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Introdução à Epistemologia: conhecimento é criação

A epistemologia é a área da filosofia que pensa a questão do conhecimento, do saber, da


compreensão. Episteme em grego significa conhecimento e o logos pode ser traduzido como
compreensão, no sentido de uma apreensão em conjunto de uma realidade ou apreensão global de
um fenômeno, que busca captar o real na integralidade de aspectos constitutivos.
A etimologia da palavra conhecimento, por sua vez, remete ao sentido mais evidente na palavra
francesa, connaissance, que aponta para um co-nascimento, a possibilidade de nascer junto com o
que se conhece. Isto faz lembrar de Fernando Pessoa, no poema Guardador de Rebanhos, que em
sua segunda parte traz os versos que dizem:

“E o que vejo a cada momento


É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...” (Alberto Caeiro)
Particularmente os dois últimos versos falam da experiência do conhecimento como uma
(necessária) renovação da sensibilidade, um renascimento. Isto pode então ser interpretado – e a
interpretação é o ato que produz a compreensão – como uma referência ao caráter empírico da
intuição, que sintetiza as percepções de todos os sentidos do corpo daquele que conhece uma
realidade, como fenômeno percebido através das sensações.

Essa experiência que se desenvolve a partir do caráter sensível da intuição, composta pelas
percepções (e, portanto, sensorial) é a experiência do conhecimento direto da natureza da realidade.
Esse conhecimento se realiza em primeira instância, em relação àquele que é transmitido por outrem
ao conhecedor.

E, para que uma intuição possa vir a ser comunicada ela precisa ser expressa como
concepção por meio de uma linguagem cujos significados sejam elaborados, gerando conceitos,
próprios da linguagem filosófica.

Assim, o processo da interpretação, que gera uma compreensão por meio das concepções
produzidas a partir de nossas intuições, requer a constante renovação de nossa sensibilidade, para
não transformarmos nossos conceitos em preconceitos estabelecidos, que reduzem o que há de novo,
diferente, singular, estranho, surpreendente, admirável ou temível, o mistério do desconhecido, ao já
conhecido, explicando o singular sem conceber sua novidade, sem criar uma nova concepção,
apropriada, que expresse sua radical diferença em relação ao que se considera conhecido.
Novos conceitos que expressam a compreensão de uma realidade interpretada em sua
singularidade só podem surgir pelo exercício criativo de novas concepções. A criatividade necessária
para isso é, originariamente, aquela da atividade poética, que através das metáforas instauram
significados, os quais são elaborados para tornarem-se conceitos, ganhando maior coerência,
precisão, rigor.

Assim, mais do que descobertas, as novas concepções são criadas, elaboradas, podemos
dizer: inventadas. Eis como, através de um processo de construção de linguagem - que os gregos
chamavam poiesis - chega-se, após muitos movimentos, que por mais retilíneos que sejam terão
sempre seus desvios, suas curvaturas, a uma noção que se toma como verdade.
Sim, verdades, assim como mentiras, são inventadas. E esse caráter ficcional que se encontra na raiz
da linguagem faz com que aquilo que se considera uma verdade esteja sujeito a todo tipo de jogo de
forças, relações de poder, ao longo da história humana e, portanto, nem toda concepção possa se
mostrar como verdade, assim como nem todo significado chega à nossa consciência, por mais que
esteja imediatamente ao nosso alcance.

Há, então, muitos significados em relação aos quais permanecemos inconscientes. E só


mesmo através de um esforço decidido de interpretação de nossas realidades podemos expandir
nossas consciências e aprofundar nossas concepções, embora a sabedoria nos ensine a aceitar que
muito do que buscamos conhecer, tanto no autoconhecimento como no conhecimento do universo,
permanecerá ainda reservado, obscuro, enigmático como mistério do mundo.

Além disso, esse caráter ficcional, histórico, mundano, da verdade, não implica numa ausência
de critérios para validar conhecimentos, pois a vida, em sua possibilidade mais plena de vir a ser
abundante, em sua potência de gerar mais vida, de expandir a vida, intensificá-la, é o melhor critério
para avaliar o valor dos conhecimentos que produzimos através de todos os nossos saberes, sejam
eles científicos, literários, mitológicos ou de outra natureza.

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