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O YOGA COMO PRÁTICA INTEGRATIVA NA PROMOÇÃO DE


SAÚDE MENTAL: UMA FERRAMENTA ÉTICA PARA O
CUIDADO DE SI

YOGA AS AN INTEGRATIVE PRACTICE IN THE PROMOTION


OF MENTAL HEALTH: AN ETHICAL TOOL FOR CARE OF SELF

Álvaro Lemes da Rosa


CENSUPEG

Andreia Valéria de Souza Miranda


CENSUPEG

Resumo: Com a dificuldade existente no manejo de ferramentas de trabalho em saúde


mental na atualidade, os profissionais estão em constante preparação e inovação nessa
área. O presente trabalho visa apresentar o yoga como uma alternativa bastante eficiente
para tal demanda, a partir de um minucioso levantamento bibliográfico que nos mostra
ótimos resultados de trabalhos realizados com a atividade yogi. Trata-se de uma prática
que procura equilibrar os aspectos físico, mental e espiritual, de modo que o sujeito
desenvolva habilidades para o cuidado de si, uma vez que esta pesquisa pretende
compreender o processo de promoção de saúde mental como uma prática educativa
realizada a partir do sujeito. O artigo ainda se propõe a descrever o procedimento do
yoga como uma boa estratégia na promoção de saúde mental, assim como de
recuperação e redução de danos, bem como investigar os benefícios proporcionados por
tal atividade inserida no dia-a-dia do sujeito.
Palavras chave: Saúde Mental, Prática Do Yoga, Cuidado De Si.

Abstract: With the difficulty of handling mental health techniques nowadays,


professionals are constantly preparing and innovating in this area. The present work
aims to present yoga as a very efficient alternative for such demand, based on a
thorough bibliographical survey that shows us great results of works performed with
yogic activity. This a practice is about seeking aspects of physical, mental and spiritual
balance, so that the subject develops abilities for self-care, since this research intends
to understand the process of promoting mental health as an educational practice
carried out with the initiative of the subject. The article also proposes to describe the
procedure of yoga as a good strategy in promoting mental health, as well as recovery
and harm reduction, as well as investigate the benefits provided by such activity
inserted in the daily life of the subject.
Keywords: Mental Health, Yoga Practice, Care Of Self.

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Introdução
Conforme Nunes et. al. (2007), a partir da Reforma Psiquiátrica Brasileira, o
cuidado em saúde mental é preconizado na Atenção Primária à Saúde, de modo que a
maior parte dos problemas em saúde mental pode ser resolvido nesse nível de
assistência, com os princípios da universalidade, integralidade, descentralização e
participação social, enfatizando a prática preventiva e promocional em saúde,
fomentando, assim, uma rede integrada de assistência ao portador de transtorno mental.
Para a Organização Mundial da Saúde, o conceito de saúde se define em um
estado completo de bem estar biopsicossocial (físico, mental e social) (OMS, 2016).
Pensada dessa forma, a boa qualidade de vida do sujeito não provém somente do
cuidado médico, da atenção dos profissionais para com as patologias do indivíduo, mas
também, e principalmente, da própria atuação deste frente ao cuidado de si. O que nos
leva a um questionamento: como associar o cuidado de si com práticas em saúde
oferecidas pela Atenção Primária à Saúde?
Pensado pelo viés de prática integrativa, o yoga se mostra como uma alternativa
bastante oportuna na promoção da saúde mental, bem como na prevenção e recuperação
do sujeito em sofrimento psíquico. Para Kupfer (2016), embora haja várias formas de se
definir o yoga, este teria surgido com o propósito de oferecer crescimento pessoal,
trouxe uma visão especial sobre o ser humano, harmonizando o corpo e a mente. Yoga é
união e aplicação, KUPFER (2013) “um caminho que conduz o ser humano à
compreensão de si mesmo”.
Tomando o conceito de união trazido por Kupfer para “traduzir” a palavra yoga,
entende-se que se trata de unir, equilibrar corpo e mente, de modo que a dualidade
existente se funda em um mesmo caminho. Não obstante, também podemos tomar o
conceito de união para expressar a prática do yoga de forma a se atrelar aos princípios
de integralidade e universalidade propostos pela Atenção Básica em Saúde, fomentando
práticas educativas para os usuários da saúde pública. Isso significa dizer que o bem
estar do sujeito está diretamente vinculado ao modus operandi ao qual ele vive.
Muitas são as benfeitorias oferecidas pela prática do yoga, quais sejam:
direcionamento ético do cuidado de si, desenvolvimento de habilidades sociais a partir
do conceito de não-violência (contra si, contra o outro e contra o mundo), maior
capacidade de reconhecer em si determinada dificuldade, maior capacidade de

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compreensão ao outro e também de autocompreensão, melhorias no funcionamento do


organismo, melhor qualidade de vida, entre outras (Barros et. al., 2013).
A partir de uma perspectiva cartográfica, para se associar ao processo que é a
promoção de saúde mental, este estudo pretende apontar, mediante revisão sistemática
da literatura, os avanços apresentados quando se utiliza da prática do yoga como
ferramenta educativa, visando o bem estar físico, mental, social e espiritual, a fim de
demonstrar os resultados obtidos a partir de um estudo (Barros et. al., 2013), onde um
grupo de dezessete pessoas foi submetido à atividade yogi. Os dados mostram queda
significativa no número de queixas sobre ansiedade, insônia, dores de cabeça, estresse,
asma, entre outros, bem como melhoras na percepção dos sintomas.

O YOGA COMO FERRAMENTA INTEGRATIVA NA PROMOÇÃO DE


SAÚDE MENTAL
Existem hoje incontáveis estudos realizados sobre promoção e prevenção à
saúde mental, bem como sobre trabalhos recuperativos a cerca de sujeitos que sofrem
com algum transtorno psíquico. Não obstante, tais estudos relatam a ambivalência
sujeito-ambiente, ou seja, práticas que favoreçam a interatividade entre o sujeito e o
ambiente onde ele está inserido, de modo que ambos universos corroborem em uma boa
saúde mental (Knapp; Beck, 2008).
Já os trabalhos em saúde mental realizados a partir do sujeito se mostram
bastante modestos, haja vista a dificuldade de se encontrar tais materiais. Neste caso, o
yoga como prática integrativa vem se mostrar como uma boa alternativa no que
concerne a atuação do indivíduo em sua própria promoção de saúde biopsicossocial.
Conforme Feuerstein (2005), podemos entender o yoga como um êxtase, ou
como uma forma de unificar as dualidades, ou ainda, a unificação da psique individual
com o si-mesmo transcendental, ou seja, é uma prática que visa ao equilíbrio entre
corpo e mente; é a atividade do autocuidado e do autoconhecimento. O autor se refere
ao yoga dessa maneira por ser uma filosofia de difícil definição, visto que é uma
experiência individual, onde cada praticante extrai um resultado ímpar. Para Coelho et.
al. (2011), yoga significa união, e dentro dos sistemas religiosos e filosóficos da Índia
representa a unificação dos fatores material e espiritual do homem, tendo como objetivo
justamente a integração desses aspectos.

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Kupfer (2016) diz que o yoga não se fecha em um conceito teórico, pois algumas
pessoas trazem a definição de arte ou ciência; outras entendem como um exercício e/ou
técnica; outras ainda, como doutrina ou religião. No entanto, o yoga surgiu como uma
visão ímpar ao ser humano e seu papel na ordem das coisas, onde grande parte desse
papel é o crescimento pessoal. Para o autor o yoga seria um meio e um fim
simultaneamente, uma vez que tudo o que fazemos visa conseguir algo e, para o yogi , a
liberdade seria o objetivo supremo. Quando Kupfer (2016) fala em se libertar, está se
referindo aos condicionamentos e crenças nocivos, às dificuldades para o crescimento,
aos empecilhos para a plenitude e realização do autocuidado.
A partir dos conceitos e representação que o yoga oferece podemos entender que
é uma prática que visa o olhar-para-si, o reconhecimento das dificuldades, a aceitação
da condição que o sujeito vivencia. É uma atividade física, mas também mental; é uma
atividade de meditação, mas também de racionalização. É uma alternativa ao modelo
biomédico para a promoção e para o tratamento de saúde mental.
De acordo com Streeter (apud Schulz, 2016), a prática de yoga diminui
significativamente os sintomas de depressão, pois os resultados de sua pesquisa
mostraram um aumento dos níveis de ácido gama-aminobutírico (GABA), substância
química que possui efeito calmante. Para Brown (apud Schulz, 2016), a prática de
respiração controlada pode oferecer mudanças na resposta do sistema nervoso
autônomo, ajudando a reduzir sintomas associados à ansiedade, depressão, déficit de
atenção, entre outros.
Segundo Cope (apud Walton, 2011), o yoga oferece uma forma de treinar a
atenção e a autorregulação da consciência, visando atender a demanda de pensamentos,
sentimentos e experiências, de modo a conviver com tais fatores sem julgamentos. Para
Walton (2011), a reação aos pensamentos é o que produz os problemas, e a prática
regular de yoga contribui para a aceitação, para um melhor discernimento da situação,
pois a ideia de entender os pensamentos invasivos/negativos de forma imparcial é o que
fomenta a meditação.
Walton (2011) ainda fala sobre o dualismo mente-corpo, onde, para os yogis,
tais fatores estão interligados de todas as formas, sendo a mente uma forma sutil do
corpo, e o corpo uma forma grosseira da mente. Dessa forma, sempre que estimulamos

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um, o outro é beneficiado, e o yoga está sempre estimulando, simultaneamente, tanto o


corpo quanto a mente.
Mas, ainda que a proposta deste trabalho seja salientar a importância da prática
do yoga para a promoção de saúde mental, não podemos deixar de mencionar seus
benefícios a nível biológico/fisiológico. Pesquisas enfatizam as melhorias na saúde
física, desde as moléculas menores até o bom funcionamento do sistema imunológico.
Walton (2011) aponta para pesquisas que mostram resultados bastante
interessantes a respeito da ação do yoga no aspecto fisiológico. Conforme Pullen (apud
Walton, 2011), pessoas com insuficiência cardíaca apresentaram melhora significativa
dos níveis de biomarcadores, como a proteína C-reativa e a interleucina-6, fazendo com
que os níveis de inflamação reduzam.
Dolgonos (apud Walton, 2011) fala sobre a estimulação que o yoga causa no
sistema nervoso parassimpático, acalmando e equilibrando o sujeito após uma situação
estressora. Ainda sobre o funcionamento do sistema nervoso parassimpático, a autora
denota que, quando ativado, esse sistema direciona o sangue para glândulas endócrinas,
sistema digestivo e circulação linfática, ao mesmo tempo em que diminui a pressão
arterial, fazendo com que o organismo extraia mais nutrientes dos alimentos, bem como
elimine as toxinas de modo mais eficiente.
Existem mais de 25 modalidades de yoga, sendo que o mais difundido no
ocidente é o hatha yoga, datado do século VII, estilo mais associado aos ásanas
(posturas corporais), pranayama (exercícios de respiração), yoganidra (relaxamento
psicofísico) e dhyana (meditação) (BARROS et. al., 2013). O autor ainda fala que, em
muitos casos, o yoga é utilizado apenas como prática terapêutica na recuperação de
determinadas patologias, não sendo aplicado seu potencial na produção de
autoconhecimento e autocuidado, assim como no desenvolvimento de hábitos
saudáveis.
Para Menezes et. al. (2013), as pesquisas científicas acerca das técnicas do yoga
ainda são bastante módicas no Brasil, bem como seus estudos ainda são relativamente
recentes ao redor do mundo. Os autores trazem a ideia de que, apesar de geralmente
apresentarem bons resultados, estes não se aplicam em todas as condições, frisando a
necessidade de uma investigação sistemática de suas aplicações.

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No Brasil o yoga foi inserido no Sistema Único de Saúde (SUS) no ano de 2011,
a partir da portaria 719, de 07 de abril do referido ano, quando foi criado o Programa da
Academia de Saúde, que surgiu com o objetivo de promoção da saúde e produção do
cuidado, a partir de práticas corporais e atividades físicas (Brasil, 2011). No entanto, o
yoga ainda é uma prática pouco difundida no âmbito da saúde pública, embora esta
prática milenar já tenha se mostrado eficaz em várias situações, como cita Vorkapic
(2012) quando apresenta um estudo onde 17 sujeitos mostraram redução significativa
dos níveis de ansiedade relacionada a ataques de pânico quando tratados com
iogaterapia.

O Yoga como Ferramenta Ética para o Cuidado De Si


Conforme Agamben (apud Soler, 2016), é necessário que rompamos com as
análises habituais para que possamos desenvolver uma melhor análise crítica de nossos
dilemas. A partir da ideia do autor podemos entender que o sofrimento psíquico está
intrínseco nas conjeturas políticas e históricas tradicionais. Desse modo, vê-se o yoga
como um modelo diversificado como ferramenta para o tratamento e prevenção às
patologias mentais, bem como para a promoção de saúde. Embora a prática yogi
ocidental, de modo geral, procure não discutir os aspectos espirituais, existem passos
éticos em tal atividade, que direcionam para o autoconhecimento e autocuidado (Barros
et. al., 2013). Aqui podemos entender que as ideias de Agamben e Barros se fundem no
que diz respeito a evoluir as análises críticas do sofrimento como um apontamento para
repensarmos a promoção/recuperação da saúde a partir da subjetividade, para que assim
possamos redirecionar o modelo/saber biomédico.
A partir de determinadas práticas, também podemos pensar o sujeito como sendo
um “legislador” de si mesmo, avaliando os direcionamentos dados aos prazeres
cotidianos (Soler, 2010). Aqui o autor nos remete à escola estoica fazendo um
apontamento ético em relação ao questionamento sobre o surgimento da cultura de si.
Com isso podemos entender que não somente as políticas públicas do cuidado em saúde
são importantes, mas que também o sujeito é responsável pelo cuidado de si. Nesse
apanhado histórico, Soler (2010) aponta as distinções entre a medicina grega e romana,
onde a primeira estava mais voltada para intervenções medicamentosas e cirúrgicas,
enquanto que a segunda passou, além disso, a se preocupar em proporcionar o bem-

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estar, fazendo com que o sujeito estabelecesse uma boa relação com o outro e com o
meio onde vivia.
Mas como desenvolver uma prática intimista de tamanha complexidade em uma
sociedade altamente volátil? Para Foucault (1985), a prática da medicina romana via no
meio externo elementos tanto positivos quanto negativos para a saúde do sujeito, sendo
necessário que este desenvolvesse a habilidade do cuidado de si, para que assim tivesse
condições de identificar os elementos nocivos. O autor ainda fala sobre a prática do
regime, onde o indivíduo pudesse se valer de noções básicas de medicina, a fim de que
pudesse ser seu próprio conselheiro de saúde. Segundo Foucault (1985, p. 107):

reconhece-se aí, facilmente, um dos princípios essenciais da prática de si: amar-se para tê-lo
sempre a mão (o sujeito), de um discurso prestimoso cedo aprendido, frequentemente repetido, e
regularmente meditado. O logos médico é desses ditando a cada instante o bom regime da vida.

A partir dos apontamentos de Soler (2010) e Foucault (1985), podemos pensar o


yoga como uma prática contemporânea (apesar de milenar) como ferramenta para o
cuidado de si, uma vez que é uma atividade de per si , com o olhar voltado
internamente, reconhecendo-se enquanto ser-no-mundo e ser-para-o-mundo. Tais
fatores ficam evidentes no “momento” yoganidra, onde o praticante firma seu sankalpa ,
bem como nos princípios filosóficos que se direcionam para benefícios físicos, mentais
e sociais.
Soler (2008a), quando fala sobre uma história política da subjetividade em
Michel Foucault, faz uma crítica à produção de subjetividade tomada por uma
concepção universal e anistórica, pois tal aspecto é resultado das relações políticas do
sujeito. Relações estas que estão atreladas ao discurso, ao poder, à verdade e à ética,
uma vez que a história é tomada pelo autor como um campo de possibilidades.
Dessa forma, podemos entender que a prática do yoga também se mostra como
ferramenta eficaz no auxílio do processo de produção de subjetividade, no sentido de
que o sujeito está desenvolvendo sua autonomia quando utiliza a atividade yogi como
ferramenta ética do cuidado de si.
Neste caso, a subjetividade não reconhece qualquer instância determinante que
guie outras, como uma causalidade unívoca em seu processo. Isto é, a subjetividade não
é um em si, mas um processo de autonomização, de autopoiese , do ato de praticar o
cuidado de si (SIMÕES e GONÇALVES, 2009).

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Embora o processo de produção de subjetividade não seja determinado por


qualquer direcionamento específico, cabe salientar que a prática do yoga contribui
significativamente nessa evolução, valendo-se de sua filosofia como instrumento de
autocuidado e autoconhecimento.

Metodologia
Este estudo conta com um método de abordagem cartográfico sobre o processo
de promoção de saúde mental a partir das contribuições da prática do yoga como
atividade integrativa e uma ferramenta ética do cuidado de si. A cartografia é um
método desenvolvido por Deleuze e Guatarri (2005), para contrapor os métodos
modernos de pesquisa que, segundo os autores, visa acompanhar um processo em
produção. A cartografia possui um caráter essencialmente qualitativo.
Para Costa (2014), a cartografia enquanto metodologia nos ajuda a pensar nas
perguntas que ela pode oferecer, tirando o foco do mundo das essencializações, ou seja,
oferecendo perguntas que direcionam ao processo, à criação, à composição de
determinada realidade. O autor ainda fala que, para cartografar é necessário o
pesquisador estar no território, isto é, estar em movimento, afetando e sendo afetado
pelo que cartografa.
Neste caso se considerou usar o método cartográfico de pesquisa pelo fato de
que, assim como tal abordagem é um processo, a prática do yoga também o é, haja vista
que, conforme Barros et. al (2013), o yogi sofre vários atravessamentos, que vão desde
os benefícios físicos, filosóficos, sociais, até o momento da cultura do eu, onde aprende
a prática da não violência (desenvolvimento da cultura de paz), bem como a reeducação
de hábitos nocivos à saúde.
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, exploratória e de natureza básica, usando-
se de procedimento bibliográfico, para que assim possa oferecer uma alternativa para a
promoção de saúde mental, bem como uma possibilidade para a recuperação do sujeito
em sofrimento psíquico.
A seleção bibliográfica visou buscar materiais que apontassem a prática do yoga
como uma ferramenta integrativa na promoção de saúde mental, utilizando como
estratégia a combinação entre as palavras yoga, saúde mental, autocuidado e
autoconhecimento, priorizando trabalhos mais recentes na área. O material que

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descaracterizou e/ou desvirtuou o problema de pesquisa foi eliminado como fonte de


referência.

Discussão e Resultados
Conforme Faria (2015), as repercussões da prática do yoga para a saúde mental
mostram resultados positivos no que se refere à redução do estresse, da ansiedade e dos
sintomas de depressão, bem como uma melhora significativa na qualidade de vida, além
dos benefícios físicos mensurados a partir da atenuação gradual de dores de cabeça e
costas. Levando em conta que o yoga é um estilo de vida que busca desenvolver o
sujeito nos níveis físico, mental e espiritual

[...] a abordagem do yoga reconhece que a raiz dos problemas mentais se encontra em todos os
níveis da existência humana: físico, mental e espiritual; e somente quando esses três níveis são
considerados pode-se conseguir saúde mental duradoura (Faria, 2015 apud Sarkar, 2004, p.64).

Ainda que com um número baixo de pesquisas nesse campo, os resultados em


trabalhos utilizando o yoga como ferramenta terapêutica, preventiva e promocional em
saúde mental, mostram-se bastante significativos, em se tratando de uma prática
holística, paralela ao modelo biomédico e ainda pouco utilizada, principalmente em
nível de saúde pública. O que a literatura nos apresenta é que se trata de uma prática que
requer disciplina e comprometimento pessoal para que os efeitos apareçam já no início.
O trabalho realizado no CAPS Casa Forte em Recife (PE), pela psicóloga
Carolina Medeiros, também vem mostrar os ganhos produzidos pela prática do yoga em
pacientes com transtornos psicóticos, “destravando” a estrutura física de tais sujeitos,
submetidos a internações onde foram amarrados e tratados com eletroconvulsoterapia,
deixando seus corpos demasiadamente rígidos. Neste caso, a prática yogi auxilia no
reconhecimento de si desses pacientes, mediante a percepção de partes do corpo antes
“esquecidas” (Flores no Ar, 2012).
Aqui podemos perceber, mais uma vez, grande vantagem do uso do yoga como
prática integrativa, haja vista que sua técnica parte do pressuposto que, para se alcançar
uma saúde equilibrada, é necessário atingir o sujeito em seus três níveis, pois abrange a
tríade da saúde simultaneamente, além de desenvolver o aspecto espiritual.
Debruçando-nos sobre uma ontologia histórica de nós mesmos, devemos não
procurar descobrir o que somos, mas de recusarmos aquilo que nos tornamos (Soler,

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2008b apud Foucault, 1995a). Essa seria a premissa para a ética do cuidado de si. O
autor nos traz a ideia, a partir de Foucault, sobre como nos reconhecemos enquanto
sujeitos através da sexualidade. Não obstante, aqui podemos fazer uma ponte com tal
conceito, de modo que a prática do yoga também favorece que nos reconheçamos
enquanto sujeito, uma vez que se trata de uma atividade introvertida.
A medicina na época do império romano passava orientações às pessoas de
modo que elas soubessem qual a melhor hora para o banho, o que era bom comer, que
roupas utilizar em diferentes estações do ano, ou seja, era uma prática que deveria ser
aprendida pelo sujeito e seguida pelo resto de sua vida. Trata-se, portanto, de fomentar
no sujeito a necessidade e capacidade de se autoavaliar (Soler, 2010 apud Foucault,
1985). Não diferente, a prática do yoga segue um modelo bastante similar, no que diz
respeito ao praticante não somente se utilizar dela no momento da atividade, mas
estendê-la para o seu dia-a-dia.
O cuidado de si tomado no campo da ética nos mostra a necessidade do
compromisso consigo mesmo, da importância de saber o que se deve ou não fazer em
detrimento do bem estar biopsicossocial. Isso nos aponta a relevância em aprender o
cuidado de si com a prática do yoga voltado para a prevenção e promoção da saúde
mental.

Considerações Finais
Embora o yoga não se aplique de maneira absoluta em casos de recuperação,
bem como não são todas as pessoas que conseguem se identificar com a prática, – para
promoção de saúde – a partir dos estudos pesquisados ficam evidentes os benefícios do
yoga enquanto práxis na promoção de saúde mental, além de se mostrar uma ótima
ferramenta para o desenvolvimento do autocuidado e do autoconhecimento.
Após uma revisão bastante sistematizada sobre a literatura e pesquisas existentes
no campo do yoga como ferramenta auxiliadora na promoção de saúde mental, de uma
maneira geral, podemos constatar os ganhos na qualidade de vida do sujeito praticante,
desde as mudanças no padrão de pensamento até suas ações em prol da saúde.
Com o nosso estudo também demostramos que – representando uma prática
promocional, mas também preventiva e de recuperação – o artifício do yoga corrobora
para o cuidado de si. Como uma atividade educativa, direciona o sujeito à consciência

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de si, de forma que este apreende os conceitos filosóficos, potencializando a cultura da


não-violência, do olhar para si, bem como do olhar para o outro e para o mundo.
Sabe-se da carência de pesquisas no campo do yoga, embora seja, atualmente,
uma prática relativamente difundida no ocidente, mesmo ainda sendo bastante
confundida como uma especificidade religiosa. Entendemos a necessidade de expandir
tal conhecimento, bem como de promover a prática yogi nos serviços de saúde pública,
de modo a nos utilizarmos dessa ferramenta como mais um facilitador para trabalho dos
profissionais de saúde mental.

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Recebido em: 28/03/2017


Aprovado em: 10/04/2017

Curriculum resumido
Álvaro Lemes da Rosa é psicólogo formado pela UNIFACVEST e pós- graduado em
saúde mental pelo UNICENSUPEG.
E-mail: lemesalvaro@gmail.com

Andreia Valéria de Souza Miranda é enfermeira e professora do Censupeg. E-mail:


andreiavaleriamiranda@hotmail.com

Rizoma: experiências interdisciplinares em ciências humanas e ciências sociais aplicadas, v. 1, n.2, p. 178-190, Abril,
2017.
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Como citar:
Rosa, A. L. Miranda, A.V.S. (2017). O Yoga como Prática Integrativa na Promoção de
Saúde Mental: uma ferramenta ética para o cuidado de si. Rizoma: experiências
interdisciplinares em ciências humanas e sociais aplicadas. 1 (2), (pp.119-126).

Rizoma: experiências interdisciplinares em ciências humanas e ciências sociais aplicadas, v. 1, n.2, p. 178-190, Abril,
2017.

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