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IMPRESSO Ano XIV, número 56, julho, agosto, setembro 2015 – Preço: R$ 2,00

15
julho, agosto e setembro 2015 BOCA DE RUA 13

ANOS

Este jornal é vendido por:


Não compre de
crianças e adolescentes

Foto Paulo Ricardo/ Boca de Rua/Agência Alice


mudamos A HISTÓRIA
2 BOCA DE RUA julho, agosto e setembro 2015 julho, agosto e setembro 2015 BOCA DE RUA 3

Boca fala, mas

Fotos arquivo Boca de Rua/Agência Alice


também escuta
Um jornal fala e por isso o nosso tem o
nome de Boca. Mas também escuta o povo
da rua, escuta outros movimentos. As pes-
soas nos escutam quando compram nosso
jornal, a universidade nos escuta quando
nos chama para falar do trabalho. O outro
lado da cidade nos vê porque nos escuta e
nos lê. Ver, falar e escutar. É assim que a
comunicação é feita.

A Classe
O morador de rua não é diferente, é ser huma-
no que nem você, filho de Deus e seu irmão.
Porque tratá-lo diferente? Pela aparência, o
medo, o receio? Será que precisa isso? Nin-
guém escolhe seu destino, só temos a dificul-
dade de mudá-lo. Dizem que as pessoas em
situação de rua não saem da rua porque não
querem. Será que todos pensam assim? Dê
uma chance, uma oportunidade ou um pou-
co de atenção e verá o que acontece. Todos
somos da mesma classe: a humana.
(Michelle, em nome da família Boca de Rua)

Foto Musecom
Nos 15 anos de sua história o Boca já se
reuniu nas praças, nas ruas – com sol e
chuva – e em vários outros locais, mas
nunca deixou de circular
Musecom
é a nova casa
do jornal
Repórter-profissão
Revolução possível
Além de ocupar uma sala no
Musecom – que compartilha com
O Boca começou desconhecido e hoje que diz. Sente que o diz. É um jornal vivi- Gapa fechava, andou pelo Cpers – Sindicato
o curso pré-vestibular Zumbi dos
passou a ser bem recebido em qualquer par- do. Aqui não é aquela história de Profissão- dos Professores e no Camp – Centro de Asses- Palmares, para alunos que não
te. Somos convidados para falar até na Uni- -repórter. É Repórter-profissão. soria Multiprofissional, sala 10 do Mercado podem pagar cursinho – o Boca
versidade e a participar de vários encontros As primeiras reuniões aconteceram na Público e Casa de Cultura Mario Quintana. também recebe regularmente o
(ver matérias página 10 e 11). Isso acontece Praça do Cachorrinho, em frente ao colégio Nesta última, teve um período tranquilo, no diretor Yuri Victonino e ganhou
porque ele funciona completamente dife- Rosário, depois o Boca se mudou para a Re- passado, mas no começo deste ano foi discri- uma visita guiada pelo museu. Os
O jornal Boca de Rua nasceu junto com em conjunto, desde o nome, o logotipo, a países para construir um outro mundo, muito muito marcante: uma lotação foi atacada por rente dos outros, até mesmo dos que são denção, onde nasceu o Boquinha, nosso filho, minado. Atualmente a sede é no Museu de
século XXI e com o Fórum Social Mundial maneira de trabalhar, de vender e de fun- melhor do que esse, mas poucos acreditavam. um rapaz Chamado Sandro no Rio de Janeiro. vendidos por moradores de rua no resto do que acolhe as crianças e adolescentes filhos Comunicação Hipólito José da Costa.
guias, Gabriel Costa e Marcelo
para provar que outro mundo é possível de cionar. Até as leis do Boca foram pensadas Quase não se viam pessoas com celula- A polícia matou este rapaz e depois acabou se mundo. Em toda a International Network ou parentes de moradores de rua. Atualmente O número zero do jornal circulou duran- Bahlis, mostraram equipamen-
verdade. Em 15 anos fizemos uma revolução por nós. Apesar de nunca terem sido escritas, res na rua. Eles eram enormes. Os tablets e as descobrindo que ele era um dos sobreviventes Street Papers (INSP) – que tem mais de 120 todas vivem em casa e estão no colégio. te o Fórum Social Mundial. O povo ainda tos antigos de comunicação e até
na vida de quem passou pelo projeto e tam- todo mundo conhece. Mais do que um jornal redes sociais nem existiam. As notícias cir- do Massacre da Cadelária, em que morreram publicações em 24 idiomas e 40 países – é o Nesses 15 anos o Boca passou pelo Ban- era tímido para vender. Depois foi se acos- notícias sobre moradores de rua
bém na cidade de Porto Alegre, que não nos somos uma comunidade. Uma família de culavam apenas nos jornais e na televisão. A muitas crianças de rua. único totalmente feito por nós. Isso é muito dejão Popular (perto do antigo estádio do tumando, passou a vender nas ruas e bares. nos anos 50, quando aconteceu a
enxergava e hoje nos vê. Seis meses antes, trabalhadores. Redenção tinha espelho d’água, pedalinho, um Na cidade tinha uma exposição do fotógra- importante. Não se pode plantar uma laran- Grêmio) e o Restaurante Popular (em frente a Nem todos compravam. Foi Carlos Henri- Copa do Mundo aqui no Brasil.
no inverno de 2000, os primeiros integrantes No inverno de 2000, não existia crack em café no meio do parque, trenzinho, minizoo e fo Sebastião Salgado sobre povos que saíam jeira e colher limão. Ninguém melhor do rodoviária). Hoje os dois foram fechados e o que que teve a ideia de oferecer na sinaleira.
que a gente para falar sobre a vida na rua. povo da rua não têm uma refeição popular a sua A moda pegou. Quem está com o crachá do
Era o mesmo desrespeito, mas
se reuniram na Praça do Cachorrinho com Porto Alegre. Pela cidade tinham muitas crian- o Araújo Viana ainda não tinha grades nem das suas terras por causa da guerra e da fome.
duas jornalistas da Agência Livre para In- ças de rua, inclusive na Rodoviária, onde viva era privatizado. Existiam também bicicletas Fomos ver e constatamos que outras pessoas Nós somos as laranjas, outra pessoa falando disposição. Passou vários anos funcionando do Boca, não tem erro. Ele nos tira dos maiores agora tem o Boca para fazer o
formação, Cidadania e Educação (ALICE) e um grupo enorme. Só se falava no tal Fórum para alugar, mas só se andava de bicicleta nos sofriam muito por não ter uma casa. A gente sobre o assunto seria o limão na laranjeira. Grupo de Apoio à Prevenção da Aids (Gapa), apertos. Somos trabalhadores e é um orgulho contraponto.
começaram a pensar o jornal. Tudo foi feito Social Mundial, que ia trazer gente de todos os parques. Naquela época aconteceu um fato não estava sozinho. É parecido, mas não é igual. A gente vive o que foi muito parceiro. Nas férias, quando o pertencer ao Boca.
4 BOCA DE RUA julho, agosto e setembro 2015 julho, agosto e setembro 2015 BOCA DE RUA 5

Inesquecíveis
Redenção
Os fundadores eram apenas quatro: Mc Belo – Fa- Neri – Neri estava Chineza – Era do
Jefferson, Bocão, Ganch, Riquinho zia parte do grupo sempre rindo, até povo caingangue e
(autor da marca do jornal). São

encantada
Realidade de Rua que foi preso. Voltou se chamava Marko
eles que têm suas bocas na capa e cantava O Rap mais triste e nunca Su Gria. Tinha uma
da primeira edição, “Vozes de uma do Boca, composto mais foi o mesmo. cabeça muito boa,
gente invisível”. Mas logo chegaram pelo Mercedes. Este- Ele era companheiro conseguia articular o
ve afastado do jornal de uma antiga colega, pensamento de todos
mais e mais. Alguns estão presos,
por um tempo, mas a Leonara, que hoje para que se chegasse a
alguns peregrinando, muitos saíram
nunca deixou de se vive na casa da famí- uma conclusão e fazia
da rua, vários estão bem. E outros
identificar como in- lia com uma filhinha poesias. Como, além
morreram. Eram pessoas significa-
tegrante. Quando voltou, assumiu o Boca como que teve com ele. Neri planejava fazer uma grife de indígena era travesti e moradora de rua, costuma-
tivas, importantíssimas. Lembrando
parte da sua vida e não se desgrudava nunca dos do Boca, com bonés e camisetas. va ironizar: “Sou uma coleção para o preconceito”.
deles, homenageamos a todos os seus exemplares. Estava muito doente e morreu
que passaram pelo Boca, contri- atropelado quando vendia na sinaleira. Maíra – Filha da Alca – Seu nome
buindo cada um com sua história, Denise – que até hoje era André Luiz e foi Árvores. Só árvores. E bichos e plantas e seres encantados. Diferentes dos bichos e das plantas e
porque o Boca é um quebra-cabeça André – Ele falava
de histórias.
trabalha no Boca – foi dele a ideia de fundar
das pessoas que a gente conhece, diferentes de tudo. Borboleta-flor, folhas azuis, lagos vermelhos,
bonito, com voz cal- a primeira integrante o Boquinha. As crian-
ma e ar de seriedade. do Boquinha. Sabia ças acompanhavam bruxa-madrinha, sapo-príncipe, saci de duas pernas. O arco-iris vai substituir o Arco do Triunfo
Bocão – Foi um Quase nunca se irri- fotografar, filmar. os parentes e que-
dos fundadores e tava. Era daquelas Trouxe toda a famí- riam vender o jornal
na Redenção Encantada. Cada pessoa que passar em baixo dele, sai colorida. Toda pintada, igual
se chamava Alex- pessoas que a gente lia para o projeto, – o que seria trabalho a quem passa no Vestibular. Triunfante.
sandro. Gostava de confiava logo. Foi inclusive a sobrinha infantil – então foi
brincar que o nome André quem res- Steffany (com ela na preciso pensar em
do jornal era uma pondeu aos questio- foto). Morreu bem novinha e deixou um depoi- uma alternativa. Era
homenagem ao seu namentos dos juízes mento muito emocionante gravado em vídeo. muito inteligente. Cabeleireiro e artesão, também
apelido. Ele era do que julgaram o Boca no prêmio da Associação escrevia e até deixou um livro quase pronto. Mas a
grupo de rap Reali- dos Juízes do Rio Grande do Sul, em 2013. Ele Da Moca – Era um sua maior qualidade era falar bem. Quando abria
dade de Rua e tinha disse: “Nós somos trabalhadores e moradores de senhor, mais velho a boca, todo mundo prestava a atenção.
muito orgulho do Boca. Quando alguém novo rua. A gente dorme com o nosso jornal debaixo do que a maioria dos
chegava na sinaleira onde ele costumava ficar, ele da cabeça, como travesseiro, para que ninguém integrantes. Voltar a Tiago – Era filho de
não deixava: “Sai daí! Essa sinaleira é minha!” nos roube. Mas às vezes isso acontece e uma ser um trabalhador uma família de hip-
Seria o primeiro a chegar na festa dos 15 anos. pessoa que não é do grupo vende mal, sem co- foi muito importante -pies e contava que
nhecimento e sem compromisso. Ou um compa- para ele. Esteve mui- tinha nascido em uma
S u z ana – Era nheiro recai, está com problemas e vende mal. to tempo hospitaliza- comunidade, no estado
muito magrinha e Mas eles respondem por isso. Porque nós temos do e no dia seguinte de Minas Gerais. Fala-
ficou cega. Mesmo regras criadas por nós e todos obedecem. São a sua alta estava na va bem devagar e tinha
assim, continuou as nossas leis,doutor”. O Boca acabou tirando reunião do Boca. Foi o último integrante do um sonho: entrevistar
trabalhando na si- primeiro lugar. Boca a partir. o então presidente do
naleira e fez questão Uruguai, Jose Mujica.
de ganhar um crachá Por insistência dele, foram enviados 57 mensagens
Fotos arquivo Boca de Rua/Agência Alice

especial com as pa- para a assessoria da presidência e feito contatos com


lavras “deficiente diversas pessoas ligadas ao governo. Dois integrantes
visual”. Não queria da ALICE chegaram a entregar a solicitação pesso-
que os leitores pensassem que ela estava en- almente a uma assessora, em Montevideo. Mas o
ganando para eles comprarem por pena. Ficava pedido nunca foi atendido. Tiago não desistiu: “Ele
ali parada no cordão até alguém avisar que o vai responder. É diferente dos outros presidentes, vai
sinal estava vermelho para os carros. Aí ia lá, nos atender”. Morreu esperando.
oferecia com muita educação e vendia tudo,
sempre. Prometeu trabalhar no Boca até seu
último dia e assim foi.
Gilmar é o inte- ano sumiu do nosso
Mercedes – No grante mais antigo convívio. Falaram
começo odiava o
Boca, depois se apai-
do Boca. Depois que tinha morrido,
xonou. Pregava fotos que o Bocão fale- mas o hospital não
do jornal nos murais ceu, ficou sendo o confirmou. Nin-
de todos os abrigos Número 1. Vivia na guém houve falar e
e albergues da cida-
de. Tinha sonhos de
rua desde pequeni- nem sabe dele. Pa-
escrever um livro ninho e ultimamen- rece que evaporou.

E por falar em saudade,


sobre rua e até ditou te morava em uma Se alguém tiver no-
o primeiro pedacinho, já no hospital. Mercedes peça que tinham tícias, avise. Volta
também foi o autor do rap do Boca de Rua, que

onde anda o Gilmar?


mais tarde deu origem ao grupo Realidade de Rua.
dado para ele, na para a festa dos 15,
Seu nome era Luciano. Rodoviária. Há um Gilmar!
6 BOCA DE RUA abril, maio e junho 2015 julho, agosto e setembro 2015 BOCA DE RUA 7

Saci-funkeiro
A Redenção das Crianças O Saci era como todos
os Sacis: tinha só uma
– a nossa Redenção perna. Mas ele estava
onde nasceu o Boquinha cansado de viver

- tinha que ser assim:


pulando. Queria
caminhar e dançar. Mãe
uma floresta encantada Então, entrou

dentro da cidade, no Bicho- g ente ar e virou


ia vo
na Redenção
Encantada
Coruja 
sa quer
ce r flor e se
meio do trânsito e dos A prin
ta . D e po is quis
ta-flor
. Ela e ganhou
b or bo le
-b o r bo le
po. outra Boquinha Livre
edifícios. Sem cerca, sem rincesa
virou p ríncipe que v
irou sa
esa- perna e
op a princ
grades, sem guardas. beijou
o-prín
c ip e e
es na agora O Boquinha não é só
E o sap v em feliz m para os nossos filhos e
Iluminada só pela luz do ol et a -flo r v i
a e não quere dança
borb ntad funk. netos. É para a gente
ã o Enca
sol, da lua, das estrelas e Re d e
a
n
r
ç
a ser gen
te. também. Nós e eles fa-
vo lt zemos coisas que nunca
dos vagalumes.

Microcontos redentores
fizemos e vamos a lugares
que nunca fomos como
o FISL (Fórum Interna-
Frutas cional do Sofware Livre),
onde foi montado o es-
irmãs tande do Boquinha Livre.
As frutas são Com a falta de dinhei-
todas irmãs. Elas ro e a vida difícil, quando
se misturam. e como podemos levar as
Existem muitas crianças no cinema, em
laranjas-uva, por um piquenique, em um
exemplo. Dão museu? Quando vamos
em cachinho, ter tempo para desenhar
como uvas, mas e brincar com elas sem
são amarelas e pensar nos problemas? Só
têm gosto de no Boquinha, mesmo.
laranja. Assim No Fórum eles eram
é na Redenção as estrelas. Até os pe-
Encantada, onde quenininhos mexiam nos
todos viram Gente-bicho computadores. Eles co-
nheceram robôs, viram
parentes. Gente pode virar bicho gente de todo o mundo,
dentro da Redenção fizeram obras de arte,
Homem Encantada. Os fotografaram, entre-
pião políticos, por exemplo,
se entrarem lá viram
vistaram e ainda foram
Não existem admirados por muita
bicho na hora, para gente que vinha conhecer
muitas pessoas
saberem o que sentem o trabalho deles no es-
na Redenção
Encantada. Lago Vermelho os animais quando tande. A gente estava lá
O lago era igual a todos os lagos, são maltratados. Daí para ver e sentia orgulho.
Mas tem o
com água transparente. Mas tanto poderiam criar leis Não tinha nenhuma pro-
homem pião.
jogaram lixo, tanto atiraram para não judiarem fessora ou diretora para
Ele é pequeno,
porcarias, que ele sangrou. E ficou deles animais. dizer que eles não apren-
redondinho, está
vermelho para sempre. Mesmo dem e que precisam de
sempre rindo.
E em vez de quando a Redenção virou encantada. Neve quente um psiquiatra.
caminhar, roda. E Para que nunca mais esquecessem o Na Redenção
que tinham feito com ele. Encantada não faz Laura, Denise e Michele
assim ele anda e
vai onde quer. frio nunca. O tempo
Bruxa-madrinha é sempre bom. Mas
Existem fadas na Redenção neva e a neve é Integrantes do Boquinha: Erik dos Santos Teixeira Oliveira,
Encantada. Elas vivem ali, junto com quente. Porque lá Mitiziane Paz Paiva, Raqueli Paz Paiva, Stefany Garcia Moreira,
Kelvin Gabriel Garcia da Silva, Derick Yuri Garcia da Silva
Microcontos inspirados no
blog Caderneta Impressionista
os plebeus. Não são especiais. Quem nada é o que parece e Mães e responsáveis: Laura Luis Teixeira, Denise Caldas Gar-
santosdoissantos@blogspot.com realiza os desejos é a Bruxa Madrinha. tudo pode acontecer. cia, Michele Cristiane Paz e Marcela Caldas Garcia
8 BOCA DE RUA julho, agosto e setembro 2015 julho, agosto e setembro 2015 BOCA DE RUA 9

Centro Pop II: banho


Portas fechadas

Fotos Boca de Rua/Agência Alice


de chuveiro gelado Samu,
O centro Pop II anda tão precário como vigilantes e o equipamento possui problemas Bandejão
Cadê vocês?
o Centro Pop I. O banho, por exemplo, em estruturais, sanitários, de limpeza e higieni-
pleno inverno estava sendo com água gelada, zação, tendo até ratos circulando, às vezes.
sem toalha. As pessoas acabam se secando Os espaços são úmidos e desorganizados.
com a própria roupa, na maioria das vezes. Depois disso, algumas medidas foram
Como o serviço é terceirizado não hou- tomadas para aumentar a segurança. Insta-
ve greve, mas também por lá quatro motins laram até um detector de metais e a Guarda A Serviço de atendimento a reabertura não aconteceu. Na
aconteceram, alguns deles bem difíceis. Os Municipal anda contribuindo. Ainda assim, Móvel de Urgência (SAMU) última reunião do Comitê Mu-
frequentadores se revoltaram porque não há os problemas continuam. demora e o Restaurante Popu- nicipal organizado também para
lar (Bandejão) foi embora e não discutir esse projeto, os gesto-
voltou. Os atrasos da SAMU res não garantiram novos prazos
prejudicam muito a saúde dos para a abertura, mas afirmaram
É difícil para quem
vive sob um teto
VERSÃO DA FASC moradores de rua. Uma pessoa
teve um problema grave e a
que seria logo. Maio, junho e
julho passaram e ainda nada.
ambulância levou 1 hora para Enquanto isso, as pessoas na
imaginar as nossas A posição da Fundação de Assistência Social e Cidadania (FASC) está distante chegar ao local, na praça da Al- rua passam dificuldades para
dificuldades diárias desses últimos acontecimentos. Nos encontros onde o tema é debatido – como fândega. Já nasceu até criança acessar uma alimentação digna.
e quantas portas as reuniões do Comitê Intersetorial para Política da População em Situação de na rua por causa disso. Fábio Cícero relata que alguns luga-
fechadas encontramos Rua e a Conferência de Assistência Social, por exemplo – a defesa dos respon-
relata que ele e um amigo não
foram atendidos pela ambulân-
res que servem comida para os
moradores de rua estão fechan-
diante de nós. sáveis pela instituição é sempre a mesma: o novo plano para a população de cia, porque estavam próximos do. “Ali na Getúlio e Menino
Nestas duas páginas rua. Mas, se nem o antigo plano foi completado, como é possível acreditar que a um hospital. Deus, na sopa, já fizeram vários
contamos algumas as coisas vão melhorar com este novo? O que temos de concreto é que muitos A demora também é grande abaixo-assinado para retirarem
situações cotidianas equipamentos foram fechados, entre eles o Ilê Mulher e o Bandejão (veja matéria quando o assunto é Restauran- os moradores de rua dali”. As
nos lugares que anexa). O presidente da FASC, Marcelo Soares também cita muitos números. te Popular. O que era previsto
para início do ano foi transferi-
doações também foram inter-
rompidas na 24 de outubro, na
deveriam nos acolher. Fala em quantidade e não em qualidade. do para o dia 24 de julho, mas Farrapos e no “Paladinos”.
Por alguns minutos
(apenas enquanto
dura a leitura), você
se sentirá na pele de
um morador de rua:
Higienização em Porto Alegre
No exato momento em que representantes

Foto Boca de Rua/Agência Alice


Centro pop I: banho
da Secretaria Municipal de Meio Ambiente
(SMAM) garantiam que as remoções seriam
interrompidas pessoas eram expulsas da Praça

de chuva gelado
da Matriz. Isso aconteceu durante uma reunião
do Comitê Municipal de Acompanhamento
e Monitoramento da Política Nacional para
a População em Situação de Rua. Uma das
Um episódio inédito aconteceu no Cen- aliviando a tensão. Posteriormente, algumas apoiadoras do Movimento Nacional da Popu-
tro Pop I no dia 11 de maio. Muitas pessoas, pessoas se direcionaram a Promotoria de Direi- lação de Rua (MNPR/RS) foi avisada dentro
abaixo de chuva, aguardavam na fila, que ge- tos Humanos do Ministério Público/RS, e com do próprio encontro.
ralmente se forma às 5 horas da manhã. Al- apoio do Movimento Nacional da População Mesmo depois desse fato, a promessa
guns trabalhadores do Centro permitiram a de Rua (MNPR/RS), realizaram a denúncia no da SMAM não foi cumprida. As remoções
entrada de carrinhos de supermercado- onde Ministério Público. e ultimatos seguiram por todo o inverno no
cada um guarda suas coisas- às 8horas, mas A vida no local tem muitas dificuldades. As Harmonia, Praça da Matriz, Viaduto da Bor-
não deixaram entrar as pessoas, que ficaram regras são complicadas e discussões de fun- ges e Arroio Dilúvio, em frente ao Planetá-
molhadas e com frio, esperando por 4 horas, cionários com frequentadores são frequentes, rio – só para dar alguns exemplos. Édisson,
até a abertura, às 9 horas. especialmente pela manhã. As fichas do al- do MNPR/RS já comunicou por telefone o
Geralmente, 30 pessoas usam o serviço do moço são apenas 30 e os horários absurdos. O presidente da FASC, Marcelo Soares, que,
Centro Pop I, durante cada turno. Nesse dia a café é servido às 10h e às 11h30min temos que caso os direitos da população de rua não sejam
responsável pelo portão, se recusou a atender almoçar. Para piorar, os servidores entraram respeitados, serão feitos protestos na frente da
a reivindicação de abrir antes das 9horas para em greve, o que é um direito do trabalhador, Fundação. Paulo lembra que para muitos tam-
que esperassem na área coberta. Simplesmente mas no caso do atendimento à população de bém foi suspenso o aluguel social que, aliás,
saiu e foi tomar café. Ensopados e revoltados, rua prejudica bastante. Até o banho fica difícil. não é solução, pois é dado só por um tempo
os usuários derrubaram o portão. De imedia- Outro complicador foram as reformas: “A obra e o valor está abaixo das locações. Além dos
to, seis carros da Guarda Municipal e um da parece que só piorou. Temos problemas nos moradores de rua, também ficaram sem suas
Brigada chegaram ao local. Um dos integran- banheiros e falta manutenção”, reclamam os casas os flagelados da enchente de julho que
tes do Boca de Rua, Édisson, tentou negociar usuários. Com a queda do portão, novas obras atingiu principalmente as vilas e as cidades
a resolução do conflito com as autoridades. estão previstas, o que é motivo de preocupa- da região metropolitana. Eles agora ficaram
O diretor do local- que quase nunca está lá ção, porque na última reforma o Centro ficou Leandro, Zé e outros integrantes do Jornal contam como sem teto, desamparados pelo poder público e
de manhã- compareceu e o portão foi aberto, fechado por quatro meses. é a vida nos Centros POP
merecem a nossa solidariedade.
10 BOCA DE RUA julho, agosto e setembro 2015 julho, agosto e setembro 2015 BOCA DE RUA 11

NÃO à redução da maioridade penal

Fotos Boca de Rua/Agência Alice


A Redução da Maioridade Penal é um

Foto Boca de Rua/Agência Alice


crime. Não por acaso o número da lei é 171,
que é o artigo do estelionato, da engana-
ção. Estão enganando a população, porque
prender crianças não vai reduzir a violência,
pelo contrário. Nos presídios vão aprender a
serem piores. E, como sempre, só vão pegar
os guris negros e pobres.
Quem está de fora não entende que nin-
guém cai no tráfico, no crime e na prostitui-
ção por acaso. É um círculo. As crianças mal
têm o que comer em casa, vão para aula de
tênis furado. Aí o traficante chega e oferece
um Nike, ajuda a família, dá a estrutura que
o governo não está dando. É preciso apoiar
as famílias e não prender as crianças.

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Uma equipe do Boca foi convidada para paço especial – “Boquinha Livre” – no evento. Boca/Boquinha e também do software livre, próprios participantes do Boquinha, represen-
acompanhar, na condição de jornalista, o Fó- As crianças receberam computadores e fizeram que é diferente dos outros sistemas, pois não taram o projeto e explicaram como ele funcio-
rum Internacional de Software Livre (FISL), trabalhos artísticos, inclusive um mundo de está nas mãos de um empresário, mas de to- na para os visitantes, entre eles Paul Singer,
que reuniu mais de 3 mil pessoas na Pontifícia cabeça para baixo, representando que nossa dos os que usam. Édisson, Denise – que tem um dos criadores da Economia Solidária e o Nos seus 15 anos de vida o Jornal Boca buíram também falando das situações em da efetivação das conhecidas Unidades de de maio e, no dia seguinte, contribuíram para o
Universidade do Rio Grande do Sul (PUCRS) sociedade deve ser mudada, ser mais comuni- os netos no Boquinha – as responsáveis pela ministro Miguel Rossetto, da Secretaria Geral de Rua já foi estudado por mais de 150 es- cada um de seus países, entre eles Cuba, Proteção Policial (UPP’s), além de censura debate sobre movimentos sociais.
de 8 a 11 de julho. O Boquinha ganhou um es- tária, justa e solidária. Estes são os valores do gurizada – Marcela, Michele e Laura – e os da Presidência da República. tudantes, principalmente universitários e foi Colômbia, Alemanha, Estados Unidos, Rús- da polícia. Porém, ainda assim, vários pro- No dia 23 de junho foi realizado o Semi-
convidado para muitas palestras e encontros. sia, China, Japão. jetos pelas favelas cariocas vêm sendo feitos nário “População de Rua e o direito à cidade:
Apenas nos últimos três meses expôs seu tra- No dia 26 de maio, o evento foi na Fa- e muitas pessoas começam a trabalhar com das Políticas Públicas as ações de Higieniza-
balho e trocou experiências com muita gente. culdade de Biblioteconomia e Comunica- a “comunicação comunitária”, principal- ção” na Câmara Municipal de Vereadores de

Economia solidária No dia 4 de maio, a equipe participou de


uma aula e roda de conversa no Programa de
ção. O debate, organizado pelo Diretório
Acadêmico da Comunicação, contou com
mente fotografia, pois lá existe Escola de
Fotógrafos Populares.
Porto Alegre/RS. O evento, organizado pela
Comissão de Direitos Humanos da Câmara

é assunto nosso Português para Estrangeiros da universida-


de, que ocorreu no Campus do Vale. Além
a presença de representantes do Boca de
Rua e do jornal “O Cidadão” produzido
Ainda, em maio, nos dias 27 e 28, os inte-
grantes do Boca de Rua participaram da Sema-
(CEDECONDH) teve apoio e demanda do
Movimento Nacional da População de Rua
de almoçarem bem no novo RU (Restauran- para o complexo de favelas da Maré, no na Acadêmica das Ciências Sociais, que tinha (MNPR/RS. O debate girou em torno da cons-
O Jornal Boca de colegas e, inclusive, te Universitário) o que mais valeu a pena Rio de Janeiro/RJ. O tema central debatido como temática central de discussão a “Desco- trução e ausência de políticas públicas, ações
Rua foi convidado “acampou” no foram as discussões sobre a realidade dos foi “Comunicação Comunitária”. A Maré lonização” da universidade e do pensamento higienistas que andam sendo praticadas pelo
moradores e moradoras de rua no Brasil e hoje é um dos maiores complexos de fa- brasileiro. Os jornalistas participaram em uma Estado, violações de direitos e o uso da cidade
para participar do local onde o evento em outros países. Os universitários contri- velas no Rio e atualmente sofre os efeitos roda de conversa, no Centro Acadêmico em 27 por essa parcela da população.
Economia Solidária vem acontecendo,
com Populações de a Casa das Irmãs
Rua o (Ecosol Pop Rua: Salesianas (Rua
Conectando Vivências), Gonçalo de Carvalho,
promovido pelo 390). A equipe do
Centro de Assessoria Camp também
Multiprofissional tem comparecido
(Camp). Marcos às reuniões do Boca
representou seus regularmente. Integrantes do Boca falaram na Semana Universitários de vários países Estudantes do DCE convidaram o Boca para
Acadêmica da UFRGS conheceram o trabalho do Boca trocar ideias
15
8 BOCA DE RUA abril, maio e junho 2010 abril, maio e junho 2010 BOCA DE RUA 9

IMPRESSO Ano VIII, número 36, abril, maio e junho 2010 – Preço: R$ 1,00 Não compre de crianças e adolescentes

Este jornal é vendido por:

Foto Anderson/Boca de Rua/Agência Alice


Fábrica de fantasia dá

trabalho o
ano inteiro

Criança tem história


Nesta edição eles criam mundos,
seres, deuses e monstros

outubro, novembro e dezembro 2014 BOCA DE RUA 13

IMPRESSO Ano XIII, número 54, outubro, novembro e dezembro de 2014 – Preço: R$ 2,00

Este jornal é vendido por:


Não compre de
crianças e adolescentes

Capa: Criação Cícero e Rosângela e foto Marina/ Boca de Rua/Agência Alice


POVO DA RUA PEDE PASSAGEM

Existe casa sem gente. Existe gente sem casa.


Os políticos e os religiosos falam em solidariedade.
Mas onde está a chave que abre a porta desses prédios
vazios enquanto as pessoas vivem sem um teto?
Quando se pensa em soluções, só os “especialistas”
opinam. O povo da rua também tem ideias e está
organizado para fazer valer os seus direitos.

Criança tem história


Nesta edição elas falam sobre borboletas
amarelas, Mario Quintana e Santiago.

Participaram desta edição: Alexandre Português, Alexandre Roberto Rocha da Silva, Ana Paula Santos da Silva,
Anderson Luís Joaquim Corrêa, André Romário, Arno José Oliveira, Audrey da Silva Scher, Aldemir Antunes
Fernandes, Carlos Henrique Rosa da Silva, Cláudio José Ribeiro, Cícero Adão Gomes de Almeida, Cíntia Natanaela
Dias dos Santos, Claudinei Correa Gomes, David Mathias Becker Soares, Dionatan Luiz Pereira Teresa, Denise
Caldas, Diogo Macedo, Diego Fernando Melo Fontoura, Diego Oliveira, Evandro da Silva Ribeiro, Elvis Adalberto
Sant’Ana de Souza, Edisson José Souza, Ezequiel de Mello, Everton Luís Lacorte, Flávio Antônio Kiener, Fábio
Saraiva (Kimba) Fabiana dos Santos, Guilherme Pereira Ribeiro, Jackson da Silva Ferreira, João Luiz Rabello,
Jones Rosa dos Santos Barbosa, José Nedir Malta Ramires, José Luiz Straubichen, Jorge André Souza da Silva,
José Mauro Marques Rodrigues, Josiane de Oliveira, Jorge Luís Lopes de Oliveira, Josino Geysson Souza, Leandro
Corrêa, Lênon Deibler Veiga, Mara Rejane Vieira Soares, Marcos Rodrigo da Silva Scher, Michelle Aparecida
Marques dos Santos, Paulo Cesar Scarparo (Índio), Paulo Marques, Paulo Ricardo de Oliveira, Raquel Naibert
Moraes, Rosângela Peixoto Ramos, Rita de Cássia Pereira de Sousa, Roger Willian Corrêa Santos, Suziane Silva dos
Santos, Valdemar Severo do Amaral.

Este jornal foi produzido (fotos, textos e ilustrações) por pessoas em situação
de rua e risco social de Porto Alegre sob a supervisão da Alice. A receita obtida
com os exemplares vendidos é revertida para os integrantes do grupo.

Edição: Rosina Duarte


Diagramação: Cristina Pozzobon
Coordenação Boquinha: Margareth Rossal
Rede Boca de Rua: Luiz Abreu, Charlotte Dafol, Silvio Ferreira,
Roberto Abreu, Eliége Kich e Rosana Toniolo Pozzobon
Colaboradores: Leandro Ravel Ventura, Bruno Guilhermano Fernandes,
Cari Rodrigues, Leonardo Palombini, Pedro Ferreira Leite,
Caroline Silveira Sarmento, Luiza Maier, Caroline Pinheiro, Victoria Rossal
Damiani, Camila Manique Ferreira, Lea Ruth Daudt, Rosane Mondino e Maíra
Rieck (supervisão de psicologia)

Apoio: Federação dos Metalúrgicos CUT/RS, Grupo de Apoio à Prevenção da


Aids (Gapa), Sindicato dos Petroleiros do Rio Grande do Sul (Sindipetro/RS),
Koralle, Paulo Afonso Consultores de Marcas e Patentes, Lavoro C&M,
Museu de Comunicação Hipólito José da Costa e Documental Fotos

Boquinha é parte integrante do jornal Boca de Rua.


Os responsáveis pelas crianças e adolescentes que
participam deste projeto recebem uma bolsa-auxílio que ajuda
a manter os jovens longe do trabalho infantil.

AGÊNCIA LIVRE
PARAINFORMAÇÃO, CIDADANIA
E EDUCAÇÃO

A Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação (Alice)


tem o objetivo de promover a discussão da imprensa de forma crítica e
consciente e de incentivar projetos sociais ligados à comunicação.
Endereço para correspondência
Caixa Postal 5003, CEP 90.001-970, Porto Alegre/RS
alice@alice.org.br | www.alice.org.br

O jornal Boca de Rua é filiado a International Network of Street Papers (INSP)

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