Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
Nº 159
EDITORIAL DEZ | 2015
dos que buscam a saúde, embora as vezes difícil, é necessária modificada”, justifica. Ela explica que o projeto também investe pela Opas e pela A s foc-SN
e positiva. “Algumas crianças passam por um tratamento difícil, na motivação dos contadores por meio de um sistema de apa-
mas estão lutando. E isso não é ruim. Aprendi a ser mais forte drinhamento entre os participantes, e também a promoção de
ao observar esse processo”, diz a universitária, destacando que a eventos especiais em épocas como Páscoa, Dia das Mães, Festa
experiência a tornou uma pessoa mais paciente e mais disposta Junina, Dia das Crianças e Natal. Mesmo assim, reconhece que é
a entender os outros. impossível cobrir todo o volume de atendimento do IPPMG. “O
Enquanto aguarda ser chamado para mais uma sessão de projeto teria que ser muito maior do que ele realmente é para
quimioterapia, o menino Pedro pede a contadora Elana que pegue isso acontecer”.
o livro de adivinhações, que ele já conhece de cor. Ele responde
com entusiasmo a todas as perguntas, arrancando risos de outros. *Estágio Supervisionado
S
ou assinante
d a R a d i s e,
atentos para que a diagramação das
matérias continue possibilitando a lei-
tura clara de nosso conteúdo.
reportagens, que sempre trouxeram os
d e s af i o s p o s to s a o s p rof i s s i o n ai s
compromissados com a temática saúde.
Começa a 15ª CNS!
como educadora,
aprecio os textos
e assuntos abor-
Sugestões de pauta
E mais ainda, um conteúdo excepcional
para que profissionais multipliquem,
estudem e se atualizem em defesa do
F im da conta-
gem regres-
siva. Começa a
oficialmente pela presidenta Dilma Roussef
(15/12/2014), Radis vem publicando uma
série de reportagens sobre o assunto. A
anos); 17% não informaram. A esses deve-
rão se somar outros participantes durante
a Marcha em Defesa do SUS, ato político
dados a cada edi-
ção. Alguns deles
levo para infor-
O lá! Sou acadêmica do cur so de
Enfermagem e contemplada com a
assinatura da revista Radis há cerca de
Sistema Único de Saúde.
• Rosangela Oliveira Gonzaga de Almeida,
Rio de Janeiro, RJ
15ª Conferência
Nacional de
Saúde (CNS)
cada edição, o leitor pode ler matérias de
cobertura e entrevistas sobre os rumos do
debate a partir dos temas que envolvem
que acontece ainda na tarde do primeiro
dia da Conferência, na Esplanada dos
Ministérios, em defesa da democracia, da
mar ou para pro- um ano. Adoro os temas abordados, e que, de 1º a 4 de os oito eixos temáticos da Conferência: participação e das políticas públicas. No
duzir pequenos gostaria de sugerir uma edição falando dezembro, reúne Direito à saúde, garantia de acesso e site oficial do evento, você pode conferir
debates em sala
de aula. Parabéns
pelo trabalho. Gostaria de aproveitar a
sobre cálculo renal. Obrigada!
• Cleis Nunes dos Santos, Maceió, AL G ostaria de parabenizá-los pelo ex-
celente trabalho desenvolvido nes-
tes 25 anos! Sou assinante há bas-
em Brasília profis-
sionais, gestores e
usuários do SUS para dis-
atenção de qualidade; Participação social;
Valorização do trabalho e da educação
em saúde; Financiamento do SUS e re-
toda a programação (http://conferencia-
saude15.org.br/)
oportunidade para sugerir que avalias- tante tempo! A revista que aborda cutir o tema: “Saúde pública de qualidade lação público-privado; Gestão do SUS e
sem uma possível alteração em artigos
futuros. Possuo alto grau de miopia e
algumas imagens de fundo impedem uma
Q ueria pedir que em breve pudessem
abordar o tema fosfoetanolamina.
Desde já, obrigado.
as ameaças do SUS está muito boa
e é muito importante que as notícias se-
jam propagadas!! Não podemos permitir
para cuidar bem das pessoas: direito do
povo brasileiro”. O evento é um chamado
para abordar a saúde de um ponto de vista
modelos de atenção à saúde; Informação,
educação e política de comunicação do
SUS; Ciência, Tecnologia e Inovação no
leitura clara. Como exemplos posso citar • Ricardo Junior de Amorim, Santana do este descaso e afronta aos nossos direi- amplo, abrangendo questões contempo- SUS; e Reformas democráticas e populares
os artigos “Cavaleiro da Simplicidade” e Manhuaçu, MG tos!! Sou enfermeira, trabalho atualmente râneas como a violência, o preconceito do Estado.
“Ameaça de Peso” (Radis 157). A imagem na Vigilância Epidemiológica do estado de racial, o uso de agrotóxicos, os dilemas do Na edição de julho (nº 154), o relator-
de fundo dificultou bastante minha lei- Santa Catarina e sou defensora do SUS!!! financiamento e a privatização, como des- -geral da 15ª, professor do Departamento
tura. Como bons exemplos, destaco na
mesma edição as páginas 16, 17, 18 e 19,
que ficaram claras e tinham cor de fundo
G ostaria que fizessem uma matéria ex-
pondo a importância do enfermeiro
e do técnico de enfermagem, mostrando
Parabéns!!!
• Carmen Lúcia Alves da Silva, Imbituba, SC
tacou a presidenta do Conselho Nacional
de Saúde, Maria do Socorro de Souza,
ainda na edição de março da Radis (1/3).
de Saúde Coletiva da Universidade de
Brasília (UnB) e ex-secretário-executivo
do Conselho Nacional de Saúde, Márcio
sólida. Obrigada! o quanto trabalhamos e ninguém reco- O momento da Conferência é mais Florentino, disse que o tema de 2015
• Paula Neves, Registro, SP nhece nosso valor, o nosso papel na
sociedade e como somos importantes na
saúde, já que somos os profissionais que
G ostaria de agradecer imensamente
pelo período em que pude me manter
atualizada através desse valioso mecanis-
do que oportuno. Desde o início deste
ano, enquanto aconteciam as conferências
distritais, municipais e estaduais de saúde,
parte da constatação de que nos últimos
27 anos houve expansão da cobertura
do SUS, avanços na descentralização e
EXPEDIENTE
www.ensp.fiocruz.br/radis
é uma publicação impressa e online da
Fundação Oswaldo Cruz, editada pelo Programa
Administração Fábio Lucas e Natalia Calzavara
Apoio TI Ensp Marco Antônio Fonseca da Silva
Radis Adverte
Radis de Comunicação e Saúde, da Escola /RadisComunicacaoeSaude
(suporte) e Fabio Souto (mala direta)
Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp).
Presidente da Fiocruz Paulo Gadelha Estágio Supervisionado Laís Jannuzzi USO DA INFORMAÇÃO • O conteúdo da
Diretor da Ensp Hermano Castro (Reportagem) e Juliana da Silva Machado revista Radis pode ser livremente reproduzido,
(Administração) acompanhado dos créditos, em consonância com
Editor-chefe e coordenador do Radis
Rogério Lannes Rocha
a política de acesso livre à informação da Ensp/
Fiocruz. Solicitamos aos veículos que reproduzirem “Só a participação cidadã é
Subcoordenadora Justa Helena Franco Assinatura grátis (sujeita a ampliação de ou citarem nossas publicações que enviem
Edição Adriano De Lavor
Reportagem Bruno Dominguez (subedição),
cadastro) Periodicidade mensal | Tiragem 93.700
exemplares | Impressão Rotaplan
exemplar, referências ou URL.
FOTO: MDS
A inda durante a Conferência, a presidenta Dilma Rousseff assinou o decreto 8.552, que regulamenta a Lei 11.265, de 2006, que
restringe a publicidade de produtos que possam interferir na amamentação, como leites artificiais, papinhas, fórmulas, mamadei-
ras e chupetas. A medida busca estimular o aleitamento materno e assegurar o uso correto desses produtos. A legislação determina
continuarão correndo risco de vida ao ten-
tar um aborto clandestino”, afirmou. Em
princípio, os atos que se espalharam pelo
dela, diversas mulheres compartilharam
no Twitter relatos dos primeiros abusos ou
assédios que sofreram. “O assédio acaba
isso, o PL 5.069 segue à espera de votação
no plenário da Câmara. Se aprovado, irá
para o Senado, antes de ser sancionado
também que as embalagens desses produtos não podem conter fotos, desenhos e textos que induzam o uso. Fica proibido, por país eram contra o PL 5.069, já aprovado sendo invisibilizado por dois motivos. O pelo Executivo. “Impedir a aprovação deste
exemplo, utilizar palavras como “baby”, “kids”, “ideal para o seu bebê”, entre outros, bem como personagens de filmes, desenhos na Comissão de Constituição e Justiça e de primeiro é que, ao reclamarmos dele, projeto é fundamental para assegurar os
ou simbologias infantis. As embalagens devem trazer a idade correta para o consumo e, no caso de chupetas, mamadeiras e bicos, Cidadania da Câmara (21/10), mas acaba- sobretudo quando crianças, ouvimos que direitos das mulheres, e legalizar o aborto
é preciso informar sobre os prejuízos que o uso desses materiais pode causar ao aleitamento materno. ram se voltando também contra o presiden- é normal, que homem é assim, que ‘ele é urgente para garantir que mais nenhuma
O site Criança e Consumo (http://criancaeconsumo.org.br), comemorou a assinatura do decreto, publicado no Diário Oficial da te da Câmara e autor do projeto, Eduardo estava bêbado’, que estávamos com certa mulher seja silenciada, ameaçada, perse-
União no dia 4/11 como uma “importante vitória”, informando que os estabelecimentos terão um ano a partir da publicação para se Cunha (PMDB-RJ), envolvido em muitas roupa e por isso não devemos reclamar”, guida e morta por decidir sobre seu próprio
adequarem às novas medidas. Caso descumpram a lei, as empresas poderão sofrer interdição, além de multa que pode chegar até R$ denúncias de corrupção e pivô da maioria disse Luíse Bello, gerente de conteúdo corpo”, alertaram Helena Zelic e Sarah de
1,5 milhão. O decreto determina também que os órgãos públicos da área de saúde, de educação e de pesquisa e as entidades asso- das pautas conservadoras em tramitação do coletivo Think Olga à Revista Fórum Roure, da Marcha Mundial das Mulheres,
ciativas de médicos pediatras e nutricionistas auxiliem na divulgação de informações sobre a alimentação de lactentes e de crianças. no Congresso, como apontou reportagem (22/10). “E isso vai ficando invisível para em El País Brasil (12/11).
FOTO: #NÃOFECHEMMINHAESCOLA
duros golpes — da violência que
mesmo espaço, dia da semana e horário que a criação de uma nova regulamenta- bacon, salsichas e presunto — causa câncer
do agravo. Para Bia Barbosa, membro do ção para este direito constitucional estava e que a carne vermelha é “provavelmente Ameaça religiosa Prevenção (de custos) Proteção não é
Coletivo Brasil de Comunicação Social entre as propostas aprovadas durante a cancerígena”. Segundo o documento, 50
preconceito
(Intervozes) e da Coordenação Executiva
do Fórum Nacional pela Democratização
I Conferência Nacional de Comunicação
(Confecom), ocorrida em 2009.
gramas de carne processada por dia, o
equivalente a duas fatias de bacon, au- M ais uma ameaça ao princípio do
Estado Laico — garantido pela “S aúde precisa mudar o modelo”,
advogam representantes da saúde
mentam a chance de desenvolver câncer
colorretal em 18%; para cada 100 gramas
Constituição Federal — está sendo ges-
tada no Congresso Nacional. No início de
privada. Em evento corporativo no come-
ço de novembro, gestores de hospitais, D ifícil concordar com a defesa da mi-
nistra da Agricultura Kátia Abreu do
“O
Minas, em artigo publicado em O Globo (12/11): essa é a principal que não estava inicialmente nos rejeitos, mas pode ter se unido Logo após o ocorrido, a imprensa chegou a citar a ocorrência
rio? É doce. A Vale? Amarga.” Os versos do poeta marca de eventos como esse, que se repetem nos últimos quinzes à lama ao longo do percurso. Essa substância é considerada ex- de abalos sísmicos na região, o que poderia ter gerado o rompi-
mineiro Carlos Drummond de Andrade repercuti- anos e revelam os efeitos negativos da mineração. tremamente tóxica. Segundo a Organização Mundial da Saúde mento. A interpretação de que se trata de um “desastre natural”
ram nas redes sociais após o rompimento de duas (OMS), o limite máximo de arsênio permitido é de 0,010 mg/L — portanto, diminuindo a responsabilidade humana — foi dada
barragens da mineradora Samarco, subsidiária da em água para consumo humano. Mas na amostra coletada após pela própria presidência da república, ao assinar um decreto (13/11)
LAMA VENENOSA
Companhia Vale do Rio Doce, e são um sinal dos danos da ativi- o rompimento, esse valor era de 2,6 mg/L. “O que preocupa são que autoriza as vítimas a utilizarem recursos do Fundo de Garantia
dade mineradora predatória sobre a saúde e o meio ambiente. A Ainda não é possível precisar o impacto ecológico dos 62 os impactos na vida da população ribeirinha, que consome peixe por Tempo de Serviço (FGTS), como ocorre em tragédias naturais.
lama com rejeitos de ferro e outros metais vazou das barragens de milhões de litros de lixo em forma de barro que inundou o rio e água do rio”, alerta Bruno. Porém, em entrevista coletiva (9/11), o integrante da coordenação
Fundão e Santarém, no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana Doce. Logo após a tragédia, em matéria em O Globo (6/11), a Para o rio Doce, que representa a quinta maior bacia hidro- do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), Joceli Andriolli,
(MG), e atravessa mais de 850 quilômetros nos estados de Minas Samarco tentou amenizar os impactos alegando que a lama não gráfica brasileira, esse pode ter sido o decreto de morte. Com o afirmou que a entidade possui documentos com indícios de va-
Gerais e Espírito Santo até chegar à foz, no Atlântico. No percurso, é tóxica. A empresa chegou a ser considerada como “vítima do assoreamento de seu leito, a dinâmica de cheias e inundações zamento em mais de 100 pontos na barragem que se rompeu.
roubou a casa de mais de 500 pessoas e pode deixar sem água rompimento” pelo secretário de Desenvolvimento Econômico de pode ser totalmente alterada. “Na medida que essa lama for se Segundo o ativista, essas informações foram encaminhadas ao
meio milhão de brasileiros em 23 cidades. Minas Gerais, Altamir Rôso. Como noticiou o portal Brasil de Fato depositando, o rio vai ficar mais raso, com impacto para as co- Ministério Público e são mais uma prova de que a culpa não é da
“A suspensão momentânea ou mesmo a simples restrição (7/11), ele ainda defendeu que os licenciamentos ambientais para munidades ribeirinhas. Quanto mais perto de Bento Rodrigues, natureza. A negligência e o descaso das mineradoras foram mais
do abastecimento de água gera efeitos para a saúde pública, pois o setor são muito rígidos e a fiscalização poderia ser transferida maior a chance disso acontecer”, explica Bruno. Ele ainda esclarece uma vez revelados no episódio em que a prefeitura de Governador
as pessoas passam a ter condições de higiene precárias, levando da mão do Estado para a iniciativa privada. que a camada de lama, que possui baixa penetração de água, vai Valadares teve que descartar 280 mil litros de água remetidos pela
ao risco de doenças”, avalia o engenheiro geofísico Marcelo Mas para os desabrigados, as famílias de desaparecidos e a endurecer com o tempo. “Com isso, a água da chuva vai escorrer Vale: o líquido estava contaminado com querosene. Como já previa
FOTO: FRED LOUREIRO / SECOM - ES
Araújo, do Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental população que se serve da água do rio, a realidade é outra: um por cima, diminuindo a capacidade de irrigação do solo”, pontua. Drummond, essa é uma “dívida eterna”.
(Ensp/Fiocruz). Já para o professor de Engenharia de Produção laudo de análise da lama, realizada no trecho do rio no município
da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Bruno Milanez, a de Governador Valadares (MG), a pedido do Serviço Autônomo
MINAS DE POLUIÇÃO
recuperação da região vai ser muito difícil. “Mesmo recolocar as de Água e Esgoto de Baixo Guandu, no Espírito Santo, constatou SAIBA MAIS
pessoas no local vai ser muito complicado, porque o solo pode se na água a presença de ferro, manganês, arsênio, bário, chumbo, 2001. Em Macacos, distrito de Nova Lima, na região me-
tornar praticamente infértil”, explica. O descaso, a ineficiência e níquel, zinco, alumínio, cromo e cobalto em índices bem acima do tropolitana de Belo Horizonte, uma barragem da Mineração Rio • “As caras da injustiça ambiental” (Radis 148): http://www6.ensp.fiocruz.br/radis/
revista-radis/148/reportagens/caras-da-injustica-ambiental
a incompetência técnica das empresas chamam a atenção, como aceitável. Mas o próprio governador de Minas Gerais, Fernando Verde se rompeu matando cinco pessoas e assoreando o córrego
[10] RADIS 159 • DEZ / 2015 RADIS 159 • DEZ / 2015 [11]
– P
or favor, onde fica o fim da fila? A per- Saúde Pública da Universidade de São Paulo (Usp),
gunta não é apenas retórica e deveria ser Marília Louvison, é compreender a gênese de cada
de fácil resposta. Normalmente, com o uma delas. A fila de atendimento de urgência e
indicador ou um movimento de cabeça, emergência, por exemplo, pressupõe que o usuário
seu interlocutor vai sugerir que você se seja atendido em poucas horas reconhecendo que
dirija à extremidade oposta ao início. Lá, casos mais graves deverão ser identificados e ganhar
onde a fila faz a curva, o tempo demora a passar e prioridade (veja matéria na página 21).
a espera costuma ser fatigante. Mas por mais longa As filas de atendimento ambulatorial, por
que pareça, a fila ainda é a maneira mais eficaz e sua vez, têm internamente urgências relativas,
democrática de organizar uma demanda — desde que precisam ser adequadamente caracterizadas
que siga um ordenamento, obedeça critérios e, no e acolhidas nas unidades de saúde, enquanto as
caso da saúde, leve em conta a situação de risco filas de demandas eletivas, principalmente cirúr-
dos usuários. Do contrário, o fim da fila pode ser gicas, dependem acima de tudo de organização e
apenas o começo do problema. transparência para que toda a população conheça
No Brasil, o acesso aos serviços de saúde ainda os tempos de espera (veja o que prevê o sistema de
é desordenado. Na atenção básica e, principal- regulação na página 18). “De qualquer forma, é fun-
mente, na média e alta complexidades, raramente damental não naturalizarmos a espera nos serviços
se pode precisar ao certo o lugar que uma pessoa públicos de saúde e conhecermos quem realmente é
15
dimento imediato, outra, são as filas virtuais que deram que o grande nó do problema permanece na longo de toda a vida. Some-se a isso também os mais de um ano na fila à espera por uma cirurgia
se caracterizam como listas de espera para agen- atenção básica, cuja expansão através da Estratégia desafios relacionados à violência e às doenças bariátrica. Com problemas de saúde que a impedem
damento, classificadas por algum critério. O mais de Saúde da Família ainda não atingiu a totalidade emergentes. “Não podemos deixar de considerar de trabalhar fora de casa, dá aulas particulares
importante, segundo a professora da Faculdade de da cobertura populacional pretendida. “Além disso, que temos ainda importantes ‘vazios assistenciais’ enquanto conta os dias para fazer a operação. No RADIS 159
DEZ 2015
SAIBA MAIS início de novembro, foi encaminhada pelo posto se a cirurgia é realmente necessária para o caso de uma série de fatores, não só da gravidade do relacionadas à melhoria das condições de vida e
de saúde Aluísio Amâncio da Silva, que fica em de Gisele. “Minha filha respira ofegante e a gen- problema mas também da consciência que o usu- linhas de cuidado.
Associação brasileira de
Santa Cruz, bairro onde mora no Rio de Janeiro, te fica esperando sem saber quando vai poder ário possa ter, tanto da natureza de sua demanda Para Lenir, é necessário organizar o SUS de
Transplante de Órgãos
(ABTO)
para agendar o procedimento cirúrgico no Hospital resolver, se vai operar, se não vai. Da última vez quanto do conhecimento sobre a oferta dos servi- forma sistêmica, em regiões de saúde, que tenha
• www.abto.org.br/abtov03/ Federal dos Servidores do Estado. Chegou às 11h20 me informaram que a prioridade é de quem está ços, e também do nível de percepção quanto aos entre suas metas rever sua configuração a fim de
da manhã de uma terça-feira acompanhada da filha com mais urgência e que nós temos que esperar”, seus direitos de cidadão. alcançar o compromisso de ser resolutiva em 95%
Campanha de doação de
e foi atendida rápido — em menos de 10 minutos, conta. “Mas até quando?” das necessidades de saúde de sua população. Além
órgãos realizada pela Santa
Casa de São Paulo: “Ticket estava no guichê. Demorada foi a conversa com a disso, ela considera imprescindível aumentar o fi-
atendente, que tentava explicar por que ainda não ENTRADAS E SAÍDAS nanciamento da atenção básica e rever o conteúdo
de espera”
• https://goo.gl/n4uV6c seria possível marcar a cirurgia. NA FILA DE ESPERA Quando assumiu a gestão do Ministério da da média complexidade. “Quando falamos que o
Grupo Brasileiro de
Andressa custou a entender — ou não queria “Próximo!” Em uma fila, ouvir essa expressão Saúde, o ex-ministro Alexandre Padilha reconheceu SUS é sistêmico nos referimos as suas interligações,
Classificação de Risco acreditar. Só ali ela descobriu que, por conta de é um lenitivo. Numa manhã de outubro, no setor que as filas na saúde são um problema. À época, interdependências, suas redes de serviços; e não há
• http://gbcr.org.br/ uma hérnia, a guia para a marcação da cirurgia ambulatorial do Hospital dos Servidores do Estado chegou a propor a criação de um indicador nacio- sistema em rede sem o necessário suporte da infor-
na verdade deveriam ser duas. Resultado: teria (HSE) do Rio de Janeiro, a fila anda rápido. Dona nal de qualidade de acesso aos serviços de saúde. mática”, diz. Cada usuário deve ser portador de uma
Política Nacional de
Humanização
que voltar para o início: ir outra vez ao posto de Márcia Fagundes chegou às 8h30 para uma con- “O indicador mostrará a realidade e poderemos ‘chave’ que possibilite abrir seu prontuário em qual-
• www.saude.gov.br/huma- saúde de origem e conseguir uma segunda guia, sulta com um gastroenterologista, conseguiu a estabelecer metas e melhorias”, declarou, em quer serviço e conhecer seu histórico terapêutico. E
nizasus informação que ela não recebeu quando esteve senha de número 8, o que faz dela a primeira a ser entrevista ao jornal O Globo, em janeiro de 2011, isso somente a informática pode garantir. Mas esse
no posto pela primeira vez. À Radis, ela disse que atendida no turno da tarde, a partir de meio-dia. sugerindo o desenvolvimento de um mapa sanitário sistema ainda não existe a contento e isso também
Decreto 7.508, de 28 de
junho de 2011
perdeu 200 reais com o táxi e que não voltaria ao Enquanto espera, ela telefona para desmarcar a nacional que permitiria uma comparação entre as é um fator complicador na organização do SUS”.
• http://goo.gl/AZA3mq posto. “Agora, vou atrás do meu direito na justiça”, academia, mas está acomodada em uma das ca- necessidades da população e o padrão de ofertas
decidiu, visivelmente contrariada. deiras enfileiradas no andar térreo do HSE, vendo do SUS. Dois gestores e quatro anos depois, o
Relatório da Câmara dos
Problemas como esse enfrentado por a TV, ligada em um desses programas matinais de Ministério da Saúde, através de sua assessoria de PÚBLICO X PRIVADO
Deputados 2014
• http://goo.gl/BSZyXJ Andressa acabam ampliando o tempo de espera entretenimento. “Aqui até que está tranquilo. Vim imprensa, não soube informar se a ideia chegou a Na maioria dos serviços de saúde de acesso
e o desconforto dos usuários nas filas da saúde. na semana passada, já fiz exames, hoje peguei os ser encaminhada. universal, há filas. O fenômeno não é exclusividade
Relatório do Tribunal de Para se ter uma ideia, a falta de comunicação resultados e agora aguardo para mostrar à médi- Os entrevistados de Radis reconhecem que brasileira, tampouco restrito ao serviço público.
Contas da União 2013
entre médicos e usuários ou orientações incor- ca”, elogia. muitos projetos e iniciativas vêm sendo realizados Ocorre também em consultórios, laboratórios, clíni-
• http://goo.gl/6Uwrbt
retas sobre marcação de consultas, realização de Sérgio Roberto não teve a mesma sorte. seja na atenção básica, seja na atenção hospitalar cas e hospitais do setor privado. Segundo Carmen,
exames e locais para retirada de medicamentos Apesar do atendimento ter sido rápido, também ou na atenção especializada, para minimizar o são apenas lógicas diferentes do mesmo problema.
Pesquisas estão entre as demandas mais frequentes leva- descobriu só no guichê que não seria possível problema das filas. Mas também consideram que Para a pesquisadora, os determinantes das filas são,
“A economia das filas no das à Defensoria Pública do Estado, informou a marcar uma consulta para a mãe dele com um os desafios ainda são inúmeros. Para Marília, a em grande parte, semelhantes aos dois modelos,
Sistema Único de Saúde coordenadora de Fazenda otorrino. Sérgio havia levado classificação de risco, por exemplo, que define isto é, a existência de uma oferta menor que a de-
(SUS) brasileiro”, de P úb lic a da D efens o r ia todos os documentos, iden- cores e tempo de espera máximo recomendado em manda. “É importante enfatizar que esta ‘demanda’
Alexandre Marinho
Pública do Estado do Rio tidade, CPF, comprovante de cada caso, aplicada tanto em hospitais quanto em muitas vezes é superdimensionada, tanto no setor
• http://repositorio.ipea.gov.
br/handle/11058/1595
d e J a n e i ro, S a m a nt h a na maioria dos serviços de saúde residência. Mas a paciente centrais de regulação de agendamentos eletivos, público como no privado, na medida que a atenção
Monteiro. “Muitas vezes deveria ter sido encaminhada contribui para o conhecimento da população. A médica contemporânea privilegia a utilização de
“Essa vez que não chega:
fila e drama social no
o paciente que procura de acesso universal há filas. o pela Clínica da Família da re- professora considera fundamental a publicização tecnologias diagnósticas e terapêuticas em grande
a Câmara já está com a gião onde mora, no Catumbi. dos critérios de classificação e do tempo previsto escala e com muita intensidade”, diz.
Brasil”, de Alberto
Junqueira
consulta marcada, mas por fenômeno não é exclusividade “Mas como, se a minha mãe para qualquer espera. “Nesse sentido, é preciso A diferença, de acordo com a professora, está
• www.maxwell.vrac.puc-rio. falta de informação, acaba nunca consegue atendimento avançar para filas únicas, territorialmente definidas no fato de, no âmbito do sistema público, estes ser-
br/21533/21533_1.PDF perdendo o atendimento”, brasileira, nem restrita ao lá?”, indaga, mas a pergunta em função da complexidade e oferta e ainda, in- viços estarem concentrados, em grande parte, nas
exemplifica a defensora fica sem resposta. formatizadas e visibilizadas, permitindo que todos mãos do setor privado contratado e conveniado, o
“Avaliação do complexo
regulador do sistema pública que vem atuando serviço público Próximo dali, no setor conheçam o andamento da fila, como tem sido que acaba penalizando mais o usuário do sistema
público municipal de em casos de judicialização que atende crianças e ado- feito no acesso a órgãos de doadores para trans- público. “Outro aspecto que pode ser comparado
serviços de saúde”, de envolvendo filas em saúde lescentes, Jéssica Machado, plantes”. Marília cita ainda a organização das redes diz respeito ao uso que os serviços privados fazem
Janise Braga Barros no Rio de Janeiro. 16, aguarda aquela que seria de atenção, a pactuação regional e a organização das chamadas ‘amenidades’, ou seja, o conforto
• http://goo.gl/HVvupd “Como o SUS é descentralizado, sem haver a sua décima sexta consulta em cinco anos. Jéssica de processos de regulação do acesso no SUS como das salas de espera, a marcação por telefone, a
“A superlotação dos regra clara para todos os entes, não há um banco tem um problema de anemia crônica e, a cada ida caminhos que vêm sendo trilhados para a resolução entrega de resultados de exames pela internet e
serviços de emergência de dados sistematizado para todo o sistema”, ao Hospital, se prepara para “passar o tempo”. do problema. (veja matéria sobre regulação no outros pequenos mecanismos que facilitam a vida
hospitalar como evidência aponta Alexandre Marinho, economista do Na mochila, pacote de biscoito e frutas. Sentada SUS na página 18) do usuário e fazem com que sua percepção sobre
de baixa efetividade Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), confortavelmente, parece habituada a situação. Carmen cita como experiência positiva a o serviço privado seja melhor do que a que tem
organizacional”, de Roberto
Bittencourt
autor de um estudo sobre o tema (veja entrevista “Hoje, tive que perder a avaliação do colégio”, conta Política Nacional de Humanização, que pretende com relação ao serviço público”, aponta. (A.C.P.)
• http://goo.gl/yvqC4q na página 28). De acordo com Alexandre, faltam a garota que cursa o 1º ano do ensino médio, no promover um melhor relacionamento entre usuá-
critério, transparência e ciência. “Para a população, colégio Vila de Cava, em Nova Iguaçu. Naquele dia, rios e prestadores de serviços, atuando portanto
“Comportamento em as consequências são terríveis”. em nível micro e propondo a organização das
chegara às 10 da manhã. “Já precisei sair de casa às
filas de espera – uma
abordagem multimétodos”,
A diarista Ana Paula Santana não sabe dizer 4h, para ser atendida ainda pela manhã e não ficar redes integradas de atenção à saúde. “Para solu-
de Fábio Iglesias que lugar ocupa na fila de espera da saúde. Há no último lugar da fila. Mas hoje vou ser atendida cionar o problema das filas, entretanto, é preciso
• http://repositorio.unb.br/ mais de um ano, ela aguarda a realização de um à tarde”, diz à Radis. “Minha mãe queria sair mais um esforço muito maior em termos do planeja-
handle/10482/3651 exame de cateterismo para a filha Gisele, de 21 cedo. Mas perdi a hora”. mento e da programação da oferta de serviços que
anos. A garota nasceu com uma série de proble- Na fila, enquanto esperam, compartilham leve em conta a análise da situação de saúde da
mas em decorrência de uma rubéola contraída histórias, fazem amigos, trocam informações. população de cada território e das tendências que
pela mãe durante a gestação. Aos 7 anos, passou As queixas são voltadas, na maioria das vezes, se apresentam, em termos epidemiológicos”, diz,
por uma cirurgia para a colocação de uma válvula para a “burocracia do sistema” ou “falhas de acrescentando que, nesse sentido, seria preciso
cardíaca que, segundo Ana Paula, já não responde comunicação”. Para a vice-presidente do Cebes, reverter a lógica que privilegia a racionalização
17
às necessidades da filha. A notícia da provável ci- também professora do Instituto de Saúde Coletiva da oferta em função da disponibilidade de recur-
rurgia foi dada ainda em 2014, mas até agora ela da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Carmen sos, avançando-se para uma programação que
não passou pelo cateterismo, que vai determinar Teixeira, o grau de tolerância e aceitação depende considere as necessidades de saúde da população
RADIS 159
DEZ 2015
A FILA ANDA
Saiba como funciona o atendimento e a importância
da atenção básica para o sistema
19
opera esse cruzamento de informações é o Sistema procedimentos, leitos e cirurgias, a classificação de saltou ela. Por “acesso personalizado” entenda-se saúde, no final da fila, ou tentando descobrir em
Nacional de Regulação, o SisReg (ver glossário na risco não é presencial, e depende de informação a maneira tradicional e antiética de burlar a fila de que fila entrar, estão os usuários, muitas vezes per-
página 20), disponibilizado pelo Ministério da Saúde de qualidade para que o profissional regulador espera por intermédio de uma pessoa influente. Ela didos e desesperançados. O trabalho de Samantha
para estados e municípios — que podem optar possa avaliar quem merece prioridade. “O médico conta que, nos anos em que trabalhou na secretaria Monteiro, defensora pública do estado do Rio de RADIS 159
DEZ 2015
Janeiro, faz com que ela encontre esses usuários procuram uma Unidade de Pronto Atendimento
“perdidos”: “Basicamente tudo começa com algu- (UPA) numa situação de emergência, mas a es-
ma falha de comunicação na unidade de saúde.
Geralmente é dito para o paciente que não tem
vaga, ou que estão tentando marcar uma consulta;
o paciente vai até a unidade duas ou três vezes, não
trutura não prevê aquela situação. “Um exemplo:
otorrino. Dificilmente você vai conseguir um aten-
dimento em otorrino numa UPA; você terá que ser
levado para um hospital com essa especialidade”.
DA PRESSA À LONGA ESPERA
encontra vaga e fica angustiado com a demora e a Para Samantha, é por isso que as pessoas correm
falta de resposta efetiva”, descreve. “Há situações para a porta dos grandes hospitais. “As pessoas
em que o paciente que procura a Defensoria já está tentam várias portas de entrada, vão onde for ne- Urgências e emergências enfrentam o desafio
com a consulta marcada, mas não é informado e cessário para conseguir atendimento adequado. Se
acaba perdendo”, lamenta. não conseguir em nenhuma das portas, o cidadão de lidar com as filas fora e dentro dos serviços
Samantha atua com quatro outros defenso- busca a via judicial”, analisa.
S
res na Câmara de Resolução de Litígios em Saúde A defensora considera que “nós no sistema”
(CRLS), no Rio de Janeiro, órgão que representa devem ser resolvidos pelos gestores, mas avalia ão nove horas da manhã de uma terça-feira de No mesmo instante em que Bárbara conseguia
a união de várias entidades e poderes públicos que a judicialização é inevitável em algumas situ- novembro. Bárbara Beraldo, 32 anos, acabou atendimento em Saracurana, uma ambulância do
visando à mediação dos casos que envolvam a ações. Como nos casos em que usuários necessi- de ser atendida na Emergência do Hospital Corpo de Bombeiros trazia um acidentado para ser
saúde da população. “Para evitar a judicialização, tam de medicamentos ainda não incorporados às Estadual Adão Pereira Nunes, em Duque de socorrido como caso de emergência grave. Em situ-
buscamos meios alternativos de acesso à saúde e listas do SUS. “O paciente já experimentou outras Caxias, município da Baixada Fluminense, no Rio de ações como infarto, acidente vascular cerebral (AVC)
nos aprofundamos um pouco mais nos problemas alternativas de tratamento e sua única saída é Janeiro. Moradora do bairro de Saracuruna — nome ou ainda em traumas graves de trânsito, não há tempo
da regulação de vagas”, explica. Ela afirma que a aquela medicação, ainda não é oferecida pelo pelo qual a unidade também é conhecida —, Bárbara para esperar. Esses atendimentos são classificados com
lista dos entraves para os usuários que procuram a SUS, mas com uso e comercialização já autorizados sofreu uma torção no tornozelo em casa e a cor vermelha. Porém, quando faltam leitos e pro-
defensoria é grande: “Por haver mais de um sistema pela Anvisa”. Samantha observa que os remédios procurou o hospital, onde recebeu fissionais, a assistência imediata e resolutiva
de regulação [no estado do Rio de Janeiro], não são grandes geradores de demanda na Justiça, uma pulseira amarela, que indica- é prejudicada, aponta o professor da
existe uma fila única, nem um quantitativo de vagas entre eles aqueles indicados para doentes renais va que seu caso era urgente, Universidade Católica de Brasília,
necessárias. As pessoas não têm acesso a todas crônicos, as insulinas análogas e os colírios para mas não grave. Pela regra, Roberto José Bittencourt, respon-
as vagas. É por isso que nem podemos detectar glaucoma. Quanto às consultas, a maior parte ela poderia esperar até 60 sável pelo Núcleo de Evidências
quando um paciente fura fila”, argumenta. das demandas não atendidas são em neurologia minutos, mas foi aten- para Tomada de Decisão
Segundo a defensora, não existe controle e e oftalmologia, diz, a partir da sua experiência. dida em dez. Como em Políticas de Saúde do
transparência, nem se sabe se todos os critérios Ela defende a criação de uma central única de há carência de outros Distrito Federal.
médicos estão sendo observados na ordem de regulação no estado, que inclua vagas para UTI. ser viços na região “Superlotação mata.
espera dos pacientes. “Também existem problemas “Nossa intenção é fazer com que estado e mu- onde mora, ela re- Em muitos casos a in-
de comunicação dos médicos com os usuários, ao nicípio conversem sobre as vagas existentes. É a corre ao hospital com tervenção tem que ser
não orientar corretamente sobre os locais em que melhor forma de estabelecer um fluxo comum para a certeza de que vai imediata e a superlotação
podem retirar medicamentos ou fazer exames”, que todas as pessoas possam ter acesso a todas resolver seu problema, impede que isso aconte-
acrescenta. Há, ainda, casos de pessoas que as vagas”, orienta.(E.B.) ainda que demore um ça”, sentencia. Para ele,
pouco mais. Erguido às o desafio das emergências
margens do cruzamento não é apenas a porta de en-
de duas importantes vias trada, mas dar continuidade à
GLOSSÁRIO
de acesso — a Rodovia assistência dos pacientes que já
Washington Luís e a Rio-Magé receberam o primeiro atendimento.
—, o hospital de Saracuruna é a É o exemplo de pessoas com doenças
única opção de atendimento para ca- crônicas descompensadas, como diabetes
sos de média e alta complexidade na região. e hipertensão, ou que exigem tratamentos comple-
Alta complexidade — Procedimentos no SUS que envolvem tecnolo- dimensionamento da capacidade instalada e da demanda populacional; Sem referências de atenção básica, Bárbara conta que xos, como AVC, infarto ou acidentes de trânsito. “O
gia e custo elevados, garantindo a assistência à saúde de modo integrado pactuação entre gestores e prestadores; desenvolvimento de protocolos já trouxe os filhos para serem atendidos na unidade, infarto agudo do miocárdio tem um limite de tempo
com a atenção básica e a média complexidade. Exemplos: tratamento de assistenciais e implementação complexos reguladores. mesmo que tivessem que esperar. “A emergência pelo para uma intervenção ser bem sucedida, pois existe
câncer, cuidados em traumato-ortopedia, cirurgias cardiológicas, assis- menos é uma porta de entrada para o SUS”, relata. uma janela terapêutica de três horas para agir”, cita.
tência a pacientes com obesidade (cirurgia bariátrica), transplantes etc. Sistema Nacional de Regulação (SisReg) — ferramenta online de O desconhecimento sobre qual caminho seguir
gerenciamento da rede de saúde, que vai da rede básica à internação para obter o atendimento adequado, o déficit no
Classificação de risco — Forma de organizar o atendimento dos hospitalar, para administrar as vagas disponíveis e verificar a instituição número de leitos e a falta de assistência resolutiva SUPERLOTAÇÃO
pacientes nos serviços de saúde, estabelecendo uma ordem de acordo mais adequada para cada paciente considerando critérios como regio- próximo de casa são alguns dos entraves que geram
com potencial de risco, agravos à saúde ou grau de sofrimento. O sistema nalidade (proximidade com a casa do usuário) e a complexidade de as filas nos serviços de urgência e emergência, como Cada emergência possui um número de leitos
mais comum é o Protocolo de Manchester, que utiliza as cores vermelha cada caso. Foi desenvolvido e disponibilizado pelo Ministério da Saúde apontam os especialistas ouvidos pela Radis. “Se bem definido, com macas e pontos de oxigênio.
(atendimento imediato), laranja (espera de até 10 minutos), amarela (1 e é prerrogativa da gestão municipal ou estadual se utilizar deste ou de houvesse um sistema em que as pessoas tivessem Porém, com freqüência, esses serviços funcionam aci-
hora), verde (2 horas) e azul (4 horas). sistemas próprios para a regulação da assistência. acesso às portas de entrada corretas, as filas das ma de sua capacidade, aponta Roberto. Esse cenário
urgências e emergências seriam diminuídas”, apon- é o mesmo constatado pelo relatório do Tribunal de
Complexo regulador – estrutura que operacionaliza as ações da Urgência e emergência — Serviços organizados pela Rede de Atenção ta Alexandre Marinho, economista do Instituto de Contas da União (TCU) de 2013, que analisou a as-
regulação do acesso ao sistema. Engloba o conjunto de profissionais às Urgências e Emergências, de acordo com a Portaria 1.600 de 2011 Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). “O problema sistência hospitalar do SUS em 116 hospitais federais,
e sistemas de informação que operam a regulação da assistência. O (que reformulou a Política Nacional de Atenção às Urgências). Abrangem das filas está em todas as regiões do país, mas atinge estaduais e municipais de todo o Brasil. De acordo
complexo regulador é composto por uma ou mais centrais de regulação, os componentes: promoção, prevenção e vigilância; atenção primária principalmente os hospitais de alta complexidade, com o documento, em 64% das unidades visitadas, os
como a Central de Regulação de Urgência (que inclui o Samu), Central de (Unidades Básicas de Saúde); Unidades de Pronto Atendimento (Upas) e ou- que têm mais leitos e emergências mais robustas”, próprios gestores relataram que a taxa de ocupação
Regulação de Internações, Central de Regulação Ambulatorial, Central tros serviços 24h; Samu 192; atendimento hospitalar; e atenção domiciliar. analisa Gisele O’Dwyer, pesquisadora da Escola da emergência é sempre maior do que a capacidade
Nacional de Regulação da Alta Complexidade, entre outras. Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/ prevista, isto é, a superlotação é permanente. Já em
21
Fontes: Fiocruz). A demora para a realização de procedi- outros 19% dos hospitais, essa situação acontece com
Regulação da assistência (ou regulação do acesso) – Diretrizes para Implantação de Complexos Reguladores - http://goo.gl/F6LnoM; mentos pode ser o limite da vida em casos em que frequência e, segundo os entrevistados, somente em
Articulação e integração de mecanismos que permitam aos gestores Regulação Médica das Urgências e Emergências - http://187.17.2.102/fhs/ não há tempo para esperar. 6% dos estabelecimentos isso nunca ocorre.
regular as ações e serviços de saúde, por meio de ações tais como media/files/samu/manual_de_regulacao_medica_das_urgencias.pdf RADIS 159
DEZ 2015
A superlotação e as filas das emergências são de grande porte em diferentes estados do país e sem capacitação para esse trabalho. “Em muitos como as capitais. Porém, ela não pode ser vista
a realidade principalmente de grandes hospitais, constataram que existem dois “gargalos” nesses casos, o administrador da fila é o segurança ou o como substituta de hospital. “A Upa tem que ter
registrou ainda o relatório. Segundo o documen- serviços: uma fila para entrar e outra para sair. policial de plantão no hospital”, ressalta Alexandre porta de saída. Não dá para o paciente ser atendido
to, um dos motivos é que a população obtém Segundo o parecer, a primeira aparece na Marinho, economista do IPEA que estudou o lá e não conseguir ir adiante no sistema”, conside-
um atendimento mais resolutivo em comparação porta: as grandes esperas por atendimento, que problema das filas em saúde. Essa triagem deve ra. Para ela, o ideal seria vincular essas unidades
com outras unidades, de médio e pequeno porte. geram desconforto para as pessoas. Já a segunda ser feita por um médico ou profissional da área à atenção básica e aos hospitais especializados:
“Assim, as emergências hospitalares são um cami- vem com a dificuldade para dar solução aos casos de enfermagem, como aponta o Grupo Brasileiro o seu papel seria diminuir as filas, ao atender
nho mais curto, muitas vezes o único, para alcançar de usuários que já conseguiram ser atendidos. de Classificação de Risco (GBCR), responsável as urgências. Uma mudança importante que ela
o atendimento de saúde”, diz o texto. Situações de O estudo mostrou que faltam serviços de apoio pela adoção no Brasil do sistema conhecido como considera foi a criação da
pacientes mantidos nos corredores por falta de lei- adequados, como a realização de exames comple- Protocolo de Manchester. especialidade de Medicina
tos acontecem com frequência em 47% das unida- mentares e a transferência para leitos de terapia de Emergência, que teve
des visitadas, de acordo com os próprios gestores. intensiva (UTI) ou unidades de pacientes crônicos.
SEM PRIORIDADE
seu reconhecimento com- Para diminuir as filas, o ideal
“O resultado é que se gera uma ‘fila’ também para pleto somente esse ano:
FILA DUPLA
sair do serviço”, completa o texto, coordenado pelo Ainda eram nove horas da manhã de 10 “Os médicos que atuam nas seria uma atenção básica
deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA). de novembro quando Alípio Antonio chegou à emergências são de espe-
O paciente que procura os serviços de urgên- porta da emergência do Hospital de Saracuruna. cialidades diversas, mas é capaz de atender pacientes
cia e emergência pode se deparar com duas filas. A Depois de ser atropelado por uma moto, em importante a existência de
primeira é aquela que organiza o atendimento na CLASSIFICAÇÃO DE RISCO junho, acidente que perfurou um dos pulmões, profissionais capacitados crônicos e receber pequenas
entrada e define os casos que precisam ser atendi- O vermelho é a cor da emergência. Nas uni- ele foi atendido e operado na unidade. Mas após para lidar com esse tipo de
dos imediatamente. “Grande parte desses pacientes dades que já adotaram a chamada “classificação receber alta, continuou sentindo dores fortes atendimento”, avalia. urgências, dizem especialistas
são de menor complexidade, que deveriam estar de risco”, os pacientes devem receber assistência nas costas. Morador de Duque de Caxias, ele já Gisele lembra ainda
sendo atendidos em outras portas do sistema, caso imediata, pois correm risco de morte. Em seguida, buscou assistência na UPA e no posto de saúde que o tempo de perma-
houvesse acesso e resolução”, explica Roberto. Em na escala de prioridades, aparecem as cores laran- perto de sua casa, mas o único exame feito nas nência na Upa não deve ser
seu relatório, o TCU estimou que mais da metade ja, amarelo, verde e azul. O laranja vai para casos unidades — o raio X — não foi suficiente para o maior do que seis horas. “Quem precisa de inter-
das pessoas que chegam às emergências poderiam muito urgentes em que a espera pode ser de até diagnóstico. Como soube pela própria médica do nação também necessita de uma complexidade
ter seus problemas de saúde resolvidos nas unida- dez minutos; já os pacientes classificados com posto que em Saracuruna havia o exame de que de exames e procedimentos que estão além do
des de atenção básica. amarelo podem aguardar até uma hora, enquanto precisa — a ressonância —, ele decidiu arriscar papel da Upa”, ressalta. Nas situações em que há
Depois da primeira assistência, é que aparece o verde pode esperar até duas e o azul até quatro. atendimento na emergência da unidade. necessidade de internação hospitalar, aparece um
a segunda fila: a espera para obter um leito de in- De acordo com o relatório do TCU, três em cada A tentativa, porém, não deu certo: seu caso dos principais entraves que geram as filas nas urgên-
ternação, para os casos em que há necessidade de quatro hospitais analisados utilizam a classificação não se enquadrava em uma situação de urgência e cias e emergências: a falta de leitos. Segundo ela,
hospitalização. “Esse tipo de fila não é muito visto, de risco para organizar a fila da emergência. emergência, mas sim em atendimento ambulatorial. a estimativa é que faltem 300 mil leitos no Brasil.
pois são os pacientes que já estão dentro da emer- No Brasil, essa forma de colocar ordem na Como Alípio, outras pessoas buscam os grandes De acordo com o Cadastro Nacional dos
gência, mas é muito grave: ocorre principalmente espera do atendimento foi popularizada a partir hospitais para resolver problemas de saúde que Estabelecimentos de Saúde (CNES), em 2013,
pela insuficiência de leitos existente no Brasil”, das Unidades de Pronto Atendimento (Upas). Mas poderiam ter sido atendidos na atenção básica. o Brasil possuía 2,51 leitos por mil habitantes,
considera Gisele. “São pacientes que estão em de acordo com Gisele, o paciente tem que ser visto Para Gisele, o paciente que mais sofre na fila das enquanto a média dos países da Organização
macas, idosos com fraturas, doentes crônicos em imediatamente para ocorrer a classificação de risco. emergências é aquele com pequenas urgências. “A para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
crise ou pessoas que precisam de uma intervenção “A fila de espera só é admissível se não colocar em pessoa que chega na ambulância, atropelada ou (OCDE) era de 4,8 a cada mil. Como aponta o
mais intensa”, explica Roberto. risco a vida do paciente, por isso precisa estar den- vítima de um acidente vascular ou infarto acaba relatório do TCU, a oferta de leitos no SUS vem
O problema das filas nos serviços de ur- tro de critérios médicos”, avalia. Ela aponta ainda sendo priorizada, mas os usuários com doenças sofrendo uma redução desde 2010: entre esse ano
gência e emergência também recebeu atenção que essa ordem deve ser revista constantemente, crônicas sofrem mais com a espera no SUS”, explica. e 2013, houve uma diminuição de 11.576 leitos de
da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da pois os casos que aparentam ser menos urgentes É o caso das pessoas com câncer avançado que não internação e complementares.
Câmara dos Deputados, que publicou um relatório podem se tornar mais graves ao longo da espera. conseguiram acessar os serviços anteriormente, e
em 2014 sobre a situação dos hospitais do SUS. Os A classificação também ajuda a superar situ- não fizeram exames de rotina necessários para a
parlamentares realizaram visitas em oito unidades ações em que a fila é organizada por profissionais prevenção. “Quando chegam a urgência, o caso já A FILA VAI AO TRIBUNAL
é muito grave”, analisa. Na avaliação de Gisele, o Se o paciente não encontra acesso em um
problema acaba vindo parar na emergência. serviço de saúde, existe a busca pela solução
judicial: reivindicar na justiça o direito garantido
pela Constituição. Porém, para evitar o excesso de
REDES DE URGÊNCIA casos de judicialização envolvendo filas em saúde,
Urgência e emergência não é somente hos- um convênio entre União, o estado e o município
pital. Responsável por pesquisas que avaliam o do Rio de Janeiro criou a Câmara de Resolução de
funcionamento desses serviços no Brasil, Gisele ex- Litígios em Saúde. A ideia é buscar soluções alter-
plica que as chamadas redes de urgências possuem nativas que possam garantir o acesso aos usuários
FOTOS: SÉRGIO EDUARDO DE OLIVEIRA • ARTE: FELIPE PLAUSKA
vários componentes que devem atuar de maneira do SUS. “Antes de judicializar, é preciso entender
integrada. “A urgência começa com a prevenção, por que um paciente de determinada unidade de
inclui a atenção básica e abrange também a aten- saúde está enfrentando problema, como acesso
ção pré-hospitalar, que é aquela que vem antes a medicamento, se é por falta de informação ou
do hospital”, explica. Como exemplo, ela cita as orientação”, explica Samantha Monteiro, coorde-
Unidades de Pronto Atendimento (Upa) e o Serviço nadora de Fazenda Pública da Defensoria Pública
de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A rede do Estado do Rio de Janeiro.
também inclui a atenção recebida nos hospitais e Para a defensora, o maior dilema vivenciado
depois de passar por eles, como a reabilitação e a no acesso à saúde é a fila invisível, como a espera
atenção domiciliar. por leitos de internação, consultas ou cirurgias espe-
23
Segundo Gisele, a Upa cumpre um papel cializadas. “Essa fila que não se vê assusta mais do
importante em regiões em que existem vazios assis- que a fila na porta do hospital”, aponta. Ela explica
tenciais ou com grande concentração populacional, que, nessas situações, perde-se o controle de quem
RADIS 159
DEZ 2015
espera, há quanto tempo espera e até mesmo da flexibilidade da demanda por saúde é que os servi-
25
familiares. “A taxa de recusa familiar à doação persiste atleta depois do transplante e, integrando a delegação
como o principal obstáculo para a efetivação da do- brasileira no mundial, trouxe uma medalha de prata
ação”, afirma o presidente da ABTO, Lucio Pacheco. para casa. (B.D.)
RADIS 159
DEZ 2015
TRANSPARÊNCIA AMENIZA ESPERA
27
qualidade maior. É por isso que um serviço sem fila sobre o tempo de permanência. “Se o sistema não missos são marcados ao mesmo tempo, e aí os sentimento que a pessoa tem a respeito da fila”, diz
será menos procurado do que aquele que tem fila de é transparente, não indica qual a posição ocupada horários vão sendo encaixados. Desse jeito, as ele. É por este motivo que, no caso de a pessoa estar
espera. Isso vale para restaurante ou para um médico na fila, qual o ritmo que ela está andando, a frequ- pessoas perdem a confiança no sistema da fila e na fila para tratar de alguma doença, a tendência é
que é difícil de marcar consulta”, argumentou. ência com que as pessoas estão sendo atendidas e vão tentar furá-lo. É um efeito cascata”, resume. classificá-la como ruim e desconfortável. (L.M.) RADIS 159
DEZ 2015
ENTREVISTA ALEXANDRE MARINHO
29
cias de profissionais em todas as áreas. O grande problema é com os transplantes. Não é apenas com mais médicos que vai que será atendido, seja esta grande ou pequena. A movem uma boa divulgação das conquistas do SUS
a ausência de uma carreira de profissionais na área de saúde se resolver o problema de fila no Brasil, esse é um problema inaceitável? “A que não anda”, diz a jornalista. e ajudam a diminuir as arestas e os conflitos com
capazes de lidar de forma adequada com o problema das filas. multidisciplinar. (L.F.S.) Presidente do Instituto para o Desenvolvimento os usuários”, orientou Verônica. (A.D.L)
RADIS 159
DEZ 2015
DEBATES NA FIOCRUZ
DEMOCRATIZAÇÃO
poderia ter apoiado as políticas promovidas
pela presidenta, sem no entanto ter exigido
contrapartida em investimentos. Segundo
Fabiano, essa falta de articulação explicaria o
clima de “mau humor” em relação ao gover-
no, a partir de 2013, que também teria sido
e a incerteza
motivado pelo “esvaziamento” do Conselho
de Desenvolvimento Econômico e Social
(Ceds), criado em 2003 pelo presidente Lula,
com a finalidade de “assessorar o Presidente
da República na formulação de políticas e
diretrizes específicas, e apreciar propostas
de políticas públicas, de reformas estruturais
Pesquisadores avaliam momento atual do e de desenvolvimento econômico e social
que lhe sejam submetidas pelo Presidente da
país e alertam para avanço conservador República, com vistas à articulação das relações
e ameaças aos direitos sociais de governo com representantes da sociedade”
— como está descrito na Lei nº 10.683.
“O Ceds foi um importante instrumento
de articulação entre Estado e sociedade no
Liseane Morosini governo Lula, sobretudo na crise de 2008 e
A
2009. Ele foi fundamental para que os atores
análise dos principais elementos da crise política e os desdobramentos da transição econômicos designados para seguir as políti-
entre o período de luta pela democratização e o momento atual, cujas características cas de iniciativa do Executivo participassem
ainda não estão claras, estiveram no centro do debate de estreia da série Futuros do da negociação dessas políticas. O conselho
Brasil, promovida pelo Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE-Fiocruz), no ajudou o presidente Lula a enfrentar muitos
início de outubro, no Rio de Janeiro. A partir do tema O Brasil de 2015: um momento entre desafios”, afirmou o pesquisador. Segundo
dois ciclos?, os professores e pesquisadores Fabiano Santos e José Maurício Domingues, do ele, o resultado desse isolamento, já pode ser
Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp/Uerj) definiram o momento atual como bas- visto nas perdas enfrentadas pelo governo
tante confuso. De saída, o coordenador do CEE-Fiocruz, Antonio Ivo de Carvalho ressaltou Dilma no Congresso, a partir de 2013. Para
sua perplexidade diante do atual cenário brasileiro. “Estamos vivendo a escalada de uma Fabiano, esse contexto permitiu que o PMDB
agenda conservadora, como há muitos anos não se via no país, desenterrando propostas se fortalecesse, e Eduardo Cunha, seu líder à
que atingem tópicos caros a nós, como o direito à saúde”, declarou, fazendo referência ao época, passasse a ser o “vocal dos interesses
que denominou “bancada BBB” [numa referência aos políticos financiados pelos setores do empresariado”. Para o cientista político,
ruralista (boi), de armamentos (bala) e evangélico (Bíblia)] que, segundo ele reúne 75% a derrota na eleição das mesas diretoras do
dos parlamentares da Câmara. Congresso, em 2014, fez com que o governo
Fabiano dos Santos registrou sua preocupação diante das ameaças que sofrem passasse a governar sem o Legislativo. “Ao per-
os direitos sociais garantidos pela Constituição de 1988, e considerou que o primeiro der na eleição do congresso, a vitória de Dilma
governo da presidenta Dilma Rousseff representa “uma quebra no tempo”; pensar nesse nas urnas em 2014 foi uma quase derrota. Mas
momento é importante para entender a situação atual. Segundo ele, até 2013, os índices o governo não fez essa leitura e não observou
de popularidade e confiança no governo eram semelhantes aos registrados pelas gestões a nova correlação de forças, nem rearticulou
anteriores, de Lula. “Isso sinalizava que a sociedade se encontrava em relativa normali- o Conselho, tentando montar uma base de
dade”, avaliou. Depois desse período, houve queda na popularidade de Dilma, cenário sustentação societal, com trabalhadores,
pouco alterado no ano eleitoral. No final de 2014 e durante o ano de 2015, os protestos empresariado rural e urbano, setor financeiro
e as manifestações anti-Dilma por todo o país mostraram o descontentamento da socie- e setor público”, resumiu.
dade em relação ao governo, descreveu. Em sua análise, Dilma recebeu o governo numa Para Fabiano, o governo continuou a
situação incômoda, conseguiu “empurrar” seu primeiro mandato, mas não obteve sucesso se relacionar de forma burocrática com o
no segundo. “Ela promoveu a redução significativa da taxa de juros e levou à frente uma Congresso, enviando medidas provisórias e
política tarifária agressiva de contenção, com intervenção no câmbio e incentivos fiscais. E proposições, sem antes se articular com a
mudou significativamente os princípios que balizavam os governos anteriores”, observou sociedade e com as lideranças partidárias. O
Fabiano, avaliando que a proposta não foi bem-sucedida. “A taxa de crescimento do país pesquisador também observou que, pela pela
foi medíocre e com inflação crescente”, explicou. primeira vez desde Collor, o governo começou
[32] RADIS 158 • NOV / 2015 RADIS 159 • DEZ / 2015 [33]
PÓS-TUDO
SERVIÇO
PUBLICAÇÕES
A
tes impactos ambientais por ela e práticas de justiçamento popular. de TV querer saber o que um jovem da periferia pensa sobre a
induzidos, e demonstra que a Somou a estes casos a observação do comunicação é algo tão natural que dificilmente per- violência e a redução da maioridade penal. O silenciamento de
atividade em larga escala tem pro- noticiário jornalístico e três estudos de cebemos as várias limitações que se apresentam a nós, alguns grupos ou indivíduos é uma forma de criminalização. É
duzido desigualdade e violado direitos em todo o mundo. Além campo, realizados no interior de São cidadãs e cidadãos, no seu exercício. Afinal, estamos nos negar o direito à expressão e negar o direito à própria cidadania.
disso, o livro mapeia as estratégias das comunidades afetadas, Paulo, no oeste de Santa Catarina e comunicando a todo instante. Talvez por isso seja difícil, O acesso à informação é outro aspecto caro numa socieda-
organizações e movimentos sociais para resistir às violações, à no sertão da Bahia. Martins defende a princípio, identificar a comunicação no rol dos direitos básicos de que respeita os cidadãos e zela por sua participação política.
contaminação e à devastação ambiental provocada pela mine- que os números indicam que o lincha- e fundamentais. A noção de direito denota algo que precisou ser Infelizmente, grandes grupos — que possuem praticamente todos
ração e extração de petróleo. Disponível em http://fase.org.br/ mento se tornou num ato cotidiano caracterizado como tal para que pudesse ser garantido a todas os meios — falam a partir de um mesmo patamar social, econô-
pt/acervo/biblioteca/9420/ conjugado no plural: dias de fúria. e todos. Ou seja, um aspecto da vida social que claramente co- mico, e até com lentes políticas muito semelhantes. Como saber
loca em cheque a dignidade e a justiça entre os cidadãos se for algo que está fora dessas zonas de interesse? Ok! Mas a internet
Discriminação na saúde Direito dos oprimidos reservado a uns e a outros não. Apesar de ser um desses direitos, dá a possibilidade de acesso livre às informações. Mas quem disse
a maior parte de nós não compreende a comunicação como tal. que o acesso é fácil? Você sabia que metade dos brasileiros não
ILUSTRAÇÃO CONTEXTOLIVRE.COM.BR
múltiplas características acesso a variados meios,
EVENTOS culturais, nossos diversos e que estes nos oferecem
grupos sociais, todos de- informação de qualidade;
13º Congresso da Associação Latinoamericana 4ª Conferência Nacional de Políticas vem estar representados ou que há pluralidade
de Investigadores da Comunicação (Alaic) para as Mulheres nos meios de comunica- de vozes e informação
ção de massa. variada sobre o que é