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1 INTRODUÇÃO

A solvabilidade é princípio elementar que orienta a ciência jurídica, partindo do


pressuposto lógico-jurídico de que as obrigações devem ser voluntariamente adimplidas. Em
tal não ocorrendo, respondem todos os bens e créditos do devedor pela prestação não
cumprida, ou seja, adota-se a responsabilidade patrimonial do inadimplente, em contrapartida
ao que se verificava na análise histórica do Direito, em que se vislumbrava a
responsabilidade pessoal do devedor por suas dívidas, podendo até mesmo o devedor ter seu
corpo dividido fisicamentre entre os credores (partes secandi).

Ultrapassadas tais concepções históricas e consagrado o princípio da


responsabilidade patrimonial do devedor com a Lex Paetelia Papilio, surge relevante questão
concernente à execução do devedor que possui multiplicidade de credores, uma vez que, caso
se consagrasse a execução individual de cada autor do crédito, haveria como conseqüência a
possibilidade de afronta ao princípio da isonomia, uma vez que alguns credores conseguiriam
penhorar bens suficientes para garantir o seu crédito e outros não.

A fim de regular essa indesejável desigualdade, adotou-se a figura da execução


coletiva, de modo a ordenar a apuração do ativo do insolvente, distribuindo-se o montante
arrecadado com a venda dos bens, em atendimento aos critérios referentes ao interesse
público de que determinadas obrigações sejam satisfeitas preferencialmente a outras e
referentes a preocupação em garantir que todos os credores, titulares de créditos de mesma
natureza, sejam tratados em igualdade de condições (MAMEDE, 2009, p. 9).

Sob tais critérios se erige a execução coletiva, procedimento por meio do qual
concorrem todos os credores (concursus creditorum), de modo a solucionar duplo conflito:
relativo aos credores, em relação ao devedor, e relativo aos credores entre si, na busca de seu
crédito. De modo a disciplinar tal situação, surge a função reguladora do Estado, no sentido
de universalizar as pretensões executivas e garantir o cumprimento dos supracitados critérios.
A esse respeito, por oportuno, preleciona MAMEDE (2009, p. 10):

Como se verá na seqüência, com a declaração de insolvência civil ou


empresária, findam-se as iniciativas individuais, independentes e dispersas,
extrajudiciais ou judiciais, relativas ao patrimônio do insolvente, que passa
ao controle do Estado, a bem dos interesses públicos e privados envolvidos.
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Urge, ainda, uma vez compreendida a execução coletiva em apertado bosquejo,


efetuar a necessária separação entre o instituto quando aplicado ao empresário ou à sociedade
empresária e quando aplicado ao devedor comum. O sempre atual MENDONÇA (p. 30), em
sua clássica obra, já delimitava historicamente essa interessante divisão, conforme suas
magistrais lições:

O estudo daquelles systemas legislativos sobre fallencias e as successivas


mudanças que cada paiz experimenta neste ramo do seu direito, deixam
assignalado: I 1.° Que aos poucos se vae operando ura interessante
phenomeno: em sua origem a fallencia applicada a todos os devedores, na
idade media passa a ser instituição exclusivamente mercantil (n. 4), e nos
«tempos modernos tende a voltar á unidade observada em suas fontes.. • .
2.° Que, realisada a assimilação completa dos commerciantes e não
^coramerciantes para os effeitos da fallencia, as normas legaes reguladoras
deste instituto se desligam do quadro do direito commercial para se
incorporar ao direito judiciário na parte relativa ao processo da execução.

Referia-se então o mestre à tendência de unificação do Direito Privado verificada


à sua época (versava ainda sobre o Decreto n. 917, de 1890), que, inobstante tenha trazido
seus significativos reflexos para a ciência empresarial, devidamente contemplada inclusive
no vigente Código Civil, não se aplica na atual conjuntura do processo falimentar brasileiro,
em consonância com a necessidade de especial proteção a ser conferida à empresa, mediante
princípios próprios dedicados à sua tutela, como adiante será mais bem visto.
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2 ORIENTAÇÕES PRINCIPIOLÓGICAS DA LEI 11.101/05 – PARTICIPAÇÃO


ATIVA DOS CREDORES

Inspirada nesses interesses coletivos, surge o moderno instituto da falência e da


recuperação de empresas, regido pela Lei 11.101/05, em contraposição ao vetusto Decreto-lei
n. 7.661/45.

A novel legislação foi inspirada por princípios fundamentais bem delineados,


orientadas pelas modernas diretrizes já expostas, tendo em vista a moderna concepção da
atividade empresária. Nesse sentido, em parecer exarado pela Comissão de Assuntos
Econômicos do Senado Federal, a respeito do projeto sobre o qual se erigiu o mencionado
diploma, expõem-se de maneira didática esses princípios, motivo pelo qual de suma
relevância que seja ora transcrito, citado por ALMEIDA (2010, p. 9-10):

“1) Preservação da empresa: em razão de sua função social, a empresa deve ser
preservada sempre que possível, pois gera riqueza econômica e cria emprego e
renda, contribuindo para o crescimento e o desenvolvimento social do País. Além
disso, a extinção da empresa provoca a perda do agregado econômico representado
pelos chamados intangíveis como nome, ponto comercial, reputação, marcas,
clientela, rede de fornecedores, know-how, treinamento, perspectiva de lucro futuro,
entre outros.

2) Separação dos conceitos de empresa e de empresário: a empresa é o conjunto


organizado de capital e trabalho para a produção ou circulação de bens ou serviços.
Não se deve confundir a empresa com a pessoa natural ou jurídica que a controla.
Assim, é possível preservar uma empresa, ainda que haja a falência, desde que se
logre aliená-la a outro empresário ou sociedade que continue sua atividade em bases
eficientes.

3) Recuperação das sociedades e empresários recuperáveis: sempre que for possível


a manutenção da estrutura organizacional ou societária, ainda que com
modificações, o Estado deve dar instrumentos e condições para que a empresa se
recupere, estimulando, assim, a atividade empresarial.

4) Retirada do mercado de sociedades ou empresários não recuperáveis: caso haja


problemas crônicos na atividade ou na administração da empresa, de modo a
inviabilizar sua recuperação, o Estado deve promover de forma rápida e eficiente
sua retirada do mercado, a fim de evitar a potencialização dos problemas e o
agravamento da situação dos que negociam com pessoas ou sociedades com
dificuldades insanáveis na condução do negócio.
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5) Proteção aos trabalhadores: os trabalhadores, por terem como único ou principal


bem sua força de trabalho, devem ser protegidos, não só com precedência no
recebimento de seus créditos na falência e na recuperação judicial, mas com
instrumentos que, por preservarem a empresa, preservem também seus empregos e
criem novas oportunidades para a grande massa de desempregados.

6) Redução do custo do crédito no Brasil: é necessário conferir segurança jurídica


aos detentores de capital, com preservação das garantias e normas precisas sobre a
ordem de classificação de créditos na falência, a fim de que se incentive a aplicação
de recursos financeiros a custo menor nas atividades produtivas, com o objetivo de
estimular o crescimento econômico.

7) Celeridade e eficiência dos processos judiciais: é preciso que as normas


procedimentais na falência e na recuperação de empresas sejam, na medida do
possível, simples, conferindo-se celeridade e eficiência ao processo e reduzindo-se
a burocracia que atravancava seu curso.

8) Segurança jurídica: deve-se conferir às normas relativas à falência, à recuperação


judicial e à recuperação extrajudicial tanta clareza e precisão quanto possível, para
evitar que múltiplas possibilidades de interpretação tragam insegurança jurídica aos
institutos e, assim, fique prejudicado o planejamento das atividades das empresas e
de suas contrapartes.

9) Participação ativa dos credores: é desejável que os credores participem


ativamente dos processos de falência e de recuperação, a fim de que, diligenciando
para a defesa de seus interesses, em especial o recebimento de seu crédito,
otimizem os resultados obtidos com o processo, com redução da possibilidade de
fraude ou malversação dos recursos da empresa da massa filiada.

10) Maximização do valor dos ativos do falido: a lei deve estabelecer normas e
mecanismos que assegurem a obtenção do máximo valor possível pelos ativos do
falido, evitando a deterioração provocada pela demora excessiva do processo e
priorizando a venda da empresa em bloco, para evitar a perda dos intangíveis.
Desse modo, não só se protegem os interesses dos credores de sociedades e
empresários insolventes, que têm por isso sua garantia aumentada, mas também
diminui-se o risco das transações econômicas, o que gera eficiência e aumento da
riqueza geral.

11) Desburocratização da recuperação de microempresas e empresas de pequeno


porte: a recuperação das micro e pequenas empresas não pode ser inviabilizada pela
excessiva onerosidade do procedimento. Portanto, a lei deve prever, em paralelo às
regras gerais, mecanismos mais simples e menos onerosos para ampliar o acesso
dessas empresas à recuperação.
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12) Rigor na punição de crimes relacionados à falência e a recuperação judicial: é


preciso punir com severidade os crimes falimentares, com o objetivo de coibir as
falências fraudulentas, em função do prejuízo social e econômico que causam. No
que tange à recuperação judicial, a maior liberdade conferida ao devedor para
apresentar proposta a seus credores precisa necessariamente ser contrabalançado
com punição rigorosa aos atos fraudulentos praticados para induzir os credores ou o
juízo a erro’ (grifo nosso).

Merece destaque, no presente trabalho, o nono princípio elencado pela referida


Comissão, quando da aprovação da Lei que hoje regula o instituto da Falência e da
Recuperação Judicial, ao mencionar a participação ativa dos credores no processo, a fim de,
conforme mencionado, otimizar os resultados obtidos, reduzindo a possibilidade de fraude e
malversação dos recursos da empresa ou da massa falida.

Ora, sendo os credores os interessados diretos no regular deslinde do processo


falimentar, nada mais coerente de que eles participem ativamente do mesmo, servindo como
instrumento de sua celeridade e eficiência, maximizando os valores dos ativos do falido, em
consonância com os demais objetivos e com as diretrizes constitucionais que regem o regime
jurídico-empresário hodierno.

Assim, visto em seu aspecto processual, a falência é conceituada por FUHRER


(apud PEREIRA, 2010, p. 1) como um processo de execução coletiva, em que todos os bens
do falido são arrecadados para uma venda judicial forçada, com a distribuição proporcional
do ativo entre os credores. Tem-se, então, uma participação necessária dos últimos no
procedimento, em que sua colaboração, além de esperada, é necessária para a distribuição
proporcional e equânime dos ativos arrecadados, contribuindo para que sejam satisfeitos os
princípios falimentares.

Nesse diapasão, submete-se o empresário ou a sociedade empresária a regime


jurídico diverso, tendo em vista os diferentes interesses jurídicos que a orientam e a
necessidade já mencionada de especial proteção à empresa e à sua função social. Tais
princípios se encontram albergados pela ordem constitucional pátria (art. 1º, inc. IV; art. 5º,
incs. XXII e XXIII, art. 170 etc.), encontrando na importância da empresa no atual contexto
globalizado como sua base fundante. Oportuno, nessa esteira, trazer à baila interessante
trecho ilustrativo de ROSENVALD (apud GOMES, p. 1):
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A alteração de paradigmas é acentuada na moderna noção de


empresa. Ela é a propriedade tecnicamente organizada para produção
de lucro que não guarda qualquer relação com a propriedade
tradicional dos Códigos Civis. Acionistas e sócios não controlam bens
materiais, porém capital – valores mobiliários- na forma de títulos,
dividendos e ações de grande liquidez e conversíveis em recursos,
sem que em qualquer instante se discuta sobre a posse de bens móveis
ou imóveis, pois o objeto da propriedade é a fração do capital e não
os bens que a compõem. Com o processo de globalização, a empresa
assume papel ainda mais decisivo na ordem jurídica contemporânea.
Se dela provém a grande maioria dos bens e serviços consumidos,
urge, em contrapartida, que a sua função social deva resultar de uma
ampliação de sua responsabilidade social, redefinindo e valorizando
sua missão perante a coletividade. Essa contribuição social não
importa em diminuição de lucros, tampouco em desoneração do
Estado sobre as funções que lhe são inerentes. A empresa não pode
renunciar à sua finalidade lucrativa, mas é tão responsável quanto o
Poder Público em assegurar direitos fundamentais ao indivíduo, por
meio de políticas ambientais e culturais e oferta de benefícios diretos
e indiretos à sociedade.

Assim, orientados pelos supracitados princípios, sobreleva-se o papel social


desempenhado pela empresa no contexto atual, trazendo em seu bojo interesses dos mais
diversos setores sociais, mormente dos trabalhadores, consumidores, setores da economia etc.

Merece também destaque, enquanto corolário do princípio supra analisado, o


mandamento de preservação da empresa, justificada justamente por essa expressão sócio-
econômica de suas atividades, que lhe imprime notório caráter público.

A esse respeito, ilustrativas são as palavras de FREITAS (2010, p. 38), ao tecer


considerações sobre o princípio da preservação da empresa:

É possível afirmar, portanto, que o desenvolvimento de uma sociedade moderna


depende, necessariamente, do fortalecimento de sua economia, repousando na
empresa as expectativas de manutenção desse ciclo, como elemento que realiza a
produção e a circulação de riquezas e de rendas.
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Logo, partindo do fato de que o Direito impõe a toda a empresa o cumprimento de


sua função social, depreende-se que a organização empresarial é um ente de
fundamental importância para a sociedade, de maneira que a sua eventual extinção,
na condição de unidade produtiva, resulta, inevitavelmente, em conseqüências
negativas para o conjunto social, aí, incluindo, o Estado, os próprios credores e a
comunidade como um todo. A liquidação definitiva de uma empresa que, apesar de
acometida de dificuldades financeiras, se mostre viável, representa um grande
prejuízo para a sociedade, já que se perdem, principalmente, postos de trabalho e
fontes de renda tributária.

Parte-se, contudo, no conteúdo do presente princípio, da necessária distinção


entre empresa e empresário, uma vez que, inobstante haja a falência, desde que se consiga
aliená-la em bloco a outros empresários ou sociedades empresárias que possam dar
continuidade a atividade econômica desenvolvida.

Trazendo tais diretrizes para o princípio fundamental da participação ativa dos


credores, percebe-se inicialmente a sua inserção nesse contexto de função social e
preservação da empresa, uma vez que são sujeitos interessados no cumprimento desses
mandamentos nucleares, vistos ainda sob um aspecto coletivo dentro da execução, enquanto
manifestação daqueles, uma vez que, preservando-se o interesse dos credores nas condições
regulamentadas pela lei, atinge-se uma faceta dos objetivos ensejados na diretriz social do
regime falimentar.
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3 DA HABILITAÇÃO DOS CREDORES

Importante que sejam analisadas, antes de adentrar no foco propriamente dito do


presente trabalho, as fases de habilitação dos credores para a participação no processo
falimentar, uma vez que, não apenas interessa sobremaneira para adequada compreensão de
sua atual posição perante a Lei 11.101/05, como também se manifesta enquanto verdadeiro
instrumento de participação ativa do credor, no que interessa aos princípios anteriormente
colacionados.

Nesse sentido, importante que sejam verificados não apenas o atual sistema de
habilitação, mas também o anterior, trazido pelo vetusto Decreto-lei 7.661/45, vez que de
influência significativa para o atual, havendo importante corrente doutrinária a defender a
manutenção de grande parte dos procedimentos lá regulados, conforme se verá melhor
adiante.

Trata-se, em verdade, de fase de suma importância do processo falimentar, em


que a atuação dos credores proporciona a adequada verificação do montante total do passivo
constituído pelo devedor, individual e coletivamente considerado, possibilitando assim
igualmente o surgimento do elenco de credores legitimados a receber sua parte no ativo
posteriormente arrecadado.

Mais especificamente aos objetivos do presente trabalho, por sua vez, tal fase se
configura em preliminar necessária à compreensão dos instrumentos posteriormente
analisados, além de ser interessante manifestação das diferentes considerações
principiológicas que regeram a posição dos credores nos dois diplomas legais de que ora vai
se tratar em um viés comparativo.
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3.1. Sistema do Decreto-lei 7.661/45

O vetusto decreto versava a respeito do assunto em seu Título VI, intitulado ‘Da
verificação e classificação dos créditos’. Inicialmente, haveria então um processo de
verificação dos créditos, minuciosamente regulado por lei, em que o credor elaborava pedido
ao juiz solicitando a sua admissão no concurso de credores.

Inicia-se com a sentença declaratória de falência, em conformidade com o que


aludia o artigo 80, em que se referia ao prazo de dez dias, no mínimo, e de vinte, no máximo,
conforme a importância da falência e os interêsses nela envolvidos, marcado pelo magistrado
para que para os credores apresentem as declarações e documentos justificativos dos seus
créditos. Passar-se-ia, então, para a fase postulatória dos credores, da seguinte forma:

Art. 82. Dentro do prazo marcado pelo juiz, os credores comerciais e civís do falido
e, em se tratando de sociedade, os particulares dos sócios solidàriamente
responsáveis, são obrigados a apresentar, em cartório, declarações por escrito, em
duas vias, com a firma reconhecida na primeira, que mencionem as suas residências
ou as dos seus representantes ou procuradores no lugar da falência, a importância
exata do crédito, a sua origem, a classificação que, por direito, lhes cabe, as
garantias que lhes tiverem sido dadas, e as respectivas datas, e que especifique,
minuciosamente, os bens e títulos do falido em seu poder, os pagamentos recebidos
por conta e o saldo definitivo na data da declaração da falência, observando-se o
dispôsto no art. 25.

1° À primeira via da declaração, o credor juntará o título ou títulos do crédito, em


original, ou quaisquer documentos. Se os títulos comprobatórios do crédito
estiverem juntos a outro processo, poderão ser substituídos por certidões de inteiro
teor, extraídas dos respectivos autos.

2° Diversos créditos do mesmo titular podem ser compreendidos numa só


declaração, especificando-se, porém, cada um dêles.

3° O representante dos debenturistas será dispensado da exibição de todos os títulos


originais, quando fizer declaração coletiva do crédito.

4° O escrivão dará sempre recibo das declarações de crédito e documentos


recebidos.

Nesse sentido, verifica-se que tal declaração constituiria verdadeiro processo


contencioso, ainda que não impugnado. Uma vez destinada ao acertamento judicial do
passivo, é apresentada para fins de verificação da legitimidade do crédito que lhe dá causa,
sofrendo a análise do falido, do síndico, dos credores, e, por fim, do próprio juiz (REQUIÃO,
1998, pp. 302-303).

Informação importante dentro do trâmite seguido pela lei – o qual, pela sua
extensão e teor auto-explicativo, não será aqui transcrito em sua inteireza – se refere à
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necessidade ou não de ser o credor assistido por advogado para postular sua declaração. A
rigor, segundo entendimento doutrinário (REQUIÃO, 1998, p. 303), não seria necessária tal
assistência, salvo em caso de impugnação ou interposição de recurso, em que a intervenção
do advogado seria essencial, inclusive para a elaboração de defesa do crédito em face da
supracitada impugnação.

Colhem-se, ademais, interessantes posicionamentos da jurisprudência acerca do


supracitado artigo, mormente a respeito do impedimento de declaração de nulidade do
processo em conseqüência de mero desatendimento de formalidades previstas pelo legislados
sem efetiva ocorrência de prejuízo. Por sua relevância, serão aqui transcritos a título
ilustrativo:

FALÊNCIA - HABILITAÇÃO DE CRÉDITOS - IRREGULARIDADES NAS


INTIMAÇÕES DO SÍNDICO, DO FALIDO E DOS INTERESSADOS -
INOCORRÊNCIA - CREDORES DISTINTOS - CRÉDITOS COM MESMA
ORIGEM - POSSIBILIDADE - AUSÊNCIA DE PREJUÍZO - PRELIMINARES
AFASTADAS.

O desatendimento das formalidades previstas pelo legislador somente conduzirá à


declaração de nulidade do ato quando a sua finalidade restar comprometida pelo
vício, pois somente a atipicidade relevante dá ensejo à invalidação

Pela interpretação do art. 82 da Lei de Falências, aliado aos demais relacionados


com o procedimento das habilitações, é possível concluir pela vedação de uma
declaração de crédito que contém diferentes credores em diferentes créditos. Tal
dedução se faz porque a presença de muitos credores tumultuaria o processamento
do pedido que, por sua natureza, deve harmonizar certeza e brevidade. Contudo,
não se vê qualquer óbice na junção de créditos distintos quando os mesmos são
originados em ação trabalhista, na qual um é derivado do outro, porquanto não
haveria qualquer espécie de desordem processual. (TJSC - Apelacao Civel: AC
192961 SC 2006.019296-1. 0607/2006)

No que se refere ao procedimento propriamente dito, em sua, teríamos que,


apesentadas as declarações de crédito ao escrivão, este, na medida em que as for recebendo,
enttregaria a as segundas vias ao síndico, organizando os autos das declarações de créditos.
Art. 85. Na declaração de crédito do síndico, o falido dará a sua informação, por escrito, nos
cinco dias seguintes ao da entrega em cartório. Nos cinco dias seguintes ao decurso do prazo
marcado para os credores declararem seu crédito, o síndico entregará em cartório, para serem
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juntos aos autos das declarações de crédito, as segundas vias, pareceres e documentos
respectivos, acompanhados das seguintes relações: dos credores que declararam os seus
créditos, dispostos na ordem determinada no art. 102 e seu parágrafo 1°, mencionando os
seus domicílios, bem como o valor e a natureza dos créditos; dos credores que não fizeram a
declaração do art. 82, mas constantes dos livros do falido, documentos atendíveis e outras
provas, mencionados na mesma ordem e com as mesmas indicações do n° I. Findo esse
prazo, as declarações de crédito poderiam ser impugnadas, dentro dos cinco dias seguintes,
quanto à sua legitimidade, importância ou classificação, tendo qualidade para impugnar todos
os credores que declararam seu crédito e os sócios ou acionistas da sociedade falida. Esta
seria dirigida ao juiz por meio de petição, instruída com os documentos que tenha o
impugnante, o qual indicará as outras provas consideradas necessárias. Cada impugnação
seria autuada em separado, com as duas vias da declaração e os documentos a ela relativos,
para esseo fim desentranhados dos autos das declarações de crédito. Teriam, ainda, uma só
autuação as diversas impugnações ao mesmo crédito. Por fim, para desistir da impugnação, o
impugnante deveria pagar as custas e despesas devidas. Não havendo outros impugnantes, o
escrivão faria publicar, por conta do desistente, aviso aos interessados, de que, no prazo de
cinco dias, poderiam prosseguir na impugnação (artigo 89).

Dentro do vasto procedimento ora versado, merece destaque também


posicionamento defendido por REQUIÃO (1998, pp. 306-307) a respeito do informalismo da
prova do crédito, o qual, inobstante seja obrigação do credor logo na sua declaração, poderia
ser, segundo o autor, despido de exageros formais, no que traz como exemplo permissão de
que títulos de crédito possam ser substituídos por certidões de inteiro teor, extraídas dos
respectivos autos.

Finalmente, cumpridas todas as exigências procedimentais ditadas pela lei, ter-se-


iam como efeitos da declaração de crédito a habilitação na falência, obtendo então o direito
dos credores de participar do processo, possuindo direitos próprios que serão mais adiante
analisados.
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3.2 Sistema da Lei 11.101/05

Ao contrário do vetusto decreto, que adotava como única forma de afirmação dos
créditos o procedimento de habilitação voluntária anteriormente visto, trouxe a novel
legislação a figura da verificação de créditos, tida como verdadeira instituição do crédito de
ofício, a ser realizada pelo administrador judicial, da seguinte forma:

Art. 7o A verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial, com
base nos livros contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor e nos
documentos que lhe forem apresentados pelos credores, podendo contar com o
auxílio de profissionais ou empresas especializadas.

§ 1o Publicado o edital previsto no art. 52, § 1 o, ou no parágrafo único do art. 99


desta Lei, os credores terão o prazo de 15 (quinze) dias para apresentar ao
administrador judicial suas habilitações ou suas divergências quanto aos créditos
relacionados.

§ 2o O administrador judicial, com base nas informações e documentos colhidos na


forma do caput e do § 1o deste artigo, fará publicar edital contendo a relação de
credores no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, contado do fim do prazo do § 1 o
deste artigo, devendo indicar o local, o horário e o prazo comum em que as pessoas
indicadas no art. 8o desta Lei terão acesso aos documentos que fundamentaram a
elaboração dessa relação.

Tal reforma corrobora a transformação de uma antigo feixe de exeuções


individuais num procedimento coletivo de interesse público, como era antes efetuada pelo
decreto revogado, para surgir a falência como verdadeira liquidação judicial, na qual ao
Judiciário cabe decidir apenas eventuais conflitos entre os interessados (MAMEDE, 2009, p.
134).

Para além dessa hipótese, ainda segundo a doutrina de que ora tratamos, haveria
a habilitação voluntária de créditos, que seguiria também procedimento específico delineado
pela legislação falimentar vigente nos artigos 9º e seguintes, dos quais se transcreve alguns,
por mais significativos:

Art. 9o A habilitação de crédito realizada pelo credor nos termos do art. 7 o, § 1o,
desta Lei deverá conter:

I – o nome, o endereço do credor e o endereço em que receberá comunicação


de qualquer ato do processo;
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II – o valor do crédito, atualizado até a data da decretação da falência ou do


pedido de recuperação judicial, sua origem e classificação;

III – os documentos comprobatórios do crédito e a indicação das demais


provas a serem produzidas;

IV – a indicação da garantia prestada pelo devedor, se houver, e o respectivo


instrumento;

V – a especificação do objeto da garantia que estiver na posse do credor.

Parágrafo único. Os títulos e documentos que legitimam os créditos deverão


ser exibidos no o

Art. 11. Os credores cujos créditos forem impugnados serão intimados para
contestar a impugnação, no prazo de 5 (cinco) dias, juntando os documentos que
tiverem e indicando outras provas que reputem necessárias.

Art. 12. Transcorrido o prazo do art. 11 desta Lei, o devedor e o Comitê, se houver,
serão intimados pelo juiz para se manifestar sobre ela no prazo comum de 5 (cinco)
dias. (...)

Art. 13. A impugnação será dirigida ao juiz por meio de petição, instruída com
os documentos que tiver o impugnante, o qual indicará as provas consideradas
necessárias.

Parágrafo único. Cada impugnação será autuada em separado, com os


documentos a ela relativos, mas terão uma só autuação as diversas impugnações
versando sobre o mesmo crédito.

Art. 14. Caso não haja impugnações, o juiz homologará, como quadro-geral de
credores, a relação dos credores constante do edital de que trata o art. 7 o, § 2o, desta
Lei, dispensada a publicação de que trata o art. 18 desta Lei.

Art. 15. Transcorridos os prazos previstos nos arts. 11 e 12 desta Lei, os autos
de impugnação serão conclusos ao juiz, que:

I – determinará a inclusão no quadro-geral de credores das habilitações de


créditos não impugnadas, no valor constante da relação referida no § 2 o do art. 7o
desta Lei;

II – julgará as impugnações que entender suficientemente esclarecidas pelas


alegações e provas apresentadas pelas partes, mencionando, de cada crédito, o valor
e a classificação;
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III – fixará, em cada uma das restantes impugnações, os aspectos


controvertidos e decidirá as questões processuais pendentes;

IV – determinará as provas a serem produzidas, designando audiência de


instrução e julgamento, se necessário.

Defendem essa dicotomia e a existência da verificação de crédito como


instituição da figura do crédito arrolada de ofício, dentre outros, MAMEDE (2009, P. 135) e
ULHOA (2008, p. 321). RAMOS (2010, p. 698) e ALMEIDA (2010, p. 241), embora
admitam a desjudicialização do processo, que teria agora índole manifestamente
administrativa, encarregada pelo administrador judicial, não se manifestam expressamente
pelas duas possibilidades aqui trazidas, no que seria uma posição abrangente do texto legal.

Há de se mencionar, contudo, interessante posicionamento aduzido pelo professor


Luiz Eduardo dos Santos em suas aulas ministradas na Universidade Federal do Ceará.
Segundo o catedrático, mister se notar a imprecisão terminológica da nova legislação
falimentar ao tratar do instituto da habilitação dos créditos, o que prejudica sobremaneira a
compreensão do procedimento ora versado.

Assim é que, analisando sistemicamente a presente fase, percebe-se haver no


artigo 9ª supracitado um deslize do legislador, ao denominar de ‘habilitação’ um processo
prévio à incorporação do credor na participação do processo falimentar, no que seria mais
adequado utilizar o termo ‘verificação’, em conformidade com o vetusto diploma, de acordo
com a análise efetuada acima.

Destarte, permaneceria na presente regulamentação a figura da verificação de


crédito anteriormente estudada, em conseqüência de uma interpretação sistêmica dos outros
dispositivos legais vigentes, a demandarem um procedimento similar com o verificado no
vetusto decreto, hipótese na qual deverá ser conhecido pelo credor ou seu eventual
procurador para fins de utilização no feito.

Trata-se de posicionamento ousado, merecendo ser apreendido sob a ótica


principiológica da novel legislação, de modo a não se perder de vista a celeridade e eficiência
da prestação jurisdicional. Contudo, configura-se plenamente possível, em razão dos aspectos
colocados, sendo de sensível utilidade mormente para os operadores de direito que atuam na
área empresarial.
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Por fim, conclui-se, uma vez finalizado o procedimento trazido pela Lei
11.101/05, pela consolidação do denominado quadro geral de credores, nos moldes trazidos
pelo artigo 18, in verbis:

Art. 18. O administrador judicial será responsável pela consolidação do quadro-


geral de credores, a ser homologado pelo juiz, com base na relação dos credores a
que se refere o art. 7o, § 2o, desta Lei e nas decisões proferidas nas impugnações
oferecidas.

Parágrafo único. O quadro-geral, assinado pelo juiz e pelo administrador


judicial, mencionará a importãncia e a classificação de cada crédito na data do
requerimento da recuperação judicial ou da decretação da falência, será juntado aos
autos e publicado no órgão oficial, no prazo de 5 (cinco) dias, contado da data da
sentença que houver julgado as impugnações.

Surge, então, a relação organizada dos credores do processo falimentar, com


direito a participação ativa no feito. De acordo com MAMEDE (2009, p. 158), a decisão
homologatória do magistrado nesse sentido teria natureza de decisão interlocutória, uma vez
que declara o direito dos credores, seu valor e sua classe, com inegável efeito sobre os
exercícios das faculdades do juízo universal, a exemplo das assembléia gerais e comitê de
credores, porém sem dar fim ao processo, resolvendo apenas questão incidental que orientará
o prosseguimento do feito.
21

4 A POSIÇÃO DOS CREDORES NO ATUAL PROCESSO FALIMENTAR –


ASPECTOS COMPARATIVOS COM O DECRETO-LEI 7.661/45

Exercem os credores, como já dito, aspecto fundamental na constituição da


falência, pois são elementos integrantes do próprio conceito do instituto. Fundada na
insolvência, tida como uma quebra na normalidade das relações jurídicas obrigacionais, faz-
se necessária, dentro das condições já vistas, o estabelecimento de uma execução concursal, a
fim de que, em um processo único, pudessem ser ordenados a realização do ativo e a
distribuição dos créditos, em proporção isonômica e seguindo a ordem de prioridades ditadas
pela lei.

Poder-se-ia, nesse sentido, tecer uma breve conceituação de credor como aquele
que tem o direito de exigir de outrem o cumprimento de uma obrigação de dar, fazer ou não
fazer alguma coisa (ALMEIDA, 2010, pp. 58-59). No procedimento especial ora versado, no
entanto, estes assumem uma dimensão plural, em decorrência da natureza concursal das
dívidas assumidas pelo devedor empresário ou sociedade empresária.

Interessante, dentro da abordagem comparativa em que se debruça o presente


trabalho, trazer à baila a interessante distinção feita por MAMEDE (2009, p. 106) entre a
visualização do credor nos dois últimos diplomas legais pátrios a regerem a matéria:

No sistema do Decreto 7.661/45, afirmavam-se o poder e o interesse de cada credor,


isoladamente considerado, razão pela qual não se poderia falar numa coletividade
de credores que não fosse mera compreensão conjunta dessas unidades isoladas,
cada qual defendendo o seu próprio interesse, e, assim, agindo isoladamente. O
novo sistema, criando as figuras da assembléia geral dos credores e do comitê de
credores (...) deu aos credores uma dimensão coletiva, unitária, limitando o arbítrio
individual, que passa a depender de uma expressão conjunta dos interesses,
evitando atuações egoístas.

Assumem os credores, portanto, posição mais consentânea com a natureza do


processo falimentar, colocados em posição coletiva na execução delineada. Para isso, foram
criados dois importantes instrumentos de manifestação desse fenômeno: A assembléia geral
dos credores e o comitê de credores.
22

4.1. Dos direitos dos credores no Decreto-lei 7.661/45

Na antiga regulamentação, contudo, havia dispositivo específico para elencar os


direitos dos credores já habilitados, conforme a seguir aduzido:

Art. 30. Aos credores que tenham apresentado a declaração de crédito de que trata o
art. 82, ficam garantidos os direitos seguintes, desde o momento da declaração da
falência:

I - intervir, como assistentes, em quaisquer ações ou incidentes em que a massa seja


parte ou interessada;

II - fiscalizar a administração da massa, requerer e promover no processo da


falência o que fôr a bem dos interêsses dos credores e da execução da presente lei,
sendo as despesas que fizerem indenizadas pela massa, se esta auferir vantagem;

III - examinar, em qualquer tempo, os livros e papéis do falido e da administração


da massa, independentemente de autorização do juiz.

O objetivo primordial, portanto, da disposição exposta reside na garantia do bom


andamento do processo falimentar, proporcionando justiça na distribuição dos ativos
realizados.

Detinha, nesse contexto, amplo poder de fiscalização, mormente no que tange à


intervenção nos processos nos quais a massa é parte, fiscalização das atividades dos síndicos
e inspeção de livros e documentos contábeis do devedor.

Ressalte-se, por oportuno, a condição já colacionada para o exercício dos tais


direitos, a partir da devida habilitação dos créditos em tempo e forma hábeis, nos moldes já
trazidos já vislumbrados anteriormente. Destarte, os credores não habilitados, não poderiam
participar do processo falimentar, e, conseqüentemente, não poderiam fiscalizar o seu
deslinde, devendo antes intentarem a respectiva habilitação como credores retardatários.
Nesse sentido, há ainda importante ressalva feita por REQUIÃO (1997, p. 158):

Pode ocorrer que o credor que declarou seu crédito tenha o mesmo impugnado, mas
durante o curso do processamento da impugnação não perde o exercício daqueles
direitos. Cessam apenas quando decisão judicial de que não caiba mais recurso o
tenha excluído do processo. Não sendo credor, declarado assim judicialmente, não
pode intervir.
23

A partir do momento da habilitação, portanto, na forma e no prazo já assinalados,


até o fim do processo falimentar, ou até decisão judicial que o tenha inadmitido no respectivo
julgamento da declaração ou impugnação do crédito, ou até decisão judicial que exclua o
credor a partir do julgamento de eventual ação rescisória, poderá este exercer os direitos
elencados pelo artigo 30.

Ademais, no que se refere à sua representação, os credores podem constituir seus


respectivos procuradores, sendo-lhes permitido igualmente, por óbvio, que um só procurador
represente mais de um credor. Em conformidade com o § 1º do artigo 31 do vetusto decreto,
temos que a procuração de outorga de poderes poderia ser transmitida por telegrama,
telefonem ou radiograma, mediante minuta autêntica exibida à estação expedidora, que
mencionará essa circunstância na transmissão do instrumento do mandato. Destarte, o
procurador ficaria habilitado a tomar parte em qualquer ato ou deliberação da falência, desde
a declaração do crédito, recebimento de intimações, até a recorrer, independentemente de
poderes especiais, não sendo necessário que seja advogado.

Havendo procuração ad judicia, esta bastaria para o mandatário advogado, nos


moldes previstos na lei civil, ou seja, na prática de todos os atos do processo, salvo para
receber citação inicial, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir,
renunciar ao direito sobre que se funda a ação, receber, dar quitação e firmar compromisso.
Ademais, também a procuração ad negotia habilitaria o outorgado a representar o credor,
apenas podendo, contudo, praticar diretamente os atos que o outorgante também poderia,
impossibilitado, por essa razão mesma, de praticar os atos privativos de advogado. Cite-se,
por oportuno, exemplos de mandatários com essa habilitação como agentes ou representantes
comerciais, que tenham poderes gerais para promoverem os negócios do mandante
(REQUIÃO, 1997, p. 159).

Por fim, com relação aos credores debenturistas, estes seriam representados pelo
agente fiduciária, na conformidade da legislação pertinente (Lei das Sociedades Anônimas,
artigo 68, § 3º, d). Caso não haja um, os debenturistas se reuniriam em assembléia para
eleger seu representante, sendo os únicos credores que poderiam fazer a declaração coletiva
de crédito, dispensada da apresentação de todos os títulos originais pelo representante.

Residia, ainda, no artigo 33 do vetusto decreto, disposição no sentido de que, se


não forem integralmente pagos pelos bens do falido e dos sócios de responsabilidade
solidária os credores teriam, encerrada a falência, o direito de executar os devedores pelos
24

saldos de seus créditos, observado o disposto no art. 133, por meio de expedição de certidão
judicial com força de titulo executivo.
25

4.2. Da Assembleia Geral dos Credores

Antes de serem tecidas considerações acerca desse importante instrumento de


participação ativa dos credores no processo falimentar, importante que seja apreendida a
função precípua de administração da falência, da qual adviria a supracitada assembléia.

Assim é que cabe ao juiz, em última análise, a administração da execução


concursal e dos bens da massa falida, tanto que alguns doutrinadores, impulsinados por essa
função do magistrado, chegam a visualizar na conceituação da falência seu caráter
eminentemente administrativo, de que temos como exemplo mais latente o doutrinador
italiano Gustavo Bonelli (ALMEIDA, 2010, p. 18).

Nessa atividade administrativa, o juiz será diretamente auxiliado por dois


agentes: o promotor de justiça e o administrador judicial (ULHOA, 2008, p. 273). O primeiro
interviria como fiscal da lei ou como parte, nos moldes da lei, exercendo as funções
atribuídas constitucionalmente ao membro do Parquet, ou, em outras oportunidades, como
adverte o supracitado autor, aparece na falência como auxiliar do juiz na administração dos
bens da sociedade falida, como quando se manifesta acerca das coisas do administrador
judicial.

O administrador judicial, por outro lado, é, em apertada síntese, um profissional


de confiança do magistrado, nomeado por este com a observância dos impedimentos legais,
com funções previstas no artigo 21 da Lei 11.101/05, com o objetivo de auxiliar o juiz na
administração da falência e representação legal da comunhão dos interesses dos credores.
Dentro dessa atividade, deve prestar conta de todos os seus atos, pois não goza de absoluta
autonomia, cabendo-lhe plena responsabilidade nos limites dos atos a ele cometidos pela lei.

Ressalte-se, quanto a esse último ponto, dentro do que foi já discutido sobre a
expressão coletiva dos credores no vigente diploma, que, enquanto tramita o processo
falimentar, falece interesse jurídico para que o credor, individualmente, intente
responsabilizar o administrador, pois não se pode isolar o interesse individual do credor dos
interesses da comunidade. Assim, cabe-lhe apenas requerer a destituição do administrador
judicial, e, não obtendo, resta a ele aguardar o fim do concurso de credores, momento em que
qualquer credor admitido que tenha sido prejudicado por má administração ou infração à lei
poderá promover individualmente a responsabilização daquele que atuou na importante
função administrativa de que ora se tratou (ULHOA, 2008, p. 279).
26

4.2.1. Atribuições

Dentro do que foi dito, percebe-se a importância de se interpretar a vontade da


comunhão de credores da massa falida, a fim de coadunar os interesses convergentes e
divergentes dessa pluralidade. Surge assim a assembléia geral dos credores, enquanto órgão
congregador dessas vontades, constituindo instância auxiliar na administração comandada
pelo juízo universal, nos moldes do artigo 35, a seguir transcrito:

Art. 35. A assembléia-geral de credores terá por atribuições deliberar sobre:

I – na recuperação judicial:

a) aprovação, rejeição ou modificação do plano de recuperação judicial apresentado


pelo devedor;

b) a constituição do Comitê de Credores, a escolha de seus membros e sua


substituição

c) (vetado)

d) o pedido de desistência do devedor, nos termos do § 4o do art. 52 desta Lei;

e) o nome do gestor judicial, quando do afastamento do devedor;

f) qualquer outra matéria que possa afetar os interesses dos credores;

II – na falência:

a) (vetado)

b) a constituição do Comitê de Credores, a escolha de seus membros e sua


substituição;

c) a adoção de outras modalidades de realização do ativo, na forma do art. 145 desta


Lei;

d) qualquer outra matéria que possa afetar os interesses dos credores.

No que nos interessa no presente trabalho – o processo de falência – as


incumbências da Assembleia Geral dos Credores estão exemplificativamente colocada no
segundo inciso, que perpassa desde a constituição do Comitê de Credores, a seguir melhor
estudado, como na adoção de outras formas de realização de ativo e de quaisquer outras
matérias que possam afetar os seus interesses, a fim que possam expressá-los em comunhão.
27

4.2.2. Convocação e instalação

No que concerne à sua convocação e instalação, o artigo 36 alude à publicação de


edital pelo magistrado, em órgão oficial e em jornais de grande circulação nas localidades da sede e
filiais, com antecedência mínima de 15 (quinze) dias, o qual conterá local, data e hora da
assembléia em primeira e em segunda convocação, não podendo esta ser realizada menos de
5 (cinco) dias depois da primeira; a ordem do dia e o local onde os credores poderão, se for o
caso, obter cópia do plano de recuperação judicial a ser submetido à deliberação da
assembléia. Tal convocação pode ser feita tanto pelo juiz, de ofício, quanto pelo adminisrador
judicial, nos moldes do artigo 22, I, g, ou do comitê de credores, de acordo com o artigo 27, I,
d, ou até por credores que representem no mínimo 25 por cento do valor total dos créditos de
uma determinada classe, ex vi do parágrafo segundo do artigo sobre o qual se versa. As
despesas com a convocação e a realização da assembléia-geral correm por conta do devedor
ou da massa falida, salvo se convocada em virtude de requerimento do Comitê de Credores
ou na hipótese do § 2o deste artigo.

Saliente-se, por oportuno, que há ainda hipótese trazida por MAMEDE (2009, p.
107) em que se admite requerimento de convocação da assembléia por qualquer credor,
porém em sede de recuperação judicial, nos moldes trazidos pelo artigo 52, § 2º da lei
11.101/05, uma vez que a expressão ‘credores’ trazida pela disposição não está vinculada a
qualquer porcentagem de representatividade, tal como ocorre no processo de falência.

No que concerne especificamente ao juiz, hipóteses são trazidas pela Lei de


Falências e Recuperações de Empresas em que é obrigatória a convocação da assembléia de
credores: na recuperação judicial de empresas, nos moldes do artigo 56 da supracitada lei,
havendo objeção de qualquer credor ao plano de recuperação judicial; quando é afastado o
empresário ou o administrador societário das atividades, ainda em sede de recuperação
judicial de empresas, de acordo com o artigo 65 da mesma lei; quando o gestor indicado pela
assembléia geral de credores recusar ou estiver impedido de aceitar o encargo para gerir os
negócios do devedor, de acordo com mesmo artigo anterior; e por fim, em sede de falência,
por meio da sentença que a decretou, a fim de constituir o comitê de credores.
28

4.2.3 Organização interna e deliberativa

No que tange à formação interna do instituto, é pertinente a transcrição do artigo


37 do vigente diploma, in verbis:

Art. 37. A assembléia será presidida pelo administrador judicial, que designará 1
(um) secretário dentre os credores presentes.

§ 1o Nas deliberações sobre o afastamento do administrador judicial ou em outras


em que haja incompatibilidade deste, a assembléia será presidida pelo credor
presente que seja titular do maior crédito.

§ 2o A assembléia instalar-se-á, em 1 a (primeira) convocação, com a presença de


credores titulares de mais da metade dos créditos de cada classe, computados pelo
valor, e, em 2a (segunda) convocação, com qualquer número.

§ 3o Para participar da assembléia, cada credor deverá assinar a lista de presença,


que será encerrada no momento da instalação.

§ 4o O credor poderá ser representado na assembléia-geral por mandatário ou


representante legal, desde que entregue ao administrador judicial, até 24 (vinte e
quatro) horas antes da data prevista no aviso de convocação, documento hábil que
comprove seus poderes ou a indicação das folhas dos autos do processo em que se
encontre o documento.

§ 5o Os sindicatos de trabalhadores poderão representar seus associados titulares de


créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidente de trabalho
que não comparecerem, pessoalmente ou por procurador, à assembléia.

§ 6o Para exercer a prerrogativa prevista no § 5o deste artigo, o sindicato deverá:

I – apresentar ao administrador judicial, até 10 (dez) dias antes da assembléia, a


relação dos associados que pretende representar, e o trabalhador que conste da
relação de mais de um sindicato deverá esclarecer, até 24 (vinte e quatro) horas
antes da assembléia, qual sindicato o representa, sob pena de não ser representado
em assembléia por nenhum deles; e

II – (VETADO)

§ 7o Do ocorrido na assembléia, lavrar-se-á ata que conterá o nome dos presentes e


as assinaturas do presidente, do devedor e de 2 (dois) membros de cada uma das
classes votantes, e que será entregue ao juiz, juntamente com a lista de presença, no
prazo de 48 (quarenta e oito) horas.
29

Importantes anotações devem ser tecidas a respeito do transcrito § 3º, uma vez
que redobra a importância da pontualidade para participação na assembléia, em decorrência
do encerramento da lista de presença a ser assinada pelos credores no momento da instalação.
Há, contudo, de interpretar esse dispositivo com cautela, sob pena de acarretar abusos ilícitos
na feitura da assembléia. Nesse sentido, portanto, o hiato entre o encerramento da lista de
presença e a instalação da assembléia geral constitui ato ilícito (MAMEDE, 2009, p. 109).
Ademais, atente-se que o encerramento da lista a instalação devem ocorrer, obviamente, no
momento marcado para sua celebração, em respeito ao direito dos credores de chegarem ao
local em que será realizada a deliberação até o último instante do horário marcado no edital
publicado.

Há também que se atentar para o disposto no § 4º que permite a representação do


credor na assembléia por mandatário ou representante legal, nas condições aduzidas,
merecendo notar a desnecessidade de feitura de especial mandato, bastando a sua
interpretação segundo as regras comuns do direito, inclusive a respeito da exigência de
poderes especiais para determinados atos. Nesse sentido, uma vez que o voto a ser exercido
pelo credor não produz efeitos diretos no patrimônio do mandante, pois versa sobre os
interesses de toda uma coletividade, estaria compreendido o mandato nas regras de
administração ordinária, nos termos do artigo 661 do Código Civil. Impossibilita-se, contudo,
a renúncia ou transigência a respeito de direito exclusivo do mandante, fora da respectiva
classe.

O artigo 38 da vigente lei falimentar rege importante regra deliberativa, uma vez
que consigna o poder de voto de maneira proporcional ao valor do crédito, ressalvado, nos
planos sobre deliberação de recuperação judicial, o disposto no o disposto no § 2 o do art. 45
da Lei. Com relação à maneira de aferição desses valores, MAMEDE (2009, p. 111) traz
ilustradas lições:

Esses valores são definidos conforme o estado do juízo universal naquele momento:
o que se tem, conforme os elementos e os cálculos até então possíveis, por (1) valor
total do passivo; (2) valor total dos créditos em cada categoria, como se estudará
abaixo; e (3) valor de cada crédito específico. Obviamente, a evolução do processo
de recuperação judicial ou de falência determina alterações nesses valores, seja em
virtude de novos elementos – a exemplo de novos documentos, novas habilitações
(incluindo a hipótese de habilitação retardatária) etc. -, seja em virtude do próprio
desenrolar do processo: impugnações, reforma de decisões, pagamento de alguns
30

credores, no todo ou em parte etc. Um exemplo dessa mobilidade é oferecido pelo


artigo 38, parágrafo único, da Lei 11.101/05, a prever que, na recuperação judicial,
o crédito em moeda estrangeira, para fins exclusivos de votação em assembléia
geral, será convertido para moeda nacional pelo câmbio da véspera da data de
realização da assembléia; via de conseqüência, conforme o cambio daquele dia, o
respectivo credor terá voto com peso maior ou menor nas deliberações.

Ainda com relação ao assunto, o artigo 39 aduz que terão direito a voto na
assembléia-geral as pessoas arroladas no quadro-geral de credores ou, na sua falta, na relação
de credores apresentada pelo administrador judicial na forma do art. 7 o, § 2o, da Lei de
Falências e Recuperação de Empresas, ou, ainda, na falta desta, na relação apresentada pelo
próprio devedor nos termos dos arts. 51, incisos III e IV do caput, 99, inciso III do caput, ou
105, inciso II do caput, da mesma Lei, acrescidas, em qualquer caso, das que estejam
habilitadas na data da realização da assembléia ou que tenham créditos admitidos ou
alterados por decisão judicial, inclusive as que tenham obtido reserva de importâncias,
observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 10 do referido diploma. Ademais, não terão direito
a voto e não serão considerados para fins de verificação do quorum de instalação e de
deliberação os titulares de créditos excetuados na forma dos §§ 3o e 4o do art. 49.

Ressalte-se, ainda, dispositivo específico alertando, que as deliberações da


assembléia-geral não serão invalidadas em razão de posterior decisão judicial acerca da
existência, quantificação ou classificação de créditos. Do mesmo modo, no caso de posterior
invalidação de deliberação da assembléia, ficam resguardados os direitos de terceiros de boa-
fé, respondendo os credores que aprovarem a deliberação pelos prejuízos comprovados
causados por dolo ou culpa. Por fim, não será deferido provimento liminar, de caráter
cautelar ou antecipatório dos efeitos da tutela, para a suspensão ou adiamento da assembléia-
geral de credores em razão de pendência de discussão acerca da existência, da quantificação
ou da classificação de créditos (artigo 40).

Com relação a este último dispositivo, MAMEDE (2009, p. 114) ainda atenta
para o fato de que se veda a suspensão ou adiamento da dita assembléia pelos motivos
expressamente dispostos no artigo, de tal sorte que por outras razões seria sim possível tal
ocorrência, mesmo em sede liminar, desde que presentes os elementos jurídicos pertinentes.
Tal dispositivo, inclusive, coaduna-se com o que já foi exposto acerca do artigo 39, § 2º da
Lei, pois ambos servem como instrumentos de eficácia do juízo universal.
31

Outro ponto relevante na organização interna do instrumento ora estudado reside


na composição da assembléia, por três classes de credores, conforme rege o artigo 41 da
vigente Lei Falimentar, em função da afinidade de interesses, da seguinte forma: a primeira,
dos titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de
trabalho; a segunda, dos titulares de créditos com garantia real; e a terceira, dos titulares de
créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou subordinado.

Ademais, ressalta o mesmo artigo votarem com a primeira classe aduzida os


titulares de créditos derivados da legislação do trabalho com o total de seu crédito,
independentemente do valor. Por sua vez, os titulares de créditos com garantia real votam
com a classe consignada até o limite do valor do bem gravado e com a terceira classe pelo
restante do valor de seu crédito. Por esse motivo, reveste-se de particular importância a
avaliação dos bens arrecadados, quando estes estejam gravados de ônus reais, tornando,
portanto, questão processual passível de discussão, decisão interlocutória e recurso
(MAMEDE, 2009, p. 115).

Considerar-se-á aprovada, de acordo com o artigo 42 da lei falimentar, a


proposta que obtiver votos favoráveis de credores que representem mais da metade do valor
total dos créditos presentes à assembléia-geral, exceto nas deliberações sobre o plano de
recuperação judicial nos termos da lei, a composição do Comitê de Credores ou forma
alternativa de realização do ativo nos termos do art. 145 do mesmo diploma.

Merece destaque também o dispositivo legal a versar sobre os participantes sem


direito a voto, devendo ser interpretada também com cautela, sob pena de restringir o que foi
abrangido com o termo participação, uma vez que a mera presença física nas reuniões,
segundo alude MAMEDE (2009, p. 117), é a todos permitida, pois se submetem ao artigo
155 do Código de Processo Civil. A esse respeito, assim trata o artigo 43 e seu respectivo
parágrafo único:

Art. 43. Os sócios do devedor, bem como as sociedades coligadas,


controladoras, controladas ou as que tenham sócio ou acionista com participação
superior a 10% (dez por cento) do capital social do devedor ou em que o devedor ou
algum de seus sócios detenham participação superior a 10% (dez por cento) do
capital social, poderão participar da assembléia-geral de credores, sem ter direito a
voto e não serão considerados para fins de verificação do quorum de instalação e de
deliberação.
32

Parágrafo único. O disposto neste artigo também se aplica ao cônjuge ou


parente, consangüíneo ou afim, colateral até o 2 o (segundo) grau, ascendente ou
descendente do devedor, de administrador, do sócio controlador, de membro dos
conselhos consultivo, fiscal ou semelhantes da sociedade devedora e à sociedade
em que quaisquer dessas pessoas exerçam essas funções.

Últimas ressalvas da Lei são elaboradas a respeitos de quoruns específicos para


determinadas matérias que, por sua leitura auto-explicativa, porém de relevância
considerável, serão aqui transcritos:

Art. 44. Na escolha dos representantes de cada classe no Comitê de Credores,


somente os respectivos membros poderão votar.

Art. 45. Nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial, todas as classes de
credores referidas no art. 41 desta Lei deverão aprovar a proposta.

§ 1o Em cada uma das classes referidas nos incisos II e III do art. 41 desta Lei, a
proposta deverá ser aprovada por credores que representem mais da metade do
valor total dos créditos presentes à assembléia e, cumulativamente, pela maioria
simples dos credores presentes.

§ 2o Na classe prevista no inciso I do art. 41 desta Lei, a proposta deverá ser


aprovada pela maioria simples dos credores presentes, independentemente do valor
de seu crédito.

§ 3o O credor não terá direito a voto e não será considerado para fins de verificação
de quorum de deliberação se o plano de recuperação judicial não alterar o valor ou
as condições originais de pagamento de seu crédito.

Art. 46. A aprovação de forma alternativa de realização do ativo na falência,


prevista no art. 145 desta Lei, dependerá do voto favorável de credores que
representem 2/3 (dois terços) dos créditos presentes à assembléia.
33

4.3 Comitê de Credores

4.3.1. Composição, organização interna e deliberativa

O segundo instrumento consolidado pela Lei 11.101/05 visando a proporcionar


uma participação mais ativa dos credores é o presente Comitê de Credores, órgão da falência
cuja constituição é facultativa (em conformidade com o que alude o seu artigo 28), a
depender das dificuldades e da complexidades envolvidas no procedimento falimentar, bem
como do porte da empresa falida, do número de credores etc.

Dentro desse contexto, salutar a crítica de ALMEIDA (2010, p. 210), segundo o


qual a criação do supracitado órgão pode, na prática, representar uma burocratização do
processo de falência, trazendo, mais do que benefícios, visíveis prejuízos para o feito.
Saliente-se, contudo, que tal opinião encontra vertentes opostas, no que parece ser o
entendimento de MAMEDE (2009, 0. 120), segundo o qual a criação do comitê torna muito
mais ágil a representação da comunhão de credores, com uma convocação e instalação
sensivelmente mais fáceis.

Ultrapassadas eventuais críticas, a lei assim dispõe sobre a composição desse


expressivo órgão:

Art. 26. O Comitê de Credores será constituído por deliberação de qualquer das
classes de credores na assembléia-geral e terá a seguinte composição:

I – 1 (um) representante indicado pela classe de credores trabalhistas, com 2 (dois)


suplentes;

II – 1 (um) representante indicado pela classe de credores com direitos reais de


garantia ou privilégios especiais, com 2 (dois) suplentes;

III – 1 (um) representante indicado pela classe de credores quirografários e com


privilégios gerais, com 2 (dois) suplentes.

§ 1o A falta de indicação de representante por quaisquer das classes não prejudicará


a constituição do Comitê, que poderá funcionar com número inferior ao previsto no
caput deste artigo.

§ 2o O juiz determinará, mediante requerimento subscrito por credores que


representem a maioria dos créditos de uma classe, independentemente da realização
de assembléia:
34

I – a nomeação do representante e dos suplentes da respectiva classe ainda não


representada no Comitê; ou

II – a substituição do representante ou dos suplentes da respectiva classe.

§ 3o Caberá aos próprios membros do Comitê indicar, entre eles, quem irá presidi-
lo.

Há, contudo, impedimentos legais à integração do Comitê, trazidas pelo artigo


30, segundo o qual não poderá integrá-lo ou exercer as funções de administrador judicial
quem, nos últimos 5 (cinco) anos, no exercício do cargo de administrador judicial ou de
membro do Comitê em falência ou recuperação judicial anterior, foi destituído, deixou de
prestar contas dentro dos prazos legais ou teve a prestação de contas desaprovada. Da mesma
forma, ficará também impedido de integrar o Comitê ou exercer a função de administrador
judicial quem tiver relação de parentesco ou afinidade até o 3o (terceiro) grau com o devedor,
seus administradores, controladores ou representantes legais ou deles for amigo, inimigo ou
dependente (§ 1º). Caso esteja presente em algum dos integrantes algum desses
impedimentos, o devedor, qualquer credor ou o Ministério Público poderá requerer ao juiz a
substituição do administrador judicial ou dos membros do Comitê nomeados irregularmente.
Nessa hipótese, decidirá o juiz no prazo de 24 (vinte e quatro) horas (§ 3º).

Além dessa situação, pode outrossim o magistrado, de ofício ou a requerimento


fundamentado de qualquer interessado, determinar a destituição do administrador judicial ou
de quaisquer dos membros do Comitê de Credores quando verificar desobediência aos
preceitos legais, descumprimento de deveres, omissão, negligência ou prática de ato lesivo às
atividades do devedor ou a terceiros. No ato de destituição, o juiz nomeará novo
administrador judicial ou convocará os suplentes para recompor o Comitê (art. 31, § 1º e 2º).

Uma vez nomeados para o comitê, os representantes serão intimados


pessoalmente para assinar na sede do juízo, no prazo de 48 horas, o termo de compromisso de
bem e fielmente desempenhar o encardo e assumir todas as responsabilidades a ele inerentes
(artigo 33). Ressalte-se, por oportuno, que é feita ressalva no artigo seguinte unicamente ao
administrador judicial, não havendo de se falar, por conseqüência lógica, em nomeação dos
integrantes do Comitê pelo juiz. Ficaria, portanto, sem representação a classe em que tal
irregularidade ocorresse. Dentro desse aspecto, conclui MAMEDE (2009, p. 121) por um
importante mecanismo em favor de credores minoritários, a merecer leitura:
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Justamente por isso, caso se verifique haver abuso no poder de voto daqueles que
insistem em manter a nomeação de representante que não se interesse pelo
desempenho da função, será lícito aos credores minoritários aforar ação de
indenização por abuso de direito contra o credor controlador ou os credores
majoritários; essa ação, por dizer respeito ao que se passa no juízo universal, será
distribuída por dependência aquele juízo, cabendo ao juiz, se julgá-la procedente,
determinar se houve danos econômicos mandando indenizá-los, ou se houve danos
morais ou mesmo danos processuais, arbitrando a respectiva reparação. Trata-se,
reconheço, de posição doutrinária ousada, mas que se justifica pela necessidade de
coibição do abuso de deliberação, como no exemplo dado.

Ademais, consigne-se, ainda, nesse sentido, que os membros do Comitê


responderão pelos prejuízos causados à massa falida, ao devedor ou aos credores por dolo ou
culpa, devendo o dissidente em deliberação do Comitê consignar sua discordância em ata
para eximir-se da responsabilidade (art. 32). Por fim, é feita alusão à remuneração dos
respectivos membros, no sentido de que estas não serão custeadas pelo devedor ou pela
massa falida. As despesas, porém, realizadas para a realização de ato previsto na lei
falimentar, se devidamente comprovadas e com a autorização do juiz, serão ressarcidas
atendendo às disponibilidades de caixa. (art. 29).

4.3.2. Atribuições

No que concerne às principais atribuições do Comitê de Credores, alusiva a


disposição seguinte:

Art. 27. O Comitê de Credores terá as seguintes atribuições, além de outras


previstas nesta Lei:

I – na recuperação judicial e na falência:

a) fiscalizar as atividades e examinar as contas do administrador judicial;

b) zelar pelo bom andamento do processo e pelo cumprimento da lei;

c) comunicar ao juiz, caso detecte violação dos direitos ou prejuízo aos interesses
dos credores;

d) apurar e emitir parecer sobre quaisquer reclamações dos interessados;

e) requerer ao juiz a convocação da assembléia-geral de credores;

f) manifestar-se nas hipóteses previstas nesta Lei;


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A primeira atribuição colacionada, ao se referir à fiscalização das atividades do


administrador judicial e exame de suas contas, pressupõe uma ampla participação dos
credores em todos os atos àquele inerentes, de forma passiva, a partir da comunicação a
respeito dos atos por ele perpetrados, ou ainda de forma ativa, de que teríamos como exemplo
a faculdade de estar presente na realização mesma dos atos cabíveis ao administrador
judicial.

A segunda consiste em atribuição genérica, dentro do contexto principiológico


que ensejou as reformas legais ora versadas, uma vez que pressupõe o interesse dos credores
em zelar pelo bom andamento processual, pois assim colherá com maior celeridade as
proporções do ativo a eles atribuídas.

No que tange à terceira, reveste-se de singular importância, pois é a


materialização da capacidade dos credores de reagir contra atos ilícitos perpetrados durante o
processo falimentar. A regra, além de acolher o peticionamento direto ao magistrado, deve ser
interpretada ainda de forma ampla, dentro da locução abrangente ‘comunicação’, para incluir
também qualquer outro mecanismo hábil de informação de eventual violação de direitos ou
prejuízo aos interesses dos credores. Ademais, cumpre ainda trazer à baila importante
interpretação tecida por MAMEDE, ao tratar desta alínea (2009, p. 124):

Um juízo mais amplo do que o da legalidade se coloca como atribuição do comitê e


de seus membros, bem como, em decorrência, como configuração do poder e dever
jurisdicional, do magistrado no juízo universal. (...)

O comitê e seus membros devem comunicar – e devem ser respondidos – mesmo


atos que, aparentemente ou essencialmente legais, não se mostrem em
conformidade com o bom andamento do feito, que não respeitam princípios gerais
como probidade, boa-fé, celeridade, economia e, mesmo, que se mostrem
prejudiciais não diretamente aos direitos, mas aos interesses jurídicos dos credores.

A quarta atribuição compreende instrumento que possibilita aos representados


dos integrantes dos comitê – lembre-se da composição supra-mencionada – exercerem
também sua participação no deslinde do feito, ainda que de maneira indireta, por meio da
figura do seu representante no órgão falimentar.

Ao trazer a possibilidade de requerer ao juiz a convocação da assembléia de


credores, a lei confere ao comitê um consectário lógico de sua própria constituição, vez que
tais órgãos estão inseridos em uma verdadeira relação de gênero e espécie, atentando-se,
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todavia, para o seu diferenciado rol de atribuições. Saliente-se apenas, contudo, que, em
determinadas falências de índole complexa, essa atribuição deve ser utilizada com cautela,
sob pena de tumultuar sobremaneira o andamento do feito.

Por fim, a última atribuição confere uma abrangência genérica ao rol ora versado,
de que teríamos como exemplos os estatuídos no artigo 8º, ao determinar a apresentação ao
juiz impugnação contra relação de credores, apontando ausência de crédito ou manifestando-
se contra a legitimidade, importância ou classificação do crédito impugnado, ou manifestar-se
sobre pedido de disposição ou oneração de bens do falido, ressalvados os bens cuja venda
faça parte das atividades normais do devedor se autorizada a continuação provisória da
empresa (artigo 99, inciso VI) etc.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por todo o exposto, conclui-se, na esteira das ordens principiológicas hodiernas e


na breve análise da evolução dos institutos falimentares, pela importância basilar da função
social da empresa e de sua manutenção no regime comercial, conceituada da seguinte
maneira nas preciosas lições de MIRANDA (2010, P. 80):

A função social, como já afirmado, penetra na própria substância do direito de


propriedade, expressando uma necessidade de atuação promocional por parte do
proprietário, pautada no estímulo a obrigações de fazer, consistentes em medidas
hábeis a impulsionar a exploração racional dos bens, com a finalidade de satisfazer
os seus anseios econômicos sem aviltar demandas coletivas, promovendo o
desenvolvimento econômico e social, de modo a alcançar o valor supremo do
ordenamento jurídico: a justiça.

Albega-se ainda tal diretriz na ordem constitucional pátria, mormente no


dispositivo que funda a Republica Federativa do Brasil e a sua ordem econômica na livre
iniciativa e na valorização do trabalho humano, tendo por fim, sob o ponto de vista da
coletividade, do social, assegurar existência digna a todos, em conformidade com o artigo 1º,
inciso IV e artigo 170, caput e incisos,

Justifica-se, assim, a existência de um procedimento diferenciado para o devedor


empresário e sociedade empresária, pois, ao assumir os riscos de sua atividade – nesse
sentido consideravelmente mais suscetível a insolvências – demanda auxílio estatal para a
superação de suas situações de crise, tendo em vista o interesse coletivo da continuidade da
empresa, que proporciona reflexos no desenvolvimento econômico, no nível de desemprego,
na relação consumerista, dente inúmeros outros.

Inspirado nesses aspectos, surge a Lei 11.101/05, pautada em princípios


fundamentais em consonância às orientações mencionadas, destacando uma posição mais
ativa dos credores na execução coletiva falimentar. Nesse sentido, contrapõe-se
sensivelmente ao antigo sistema legislativo centrado no Decreto-lei 7.661/45, em que tais
credores eram considerados numa visão predominantemente individualista de satisfação dos
seus próprios créditos junto ao falido.

Já no processo de habilitação dos créditos, rompe sensivelmente com o


paradigma anterior, trazendo alterações significativas no papel dos credores na organização
de seus créditos junto ao administrador judicial e ao juízo universal, merecendo destaque,
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nesse contexto, diferentes posicionamento acerca das mudanças legislativas efetuadas, que
nem sempre atentaram para a necessária precisão terminológica.

Finalmente, enquanto manifestação crucial dessa nova tendência, a novel


legislação cria dois instrumentos relevantes em cumprimento à diretriz principiológica de
uma participação mais ativa dos credores: A Assembléia Geral de Credores e o Comitê de
Credores. Permitem, assim, uma atuação coletiva dos supracitados atores no feito falimentar,
a fim de efetivarem a unidade dos seus interesses, vistos sob um aspecto coletivo, exercendo,
nesse contexto, significativas contribuições para uma maximização da realização dos ativos e
para uma maior celeridade no deslinde processual, fiscalizando-o e auxiliando no seu
ordenamento e administração, inseridos enquanto órgãos auxiliares ao juízo universal e
orientados pela paridade de tratamento na garantia da satisfação proporcional aos credores
em face do ativo inferior do devedor.
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REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Amador Paes de. Curso de Falência e Recuperação de Empresa. 25 ed. São
Paulo: Saraiva, 2010.

COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, v. 3: direito de empresa. 8ª Edição.


São Paulo: Saraiva, 2008

COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 15 ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

FREITAS, Adriana Maria Bezerra de. A Função Social da Empresa como Fundamento da
Lei 11.101/05. Disponível em: http://www.repositoriobib.ufc.br/000005/00000586.pdf
Acesso em 20/10/11.

GOMES, Larissa Silva. Função Social e Recuperação de Empresas. Disponível em:


http://www.jus.uol.com.br/revista/texto/.../funcao-social-e-recuperacao-de-empresas. Acesso
em 20/10/11.

MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: falência e recuperação de


empresas. v. 4. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

MENDONÇA, José Xavier Carvalho de. Das fallencias: dos meios preventivos de sua
declaração. v. 1. São Paulo: Typographia Brasil de Carlos Gerke & CIA, ?.

MIRANDA, Daniel Gomes de. Constitucionalização do direito privado e a função social


do contrato e da propriedade na empresa. Fortaleza: dissertação de mestrado da
Universidade Federal do Ceará, 2010.

RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Curso de Direito Empresarial. 4. ed. rev. ampl. e atual.
Salvador: JusPodium, 2010.

REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Falimentar. 17 ed. São Paulo: Saraiva, 1998.

PEREIRA, Mario. Os Conceitos de Falência. Disponível em:


http://www.webartigos.com/articles/46988/1/Os-Conceitos-de-Falencia/pagina1.html .
Acesso em 17/09/2011.
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SOUSA JÚNIOR, Francisco Sátiro de; PITOMBO, Antônio Sérgio de Moraes (Coord).
Comentários à lei de recuperação de empresa e falência: Lei 11.101/2005 – Artigo por
artigo. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

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