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Roma

O caráter inclusivo e abrangente do direito das gentes pauta a existência de Roma


desde sua fundação. A relação de Roma com os “estrangeiros” sempre foi muito forte, e ela
foi causa da reforma do ​ius civile​, em certo momento da história, causa, também, da criação
de uma pretura específica para ordenar as relações entre estrangeiros e entre romanos e
estrangeiros, o ​praetor peregrinus​, e também de normas diferenciadas dentro dos sistema
jurídico​ ​romano,​ ​o​ ​ius​ ​gentium1.
É categórica a visão do professor de que existia um sistema de direito internacional
na​ ​Roma​ ​Antiga,​ ​e​ ​isso​ ​é​ ​visto​ ​sob​ ​duas​ ​perspectivas:
a) num sentido clássico, a República romana, assim como o Império romano,
mantinha​ ​certas​ ​relações​ ​com​ ​outras​ ​entidades​ ​políticas​ ​autônomas;
b) existiam elementos de internacionais em Roma desde sua fundação, sendo estes
os seus mitos de fundação, que relacionam os romanos aos gregos, a sua relação
com a violência e a guerra, no contexto das guerras púnicas e na construção da
hegemonia​ ​romana​ ​sobre​ ​o​ ​mediterrâneo​ ​(a​ ​pax​ ​romana​).

Mitos​ ​de​ ​fundação2


O mito, num sentido jurídico, pode ser visto como “algo que se deseja construir”; num
sentido internacional, por sua vez, o mito se apega a um relato simbólico que narra a origem
de determinada instituição, serve como indicador de uma ordenação ideal. O papel da
Eneida é essencial para a construção do mito da fundação de Roma, que conta as
vicissitudes de Enéias, filho de Vênus, um troiano que fugiu da guerra de Tróia e cujo
destino é fundar uma nova cidade no ​Latium​, que ​substitua a cidade de Tróia destruída e
que governe as demais cidades do mundo. Roma então, segundo o mito, é fruto das obras
de um estrangeiro que se une aos latinos que vivem no lácio. Ao final da obra, Virgílio fala
que​ ​“é​ ​papel​ ​do​ ​romano​ ​instaurar​ ​a​ ​paz​ ​e​ ​estabelecer​ ​a​ ​lei​ ​que​ ​garanta​ ​o​ ​direito​ ​e​ ​a​ ​justiça”​ .

A​ ​violência​ ​e​ ​a​ ​guerra


A relação dos romanos com os povos vizinhos, além da missão civilizatória
destacada por Virgílio, em situações muito pontuais, possuía uma carga de animosidade
tremenda. Foi assim que aconteceu com os cartagineses, por exemplo. As três guerras
púnicas ocorreram pela luta entre Roma e Cartago pela hegemonia do mundo até então
conhecido.
Devemos lembrar que a Eneida foi escrita nos primeiros anos do Império. A sua
construção mítica não se exprime somente pela mera vontade de se associar a imagem de
Tróia à construção de Roma. Existiria, segundo o mito, um propósito maior em Roma, além
da violência e da guerra que permearam o seu sucesso para alcançar a hegemonia no
mediterrâneo, com ênfase nas Guerras Púnicas do período republicano. Isso diferenciaria a
vis​ ​(força,​ ​em​ ​latim)​ ​da​ ​auctoritas​ ​(autoridade)​.

1
​Para os filósofos da época o ​jus gentium ​era um complexo de normas jurídicas que tinha vigência, não somente
junto aos romanos, como junto a todos os povos que tivessem alcançado certo grau de civilização. Ele se
reportava​ ​a​ ​uma​ ​razão​ ​natural​ ​(​naturalis​ ​ratio​),​ ​que​ ​encontra​ ​acolhida​ ​junto​ ​a​ ​todos​ ​os​ ​homens.
2
​Eu me lembro em uma aula do Hélcio que a relação dos romanos com os estrangeiros era pacífica porque os
próprios romanos não tinham uma identidade de povo muito bem formada, porque eles eram a junção de
Etruscos, Sabinos, Latinos, gregos.... Os patrícios, segundo ele, tinham uma posição mais “elevada” na
sociedade porque eles tinham chegado primeiro no Lácio. Os plebeus são os romanos que chegaram depois e
por isso não tinham terras, uma vez que elas já tinham sido ocupadas por todos os patrícios.
Aparentemente​ ​a​ ​diferença​ ​em​ ​“classes”​ ​não​ ​era​ ​algo​ ​transcendental,​ ​mas​ ​uma​ ​situação​ ​de​ ​fato.
Os romanos, como descendentes dos gregos, herdariam sua língua e cultura, seus
parâmetros culturais e civilizacionais. Teriam também um passado glorioso, que se
projetaria até seus feitos contemporâneos (e, de certa forma, até os dias de hoje, com a
sucessão​ ​da​ ​cultura​ ​greco-romana​ ​nas​ ​bases​ ​da​ ​sociedade​ ​ocidental).
Após as guerras púnicas, estabeleceu-se um período no Mediterrâneo conhecido
como ​Pax romana​, uma situação de paz efetiva e de funcionamento das instituições e dos
procedimentos romanos. Há, também, uma busca pela compreensão, pelo entendimento
dos motivos do outro, pela compreensão do outro. A paz poderia ser conquistada, segundo
Cícero, por dois métodos distintos: por meio da compreensão, do debate; por meio do uso
da​ ​força​ ​física,​ ​da​ ​violência,​ ​somente​ ​quando​ ​o​ ​debate​ ​não​ ​se​ ​mostrasse​ ​eficiente.

Sistema​ ​de​ ​direito​ ​internacional​ ​em​ ​Roma


Havia em Roma um direito de caráter religioso, o ​jus fetiale​, definido pelos
sacerdotes, cuja atribuição era a condução de cerimônias próprias dos tratados, da
condução das solenidades de abertura e de encerramento dos tempos de guerra, decidir
sobre casos de extradição, e outros assuntos internacionais. A ampliação dos domínios
romanos sobre o mediterrâneo tornava necessária a existência de uma ordem jurídica
internacional.
A guerra só era praticada como resposta a ofensa feita por outros povos. O conceito
de guerra justa se contrapõe ao de guerra injusta. A licitude das ações é avaliada não à luz
do direito natural e do direito das gentes, mas à luz de normas de direito posto e de
disposições ditadas por situações de emergência. Não era aceitável que se praticasse a
guerra visando que a guerra não aconteça (cometer um crime para evitar sofrer outro). É
justa​ ​a​ ​legítima​ ​defesa,​ ​da​ ​mesma​ ​forma​ ​como​ ​estabelecido​ ​na​ ​carta​ ​da​ ​ONU.
O Imperador Augusto, no final de seu reinado (podemos falar reinado, produção?),
orgulhava-se do tamanho de seu Império, e do fato de que não tinha travado guerra injusta
com nenhuma tribo. A hegemonia de Roma nunca pretendeu aniquilar as estruturas e
conceitos dos povos que conquistava, mas agregar, como “superestrutura”, o elemento
romano a base do povo local. Era uma missão civilizatória, da forma como narrada por
Virgílio.
Roma, durante mil e duzentos anos, por poucas décadas teve de estar envolvida em
conflitos armados, e quando o fazia, na maioria das vezes, aplicava o princípio de fazer
guerras de defesa (a exceção são as Ilhas Britânicas, que não representavam uma
ameaça). Mesmo a declaração de guerra era algo que deveria seguir ritos muito específicos,
bastante relacionados à justiça daquilo que Roma queria conquistar. Roma manteve
relações internacionais com muitos dos estados, nações e tribos além dos limites dos seus
territórios (​limes​) por meio de tratados, em que vigorava o princípio ​pacta sunt servanda​, a
obrigação​ ​de​ ​se​ ​cumprir​ ​a​ ​palavra​ ​dada,​ ​o​ ​princípio​ ​da​ ​boa-fé,​ ​entre​ ​outros:
● amicitia​:​ ​tratados​ ​de​ ​amizade​ ​ou​ ​de​ ​neutralidade​ ​entre​ ​parceiros​ ​considerados​ ​iguais;
● foedus:​ ​alianças​ ​defensivas;
● deditio in fidem, clientela: constituição de formas variadas de dependência, parecido
com​ ​a​ ​suserania​ ​e​ ​vassalagem​ ​medieval;
● deditio​:​ ​submissão​ ​à​ ​autoridade​ ​de​ ​Roma.
A construção do ​ius gentium foi determinada pelo cosmopolitismo de Roma, que
tinha contato com as mais diversas culturas que habitavam os arredores do mediterrâneo.
Era um direito universalmente aplicável a todas as pessoas (livres) do Império, que regulava
a convivência entre as gentes. O Edito de Caracala, de 212, consolidou este processo,
concedendo​ ​cidadania​ ​romana​ ​a​ ​todos​ ​os​ ​homens​ ​livres​ ​do​ ​Império.
O cosmopolitismo de Roma ampliava cada vez mais suas relações comerciais no
Mediterrâneo. A aplicação das leis para cada relação jurídica que se formava era algo muito
complexo, porque Roma em momento algum pretendia impor suas estruturas jurídicas. Aos
poucos se desenvolveu o princípio ​locus regit actum​, que significava que o direito do lugar
onde se firmava o acordo era aquele que o regia. Isso era problemático também, porque os
direitos poderiam ser muito distintos e desconhecidos das partes. Os romanos iniciaram a
aplicação irrestrita do princípio da boa-fé (​fides​), baseando suas relações na confiança
mútua.
A consequência desse sistema de tratados e de relações dos romanos com os outros
povos, baseados principalmente na confiança mútua, permitiu a concepção de um império
universal, na medida em que este ​imperium não estava assentado na força, na ameaça, na
morte,​ ​mas​ ​na​ ​integração​ ​de​ ​um​ ​sistema​ ​de​ ​direitos​ ​e​ ​deveres.

Fim​ ​do​ ​Império​ ​Romano​ ​e​ ​suas​ ​heranças​ ​culturais


Os invasores bárbaros não determinaram fim à unidade mediterrânea formada no
mundo antigo por Roma e pela sua cultura. Estes, pelo contrário, conservaram-na como
modelo e ideal. A ruptura do sistema internacional construído pelos romanos começa a se
desmontar somente com a súbita expansão muçulmana pelo norte da África e pela
península Ibérica. Somente com a chegada do Islã à Europa, a partir do século VII, a
herança cultural começa, portanto, a ser confrontada, quando há um conflito entre o mundo
cristão e o mundo muçulmano. Foi a partir desse momento em que a África e a Hispânia
entram​ ​sob​ ​a​ ​influência​ ​de​ ​Bagdá,​ ​e​ ​a​ ​Europa​ ​mergulha​ ​na​ ​chamada​ ​era​ ​feudal.

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