Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
SUPLEMENTAR1”
Texto base da 2ª Oficina de Trabalho
2
José Carlos de Souza Braga
I- Mercado e Regulação.
1
Este texto se apoia em diferentes trabalhos a serem publicados no livro “Brasil: Radiografia da Saúde”, organizado
por Geraldo Di Giovanni e Barjas Negri, editado pelo Ministério da Saúde e pelo Núcleo de Estudos de Políticas
Públicas da Unicamp. Os autores em que me apoio serão citados ao longo do texto. Utilizarei também argumentos e
trechos da introdução àquele livro que escrevi junto com Pedro Luiz Barros Silva e que se intitula: “A mercantilização
admissível e as políticas públicas inadiáveis: estrutura e dinâmica do setor saúde no Brasil”.
2
Doutor em Economia pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de campinas, com Pós-Doutorado pela
Universidade da Califórnia, U.S.A . Professor do Instituto de Economia da Unicamp.
Nossa visão é a de que as determinações dinâmico-estruturais são decisivas
para a configuração do Sistema de Saúde. Dentre tais determinações ressaltamos o
modo de desenvolvimento da economia capitalista, a configuração sócio-econômica
que lhe corresponde- emprego, distribuição de renda, “mercado de trabalho”- a política
da política econômica, a relação entre esta e a política social, os fatores diretamente
relacionados com as condições de saúde e com a prática médica.
Nesse sentido, nossa interpretação difere daquela que remete tais problemas à
chave das imperfeições de mercado em geral e àquelas do mercado de assistência
médica suplementar, em particular3. Para nós, de acordo com a abordagem da
Economia Política, não se trata de perfeição ou imperfeição de mercado, definida a
partir de uma situação abstrata (formal) e idealizada de concorrência perfeita. A
chamada Economia de Mercado e seus mercados específicos, entre eles o da saúde,
movem-se, sob a lógica da incerteza e do risco, indo inexoravelmente da expansão à
instabilidade e à crise, por razões estruturais. Tratam-se das assimetrias sócio-
econômicas decorrentes dos diferentes tipos de rendimento, do acesso ao crédito, da
propriedade ou não de capital, do acirramento da concorrência intercapitalista, do
sobreinvestimento em capacidade produtiva, entre outros.Os mercados são
progressivos e adequados desde que lucrativos ainda que funcionem imperfeita e
desequilibradamente e impliquem concentração de poder de mercado, de renda e de
riqueza ou, até mesmo, exclusão sócio-econômica. Os mercados serão críticos e
inadequados quando a capacidade ociosa de produzir bens e serviços for além do
desejado por seus proprietários a ponto de implicar prejuízos persistentes,
desincentivos ao novo investimento, falências empresariais, perda de dinamismo.
3
Para uma visão crítica dessa abordagem do pensamento econômico neoclássico ver Aloisio Teixeira- “Mercado e
Imperfeições de Mercado: O Caso da Assistência Suplementar”.3 ANS, 2001.
globais. A grande depressão econômica mundial dos anos 30 foi o momento crucial
em que a incapacidade de autoregulação da economia fica plenamente estabelecida.
Políticas, na medida em que os problemas de poder de mercado, desigualdade,
heterogeneidade e exclusão promovidas pela própria dinâmica econômica, não
encontram tratamento a não ser no plano do político.
O gasto líquido com saúde, em valor, foi de R$ 11,8 bilhões em 1993, pulou
para R$ 15,2 bilhões em 1995 e estagnou até 1998 quando foi de R$ 15,3 bilhões.
Percentualmente, esse gasto líquido representou 92% do gasto total em 1993 e 87%
em 1998.
A nova CVA, por eles analisada, tem como base uma proxy do lucro bruto
sobre a qual incidem diferentes alíquotas por eles testada e condizentes com a receita
gerada pelas contribuições sociais a serem substituídas. Chega-se àquela base de
lucro bruto partindo-se do faturamento das empresas declarantes do Imposto de
Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), depurado do custo do trabalho e deduzidas as receitas
líquidas de exportações das empresas.
Para que tal política aconteça, Calil Said argumenta que seria imprescindível
construir um sistema de codificação dos equipamentos: especificação dos
equipamentos e artigos para uso em medicina que sirva de guia para as aquisições,
controle de estoques, circulação de informações, monitoramento da política
governamental, etc.
Essa é uma das ações que evitaria uma inserção internacional brasileira muito
subordinada. Outra seria assegurar condições locais de “oferta” técnico-científica que
influenciasse as decisões das multinacionais de ampliar a gama de produtos a serem
produzidos aqui. Esta oferta significa expandir e fortalecer os centros de excelência na
área médica o que conduz à realização de ensaios clínicos indispensáveis ao
processo de criação e de produção de medicamentos. Concretamente, a Fundação
Oswaldo Cruz é um exemplo de como um conhecimento, no caso referente a doenças
tropicais, pode estimular centros de pesquisas especializados, tal como já imaginado
pela Glaxo Wellcome. Necessita-se de uma política pública que construa e consolide
vínculos da produção com a pesquisa acadêmica, ajudando no surgimento e
fortalecimento de um sistema nacional de inovações, inclusive porque semelhante
evento na área da saúde produziria efeitos positivos sobre outras áreas de pesquisa e
de produção industrial.
Qual o perfil dos indivíduos que optaram, como pessoas físicas, por ter
planos/seguros privados de saúde? São cerca de 8 milhões de pessoas, 5% da
população, cerca de 20% dos beneficiários totais de planos. Os demais beneficiários
do segmento conhecido como medicina suplementar – segurados vinculados ao
empregador – são cerca de 34 milhões de pessoas, 22% da população brasileira
(Célia Almeida, O Mercado Privado de Serviços de Saúde no Brasil: Panorama Atual e
Tendências da Assistência Suplementar. Mimeo IPEA/PNUD. 1998: 17). De todo
modo, o número total de pessoas na atenção à saúde suplementar tem sido objeto de
“controvérsia” não passando de 35 milhões de pessoas, segundo alguns.
4 “SUS-dependentes” é uma expressão de uso corrente nos debates sobre saúde no Brasil. É curiosa e reveladora, uma vez que
representa aquela grande maioria da população que não possui ocupação e renda compatíveis para participar como consumidor
no processo de mercantilização do sistema de atenção médica. Informações do Suplemento Saúde da PNAD de 1998 revelam
que 75,5% da população brasileira declarou não possuir planos privados de saúde. Verificando essa informação por classes de
rendimento observa-se que na faixa de rendimentos mensais familiares até três salários mínimos (aproximadamente 41% da
população total) a grande maioria, quase 95%, é SUS dependente. Na faixa imediatamente superior, entre três e cinco salários
mínimos e que abrange quase 20% da população total, 81,4% não possui planos. Essas informações indicam o quanto é
imprescindível, socialmente, a rápida melhoria das condições de acesso aos serviços públicos de saúde no Brasil.
O mercado brasileiro com vendas anuais de US$ 10 bilhões está entre os cinco
maiores do mundo. O que falta é uma política pública efetiva e sistemática, uma vez
que o importante mercado brasileiro não será abandonado pelas multinacionais.
5 “Três elementos caracterizam a periferia subdesenvolvida: a natureza dinamicamente dependente do sistema produtivo; a
fragilidade monetária e financeira externa; a subordinação político-militar”, de acordo com João Manuel Cardoso de Mello- A
contra-revolução liberal-conservadora e a tradição crítica latino-americana. Prólogo ao livro Poder e Dinheiro, Organizado por
Maria da Conceição Tavares e José Luis Fiori, Ed. Vozes, 1997.
erigindo uma clivagem entre o SUS - para aqueles que “não podem pagar”- e o
mercado de assistência suplementar. Neste caminho, é de se esperar um crescimento
da privatização dos serviços de saúde, nos médio e longo prazo, claro que com altos e
baixos conjunturais ditados pela evolução do emprego e dos rendimentos,
concomitante ao aumento de tensões de vários tipos no Sistema de Saúde como um
todo, decorrentes das desigualdades e heterogeneidades agravadas pela ausência de
uma política pública “construtiva” condições sócio-econômicas brasileiras. Este
poderia ser denominado de um Sistema Misto com dominância privada.
Uma terceira possibilidade apontaria para uma estagnação relativa da
assistência suplementar e uma ampliação e aperfeiçoamento gradativos dos serviços
públicos de saúde, oriundo das pressões sócio-políticas típicas de um capitalismo
periférico e sob regras democráticas, de tal maneira a implicar uma evolução no
sentido de um Sistema Misto com dominância pública. Essa via não implicaria
necessariamente o encolhimento da assistência suplementar, mas um crescimento
bastante menor do que o que se verificaria nos serviços públicos efetivamente
propiciadores do acesso universal a ações promotoras de saúde. Nesse caso,
teríamos um Sistema Misto com dominância pública.
Logicamente, nestas considerações, estão excluídas as possibilidades
extremas de estatização ou privatização ampla, na medida em que ambas não
encontram raízes históricas e implicariam, na primeira, um enquadramento
politicamente insustentável dos interesses empresariais e daqueles dos próprios
médicos, enquanto que, na segunda, elevado irrealismo tanto do ângulo do Emprego e
da distribuição da Renda Nacional quanto da viabilidade política.
É estratégico responder sobre os moldes em que o sistema de saúde poderia
atuar como modelo de política pública, combinando o desenvolvimento industrial, o
tecnológico e o desenvolvimento social.