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Análise A

Prof. Leandro Morgado


2

Parte da Turma de Análise - 2018.1.


Sumário

1 Corpos Ordenados 5
1.1 Conjuntos Ordenados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2 Corpos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.3 Corpos Ordenados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

Exercı́cios - Conjuntos ordenados e corpos 11

2 Espaços Métricos 13
2.1 Espaço Rn . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2 Espaços Métricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.3 Bolas abertas, fechadas e esferas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

Exercı́cios - Espaços métricos, bolas abertas e fechadas 17

3 Topologia em Espaços Métricos 19


3.1 Pontos isolados, interiores e de acumulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.2 Conjuntos Abertos e Fechados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.3 Ponto aderente e de fronteira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

Exercı́cios - Noções de topologia em espaços métricos 24

4 Sequências e séries 27
4.1 Sequências e Convergência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
4.2 Subsequências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
4.3 Sequências de Cauchy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
4.4 Abertos e Fechados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

Exercı́cios - Sequências em espaços métricos 33

5 Compacidade em Espaços Métricos 35


5.1 Compactos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
5.2 Espaços Métricos Conexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
5.3 Conjuntos Conexos por Caminhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

Exercı́cios - Conjuntos compactos 41

6 Continuidade 43
6.1 Funções Contı́nuas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
6.2 Imagem Inversa e Direta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
6.3 Continuidade Uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

Exercı́cios - Conjuntos conexos, compactos e funções contı́nuas 47

3
4 SUMÁRIO

7 Séries 49
7.1 Espaço de Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

Exercı́cios - Séries 53

8 Sequências de Funções 55
8.1 Convergência e Integração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
8.2 Convergência e Derivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

Exercı́cios - Sequências e Séries de Funções 64

9 Teoremões 67
9.1 Teorema de Stone-Weierstrass . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
9.2 Teorema de Arzela-Ascoli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
Capı́tulo 1

Corpos Ordenados

1.1 Conjuntos Ordenados


Definição 1.1. Seja um conjunto S, com S 6= ∅. Uma relação < sobre S é dita uma ordem (total)
quando as seguintes propriedades são satisfeitas:
i) (Tricotomia) Sejam x, y ∈ S, quaisquer. Temos x < y, ou x = y, ou y < x, e apenas uma das
afirmações é válida.
ii) (Transitividade) Sejam x, y, z ∈ S, quaisquer. Se x < y e y < z, então x < z.
Observação 1.2. Seja um conjunto S, com S 6= ∅. Uma relação < sobre S que satisfaz apenas a
transitividade é dita uma ordem parcial. Trabalharemos apenas com ordens totais neste material, a quais
chamaremos apenas de ordens.
Definição 1.3. Sejam um conjunto S, com S 6= ∅, e uma ordem < sobre S. O conjunto S munido da
ordem < é dito um conjunto ordenado.
Notação. Denotamos um conjunto ordenado constituı́do por um conjunto S e uma ordem < por (S, <).
Exemplo 1.4. O conjunto dos números naturais, o qual denotamos por N, munido de < (usual) é um
conjunto ordenado.
Observação 1.5. Não consideraremos zero como sendo um número natural, ou seja, N = {1, 2, 3, 4, 5, . . .}.
Exemplo 1.6. Considere o conjunto das classes de equivalência módulo 5, o qual denotamos por Z/5Z =
{0, 1, 2, 3, 4}. A relação < sobre Z/5Z definida por

0<1<2<3<4

é uma ordem sobre Z/5Z.


Exemplo 1.7. Denotamos o conjunto das partes de um conjunto S por P(S). A relação de inclusão
⊂ é uma ordem sobre P(N)? Não, pois não a tricotomia não é satisfeita. Por exemplo, os elementos
{1, 2}, {2, 3, 4} ∈ P(N) não se relacionam.
Notação. Seja um conjunto ordenado (S, <). Dados x, y ∈ S, adotaremos as seguintes notações:
ˆ x > y significa que y < x.
ˆ x ≤ y significa que x < y ou x = y.
ˆ x ≥ y significa que y < x ou x = y.
Definição 1.8. Sejam um conjunto ordenado (S, <) e E ⊂ S.
i) Um elemento α ∈ S é dito uma cota inferior de E quando ∀ x ∈ E, temos x ≥ α.
ii) Um elemento β ∈ S é dito uma cota superior de E quando ∀ x ∈ E, temos x ≤ β.

5
6 CAPÍTULO 1. CORPOS ORDENADOS

iii) O conjunto E é dito limitado inferiormente quando admite uma cota inferior.
iv) O conjunto E é dito limitado superiormente quando admite uma cota superior.
v) O conjunto E é dito limitado quando é limitado inferiormente e superiormente.
Exemplo 1.9. Considere R munido de < (usual). O conjunto E = [0, 1] u (3, π) é limitado.

0 1 3π
R

Figura 1.1: Representação do conjunto E.

Note que qualquer elemento x ≤ 0 ∈ R é uma cota inferior de E, assim como x ≥ π ∈ R é uma cota
superior do conjunto.
Propriedade Arquimediana. Sejam a, b ∈ R, com a > 0. Existe n ∈ N tal que n · a > b.
Demonstração. Ver teorema 1.28.
Exemplo 1.10. Considere Q munido de < (usual). Provemos que o conjunto
 
n
A= :n∈N
n+1
possui 1 como a menor cota superior. De fato, 1 é cota superior, pois para todo n ∈ N:
n
< 1.
n+1
n
Seja x ∈ Q, com x < 1. Afirmamos que existe n ∈ N tal que x < . Com efeito:
n+1
n
x< ⇔ x(n + 1) < n ⇔ n(1 − x) > x.
n+1
Assim, como 1 − x > 0, a existência de n ∈ N segue da propriedade arquimediana dos números reais.
Logo, x não é uma cota superior de A. Portanto, 1 é a menor cota superior de A.
Definição 1.11. Sejam um conjunto ordenado (S, <) e E ⊂ S, tal que E é limitado inferiormente. Um
elemento α ∈ S é dito um ı́nfimo de E quando satisfaz as seguintes propriedades:
i) α é uma cota inferior.
ii) Se γ é uma cota inferior, então α ≥ γ.
Definição 1.12. Sejam um conjunto ordenado (S, <) e E ⊂ S, tal que E é limitado superiormente. Um
elemento β ∈ S é dito um supremo de E quando satisfaz as seguintes propriedades:
i) β é uma cota superior.
ii) Se γ é uma cota superior, então β ≤ γ.
Observação 1.13. Quando existem, ı́nfimo e supremo de um conjunto são únicos.
Observação 1.14. O ı́nfimo e o supremo de um conjunto S não precisam pertencer à S.
Definição 1.15. Seja um conjunto ordenado (S, <). O conjunto ordenado (S, <) cumpre a propriedade
do supremo quando todo conjunto E ⊂ S, tal que E 6= ∅ e E é limitado superiormente, admite supremo.
Exemplo 1.16. Considere Q munido da relação de ordem usual. O conjunto B = {x ∈ Q : x > 0
e x2 < 2} não admite supremo. De fato, isto ocorre pois todo y ∈ Q, com y 2 > 2, é cota superior
para o conjunto. Além disso, usando a densidade dos racionais, sempre existe uma cota superior menor.
Portanto, Q não cumpre a propriedade do supremo.
Exemplo 1.17. N cumpre a propriedade do supremo, visto que todo subconjunto de N limitado superi-
ormente possuirá um maior elemento (o qual será o supremo do conjunto).
1.2. CORPOS 7

1.2 Corpos
Definição 1.18. Um conjunto F munido de duas operações (+, ·) é um corpo quando, dados quaisquer
x, y, z ∈ F , satisfaz os axiomas:

(A1) Fechamento: x + y ∈ F ;

(A2) Adição comutativa: x + y = y + x;

(A3) Adição associativa: x + (y + z) = (x + y) + z;

(A4) Elemento neutro da adição: ∃ 0 ∈ F tal que x + 0 = x, ∀ x ∈ F ;

(A5) Elemento oposto: ∀ x ∈ F, ∃ (−x) ∈ F tal que x + (−x) = 0.

(M1) Fechamento: x · y ∈ F ;

(M2) Multiplicação comutativa: x · y = y · x;

(M3) Multiplicação associativa: (xy)z = x(yz);

(M4) Elemento neutro da multiplicação: ∃ 1 ∈ F , 1 6= 0, tal que x · 1 = x, ∀ x ∈ F ;


1 1
(M5) Elemento inverso: ∀ x ∈ F x 6= 0, ∃ ∈ F tal que x · = 1;
x x
(D) x(y + z) = xy + xz.

Exemplo 1.19. Z e Z/4Z, munidos das operações usuais, não são corpos, visto que ambos não cumprem
(M5).

Exemplo 1.20. R, Q, C, Z/pZ (p primo), munidos das operações usuais, são corpos.

Proposição 1.21 (Propriedades da Adição - 1.14 Rudin). Dados x, y, x ∈ F :

(i) x + y = x + z ⇒ y = z.

(ii) x + y = x ⇒ y = 0.

(iii) x + y = 0 ⇒ y = −x.

(iv) −(−x) = x.

Demonstração. (i) y = 0 + y = (−x) + x + y = (−x) + x + z = z.

(ii) A hipótese implica que x + y = x + 0. Pela Propriedade (i), segue que y = 0.

(iii) y = 0 + y = (−x) + x + y = (−x) + 0 = −x.

(iv) Notemos que (−x) + x = 0. Logo, x = −(−x).

Proposição 1.22 (Propriedades da Multiplicação - 1.15 Rudin). Dados x, y, z ∈ F , com x 6= 0:

(i) xy = xz ⇒ y = z.

(ii) xy = x ⇒ y = 1.
1
(iii) xy = 1 ⇒ y = .
x
1
(iv) = x.
1
x
Demonstração. (i) y = 1y = x1 xy = x1 xz = z.
8 CAPÍTULO 1. CORPOS ORDENADOS

(ii) Por hipótese, xy = x · 1. Pela Propriedade (i), segue que y = 1.


(iii) y = 1y = x1 xy = x1 1 = x1 .
1 1
(iv) Notemos que xx = 1. Logo, x = 1 .
x

Notação: podemos denotar 1


x por x−1 .
Proposição 1.23 (1.16 Rudin). Dados x, y ∈ F :
(i) 0x = 0.
(ii) Se x 6= 0 e y 6= 0, então xy 6= 0.
(iii) (−x)y = −(xy) = x(−y).
(iv) (−x)(−y) = xy.
Demonstração. (i) Como 0x = (0 + 0)x = 0x + 0x, pela propriedade (ii) de 1.21, segue que 0x = 0.
(ii) Suponha, por absurdo, que xy = 0. Como, por hipótese, x 6= 0, x possui inverso multiplicativo.
Assim, x−1 xy = x−1 0, ou seja, y = 0. Logo, xy 6= 0.
(iii) xy + (−x)y = (x + (−x))y = 0y = 0, ou seja, (−x)y = −(xy). Analogamente, xy + x(−y) =
x(y + (−y)) = x0 = 0, ou seja, x(−y) = −(xy).
(iv) Pela propriedade (iii), segue que (−x)(−y) = −(x(−y)) = x(−(−y)) = xy.

1.3 Corpos Ordenados


Definição 1.24. Seja F um corpo, e também um conjunto ordenado. Dizemos que F é um corpo
ordenado quando, dados x, y, z ∈ F , satisfaz:
(i) (Compatibilidade com a soma) y < z ⇒ x + y < x + z.
(ii) (Compatibilidade com a multiplicação) Se x > 0, y > 0, então xy > 0.
Observação 1.25. Dizemos que x ∈ F é positivo quando x > 0. Dizemos que x ∈ F é negativo quando
x < 0.
Proposição 1.26 (1.18 Rudin). Seja F um corpo ordenado. Dados x, y, z ∈ F , temos:
(i) Se x > 0, então (−x) < 0 (vice versa).
(ii) Se x > 0 e y < z, então xy < xz.
(iii) Se x < 0 e y < z, então xy > xz.
(iv) Se x 6= 0, então x2 > 0 (Em particular, 1 > 0).
(v) Se 0 < x < y, então 0 < y −1 < x−1 .
Demonstração. (i) Por hipótese, x > 0. Então (−x) + x > (−x) + 0, ou seja, 0 > (−x).
(ii) Como y < z, segue que z + (−y) > 0. Portanto, como x > 0, temos que x(z + (−y)) > 0. Assim,
xz + x(−y) > 0, isto é, xz > xy.
(iii) Se x < 0, então (−x) > 0. Como y < z, temos (−x)y < (−x)z, ou seja, −(xy) < −(xz). Portanto,
xz < xy.
(iv) Temos dois casos para serem analisados:
ˆ Se x > 0, segue diretamente que x2 = x · x > 0.
1.3. CORPOS ORDENADOS 9

ˆ Se x < 0, segue que (−x) > 0, ou seja, x2 = x · x = (−x)(−x) > 0.


Como 1 = 1 · 1 = 12 , temos 1 > 0.
(v) Primeiro mostraremos que se um número é positivo, então o seu inverso também será positivo.

x−1 = x−1 x−1 x = (x−1 )2 |{z}


x > 0.
| {z }
>0 >0

Agora mostraremos que, se x > 0, y > 0 e x < y, então y −1 < x−1 .

x < y ⇒ y −1 x−1 x < yy −1 x−1 ⇒ y −1 1 < 1x−1 ⇒ y −1 < x−1 .

Teorema 1.27. R é um corpo ordenado com a propriedade do supremo.


Demonstração. Ver construção em [4].
Teorema 1.28 (Propriedade Arquimediana). Sejam a > 0, b ∈ R. Então, existe n ∈ N tal que na > b.
Demonstração. Defina:
A := {na : n ∈ N}.
Pergunta: b é cota superior de A? Neste caso, temos dois casos que precisam ser analisados:
ˆ Caso b não seja cota superior de A, o resultado segue diretamente, pois existe na > b para algum
n ∈ N.
ˆ Caso b seja cota superior de A, precisamos mostrar que, neste caso, temos uma contradição.
Neste caso, como A ⊂ R é limitado superiormente, existe c = sup(A). Como c é a menor cota
superior, c − a não é cota superior, e assim existe n ∈ N tal que:

c − a < na ⇔ c < a(n + 1),

o que contraria o fato de c ser uma cota superior de A.

Teorema 1.29 (Densidade dos Q em R). Sejam x, y ∈ R, tal que x < y. Então, existe p ∈ Q tal que
x < p < y.
Demonstração. Por hipótese, temos y − x > 0. Por 1.28, existe n ∈ N tal que:

n(y − x) > 1 ⇒ ny > nx + 1.

Tome agora, m ∈ Z (m é o maior inteiro menor ou igual a nx + 1) tal que:

nx < m ≤ nx + 1.

Assim, segue que:


m
nx < m < ny ⇒ x < < y,
n
ou seja, existe p ∈ Q tal que x < p < y.
Para demonstrar o próximo teorema, vamos precisar provar antes as proposições a seguir.
Proposição 1.30. Seja n ∈ N, com n ≥ 2.
(i) Se x ∈ R, 0 < x < 1, então xn < x.
(ii) Se x ∈ R, x > 1, então xn > x.
(iii) Sejam a, b ∈ R, com 0 < a < b. Então bn − an ≤ (b − a) · n · bn−1 .
Demonstração. (i) Provar via indução.
10 CAPÍTULO 1. CORPOS ORDENADOS

(ii) Provar via indução.


(iii) De fato,

bn −an = (b−a)(bn−1 +abn−2 +a2 bn−3 +· · ·+an−2 b+an−1 ) ≤ (b−a)(bn−1 +bn−1 +· · ·+bn−1 ) ≤ (b−a)·n·bn−1 .

n
√ x ∈ R, x1 > 0 e n ∈ N, n ≥ 2. Então, existe único y ∈ R, y > 0 tal que y = x.
Teorema 1.31. Sejam
Notação: y = n x ou y = x n .
Demonstração. Definimos:
A := {t ∈ R : t > 0 e tn < x}.
Primeiramente mostremos que A 6= ∅ e que A é limitado superiormente.
ˆ A 6= ∅:
1
– Se x ≥ 1, 2 ∈ A.
– Se x < 1, x ∈ A.
ˆ A limitado superiormente:
– Se x ≤ 1: 1 é cota superior, pois t ∈ A, tn < x ≤ 1n ⇒ t ≤ 1.
– Se x > 1: x é cota superior, pois se t ∈ A, tn < x < xn , então t < x.
Como A é limitado superiormente, existe c = sup(A). Pela tricotomia, temos três possibilidades:
x−cn
ˆ Se cn < x, tomando 0 <  < 1, tal que  < n·(c+1)n−1 , temos:

(c + )n − cn ≤  · n · (c + )n−1 <  · n · (c + 1)n−1 < x − cn .

Portanto,
(c + )n − cn < x − cn ⇒ (c + )n < x,
ou seja, (c + ) ∈ A, o que contradiz o fato de c ser uma cota superior.
cn −x
ˆ Se cn > x, tomando 0 <  < c, tal que  < n·cn−1 , temos que:

cn − (c − )n ≤  · n · cn−1 < cn − x.

Portanto,
cn − (c − )n < cn − x ⇒ x < (c − )n ,
ou seja, (c − ) é cota superior, o que contradiz o fato de c ser a menor cota superior.
ˆ Portanto, cn = x.
Mostremos agora a unicidade.
ˆ Suponha que existem c, d ∈ R, c > 0 e d > 0 tais que cn = x = dn . Por absurdo, suponha que c 6= d
e, sem perda de generalidade, que c < d. Por um exercı́cio (ainda não resolvido), temos cn < dn .

Teorema 1.32 (Princı́pio dos intervalos encaixados). Considere os intervalos em R dados por:

I1 = [a1 , b1 ]

I2 = [a2 , b2 ]
I3 = [a3 , b3 ]
..
.
T T
tais que I1 ⊃ I2 ⊃ I3 ⊃ · · · . Então n∈N In 6= ∅ e n∈N In = [a, b], onde a = sup(A) e b = inf (B),
A = {a1 , a2 , · · · } e B = {b1 , b2 , · · · }.
1.3. CORPOS ORDENADOS 11

Demonstração. Veja que o conjunto A é limitado superiormente, sendo bi cota superior para qualquer
i. Assim, temos an ≤ bm , ∀n ∈ N e ∀m ∈ N. Existe portanto a = sup(A) e, por razão análoga, existe
b = inf (B).
Como a = sup(A), ou seja, é a menor cota superior, segue que an ≤ a ≤ bn . Ademais, como
an ≤ b ≤ bn . Assim, por um resultado (exercı́cio),
b = inf (B), ou seja, é a maior cota inferior, segue que T
segue que an ≤ a ≤ b ≤ bnT , ∀n ∈ N. Portanto, [a, b] ⊂T n∈N In .
Mostremos agora que n∈N In ⊂ [a, b]. Seja x ∈ n∈N In . Então x ∈ In , para todo n ∈ N, ou seja,
an ≤ x ≤ bn , ∀n ∈ N. Disso, podemos concluir que x é uma cota superior de A e cota inferior de B.
Porém, como a = sup(A) (menor T cota superior) e b = sup(B) (maior cota inferior), segue que a ≤ x ≤ b.
Portanto, x ∈ [a, b], e assim, n∈N In = [a, b].

Exercı́cios
1) Resolver os exercı́cios complementares - página 36 (exercı́cios 5 a 11) de [7].

2) Seja C um conjunto ordenado e E ⊂ C um subconjunto limitado e não vazio. Se α e β são, res-


pectivamente, cota inferior e superior de E, mostre que α ≤ β. Em que situação pode ocorrer a
igualdade?

3) Seja F um corpo ordenado. Dados a, b ∈ F , mostre que a2 + b2 = 0 se e somente se a = 0 e b = 0.


√ a+b
4) Sejam a, b ∈ R+ . Mostre que ab ≤ 2 .

5) Seja A ⊂ R não vazio e limitado superiormente. Mostre que c = sup A se e somente se c é cota
superior de A e dado ε > 0, existe x ∈ A tal que c − ε < x ≤ c.

6) Seja C um conjunto ordenado com a propriedade do supremo. Seja E ⊂ C um conjunto não vazio
limitado inferiormente. Mostre que E admite ı́nfimo (Dica: considere o conjunto L de todas as cotas
inferiores de E).

7) Sejam A, B ⊂ R não vazios e limitados. Defina A + B = {x + y | x ∈ A, y ∈ B}, −A = {−x | x ∈ A}.


Mostre que:

(a) A + B, A − B e −A são conjuntos limitados;


(b) sup(A + B) = sup(A) + sup(B);
(c) inf (A + B) = inf (A) + inf (B);
(d) sup(−A) = −inf (A).

8) Verifique se os conjuntos abaixo são limitados superiormente e inferiormente. Encontre, se existirem,


o supremo e o ı́nfimo em R de cada conjunto.

(a) A = { 12 , 32 , 43 , . . . , n+1
n , . . .};
(b) B = { m
n +
4n
m | m, n ∈ N};
m
(c) C = { m+n | m, n ∈ N}.

9) Sejam K, L corpos. Uma função f : K → L chama-se um homomorfismo quando f (x+y) = f (x)+f (y)
e f (x.y) = f (x).f (y), quaisquer que sejam x, y ∈ K.

(a) Dado um homomorfismo f : K → L, prove que f (0) = 0;


(b) Mostre também que, ou f (x) = 0 para todo x ∈ K, ou f (1) = 1 e f é injetivo.
12 CAPÍTULO 1. CORPOS ORDENADOS

10) Seja f : Q → Q um homomorfismo. Mostre que, ou f (x) = 0 para todo x ∈ Q, ou f (x) = x para todo
x ∈ Q.

11) Seja K um conjunto onde são válidos todos os axiomas de corpo, salvo a existência de inverso multi-
plicativo. Dado a 6= 0 em K, mostre que a função f : K → K definida por f (x) = ax é uma bijeção
se e somente se a possui inverso multiplicativo.
Capı́tulo 2

Espaços Métricos

2.1 Espaço Rn
Definição 2.1. Fixando n ∈ N, Rn é o conjunto das n-uplas da forma:

(x1 , x2 , x3 , · · · , xn ) xi ∈ R, ∀i.

Definimos:

(x1 , x2 , x3 , · · · , xn ) + (y1 , y2 , y3 , · · · , yn ) = (x1 + y1 , x2 + y2 , · · · , xn + yn )

α(x1 , x2 , x3 , · · · , xn ) = (αx1 , αx2 , αx3 , · · · , αxn ).


Com essas operações, Rn é um espaço vetorial.

Definição 2.2. O produto interno ou escalar de x = (x1 , x2 , · · · , xn ) por y = (y1 , y2 , · · · , yn ) é dado por

< x, y >= x1 y1 + x2 y2 + · · · + xn yn .

Definição 2.3. A norma de x ∈ Rn é dada por:


√ q
||x|| = < x, x > = x21 + x22 + · · · + x2n .

Proposição 2.4. Sejam x, y ∈ Rn .

(i) ||x|| ≥ 0.

(ii) ||x|| = 0 ⇔ x = (0, 0, · · · , 0).

(iii) ||αx|| = |α| · ||x||.

(iv) | < x, y > | ≤ ||x|| · ||y||.

(v) ||x + y|| ≤ ||x|| + ||y||.

(vi) ||x − z|| ≤ ||x − y|| + ||y − z||.

Demonstração. (i) Trivial.

(ii) Trivial.
p
(iii) ||αx|| = (αx1 )2 + (αx2 )2 + · · · + (αxn )2 = |α| · ||x||.

13
14 CAPÍTULO 2. ESPAÇOS MÉTRICOS

(iv) (Desigualdade de Cauchy-Schwarz) Note que:


||x − ty||2 ≥ 0, ∀t ∈ R.
Assim:
0 ≤< x − ty, x − ty >=< x, x > −2t < x, y > +t2 < y, y >= ||x||2 − 2t < x, y > +t2 ||y||2 .
O discriminante (∆) da função acima é menor ou igual a zero.
∆ = 4(< x, y >)2 − 4||x||2 ||y||2 ≤ 0 ⇒ (< x, y >)2 ≤ ||x||2 ||y||2
⇒ | < x, y > | ≤ ||x|| · ||y||.

(v) Como (||x + y||)2 =< x + y, x + y >=< x, x > +2 < x, y > + < y, y >= ||x||2 + 2 < x, y > +||y||2 ≤
||x||2 + 2||x||.||y|| + ||y||2 = (||x|| + ||y||)2

2.2 Espaços Métricos


Definição 2.5. Seja M um conjunto. Uma métrica em M é uma função d : M × M → R, tal que para
quaisquer x, y, z ∈ M , são satisfeitas:
(i) d(x, y) ≥ 0.
(ii) d(x, y) = 0 ⇔ x = y.
(iii) d(x, y) = d(y, x).
(iv) d(x, z) ≤ d(x, y) + d(y, z).
Definição 2.6 (Espaço Métrico). Dizemos que (M, d) é um espaço métrico.
Exemplo 2.7. (1) Métrica Euclidiana: Sendo M = Rn e d(x, y) = ||x − y||, mostremos que (M, d) é
uma métrica.
(i) d(x, y) 6= 0, visto que d(x, y) = ||x − y|| ≥ 0.
(ii) d(x, y) = 0 ⇔ x = y, visto que ||x − y|| = 0 ocorre se, e somente se, x − y = 0, ou seja, x = y.
(iii) d(x, y) = d(y, x), visto que ||x − y|| = ||(−1)(y − x)|| = | − 1|.||y − x|| = ||y − x||.
(iv) d(x, z) = ||x − z|| ≤ ||x − y|| + ||y − z|| = d(x, y) + d(y, z).

y
y2

x d(x, y) = kx − yk
y1

x1 x2

Figura 2.1: Representação da distância entre os pontos x e y em R2 munido da métrica euclidiana.

(2) Métrica da Prova: Uma prova P com 10 questões objetivas (A, B, C, D, E). Queremos determinar
a distância entre dois conjuntos possı́veis de respostas para estas questões.
O conjunto M será dado pelo conjunto das possı́veis respostas dos gabaritos (que possui 510 ele-
mentos). A distância d entre dois elementos de M será dada pela quantidade de questões em
que a resposta é diferente. Isto é, se x = {x1 , x2 , · · · , x10 }, onde xi ∈ {A, B, C, D, E}, temos que
d(x, y) = #{i : xi 6= y1 }.
2.3. BOLAS ABERTAS, FECHADAS E ESFERAS 15

(i) d(x, y) ≥ 0 é válida pela forma como foi definida a distância (número de elementos de um
conjuto).
(ii) d(x, y) = 0 ⇔ {i : xi 6= yi } = ∅ ⇔ xi = yi , ∀i ⇔ x = y.
(iii) Trivial.
(iv) d(x, z) = #{i : xi 6= zi } ≤ #{i : xi 6= yi } + #{i : y1 6= zi }. A desigualdade é válida. De fato, se
em uma questão i tivermos xi = zi , somaremos 0 do lado esquerda da desigualdade e 0 (quando
xi = yi = zi ) ou 2 (quando xi 6= yi ). Por outro lado, se xi 6= zi , somaremos 1 do lado esquerdo
e 1 (quando yi = xi ou yi = zi ) ou 2 (quando yi 6= xi e yi 6= zi ) do lado direito.
(3) Métrica do Uber: Sendo M = Rn e d(x, y) = |x1 − y1 | + |x2 − y2 | + . . . + |xn − yn |, mostremos que
(M, d) é um espaço métrico.
(i) Trivial.
(ii) d(x, y) = 0 ⇔ |xi − yi | = 0, ∀i ⇔ xi = yi , ou seja, x = y.
(iii) Segue do fato que |xi − yi | = |yi − xi |, ∀i.
(iv) d(x, z) = |x1 − z1 | + · · · + |xn − zn | ≤ |x1 − y1 | + · · · + |xn − yn | + |y1 − z1 | + · · · + |yn − zn | =
d(x, y) + d(y, z).
(4) Métrica do máximo: d(x, y) = max{|x1 − y1 |, |x2 − y2 |}.
Exercı́cio.
Observação: A métrica do mı́nimo não funciona, pois falha (ii).
(5) Métrica zero-um: d(x, y) = 0, se x = y e d(x, y) = 1, se x 6= y.
Exercı́cio.

2.3 Bolas abertas, fechadas e esferas


Definição 2.8. Sejam (M, d) um espaço métrico, a ∈ M e R > 0. Definimos:
ˆ B(a, R) = {x ∈ M : d(x, a) < R} é chamada de bola aberta.
ˆ B[a, R] = {x ∈ M : d(x, a) ≤ R} é chamada de bola fechada.
ˆ S(a, R) = {x ∈ M : d(x, a) = R} é chamada de esfera.
Exemplo 2.9. (1) M = R2 e d a métrica usual. Neste caso,

B((a, b), R) = {(x, y) ∈ R2 : d((x, y), (a, b)) < R},

ou seja, B((a, b), R) é o interior dos cı́rculos de centro (a, b) e raio R.

(x − a)2 + (y − b)2 < R2

R
b

Figura 2.2: Representação de uma bola aberta de centro (a, b) e raio R em R2 munido da métrica usual.
16 CAPÍTULO 2. ESPAÇOS MÉTRICOS

(2) M = R2 e d0 a métrica do Uber, isto é, d0 (x, y) = |x1 − y1 | + |x2 − y2 |, onde x = (x1 , x2 ) e y = (y1 , y2 ).
Neste caso,
B((0, 0), R) = {(x, y) ∈ R2 : d0 ((x, y), (0, 0)) < R},
ou seja, |x| + |y| < R. Notemos que, desta forma, temos algumas opções:
(i) Se x ≤ 0 e y ≤ 0, temos que x + y < R.
(ii) Se x ≤ 0 e y ≥ 0, temos que x − y < R.
(iii) Se x ≥ 0 e y ≤ 0, temos que −x + y < R.
(iv) Se x ≥ 0 e y ≥ 0, temos que −x − y < R.

Figura 2.3: Representação de uma bola aberta de centro (0, 0) e raio R em R2 munido da métrica
retangular.

(3) M = R2 e d00 a métrica do máximo, isto é, d00 (x, y) = max{|x1 − y1 |, |x2 − y2 |}, onde x = (x1 , x2 ) e
y = (y1 , y2 ). Neste caso,

B((0, 0), R) = {(x, y) ∈ R2 : d00 ((x, y), (0, 0)) < R},

ou seja, max{|x|, |y|} < R. Notemos que, desta forma, |x| < R e |y| < R, ou seja:

Figura 2.4: Representação de uma bola aberta de centro (0, 0) e raio R em R2 munido da métrica do
máximo.

(4) M = R, a ∈ R. Neste caso, B(a, R) = (a − R; a + R) e S(a, R) = {a − R; a + R}.

a−R a a+R

Figura 2.5: Representação de uma bola aberta de centro a e raio R em R munido da métrica euclidiana.

(5) M = R2 e d a métrica zero-um. Neste caso,

B((a, b), R) = {(x, y) ∈ R2 : d((x, y), (0, 0)) < R},


2.3. BOLAS ABERTAS, FECHADAS E ESFERAS 17

depende do valor do R. Se R > 1, B((a, b), R) = R2 . Porém, se R ≤ 1, B((a, b), R) = {(a, b)}.
Note também que se considerarmos a bola fechada B[(a, b), R], também precisamos verificar o valor
de R. Se R ≥ 1, B((a, b), R) = R2 . Porém, se R < 1, B((a, b), R) = {(a, b)}.
Além disso, a esfera S((a, b), R) depende de R. Se R = 1, S((a, b), R) = R2 − {(a, b)}. Porém, se
R 6= 1, S((a, b), R) = ∅.

b b

a a

(a) Raio R ≤ 1. (b) Raio R > 1.

Figura 2.6: Representação de bolas aberta de centro (a, b) e raios distintos em R2 munido da métrica
zero-um.

Exercı́cios
1) Resolver os exercı́cios propostos - exercı́cio 1 (p. 47), exercı́cio 3 (p. 52), exercı́cio 4 (p. 57) e os
exercı́cios complementares - exercı́cios 1 a 9 (p. 81) de [7].

2) Verifique se as funções abaixo definem uma métrica em R:


(a) d(x, y) = (x − y)2
p
(b) d(x, y) = |x − y|
(c) d(x, y) = |x2 − y 2 |
(d) d(x, y) = |x − 2y|

3) Para cada uma das quatro propriedades que caracterizam uma métrica, verifique se é possı́vel construir
uma função f : R × R → R que não a cumpre mas satisfaz as outras três.
p
4) Seja d : M × M → R uma métrica. Prove que d0 (x, y) = min{1, d(x, y)} e d00 (x, y) = d(x, y) também
definem métricas em M .

5) Seja d : M × M → R uma função que satisfaz:


(a) d(x, y) = 0 ⇔ x = y;
(b) d(x, z) ≤ d(x, y) + d(z, y), para todos x, y, z ∈ M .
Mostre que d define uma métrica em M .

6) Mostre que todo espaço métrico é a reunião enumerável de bolas (abertas ou fechadas).

7) Seja M um espaço métrico, com a, b ∈ M , e r > 0. Mostre que se b ∈


/ B[a; r], então existe s > 0 tal
que B[a; r] ∩ B[b; s] = ∅.

8) Em um espaço métrico M , seja b ∈ B(a, r). Prove que existe uma bola aberta de centro b contida em
B(a,r). Dê um contra-exemplo mostrando que isto poderia ser falso para b ∈ B[a, r].
18 CAPÍTULO 2. ESPAÇOS MÉTRICOS

9) Seja F = M − B(a, r) o complementar de uma bola aberta no espaço métrico M . Mostre que se
d(x, F ) = 0, então x ∈ F .

10) Dê um exemplo de um conjunto limitado X ⊂ R tal que não existam x, y ∈ X com |x − y| = diam(X).

11) Seja X = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 < 1} a bola aberta unitária do plano euclidiano R2 . Dado a = (5, 0),
mostre que d(a, X) = 4.

12) Dê um exemplo de uma métrica em Rn em que todos os pontos do espaço são isolados.

13) Seja X um conjunto infinito enumerável. Mostre que se pode definir uma métrica em X relativamente
à qual nenhum dos pontos é isolado.

14) Mostre que todo espaço métrico que contém somente um número finito de pontos é um conjunto
discreto (todos os seus pontos são isolados).

15) Seja R com a métrica euclidiana. Encontre dois subconjuntos X, Y ⊂ R discretos, mas X ∪ Y não é
discreto.

16) Sejam a, b ∈ R, a < b, e considere o conjunto F das funções contı́nuas f : [a, b] → R. Considere a
função d : F × F → R, onde d(f, g) = sup{|f (x) − g(x)| : x ∈ [a, b]}.
(a) Mostre que d define uma métrica em F.
(b) Descreva as bolas abertas e fechadas desse espaço métrico.
Capı́tulo 3

Topologia em Espaços Métricos

3.1 Pontos isolados, interiores e de acumulação


Definição 3.1 (Ponto isolado). Sejam (M, d) um espaço métrico e A ⊂ M . Dizemos que a ∈ A é um
ponto isolado de A se existe R > 0 tal que B(a, R) ∩ A = {a}.

Definição 3.2 (Ponto interior). Sejam (M, d) um espaço métrico e A ⊂ M . Dizemos que a ∈ A é um
ponto interior de A se existe R > 0 tal que B(a, R) ⊂ A.
Notação: int(A) é o conjunto dos pontos interiores de A.

Definição 3.3 (Ponto de acumulação). Sejam (M, d) um espaço métrico e A ⊂ M . Dizemos que a ∈ M
é um ponto de acumulação se para todo R > 0, B(a, R) ∩ (A − {a}) 6= ∅.
Notação: A0 é o conjunto dos pontos de acomulação de A.

Observação 3.4. O conjunto dos pontos isolados é dado por A − A0 .

Exemplo 3.5. Sejam M = R e A = (0, 1] ∪ {2}. Neste caso, notemos que int(A) = (0, 1) (para
demonstrar, basta tomar a bola de centro em a ∈ (0, 1) e R = min{|a − 0|, |a − 1|}) e A0 = [0, 1].

Exemplo 3.6. Sejam M = R e A = Q. Notemos que Q não possui pontos isolados, visto que Q é denso
em R, isto é, dados q ∈ Q e R > 0 quaisquer, B(q, R) contém outros racionais. Pelo mesmo motivo,
Q0 = R.
Notemos também que int(Q) = ∅, visto que os irracionais também são densos em R.

Exemplo 3.7. Sejam M = R e A = { n1 : n ∈ N}. No conjunto A todos os pontos são pontos isolados
1 1
pois, dado 1/m ∈ A, basta tomar tomar a bola centrada neste mesmo ponto e R = m − m+1 . Notemos
0
também int(A) = ∅ e A = {0}.
De fato, int(A) = ∅ pois todas as bolas, centradas em todos os pontos, possuem elementos que não
pertencem a A.
Agora notemos que tomando B(0, R) = (−R, R), conseguimos mostrar que existe n ∈ N tal que
1
n ∈ (−R, R). De fato, pela 1.28 (Propriedade Arquimediana), existe n ∈ N tal que n > R1 , ou seja
0 < n < R. Portanto, A0 = {0}.
1

Definição 3.8 (Conjunto discreto). Um conjunto é dito discreto se todos os seus pontos são isolados.
Por exemplo, N e Z são discretos em R.

Exemplo 3.9. Sejam M = R2 e B = [0, 1) × (0, 1) com a métrica usual.

19
20 CAPÍTULO 3. TOPOLOGIA EM ESPAÇOS MÉTRICOS

0 1

Figura 3.1: Bola B em R2 munido da métrica usual.

Notemos que int(B) = (0, 1) × (0, 1), B 0 = [0, 1] × [0, 1] e ele não possui pontos isolados.
Exemplo 3.10. Sejam M = R2 e B = [0, 1) × (0, 1) com a métrica zero-um. Notemos que se P = ( 12 , 21 ),
B(P, 12 ) = {P } ⊂ B. Notemos que, devido a isto, na métrica zero-um, todo ponto é ponto interior. Além
disso, podemos concluir que todo ponto também é ponto isolado e B não possui pontos de acumulação
(basta tomar um R < 1).

3.2 Conjuntos Abertos e Fechados


Definição 3.11 (Conjunto aberto). Sejam (M, d) um espaço métrico e A ⊂ M . Dizemos que A é aberto
se todos os seus pontos são interiores (A = int(A)).
Exemplo 3.12. (1) ∅ é aberto.
(2) M é aberto.
(3) Seja M = R2 e A = (0, 1) × (0, 1]. Notemos que se considerarmos a métrica usual, A não é aberto
pois o ponto P = ( 12 , 1) ∈ A, porém, para todo R > 0, B(P, R) 6⊂ A.
Porém, com a métrica zero-um, o conjunto em questão será aberto, pois todos os seus pontos são
interiores (A = int(A)).
Observação 3.13. Todo conjunto A ⊂ M , M espaço métrico, é aberto se considerarmos a métrica
zero-um.
Definição 3.14 (Conjunto fechado). Sejam (M, d) um espaço métrico e A ⊂ M . Dizemos que A é
fechado quando F contém todos os seus pontos de acumulação (F 0 ⊂ F ).
Exemplo 3.15. (1) ∅ é fechado.
(2) M é fechado.
(3) O conjunto F = { n1 : n ∈ N} ∪ {0} é fechado.
(4) Consideremos o espaço métrico M = (0, 1) ∪ [3, 4] com a métrica usual induzida de R. Verifiquemos
se os seguintes conjuntos são abertos, ou fechados, em M :

0 1 3 4

Figura 3.2: Representação dos pontos de M .

(i) A = (0, 1): Notemos que A é aberto, pois todos os seus pontos são interiores, e que A é fechado,
pois possui todos os seus pontos de acumulação. Note que 0 e o 1 não são pontos de acumulação
de A pois não estão no espaço M .
(ii) B = (0, 12 ): Notemos que B é aberto, pois todos os seus pontos são interiores, e que B não é
fechado, pois 21 é ponto de acumulação e 12 ∈
/ B.
(iii) C = [3, 3, 2): Notemos que C é aberto, pois todos os seus pontos são interiores (note que os
números entre 1 e 3 não estão em M ) e que C não é fechado, visto que 3, 2 é ponto de acumulação
e que 3, 2 ∈
/ C.
3.3. PONTO ADERENTE E DE FRONTEIRA 21

(iv) D = M ∩ Q: Notemos que D não é aberto (nenhum ponto é ponto interior) e não é fechado,
visto que todos os pontos irracionais em M são pontos de acumulação e eles não pertencem ao
conjunto D.

Teorema 3.16. Sejam M um espaço métrico, a ∈ M e R > 0. Então, B(a, R) é um conjunto aberto.

Demonstração. Vamos mostrar que todos os pontos de B(a, R) são pontos interiores. Tome y ∈ B(a, R).
Defina s = R − d(y, a). Afirmarmos que B(y, s) ⊂ B(a, R). De fato, dado w ∈ B(y, s), temos

d(w, a) ≤ d(w, y) + d(y, a) < s + d(y, a) = R + d(y, a) − d(y, a) = R,

ou seja, w ∈ B(a, R).

Teorema 3.17. Sejam M um espaço métrico, a ∈ M e R > 0. Entao, B[a, R] é um conjunto fechado.

Teorema 3.18. Sejam M um espaço métrico, a ∈ M e R > 0. Entao, S(a, R) é um conjunto fechado.

Teorema 3.19. Sejam M um espaço métrico, A ⊂ M e P ∈ A0 . Então, para todo R > 0, B(P, R) ∩ A
contém infinitos elementos.

Demonstração. Suponha por absurdo que existe R > 0 tal que B(P, R) ∩ A tem um número finito
x1 , x2 , ..., xn de elementos distintos de P . Defina:

S = min{d(p, x1 ), d(p, x2 ), ..., d(p, x2 )}

Logo, temos que B(P, S) não contém elementos de A distintos de P , o que é uma contradição.

Corolário 3.20. Um conjunto finito não contém pontos de acumulação.

Corolário 3.21. Se F ⊂ M , M espaço métrico, é um conjunto finito, então F é um conjunto fechado,


visto que F 0 = ∅.

Teorema 3.22. Sejam M um espaço métrico e F ⊂ M . Então F é fechado se, e somente se, F C é
aberto.

Demonstração. (⇒) Tome y ∈ F C . Vamos mostrar que y é ponto interior de F C , ou seja, que existe um
R > 0 tal que B(y, R) ⊂ F C . Suponha por absurdo que isso não ocorra, ou seja, ∀R > 0, B(y, R) 6⊂ F C ,
/ F , segue que y ∈ F 0 . Mas como F é fechado, F 0 ⊂ F , ou seja y ∈ F ,
isto é, B(y, R) ∩ F 6= ∅. Como y ∈
o que é uma contradição.
(⇐) Vamos mostrar que F 0 ⊂ F . Tome y ∈ F 0 . Suponha, por absurdo, que y ∈ F C . Como F C é aberto,
existe R > 0, tal que B(y, R) ⊂ F C . Porém, se B(y, R) ⊂ F C ocorre, então B(y, R) ∩ F = ∅, o que é
uma contradição, pois y ∈ F 0 .

3.3 Ponto aderente e de fronteira


Definição 3.23 (Ponto aderente). Sejam M um espaço métrico e A ⊂ M . Dizemos que a ∈ A é um
ponto aderente de A, se para todo R > 0, B(a, R) ∩ A 6= ∅.
Notação: A é o conjunto dos pontos aderentes de A, chamado de fecho de A.

Observação 3.24. Todo ponto de acumulação é ponto aderente.

Proposição 3.25. Sejam M um espaço métrico e A ⊂ M . Então A = A ∪ A0 .

Demonstração. (⊂): Seja a ∈ A. Podemos dividir esta inclusão em dois casos. Se a ∈ A, já está provado.
Caso contrário, se a ∈ / A, por definição de ponto aderente, para todo R > 0, B(a, R) contém pontos de
A. Logo, a é um ponto de acumulação. Portanto, a ∈ A ∪ A0 .
(⊃): Seja a ∈ A ∪ A0 . Notemos que se a ∈ A, então a ∈ A, visto que a ∈ B(a, R) ∩ A. Caso a ∈ A0 ,
então, pela definição de ponto de acumulação, B(a, R) ∩ A 6= ∅. Logo, a ∈ A.

Proposição 3.26. Sejam M um espaço métrico e F ⊂ M . Então F é fechado se, e somente se, F = F .
22 CAPÍTULO 3. TOPOLOGIA EM ESPAÇOS MÉTRICOS

Demonstração. (⇒): Por hipótese, como F é fechado, F ⊃ F 0 . Logo, F = F ∪ F 0 = F .


(⇐) Por hipótese, F = F ∪ F 0 . Logo, F ⊃ F 0 .
Exemplo 3.27. M = R2 , A = [0, 1) × [0, 1). A = [0, 1] × [0, 1].

0 1

Figura 3.3: Representação do conjunto A.

Observação 3.28. Seja M um espaço métrico na métrica zero-um. Como todo ponto é isolado, dado
A ⊂ M , temos que A0 = ∅. Dessa forma, como A = A ∪ A0 , temos que A = A. Logo, na métrica zero-um,
todos os conjuntos são fechados.
Definição 3.29 (Distância ponto a conjunto). Sejam M um espaço métrico, ∅ =
6 A ⊂ M, a ∈ M.
Definimos a distância entre a e o conjunto A por:

d(a, A) = inf {d(a, x) : x ∈ A}.

Exemplo 3.30. M = R2 , métrica euclidiana, A = B((1, 2), 1), a = (1, 5). d(a, A) = 2.

5
a

Figura 3.4: Representação do conjunto A e ponto a.

Proposição 3.31. Sejam M um espaço métrico, A ⊂ M . Então a ∈ A se, e somente se, d(a, A) = 0.
Demonstração. (⇒): Por hipótese, a ∈ A. Vamos mostrar que inf {d(x, a) : x ∈ A} = 0. Como
d(x, a) ≥ 0, ∀x ∈ A, temos que 0 é uma cota inferior. Notemos também que, para todo ε > 0, existe
x ∈ A, tal que 0 ≤ d(x, a) ≤ ε. De fato, como a ∈ A, B(a, ε) ∩ A 6= ∅, e assim existe x ∈ A com
d(x, a) < ε. Logo, pela Questão 5 da Lista de Exercı́cios 1, segue que inf {d(x, a) : x ∈ A} = 0.
(⇐) Por hipótese, inf {d(x, a) : x ∈ A} = 0. Vamos mostrar que a ∈ A, ou seja, dado R > 0,
B(a, R) ∩ A 6= ∅. Fixe R > 0. Desta forma, existe x ∈ A, tal que 0 ≤ d(x, a) < R, pois 0 é o ı́nfimo do
conjunto. Logo, x ∈ B(a, R) e assim x ∈ B(a, R) ∩ A.
S
Proposição 3.32. Sejam {Ai }i∈I uma coleção de conjuntos abertos. Então Ai é aberto.
i∈I
3.3. PONTO ADERENTE E DE FRONTEIRA 23

S
Demonstração. Se Ai = ∅ para todo i ∈ I, temos que Ai = ∅, e daı́ será um aberto. Caso contrário,
S i∈I
tome x ∈ Ai . Logo, x ∈ Aj , para algum j ∈ I. Como Aj é aberto, existe R > 0 tal que B(x, R) ⊂ Aj .
i∈I S S
Assim, temos B(x, R) ⊂ Ai , ou seja, x é ponto interior de Ai .
i∈I i∈I

n
T
Proposição 3.33. Sejam A1 , A2 , ..., An conjuntos abertos. Então Ai é aberto.
i=1
n
T n
T n
T
Demonstração. Se Ai = ∅, temos que Ai será aberto. Caso contrário, tome x ∈ Ai . Logo,
i=1 i=1 i=1
x ∈ Ai , ∀i ∈ {1, 2, ..., n}. Como os Ai ’s são abertos, existe Ri tal que B(x, Ri ) ⊂ Ai . Defina

R = min{R1 , R2 , ..., Rn }
n
T
Logo, B(x, R) ⊂ B(x, Ri ) ⊂ Ai , para todo i. Portanto, segue que B(x, R) ⊂ Ai , ou seja , x é ponto
i=1
interior.
Observação 3.34. Notemos que não podemos falar de intercessão infinita de abertos pois, nesse caso,
não podemos afirmar a existência do mı́nimo R visto na proposição anterior.
Fi = ( FiC )C .
T S
Proposição 3.35. Sejam Fi conjuntos. Assim,
i∈I i∈I

/ FiC , ∀ ∈ I e consequentemente,
T
Demonstração. Seja x ∈ Fi , ou seja, x ∈ Fi , ∀i ∈ I. Desta forma x ∈
S C i∈I
Fi . Logo, x ∈ ( Fi )C .
S
x∈
/
i∈I i∈I

FiC )C e FiC )C .
T S S T
Proposição 3.36. Sejam Fi conjuntos. Assim, Fi = ( Fi = (
i∈I i∈I i∈I i∈I
T
Proposição 3.37. Seja {Fi }i∈I uma coleção de conjuntos fechados. Então Fi é fechado.
i∈I
n
S
Proposição 3.38. Sejam F1 , F2 , ..., Fn conjuntos fechados. Então Fi é fechado.
i=1

FiC )C . Como Fi é fechado, então FiC é


T S
Demonstração. Pela Proposição 3.35, temos que Fi = (
i∈I S C i∈I
aberto, ∀i ∈ I. Logo, como a união de abertos é um aberto, temos Fi aberto. Portanto, como o
S C C T i∈I
complementar de um aberto é fechado, segue que ( Fi ) = Fi é fechado.
i∈I i∈I

Proposição 3.39. Sejam M um espaço métrico e A ⊂ M . Então A = (A).


0
Demonstração. (⊂): De fato, esta inclusão ocorre visto que A ⊂ (A), pois (A) = A ∪ A .
(⊃): Seja a ∈ (A). Vamos provar que a ∈ A. Com este fim, tome R > 0. Por hipótese, como
B(a, R) ∩ A 6= ∅, existe y ∈ B(a, R) e y ∈ (A ∪ A0 ). Desta forma, temos duas possibilidades. Se y ∈ A,
então B(a, R) ∩ A 6= ∅, e assim a ∈ A. Se y ∈ A0 , devido o fato de B(a, R) ser aberto, existe s > 0 tal
que B(y, s) ⊂ B(a, R). Porém, como y ∈ A0 , existe w ∈ B(y, s) ∩ A. Logo, w ∈ B(a, R) ∩ A, ou seja,
a ∈ A.
Corolário 3.40. O fecho de um conjunto é fechado.
Exercı́cio 3.41. Sejam M um espaço métrico, A ⊂ M e F um fechado que contém A. Então A ⊂ F .
Definição 3.42 (Ponto de fronteira). Sejam M um espaço métrico e A ⊂ M . Dizemos que a ∈ M é
ponto de fronteira de A se, para todo R > 0, temos

B(a, R) ∩ A 6= ∅

e
24 CAPÍTULO 3. TOPOLOGIA EM ESPAÇOS MÉTRICOS

B(a, R) ∩ AC 6= ∅.
Notação: δA é o conjunto dos pontos de fronteira de A.
Observação 3.43. Direto da definição, podemos concluir que δA = A ∩ AC . Além disso, como A é
fechado e AC também é fechado, segue que δA também é fechado.
Exemplo 3.44. Seja M = R, A = (0, 1) ∪ {2}. Neste caso, δA = {0, 1, 2}.

0 1 2

Figura 3.5: Representação do conjunto A.

Exemplo 3.45. Seja M = R2 e A = {(x, y) : x, y ∈ Q}. Neste caso, devido a densidade dos irracionais
e dos racionais, δA = R2 .
Observação 3.46. Notemos que, dado M é um espaço métrico com a métrica zero-um e A ⊂ M , como
todo ponto é isolado, temos que δA = ∅.
Observação 3.47. Seja M um espaço métrico A ⊂ M . Desta forma:

M = int(A) ∪ δA ∪ int(AC ).

Exercı́cios
1) Resolver os exercı́cios complementares - exercı́cios 10 a 20 (p. 82) de [7].

2) Seja R com a métrica euclidiana. Construa um subconjunto com exatamente cinco pontos de acu-
mulação.

3) Indique quais são os pontos isolados, pontos de acumulação e pontos interiores dos seguintes conjuntos:
(a) M = R, com métrica euclidiana. A = Q.
(b) M = R, com métrica euclidiana. B = Q ∩ (1, 2).
(c) M = R, com métrica zero-um. C = Q.
(d) M = R2 , com métrica euclidiana. D = (0, 1) × [0, 1].
(e) M = R2 com métrica euclidiana. E = {(x, y) ∈ R2 : y ≤ x}.
(f) M = R, com métrica euclidiana. F = { n+1
n : n ∈ N}
(g) M = R, com métrica euclidiana. G = {1} ∪ { n+1
n : n ∈ N}

4) Diga quais conjuntos da questão anterior são abertos, fechados e discretos.

5) Considere R2 com a métrica euclidiana. Prove ou dê contra exemplo:


(a) qualquer ponto de um subconjunto aberto A ⊂ R2 é um ponto de acumulação de A;
(b) qualquer ponto de um subconjunto fechado F ⊂ R2 é um ponto de acumulação de F .

6) Considere R com a métrica euclidiana. Seja E ⊂ R um conjunto não vazio e limitado superiormente,
tal que sup(E) ∈
/ E. Mostre que sup(E) é um ponto de acumulação de E.

7) Dê um exemplo em que uma interseção infinita de conjuntos abertos não é um conjunto aberto.

8) De um exemplo em que uma união infinita de conjuntos fechados não é um conjunto fechado.
3.3. PONTO ADERENTE E DE FRONTEIRA 25

9) Sejam M um espaço métrico, a ∈ A e A ⊂ M um conjunto aberto. Mostre que A \ {a} é um conjunto


aberto.

10) Seja M um espaço métrico, E ⊂ M um conjunto finito. Mostre que E é fechado. Dependendo da
métrica, E pode ser aberto?

11) Seja X um espaço métrico, E ⊂ X. Seja int(E) o conjunto dos pontos interiores de E.
(a) Mostre que int(E) é aberto;
(b) Mostre que se E é aberto então E = int(E);
(c) Se G ⊂ E e G é aberto, mostre que G ⊂ int(E);
(d) Mostre que o complementar de int(E) é o fecho do complementar de E.

12) Considere Rn com a métrica euclidiana. Exiba um subconjunto A ⊂ Rn tal que int(A) = ∅ e A = Rn .

13) Seja M um espaço métrico, E ⊂ M . Para cada uma das afirmações abaixo, prove ou dê um contra
exemplo:
(a) int(E) = int(E);
(b) E = int(E);
(c) todo ponto de acumulação de E é um ponto de acumulação do conjunto E 0 ;
(d) todo ponto de acumulação do conjunto E 0 é um ponto de acumulação de E.

14) Seja M um espaço métrico, E ⊂ M . Mostre que E 0 é um conjunto fechado.

15) Seja M um espaço métrico, E ⊂ M . Seja F ⊂ M um subcojunto fechado tal que E ⊂ F . Mostre que
E ⊂ F.

16) Seja M um espaço métrico, A, E ⊂ M . Mostre que se A é aberto, e A e E são disjuntos, então
A ∩ E = ∅.
26 CAPÍTULO 3. TOPOLOGIA EM ESPAÇOS MÉTRICOS
Capı́tulo 4

Sequências e séries

4.1 Sequências e Convergência


Definição 4.1 (Sequência). Seja M um espaço métrico. Uma sequência é uma função x : N → M .
Notação: Os termos da sequência são dados por:

x(1) = x1

x(2) = x2
..
.
Além disso, vamos denotar a sequência por (xn ) ou (xn )n∈N .
Observação 4.2. O conjunto {xn : n ∈ N} representa o conjunto dos termos de (xn ).
Exemplo 4.3. Seja M = R2 e xn = (−1)n , n1 .


x1

x2
x3 x4

Figura 4.1: Representação dos primeiros termos de (xn ).

Exemplo 4.4. Seja M = M2×2 (R) com a métrica de R4 e a sequência:


1
 
cos(n) n
xn = .
n2 (−1)n

Definição 4.5 (Convergência de Sequências). Sejam M um espaço métrico, (xn ) uma sequência em M
e a ∈ M . Dizemos que (xn ) converge para a se para todo ε > 0, existe n0 ∈ N, tal que para todo n ≥ n0 ,
d(xn , a) < ε.
Nesse caso, dizemos que (xn ) é convergente, e escrevemos:

xn → a

ou
lim xn = a.
n→∞

Observação 4.6. Podemos entender a definição de convergência da seguinte maneira: uma sequência
(xn ) converge para a ∈ M se, para toda bola centrada em a de raio ε > 0, a sequência, à partir de algum
n0 ∈ N , entra na bola e não sai mais.

27
28 CAPÍTULO 4. SEQUÊNCIAS E SÉRIES

Observação 4.7. A convergência de uma sequência depende da métrica e do espaço M .


1
Exemplo 4.8. Sejam M = R com a métrica euclidiana e a sequência xn = n. Neste caso, xn → 0.
De fato, fixe ε > 0. Tomemos n0 ∈ N tal que n0 > 1ε . Então, se n ≥ n0 :

1 1
d(xn , 0) = |xn − 0| = = < ε.
n n

Desta forma, xn → 0.

Exemplo 4.9. Sejam M = R com a métrica zero-um e a sequência xn = n1 . Neste caso, (xn ) diverge.
De fato, notemos que dado um ponto p ∈ M , a sequência não entrará na bola B(p, 12 ), ∀ p ∈ M .

Observação 4.10. Na métrica zero-um, uma sequência (xn ) só será convergente se ela for eventualmente
constante.
1
Exemplo 4.11. Sejam M = R − {0} com a métrica induzida e a sequência xn = n. Neste caso, (xn )
diverge.
Isto ocorre pois, para todo a ∈ M , a definiçao de convergência não se aplica.

Definição 4.12 (Conjunto limitado). Sejam M um espaço métrico e A ⊂ M . Dizemos que A é limitado
se existe a ∈ M e R > 0 tal que A ⊂ B(a, R).

Exemplo 4.13. Se M = R, N não é limitado com a métrica usual. Porém, considerando a métrica
zero-um, N é limitado, visto que N ⊂ B(0, 2).

Definição 4.14 (Sequência limitada). Sejam M um espaço métrico. Dizemos que (xn ) é limitada se o
conjunto {xn : n ∈ N} é limitado.

Proposição 4.15. Seja M um espaço métrico e (xn ) uma sequência em M . Então:

(i) xn → a se, e somente se, para todo R > 0, B(a, R) contém os termos de (xn ), a menos de um
número finito deles.

(ii) Se xn → a e xn → b, então a = b.

(iii) Dado A ⊂ M , então a é um ponto de acumulação (a ∈ A0 ) se, e somente se, existe uma sequência
(xn ) ⊂ A − {a} tal que (xn ) → a.

Demonstração. (i) (⇒): Fixe R > 0. Por hipótese, como xn → a, existe um n0 ∈ N tal que, ∀n ≥ n0 ,
d(xn , a) < ε = R. Assim, xn ∈ B(a, R) para todo n ≥ n0 , ou seja, esta bola contém todos os termos
de (xn ), exceto possivelmente x1 , x2 , ..., xn0 −1 .
(⇐): Fixe ε > 0. Por hipótese, existem no máximo um número finito de termos de (xn ) que não
pertencem a B(a, ε). Digamos que estes termos são xn1 , xn2 , ..., xnp . Tomando

n0 = max{n1 , n2 , ..., np } + 1.

temos ∀n ≥ n0 , xn ∈ B(a, ε), ou seja, d(xn , a) < ε. Logo, xn → a.

(ii) Vamos mostrar que, para todo ε > 0, d(a, b) < ε. Sendo assim, fixe ε > 0. Como xn → a, existe
n0 tal que ∀n ≥ n0 , d(xn , a) < 2ε . Analogamente, como xn → b, existe n1 tal que ∀n ≥ n1 ,
d(xn , b) < 2ε . Assim, tomando N = max{n0 , n1 }, temos d(a, b) ≤ d(a, xn ) + d(xn , b) < 2ε + 2ε = ε.
Logo d(a, b) = 0, e a = b.

(iii) (⇒): Como a ∈ A é um ponto de acumulação (a ∈ A0 ), temos para todo n ∈ N, existe xn ∈


B(a, n1 ) ∩ A − {a}. Afirmamos que xn → a, ou seja, d(xn , a) < n1 , ∀n ∈ N. De fato, fixe ε > 0 e
tome n0 ∈ N, tal que n10 < ε. Então, para todo n ≥ n0 , temos d(xn , a) < n1 ≤ n10 < ε.
(⇒): Fixe R > 0 e considere B(a, R). Como xn → a, sabemos que B(a, R) contém infinitos termos
(item (i)) de (xn ) e assim, como (xn ) ⊂ A − {a}, B(a, R) ∩ A − {a} =6 ∅.

Proposição 4.16. Seja M um espaço métrico e (xn ) uma sequência convergente. Então (xn ) é limitada.
4.2. SUBSEQUÊNCIAS 29

Demonstração. Seja (xn ) tal que xn → a. Mostremos que existe bola que contém o conjunto de termos
de (xn ). Pelo item (i) da Proposição anterior, sabemos que B(a, 1) contém os termos (xn ), exceto
possivelmente xn1 , xn2 , ..., xnp . Caso tais pontos não existam, (xn ) já será limitada. Caso realmente
existam xn1 , xn2 , ..., xnp , tome R = max {d(a, xni ) : i ∈ {1, ..., p}}+1 (caso considere a bola fechada, então
não precisa somar o 1). Logo, B(a, R) contém todos os termos de (xn ) e portanto (xn ) é limitada.

Observação 4.17. A recı́proca não é verdadeira. Se uma sequência é limitada, não necessariamente ela
será convergente. Por exemplo, em R a sequência xn = (−1)n é limitada mas não é convergente.

Corolário 4.18. (Contra positiva) Seja M um espaço métrico e (xn ) uma sequência que não é limitada.
Então (xn ) não é convergente.

Exemplo 4.19 (Cuidado). É verdade que se xn → a, então para todo R > 0, a bola B(a, R) contém
infinitos termos de (xn ). Porém, note que a recı́proca não é verdadeira (vide 4.17).

4.2 Subsequências
Definição 4.20 (Subsequência). Sejam um espaço métrico (M, d) e uma sequência (xn ) em M . Considere
um conjunto infinito de N, o qual denotaremos por N0 , dado por N0 = {n1 , n2 , n3 , ...}, com n1 < n2 < · · · .
A restrição xN0 é chamada de subsequência de (xn ).
Denotamos a subsequência por (xnk ), em que:

x(n1 ) = xn1

x(n2 ) = xn2

..
.

Exemplo 4.21. Seja (xn ) = (1, 21 , 1, 13 , 1, 41 , ...). Se N0 = {1, 3, 5, 7, ...}, temos a subsequência xnk = 1.
Também, se N00 = {2, 4, 6, 8, ...}, temos a subsequência xnk = k+1 1
.

Proposição 4.22. Seja (xn ) ⊂ M tal que xn → a. Então toda subsequência xnk converge para a.

Demonstração. Seja (xnk ) uma subsequência qualquer de (xn ). Mostremos que xnk → a. Fixe ε > 0.
Como xn → a, existe n0 tal que ∀n ≥ n0 , d(xn , a) < ε. Tome k0 ∈ N tal que nk0 ≥ n0 . Então, se k ≥ k0 ,
d(xnk , a) < ε.

Corolário 4.23 (Contra positiva). Sejam duas subsequências (xni ) e (xnj ) de (xn ). Se xni → a e
xnj → b, e a 6= b, então (xn ) diverge.

Corolário 4.24. Seja (xnk ) uma subsequência de (xn ). Se (xnk ) diverge, então (xn ) diverge.

Definição 4.25 (Sequência Monótona). Seja M um espaço métrico ordenado. Dizemos que uma
sequência (xn ) ⊂ M é:

(i) Crescente: se xn < xn+1 , ∀n.

(ii) Não decrescente: se xn ≤ xn+1 , ∀n.

(iii) Decrescente: se xn > xn+1 , ∀n.

(iv) Não crescente: se xn ≥ xn+1 , ∀n.

Uma sequência enquadrada em um dos casos acima é chamada de monótona.

Teorema 4.26. Sejam M = R com a métrica usual, e (xn ) ⊂ M uma sequência monótona e limitada.
Então (xn ) converge.
30 CAPÍTULO 4. SEQUÊNCIAS E SÉRIES

Demonstração. Notemos que é necessário provar apenas os casos (ii) e (iv) da definição de sequência
monótona, visto que (i) e (iii) são casos particulares dos mesmos.
(ii): Assumimos que (xn ) é não decrescente, ou seja, ∀n, xn ≤ xn+1 . Considere o conjunto A = {xn :
n ∈ N}. Temos que A 6= ∅ e A é limitado por hipótese. Existe então c = sup(A). Mostremos então que
xn → c. Fixe ε > 0. Como c = sup(A), existe n0 ∈ N tal que c − ε < xn0 < c (Exercı́cio 5 - Lista 1).
Tomando n ≥ n0 , temos que xn ≤ xn , pois a sequência é não decrescente e, além disso, xn ≤ c (visto que
c é cota superior). Logo:
c − ε < xn0 ≤ xn ≤ c < c + ε
Assim, ∀n ≥ n0 , temos que xn ∈ B(c, ε). Portanto, xn → c.
A prova de (iv) é análoga.
1
Exemplo 4.27. Seja M = R e tome a sequência xn = a n , com a > 0.
Primeiramente mostremos que esta sequência é monótona e limitada. Para isto, dividiremos em dois
casos:
(i) 0 < a < 1 : primeiramente mostremos que (xn ) é crescente, isto é, xn < xn+1 . Dessa forma, temos:
1 1 1 1 n n
xn < xn+1 ⇔ a n < a n+1 ⇔ (a n )n < (a n+1 )n ⇔ a < a n+1 ⇔ an+1 < (a n+1 )n+1

⇔ an+1 < an ⇔ an · a < an ⇔ a < 1.


Logo, (xn ) é crescente. Mostremos agora que (xn ) é limitada. Veja que, como a < 1, tomando a raiz
1
n-ésima dos dois lados da desigualdade, temos que 0 < a ≤ a n ≤ 1. Logo, pelo Teorema anterior,
1
(xn ) é convergente. Denotemos o limite de (xn ) por L. Seja a 2n uma subsequência de (xn ). Assim,
1 1 1 1
a 2n → L. Logo, (a 2n )2 → L2 . Porém, (a 2n )2 = a n → L. Pela unicidade de limites, L = L2 , ou
seja L = 0 ou L = 1. Porém, como ∀n, d(0, xn ) ≥ a, temos que L = 1.
(ii) Fazer.
1
Exemplo 4.28. Seja M = R e tome a sequência xn = n n .
Primeiramente, assim como feito no exemplo anterior, é necessário mostrar que a sequência é limitada
e monótona (ou, como neste caso, que após eliminar um número finito de termos, a sequência se torna
limitada e monótona). Como sugestão para provar isto, mostre que (1 + n1 )n < n.
Após a demonstração feita, concluı́mos que (xn ) é convergente. Desta forma, suponha que xn → L.
Assim, notemos que:
1
(2n) 2n → L
1
((2n) 2n )2 → L2
1 1 1
(2n) n = 2 n n n → L
Portanto, da mesma forma como foi feito anteriormente, L = 1.
Teorema 4.29. Sejam M = Rm o espaço métrico (com a métrica usual), (xn ) ⊂ Rm uma sequência
dada por xn = (x1n , x2n , ..., xm m i
n ), e a = (a1 , a2 , ..., am ) ∈ R . Então xn → a se, e somente se, xn → ai para
todo i ∈ {1, ..., m}.
Demonstração. (⇒): Fixe i ∈ {1, 2, ..., m}. Vamos mostrar que xin → ai . Fixe ε > 0. Por hipótese, existe
n0 tal que ∀n ≥ n0 , temos ||xn − a|| < ε. Notemos que
p
d(xin , ai ) = |xin − ai | = (xin − ai )2 ≤ ||xn − a|| < ε.

Portanto, xin → ai .
(⇐): Fixe ε > 0. Por hipótese, para todo i, existe ni tal que ∀n ≥ ni , temos |xin − ai | < √εm . Tome
n0 = max{n1 , n2 , ..., nm } Assim:
r r
p
1 2 m 2
ε2 ε2 ε2 ε2
||xn − a|| = (xn − a1 ) + ... + (xn − am ) < + + ... + = m· = ε.
m m m m
Logo, por definição, xn → a.
4.3. SEQUÊNCIAS DE CAUCHY 31

4.3 Sequências de Cauchy


Definição 4.30 (Sequência de Cauchy). Sejam M um espaço métrico e (xn ) ⊂ M uma sequência.
Dizemos que (xn ) é de Cauchy se:

∀ε > 0, ∃n0 ∈ N tal que m, n ≥ n0 ⇒ d(xn , xm ) < ε.

Exemplo 4.31. Seja M = R e xn = n1 . (xn ) é uma sequência de Cauchy.


De fato, fixando ε > 0 e tomando n0 > 2ε , temos que

1 1 1 1 1 1 ε ε
d(xm , xn ) = − ≤ + =
+ < + = ε.
m n m n m m 2 2

Proposição 4.32 (Convergente ⇒ Cauchy). Sejam M um espaço métrico qualquer e (xn ) uma sequência
convergente. Então (xn ) é uma sequência de Cauchy.

Demonstração. Fixemos ε > 0. Como (xn ) converge (digamos que xn → L) existe n0 ∈ N tal que
∀n ≥ n0 , d(xn , L) < 2ε . Logo, dados m, n ≥ n0 , temos:
ε ε
d(xm , xn ) ≤ d(xm , L) + d(L, xn ) < + = ε.
2 2

Observação 4.33. Se a recı́proca da proposição anterior (Cauchy ⇒ Convergente) vale em um espaço


métrico M , dizemos que M é completo. Caso contrário, M não é completo.

Exemplo 4.34. M = R∗ com a métrica usual induzida não é completo. De fato, a sequência xn = n1 é
sequência de Cauchy, mas não converge.
De fato, (xn ) não converge. Suponhamos que xn → L ∈ R∗ . Porém, sabemos que xn → 0 em R, o
que gera uma contradição, visto que como R∗ ⊂ R, terı́amos que L = 0 ∈
/ R∗ .

Exemplo 4.35. Q não é completo.


De fato, pelo Exercı́cio 2 da Lista de Exercı́cios 4, existe (xn ) ⊂ Q tal que xn → π em que M = R.
Como (xn ) é convergente em R, então (xn ) é de Cauchy em R. Logo, (xn ) é de Cauchy em Q, pois
estamos considerando a métrica induzida, e assim a distância entre os termos de (xn ) é a mesma. Porém,
(xn ) não converge em Q, pois caso contrário xn → q ∈ Q, e como xn → π em R, pela unicidade do limite,
terı́amos L = π ∈ / Q.

As próximas três proposições serão dadas com o intuito de provarmos que R é completo.

Proposição 4.36. Seja M um espaço métrico. Se (xn ) é uma sequência de Cauchy, então (xn ) é limitada.

Demonstração. Seja (xn ) ⊂ M uma sequência de Cauchy. Tomando ε = 1, existe n0 tal que ∀m, n ≥ n0 ,
d(xm , xn ) < 1. Em particular, temos que ∀n ≥ n0 , temos d(xn0 , xn ) < 1. Logo, temos que xn ∈
B(xn0 , 1), ∀n ≥ n0 . Dessa forma, existem, no máximo, finitos termos da sequência (xn ) que não pertencem
à B(xn0 , 1). Assim, aumentando o raio de forma conveniente, existe R > 0, temos que (xn ) ⊂ B(xn0 , R).

Definição 4.37 (Termo destacado). Seja M um espaço métrico e (xn ) uma sequência. Dizemos que um
termo xp ∈ (xn ) é destacado se xp ≥ xn , ∀n ≥ p.

Proposição 4.38 (Bolzano-Weierstrass). Seja M = R com a métrica usual. Se (xn ) ⊂ M é uma


sequência limitada, então (xn ) possui uma subsequência convergente.

Demonstração. Seja (xn ) uma sequência limitada. Mostremos que existe uma subsequência (xnk ) monótona.
Seja D o conjunto dos ı́ndices p ∈ N tais que xp é um termo destacado.

D = {p : xp é destacado}.

Desta forma, temos duas possibilidades:


32 CAPÍTULO 4. SEQUÊNCIAS E SÉRIES

(i) (D infinito): Desta forma, D = {n1 , n2 , n3 , n4 , ...} com n1 < n2 < n3 < · · · . Temos então:

xn1 ≥ xn2 ≥ xn3 ≥ · · · .

Assim, construı́mos uma subsequência (xnk ) monótona. Logo, como (xnk ) também é limitada, pelo
Teorema 4.26, temos que (xnk ) é convergente.

(ii) (D finito): Desta forma, D = ∅ ou D = {n1 , n2 , ..., np }. Se D = {n1 , n2 , ..., np }, existe n0 tal
que n0 > n, ∀n ∈ D. Logo, sabemos que todo xm com m ≥ n0 não é destacado. Logo, como xn0
não é destacado, existe n1 ∈ N com n1 > n0 , tal que xn1 > xn0 . Da mesma forma, como xn1 não
é destacado, existe n2 ∈ N com n2 > n1 , tal que xn2 > xn1 . Assim, prosseguindo por indução,
obtemos uma subsequência (xnk ) crescente e portanto convergente (Teorema 4.26).
Se D = ∅, repetimos o processo feito anteriormente, visto que como não há termos destacados, dado
n0 ∈ N, existe n1 > n0 com xn1 > xn0 e assim sucessivamente.

Proposição 4.39 (Bolzano-Weierstrass em Rn ). Seja M = Rk com a métrica usual. Se (xn ) ⊂ M é


uma sequência limitada, então (xn ) possui uma subsequência convergente.

Demonstração. Mostremos, via indução, que o resultado é verdadeiro. Seja (xn ) = (x1n , x2n , ..., xkn ).
Notemos que se k = 1, o resultado é verdadeiro (Bolzano-Weierstrass em R). Agora assumimos
como hipótese de indução (xn ) ser convergente em Rk e mostremos que o resultado vale para Rk+1 .
Pela hipótese de indução, existe (x1np , x2np , ..., xknp ) → (L1 , L2 , ..., Lk ). Considere a sequência (xk+1 np ).
Como essa sequência é limitada em R, (xk+1 np ) admite subsequência convergente. Seja x k+1
np l → L k+1
esta
1 2 k k+1 1 2 k k+1
sequência. Assim, afirmamos que (xnp , xnp , ..., xnp , xnp ) converge para (L , L , ..., L , L ).
l l l l

Proposição 4.40. Seja M um espaço métrico. Se uma sequência (xn ) ⊂ M de Cauchy tem uma
subsequência convergente, então (xn ) é convergente.

Demonstração. Seja (xn ) ⊂ M uma sequência de Cauchy tal que existe uma subsequência (xnk ) de (xn )
tal que xnk → L. Por hipótese, como xnk → L, existe k0 tal que ∀k ≥ k0 , temos
ε
d(xnk , L) < .
2
Além disso, como (xn ) é uma sequência de Cauchy, existe n0 tal que ∀m, n ≥ n0 temos
ε
d(xm , xn ) < .
2
Então, dado n ≥ n0 , tomando nk tal que k ≥ k0 e nk ≥ n0 , temos
ε ε
d(xn , L) ≤ d(xn , xnk ) + d(xnk , L) < + = ε.
2 2

Teorema 4.41. R é completo.

Demonstração. Seja (xn ) ⊂ R uma sequência de Cauchy. Assim, pela Proposição 4.36, (xn ) é limitada.
Desta forma, pelo Teorema de Bolzano-Weierstrass (4.38), (xn ) tem uma subsequência convergente.
Agora, pela Proposição 4.40, (xn ) é convergente.

Observação 4.42. Notemos que, se M é um espaço métrico, então obrigatoriamente satisfaz as Pro-
posições 4.36 e 4.40. Assim, se M satisfazer Bolzano-Weierstrass (4.38), então M será completo.

Exercı́cio 4.43. Sejam M um espaço métrico, (xn ) uma sequência e a ∈ M . Então a é limite de uma
subsequência xnk se, e somente se, ∀R > 0, existem infinitos termos da sequência em B(a, R).

Definição 4.44 (Valor de Aderência). O ponto a dado no exercı́cio anterior é chamado de Valor de
Aderência.
4.4. ABERTOS E FECHADOS 33

4.4 Abertos e Fechados


Proposição 4.45. Sejam M um espaço métrico, A ⊂ M . Então a ∈ A se, e somente se, existe (xn ) ⊂ A
com xn → a.

Demonstração. (⇒): Por hipótese, como a ∈ A, dado R > 0, a bola B(a, R) ∩ a 6= ∅. Tomando R = n1 ,
construı́mos uma sequência (xn ) ⊂ A com xn → a (Exercı́cio).
(⇐): Fixe R > 0. Mostremos que B(a, R) ∩ A 6= ∅. Como existe uma sequência (xn ) ⊂ A com
xn → a, existe n0 tal que ∀n ≥ n0 , xn ∈ B(a, R).

Teorema 4.46 (Caracterização de Fechados via Sequências). Sejam M um espaço métrico e F ⊂ M . F


é fechado se, e somente se, F contém os limites das sequências (xn ) ⊂ F convergente.

Demonstração. (⇒): Seja (xn ) ⊂ F que xn → L. Pela proposição anterior, L ∈ F = F .


(⇐): Mostremos que F = F . Basta mostrar F ⊂ F . Tome a ∈ F . Pela proposição anterior, existe
(xn ) ⊂ F com xn → a. Logo, por hipótese, a ∈ F .

Exemplo 4.47. O conjunto A = {(x, y) : −x2 ≥ y ≥ x2 } ⊂ R2 é fechado.


De fato, tome (xn , yn ) ⊂ A tal que (xn , yn ) → (x0 , y0 ), ou seja, xn → x0 e yn → y0 . Assim, como o
produto dos limites é o limites do produto e que dada duas sequências (xm ) → M e (xp ) → P tais que
xm ≥ xp , ∀m, p temos M ≥ P , temos:

−x2n ≥ yn ≥ x2n ⇒ −x20 ≥ y0 ≥ x20 .

Logo, (x0 , y0 ) ∈ A, isto é, A é fechado.

Exemplo 4.48. Seja f : R → R contı́nua. O gráfico de f , dado por Gr(f ) = {(x, f (x)) : x ∈ R}, é um
conjunto fechado em R2 .

Teorema 4.49 (Caracterização de Abertos via Sequências). Sejam M um espaço métrico e A ⊂ M .


A é aberto se, e somente se, para toda sequência xn → a, a ∈ A, temos que existe n0 ∈ N tal que
∀n ≥ n0 , xn ∈ A.

Demonstração. (⇒): Seja (xn ) uma sequência tal que xn → a, a ∈ A. Como, por hipótese, A é aberto,
existe R > 0 tal que B(a, R) ⊂ A. Como xn → a, existe n0 tal que ∀n ≥ n0 , xn ∈ B(a, R) ⊂ A.
(⇐): Seja a ∈ A. Suponha que a ∈ / int(A). Logo, para todo R > 0, B(a, R) ∩ AC 6= ∅. Portanto,
a ∈ A , ou seja, pela Proposição 4.45, existe (xn ) ⊂ AC com xn → a, o que é uma contradição, visto que
C

toda sequência que converge para a deveria entrar em A. Logo, a ∈ int(A). Portanto, A é aberto.

Exercı́cios
1) Resolver os exercı́cios complementares - exercı́cios 1 a 18 (p. 124) de [7].

Nas questões 2 a 9, considere R com a métrica euclidiana.

2) Mostre que todo número real é limite de uma sequência de números racionais.

3) Seja X ⊂ R um conjunto limitado. Mostre que existem sequências (xn ) e (yn ) de elementos de X tais
que xn → inf (X) e yn → sup(X).

4) Sejam (xn ) e (yn ) sequências tais que xn → L e yn → M . Seja λ ∈ R. Mostre que:

(a) (xn + yn ) converge para L + M .


(b) (λxn ) converge para λL.
(c) (xn · yn ) converge para L · M .
 
xn L
(d) converge para , desde que M 6= 0.
yn M
34 CAPÍTULO 4. SEQUÊNCIAS E SÉRIES

(e) se existe n0 ∈ N tal que xn ≤ yn para todo n ≥ n0 , então L ≤ M .

5) Mostre que se (xn ) converge, então (|xn |) converge. A recı́proca é verdadeira?

6) Sejam (xn ) e (yn ) sequências convergentes a um mesmo limite L ∈ R e (zn ) uma sequência que satisfaz
xn ≤ zn ≤ yn para todo n ∈ N. Mostre que zn → L.

7) Sejam (xn ) e (yn ) sequências tais que (xn ) converge para 0 e (yn ) é limitada. Mostre que a sequência
(xn · yn ) converge para 0.

8) Mostre que uma sequência de números reais que é não crescente e limitada é convergente.
√ √
9) Seja x1 = 2, e defina xn = 2 + xn−1 para todo n ≥ 2. Mostre que a sequência xn converge e
calcule o seu limite.

10) Seja M um espaço métrico.


 Mostre que (xn ) converge para x ∈ M se e somente se a sequência de
números reais d(xn , x) converge para 0 com a métrica euclidiana.

11) Seja M um espaço métrico discreto. Mostre que uma sequência (xn ) de M converge se e somente se
ela for eventualmente constante, ou seja, existe m ∈ N tal que xn = xm para todo n ≥ m.

12) Seja M um espaço métrico. Dizemos que a ∈ M é um valor de aderência da sequência (xn ) em M
se a é limite de uma subsequência de (xn ). Mostre que uma sequência convergente possui um único
valor de aderência.

13) Mostre que a ∈ M é um valor de aderência de (xn ) se e somente se para todo r > 0 a bola aberta
B(a, r) contém infinitos termos da sequência (xn ).

14) Dê um exemplo de uma sequência em que o conjunto dos valores de aderência é vazio.

15) Dado um conjunto enumerável E ⊂ M , obtenha uma sequência (xn ) da qual todo ponto de E é valor
de aderência.
Capı́tulo 5

Compacidade em Espaços Métricos

5.1 Compactos
Definição 5.1 (Coberturas). Sejam M um espaço métrico e A ⊂ M . Uma famı́lia C = {Cα }α∈L de
subconjuntos de M é uma cobertura de A se
[
A⊂ Cα .
α∈L

Se todos os Cα são abertos, dizemos que C é uma cobertura aberta. Se L é finito, dizemos que C é
uma cobertura finita.

Definição 5.2. Sejam M um espaço métrico, A ⊂ M e C = {Cα }α∈L uma cobertura S de A. Uma
subcobertura de C é uma subfamı́lia C 0 = {Cα }α∈L0 em que L0 ⊂ L e ainda temos A ⊂ α∈L0 Cα .

Definição 5.3 (Compacto). Sejam M um espaço métrico e K ⊂ M . Dizemos que K é compacto se toda
cobertura aberta de K admite uma subcobertura finita.

Exemplo 5.4. Sejam M um espaço métrico e K = {p1 , p2 , ..., pm } ⊂ M . Mostremos que K é compacto.
De fato, seja C = {Cα }α∈L uma cobertura aberta de A. Logo, para todo i = 1, ..., m, existe Cαi tal
que pi ∈ Cαi . Assim, K ⊂ (Cα1 ∪ Cα2 ∪ ... ∪ Cαk ), e assim extraimos uma subcobertura finita de C.

Observação 5.5. O exemplo anterior mostra que todo conjunto finito é compacto.

Observação 5.6. Um conjunto K não é compacto se existe uma cobertura aberta C de K que não admite
subcobertura finita. Geralmente utilizamos esta negação da definição para mostrar que um conjunto não
é compacto.

Exemplo 5.7. Seja M = R com a métrica euclidiana. N não é compacto.


De fato, se considerarmos a cobertura aberta C = {B(n, 12 )}n∈N de N, nenhuma subcobertura finita
de C será cobertura de N. De fato, a subcobertura finita B(n1 , 21 ) ∪ B(n2 , 21 ) ∪ ... ∪ B(np , 21 ) possui apenas
um número finito de número naturais. Logo, N não é compacto.

Exemplo 5.8. Seja M = R com a métrica euclidiana. O conjunto A = [0, 1) não é compacto.
De fato, se considerarmos a cobertura aberta C = {(−2, 1 − n1 )}n∈N de A, C não possui nenhuma
subcobertura finita.

Proposição 5.9. Sejam M um espaço métrico e K ⊂ M . Se K é compacto, então K é limitado.

Demonstração. Considere a cobertura aberta C = {B(x, n)}n∈N (todo espaço métrico pode ser es-
crito como uma união enumável de bolas abertas). Como K é compacto, C admite subcobertura
finita. Seja {B(x, n1 ), B(x, n2 ), ..., B(x, n2 )} está subcobertura finita. Desta forma, tomando n =
max{n1 , n2 , ..., np }, segue que K ⊂ B(x, N ) e assim K é limitado.

Proposição 5.10. Sejam M um espaço métrico e K ⊂ M . Se K é compacto, então K é fechado.

35
36 CAPÍTULO 5. COMPACIDADE EM ESPAÇOS MÉTRICOS

Demonstração. Vamos mostrar que K contém seus pontos de acumulação. Suponha que, por absurdo, que
exista p ∈ K 0 tal que p ∈
/ K. Considere a famı́lia C = {Bn }, em que Bn = (B[p, 1 C
S n ]) . Notemos que C é
cobertura aberta de K pois ∀n, Bn é aberto (complementar de um fechado) e n∈N Bn = (M −{p}) ⊃ K.
Como K é compacto, C admite uma subcobertura finita. Seja Bn1 , Bn2 , ..., Bnp esta cobertura. Assim,
tomando N = max{n1 , ..., np }, temos que K ⊂ (B[p, N1 ])C . Assim, B[p, N1 ] ∩ K = ∅, o que é um absurdo,
visto que p é ponto de acumulação.

Exemplo 5.11. Seja M = R com a métrica zero-um. N é fechado e limitado mas não é compacto.
De fato, N é limitado, pois N ⊂ B(0, 2), e fechado, visto que N não possui pontos de acomulação.
Porém, N não é compacto pelo mesmo argumento apresentado em 5.7.

Proposição 5.12. Sejam M um espaço métrico e X ⊂ M . Se X é compacto e discreto, então X é finito.

Demonstração. Considere a cobertura aberta C = {B(p, Rp )}p∈X em que Rp é raio de uma bola que isola
p (que existe, visto que X é discreto). Como X é compacto compacto, podemos extrair uma subcobertura
finita C tal que X ⊂ C. Logo, X deve ser finito.

Proposição 5.13. Sejam M um espaço métrico e K compacto. Se F ⊂ K é fechado, então F é compacto.

Demonstração. Seja C = {Cα }α∈L uma cobertura aberta de F . Mostremos que C possui uma subcober-
tura finita. De fato, considere C ∪ {F C }. Notemos que C ∪ {F C } é uma cobertura aberta de K, visto
que C cobre F e {F C } cobre o complementar de F . Assim, como K é compacto, C ∪ {F C } admite uma
subcobertura finita. Seja
Cα1 ∪ Cα2 ∪ ... ∪ Cαp
esta cobertura.
F ⊂ (Cα1 ∪ ... ∪ Cαp ) − F C ⊂ (Cα1 − F C ) ∪... ∪ (Cαp − F C ) .
| {z } | {z }
CαF CαF
1 p

Logo, F é compacto.

Definição 5.14 (Totalmente Limitado). Seja M um espaço métrico e A ⊂ M . Dizemos que A é


totalmente limitado se, ∀ε > 0, existem x1 , x2 , ..., xp ∈ M tais que:

A ⊂ B(x1 , ε) ∪ B(x2 , ε) ∪ ... ∪ B(xp , ε).

Proposição 5.15. Seja M um espaço métrico. Se A ⊂ M é totalmente limitado, então A é limitado.

Observação 5.16. Notemos que a recı́proca da proposição anterior não é verdadeira. De fato, se
considerarmos M = R com a métrica zero-um, o conjunto N é limitado, mas não é totalmente limitado.
Fixando ε = 21 , não consiguimos um número finito de bolas contando N, pois ∀x ∈ N, #(B(x, 21 )) = 1.

Proposição 5.17. Se X é um conjunto totalmente limitado e A ⊂ M , então A é totalmente limitado.

Proposição 5.18. Seja M um espaço métrico completo e sejam X1 ⊃ X2 ⊃ X3 ⊃ ... uma famı́lia
T de conjuntos tais que, para todo i, Xi são fechados e diam(Xn ) → 0. Então existe a ∈ M
(enumerável)
tal que a ∈ n∈N Xn .

Teorema 5.19 (Caracterização de Compactos). Sejam M um espaço métrico e K ⊂ M . São equivalentes:

(i) K é compacto.

(ii) Todo subconjunto infinito de K possui pelo menos um ponto de acumulação em K.

(iii) Toda sequência (xn ) ⊂ K tem uma subsequência convergente com limite em K.

(iv) K é completo e totalmente limitado.


5.1. COMPACTOS 37

Demonstração. (i)⇒(ii): Seja A ⊂ K, A infinito. Vamos mostrar que A possui um ponto de acumulação
em K. Suponha, por absurdo, que A não possui pontos de acumulação, ou seja, que A0 = ∅. Temos
então que A é fechado, pois A0 ⊂ A, e discreto, pois todos os seus pontos são isolados (A0 = ∅). Assim,
pela Proposição 5.13, A é compacto. Daı́, pela Proposição 5.12, temos que A seria finito, o que é uma
contradição. Logo, existe p ∈ A0 e dessa forma também temos p ∈ K 0 e como K é fechado (Proposição
5.10), segue que p ∈ K.
(ii)⇒(iii): Seja (xn ) ⊂ K uma sequência. Mostremos que existe (xnp ) com xnp → L, L ∈ K.
Considere o conjunto dos C = {xn : n ∈ R}. Analisemos dois casos:
ˆ Caso C seja finito, existe x ∈ C que se repete infinitas vezes como termos de (xn ). Temos então
que existe uma subsequência (xnk ) constante, ou seja, xnk → x ∈ K.
ˆ Caso C seja infito, por hipótese, existe a ∈ C 0 , a ∈ K. Assim, existe xn1 ∈ B(a, 1). Como C é
infito, existe xn2 ∈ B(a, 21 ) tal que n2 > n1 . Repetindo o processo, obtemos uma subsequência
xn1 , xn2 , ..., com n1 < n2 < ..., tal que xnk → a.
(iii)⇒(iv): Tomemos (xn ) ⊂ K uma sequência de Cauchy. Por hipótese, segue que (xn ) tem sub-
sequência convergente. Logo, pela Proposição 4.40, segue que (xn ) é convergente, ou seja, K é completo.
Mostremos agora que K é totalmente limitado. Fixemos ε > 0. Seja x1 ∈ K e considere B(x1 , ε). Se
K ⊂ B(x1 , ε), terminamos a demonstração. Caso contrário, existe x2 ∈ K com x2 ∈ / B(x1 , ε), ou seja,
existe x2 ∈ K tal que d(x1 , x2 ) > ε. Assim, se K ⊂ B(x1 , ε) ∪ B(x2 , ε), terminamos a demonstração.
Caso contrário, existe x3 ∈ K tal que d(x3 , x2 ) > ε. Prosseguindo por indução, se existir p ∈ N com
K ⊂ B(x1 , ε) ∪ B(x2 , ε) ∪ ... ∪ B(xp , ε), terminamos a demonstração. Caso contrário, obtemos uma
sequência (xn ) ⊂ K em que d(xi , xj ) > ε, para quaisquer i 6= j, o que contraria a hipóse, visto que (xn )
não possui subsequência convergente.
(iv)⇒(i): Seja uma cobertura aberta C = {Cα }α∈L de K. Suponha, por absurdo, que C não admite
uma subcobertura finita. Notemos que, como K é totalmente limitado, temos
           
1 1 1 1 1 1
K ⊂ B x1 , ∪ B x2 , ∪ ... ∪ B xp , ⊂ B x1 , ∪ B x2 , ∪ ... ∪ B xp , ,
2 2 2 2 2 2
e daı́ segue que
           
1 1 1
K = B x1 , ∩ K ∪ B x2 , ∩ K ∪ ... ∪ B xp , ∩K .
2 2 2

Assim, considerando Fi = B xi , 12 ∩ K , podemos escrever K = F1 ∪ F2 ∪ ... ∪ Fp , onde Fi são


  

fechados com diâmetro menor ou igual a 1, para todo i. Desta forma, para algum i, temos que Fi não
admite uma subcobertura finita pois, caso contrário, haveia uma subcobertura finita de K. Renomeando
Fi = X1 , podemos escrever X1 = G1 ∪ G2 ∪ ... ∪ G3 , onde Gi são fechados com diâmetro menor ou igual a
1
2 (mesmo motivo anterior). Desta forma, para algum j, temos que Gj não adimite subcobertura finita.
Renomenado Gj = X2 , seguimos com o mesmo processo. Assim, obtemos uma sequência de conjuntos:
X1 ⊃ X2 ⊃ X3T⊃ ... em que Xi são fechados, diam(Xi ) 6= n1 e Xn ⊂ K, ∀n. Assim, pela Proposição
5.18, existe a ∈ n∈N Xn e como a ∈ K, existe Cα0 que contém o ponto a. Logo, como Cα0 é aberto, a é
ponto interior de Cα0 , e daı́ existe R > 0 tal que B(a, R) ⊂ Cα0 . Tomando n ∈ N tal que n1 < R, temos
que Xn ⊂ B(a, R). Desta forma temos uma contradição, visto assim terı́amos Xn ⊂ Cα0 , que não pode
ocorrer pois na construção supomos que Xn não possui subcobertura finita.
Definição 5.20. Um conjunto K é dito sequêncialmente compacto quando K satisfaz o item (iii) do
teorema acima.
Corolário 5.21. Sejam M um espaço métrico completo. Então K ⊂ M é compacto se e somente se K
é fechado e totalmente limitado.
Demonstração. (⇒): Se K é compacto, então pela Proposição 5.10, K é fechado e pela caracterização
vista anteriormente, K é totalmente limitado.
(⇐): Como K é totalmente limitado e completo, pela caracterização anterior, K é compacto.
Teorema 5.22 (Teorema de Heine-Borel). Seja M = Rn com a métrica euclidiana. Então K ⊂ Rn é
compacto se e somente se K é fechado e limitado.
38 CAPÍTULO 5. COMPACIDADE EM ESPAÇOS MÉTRICOS

Demonstração. (⇒) Ver 5.10 e 5.9.


(⇐) Vamos mostrar que K é sequencialmente compacto. Tomemos (xn ) ⊂ K. Como K é limi-
tado, (xn ) é limitada. Daı́, pelo Teorema de Bolzano-Weierstrass (4.38), segue que (xn ) possui uma
subsequência convergente. Seja (xnk ) tal que xnk → L está subsequência. Então, como K é fechado, K
contém todos os limites de suas sequências, temos que L ∈ K. Assim, segue de 5.19 ((iv)⇒(i)), que Rn
é compacto.

5.2 Espaços Métricos Conexos


Definição 5.23 (Cisão). Seja M um espaço métrico. Uma cisão de M é uma decomposição da forma:
M = A ∪ B,
em que A e B são abertos disjuntos.
Exemplo 5.24. Notemos que todo conjunto pode ser escrito desta forma. Se M é um espaço métrico,
então M = M ∪ ∅. Esta cisão é chamada de cisão trivial.
Exemplo 5.25. Se M = R − {0} com a métrica induzida, então uma cisão de M é da forma M =
(−∞, 0) ∪ (0, ∞).
Exemplo 5.26. Se M = Q com a métrica induzida, então tomando
A = {x ∈ Q : x < π} e B = {x ∈ Q : x > π},
temos que Q = A ∪ B é uma cisão. Notemos que A e B são abertos em Q (por mais que não sejam R).
Proposição 5.27 (Abertos em Subespaços com Métrica Induzida). Sejam M um espaço métrico e
X ⊂ M um subespaço com a métrica induzida. Então B é aberto em X se e somente se existe A aberto
em M tal que B = A ∩ X.
Demonstração. (⇒) Por hipótese, B é aberto em X. Se B = ∅,
S tomemos A = ∅. Caso contrário, dado
p ∈ B, existe Rp > 0 tal que B(p, Rp ) ⊂ B. Tomemos S A = p∈B B(p, Rp ). Desta forma, temos um
aberto A (visto que a união de abertos é um aberto) e p∈B B(p, Rp ) ∩ X = B.
(⇐) Seja B = A ∩ X em que A é aberto. Mostremos que B é aberto. Tomemos p ∈ B. Como p ∈ A,
existe R > 0 tal que B(p, R) ⊂ A. Desta forma, B(p, R) ∩ X ⊂ A ∩ X = B, ou seja, p é ponto interior
de B.
Observação 5.28. Em uma cisão do tipo M = A ∪ B, os conjuntos A e B também são fechados, visto
que AC = B e B C = A, ou seja, os complementares de cada um desses conjuntos é aberto, logo, eles são
fechados.
Definição 5.29 (Espaço Métrico Conexo). Seja M um espaço métrico. Dizemos que M é conexo se a
única cisão possı́vel é a trivial (M = M ∪ ∅).
Proposição 5.30. Um espaço métrico M é conexo se e somente se os únicos conjuntos abertos e fechados
em M ao mesmo tempo são ∅ e M .
Demonstração. (⇒) Seja A um conjunto aberto e fechado de M ao mesmo tempo. Notemos que M =
A ∪ AC , que é uma cisão, visto que A e AC são abertos disjuntos. Daı́, como por hipótese M é conexo,
segue que A = ∅ ou A = M .
(⇐) Seja M = A ∪ B uma cisão de M . Desta forma, como A é aberto e fechado em M , por hipótese,
segue que A = M (e daı́ B = ∅) ou A = ∅ (e daı́ B = M ).
Teorema 5.31. R é conexo. (Métrica euclidiana)
Demonstração. Seja A ⊂ R um conjunto aberto e fechado em R. Suponha, por absurdo, que A 6= ∅ e
A 6= R. Assim, existem a, b ∈ R tais que a ∈ A e b ∈ AC . Consideremos então S = [a, b]∩A. Notemos que
S é fechado, visto que é uma interseção de conjuntos fechados, e é limitado, pois S ⊂ [a, b]. Desta forma,
como S é limitado, existe p ∈ R, tal que p = sup(S). Assim, como S é fechado, p ∈ S, ou seja, p ∈ A e
p ∈ [a, b]. Portanto, p 6= b, visto que b ∈ AC . Como A é aberto, existe ε > 0, tal que (p + ε, p − ε) ⊂ A, e
assim, podemos encontrar p0 ∈ R tal que p < p0 < b, com p0 ∈ A. Daı́, p0 ∈ S, o que contraria o fato de p
ser o supremo do conjunto. Logo, segue que A = ∅ ou A = R.
5.3. CONJUNTOS CONEXOS POR CAMINHOS 39

Definição 5.32 (Conjunto Conexo). Sejam M um espaço métrico e C ⊂ M . Dizemos que C é um


conjunto conexo se C é conexo como subespaço métrico com a métrica induzida.

Exemplo 5.33. Exemplo dos quadrados.

Exercı́cio 5.34. Responda as perguntas abaixo:

(i) A união de conexos é conexo?


Resposta: Nem sempre. Imagine dois conexos disjuntos. Este resultado será válido caso os conexos
em questão possuam, pelo menos, um ponto em comum (ver a proposição a seguir).

(ii) A interseção de conexos é conexo?


Resposta: Nem sempre. Exemplo ferradura.
Caso os conexos em questão seja convexos, este resultado é verdadeiro.

(iii) O fecho de conexo é conexo?


Resposta: Sim. Este resultado segue como consequência do teorema a seguir.

(iv) Interior de conexo é conexo?


Resposta: Não. Vide o exemplo anterior.
T S
Proposição 5.35. Sejam {Ck }k∈L conjuntos conexos tais que k∈L Ck 6= ∅. Então k∈L Ck = C é
conexo.
T T
Demonstração. Seja C = A ∪ B uma cisão. Como k∈L Ck 6= ∅, existe p ∈ k∈L Ck . Suponha, sem
perda de generalidade, que p ∈ A. Mostremos que C = A. Suponha, por absurdo, que existe k ∈ L tal
que Ck ∩ B 6= ∅. Então, Ck = (A ∩ Ck ) ∪ (B ∩ Ck ) é uma cisão não trivial de Ck , visto que A ∩ Ck e B ∩ Ck
são abertos, pela Proposição 5.27, e disjuntos, visto que A e B são disjuntos. Logo, como A ∩ Ck 6= ∅,
pois p ∈ A ∩ Ck , e B ∩ Ck , pela hipótese do absurdo, temos que Ck não é conexo, o que é um absurdo.

Observação 5.36. Podemos trocar a interseção dada na proposição anterior pela interseção não vazia
de conexos dois a dois?

Teorema 5.37. Sejam C um conjunto conexo e D um conjunto tal que C ⊂ D ⊂ C. Então D é conexo.

Demonstração. Suponhamos, por absurdo, que existe uma cisão não trivial D = A ∪ B. Mostremos que
A ∩ C 6= ∅. Seja p ∈ A. Dessa forma, p ∈ C ou p ∈ / C. Caso p ∈ C, acabou. Caso p ∈ / C, temos que
p ∈ C 0 , visto que D ⊂ C = C ∪ C 0 . Daı́, como A é aberto, existe R > 0 tal que B(p, R) ⊂ A. Portanto,
como p ∈ C 0 , existe q ∈ (B(p, R) ∩ C). Analogamente, B ∩ C 6= ∅. Assim, C = (A ∩ C) ∪ (B ∩ C) é uma
cisão não trivial de C, o que é um absurdo.

Teorema 5.38. Seja C ⊂ R com a métrica euclidiana. Então C é conexo se e somente se C é um


intervalo.

Demonstração. (⇒) Suponha, por absurdo, que C não é um intervalo1 . Assim, existem a, b ∈ C e
existe x ∈ R com a < x < b tal que x ∈ / C. Porém, desta forma terı́amos uma contradição, visto que
C = ((−∞, x) ∩ C) ∪ ((x, ∞) ∩ C) é uma cisão não trivial de C, pois a ∈ (−∞, x) ∩ C e b ∈ (x, ∞) ∩ C.
(⇐) Exercı́cio. Ver argumento feito na demonstração do Teorema 5.31.

5.3 Conjuntos Conexos por Caminhos


Definição 5.39 (Caminhos). Seja M um espaço métrico e sejam x, y ∈ M . Um caminho entre x, y é
uma função ψ : [a, b] → M tal que ψ(a) = x e ψ(b) = y e com a propriedade que, dada uma sequência
(tn ) ⊂ [a, b] tal que tn → t0 , temos ψ(tn ) → ψ(t0 ).

Exemplo 5.40. Sejam x, y ∈ Rn . Um caminho entre x e y é a função:


ψ: [0, 1] → Rn
t 7 → ψ(t) = ty + (1 − t)x
1 Dizemos que I ⊂ R é um intervalo se e somente se, dados a, b ∈ I e dado x ∈ R tal que a < x < b, temos que x ∈ I.
40 CAPÍTULO 5. COMPACIDADE EM ESPAÇOS MÉTRICOS

Este chaminho é chamado de segmento de reta entre x e y.


Definição 5.41 (Conexo por caminhos). Sejam M um espaço métrico e A ⊂ M . Dizemos que A é
conexo por caminhos se para todos x, y ∈ A, existe um caminho ψ entre x e y satisfazendo ψ(t) ∈ A,
∀t ∈ [a, b].
Exemplo 5.42. Seja A = {(x, y) ∈ R2 : 1 ≤ x2 + y 2 ≤ 2}. Mostremos que A é conexo por caminhos.
x
Para fazer isto, definiremos três caminhos. O caminho ψ1 levará x no seu normalizado ||x|| . O caminho
x y y
ψ2 levará ||x|| para ||y|| . O caminho ψ3 levará ||y|| em y. Desta forma, definimos:
2
ψ1 : [0, 1] →  R 
x
t 7→ ψ1 (t) = t ||x|| + (1 − t)x

ψ3 : [0, 1] → R2  
y
t 7→ ψ3 (t) = ty + (1 − t) ||y||

Definimos também, considerando a = θx e b = θy, temos:

ψ2 : [a, b] → R2
θ 7→ ψ2 (θ) = (cosθ, senθ)

Desta forma, escrevendo ψ1 , ψ2 , ψ3 como um caminho contı́nuo, mostramos que A é conexo por cami-
nhos.
Observação 5.43. Na definição de caminhos poderı́amos considerar apenas funções da forma ψ : [0, 1] →
M , visto que [0, 1] e [a, b] são homeomorfos2 .
Teorema 5.44. Seja M um espaço métrico. Então C ⊂ M é conexo por caminhos se C é conexo.
Demonstração. Seja C = A ∪ B uma cisão. Suponhamos, por absurdo, que esta cisão é não trivial.
Portanto, existe a, b ∈ C tais que a ∈ A e b ∈ B. Como C é conexo por caminhos, existe um caminho
ψ : [0, 1] → C tal que ψ(0) = a e ψ(1) = b. Definimos:

A0 = {t ∈ [0, 1] : φ(t) ∈ A}

e
B0 = {t ∈ [0, 1] : φ(t) ∈ B}.
Notemos que [0, 1] = A0 ∪ B0 , que A0 ∩ B0 = ∅, que A0 6= ∅, visto que 0 ∈ A0 , e B0 6= ∅, visto que
1 ∈ B0 . Mostremos que A0 e B0 são abertos em [0, 1]. Seja (tn ) ⊂ [0, 1] tal que tn → t0 ∈ A0 . Mostremos
que existe n0 ∈ N tal que, ∀n ≥ n0 , tn ∈ A0 . Como ψ é um caminho, temos ψ(tn ) → ψ(t0 ) ∈ A. Como
A é aberto, existe n0 ∈ N tal que ψ(tn ) ∈ A para todo n ≥ n0 . Mas então, pela definição de A0 , tn ∈ A0 ,
∀n ≥ n0 . Portanto, A0 é aberto. Analogamente, mostramos que B0 é aberto. Temos, portanto, uma
contradição, visto que [0, 1] = A0 ∪ B0 é uma cisão não trivial.
Notemos, como mostram os exemplos a seguir, que a recı́proca do teorema anterior não é verdadeira,
isto é, um conjunto ser conexo não implica que este conjunto é conexo por caminhos.
Exemplo 5.45. Seja C ∈ R2 em que C = {(x, y) : x ∈ (0, 1] e y = sen x1 }. Afirmamos que C é conexo


por caminhos.
De fato, tomando dois pontos p1 , p2 ∈ C, temos que p1 = (x1 , sen( x11 )) e p2 = (x2 , sen( x12 )), e daı́
temos o caminho ψ : [x1 , x2 ] → C em que ψ(x) = (x, sen( x1 )). Logo, pelo teorema anterior, temos que C,
por ser conexo por caminho, é conexo.
Mostremos agora que o conjunto D = C ∪ {(0, 0)} é conexo, porém, não é conexo por caminhos.
Vejamos, inicialmente, que (0, 0) ∈ C, pois existe uma sequência (xn ) ⊂ C tal que xn → (0, 0). De fato,
1
tomando (xn ) = 2nπ , sen(2nπ) , temos que xn → (0, 0). Temos então que C ⊂ D ⊂ C. Daı́, pela
Proposição 5.37, D é conexo. Suponha, por absurdo, que existe um caminho entre (0, 0) e (1, sen(1)).
2 Sejam A e B dois conjuntos. Dizemos que A e B são homeomorfos se existe f : A → B contı́nua em que f −1 : B → A

também é contı́nua.
5.3. CONJUNTOS CONEXOS POR CAMINHOS 41

Digamos que ρ : [0, 1] → D, em que ρ(0) = (0, 0) e ρ(1) = (1, sen(1)), seja este intervalo. Notemos que
ρ(t) = (α(t), f (α(t))), em que α : [0, 1] → [0, 1] é contı́nua. Desta forma, temos que:
(
0,   se α(t) = 0
f (α(t)) = 1
sen α(t) , se α(t) 6= 0

Definimos U = {t ∈ [0, 1] : α(t) = 0}. Notemos que 0 ∈ U , pois α(0) = 0, e 1 ∈


/ U , visto que α(1) = 1.
Mostremos então que, neste caso, U é aberto e fechado em [0, 1], obtendo que [0, 1] não é conexo, o que
é uma contradição.
(i) U é fechado: Tomemos (tn ) ⊂ U tal que tn → t0 . Desta forma, como α é contı́nua, segue que
α(tn ) → α(t0 ). Daı́, como α(tn ) = 0, ∀n ∈ N, temos que α(t0 ) = 0. Portanto, t0 ∈ U .
(ii) U é aberto: Tomemos t0 ∈ U e mostremos que t0 é ponto interior de U . Notemos que α(t0 ) = 0
e ρ(t0 ) = (0, 0). Lembremos que segue da definição de continuidade (por ε e δ) que existe um
intervalo I (com t0 ∈ I) fechado tal que ∀t ∈ I, ||ρ(t)|| < 1. Considerando agora α : I → [0, 1],
temos que 0 ∈ α(I), visto que t0 ∈ I, por Weirstrass, α(I), assume mı́nino e máximo. Desta forma,
pelo Teorema do Valor Intermediário, dado um valor c entre o mı́nimo e o máximo, existe t ∈ I tal
que α(t) = c. Logo, α(I) = [0, k]. Suponha que k 6= 0. Desta forma, existe n ∈ N tal que
1
π ∈ [0, k] .
2 + 2nπ | {z }
| {z } α(I)
p

Então existe t ∈ I tal que α(t) = p. Daı́,


   
1 π 1
ρ(t) = π , sen + 2nπ = π ,1 .
2 + 2nπ 2 2 + 2nπ

Portanto, ||ρ(t)|| > 1, o que é uma contradição, pois t ∈ I. Logo, k = 0, ou seja α(I) = {0}, isto é,
α(t) = 0∀t ∈ I. Assim, t0 é ponto interior de U , donde segue que U é aberto.
Exemplo 5.46 (Pente). Boa sorte com o desenho.
Proposição 5.47. O pente definido no conjunto anterior é conexo.

Exercı́cios
1) Resolver os exercı́cios complementares - exercı́cios 14, 16, 17, 18, 19, 20 (p. 160) de [7].

2) Seja M um espaço métrico, e K ⊂ M um conjunto compacto. Seja F ⊂ K um conjunto fechado.


Mostre que F é compacto.

3) Seja K um conjunto compacto cujos pontos são todos isolados. Mostre que K é finito.

4) Sejam A e B subconjuntos de um espaço métrico tais que A é fechado e B é compacto. Mostre que
A ∩ B é compacto. Vale necessariamente que A ∪ B é compacto?

5) Considere R com a métrica euclidiana. Prove ou dê um contra-exemplo: qualquer subconjunto de R


que possui um único ponto de acumulação deve ser compacto.

6) Seja {Kα } uma famı́lia de subconjuntos compactos no espaço métrico M . Mostre que ∩α Kα é um
conjunto compacto.

7) Sejam K1 , K2 , . . . , Km subconjuntos compactos no espaço métrico M . Mostre que K1 ∪ K2 ∪ . . . ∪ Km


é um conjunto compacto.
42 CAPÍTULO 5. COMPACIDADE EM ESPAÇOS MÉTRICOS

8) Dê um exemplo em que a união de conjuntos compactos não é um conjunto compacto.

9) Exiba um subconjunto A ⊂ R que seja compacto, infinito e enumerável.

10) Considere M = Q+ com a métrica euclidiana induzida. Mostre que o conjunto dos pontos p ∈ M tais
que 2 < p2 < 3 é fechado e limitado em M , mas não é compacto.

11) Mostre que o conjunto A = {(x, y) ∈ R2 : x4 + y 4 = 1} é um conjunto compacto em R2 .

12) Considere R com a métrica euclidiana. Seja (xn ) uma sequência limitada. Mostre que o conjunto A
dos valores de aderência de (xn ) é compacto. Mostre que existem o menor e o maior valor de aderência
desta sequência (esses valores são denominados, respectivamente, lim inf xn e lim sup xn ).

13) Seja M um espaço métrico e {Cn }n∈N uma coleção de subconjuntos


\ compactos não vazios de M , com
a propriedade que Cn ⊃ Cn+1 para todo n ∈ N. Mostre que Cn 6= ∅. (Essa é uma versão mais
n
geral do Teorema dos intervalos encaixantes)

Dê um exemplo de uma sequência de conjuntos fechados não vazios F1 ⊃ F2 ⊃ F3 ⊃ . . . tais que
14) \
Fn = ∅.
n

Dê um exemplo de uma sequência de conjuntos limitados não vazios L1 ⊃ L2 ⊃ L3 ⊃ . . . tais que
15) \
Ln = ∅.
n
Capı́tulo 6

Continuidade

6.1 Funções Contı́nuas


Definição 6.1 (Funções Contı́nuas). Sejam M e N espaços métricos. Dizemos que f : M → N é contı́nua
em a ∈ M se para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que, se dM (x, a) < δ, então dN (f (x), f (a)) < ε ∀x ∈ M .
Dizemos que f é contı́nua se f é contı́nua ∀a ∈ M .

Notemos que, na definção dada, dizer que d(x, a) < δ e d(f (x), f (a)) < ε é análogo a dizer que
x ∈ B(a, δ) e f (x) ∈ B(f (a), ε), respectivamente.

Teorema 6.2. Sejam M e N espaços métricos. Então f : M → N é contı́nua em a ∈ M se, e somente


se, para toda sequência (xn ) ⊂ M tal que xn → a temos f (xn ) → f (a).

Demonstração. (⇒): Seja (xn ) ⊂ M uma sequência com xn → a. Mostremos que f (xn ) → f (a).
Tomemos ε > 0. Daı́, por hipótese, existe δ > 0 tal que se dM (x, a) < δ, então dN (f (x), f (a)) < ε. Como
xn → a, existe n0 ∈ N tal que ∀n ≥ n0 , dM (xn , a) < δ. Segue então que, ∀n ≥ n0 , dN (f (xn ), f (a)) < ε,
ou seja, f (xn ) → f (a).
(⇐): Suponha, por absurdo, que f não seja contı́nua, ou seja, que existe ε > 0, tal que ∀δ > 0, existe
xδ ∈ M , tal que dM (xδ , a) < δ, mas d(f (xδ ), f (a)) ≥ ε. Assim, tomando δ = n1 , n ∈ N, existe xn tal
que d(xn , a) < n1 , mas d(f (xn ), f (a)) ≥ ε. Assim, por construção, temos que xn → a e f (xn ) 6→ a, o que
contraria a hipótese.
(
cos x1 , se x 6= 0

Exemplo 6.3. Considere R com a métrica euclidiana. Seja f : R → R em que f (x) = .
0, se x = 0
Afirmamos que f não é contı́nua em a = 0.
1
De fato, consideremos a sequência (xn ) = 2nπ . Desta forma, xn → 0, porém, f (xn ) = cos(2nπ) =
1 6→ 0.

Exemplo 6.4. Com a metrica usual, afirmamos que f : R3 → R dada por


x2 y
(
2 2 2, se (x, y, z) 6= (0, 0, 0)
f (x) = x +y +z
0, se (x, y, z) = (0, 0, 0)

é contı́nua.
De fato, seja (xn , yn , zn ) → (0, 0, 0). Desta forma,

x2n yn x2n
f (xn , yn , zn ) = = · yn → (0, 0, 0)
x2n + yn2 + zn2 x2 + y 2 + zn2 |{z}
| n {zn } →0
limitada
.

Exemplo 6.5. Seja M e N espaços métricos em que M está munido da métrica zero-um. Afirmamos
que toda função f : M → N é contı́nua.

43
44 CAPÍTULO 6. CONTINUIDADE

De fato, dado a ∈ M , devido à métrica zero-um, uma sequência (xn ) em que xn → a é eventuamente
constante, ou seja, existe n0 → N tal que ∀n ≥ n0 , xn = a. Então, f (xn ) = f (a), ∀n ≥ n0 , isto é,
f (xn ) → f (a).

Proposição 6.6. Seja M e N espaços métricos em que N está munido da métrica zero-um. A função
f : M → N é contı́nua em a ∈ M se, e somente se, existe R > 0 tal que f |B(a,r) = f (a).

Demonstração. (⇒): Suponha, por absurdo, que ∀R > 0, existe xR ∈ B(a, R) tal que f (xR ) 6= f (a).
Assim, tomando R = n1 , obtemos uma sequência (xn ) tal que xn → a, mas f (xn ) 6∈ f (a), na métrica zero-
um (visto que f (xn ) não é eventualmente constante e igual a f (a)). Portanto temos uma contradição,
visto que f é contı́nua.
(⇐): Tomemos xn → a. Assim, existe n0 tal que ∀n ≥ n0 , xn ∈ B(a, R). Então, por hipótese,
f (xn ) = f (a), ∀n ≥ n0 . Logo, f (xn ) será eventualmente constante e f (xn ) → f (a).

6.2 Imagem Inversa e Direta


Definição 6.7 (Imagem Inversa). Sejam M e N espaços métricos e f : M → N uma função. Definimos
a imagem inversa de A ⊂ N por f como o conjunto:

f −1 (A) = {x ∈ M : f (x) ∈ A}.

Exemplo 6.8. Seja f : R → R dada por f (x) = x2 . Notemos que:

(i) f −1 ((−2, 0)) = ∅.


√ √
(ii) f −1 ([3; 4]) = [−2, − 3] ∪ [ 3, 2]

Proposição 6.9. Sejam M e N espaços métricos, f : M → N uma função e A ⊂ N . Então:

(i) f −1 (AC ) = (f −1 (A))C .

(ii) f −1 ( i∈L Ai ) = i∈L f −1 (Ai ).


S S

(iii) f −1 ( i∈L Ai ) = i∈L f −1 (Ai ).


T T

Demonstração. (i) Seja x ∈ f −1 (AC ). Daı́:

f (x) ∈ AC ⇔ f (x) ∈ / f −1 (A) ⇔ x ∈ (f −1 (A))C .


/A⇔x∈

(ii) Seja x ∈ f −1 (
S
i∈L Ai ). Daı́:
[ [
f (x) ∈ Ai ⇔ f (x) ∈ Ai , para algum i ∈ L ⇔ x ∈ f −1 (Ai ), para algum i ∈ L ⇔ x ∈ f −1 (Ai ).
i∈L i∈L

(iii) Seja x ∈ f −1 (
T
i∈L Ai ). Daı́:
\ \
f (x) ∈ Ai ⇔ f (x) ∈ Ai , ∀i ∈ L ⇔ x ∈ f −1 (Ai ), ∀i ∈ L ⇔ x ∈ f −1 (Ai ).
i∈L i∈L

Teorema 6.10. Sejam M e N espaços métricos e f : M → N uma função. São equivalentes:

(i) f é contı́nua.

(ii) Para todo F ⊂ N fechado, f −1 (F ) é fechado.

(iii) Para todo A ⊂ N aberto, f −1 (A) é aberto.


6.2. IMAGEM INVERSA E DIRETA 45

Demonstração. (i)⇒ (ii): Seja F ⊂ N fechado. Mostremos que f −1 (F ) é fechado. Seja (xn ) ⊂ f −1 (F )
tal que xn → x. Mostremos que x ∈ f −1 (F ). Como f é contı́nua, temos que f (xn ) → f (x). Como
(xn ) ⊂ f −1 (F ), segue que (f (xn )) ⊂ F . Daı́, como F é fechado, temos que f (x) ∈ F , ou seja, x ∈ f −1 (F ).
(ii)⇒ (iii): Seja A ⊂ N aberto. Mostremos que f −1 (A) é aberto. Notemos que, (f −1 (A))C =
−1
f (AC ), que é fechado, visto que AC é fechado.
(iii)⇒ (i): Mostremos que f é contı́nua pela definição de função contı́nua. Fixemos ε > 0. Vejamos
que B(f (a), ε) é um aberto em N . Logo, por hipótese, f −1 (B(f (a), ε)) = C é aberto em M . Além disso,
notemos que a ∈ C, visto que f (a) ∈ B(f (a), ε). Como C é aberto, a ∈ (int(C)). Então, existe δ > 0 tal
que B(a, δ) ⊂ C. Logo, para todo x ∈ B(a, δ), temos f (x) ∈ B(f (a), ε).
Definição 6.11 (Imagem Direta). Sejam M e N espaços métricos, f : M → N uma função e X ⊂ M .
Definimos a imagem direta de X por f como o conjunto

f (X) = {y ∈ N : ∃x ∈ X, f (x) = y}.

Observação 6.12. Afirmamos que não vale a proposição do complementar, ou seja, f (X C ) 6= (f (X))C .
De fato, considere f : R → R dada por f (x) = x2 . Notemos que:

f ((0, ∞)) = (0, ∞) e f ((−∞, 0]) = [0, ∞).

Além disso, notemos que a imagem direta de abertos também não é necessariamente aberta (vide
funções constantes).
Exercı́cio 6.13. Sejam M e N espaços métricos, f : M → N uma função, C ⊂ M e D ⊂ N . Então:

D ⊃ f (f −1 (D)) e C ⊂ f −1 (f (C)).

Teorema 6.14. Sejam M e N espaços métricos, f : M → N uma função contı́nua e C ⊂ M conexo.


Então f (C) é conexo.
Demonstração. Consideremos a função f |C : C → f (C) que também é contı́nua. Suponha, por absurdo,
que exista f (C) = A ∪ B uma cisão não trivial. Notemos que:

C = f −1 (f (C)) = f −1 (A ∪ B) = f −1 (A) ∪ f −1 (B).

Afirmamos que C = f −1 (A) ∪ f −1 (B) é uma cisão de C. De fato, f −1 (A) e f −1 (B) são abertos em
C, pois são imagens inversas de abertos. Além disso, f −1 (A) ∩ f −1 (B) = ∅, visto que, caso contrário,
terı́amos x ∈ C com f (x) ∈ A ∩ B, o que é uma contradição, pois A ∩ B = ∅. Finalmente, como A 6= ∅ e
B 6= ∅ (pois tomamos uma cisão não trivial de f (C)), existem x1 , x2 ∈ C tal que f (x1 ) ∈ A e f (x2 ) ∈ B.
Logo, x1 ∈ f −1 (A) e x2 ∈ f −1 (B). Portanto obtemos uma contradição, visto que desta forma obterı́amos
uma cisão não trivial de C, e C é conexo.
Proposição 6.15. Sejam f : M → N contı́nua e K ⊂ M . Então f (K) é compacto.
Demonstração. Mostremos que f (K) é sequêncialmente compacto, daı́, pelo Teorema 5.19, f (K) será
compacto. Seja (yn ) uma sequência em f (K). Desta forma, ∀n ∈ N, yn = f (xn ) com xn ∈ K. Notemos
que como (xn ) ⊂ K e como K é compacto, existe uma subsequência (xnk ) convergente de (xn ) em que
xnk → L ∈ K. Assim, como f é contı́nua, ynk = f (xnk ) → f (x) ∈ f (K).
Observação 6.16. Os dois resultados anteriores não são válidos para a Imagem Inversa de funções
contı́nuas, apenas para Imagem Direta.
Exercı́cio 6.17. Seja K ⊂ R2 um conjunto compacto. Defina Kx = {x ∈ R : ∃y ∈ R com (x, y) ∈ K},
chamada de projeção de K sobre o eixo x. Então Kx é compacto.
Demonstração. Definimos a função f : R2 → R dada por f (x, y) = x. Mostremos que f é contı́nua (via
sequência). Dessa forma, f (K) = Kx será compacto, visto que a imagem direta de compactos é um
compacta.
Corolário 6.18. Seja C ⊂ R2 um conjunto conexo. Então Cx é conexo.
Demonstração. Pela mesma função f definida no exercı́cio anterior, a imagem direta de conexos é conexa.
46 CAPÍTULO 6. CONTINUIDADE

6.3 Continuidade Uniforme


Definição 6.19 (Função Uniformemente Contı́nuua). Sejam M e N espaços métricos. Dizemos que
f : M → N é uniformemente contı́nua se para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que d(x, y) < δ então
d(f (x), f (y)) < ε, para todo x, y ∈ M .
Observação 6.20. Para que uma função f seja contı́nua em a ∈ M , ∀ε precisamos mostrar que existe
um δ > 0 tal que se d(x, a) < δ, então d(f (x), f (a)) < ε. Como a continuidade das funções é definida
ponto a ponto, o valor δ que torna a função contı́nua em a depende de a, isto é, para cada a poderá
existir um δ diferente que torna a função contı́nua neste ponto. Desta forma, podemos dizer que f é uma
função uniformemente contı́nua quando conseguimos exibir um δ de forma que ele não dependa de a.
Proposição 6.21. Se f : M → N é uma função uniformemente continua, então f é contı́nua.
Observação 6.22. A recı́proca da proposição anterior não é verdadeira.
Exemplo 6.23. Seja f : (0, ∞) → R dada por f (x) = x1 . A função f não é uniformemente contı́nua.
Definição 6.24 (Função de Lipschitz). Sejam M e N espaços métricos. Dizemos que f : M → N é uma
função de Lipschitz quando existe k > 0 tal que d(f (x), f (y)) ≤ k · d(x, y), para todo x, y ∈ M .
Exercı́cio 6.25. Se f : M → N é uma função de Lipschitz, então f é uniformemente contı́nua.
Demonstração. DICA: Tome δ = kε .
Exemplo 6.26. A função f : [ε, ∞) → R, ε > 0, dada por f (x) = x1 , é uniformemente contı́nua.
Demonstração. De fato, notemos que:

1 1 y − x |y − x| |y − x| d(x, y)
d(f (x), f (y)) = − = = ≤ 2
= .
x y xy xy ε ε2
Assim, tomando k = ε12 , temos que f será função de Lipschitz. Assim, pelo Exercı́cio anterior, temos
que f é uniformemente contı́nua.
Teorema 6.27. Sejam M e N espaços métricos. Se f : K ⊂ M → N é contı́nua e K é compacto, então
f é uniformemente contı́nua.
Demonstração. Seja ε > 0. Mostremos que existe δ > 0 foda tal que se d(x, y) < δ então d(f (x), f (y)) < ε,
para todo x, y ∈ K. Como f é contı́nua, para todo a ∈ K, existe δa > 0 tal que se d(x, a) < δa , então
d(f (x), f (a)) < 2ε .1 Defina a seguinte cobertura aberta em K:
  
δa
B a, .
2 a∈K

Como K é compacto, podemos extrair uma subcobertura finita, digamos:


   
δa1 δap
B a1 , , ..., B ap , .
2 2
n o
δ δa
Defina δ = min a21 , ..., 2p . Assim, consideremos agora x, y ∈ K tais que d(x, y) < δ. Notemos que
 
δ δ
existe ai ∈ M , com i ∈ {1, ..., p} tal que x ∈ B ai , 2ai , ou seja, d(x, ai ) < 2ai . Daı́, como f é contı́nua,
temos que d(f (x), f (ai )) < 2ε . Além disso:
δ ai δa δa
d(y, ai ) ≤ d(y, x) + d(x, ai ) < δ + ≤ i + i = δai .
2 2 2
Analogamente, como f é contı́nua, d(f (ai ), f (y)) < 2ε . Portanto:
ε ε
d(f (x), f (y)) ≤ d(f (x), f (ai )) + d(f (ai ), f (y)) <
+ = ε.
2 2
Logo, f é uniformemente contı́nua. Sendo assim, podemos utilizar esta Proposição para mostrar que
a função definida no Exemplo 6.23 não é uniformemente contı́nua (tome, por exemplo, xn = n1 ).
1 Notemos que tomar o mı́nimo dentre os δ não é suficiente para garatir a existência do δ procurado, visto que como
a
podem haver infinitos a ∈ K, pode ser que não haja δa mı́nimo, como ocorre no Exemplo 6.23.
6.3. CONTINUIDADE UNIFORME 47

Proposição 6.28. Sejam M e N espaços métricos e f : M → N uniformemente contı́nua. Se (xn ) ⊂ M


é uma sequência de Cauchy, então (f (xn )) é uma sequência de Cauchy.

Demonstração. Tome (xn ) ⊂ M uma sequência de Cauchy. Mostremos que (f (xn )) é uma sequência
de Cauchy. Seja ε > 0. Como f é uniformemente contı́nua, existe δ tal que se d(x, y) < δ, então
d(f (x), f (y)) < ε. Além disso, como (xn ) é de Cauchy, existe n0 ∈ N tal que ∀m, n ≥ n0 , d(xm , xn ) < δ.
Logo, dados mn ≥ n0 , temos d(f (xm ), f (xn )) < ε, ou seja, (f (xn )) é uma sequência de Cauchy.

Observação 6.29. Podems utilizar a Proposição anterior para mostrar que uma função não é unifor-
memente contı́nua. Basta tomar uma sequência (xn ) de Cauchy no domı́nio da função e mostrar que
(f (xn )) não é de Cauchy.

Exercı́cios
1) Resolver os exercı́cios complementares - exercı́cios 1 a 29 (página 160) de [7].

2) Dados a, b ∈ M , suponha que exista X ⊂ M aberto e fechado tal que a ∈ X e b ∈


/ X. Mostre que:

(a) M não é conexo.


(b) Nenhum subconjunto conexo de M pode conter a e b simultaneamente.

3) Sejam X, Y ⊂ M tais que M = X ∪ Y e X ∩ Y = ∅. Mostre que M = X ∪ Y é uma cisão se e somente


se X ∩ Y = X ∩ Y = ∅.

4) Sejam X1 , X2 , . . . , Xn , . . . conjuntos
[ conexos de um espaço métrico M , tais que Xn ∩ Xn+1 6= ∅ para
todo n ∈ N. Mostre que X = Xn é conexo.
n∈N

5) Considere Rn , com a métrica euclidiana, e seja p ∈ Rn . Mostre que Rn − {p} é conexo por caminhos.

6) Seja M um espaço métrico discreto. Mostre que M é conexo se e somente se M é um conjunto unitário.

7) Seja M um espaço métrico com a ’propriedade do valor intermediário’, isto é, toda função contı́nua
f : M → R que assume um valor positivo e outro negativo se anula em algum ponto de M . Prove que
M é conexo.

8) Um espaço métrico M é conexo se e somente se toda função contı́nua f : M → {0, 1} é constante.

9) Sejam M um espaço métrico, e f : M → R uma função contı́nua. Se c ∈ R é um número estritamente


compreendido entre o máximo e o mı́nimo de f em M , então o conjunto M − f −1 (c) é desconexo.

10) Verifique se a função f : R2 → R abaixo é contı́nua:

x2 − y 2

 , se (x, y) 6= (0, 0)
f (x, y) = x2 + y 2

0 , se (x, y) = (0, 0)

11) Seja f : M → N uma função, e M um espaço métrico discreto. Mostre que f é contı́nua.

12) Considere R com a métrica euclidiana. Dê um exemplo de uma função f : (−1, 1) → R que seja:

(a) contı́nua, mas não limitada;


(b) descontı́nua em todos os pontos;
48 CAPÍTULO 6. CONTINUIDADE

(c) contı́nua apenas em a = 0.

13) Defina a função f : R → R por f (x) = bxc, onde bxc representa o maior inteiro menor ou igual a x,
isto é, bxc é o único número inteiro satisfazendo x − 1 < bxc ≤ x. Defina também a parte fracionária
de x pela função g(x) = x − bxc.
(a) Esboce os gráficos de f e g.
(b) Em que pontos as funções f e g são contı́nuas?

14) Seja M um espaço métrico, e f : M → R uma função contı́nua. Mostre que C = {x ∈ M : f (x) = 0}
é um conjunto fechado em M .

15) Seja f : M → N uma função contı́nua, A ⊂ M . Mostre que f (A) ⊂ f (A). Dê um exemplo em que a
outra inclusão não é válida.

16) Dê um exemplo de uma função não limitada cujo domı́nio é um compacto.

17) Dê um exemplo de uma função f : R → R contı́nua, e um conjunto compacto A ⊂ R tal que f −1 (A)
não é compacto. Faça o mesmo para um conjunto conexo B ⊂ R.

18) Seja f : R2 → R uma função contı́nua. Defina o conjunto A = {f (x) : kxk ≤ 1}. Mostre que existem
números reais a ≤ b tais que A = [a, b].

19) Seja f : [0, 1] → [0, 1] uma função contı́nua. Mostre que f possui um ponto fixo, ou seja, existe
a ∈ [0, 1] tal que f (a) = a. (Dica: considere a função g(x) = f (x) − x e aplique o TVI.)

20) Seja f : A ⊂ Rn → R uma função contı́nua, com A compacto. Prove que o conjunto abaixo é um
compacto em Rn :
K = {x ∈ A : f (x) ≥ f (y) ∀ y ∈ A}.
Capı́tulo 7

Séries

Nosso estudo se derá, geralmente, em espaços vetoriais normados. Eventualmente, precisaremos de


alguns resultados sobre séries em R.

Definição 7.1. Seja V um espaço vetorial normado e seja (an ) uma sequência em V . Definimos (sn ) ⊂ V ,
chamada de sequência das somas parciais de (an ), por:

Sn = a1 + ... + an .
P∞
A série n=1 an é a sequência (sn ).
Definição 7.2. Se sn → L, L ∈ V , dizemos que a série é convergente.
P∞
Observação 7.3. Às vezes vamos denotar o limite da série também por n=1 an .
P∞
Exemplo 7.4 (Série Geométrica em R). Considerando V = R, temos a série n=1 rn , com |r| < 1.

r − rn+1
sn = r + r2 + ... + rn =
1−r
Como |r| < 1, temos que:
r
lim sn = .
n→∞ 1−r
Portanto:

X r
rn = .
n=1
1−r

Exemplo 7.5 (Série Telescópica). Seja V um espaço vetorial normado e seja (bn ) ⊂ V . Definimos (an )
em que: 

 a1 = b1 − b2

a2 = b2 − b3

..


 .

an = bn − bn+1

Desta forma, temos que:


sn = b1 − bn1 .
Assim:

X
an converge ⇔ (bn ) converge.
n=1

Além disso, quando a série convergir, temos que o limite desta série será dado por:

X
an = b1 − lim bn .
n→∞
n=1

49
50 CAPÍTULO 7. SÉRIES

P∞ 1
Exemplo 7.6. Considerando V = R, consideremos a série n=1 n(n+1) . Afirmamos que esta série é
telescópica. De fato:
∞ ∞
X 1 X 1 1
= −
n=1
n(n + 1) n
n=1 |{z}
n + 1
| {z }
bn bn+1
1
Além disso, esta série convegente, pois (bn ) = n é convergente. Logo, o limite da série é dado por:

X 1 1
= 1 − lim =1−0=1
n=1
n(n + 1) n→∞ n

P∞
Exemplo 7.7 (Série Harmônica). Consideremos V = R. Afirmamos que a série n=1 n1 , chamada de
série harmônica, diverge.
De fato, para mostrar isto, utilizamos o Teste da Integral, que está presente na lista de exercı́cios. Ao
utilizar tal teste, concluı́mos que:
Z n+1
1 1 1 1
sn = 1 + + + ... + ≤ dx.
2 3 n 1 x
Assim, fazendo n → ∞, temos que (sn ) diverge, ou seja, a série diverge.
P∞
Exercı́cio 7.8. A série n=1 n1k é convergente para k > 1.
P∞
Proposição 7.9 (Teste do Termo Geral). Seja V um espaço vetorial normado. Se n=1 an converge em
V , então an → 0, em que 0 é o vetor nulo do espaço vetorial V .
P∞
Demonstração. Como n=1 an converge, temos que a sequência (sn ) converge, digamos sn → L. Então:

sn − sn−1 → L − L = 0.

Por outro lado, como sn = a1 + ... + an e sn−1 = a1 + ... + an−1 , temos que an = sn − sn−1 , ou seja
an → 0.
Observação 7.10. Notemos que a recı́proca do resultado não é válida. Veja, por exemplo, a série
harmônica.
Exemplo 7.11. Considerando R2 , tomemos a série:
∞ 
n2

X 1
, .
n=1
n2 n2 + 1

Afirmamos que esta série diverge. De fato, se ela fosse convergente, temos que o termo geral da
sequência teria que convergir para zero, porém, an → (0, 1).
Proposição P 7.12 (Critério de Cauchy). (”Rabo”da Série) Seja V um espaço vetorial normado completo.

Então a série n=1 an converge se, e somente se, para todo ε > 0, existe n0 ∈ N tal que dados m ≥ n ≥ n0 ,
temos que:
||an + an+1 + ... + am || < ε.
Demonstração.

X
an converge ⇔ (sn ) converge ⇔ (sn ) é de Cauchy.
n=1

Assim, para todo ε > 0, existe n0 ∈ N tal que, se n, m ∈ n0 , então ||sm − sn−1 || < ε, ou seja,

||an + aN +1 + ... + am || < ε.

P∞
Definição 7.13 (Convergência
P∞ Absoluta). Seja V um espaço vetorial normado. Dizemos que n=1 an
converge absolutamente se n=1 ||an || converge em R.
51

P∞
Proposição 7.14. Seja V um espaço vetorial completo. Se n=1 an converge absolutamente, então
P ∞
n=1 an converge.

Demonstração. P
Para demonstrar este resultado, utilizemos o Critério de Cauchy 7.12. Seja ε > 0. Por

hipótese, como n=1 ||an || converge, existe n0 ∈ N tal que ∀m, n ≥ n0 , com m > n, temos:

| ||an || + ||an+1 || + ... + ||am || | < ε.

Como ||an || > 0, ∀n, segue que:

||an || + ||an+1 || + ... + ||am || < ε.

Temos então, como a norma das somas é menor ou igual que a soma das normas (Desiqualdade
Triângular), temos:

||an + aN +1 + ... + am || ≤ ||an || + ||an+1 || + ... + ||am || < ε.


P∞
Logo, pelo Critério de Cauchy 7.12, segue que n=1 an converge.

Observação 7.15. Notemos que a recı́proca da Proposição anterior não é verdadeira. De fato, em V = R,
P∞ n
consideremos a série alternada n=1 (−1)
n . Está sequência
P converge (conforme a Proposição à seguir),
P∞ n

mas não converge absolutamente, visto que n=1 (−1)n = 1
n=1 n não converge absolutamente.

P∞
Proposição 7.16 (Regra de Leibniz). Seja V =P R. Seja n=1 (−1)n+1 an a série alternada (an ≤ 0, ∀n).

Se (an ) é não crescente e limn→∞ an = 0, então n=1 (−1)n+1 an converge.

Demonstração. Notemos que:

s1 = a1
s2 = a1 − a2
s3 = a1 − a2 + a3
s4 = a1 − a2 + a3 − a4
s5 = a1 − a2 + a3 − a4 + a5
..
.

Como (an ) é não crescente, temos que:

s1 ≥ s3 ≥ s5 ≥ ...

Por outro lado, segue que:


s2 ≤ s4 ≤ s6 ≤ ...

Desta forma, notemos que (s2n ) e (s2n+1 ) são sequências monótonas. Além disso, a sequência dos
pares é limitada superiormente por um termo ı́mpar e a sequência dos ı́mpares é limitada inferiormente
por um termo par. Assim, como estamos em R, temos que (s2n ) → L e (s2n+1 ) → M . Porém, notemos
que:
s2n+1 − s2n = a2n+1 .

Desta forma, como limn→∞ an = 0, temos que: L = M , ou seja, (sn ) converge.

Observação 7.17. Notemos que caso V não seja completo, a Proposição 7.14 não vale. Em breve
daremos um exemplo que ilustra tal situação.
52 CAPÍTULO 7. SÉRIES

7.1 Espaço de Funções


Definição 7.18. Definimos C[a, b] como o conjunto das funções reais contı́nuas com domı́nio [a, b].

Proposição 7.19. C[a, b] é um espaço vetorial sobre R.

Proposição 7.20.
Z b
||f ||1 = |f (x)|dx
a

é uma norma de C[a, b], chamada de Norma 1.

Demonstração. Para mostrarmos que ||f ||1 realmente é uma norma, precisamos que:

(i) ||f || ≥ 0.

(ii) ||f || = 0 ⇔ f = 0.

(iii) ||αf || = |α| · ||f ||.

(iv) ||f + g ≤ ||f || · ||g||.

Conseguimos ver, sem muitas dificuldades, que os items (i), (ii) e (iii) são verficados. O item (iv)
também é facilmente verificado, porém, uma generalização desta caso para outras normas não é tão
trivial.
Z b ! n1
||f ||n = |f (x)|n dx
a

Tal generalização é chamada de Desigualdade de Minkowski.

Proposição 7.21. Usando || · ||1 , o espaço C[a, b] não é completo.

Demonstração. Mostremos que existe uma Sequência de Cauchy em C[0, 2] que não converge. Conside-
remos a sequêcia de funções:

A sequência (fn ) é uma Sequêcia de Cauchy, pois, tomando fm , fn ∈ C[0, 2], com m > n, temos:
Z 2
1 m,n→∞
d(fm , fn ) = ||fm − fn ||1 = |fm (x) − fn (x)|dx ≤ → 0
0 n

Porém, o limite de fn não pertence ao espaço V em questão, pois não é uma função contı́nua.

Observação 7.22. Com base P∞ no exemplo anterior, conseguimos construir uma série de funções em C[a, b]
com || · ||1 , de forma que n=1 fn converge absolutamente, mas que não converge. Conseguimos assim
ilustrar a Observação 7.17.
7.1. ESPAÇO DE FUNÇÕES 53

Proposição 7.23.
||f ||∞ = sup |f (x)|
x∈[a,b]

é uma norma de C[a, b], chamada Norma Infinito (ou Norma da Convergência Uniforme).
Proposição 7.24. Usando || · ||∞ , o espaço C[a, b] é completo.
Demonstração. Seja (fn ) uma Sequência de Cauchy. Mostremos que (fn ) é convergente. Como (fn ) é
uma sequência de Cauchy, para todo ε > 0, existe n0 ∈ N tal que, ∀m, n ≥ n0 , temos:

||fm − fn ||∞ < ε ⇒ sup|fm (x) − fn (x)| < ε

Desta forma, como vale para o supremo, temos que |fm (x) − fn (x)| < ε para todo x ∈ [a, b]. Assim,
vejamos que, fixando x ∈ [a, b], temos que (fn (x)) é uma sequência de Cauchy em R, sendo assim
convergente. Definimos f : [a, b] → R, em que:

f (x) = lim fn (x).


n→∞

Falta ainda mostrar que f (x) ∈ C[a, b]. Desta forma, precisaremos mostrar um resultado auxiliar.
Afirmamos que, para todo ε > 0, existe n0 ∈ N tal que ∀n ≥ n0 , temos que, para todo x, temos:

|fn (x) − f (x)| < ε.

De fato, fixado ε > 0, como (fn ) é uma sequência de Cauchy, existe n0 ∈ N tal que, se m, n ≥ n0 ,
então, para todo x,
ε
|fm (x) − fn (x)| < .
2
Assim, dado x ∈ [a, b] e tomando m ∈ N tal que m ≥ n0 e que |fm (x) − f (x)| < 2ε . Notemos que a
existência do m está garantida devido a cdefinição de f (convergência pontual). Então, se n ≥ n0 , temos
que:
ε ε
|fn (x) − f (x)| ≤ |fn (x) − fm (x)| + |fm (x) − f (x)| < + = ε.
2 2
Com este resultado complementar devidamente provado, mostremos que f (x), de fato, pertence a
C[a, b]. Fixemos x0 ∈ [a, b]. Seja xk → x0 . Mostremos que f (xk ) → f (x0 ). Fixemos ε > 0. Tomemos
n0 ∈ N tal que |fn0 (x)−f (x)| < 3ε , para todo x (que existe pelo resultado auxiliar provado anteriormente).
Tomemos também k0 ∈ N tal que, para todo k ≤ k0 , temos |fn (xk ) − fn (x0 )| < 3ε (que existe devido a
continuidade das fn ). Desta forma, para todo k ≤ k0 , temos que:
ε ε ε
|f (xk ) − f (x0 )| ≤ |f (xk ) − fn (xk )| + |fn (xk ) − fn (x0 )| + |fn (x0 ) − f (x0 )| < + + < ε.
3 3 3
Finalmente, vejamos que fn → f em C[a, b] com || · ||∞ . De fato, ∀ε > 0, existe n0 tal que ∀n ≥ n0 ,
temos que ||fn − f ||∞ < ε, ou seja sup|fm (x) − fn (x)| < ε, que sabemos que é válido pelo resultado
auxiliar mostrado anteriormente.

Exercı́cios
1) Demonstre os seguintes resultados sobre séries de números reais:

(a) Teste da comparação. Suponha 0 ≤ an ≤ bn para todo n ∈ N.



X ∞
X
i. Se bn converge, então an converge.
n=1 n=1
X∞ ∞
X
ii. Se an diverge, então bn diverge.
n=1 n=1

(b) Teste do limite. Suponha 0 ≤ an , 0 < bn para todo n ∈ N.


54 CAPÍTULO 7. SÉRIES

∞ ∞
an X X
i. Suponha lim = L ∈ (0, ∞). Então an converge se e somente se bn converge.
n→∞ bn
n=1 n=1
∞ ∞
an X X
ii. Suponha lim = 0. Então se bn converge, então an converge.
n→∞ bn
n=1 n=1
∞ ∞
an X X
iii. Suponha lim = ∞. Então se an converge, então bn converge.
n→∞ bn
n=1 n=1


X |an+1 |
(c) Teste da razão. Seja an uma série de números reais, e suponha que existe lim = L.
n=1
n→∞ |an |

X
i. Se L < 1, então an converge.
n=1
X∞
ii. Se L > 1, então an diverge.
n=1
iii. Se L = 1, nada podemos afirmar (dê exemplos em que a série converge e em que a série
diverge).


X p
n
(d) Teste da raiz. Seja an uma série de números reais, e suponha que existe lim |an | = L.
n→∞
n=1

X
i. Se L < 1, então an converge.
n=1
X∞
ii. Se L > 1, então an diverge.
n=1
iii. Se L = 1, nada podemos afirmar (dê exemplos em que a série converge e em que a série
diverge).

(e) Teste da integral. Seja f : [1, ∞] → R contı́nua, decrescente e não negativa. Então a série
X∞ Z ∞
f (n) converge se e somente se a integral imprópria f (x) dx converge.
n=1 1


X n! xn
2) Determine os valores de x > 0 para que a série seja convergente.
n=1
nn


m 3n2 + 7 X
3) Seja (xn ) ⊂ R tal que ||xn || ≤ 4 para todo n ∈ N. Mostre que a série xn converge.
n + 10 n=1

∞ 
sen(n) n5

X 1
4) Verifique se a série 2
, n
, converge em R3 , com a métrica usual.
n=1
n 5 n ln(n)
Capı́tulo 8

Sequências de Funções

Definição 8.1. Sejam M e N espaços métricos. Definimos o conjunto F(M, N ) é o conjunto das funções
f : M → N.

Definição 8.2. Uma sequência em F(M, N ) é uma aplicação T : N → F(M, N ). Por simplicidade, (fn )
vai denotar essa sequência.
x
Exemplo 8.3. (i) Seja fn : [0, 1] → R. Uma sequência de funções fn pode ser dada por fn (x) = n.
Notemos que tomando x ∈ [0, 1], fn (x) → 0.

(ii) Seja fn (x) : [0, 1] → R. Uma sequência de funções fn dada por fn (x) = xn . Notemos que, neste
caso, fn (x) → 0, para todo 0 ≥ x ≥ 1, e fn (1) → 1.

55
56 CAPÍTULO 8. SEQUÊNCIAS DE FUNÇÕES

Definição 8.4 (Convergência Pontual). Dizemos que (fn ), com fn ∈ F(M, N ), converge pontualmente
para f (x) ∈ F(M, N ) se, para todo x ∈ M , temos que fn (x) → f (x).
Observação 8.5. Notemos que no Exemplo 8.3.i, fn converge pontualmente para f = 0, e que, no
Exemplo 8.3.ii, fn converge pontualmente para f dada por:
(
0, se 0 ≤ x < 1
f (x) = .
1, se x = 1
O exemplo à seguir servirá como contra-exemplo em diversos momentos posteriormente.
Exemplo 8.6. Seja fn : [0, ∞) → R. Considere a sequência fn dada por:

Notemos que fn converge pontualmente. De fato, fixado x ∈ R, temos que fn (x) → 0.


Definição 8.7 (Convergência Uniforme). Dizemos que (fn ) converge uniformemente para f ∈ F se, para
todo ε > 0, existe n0 ∈ N tal que, se n ≥ n0 , então:
d(fn (x), f (x)) < ε,
para todo x ∈ M .
Notemos que, para mostrar que (fn ) converge uniformemente, precisamos determinar um n0 que seja
válido para todo x.
Exemplo 8.8. Notemos que a sequência dada no Exemplo 8.6 não converge uniformemente para f = 0.
De fato, tomando ε = 21 , temos que, para todo n ∈ N, existe x ∈ [0, ∞) com:
1
|fn (x) − f (x)| >
2
Observação 8.9. Uma forma de verificarmos que uma sequência de funções converge para uma determi-
nada função f é determinar uma faixa em torno da função f de comprimento ε. Caso, a partir de algum
n ∈ N a função entre nesta faixa e não saia mais, a sequência de funções convergirá para esta função f .
Observação 8.10. Notemos que se uma sequência de funções converge uniformemente, então a sequência
converge pontualmente em todo seu domı́nio. Além disso, se a função convergir uniformemente, o limite
pontual será a função a qual a sequência converge uniformemente. Sendo assim, caso o limite pontual da
sequência de funções não seja a função a qual a função converge uniformemente, seguirá que a sequência
em questão não converge uniformemente.
Exemplo 8.11. No Exemplo 8.3.ii, temos que fn : [0, 1] → R com fn (x) = xn e que o limite pontual é
dado por: (
0, se 0 ≤ x < 1
f (x) = .
1, se x = 1
Notemos que (fn ) não converge uniformemente para f . De fato, fixando ε = 4ε , temos que, para todo
n ∈ N, existe x0 ∈ (0, 1) tal que fn (x0 ) = 21 (Teorema de Valor Intermediário). Assim:
1
|fn (x0 ) − f (x0 )| = > ε.
2
57

Observação 8.12. Por mais que (fn ) seja uma sequência de funções contı́nuas que converge pontu-
almente para uma f contı́nua, não podemos garantir que a convergência seja uniforme. De fato, se
tomarmos fn : [0, 1) → R em que fn (x) = xn , temos que está sequência converge para uma f contı́nua
mas não é uniformemente contı́nua.

Observação 8.13. Podemos nos questionar da seguinte forma: caso o domı́nio das fn contı́nuas seja
compacto e (fn ) converge pontualmente para uma função contı́nua f , podemos afirmar que fn converge
uniformemente? Não. Considere fn : [0, 1] → R que fn é dada por:

Neste caso, (fn ) converge pontualmente para f = 0, mas não converge uniformemente.

Quando definimos o espaço C[a, b] das funções reais contı́nuas com domı́nio [a, b] e definimos a Norma
Infinito || · ||∞ (Proposição 7.23), também dizemos que tal norma pode ser chamada de Norma da Con-
vergência Uniforme. A proposição a seguir ilustra o motivo desta denominação.

Proposição 8.14. Seja (fn ) uma sequência de funções. Então fn → f uniformemente se, e somente se,
fn → f na norma || · ||∞ .

Demonstração. Fixemos ε > 0. Desta forma:

fn → f converge uniformemente.

Existe n0 ∈ N tal que, ∀n ≥ n0 , |fn (x) − f (x)| ≤ ε, ∀x.

Existe n0 ∈ N tal que, ∀n ≥ n0 , supx∈[a,b] |fn (x) − f (x)| ≤ ε.

Existe n0 ∈ N tal que, ∀n ≥ n0 , ||fn − f || < ε.

fn → f na norma || · ||∞ .

Proposição 8.15. Seja (fn ), com fn : M → N , uma sequência de funções contı́nuas que converge
uniformemente para f . Então f é contı́nua.
58 CAPÍTULO 8. SEQUÊNCIAS DE FUNÇÕES

Demonstração. Seja a ∈ M . Vamos mostrar que f é contı́nua em a. Seja (xk ) ⊂ M tal que xk → a.
Mostremos que f (xk ) → f (a). Fixemos ε > 0. Assim pela convergência uniforme de (fn ), segue que,
tomando n0 ∈ N tal que ∀n ≥ n0 , temos:
ε
d(fn (x), f (x)) < , ∀x.
3
Além disso, como fn0 é contı́nua, fn0 (xk ) → fn0 (a), ou seja, existe k0 ∈ N, tal que, ∀k ≥ k0 , temos:
ε
d(fn0 (xk ), fn0 (a)) < .
3
Sendo assim, para todo k ≥ k0 , temos:
ε ε ε
d(f (xk ), f (a)) ≤ (f (xk ), fn0 (xk )) + d(fn0 (xk ), fn0 (a)) + d(fn0 (a), f (a)) < + + = ε.
| {z } | {z } | {z } 3 3 3
C.U. Conti. C.U.

Definição 8.16 (Convergência Monotônica). Dizemos que (fn ), com fn : M → R, converge monotoni-
camente para f se, para todo x ∈ M , temos que fn (x) → f (x) e a sequência (fn (x)) é monótona.
Exemplo 8.17. No Exemplo 8.3.ii, em que que fn : [0, 1] → R e fn (x) = xn , afirmamos que fn → f
monotonicamente.

Teorema 8.18 (Teorema de Dini). Se (fn ) é uma sequência de funções contı́nuas, com fn : K → R, K
compacto, que converge monotonicamente para f contı́nua, então f converge uniformemente para f .
Demonstração. Fixemos ε > 0. Definimos, para n ∈ N:
Kn = {x ∈ K : |fn (x) − f (x)| ≥ ε}.
Notemos que, ∀n, Kn são conjuntos fechados. De fato, como Kn = (|fn − f |)−1 ([ε, ∞)), |fn − f | é
uma função contı́nua (norma) e a imagem inversa (de funções contı́nuas) de fechados é fechado, segue
que Kn é fechado.
Além disso, como K é compacto e Kn ⊂ K, segue que Kn é compacto (fechados em compactos são
compactos).
Afirmamos também que K1 ⊃ K2 ⊃ K3 ⊃ ..., ou seja, Kn ⊃ Kn+1 para todo n ∈ N. De fato, isto
decorre da convergência monotônica pois, se x ∈ Kn+1 , temos |fn+1 (x) − f (x)| ≥ ε. Porém, como para
todo x ∈ K a convergência
T é monótona, temos que |fn (x) − f (x)| ≥ |fn+1 (x)
T − f (x)| ≥ ε, ou seja, x ∈ Kn .
Finalmente, n∈N Kn = ∅. Suponhamos, por absurdo, que existe x ∈ n∈N Kn . Assim, terı́amos:
|fn (x) − f (x)| ≥ ε, ∀n.
Porém, isto não pode ocorrer pois fn converge para f pontuamente, ou seja,fn (x) → f (x), particu-
larmente. T
Temos então K1 ⊃ K2 ⊃ K3 ⊃ ... e n∈N Kn = ∅. Logo, devemos ter que existe n0 ∈ N tal que,
∀n ≥ n0 , Kn = ∅. Assim, para todo n ≥ n0 , temos:
|fn (x) − f (x)| < ε, ∀x.

Exemplo 8.19. Seja 0 < δ < 1. Afirmamos que a sequência de funções (fn ) em que f : [0, 1 − δ] → R
com fn (x) = xn . (fn ) converge uniformemente para função f = 0. (Resulta do Teorema de Dini).
Exemplo 8.20. Seja fn : [0, 1] → R e seja q1 , q2 , q3 , ... uma enumeração de Q ∩ [0, 1]. Definimos:

0, se x ∈
 /Q
fn (x) = 0, se x ∈ {q1 , q2 , ..., qn } .

1, caso contrário

Notemos que (fn ) → f = 0, que é contı́nua, [0, 1] é compacto e fn converge monotonicamente. Porém,
fn não é contı́nua.
8.1. CONVERGÊNCIA E INTEGRAÇÃO 59

8.1 Convergência e Integração


Nesta sessão, queremos saber quais as condições para que, dada uma sequência de funções (fn ), em
que fn : [a, b] → R, com fn → f ,temos:
Z b Z b
fn (x)dx → f (x)dx.
a a
Rb Rb
Para começar, queremos saber se a convergência pontual de (fn ) garante que a
fn (x)dx → a
f (x)dx.
O exemplo anterior nos mostra que isto não ocorre.

Exemplo 8.21. (i) Seja q1 , q2 , q3 , ... uma enumeração de Q. Definimos:


(
1, se x ∈ {q1 , ..., qn }
fn (x) = .
0, caso contrário

Notemos que todas as fn são integraveis e lim(fn ) = f , em que:


(
1, x ∈ Q
f (x) =
0, caso contrário.

Porém, f (x) não é integrável pois é descontı́nua em todos os pontos.

(ii) Seja fn : [0, 1] → R dada pelo gráfico:

Notemos que (fn ) → 0, que é integrável, porém, ∀n ∈ N, temos:


Z 1
1
fn (x)dx = .
0 2

Teorema 8.22. Seja (fn ) uma sequência de funções integráveis, fn : [a, b] → R e suponha que fn → f
uniformemente. Então f é integrável e
Z b Z b
fn (x)dx → f (x)dx.
a a
60 CAPÍTULO 8. SEQUÊNCIAS DE FUNÇÕES

Demonstração. Para mostrar que f é integrável, utilizaremos a seguinte caracterização: f é integrável


se, e somente se, ∀ε > 0, existe uma partição P de [a, b] tal que S(f, P ) − I(f, P ) < ε, em que S são as
somas superiores de f em relação à partição P e I são as somas inferiores de f em relação à partição P .
Fixemos ε > 0. Como fn → f uniformemente, temos que existe n0 ∈ N tal que, ∀n ≥ n0 , temos:

|fn (x) − f (x)| < ε , ∀x.

Vamos trabalhar com a função fn0 . Como fn0 é integrável, existe uma partição

P = {a = t0 < t1 < ... < tk = b},

tal que:
S(fn0 , P ) − I(fn0 , P ) < ε.
Notemos que, sendo Mi = sup(fn0 (x)), x ∈ [ti−1 , ti ] e mi = inf(fn0 (x)), x ∈ [ti−1 , ti ], temos:
k
X k
X k
X
S(fn0 , P ) − I(fn0 , P ) = Mi (ti − ti−1 ) − mi (ti − ti−1 ) = (Mi − mi )(ti − ti−1 ).
i=1 i=1 i=1

Como |fn0 (x) − f (x)| < ε, ∀x, tomando x ∈ [ti−1 , ti ], temos:

fn0 − ε < f (x) < fn0 + ε.

Portanto:
mi − ε ≤ fn0 (x) − ε < f (x) < fn0 (x) + ε ≤ Mi + ε.
Logo, para x ∈ [ti−1 , ti ], considerando

Mif = sup (f (x))


x∈[ti−1 ,ti ]

e
mfi = inf (f (x)),
x∈[ti−1 ,ti ]

temos:
f (x) < Mi + ε ⇒ Mif ≤ Mi + ε
e
f (x) > mi − ε ⇒ mfi ≥ mi − ε.

Segue assim:
Mif − mfi ≥ (Mi − mi ) + 2ε.
Assim, tomando uma partição P de f em que:
k
X k
X Xk
S(f, P )−I(f, P ) = (Mif −mfi )(ti −ti−1 ≤ (Mi −mi )(ti −ti−1 )+ 2ε(ti −ti−1 ) < ε+2ε(b−a) = ε(1+2(b−a)).
i=1 i=1 i=1

Logo, f é integrável. Mostremos agora que:


Z b Z b
fn (x)dx → f (x)dx.
a a

Fixemos ε > 0. Como a convergência é uniforme, existe n0 ∈ N tal que, ∀n ≥ n0 , temos:

|fn (x) − f (x)| < ε , ∀x.

Desta forma:
Z Z
b Z b b Z b
ε
f (x)dx − f (x)dx ≤ |f (x) − f (x)|dx < ε dx = (b − a) = ε.

n n
b − a

a a a a
8.1. CONVERGÊNCIA E INTEGRAÇÃO 61

Nosso objetivo agora é determinar uma série de resultados que serão fundamentais para provar o
chamado Teste de Weierstrass para séries de funções.
Definição 8.23 (Sequência de Cauchy). Seja (fn ), com fn : M → N , em que M e N são espaços
métricos, uma sequência de funções. Dizemos que (fn ) é sequência de Cauchy se, ∀ε > 0, existe n0 ∈ N
tal que, ∀m, n ≥ n0 , temos:
d(fm (x), fn (x)) < ε , ∀x.
Teorema 8.24 (Critério de Cauchy 2.0 ). Seja (fn ), com fn : M → N , em que M e N são espaços
métricos, N completo, uma sequência de funções. Então (fn ) converge uniformemente se, e somente se,
(fn ) é sequência de Cauchy.
Demonstração. (⇒): Fixemos ε > 0. Por hipótese, fn → f uniformemente. Logo, existe n0 tal que,
∀n ≥ n0 , temos:
ε
d(fn (x), f (x)) < , ∀x.
2
Então, ∀m, n ≥ n0 , temos:
ε ε
d(fm (x), fn (x)) ≤ d(fm (x), f (x)) + d(f (x), fn (x)) < + = ε , ∀x.
2 2
(⇐): Notemos que, como (fn ) é uma sequência de Cauchy, para todo x ∈ M , (fn (x)) é sequência de
Cauchy em N . Daı́, como N é completo, limn→∞ fn (x). Definimos f : M → N em que:
f (x) = lim fn (x).
x→∞

Fixemos ε > 0. Como (fn ) é sequência de Cauchy, existe n0 ∈ N tal que, ∀m, n ≥ n0 , temos:
ε
d(fm (x), fn (x)) < , ∀x.
2
Tomemos n ≥ n0 e x ∈ M . Escolhemos m ≥ n0 tal que:
ε
d(fm (x), f (x)) < .
2
Então:
ε ε
d(fn (x), f (x)) ≤ d(fn (x), fm (x)) + d(fm (x), f (x)) < + = ε.
2 2
Portanto, fn → f uniformemente.
fn uma série de funções, em que fn : M → Rm . Então
P
Corolário 8.25 (”Rabo”da Série 2.0). Seja
P
fn converge uniformemente se, e somente se, ∀ε existe n0 ∈ N tal que, para todo m, n ≥ n0 com
m > n, temos:
||fn (x) + fn+1 (x) + ... + fm (x)|| < ε , ∀x.
Demonstração. Exercı́cio.
P
Teorema 8.26 (Teste de Weierstrass). Seja fn uma série de funções, fn : M → R+ . Suponha que
existam constantes an ∈ Rm tais que, para todo n ∈ N, temos:
||fn (x)|| ≤ an , ∀x.
P P P
Suponha também que a série an converge. Então, fn e ||fn || convergem uniformemente.
P
Demonstração. (⇒): Como an converge, pelo Teorema 7.12 (Rabo da Série I), existe n0 ∈ N tal que,
∀m, n ≥ n0 , temos:
an + ... + am < ε.
Daı́, pelo Corolário anterior (Rabo da Série II), ∀m, n ≥ n0 , temos:
||fn (x) + fn+1 (x) + ... + fm (x)|| ≤ ||fn (x)|| + ||fn+1 (x)|| + ... + ||fm (x)||
≤ an + an+1 + ... + am
< ε.
62 CAPÍTULO 8. SEQUÊNCIAS DE FUNÇÕES

P sen(n3 x)
Exemplo 8.27. A série n2 converge uniformemente, pois ∀n, temos:

sen(n3 x)

≤ 1 e
X 1
convege.
n2 n2 n2

8.2 Convergência e Derivação


Assim como feito para integração, queremos saber quais as condições para que, dada uma sequência
de funções (fn ), em que fn : [a, b] → R, com fn → f , temos:

fn0 → f 0 .

Notemos que a convergência pontual de (fn ) não é suficiente para que fn0 → f 0 , visto que f pode ser
descontı́nua, ou seja, f pode nem ser derivável.
Neste caso, conforme mostrará o exemplo à seguir, a convergência uniforme de (fn ) também não será
sufiente para que fn0 → f 0 .
2
Exemplo 8.28. Considere fn (x) = sen(n
n
x)
com fn : [0, 2π] → R. Notemos que fn → f = 0 uniforme-
1
mente. Fixemos ε > 0. Tomemos n0 > ε . Então, ∀n ≥ n0 , temos:
2
(n x) 1
n ≤ n < ε , ∀x.

Entretanto, notemos que:


cos(n2 x) · n2
fn0 (x) = = n · cos(n2 x),
n
que não converge nem pontualmente, por exemplo, em x = 0, temos:

fn0 (0) = n → ∞.

O teorema à seguir nos dará todas as condições necessárias para o resultado que procuramos.

Teorema 8.29. Seja (fn ) uma sequência de funções deriváveis, fn : [a, b] → R, tal que:

(i) (fn0 ) converge uniformemente para g.

(ii) Existe c ∈ [a, b] tal que (fn (c)) converge.

Então (fn ) converge uniformemente para uma função f , que é derivável, e f 0 = g.

Demonstração. Mostremos que (fn ) é uma Sequência de Cauchy. Fixemos ε > 0. Como fn0 converge
uniformemente, pelo Teorema 8.23, temos que fn0 é uma sequência de Cauchy, ou seja, existe n0 ∈ N tal
que, ∀m, n ≥ n0 , temos:
0 ε
|fm (x) − fn0 (x)| < , ∀x.
2(b − a)
Da mesma forma, (fn (c)) converge, sendo portanto uma sequência de Cauchy. Então, existe n1 ∈ N
tal que, ∀m, n ≥ n1 , temos:
ε
|fm (c) − fn (c)| < .
2
Seja N = max(n0 , n1 ). Fixemos m, n ≥ N . Assim, pelo Teorema do Valor Médio1 aplicado à função
(fm − fn )(x), temos:

(fm −fn )(x) = (fm −fn )(c)+(fm −fn )0 (d)(x−c) ⇒ fm (x)−fn (x) = fm (c)−fn (c)+(fm
0
(d)−fn0 (d))(x−c),
1 Teorema do Valor Médio: Seja f : [a, b] → R derivável, então existe c ∈ (a, b) tal que f (b) − f (a) = f 0 (c)(b − a).
8.2. CONVERGÊNCIA E DERIVAÇÃO 63

para algum d entre x e c. Então:


0
fm (x) − fn (x)| ≤ |fm (c) − fn (c)| + |fm (d) − fn0 (d)| · |x − c|
ε ε
≤ + (b − a)
2 2(b − a)
ε ε
≤ +
2 2
= ε.

Assim, pelo Teorema 8.23, segue que (fn ) converge uniformemente. Suponhamos fn → f .
Mostremos agora que f é derivável. Notemos que:
fn (x) − fn (x0 ) f (x) − f (x0 )
lim = .
n→∞ x − x0 x − x0
Assim, notemos que:
   
fn (x) − fn (x0 ) fn (x) − fn (x0 ) f (x) − f (x0 )
g(x0 ) = lim fn0 (x0 ) = lim lim = lim lim = lim = f 0 (x0 ).
n→∞ n→∞ x→x0 x − x0 x→x0 n→∞ x − x0 n→∞ x − x0

Entretanto, queremos saber se alteração dos limites feita acima pode realmente ser feita. Notemos
que, no exemplo abaixo, isto não poderia ser feito.
Exemplo 8.30. Notemos que se fn (x) = xn , temos:
   
lim lim fn (x) 6= lim lim fn (x) .
x→1 n→∞ n→∞ x→1

Notemos que isto não pode ser feito no exemplo anterior pois fn (x) = xn não converge uniformemente
(apenas pontualmente). Assim, para mostrar que tal mudança pode ser feita, demonstremos o teorema
à seguir.
Teorema 8.31. Seja (fn ) uma sequência de funções, com fn: M → N , tal que fn → f uniformemente.
Suponha que x0 ∈ M 0 e que, ∀n ∈ N, existe limx→x0 fn (x) = an . Então, existe:

lim f (x) = a = lim an .


x→x0 n→∞

Desta forma, teremos:  


 
lim lim fn (x) = lim lim fn (x) .
x→x0 n→∞ n→∞ x→x0

Demonstração. Fixemos ε > 0. Como (fn ) converge uniformemente, temos que (fn ) é de Cauchy, ou
seja, existe n0 ∈ N tal que, ∀m, n ≥ n0 , temos:
ε
d(fn (x), fm (x)) < , ∀x.
3
Fixemos n, m ≥ n0 . Como limx→x0 = an e limx→x0 fm (x) = am , existe δ > 0 (δ = min{δ1 , δ2 }) tal
que, se 0 < d(x, x0 ) < δ, então:]
ε
d(fn (x), an ) < ,
3
ε
d(fm (x), am ) < .
3
Assim, tomando x̃ ∈ 0 < d(x, x0 ) < δ, temos:
ε ε ε
d(an , am ) ≤ d(an , fn (x̃)) + d(fn (x̃), fm (x̃)) + d(fm (x̃), am ) ≤ + + = ε.
3 3 3
Logo, (an ) é de Cauchy e portanto limn→∞ an = a. Mostremos agora que limx→x0 f (x) = a. Fixemos
ε > 0. Como (fn ) converge uniformemente, exite n0 ∈ N tal que ∀n ≥ n0 temos:
ε
d(fn (x), f (x)) < , ∀x.
3
64 CAPÍTULO 8. SEQUÊNCIAS DE FUNÇÕES

Como mostramos anteriormente, an → a. Assim, existe n1 ∈ N tal que, ∀n ≥ n0 , d(an , a) < 3ε .


Tomemos N = max{n0 , n1 }. Assim, como limx→x0 fN (x) = an , existe δ > 0 tal que, se 0 < d(x, x0 ) < δ,
então:
ε
d(fn (x), an ) < .
3
Logo, dado x tal que 0 < d(x, x0 ) < δ, temos:
ε ε ε
d(f (x), a) ≤ d(f (x), fN (x)) + d(fN (x), aN ) + d(aN , a) < + + = ε.
3 3 3

Desta forma, podemos sim fazer a troca essencial para a demonstração do Teorema.

Exercı́cios
1) Mostre que a sequência fn : A → Rm converge pontualmente se e somente se para todo x ∈ A, fn (x)
é uma sequência de Cauchy.

2) Seja (fk ) uma sequência de funções, fk : A ⊂ Rn → Rm . Suponha que existem constantes pk tais que
||fk (x) − f (x)|| ≤ pk para todo x ∈ A, e pk → 0. Mostre que fk converge para f uniformemente.

xn
3) Mostre que a sequência de funções fn : [0, ∞) → R dadas por fn (x) = converge pontualmente.
1 + xn
Determine a função limite, e mostre que a convergência não é uniforme.

4) Mostre que a sequência da questão anterior converge uniformemente em todos os intervalos do tipo
[0, 1 − δ] e [1 + δ, ∞) com 0 < δ < 1.

5) Considere a sequência de funções fn : I → R, dada por fn = xn .


(a) f converge uniformemente se I = [0, 1)?
(b) f converge uniformemente se I = [0, 1 − δ], com 0 < δ < 1?

6) Determine quais das seguintes sequências de funções convergem (e se a convergência é pontual e/ou
uniforme):

sen(x)
(a) fn : R → R, fn (x) = .
n
1
(b) gn : (0, 1) → R, gn (x) = .
nx + 1
x
(c) hn : (0, 1) → R, hn (x) = .
nx + 1
 
2 cos(nx)
(d) in : R → R , in (x) = 1 , .
n2

7) Determine quais séries de funções abaixo convergem (e se a convergência é pontual e/ou uniforme):

(
X 0, se x ≤ n
(a) fn , fn (x) = n
n=1
(−1) , se x > n
1

∞  , se |x| ≤ n
n2
X 
(b) gn , gn (x) =
n=1  1 , se |x| > n

x2
8.2. CONVERGÊNCIA E DERIVAÇÃO 65

8) Prove ou dê contra-exemplo: se fn : K → R é sequência de funções que converge pontualmente para


f contı́nua, com K compacto, então a convergência é uniforme.

9) Dê um exemplo de uma sequência de funções descontı́nuas (fn ) que converge uniformemente para uma
função contı́nua f .

10) Seja fn : [0, 1] → R uma sequência de funções crescentes.

(a) Se fn → 0 pontualmente, mostre que fn converge uniformemente.


(b) O resultado continua válido se supormos que fn converge pontualmente para uma função qualquer
f?

11) Sejam (fn ), (gn ) sequências de funções, com fn , gn : A ⊂ Rm → R.

(a) Suponha que fn → f e gn → g uniformemente. Suponha também que existam M1 , M2 ∈ R tais


que |f (x)| ≤ M1 e |f (x)| ≤ M2 para todo x ∈ A. Mostre que f (n) · g(n) converge uniformemente
para f · g.
(b) Dê um exemplo em que o resultado acima não é válido se não existirem as constantes M1 ou M2 .

12) Dê um exemplo de uma sequência de funções fn : [0, 1] → R que converge para zero pontualmente,
Z 1
mas que fn (x) dx não converge para zero.
0

13) Dê um exemplo de uma sequência de funções deriváveis fn : [0, 1] → R, que converge uniformemente
para f derivável, mas a sequência de suas derivadas (fn0 ) não converge.
66 CAPÍTULO 8. SEQUÊNCIAS DE FUNÇÕES
Capı́tulo 9

Teoremões

Para os resultados que serão provados neste capı́tulo, consideremos um conjunto A compacto, e o
espaço das funções contı́uas com domı́nio A e contradomı́nio R, C(A, R), com a norma infinito, || · ||∞ .
O primeiro teorema importante que veremos tem por objetivo responder a seguinte pergunta: como
encontrar B ⊂ C(A, R) denso em C(A, R)? Isto é, queremos saber é possı́vel determinar um conjunto
que aproxima todas as funções contı́nuas.

9.1 Teorema de Stone-Weierstrass


Teorema 9.1 (Teorema de Stone-Weierstrass). Seja A compacto, B ⊂ C(A, R) com as seguintes propri-
edades:

(i) B é uma álgebra.1

(ii) B contém as funções constantes.

(iii) B separa pontos.2

Então, B é denso em C(A, R).

Demonstração. Os passos para demonstrar o teorema são os seguintes:

(1) B também é uma álgebra.

(2) Se f ∈ B, então |f | ∈ B.

(3) Se f, g ∈ B, então f ∨ g ∈ B e f ∧ g ∈ B.3

(4) Utilizando (1), (2) e (3) e dada uma função h ∈ C(A, R) e ε > 0, construimos f ∈ B tal que
||f − h|| < ε.

(5) Mostrar que se B é denso, então B é denso.

A demonstração dos passos (1), (2), (3) e (5) são mais técnicas. Para eles, verfique [5]. Mostremos o
passo mais interessante que é (4). Fixemos h ∈ C(A, R). Afirmamos que, dados x, y ∈ A, existe fxy ∈ B
tal que fxy (x) = h(x) e fxy (y) = h(y). De fato, como B separa pontos, existe g ∈ B tal que g(x) 6= g(y).
Defina:
fx,y = αg + β,
em que:
h(x) − h(y) h(y)g(x) − h(x)g(y)
α= e β= .
g(x) − g(y) g(x) − g(y)
1 Se B é uma álgebra, então dados f, g ∈ B, temos que f + g, f ◦ g, αf ∈ B, ∀α ∈ B.
2 Dizemos que B separa pontos se dados x, y ∈ A, existe f ∈ B tal que f (x) 6= f (y).
3 f ∨ g(x) = max{f (x), g(x)} e f ∧ g(x) = min{f (x), g(x)}.

67
68 CAPÍTULO 9. TEOREMÕES

Notemos que αg está em B pois B é uma álgebra e β ∈ B pois B contém as funções constantes. Logo,
a afirmação está provada para x 6= y. Se x = y, basta tomar fxy = h(x) (função constante).
Fixemos ε > 0 e x ∈ A. Para todo y ∈ A, tomemos fxy construı́da na afirmação anterior. Como fxy
é contı́nua e h é contı́nua, existe uma vizinhança Vy aberto (y ∈ Vy ), tal que para todo z ∈ Vy :

fxy (z) ≥ h(z) − ε.

Desta forma, temos que {Vy : y ∈ A} é a união de abertos de A que cobre A. Daı́, como A é compacto,
podemos extrair uma subcobertura finita, digamos:

{Vy1 , ..., Vyp }.

Definimos agora:
fx = fxy1 ∨ fxy2 ∨ ... ∨ fxyp .
Propriedades da fx :

(i) fx é contı́nua.

(ii) fx (x) = h(x).

(iii) Para todo z ∈ A, temos que fx (z) ≥ h(z) − ε.

(iv) fx ∈ B.

As propriedades (i) e (ii) são facilmente verificados. O item (iv) segue do terceiro passo. Para (iii),
notemos que, dado z ∈ A, existe yi tal que z ∈ Vyi . Assim, devido a forma que foi construı́da, temos que:

fxyi ≥ h(z) − ε.

Daı́, como fx = fxy1 ∨ ... ∨ fxyp , segue que fx (z) ≥ h(z) − ε.


Dessa forma, para todo x ∈ A, construı́mos fx com as propriedades citadas. Logo, temos uma famı́lia
de funções:
{fx : x ∈ A}.
Veja que, para todo x ∈ A, existe um aberto Vx tal que, para todo z ∈ Vx , temos:

fx (z) ≤ h(z) + ε.
4
Notemos que:
{Vx : x ∈ A}
é uma cobertura aberta de A que admite subcobertura finita, digamos:

{Vx1 , ..., Vxl }.

Definimos:
f = fx1 ∧ ... ∧ fxl .
Notemos que f possui as seguintes propriedades:

(i) f é contı́nua.

(ii) f ∈ B.

(iii) f (z) ≤ h(z) − ε.

(iv) ∀z ∈ A, f (z) ≤ h(z) + ε.


4 Isto segue da continuidade de (fx − h)(x) com (fx − h)(0).
9.2. TEOREMA DE ARZELA-ASCOLI 69

As propriedades (i) e (ii) são facilmente verificadas. A propriedade (iii) segue do fato de que, ∀x, fx
possui tal propriedade. Para a propriedade (iv), sabemos que, tomando z ∈ A, existe xi tal que z ∈ Vxi ,
e portanto:
fxi (z) ≤ h(z) + ε.
Daı́, como f = fx1 ∧ ... ∧ fxl seleciona o mı́nimo, segue que f (z) ≤ h(z) + ε. Assim, ∀z ∈ A, temos
que:
h(z) − ε ≤ f (z) ≤ h(z) + ε.
Daı́,
|f − h|| ≤ ε.

9.2 Teorema de Arzela-Ascoli


Consideremos agora C(A, M ), A compacto e M um espaço métrico. O objetivo do teorema que vem
à seguir irá responder a seguinte pergunta: como encontrar B ⊂ C(A, M ) compacto? Para responder
isto, precisamos de algumas definições auxiliares.

Definição 9.2 (Equicontinuidade). Seja B ⊂ C(M, N ), M e N espaços métricos. Dizemos que B é


equicontı́nuo se, ∀ε > 0, existe δ¿0 tal que, se d(x, y) < 0δ, então d(f (x), f (y)) < ε, ∀f ∈ B.
Observação 9.3. A ideia por trás desta definição, é que δ não depende de x nem de f . É um δ fodástico.
Exemplo 9.4. Consideremos C([0, 1], R), B = {fn : n ∈ N} em que fn é dada pelo gráfico:
1
Gráfico dos triângulos com base 0 e n e altura 1.
Nesta caso, B não é equicontı́nuo.
Definição 9.5 (Pontualmente Compacto). Seja B ⊂ C(M, N ), M e N espaços métricos. Dizemos que
B é pontualmente compacto se, ∀x ∈ M , Bx = {f (x) : f ∈ B} é compacto em N .

Exemplo 9.6. No Exemplo dado anteriormente, o conjunto B é pontualmente compacto pois, para todo
x, Bx é finito.
Exemplo 9.7. Seja C([0, 1], R) , B = {xn : n ∈ N}. Notemos que para x = 21 , temos que:
 
1
Bx = :n∈N .
2n

Logo, este Bx não é compacto (não é fechado). Logo, B não é pontuamente compacto. Entretanto, se
considerarmos Bx ∪ {f = 0}, temos que ele será pontualmente compacto.
Teorema 9.8 (Teorema de Arzela-Ascoli). Seja A compacto, B ⊂ C(A, M), M espaço métrico. Então,
B é compacto se, e somente se, B é fechado, equicontı́nuo e pontualmente compacto.
Demonstração. Vide [5].
70 CAPÍTULO 9. TEOREMÕES
Referências Bibliográficas

[1] E. L. Lima – Curso de Análise, Volume I, 14ª Edição. Projeto Euclides, IMPA, Rio de Janeiro, 2013.
[2] E. L. Lima – Curso de Análise, Volume II, 12ª Edição. Projeto Euclides, IMPA, Rio de Janeiro,
2012.
[3] E. L. Lima – Espaços Métricos, 5ª Edição. Projeto Euclides, IMPA, Rio de Janeiro, 2013.
[4] W. Rudin – Principles of Mathematical Analysis, Third edition. McGraw-Hill Inc, International
Series in Pure and Applied Mathematics, 1976.

[5] J. Marsden, M. Hoffman – Elementary Classical Analysis, Second edition. W. H. Freeman and
Company, New York, 1993.
[6] R. G. Bartle – Elementos de Análise Real. Editora Campus, 1983.
[7] M. B. Gonçalves, D. Gonçalves – Elementos de Análise, 2ª Edição. Florianópolis:
UFSC/EAD/CED/CFM, 2013.

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