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História da Loucura.
moral...produz uma população que para nossos olhos modernos,
medicalizados, antropologizados, aparece como heterogênea... porque agrupa
o que aparece como outro, como diferente, como estrangeiro aos olhos da
razão e da moral e classifica como desrazão, desatino, o que pretende
desclassicar. Fenomeno instituição que engloba:
- Transgressão da sexualidade, ao internar o doente
venéreo, o sodomita, a prostituta, o devasso, os pródigos, os que mantêm
ligação inconfessável, casamento vergonhoso...
- A desordem do coração: magia, feitiçaria, alquimia...
- A libertinagem, estado de servidão no qual a razão é
escrava dos desejos...
- A loucura. 17
Há portanto, quando se compara o Classicismo e a modernidade, ruptura entre
as noções de doença mental e doença, no que diz respeito ao conhecimento
da loucura, e entre o hospício e o grande enclausuramento, no que diz respeito
às práticas de internamento do louco. 18
- Tomando o exemplo da loucura, HL é uma grande crítica da razão:
uma análise de seus limites, das fronteiras que estabelece e desloca, excluindo
o que ameaça sua ordem, sem jamais questionar radicalmente a criação
dessas fronteiras.
Na modernidade temos a psiquiatria ou a psicologização da loucura. Mas o
processo histórico dessa operação nos remete para as suas baixas origens no
classicismo, onde o louco era definido mais por uma pratica do que por uma
teoria médica, o que significa duas coisas, segundo Machado:
- uma prioridade da prática sobre a teoria, ou da percepção moral e
social sobre o conhecimento médico no próprio momento do nascimento da
psiquiatria.
- A psicologização da loucura é fundamentalmente o resultado de
um processo de humanização dos regimes punitivos...que instaurou novas
técnicas sociais de controle e de assistência.
- foi menos o exame que individualizou o louco do que a
organização, o funcionamento e a transformação das instituições de reclusão.
- o que se chama prática psiquiátrica é uma tática moral...19
- essa prioridade da prática sobre a teoria médica é fundamentalmente
histórica, temporal.
- a loucura só é objeto de conhecimento científico, na
modernidade, porque foi antes objeto de excomunhão moral e social, porque foi
herdeira da relação clássica da razão à desrazão.
- ... a psicologia jamais enunciará a verdade da loucura, porque é
a loucura que detém a verdade da psicologia. 20
- Foucault nega, assim, que a medicalização ou psicologização da
loucura seja resultado de um progresso que teria levado ao desvelamento de
sua essência.
- Aqui Machado discute questões metodológicas de filiação
entre a análise da HL e os epistemólogos franceses quanto à cientificidade da
psicologia, e as descobertas da psiquiatria como condição de possibilidade
para que Foucault falasse da loucura, principalmente porque Freud considera a
loucura é como linguagem ou a linguagem como espaço próprio da loucura...
Machado destaca a relação pendular de Foucault em relação a Freud, ora
creditando ora descreditando, pesando mais para o lado do descredito, pois,
apesar da psiquiatria ter libertado o louco da existência asilar, aprisionou-o a
um duplo poder do médico. 20-3.
Portanto, conclui Machado, o que torna o projeto arqueológico de Foucault
possível não é Freud, mas Nietzsche. 23-4
Pergunta de Derrida: sobre o que Foucault apoiou sua linguagem sem apoio?
- Resposta de Machado: a experiência trágica da loucura (Nietzsche),
pensada como um valor positivo capaz de avaliar as teorias e as práticas
históricas sobre a loucura...
- é também essa experiência trágica da loucura o que o afasta da
metodologia dos epistemólogos franceses e sua ênfase de julgar o passado
das ciências pela sua última linguagem.
- O objetivo final de o Nascimento da Tragédia...é denunciar a
modernidade como civilização socrática, racional, por seu espírito cientifico
ilimitado, por sua vontade absoluta de verdade, e saudar o renascimento de
uma experiência trágica do mundo em algumas das realizações filosóficas e
artísticas da própria modernidade (Schopenhauer e Wagner)...que no caso dos
“gregos”, possibilitou, pela arte, a experiência do lado terrível, tenebroso, cruel
da vida como forma de intensificar a própria alegria de viver do povo grego... 25
- do mesmo que, para Nietzsche, a história do mundo ocidental é a
recusa ou esquecimento da tragédia, a história da loucura... é a história do
vínculo entre a racionalidade moderna..., e um longo processo de dominação...
- (Habermas) a razão apenas constitui a sua estrutura pela via da
exclusão dos elementos heterogêneos e da concentração monódica sobre si
mesmo. 26
Conclusão de Machado sobre isso:
- deste modo, a loucura tal como aparece no livro, além de figura
histórica, é também e fundamentalmente uma experiência originária, crucial,
essencial, que a razão, ao invés de descobrir, encobriu, ocultou, mascarou,
dominou, embora não a tenha destruído totalmente, por ela ter-se mostrado
ameaçadora, perigosa. 26
- a pesquisa arqueológica de Foucault é a interpretação, ou
reinterpretação, da história da racionalização da loucura, a partir de seu
confronto vertical com uma experiência, ou uma estrutura trágica, que permite
denunciar como encobrimento esse devir horizontal que, em sua etapa
moderna, define a loucura como doença mental.
É importante notar... que essa loucura fundamental, essencial, não é
propriamente uma realidade, uma coisa, um objeto, e sim um fenômeno de
linguagem.
Há uma ontologia na HL.
- (Roudinesco) o objetivo de Foucault não era a verdade da psicológica da
doença mental, mas a busca de uma verdade ontológica da loucura (a crítica
de uma verdade psicológica da doença mental em nome da verdade ontológica
da loucura). 27
- se há uma ontologia no pensamento MF dessa época, trata-se de uma
ontologia da linguagem...27
A partir da pg. 28, Machado passa a mostrar como uma cultura rejeita sua
parte maldita, privilegiando o olhar filosófico.
- No Renascimento
- em geral vigora uma hospitalidade para com a loucura, que a liga a
todas as experiências importantes da época, às grandes forças trágicas do
mundo...
- um incipiente controle da loucura através de uma crítica moral que a
situa como miragem, sonho, ilusão. 28
- Na época clássica
- o controle se dá através de um racionalismo que desclassifica a
loucura como erro, perda da verdade (Descartes – Se eu penso não posso ser
louco, se sou louco não posso pensar). 29
- o que vigora no classicismo é uma incompatibilidade absoluta entre
loucura e pensamento, que tem como consequência sua redução ao silêncio.
29
- Foucault liga o ato da razão que exclui a loucura a uma decisão, um
escolha ética, uma opção da vontade responsável pela verdade...29
- a razão clássica nasce no espaço da ética. 29
- a loucura clássica é não-ser, prova a contrario da razão. 30
- Na modernidade
- o processo histórico de controle...atinge o máximo de sua eficácia
através das ciências do homem que, aceitando a loucura como alienação, a
patologizam como doença mental. 30