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Resumo: O objetivo do presente estudo foi investigar evidências de validade discriminante do Mayer
Salovey Caruso Emotional Intelligence Test (MSCEIT), comparando-o com os 16 Fatores de Personalidade. O
construto de inteligência emocional tem sido definido como a capacidade de perceber, entender e usar precisa-
mente as emoções em si e em relação aos outros, bem como gerenciá-las para facilitar os processos cognitivos
e promover o crescimento pessoal e intelectual. Participaram 270 universitários de diferentes cursos -Psicolo-
gia, Educação Física, Matemática e Biologia, sendo utilizados o MSCEIT e o 16 PF em aplicação coletiva. Os
resultados indicaram correlações significativas baixas positivas e negativas entre IE e personalidade, tais como;
Extroversão (r = 0,125*), Brandura (r = 0,253**), Rigidez de Pensamento (r = -0,193**). A análise dos
resultados indica que não houve equivalência entre construtos de inteligência emocional e personalidade, em-
bora algumas dimensões deste último possam contribuir para um adequado desempenho em IE.
Abstract: The present study aim was to investigate discriminative validity evidences between Mayer
Salovey Caruso Emotional Intelligence Test (MSCEIT), and The 16 Personality Factors. The construct definition
has been described as the person’s ability to accurately perceive, express, understand and use his or her own
emotions and the emotions of others as well manager them in order to facilitate the cognitive process and to
promote intellectual and personal growth. Participated 270 undergraduate students from Psychology, Physical
Education, Mathematics and Biology courses. The material was MSCEIT and the 16 PF. The instruments
were applied collection was. The results indicated several low positive and negative significant correlations
between EI and personality such as Extroversion (r = 0,125*), Softness (r = 0,253**), Tough mindedness (r=
-0,193**). The results have showed that there was no equivalence of constructs although it may indicate that
some personality traits can contribute to an appropriated achievement in EI.
Introdução: A definição da Inteligência Emo- meio do livro de Daniel Goleman (1995), de forma
cional (IE) no percurso histórico parece ter passado que o mundo dos negócios e as áreas correlatas aca-
por adaptações e refinamentos, tendo em vista as baram incorporando-a como uma panacéia.
pesquisas e críticas que contribuíram para o aumento A ênfase da popularização se deu principal-
do interesse pelo tema. Parte dessas surgiu com a mente nas organizações, em que diversas palestras
popularização do termo Inteligência Emocional, por foram ministradas sobre o tema e as pessoas consi-
1
deradas emocionalmente inteligentes eram vistas
Artigo recebido em 04/01/2005 e aceito para publicação em 20/06/
2006. como portadoras de características psicológicas re-
2
Endereço para correspondência: Marilda Aparecida Dantas , Rua lacionadas ora a traços de personalidade ora a habili-
Sebastião Moreira Neto, 188, Pedreira – SP, CEP: 13920- 000, E-
mail: marildapsi@uol.com.br
dades sociais. Também se atribuiu elevada importân-
6 0 Marilda Aparecida Dantas
cia à IE, procurando as empresas pessoas que tives- te, a maior dificuldade com medidas de auto-relato é
sem capacidade de IE maior do que a da inteligência que as pessoas podem distorcer as respostas para
tradicional. No entanto, qual era a compreensão que melhor ou pior do que são realmente. Os autores con-
se tinha sobre a IE? cluíram que medidas de auto-relato não refletem o
O conceito da IE inicialmente apoiou-se na desempenho verdadeiro e também não se
capacidade de monitorar sentimentos e emoções, correlacionam com a inteligência.
discriminá-los, de tal sorte que as informações fos- Roberts, Flores-Mendonza e Nascimento
sem usadas para guiar pensamentos e ações. Poste- (2002) discutiram propriedades psicométricas e me-
riormente, Salovey, Mayer, Caruso e Lopes (2001) didas de IE. As últimas, em geral, são agrupadas em
especificaram a abrangência de quatro aspectos re- dois conjuntos: medidas de desempenho e de auto-
lacionados à capacidade de perceber, usar as emo- relato, como apontado anteriormente. O construto
ções para facilitar o pensamento e entendê-las, bem deverá apresentar um coeficiente de correlação com
como gerenciá-las para facilitar os processos a inteligência que não seja nem muito baixo (0,20) e
cognitivos e promover o crescimento pessoal e inte- nem muito alto (0,70), para não se tornar indepen-
lectual. dente e nem similar ao de inteligência, sendo, ao mes-
Em se tratando de um construto relativamente mo tempo, psicometricamente distinto da personali-
novo, há a necessidade de se apresentarem dados dade.
empíricos, no que tange à operacionalização e dife- A fim de se verificar a relação entre IE, traços
renciação de outros construtos já definidos na litera- de personalidade e a qualidade na interação social
tura, tais como personalidade e inteligência. Nesse em diferentes culturas, Lopes, Brackett, Nezlek,
sentido, a problemática da presente pesquisa consis- Schütz, Sellin e Salovey (2004) realizaram dois estu-
tiu em abordar a relação entre inteligência emocional dos. O 1 teve a participação de 188 estudantes norte-
e personalidade. americanos. Foram avaliadas a competência emoci-
McCrae (2002) apresentou dois modelos de onal e a qualidade dos relacionamentos com amigos.
Inteligência Emocional. O primeiro intitulado modelo Os instrumentos utilizados foram o MSCEIT, Big
misto tratou da tentativa de relacionar inteligência Five, Emotion Regulation Scale (ERS). No que diz
emocional a aspectos da personalidade, porém as respeito aos resultados vale destacar que a subscala
pesquisas apresentadas até então não mostram con- do MSCEIT, gerenciando emoções, não se
sistência. O segundo modelo, de aptidão, enfatiza que, correlacionou com o Big Five, sugerindo que essa
assim como os indivíduos podem demonstrar inteli- habilidade é distinta de traços de personalidade. Além
gência em seu entendimento com palavras, números disso, as hipóteses iniciais foram confirmadas, e a IE
ou formas geométricas, podem fazê-lo também ao se associou com os relatos dos amigos/participantes
lidarem com as emoções. O autor concluiu que a IE na qualidade da amizade. O estudo 2 foi semelhante
merece atenção principalmente no sentido de desen- quanto ao método, participaram 106 estudantes ale-
volver instrumentos de mensuração para facilitar as mães. MSCEIT e Big Five tiveram baixa correla-
pesquisas que relacionam as aptidões emocionais e ção, sugerindo não ser o MSCEIT uma medida de
as características de personalidade. personalidade.
Ciarrochi, Chan, Caputi e Roberts (2001) dis- Davies, Stankov e Roberts (1998) publicaram
cutiram, entre outros assuntos, a relação entre medi- uma pesquisa intitulada Emotional Intelligence: In
das que avaliam desempenho e as de auto-relato sob search of an elusive construct, que envolveu 3 es-
a perspectiva da IE, e apontam algumas diferenças. tudos separadamente e procurou investigar a relação
As medidas de desempenho avaliam o construto como entre medidas de IE, habilidades cognitivas e perso-
uma habilidade que o indivíduo apresenta de forma nalidade.
eficaz, e as de auto-relato a percepção das pessoas Do estudo 1 participaram 100 estudantes de
em relação ao que elas consideram a própria IE, psicologia de uma universidade de Sidney, e foram
embora ambas possam ser relevantes. Possivelmen- utilizadas como medidas de IE 13 instrumentos de
Inteligência Emocional 6 1
auto-relato e cinco intitulados objetivos, medidas de realização da pesquisa utilizou como instrumento o
inteligência fluida e cristalizada, personalidade e inte- MSCEIT, o 16 PF, o BPR-5 e um questionário de
ligência social. Entre os resultados, na correlação Avaliação de Desempenho respondido por um
entre IE e personalidade, algumas variáveis foram supervisor e um colega. Participaram da pesquisa 119
correlacionadas, como neuroticismo (0,47) e sujeitos provenientes de empresas de diversos seg-
extroversão (0,49), com apenas duas das variáveis mentos. Os resultados indicaram que a IE está mo-
da IE; a correlação não foi alta e, além disso, as me- deradamente correlacionada com medidas de inteli-
didas eram de auto-relato e não de desempenho. Os gência e apresentou baixa correlação com traços de
autores sugeriram que a IE pode não ser inteiramen- personalidade. Vale ressaltar que IE e traços de per-
te distinta de personalidade, porém os instrumentos sonalidade mostraram correlações significativas bai-
que avaliaram a IE não envolviam os quatro aspectos xas com os fatores: Administração da imagem
do construto proposto pelos proponentes. Do estudo (r=0,19*), Inteligência (r=0,26**), Consciência
2, participaram 300 recrutas da força aérea norte- (r=0,21*), Imaginação (r=-0,32**) e Autocontrole
americana. Os instrumentos utilizados foram dez (r=0,26**). Quanto à variável inteligência avaliada
medidas de IE, habilidades cognitivas e personalida- por meio do BPR-5, os resultados apontaram corre-
de. Os resultados sugeriram que medidas de auto- lações baixas, porém significativas (r= 0,36**). A
relato da IE são relacionadas a traços de personali- autora concluiu que a inteligência emocional constitui
dade, tais como neuroticismo (r=0.63), extroversão um tipo diferenciado de inteligência e que contribui
(r=0.71) e agradabilidade (r=0.65). Do estudo 3 par- para o contexto organizacional.
ticiparam 131 estudantes de psicologia de uma uni- As pesquisas relatam experimentos relacionan-
versidade de Sidney. Os instrumentos utilizados fo- do construtos, buscando divergência ou convergên-
ram 4 medidas de percepção da emoção (faces, voz, cia. Considerando esse aspecto, descrever o construto
cores, música), habilidades cognitivas, personalidade da personalidade como sendo uma variável parcial
e inteligência social. Entre os três estudos realizados, deste estudo parece ser de extrema importância para
o que os diferenciou foram os instrumentos e a amos- a compreensão dos construtos. Conforme Catell
tra. As medidas de auto-relato apresentaram baixa (1975), o conceito de personalidade se aplica “como
precisão quando não imprecisão. aquilo que nos diz o que fará um homem quando co-
O trabalho de Lopes, Salovey e Straus (2003) locado em dada situação” (p. 26), esclarecendo a
objetivou explorar a validade de construto do instru- definição de traço como tendência de reação freqüente
mento Mayer Salovey Caruso Emotional e ampla, e não como um determinado comportamen-
Intelligence Test (MSCEIT). De uma amostra de to num determinado momento. Destacam-se aspec-
103 estudantes americanos, compararam os resulta- tos relacionados às mudanças de personalidade, que
dos que avaliavam inteligência emocional, verbal e o autor atribuiu a vários fatores, destacando-se a
personalidade. Para a personalidade, foi utilizado o aprendizagem por recompensa e a influência da he-
instrumento NEO Five Factor Inventory e o Big Five. reditariedade e do ambiente. Ainda de acordo com o
Entre outros resultados, no que se refere a IE e per- autor, o estudo científico da personalidade permeou a
sonalidade, os dados confirmaram uma das hipóteses área da ciência no início do século passado, e as teo-
da pesquisa: o MSCEIT mostrou-se limitado ao se rias basearam-se em medidas reais do comportamen-
comparar com traços de personalidade. O maior co- to, de maneira que pudessem ser repetidas em dife-
eficiente de correlação entre IE e traços de persona- rentes laboratórios, e às quais o tratamento estatísti-
lidade foi de 0,33. A subscala do MSCEIT Gerenciando co pudesse ser aplicado por quem o desejasse. O
Emoções apresentou correlação positiva baixa com Questionário Dezesseis Fatores de Personalidade -
traços de agradabilidade e conscenciosidade, e cor- 16PF -, desenvolvido por Catell, foi produto do traba-
relação negativa com abertura para experiências. lho de tratamento estatístico, como forma de identifi-
Cobêro (2004) investigou evidências de vali- car os componentes primários da Personalidade, por
dade do MSCEIT no contexto organizacional. Para a meio da análise fatorial (Russell & Karol, 1999).
6 2 Marilda Aparecida Dantas
T arefas
F aces P aisag F acilit S ensa T ransi M istur G eren R elac
A I_ b r r 0 ,0 7 6 0 ,1 3 9* 0 ,1 2 7* 0 ,0 8 7 0 ,13 1* 0 ,1 4 3* 0 ,1 9 8** 0 ,2 1 5* *
A d m in istra P 0 ,2 1 8 0 ,0 2 3 0 ,0 4 1 0 ,1 6 0 0 ,03 1 0 ,0 1 9 0 ,0 0 1 0 ,0 0 0
ção
Im agem N 268 268 257 261 26 9 269 268 262
N F_br r -,1 4 2* -0 ,0 6 6 -0 ,1 32 * -0 ,1 76 * * -0 ,217 * * -0 ,1 85 * * -0 ,1 40 * -0 ,1 0 9
N ão P 0 ,0 2 0 0 ,2 7 9 0 ,0 3 5 0 ,0 0 4 0 ,00 0 0 ,0 0 2 0 ,0 2 2 0 ,0 7 9
F req ü ên cia N 268 268 257 261 26 9 269 268 262
AQ _br r 0 ,0 0 0 -0 ,1 58 * * -0 ,0 4 1 -0 ,0 4 2 0 ,00 6 0 ,0 2 1 -0 ,0 4 8 -0 ,0 7 4
A q u iescên c P 0 ,9 9 9 0 ,0 1 0 0 ,5 1 5 0 ,4 9 5 0 ,92 2 0 ,7 3 5 0 ,4 3 3 0 ,2 3 2
ia
N 268 268 257 261 26 9 269 268 262
*Coeficientes com diferença significativa de zero (p<0,05)
** Coeficientes com diferença muito significativa de zero (p<0,01)
*** Coeficientes com diferença altamente significativa de zero (p<0,001)
Inteligência Emocional 6 5
O estilo de resposta Aquiescência (AQ+) se Outro fator global avaliado foi o de Ansiedade
correlacionou negativamente com a tarefa de Paisa- (FII +), cujo resultado apontou uma correlação ne-
gem (r= -0,158**). Alta Aquiescência indica gativa com a tarefa de relacionamento (r= -0,121*)
incompreensão do conteúdo dos itens, respostas dadas do MSCEIT. Pessoas ansiosas tendem a absorver
aleatoriamente, dificuldade em prestar atenção a per- freqüentemente efeitos negativos, além de apresen-
guntas auto-avaliativas ou dificuldade de escolher al- tar dificuldades em controlar suas emoções ou rea-
ternativas auto-avaliativas. A tarefa Paisagem solicita ções e agir de maneira inadequada, portanto, quanto
que o examinando identifique sentimentos em figuras maior o traço de ansiedade, menor será a habilidade
e paisagens. Os dados referentes a esse resultado in- de relacionamento.
dicam que participantes com alta Aquiescência ten- Ainda no que se refere a fatores globais, Rigi-
dem a diminuir a habilidade de identificar sentimentos. dez de Pensamento (FIII +) apresentou correlações
Além dos estilos de resposta, o 16 PF avalia negativas com as tarefas de Sensação (r= -
cinco fatores globais, resultantes dos fatores primá- 0,193**), Transição (r= -0,131*), Mistura (r= -
rios (Extroversão, Ansiedade, Rigidez de Pensa- 0,195**), Gerenciamento (r= -0,169**) e Relaci-
mento, Independência e Auto Controle), cujos da- onamento (r= -0,169**). O traço de personalidade
dos apresentaram correlações baixas com algumas rigidez de pensamento pode ser caracterizado por in-
das tarefas do MSCEIT. Os dados podem ser flexibilidade e falta de abertura, além de dificuldades
visualizados na Tabela 2. em aceitar novos pontos de vista, incluindo os que
O fator global Extroversão (FI+) apresentou envolvam emoções. Diante dessas informações, pa-
uma correlação positiva com a tarefa Gerenciamento rece claro que a habilidade para lidar com o entendi-
(r=0,125*) do MSCEIT. O traço de Extroversão mento das emoções e o uso das informações para o
indica pessoas cujas características estão direcionadas pensamento e o gerenciamento das emoções ficam
a outras e são mais sociáveis. Da correlação encon- comprometidos em pessoas de pensamento rígido. O
trada nesse resultado pode-se inferir que o traço, de traço Rigidez de pensamento parece ser, entre os
alguma maneira, contribui para o gerenciamento mais fatores globais, o que menos contribui para a IE, se-
adequado das emoções. Esse dado corroborou o de guido do de Independência e Ansiedade, respecti-
outras pesquisas que também encontraram em seus vamente. Os autores do MSCEIT, Mayer, Salovey e
resultados correlação baixa positiva entre o traço de Caruso, (2002), apresentaram pesquisas no que
personalidade Extroversão e Inteligência Emocio- concerne IE e personalidade, uma delas correlacionou
nal (Lopes, Brackett, Nezlek, Schütz, Sellin & dados de MEIS e 16 PF, cujo resultado apontou cor-
Salovey, 2004; Davies, Stankov & Roberts 1998; relação negativa com Rigidez de pensamento (r=-
Lopes, Salovey & Straus 2003). 0,19**).
Tabela 4 - Coeficientes de correlação entre fatores globais do 16 PF e as tarefas do MSCEIT
Tarefas
Faces Paisag Facilit Sensa Transi Mistur Geren Relac
F_I r 0,052 0,025 0,014 -0,001 -0,081 0,026 0,125* 0,1
Extroversão P 0,394 0,687 0,828 0,988 0,185 0,669 0,042 0,106
N 268 268 257 261 269 269 268 262
F_II r -0,036 -0,06 -0,059 0,051 0,05 -0,059 -0,045 -0,121*
Ansiedade P 0,561 0,328 0,343 0,412 0,417 0,337 0,458 0,05
N 268 268 257 261 269 269 268 262
F_III r -0,052 -0,061 -0,015 -0,193** -0,131* -0,195** -0,169** -0,169**
Rig.Pensam. P 0,395 0,322 0,805 0,002 0,032 0,001 0,006 0,006
N 268 268 257 261 269 269 268 262
F_IV r -0,062 -0,162** -0,065 -0,027 -0,121* 0,008 0,022 -0,013
Independen P 0,313 0,008 0,297 0,662 0,047 0,893 0,719 0,83
N 268 268 257 261 269 269 268 262
F_V r -0,016 0,065 0,04 0,061 0,180** 0,099 0,131* 0,124*
Autocontrole P 0,788 0,292 0,521 0,327 0,003 0,105 0,032 0,046
N 268 268 257 261 269 269 268 262
6 6 Marilda Aparecida Dantas
A Independência (FIV +), como um fator glo- Os estudos de Cobêro (2004) e Davies, Stankov e
bal, se correlacionou negativamente com as tarefas Roberts (1998) corroboraram os achados do presen-
de Paisagem (r= -0,162**) e Transição (r= - te estudo especialmente no que se refere à diferença
0,121*). O traço de Independência caracteriza pes- entre Inteligência.
soas persuasivas, forçosas e de imposição social, in- Embora, os achados indiquem alguma seme-
dicando que sua percepção e a relação com o outro lhança entre os construtos, vale uma ressalva no que
tornam-se inclinadas ao que é conveniente para si, se refere ao fator inteligência do 16 PF, porque ele
comprometendo a habilidade referente à IE. pode ser considerado limitado no medir a que se pro-
O último fator global avaliado, o Autocontrole põe quando comparado com outros instrumentos dis-
(FV +), apresentou uma correlação positiva com as poníveis. Desse modo, para uma afirmação com mais
tarefas de Transição (r=0,180**), Gerenciamento propriedade, valeria investigar a correlação entre a
(r=0,131*) e Relacionamento (r=0,124*). O IE e a inteligência com os resultados de um instru-
Autocontrole (FV +) diz respeito a pessoas que ini- mento com itens mais completos.
bem seus impulsos e curvam-se diante dos próprios O fator Estabilidade Emocional (C+) apre-
desejos, o que pode indicar facilitação no sentou correlação positiva com a tarefa de Relacio-
gerenciamento das emoções e no entendimento de- namento (r= 0,141*). As pessoas estáveis emocio-
las. nalmente tendem a ter controle de sua vida e admi-
Quanto aos traços de personalidade compos- nistrar os eventos e emoções de forma equilibrada no
tos de fatores primários, conforme esperado, houve dia-a-dia e, raramente encontram problemas, com os
algumas correlações positivas e outras negativas quais não possam lidar. Sendo assim, deduz-se que
embora baixas, com o construto da inteligência emo- esse tipo de pessoa pode ter facilidade com o
cional. Os resultados podem ser visualizados na Ta- gerenciamento das relações interpessoais, porque essa
bela5. habilidade exige competência quanto a manter ou
O traço Expansividade (A+), avaliado pelo suspender determinado sentimento.
16 PF, apresentou correlação positiva com as tarefas Outro traço de personalidade analisado foi o
de Gerenciamento (r=0,213**) e Relacionamen- de Afirmação (E+) e, nesse sentido, houve correla-
to (r=0,148*) do MSCEIT. As pessoas expansivas ção negativa baixa com as tarefas de Paisagem (r=
são caracterizadas por atuação participativa, gostam -0,128*) e Transição (r= -0,137*). As pessoas com
de mostrar abertamente seus sentimentos e são con- alta Afirmação (E+) possuem dominância,
sideradas afáveis. Além disso, são mais envolvidas e agressividade e assertividade, indicando que pouco
se sentem confortáveis em situações de proximida- se leva em consideração os sentimentos e desejos do
de, refletindo atenção aos outros e assim podem outro. Infere-se que quanto maior a Afirmação como
gerenciar adequadamente suas emoções e os relaci- traço de personalidade, menor a IE, em desempe-
onamentos. nhos que requerem o reconhecimento de sentimen-
Como esperado, houve correlação positiva bai- tos em figuras (Paisagem) e a transição de um senti-
xa entre fator Inteligência (B+) do 16 PF e as tare- mento a outro em determinada situação (Transição).
fas do MSCEIT, com exceção de Faces: Paisagem O fator Preocupação (F+) apresentou corre-
(r=0,165**), Facilitação (r=0,129*), Sensação lação negativa com as tarefas de Sensação (r= -
(r=0,212**), Transição (r= 0,249**), Mistura (r= 0,158*) e Transição (r= -0,146*). Pessoas des-
0,197**), Gerenciamento (r= 0,286**) e Relaci- preocupadas, alegres e animadas caracterizam o tra-
onamento (r= 0,270**). No que se refere ao dado, ço de Preocupação (F+); a correspondência entre
pode-se inferir que há algo em comum entre os as variáveis pode indicar que quanto maior o traço
construtos inteligência e inteligência emocional, devi- menor será o desempenho em IE, no que refere às
do à significância positiva, embora as correlações tarefas de Sensação e Transição, no grupo de parti-
baixas indiquem que os construtos são distintos. Vale cipantes desta pesquisa.
destacar que o maior coeficiente de correlação foi O traço de personalidade Consciência (G+)
entre Inteligência e Gerenciamento (r= 0,286**). se correlacionou positivamente com a tarefa de
Inteligência Emocional 6 7
Transição (r= 0,209**), Gerenciamento (r= relação positiva baixa com conscenciosidade
0,159**) e Relacionamento (r= 0,171**). Pessoas (r=0.24*), assim como nesse estudo.
com o traço consciência são as que seguem valores Brandura (I+) se correlacionou positivamen-
culturais e convencionais no ambiente social. Os da- te com 5 tarefas do MSCEIT: Paisagem (r=
dos deste estudo sugeriram que quanto maior for G+, 0,193**), Sensação (r=0,226**), Transição (r=
a tendência é apresentar melhor desempenho da IE, 0,253**), Mistura (r= 0,239**) e Relacionamen-
pois seguir valores culturais e convencionais pode fa- to (r= 0,134*). O traço de Brandura (I+) refere-
cilitar a observação quanto aos seus sentimentos e os se a pessoas sensíveis, harmoniosas e sentimentais.
dos outros. No estudo de Lopes, Salovey e Straus Vale ressaltar que quanto mais Brandura (I+) me-
(2003), cujo objetivo foi explorar a validade de construto lhor será o desempenho em IE, uma vez que as ca-
do Mayer Salovey Caruso Emotional Intelligence racterísticas de sensibilidade e harmonia tendem a
Test (MSCEIT), os resultados apontaram que a escala facilitar a capacidade de perceber e compreender
do MSCEIT Gerenciando Emoções apresentou cor- emoções.
Tarefas
Faces Paisag Facilit Sensa Transi Mistur Geren Relac
A R 0,093 0,107 0,051 0,113 0,048 0,051 0,213** 0,148*
Expansivid. P 0,129 0,08 0,416 0,069 0,436 0,406 0 0,017
N 268 268 257 261 269 269 268 262
B R 0,12 0,165** 0,129* 0,212** 0,249** 0,197** 0,286** 0,270**
Inteligência P 0,05 0,007 0,038 0,001 0 0,001 0 0
N 268 268 257 261 269 269 268 262
C R 0,031 0,059 0,046 -0,022 0,001 0,109 0,066 0,141*
Estabilidade P 0,617 0,335 0,458 0,725 0,986 0,074 0,279 0,023
Emocional N 268 268 257 261 269 269 268 262
E R -0,043 -0,128* -0,06 -0,055 -0,137* -0,062 -0,062 -0,108
Afirmação P 0,479 0,036 0,335 0,376 0,025 0,307 0,315 0,08
N 268 268 257 261 269 269 268 262
F R 0,036 -0,085 -0,01 -0,158* -0,146* -0,091 -0,065 -0,057
Preocupação P 0,554 0,168 0,867 0,01 0,016 0,138 0,29 0,361
N 268 268 257 261 269 269 268 262
G R 0,001 0,061 0,067 0,064 0,209** 0,119 0,159** 0,171**
Consciência P 0,993 0,322 0,285 0,301 0,001 0,052 0,009 0,006
N 268 268 257 261 269 269 268 262
H R -0,017 -0,03 0,028 -0,011 -0,059 0,068 0,079 0,112
Desenvoltura P 0,78 0,625 0,652 0,863 0,335 0,268 0,195 0,069
N 268 268 257 261 269 269 268 262
I R 0,107 0,193** 0,09 0,226** 0,253** 0,239** 0,101 0,134*
Brandura P 0,081 0,002 0,148 0 0 0 0,098 0,03
N 268 268 257 261 269 269 268 262
L R -0,051 -0,166** -0,132* -0,124* -0,084 -0,083 -0,102 -0,169**
Confiança p 0,407 0,006 0,034 0,045 0,17 0,173 0,096 0,006
N 268 268 257 261 269 269 268 262
M R 0,03 -0,092 -0,064 -0,004 -0,07 -0,038 -0,140* -0,114
Imaginação P 0,624 0,132 0,303 0,951 0,25 0,536 0,022 0,065
N 268 268 257 261 269 269 268 262
6 8 Marilda Aparecida Dantas
avaliar traços de personalidade. Outros estudos per- Quality of Social Relationships. Personality and In-
tinentes que utilizem instrumentos mais “competen- dividual Differences, 35, 641-658. Yale University.
tes” no captar e medir a inteligência, seriam impor-
Mayer, J. D., Salovey, P. & Caruso, D. R. (2002).
tantes. Os dados encontrados nesta pesquisa indicam
Mayer-Salovey-Caruso Emotional Intelligence Test
que a IE não pode ser considerada traço de persona-
(MSCEIT). Canadá: Multi-health Systems.
lidade, em função das correlações baixas. Embora os
achados deste trabalho venham na direção das pro- McCrae, R. R. (2002). A Inteligência Emocio-
postas de pesquisas na área de avaliação psicológica, nal segundo a perspectiva do modelo da personalida-
não houve resposta completa a todas as questões, e de dos cinco fatores. Em R. Bar-On & J. D. A.
nem essa era sua pretensão. Sugere-se a realização Parker (Orgs.), Manual da Inteligência Emocio-
de outras pesquisas, correlacionando outros instru- nal Teoria e aplicação em casa, na escola e no
mentos em amostras diferentes. trabalho (pp. 198-205). Porto Alegre: Artmed.
Roberts, R. D., Flores-Mendonza, C. E. &
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