Вы находитесь на странице: 1из 2

11/04/2017 No país das amazonas

  SAGe     Agilis     Agência     Revista     Biblioteca Virtual     Indicadores     Oportunidades  

  Pesquisar  » Pesquisa avançada

Início > No país das amazonas

Publicado em: Carta Fundamental (Tema de Aula) em 1 de Outubro de 2011

No país das amazonas
Relatos de frei dominicano, do século XVI, descrevem a Região Amazônica com cidades de
pedras, densidade populacional e organização social complexas

POR ADRIANE COSTA DA SILVA, mestre pela FE­USP e professora de magistério indígena

O mito das amazonas foi reinventado ao longo dos séculos e suas diferentes versões evocam
outras imagens sobre a América e as regiões exóticas do Oriente e da África. Entre as
diferentes narrativas, um elemento comum prevalece: a aventura de guerreiros e viajantes
em terras exóticas. Trata­se de lugares imaginários, cuja localização nem sempre
corresponde às coordenadas geográficas factuais.

A própria etmologia do nome amazonas evidencia características comuns às diferentes
versões do mito. Na língua grega: a + mazos significa mulheres sem seio; na língua persa ou
iraniana, hamazan ou hamazakaran pode ser traduzido como fazer a guerra, guerreiras; nas
línguas indígenas sul­americanas, as amazonas são chamadas por outros nomes
(iamaricumã, icamiabas ou coniupuiaras) e tais nomes são comumente traduzidos como
mulheres sem marido.

Nas cosmografias modernas, o país em questão está localizado nas proximidades do grande
Rio Amazonas, que nasce no sopé dos Andes e deságua na costa atlântica, e é personificado
por figuras de mulheres guerreiras que se confundem muitas vezes com as personificações
da América. No relato de Gaspar de Carvajal (1504­1584), frade dominicano que descreveu a
expedição de Francisco de Orellana e Gonzalo Pizarro em busca do país da canela, a paisagem
da região contrasta com as imagens veiculadas na literatura de viagem, do século XIX até
hoje: "Perguntou o Capitão como se chamava o senhor dessa terra, e o índio respondeu que
se chamava Couynco, e que era grande senhor, estendendo­se o seu senhorio até onde
estávamos. Perguntou­lhe o Capitão que mulheres eram aquelas que tinham vindo ajudá­los
e fazer­nos guerra. Disse o índio que eram umas mulheres que residiam no interior, a umas
sete jornadas da costa (...) Disse o índio que as aldeias eram de pedra e com portas, e que de
uma aldeia a outra iam caminhos cercados de um e outro lado e de distância em distância
com guardas, para que não possa entrar ninguém sem pagar direitos".

O povo do interlocutor indígena, Couynco, cuja descrição do reino das amazonas é
reproduzida no relato de Carvajal, tinha com as amazonas uma relação de encomendeiros,
isto é, eram servos e vassalos de um grupo de guerreiras lideradas por Conhorí. Tal relação
implica a circulação de bens, pessoas e saberes. Lendo esses trechos do seu relato podemos
identificar várias características da organização social, dos padrões de assentamento e cultura
material, visões de mundo que parecem, aos olhos e ouvidos do escrivão, serem
características comuns, observadas tanto nas sociedades andinas quanto dentre os povos da
floresta.

"Disse que a capital e principal cidade, onde reside a senhora, há cinco casas muito grandes,
que são oratórios e casas dedicadas ao sol, as quais são por elas chamadas caranaí, e que
estas casas são assoalhadas no solo e até meia altura e que os tetos são forrados de pinturas
de diversas cores, que nestas casas têm elas ídolos de ouro e prata em figura de mulheres, e
muitos objetos de ouro e prata para o serviço do sol. Andam vestidas de finíssima roupa de
lã, porque há nessa terra muitas ovelhas das do Peru. Seu trajar é formado por umas
mantas apertadas dos peitos para baixo, o busto descoberto, e um como manto, atado
adiante por uns cordões. Trazem os cabelos soltos até ao chão e postas na cabeça coroas de
ouro, da largura de dois dedos."

"Havia lá uma praça muito grande e no meio da praça um grande pranchão de dez pés em
quadro, pintado e esculpido em relevo, figurando uma cidade murada, com a sua cerca e
uma porta. Nessa porta havia duas altíssimas torres com as suas janelas, as torres com
portas que se defrontavam, cada porta com duas colunas. Toda esta obra era sustentada
sobre dois ferocíssimos leões que olhavam para trás, como acautelados um do outro, e a
sustinham nos braços e nas garras. Havia no meio desta praça um buraco por onde

http://www.bv.fapesp.br/namidia/noticia/47209/pais­amazonas/ 1/2
11/04/2017 No país das amazonas
deitavam, como oferenda ao sol, a chicha, que é o vinho que eles bebem, sendo o sol que
eles adoram e têm como seu Deus."

"Era esse edifício coisa digna de ser vista, admirando­se o Capitão (Francisco de Orellana) e
nós todos de tão admirável coisa. Perguntou o Capitão a um índio o que era aquilo e o que
significava naquela praça, e o índio respondeu que eles são súditos e tributários das
amazonas, e que não as forneciam senão de penas de papagaios e guacamaios para forrarem
os tetos dos seus oratórios. Que as povoações que eles tinham eram daquela maneira,
conservando­o ali como lembrança e o adoravam."

Nos trechos do relato, os povos da floresta não são grupos reduzidos e isolados. A crônica do
dominicano descreve cidades monumentais, cujos padrões de assentamento, densidade
populacional e organização social complexos condizem com descobertas arqueológicas
recentes, reveladas por imagens de satélite e trabalho de campo, em sítios escavados em
Mato Grosso, Pará, Rondônia, Acre e Amazonas. Paradoxalmente, o desmatamento
predatório na Amazônia possibilitou achar a civilização amazônica dos romances de mundos
perdidos.

SAIBA MAIS

Livros

CARVAJAL, Frei Gaspar de. Relatório do Novo Descobrimento do Famoso Rio Grande
Descoberto pelo Capitão Francisco de Orellana (1542). São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1941.

HAAG, CO sonho do Eldorado Amazônico: A arqueologia brasileira e a eterna busca por
civilizações ocultas na Floresta Amazônica. Pesquisa Fapesp, 160, junho 2009, págs. 78­83.

JÚNIOR, G. Amazônia Perdida e Achada: Cientistas descobrem que primeiros habitantes
formavam civilizações organizadas e complexas. Pesquisa Fapesp, 152, outubro 2008, págs.
90­93.

Filme

Ngune Élü ­ O dia em que a lua menstruou (

Cineastas Indígenas: kuikuro/Coletivo de Cinema Kuikuro e Vídeo nas Aldeias) Assista em:
www.vldeo nasaldeias.org br

http://www.bv.fapesp.br/namidia/noticia/47209/pais­amazonas/ 2/2

Вам также может понравиться