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v.35-1, p.61-70
Resumo
Este artigo tem como objetivo explorar como Palavras-chave
a literatura pode auxiliar na elaboração de vi- Literatura,
vências psíquicas, não apenas para quem escre- processo criativo,
Vinicius de Moraes,
ve como também para quem lê. Com base nos
Carlos Drummond
textos de C. G. Jung sobre psicologia analítica e
de Andrade,
literatura, e mantendo o enfoque principal no Harry Potter.
processo criativo e não na interpretação da obra,
o presente artigo avalia como diferentes tipos
de textos (poemas, letras de músicas e livros)
de épocas distintas podem representar confli-
tos surgidos do inconsciente do autor ou atuar
na individuação do leitor.
RevistaRevista
da Sociedade
da Sociedade
Brasileira
Brasileira
de Psicologia
de Psicologia
Analítica,
Analítica, 2016 61
1o sem.2017
Junguiana
v.35-1, p.61-70
Os dois poemas não têm em comum apenas tendência de projetar nos outros a razão e a so-
o poeta, mas também o tema central – entretan- lução para nossos conflitos faz da “paz” da bom-
to, diferem diametralmente quanto à abordagem ba atômica doente, cirrótica (doença crônica grave
desse tema. A primeira obra tem uma construção associada ao alcoolismo, àqueles que adoecem
que parece mais calculada, sugerindo um proces- e eventualmente morrem por não conseguirem
so introvertido, tentando racionalizar o atentado deixar a ilusão).
atômico às cidades japonesas de Hiroshima e Comparando as duas obras, é perceptível que
Nagasaki, que marcou o fim da Segunda Guerra o inconsciente se manifesta e se impõe apesar
Mundial. Nessa poesia, Vinicius coloca a bomba das tentativas do consciente de privilegiar a óti-
como assassina também da guerra, um instru- ca da razão sobre os acontecimentos. Também é
mento de paz. A impressão de que foi uma tenta- perceptível o caminho de elaboração do autor.
tiva de elaborar um acontecimento cujo impacto Em “A rosa de Hiroshima”, com o evento traumá-
não tinha precedentes é fortalecida pela poesia tico melhor trabalhado psiquicamente, é possível
seguinte, “A rosa de Hiroshima”, que é muito mais ao poeta uma maior aproximação da emoção, sem
simbólica e emotiva. tantos disfarces ou racionalizações. Se entender-
A segunda obra fala com seus leitores por mos o conjunto dos poemas como o processo de
meio de símbolos tanto visuais como significa- elaboração de Vinicius, o autor passou pelo pro-
tivos. A escolha do termo “rosa” alude tanto à cesso de introversão e extroversão até chegar a
imagem da explosão da bomba como a conceitos um certo equilíbrio em relação ao tema.
mais subjetivos, como a alusão ao feminino, à Jung, no parágrafo 448 de Símbolos da trans-
delicadeza e ao não belicismo. O argumento formação, discute que, por meio da introversão,
explorado racionalmente em “A bomba atômi- um aspecto arquetípico seria ativado e humani-
ca – canto II” pode ajudar a compreender a es- zado, possibilitando a emergência de uma ideia
colha de uma flor como metáfora para a bomba criativa salvadora, para um indivíduo ou para uma
atômica: esta, como dito no primeiro poema, é comunidade.
uma agente do fim da guerra, e essa promessa, A imposição do inconsciente, necessária para
a promessa de paz, é simbolicamente tão bela o surgimento das obras simbólicas, é chamada
quanto as rosas. por Jung de complexo autônomo, os pensamen-
No entanto, nessa obra mais extrovertida e tos que se formam no inconsciente para, só en-
carregada emocionalmente, Vinicius já contesta tão, irromperem para a porção consciente do indi-
essa beleza. As rosas também são as mulheres víduo (JUNG, 1922/2007, par. 122). Tal conceito é
e crianças que foram feitas vítimas, agora cáli- exemplificado pela descrição de Manuel Bandeira
das, cegas e inexatas. Tão cegas e inexatas, é sobre sua produção literária:
possível argumentar, quanto as pessoas que dis-
pararam o ataque e acreditavam que isso traria Acontecem-me os poemas inesperadamente e,
a paz novamente, que solucionaria magicamente às vezes, fulminantemente. De tal modo que a
todos os problemas que haviam culminado na- minha impressão a posteriori é que não fiz o poe-
quela guerra. ma: ele é que se faz em mim. (SENNA, 1993).
Acreditar em soluções mágicas é uma tendên-
cia natural do ser humano. É, assim como a rosa Esses conceitos e exemplos mostram que
de Vinicius, hereditária, adjetivo que também tem tanto a teoria da psicologia analítica de Jung
importante carga simbólica: além da procura por como a leitura e relato da obra de alguns poetas
soluções mágicas, é da natureza humana, tam- importantes da literatura brasileira concordam
bém, a tendência a conflitos e guerras. A heredi- que o processo de criação artística, por vezes,
tariedade dessas características sugere que a sai do inconsciente do autor, expondo ideias e
sentimentos que o indivíduo não acessaria de Porque era uma canção para Sandra [apelidada
outra maneira, permitindo-lhe analisar essas Drão] e para mim. Eu me lembro de estar senta-
considerações do inconsciente para incorporá- do no chão, anotando frases no caderno, com o
-las à sua elaboração das vivências e angústias violão do lado, e de repente sentir o sufoco do
pessoais. coágulo da criação, e ao mesmo tempo a imi-
A criação artística muitas vezes serve ao ar- nência da explosão da via criativa, e não aguen-
tista de caminho de elaboração, como visto aci- tar, saindo dali e indo pro meu quarto me deitar,
ma, no processo de Vinicius de Moraes em ela- então, aquele coágulo se dissolver, criando fi-
borar o horror atômico, que chocou toda uma letes que se encaminhavam pra aqui e pra ali…
geração. Dramas pessoais também são elabora- Aí o cérebro e o coração se intumesciam, algu-
dos por meio do trabalho artístico, como expli- mas ideias fluíam, e dois, três ou quatro versos
cou Gilberto Gil ao discorrer sobre o processo de saiam. (RENNÓ, 2003, p. 305).
composição da música “Drão” (GIL, 1981):
Neste relato, Gil descreve um momento de gran-
Drão, o amor da gente é como um grão, de introversão, que, a custo de muito sofrimento,
Uma semente de ilusão, vai se revertendo paulatinamente. Jung chama
Tem que morrer pra germinar, atenção para o risco inerente a esse processo:
Plantar nalgum lugar,
Ressuscitar no chão, nossa semeadura, Se a libido fica presa no reino maravilhoso do
Quem poderá fazer aquele amor morrer, mundo interior, o homem se transforma em som-
Nossa caminhadura, bra para o mundo exterior, ele está morto ou gra-
Dura caminhada pela estrada escura. vemente doente. Mas se a libido consegue des-
Drão, não pense na separação, vencilhar-se e subir à tona, o milagre aparece:
Não despedace o coração, a viagem ao submundo é uma fonte da juventu-
O verdadeiro amor é vão, estende-se infinito, de para ela e da morte aparente desperta novo
Imenso monolito, nossa arquitetura, vigor. (JUNG, v. 5, par. 449).
Quem poderá fazer aquele amor morrer,
Nossa caminha dura, É interessante perceber que o próprio artis-
Cama de tatame, pela vida afora. ta, uma vez tendo vencido esses riscos e volta-
Drão, os meninos são todos sãos, do, junto com a libido, dessa viagem ao mundo
Os pecados são todos meus, interior, pode apresentar também compreensão
Deus sabe a minha confissão, não há do processo de elaboração que acabou de
o que perdoar, vivenciar.
Por isso mesmo é que há de haver mais Rita Lee, em sua autobiografia, faz a associa-
compaixão, ção entre um momento extremamente traumáti-
Quem poderá fazer aquele amor morrer co e uma música composta anos depois: a artis-
Se o amor é como um grão, ta conta que foi a última a saber de sua saída do
Morre nasce, trigo grupo Os Mutantes, quando lhe comunicaram
Vive morre, pão que haviam decidido retirá-la por “não ter cali-
bre como instrumentista” para seguir a direção
Sobre o momento de composição, Gil explica que estavam tomando. Rita juntou suas coisas,
que sua criação “apresentou altos graus de difi- pegou o carro e a estrada, parou no acostamen-
culdade”, pois ela lidava com um assunto den- to e conta que “chorei, gritei, descabelei, xinguei
so – o amor e o desamor, o rompimento, o fim de feito louca”. Finalizada a “cena”, se recompôs e
um casamento: voltou para a casa dos pais (LEE, 2016, p. 113).
Essa vivência retorna anos depois; nas palavras Pelo contrário, as obras consequentes de um com-
da própria Rita: plexo autônomo estão repletas de símbolos. Jung
define símbolo como “expressão de uma concep-
Na letra da música “Mutante”, não sei se contei ção para a qual ainda não se encontrou outra ou
um filme triste ou se uma personal joke para melhor” (JUNG, 1922/2007, par. 105). Uma vez que
exorcizar o vudu. Depois de tanto tempo, eis que a obra simbólica tem significados passíveis de in-
me reconheci como a verdadeira mutante, aque- terpretação, seu significado afeta diferentemente
la coisa minha de não ser fixa no rock de uma cada um dos seus leitores, dependendo do incons-
nota só, de sair do conforto ilusório para viver na ciente e do contexto em que está inserido cada
fragilidade da dúvida. (LEE, 2016, p. 187). indivíduo. A relação entre a criação da obra sim-
bólica e sua leitura pode ser avaliada na poesia
A própria artista, após passar pelo processo “Autopsicografia”, de Fernando Pessoa:
de criação e elaboração, conseguiu associá-lo à
experiência que foi capaz de elaborar melhor por Autopsicografia
meio da composição. O poeta é um fingidor.
A descrição de Gilberto Gil sobre o processo de Finge tão completamente
composição de “Drão” também demonstra certa Que chega a fingir que é dor
compreensão, ainda que prática e não teórica, so- A dor que deveras sente.
bre aspectos analíticos do processo criativo:
E os que leem o que escreve,
Outra exigência que eu me colocava era de não Na dor lida sentem bem,
me precipitar. Eu queria que o fazer, a prática, o Não as duas que ele teve,
empirismo da realização fossem observados Mas só a que eles não têm.
pelo meu ser ali à distância: eu tinha que con-
templar o feitio da canção. Ao lado do esforço, E assim nas calhas de roda
da tensão concentrada, tinha que haver a des- Gira, a entreter a razão,
contração, o relaxamento concentrado – as duas Esse comboio de corda
coisas, e todas essas exigências sobrepostas Que se chama coração.
determinando o modo de compor a canção. (PESSOA, 1942)
(RENNÓ, 2003, p. 305).
O ato da leitura promove uma introversão pro-
Essa vivência exemplifica muito bem a procu- gressiva por parte do leitor, que gradativamente
ra de equilíbrio entre introversão e extroversão, vai se fechando para seu entorno e mergulhando
o controle da forma e o fluxo das emoções. naquele universo paralelo proposto pelo texto.
O resultado desses processos artísticos, no Esse universo, por sua vez, vai se misturando com
entanto, não pertence apenas ao seu autor; tam- o mundo interno do leitor, para onde este é leva-
pouco serve somente às elaborações do artista. do, completando o processo de introversão.
A obra de arte tem a capacidade de se comunicar A obra simbólica é naturalmente inquietante,
com os dramas conscientes e inconscientes da- justamente por trazer significados ocultos que
queles que a admiram, possibilitando também a acessam questões internas do leitor. Ao mesmo
estes uma imersão em seus mundos internos. tempo, essa característica provocativa também
traz à tona questões inconscientes daquele que
3. Aquele que lê interage com os símbolos, permitindo, por meio
A expressão do inconsciente do autor não da introversão, o acesso a questões individuais
costuma ser feita de maneira clara e objetiva. antes suprimidas no próprio inconsciente, assim
como aconteceu com o autor da obra ao criar tal As casas espiam os homens
símbolo. que correm atrás de mulheres.
Um estudo qualitativo conduzido na Escola A tarde talvez fosse azul,
Paulista de Medicina na Universidade Federal de não houvesse tantos desejos.
São Paulo também encontrou conclusões a res- O bonde passa cheio de pernas:
peito do impacto da literatura em seu leitor (SIL- pernas brancas pretas amarelas.
VA, 2016). Nesse estudo, um grupo de alunos e Para que tanta perna, meu Deus, pergunta
profissionais da área se encontraram semanal- meu coração.
mente ao longo de seis meses para discutir a Porém meus olhos
leitura e as interpretações de um livro (Os anos não perguntam nada.
de aprendizado de Wilhelm Meister, de Goethe), O homem atrás do bigode
enquanto os pesquisadores analisavam as dis- é sério, simples e forte.
cussões, a interpretação trazida por cada parti- Quase não conversa.
cipante e a análise sobre a experiência feita por Tem poucos, raros amigos
cada indivíduo. Também estudaram a história o homem atrás dos óculos e do bigode,
oral de vida de quatro participantes para com- Meu Deus, por que me abandonaste
preender a influência das vivências pessoais na se sabias que eu não era Deus
leitura da obra. Ao fim das análises, perceberam se sabias que eu era fraco.
que a validade de uma leitura não é medida pelo Mundo mundo vasto mundo,
conhecimento que ela proporciona mais do que se eu me chamasse Raimundo
pelas percepções que o indivíduo teve durante seria uma rima, não seria uma solução.
essa leitura. Um dos participantes ponderou que Mundo mundo vasto mundo,
as mudanças provocadas por uma leitura ficam mais vasto é meu coração.
no inconsciente do indivíduo, alterando-o de ma- Eu não devia te dizer
neira gradual e, por vezes, imperceptível. Outra, mas essa lua
ainda, disse que “ao falar sobre a obra, falamos mas esse conhaque
sobre nós distraidamente” (SILVA, 2016, p. 97). botam a gente comovido como o diabo.
Entre muitas outras conclusões, o estudo afir- (ANDRADE, 1930, p. 11)
ma que a arte é sempre modificadora (SILVA,
2016, p. 97). Ao longo de toda essa obra, Drummond dá
vazão a um sentimento de estranhamento e de
4. Caminho da individuação não pertencimento ao mundo em que se encon-
Um livro ou uma poesia pode colaborar com a tra; um conflito é natural, uma vez que cada pes-
elaboração de um momento ou circunstância. Mas soa é de fato única e precisa dessa constatação
autores também produzem uma obra inteira em para iniciar seu processo de individuação. Um
nome de uma elaboração. Drummond, notada- exemplo de elaboração desse estranhamento é
mente, elaborou sua melancolia ao longo de sua a já citada música “Mutante”, na qual Rita Lee já
obra. Esse autor começa com a fase gauche , na se entendeu e se aceitou única, mutante.
qual a ironia transborda a angústia de um eu Em “Poema das sete faces”, no entanto,
maior que o mundo, isolado em pessimismo, bem Drummond está na primeira fase do processo. Ele
representada pelo “Poema das sete faces”: descreve um desejo que ainda não está pronto
para aceitar, e esse conflito torna o mundo dis-
Quando nasci, um anjo torto torcido: casas vendo pessoas, pessoas resumi-
desses que vivem na sombra das a pernas, um coração maior que o mundo.
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. Coração esse que é vasto de tantas dúvidas, que
reconhece sua fraqueza e a questiona a Deus, Um amor que não tem descrição! Algo realmen-
mas que ainda é inibido e silenciado atrás da fi- te MÁGICO nasceu dentro de mim quando, aos
gura do homem de bigode, que não deixa seus 8 anos, eu li Harry Potter e a Pedra Filosofal !
conflitos chegarem a seus olhos. É possível apon- Isso faz parte da minha vida e da minha histó-
tar que nem tudo foi elaborado ainda na produ- ria! Cada pequeno detalhe que passei ao escre-
ção dessa obra: Drummond fala, ao fim, que fo- ver meu próprio livro, indo fantasiada ver os fil-
ram “a lua” e “o conhaque” que o botaram como- mes, dar autógrafos, tirar fotos, aos 11 anos quan-
vido, afastando-se da angústia que ainda não está do eu chorei por não receber a carta me convo-
preparado para reconhecer como sua. cando para a escola! Se algum dia meus filhos
Após essa primeira fase, Drummond passa tiverem o prazer de ler e assistir Harry Potter a
gradativamente a se abrir para o mundo e a per- vida deles vai estar completa! São 8 anos do
ceber o sofrimento deste. Passa a se perceber relacionamento mais perfeito, encantador, sin-
menor que o mundo, talvez por vislumbrar a co- cronizado e mágico que alguém possa imagi-
nexão com a totalidade, talvez desfazendo uma nar! 2005/2013/infinito! (ANSELMO, 2012).
superidentificação com o ego. Ao desfazer a in-
flação de ego, o poeta sai da posição de impo- Não é difícil compreender a relação da “gera-
tência gerada pela idealização do que deveria ser. ção Harry Potter” com a saga de mesmo nome. Na
Na sua fase social, marcada pela vontade do poe- época em que Harry Potter foi lançado, poucas
ta de participar e tentar transformar o mundo, obras tratavam o público infanto-juvenil com tan-
Drummond mostra maior percepção de potên- ta seriedade. Prova disso é que o primeiro livro
cia: “Ó vida futura! nós te criaremos” (ANDRADE, da saga, Harry Potter e a pedra filosofal, foi recu-
1940, p. 46). sado algumas vezes antes de ser publicado, prin-
Jung comenta, sobre o caminho da individua- cipalmente pela temática e pelo tamanho da obra.
ção, que, quanto maior o grau de individuação, Portanto, os livros de J. K. Rowling introduziram,
maior a conexão do sujeito com a humanidade. num mercado escasso de material semelhante,
Há, ainda, a situação de uma obra ou uma saga um protagonista jovem, que não apenas passa
servir de alicerce para a elaboração de toda uma por várias etapas da jornada arquetípica do herói
geração. O recente fenômeno Harry Potter é um como também lida com problemas comuns de
exemplo. Uma medida do impacto dessa obra so- jovens desta idade, seja em relação a amizades,
bre o público infanto-juvenil foi dada pelo traba- relacionamentos ou autoconhecimento. O univer-
lho de Gwilym e colaboradores, que acompanha- so mágico compôs um apelo extra para atrair o
ram os registros de atendimentos de emergência interesse dos jovens leitores, mas o que tornou
por trauma osteomuscular no Reino Unido nos Harry Potter tão marcante na vida de toda uma
fins de semana de verão. A constatação surpreen- geração foi justamente oferecer a possibilidade
dente foi que houve uma queda de quase 50% nos de se identificar com um protagonista, fazendo
atendimentos em fins de semana de lançamento dessa identificação uma ferramenta de elabora-
dos livros da série. O autor inicia seu artigo com a ção da passagem para a vida adulta.
provocação: “Sobre as crianças deste milênio, po- A “geração Harry Potter” é principalmente
demos ter duas certezas: elas vão se machucar, e composta por indivíduos que, literalmente, cres-
elas (provavelmente) lerão Harry Potter” (GWILYM ceram com os livros, que estavam no começo da
et al., 2005, p. 1505; tradução nossa). adolescência quando a saga teve início e eram
Em 30 de abril de 2012, lia-se o seguinte de- jovens adultos na sua conclusão, dez anos de-
poimento, numa rede social, no perfil de uma pois. Esses jovens acompanharam o processo de
adolescente de 17 anos, ilustrando o sentimen- amadurecimento do protagonista juntamente com
to da “geração Harry Potter”: o seu próprio; ainda que não fossem bruxos, eram
Abstract
Keywords: literature, creative process, Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Harry Potter.
Resumen
Palabras clave: literatura, proceso creativo, Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Harry Potter.
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