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A GRANDE MATANÇA
Autor
WILLIAM VOLTZ
Tradução
AYRES CARLOS DE SOUZ
Digitalização
VITÓRIO
Revisão
ARLINDO_SAN
(De acordo, dentro do possível, com o Acordo Ortográfico válido desde 01/01/2009)
Na Terra e nos outros mundos da Humanidade os
calendários registram meados de fevereiro do ano de 3.442.
Desde o dia em que a catástrofe atingiu quase todas as
criaturas inteligentes da galáxia, portanto, passaram-se 15
meses. Porém até agora ainda não há uma perspectiva
legítima de como impedir o misterioso “Enxame” no seu voo
através da galáxia, ou de anular a manipulação da constante
de quinta dimensão, criada por ele, e que provoca um
retardamento da inteligência na maioria dos seres viventes.
Perry Rhodan e seus companheiros imunes, porém, não
deixam de experimentar qualquer coisa, para descobrirem
uma pista que os leve ao segredo do “Enxame”. Com exceção
de algumas excursões, o Administrador-Geral com a Good
Hope II, mantém-se quase constantemente nas proximidade
do “Enxame”, para colher informações e efetuar
investigações.
Especialmente o rato-castor, ultimamente tem-se
destacado bastante neste trabalho. Ele meteu-se num
arriscado experimento parapsíquico, e junto com alguns
companheiros penetrou no “Enxame”, por caminhos tortos,
para salvar seu velho amigo Ha mo.
Entrementes Gucky e os membros de sua expedição
abandonaram o “Enxame” sem sofrerem danos, alcançando
a nave de Perry Rhodan, que logo partirá outra vez em nova
missão.
Antes porém de o seguirmos neste seu novo caminho,
vamos jogar um novo foco sobre a Terra. Ali começa a
consumar-se um acontecimento sinistro — A Grande
Matança.
Quando Holtogan Loga acordou, estava banhado de suor. O Mestre dos Cinquenta
Primeiros Vogais sentiu imediatamente que alguma coisa não estava bem com ele. Ele
tinha dores, mas era-lhe difícil pensar ordenadamente.
O chefe do Homo superior ergueu-se na sua cama. No quarto estava quieto. A
janela estava entreaberta, a cortina esvoaçava ao vento.
Holtogan Loga escutou a si mesmo, interiormente. Ele aprendera a mergulhar em si
mesmo, para investigar reações do seu próprio corpo. Lentamente levantou-se e foi até
junto da janela. O parque para o qual ele olhava estava sem modificações — mas, mesmo
assim, alguma coisa acontecera durante a noite. Holtogan Loga tinha a sensação de haver
sofrido uma perda terrível.
Ele estava com medo!
Abruptamente ele voltou-se para dentro do quarto, um homem de membros finos,
com cabelos brancos, que caminhava levemente curvado e arrastando os pés no chão.
Os seus pensamentos novamente ficaram confusos.
Ele voltou para a cama e sentou-se na borda. Por algum tempo ele ficou sentado ali,
de olhos fechados. Era possível que ele estivesse adoecendo, apesar de não poder
encontrar, em parte alguma do seu corpo, indícios de uma doença orgânica?
E psiquicamente?
Psiquicamente tudo estava em ordem com ele? Ele voltou-se e foi até a porta.
Depois de curta hesitação ele abriu e colocou a cabeça para fora, para o corredor.
— Kartisch! — chamou ele, baixinho.
Um rapaz veio correndo. Holtogan Loga apertou os olhos.
— Onde está o meu chá? — quis ele saber.
Kartisch parou e olhou em volta, sem saber o que fazer.
— O senhor o esqueceu?
Aquilo trespassou Holtogan como um choque elétrico. Ali estava novamente aquela
sensação de que alguma coisa teria acontecido.
— Eu não sei o que está acontecendo comigo — gaguejou Kartisch. — Eu receio
estar ficando doente.
Holtogan Loga fez um gesto que parecia forte.
— Agora, por favor, vá buscar o chá.
Ele ficou olhando atrás do rapaz. Era um acaso que também Kartisch estava
confuso? Ou então o estado em que ambos evidentemente se encontravam era o
prenuncio de alguma doença?
Inquieto, Loga voltou para o quarto. Ele puxou a cortina para o lado e curvou-se
para fora da janela. O ar fresco fez-lhe bem. Lá embaixo, dois homens que tinham
acordado cedo passavam por um dos caminhos de saibro, discutindo entre si. Tudo
parecia perfeitamente normal.
Holtogan Loga passou a mão pelos cabelos. Ele ficaria sabendo da verdade mais
rapidamente se conversasse com os outros. Se eles demonstrassem sintomas semelhantes
aos dele e de Kartisch, a coisa teria que ser examinada.
Uma terrível suspeita despertou nele. Seria possível que os inimigos do Homo
superior tivessem espalhando micróbios patogênicos nesta área residencial? Holtogan
Loga pensou em primeira linha nesse misterioso Comitê de Salvação, que ultimamente
lhes preparava cada vez mais dificuldades. Mas também havia bandos organizados, que
faziam um verdadeira guerra contra o Homo superior.
Kartisch veio ainda mais nervoso que antes.
— Na cozinha! — disse ele, confuso. — Mantran e Orbi Nashcon não tinham nada
preparado. Eles estão brigando.
“Então ali também!”, pensou Holtogan Loga.
Ele jogou uma capa nos ombros e abandonou o quarto. Kartisch o seguiu.
— O seu chá, Mestre!
— Não preciso dele agora! — Loga correu escada abaixo.
O elevador neste prédio já tinha sido desligado há muito tempo. Para os membros
do Homo superior ele fazia parte das conquistas técnicas nocivas.
O birô, que ficava um andar abaixo, ainda não estava ocupado.
Holtogan Loga viu que Kartisch ainda se encontrava a seu lado.
— Chame todos os Vogais, para uma reunião — todos os que se encontrarem em
casa! — ordenou ele. — Os outros, eu já vou informar pelo rádio.
— Pelo rádio? — repetiu Kartisch, tremendamente espantado.
— Problemas especiais exigem medidas especiais — retrucou Holtogan Loga. —
Isso não significa que vamos ser infiéis aos nossos princípios.
Kartisch saiu. Poucos minutos depois Mon Armig apareceu no birô. Ele fazia parte
dos Cinquenta Primeiros Vogais.
— O que está acontecendo? — quis ele saber. — O seu assistente dava a impressão
de estar bastante agitado, mas não quis me dizer do que se trata.
Holtogan Loga observou o outro.
— Como é que você está se sentindo?
— O que? — Armig estava confuso. — Por que essa pergunta? Naturalmente estou
me sentindo bem.
Holtogan Loga respirou fundo, involuntariamente.
“Portanto não são todos!”, pensou ele, aliviado.
Porém o mal-estar rapidamente voltou outra vez. Talvez aquilo só atacasse os outros
mais tarde.
Armig notou agora que alguma coisa não estava em ordem com o Mestre dos
Cinquenta Primeiros Vogais.
— Você não parece estar bem! — verificou ele. — Você fica pensando demais!
— Não é isso! Eu estou doente!
— Doente? — Armig sorriu. — Não posso acreditar nisso.
Loga fez um gesto que tudo abarcava.
— Isso não ataca somente a mim. Também Kartisch, meu assistente, mostra os
mesmos sintomas da doença. E dois homens na cozinha. Certamente ainda há outros que
foram atacados. É possível que estejamos ameaçados por uma epidemia.
Agora também Armig perdeu a compostura.
— Isso não é verdade!
— Vamos ver! — Holtogan Loga olhou para a porta, onde justamente apareceram
dois outros Vogais.
Tarvus e Mandragan.
Tarvus parecia normal, mas o rosto de Mandragan estava coberto de suor e
avermelhado. Ele respirava depressa.
Loga baixou os olhos.
— Precisamos de um conselho — declarou ele para os outros. — Alguma coisa não
está certa conosco.
— Nós tínhamos outros planos para hoje — retrucou Tarvus, impaciente. Para um
membro do Homo superior ele era excepcionalmente largo nos ombros e musculoso. Ele
fazia parte dos Vogais, que não viam nada de mal em regularmente usar um planador. —
Nós queríamos organizar os grupos para a Austrália. Por lá, até agora, praticamente não
se fez nada. Sobretudo as usinas atômicas, ainda intactas, de Sydney, precisam ser
desmontadas.
— Receio que a Austrália vai ter que esperar — disse Loga, enquanto outros Vogais
entravam. — Armig vai dirigir a conferência, enquanto eu vou tentar entrar em contato
com todos os Vogais pelo rádio. Eu preciso saber se este fenômeno ficou limitado ao
nosso território, ou se apareceu por toda parte.
Ele saiu, sem dar importância aos Vogais que se entreolhavam sem nada terem
entendido.
A grande instalação de radiocomunicações encontrava-se no primeiro andar do
prédio. Antigamente, ao que se lembrava Holtogan Loga, funcionários da General
Cosmic Company tinham ocupado o edifício. Ele ficava nas proximidades de Puppet,
uma pequena cidade na costa oeste dos Estados Unidos da América. Para os membros do
Homo superior este era um alojamento ideal, porque as instalações técnicas praticamente
não existiam. Os funcionários que tinham trabalhado aqui, em primeira linha tinham
estado ocupados com serviços externos, e só em intervalos irregulares tinham vindo para
os seus birôs.
Loga entrou na sala de rádio.
Vanieoh estava como que dependurado na poltrona, e mal virou a cabeça. Loga
pigarreou.
— Como vai?
Vanieoh não pertencia ao Homo superior, ele era um imbecilizado, que ainda tinha
inteligência suficiente para executar alguns serviços simples para o Homo superior.
Ele esperava diante da instalação de rádio. Quando chegavam mensagens, Vanieoh
tinha que informar a um dos Cinquenta Primeiros Vogais.
— Como vai? — perguntou Holtogan Loga outra vez.
O imbecilizado bocejou e sorriu. Com isso pôs à mostra alguns dentes cariados. Ele
vestia um traje de pano de saco, amarrado com cordões. Loga admirou-se de que somente
agora isso chamava sua atenção. Antes ele mal olhava Vanieoh.
— Eu vou bem — declarou Vanieoh.
— Preciso usar a instalação de rádio — declarou Holtogan Loga. — Libere-me o
lugar diante dos controles.
Vanieoh não se levantou imediatamente, mas curvou-se para a frente. Parecia que
ele estava olhando os quadros de controle de comutações, atentamente.
Holtogan Loga disse, impacientemente:
— Dê-me o seu lugar!
Depois ele viu, como o imbecilizado estendeu um braço, deslizando com as mãos
por cima dos controles. Suas mãos só pararam em cima do comutador geral. Depois ele
olhou, interrogativamente, para Loga.
Loga parecia estarrecido.
O imbecilizado sabia como a instalação era ligada? Ou seus movimentos haviam
sido acidentais?
— Ligue o senhor! — disse ele, ordenando-o com voz insegura.
Vanieoh ergueu os ombros, como quem não sabe o que fazer. Levantou-se.
— Não sei fazê-lo — disse ele.
“Essa maneira de falar claramente!”, pensou Loga.
Até agora o imbecilizado sempre falara como criança.
O homem dos cabelos brancos controlou-se.
Isso era ridículo Ele não devia perder a calma, diante de alguns acontecimentos sem
maior importância.
— Eu agora quero ficar sozinho! — disse ele. — O senhor pode ir!
Ele observou como Vanieoh foi até a porta, puxando para baixo, sem hesitação, a
alavanca que abria a mesma. Também fechar a porta não foi nenhum mistério para ele.
Não era de admirar, pensou Holtogan Loga. Vanieoh afinal usava esta porta o suficiente
para conhecer o seu mecanismo. Até um animal podia ser adestrado para abrir e fechar
esta porta.
Mas ele parecia lembrar-se que Vanieoh, há apenas alguns dias atrás tivera
dificuldades, quando Loga o mandara sair.
“Estou sendo hipersensível!”, pensou Loga.
Ele sentou-se diante da aparelhagem de rádio. Antes que ele pudesse ligá-la, ouviu
um zumbido. Alguém estava tentando entrar em contato com esta estação.
Uma ruga vertical apareceu na testa do Mestre. Ele ligou para a recepção e esperou.
A tela de vídeo iluminou-se. Holtogan Loga reconheceu o rosto de Allichyn Tankmeder,
que também fazia parte dos Primeiros Vogais e que trabalhava em Bombaim.
— Holtogan Loga! — gritou Tankmeder, aliviado. — Fico feliz em poder falar com
você.
— O que há? — perguntou Loga.
— Meu grupo está me causando dificuldades! — relatou Tankmeder,
apressadamente. — Nós tínhamos atacado a usina atômica de Olgan. Porém a maioria só
trabalha hesitantemente. E alguns deixaram de trabalhar inteiramente.
Holtogan Loga fechou os olhos. Isso evidentemente era pior do que ele receara. A
doença surgia por toda a parte, em outras cidades até pior do que em Puppet. Pelas
informações que se tinha até agora, somente membros do Homo superior eram atacados
por ela.
— Tente, mesmo assim, continuar o trabalho! — ordenou Loga. — Eu gostaria de
marcar uma reunião de todos os Vogais. Isso é importante. Evidentemente estamos sendo
ameaçados por uma doença desconhecida.
Tankmeder sacudiu a cabeça violentamente.
— Eu mandei examinar alguns dos meus colaboradores. Eles estão em perfeitas
condições de saúde.
— Sim, sim! — Loga anuiu. — É melhor que você nomeie um lugar-tenente, para
que possa imediatamente vir para cá. Então continuamos esta conversa. Eu agora preciso
informar os outros.
Ele interrompeu a ligação apesar de parecer que Tankmeder ainda queria dizer
alguma coisa.
Por algum tempo ele ficou sentado ali, como que atordoado, mal podendo coordenar
um pensamento sensato na sua cabeça. Todas as reflexões que fazia acabavam se
confundindo, transformavam-se em noções pouco claras e ideias irreais.
Só de uma coisa ele tinha dolorosamente consciência nítida: Os Novos Homens
repentinamente se encontravam numa crise totalmente inesperada. Alguma coisa
ameaçava a hegemonia do Homo superior.
Holtogan Loga não podia acreditar que o Comitê de Salvação fosse responsável por
isso. A organização dirigida por um certo Coronel Edmond Pontonac possuía, no
máximo, 200 membros. Ela não podia trabalhar, em todas as partes do mundo, contra os
dois milhões de membros do Homo superior.
No seu subconsciente Loga escutou o chiado do aparelho de rádio.
Ele ligou para a recepção.
Desta vez o monitor de vídeo ficou escuro, mas Loga ouviu uma voz agitada.
— Aqui fala Parvantlin! Quem está na escuta?
— Holtogan Loga!
— O Mestre! Que sorte. Nós estamos em dificuldades!
— Eu sei! — Loga interrompeu o outro. — Eu agora vou fazer um chamado
circular, pedindo que todos os Primeiros Vogais venham para Puppet. Será melhor você
vir também, Parvantlin.
— O que, afinal, aconteceu? — perguntou Parvantlin.
— Isso ninguém sabe exatamente! — Em pensamento Holtogan Loga já estava nas
próximas medidas que teria que tomar. Ele ficou contente que Parvantlin interrompeu a
conversa por si mesmo. Loga irradiou uma curta mensagem circular, na qual pedia a
todos os Vogais que viessem imediatamente para Puppet, para uma reunião importante.
Ele notou, como lhe estava sendo difícil formular corretamente aquelas poucas frases.
Quando ele abandonou a sala de radiocomunicações para mandar um assistente
fazer uma coisa, os seus joelhos falharam. Ele teve que segurar-se na porta. O seu
coração batia fortemente. Sem dúvida aquilo era consequência da agitação, mas Loga não
entendia por que não conseguia manter o seu corpo sob controle.
No fim do corredor estava Vanieoh, olhando para fora da janela.
Loga hesitou.
Ele deveria mandar fazer um minucioso exame no imbecilizado, para verificar o que
estava acontecendo com este homem? Existia uma conexão entre o estranho
comportamento de Vanieoh, e a misteriosa doença que atacara inúmeros membros do
Homo superior?
Loga pôs-se em movimento, ficando sempre próximo da parede, para poder apoiar-
se em caso de um novo ataque de fraqueza.
Dois rapazes saíram de um dos birôs. Eles discutiam violentamente um com o outro.
Era a primeira vez que Holtogan Loga observava uma coisas dessas. O seu espanto
cresceu.
O que estava acontecendo com eles?
O Mestre dos Primeiros Cinquenta Vogais alcançou a escada, e puxou-se para cima
pelo corrimão. Rapidamente ficou cansado e sem ar. Mas ele venceu suas dificuldades.
Lentamente sentiu-se melhor novamente. Ele respirou fundo. Talvez tudo não passava de
uma coisa passageira.
Quando Loga pôs os pés no recinto onde os outros entrementes haviam se reunido,
imediatamente sentiu a inquietação que reinava ali. Vários homens e mulheres tentavam
falar ao mesmo tempo. Mon Armig tinha trepado em cima de uma mesa, de onde tentava,
inutilmente, acalmar as pessoas reunidas ali.
Ele viu Holtogan Loga e olhou-o, em busca de ajuda.
Holtogan Loga viu que alguns dos presentes estavam em condições piores que os
outros. Eles tinham entrado numa agitação nada natural, invectivando-se mutuamente.
O surgimento do Mestre, entretanto, fê-los caírem em si.
Holtogan Loga entrou para o centro da pequena roda, ele somente se mantinha de pé
a muito custo.
— Eu estou perplexo! — gritou ele. — Perplexo e indignado, em ver como alguns
aqui se comportam. Não existe absolutamente motivo para uma agitação tão pouco digna.
Todos olharam para ele. A autoridade que ele possuía estava intacta. Imediatamente
fez-se um silêncio total. Uma mulher de quarenta anos, que tinha olheiras escuras sob os
olhos, deu um passo à frente e disse com um tremor na voz:
— Diga-nos o que aconteceu, Mestre Holtogan Loga. Por que muitos de nós,
repentinamente, adoeceram?
Armig desceu da mesa e colocou-se do lado do homem grisalho.
— Eles estavam como loucos! — relatou ele em voz baixa. — Eu gostaria de saber
o que deu neles. Nossos projetos estarão em perigo, se isso continuar assim.
— Estes sintomas, — Informou Loga, também baixinho, — apareceram em
membros do Homo superior em todo o mundo. Do cosmo ainda não chegaram relatos,
mas podemos ter quase certeza de que nossos amigos em outros mundos também foram
atacados por esta misteriosa doença.
Armig ficara pálido, ao ouvir estas palavras.
— O que significa isso?
Holtogan Loga não respondeu, mas voltou-se para os outros.
— Não há razão para inquietação. E convoquei os Cinquenta Primeiros Vogais para
uma reunião aqui. Vamos conversar e ver o que é possível fazer. Até agora apenas
sabemos que alguns de nós se encontram em um estado inexplicável. Talvez seja o
começo de uma doença — ou talvez seja uma outra coisa. Ele sentiu repentinamente que
não conseguia continuar falando. Não que suas cordas vocais tivessem falhando — era o
seu cérebro que parara de produzir outros pensamentos.
Depois de algum tempo, Holtogan Loga se controlara novamente e observou os
rostos sérios dos seus amigos.
— Uma crise se esboça — disse ele. — Agora temos de tentar nos manter unidos
mais firmemente do que nunca.
3
O planador voava cem metros de altura pela costa. Do seu lugar nos controles, Roi
Danton podia observar a praia.
Lá estavam eles!
Milhares de Novos Homens.
Eles estavam parados, sem se mexer, o rosto para o mar aberto, os olhos
esbugalhados. Eles se encontravam até no alto de Irpsala-Moni, onde rochedos muitos
íngremes não lhes ofereciam mais lugar.
As notícias que haviam chegado a Império-Alfa, portanto estavam corretas.
Danton anuiu para o piloto.
— Desça mais, Armouac!
Depois ele virou-se para Don Pellayron, que viera para bordo junto com o Dr.
Webber.
— O que acha disso?
O galactopsicólogo tinha se afundado bastante na poltrona, esticando as pernas para
longe de si. Ele mantinha os olhos semicerrados.
— É inexplicável. Eles me lembram os lemingues, apesar de não terem vindo,
evidentemente, para se lançarem ao mar, como fazem estes roedores em época de crise
ambiental. Eles apenas ficam parados ali, olhando para as águas. Os seus olhos estão
rígidos. Parece até que estão em transe.
— E são mais de trezentos mil! — acrescentou o Dr. Webber.
Danton abandonara Império-Alfa para obter uma imagem pessoal dos
acontecimentos na Terra. Os relatos que tinham chegado à central pareciam corresponder
exatamente com os fatos. Os homens imbecilizados tinham reconquistado uma parte de
sua inteligência. Naturalmente, como antes, eles continuavam a não compreenderem
processos complicados, ou a proceder a comutações técnicas, mas eles novamente
estavam se interessando pelo seu meio ambiente. Este interesse felizmente não se
limitava apenas à tomada de alimentos e segurança.
Totalmente contrário, porém, tinha transcorrido o desenvolvimento do Homo
superior. Nestes últimos dias ele perdera toda a iniciativa. Os Novos Homens, em todos
os lugares da Terra, estavam deitados nos seus antigos territórios de missões, como se
tivessem perdido toda a vontade de viver. Eles estavam ainda mais letárgicos que os
antigos imbecilizados. Entretanto ninguém podia dizer alguma coisa certa sobre o
desenvolvimento psíquico dos Novos Homens. O Dr. Webber afirmava que no Homo
superior também se sentia uma crescente imbecilização, enquanto Pellayron achava que
era apenas uma mudança de vontade.
Totalmente sem clareza, continuava sendo através do que esta nova situação tinha
sido criada. Teoricamente somente novas manipulações dos habitantes do “Enxame”
podiam ser responsáveis por isso. Ninguém entretanto sabia exatamente o que estes seres
misteriosos tinham feito.
As notícias vindas do espaço, especialmente da Good Hope II e da Intersolar, eram
raras.
O planador pairava lentamente por cima da praia. As pessoas, que banhavam os pés
nus nas ondas, não prestavam atenção no planador.
Armouac, o piloto de cabelos pretos, baixinho, tinha apertado os maxilares de tal
modo que estes sobressaíam visivelmente no rosto. Ele não conseguia entender o que se
passava lá embaixo. Para ele, os membros do Homo superior eram gente. Ele ficava
aflito, em ver pessoas num estado destes.
Danton tomou uma decisão repentina.
— Pouse! — ordenou ele Pellayron ergueu a cabeça.
— Nós devíamos deixá-los em paz — opinou ele.
— Sim — disse também o Dr. Webber. — Não é assunto nosso. Quem sabe o que
realmente está por trás disso. Talvez seja uma espécie de transição para um estágio
seguinte. Eu acho que não é impossível que ainda venhamos a ter dificuldades ainda
maiores, por causa do Homo superior.
Danton apontou para baixo e riu, amargamente.
— Através desses pobres-diabos? Acho que nem mesmo o senhor acredita mais
nisso, doc!
Armouac pousou o planador em formato de disco, numa praça livre, que antes já
servira como parque infantil. Agora não havia mais crianças brincando ali. Crianças
brincando tinham se tornando coisa rara, desde que, há quinze meses atrás, viera a
catástrofe da imbecilização.
“As crianças”, pensou Danton, “sempre são uma escala para medir-se a posição
civilizadora de um povo.”
Danton abriu a eclusa. Um ar fresco do mar entrou. O filho de Rhodan saltou para
fora e olhou em torno. Pellayron o seguiu. O galactopsicólogo olhou em volta, como
procurando alguma coisa, depois aproximou-se de um balanço elétrico, onde ele podia
encostar-se no andaime. O parque de brinquedos ficava cerca de dez metros mais alto que
a praia, e estava sessenta metros afastado dela. Terra a dentro havia alguns hotéis, cujas
persianas estavam fechadas. Somente em um balcão Danton viu dois homens, que
também pareciam estar observando a praia.
— Uma região solitária! — observou o Dr. Webber, que agora também veio para
fora.
— Antigamente isso era diferente — retrucou Danton. — Nos meses de verão era
difícil encontrar um lugar nos hotéis.
Pellayron puxou um banquinho do balanço para baixo e o empurrou lentamente
para o lado. O balanço começou a zunir, oscilando de um lado para o outro.
— Eu acho que estes tempos passaram definitivamente.
Ele falara baixo, de modo que Danton, que já descia para a praia, não mais pôde
ouvi-lo.
O Dr. Webber olhou, interrogativamente, atrás do filho de Rhodan.
— O que é que ele pretende fazer?
— Venham! — gritou Roi, impaciente. — Vamos ver se conseguimos estabelecer
contato.
Os três homens escorregaram pela areia fina na direção da margem do mar. Danton
parou diante do primeiro Novo Homem que ele alcançou.
O estranho era de altura média e parecia ter sessenta anos. Danton sabia, por
experiência, que os membros do Homo superior em regra pareciam dez ou vinte anos
mais velhos do que eram na realidade.
O homem não deu atenção a Danton. Ele tinha olhos azul-claros, e um rosto de
asceta. As mãos que ele conservava firmemente apertadas ao corpo, eram recobertas de
veias grossas.
— Eu não sou um Homo superior! — Disse Danton para o estranho. — Mas nós
nos interessamos pelo seu destino. O senhor pode dar-nos algumas informações?
Suas palavras lhe pareceram pesadas, mas o que mais ele poderia ter dito?
O homem não reagiu. Ele respirava regularmente, mas tudo que parecia interessá-lo
eram as ondas que rolavam pela praia branca.
Danton colocou-se diante do homem, e obstruiu-lhe a vista para o mar. Os olhos do
Homo superior continuaram muito abertos e fixos, como se conseguisse ver, através de
Danton, para o mar.
— Eu sou Roi Danton! — continuou ele, insistente. — Meus dois acompanhantes e
eu queremos falar com o senhor.
Quando mesmo assim não conseguiu uma resposta, ele agarrou o homem pelo braço
e sacudiu-o.
— Seria melhor o senhor não fazer isso — disse Pellayron, incomodado. — Nunca
se sabe como gente neste estado pode reagir.
O estranho pareceu acordar de rua rigidez. Ele girou a cabeça e olhou para os três
homens. No seu rosto não se via nem inimizade nem espanto.
— Finalmente! — gritou Danton. — O senhor me entende?
— Sim — disse o Homo superior, baixinho.
Sua voz parecia indiferente, este homem parecia estar num mundo inteiramente
diferente, com seus pensamentos.
— Nós temos que tentar saber de alguma coisa, através dele! — disse Danton,
decidido. — Em caso de necessidade o levamos conosco para Império-Alfa, e o
interrogamos lá.
***
Edmond Pontonac estava de pé junto da balaustrada do barco rápido esperando pela
chegada dos grupos isolados do comando de salvação. O barco levaria o equipamento
para a ilha, onde se encontravam os planadores da organização. Os homens que não
podiam ser tomados a bordo, alcançariam a ilha com seus trajes de proteção capazes de
voar.
As ondas batiam contra o barco, fazendo-o balançar um pouco.
Creek aproximou-se da balaustrada.
— Marous ainda não voltou!
— Não podemos esperar por ele — respondeu Pontonac. — Vamos partir logo que
o último grupo entregar seu equipamento.
Quatro pesados robôs de combate vieram para bordo pela escada de portaló. Um
dos homens levou-os para baixo do convés, onde os desativou.
O aparelho de rádio de pulso de Pontonac deu um sinal. Ele ligou para a recepção.
— Aqui fala Carpino! — disse uma voz, difícil de ser entendida.
— Carpino! — gritou Pontonac. — Onde, com todos os diabos, o senhor está?
Houve uma ligeira pausa, enquanto somente se ouvia o rumor das ondas. Depois:
— Ele sumiu, sir! Ele burlou nossa vigilância.
A expressão do rosto de Pontonac mudou. Na sua testa apareceram algumas rugas.
— Do que, afinal, está falando?
— Sogmonth! — gritou Carpino, agitado. — Ele nos escapou.
Creek, que estava na escuta, praguejou. Ele curvou-se bastante por cima da
balaustrada e cuspiu no mar.
— Era só o que ainda nos faltava.
Pontonac estava aturdido. Ele não conseguia entender que Carpino tivesse cometido
um erro tão grave. Mas Sogmonth era esperto, ele conhecia todos os truques da Contra-
Espionagem Solar.
— Eu... eu sinto muito! — balbuciou Carpino.
Pontonac não respondeu, mas desligou seu aparelho de rádio de pulso. Por um
momento ele fechou os olhos, e procurou imaginar o que Sogmonth, sozinho e sem
armas, poderia empreender. Porém um homem como Sogmonth não ficaria muito tempo
desarmado, nem sozinho. O ex-major tentaria reunir um bando. E não lhe seria difícil,
encontrar partidários.
E depois disso...
Era de se temer que Sogmonth provocaria um banho de sangue entre os membros
do Homo superior.
— O que vamos fazer agora? — a voz de Alfer Creek penetrou nos seus
pensamentos.
— O que é que o senhor sugere? — perguntou Pontonac, por sua vez.
— Alguém deveria ficar para trás, para dar um jeito em Sogmonth.
Pontonac também já pensara nisso. Mas quem ele deveria deixar para trás? Quem
dos seus homens estava à altura de enfrentar Sogmonth?
Da margem vinham algumas pessoas.
— Aí vêm Elschkin e seus homens! — disse Creek. — Agora só falta o grupo de
Carpino.
Sem responder, Pontonac retirou-se. Ele desceu para baixo do convés e entrou na
pequena cantina perto da casa de máquinas. Conforme esperara, aqui encontrou Pappon,
preparando alguns sanduíches. O velho sorriu.
— Eu achei que alguns homens estão saturados de concentrados alimentícios, sir.
— Pappon — disse Pontonac. — O senhor sabe que eu confio no senhor.
O velho pôs a faca de lado. Seu rosto ficou sério. Ele apoiou-se com ambos os
braços sobre a mesa e olhou, interrogativamente, para Pontonac.
— Sogmonth fugiu — explicou Pontonac. — Se não prestarmos atenção, ele vai
cometer coisas terríveis em nome do Comitê de Salvação. Eu queria pedir-lhe para que
ficasse na Catalunha, para cuidar dele.
O negro limpou as mãos nas calças e rodeou a mesa.
— Eu compreendo!
Ele tirou seu traje de proteção de um armário e começou a vesti-lo. Enquanto atava
os cordões de suas botas, ele perguntou:
— O senhor sabe que ele odeia todos os Novos Homens?
— Não — disse Pontonac.
— Sua mulher e seus dois filhos viviam nas proximidades de uma usina atômica
que foi mandada pelos ares pelo Homo superior — informou Pappon. — Como todos os
três estavam imbecilizados, não se deram conta do perigo, e morreram queimados.
Sogmonth chegou uma hora mais tarde e encontrou os cadáveres.
— Como sabe disso?
— Eu certa vez estive com ele, quando se embebedou. Foi quando ele falou. Ele
falou tudo que lhe afligia a alma. — Pappon pegou o capacete chato e enfiou-o na cabeça.
— Nós todos sabemos muito pouco, uns dos outros, coronel.
Quando Pappon quis abandonar a cantina, Pontonac segurou-o pelo braço.
— Mesmo assim temos que eliminar Sogmonth — disse ele. — Não se pode
permitir que ele faça uma campanha de vingança.
Pappon mostrou seus dentes brancos, mas não sorria.
— Eu vou encontrá-lo — disse ele, convencido. — Ele vai deixar um rastro atrás de
si, que ninguém poderá deixar de encontrar. Um rastro de violência e destruição.
Ele enfiou sua arma no cinturão e subiu para o convés. Pontonac olhou atrás dele.
Na margem Pappon ergueu-se para os ares e saiu voando. Ele não olhou mais para trás.
Creek, que ainda estava encostado na balaustrada, ergueu-se e olhou para Pontonac.
— O senhor escolheu Pappon?
Pontonac não respondeu. De repente ele tinha a sensação de que não tinha mais os
acontecimentos sob controle. Aconteciam coisas demais, que ele não previra. Pela
primeira vez ele reconheceu que seu Comitê de Salvação não tinha mais futuro. Agora
que estavam acontecendo mudanças entre os Novos Homens e os imbecilizados, o comitê
tinha se tornado praticamente inútil.
Pontonac olhou para os homens, que tinham se reunido no convés. Ele pensou nas
palavras de Pappon.
Eles realmente não sabiam nada uns dos outros. Um confuso grupo de homens, cujo
único objetivo era de impedir ao máximo a atividade destruidora do Homo superior.
Ninguém era perguntado pelo seu passado.
— Eu acho, — disse Pontonac, devagar, — que vou voar para Terrânia City, para
entrar em contato com Deighton e Danton.
Creek viu a sombra de parte de seu rosto na superfície da água.
— Isso seria o fim do Comitê de Salvação.
— Sogmonth abriu-me os olhos. Ninguém tem o direito de determinar por si só, o
que é bom e o que é mau. Também nós precisamos agir de acordo com as leis.
— Isso eu já conheço — retrucou o médico. — Mas as leis antigas não têm mais
sentido. Não em nossa situação. Trata-se da conservação da Humanidade.
Pontonac mal o ouvia. Em pensamento ele já estava no seu próximo
empreendimento. Ele interrogaria os imbecilizados que eles tinham trazido para bordo, na
base de apoio, e depois voaria, com os resultados, para Terrânia City.
Ele precisava contar com o fato de que em Império-Alfa seria preciso. Como oficial
da Frota Solar ele nunca deveria ter agido por conta própria.
Pontonac não tinha a intenção de se justificar, de alguma maneira. Ele fizera o que
achara certo. Talvez o Comitê de Salvação, fundado por ele, não tinha alcançado muita
coisa, mas Pontonac poderia comprovar que, pelo menos, impedira a desmontagem de
algumas estações energéticas.
Pontonac ainda estava encostado na balaustrada, quando o Tenente Carpino com o
seu grupo chegou meia hora mais tarde. Carpino esquivou-se dos olhos do coronel. Ele
sentia-se culpado.
Pontonac foi até ele.
— Isso são coisas que acontecem — disse ele. — Pappon vai atrás do fugitivo.
O corpo do jovem empertigou-se.
— Deixe-me participar também da perseguição. Eu gostaria de reparar o meu erro.
— Eu tinha certeza de que o senhor me pediria isso. — Pontonac sacudiu a cabeça.
— Basta que Pappon fique atrás dele.
— Mas Pappon é um homem velho!
Pontonac olhou para o tenente. Carpino baixou a cabeça e se afastou.
— Recolher a escada de portaló! — ordenou Pontonac. — Vamos nos fazer ao mar.
***
As ondas tinham ficado mais fortes. Danton viu que um dos Novos Homens, que
estava com a água pelos joelhos, perdeu o equilíbrio. Ele não fez qualquer esforço para
sair da água. Os outros ficaram olhando, indiferentes, enquanto ele foi agarrado por outra
onda e puxado mar a dentro, afundando.
O Dr. Webber saiu correndo para ajudá-lo.
— O senhor viu isso? — Danton virou-se para o homem dos olhos azuis. — Por que
o senhor não ajuda esse homem? Ele é um dos seus?
— Ajudar? — repetiu o Homo superior, sem entender. — Para quê?
— O senhor não quer viver? — gritou Danton. — Pretende esperar pela ressaca
para puxar um depois do outro mar adentro?
Ele não recebeu resposta. Decidido, ele puxou o seu paralisador e imobilizou o
homem diante dele com dois tiros certeiros. Pellayron aparou o homem para que não
caísse ao chão.
— Em ordem, Don! — disse Danton, baixinho. — Carregue-o para o planador.
Vamos levá-lo junto conosco para Império-Alfa. Talvez no hipnointerrogatório vamos
poder extrair mais alguma coisa dele.
Pellayron fez um gesto abrangente.
— E o que vai acontecer com todos os outros? Vamos abandoná-los à sua sorte?
Danton teve dificuldade de responder. O que eles deveriam fazer — ou melhor — o
que eles podiam fazer?
Eles já tinham bastante dificuldades próprias. Alguns bilhões de imbecilizados
tinham que ser aprovisionados. Saqueadores e bandidos tinham que ser combatidos. Os
responsáveis no Império-Alfa não tinham tempo para os problemas do Homo superior.
Por outro lado...
Danton sacudiu a cabeça. Ele não sabia o que fazer. Nesta situação, estavam
exigindo demais dele.
— São criatura humanas — observou Pellayron. — Homens como eu e o senhor.
— Muito bem, e daí? — gritou Danton, furioso. — O que está querendo insinuar
com isso? Que sou responsável por eles?
— Cada ser humano é responsável pelo seu semelhante — respondeu o psicólogo,
comprido como uma árvore.
Ele colocou o Homo superior por cima do ombro, como se fosse uma criança, e
saiu. Neste momento o Dr. Webber voltou. Ele estava totalmente molhado e sem fôlego.
— O senhor viu isso, sir? — perguntou ele, incrédulo. — Esse sujeito teria morrido
afogado, se eu não o puxasse para fora. Ele não fez o menor esforço para sair do mar
outra vez.
Danton sentiu-se tão impotente como nunca em toda sua vida. O Dr. Webber
parecia sentir o que se passava com o filho de Rhodan, pois rapidamente afastou-se na
direção do planador. Um golpe de vento vindo do mar fez Danton voltar à sua
consciência.
Danton saiu dali.
Quando alcançou o planador, viu Don Pellayron encostado na escada da entrada.
O psicólogo apontou com o polegar para a câmara da eclusa.
— Deighton está nos chamando! — informou ele. — Um correio do Mundo dos
Cem Sóis encontra-se no Império-Alfa.
Satisfeito com a distração, Danton subiu ao planador. Armouac fez lugar para ele
diante dos controles.
— Galbraith Deighton está esperando, sir!
Danton agradeceu e sentou-se. Na tela oval ele viu o rosto de Deighton.
— Hum! — fez Deighton, ao ver Danton. — Parece que o senhor encontrou seu
próprio fantasma!
— Pior! — disse Danton, mudando de assunto. — O que foi que aconteceu?
— O Dr. Ortschnyk, do Mundo dos Cem Sóis, chegou aqui há uma hora atrás.
Waringer entregou-lhe, para trazer, uma espécie de lista de necessidades.
— Lista de necessidades? — perguntou Danton, com dificuldade de entender.
— Waringer e o seu grupo estão desenvolvendo um aparelho, que deverá servir para
dar imunidade contra radiações de imbecilização. Mas para isso ele ainda está precisando
de colaboradores. Cem mil mulheres e homens, que ele inscreveu em sua lista, nomeando
um por um. Eles estão em algum lugar na galáxia, e todos são imbecilizados. Nós
devemos enviá-los ao Mundo dos Cem Sóis onde a imbecilização foi suprimida.
Danton fez um gesto impaciente com a mão.
— Nós não podemos nos ocupar disso. Para que Perry fundou a CBI?
— Quer dizer que o senhor também é de opinião que eu devo mandar o Dr.
Ortschnyk para Quinto Center, para que ele se reúna com os responsáveis pelo Comando
de Busca e Investigações?
Danton fez que sim.
O seu interlocutor, de quem no momento se via apenas a parte superior do corpo no
vídeo, acenou-lhe e interrompeu a conversa.
Pellayron meteu a cabeça para dentro da central e perguntou:
— Foi ruim?
Danton não lhe deu importância, mas foi para os fundos, onde o Homo superior,
paralisado, estava agachado em cima de um sofá-cama.
— Vamos voar de volta! — ordenou Danton.
Ele ouviu alguém respirar fundo, aliviado. Era Armouac. O piloto parecia contente
em não precisar mais olhar para a praia. Entretanto, pensou Danton, aquela era uma vista
tranquila. Trezentas mil pessoas, paradas na praia, e olhando para o mar imenso. Mas de
algum modo tinha uma sensação estranha, ao caminhar-se ao longo do mar.
Como num cemitério.
***
A base de apoio do Comitê de Salvação encontrava-se no fundo do Oceano Índico,
por baixo de três cúpulas grandes de tamanhos diferentes, interligadas por largos canais.
Dois membros do Comitê de Salvação que tinham trabalhado aqui antigamente cuidavam
para que a estação continuasse funcionando sem problemas Eles tinham dado a ideia a
Pontonac, de estabelecer o seu quartel-general aqui. Aqui o Comitê de Salvação estava
seguro contra todos os ataques. Nenhum dos bandos, que faziam das suas na superfície da
Terra, estava suficientemente equipado para poder arriscar-se a um ataque à estação
submarina. O Homo superior por enquanto se concentrara em objetivos na superfície
terrestre.
Aqui, bem abaixo do nível do mar, Pontonac e seus colaboradores podiam preparar
cuidadosamente todas as suas operações. Para isso tinham à sua disposição todo o
potencial técnico da antiga base de apoio da Frota Solar.
Pontonac teve que pensar em que ele, no que se referia ao quartel-general do
Comitê de Salvação, tivera muita sorte. O homem de quase dois metros de altura
abandonou o hangar submarino, no qual os dois planadores tinham sido ancorados, junto
com Alfer Creek e Tom-Tom Aymel, um pequeno imune de lábios grossos. Eles
utilizaram um elevador antigravitacional para chegar aos recintos superiores.
Entrementes os imbecilizados prisioneiros já tinham sido levados para a sala de
interrogatórios.
Walscynik e Van Moisen, que gerenciavam a estação, anunciaram-se pelo rádio e
saudaram os recém-chegados.
— Eu posso imaginar que os senhores estejam curiosos — disse Pontonac, por um
intercomunicador. — Mas eu agora ainda tenho coisas importantes para fazer.
— Não banque o sapo, Ponty! — gritou Walscynik, que já conhecia Pontonac há
muito tempo e por isso empregava esse tratamento familiar. — Mande-nos Creek, para
que eles nos conte o que está se passando lá em cima!
Pontonac olhou interrogativamente para Alfer Creek. O médico sorriu,
compreensivo, e desapareceu por um corredor rolante. Pontonac e Aymel dirigiram-se
para a sala de investigações. Os prisioneiros estavam conscientes. Eles olhavam em torno
da sala, amedrontados. Dois médicos e um psicólogo estavam presentes.
Tom-Tom Aymel olhou Pontonac, examinando-o bem.
— O senhor agora já está quase trinta e seis horas de pé, sir. Eu acho que devia dar-
se ao luxo de uma pequena pausa para descansar, antes do interrogatório.
— Sim — confirmou Brundner, um dos médicos. — Deite-se um pouco, nós
entrementes nos ocupamos com os homens.
Pontonac sentia que estava exausto. Entretanto duvidava que iria conseguir
descansar. Havia muita coisa pendente na sua cabeça. Não apenas a mudança das pessoas
na superfície, mas também seu planejado encontro com Danton e Deighton.
Tudo teria que ser refletido e preparado, planejado.
— Vou tomar uns comprimidos — anunciou ele. — Então ainda sou capaz de me
sentir bem durante um dia.
O médico objetou.
— Ultimamente o senhor vem exagerando no uso de estimulantes. Eu preciso
chamar sua atenção para as consequências.
Pontonac fez um gesto de desprezo. Ele achava apenas ridículo que o médico, na
presente situação, chamasse sua atenção para o seu estado de saúde. Afinal de contas, ele
possuía uma constituição muito robusta.
Ele puxou uma cadeira mais para perto e acenou, impaciente.
— Vamos começar de uma vez!
7
Por toda parte na Terra e nos planetas do Império Solar, nestes dias, as pessoas
acordavam de sua total imbecilização. Naturalmente elas não ganhavam de volta sua
inteligência original, mas perdiam a sua estupidez e começavam a se interessar pelo seu
meio ambiente. Como antes, os imbecilizados não estavam em situação de entender
complicadas conexões técnicas, ou de fazer ligações em instalações técnicas, mas elas
começavam a tentá-lo.
Isso, por outro lado, teve por consequência que na Terra novamente ocorreram
grandes acidentes, nos quais também alguns representantes do Homo superior perderam
suas vidas. As pessoas continuavam experimentando com uma coragem ilimitada.
Entretanto verificou-se logo que a diminuição do retardamento não continuava, as
pessoas acometidas por ele ficavam na posição que tinham atingido depois de dois dias.
Mesmo assim a mudança significou um grande alívio para as células de imunes do
Império-Alfa. Dificuldades de aprovisionamento puderam ser remediadas, porque as
pessoas libertadas da letargia puderam ser convencidas a executar uma colaboração,
podendo também ser treinadas em todos os tipos de trabalhos simples.
O desenvolvimento misterioso limitava-se aos homens e ao Homo superior.
Em outros povos galácticos, que também tinham sido atingidos pela imbecilização
em escala total, não houve qualquer modificação. Os cientistas imunes teorizavam, como
esta mudança poderia ter ocorrido, mas ninguém sabia dar uma resposta que fizesse
sentido.
Enquanto os homens imbecilizados se desfaziam dos véus do esquecimento, o
Homo superior decaía para um estado semelhante ao sono. Em todos os lugares onde
havia Novos Homens acabava toda atividade. Já depois de poucos dias, tinha-se como
certo que o Homo superior estaria irremediavelmente perdido, se não conseguisse livrar-
se deste estado. Na Terra, os bandos de criminosos rapidamente se deram conta do que
estava acontecendo com os Novos Homens. Os criminosos atacavam os bairros do Homo
superior, pilhavam e roubaram. Ninguém lhes oferecia resistência. Para o Homo superior
parecia indiferente, perder todas as provisões.
Sinais exteriores de decadência psíquica da nova espécie eram a imobilidade e um
olhar fixo. Com exceção de poucos, que não tinham sido atingidos tão fortemente, os
membros do Homo superior se encontravam num estado de transe. Eles perderam todo o
interesse no seu meio ambiente, eles não bebiam nem comiam mais.
Também aqui os cientistas imunes discutiam inutilmente a respeito da significação
desse fenômeno.
Alguns afirmavam tratar-se de uma passagem para uma nova fase de
desenvolvimento, do modo que o Homo superior ainda ficaria mais inteligente e muito
mais superior, logo que o estado atual tivesse terminado, enquanto outros, ao contrário,
achavam que este era o começo do fim.
A situação na Terra e em todos os planetas habitados pelos homens mudou dentro
de poucos dias. Ninguém podia dizer o que ainda iria acontecer. Os observadores, em
primeira linha os poucos imunes, não podiam fazer muita coisa.
Eles esperavam.
Todos eles imaginavam que alguma coisa iria acontecer.
***
Holtogan Loga acordou e abriu os olhos. O teto claro por cima dele esboroou-se
diante dos seus olhos. Ele ficou deitado, quieto, respirando com dificuldade. Inutilmente
ele tentou concentrar seus pensamentos em alguma coisa. Ele sentia-se apático.
Um pensamento que o torturava, sempre voltava-lhe, impregnando-se na sua mente.
O que estava acontecendo com seu povo?
Loga estava consciente do fato de que todos os membros do Homo superior se
encontrava num estado que se assemelhava ao dele. As poucas exceções, que até agora
tinham sido poupadas, mais cedo ou mais tarde seriam acometidas. Era um processo
irresistível, cujo fim não era possível visualizar.
Loga ficou imaginando quem o teria carregado até seu quarto, colocando-o na
cama. Na casa tudo estava inteiramente quieto. Através da janela aberta ouviam-se os
trinados dos passarinhos do parque.
Um medo horrível acometeu o Mestre dos Primeiros Cinquenta Vogais. Ele
começou a recear que pudesse estar sozinho no gigantesco edifício da GCC. Todos os
outros tinham ido embora, deixando-o para trás.
Mesmo assim, ele ficou calmamente deitado. Ele sentia-se mole demais para fazer
qualquer coisa.
Ele não sentiu nem fome nem sede, todas as necessidades do seu corpo pareciam ter
sido apagadas de um só golpe. Loga não possuía a possibilidade de refletir sobre este
fenômeno, pois seu cérebro também fora acometido pelo desenvolvimento negativo.
Quando ele pensava nos seus amigos, vinha-lhe uma tristeza sem limites.
Vagamente ele lembrou-se de suas grandes metas: uma terra pacificada, livre de toda a
técnica destrutiva. Um planeta paradisíaco, em cujos jardins passeavam os membros do
Homo superior, elaborando e perseguindo novas ideias.
Um mundo sem preocupações e sem miséria.
Esta meta poderia tornar-se realidade?
Na porta ouviu-se um barulho.
Holtogan Loga nem sequer virou a cabeça para verificar quem entrara. Isso não o
interessava.
Uma sombra caiu sobre a sua cama.
— Mon Armig — murmurou Loga, quando reconheceu o homem que tinha entrado
no quarto.
— Eu fico contente em ver que você ainda me reconhece — disse Armig. — Na
noite passada, isso foi diferente. Você estava totalmente apático.
— Sim — disse Loga.
Ele não sabia o que deveria responder, não se lembrava de nada. Ele deu-se conta de
que Armig e ele já pertenciam a mundos diferentes. Loga já se encontrava no Mundo dos
Mortos, num corredor, que somente podia ser trilhado numa direção.
— Está ficando cada vez pior — relatou Armig. — Muitos dos nossos já
adoeceram. Os órgãos estão começando com um desenvolvimento ao contrário. Ao que
parece o processo de divisão celular no corpo dos acometidos chegou a uma parada total.
Inutilmente Loga tentou entender os detalhes que Armig lhe relatava. Ele sentia-se
muito mal. De repente ele desejou que Armig tivesse ido embora. Ele não queria mais
ficar escutando, pois sentia inconscientemente que Mon Armig falava de uma catástrofe.
— A decadência física, antes de mais nada, toma-se visível no ressecamento da pele
— continuou Armig, como se sentisse uma alegria cruel em descrever esses detalhes. —
Eu agora estou certo de que se trata de uma peste, de uma epidemia.
A palavra “peste” provocou uma série de associações no cérebro do Mestre, mas ele
não estava em situação de entender as conexões.
Armig sentou-se na borda da cama, e olhou para a janela aberta.
— O Homo superior está condenado a desaparecer!
Aquilo soava como uma sentença de morte.
Loga sentiu como seu coração se confrangia. Os últimos restos de sua vontade de
viver, escondidos na regiões mais profundas do seu consciente, vinham à superfície.
Com um arranco, Loga ergueu-se. Ele sofreu um ataque de tosse. O seu corpo foi
sacudido, seus olhos ficaram esbugalhados. Com uma de suas mãos ele agarrou o braço
de Armig.
— O que você está dizendo? — perguntou ele, muito baixo.
— O fim! — disse Armig, também baixo. — Não há mais futuro para nosso povo.
Loga caiu de volta na cama. Ele respirava com dificuldade.
— Somente temos uma chance — continuou Armig. — Precisamos pedir a ajuda do
Homo sapiens.
Os olhos do cinquentenário sobre a cama se toldaram.
— Você precisa controlar-se, Holtogan Loga! — gritou Armig. — É importante que
você entre em contato com o Império-Alfa. Você é conhecido ali. Eles nos ajudarão, se
você falar com os homens.
Loga parecia ter certeza de que Armig havia dito alguma coisa maluca.
Armig tirou uma coisa do bolso e a colocou diante dos olhos do Mestre.
— Eu redigi um texto. Nós agora iremos até a estação de rádio, onde vamos tentar
entrar em contato com o Império-Alfa. Você precisa apenas ler o texto, só isso.
— Ler — repetiu Loga, cansado.
— Você ainda consegue ler?
— Eu não sei — disse Loga.
Ele olhou para o papel. As letras dançavam diante dos seus olhos. Ele leu palavras
isoladas, que entretanto não davam um sentido concatenado.
Armig agarrou o homem de cabelos grisalhos e puxou-o para cima.
— Isso tem que acontecer agora, antes que seja tarde. Nestas últimas horas milhares
de Novos Homens morreram.
Loga fez um gesto vago.
— Um sonho... — balbuciou ele, pesadamente.
Apoiado em Mon Armig, ele saiu cambaleando do quarto. O corredor pareceu-lhe
comprido. Eles passaram por portas abertas. Num dos quartos, algumas mulheres e
homens estavam deitados no chão, de olhos abertos, nos quais não havia mais nenhum
brilho.
Loga sentiu um pouco da aflição que se espalhava por toda a parte.
Êxodo...
Êxodo de um paraíso planejado.
— Por toda parte no mundo os membros do Homo sapiens começam a livrar-se da
imbecilização — disse Armig, desesperado. — Quanto mais nos aprofundamos na
letargia, mais firmemente o nosso adversário se solta das amarras da estupidez.
Para Loga estas palavras eram apenas um subir e descer de sons, cuja significação
ele não conseguia reconhecer.
De alguma maneira, alguns minutos mais tarde eles chegaram à sala de rádio.
— Eu receio — disse Armig, enquanto ele deixava escorregar Holtogan Loga para
dentro da poltrona diante da instalação de rádio — que isso também está começando
comigo.
Ele limpou a testa banhada de suor.
— Eu vou efetuar a ligação, depois nós vamos falar. Você vai ler o texto, de todo o
resto eu me encarrego.
Ele segurou Loga pelos ombros e o sacudiu.
— Ouça-me!
Loga soluçou como uma criança.
— Você vai ler esse texto! — gritou Mon Armig. — Você vai lê-lo, por você e pelo
seu povo!
A cabeça de Loga caiu sobre os controles. O seu corpo estava sendo sacudido.
Armig puxou-o para trás e meteu-lhe uma folha de papel nas mãos.
— Tome! — disse ele, duramente. — Leia!
***
Um bando de perdizes ergueu-se voando, por entre os arbustos, por cima dos
campos.
Sogmonth ficou parado, olhando para a casa de campo, baixa, que ele vinha
observando há duas horas. Sua mão envolveu um pouco mais forte o cabo da espada
enferrujada que ele encontrara em uma casa em Gerona.
Lá do outro lado, — isso ele sabia pelos relatórios do Comitê de Salvação —
encontrava-se um quartel do Homo superior Sogmonth tinha esperanças de que os
habitantes do prédio não tivessem sido assustados pelo bando de pássaros em fuga.
Sogmonth esperou atrás de alguns arbustos, nas proximidades de um poço, pois ele
esperava que, mais cedo ou mais tarde, alguém sairia da casa para vir buscar água. A rede
de fornecimento de água em Gerona e nos seus arredores tinha sido destruída por
explosões logo depois da catástrofe. Deste modo, poços que antes serviam apenas de
embelezamento de jardins voltaram a ter utilidade.
O céu estava encoberto, nuvens cinzentas, cor-de-chumbo, passavam
preguiçosamente. Sogmonth sentiu frio. De tinha passado estes últimos dois dias quase
que exclusivamente ao ar livre. Os seus olhos estavam fundos, nas órbitas. O rosto do
homem atarracado estava coberto de barba rala.
Sogmonth não tirou os olhos das saídas do edifício. Até agora ele não notara nem
ruídos nem movimentos. Lentamente ele começou a recear que a casa já não estava mais
habitada. O seu plano de matar cada Homo superior que viesse até o poço, com a espada,
parecia não ser mais realizável.
Depois de algum tempo Sogmonth decidiu aproximar-se mais do edifício. Talvez
todos os membros do Homo superior tivessem abandonado este setor.
Agachado, Sogmonth esgueirou-se por entre os arbustos. De vez em quando ele
ficava parado, para observar o edifício. Não aconteceu nada, mas ele queria evitar, de
qualquer jeito, que alguém o descobrisse prematuramente, advertindo todos os outros.
Ninguém o deteria na execução de sua vingança.
Sogmonth alcançou um estábulo atrás do prédio. O mesmo só tinha sido construído
nestes últimos meses, feito com tábuas não aplainadas. Sogmonth achou que ali
guardariam forragem para os animais. Em toda a parte onde o Homo superior trabalhava
na agricultura, bois e cavalos eram reunidos. Os Novos Homens se recusavam a arar suas
terras com aparelhos técnicos, que estariam à sua disposição.
Sogmonth descobriu uma escada e carregou-a até a parede exterior do estábulo.
Pelo telhado do estábulo ele pretendia chegar à casa de campo. Todas estas casas
possuíam um pátio interno um solário. Ele esperava que do telhado pudesse olhar para
dentro de um deles Talvez os adversários estivessem ali.
Sogmonth sabia por experiência que os membros do Homo superior não possuíam
grandes qualidades de luta. Se não fossem muitos, ele podia assaltá-los e matá-los.
As tábuas do estábulo rangiam enquanto Sogmonth cuidadosamente se esgueirava
por cima delas. Ele estremeceu e estancou. Tudo continuou quieto. Sua decepção
aumentou. Realmente parecia não haver ninguém por aqui.
Com um pulo, ele alcançou o telhado chato da casa de campo. O prédio consistia de
quatro torres de canto, e quatro alas de resistência, construídas num quadrado. Elas
cercavam o solário, do qual algumas árvores sobressaíam por cima do teto baixo.
Sogmonth esgueirou-se até a borda interna do telhado e olhou para dentro do
solário. Por toda parte havia lixo. O poço não funcionava. Do outro lado Sogmonth
descobriu um colchão inflável. O mesmo estava arrebentado, e seu recheio saíra para
fora.
As janelas, em sua maior parte, estavam destruídas, algumas persianas tinham sido
arrancadas dos seus gonzos e pendiam, soltas, para baixo. Parecia que a casa de campo
tinha sido assaltada por um bando de saqueadores.
Sogmonth ficou inseguro.
Ele tinha se enganado?
O quartel-general do Homo superior estaria numa outra região?
Ele precisava esclarecer isto.
Sem hesitar, ele deslizou por cima da beira do telhado, trepando para baixo,
segurando-se numa coluna recoberta de hera. Silenciosamente ele colocou os pés no chão
de pedra polida. Um ruído de batidas o fez estremecer. Ele agarrou o sabre mais
firmemente e olhou em volta. Novamente soou aquele ruído. Sogmonth respirou fundo,
aliviado. Em algum lugar o vento batia uma janela aberta contra o seu caixilho.
Sogmonth recuou até a parede da casa e esgueirou-se ao longo da mesma, até
alcançar a primeira janela. Cautelosamente ele espiou para dentro do recinto quase
escuro. Tudo que ele pôde ver foram alguns móveis virados e um tapete enrolado, no qual
alguém enfiara um girassol ressecado. Nas paredes, Sogmonth viu lugares claros, onde
antes estiveram dependurados quadros.
Sempre agachado, Sogmonth esgueirou-se até a janela seguinte. Ele conseguiu olhar
para dentro da cozinha abandonada. Ela tinha uma decoração antiquada, mas um grande
forno positrônico comprovava que os ex-habitantes sabiam dar valor às vantagens da
técnica. O quadro de programação do forno fora destruído. Isso fez com que ele
concluísse que aquilo fora obra do Homo superior. No meio da cozinha, um saco
arrebentado estava no chão. Dele saíam grãos de milho. Sogmonth achou que o saco
somente fora trazido para cá há pouco tempo.
A janela seguinte, pela qual ele olhou, estava com a vidraça quebrada. Sogmonth
aproveitou para entrar na sala. Na semi-escuridão o ex-oficial da Contra-Espionagem
Solar viu algumas estantes nas paredes. Diante delas estavam espalhados livros e bobinas
de música. A porta para o recinto seguinte ou para um corredor estava semi-aberta.
Sogmonth parou e ficou escutando. Tudo continuava quieto. Cautelosamente
Sogmonth passou por cima dos objetos espalhados no chão. Ele chegou a uma galeria
atapetada que dividia o prédio em duas fileiras de salas.
Daqui ele conseguiria chegar a todos os recintos. Ele continuou andando
lentamente. Sua concentração diminuiu, pois ele achava que agora podia estar seguro de
que ele era o único ser vivo dentro da casa de campo.
De repente escutou um gemido.
Ele empertigou-se todo e ficou escutando. O ruído saíra de um dos quartos à sua
frente. Alguém gemera.
Ou teria sido o vento que passava através das janelas quebradas?
“Não!”, pensou Sogmonth. Ele podia confiar na sua audição. Talvez em alguma
parte um doente estava acamado, deixado para trás pelos outros. Ou então alguém dava
estes ruídos de si, dormindo. A velha decisão de Sogmonth retornou. Ele segurou o sabre
estendido bem longe de si e continuou andando. O grosso tapete evitava que se escutasse
os seus passos.
Novamente ele ouviu o gemido. Ele vinha do quarto cuja porta se encontrava em
diagonal, à sua frente. A porta estava apenas encostada.
Sogmonth esgueirou-se para mais perto. Agora ele conseguia ouvir alguém
respirando irregularmente. Pelo menos uma pessoa estava naquele quarto.
Sogmonth parou, de pernas muito abertas, diante da porta. Quem quer que estivesse
nesse quarto, não sabia nada a respeito da presença de um invasor. Sogmonth estava
decidido a aproveitar a vantagem da surpresa.
Com a ponta da espada ele abriu a porta e saltou, com um só pulo, para dentro do
quarto em semi-escuridão.
***
Galbraith Deighton precisou de algum tempo, até dar-se conta de que o homem,
cujo rosto encorcovado se desenhava na tela de vídeo, era Holtogan Loga. Abalado virou-
se para Collins, que tinha vindo com ele para a central de rádio.
— Este é o Mestre dos Primeiros Cinquenta Vogais! Informe Roi, sobre este
chamado. Ele que venha, logo que possível, para a central de rádio.
Collins curvou-se para o intercomunicador mais próximo, para avisar Danton.
Deighton olhou para o monitor.
O rosto de Loga parecia uma máscara de cera. Os olhos estavam fundos nas suas
órbitas e brilhavam, febris. O cabelo estava desgrenhado. Os lábios repuxados.
Deighton sabia que tinha um destroço humano diante de si.
Provavelmente Loga também poderia vê-lo, mas ele não falava, nem dava a
entender por um aceno, que a ligação se completara.
— Loga! — chamou Deighton, compassivo. — O que aconteceu com o senhor?
Esquecido estava e conflito com o Homo superior. No momento o primeiro senso-
mecânico via em Loga um doente que precisava de ajuda. Entretanto fora sobretudo Loga
que falara de um claro limite sobre o Homo sapiens e o Homo superior. As ordens de
Loga tiveram por consequência que dúzias de estações vitais em toda a parte na Terra,
tinham sido desmontadas. Loga era o homem, que os responsáveis de Império-Alfa
suspeitavam que, em segredo, queria alcançar o desaparecimento do Homo sapiens.
Loga abaixou a cabeça. Os seus lábios começaram a mexer.
— O apelo, que dirijo ao senhor, deve evitar que nosso povo desapareça! — disse
Loga, com voz monótona.
Deighton suspeitou que o homem, que parecia senil, estava lendo um papel. Parecia
mesmo que Loga nem estava entendendo o sentido de suas palavras.
— O senhor ficará surpreso de que justamente nós nos dirigimos ao senhor —
continuou Loga. — Mas nós não temos outra escolha. Nós lhe suplicamos. Evite o
desaparecimento do Homo superior que não está em situação de ajudar a si mesmo. Nós
precisamos... — A voz falhou. Sem forças.
Loga caiu para a frente. Um outro homem apareceu, para sustentar Loga.
Ele olhou diretamente para Deighton, e dava a impressão de estar relativamente
bem conservado.
— Eu sou Mon Armig! — disse ele.
— O senhor faz parte dos Primeiros Cinquenta Vogais! — lembrou-se Deighton.
Sua atenção foi desviada da tela de vídeo, pois Danton entrou e veio colocar-se ao
seu lado.
— Roi Danton! — gritou Armig. — Informe-lhe o que Loga falou.
Pensativo, Deighton olhou para a tela de imagem. Armig estava por trás de Loga,
que tinha arriado completamente, e evidentemente não percebia o que se passava à sua
volta.
Ou, perguntou-se Deighton, constantemente vigilante e desconfiado, aquilo tudo
não passava de um bem organizado blefe?
Inconscientemente ele sacudiu a cabeça. Ninguém conseguiria fingir desse jeito.
Loga não passava de um destroço, disso não podia haver nenhuma dúvida. Deighton
informou a Danton o que ouvira.
— Entrementes tentamos interrogar o Homo superior aprisionado. Não ficamos
sabendo de muita coisa. A aparência do prisioneiro, entretanto, confirma as palavras de
Loga. Quase se pode ver como ele está se desintegrando fisicamente.
— Eu sou um dos poucos que ainda estão ativos — declarou Armig, na voz de
quem agora podia-se ouvir desespero. — Mas não estou feliz com isso. Eu tenho que
vivenciar, conscientemente a decadência do meu povo.
Danton e Deighton se entreolharam. Ambos não sabiam o que fazer.
— Existe dois milhões da espécie Homo superior — disse Collins, finalmente. —
Eu não consigo imaginar como nós podemos ajudá-los, uma vez que nem sequer
conseguimos liquidar todas as tarefas que nos propusemos. Toda retirada de
colaboradores a favor do Homo superior poderia piorar novamente a situação dos
imbecilizados na Terra, de forma radical. Além do mais — acrescentou ele, amargo —
até agora nenhum Homo superior lembrou-se de nos ajudar. Ao contrário, somente nos
preparam dificuldades, fazendo tudo para sabotar o nosso trabalho de reconstrução.
Danton olhou para a tela de vídeo.
— O senhor ouviu Collins. Assim como ele, provavelmente pensam todos os
imunes de Império-Alfa. Eles se recusariam a ajudar o Homo superior.
O rosto de Armig continuou inexpressivo, mas Danton podia imaginar muito bem
os sentimentos que varriam a cabeça desse homem.
— O senhor nos entendeu mal — retrucou Armig. — Nós não estamos procurando
os senhores como pecadores penitentes. Nós continuamos acreditando que agimos certo.
A Terra e a Humanidade poderão continuar existindo, caso se livrar de toda técnica, e o
homem voltar para uma vida natural.
— O senhor não precisa repetir isso — achou Deighton. — Nós já o ouvimos o
suficiente.
— Nós procuramos os senhores porque não temos mais qualquer outra chance —
disse Armig, depressa. — Não queremos deixar de experimentar qualquer coisa, para
impedir o nosso desaparecimento.
Danton apoiou-se no encosto de uma poltrona.
— Isso tudo é ideia sua! — adivinhou ele.
— Qualquer um de nós teria agido do mesmo modo se estivesse em meu lugar —
afirmou Mon Armig. — Loga infelizmente não está mais em condições para dirigir
negociações.
— Eu preciso me aconselhar com meus amigos — disse Danton.
Armig sacudiu a cabeça.
— Qualquer demora significaria nosso fim. Os senhores precisam ajudar-nos agora.
— Armig hesitou, depois acrescentou, baixinho: — Eu sei perfeitamente que esta ajuda
tem seu preço. Os senhores podem determinar este preço.
Para Danton estava seguro o que Armig oferecia. A total submissão do Homo
superior. A suspensão de todas as desmontagens, o regresso ao isolamento original.
Danton também sabia que podia confiar nas palavras de Armig.
Mas mesmo assim Danton não via nenhuma possibilidade de ajudar os Novos
Homens. Isso não era possível tecnicamente. O que poderia dizer? Dissolver as células
imunes, trabalhosamente construídas? Enviar os imunes ativados ao Império-Alfa?
Como é que se poderia ajudar, na situação existente no momento, e dentro do menor
tempo possível, a dois milhões de mulheres e homens?
— Precisamos discutir sobre isso! — decidiu Danton.
Com um movimento ágil ele desligou o aparelho. Antes da imagem de Armig
empalidecer, Danton ainda pôde ver a enorme decepção, a total falta de esperança, que se
desenhou no rosto do Homo superior.
Danton virou-se. Novamente ele olhou para o rosto de um homem.
Para o rosto de um Homo sapiens. Para o rosto de Collins. Ele estava frio e duro.
— Eu quero ser amaldiçoado, se mexer apenas um dedo, a favor dessa gente. —
disse o Comandante Collins.
***
Mon Armig carregou Loga de volta para o quarto do Mestre, e deitou-o na cama.
Em toda a casa estava quieto. Armig sabia que seus amigos estavam deitados nos seus
quartos, esperando pelo fim. Provavelmente alguns já tinham até morrido.
Armig forçou-se a desligar todos os seus sentimentos. No momento esta era sua
única proteção contra a loucura total.
Mais uma vez ele olhou para Holtogan Loga, que estava deitado, como que
anestesiado.
Depois dirigiu-se na direção da saída. Quando ele quase alcançara a porta, escutou
Loga chamar.
— Armig!
O Primeiro Vogal parou e olhou de volta para o Mestre do seu povo.
Loga ergueu um braço. Parecia que ele estava totalmente consciente.
— Venha cá.
Armig foi até a cama. Do rosto de Loga irradiava-se alguma coisa, uma força
reprimida e a crença inabalável naquilo que ele fizera durante sua vida. Talvez, pensou
Armig, fora preciso vir esta catástrofe, para que ele compreendesse Loga corretamente.
Neste instante ele deu-se conta realmente da verdadeira personalidade deste homem.
— Eles negaram ajuda, não é?
Era uma constatação, feita sem tristeza.
— Eles querem discutir o assunto — disse Armig, desviando-se.
O homem deitado na cama sorriu, compreensivo. Ele não parecia nem raivoso nem
decepcionado.
— Neste momento estou completamente consciente, Armig. — disse ele. Ele foi
constantemente interrompido por ataques de tosse. — Talvez estes sejam os últimos
minutos de minha vida, nos quais posso pensar sensatamente.
— Você não deve falar desse modo — disse Armig, baixinho.
Os olhos de Loga se abriram mais.
— Nosso povo vai desaparecer — profetizou ele. — Eu agora sei que sentimento
incômodo me acompanhava desde minha juventude. Era uma premonição, e eu não fui
suficientemente valente, para olhar a verdade de frente, nos olhos.
— Verdade! — Armig cuspiu essa sentença. — Quem é que, neste mundo, pergunta
pela verdade?
— É lastimável que você esteja tão amargurado — retrucou Holtogan Loga. Ele
ergueu-se na cama, apertou as mãos no peito. — Eu nos vejo agora, como nós somos
verdadeiramente. Meu caro amigo, isso poderá parecer-lhe horrível, mas eu acho que nós
somos apenas uma experiência da natureza caprichosa, uma experiência, para salvar a
Humanidade do “Enxame”.
— O que é que você está falando? — perguntou Armig, perturbado. — Isso
simplesmente é loucura.
— É a verdade, e eu espero que cada um de nós, antes do seu fim, a reconheça.
— Isso significa que este “Enxame” é um fenômeno da natureza. Um mistério
sempre recorrente, ao qual a evolução procuraria se adaptar.
— É isso mesmo — concordou Loga. — Talvez, da próxima vez, quando o
“Enxame”, daqui a milênios, novamente atravessar nossa galáxia, o experimento vingará.
Armig escondeu o rosto nas mãos. O Mestre tinha enlouquecido, pois o que ele
dizia era loucura. Era inconcebível.
— Eu não sou um nihilista — disse Armig. — Eu vou lutar. Ninguém deve desistir.
Se os normais nos ajudam, talvez tenhamos uma chance. Naturalmente não podemos ser
salvos todos, mas se alguns milhares dos nossos sobreviverem, ou até mesmo apenas
algumas centenas, então a nossa espécie poderá ser salva.
Loga caiu de volta, nos travesseiros. Ele agora estava completamente sem forças.
— Não somos nós que determinamos se continuaremos a existir. — Sua voz se
tornara tão fraca que Armig mal podia ouvi-lo.
Depois Loga fechou os olhos. O seu peito subia irregularmente. Armig precipitou-se
para fora do quarto. No corredor ele parou. Ele sentia-se apertado no interior do prédio,
as paredes pareciam aproximar-se, como se quisessem esmagá-lo. Apesar dessa carga que
pesava em todo o seu corpo, ele parou.
— Ouçam-me todos! — gritou ele para fora. — Ouçam-me todos! Saiam dos seus
quartos e lutem. Defendam-se contra o fim.
Sua voz encontrou um eco nos inúmeros corredores e quartos do edifício onde se
encontravam.
Armig ficou parado ali, esperando.
Depois de algum tempo veio Vanieoh e olhou em volta, interessado.
Dos Novos Homens não veio ninguém.
***
Era um homem e uma mulher. Eles estavam deitados no chão, os rostos para cima.
Os seus olhos não olhavam para Sogmonth nem com surpresa nem com medo. Eles
estavam de mãos dadas.
“Um casal”, pensou Sogmonth. “Uma fêmea Homo superior e um macho Homo
superior.”
— Eu sabia que iria encontrar alguns de vocês! — Sogmonth assustou-se com o
som da própria voz.
Ele levantou a espada e aproximou-se com a mesma dos dois Novos Homens. Eles
não reagiram, nem fizeram qualquer tentativa de se salvar de algum modo, ou de se
defender. Também não pensavam em fugir.
— Isso não vai adiantar nada a vocês! — gritou Sogmonth.
Ele levantou a espada.
Um choro penetrou nos seus ouvidos.
Ele virou-se rapidamente. Num dos cantos do quarto estavam acocoradas três
crianças, duas meninas e um menino. Eles davam a mesma impressão dos dois adultos.
— Ah! — fez Sogmonth. — Isso é ótimo! Toda uma família. Uma família! E ele
continuou gritando: — Uma família! — até que sua voz falhou, estridente.
Então jogou o sabre no chão, e começou a soluçar incontrolavelmente.
Ele não sabia quanto tempo se passara, quando escutou um ruído no corredor. Logo
em seguida apareceu um homem na porta. Pappon, o negro velho.
Pappon reconheceu a cena com um só olhar.
— Venha! — disse ele, calmamente. — Eu vou levá-lo de volta.
Sem opor resistência, Sogmonth deixou-se conduzir para fora.
— Eu não pude fazê-lo — disse ele, quando já estavam do lado de fora. — Talvez
os dois velhos. Mas depois, as crianças. Foi impossível.
O velho Pappon coçou a parte de trás da cabeça.
— São apenas criaturas humanas, Sogmonth. O senhor está pronto?
O major fez que sim.
“Foi muito fácil!”, pensou Pappon. “Mais fácil do que eu imaginara.”
Pontonac ficaria contente em ver Sogmonth voltar para o comitê. Um Sogmonth
cujas ações não eram determinadas por um ódio irreconciliável, era insubstituível para o
Comitê de Salvação.
8
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