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Abstract
This article will discuss the concept of deliberate practice related to cognitive mechanisms involved in the
development of musical expertise based on the theoretical framework presented by Ericsson et. al (1993),
Ericsson e Smith (1991), Sloboda et. al (1996) and Galvão (2006). Musical abilities can be developed and
refined through deliberated practice through evaluation, monitoring and control of the mechanisms
involved in musical performance. Expertise can be considered a long-term performance objective that
needs to be achieved through deliberate practice linked to cognitive mechanisms such as self-regulation
and metacognition.
Keywords
Deliberate practice, self-regulation and metacognition, musical expertise.
Authors
Anderson Alves: clarinetista da Orquestra Sinfônica Nacional- UFF. Bacharel em clarineta (2000), pela
Unicamp. Atualmente cursa mestrado na Universidade de Brasília.
Ricardo Freire: professor de Clarineta da Universidade de Brasília, com atuação tanto na área erudita
como no Clube do Choro de Brasília. Obteve o Bacharelado em Clarineta (1991), pela UnB; Mestrado em
Música (MM – 1994) e Doutorado em Artes Musicais (DMA – 2000) pela Michigan State University- EUA.
Publicou mais de 50 artigos em periódicos brasileiros e também em congressos e revistas nos EUA,
Grécia, Lituânia, China e Itália.
Pesquisas sobre expertise têm abordado com especial interesse a área de performance
musical (Ericsson et. al 1993; Sloboda et. al 1996; Ericsson e Smith 1991). No contexto da
cognição musical, autores como Ericsson e Lehman (1996) investigaram os elementos
determinantes no desenvolvimento de músicos experts, e suas pesquisas apontam aspectos de
que a expertise musical pode ser alcançada por meio da prática deliberada de longo prazo
(Ericsson et. al 1993). No Brasil, também são pesquisados aspectos afetivos e sociais que
favorecem a expertise (Galvão 2006).
Este artigo tem por objetivo abordar os aspectos cognitivos que influenciam o
desenvolvimento da expertise musical, investigar a construção da expertise a partir de
pressupostos da cognição musical e identificar os processos cognitivos determinantes para que
a expertise musical seja atingida. O método desta pesquisa foi uma revisão bibliográfica de
pesquisas relevantes sobre expertise, tanto no campo da psicologia cognitiva como na literatura
específica sobre psicologia da música.
Expertise e expertise musical
Expertise pode ser definida como a capacidade, adquirida pela prática, de desempenhar
qualitativamente bem uma tarefa particular de um domínio (Frensch e Sternberg 1989). Algumas
características desenvolvidas pelos experts são as habilidades de reestruturar, reorganizar e
refinar representações do conhecimento; identificar os mecanismos necessários para utilizar
suas habilidades tanto no planejamento de estudos, quanto em seus ambientes de trabalho
(Ericsson e Lehmann 1996).
Para Hoffman (1998), expert pode ser definido como um artista brilhante e distinto, que
têm habilidades especiais ou conhecimento derivado de experiências com subdomínios. A
expertise está relacionada aos processos de acúmulo de conhecimento e aos mecanismos de
monitoração e controle dos processos cognitivos, para estruturar o desempenho de um
delimitado conjunto de tarefas de forma eficiente (Ericsson et. al 1993). Experts são
consistentemente capazes de apresentar uma performance superior em tarefas de um domínio
representativo. Um indivíduo expert é alguém que exibe uma realização consistente superior, e
pode ser considerado como uma pessoa que exibe um alto grau de competência (Ericsson et. al
1993). Ericsson considera que
Autoregulação e metacognição
Autoregulação é um processo de gerenciamento das ações cognitivas relacionadas ao
pensamento, comportamento e emoções, desenvolvido como forma de aperfeiçoar os
resultados do aprendizado (Javela e Javernoja 2011, Zimmerman 2008). Pesquisas de Pintrich
e Zusho (2002) e Zimmerman (2000) apresentaram um modelo de estudo autoregulado que é
dividido em três fases: 1) antecipação (forethought) e planejamento, 2) o monitoramento da
performance, e 3) reflexões sobre a performance. A antecipação e o planejamento consistem
na análise da tarefa a ser aprendida, por meio do estabelecimento de metas necessárias para
realização da tarefa. Em segundo lugar, apresenta a fase do monitoramento da performance
que consiste no uso de estratégias para avaliar o progresso do aprendizado, monitorando a
qualidade dessas estratégias em comparação com planejamento estabelecido previamente. Por
último, reflexão sobre a performance, no qual estudantes avaliam se realmente as estratégias
escolhidas foram efetivas, comparando-a as estratégias escolhidas com o resultado do
aprendizado em suas performances.
A autoregulação é um processo que facilita a aprendizagem por meio do
estabelecimento de metas, planejamento, motivação, controle de atenção, uso de estratégias de
aprendizado, automonitoramento e autoavaliação (Zimmerman 2004). O processo de
autoregulação está focado na relação do indivíduo consigo mesmo e na sua capacidade de
organizar o autocontrole do pensamento, dos sentimentos e das ações com a finalidade de
atingir objetivos de performance (Schunk e Zimmerman 1998).
Estudantes autoregulados demonstram conhecer o uso de variedades de estratégias de
aprendizado, como a auto eficácia, estabelecimento de metas e objetivos, bem como o
desenvolvimento da habilidade de monitorar e avaliar os resultados de suas performances. Na
área de música pode-se observar o processo de autoregulação nas decisões que um músico
realiza quando está praticando o seu instrumento. A prática musical necessita de um
amadurecido do processo de autoregulação para atingir objetivos e lidar com as dificuldades
inerentes ao aprendizado musical. A autoregulação permite que o músico possa se autoavaliar e
estabelecer os procedimentos para conseguir sua inserção dentro do ambiente musical. Nesta
abordagem, a autoregulação pode estar associada aos procedimentos de prática deliberada
para potencializar a aprendizagem musical.
O construto metacognição é definido pela psicologia cognitiva como um controle
executivo que envolve o monitoramento e a autoregulação (McLeod 1997, Schneider e Lockl
2002). Pesquisa de Cross e Paris (1988) definiu metacognição como o conhecimento
necessário para monitorar, controlar o próprio pensamento e o aprendizado. Hennessey (1999)
define metacognição como a consciência do próprio pensamento, consciência para entender o
conteúdo e regular os processos cognitivos em relação ao aprendizado.
Controlar o desenvolvimento metacognitivo envolve, primeiramente em entender a
arquitetura dos processos cognitivos relacionados ao conhecimento e monitoramento da
cognição (Cross e Paris 1988; Kuhn e Dean 2004). O conhecimento cognitivo é dividido em
conhecimento declarativo, procedimental e condicional. Conhecimento declarativo se relaciona a
fatores que podem influenciar na performance, conhecimento procedimental envolve
consciência e gerenciamento sobre estratégias utilizadas, e conhecimento condicional se
relaciona à habilidades no uso dessas estratégias. O processo de monitoramento cognitivo
consiste em planejar, regular e avaliar os resultados da performance (Cross e Paris 1988; Paris
e Winograd 1990; Schraw et. al. 2006).
Metacognição é um processo que se desenvolve de forma gradual, e envolve a aquisição
e refinamento das estratégias cognitivas (Kuhn 2000). Esse desenvolvimento pode ser dividido
em três etapas. A primeira etapa consiste na aquisição do conhecimento cognitivo, que é o
momento da aquisição de habilidades. A segunda etapa consiste na regulação cognitiva, no
qual ocorre uma melhora na qualidade no monitoramento, e por último, ocorre a integração
entre conhecimento cognitivo e regulação cognitiva (Schraw e Moshman 1995)
Na área de música pode-se considerar a autoregulação como um processo cognitivo
desenvolvido por meio de práticas estratégicas, que consiste na aquisição e refinamento de
habilidades intrínsecas do performer como o automonitoramento e autoavaliação. O
desenvolvimento desses processos têm por finalidade controlar os resultados da performance
musical, e possibilitar que o músico atinja nível de excelência instrumental. Neste contexto,
metacognição consiste no controle dos processos cognitivos que tem por finalidade melhorar
qualidade do aprendizado da performance musical. Desta maneira, pode-se considerar que o
estudo metacognitivo regulado pode ser um fator determinante dentro da prática deliberada.
A pesquisa sobre expertise aborda vários elementos da cognição humana, sendo que
foram identificados elementos que são fundamentais no desenvolvimento da expertise musical.
No entanto, existem elementos sociais, afetivos e históricos que também influenciam no
desenvolvimento da expertise que não foram abordados neste artigo. Nessa pesquisa foi
possível identificar também que o desenvolvimento efetivo da prática deliberada refina os
processos cognitivos como autoregulação e metacognição.
O conceito de prática deliberada proposto por Ericsson et. al (1993) pode ser ampliado
para incluir novas dimensões, como a auto regulação e a metacognição. Desta maneira, o
processo de prática deliberada também pode contemplar os aspectos cognitivos centrados no
sujeito, ou seja, quais os processos que o sujeito gerencia para conseguir delimitar e atingir
suas metas. Autoregulação refere-se aos processos de interação com o ambiente e de
adaptações internas para monitorar e avaliar o próprio desempenho na performance.
Metacognição é a capacidade desenvolvida ao longo do tempo por meio da prática, que
consiste em controlar os processos cognitivos, que têm por finalidade melhorar o desempenho
do aprendizado da performance musical. A adição das dimensões metacognitivas e de
autoregulação oferece elementos de reflexão sobre a prática deliberada, permitindo o
enriquecimento das aplicabilidades na formação do expert.
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