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O direito profissional do advogado - noções elementares -

Orlando Guedes da Costa

Introdução
O Estatuto profissional e deontológico, o valor da confiança e o direito profissional como
ramo de direito autónomo
A autoridade profissional, a deontologia e o valor da confiança

A profissão de advogado adquire confiança devido a uma subordinação a um código


deontológico; esse é imposto por uma associação que promove a cultura própria da
actividade jurídica. O valor da confiança na profissão resulta, portanto, da autoridade
profissional ou do facto da preparação fornecer ao advogado um tipo de
conhecimento inacessível a um não profissional.
O advogado deve, portanto, estar sujeito a uma independência absoluta, isenta de
qualquer pressão, especialmente a resultante dos seus próprios interesses ou de
influências exteriores. A relação de confiança não pode existir se houver dúvidas sobre a
honestidade, a probidade, a rectidão ou a sinceridade do advogado; essas são,
tradicionalmente, virtudes que lhe são imputadas. Mais, a obrigação do advogado a
segredo profissional serve quer os interesses da justiça, quer os dos seus clientes; tendo em
conta a sua importância, a lei confere-lhe protecção nos termos do art. 208º Constituição
da República Portuguesa e do art. 114º LOFTJ.
Etimologicamente, deontologia é o conhecimento dos deveres; a deontologia
profissional é, assim, o conjunto de normas jurídicas de conteúdo essencialmente ético
que regula o exercício de uma profissão. Da deontologia decorrer o valor da confiança!

Estatuto deontológico e estatuto profissional do advogado – o direito profissional como


ramo de direito autónomo
O título III (arts. 83º a 108º) do EOA refere-se ao estatuto deontológico do advogado; aí se
refere, sucessivamente:
- À independência do advogado;
- Aos seus deveres para com a comunidade;
- Ao dever de segredo profissional;
- À discussão publica de questões pendentes;
- À publicidade;
- Ao dever geral de urbanidade;
- Aos deveres para com os clientes;
- Às relações com o tribunal;
- Aos deveres entre advogados;

O titulo II (arts. 61º-82º) EOA, por sua vez, aborda as garantias no exercício da advocacia.

O direito profissional do advogado é o conjunto de normas jurídicas que regulam o


acesso e o exercício da profissão de advogado; é um elenco de regras autónomas que
proíbem ou impõem condutas quanto ao acesso e ao exercício de uma profissão com
interesse público, tendo em vista a protecção de valores jurídicos. Face a isto, não é
estranho que a lesão ou perigo de lesão de valores essenciais para a comunidade
configure, para o advogado, um ilícito criminal (prevaricação) e disciplinar; mais, as
condutas da vida privada que consubstanciem um comportamento público pode
conduzir, ainda, ao procedimento disciplinar sempre que se repercutam na profissão.
As normas que integram o direito profissional do advogado tem, por conseguinte, uma
natureza jurídica, i.e, podem ser impostas coactivamente pela autoridade do Estado,
cuja constituição é contemporânea da criação dessas ditas regras; essa juricidade
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decorre do art. 6º/3 EOA. Tem, ainda, natureza jurídica as regras decorrentes dos usos,
costumes e tradições profissionais – arts. 83º/1, 100º/3 EOA, 1158º/2 e 3º/1 CC.

os deveres deontologicos gerais


Existem deveres deontológicos gerais que são específicos de determinada profissão (ex.:
dever de lealdade processual) e outros que são comuns a diferentes campos laborais
(ex.: dever de elevada consciência moral, dever de probidade, dever de urbanidade).
Constituem, contudo, virtudes essenciais do advogado, a independência e o
desinteresse.
Ressalve-se, todavia, que o dever de urbanidade tanto se aplica no exercício da
profissão, como no âmbito da vida privada; a sua omissão, quando escandalosa, não
pode deixar de se repercutir na profissão – arts. 90º e 83º/1 EOA.

Capitulo I
A advocacia – da antiguidade oriental à actualidade
Da criação da Ordem dos Advogados até ao seu estatuto aprovado pelo D.L. 84/84 de
16 de Março

As raízes da Ordem dos Advogados (OA) devem procurar-se no Collegium togatorum de


Justiniano; as suas origens mais próximas são, contudo, três:
- Sociedade Jurídica de Lisboa;
- Sociedade Jurídica Portuense;
- Associação Jurídica de Braga;

A regulamentação da profissão, dos direitos e deveres dos advogados e da OA, contudo,


só foram previstas em 1927, no Estatuto Judiciário. Em 1984, por via do DL 84/84, a OA
passou de uma autonomia limitada à tutela do Ministério da Justiça para uma
autonomia total, integrando a administração estadual autónoma.

Capitulo II
A função actual do advogado
A advocacia na actualidade – a função de advogado

O interesse público da profissão e a independência do advogado são a razão de ser das


especificidades do mandato judicial e são também a razão de ser da limitação da
publicidade e da discussão pública de questões pendentes perante órgãos do Estado,
da proibição de angariação de clientela e do princípio da livre escolha do mandatário
pelo mandante; mais, essas características da profissão explicam, ainda, a
obrigatoriedade de inscrição numa associação publica para que seja legalmente
possível o seu exercício e muitas das obrigações ex lege que impendem sobre os
advogados.
A necessidade de independência do advogado é o motivo pelo qual ele deve evitar o
exercício de represálias contra os adversários, os colegas, os juízes ou quaisquer outros
intervenientes no processo.
Face a tudo isto, consideramos que, quotidianamente, a advocacia é o exercício de
uma função de interesse público por uma entidade privada com independência
perante qualquer outra entidade, seja ela pública ou privada.

A advocacia colegiada, a advocacia livre e a advocacia de estado

A organização da advocacia actual pode subsumir-se a um de três modelos:


- Advocacia colegiada: as suas raízes encontram-se no direito romano; é um sistema que
vigora em quase toda a Europa. Neste modelo, os advogados encontram-se
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obrigatoriamente inscritos em associações públicas que disciplinam o exercício da
profissão com autonomia; caracteriza-se pelo equilíbrio entre o princípio da
independência e o do interesse público da profissão.
- Advocacia livre: a colegialidade não é obrigatória, uma vez que são os juízes que
exercem o controle do exercício da profissão, o acesso a essa (mediante inscrição) e a
observância das normas que a disciplinam; sacrifica-se o princípio da independência.
Vigora nos EUA, Suiça, Finlândia e Noruega.
- Advocacia de Estado: a colegialidade é obrigatória, mas encontra-se sob a
dependência do governo; predomina o princípio do interesse público da profissão. Era o
modelo vigente na ex-URSS.

O advogado como participante na administração da justiça

Os advogados participam na administração da justiça; compete-lhes, pois,


exclusivamente e com as excepções previstas na lei, o patrocínio das partes. Para tanto,
a OA é configurada como sendo uma associação de direito publico e um dos
fundamentos da justiça – art. 76º/1 EOA; a Constituição da República Portuguesa, no seu
art.208.º, é, ainda, vital dado que assegura aos advogados as imunidades necessárias
para o exercício do mandato. Os arts.6.º, 114.º, 115.º e 116.º LOFTJ ajudam, também, a
velar pela profissão de advogado.
Em virtude do exposto, podemos concluir que o advogado não é apenas o defensor dos
interesses e dos direitos do seu cliente; ele é uma participante da função jurisdicional e
coartifice da decisão judicial. A jurisprudência é, então, uma co-produçao do juiz e do
advogado que mutuamente se completam na administração da justiça.

Capitulo III
A Ordem dos Advogados
A natureza jurídica da ordem dos advogados

A OA é uma associação pública representativa dos licenciados em Direito que nela se


encontram inscritos e exercem profissionalmente a advocacia; é uma pessoa colectiva
que persegue uma série de finalidades comuns a uma profissão. Convêm ressalvar que,
apesar de ser uma associação pública, ela é constituída por entidades privadas!
A OA foi, como já vimos, criada pelo Decreto 11715 de 12 de Junho de 1926; as suas
alterações posteriores de regime foram sempre efectuadas por diploma legislativo. Mas
foi em 1984, por via do DL 84/84 que se realçou a natureza da OA; no preâmbulo do DL
denotava-se que as associações públicas representam uma forma de administração
mediata e que, como tal, consubstanciam uma devolução de poderes do Estado a uma
pessoa autónoma por este constituída para o exercício de atribuições e competências
públicas. Concretizava-se, desse modo, o princípio da descentralização institucional que,
no fundo, aproxima a administração dos cidadãos e articula, harmoniosamente, os
interesses profissionais dos advogados com o interesse público da justiça; ora, no
entender de Freitas do Amaral, o direito de definir a sua conduta ou a conduta alheia
em termos obrigatórios, só faz ressaltar a qualidade de associação pública que se atribui
à OA.
As questões relacionais com a OA são matéria de reserva relativa da Assembleia da
Republica.
Por tudo o que ate agora expusemos, podemos concluir que a OA goza do privilegio da
unicidade, beneficia do princípio da inscrição obrigatória, pode impor a quotização
obrigatória a todos os seus membros (que garantem a necessária autonomia financeira
ao instituto), controlo o acesso e o exercício da profissão, bem como exerce sob os seus
membros, de modo exclusivo, poderes disciplinares; em contrapartida, a Ordem tem que:
- Colaborar com o Estado;
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- Respeitar os princípios gerais do Direito Administrativo;
- Sujeitar-se ao controle do Provedor de Justiça;
Ressalve-se que, todavia, a independência da OA em relação aos órgãos do Estado só
foi reconhecida pelo EOA em vigor!

Estrutura orgânica e territorial da ordem


A OA exerce as suas atribuições e competências no território da Republica Portuguesa,
apesar de internamente estruturada por órgãos de âmbito não nacional; em virtude disso
temos:
a) Órgãos nacionais:
- Congresso;
- Órgãos de democracia indirecta ou representativa;
- Assembleia-geral da Ordem;
- Bastonário;
- Presidente do Conselho Superior;
- Conselho Geral;

b) Órgãos distritais:
- Assembleia distrital;
- Presidentes dos conselhos distritais;
- Conselhos de deontologia;

c) Órgãos de comarca:
- Assembleias de comarca;
- Delegações ou delegados (conforme haja ou não, pelo menos, dez advogados
inscritos);

Em termos hierárquicos, todavia, temos a seguinte ordem: bastonário, presidente do


conselho superior, presidentes dos conselhos distritais, membros do conselho superior e do
conselho geral, presidentes dos conselhos de deontologia, membros dos conselhos
distritais, membros dos conselhos de deontologia presidentes das delegações e
delegados.
Nas cerimónias oficiais, o bastonário tem honras e tratamentos idênticos aos devidos ao
Procurador-geral da Republica, sendo colocado imediatamente à sua esquerda; os
presidentes dos conselhos distritais e os membros do conselho superior e do conselho
geral são equiparados aos juízes conselheiros; os membros dos conselhos distritais aos
juízes desembargadores e os membros das delegações, os delegais e os demais
advogados aos juízes de direito.
Como nos situamos em território europeu, os nossos advogados, para alem de se
sujeitarem às regras deontológicas do EOA sujeitam-se, também, às do Código de
deontologia do CCBE.
A OA é representada em juízo e fora dele pelo bastonário, pelo presidente do conselho
superior, pelos presidentes dos conselhos distritais e pelos presidentes das delegações ou
delegados, conforme se tratem, respectivamente, de atribuições do conselho geral, do
conselho superior, do conselho distrital ou das delegações; convêm, contudo, não
esquecer que não se tratam de competências dos conselhos superiores, distritais ou
delegações, é sempre o bastonário que assume a representação da Ordem – art.
39º/1/a) EOA. O conselho geral é o órgão competente para deliberar quanto à
instauração ou defesa de processos em juízo.
O exercício de cargos na OA tem carácter electivo; os mandatos duram três anos civis e
as eleições devem-se realizar, em data a designar pelo Bastonário, entre 15 e 30 de
Novembro; tem voto os advogados com inscrição em vigor, mas não os advogados
estagiários. O voto é secreto e obrigatório, sob pena de multa equivalente ao dobro da
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quotização mensal. Como o exercício de funções é um dever do advogado eleito para
um cargo, constitui falta disciplinar a recusa de tomada de posse; abre-se uma
excepção a isto quando a escusa seja fundamentada e o Conselho Superior a aceite.

O produto das contribuições dos advogados para a OA é dividido em partes iguais entre
o Conselho Geral e o Conselho Distrital, mas é às delegações que compete receber e
administra as receitas próprias, aceitar doações ou legados e administra-los (sempre que
esses se destinem a serviços e instituições dirigidos por qualquer delegação).
É um dever do advogado para com a OA pagar pontualmente as quotas e outros
encargos!

Deveres do advogado para com a ordem dos advogados

Se o dever de solidariedade é um dos principais deveres entre advogados, não existe


propriamente um dever de solidariedade entre os advogados e a sua Ordem; o que
existe é um dever de colegialidade que implica o zelo pela função social, dignidade e
prestígio da profissão de advogado, bem como a promoção do respeito pelos princípios
deontológicos. Mais, a OA deve defender os interesses, direitos, prerrogativas e
imunidades dos seus membros, assim como reforçar a solidariedade entre os advogados.
Posto isto, o elenco de deveres do advogado para com a OA não passa de um mero
não prejudicar os fins e o prestígio da associação e da advocacia, colaborando na
prossecução das atribuições da Ordem e exercendo os cargos para que haja sido eleito.
O dever do advogado declarar qualquer cargo ou actividade profissional que exerça
destina-se a permitir ao conselho distrital e ao conselho geral o exercício das suas
competências e o dever de suspender imediatamente o exercício da profissão; deve,
ainda, ser requerido, no máximo de 30 dias, a suspensão de inscrição na OA enquanto
decorrer a incompatibilidade superveniente.
Ao poder público da OA de impor quotização corresponde, como não poderia deixar
de ser, o dever do advogado pagar pontualmente as quotas e outros encargos; o atraso
no pagamento não envolverá, contudo, responsabilidade disciplinar.
Existe, ainda, o dever de dirigir o estágio dos advogados estagiários com empenho e o
dever de comunicar à Ordem, no prazo de 30 dias, qualquer mudança de escritório ou
de domicílio profissional; este ultimo dever não se destina apenas a permitir ao conselho
distrital e ao conselho geral o exercício das suas competências, mas também a aplicar as
várias disposições legais para as quais tem relevância pratica o domicílio profissional do
advogado!

Capitulo IV
A inscrição na Ordem dos Advogados
inscrição preparatória e inscrição nos quadros da ordem

Para o exercício da advocacia, i.e., para a prática de actos próprios dos advogados, é
obrigatória a inscrição na OA; podem, todavia, exercer a consulta jurídica juristas de
reconhecido mérito e os mestres/doutores em Direito, mediante um exame de aptidão.
A inscrição como advogado ou advogado estagiário deve ser feita tanto no conselho
geral, como no centro distrital da área do domicílio profissional escolhido; será pedida ao
respectivo conselho distrital. Da decisão deste órgão cabe recurso para o conselho geral
ou para o conselho superior, conforme haja recusa da inscrição preparatória ou da
inscrição nos quadros da Ordem. A inscrição como advogado estagiário deve ser
requerida pelos licenciados em cursos jurídicos por qualquer universidade portuguesa
oficialmente autorizada, ou por universidade estrangeira objecto de equiparação oficial.
A inscrição como advogado depende de estágio com classificação positiva; o estagio
de Doutores em ciências jurídicas com efectivo exercício da docência e de quem tenha
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exercido funções de magistrado judicial ou do MP com boas informações e por período
igual ou superiores ao do estagio está, porem, dispensado.
A prova da inscrição faz-se pela cédula profissional.
Compete ao Conselho geral regulamentar a inscrição como consultor jurídico.

Capitulo V
A capacidade para o exercício da advocacia
Incapacidades

O elenco taxativo das incapacidades para o exercício da advocacia que afectam o


individuo e o impedem de exercer a profissão e ate de se candidatar a tal exercício
consta do art. 181º/1/ a), b), c) e e), 3, 7 e 8 EOA.
A falta de idoneidade moral é verificada em processo próprio que segue os termos do
processo disciplinar e é decidido por maioria de 2/3 dos votos de todos os membros do
conselho competente.
As incapacidades supervenientes conduzem ao cancelamento da inscrição; é
instaurado, também, um processo de averiguação de inidoneidade (cuja situações se
encontram tipificadas). Normalmente não revela inidoneidade moral o facto delituoso
de pequena gravidade praticado por um jovem; não terá, contudo, idoneidade moral o
candidato à advocacia que conscientemente falte à verdade sobre os elementos
essenciais para a inscrição como advogado.

Capitulo VI
Actos próprios da profissão de advogado
A definição e enumeração dos actos próprios da profissão e o interesse publico da
advocacia

Apesar da lei determinar o que deve entender-se por actos próprios da profissão de
advogado, continua a verificar-se a atribuição de competências idênticas a entidades
diferentes e a inadmissível subtracção de tarefas ou funções exclusivas dos advogados.
Alem dos actos próprios da profissão, de mandato judicial, representação e assistência a
que a lei se refere, o advogado pode praticar ainda actos de simples procuradoria,
desde que não se dedique habitualmente a esses; dos actos de procuradoria podem os
advogados encarregar os seus empregados forenses.
Posto isto, mais do que uma enumeração taxativa dos actos próprios da profissão de
advogado, interessava obrigar a inscrição na OA o consultor jurídico e proibir o exercício
da consulta jurídica no interesse de terceiros e no âmbito de actividade profissional sem
inscrição na Ordem ou na Câmara dos Solicitadores. A noção de exercício da
advocacia deve referir-se, mais do que à enumeração das actividades do advogado,
ao interesse público da profissão exercida por advogado.

A base contratual do exercício da advocacia

Através da procuração, o advogado fica investido em poderes representativos do seu


constituinte; o exercício da advocacia assenta, portanto, numa base contratual com
uma regulamentação propria, uma vez que, quando seja obrigatória a constituição de
advogado, há actos que só podem ser praticados pelo mandatário judicial, não o
podendo ser pelo seu constituinte.

Limitações para o exercício da advocacia durante o estágio

O estágio tem a duração global mínima de dois anos e o primeiro período tem a
duração mínima de seis meses.
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Durante o segundo período de estágio, pode o advogado estagiário:
- Praticar actos da competência dos solicitadores;
- Exercer a advocacia em processos penais da competência do tribunal singular e em
crimes cuja pena máxima seja igual ao inferior a cinco anos de prisão ou quando o MP
entenda que não deve ser aplicada, em concreto, pena de prisão superior a esses cinco
anos;
- Exercer a advocacia em processos não penais cujo valor caiba na alçada dos tribunais
de 1ª instancia e ainda nos processos da competência dos tribunais de menores quanto
a menores e em processos de divórcio por mutuo consentimento;
- Dar consulta jurídica;
- Exercer a advocacia por nomeação oficiosa;

A pratica de actos próprios da advocacia por não advogados ou não advogados


estagiários – casos excepcionais em que tal é consentido

É obrigatória a constituição de advogado em:


- Causas de competência de tribunais com alçada, em que seja admissível recurso
ordinário;
- Causas em que seja admissível recurso, independentemente do valor;
- Recursos e nas causas propostas nos tribunais superiores;
A obrigatoriedade de constituição de advogado nos recursos refere-se apenas a acções
cíveis; essa obrigatoriedade, nas execuções, só é viável quando o valor exceda a
alçada da Relação e nas de valor inferior a essa quantia quando tenha lugar algum
procedimento que siga os termos do processo declarativo e seja reclamado algum
crédito de valor superior à alçada do tribunal da comarca.
Ainda que seja obrigatória a constituição de advogado, as partes podem fazer
requerimentos em que não se levantem questões de direito.
É, também, obrigatória a constituição de advogado em:
- Processos da competência dos tribunais administrativos;
- Causas cujo valor exceda o décuplo da alçada do tribunal tributário de 1ª instancia;
- Processos da competência dos tribunais centrais administrativos e do supremo tribunal
administrativo;
Se a parte não constituir advogado, sendo tal obrigatório, o tribunal fá-la notificar para o
constituir dentro de um certo prazo; se mesmo assim não houver constituição, o R. pode
ser absolvido da instancia, pode não ter seguimento o recurso ou pode ficar sem efeito a
defesa! A falta de procuração e a sua insuficiência ou irregularidade podem ser arguidas
pela parte contrária e suscitadas oficiosamente pelo tribunal; nesses casos, o juiz fixa um
prazo para que a falta seja suprida ou o vício corrigido e o processo seja ratificado. Findo
o prazo sem que esteja regularizada a situação, tudo o que tiver sido praticado pelo
mandatário fica sem efeito; o tribunal participará, ainda, a ocorrência ao conselho
distrital da OA.
Estando constituídos advogado e advogado estagiário e só subscrevendo o ultimo a
petição de uma acção em que é obrigatória a constituição de advogado ou um recurso,
o mandato é irregular; assim, o juiz deve mandar notificar pessoalmente a parte cuja
representação forense foi assumida pelo advogado estagiário para ratificar o
processado.
Por fim, note-se que se permite aos magistrados judiciais ou do MP a pratica de actos
próprios da advocacia desde que em causa propria, do seu cônjuge ou descendente.

Capitulo VII
Exercício da advocacia por estrangeiros – casos especiais dos advogados brasileiros e
da União Europeia
Exercício da advocacia por estrangeiros
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A regra geral quanto a esta matéria encontra-se elencada no art. 194º/1 EOA; “os
estrangeiros diplomados por qualquer faculdade de Direito de Portugal podem inscrever-
se na Ordem dos Advogados, nos mesmos termos dos portugueses se o seu pais
conceder igual regalia a estes últimos.”

Caso especial dos advogados brasileiros

Os advogados brasileiros, para se inscreverem na OA, não têm que ser diplomados por
qualquer faculdade de Direito de Portugal; o art. 194º/2 EOA consagra um regime de
reciprocidade, logo, os advogados portugueses ou brasileiros, portadores de diplomas
idóneos expedidos por estabelecimentos de ensino de Direito podem inscrever-se quer
na OA brasileira, quer na portuguesa. O requisito comum de inscrição em ambas as
Ordens é que o advogado tenha diploma com idoneidade bastante e haja feito um
estágio.
Apesar de tudo, no Brasil, pode-se fazer a inscrição sem estagio ou sem que o requerente
comprove que o fez satisfatoriamente e com resultados, desde que tenha feito o exame
de ordem.

Caso especial dos advogados da União Europeia

São reconhecidos em cada Estado-Membro da UE, na qualidade de advogados e como


tal autorizados a exercer a sua profissão, as pessoas que nos respectivos países estejam
autorizadas a exercer actividade profissional correspondente – Directiva 77/249/CEE e art.
196º EOA.

Exercício da advocacia por advogados da União Europeia com título profissional de


origem

Os advogados da UE podem exercer a sua actividade em Portugal com o seu título


profissional de origem expresso na respectiva língua oficial e com indicação do
organismo profissional a que pertencem ou da autoridade jurisdicional junto da qual
estejam autorizados a exercer a respectiva actividade profissional, nos termos da lei do
seu Estado de origem; não lhe é, portanto, possível usar em Portugal o título de
advogado. A sua actividade será exercida sob a forma de prestação ocasional de
serviços ou sob a forma de estabelecimento permanente; no primeiro caso não
necessário de estar inscrito na OA, mas a essa deve dar conhecimento da sua
actividade, ao passo que na segunda forma, o advogado tem que se sujeitar a registo
prévio na Ordem. Mais, os advogados da UE só podem exercer a representação e o
mandato judiciais sob a orientação de advogado inscrito na OA!
O registo dos advogados da UE estabelecidos permanentemente com o título profissional
de origem é efectuado mediante a exibição do título comprovativo do seu direito a
exercer a actividade no Estado-Membro de origem e junção de certidão comprovativa
da inscrição como advogado; nessa deve constar que a inscrição se encontra em vigor,
deve ter a declaração de idoneidade moral e o registo disciplinar.
Os advogados da UE que exerçam a sua actividade com o seu título profissional de
origem estão sujeitos às regras profissionais e deontológicas aplicáveis aos advogados
portugueses, sem prejuízo das regras do Estado de origem a que devam continuar a
sujeitar-se; encontram-se, ainda, sujeitos a sanções disciplinares aplicáveis a advogados
portugueses, devendo o respectivo processo disciplinar ser instruído em colaboração
com a Ordem ou o seu equivalente no Estado-Membro de origem.
A responsabilidade perante a OA é independente da responsabilidade face à
organização profissional do Estado de origem!!!

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Estatuto especifico e inscrição dos advogados da União Europeia estabelecidos
permanentemente com o título profissional de origem, mediante prévio registo
Nos termos da Directiva 98/5/CE, o estabelecimento permanente em Portugal dos
advogados da UE que pretendam exercer a sua actividade com o título profissional de
advogado, em plena igualdade de direitos e deveres com os advogados portugueses,
está sujeito a inscrição na OA que depende da realização de um exame de aptidão. O
direito a usar o título de advogado juntamente com o título profissional de origem exige,
porem:
- O exercício da profissão com o título de origem, pelo menos, por três anos no Estado-
Membro de acolhimento;
- Sujeição a avaliação, por via de entrevista, da efectividade e regularidade da
actividade exercida nesse Estado, se aqui estiver a exercer a sua profissão há menos de
três anos;
Face a isto, concluímos que estão dispensados de realizar o exame de aptidão os
advogados da UE que, estando registados na OA com estabelecimento permanente e
com título profissional de origem, provem ter exercido em Portugal, com o título de
origem, a sua actividade efectiva e regular no âmbito do direito interno português ou do
direito comunitário por um mínimo de três anos!!! Podem, também, ser dispensados do
exame de aptidão os advogados da UE que, não estejam cá há mais de três anos, mas
que demonstrem ter conhecimentos e experiência profissional suficiente para exercer a
profissão com a dignidade e a competência exigíveis aos advogados portugueses.
O regulamento de registo e inscrição dos advogados provenientes de outros Estados-
Membros da UE estabelecem como requisitos comuns do registo ou inscrição:
- Nacionalidade de um dos Estados-Membros da UE;
- Diploma académico que permita o exercício da profissão de advogado;
- Inscrição como advogado na Ordem ou em organização equivalente no seu Estado de
origem;
- Manter em Portugal um estabelecimento estável e permanente;
- Cumprir as obrigações previstas no regulamento, EOA e demais legislação da OA;
Para que se cumpra o propósito do registo ou da inscrição, o interessado deve requerer
ao presidente do conselho distrital da área onde pretende fixar o seu domicílio
profissional o registo ou a inscrição como advogado; deve apresentar os elementos supra
mencionados, mais os elementos vitais para a inscrição de portugueses na OA.
Verificado que seja que o interessado não reúne os requisitos do registo ou inscrição, o
requerimento é imediatamente indeferido; o requerente pode dele recorrer para o
conselho geral e, posteriormente, para os tribunais administrativos. A eventual dispensa
do exame de aptidão terá que ser necessariamente solicitada no próprio requerimento
de inscrição; todavia, nos casos de exercício por período inferior a três anos, o relator
poderá convidar o interessado a prestar os esclarecimentos ou especificações adicionais
que entenda necessários.
Estando registado na OA há mais de três anos, mas exercendo efectivamente há menos
tempo, o relator tomará em atenção a actividade profissional exercida, bem como
quaisquer conhecimentos e experiência profissional em matéria de direito interno
português alem de toda e qualquer participação em cursos de direito interno; feita essa
verificação e avaliando-se a capacidade para prosseguir a actividade no domínio do
direito interno português ou do direito comunitário, o relator emitirá uma decisão
favorável. Se, contudo, se verificar que o interessado não está nas condições necessárias
que permitam a dispensa de exame, então, designar-se-á hora e dia para que ele preste
provas; indeferindo-se totalmente o seu pedido, haverá recurso para o conselho geral e,
posteriormente, recurso contencioso para os tribunais administrativos.
Aos advogados registados emitir-se-á uma certidão probatória e aos inscritos uma
cédula profissional.

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Aos advogados da UE estabelecidos permanentemente com o título profissional de
origem deve ser assegurada uma representação apropriada nas instâncias profissionais
do Estado de acolhimento; assim, eles elegerão, entre si, um representante para o
congresso dos advogados portugueses, órgão esse encarregue de emitir
recomendações e de se pronunciar sobre matéria que seja da competência
regulamentar do conselho geral – arts. 45º/1/a), b) e d) e 27º/a) EOA.
Impõe a Directiva 98/5/CE que, para o exercício da profissão permanentemente com o
título profissional de origem, haverá inscrição junto da autoridade competente do
Estado-Membro de acolhimento; fica, pois, a co-existir ambas as inscrições e sendo
publicados os nomes dos advogados inscritos ao abrigo desta directiva. Mais, estes
advogados podem exercer a sua actividade na qualidade de assalariados de outro
advogado, se a legislação deste o permitir!

O direito de estabelecimento de advogados da União Europeia, mediante o


reconhecimento mutuo de diplomas, estagio de adaptação ou prova de aptidão e
inscrição

A Directiva 77/249/CEE do Conselho estatui que “serão necessárias medidas mais


elaboradas para facilitar o exercício do direito de estabelecimento” dos advogados da
UE. Por sua vez, a Directiva 89/48/CEE prevê que o regime de acesso às profissões por ela
abrangidas será objecto de uma regulamentação própria.
Nestes termos, para a efectivação do direito de estabelecimento de advogados
comunitários, através do reconhecimento mútuo de diplomas, o requerente deve
frequentar um estágio de adaptação ou, então, prestar prova de aptidão; todavia, a
OA entendeu que a melhor forma de provar os conhecimentos do requerente é a de o
sujeitar a um exame de aptidão. Para a dita prova de aptidão, as autoridades
competentes elaborarão uma lista de matérias que não estão abrangidas pelo diploma
apresentado pelo requerente; as demais regras dessa prova serão estabelecidas pelas
autoridades competentes do Estado-Membro de acolhimento.
Em Portugal, o júri do exame é constituído por cinco advogados com mais de dez anos
de inscrição, designados pelo conselho geral para o efeito; um desses membros do júri é,
necessariamente, o bastonário ou alguém por ele designado. O júri delibera por maioria
e não pode haver recurso das suas decisões. O interessado será admitido a prova oral,
desde que consiga resultados positivos na prova escrita.

O direito de estabelecimento como advogados no Estado-Membro de acolhimento de


cidadãos da UE diplomados nesse Estado nos mesmos termos dos seus nacionais
O actual art. 43º do Tratado da CEE é directamente aplicável, logo, a excepção à
liberdade de estabelecimento deve restringir-se às actividades previstas no art. 45º do
mesmo tratado, uma vez que essas comportam uma participação directa e especifica
no exercício da autoridade pública!

Livre prestação de serviços e direito de estabelecimento

A simples abertura de um escritório de advocacia em determinado Estado de


acolhimento não significa necessariamente que se esteja perante uma situação de
direito de estabelecimento; nada exclui que tal abertura se destine apenas à prestação
de actividades ocasionais. Considera-se que o estabelecimento deve pressupor uma
instalação estável e permanente ou uma deslocação periódica a um Estado-Membro,
para em determinado local, se prestarem serviços indeterminados, aos interessados que
aparecerem; a prestação de serviços ocasionais, por sua vez, pressupõe um acto
determinado a praticar em certo lapso de tempo ou num lapso de tempo previsível.

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Restrições ao direito de estabelecimento e à livre prestação de serviços

De acordo com o art. 46º/1 EOA, as disposições de tratados e de direito derivado não
prejudicarão a aplicação das disposições legislativas, regulamentares e administrativas
que prevejam um regime especial para os cidadãos estrangeiros e sejam justificadas por
razoes de ordem pública, segurança pública e de saúde pública.

Capitulo VIII
Exercício da advocacia por sociedades de advogados
Justificação legal das sociedades de advogados e da sua institucionalização

O regime jurídico das sociedades de advogados encontra-se no DL 229/2004 – art. 203º/3


EOA.
O objecto e o pacto das sociedades de advogados, o registo destas e a aquisição de
personalidade jurídica
O objecto exclusivo deste tipo de sociedades civis é o exercício em comum, por dois ou
mais advogados, da profissão de advogado com o intuito de repartirem entre si os
respectivos lucros. Geralmente, o pacto social basta-se com escrito particular onde
conste o nome e o número de inscrição dos sócios na OA, a firma, a sede, o montante
do capital social, o montante e natureza das participações, a declaração de realização
das entradas, o regime de repartição dos resultados, a forma de designação dos órgãos
sociais, os direitos especiais e o regime de responsabilidade por dívidas sociais;
exceptuam-se disto as sociedades em que haja entradas com bens imóveis.
O acto constitutivo da sociedade, apesar de tudo, só pode ser realizado após o projecto
de pacto social ser aprovado pela OA; essa aprovação competirá ao conselho geral
que, apesar de tudo, exerce um controle de mera legalidade. Se o conselho geral ou o
superior não se pronunciarem sobre a proposta em trinta dias, considera-se essa como
aprovada.
Quinze dias após a constituição da sociedade, deve ser apresentada ao conselho geral
da OA uma certidão do título de constituição; o acto será registado, em livro próprio, em
dez dias. Fica, ainda, sujeito a registo a fusão, cisão, a cessão, a amortização e a
extinção de sociedades, bem como a identificação de todos os advogados associados
cujos direitos e deveres devem constar do contrato de sociedade ou de planos de
carreira.
Após o dito registo, as sociedades adquirem personalidade jurídica.

Da recusa de registo cabe recurso para o conselho superior.

A OA deve comunicar à Direcção Geral da Administração da Justiça o registo de


sociedades.

A exclusividade tendencial da actividade profissional dos sócios

Os advogados apenas podem fazer parte de uma única sociedade de advogados e a


ela devem consagrar toda a sua actividade profissional; apesar disto, qualquer sócio,
com autorização dos demais, pode exercer, fora da sociedade, a actividade profissional
de advocacia.
O mandato conferido apenas a algum sócio de uma sociedade de advogados não se
considera automaticamente extensivo aos restantes, mas a procuração deve indicar
obrigatoriamente a sociedade profissional de que o advogado faz parte; ressalve-se,
ainda, que o poder se substabelecer o mandato está incluído nos poderes conferidos ao
mandatário.

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Nos termos do EOA e do Código deontológico da CCBE o advogado ou a sociedade de
advogados:
- Não pode aconselhar dois ou mais clientes num mesmo assunto, se existir um conflito ou
um risco sério de conflito entre os interesses desses clientes;
- Deve cessar de agir em representação de ambos os clientes quando surja um conflito
de interesses entre esses;
- Não deve aceitar um novo cliente se existir um risco sério de violação de segredo
profissional em relação a cliente anterior;

A firma e seu uso obrigatório

A firma deve conter a expressão “sociedade de advogados” ou deve individualizar


alguns deles e conter a expressão “e associados”; deve ainda mencionar o regime de
responsabilidade.
A firma e seus elementos têm que constar da correspondência e de todos os
documentos que emanem da sociedade e dos escritos profissionais dos sócios enquanto
actuem como tais.
É permitido o uso de denominações abreviadas e de logótipos.
A firma da sociedade pode ser mantida com o nome de ex-sócios desde que esses o
autorizem ou o seu nome haja prefigurado na firma por mais de vinte anos.

A obrigatoriedade de participações de industria e a possibilidade de participações de


capital – problemas suscitados por estas, sobretudo pelo valor da clientela

Todos os sócios participam na sociedade com indústria e todos ou alguns deles com
capital; as suas entradas, porem, nunca se podem realizar com o valor da clientela! As
participações de indústria não concorrem para a formação do capital social e
presumem-se iguais; nota-se, pois, que nas sociedades de advogados, a qualidade de
sócio emana da sua contribuição de indústria.
De acordo com o estatuído no art. 8º/2 DL 229/2004, a clientela levada por um
advogado à sociedade deve ter equivalência com uma compensação; posto isto,
entende-se que é necessário que a clientela levada por um advogado para a
sociedade deve ter um regime autónomo do das participações de capital e de indústria
e que a participação nos lucros não deve exceder uma certa percentagem e um certo
período de tempo.

Intransmissibilidade das participações de industria e sua liquidação

As participações de indústria são intransmissíveis e cessam sempre que o respectivo titular


deixe de fazer parte da sociedade; todavia, a transmissão da participação de capital
não implica a extinção da participação de indústria do respectivo sócio!
Cessando a participação de industria, o sócio ou os seus sucessores tem direito a receber
da sociedade uma importância equivalente à quota parte das reservas constituídas com
referencia ao período de tempo em que o sócio efectivamente exerceu a sua
actividade na sociedade e uma importância correspondente aos resultados do exercício
em curso, na proporção de tempo já decorrido desse exercício.
O valor das reservas de indústria é, não o valor do último balanço aprovado, mas o
respectivo valor real!

Transmissão limitada das participações de capital


Transmissão voluntária inter vivos

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As participações de capital podem ser transmitidas inter vivos, mediante cessão onerosa
ou gratuita; essa é livre entre os sócios, sem prejuízo do direito de preferência que uns
possuem em relação a outros. Para o exercício do direito de preferência, contudo, quem
ceda a sua participação deve informar os preferentes, por carta registada com aviso de
recepção, indicando os termos e as condições projectadas da cessão.
Os sócios não cessionários podem exercer o seu direito de preferência em quinze dias,
por qualquer um dos meios legalmente admissíveis. Se algum desses não exercer o seu
direito, a participação de capital pode ser cedida ao primitivo cessionário e àqueles na
proporção das respectivas posições sociais.
A cessão a terceiros só é admitida quando o cessionário seja advogado; depende de
autorização da sociedade e é concedida por deliberação unânime dos votos expressos
ou por maioria qualificada. Recebida do sócio a comunicação, a sociedade deve
comunicar ao sócio, em 45 dias, se consente ou não a cessão; nada dizendo, presume-
se consentida. No caso de recusa de autorização, pode o sócio exigir, em 15 dias, que a
sociedade proceda à amortização da sua participação de capital em seis meses, sob
pena de se considerar a mesma automaticamente extinta no termo daquele prazo,
vencendo-se as prestações a que o sócio tenha direito.
A amortização será feita pelo valor determinado no contrato de sociedade ou em
acordo escrito de todos os sócios; nada estando previsto quanto a isso, pelo valor
correspondente ao preço da projectada e não autorizada cessão, excepto se, em 30
dias, a sociedade comunicar ao sócio que não aceita tal preço como valor da
amortização; nestes casos extremos, o valor será fixado por uma comissão arbitral que
tenha em atenção o efeito que a saída do sócio vai provocar sobre a clientela da
sociedade. Não sendo a amortização da participação social acompanhada da
extinção da participação de industria, não tem lugar a saída do sócio nem uma possível
redução da clientela, logo, não se justifica encarar a dita clientela como relevante para
efeitos de amortização de participação social de capital!
Ao valor da amortização acrescentar-se-á a importância apurada nos termos do art.
13º/3 DL 229/2004. Mais, a amortização pode ser paga em prestações – art. 17º/9 do
mesmo DL.
É aplicável à cessão de participações de capital a título gratuito os arts. 15º, 16º e 17º;
nesses casos é o cedente que atribui um valor à participação para efeitos do direito de
preferência dos sócios não cessionários e da autorização ou recusa da cessão e
amortização da participação de capital.

Transmissão não voluntária inter vivos

De acordo com o disposto no art. 19º DL 229/2004, a sociedade pode amortizar a


participação de capital por transmissão não voluntária inter vivos, sendo essa realizada
pelo valor fixado pela comissão arbitral ou pelo pacto social. A deliberação para a
tomada de tal acto deve ser emitida em 60 dias; enquanto a sociedade não deliberar
essa amortização, não pode o adquirente ser considerado um sócio!
Quando a amortização seja obrigatória, a deliberação terá apenas por finalidade
desencadear formalmente a intervenção da comissão arbitral que deve fixar o valor da
participação, sempre que a sociedade não concordar com o valor da transmissão – art.
17º/ 4 a 9 DL 229/2004. A amortização será, porem, voluntária para os casos de
falecimento do sócio.

Extinção da participação de capital ou por transmissão mortis causa ou por cessação da


actividade

As participações de capital extinguem-se por morte do seu titular, tendo os herdeiros


direito a receber o respectivo valor (determinado de acordo com os critérios fixados no
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contrato de sociedade, por acordo entre a sociedade e herdeiros ou por comissão
arbitral); valor esse a que acrescerá a importância apurada nos termos do art. 13º/3 DL
229/2004. Ainda assim, por deliberação da assembleia-geral tomada por unanimidade
ou por maioria qualificada (não inferior a 2/3 dos votos expressos), pode a dita
sociedade consentir que as participações de capital se transmitam para os herdeiros que
sejam advogados; aí fixa-se, desde logo, as participações de indústria que a ela
correspondem. Mesmo nesta hipótese, os herdeiros nunca deixam de ter direito às
importâncias apuradas segundo o art. 13º/3.
Em casos de interdição, inabilitação ou cancelamento de inscrição, o valor das
participações de capital pertencem, ainda, ao sócio e não aos seus herdeiros, logo, só
pode ser atribuído a esses com o consentimento do sócio ou com o suprimento do seu
consentimento.

O regime da exoneração de sócio

Todos os sócios têm o direito de se exonerar da sociedade, se a sua duração não tiver
sido fixada no pacto social; já quando o prazo esteja fixado, o direito de exoneração só
pode ser exercido nas condições previstas no pacto ou com justa causa aceite pela
sociedade. Se a sociedade não aceitar a justificação de exoneração, então, essa só se
poderá exercer com autorização do tribunal.
Constitui justa causa de exoneração:
- Entrada de novos sócios, sempre que o sócio exonerado haja votado contra;
- Prorrogação da duração da sociedade;
- Justa causa de exclusão de outros sócios, se a sociedade não deliberar exclui-lo ou não
promover a sua exclusão judicial.
O sócio deve comunicar à sociedade a sua intenção e os motivos da exoneração, por
carta registada com aviso de recepção ou por notificação.
A exoneração, apesar de tudo, só se efectivará no fim do ano social em que é feita a
respectiva comunicação, mas nunca antes de decorridos 3 meses sobre a dita
comunicação; confere o direito à quantia que a sociedade acordar ou à que for fixada
pela comissão arbitral – arts. 17º/4 a 6 e 13º/3 DL 229/2004.

Os regimes da exclusão de sócio, da impossibilidade temporária do exercício da


profissão e da suspensão da inscrição de sócio como advogado

A exclusão de um sócio pode verificar-se nos casos previstos pelo pacto ou quando lhe
seja imputável violação grave das obrigações para com a sociedade ou dos deveres
deontológicos e ainda quando o sócio esteja impossibilitado ou deixe de prestar à
sociedade a sua participação de industria; é automática quando o sócio seja
disciplinarmente punido na OA com expulsão. Salvo os casos de automaticidade,
depende de voto favorável de ¾ partes dos sócios que exprimam ¾ dos votos apurado
ou de decisão judicial.
A exclusão confere direito à quantia que a sociedade acordar ou que a comissão
arbitral decidir.
Havendo impossibilidade temporária de exercício da profissão por motivo de saúde, o
sócio mantêm o direito aos resultados correspondentes à sua participação de capital e,
quanto aos resultados provenientes da sua participação de indústria, mantêm o direito a
eles durante 6 meses e a ½ deles nos 18 meses subsequentes até 2 anos; a sociedade
pode, contudo, proceder à amortização da participação de capital (pelo valor
acordado ou fixado pela comissão arbitral) sempre que a impossibilidade exceda os 30
meses. Este regime aplica-se, também, aos casos de suspensão da inscrição de sócio
como advogado, salvo quanto ao direito aos lucros correspondentes às participações
de indústria; o sócio só terá direito a esses por 6 meses!
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Atento o exposto, podemos concluir que a impossibilidade temporária ou a suspensão
da inscrição de sócio como advogado superior a 30 meses ou a condenação em pena
disciplinar de suspensão por infracção a deveres deontológicos, podem conduzir à
amortização de participações de capital com a normal extinção das participações de
indústria!!!

Responsabilidade dos sócios por dividas sociais e responsabilidade social por actos dos
sócios

Nas sociedades de advogados de responsabilidade limitada, a sociedade responde


pelas dívidas sociais; o seu capital social mínimo é de 50.000€. Já nas sociedades de
advogados de responsabilidade ilimitada, a responsabilidade é pessoal, limitada e
solidária; cada sócio responde pelas dívidas sociais na proporção em que participe nos
resultados. Apesar de tudo, a responsabilidade dos sócios é subsidiária, uma vez que os
credores só podem exigir deles o pagamento das dívidas sociais quando tenha havido
excussão do património social.
A sociedade responde solidariamente com o sócio pelos prejuízos decorrentes dos actos
profissionais do sócio no âmbito da actividade; tem, porem, direito de regresso contra o
sócio. Quer o sócio, quer a sociedade podem transferir para uma seguradora a
responsabilidade civil profissional; nas sociedades de responsabilidade limitada, porem, o
seguro é obrigatório e não pode ser inferior a 50% do valor da facturação da sociedade
no ano anterior (limite mínimo de 50.000€ e máximo de 5.000.000€).
Apesar desta ser a solução legal, não podemos defender que é a sociedade que exerce
a actividade profissional! Mais, nenhum advogado pode celebrar pactos de exclusão de
responsabilidade no sentido de exoneração absoluta!

Órgãos sociais: assembleia-geral e administração

Na falta de estipulação em contrario, todos os sócios tem igual poder para administrar a
sociedade; note-se, contudo, que o exercício dos poderes de administração devem ter
em atenção a independência do sócio, enquanto advogado, relativamente à prática
dos respectivos actos profissionais.
Só a assembleia-geral pode autorizar que os administradores sejam demandados pela
sociedade por factos praticados no exercício do cargo; ela reúne ordinariamente uma
vez por ano, até 3 meses após o encerramento do exercício anual. Mais, deliberará sobre
as contas sempre que seja convocada para tal. As contas das sociedades de
responsabilidade limitada são depositadas na OA.
À convocação e funcionamento das assembleias-gerais e ao conteúdo das suas
deliberações aplica-se os arts. 174º a 179º CC; todavia, as deliberações sobre mutações
ao pacto social e a dissolução ou prorrogação da sociedade, alem do quórum pessoal
(3/4 dos sócios na primeira convocatória) exige uma maioria absoluta dos votos
expressos. Cada sócio dispõe, pelo menos, de um voto (em função da sua proporção na
participação social e de industria), se bem que o pacto social possa conferir mais votos a
uns sócios do que os outros; os sócios ausentes podem mandatar, por mera carta, os
presentes.
As deliberações devem constar de acta assinada por todos os sócios; quem não assinar,
deve ser notificado, por carta registada com aviso de recepção, em oito dias, para o
fazer, sob pena da acta adquirir força probatória plena.

Divisão de resultados

Nos termos do art. 32º/2 DL 229/2004, a divisão dos resultados sociais pode não ser
proporcional ao valor das entradas; para tanto, o pacto social deve conter
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obrigatoriamente o modo de divisão dos ditos resultados – art. 7º/1/b). Os resultados
líquidos são, pois, atribuídos aos sócios de harmonia com o estabelecido no contrato
social ou em acordo escrito de todos os sócios e legitimado por deliberação tomada por
maioria de ¾ dos votos expressos.
A sociedade pode, também, atribuir mensalmente aos sócios uma importância fixa por
conta dos resultados a distribuir; apesar disso, todas as importâncias cobradas como
contraprestação da actividade profissional dos sócios e associados constituem receitas
da sociedade.

Fusão, cisão, dissolução, liquidação e partilha de sociedades


Fusão ou cisão de sociedades e sua dissolução por tais processos

É permitida a fusão de duas ou mais sociedades de advogados mediante a sua reunião


numa única sociedade, por transferência global de património de uma sociedade para
outra ou por constituição de uma nova sociedade.
A cisão de sociedade de advogados pode, também, acontecer; dá-se por destacação
de parte do património para constituição de uma nova sociedade, por dissolução e
divisão do património ou por destaque/dissolução de parte do património, dividindo-o
em duas ou mais partes para as fundir com sociedades de advogados já existentes.
Posto isto, notamos que, enquanto na fusão há sempre dissolução, na cisão nem sempre
isso ocorre!
O projecto de cisão tem que ser aprovado pela assembleia geral da sociedade cindida
e o de fusão ou cisão-fusão deve ser validado pela assembleia geral de cada uma das
sociedades participantes, por maioria de ¾ dos votos expressos, só podendo executar-se
as deliberações depois de obtido o consentimento dos sócios que percam direitos
especiais; o dito projecto é registado na Ordem e sujeito, por sua vez, a aprovação do
conselho geral.
Aprovada a fusão ou a cisão e decorridos que sejam 30 dias a contar do registo do
projecto, compete às administrações das sociedades participantes não só outorgar o
respectivo contrato (celebrado por forma escrita), como também promover o registo da
fusão ou cisão.

Dissolução imediata

Nos casos previstos na lei e no contrato, pelo decurso do prazo de duração fixado (se
não houver prorrogação), quando, em 6 meses, não se promova a reconstituição da
pluralidade de sócios, por deliberação social aprovada por unanimidade ou por
sentença que declare a insolvência, o conselho geral da Ordem deve decretar a
dissolução imediata da sociedade; mais, promoverá o registo e notificará os sócios da
sua decisão.
A dissolução deve ser registada em 15 dias a contar do título em que é reconhecida e
produz efeitos após o registo.

Dissolução por sentença judicial

Esta forma de dissolução da sociedade pode ser requerida pelos sócios, credores ou pela
OA (representada pelo bastonário) no prazo de 6 meses a contar da data em que o
requerente tomou conhecimento do facto que fundamenta a dissolução, mas não
depois de decorridos 2 anos (excepção para o bastonário). O fundamento pode pedido
pode ser:
- Facto previsto na lei ou no contrato;
- Impedimento de exercício da actividade, por decisão de órgão da OA;
- Não exercício de qualquer tipo de actividade por 2 anos consecutivos;
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Os sócios podem, também, deliberar a dissolução da sociedade; a decisão será tomada
por maioria de ¾ dos votos expressos, em assembleia-geral reunida para o efeito. Neste
caso, a dissolução só produzirá efeitos após o registo; esse deve ser promovido em 15
dias.

Exercício da advocacia pelos sócios

Dissolvida a sociedade, deve-se promover a liquidação do património; essa função será


levada a cabo pelos administradores, excepto se o contrato social dita outra coisa, se
houver deliberação social noutro sentido ou se algo diferente constar em acordo
assinado por todos os sócios.
São funções do liquidatário:
- Ultimar negócios pendentes;
- Cobrar créditos da sociedade;
- Alienar bens;
- Pagar aos credores sociais;
- Propor a forma de partilha do remanescente do activo social. Extintas as dívidas sociais,
esse remanescente destina-se ao reembolso de entradas de capital pelo valor que
tinham à data da sua realização e à divisão pelos demais sócios na proporção que lhes
caiba nos lucros.
Não tendo à data de dissolução divida, podem os sócios proceder imediatamente à
partilha do activo social.

Referência às sociedades multidisciplinares e multinacionais


Sociedades multidisciplinares

São disposições legais imperativas as que regulam o exercício de certas profissões com o
fim de garantir o público contra a inidoneidade de quem as exerce e que a sua violação
acarreta a nulidade – arts. 280º/2 e 294º CC; por isto, Vaz Serra entende que é proibida
por lei uma sociedade entre duas pessoas que exercem profissões regulamentadas
diferentemente quando a pratica de uma permite procurar clientela à outra. È nessa
esteira que surge o art. 203º/3 EOA e o art. 6º/1 L 49/2004; aí se dispõe que não é
permitido às sociedades de advogados exercer directa ou indirectamente a sua
actividade em qualquer tipo de associação ou integração com outras profissões cujo
objecto social não seja o exercício exclusivo da advocacia e o funcionamento de
escritórios de procuradoria judicial ou similares.
Do exposto resulta, portanto, a exclusão da proibição dos gabinetes formados
exclusivamente por advogados ou solicitadores e as sociedades de advogados

Sociedades multinacionais de advogados

O ingresso de Portugal em comunidades jurídicas como a CEE tornou premente a


necessidade de colaboração entre advogados portugueses de diversas especializações
e, assim, impôs-se o exercício da advocacia em equipa; todavia, a diversidade de
estruturas jurídicas e as diferenças entre legislações nacionais constituem obstáculos
jurídicos intransponíveis para o estabelecimento de estruturas de exercício em grupo fora
do seu país de origem. Criou-se, desse modo, a posição comum CE 35/97 que pretendeu
facilitar o exercício permanente da profissão de advogado num Estado-Membro
dissemelhante daquele em que foi adquirida a qualificação profissional.
Em Portugal, os advogados da UE que, no respectivo Estado, sejam membros de uma
sociedade de advogados podem exercer a sua actividade no nosso pais com o título
profissional de origem no âmbito de uma sucursal ou agencia dessa sociedade; para
tanto tem, contudo, que dar prévio conhecimento à OA e a sociedade terá que ser
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objecto de registo e de consequente verificação da compatibilidade dos seus estatutos
com os da Ordem e com o regime das sociedades civis de advogados. Mais, a Directiva
98/5/CE impõe, ainda, que os Estados-Membros deverão permitir a dois ou mais
advogados provenientes do mesmo grupo ou do mesmo Estado de origem o acesso a
uma forma de exercício em grupo.
Ressalve-se, contudo, que os advogados da UE não podem exercer a sua actividade em
Portugal em nome de sociedades ou de quaisquer outros grupos de profissionais que
incluam pessoas que não detenham o título profissional de advogado ou que por
qualquer outra forma incorram em violação do art. 6º L 49/2004.

Em relação a agrupamentos europeus de interesses económicos, o DL 229/2004 previu e


regulou, entre outras formas de associação de sociedades de advogados, o consórcio e
o ACE quando essas exerçam, em exclusivo, a actividade de advocacia.

Capitulo IX
O consultor jurídico e os problemas suscitados pela não obrigatoriedade da sua inscrição
na Ordem no anterior regime legal

A necessidade de se reatar a tradição rompida no EOA

Não obstante os arts. 68º, 76º EOA e 112º CT preceituarem que o contrato de trabalho
celebrado pelo advogado não pode afectar a sua plena isenção e independência
técnica perante a entidade patronal, nem violar o EOA, a verdade é que, se os
consultores jurídicos não estiverem inscritos, não estão submetidos à autoridade e à
disciplina dos órgãos profissionais nem poderão ver asseguradas as suas garantias ou
prerrogativas. Mais, o conselho dado pelo advogado ao seu cliente não tem qualquer
valor se for dado por complacência, para servir interesses pessoais ou em resultado de
pressões exteriores.
O consultor jurídico, dispensado pelo EOA de se inscrever na OA, se exercesse a consulta
jurídica como funcionário publico ou me regime de contrato de trabalho subordinado,
estava à margem de intervenção da OA; interessava, pois, torna-lo novamente em
advogado, embora com impedimento de exercício de outros actos próprios da profissão
de advogado que não o de dar consulta jurídica. Em virtude disso, na L49/2004 passou-se
a sujeitar a actividade de consulta jurídica à inscrição na Ordem; assim,
quotidianamente, só poderão dar consulta jurídica, sob pena do crime de procuradoria
ilícita, os notários, os solicitares de execução, os liquidatários judiciais e os organismos
públicos.

Capitulo X
Incompatibilidades e impedimentos para o exercício da advocacia

A defesa da independência e da dignidade da profissão e as incapacidades, as


incompatibilidades e os impedimentos para o exercício da advocacia

Os advogados estão impedidos de praticar actos profissionais, junto de entidades


públicas ou privadas, onde desempenhem ou tenham desempenhado funções cujo
exercício possa suscitar uma incompatibilidade, se aqueles actos entrarem em conflito
com regras deontológicas.
Os impedimentos relativos só impedem o exercício da advocacia, de todos os actos de
advocacia, não obstante a letra da lei se referir apenas ao patrocínio de acções
pecuniárias e impor uma interpretação extensiva, relativamente a certas pessoas por
causa de certa função ou de certa dependência do advogado relativamente a tais
pessoas, ou que impedem apenas o exercício do mandato judicial pelo facto do
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advogado viver em economia comum ou ser cônjuge, parente ou afim na linha recta ou
até 2º grau da linha colateral do juiz da comarca ou do juiz que, em virtude da
distribuição, haja de intervir no julgamento da causa. Defende-se, pois, a independência
e a dignidade da profissão.
De acordo com o disposto no art. 76º EOA, o exercício da advocacia é incompatível
com qualquer actividade que possa afectar a independência ou a dignidade da
profissão; deve, portanto, ser interpretado como se dissesse que o exercício da
advocacia é absoluta ou relativamente incompatível com qualquer actividade, cargo
ou função que diminua a independência e a dignidade da profissão de advogado.

Incompatibilidades do artigo 77º do EOA como enumeração exemplificativa e não


taxativa

Dos arts. 76º e 77º EOA resulta que as incompatibilidades estão enumeradas a título
meramente exemplificativo; elas estão previstas na lei como excepções à regra
constitucional da liberdade de trabalho e de exercício de uma profissão. Ora, se as
normas excepcionais não comportam uma aplicação analógica admitem, porem uma
interpretação extensiva, logo, as normas sobre as incompatibilidades devem ser
interpretadas desse modo quando possa concluir-se com segurança que o legislador
disse menos do que o que previu.
O art. 76º EOA impõe que não sejam inscritos ou sejam suspensos do exercício da
advocacia todos aqueles que, pela profissão que já exercem ou pelas funções que
passaram a desempenhar, não possam objectivamente respeitar os valores daqueles
artigos.
Atento o exposto, resulta que o EOA tentou acautelar que o exercício da profissão de
advogado se fará sem a acumulação com outras funções que são capazes de levantar
duvidas quanto à simples possibilidade de ser mantida a fidelidade aos princípios éticos
basilares da profissão. Se a regra deve ser a liberdade de exercício de qualquer profissão
é útil que as limitações a essa liberdade sejam previstas de um modo tão exaustivo
quanto possível.

Os impedimentos absolutos ou incompatibilidades – art. 77º EOA

A passagem de um funcionário a qualquer uma das situações referidas na alínea b) faz


morrer a incompatibilidade, mas pode dar azo a um impedimento – art. 78º/2 EOA.
Constitui excepção às incompatibilidades previstas no 77º/1 a contratação em regime
de prestação de serviços para um cargo, função ou actividade que noutro regime
diferente deste seria incompatível – art. 77º/2/d).
O art. 80º EOA trata autonomamente da incompatibilidade entre a inscrição na OA e na
Câmara dos Solicitadores, excepto na primeira etapa do estagio.
Apenas a OA pode apreciar e decidir sobre a existência e alcance das
incompatibilidades; para esse efeito, os advogados e os advogados estagiários tem que
prestar ao conselho distrital ou ao conselho geral as informações necessárias, em 30 dias,
sob pena do conselho geral poder deliberar a suspensão da inscrição. Ocorrendo
incompatibilidade superveniente, deve o advogado suspender imediatamente o
exercício da profissão e requerer, no prazo máximo de 30 dias, a suspensão da inscrição;
havendo incompatibilidade, a inscrição como advogado estagiário não impede a
recusa de inscrição como advogado.

Definição das incompatibilidades previstas no art. 77º/1/ j) e l), 3 e 4 EOA e a orientação


da Ordem dos Advogados a este respeito

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O EOA, quanto às incompatibilidades, refere-se sempre à actividade ou à função
abstractamente exercida e não às tarefas ou actividades efectivamente desenvolvidas –
arts. 76º/2 e 77º/1 EOA; deste modo, o que releva é a actividade ou a função de
funcionário ou agente que, em abstracto, diminua a independência ou a dignidade da
profissão de advogado.
Em virtude disto, o Conselho Geral da OA entendeu, sobre o alcance do art. 77º//j) e l),
que a incompatibilidade aí prevista resulta da existência do estatuto de funcionário ou
agente e abrange todos os indivíduos que, por qualquer título, exerçam actividade ao
serviço das pessoas colectivas publicas, sob a orientação dos respectivos órgãos; a
incompatibilidade só existirá, então, após a tomada de posse. Mais, nestas alíneas
abrangem-se, também, os administradores, directores, funcionários e agentes dos
serviços públicos que integram a administração estadual directa e indirecta e da
administração autónoma.
Como excepção às incompatibilidades das alíneas j) e l) prevê-se, no art. 77º/3 e no
181º/2, que é permitido o exercício da advocacia a essas pessoas quando esta seja
prestada em regime de subordinação e em exclusividade, ao serviço de quaisquer das
entidades previstas nas referidas alíneas, sem prejuízo do disposto no art. 81º EOA.
Situação diferente é aquela que é propagada pelo art. 77º/4 EOA; aí permite-se aos
funcionários, agentes ou contratados e a membros de órgãos de administração,
executivos ou directores com poderes de representação orgânica de quaisquer serviços
públicos exercer a advocacia quando providos em cargos de entidades ou estruturas
com carácter temporário, sem exclusividade.
Posto isto, concluímos que, afinal, o EOA criou um impedimento para o consultor
funcionário público, inibindo-o da prática de todos os actos jurídicos em relação a todas
as pessoas à excepção do seu serviço público, para o qual pode praticar todos os actos
próprios de advogado, em regime de subordinação e exclusividade, a não ser quando
seja provido em cargos de entidades ou estruturas com carácter temporário.

A docência e a declaração de inconstitucionalidade do art. 69º/1/i) do anterior EOA

O acórdão 143/85 de 30 de Julho do TC, declarou a inconstitucionalidade com força


obrigatória geral do art. 69º/1/i) EOA, na parte em que considera incompatível com o
exercício da advocacia a função docente de disciplinas que não sejam de Direito; não
existe qualquer razão para diferenciar, no âmbito do pessoal docente público, entre os
que leccionam disciplinas de Direito e os demais.

O exercício da advocacia por notários e conservadores – art. 77º/1/h) EOA

Nos termos do novo EOA, o exercício de funções de conservador ou de notário é


incompatível com a advocacia; assim, quais são os notários ou conservadores que
actualmente podem advogar e quais as restrições que lhes são impostas?
Actualmente, só podem advogar os conservadores com direitos legalmente adquiridos
ao abrigo do DL 445/80, do qual resulta que só o poderão fazer na comarca a que
pertença a localidade da sede dos respectivos lugares; esta restrição, todavia, não
abrange a intervenção em cartas precatórias emanadas de processos que corram
termos nas comarcas em que lhes é permitida a advocacia, a intervenção em recursos
para os tribunais superiores e as intervenções, fora da comarca, nos actos de processo
praticados em 1ª instancia que não exijam a intervenção de advogado e em que não se
levantem questões de direito.

Os impedimentos legais – art. 78º EOA

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Quanto aos deputados, não está de fora do supra citado art. todo o contencioso
administrativo, designadamente os recursos directos de anulação e as acções
administrativas. Já quanto aos vereadores, impedidos de exercer o mandato judicial nas
acções em que sejam partes os respectivos municípios, também eles deveriam estar
abrangidos pela incompatibilidade absoluta e não meramente a relativa!!!

Capitulo XI
Exercício da advocacia e ilícito criminal e disciplinar

Ilícito criminal

Constitui ilícito criminal o exercício da advocacia ou só da consulta jurídica por quem


não esteja habilitado por não estar inscrito ou por ter suspensa ou cancelada a sua
inscrição; o procedimento criminal, contudo, depende de queixa levada a cabo pelo
lesado, pela OA ou pela Câmara dos Solicitadores (que podem, também, constituir-se
assistentes).
O despacho do juiz a inibir de continuar a intervir na lide quem não está inscrito na OA
deve acautelar danos irreparáveis dos interesses das partes, nomeando, desde logo,
advogado oficioso que represente os interessados até que estes provejam mandatário;
se findo o prazo para o fazer e tratando-se de processo-crime, o arguido não constituir
advogado, a instância suspende-se ou o processo arquiva-se (em casos de crimes
particulares). Não poderá, pois, haver aproveitamento dos actos anteriormente
praticados; esses são nulos!!!
Os magistrados, conservadores, notários e os responsáveis pelas repartições públicas
devem comunicar à OA qualquer facto que indicie ilícito criminal no exercício da
advocacia.

Escritório de procuradoria ilícita

É proibido o funcionamento de escritório de procuradoria ou de consulta jurídica,


considerando-se como tal qualquer escritório ou gabinete (constituído sob qualquer
forma jurídica) que preste a terceiros serviços que compreendam a prática de actos
próprios de advogados ou de solicitadores; exceptuam-se, porem, desta proibição os
escritórios ou gabinetes compostos exclusivamente por advogados ou solicitadores ou
por sociedades de advogados ou de solicitadores e os gabinetes de consulta jurídica
organizados pela OA e pela Câmara dos Solicitadores.
Face a isto, os escritórios de procuradoria judicial ou similares proibidos na lei são todos
aqueles em que , sob qualquer denominação, se pratiquem quaisquer actos de
advocacia ou de solicitadoria ou se aceite a representação de clientes ou consulentes
perante quaisquer tribunais ou repartições públicas, independentemente da forma de
remuneração dos respectivos serviços, desde que esses não estejam efectivamente
dirigidos por advogados ou solicitadores. Mais, é por causa disto que as sociedades cujo
objecto é a prática de actos próprios da profissão de advogado e cujos sócios não
estejam todos inscritos na OA são nulas, por contrarias à ordem pública ou tão só à
própria lei.
A violação da proibição determina o encerramento do escritório pelas autoridades
judiciais a requerimento da OA ou da Câmara dos Solicitadores.
Não ficam, todavia, abrangidos pela proibição legal os serviços de contencioso e
consulta jurídica mantidos pelos sindicatos, associações patronais ou outras entidades
sem fins lucrativos que requeiram o estatuto de utilidade publica, desde que os actos
praticados sejam individualmente exercidos por advogado, advogado estagiário ou
solicitador; esses gabinetes, porem, não podem dar consultas aos sócios sobre matéria
que extrapolem o seu normal âmbito de actuação!!!!
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É dever do advogado não solicitar ou angariar clientes por si nem por interposta pessoa!!!!

Ilícito disciplinar

O exercício da advocacia ou da consulta jurídica por quem tenha a sua inscrição em


vigor, mas esteja em situação de incompatibilidade, gera um ilícito disciplinar; o mesmo
se passará quando o advogado estagiário exerça mandato para alem da sua
competência específica. Quando conheçam o ilícito, os tribunais e quaisquer outras
entidades devem dar conhecimento à Ordem da dita infracção.
Havendo exercício da advocacia com infracção de deveres processuais, os magistrados
têm legitimidade para comunicar à OA os desmandos dos advogados ou dos
advogados estagiários; mais, da decisão que retire a palavra ou ordene a saída do local
em que o acto se realiza, ao mandatário cabe agravo com efeito suspensivo. Já nos
casos de litigância de má fé com responsabilidade pessoal do advogado, exige-se que
ele tenha agido com intenção maliciosa e não com simples culpa; provando-se isso, dar-
se-á conhecimento à OA para que esta aplique as sanções respectivas e condene o
mandatário na quota parte das custas, multa e indemnização que lhe parecer justa. Em
situações de não restituição, no prazo estabelecido, de processo confiado, não haverá
lugar a procedimento disciplinar sempre que o advogado demonstre perante a Ordem
que só por equivoca na contagem do prazo deixou de fazer a restituição a tempo.

Capitulo XII
Trajo profissional do advogado

O uso da toga como direito e dever do advogado e o direito de usar os outros acessórios
do trajo – regulamento do trajo e da insígnia profissional

É obrigatório para os advogados e advogados estagiários, quando pleitem oralmente, o


uso da toga, cujo modelo é o fixado pelo Conselho Geral; a toga é de cor preta. O uso
do barrete e da insígnia é facultativo!
É dever do advogado e do advogado estagiário, sob pena de procedimento disciplinar,
o de velar pela completa compostura e asseio do trajo profissional.
Os magistrados usam beca e os funcionários de justiça capa.

O trajo profissional do advogado e o código de deontologia do CCBE

Esta matéria encontra-se regulada no art. 199º EOA.

Capitulo XIII
Informação e publicidade do advogado
Sua objectividade, verdade e dignidade

O advogado e a sociedade de advogados podem divulgar a sua actividade profissional


de forma objectiva, verdadeira e digna, com cumprimento dos deveres deontológicos,
do segredo profissional e das normas legais sobre publicidade e concorrência; entende-
se por informação objectiva e actos lícitos de publicidade o que é expresso no art. 89º/2
e 3 EOA; é, também, licita a publicidade do advogado na consulta jurídica ou no
consultório jurídico, com a identificação dos advogados participantes. São actos ilícitos
de publicidade os contidos no art.89º/4 EOA.
O princípio da proibição da publicidade tem por fim evitar que os advogados recrutem
clientes como os comerciantes ou industriais.

A publicidade do advogado e o exercício especializado da advocacia


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A publicidade do advogado está intimamente ligada à sua especialização; assim, o
advogado pode divulgar o seu curriculum profissional e fazer referências à
especialização (quando reconhecida pela OA).
O título da especialidade é atribuído, mediante requerimento, a advogado com mais de
cinco anos de exercício da profissão e que possua título de doutor; esse requerimento é
dirigido ao conselho geral para efeitos de apreciação que, se for negativa deve ser
fundamentada e da qual cabe recurso para o conselho superior. Havendo dúvidas na
atribuição do título, o requerente deve prestar prova publica complementar perante um
júri de três advogados; a deliberação do júri é submetida à decisão do bastonário. O
título de especialista é valido por 5 anos, findos os quais, eles deve sujeitar-se a
confirmação, sob pena de caducidade.
São especialidades reconhecidas:
- Direito administrativo;
- Direito fiscal;
- Direito do trabalho;
- Direito financeiro;
- Direito europeu e da concorrência;
- Direito da propriedade industrial;
- Direito constitucional.

O título pode ser atribuído a juristas de reconhecido mérito que exerçam publica
actividade de consulta e de consulta e ensino, por período superior a 5 anos e que
tenham publicado trabalhos de relevante interesse na área da especialidade, bem
como não se encontrem em situação de incompatibilidade para o exercício da profissão.

A publicidade do advogado no código deontológico do CCBE – Alterações no sentido de


ser mais permitida

O ponto 2.6 do Código do CCBE proibia qualquer publicidade pessoal sempre que esta
fosse proibida e só a permitia dentro dos limites admitidos pela Ordem a que o
advogado pertencesse.

O advogado e a discussão publica de questões pendentes perante quaisquer órgãos do


Estado

O advogado não deve pronunciar-se publicamente na imprensa ou noutros meios de


comunicação social sobre questões pendentes ou a instaurar perante os tribunais ou
outros órgãos do Estado salvo:
- Urgência das circunstancias; mesmo assim, o advogado deve comunicar o facto e o
teor das declarações, em 5 dias, ao presidente do conselho distrital.
- Autorização do presidente do conselho distrital, com recurso para o bastonário quando
a permissão seja negada.
Esta é a solução legal porque o advogado não deve influenciar a solução de questões
pendentes em órgãos do Estado através da sua discussão pública!

Capitulo XIV
Prerrogativas do advogado
Das garantias em geral

Aos advogados também são reconhecidos alguns direitos; na verdade, tratam-se antes
de garantias ou prerrogativas no exercício da profissão. Encontram-se, por exemplo,
elencadas nos arts. 208º Constituição da República Portuguesa, 6º e 14º LOFTJ; o EOA
trata, ainda, destas matérias.
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Entre as atribuições da OA encontra-se a de zelar pela função social, dignidade e
prestigio da profissão, bem como a de promoção do respeito pelos princípio
deontológicos, a defesa dos direitos, interesses e imunidades dos seus membros e a de
exercer jurisdição disciplinar exclusiva sobre os advogados e advogados estagiários; mais,
só advogados e advogados estagiários com inscrição em vigor na Ordem podem
praticar actos próprios de advogado – arts. 3º e 61º/1 EOA.
O EOA encarrega-se, contudo, de mais algumas tarefas; de entre essas destacam-se a/o:
- Defesa da livre escolha do mandatário;
- Zelo pela garantia da discricionariedade técnica do advogado;
- Garantia do direito a honorários;
- Direito ao segredo profissional;
- Manutenção da disciplina dos actos processuais (arts. 32º a 44º, 154º, 266º-B, 459º CPC e
63º a 67º, 70º e 326º CPP);
- Tratamento compatível com a dignidade da profissão; é uma contrapartida do direito
que todos têm de exigir do advogado o dever de urbanidade;
- Direito a bancada propria e a falar sentado;
- Defesa de condições adequadas para o cabal desempenho do mandato;

Direitos e garantias perante a Ordem dos Advogados

Os advogados têm o direito de requerer a intervenção da OA para defesa dos seus


direitos ou dos legítimos interesses da classe; a intervenção de tal organismo é promovida
com o intuito deste exercer as suas atribuições de defesa do Estado e dos direitos e
garantias individuais, bem como colaborar com a Justiça. O advogado tem mesmo o
dever de exigir que a Ordem exerça as suas atribuições perante factos ou situações que
lesem os seus direitos ou os da classe; pode, também, chama-la a intervir quando haja
uma violação dos direitos humanos ou arbitrariedades.
A OA pode exercer os direitos de assistente ou conceder patrocínio em processos de
qualquer natureza. Ao advogado demandado ou demandante por assuntos relativos ao
exercício da profissão, deve a Ordem provir pelo patrocínio, a instâncias do bastonário. É,
contudo, o conselho geral que tem competência para prestar patrocínio aos advogados
que hajam sido ofendidos no exercício da sua profissão ou por causa dela, quando para
isso haja sido solicitado pelo respectivo conselho distrital.
É da competência do conselho distrital assegurar o respeito dos direitos dos advogados.
Conclui-se, assim, que a deliberação de concessão de patrocínio ou de constituição de
assistente ou de ambas num mesmo assunto é apenas da competência do conselho
geral quando não se trate de membros ou de ex-membros do conselho superior ou geral
e sob promoção do bastonário.

O direito à protecção do escritório e à preservação do sigilo da documentação relativa


ao exercício da defesa

A imposição se selos, arrolamentos, buscas e diligencias equivalentes no escritório de


advogado ou em qualquer outro local onde faça arquivo, bem como a interceptação e
a gravação de conversações e comunicações, só podem ser decretados e presididos
pelo juiz competente; não se verificando isso, há nulidade – arts. 118º/1, 177º/3, 180º/1,
268º/1/c) e 201º/1 CPP. O juiz que decrete tal providência deve convocar o advogado a
ela sujeito para assistir; o presidente do conselho distrital, o presidente da delegação ou
qualquer membro desses órgãos, designados para o efeito, devem, também, estar
presentes.
A falta de convocatória do representante da OA ou a convocatória do presidente do
conselho distrital para uma diligência na área de uma comarca que não seja a da sede

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do distrito constitui uma nulidade; já a falta de convocatória do advogado consagra
uma mera irregularidade – arts. 118º/2, 123º, 177º/3, 180º/1 CPP e 70º/2 EOA.
Na falta de comparência do representante da OA ou havendo urgência incompatível, o
juiz deve nomear um qualquer advogado para presenciar imediatamente o acto; se não
o fizer registar-se-á uma nulidade! À diligência são, ainda, admitidos familiares ou
empregados do advogado. Devem-se tomar todas e quaisquer providências que evitem
o extravio de papéis e objectos; nunca pode ser apreendida correspondência que
respeite ao exercício da profissão, salvo se essa se referir a facto criminoso relativamente
ao qual o advogado seja arguido. É, portanto, proibida, sob pena de nulidade, a
apreensão e qualquer outra forma de controlo da correspondência entre o arguido e o
seu defensor, excepto se o juiz desconfiar que essa constitui objecto ou elemento de um
crime – arts. 179º/2 CPP, 32º/8 Constituição da República Portuguesa e 126º/1 e 3 CPP; as
provas obtidas com violação desta obrigação nunca poderão ser usadas pois padecem
de uma nulidade insanável!
No decurso da diligência pode o advogado interessado e o representante da OA
apresentar reclamação; se essa versar sobre o segredo profissional, o juiz deve, de
imediato, sobrestar na diligência. A reclamação tem, então, um efeito suspensivo quer
do andamento do processo, quer da do acto; tem que ser fundamentada em 5 dias e
entregue no tribunal onde corre o processo para que o juiz a remeta (com o seu parecer)
para o presidente da Relação. A Relação pode desselar volumes, mas deve devolve-los,
com a decisão, selados – arts. 72º/3 e 4 EOA e 182º/2 CPP.

O direito à especial protecção das comunicações com o cliente

Os advogados têm o direito de comunica, pessoal e reservadamente, com os seus


patrocinados, mesmo quando se achem presos ou detidos em estabelecimento civil ou
militar; não é legitimo restringir-se ao defensor o direito de comunicação. Não se excluem
deste direito, como é óbvio, nem os assistentes, nem os demandados ou demandantes.

O exercício da profissão sem exibição de procuração, com prioridade de atendimento e


com direito de ingresso nas secretarias judiciais

O advogado pode solicitar em qualquer tribunal ou repartição pública o exame de


processos, livros ou documentos que não tenham carácter reservado ou secreto; podem,
também, requerer a passagem de certidões, sem necessidade de exibir procuração.
Tem conteúdo reservado os processos cíveis em que a divulgação do seu conteúdo
possa causar dano à dignidade das pessoas, à intimidade da vida privada ou familiar, à
moral publica ou por em causa a eficácia da decisão a proferir; a estes apenas podem
ter acesso as partes e os seus mandatários. Os processos findos podem ser confiados
para exame fora da secretaria; pode tal mecanismo ser requerido por qualquer pessoa
capaz de exercer o mandato judicial; quando os processos não sejam findos, só pode
requerer a sua confiança: os mandatários judiciais constituídos pelas partes, os
magistrados do MP e os patronos oficiosos. Em caso de falta de restituição do processo
dentro do prazo e sem que haja justificação para tal, a pessoa a quem a confiança foi
concedida será condenada a multa (máximo de 10 UC’s); se mesmo depois de
notificada para tanto, em 5 dias, não restituir o processo poderá ser condenada até 20
UC’s, gerar-se-á um processo por crime de desobediência e o processo será apreendido.
Quanto à passagem de certidões de processos cíveis, a secretaria tem o dever de o
fazer, sem precedência de despacho, quando lhes sejam requeridas pelas partes ou por
quem possa exercer o mandato.
O processo penal, por sua vez, é publico, sob pena de nulidade, a partir da decisão
instrutória ou do momento em que essa já não puder ser requerida ou a partir do
recebimento de requerimento de abertura de instrução pelo arguido e se este não se
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opuser à publicidade; nos demais casos, o processo penal é secreto ou reservado e, por
conseguinte, só poderá ser consultado por quem exiba procuração.
Os advogados, no exercício da sua profissão, têm preferência para serem atendidos por
quaisquer funcionários a quem devam dirigir-se e têm o direito de ingresso nas secretarias
judiciais.

O direito ao livre exercício do patrocínio e o direito de protesto

No decorrer da audiência ou de diligência em que intervenha, o advogado deve ser


admitido a requerer, no momento em que considerar oportuno, o que julgar conveniente
ao dever de patrocínio – arts. 6º/2, 114º/3 LOFTJ e 75º/1 EOA. Quando não lhe for
concedida palavra ou o requerimento não for exarado em acta, pode o advogado
exercer o direito de protesto, indicando a matéria do requerimento e o objecto que tinha
em vista; o direito de protesto é, portanto, uma consequência de ao advogado não ter
sido dada palavra para requerer o que tivesse por conveniente.
O direito de protesto só se considera bem exercido e de forma a produzir efeitos quando
indique a matéria do requerimento que não foi autorizado ou que não foi exarado em
acta e o objecto que tinha em vista; não pode, pois, deixar de constar de acta e é
havido, para todos os efeitos, como arguição de nulidade – arts. 205º CPC, 120º/3/a),
123º e 362º/2 CPP!!!
Se bem que o protesto não possa deixar de constar de acta, se nem para o protesto for
concedida a palavra é aconselhável entregar imediatamente protesto escrito na
secretaria judicial; a não concessão deste direito implica uma infracção disciplinar por
grave desobediência à lei.

Capitulo XV
Honorários do advogado
O ajuste prévio de honorários

É admissível o ajuste prévio de honorários reduzidos a escrito; ressalvam-se, somente, os


pactos de quota litis.
A avença é, deste modo, um ajuste prévio de honorários que contribui para evitar que o
advogado seja tentado a forçar uma transacção desvantajosa só porque isso lhe
permite cobrar os honorários mais cedo.

A proibição dos pactos de quota litis

É proibido ao advogado exigir, a título de honorários, uma parte do objecto da divida ou


de outra pretensão e estabelecer que o direito a honorários fique dependente dos
resultados da demanda ou negocio – art. 101º EOA e ponto 3.3.1 Código CCBE; por
pacto de quota litis entende-se que é um acordo celebrado entre o advogado e o seu
cliente, antes da conclusão definitiva de uma questão em que o cliente é parte, em
virtude do qual o cliente se obriga a pagar ao advogado uma parte do resultado que
vier a obter.
Não constitui pacto deste tipo o acordo que preveja a fixação do montante dos
honorários em função do valor do assunto confiado ao advogado – art. 101º/3 EOA.
Depois da conclusão definitiva da questão em que o cliente é parte, pode o advogado
acordar com o cliente que os honorários consistam numa parte do resultado – art. 101º/2
EOA.
A quota litis associa o advogado ao resultado do pleito, fazendo-o perder a sua
independência e expõem-no à tentação de enganar a justiça; daí a sua proibição. Em
consonância com isto, haverá, também, nulidade da cessão de créditos ou de outros

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direitos litigiosos feita a mandatário judicial, se o processo decorrer na área em que
exerce habitualmente a sua profissão.

Critérios legais de fixação de honorários

Na falta de ajuste de honorários, devem os mesmos ser fixados de acordo com diversos
factores; esses constituem uma compensação económica adequada pelos serviços
efectivamente prestados, atendendo ao tempo gasto, às responsabilidades assumidas, à
dificuldade e urgência do assunto, ao grau de criatividade intelectual, à importância do
serviço prestado, às posses dos interessados, aos resultados obtidos e aos demais usos
profissionais. Estes critérios constituem uma enumeração exemplificativa e não taxativa!
São devidas as justas remunerações por todas as diligências feitas por mandatário judicial,
ainda que improfícuas.
É obrigatória a indicação dos preços dos serviços; esses devem constar em listas ou
cartazes afixados. No caso dos advogados, o preço é afixado com base num valor-
referencia! É, pois, suficiente que o advogado de indicação aos clientes dos honorários
previsíveis que se propõe cobrar-lhes em virtude dos serviços solicitados, identificando
expressamente, o valor mínimo e máximo da hora de trabalho e as regras previstas no
EOA.
Os honorários apresentados pelo advogado ao seu cliente devem ser devidamente
descriminados e o montante deve ser equitativo e justificado.

Formas de pagamento de honorários

Os honorários devem ser saldados em dinheiro; todavia, há jurisprudência que admite


que os advogados podem receber letras aceites pelo seu constituinte como meio de
pagamento de honorários.

Provisões para honorários e para despesas e consequências da falta de entrega de umas


e outras

É lícito ao advogado exigir, a título de provisão, quantias por conta dos honorários ou
despesas, o que, a não ser satisfeito, dá ao advogado o direito a renunciar ao mandato;
se a provisão satisfeita vier a esgotar-se e o advogado ficar destituído de provisão, nada
há que o force a exercer o mandato, podendo, até mesmo, renuncia-lo livremente.
O advogado não pode ser responsabilizado pela falta de pagamento de custas ou de
quaisquer despesas se as não tiver recebido; não é obrigado a dispor das provisões que
tenha recebido para honorários. As importâncias recebidas a título de provisão devem
ser registadas em conta corrente e escrituradas em livro próprio, considerando-se como
receitas no ano posterior ao da sua recepção, sem contudo exceder a apresentação da
conta final relativa ao trabalho prestado.
A exigência de provisão é um direito que o advogado pode ou não exercer; ainda assim,
sempre que a exija, ela não pode exceder a estimativa razoável dos honorários e das
despesas prováveis.

Repartição de honorários

É proibido ao advogado repartir honorários, excepto com colegas que hajam prestado
colaboração; mais, um advogado não pode pedir nem aceitar, de outro advogado ou
de terceiro, honorários, comissões ou qualquer outra compensação por ter enviado ou
recomendado um cliente – ponto 5.4.1 Código CCBE. Nas relações entre advogados
pertencentes a Ordens de diferentes Estados-Membros, o advogado que, não se
limitando a recomendar outro advogado ou a apresenta-lo ao cliente, lhe confie um
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assunto ou o consulte, é pessoalmente responsável pelo pagamento de honorários,
despesas e reembolsos devidos ao advogado estrangeiro; pode, porem, em qualquer
momento, limitar a sua responsabilidade pessoal ao montante dos honorários.

Mudança de advogado e honorários do substituído

O advogado a quem se pretenda cometer assunto anteriormente confiado a outro


advogado fará tudo quanto possível para que este seja pago dos honorários e demais
quantias em divida, devendo expor, verbalmente ou por escrito, ao colega as razoes de
aceitação do mandato e dar-lhe conta dos esforços que tenha empregado para o
efeito; se, porem, for necessário tomar medidas urgentes no interesse do cliente, o
advogado pode faze-lo, desde que dê imediato conhecimento ao outro advogado.

Honorários e direito de retenção

Quando cesse a representação confiada ao advogado, deve este restituir os


documentos, valores ou objectos que lhe hajam sido entregues e que sejam necessários
para prova do direito do cliente ou cuja retenção possa trazer a este prejuízos graves,
mas, com relação aos demais valores e objectos em seu poder, goza o advogado de
direito de retenção para garantia de pagamento dos honorários e reembolso das
despesas; este direito de retenção, contudo, só se pode exercer sobre valores de
natureza pecuniária. O advogado deve, ainda, restituir o que reter se o cliente tiver
prestado caução ao conselho distrital da OA; os valores sobre os quais recai o direito de
retenção podem ser reduzidos a limites razoáveis para que o cliente não suporte
sacrifícios injustificáveis.
Não pode, também, o advogado que tenha cobrado um crédito em dinheiro do seu
constituinte, remeter-lhe a conta dos honorários e, sem o seu acordo, reduzir estes no
montante a entregar; mais, o advogado que esteja a exercer o direito de retenção e
que esteja em desacordo com o seu cliente por causa dos honorários deve instaurar
imediatamente a acção de honorários.

O laudo de honorários

Compete às secções do conselho superior da OA dar laudos sobre honorários. É


pressuposto do pedido de laudo a existência de conflito entre o advogado e o
constituinte acerca do valor dos honorários estabelecidos em conta já apresentada e
remetida ao cliente há mais de três meses; apesar disso, podem existir laudos prévios.
Na emissão de laudo não se decide acerca da efectividade dos serviços prestados; isso
é da competência dos tribunais.
Tem legitimidade para solicitar laudos:
- Tribunais;
- Outros conselhos da OA;
- Advogado;
- Constituinte;
- Quem seja responsável pelo pagamento dos honorários do advogado;
Todos os pedidos, excepto o dos tribunais, tem que ser fundamentados.
Compete ao relator superintender no processo de laudo e elaborar o parecer final a
submeter a deliberação do conselho superior, devendo o relator, no caso de entender
que não deve ser concedido laudo, quantificar o valor dos honorários. Os acórdãos do
conselho superior devem ser aprovados por maioria da secção e serão assinados por
todos os votantes, assinado como vencidos os vogais que não aprovarem o acórdão e
podendo justificar, por escrito, o seu voto; sempre que o relator ou o conselho superior

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verificarem indícios de que o advogado cometeu qualquer falta disciplinar, devem
participar o facto ao órgão disciplinar competente.
Não há recurso dos acórdãos proferidos nos processos de laudos; essas decisões são
definitivas e executórias.

Protecção jurídica e honorários do advogado por nomeação oficiosa

O Estado deve garantir uma adequada remuneração, bem como o reembolso das
despesas realizadas, aos profissionais forenses que intervierem em termos de nomeação
oficiosa.
A protecção jurídica reveste as modalidades de consulta jurídica e apoio judiciário.
Sempre que o cliente puder beneficiar de protecção jurídica é, portanto, dever do
advogado informa-lo do facto.
A nomeação de defensor ao arguido e a sua dispensa e substituição são feitas nos
termos do CPP, sendo a nomeação antecedida de advertência ao arguido de que tem
o direito de escolher e constituir defensor ou a requerer a concessão de apoio judiciário;
não o fazendo, pode ele ser responsável pelo pagamento dos honorários e das despesas
ao defensor. Nestas situações, o tribunal, no final do processo, imputar-lhe-à o
pagamento da taxa de justiça e demais encargos do processo.
Os encargos decorrentes do apoio judiciário são levados a regras de custas a final.
A tabela de honorários pelos serviços prestados no âmbito do apoio judiciário consta da
portaria 1386/2004 de 10 de Novembro; a nota de despesas e de honorários deve ser
apresentada seguidamente ao acto (nos casos do art. 41º L34/2004) ou em 5 dias após a
notificação da sentença.

Capitulo XVI
Deveres do advogado para com a comunidade – o interesse publico da profissão
O dever de servir a justiça e o direito

O advogado é indispensável à justiça, uma vez que lhe compete defender os direitos e
as liberdades; essa sua missão, como não podia deixar de ser, impõe-lhe múltiplos
deveres em relação ao público, dado que só com uma profissão livre e independente se
podem salvaguardar os direitos humanos.

O dever de obediência à lei e de não advogar contra lei expressa e a litigância de má fé


O art. 203º Constituição da República Portuguesa e o art. 3º LOFTJ dispõem que os
tribunais são independentes e que, como tal, apenas se encontram sujeitos à lei; o dever
de obediência à lei não pode, então, ser afastado sob o pretexto do conteúdo do
preceito legislativo ser injusto ou imoral.
Consta, ainda, do elenco dos deveres do advogado para com a comunidade, o de:
- Pugnar pela boa aplicação das leis;
- Não advogar contra a lei expressa, pois, quando o faz, está a litigar de má fé;
geralmente, de acordo com a doutrina da OA, há má fé do mandatário quando ele
actue com intenção maliciosa ou com verdadeiro dolo;
- Não usar meios ou expedientes ilegais;
- Não promover diligências inúteis ou prejudiciais para a correcta aplicação da lei;

O dever de não promover diligências reconhecidamente dilatórias e a litigância de má


O advogado deve, também, lutar pela rápida administração da justiça e pelo


aperfeiçoamento das instituições jurídicas; não deve, portanto, promover diligências
dilatórias, nem protelar, sem fundamento sério, o trânsito em julgado da decisão judicial.
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O dever de não promover diligencias prejudiciais para a descoberta da verdade e a
litigância de má fé

É dever do advogado não promover diligências prejudiciais para a descoberta da


verdade; não esquecendo nunca que a verdade e a justiça são relativas. Posto isto,
tolerar-se ao advogado a meia verdade, mas já não a mentira e a falsidade; isso advém-
lhe do dever de probidade.
A alteração da verdade dos factos ou a omissão de factos relevantes para a decisão da
causa, bem como o uso manifestamente reprovável do processo ou de meios
processuais com o fim de impedir a descoberta da verdade são formas de litigância de
má fé expressamente previstas na lei.
Ressalve-se, por último, que o advogado não deve contactar com as testemunhas; esse
é um expediente contrário aos usos e costumes da profissão.

O dever do advogado recusar o patrocínio de questões que considere injustas

O advogado deve recusar o patrocínio de questões que considere injustas; isto resulta,
ainda, do seu dever de servir a justiça. É, assim, o juízo de valoração ética do próprio
advogado que impõe esta tomada de atitude; a OA, porem, poderá emitir juízos de
qualificação da conduta do advogado perante o valor da justiça.
Existem casos fronteira em que não é nítida a justiça ou a injustiça da causa; aí, a Ordem
não pode deixar de não intervir, de não censurar, dado que não pode exigir aos
advogados outro comportamento que não se coadune com o seu sentido de justiça e a
sua consciência. Em geral, quando se questiona a justiça, pretende-se saber se, num juízo
de razoabilidade, o advogado tem fundamento que lhe permita defender a pretensão
do seu cliente; nada importa saber se lhe assiste razão ou não. O que releva é a
defensibilidade da causa; estando em jogo os direitos e os interesses do mandante, sem
que o advogado possa impor-lhe as suas convicções pessoais, o mandatário deve
formular um juízo que abranja quer os fins prosseguidos pelo cliente, quer os meios a
utilizar.

A conduta privada do advogado como servidor da justiça e do direito.

Mesmo fora da profissão, o advogado deve, no seu comportamento público, considerar-


se um servidor da justiça e do direito; tem, deste modo, que disciplinar a vida provada
para que a sua atitude se repercuta na vida profissional. Apesar de tudo, o advogado,
fora da profissão e mesmo publicamente, pode discordar e criticar o direito constituído e
a justiça legal; o que não pode é deixar de ser um servidor da justiça e do direito.

O dever de defender os direitos, liberdades e garantias

É dever do advogado, para com a comunidade, defender os direitos, liberdade e


garantias, colaborando com as atribuições da OA.
O dever de colaborar no acesso ao direito e aceitar nomeações oficiosas

Consulta jurídica

O Ministério da Justiça, em cooperação com a OA, garante a existência de gabinetes


de consulta jurídica, com vista à gradual cobertura territorial do país, sendo o respectivo
regulamento proposto pela Ordem e aprovado pelo ministro da justiça.
A consulta jurídica abrange a apreciação liminar da inexistência de fundamento legal
da pretensão para efeito de nomeação de patrono oficioso; nomeação essa que
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depende de tal apreciação. Da avaliação cabe reclamação para o conselho distrital
da OA.

Apoio judiciário

O apoio judiciário compreende a dispensa (total ou parcial) de taxa de justiça e demais


encargos com o processo, a nomeação e pagamento de honorários a patrono, a
nomeação e pagamento da remuneração de solicitador de execução, o pagamento
faseado de taxa de justiça e demais encargos com o processo, os honorários de patrono
nomeado e de remuneração de solicitador de execução e pagamento de honorários
de defensor oficioso.
O apoio judiciário é independente da posição processual que o requerente ocupe na
causa e do facto de ter sido já concedido à parte contrária; este é extensivo a todos os
processos que sigam por apenso aquele em que essa concessão se verificar e sendo-o,
também, ao processo principal (quando concedido em qualquer apenso). Pode ser
requerido pelo interessado, pelo MP, pelo advogado; para comprovar uma já
representação, baste que interessado e patrono assinem conjuntamente.
A decisão sobre a concessão de apoio judiciário compete ao dirigente máximo dos
serviços de Segurança Social da área de residência ou da área onde tiver sido entregue
o requerimento. O dito requerimento é apresentado nos serviços de atendimento ao
público e deve constar de modelo aprovado e facultado gratuitamente; pode ser
apresentado pessoalmente, por telecópia ou por transmissão electrónica. Sendo o
requerimento apresentado por via postal, o serviço receptor remete ao requerente uma
cópia com o carimbo da recepção aposto, cuja exibição ou entrega de cópia serve
como prova de entrega.
O procedimento de apoio judiciário é autónomo relativamente à causa a que respeite.
Sendo pedido antes de se intentar a acção judicial, a sua cópia deve ser entregue com
a petição inicial e deve-se efectuar o pagamento da taxa de justiça inicial até 10 dias
sobre a notificação de indeferimento definitivo do pedido; se for pedido na pendência
de uma causa e o requerente desejar que lhe seja nomeado um patrono, o prazo em
curso interrompe-se com a junção aos autos de documento comprovativo da
apresentação do requerimento. O prazo suspenso só se reinicia com a notificação ao
patrono nomeado ou com a notificação ao requerente da decisão de indeferimento do
pedido de nomeação do patrono.
A acção considera-se proposta na data em que for apresentado o pedido de
nomeação de patrono, sempre que esse pedido seja deferido. Ainda assim, o direito de
acção só poderá caducar quando esta não for proposta ate 30 dias depois do
indeferimento ou deferimento do apoio.
O prazo para a conclusão do procedimento administrativo e da decisão é de 30 dias; se
ninguém se pronunciar nesse prazo, o pedido considera-se tacitamente indeferido. A
decisão final é notificada ao requerente, à OA e ao tribunal em que a acção se
encontra pendente e, através deste, à parte contrária. A decisão não admite
reclamação, nem recurso hierárquico ou tutelar; é apenas possível impugna-la
judicialmente. É competente para conhecer e decidir o recurso em ultima instancia o
tribunal da comarca em que está sediado o serviço de segurança social que apreciou o
pedido ou o tribunal em que a acção se encontra pendente.
Sendo pedida e concedida a nomeação de patrono, compete à Ordem a escolha e
nomeação do mandatário forense; para tal tem 15 ou 30 dias, conforme a nomeação
não dependa ou dependa de juízo sobre a existência de fundamento legal da
pretensão. A nomeação será notificada ao requerente e ao patrono nomeado; este
último tem o dever de intentar a acção nos 30 dias seguintes à notificação da
nomeação. Não o fazendo, deve apresentar uma justificação à Ordem. Se o defensor
não apresentar a acção, nem justificar a sua falta, a OA nomeará um novo patrono ao
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requerente e iniciará um processo de responsabilidade disciplinar sobre o antigo
nomeado; a acção considerar-se-á proposta na data em que foi apresentado o pedido
de nomeação de patrono.
O patrono nomeado pode pedir escusa, mediante requerimento dirigido ao presidente
do conselho distrital da OA onde expresse os motivos da escusa; o prazo em curso
interromper-se-á e a Ordem tem 15 dias para deliberar sobre o assunto. Se for concedida
a escusa, de imediato, a OA nomeará novo patrono. Fundando-se o pedido de escusa
em inexistência de fundamento legal da pretensão, a Ordem pode recuar nova
nomeação.
Não pode ser nomeado nem escolhido como patrono, advogado com domicílio
profissional numa comarca para exercer o patrocínio noutra comarca.

Nomeação de defensor em processo penal

A nomeação de defensor ao arguido e a dispensa de patrocínio e sua substituição são


feitas nos termos do CPP, sendo a nomeação antecedida da advertência ao arguido do
seu direito a escolher e constituir defensor ou a requerer a concessão de apoio judiciário;
não constituindo defensor, nem requerendo a concessão de apoio judiciário, pode ser
responsável pelo pagamento dos honorários do defensor, bem como das despesas em
que este incorrer com a sua defesa, devendo o tribunal, no final do processo, imputar-lhe
o pagamento de taxa de justiça e demais encargos do processo.
A autoridade judiciária a quem incumbir a nomeação disponibiliza aos arguidos listas de
advogados para efeitos de escolha do defensor. Para assistência a primeiro
interrogatório de arguido detido ou para audiência em processo sumario ou outras
diligencias urgentes, a nomeação recai em defensor escolhido, mas a OA pode
organizar escalas de presenças de advogados ou advogados estagiários, comunicando-
as aos tribunais; a nomeação recairá, nestes casos, sobre defensor que, estando de
escala, se encontre presente. O defensor nomeado para um acto mantém-se para os
actos subsequentes, salvo se este prosseguir em comarca diversa; ai, o defensor pode
requerer a sua substituição nos mesmos termos já mencionados.
Quando o advogado ou o advogado estagiário nomeado defensor pedir dispensa de
patrocínio invocando fundamento que considere justo, o tribunal ouvirá a OA e decidirá;
o defensor, contudo, mantém-se enquanto não for substituído. Se o fundamento
invocado for a salvaguarda de segredo profissional, o requerimento será dirigido ao
presidente do conselho distrital, podendo o tribunal nomear outro defensor até a Ordem
se pronuncie. Cessa a nomeação sempre que o arguido constitua mandatário; ainda
assim, o defensor nomeado não pode aceitar mandato do mesmo arguido, mas se o
fizer, a aceitação equivale à renúncia de pagamento de qualquer quantia a título de
honorários ou reembolso de despesa efectuada. Mais, o art. 3º/3 e 43º/2 da Lei 34/2004
impõem que o advogado constituído recuse uma posterior nomeação oficiosa, por lhe
ser vedado auferir retribuição diversa da prevista para a nomeação oficiosa; a dita
intervenção oficiosa impõe a recusa de mandato judicial, deixando lugar a reservas à
excepção consagrada no art. 43º/2.

Nomeação oficiosa de advogado por inexistência de aceitação voluntária de patrocínio

Compete ao conselho distrital nomear advogado ao interessado por não encontrar


quem aceite voluntariamente o seu patrocínio, notificar essa nomeação ao requerente e
ao advogado nomeado e julgar eventual escusa dentro de 48 horas contadas da sua
nomeação ou do facto superveniente que a fundamente. Se a parte não encontrar na
circunscrição judicial quem aceite voluntariamente o seu patrocínio, pode dirigir-se ao
presidente do conselho distrital ou à respectiva delegação para que lhe nomeiem
advogado, sendo a nomeação e a notificação feitas sem demora; o advogado
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nomeado pode pedir escusa em 5 dias. Se não lhe for concedida escusa, o advogado
deve exercer o patrocínio sob pena de procedimento disciplinar.
Ao juiz pertence, também, o poder de nomeação, sempre que haja urgência ou a
entidade competente não o faça em 10 dias.

O dever de não solicitar nem angariar clientes

Constitui dever do advogado para com a comunidade não solicitar nem angariar
clientes, por si ou por interposta pessoa; a noção de interposta pessoa é aquela que é
propagada no art. 579º/2 CC.

A escolha directa e livre do advogado pelo cliente e outros deveres

Constitui dever do advogado para com a comunidade não aceitar mandato ou


prestação de serviços profissionais que não resulte de escolha directa e livre pelo
mandante ao interessado; isto não fica postergado, como é óbvio, se o advogado tiver
sido recomendado por outrem a pedido do cliente. Contudo, a subversão deste
princípio é total se o cliente procura um advogado e este substabelece noutro; o
mandato judicial é um contrato intuitu personae em que se presumem conferidos
poderes para se substabelecer, embora tais poderes possam ser excluídos.
Outros deveres do advogado para com a comunidade são:
- Verificar a identidade do cliente e dos seus representantes;
- Recusar a prestação de serviços quando suspeitar seriamente que a operação ou a
actuação jurídica visa a obtenção de resultados ilícitos;
- Recusar o recebimento e a movimentação de fundos e não correspondam
estritamente a uma questão que lhe tenha sido confiada;
- Não se servir do mandato para prosseguir objectivos que não sejam profissionais;

Capitulo XVII
Deveres do advogado para com o cliente
As especificidades do contrato de mandato judicial e deveres do advogado para com o
cliente

Só o mandatário judicial pode praticar actos que nem o mandante pode praticar; o
mandatário vincula, assim, a parte nas afirmações e confissões expressas de factos feitas
nos articulados, excepto se forem rectificadas ou retiradas (enquanto a parte contraria
não as tiver aceitado especificamente).
A renúncia ao recurso ou a aceitação expressa ou tácita da decisão e a desistência do
recurso não exigem procuração com poderes especiais, bastando procuração com
poderes forenses.

O dever de recusar mandato, nomeação oficiosa ou prestação de serviços em questão


em que já tenha intervindo em qualquer outra qualidade

Constitui dever do advogado recusar mandato, nomeação oficiosa ou prestação de


serviços em que já tenha intervindo em qualquer qualidade; o conceito de causa
abrange, aqui, qualquer questão, problema ou assunto a respeito dos quais o advogado
tenha sido consultado ou em que tenha intervindo em juízo ou fora dele. É o interesse
público da profissão e a independência do advogado que explicam este dever para
com o cliente; quem já interveio em qualquer outra qualidade não pode intervir como
participante na administração da justiça.
Não esquecer nunca que, na nomeação oficiosa há também uma base contratual no
exercício da profissão!
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O dever de recusar o patrocínio de partes com interesses opostos na mesmo ou em
conexa questão

É dever do advogado para com o cliente recusar mandato, nomeação oficiosa ou


prestação de serviços em questão que seja conexa com outra em que represente ou
tenha representado a parte contrária; considera-se que já teve intervenção numa
questão o advogado nomeado oficiosamente ao arguido em processo penal, apesar de
ai não ter praticado qualquer acto e de nenhum contacto ter mantido com o assistido,
por quem foi procurado depois de extinto o mandato oficioso, apesar de previamente o
ter avisado da anterior nomeação.
O art. 94º/3, 4 e 5 EOA e o Código de Deontologia do CCBE regulam esta matéria mais
pormenorizadamente; resulta da sua conjugação que o advogado:
- Não deve ser nem o conselheiro, nem o representante ou defensor de mais do que um
cliente num mesmo assunto, se existir um conflito de interesses ou um risco sério disso;
- Deve abster-se de se ocupar dos assuntos de todos os clientes envolvidos quando surja
um conflito de interesses, o segredo profissional esteja em risco de ser violado ou a sua
independência não seja total;
- Não pode aceitar o assunto de novo cliente se o segredo prestado por um antigo
cliente correr o risco de ser violado ou quando o conhecimento anterior do advogado
possa favorecer o novo cliente de forma injustificada;
Haverá, então, crime de prevaricação quando o advogado patrocine partes com
interesses opostos e, assim, demonstre uma intenção de prejudicar ou beneficiar alguma
delas; este crime é punido com multa ou com prisão até 3 anos.

O dever do advogado recusar questão contra quem noutra questão seja seu cliente

Embora a letra da lei sugira que a proibição se limita a casos de mandato judicial,
impõe-se uma interpretação extensiva do preceito de forma a abranger qualquer
questão, mesmo extrajudicial. Mais, constitui hoje um uso ou costume a recusa de
questão por advogado contra quem é seu cliente habitual, mesmo que em determinado
momento, não tenha pendente qualquer questão ou acção em que o advogado o
patrocine.

O dever de emitir parecer consciencioso sobre o mérito do direito invocado pelo cliente

O advogado deve aconselhar e defender o seu cliente com prontidão, consciência e


diligência, uma vez que é um servidor da justiça e do direito. O advogado deve emitir
opinião conscienciosa sobre a viabilidade da pretensão do cliente; todavia, não pode
garantir quaisquer resultados. O resultado emitido no parecer será o que é de esperar
que venha a verificar-se!!!

Dever de informação

Constitui dever do advogado prestar, sempre que lhe for pedido, informação sobre o
andamento das questões que lhe forem confiadas, sobre os critérios que utiliza na
fixação de honorários, indicando, sempre que possível, o seu montante total aproximado
e, ainda, sobre a possibilidade e a forma de obter apoio judiciário; este dever tem como
contrapartida o dever do cliente informar o advogado, sobretudo quanto à matéria de
facto, designadamente quanto à organização e produção de prova. Esta troca de
informações não se destina a transferir decisões que caibam ao advogado para o
cliente, mas sim a proporcionar a este o exercício esclarecido do seu direito de dar
instruções ao advogado em questões não técnicas.
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A orientação do patrocínio cabe inteira e exclusivamente ao advogado, pelo que só a
ele compete escolher os meios que entenda adequados à defesa dos interesses que lhe
são confiados; não pode colocar-se numa posição de simples cumpridor das indicações
ou ordens dos clientes.

O dever de zelo e diligencia

Este dever impõe uma actualização profissional ou uma formação permanente. O


advogado deve aconselhar e defender o cliente com prontidão, consciência e
diligência; mais, ele não deve encarregar-se de assuntos se souber ou devesse saber que
não tem a competência para o fazer.
Apesar de tudo, quando se viole o dever de zelo e diligencia não haverá lugar a uma
infracção disciplinar; tal só acontecerá se se tratar de um erro grosseiro.

O dever de segredo profissional


O dever se segredo é, também, um dever entre advogados.

O dever de aconselhar toda a composição justa e equitativa

O advogado deverá tentar encontrar uma solução para o litígio do seu cliente que seja
apropriada ao custo do assunto e deverá, nos momentos oportunos, dar-lhe o seu
conselho sobre a oportunidade de se procurar um acordo ou de se recorrer a soluções
alternativas para põe fim ao litígio.
Antes de se disporem a intervir em julgamento os advogados tem o dever de percorrer
todas as vias que conduzam a uma composição justa e equitativa do conflito entre os
seus clientes.

O dever de prestação de contas

São deveres do advogado para com o cliente dar aplicação devida a valores, objectos
e documentos que lhe tenham sido confiados, bem como prestar contas ao cliente de
todos os dinheiros deste que tenha recebido, qualquer que seja a sua proveniência e
apresentar nota de honorários e despesas quando solicitada. A falta de prestação de
contas e até a simples demora constituem infracções disciplinares.
Sendo se elabore a nota de despesas e honorários e ela não seja paga, o advogado
pode reter valores, objectos e documentos que lhe tenham sido confiados.

Os fundos de clientes

Sempre que o advogado detiver fundos dos seus clientes ou de terceiros para efectuar
pagamentos de despesas por conta daqueles:
- Os fundos devem ser depositados em conta do advogado separada e com a
designação conta-cliente aberta para o efeito num banco e ai mantida até ao
pagamento das despesas;
- Os fundos devem ser pagos à ordem;
- O advogado deve manter registos completos e precisos, distinguindo-os de outros
montantes por ele detidos e deve manter tais registos à disposição do cliente;
O conselho geral pode estabelecer regras complementares aplicáveis aos fundos-
clientes; o que foi mencionado não se aplica às provisões para honorários.

A proibição dos pactos de quota litis

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Este assunto foi já por nós abordado; o que convêm lembrar é que ele vem regulado no
art. 95º EOA.

O dever de não abandonar a questão sem motivo justificado

O mandatário judicial só pode renunciar ao mandato com motivo justificado. A justa


causa não pode reconduzir-se à falta de cumprimento dos deveres contratualmente
estabelecidos; ela existe quando, face a qualquer facto ou circunstância, não é exigível
a uma das partes, segundo a boa fé, a continuação da relação.
A observância dos deveres deontológicos pode determinar a renúncia ao mandato
judicial, designadamente sempre que o mandante pretenda limitar a autonomia técnica
do mandatário ou determina-lo a usar meios ou expedientes ilegais e/ou dilatórios,
prejudicar a descoberta da verdade ou leva-lo a patrocinar uma causa injusta; sempre
que o mandante, apesar de todos os esforços do mandatário, exerça represálias contra
a parte contrária ou seja menos correcto com o outro advogado ou juiz, o mandatário
pode, também, abandonar o pleito com justa causa.
A renuncia deve ser notificada ao mandante e à parte contraria, só produzindo efeitos a
partir da notificação e devendo o mandate ser advertido de que se não constituir
mandatário em 20 dias a instancia se suspenderá; sendo ele R. ser-lhe-à nomeado
defensor oficioso ou se ele for arguido, ficará sem efeito a constituição de assistente, com
arquivamento do processo (para os crimes particulares).
A renúncia do advogado por falta de provisão para honorários nunca pode ser exercida
num momento em que o cliente possa ser incapaz de encontrar assistência noutro lado
suficientemente a tempo para evitar prejuízos irreparáveis. Quer a renúncia, quer a
escusa não podem ser acompanhadas de fundamento se a revelação dos factos
envolver violação do segredo profissional, sem prejuízo do advogado o poder fazer
perante o presidente do conselho distrital da OA.

O dever de exigir correcção do cliente para com a contraparte e todos os intervenientes


processuais

O advogado deve empregar todos os esforços a fim de evitar que o seu cliente exerça
quaisquer represálias contra o adversário e seja menos correcto com o advogado da
parte contrária, com o juiz e com quaisquer outros intervenientes processuais.

Capitulo XVIII
Deveres entre os advogados
O dever de solidariedade

O dever de solidariedade entre advogados é uma das principais obrigações nas suas
relações recíprocas e o seu reforço constitui uma das mais importantes atribuições da OA.
O advogado deve à dignidade da sua profissão e da sua Ordem, o respeito do e pelo
título de advogado; tem, pois, que empregar todos os esforços no sentido de evitar não
só represálias contra os seus colegas, como também a falta de correcção para com eles.
O dever de solidariedade obriga o advogado a reagir contra atitudes ilegais ou abusivas
contra outro advogado.

O dever de especial correcção e urbanidade e de não personalizar as questões nos


advogados intervenientes

Nas suas relações com outros advogados, constitui dever do advogado proceder com a
maior correcção e urbanidade, elevando-se ao mais alto grau o dever geral de

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urbanidade que sobre ele impende, e abster-se de qualquer ataque ou alusão
deprimente.
As relações dos advogados entre si, no exercício da sua profissão, são independentes
das suas relações pessoais; ainda assim, não está o advogado proibido de criticar o
advogado da parte contrária ou o juiz no que for indispensável à defesa da causa.
O dever de especial correcção e urbanidade impõe ao advogado que responda às
comunicações de colegas e que os informe da sua intenção de faltar a qualquer
diligencia.

O dever de reserva ou confidencialidade

É dever do advogado não se pronunciar publicamente sobre questão que saiba


confiada a outro advogado, excepto na presença deste ou com o seu prévio acordo.
Mais, o novo advogado tudo fará para que sejam pagos os honorários e despesas do
advogado substituído; um advogado não pode suceder a outro advogado, na defesa
dos interesses de um cliente num determinado caso, senão depois de ter avisado o
colega e, se tomar medidas urgentes, desde que delas de conhecimento ao antigo
mandatário.

O dever de segredo

Entre advogados vigora, igualmente, o dever de confidencialidade das comunicações


orais e escrita. O advogado é obrigado a segredo profissional no que respeita a factos
referentes a assuntos conhecidos no exercício da profissão, abrangendo documentos
que se relacionem, directa ou indirectamente, com os factos sujeitos a sigilo.
O Código de Deontologia do CCBE dispõe, também, que o advogado que se dirija a um
colega de outro Estado-Membro numa comunicação de carácter confidencial deverá
exprimir claramente a sua vontade; se o destinatário não estiver em condições de
assegurar essa confidencialidade, então, devolverá ao remetente a dia carta sem
desvendar o seu conteúdo.
O dever de não invocar publicamente quaisquer negociações transaccionais em que
tenha intervido advogado é um outro dever de segredo também abrangido pelo dever
de reserva ou confidencialidade; nele concorre, ainda, o dever de lealdade.

O dever de lealdade

Outro dever entre advogados nas suas relações recíprocas é o de actuar com a maior
lealdade, não procurando obter vantagens ilegítimas ou indevidas para os seus
constituintes ou clientes e não contactando com a parte contraria representada por
advogado, salvo se primeiramente autorizado por este. Deve, por conseguinte, o
advogado abster-se de actuar unilateralmente e junto de terceiros por forma a
influenciar o normal curso de um processo; infringe, pois, o dever de lealdade o
advogado que instrui uma testemunha antes dessa ser ouvida.
Se alguma correspondência não confidencial dever ser endereçada directamente à
parte contraria representada por advogado, fará o advogado redigir essa
correspondência pelo seu cliente; mais, o advogado não pode entrar directamente em
contacto sobre determinado assunto com uma pessoa que saiba encontrar-se
representada por outro advogado, sem que esse colega lhe preste consentimento para
o efeito e com obrigação de manter este ultimo informado.
O dever se segredo entre advogados deve ceder perante o cliente no que disser
respeito à relação jurídica patrocinada pelo seu advogado; também o dever de
lealdade para com outro advogado tem que ceder perante o dever de lealdade para
com o cliente, havendo conflito entre ambos os deveres. Não pode, contudo, o
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advogado procurar obter vantagens ilícitas ou indevidas para com os seus constituintes
ou clientes à custa do dever de lealdade para com o advogado da parte contrária!
Questão premente é a de saber se o advogado deve aproveitar-se ou não de erros do
advogado da parte contrária. Carlo Lega considera que, estando em causa erro de
direito, o advogado da parte beneficiada deve tirar proveito do erro; mas, tratando-se
de erro de facto, o advogado só não deve aproveitar-se do erro se este for banal e
desculpável, mas não assim tratando-se de erro grosseiro.
A notificação dos articulados e requerimentos autónomos após a notificação ao A. da
contestação do R. é feita pelo mandatário judicial da contraparte; configura, portanto,
um dever de lealdade entre mandatários que é incompatível com qualquer efeito
surpresa.

O dever de não assinar escritos profissionais que não tenha feito ou em que não tenha
colaborado

Constitui dever dos advogados nas suas relações recíprocas não assinar pareceres,
peças processuais ou outros escritos profissionais que não tenha feito ou em que não
tenha colaborado; trata-se de obstar a formas de exercício por quem só a podia exercer
com ilicitude criminal ou disciplinar.

O dever de cooperação

No processo devem os mandatários judiciais e as próprias partes cooperarem entre si,


concorrendo para se obter, com brevidade e eficácia, a justa composição do litígio,
podendo o juiz ouvir as partes e seus representantes e convida-los a fornecer os
esclarecimentos que se afigurem pertinentes; a outra parte deve, porem, tomar
conhecimento do que ocorre nessas diligências. As partes e os mandatários são
obrigados a comparecer sempre que para isso forem notificados e a prestar os
esclarecimentos que lhe forem pedidos.
O dever de cooperação entre colegas deve ser conjugado não só com o segredo
profissional, mas também com outros deveres para com os clientes. É dever de todo o
advogado a quem um colega de outro Estado-Membro se dirija abster-se de aceitar um
assunto para o qual não é competente; deverá, sim, ajudar o seu colega a entrar em
contacto com um advogado que esteja em condições de prestar o serviço pretendido.

Patrocínio contra advogados ou magistrados

O advogado, antes de intervir em procedimento disciplinar, judicial ou de qualquer outra


natureza, contra advogados ou magistrados deve comunicar-lhes a sua intenções,
excepto se se tratar de diligencia ou acto se natureza secreta ou urgente; a
comunicação deverá revestir a forma escrita, mas a OA não tem que dela ter
conhecimento. Promovida a diligência, sem o dito contacto prévio, deverá haver uma
comunicação posterior a explicar o porquê dessa actuação.
Sobre litígios entre advogados de vários Estados-Membros, sempre que um advogado
toma conhecimento de que um colega violou uma regra deontológica, deve chama-lo
à atenção; se dai surgir algum diferendo, devem os mesmos tentar resolver a questão de
forma amigável e se não o conseguirem, devem disso dar conhecimento às respectivas
Ordens.

O dever de formação dos advogados estagiários

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É dever dos advogados não recusar sem motivo justificado a direcção do estágio dos
advogados estagiários; a formação dos advogados é um direito e um dever não só da
OA, como dos seus membros.
O estágio tem a duração global mínima de dois anos, sob a orientação da OA, através
dos serviços de estágio; o primeiro período tem a duração mínima de seis meses e
destina-se a fornecer os conhecimentos técnico-profissionais e deontológicos
fundamentais de modo a habilitar os advogados estagiários para a prática dos actos
próprios da profissão; o segundo período de estagio dura dezoito meses e aí já se podem
praticar actos próprios da profissão, embora com a orientação do patrono. O estagiário
é, portanto, também, um profissional com responsabilidade civil, penal e disciplinar no
âmbito da sua competência específica.

Capitulo XIX
Deveres do advogado na condução do processo e para com os magistrados
O especial dever de urbanidade nas relações entre advogados e magistrados

As relações entre advogados e magistrados devem pautar-se por um especial dever de


urbanidade; tão elevada função de administrar a justiça exige que aos juízes seja
dispensado tratamento que traduza o respeito devido aquela função por parte do
advogado. Não envolve, contudo, quebra do dever de urbanidade o direito de protesto,
o uso das expressões e imputações indispensáveis à defesa da causa, bem como o
abandono do local de qualquer diligência por parte do advogado, se, ocorrendo
justificado obstáculo ao início pontual da diligência, o juiz não o comunicar ao
advogado dentro de 30 minutos subsequentes à hora designada para o seu início.
O agravamento da responsabilidade penal pelo crime de injúrias a magistrado (que não
depende de acusação particular) – arts. 184º, 132º/2/h) e 188º/1/a) CP -, alias, é bem
uma expressão desse dever de urbanidade.
Provando o respeito para com a função de juiz, o advogado defenderá o seu cliente
com consciência e sem medo, sem tomar em conta os seus próprios interesses ou
quaisquer consequências quer para si, quer para qualquer pessoa.

O dever de não faltar à verdade em informação ao juiz

Em circunstancia alguma pode o advogado, conscientemente, dar ao juiz uma


informação falsa ou susceptível de o induzir em erro.

Extensão dos deveres para com os juizes a outros beneficiarios

Aplicam-se, igualmente, às relações com árbitros, peritos ou pessoas encarregues de


assessorar o juiz, os deveres de urbanidade e de lealdade.

O dever de diligencia e lealdade na condução do processo e de não ingerência nas


decisões judiciais

O advogado deve actuar com diligência e lealdade na condução do processo; deve,


também, abster-se de intervir nas decisões dos juízes é-lhe especialmente vedado enviar
ou fazer enviar aos juízes quaisquer memorandos ou recorrer a processos desleais de
defesa dos interesses das partes.
Este dever está ligado ao dever para com a comunidade de não usar de meios ou
expedientes ilegais, assim como ao dever de lealdade entre advogados. É desejável que
advogados e juízes mantenham um certo afastamento e evitem intimidades excessivas.

Patrocínio contra magistrados


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O advogado tem o dever de exigir correcção do cliente para com todos os
intervenientes processuais, designadamente os magistrados.

Capitulo XX
O segredo profissional do advogado
O dever de segredo como autónomo dever estatutário da profissão de advogado

O art. 87º EOA aplica-se não só às relações entre advogados, mas também às relações
entre advogado e cliente; deste modo, o dever de segredo profissional imposto ao
advogado é um dever estatutário da profissão, uma vez que existem regras que
implicitamente contem a regulamentação desta matéria.
O segredo profissional é, então, reconhecido como direito e dever fundamental e
primordial da profissão de advogado.

o deve de segredo profissional e o valor da confiança da sociedade na advocacia


O valor de confiança na profissão resulta, acima de tudo, da autoridade profissional ou
do facto da preparação teórico-cientifica fornecer ao profissional um tipo de
conhecimento inacessível ao leigo; resulta, ainda, do acesso condicionado e do
exercício regulamentado em função do interesse público ou função social da profissão,
designadamente, da deontologia profissional. É, portanto, a confiança que está na base
do segredo profissional; mas esse é, também, o seu fundamento como dever autónomo
e estatutário da profissão de advogado.
A natureza jurídica do segredo profissional do advogado não é, todavia, do foro
contratual!!!!

O segredo profissional, administração da justiça e protecção do Estado

A obrigação do advogado relativa ao segredo profissional serve tanto os interesses da


administração da justiça como os do seu cliente; devido a isso, essa obrigação deve
beneficiar de uma protecção do Estado.
A protecção do segredo profissional do advogado tem base constitucional – art. 208º
Constituição da República Portuguesa – e protecção penal; a violação do segredo
preenche o tipo legal de crime p.p. no art. 195º CP. Em punição semelhante incorre o
autor do crime de aproveitamento indevido do segredo – art. 196º CP; ambos os crimes
podem ser agravados nos termos do art. 197º CP.
No plano disciplinar, a violação do dever de segredo com culpa grave é uma infracção
severamente punida; mais, havendo dano, a violação não pode deixar de acarretar
responsabilidade civil contratual.
No plano probatório, não pode fazer prova em juízo os actos praticados pelo advogado
com violação do dito segredo; tratam-se de provas de facto proibidas e ineficazes que,
como tal, padecem de nulidade oportunamente arguida – arts. 201º e 205º CPC. É,
também, proibida, sob pena de nulidade insanável, a apreensão e qualquer outra forma
de controle da correspondência entre o arguido e o seu defensor, excepto se o juiz tiver
fundadas razoes para crer que aquela constitui objecto ou elemento de um crime – art.
179º/2, 126º/1 e 3 e 119º CPP.
Tendo a violação do segredo ocorrido por junção aos autos de um documento que, por
isso, constitui prova proibida e, portanto, nulidade, deve reagir-se contra ela, requerendo
o desentranhamento dos autos do dito documento.

Imprescritibilidade do dever de segredo

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A obrigação de segredo não é limitada no tempo; mantém-se seja qual for o tempo
decorrido sobre o conhecimento dos factos por ele abrangidos, mesmo que o advogado
venha a suspender ou até a cancelar a sua inscrição como advogado.
Infringindo-se o dever de segredo profissional, o procedimento disciplinar ou criminal
prescreve nos respectivos prazos legais; só a obrigação de segredo não é limitada no
tempo e perdurará para sempre.

Extensibilidade a outras pessoas do dever de segredo

O advogado deve fazer respeitar o segredo profissional pelos membros do seu pessoal e
por todos aqueles que consigo colaborem na sua actividade profissional; também o
advogado que sucede a outro no patrocínio de uma causa ou de outra que com ela
seja conexa está obrigado ao mesmo dever de segredo profissional do primitivo
advogado, ainda que os factos não lhe tenham sido transmitidos por este ultimo e
apenas constem do dossier referente à causa.
Estão obrigados a dever profissional os colegas de escritório e os advogados estagiários,
bem como empregados, secretários ou outros colaboradores não advogados; a
violação desse dever por um trabalhador pode constituir justa causa de despedimento.
O empregado forense pode ser punido pelos crimes de violação ou de aproveitamento
do segredo profissional – art. 195º e 196º CP; ele pode, ainda, escusar-se a depor e toda a
prova produzida com violação desse dever é tida como ineficaz – arts. 618º/3 CPC,
135º/1 CPP e 87º/5 e 7 EOA.

Factos abrangidos pela obrigação de segredo profissional


Factos referentes a assuntos profissionais revelados pelo cliente ou conhecidos no
exercício da profissão

O advogado deve guardar segredo de toda a informação confidencial de que tome


conhecimento no âmbito da sua actividade profissional.
O termo cliente tem que ser interpretado amplamente; ele deve abranger:
- O consulente;
- O patrocinado através de mandato judicial em que foram conferidos poderes forenses;
- O patrocinado em questão extrajudicial;
- Quem o advogado tenha ouvido, mas não tenha aceite a sua representação;
O segredo abrange todos os factos revelados pelo cliente!!! Se no decurso de uma
diligência de que o advogado se incumbiu e por causa dela, o advogado tomou
conhecimento de factos a que não teria acesso, se não fosse o exercício da sua
profissão, mesmo que tais factos nada tenham a ver com o patrocínio em causa, o
advogado fica obrigado a segredo profissional, também, quanto a esses; não pode
revelar, nem ao cliente (!), os factos que presenciou. Como o dever de segredo não
existe contra o cliente, mas apenas a favor dele, os deveres de informação, de lealdade
e de zelo sobrepõem-se!!!!

Factos comunicados por co-interessados

O segredo profissional respeita, ainda, a factos comunicados por co-autor, co-réu ou co-
interessado do cliente ou pelo respectivo representante, uma vez que são conhecidos no
exercício da profissão.
Tratando-se de factos revelados pelo co-interessado em antagonismo de interesse com o
cliente, não há obrigação de segredo profissional; o conhecimento no exercício da
profissão só fundamenta o segredo profissional se lhe subjazer uma relação de confiança
e já não quando há divergência de interesses.

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Factos comunicados pela parte contraria durante negociações para acordo ou ocorridos
no âmbito de negociações malogradas com intervenção de advogado

Estão abrangidos pelo segredo profissional os factos de que a parte contrária do cliente
ou respectivos representantes lhe tenham dado conhecimento durante negociações
para acordo e factos ocorridos no âmbito de negociações transaccionais malogradas
em que tenha intervido advogado.
O conceito de negociações tem de ser entendido em termos amplos, não só como
estipulações para um contrato de transacção judicial mas também quaisquer tentativas
de conciliação de interesses desavindos por forma a abranger qualquer iniciativa verbal
ou escrita que diga respeito a uma contratação ou a um litigio, mesmo que venha a
frustrar-se ou seja concluída com êxito. A obrigação de segredo passa, deste modo,
também, a recair sobre o advogado que só foi constituído após negociações ocorridas
entre um colega e a parte que ele passa a representar; os destinatários ou beneficiários
da obrigação de sigilo são, portanto, a parte contrária ou o seu advogado.
Atento o exposto, a obrigação de segredo profissional quanto a aspectos que não ficam
vertidos e publicitados na transacção apenas constituirá problema se vier a pretender-se
a declaração de nulidade ou a anulação da transacção por vícios na formação ou na
manifestação da vontade; nas negociações transaccionais malogradas, a obrigação de
sigilo tem especial relevo, dado que as partes estiveram dispostas a fazer cedências na
convicção de que seria a melhor solução.
A correspondência dirigida pelo advogado, em representação do cliente, à contraparte
ou ao advogado desta não está, porem, abrangida pelo dito segredo e terá valor
probatório!!!!

Factos sigilosos que, em virtude de cargo desempenhado na OA, tenham sido


comunicados ao advogado por qualquer colega

O advogado é obrigado a segredo profissional no que respeita a factos que, por virtude
de cargo desempenhado na OA, qualquer colega, obrigado ao mesmo sigilo por
exercício da profissão, lhe tenha comunicado.
É o presidente do conselho distrital que tem competência exclusiva para autorizar a
cessação do segredo; da decisão deste cabe recurso para o bastonário. A estes órgãos
terá o advogado requerente de comunicar os factos abrangidos pelo sigilo que
pretende ver cessado por despacho de autorização; não lhes é sequer licito revelar que
determinado advogado requereu o levantamento do segredo!
Mesmo depois de autorizado a cessar o segredo, o advogado pode mantê-lo.

Cessação do segredo profissional

Mediante previa autorização do cliente

Se o beneficiário do segredo é exclusivamente o ex-cliente e este autoriza previamente o


advogado a revelar os factos abrangidos pelo segredo, é lícita a revelação; mas já não
é tão pacífica a mesma solução em benefício directo de um terceiro…
O advogado deve manter o segredo, mesmo autorizado a revela-lo, se entender a não
se verifica absoluta necessidade da sua revelação para defesa da dignidade, dos
direitos e dos legítimos interesses do ex-cliente ou de um terceiro que o ex-cliente queira
beneficiar.
Quando revele o sigilo, o advogado deve juntar a dita autorização, sob pena de se
tratar de prova proibida ou ineficaz.

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Mediante previa autorização do presidente do conselho distrital com recurso para o
bastonário

- Em geral
Não se verificando os pressupostos acabados de referir, a cessação só pode ocorrer
mediante previa autorização do presidente do conselho distrital respectivo, em tudo
quanto for absolutamente necessário para defesa da dignidade, direitos e interesses
legítimos do próprio advogado, do cliente ou de seus representantes; não é possível o
levantamento do sigilo a favor de outrem que não o ex-cliente.
Do despacho de autorização de cessação do segredo não pode ser interposto recurso;
esse só pode acontecer quando o levantamento não seja autorizado. É o advogado
que pretende obter a cessação que tem legitimidade para recorrer para o bastonário;
da decisão deste nunca há despacho, excepto se a sua decisão for tomada com erro
manifesto e notório.
O despacho de autorização deve ser exibido ou junto ao processo; não o sendo, deve
constar da acta da diligência, sob pena da prova poder vir a ser julgada nula. O
despacho tem que ser fundamentado.
Um parecer sobre o sigilo não equivale a um despacho de autorização; poderá, contudo,
justificar a falta de ilicitude ou de culpa do agente, se for no sentido de não existir
obrigação de segredo!!!!
Como o levantamento do segredo é excepcional, para que se verifique tem que:
Haver absoluta necessidade de invocação ou prova dos factos abrangidos pelo
segredo;
Tem que ser exigível para a defesa da dignidade, direitos e interesses do cliente ou
seus representantes;
Tem que ser exigível para a defesa da dignidade, direitos e interesses do advogado;
Se os factos abrangidos pelo sigilo forem globalmente mais desfavoráveis do que
favoráveis não é possível a autorização. Mais, nunca se pode autorizar a cessação para
defesa de um cliente contra outro cliente.
Quando estejam em causa factos conhecidos em negociação para acordo amigável, a
jurisprudência da OA vai no sentido se só raramente permitir o levantamento do sigilo;
nestas situações ambas as partes beneficiam do dito segredo – art. 87º/1/e) EOA.
Ressalve-se que a cessação do segredo nunca deverá causar danos ou prejuízos ao
cliente fora do âmbito da relação jurídica controvertida entre advogado e cliente; os
pedidos tem, pois, que ser analisados casuisticamente.

- Em direito processual – a decisão sobre escusa a depor com invocação de segredo


profissional por advogado e a natureza vinculativa do despacho de autorização previa
A regra da exclusiva legitimidade do advogado detentor do segredo para obter a
cessação deste deixou de ser absoluta e passou a ser reconhecida à autoridade
judiciária e ao tribunal idêntica faculdade; nos termos do art. 135º CPP, o advogado
sujeito a segredo pode escusar-se a depor sobre os factos abrangidos por esse, mas a
autoridade judiciária, tendo duvidas sobre a legitimidade da escusa, pode proceder às
averiguações necessárias e se, após essas, concluir pela ilegitimidade ordena ou requer
ao tribunal que ordene a prestação do depoimento. A legitimidade de escusa não pode
deixar de ser interpretado como sendo um direito, pelo que a consideração de
ilegitimidade é um não direito ou implica a inexistência desse direito!!!!
A decisão da autoridade judiciaria ou do tribunal, contudo, é tomada ouvido o
organismo representativo da profissão – art. 135º/5 CPP; significa isto que a OA tem que
ser achada na questão. O interesse na administração da justiça não é, per si, valor
superior ao do segredo profissional, pelo que nunca pode ser autorizado o depoimento
de advogado em processo principal ou em apenso, em que esteja ou tenha sido

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constituído mandatário; quem participou na administração da justiça não pode nela ser
testemunha.
A audição e o parecer da OA são vinculativos para a autoridade judiciária e para o
tribunal; não podem, assim, ser tomadas decisões que ordenem a prestação do
depoimento, se a Ordem não o tiver autorizado. A omissão de parecer da OA constitui
nulidade – art. 201º/1 CPC; da decisão sobre a arguição da nulidade cabe recurso – arts.
399º CPP e 676º/1 CPC. Não tem legitimidade, todavia, para recorrer o advogado que
invocou o segredo para se escusar a depor, nem o presidente do conselho distrital ou o
bastonário.
Apesar do parecer da Ordem não ser pericial deve-se-lhe aplicar, analogicamente o
disposto no art. 163º CPP; só quando a autorização seja negada com erro manifesto e
notório pode deixar o parecer de ser seguido pela autoridade judiciária ou pelo tribunal!

Por obrigação ex lege (branqueamento)

Os advogados que intervenham ou assistam em operações:


- De compra e venda de bens imóveis;
- De gestão de fundos, valores mobiliários ou outros activos pertencentes a clientes;
- De abertura e gestão de contas bancárias;
- De criação, exploração, gestão de empresas, de fundos fiduciários ou estruturas
análogas;
- Financeiras ou imobiliárias;
- De alienação ou aquisição de direitos sobre praticantes de actividades desportivas
profissionais
Devem proceder à identificação dos seus clientes e informar-se da identidade da pessoa
por conta da qual eles actuam; devem, ainda, proceder à identificação dos objectos
dos contratos sempre que os montantes envolvidos sejam iguais ou superiores a 15.000€
ou, independentemente do valor, estejam em causa operações que se revelem
susceptíveis de estarem relacionadas com a prática de branqueamento. Estas últimas
devem ser comunicadas, mal conhecidas, ao bastonário e este, comunica-las-á ao PGR,
desde que não se tratem de informações obtidas no contexto da avaliação da situação
jurídica de um cliente que deseja uma consulta.
Os advogados devem, também, abster-se de executar operações de que haja suspeita
de estarem relacionadas com a prática do crime de branqueamento e prestar a
colaboração e assistência requeridas pela autoridade judiciária responsável pela
condução do processo; tais factos devem ser comunicados à OA.
As informações prestadas de boa fé não constituem violação de qualquer dever de
segredo nem implicam responsabilidade de qualquer tipo; apenas podem ser usadas em
processo penal e a identidade de quem forneceu as informações nunca pode ser
revelada. Não deixa, contudo, de ser inadmissível que o legislador tivesse imposto ao
advogado a proibição de revelar ao cliente ou a terceiros, sob pena de sanções
disciplinares previstas no EOA, o facto de terem transmitido qualquer informação ou que
se encontra em curso uma investigação criminal; melhor seria que o legislador tivesse
criado incompatibilidades e declarasse inaplicáveis aos advogados as disposições da
Directiva e da lei sobre crimes de branqueamento.

Capitulo XXI
A responsabilidade disciplinar do advogado
A sujeição dos advogados à jurisdição disciplinar exclusiva da OA

Os advogados estão sujeitos à jurisdição disciplinar exclusiva da Ordem; em virtude disso,


os tribunais e quaisquer outras entidades devem dar conhecimento à OA da prática, por
advogado, de factos susceptíveis de constituírem infracção disciplinar; deve, também,
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ser remetida à Ordem, pelo MP, PJ e demais entidades com poderes de investigação
criminal certidões das denúncias, participações ou queixas apresentadas contra
advogados, mesmo que não estejam em causa factos praticados no exercício da
profissão – art. 83º EOA.
Em caso de responsabilidade disciplinar e criminal, a primeira é independente em
relação às demais, sem prejuízo de poder ser ordenada a suspensão do procedimento
disciplinar enquanto o processo penal estiver em segredo de justiça; aí tribunal deverá
remeter à OA o despacho de acusação ou de pronúncia.
O pedido de cancelamento ou de suspensão da inscrição do advogado não faz cessar
a sua responsabilidade disciplinar por infracções anteriormente cometidas; mais, durante
o período de suspensão, o advogado continua sujeito à jurisdição disciplinar da Ordem!
A responsabilidade de advogado punido com pena de expulsão não cessa
relativamente a outras infracções cometidas antes da aplicação definitiva daquela
pena.

Noção de infracção disciplinar

Comete infracção disciplinar o advogado ou advogado estagiário que, por acção ou


omissão, violar culposamente algum dos deveres consagrados no EOA, nas demais
disposições legais aplicáveis ou nos regulamentos internos. No ilícito disciplinar não há
uma tipização integral; basta uma norma geral que abranja não só os deveres
profissionais do advogado, como também as acções ou omissões da sua vida privada
que sejam de natureza a repercutir-se na sua profissão. A tendência para a tipização é,
todavia, cada vez maior – arts. 115º e 126º EOA.

A prescrição do procedimento disciplinar e a sua suspensão e interrupção

O procedimento disciplinar extingue-se, por efeito da prescrição, logo que sobre a


prática da infracção tiverem decorrido 3 anos; é de conhecimento oficioso, mas o
advogado pode requerer a continuação do processo.

Desistência do procedimento disciplinar

A desistência do procedimento disciplinar pelo interessado extingue a responsabilidade


disciplinar, excepto se a falta afectar a dignidade do advogado visado, o prestígio da
OA ou da profissão.
Á eficácia da desistência não se poderá deduzir oposição!

Tramitação processual

O procedimento é instaurado por decisão dos presidentes do conselho superior ou do


conselho de deontologia, com base em participação por pessoa identificada que tenha
conhecimento de factos susceptíveis de integrarem uma infracção disciplinar. A
competência do conselho de deontologia determina-se pelo domicilio profissional do
advogado, com excepção para: bastonários, antigos bastonários, membros do conselho
superior, geral, distrital e de deontologia e antigos membros desses conselhos; para esses
a competência disciplinar pertence ao conselho superior.
Distribuído o processo, realizam-se as diligências instrutórias e o relator profere um
despacho onde acusa ou arquiva; após isso, pode-se ordenar a suspensão preventiva do
arguido por 6 meses. Para tanto basta que haja uma deliberação de 2/3 dos membros
do conselho onde o processo correr termos; o mesmo conselho pode, ainda, prorrogar a
suspensão, por mais 6 meses, quando se reúna uma igual maioria.

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O arguido é notificado da acusação e tem 20 dias para se defender por escrito e pedir
diligências de prova; o relator elabora relatório e segue-se o julgamento. Tem-se 15 dias
para interpor recurso da decisão final; o recurso tem efeito suspensivo e o prazo para
alegações é de 15 dias.

Penas disciplinares

As penas disciplinares vão da pena de advertência à pena de expulsão; entre as penas


acessórias, temos:
- Perda de honorários;
- Condenação do advogado na quota-parte da multa;
- Custas;
- Indemnização;
As penas de suspensão efectiva e expulsão têm sempre publicidade; uma pena superior
à advertência determina perda de capacidade eleitoral passiva. Qualquer pena é
passível de processo de revisão.

Capitulo XXII
A responsabilidade civil profissional do advogado
Sua natureza

São muitas as diferenças entre as duas espécies de responsabilidade; é o que se passa


quanto:
- À solidariedade;
- À responsabilidade por facto de outrem;
- À extensão do dano a indemnizar;
- À prescrição;
- À competência do tribunal;
A responsabilidade em que o advogado incorre para com o cliente não pode ser senão
contratual, uma vez que resultará do incumprimento de uma das obrigações decorrentes
do contrato que o vincula ao seu cliente; o mesmo se diga do nomeado oficiosamente.
O contrato inominado ou atípico de patrocínio é regulado por um conjunto de
obrigações para com o cliente impostas ex lege ao advogado quer pelo interesse
público da profissão, quer pelo dever de independência do advogado e na prestação
de serviços por nomeação oficiosa não pode deixar de se exigir o mesmo conjunto de
obrigações do patrono ou do defensor para com o patrocinado oficiosamente; se é
igualmente proibido ao advogado aceitar mandato ou nomeação oficiosa em questão
em que já tenha intervido noutra qualidade, não há razão, em caso de violação desta
obrigação, para que ele responda contratualmente perante quem lhe passou
procuração forense e extracontratualmente perante o patrocinado oficiosamente.
A responsabilidade civil profissional não pode ser senão contratual; nesta
responsabilidade incorre o advogado que dá uma consulta e emite culposamente um
parecer errado ou incompleto. A responsabilização pelo incumprimento desse dever,
contudo, só pode aproveitar a quem o advogado esteja vinculado. O advogado
vincula-se a uma obrigação de meios e não de resultados!!!
Ao ónus da prova aplica-se o 799º/1 CC e o critério do bonus paterfamilias; entende-se,
deste modo, que age com culpa o advogado que aceite patrocinar uma causa sem ter
preparação profissional para ela.
A obrigação de indemnização do dano depende da prova deste e do nexo de
causalidade em termos de adequação entre o facto e o dano; cabe ao lesado ou
credor provar esse nexo. Só quando o consiga fazer existe, então, obrigação de
indemnizar em relação aos danos que o lesado provavelmente não teria sofrido se não
fosse a lesão; adopta-se, pois, a teoria da diferença – art. 562º CC.
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A responsabilidade do advogado perante terceiros será, em princípio, extracontratual;
são lhe aplicáveis as regras de direito comum.

Responsabilidade conjunta ou solidária?

Apesar de ser solidária, alem de pessoal e ilimitada, a responsabilidade dos sócios das
sociedades de advogados de responsabilidade ilimitada para com terceiros pelas
dívidas sociais, embora se trate de uma responsabilidade subsidiária, é conjunta a
responsabilidade dos advogados que colaborem num mesmo assunto para o qual
tenham sido mandatados pelo cliente, a não ser que a solidariedade resulte da vontade
das partes.
Se a prestação se tornar impossível por facto imputável a um dos advogados, todos
serão solidariamente responsáveis pelo seu valor, embora só o advogado a quem o
facto é imputável responda pela reparação dos danos que excedam esse valor.

Responsabilidade por facto de outrem e exclusão ou limitação da responsabilidade

Se o mandato foi conferido apenas a um dos advogados só ele responderá


profissionalmente perante o seu cliente; mesmo tratando-se de advogados
colaboradores, não pode deixar de se aplicar a regra de que o devedor é responsável
perante o credor pelos actos das pessoas que utilize para o cumprimento da obrigação,
como se tais actos fossem praticados pelo próprio devedor.
Quer se trate de advogado, quer de outro auxiliar, a responsabilidade pode ser
convencionalmente excluída ou limitada, desde que não compreenda actos que
representem a violação de deveres impostos por normas de ordem pública. A exclusão
ou limitação de responsabilidade, contudo, só pode acontecer quanto a actos de
terceiros; o devedor é sempre responsável pelos prejuízos que causar ao credor quando
actue culposamente ou quando torna impossível a prestação por causa que lhe é
imputável. Para colmatar problemas, o EOA impõe que os advogados com inscrição em
vigor devem celebrar e manter um seguro de responsabilidade civil profissional de
montante não inferior ao que seja fixado pelo conselho geral (250.000€); fundando-se a
responsabilidade profissional em mera culpa, o montante da indemnização tem como
limite máximo esses 250.000€.

Seguro de responsabilidade profissional

O advogado deve ter um seguro de responsabilidade civil profissional; sem esse, a livre
circulação de advogados no interior da UE acabaria por ser impossível, uma vez que as
Ordens onde o seguro seja obrigatório têm que controlar, também, esse aspecto.
A OA contratou um seguro colectivo de responsabilidade civil profissional que abrange
todos os advogados com inscrição em vigor e mesmo os advogados que cessaram a sua
actividade, quanto a reclamações apresentadas no período de 12 meses, contados
desde 1 de Janeiro de 2004 e com limite em 1 de Janeiro de 2002; o valor máximo da
indemnização, desde 1 de Janeiro de 2002, é de 50.000€ e, a partir de 1 de Janeiro de
2005, 100.000€. A anuidade é de 55€, acrescidos do imposto de selo; os advogados
podem, contudo, subscrever outros limites indemnizatórios superiores e, como tal,
suportarão anuidades proporcionais.
O advogado não pode negociar o montante da indemnização!!!!!! A sua cobertura
estende-se a prestação de serviços em qualquer parte do mundo, salvo EUA, Canada e
territórios sob a sua jurisdição; inclui o pagamento de fianças e o custeio de despesas de
reconstrução ou de reforma de documento, informações ou dados de terceiros que
sejam danificados ou perdidos por facto imputável ao advogado até ao limite de
25.000€ e, a partir de 1 de Janeiro de 2005, de 50.000€. excluem-se, porem, situações de
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fraude ou dolo, responsabilidades legais e responsabilidades que não sejam
especificamente derivada da profissão de advogado.
Os advogados que tenha tido duas ou mais reclamações procedentes nos últimos 5 anos
deixarão de beneficiar do seguro colectivo! Se qualquer segurado for titular de outro
seguro de responsabilidade civil com cobertura idêntica ao deste, este funcionará
apenas na falta ou insuficiência daquele, salvo previsão de concorrência de seguro
(cada um responderá proporcionalmente aos limites garantidos).

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