Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
Se só existisse essa face positiva e nobre das religiões, o diálogo entre elas e a
percepção de seu papel na salvação seriam evidentes. Muitos de seus fundadores,
entretanto - ministros credenciados, sacerdotes, pajés, gurus, mestres e outros
funcionários -, têm percepções limitadas de Deus e cedem aos desejos e imperativos
contrários à grandeza e pureza divinas.
Refletir sobre Deus exige, logo de início, purificar os caminhos que nos conduzem a
ele. No decorrer da história da relação com Deus, os seres humanos criaram uma série
muito grande de atitudes e práticas espirituais, uma santas e conformes à dignidade
divina, outras falsas e ofensivas a ela. Toda revelando o grau de compreensão ou
incompreensão que se tem de Deus. Só alcançando sua raiz teológica é que se consegue
distinguir e separar o joio do trigo.
A magia é uma das práticas religiosas mais antigas da história das religiões e persiste
até hoje, explícita ou camuflada, mesmo na religião cristã. Baseia-se na convicção de
que a natureza, determinados objetos e certos ritos têm forças espirituais e divinas,
que podem ser captadas e direcionadas para o bem (magia branca) ou para o mal
(magia negra). Ela revela um movimento primitivo da criatura na busca da vida
religiosa. Deus, o mundo divino e os santos estão aí, com suas forças disponíveis. A
magia consiste em manipular essas forças, ora por astúcia, ora por habilidade, em
benefício ou malefício das pessoas.
É inegável, nos grupos humanos, o poder das pessoas que manejam as forças
espirituais. Mesmo que isso pareça de extremo primitivismo religioso e, por
conseguinte, distante da consciência moderna, é espantoso verificar como até pessoas
cultas recorrem ao uso de práticas mágicas em situações e decisões importantes da
vida. Hegel, filósofo alemão, dizia que a magia se encontra em todos os povos e
tempos.
Além do mais, a magia expressa certas tendências, desejos e sonhos pretensiosos do ser
humano. Este, porque foi criado por e para Deus, tem em si a marca divina. Em vez de
reconhecê-la como fonte de sua dignidade e em espírito de gratidão, é tentado a
prevalecer-se dela e igualar-se ao Criador. O autor sagrado via aí a tentação
primordial. "Vocês se tornarão como deuses, conhecedores do bem e do mal" (Gn 3,5).
Neste simbolismo, aparece a pretensão do ser humano de dominar o mundo divino
com suas artimanhas. O oposto à magia é a adoração, a contemplação gratuita de
Deus na certeza de ser amor infinito, sem precisar, de modo algum, atrair as forças
divinas, muito menos de maneira ardilosa.
Embora mais sofisticada, a astrologia pode revelar a mesma mentalidade mágica. Por
meio dos horóscopos, ela se tornou alimento diário de milhões de nossos
contemporâneos. Ainda que ocorra numa sociedade científica secularizada e sem
menção direta e explícita a Deus, o fenômeno remonta à categoria do religioso. O
horóscopo associa o nascimento da pessoa ao céu de sua conjuntura astral para assim
conhecer e determinar fatores eventuais da vida, sobretudo nos campos da
afetividade, saúde, dinheiro, poder e empreendimentos, entre outros.
À luz da compreensão de Deus Pai, essa atitude é ambígua. Aceitar que os astros, em
suas diferentes conjunturas, possam influir sobre nosso psiquismo não reflete um
comportamento religioso. Sabe-se que as fases da Lua influenciam no crescimento do
cabelo e comportamento dos animais. Esse fenômeno deve ser tratado, estudado e
controlado pela ciência. Para sair do campo mágico, é necessário um mínimo de
experimentação científica. Por outro lado, há pessoas dotadas de qualidades sensitivas,
que captam intuitivamente, mesmo que não consigam demonstrá-la em termos
científicos, efeitos das conjunturas astrais mas pessoas. Estamos, de novo, no campo
das experiências humanas psicossomáticas.
A ciência descobre e estabelece leis, princípios e teses, que vigoram até ser inválidos e
substituídos por outros. Conhecemos, dessa forma, os sistemas ptolomaico,
newtoniano, einsteiniano e assim por diante. Idêntico proceder ocorre no dia-a-dia, e
as pessoas vão formulando suas associações, ora sem nenhum fundamento objetivo e
simplesmente por casualidade, ora com alguma base objetiva, ainda que não
científica. A superstição se ancora nessa experiência humana.
Vamos imaginar, por exemplo, que, por pura coincidência, em várias sextas-feiras 13,
aconteceram infortúnios. Desconfia-se, então, que esse dia é de mau agouro. E toda
vez que, de fato, acontecer algo ruim nessa data, a suspeita de confirma. Depois,
entende-se a desconfiança para o número 13. Quando o procedimento atinge o nível
religioso de destino ou fatalidade, já estamos no campo da superstição. Logo surgirão
os antídotos espirituais. E, assim, se forma o círculo supersticioso.
O melhor remédio para essa deficiência religiosa é crer no Deus criador e salvador,
que quer, de fato, exclusivamente nosso bem. Mesmo nos infortúnios, ele está ao nosso
lado. Esta é a mais reconfortante certeza.
O neopaganismo é um fenômeno novo que se estende cada vez mais neste fim de
milênio e sobre o qual convém refletir. Não se trata aqui do sentido bíblico-cristão de
paganismo, que indica todos os povos que não fazem parte da aliança judaica (Antigo
Testamento) ou que não foram alcançados pela pregação cristã (Novo Testamento).
Numa palavra, todos os povos que não pertencem a nenhuma das três religiões
monoteístas: cristianismo, judaísmo e islamismo.
O paganismo surge como uma religião pós-cristã, praticada por antigos batizados no
cristianismo, mas que defendem valores religiosos em contraste com a Revelação
bíblica, remontando às religiões pagãs da Antigüidade ou a outras formas atuais não
tocadas pelo cristianismo. O surto neopagão só se entende no presente contexto por
suas aspirações religiosas, em contraste com as opções históricas do cristianismo. Há
um cansaço da ideologia capitalista de consumo, que transformou o ser humano num
ser de necessidade, cuja realização se encontra no jogo de produtividade máxima,
para usufruir, também intensamente, dos bens materiais. Produziu-se uma
degradação do desejo humano, transformado em necessidade de possuir ou aproveitar
dos produtos do sistema. Nessa âmbito, se entende o fenômeno neopagão. Cansadas de
tanto materialismo, as pessoas vão em busca de manifestações espirituais.
Mais sutis ainda são as inúmeras formas neopagãs secularizadas. O aspecto cultural e
sagrado de disfarça sob as mais diversas expressões, algumas moderadas, outras
beirando a exaltação. No centro, está a aspiração fundamental à harmonia consigo,
com a natureza e com os outros. Ora se desenvolve um cultivo esmerado do corpo e
espírito, com técnicas físicas e psicoespirituais, hidromassagens e meditação
transcendental e exercícios de respiração e expansão da consciência. Ora as pessoas se
entregam a exaltações ecológicas, com celebrações da natureza revestida de
qualidades divinas. Em todos esse casos, o transcendente perde a identidade própria
para dilui-se na criatura, sacralizando-a, de modo camuflado ou ostensivo.
A reflexão mais profunda, tanto da criação como do chamado de Deus Pai a todas as
pessoas para uma comunhão de amor com ele, pode oferecer, no entanto, nova
compreensão da radical dualidade - Deus e criatura -, sem cair no dualismo, que o
neopaganismo combate com justeza.
À medida que vamos excluindo os caminhos impenetráveis para nos acercar de Deus,
adquirimos também melhor entendimento do mistério infinito. Sempre continuará
válida a afirmação de Paulo de que "agora vemos como em espelho e de maneira
confusa". E só na vida eterna "veremos face a face. Agora o meu conhecimento é
limitado, mas depois conhecerei como sou conhecido" (1Cor 13,12).