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LIMITADA
Diego Richard Ronconi1
1. Resumo
O presente artigo tem como objeto o inventário das quotas de sócio participante de Sociedade
empresária Limitada, e como objetivo analisar a situação dos herdeiros de sócio participante desta
espécie societária diante do inventário das quotas deixadas pelo de cujus, procurando-se, com
fundamento da doutrina, na lei e na jurisprudência, responder às seguintes perguntas: falecendo o
sócio com participação societária em Sociedade limitada, impõe a lei que seus herdeiros devam
ingressar, como sócios da sociedade em que o falecido era participante? Havendo permissão do
contrato social no sentido de que os herdeiros possam nela ingressar, há obrigatoriedade de que
assumam a condição de sócios? Quais as conseqüências de os herdeiros ingressarem, ou não, na
qualidade de sócios? Não querendo ingressar como sócios, há obrigação de que o contrato social
seja alterado, colocando-os como sócios, em substituição do sócio falecido?
Como se observará, nem sempre o fato de ser receber como herança participação de quota
societária acarreta o imediato ingresso do herdeiro na sociedade empresária em que integrava o
falecido. Também nem sempre o fato de ingressar como sócio em sociedade empresária acarreta
vantagens, pois, desconhecendo os herdeiros o real estado em que se encontra a empresa, podem
ser surpreendidos com conseqüências em seu patrimônio particular, inerentes à qualidade de
sócios, que ignoravam.
A fim de que não haja surpresas, é necessário, antes de tudo, o conhecimento das situações em
cada uma de suas nuances, especialmente direcionadas ao reflexo nas condições pessoais dos
herdeiros, situações estas que se compromete este artigo a identificar.
Será tratado sobre situações de dissolução total e parcial de sociedades empresárias, sobre a
identificação, no contrato social, da possibilidade de ingresso, ou não, de herdeiros na condição de
sócios e quais as conseqüências de seu ingresso, ou não, na sociedade. Além disso, o estudo fará
referência ao significado da chamada Apuração de Haveres, bem como dos elementos que a
integram. Também será retratado sobre a Sobrepartilha, identificando o seu significado, objetivo e
forma diante da legislação civil e processual civil, especialmente direcionada ao assunto da
Apuração de Haveres do sócio falecido que era participante de Sociedade Limitada.
Estas situações são comuns na prática jurídica cotidiana, não se atentando muitos profissionais do
Direito (aqui se referindo a Advogados, Professores Universitários dos cursos de Direito, Membros
do Ministério Público e Magistrados) para as conseqüências mediatas e imediatas do ingresso de
herdeiros na condição de sócios de sociedades empresárias, especialmente no que diz respeito à
Sociedade Limitada.
2. Introdução
O inventário dos bens deixados por falecimento de alguém nem sempre se
processa de forma tranqüila. Muitas vezes, em razão da dificuldade de divisão de certos bens, a
resolução do processo resta demorada. Outras vezes, a dificuldade se encontra pelas
conseqüências que o recebimento de certos bens podem trazer ao herdeiro beneficiado. Um
exemplo desta situação se mostra quando se herdam quotas de sociedades empresárias. Para
melhor acompanhar o raciocínio pretendido com este estudo, veja-se a seguinte situação: João,
Mário e Cesar são sócios da empresa Bela Vida Indústria de Calçados Ltda. João tem 40% das
quotas do capital social, Mário 40% e César, 20%. João faleceu e deixou 3 filhos: Marta, Maria e
1
Advogado, Mestre e Doutor em Ciência Jurídica. Professor dos Cursos de Graduação em Direito da Univali
e da Faculdade de Direito de Joinville e de cursos de Pós-Graduação em Direito. autor das obras Falência e
Recuperação de Empresas: análise da utilidade social de ambos os institutos (Itajaí: Editora da UNIVALI,
2002), A Arte da Guerra para Advogados: A filosofia de Sun Tzu aplicada à prática jurídica (Florianópolis:
Momento Atual, 2005); A responsabilidade civil nos contratos de alienação fiduciária em garantia (no
prelo), bem como de vários artigos publicados em revistas e periódicos especializados do País.
2
Carla, todas maiores e capazes civilmente. Dentre os diversos bens deixados pelo falecido, há
necessidade de que sejam inventariadas, também, as quotas que João tinha na empresa.
Nem sempre a dissolução da sociedade se dá por ato entre vivos, ou seja, todos
os sócios estão vivos e um deles deseja sair, ou porque os demais determinem pela exclusão de
um ou mais integrantes do quadro societário, continuando os demais. A dissolução pode ocorrer
também por morte de um dos sócios, mais conhecida como liquidação de quota do sócio falecido,
que é a hipótese tratada neste estudo.
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“Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer:
I- o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a
sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado;
II- o consenso unânime dos sócios;
III- a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado;
IV- a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de 180 (cento e oitenta) dias;
V- a extinção, n forma da lei, de autorização para funcionar.”
3
empresária na qual “a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas
todos respondem solidariamente pela integralização do capital social” (art. 1.052, do Código Civil).
Conforme ensinam alguns juristas, a morte de sócio é uma das possibilidades de
dissolução da sociedade. Nesta situação, conforme o artigo 1.028, III, do Código Civil:
“c) Morte de sócio. Se falece o sócio da sociedade limitada, isto pode implicar a
dissolução parcial desta. De fato, a participação societária, como os demais
elementos do patrimônio do falecido, será atribuída, por sucessão causa mortis, a
um herdeiro ou legatário, que nunca estão obrigados a fazer parte da
sociedade limitada, seja ela de pessoas ou de capital. Têm eles direito,
portanto, à apuração dos haveres de que decorre a dissolução parcial. Claro,
se o sucessor do sócio morto quiser fazer parte da sociedade, e os
sobreviventes concordarem, nada obriga a liquidação da quota. (...)
3
NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e da empresa, p. 326.
4
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 5. ed. São Paulo: Savaira, 2002. p. 465-466.
v. 2.
4
Adiante será tratado de forma mais detalhada como fica a situação dos herdeiros
de sócio falecido, caso não ingressem na sociedade na qualidade de sócios. Passa-se, agora, à
análise de duas situações completamente distintas e que acarretam conseqüências diversas:
5
NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e da empresa. 3. ed. São Paulo: Saraiva,
2004. v. 1. p. 369.
5
anteriores e posteriores. Deve-se, por isso, antes de se optar pelo ingresso dos herdeiros na
qualidade de sócio, conhecer a situação da empresa, a fim de que os herdeiros não sejam
surpreendidos por dívidas que haviam sido contraídas pela empresa antes de sua admissão.
a) os lucros pendentes que não constam do último balanço feito ao tempo em que o de cujus ainda
era vivo (RT 493/97-98);
6
Conforme o artigo 1.142, do Código Civil: “Considera-se estabelecimento todo complexo de bens
organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária”.
7
NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e da empresa, p. 73.
8
SANTOS, Ulderico Pires dos. Sucessão hereditária: doutrina, jurisprudência e prática. Rio de
Janeiro: Forense, 2002. p. 35.
9
“art. 1.031. Nos casos em que a sociedade se resolver em relação a um sócio, o valor da sua
quota, considerada pelo montante efetivamente realizado, liquidar-se-á, salvo disposição contratual
em contrário, com base na situação patrimonial da sociedade, à data da resolução, verificada em
balanço especialmente levantado.” (grifado).
10
SANTOS, Ulderico Pires dos. Sucessão hereditária: doutrina, jurisprudência e prática, p. 35.
8
11
“c) pagar o valor da quota aos herdeiros, com base na situação patrimonial da sociedade, à data
da resolução, que coincide com a do evento morte, verificada em balanço especialmente levantado
(art. 1.031)”, in NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e da empresa, p. 326.
9
12
“art. 993. (...)
Parágrafo único. O juiz determinará que se proceda:
I- ao balanço do estabelecimento, se o autor da herança era comerciante em nome individual;
II- a apuração de haveres, se o autor da herança era sócio de sociedade que não anônima.”
(grifado).
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THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 17. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1998. p. 106-107. v. 3.
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Tal situação é também referenciada com fundamento nos artigos 1.04014 e 1.04115,
do Código de Processo Civil, lembrando-se que a guarda e administração dos bens
sobrepartilhados ficarão sob a guarda e administração do mesmo inventariante ou diverso,
consentindo também a maioria dos herdeiros.
8. Conclusão
c) optando os herdeiros por não ingressarem na qualidade de sócios, não se observa possível a
alteração do contrato social da Sociedade Limitada, no sentido de admiti-los na empresa para,
depois, pagar-lhes os haveres. Isto porque, caso ingressem no contrato social da empresa, estarão
ingressando na qualidade de “sócios”, com os direitos e obrigações inerentes a esta qualidade,
podendo-se refletir tais efeitos, inclusive, na condição de pessoa natural (pessoa física) dos sócios
(como ocorre, comumente, com restrições pessoais de crédito, caso a empresa também seja
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“art. 1.040. Ficam sujeitos à sobrepartilha os bens:
(...);
III- litigiosos, assim como os de liquidação difícil ou morosa;
Parágrafo único. Os bens mencionados nos ns. III e IV deste artigo serão reservados à
sobrepartilha sob a guarda e administração do mesmo ou de diverso inventariante, a aprazimento
da maioria dos herdeiros.”.
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“art. 1.041. Observar-se-á na sobrepartilha dos bens o processo de inventário e partilha.
Parágrafo único. A sobrepartilha correrá nos autos do inventário do autor da herança.”.
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devedora). Assim, os herdeiros de sócio que tenha participação em Sociedade Limitada, que
tenham optado pela Apuração de Haveres das quotas, não ingressam na qualidade de sócios,
nem mesmo podendo-se realizar a alteração do contrato social da sociedade no sentido de admiti-
los.