Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
Essa experiência que se desenvolve a partir do caráter sensível da intuição, composta pelas
percepções (e, portanto, sensorial) é a experiência do conhecimento direto da natureza da realidade.
Esse conhecimento se realiza em primeira instância, em relação àquele que é transmitido por outrem
ao conhecedor.
E, para que uma intuição possa vir a ser comunicada ela precisa ser expressa como
concepção por meio de uma linguagem cujos significados sejam elaborados, gerando conceitos,
próprios da linguagem filosófica.
Assim, o processo da interpretação, que gera uma compreensão por meio das concepções
produzidas a partir de nossas intuições, requer a constante renovação de nossa sensibilidade, para
não transformarmos nossos conceitos em preconceitos estabelecidos, que reduzem o que há de novo,
diferente, singular, estranho, surpreendente, admirável ou temível, o mistério do desconhecido, ao já
conhecido, explicando o singular sem conceber sua novidade, sem criar uma nova concepção,
apropriada, que expresse sua radical diferença em relação ao que se considera conhecido.
Novos conceitos que expressam a compreensão de uma realidade interpretada em sua
singularidade só podem surgir pelo exercício criativo de novas concepções. A criatividade necessária
para isso é, originariamente, aquela da atividade poética, que através das metáforas instauram
significados, os quais são elaborados para tornarem-se conceitos, ganhando maior coerência,
precisão, rigor.
Assim, mais do que descobertas, as novas concepções são criadas, elaboradas, podemos
dizer: inventadas. Eis como, através de um processo de construção de linguagem - que os gregos
chamavam poiesis - chega-se, após muitos movimentos, que por mais retilíneos que sejam terão
sempre seus desvios, suas curvaturas, a uma noção que se toma como verdade.
Sim, verdades, assim como mentiras, são inventadas. E esse caráter ficcional que se encontra na raiz
da linguagem faz com que aquilo que se considera uma verdade esteja sujeito a todo tipo de jogo de
forças, relações de poder, ao longo da história humana e, portanto, nem toda concepção possa se
mostrar como verdade, assim como nem todo significado chega à nossa consciência, por mais que
esteja imediatamente ao nosso alcance.
Além disso, esse caráter ficcional, histórico, mundano, da verdade, não implica numa ausência
de critérios para validar conhecimentos, pois a vida, em sua possibilidade mais plena de vir a ser
abundante, em sua potência de gerar mais vida, de expandir a vida, intensificá-la, é o melhor critério
para avaliar o valor dos conhecimentos que produzimos através de todos os nossos saberes, sejam
eles científicos, literários, mitológicos ou de outra natureza.