza e o clero, e o Direito e Lei eram interpretados simplesmente
nas instituições predefinidas, nomeadamente: o “Clero, a Igreja e a Universidade”;
entretanto, ela surge basicamente ligada a duas matérias nas quais revela melhor que
qualquer outra, a condição dos súbditos e cidadãos livres, dos membros de uma
comunidade94, precisamente na definição dos delitos e das penas (Princípio da Legalidade
Penal) “Nullum crime Sine legem” e o estabelecimento de tributos (Princípio da Legalidade
Tributária) “Nullum tributo Sine legem”.
Mas, HANS KELSEN, da escola germânica, já havia estabelecido o Estado de Direito
como um Estado de legalidade, porque actua por via do Direito positivamente identificado
com legalidade e não porque defende ou se sustente numa particular ideia do Direito95.
Por seu turno, GOMES CANOTILHO, da escola de Coimbra, assevera numa abordagem
na perspectiva da legalidade administrativa-constitucional, exprimindo que o princípio da
legalidade postula dois subprincípios:
a) Sub - Princípio da Supremacia ou Prevalência da Lei
Contudo, num Estado Democrático de Direito, ou Democrático-Constitucional, a Lei
parlamentar é, ainda a expressão privilegiada do princípio democrático, e daí a sua
supremacia na ordem jurídica económica angolana nos termos do art. 6º, da CRA é
considerada como fonte imediata do Direito96.

93
Ibidem., Pág. 33.
94
Cfr. NUNES, ELISA RANGEL,- Lições de Finanças Públicas e Direito Financeiro, 3ª edição 2011, Pág. 78 e 79.
95
Cfr. NOVAIS, JORGE REIS, – Contributo para uma Teoria do Estado de Direito – Almedina 2006. Pág. 121 e 122.
96
Ver o art. 1º, do CC.
52
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
b) Sub - Princípio da Reserva da Lei
Como instrumentos mais apropriado e seguro; (art. 28º, nº2) para definir os regimes
em certas matérias97, sobretudo dos direitos fundamentais e da vertebração da democracia
económica do Estado; requer-se a reserva da Lei. O que significa dizer, os actos que definem o
regime da actividade económica dos Agentes Económicos devem estar em conformidade com
a Lei (formal e material), legitimado por uma fonte normativa ou de produção normativa
própria, isto é, com poderes legalmente prescritos, para não escamotear o princípio geral da
segurança jurídica e da protecção da tutela da confiança dos cidadãos votantes e também
agentes económicos; (art. 198º, da CRA).
Concluindo, o “Princípio da Legalidade” é aquele que prescreve as garantias e os
direitos fundamentais económicos, porque assegura essencialmente aos Agentes Económicos
a exigência de auto-normação, ou auto-imposição no campo económico, isto é, os próprios
agentes económicos devem através dos seus representantes determinar o modelo e regime
económico que lhes aprouver de acordo o exposto no desenho legal do art. 1º, 6º e 37º, da
CRA.
O Estado de Direito e de Justiça Económica, tem como fundamento e o limite à Lei e os
Princípios Gerais do Direito98, como critério da sua validade eficácia, noutra feição , pode-se
dizer que, actuações dos Órgãos de Soberania previsto no quadro normativo da Lei
fundamental; (art. 105º, da CRA), dos juristas económicos, Administração Económica do
Estado e de alguma forma os Agentes Económicos, tem como o limite a CONSTITUIÇÃO, isto
implica enunciar que, devem actuar segundo à Lei e em conformidade com à Lei positiva
escrita, ou não escrita, e vigente. Pois que, este princípio opõe-se ao princípio de
oportunidade, porque decorre do processo da construção do Estado de Direito basificado na
ideia do Direito e de Justiça99.

4.2. Princípio da Subordinação do Poder Económico ao Poder Político


Democrático.
Este princípio geral estatutário da Constituição Económica previsto na nossa carta
magana; (art. 89º, da CRA), é particularmente considerado como o mais directamente
intervencionista e que está consagrado no texto constitucional de 2010. Não se trata de
desacompanhada regular o poder económico privado, mas, de o subordinar a economia ao

97
Cfr. CANOTILHO, J.J. GOMES, – Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 7ª edição – Almedina. Pág. 256.
98
Neste sentido são Princípios Fundamentais De Direito:
1 – O Princípio Estruturante do Estado Democrático de Direito;( 2º, da CRA).
2 – Os Princípios Fundamentais Expressos na Declaração Universal dos Direitos Homem (DUDH) .
3 – O Princípio do Direito Internacional Geral, Direito Comum das Nações Civilizadas.
4 – O Princípio do Ordenamento Jurídico Interno.
99
Cfr. CUNHA, PAULO FERREIRA DA, - Direito Constitucional Aplicado – Viver a Constituição, a Cidadania e os
Direitos Humanos, Pág. 111, defende o seguinte:
“Quando um burocrata é promovido à chefe, ou um empregado passa a gerente, logo começa o vírus a tentá-lo,
o fado demoníaco do poder. E a tentação é a da importância. O designado, ou seja, o nomeado, mesmo o eleito,
passa a olhar-se ao espelho com outra pose. E é natural que velha a mira-se mais vezes por dia(…). - Neste
sentido acresce-se a nossa nota que os Magistrados Judiciais (juízes), Magistrados do Ministério Público
(Procuradores) e Magistrados éticos (Advogados), Deputados, Ministros, Governadores, Embaixadores etc.
quando promovidos passam olhar- se mais vezes no espelho por dia do que ver ou ler a Lei… Que é uma incúria
muito perigoso para o Estado da Legalidade e de Direito.
53
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
poder político e também não pode ser confundido com um dirigismo económico do Estado,
ou controlo do poder económico privado, mas sim, deve ser entendido como regulação da
economia e interpretado no sentido mínimo, ou seja, o princípio de subordinação, como o
denominador comum de uma série de outros princípios gerais de âmbito mais preciso, quais
sejam o da reserva de Empresa Pública, o da livre iniciativa económica dos Poderes Públicos,
dentre outros, como os da protecção da concorrência; compreendendo a prevenção e
repressão dos abusos do poder económico e de práticas inconvenientes, o da repressão dos
monopólios, o da protecção e prevenção do ambiente e o da protecção às Micro, Pequenas e
Médias Empresas.
Pretende-se assim controlar através da vontade democrática do legislador, não todo e
qualquer poder económico, seja ele privado, ou público, mas apenas o poder considerado
inconveniente, o que se achar no sistema e vir ser considerado como excessivamente
concentrado , a ponto de puder prejudicar a efectividade de outros princípios e valores
constitucionais, assim garantindo que as decisões económicas não prejudicam certas opções
constitucionais100.
Portanto o que se pretende no geral é obviamente evitar o excessivo do poder
económico privado ou público.

4.3. Princípio da Democracia Económica


O termo democracia origina-se do grego antigo “demokratia” ou governo do povo, que
foi cunhado a partir dos ‘‘demos ou povo Kratos ou poder’’ no século V a. C., tudo isso era
para denotar os sistemas políticos então existentes em cidades – Estados Gregoiis,
principalmente em Atenas, daí, subtilmente falar-se da democracia ateniense101.
Por conseguinte, a democracia é uma forma de governo em que todos cidadãos
elegíveis participam directamente ou através de representantes eleitos.
No entanto, à luz dessa elegibilidade, poder-se-á falar em tipos de democracia
participativa, ou directa e democracia representativa, ou indirecta na vertente do
desenvolvimento económico e produção das leis de caris social, económico, e cultural, que vai
em epílogo permitir o exercício livre igual de auto determinação política e sócio - económico.
Como sustenta SIMON BLACKBURN102, (…) críticos, apesar disso, sugerem que
democracia política é estéril, a menos que seja acompanhada supletivamente pelo um poder
noutras esferas, principalmente na área económica.
Porquanto, neste particular, a representação política é um modo de o povo titular do
poder, agir ou reagir, relativamente aos governantes e, não há representação política sem
eleição. Acto jurídico ou feixe de actos jurídicos. Mas o inverso não é a verdadeira, tomemos
de exemplo um concurso público para provimento no funcionalismo público, o concurso
público de empreitadas de obras públicas, ou de exploração e concessão de um bem do
domínio público do Estado.

100
Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Manual Elementar de Direito Público da Economia e da Regulação,
Almedina 2012, Pág. 81-82.
101
CLÍSTENES, grande orador e foi considerado um dos pais da democracia ateniense que ampliou a assembleia
popular. Fonte: Internet: http//ptwikipedia.org/wiki/democracia, consultado dia 20/2/2015.
102
Vide in Dicionário de Filosofia, BLACKBURN – grediva 2007, Pág. 102-103.
54
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Pois que, como certamente se observa, nitidamente na Lei o elemento volitivo é o
mandato, na medida que são os eleitores que escolhem o candidato com o seu programa
económico-social, todavia, este mandato é assinalável como um mandato especial, ou seja, é
um mandato de Direito Público, diferente de Direito Civil103. Porque, nesta modelo de
pensamento devemos asseverar que a representação política é uma espécie de
representação necessária imposta por Lei, (art.106º, 113º e 143º, da CRA), ao passo que o
mandato civil pressupõe representação voluntária; (art. 1157º, do C.C.), no âmbito da
autonomia privada; art. 405º, do CC.
Desde logo, torna-se líquido afirmar que a representação pública de natureza
económica do Agente Económico, inscreve-se em sede da democracia económica impetrada
na Lei formal, como vem ilustrativamente desenhado no proemio do epitáfio legislativo do
art. 2º e 21º, al. c), da CRA e noutros planos jurídicos normativos da dimensão de leis
ordinárias e qualificados como princípios de Estado Democrático de Direito. O que significa
dizer, toda actividade económica é susceptivel de um crivo à luz da democracia económica
presidido pela soberania popular ...
Por seu turno, LUÍS CABRAL DE MONCADA, assegura que a Constituição caracteriza o
Estado de Direito como democrático o conteúdo respectivo, tal como está previsto
precisamente no art. 2º, da CRA e, por via disso, segundo ele, pode consistir na realização da
democracia económica, social e cultural104.
Daí que, a democracia que se afere na Constituição, de certo modo está na realização
de objectivos económicos constitucionais, não obstante ser largamente política é
obviamente também deve ser interpretado no aspecto económica, que se funda no Estado
social que vai implicar, desde logo, uma política económica estadual posto ao serviço de
determinados objectivos e finalidades do alto nível da ordem económica vigente.
A realização da democracia económica105, Compreende pois, na afectação dos
direitos económicos, que no Direito comum, ou como os civilistas preferem designar de
direitos subjectivos, nomeadamente:
a) Direito a propriedade privada (art. 14º, da CRA);
b) Direito ao trabalho (art. 76º, da CRA);
c) Direito ao ambiente (art. 39º, da CRA);
d) Direito a defesa ao consumidor (art. 78º, da CRA;
e) Direito a terra (art. 15º e 16º, da CRA);
f) Direito a justa indemnização em caso de “direito real económico de exercício de
conteúdo negativo” (art. 37º, da CRA);
g) Acesso ao direito e tutela jurisdicional efectiva (art. 29º, CRA);
h) Direito a livre iniciativa económica (art. 14º e 38º, da CRA), etc.106.

103
Cfr. MIRANDA, JORGE,/MEDEIRO, RUI, – Constituição Portuguesa anotada, Tomo – I, 2ª Edição, Coimbra
editora 2005, anotações n.º 8 e 9, Pág. 30 e 32.
104
Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Direito Económico, Pág. 74.
105
Cfr. MIRANDA, JORGE/MEDEIRO, RUI – Constituição Portuguesa anotada, Pág. 112, Anotação nº XIX.
106
Ver os arts. 29º, 37º, 38º, 39º e 78º, da CRA. E da Lei de Delimitação de Sectores, nº 5/02, de 16 Abril.
55
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Entretanto, esta afectação de direitos económicos, inter alia, visam em certa medida, o
cumprimento das incumbências do Estado de promover o aumento do bem estar social -
económico e da qualidade de vida das pessoas em especial dos mais desfavorecidos, que vai
consubstanciar-se nos seguintes axiomas de direitos e deveres fundamentais: Assegurar a
igualdade de oportunidades e, operar as necessidades e correcções das desigualdades da
distribuição da riqueza do rendimento; designadamente através da intervenção económica do
Estado na política fiscal, eliminar as assimetrias regionais ou sociais existentes entre o campo
e a cidade , de um lado, por outro lado, mitigar as assimetrias naturais com enfoque do litoral
e interior;(art. 89º, da CRA). E, por conseguinte, o fomento ao empresariado nacional,
incentivo e isenções fiscais, protecção das Micro, Pequenas e Médias Empresas, etc. tudo isso,
por via da democracia administrativa, entendido como democracia económica, pese embora,
a Politologia afecta grandemente em Angola à liquidez de representação nos poderes
económicos, degenerado pela partidocracia e tecnocracia107.

4.4. Princípio da Igualdade e da Justiça Social


O princípio da igualdade foi proclamada como valor inerente ao Estado de Direito e
surgiu como uma arma jurídica para lutar contra os privilégios estamentais do antigo
regime108.
O Estado de Direito é um Estado de leis, sendo a Lei, por definição, uma norma geral e
abstracta, obriga e protege de igual forma todos cidadãos sem descriminação no plano
económico. De tal sorte, a eficácia deste entendimento da igualdade formal é inegável e
continua a ser uma das traves mestra do Estado de Direito, e, de justiça social, de modo
inequívoco o legislador angolano sem hesitar consagrou com clarividente no art. 23.º e 90º,
da CRA, para evitar quaisquer manifestação no território jurídico da descriminação
económica.
Porquanto que, é através deste manifesto do enunciado normativo, começa-se assim a
perspectivar-se a conveniência de considerar uma outra dimensão de igualdade, não só no
plano formal, mas sim no plano material, ou substancial que atenta as condições objectivas da
igualdade económicas materiais de oportunidade de custos/benefícios. Porém, é nesta
perspectiva que incumbe ao Estado angolano promover a igualdade real entre os cidadãos
angolanos à luz do cumprimento e da consolidação da Constituição Programática previsto no
art. 21º, da CRA, alíneas b), c), d), e), h), i), j), k), m), p), e q); da igualdade material art. 23º, da
CRA (igualdade formal).
Desde logo, como nitidamente se observa, através deste traçado legal, ou seja, com
este primado legal, entende-se por maioria da razão, que, serão assim, considerados
tecnicamente inconstitucionais aquelas medidas discriminatórias que não sejam justificadas
por diferenças substanciais, ou que, estabeleçam deveres ou direitos desproporcionais à
desigualdade que pretenda combater109.
Por conseguinte, nesta teia de abordagem, o princípio da igualdade visa realizar a
justiça económica e social no seio da sociedade angolana, para concretizar este desiderato, o
Estado cria princípios empíricos por via legal para tentar acertar o ponteiro da balança da

107
Mas desenvolvimento Vide VAZ, MANUEL AFONSO, - Direito Económico, 3ª edição, Coimbra, 1994, Pág. 132.
108
Ob. cit., Pág. 128 e ss.
109
Ibidem, Pág. 132. No mesmo sentido vide o acórdão do Tribunal Constitucional nº121/10, do caso SME.
56
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
justiça da igualdade material-vertical e horizontal que vão dando a força jurídica à norma, e,
para o cumprimento obrigatório e vinculativa de todas instituições sociais, impondo a
exigência da generalidade e abstracção das medidas de tratamentos económicos desiguais,
evitando desta feita, privilégios pessoais, ou situações pelo que seriam inconstitucionais tais
tratamentos.
Porque os indivíduos são diferentes por natureza de acordo as capacidades e aptidões,
sexo, cor, estatura, etc., mas já as desigualdades sociais são obras da sociedade, ou seja, como
exprime CABRAL DE MONCADA, a desigualdade gerada pelo uso diferenciado da liberdade
concreta de cada um, de acordo com as regras do Mercado, não é injusta. Injusta é a
pobreza110, gerada neste caso pela descriminação produto da exclusão.
A igualdade em matéria da economia não está afirmada isoladamente em nenhum
lado. Não passa de uma aplicação da igualdade dos administrados, a qual é considerada como
um princípio geral do Direito e mesmo, a maior parte das vezes, é citada na primeira fila dos
princípios gerais do Direito111. Existe, todavia, uma consagração escrita, e das mais celebres,
de pelo menos, um dos diversos aspectos da igualdade (e aquele que tem o alcance mais
geral), a saber, a igualdade perante a Lei. Esta consagração figura na Declaração dos Direitos
de 1789, no art. 1º («Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos») e art. 6º
(«A Lei deve ser a mesma para todos, quer para proteger, quer para punir»). «Todos os
cidadãos são iguais aos seus olhos».
A igualdade perante a Lei, como sustenta ANDRE DE LAUBADÈRE112, não é pois um
princípio geral não escrito mas uma regra escrita que figura num texto constitucional e, deste
modo, ela mesma tem, este título, à um nível constitucional; (como expresso no art. 23º, da
CRA). Sustenta ainda este autor que, o princípio da igualdade proíbe a Administração de
tomar medidas discriminatórias, isto é, medidas que levem a tratar diferentemente os
administrados que se encontrem em situações comparáveis, ou por outro lado, e, ao
contrário, medidas que levem a estabelecer uma assimilação entre pessoas que se encontrem
em situações diferentes.
«O princípio da igualdade de tratamento de igualdade não se aplica se não entre
cidadãos colocados numa situação idêntica na perspectiva das obrigações que lhes são
impostas». «A regra da igualdade de tratamento dos vários interessados não proíbe as
discriminações entre as categorias de pessoas que se encontrem em situações diferentes» 113.
A maleabilidade do Direito Económico manifesta-se em segundo lugar na relativa
imprecisão das suas regras e, por consequência, na extensão da liberdade de apreciação que
110
Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Direito Económico, Pág. 181.
111
Cfr. LAUBADÈRE, ANDRÉ DE, - Direito Público Económico, Pág. 274-276. Explica que - (…), Mas a tomada em
consideração das diferenças de situações não é o único dado que é preciso ter em conta para apreciar o carácter
ilegal de uma medida discriminatória. Uma jurisprudência constantemente afirmada considera, efectivamente,
por outro lado, que uma ruptura de igualdade, aqui real, ou dito de outro modo, uma verdadeira descriminação,
pode não constituir absolutamente uma ilegalidade quando aparecer justificada por considerações tiradas do
interesse geral. Esta reserva do interesse geral foi afirmada nomeadamente num aresto – estranho, aliás, ao
domínio económico – que é um dos mais célebres em matéria de aplicação do principio de igualdade, o aresto de
9 de Março de 1951, Societé des concerts du conservatoire, Dr. Soc. 1951, Pág. 368, conl. Letourneur, not.
RIVERO (ilegalidade da medida tomada pela administração da radiofusão francesa afastando qualquer nova
transmissão de uma sociedade, com desconhecimento da igualdade de tratamento «sem que nenhum motivo
tirado do interesse geral pudesse justificar essa decisão»).
112
Ibidem.
113
Ibidem.
57
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
consente aos órgãos da Direcção Económica, ou por outras palavras, na extensão daquilo que
se chama em Direito Económico o poder discricionário desta última114.
Continua este autor na sua modesta obra de Direito Público Económico, e, nós nesta
sede privilegiamos cita-lo com alguma frequência, que, – “Esta imprecisão voluntária explica-
se facilmente pela dificuldade que o direito experimenta, como sublinhamos mais atrás, em
apreender os fenómenos económicos e domina-los. Esta dificuldade não impede que a
regulamentação económica seja abundante em todas as matérias (este ponto não sofre
contestação), mas ela inspira o reconhecimento às autoridades administrativas de muito
vastas liberdades de apreciação nas decisões particulares que têm de tomar; as suas
competências são muito mais discricionárias que vinculadas. A Lei deixa-lhes frequentemente
a possibilidade de serem exercidas» por fases (coup par coup)» a fim de que as decisões se
possam adaptar melhor às realidades; o Direito Económico, diz-se normalmente, é um
identitário direito «realista» ou «factual»”115.
Conclui dizendo, LAUBADÈRE, que, - “Esta liberdade de acção deixada à Autoridade
Administrativa Económica é, além disso, muitas vezes reforçada por outras técnicas jurídicas.
Por exemplo, a força imperativa das regras editadas pelos textos gerais (leis, regulamentos) é
por vezes atenuada pela faculdade deixada ao Administrador de conceder derrogações. Este
processo das derrogações não é, certamente, particular à Administração Económica; ele
floresce especialmente no domínio – vizinho – do Direito Urbanismo, mas é, de qualquer
modo, muito mais corrente na Administração Económica que na maior parte dos outros
sectores da administração, pois a maleabilidade, entendida no sentido que aqui toma, é
evidentemente susceptivel de engendrar riscos de arbitrariedade e discriminações116.
Posto isso, à luz dos excertos telegráficos de LAUBADÈRE, podemos afirmar, que o
princípio de igualdade jurídica no plano económico, complexa-se na medida em que as
desigualdades naturais são ténues, vamos tomar alguns exemplos pragmáticos: se quisermos
tratar a igualdade entre homens e mulheres temos que atender um critério da diferença
natural do género sexual, que todo caso atento a sua constituição física e anatomia do corpo
humano, daí privilegiar uma igualdade vertical do tratamento desigual e discriminatório em
relação ao outro género (v. g ; associação das mulheres empresárias angolanas em detrimento
da associação dos empresários angolanos, Ministério da Família e Promoção da Mulher;
Instituto Nacional da Criança; Selecção Nacional Feminina de Futebol; Basquetebol; Andebol;
etc.) e critério da igualdade horizontal tratamento igual de oportunidades de acordo as
aptidões capacidades, ou seja, a meritocracia de cada agente económico (v.g. associação de
empresários angolanos do qual fazem parte os membros da representação do género
feminino, câmara dos despachantes oficiais de Angola etc.)117.
Como dizia, estes critérios ou princípios são impérios próprios da construção da
sociedade humana para atingir a igualdade, ou seja, para não igualizar através de um
mecanismo político autoritário os resultados diferentes do exercício de liberdade de cada um,

114
Ibidem. Pág. 112-113.
115
Ibidem.
116
Ibidem.
117
Em Angola o Decreto Presidencial n.º 222/13, de 24 de Dezembro, - sobre a «Igualdade de Género – Política
Nacional de igualdade e Equidade de Género», assim, uma Directiva das Nações Unidas que estipula uma quota
de representação do género feminino nos órgãos colectivos ou individuais na ordem de 30% e em Angola a
concertação social quanto esta matéria é vincada nos 40%, logo, é um dos países de África onde há justiça da
igualdade de género.
58
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
também conhecida por justiça comutativa prevista e consagrada no artigo 90º, da CRA e art.
16º, do CGT, que prescreve este último enunciado legislativo, porém, devem é criar-se as
condições para que cada um, sobretudo os mais necessitados, tenham acesso a um certo
número de bens básicos indispensáveis, para a partir daí exercer adequadamente a liberdade
que lhe assiste118, pois que, igualdade constitucional tolera a desigualdade, o que não tolera é
a exclusão119.

4.5. Princípio de Acesso a Justiça e da Tutela Jurisdicional Efectiva


Este princípio encontra-se recortado no conteúdo do preceito normativo do art. 29º,
da CRA. Entretanto, a constitucionalização dos direitos fundamentais não se esgota no plano
material, assumindo ainda, em diversos níveis, brotadas numa inequívoca dimensão
organizacional, procedimental e processual120. Dado que, no limiar do século passado
começou-se a sentir cada vez mais necessidades de proteger os direitos fundamentais das
pessoas e os seus haveres, seja ela como individuo, bem como membro de grupos sociais
organizados, contra os monopólios privados ou do Estado121.
Chegou-se à conclusão no plano garantisco de que os princípios políticos tradicionais
não chegavam para assegurar os direitos económicos com justeza possível que se pretendia
lograr, houve, desde logo, que descobrir novos métodos de actuação e posicionamento do
Estado perante os Agentes Económicos no Mercado.
Todavia, a Constituição; (art. 29º, da CRA), assegura, antes de mais, à todos acesso ao
direito, de ponto de vista formal, mas na realidade o acesso ao direito é restrito e não
limitado, visto que, “só”, quem tem consciência dos seus direitos económicos consegue
usufruir os bens a quem eles correspondem e sabe avaliar as desvantagens e os prejuízos que
sofre quando não pode exercer ou efectivar, ou quando muito eles são violados, ou
restringidos (Cfr. o art. 10º, DUDH).
Este princípio, em linhas gerais explicita no essencial de que a justiça deve ser
assegurada pelo Estado para que os Agentes Económicos possam ter acesso ao Direito e a
Justiça, seja quem for a sua condição económica, isto significa dizer que, o Agente Económico
tem direito a informação jurídica ou consulta jurídica; (art. 29º e 40º, da CRA), o direito ao
patrocínio judiciário e assistência judiciária; (art. 195º, da CRA), direito de escolher um
Advogado; (art. 67º, da CRA e do art. 11º, da DUDH); e de nomeação oficiosa; (art. 67º , nº 5,
da CRA).
Pois que, em síntese, a Justiça não pode ser denegada por falta ou insuficiência de
meios económicos como indica o art. 196º, da CRA e na especialidade material a Lei nº 15/95,
de 10 de Novembro, Lei da Assistência Judiciaria, o Estado assegura, as pessoas com
insuficiências de meios financeiros, mecanismos de defesa pública com vista à assistência
jurídica e ao patrocínio forense oficioso a todos níveis, para salvaguardar os direitos
subjectivos económicos e (re)estabelecer a paz económica no seio da comunidade, de modo
que a riqueza circule harmoniosamente entre ao Agentes Económicos.

118
Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Direito Económico, Pág. 181.
119
Ibidem., Pág. 175.
120
Ob. Cit. Pág. 423.
121
Cfr. AAVV, CATARINO, JOÃO RICARDO /GUIMARÃES, VASCO BRANCO, – Lições de Fiscalidade, Almedina
editora, 2012, Pág. 102.
59
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Ressalvar que o nosso sistema jurídico refere-se de patrocínio judicial e nomeação
oficiosa como meio de assegurar o acesso à Justiça pelo Estado, pois que, em contrapartida a
Constituição angolana não consagra no seu art. 29º, da CRA e o art. 4º, do Código do Processo
Tributário Angolano, Lei nº 22/14, de 5 de Dezembro, nem qualquer outro dispositivo legal
consagra o acesso ao Direito e aos Tribunais de forma gratuita, ou seja, não é,
tendencialmente gratuito, sendo neste contexto justificado o estabelecimento de exigências
de uma contrapartida pela prestação de serviços de Administração da Justiça através do OGE
– por via da despesa fiscal em sede de benefícios fiscais ou isenções fiscais, (Princípio da
Redistribuição da Riqueza ), como vem orientado legalmente pelo legislador constitucional de
2010, no art. 102º, da CRA e art. 16º, Código Geral Tributário, (Leis-Previdência) que reporta
todo seu conteúdo preceitual que nós infra reproduzimos religiosamente para melhor
entendimento do instituto:
“CAPÍTULO II - Benefícios Fiscais”
ARTIGO 16.º
1. Os benefícios fiscais só podem ser criados por Lei, a título transitório e excepcional,
com finalidades de política económica, social, cultural, ambiental ou quaisquer outras de
relevante interesse público e reconhecido pela Constituição.
2. A criação dos benefícios fiscais respeita o princípio da igualdade e deve ser
fundamentada com os seus objectivos e prever a receita a não arrecadar.
3. Os benefícios fiscais constituem despesa fiscal que deve ser prevista no Orçamento
Geral do Estado.
4. Os benefícios fiscais constantes de legislação avulsa devem ser regulados em
instrumento normativo autónomo que obedece aos princípios e normas do presente Código.
5. As situações que a Lei qualifique de não sujeição tributária resultantes de medidas
fiscais estruturais que estabeleçam delimitações negativas da incidência dos impostos, não
são consideradas benefícios fiscais”122.
Posto isso, como em verdade se observa, as custas do processo são pagas, salvo o
mecanismo que goza legislador na ampla liberdade na fixação dos montantes das custas
inerentes ao acesso a Justiça, ao Direito e aos Tribunais.
Os Tribunais como órgãos de soberania imparciais e independentes administram a
justiça em nome do povo angolano, mediante os mecanismos jurisdicionais que se funda nos
actos normais judiciais permitidos pela Lei, designadamente: direito ao estabelecimento legal
de prazos de caducidade para propositura da acção, direito a petição inicial, direito a
providência cautelar, o direito ao contraditório em paridade de armas, direito a citações e
notificações; direito ao segredo de justiça, direito a um processo equitativo, direito a acção
popular, em decisão final e fundamentada e, finalmente direito ao recurso, ou interposição do
recurso e do caso julgado e transitado em julgado123, são actos típicos redutível a este
princípio.
Como evidência em última análise, a garantia de acesso a justiça de todos Agentes
Económicos, sendo sempre oneroso no sistema económico, apesar de se filiar no Estado Fiscal
122
Mas desenvolvimento, vide o Código Geral Tributário aprovado pela Lei nº 21/14, de 22 de Outubro, com
início de vigência em 1 de Janeiro de 2015.
123
Ob. Cit. Pág. 441.
60
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
no modelo dos direitos a prestação estes direitos, são sempre maleável, fazendo a
ponderação recíproca entre os referidos direitos e outros valores constitucionais atendíveis à
luz do critério da respectiva coexistência, na certeza, porém de que, a violação do «mínimo
vital» de acesso justiça económica, gera uma inconstitucionalidade, não apenas por omissão
de normas adquiridas e da sua garantia, mas por violação de um direito subjectivo124.
Sendo assim, pode-se concluir, como é evidente, que, o acesso a justiça é suportado
pelo Estado através da despesa fiscal125 - redistribuição da riqueza, é uma adequada
prestação do Estado e não é uma caridade, pois que é um direito subjectivo fundamental, de
natureza substantiva126.

4.6. Princípio da Garantia dos Direitos e Liberdades Económicas


Fundamentais
Este princípio ganhou cidadania nas constituições modernas após a segunda guerra
mundial. Dr.ª HELENA PRATA escreve nas suas Lições de Direito Económico, que os direitos
fundamentais delimitam à esfera de liberdade e protecção de que dispõe, ou diversos
intervenientes ou destinatários do processo económico127.
Na Constituição são reconhecidos direitos e garantias como direitos e deveres
económicos, embora não haja uma fronteira nítida tangencial entre direitos, garantias e
direitos e deveres económicos por causa da reciprocidade, isto é onde há um direito há
sempre um dever, os direitos económicos serem “Direitos-Deveres” ou obrigações especiais
reciprocas128. Por conseguinte, são exemplos pragmáticos os direitos, liberdades e garantias
económicas a seguir:
- Direito de Iniciativa Económica (art. 38º, da CRA);
124
Cfr. Acórdão do Tribunal Constitucional Português nº509/02. E Acórdão do Tribunal Constitucional de Angola
nº 121/10 e Acórdão nº122/10.
125
A despesa fiscal – consiste juridicamente, nas situações de renuncia de receitas tributarias, que seriam
arrecadas pelo Estado em função do conteúdo da tributação-regra estabelecida. A mencionada renuncia está na
base de incentivos fiscais(…).
Nesta perspectiva a despesa fiscal corresponde, economicamente, a um dispêndio, virtual de recursos
originariamente pertencente ao Estado que ele abdica a favor de um ente público ou privado em função da
isenção legal.
Pelo que Neste contexto despesa fiscal encerra as seguintes modalidades:
1- Isenções tributarias totais;
2- Deduções à matéria colectável;
3- Diferimento da tributação;
4- Deduções à colecta;
5- Taxas de preferências, e;
6- Exclusões tributarias.
Mas desenvolvimento Cfr. MARTINS, GUILHERME WALDEMAR D´OLIVEIRA, - A Defesa Fiscal e o
Orçamento do Estado no Ordenamento Jurídico Português, Almedina, 2004, Pág. 64 e ss.
126
Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Direito Económico, Pág. 180.
127
Cfr. PRATA, HELENA, - Lições de Direito Económico, Pág. 76.
128
Nosso realce.
61
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
- Acesso a Justiça e Tutela Jurisdicional Efectiva (art. 29º, CRA e 4º, do CPT)129;
- Direito do Trabalho (art. 76º, da CRA);
- Direito ao Ambiente (art. 39º, da CRA);
- Direito do Consumidor (art. 78º, da CRA).
Os Direitos, liberdades e garantias segundo Prof. JORGE MIRANDA130, são direitos de
libertação do poder “económico”, e simultaneamente, direito à protecção do poder contra
outros poderes «económicos, sociais e culturais», ex.: as tarefas fundamentais do Estado de
promover o desenvolvimento harmonioso previsto no art. 21º e 89º, da CRA, são exemplos
que se reputam nesta perspectiva.
Para os autores como: JOÃO RICARDO CATARINO/VASCO BRANCO GUIMARÃES -
entendem que o direito quer dizer justiça. Só a norma justa é justiça, e a norma injusta será,
quando muito, força131.
O primeiro nível de exigência de justiça é o dos direitos humanos presentes na
Constituição da República de Angola, mas existente (vigente) independente da sua
consagração. A sua violação leva a inconstitucionalização da norma132.
Desde logo, os direitos fundamentais, nos termos do art. 57º, nº 1, da CRA, só a Lei
pode restringir direitos, liberdades e garantia, estabelecendo-se uma reserva de Lei formal
restritiva. De acordo com este preceito, determina-se que essas restrições só podem ser feitas
mediante a Lei formal da AN. Com efeito, o art. 164º, da CRA, determina que apenas a AN tem
competência para legislar em matéria de direitos, liberdades e garantia, bem como para
aprovar restrições e limitações aos mesmos133. Neste contexto pode inferir por maioria da
razão que a AN dispõe de uma reserva de competência exclusiva e absoluta, na medida em
que não pode autorizar intervenção de outro órgão de natureza legislativa ou não.
Portanto, os direitos, liberdades e garantias económicas têm um conteúdo
essencialmente determinado ou determinável, à nível das acções constitucionais, ou seja,
Constituição Programática, completado pelo legislador ordinário onde é vincada a sua
densidade normativa, bem como, por via de interpretação e integração serem sempre
aplausíveis e projectadas em sede da ordem constitucional económica angolana, atento aos
respeitáveis princípios da proporcionalidade que é um sub-princípio concretizador do
princípio do Estado de Direito Económico.

4.7. Princípio do Respeito pelos Direitos Fundamentais


Um importante princípio conformador e estruturante da ordem constitucional
económica, pois que, consiste na exigência do respeito pelos direitos fundamentais;
liberdades; garantias e direitos económicos,…134, dos sujeitos económicos sejam elas pessoas

129
Tutela Administrativa e Judicial.
130
Cfr. MIRANDA, JORGE - Direitos Fundamentais – Introdução Geral, Lisboa 1999, Pág. 62.
131
O Direito significa:1- Justiça; 2- Força; 3- Ordem e 4- Dirigir.
132
Cfr. AVV, CATARINO, JOÃO RICARDO/GUIMARÃES, VASCO BRANCO,-Lições de Fiscalidade, Almedina, 2012.
Pág.87.
133
Cfr. AAVV, MACHADO, JÓNATAS/COSTA, PAULO NOGUEIRA DA,/HILARIO, ESTEVES CARLOS, - Direito
Constitucional Angolano 2ª Edição Coimbra, 2013. Pág. 191.
134
Cfr. MACHADO, JÓNATAS/COSTA, PAULO NOGUEIRA DA, - Curso de Direito Tributário, Coimbra Editora, 2009.
Pág. 45.
62
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
singulares, ou pessoas colectivas (de Direito Público e Direito Privado). Qualquer modo, é um
princípio menos desenvolvimento no Direito Económico, mas sempre esteve presente nas
outras abordagens subjacentes aos princípios tradicionais já cunhadas na doutrina conhecida
e por nós perfilhada.
Todavia, este princípio, resulta da primazia que gozam os direitos fundamentais sobre
as normas e actos do sistema jurídico, porque as referidas normas limitam o legislador e a
Administração Económica e, sendo por via disso, como decorre da Constituição, os direitos de
liberdades e garantias e, demais de direitos fundamentais de natureza análoga são de
aplicação directa pelos Tribunais Comuns, Especiais e Constitucional e, portanto, vincula todas
entidades públicas e privadas, (art.28º, nº1 e 174º, nº3, da CRA).
O que significa dizer, a relação do Sistema Económico com os direitos fundamentais
exige:
1- O Sistema Económico, não viole os direitos económicos, sociais e culturais.
2- O Sistema Económico, que assegura através do sistema fiscal e financeiro,
tributário e do orçamento, à realização satisfatória dos direitos fundamentais em
geral.
3- O Sistema Económico, que protege os direitos fundamentais de agressões
através da regulação e supervisão do Mercado.

Destarte, a título de exemplo meramente académico, não seria justo se a concentração


de um Poder Económico poder-se-ia conduzir a uma concentração de Poder Político135, que
ameace o estatuto de igualdade e liberdades económicas, cívica e político-social dos Agentes
Económicos, ou seja, do cidadão comum.
Em última análise, este princípio visa procurar o justo óptimo equilíbrio entre o
crescimento económico e desenvolvimento económico-social, atento a distribuição e
redistribuição da riqueza. Pois que, o Sistema Económico pode ser utilizado em conjunto com
outros meios, para desmantelar a estrutura de concentração do poder económico podendo
accionar os mecanismos de restrições de direitos económicos pela via legislativa e da
administração, assente na qualificação constitucional, mobilizando para o efeito, os princípios
gerais do Estado Democrático de Direito, bem como, outras opções valorativas orçamentais
previstas, nos termos do artigo 28º, nº 2, da CRA, sob desígnio do instituto da “Reserva do
possível”136.

135
Ibidem.
– Tem acontecido exactamente em Angola em alguns círculos a figura de empresário político numa autêntica
promiscuidade económico, tabua rasa para a delinquência económica em sede de tráfico de influência junto das
instituições financeiras, imunidades e branqueamento de capitais, fuga ao fisco evasão fiscal e, tudo mais (o
nosso realce). Como afirma o Presidente do Tribunal de Contas de Portugal, Dr. GUILHERME D`OLIVEIRA
MARTINS “a Corrupção começa no favor e termina no crime” – entrevista no jornal de negócios dia 5 de
Dezembro de 2014.
136
A ideia da Reserva do Possível é frequentemente associada à alegação de insuficiência de recursos
apresentada pelo Estado como forma de se eximir do cumprimento de suas obrigações no campo dos direitos
económicos e sociais. A invocação da cláusula da reserva do possível serviria como uma escusa, ou seja, livre-
trânsito, utilizado de forma genérica pelos entes estatais, para não concretizar os direitos fundamentais. Como
decorrência dessa concepção, a cláusula da reserva do possível tem sido muito criticada. Há quem entenda que o
63
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
4.7.1. sub Princípio da Reserva do Possível
O Princípio da Reserva do Possível, pode ser considerado um sub- princípio do Direito
Económico, e que numa primeira aproximação pode ser entendida como uma excepção de

argumento estatal relativo à ausência de disponibilidade financeira não pode ser aceito, uma vez que cabe ao
Estado implementar os direitos fundamentais, especialmente aqueles previstos na própria Constituição.
Há, porém, quem entenda que o argumento pode ser aceite em determinadas hipóteses, pois não há
como negar que os recursos financeiros são limitados, ao passo que as necessidades dos indivíduos são
ilimitadas, devendo ser compatibilizadas com os recursos existentes. Observa-se, assim, que a ideia corrente de
reserva do possível está ligada à insuficiência dos recursos estatais para tornar efectivos todos os direitos
previstos na Constituição Política de Angola de 2010, sendo a expressão relacionada, portanto, com a situação
económica do Estado angolano.
Todavia, a despeito deste entendimento os recursos estatais são de factos finitos e que diversas
questões podem ser levantadas em termos de custos relativos à realização dos direitos, mas por vezes tem sido
negligenciado como escapatória do poder político em não satisfazer este ou aquela necessidade.
Com efeito, considerando a cláusula da reserva do possível tal como formulada ela se relaciona muito
mais com a razoabilidade das pretensões dos indivíduos perante o Estado, a determinar o que é possível ou não
ser exigido da colectividade, do que propriamente com a noção de escassez de recursos económicos para
atender a estas pretensões, noção com a qual a expressão é usualmente identificada.

A origem da expressão “reserva do possível”

A expressão “reserva do possível” (Vorbehalt des Möglichen) foi utilizada pela primeira vez pelo Tribunal
Constitucional Federal Alemão, em julgamento proferido em 18 de Julho de 1972. Trata-se da decisão na qual se
analisou a constitucionalidade, em controlo concreto, de normas de direito estadual que regulamentavam a
admissão aos cursos superiores de medicina nas universidades de Hamburgo e da Baviera nos anos de 1969 e
1970.
Em razão do exaurimento da capacidade de ensino dos cursos de medicina, foram estabelecidas limitações
absolutas de admissão (numerus clausus). Essas restrições de acesso ao ensino superior foram questionadas
perante o Tribunal Constitucional Federal Alemão. Alegava-se estar diante de ofensa ao artigo 12º, I, da Lei
Fundamental alemã, que cuida da liberdade profissional e dispõe que “todos os alemães têm o direito de
livremente escolher profissão, local de trabalho e de formação profissional”.
Nos termos desse dispositivo constitucional, o direito fundamental à liberdade profissional é amplo, abrangendo
não só o direito de escolher profissão e local de trabalho, como também o direito de escolher o local de
formação profissional. A formação é um estágio que antecede o início da profissão. O direito de admissão ao
curso universitário seria, então, uma decorrência do direito à livre escolha da profissão e do local de ensino,
associado aos princípios da igualdade e do Estado Social.
Logo, uma limitação ao acesso às universidades (local de formação profissional) configuraria ofensa ao direito à
liberdade profissional, ressalvada a possibilidade de regulamentação desse direito por lei, ou com base em lei.
Essa limitação de acesso poderia não só afectar a escolha do local de formação, como influenciaria a escolha da
própria profissão, pois seria capaz de modificar a intenção original do candidato ao curso. Apesar disso, o
Tribunal entendeu ser possível restringir o acesso aos cursos de medicina, uma vez que os direitos sociais de
participação em benefícios estatais “se encontram sob a reserva do possível, no sentido de estabelecer o que
pode o indivíduo, racionalmente falando, exigir da colectividade.” Por conseguinte, foi empregada a expressão
reserva do possível para se sustentar que não é possível conceder aos indivíduos tudo o que pretendem, pois há
pleitos cuja exigência não é razoável. Mais adiante, na mesma decisão, o Bundesverfassungsgericht, se referiu à
capacidade financeira estatal no seguinte trecho:
“Fazer com que os recursos públicos só limitadamente disponíveis beneficiem apenas uma parte privilegiada da
população, preterindo-se outros importantes interesses da colectividade, afrontaria justamente o mandamento
de justiça social, que é concretizado no princípio da igualdade. (Decisão consultada em Schwabe, Jürgen.
Cinquenta Anos de Jurisprudência do Tribunal Constitucional Alemão. Organização e introdução por LEONARDO
MARTINS. Montevidéu: KONRAD-ADENAUER-STIFTUNG, 2005, Pág. 656- 667. Para conferir no idioma original, v.
http://www.servat.unibe.ch/dfr/bv033303.html). No original: Artikel 12 [Berufsfreiheit] (1) Alle Deutschen haben
das Recht, Beruf, Arbeitsplatz und Ausbildungs- stätte frei zu wählen. Die Berufsausübung kann durch Gesetz
oder auf Grund eines Gesetzes geregelt werden. (tradução livre do autor).
64
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
não cumprimento da realização dos direitos fundamentais proclamadas na Constituição, mas
não um livre transito de inobservância do cumprimento dos direitos fundamentais, sendo por
esta linha, como aquela actividade financeira que consiste de certo modo na satisfação
gradual das necessidades económicas e sociais colectivas através do OGE, (art.21º, al. c), e
28º, nº2, da CRA, ou seja, dito de outro modo, consiste na actividade de exercício financeiro
por via orçamental de afectação e gestão dos recursos escassos, para satisfazer as
necessidades da colectividade, não na sua plenitude à luz do contrato social (contrato
económico), pois que as necessidades colectivas são em certa medida insaciáveis.
Porquanto que, como amiudamente se observa, desde os tempos remotos até hoje, os
recursos financeiros são sempre limitados que largamente poder-se-á tomar iniciativas de
delimitação dos direitos económicos por via de medidas administrativas, também tem sido
citado por algum sector da doutrina financeira como instituto de escolhas públicas ou grandes
opções, que na nossa opinião, não pode ser entendida como uma galáxia de constelações de
escolhas organizadas de elites do poder político ou de um círculo de Agentes Económicos
padronizados nas escolhas tidas como colectivas que serve de veículo para satisfazer os seus
intentos. Ele não pode ser tida como livre transito para incumprimento das obrigações do
Estado perante Agentes Económicos(…), deve ser entendida na perspectiva de razoabilidade e
proporcionalidade económica e financeira.

4.8. Princípio de Livre Iniciativa Económica e Livre Concorrência


4.8.1. A Livre Iniciativa Económica
O Princípio de Livre Iniciativa Económica - é a consequência lógica do princípio da
democracia económica, porque, seguramente, nos países, aliás, nos sistemas de economias de
Mercado, a actividade económica depende essencialmente da capacidade dos indivíduos de
organizarem a produção e a distribuição de bens e serviços, com os objectivos de assim
obterem rendimentos de que esperam e serem os principais beneficiários137.
Ele traduz na possibilidade de exercer uma actividade económica privada,
nomeadamente através da liberdade de criação de Empresas e da sua gestão. Compreende
como componentes a liberdade de investimento ou de acesso, a qual se exprime no direito de
escolha da actividade económica e desenvolver, a liberdade de organização, ou seja, a
liberdade de determinação do modo como a actividade vai ser desenvolvida (incluindo a
forma, qualidade e preço dos produtos ou serviços produzidos) e a liberdade de contratação
ou liberdade negocial, que compreende a liberdade de estabelecer relações jurídicas e de
fixar, por acordo, o seu conteúdo.
O direito de iniciativa privada, é pois, um direito independente do direito de
propriedade, visto que, pode haver iniciativa económica não fundada na propriedade e vice-
versa. Exemplo da primeira situação é o caso da exploração económica de bens públicos por
entidades privadas e, da segunda, a exploração de bens privados por cooperativas. Contudo,
na maioria das situações a liberdade de iniciativa privada tem como suporte a propriedade
privada; (art. 14º e 38º, da CRA)138.

137
Cfr. PRATA, HELENA, Pág. 77.
138
Cfr. AVV. DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS /GONÇALVES, MARIA EDUARDA/MARQUES, MARIA MANUEL
LEITÃO, – Direito Económico-5ª Edição Reimpressão/2004, Pág. 42 e 46.
65
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Desde logo, a iniciativa privada e livre concorrência, são assim, dois princípios básicos
cumulativamente para o funcionamento da economia, bem como, para a materialização da
democracia económica, pois que, a iniciativa possibilita a sua livre composição e reutilização
produtiva139.

4.8.2.A Livre Concorrência


A concorrência - como um instituto jurídico económico tem sido abordado nas
distintas vertentes, mas ela repousa na Lei de procura e oferta que vai determinar o preço e a
qualidade de bens e serviços .
Assim, Prof.ª PAULA FREIRE140, entende que, “numa economia plenamente
concorrecional, o Mercado garante que a sociedade produz os bens aptos à satisfação das
necessidades dos seus membros, nas quantidades por eles desejadas”. Entretanto, esta
autora que ainda vamos continuar a seguir a sua abordagem, diz que, (…) através do preço, o
Mercado desempenha uma função regulação da oferta e da procura, isto é, uma função de
equilíbrio entre as quantidades produzidas e consumidas.
Mas, para além, da harmonia da economia, também a harmonia social é através de
livre funcionamento do Mercado. Ao assegurar que as decisões e os actos individuais se
compatibilizam entre si e concorrem para prossecução do interesse comum, através do
mecanismo da mão invisível de ADAM SMITH141, que vai de certo modo permitir a obtenção
de um resultado socialmente óptimo geral.
A concorrência segundo Prof. MENEZES CORDEIRO, citando WOLFGANG KILIAN, -“A
concorrência pode ser apresentada como um sistema de tomada descentralizada de decisões,
através da garantia de liberdade de actuação dos sujeitos económicos”142.
Por seu turno a Concorrência (perfeita), na prisma da Prof.ª PAULA FREIRE, é
“entendida enquanto existência, no Mercado, de uma multiplicidade de Agentes Económicos
de reduzidas dimensões, incapazes por isso de, solitariamente, influenciarem os preços, onde
não existe diferenciação de produtos e se verifica uma total perfeição da mobilidade de
recursos produtivos e fluxo de informação entre os participantes do Mercado”143.
A concorrência encerra duas modalidades que vamos particularmente reputar com
algum detalhe sucinto para uma pré-compreensão, designadamente:

4.8.2.1.A Concorrência Perfeita


Defende Prof. MENEZES CORDEIRO, no sentido de dar noção de concorrência, -
“afirmando-se, lato sensu, que ela designa a disputa entre dois sujeitos económicos ou
sectores económicos, com o fito de produzir ou comprar nas melhores condições. Se for
prosseguida uma concepção”. Sendo assim, um Mercado de Concorrência seria aquele em
que a formação dos preços se daria pelo ajustamento recíproco da oferta e da procura,

139
Ob. Já Cit. Pág. 77.
140
Cfr. FREIRE, PAULA, - Eficiência Económica e Restrições Verticais, AAFDUL, 2008, Pág. 30.
141
Apud, FREIRE, PAULA, - Eficiência Económica e Restrições Verticais, AAFDUL, 2008, Pág. 31. SMITH, ADAM,
(1999) Vol.I, Pág. 166.
142
Cfr. AAVV, CORDEIRO, MENEZES, - Regulação e Concorrência, Almedina editora, 2005, Pág. 9.
143
Cfr. FREIRE, PAULA, Pág. 103 - 104.
66
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
através de uma plena liberdade de comportamentos dos Agentes Económicos, determinados
pelo objectivo da maior vantagem individual e com influência infinitesimal nas quantidades
oferecidas e procuradas e nos preços de Mercado”144.

4.8.2.2.A Concorrência Imperfeita


A definição de PAULO SAMUELSON, citado por CARLOS LOBO BAPTISTA, reporta-nos
que, a concorrência imperfeita verifica-se numa actividade, ou num grupo de actividades,
sempre que os vendedores individuais são concorrentes imperfeitos enfrentando curvas da
procura não horizontais, detendo, por tal motivo, um certo grau de domínio sobre o preço145.
Depois desses arestos cumpre-nos, todavia, concluir e alinhar uma noção a seguir, -«A
concorrência - é o sinónimo de competição dos Agentes Económicos no Mercado, através da
Lei da procura e oferta, sob vigilância do Direito da Regulação e Supervisão dos Poderes
Públicos/Privados que compõem a Direcção Económica»146. Este princípio encontra-se
recortado no art. 89º, nº 1, al. c), da CRA.
A defesa da concorrência é uma imposição constitucional. É que a defesa da
concorrência entre as unidades produtivas compreende nos nossos dias um conjunto
ordenado e normas de polícia. O legislador partiu do princípio de que a concorrência se não
desenvolve espontaneamente entre as empresas participantes no Mercado, não lhe
competindo tão-só estabelecer um conjunto de regras tendo por objectivo simplesmente a
prevenção e repressão de situações em que o comportamento das empresas lesam
intoleravelmente certos interesses públicos147.
Entretanto, uma das práticas típicas concorrenciais proibidas que podem modificar o
Mercado são:
- DUMPING DE PREÇOS
- MONOPOLIOS
- OLIGOPOLIOS
- DUOPOLIOS
- CARTEL
- JOGOS
- ABUSOS DE POSIÇÃO DOMINANTE

144
Cfr. LOBO, CARLOS BAPTISTA, Concorrência Bancaria? Almedina editora, 2001, Pág. 158.
145
Apud, LOBO, CARLOS BAPTISTA, Concorrência Bancaria? Almedina editora, 2001, Pág. 160.
146
Nosso realce.
147
Por exemplo no caso particular da crise do Mercado Cambial que deflagrou-se em 2015 uma das condições
para os Mercados de Câmbios poderem ser considerados como Mercados de Concorrência pura e perfeita, seria
a não intervenção do Banco Central, e essa não-intervenção implicaria a total ausência de controlo das taxas e
das operações de câmbio, isto significaria adoptar um sistema de câmbios flutuantes, e a própria neutralidade da
política interna para com os movimentos de capitais, e, de uma forma geral, para com os pagamentos externos.
Mas contudo importa assinalar que a influência da política monetária interna, a utilização das reservas
de câmbio (reservas de divisas ou reservas internacionais) cabe Banco Central e o controlo dos câmbios através
das medidas de política económica geral ( disposições para combater a inflação, medidas para incrementar o
desenvolvimento económico, etc.), e que o Banco Central pode interferir directamente na entrada e saída de
capitais, por meio da manipulação das taxas de juro e restrições ou limitações de acesso dos Agentes Económicos
ao Mercado de Cambio determinando assim taxa de cambio, ou seja, câmbios administrativos(cambio oficial).
67
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
- AUXILIO DO ESTADO
Vamos examinar sumariamente os encimados conceitos de uma das praticas
proibidas de concorrência e, desde logo, lhes dar uma noção para sua compreensão jurídica
e científica.

4.8.2.2.1.Dumping de Preços
O termo vem do verbo inglês “to dump”, que significa, segundo o dicionário Inglês-
Português de MARQUES, despejar, descarregar, esvaziar, desfazer-se de algo, livrar-se de algo.
É comummente associado ao Direito Comercial e Económico, referindo-se ao fenómeno da
baixa dos preços de determinados bens como consequência da instalação de Empresas
produtoras em países com mão de obra mais barata148. O fenómeno do Dumping não é
recente há relatos de sua prática, ainda no século XIX, por produtores americanos. O primeiro
documento normativo parece ter surgido no Canadá, em 1904, por meio de uma Lei de
repressão ao Dumping Social.
O Dumping de Preços, consiste na venda de produtos com prejuízo ao Mercado
Concorrecional, isto é, a oferta para venda, ou venda de um bem por preço inferior ao valor
normal de um produto semelhante que nosso ordenamento jurídico consagra a proibição
dessas práticas ( art. 21º; 22º, nº3; 23º; 89º e 90º, da CRA).
É uma prática restritiva da concorrência que tal deve ser proibida essencialmente nas
economias menos desenvolvido na medida em que torna-se uma prática agressiva de
Mercado que requer normalmente uma capacidade financeira dos Dumpingueiros ou
jogadores de Dumping de Preços, de modo a suportar os prejuízos financeiros durante a
vigência desta concorrência imperfeita, cujo objectivo é liquidar os potenciais Agentes
Económicos concorrentes no Mercado para ulteriormente conseguir no Mercado eivado de
um vício de Dumping de Preços à posição dominante que vai lhe permitir em primeiro lugar
recuperar as perdas e, em segundo lugar dominar o Mercado de acordo o arbítrio dos
jogadores de Dumping de Preços e ditar as suas regras.
O Dumping poder negativo ou positivo, isto é na doutrina brasileira “O zeroing” que
consiste em ignorar margens de dumping negativas (vendas acima do valor normal, caso que
não se qualifica como dumping) nos cálculos totais, contabilizando-as como zero. Apenas os
casos em que vendas abaixo do valor normal forem feitas (margens de dumping positivas)
serão contabilizados, fazendo com que a simples oscilação de preços ao longo do tempo seja
interpretada como comércio desleal, identificando-se, portanto, Dumping”.
Portanto o Dumping de preços hodiernamente pode ser Dumping social aquele que
incide nos contratos de trabalhos de mão de obra barata ou instalar as fabricas em países
subdesenvolvidos onde o salário mínimo quase é inexistente, Zonas Francas ou Paraísos
Fiscais e Sociedades Offshore que influenciam no produto final à custa do sacrifício da classe
trabalhadora ou dos povos autóctones, e por conseguinte, criam as chamadas economias de
tipo subterrâneas de um lado, por outro é um Dumping de preço em concreto que acima já
referenciamos. Assim nos termos legais a nossa Constituição sublinha nos art. 21º;22º, nº3;
23º; 89º e 90º, da CRA como prática desleal.

148
Cfr. MARQUES E DRAPNER 2000, Pág. 98
68
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
4.8.2.2.2.Monopólio
O termo Monopólio provem do grego clássico, monos que significa "um" e polein que
significa "vender" , o Monopólio - é a exploração sem concorrente de um negócio ou
indústria, em virtude de um privilégio e pode ser Monopólio Natural ou Monopólio de
Demónio e coercivo.
É a posse ou o direito em carácter exclusivo. Ter o Monopólio é possuir ou desfrutar da
exploração de maneira abusiva, é vender um produto ou serviço sem concorrente, por altos
preços. Deter o monopólio é uma situação em que uma única Empresa domina a oferta de
determinado produto ou serviço, isto é, quando o Mercado é dominado por uma estrutura
monopolista e não pelas leis de Mercado, garantindo-lhe o super lucro.
A maioria dos países possuem um conjunto de leis para impedir a formação de
monopólio e o nosso ordenamento jurídico económico não alheia-se desses comandos, ex vi
lege, art. 21º;22º, nº3; 23º; 89º e 90º, da CRA, apesar que os Monopólios surgem devido a
características particulares de um determinado Mercado, ou devido a regulamentação
governamental.

4.8.2.2.3.Oligopólio
Enquanto no Monopólio não existe concorrência, o oligopólio é caracterizado por um
conjunto de Empresas que dominam determinado sector da economia ou produto colocado
no Mercado. Em geral impõem preços abusivos e elimina a possibilidade de concorrência,
através da aquisição de pequenas Empresas.
É comum as Empresas que formam o Oligopólio estabelecerem cotas de produção (o
que eleva os preços) e divisão territorial do Mercado consumidor entre si, a fim de aumentar
suas taxas de lucro. A tendência à oligopolização se verifica principalmente nos sectores da
economia que exigem grandes investimentos, como a da indústria automobilística, química e
farmacêutica, petróleo, telecomunicações e etc. A nossa Constituição sublinha nos art.
21º;22º, nº3; 23º; 89º e 90º, da CRA e sanciona estas práticas de concorrência desleal no
sistema económica angolano.

4.8.2.2.4.O Duopólio
Historicamente o termo vem do grego clássico que significava inicialmente de dyo
(dois) + polein (para vender), que hodiernamente significa uma falha de Mercado de tipo
específico de oligopólio em que apenas dois produtores existem em um Mercado. Este termo
é geralmente usada apenas quando duas Empresas têm o controle dominante do Mercado.
No campo da organização industrial, normalmente se estuda o duopólio como se este fosse
um oligopólio devido à sua simplicidade conceitual.
O Duopólio pode ou não direccionar as Empresas a um acordo ou conluio e um abuso
de posição dominante ou de uma situação de competição. A existência de um Duopólio pode
contrariar as leis anti - truste.
Pelo que, um Duopólio também pode direccionar as Empresas a rumarem a
cartelização (acordo tácito de manutenção de duopólio). Neste caso o Duopólio torna-se mais
complicado de ser gerido do que um Monopólio Natural.

69
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Entretanto existem basicamente dois tipos de duopólio que radicam-se nos seguintes
modelos:
1- Modelo de Duopólio de COURNOT: reacção de duas Empresas, para cada
mudanças na produção (quantidade produzida) da Empresa concorrente, até que
ambos cheguem ao equilíbrio de NASH149.
2- Modelo de Duopólio de BERTRAND: entre duas Empresas, sendo que cada uma
assumirá que a sua concorrente não mudará seus preços em resposta à queda da
quantidade produzida. Quando ambos usam esta estratégia, eles chegam a um
equilíbrio de NASH150.
No Duopólio, os dois únicos produtores de uma mercadoria, concordam em
estabelecer um preço, não aumentando ou diminuindo este. Desta forma, eles estão
associados. É um modelo muito semelhante ao Monopólio.
Portanto, como parte de estratégias competitivas, as Empresas tomam decisões
somente para seu benefício em detrimento de seus concorrentes. Em outras palavras, as
Empresas reagem aos benefícios do concorrente, como resultado, a interdependência dos
lucros e as decisões criam um padrão de interacção estratégica. Na microeconomia esse tipo

149
O DUOPOLIO de COURNOT poder Duopólio simétrico ou Assimétrico:
- o Simétrico - consiste em que cada empresa acredita que a produção do concorrente é constante,
sendo a produção a real variável estratégica, isto é todas as empresas que estão no mercado produzem bens
homogéneos, pelo que na verdade, as decisões de uma empresa são influenciadas pela decisão da outra
empresa, e vice-versa.
- Assimétrico ou Assimétrico de STACKELBERG – (A competição de Stackelberg) - Este modelo
complementa e enriquece a análise de COURNOT e Bertrand na interdependência cíclica (com base nas
condições de mercado), destacando o conceito de interdependência conjectural (com base em conjecturas). A
interdependência cíclica refere-se ao facto de que cada empresa é limitada e descobre que sua própria situação
depende da situação em que se encontra a sua concorrente. No entanto, a análise fornece não apenas a
conjectura que cada empresa sabe - sua posição de dependência em relação a outra empresa, mas auxilia a
concorrente, que adopta o mesmo raciocínio. As premissas deste modelo são múltiplas, desigandamente:
1.Primeiro, o Duopólio de STACKELBERG é assimétrico, isto é, as duas empresas concorrentes não têm o
mesmo poder. Este facto é conhecido como a relação empresa líder (que determina o preço e a produção do
mercado) e empresa satélite.
2.Se a Empresa é um líder, e se ela maximiza seu próprio lucro, ela deve ter em conta o comportamento
da firma 2, integrando a função de reacção da última para a função próprio lucro. Se ambas as empresas
acreditam que são satélites, há um desequilíbrio e a produção torna se torna deficiente e insuficiente. Se ambas
as empresas acreditam serem o líder (comportamento de Bowley), há também desequilíbrio (produção total
excede a demanda). Isso pode resultar em preços mais baixos e, em última análise, o lucros menores.
3.A análise do duopólio de STACKELBERG também aparece na teoria dos jogos. O equilíbrio de NASH
desempenha um papel importante na resolução de jogos de Stackelberg .
Entretanto na doutrina da economia também fala-se do Duopólio de BOWLEY em que duas empresas
produzem os mesmos produtos e agem como se fossem duas dominantes. Isto leva a equilíbrios instáveis. Há
três opções,
1.Uma das duas Empresas capturou o Mercado e passou a ser dominante (modelo de Stackelberg).
2.Ambas as empresas caem na chamada "órbita de casal", que é uma situação semelhante ao Duopólio
de Cournot.
3.Ou ambas as Empresas concordam e compartilham o Mercado, estando assim em equilíbrio
cooperativo.
150
O DUOPOLIO de Bertrand - consiste no seguinte : A variável estratégica não é a produção, mas o preço (ao
contrário da abordagem de COURNOT). No entanto, os pressupostos são idênticos aos de COURNOT, que o
produto é homogéneo, que as Empresas têm a capacidade de responder a qualquer demanda e o custo de
produção é idêntico para ambas as Empresas.
70
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
de interacção é chamado de jogo151. Ex. meramente académica é algumas práticas das
operadoras de rede telefonia móvel em Angola repartidas em duas Empresas: UNITEL e
MOVICEL(ANGOLA-TELECOM), por este andar das coisas podemos afirma sem pestanejar que
grosso modo, as práticas não só dessas operadoras da rede de telefonia móvel e fixa tem
beliscado a democracia económica e eficiência dos bens e serviços que representa em termos
da ordem jurídica económica uma prática de concorrência desleal, por vez enquanto e que.
faz eco negativo nas normas constitucionais de sã concorrência (art. 21º;22º, nº3; 23º; 89º e
90º, da CRA), porque o consumidor não tem produto de substituição disponível no Mercado.

4.8.2.2.5.Cartel
Em Economia é chamada de póster ou cartaz de um acordo formal entre as Empresas
no mesmo sector, cujo objectivo é reduzir ou eliminar a concorrência em um determinado
Mercado. Cartazes geralmente visam desenvolver o controle sobre a produção e distribuição
de tal forma que, através do conluio das Empresas que formaram-se, estas formam uma
estrutura de Monopólio de Mercado, ganhar o poder sobre o Mercado no qual você deseja
obter os maiores benefícios possíveis em detrimento dos consumidores. Por esta razão, as
consequências para estes são o mesmo que com uma monopolista.
Já de ponto de vista técnico jurídico o Cartel - consiste num acordo (também
caracterizado como conluio) explícito ou implícito entre concorrentes para, principalmente,
fixação de preços ou cotas de produção, divisão de clientes e de Mercados de actuação ou,
por meio da acção coordenada entre os participantes, eliminar a concorrência e aumentar os
preços dos produtos, obtendo maiores lucros, em prejuízo do bem-estar do consumidor.
Na prática o Cartel opera como um Monopólio ou Duopólio Cooperativo, isto é, como
se fosse uma única Empresa. Os cartéis são considerados a mais grave lesão à concorrência e
prejudicam os consumidores ao aumentarem os preços e restringirem a oferta, tornando os
bens e serviços mais caros ou indisponíveis, também são censurados pela ordem económica
angolana nos termos do art. 21º;22º, nº3; 23º; 89º e 90º, da CRA.
A diferença é que os benefícios totais (como o mais possível obter no Mercado) são
distribuídos entre os produtores. As suas principais actividades centrar-se sobre os preços,
oferta limitada disponível, dividir o Mercado e compartilhar os benefícios152. Hoje, o termo é

151
O Duopólio pode, portanto, ser estudado em função da concorrência simples para introduzir a teoria dos
jogos.
152
Defensores dos cartazes afirmam que eles ajudam a estabilizar os mercados, para reduzir custos de produção,
para eliminar tarifas elevadas, equitativamente, distribuir os benefícios e beneficiar os consumidores. Seus
detractores apontam para que, quando não há nenhuma competição, os preços são mais elevados e menor
oferta. Hoje considera que suas desvantagens superam suas vantagens e muitas vezes são definidas limites legais
para restringir o desenvolvimento de novos posters Cartaz (organização ilegal).
Poster ou cartaz são os termos que se relacionam com uma grande organização ilícita ou um conjunto
de organizações criminosas que estabelecem acordos de auto-protecção, colaboração e partilha de territórios
(lugares) para desenvolver as suas actividades criminosas. Nos Estados Unidos da América, o termo com o qual
eles identificam organizações criminosas é o de "máfias", distinguindo-se em primeiro lugar, a "máfia italiana",
mas extensivamente é também designada a "máfia russa" "a máfia chinesa" entre outras coisas, deve notar-se
que a chamada "máfia mexicana" refere-se a uma organização americana, cujos membros são, basicamente,
"chicano".
No caso das organizações criminosas nativas de países latino-americanos, são chamados para estes
maneira imutável como cartazes e Cartel de Drogas como de Mendelin na Colômbia de Pablo Escobar.
71
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
geralmente aplicado aos acordos que regulam a concorrência no comércio internacional no
caso da OPEP(Organização dos Países Exportadores de Petróleo ).

4.8.2.2.6. Jogos
os Jogos tem como alguns registos históricos nos séculos recuados antes do século
XVII, experimentados pelos italianos GALILEU HUYGENS, PASCOAL e BERMOUILI, no
desenvolvimento de cálculos de probabilidade e no passado não muito recente do século
passado o francês EMILLE BOREL153, sustentava nos seus escritos em 1921, das implicações
dos problemas económicos, sociais, psicológicos e militares na teoria dos jogos ou
simplesmente simulações de uma situação social e económico que se projectam numa
avaliação antecipada, que no entender desta asserção tais situações avaliadas neste sentido
possam influenciar o futuro das decisões e comportamento dos Agentes Económicas154.
Neste sentido os Jogos – pode ser entendido como um conjunto de regras que
governam o comportamento de dado número de Agentes Económicos individuais ou
agrupados de ponto de vista de Mercado relevante geográfico ou de produtos dominados por
Agentes Económicos (batoteiros)jogadores individuais ou agrupados no Mercado155. Portanto
o jogo é uma sucessão de lances e partida é uma sucessão de escolhas156. nossa Constituição
sublinha como desconforme as boas práticas do Mercado desenhados pelo legislador nos
art. 21º;22º, nº3; 23º; 89º e 90º, da CRA.

4.8.2.2.7. Abusos de Posição Dominante


Abuso de Posição Dominante – abusos de posição foi desenvolvido no Direito Europeu
através da união europeia e vem consagrado no art 102º, do TFUE, e particularmente em
Portugal no art.11º, da Lei nº19/2012, de 8 de Maio, Lei Promoção e defesa de Concorrência,
por conseguinte, é sabido que o Direito de Concorrência é um instrumento essencial da
economia de Mercado para permitir assim ao consumidor de usufruir dos benefícios
proporcionado pela lei da procura e oferta através dos preços baixos, melhor qualidade e
maior variedade de bens e serviços. Para isto se concretize na razoabilidade, é mister
defender e garantir o normal funcionamento do Mercado reflectida numa relação jurídica de
despique(concorrência) de produtos ou serviços entre as Empresas que exploram
comercialmente, assegurando o regime jurídico do controlo de operações de concentração
acordos proibidos(que incluem práticas de concertadas e as decisões de associações de
Empresas) e o dos abusos da posição dominante157.
Estas relações de concorrência verifica-se no “Mercado Relevante” – que consiste em
identificar, de uma forma sistemática, os condicionalismo concrecionais que as Empresas tem
de enfrentar, isto é, identificar os concorrentes efectivos das empresas em causa susceptíveis

153
Cfr. BOREL, ÉMILE, (1871-1956) - "Probabilidade e Vida" (Le Probabilites et la Vie, edição francesa de 1943,
Probability and Life ,edição inglesa de 1962), internet.https://sites.google.com/site/scientiaestpotentiaplus/lei-
de-bore. Já em "Probabilidade e Certeza" (Probabilite et Certitude, edição francesa de 1950, Probability and
Certainty, edição inglesa de 1963, site da internet. Consultado dia 29/3/2016.
154
Cfr. ABRANTES, MARIA LUISA, - Teoria de Jogos e Oligopólios, Multitema editora, FDUN 2004, Pág. 5-23.
155
Nossa.
156
Cfr. ABRANTES, MARIA LUISA, - Pág. 24.
157
Cfr. JUNQUEIRO, RICARDO BORDADO, - Abuso de Posição Dominante, Almedina editora 2012, Pág.11.
72
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
de restringir o seu comportamento e de impedi-las de actuar independentemente de uma
pressão concorrente efectiva.
O Mercado Relevante constitui o conceito chave de concorrência, pois que o Estado
não se preocupa com formação de Monopólios, Oligopólios, Duopólios ou Posição Dominante,
mas sim, as estereotipadas práticas destes, e, censuradas pelo Direito como práticas ilícitas
que podem alterar o Mercado. Daí o Mercado Relevante, vai dividir-se em Mercado Relevante
de Produtos e Mercado Relevante Geográfico.
O Mercado Relevante de Produtos – poder ser definido como conjunto de produtos e
serviços considerados permutáveis ou substituíveis pelo consumidor devido a as suas
características, preços e utilização pretendida, ex. meramente académico o isqueiro e
fósforos para deflagrar uma inflamação de uma chama de fogo do gás butano na cozinha,
quando um desses produtos não ser possível substituído pelo consumidor em alternativa,
desde logo no caso exemplificativo o consumidor encontrar-se-á numa posição de domínio
passivo da Empresa produtora deste bem, pelo que poderá abusar da posição dominante dos
preços , qualidade e variedade do produto, pois que, o consumidor não tem alternativa de
isqueiro para deflagrar ou atear o fogo para cozinhar no caso mais pragmático. Mesmo
existindo um produto de substituição, a Empresa gozara de Monopólio hipotético ao lado da
oferta158.
O Mercado de Geográfico – Compreende a área em que as Empresas fornecem
produtos ou serviços , em que as condições de concorrência são suficientemente homogenias
e que podem distinguir-se de áreas geográficas vizinhas devido ao facto, em especial de as
condições da concorrência serem consideravelmente diferentes nessas áreas em que o
consumidor poderá encontrar o produto para substituir aquele( Substituibilidade do lado da
procura) ou onde poderá encontrar fornecedores que possam prontamente ajustar as suas
opções159. Ora, quando isso não acontece, vislumbra o abuso da posição dominante no
Mercado Relevante Geográfico atentatório à democracia económica e Estado de Direito
(art.2º e 78º, da CRA).
Portanto, a existência de um abuso da posição dominante de preços excessivos exige
o preenchimento dos seguintes requisitos:
a) Detenção de posição dominante por parte da Empresa que fixa o preço;
b) Ausência de uma relação razoável do preço cobrado com o valor económico do
produto, e;
c) Inexistência de uma justificação objectiva.
Porquanto, que a posição dominante pode-se considerar quando uma Empresa que
está em condições de actuar no Mercado Relevante de forma independente relativamente
aos seus clientes, fornecedores e seus concorrentes, (posição de presunção inilidível).
A Posição Dominante segundo RICARDO JUNQUEIRO, “ diz respeito a uma posição de
poder económico detida por uma Empresa que lhe permite afastar a manutenção de uma
concorrência efectiva no Mercado em causa e lhe possibilita comportar-se, em medida

158
Cfr. O caso da Microsoft nos sistema operativos (PCs) dos computadores pessoais e o sistema operativos para
outros computadores (e.g. Servidores) não pertencem ao mesmo Mercado de produtos vide Acórdão TG de
17.9.2007. Proc. T-201/o4, Microsoft Corporation/Comissao Europeia Col II-3601.
Outro caso Angolano o vasilhame de garrafa da cerveja N´gola e da Cuca pertencem o Mercado de
produtos diferentes, desde logo, não são substituíveis, estamos em presença do Monopólio hipotético.
159
Cfr. JUNQUEIRO, RICARDO BORDALO, - Abusos de Posição Dominante, Almedina editora 2012, Pág. 21 e ss.
73
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
apreciável, de modo independentemente em relação aos concorrentes, aos seus clientes e,
finalmente, aos consumidores”160.
Porém, esta posição do Mercado Monopcioníca, não se proíbe em que os acordos
visem a melhormente da produção e dos bens e serviços, porque o Estado não preocupa-se
com as posições domínio das Empresas ou de Monopólio do Mercado a montante ou a
jusante161 , pois que, a Concorrência pretende alcançar a concorrência pelo mérito. Mas por
conseguinte, o Estado preocupa-se com o abuso de posição dominante de exploração dos
clientes (o preço não justifica o valor económico do produto) e de exclusão dos concorrentes
(uma Empresa pratica a descontos ou abatimentos preços condicionais e não
condicionais)162/163. A nossa Constituição sublinha nos art. 21º;22º, nº3; 23º; 89º e 90º, da
CRA como prática de concorrência desleal.

4.8.2.2.7. Auxilio do Estado


O auxílio do Estado – é uma excepção à concorrência que consiste basicamente em
uma prestação da Administração Económica à favor de actividade de interesses gerais
desempenhadas por Agentes Económicos que são estranhos que visam criar estímulos a
prática de certos actos ou desenvolvimento de uma dada actividade no quadro de um
conjunto de objectivos definidos pela Administração normalmente constantes no plano 164.
Está figura quando não for bem doseada poderá constituir o clientelismo económico
ao favorecimento de uma grupo de elite económico apesar desfavorecido mas entra em
contradição com o princípio da igualdade e do Mercado e livre concorrência, tem repercussão
negativo, nos art. 14º, 23º e 89º, da CRA, salvo por excepção permitida pelo legislador no
plano de fomento e incentivos fiscais e protecção de Micro, Pequenas e Medias Empresas.

4.9. Princípio da Propriedade Privada


A Propriedade privada é um dos princípios basilares se não mesmo essencial do
funcionamento económico e como meio da realização da democracia económica, pois que, a
Propriedade desde os tempos imemoriais da senhora da espada, do soldado da pólvora e na

160
Ibidem, Pág.60
161
Mercado a Montante- é aquele que constituído de infra-estruturas essências como cabo de fibra óptica, rede
de alta tensão e media de transporte de electricidade (Mercado Grossista) e Mercado a Jusante – é aquele que
é constituído pelas infra-estrutura essenciais de rede de distribuição domestica da electricidade(Mercado
Retalhista). Neste caso de Mercado a Montante e a Jusante em Angola há Empresas rigorosamente públicas
com presença dominante em ambos Mercados e que são verticalmente integradas. O caso das Empresas dos
petróleos “ SONANGOL” das energias “ PRODENG”, “ENDE” e de águas.
162
Cfr. Art.102º, TFUE.(tratados de Funcionamento da União Europeia).
163
Descontos Condicionais – são aqueles que tem como objectivo de compensar o comportamento do cliente em
função do volume de compras efectuadas durante um período que podem ser por objectivos
individualizados(quando incidem individualmente sobre o comportamento do cliente) ou normatizados( aqueles
em para todos clientes para que objectivo é igual para todos os clientes ou para o mesmo grupo de clientes. –
Descontos Não Condicionais – são aqueles que é concedido apenas a uns clientes não outros, ou seja, são
atribuídas em função de uma qualquer comprador.
164
No mesmo sentido vide PRATA, HELENA, Pag.189.
74
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
actual sociedade cibernética ou da informática, foi sempre objecto de disputas e lutas entre
os Agentes Económicos para o domínio da sua Posse e Propriedade plena.
A Propriedade configura-se no direito real de conteúdo positivo limitado de gozo, de
garantia e de aquisição165, Daí o Direito como uma forma da manifestação da justiça
económica, garante aos Agentes Económicos a sua fruição e a disposição dos bens e a
utilização produtiva.
A Constituição Económica angolana consagra e reconhece em sede de direitos e
deveres económicos como direitos análogos aos direitos fundamentais (art. 37º e 89º, da CRA
e art. 17º, da Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 10 Dezembro de 1948). A
propriedade é um direito subjectivo privado absoluto de abstenção universal, “erga omnes”
que consiste numa relação de pertença entre um sujeito e uma coisa166.
A Propriedade como direito real pleno de conteúdo positivo na sua máxima extensão
densificado nos seguintes caracteres com amplitude económica:
(i) Poder de uso;
(ii) Poder de fruição);
(iii) Poder de transformação; e
(iv) Poder de reivindicação167,
Podem, certamente, ser convencionalmente restringido, ou limitado e atacado por via
de excepção, ou por via do Abuso do Direito, mas este limited, como se poder ver, está
sujeito ao princípio da tipicidade que ALBERTO VIEIRA designa de conteúdo negativo público e
conteúdo negativo privado do Direito Real, que nós corroboramos e demos nota assertiva à
este entendimento dos Direitos Reais e, por conseguinte, no sentido de alargar e cunhar o
conceito, nós formulamos os subprincípios de Direito Económicos numa perspectiva de
adaptação doutrinal aplicativa e coloquial para o Direito Económico, que vamos doravante
designar para todos efeitos a seguir.

4.9.1. Conteúdo Negativo Público do Direito Real Económico


O Conteúdo Negativo Público do Direito Económico – consiste naquelas situações restritivas
limitativas passivas de direito subjectivo de propriedade em que o particular cede a
propriedade ao ente público perante realidades factuais e de Direito no interesse público,
configurados nos Institutos de Expropriação, Requisição, Confisco e Servidões
Administrativos, Ius aedificandi (conteúdo negativo, ou situações passivas, do Direito Público
Cfr. o art. 37º, nº 2, in fine).

4.9.2. Conteúdo Negativo Privado do Direito Real Económico

165
Cfr. VIERA, JOSÉ ALBERTO, – Direitos Reais de Angola, Pág. 245 e ss.
166
Ob. cit. 547.
167
Ob. cit. Pág. 552.
75
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Conteúdo Negativo Privado do Direito Real Económico – nas relações intersubjectivas
potestativas económicas dos particulares o direito subjectivo de propriedade cede
excepcionalmente perante outro, ou seja, a ordem jurídica permite o particular a intervir
unilateralmente na esfera económica patrimonial de outrem de modo justificado nos termos
do Abuso do Direito da Propriedade(art.334º, do CC.) através dos Institutos de Escavações,
Relações de Vizinhança, Passagem Forçada Momentânea, Estilicido, Tapagem do Prédio,
Abertura de Varandas, Portas Semelhantes Sobre o Prédio (conteúdo negativo de Direito
Privado, art. 1344º; 1346º; 1348º; 1349º; 1352º; 1356º; 1359º; 1360º; 1362º; 1363º, nº 2 e
1472º, todos do Código Civil).
O direito de iniciativa privada é explicitamente considerado como Direito Económico e
não apenas como um princípio de organização económica.
Trata-se, porém, de um direito independente do direito de propriedade, pesem
embora as naturais conexões entre ambos, mas que goza de idêntica protecção. Ele traduz na
possibilidade de exercer uma actividade económica privada, nomeadamente através da
liberdade de criação de Empresas e da sua gestão.
Compreende como componentes a liberdade de investimento ou de acesso, a qual se
exprime no direito de escolha da actividade económica e desenvolver, a liberdade de
organização, ou seja, a liberdade de determinação do modo como a actividade vai ser
desenvolvida (incluindo a forma, qualidade e preço dos produtos ou serviços produzidos) e a
liberdade de contratação ou liberdade negocial, que compreende a liberdade de estabelecer
relações jurídicas e de fixar, por acordo, o seu conteúdo168.
O direito de iniciativa privada é um direito independente do direito de propriedade
visto que pode haver iniciativa económica não fundada na propriedade vice-versa. Exemplo da
primeira situação é o caso da exploração económica de bens do domínio públicos do Estado
por entidades privadas; (art. 38º, nº 2, 1ª parte da CRA), e, da segunda, a exploração de bens
privados por cooperativas; (art. 38º, nº 2, in fine). Contudo, na maioria das situações a
liberdade de iniciativa privada tem como suporte a propriedade privada.
É, portanto, natural que exista uma conexão funcional entre dois direitos169. O direito
de propriedade é um direito subjectivo digno de protecção legal pelo Estado art. 38º, nº 3, da
CRA.
4.10. Princípio do Dirigismo Económico
O Estado angolano orienta o desenvolvimento da economia, desde logo, esta ideia
cintilante de ordenação económica radica na obrigação do Estado de cumprimento dos
direitos económicos fundamentais previstos na Constituição Económica, bem como nos
instrumentos económicos Internacionais através do Plano.
O Plano no actual figurino assume um papel indicativo no âmbito do dirigismo
económico, em sede da economia de mercado e assente num modelo heterogéneo; (onde
encontramos os elementos estruturantes de um sistema económico colectivista moderado e
os traços essenciais de um modelo económico liberal pelos menos em termos jurídicos)170.

168
Cfr. Art. 38º da CRA e 405º do CC.
169
Cfr. AVV. DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS /GONÇALVES, MARIA EDUARDA/MARQUES, MARIA MANUEL
LEITÃO, – Direito Económico, 5ª Edição Reimpressão/2004, Pág. 42 e 46.
170
Cfr. PAHULA, OVÍDIO, – Evolução da Constituição Económica Angolana, casa das ideias 2009, Pág.140 e 141.
76
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Ora bem, o Dirigismo Económico - consiste em que, os poderes públicos ordenarem a
actividade económica aplicando o Direito previsto na Constituição Económica, como
expressão jurídica do sistema, nos ilustrados termos jurídicos legais dos artigos: 37º, 39º, 81º,
89º e 91º, da CRA.
Angola proclamou a economia de Mercado em 1992, mas antes, já o havia
manifestado, antecipado na Constituição Material de 1988171, tidas como inconstitucionais
por certos círculos da doutrina aquelas normas que proclamavam a economia de Mercado na
vigência da Constituição de economia socialista centralizada.
Todavia, o dirigismo económico é o exercício do poder que serve de instrumento
fundamental de regulação e transformação da economia por imperativos políticos-sociais da
comunidade.
Em todo caso, o dirigismo em Angola verificou de forma manifesto na vigência do
modelo de economia de mercado no tempo do conflito armado pós eleitoral de 1992, a dita
economia de guerra, como momento crucial de exercício, ou ponto mais alto de dirigismo em
Angola.
Entretanto, o dirigismo tradicionalmente comporta duas modalidades,
nomeadamente:
4.10.1. Dirigismo Produtivo
Dirigismo Produtivo é aquele que vai incidir na produção de bens e serviços ex:
estabelecimento das quotas de captura do pescado e respectiva veda em certas épocas de
algumas espécies com incidência no carapau e caranguejo, proibição de importação de
cimento produzido no exterior, entre outros que constituem manifestamente o dirigismo no
plano produtivo.
4.10.2.Dirigismo Burocrático
Dirigismo Burocrático é aquele que vai condicionar casuisticamente o comportamento
dos sujeitos económicos privados, ou fazendo depender de autorização prévia os seus actos
económicos mais significativos172. Ex: alvará comercial, licença para exercício da actividade de
transporte rodoviário público urbano e inter-provincial, licença para construção de imóveis e
etc.

4.11. Princípio do Fomento da Economia e da Protecção das Micro, Pequenas


e Médias Empresas
O desenvolvimento económico e social e a distribuição justa do bem-estar e qualidade
de vida numa economia de Mercado nunca estará completo enquanto esse desenvolvimento
não for realizado e protagonizado dominantemente pelos cidadãos, famílias e instituições
angolanas, públicas e privadas, quer em termos de iniciativas económicas quer da titularidade

171
Vide o Pacote legislativo do célebre, Programa de Saneamento Económico e Financeiro (S.E.F.).
172
Cfr. FRANCO, SOUSA – Nações de Direito da Economia, 1º Vol. Reimpressão, edição AAFDL Lisboa, 1982-1983,
Pág. 266 e ss.
77
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
do direito sobre os bens de produção e do consequente gozo, justa e socialmente
redistribuído das riquezas nacionais e do bem-estar social173.
Com efeito, um dos pilares do desenvolvimento deve assentar na livre iniciativa
privada nacional – dos cidadãos, das famílias e das instituições económicas angolanas.
Para o efeito, cumpre ao Estado criar e oferecer, segundo um princípio do tratamento
mais favorável, prioritário, ou preferencial, as condições jurídicas, materiais e institucionais
que contribuam para atenuar as desigualdades concorrenciais com investidores estrangeiros,
ao mesmo tempo que contribuam para fomentar sinergias entre investidores privados
nacionais e estrangeiros, dito de outra maneira, o fomento vai significar cidadania económica
(art.18º, da le nº 14/03, de 18 de Julho, Lei do Fomento do Empresariado Privado
Nacional)174.
Devemos assinalar que o fomento económico consiste numa actividade de promoção e
estímulo a actividade económica privada e de outros operadores económicos, de um lado, por
outro lado, a protecção das “Micro, Pequenas E Médias Empresas”175, pelo que, doutamente
compreende na tomada de medidas legais para privilegiar as minorias económicas
empresariais privadas176. Usa-se minorias económicas para significar maioria quantitativa de
empresários, mas, pequenos em termos de volume de negócios e lucros económicos e
financeiros.

173
Preâmbulo da Lei n.º 14/03, de 18 de Julho, Lei do Fomento Empresarial Nacional.
174
Vide as prescrições do Artigo 18º(Cidadania económica)
1. Os cidadãos angolanos podem ser beneficiários directos ou indirectos de apoios de fomento
empresarial, bem como titulares dos direitos concedidos, a título individual, conjunto, ou societário, nos termos
e condições seguintes:
a) Em nome individual na qualidade de proprietários únicos de uma empresa ou estabelecimento
agrário, comercial industrial em nome individual;
b) Em nome ou título familiar nos termos legais e regulamentares ou consuetudinários, conforme
for o caso, em função do tipo de regime da empresa estabelecida ou a estabelecer e dos direitos fundiários que
servem de base à actividade económica em causa.
2. Entende-se por propriedade de cidadãos angolanos, a título individual, a titularidade de um
direito real ou social de concessão de exploração, de exclusivo, ou de outra natureza, nos termos dos Códigos
Civil e Comercial, por uma pessoa singular que tenha cidadania angolana.
3. Entende-se por propriedade de cidadãos angolanos a título familiar a titularidade de um direito
real ou social, de concessão, de exploração, de exclusivo ou de outra natureza:
a) Co-titulada por vários cidadãos angolanos, quer sob a forma de empresa ou estabelecimento em
nome individual, quer sob a forma de um conjunto, ou associação não personalizada de cidadãos ligados por
relações de parentesco, quer sob a forma de sociedades de interesses familiares com capital social subscrito e
mantido a 100% por cidadãos angolanos que mantenham relações de parentesco entre si e como tal constituída,
designadamente sob os tipos de sociedade de gestão de património familiares, nos termos a regulamentar;
b) Co-titulada por cidadãos angolanos no interesse declarado da respectiva família, segundo as
regras do direito consuetudinário, aplicável aos apoios às actividades agrárias tradicionais e de melhoria das
condições técnicas de exploração, nos termos a regulamentar.
175
Apud, AVV. DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS /GONÇALVES, MARIA EDUARDA/MARQUES, MARIA MANUEL
LEITÃO, – Direito Económico - 5ª Edição Reimpressão/2004, Pág.148 e 149. A empresa consistia, na definição de
M. CAETANO, numa «organização em que se combinam o capital fornecido por pessoas colectivas de direito
público com a técnica e o trabalho para produzir bens ou serviços destinados a serem oferecidos no mercado
mediante um preço que cubra os custos e permita o funcionamento normal do empreendimento», sendo
entendido como uma espécie do género instituto público (MARCELLO CAETANO, Pág. 372 e 378).
176
Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Manual Elementar de Direito Público da Economia e da Regulação,
Almedina-2012, Pág. 95.
78
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Porém, certamente este princípio traduz-se num objectivo do postulado constitucional
que se prende com o papel activo do Estado a desempenhar na economia não estatal,
centrada numa óbvia ideia de estimular actividade económica e proteger os pequenos grupos
empresariais através das políticas fiscais, creditícias, taxa de juro bonificados, aval do Estado,
política agrícola, comercial e industrial. Como vem consagrado nos artigos 21º, al. c), p) e q);
89º; 90º e 91º, da CRA, a Protecção das Micro, Pequenas e Médias Empresas é alargada e
concentrada pela Lei ordinária nº 30/11, de 13 de Setembro.
Notadamente, este apoio visa a promoção de empresas nacionais em todos os
sectores de actividade económica mas sintomáticos, particularmente, para agro-pecuária, o
indústria extractiva e de transformação, comércio, financeira e o de serviços (art. 2º, da
LFEN), cujo sujeitos económicos da referida promoção elenca-se como Sujeitos promotores,
designadamente: O Estado, os Institutos Públicos Económicos e Fundos Públicos, as Empresas
Públicas; as entidades de Direito Privado, sob forma Associativa, ou Institucional e as
Cooperativas (art. 12º, LFEN).
Porem, esta promoção para sua materialização tende como base de um regime de
disciplina vincada no art. 3º, da LFEN, que densifica de certo modo o respeito aos
subprincípios de intervenção do fomento do empresariado privado nacional de acordo os
alinhados que se seguem:
a) Princípio da livre iniciativa e da concorrência dos sujeitos concessionários;
b) Princípio da livre negociação e concertação entre sujeitos promotores e
concessionários;
c) Princípio da publicidade e o do respeito pelo segredo comercial;
d) Princípio do tratamento preferencial dos sujeitos concessionários enquanto agentes
privados nacionais e parceiros para o desenvolvimento nacional;
e) Princípio da vinculação na consecução das metas assumidas;
f) Princípio da idoneidade e do mérito;
g) Princípio reitores da actuação administrativa;
h) Princípio da consagração de garantias.
Ora bem, portanto, o fomento empresarial comporta algumas modalidades que o
Estado sufragou para sua intervenção, ou seja, a intervenção do Estado nesta matéria
privilegia através dos seus adequados instrumentos económicos, formas de fomento do
empresariado privado nacional, como dizíamos, para promover a cidadania económica, temos
as seguintes tipologias de fomento; (art. 22º, da LFEN): Incentivos Ficais; Apoios Financeiros;
Apoio Técnico e Direitos, Privilégios e Garantias Patrimoniais Especiais.

4.12. Princípio da Defesa do Ambiente


Ambiente é definido «ipsis verbis» de acordo o calvinhado na Lei de Bases do
Ambiente de Angola Lei nº5/98, de 19 de Junho, - “Como um conjunto de sistemas, químicos,
físicos, biológicos e as suas relações e factores económicos, sociais e culturais com efeito
directo ou indirecto, mediato ou imediato sobre os seres vivos e a qualidade de vida do
homem”.

79
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
A Constituição angolana consagra no seu texto legal o Ambiente em numerosas
disposições que tratam directamente ou indirectamente de matérias ambientais, das quais,
podem ser reconduzidas a vectores binários constitucionais essenciais distintos como,
designadamente:
a)- Tarefas fundamentais do Estado, Direito do Ambiente; (art. 21º , al. m), da CRA) de
conservação e protecção da natureza, meio ambiente do espaço ecológico e património
cultural da humanidade, e;
b)- Direitos Fundamentais, ao Ambiente; (art.39º, da CRA), direito subjectivo público
de obtenção geral universal.
A tutela ambiental é um princípio económico integrado na Constituição Económica
como direito subjectivo público fundamental ao Ambiente, sem entrar em acesas e largas
porfias de controversas de doutrinas ambientais, porque não é nossa descrição neste manual
de sumários desenvolvidos de direito económico, por via disso, como estamos limitado em
sumários temáticos de abordagem, qualquer forma vamos tracejar sucintamente alguma
explicação pertinente sobre os direitos subjectivos ao ambiente para melhor nutrir o
entendimento deste princípio.
Ora bem, como lembra que os direitos subjectivos foram desenvolvidos pela primeira
vez na Alemanha pelo SAVIGNY, por via do direito administrativo, porque em Roma, ou seja ,
os romanos desconhecia os direitos subjectivos públicos177.
Os direitos subjectivos públicos vão desenvolver-se, a partir dos modelos históricos de
Estado liberal (do tipo concertado), Estado social (do tipo prestadora) e Estado pós - social178
(do tipo de infra-estruturas)179. Porém, é no Estado prestador que sofre grandes modificações,
aparição de novas funções do Estado e extensão das demais tarefas económicas, sociais e de
garantia do nível mínimo do bem-estar, conquanto, a par disso, vai surgir a proliferação de leis
e mais controlo em matérias de protecção do ambiente, encontra-se na sua opulência o
modelo social, que sucede o Estado de polícia para um Estado de previdência social.
Qualquer modo, o Estado com estas novas funções administrativas, desponta então o
Estado administrativo180. Onde se vai construir o Direito Administrativo, centrada na relação
jurídica administrativa, que se estabelece entre o Estado e os particulares, ou do Estado com
outros entes públicos abdicando o critério de estatuto, do súbdito e da norma protectora 181.

177
Cfr. CORDEIRO, ANTÓNIO MENEZES, «Teoria Geral do Direito Civil, Sumários das Lições dadas ao 2º ano
jurídico 1986/87, vol.I», Pág. 176. Refere que no direito romano, a pessoa que, nesse ordenamento, detivesse
uma posição favorável que lhe conferisse uma particular protecção do Estado, dispunha de uma “Acção”, isto é,
da possibilidade de, junto de um magistrado, obter uma injunção que, caso se verificassem os competentes e
alegados factos, habilitassem o juiz a determinar medidas concretas…
178
O Estado Social entra em crise a partir dos anos 70 e começa-se a discutir a crise do modelo de Estado social
como principais sintomas, ver com mais desenvolvimento vide o Prof. Doutor PEREIRA, VASCO DA SILVA, «Para
um Contencioso Administrativo dos Particulares». Pág.56.
179
Cfr. SILVA, VASCO PEREIRA da, «A Busca do Acto Administrativo Perdido», Pág. 74.
180
Ob. cit. Pág. 74 ss.
181
Cfr. MARIO, FRANCISCO – Relatórios de Mestrado Científico, - Direito Constitucional e Administrativo de
Ambiente 2013 FDU–Lisboa, Pág.12 e segts – neste sentido, esta relação entre a Administração implica, desde
logo, o reconhecimento dos direitos subjectivos dos particulares perante os Poderes Públicos, todavia, esse
reconhecimento não surge como uma opção abstracta, mas sim, surge como uma exigência da opção
constitucional concreta na ordem jurídica assente na dignidade da pessoa humana, cujos direitos fundamentais
vinculam directamente os Poderes Públicos.
80
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Desaparece aquela administração meramente agressiva para tornar-se uma nova modalidade
de relacionamento de carácter duradouro para além da vida e morte182.
Para o Prof. GOMES CANOTILHO, algumas constituições preocupam-se em consagrar
na sua carta magna o direito do ambiente invés do direito fundamental ao ambiente. Parece
não é o caso da Constituição Angolana, entende-se quanto esta matéria que o legislador
constitucional foi feliz ao consagrar no seu texto legal o “Direito Fundamental ao Ambiente,
como direito individual ao ambiente, já fora da lusofonia em alguns países como Alemanha,
Países Baixos e Finlândia, individualizando o ambiente como fim e tarefa do Estado e da
comunidade183.
Já LUÍS CARLOS BATISTA, doutrinador brasileiro, e também no mesmo sentido se
pronunciou a Prof. CARLA AMADO GOMES, de Lisboa, conhecidos pela tese franciscanismo
jurídico-ecocentrismo, ou direitos poligonais, não consideram o direito subjectivo do
ambiente como direito fundamental económico, pelo facto, não satisfazer o critério dos
elementos da relação jurídica, precisamente na dificuldade em determinar ou atribuir um
direito subjectivo a um sujeito, objecto e garantia no âmbito da relação jurídica. Pois, segundo
estes autores, os direitos em presença apresentam uma larga abstrariedade,
indeterminabilidade, quanto a tutela, legitimidade processual, responsabilidade, terminam

Além disso, os direitos subjectivos não resultam, exclusivamente da Constituição, podendo resultar de
um regulamento administrativo ou do acto administrativo (VASCO SILVA). E no caso angolano pode resultar de
um direito não escrito, ou de usos e costumes.
Para SAVIGNY, o direito subjectivo seria um poder de vontade. Tal poder deveria ser entendida, como
reconhecimento ao sujeito titular do direito, de um âmbito da liberdade independente de qualquer vontade
estranha.
.
Assim, MENEZES CORDEIRO define o direito subjectivo como uma permissão normativa específica
Por sua vez, MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, define o direito subjectivo, «como situação subjectiva, que resulta de
uma permissão de acção ou de omissão»
Para o Prof. Doutor JOÃO CASTRO MENDES, o direito subjectivo, é o poder conferido pela ordem jurídica para
prossecução de interesses. Por seu turno o MANUEL DE ANDRADE, entende que o direito subjectivo consiste
num poder ideal de vontade reconhecido pela ordem jurídica ao seu titular.
Para a doutrina perfilhada pelos administrativistas, tem defendido outra orientação sobre os direitos
subjectivos, assim, OTTO MAYER, define o direito subjectivo como o «poder de vontade, conferido ao sujeito
para seu benefício, delimitando a sua vontade conferido aos poderes da vontade dos outros sujeitos» . Mas
MAYER além de primeiramente negar a existência dos direitos subjectivos interroga-se no meio do caminho
quando foi interpelado pelo seu compatriota BUEHLER, e rejeita a sua proposta do direito subjectivo,
considerado que a ideia de um «poder sobre o Estado é uma concepção equívocas». Assim, segundo MAYER, «os
direitos subjectivos que nós procuramos, devem ser configurados como um poder sobre uma parcela dos
poderes públicos, que a ordem jurídica atribui ao seu titular para o benefício da sua vontade».
Já o Prof. MARCELLO CAETANO - diz que aparentemente um individuo podia ser titular de posições
jurídicas substantivas em face da administração, mas o conteúdo desses pretensos “direitos subjectivos” em
nada se distinguia das normas jurídicas objectivas, não sendo eles mais do que meros reflexos do direito
objectivo.
Finalmente, JORGE REIS NOVAIS entende que o direito subjectivo revela-se estruturalmente na
possibilidade de o particular se autodeterminar numa área juridicamente tutelado, que se traduz na
possibilidade de poder exigir ou pretender o comportamento (positivo ou negativo) ou de produzir
181
automaticamente efeitos jurídicos .
Depois desse desfibramento das teorias acima referenciadas, a nossa posição filia-se na tese ecléctica
formulada pelo Prof. MARCELLO CAETANO e JORGE REIS NOVAIS, pois que vai de encontro com a natureza
jurídica da dupla qualificação do direito fundamental ao ambiente como direito subjectivo e como estrutura
objectiva com conexão colectiva autónoma.
182
Ibidem. Pág. 76
183
Alemanha art. 20º. Finlândia. Art. 20º. Ob. cit. Pág. 16.
81
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
afirmando, que o direito subjectivo do ambiente é de fruição comunitária por carência
judicativa individual, podem colidir com outros direitos fundamentais, no exercício de um
direito fundamental por parte do seu titular pode chocar com exercício de outro direito
fundamental, por parte do outro titular (…), que o classifica de colisões próprias e
impróprias184.
Por seu turno, os Profs. FIGUEIREDO DIAS e VASCO DA SILVA, também partidários da
conhecida lógica antropocêntrica - os Fundamentalistas moderados, qualificam o direito ao
ambiente tal como descrito na Constituição, como direito subjectivo público, porquanto no
direito do ambiente, o particular é, pois, titular de direitos subjectivos públicos, que integram
uma relação jurídica administrativa multilateral -, todavia, esta relação jurídica Administrativa
consubstancia-se num vínculo abstracto e geral, ou individual e concreto, constituído entre
dois, ou mais sujeitos de direitos disciplinado por uma norma de Direito Administrativo, ou
por um acto individual e concreto, mediante o qual um dos intervenientes pode exigir de
outrem certa conduta positiva ou negativa185. Isto quer dizer em amiúde que, não tem apenas
como sujeito a Administração e o Poluidor (potencial ou efectivo) mas também na vítima da
poluição186.
Entretanto, o Direito objectivo é o sinónimo de complexo normativo que regulam as
condutas dos sujeitos da relação jurídica do ambiente. Mas o Direito ao ambiente na
dimensão (no sentido objectivo)187, é identitário do direito da colectividade, ou seja, aquela
que é titulada pela comunidade.
Já na Alemanha, a constituição de WEIMAR, considerou os direitos fundamentais como
factores de integração, de laço de união entre os cidadãos e o Estado, enquanto garantias
constitucionais de um sistema de cultura e de valores orientado à concepção unitária do povo
e do Estado e, portanto, inspirador de toda a ordem jurídica188.
Para o Prof. VASCO PEREIRA DA SILVA, diz que na dimensão objectiva, podem ser
decompostas em (i) norma de competência negativa, (ii) critério de interpretação e de

184
Cfr. AAVV, BATISTA, LUÍS CARLOS - «Revista de Direito do Ambiente e Ordenamento do Território nº 16-17»,
Pág. 145 e ss.
185
Cfr. MONCADA, LUÍS S. CABRAL DE - «A Relação Jurídica Administrativa» para um novo paradigma de
compreensão da actividade, da organização e do Contencioso Administrativo, Coimbra 2009. Pág. 14, 15.
186
Cfr. MARIO, FRANCISCO, Ob. cit. Pág. . 13. Neste sentido (…), a relação jurídica administrativa intersubjectiva
tem por conteúdo a disciplina de um direito subjectivo ou interesses da colectividade, para cuja defesa a ordem
jurídica atribui o poder ao respectivo titular e que se analisa numa pretensão dirigida ao outro sujeito da relação.
Aqui também pode ser requerido os direitos fundamentais potestativos públicos que corresponde ao poder de o
particular produzir unilateralmente e inelutavelmente efeitos jurídicos que se impõe a todos, pelos mesmos, ao
Estado - tendo em conta a soberania estadual e o respectivo monopólio do poder, poderá configurar-se ao lado
passivo como estado de «sujeição», e não como dever de suportação «obrigacional» mesmo que naqueles casos
em que o exercício do poder altere a ordem jurídica sem implicar formalmente uma alteração da esfera jurídica
do destinatário. Porém, os direitos fundamentais potestativos públicos ao ambiente constitui um mecanismo de
intervenção do titular de um direito na esfera alheia. Todavia, para protecção dos direitos fundamentais ao
ambiente lhes são atribuídos direitos de intervenção por via do mecanismo do procedimento administrativo,
assim como tutela judicial efectiva (seja pela via de recurso de anulação, seja pela via das acções de defesa de
direito de indemnização) no âmbito da responsabilidade civil extra - contractual da administração em matéria de
ambiente é alargada em responsabilidade objectiva, independentemente da culpa, isto significa funda-se no
dano.
187
O nosso realce.
188
Cfr. NOVAIS, JORGE REIS - «As Restrições aos Direitos Fundamentais não Expressamente Autorizados pela
Constituição», 2ª edição Coimbra editora 2010, Pág. 60 e ss.
82
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
conformação de toda a ordem jurídica, (iii) princípios de natureza prospectiva ou
programática189.
Daí que os direitos fundamentais, como normas objectivas, de dimensão institucional,
de decisão do valor e da socialidade que vão se confinar no instituto ou na instituição no valor
e na sociedade, ou seja, os direitos fundamentais se realizam através da instituição, no caso
flagrante no ordenamento jurídico angolano sobre titularidade dos direitos fundiários pelas
comunidades rurais nos termos do art. 98º, CRA e art. 22º, 23º e 37º, da Lei nº 9/04, de 9 de
Novembro, Lei de Terras. Mas com uma conexão autónoma, isto quer dizer que, as terras
tituladas pelas comunidades tradicionais, podem ser tituladas pelas famílias e
individualmente, nos termos do art. 22º, nº 2, da Lei de Terras de Angola.
Portanto, é na instituição que se realiza o direito objectivo que vai constituir a tarefa
fundamental do Estado como uma norma programática prevista na Constituição 190. Os
direitos fundamentais ao ambiente na sua dupla qualificação apresentam um lado jurídico
individual, enquanto garantem aos seus titulares a um direito subjectivo público, e um lado
institucional objectivo, enquanto garantias constitucionais e administrativas (art. 200º, da
CRA), no âmbito de liberdade juridicamente ordenados e conformados, pois que, neste
seguimento os direitos fundamentais surgem como direitos autónomos sem qualquer
dependência, complementaridade ou instrumentalidade, mas antes uma relação de
integração191.
Qualquer modo na seara jurídica discute-se a problemática da teoria dos direitos
difusos avançada por alguns autores, para qualificar os direitos fundamentais ao ambiente no
plano económico, por não se identificarem com as duas teses de direitos subjectivos e direitos
objectivos ao ambiente, que, claro são direito da cúpula dos direitos económicos.
Para esclarecer esta símile de controvérsias, vamos recuar no tempo para aferir a sua
paternidade, que segundo a história os direitos difusos tem a sua fonte jurisprudencial na
doutrina juspublicista italiana192, quando foi confrontada pela primeira vez com a legitimidade
de certas associações que em juízo pretendiam fazer valer um interesse “sui generis”,
tentando reagir contra actos lesivos ao ambiente, foi a partir daquele momento que se
começou falar dos direitos difusos.
Assim, na opinião da Prof.ª CARLA AMADO GOMES, da escola de Lisboa, defende (…) a
concepção de interesses difusos, se não é incorrecta, está saturada de ambiguidade, pelo que,
segundo ela, deve ser interpretada com muitas cautelas: porque em primeiro lugar, o
interesse de uso de um interesse colectivo não é difuso, mas individual; em segundo lugar o

189
Ob. Cit. Pág. 130. «…» (i) – competência negativa, função de repelir normas de conteúdo contrário,
permitindo o respectivo afastamento da ordem jurídica. Fiscalização da constitucionalidade. (ii) - os direitos
fundamentais possuem a natureza de princípios jurídicos que obrigam e enformam toda ordem jurídica, (…)
funcionam como critério de interpretação e integração de lacunas das normas jurídicas e tem carácter irradiante
com dimensão horizontal… (iii) - os direitos possuem uma dimensão prospectiva ou programática, que obriga os
poderes públicos actuarem de forma continuada e permanente para sua realização.
190
Vide normas programáticas na Constituição de Angola art. 21º, 85º, 89º e 98º, da CRA.
191
Ob. Cit. Pág. 61.
192
O conceito do interesse difuso resulta justamente da importação de uma criação jurisprudencial italiana -
“interessi difusi à fruição de bens da colectividade -, forjada para explicar o alargamento da legitimidade
processual a titulares de posições jurídicas substantivas diversas, quer do direito subjectivo, quer do interesse
legítimo, GOMES, CARLA AMADO - «O Risco de Modificação do Acto Autorizativo Concretizador de Deveres de
Protecção», Coimbra 2006, Pág. 120.
83
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
interesse difuso é uma fórmula processual que pretende aliar duas realidades antónimas, pois
que, a individualização de um interesse e a comunitarização de um bem de utilidades
indivisíveis; em terceiro lugar, e sobretudo, porque o interesse difuso, apesar das suas boas
intenções partindo de um propósito puramente processual, redunda numa construção
invertida de uma posição jurídica substantiva para a qual há que encontrar alguma
correspondência material193.
Conclui afirmando que o pecado do interesse difuso é o de veicular, a pretexto da
legitimação de uma intervenção procedimental ou processual destituída da base de
sustentação tradicional- interesse directo e pessoal-, a manipulação doutrinal no sentido da
sua substancialização, pois em última análise, diz que, a posição jurídica que justifica à figura
do interesse difuso é o de puro e simples interesse de facto, pois se de um direito subjectivo
se tratasse, entraria assim em cena a legitimidade tradicional, que corresponde, no plano
material, a um interesse individualizado e individualizável194. Mas antes, como evidência um
dos expoentes crítico deste entendimento doutrinal, o Prof. VASCO DA SILVA, defende que, é
preciso que se retorne à “infância difícil” do Contencioso Administrativo para que se perceba
o paradoxo então gerada da compreensão francesa do princípio da separação de poderes
vincada numa “promiscuidade entre Administração e a Justiça” aportada num Administrador-
Juiz, que era atentatório ao princípio de separação de poderes195, para censurar com
sublinhada nota a figura de interesses difusos, visto que, neste tipo de Administração, os
indivíduos eram vistos como meros objecto do Poder Público, ou seja, súbditos da
Administração Pública do tipo do modelo clássico de Estado Liberal196. É mister saber antes a
relação jurídica administrativa que serve do conceito quadro que vai explicar os vínculos entre
a administração e os particulares para podermos qualificar a natureza jurídica do direito ao
ambiente.
O que demonstra o distanciamento por similitude próximo dos interesses de terceiros
na doutrina alemã ter sido criadas nas relações poligonais com a Administração, na Itália
como já asseveramos, os interesses difusos nasceram como forma de superar a dicotomia
entre o interesse público e o privado, “tendo por conseguinte, segundo os seus defensores,
dizem eles possuem uma alma pública e um corpo privado” por protegerem uma série de
interesses pluri-individuais em áreas conexas (…), assim sendo tem sido definido o interesse
difuso - “como direito a paz pública, a segurança pública e ao meio ambiente” (RICARDO
RIBEIRO CAMPOS)197.

193
Apud. CUNHA, ILDA PORCILA, Interesse Difuso ou Direitos Subjectivos (Relatório de Mestrado em Ciências
Jurídicas FDUL 2009-2010), Fundamenta – se o Direito ao ambiente é um direito fundamental tanto em sentido
formal como material, na medida em que, como afirma o Prof. JORGE MIRANDA, todos os direitos fundamentais
em sentido formal soa-nos também em sentido material, mas o contrário já não se poderá afirmar,
diferentemente do entendimento do ilustre Prof. ASCENSÃO, JOSÉ OLIVEIRA DE para quem pode haver direitos
fundamentais em sentido formal que não sejam direitos em sentido material. Acrescenta na nota numero 30
citado o JORGE MIRANDA, ibidem, Pág. 11. A distinção entre os direitos fundamentais formais e materiais
remonta ao IX aditamento à Constituição Americana. Os formalmente constitucionais são os que estão
enunciados e protegidos por normas de valor constitucional, já os materialmente fundamentais são normas que
não tem força constitucional, porém são reconhecidos e protegidos em face das leis e normas aplicáveis por
parte do Direito Internacional. Pág. 11.
194
Ob. Cit. Pág. 120 e 121.
195
Cfr. SILVA, VASCO PEREIRA DA,- O Contencioso Administrativo no Divã da Psicanálise. Ensaio Sobre as Acções
do Novo Processo Administrativo», Almedina, Coimbra 2005, Pág. 49, 50 e ss.
196
Ob. Cit. Pág. 264.
197
Ob. Cit. Pág. 23
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Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
A Lei Fundamental não constatamos os interesses difusos, mas contudo em alguns
espaços jurídicos – legais refere-se minguamente dos interesses da colectividade, que muitos
autores amiudamente têm crismados de interesses difusos, que o Prof. JORGE MIRANDA os
classifica de direitos de interferência prevista na regra da norma (art. 9º, al. e);52º; 53º; 64º;
67º;78º e 90º, da Constituição da República Portuguesa e por nós aqui no nosso ordenamento
jurídico, os “direitos de interferência”198, encontram o assento no art. 21º ; 39º e 74º, da
CRA).
Mas não obstante a isso, na Lei do Consumidor consagra o interesse difuso, outro sim,
curiosamente uma norma processual que está prevista no art. 186º, al. d), da CRA, reporta
que o Ministério Público tem competência de defender os interesses colectivos e difusos para
abranger o demais direitos não previstos taxativamente no texto legal, bem como, segundo o
nosso entendimento construir uma clausura aberta processual análoga em homenagem ao
princípio da clausura aberta substantiva do art. 27º, da CRA.
Na nossa opinião, são realidades distintas que não se reconduzem a este esquema da
geografia jurídica do direito ao ambiente, pois que, é uma forma diferenciada, que a ordem
jurídica utiliza em diferentes técnicas de atribuir as posições jurídicas de vantagem, mesmo
que os resultados sejam iguais199.
Neste sentido, o constitucionalismo ambiental assume uma dupla dimensão subjectiva
e com conteúdo objectiva de conexão autónoma. Logo, vai se realizar através do Direito
Administrativo do Ambiente no plano interno e internacional, via Substantiva, Procedimental
e Contenciosa. Porque no Direito ao Ambiente, o particular é, pois, titular de direitos
subjectivos públicos, que integram uma relação jurídica multilateral, a qual não tem apenas
como sujeito a Administração e o poluidor (potencial ou efectivo) mas também na vítima da
poluição. Para protecção desses direitos que lhes são atribuídos direitos de intervenção no
procedimento administrativo, assim como tutela judicial efectiva (seja pela via de recurso de
anulação, seja pela via de acções de defesa do direito de indemnização) no âmbito da
responsabilidade civil extracontratual da Administração em matéria de ambiente é alargada
em objectiva responsabilidade independentemente da culpa, isto significa funda-se no dano,
ou seja, responsabilidade objectiva.
Pois que, aonde existe actividade económica suscita sempre o cumprimento das regras
ambientais, ou seja, onde existe actividade económica há possibilidade de ocorrer danos
ecológicos, patrimoniais e culturais. Daí que a tutela do ambiente é um valor constitucional
independente e hétero determinante dos comportamentos económicos dos agentes
económicos, que vai para além do planeamento e do desenvolvimento200.
Porque, por extensão, abarca a conservação e gestão dos recursos naturais e o
combate à poluição que se configura nos princípios do Direito do Ambiente, nomeadamente:

198
Entende-se como direito de interferência – na nossa modesta opinião, são aqueles que normalmente
obstaculizam ou interferem actividade de agente económico devido as exigências do cumprimento dos padrões
do direito do ambiente, consumo, saúde pública, etc., que antigamente não eram observados por inópia
legislativa. – Hoje ditos direitos difusos que o Prof. VASCO DA SILVA o considera inexistentes, por má qualificação
ou incapacidade intelectual do homem de os qualificar como tal, mas desenvolvimento ver VASCO PEREIRA DA
SILVA, Contencioso Administrativo, Divã da Psicanálise...
199
Ob. Cit. Pág. 120.
200
Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Manual Elementar de Direito Público da Economia e da Regulação,
Almedina editora-2012, Pág. 94.
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Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
- Princípio da Prevenção; previsto na al. c), do art. 4º, da Lei de Bases do Ambiente nº
5/98, de 19 de Julho;
- Princípio Precaução; previsto no nº 2, do art. 39º, da CRA, e ;
- Princípio do Poluidor Pagador; previsto na al. g), do art. 4º, da Lei de Bases do
Ambiente nº 5/98, de 19 de Julho.

4.13. Princípio da Defesa do Consumidor


Antes de mais, este princípio refere-se ao Direito do Consumidor e não defesa do
direito do consumo como tem-se confundido os termos na literatura jurídica menos avisada.
Mas qualquer modo, o Direito do Consumidor pertence a um passado recente da cultura
humana. Os registos históricos apontam a partir dos anos 30 do século XX conhecida por
grande depressão ou “grande Boom”, e, seguiram-se ritmos acelerados de desenvolvimento
empresariais de produção em massa de bens e serviços e, sua comercialização a nível
planetário tornou-se global, associados os avanços tecnológicos da informática, – como
lembra o Mestre RAÚL RODRIGUES da Escola Mandume-Lubango, citando ELSA DIAS DE
OLIVEIRA (…), diz que entrou-se na chamada sociedade de consumo ou de abundância201.
O princípio económico de defesa do consumidor visa limitar, prevenir eventuais abusos
nas relações de consumo. Conclui-se e reportando a síntese do doutrinador da escola do
Lubango RAÚL RODRIGUES, atento dois aspectos que tem singular importância,
designadamente:
1- A elevação da defesa do consumidor ao princípio constitucional colocando esta
matéria num lugar proeminência na economia nacional.
2- Qualquer norma contrária à defesa do consumidor é inconstitucional202….
O Princípio da Defesa do Consumidor tem assento na Constituição de Angola de 2010,
nos precisos termos do sublinhado art. 78º, da CRA; e é alargado pela Lei nº 15/03, de 22 de
Julho. No mercado de consumo existe um esquema contratual cujo conteúdo normativo pré-
elaborado está composta de uma série de condições gerais, formuladas de modo geral,
uniforme e abstracto203.
Por este raciocínio, por vezes o consumidor é elevado simplesmente a aderir (contrato
de adesão deve sempre respeitar os imperativos da disciplina das cláusula gerais dos
contratos, prevista na Lei nº 4/02, de 18 de Fevereiro, Lei Sobre as Cláusulas Gerais dos
Contratos).

201
Cfr. RODRIGUES, RAÚL CARLOS DE FREITAS, – O Consumidor no Direito Angolano, Almedina -2009, Pág. 22.
202
Ob. Cit. Pág. 54.
203
Ob. Cit. Pág. 186.
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Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Em razão disso, o legislador adoptou medidas especificas para equilibrar os interesses
económicos em causa (art. 15º, da LDC)204 e estabelecer proibições que, a não serem
requisitados dão causa à nulidade da matéria contravertida.
Para efeito a defesa do consumidor realiza-se através de mecanismo extrajudiciais,
Administrativos (art. 25º, da LDC) e jurisdicional, o qual a Lei especial confere a legitimidade
aos órgãos públicos designadamente, Ministério Público (art. 28º, al. d) da LDC), as
Associações de Defesa do Consumidor (art. 32º, da LDC) e qualquer interessado, impetrar em
juízo as acções administrativas, cíveis e inibitória (art. 20º, da LCGC)205 , Acção Popular; (art.
74º, da CRA)206 e penais tendentes à tutela de interesses individuais e colectivos dos titulares
do direito fundamental (do consumidor) constitucional económico associado ao respeito à
dignidade da pessoa humana207.
Na tutela dos direitos do consumidor no computo geral visa garantir os seguintes bens
jurídicos208:
1- Qualidade de bens e serviços;
2- Formação e informação;
3- Saúde;
4- Segurança de bens e serviços;
5- Interesses económicos;
6- Reparação dos danos;
7- Publicidade transparente.

4.14. Princípio da Delimitação da Actividade Económica e das Reservas


Públicas
A regra no Estado democrático de direito é de livre acesso à propriedade privada e
iniciativa empresarial nos sectores da actividade económica. Mas esta regra encerra
excepções através do presente Princípio da Delimitação da Actividade Económica e das
Reservas Públicas reportado, ou seja, consagrados no artigo 93º e seguintes da CRA.
Considerando que actividade económica é desenvolvida no âmbito da existência dos sectores
públicos, privados e cooperativos conforme garante a Constituição Económica angolana em
homenagem ao artigo 92º, nº 1, da CRA.
Entretanto o acesso a actividade económica é livre, mas como asseveramos esta
liberdade enclausura algumas excepções que delimitam as actividades do Estado que são
considerados de restrições e limitações.

204
Lei nº 15/03, de 22 de Julho, Lei da Defesa do Consumidor.
205
Lei nº 4 /02, de 18 de Fevereiro, Lei Sobre as Cláusulas Gerais dos Contratos.
206
Acção Popular, - não é um mecanismo processual autónomo, mas sim é o alargamento da legitimidade
processual para defesa da legalidade do interesse público.
207
Cfr. MAGALHÃES, CARLOS, – Defesa do Consumidor, a Responsabilidade Civil do Fornecedor, escolar editora
2010, Pág. 25 e ss.
208
Cfr. PAHULA, OVÍDIO, – Evolução da Constituição Económica Angolana , casa das ideias 2009, Pág. 126.
87
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Os direitos fundamentais económicos, ou seja, o acesso as actividades económicas
podem ser limitados e restringidos?
Seguramente, isto é, que vamos saber, partindo primeiro da valência doutrinal de cariz
constitucional lusa do Prof. MELO ALEXANDRINO, que de ponto vista dogmático hipotisa no
seu reportório que os limites – são grandezas negativas, que tanto podem estar enunciadas
numa norma constitucional, como numa disposição legal ou numa regra do caso (art. 164º, al.
c), da CRA), de um lado, por outro, os limites são grandezas positivas que tem de ser
protegidas (art. 165º, nº 1, al.) b); c); d); e; f); g); j); k); i); m); n); p); q); r) e t), da CRA209.
Para o Prof. REIS NOVAIS, as restrições em sentido estrito são situações normativas do
poder público (“leis restritivas”, na fórmula da nossa Constituição) modificativas do conteúdo
dos direitos fundamentais e que do ponto de vista da sua dimensão subjectiva, são
desvantajosas ou negativas para os titulares reais ou potenciais dos respectivos direitos.
Conclui este autor afirmando que, - “neste sentido estas restrições são normas que
suprimem, impedem, diminuem ou dificultam o acesso dos titulares ao bem jusfundamental
protegido e, nessa medida, afectam a prossecução autónoma de fins pessoais garantida
objectivamente pela titularidade daqueles direitos fundamentais210.
Trata-se de um prejuízo a liberdade económica de acesso actividade económica
lucrativa que pode resultar da própria Constituição que vai constituir uma mera
concretização/declaração de um conteúdo constitucional anterior, é o que acontece com o
acto Administrativo de Expropriação por Utilidade Pública, não é puro um acto constitutivo
de direitos, porquanto que já esta pré-configurado no ínsito no texto legal, art.37º, da CRA,
cabendo Administração Económica regular e operar de acordo aquele restrição económica
expressamente autorizada pela Constituição. Ou quando muito, por via judicial por ex. a
execução de divida dos bens a penhora também são exemplos deste tipo que vai o Estado
através do poder judicial decidir através de uma sentença ou intervir e restringir através do
processo executivo(art.46º, do CPC) de executar os bens económicos do devedor, mas sempre
ao respeito aos bens do domínio público ou de interesse público previstos no art.95º, nº2 da
CRA e art.822º e ss do CPC, pois estes são impenhoráveis. Apesar existir colisão de direitos de
conflitos deve-se salvaguarda-los, outrossim, persiste na faculdade do titular do direito
renunciar a iniciativa empresarial de actividade económica lucrativa ou da propriedade, aí
estaremos diante de auto- limitação ou restrição (auto-regulação) em detrimento da hetero -
limitação e restrição211.
Os limites dos direitos fundamentais económicos - são normas que, de forma
duradoura, excluem directamente os âmbitos ou efeitos de protecção ou que são
fundamentais susceptíveis de afectar as possibilidades de realização de normas
jusfundamentais.
Os limites, podem ser, segundo a construção de FRIEDRICH KLEIN, citado pelo Prof.
MELO ALEXADRINO, de dois tipos fundamentais: Limites de Garantias e Reservas. – os
primeiros fixam conteúdo que constitui o direito fundamental, os contornos do complexo de
conteúdos de que fazê-lo de forma expressa na norma constitucional de garantia ou ser

209
Cfr. ALEXADRINO, MELO, - Direitos Fundamentais, Introdução Geral, Principia editora 2011, Pág.123 Pág. 121.
210
Cfr. NOVAIS, JORGE REIS, - As Restrições aos Direitos Fundamentais não Expressamente Autorizadas Pela
Constituição, Coimbra editora 2010, Pág.227.
211
V.g., alguém atear fogo na sua propriedade, ou apostar no jogo de fortuna e azar e perder todo o seu
património a favor do Casino
88
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
deduzida da relação da sistemática do conjunto das normas constitucionais e podendo ainda
surgir no plano constitucional ou no plano da Lei ordinária (art.37º, da CRA). Os segundos
actuam sobre o complexo previamente delimitado, podendo também eles « constar na
própria Constituição( limites de reservas directos) como ser actuado por leis ordinárias,
medidas administrativas ou decisões judiciais fundadas imediata ou mediatamente na
Constituição (limites de reserva indirectos)212, (art.1309º e ss do CC).
Em termos condensados, são normas que excluem a protecção ou afectam as
possibilidades de realização de um direito económico fundamental, que podem ser os limites
de regras, ou de princípios, podem ser normas individuais, ou normas constitucionais ou
infraconstitucionais etc213. Quanto as restrições como forma de intervenção do Estado
(Legislador, Executivo e Judicial) num direito económico fundamental - que pode ser definida
como sendo a acção normativa que afecta desfavoravelmente o conteúdo ou o efeito de
protecção de um direito económico fundamental previamente delimitado214.
- O limite significa, uma norma, e;
- As restrições significa uma acção.
As restrições e limites ou as intervenções restritivas dos direitos económicos
fundamentais decorrem de uma excepção, com suporte legal, cujo regime jurídico-
constitucional esta reportado na Constituição, nos termos do art. 57º, da CRA, e art.29º, da
DUDH. No direito angolano, os limites dos direitos económicos fundamentais constitui no
âmbito das competências, reserva absoluta, pois compete Assembleia legislar sobre a matéria
(art. 164º, da CRA). já as restrições ou as restrições limitativas215 constituem no âmbito de
competência das reservas relativas art. 165º, nº 1, al.) b); c); d); e; f); g); j); k); i); m); n); p); q);
r) e t), da CRA.
Portanto, os direitos económicos de acesso actividade económica lucrativa, em regra
não podem ser limitados e restringidos, mas dessa regra opera uma excepção ventilada pelo
princípio de Abuso do Direito216, desenhado na Constituição, o que significa dizer, no caso
justificativo é admitido excepcionalmente ao Estado e aos particulares (tutela privada) 217,
fazer intervenções restritivas e limitativas218, dos Direitos Económicos Fundamentais em sede
do Abuso do Direito.
Em caso e duvida os direitos devem prevalecer sempre sobre as restrições (in dúbio
pro libertate) , isto significa que as leis restritivas devem ser interpretadas senão
restritivamente, pelo menos sem recurso à interpretação extensiva e à analógica219.

212
Apud. ALEXANDRINO, MELO, - A Estrutura do Sistema de Direitos, Liberdades e Garantias na Constituição
Portuguesa, Vol. II , Colecção Teses, Almedina editora 2006, Pág. 460.
213
Ibidem. Pág.122.
214
Ibidem. Pág. 123.
215
Existe diferença entre restrições e restrições limitativas de direitos económicos, mas desenvolvimento ver
ALEXADRINO, MELO, Direito Fundamentais Introdução Geral, Principia editora 2011, Pág.123.
216
Lei civil art. 334º do CC.
217
É o caso da intervenção restritiva do direito de Retenção, art.45º, da LGT.
218
Limite aos limites em última instancia tem como sua fonte de garantia à Lei vide art. 115º, da LGT. Ob. Cit.
Pág.727 e ss.
219
Cfr. MIRANDA, JORGE, - Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, 5ª edição Coimbra editora 2012. Pág.
421.
89
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Portanto, as limitações e restrições configuram-se na tríplice delimitação,
nomeadamente:
4.14.1.Reservas Absolutas
As reservas absolutas como consequência lógica da limitação do acesso aos direitos
económicos pelos Agentes Económicos, a Lei indica uma prescrição configurado no art. 93º,
da CRA. Todavia, através desta disposição legal, o legislador constitucional orienta quais das
actividades económicas são vedadas a outros Agentes Económicos, nomeadamente:
- Produção, distribuição de material de guerra art. 11º, al. a), da Lei nº 5/02, de 16
Abril.
- Actividade bancária, respeitante às funções do banco central e emissor art. 93.º da
CRA e art. 3º, nº 1 e 6º ,da Lei nº 16/10, de 15 Julho, Lei do BNA. E art. 11º , al. b), da
Lei nº 15/03, de 16 de Abril, Lei de Delimitação de Sectores da Actividade Económica.
- A propriedade das infra-estruturas relativas às actividades portuárias e
aeroportuárias; art. 11º, nº 2, al. c), da Lei nº 5/02, 16 de Abril.
- A propriedade das infra-estruturas que integram a rede básica de telecomunicações
art. 11º, nº 2, al. d), da Lei nº 5/02, de 16 Abril.
Dessas reservas absolutas nem é tudo é absolutamente vedado aos particulares,
porque por exemplo o previsto na al. a) do art. 11º, da Lei nº 5/02, de 16 de Abril, isto é, a
produção, distribuição e comercialização de material de guerra. O Poder Executivo angolano
excepcionalmente pode abrir a mão à esta actividade e ser desenvolvida por Empresas que
resultam da associação de sector público, em posição obrigatoriamente maioritária do capital
social, com outras entidades nacionais ou estrangeiros, desde que, disponham de exclusivos
de natureza tecnológica, ou detenham posição dominantes em Mercados Internacionais de
estrutura oligopolista em sector público que não tenham, por si só, capacidade de penetração
no Mercado angolano, nos termos do art. 11º, nº 3, da Lei nº 5/02, 16 de Abril. Portanto, a
reserva absoluta significa um acto normativo de limitação do acesso certas actividades ou a
titularidade de propriedade dos bens e serviços, como já referimos.

4.14.2.Reserva de Controlo
Neste segmento, a ordem económica qualifica certas actividades económicas como
reservas de controlo do Estado por serem de interesse público geral e do consumidor da
sociedade angolana de certos bens e serviços, e que, sua essencialidade consubstancia-se na
produção distribuição e comercialização de bens e serviços.
Contudo, o controlo pelos poderes públicos se impõe, conquanto, constituem reservas
de controlo do Estado as actividades económicas a seguir elencadas:
- Serviços básicos postais – art. 12º, nº 2 al. a), da Lei nº 5/02, de 16 de Abril.
- As infra-estruturas de dimensão local, quando constituem extensão de rede básica de
telecomunicações art. 12º, nº 2, al. b), da Lei nº 5/02, de 16 de Abril.
Portanto, a reserva de controlo que compreende as áreas acima destacadas podem ser
desenvolvidas por Agentes Económicos do sector público ou sociedades participadas com
capitais do Estado onde detenha posição privilegiada ou dominante nos termos do art.12º, nº
90
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
1, da Lei nº 5/02, de 16 de Abril. Conquanto que esta reserva de controlo pode ser
enquadrada na excepção do aceso actividade económica como restrições limitativas.

4.14.3.Reserva Relativa
O recuo do Estado, em bom rigor, não corresponde a uma verdadeira
«desintervenção» mas apenas a uma substituição de formas directas de intervenção
apostadas na figura do Estado produtor e até empresários por formas indirectas reportadas a
estas à mera fixação dos quadros normativos gerais da intervenção, mas sem dar ao Estado a
responsabilidade directa na produção .
A concessão da gestão de Empresas Públicas encarregados da gestão de serviços de
interesse económico geral a particulares sozinha ou em conjugação com outras concessões, é
uma técnica apropriada à posição actual do Estado social com preocupações
intervencionistas. Com efeito, o Estado não pode alhear-se da sua responsabilidade pela
prestação de um serviço de interesse geral mas não pode ignorar que o mercado e a
concorrência são hoje o mecanismo normal de articulação da decisão económica220.
A conciliação entre as duas linhas de força passa pela figura da concessão, centrada na
reserva relativa dos bens do domínio público do Estado. O Estado mantém a titularidade de
serviço que a Empresa proporciona, com os devidos poderes (regulatórios) de controlo e
fiscalização, e o concessionário gere efectivamente a Empresa por sua conta e risco e em seu
nome.
O concessionário tem o direito de gerir um serviço prestado através de uma Empresa
muito embora a responsabilidade pelo mesmo continue a ser imputável à pessoa colectiva
concedente, para o que esta conserva os indispensáveis poderes de controlo. Deste modo, se
evita que a alargada prestação de certos serviços seja o pretexto para um novo dirigismo
estatal e para o crescimento desmesurado das despesas públicas221.
Ao abrigo do disposto na dimensão da norma do art. 13º, da Lei nº 5/02, de 16 de
Abril, estabelece que constituem reservas relativas do Estado as actividades económicas
compreendidas nas seguintes áreas:
- Saneamento básico art. 13º, al. a), da já citada Lei nº 5/02, de 16 de Abril;
- Produção, transporte e distribuição de energia eléctrica para consumo público, art.
13º, al. b), da Lei nº 5/02, de 16 de Abril;
- Captação, tratamento e distribuição de água para o consumo público através de
redes fixas, art. 13º, nº2, al. c), da Lei nº 5/02, de 16 de Abril;
- Exploração de serviços portuários e aeroportuários art. 13º, nº 2, al. d), da Lei nº
5/02, de 16 de Abril;
- Transporte ferroviário, art. 13º, nº 2, al. c), da Lei nº 5/02, de 16 de Abril;
- Transporte aéreo regular de passageiros domésticos art. 13º, nº 2, al. f), da Lei nº
5/02, de 16 de Abril;

220
Ibidem.
221
Ibidem.
91
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
- Serviços complementares postais e de telecomunicações art. 13º, nº 2, al. g), da Lei
nº 5/02, de 16 de Abril, e;
- Infra-estruturas que não integram a rede básica, bem como os respectivos serviços
de telecomunicações art. 13º, nº 2, al. h), da Lei nº 5/02, de 16 de Abril.
Relativamente ao transporte colectivo urbano, exploração dos recursos naturais,
transporte aéreo internacional, o Poder Executivo deve determinar em que circunstâncias, por
razões de utilidade pública, o exercício da actividade privada deve ser feita mediante o
contrato de concessão, nos termos do art. 13º, nº 3, 4 e 5, da Lei nº 5/02, de 16 de Abril.

4.15. Princípio da Coexistência de Sectores de Propriedade


Os primeiros afloramentos deste princípio remontam na fase de transição, porém, ele
assume o estatuto constitucional (formal e material), pela primeira vez, na versão original da
Constituição Económica de 11/11/1975, vindo a ter um alcance restringido pelo predomínio
da propriedade socialista e do carácter residual e ancilar da propriedade privada na
Constituição Económica Socialista de 1978, para voltar a recuperar o seu alcance material
operado pela abertura material e a mobilidade da Constituição Económica socialista realizada
pela Lei nº 10/88, de 31 de Dezembro, entre outras leis do pacote legislativo do S.E.F.222,
Contudo, este princípio vinha já consagrado no artigo 10º, da Lei Constitucional, Lei nº 23/92,
com a seguinte redacção:
“O sistema económico assenta na coexistência de diversos tipos de propriedade,
pública, privada, mista, cooperativa e familiar, gozando todos de igual protecção…”.
Desta forma, a Constituição Económica da República de Angola de 2010, reduziu os
sectores de tipo de propriedade e privilegiou consagrar taxativamente os três sectores de
propriedade nos dispostos marcos do art. 92º, da CRA, que respiga o seguinte:
1. O Estado garante a coexistência dos sectores público, privado e cooperativo,
assegurando a todos tratamento e protecção nos termos da Lei.
2. O Estado reconhece e protege ao uso e fruição de meio de produção pelas
comunidades rurais, nos termos da Constituição, da Lei e das normas consuetudinárias”.

4.15.1. O Sector Público


O Sector Público em sentido jus-económico, restrito compreende - os bens de
produção cuja propriedade é titulada e gerida pelas Empresas Públicas (E.P)223, eram
anteriormente designadas de Empresas Estatais (U.E.E.)224, ou outros sujeitos, ius-económicos
que integram o S.E.E. (Sector Empresarial do Estado) hoje coordenado pelo “Instituto do
Sector Empresarial do Estado”. Em sentido lato, compreende igualmente os bens titulados
pelo Estado e também aqueles geridos sob concessão, cuja titularidade é do Estado.
O Sector Empresarial Público Angolano, é integrado por Empresas detidas pelos
capitais públicos, ou maioritariamente públicos e participações minoritários do Estado.

222
S.E.F. - Saneamento Económico e Financeiro.
223
E.P. – Empresas Públicas.
224
U.E.E – União das Empresas Estatais.
92
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Em sede desta classificação, vamos tecer algumas considerações detalhadas que
inicialmente se configura em construir a noção de Empresas e de Empresas Públicas, apesar
ser anódino o seu conceito mas vamos dar o jus nas tradicionais construções avançadas
pelos economista e jurista que se postula no seguinte alinhamento:
- Empresas - numa primeira aproximação poder ser definida, segundo ROGÉRIO
FERNANDES FERREIRA, como “unidade de meios humanos, materiais financeiros que,
actuando segundo imperativos decorrentes das leis do Mercado (economia de
mercado), ou do Plano (economia planificado), tem como objectivo, através da
produção de bens ou serviços, satisfazer necessidades, quer da comunidade em que se
encontrar inserida, quer dos que nela mesma participam com capital, direcção e
trabalho225.
Já ALFREDO DE SOUSA, escreveu: «por Empresa, entende-se qualquer organização que
utiliza factores produtivos primários, bens e serviços escassos, para transformação em outros
bens e serviços; essa transformação constitui uma produção». Conclui este autor dizendo que,
“a Empresa é um Agente Económico que utiliza factores produtivo e imputs e produz um
outputs226.
Entretanto, no pequeno panorama como se vê, o conteúdo de Empresa no figurino
de Mercado encontra-se definido e, pode-se afirmar como uma linha doutrinaria quebrada,
desta feita, parece legítimo prosseguir para o conceito de Empresas à luz de três critérios
sufragados , designadamente: (i)das participações sociais na constituição do capital detida
pelo Estado(critério do capital social),(ii) do âmbito territorial(território) e (iii) critério de
volume de negócios ou dimensão .
Qualquer modo no primeiro critério, as participações sociais detidas pelo Estado
constituem o “numerus clausus” de participações de capitais públicos que vai determinar
natureza da Empresa e sua classificação e denominação subjacente as Empresas detidas pelos
Estado em termos de intervenção do Estado na Economia Empresarial.
As Empresas Públicas, podem ser classificas de acordo o critério titularidade ou as
participações nos fundos que constituem o acervo patrimonial, ou seja, o capital social. Por
essa via a Lei do Sector Empresarial Público do Estado art. 2º, da Lei nº 11/13, de 3 Setembro
definiu, como já dissemos, o “númerus cláusus” densificada numa classificação das Empresas
nos seguintes termos:
4.15.1.1.Empresas Públicas
Empresa Pública - pode ser definida como, «uma unidade económica criada pelo
Estado, através dos mecanismo legais formado por capitais próprios, ou financiados pelas
entidades públicas, cujo escopo é a produção, distribuição e comercialização de bens e
serviços, visando a prossecução do interesse e o desenvolvimento nacional estratégico»227,
art. 3º, da LBSEP, ex: TAAG; ANGOLATECOM; PORTO DO NAMIBE; CAMINHO D FERRO DE
MOÇÂMEDES; ENANA; SONANGOL; etc228.

225
Apud, ABREU, JORGE MANUEL COUTINHO DE, - definição de Empresas Públicas, Separata do Vol. XXXIV
Suplemento ao Boletim da Universidade da Faculdade de Direito de Coimbra, 1990, Pág. 30.
226
Ibidem, Pág. 31.
227
Definição entre aspas também é nosso.
228
Organização e estrutura das Empresas Públicas vide Lei nº 11/13, de 3 Setembro.
93
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
4.15.1.2.Empresas com Domínio Público
Empresas Com Domínio Público – são aquelas unidades económicas criadas pelo
Estado, sob forma de sociedades comerciais , art. 4º da LBSEP, cuja actividade por ele
desenvolvida é disciplinado pela Lei das Sociedades Comerciais229, vide o art.2º da LSC, ex.
BCI, BPC, BAI, etc. Criação de Empresas.
A iniciativa de constituição de uma Empresa Pública ou com domínio público cabe:
Para as empresas de interesse estratégico, ao Titular do Poder Executivo, ouvidos o Ministro
responsável pelo Sector Empresarial Público e o Ministro responsável pelo Sector de
Actividade da Empresa, ou por iniciativa destes; nos termos do art.12º, da LBSEP e para as
restantes Empresas Públicas e de domínio público, ao Ministro responsável pelo Sector de
Actividade ou ao Governador Provincial, com o aval do Ministro Responsável pelo Sector
Empresarial Público.
Importa realçar que neste domínio, o Poder Economico Angolano pode criar unidades
económicas (Empresa de interesse estratégico) nos termos autorizado pelo art.13º, da LBSEP,
mas sem descurar ao respeito do plasmado na Constituição no art.95º, sobre as reservas do
domínio público, todavia, a proposta de criação de uma Empresa Pública, ou com Domínio
Público, deve incluir um estudo de viabilidade técnica(art.14º, da LBSEP). Pois que, neste
sentido as Empresa Pública ou com domínio público, como sendo de interesse público
estratégico visam entre outros aspectos económicos, ex vi lege, art.13º, da LBSEP, os
seguintes:
(i) Inserção em sectores de actividade de reserva relativa ou absoluta do Estado;
(ii)Titularidade de infra-estruturas de domínio exclusivo do Estado;
(iii)Importância para o cumprimento dos objectivos fundamentais do programa de
desenvolvimento do País;
(iv) Prestação de serviços e a produção de bens de utilidade pública, e;
(v)Volume de investimentos efectuados ou previstos pelo Estado.
Para todos efeitos para alcançar estes objectivos económicos além do prévio estudo de
viabilidade económico deve-se observar os princípios orientadores do Direito Economico,
(art.13º, da LBSEP), nomeadamente:
a) Princípio da Gestão de Bens e Serviços com Qualidade Comprovada;
b) Principio de Eficiência Económica;

229
A tipologia das sociedades no ordenamento jurídico angolano a luz da Lei nº 1/04 de, 13 de Fevereiro,
definido no art. 2º da LSC, são as seguintes:
1- Sociedades por comandita por acções; (Comanditas por Acções);
2- Sociedades por comanditas simples; (Comanditas Simples);
3- Sociedades em nome colectivo; (& Cª. ou Companhia);
4- Sociedades por quotas; (Lda.), e;
5- Sociedades anónimas; (S.A.).
6- Sociedades cooperativas.
E sociedades comerciais unipessoais Lei nº 19/12, de 11 de Junho. Classificam-se nos termos do art. 2º as
seguintes tipologias de sociedade:
a) Sociedades quotas (Lda. «SU»).
b) Sociedades anónimas (S.A. «SU»).
Por conseguinte estão vedados a constituir ou transformação os previsto no art. 17º , da LSU.
94
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
c) Princípio da Gestão por Objectivos, ou pelo Valor, e;
d)Principio de Eficácia.
4.15.1.3.As Participações Públicas
Participação Públicas Minoritárias - referem-se àqueles situações em que o
conjunto das participações detidas pelo Estado ou outras entidades como accionista
ou sócio cuja participação em termos da percentagem do capital social ser
minoritários, art. 5º da LBSEP, ex. PAVITERRA, BANCO SOL, BCP, MILLENIUM-
ATLANTICO, BANCO ECONOMICO, BFA, etc.
Por conseguinte, já o outro critério de classificação das Empresas com Capitais
Públicos, reside o seu âmbito territorial que não obsta que a mesma Empresa seja
concomitante congruente aos dois critérios, apesar do nosso legislador ainda não ter
disciplinado em termo legais o regime e que em termos operativos deve vincular,
portanto, tem-se verificado uma controversa e de crispação nas relações verticais
horizontais configuradas na relação de infra - subordinação e supra - ordenação entre
o Poder Político ao Nível Central e Poder Central Desconcentrado(Administração
Local, precisamente Provincial) e o Poder Económico( titulada pela Direcção da
Administração do Sector Empresarial Público do Estado) por indefinição dos Institutos
Administrativos de Superintendência e Tutela nas suas diversas vertentes.
Assim sendo, as Empresas de Capitais Públicos integradas nas seguintes categorias:

4.15.2.Sector Empresarial de Âmbito Nacional


Empresa Públicas de Âmbito Nacional - nesta classificação, podemos fazer menção às
empresas (E.P), como a SONANGOL, TAAG, EDIAMA, ENANA, ENSA, ENDE; estas empresas são
constituídos através de competências partilhadas entre o Titular do Poder Executivo e os seus
Órgãos Auxiliares, isto é, inter aliás, a Constituição efectiva-se sob iniciativa do Titular do
Poder Executivo e sob proposta do departamento ministerial(Ministério) do ramo de
actividade económica em que vai desenvolver a referida actividade e do departamento
ministerial dos assuntos económicos (Ministério da Economia) nos termos do art.12º e 40º, da
LBSEP), cujo provimento e destituição dos seus órgãos sociais compete o Titular do poder
executivo (art.119º e 120º, da CRA).
A sua extensão nas Províncias e Municípios decorre no âmbito do princípio da
desconcentração administrativa em sede da delegação de poderes da direcção central, ou
seja, a sua subordinação configura-se na verticalidade nos aspectos de gestão financeira,
administrativa e prestação de contas, deixando de algum modo a Administração Local sem
poder de actuação sobre esta ou aquele Empresa Pública de âmbito nacional instalada
naquele circunscrição territorial da Província.
4.15.3. Sector Empresarial Regional
Sector Empresarial Regional– entende por maioria da razão que em Angola de facto e
não de direito a divisão das regiões económicas compreende o pontos cardinais da geografia
física que comporta a região norte centro e sul, onde estão agrupadas algumas Empresas
Públicas Regionais, (v.g. Caminhos de Ferro de Luanda, Caminhos de Ferro de Benguela e
Caminhos de Ferro de Moçâmedes).

95
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
4.15.4.Sector Empresarial Local
Sector Empresarial Local - que integra as Empresas Provinciais e, de algum modo,
Municipais (v.g. Porto de Cabinda, Luanda, Lobito, Namibe, Empresas das águas, Emutrac
(E.P.) – Lubango) .

Quanto ao critério do volume de negócio ou sua dimensão, as Empresas podem ser


classificadas :
4.15.5.Micro Empresas
Aquelas Empresas de expressão individual ou familiar sob forma de sociedades
comerciais unipessoais ou em nome colectivo;
4.15.6.Pequenas Empresa
São aquela Empresas individuais que tem mais de 3 três trabalhadores, sob forma de
sociedades por quotas ou outra mas não sob forma de sociedades anónimas ;
4.15.7.Medias Empresas
Aquelas Empresas que tem um volume de negócio considerável constituídas sob
forma de uma sociedade por quotas, ou quaisquer outro tipo societário mas com numero de
trabalhadores não superior a 500 trabalhadores.
4.15.7.Empresas de Grande Dimensão ou Estratégicas
São as Empresas de capital social superior USD:20.000,00(vinte mil dólares
americanos) equivalente em kwanzas e que o número de trabalhadores são superior à 500
efectivos, e por conseguinte, são estratégicas quando são tituladas pelos activos do Estado
com fins, como diz o próprio nome, de realizar estratégias económicos do Estado ao nível da
economia interna ou internacional, ex. TAAG, SONANGOL, PORTO DE LUANDA…,AGOL-
TELECOM, ENANA e etc., são exemplos pragmáticos de Empresas de grande dimensão e
simultaneamente estratégicas. Já por exemplo o OMATAPALO, COCA-COLA, BANCO – BIC, são
Empresas de grande dimensão com volume de negócios expressivos e com mais de 500
trabalhadores sem escopo de estratégia assinalável se quer para o interesse do Estado.
4.15.8. Contratos Económicos
Actividade económica de exploração de bens do Estado, por exemplo, CFM, TAAG,
PORTO DO NAMIBE, podem ser confiadas parcialmente ou totalmente a entidades privadas
ou públicas com observância à disciplina definido na Delimitação de Sector de Actividade
Económica, (art. 92º, da CRA, e da Lei nº 5/02, 16 de Abril, para desenvolverem actividades
económicas lucrativas, consubstanciadas nos contratos de concessão ou gestionária.
Os contratos de concessão são contrato económicos aprovados previamente pelo
Titular do Poder Executivo art. 6º, nº 6, e devem observar o regime da Contracção Pública230,

230
A contratação pública está sujeita a seguintes modalidades nos termos da referida Lei art. 23º, da LCP:
a) Concurso Público – que consiste no sistema aberto, em que elevado valor das aquisições envolvidas
ou por outras razões materiais, podem concorrer todas as entidades, públicas ou privadas,
nacionais ou estrangeiras que reúnam os requisitos exigidos em abstracto, no aviso ou no
programa;
96
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
previsto na Lei nº 20/11, de 7 de Setembro. Vamos tratar a seguir a descrição dos contratos
económicos e as convenções e os contratos económicos de concessão.
Em si mesma, a política de incitamento económico liga-se às orientações actuais em
que o Estado procura levar os Agentes Económicos a comprometerem-se em determinadas
direcções. Emprega hoje em dia, para isso, largamente o processo do acordo convencional. As
ilustrações disso são diversas. Algumas estão muito próximas, pelo seu objecto, dos contratos
de que acabamos de falar. Outras fazem surgir objectos mais particulares.
A noção de «Contratos Económicos» - pode ser definido como sendo aqueles que
constituem um meio de o Estado pôr em prática as suas políticas económicas, tendo como
objectivo assegurar a coerência dos comportamentos das Empresas com aquelas políticas.
Trata-se de contratos de atribuição, que têm por causa-função a atribuição de uma certa
vantagem ao contratante da Administração, celebrados com fins de intervenção
económica231.
Esses contratos assumem características especiais que têm levado a que se ponha em
dúvida a sua natureza de verdadeiros contratos. Essas duvidas resultam, essencialmente, do
facto de haver em regra lugar à celebração de contratos económicos quando as Empresas
interessadas preencham os requisitos previamente fixados na Lei, o que faz com que o
princípio da autonomia da vontade inerente à liberdade contratual, fique por isso limitado.
Acresce que a decisão de celebrar ou não o contrato depende das autoridades administrativas
competentes para apreciar se as Empresas reúnem ou não as condições necessárias exigidas
por Lei.
No entanto, a favor da natureza contratual, verifica-se que este tipo de contrato
apresenta como traço comum, a aceitação pelas empresas de certas obrigações em
contrapartida de prestações a que o Estado por seu lado se obriga. Essas obrigações vêm a
constar de um acordo assumido livremente. É do contrato e não da Lei que resultam as
obrigações para as Empresas; para além disso, uma vez celebrado , não pode o Estado alterar
ou rescindir unilateralmente as disposições contratuais, a não ser com fundamento em
incumprimento da outra parte.

b) Concurso limitado por prévia qualificação – consiste no sistema aberto, mas que exige uma prévia
selecção(procedimentalizada ou não) das empresas pela entidade contraente.
c) Concurso limitado sem apresentação de candidatura – é um sistema de contratação pública em que
a entidade contraente convida as pessoas singulares ou colectivas que considera idóneas e
especializadas, para apresentarem as suas propostas.
d) Procedimento negociado – é um sistema de contratação pública que consiste no convite aos
interessados, em geral ou limitadamente, para apresentarem as suas candidaturas ou propostas
depois de analisadas e valoradas são objecto de discussão e negociadas com entidade contraente, a
fim, de harmonizar com interesse público…
Os concorrentes geralmente devem apresentarem o caderno de encargos – o caderno de encargos pode
ser definido num contrato administrativo como um o conjunto de documentos escritos que determinam as
condições do contrato. Este conjunto é complexo e a nomenclatura dos documentos que o constituem
conheceu alterações de aplicação. Ela compreende actualmente:
1º Documentos gerais, que são o caderno das cláusulas administrativas gerais.
2º Documentos particulares, que o caderno das cláusulas administrativas particulares, vide, ANDRÉ
DE LAUBADÈRE, ibidem.
231
Ibidem.
97
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Não obstante, talvez se esteja mais próximo da realidade se se admitir que se trata de
contratos especiais, que integram elementos de direito público e elementos de direito
privado.
Se, em todos os casos, se trata de acordos, não parece todavia que se possa sempre
falar de contratos, segundo CABRAL DE MONCADA, o «Contrato da Administração
Económica» - é um acto administrativo preparatório que serve de ponto de partida a um acto
administrativo que culmina com a aplicação à entidade privada de um regime legal ou
regulamentar. O dispositivo convencional não tem efeitos contratuais, por exemplo as
convenções sobre os benefícios fiscais .
Por conseguinte, os Contratos Económicos tem estrutura sinalagmática genético e
funcional é que lhe torna apto à função conformadora da actividade económica e cujos
sujeitos são o Estado e o empresário privado ou cooperativo, ou ente público autónomo, de
que objecto do contrato, consiste na execução pelos Agentes Económicos de um programa
de actividades económicas previamente negociado com Administração Pública, tendo como
regime jurídico dos contratos económicos, esquematiza-se como um regime misto e
aproxima-se nos contratos comuns.
Os Contratos Económicos em caso de litígios geralmente elegem o foro comum nos
termos do art. 66º, do CPC ou jurisdição voluntária nos termos disciplinado pela Lei da
arbitragem voluntária; (Lei nº 16/03, de 25 de Julho). Portanto tem como efeitos económicos,
baixa de preços ao consumidor, melhora a qualidade dos produtos, poupa as despesas
públicas e cria emprego e desenvolvimento sustentável.
Podemos em primeiro lugar, mencionar contratos muito comparáveis aos contratos de
realização dos objectivos intervencionistas, mas, marcados pelo objectivo iniciativo em vista
do qual eles são concluídos. A marca própria que o objectivo assim prosseguido imprime a
estas convenções não as impede de constituir, como os precedentes, verdadeiros contratos.

4.15.8.1. Modalidades dos Contratos Económicos


4.15.8.1.1. Contratos-Programa
Tratam-se de contratos que têm como objectivo principal permitir a execução de um
plano, apesar de poderem ser utilizados na prossecução de outros objectivos não
relacionados com o plano (por exemplo em matéria de política ambiental). Caracterizam-se
por conterem um programa amplo e escalonado no tempo, de actividades ou acções a
desenvolver e de resultados à obter pela Empresa ou empresas contratantes, nos termos do
Decreto nº 78/01, de 19 de Outubro, Contratos Programas entre o Estado e as Empresas
Públicas.
4.15.8.1.2.Contratos de Desenvolvimento em Geral
São acordos celebrados entre o Estado e uma ou mais empresas, mediante os quais
aquele se compromete a fornecer estímulos e auxílios de vária ordem, tendo como
contrapartida por parte das empresas, as iniciativas de organização e investimento nacional
ou regional definidas para o domínio específico da actividade a que respeitem.

98
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
4.15.8.1.3.Contratos Fiscais
São acordos em que o Estado confere uma vantagem fiscal a troco de um projecto de
investimento considerado importante na perspectiva de interesse geral. Outros Contratos
Económicos: para além das formas contratuais acima referidas, há diversas outras
modalidades mais ou menos típicas, como sejam os “quase-contratos” vide a Lei nº 14/15, de
11 de Agosto, Lei do Investimento Privado.

4.15.8.1.4.Contratos de Auxílio Financeiro


São também considerados os “quase-contratos” por serem actos pelos quais as
Empresas se obrigam perante a Administração a conformar-se com objectivos de política
económica do Estado e este a examinar favoravelmente os pedidos que aquelas lhe dirijam,
relativos à empréstimos, dispensa de formalidades administrativas…, a vide a Lei nº 14/03, de
18 de Julho, Lei do Fomento ao Empresariado Nacional.
4.15.8.1.5.Contrato de Incitação
São contratos de colaboração entre a Administração os Agentes Económicos com
objectivo de prossecução do interesse público, ex.: PAPAGRO com Banco BPC, para operar na
compra de títulos de crédito de mercadorias dos agricultores rurais, contrato de licença de
importação da quota pescado de carapau concedida aos armadores de pesca pelo Ministério
das Pescas em função das medidas de veda da pesca do carapau nas águas angolanas para
efeitos de reprodução do viveiro daquele espécie marina, contratos fiscais de benefícios
fiscais ou de deduções ficais e acordos fiscais para importação de certos produtos para
agricultura, pesca e industria de construção, facilidades do programa do BUE, constituem uma
ilustração particularmente interessante dos contratos de incitamento económico.
4.15.8.1.6.Auxílios de Estado
os auxílios consistem basicamente em prestações da Administração pública a favor de
actividades de interesses geral desempenhadas por Agentes Económicos que lhe são
estranhos. Visam criar estímulos à prática ade certos ou ao desenvolvimento de uma dada
actividade no quadro de um conjunto de objectivos definidos pela Administração,
normalmente constante de um plano.
Em função do conteúdo esses auxílios assumem diferentes formas tais como:
a) Ajudas Financeiras
Podem ser agrupadas em três grandes tipos:
(i)- Entregas directas de verbas aos beneficiários (subsídios de exploração; subsídios de
equipamento; subsídios para garantir o rendimento, etc.);
(ii)- Renúncia de crédito (situações em que o Estado aceita a não remuneração de
capitais públicos aplicados em Empresas, ou renuncia o direito à participações em lucros que

99
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
lhe sejam devidos ou ainda, permite o não cumprimento das obrigações legais por parte dos
subvencionados232,e,
(iii)- Utilização dos mecanismos de crédito (incluem-se aqui a concessão directa de
empréstimos, simples bonificação ou garantia. Ex.: o Aval);
b) Benefícios ou Subscrições Fiscais
Ao benefícios fiscais - traduzem, de um ponto de vista substancial, uma transferência
de fundos através da abstenção de tributar e podem consistir, de acordo com um estudo
efectuado pela OCDE, em desagravamentos fiscais - rendimentos não compreendidos no
campo de incidência tributaria; reduções fiscais - somas deduzidas do rendimento bruto para
chegar ao rendimento colectável; créditos de imposto - somas subtraídas ao imposto devido,
e desagravamentos especiais da taxa - redução da taxa de imposto a favor de certos grupos
ou actividades;
c) Assistência Técnica
Assistência técnica do Estado poder ser no âmbito da formação, workshops,
seminários, palestras, cursos de curta duração para capacitar os Agentes Económicos, ex. os
curso de INAFOP, INAPEM, bem como estruturação em termos funcionais, organizacionais e
gestão da Empresa através deste mecanismo.
d) Em determinadas Circunstâncias a Participação Pública no Capital das
Empresas
Em determinadas condições ou circunstâncias económicas uma Empresa Privada
poderá ser capitalizada ou recapitazada para fins de assegurar os objectivos económicos essas
circunstâncias podem ser de natureza falimentar ou insolvência, crise económica e financeira
e política.
4.15.9.Contratos de Concessão
Como dissemos no outro lugar que o recuo do Estado, em bom rigor, não corresponde
a uma verdadeira «desintervenção» mas apenas a uma substituição de formas directas de
intervenção apostadas na figura do Estado produtor e até empresários por formas indirectas
reportadas estas à mera fixação dos quadros normativos gerais da intervenção mas sem dar
ao Estado responsabilidade directas na produção233.
A concessão da gestão de Empresas Públicas encarregados da gestão de serviços de
interesse económico geral a particulares sozinha ou em conjugação com outras concessões, é
uma técnica apropriada à posição actual do Estado social ou pós-social com preocupações
intervencionistas. Com efeito, o Estado não pode alhear-se da sua responsabilidade pela
prestação de um serviço de interesse geral mas não pode ignorar que o Mercado e a
concorrência são hoje o mecanismo normal de articulação da decisão económica.
A concessão pode ser definida segundo CABRAL DE MONCADA234, como uma forma de
colaboração da Administração com os particulares na realização de infra-estruturas públicas e

232
Cfr. o caso do micro crédito concedido pelas instituições financeiras não bancarias através do BUE e
operadas pelo BPC- banco de capitais públicos no ano de 2012, não foram restituídos aos cofres do Estado ou
tido como fundos perdidos poderá se configurar nesta sede do instituto de ajudas financeiras do Estado.
233
Ibidem.
234
Ibidem.
100
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
na prestação de serviços que desonere parcialmente o Estado do financiamento respectivo.
De facto, a gestão privada de um bem público implica a sua reversão para o sector privado da
economia.
É por razões várias que o Estado, pela via de um monopólio de direito (monopólio
natural, de consumo, produção, distribuição de bens e serviços), reserva para si determinadas
actividades económicas, suprimindo em relação a elas a concorrência privada. Um
determinado número de grandes monopólios de Estado foram naturais e institucionais
porque só o Estado que pode produzir esses bens e serviços por motivos financeiros que os
particulares são incapazes ou por motivos de soberania do Estado e interesse público,
nomeadamente, monopólios fiscais, moedas, radiodifusão-televisão, portos, aeroportos,
caminhos de ferro, arsenal militar, forças armadas, polícia, Tribunais judiciais... Outros ainda
por razões administrativas, registo e notariado, capitanias, electricidade235.
A concessão é uma forma de colaboração da Administração com os particulares na
realização de infra-estruturas públicas e na prestação de serviços que desonere parcialmente
o Estado do financiamento respectivo. De facto, a gestão privada de um bem público implica a
sua reversão para o sector privado da economia.
Os modos segundo os quais a Administração pode celebrar os Mercados Públicos que
constituem o aspecto do regime jurídico destes contratos que deu lugar à mais flagrante
evolução. Deste modo, a questão essencial é a do grau de liberdade de que dispõe a
Administração na escolha do empresário ou do fornecedor com o qual pretende tratar. A este
propósito, duas grandes modalidades se opõem: o Mercado negociado e por adjudicação
pública. No Mercado negociado, a Administração trata livremente com o contratante da sua
escolha, pelo contrário, a adjudicação pública é caracterizada pelo automatismo da atribuição
do Mercado ao empresário ou fornecedor que consinta na aceitação das condições mais
favoráveis à Administração236.
Geralmente, estas concessões como defende LAUBADÈRE, na França, dizem respeito à
economia e, por conseguinte, ao Direito Público Económico. No entanto, não as podemos
estudar todas aqui, limitar-nos-emos à concessão de serviço público, que é a mais clássica, a
mais importante e se relaciona particularmente com o Direito Público Económico, pelo facto
de os serviços públicos sobre os quais ela incide serem serviços públicos industriais e
comerciais. Por esta última razão, a concessão de serviço público surge, ao lado dos
Mercados, simultaneamente como um modo contratual de relações da Administração com o
sector privado económico e como um modo de gestão dos serviços públicos económicos;
deste modo pode-se dizer que ela diz duplamente respeito ao direito público económico237.
A concessão de serviço público é um modo de gestão de um serviço público industrial
ou comercial segundo o qual uma colectividade pública (Estado ou colectividade territorial),
chamada «concedente», confia por uma convenção, a um particular chamado
«concessionário», o cuidado de fazer funcionar o serviço público sendo remunerado por meio
de somas tarifárias (redevances) pagas ao concessionário pelos utentes do serviço.
As características desta instituição, que a definição dada atrás faz ressaltar, são as
seguintes:

235
Cfr. LAUBADÈRE, ANDRÉ DE, - Direito Público Económico, Almedina Editora, Pág. 246.
236
Ibidem. Pág. 388.
237
Ibidem. Pág. 399-400.
101
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Em primeiro lugar, é preciso notar que o objecto da convenção é aqui muito particular
visto que se trata de fazer funcionar um serviço público. A colectividade pública, em vez de
assegurar ela mesma o funcionamento do serviço público, encarrega disso um particular, mas
a actividade em questão não deixa por isso ser um serviço público, o que vai levar a
obrigações particulares da parte do concessionário e a um direito de vistoria da Administração
concedente ao funcionamento do serviço, do qual não se pode desinteressar.
Mas, por outro lado, o concessionário do serviço público é um particular (geralmente
uma sociedade comercial), que não aceitará gerir um serviço a não ser que veja nele um
benefício. É por isso que a concessão de serviços públicos, em princípio, não incide senão
sobre um serviço industrial ou comercial. É o jogo e a conciliação destes dados (carácter de
serviço público da actividade assegurada e carácter de pessoa privada do concessionário) que
vai comandar o regime da concessão de serviço público.
Por esta razão, o direito da concessão de serviço público faz parte daquilo a que
chamamos o Direito Público Económico clássico. Esta antiguidade não impede, de resto, que,
sobre um certo número de pontos, alguns dados recentes, aliás diversos, tenham podido
introduzir novos elementos jurídicos que teremos ocasião de sublinhar a propósito de
determinados aspectos do regime da concessão.
O princípio, prevaleceu a concepção puramente contratual: é um contrato
administrativo análogo, pelo menos quanto à sua natureza jurídica, o seus efeitos interno aos
outros contratos administrativos, dos quais apenas difere em certos traços do seu conteúdo e
os efeitos externos, por exemplo, no facto de o contratante não ser aqui remunerado por um
preço, como nos Mercados Públicos, mas pelas somas tarifárias recebidas dos utentes.
Esta concepção puramente contratual foi abandonada porque se verificou que o
objecto da concessão que é a organização e o funcionamento de um serviço público, não pode
constituir, em si mesmo, objecto de um contrato. Admite-se, actualmente, que a concessão
de serviço público é um acto de natureza mista, parcialmente contratual, no sentido de que
este acto contém, justapostas cláusulas contractuais e cláusulas regulamentares.
As cláusulas contratuais são aquelas que dizem respeito às vantagens materiais e
financeiras consentidas ao concessionário (duração da concessão, adiantamentos ou garantias
de lucro estipuladas).
As cláusulas regulamentares são aquelas que dizem respeito à organização e
funcionamento do serviço público; são aquelas que, se o serviço estivesse organizado em
régie ou em instituto público em vez de ser concedido, nem por isso deixariam de existir e
figurariam no regulamento do serviço.
Esta análise jurídica da concessão de serviço público que é hoje em dia muito
geralmente admitida (ainda que a expressão contrato de concessão continue a ser
correctamente empregada) arrasta importantes consequências no que diz respeito ao regime
jurídico da concessão238.
Para realizar os objectivos de intervencionismo económico, os poderes públicos
utilizam os dois processos jurídicos da medida unilateral e do acordo convencional.
As Medidas Unilaterais - Em matéria de intervenção económico, o processo da acção
unilateral é o mais clássico: o Estado regulamenta prescreve, vem em apoio, através de uma

238
Cfr. LAUBADÈRE, ANDRÉ DE, - Direito Público Económico, Almedina Editora, Pág. 402-403.
102
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
intervenção que emana apenas da sua autoridade, do sentido em que deseja ver orientado o
ramo de economia em questão;
O Emprego do Processo Convencional - uma característica dos actuais processos de
intervenção económica do Estado reside na propensão do poder público para, nesta matéria,
recorrer, de preferência à acção unilateral e condicionante, a processos de acordos
convencionais.
Alguns visam confiar a organismos privados tarefas de dirigismo ou intervencionismo
económico, são os menos inovadores; podemos chamar-lhes convenções de colaboração nas
tarefas intervencionistas.
Outros são mais originais na medida em que, concluídos com os próprios
administrados, têm por objectivo obter destes últimos um determinado comportamento no
sentido desejado pelo Estado para a sua política intervencionista: chamar-lhe-emos
convenções de Administração Económica. Dá-se-lhes também bastante correntemente a
denominação de «Contratos Económicos», expressão que não tem qualquer outro interesse
senão o de invocar o seu objecto geral e que não deve ser tomada à letra pois ela prejulga a
natureza exacta de actos que, na realidade, como vamos ver, não podem ser todos
considerados como contratuais239.
Segundo LAUBEDÈRE; defende que o objecto destes contratos diz respeito ao
intervencionismo. Daí que os contratos económicos se distingam daqueles que encontramos
até aqui, tais como os Mercados. Eles não têm por objectivo alcançar prestações para o
Estado, mas realizar a política de intervencionismo concebida e dedicada pelo Estado. São
instrumentos de realização desta política. Normalmente, esta realização parece exigir mais o
processo da prescrição unilateral, mas o Estado prefere frequentemente, hoje em dia,
recorrer ao contrato para atingir objectivos que outrora procurava de preferência através da
acção unilateral.
No que diz respeito aos parceiros, os contratos económicos são concluídos, como os
outros contratos administrativos, entre o poder público e parceiros privados 240.
Os «Contratos Económicos» serão sempre verdadeiros contratos?
Visto que a ideia de «Contratualização» está na moda e corresponde efectivamente a
uma tendência do intervencionismo económico actual, existe uma propensão para
reconhecer a qualificação jurídica de contratos a todos os processos em que se manifeste a
procura de um acordo entre a Administração e os Agentes Económicos com os quais ela trata.
De acordo com o vocabulário judicioso de um autor (R. SAVY), entre os «actos jurídicos
de inspiração contratual», é preciso distinguir os «actos jurídicos de carácter contratual», e os
«actos jurídicos de aparência contratual»241.
Duas razões principalmente podem provocar dúvidas quanto à natureza contratual de
alguns dos chamados «Contratos Económicos».
Para Ilustre Prof. Francês de Direito Público Económico - ANDRÉ DE LAUBADÈRE, diz
que para alguns desses actos, uma análise atenta do seu conteúdo faz ver que, embora
resultando de uma negociação e de um acordo, eles não constituem verdadeiramente
239
Ibidem. Pág. 422.
240
Ibidem. Pág. 423.
241
Apud, LAUBADÈRE, ANDRÉ DE, Pág.423.
103
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
contratos. Efectivamente, segundo estes autor que citamos recorrentemente, diz que, nem
todo o acordo é necessariamente um contrato. Em particular, a doutrina distingue do
contrato, no qual as duas partes elaboraram as obrigações recíprocas a que se comprometem,
os acordos através dos quais elas apenas se entendem para dizer funcionar a aplicação de um
estatuto legal, de uma regulamentação (actos que certos juristas chamam actos-condição,
quer dizer, actos que condicionam, desencadeiam a aplicação de regras pré-estabelecidas ou
contratos de adesão)242.
De outro ponto de vista, a análise do estipulado no pretenso contrato pode levar à
negação dessa sua natureza, fazendo ver que na realidade as partes – ou uma delas – não
entenderam ligar-se através de verdadeiros compromissos precisos e imperativos, mas
apenas subscreveram aquilo a que se chama por vezes simples «Promessas de
Comportamento» mais dotadas de um valor moral que jurídico, ou mesmo apenas
subscreveram simples «Declarações de Intenções»243.
A segunda consideração susceptivel de contradizer a natureza de contratos de certos
acordos bilaterais como tal pretendidos é relativa ao próprio objecto do acordo; existem,
efectivamente, em Direito Administrativo, matérias que não se podem prestar ao contrato,
por exemplo o estabelecimento do imposto, o exercício do poder de polícia, etc. Quando – o
que pode acontecer – uma destas matérias constitui o objecto de um acordo no quadro da
Administração Económica, esse acordo não poderá ser um verdadeiro contrato.
Assim, parece assente hoje em dia que os actos diferentemente qualificados de
«Contratos Económicos» não constituem sempre na realidade autênticos contratos244.
Sem dúvida que, para alguns deles, como veremos, esta qualificação jurídica se
justifica. Coloca-se, pois, a propósito deles, uma segunda questão que é a de saber se se trata
de Contratos Administrativos ou de Contratos de Direito Comum, questão que será
examinada mais adiante, a propósito do contencioso do intervencionismo económico.
Alguns actores vêem mesmo nisso um tipo de actos jurídicos próprios do Direito
Administrativo Económico e revelador da originalidade deste último, actos que eles propõem
que se chamem «actos-programa» ou simplesmente Contratos-Programa vinculados as
Empresas Públicas. Por outro lado, a ausência de natureza contratual destes processos não os
priva necessariamente de eventuais efeitos jurídicos, que se situariam no plano das
responsabilidades por não-execução. Eles surgem como instrumentos de dirigismo245.
Portanto, Contratos Económicos de Concessão podem ter nos termos do art. 6º da
LBSEP as seguintes modalidades:
4.15.9.1.Contrato de Concessão de Exploração de Actividade
0 Contrato de Concessão de Exploração de Actividade - que vai consistir no acordo de
vontades entre a Administração Pública (concedente) e o particular ou uma Empresa Pública
(concessionário) para explorar uma actividade reservado por Lei ao Estado mediante uma
renumeração nas condições nelas definidas, ex.: transporte urbano, distribuição de energia,
saneamento básico e Limpeza a cidade e etc.;

242
Cfr. LAUBADÈRE, ANDRÉ DE, - Direito Público Económico, Almedina Editora, Pág. 423-427
243
Ibidem.
244
Ibidem.
245
Ibidem
104
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário

4.15.9.2.Contrato de Concessão de Gestão da Exploração de Bens


O Contrato de Concessão de Gestão de Exploração de Bens - é o contrato oneroso
pelo qual o Estado concede ao particular sob forma de sociedade comercial devidamente
constituída para explorar bens móveis ou imóveis do domínio público ou privado do Estado
ex. contrato de concessão da exploração do terminal de carga portuária e aeroportuárias,
contrato de concessão de exploração da TAAG pela companhia aérea EMIRATES, contrato de
exploração do terminal de carga do “Porto Seco” do parque das alfandegas da fronteira da
Santa Clara - Cunene, contrato de exploração do parque infantil do Lubango, contrato de
exploração do Parque do Campismo de Praia das Miragens do Namibe , contrato de
exploração de vagões bares e cantinas dos Caminhos de Ferros de Moçâmedes, etc.
4.15.9.3.Contrato de Concessão de Gestão de Empresas
O Contrato de Concessão de Gestão de Empresas – é o contrato oneroso pelo qual o
Estado concede ao particular sob forma de sociedade comercial devidamente constituída
para explorar uma empresa pública ex. ao nível da região académica não temos uma situação
ilustrativa que possa servir de exemplo mas podemos avançar como exemplo informal da
gestão do “NOSSO SUPER” pela Empresa privada de direito brasileiro, contrato de gestão da
TAAG pela EMIRATES.
4.15.10. Contrato Económico ou Concertação Social
A Concertação Económica e social constitui uma forma de procedimento negociado
de regulação económica que consiste em estabelecer acordos económicos entre o poder
regulatório público, misto e privado, ou seja, são consensos públicos firmados entre Poder
Económico e os seus parceiros sociais para fins de satisfazer o interesse meramente
económico tido como fundamental no âmbito da justiça social, (art.90º, da CRA).-
Entretanto na concertação social, o Estado não usa o seu poder de império e servir-se
do procedimento unilateral de regulação económica, porque se assim acontecesse, nada
obsta que se propugne numa desastrosa consequência jurídico-económica negativa com
efeitos imediatos na economia real e seguramente altere as variáveis das grandezas de
estabilidade macro-económicas, nomeadamente: emprego, inflação, taxa de juro,
crescimento económico(sobre o PIB) , desenvolvimento social(redistribuição da riqueza) e na
micro-economia alteração dos preços e de sã concorrência.
Pelo que, em sede deste expectável interesse, o Estado Democrático de Direito vai
exercer a democracia económica participativa conciliando os interesses económicos dos
vários sectores económicos(público, privado e cooperativo) legal consagrado(art.92º, da CRA)
através do instituto económico de concertação social(art.89º, al.g), da CRA), por causa dos
direitos de colisão ou de conflito. Pois que há colisão de direitos quando vários direitos
concorrem, de modo que o exercício de um deles impede ou prejudica o exercício de outro;
mas se a Lei estabelece uma relação de subordinação entre eles ou se coordena o seu
exercício para o caso de conflito, é claro que não há, então, uma verdadeira colisão. Pode
indicar-se como exemplo daquele subordinação o disposto no art.768º, do CC246., ou

246
Cfr. BASTOS, JACINTO FERNANDES RODRIGUES, - Das Relações Jurídicas, segundo o Código Civil de 1966, Viseu
Tipografia Guerra Lda. Editora 1969, Pág.12-13.
105
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
concertação social sobre o salário mínimo nacional entre os sindicatos representantes das
associações empresariais e o governo, art.161º da LGT247 e art.89º, al.g) e art.90º, da CRA.
Trata-se aqui de um limite extrínseco ao exercício dos direitos subjectivos dos Agentes
Económicos, como bem nos ilustra o art. 335º, do CC, que transcrevemos o preceito
normativo:
“ 1. Havendo colisão de direitos iguais ou da mesma espécie, devem os titulares ceder
na medida do necessário para que todos produzam igualmente o seu efeito, sem maior
detrimento para qualquer das partes”.
“ 2. Se os direitos forem desiguais ou de espécie diferente, prevalece o que deve
considerar-se superior.”
Voltemos no salário mínimo nacional, se alteração do salário mínimo nacional
prejudica a estabilidade macro - económica das variáveis dos indicadores previstos na
inflação, pleno emprego, taxa de juro e preços, então o direito subjectivo de subir o salário
cede perante a estabilidade por ser um bem superior do sistema económico, mas como é
óbvio o salário mínimo não pode ser prejudicado permanentemente até ao ponto de afectar o
tecido social dos trabalhadores desta categoria salarial até o ponto de degradar socialmente o
o estado mínimo de sobrevivência, daí que este procedimento poder-se considerar de um
exercício manifestamente excesso de abuso do direito de proporcionalidade porque não
obedeceu aqueles requisitos e limites de excepção permitido pelo legislador do Abuso de
Direito248, (art.334º, do CC). como já referimos no outro lugar os sacrifícios devem ser
destruídos e redistribuídos à todos Agentes Económicos como também na hora da
prosperidade económica deve-se redistribuir a riqueza por via de Regulação Económica
Estatual(art.90º, da CRA) .

4.15.11.O Sector Privado


O Sector Privado, compreenderá numa dimensão restrita apenas os bens de produção
cuja propriedade é titulada e gerida pelas Empresas Privadas sob forma societária (art. 8 º, da
Lei nº 1/04, de 13 de Fevereiro (LSC)249 e art. 2º, da Lei nº 19/12, de 11 de Junho, LSU), ou em
nome individual e, em sentido lato, compreenderá também as empresas participadas.
As sociedades comerciais são estruturas típicas da Empresa nas economias de
Mercado, desenvolvem actividade económica lucrativa. O Código Civil trata a sociedade como
um contrato de consortes ( art. 980º, do CC), pois que a sociedades comerciais são pessoas
jurídicas(art.5º, da LSC) que tem como necessariamente por objecto a prática do acto do
comércio revestido em actos de natureza objectiva e subjectiva.

4.15.11.1. Tipologia das Sociedades Comerciais


Nos termos do art.2º, da LSC, prevê um “numerus clausus”, ou o princípio da tipicidade
que se afigura nos tipos de legais de sociedades.

247
LGT – Lei Geral de Trabalho aprovado pela Lei nº7/15, de 15 de Junho que revogou a Lei nº 2/2000, de 11 de
Fevereiro.
248
Vide CUNHA DE SÁ, FRENANDO AUGUSTO, - Abuso do Direito, Almedina editora 2005, Pág.246.
249
LSC- Lei das Sociedades Comerciais.
106
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
A tipologia das sociedades no ordenamento jurídico angolano à luz da Lei nº 1/04, de 13 de
Fevereiro, definido no art. 2º, da LSC, são as seguintes:
1- Sociedades por comandita por acções; (Comanditas por Acções) art.201º, da LSC e
Sociedades por comanditas simples; (Comanditas Simples) art.201º, da LSC.
2- Sociedades em nome colectivo; (& Cª., ou Companhia) art.176º, da LSC;
3- Sociedades por quotas; (Lda.), art. 217º, da LSC;
4- Sociedades anónimas; (S.A.) art.301º, da LSC.
5- Sociedades coligadas ou cooperativas, art.464º, da LSC.
6- Sociedades comerciais unipessoais Lei nº 19/12, de 11 de Junho e estas classificam-se
nos termos do art. 2º, as seguintes tipologias de sociedade:
a) Sociedades quotas (Lda. «SU»).
b) Sociedades anónimas (S.A. «SU»).

4.15.12.Sector Cooperativo
De ponto de visto histórico, o movimento cooperativista teve início na Europa
precisamente na Inglaterra, França e Alemanha e mais tarde na Itália no século XIX, como
uma forma alternativa do Mercado liberal. Na Inglaterra este movimento cooperativo deveu-
se a intensificação da luta dos trabalhadores, durante o movimento cartista, em pleno regime
de economia liberal, com a fundação da Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale
(Rochdale Society of Equitable Pioneers), em 1844250.
Já na França, despoletou o movimento das cooperativas de produção. Não menos
importante que o movimento inglês, embora não com o mesmo sucesso, o movimento
francês teve participação marcante na consolidação do movimento cooperativista no
mundo251. Por seu turno na antiga Prússia( Alemanha), foram constituídas, a partir de 1849, as
cooperativas de crédito e de consumo252.
O movimento cooperativo voltou-se para os pequenos produtores urbanos e para os
artesãos pois que este novo modelo societário contrapunha-se ao capitalismo, sustentando-
se em evidência ante os modelos societários capitalistas então existentes.
Cooperativismo é a doutrina que preconiza a colaboração e a associação de pessoas ou
grupos com os mesmos interesses, a fim de obter vantagens comuns em suas actividades
económicas cujo fundamento é progresso social da cooperação e associação bem o auxílio
mútuo segundo o qual aqueles que se encontram na mesma situação desvantajosa de
concorrência mercantil conseguem, pela soma de esforços, garantir a sobrevivência.
Entretanto, como fenómeno económico e social, o cooperativismo temo como escopo de
actuação de reduzir os custos de produção, obter melhores condições de prazo e preço,

250
Vide site da internet.www.zemoleza.com.br/.../humanas/direito/origem-das-cooperativas, consultada
dia 20/4/2016.
251
BENJAMIN BUCHEZ (1776-1860) E LOUIS BLANC (1811-1882) criaram, além de cooperativas de produção,
associações de trabalhadores, nas quais os operários eram co-proprietários e co-administradores. Ibidem
252
HERMAN SCHULZE (1808-1883) foi o fundador da Associação das Cooperativas Alemãs, em 1859. Vivia na
cidade de Delitzsch, na Alemanha, daí o nome do modelo cooperativista "SCHULZE-DELITZSCH". Ibidem.
107
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
edificar instalações de uso comum, enfim, interferir no sistema económico em vigor à procura
de alternativas a seus métodos e soluções.
É assim que o Congresso de Praga de 1948 definiu a sociedade cooperativa nos
seguintes termos:
“ Será considerada como cooperativa, seja qual for a constituição legal, toda a
associação de pessoas que tenha por fim a melhoria económica e social de seus membros pela
exploração de uma Empresa baseada na ajuda mínima e que observa os Princípios de
Rochdale ”253 .
A Constituição angolana consagra o direito cooperativo como forma de titulação, ou
seja, acesso a propriedade e actividade económico, nos precisos termos do art. 92º, da CRA,
como um instituto de Direito Económico e da coexistência sectores de propriedade, ou seja, à
forma como a propriedade em Angola pode ser titulada pelos Agentes Económico. Mas por
conseguinte, esta actividade crismada como comunitária, por vezes societária ou Empresa,
entronca e tem o seu campo de eleição, como se denota, em três áreas de sector da
actividade, nomeadamente: agricultura, pesca e sector social. Daí, considerar que o legislador
consagrou com especial atenção um sector cooperativo, designadamente:
4.15.12.1.Sector Cooperativo do Empresariado do Sector Primário da
Economia
com enfoque na agricultura e pesca, indústria, ou seja, sector estruturante da economia
primária art. 21º, da al. i), da CRA in fine e art. 38º, da CRA, e art.16º, a), da Lei das
Cooperativas.
4.15.12.2.Sector Cooperativo Social
Que comporta o sector social da Saúde, art. 77º, nº 2, da CRA, Educação e Cultura , art.
79º, nº 3, da CRA , Ambiente, habitação art.16 º, da Lei das Cooperativas.
4.15.12.3.Sector Cooperativo de Comércio, Construção, Crédito,
Consumo, Transporte, Seguros e Serviços
O que compreende as actividades desencadeada pelas Cooperativas no sector secundário
e terciaria da economia de factores de produção, distribuição, comércio e consumo e
questões ambientes, vide, art.16º, da Lei das Cooperativas.
O cerne da ordem jurídico-constitucional do cooperativismo angolano é o facto de a
realidade cooperativa ser encarada como um sector de propriedade dos meios de produção,
ao lado dos sectores públicos e privado. Não se pode, portanto, deixar de reflectir em torno
do sentido dessa opção do legislador254.
As cooperativas são pessoas colectivas autónomas, de livre constituição, de capital e
composição variáveis, que, através da cooperação e entreajuda dos seus membros, com
obediência aos princípios cooperativos, visam, sem fins lucrativos, a satisfação das
necessidades e aspirações económicas, sociais ou culturais daqueles255.

253
Ibidem.
254
Cfr. NAMORADO, RUI, - Introdução ao Direito Cooperativo, Almedina Editora, 2000, Pág. 131.
255
Ob. Cit. Pág. 181.
108
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Para se apreender todo o sentido do normativo constitucional com incidência
cooperativa, como defende RUI NAMORADO256, - há que valorizar-se a existência de vários
sectores de propriedade dos meios de produção, por ela ter como significado jurídico o facto
de o legislador constitucional ter encarado cada um desses sectores potencial gerador de uma
área normativa diferenciada. E é neste contexto importante saber como se repercute no
próprio plano normativo da CRA essa autonomia.
Num primeiro relance, verifica-se que às cooperativas é atribuída uma especial
utilidade em Angola na actividade agrícola, pesca e de algum modo pouco significativo na
defesa do consumidor, na promoção habitacional (como bem lembra a cooperativa do lar do
Namibe, de Moçâmedes), sendo também mencionadas a propósito da educação e saúde.
Mas o que é decisivo é determinar o sentido global deste conjunto de normas, que está longe
de ser uma simples soma de preceitos dispersos e alheados uns dos outros, um leque de
mensagens normativas avulsas.
Temos, pois, como certo que no espaço jurídico-constitucional do cooperativismo é
possível surpreender um conjunto de princípios, a partir dos quais se pode compreender
melhor a lógica desse território jurídico.
4.15.12.4.O Princípio da Coexistência -Traduz-se na garantia de que os três
sectores de propriedade dos meios de produção, reconhecidos no art. 92º, da CRA , convivem
entre si, ou melhor, têm de conviver entre si. Significa, portanto que o sector cooperativo e
social é encardo e concebido como tendo de existir em conjunto com os sectores público e
privado.
4.15.12.5.O Princípio da Conformidade com a Identidade Cooperativa -
Assumida pela Lei ordinária e está patente na expressa exigência, inscrita no texto
constitucional, de que a prática das cooperativas obedeça aos princípios cooperativos, dado
estar adquirido pela doutrina que os princípios referidos pela CRA são os adaptados pela Lei
ordinária, ( art. 5º e 12º, da Lei nº 23/2015, de 31 de Agosto, Lei das Cooperativas.
4.15.12.6.O Princípio da Autonomia - Manifestar-se na divisão da área não-
pública, diferenciando, do que nela é autenticamente privado, um território normativo que
neste caso se designa como “cooperativo e social”, (art.5º, al. d), e art.9º, da Lei das
Cooperativas.
4.15.12.7.O Princípio da Unidade - Materializa-se no facto de as cooperativas
serem encaradas pela CRA como um todo, isto numa primeira apreciação; numa segunda
linha, surge um outro conjunto de princípios, sem a mesma energia estruturante dos
anteriores, mas com importância idêntica, (art.5º, al. b) e art. 7º, da Lei das Cooperativas.
4.15.12.8.O Princípio da Liberdade - O princípio da liberdade é um reflexo dos
princípios cooperativos, mas adquiriu uma força própria, através do nível em que a CRA o
situa. Os constituintes afirmam-nos com toda a força, quer no plano da Constituição, quer no
plano do funcionamento, quer no plano da organização257, ( art. 5º, al. a) e art. 6º e 13º, da Lei
das Cooperativas.

256
Ibidem.
257
Ibidem.
109
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
4.15.12.9.O Princípio da Protecção - Resulta de preceitos constitucionais que
expressamente o consagram, envolvendo a garantia de que o sector cooperativo e social, nas
suas duas vertentes, deve ser especialmente estimulado e protegido, (art.5º , al. b) e art.7º,
da Lei das Cooperativas.
4.15.12.10.O Princípio da Abertura - Traduz-se na consagração de um sector de
propriedade dos meios de produção que não se limita o ser cooperativo, uma vez que
também é social, ou seja, um “sector cooperativo social”, (art.5º, al. e) e art.10º, da Lei das
Cooperativas.
4.15.12.11.O Princípio da Inter – Cooperação - Cuja menção autónoma pode
até parecer redundante, dado estarmos neste caso perante um dos princípios formalmente
consagrado pela Lei ordinária, ( art. 5º, al. f) e art.11º, da Lei das Cooperativas.
A Constituição Cooperativa angolana deve pois repercutir-se no plano da legislação
comum em dois níveis. Por um lado, deve obviamente reflectir o que resulta directa e
expressamente dos preceitos constitucionais com incidência cooperativa. Por outro lado, deve
ser consonante, deve ser convergente com as mensagens normativas que resultam dos
princípios informadores da Constituição Cooperativa, incorporando a sua energia normativa e
a lógica deles resultante258.
As Cooperativas são definidas como pessoas colectivas autónomas, de livre
constituição, de capital e composição variáveis, que através da cooperação e entreajuda dos
seus membros, com obediência aos princípios cooperativos, visam, sem fins lucrativos, a
satisfação das necessidades e aspirações económicas, sociais ou culturais daqueles259.
Uma Cooperativa é uma associação autónoma de pessoas unidas voluntariamente
para prosseguirem as suas necessidades e aspirações comuns, quer económicas, quer sociais,
quer culturais, através de uma Empresa comum e democraticamente controlada260, cuja
forma de constituição varia de acordo a tipologia da Cooperativa(art.21º e ss, da Lei das
Cooperativas).
As Cooperativas baseiam-se nos valores de auto-ajuda, responsabilidade individual,
democrática, igualdade, equidade e solidariedade. Fieis à tradição dos seus fundadores, os
membros das cooperativas assumem os valores éticos da honestidade, transparência,
responsabilidade social e altruísmo261.
Como se vê, os valores em causa são explicitados em dois grupos distintos. O primeiro
projecta-se, em primeira mão, na actividade das cooperativas como organizações. O segundo
dirige-se directamente aos cooperadores enquanto tais.
Por último, a terceira tese, vendo uma profunda diferença qualitativa entre escopo
cooperativo e escopo lucrativo, qualifica a cooperativa como associação.
De tudo o que foi dito, pode, portanto, concluir-se que admitir que as Cooperativas
podem ter fins lucrativos é pôr em causa a sua identidade e a sua razão de ser, abrir caminho
à confusão, com riscos acrescidos de perturbar gravemente o desenvolvimento cooperativo .
Se as cooperativas, visam fins não lucrativos, à satisfação das necessidades e aspirações

258
Cfr. NAMORADO, RUI, - Introdução ao Direito Cooperativo, Almedina Editora, 2000, Pág. 171-175.
259
Ob. cit. Pág. 181.
260
Ob. Cit. Pág. 187.
261
Cfr. POULSON, LAZARINO, - As Parcerias Público-Privadas, Almedina Editora, 2011, Pág. 28
110
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
económicas, sociais ou culturais dos seus membros, podendo ainda, a título complementar,
realizar operações com terceiros». Evitou-se deste modo qualificar unilateralmente as
cooperativas como associações ou sociedades comerciais262.

4.15.12.12. Classificação das Cooperativas


I - As cooperativas podem ser classificados de acordo um critério não rigorosamente
típico de organização natureza, mas que advém do critério do impulso ou fonte inspiradora
constitutiva da cooperativa, assim temos :
4.15.12.12.1. Cooperativismo Estimulado
Aquela em a sua constituição é impulsionado por movimento social, político e
económico que é externo ao pensamento dos seus fundadores.
4.15.12.12.2.Cooperativismo Espontâneo
Aquela que advém da criatividade ou iniciativa dos cidadãos com cultura associativa
para realizar uns dos fins económicos lucrativos ou altruístas com base no postulado
Cooperativo.
4.15.12.12.3.Cooperativismo Obrigatório
Consiste numa imposição legal que obriga os interessados caso queiram desenvolver
uma actividade económica lucrativa ou altruísta em regime de cooperativo e terem
benefícios decorrente da intervenção do Estado, constituírem cooperativas.
II - Entretanto o ordenamento jurídico cooperativo angolano desenhou através da Lei
nº 23/2015, de 31 de Agosto, o numerus clausus do qual estão alicerçados a tipologia de
Cooperativas no critério jurídico legal do formato organizacional e do objecto social,
nomeadamente263:
4.15.12.12.4.Cooperativas de Primeiro Grau
Que são constituídas por pessoas singulares e/ou colectivas , cujo objecto assenta na
prestação directa de serviços aos seus membros.
4.15.12.12.5.Cooperativas de Segundo Lugar ou de Grau Superior
Constituídos de uniões , federações ou confederações de cooperativas, cujo objectivo
assenta na coordenação, financiando, formação, orientação e organização produtivo em
maior escala dos serviços das suas cooperativas filiais, bem como na defesa e promoção dos
interesses das suas filiais perante instituições públicas.
4.15.12.12.6.Cooperativas Polivalentes
São aquelas que abrangem mais de uma área de actividade relacionadas ou conexas,
desde que estejam em organizadas por secções.

262
Cfr. AVV. DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS /GONÇALVES, MARIA EDUARDA/MARQUES, MARIA MANUEL
LEITÃO, – Direito Económico- 5ª Edição Reimpressão/2004, Pág. 67.
263
Vide o art.3º, da Lei nº 23/2015, de 31 de Agosto, Lei das Cooperativas.
111
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
4.15.13. Parceria Público-Privadas
Parceria Publico-Privada, pese embora a não existência de uma definição única de
PPP, esta pode ser entendida como um modelo de contratação pública utilizado na provisão
de infra-estruturas e serviços. Os sectores público e privado estabelecem uma relação
(contratual ou institucional), com responsabilidades preestabelecidas, para projectar,
financiar, construir e gerir uma determinada infra-estrutura e/ou disponibilizar um serviço.
Uma PPP pode consistir num contrato de concessão de obra pública ou serviço público
e, geralmente, inclui uma componente significativa de financiamento privado, na forma de
capital e/ou dívida assumida pela banca comercial ou pelos Mercados de Capitais264.
Conceito e Caracterização das Parcerias Público-Privadas é qualquer forma de
colaboração entre o sector público e o sector privado, que tenha por objecto uma actividade
em beneficio da colectividade. As definições mais alargadas do conceito indicam uma
colaboração entre o público e o privado para o alcance de vantagens mútuas, geralmente
sociais para o primeiro, e, frequentemente financeiras ou económicas para o segundo. Na
escrita de YESCOMBE, podemos definir a PPP265:
1- “É um contrato de longo prazo (“o contrato de PPP”) entre um parceiro do sector
público e um parceiro do sector privado;
2- Que tem em vista o desenho, construção, financiamento e funcionamento de uma
infra-estrutura pública, a cargo do parceiro privado;
3- Mediante pagamentos feitos ao privado ao longo da vida do contrato de PPP, seja pelo
Estado com recurso a dotações orçamentais, seja directamente pelos utentes ou
utilizadores através da cobrança de tarifas ou taxas;
4- Assegurando-se que a infra-estrutura ou permanece na propriedade do Estado ou
reverte para este, no final da vigência do contrato de PPP, ainda que o mesmo possa
ser objecto de renovação”.
Esta definição, no dizer de CABRAL, citado pelo LAZARINO POULSON 266, diz que, “suscita,
para já, algumas questões”, que passamos a tratar nos seguintes pontos:
i) Contrato de Longo Prazo: Pressupõe uma relação jurídica estável, duradoura e
continua entre uma entidade pública e uma privada. A duração do contrato varia de acordo
com a natureza do contrato, dos objectivos a alcançar e do retorno dos investimentos: há
contratos de curto prazo (até 1 ano), de médio prazo (3-4 anos), de longo prazo (mais de 5
anos);
ii) Parceiro Público Privado: O parceiro público é diferenciado – pode ser o Estado
(Administração Central ou Local), pode ser pessoas colectivas de população e território como
as Autarquia Locais ou outras pessoas colectivas públicas de fins singulares, nomeadamente
as Empresas Públicas e os Institutos Públicos;
iii) Responsabilidade de Financiamento: É outro elemento diferenciador entre às
formas clássica ou tradicional de contratação pública e as PPP. No primeiro caso (PPP), esta
responsabilidade está assacada a entidade privada, e na segunda à entidade pública, ou dito

264
Cfr. AVV. CRUZ, CARLOS OLIVEIRA, - O Estado e as Parcerias Público-Privadas, Sílabo Editora, 2012, Pág. 31
265
Cfr. POULSON, LAZARINO, Pág. 28.
266
Ibidem., Pág. 28-29
112
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
de outro modo, nas formas tradicionais ou comuns de contratação pública, entidade pública
quem suporta os custos da “obra” ou serviço, cabendo a entidade privada a sua construção ou
prestação do respectivo serviço, ao passo que geralmente nas PPPs a entidade pública recebe
a obra ou beneficia do serviço, por conta e risco do privado. Neste caso, o pagamento ao
privado pode revestir duas formas essências: mediante dotações orçamentais públicas ou
mediante cobrança directa de taxas junto dos utentes267;
iv) Construção, financiamento e funcionamento de uma “infra-estrutura”: É um
traço característico delimitativo essencial para auxiliar na precisão de delimitação do conceito
de PPP, em face de outros acordos entre entidades públicas e privadas, que visam a
prossecução do interesse público ou interesse económico geral, a promoção do bem-estar
social ou, ainda, em prol do desenvolvimento económico. Todas essas expressões
abrangentes não são privativas das PPP, podendo atingir a outras formas de relação entidades
públicas e agentes privados, designadamente contratos públicos em geral, contratos
económicos, “outsourcing”, “contracting out”, protocolos, acordos vários, etc. assim tendo
conta que vocábulo “infra-estrutura” é usualmente empregue para caracterização de uma
PPP, vale a pena precisar o seu sentido e alcance. É, precisamente, o que procuraremos fazer
de seguida.
Como se vê, o legislador angolano optou por uma definição mais restrita na senda de
YOSCOMBE, onde se destacam os seguintes traços268:
i) Contrato duradouro: Implica uma relação jurídica baseada na estabilidade e
continuidade entre uma entidade pública e uma privada. O legislador, de acordo com o
princípio da liberdade contratual (art. 405º, do CC), deixou ao critério das partes fixarem o
período de vigência das PPPs. Todavia, tendo em conta a natureza e objecto das actividades
que serão sujeitas à PPPs estamos em crer que serão contratos de médio e longo prazo;
ii) Parceiro Público-Privado: No ordenamento jurídico angolano são parceiros públicos
designadamente o Estado, as Autarquias Locais, Fundos e Serviços Autónomos, e, por fim, as
Entidades Públicas Empresarial. Este elenco de entidades públicas fixadas pelo nº 2, do artigo
2 º, da Lei das PPPs merece as seguintes observações. Em primeiro lugar, encontra-se o Estado
em toda sua dimensão (Legislativa, Executiva e Judicial). Se preferirmos dizer, qualquer
instituição do Estado que represente um dos três poderes de soberania pode se vincular
contratualmente por via de uma PPP. Do mesmo modo, apesar de ainda não estar instruída,
as Autarquias Locais também podem ser parte de uma PPP269. Por fim o legislador reservou
um privilegio ao sector empresarial público: a possibilidade das varias formas empresarial
pública tomarem parte de uma PPP.
Assim, uma Empresa Pública, uma Sociedade de Capitais público pode ser envolvida
numa PPP. Noutra banda, o legislador consagrou uma norma especifica para o co-contraente
público que merece a seguinte nota: Para já o legislador deveria fazer um elenco de entidades
privadas. Contudo, percebe-se que disse menos do pretendia. Desse modo, podemos concluir
267
Do mesmo modo observaremos que as distinções no modo de financiamento - para lá dos diferentes
contextos sócio-geográficos - originaram dois modelos e o modelo continental ou concessivo, com grande
experimentação em França.
268
Cfr. POULSON, LAZARINO, - As Parcerias Público-Privadas, Almedina Editora, 2011, pág. 29-31.
269
Já os Fundos Autónomos (fundações Públicas) podem ser parte de uma PPP. Contudo os fundos sem
personalidade jurídica não podem estar vinculados directamente a uma PPP. Por sua vez, os Serviços
Autónomos, designadamente Institutos Públicos Associações Públicas podem igualmente ser parceiro público de
uma oportuna PPP.
113
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
que para além das empresas privadas (que são a regra) outras entidades privadas de fins não
lucrativos nomeadamente as associações, fundações ou ONG podem vincular-se a um
parceiro público mediante uma PPP.
iii) Responsabilidade de financiamento: o conceito legal de PPP em Angola é preciso
neste domínio. A lei ao determinar que o financiamento e responsabilidade pelo investimento
incumbe no todo ou em parte ao parceiro privado, está a restringir a intervenção financeira
das entidades públicas. Neste caso, o pagamento ao privado pode revestir duas formas
essenciais: mediante dotações orçamentais públicas (que não cobriram a totalidade do
investimento) ou mediante cobrança directa de taxas junto dos utentes. Desse modo, fica
proibida a constituição de PPPs em que a parte pública cobre todos os custos, ou seja, nas PPP
a entidade pública ou financia parte ou o ente privado suporta sozinha o investimento.
iv) Actividade à satisfação de uma necessidade colectiva: contrariamente aos outros
ordenamentos jurídicos que operam com o conceito de infra-estrutura, o nosso optou pela
expressão «actividade tendente à satisfação de uma necessidade colectiva». No fundo, são
expressões equipolentes. Falar de actividade tendente à satisfação de uma necessidade
colectiva é debruçar sobre uma «infra-estrutura», tal como uma estrada, ponte, ou ainda a
realização de um serviço de carácter público como a gestão de um hospital ou a exploração de
uma companhia aérea.
PPPs são verdadeiros contratos administrativos, este acordo de vontade entre um ente
público e uma entidade privada que visa assegurar o desenvolvimento de uma actividade
tendente à satisfação de uma necessidade colectiva tem a natureza jurídica de um contrato
administrativo, na medida em que o co-contratente público possui, dentre outras, privilégios.
Concebido com normas exorbitantes (regime de direito público), o contrato de PPP é rígido
por normas de direito público que conferem ao Estado vários poderes tais como o poder de
planificação (Plano Geral das Parcerias Público Privadas), aprovação, promoção de concursos
públicos, avaliação e fiscalização. O contrato administrativo que resulta da constituição de
uma PPP é sinalagmática implicando a prestação.

4.15.13.1.Classificação das Parcerias Público-Privadas na Ordem


Económica Angolana
De acordo com LAZARINO POULSON270, as PPPs podem adaptar varias as formas
contratuais, nos termos disciplinado pelo nº 4 do artigo 2º, da LPPPs, são classificados seis as
espécies de PPPs que podemos surpreender no nosso ordenamento jurídico, nomeadamente:
4.15.13.1.1.O Contrato de Concessão de Obras Públicas
O Contrato de Concessão de Obras Públicas é o contrato administrativo pelo qual um
particular se encarrega de executar e explorar uma obra pública, mediante retribuição a obter
directamente dos utentes, através de pagamento por estes de taxas de utilização.
4.15.13.1.2.O Contrato de Concessão de Serviços Público
O Contrato de Concessão de Serviços Públicos - é o contrato administrativo pelo qual
se encarrega de montar e explorar um serviço público, sendo retribuído pelo pagamento de
taxas de utilização a cobrar directamente dos utentes.
270
Cfr. POULSON, LAZARINO, - As Parcerias Público-Privadas, Almedina Editora, 2011, Pág. 83-84.
114
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
4.15.13.1.3.O Contrato de Fornecimento Continuo
É o contrato administrativo pelo qual um particular se encarrega, durante um certo
período, de entregar regularmente à uma entidade pública certos bens necessários ao
funcionamento de um serviço público.
4.15.13.1.4.O Contrato de Prestação de Serviços
Abrange dois tipos completamente diferentes um do outro o contrato de transporte -
é o contrato administrativo pelo qual um particular se encarrega de assegurar a deslocação
entre lugares determinados de pessoas ou coisas a cargo da Administração; e o contrato de
provimento, é contrato administrativo pelo qual um particular ingressa nos quadros
permanente da Administração Pública e se obriga a prestar-lhe a sua actividade profissional
de acordo com o estatuto da função pública.
4.15.13.1.5.O Contrato de Gestão
É o ajuste através do qual a Administração transfere o contrato o controle, a
condução, o gerenciamento de um dado empreendimento, resguardando, no entanto, para si,
o poder de decisão. Cuida-se, assim, da actividade de mediação, a qual representa um serviço
técnico profissional especializado comum em obra de grande porte.
4.15.13.1.6.O Contrato de Colaboração
Quando esteja em causa a utilização de um estabelecimento ou uma infra-estrutura
já existente - trata-se um contrato que atribui ao particular, sem a contrapartida de qualquer
vantagem, a prerrogativa de utilização de um bem público existente.
4.15.13.2.Pressupostos para a Formação de PPP
Nos termos previsto do art. 6º, da LPPPs afigura-se necessário alguns pressupostos
para formação do contrato económico de PPPs, designadamente:
i) Devem constar do um Plano Geral das Parcerias Público-Privadas (PGPPP) que
constitui documento plurianual e multissectorial;
ii) O cumprimento, quando seja o caso, das normas relativas à programação
financeira constante da Lei do Orçamento Geral do Estado;
iii) A clara enunciação dos objectivos da parceria, definidos os resultados
pretendidos e permitir uma adequada atribuição das responsabilidades das
partes;
iv) A configuração de um modelo de parceria que apresente, para o parceiro
público, vantagens relativamente às formas alternativas de alcançar os mesmos
fins, designadamente por via do modelo de contratação pública tradicional,
avaliadas nos mesmos termos previstos na Lei do Ordenamento Geral do
Estado e que, simultaneamente, apresente, para os parceiros privados, uma
expectativa de obtenção de remuneração adequada aos montantes investidos
e ao grau de risco em que incorrem e de igual modo, ao tempo estimado para a
execução das mesmas empreitadas;
v) A prévia adequação às normas legais e demais instrumentos normativos, bem
como à obtenção das autorizações e dos pareceres administrativos exigidos,
tais como de, entre outros, os de natureza ambiental e urbanísticos, dos quais
115
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
depende o desenvolvimento do projecto, de modo a permitir que os riscos
possam ser convenientemente distribuídos entre os parceiros com melhores
condições de suporta-los;
vi) A concepção de modelos de parcerias que evitem ou menorizem, sempre que
possível e salvo fundamentação adequada, a probabilidade da verificação de
modificações unilaterais dos contratos, determinadas pelo parceiro público ou
quaisquer outros factos ou circunstâncias geradores ou potenciadores da
obrigação de reposição do equilíbrio financeiro, designadamente a indefinição
das prestações contratuais, a imprevisibilidade da matéria, a extensão ou a
incerteza quanto a duração do compromisso, bem como a assunção de termos
e condições de reposição desse equilíbrio ou outros regimes indemnizatórios
que sejam excessiva ou injustificadamente onerosos ou inadequados em face
do perfil do risco efectivo da parceria;
vii) A adaptação, na fase previa à contratação, das diligências e a consagração das
exigências que se revelem adequadas à obtenção de um resultado negocial
económico ou socialmente competitivo;
viii) A identificação expressa da identidade pública que tem a responsabilidade de
suportar os encargos decorrentes de pagamentos a realizar ao parceiro
privado, quando se preveja que os mesmos venham a ter lugar, bem como a
identificação da origem dos respectivos fundos.
Na prática profissional e na literatura académica os processos de desenvolvimento de
PPP são referido como privatizações parciais.
De facto, tratam-se de processos distintos na sua essência. Uma privatização é uma
venda, que implica o controlo total e alteração da propriedade material do activo por um
período normalmente ilimitado. Nos casos em que o Estado vende a sua posição, transferindo
a propriedade dos activos para entidades privadas, por um período ilimitado, estamos perante
um processo de privatização.
A palavra privatização é usada comummente, para indicar o envolvimento do sector
privado num projecto ou sector, até e então, de domínio exclusivamente público. Em sentido
estrito podemos falar de privatização num serviço público quando os seus activos são
vendidos (privatização material), quando a gestão e exploração é transferida para o sector
privado (privatização da gestão mas os activos continuam públicos) ou quando existe uma
empresarialização do serviço (privatização jurídica ou institucional, onde os activos e a gestão
são públicos mas houve uma “fuga” para o direito privado, tendo sido abandonadas muitas
regras do Direito Público e do Direito Administrativo no funcionamento entidade gestora). No
entanto, isto é distinto do termo «privatização» na sua definição mais exacta, uma vez que na
maioria dos casos não se assiste a privatizações com transferência ad eternum da propriedade
dos activos.
Por outro lado uma das características das PPPs radica na assunção do risco pelo
particular, porquanto que, conceito de risco, tem sido o centro das discussão sobre PPP, é
indissociável do conceito de incerteza, embora não sejam totalmente equivalente como
sustenta SAVAGE, citado por CARLOS OLIVEIRA CRUZ/RUI NAMORO, pois que, a incerteza é
uma característica de alguns aspectos do universo. Ao reduzir-se o universo ou o sistema em
análise a algumas variáveis, a estimação das mesmas é uma tarefa difícil, senão mesmo

116
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
impossível (v.g. ex. estimar o número de doentes que afluirão a uma determinada infra-
estrutura hospitalar ou estimar o custo de energia num horizonte de 30 ano). Ainda que seja
possível definir um intervalo com um determinado grau de confiança para cada uma das
variáveis, existe sempre incerteza no processo271.
4.15.13.2. Classificação do Risco das PPPs
O Risco, no entender de CARLOS OLIVEIRA CRUZ, citando o autores como MARQUES e
BERG, pode ser classificado, ou seja, são vários os tipos de risco em projectos de infra-
estruturas e/ou serviços públicos. E por conseguinte, propuseram uma classificação de risco
baseada em três categorias272:
1- Risco Político: eleições, greves, convulsão sociais, golpe de Estado, Guerra e
terrorismo.
2- Risco de planeamento, projecto, expropriação, construção, ambiental,
manutenção, operação, tecnológico, e desempenho, entre outros;
3- Risco Comercial: procura, competição e cobrança, entre outros;
4- Risco do Contexto económico e financeiro: financiamento, inflação, legal,
regulatório, modificação unilateral, contestação pública e força maior, entre
outros.
Notem bem, - “quando a transferência de propriedade material não ocorre, ou
quando esta possui uma duração limitada no tempo, regulada por algum documento
contratual (estatutos, acordo parassociais e contrato de concessão de exploração e de
gestão), finda a qual a propriedade do activo retorna ao domínio público, então estamos
perante uma forma de PPP”273.

4.15.14. Investimento Privado


o investimento pode ser entendido como a aplicação de fundos destinado a obtenção
de um determinado rendimento e pode ser interno ou externo em líquido ou bruto274,
consoante o critério de obtenção de receitas nos termos definido pela Lei nº 14/15, de 11 de
Agosto que veio regular a montante o investimento privado acima de
KZ:50.000.000,00(cinquenta milhões de kwanzas)nos termos do art.2º, da Lei do investimento
Privado(LIP).
O investimento pode ser financeiro ou industrial:
Financeiro, quando consiste na aplicação de fundos excedentários ao capital
financeiro (compra de acções de bolsa de valores) nos termos do art.14º, da LIP.
271
Cfr. AVV CRUZ, CARLOS OLIVEIRA, - O Estado e as Parcerias Público-Privadas, Sílabo Editora, 2012, Pág. 41.
272
Ibidem, Pág. 42.
273
Ibidem, Pág. 38-39.
274
É bruto quando consiste na criação de bens de produção durante um certo período de tempo incluindo a
substituição do material absoluto sem ter em conta as despesas efectuadas para a obtenção de receitas. É
Líquido quando consiste no acréscimo do capital de uma Empresa formando receitas depois de deduzidas as
despesas.

117
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Industrial, quando consiste na aquisição de bens de equipamentos ou de instalações
fabris com o objectivo de aumentar os lucros e diminuir os custos operacionais (art.14º, da
LIP).

4.15.14.1. Investimento Privado Externo


Consiste na importação de capitais de outros países estrangeiros. Pode ser directo ou
indirecto. Directo, quando consiste na aquisição de bens de equipamentos ou na aplicação
directa de capitais e, indirecto, quando envolve a compra de títulos (acções ou obrigações) de
Empresas já existentes, ou seja, O investimento externo prende-se com uma actividade
económica exercida pelo investidor estrangeiro, através de uma Empresa na qual geralmente
detém todo ou parte do capital.
Portanto o regime geral caracterizava-se essencialmente pela introdução em Angola
por entidades que não são consideradas residentes cambiais de capital, tecnologia ou
utilização de fundos com o objectivo de criar novas Empresas, filiais ou sucursais ou adquirir a
totalidade ou parte do capital social de empresas já constituídas em Angola e constituir
associações em participação com direito a transferir resultados.
O regime jurídico está consagrado na do Investimento Privado Lei nº 14/15, de 11 de
Agosto, para efeitos regulatórios do investimento privado assinala-se as três grandes áreas:
- Área Substantiva: enquadra os princípios e normas jurídicas básicas do investimento
externo que consagra os direitos e obrigações do investidor estrangeiro (art. 1º e ss, da LIP).
- Área Procedimental: que concerne a tramitação do processo de investimento
privado externo art.45º e ss, da LIP).
- Área Sancionatória: que engloba as normas definidoras de infracções, as sanções à
elas aplicáveis, art. 57º da LIP.
Regime Cambial do Investimento Privado Externo quando os valores a investir em Angola se
situassem abaixo do mínimo acima referido, a importação de capitais podia ser feita com base
no mecanismo previsto na Lei nº 5/97, Lei Cambial.
As operações cambiais só podem ser realizadas por intermédio de uma instituição
financeira autorizada a exercer o comércio de câmbios, de forma isolada ou cumulativamente
através das seguintes formas de transferência de fundos do estrangeiro aplicação de
disponibilidades em contas bancárias, em moeda estrangeira, constituídas em Angola por não
residentes e importação de equipamentos, acessórios e materiais. Estas operações de acordo
com o art. 44º, da LIP , estão sujeitos as normas do regime cambial vigente em Angola Lei
5/97, de 27 de Junho.

4.16. Princípio do Mercado e do Planeamento


Não se encontrava expressamente na Pré-Constituição275, tanto de 1975 como a de
revisão de 1992. Mas contudo, atento as novas teias da economia mundial e o sistema

275
Apud, FERREIRA, EDUARDO PAZ, – Direito da Economia, - Lisboa AAFDL-2003. Pág. 19.
- Preferimos tratar de Pré- Constituição por configurar – se nas leis constitucionais provisórias ou transitórias que
antecederam à actual Constituição definitiva de 2010.
118
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
económico que visava as reformas de 1988, o legislador foi feliz e consagrou de modo
expressivo o Mercado no art. 89º, al. c) e o Plano no art. 91º da Constituição da República de
Angola de 2010. Cujo objectivo é promover o desenvolvimento sustentado e harmonioso do
país, assegurando a justa repartição do rendimento nacional, a preservação do ambiente e a
qualidade de vida dos cidadãos.
4.16.1. Mercado
O Mercado - pode ser definido como sendo o encontro entre produtores e
consumidores dentro de um determinado espaço e em Angola divide-se em Mercado Formal
(oficial) e Mercado Informal (não oficial) de bens e serviços.
As áreas mais abrangidas pelo Mercado Informal, designadamente o comércio
retalhista, o emprego, a construção, a moeda estrangeira, os transportes colectivos e urbanos,
e outras áreas como a saúde, a própria educação, correctores imobiliários, mercado cambial,
microcrédito, comercio rural, comércio a retalho de bens alimentares, designadamente: o
peixe, carne, hortícolas, e etc., prestação de serviços de agencia de viagem nos aeroportos,
trabalhadoras de sexo, de solicitadoria e etc., pelo que esta actividade económica fez surgir
novos profissionais liberais, ou seja, novas designações de profissionais liberais, como por ex.:
Quinguilas, Muambeiros, candongueiro, roboteiro, peixeira, mayuyeiro, nzungueiro, quengas
etc.
4.16.2.O Mercado Informal Apresenta as Seguintes Características
1- Espontaneidade: o agente informal actua por impulso, reage em conformidade com a
procura e oferta. Não actua de forma planeada.
2- Atomismo: cada um actua por si, não estão organizados;
3- Pragmatismo e simplicidade: primeiro porque não está preocupado com as
formalidades. Vê uma oportunidade e actua utilizado obviamente mecanismos práticos
e simples;
4- Não usa papel, não faz contabilidade pratica os preços em função dos clientes;
5- Transparência e Liberdade: tudo é visível e porque é informal, é livre porque não está
preocupado com as regras jurídicas;
6- Imprevisibilidade: é imprevisível quer quanto aos preços, ao abastecimento, quer
quanto aos produtos e quer quanto às fontes. O que você encontra hoje, poderão não
encontrar amanhã;
7- Imediatismo: não está voltado para o futuro, mas sim para a solução de problemas
pontuais e actuais.
Na actual situação económica existe para efeitos de reforma económica o programa de
transformação do Mercado Informal para o Mercado único formalizado nos termos do PREI,
Decreto Presidencial nº 84/14, de 24 de Abril, que estabelece as bases gerais de
transformação do Mercado Nacional Único, cujas instituições encarrega para execução do
referido programa são: INAPEM, BUE, art. 3º e 8º do PREI, do Decreto Presidencial nº 84/14,
de 24 de Abril.

119
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
4.16.3. O Plano
O Plano(planeamento), o Sistema Nacional de Planeamento é a estrutura conceptual e
normativa para a elaboração, execução, registo, acompanhamento e avaliação do
planeamento nacional, instrumento de regulação e fomento do desenvolvimento nacional,
traduzido em objectivos, estratégias, planos, programas e acções (projectos e actividades) do
Poder Executivo, e respectivos resultados e impactos, (art. 2º, da LPN) ou seja, o Plano
Económico art. 91º, da CRA, - deve ser compreendido como um conjunto de acções e
directrizes integradas, que têm como objectivo principal promover o desenvolvimento
económico e social de uma região276, (Cidade, Município, Estado ou País).
De acordo os dados históricos do direito comparado, os planos franceses depois da
segunda guerra mundial, eram do tipo indicativo, por oposição aos planos imperativos que
encontramos nos países socialistas. Porquanto à luz do Sistema de Economia de Mercado, os
planos indicativos não dão ordens; enunciam objectivos e preferências (opções) e contêm
recomendações e não prescrições.
Este carácter traduz-se no objecto das disposições dos planos, nomeadamente no Plano
nacional como nutrificado pela Lei do planeamento nacional angolano art. 5º, al. c), que
óbvia e prescreve o seguinte:
«Natureza indicativa do planeamento em relação à iniciativa privada, através da
orientação dos gastos públicos, da regulação e de estímulos de política económica».
Em primeiro lugar, encontram-se aí abundantes análise de situações, de dados
económicos, de evolução.

276
Lembra o Plano Marshall que visou a recuperação da Europa pós - guerra de 1945, 2ª guerra mundial. O
referido plano ficou conhecido por “ PLANO MARSHALL” em homenagem ao ex-secretário do Estado dos EUA
GEORGE CATLETT MARSHALL, que ganhou o Nobel da Paz de 1953, pela criação do plano que ajudou a
reconstruir a Europa no pós-guerra e morreu em 1959.
Na França houve o PLANO DE “MONNET” O Plano Monnet era um plano de reconstrução da França
proposto pelo funcionário público Jean Monnet após o final da Segunda Guerra Mundial. No plano era proposto
que a França obtivesse controlo sobre o carvão e aço das zonas alemãs do Vale do Ruhr e Sarre para poder usar
esses recursos e levar a França ao índice 150% quando comparado com a produção industrial do pré-guerra. O
plano foi adoptado por general Charles de Gaulle no início de 1946.
E na Rússia (URSS) o PLANO “COMECON” (Council for Mutual Economic Assistance, Conselho para
Assistência Económica Mútua) foi fundado em 1949, e visava a integração económica das nações do Leste
Europeu.
Os países que integraram a organização internacional foram a União Soviética, Alemanha Oriental
(1950-1990), Tchecoslováquia, Polónia, Bulgária, Hungria e Romênia.
Recentemente países da zona euro devido a crise do subprime, é uma crise financeira desencadeada em
2006, a partir da quebra de instituições de crédito dos Estados Unidos, que concediam empréstimos hipotecários
de alto risco (em inglês: subprime loan ou subprime mortgage), arrastando vários bancos para uma situação de
insolvência e repercutindo fortemente sobre as bolsas de valores de todo o mundo, Portugal e outros países da
Europa foram obrigados a pedir ajuda financeira externa e que ficou conhecido como o programa de assistência
económica e financeira, ou regaste financeiro do FMI, ou seja, ajuda externa desde 2011, designado de Troika
(troika tem vários significados, designadamente):
1. Trenó puxado por três cavalos
2. Conjunto de três pessoas ou coisas, tric
3. Grupo de trabalho ou delegação composto por três membros
(Do russo troïka, «trio»).
E em Angola o Programa de Saneamento Económico e Financeiro de 1988, conhecido como S.E.F. e
sucessivamente seguiram mais outros programas, ou planos gizados pelo governo do Eng.º JOSÉ EDUARDO DO
SANTOS.
120
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Em segundo lugar, encontram-se, igualmente em grandes proporções, previsões
incidindo sobre as tendências, as taxas de desenvolvimento prováveis ou possíveis.
Finalmente, em terceiro lugar, encontram-se o conjunto das disposições optativas,
aquelas que dão ao Plano o seu carácter de desejo e de instrumento de orientação. Essas
recomendações enunciam os objectos e as «acções a empreender» ou «acções propostas».
Elas dizem essencialmente respeito aos investimentos, quer do sector público, quer do sector
privado. É o que indica a Lei que contém a aprovação do Plano: «O Plano é aprovado como
quadro dos programas de investimentos para o período (…) e como instrumento de
orientação da expansão económica e do progresso social»277.
Desde o princípio como afirma ANDRÉ DE LAUBÈDERE278, que estas questões foram
discutidas e continuam a ser. O problema da natureza jurídica do plano é efectivamente um
problema embaraçoso e difícil. A razão disso está nas características muito particulares, que
acabamos de indicar, do acto planificador, em particular no seu carácter simplesmente
indicativo optativo.
Tradicionalmente o acto jurídico define-se como acto que visa produzir efeitos de
direito, modificar o ordenamento jurídico existente e, tratando-se do acto jurídico público,
como um acto prescritivo, imperativo ou ainda normativo, isto é, introduzindo na ordem
jurídica uma norma, uma regra.

277
Cfr. LAUBADÈRE, ANDRÉ DE, - Direito Económico, Pág. 318. Escreve este autor francês que, - carácter
operativo distingue sem dúvida, no seio da planificação indicativa, os planos de tipo francês dos documentos de
tipo holandês, que não passam de previsões postas em números, com fim de informação sem incitamento. É
aquilo que por vezes se exprime dizendo que plano francês, se não é imperativo, é pelo menos activo. Mas nem
por isso deixa de ser simplesmente indicativo.
No V plano, preferiu-se a eventuais correcções empíricas e improvisadas, uma fórmula de levantamento
sistemáticos, chamada fórmula dos «pisca-piscas» ou dos «sinais de alerta»: as variações susceptíveis de se
produzirem em determinados domínios (nível geral de prelos, equilíbrio das trocas externas, situação do
emprego, etc.) deveriam arrastar, se ultrapassassem determinadas marcas, a aplicação de medidas correctas ou
mesmo a mudança explicita de um objectivo do plano.
Mas, a inovação mais importante do VII Plano, no que diz respeito à aplicação da ideia dessa
mentalidade, reside na técnica dos programas de acções prioritárias, que corrigem os efeitos dessa mentalidade
– reafirmada em si mesma – através de um regime mais bem protegido contra as eventuais mudanças, reservado
a determinadas acções seleccionadas.
Nesta ordem de ideias, para evitar que as variações da conjuntura fizessem abandonar determinados
objectivos essenciais, já o VI Plano tinha previsto, para certos equipamentos, «declarações de prioridade» que os
tornavam beneficiários de envelopes quinquenais de autorizações de programa assim como de «programas
finalizados», caracterizados pelo facto de que ai eram reconhecidas como prioritárias não apenas as despesas de
equipamento complementares.
A ideia fundamental desta concepção é que, sendo simplesmente indicativo, o plano só terá
possibilidade de êxito se for «aceite» pelas pessoas interessadas na sua aplicação e até se for por elas sentido
como uma obra colectiva, uma espécie de bem comum, uma linha de conduta que elas têm interesse em seguir.
Esta ideia, que constitui o correctivo do carácter indicativo do plano, é talvez inerente à natureza de qualquer
plano deste género; não é por isso menos verdade que se pode apresenta-la com uma marca própria da
planificação francesa, ela revela o seu espírito e exprime-se na técnica chamada «elaboração concertada», que
os autores do Plano Monet evocavam declarando que «a execução dos programas se deveria fazer dentro de
uma economia concertada e não dentro de uma economia dirigida de carácter burocrático e corporativo».
Podemos dizer que a planificação foi, deste modo, a terra natal da concertação antes que esta ultima se
tornasse objecto de uma aspiração muito mais geral em matéria económica e mesmo nos outros sectores da vida
administrativa.
278
Ibidem.
121
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
O carácter simplesmente indicativo e optativo do Plano priva-o precisamente destas
características do acto jurídico público.
Com efeito, é certo que o Plano, por si mesmo, não impõe nada às Empresas
económicas privadas, aos administrados. Não lhes é oponível, no sentido de que eles são
absolutamente livres de não seguir as suas recomendações. E, por outro lado, ele também
não pode ser directamente invocado por eles em justiça: os interessados não poderiam
pretender anular uma decisão da administração pela razão de que ela não estaria conforme a
esta ou aquela recomendação do Plano, nem reclamar indeminização pela razão de que lhes
teria sido recusado determinado beneficio previsto no Plano.
O Plano está mesmo privado de eficácia jurídica no que diz respeito aos investimentos
públicos que prevê. Não podem dar lugar a compromisso do Estado a não ser nos limites
determinados por autorizações de programa votadas nas condições determinadas pela lei. A
execução das autorizações de programa supõe a votação de créditos de pagamento e que os
próprios créditos orçamentais constituem, para os agentes públicos, autorização e não
obrigação de gastar.
Mas esta afirmação obriga a perguntar, por um lado, em que categoria de actos
jurídicos se pode classificar o plano, por outro lado que consequências devem ou deveriam ser
ligadas ao reconhecimento da jurisdicidade do Plano279.
Plano no Ordenamento Jurídico Económico Angolano, consiste pois, num instrumento
de política económica, e, constitui um limite à actuação do Mercado e exprime a supremacia
do poder político sobre o poder económico280.
O Planeamento democrático do desenvolvimento económico e social previsto no art.
91º, da CRA, não é a planificação socialista mas também não é aquele último planeamento
privado, sai dos horizontes microeconómicos empresariais, visa sobretudo dirigir o normal
processamento da decisão económica descentralizada para um quadro de objectivos globais
de interesse colectivo onde pontificam considerandos ambientais e urbanísticos, entre outros,
ao sabor dos objectivos constitucionais mais gerais do Estado281, mas sem se sobrepor à

279
Cfr. LAUBADÈRE, ANDRÉ DE, - Direito Público Económico, Pág. 326. Esta consideração leva muitos juristas a
pensar que o Plano n ao é um acto do âmbito do Direito. O Plano nesta opinião, é um acto técnico e político, não
jurídico; cria obrigações morais, não obrigações no campo do direito, não pertence à ordem jurídica. O Plano, se
não do ponto de vista das suas formas, processos e graus de elaboração, pelo menos do ponto de vista da sua
natureza profunda, seria, em suma, uma declaração governamental de política económica aprovada pelo
Parlamento, análoga a parte económica de uma daquelas declarações ministeriais através das quais um novo
chefe do governo expõe, quando entra em funções, a política económica que conta seguir durante o período em
que ficará poder e recolhe um voto de confiança equivalente à aprovação do programa exposto.
No que diz respeito especialmente às próprias obrigações dos poderes públicos, como admitir que
Estado não seja em nada obrigado juridicamente pelo Plano que aprovou e propôs ele mesmo aos interessados,
incitando-os, ainda por cima, a embrenharem-se em direcções definidas e que, tendo-o promulgado, ele possa
lavar as suas mãos a esse respeito? «O Plano constitui um compromisso solene da Nação para consigo mesma».
280
O realce e o negrito também é nosso.
281
O Sistema Nacional de Planeamento integra os instrumentos de planeamento para promoção do
desenvolvimento socioeconómico e territorial do País de horizonte temporal anual e plurianual de médio e longo
prazos.
2. Os instrumentos do Sistema Nacional de Planeamento, nos termos do art. 6º da LPN, ou seja, os tipos de
planos nacionais são:
a) Estratégia de longo Prazo (ELP);
b) Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN);
c) Quadro de Despesa de Desenvolvimento (QDD);
122
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
decisão económica descentralizada própria do Mercado de acordo com o fundamento
predominante da actividade económica, a autonomia privada e não tem de constar de um
documento unitário282.
Acresce ainda que o planeamento constitucional é democrático o que abre à
participação dos respectivos destinatários através dos meios adequados, longe de uma
concepção burocrática e tecnicista. Trata-se antes de mais de um meio de consolidação da já
referida democracia participativa e não um certificado de valia tecnológica ou de obediência
política. É por isso que ele é democrática.
Isto significa que o planeamento constitucional continua a ser da actividade económica
e não se confunde com o simples planning orçamental, próprio de certos critérios de cálculo
das despesas públicas, muito vulgarizados, e que apenas visam, para melhor as avaliar,
apreciá-las num plano plurianual a decompor em projectos anuais orçamentáveis, tal como
também se faz, de resto, no sector privado.
Portanto, o plano angolano tem natureza misto, porquanto que na sua qualificação
pode ser entendido como um Plano indicativo para entidades privadas, isto é, facultativo, ou
optativo para os agentes económicos do sector privado da economia, dai torna um
instrumento de política do governo destituído de juridicidade, de um lado, e, por outro lado,
deve se entendido como um Plano Imperativo para entidades públicas, desde logo, vincula
todas as entidades do sector empresarial público, cujo império dos seus comandos é de algum
modo, de cumprimento obrigatório, tendo por via disso, carácter de um acto jurídico ineficaz,
porquanto, o Plano é acto técnico político que constitui um compromisso solene da Nação
para consigo mesma.

4.17. Princípios da Economicidade


O sentido do termo “economicidade” é muito mais amplo do que simples princípio
económico, qual se liga, intrinsecamente a ideia de lucro financeiro, ou do custo benefício
(Finanças) visado a satisfação das necessidades da colectividade (Cfr. o art. 88º ; 90º, da al. e)
e 99º, nº 1, da CRA). Tem a ver com o “Estado Económico”283, onde o “homo economicus”284

d) Planos de Desenvolvimento Sectorial e Privado (PDSP);


e) Plano Nacional de Ordenamento Territorial (PNOT)
f) Plano Estratégicos (PE)
g) Planos de Acção (PA)
h) Planos Anuais (PAn), e;
i) Planos de Contingência (PC).
282
Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Manual Elementar de Direito Público da Economia, Almedina, 2012, Pág.
91.
283
Estado Económico consiste no Estado lucrativo – capitalista e nunca no Estado de caridade que produz bens e
serviços e doa aos seus cidadãos, o Estado nunca distribui a riqueza por via gratuita, mas sim por via de
retribuição de rendimentos (renda, juros, trabalho, imposto, taxa e isenções fiscais, incentivos e etc.), se assim o
fizer será um Estado válido, aí impera, segundo o adágio popular “ quem não trabalha não como”.
284
Cfr. LOBÃO, JULIÃO - Finanças Comportamentais, quando a economia encontra a psicologia, editora, Actual -
2012, pág. 11. “Homo economicus – no desenvolvimento dos seus modelos, as finanças racionais pressupõem a
existência de um agente económico ideal com características muito especificas designado homem económico
(homo economicus)”.
Os economistas assumiram que o estudo das acções económicas do homem poderia ser feito
abstraindo-se as outras dimensões culturais do comportamento humano: dimensões morais, éticas, religiosas,
políticas, etc., e concentraram seu interesse naquilo que eles identificaram como as duas funções elementares
123
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
se destaca para tal satisfação do bens - estar por via económica. Ora, o Direito Económico
busca harmonizar as medidas de política económica públicas e privadas, através do princípio
da economicidade, com o primado da ideologia constitucionalmente adoptada285.
Neste contexto, o princípio da economicidade - pode ser definido como aquele através
do qual se busca a concretização dos objectivos constitucionalmente traçados por uma linha
de maior vantagem, isto é, de forma mais viável possível para o suprimento de determinada
necessidade, seja esta de que ordem for, não apenas patrimonial, mas também social,
política, cultural, ética e moral286.
Segundo a Advogada de Minas Gerais (Brasil) CLÁUDIA MARIA SILVEIRA, profetiza que
muitas vezes, a solução mais vantajosa para a situação não se trata daquela mais lucrativa em
termos financeiros, capitalistas. Tudo dependerá da finalidade que se busca atingir. Se se
almeja, por exemplo, o alcance da instalação telefónica em meios rurais de difícil acesso,
apesar de ser uma obra extremamente dispendiosa e de pouco retorno financeiro, em se
concretizando tal meta, o objectivo social terá sido realizado, embora não sejam auferidos
lucros em matéria de rendas mas sim de benefícios para a população287.
Destarte, o emprego deste princípio, vem a corresponder à necessidade de
flexibilidade das normas de Direito Económico face às diversas circunstâncias com que este se
depara ao longo da trajectória económica de um País. Porém, um mesmo facto em contextos
distintos pode levar a decisões inteiramente contrárias, sem a ocorrência de qualquer
contradição. Trata-se de simples ajuste ao dispositivo constitucional adequado para situações
individualizadas, realizado pelo instrumento harmonizador da economicidade.
O que significa dizer que, maior vantagem há de ser adequada aos objectivos
constitucionalmente definidos. Permite, desta maneira, a opção mais justa ou recomendável,
em política económica, a ser realizada pelo aplicador ou intérprete da norma, quando da

exercidas por todo e qualquer indivíduo : o consumo e a produção O Hedonismo, que afirma que o homem está
sujeito, tal como os animais, à Lei natural dos instintos e que portanto se encontra implícita a procura do prazer,
do bem-estar e a evitação da dor.
O Utilitarismo, cujo autor principal é JOHN STUART MILL (1806-1873) afirma que o que é útil é valioso e
contrapõe o prazer calculado ao irracional, classificando os prazeres nobres e pobres.
O Sensualismo segundo CONDILAC (1714-1780) afirma serem os sentidos a fonte do conhecimento, dai
consubstanciar-se nos seguintes princípios fundamentais do conceito “homo economicus”:
1- A razão psicológica essencial a toda a actividade humana é o interesse pessoal. Este primeiro princípio
é então afectivo, pois define a única razão da actividade económica;
2- O homem não obedece senão à razão;
3- O sujeito é universal, o interesse pessoal e a racionalidade são validos em todos os lugares e em todos
as épocas.
4- O homem está perfeitamente informado, tem conhecimento da totalidade das consequências de
todas as possibilidades das acções que se lhe oferecem;
5- O homem vive o presente num tempo linear, não se lembra nem tem a capacidade de prever;
6- Ele está só e portanto livre dos outros homens, ou seja, não existem determinismos que lhe sejam
exteriores.
Com base nesta construção abstracta, que os economistas construíram sobre um corpo teórico
unanimemente aceite, elaboraram-se leis económicas que se encontram em todas as obras fundamentais: a Lei
da maximização da utilidade e leis sobre a utilidade marginal, aplicadas ao consumo e à produção.
285
Capitalismo ou socialismo.
286
Cfr. SILVEIRA, CLÁUDIA MARIA, - Advogada em Belo Horizonte (Minas Gerais) art. Direito Económico e
Cidadania - fonte intenet. http://jus.com.br/946428-claudia-maria-toledo-silveira/publicacoes#ixzz2wfzDdXQK.
Consultada 10/2/2014.
287
Ibidem.
124
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
realização concreta de situações hipoteticamente previstas. O ideal é que se consiga conciliar
aquilo tomado como certo economicamente, com o considerado justo juridicamente. Em caso
de incompatibilidade, deve prevalecer o justo. Afinal a “linha de maior vantagem” é pautada
em temos do “valor da justiça”. Restringe-se o arbítrio, o poder de decidir do aplicador, o
qual se deve ater às disposições constitucionais e princípios hermenêuticos, preterindo-se
qualquer subjectividade288.
O Princípio da Economicidade, exige o lucro empresarial, ou seja, o excedente por
exemplo os preços praticados pela Empresa Pública ser pois superiores ao custo , isto não
significa que o Estado não possa subsidiar as Empresas Públicas ou elas equivalentes de modo
a que elas matem os preços inferiores do mercado, (ditos preços políticos, subvençao do
preços dos combustíveis em Angola, preços de transporte rodoviários urbanos praticados
pelas Empresas Públicas privadas subvencionadas pelo Estado no Namibe, EMPRESA ACP-
SOLIDARIEDADE, TUCUTU – Lda., no Lubango a EMUTRAC. Nas telecomunicações, os preços
da tarifa praticado pela ANGOLA-TELECOM), só para satisfazer o desiderato social ou interesse
social geral; (art. 198º da CRA), ou seja para responder a necessidades sociais ou de política
económica289.
Em síntese quando um jurista está perante um conflito entre o Direito e a Justiça deve
pensar sempre no valor imanente e suprema da justiça, isto é, deve escolher a justiça, porque
nem todo Direito é Justiça290.

4.18. Princípios da Eficiência


A Lei constitucional de 1992, já consagrava da eficiência no artigo 11º, nº 2, por
conseguinte, na actual Constituição Económica vem consagrado no art. 21º, al. p), da CRA,
portanto o princípio da eficiência é tributário da Ciência da Economia e vem sendo recebido
pelas normas jurídicas, sob diversas afloramentos que subjazem à ideia primária de que o
Mercado assegura o máximo de bens e, a ideia de eficiência291, diferente da eficácia, radica no
determinismo das leis de funcionamento do Mercado.
Através deste princípio fica obrigada as entidades públicas acomodar a sua gestão
económica a um aproveitamento racional dos meios humanos e económicos e financeiro de
que dispõe minimizando os custos de produção de distribuição comercialização de modo a
poder responder na maior escala possível às necessidades que se propõe satisfazer. É
corolário do princípio da economicidade que visa criar as condições para que a rentabilidade
empresarial seja possível292. O que significa dizer o Estado quando esta regular ou intervir na
economia visa alcançar a eficiência e não abstruir.

288
Ibidem.
289
Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Direito Económico, 5ª edição, 2007, Pág. 331
290
Vide COUTURE, EDUARDO, 1949, O Advogado.
291
Em sua acepção etimológica, a eficiência é o termo surgido no séc. XVIII, que deriva do latin (efficientia) e
eficácia termo surgido no séc. XV, que deriva do latin (eficácia) designam a mesma coisa, posto que ambos
decorrem do verbo efficere, que significa fazer, produzir. Nos dias de hoje os termos eficácia e eficiência
apresentam conceitos diferenciados, mas que se relacionam com a ideia de realização de objectivos. De acordo
com D. GALLIGAN, a eficiência analisa a relação entre recursos e resultados, ao passo que eficácia diz respeito à
realização de objectivos. Apud, CATARINO, JOÃO RICARDO/GUIMARÃES, VASCO BRANCO, - Lições de Fiscalidade,
Almedina 2012, Pág.117.
292
Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL de, - Direito Económico, 5ª edição, 2007, Pág. 334.
125
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
4.19. Princípio das Nacionalizações e das Privatizações
As nacionalizações de ponto de vista histórico, hoje não têm as mesmas importâncias
que tinham na altura da independência, pois que, as nacionalizações foram utilizadas como
instrumentos necessários à instauração de uma economia centralizadas que se caracterizava-
se pela apropriação colectiva dos meios de produção com objectivos de construção duma
economia socializante, ou seja, o socialismo.
A propriedade colectiva produtiva angolana teve como base as nacionalizações
conforme o postulado no art. 97º, da CRA. Alguns conceitos respeitantes a este último
princípio configuram-se nos institutos económicos de nacionalizações, como figura central e,
por conseguinte, confisco, reprivatizações expropriação por utilidade pública, requisição
administrativa, todos esses institutos são figuras afins das nacionalizações, porquanto
geralmente promanam de um acto de soberania e revestido na fisionomia de uma lei em
sentido formal. Daí, ser considerando a figura central na hierarquia da intervenção do Estado
sobre a Economia.
Assim sendo, para todos efeitos académicos vamos dar a noção de algumas figuras:

4.19.1.Nacionalizações
A nacionalização em sentido restrito pode ser definida, segundo o Prof. EDUARDO PAZ
FERREIRA, como uma medida coactiva que opera a transferência da propriedade de Empresas,
participações sociais universalidades de bens, prédios rústicos e/ou urbanos ou ainda de
outros bens das pessoas privadas para as entidades publicas por razões política económica e
social293.
Deste conceito pode-se abstrair alguns traços característicos da nacionalização,
designadamente:
1º- A nacionalização opera sempre por via coactiva, não se podendo falar de
nacionalização se tiver havido uma compra pelo Estado de bens privados;
2º- É preciso que se verifique uma transferência efectiva da propriedade dos bens que
deixam de se integrar no sector privado;
3º- A nacionalização tem sempre uma motivação de ordem económica e social,
visando que os bens atingidos fiquem ao serviço do interesse geral294.
Segundo o renomado Professor de Lisboa Doutor EDUARDO PAZ FERREIRA, citado
pelo Prof. PAULO ALVES PARDAL295, - destaca que uma nacionalização implica uma
transferência efectiva da propriedade dos meios de produção, por via coactiva, para entidades
públicas, devido a razões de política económica e social296, estes autor defende, salientando,
porém, que as motivações subjacentes podem ser da mais diversa ordem, tais como:
(i) Ideológicas (v.g., nacionalizações decorrentes de um programa revolucionário

293
Cfr. FERREIRA, EDUARDO PAZ, - Sumários de Economia, AAFDL 1996, Pág.290.
294
Cfr. FERREIRA, EDUARDO PAZ, - Sumários de Direito Economico 1996, Pág.290. neste sentido vide Acórdão do
Tribunal Constitucional Português nº39/88, de 9 de Fevereiro, in D.R. 2ª série nº 35, de 11 de Fevereiro de 1988.
295
Apud, AAVV, PARDAL, PAULO ALVES, - Direito da Economia Vol. I. editora AAFDL. Lisboa 2014. Pág. 172-174.
296
Ibidem. Pág. 172.
126
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
de índole colectivista ocorreu 1975);
(ii) Intervencionismo Económico; no caso angolano o que aconteceu com as
nacionalizações de 1975 no período pós independência que culminou com as nacionalizações
e confisco de todo activo do parque habitacional e comercial, até então pertencentes e
abandonado pelos colonos (v.g., para colmatar falhas de mercado);
(iii) Punitiva (v.g., em Angola a nacionalização da COTONANG, DIAMANG, NGOL e
etc. e
na Europa pós guerra a nacionalização da Renault na França);
(iv) Retaliatórias (v.g., nacionalização, com diz o Prof. ALVES PARDAL, - sem
indemnização das acções detidas por um Estado terceiro numa empresa no caso empresa de
direito angolano em retaliação de idêntica medida tomada por esse Estado sobre acções
detidas pelo Estado angolano); em Angola aconteceu em 1975, com algumas situações dos
portugueses;
(v) Afirmação na Cena Internacional (v.g., nacionalização do Canal de Suez por
parte do Egipto) e para evitar uma falência técnica de uma empresa relevante na economia de
um País, no caso menos perene de intervenção do Estado angolano no Banco Espírito Santo
Angola(BESA) para evitar colapso financeira e risco sistémico com efeitos de contagio no
sistema financeiro angolano.
Em Portugal, a nacionalização do Banco Português de Negócios (BPN), em 2008, pode
ser vista no contexto do risco sistemático297. Em Angola a intervenção do Estado no Banco
Espírito Santo Angola (BESA), que transformou-se num novo Banco; designado de «Banco
Economico», suportado pelos activos do Estado mas mantido alguns accionista do antigo
Banco, isto, transcreve-se, segundo a ideia cunhada pelo Prof. de Lisboa, ALVES PARDAL, (…)
podem existir duas modalidades de transferência da esfera privada para a esfera pública por
via de nacionalização: uma opera-se a transferência de participações sociais pelo que se
mantém a estrutura empresarial (com todo o seu património), alterando-se, assim, a
titularidade das participações sociais; noutra a transferência incide sobre bens, direitos e
obrigações (…)298.
Posto isso, retira-se deste excurso de exposição telegráfica, e que, cumpre-nos,
todavia, no nosso entendimento dar uma noção de nacionalização, como sendo, - “uma

297
Ibidem. Neste sentido explica o lustre Prof. Doutor ALVES PARDAL, que ao que tudo indica, o BPN encontrava-
se envolto em irregularidades que o conduziram a consideráveis perdas ocultas, tudo isto ainda, aliando ao
manifesto receio parte do Governo português de um efeito de contagio sobre o sector bancário nacional a
braços com especiais preocupações no contexto de uma crise financeira internacional despoletada no ano
anterior, “por motivos de excepcionais e especialmente fundamentados, tal se revele necessário para
salvaguardar o interesse público”, o que se traduz numa porta aberta à actuação do executivo nesta matéria, isto
não obstante deverem ser observados “princípios da proporcionalidade, da igualdade e da concorrência” em
cada nacionalização, podem ser objecto de apropriação pública, por via de nacionalização, no todo ou em parte,
participações sacias de pessoas colectivas privadas, escapando, assim, os bens e patrimónios. Com efeito, em
tese, podem existir duas modalidades de transferência da esfera privadas para a esfera pública por via de
nacionalização: uma opera-se a transferência de participações sociais pelo que se mantem a estrutura
empresarial (como todo o seu património), alterando-se, assim, a titularidade das participações sociais; noutra a
transferência incide sobre bens, direitos e obrigações.
298
Ob. Cit. Pág. 143.
127
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
forma directa e imediata de intervenção do Estado na Economia que consiste no acto de
soberania mediante o qual se transfere a propriedade e bens vitais dos particulares para
economia estatal, com a simultânea transferência, ou modificação da respectiva gestão por
razões de política social e do interesse público”299. Ou seja, como queiram entender neste
aresto, é transferência de titularidade e gestão da propriedade privada para esfera jurídica
do Estado revestido por acto de soberania de forma de Lei no sentido formal, nos termos
permitidos pela Lei fundamental de magnitude económica de Angola; (art. 97º, da CRA) e
legislação ordinária; (Lei nº 3/76, de 3 de Março, designada de Lei dos Confiscos e
Nacionalizações).
4.19.1.1 -Efeitos Jurídicos das Nacionalizações
Os efeitos das nacionalizações podem distinguir-se em efeitos nucleares, ou centrais e
efeitos periféricos cuja sede legal é representado pelos artigos 6º a 9º da lei nº 3/76, de 3 de
Março.
4. 19.1.2. Efeitos Centrais
(i) Aquisição Originária
Ainda que a lei o não contemple expressamente, este efeito estaria implícito na
natureza do acto de nacionalização, ou pelo menos em cada acto casuístico de nacionalização.
A Lei n.º 3/76, de 3 de Março, prevê expressamente que: “os direitos relativos aos
nacionalizados consideram-se transmitidos para o Estado para todos efeitos legais,
independentemente de quaisquer formalidades, ónus ou encargos que sobre eles
impendam”.
Esta transferência ope legis, para o Estado de direitos dos ex-titulares dos bens objecto
de nacionalização, representa uma aquisição originária de direitos reais e não derivada, pois
não depende da existência de um direito real anterior.
(ii)Regime de Gestão
Um, outro efeito central das nacionalizações é a alteração do regime de gestão a que
estavam os bens nacionalizados - antes sujeitos ao regime de direito privado, e depois, a um
regime de gestão pública.
4.19.1.3. Efeitos Periféricos
O objecto das nacionalizações limita-se exclusivamente aos bens das empresas. Assim,
os efeitos periféricos referem-se a parte ou o todo da universidade dos bens, direitos e
obrigações que a empresa representa na ordem jurídico-económica. Qualquer modo,
podemos distinguir assim, quatro efeitos periféricos:
(i) Efeitos em relação a ex-Empresa privada;
(ii) Efeitos em relação aos ex-titulares da Empresa;
(iii) efeitos em relação à nova Empresa, e;
(iv) efeitos em relação aos trabalhadores.

299
A nossa construção, e, o mesmo sentido Cfr. ABRANTES, MARIA LUÍSA, - As Privatizações em Angola, editora
Multitema, 2009, Pág. 43.
128
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
4.19.3.1.Efeitos em Relação à Ex-Empresa Privada
Nos termos do artigo 7º, da Lei n.º 3/76, de 3 de Março, - «os órgãos sociais das
sociedades nacionalizadas serão dissolvidas na data da respectiva nacionalização». Equivale
isto dizer que os órgãos sociais constituídos nos termos da legislação comercial, estando
dissolvidos, ope legis, perdem toda a legitimidade para exercerem as suas funções legais e
estatutárias. Consequentemente, todo o activo e passivo da ex-Empresa privada, é também
transferido para o Estado, pelo que o efeito regra é o da constituição de uma nova entidade
jurídica e a dissolução, ipso iure, da sociedade de direito privado, salvo nos casos em que, nos
termos gerais da Lei n.º 3/76, de 3 de Março (art.º 7º, nºs 2 e 3), as sociedades mantenham a
sua personalidade jurídica.
Um exemplo característico de casos em que as sociedades mantêm a sua
personalidade jurídica é o caso do Banco Comercial de Angola, confiscado pela Lei nº 70/76,
que se limitou a alterar-lhe a denominação para Banco Popular de Angola, e, mais tarde de
BPC, continuando a reger-se pelas disposições legais e estatutária vigentes na parte em que
não contrariassem o disposto naquela Lei.
4.19.3.2.Efeitos em Relação aos e Ex-Titulares; o Direito à Indemnização
Com a dissolução dos órgãos sociais e com a consequente transmissão para o Estado
dos bens nacionalizados, os sócios das Empresas nacionalizadas, perdem todos os seus
direitos de sócios. Como reverso da parda da qualidade de sócio, estes ganham uma
expectativa de indemnização. (Remetemos esta matéria para o ponto acima estudado).
4.19.3.3.Efeitos em Relação à Nova Empresa
Viu-se anteriormente, que em relação a ex-Empresa privada pode-se verificar um
efeito alternativo: o da manutenção da personalidade ou o da dissolução desta. Aqui, cumpre
destacar os efeitos mediatos num caso e noutro.
a) No caso de manutenção da personalidade jurídica da empresa privada, cumpre
destacar que essa continuidade se dá com uma implícita alteração dos seus estatutos,
nomeadamente, quanto ao elemento pessoal da sociedade comercial e quanto aos órgãos
sociais.
Quanto ao elemento pessoal este vê-se reduzido a um único sócio o Estado, – se e
enquanto não forem integrados outros sócios. Trata-se de um caso de sociedade unipessoal
consentida pela legislação sobre nacionalizações, ao arrepio da legislação comercial. Todavia,
esta sociedade unipessoal continua a ser regida pela legislação comercial em tudo que não
contrarie aquela legislação. Resulta assim que, rigorosamente, neste caso, não se está perante
uma nova Empresa, mas sim perante uma pessoa jurídica com alteração em alguns dos seus
elementos estruturais.
b) Em caso de dissolução, ope legis, da sociedade, constitui-se em regra uma nova
empresa estatal.

4.19.3.4.Efeitos em Relações aos Trabalhadores


Os trabalhadores da ex-Empresa privada permanecem com os seus vínculos laborais
incólumes porque transferidos para a nova Empresa (em caso de criação de uma nova

129
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Empresa). Equivale isto dizer que eles continuam a sujeitar-se, ainda que transitoriamente, à
legislação laboral que até à nacionalização regeu as suas relações com a Empresa
nacionalizada.
Uma outra questão que deve merecer atenção especial nesta recta final, prende-se
com a figura económica da irreversibilidade das nacionalizações. Pelo que na antiga Lei
Constitucional consagrava no seu artigo 13º, da LC, curiosamente, o legislador não hesitou em
reconduzir o princípio da irreversibilidade das nacionalizações que na monta projecta-se de
modo reputado no art. 97º, da CRA, reporta-nos que:
- «são considerados e irreversíveis todos os efeitos jurídicos dos actos de
nacionalização e confisco praticados ao abrigo da Lei competente, sem prejuízo do
disposto em legislação especifica sobre as reprivatizações».
Significa este preceito legal, que já não perante um amplo princípio de irreversibilidade
das nacionalizações, mas também para a salvaguarda da validade e da eficácia dos actos de
nacionalização e confiscos operados no passado que constituem o núcleo duro da revolução
de 1975; não mais nacionalização com um fim-função de construção do socialismo, mas sim
no âmbito do intervencionismo do Estado por questões económicos pertinente de interesse
público e estratégico.
Este princípio da irreversibilidade é limitado pela imposição de um outro novo
princípio das (re) privatizações, incorporado na ultima parte do artigo 97º, da CRA.
Estamos pois perante princípios opostos para cuja aplicação o intérprete terá de lançar
mão às técnicas avisadas de interpretação jurídica 300.
Outras figuras afins das nacionalizações.

4.19.4.Confisco
O Confisco - é uma figura jurídica similar até certo tempo à nacionalização, mas tem
um alto pendor punitivo. Nesta ordem de ideias, o confisco, consiste na intervenção do
Estado indirecta do Estado sobre a economia que se vai caracterizar na perda dos bens
titulados pelos particulares a favor do Estado, (art. 97º, da CRA e Lei nº 3/76, de 3 de Março,
Lei dos Confiscos e Nacionalizações, Lei nº43/76)301.

4.19.5. Expropriação por Utilidade Pública


A expropriação por utilidade pública é um acto através do qual uma entidade pública
exige dos cidadãos a cessão de um bem (geralmente imóveis, terreno), mediante uma
indemnização com a finalidade de ser utilizado para a satisfação de interesses colectivos, nos
termos do art.37º, da CRA e art.1308º e 1310º, do CC., ( Lei 2030/1948, de 22 de Junho e Lei

300
Pois que a figura da privatização, pode ser entendida no sentido amplo, que a é transferência por alienação
total ou parcial da Empresa ou de bens do Estado, e sentido restrito, é entendido como reprivatização, como já
dissemos que é a transferência da propriedade do Estado nacionalizada e voltar para esfera dos particulares.
301
Vide o Acórdão Tribunal Supremo de Angola Proc.nº103/2004, sobre anulação do despacho de anulação do
confisco por ilegalidade.
130
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
nº 20:034, de 10 de Outubro de 1942302 e Decreto nº 578/70, de 19 de Novembro), e
projecta-se uma Lei nova para efeitos para conformar-se com quadro constitucional de 2010.
Este instituto aproxima-se as Demolições Administrativas e por vezes confunde-se.
Daí cumpre-nos, todavia, esclarecer que na expropriação é uma cessão da
propriedade que se funda no título registral válido de propriedade privada, enquanto que,
as Demolições Administrativas funda-se no poder de autoridade da Administração Pública
com vista a repor a legalidade de ordenamento do território urbano em função de ocupação
e construção não autorizada pelo Estado nos termos do Decreto 278/ 71, de 23 de Junho, pois
que, por vezes há demolições como acto de execução material como consequência lógico da
expropriação de um prédio(limpar o terreno) e há demolições com dupla vertente, primeiro
como acto formal de actuação do Estado através de uma ordem(despacho, edital, portaria) da
Administração que vise por o fim aquela ocupação ilegal e lesiva o património do Estado, e,
no segundo plano é a materialização da ordem que vai consistir num conjunto de operações
multi-sectorial da Administração Económica em respeito aos direitos fundamentais e figuras a
fins.
Portanto neste plano de demolições por regra não há direito subjectivo de
indeminização para os não portadores de títulos de propriedade, quando muito, haverá para
as populações evacuadas e dos imóveis demolidos o direito à uma compensação de um
terreno e materiais de construção, e que por maioria da razão não deveria ter, pelo que deve
ser penalizado com uma coima303, pois que, ao demolir a propriedade ilegal304, o Estado está
actuar de modo sancionar negativamente o particular que transgrediu a Lei económica de
terras, concessões de direito de superfície e de ordenamento do território angolano, ou seja,
o particular que ocupou o bem do Estado sem prévia autorização, que, vai constituir uma
transgressão administrativa económica, nos termos da al. h) do art.9º, da Lei nº 12/11, de 16
de Fevereiro, Lei das Transgressões Administrativas e demais leis de ordenamento do
território.

4.19.6. Reversão
A Reversão, consiste na transferência dos bens dos particulares para esfera
patrimonial do Estado em função da extinção do organismo ou pessoa colectiva, ou por “rés
nullium”, abandono, o seu património reverte-se à favor do Estado, vide art.166º, do CC e
art.11º, do Decreto Presidencial nº 92/2016, de 4 de Maio, Regulamento de Aquisição Gestão
e Abate da Frota de Veículos Automóveis do Estado, art.12º, do Decreto Presidencial
nº177/10, de 13 Agosto, Instruções de inventariação dos Bens Patrimoniais Públicos.

302
Este diploma, republica a Lei de 26 de Julho de 1912, e estabelece as regras a seguir para expropriação para
utilidade pública.
303
Não se aplica de facto e não Direito, por falha do regulador daí que, por questões de política social e para
evitar tensões de convulsões ásperas o Estado tende de conciliar por via de redistribuição da riqueza por via de
auxilio do Estado que é uma pratica anti-concorrencional no Mercado imobiliário.
304
Estes factos de demolições aconteceu na província da Huíla e no corredor da linha férrea dos Caminhos de
Ferro de Moçâmedes em que eram confundidos com a expropriação para utilidade pública enquanto os
expropriados muitos deles, nem todos, não tinha titulo de propriedade dai que as suas pretensões em tribunais
de justiça foram julgados improcedentes.
131
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
4.19.7. Requisição Administrativa
Consiste num acto pelo qual em casos excepcionais legalmente previstos, em que uma
autoridade pública exige dos cidadãos mediante indemnização a prestação de certos serviços
a cessão de coisas móveis ou utilização temporárias de certos bens para ocorrer as
necessidades ingentes, art.37º, da CRA ; art.1309º e 1310º, do CC e do Decreto-Lei 36:284, de
17 de Maio de 1947.

4.19.8.Privatizações
A tendência actual é, como já se sabe, para o recuo do Estado no terreno da
economia, devido a causas económicas e políticas. Os sintomas são as privatizações
empresariais quer elas avancem até casos de autêntica privatização material compreendendo
a transferência da propriedade, ou gestão para uma identidade privada, corporizadas na
alienação do capital e nos contratos de gestão e colaboração, ou até casos de privatização,
menos comuns, meramente formais, bastando-se estes com o simples recurso a meios de
direito privado para a prossecução de fins públicos, continuando a propriedade e a gestão
caber a entidades públicas.
O fenómeno da privatização abarcou toda a actividade económica e manifestação de
«privatização» é subscrição da Empresa Pública, entidade pública por forma jurídicas de
direito privado, a substituição do serviço público directamente gerido pelo Estado por regimes
de concessão e a já referida regulação privada (ou por entidades independentes) do interesse
público ou seja, a «desregulamentação».
Avulta ainda a contratação de bens ou serviços pelos poderes públicos com entidades
privadas (outsourcing) que assim se substituem aos fornecedores públicos que consiste numa
perspectiva de «desintervenção», o que não correspondeu, portanto, ao desaparecimento da
regra jurídica como garante da disciplina da produção e consumo dos bens e serviços sociais
em causa. A complexidade respectiva requer a norma jurídica, sucedendo apenas que ela é
agora com frequência de origem não estatal305.
Segundo a doutrinadora angolana Doutora MARIA LUÍSA ABRANTES306, defende as
seguintes definições sobre as Privatizações:
a) Em sentido restrito, a privatização é uma medida através da qual o sector público
cede à iniciativa privada meios de produção, para que esta os explore com maior eficiência e
racionalidade.
b) Em sentido amplo, a privatização é uma medida tendente a reduzir o sector público,
quer administrativo, quer empresarial, abrangendo medidas directas e indirectas, destinadas
a transferir não só a propriedade e a gestão dos bens de produção públicos para o sector
privado, mas também a transferência de todos, ou da maior parte dos principais serviços de
assistência social do Estado para o sector privado, como por exemplo a saúde, a educação,
segurança social entre outros.
As privatizações no ordenamento jurídico angolano comportam duas modalidades
que podem ser total ou parcial nos termos do Lei das Privatizações nº 10/94, de 31 de Agosto

305
Cfr. MONCADA, CABRAL DE, - Direito Económico … Pág. 442-444.
306
Cfr. ABRANTES, MARIA LUÍSA, … Ibidem.
132
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
art. 4º, pelo que é considerados privatização total quando o Estado aliena a favor de terceiros
através da transferência da titularidade da propriedade de Empresas, património, e
participações sociais;(art.5º, da LP) e por conseguinte, privatização parcial, consiste na
transferência dos bens ou serviços através do contrato cessão de exploração e gestão; (art.
15º, da LP).
Conclui esta autora angolana definindo que, a privatização como “o acto através do
qual o Estado transfere para o sector privado, a propriedade e a gestão de unidades
produtivas de bens produtivos ou de recursos naturais, anteriormente na titularidade e/ou
gestão do sector público, ou outros sectores de produção não privados”. A privatização
encerra duas modalidade e que neste esteira pode ser total ou parcial, (caso das Empresas
Mistas) pode ainda ser maioritária, quando o controlo se mantém no sector público307.
Para nós a Privatização poder entendida, ou seja definida como: “uma forma de
desintervenção do Estado na economia (desregulação económica), que consiste na
transferência de titularidade da propriedade pública ou da gestão para o sector privado”, nos
termos balizados pelos art. 97º, da CRA e da Lei nº 10/94, de 31 de Agosto, Lei das
Privatizações.

4.19.8.1.Reprivatização
Reprivatização – também é a transferência de propriedade do sector público até então
nacionalizado, confiscado, expropriado pelo Estado para esfera jurídica económica dos
particulares por mecanismo de alienação do património do Estado.
Podem dar-se pela via da pura privatização (quando originariamente pertenceram ao
Estado e forma posteriormente transferidas para o sector privado), ou pela via da
Reprivatização (quando o bem já tinha pertencido ao sector privado, tivera sido transferido
para o sector público e devolvido ao sector privado). A regra é a “Pura Privatização” vide
art.97º, da CRA e da Lei nº10/94, de 31 de Agosto com a recentes alterações.

4.19.8.2. Devolução
A Devolução – é a privatização de um bem do Estado que anteriormente já tinha
pertencido ao sector privado tiver sido transferido para sector público (por via de
nacionalização e confisco ou figuras afins) para antigo proprietário, art. 97º, da CRA.
4.19.8.3.Redimensionamento
Redimensionamento - não é uma figura do Direito Económico, é apenas uma
terminologia adoptada para a dimensão empresarial que se pretendia mais diminuta no que a
função empresarial do Estado diz respeito.
O redimensionamento, ou seja, a transferência de bens públicos para entes privados se
processa tendo como base a figura jurídica da “privatização” ou se for o caso, da
“nacionalização”, quando o processo se dar forma diferente (de um ente privado para o
Estado), foi criado por um Decreto do Conselho de Ministro Dec. nº 36/89, de 22 de Julho.
Que institucionalizou o Gabinete de Redimensionamento Empresarial (GARE).

307
Cfr. ABRANTES, MARIA LUÍSA, - Privatizações Em Angola, editora Multitema, 2009, Pág. 20-21.
133
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
4.20.Princípio da Intervenção do Estado no Domínio Económico

Actividade económica do Estado – é distinta, por natureza da função própria do Estado


como legislador e como administrador da coisa pública, – era então entendido como
excepcional à luz da doutrina liberal. Desde logo, as intervenções do Estado tiveram a sua
causa no final do capitalismo liberal e caracterizado por seguintes grandes notas:
- A Grande Crise de 1929, do desemprego, da inflação, da fome, da bancarrota, etc.;
- KEYNES, apareceu neste momento para defender pela 1ª vez a intervenção do
Estado, no sentido do investimento público em tempos de recessão ;
- O Estado passa à intervir directamente e indirectamente.
Segundo a doutrina liberal, os poderes públicos deveriam abster-se de actuar como
agentes económicos sob pena de falsearem as leis do mercado308. Daí que as intervenções só
fossem em princípio admitidos quando justificado pela exigência de «falhas de mercado».

4.20.1. Modalidades de Intervenção


4.20.2. Quando à Doutrina Inspiradora
A intervenção do Estado corresponde, ou a um conjunto desgarrado de instituições,
praticas e actos, ou a um sentido global e coerente de actuação funcional do Estado309.
Como doutrina e como modalidade de pratica histórica, é corrente distinguir
intervencionismo simples, dirigismo e planificação. Assim sendo:
I – Intervencionismo Simples – existe quando o Estado, respeitando no essencial a
liberdade de actuação dos agentes económicos privados, procura realizar objectivos próprios
relativos ao conjunto da economia, condicionando ou influenciando com tal a actividade dos
particulares310.
II – Dirigismo (direcção económica) existe quando o Estado formula objectivos globais e
pretende propô-lo, ou até impô-los, aos sujeitos económicos. Dirige assim a sua actividade
económica (em vez de se limitar a corrigi-la), embora com respeito pelos princípios essenciais
da liberdade económica e pelo mercado como instrumento regulador311.
III – Planificação – consiste quando o Estado define objectivos globais e sectoriais e
estratégias de comportamento por eles ditadas, impondo- as mediante o plano imperativo, a
generalidade dos sujeitos económicos, aos principais sujeitos económicos, ou só aos sujeitos
produtivos. Deste modo o Mercado deixa de ser o principal instrumento regulador do sistema,
passando esse função a ser exercida pelo plano. Importa aqui referenciar que o plano é
diferente do sistema de planeamento porquanto que o plano é um instrumento combatível
com sistemas de economias colectivista ou socialistas e o simples planeamento como mero
instrumento de regulação é combatível com o sistema de economia misto, se respeitar o no
essencial as liberdades económicas de economia de Mercado.

4.20.3. Intervenção de Facto e Intervenção Jurídica


A intervenção económica pode configura-se – grosso modo, como um mero
comportamento de facto do Estado e os seus órgãos e agentes, ou como comportamento

308
Cfr. AVV. DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS /GONÇALVES, MARIA EDUARDA/MARQUES, MARIA MANUEL
LEITÃO, – Direito Económico-5ª Edição Reimpressão/2004, Pág. 143.
309
Cfr. FRANCO, ANTÓNIO SOUSA. Pág. 297.
310
Ibidem. Pág. 297.
311
Ibidem. Pág. 297-298.
134
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
juridicamente tipificado e configurado de interferência nos factores de produção distribuição,
comercialização e consumo de bens e serviços. Assim sendo poder ser, designadamente:

4.20.3.1.Intervenção de Facto
A Intervenção de Facto pode corresponder a simples intervenção de política pura (actos
materiais de conteúdo político ou actos políticos), ou a actos económicos, sociais etc. ex.
restrição de venda de divisas pelas casa de câmbios ou bancos comercias sob instrução do
BNA, proibição de vendas a grosso a pessoas singulares, conferencia de imprensa, discurso
política de um entidade sobre um facto da economia, desde que não se revista de um
instrumento jurídico.

4.20.3.2. Intervenção Jurídica


A Intervenção Jurídica é aquele que se integra na actuação do Estado através dos
institutos jurídicos destinados a articular o comportamento condicionado dos outros sujeitos
económicos e o comportamento condicionado do Estado através de um instrumento jurídico
legal doutamente valido312.

A intervenção jurídica comporta três formas, nomeadamente:

4.20.3.2.1.Intervenção Legislativa
Quando o Estado produz através da AN normas jurídicas económicas de execução da
Constituição ou de ordenação económica; (Lei – providencia, Lei – medida, aprovar programas
normativos) e Nacionalizações e Confisco.

4.20.3.2.2.Intervenção Administrativa
Consiste na pratica do Poder Executivo de actos materiais ou actividades materiais ex.
obras publicas, acto regulamentares dos actos administrativos de conteúdo concreto regidos
pela Poder Executivo. Exemplo:
- Confisco (art. 97º, da CRA);
- Requisição administrativa civil temporária(art. 37º, nº2, da CRA);
- Expropriação por utilidade pública( art.37º, nº 2, da CRA);
- Privatizações( art.97º, in fine, da CRA).
Portanto a intervenção administrativa também pode – se classificar em três
fundamentais de intervenção:
1 - A da criação de infra-estruturas, em que se incluem, por exemplo, as obras públicas
e ordenamento do território;
2 - A da Polícia Económica, ou actuação económica preventiva, condicionando
previamente, autorizando ou licenciando a actividade dos sujeitos económicos.
A imposição de limites aos preços livres, regime geral de uma economia de Mercado,
ilustra bem uma forma de intervenção indirecta, mas de sentido restritivo e unilateral, ou
seja, de polícia económica313.

312
Esta validade deve – se conformar com legalidade da CRA e com a Lei, sob pena de ser interpretado como
intervenção eivado de inconstitucionalidade da norma ou do acto, ou ainda os seus efeitos internos ou externos
serem sindicáveis no mesmo sentido.
313
A nossa polícia é para- militar de comando único diferente de Portugal que é uma polícia administrativa
especializada qualquer modo a policia como órgão de defesa da segurança pública tem a sua consagração
constitucional previsto no art.209º e 210º, da CRA.
135
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
O sistema de preços vigente é previsto no Decreto Legislativo Presidencial nº 10/13, de
22 de Novembro, entretanto, a fixação do regime de preços assenta na consideração de dois
critérios distintos, designadamente: a natureza dos bens (ou serviços) e a dimensão das
Empresas e respectivo volume de vendas.
A aplicação a cada tipo de bens ou serviços dos vários regimes de preços é feita por
Despacho do Decreto Presidencial, ou Ministério do Comércio314, tendo em consideração os
dois critérios apontados.
De acordo com os diplomas referidos, os preços dos bens ou serviços vendidos no
Mercado interno podem ser submetidos aos seguintes regimes: de preços máximos, de preços
declarados, de preços contratados, de preços de margem de comercialização fixada, de preços
vigiados e de preços livres, em sinopse passamos a descrever a noção de cada um315:

Preços máximos - são aqueles cujo valor é fixado nos diferentes estádios da actividade
económica julgados convenientes, o qual não poderá ser ultrapassado.
Preços declarados - são os que têm de ser previamente comunicados à Administração,
reservando-se esta a faculdade de se lhes opor, caso não os considere justificados perante os
elementos de que dispõe e que as empresas são obrigadas apresentar. É fixado um prazo para
a Administração poder alterar os preços apresentados e começados eventualmente a praticar.
Preços contratados - são os que resultam de acordos entre o Governo e as Empresas
ou associações patronais. O regime de preços contratados pode envolver a atribuição de
benefícios fiscais, ou de outra natureza, às Empresas por ele abrangidas. Ex: o preço de
transporte de táxi inter-urbano.
Preços de margens de comercialização fixadas - são os que se estabelecem pela soma
aos preços de aquisição (ou de reposição) de um valor máximo correspondente aos encargos
e ao lucro da revenda, determinado por percentagem ou em termos absolutos, “ para esta
associação de defesa do consumidor, o regime de preços fixados deve limitar-se nos bens e
serviços considerados de grande impacto social, ou de carácter estratégico para o
desenvolvimento económico e social do País, (nº 1, do artº 8º, do Decreto Presidencial nº
206/11, de 29 Julho)”.

314
O Ministro do Comercio é um organismo unipessoal do Conselho de Ministro – órgãos auxiliar colegial do PR,
nesta sede pratica actos no âmbito da delegação de poderes previsto no art.108º, da CRA, não tendo por
conseguinte soberania e a lidima competência para alterar a ordem económica, pois esta matéria esta reservado
aos órgãos de soberania inscritos no art.105º, da CRA.
315
Formas de fixações de preços
a) Preços acordados – resultam de negociação entre o comprador e o vendedor ou seja quando
resultam de acordo entre as partes.
b) Preços fixados – quando são estabelecidos pelo vendedor.
c) Preços tabelados – quando são fixados em diplomas governamentais. É o caso, por vezes, de
alguns produtos de primeira necessidade.
d) Preços correntes – quando são geralmente estabelecidos por vendedores da mesma
mercadoria, mas são passiveis de redução.
e) Preço por concurso público – quando são escolhidos após a analise de diversas propostas
apresentadas por diferentes vendedores (em carta fechada), que se comprometem efectuar o fornecimento nas
condições previstas no concurso anunciado publicamente. Esta mobilidade é utilizada pelos organismos do
Estado quando pretendem efectuar aquisições de grande vulto, como a aquisição de determinado equipamento
para os hospitais, exército, escolas, etc.
136
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Preços vigiados - O regime de preços vigiados consiste na obrigatoriedade do envio
pelas empresas, para tal notificadas, em carta registada com aviso de recepção, para o
Ministério do Comércio e Polícia Económica316.
Preços livres - são todos os demais, portanto, se os bens ou serviços não se encontram
sujeitos a um dos regimes anteriormente apontados, seguramente o montante do preço
determina-se pelos mecanismos do mercado, ou seja, pela Lei da oferta e da procura.
A principal infracção criminal resultante da inobservância da legislação sobre preços é
o crime de especulação previsto e punível pelo legislação penal competente, recortado no art.
42º, da Lei nº 6/99, de 3 de Setembro, Lei das Infracções Contra Economia, traduzido na
venda de bens ou prestações de serviços a preços superiores aos resultantes da Lei. A
vigilância do acatamento das leis e regulamentos nesta matéria cabe à Polícia económica317.
3- A de Fomento, atribuindo benefícios ou incentivos aos sujeitos económicos
(privados ou equiparados)318.

4.20.3.3.3.Intervenção Judicial
Consiste na intervenção económica do Estado através da actuação de tribunais, quer
nos tribunais comuns ou tribunais económicos., acórdão, sentença, jurisprudência e Recursos.
Qualquer modo, a doutrina dominante classifica também as intervenções como sendo
mediatas, imediatas, unilaterais e bilaterais, globais, sectoriais, pontuais e avulsas, directas e
indirectas.
Intervenção indirecta, quando o Estado age como agente de regulação económico-
social e regula o acesso à actividade económica, regula a concorrência e regula o consumo.
Todavia, por seu turno, o CABRAL DE MONCADA - defende que os poderes intervêem
directamente na economia, quando prosseguem objectivos directamente económicos,
represente-se sobre a economia ex: medidas de política fiscal, operações de open merket, que
visem absolver o poder de compra, bonificação de juros, abertura de linhas de crédito a favor
da construção de infra- estruturas sociais, definição de certos regimes jurídicos, fixação de
rendas etc. com efeitos imediatos e mediatos na economia319. Neste caso estaremos em
presença de intervenção do Estado sobre a economia. E quando o Estado cria Empresas
Públicas e administra directamente o ente de Direito Público ou Privado, estaremos em
presença da intervenção do Estado na Economia.
A intervenção do Estado em Angola verificou nas primeira horas da época
revolucionário nos termos do art. 2º, do Decreto – Lei nº 128/1975, de 7 de Outubro, que,
segundo o corpo daquele diploma legislativo prescreve que a intervenção poderá ser
determinada por Despacho dos Ministro da Economia ou Planeamento e Finanças, pese
embora, que o legislador não ter empregado o devera, é certo que não previra que outras
entidades pudessem também intervencionar Empresas320.
Todavia, o certo é que verificou-se pois as intervenções estatais em Angola naquela
época foram feitas por dirigentes de todos ramos de actividade e Governadores de Província
com assinável intervenção de facto coberto do calor fervor da revolução, contrariando desta
feita a legalidade do disposto no Decreto – Lei nº 128/1975.

316
A Direcção da Investigação das Actividades Económica foi extinta em 2014 e incluída no SIC - serviços de
investigação criminal.
317
Cfr. VAZ, MANUEL AFONSO, – Direito Económico, 3ª edição, Coimbra Editora 1994. Pág.354-356.
318
Cfr. FRANCO, ANTÓNIO SOUSA, – Direito da Economia, 1º Volume, ed. AAFDL. Pág. 300.
319
Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Direito Económico, 5ª edição, Pág. 42.
320
Cfr. ABRANTES, MARIA LUÍSA, - As Privatizações Em Angola (Ensaios), Pág.43.
137
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Portanto face a Constituição de 2010, a intervenção reporta-se de ponto vista jurídico-
legal nos termos do art. 89º, 90º e 92º, da CRA., por via disso, como notadamente se observa
no rácio essendi da norma constitucional ora indicada, a intervenção visa alcançar certos
valores fundamentais com base na tríade Eficácia, Eficiência e Equidade - Estabilidade
Económica321.
O Estado ao intervir na economia deve respeitar o “Princípio da Subsidiariedade”, que
a nossa Constituição não consagrou expressamente, este princípio encontra-se consagrado
em muitas constituições.
Mas é interessante perguntar o que é princípio de subsidiariedade?
Antes responder a vexata quaetio vamos procurar examinar o que significa
subsidiariedade e depois fazermos o jus do princípio em apreço.

4.20.3.3.3.1.Sub Princípio da Subsidiariedade


Numa primeira aproximação, a Subsidiariedade – tem haver com caridade interajuda
ao próximo, fundada no espírito de tolerância social ao respeito a dignidade da pessoa
humana, daí que a intervenção económica do Estado é um princípio característico da
«doutrina social da Igreja católica» exposto, designadamente, nas Encíclicas Quadragésimo
Ano, datada de 1931, de PIO XI e na Centesimus Annus, datada 1991, de JOÃO PAULO II,
muito embora com raízes muito antigas e na doutrina católica do século XIX (a Encíclica
Syllabus errorum de PIO IX)322.
De acordo com aquele princípio, como sustenta o CABRAL DE MONCADA, o Estado
deve respeitar a liberdade e a vitalidade económicas do indivíduo e dos corpos intermédios
espontaneamente formados no seio da Sociedade Civil. Naquela última Enciclica afirma-se
que ao intervir directamente, irresponsabilizando a sociedade, o Estado assistencial provoca a
perda de energias humanas e o aumento exagerado do sector estadual, dominado por uma
lógica burocrática e sem a preocupação de servir os utentes, com enorme acréscimo de
despesas.
O Princípio da Subsidiariedade, aposta assim no primado da pessoa humana, da família
e da associação civil, na descentralização e no pluralismo económico, acentuando a
responsabilidade primacial do cidadão, enquanto parte activa da realidade económica e
social, na realização do bem comum (art. 21º, al. i), da CRA)323.
Ao Estado fica reservado um papel subsidiário no sentido residual, não devendo
intervir na economia para além do estritamente necessário (princípio da necessidade) e da
princípio da proporcionalidade .

321
Itálico também é nosso.
322
Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Manual Elementar de Direito Público da Economia, Almedina, 2012,
Pág.103.
323
A subsidiariedade é referida no art. 23º (o “artigo europeu”). É reconhecido como central para a união
económica e é estrutural para a UE. O princípio é uma regra de atribuição de competência, pois limita a actuação
da UE no interesse da manutenção da esfera de actuação nacional e dos poderes dos Estados-Membros. O novo
tratado europeu refere que as decisões e as acções só devem ser tomadas a nível europeu se o seu objectivo não
puder ser mais bem alcançado através de acções a nível local, regional ou nacional (o anterior tratado referia-se
apenas a acções a nível nacional).
138
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
4.20.3.3.3.2.Sub Princípio da Necessidade Económica
A intervenção só se justifica assim se necessária para evitar situações de desequilíbrio
económico e social, ou quando apresenta natureza supletiva por um corpo social, apenas por
si, não lograr certas actividades por falta de meios ou desinteresse.
A intervenção estatal na economia é admitida, todavia, em moldes menos restritivos
do que os que resultam do liberalismo económico alicerçado na referida teoria económica dos
bens colectivos324.
A consagração do referido princípio da subsidiariedade tem ainda como consequência
a preferência pela Outsourcing325 na contratação dos bens e serviços indispensáveis ao
funcionamento do Estado. O Estado abastece-se preferencialmente no sector privado em vez
de através dos serviços da sua Administração directa ou indirecta.
Daqui resulta também um efeito de privatização insuflado no Estado regulador. Note-
se, desde já, que isto não significa que o regime jurídico da autsourcing seja totalmente
privado, pois que, pelo contrário, são aplicáveis as regras da contratação pública, à frente
versadas, compreendendo exigências de igualdade, não discriminação, transparência e
concorrência efectiva326.

324
Ibidem.
325
Cfr. PIZARRO, SEBASTIÃO NÓBREGA, - Contrato de Outsourcing. Coimbra, 2010. Pág. 6-25. Neste sentido,
Outsourcing – é uma palavra de origem anglo-saxónica composta por “Out” que significa fora e “Soure” ou
“Sourcing” que significa fonte. O Outsourcing ter a ver com a terciarização de serviços ou subcontratação que é
assume três características: produção tecnologia de informação e processo de negócio. E pode ser classificado
como Outsourcing público ou privado. Ex. Serviços de informática, jurídico, segurança, cantina, transporte,
refeitório, limpeza (nos estabelecimentos públicos hoje maioritariamente é feito pelas empresa privadas) e etc.
Este contrato económico muitas vezes é confundido com o contrato de prestação de serviços previsto no
art.1154º cc. a diferença radica intrinsecamente no conteúdo literal da norma do código civil do art. 1154, in fine,
sendo que o contrato de serviço pode ser oneroso ou gratuito enquanto que o contrato de outsourcing é sempre
oneroso.
326
Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Manual Elementar de Direito Público da Economia, Almedina, 2012,
Pág.103.
139
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário

CAPÍTULO V
5.ÓRGÃOS DA ADMINISTRAÇÃO ECONÓMICA

A partir do momento em que o Estado intervém em matéria económica, coloca-se um


problema de ordenamento do poder económico a nível governamental e especialmente da
implementação da economia nos quadros ministeriais.
Mas a partir momento em que o Estado intervém de uma maneira mais acentuada
(intervencionismo) e sobretudo de uma maneira mais diversificada, através de acções de
géneros muito diferentes, poe-se o problema do ordenamento do poder económico central,
que não pode ser capazmente resolvido pelas formulas do Estado liberal.327
Esta questão diz respeito, antes de mais, à escolha de uma instância ministerial.328 Esta
procura de uma implantação ministerial da Administração Económica que lhe convenha e que
assegure a sua unidade de direcção encontra duas espécies de dificuldades.
A primeira dificuldade decorre da diversidade das acções económicas do Estado: É difícil
delimitar a Administração Económica. As intervenções económicas do Estado incidem sobre
tantos domínios que quase todos os Ministérios apresentam de algum ponto de vista um
aspecto económico, sendo aqueles que chamamos «Ministérios Económicos» apenas
caracterizados por uma votação económica mais acentuada que os outros. Além disso, no que
diz respeito aos Ministérios Económicos propriamente ditos (Indústria, Obras Públicas,
Agricultura, Pesca e etc.), não se pode pôr a hipótese de os suprimir sem conferir ao
ministério económico um gigantismo excessivo. É-se então forçado a voltar-se para a fórmula
do Ministro Coordenador ou “Super – Ministro”.
Nesta fórmula, os ministérios que se querem reunidos sem se fazerem desaparecer
permanecem quer como ministérios quer como simples secretarias de Estado, mas são
colocados sob a alçada de um «Super-Ministério» que os reagrupa; mas então surge o
obstáculo da resistência dos ministérios, que invocam, por seu lado, o princípio tradicional da
igualdade dos ministérios.
A segunda dificuldade que, em matéria de política económica, a realização de uma
unidade de direcção ministerial de um carácter mais particular: ela diz respeito às relações
entre um Ministério encarregado da Economia e o Ministério das Finanças.

327
Cfr. LAUBADÈRE, ANDRÉ DE, - Direito Público Económico, Pág. 152-153.
328
Ibidem. Pág. 154.
140
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Se exceptuarmos, no passado recente que afigurava-se num Ministro Coordenador que
era desempenhado pelo Ministro adjunto junto do 1º Ministro, que era no entanto Chefe da
equipa económica e por outra naquele período havia a junção do Ministério das Finanças e
Economia encarregado da economia nacional e das Finanças, podemos salientar que era um
«grande Ministério da Economia».329
Uma característica da Administração Económica Central é que, se o seu suporte essencial
é constituído pelo Ministério da Economia e Finanças, ela não cabe inteiramente nesse
quadro ministerial. Assim convém descrever os elementos exteriores a este ministério.
Os Ministérios Económicos em primeiro lugar, fora do Ministério da Economia e
Finanças, um certo número de outros ministérios têm atribuições incontestavelmente
económicas. São designados correntemente, por essa razão, «Ministérios Económicos». Não
podemos fazer uma lista desses ministérios que tenha um valor permanente, pois a própria
nomenclatura dos departamentos ministeriais em geral é variável mas podemos dizer que aí
figuram, sobretudo, os Ministério das Construção e Urbanismo ou Obras Publicas, Comércio,
Transportes, Agricultura, Pesca, Ministério do Meio Ambiente, não citar senão aqueles cuja
existência é mais ou menos constante, mas também desenvolvem parcialmente alguma
actividade económica através de Empresas Públicas como na saúde ANGOMEDICA.E.P.,
Empresa Pública de produção de medicamentos na educação a EMATEB. E.P., Empresa
Pública de produção de materiais escolares330.
A Organização Administrativa do País comporta um ordenamento complexo, no qual se
combinam várias distinções:331
- Administração Central, constituída pelos Ministros e autoridades colocadas junto deles
e exercendo as suas competências relativamente ao conjunto do país, a Administração deste
último comporta necessariamente um ordenamento territorial; o país está dividido em
circunscrições administrativas territoriais;
Esta Administração territorial assenta sobre duas necessidades que convém distinguir
cuidadosamente e que fazem surgir, no interior da própria Administração territorial, art.5º, da
CRA e uma segunda distinção, a da Administração Estadual (art.8º e 199º, da CRA)e a da
Administração Local(art.8º e 201º, da CRA).
Há dois níveis de órgãos da Administração Económica: CENTRAL E DESCONCENTRADO.
5.1.Nível Desconcentrado: prolongamento da Administração Central para os níveis
provinciais (não é um poder próprio que resulta da participação dos cidadãos no exercício do
poder), e tem como consequência o ter que agir nos limites e de acordo ao estabelecido pelo
poder central. Assim, teremos os órgãos provinciais :Direcções ou Delegações Provinciais que
são o prolongamento dos Órgãos Centrais.
As Direcções Provinciais da Administração dependem exclusivamente do Governo
Provincial e as Delegações332, embora integradas no Governo Provincial dependem
directamente dos Ministérios de tutela333.

329
Ibidem. Pág. 155-156.
330
Cfr. LAUBADÈRE, ANDRÉ DE, - Direito Público Económico, Pág. 158.
331
Ibidem. Pág. 205.
332
Delegado do Ministro, ou seja, Delegado Provincial.
333
O Órgão Provincial, ou no Município que representa os interesses económicos e não representam os
interesses da população local mas si do poder central, porque são providos através de nomeado por pessoa de
confiança.
141
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
5.2.Nível Central: a este nível os órgãos principais da Administração Económica são: o
Conselho de Ministros e sua Comissão Permanente, e a Equipa Económica, bem como os
diversos Ministérios. Os órgãos secundários que são os Institutos Públicos, Agencias e as
Comissões Especializadas do Conselho de Ministros no ius constituend as autoridades
administrativas independentes.

5.2.1.Os Institutos Públicos


No ordenamento jurídico angolano os Institutos Públicos são definidos como pessoas
colectivas dotadas de personalidade jurídica de direito público, integram Administração
indirecta do Estado e assumem a forma de Serviços Personalizados, Estabelecimentos
Públicos, Agência e Fundações Públicas; (art. 3º, do Decreto Legislativo nº 2/13, de 25 de
Junho.

Os Institutos Públicos são diferentes das Empresas Públicas e podem ser classificados
em termos do critério do princípio da especialidade, designadamente:
a)Institutos Públicos do Sector Empresarial.
b) Institutos do Sector Administrativo.

Os Institutos do Sector Empresarial, como já asseguramos, estão sujeito ao princípio da


especialização e gozam de autonomia financeira, patrimonial e creditícia, podem
desenvolver actividades económicas lucrativas, nos termos do art. 3º da DLP nº 2/13, de 25
de Junho. Eles podem ser constituídos sob forma de Fundos Públicos334, ou Agencias e
através dos Ministérios de sector de actividade sob proposta do titular da pasta ministerial
em coordenação com o Ministro da Economia e são de tutela e superintendência do
Executivo; (art.5º, da citado diploma legal). Portanto a organização e funcionamento os
Institutos Públicos remete-se para a Lei nº2/13, de 25 de Junho.

5.2.1.1.Caso Especial do Fundo Soberano de Angola (FSDEA)

Os Fundos Soberanos resultam directamente do processo de globalização e da


actuação de selecções económicas de Estados possuidores de recursos naturais de
petróleo, por causa da acumulação dos excedentes de exportação do ouro negro e dos
produtos manufacturados dos certos países, como a China; Noruega; Rússia; Kuwait;
Emiratos Árabes Unidos; Brasil; Angola; Nigéria, de um lado, e por outro lado económico e
financeiro, acumulação de défices na balança de pagamentos do comércio internacional
por parte dos países importadores como os EUA e os países da zona euro335, que constitui
o divina soberana.

334
Assim sendo, os Fundos Públicos como o Fundo Soberano, é sublinhado certamente numa asserção conforme
o nosso entendimento, como sendo uma ferramenta financeira de intervenção económica directa do Estado na
economia ao nível interno e internacional e constituído pelos activos financeiros de propriedade do governo com
diversos objectivos, ou seja, funcionam como veículos de investimento internacional e mecanismo de políticas
públicas. Distingue-se das Empresas Públicas por razões óbvias já definida pelos arautos do Direito
Administrativo, apesar serem propriedade do Estado, com diversos objectivos e destinadas a obter fins
lucrativos, mais desenvolvimentos, vide, MARIO, FRANCISCO; - «FUNDO SOBERANO ANGOLANO», Relatório do
Mestrado, FDUL, Lisboa 2013, Pág. 17 e ss.
335
Ibidem.
142
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Neste cenário do binómio económico-financeiro, de “Divida Soberana” e “Fundo
Soberano” vertida nos “défices” e “superavit”, a doutrina nacional e internacional tem
esbatido de modo a dar um sentido aos acúmulos financeiros e as crises cíclicas, face as
acesas discussões do momento actual da crise económica e financeira internacional.
Curiosamente, o Prof. Doutor PAZ FERREIRA, da Escola de Lisboa336, atribui as
economias emergentes africanas, como Leões africanos337, este atributo também foi
corroborado pelo MUHAJAN que os adjectivou de “geração chitas”338, ou seja, as
economias mais velozes como chitas africana sem conformidade com tigres asiáticos.
Entretanto, devido a apatia do FMI face o actual fenómeno da crise, os BRICS (Brasil,
Rússia, Índia e África do Sul) como possível alternativa de nova ordem económica mundial
e, a quanto isso, na margem de cá do mediterrânio (na europa), o Dr. EMANUEL SANTOS,
qualifica como “Serpentes Orçamentais”339, a dívida soberana dos actuais países da zona
euro, aliás, se assim quisermos dizer, ditos de países do sul, ou periférico da zona euro,
especialmente : Portugal, Espanha, Itália e Grécia.
Pelo que, as designações denotam-se num despique de metáforas e todas rodopiam
em torno do momento económico e financeiro em que vivemos, mas, tendo em conta o
figurino que se apresenta o sistema financeiro tradicional moldam-se como simpáticas
numa nomenclatura exótica como clubes económicos340.
Ora bem, quanto aos Fundos Soberanos, apresentam-se, indubitavelmente, como um
dos novos actores do sistema financeiro internacional, todavia, esses novos actores vêm de
encontro com o padrão previamente existente, no qual os investimentos privados exibiam
proporções muito maiores que os investimentos públicos e, já hoje em dia, a coisa é bem
diferente.
Assim sendo, para compreender a lógica do desiderato dos Fundos de modo geral,
vamos buscar construções elaboradas em torno da sua qualificação com destaque a já
trilhada pela doutrina brasileira341, nos termos do qual aduzem uma grelha de algum modo
considerado atípica, mas que, os arruma de acordo as características a seguir:

(i) Fundo governamentais;


(ii) Fundos geridos separadamente das reservas internacionais dos bancos centrais;
(iii) Fundos com alta exposição aos mercados internacionais;

336
Cfr. PAZ FERREIRA, EDUARDO - Crónicas de anos de Chumbo -2008 -2013. Pág.266.
337
Embora a África do Sul e o Egipto tenham a parte de Leões, há 16 países emergente dos quais conta-se Angola.
Mais desenvolvimento ver o VIJAI MAHAJAN «O Despertar da África», editora actual, 2013, pág. 49.
338
Cfr. MAHAJAN, VIJAI «O Despertar da África», editora actual,2013, pág.152.
339
SANTOS, EMANUEL AUGUSTO – «Sem Crescimento não há Consolidação Orçamental» Finanças Publicas, crise
de ajustamento, edições sílaba 2012. Pág. 65.
340
Parece que o grupo dos BRICS, insatisfeito com actual direcção do sistema económica mundial, aventa-se a
hipótese de estarem a tentar a ensaiar o estabelecimento de uma nova ordem económica mundial paralela ao
FMI e BM, tudo aponta que o Banco ficará sedeado na África do Sul, e, Angola participa como observador fonte-
angonotícias de 27 de Março de 2013.).
341
Ob.Cit.Pág. 16.
143
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
(iv) Fundos que não possuem obrigações com quotistas, diferentemente dos fundos
de pensões;
(v) Fundos com maior tolerância ao risco e;
(vi) Fundos com perfil de longo prazo.
Esta classificação apresenta distonia quanto a sua estrutura legal, por causa do
ordenamento jurídico nacional, sistema político, a forma do governo vigente e da origem
do Fundo, desde logo, a classificação supra não é pacífica porque muitos Fundos estão
intrinsecamente ligados aos governos e aos bancos centrais342, e, os outros Fundos, nem
por isso, ou seja, estão separados do Banco Central ou formalmente do Governo343.
Todavia, conforme os objectivos que perseguem, em sede deste critério, classificam-
se:

(i) Fundo de estabilização.


Pode ser definido como aquele Fundo que busca amortização dos impactos causados
pela oscilação dos preços dos recursos naturais nos orçamentos fiscais dos governos e na
economia como um todo, neste contexto procuram também diminuir o custo de
carregamento das reservas internacionais ao auxiliar as autoridades monetárias em
esterilizar o excesso de liquidez;
(ii) Fundo de poupança para geração futura.
É aquele que procura investir em activos de longo prazo, para que a receita gerada por
recursos naturais escassos seja utilizada por várias gerações presentes e vindouras;
(iii) Fundo de investimento em Empresas.
Entende-se como aquele Fundo que gerência os investimentos dos governos em empresas
nacionais e estrangeiras e;
(iv) Fundos soberanos genéricos
Estes Fundos na sua monta não se restringem a um objectivo específico.
Na nossa opinião, apesar a classificação acima destacada estar adjacente de satisfazer
o interesse da nossa investigação, mas ainda assim, o modelo aqui referenciado por agora
não perfilhamos, logo, vamos ver uma outra taxinomia convencional de produção supra
nacional, ou seja, de uma instituição internacional da ordem económica e financeira
mundial o FMI344/345, que os classificam de modo legal e o qual nós adoptamos, porquanto
privilegia o critério de destrinça de fonte de recurso, objectivos institucionais e o escopo do
investimento, conforme a categorização que se segue:

(i) Fundo para estabilização

342
É como da noruega-gogernmentpensiofund, ob.cit. pág.16.
343
É o caso de korea investment corporation.
344
Nota técnica, Panorama sobre os Fundos de Riqueza Soberana 2009, IPT- instituto de pesquisas tecnológicas,
Pág.3.
345
No mesmo sentido Cfr. FREITAS, MARIA CRISTINA PENIDO DE, «Fundos de Riqueza Soberana», Funda p grupo
de conjuntura / economia internacional, Pág.126.
144
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
São aqueles Fundos típicos dos países exportadores de recursos naturais, que têm
como objectivo proteger o orçamento público e a economia destas oscilações dos preços
das matérias-primas (commodities)exportadas para o mercado internacional, e serve como
um instrumento do Estado de actuação anti-cíclica, capaz de reduzir o impacto da
volatilidade destas exportações.
Geralmente os recursos destes Fundos são contigenciados para protegê-los das
oscilações de preços e das incertezas com relação às estimativas das reservas. Desta forma,
os recursos são poupados em épocas favoráveis dos preços das exportações de matérias-
primas dos recursos não renováveis para que possam ser aplicados em períodos de crises.
Este é o caso dos Fundos dos países do Oriente Médio, da Rússia e da Noruega (produtores
de petróleo); da Botsuana baseado na extracção de diamantes e do Chile grande produtor
mundial de cobre.

(ii) Fundos de Poupança Intergeracional.

São aqueles Fundos desenvolvidos para garantir a transferência de poupança para as


gerações futuras, em países cuja riqueza é extremamente dependente da exploração de
recursos naturais não-renováveis. Por isso, os recursos provenientes desta actividade são
investidos em um portfólio de activos com rentabilidade assegurada para atenuar os
efeitos da “doença holandesa”;

(iii) Fundos de Investimento das Reservas Internacionais.

Este tipo de Fundos tem como objectivo principal de aumentar a taxa de retorno das
reservas internacionais, já que há uma redução dos seus custos fiscais, com a reaplicação
de parcela dos recursos em activos com maior rentabilidade, mas também há um risco
maior;

(iv) Fundos de Desenvolvimento.

Os Fundos que são criados para apoiar projectos económicos e sociais de interesse
nacional em alguns países, principalmente em infra-estruturas, como potencial da
promoção do desenvolvimento local;

(v) Fundos de Pensão de Reserva.

Compreende-se que esses Fundos tem como objectivo de assegurar os recursos para o
pagamento de passivos fiscais associados a um maior grau dos compromissos
previdenciários, ou seja, previdência social.
Portanto, a decisão de aplicação dos recursos dos Fundos Soberanos sendo uma
receita consignada no orçamento, desde logo, geralmente o dispêndio financeiro prende-

145
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
se com os objectivos de realização de despesas de investimento e de capital em termos de
regras de Finanças Públicas e Direito Financeiro, tendo em conta os dois aspectos
essenciais que balizam o desiderato dos Fundos, nomeadamente:

1) O montante da aplicação presente e futura e;

2) As actividades prioritárias param o investimento destes recursos.

Além disso, há ainda um efeito importante no que se refere aos “Fundos” provenientes
de recursos não-renováveis que centra-se na política macroeconómica, ou seja, na
influência da política fiscal e da taxa de câmbio, que vai dar uma competitividade nos
factores de produção dos diversos sectores económicos.
Nesta percepção parece ficar claro que os Fundos são de cores diferente em relação as
Empresas Públicas (E.P. designação comum na ordem jurídica portuguesa e angolana) e os
Fundos de Pensão, pelo facto das fronteiras constitutivas da sua natureza jurídica e o
escopo convencional dos Fundos traçado pelo FMI.
Assim sendo, o Fundo Soberano, é sublinhado certamente numa asserção conforme o
nosso entendimento, como sendo uma ferramenta financeira de intervenção económica
directa do Estado na economia ao nível interno e internacional e constituído pelos activos
financeiros de propriedade do governo com diversos objectivos, ou seja, funcionam como
veículos de investimento internacional e mecanismo de políticas públicas346.
O Fundo Soberano, distingue-se das Empresas Públicas por razões óbvias já definida
pelos arautos do Direito Administrativo, apesar serem propriedade do Estado, com
diversos objectivos e destinadas a obter fins lucrativos. Por outra faixa também
distinguem-se dos Fundos Públicos de Pensão que são de propriedade dos seus membros,
cujos objectivos são definidos nas obrigações dos beneficiados, sendo que, os seus
recursos provêm das contribuições dos pensionistas347, ou refinanciado por via de
consignação de receitas no orçamento à uma entidade com estes fim.
Pois muito bem, os Fundos Soberanos aumentaram de forma significativa o seu
portefólio348, e importância durante a crise financeira, como reporta as estatísticas, tudo
isso, pelo facto de os Fundos terem injectado capitais consideráveis no sistema bancário,
cerca de 49% dos 102 mil milhões de dólares investidos em 2007 e 2008 e, foram
assumindo posições significativas em alguns dos principais Bancos dos EUA, Reino Unido,
Suíça, China e Índia, bem como nas importantes bolsas de valores como a de Londres e o
Nasdaq349.

346
Cfr. Mario, Francisco, - Fundo Soberano de Angola, Pág.15.
347
Ob. Cit. Pág.4
348
Carteiras de activos financeiros.
349
Apud.STEFFEN KERN - Sovereign wealth funds – state investments during the financial crisis», Deutsche Bank
Research, Julho de 2009.fonte <http://www.imf.org/>.Sovereign wealth funds. Consultado dia 27 de Março de
2013.
146
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Tendo por conseguinte, assinalado que estes investimentos provenientes dos Fundos
Soberanos tiveram benefícios macroeconómicos manifestos na economia mundial, mas
qualquer forma os países receptores “ab nitio”, levantaram uma questão pertinente de
desconfiança e, questionavam se o escopo conduzido pelos Fundos Soberanos, se seria na
verdade redutível ao investimento e de maximização do lucro? Ou se supostamente por
detrás dessa concentração de riqueza não estaria um cunho político que poderia
largamente afectar a segurança económica dos Estados hospedeiros e consequentemente
à concorrência dos Mercados?
Para tanto, para ultrapassar esta algaraviada de desconfiança, da imigração económica
ou expansão do capitalismo do Estado na era das economias globalizadas (que vislumbra a
passagem dos Estados concorrentes para Estados coordenadores), mas também não só, da
crise económica e do terrorismo internacional, os Estados interessados elaboraram um
Código de Conduta sob égide de uma autoridade financeira supranacional o FMI, através
do Instituto de Fundos Soberanos350, celebrado em 30 de Abril a 1 de Maio de 2008,
composto por 24 princípios, e conhecidos por “Princípios de Santiago” (GAPP-Santiago),
que visou disciplinar as práticas aceitáveis a nível internacional, que sumariamente
sintetiza-se nos seguintes tópicos fulcrais:

 Compromisso em torno de objectivos financeiros, e não políticos;

 Transparência, incluindo detalhe sobre a utilização de direitos de voto, gestão de


risco e utilização de alavancagem financeira;

 Governação corporativa, estruturas organizacionais e processos (incluindo o


compromisso de separar a gestão do Fundo da gestão do Governo);

 Monitorização dos GAPP por um grupo de países previamente designado351.

Portanto, o impacto dos Fundos Soberanos nas economias globais, prende-se na


cedência de capital aos Bancos ocidentais que foi fundamental para minimizar o risco
sistémico352, decorrente de eventuais falências generalizadas, de um lado, de outro lado,
nos países emergentes titulares dos Fundos Soberanos servem como amortecedor dos
choques da crise bem como para poupança intergeracional e potenciar a promoção do
desenvolvimento económico e social, mas também é bem verdade de algum modo

350
Na expressão de lingua inglesa é «Sovereign wealth fund institute e international working group of wealth
funds» tradução livre do autor (…)
351
Ob. Cit. Pág. 4.
352
O risco sistémico – seria o fruto de maquinações de alguns académicos e reguladores; os primeiros
padeceriam de uma «hipocondria» quanto à capacidade de resistência dos sistemas às adversidades correntes;
os segundos sobre-valorizariam os sinais emitidos pelos operadores e manifestariam um zelo excessivo em
relação à estabilidade do Mercado. Assim, ambas as posições diminuem a resiliência endógena do sistema
financeiro as crises e obteriam resultados contraditórios com os objectivos iniciais. Mais desenvolvimento ver
QUELHAS, JOSÉ MANUEL GONCALVES SANTOS – «As Crises Financeiras, o Risco Sistémico e a Incerteza
Sistemática», Pág. 355 e ss.

147
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
apresentam fragilidade quanto a sua estrutura jurídica, gestão e transparência por causa
dos ordenamentos internos.

O FSDEA353, como ferramenta financeira de intervenção económica directa do Estado


angolano na economia ao nível interno e internacional, constituído pelos activos
financeiros de propriedade do Estado, com diversos objectivos, ou seja, funcionam como
veículos de investimento nacional e internacional e também como mecanismo de políticas
públicas de expansão do capitalismo do Estado. Apesar de o TOCQUIVILLE ter afirmado o
que mais contribui para o nepotismo despotismo são duas coisas: a centralização
administrativa e o intervencionismo do Estado, cujo intervencionismo do Estado começa
nas obras públicas e se alarga à economia, se estende depois as relações de trabalho e
acaba por chegar mesmo à caridade e à moral e a religião atingido o pleno controlo dos
cidadãos e das suas próprias almas354.
Mas o processo histórico da institucionalização dos Fundos prende-se com superavit
na conta corrente de pagamentos na balança comercial internacional, verificado nos anos
2000 – 2014, considerados anos de altos preços do petróleo e o seu regime jurídico assenta
na Constituição Programática, não de modo expresso, mas implícito (art. 21º e 89º, da
CRA), regra geral no capítulo de organização económica e fiscal, que resulta da
descentralização financeira institucional, ou federalismo financeiro. O que a doutrina
brasileira designa de autarquia financeira não territorial, no âmbito do fenómeno da
autonomia administrativa que âncora na figura de institutos públicos no sentido mais
amplo.
Porém, segundo o Prof. PAZ FERREIRA355, sobre a problemática da qualificação jurídica
dos institutos públicos, começa por dizer que(…)em qualquer matéria, caso que tem
levando muitas dúvidas na doutrina (…), na medida em que se situa numa zona de alguma
forma intermédia entre as tradicionais figuras da administração indirecta do Estado e as
novas Empresas Públicas. Continuado, o mesmo autor, diz que, na sua origem, parece estar
aquilo que podemos considerar ser uma característica dos modernos Estados, ou seja,
circunstâncias de poderem lançar mão, em cada momento de uma pluralidade de soluções
entendidas como aptas a uma melhor satisfação do interesse público.
Que esse interesse público, segundo o Prof. DIOGO FREITAS DO AMARAL356, muitas das
vezes são interesses próprios alheios ao Estado, ou seja, eventualmente contrário aos do
Estado, e poderão por conseguinte, nessa medida, na ideia defendida pelo Prof. MARCELLO
CAETANO357, ser impugnados contenciosamente actos de órgão do Estado ou propor
acções contra o Estado. Isso significa dizer que os actos do Fundo Soberano são
impugnáveis por via contenciosa por próprio Estado e este contra o Estado? Não nesta
sede do nosso relatório, mas qualquer modo, a autonomia financeira não se esgotam nos
institutos, segundo Prof. Doutor SOUSA FRANCO358, hoje em dia há pluralidades de forma
que pode revestir o sector público financeiro (Administração Pública do Estado, lato sensu,)
- e os subsectores institucionais financeiros- Empresas Públicos e Institutos Públicos.

353
Art.1º do Decreto Presidencial nº 108/13, de 28 de Junho, aprova o regulamento do funcionamento do Fundo
e adota o designativo de «FSDEA» ou simplesmente de «Fundo».
354
Apud. AMARAL, DIOGO FREITAS DO, - «História das ideias Politicas» vol. II, Pág.101.
355
Cfr. FERREIRA, EDUARDO PAZ. Direito da Economia 2003. Pág.278
356
Cfr. AMARAL, DIOGO FREITAS DO, - Direito Administrativo vol. I, Pág.355.
357
Cfr. CAETANO, MARCELO, - Manual de Direito Administrativo vol I, Almedina 2010, Pág. 187 e ss.
358
Cfr. FRANCO, SOUSA, Pág. 142.
148
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Neste sentido escalpelizando a mesma matéria, diz o PAZ FERREIRA (…) o que é certo é
a mingua no nosso ordenamento de um corpo de normas que genericamente, regule o
estatuto jurídico dos institutos públicos, nada impede que o concreto estatuto de um dado
instituto aponte, a menos na regulação do seu pessoal, para a adopção de um regime
essencialmente de natureza privada, pois que, a questão central dessas figuras resulta
precisamente da natureza híbrida de que revestem oriunda do Direito Administrativo 359,
uma vez que se encaixam, nas realidades distintas do Direito Administrativo e empresariais
pelo facto serem menos claros e insuficientes quanto a sua integralidade do seu regime
jurídico e, em especial a grande diversidade de figuras que se acolhem em função da sua
actividade. Conclui, afirmando este autor, que tendem abandonar à área da administração
pública para se integrarem no universo empresarial do Estado360.
Parece perfilhável esta tese do mestre da doutrina de Lisboa, pois que, no mesmo
seguimento se pronunciou o Dr. CARLOS TEIXEIRA, administrativista da Escola de Luanda -
UAN361, classifica os institutos em critérios que se regimentam no actual Decreto
Legislativo Presidencial nº 2/13, de 25 de Junho362, cujo regime geral está previsto no art.
6º e 7º e consequentemente o regime financeiro esta previsto no art.11º, do Decreto
Legislativo Presidencial nº 2/13, de 25 de Junho.
Mas de qualquer forma, como Fundo financeiro autónomo o seu regime legal formal
está previsto no art. 96º e 104º, da CRA, que combinam materialmente como art. 39º, 40º
do LQOGE363, da Lei nº 15/10, de 14 de Julho. Pois é, efectivamente neste diploma onde
estão densificados os traços típicos do seu regime jurídico, e, as regras de organização,
estruturação e funcionamento, gestão financeira e patrimonial, e que, circunscreve-se nas
características seguintes:
a) Não tendo base territorial ou corporal, prosseguem interesses definidos na lei, no
quadro da Administração Central do Estado.

b) É uma pessoa colectiva dotada de personalidade jurídica e de autonomia


administrativa financeira e patrimonial (art.3º, do DLP nº 2/13 e art. 2º, do Decreto
Presidencial nº 108/13, de 28 de Junho).

c) Tutela e Superintendência exercida pelo Titular do Poder Executivo (art.5º, do DLP


nº 2/13 e art. 6º, nº 1, do Decreto Presidencial nº108/13, de 28 de Junho).

d) Gestão financeira e patrimonial, os institutos do sector económico ou produtivo


devem possuir autonomia financeiro traduzida na sua capacidade de arrecadação
de receitas próprias pelo menos, um terço, no mínimo a satisfação das suas
despesas da actividade, nos termos do art.7º do DLP nº 2/13, desde logo,
actividade lucrativa, sujeito a um regime financeiro próprio, de gestão e controlo
interno e externo e vedado o poder de contrair empréstimos e crédito (art.

359
Cfr. FERREIRA, EDUARDO PAZ, Direito da Economia 2003. Pág.279.
360
Ibidem, Pág.279.
361
Cfr. Dr. CARLOS TEIXEIRA, Professor de Direito Administrativo e Decano da Faculdade de Direito da
Universidade (Pública) Dr. António Agostinho Neto de Luanda- UAN, colóquio sobre os Institutos Púbicos
proferido na Província de Malanje em 2009.
362
Decreto Legislativo Presidencial nº 2/13, de 25 de Junho. Aprovado pela Assembleia Nacional dia 21 de Março
de 2013 e publicado no diário da República Iª série nº 119, de 25 de Junho «Que Estabelece as Regras de Criação
e Estruturação dos Institutos Públicos» que alterou o Decreto-Lei nº 9/03, de 28 de Outubro.
363
LQOGE - «Lei-Quadro do Orçamento Geral do Estado nº 15/10, de 14 de Julho».
149
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
11º,12º, 13º, 14º e 15º, do DLP nº 2/13 e do art. 3º, al. a) e b) e, art. 4º, do Decreto
Presidencial nº 108/13, de 28 de Junho).

e) São criados, modificados e extintos por Decreto Presidencial, sob proposta


fundamentada do membro do executivo que tutela o sector no qual se integra a
actividade da entidade a criar (art.16º, do DLP nº 2/13).

Na evolução histórico o FSDEA ressalte-se que, surgiu como já asseguramos nos termos do
nº 1 e 2 do art. 6º, da Lei do OGE para o exercício do ano de 2011, através da aprovação de
“Reserva Financeira Estratégica Petrolífero” de uma receita por consignação de receitas
inscrita no orçamento do exercício daquele ano económico, com objectivos de no futuro
próximo de despender esta receita na realização de despesa de capital e investimentos em
infra-estrutura de base364.
Por via disso, cabendo a sua gestão o Presidente da República nas vestes do Titular do
Poder Executivo e foi com esta lei de autorização financeira do Poder Legislativo, que o Titular
do Poder Executivo ficou habilitado nos termos do exercício das suas funções e competências
constitucionalmente consagrado noart.120º, da CRA de intervir na ordem económica de
institucionalizar a gestão da reserva petrolífera à uma entidade administrativa criado por
Decreto Presidencial nº 48/11, de 9 de Março que viria ser designa-se de «Fundo Soberano de
Angola», por Decreto Presidencial nº 108/13, de 28 de Junho. Esta entidade carecia de uma
qualificação jurídica, ou seja, definição da sua natureza e regime jurídico, abrindo desta feita
uma talisca de discussão em alguns círculos da doutrina, visto que, o quadro apresentava-se
de algum modo incipiente e lacunoso.
Assim, tem-se discutido em torno da natureza jurídica dos institutos públicos, que
amiudadamente a doutrina dominante, da escola de Lisboa, a frente o Professor Doutor
DIOGO FREITAS DO AMARAL, a quem na sua concepção vê nos institutos públicos como um
substrato institucional autónomo, diferente do Estado ou dele desmembrado, pois a Lei
confere personalidade jurídica. Nestas verosimilhanças de demarcações a ordem jurídica
criara um sujeito de direito com base a uma instituição distinta do Estado, seja ele um serviço,
um património ou um estabelecimento365, evidentemente terá os seus órgãos dirigentes, o
seu pessoal privativo e suas finanças serão para estaduais e um acervo património próprio366.
Estas realidades enraizadas na doutrina reconduzem ao um esquema similar do círculo dos
institutos públicos também traçado no ornato jurídico-legal angolano.
Desta forma, podemos classificar o FSDEA, apesar ter predicados peculiar, aliás, no
momento político asténico angolano em que foi lançado, porquanto as forças políticas
estavam preocupadas com ascensão ou manutenção do poder, ou de impugnar os resultados
eleitorais367, evidencia-se como um dos institutos públicos do sector económico, porquanto
que, filia-se no panorama nos princípios de descentralização administrativa imprópria, ou dito
de outro modo na linguagem coloquial, desconcentração administrativa personalizada ao

364
Portanto, não vem especificado as infra-estruturas de bases onde serão investidos esses Fundos Financeiros,
ficando definido apenas no nosso entender estruturas de base de vias de comunicação, água e energia.
365
No direito francês designam de Estabelecimentos Públicos como sinónimo de Institutos Públicos, vide
CAETANO, MARCELO, - «Manual do Direito Administrativo Vol. I», Almedina 2010, Pág.188.
366
Cfr. AMARAL, DIOGO FREITAS DO, - «Direito Administrativo vol. I», Pág.355.
367
Porque o sistema do governo angolano é tido de partidos porque são eles que concorrem as eleições através
de listas.
150
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
nível central, no âmbito da devolução de poderes368,desde logo, integra à Administração
indirecta do Estado, susceptivel de superintendência e tutela do Poder Executivo nos ternos
sublinhados pela norma do art.199º, nº 2, da CRA.
Por esta razão, a sua autonomia é mitigada, pois além da intervenção do Poder Executivo,
paradoxalmente o DP nº 48/11, com as alterações do DP nº 24/12 de 30 de Janeiro, confere
ao FSDEA, poderes creditícias equiparados ao Estado previsto no art.162º al. d), da CRA, estão
consagrados no art. 8º do DP nº 48/11, com as alterações do DP n.º 24/12, de 30 de Janeiro.
Mas já curiosamente os institutos Públicos na sua generalidade, lhes são vedados os poderes
creditícios(o cheque em branco) passivo e activo (art.11º, nº2, do DLP nº 2/13).
O que significa dizer, sem margem de pesar de errar, afirmar que, o Fundo Soberano não
gozo de uma autonomia material, claro que, a sua autonomia formal prescrita na Lei
reconduz-se a uma dependência privilegiada por causa do sistema de governo adoptado na
Constituição de 2010 e pela Lei dos institutos públicos de natureza económica, configurado no
Decreto Presidencial nº 108/13, de 28 de Junho.
Nesta esteira de pensamento, podemos considera-lo como um súper Instituto Público por
causa do volume de activos financeiros sob sua gestão, dos objectivos que persegue e o sector
de actividade transversal definida para sua actuação no âmbito da delimitação e coexistência
de sector da economia, identificada como uma área ou sector de reserva absoluta, aliás,
quanto muito menos da reserva relativa do Estado, bem como os poderes creditícios passivos
e activos que lhe foi conferido pela destacada Lei dos Institutos Públicos e pelos seus
Estatutos de Regulamento.
Portanto, podemos dizer que é um Estado financeiro dentro do outro Estado financeiro369.
Mas qualquer feição, na ciência jurídica económica e financeira, o FSDEA, é entendida como
ferramenta financeira de intervenção económica directa do Estado angolano na economia ao
nível interno e internacional, constituído pelos activos financeiros de propriedade do Estado,
com diversos objectivos, ou seja, funciona como veículo de investimento370, nacional e
internacional, e é, um mecanismo de políticas públicas cuja natureza jurídica é uma pessoa
colectiva pública dotada de personalidade jurídica com autonomia administrativa, financeira e
patrimonial (art. 2º, do Decreto do Decreto Presidencial nº 108/13, de 28 de Junho),inscreve-
se como um Fundo Público de Investimento.

5.2. O Sistema Financeiro Angolano


O Sistema Financeiro tem se confundido em vez enquanto com o sistema do Direito
Financeiro e Finanças Públicas que constitui uma vexata quaestio cujo consenso não tem sido
pacífico na doutrina nacional lusófona, criando debates acesos, mas, contudo vamos tentar
centrar à nossa atenção convocando, desde logo, a doutrina avisada para efeito.
Porém, temos que estabelecer , com alguns critérios da hermenêutica jurídica a
diferença que encerra entre o Sistema Financeiro e o Sistema do Direito Financeiro na ordem
jurídica económica e financeira angolana para subsumir o tema sub judice na adequada área
jurídica dos ramos de direito tradicional “summa division” (Direito Público e Direito Privado).

368
Mais desenvolvimento ver, DIAS, JOSÉ EDUARDO FIGUEIREDO/OLIVEIRA, FERNANDA PAULA, in «Noções
Fundamentais do Direito Administrativo, 2ª edição 2012», Almedina editora, Pág.100-101.
369
Como sustenta o FRANCO, SOUSA, - “ A autonomia financeira orçamental dos Institutos Públicos constitui um
mundo a parte em termos orçamentais”, Pág.354.
370
Art. 3º, nº1, do Decreto do Decreto Presidencial nº 108/13, de 28 de Junho.
151
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Todavia, na enciclopédia jurídica que nós tivemos acesso detida pela doutrina
portuguesa371; refere que o sistema financeiro - «reporta-se ao conjunto estruturado de
instituições, pessoas, actos, negócios e operações relacionados com criação dos Mercados
monetários, financeiros e cambial, com o crédito ou a transferência e a cobertura de risco»372.
No ordenamento jurídico angolano o art. 99º, da Constituição da República de Angola ,
aí neste endereço legal faz eco e estabelece que “o sistema financeiro é organizado de forma
a garantir a formação, a captação, a capitalização e a segurança das poupanças, assim como
a mobilização e a aplicação dos recursos financeiros necessários ao desenvolvimento
económico e social em conformidade com a Constituição e a Lei” 373.
Destarte, feita esta comparação dizer que, o sistema financeiro também por vezes
designado por “Sector Financeiro” –, porque neste sentido, segundo concepção defendida
pela MARIA MANUEL LEITÃO MARQUES, postula de modo “que compreende o conjunto das
instituições de crédito, Mercado de capitais e as empresas que prestam serviço de
investimento, bem como as Empresas que operam no mercado de seguros e de fundos de
pensões”374.
O Sistema Financeiro375, - visto nesta prisma, traduz-se no Direito do Sistema
Financeiro ou Finanças Privadas que comporta três distintas vertentes, particularmente o
Direito Bancário, o Direito dos Seguros, o Direito dos Valores Mobiliários e Direito dos
Mercados Financeiros376(art.99º, da CRA), que normalmente pode –se encaixar no ramo do
Direito Privado apesar hoje ganharem autonomia.
Já o Direito Financeiro ou Direito de Finanças Públicas – consiste num sistema de
normas que visam em síntese disciplinar as despesas e as receitas do Estado, cuja função
essencial é da Regulação social, dito do outro modo, o Direito Financeiro consiste na
arbitragem concreta entre os bens económicos atribuídos ao Estado e os particulares, cuja
base legal encontra o conforto no proemio do art. 101º, da CRA377.

371
O conceito de sistema financeiro surge-nos desde modo como um construção doutrinária, elaborada a partir
da realidade económica e do quadro normativo relevante para efeito, Cfr. AAVV. FERREIRA, EDUARDO
PAZ/MORAIS, LUÍS SILVA “ Regulação Em Portugal: Novo Tempo: Novo Modelo? 2009, Pág. 40
372
Cfr. CÂMARA, PAULO – Manual de Direito do Valores Mobiliários, almedina editora 2009, Pág.16.
373
O Sistema Financeiro, funda-se nas instituições financeiras na proa – o BNA, vide art. 100º da CRA.
374
Apud, - FLOR, PAULA ADREGA - «Espaço Financeiro Europeu Integração, Regulação e Supervisão: que
Modelo?» in Revista da Banca nº 65 Janeiro/Junho de 2008, Pág. 83,citando AAVV, MARQUES, MARIA LEITÃO/
ALMEIDA, JOÃO SIMÕES DE E FORTE/ANDRÉ, MATOS – “ Concorrência e Regulação (A relação entre a Autoridade
da Concorrência e as autoridades de regulação sectorial), Pág. 137.
375
A expressão sistema financeiro pode ser utilizada num sentido objectivo, enquanto conjunto de normas,
institutos e mecanismos jurídicos que regem a actividade financeira em geral; no sentido subjectivo, enquanto
conjunto de instituições, empresas e organizações com intervenção directa na actividade financeira. Cfr. AAVV.
FERREIRA, EDUARDO PAZ/MORAIS, LUÍS SILVA “ Regulação Em Portugal: Novo Tempo: Novo Modelo? Pág. 40
376
Constituem disciplinas jurídicas, mas também de ponto visto económico são áreas com forte intervenção dos
Estado, o seja, intervencionismo do Estado no domínio económico que por vezes se confunde com dirigismo
económico (criação do sector público maior do que aquele que caracteriza um Estado intervencionista “sic” há já
ideia de direcção da economia) enquanto intervencionismo (há apenas uma ideia de correcção) mas
desenvolvimento ver o saudoso FRANCO, LUCIANO SOUSA, in Finanças Públicas e Direito Financeiro, vol. I e II,
Almedina, Coimbra 4ª edição, 13ª reimpressão 2010, Pág. 61 e 62.
377
O Direito Financeiro, funda-se principalmente no instituto do “imposto tido como estabilizadores automáticos
do orçamento” vide art. 102º da CRA.
152
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Por seu turno, a Escola de Coimbra, citado pelos Profs. GOMES CANOTILHO/VITAL
MOREIRA378, avançam com ideia e discutem com base o critério subjectivo e objectivo do
sistema financeiro previsto no art. 101º, da CRP e tal como o previsto no normativo do art.
99º, CRA. Estes autores fazem a destrinça do sector financeiro (e não sistema financeiro).
Em síntese, concluem que no sentido subjectivo, o Sector Financeiro - versa sobre a
banca, mercados financeiro e, no sentido objectivo, o Sistema Financeiro- versa sobre
actividade financeira (orçamento, sistema fiscal).
Portanto, o Direito Financeiro conformar-se com Orçamento Geral do Estado,
actividades financeiras. São Finanças Públicas do Estado(Direito Público), cuja entidade de
vocacionada para hetero-controlo e fiscalização é o Tribunal de Contas.
E, Sistema Financeiro que é o fenómeno financeiro do Estado, versa actividade
financeira do tratamento da moeda – dinheiro e circulação da riqueza entre Agentes
Económicos através das instituições financeiras bancarias e não bancarias sob vigilância do
Estado(Finanças Privadas), cuja entidade de Supervisão(Regulação) é o BNA.
Portanto no Sistema Financeiro, comporta três Mercados, nomeadamente :
1- Mercado de Crédito - que é conjunto de actividades comerciais monetárias,
bancarias, interbancário de cedência de liquidez, crédito e cambial.
2- Mercado de Capitais – é conjunto de actividades comerciais de transacção de
valores mobiliários.
3- Mercado de Risco – o conjunto de actividades de comerciais de seguros dos bens.
Estes Mercados é que vai constituir as Instituições Financeiras que a seguir vamos
tracejar e produzir um sumário de Direito dos Mercados Financeiro.

5.3. Instituições Financeiras do Sistema Financeiro Angolano


Nos anais da história de Angola, tem - se registado imensas mutações económicas com
relevância no sistema financeira operada em 1988, onde foi lançado o marco para
desenvolvimento das instituições financeiras através do Programa de Saneamento
Económico-Financeiro (S.E.F.), onde foram definidas as bases gerais que se consolidaram na
Lei vigente das instituições financeiras (Lei nº 12/015, de 17 de Junho).
Portanto o actual regime jurídico das instituições financeiras, além de redefinir o
enquadramento estrutural do sistema financeiro de Angola, veio edificar à categorização das
instituições financeiras organizadas de acordo o sector de actividade, que constitui a trave
mestra assente na principal destrinça entre as instituições financeiras bancaria e as
instituições financeiras não bancarias . O que vamos desenvolver nos números à seguir.
5.3.1.Instituições Financeiras Bancárias

378
Apud – AAVV, MARQUES, GONÇALVES ALEXANDRA, Supervisão Comportamental Bancaria: Da Supervisão à
Protecção do Cliente Bancário - in Revista da Banca nº 70 Julho/Dezembro de 2010, Pág. 9, citando, CANOTILHO,
GOMES/VITAL MOREIRA (2007), Pág. 454. Sobre o conceito e estrutura constitucional do sistema,
desenvolvidamente Cfr. FONSECA, R, GUERRA (2008), Pág. 758 ss.
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Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
As instituições bancarias são os Bancos, Empresas cuja actividade principal consiste em
receber do público depósitos ou fundos reembolsáveis, a fim de aplicar por conta própria,
mediante a concessão de crédito que subdividem em dois níveis:
a) Banco do 1º nível (BNA) – Banco central, emissor, autoridade cambial e supervisor,
banqueiro do Estado.
b) Bancos do 2º nível – Bancos comerciais, crédito, fomento, desenvolvimento,
investimento, ou seja, bancos universais .
5.3.2. Instituições Financeiras Não Bancárias
As Instituições Financeiras não bancárias, ou seja, parabancárias são as Empresas que
não sejam instituições financeiras bancarias, mas ligadas a moeda e o crédito sob jurisdição
do BNA, cuja actividade principal consiste em exercer uma ou mais actividades intermediação
financeira,(art.99º, da CRA), nos termos definidas pelo Lei das Instituições Financeiras, ( Cfr.
Art. 7º, nº 2, da LIF).
O Mercado angolano é incompleto no plano da concretização das instituições previstas
no art. 7º, da LIF, mas sublinha-se à actividade de algumas instituições financeiras não
bancarias que efectivamente operam no Mercado Financeiro de Angola, designadamente:
Casas de Câmbio, Sociedades Cooperativas de Crédito e Sociedades de Micro crédito379 .

5.4. Supervisão, versus, Regulação Financeira no Sistema Financeiro Angolano


Etimológico, a Supervisão –, significa visão superior380, função de supervisor, por
influência anglo-saxónica, tem-se divulgado junto dos nossos estudiosos do Direito Bancário, a
referência a uma Regulação Bancária ou Financeira em detrimento da tradicional (ou mais
tradicional) Supervisão, nesta sede LUÍS GUILHERME CATARINO, diz que, a Supervisão se
traduz numa “actividade da administração limitadora da liberdade dos administrados” (…)381.
já a Regulação é uma forma de intervenção do Estado no domínio financeiro com fito
de criar utilidade públicas e de algum modo de limitar liberdade jurídicos económicas , esta
ultima corresponde um forma de Supervisão Financeira.
Assim, LUÍS GUILHERME CATARINO, define a “Supervisão” «como actividades da
administração limitadora da liberdade dos administrados, mediante a qual se quer garantir
que os sujeitos privados ou públicos, que actuam sob o regime do direito privado operando
num determinado sector ou nele desenvolvem determinada actividades, o façam de forma
ajustada ao estabelecido na ordenação do referido sector ou actividades, através de um
controlo prévio (autorizações e poderes regulamentares), de vigilância de actividades

379
Cfr. AVV, Mário, Francisco – Supervisão Bancaria no Sistema Financeiro Angolano, Revista de Regulação e
Concorrência do Instituto Direito Económico e Fiscal(IDEF)da Faculdade de Direito da Universalidade de Lisboa
nº20 e 21/2015, almedina editora, Pág.261-281.
380
Supervisão – significa (…) Acto ou efeito de dirigir, orientar ou inspeccionar. In Universal Dicionário Integral de
Língua Portuguesa, texto editores, Lda. 2010. Angola. Portugal. Moçambique. Brasil Pág. 1393.
381
CATARINO, LUÍS GUILHERME. - «Agencificação da União: Novo Meio de Regulação». In Revista de
Concorrência e Regulação. IDEF, ano III, nº 9, FDL.2012, Pág. 175.
154
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
(informação, inspecção), de intervenções correctivas (injunções, ordens) que podem culminar
no exercício de funções repressivas (sancionatórias)» 382.
Sustenta este autor que, a Supervisão, assenta assim na conjugação do objecto
(garantia) e formal (actividades limitadora da oferta dos particulares), defendendo a
finalidade dos objectivos que são legalmente consagrados (defesa da ordem e segurança
pública, fomento de actividades, promoção de interesses).
De uma forma sumário para bem perceber melhor a temática de Supervisão importa
destacar os modelos clássicos de Supervisão e daí indicar o modelo de Supervisão Financeiro
acolhido na ordem económica angolana, e , assim temos :
a) Sistemas de Supervisão Integrada (monista) – que consiste numa única entidade de
Supervisão do sector financeiro.
b) Sistemas de Supervisão Especializada – os que separam as três grandes áreas da
Supervisão financeira, destacando órgãos especializados param cada uma delas.
c) Os Sistemas Mistos ou Mitigados – caracterizam-se pela especialização numa área e
combinação de funções noutras duas áreas.
d) Os Sistemas (ou modelo Twin Peaks – caracteriza-se pela repartição das
responsabilidades de Supervisão por duas entidades autónomos e independentes,
tendo ambos poderes transversais sobre todos os sectores do sistema financeiro, a
repartição de competência e efectuados em função da natureza prudencial ou
comportamental da Supervisão.
Face aos modelos em presença, Angola, perfilha o Sistemas de Supervisão Especializada.
Este sistema caracteriza-se por uma autoridade especializada que vai consistir na função de
Supervisão Prudencial para os Bancos e demais instituições de crédito e sociedades
financeiras como está previsto nos alinhados termos do art. 6º, nº2 e 7º, nº1, da Lei nº
12/015, de 17 Junho, actual Lei das Instituições Financeiras (daqui em diante LIF), como órgão
de Supervisão Coordenador ( Cfr. art. 21º, da Lei nº 16/ 10, de 15 de Julho, LBNA)383, e
cabendo no sector dos Seguros a Agência Angolana de Regulação de Seguros de
Angola(ARSEG), nos termos do art. 7º, nº 2, da LIF e o sector do Mercado de Valores
Mobiliários, o Organismo de Supervisão Mercados de Capitais(CMC)384, ex vi art.7º, nº3 e
art.18º, da Lei nº 22/015, de 31 de Agosto, Código de Valores Mobiliários.
Apesar que na pratica vê-se uma aproximação ao sistema misto, tendo em conta a
tutela e superintendência dos supervisores por entidades do Poder Executivo,
designadamente o Ministro das Finanças e Titular do Poder Executivo385, por causa da forma
do governo angolano consagrado na Constituição da República de Angola de 2010 que se
configura no sistema de governo presidencial-parlamentar386.

382
CATARINO, LUÍS GUILHERME – Regulação e Supervisão dos Mercados de Instrumentos Financeiros,
Fundamento e Limites do Governo e Jurisdição das Autoridades Independentes, “teses de doutoramento”
Almedina, 2010, Pág. 287 e ss.
383
No Direito comparado português, é consagrado no art.73º, 91º e 93º, do RIGICSF.
384
CMC- Comissão de Mercados de Capitais.
385
Ou a relação entre as entidades supervisoras e Poder Executivo.
386
Cfr. AVV, Mário, Francisco – Supervisão Bancaria no Sistema Financeiro Angolano, Revista de Regulação e
Concorrência do Instituto Direito Económico e Fiscal(IDEF)da Faculdade de Direito da Universalidade de Lisboa
nº20 e 21/2015, almedina editora, Pág.261-281.
155
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Porquanto que o modelo de Supervisão Financeiro, caracteriza-se pelo sistema de
Supervisão Especializado e Coordenado em oposição do sistema de Supervisão Especializado
Integrado.
A Supervisão em cada sector esta acometidos ao um organismo especializados para efeito,
designadamente:
1- Departamento de Supervisão das Instituições Financeiras (DSB), BNA;
2- Agência Angolana de Regulação dos Seguros de Angola (ARSEG);
3- Organismo de Supervisão de Mercados de Valores Mobiliários (CMC);
4- Instituto de Supervisão de Jogos (ISJ),e;
5- Conselho Nacional de Estabilidade Financeiro (CNEF).
Portanto, vamos desenvolver nas páginas a seguir detalhadamente a cada organismos
especializado de Supervisão.

5.4.1.Departamento de Supervisão das Instituições Financeiras do BNA(DSB).


DSB, é um organismo de Supervisão do Sistema Financeiro do BNA. De ponto vista
constitucional o BNA configura-se numa instituição de cariz monetária e financeira a
dimensão da ordem económica , cujo regime jurídico-legal situa-se no território do art. 100º,
da CRA e na Lei nº 16/10, de 15 de Julho, apelidada de LBNA.
Porque, o sistema financeiro bancário a sua actividade tradicional reputa-se nas
operações bancarias voltada na recepção de fundos reembolsáveis, a concessão de crédito e
prestação de serviços de acordo o balizado na Lei das Instituições Financeiras.
O BNA no sistema financeiro angolano constitui uma fonte normativo de dimensão
formal e material do sistema, pode ser definido como uma pessoa colectiva de direito público
dotada de autonomia administrativa, financeira e patrimonial conforme plasma no art.1º, da
LBNA.
Contudo, o BNA, pertencente a categoria mais amplo de “Institutos Públicos” , sujeito
à tutela do Titular do Poder Executivo (isento do controlo jurisdicional do Tribunal de Contas),
porém, não se fala em independência, pois que, está irremediavelmente ancorada na sua
autonomia administrativa, financeira e patrimonial.
O BNA sob chefia de um governador órgão unipessoal, nomeado e exonerado pelo
Presidente da República, enquanto Chefe do Estado (Cfr., al. j), do art. 119º, da CRA e art. 49º,
da LBNA). O BNA, desempenha as funções tradicionais, como banco emissor, autoridade
monetária, cambial e supervisão do sistema financeiro, (Cfr. art. 3º, da LBNA).
Entretanto, como autoridade de Supervisão exerce a função de Supervisão macro e
micro Prudencial (vide, art. 87º e 90º ss., da LIF) e Comportamental (art. 70º e 75º e ss., da
LIF) das instituições bancárias e outras instituições não bancárias ligadas a moeda e o crédito
(art. 7º, nº 1, da LIF e art. 21º, da LBNA).
Porque o risco da aplicação dos depositantes ou aforradores bancários resume-se no
risco do crédito sobre a instituição custodiante do seu dinheiro. Daí que a “Regulação
Bancaria” é essencial na perspectiva prudencial de modo acautelar ou manter incólume os
depósitos dos clientes e fazer cumprir o dever de reembolsar o dinheiro emprestado aos
156
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
investidores (devedores) , bem como a assegurar à tutela da confiança na estabilidade do
sistema financeiro(art.198º, da CRA)387.
Por seu turno no Mercado Cambial, BNA é autoridade máximo do sistema financeiro
que supervisiona o comércio de divisas bem como a saída e entrada das reservas cambiais.
Entretanto, neste Mercado tão sensível e complexo constitui o eixo da soberania
monetária e de reserva dos recursos naturais nas relações estabelecidas com exterior, daí,
porém, o as autoridades monetárias tem proclamada um conjunto de medidas para assegurar
e preservar a soberania monetária de acesso as divisas que a principio não é livre.
Todavia, instrutivo do BNA restringe os montantes autorizados para saída de divisas
distingue ‘residente cambial’ e ‘não residente cambial’. A diferença está na detenção do
cartão de residência por parte do estrangeiro atribuído pelo SME com base em critérios
descritos no art. 80º, da Lei nº 2/07, de 31 de Agosto, o que significa que os estrangeiros só
podem transferir os rendimentos obtidos no País na base do contrato de trabalho válido
naquelas áreas em que são necessário a mão de obra estrangeiras ou base do investimento
privado externo, art. 15º e 21º, da Lei nº 14/15, de 11 de Agosto, Lei do Investimento Privado
(LIP). Fora destes mecanismos as autoridades cambiais não permitem realizar este tipo de
operações com as reservas cambiais, nos termos art.3º e 4º, da Lei nº 5/97, de 27 de Junho,
Lei Cambial, de um lado , por outro a Lei Cambial permite a saída e entrado no País através
das fronteiras migratórias até um montante estabelecido388.
A inobservância deste comando legal desencadeia um conjunto de sanções de
natureza penal, art. 20º, da LC.
São eles a comprovação de residência e de capacidade de subsistência e alojamento no
País, a ausência de condenações criminais, um visto de residência válido e “haver interesse
nacional na autorização de residência”.

387
Cfr. AVV, Mário, Francisco – Supervisão Bancaria no Sistema Financeiro Angolano, Revista de Regulação e
Concorrência do Instituto Direito Economico e Fiscal(IDEF)da Faculdade de Direito da Universalidade de Lisboa
nº20 e 21/2015, almedina editora, Pág.261-281.
388
Vide aviso do BNA nº 1/16, de 8 de Abril, Sobre a entra e saída de moeda. Nos termos deste aviso a entrada
de moeda estrangeira e moeda nacional esta condicionada nos termos prescrito nas disposições a seguir :

Artigo 4.º (Limites)


1. Às pessoas singulares residentes e não residentes cambiais é permitida a saída e entrada no país com
moeda nacional até ao montante de Kz 50.000,00 (cinquenta mil kwanzas). 2. O montante em moeda nacional
não é elegível para o apuramento dos limites de entrada e saída de moeda estrangeira definidos nos capítulos III
e IV do presente Aviso.
Artigo 5.º (Residentes cambiais)
As pessoas singulares residentes cambiais, que transportem, à entrada no território nacional, valores
que excedam o montante de USD 10.000,00 (dez mil dólares dos Estados Unidos da América) ou o seu
equivalente em outra moeda estrangeira, devem obrigatoriamente preencher a declaração referida no artigo 2.°
do presente Aviso.
Artigo 6.º (Não residentes cambiais)
As pessoas singulares não residentes cambiais, que transportem, à entrada no território nacional,
valores que excedam o montante de USD 5.000,00 (cinco mil dólares dos Estados Unidos da América) ou o seu
equivalente em outra moeda estrangeira, devem obrigatoriamente preencher a declaração referida no artigo 2.°
do presente aviso.
157
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Podemos concluir à este propósito que o BNA e o Poder Executivo através da política
monetária criaram mecanismos institucionais de coordenação para fazer face à tarefa de
Supervisão com base consolidada (art. 21º, da LBNA), tendo em vista assegurar a estabilidade,
eficiência e solidez do sistema financeiro e, o cumprimento de regras de conduta e a de
prestação dos interesses dos clientes(Interesse Público).

5.4.2. Agência Angolana de Regulação E Supervisão de Seguros de Angola


O Mercado do Risco - é muito importante na medida em que assegura as transacções
de circulação da riqueza entre os Agentes Económicos Mas qualquer modo o Mercado de
risco angolano comporta expressivamente três sectores de seguro, nomeadamente:
a) Seguro concernente as pessoas
b) Seguro de bens e património.
c) Seguro da responsabilidade civil.
Pelo que o seguro concernente as pessoas comportam o apólices de seguro,. Vida, de
casamento e nascimento, danos corporais, assistência de viagem nos termo da Lei 1/00, de 3
de Fevereiro.
Já o seguro de bens comporta os seguro das coisas e perdas pecuniárias.
Finalmente o seguro de responsabilidade civil vise efectivamente assegurar a
concretização da responsabilidade civil geral, responsabilidade profissional e
responsabilidade-Produtos.
Entretanto os três sectores de seguro por causa do interesse publico e também e perigosidade
da actividade para protecção dos seus utentes o legislador entendeu impor aos operadores
regras imperativas de seguro, para protecção dos direitos fundamentais, ou seja, um
monopólio coactivo sectorial de seguro obrigatório nomeadamente:
1. Seguro Obrigatório dos Acidentes de trabalho e Doenças Profissionais, Decreto nº
53/05, de 15 de Agosto , que garante o direito à reparação de danos resultantes de acidentes
de trabalho e de doenças profissionais aos trabalhadores por conta de outrem e seus
familiares, protegidos pelo sistema de protecção social obrigatório .
2. Seguro Obrigatório de responsabilidade civil automóvel, Decreto nº35/09, de 11 de
Agosto, que fixa as regras e procedimentos a observar pelos vários intervenientes, com vista
a satisfação da responsabilidade civil.
3. Seguro Obrigatório de Responsabilidade Civil de Aviação, Transportes Aéreos, Infra-
estruturas Aeronáuticas e Serviços Auxiliares, Decreto nº 9/09, de 9 de Julho. Pelo que este
diploma estabelece as regras que regulam direitos, obrigações e procedimentos aplicáveis ao
transporte aéreo de passageiros, bagagens e cargas, incluindo nele, animais, no quadro do
seguro obrigatório de responsabilidade civil de viação civil.
Porém a Supervisão ou Regulação da actividade dos seguros cabe ao ARSEG, que no
passado recente era designado de «Instituto de Supervisão de Seguros» e, todavia,
actualmente tomou outra designação numa perspectiva americana de agencia - “Agência
Angolana de Regulação e Supervisão de Seguros” (ARSEG), é definido como uma entidade de
direito público, dotado de personalidade e capacidade jurídica e de autonomia administrativa

158
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
e financeira, à qual compete genericamente a Regulação, Supervisão e fiscalização das
actividades de seguros e fundos de pensões, (Cfr. art 1º, do Estatuto Orgânico da ARSEG).
A Lei das Instituições Financeiras atribui competências à este órgão a Supervisão
especializado a tarefa de supervisionar o sector de seguros e fundos de pensões em sede do
art. 7º, da LIF. No entanto , os seus órgão são promovidos e destituídos, sob proposta do
Ministro das Finanças, pelo Presidente da República, enquanto Titular do Poder Executivo,
nos termos da al. d), do artigo 120º, da CRA e art.17º; 18 e art. 19º, do Decreto Presidencial
nº 141/13, de 27 de Setembro.
O ARSEG, é um Instituto Público do sector económico, cfr, art. 3º, da al. a), do
Decreto Presidencial nº2/13, de 25 de Junho, Sobre as Regras de Criação, Estruturação e
Funcionamento dos Institutos Públicos), pois que, exerce as funções de supervisão no quadro
Administração indirecta do Estado no plano de desconcentração administrativa, ( Cfr. art. 8º e
199º, da CRA), sob a superintendência do Ministério das Finanças, (art. 10º e 11º, da Lei nº
1/00, de 3 de Fevereiro e do nº 4, do art. 6º, do Decreto Presidencial n.º 299/14, de 4 de
Novembro), nos termos de garantias do exercício das suas funções os seus quadros gozam de
prerrogativas e imunidades, (art 13º, do Estatuto Orgânico da ARSEG).
Portanto ARSEG, como Instituto Público e organismo de Supervisão do sector dos
seguros, denota-se que é superintendido pelo Titular do Poder Executivo (art. 2º, nº 1, do
Estatuto de ARSEG) e tutelado pelo Ministério das Finanças,(art. 2º, nº 2, do Estatuto da
ARSEG), como organismo de Supervisão sob forma de instituto público, esta sujeita à
jurisdição do Tribunal de Contas nos termos da al. d), do art. 2º, da Lei nº 13/10, de 9 de
Julho, Lei do Processo do Tribunal de Contas no âmbito do controlo e fiscalização externa
financeira e internamente pelo Conselho Fiscal, (art.15º, da al. d), do Estatuto Orgânico da
ARSEG).
5.4.3.Organismo de Supervisão do Mercado de Valores Mobiliários
O Organismo de Supervisão do Mercado de Valores Mobiliários é a Comissão de
Mercados de Capitas (CMC), pelo que, como organismo de Supervisão especializado no sector
de Mercado de Valores Mobiliários, é definido como uma entidade de direito público, dotado
de personalidade e capacidade jurídica e de autonomia administrativa e financeira, à qual
compete a Regulação, Supervisão e fiscalização, e a promoção do mercado de capitais e das
actividades com elas relacionadas .
O legislador ordinário orientou através da Lei das Instituições Financeiras(LIF), bem
como através do Código dos Valores Mobiliários(CVM), atribuir as competências ao
organismo de Supervisão especializado neste sector à tarefa de supervisionar o Mercado de
Capitais, bem como o Mercado Regulamentado da Dívida Pública Titulada - A Bolsa de Dívida
e Valores de Angola (BODIVA) , (vide, Decreto Legislativo Presidencial nº 4/13, de 9 de
Outubro , e o art. 18º, da Lei nº 22/015, de 31 de Agosto, CVM).
Porém, a forma de provimento dos órgãos sociais da CMC é por via administrativa de
Despacho de nomeação e exoneração pelo Presidente da República, enquanto Titular do
Poder Executivo, nos termos da al. d), do artigo 120º, da CRA e art. 9º, do Decreto Presidencial
nº54/13, de 6 de Junho, do Estatuto Orgânico do Comissão de Mercados de Capitais.
Os órgãos sociais do CMC, cumprem mandatos democráticos indirecto, por nomeação
, cuja duração é de cinco anos renováveis mais de cinco vezes, conforme reza o art. 8º, do
Estatuto Orgânico da Comissão de Mercado de Capitais.
159
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
No plano jurídico-constitucional a CMC, pode-se classificar como um instituto público
do sector económico cujo regime jurídico situa-se no diploma legislativo dos estatutos dos
institutos públicos precisamente nos termos do art. 3º, da al. a), do Decreto Presidencial nº
2/13, de 25 de Junho, sobre Regras de Criação, Estruturação e Funcionamento dos Institutos
Público.
Neste sentido a CMC, exerce as funções de Supervisão no quadro da Administração
indirecta do Estado no âmbito da desconcentração administrativa consagrado no art. 8º e
199º, da CRA.
Portanto, como Instituto Público, notadamente como se observa, encaixa-se na
Administração indirecta do Estado, persegue o interesse não só do Estado, mas também da
Administração Pública, logo, como se percebe, deve obedecer as linhas gerais do Poder
Executivo sob tutela do Ministério das Finanças, quer dizer que, está sujeito a tutela de
legalidade e de mérito pelo titular da pasta das Finanças, (art. 10º e 11º, da Lei nº 1/00, de 3
de Fevereiro e do art. 6º, nº 4, do Decreto Presidencial n.º 299/14, de 4 de Novembro), mais
ainda, vai sujeitar-se a jurisdição do Tribunal de Contas ao abrigo do controlo/fiscalização
financeira, (vide, al. d), do art. 2º, da LOPTC).

5.4.4.Instituto de Supervisão dos Jogos


Na sequência do subsistema de Supervisão de instituições financeira não bancária,
temos o “Instituto de Jogos de Fortuna e Azar”. Os jogos são hoje disciplinados pela Lei nº
5/16, de 17 de Maio, Lei da Actividade dos Jogos(LAJ) que veio revogar a então portaria
517/1970, de 16 de Outubro, que vigorou quase 45 anos.
Os jogos como contrato não são nos termos do art.1245º, do CC., mas constituem
fontes das obrigações daí actividade jogo de fortuna e azar ser proibida ao acesso aos
particulares, (art. 7º, da LAJ), desde logo, constitui a reserva absoluta do Estado, (art 5º, da
LAJ), podendo ser concedido com apertadas regras normativas as sociedades anónimas para
o seu exercício ( art. 21º, da LAJ).
Assim sendo, o órgão Supervisão dos jogos pode ser definido também como uma
entidade de direito público, dotado de personalidade e capacidade jurídica e de autonomia
administrativa e financeira, à qual compete genericamente a regulamentação, Supervisão e
fiscalização das actividades de jogos de fortuna ou azar e afins.
Em termos operativa os jogos movimenta uma massa monetário caracterizado no jogo
que os casinos realizam, em que os potenciais jogadores submetem-se na álea da procura da
fortuna, de um lado, por outro lado, a casa de jogos através das maquinas automáticas,
procuram desta forma o lucro produzido pelos azarados, daí parece a denominação de «Jogo
de fortuna ou azar» .
Todavia, os seus órgãos sociais seguem o mesmo tratamento quanto o provimento,
mandato dos organismos de Supervisão sectorial.
Relativamente quanto a tutela, como Instituto Público, esta sujeito a tutela do
Ministério das Finanças, de acordo o estatuído no n.º 4, do art. 6º, do Decreto Presidencial nº
299/14, de 4 de Novembro, relativamente o controlo e fiscalização financeira, esta sujeito
duplo controlo; o controlo interno administrativo técnico (art.51º, da LAJ) e o controlo

160
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
externo jurisdicional sob à jurisdição do Tribunal de Contas, nos termos da al. d), do art. 2º,
da LOPTC .

5.4.5.Conselho Nacional de Estabilidade Financeiro (CNEF)


Angola ao longo da sua história financeira como País soberano passou por várias crises
que partilhou algumas experiencias de gestão destes momentos menos confortável para
economia, daí lançou mão umas das ferramentas de prevenção centradas na
institucionalização num primeiro momento do Fundo Soberano, como um instrumento de
gestão intergeracional de poupanças das reservas do petróleo, ou seja, o “Fundo Soberano”
que serve para prevenir as crises, os choques cambias e para investimentos de capital em
infra-estruturas de base e poupança intergeracional . E em ultima analise, serve como
mecanismo de intervenção na economia pública – finanças públicas orçamental.
Já no segundo momento no sistema financeira, para fazer face a crise financeiro
internacional iniciada no verão de 2007, nos Estados Unidos da América, crise de subprimes,
créditos hipotecários de alto risco, e, nos países emergentes de economia petrolífera a baixa
do petróleo do ultima quarteto de 2014, o Poder Executivo concebeu o Conselho Nacional de
Estabilidade Financeira(CNEF), que pode ser considerado de algum modo, como autoridade
administrativa independente .
Entretanto CNEF, - é o órgão de natureza pública, com independência e autonomia
técnica e funcional e que tem como escopo promover mecanismos de cooperação que visem
a estabilidade financeira e a prevenção de crises sistémicas no Sistema Financeiro Angolana,
cujas competências estão definidas na nº 12/15, de 17 de Junho.

As principais áreas de regulação pública-, as áreas de regulação pública têm variado ao


longo do tempo por razões que se prendem quer com o desenvolvimento tecnológico quer
com os fenómenos da internacionalização e globalização da economia, quer mais
recentemente com as políticas desreguladoras e de privatização.
Contudo, podemos destacar sete áreas principais, que serão objecto de um estudo autónomo
mais adiante, designadamente:
1- Planeamento e formas de orientação e auxílio aos agentes económicos;
2- Restrições e condicionamentos à actividade económica;
3- Concorrência e preços;
4- Actividade monetária e financeira;
5- Ambiente;
6- Qualidade e protecção dos consumidores;
7- Informação.

5.5. Analise Económica do Direito


5.5.1. Introdução

161
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
Surgimento da Analise Económica do Direito (AED) é um movimento de estudos
surgidos na década dos anos 60 do século passado que busca um maior diálogo entre
Economia e Direito. A AED reconhece o impacto e importância do Direito na determinação
dos resultados económicos e, assim, oferece ao aplicador do Direito ferramentas económicas
na resolução de casos judiciais, na criação de políticas públicas e em outras situações diversas.
É de se notar que o movimento de Law & Economics possui diversas escolas ou linhas
de pensamento, cujo único ponto de convergência é o uso da Economia para a criação de leis
“melhores”. Diferem, contudo, quanto ao modo de abordagem e realização deste dialogo
entre Direito e Economia, bem como na interpretação dos preceitos. Assim, dentro deste
movimento há a Escola de Chicago, a Escola da Escolha Pública, os Institucionalistas e os Neo-
institucionalistas, dentre outro389.
Importa, portanto, não afastar a ideia de que o movimento do Law & Economics não
possui uma uniformidade de pensamento, nem possui ponto de partida bem definido, tendo
em vista a pluralidade de linhas de raciocínio dentro de si. Não obstante, para este
movimento, uma coisa é certa: o uso da Economia do Direito, de facto, pode trazer leis mais
eficientes. Nas palavras de ANDRÉS ROEMER390.
“A AED surge como evolução e parte de um processo que busca capacitar a
interdisciplinaridade e pragmatismo da ciência jurídica. É uma disciplina que pretende ser
científica e racionalizadora das decisões públicas (ou privadas) e que tem como elemento
característico funcionar como elemento complementar (não substituta) do direito.
Em resumo, a AED se apresenta como teoria económica aplicada à ciência jurídica,
teoria que por sua configuração e método de análise fornece ferramentas de previsibilidade
ao direito, fazendo dele uma ciência pragmática, útil e pouco custosa”391.
“A primeira é a venerável tradição da economia política, derivada do trabalho de ADAM
SMITH e uma larga lista de notáveis escritores e comentaristas. O interesse desta tradição no
direito surge, por sua vez, do interesse nos Mercados. (…) Assim, um interesse no
comportamento do Mercado traduz naturalmente a um interesse no direito e na maneira em
que este afecta a conduta daquele.
A segunda tradição é das escolas de direito, nas quais a AED se desenvolveu a partir da
agenda do realismo legal. Esta ensinava que os estudiosos do direito devem analisar a Lei com
a ajuda das ciências sociais, tal e como na prática. E uma das ciências a que os académicos
recorreram foi a economia”.
Portanto o jurista da actual sociedade global deve interpretar a Lei e enquadrar os
fenómenos económicos sociais para realização do bem-estar do homem, ou seja, um direito
eficiente ao serviço da humanidade em que a tutela da confiança é o núcleo natural da
liberdade económico.
5.5.2.Teoria Económica do Direito Civil
A sociedade pós-moderna, vigente é uma sociedade de capitalismo tardio, em um
movimento económico também conhecido por globalização, possui como características

389
Apud, GUIMARÃES, LUCAS NOURA DE MORAES REGO, - Trabalhos publicados nos anais do XVIII Congresso
nacional do CONPEDI, realizado em São Paulo nos dias 4,05, 06e 07 de Novembro de 2009. Pág.998.
390
Ibidem.
391
Ibidem.
162
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
económicas a instantaneidade da comunicação, a velocidade crescente dos meios de
transportes e a necessidade de cada vez mais economizar tempo nas diversas linhas de
actividades da sociedade, visando a presteza na concretização de projectos, resolução de
conflitos e negociações financeiras entre partes independente do lugar que se encontrem no
mundo.
Esta velocidade de vida, de actividade económica e de anseios sociais geram impactos
no Direito que passam a ser estudados desde os anos 40, primeiramente na Universidade de
Chicago, com os trabalhos de AARON Director, seguido por RONALD COASE e GUIDO
CALABRESI, encontrando seu ápice nas exposições teóricas de RICHARD POSNER, surgindo o
chamado movimento Law & Economics.
Destes estudos, observa-se a crescente preocupação em reformular a teoria do Direito
e analisa-la pelos mecanismos e instrumentos da Economia, possibilitando novas
compreensões em diversas áreas.
Entretanto, no campo Direito Civil e do Processo Civil, a despeito de ser uma tópica
recorrente a discussão sobre celeridade processual, instrumentalidade do processo, economia
dos actos processuais, segurança jurídica, entre outros standarts jurídicos, estes estudos ficam
apenas no âmbito da argumentação, sem parâmetros de analise que realmente possibilitem
compreender o aspecto da efectividade de algum destes princípios processuais arguido face
sua influencia sobre o resultado do processo em si.

5.5.3 Teoria Económica do Processo Judicial


Nesta parte, estuda-se a aplicação da economia aos aspectos processuais das disputas
civis. Entretanto os aspectos processuais envolvem as acções no poder judiciário desde a
petição inicial (art.467º do CPC) incidentes processuais positivos ou negativos(art.302º e ss do
CPC) até seu trânsito em julgado (art.671º e 677º, do CPC).
Para sabermos se o processo judicial é eficiente, precisamos analisar se os custos
sociais decorrentes do processo são os menores possíveis nos ritos processuais.

Custos Sociais do Processo

Custos administrativos Custos de erros

O objecto económico do Direito Processual é minimizar a soma dos custos


administrativos e dos custos de erros até chegar a decisão final.
Ora bem, qualquer sistema económico, diz que é desenvolvido porque o sistema
judicial é eficiente e garante a justiça económica com celeridade requerida, daí ser uma das
fontes de investimento estrangeiro.
Por exemplo, se as partes tivessem chegado a um acordo de transacção (art.1248º, do
CC. e art.287º, do CPC) nos mesmos termos do que seria a decisão judicial(art.287º al. a), do
CPC), e que como se observa no ordenamento processual angolano é muito burocrático para
não dizer lento e que o processo poderá levar um percurso de 8 anos ou mais, pois que, se as
163
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
partes chegassem à um acordo com certeza, através de resolução extrajudicial, ou judicial
obtida na tentação de conciliação (art.508º do CPC) ou por via transacção judicial
homologatória (art.300º do CPC) teriam as partes logrado e os custos administrativos seriam
bem menores , pois que por maioria da razão os acordos poupa custos sociais.
Porém, no processo o demandante racional da acção judicial é aquele que somente vai
peticionar se o valor esperado da reivindicação judicial for superior aos custos de
apresentação da acção (Advogados, taxas, etc.).
Neste contexto vaticinam algumas razões militantes de fluxo de apresentação de
petições judiciais como: O aumento dos eventos que as causam (acidentes, quebras de
contrato, invasões de propriedade, etc.); a queda dos custos de peticionar (incluindo
remuneração dos advogados); o crescimento do valor esperado da reivindicação é que se
passa com os processos de alimentos e de reconhecimento de união de facto por morte, de
um lado aumenta a expectativa para os requerentes e por outro disciplina de modo de
prevenção geral dos cônjuges celebrarem casamentos no registo civil e os obrigados de evitar
procriação indesejados.
Se as pensões de alimentos(art.247º, 251º e 252º, do CF) e sobrevivência ou as
indeminizações forem baixas, os autores de acções em potencial terão pouco incentivo para
peticionar. Se aumentam, mais processos judiciais serão abertos. No entanto, se aumentarem
exponencialmente, os réus em potencial darão menos razões para se peticionar na justiça, ou
seja, terão de adoptar um comportamento diferente e número de processos cai.

5.5.4.Teoria Económica da Responsabilidade Civil


“Mesmo que não haja culpa, a política exige que a responsabilidade seja fixada onde
quer que ela reduza com a maior eficácia os riscos para a vida e a saúde inerentes a produtos
defeituosos que cheguem ao Mercado”392...
As pessoas muitas vezes prejudicam umas às outras na prática actos ilícitos v.g. um
senhora que altera as medidas de peso de venda batata ou arroz, ou que ofenda
corporalmente alguém e a vitima fica mais de 10 dias sem possibilidade de trabalhar e
descontado no salário por faltar no trabalho.
A vítima não pode intentar uma acção sob o direito contractual porque não houve
violação do contrato. Também não pode se basear no direito de propriedade, pois a
integridade física e reputação não são propriedade. Esses factos demonstram a necessidade
de um terceiro corpo principal do direito privado, além do direito contractual e do direito de
propriedade. Trata-se do direito dos actos ilícitos indemnizáveis economicamente.
O direito de propriedade e o direito contratual possibilitam que as pessoas cooperem
em relação a muitas espécies de dano que uma pessoa inflige a outra. No entanto, há danos
que os custos são exageradamente altos que impedem totalmente a cooperação. Exemplo:
Uma firma produz uma mercadoria que, normalmente, não causa prejuízos ao consumidor,
mas, em algumas situações, pode ser prejudicial.

392
Cfr. COOTER, ROBERT; ULEN, THOMAS, - Direito & Economia, Porto Alegre Bookman, 5ª edição 2010, apud,
TRAYNOR, ROGER, Pág. 1.
164
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
O direito da responsabilidade civil diz respeito a relações entre pessoas para as quais os
custos de transacção de acordos entre os Agentes Económicos por vezes são elevados.
A responsabilização civil é um instrumento de política públicas disponível para internalizar
(superar) as externalidades económicas criadas por altos custos de transacção.
A finalidade económica da responsabilidade civil é exortar os autores e as vítimas de
lesões a internalizarem os custos do dano (como no caso da Empresa que sabe que seu
produto pode gerar prejuízos ao consumidor). O autor deve superar o custo do dano,
indemnizando a vítima. Isso faz com que sejam criados incentivos para investir em segurança
num nível eficiente, evitando danos que podem acontecer em consequências da falta de
cuidado. A responsabilidade civil vincula-se à ideia de reparação do dano, de
restabelecimento do equilíbrio como nos reporta o art. 483º e 798º, do CC.
Como documenta a doutrina presidida pelo ANTUNES VARELA, a responsabilidade civil
contratual consiste na infracção de uma relação obrigacional ou outro direito de crédito, que
existia entre o lesante e o ofendido num contrato393, (art.798º, CC) A responsabilidade civil
contratual resulta da violação de um direito de crédito ou obrigação em sentido técnico.
Já a responsabilidade civil extracontratual resulta da infracção de um dever ou vinculo
jurídico geral, isto é, uma daqueles deveres gerais de abstenção imposto a todas as pessoas e
que correspondem aos direitos absolutos394, (art.483º, CC).
Todo produto posto em circulação deve ter segurança suficiente para não acarretar
danos a outrem, pois, se o contrário acontecer, surgirá o correspondente dever de reparar e
análise económica da responsabilidade civil, em vez de se concentrar no acto ilícito civil,
procura estudar os efeitos económicos da responsabilização395. Pois que modelo que se
baseia analise económico do direito da responsabilidade civil são os elementos do custo do
dano e o custo de se evitar o dano396.

393
Cfr. VARELA, ANTUNES, - Das Obrigações em Geral Vol. I, 10ª edição Almedina editora reimpressão 2000.
Pág.518-523.
394
Ibidem.
395
Existem três requisitos, conduta, dano e o nexo causal, é o que gera a chamada responsabilidade civil
objectiva (causou dano a outrem, há a obrigação de repara-lo). Não há que se discutir se houver ou não culpa do
agente.
396
A probabilidade de um acidente diminui com o aumento da precaução, logo a função é decrescente; o valor
do prejuízo causando por um acidente é representado por A. Assim, o prejuízo esperado é dado por A que
também é decrescente; Seja o custo unitário da precaução, consequentemente, equivale à quantia total gasta
com precaução.
165
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
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a) Regime Jurídico da Intervenção do Estado no Domínio Económico
 Lei nº 2030/1948, de 22 de Julho, Lei de Expropriação por Utilidade Pública, republicada
em 2 de Outubro de 1953.
 Lei nº 3/76, de 3 de Março, Lei de Confiscos e Nacionalizações.
 Lei nº 43/ 76, de 19 de Junho.
171
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
 Lei nº 128/75,B.O., nº 234, 1ª Série de 1 de Outubro – A Intervenção do Estado nas
Empresas Privadas.
 Lei nº 19/91, de 25 de Maio, Lei da Venda do Património Habitacional do Estado, com as
alterações da Lei nº 9/03, de 18 de Abril.
 Lei nº 10/94, de 31 de Agosto, Lei das Privatizações com alterações da Lei n.º 8/03, de 18
de Abril.
 Lei nº 05/02, de 16 de Abril, Lei da Delimitação de Sectores da Actividade Económica.
 Lei nº 18/10, de 6 de Agosto, Lei do Património do Estado(com recentes alterações).
 Lei nº 1/011, 14 de Janeiro, Lei de Bases do Sistema Nacional do Planeamento.
 Lei nº 14/15, de 11 de Agosto , Lei do Investimento Privado.
 Lei nº 7/15, de 15 de Junho, Lei Geral de trabalho.
a) Regime Jurídico das Instituições Financeiras Bancárias e não Bancárias
 Lei nº 16/10, de 15 de Julho, Lei do Banco Nacional de Angola
 Lei nº 12/15, de 31 de Agosto, Lei das Instituições Financeiras.
 Lei nº 05/97, de 27 de Junho, Lei Cambial (com as recentes alterações).
 Lei nº 1/00, de 3 de Fevereiro, Lei Geral da Actividade Seguradora.
 Lei nº 22/015, de 31 de Agosto, Código dos Valores Mobiliários.
 Lei nº 05/05, de 29 de Julho, Lei do Sistema de Pagamentos.
 Lei nº 5/16, de 17 de Maio, Lei da Actividade dos Jogos.
 Lei nº 9/06, de 29 de Setembro, Lei que Cria o Fundo Nacional de Desenvolvimento.
 Avisos do BNA.
 Instrutivos do BNA.
 Regime Jurídico da Economia Ambiental, Sistema de Ordenamento do Território e
Turismo
 Lei nº 5/98, de 19 de Junho, Lei de Bases do Ambiente.
 Lei nº 6/02, de Novembro, Lei das Águas.
 Lei nº 9/04, de Novembro, Lei das Terras.
 Lei nº 3/04, de 25 de Junho, Lei de Ordenamento do Território e do Urbanismo.
 Lei nº 06-A/04, de 8 de Outubro, Lei dos Recursos Biológicos Aquáticos.
 Lei nº 15/05, de 7 de Dezembro, Lei de Bases do Desenvolvimento Agrário.
 Lei nº 14/10, de 14 Julho, Lei dos Espaços Marítimos.
 Lei nº 17/14, de 29 de Setembro, Lei Sobre as Linhas de Base para Demarcação dos
Espaços Marítimos de Angola.
 Decreto nº 04/01, de 2 de Fevereiro, (POOC), do Ordenamento da Orla Costeira.

172
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
 Decreto nº 39/00, de 10 de Outubro, Sobre a Protecção Ambiental no Decurso das
Actividades Petrolíferas.
 Decreto nº 51/04, de 23 de Junho, sobre a Avaliação do Impacto Ambiental
 Decreto nº 59/07, de 13 de Julho, sobre Licenciamento Ambiental.
 Decreto Conjunto nº 96/09, de 6 de Outubro, Sobre Taxas de Licenciamento Ambiental.
 Decreto-Lei nº66/75, de 25 de Janeiro, sobre a Instalação Classificação, Disciplina e
Funcionamento dos Estabelecimentos Hoteleiro e Similares.
 Decreto nº 54/94, de 1 de Agosto, Normas de Licenciamento, disciplina funcionamento das
Agências de Viagens e Turismo, define a natureza das Agências de Viagens.
 Decreto-Lei nº 6/97, de 15 de Agosto, Normas respeitantes ao aproveitamento dos
recursos Turísticos do País e da Indústria.
 Decreto nº 62/97, de 29 de Agosto, Instituto do Turismo de Angola (INFOTUR)
 Decreto Presidencial nº 216/11, que estabelece as Bases sobre a Política Nacional para a
Concessão de Direitos de Terras.
b) Regime Jurídico Económico do Sector Empresarial do Estado
 Lei nº 11/2013, de 3 de Setembro, Lei das Empresas Públicas (com as recentes alterações).
 Lei nº 10/89, de 31 de Dezembro, Regime Disciplinar do Gestor Público.
 Decreto nº 16/89, de 13 de Maio, Estatuto do Gestor Público.
 Decreto Legislativo Presidencial nº 2/13, de 25 de Junho, Regras de Criação e Estruturação
dos Institutos Públicos.
c) Regime Jurídico Económico do Sector Empresarial Privado
 Lei nº 1/04, de 13 de Fevereiro, Lei de Sociedades Comerciais
 Lei nº 1/07, de 4 de Maio, Lei das Actividades Comerciais
 Lei nº5/04, de 7 de Setembro, Lei das Actividades Industriais
 Lei nº 4/02, de 18 de Fevereiro, sobre as Cláusulas Gerais dos Contratos
 Lei nº 30/11, de 13 de Setembro, Lei das Micro, Pequenas e Médias Empresas
 Lei nº19/011, Lei das Sociedades Comerciais Unipessoais
 Lei nº 7/15, de 15 de Junho, Lei Geral de Trabalho.
 Decreto presidencial nº40/12, de 13 de Março, Regulamento do BUE
 Lei nº 16/03, de 25 de Julho, Lei da Arbitragem Voluntária

d) Regime Jurídico dos Delitos Contra a Economia


 Código Penal
 Lei nº 11/75, de 15 de Dezembro, Disciplina do Processo Produtivo
 Lei nº 6/99, de 3 de Setembro, Lei das infracções Contra a Economia

173
Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
 Lei nº 13/03, de 10 de Julho, Lei Derrogatória da Lei nº 6/99, de 3 de Setembro - Lei das
Infracções Contra a Economia.
 Lei nº 3/10, de 29 de Março, Lei da Probidade Pública.
 Lei nº 15/03, de 22 de Julho, Lei da Defesa do Consumidor.
 Lei nº 34/11, de 12 de Dezembro, Lei do Combate ao Branqueamento de Capitais e do
Financiamento ao Terrorismo.
 Lei nº3/14, de 10 de Fevereiro, Lei sobre a Criminalização Subjacente a Branqueamento de
Capitais.
 Lei nº2/07, de 31 de Agosto, Regime Jurídico dos Estrangeiros.
 Decreto nº 13/1978, de 1 de Fevereiro, Regime de saídas e entradas dos cidadãos nacionais
e estrangeiros, derrogada pela Lei 2/07, de 31 de Agosto.
 Lei nº 13/10, de 9 de Julho, Lei Orgânica e do Processo do Tribunal de Contas.
 Lei nº 23/10, de 3 de Dezembro, Lei dos Crimes Contra a Segurança do Estado.
 Lei nº 12/11, de 16 de Fevereiro, Lei das Transgressões Administrativas.
 Decreto nº 7/02, de 9 de Abril, Regime Sancionaria e Âmbito da Actividade Seguradora.

e) Regime Jurídicos dos Contratos Económicos


 Decreto nº 78/01, de 19 de Outubro, Contratos – Programas entre o Estado e as Empresas
Publicas.
 Lei nº14/03, de 18 de Julho, Lei de Fomento do Empresariado Privado Angolano.
 Lei nº 17/03, de 25 de Julho, Lei sobre os Incentivos fiscais e Aduaneiros ao investimento
Privado.
 Lei nº 3/92, de 28 de Fevereiro, Sobre a Propriedade Industrial.
 Lei nº 14-A/96, de 31 de Maio, Lei Geral de Electricidade.
 Lei nº 9/02, de 30 de Julho, Lei Geral da Publicidade.
 Lei nº 18/03, de 12 de Agosto, Lei Sobre os Contratos de Distribuição, Agência, Franchising
e Agrupamento de Empresa.
 Lei nº 20/10, de 7 de Setembro, Lei da Contratação Pública.
 Lei nº 2/11, de 14 de Janeiro, Lei sobre as Parcerias Público-Privadas.

f) Regime jurídico da Organização e Direcção Económica do Estado e dos Órgãos de


Definição e Execução da Política Económica
 Decreto Legislativo Presidencial nº 2/13, de 25 de Junho, Regras de Criação e Estruturação
dos Institutos Públicos.
 Lei nº 5/10, de 6 de Abril, Lei Orgânica do Funcionamento e do Processo Legislativo da
Assembleia Nacional.

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Lições de Direito Económico 3º Ano Jurídico Dr. Francisco Mário
 Lei nº 39/011, de Alteração a Lei nº 17/10, de 29 de Julho, da Organização e
Funcionamento dos Órgãos de Administração Local do Estado, de 29 de Dezembro.
 Decreto Presidencial nº 6/10, de 24 de Fevereiro, Normas sobre Delegação Genérica de
Poderes do Presidente da República, Chefe do Executivo, nos Ministros de Estado e
Ministros.
 Decreto Legislativo Presidencial nº 1/10, de 5 de Março - Organização e Funcionamento
dos Órgãos Essenciais Auxiliares do Presidente da República.
 Decreto Legislativo Presidencial nº 2/10, de 11 de Março - Regime orgânico do conselho de
Ministros.
 Decreto Presidencial nº 43/10, de Maio - Estatuto Orgânico sobre a Organização e
Funcionamento da Casa Civil e da Secretária-Geral do Presidente da República.
g) Tratados Económicos Internacionais
 Tratado da comunidade do desenvolvimento da África austral (SADC)
 Protocolo em matérias de trocas comerciais na comunidade do desenvolvimento da África
austral
 Lei nº 4/011, de 14 de Janeiro, Lei sobre os Tratados Internacionais

h) Jurisprudência Económica
 Acórdão nº233/2013, do Tribunal Constitucional de Angola.
 Acórdão do Tribunal Constitucional Português nº509/02.
 Acórdão do Tribunal Constitucional de Angola nº 121/10 e Acórdão nº122/10.
 Acórdão TG de 17.9.2007. Proc. T-201/o4, Microsoft Corporation/Comissao Europeia Col
II-3601.
 Acórdão do Tribunal Constitucional Português nº39/88, de 9 de Fevereiro, in D.R. 2ª série
nº 35, de 11 de Fevereiro de 1988.
 Acórdão Tribunal Supremo de Angola Proc.nº103/2004, sobre anulação do despacho de
anulação do confisco por ilegalidade.

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