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o
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
Ricardo Henriques
MINISTRO
Organizador
Martus Tavares
SECRETÁRIO EXECUTIVO
Guilherme Dias
Desigualdade .Z'-;'~'"
e p. ooreza no
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
.',,~"O~oo, "'~(~"\
.. ;: v'") "l'F)f'1I ~ \
Fundação pública vinculada PRESIDENTE "' (. '{.J Jc . - \
ao Ministério do Planejamento, Roberto Borges Martins
~ 'V,f,v' '{j ':!
eld '4C '~F ~ •
Bras il
Orçamento e Gestão, o IPEA
fornece suporte técnico e
DIRETOR DE ESTUDOS MACROECONÔMICOS
Alexandre Rands Barros
"Oh 40".
<:y,q c
"J
.J
Eustáquio José Reis
institucional às ações governa- Ana Maria H. C. Oliveira /.e "",-,,' _ "'o~
mentais e disponibiliza, para DIRETOR DE ESTUDOS REGIONAIS E URBANOS
Carlos Azzoni , , _
Carlos Henrique Corseuil
a sociedade, elementos Gustavo Maia Gomes
Claudio C. Beato F.
necessários ao conhecimento DIRETOR DE ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS Cristiana Lopes
e à solução dos problemas Edmond Preteceille
Hubimaier Cantuária Santiago
econômicos e sociais do país. Eduardo Luiz G. Rios-Neto
DIRETOR DE ESTUDOS SETORIAIS Elisa P. Reis
Inúmeras políticas e programas Francisco H. G. Ferreira
Luís Fernando Tironi
de desenvolvimento brasileiro IIka Afonso Reis
são formulados a partir de DIRETOR DE COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO Joachim von Amsberg
estudos e pesquisas realizados Murilo Lôbo José Paulo Zeetano Chahad
Julie A. Litchfield
pelas equipes de especialistas Kimberly Nead
DIRETOR DE ESTUDOS SOCIAIS
do IPEA. Lauro Ramos
Ricardo Paes de Barros
Lena Lavinas
Licia Valladares
COORDENADOR DA ÁREA DE APOIO TÉCNICO Marcelo Neri
Parainformações sobre aquisição Antonio Semeraro Rito Cardoso Marcos de Barros Lisboa
das publicações do IPEA: Maria Carolina da S. Leme
Maria Helena G. de Castro
DIVISÃOEDITORIAL
DIVISÃOEDITORIAL Maria Lucia Vieira
CHEFE DA DIVISÃO EDITORIAL Miguel Nathan Foguel
Rio de Janeiro: Av. Presidente Mônica Viegas Andrade
Nelson Cruz
Antonio Carlos, 51 - 140 andar Naércio Menezes-Filho
20020-010- Rio de Janeiro, RJ CAPA E PROJETO GRÁFICO Paulo Picchetti
E-mail: editrj@ipea.gov.br Serviço Editorial do IPEA - Rio Peter Lanjouw
ILUSTRAÇÃO
Phillippe G. Leite. .
Brasília: Ed. BNDES, 100 andar, Priscila Pereira Dehberalh
sala 1005 - Setor Bancário Sul Rafael Luzente de Lima* Raul Silveira Neto
70076-900 - Brasília, DF REVISÃO Reynaldo Fernandes
E-mail: editbsb@ipea.gov.br Lucia Duarte Moreira (chefe)* Ricardo Henriques
André Pinheiro* Ricardo Paesde Barros
Home Page: http:/www.ipea.gov.br Roberto Accioly Perrelli
Isabel Virgínia de Alencar Pires Rodolfo Hoffmann
Luiz Carlos Palhares* Rosane Mendonça
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
Samir Cury
Sandra Correia de Andrade
Roberto das Chagas Campos (chefe) Simone Wajnman
Carlos Henrique Santos Vianna* Sonia Rocha
ISBN 85-86170-17-8 Carlos José de Almeida Pereira* Tatiane Menezes
INSTlTU1 :1 ECONÔMiCA
.0 _?1ILG-3.-ff------------------------------.--
DA TA ... -f8.....i .__.03.-J .1)/ . - INTRODUÇÃO
Desnaturalizar a desigualdade e erradicar a pobreza:
por um novo acordo social no Brasil Ricardo Henriques 1
PARTE I
Desigualdade e Pobreza no Brasil: retratos da realidade
contemporânea e estratégias de mensuração
Capítulo I
A estabilidade inaceitável: desigualdade e pobreza no Brasil
Ricardo Paes de Barros. Ricardo Henriques e Rosane Mendonça 21
. Desigual~ade e Po~reza no Brasil / organizado por Capítulo 2
Desigualdade, pobreza e bem-estar social no Brasil - 1981/95
Ricardo Hennques .- RIo de Janeiro: IPEA, 2000. Francisco H. G. Ferreira e Julie A. Litchfield 49
740 p.: il.
Capítulo 3
ISBN 85-86170-17-8 Mensuração da desigualdade e da pobreza no Brasil
Rodolfo Hoffmann 81
1..Desigua~~ade so.cial. 2. Pobreza. 3. Desenvolvimento econômico Capítulo 4
e soc~al. 4. Pohtlca s.oclal. 5. Brasil. I. Henriques, Ricardo, org. Estimação de linhas de indigência e de pobreza: opções
Il.Instltuto de Pesquisa Econômica Aplicada metodológicas no Brasil Sonia Rocha 109
Capítulo 5
Os determinantes da desigualdde de renda no Brasil: luta de
classes ou heterogeneidade educacional'? Francisco H. G. Ferreira 131
Capítulo 6
Os art~Y.0sapresentados neste volume são de inteira Determinantes da desigualdade de rendimentos no Brasil nos
respo~sab"/~ade de seus autores. As opiniões neles emitidas anos 90: discriminação, segmentação e heterogeneidade dos
nao expnmem, necessariamente, o ponto de vista do trabalhadores Lauro Ramos e Maria Lucia Vieira 159
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.
Capítulo 7 PARTE IV
Mercado de trabalho e pobreza no Brasil Ricardo Paes de Barros Políticas de combate à desigualdade e à pobreza no Brasil: marcos
Carlos Henrique Corseuil e Phillippe G. Leite .' 177 de avaliação e desenho de políticas públicas
Capítulo 8
A evoluçã~ da distribuição de salários no Brasil: fatos estilizados Capítulo 18
para a~ decadas de 80 e 90 Naércio Menezes-Filho, Reynaldo Fernandes e Políticas estruturais de combate à pobreza no Brasil Marcelo Neri 503
Paulo PICchetti 231
Capítulo 9 Capítulo 19
Combinando compensatório e redistributivo: o desafio das
Ten~ência~ de co.orte nos diferenciais de rendimentos por sexo
políticas sociais no Brasil Lena Lavinas ; 527
Mana Carolina da Silva Leme e Simone Wajnman 251
Capítulo 10 Capítulo 20
O seguro-desemprego no contexto do sistema público de
~bertura comercial e liberalização do fluxo de capitais no Brasil:
emprego e o seu papel no combate à pobreza no caso brasileiro
Impactos ~obre a pobreza e a desigualdade Ricardo Paes de Barros,
José Paulo Zeetano Chahad 561
Carlos Hennque Corseuil e Samir Cury 271
Capítulo II Capítulo 21
Políticas voltadas para a pobreza: o caso da formação profissional
~eografia e convergência da renda entre os estados brasileiros
Eduardo Luiz G. Rios-Neto e Ana Maria H. C. Oliveira 589
Carlos Azzoni, Naércio Menezes-Filho, Tatiane Menezes e Raul Silveira Neto 299
Capítulo 22
A eficiência do Plano Nacional de Qualificação Profissional como
PARTE 111
instrumento de combate à pobreza no Brasil: os casos de
Desigualdade e pobreza no Brasil: recortes setoriais e Pernambuco e Mato Grosso Alexandre Rands Barros,
percepções dos atores Sandra Correia de Andrade e Roberto Accioly Perrelli 615
Capítulo 12 Capítulo 23
De~esperança de vida: homicídio em Minas Gerais, Rio de Janeiro Impactos da distribuição da terra sobre a eficiência agrícola e a
e Sao Paulo no período 1981/97 Mônica Viegas Andrade e pobreza no Nordeste Ricardo Paes de Barros, Rosane Mendonça,
Marcos de Barros Lisboa 347 Priscila Pereira Deliberalli e Cristiana Lopes 639
Capítulo 13 Capítulo 24
Desigualdade, desenvolvimento socioeconõmico e crime A focalização do gasto social sobre a pobreza no Brasil
Claudio C. Beato F., I1ka Afonso Reis 385 Joachim von Amsberg, Peter Lanjouw e Kimberly Nead 685
Capítulo 14 Capítulo 25
Pelo fim das décadas perdidas: educação e desenvolvimento Focalização dos gastos públicos sociais e erradicação da pobreza
sustentado no Brasil Ricardo Paes de Barros, Ricardo Henriques e no Brasil Ricardo Paes de Barros e Miguel Nathan Foguel. 719
Rosane Mendonça 405
Capítulo 15
As ~esigualdades regionais no sistema educacional brasileiro
Mana Helena Guimarães de Castro 425
Capítulo 16
A desigualdade entre os pobres - favela, favelas
_ ~dmond Preteceille e Licia Valladares 459
Capítulo 17
Percepções da elite sobre pobreza e desigualdade Elisa P. Reis 487
... Desnaturalizar a
desigualdade e erradicar
a pobreza: por um novo
acordo social no Brasil
Ricardo Henriques*
mercado de trabalho tende a ser mantida à medida que esses nascimento e calcular médias por coortes, anos e estado de resIdenCla
envelhecem, o artigo adota uma estratégia metodológica que para variáveis como renda, educação, participação da força de
privil~gia a dimensão de coorte. Assim, uma vez descrita a redução trabalho e condições de vida. Os resultados mostram que, de m~do
dos dIfe.renciais salariais por sexo no Brasil, apresentam-se equações geral, os investimentos em infra-estrutura pública e em e.duc~çao
de rendImentos para homens e mulheres que utilizam dados relativos parecem contribuir para a redução das desigualdades regIOnaiSno
10
11
~ Brasil. Entretanto, mesmo depois de considerar os efeitos positivos explicar as taxas de criminalidade em
g esperados dos investimentos públicos, há indícios de que a algumas ~ip~teses qu~ b~:~~~aldade ou à carência de serviços
~ desigualdade da renda se retroalimenta, uma vez que os estados mais relação a mdIcadores e gutilizam-se ainda, índices de
t1:: ricos e os estados com mercados de trabalho mais dinâmicos tendem básicos provido~ pelo estado. d s ara todos os municípios do Estado '!
•. a possuir níveis de renda mais altos e a crescer mais rapidamente.
{i criminalidade ~olent~ ~oleta ~osPestimadores empíricos de Bayes e . 1
{l Além disso, segundo o estudo, a importância das variáveis geográficas
g de Minas GeraIS, corngIdos pe . o~micos de modo a sugenr ~
'd indicadores SOClOecon, ~
'~ mostra que uma parcela relevante da intervenção governamental correlaclOna os c~m l' - o das taxas de criminalidade. ê
~ deveria ser direcionada, entre outros, para o desenvolvimento das
hipóteses alternatIvas de exp Icaça _ a
I fi' d décadas perdidas' educaçao e i:i
instituições e melhoria 'da eficiência da ação governamental. O Capítulo 14, Pe o 1m as 'I d Ricardo 'Paes de Barros, Ricardo 1;
A terceira parte do livro - Desigualdade e pobreza no Brasil: desenvolvimento sustentado no Brasl, e a analisar para a realidade ~
. R ne Mendonça, procur, "-
recortes setoriais e percepções dos atores - começa com o artigo Rennques e osa t bil'dade do desenvolvimento ~
Desesperança de vida: homicídio em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo brasileira, a relação entre a s~ten a :ão educacional. O estudo do E
• no período 1981/97. Mônica Viegas Andrade e Marcos de Barros Lisboa socioeconômico e o proce~sod et~:~:~o permite identificar a i
estudam o comportamento das taxas de homicídio na população funcionamento do merca ~ e da for a de trabalho como o ~
masculina e sua relação com variáveis econômicas nos Estados de heterogeneidade.da esc~an~a~e eral d~ desigualdade salarial ~
Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo entre 1981 e 1997. A principal determ,mante o mve ã~ internacional sugere que essa ~
abordagem dos autores se diferencia do tratamento usual da observada no PaIs. A comparaç d de forma g
d ' I aparenta respon er, ~
literatura pela construção de taxas de homicídio específicas para cada heterogeneidade e ucaClona . Idade do país em relação ao ~
idade entre 15 e 40 anos, com as variáveis econômicas apresentando significativa, pelo excesso de ?esIgua t inda que o Brasil apresenta ~
coeficientes significativamente diferentes de zero para a população mundo industrializado. O artIgo ~os ra, a d ' década em
d educaçao de cerca e uma
entre 15 e 19 anos. Como seria esperado, aumentos do salário real e um atraso, em termos a _ d' olvimento similar ao nosso.
quedas da desigualdade tendem a reduzir as taxas de homicídio. relação a países com padrao de esdenv strar em termos empíricos e
. t es procuram emon ,
Surpreende, no entanto, a constatação de que a queda do desemprego Diante dISSO,os a~ or d f . _ para a realidade brasileira, um
parece aumentar essas taxas. Além disso, o artigo identifica a teóricos, a necessIdade de, e I~lf :~' ansão da escolaridade como um
existência de inércia nas taxas de homicídio, ou seja, gerações com processo acelera~~ e conrta~u~es:nv~vimento socieconômico
elemento estrateglCo pa
maior taxa de homicídio quando jovens tendem a apresentar maiores
e üitativo e sustentável do país. ,
taxas de homicídio durante todo o restante do seu ciclo de vida.
q No Capítulo 15, As desigualdades regionais no sis~ema educacIOnal
Assim, parece definir-se um efeito estrutural perverso na medida em
'. G' arães de Castro analIsa o
que, quando as variáveis econômicas induzem a elevação da taxa de brasileiro, Mana Relena. ~lffi. 'ndicadores educacionais na década de
homicídio entre os jovens em determinado ano, essa taxa tende a comportamento dos pnnClpaIS~elhoria gradual dos indicadores
permanecer elevada para toda a geração durante seu ciclo de vida, 90 e mostra que o process~o~e 't os diferenciados nos estados e
independentemente do comportamento posterior da economia. educacionais apresentou en ase e bn m uma clara tendência de
.- b '1' Ainda que se o serve d
O Capítulo 13, Desigualdade, desenvolvimento socioeconômico e crime, reglOes raSI eIros. . f damental os indicadores e
l' - do acesso ao ensmo un ,
de Claudio C. Beato F. e Ilka Afonso Reis, discute a aplicação de uma univ~rsa Iza~ao redu ão substancial dos desníveis
teoria das oportunidades na análise das taxas de criminalidade em qualIdade nao mostram uma . ç stata ainda que algumas
' . t staduais O artIgo con , ,
um dado contexto de desenvolvimento socioeconômico. O objetivo do regionaIs e m ere. m progresso relativo mais
capítulo é utilizar modelos de análise que vão além do exame unidades d~ Fe?era~ão. apresentar~~e~idas pelos governos estaduais e
exclusivo das características sociais dos criminosos para a explicação intenso deVIdo as pn~ndades esta Ih rar sua posição dentro da
municipais, que termmaram por me o , t"cas
do crescimento e distribuição das taxas de crimes. Assim, discutem-se região e em relação a outros estados com caractens I
12 13
'i:; socioe~o.nômicas similares. O artigo sugere que as políticas e capítulo explora as percepções tanto cognitivas quanto normativas da
~ es~ra~egIas~d~tadas pelo MEC, no período recente, têm como elite sobre tais questões. Por fim, é apresentada uma breve
~ pn~CIp~1obJetIvo promover a eqüidade e combater as desigualdades comparação entre as elites brasileiras e aquelas de Bangladesh e da
t regIOnaIs,.no entanto, para atingir essa meta a ação exclusiva, mesmo África do Sul.
{; que equalIzadora, do governo federal parece insuficiente. Como A quarta e última parte do livro - polític_asde.co:nbate à
~ proposta, a autora mostra que, além das iniciativas de desigualdade e à pobreza no Brasil: marcos de avalIaçao.e desen~o de
E respo?sabilida.de de estados e municípios, as instituições de ensino políticas públicas - contém oito capítulos. ~arcelo Nen, n~ artIgo
supenor devenam assumir uma posição mais propositiva em especial Políticas estruturais de combate à pobreza no BraSIl, procura analIsar a
no q~e se refere a políticas adequadas de formação iniciaÍ e relação entre pobreza e acesso a diversos tipos de capital no Brasil,
contmuada, que possibilitem a melhoria do nível de qualificação indicando possibilidades de implementação de políticas de reforço de
docente. capital dos pobres. A estratégia empírica seguida foi analis~r três
,? Capítulo 16: ~e.Edmond Preteceille e Licia Valladares, desloca a diferentes tipos de impactos que o aumento na pos.se de atIV?Sp~los
ana~Ise para o terntono das favelas anunciando a complexidade d pobres pode exercer sobre o nível de bem-esta~ SOCIal.E~ pnmeuo
realIdad . f' essa lugar, o artigo avalia a estrutura de posse de dIferen~es tIpOS?e
e e a msu ICIenCIadas categorias redutoras de alguns
A •
e?foques espaciais. As favelas devem ser entendidas como um plural capitais por meio da distribuição de renda. Em segUIda, o artIg?
dIv,e~so,como .sugere A desigualdade entre os pobres - favela, favelas. A descreve o impacto de geração de renda que a posse de determmados
analIse. da desIgualdade social a partir do recorte tradicional de renda ativos pode ter sobre os pobres. Discute-se como a acumulação de
entre ncos e pobres não deve desconsiderar, entretanto, a diferentes tipos de capital impacta sobre os índices de pobreza. Em
?ete~ogeneidade entre os pobres que caracteriza a desigualdade no terceiro lugar, estuda o efeito que o aumento da posse de ativos dos
mteno: ~a pob~eza. Desse modo, fatores como renda e educação são pobres tem sobre a habilidade desses indivíduos em lidar com
e:senCIaIS na dIferenciação s?cial, ~orém os autores ressaltam que choques adversos de renda.
nao se deve mer:os.pre:ar a dImensao espacial da desigualdade. A Lena Lavinas, no Capítulo 19, Combinando compensatório e
cautel~ met~dologlCa e essencial na comparação entre favela e redistributivo: o desafio das políticas sociais no Brasil, analisa, em detalhes,
exclusao socIal, tendo ,em vi~ta que não se observa uma distinção tão dois programas compensatórios de segurança alimentar praticados no
forte no q~e se refere .a qualIdade do equipamento urbano, à condição Brasil discutindo seu desenho e seus resultados. O estudo
da .ocupaçao e ao perfIl socioeconômico. Assim, como constata o conce~tra-se em um programa federal, o Prodea, e em outro
ar~Ig.o,apesar de a maioria dos indicadores em favela estar abaixo da programa estadual de grande capilaridade, o Cesta do Povo. O
me~Ia ne~.sesaspectos, as situações de pobreza urbana extrema são argumento subjacente é de que os desenhos atuais são i~eficazes :
maIS frequentes fora das favelas. ineficientes e de que uma transferência direta de renda a populaça o
Eli:a P. R:is encerra essa parte do livro com o Capítulo 17, mais carente teria maior impacto redistributivo, engendrando
Percepçoes da :lzte sob~e ~obreza e desigualdade. O artigo analisa a visão de também maiores níveis de eficiência econômica .
. r setores da elIte brasIleIra sobre a pobreza e a desigualdade. Com base O capítulo 20, de José Paulo Zeetano Chahad, intitula-se O
no arg,u~ento de que as percepções daqueles que comandam recursos seguro-desemprego no contexto do sistema público de emprego e o seu papel no
est:a.tegIcos .a~etam diretamente a formulação e implementação de combate à pobreza no caso brasileiro. Como referência histórica dev~mos
polItIcas SOCIaIS, e amparada por alguns estudos pioneiros realizados lembrar que o seguro-desemprego foi implantado em 1986, o Sme em
na Europ~. : n~s Estados Unidos, a autora se propõe a investigar como 1975 e a formação profissional na década de 40. De acordo com o
as consequenCIas da pobreza e da desigualdade são vistas fora do autor, o funcionamento isolado desses programas tem sido fonte de
mundo ~os pobres. A partir de dados de survey, entrevistas em ineficiência e ineficácia nos resultados obtidos, além de conduzir a
profundIdade e artigos assinados publicados na grande imprensa, o inúmeras distorções, efeitos negativos e incentivos adversos ao
14
15
~ funcionamento do mercado de trabalho. O artigo argumenta que _. mternaCIonals
. e nos resu lt a dos de avaliaçoes .. de programas 'õ;
GeraIS ~
JS parte significativa desses problemas poderia ser minimizada, ou
~ mesmo eliminada, caso aqueles programas fossem articulados, com a similares. I d Qualificação .::
~
t. criação de um sólido sistema público de emprego. Esse sistema
.A • •
noção de programas com participação compulsória versus voluntária; e seria de duas a t~es vezes maIOr r hectare resultante da
c) a comparação das políticas de treinamento no Brasil e no exterior, 1985. Esse creSCImento no l~cr~ po. nificativo que apesar da redução
com ênfase nas características d~ concepção, execução e desempenho, redistribuição das ter~a~ s~na ~~~SSI~lucro por est~belecimento
assim como nas experiências recentes de avaliação. A base empírica no tamanho dos ~sta e eCIme s a~ mesorregiões, exceto nas áreas de
para a discussão está fundada nos resultados preliminares da cresceria em pratlCament: toda d Zona da Mata e do Litoral Sul
avaliação do Programa Estadual de Qualificação (PEQ) de Minas alta lucratividade, como e o caso aI tividade por estabelecimento
baiano. Os cálculos mostram que a ucra
16
17
'(;; obtida após a distribuição eqüitativa das terras tende a gerar um lucro
investiga-se o grau de focalização dos programas ~ompe~s~tórios
~ por estabelecimento e, portanto, uma renda familiar na área rural, em
~ todas as mesorregiões analisadas, de cerca de um salário mínimo. baseados em transferências monetárias e dos servIços pubhcos
~ . 's , I'ncluindo o de merenda escolar.
i Esse lucro adicionado ao valor do trabalho dos membros da família e ducaClOnm . Os resultados ddessa
análise mostram que uma parcela significativa dos recursos esses
{; seria certamente suficiente para garantir a todas elas na área rural da
~g região Nordeste uma renda per capita superior a 1/2 salário mínimo rogramas e serviços está mal foc~l.iza~a nos pobres, revelan_do,
Portanto, a existência de um sigmfIcatIvo espaço para reduçao da
.6' por mês. A redistribuição de terras, portanto, apresenta-se como um
Q instrumento eficaz de combate à pobreza na região Nordeste. ~obreza sem que seja necessário aumentar o volume dos gastos
.. T'endo em vista que os recursos liberados para os programas
Os Capítulos 24 e 25 do livro procuram investigar distintas SOCIaIS. f' t a
sociais brasileiros aparentam ser mais do que su IClen es par . d
dimensões da focalização dos gastos sociais brasileiros. Joachim von erradicar a pobreza desde que bem focalizados, abre-se uma a~en a
Amsberg, Peter Lanjouw e Kimberly Nead, no Capítulo 24, A de pesquisa que deve responder por que esses programas contmuam
focalização do gasto social sobre a pobreza no Brasil, apresentam, de forma mal focalizados e como é possível desenhar programas ,
• consolidada, a incidência do gasto e a cobertura por quintil de compensatórios focalizados sobre a população pobre ~o paIS.
consumo para um vasto conjunto de programas de gasto social no
Antes de encerrar esta introdução ao livro, gostana de agradecer,
Brasil. A análise procura enfatizar a efetividade relativa de diferentes
programas na transferência de recursos para a população pobre. de forma sincera e contundente, a colaboração dos diversos
painelistas, debatedores, coordenadores de mesa e au~ores que 1
Considerando hipóteses específicas sobre razões de custo-benefício de
diferentes programas, o capítulo propõe um ranking indicativo da participaram do seminário. A participação de todos fOIfun~a~enta
efetividade da transferência dos programas sociais. As principais para garantir densidade ao debate que, finalmente, conduzIU a
conclusões do artigo são que uma parcela relativamente pequena ublicação do presente livro. Cito-os (perdoem-me os que p~~e~tura
p ) em ordem alfabética e sem identificação de suas fIhaçoes
(13%) do gasto social (incluindo pensões) atinge a população pobre e esquecer T C h Ana
que muitos programas são menos efetivos do que um programa institucionais. Muito obrigado, Ama~ry de Souza, Ame. la o n,
L b to André Urani, Aser Cortines, Atila Roque, Beatnz Azeredo,
uniforme hipotético de transferência de recursos para todos os
brasileiros (pobres ou não-pobres). Os autores apresentam, ainda, c~r~s Nberto Ramos, Carlos Hasenbalg, Célia Lessa, Eduardo ,.
.
Sup 1lCy, Edward Amadeo , Gustavo Gonzaga,, , .Herton ElleryJ ArauJo,
sugestões para uma possível realocação do gasto no interior e entre as
diversas áreas dos programas de modo a reformular parcialmente João Sabóia, José Guilherme Reis, Jose MarClOCamargo, uarez.
esses programas, assegurando melhor focalização do gasto social. Rubens Brandão Lopes, Lilibeth Cardoso Roballo, Marcelo .MedeIr~s,.
Marco Antônio Diniz Brandão, Maria Cecília Minayo, Mana Hermlma
No último capítulo, Ricardo Paes de Barros, em mais uma Tavares de Almeida, Maria Luiza de Aguiar Marq~es, Marta Mayer,
parceria presente neste livro, assina com Miguel Nathan Foguel Miguel Darcy de Oliveira, Milton Seligman, NasSIm G. Mehedf~, Peter
Focalização dos gastos públicos sociais e erradicação da pobreza no Brasil O
F , Roberto Martins, Ruth Cardoso, Simon Schwar~~ma~, Sheila
capítulo identifica a má focalização dos gastos sociais sobre a pobreza N~berg, Vilmar Faria, Walfrido Mares Guia, Wasmaha BlVar,Yvonne
. ~como a principal razão pela qual esses gastos não são capazes de
Maggie.
erradicar ou ao menos reduzir a pobreza de forma acentuada no país.
Os autores investigam qual seria o impacto de uma melhor Agradeço a Nelson Cruz e sua excelente ~quipe que,.con:
focalização dos gastos sociais sobre a pobreza no Brasil. São infatigável dedicação e solidariedade, garantIra~ a .p~bhcaça~ do
livro; confesso que, por vezes, nos bastidores edItonals, pareCla uma
discutidas a extensão da pobreza e o volume de recursos necessários
para erradicá-la. Os .resultados mostram que o custo de erradicar a missão impossível. . .
pobreza é estimado em apenas 4% da renda nacional ou cerca de 25% Agradeço, com especial carinho, a Renata O.r~fino e ~ Mmam
dos recursos públicos já dedicados à área social. Diante disso Neres, cuja colaboração atenta e dedicada permItIU dar V1dae alma
tanto ao seminário como ao livro.
18
~ Agradeço enfim, agora de público, às dezenas de autores que nos Desigualdade e pobreza
~ permitem debruçar, com certa angústia e desconforto, mas, acredito, no Brasil: retratos da"
II
~ com muita esperança, sobre as centenas de páginas e incontáveis realidade contemporanea
e estratégias de
t~ idéias que povoam este livro.
mensuração
~ Boa leitura. Ao debate!
:l!
g
.~
iC
C)
Capítulo I
A estabilidade inaceitável: .
desigualdade e pobreza no Bras~1
Ricardo Paes de Barros / Ricardo Hennques /
Rosane Mendonça
Capítulo 2
Desigualdade, pobreza e bem-estar
social no Brasil- 1981/95
Francisco H. G. Ferreira / Julie A. Litchfield
Capítulo 3
Mensuração da desigualdade e da
pobreza no Brasil Rodolfo Hoffmann
Capítulo 4
Estimação de linhas de indigê~ci?
e de pobreza: opções metodologlcas
no Brasil Sonia Rocha
A estabilidade inaceitável:
desigualdade e pobreza
no Brasil*
1 - Introdução
o Brasil, nas últimas décadas, confirma, infelizmente, uma tendência de
enorme desigualdade na distribuição de renda e elevados níveis de pobreza. Um
país desigual, exposto ao desafio histórico de enfrentar uma herança de injusti-
ça social que excluiu parte significativa de sua população do acesso a condições
mínimas de dignidade e cidadania. Este trabalho procura descrever a situação
atual e a evolução da magnitude e da natureza da pobreza e da desigualdade no
Brasil, estabelecendo as inter-relações causais dessas dimensões.
Trata-se de um relato empírico e descritivo, que retrata a realidade da po-
breza e da desigualdade. Nossa hipótese central, presente em estudos anterio-
res,1 é que, em primeiro lugar, o Brasil não é um país pobre, mas um país com
muitos pobres. Em segundo lugar, os elevados níveis de pobreza que afligem a
sociedade encontram seu principal determinante na estrutura da desigualdade
brasileira, uma perversa desigualdade na distribuição da renda e das oportuni-
dades de inclusão econômica e social.
Procuramos, ainda, demonstrar a viabilidade econômica do combate à po-
breza e justificar a importância, no atual contexto econômico e institucional
brasileiro, de estabelecer estratégias que não descartem a via do crescimento
econômico, mas que enfatizem, sobretudo, o papel de políticas redistributivas
que enfrentem a desigualdade.
* os autores agradecem a colaboração de toda a equipe do lPEA. Este artigo é uma versão atualiza-
da de Barros, Henriques e Mendonça (2000a).
** Da Diretoria de Estudos Sociais do IPEA.
*** Da Diretoria de Estudos Sociais do IPEA e do Departamento de economia da UFF.
1 Ver, entre outros, Barros, Henriques e Mendonça (1999) e Barros e Mendonça (1995a e b e
1996).
22 23
't:; O trabalho está organizado em três a A' . rior ao nível mínimo necessário para que possam satisfazer suas necessidades
~ a pobreza no país, descrevendo sua evo~ r~~s~a p:~elfa parte v~sa mensurar ~
mais básicas.5 A magnitude da pobreza está diretamente relacionada ao núme- E
~ gunda parte procura estabelecer um di ç, . S ultlI~~S duas decadas. A se- '"
~ determinantes da pobreza doc adgnostlCo genenco sobre os principais ro de pessoas vivendo em famílias com renda per capita abaixo da linha de pobre- ~
~ ' umentan o em que m d'd za e à distância da renda per capita de cada família pobre em relação à linha de ~
~ observado no país se deve à insufici A . e I a o grau de pobreza
~ ção dos recursos existentes. Nessa ~~~~aagrel~ada de recursos ou à má distribui- pobreza.6 "!
] cional e uma análise da evolução des e~/ea Iza_mos uma comparação interna- Os resultados revelam que, em 1999, cerca de 14% da população brasileira ~
I Em seguida, procuramos em partic~~s I~1ensoes ao longo do período recente. vivem em famílias com renda inferior à linha de indigência e 34% em famílias ]
,~
de renda entre as família; brasileiras ~r;er es~reve,\ ~ estrutura da distribuição com renda inferior à linha de pobreza. Desse modo, como vemos na Tabela 1, {J
tende retratar em que proporça-o . d celra e u tlma parte do trabalho pre- cerca de 22 milhões de brasileiros podem ser classificados como indigentes e 53 .",
~
, as mo estas reduções na
no penodo analisado resultam do crescim A .
b b
po reza o servadas milhões como pobres.? '1
de renda. Em conclusão e de acord entdo.economlCO ou da redistribuição Ao longo das últimas duas décadas, como observamos na tabela, a intensi- "
' o com o Iagnóstico propo t
texto, d estacamos a necessidade de as olíti
P
,.
I
s o ao ongo do da de da pobreza manteve um comportamento de relativa estabilidade, com J
concederem prioridade à reduça-o d d . cladspublIcas de combate à pobreza apenas duas pequenas contrações, concentradas nos momentos de implemen- ~~
• a eSlgua ade.
tação dos Planos Cruzado e Real. Esse comportamento estável, com a percenta- -.:
gem de pobres oscilando entre 40% e 45% da população, apresenta flutuações
2 - Pobreza no Brasil: afinal, qual o seu tamanho? associadas, sobretudo, à instável dinâmica macroeconômica do período. O grau
A ~volução, ao longo das duas últimas década . . A de pobreza atingiu seus valores máximos durante a recessão do início dos anos
no BrasIl pode ser reconstruída a partI'r da 'I' d s, da pobreza e da mdlgencia 80, quando a percentagem de pobres em 1983 e 1984 ultrapassou a barreira dos
. d " . ana Ise as PNADs do IBGE E
qUlsas omIClhares anuais2 permit' e . ssas pes- 50%. As maiores quedas resultaram, como dissemos, dos impactos dos Planos
sociais que retratam, entre outros a : c~n:tr~Ir uma diversidade de indicadores
Cruzado e Real, fazendo a percentagem de pobres cair abaixo dos 30% e 35%,
drões de vida e da apropriação de ;end:oduÇ~o / ~~trutura da dist:ibuição dos pa-
A b' os m IVI uos e das famílIas brasileiras 3 respectivamen te.
po reza, eVIdentemente não pode s d r 'd . Considerando todo o período, constatamos que a percentagem de pobres
sal, contudo, podemos afirmar' que b er e;m a de forma única e univer-
declinou, aproximadamente, de 40% em 1977 para 34% em 1999. Esse valor
em que os indivíduos não conseguen~ ~~:t:~au~ ere-s~ a s~t~ações d~ carência identificado ao final da série histórica analisada, apesar de ainda ser extrema-
zen te com as referências socialmente est b I 'd padrao mmlmo de vIda condi- mente alto, aparenta representar um novo patamar do nível de pobreza nacio-
Desse modo, a abordagem conceitual da e ~CI as em cada contexto histórico.
nal. A intensidade da queda na magnitude da pobreza ocorrida entre 1993 e
mos, inicialmente, construir uma m d'd a. po r:za absoluta requer que possa-
vida dos indivíduos em uma socied:d~ 1
mva~Ia~t~ .no tempo das condições de
1995 foi menor do que em 1986. No entanto, a queda de 1986 não gerou resulta-
dos sustentados, com o valor da pobreza retornando no ano seguinte ao pata-
essa medida. Em última instância um' rn~ça~ e ~nha de pobreza equivale a
mar vigente antes do Plano Cruzado. Entre 1995 e 1999 a percentagem de po-
metro que permite, a uma sociedade e a I~.a e po .reza pretende ser o parã-
bres permaneceu estável em torno do patamar de 34%, indicando a manuten-
aqueles indivíduos que se encontre sbPe~IfIcda,consIderar como pobres todos
m a alXO o seu valor. ção do impacto posterior ao Plano Real.
Neste trabalho consideramos a pobreza na s d' - . Em decorrência do processo de crescimento populacional, apesar da pe-
dentemente simplificadora) de' f"A . d ua Imensao partIcular (evi-
msu lClenCla e renda i t ' h' b quena queda observada no grau de pobreza, o número de pobres aumentou cer-
na medida em que existem famT . d ' s o e, a po reza apenas
, . I las vlven o com renda familiar4 per capita infe- ca de 13 milhões, passando do total de 41 milhões em 1977 para 53 milhões em
1999. A combinação entre as flutuações macroeconômicas e o crescimento po-
2 Observe-se que nã o eXistem. PNADs para os anos censitários ( 1980
3 A relevância das pesquisas dom'c'l' e 1991) e para o ano de 1994
. d ' I I lares para a análise d b . 5 A linha de indigência, endogenamente construída, refere-se somente à estrutura de custos de
sOCle ade e atestada por Ravallion (1992 P 8)' "H h I; po reza e dos padrões de vida de uma
uma cesta alimentar, regionalmente definida, que contemple as necessidades de consumo calórico
source of data for making poverty com ~ri~io~ .. ouse o surveys are the single most important
mínimo de um indivíduo. A linha de pobreza é calculada como múltiplo da linha de indigência, con-
~ell us directly about the distribution of~ving st:~~nd~e~. they are the only data source which can
siderando os gastos com alimentação como uma parte dos gastos totais mínimos, referentes, entre
o not attain consumption leve!." ar s ma society, such as how many households
outros, a vestuário, habitação e transportes.
4 . ~~ verdade, a unidade de análise neste trabalh . d " . - 6 Nas tabelas e gráficos correspondentes, os valores que dimensionam a pobreza são denomina-
nUClho como unidade de análise é o q '. o e ~ omlClho e nao a família. A utilização do do-
lizado na PNAD. ue mais se aproxima do conceito de unidade orçamentária uti- dos, respectivamente, proporção de pobres (indigentes) e hiato médio da renda.
7 Observe-se que toda população indigente está incluída no conjunto da população pobre.
24 25
-,--" Tabela 1
1; igualmente distribuídos de forma heterogênea e encontram-se mais próximo
~
l'! de seu valor de referência, com sua renda média mantendo-se cerca de 60% abai- l'!
'" Evolução temporal da indigência e da pobreza no Brasila
<:> '"~
" xo da linha de indigência.
~ ~
..,~ INDIGÊNCIA Portanto, a magnitude da pobreza, mensurada tanto em termos do volume "
a. POBREZA
e da percentagem da população como do hiato de renda, apresenta, na segunda
~
;;
~"
ANO
NÚMERO DE
~
PERCENTUAL
DE INDIGENTES
HIATO MÉDIO
DA RENDA INDIGENTES PERCENTUAL HIATO MÉDIO NÚMERO metade da década de 90, uma tendência de manutenção de um novo patamar ~
g (EM MILHÕES) DE POBRES DA RENDA DE POBRES
.~ (EM MILHÕES) inferior ao observado desde o final dos anos 70.1sso indica, sem dúvida alguma, ]
i(l
Cl
1977 17,0 6,1 17,4 39,6 17,2 40,7
uma melhora aparentemente estável no padrão da pobreza, mas esse valor con- f
1978 21,8 10,2 tinua moralmente inaceitável para a entrada do Brasil no próximo século. ~
23,2 42,6 21,0 45,2
1979 23,9 11,6 26,0 38,8 16,9 42,0
.1~
1981 18,8
3 - Determinantes imediatos da pobreza: escassez de ~
7,2 22,1 43,2 19,5 50,7 recursos e desigualdade na distribuição dos recursos ]
1982 19,4 7,4 23,4 43,2 19,8 52,0 A pobreza, como ressaltamos anteriormente, está sendo analisada neste tra- ~
-'l
.1983 25,0 9,8 30,7 51,1 24,S balho exclusivamente por meio da dimensão de insuficiência de renda. Nesse
62,8
1984 23,6 8,8 29,8 50,S
sentido, a pobreza responde a dois determinantes imediatos: a escassez agregada
23,S 63,6
1985 19,3
de recursos e a má distribuição dos recursos existentes. Esta parte do trabalho in-
7,1 25,1 43,6 19,7 56,9 vestiga essas relações causais, procurando avaliar os pesos relativos da escassez
1986 9,8 3,4 13,1 28,2 11,3 37,6 agregada de recursos e da sua distribuição na determinação da pobreza no Brasil.
1987 18,5 7,2 25,1 40,9 18,7 55,4
1988 22,1 9,1
3.1- Escassez de recursos
30,6 45,3 21,8 62,6
1989 20,7 8,5
A importância da escassez de recursos na determinação da pobreza brasilei-
29,3 42,9 20,6 60,7 ra é avaliada, a seguir, a partir de três critérios: uma comparação do Brasil com o
1990 21,4 8,8 30,8 43,8 21,1 63,2 resto do mundo, uma análise da estrutura da renda média do país e, finalmente,
1992 19,3 8,6 27,1 um exame do padrão de consumo médio da família brasileira. Ao analisar, de
40,8 19,7 57,3
1993 19,5 8,5
forma exaustiva e a partir de diversos critérios, esse aspecto da determinação da
27,8 41,7 19,8 59,4 pobreza, pretendemos demonstrar que a pobreza no Brasil não deve ser associa-
1995 14,6 6,0 21,6 33,9 15,3 50,2 da prioritariamente à escassez, absoluta ou relativa, de recursos. Assim, pode-
1996 15,0 6,6 22,4 mos confirmar a primeira parte de nosso diagnóstico - o Brasil, apesar de dis-
33,S 15,6 50 •.1
1997 14,8 6,3 22,5
por de um enorme contingente de sua população abaixo da linha de pobreza,
33,9 15,4 51,5
1998
não pode ser considerado um país pobre, e a origem dessa pobreza, não residin-
14,1 6,0 21,7 32,8 14,7 50,3 do na escassez de recursos, deve ser investigada em outra esfera.
1999 14,5 6,1 22,6 34,1 15,4 53,1 Em primeiro lugar, contrastamos a renda per capita e o grau de pobreza no
Fonte: PNAD de 1977 a 1999.
a As linhas de indigência e pobreza utilizadas foram as da região metropolitana de Sã P I
Brasil com os demais países no mundo. Essa comparação nos permite verificar
o auo.
.r
se o grau de pobreza no Brasil é mais elevado do que em países com renda per capita
similar. Podemos decompor o grau de pobreza em duas dimensões: a) a baixa
r~~~donal fez q~e o núr:ne~ode pobres chegasse a quase 64 milhões na crise de
renda per capita brasileira; e b) o elevado grau de desigualdade na distribuição
ler _ea menos. e 38 mIlhoes em 1986. O final dos anos 80 apresenta uma ace-
Re aiao
no c;ntmge~t~ da população pobre e, no período recente, após o Plano
dos recursos existentes no Brasil. A primeira dimensão, dada pelo grau de po-
breza médio dos países com nível de renda per capita similar à brasileira, está as-
a ,cerca .e 10 mIlhoes de brasileiros deixaram de ser pobres.
Os atUaiS53 milhões d b sociada ao baixo valor da renda per capita em relação aos países mais ricos no
neamente distribuídos aba:~~:~i~~od;~~~~:z:ua vez, en~ontr~~-se heteroge- mundo. A segunda dimensão resulta da diferença entre o grau de pobreza brasi-
cerca de 55% abaixo do valor da r h d b e sua ren a media encontra-se leiro e o dos demais países com renda similar à brasileira.
digentes, que correspondem a ~: asu~~~n;~~~~0;a2~;~?aÕç~od~~~::,0~~:;~
&
26 27
~ Em segundo lugar, comparamos a renda percapita brasileira com a linha de
1;
::
<Xl pobreza nacional. Na medida em que a renda média brasileira é significativa- r:;
<Xl
g mente superior à linha de pobreza, podemos associar a intensidade da pobreza à '"'"
Distribuição acumulada da .população mundial e dos países
~ concentração de renda. Nesta seção definimos um exercício redistributivo que segundo o PIB real per cap,ta ..,~
! contempla tanto o cenário ideal (de execução impossível e não necessariamente •.
a.
{; desejável) de distribuição perfeitamente eqüitativa da renda como o cenário de {;
~ % 100 ~
~ redução do grau de pobreza a partir da repartição progressiva dos recursos dis- '"
.~ poníveis. O principal objetivo desse exercício é demonstrar que uma divisão
90 "
.:;;>
~ tl
80 ""
mais eqüitativa dos recursos pode ter um impacto relevante sobre a pobreza em ]
um país que dispõe de uma renda per capita bastante superior à sua linha de po- 70
~
breza. 60 '"
.:;
{;
Em terceiro lugar, descrevemos brevemente o padrão de consumo das fa- 50 ~
mílias brasileiras com renda per capita em torno da média nacional. Tendo em
..,
""
40 ::!
tl
• vista que o padrão de consumo dessas famílias é satisfatório, obtemos uma de- 30 '<:
monstração adicional de que a pobreza no Brasil é sobretudo um problema rela-
20
cionado à distribuição dos recursos e não à sua escassez.
10
3.1.1 - O Brasil e o mundo: uma comparação da estrutura da pobreza 32
O
10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30
o 4 6
Analisar a estrutura da distribuição de renda mundial permite contextuali- PIS real per capita
zar a posição relativa do Brasil no cenário internacional. Observamos que cerca de Fonte: Construido com base no Relatório do Desenvolvimento Humano 1999 (PNUD).
Nota: O PIB real per capita do Brasil é igual a US$ 6.500 PK.
64% dos países do mundo têm rendapercapita inferior à brasileira. Por outro lado,
na medida em que alguns países com enorme população encontram-se abaixo
do Brasil nessa estrutura da distribuição de renda, vemos que cerca de 77% da associada de modo alternativo, ao fato de os países do mundo, em seu conju~-
população mundial vivem em países com renda per capita inferior à do Brasil. to perma~ecerem relativamente pobres, significando que estar entre o; m~s
Assim, essa distribuição da renda mundial, construída a partir do Relatório de ri~os não impede a existência de uma severa escassez doer:cu~s~s, ou ao ato e
Desenvolvimento Humano de 1999 e apresentada no Gráfico 1, vem nos revelar o Brasil apresentar um elevado grau de desigualdade na dIstnbmçao ~os recurs~s.
que, apesar de o Brasil ser um país com muitos pobres, sua população não está Para procurar esclarecer essa questão, definindo qual a capaCidade explIca-
entre as mais pobres do mundo. A comparação internacional quanto a renda per tiva entre as duas alternativas propostas, comparamos o gra~ de.po~rez~~~
capita coloca o Brasil entre o terço mais rico dos países do mundo e, portanto, Brasil com o observado nos demais países com renda per caplta SIm a:., o
não nos permite considerá-lo um país pobre. com ara ão revela, com extrema clareza, que o grau de pobre~a r:o ~ras~l e Sl~-
Uma vez que se trata de uma análise comparativa, sabemos que a razoável nific~tiv;mente superior à média dos países com renda per caplta sIml1a~a bra.sI-
posição relativa do Brasil pode ser atribuída à natureza concentradora da distri- leira sugerindo a relevância da má distribuição dos recursos para explIcar a ~-
buição de renda mundial. Assim, comparado aos países industrializados, o Bra- tensidade da pobreza nacional. O Gráfico 2 nos mostra que enquanto n~ Bras a
sil não é um país ric08 mas, comparado a outros países em desenvolvimento, es- o ula ão pobre representa cerca de 30% da população total, nos paIse~ com
. ~ taria, a princípio, entre os que apresentam melhores condições de enfrentar a ~e:da pÇercapita similar à brasileira esse valor corresponde a meno~ de 1O ~o ~e
pobreza de sua população. fato considerando a renda e o grau de pobreza reportados pelos PaIS~Sno e .a-
tóri~ de Desenvolvimento Humano, podemos definir uma norma m~ernaClo-
Mantendo a perspectiva de comparação internacional e explicitando as de- nal9 que imputaria um valor previsto de somente 8% de pobres par~ paIses com
terminações econômicas da pobreza, vemos que, para explicar a posição relativa a renda per capita equivalente à brasileira. Assim, caso o grau de deSIgualdade de
do Brasil, necessitamos enfrentar a alternativa entre a escassez e a distribuição
de recursos no contexto mundial. Nesses termos, a pobreza no Brasil pode estar
• G T 2 f' btida regredindo-se o In(PO/( 1- PO)) con-
9 A norma int~rnacion~l. constrUlda no ra ~~a ;ra~:zir a estrutura observada (portanto, não se
8 A renda do trabalho no Brasil é cerca de 1/3 da renda do trabalho nos países industrializados. tra o PIE percapzla dos palses ..~ssa normadProc b dos países apresentando-nos a percentagem
trata de uma estrutura prescflllva) de ren a e po reza. • d '1
Para uma análise dos determinantes desse diferencial de renda. ver Barros e Camargo (1993). de população pobre potencialmente associada a cada mvel de ren a per capz a.
28
Gráfico 2 29
:c;
::; Tabela 2 .;;;
'" ::;
:ERelação entre nível de pobreza e renda per capita para Evolução da renda em múltiplos das linhas de indigência e de '""::::
~ um conjunto selecionado de países pobreza no Brasil
t l'I
~
.% % de pobres (PO) '"a
"
POBREZA
~ INDIGENClA
~"
.~
]
iG
I::l
.c
Guinê-Bissau (/ 991) 100
renda no Brasil correspondesse à desigualdade mundial média associada a cada 1986 7,7 6,0 3,1 3,8 3,0 20,6
nível de renda per capita, apenas 8% da população brasileira deveriam ser po- 1987 7,8 4,5 6,7 3,9 2,2 34,7
bres. Esse valor seria, de modo consistente com a norma internacionaL aquele
1988 7,6 4,2 8,6 3,8 2,1 41,2
que poderíamos associar estritamente à escassez agregada de recursos no país.
Todo o restante da distância do Brasil em relação a essa norma - o valor nada 1989 7,7 4,8 8,2 3,9 2,4 39,8
desprezível de cerca de 22 pontos percentuais - deve-se, portanto, ao elevado
1990 7,3 4,3 8,7 3,6 2,2 41,S
grau de desigualdade na distribuição dos recursos nacionais.
1992 7,1 4,1 8,3 3,5 2,0 37,8
3.1.2 - Pobreza relativa e riqueza relativa: é possível enfrentar a pobreza no
Brasil? 1993 7,3 4,3 8,3 3,7 2,1 38,6
Definir o horizonte de enfrentamento da pobreza requer que explicitemos 1995 7,8 5,3 6,1 3,9 2,7 30,9
uma questão: pode a sociedade brasileira, com a dotação de recursos que possui, 1996 7,9 5,4 6,7 4,0 2,7 31,9
erradicar a pobreza? Essa questão crucial traz à tona o possível problema de en-
. frentarmos empiricamente uma realidade em que impera a pobreza para uma 1997 8,1 5,4 6,6 4,1 2,7 32,0
~parte significativa da população, mas, além disso, os recursos disponíveis são 1998 8,7 5,5 6,3 4,3 2,8 30,8
insuficientes para retirar essa parcela da população das condições de vida iden-
1999 8,5 5,2 6,5 4,2 2,6 32,7
tificadas como precárias. Assim, nossa questão diz respeito à condição da rique-
za relativa do Brasil diante da possibilidade de erradicar sua pobreza endogena- Fonte' PNADs de vários anos. .. d 5" P lo
a As linhas de indigência e de pobreza utilizadas foram as da região metropolitana e ao au .
mente definida. b Valores deflacionados para setembro de 1999.
33
32 Os resultados apresentados revelam que, de acordo com as informações
Tabela3 :a
~ disponíveis na PPV, a renda domiciliar pcr capita média corresponde a cerca de "lE
~
~ Padrão de consumo da família e condições habitacionais do seis vezes o valor da linha de indigência e de três vezes o valor da linha de pobre- i1
~ domicílio brasileiro za. Constatamos ainda, ao desagregarmos a estrutura dos gastos pcr capita, que ~
-<>
~
os gastos com alimentação representam cerca de 47% dos gastos totais e corres- ~
2.
"
{j VARIÁVEL
GASTO
PERCAPITA
EM MÚLTIPLOS
DA W'IHA DE
EM MÚLTIPLOS
DA LINHA DE PERCENTAGEM
pondem a quase quatro vezes a linha de indigência e duas vezes a linha de po- {j
{l
{l (R$) INDIGENClAa POBREZAb
breza. No que se refere às condições habitacionais, vemos que a grande maioria ~
g
~ Padrão de consumo dos domicílios localizados nas regiões Nordeste e Sudeste tem acesso a condi- t
ções básicas de abastecimento de água e coleta de lixo. O indicador de esgota- ~
Alimentação 272,5 3,7 1,8 46,6
mento sanitário não é tão positivo, com apenas 85% dos domicílios dispondo de :~
Vestuário 62,3 0,8 0,4 10,6 esgoto sanitário via rede coletora de esgoto. .~
Transporte 80,6 1,1 0,5 13,8 ~
-<>
3.2 - Desigualdade de renda s:c
Higiene 41,4 0,5 0,3 7,1
A desigualdade, em particular a desigualdade de renda, é tão parte da his- "
Assistência à saúde 22,7 0,3 0,1 3,9 tória brasileira que adquire fórum de coisa natural. Além disso, como discuti-
mos anteriormente, nosso extremo grau de desigualdade distributiva represen-
Educação 7,2 0,1 0,0 1,2
ta o principal determinante da pobreza. Nesta subseção discutimos dois aspec-
Recreação e cultura 24,0 0,3 0,2 4,1 tos referentes ao grau de desigualdade de renda no Brasil que confirmam a for-
Fumo 17,5 0,2 0,1 3,0 ça de nossos argumentos.
Em primeiro lugar, comparamos o grau de desigualdade de renda no Brasil
Serviços pessoais 11,7 0,2 0,1 2,0
com o observado em outros países. Nosso objetivo é comprovar que o grau de
Despesas diversas 45,5 0,6 0,3 7,8 desigualdade na sociedade brasileira é dos mais elevados em todo o mundo e
justificar, portanto, o fato algo inusitado de um país com renda pcrcapita relati-
Condições de habitação
vamente elevada manter, nos últimos 20 anos, cerca de 40% da sua população
Abastecimento de água no domicílio em abaixo da linha de pobreza. Em segundo lugar, investigamos a evolução do grau
rede geral 98,5
de desigualdade de renda ao longo das últimas décadas mostrando que, apesar
Esgoto sanitário no domicílio via rede das diversas transformações e flutuações macroeconômicas ocorridas no perío-
coletora de esgoto 84,8
do, a desigualdade exibiu uma estabilidade surpreendente.
Lixo do domicílio é coletado 96,3 A análise da desigualdade foi desenvolvida, principalmente, a partir da in-
Há calçada na frente do domicílio 87,1 terpretação de quatro medidas tradicionais: a) o coeficiente de Gini; b) o índice
de Theil; c) a razão entre a renda média dos 10%mais ricos e a renda média dos
Rua onde se localiza o domicílio é 40% mais pobres; e d) a razão entre a renda média dos 20% mais ricos e a renda
asfaltada 71,2
média dos 20% mais pobres. O coeficiente de Gini e o índice de Theil correspon-
Renda domiciliar per capita média CR$483,92) dem a dois indicadores consagrados, e de uso difundido na literatura, que reve-
Em múltiplos da linha de indigênciaa 6,3 lam o grau da desigualdade de renda de uma realidade específica. I I As duas úl-
timas medidas correspondem a distintas razões entre segmentos extremos da
Em múltiplos da linha de pobrezab 3,2 distribuição de renda traduzindo, em termos econômicos, uma noção de
Fonte: PPV de 1996 e 1997. (in )justiça social. Preservando esse olhar econômico sobre o perfil distributivo,
~ Baseada na linha de indigência da região metropolitana de São Paulo IRS 76.36).
Baseada na 'inha de pobreza da região metropolitana de São Paulo IRS 152.73). podemos supor, em princípio, que quanto maior for o valor da renda média dos
mais ricos em relação à dos mais pobres, menos justa deve ser considerada a so-
ciedade.
lI Para uma análise conceitual. consultar o excelente livro de Rodolfo Hoffmann ( 1998).
34 35
;-- . 3.2.1 - O Brasil e o mundo: uma comparação da estrutura da desigualdade Gráfico 4
~
Jl A comparação internacional entre os coeficientes de Gini, presente no Grá-
~ fico 4, revela que apenas a África do Sul e Malavi têm um grau de desigualdade Grau de desigualdade de renda: coeficiente de Gini
~
~ maior que o do Brasil. O coeficiente de Gini do Brasil, com valor próximo de
â" 0,60, representa, no conjunto de 92 países com informações disponíveis, um pa- República Eslováquia
Eslováquia
~ Tchecoslováquia
;;g drão alcançado apenas pelos quatro países com maior grau de desigualdade: Ucrânia
.~ Guatemala, Brasil, África do Sul e Malavi. Na realidade, 40 dos 92 países dis- F1~ft~~~
Bél9i~
letonla
g põem de um coeficiente de Gini no intervalo entre 0,30 e 0,40, sendo que a maio- Canadá
Hun9ria
Eslovenia
ria dos países sul-americanos apresenta valores mais elevados, no intervalo República Checa
informações, com a renda média dos 10% mais ricos representando 28 vezes a N2,1~:
Mauritânia
Jamaica
renda média dos 40% mais pobres. Um valor que coloca o Brasil como um país Estados Unidos
Costa do Marfim
distante de qualquer padrão reconhecível, no cenário internacional, como ra- Tanzânia
Ojibouti
Burkina Faso
zoável em termos de justiça distributiva. Gâmbia
Cingapura
Marrocos
O Gráfico 6 apresenta a razão entre a renda média dos 20% mais ricos e a Armênia
Nova Zelândia
dos 20% mais pobres para cerca de 45 países, confirmando o diagnóstico do in- Guiana
Tunlsia
Guiné
dicador anterior. Na grande maioria dos países essa razão é inferior a 10 e em Jordânia
Uganda
apenas cinco países essa razão é superior a 20. O Brasil, novamente, é o país com Austráha
Bolívia
Equador
o maior grau de desigualdade, segundo as informações presentes no Relatório Madartt~~
Pe",
de Desenvolvimento Humano de 1999. Como se pode constatar, o Brasil é o úni- Fili~jnaS
co dos países analisados em que a razão entre a renda média dos 20% mais ricos HO~a~a~~
Costa Rica
Malásia
da população e a dos 20% mais pobres supera o dilatado valor de 30. República Dominicana
México
significativamente mais elevado do que em outros países com renda per capita Chile
Zimbábue
Guatemala
similar. .
Brasil
Malavi
Africa do Sul
35 40 45 50 55 60 65
15 20 25 30
Coeficiente de Gini .
5
37
36
Gráfico 5 Gráfico 6
Grau de desigualdade da renda: razão entre a renda dos Grau de desigualdade da renda: razão entre a renda
ricos (10+) e a dos pobres (40-) dos ricos (20+) e a dos pobres (20-)
Holanda
Bélgica
Eslováquia
Belarus
República Checa
Ucrânia
e.
Hungria
Letônia
Japâo Romênia
Alemanha
Suíça
H~~~~::
Ruanda
Finlândia Bangladesh
Laos
Noruega Japão
Iugoslávia Nepal
Sri lanka
Irlanda Espanha
Israel Holanda
Suécia
Espanha Bélgica
Reino Unido eJJl~g[~~
Dinamarca Paquistão
Indonésia
Paquistão lndia
Estados Unidos Lituânia
Gana
Suécia Cazaquistão
Canadá Vietname
Alemanha
França NIger
Barbados Noruega
Moldava
Itália Finlândia
Coréia do Sul Itália
Turquemenistão
Bangladesh Costa do Marfim
Tanzânia
Nova Zelândia Israel
Uganda Argélia
Marrocos
EI Salvador Estônia
Hong Kong Canadá
Uga,!da
Austrália China
Egito Dinamarca
Filipinas
[ndia França
Sri Lanka Tunlsla
Jamaica
Portugal Jordânia
Tailândia Madaa~fl~~
Indonésia Suiça
Hong Kong
Trinidad e Tobago Nova Zelândia
Argentina Estados Unidos
Tailândia
Reino Unido
Filipinas Cingapura
Austrália
Bahamas Equador
Fiji Peru
Malásia
Costa Rica Nigéria
Venezuela Costa Rica
Mauritânia
Turquia Zâmbia
Nepal Nicarágua
Malásia México
Colômbia Federa~ágn~~~~
Maurício Colômbia
Zimbábue
México Venezuela
Zâmbia Guiné
Senegal
Costa do Marfim Chile
Quênia , Quênia
Africa do Sul
Botsuana Panamá
Peru lesoto
Guiné-Bissau
Panamá Guatemala
Brasil Brasil,
O 5 10 15 20 25 30 35
o 5 10 15 20 25 30 Razão entre a renda média dos 20% mais ricos e a dos 20% mais pobres
Razão entre a renda média dos 10% mais ricos e a dos 40% mais pobres
Fonte: Construido com base no relatório do desenvolvimento humano de 1999 IPNUD).
Fonte: Barros e Mendonça (1995b).
38 39
1;
3.2.2 - Evolução da desigualdade: a decepção de uma regularidade Tabela4
:c;
~ A análise da evolução da desigualdade de renda no Brasil, ao longo das ::;
Evolução temporal dos indicadores de desigualdade de renda "l
<>
:::~ duas últimas décadas, é desenvolvida a partir das mesmas medidas de desigual- ":::
~
a dade descritas anteriormente. Todos os indicadores selecionados, conforme ob-
COEFICIENTE íNDICE DE
RAZÃO ENTRE A RENDA MÉDIA RAZÃO ENTRE A RENDA MÉDIA
DOS 10% MAIS RICOS E A
..,~
<>
DOS 20% MAIS RICOS E A
" servamos nas Tabelas 4 e 5, revelam um elevado grau de desigualdade, sem ANO DE GINI THEIL DOS 20% MAIS POBRES DOS 40% MAIS POBRES "'-
"
{i
~ qualquer tendência ao declínio. O grau de desigualdade observado em 1999 é
1977 0,62 0,91 27,5 26,8 ~
]
.~ bastante similar ao do inÍCio da série, no final da década de 70. 51
~ .~
Cl Ao longo do período o grau de desigualdade é surpreendentemente estável, 1978 0,60 0,74 31,3 25,0 .".:c
exceto por uma importante flutuação ascendente ao final da década de 80. 0,74 32,9 25,2 ~
.",
1979 0,60 .~
Entre 1986 e 1989 o grau de desigualdade apresenta crescimento acelerado,
1981 0,59 0,69 24,0 21,8 '"
.:;
atingindo níveis extremos no auge da instabilidade macroeconômica de 1989: o {i
coeficiente de Gini chega a 0,64 e o coeficiente de Theil a cerca de 0,91; os 10% 1982 0,59 0,71 25,6 23,0 ~
~
mais ricos recebem uma renda média cerca de 30 vezes superior à dos 40% mais s
0,60 0,73 25,7 23,5 :c
1983
pobres e a razão entre a renda média dos 20% mais ricos e a dos 20% mais pobres "
alcança o múltiplo de 35. 1984 0,59 0,71 23,6 22,4
Analisando a década de 90 vemos, na Tabela 4, que o maior declínio no 1985 0,60 0,76 25,5 23,6
grau de desigualdade, apesar de pouco relevante, encontra-se na entrada da dé-
1986 0,59 0,72 24,0 22,1
cada, entre os anos de 1989 e 1992. Em particular, no que se refere ao Plano
Real, não dispomos de evidência ~lguma de que tenha produzido qualquer im- 1987 0,60 0,75 27,6 24,4
pacto significativo sobre a redução no grau de desigualdade, apesar de a pobre- 30,9 27,2
1988 0,62 0,78
za ter sofrido uma redução importante, conforme descrito anteriormente. De
fato, o grau de desigualdade nos anos posteriores ao Plano Real é estável e simi- 1989 0,64 0,89 34,3 30,4
lar ao valor observado em 1993, mas sempre superior ao valor de 1992. Em vir- 1990 0,62 0,78 31,2 26,9
tude desse crescimento no grau de desigualdade entre os anos de 1992 e 1993 e
1992 0,58 0,70 26,7 21,8
da manutenção desse novo patamar, constatamos que o grau de desigualdade
em 1999 é dos mais elevados nas últimas décadas, sendo apenas inferior aos va- 1993 0,60 0,77 28,8 24,5
lores observados no final dos anos 70 ( 1977/78) e 80 ( 1988/90).
1995 0,60 0,73 28,0 24,1
A análise atenta do período 1977/99 revela, de forma contundente, que
muito mais importante do que as pequenas flutuações observadas na desigual- 1996 0,60 0,73 29,8 24,6
dade é a inacreditável estabilidade da intensa desigualdade de renda que acom- 1997 0,60 0,74 29,2 24,5
panha a sociedade brasileira ao longo de todos esses anos.
1998 0,60 0,74 28,6 24,2
A perversa estrutura de distribuição de renda no Brasil pode ser traduzida
em números nada frios e plenos de significado. O clássico coeficiente de Gini, 1999 0,60 0,72 27,2 23,3
. ~ por exemplo, a despeito de pequenos soluços, mantém-se impassível no incô- Fonte: PNADs de vários anos. .
Notas: Os índices de Gíni e Theíl medem o grau de desigualdade na dístribuíçao de renda.
modo patamar de 0,60. As duas décadas analisadas desvelam um cenário de A distribuição utilizada foi a de domicílios segundo a renda domiciliar per caplta.
concentração da renda em que os indivíduos que correspondem à parcela dos
20% mais ricos da população se apropriam de uma renda média entre 24 e 35 ve- Reconhecendo, novamente, a relevância conceitual da relação entre as
zes superior aos 20% mais pobres; os 10% mais ricos, por sua vez, dispõem de rendas auferidas pelos segmentos extremos de uma sociedade enquanto um
uma renda que oscila entre 22 e 31 vezes acima do valor da renda obtida pelos
parâmetro econômico de justiça social, não podemos deixar de ficar pert.urba-
40% mais pobres da população brasileira. A magnitude despropositada desses dos e atônitos com os valores reportados. Como último destaque, descnto na
valores fica ainda mais evidente se nos recordarmos dos valores descritos na se- Tabela 5, vemos que os indivíduos que se encontram entre os 10%m~is ricos da
ção anterior, que correspondem a inúmeros países da comunidade internacional. população se apropriam de cerca de 50% do total da renda das famílIas. No ou-
41
40
Tabela 5 priam de 50% do total da renda das famílias e, ~omo.por e~pelhamento,_ os 50~ ';;;
~ mais pobres possuem cerca de 10%da renda. Alem diSSO,1 Yo da populaça o, o 1 Yo £
~
Evolução temporal da desigualdade de renda mais rico, detém uma parcela da renda superior à apropriada por metade de
t
iE
CQ
iE
~
~ toda a população brasileira.
-<:> PERCENTAGEM DA RENDA APROPRIADA PELAS PESSOAS
2. ANO Enfim, do ponto de vista do exercício empírico e descritivo deste trabalho, "
" 20% MAIS 40% MAIS SO%MAIS 20% MAIS 10% MAIS 1% MAIS RICO cremos que palavras não são mais necessárias. Talvez uma última ilustração vi- ~
~
~
POBRES POBRES POBRES RICOS RICOS
~ sua!, gráfica e contundente, que nas linhas do Gráfico 7 desenha a injusta reali- .~
.~ 1977 2,4 7,7 11,7 66,6 51,6 18,5
.g dade com os valores da inaceitável estabilidade da desigualdade de renda no ~
1978 2,1 7,6 12,0 64,1 47,7 13,6 Brasil. ~
.",
"i3
1979 1,9 7,5 11,9 64,2 47,6 13,4 ~
.:::
Gráfico 7
1981 2,6 8,6 13,0 63,1 46,7 12,7
1982 2,5 8,2 12,6 63,7 47,3 13,1 Proporção da renda apropriada pelos 10% mais ricos,
50% seguintes e 40% mais pobres
1983 2,5 8,1 12,4 64,4 47,7 13,5
% 100
1984 2,7 8,5 12,8 63,8 47,6 13,2 1% mais rico
90
1985 2,5 8,2 12,4 64,4 48,2 14,2
80
1986 2,6 8,5 12,9 63,4 47,2 13,8 70
1987 2,3 7,9 12,1 64,3 48,0 14,1 60
1988
1989
2,1
2,0
7,3
6,8
11,3
10,5
66,0
67,8
49,7
51,7
14,4
16,4
- ~ 50
40
20
1992 2,3 8,4 13,1 62,1 45,8 13,2
10
1993 2,2 7,9 12,3 64,5 48,6 15,0
1998 2,2 7,9 12,2 64,2 47,9 13,9 4 - Crescimento e eqüidade: desafios do desenvolvimento
1999 2,3 12,6 63,8
social
8,1 47,4 13,3
Fonte: PNADs de vários anos.
A estratégia. de redução da pobreza solicita o crescimento da renda per i:apita
Nota: A distribuição utilizada foi a de domicí'~os segundo a renda domiciliar per (apita. ou a distribuição mais igualitária da renda. Uma combinação de políticas que
estimulem o crescimento econômico e diminuam a desigualdade, em princípio,
tro extremo, os 50% mais pobres da população detêm, ao longo de todo período aparenta conceder maior eficácia e velocidade ao processo de combate à pobre-
analisado, pouco mais de 10%da renda. Vemos ainda que o grupo dos 20% mais za. Partindo dessa reflexão, a última parte do trabalho estrutura-se em dois blocos.
pobres se apropria, em conjunto, somente de cerca de 2% do total da renda. Por Inicialmente, procura identificar, a partir da simulação de impactos da re-
fim, o seleto grupo composto pelo 1% mais rico da sociedade concentra uma dução no grau de desigualdade ou da aceleração no crescimento econômico,
parcela da renda superior à apropriada por todos os 50% mais pobres. Resumin- quais as possibilidades de integração entre essas alternativas, tornando eviden-
do, vivemos em uma perversa simetria social em que os 10%mais ricos se apro- te a importância do rede senha de estratégias de enfrentamento da pobreza. Em
42 43
seguida, pretende avaliar como, na experiência concreta das últimas décadas, o Em primeiro lugar, o gráfico confirma a sensibilidade da pobreza ao com-
~ portamento da desigualdade de renda. Mesmo considerando os valores relati-
1;
£
~ Brasil tem combinado esses dois caminhos alternativos para o combate à pobre-
g za. De forma consistente com nosso diagnóstico sobre as causas da pobreza no vamente elevados da desigualdade nos países da América Latina, vemos, por g
j país, pretendemos ressaltar o potencial inexplorado de políticas geradoras de exemplo, que a implementação de políticas que alterassem a desigualdade no ~
~ eqüidade no combate à pobreza brasileira.12 Brasil para o perfil da desigualdade no México, sob a condição de inexistência "'~
"
j Para pensarmos o horizonte potencial da combinação entre políticas de de crescimento econômico, implicaria uma redução na proporção de pobres de ~
~ crescinlento econômico e políticas de redução da desigualdade podemos esti- cerca de 34% para 25%.14 A definição de uma meta social mais ambiciosa, que ~
.'g" mar como o grau de pobreza responderia, alternativamente, ao crescimento e a reconhecesse o perfil da desigualdade da Costa Ricacomo o padrão a ser atingido, :f
variações no grau de desigualdade da renda. O Gráfico 8 apresenta os impactos implicaria o esforço equivalente a reduzir o coeficiente de Gini de 0,60 para 0,46 1i
.",
potenciais sobre a proporção de pobres simulando, por um lado, políticas que e produziria uma queda de 12,5 pontos percentuais na pobreza brasileira. '2
sustentem taxas médias decenais estáveis de crescimento econômico e, por ou- Em segundo lugar, o gráfico nos permite perceber que os níveis de pobreza ~'"
tro, políticas que viabilizem a convergência do grau de desigualdade brasileiro são mais sensíveis a alterações no grau de desigualdade do que a alterações no ~
para os valores de alguns países latino-americanos selecionados. 13 Desse gráfico crescimento econômico. Tendo como referência as variações na magnitude da ~
i)
podemos extrair duas conclusões básicas. pobreza assinaladas no parágrafo anterior, vemos que o esforço de uma década '"
de crescimento econômico à taxa de 2,75% a.a., com nenhuma alteração da es-
trutura distributiva da renda percapita, produziria o mesmo impacto sobre a re-
Gráfico 8
dução da pobreza que a eliminação do excesso de desigualdade entre o Brasil e o
México. Para obtermos um impacto sobre a pobreza equivalente ao gerado pela
Impacto sobre a pobreza:'crescimento econômico versus redução da desigualdade entre o Brasil e a Costa Rica seria necessário uma ele-
redução no grau de desigualdade vação na rendapercapita de cerca de 50%, o que solicitaria um processo contínuo
de crescimento da renda per capita à taxa anual de 4% durante 10 anos consecu-
Proporção de pobres %
40 tivos.
35
O crescimento econômico, evidentemente, representa uma via importan-
Honduras te, apesar de lenta, para combater a pobreza. Um crescimento de 3%a.a. na ren-
30 da per capita, por exemplo, tende a reduzir a pobreza em um valor aproximado
Costa Rica ~rgentina
25 de um ponto percentual a cada dois anos. Ou ainda, um crescimento contínuo e
-.! Bolívía
/ Peru
20
sustentado de 3% a.a. na renda percapita levaria, no Brasil, mais de 25 anos para
reduzir a proporção de pobres abaixo de 15%. Assim, embora conduza a uma re-
Equador
I dução da pobreza, a via do crescimento econômico necessita durar um longo pe-
--l
15
Venezuela ríodo de tempo para produzir uma transformação relevante na magnitude da
10
pobreza.
5 Encarar a realidade atual da sociedade brasileira nos permite considerar,
, I portanto, que a pobreza reage com maior sensibilidade aos esforços de aumento
O
'O
4 6
da eqüidade do que aos de aumento do crescimento. A alternativa, aparente-
Crescimento econômico %
mente difundida entre vários especialistas, do modelo culinário do "crescer o
Fontes: PNAD e 81D. bolo para depois distribuir" ou, então, a sua versão mais refinada do "crescer,
crescer e crescer" enquanto via única de combate à pobreza, parece sucumbir à
inércia do pensamento e deve, no mínimo, ser relativizada. Talvez a sociedade
brasileira possa ousar, com responsabilidade, definindo a busca de maior eqüi-
12 Neste artigo não discutiremos os possíveis contornos de políticas redistributivas (estruturais, de dade social como elemento central de uma estratégia de combate à pobreza.
preços ou compensatórias) para o combate à pobreza. Sobre esse tema, ver Barros, Henriques e
Mendonça (1999).
13 A curva construída nesse gráfico parte do valor correspondente aos atuais 34% da população po- 14 Observe-se que os coeficientes de Gini do Brasil e do México correspondem a 0,60 e 0,55, respec-
bre no Brasil e ordena os países latino-americanos a partir de suas respectivas curvas de Lorenz. tivamente.
p
44 45
-" .-._-~-- ~ Nesta última parte do trabalho necessitamos, por fim, investigar a expe- a diferença observada entre o nível de pobreza efetivo de cada ano e o do nosso ~
JS riência brasileira recente de redução na magnitude da pobreza. Ao longo das ano de referência, o ano de 1997. Em segundo, simula um exercício contrafac- JS
g duas últimas décadas, essa experiência de redução da pobreza encontra-se as- LUalque dimensiona, em termos potenciais, a contribuição da redução na desi- g
j sociada, sobretudo, aos efeitos do crescimento econômico, relegando a um pla- gualdade para explicar a referida diferença entre os níveis de pobreza observa- @
~ no secundário as alternativas de combate à desigualdade. Podemos demonstrar dos em 1997 e em cada um dos anos da série.' !
~ a dominância desse processo analisando o comportamento da renda familiar Assim, a estimativa da contribuição da redução na desigualdade para a ~
~
~ brasileira entre 1977 e 1997 e estimando os fatores determinantes das reduções queda no grau de pobreza, entre um ano específico e o ano de 1997, decorre de .~
.~ nos níveis de pobreza ao longo do período. uma simulação contrafactual que procura identificar qual teria sido a queda na ~
~
Como vimos anteriormente, as reduções no grau de pobreza observadas pobreza caso somente a desigualdade variasse e a renda familiar per capita fosse ~
nesse período são de dimensão modesta mas, mesmo diante dessa pequena mantida constante. A contribuição do crescimento econômico, por sua vez, é obti- .~
magnitude, podemos decompor as causalidades atribuíveis ao crescimento e à da por resíduo. Desse modo, a seqüência do exercício contrafactual é fu~da~nental, ~
eqüidade. Nosso ponto de referência será o ano de 1997 na medida em que, nas na medida em que a estimativa da contribuição do cresdcind1~fntoeconOllllCO patra ~
duas décadas analisadas, esse ano encontra-se entre os de maior renda familiar a redução da pobreza é obtida a partir da mensuração a I erença entre o to a l ~
percapita e os de menor grau de desigualdade. Como decorrência dessa posição da queda na pobreza efetivamente observado e a parcela atribuída, por simula- "
particular ao longo do período, evidenciamos que o grau de pobreza em 1997 era ção, ao impacto da redução na desigualdade.
o menor entre os demais anos das últimas duas décadas, com exceção de 1986. O Gráfico 9 apresenta, de forma consolidada, o conjunto dessas simulações
Para verificarmos em que medida a queda na pobreza, ocorrida ao longo realizadas ano a ano. Seguindo a metodologia descrita, isolamos, para cada ano
dos últimos 20 anos, deriva de reduções no grau de desigualdade ou do cresci- da série ilustrado no gráfico, o quanto da diferença entre os níveis de pobreza
mento econômico, apresentamos, no Gráfico 9, a decomposição da queda na observados em cada ano e o ano de referência de 1997 resulta de reduções na de-
pobreza em relação ao ano de 1997. Essa decomposição, construída para cada sigualdade ou do crescimento da economia.'5 Essa evidência empírica demons-
ano individualmente, é realizada em duas etapas. Em primeiro lugar, identifica tra, ex-post, uma regularidade surpreendente nos mecanismos de redução da
pobreza, na medida em que as quedas observadas na magnitude da pobr.eza em
Gráfico 9 todos os anos posteriores a 1977 resultam, primordialmente, do creSCImento
econômico. O papel da redistribuição de renda é bastante limitado durante todo
o período, com exceção do final da década de 80, em particular no ajuste poste-
Contribuição do crescimento e de reduções na desigualdade rior a 1989, quando vigorava o maior grau de desigualdade das duas décadas.
para queda na pobreza
Se nos concentrarmos, em particular, no período recente, vemos que o
crescimento econômico responde por 84% da queda na pobreza observada entre
--------------------0----,,----,-----,------ 20
Contribuição de reduções na 1993 e 1995, ou seja, o impacto sobre a pobreza decorrente do Plano Real, apesar
desigualdade para queda na
pobreza do inegável êxito do programa de estabilização monetária, não é tributário de
15 mecanismos redutores da desigualdade de renda entre as famílias brasileiras.
Devemos concluir, com algum incômodo, que apesar da evidente impor-
10 tância da redistribuição de renda para o combate à pobreza no Brasil, os únicos
mecanismos utilizados para reduzir a pobreza, além de extremamente limita-
5 dos quanto ao seu impacto, resultam, de modo sistemático, do crescimento eco-
nômico. Acreditamos que essa estratégia, no limite uma "não-estratégia", res-
o ponde, em grande medida, pela ineficácia no combate à pobreza ao longo das
últimas décadas no país.
-------------------------------5
I I I ! I I ! I I I I I I I I I I
1~1~'~'~ 'm'~'~'~'_'~'m'~'~lm'm'ml~'~O 15 O valor negativo observado no ano de 1986 decorre do rato de esse ser o único ano com menor
Fonte: PNAD. grau de pobreza do que o ano eleito como referência.
46 47
5 - Conclusão pobreza. É óbvio que reconhecemos a importância crucial de estimular políticas 't;
~ de crescimento para alimentar a dinâmica econômica e social do país. No en- ~
l2
~ Este trabalho procurou, por um lado, desenvolver uma descrição empírica tanto, para erradicar a pobreza no Brasil é necessário definir uma estratégia que g
~ exaustiva da estrutura da pobreza e da desigualdade no Brasil e, por outro, su-
confira prioridade à redução da desigualdade. ~
l;~ gerir os marcos referenciais para a construção de estratégias consistentes de t
{; combate à desigualdade e à pobreza. Em vários momentos apresentamos exer- "
:!ii:l cícios de natureza eminentemente estática para perseguir, de forma minuciosa, Bibliografia ~
g
.~ variados ângulos que pudessem contribuir no esclarecimento de nosso diag- BARROS,R. P. de, CAMARGO,J. M. Em busca dos det~rminantes ?O
.nível de '6'
2; nóstico. Esperamos ter alertado, ao longo de todo trabalho, para as limitações,
além das vantagens, desses exercícios.
bem-estar social na América Latina. Pesquisa e Planejamento Economlco, v. 23,
n.3, 1993. 1
~
O diagnóstico básico referente à estrutura da pobreza entende que o BrasiL -----. O combate à pobreza no Brasil: dilemas entre políticas de ~
no limiar do século XXI, não é um país pobre, mas um país extremamente injusto crescimento e políticas de redução da desigualdade. In: HENRIQUES, R. ~
e desiguaL com muitos pobres. A desigualdade encontra-se na origem da po- (org.). Anais do Seminário Desigualdade e Pobreza no Brasil. Rio de Janeiro, ago. ~
breza e combatê-la torna-se um imperativo. Imperativo de um projeto de socie- 1999. ~
'<:
dade que deve enfrentar o desafio de combinar democracia com eficiência eco-
BARROS,R. P. de., HENRIQUES,R., MENDONÇA, R. Desigualdade e pobreza no
nômica e justiça social. Desafio clássico da era moderna, mas que toma contor- Brasil: retrato de uma estabilidade inaceitável. Revista Brasileira de Ciências
nos de urgência no Brasil contemporâneo. Sociais, n. 42, fev. 2000a.
Na elaboração deste trabalho evidentemente reconhecemos, mas não dis-
-----. Education and equitable economic development. Economia, v. I,
cutimos, os condicionantes políticos e institucionais básicos para o estabeleci-
n. 1, jan. 2000b.
mento de um novo pacto social que contemple a prioridade de uma estratégia
de redução da desigualdade. O trabalho também não se propõe a discutir o de- BARROS, R. P. de., MENDONÇA, R. A evolução do bem-estar, pobreza e
senho e os limites de uma política redistributiva que integre programas estrutu- desigualdade no Brasil ao longo das três últimas décadas - 1960/90.
rais, redefinindo o controle e a distribuição dos capitais físico, humano e da ter- Pesquisa e Planejamento Econômico, v. 25, n. 1, 1995a.
ra, com programas compensatórios de redistribuição de renda.16 -----. A evolução do bem-estar e da desigualdade no Brasil desde 1960.
Esperamos ter demonstrado não só que o Brasil não é um país pobre, mas Revista Brasileira de Economia, v. 49, n. 2, 1995b.
que apresenta farta disponibilidade de recursos para combater a pobreza.
-----. Os determinantes da desigualdade no Brasil. A Economia Brasileira
Assim, a sociedade brasileira não enfrenta problemas de escassez, absoluta ou
em Perspectiva - 1996. Rio de Janeiro, IPEA, v. 2, p. 421-474, 1996.
relativa, de recursos para erradicar o seu atual nível de pobreza. Além disso, pro-
curamos construir, exaustivamente, diversos prismas de entendimento da de- HOFFMANN, R. Distribuição de renda: medidas de desigualdade e pobreza. São Paulo:
sigualdade econômica brasileira, colocando-a no eixo da causalidade que expli- Edusp, 1998.
ca o elevado grau de pobreza.
RAVALLION,M. Poverty comparisions: a guide to concepts and methods. Living
Desigualdade que surpreende tanto por sua intensidade como, sobretudo, Standard Measurement Study. 1992 (Working Paper, 88).
por sua estabilidade. Desigualdade extrema que se mantém inerte, resistindo às
mudanças estruturais e conjunturais das últimas décadas. Desigualdade que
atravessou impassível o regime militar, governos democraticamente eleitos e
incontáveis laboratórios de política econômica, além de diversas crises políti-
cas, econômicas e internacionais.
É imperativo reduzir a desigualdade tanto por questões morais como por
motivações relativas à implementação de políticas eficazes para erradicar a po-
breza. A tradição brasileira, contudo, tem reforçado a via única do crescimento
econômico, sem gerar, como vimos, resultados satisfatórios sobre a redução da
16 Nessa linha de reflexão, ver outros dois estudos: Barros, Henriques e Mendonça ( 1999 e 2000b).
.-._---~
Desigualdade, pobreza e
bem-estar social no
Brasil - 1981/95*
Francisco H. G. Ferreira**
Julie A. Litchfield***
1 - Introdução
Este artigo apresenta uma análise detalhada da distribuição de renda e po-
breza no Brasil entre 1981 e 1995. O objetivo é mostrar tão claramente quanto
possível um panorama das rendas por família, níveis e mudanças da desigual-
dade e pobreza, e fazer algumas comparações gerais de bem-estar, usando de-
senvolvimentos recentes nos conceitos e técnicas de análise distributiva. Além
disso, uma análise de sensibilidade é conduzida a fim de medir o efeito sobre es-
timativas de desigualdade e pobreza de várias escalas de equivalência.
A desigualdade no Brasil está entre as maiores do mundo. O Banco Mundial
consistentemente lista-a como a primeira ou a segunda (dependendo da medi-
da empregada) e isto, combinado com a importância geográfica e econômica do
país, a torna um caso de estudo importante para qualquer interessado em análi-
se distributiva [ver World Bank (1980, 1990 e 1996)]. Não surpreendentemen-
te, existe uma vasta literatura sobre pobreza e desigualdade no Brasil: veja por
exemplo Amadeo et alii (1994), Barros, Mendonça e Rocha (1993), Barros,
Mendonça e Duarte (1995), Fishlow (1972), Fields (1978), Fox (1990), Fox e
Morley (1991), Hoffman (1989), Jatobá (1995), Sedlacek e Barros (1989), Thomas
(1987) e Tolosa (1991). Nosso objetivo neste artigo é complementar esses estu-
dos, providenciando um panorama compreensivo da distribuição de renda,
Somos gratos a Leverhulme Trust, the Economics and Social Research Council e Sticerd, LSE,
no Reino Unido, e ao CNPq. em Brasilia. pelo apoio financeiro. Agradecemos também a Frank Co-
well. David Piachaud e Stephen Howes. na LSE; Sergei Soares. no Delta. Paris; e ao grupo de pesqui-
sadores do IPEA, no Rio de Janeiro. pelo apoio e conselhos. Este texto foi traduzido do inglês por
Antônio Marcos H. Ambrózio.
** Professor de Economia da PUClRio.
*** Diretora da Poverty Research Unit da Universidade de Sussex. Inglaterra.
50 51
.0_.-_-'"
desigualdade, pobreza e bem-estar social para os anos de 1981 a 1995, com ên- na análise a fim de permitir algum grau de comparabilidade com outros estu- !S
~
~ fase nas mudanças nesse período. dos.2 As fórmulas são: ~
"l
~ O artigo está organizado da seguinte forma: a Seção 2 analisa as mudanças
~ n n
~ na distribuição da renda familiar bruta per capita e apresenta resultados sobre
t" renda, medidas de desigualdade e renda média e fração de renda por décimo da Gini=+ L L IYi-Yjl
{j d 2n Y i=l j=1
~ istribuição. A Seção 3 estende a análise de medidas resumidas usando instru- .~
.~ mentos-padrão, como Parada de Pen, Curva de Lorenz e Curva de Lorenz Gene- •...
-':a!
~ ralizada, a fim de observar a distribuição como um todo. A Seção 4 contém re-
sultados sobre a evolução da pobreza, com três índices para cada ano no perío-
EG(a) = 2
1
(a -a)
[~
ni=1
i (Y~ Y
)CJ. -1] ]
"~
do, assim como comparações de pobreza usando dominância mista. A Seção 5 ~
testa a robustez das conclusões a mudanças na escolha da escala de equivalên- t
cia. A Seção 6 conclui o trabalho. O Apêndice contém dados referentes ao arca- onde n é o número de indivíduos na amostra, Yi é a renda familiar bruta per capita ~
bouço macroeconômico. para o indivíduo i, iE (I, 2, ... ,n), ey=(l/n) LYi' éamédia aritmética da renda. O ~
A base de dados utilizada é a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios parâmetro a na classe de EG representa o peso dado a distâncias entre rendas 'g
(PNAD) do período 1981/95, produzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e em partes diferentes da distribuição. Um valor de a = O dá mais peso a distâncias
Estatística (IBGE). Os dados para cada ano foram coletados de uma amostra entre rendas na cauda inferior da distribuição, enquanto um valor de a = 2 dá
nacional representativa de famílias, com o tamanho variando de 286 mil a 517 proporcionalmente mais peso a distânc~as na cauda superi~r. As.medida~ de.EG
mil indivíduos. O questionário abrange assuntos relacionados tanto às famílias com parâmetros O e I se tornam, aplicando a regra de I Ropital, os mdlCes
quanto aos indivíduos que as compõem. A informação se refere à localização geo- Theil(L) e Theil(T):
gráfica das famílias; características da residência; tamanho; relações entre os
n _
indivíduos; suas atividades; renda do trabalho; transferências e outras fontes
como renda da terra e capital; ocupação e outras características do trabalho; EG(O)=~ L 10gL
ni=l Yi
idade; sexo; educação; etnia e alfabetização. A definição da renda na análise
central é renda familiar bruta mensal per capita; a população se refere a todos os
n
indivíduos. Os montantes monetários são todos medidos em reais de 1995, com
a taxa de câmbio de US$ 0.953. O INPC (Brasil) é usado para converter renda
EG(l)= ~ L Y~ log Y~
ni=1 Y Y
nominal em renda real.
1 Esses axiomas são: anonimato, princípio da transferência, invariãncia de escala, invariãncia por 2 o coeficiente de Gini não é decomponível. a não ser que os subgrupos da população não se sobre-
replicação da população e decomponibilidade [Cowell ( 1995) l. ponham no vetor de rendas.
52 53
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o \.O M IJ'\
Entretanto, este aumento na desigualdade não foi monótono durante o perío-
~ <n
<n IJ'\ o o V\
i:: '"'" ~ IJ'\ \.O r-- CXl ~
""<:>:;: ~ IJ'\
\.O co
o o o do. Nos anos 80, o coeficiente de Gini aumentou mais de 5%, EG (O) e EG (1) C<i
cerca de 15%e CVaproximadamente 23%, enquanto durante os anos 90 a desi- 2;
~
~ IJ'\ \.O \.O r-- gualdade declinou, com todas as medidas caindo: o coeficiente de Gini por volta
"'a" N
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M <n ~
CXl IJ'\ I"': C"! i::
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'"~ -<i r-- o de 3%, EG (O) 5%, EG (1) 6% e CVpor volta de 7%. As mudanças proporcional-
~" M \.O
o o ""g
~ mente maiores no CVdurante os anos 80 sugerem que o aumento da desigual-
:'": M co \.O \.O dade foi determinado por um aumento relativamente grande das rendas na cau- .~
.~ r-- N \.O M ...
iG N N M IJ'\ \.O \.O C"!
Cl
'"~ co <n o o o da superior. Mudanças na desigualdade durante os anos 90 são menores e razo- S
iG
N \.O
avelmente similares entre as quatro medidas, mas o ligeiro declínio no CVpode
\.O IJ'\ IJ'\ <n ser devido a ganhos de renda proporcionalmente menores no topo da distribuição.
"
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o o '<t o ~
o co N \.O r-- r-- o ~
'"~ <n N o o o N As estatísticas resumidas também lançam alguma luz na relação entre o ci- "'a"
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clo macroeconômico e a distribuição de renda. Todas as quatro medidas au- ~.
co co \.O
mentaram substancialmente durante a recessão de 1981/83, caíram com a volta ~
~ M <n
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N M o o o N do crescimento em 1984 e então retomaram uma tendência de alta, alcançando .~
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o pico em 1989, antes de declinar até 1995. O ano de 1986 foi atípico, quando Cl
<n IJ'\ o <n ambos os índices de Theil e de Gini caíram, indicando queda da desigualdade
o IJ'\ \.O
00
00
\.O \.O r-- r-- CXl
com respeito à base e ao meio da distribuição. O pronunciado aumento no CV
~ -<i co o o o
'<t \.O
sugere maior dispersão entre as maiores rendas. Essas mudanças vão contra a
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~ ~ tendência geral e são certamente devidas aos efeitos redistributivos de uma in-
•... \.O <n
00
o IJ'\ \.O r-- CXl flação menor causada pelo Plano Cruzado de 1986. Esse plano reduziu substan-
~ -<i co o o o
IJ'\ r-- cialmente a inflação, com um impacto positivo sobre aqueles menos aptos a
In \.O '<t '<t proteger suas rendas contra a indexação imperfeita. Além de uma inflação re-
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duzida, a menor desigualdade entre os relativamente pobres em 1986 pode
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também refletir o efeito acumulado de três anos de crescimento. A queda em to-
das as quatro medidas de desigualdade em 1990, ainda que para níveis muito
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CXl maiores que a média da década - e do que qualquer ano até 1987 -, também
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"tJ M \.O coincide com uma forte, rnesmo que de curto período, redução da inflação no
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!! segundo e terceiro trimestres. Da mesma forma, a queda entre 1993 e 1995 pode
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~ também refletir os benefícios distributivos de uma inflação mais baixa depois
Cl ~ ~ IJ'\ do Plano Real de 1994.
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~ \.O M Os resultados contidos na Tabela 1fornecem alguma evidência sobre como
"tJ M r-- '<t ",;
"1 \.O IJ'\ \.O \.O I"':
."~ diferentes partes da distribuição de renda ganharam formas variadas ao longo
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do tempo. Isto fica ainda mais claro quando se examina a renda média por déci-
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C '<t M r-- IJ'\ ~li>
mo da distribuição (ver Tabela 2).3 Primeiro considere as mudanças sobre o pe-
.!!! r-- ~ '<t M '"
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N ~ IJ'\ \.O \.O \.O '"~ ríodo inteiro, 1981/95. A renda média total teve uma alta de mais de 2 I% entre
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QI M {; 198I e 1995, mas nem todos os grupos se beneficiaram igualmente desse au-
E .'<1
."~ mento do padrão de vida. As rendas médias de todas as partes da distribuição de
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,!!! li> renda cresceram ao longo do período, mas os ganhos recebidos por cada décimo
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"tJ ~ da distribuição aumentaram com o nível de renda: o primeiro décimo ganhou
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1.9 1.9 > ~ por décimos foram usados para reportar médias e proporções de renda. enquan-
l- ce ~ \3 UJ UJ U o
<: to todos os gráficos e os resultados de dominância foram gerados usando-se percentis.
55
54
.... __ ..•...J"': Assim, todos os grupos se beneficiaram do crescimento, mas não igual-
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mente - os ganhos relativamente maiores para os ricos são refletidos em au- ~
lYl lYl t"'! LJ'l N lYl
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mento da desigualdade ao longo do período como um todo. No subperíodo ~
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~ ~ ~ N 1981/85, os 60% mais pobres viram uma queda na renda média, com os ganhos
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para os ricos aumentando com a renda. Entre 1985 e 1990, os 40% mais pobres ~
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~" continuaram a sofrer um declínio na renda média, enquanto a renda dos 60% '""
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N de renda mais baixa viram uma reversão do declínio, e todas as rendas cresce- S:c
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ram a níveis acima dos de 1981. Aqui o aumento beneficiou a todos, e dessa vez ~
o ~ ~ cn LJ'l cn o ~ ~ ~ houve uma redistribuição progressiva na medida em que grupos de renda me- "'""
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nor se beneficiaram com ganhos proporcionalmente maiores do que os grupos "'~"
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de renda mais elevada, enfatizando a idéia apresentada antes de que a maior {fa
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anos 80, a renda média dos 40% mais pobres caiu abaixo do nível de 1981, e ape-
nas quando a inflação começou a declinar novamente, depois do Plano Real, em .
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1994, é que as rendas reais se recuperaram para níveis similares àqueles do co-
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" considerando-se as fatias de renda apropria-
Maior intuição pode ser obtida
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'~ das pelos diferentes décimos da distribuição, em que se abstrai de mudanças
•••111 o ~ LJ'l LJ'l "'! o LJ'l ~ ~ co nos níveis absolutos de renda para se focalizar exclusivamente a desigualdade.
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~ A Tabela 3 mostra a fração da renda total obtida por cada décimo. Entre 1981 e
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"D 1995 as fatias de renda total para todos, exceto para os 10% mais ricos, caíram,
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~ C! ~ ~ ~ "'! cn cn co "'! t"'! com os grupos de menor renda perdendo proporcionalmente mais que os gru-
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~ pos mais ricos. Entre 1985e 1990 os 70% mais pobres continuaram a perder par-
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ticipação na renda total. pelo fim dos anos 80, as frações de todos, menos as dos
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~ ~ mais pobres. Entre 1990 e 1995 houve alguma melhora para a maioria da popu-
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que indivíduos nos extremos da distribuição são menos dependentes da renda do trabalho.
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lO ~ m 00 lO o '<;I" ~ o Novamente observamos que a recessão no começo da década levou a um
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para os décimos 9 elO. Entre 1983 e 1984, a fatia dos décimos 1 a 7 aumentou à
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~" sua fração original da renda total. Depois de 1986, houve uma deterioração con- ~
~ N 00 LI'I rt'l
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00 N N '<;I" tínua da distribuição de renda durante três anos, com 1989 registrando a maior
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guma melhora em 1990, mas ainda ficou muito pior que no começo da década. ~
o N lO o m rt'l lO '<;I" o rt'l Em 1990, todos, menos os 20% mais ricos, estavam pior~s que em 1981, em ter- "
'" LI'l.. N LI'I '<;I" LI'I m
'"~ '" ~
o' N rt'l' '<;1"' Lt'i
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média total, essas redistribuições incrementadoras de desigualdade fizeram
com que os 40% mais pobres perdessem até mesmo em termos absolutos. Isso
...
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In '<;I"
está de acordo com as conclusões de Datt e Ravallion ( 1992), que usam um mé-
I lO o o lO ~ rt'l o todo paramétrica para decompor mudanças na pobreza em um componente de
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,~ anos 80 com a da Índia, eles colocam que:
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poor), far higher grawth rates than those of the 19805would have been
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needed to achieve the same impact on poverty as 1ndia attained"
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rt'l 00 ~ 00 rt'l N m N (p.294).
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59
da população acumulada, abstraindo assim dos níveis de ren~a. ~omi,~~ncia ~~ !B
unda ordem normalizada pela média envolve a comparaçao e me las reI~ ~
s~g rciais re resentadas pelas coordenadas da Curva de Lorenz. Se mu u-
u~as paos as fra ~es de renda pela média total então incorporaremos a~lbos ~s ~
ph~~~: de vidaÇmédios e as frações de renda. Associando .esse vetor a fraçao ~
pa lada da população gera-se a Curva de Lorenz Generalizada. Uma compa- :::
:~~~~~e tais curvas para duas distribuições gera, não havendodcru~a~le~to, a -~
dominância generalizada de Lorenz, também conhecida como ommanoa es- ~
tocástica de segunda ordem.6 , • ..]
5 A Parada de Pen (Jan Pen) original foi conceitualizada a partir da comparação das rendas de to- O
dos os indivíduos em uma população. O exemplo dado por Pen foi o de alinhar indivíduos em ordem 70 80 90 100
o 10 20 30 40 50 60
crescente de renda e reescalar suas alturas para representar seus níveis de renda. Se esses indivíduos % da população acumulada
ficassem parados diante de um observador, este iria tipicamente ver um grande número de anões
(pessoas pobres), eventualmente seguidos de pessoas de altura (renda) média e finalmente segui-
das por um pequeno número de gigantes (pessoas muito ricas). Na prática, comparar rendas em . mas de dominância são definidos em termos da distribuição e da
cada nível se mostra muito trabalhoso; logo, algum grau de agregação é geralmente empregado e se 6 Estntamente falando, os teore. . (1989) mostram que estas são duais à Para-
comparam centésimos. função de déficit. Entretanto, Atkmson.e BourgUlgFnon,. (1996) para maior discussão.
da de Pen e à Curva de Lorenz GeneralIzada. Ver errClra
60 61
--------'
'1;; centésimo superior esteve entre 140 e 200 vezes as rendas dos centésimos mais Finalmente, a Curva de Lorenz Generalizada associa a fração acumulada
'"
~ pobres. De acordoocom a Parada de Pen, o bem-estar em 1990 é maior do que o de renda multiplicada pela média da distribuição à fração acumulada da popu- "'-
~
~ de 1981 para os 57 Yono topo da distribuição, mas menor para os 43% mais pobres. lação, ordenada de forma crescente em relação à renda (ver Gráfico 3). A domi-
1: Isso reflete novamente o fato de que o crescimento nos anos 80 - mesmo tão alto nância de Lorenz generalizada é diagramaticamente análoga à dominância de '1;;
~ quanto os dados sugerem - não beneficiou as famílias mais pobres no Brasil. Lorenz e mostra que o bem-estar é maior na distribuição dominante para qual- ~
~ Entre 1981 e 1995 todos, menos os 2% mais pobres da população, melhoraram. quer função de bem-estar social que seja individualista, aditivamente separá- ~
l d d A Curva de Lorenz associa a fração acumulada de renda à fração acumula- vel, crescente em renda e estritamente côncava (Shorrocks (1983) l. Uma con-
seqüência da dominância de Lorenz generalizada é que, se a renda média no
.~
s
2$ a a população, ordena~a de forma crescente em relação à renda. As relações
para,1981: 1990 e 1995 sao mostradas no Gráfico 2. A dominância de Lorenz- anoA é maior do que aquela no ano B então o anoA não pode ser dominado; mas ]
q~e e eqUl~alente à don;inância de segunda ordem normalizada pela média _ é daí não segue que irá necessariamente dominar B. Em termos da dominância "
dlagramatlCamente analoga à Parada de Pen e mostra que a desigualdad' _ de Lorenz generalizada, assim como da dominância para a Parada de Pen, a ca- ]
nor d. t .b . - d e e me racterística mais marcante é que 1986 domina-G todos os outros anos na amos- iS.
. na lS n. Ul~~o ominante para qualquer medida de desigualdade que sa-
tIsfaça ao PnnopIO de Transferências de Pigou -Dalton (Atkinson (1970)]. As tra. Uma vez que a renda média em 1986 foi maior do que em qualquer outro ~
Curvas de Lorenz mostram que 50% da população recebem apenas cerca de 15% ano do período, claramente não poderia ser dominado por eles. Mas, de fato, a ~
.~
do total da renda, e que a desigualdade aumentou entre 1981 e 1990, como visto média era tão alta que 1986 não só domina-G 1987,1988,1989 e 1990 (anos nos 2;
pelo deslocamento para fora da curva, caindo ligeiramente durante os anos 90. quais a renda média foi menor e a desigualdade maior), mas também domina
As Curvas, de Lorenz confirmam o panorama de crescente desigualdade ao lon- 1981 e 1984, quando a desigualdade era menor de forma não-ambígua, e 1983 e
go do pen?do, com dominância da curva para 1981 sobre todas as curvas de 1985, cujas Curvas de Lorenz cruzaram.
1985 em ~lante, con: e~ceção de 1992. Os anos intermediários de 1983, 1984 e Uma vez que há 12 anos com dados, cada uma das três comparações descri-
1985. d~~lmam a maIOna dos anos subseqüentes. A desigualdade então foi, sem tas anteriormente é possível para 66 combinações aos pares. Para cada uma de-
amblgUl~ades, menor nos primeiros momentos da década do que na maior par- las, três resultados são possíveis: A pode dominar B, B pode dominar A ou as
te do penodo subseqüente. curvas podem cruzar ou coincidir. A Tabela 5 resume todas as 198 comparações
Gráfico 2 Gráfico 3
90
80
150
70
60
100
50
40
30
50
20
10
O
o 10 20 30 40 50 60 70
O 10 20 30 .40 50 60 70 80 90 100
80 90 100
% da população acumulada % da população acumulada
62 63
-'-:-~ de dominância possíveis. Seja i o número da linha,j o número da coluna. A célu-
a.. '"Qõ.
'"'":: U'I
cn
~ ...• ...• ...• (j la (i, j) tem um L (G, P) se o ano i Lorenz (Lorenz Generalizada, Parada de Pen) õõ
"l ...•' :=::
g domina o anoj. Por exemplo, se i = 1984 ej = 1983, podemos ver que a distribui-
i':~ a.. a.. a.. a.. a.. ção de 1984 domina a de 1983, ou seja, a desigualdade foi, sem ambigüidade, ~
M
'"
~
\:)
...•' ...• ...• (j \:)' (j (j \:) ...• \:)' ::
""lS.
...•' ...•' menor em 1984 do que em 1983. Uma célula (i, j) pode não conter nenhuma CQ
c
"
{j dessas três letras por dois motivos: célula U, i) pode estar cheia, ou as curvas re- ::::
'"
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CTl
CTl
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CTl
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CTl
CTl
maior em 1995 do que em 1981.
64 65
:-::: Em resumo, a desigualdade aumentou de modo não-ambíguo durante os as diferenças substanciais entre as regiões do país - e dentro dessas regiões, de '"
E anos 80, fazendo com que o bem-estar (em termos de rendas absolutas e relati- áreas metropolitanas para áreas urbanas e destas para áreas rurais - em ambos ~
'"g vas) entre os 40% mais pobres da população caísse, apesar do crescimento na os padrões de consumo e preços, uma cesta de alimentos foi calculada especifi- ~
~ média de renda (reportada) da população total. A base da distribuição experi- camente para cada área.7 Os custos de alimentação para cada área respeitam en- 'i;
! mentou uma melhora temporária em 1986. Durante os anos 90 a desigualdade tão não somente diferenças de preços, mas também diferenças nas preferências e ~
~ declinou ligeiramente, com o crescimento e a redistribuição beneficiando 70% disponibilidade local do alimento. Em lugar de usar o inverso de um coeficiente g
~ da população. Entretanto, apesar do crescimento nas rendas em todos os níveis de Engel para obter a linha de pobreza (o qual era instável, dadas substanciais 'g
g entre 1981 e 1995, a desigualdade foi sem ambigüidade maior em 1995 do que mudanças de preços relativos entre itens alimentares e não-alimentares durante ~
em 1981. a década), Rocha estimou o gasto não-alimentar entre os pobres diretamente ]
para cada área metropolitana separada.8 A soma dos gastos não-alimentares ~
4 - Pobreza entre os pobres e o custo da cesta de alimentos dá o conjunto das linhas de po- 1;
breza regionais. Os valores para as linhas de pobreza específicas, em reais de ~
Seguindo Sen (1981), a discussão sobre pobreza é estruturada de acordo 1995, para as regiões relevantes da PNAD estão apresentados na Tabela 6 [con- ~
com os dois aspectos que compõem a análise de pobreza: o problema de identifi- vertida da tabela XIII, em Rocha ( 1993) l. ~
.!!l
cação e o de agregação. Três medidas foram escolhidas para resumir a pobreza em cada ano e suas ,g
O debate em torno da mensuração da pobreza inclui visões de que a pobre- mudanças ao longo da década. Esses índices podem ser expressos como mem-
za deveria ser vista em termos relativos, e visões alternativas, segundo as quais bros da classe paramétrica FGT(a). As três medidas levam em conta três carac-
pobreza é um conceito inerentemente distinto do de desigualdade. Por exem- terísticas básicas da pobreza: incidência, intensidade e desigualdade entre os
plo, no Reino Unido e em alguns outros países europeus, famílias pobres são ge- pobres. A proporção de pobres, com a = O, o déficit de pobreza normalizado,
ralmente definidas como aquelas em que a renda equivalente é menor do que
com a = 1, e a medida FGT2, com a = 2.
40% (ou alguma outra percentagem) da renda média [HBAI (1997), Mercader
( 1996), Miller e Roby (1970) l. Por outro lado, famílias pobres nos Estados Uni-
dos são identificadas usando o custo da cesta de bens e serviços básicos e um coe-
ficiente de Engel. A característica diferenciadora está relacionada ao axioma do
P(a) =~
n.
L. [I _li-]U
Z
I:Yl~Z
foco da análise de pobreza: para uma dada linha de pobreza, medidas de pobreza
satisfazendo este axioma não mudam se não há alterações nas rendas dos po-
bres, independentemente do que ocorre com a renda dos não-pobres. Segue ondey;é a renda domiciliar percapita e zé a linha de pobreza para a área relevante.
imediatamente que a escolha da linha de pobreza, que separa os pobres dos Estimativas da pobreza usando cada medida são apresentadas na Tabela 7.
não-pobres, é crucial e, uma vez determinada, tanto o nível como a natureza da O panorama da pobreza reflete o comportamento das rendas médias dos déci-
pobreza só podem ser entendidos com relação a ela. A primeira escolha metodo- mos na cauda inferior da distribuição, reportados na Tabela 2. Ao longo do pe-
lógica é, portanto, se devemos adotar um conceito absoluto ou relativo de po- ríodo como um todo, a proporção das pessoas na pobreza caiu, os pobres fica-
breza. A maior parte dos estudos no Brasil até aqui tem adotado uma aborda- ram, em média, menos pobres e a desigualdade entre estes também caiu. Entre-
gem absolutista da pobreza, usando o custo de uma cesta de bens ou o valor do tanto, dados os resultados da seção anterior - particularmente a queda absolu-
salário mínimo [Barros, Mendonça e Rocha (1993), Fishlow (1972), Fox ta nas rendas médias dos quatro décimos inferiores da distribuição - não sur-
(1990), Fox e Morley (1991), Tolosa ( 1991) l. Este artigo segue esta tradição, de preende que a pobreza tenha aumentado ao longo dos anos 80. Entre 1981 e
acordo com Sen (1983), que argumenta por um irreducible absolutist core in the
idea ofpoverty (p. 159), e adota uma linha de pobreza baseada em uma estimativa 7 Na verdade, isso foi feito para as nove áreas metropolitanas (Belém, Fortaleza, Recife, Salvador,
Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre), assim como para Brasília e Goiã-
da renda necessária para suprir as necessidades básicas, em vez de uma fração nia, usando uma pesquisa de gastos para 1987 [Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) l. Para as
da renda média ou mediana. Outras áreas urbanas e rurais, fatores de conversão foram emprestados de um trabalho de Fava
(1984), que se baseava nos dados mais recentes disponíveis para essas áreas - o Estudo Nacional da
A análise de pobreza usa um conjunto de linhas de pobreza específicas por Despesa Familiar (Endef), de 1975. Os custos resultantes foram atualizados para preços de 1990
região calculadas por Rocha ( 1993), para uso com os dados da PNAD de 1990. usando o índice de preços lNPC.
Rocha começa computando o custo mínimo de uma cesta de alimentos neces- 8 Os pobres entre os quais foram computados gastos não-alimentares são aqueles que, de acordo
sários para atingir os requerimentos calóricos recomendados pela FAO. Dadas Cominformação registrada na POF, eram incapazes de suprir os requerimentos calóricos mínimos
como especificados pela FAO.
66 67
Tabela6
~ Tabela7
<'
ê Linhas de pobreza per capita (EM REAISDESETEMBRODE 1995) Brasil: pobreza - 1981/995
~~~~------------
~ REGiÕES DA PNAD '::
t ;::=:-;-_-:==:-:7~-:::--:--:---: ":'::'VA~L~OR~
1981 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1992 1993 1995
~
""
~ Região I Metrópole do Rio de Janeiro 100,73 Propor- ~
'il ~
g Urbano 62,45
ção de
pobres 0.445 0.553 0.5200.457 0.296 0.417 0.4390.403 0.450 0.461 0.471 0.377 ~
.~ '"-
~
c::, '"
Rural 45,33 ~
Déficit
de po-
]
Região 11 Metrópole de São Paulo 107,33 breza 0.187 0.235 0.232 0.195 0.109 0.178 0.194 0.177 0.199 0.208 0.213 0.156 ""'
~
Urbano 67,62 FGT(2) 0.1040.1350.1320.1090.0560.0990.1120.1010.1140.123 0.126 0.086 t
Rural 42,93 ~,.
Região 111 Metrópole de Curitiba 86,27 1990,observamos um crescimento na pobreza de acordo com todas as medidas. .~
O aumento na proporção de pobres mostra que uma fração ligeiramente maior 25
Metrópole de Porto Alegre 59,89
da população estava pobre por volta do fim da década. Além disso, o fato de que
Urbano 54,81 o déficit de pobreza aumentou proporcionalmente mais que a proporção de po-
Rural bres (6% contra 1%) é evidência de que os pobres ficaram, em média, mais dis-
36,54
tantes da linha de pobreza. Finalmente, o aumento de 10% no FGT(2) sugere
Região IV Metrópole de Belo Horizonte 82,78 que as rendas entre os mais pobres passaram a ser distribuídas mais desigual-
Urbano 55,46
mente. Durante o começo dos anos 90 a pobreza (conforme indicado pelas três
medidas) continuou a aumentar, atingindo o auge em 1993, mas caindo entre
Rural 32,28 1993 e 1995 para um nível inferior ao de 1981.
Região V Metrópole de Fortaleza 62,94 A pobreza aparenta ter se comportado de forma mais anticíclica do que a
Metrópole de Recife desigualdade, com bruscos aumentos durante recessões e um substancial declí-
83,79
nio com a volta do crescimento. Todas as três medidas indicam um forte au-
Metrópole de Salvador 96,19 mento na pobreza de 1981 a 1983, devido à recessão. Além disso, todas as medi-
Urbano 56,68 das tiveram 1983 como seu ano de pico durante todo o período. Todas as medi-
das declinaram mono tonicamente até 1986, embora até 1985 cada uma delas
Rural 34,01 estivesse acima do nível de 1981. A redução realmente brusca da pobreza veio
Região VI Brasília 102,98 em 1986, como era de se esperar, dados os resultados prévios de dominância
Região VII Metrópole de Belém para aquele ano. Todas as três medidas alcançaram seu mínimo em 1986 e en-
58,36
tão tiveram uma alta até 1990, exceto por um declínio temporário em 1989. Ao
Urbano 51,94 todo, os bruscos aumentos da pobreza nos primeiros anos recessivos, reforçados
Rurala por aqueles no período inflacionário pós-1986, mais do que compensaram os
38,22
ganhos obtidos em 1984/86.
Região VIII Goiânia 97,86
Entretanto, enquanto a desigualdade aumentou persistentemente e de
Urbano 74,37 modo não-ambíguo durante os anos 80, como revelado pelos resultados de do-
Rurala minância de Lorenz da Tabela 5, o panorama é menos claro em relação à pobre-
a . 38,22 za. Isto é evidenciado na Tabela 8, análoga à Tabela 5, mas onde D na célula (i,j)
A Imha de pobreza rural nas regiões VII e VIII é a média não-ponderada de todas as outras linhas de pobreza rurais.
mostra que o ano iexibe dominância mista de pobreza sobre o anojo Esse conceito
foi desenvolvido por Howes (1993b) como uma extensão da aplicação de domi-
nância de segunda ordem à análise de pobreza feita por Atkinson (1987).
68 69
Dominância mista consiste essencialmente em primeiro definir limites inferio-
't;; ( 1987)- pioneiro na análise de dominância de pobreza - é menos exigente,
JSres e superiores, z- e Z+, da linha de pobreza z, e então checar se há dominância Illasapresenta um problema: a classe de funções que esta cobre é muito menor, ~
~de segunda ordem de zero à linha de pobreza inferior, e se há dominância de pri- e requer que a função de bem-estar ou opulência satisfaça ao axioma ~a transfe-
~ meira ordem entre as linhas de pobreza inferior e superior. rência por meio da distribuição. Isso exclui a mais comum das medidas de po- 't;;
1.
•.. Ao derivar as comparações de dominância apresentadas a seguir, z- foi es- breza, ou melhor, seu negativo, a função de opulência correspondente: a pro- JS
~
~ colhido como a menor linha de pobreza de Rocha, mostrada na Tabela 6 porção de pobres. .~
1 (R$ 32,28), e z+ como a maior (R$ 107,33), considerando que estes pareciam ser Howes (1993b) demonstra que a dominância mista cobre uma classe de ~
~ limites naturais para um estudo de pobreza em nível nacional. Enquanto, ao de- funções intermediárias, requerendo que elas sejam crescentes na renda, que sa- ~
rivar as medidas escalares apresentadas na Tabela 7, vetores de renda familiar tisfaçam o axioma do foco e da transferência, exceto em situações em que sur- ]
per capita regionais foram comparados com suas linhas de pobreza específicas, jam cruzamentos da linha de pobreza. Dominância mista de pobreza implica ~
na análise de dominância a distribuição nacional é vista como um todo, com o então que todas as medidas de pobreza nesta classe ordenem pobreza em duas -i
conjunto de linhas de pobreza pertinentes variando de z- para z+. O intervalo distribuições do mesmo modo. Dominância mista de pobreza do ano i (por ~
entre as duas é grande, logo dominância mista de pobreza nessa análise envolve exemplo, 1981) sobre o ano} (por exemplo, 1983) significa que pobreza é maior 1
um requerimento rigoroso de dominância de primeira ordem sobre um largo in- em}do que em i para todas as medidas nessa classe, e para todas as linhas de po- .~
tervalo da distribuição. breza em (z-, z+). Esta classe inclui todas as medidas de pobreza da família para- <::l
Dominância de primeira ordem cobre uma vasta classe de funções de opu- métrica de Foster-Greer-Thorbecke, incluindo a proporção de pobres.
lência,9 requerendo apenas que elas sejam crescentes em renda e respeitem o Na prática, se um~ distribuição exibe dominância de Parada de Pen, segue
axioma do foco. Dominância de segunda ordem, usada no artigo de Atkinson dominância mista de pobreza. Onde a dominância-P não pode ser estabelecida,
a dominância mista de pobreza ainda é possível se o cruzamento das curvas re-
Tabela 8 levantes ocorrer em um nível de renda maior que z+.
A Tabela 8 confirma a confiabilidade dos resultados inferidos a partir das
Brasil: dominância mista de pobreza - 1981/95
medidas escalares. A sua primeira característica marcante é a dominância de
1981 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1992 1993 1995
1986 sobre todos os outros anos da amostra, revelando que a pobreza foi de
modo não-ambíguo menor nesse ano, para qualquer escolha da linha de pobre-
1981 o o o za entre R$ 32,28 e R$107,33 de renda bruta mensal per capita. Isso é consistente
1983 com os valores muito menores de todas as três medidas reportadas para aquele
ano, assim como com os resultados de dominância da Tabela 5. De fato, uma vez
1984
que 1986 exibiu tanto dominância-G como dominância-P sobre qualquer outro
1985 o o ano, o resultado acima tinha de seguir. O panorama geral claramente confirma
o o o o que o rápido crescimento nos anos imediatamente anteriores a (e incluindo)
1986 o o o o o o o 1986,combinado com a dramática redução da inflação, teve um efeito substan-
1987 o o o o cial na redução da pobreza. O último ano do período, 1995, também domina
1988 muitos outros, mas não 1981- mesmo que todas as estimativas de pobreza se-
jam menores em 1995 do que em 1981, o resultado não vale para todas as linhas
1989 o o o de pobreza entre R$ 32,28 e R$ 107,33.
1990 Uma outra forma de analisar a Tabela 8 é observar os anos mais freqüente-
1992 mente dominados, isto é, aqueles com mais entradas em suas colunas, em que a
pobreza foi, com mais freqüência, sem ambigüidade maior do que em outros
1993
instantes. Os piores momentos foram o final do período ( 1992/93) e a recessão
1995 o o o o o o o o o de 1983, com um efeito defasado durando até 1984. Apesar dos requerimentos
rigorosos inerentes nas comparações de dominância mista, 1986 domina todos
os outros anos.
9 Funções de opulência, na terminologia de Howes, são negativos das medidas de pobreza.
70 71
-.--~-..'-
..•.
Existem diferentes abordagens para estimar Mi, como discutido por ~
A conclusão natural é que a pobreza se comportou anticiclicamente, como
~ Coulter, Cowell e Jenkins (1992b). Uma classe paramétrica simples de esca~as ~
~ se poderia esperar: aumentou na recessão de 1983, caiu seguindo a recuperação
g do crescimento no meio da década de 80 e alcançou um mínimo pronunciado de equivalência [devida a Buhmann et alii. ( 1988)] pode, pela escolha ap.ropna-
~ em 1986. A seguir, aumentou novamente, sendo 1988, 1990, 1992 e 1993 os da do parâmetro 8, servir como proxy para amaior parte das escalas maiS com- ~
! anos mais freqüentemente dominados no período. Enquanto todas as três me- plexas. A escala de Buhmann et alii é dada pOI:Mi =S?,
onde s;é o tamanho da fa- g
{I didas na Tabela 7 sugerem que a pobreza era maior em 1990 do que em 1981, o
~
~ fato de não haver dominância deste último sobre o primeiro sugere, como ante-
mília i. Esta seção segue Coulter, Cowell e Jenkins (1992a e b) ao usar esta esca- 1
la para discutir a sensibilidade das medidas de desigualda~e ~ pobre~a, apre- ~
.~ riormente mencionado, que o aumento da pobreza ao longo da década foi mais
Q sentadas anteriormente, a mudanças na escala de equivalenCla. A.ssIm cfom.o .~
ambíguo do que o aumento da desigualdade. Similarmente, a falta de domi-
l' s não estamos sugerindo que tamanho da família seja o único atnbuto ami- -;:;
nância de pobreza de 1995 sobre 1981 provê um panorama menos conclusivo do
~:r 'conceitualmente importante para ajudar a determinar a di:erença ~as ne- ~
que o aumento não-ambíguo da desigualdade.
cessidades. Simplesmente nos aproveitamos do fato de que vanar o parametro t
8 permite que um pesquisador investigue o comport.amento das medidas esca- i
5 - Sensibilidade das conclusões distributivas à escolha da lares de desigualdade e pobreza sob hipóteses bem diferentes acerca das econo- .~
escala de equivalência mias de escala nas famílias. ~
A análise até aqui tem sido baseada em rendas familiares per capita, com Seguindo Coulter, Cowell e Jenkins (1992a), os res.ultados empíricos a se-
cada indivíduo sendo receptor da renda, como tem sido prática comum nos tra- guir tomam a forma de valores para um número de medidas escalares de pobre-
balhos sobre distribuição de renda no Brasil. No entanto, se o objetivo é a com- za e desigualdade para cinco diferentes valores de 8 (= 0.00.; 0.25; 0.50; 0.75;
paração de níveis interpessoais de bem-estar, esta abordagem claramente re- 1.00). São apresentados resultados para três m~di~as de deslg~aldade perte~-
presenta uma hipótese forte sobre as economias de escala na família, ou seja, centes à classe de EG: o índice L de Theil G(O), o mdice T de TheI! G( I), e o coefi-
supõe-se que estas não existam. Isso está em desacordo com a melhor experiên- ciente de variação. As medidas de pobreza consistem da proporção de pobres,
cia em análise distributiva para muitos outros países, e uma literatura substan- do déficit de pobreza normalizado e do Foster-Greer- Thorbecke (ex = 2). Inves-
cial tem levado em conta diferenças nas necessidades e características entre as tigamos a variação dessas medidas de pobreza com 8 para umaynha de pobreza
famílias, quando comparados os níveis de bem-estar dos indivíduos dentro de- relativa igual a 84% da renda média,1O em contraste com a Seçao 4, ~a qual ~s~-
las. Isso é mais comumente feito por meio da adoção de uma escala de equiva- mos um conjunto de linhas de pobreza absolutas. Essa m.udanç~ ~ necessana
lência [ver Coul ter, Cowell e J enkins ( 1992b) para um estudo de metodologias porque se mantivéssemos uma linha de pobreza absoluta fixa defInIda em u~.a
diferentes].
base per capita, reduzindo 8 para levar em conta economias de escala nas f~mih-
Estes autores analisam que "bem-estar pessoal" - ou renda equivalente as iria necessariamente reduzir as estimativas de pobreza, enquanto vanando
- Ypode ser visto conceitualmente como uma função Yi = j(Xi,Pi' ai)' ondeXse ambas a linha de pobreza com que se defronta cada família e o vetor de rendas
refere à renda familiar monetária, p é o vetor de preços relevante e a é um vetor com 8, levaria a nenhuma mudança na pobreza. A variação das medidas de de-
de características da família. As famílias são indexadas por i = I, ... , H. Escalas
sigualdade e pobreza com 8 é apresentada nos Gráficos 4 e 5.
de equivalência, usualmente denotadas Mi, transformam rendas monetárias X
Esses gráficos revelam que, para o Brasil assim como para o Rei~o ~~ido,
em rendas equivalentes Y, como: Yi = X/Mi, para cada i = I, ..., H, onde Mi é dado
como segue: medidas escalares de desigualdade e pobreza são razoavelmente sensIv~ls a e~-
colha da escala de equivalência. Quatro pontos merecem ate~ção espeCial. Pn-
meiro, o Gráfico 4 mostra que a tendência do aumento da deSIgualdade durante
C(u,p,a;)
M.-
I
-- os anos 80, enfatizada ao longo deste artigo, é robusta à escolha da es~ala de
C(u,p,ar) equivalência e, ainda, que esta robustez não depende da escolha da medIda :s-
calar em particular. Para as três medidas investigadas, a desigualdade era maIOr
A equação anterior é a razão de duas "funções custo", onde u é algum nível
comum de bem-estar ou utilidade; os preços com que diferentes tipos de famíli- 10 Ao optar pela linha de pobreza relativa. a escolha da proporção da renda.méd~a é geral~ente ar-
bitrária. Neste caso. dada a preferência pelo núcleo absolutista da po~reza dlSCUlI~~anteno~mente,
as se confrontam são aSSumidos ser os mesmos, e as características das famílias
um valor (84%) foi escolhido para gerar precisamente a renda,r~ceblda ~e!.ocen~eslm? eq.Ulvalente
variam. O subescrito r é uma referência para o tipo da família. à proporção de pobres de 1981, isto é. a "linha ~e po~reza media do pais•. A dlscrepanCla para os
dois valores de P( O) para 1981 é devido a aproxlmaçoes na escolha do mvel de renda.
72 73
-.-----:.- .. Gráfico 4 Gráfico 5
~
o:>
~ Desigualdade e escalas de equivalência: Brasil - 1981/95 Pobreza e escalas de equivalência: Brasil - 1981/95
::l
~
t" G(O)
---'--'-------------------------------- 0,75 Proporção de pobres
0,45
{I
{l
~
.~
0,70
tl
Cl
0,44
0,65
--------- .
.••••• 0,60
0,43
------------- ___ --------
.
•••••••••••• 1981
0,55
~~~.~ .
'----------'---------'----------'----------'1 o 50 • -- ---------~-------~-------~------~I 0,42
o 0,25 0,50 0,75 1 ' o 0,25 0,50 0,75 1
Teta Teta
--------------------------------- 0,75
_____________ ~
~ 0,21
0,70
0,65 0,20
.......................
.--------
1985
......................................;~81
0,60
1995
.- ---_.- .----.-:. ... 1985 •••••••••••• - ••
0,19
...................... -:'.~.~ ~:-::: .-:.-:.":."!.~... """ 'i981
.................................... 0,55
Foster-Greer-Thorbecke (2)
--------------------------------- 2,2 0,14
-------------------------------~-2
- ---~ =
990
=-----:1,8
••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
~ ...••.•.••••..
1981
.•... 1,6
1,4
1990 .--
-----
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0,12
1995 19~~,,:~l'''''''''''
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-.--~-:--'-..-----
80
. On ev~luati.ng. inco~1e <;iistributions: rank dominance, the Mensuração da
j
suppes-sen gradmg pnnClple of ]ustIce and Pareto optimality. Public Choice desigualdade e da
v.40,p. 329-336,1983. '
pobreza no Brasil*
i"~ SEDLACEK, G. L., BARROS,R. P. (eds.). Mercado de trabalho e distribuição de renda.
uma coletânea. Rio de Janeiro: IPEA/INPES, 1989. .
{I
~'"!::! SEN, A. K. Poverty and famines: an essay on entitlement and deprivation. Oxford:
.~ Clarendon Press, 1981.
lO
c:,
SHORROCKS,
A. F. Ranking income distributions. Economica, v. 50, p. 3-17, 1983.
Rodolfo Hoffmann**
THOMAS,V. Differences in income and poverty within Brazil. World Deve!opment,
v. 15, n. 2, p. 263-273, 1987.
TOLOSA,H. C. Pobreza n.? Br~sil: uma ~valiação dos anos 80. In: VELOSO,J. P.
dos R. (ed.). A questao SOCialno Brasil. São Paulo: Nobel, 1991. 1 . Introdução
WORLDBANK.World Development Report. New York: Oxford University Press for Este trabalho aborda vários aspectos da mensuração da desigualdade e da
the World Bank, 1980, 1990 and 1996 (annual). pobreza no Brasil. Não há um objetivo único. Ao mesmo tempo em que são lem-
bradas as diferentes medidas de desigualdade e de pobreza, ilustra-se sua apli-
cação mostrando as principais características da distribuição da renda no Bra-
sil, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por-Amostra de Domicílios
(PNAD) de 1997. A Seção 6 tem caráter mais metodológico, concluindo-se que
não há razão para introduzir nova medida de desigualdade. Na Seção 7 discute-se a
questão da determinação da linha de pobreza, mas não se faz tentativa de apre-
sentar uma nova "solução" para o problema. Medidas de pobreza para várias re-
giões do país em 1997 são calculadas adotando uma linha de pobreza de R$ 60
de rendimento familiar per capita. Na Seção 8, concluindo o trabalho, o ajusta-
mento de equações de rendimento é utilizado para discutir os principais fatores
assodados ao rendimento das pessoas ocupadas. '
2 • Qual distribuição?
A mensuração da desigualdade da distribuição da renda exige que se defi-
na a unidade que será considerada e qual a renda. Em outras palavras, é neces-
sário especificar qual é a variável e qual é a população analisada. Entre outras,
podemos analisar as seguintes distribuições:
a) o rendimento de todas as fontes de pessoas economicamente ativas
(PEA);
• Esta pesquisa contou com apoio do CNPq e da Fapesp. O autor agradece a Angela Kageyama.
José Graziano da Silva. Angela Jorge Corrêa e Helga Hoffmann pelos comentários e críticas a uma
versão preliminar do trabalho.
•• Do Instituto de Economia da Unicamp.
82 83
Então, se o rendimento médio da PEA com rendimento positivo, com base ----"-'.1
<:.....
-'-----'t:; b) o rendimento de famílias residentes em domicílios particulares; e
~
~ c) o rendimento per capita de pessoas de famílias residentes em domicílios noSdados da PNAD de 1997, é R$ 545, a média verdadeira certamente é maior, ~
podendo ser 50% ou 80% maior. Mesmo havendo um grau tão grande de erro, ""g
~ particulares.
~
f Se o pesquisador está interessado no mercado de trabalho, é apropriado
não há dúvida de que vale a pena analisar os dados do IBGE. A tendência de
subdeclarar os rendimentos, especialmente quando eles são elevados, é um
]
~
{; analisar a distribuição da renda entre pessoas economicamente ativas. Por ou-
problema nos dados estatísticos de qualquer país. Comparativamente, o Brasil ~
~ tro lado, se o objetivo principal da análise é o nível de vida (ou bem-estar) das
] ~ tem, graças ao IBGE, dados de boa qualidade sobre a distribuição da renda. ~
.~ pessoas, e mais apropriado considerar todas as pessoas classificadas conforme
~ seu rendimento familiar per capita, já que os membros de uma família em geral A Tabela 1 mostra várias características da distribuição do rendimento de .~i;]
compartilham a renda total da família. Um aperfeiçoamento metodológico adi- todas as fontes para a PEA com rendimento, distinguindo homens e mulheres. "'"
~
cional seria considerar a renda por adulto-equivalente, levando em considera- Essas constituem 37,4% dos quase 61 milhões de pessoas economicamente ati- '11
ção as necessidades das pessoas de diferentes idades e as economias de escala vas com rendimento. ~
no consumo familiar. Verifica-se, nessa tabela, que o primeiro quartil (ou 25º percentil) da distri- I
buição do rendimento das pessoas economicamente ativas com rendimento é
R$ 133. Isso significa que 25% dessa população ganham R$ 133 ou menos, e
3 - A distribuição de renda na PEA
75% ganham pelo menos R$ 133. O 95º percentil é R$ 2 mil, significando que
Para exemplificar, vamos considerar os dados da PNADde 1997. São consi- cadauma das pessoas que estão entre os 5%mais ricos ganha pelo menos R$2 mil.
deradas pessoas economicamente ativas as ocupadas e as que tomaram alguma Por influência do inglês, o termo decil tem sido erroneamente utilizado
providência efetiva de procura de trabalho na semana de referência da PNAD para designar os décimos da população. Isso empobrece a língua, pois uma
(21 a 27 de setembro de 1997). Após a expansão da amostra, há 75.213.283 pes-
mesma palavra passa, desnecessariamente, a ter dois significados. Fala-se, por
soas economicamente ativas. Para analisar a distribuição da renda, ficaremos
exemplo, em "renda média do decil mais rico", quando o correto seria "renda
restritos aos 74.309.763 com declaração do rendimento de todas as fontes.
média do décimo mais rico". O 9º decil é, por definição, o limite inferior para os
Nada menos que 18%dessa população tinham rendimento igual a zero. Aí estão
rendimentos das pessoas pertencentes ao décimo mais rico.
incluídos os membros não-remunerados das famílias dos pequenos agriculto-
res, cujo trabalho contribui para gerar o rendimento que nos dados das PNADs é Observa-se, na Tabela 1, que os 10% mais ricos têm 47,2% da renda total.
atribuído ao chefe da família. Mas cabe lembrar que o conceito de pessoa ocupa- Isso significa que sua renda média é 4,72 vezes maior do que a média geral, ou,
da nas PNADs a partir de 1992 é bastante abrangente, incluindo pessoas mais precisamente, R$ 2.574. Devido à grande desigualdade entre os rendimen-
não-remuneradas que tivessem certos tipos de atividade pelo menos uma hora tos dos que participam do décimo mais rico, seu rendimento médio (R$ 2.574) é
por semana. Nas PNADs anteriores a 1992 esse limite era de 15horas por semana. muito maior do que o 9º decil (R$ 1.200). Analogamente, como os 5% mais ricos
Se considerarmos apenas a PEA com rendimento positivo, temos ficam com 33,6% da renda total, sua renda média é 6,72 (pois 33,6/5 = 6,72) ve-
60.910.443 pessoas, com um rendimento médio de R$ 545. zes maior do que a média geral, ou R$ 3.663, que é muito maior do que o 95º per-
É importante. ter em mente as limitações dos dados sobre rendimento nas
centil (R$ 2 mil).
PNADs. O questionário procura captar tanto os rendimentos em dinheiro como Para descrever a distribuição de renda na Inglaterra, Pen (1971) imaginou
os pagamentos em espécie, mas não considera o valor da produção para auto- uma parada de pessoas ordenadas conforme valores crescentes da renda e ad-
consumo, que pode ser um componente importante da renda real de pequenos mitiu que, num passe de mágica, as pessoas ficassem com altura proporcional à
agricultores. Uma causa mais importante de subestimação das rendas é a sub- Sua renda, de maneira que a altura média correspondesse à pessoa com renda
declaração das rendas elevadas, que é certamente a principal limitação dos da- média. Imagine uma parada dessas com uma grande amostra de pessoas repre-
dos. Dividindo o rendimento total obtido na PNAD de 1995 em cada unidade da sentando a distribuição da renda na PEA brasileira. Vamos admitir que todo o
Federação (excluindo as unidades da antiga região Norte) pelo PIB estadual, desfile, do mais pobre ao mais rico, iria durar 100 minu tos. Considerando os da-
verifica-se que a relação está próxima de 1para os estados mais pobres, mas fica dos apresentados na Tabela 1, ao final de 10 minutos de parada estaria passan-
abaixo de 0,6 nos estados mais ricos. Assim, os dados das PNADs subestimam do uma pessoa com altura incrivelmente baixa (95/545 = 0,17 da média); ao fi-
as diferenças regionais e, em geral, subestimam tanto as medidas de posição nal de 25 minutos ainda estariam passando pessoas com altura inferior a 1/4 da
como a desigualdade da distribuição da renda. A subdeclaração das rendas rela- média (133/545 = 0,24); no meio do desfile, isto é, após 50 minutos, estariam
tivamente elevadas deve afetar mais a média do que a mediana. passando anões com altura igual à metade da média (273/545 = 0,50). Só quando
84 85
------ ..---,,-... ..----- Tabela 1
~ já tivessem passado três quartos do desfile é que veríamos pessoas com altura
~ ~
<Xl média, pois o 32 quartil é semelhante à renda média. Nos últimos 10 minutos ~
<:> Principais características da distribuição do rendimento de <Xl
~'" veríamos passar gigantes cada vez mais altos. A pessoa correspondente ao 92 ~
~ todas as fontes de pessoas economicamente ativas no
"'~" decil teria altura igual a 2,2 vezes a média. No início do último minuto teríamos ~
Brasil - 1997
uma pessoa com altura maior do que oito vezes a altura média. De acordo com 2.
~" {l
os dados da PNAD de 1997, a parada terminaria com uma pessoa cuja altura se-
~ ESTATíSTICA TOTAL HOMENS MULHERES ~"
'" ria quase 200 vezes a média. Devido à forte assimetria positiva da distribuição {l
"
.~
iC Pessoas (mil) 60.910 38.156 22.754
Q da renda, há muito mais pessoas com renda abaixo da média do que acima. ],
Rendimento médio (R$) 545 626 410 Quem assiste à passagem da parada de Pen vê, durante a maior parte do tempo, ~
{l
10º percentil 95 100
a passagem de anões. Por isso, Pen afirmou que essa é uma parada de anões e de '11
70
apenas alguns gigantes. ~
20º percentil
25º percentil
120
133
135
160
120
120
Tecnicamente, a "Parada de Pen" corresponde à curva dos quantis, que i
mostra como o valor da separa triz cresce com a proporção acumulada da popu-
30º percentil 160 198 120 lação.l Veja, no Gráfico 1, a curva dos quantis para a PEA com rendimento no
40º percentil Brasil em 1997. Note que os patamares indicam que as pessoas tendem a decla-
212 240 170
rar números redondos. Há um patamar bastante extenso com ordenada igual
50º percentil 273 300 220 ao salário mínimo (R$ 120).
60º percentil 350 400 270 Verifica-se, na Tabela 1, que todos os percentis da distribuição da renda
70º percentil 480 520 350 para a PEA masculina são maiores do que os percentis correspondentes da dis-
7Sº percentil 550 600 400 Gráfico 1
80º percentil 680 800 500
90º percentil 1.200 1.400 900 Brasil: curva dos quantis para o rendimento mensal das
95º percentil 2.000 2.040 1.500
pessoas economicamente ativas com rendimento - 1997
99º percentil . 4.500 5.000 3.082 Rendimento(R$)
2.000
Renda recebida pelos 1.800
40% mais pobres 9,0 9,1 9,8 1.600
50% mais pobres 13,4 13,5 14,5 1.400
20% mais ricos 63,3 63,3 61,7 1.200
10% mais ricos 47,2 47,3 45,2 1.000
5% mais ricos 33,6 33,7 31,6 800
1% mais rico 13,5 13,5 12,0 600
Relação médias 10+/40- 21,0 20,8 18,4
---.-Mé~;-.---_.._--------_._-------_. 400
Índice de Gini 0,584 0,584 0,564 200
T de Theil 0,703 0,703 0,634 O
o 0,1 0.2 0.3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1
L de Theil 0,630 0,627 0,581 Proporção acumulada da população
Fonte: PNAD de 1997.
mam se considerar "pobres". Quando muito, admitem pertencer à "classe mé- O rendimento familiar per capita é obtido dividindo o rendimento de cada ~
{J
dia". A Tabela I mostra que o 3º quartil da distribuição da renda na PEA com família pelo respectivo número de pessoas, incluindo a pessoa de referência da ta
rendimento é igual a R$ 550. Pessoas com rendimento maior do que R$ 550 es- família, o cônjuge, os filhos, os outros parentes e agregados, mas excluindo os l::::
tão entre os 25% mais ricos da PEA do país. Pessoas com rendimento acima de pensionistas, os empregados domésticos e os parentes de empregados domésticos. Ê
~
R$ 1.200 estão entre os 10%mais ricos e pessoas com rendimento acima de R$ 2 A Tabela 2 mostra as principais características da distribuição do rendi-
• mil estão entre os 5%mais ricos. É verdade que esses percentis estão subestima- mento familiar per capita no Brasil, considerando as pessoas de famílias com de-
dos. Mesmo fazendo correções generosas para os valores do 9º decil e do 95º claração de rendimento familiar e residentes em domicílios particulares. A tabela
percentiL podemos afirmar que, em 1997, apenas 10%da PEA com rendimento apresenta resultados separados para a população urbana e para a rural.
recebiam mais de R$ 2 mil mensalmente, apropriando-se de quase metade de O rendimento médio percapita é R$ 243,7 e a mediana tem valor idêntico ao
toda a renda, e apenas 5% recebiam mais de R$ 3.500, recebendo mais de 1/3 da salário mínimo da época (R$ 120). Note-se que o 3º quartil é pouco superior à
renda total. Mas pessoas com rendimentos dessa ordem de grandeza, quando média da distribuição, mostrando como a "Parada de Pen" seria, durante a maior
discutem a cobrança de impostos e afirmam que a taxação dos "ricos" deveria parte do tempo, uma parada de anões.
aumentar, consideram que "ricos" são, obviamente, pessoas com rendimentos De acordo com os dados, pessoas com rendimento acima de R$ 857 estão
entre os 5% mais ricos, que ficam com 34,1% da renda total declarada. Conside-
Gráfico 2 rando uma "margem de segurança" para o erro de medida, é certo que pessoas
com renda acima de R$ 1.500 estavam entre os 5% mais ricos da população bra-
sileira em 1997.
Brasil: curvas dos quantis para homens e para mulheres da
PEAcom rendimento - 1997 Vários indicadores mostram a grande desigualdade da distribuição. Os
10%mais ricos ficam com quase 48% da renda tQtal. A participação do 1% mais
Rendimento (R$) rico na renda total (13,8%) supera a participação da metade mais pobre da po-
2.000
pulação ( 11,8%). Pode-se verificar que a renda média do 1%mais rico é quase 59
1.800 vezes maior do que a renda média dos 50% mais pobres. A renda média dos 10%
1.600 mais ricos é 25,7 vezes maior do que a renda média dos 40% mais pobres. O índi-
1.400
ce de Gini supera 0,6.
A Tabela 2 mostra que a distribuição da renda na área urbana domina, em
1.200
primeira ordem, a distribuição na área rural. O rendimento médio per capita na
1.000 área urbana é quase três vezes maior do que na área rural.
Média para homens
800 Observa-se que a desigualdade na área rural é um pouco menor do que na
-._---------------------------------- área urbana. Mas a desigualdade para toda a população é maior do que a desi-
Média para mulheres gualdade dentro da área urbana ou dentro da área rural. Pode- se verificar que o T
400
de Theil para toda a população (0,749) é composto por uma parcela referente à
200 desigualdade entre as áreas rural e urbana (0,057, correspondendo a 7,7% do to-
O tal) e uma parcela referente à desigualdade dentro das áreas urbana e rural
o 0,1 0,2 0,3 0.4 0,5 0,6 O.] 0,8 0,9 1
(0,692, que é uma média ponderada dos T de Theil para cada área, usando a ren-
Proporção acumulada da população
da total de cada área como fator de ponderação).
___ .J'.:-_,_-..~. 88
_
Tabela 2 A desigualdade entre regiões é um componente importante da desigualda-
~
E de da distribuição da renda no Brasil. Observa-se, na Tabela 3, que o rendimen-
~ Principais características da distribuição do rendimento 10 percapita médio no Estado de São Paulo é 2,9 vezes maior do que no Nordeste.
~ familiar per capita no Brasil, conforme a situação do A relação entre os rendimentos medianos dessas duas regiões é ainda maior:
t domicílio - 1997 213/60 = 3,5. Note-se que apenas o Nordeste e o Norte (excluindo a área rural
"
{; da antiga região Norte) têm rendimentos médios e medianos menores do que
'"
:!ô!
g ESTATíSTICA
SITUAÇÃO DO DOMiCíLIO
TOTAL
os valores referentes a todo o Brasil.
.~
:c URBANA RURAL A comparação entre os percentis da distribuição nas regiões Sul e Centro-
Q
Pessoas (mil) 152.270 121.258 31.012 Oeste mostra um caso claro de ausência de dominância em primeira ordem. As
Rendimento médio (R$) duas curvas de quantis se cruzam. Até o 9º decil os percentis no Sul são maiores
243,7 281,4 96,4
do que os valores correspondentes no Centro-Oeste. Mas o 95º e o 99º percentis
10 percentil
2
25,0 35,7 13,7 são maiores no Centro-Oeste do que no Sul. A maior dispersão dos quantis no
20 percentil
2
45,5 60,0 23,3 caso do Centro-Oeste mostra que há mais desigualdade na distribuição do ren-
25 percentil
2
56,7 71,4 28,0
dimento familiar percapita nessa região, em comparação com o Sul, o que é con-
firmado pelos resultados apresentados na Tabela 4.2
30 percentil
2
65,0 83,3 32,0
ATabela 4 mostra várias medidas de desigualdade para as seis regiões con-
40 percentil
2
90,0 113,3 41,7 sideradas. Cabe ressaltar que comparações com a região Norte são limitadas
50 percentil
2
120,0 145,0 55,0 pelo fato de a PNADnão abranger a área rural da antiga região Norte. O Nordeste
602 percentil
se destaca como a região com maior desigualdade. O Sul e o Estado de São Paulo
158,3 190,0 70,0
apresentam as medidas de desigualdade menos elevadas.
702 percentil 215,0 252,5 91,5
Tabela 3
752 percentil 255,0 300,0 107,4
802 percentil 311,2 366,7 120,0 Número de pessoas, média e percentis da distribuição
902 percentil 533,3 612,5 194,0 do rendimento familiar per capita em seis regiões do
952 percentil 857,0 980,0 290,0 Brasil - 1997
992 percentil 2.000,0 2.200,0 733,3 REND(MENTO PERCENTIL
REGIÃO NÚMERO DE
MEDIO
PESSOAS (MIL) (R$) 50º 752 902 9S' 99'
Renda recebida pelos 10' 25"
40% mais pobres Nortea 7.493 180,5 24 45 90 181 383 613 1.500
7,4 8,3 9,3
50% mais pobres 11,8 12,8 14,3 Nordeste 44.095 128,1 15 30 60 120 255 450 1.250
20% mais ricos 64,4 62,6 59,8 MG + ES + RJ 32.723 262,2 36 68 132 267 552 897 2.181
10% mais ricos 47,8 46,0 44,2 SP 33.894 366,4 61 117 213 400 785 1.200 2.500
5% mais ricos 34,1 32,5 32,2 Sul 150 295 583 875 2.000
23.437 268,5 40 76
1% mais rico 13,8 12,9 14,7 Centro-Oeste 10.629 264,7 37 67 125 258 562 975 2.250
Relação médias 10+/40 - 25,7 22,2 19,0
Total 152.270 243,7 25 57 120 255 533 857 2.000
índice de Gini 0,607 0,587 0,563 Fonte: PNAD de 1997.
a Exclusive área rural de RO. AC, AM. RR. PA e AP.
T de Theil 0,749 0,692 0,687
Fonte: PNAD de 1997.
2 Uma comparação entre distribuições da renda em unidades da Federação e regiões do Brasil,
considerando a dominãncia de primeira ordem (e também a dominância de segunda ordem), pode
ser encontrada em IPEA/PNUD (1996, Capo2).
90 91
~-::"'-.'-':., Tabela 4
'(;; d com o rendimento familiar percapita. Note-se que cerca de 9,4% das ~~s- ';:;
~ acor °conomicamente ativas sem rendimento próprio pertencem a faml I~S ~
'"g Medidas de desigualdade da distribuição do rendimento so~sr:ndimento familiar percapita supera 2,5 salários mínimos e 4% com 7nd~- g
~ familiar per capita em seis regiões do Brasil - 1997 cUJo "0 ositivo mas que não supera 1salário mínimo pertencem a aml- ~
"'2-"
"
{j PERCENTAGEM DA RENDA RECEBIDA PELOS
REI,AÇÃO
:~~~~~~~~~i~ento familiar percapita supera 2,5 salários mÍnimos.l~sO ~os~ra
~: problemas defocalização de programas de combate à.pobreza basea os Ire a- ~_~
1
REGIÃO
~" 40% MAIS SO% MAIS 10% MAIS S%MAIS MEDIAS íNDICE DE
GINI
TDE
THEll
~
.~
POBRES POBRES RICOS RICOS 10+/40- mente no rendimento da pessoa economicamente ativa. S!
i(l
~ Nortea 8,2 12,6 47,9 34,6 23,4 0,600 0,763
.~
i(l
'"
~
Nordeste 7,5 11,6 52,1 39,0 27,7 0,628 0,854
'r!
MG + ES + RJ 8,6 13,1 47,3 34,1 21,9 0,590 0,727 ~
c
SP 10,3 15,5 42,1 29,1 16,4
~
0,540 0,574
.Sul 9,5 14,4 43,6 30,5 18,4 0,559 0,620
Centro-Oeste 8,4 12,7 49,1 35,5 23,3 0,603 0,774
Total 7,4 11,8 47,8 34,1 25,7 0,607 0,749 ESTRATOS DE RENDlrvlENTO F~MllIAR PER CAPITA
ESTRATOS DE (EM SALARIOS MINI MOS)
Fonte: PNAD de 7997. RENDIMENTO. DA TOTAL
a Exclusive área rural de RO. AC, AM. RR, PA e AP. PESSOA (SALARIO MAIS DE MAIS DE MAIS DE MAIS DE MAIS DE MAIS DE MAIS DE
MíNIMO) ZERO ZERO A 0,5 0.5 A 1 1 A 1.5 1,5A2,5 2,5A5 5Al0 10
E=~
n
i [-!..{)
i=1
exp
/1
R$ 1.200. A ordenada de cada curva não é diretamente o valor da sensibilidade,
mas um Índice proporcional à sensibilidade e cujo valor médio no intervalo ana-
lisado é igual a 100. Isso torna mais clara a visualização da sensibilidade relati-
va dessas medidas de desigualdade a transferências regressivas. Como a sensi-
Pode-se verificar que o valor mínimo de E, quando todos têm a mesma ren- bilidade do Índice de Gini depende da densidade de probabilidade, admitimos
da, é exp (-1) = 0,36788 e o valor máximo, quando toda a renda é apropriada que a renda per capita tem distribuição 10g-normaI, de maneira que os logarit-
por uma única pessoa, é: mos das rendas têm distribuição normal com média 4,79 e variância 1,46. Para
essa distribuição log-normal a mediana é 120, a média é 250 e o Índice de Gini é
0,607, que são características muito semelhantes às observadas para a distribui-
E max = 1-- 1(1-e -11 )
n ção do rendimento familiar per capita no Brasil em 1997 (ver Tabela 1).
Note-se, no Gráfico 3, que a sensibilidade do Índice de Gini é máxima
Vamos admitir que seja feita uma transferência regressiva de um montante quando a renda é a mediana (R$ 120), pois é no ponto correspondente à media-
e de uma pessoa com rendaxh para uma pessoa com renda (1+P)Xh' com p > O. na que a densidade de probabilidade do logaritmo da renda a tinge seu máximo,
Seja !ill a variação na medida E decorrente dessa transferência regressiva. A para uma distribuição 10g-normaI.
sensibilidade de E a transferências regressivas é definida como: Contrariando o que sugere Wolfson (1997), a medida E não é mais sensível
que o Índice de Gini para rendas baixas.
. I1E A Tabela 6 mostra o valor da medida exponencial E para a distribuição das
\jI=IIm-
8~O e pessoas de acordo com o rendimento familiar per capita no Brasil e nas seis re-
giões já consideradas nas Tabelas 3 e 4. VerifiCa:se que a ordenação das seis re-
giões no que se refere à desigualdade é a niesma, adotando como medida de de-
sigualdade o Índice de Gini, o T de Theil ou a medida E.
3 . Essa condição e~ta~elece que.o valor de uma medida de desigualdade deve aumentar quando for Tendo em vista, ainda, que a medida E não pode ser decomposta em parce-
feIt~ u.ma transferencla regressIva de renda (transferir renda de uma pessoa para outra que já é las referentes à desigualdade dentro e entre regiões, parece que ela não vai de-
maIs fica).
sempenhar um papel melhor do que o Índice de Gini como uma medida que
4 Cabe ressaltar que o objetivo principal desse trabalho de Wolfson não é apresentar a medida ex-
ponencial de desigualdade, mas obter uma medida da polarização da distribuição de renda. pode ser calculada quando há rendas nulas.
94 95
Gráfico 3
Tabela 6
~ ~
E E
'" Medida de desigualdade exponencial (E) para a '"'"
~ Curvas de sensibilidade relativa a transferências regressivas "
~ com dada razão entre as rendas para o índice de Gini (G), o T distribuição do rendimento familiar per capita em seis 1'i
t de Theil (T), o L de Theil (L), o coeficiente de variação (C), a regiões do Brasil - 1997 "
"'"
'"
~ variância dos logaritmos (1Iz) e a medida exponencial (E) ~"'-
~ E ~"
~ Sensibilidade relativa REGIÃO
~
.~
0,5579 ~
~ • 240
220
Nortea .~
:c
"'"
J-- •• G 0,5761
200 Nordeste ~
180 '"
'8,
MG + ES + RJ 0,5527 ~
160
140 0,5242 ~
SP ::'i
T 120
100 Sul 0,5344
80 0,5615
Centro-Oeste
60
•••. 40 0,5613
------------- •• _ 20
Total
Fonte: PNAD de 1997.
o a Exclusive área rural de RO, AC, AM, RR. PA e AP.
-20
100 200 300 400 500 600 700 800 900 1.000 1.100 1.200
número de pobres, o valor máximo da insuficiência de renda total é hz, que ocor-
Rendimento per capita (R$ de setembro de 1997)
re quando todos os pobres tiverem renda nula. A razão de insuficiência de renda é:
7 - Pobreza 1=£
hz
A idéia de pobreza está associada a condições de vida inadequadas decor-
rentes de baixos rendimentos. Como o que é "adequado" depende do grau de ri-
Se admitirmos que o número de pobres pode crescer até incluir toda a po-
queza do país analisado, há, certamente, um elemento relativo no conceito de
pulação, o valor máximo da insuficiência de renda é nz. Definimos o índice de in-
pobreza. Mas se a definição de "ser pobre" depende da comparação da situação
suficiência de renda como:
de "pobres" e "ricos", o conceito de pobreza se confunde com o conceito de desi-
gualdade econômica. É mais interessante, então, usar um conceito de pobreza S
CPl =-
absoluta, no qual o grau de pobreza não seja diretamente dependente do nível nz
de renda dos ricos.
É fácil verificar que:
Para medir a pobreza com base em dados sobre a distribuição da renda é
necessário fixar uma linha de pobreza (z). Serão consideradas pobres as pessoas
CPl =HI
cujo rendimento não superar essa linha. Seja h o número de pobres em uma po-
pulação com n pessoas. A proporção de pobres na população, dada por H = h/n, é A rigor, a razão de insuficiência de renda não é uma medida de pobreza,
uma medida de pobreza simples e bastante utilizada. Medidas mais sofisticadas permitindo avaliar apenas a intensidade da pobreza dos que são pobres, Já o Índi-
procuram levar em consideração a in tensidade da pobreza, considerando a insu- ce de insuficiência de renda é uma medida apropriada de pobreza.
ficiência de renda de cada pobre, que é a diferença entre a linha de pobreza e o ren-
Foster, Greer e Thorbecke ( 1984) propuseram uma família de medidas de
dimento do pobre.5 Seja S a insuficiência de renda de todos os pobres. Fixado o
pobreza definida por:
1 h
5 A expressão "'insuficiência de renda"' parece ser mais apropriada do que "'hiato de renda"'. De
acordo com o dicionário Aurélio. só no sentido figurado é que a palavra hiato significa intervalo ou
cp(a)=-----;- L (z-xdx, com a~O
lacuna. nz i=l
96 97
-~~
.- --:_.~
.•..
onde x, é a renda do i-ésimo pobre. Note-se que:: - x. é a ill5uficiência de renda Embora na área rural os alimentos sejam mais baratos, o acesso a vários servi-
i
'" desse pobre. Essa medida é igual il proporção de pobres quando a = O.e é igual a ços (particularmente educação e saúde) é mais difícil do que nas áreas urbanas ~
:: <Jl, quando a = I. Denomina-se índice de Foster. Greer e Thorbecke o valor obti- [ver Hoffmann ( 1998a)]. ~
G do com a
""- = 2: Comparando a variação dos índices de custo de vida regionais obtidos por ~
~ Azzoni, Carmo e Menezes ( 1998) e Kilsztajn (1998) com a variação das linhas â
'" {i
I h de pobreza utilizadas por Rocha (1995), verifica-se que as diferenças in- "
~
<Jl2=--2 I (Z-Xi)2 ter-regionais dessas linhas de pobreza são muito maiores. Isso mostra que a va- {i
nz i=l riação nessas linhas de pobreza se deve mais a diferenças inter-regionais na 1
composição da cesta de alimentos considerada essencial do que a diferenças ~
{i
Pode-se provar que: nos preços. Na comparação entre duas regiões, seria apropriado considerar li- 'a
nhas de pobreza diferentes, se a diferença no custo da cesta de alimentos consi- E
derada necessária for devida unicamente a hábitos alimentares mais "esparta- j
nos" em uma das regiões?
É importante assinalar que a mensuração da pobreza também pode ser fei-
onde C. é o coeficiente de variação das rendas dos pobres.
ta mediante suas manifestações ou conseqüências, como as condições inade-
O índice de Sen (proposto em artigo publicado em 1976) pode ser obtido de quadas de habitação, a mortalidade infantil, a desnutrição etc.7
uma fórmula semelhante:
Dentre as distribuições discutidas nas seções anteriores, a mais adequada
para a análise da pobreza é, certamente, a distribuição do rendimento familiar
P=H[I +{l-I)G*] per capita.
Vamos adotar uma linha de pobreza de R$ 60 percapita, o que corresponde à
onde G. é o índice de Ginida distribuição da renda entre os pobres.
metade do salário mínimo vigente no mês de referência da PNAD de 1997. Veri-
Note-se que tanto o índice de Sen (P) como o índice de Foster, Greer eThor- fica-se, então, que do total de 152,27 milhões de pessoas com declaração de ren-
becke são funções da proporção de pobres (H), da razão de insuficiência de ren- dimento familiar per capita, 43,25 milhões são pobres. A proporção de pobres é
da (I) e de uma medida da desigualdade da distribuição da renda entre os po- H = 0,284 ou 28,4%. A insuficiência de renda é igual a R$ 1,174 bilhão por mês,
bres (G. ou C.). correspondendo a 3,16% da renda total declarada (R$ 37,1 bilhões). A razão de
Antes de calcular qualquer das medidas de pobreza mencionadas, é neces- insuficiência de renda (1) é 0,452, mostrando que a renda média dos pobres está
sário estabelecer o valor da linha de pobreza. Trata-se de questão difícil e polê- 45,2% abaixo da linha de pobreza. O índice de insuficiência de renda (<Jll ) é igual
mica, abordada em vários trabalhos de Sonia Rocha.6 Para que seja válida a a 0,1285; o índice de pobreza de Sen (P) é 0,1787; e o índice de Foster, Greer e
comparação entre medidas de pobreza calculadas em duas situações distintas é Thorbecke (<Jl2) é 0,0852. Note-se que esses índices sintéticos (P, <J>1e <Jl2) têm va-
essencial que haja correspondência no valor real das linhas de pobreza para as lores numéricos baixos mesmo quando há muita pobreza. Isso acontece porque
duas situações. Um erro comum, no Brasil, é comparar as medidas de pobreza esses índices só atingem seu valor máximo (igual ai) na situação extrema em
calculadas em diferentes períodos usando o salário mínimo corrente como linha que toda a população tem rendimento igual a zero.
de pobreza em cada período. Pode acontecer que os resultados reflitam essencial- As Tabelas 7 e 8 apresentam informações para uma análise da pobreza em
mente alterações no valor real do salário mínimo, e não mudanças no grau de seis regiões do Brasil com base nos dados da PNAD de 1997.8 Cabe lembrar que o
pobreza absoluta da população. levantamento de dados não inclui a área rural da antiga região Norte. É impor-
Há, sempre, um certo grau de arbitrariedade na determinação da linha de tante ter em mente, também, que o uso de uma mesma linha de pobreza para
todas as regiões pode ser considerado uma limitação da metodologia utilizada.
/
pobreza. Uma maneira de contornar esse problema é calcular as medidas para
vários valores da linha de pobreza.
A determinaç~o da linha de pobreza com base, essencialmente, no custo 7 Medidas antropométricas são usadas para detectar a desnutrição, especialmente no caso de crian-
dos alimentos leva a subestimar a pobreza rural em comparação com a urbana. ças. e podem, então. ser usadas para obter medidas de pobreza da população [ver Monteiro ( 1992,
1995a e 1995b) e Hoffmann (1995b e 1998a) l.
8 Uma análise da evolução do valor de várias medidas de pobreza no Brasil pode ser encontrada
6 Ver bibliografia. em Hoffmann (1992, 1995a e 1998).
98 99
""'-.:.""---- Tabela 7
~ Se,por exemplo, o CUSlO de vida no Estado de São Paulo for maior do que no Sul,
::: o uso de uma mesma linha de pobreza leva a subestimar o grau de pobreza desse ~
'"il Númer~ de pobres e insuficiência de renda em seis regiões '"
estado em comparação com o da região SuJ.9 g
'I
~ do ~rasll, conforme o valor do rendimento familiar per
." ATabela 7 mostra que a região Nordeste, com 29% da população analisada, ~
a caplta e adotando uma linha de pobreza de R$ 60 - tem mais da metade do total de pessoas pobres e quase 57% da insuficiência de t
~" setembro de 1997 {j
~ renda, A região Nordeste também se destaca na Tabela 8, com medidas de po- "
~ breza cujo valor está próximo do dobro do observado para o país como um todo. ~
.~
:c POPULAÇÃO POBRES RENDA TOTAL
Q
REGIÃO
INSUFICIÊNCIA
RENDA
DE As medidas de pobreza também são relativamente altas na região Norte, apesar .~
Nº (10') % Nº (10') % R$ 10' % R$ 10' %
da exclusão da maior parte da sua área rural. O Estado de São Paulo e a região ~ {j
9. Rocha (1995 e 1998b) compara a pobreza em regiões do Brasil usando linhas de pobreza diferen-
Ciadas.
100 101
-- -----'c; A variável dependente (Y)é o logaritmo neperiano do rendimento de todos A partir do coeficiente estimado de uma variável explanatória binária po- 1;
~ os trabalhos da pessoa ocupada. Cabe lembrar que na PNAD de 1997 o rendi- demos obter a diferença percentual entre o rendimento esperado na categoria ~
~ mento de todos os trabalhos representa 92,4% do rendimento de todas as fontes tomada como base e o rendimento da categoria para a qual aquela variável bi- ~
~ das pessoas economicamente ativas. O rendimento do trabalho principal cor- nária assume valor 1. Se, por exemplo, o coeficiente para a binária de "situa- ~
~~ responde a 96,0% do rendimento de todos os trabalhos. ção urbana" for b, então o rendimento esperado das pessoas com domicílio ur- 1
~ O ajustamento das equações é feito por mínimos quadrados ponderados, bano supera o rendimento esperado das pessoas com domicílio rural em ~
.~ usando o peso ou o fator de expansão associado a cada pessoa da amostra como 100[exp(b) - 1]%, já considerados os efeitos das demais variáveis explanatórias ~
~ fator de ponderação. O modelo das equações estimadas é: incluídas na equação de regressão. ~
.~
A Tabela 9 mostra as equações estimadas para todas as pessoas ocupadas com ~
ii
Yj=a+ L~iXij+Uj as informações necessárias e também equações separadas para os três setores da 'a
i
economia. Devido ao grande número de observações nas amostras utilizadas, qua- ~
onde a e ~i são parâmetros e uj são erros aleatórios (obedecendo às pressuposi- se todos os coeficientes são estatisticamente diferentes de zero ao nível de signifi- ~
ções usuais). São consideradas as seguintes variáveis explanatórias: cância de 1%. A sigla ns assinala os poucos casos em que o teste t para a hipótese
de nulidade do parâmetro não é significativo ao nível de 5%.
a) uma variável binária para sexo, que assume valor 1 para mulheres;
A Tabela 10 mostra a contribuição marginal de cada fator para a soma de
b) a idade da pessoa, medida em dezenas de anos, e também o quadrado
quadrados de regressão. Devido à colinearidade entre os fatores, a soma das
dessa variável, tendo em vista que Ynão varia linearmente com a idade. A idade
suas contribuições marginais é muito menor do que 100%. A escolaridade se
é medida em dezenas de anos apenas para evitar que os coeficientes sejam mui-
destaca como o fator mais impor"tante, exceto na agricultura, onde a maior con-
to pequenos. Se os parâmetros para idade e idade ao quadrado forem indicados
tribuição corresponde à "posição na ocupação".
por ~l e ~2' respectivamente, deve-se ter ~I >0 e ~2 <o e então o valor esperado
É necessário reconhecer que os coeficientes mostrados na Tabela 9 apresen-
de Y (e do rendimento) será máximo quando a idade da pessoa for igual a tam alguma tendenciosidade devido à exclusão de variáveis explanatórias rele-
-~I 1(2~2); .
vantes. Se uma variável omitida (como, por exemplo, valor do capital) tem efeito
c) escolaridade, variando de 1 (no caso de pessoa sem instrução ou com positivo sobre o rendimento e está positivamente correlacionada com variáveis
menos deum anode estudo) a 16 (no caso de pessoa com 15 anos ou mais de es- incluídas no modelo (como escolaridade e idade), então os coeficientes dessas
tudo); variáveis são superestimados.
d) três variáveis binárias para distinguir quatro posições na ocupação: empre- Observa-se que o coeficiente de determinação das regressões ajustadas não
gado (tomado como base), empregado doméstico, conta-própria e empregador; chega a 60%. Isso é típico de equações de rendimento, pois os rendimentos das
e) quatro variáveis binárias para distinguir cor: branca (tomada como pessoas dependem de elementos aleatórios e de características pessoais (como
base), indígena, preta, amarela e parda; ambição, tino comercial, capacidade empresarial etc.) cuja mensuração é muito
j) três variáveis binárias para distinguir quatro faixas de tempo semanal de difícil.
trabalho: 15 a 39 horas (tomada como base), 40 a 44 horas, 45 a 48 horas e 49 O coeficiente para sexo feminino na equação geral na Tabela 9 mostra que,
horas ou mais; depois de considerados os efeitos das demais variáveis explanatórias incluídas
g) cinco variáveis binárias para distinguir seis regiões: Nordeste (tomado na equação de regressão, o rendimento esperado das mulheres é 33,9% mais bai-
como base), Norte, Sudeste excluindo o Estado de São Paulo (Minas Gerais, xo que o dos homens. É interessante notar que a diferença é menor quando não
- Espírito Santo e Rio de Janeiro), Estado de São Paulo, Sul e Centro-Oeste; se desconta o efeito das demais variáveis: a média geométrica dos rendimentos
h) uma variável binária que assume valor 1quando o domicílio é urbano, e das mulheres é 28,6% menor do que a média geométrica dos rendimentos dos
valor zero quando é rural; homens ocupados. Isso se explica, basicamente, pelo fato de as mulheres ocu-
padas terem, em média, 1,6 ano a mais de escolaridade do que os homens.
i) duas variáveis binárias para distinguir os setores de atividade (agricultu-
ra, indústria e serviços). O setor agrícola é tomado como base; e Pode-se verificar que a idade associada ao máximo rendimento esperado é
50,4 anos para a equação geral, 50,8 anos na agricultura, 49,5 anos na indústria
j) em uma equação são incluídas variáveis binárias para captar o efeito de
interações entre situação de domicílio (urbano) e setor de atividade (indústria e 50,0 anos no setor de serviços.
ou serviços).
102 103
- _~ ". - -.....-1'.
Tabela 9 (col/til/lIl1ção) :a
~ COEFICIENTES E
E
'"il Equações de rendimento estimadas para pessoas VARIÁVEL INDÚSTRIA SERViÇOS
'":::
<:>
TOTAL AGRICULTURA
1\
" ocupadas no Brasil, considerando o rendimento de todos
'~ :::
Setor: Indústria 0,3639 "'i?"
"'i?" os trabalhos, conforme setor de ocupação - 1997
"
~
{; Serviços 0,2978 "
{;
~ COEFICIENTES
'"
::;;
g VARIÁVEL
Urbano x indústria O,0070ns g
.~ TOTAL AGRICULTURA INDÚSTRIA SERViÇOS
\:J .~
~ Urbano x serviços 0,0669 .:g
Constante 2,3637 3,2611 2,5319 2,4823 ~
Sexo feminino -:-0,4136 -0,3762 -0,4171 -0,4209 RI 0,582 0,434 0,532 0,578 la.
~
123.940 17.398 28.346 78.196
Idade /10 0,7977 0,4150 0,8933 0,8683 n ~
:<
Nota: A sigla ns assinala os coeficientes que não são estatisticamente diferentes de zero ao nível de significância de 5%.
(Idade / 10)2 -0,0792 -0,0408 -0,0903 -0,0868
Domicílio urbano 0,1044 0,0916 0,1199 0,1667 O coeficiente para escolaridade na equação geral mostra que o rendimento
esperado cresce 11% para cada ano adicional de escolaridade. O coeficiente é se-
melhante na indústria e no setor de serviços, mas é substancialmente mais bai-
(COl/til/lIl1)
xo na agricultura. À primeira vista isso mostra que a educação tem um efeito
104 105
menor no rendimento das pessoas ocupadas no setor agrícola. Uma explicação agricultura, é maior para os residentes na área ~rbana (0,:978 + 0,0669 = :--(;;-----4
~ 0,3647 ou acréscimo de 44,0%) do que para os reSidentes na area rural (0,2978 ~
~ alternativa é que o coeficiente de educação está mais superestimado nos setores
~ urbanos porque aí a variável "posição na ocupação" não reflete a propriedade de ou acréscimo de 34,7%). ê
~ capital, como ocorre na agricultura, onde o empregador é, tipicamente, o pro- De acordo com os dados da PNAD de 1997, a média geométrica dos rendi- i~
! prietário de um sítio ou de uma fazenda. Excluindo as variáveis referentes à mentos para as pessoas de cor preta era 42% mais baixa que a média para as pes- ~
~ "posição na ocupação" da equação ajustada com dados das pessoas ocupadas na soas brancas. Depois de descontados os efeitos das demais variáveis incluídas ~
~~ agricultura, o coeficiente de escolaridade sobe para 0,0981. na equação geral da Tabela 9, o rendimento esperado para uma pessoa preta é 1
"6'
"~
,g Não há dúvida de que a escolaridade é um determinante importante do 11 % menor do que para uma pessoa branca. Observa-se, nessa tabela, que o efeito
.",
rendimento das pessoas. A educação é um dos caminhos clássicos de ascensão para pessoas pardas é semelhante. ~
social. Independentemente das divergências sobre o papel que a educação pos- O rendim"ento esperado para pessoas de cor amarela é substancialmente '~
sa ter para reduzir a desigualdade da distribuição da renda no Brasil, há consen- maior do que para as pessoas brancas. Esse diferencial a favor das pessoas de cor ~
so de que é preciso promover a educação básica no país, condição necessária amarela se mostra maior na agricultura, onde atinge 66%. Se a explicação dos ~
.para o exercício pleno da cidadania e para que as pessoas possam participar ade- coeficientes associados à cor se restringir à discriminação, teríamos de admitir
quadamente de uma economia moderna. que há, no Brasil, uma discriminação a favor de pessoas de cor amarela. A expli-
Se associarmos o nível 100 à média geométrica do rendimento de todos os cação do fenômeno envolve variáveis dificilmente mensuráveis, co~no caracte-
trabalhos das pessoas ocupadas no Nordeste, o número-índice para as demais rísticas culturais do grupo, qualidade da escolaridade, ambição etc. E importan-
regiões é 160 no Norte, 182 em Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, te considerar, também, a propensão e capacidade dos imigrantes japoneses e
292 no Estado de São Paulo, 205 no Sul e 186 no Centro-Oeste. Como seria de se seus descendentes de se organizarem em cooperativas de produção e/ou comer-
esperar, as diferenças são muito menores, depois de descontados os efeitos das cialização.
demais variáveis. Mantido o nível 100 para o Nordeste, os números-índices pas-
sam a ser 128 no Norte, 131 em Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro,
180 em São Paulo, 140 no Sul e 143 no Centro-Oeste. Bibliografia
O coeficiente para empregador mostra que este ganha bem mais do que o AZZONI,C. R., CARMO,H. E., MENEZES,T. Construção de índices de custo de vida
empregado. A diferença é de 113% no total e atinge 207% na agricultura. regionais: aspectos metodológicos e aplicação ao caso brasileiro. Anais do XX
Encontro Brasileiro de Econometria. Vitória: SBE, p. 155-171, dez. 1998.
Seria de se esperar que na agricultura os conta-própria (representados pela
agricultura familiar) tivessem rendimentos maiores do que os empregados. O BARROS,R. P., MENDONÇA,R. Pobreza, estruturafamiliare trabalho. Rio de Janeiro:
coeficiente negativo para conta-própria pode ser devido à provável subestima- IPEA, fev. 1995a (Texto para Discussão, 366).
ção do rendimento real da agricultura familiar. O questionário da PNAD não in-
--- __ . A evolução do bem-estar, pobreza e desigual.dade no B~asil ao
clui o valor da produção para autoconsumo e mesmo a produção comercial da longo das últimas três décadas - 1960/90. Pesquisa e Planejamento
agricultura familiar deve estar subestimada. Econômico, Rio de Janeiro, v. 25, n. 1, p. 115-164, abro 1995b.
Os coeficientes estimados mostram que para as pessoas ocupadas na
----_. Os determinantes da desigualdade no Brasil. Rio de Janeiro: IPEA, jul.
agricultura o domicílio urbano está associado a um rendimento esperado 11 %
1995c (Texto para Discussão, 377) .
. ~ mais alto do que o domicílio rural. A atividade na indústria e nos serviços leva
a rendimentos esperados substancialmente maiores do que na agricultura. A FISHLOW,A. Brazilian size distribution of income.American Economic, v. 62, n. 2,
interação estatisticamente significativa entre domicílio urbano e atividade p. 391-402, May 1972.
nos serviços mostra que o acréscimo no logaritmo do rendimento a favor dos
FOSTER, J., GREER, J., THORBECKE, E. A class of decomposable poverty
que têm domicílio urbano é maior para os ocupados nos serviços (0,1044 + measures. Econometrica, v. 52, n. 3, p. 761-766, 1984.
0,0669 = 0,1713 ou acréscimo de 18,7%) do que para os ocupados na agricul-
tura (0,1044 ou acréstimo de 11,0%). Interpretando a mesma interação de ou- HOFFMANN,R. Vinte anos de desigualdade e pobreza na agricultura brasileira.
tro ângulo, podemos dizer que a diferença no logaritmo do rendimento a favor Revista de Economia e Sociologia Rural, Brasília, v. 30, n. 2, p. 96-113, abr./jun.
1992.
de pessoas ocupadas nos serviços, em comparação com pessoas ocupadas na
106
--.::'~.~
-----. Desigualdade e pobreza no Brasil no período 1979/90. Revista
Brasileira de Economia, Rio de Janeiro, v. 49, n. 2, p. 277-294, abr./jun.
1995a.
PEN, J. Income distribution: facts, theories, policies. New York: Praeger Publishers,
1971.
Sonia Rocha**
1 - Introdução
Uma vez reconhecida a importância da renda como principal determinante
do nível de bem-estar da população, o parâmetro denominado linha de pobreza
(LP) passa a desempenhar papel central na determinação da incidência de po-
breza no que ela depende da capacidade de consumo no âmbito privado. O parâ-
metro serve ainda como crivo de referência para a caracterização dos pobres em
relação a outros aspectos da qualidade de vida não diretamente dependentes da
renda, mas que têm papel fundamental na determinação do nível de bem-estar,
como as condições de acesso a serviços públicos básicos.
Embora tenha sido relativamente comum a utilização de múltiplos de salá-
rio mínimo como linha de pobreza no Brasil,' existe consenso de que, havendo
disponibilidade de informações sobre a estrutura de consumo das famílias, esta
é a fonte mais adequada para o estabelecimento de linhas de pobreza. A opção
pelo consumo observado implica, ainda, deixar de lado a determinação da linha
de pobreza utilizando procedimentos de otimização da cesta alimentar a partir
de informações sobre o conteúdo nutricional e o preço dos alimentos. É ampla-
mente reconhecido que escolhas realizadas pelas famílias em relação ao consu-
mo alimentar, dada sua restrição de renda, diferenciam-se marcadamente da
cesta obtida a partir da minimização de custo. Isso ocorre mesmo quando se in-
troduzem restrições no modelo de modo a garantir a variedade dos itens ali-
mentares que compõem a cesta, assim como manter as quantidades por item
dentro de limites aceitáveis de palatabilidade. O que se observa ao comparar os
* A autora agradece a Márcio Duarte Lopes e a Sabine Bárbara Pabst. responsáveis. respectiva-
mente. pela programação SAS e pela assistência à pesquisa.
** Da Diretoria de Estudos Sociais do IPEA.
I Sobre o uso de linhas de pobreza como múltiplos do salário mínimo. ver Rocha (1996).
In
no
resultados do Estudo Nacional da Despesa Familiar (Endef) do IBGE, realizado O objetivo deste texto é apresentar as principais opções metodológicas para
'i;; ~
~ em 1974/?5, e da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE, de a determinação de linhas de pobreza no Brasil a partir do consumo observado, E
3 Para as estimativas de necessid~des calóricas baseadas em parâmetros anteriores [FAO ( 1973) I 5 A"Tabela de Composição de Alimentos" (IBGElEndef. 1977), fornece os coeficientes relevantes
elaboradas por Thomíls (1983) e Martins e Hidalgo (1983), ver Rocha, 1997 (Anexol). para obter tanto o percentual aproveitável da quantidade adquirida de cada alimento como seu
4 As estimativas da Cepal e de Feres se referem a médias regionais, resultando em necessidades aporte nutricional para cada 100 gramas de parte comestível.
calóricas idênticas para, por um lado. as três metrópoles nordestinas e por outro, para as duas me- ~ Esse procedimento com base nos décimosis móveis foi proposto por Ricardo Paes de Barros no
trópoles da região Sul. enquanto Ellwanger e Lustosa geram parâmetros específicos compatíveis ambi[oda comissão mista IBGE. IPEA e Cepal que estuda a metodologia a adotar para o estabeleci-
com o nível de detalhamento da informação de consumo da POF. mento de linhas de pobreza a partir da POF de 1995/96.
114
--~--.:_-.~'_. Gráfico 1 115
1; emlOdas as 23 áreas, estavam aquém do atendimento das necessidades calóri-
<;
<:Q ~
as. Essas cestas foram então ajustadas na sua composição de modo a atingir as <;
<:Q
~ In~~stão cal~ric~ média observada e recomendada por recomendações calóricas. Thomas (1983) utilizando também dados do Endef, g
~ decl~o da distribuição de despesa corrente - metrópole
! do RIO de Janeiro
além de recorrer a um procedimento semelhante ao de Fava, mas baseado na
cesta do 20º percentil, propõe ainda uma alternativa: adotar como ponto de par-
.\:j
.8'
~
{i
-i!l kcal tida a cesta de equilíbrio, isto é, aquela de menor custo que garante o atendi- ~
]
5.000 mento da recomendação calórica, da qual seleciona os principais produtos res- ,~
.'2;" ponsáveis pelo seu aporte calórico até atingir 75% do total das necessidades re- l}
_ Recomendada 4.500
Observada
4.000 comendadas. As quantidades dos alimentos selecionàdos são então aumenta- ~
"'"
---3.500
das proporcionalmente de modo a atingir 100% das necessidades calóricas reco- :s.
{i
mendadas, o que se dá a um custo inferior ao da cesta original. Ellwanger "
3.000
Média (2. 723 kcaO ( 1991),7 com base na POF 1987/88, utiliza como ponto de partida as cestas de :~
/= - 2.500 alimentos que atendem às recomendações calóricas mínimas, isto é, aquelas ~
.:::
- 2.000 necessárias tão-somente à manutenção do funcionamento do metabolismo es- {i
~ três procedimentos distintos de derivação Recife e São Paulo I, 'to para estimação da despesa mlnIma com esses I ens.
tire . I 1"1l
â (PREÇOS DE OUTUBRO DE 1987) Como resultado, ao definir a linha de pobreza, a ênfase c~ncel:ua e ana Itl- :2'
~" ca recaI. na def'tnl'ça-o das necessidades nutricionais e na estImaçao , das ,cestas
Id ~_
~'" VALORES (Cz$) COMPARAÇÃO RELATIVA I . 1 'ntares Embora as demais despesas representem, em palses do nIve e "
i! ame . 'd d b" - h b' ,~
.~ RECIFE SÃO PAULO RECIFE sÃO PAULO
de envolvimento do Brasil, mais da metade das necessl a es aSlcas, sao a 1- ê:=
~ Necessidades mínimasa llIalmente tratadas de forma agregada e simplificada. ~
848,40 838,01 102 106
A literatura sobre pobreza consagrou a adoção do coeficiente de Engel, isto â
Necessidades recomendadasb
é, a relação entre despesas alimentares e despesa total, como ~m elemen~~ cen- ~
Mínimo ajustado - 90% do aporte calórico 833,43 793,85 100 100 trai na determinação da linha de pobreza, apesar da sua eVlde.nte fraglh~a.de :~
conceitual e empírica. O procedimento, que ainda é o mai: habItuai na ~ratI~a ]'
Mínimo ajustado via cesta completa 1.007,55 1.042,15 121 131 iI1lcrnacionaI. consiste em assumir como adequado para fms de deter.mmaçao ~
Observado 1.111,28 1.188,98 133 da linha de pobreza o valor da despesa não-alimentar observa~o no mt.ervalo ]
150
Fontes: Rocha (1993) e EI/wanger (1992). mais baixo da distribuição, no qual a despesa alimentar atende as neceSSIdades ~
a Recife, 1.750 kcalldia e 5ão Paulo, 1.786 kcalldia.
b Recife, 2.071 kcalldia e São Paulo. 2.135 kcalldia. nutricionais (ver Tabela 2). ,~
Nordeste
nas e 25% para as rurais em relação aos valores metropolitanos [Cepal ( 1996) I. li~
A ausência de informações de despesas e de preços para unidades espaciais -::
Urbano
outras que as regiões metropolitanas, Goiânia e Brasília é, sem dúvida, a lamna .~
estatística mais grave na construção de LIs e LPs adequadas para o Brasil. Isso ~.
significa que os 2/3 da população brasileira residentes em áreas rurais e urbanas .::
~
Minas Gerais/Espírito Santo
não-metropolitanas são levados em conta de forma precária nos estudos sobre ~
Urbano pobreza. Nesse sentido, é urgente a melhoria da abrangência de pesquisas nacio- :2
nais de orçamentos familiares, que permitiria, dentre outras, captar as especifi- ~'~
cidades intra-regionais de custo de vida para os pobres que resultam da homo- ;g
.::
Rio de Janeiro geneização crescente de estruturas de consumo e de preços ao consumidor. !G
Urbano
~ro~e~i~entos
alternativos de valoração das linhas de vestuário ete.), que corresponde aos agrupamentos das despesas na POF no g
@ mdlgencla para a região metropolitana de São Paulo em
1 setembro de 1990
ano-base [Rocha (1997) ].ª ~
{;
~
""
"'"
Cr$ (SEr J1990)0 7 - Conclusão
1
,~
"
.~
g 2.523,42 Do que foi discutido nas seções anteriores decorre uma conclusão básica: a ~
escolha da metodologia mais adequada para a construção de linhas de pobreza ~
Via índice de preços (INPC-alimentação, São Paulo)
aValor do salário minimo em setembro de 1990: Cr$ 6.056,31.
2.888,54
e de indigência é determinada, essencialmente, pela disponibilidade de dados !
estatísticos. As etapas analisadas se referenl ao procedinlento consagrado na li- ~
tos, evi~al:1-se_ muitas vezes dificuldades associadas a mudanças na forma de teratura quando se dispõe de informações sobre a estrutura das despesas das fa- :~
comerClahzaçao de produtos,I2 mílias, o que resulta em dar primazia ao consumo observado como base para o ~ .;::,
13 Para uma comparaçao da estrutura de consumo no Endef e na POF, ver Rocha ( (995). ciente de Engel adotado para a metrópole de São Paulo podem atingir 50%.
124 125
Tabela 7 -metros como esquematizado no exemplo, No entanto, é rd~-
mos para os para f - d s muitas IJOssibilidades de escolha melOdolo- .~
- Simulação das opções extremas para o estabelecimento de LI e destacar que em unçao a b d ~
vante
, da etapa os '_ parame t ros estimados refletem o consumo o serva.. _,o e o _"
- lP: metrópole de São Paulo - 1987
~ -gICaa
I ca to de valor
, do ana I'lsta em p rOIJOrçO-esvarl'a'\'eis, Como consequenCla,
_ ,. .::;
:?
i ju gamen _ lt dos obtidos de sua aplicação sao Ul1lCOS, ~
arametros como os resu a . 'd _ '
tanto os P
FORMA DE FORMA DE
> _
OPÇÓES NECESSIDADES ESTABELECIMENTO VALOR DA LI DETERMINAÇÃO , . . tiol1 e de evolução temporal da mo cnCla e ~
EXTREMAS CALÓRICAS DA CESTA (CZS OUT/87) DA DESPESA
VALOR DA LP
(CZS OUT/87)
do-se para analIse em C1oss-sec .. d _ > ~
t
Ajuste de 90%
para 100% do -.
aporte calórico
793,85
t
-. Engel de
0,50
(arbitrário)
-'1.587,70
tabclecimento dos parâmetros,
.
,_'
I d obtidos a partir do conjunto de para metros dI 1.
Nesse ,sentido, r<:.sut~~ ~~m aráveis. Resultados "mais adequados"
_ 2
para ~
Desvio Desvio
t versos obvIament,e _naoi~' d' -~cia e de pobreza no Brasil são aqueles que de- .~
d,escrevderas c~n1deltÇr~:S
nvam os paran
o~~il~O;~: forma mais" sensa ta", tendo em vista tan to os :~.
]
Desvio
8,3% 49,8% 126,9%
Que Engelde
maximizam 2313 -. -. 1188,98 -. 0,33 -. 3602,97
os valores (observado)
A Tabela 7 tem como objetivo ilustrar até que ponto opções metodológicas
diversas têm o potencial de afetar os valores das LIs e das LPs, o que determina 159 131
os resultados que se venham obter sobre incidência e sobre o perfil da indigên-
88 65
cia e da pobreza no Brasil. Os dados se referem à metrópole de São Paulo, de A~çu~'
c~a~r~re~f~in~a~d~0~ ~ ~~---;-;;~--3"3-
modo que não sofreram as inevitáveis restrições quanto à disponibilidade de 35 33
Óleo de soja
informações que têm de ser enfrentadas para a estimação de parâmetros relati- 74 76
Pão
vos às áreas urbanas e rurais não-metropolitanas. Para estilizar a questão da
53 38
qual se tratou neste texto, derivaram-se valores para a LI e a LP escolhendo, a Feijão
cada passo, as opções metodológicas extremas dentre as apresentadas, isto é, 186 205
Leite de vaca
aquelas que contribuem para obter os valores mais altos e mais baixos para a LI 14 13
Macarrão
e a LP, Os efeitos acumulados de opções extremas quanto à necessidade calórica
28 25
média e à forma de estabelecer a cesta alimentar, que permitem atender a essas Carne bovina de segunda
necessidades recomendadas, resultam em LIs cujo valor superior é 50% mais 14 14
Farinha de trigo
elevado que o mais baixo. Ao incorporar diferenças quanto à relação entre des- 41 45
Galinha ou frango
pesas alimentares e não-alimentares no ano-base, a LP mais elevada chega a ter 19
Carne suína 13
. yalor 127% superior ao da alternativa mais baixa, Esse diferencial de valor para
6 5
a linha de pobreza implicaria obter, com base na PNAD de 1987, proporção de Margarina vegetal
pobres para a metrópole de São Paulo de, respectivamente, 11% e 42% (ver o
Farinha de mandioca 9 9
conjunto de indicadores relevantes no Anexo 2). Vale ressaltar que esses dife- 19
Ovo 23
renciais são atingidos sem levar em conta as opções metodológicas para a atua-
lização dos valores dos parâmetros, estimados, inicialmente, a preços do Biscoito 8
ano-base da pesquisa de orçamento. 9 11 20
Carne bovina de primeira
É evidente que, na prática, dificilmente serão feitas opções metodológicas -
Fontes: IBGElPOF. dados básicos. Requerimentos
, .
caloncos
(d
es Im~
s por Ria Ef/wanger (18GE/OPE),
o, 900;' do aporte calórico da cesta completa.
a Ajustamento das quantidades apenas dos 15 produtos responsavels por o
que impliquem, de forma consistente, a obtenção de valores máximos e míni-
b Cesta obselVada no terceiro décimo da distribuição de despesa.
126 127
;0.._..-._ .•.._-,..,----
Anexo 2 LUSTOSA, T., LANDEN,M. Cálculo das necessidades .eni?!9éticasda população brasileira 'õ;
l visando a construção da linha de pobreza. Conllssao de Estudos sobre. Pobreza E
lPENIBGE. Versão preliminar, Rio deJaneiro: IBGE/DPE/DEPIS, Jlmho de g
g Simulação de indicadores de pobreza com base em valores 1999.ª
t
~ extremos da linha de pobreza: metrópole de São Paulo - 1987
"- NÚMERO DE
N\ALETIA,H. Rural poverty in Brazil. Roma: FAO, 1998. 1
~
VALOR OA LP «(z$)" PROPORÇÃO GAP RATIO GAP INDEX GAP ~OBRES +
POBRES QUADRÃTICOb NAO-POBRES MARTINS,I. S., HIDALGO,C. P. Recomendações de energia e nutrientes para a população ,~
1.424,97 0,1112 1.594.691 0,3963
brasileira. Inan, Ministério da Saúde, 1984. ~
0,0441 0,0275 14.344.138
3.330,84 0,4218 _____ . Linhas de pobreza para as regiões metropolitanas na primeira ~~
a Valores a preços de setembro
6.050.352
de 1987. mês de referência
0,4115
da PNAD.
0,1736 0,0978 14.344.138
metade da década de 80. Anais da ANPEC, Belo Honzonte, v. 4, 1988. i
b índice proposto por Foster, Greer e Thorbecke.
"-
ROCHA, S. Poverty lines for Brazil - new estimates froltl recent empirical evidences. :~
Background paper para o World Bank, 1993. ~
.",
dados disponíveis como as hipóteses adotadas para contornar as lacunas de in-
----- A estrutura de consumo das famílias metropolitanas em São Paulo {:
formação. Comparações internacionais são necessariamente precárias, já que
são afetadas não só por opções metodológicas diversas na construção das linhas
e Recif~: evidências e implicações. Pesquisa e Planejamento Econômico, v. 25, j
n. 2, p. 297-322, ago. de 1995. {:
de indigência e de pobreza em cada país como também por diferenças nacionais ,~
quanto a detalhamento e especificação das bases de dados estatísticos. ----o Poverty under inflation. In: OYEN,E. Poverty-aglobal review. Oslo: ~
Scandinavian University Press, 1996. ~
CEPAL Magnitud de la pobreza en America Latina en los anos ochenta. Santiago de WORLDBANK. Brazil. a poverty assessment. Washington, D.C., 1995, 2 v. (Report
Chile, 1991. 14323-BR).
FERREIRA,F. H. G., LANJOUW,P., NERI, M. The urban poor in Brazil in 1996: a new
poverty profile using PPV, PNAD and Census Data. World Bank, 1998, mimeo.
FERES,J. Una estimación de las necesidades de energia eproteinas de la población. Cepa!.
1996.
Desigualdade e pobreza
no Brasil: origens e
determinantes
Capítulo 5
Os determinantes da desigualdade de
renda no Brasil: luta de classes ou
heterogeneidade educacional?
Francisco H. G. Ferreira
Capítulo 6
Determinantes da desigualdade de
rendimentos no Brasil nos anos 90:
discriminação, segmentação e
heterogeneidade dos trabalhadores
Lauro Ramos / Maria Lucia Vieira
Capítulo 7
Mercado de trabalho e pobreza
no Brasil Ricardo Paes de Barros /
Carlos Henrique Corseuil / Phillippe G. Leite
Capítulo 8
A evolução da distribuição de salários
no Brasil: fatos estilizados para as
décadas de 80 e 90
Naércio Menezes-Filho /
Reynaldo Fernandes / Paulo Picchelli
Capítulo 9
Tendências de coorte nos diferenciais
de rendimentos por sexo
Maria Carolina da Silva Leme /
Simone Wajnman
Capítulo la
Abertura comercial e liberalização do
fluxo de capitais no Brasil: impactos
sobre a pobreza e a desigualdade
Ricardo Paes de Barros /
Carlos Henrique Corseuil / Samir Cury
Capítulo II
Geografia e convergência da renda
entre os estados brasileiros
Carlos Azzoni / Naércio Menezes-Filho /
Tatiane Menezes / Raul Silveira Neto
'- . ...-
.,.-
Os determinantes da
desigualdade de renda
no Brasil: luta de classes
ou heterogeneidade
educacional?*
Francisco H. G. Ferreira**
1 - Introdução
Com um coeficiente de Gini para a distribuição da renda total familiar per
capita cuja média, durante as duas últimas décadas, ficou em 0,59, o Brasil con-
tinua ocupando posição de destaque internacional como uma das sociedades
mais desiguais do planeta. Durante o mesmo período, a média latino-americana
ficou entre 0,49 e 0,50 e a africana entre 0,43 e 0,47. Todavia, em regiões mais
igualitárias, como o clube dos países ricos (a OCDE), o mesmo índice médio não
ultrapassou 0,34. Essas comparações, baseadas nos dados de Deininger e Squire
(1996), estão ilustradas no Gráfico 1. Ainda que outras medidas de desigualda-
de comumente aplicadas à distribuição de renda brasileira, como os dois índices
de Theil ou outros membros da classe de índices de entropia generalizada, não
c tejam disponíveis para muitos países, dificultando suas comparações inter-
nacionais, a posição de destaque do Brasil é robusta ao uso de índices alternati-
vo . como mostra a dominância da curva de Lorenz do país sobre as da grande
maioria dos países para os quais ela pode ser obtida [ver Barros, Mendonça e
Duarte ( 1995, Gráfico 3)].
Ademais, a evolução temporal da desigualdade brasileira também não é
~nimadora. Após crescer de forma pronunciada durante as décadas de 60 e 70, o
IOdicede Gini permaneceu estável durante a maior parte dos anos 80-com pe-
quenas reduções em 1984 e 1986- mas voltou a piorar com a hiperinflação que
e 'eguiu ao fracasso do Plano Cruzado, atingindo o pico global da série (0,62)
Br E'lte tra,balho foi preparado para apreselllação no Seminário sobre Desigualdade e Pobreza no
m: lei realizado no Rio de Janeiro. de 12 a 14 de agoslO de 1999. Agradeço as valiosas sugestões de
, ar ,o Paes de Barros, bem como a assistência de Júlia Campos e Fernanda Feitosa, Erros e omis-
- -ao de minha exclusiva responsabilidade,
Do Depanamento de Economia da PUC/Rio,
132 133
..,:--",~----- Gráfico 1
~ Grafico 2
<!
'"i:! O Brasil no contexto internacional: desigualdade nos
A evolução da desigualdade e da pobreza no Brasil desde os
~ anos 80 e 90 anos 60: um amálgama de séries temporais
"'~
"
""
{;
0.59U.588_ 0,6
~ _ Anos 90
0,64 -------------------------- 0,60
] Anos 80
0,58 0,45 ~
..::
~
<!
,,
0,56 0,40
'"i:!
0,54 0,35
1~
Europa
Oriental
OCOE + Ásia
Meridional
Extremo
Oriente
Oriente
Médio
África
Subsaariana
América Latina
e Caribe
Brasil
° 0,52 0,30 {;
~:;
Notas: Os coeficientes de Gini (excetoo brasileiro) vêm de Deininger e Squire (1996). .:!>
As médias regionais são simples. incluem distribuições de renda e consumo, e a composição varia entre as décadas.
O Gini brasileiro dos anos 80 é a média simples de Ferreira e Litchfield (t 999), que excluem os anos de 1980 e 1982.
Notas. Os coeficientes de Gini (eixo esquerdo) são das seguintes fontes: 1960 /Fishlow (1972. Censo)[; 1970 /Langoni ~"
."
Para a década de 90, incluem-se os anos de 1990, 1992, 1994, 1995 e 1996, sendo o último procedente de Ferreira,
lanjouwe Neri (t 999) e os anteriores de Ferreira e Litchfield (t 999).
'973, Censo)[; 1976 /Bonelii e Sedlacek (1989)}; 1979182 /Hoffman (1989)}; e 1983-1995 /Ferreira e litchfield (1999)]. ~
::;
s md'ces de pobreza (eixo direito) são dessa última fonte.
.:;
em 1989, I A partir desse alto nível. a década de 90 foi caracterizada por uma
S
{i
distributivas. A dominância temporária da visão de que o trade-ojJ entre igualdade iS
queda na desigualdade, com uma redução idiossincrática em 1992, e uma mais
e eficiência (ou, em termos dinâmicos, crescimento) seria global baseava-se
permanente após a estabilização da economia com o Plano Real de 1994. Não
numa interpretação direta das teorias de taxação ótima que previam que o im-
obstante, o coeficiente de Gini para 1996 foi de 0,58: um nível semelhante ao do
posto sobre a renda proveniente do trabalho (capital) reduziria o incentivo dos
começo da década anterior e ainda muito elevado em termos internacionais
agentes para despender esforços no trabalho (a poupar), d.ada a redução no g",
(ver Gráfico 2).
nho marginal dessas atividades. Daí a recomendação, de forma alguma restrita
Mas, poder-se-ia perguntar, e daí? Por muito tempo não houve escassez de ao Brasil mas que aqui ganhou notoriedad.e com a exortação do então ministro
economistas que defendessem a tese de que a desigualdade de renda não é um Delfim Netto, de que se crescesse o bolo antes de dividi-lo. De acordo com essa
mal por si só, O grande mal. a maioria concorda, é a pobrez!l. E o melhor modo lógica, ser campeão de desigualdade não seria necessariamente ruim, desde que
de reduzi-la é por meio de altas taxas de crescimento econômico que, corria a i o levasse a altas taxas de crescimento agregado e, conseqüentemente, à redu-
versão por muito tempo dominante, poderiam sofrer em virtude de políticas re- ção da pobreza absoluta,2
Ainda que o debate acadêmico sobre a natureza da relação entre desigualda-
. ~I Uma comparação rigorosa entre medidas de desigualdade de t960 até os dias de hoje é impossí- de e crescimento esteja longe de ser resolvido, a opinião majoritária da profissão
vel. uma vez que os índices disponíveis para 1960 e 1970 derivam de subamostras aleatórias de cen- di lanciou-se, durante a última década, daquela que acreditava num trade-ojJ global
sos demográficos, enquanto que a partir de 1976 a maioria das medidas baseia-se na série de
PNADs. Além disso, uma comparação da magnitude do aumento durante os anos 60 e 70 depende
crucíalmente da escolha do índice de Gini original ou daquele modificado por Fishlow ( 1972), sen- 2 Considerando o vetor ordenado v como sendo a distribuição da variável renda domiciliar per capila,
do que o segundo tenta corrigír os dados para incluir rendas não-monetárias e aluguel imputado. pela Unidade indivíduo, recordem~s brevemente as distinções entre o bem-eslarsocial, dado por uma
Ferreira e Barros (1999) resumem algumas das interpretações da história recente da desigualdade fun.ção W de y, crescente na renda de pelo menos algum perceptor, e insensível a qualquer atributo
no país. Ainda que seja impossível conseguir unanimidade com relação aos detalhes, o que se sabe tndlvldual que não fora a renda: W(y), Wi(y) ~ O, '<!y, Wi(y) > O, :Jy; a desigualdade, que é insensível à
com confiança é que a desigualdade aumentou entre 1960 e 1976, e voltou a aumentar no final da escala da medida (e, portanto, à média da dístribuição) e que satisfaz o Axioma de Pigou-Dalton:
década de 80. As pequenas reduções durante o período de estabilidade macroeconômica pós-1994, /Lv), 1(.1') '= I(Ày). À~O e I(YI' ""Yi + I, ... ,y;-I, ... ) < iCvl, ""Yi' ""YI'''' )'Yi + I < Yj- I, I >0; e a pobreza,
ainda que bem-vindas, só conseguiram compensar os aumentos de t987/89, retornando a série aoS que obedece ao axioma de foco nas rendas abaixo da linha de pobreza, e que não diminui com o hia-
níveis do começo da década de 80. °
to da renda: P(z - y), P(.) > 0, P'(.) ~ quando z > y; e P(.) '= O quando z."y.
..,:--,,-. 134 135
~ entre desigualdade e eficiência. De fato, tanto os argumentos teóricos como a e .. 2 - O estado do debate ~
li dência empí~ica mais rec~nte passaram, em grande parte, a sugerir uma relaç~~
g causal ne~~tlva entr~ deslg~a!dade e crescimento econômico. O principal argu-
Num país cujo desenvolvimento econômico colonial baseou-se nos pilares
gêmeos de uma enorme concentração inicial da propriedade fundiária e da im- ::
j
~ mento teonco por tras da hlpotese de que a desigualdade reduz o crescimento'
! a consideração de que, com mercados imperfeitos de capital e sob assimetria~
i)ortação maciça de mão-de-obra escrava, não foram precisos censos, pesquisas 1
amostrais ou um grande número de índices matemáticos sofisticados para que E
~ de informação, a desigualdade e a pobreza implicariam a existência de um gru-
~ po de agentes sem acesso ao crédito e, portanto, sem possibilidade de desenvol-
a existência da desigualdade fosse notada e comentada. Fica fora do âmbito f
g v~r projetos cujo valor privado (e social) é positivo. A inexistência ou imperfei-
deste trabalho, porém, sequer ensaiar uma discussão da literatura sociológica -;
sobre diferenças, contrastes e desigualdades no país. Ao nos restringirmos so- ~
çao do mercado de crédito, violando os pressupostos dos teoremas de bem-estar
baseado~ no equilíbrio geral à Arrow-Debreu, transformava a desigualdade de mente a estudos econômicos da desigualdade, baseados em análises empíricas ~
oportum~ad~ em causa de ineficiência econômica. A série de modelos apresen- de bases de dados representativas da população nacional (ou de algum segmen- ~
10 bem definido dela), forçosamente ficamos também restritos ao período já ..;:;
tando vanaçoes deste argumento estilizado inclui Galor e Zeira (1993), BaneIjeee :a
Newman (1993), Aghion e Bolton (1997) e Piketty (1997). descrito, que começa com o censo populacional de 1960. E 'Cl
• O segundo argumento teórico que sugere a inexistência do trade-off global Desde então, começando com os trabalhos pioneiros de Fishlow (1972) e ~
~
entre igualdade e crescimento foi o reconhecimento generalizado (por meio da Langoni (1973), surgiu uma sólida literatura empírica, dedicada a analisar os e
chamada nova economia política) de que políticas econômicas não são formu- dados cada vez mais recentes e confiáveis, que eram produzidos pelo IBGE. Essa ~
ladas por um "ditador benevolente". Ao c.ontrário, elas são o resultado de um literatura inclui - mas não se restringe a - os trabalhos de Bonelli e Sedlacek ~
complexo processo político de tomada de decisões, que pode perder eficiência à (1989), Hoffman ( 1989), Ramos (1993), Barros e Mendonça (1996) e Ferreira e .~
Litchfield (1996 e 1999). Alguns desses trabalhos visavam somente estabelecer ~
medida que a sociedade se toma cada vez mais desigual [ver Persson e Tabellini ~
os f atos, descrevendo com o maior rigor possível as tendências da evolução da 51
( 1994) e Alesina e Rodrik (1994) l. A existência de conflitos sociais, seja dentro
distribuição de renda do país. Outros, a começar pelos dois trabalhos pioneiros, .~
do parlamento que deve decidir sobre como responder a uma crise externa, seja
ambicionavam também explicar tal evolução, identificando os fenômenos ou E
em forma de um aumento da violência contra pessoas e propriedade, pode ter
estruturas econômicas que causariam os níveis e as mudanças na desigualdade ~
custos econômicos elevados e reduzir a eficiência da alocação global de recursos
brasileira. iS
dentro de uma economia [ver Bénabou ( 1996) e Rodrik ( 1997) l. Essas conside-
rações, brevemente mencionadas, são parte de uma literatura crescente e de Em termos genéricos, as causas de uma distribuição desigual de renda de-
grande importância, que é discutida em maior detalhe em Bertolla (porvindouro). vem pertencer a pelo menos cinco grupos, conceitualmente distintos de fatores.
AirIda que o debate teórico e a apresentação de evidências e contra-evidências em- O primeiro é a existência de diferenças entre indivíduos no que diz respeito às
suas características natas, como raça, gênero, inteligência e/ou riqueza ini~ial.
píricas continuem em andamento, já existe quase um consenso entre os econo-
Algumas dessas caraterísticas - como a riqueza inicial- são observáveis, pelo
mistas, brasileiros e estrangeiros, de que o efeito líquido do alto nível da desi-
menos a princípio. O segundo é a existência de diferenças entre indivíduos no
gualdade brasileira para o desenvolvimento do país é negativo.
que diz respeito a características individuais adquiridas, como nível educacio-
Deve-se ressaltar que a desigualdade não é uma mera curiosidade acadê- nal, experiência profissional etc.
mic~,.?en: um indicado.r puramente "social", sem maiores conseqüências par~
O terceiro grupo diz respeito aos mecanismos pelos quais o mercado de tra-
a efIClenClada economia, seu crescimento e a taxa de redução da pobreza. E
balho, principal canal de transformação das características individuais em ren-
. ~bem verdade que, para qualquer função de bem-estar côncava em renda, a desi-
da, age sobre os dois grupos citados de características, transformando-as em di-
gualdade de renda é um mal em si mesma, independentemente de seus efeitos
ferenças no rendimento do trabalho. Esse grupo, por sua vez, se divide em três
sobre a eficiência da economia. Mas o ponto central do argumento é que, mes-
canais também conceitualmente distintos: por discriminação, entende-se a dife-
mo que se desejasse adotar no Brasil uma função de bem-estar social linear, na
rença de remuneração entre dois postos de trabalho idênticos, ocupados por
qual se desse valor somente ao PIB total, ignorando-se toda e qualquer caracte-
trabalhadores com produtividades idênticas, com base em alguma característi-
rística de sua distribuição, ainda assim é muito provável que nossa alta taxa de
caobservável do trabalhador, cujo efeito sobre a produtividade daquela combi-
desigualdade fosse motivo de preocupação, dados os seus efeitos negativos so-
nação de posto e trabalhador seja nula. Entre as características observáveis que
bre a eficiência estática e dinâmica da economia como um todo. Assim sendo,
podem gerar tal discriminação, sobressaem-se a raça e o gênero do trabalhador.
adquire grande importância a questão de que trata este capítulo: Quais as cau-
sas centrais, os principais determinantes da desigualdade de renda no Brasil?
136 137
Por segmentação, entende-se a diferença de remuneração entre dois postos G:;rr~af!:ic~0~3 _
'"~ de trabalho distintos, ocupados por trabalhadores idênticos, com base em ca-
to
g racterísticas do posto de trabalho, apesar de as produtividades daquelas combi- Esquema da geração de uma distribuição de renda
~ nações de posto e trabalhador serem idênticas. Assim, por exemplo, diz-se ha-
"'"
~ ver segmentação regional quando dois postos, outrossim iguais, ocupados por
~ trabalhadores iguais, geram remunerações distintas em diferentes regiões geo-
~ gráficas do país e, analogamente, para segmentação setorial, ou entre segmen- J (w, x. E)
.~
2l tos formais e informais do mercado de trabalho.
Projeção, o terceiro canal de transmissão
do mercado de trabalho, seria a ge-
'" Mercados e instituições de educação
. r "B
ª
~ sobre com que idade deixar o domicílio materno), é representado pelo último vam t do capital) e de mecanismos inflacionários que Imp Icavam per- ~
!funcional, que leva da distribuição univariada de rendimentos por perceptor repres~n~a~ ~sesproporcionais teve forte repercussão no debate. Considere-se, ~
~ G(x) à distribuição univariada de renda familiar per capita F(y). das sa analisO o que diriam oit~ anos mais tarde Edmar Bacha e Lance Taylor: ~
:ll por exemp , ~
.~ Os quatro funcionais estilizados no Gráfico 3 são os seguintes: Ed (w,X, e): "To put the issue bluntly, why should workers - rather Iha~ the mi~dl~ ~
~ ondem éa dimensão de] en é a dimensão deH; m (H,P): RI!+P~RI!+p,
RI1l~RI!, 1 or the rich themselves - have to pay through laggmg nomma 'J
onde p é o número de características do posto de trabalho e m é a função de alo- ~~~see:for the investment of the rich or of the Slate?" (Bacha e Taylor ~
cação (matchingjunction), que aloca combinações de elementos de H a combina- (1980,p.327)]. ~
ções de elementos de P, criando postos ocupados de trabalho (matches), cada Por outro Ia d o, num es tudo de excepcional qualidade
.. acadêmica, ainda
. o
.2!
._
um descrito pelas suas n + p características; x(m): RI! +1' ~R é a função de remu- raço tecnocrático do regime militar, Carlos Langom nao E!
queencomen dado pelo b .. . fl . ,. S 'Xl
neração, que mapeia a remuneração de cada posto ocupado de trabalho, com encontrava grande poder explicativo em conjuntur~s salanals ou 10 aClonana. ~
base em suas n + p características; C(x): R ~ R, por fim, mapeia a renda de cada Buscando entender tanto os elevados níveis da deSigualdade como as caus~s ~e 1
perceptor para a renda familiar per capita de cada indivíduo, por meio das deci- seu crescimento durante os anos 60, ele apontava para o papel da educaçao. ~
sões de formação de domicílio.
"A importância da educação ficou evidente, nã? só para as d i f erenç~s ~~
Ainda que arriscando simplificar excessivamente, creio ser útil estilizar a observadas de renda em cada ano, mas tambem para o, ~umento _e ,""
desi ualdade durante o período. Os coeficientes desta vanavel (.) sa.o {i
fase inicial da literatura sobre a desigualdade no Brasil- e em particular o cha-
os d~ maior magnitude e de mai~r significância entre todas as vanavels ~
mado debate Fishlow-Langoni -, apresentando-o essencialmente como um incluídas na regressão" (Langom (1973, p. 208) I. 1;
debate entre aqueles que encontravam no papel da educação (tanto a sua distri-
A diferença não é só de tom. Enquanto Langoni vê na d.istribuição da ed~; '~
buição quanto a natureza dos retornos a ela) o principal determinante da distri-
cação e na estrutura de seus retornos, a principal causa da deSigualdade no BrlaSI, ~
buição de renda brasileira por um lado e, por outro, aqueles que o encontravam ,
Fishlowe principalmente seus segUI'd ores a procurava m numa espécie de" uta ô
no funcionamento do mercado de trabalho. Mais especificamente, enquanto
de classes:' cuja principal ;rena era o mercado de trabalho. N.es~e mercado, ~~ re-
Langoni e seus seguidores focalizavam prioritariamente o funcional Ed (w, X, e), tornos à educação ou à experiência estariam sendo compnmldos ??r polIucas
e a derivada dX / dEd, Fishlow e, principalmente, seus seguidores consideravam
que enfraqueciam o poder d e b argan h a d o S trabalhadores , e permitia que seus _
da maior importância o papel de políticas públicas repressivas sobre as duas ganhos reais fossem corrOldos , pe I'
alO fl açao
- que, desde meados dos anos 60, nao
funções do mercado de trabalho, que influenciavam a natureza mesma dos pos-
parava de crescer.
tos de trabalho P, no que dizia respeito ao poder de barganha do trabalhador, às
É claro que, em se tratando de dois pesquisadores responsáveis, su~s pos-
suas liberdades de assembléia e organização etc. E consideravam que essas mudan-
turas nunca foram, de fato, tao comp Ietamen te opostas quanto.' gostanam al-
o
.
ças tinham um efeito importante tanto sobrem (H, P) quanto sobrex (m(H, P)). . hl ow, por e x,emplo examma uma
guns seguidores de ambos os la d os. FIS . , classlCa
Para averiguar a importância dessas duas visões, que nunca foram mutua- decomposição estaUca , . do 10'd' Ice T d e Th'lel e conclui
,. ' como
. conclUlnamos pos-
mente exclusivas, mas cujos qefensores, no calor de discussões repletas de im- teriormente todos os que repetimos esse exerClClo, que.
plicações políticas e no bojo de uma ditadura militar, muitas vezes assim as
~ apresentavam, basta lembrar trechos dos textos de Fishlow e Langoni. Em "In the first instance, age, sectoral, regional, and educational di~f~rences
succeed in ex laining something more than half the o~ser:'e . mcome
1972, Fishlow escrevia:
inequality. Ttfese var~ables define the mos! important dlscnmmants of
productivity (... )" (FIshlow (1972, p. 396)1.
"The increased inequality thus measures the failure of the conventional
monetary and fiscal instruments applied during the Castello BrancO E dentre elas eram justamente as diferenças educacionais as que tinham
administration. In a larger sense, however, the result was accurately maior poder explicativo. .
indicatiye of priorities: destruction of the urban proletariat as a political
threar, and reestablishment of an economic order geared to private Não obstante algemados pela polarização ideológica que as ditaduras cos-
capital accumulation" (Fishlow ( 1972, p. 400)]. tumam engendrar, , mUltas. demoraram quase d u.as décadas a reconhecer' os
POntos comuns às análises pioneiras de Fishlow e Langom. Durante esse penodo,
140 141
acumulou-se evidência da importância da distribuição da educação, e da estru- os anos e para qualquer medida.5 A raça do chefe de família também parece dar r:..-. --~-
1 tura dos seus retornos, como determinante principal da desigualdade da renda conta de uns 10% da desigualdade. Mais uma vez, o fator que de longe parece .~
~ familiar per capita brasileira. Decomposições estáticas, como aquela levada a ter maior importância para explicar a desigualdade é o nível de escolaridade do ª
i cabo por Ferreira e Litchfield (1999) e incluída a seguir como Tabela I, reitera- chefe de família. Essa importância parece, ademais, ser robusta com relação à ~
~ vam o resultado básico encontrado por Fishlow. medida de desigualdade utilizada, bem como ao ano estudado ~ não só na dé- ~
~ Assim como Fishlow, Ferreira e Litchfield decompuseram a desigualdade cada de 80, mas já na década de 60 se levam em conta os resultados de Fishlow. t
.~ de renda familiar percapita, entre uma parcela atribuível a diferenças entre gru- A mesma preponderância da educação em decomposições de índices de desi- ":;
.:::
25 pos e a outra devida à heterogeneidade residual dentro de cada grupo. O que gualdade desse tipo foi também encontrada por Bonelli e Ramos ( 1993), que es- '5
muda de linha para linha é a definição dos grupos: faixas etárias dos chefes de tudaram a distribuição de renda do trabalho en tre seus perceptores, no período g
~
família na primeira, escolaridade na segunda, região do domicílio na terceira, e 1977/89. "'=
assim por diante. Cada célula da Tabela I se reporta à proporção da desigualda- Cabe porém observar que as decomposições de Theil sofrem de uma proprie- ~
de total que é responsabilidade da desigualdade entre os grupos definidos na- dade às vezes indesejável: cada UlllJ delas deve ser interpretada (01110 ulna de- :-::
E
quela linha. As colunas são para três anos durante a década de 80, e para três composição total, e não como um resultado parcial. Ou seja, nenhuma das de- . g
medidas diferentes de desigualdade em cada ano.4 composições controla pelo efeito das características em que se baseiam as demais. ~
Ao contrário de Fishlow, que definiu seus grupos entre perceptores de ren- O poder explicativo da decomposição por raça, por exemplo, é o poder daquela E
~
da, Ferreira e Litchfield os definiram entre chefes de família. Isso explica por variável isolada, sem levar em con ta qualquer possível (ou provável) correlação ~
que a idade aparece entre os determinantes no estudo mais antigo, mas parece entre ela e as outras variáveis, C0l110 por exen1plo a educação. Nesse sentido, as ::g
~
irrelevante no mais recente. Exceto por essa diferença, os resultados são quali- "proporções explicadas" RB são análogas às derivadas totais (ou aos coeficientes .:;)
~
tativamente semelhantes, apesar de se referirem a períodos e bases de dados estimados em regressões simples), e não às derivadas parciais (ou aos coeficien- --"
bastante distintos: diferenças entre regiões e entre áreas urbanas e rurais pare- tes estimados em regressões múltiplas). Do ponto de vista de uma análise cau- ~
cem ser responsáveis por uma parcela não-desprezível da desigualdade em todos ai, essa característica é indesejável, já que se pretende estimar o efeito de cada .~
característica, uma vez levadas em conta todas as outras características relevantes. ~
Tabela 1 ~
A fim de superar essa deficiência, Barros e Mendonça ( 1996) construíram a
uma decomposição parcial aproximada, com base em simulações que tentam
Resultados de uma decomposição estática de três medidas de
eliminar o fator em questão para cada indivíduo, mantendo todas as outras ca-
desigualdade
racterísticas (observadas) constantes. Ainda que os autores recomendem ex-
1981 R. 1985 R. 1990 R.
trema cautela na interpretação dos resultados, que meramente indicam ordens
£(0) £(1) £(2) £(0) £(1) £(2) £(0) £(1) £(2)
de magnitude, a técnica utilizada neste exercício representa um avanço no sen-
tido de identificar os principais determinantes da desigualdade, controlando
Idade 0.01 0.01 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 pelos efeitos de outras variáveis. Os resultados de Barros e Mendonça ( 1996) fo-
Educação 0.37 0.42 0.30 0.39 0.42 0.26 0.37 0.40 0.21 ram reproduzidos na Tabela 2.
Região 0.12 0.10 0.04 0.10
O exercício deixa claro, por exemplo, que uma divisão da sociedade entre
0.08 0.03 0.10 0.08 0.03
grupos com níveis distintos de escolaridade continua a responder por entre um
Urbano/rural 0.17 0.13 0.05 0.14 0.11 0.04 0.10 0.11 0.03 terço e metade da desigualdade total, mesmo levando em conta o efeito de essas
. Gênero 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 pessoas terem raças e/ou gêneros diferentes, e trabalharem em setores e regiões
distintas, com níveis de experiência particulares. Essa parcela continua a ser a
Raça 0.13 0.11 0.04 maior atribuível a qualquer característica observável, como nas decomposições
Todos (excluindo raça) 0.51 0.52 0.36 0.51 0.50 0.30 0.50 0.49 0.25 anteriores, confirmando a proeminência da educação como determinante da ren-
da familiar per capita do brasileiro.
Todos (incluindo raça) 0.52 0.51 0.26
Fonte: Ferreira e Litchfield (1999). R. '" I. (P)/1. Cada decomposição é independente e não controlada pelos outros fatores.
4 Toda~ as três s.ão ~lJembros da Cl~sse de Medidas de Entropia Generalizada: E(a). E(O) é o índice 5 Ainda que o poder explicativo dessa decomposição para o E(2) -uma medida mais sensível a
L de TheIl; E( I) e o II1dlce T de TheIl; e E(2) é metade do quadrado do coeficiel1le de variação. rl'ndas muito altas - seja sempre bastante inferior ao das duas outras medidas.
142 143
Tabela 2 ais uma vez, os resultado anteriores eram inflados pelo fato de que, na média, '"
=t:;
;::
o negro tem menos an~s de e scolariddadeddo qubelohbrdancoouduma pes.s.oa ~e ori- ~....
~
~ Uma decomposição parcial estimada da desigualdade de renda oem asiática.6 A projeçao pe ol merca, o e tra a o e anos e expenenCla pro- '3
'" no Brasil (EM %)
í:'! fissional também tem um efeito sobre as diferenças inter-familiares de renda, ~
.. FATOR
1
~
CONTRIBUIÇÃO PARA A DESIGUALDADE TOTAL
mas, a um nível estimado de 5%, esse efeito é substancialmcnte menos impor- ~
tante do que o efeito educacional. ~
~'" Segmentação setorial 5 a 15
:!l
.~
Esse e vários outros trabalhos desenvolvidos por Ricardo Paes de Barros e j
~ Segmentação formal (cc) e informal (se) 7 C olaboradores durante a década de 90 conseguiram remover, ao menos no meio ê;;;;
Segmentação regional acadêmico, a aura de incorreção política que ficara, por algum tempo, associada ~
2a5
ao argumento de que é, de fato, na distribuição da educação e na determinação ~
Discriminação por gênero 5 dos seus retornos econômicos que reside a causa-chave da desigualdade brasi- ~
Discriminação por raça 2 leira, como inicialmente defendia Carlos Langoni. Com a experiência do fim dos ]
anos 80, durante os quais um governo civil e democraticamente eleito conviveu ~
~ojeção da experiência 5 com a maior taxa de desigualdade jamais mensurada no BrasiL diminuiu tam- -i1
Projeção da educação 30 a 50 bém a convicção de que o aumento da desigualdade medida nos anos 60 e 70 era
~
e
Fonte: Barros e Mendonça (1996). resultado principalmente de uma política sindical repressiva da ditadura mili- -$::
tar. O governo militar assim como seus sucessores civis terão, certamente, uma i
Não obstante, também se confirma o fato de que nem toda desigualdade se parcela importante da responsabilidade pela persistência - e aumento - da t
deve a diferenças em escolaridade ou experiência. O mercado de trabalho brasi- desigualdade brasileira. Mas ela parece ter mais a ver com as políticas educacio- -i1
leiro é segmentado, principalmente, por setores produtivos e entre segmentos nais de anlbos os reginles, e eOOl a tolerância que anlbos dispensanl à segnlenta- ~
ção do mercado de trabalho entre formal e informal, industrial e não-industriaL .~
formais e informais. Assim, dois trabalhadores idênticos em suas característi-
cas pessoais, mas um trabalhando num emprego formal e industrial e o outro do que com a repressão do proletariado a que se referia Fishlow na citação feita i
num posto de trabalho informal na agricultura (ou no setor de serviços), terão IFi hlow ( 1972, p. 400) j.7 Ô
remunerações bastante distintas. Neste exemplo, o primeiro trabalhador ga- Isso quer dizer, então, que os determinantes políticos - a "luta de classes",
nhará mais do que o outro, em função tão-somente das características do posto por assim dizer - da desigualdade brasileira não passavam de criações da ima-
de trabalho ocupado. A segmentação regional também responde por sua parce- ginação de variados autores? Que os contrastes entre a pobrcza rural do sertão
la da desigualdade mas, comparada com aquelas que lhe correspondiam nas nordestino e a afluência acintosa do centésimo centésimo da distribuição de
decomposições não-parciais, sua importância é bastante menor. Isso se deve ao rcnda urbana do Brasil se devem puramente a aspectos técnicos da evolução do
fato de que outros atributos, como o nível médio da educação, e a composição estoque e da distribuição de educação no país? Que uma nação que nasceu de
setorial da atividade produtiva variam substancialmente de uma região para enhores e escravos, de casa-grande e senzala, e ainda hoje é a Belíndia de
outra. Assim, ainda que esses resultados confirmem a existência de uma seg- Edmar Bacha, tem sua desigualdade explicada sem qualquer recurso ao uso do
mentação contra o posto de trabalho nordestino (comparado com o do Sudeste, poder político por suas classes dominantes?
por exemplo), sua magnitude fica bem abaixo daquela indicada, por exemplo, Tal conclusão implicaria imaginar que o acesso, a qualidade e os incentivos
na decomposição da Tabela I, uma vez que parte do que aquela decomposição a educação não têm determinantes políticos, o que é claramente contrário à vi-
. ,capturava é um menor nível educacional médio no Nordeste, bem como uma ão de muitos de nossos sociólogos e cientistas políticos. Talvez tenha chegado o
menor proporção da força de trabalho ocupada nos setores de maior remunera-
ção, como por exemplo o industrial formal. Issosugere três hipóteses: ou o negro é inerentemente menos propenso a se educar, por diferen-
Ias.em habilidade nata ou em suas preferências; ou ele também é discriminado num momento an-
Além de segmentado, o mercado de trabalho brasileiro também apresenta en~r ao do mercado de trabalho, como por exemplo no acesso às instituições de educação; ou
evidência de discriminação contra a mulher e o negro (e/ou "pardo", no lingua- am a, ser negro é correlacionado a alguma outra característica - como, por exemplo, riqueza inicial
jar dos questionários oficiais). Não obstante, a parcela da desigualdade de ren- - ~ue diminui sua facilidade de acesso à educação e/ou incentivos para dele usufruir. A próxima
ao desenvolve um modelo formal que exemplifica como esta terceira hipótese pode funcionar.
da atribuível diretamente a essas práticas, por mais perniciosas que sejam, é re-
d Curiosamente, o "proletariado" propriamente dito, por ele entendida basicamente como a força
lativamente pequena, quando comparada àquelas apontadas pelas decomposi- etrabalho do setor industrial formal, parece ser um beneficiário, em vez de uma vítima dessa seg-
meOtação.
ções não-parciais anteriores, principalmente no caso da discriminação racial.
144 145
momento de redirecionar as lentes dos economistas que estudam a desigualda_ ----~ -,
Gráfico 4
:-::::
f Escolhe cr ..:::
Deixa herança i5
respeito do mecanismo básico pelo qual a desigualdade de renda no Brasil per- Vota em t e paga impostos
Morre ~
::::
manece tão elevada. A hipótese é que o país encontra-se num equilíbrio Pareto-
~
inferior de um sistema dinâmico em que três distribuições são determinadas si- {i
Jg
multaneamente: a) a distribuição de educação; b) a distribuição de riqueza; ec)
Estes agentes maximizam uma função de utilidade baseada n~ formulação ~
a distribuição de poder político. O equilíbrio inferior no qual estaríamos é carac-
de heranças motivadas por seu próprio valor psicológico para o paI: "the warm ~
terizado por um círculo vicioso, em que uma grande heterogeneidade educacio-
glow bequest motive" [ver Andreoni (1989)]: ~
rTal gera uma grande desigualdade de riqueza, que se transforma em grandes
diferenças de poder político, que por sua vez geram uma política educacional
( 1) {i
"
~
que perpetua a desigualdade educacional inicial. {i
~
Propõe-se, portanto, um modelo político-econômico da distribuição da ri- ~
onde, como explicitado no Gráfico 4, tanto o consumo (c) quant? a escolha do .~
queza, no qual seu principal determinante é a natureza do sistema educacional. {i
valor da herança (b) ocorrem em 12, no final da vida de cada geraçao. Con~u~o e ~
e a existência de um equilíbrio de baixa eficiência e alta desigualdade é resulta-
herança são de um único bem de consumo, que serve como bem n~n:erano no ~
do de lima luta de classes, como previam alguns dos seguidores de Fishlow, Sa-
modelo. Esse bem é produzido por trabalhadores quaiIfl~ados e .~
cha e Taylor. Mas uma luta de classes que não se dá nos pátios das montadoras
não-qualificados, cujas produtividades e salários diferem. M~S cada umdade do "
de automóveis do ABC paulista, como muitos pensavam, e sim no desenho de
bem a ser produzido é idêntica a todas as outras, armazenavel a custo zero, e C3
!
nosso sistema educacional, nas diferenças entre a prioridade do financiamento
tem taxa de depreciação nula.
da educação pública primária e secundária e a de outros itens do orçamento es-
No primeiro período, os agentes dividem o seu tempo entre som~nte duas
tataL e, por conseguinte, na diferença entre o que se aprende nas melhores es-
atividades: estudo e trabalho não-qualificado. Esse último é caractenzado por
colas particul?res das grandes metrópoles do Sudeste e nas escolas públicas de
uma produtividade determinística u, que é também o valor do salário que ele
suas periferias, ou da caatinga do PiauÍ, ou nas margens dos igarapés amazo-
nenses. paga. No momento lo cada agente escolhe O" (O < O" < 1): a proporção do primeiro
período dedicado ao estudo, que pode ocorrer por meio de uma de d~as t~cnolo-
gias educacionais, mutuamente exclusivas entre si. Essas tecnologIas tem pre-
3 - A "Iuta de classes" no financiamento da educação ços e produtividades distintos, mas produzem o mesmo bem: capital humano S,
pública: um modelo simples com desigualdade um atributo eliminável e não-transferível de cada estudante. O preço para estudar
persistenteS
na função de produção educacional I, que associaremos à escola particular, é!1 =
Imagine-se um contínuo de agentes cujos níveis de riqueza inicial, denota- 1*> O. O preço para estudar na função de produção educaciona~ 2: q~e assoCIare-
. dos por w, têm uma distribuição G(w) sobre O(z). Pense nesses agentes C0l110 mos à escola pública, é P2 = O. A escolha do tipo da escola, que e dlstmta da esco-
domicílios, supostos idênticos ex-anle em todos os sentidos, exceto em sua ri- lha de alocação de tempo ao estudo, é denotada no Gráfico 4 como a escolha de
queza inicial. O tamanho de cada domicílio é normalizado em um, e a oferta de p. Ao fazer essa escolha, todos os agentes estão cientes de que:
trabalho é suposta inelástica. Presuma-se, além disso, que a natureza dos proje-
tos produtivos disponíveis é tal que os domicílios não podem trabalhar juntoS S=qO"I/2 se p=p* e (2a)
em nenhum projeto. As.gerações são sucessivas, não embricadas. Os agentes vi-
vem por dois períodos, de acordo com a seqüência linear dada pelo Gráfico 4.
(2b)
l
o parâmetro
de produtividade educacional. q > 0, transforma o insumo
"tempo gasto em estudo", a, no produto "capital humano", S. Suponha-se que
~ q2 _ q2L>41t-2up * (pressuposto I ), onde 1t será definido imediatamente abaixo
v(w) pode variar, desde que satisfaça: v'(w):2:0 e !
z
v(w)dG(w)=l. Dois exemplos 1
-l e L é o gasto público total em educação.
de funções de poder eleitoral que satisfazem
pretações empíricas plausíveis são:
as propriedades acima e têm inter- 1l
1
{; No segundo período, os agentes dedicam todo o seu tempo ao trabalho 5
a) v(w) = I ~ democracia perfeita g>
t
~ qualificado. Suponha-se que a produtividade (e o salário) de cada trabalhador
qualificado é uma função linear do nível de capital humano de que ele dispõe:
1tS.9 Como os agentes pagam impostos sobre a herança que recebem no momen-
w
b) v(w)=-- ~ oligarquia,
~M
ou "dinheiro é poder"
~
~
i;
~
i:l
Há três variáveis de controle nesse modelo: c (ou b), p e a. No momento lo, ~;:;
y(w, I,p) = (l-I)w -p(w)+[I-a(w) ]u+1tS(I, p) (3) os agentes escolhem p e a. Por meio do processo eleitoral. o eleitor crítico escolhe ~::::
1*, que é então tomado como dado pelos demais agentes. A divisão da riqueza fi- {j
Suponha-se que os mercados de crédito são completamente inexistentes
nal de cada um entre consumo e herança é decidida no momento 12, e é indepen- ~
nessa economia, devido aos problemas insolúveis no cumprimento (enJorcemenl)
dente das demais decisões.11 "
de contratos. ~
Tratemos agora do sistema político. Impostos e transferências lump-sul11
°
Lema 1: Dado o pressuposto 1, p = para qualquer agente com riqueza w < !:;
.~
p*( 1-1*)-1, ep = p* para qualquer agente com riqueza w:2:p*( 1_1*)-1.12 Quer di- -!il
são administrativamente impraticáveis, e a constituição exige que a arrecada-
zer. o diferencial de qualidade (ou produtividade) entre as escolas particulares e {j
~
ção de impostos se dê apenas por intermédio de impostos proporcionais sobre a
riqueza inicial de cada geração. 10 O gasto público financiado por essa arrecada- públicas é tão grande que qualquer agente capaz de pagar o custo de uma edu- .:: ê
ção deve ser exclusivamente direcionado à educação pública, por meio de L. A
cação particular escolhe fazê- lo. Como não há mercados de crédito, somente 6
aqueles indivíduos cuja riqueza inicial líquida é igualou maior do que o preço ~
constituição requer ainda que o orçamento seja equilibrado a cada geração, de
z (fixo e exógeno) da matrícula na escola particular se qualificam. C3
f
forma que L=I* wdG(w). A alíquota única 1* é escolhida pelo eleitor crítico, de Portanto, o Lema I divide cada geração entre aqueles que freqüentarão es-
o colas particulares e aqueles que freqüentarão escolas públicas, com base em
acordo com a equação (4): eus níveis de riqueza inicial. Logo, conhecendo as funções de produção educa-
cionais (2a) e (2b), bem como os parâmetros u e 1t, cada indivíduo escolhe a sua.
1* =Arg max[ (l- I)w c - p(w c )+[I-a(w c) ]u+1tS(I, p)] (4) alocação ótima de tempo no primeiro período.
t
P ara aqueles com w < p * (I - I * )-1, o problema é max {(l-I) w + [l-a] u+
onde o nível de riqueza do eleitor crítico é dado por w, e o eleitor crítico é aquele cr
que satisfaz: + rrqcr1/2Ll/2}, obtido pela substituição de (2b) em (3). A condição de primeira
w,
ordem implica:
f v(w)dG(w)=O,5 (5)
o * _[1t L / q 1 2]2
ao- --- (6)
2u
onde v(w) é a função de poder eleitoral. que se supõe depender (fracamente)
positivamente do nível de riqueza inicial do indivíduo. A forma funcional de
1I Ainda qu e. (I) esteja. escnta
irnp!, . em termos de consumo e herança. a forma funCIonal
. Cobb-Douglas
qual Ica.que a.r~queza final é sempre dividida na mesma proporção entre os dois usos. Assim. toda e
9 o capital humano S é a única forma de capital nessa economia. ndquer deClsao anterior pode ser reinterpretada como se visasse à maximização da riqueza finaL
lO. Este imposto sobre riqueza inicial pode ser interpretado como um imposto sobre heranças a poso I) o POrtanto independente da alocação dessa entre consumo e herança.
tenon. - Para um a prova desse lema. ver Ferreira ( 1999).
f
148 149
•..-,,:_-
~--' ---- continuidade no nível de riqueza inicial que permite ao agente educar-se numa ".
De forma análoga, para aqueles com w ~ p * (1 - t * )-1, o problema é
~ ]
escola particu Iar. .ê
~ max{(l-t)w-p* + [1-cr]U+1tqO.l/2}, que se obtém pela substituição de (2a) em
i1 a- Por fim, vale a pena comparar algumas propriedades das decisões de aloca- ~
iO
1; (3). A condição de primeira ordem implica: ção àe tempo entre os dois grupos de agentes, a partir das equações (6) e (7). -i'j
~ ~
é1cr* é1cr* dA. . d .~
" Para ambos os grupos, -- < Oe -- > O,como era e se esperar. pnmelra e- "
-i'j
~
] (7)
~ ~ r
.~ sigualdade significa que o esforço despendido na acumulação de capital huma-
~ "~
""
~ no diminui com o custo de oportunidade desse último: a remuneração do traba- ~
i:l
lho não-qualificado. A segunda desigualdade mostra que o esforço despendido .g
Uma vez que t* tenha sido determinada (em to), pelo processo político des- (ou tempo gasto) com a acumulação de capital humano aumenta com o seu be- ~
crito acima, e que os agentes tenham escolhido seus valores ótimos de p e cr, é nefício esperado: a taxa de remuneração do trabalho qualificado. -'-"
simples completar a caracterização do equilíbrio estático, descrevendo o nível
t
.da riqueza final que cada agente alcançará, dadas as suas dotações e decisões Talvez de maior interesse seja o fato de que é1cro >0: mais gasto público em ~
é11t {l
anteriores. Substituindo os valores apropriados dep(w) do Lema 1, e de cr (w) de
educação leva a um aumento do tempo (ou esforço) ótimo despendido pelos es- ê
(6) ou (7) na equação (3), a função de riqueza final é dada por:
tudantes do sistema público em adquirir capital humano. Há, portanto, dois ca- ~
nais de impacto de um maior investimento público em educação. O primeiro é o ~"
~
efeito (direto) de produtividade, que aumenta o nível do produto S para um .~
dado esforço do agente, via equação (2b). Esse efeito é positivo mas côncavo, de
~
{l
forma que há retornos decrescentes para o investimento público em educação. 5J
Há também um segundo efeito (indireto), que age por meio da resposta dos .~
se w<p*(l-t*)-l (8a)
agentes à melhora da qualidade (ou produtividade) da escola pública. Esse últi- ~
mo efeito nada mais é do que uma aplicação da regra de Keynes-Ramsey: ao su- o
bir a taxa marginal de transformação (de tempo atual em capital humano futu-
ro). a taxa marginal de substituição intertemporal (entre rendas presente e fu-
Y(W'/"PI=H')W+[l-( ;:)'] u+ ('2q~'-p' tura) no ponto ótimo também deve subir. Como um valor mais alto de t torna o
tempo de estudo numa escola pública mais. produtivo, os agentes respondem
escolhendo gastar mais tempo assim, sacrificando um pouco mais de renda no
se w~p*(l-t*)-l (8b) primeiro período.
Por fim, para níveis de 1: consistentes com o pressuposto 1, ocorre que
Tomando t* (e portanto 't) como dado para cada agente, os dois últimos ter-
a* (p* »cr* (O).Quer dizer, naquelas sociedades em que a diferença entre a quali-
mos da equação (8a) bem como os três últimos termos da equação (8b) consis-
tem exclusivamente de parâmetros exógenos. Seja a soma daqueles termos em dade do sistema de educação particular (q) e a do sistema de educação pública
(8a) denotada por A e a soma daqueles termos em (8b) denotada por B. Essas (q't) é suficientemente elevada com relação ao preço da educação particular (p *),
. ~ equações podem então ser reformuladas mais sucintamente como: observar-se-á que as pessoas mais pobres da sociedade freqüentarão as piores
escalas e dedicarão menos tempo e esforço à educação. Neste modelo, isso advém
se w<p * (l-t * )- 1 (9a) do seu comportamento racional e otimizador, em face de um mercado de crédito
inexistente e de diferenças exógenas de qualidade entre escolas, e apesar de as
* )w+B preferências serem idênticas entre todos os agentes. Um resultado "observacio-
y(w,t *,p)=(l-t se w~p *
(l-t * )- I (9b)
nalmente" equivalente (estudantes menos dedicados estudando em escolas
públicas e sendo mais pobres) poderia ser gerado por um modelo completa-
o Lema 1 implica que A < B e, portanto, que a riqueza final seja monotoni- mente diferente, em que os mercados fossem completos (ou seja, as oportuni-
camente crescente na riqueza inicial (com derivada inferior aI), com uma des- dades não dependessem da riqueza inicial), mas no qual talentos ou preferências
150 151
diferissem, com alguns agentes sendo mai~ preguiçosos ou menos inteligentes Gráfico 5
~
" do que outros. Resulta que, antes de julgar qual modelo melhor descreve a reali-
'";g dade - um no qual os mais pobres estudam menos como uma resposta ótima a
~ oportunidades desiguais, ou outro em que eles são pobres porque são mais pre-
! guiçosos - dever-se-ia testar os dois modelos com respeito às suas outras previ-
{j sões, ou diretamente com respeito à propriedade dos diferentes pressupostos.
~
]
~ 3.2 - O processo de transição e os equilíbrios de longo prazo
A maximização da função de utilidade ( I), com sua herança à Andreoni (1 -a) B
(1989), implica todos os agentes escolherem, no momento i2, níveis de consumo e
(l-a)A
herança dados pore = ay(w, t*,p) e b = (I-a)y(w, t*,p), onde a função de riqueza
final é dada pelas equações (8) ou (9). Uma vez que a herança é o único elo entre
gerações sucessivas no modelo, o processo dinâmico da variável de estado ri- p* (l-r*r' w,
w,
queza (w) é completamente definida pela equação (10):
c:, tor" inferior, Wp• Por outro lado, aquelas linhagens que começarem de níveis de Para w, < P * ( 1 - t * )-1 • l:J
~
riqueza acima do divisor convergirão para o atrator superior, WR. OS"pobres"- Em vez de buscar uma solução para t * como função explícita de {u, 1t, p *, {;
::!
no "atrator" inferior - não têm meios para pagar escolas particulares, mesmo q, q}, essa seção conclui com duas observações ge:~is ..Em primeir~ lugar, sem- ..:;
sabendo que essas os tornariam mais produtivos. A ausência de mercados de preque a solução de (4') for consistente com o eqmhbno de alta desIgualdade do ~
crédito lhes veda tal possibilidade. Todos os "ricos" - que terminarão no "atra- quadro (c) do Gráfico 5, este será Pareto-ineficiente. Isso se ~ev~ao f~to de que a g
tor" superior - escolhem freqüentar escolas privadas. Os níveis de herança de- maximização em (4') leva em consideração os custos margmaIs do Im~osto so- ~
terminados ao longo da distribuição são tais que, uma vez que essa situação te- bre a riqueza inicial, vis-à-vis os benefícios marginais de uma renda ~1~ISal.ta ~o ~
nha sido atingida, ela constitui um equilíbrio estável. A não ser que ele seja per- segundo período, como resultado de uma educação melhor. A maxI.n;lz~çao Ig- ~
turbado exogenamente - digamos, por uma mudança no regime político que nora a possibilidade de um salto discreto com mudança de eqmhbno: ~a~o g
determina o gasto público com educação - o equilíbrio dessa sociedade será M(~'t) seja suficientemente elevado para levar a economia de um eqmhb.no ~
para sempre caracterizado por essa desigualdade educacional e econômica. tipo (c) para um equilíbrio tipo (b), como poderia claramente ocorrer. Esse tipO 1
de mudança de regime seria caracterizado, num primeiro momento, ~or um "
3.3 - Os equilíbrios políticos considerável aumento de impostos e gastos públicos, seguido de um penado deê
A única variável endógena ainda indeterminada, e que afeta a riqueza dos transição com expansão da escolaridade média da população, bem com~ d~ sua i
agentes educados em escolas públicas (por meio do intercepto A no Gráfico 5), é renda. Esse processo acarretaria um abandono progressivo da escola pubhca, e ô
o nível do gasto público com educação 't, ou, equivalentemente, a alíquota do uma migração dos "novos ricos" para as escolas particulares. O proce.sso de
imposto sobre riqueza, f * . O pressuposto 1, que determinou a constelação de va- transição seria acompanhado por uma queda nas desigualdades educaCional e
lores dos parâmetros exógenos para os quais o modelo seria investigado, teve de riqueza e, finalmente, por uma redução na carga tributária, à medida que o
por fim excluir valores altos de f * com relação a p * , de tal forma que y( w, f * , P * ) > istema se aproximasse do equilíbrio (b). No novo equilíbrio de longo prazo, to-
dos começariam a vida com o nível de riqueza anteriormente dispo~ível apenas
y(w, f*, O), V W [ver Ferreira (1999)]. Se essa desigualdade não fosse necessaria- para a elite. Como todos seriam capazes de freqüentar escolas particulares - e
mente válida, de forma que vivêssemos num mundo onde as escolas públicas de fato o fariam - a votação sobre a alíquota fiscal geraria sempre o valor zero.
pudessem superar a qualidade das escolas particulares, seria claramente possível 1 a comparação estática entre os equilíbrios (c) e (b), (b) é claramente Par~t~-
imaginar't em tal nível que A = B, e os agentes fossem indiferentes entre os dois uperior. São as perdas dos "ricos" das gerações durante o processo de transIçao
tipos de escola, a qualquer nível de riqueza. Ou ainda queA > B, excluindo o siste- que impedem uma fácil coordenação para provocar a mudança.
ma de educação particular do modelo a priori - e não em equilíbrio, a posferiori, Mas dadas essas perdas, e a estabilidade do equilíbrio desigual, o que pode-
" Jomo no caso (a).
ria desencadear uma mudança de regime como a que acabamos de descrever?
Nossa preocupação, entretanto, não é com o caso de ditadores benevolen- Minha última observação é que tal mudança de regime educacional e econômi-
tes, que decidem o nível de f arbitrariamente. Como foi mencionado, este mode- co poderia ser iniciada por uma mudança na função de poder político v(w), que
lo visa estudar equilíbrios político-econômicos, nos quais um agente crítico (em estamos tratando como exógena ao modelo. Considere-se, por exemplo, um
termos de poder político) toma uma decisão sobre f, com base somente em seus ca o no qual a economia se encontra no equilíbrio desigual (c), e gera uma curva
próprios interesses particulares. Voltando a restringir nossa atenção somente de Lorenz L(w), como a ilustrada no Gráfico 6.
ao equilíbrio desigual estável do quadro (c) do Gráfico 5, é óbvio que se w, >
p * (1 - f * )-1 , f * = O, já que indivíduos acima do nível crítico de riqueza jamais
154 155
_ individuais, familiares e institucionais -, a desigualdade não tem um só de- Q;
0,5
tância relativamente menor, esses elementos de segmentação e discriminação ~
p(w) constituenl injustiças ineficientes, que deveol ser combatidas COIlI0 parte de ~
~
qualquer política de reforma do mercado de trabalho brasileiro.
.~
Não obstante, este capítulo argumentou que se o nosso objetivo é entender ti
a geração e reprodução da desigualdade de renda no Brasil, o centro de nossas {1
Suponha que, inicialmente, v(w)=~. Nesse caso, o agente crítico está na o
Il(w) atenções deve estar voltado para o processo de formação e distribuição das
Oportunidades educacionais no país. Essa é a conclusão a que leva a própria evi-
p~si~ão.G(wco), on.de o subscrito o é de "oligarquia". Como a preferência por (*
dência acumulada pelos estudos do mercado de trabalho durante as últimas
dmlInm monotomcamente com w, essa situação gera um nível de gasto público
duas décadas, que consistentemente apontaram a desigualdade educacional e o
Lo inferior à~u~le que decorreria de uma função de poder político dada por v(w)
alto retorno a níveis elevados de escolaridade como principais causas de nossa
= 1. Nesse ultimo caso, o agente crítico é mais pobre, com uma riqueza igual a dispersão de renda.
wcd' e posição G(wcd).13 Portanto, (* e L são mais altos. Ainda que a magnitude do
A segunda parte do trabalho apresentou um modelo formal simplificado,
aumento dependa da forma funcional específica da solução para (*, é claro que
baseado em Ferreira ( 1999), que demonstra a possibilidade da existência de um
existe uma constelação de valores dos parâmetros {u, Te, p*, q, q} tal que um au-
tipo de equilíbrio político-econômico em que três desigualdades se reforçam
mento .des~a.natureza.em (* resultará na mudança de regime do equilíbrio desi- mutuamente: uma grande desigualdade educacional gera um alto nível de de-
gual e InefiCiente de tipO (e), para o equilíbrio igualitário e Pareto-superior de igualdade de renda - como se observa no Brasil. Essa desigualdade de renda
tipo (b).14 '
Oll riqueza, por sua vez, pode implicar uma distribuição desigual de poder políti-
co,na medida em que a riqueza gera influência sobre o sistema político. E a de-
4 - Conclusões sigualdade de poder político reproduz a desigualdade educacional, já que os de-
tentores do poder não utilizam o sistema público de educação, e não têm inte-
. Sendo atributo de uma distribuição, e portanto de um longo vetor de ren-
ressena sua qualidade, dependendo apenas de escolas particulares. Os mais po-
das, cada uma delas determinada por uma grande variedade de causas e fatores
bres, por sua vez, não têm meios próprios (nem acesso a crédito) para freqüen-
tar as boas escolas particulares, nem tampouco poder político para afetar as de-
13 O subscrito d é de "democracia". cisões fiscais e orçamentárias que poderiam melhorar a qualidade das escolas
14 Que tal const.elação de parãmetr~s existe pode ser visto intuitivamente pelo fato de que esses va- Públicas.
lores parametrals podem ser escolhIdos de forma a tornar A e B arbitrariamente próximos.
o capítulo sugere que um modelo com essas características, gerando um
~ do bom trabalho desenvolvido até agora, somente arranhamos a superfície do ".
~
E equilíbrio estável de alta desigualdade e pouca eficiência, poderia ter bom de- .2
"" lue há por investigar.
g sempenho em descrever o mecanismo de determinação da distribuição de ren-
lª
~ da do Brasil. Uma de suas implicações é que uma transição para um sistema ~
! mais igualitário e com maior oferta de educação poderia ocorrer mediante au- Bibliografia
~
11
mento no poder político das camadas mais pobres da sociedade, passando por
um período de maiores (ou melhores) gastos com a qualidade da educação pú-
GHION,P., BOLTON,P. A theory of Trickle-Dow9n9rowth
Review of Economic Studies, V. 64, p. 151-172, I .
and development. t
.E:
f blica. Mesmo assim, é possível que essa transição leve a tal melhora na educa-
A A RODRIK D Distributive politics and economic growth. Quarterly g
ção dos previamente menos favorecidos que estes passem a demandar educa- ALE~:r~at';f
Econol~ics: V. (IX, n. 2, p. 465-490, 1994. -g
ção no mercado privado, levando, a longo prazo, a uma menor dependência ge- {;
ral da sociedade na provisão pública de educação. ANDREONI,J. Giving with impure a.l~ruism: applications to charity and ~
Ricardian equivalence. Journal ofPolttlcal Economy, V. 97, p. 1.447-1.458, 1989. ]
Um modelo, ainda que sugestivo, está longe de responder à pergunta bási-
ca de que esse capítulo se propôs a tratar. Para tanto, seria preciso testá-lo. E BACHAE L TAYLORL. Brazilian income distribution in the 1960s: acts, model ~
pera fazer isto, é necessário ter acesso a dados que combinem, para domicílios re;ults:~nd the ~ontroversy. In: TAYLOR,.L.et ~/jj (eds.). Models ofgrowth and ~
individuais com representatividade nacional, não só medidas confiáveis de ri. distributionfor Brazil. Oxford: Oxford Umverslty Press, p. 296-342,1980. ]
queza (mesmo que baseados em renda ou consumo), como também informa- BA ERJEE, A. V., NEWMAN, A. F. Occupational choice and the process o f {;
::ê
ção sobre o nível e tipo de escolaridade recebida por pessoa, bem como sobre o development. Journal of Political Economy, V. 10 I, n. 2, p. 274-298, 1993. .~
preço pago (se houver), e alguma medida de sua qualidade. Essa última repre. ~
senta um sério desafio. Em outros países, utiliza-se uma variável derivada de re- BARROS,R. P. de, FOGUEL,M., HENRI9~ES, R., M~NDONÇA, R; .S. P. O .comb!ite à ~
pobreza no Brasil: dilemas entre polttlcas de cre~clmento e polttlcas de 1eduçao da ~
sultados em exames nacionais, aplicados simultaneamente a classes escolares
desigualdade. Rio de Janeiro: IPEA, 1999, mlmeo. .~
por todo o país, digamos, ao findarem a quarta e a oitava séries (como o Simce
chileno). ti
BARROS,R. P. de, MENDONÇA, R. S. P. Os .determinante~ da desigu~l~ade no ~
Brasil. Economia Brasileira em PerspectIva - 1996. RIO de Janeiro. IPEA, Ô
No Brasil, ainda não parece haver um critério equivalente que esteja facil-
p.421-474,1996.
mente disponível. Mesmo os outros, já mencionados, não são registrados roti.
neiramente em nossa principal pesquisa por amostragem domiciliar, a PNAD. BARROS,R. P. de, MENDONÇA, R. S. P., DUARTE,.R. P: ~'. Bem-estar,. po~:eza e
Em 1996, o IBGE coordenou a aplicação de uma pesquisa muito mais detalha- desigualdade de renda: uma avaliação da .evoluçao hlstonca e das dIspa! Idades
da, em termos de questionário, ainda que mais reduzida em termos de amostra- regionais. Rio de Janeiro: IPEA, 1995, mm1eo.
gem: a Pesquisa sobre Padrões de Vida (PPV). Seus resultados geraram material BÉNABOU,R. Unequal societies. May 1996 (NBER Working Papel', 5.583).
de grande interesse para a análise do nexo entre qualidade de vida, educação e
poder político no Brasil [ver Barrosetalii (1999) e Von Amsberg (1999)]. A ampli- BERTOLLA, G. (porvindouro). Macroeconomics of distribution and grow~h. In:
ação deste tipo de questionário para amostras maiores e mais representativas
ATKINSON,A., BOURGUlGNON,F. (porvindouro). The handbook of II1come
distribution. Amsterdam: Elsevier.
do país, em vez de somente duas macrorregiões, continua a ser prioritária para
uma compreensão dos determinantes de nossa distribuição de renda. Bo ELLl, R., RAMOS, L. Income dist.ribution il} Brazil: an evaluation of long-ten~
Uma vez que esses dados mais detalhados estejam disponíveis para análi- trends and changes in inequality sll1ce the m'4-1970s. Trabalh? apresentado ,n
XII Encontro Latino-Americano da SOCIedade Econometnca, Tucuman,
s~, a agenda do pesquisador empírico será utilizá-los para investigar os determi- Argentina, 1993.
nantes da formação e distribuição das oportunidades educacionais no país. Tal
investigação implica não só unl mergulho mais profundo na mecânica das dife- Bo ELLl,R., SEDLACEK,G. L. Distribuição de renda: evolução no último quarto
rentes "funções de produção educacional", como também estudos mais adequa- de século. In: SEDLACEK,G. L., BARROS, R. P. de. Mercado de traba/~o. e
distribuição de renda: uma coletânea. Rio de Janeiro: IPEA, 1989 (Sene
dos da natureza e dos determinantes da mobilidade social no Brasil. É preciso Monográfica, 35).
saber quanto da nossa desigualdade é de renda permanente, e quanto é transitó-
ria. É preciso, enfim, continuar aprofundando o nosso conhecimento da realida. DEt, tNGER,K., SQUIRE, L. A new data set measuring income inequality. World
de social, política e econômica de toda a nossa vasta e diversa sociedade. Apesar Bank Economic Review, v. 10, p. 565-591, 1996.
158
FERREIRA,. F. H. G. Education for the masses?: the interaction between wealth Determinantes da
~ educatlOnal and political inequality. Rio de Janeiro: Departamento d~ desigualdade de
g Economia da PUe, 1999, mimeo.
rendimentos no Brasil nos
t~ FERREIRA,F. H. G.,. BARROS,R. .P. de. The slippery slope: explaining the increase in anos 90: discriminação,
" extreme P?verty In urban Brazzl, 1976-1996. Rio de Janeiro: Departamento de segmentação e
~ EconomIa da PUe, 1999 (Texto para Discussão, 404). heterogeneidade dos
::::;
~ trabalhadores
FERREIRA,F. H. G., LANJOUW,P., NERI, M. The urban poor in Brazil in 1996: a new
~ poverty prqf~/eusing ppv. PNAD and Census Data. Trabalho encomendado para
o Relatono sobre Pobreza Urbana no Brasil do Banco Mundial
Washington, DC: The World Bank, 1999. .
Lauro Ramos*
FERREIRJ?,.F. H. G., LiTCHFIELD,J. A. Growing apart: inequality and poverty trends in Maria Lucia Vieira**
Brazzl In the 1980s. London: LSE - STICERD - DARP, Aug. 1996 (Discussion
• Paper, 23) .
o primeiro termo à direita corresponde à desigualdade entre grupos e o se- 6• Resultados da decomposição estática
gundo à desigualdade intragrupos.3
As variáveis incluídas na análise de decomposição foram educação e idade,
relacionadas com a heterogeneidade dos trabalhadores, posição na ocupação,
I Vale notar que a desigualdade intragrupos, Iw' nada mais é do que uma média ponderada das d~'
sigualdades internas, sendo que os pesos, w(ug, Pg), são função das frações populacionais e rendI- região geográfica e setor de atividade econômica, que permitem captar algu~as
mentos médios relativos de .cada grupo. formas de segmentação no mercado de trabalho, além de gênero e c~r, aSS?~la-
2 Isto é, [I"IU. +Iw)] _ 100%. das a possíveis práticas discriminatórias. A enumeração das categonas utlhza-
3 Note-se que UgPg é a participação de cada grupo na renda total, de tal modo que o seu somatório das para cada uma destas variáveis, bem como as estatísticas gerais para os
ao longo dos Ggrupos é I. No caso do índice L de Theil, os pesos são as frações populacionais de cada
grupo. exercícios de decomposição, são fornecidas no Apêndice 2.
164 165
Os resultados obtidos para a decomposição estática para os anos de 1992, são diferentes. Em termos brutos, a variável cor parece mais importante, en- ~.-
.... ~.'"
~ 1995 e 1997 são apresentados na Tabela 3. Nela podemos ver que, tanto em ter. quanto gênero é praticamente irrelevante. O inverso ocorre com as contribui- ~
{;
~ mos de contribuição bruta quanto marginal, a variável escolaridade assume um ções marginais. Uma vez mais, a natureza da correlação com educação parece J1
.g
~ papel de destaque, sendo responsável por até 30%da desigualdade quando consi- ser a razão para esse comportamento (ver Apêndice 3). g
i derada isoladamente, e por mais de 20% em termos marginais, sendo que em amo Em suma, dentre as causas de dispersão salarial investigadas, a heteroge- ~
~
~ bos os casos observamos uma relativa estabilidade ao longo da década (no senti. neidade dos trabalhadores, principalmente em termos de escolaridade, é aque- ~
~
~ do de que não há uma tendência de aumento ou d'iminuição nesses numeras). laque se sobressai como o principal fator responsável pela desigualdade de ren- ~
'K Se a heterogeneidade dos trabalhadores, quanto à sua qualificação, se re- dimentos. A segmentação associada à forma de inserção no mercado também ~
""
velou bastante importante, o mesmo não pode ser afirmado, ao menos com a possui alguma importância, enquanto a discriminação responde por uma par- ,~
mesma ênfase, para a sua composição etária. A contribuição bruta da variável celapequena da desigualdade total. ~
idade fica ao redor de 7% nos três anos, enquanto a marginal situa-se na casa O fato de a escolaridade ser a variável mais relevante não chega a surpreen- &"
dos 9%.4 ~
der, haja vista que conclusões similares para educação foram encontradas em ,ê
Em relação às variáveis incorporadas à análise com o propósito de captar outras estudos, como em Ramos e Trindade ( 1992), que abordam o final da dé- .~
elementos de segmentação no mercado de trabalho urbano, podemos ver que cadade 70 e os anos 80. Na Tabela 4 são apresentados os resultados de análises .~
apenas a posição na ocupação se revela mais importante, ainda assim em ter. emelhantes realizadas para outros países da América Latina.5 De modo geral, o :S
mos brutos. Em boa parte isso pode ser atribuído ao crescimento da economia poderexplicativo de educação é alto, com a nítida exceção de Argentina e Chile. g
g
informal no período, em conjunto com o fato de que nesse tipo de inserção pre- Nãoobstante, o Brasil ainda apresenta resultados bem acima da média, junto à '"
:g
valecem os trabalhadores jovens e pouco instruídos. Colômbia. Vale lembrar que essa constatação se agrava mais se levarmos em '"
~
Já no tocante à discriminação, tanto as variáveis gênero quanto cor têm contaque o Brasil possui um nível de desigualdade maior que o dos outros países ~
<Q
10,3
Colômbia Reyes (1988) 1976/86 29-35 i
Posição na ocupação 13,3 9,2 16,4 9,5 15,9 Moreno (1989) 1976/88 26-35
Gênero
de atividade 7,6
2,3
9,0
5,6
5,6
2,2
6,0
5,6
5,9
1,5
-
7,0
5,2 - éxico
Peru
Acevedo
Rodríguez
(1999)
(1991)
1988/97
1970/84
20-32
21-34
Cor
Fonte: Elaboração
C8 = contribuição
própria a partir
bruta.
das PNADs.
6,1 2,5 6,3 2,1 7,7
-
2,5
--
Uruguai
--enezuela
Psacharapoulos
Psacharapoulos
et alii (1992)
et alii (1992)
1981/89
1981/89
10-13
23-26
CM = contribuição marginal.
4 O fato de a contribuição marginal ser maior que a bruta provém. provavelmente. de uma correla:
ção negativa entre educação e idade. uma vez que as coortes mais recentes têm maior nível de eSCO
=--- d erec: ser destacado o fato de que tanto a categorização da variável educação quanto a defini.
laridade e menor experiência. a UOIverso de análise podem ser diferentes em diferentes trabalhos.
167
166
em questão, ou seja, em termos absolutos, a desigualdade associada à escolarid _ abela 6
~
:: de é ainda mais alta no caso brasileiro do que o revelado em termos relativos.
"l Educaçãoe variações na desigualdade: uma comparação
~
~ ]
~ internacional g
...,
li 7 - Resultados da decomposição dinâmica {l
~ AUTOR PERíODO CONTRIBUIÇÃO ('lo) EFEITO RENDA ('lo)
~
r 5
~ Tendo em vista que educação revelou-se, por larga margem, a variávellnai ~'"
Ramos e Trindade (1992) 1977/89 6-20 10-17
~ importante na explicação da desigualdade de rendimentos em todos os anos in- Brasil c
i5'
E vestigados, é interessante examinar como as variações na composição educacio- Argentina Fiszbein (1991) 1974/88 54-56 38-46 ~
""
nal da força de trabalho ocupada e nas rendas relativas dos grupos educacionai 32-47 34-43 '"
,ê
Peru Rodríguez (1991) 1970/84
estão relacionadas com as variações na desigualdade total. A combinação de _ ~
ses dois resultados - efeito composição e efeito renda, respectivamente - re- México Acevedo (1999) 1988/96 57-70 33-59
"~
li:
de. O resíduo, que se deve a alterações na dispersão dentro dos grupos educacio-
não é tão flagrante quanto no caso anterior. Não obstante, a importância d.a .~
• nais, está relacionado com outras alterações que não aquelas ligadas à educa-
ção. Os resultados desse exercício, baseado na metodologia descrita no Apêndi-
cducação no Brasil na década de 90 revela-se bem maior do que para a Ar~en~l-
na, o Peru e o México, tanto no que tange à contribuição total para a exphcaçao g
J
ce 4, são mostrados na Tabela 5 para o período 1992/97.
na variação da desigualdade quanto no que se refere ao efeito renda. ~
O fato de o efeito alocação ser negativo significa que as alterações da com- 'l':"
posição da força de trabalho ocupada segundo os grupos educacionais, ou da "
8. Conclusão ~::
desigualdade educacional entre o pessoal ocupado, operaram no sentido de rc-
"l
duzir a desigualdade no período. Já o efeito renda foi positivo e de grande mag- Os resultados apresentados revelam que a tão difundida faceta redistribu- :
nitude, o que revela que o perfil de rendimentos associado à educação tornou-sc liva do Plano Real de fato parece ter eXisdtid?, mda.snão foi sufiCtie~te ?asruaacaodmo- ~
bem mais inclinado, aumentando o grau de amplificação da desigualdade edu- pensar o desempenho negativo do perío o Ime latamente an enor a -:::
cacional em desigualdade de rendimen tos, via operação do mercado de trabalho. ção,de tal modo que o índice T de Theil em 1997 ainda era superior ao computa- ~
A contribuição bruta da educação no período foi de 70%, valor bem superior do para 1992. ~
aos encontrados por Ramos e Trindade (1992) para o intervalo 1977/89, confor- ~
Entre as fontes de dispersão de rendimentos, além da segmentação de g
me mostrado na Tabela 6. A mesma observação é válida para o efeito renda, que acordo com a posição da ocupação, destaca-se sobremaneira o papel da hetero- l'
quadruplicou na década de 90 comparativamente ao período anterior.6 geneidade dos trabalhadores quanto à sua qualificação. A contribuição bruta da ~
Na comparação com resultados obtidos em exercícios semelhantes para al- ariável educação chega a 30% na explicação da desigualdade de rendimentos, .I
guns dos países latino-americanos, também mostrados na Tabela 6, a diferença enquanto a explicação marginal é superior a 20%_ Aspectos ligados a práticas "
discriminatórias no mercado de trabalho não se revelaram importantes nesse ~
Tabela 5 particular.
Por fim, mudanças associadas ao perfil de rendimentos por grupos e.duca-
Resultados da decomposição dinâmica (1992/97)
ionais ou, em última análise, nos retornos à educação, parecem ter Sido as
EDUCAÇÃO "".Ir principais responsáveis pelo aumento da desigualdade entre 1992 e 1997. S~m
-7,7 dÚvida, esse é um ponto que merece ser aprofundado e melhor compreendido
Efeito alocação
em estudos posteriores.
Efeito renda
Contribuição
--
77,7
70,0
6 Embora pareça tentador atribuir, ao menos em parte, essa mudança de comportamento ao pro'
cesso de abertura comercial que levou à adoção de tecnologias mais intensivas em mão-de-obra
qualificada, esta tarefa escapa ao escopo do trabalho.
168 169
..•.....' (continuação)
Apêndice 1 12
~ 1992 1995 1997 {i
'"''" '"
" Evolução da amostra a ~ T a ~ T a ~ T ~
g
~
"'a" Posição_na ~
ocupaçao {l
"
{l
VARIÁVEL 1992 1995 1997
~
~'" Áreas urbanas 255.490 272.188 283.273 Funcionário
'lU
E
"" 1,249 0,184 0,476 1,206 0,177 0,512 1,226 0,169 0,482 g>
"~
.~ público
c:o Mais de 18 anos 155.834 169.440 179.721
Empregado com ~
carteira 0,980 0,403 0,437 0,883 0,386 0,461 0,883 0,386 0,433 "
',',""
Menos de 65 anos 143.424 155.032 164.087 lf
Empregado sem E
Renda positiva 89.792 99.236 102.725 carteira 0,465 0,144 0,458 0,506 0,148 0,533 0,520 0,157 0,507
~
Mais de 20 horas por semana 86.505 95.222 98.418 Conta própria 0,849 0,223 0,588 0,909 0,239 0,555 0,925 0,237 0,583 ","
'~
. Educação definida 86.429 95.153 98.346 Empregador 2,581 0,046 0,480 3,044 0,051 0,451 2,943 0,051 0,492 .~
-e
Setor definido 85.554 94.261 97.424 Região ~
c;
Norte 0,784 0,049 0,499 0,832 0,051 0,594 0,807 0,051 0,609 '"
Ocupação 78.865 86.064 88.871 ~
Nordeste 0,660 0,200 0,627 0,637 0,203 0,685 0,645 0,203 0,671 '":g
Sudeste 1,136 0,519 0,503 1,144 0,513 0,550 1,150 0,508 0,537 "
':::
Apêndice 2 ~
Sul 1,070 0,161 0,562 1,064 0,161 0,551 1,031 0,163 0,529 '"'g
Centro-Oeste 0,957 0,072 0,588 0,978 0,072 0,581 1,010 0,075 0,628 ~
Estatísticas gerais por variável ~
.:::
Gênero -g
~
1992 1995 1997 Homem 0,563 1,111 0,666 0,600 1,092 0,668 0,595 {l
1,108 0,676
{l
a ~ T a ~ T a ~ Mulher 0,775 0,324 0,481 0,779 0,334 0,526 0,815 0,332 0,522 ~
S!
Idade Cor .~
~
"'"
18-24 0,556 0,209 0,297 0,515 0,197 0,340 0,503 0,198 0,293 Branco 1,207 0,599 0,542 1,216 0,605 0,572 1,232 0,610 0,567 ~
~
25-34 0,972 0,328 0,447 0,923 0,315 0,471 0,933 0,312 0,486 Não-branco 0,690 0,401 0,466 0,670 0,395 0,510 0,637 0,390 0,455
.5"
35-44 1,258 0,261 0,526 1,247 0,269 0,550 1,250 0,271 0,532 Setor "to:
<"::
Q
45-54 1,261 0,140 0,706 1,320 0,154 0,683 1,296 0,156 0,653 I~dústria pesada 1,400 0,093 0,469 1,256 0,087 0,474 1,198 0,086 0,478
55-65 0,974 0,063 0,716 1,059 0,065 0,792 1,089 0,063 0,823 Indústria leve 0,788 0,089 0,483 0,772 0,084 0,530 0,764 0,081 0,586
Escolaridade
C~trução civil 0,688 0,090 0,423 0,738 0,087 0,447 0,703 0,092 0,425
Comércio 0,968 0,161 0,582 0,963 0,173 0,606 0,958 0,173 0,605
Sem instrução 0,421 0,089 0,355 0,381 0,076 0,358 0,378 0,070 0,342
Crédito 2,296 0,024 0,339 2,092 0,020 0,339 2,061 0,018 0,311
1a4 0,660 0,314 0,416 0,615 0,296 0,390 0,596 0,263 0,394
Transportes 1,180 0,056 0,400 1,078 0,058 0,387 1,170 0,061 0,484
5a8 0,760 0,247 0,371 0,718 0,252 0,372 0,712 0,259 0,~87
-
Agrn.inistração
120umais 2,557 0,124 0,423 2,657 0,132 0,420 2,549 0,140 O~ Publica 1,103 0,161 0,470 1,129 0,158 0,533 1,159 0,153 0,506
(colltinlla)
-
Agricultura
-.. renda média relativa.
;at;do populacional: e
0,480 0,070 0,601 0,426 0,064 0,548 0,394 0,061 0,502
eSf9ualdade intern~.
170 171
,. ..-r-o'
Apêndice 3 A média7 e a desigualdade educacionais, assim como a inclinação do perfil
'i:; ~
de rendimentos, podem ser calculadas segundo a maneira sugerida por Reis e '"
i"
CQ ..:::"'g-
7 _ Em que pese a média de anos de estudo ser uma candidata natural. e largamente empregada,
na? ~ecessariamente é a mais indicada para ser empregada no contexto deste trabalho, porque a
;e~la atribui pesos iguais a todos os anos/níveis de educação. Ora, quando a preocupação maior é a
eSlgualdade de salários, parece mais interessante ponderar os incrementos de escolaridade de
a~ordocom o seu conteúdo educacional, que pode perfeitamente diferir ao longo do espectro educa-
C1on~l.A idéia por detrás do indicador sintético proposto por Barros e Reis (1989) é utilizar como
proX1es para o conteúdo educacional dos diferentes níveis os próprios rendimentos médios relativos.
m, ~ 1Neste trabalho o ano escolhido como referência foi 1997, e os pesos daí resultantes foram
, 485,0,2338, 0,2792, 0,4029 e 1,0.
173
172
•.. ~:- Tabela A.l
1; Apêndice 4
t;
O:l
:'";:
Indicadores sintéticos da distribuição de educação (VARIÁVEIS E Decomposição do índice T de Theil
~ GRUPOS SELECIONADOS)
1:: O índice T de Theil é definido da seguinte maneira: ~
"'.'""..
~"
~
g
.!:>
INDICADOR
ANO
Idade
1992
mt
1995 1997
N
T=Q.I N) L(Yi Ir)log (Yi Ir) ( 1) 1
g>
~
Cl i=1 ~
18 a 24 0,498 0,512 0,523 0,042 0,044 0,043 0,045 ta"
25 a 34 0,428 0,434 0,442 0,148 0,143 0,139 0,113
0,050 0,043
0,133 0,139
onde Y,é a renda do i-ésimo indivíduo, Y é a renda média e N é o tamanho da po- I
35 a 44 0,406 0,421 0,437 0,201 0,188 0,182 0,157 0,187 0,182
pulação.
Se a população é dividida em G grupos com ng observações cada, podemos 'f~
45 a 54
55 a 65
0,325
0,259
0,348
0,266
0,368
0,284
0,256 0,260 0,250 0,234 0,253 0,250
então escrever T como: j
0,286 0,268 0,276 0,223 0,337 0,276
G ng C:i
Cor
T= L(ng IN) L (YigIY)log(Yig Ir) (2) ~
:;:
Branco 0,436 0,447 0,461 0,158 0,155 0,152 0,134 0,158 0,152 g=1 i=1 ':"g
:;:
Não-branco 0,328 0,336 0,343 0,099 0,100 0,101 0,091 0,111 0,101
~
Gênero onde Y é a renda do i-ésimo indivíduo do g-ésimo grupo. g
PeIgl d f' . - r:l. -n IN e 2 =Y I K onde Yg é a renda média do g-ésimo ~
Homem 0,315 0,324 0,333 0,205 0,206 0,204 0,187 0,219 0,204 a e lmçao I-' 9 - 9 9 T E
grupo e }( uma renda de referência qualquer (a de um grupo es~eCl lCO,por l::
Mulher 0,426 0,438 -0,455 0,189 0,181 0,175 0,137 0,163 0,175
exemplo),, torna-se POSSIVel
, mostrar que, apos
, a 1gu ma manipulaçao ' podemos ~ 1
Posição na
ocupação
expressar T como: j
Funcionário 0,531 0,541 0,557 0,171 0,164 0,158 0,124 0,157 0,158 G G .~
'"
público (3) ~
T=Q.Ik) L~92 9 10g2 9 -logk+Q.1 k) L~g2 gT9 ""
-:g
Com carteira 0,355 0,363 0,375 0,140 0,140 0,142 0,138 0,156 0,142 9=1 g=1 ~
'i::
Sem carteira 0,272 0,285 0,299. 0,116 0,125 0,135 0,133 0,161 0,135 .s
G .
E
Conta própria 0,293 0,308 0,319 0,151 0,161 0,164 0,120 0,149 0,164 onde k= L~g2 9 e Tg é o índice T de Theil para og-ésimo grupo isoladamente, ou ~
Empregador 0,629 0,653 0,652 0,063 0,062 0,060 0,055 0,065 0,060 g=1
Fonte: Elaboração própria a partir das PNADs.
eja, é o T de Theil calculado apenas para o conjunto de m:mbr?s daquele gru-
discriminatórias e segregação no mercado de trabalho, aliada a uma também po.Osdóis primeiros termos do lado direito correspon.dem a deSigualdade entre
possível existência de diferenciais compensatórios, fazem com que a correlação grupos, enquanto o último refere-se à desigualdade mtragrupos. ,.
entre gênero e educação seja negativa. 'd' dl-o
Se escolhermos a renda me la a popu aça como a renda de referenCla,
No que diz respeito a cor e posição na ocupação a história é oposta, com os .,ISloe, se constrmrmos
. 2 9 =a 9 =Y-9 I Y- , en t-ao a expressão (3) reduz-se a:
grupos que tendem a ser prejudicados no mercado de trabalho - trabalhadores
não-brancos e empregados sem carteira de trabalho assinada, por exemplo-, G G
(4)
seja por discriminação ou segmentação, apresentando menor escolaridade, o T= Lag~g logag + Lag~gT9
que caracteriza uma correlação positiva entre educação e essas variáveis em ter- g=1 g=1
mos do funcionamento daquele mercado. Assim, a contribuição marginal des-
sas variáveis é menor do que a sua contribuição bruta.
174
175
~"'----
o primeiro termo - a média ponderada dos logaritmos da razão entre as Substituindo (6), (7) e (8) em (5), obtém-se uma expressão para o incre- ~
l rendas médias de cada grupo e da população - é a desigualdade entre grupos menta no índice T de Theil gerado por mudanças mar.ginais na alocação da p~-
pulaçãoao longo dos grupos, nas rendas médias relativas destes e nas respectl- ~
l
g nessa formulação, e o segundo - a média ponderada das desigualdades inter-
~ nas - é a desigualdade intragrupos. Em ambos os casos os pesos são as porções vasdispersões internas: ~
~~ ~
da renda total em poder de cada grupo, uma vez que UgPg =ng'lg /Y, onde Yé a {3
{3 renda totaP ~
~ (efeito alocação) .~
].~ De volta à expressão (3), podemos diferenciá-la de forma a obter: g>
~
~ .l::
apenas pelas alterações nas rendas médias de cada grupo) e o último termo é o .ê
efeito interno (causado apenas por variações nas dispersões no interior dos gru- Se as rendas relativas de cada grupo são expressas em termos da razão en- ~
pos) _Mais especificamente: treas respectivas rendas médias absolutas e a renda média da população, então i
o T de Theil pode ser escrito como: 10 ~
'"
dT= L.ug(logUg +Tg -T-1)dPg + (efeito alocação) ~
'"
''""
\'l
+ L.Pg(logUg+Tg-T)dug+ (efeito renda) E
1 Z aT Z
É claro que isso é apenas uma aproximação e, portanto, sua precisão de-
~
~
=-k(Zg 10gZg +ZgTg)-~(T+logk+l):.- =~(log(Zg /k)+Tg -T-1) (6) .~
k2 apg k pende bastante da magnitude das variações nas frações populacionais, nas ~e~- ~
das médias relativas e nas desigualdades internas. O teorema do valor medlO ~
assegura que a relação acima é exata para algum ponto entre os extremos, mas ~
De maneira análoga: ''""
não há regras acerca de como determiná-los. No contexto deste trabalho opta- .::
mos pela solução ad hoc de avaliá-la sempre nos respectivos pontos médios. ~
Q
Bibliografia
CEVEDO, G. Earnings inequality after Mexico's economic and educational reforms. The
World Bank, 1999, mimeo.
LTlMIR,O., PINERA, S. Análisis de descomposición da las desigualdades de
e: ingreso en la América Latina. El Trimestre Econámico, v. 49, n. 196, p. 813-860,
1982.
10 A decomposição análoga para o L de Theil é dada por: dL~ L. {(a 9 -log a g)d~9 +
9 No caso do L de Theil os pesos são as frações populacionais de cada grupo. 9 Iug)(ag -1) da g+~gdLg}, onde Lg é o L de Theil no interior dog-eslIDo grupo.
176
BARROS, R., REIS, J. G. A. Um estudo da evolução das diferenças regionais da Mercado de trabalho e o-
~ desigualdade no Brasil. Rio de Janeiro: IPEA, 1989 (Texto para Discussão pobreza no Brasil*
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'"
i1'\
BID. America Latina frente a la desigualdad. Washington D.C., 1998.
~" FISZBEIN, A. Essays on labor markets and income inequality on lessdeveloped countries.
~ Berkeley: University of California, 1991 (Ph.D. Dissertation).
~
.~
ti
Cl MORENO, A. La distribuición deI ingreso laboral urbano en Colombia:
1976-1988. Desarrollo y Sociedad, Bogotá, n. 24, 1989.
Ricardo Paes de Barros**
PSACHARAPOULOS, G., MORLEY, S., FISZBEIN, A., LEE, H., WOOD, B. Povertyand
Carlos Henrique Corseuil**
income distribution in Latin America: the story ot the 1980s. The World Bank,
1992. Phillippe G. Leite***
Os autores agradecem a toda a equipe do IPEA. especialmente a Viviane Cirillo, Daniele Reis,
Eduardo Lopes, Vanessa Moreira e José Carlos Leite pelo excelente apoio computacionaL e a Ricar-
do ~enriques, Miguel Foguel e Rosane Mendonça pelos valiosos comentários. Também fomos be-
nefICiadospelas observações de participantes da Conferência da SBE de 1998, em Vitória,
Conferênciado Lacea de 1998 em Buenos Aires, e Conferência Institutional Reforms, Growth and
Human Development, na universidade de Yale. .
•• Da Diretoria de Estudos Sociais do lPEA.
••• Da Ence/lBGE e da Diretoria de Estudos Sociais do IPEA.
I Para uma discussão completa sobre os determinantes de pobreza, ver Barros. Camargo e Men-
donça (I 995).
2 A inclusão nas atividades econõmicas não representa a única forma de utilizar os recursos hu-
manos com conseqüências importantes sobre a pobreza. Por exemplo, o uso de tais recursos pelos
paiSpara auxiliar as crianças nas atividades escolares ou em hábitos médicos preventivos também
apresenta impactos importantes sobre o nível de pobreza. ao menos a longo prazo.
~ Neste estudo. em prol da simplicidade, o mercado de trabalho examina todos os segmentos que
am empregos, abrangendo os autõnomos e os não-remunerados.
178 179
._~-.~"----- finir a situação ideal na qual os recursos humanos são propriamente usados e
a economia não é capaz de oferecer empregos a todas as pessoas interessadas e
:c; ~
1; capazes de trabalhar, parte da população economicamente ativa (PEA) perma. r nlLmerados,em vista das condições macroeconômicas vigentes. Assim, o ob- Jj
Cl:l
~ nece desempregada. Em segundo lugar, na medida em que os recursos huma. j ,tivodesta seção é definir esses conceitos e especificar a situação ideaL na qual ~
::l nos são alocados para empregos, desnecessariamente de baixa qualidade, da. o recursos humanos sejam propriamente utilizados e remunerados. j
! das as condições gerais da economia, eles serão parcialmente subempregados e
~ sub-remunerados. Nesse caso, trabalhadores com igual potencial produtivo 2.1 - Desemprego
~
""
::s
.2
~ irão acabar com produtividade e salário diferentes, caracterizando a segmenta- A base do conceito de desemprego que irá fundamentar nossa análise é ~
.~
c:,
ção do mercado de trabalho, a subutilização e a sub-remuneração de parte da empírica. Pragmaticamente, optamos pela definição de desemprego tradicio- ~
força de trabalho. Finalmente, visto que certos grupos são discriminados ao nalmente utilizada para produzir as estatísticas oficiais do IBGE. De acordo ~~
procurar ou desenvolver uma atividade econômica, eles serão também sub- comessa definição, o desemprego prevalece onde quer que alguém que não te- ::;:
remunerados e, provavelmente, subempregados. nha um emprego numa semana de referência não procure por emprego pelo
O objetivo deste artigo é avaliar o impacto sobre o grau de pobreza no Brasil mesmo período.4
em cada uma das três formas específicas de ineficiência do mercado de traba- Arespeito da definição da situação ideaL na maior parte deste trabalho ad-
"lho: desemprego, subemprego e discriminação. Dirigimos essas questões por mitimos que qualquer nível de desemprego representa indício de subutilização
intermédio de uma decomposição baseada em microssimulações das mudan- da forçade trabalho. Posteriormente, na Seção 7, também trabalharemos com a
ças distributivas similares às implementadas por Langoni (1973), Reis e Barros hipótesealternativa que considera o desemprego de curto prazo (menos de três
( 1991) e Ferreira e Barros (1999). meses) compatível com a plena utilização da força de trabalho.s
As definições para desemprego, segmentação, discriminação e suas medi. Para especificar totalmente a situação ideaL além de identificar os desem-
das ainda são controversas [ver Hussmanns, Mehran e Verma (1990) e 110 pregados, é necessário determinar como eles seriam inseridos no mercado de
(1995)]. Por essa razão, dedicamos a Seção 2 à apresentação de como esses con. trabalho. Em outras palavras, é necessário especificar quais empregos e qual re-
ceitos e suas medidas são tratados ao longo deste estudo. A Seção 3 discute a muneração os desempregados teriam numa situação ideal. Neste estudo, opta-
implementação empírica desses conceitos. mospor compará-los com as mesmas condições de trabalho do mercado experi-
As três seções seguintes serão, por sua vez, dedicadas a analisar, de um mentadas pelos trabalhadores empregados, em características idênticas. Essa
lado, a relação entre desemprego, segmentação e discriminação, e, de outro, a opçãosignifica, especificamente, que os trabalhadores desempregados, numa
pobreza no Brasil. As Seções 4 e 5 apresentam alguns preliminares empíricos situação ideaL veriam um mercado em que prevaleceriam a segmentação e a
com algumas informações básicas sobre a base de dados e características da po' discriminação em seus níveis atuais.
breza, desemprego e diferenciais salariais no Brasil. A Seção 6 discute o impacto
global sobre o grau de pobreza, o desemprego, a segmentação e a discriminação, 2.2 . Segmentação
comparando esse impacto com o impacto das estratégias alternativas para eli- Para os propósitos deste estudo, um mercado de trabalho é considerado
minar a pobreza. A Seção 7 é dirigida à decomposição do impacto global das im- segmentado quando existem trabalhadores, que são substitutos perfeitos na
perfeições do mercado de trabalho, apresentando estimativas isoladas para o produção,recebendo salários diferentes como conseqüência de estarem empre-
impacto do desemprego, segmentação e discriminação. As Seções 8 e 9, por sua gadosem diferentes setores econômicos. Como resultado disso, num mercado
vez, são dedicadas a investigar até que ponto as diferenças temporal e regional de trabalho segmentado, os postos de trabalho serão de qualidade diferente, al-
~ no grau de subutilização e sub-remuneração dos recursos humanos podem ex- guns melhores que outros.
plicar variações concomitantes no grau de pobreza. Finalmente, a Seção 10apre- Para especificar a situação ideaL admitiremos que os trabalhadores aloca-
senta as principais conclusões e recomendações do estudo. dospara empregos de qualidade inferior a um certo limite seriam subutilizados
2 " Os conceitos de desemprego. segmentação e Apesar da ampla utilização dessa definição, há inúmeras questões controversas. Por exemplo,
discriminação q.uantoà delimitação de quais atividades seriam consideradas trabalho, sobre o período de referên-
:,a. e (com menos freqüência) sobre a condição de procurar emprego.
A fim de estimar o efeito das imperfeições do mercado de trabalho sobre a po- ~ Devidoa limitações em nosso banco de dados, essa alternativa só pôde ser implementada quan-
breza, é necessário, primeiramente, definir de forma precisa os conceitos de de- pO foram descritos os resultados de 1987. A pesquisa domiciliar em que baseamos nossa análise,
esquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), não pergunta sobre a duração do desempre.
semprego, segmentação e discriminação. Num segundo momento, é necessário o desde a pesquisa implementada em 1992.
180 181
e sub-remunerados. Admitiremos que os trabalhadores alocados para empre. Hávárias alternativas possíveis para especificar a situação ideal, envolven-
~;: gos acima desse limite não seriam subutilizados, mas poderiam ser "Super. ~
o diferentes efeitos de discriminação sobre a pobreza. Por exemplo, seria ima- ~
""~ remunerados". Essa abordagem para especificar a situação ideal levanta dua iniÍvel que o fim da discriminação levaria a remuneração de mulheres e g
~ dificuldades. Primeiro, ela requer que o limite deva ser especificado. Segundo. não-brancosao mesmo nível que os homens brancos atualmente possuem. Nes- ~
1.
~"
requer a especificação do método para determinar a remuneração devida ao
trabalhadores alocados em empregos com qualidade abaixo e acima desse limite.
s casoalternativo, o grupo que se beneficiaria da discriminação seria o dos em- !
Pre iÍriose o dos consumidores. Na forma de discriminação definida neste estu- ~
.g
~
.~
Como limite para os trabalhadores com determinado conjunto de caraCle. lo.o grupo beneficiário da discriminação é o dos trabalhadores brancos do sexo g
~ rísticas, escolhemos o nível atual da remuneração média de todos os trabalha- masculino. .;;;
dores desse grupo. A remuneração ideal é especificada em duas alternativas. ~~
Em ambas, consideramos que todos os empregos que pagam salários abaixo da ~
média deveriam remunerar, de modo ideal, os trabalhadores no nível médio 3 - Eliminando a subutilização e a sub-remuneração:
aspectos metodológicos
mencionado. As duas alternativas diferem quanto à remuneração dos trabalha.
dores com salários acima da média. A primeira alternativa considera apropria- A metodologia usada neste estudo baseia-se numa série de regressões. uti-
dá a remuneração de todos os trabalhadores com salários acima da média. Nes- lizadaspara estimar salários contrafactuais, refletindo na eliminação da imper-
se caso. numa situação ideal, a folha de pagamento e, conseqüentemente, o salá- f ição do mercado de trabalho. O conjunto de regressões básicas está descrito
rio médio seriam maiores que os atualmente observados. A segunda alternativa na Subseção 3.1. Nas cinco subseções seguintes, descrevemos a construção de
considera que, numa situação ideal, todos os trabalhadores deveriam ser remu- umasériede rendas contrafactuais refletindo a eliminação das formas alternati-
nerados ao valor médio corrente. Nesse caso, a folha de pagamentos e o salário as das imperfeições do mercado de trabalho. Em cada caso, duas alternativas
médio, na situação ideal, seriam idênticos aos valores atuais. <ioprocuradas. Em um caso (alternativa A), a remuneração de todos os traba-
As estimativas do impacto da segmentação do mercado de trabalho sobrea lhadores na situação ideal e atual é diferente. No outro, somente aqueles cujos
pobreza também dependeriam, em grande parte, do número e da natureza dos alários estão abaixo da média têm remuneração diferente nas situações ideal e
segmentos em que se dividiria o mercado de trabalho. Neste estudo, considera- atual (alternativa B). Algumas observações metodológicas são apresentadas na
mos duas formas de segmentação: a regional e a setorial. Os segmentos especí- ubseção 3.7.
ficos considerados em cada uma dessas formas têm influência importante so-
bre a magnitude do impacto da segmentação na pobreza. Uma descrição do 3.1- A estrutura completa da regressão
segmentos usados neste estudo é apresentada na Subseção 4.3. Para simular o impacto da eliminação das imperfeições do mercado de tra-
alho sobre o nível de pobreza, temos de nos basear numa série de regressões,
2.3 - Discriminação r lacionando as remunerações dos trabalhadores às suas características e aos
O conceito de discriminação está intimamente relacionado ao de segmen- egmentos do mercado de trabalho em que estão empregados. Essas regressões
tação. Por isso, consideramos que existe discriminação no mercado de trabalho diferemcom relação ao conjunto de características usadas como variáveis expli-
sempre que brancos e não-brancos, homens e mulheres, todos perfeitamente ativas. A regressão mais completa pode ser escrita da seguinte forma:
substituíveis na produção, não recebam a mesma remuneração, até mesmo
quando empregados num mesmo segmento do mercado de trabalho. De acordo
E[ln(w)je, i, g, c, 5, r]=f(e, i, g, c, 5, r)
. çom esse conceito, há discriminação sempre que existam salários diferenciado
entre os trabalhadores perfeitamente substituíveis num mesmo segmento do
ondew significa a remuneração;6 e, o nível educacional; i, a idade; g, o sexo; c, a
mercado de trabalho. Aqueles com remuneração abaixo da média são discrinli-
raça;s. o setor de atividade; e r, a localização geográfica.
nados.
Além dessa regressão completa também é necessária uma série de outras
Similarmente à nossa proposta para lidar com a segmentação, admitimoS
.r~ssões menores. Em alguns casos, é igualmente necessário saber como a
que, numa situação ideal, tanto homens como mulheres, brancos e não-brancOS
medialogarítmica de salário varia com as características individuais dos traba-
serão remunerados de àcordo com um valor, já que são substitutos perfeitoS na
produção e estão trabalhando no mesmo segmento do mercado de trabalho, OU
os trabalhadores "super-remunerados" permanecerão em sua situação original.
:---
~. remunerações consideradas são aquelas recebidas no emprego principal (de agora em diante
no).
182 183
r-;__~, _
~ lh~dores e com a localização geográfica. Nesse caso, a regressão relevant ' Em outras palavras, admitimos que a distribuição das características
~ gumte: e e a se- não-observadas dos desempregados é parecida com a distribuição análoga dos 'Xl E
'" empregados (£f).7 Em suma, cada pessoa desempregada recebe um salário wA* ~
~
"
~ B[ln(w)le, i, g, c, r]=g(e, i, g, c, r) iguala: .t'"
f" "
::::"-'"
{5 Às vezes, é necessário saber como a média lo arítmic d I" o
wA* = exp (m(e, i) + uf) ~
~ as características individuais dos trabalhadore gS a e sa anos vana com g
]
são relevante é como segue: s. omente nesse caso a regres- {5
~
B[ln(w)/e, i, g, c]=h(e, i, g, c)
No caso do empregado, cada trabalhador recebe um salário médio estima-
do para todos os ocupados que têm a mesma escolaridade e idade, somado ao
resíduo da regressão completa. Nesse caso, o salário calculado, wA*, é objetivo
1 '"
via:
. Fi~almente, também é necessário saber como a média logarítmica de sal'
• nos v~na com as características produtivas do~ trabalhadores N a-
gressao relevante é: . esse caso, are. wA*=exp(m(e, i)+cf)
Uma vez que seja dada essa nova renda do trabalho para cada membro da
B[ln (w)1 e, i]=m(e, i) PEA,a renda familiar per capita e o grau de pobreza podem ser recalculadoso A
diferença entre o grau de pobreza antes e depois da simulação indica o impacto
Pdara a. co~strução d~s salários contrafactuais, é necessário definir os resÍ. global da subutilização e da sub-remuneração dos recursos humanos sobre a
d uos a pnmeIra regressao: . pobreza, de acordo com a alternativa A.
cf=ln(w)-f(e, i, g, c, s, r) Alternativa B
De acordo com essa alternativa, a renda dada a cada trabalhador desem-
Ao estimar todas essas regres' soes, f'Izemos uso de duas hipóteses simplifi- pregado é igual àquela da alternativa A. Portanto, cada pessoa desempregada
ca d oras: recebe um salário wB* igual a:
a) admiti~os
.q~e todas as funções da regressão eram separáveis adicional.
mente, o que sIgmflCa, por exemplo, wB* = exp (m(e, i) + uf)
f(e, i, g, c, s, r)= fi (e) + h(i) +h(g, c) + f4(r) +f5(s) Para os trabalhadores empregados, as alternativas diferem. Nessa alterna-
tiva, cada trabalhador empregado recebe um máximo entre seu salário atual e o
b) também
. ,. admitimos que ' co mo a f orma f unCIonal
o apropriada para repre- alário médio de seus pares de mesma escolaridade e idade, somado ao resíduo
sentar a mfluenCIa da idade é quadrática, da regressão completa. Nesse caso, o salário contratual wB* é expresso como:
Uma vez dada essa nova renda do trabalho para cada membro da PEA, a
3.2 - O impacto global
renda familiar per capita e o grau de pobreza são recalculados. A diferença entre
Alternativa A ~ gr~~ de.pobreza antes e depois dessa simulação indica o impacto global da su-
utlhzaçao e da sub-remuneração dos recursos humanos sobre a pobreza, de
g d ~e. aco~~o com e.ssa alternativa, a renda para cada trabalhador desempre-
aCordo com a alternativa B.
Ia o~ ~Igu~d a renda média daqueles atualmente ocupados com a mesma esCO-
~n ~ e.e.I ade, somado a um resíduo, uf Esse termo residual (uf) é tomado da ::---
dIstnbmçao dos residuais (£f) derivados da regressão completa (f(e, i,g, c, r, 5) lo Vera descrição completa para este procedimento no Apêndice.
184 185
--'.-
---""-c; Seria útil ter-se uma idéia sobre a relevância de cada uma das imperfeiçõe wA2 = exp (g(e, i, g, c, r) + uj)
~ sobre esse resultado agregado. Para alcançar essa informaçâo, implementamo
~ quatro passos seqüenciais que nos permitirão inferir sobre a relevância da res~ A renda de todos os trabalhadores empregados está fixada como na Subse- ~
~ pectiva imperfeição do mercado de trabalho. "
ção 3.3, por exemp Io: ~
<:.
1. ..•
~" 3.3 - Impacto da segmentação setorial
'"
::; wA2 = exp (g(e, i, g, c, r) + £j)
51
.~ Alternativa A ~
2l Como no caso anterior, uma vez dada nova renda do trabalho para cada ~:.:::
Cada trabalhador empregado recebe um salário médio estimado para todos
membro da PEA, a renda familiar percapita e o grau de pobreza são recalculados. ~
os de mesma escolaridade, idade, sexo, raça e localização geográfica, somado ao
A diferença entre este grau de pobreza e o obtido depois dessa simulação e o
resíduo da regressão completa. Nesse caso, o salári? considerado wA 1, é dado por:
grau de pobreza obtido da simulação anterior indica o impacto do desemprego
sobre a pobreza, de acordo com a alternativa A.
wAl = exp (g(e, i, g, c, r) + £i)
Alternativa B
Como no caso anterior, uma vez obtida uma nova renda do trabalho para
cada membro da PEA, a renda familiar percapita e o grau de pobreza são recalcu- O tratamento do trabalhador desempregado é o mesmo da alternativa A,
lados. A diferença entre o grau de pobreza obtido depois da simulação e o grau isto é, cada trabalhador desempregado recebe um salário wB2 igual a:
de pobreza original indica o impacto da segmentação setorial sobre a pobreza,
de acordo com a alternativa A. wB2 = exp (g(e, i,g, c, r) + uj)
,
Alternativa B
A renda de todos os trabalhadores empregados está fixada como na alter-
Cada trabalhador empregado recebe o máximo entre seu próprio salário nativa B da Subseção 3.3, por exemplo:
atual e o salário médio para todos aqueles com a mesma escolaridade, idade,
sexo, raça e localização geográfica, somado ao resíduo da regressão completa.
wB2 = max {exp (g(e, i, g, c, r) + £i), w}
Nesse caso, o salário considerado, wBl, é dado como:
Como no caso anterior, uma vez dada a renda do trabalhador para cada
wBl = max {exp(g(e, i,g, c, r) + £i), w}
membro da PEA, a renda familiar percapita e o grau de pobreza são recalculados.
Assim como no caso anterior, uma vez dada uma nova renda do trabalho A diferença entre o grau de pobreza obtido da simulação anterior indica o im-
para cada membro da PEA, a renda familiar percapita e o grau de pobreza são re- pacto do desemprego sobre a pobreza, de acordo com a alternativa B.
calculados. A diferença entre o grau da pobreza obtido após a simulação e o grau
de pobreza original indica o impacto da segmentação setorial sobre a pobreza, 3.5 - O impacto da segmentação regional
de acordo com a alternativa B.
Alternativa A
~.4 - O impacto do desemprego A renda dada a cada trabalhador desempregado é igual ao salário médio de
todos os trabalhadores de mesma escolaridade, idade, sexo e raça, acrescido o
Alternativa A resíduo considerado uI Em resumo, a cada trabalhador desempregado é dado
Cada trabalhador desempregado recebe uma renda de trabalho igual ao sa- um salário wA3 igual a:
lário médio para todos os trabalhadores empregados que têm a mesma escolari-
dade, idade, sexo, raça e localização geográfica, além do resíduo imputado, li! wA3 = exp (h(e, i,g, c) + uj)
Esse resíduo é construído como descrito na Subseção 3.2. Conseqüentemente,
A cada trabalhador empregado é dado o salário médio dentre todos os tra-
cada trabalhador desempregado recebe um salário wA2, igual a:
balhadores de mesma escolaridade, idade, sexo acrescido o resíduo da regressão
Completa. Nesse caso, o salário considerado, wA3, é dado por:
186 187
<",-.,- •.••,.-
~ WA3 = exp (h(e, i,g, c) + Ei) quando essa eliminação provavelmente afetaria o nível de salár.ios ?a força de 'i.;
::: trabalho. A incorporação desses efeitos, por outro lado, comphcana enorme- ~
"" mente a descrição metodológica, bem como a análise dos resultados. ~
t~
"
Como no caso anterior, uma vez dada nova renda do trabalho a cada mem-
bro da PEA, a renda familiar percapita e o grau de pobreza são recalculados. A di-
ferença entre esse grau de pobreza e o obtido com a simulação anterior indica o
A segunda questão potencialmente controversa está relacionada à ordena-
ção que escolhemos para apresentar o impacto de cada uma das imperfeições. ""
-i.'l
j impacto da segmentação regional sobre a pobreza, de acordo com a alternativaA. Os resultados provavelmente difeririam, caso mudássemos essa ordem. Entre- ~
il tanto, nossa ordem está baseada numa combinação de limitação dos dados e ar- l;
.~
ia Alternativa B oumentos teóricos. A PNAD não fornece informação sobre o setor em que o in- ~
c:.
"-"
~ POBRES(PD) RENDA MÉDIO (Pl) QUADRADA DE <:>
::'S
~'" RENDA (P2)
Hiato médio de renda (Pl) % .ll
:5 14 ~
.~ Linha de pobreza de R$ 25 ~
~ Valores observados
~
Valores observados I 12,0 5,5 4,1
_ee ••••••••••••• ••••••••••••••••••••••••••••••• ••••••••••• •••••••••••••••••• __ ••
12
~
::;
Valores simulados A _
Valores simulados 10
Valores simulados 8
Todos na média (A) 8,4 3,7 2,6 8
Movendo somente os abaixo da média (B) 7,3 3,3 2,4
6
Linha de pobreza de R$ 50
--4
Valores observados 28,2 12,1 7,9
--2
Valores simulados
Linha de pobreza de R$ 75
Valores simulados
Todos na média (A) 37,0 16,5 9,9 Comparação do impacto da eliminação da subutilização
e da sub-remuneração com o aumento restrito da
Movendo somente os abaixo da média (B) 31,9 14,0 8,5 escolaridade - linha de pobreza de R$ 50
Fonte: PNAD de t995.
Hiato médio de renda (Pl) %
14
As barras dos gráficos mostram como o grau de pobreza no Brasil seria afe-
Valores observados
tado, caso a educação da força de trabalho fosse aumentada. Dois procedimen- 12
tos são usados para aumentar o nível de educação. O primeiro procedimento
está baseado em 15 estágios cumulativos, no qual, em cada passo, todos COIl1
menos de 15 anos de educação (educação universitária completa) recebem uIl1 •••••••••••••••••••
Valores simulados B
8
ano de estudos suplementares.
- Os resultados de algumas dessas simulações (os 1°, 3°, 5° e 10° estágio )
estão relatados no Gráfico 2A. O impacto associado à alternativa A é comparável
ao resultante de aumento de três anos no nível de escolaridade de todos. ATa-
bela A2a no Apêndice estende esses resultados a outras medidas de pobreza. A
alternativa B, comà esperado, é comparável a uma elevação maior no nível edu-
cacional. O impacto sobre a pobreza associado a essa alternativa é mais elevado Primário Médio Secundário Terciário
que o obtido aumentando o nível de escolaridade em cinco anos. Escolaridade completa
198 199
o segundo procedimento também está baseado em 15 estágios cumulati- As barras, nesse gráfico, mostram como o grau de pobreza no Brasil seria
~
~
vos, mas agora a cada passo somente os trabalhadores com os menores graus de aktado por um processo de crescimento neutro do ponto de vista distributivo l
g educação são alçados ao nível imediatamente acima. Nesse caso, qualquer um m que a distribuição não fosse afetada. Para obter o impacto do crescimento g
;:; sem escolaridade passa a ter um ano de estudo; no estágio seguinte quem tem e onâmico, a renda média de 1995 é aumentada em 10%,20%, ... , 50%, e o grau ~
~;:- um ano passa a ter dois anos de estudo e assim por diante até todos possuírem de pobreza resultante é recalculado. ::-
{i no mínimo 15 anos de educação. O Gráfico 2B relata o resultado para os 1°,4°, O resultado dessa simulação mostra (ver Gráfico 3) que a comparação do ~
~ ~
] 8°, 11 ° e 15° estágios, ao passo que a Tabela A2b no Apêndice os estende a toda impacto da eliminação das imperfeições do mercado de trabalho com o impacto ~
.~ as medidas de pobreza. O resultado dessa simulação demonstra que o impacto de um crescimento econômico neutro (do ponto de vista da distribuição) é sen- ~
2l
de eliminação das imperfeições do mercado de trabalho é igual, para garantir a -ível à alternativa implementada. O impacto associado à alternativa A é compa- ~
todos algo mais que os quatro primeiros anos de educação básica (4° estágio), rado ao obtido pela taxa de 20% de crescimento econômico, ao passo que a taxa :;;
ou os oito primeiros anos (educação média - 8° estágio), de acordo com a alter- de 40% é comparável à alternativa B.18 A Tabela A3 (ver Apêndice) estende os re-
nativa escolhida para eliminar as imperfeições. sultados a outras medidas de pobreza.
- -- -- -- -- - 6
- -- -- -- -- - 4
México Chile Colômbia Bolívia República Costa EI VenezuelaUru9uai
O
- -- -- -- -- - 2
Dominicana Rica Salvador
--
Crescimento econômico
....:. PNADde 1995.
-l o
+ 10% de crescimento + 20% de crescimento + 30% de crescimento + 40% de crescimento + 50% de crescimento
I ~ taxa de 40% de crescimento econômico é comparável à que o Brasil obteve entre 1970 e 1973,
Fonte: PNAD de 1995.
Crescimento econômico
- nodo associado ao crescimento mais elevado do pós-guerra.
200 201
brasileiro, mas as formas de distribuição sejam como a de outro país latino_ Gráfico 5A
~
:::
<:Q
americano. 19 Como mencionado anteriormente nos outros gráficos, a linha ho-
g rizontal mais alta demonstra o nível de pobreza de 1995 no Brasil, ao passo que N' el de pobreza registrado para as várias etapa~ de
-~ as outras d!1.asrevelam como a pobreza seria, caso todo desemprego, subempre- el1i"minaçãoda subutilização e da sub-remuneraçao -
! go e discriminação fossem eliminados conforme a alternativa implementada.lo alternativa A
{l
~ Essas informações foram extraídas da Tabela 3.
1 Esse gráfico também demonstra que o impacto sobre a pobreza pela elimi-
Hiato médio de renda (Pl) % 14
-6
19 Na verdade, aproximamos a distribuição de renda pela proporção de renda associada a cada déci. -4
mo. Essa informação, combinada à renda média brasileira, nos dá a renda média para cada déálll,'
conforme as distribuições alternativas de renda consideradas. Uma interpolação linear para a renda -2
entre os décimos consecutivos é o suficiente para nos dar o PO das alternativas consideradas.
20 Devido à limitação metoqológica. temos de usar PO como medida de pobreza nessas simulações. O
Também devido à metodologia empregada. o valor observado para o nível de pobreza não corres' Segmentação setorial Desemprego e Desemprego e Desemprego,
segmentação setorial segmentações segmentações setorial e
ponde ao anteriormente rdatado nos Gráficos 2a: 2b e 3. setorial e regional regional e discriminação
21 A título de ilustração. o índice de Gini para o Brasil era de 0.63. ao passo que Honduras e México
registram 0.53 e 0.50. respectivamente [ver Banco Mundial (1997) l. ~e: PNADde 1995.
202 203
..... - ....- Com relação ao impacto global sobre a pobreza, aquele registrado para a Gráfico 5D :a
~::: segmentação setorial é um dos menos significativos entre todos os considera- :::
""g ""
dos, de acordo com ambas as alternativas. Os Gráficos SC e SD mostram esses Impacto relativo de várias etapas ~e eliminação da ""
i'\
~ impactos relativos para as alternativas A e B respectivamente, ao passo que a Ta- subutilização e da sub-remuneraçao sobre a pobreza - ~
-<>
-<>
~ bela ASb no Apêndice estende esses resultados para todas as medidas de pobre- alternativa B "'"
"
~ za, conforme ambas as alternativas. ~ "
.;g -<>
Hiato médio de renda (P1) % 50 g
~
.~ 7.2 - O efeito do desemprego ~
~ 40 ~
Os Gráficos SA e SB também mostram que a eliminação do desemprego 30 ~
E
num mercado de trabalho setorialmente não-segmentado tem um impacto li-
20
mitado em termos absolutos, mas significativamente maior do que o da elimi-
nação da segmentação setorial entre os ocupados. O nível de pobreza muda de 10
11,9% para 10,2%, se usarmos a alternativa A e de 11,2% para 9,5%, na alternati- O
va B. Assim, apesar da taxa de desemprego de 6,7% em 1995, a inclusão de todo
esse contingente na população ocupada teria um impacto menor do que 2 pontos -10
percentuais no hiato de renda médio. -20
Vale mencionar que ambas as alternativas estão associadas a uma queda I
-30
Desemprego e segmentações Desemprego,
de 1,7 ponto percentual no PI. Em termos relativos, a abolição do desemprego Segmentação setorial. Desemprego e segmentação
setorial - etapa 2 setorial e regional segmentações setorial e
etapa 1
regional e discriminação
representa cerca de 70% do efeito da eliminação de todas as formas de subutiliza-
ção e sub-remuneração dos recursos humanos no mercado de trabalho, de acordo Fonte: PNAD de 1995.
com a alternativa A (ver Gráfico SC). A proporção análoga obtida da alternativa B
é de 42% (ver Gráfico SD). A Tabela ASa estende esses resultados para todas as
Gráfico 5e outras medidas de pobreza computadas.
Em resumo, o impacto da eliminação do desemprego é limitado em termos
Impacto relativo de várias etapas de eliminação da absolutos. Por outro lado, em termos relativos, seu impacto é o mais relevante
subutilização e da sub-remuneração sobre a pobreza - entre as formas alternativas de subutilização e sub-remuneração de recursos
alternativa A humanos considerados.
Hiato médio de renda (P1) %
70 7.3 - O efeito da segmentação regional
60
Os Gráficos SA e SB também mostram o impacto da segmentação regional
50
obre a pobreza. O Gráfico SA mostra uma queda limitada de somente 1 ponto
40 percentual, caindo de 10,2% para 9, 1% na diferença média de renda, conforme a
30 alternativa A, e o Gráfico SB mostra uma queda análoga de 9,5% para 8,2% para
20 a alternativa B.
10
Em termos relativos, a segmentação regional também representa uma das
I I O principais fontes de imperfeição no mercado de trabalho, já que seu impacto
I
I J-- -10
-20
está próximo de 42%, conforme alternativa A, e 33,6% para a alternativa B, do
impacto sobre a pobreza depois da eliminação de todos os tipos de imperfeições
~ ~ ~ ~ .J -30
do mercado de trabalho (ver Gráficos SC e SD). A Tabela A5a estende esses re-
Segmentação setorial. Desemprego e segmentação Desemprego e segmentações Desemprego,
etapa 1 setorial. etapa 2 setorial e regional segmentações setorial e sultados para todas as outras medidas de pobreza computadas, em termos ab-
regional e discriminação
solutos e relativos, respectivamente.
Fonte: PNAD de 1995.
204 205
'õ; 7.4 - O efeito da discriminação resultados parecidos com aqueles de 1995, conforme a alternativa B. O impacto
E "lobalde ambos os anos está próximo de 3 pontos percentuais. Por outro lado, ~
~ Os Gráficos 5A e 5E também ajudam a acessar o impacto da discriminação
~onformea alternativa A, o impacto demonstra ser menor em 1987 (ver outras ~
~ P?r sex~ e ~or s?bre a pobreza no mercado de trabalho. No caso da discrimina_
medidasde pobreza na Tabela A6 no Apêndice, para 1987, e na Tabela 3, para os ~
1. çao, a e~lm~~aça?dessa imperfeição não parece melhorar o nível de pobreza de
" forma slgmflCatlva em ambas as alternativas. De fato, ao eliminar a discrl'm' resultados de 1995). 1.
~ - 'I' d ma. "
:i1 çao utllzan o a alternativa A, a pobreza aumenta significativamente de 9 10/ Deacordo com os Gráficos 6B e 6C, os impactos da segmentação regional e ~
~
.~ para ,96'Y< G 'f ' ,10
como mostra o ra ico 5A. De acordo com a alternativa B, o impacto
0, é especialmente da discriminação são responsáveis pelos diferentes resultados ~
~ quase nulo, ~~m o nível de pobreza caindo levemente de 8,2% para 8, I%, como
mostra o Graflc~ 5B. Quer dizer, o mesmo padrão negativo e significativo con-
conforme a alternativa A, e semelhantes conforme a alternativa B (ver Gráficos
SAe 5Bpara os resultados de 1995). Ambos os resultados atribuídos à discrimi-
naçãosão negativos para 1987, o que sugere um mecanismo diferenciado asso-
1
~
f?rn:e, a alternatIva A prevalece em termos relativos, bem como o resultado in. <:
slgmflCante da alternativa B (ver Gráficos 5C e 5D para esses resultados), dado à eliminação dessa imperfeição num contexto de nível de pobreza relati-
vamente baixo. Finalmente, a eliminação do desemprego tem um impacto mais
limitado sobre a pobreza em 1987, conforme ambas as alternativas, como era
8 - Sensibilidade temporal esperado,já que a taxa de desemprego era menor do que no ano de 1995. Esses
Para determinar até que ponto a influência do mercado de trabalho sobrea resultados separados para o impacto sobre a pobreza em 1987 estão ilustrados
pobreza é uma característica estrutural da sociedade brasileira a PNAD de 1987 para outras medidas de pobreza na Tabela A7 (ver Apêndice) e podem ser com-
é util~z~dapara obter os resultados análogos aos comentados n~seção anterior.22 parados aos de 1995 pela Tabela A5a.
O Graflco 6A mostra que o impacto global de nossa simulação para 1987 registra A PNADde 1987 também nos permite adotar uma relação alternativa entre
desemprego e subutilização, Essa alternativa, como descrito anteriormente,
Gráfico 6A considera períodos breves de desemprego compatíveis com um uso eficiente
dosrecursos humanos. Assim, em vez de eliminar todo o desemprego, esse pro-
Impacto global da subutilização e da sub-remuneração cedimentoelimina o desemprego de duração maior do que três meses.
sobre a pobreza Gráfico 68
%
14
_ Valores observados _ Valores simulados A _ Valores simulados 8 Nível de pobreza registrado para as várias etapas de
12
eliminação da subutilização e da sub-remuneração -
alternativa A
10
%
12
-10
-8
-6
-4
o
1987 (3 meses) -2
Fonte: PNADs de 1987 e 1995.
Desemprego e Desemprego,
o
Segmentação setorial Desemprego e
segmentação setorial segmentações segmentações setorial e
22 As PNADs de 1992 .até a presente data não investigam a duração do período de desemprego. setorial e regional regional e discriminação
Algumas PNADs anteno~es a ~990 ~ão investigam a cor dos indivíduos. Logo. a PNAD de 1987é
uma das poucas alternalivas dlspomveis que contêm todas as informações de que precisamoS.
206 207
Gráfico 6C
'õ; 9 • Sensibilidade regional ~
~~ j as duas seções anteriores, o impacto das ineficiências do mercado de tra- ~
~ Ní.ve~de pobreza reg.i~tra~o para as várias etapas de b.11hosobre o nível de pobreza foi investigado para o Brasil como um todo. ~
~ ehmlnaçao da subutlhzaçao e da sub-remuneração - Entretanto, essas imperfeições podem adquirir importância diferenciada con- â.
â. alternativa B
forme o grau de desenvolvimento regional. Esta seção oferece algumas evidên- ~
~"
~ % das a esse respeito, a ponto de apresentar estimativas de impacto das ineficiên- li
] 12
.::;> cias do mercado de trabalho sobre a pobreza em duas subamostras correspon- ~
iG
<::>
- 10
dentes às regiões Nordeste e Sudeste. Essas evidências estão relatadas nos Grá- 1
ficos7A e 7B, para as alternativas A e B, respectivamente, e estendida para todas ::ê
- -- as medidas de pobreza computadas nas Tabelas A8a e A8b do Apêndice.
-- - 8
Esses gráficos demonstram primeiramente que, conforme a alternativa A,
- -- -- -- -- - 6 até mesmo em termos absolutos, o impacto das ineficiências no mercado de tra-
-
. -- -- -- -- - 4
balho tende a ser maior no Sudeste que no Nordeste (2 e 1,3 pontos percentuais,
respectivamente). Por outro lado, vemos que, de acordo com a alternativa B, o
impacto tende a ser maior no Nordeste que no Sudeste, em termos absolutos.
- -- -- -- -- - 2
Com relação ao nível de pobreza iniciaL o impacto no Sudeste ainda pode ser
I I
O considerado maior até mesmo de acordo com essa alternativa.
Valores observados Segmentação setorial Desemprego e Desemprego e Desemprego,
segmentação setorial segmentações segmentações setorial e Em termos da contribuição de várias partes das imperfeições do mercado
setorial e regional regional e discriminação
de trabalho, os Gráficos 7C e 7D apresentam algumas diferenças marcantes e si-
Fonte: PNAD de 1987.
milaridades regionais. Primeiro, de acordo com a alternativa A, considera-se
~ Nível de pobreza registrado para as várias etapas de Impacto relativo de várias etapas de eliminação da
~ eliminação da subutilização e da sub-remuneração: subutilização e da sub-remuneração sobre a pobreza -
! alternativa B - 1995 alternativa B
"5
~ Hiato médio de renda (Pl) %
g -------------------------------
.!!>
25 Hiato médio de renda (Pl) %
60
_ Nordeste _Sudeste
~ _ Nordeste _ Sudeste
50
40
30
20
10
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o 1.10
Segmentação ,etorial Desemprego e Desemprego e Desemprego. Segmentação setorial Desemprego e Desemprego e Desemprego.
segmentação setorial segmentaçõ€s segmentaçóes setorial e segmentação setorial segmentaçóes segmentações setorial e
setorial e regional regional e discriminação setorial e regional regional e discriminação
50 , O • Conclusão
O candidato naturalmente responsável pelo nível de pobreza registrado
o no Brasil é o mau funcionamento do mercado de trabalho, em termos de sub-
remuneração e subutilização do fator trabalho. Quando essa possibilidade foi
1 -50 Vestigada para o Brasil em 1995, descobriu-se que, se as condições do sego
nlO médio do mercado de trabalho brasileiro fossem estendidas a todos os
'mentos, o efeito sobre a pobreza não seria muito significativo (a diferença
'-----------'---------'- ....L .....J.l00
Segmentação setorial Desemprego e Desemprego e Desemprego. ,édia da renda cairia dos 12,1 % observados para 9,6%). Até mesmo se essa con-
segmentação setorial segmentaçÕ€S segmentações setorial e
setorial e regional regional e discriminação .Ç'ãofosse estendida somente àqueles abaixo da média, o efeito sobre a pobreza
ao seria tão elevado (Pl não cairia para 8,1 %).
Fonte: PNAD de 7995.
-
210 211
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;",.,.',.~--- Comparados a outras pOlíticas alternativas para reduzir o nível de pobreza, e) associar os desempregados de cada grupo à média dos resíduos contidos
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1!
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esses resultados equivalem a um aumento de 20% ou 40% na renda média ou no grupo correspondente. O valor corresponde ao seu resíduo imputado (ul).
CQ
ê uma redistribuição de renda para produzir o mesmo padrão registrado pelo Mé- Isto é, se o desempregado pertence ao primeiro grupo da distribuição dos de- ê
~ xico ou por Honduras (dependendo da alternativa implementada). Alternati- sempregados, damos a ele o valor médio dos resíduos contidos no primeiro gru- ~
t
'" vamente os resultados também são equivalentes ao impacto simulado de um po da distribuição dos resíduos. !
~ aumento de três a cinco anos sobre o nível de escolaridade da força de trabalho. A seguir são apresentadas as tabelas AI a A8d. :5
~
l Dentre os itens do efeito da sub-remuneração e da subutilização do traba- g
,g lho, vale mencionar que o efeito do desemprego é extremamente limitado em Tabela Al
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termos absolutos, apesar de, em termos relativos, ser o principal efeito sobre a ~
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pobreza. Esses resultados são mantidos nas duas subamostras regionais anali- Estimativa da magnitude do desemprego e seu impacto ="
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Tabela A2a
PRPPOR- HIATO HIATO MÉDIO PRPPOR- HIATO HIATO MÉDIO PRPPOR- HIATO HIATO MÉDIO
ÇAO DE MEDIO QUADRÁTICO ÇAO DE MEDIO QUADRÁTICO ÇAO DE MEDIO QUADRÁTICO
POBRES DE RENDA DE RENDA (P2) POBRES DE RENDA DE RENDA (P2) POBRES DE RENDA DE RENDA (P2)
(PO) (Pl) (PO) (P1) (PO) (P1)
Valores observados 12,0 5,5 4,1 28,2 12,1 7,9 40,1 19,2 12,4
Valores simulados
Todos na média (A) 8,4 3,7 2,6 23,3 9,6 5,8 37,0 16,5 9,9
Movendo somente os abaixo da média (8) 7,3 3,3 2,4 20,1 8,1 5,0 31,9 14,0 8,5
+1 ano de educação 10,4 5,3 3,9 24,9 11,4 7,4 37,3 18,1 11,7
+ 3 anos de educação 9,0 4,6 3,6 22,0 9,8 6,4 33,3 15,8 10,1
+ 5 anos de educação 7,5 4,2 3,4 18,8 8,4 5,6 29,1 13,5 8,7
+ 10 anos de educação 5,2 3,4 3,0 11,3 5,6 4,1 18,0 8,6 5,8
PRPPOR- HIATO HIATO MÉDIO PRPPOR- DIFE~EN- HIATO MÉDIO PRPPOR- HIATO HIATO MÉDIO
ÇAO DE MEDIO QUADRÁTICO ÇAO DE ÇA MEDIA QUADRÁTICO ÇAO DE MEDIO QUADRÁTICO
POBRES DE RENDA DE RENDA (P2) POBRES DE RENDA DE RENDA (P2) POBRES DE RENDA DE RENDA (P2)
(PO) (Pl) (PO) (Pl) (PO) (P1)
Valores observados 12,0 5,5 4,1 28',212,1 7,9 40,1 19,2 12,4
Valores simulados
Todos na média (A) 8,4 3,7 2,6 23,3 9,6 5,8 37,0 16,5 9,9
Movendo somente os abaixo da média (8) 7,3 3,3 2,4 20,1 8,1 5,0 31,9 14,0 8,5
Leitura e escrita 11,6 5,5 4,0 27,5 12,0 7,8 39,4 19,1 12,3
Primário 9,5 4,7 3,6 24,7 10,4 6,7 36,8 17,1 10,8
Médio 7,2 4,0 3,3 19,3 8,2 5,5 31,2 13,8 8,6
Secundário 5,4 3,4 3,0 13,2 6,0 4,3 22,7 9,9 6,4
Universitário 3,8 2,9 2,7 6,9 3,9 3,3 10,3 5,4 4,1
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214 215
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l'Cl ê: 1Gn es- Banco Mundial (7992) e PNAD de 7995.
'ti .!!! ~- A distribuição é referente a 7989.
de renda
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Desigualdade e pobreza no Brasil I ~
Tabela ASa
PRpPOR. HIATO HIATO MÉDIO PRpPOR. HIi\TO HIATO MÉDIO PRpPOR. HIi\TO HIATO MÉDIO
ÇAO DE MÉDIO QUADRÁTICO ÇAO DE MEDIO QUADRÁTICO ÇAO DE MEDIO QUADRÁTICO
POBRES DE RENDA DE RENDA (P2) POBRES DE RENDA DE RENDA (P2) POBRES DE RENDA DE RENDA (P2)
(PO) (P1) (PO) (Pl) (PO) (Pl)
Valores observados 12,0 5,5 4,1 28,2 12,1 7,9 40,1 19,2 12,4
Valores simulados
Segmentação setorial 11,0 5,4 4,0 26,611,9 7,7 39,4 19,0 12,1
Desemprego e segmentação setorial 9,3 4,1 2,8 24,0 10,2 6,2 36,5 16,9 10,4
Desemprego e segmentações setorial e
regional 7,9 3,5 2,5 22,S 9,1 5,5 36,1 15,9 9,5
Desemprego, segmentações setorial e
regional e discriminação 8,4 3,7 2,6 23,3 9,6 5,8 37,0 16,5 9,9
Movendo somente os abaixo da média (B)
Segmentação setorial 10,4 5,1 3,8 25,3 11,2 7,2 37,S 17,9 11,4
Desemprego e segmentação setorial 8,8 3,9 2,7 22,7 9,5 5,8 34,8 15,9 9,8
Desemprego e segmentações setorial e
regional 7,2 3,2 2,3 20,S 8,2 5,0 32,7 14,2 8,5
Desemprego, segmentações setorial e
regional e discriminação 7,3 3,3 2,4 20,1 8,1 5,0 31,9 14,0 8,5
Fonte; PNAD de 1995.
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Desigualdade e pobreza /10 Brasil I oc;
TabelaA6
Linha de pobreza de R$ 25
Valores simulados
Linha de pobreza de R$ 50
Valores simulados
(C()I1,ilu/(/('/io)
- -- -- -- -
PROPORÇÃO DE POBRES HIATO MÉDIO DE RENDA
HIATO MÉDIO QUADRÁTICO DE RENDA (P2)
(PO) (Pl)
Linha de pobreza de R$ 75
Valores simulados
"
Nível de pobreza das várias etapas da eliminação da subutilização e sub-remuneração - Nordeste
e Sudeste: alternativa A
NORDESTE SUDESTE
Linha de pobreza de R$ 25
Valores simulados
Desemprego e segmentações setorial e regional 19,5 8,1 5,1 3,4 1,8 1,4
Desemprego, segmentações setorial e regional e discriminação 21,3 8,9 5,6 3,8 1,9 1,5
Linha de pobreza de R$ 50
Valores observados 50,3 23,1 14,8 16,7 6,7 4,5
Valores simulados
Segmentação setorial 49,0 22,9 14,5 15,2 6,5 4,4
(conti/lua)
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1\""
(continuação)
Segmentação setorial
Impacto relativo das várias etapas da eliminação da subutilização e sub-remuneração sobre a pobreza
- Nordeste e Sudeste: alternativa A
NORDESTE SUDESTE
Linha de pobreza de R$ 25
61,5 26,6 20,2 30,0 11,8 6,9
Segmentação setorial
Desemprego, segmentações setorial e regional e discriminação -71,9 -61,2 -36,2 24,7 15,9 8,9
Linha de pobreza de R$ 50
(continua)
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't-
Níve' de pobreza das várias etapas eliminação da subutilização e sub-remuneração - Nordeste e
Sudeste: alternativa B
NORDESTE SUDESTE
Linha de pobreza de R$ 25
Valores simulados
Desemprego e segmentações setorial e regional 17,6 7,2 4,7 3,1 1,7 1,4
Desemprego, segmentações setorial e regional e discriminação 17,9 7,4 4,8 3,2 1,7 1,4
Linha. de pobreza de R$ 50
Valores simulados
(continua)
Mercado de trabalho e pobreza no Brasil I N
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"
NORDESTE SUDESTE
Linha de pobreza de R$ 25
Desemprego e segmentações setorial e regional 22,5 25,1 22,3 24,3 14,0 8,0
Desemprego, segmentações setorial e regional e discriminação -5,4 -5,8 -6,4 -4,0 -1,6 -1,0
Linha de pobreza de R$ 50
(continua)
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distribuição de salários
no Brasil:fatos
estilizados para as
décadas de 80 e 90*
Naércio Menezes-Filho**
Reynaldo Fernandes**
Paulo Picchetti**
1 . Introdução
Recentemente vem ocorrendo um interesse renovado acerca do papel das
mudanças tecnológicas no mercado de trabalho, estimulado por uma série de
ventos. Diversos comentaristas têm apontado um grande crescimento da desi-
ualdade da renda na Inglaterra e nos Estados Unidos (e em menor escala em
utros países europeus), pelo qual a tecnologia é a grande culpada. I O argu-
mento geralmente utilizado é que o rápido aumento da remuneração relativa
do trabalhadores qualificados, acompanhado por um aumento das qualifica-
ões educacionais, foi gerado fundamentalmente por choques de demanda as-
ciados à revolução da informática.
Este artigo é uma primeira tentativa de investigar essa questão dentro do
ntexto brasileiro. Isto é relevante por diversas razões. Uma das principais ca-
r cterísticas da economia brasileira é a grande amplitude da distribuição de sa-
árias e renda. Um estudo realizado por Psacharopoulos (1991), por exemplo,
UlOstraque entre 56 países do mundo o Brasil apresenta a maior desigualdade.
proporção da renda apropriada por 10% das fan~ílias mais ricas era de cerca de
O no Brasil, no início dos anos 80, enquanto os 40% mais pobres ficaram com
nas 7%.2
Osautores agradecem a Renata dei Tedesco pela coleta de dados e a Amanda Gosling. John Van
nen ~ participantes de seminários na EPGE-FGV e no IPEA (Desigualdade e Pobreza) por seus
1 lllanos. .
DoDepartamento de Economia da USP.
er Fr~eman e Katz ( t 997) para algumas comparações internacionais. e Johnson ( t 997) para
a exphcação interessante.
~ntmeroeqUiValente para os Estados Unidos era (23% e 17%). para o Reino Unido (23%e 18%).
n'a (34% e 16%) e Nepal (46% e 12%).
232 233
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,---- Além disso, Squire e Zou ( 1998) apresentam novos dados sobre os coefici- Brasilesteja relacionada à questão da educação. O Brasil é um país que apresenta
~<Xl entes de Gini que colocam o Brasil no topo da lista, com um coeficiente médio uIl1 alto nível de desigualdade educacional. cujos retornos sobre educação são tam- '"~
lÊ (ao longo do tempo) de 57,8 relativamente a uma média amostrai (DP) de 36.2 bém muito elevados, quando comparados a outros países [ver iam e Levinson ~
~ (9,2). Finalmente, há importantes diferenças institucionais entre o Brasil e a (1992)l. Barros (1997), por exemplo, estima que, caeteris paribus, a educação ex- ~
! maioria dos países europeus e da América do Norte, especialmente quanto às plicade 35% a 50% da média da desigualdade salarial no Brasil nos anos 80.3 ~
~ suas taxas de inflação extremamente altas durante os anos 80 e a grande pro- Houve também evidentes aumentos na desigualdade verificada no Brasil ~
~
] porção de pessoas empregadas nos setores informais da economia. Esses aspec- desdeos anos 60. Bonelli e Ramos (1995), por exemplo, mostram que o coefici- ~
.~
<::l
tos fazem com que um estudo comparativo entre a experiência brasileira e as
tendências dos mercados de trabalho na Europa e nos Estados Unidos seja inte-
ente Gini aument~u d e 0,500 em 1960 para 0,568 em 1970, 0,580 em 1980 e f~
0,615em 1990. Ha um consenso muito menor so bre as causas subjacentes a ::
ressante. esse rápido aumento da desigualdade. Em um estudo fundamental. Langoni .2
O nível e a dispersão salarial de um país numa determinada época irão de- (1973) conclui que a educação foi responsável por aproximadamente 58% do ~
"'"
pender, via de regra, da distribuição das características dos trabalhadores, tais aumento da desigualdade entre 1960 e 1970.4 Alguns outros estudos, entretan- ~
como educação, esforço, experiência, outras habilidades observadas e 10, enfatizam o papel de instituições, como as políticas salariais do governo, o lÊ
-não-observadas e das taxas de retomo a essas características. Esses retornos enfraquecimento dos sindicatos etc. [Cacciamalli (1997) l. Mais recentemente, :~
irão, por sua vez, depender da distribuição da demanda por tais características. alguns estudos esvaziaram o papel da educação na crescente desigualdade, en- ~
~
Fatores institucionais, tais como sindicatos e salário mínimo, também podem fatizando, em vez disso, efeitos macroeconômicos, como inflação e crescimento :~
afetar a estrutura de salários. do PIB.5 ~
Com relação à evolução das desigualdades salariais ao longo do tempo, po- A principal evidência brasileira que enfatiza o papel dos efeitos de agrupa- {; ~
de-se pensar que ela dependa do efeito tempo, ciclo de vida e efeito coortes [ver mento está no estudo de Lam e Levinson (1992). Esses autores investigam a re- ,:g
Gosling, Machin e Meghir (1998) l. Os efeitos do tempo (ou macro) incluem as laçãoentre a distribuição dos anos de escolaridade e a desigualdade da renda no ~
alterações no ambiente econômico, tais como fatores institucionais, inflação e ~
Brasile documentam um aumento significativo nos anos médios de escolarida- -.:
taxas de desemprego que afetam a força de trabalho como um todo. Retornos de para os agrupamentos de indivíduos nascidos mais recentemente, além de
crescentes à educação, que afetam todos os indivíduos numa determinada épo- uma queda na variância. Esse fato, juntamente com uma crescente variância
ca, também estão sob essa alínea. Efeitos de experiência irão refletir, por exem- residual e retornos à escolaridade de acordo com a faixa etária, significa que a
plo, uma crescente dispersão de salários no ciclo de vida, quando associados a desigualdade salarial tende a aumentar no Brasil numa determinada época.
uma população crescentemente mais velha. Finalmente, os efeitos de agrupa- Este artigo também pretende analisar a evolução das desigualdades salari-
mentos refletem as mudanças permanentes na composição da população devi- aisnos anos 80. Pretendemos iniciar investigando a hipótese de que houve um
do a diferenças nas características dos novos ingressantes, vis-à-vis os indivíduos aumento na demanda relativa por trabalhadores com formação universitária,
que estão deixando o mercado de trabalho (tais como o tamanho do agrupa- como foi observado em outros países. Se, por exemplo, avanços tecnológicos
mento e o nível. qualidade e desigualdade de escolaridade). POSsuemum viés voltado para os trabalhadores mais qualificados, então, dadas
Gosling, Machin e Meghir (1998), por exemplo com o uso de dados do Rei- asofertas relativas, devemos observar um aumento nos retornos aos altos níveis
no Unido, identificaram um aumento na dispersão salarial de trabalhadores
das gerações mais recentes (condicionados pelos efeitos da idade e do tempo),
que pode estar refletindo um aumento da diversificação da educação. Mais ain- 3. Barros ( 1997) também estima que o setor da atividade é responsáveL caeteris paribus. por apro-
Ximadamente 15% das desigualdades no BrasiL que a segmentação formalJinformal é responsável
. - da, esses autores mostram que os retornos sobre educação aumentaram nas no-
porcerca de 7%, que as diferenças regionais ~espondem por 2% a 5%, que a discriminação por sexo
vas coortes e que a dispersão salarial tende a crescer ao longo do ciclo de vida. Contribuicom 5%. a racial com 2%, e que 5% são retornos por experiência.
principalmente para os indivíduos com baixos níveis de educação. 4 . Dosquais 35% são devidos às mudanças de composição e 23%, às mudanças de retorno econô-
miCOà educação.
Existe extensa literatura acerca das razões essenciais que geraram um alto
5 Bonnelli e Ramos (1995) afirmam que a educação é responsável por cerca de 15% do aumento
nível de desigualdade de renda no Brasil. As explicações vão do histórico do país da desigualdade entre 1977 e 1989 (principalmente devido aos retornos crescentes). Aproximada-
à composição da força de trabalho e aos fatores institucionais, tais como se~- ~ente.5~% da variação permaneceram sem explicação. Fishlow et alii (1993), acreditam que os di-
mentação de mercado de trabalho e discriminação [para uma análise ma~s erenclals de educação diminuíram entre 1976 e 1981 e aumentaram entre 1981 e 1985
(especialmente para os individuos com ensino superior completo). Lam e Levinsohn ( 1992) mos-
aprofundada, ver Cacciamalli (1997) l. Isso posto, parece inevitável conclUir tram que os retornos sobre escolaridade caíram entre 1976 e 1985. especialmente entre 1976e 1982.
que qualquer explicação razoável para a desigualdade de renda e salárioS no
234 235
'Oi de educação. P?rtanto, o principal objetivo deste artigo é analisar o compor abemos que, devido à identificação do problema, dos 18coe~icie~tes ~sso- ~
~ mento da desigualdade salarial no Brasil nas décadas de 80 e 90 C . I s aoStermos de terceira ordem, apenas nove das suas combmaçoes hnea- "
~ cross-sections repetidas e.uma especificação desenvolvida por MaCurdy ~ M/ acO . -
podem ser identificadas. Portanto, escolhemos a segumte equaçao para ~
~
] (1991) e usada, po~Goshng, Machin e Meghir ( 1998), é possível, a princípio, plicaros dados: j.".
~ parar ~as tendenClas os efeitos temporais (construídos com média zero ao lon l
2 • Metodologia econométrica
Como já. mencionado, os efeitos de tempo, agrupamento e faixa etária po-
.~
• dem parecer importantes na determinação do aumento das desigualdades sala-
riais. Infelizmente, é impossível desmembrar os seus efeitos distintos devidoa Esse fato deve ser mantido em mente, no momento da interpretação dos ~
um problema de identificação fundamental. Como mostram Heckman e Robb resultados das regressões. O termo de erro em (3) inclui efeitos temporais: ~
.~
:::
(1985), coortes de nascimento (c) são completamente determinadas pela faixa ~
etária (a) e por uma tendência de tempo (t): u=uit +Ut (4) ~
~
c=t-a (I
jlle são construídos de forma ortogonal às funções idade e tendência, ou seja, i
nãoincluem nenhuma tendência. Todas as tendências dos dados ficarão, então, t
Tentamos modelar a equação salarial de forma parcimoniosa, seguind refletidas nas variáveis idade e tendência. '"
MaCurdy e Mroz (1991) com as funções de tempo, idade e agrupamento: Na investigação empírica a seguir, agruparemos os dados em células de
ducação, ano e idade, considerando-se que todas as variáveis de interesse são
/w = a+A(a)+T(t)+C(c)+R(a,c,t)+u (2 discretas. Então, computaremos diferentes percentis das amostras das distri-
uições salariais e estimaremos modelos das regressões lineares (ponderadas)
As funções R foram incluídas na tentativa de se capturar as interações en- para os dados agrupados para cada quantil e grupos educacionais separada-
tre idade, tempo e agrupamentos, como a alteração de retornos de experiência mente, como em Chamberlain (1993). Se todos os percentis evoluírem da mes-
ao longo do tempo. Ao explorar as interações de terceira ordem entre agrupa- mamaneira (exceto uma mudança por intercepto), então a alteração da disper-
mento, tempo e idade: ão alariaI pode ser explicada pelas mudanças de preços e/ou composição ob-
rvadas das características de habilidade. A mediana define a localização da
di tribuição e os percentis em torno dela descrevem alterações na dispersão. Te-
mo , portanto:
(5)
qem estatística estimada é dada por: A análise preliminar dos dados conta uma história interessante. O Gráfi- '"
.~
o I mostra o comportamento da desigualdade medida pela razão entre os ren- ~
V(q) = q(l-q)
dimentos do trabalhador no nonagésimo e no décimo percentis (90/10) no pe- {;;
,ê
(6 ríodoamostraI (n,ote que os trabalhadores não são os mesmos ao longo do tem- .~
2
Nf(q)
pO).Podemos verificar que a desigualdade parece ter permanecido basicamente ~
onstante, apesar de um leve aumento no índice, se considerarmos os períodos ~
~
Estimamos f( q) (densidade condicional) usando Gaussian Kernel com iniciale final. Esse comportamento é muito preocupante, pois, apesar das in- '3,
amplitude igual à metade do desvio-padrão dos salários para cada célula. tensas mudanças pelas quais o Brasil passou nesse período, parece-nos que 1
Tentamos então impor alguma estrutura na distribuição salarial por meio existeum conjunto estrutural de fatores que faz com que a dispersão salarial '<:
de um estimador de distância mínima. O procedimento da distância mínima
escolheu P para minimizar: Gráfico 1
(7 Diferencial 90/10
--------------------------- 2,9
onde q são as ordens estatísticas estimadas e Z é um conjunto de restrições line-
ares.
2,8
Sob a hipótese nula de que as restrições são válidas, o valor minimizado se-
gue uma distribuição qui-quadrado com graus de liberdade iguais ao númer 2,7
de restrições. Como isso equivale a mínimos quadrados ponderados, o procedi-
mento da regressão agrupada nos dará estimativas consistentes, e tudo o que
2,6
. ~emos de fazer para construir o teste estatístico é somar os quadrados residuai
ponderados, isto é, os percelltis empíricos menos os efeitos de idade e tendên- 2,5
cia, e os efeitos ortogonais de tempo.
---------------------------- 2,4
3 - Dados
Neste artigo usamos um conjunto de dados particularmente rico, que con- ----------------------------- 2,3
siste de cross-sections repetidas de uma pesquisa domiciliar anual, realizada no' I I I I I I I I I I I I I I I I I 122
meses de setembro pelo IBGE, oferecendo aproximadamente 125 mil dados in- 1980 81 82 83 84 85 86 87 88 89 1990 91 92 93 94 95 96 97'
dividuais para cada ano. Dos dados originais mantivemos apenas os relatiVO'
238 239
não se altere. Os números mostram que alguém no topo da distribuição (com Gráfico 3 - .,-.. -.•..-
~ ~ -
'" um salário equivalente a R$ 2 mil em 1997) ganha aproximadamente 13 vezes
<i'i
il mais do que alguém na base (R$ ISO).
~"
Diferencial 90/1 O entre grupos educacionais ~
i:I
~ O Gráfico 2 mostra os retornos econômicos à educação no Brasil, ou seja, o ~
! diferencial em termos salariais entre trabalhadores com diferentes níveis de es- __ --------------------------- 2,5
~
"'"
i'i
j colaridade.6 Podemos notar que a diferença entre os rendimentos médios dos ______________________________ 2A ~
~
~ trabalhadores com cinco a oito anos de estudo, vis-à-vis aqueles com menos de
.~ ,..... , ~
~ cinco anos de escolaridade (ed2-ed I ), tem declinado ao longo do tempo. O mes- / \Ed4 ~
2,3 ~
mo tem ocorrido com os rendimentos diferenciais daqueles com nove a 11 anos ti
de estudo em relação a quem tem cinco a oito (ed3-ed2). O único diferencial 2
2,2 -"!,
educacional médio que tem crescido no Brasil é aquele associado ao ensino su- ~
~
perior (ed4-ed3). 2,1 <Q
<:>
l::
ou seja, de uma vez e meia. Já o Gráfico 3 mostra que o diferencial entre os gru-
______________________________ 1,8 ~
~
/'\~ Z '\/~~
Ed'!;!d3 ~ ~O 9
__________________________ 0,7
7~ '
('C/ m 0,8
0,6
O)
:::;;0.6
, •...., 0,5
=:~ '.
0A
~~ -........./' 0.5
Ed3-Ed2 ~
------------ 0,4 0,3
'--
:
--------- 0.3
0,2
I I I I ! I I I I I I I I I r I ) I I I -' 0,2
77 78 79 1980 81 82 83 84 85 86 87 88 89 1990 91 92 93 94 95 96 97 0,1
- 77
l.-.J
78
I
79 1980 81
I I
82
I
83
I
84
I
85
I
86
I
87
I
88
I
89
I I
1990 91
I
92
I
93
I
94
I
95
I
96
I 'O
97
6 Diferencial bnllo entre o salário médio de alguém com nove e II anos de estudo e alguém col11
cinco e oito anos, por exemplo.
241
240
'i; é incompatível com os movimentos observados na oferta relativa desses grupo bela1 c .. ~- -
'"c"
l'!
<Xl
educacionais, pois esta se comporta de maneira oposta aos diferenciais salariai <>o
Educação
até 4 anos de estudo ~
g O Gráfico 5 mostra que os diferenciais associados à idade, denominad '"
1:\
~ aqui retornos à experiência, tenderam a ficar basicamente constantes nesse p _ 10th 25th 50th 75th 90th ~
.i<:
! ríodo, a não ser no grupo educacional mais baixo, ou seja, para aqueles indiví- -0.523 -0.082 0.348 0,806 1.202 '":g
~
j duas com menos de cinco anos de estudo, que tiveram esses diferenciais sub _ ~
:s tancialmente aumentados no período. 0.027 0.027 0.026
0.031 0.025 ~'"
~ 0,078 0,064 ~
Gráfico 5 0.565 0.180 0,017 '5
:s
0,074 0,082 0,081 0,081 ~
0,091 ~
Retornos à educação no tempo: idade = 40
0,462 0,418
l'!
<Xl
-1,316 -0,822 -0,672 g
Tendênciaao quadrado
.~
0.085 0,094 0,092 0,093 ~
0,103 s;
0.167
~
0,472 0,311 0.271 0.187 ,g
----------------------------- 0.9 endência ao cubo .~
Iw40ed21 .;:;
Iw40ed43 0,033 0,033
",.-
------------------------- .•.
.•..•..•....
0,036 0,030 0,033 .~
S
0,8 '".;g
0,181 0,299 0,384 0,458
Idade 0,182 '""'"
242 243
- .. ~.~_.,~-"".....•..-
-{ "
Tabela 2
:;::
'" <::>
"
<Xl Educação entre 5 e 8 anos de estudo '""
<:> Educaçãoentre 9 e 11 anos de estudo ~
"'" ~
~ 10th 25th 50th 75th 90th 10th 25th 50th 75th 90th .;g'"
"'a"
0,042 0,399 0,825 1,266 1,696 ~'"
~" Constante Constante 0,419 0,863 1,312 1,808 2,214 ~
~
'":::
,~
iG
0,024 0,025 0,023 0,024 0,029 0,036 0,030 0,028 0,030 0,026
~'"
"
'""'-
Cl
Tendência 0,292 0,256 0,271 0,197 0,049 Tendência 0,034 -0,010 0,019 -0,104 -0,191 @
iG
0,080 0,079 0,076 0,078 0,091 0,110
~
0,094 0,088 0,091 0,103 ~
~
Tendência ao quadrado -1,111 -1,092 -0,996 -0,837 -0,662 Tendência ao quadrado -0,875 -0,718 -0,644 -0,453 -0,299 '<":>"
0,091 0,089 0,086 0,088 0,101 0,120 0,104 0,098 0,101 0,113
.g"
:s!
:;;
Tendência ao cubo 0,441 0,441 0,387 0,321 0,296 Tendência ao cubo 0,375 0,296 0,256 0,187 0,137 ~
,ê
,~
:::
0,031 0,031 0,029 0,030 0,035 0,041 0,035 0,033 0,033 0,038 "''to"
.E
0,331 0,498 0,520 0,593 0,662 Idade ""
.;g
Idade 0,745 0,757 0,815 0,842 0,907
l~
0,061
0,052 0,052 0,051 0,052 0,069 0,060 0,056 0,059 0,065 1"<:
Idade ao quadrado -0,037 -0,132 -0,108 -0,116 -0,137 ade ao quadrado -0,221 -0,215 -0,209 -0,222 -0,255
0,038 0,038 0,036 0,038 0,044 0,049 0,042 0,040 0,042 0,046
Idade ao cubo -0,018 -0,002 -0,004 -0,004 0,000 de ao cubo 0,015 0,016 0,012 0,017 0,025
-
0,008 0,008 0,008 0,008 0,009
0,011 0,010 0,009 0,009 0,010
Tendência/idade 0,099 0,157 0,111 0,055 0,038 endência/idade -0,085 -0,073 -0,134 -0,121 -0,103
Tendência ao quadrado/idade
0,050
0,036
0,051
0,036
0,048
0,031
0,050
0,041
- -
0,059
0,043 e
ência ao quadrado/idade
0,068
0,045
0,059
0,028
0,056
0,031
0,058
0,027
0,064
0,023
Tendência/idade ao quadrado
0,012
-0,089
0,012
-0,115
0,011
-0,089
0,012
-0,074 -0,068
----dência/idade ao quadrado
0,015
-0,038
0,014
-0,019
0,013
0,009
0,014
0,013
0,015
0,002
Qui-quadrado (632) 995 785 776 794 1077 734 698 751 951
245
-/-"' ....--..
244
Tabela 4 Quanto à análise dos resultados, o Gráfico 6 mostra que o comportamento '"
~ diferenciais associados à educação ao longo do tempo permanecem bastan- ~
;'!
"" Mais de 12 anos de estudo laros, com a elevação dos retornos associados à educação superior, exempli- ~
iE
I ada aqui para os homens de40 anos de idade. O Gráfico 7, por sua vez, confir- ~
] 10th 2Sth 50th 75th 90th
ma que houve um aumento significativo nos retornos à experiência para o gru- ~'"
iS.
'"
{;
Constante 0,937 1,393 1,961 2,515 2,902 o educacional mais baixo, mesmo após controlar por efeitos cíclicos e tendên- <;;'!
.;g
ias na economia. Em contraste, o Gráfico 8 mostra que nada aconteceu com os ~
] 0,041 0,030 0,035 0,034 0,036
.!!>
g
diferenciais salariais associados à idade no grupo com educação superior. O
próximo passo na nossa agenda de pesquisa é examinar os fatores que podem
g
~
'5
Tendência -0,011 -0,046 -0,243 -0,561 -0,805
r responsáveis por esse comportamento diferenciado dos retornos à experiên- .2
0,124 0,113 0,100 0,097 0,103
~
d
ia entre os vários grupos e ucacionais. ~
;'!
Tendência ao quadrado -0,657 -0,553 -0,354 -0,071 0,393 O Gráfico 9 mostra claramente outra faceta da interação entre educação e ""
> 'periência, ou seja, o comportamento dos retornos à educação ao longo do ci- iE
0,141 0,125 0,111 0,108 0,114 lo de vida. Nele, os diferenciais de salários associados a uma idade maior cres- :~
~
m a uma taxa maior para os mais educados, em relação aos menos educados. {;
0,027 -0,066
Tendência ao cubo 0,288 0,234 0,174
Por exemplo, entre 25 e 55 anos, os salários crescem cerca de 3,5 vezes para :ª-
:::
0,049 0,043 0,039 0,038 0,040 queles com nível superior (de R$ mil para R$ 3.500 em valores de 1997), en- ~
uanto entre os menos educados o crescimento é de 50%, ou seja, de R$ 190 ~
.;g
Idade 1,106 1,216 1,215 1,106 1,157 ra R$ 290. Para aqueles com cinco a oito anos de estudo (fim do ensino funda- ,i;
0,032 0,5
Tendência ao quadrado/idade 0,052 0,040 0,037 0,029
Iw87edl
0,018 0,016 0,015 0,014 0,016 0,4
~ ~
Idade
Q Q " % Q m ~ ~ ~ °
246 247
~'"t"...•
~---- Gráfico 7
Gráfico 9
~
E
'Xl
1,5
0.5
I ! t
24 26 28 30
t
32
I
34
I I I ! I I I I lO I I I I I I I I I I I I I ! I I I I I I I -o 3
36 38 40 42 42 44 46 48 50 52 54 56 77 78 79 1980 81 82 83 84 85 86 87 88 89 1990 91 92 93 94 95 96 97 '
Idade
para R$ mil). Dessa forma, os trabalhadores com nível médio recebem no auge
Gráfico 8
da sua vida produtiva o equivalente a um trabalhador com nível superior no co-
meço da carreira.
Retornos à experiência por educação: 1997 Esses resultados são consistentes com teorias básicas de capital humano
[ver Farber e Gibons (1997) e Baker, Gibbs e Holmstrom (1994)].
------------------- 3.5
A última parte do artigo visa examinar o comportamento dos retornos à
educação ao longo do ciclo econômico. O Gráfico 10 mostra que, apesar de o sa-
---------------- 3
1áriomédio dos trabalhadores de vários grupos educacionais seguir movimen-
=:'
~7ed4 lO similares ao longo do tempo, pode-se perceber que há diferenças significa ti-
as entre os mesmos em alguns períodos. Por exemplo, no ano do Plano Cruza-
do (1986) o crescimento dos salários foi inversamente proporcional ao nível
educacional dos trabalhadores, efeito revertido entre 1987 e 1990. Após o Plano
~7ed3
Collor,houve uma queda muito acentuada dos diferenciais associados ao nível
~ 1,5
Uperior, sendo que após 1994 os movimentos são bastante similares.
=1
1w97ed2
Esse comportamento é ressaltado no Gráfico 11, em que os próprios dife-
renciais são analisados. Podemos perceber que há uma variação de cerca de 10%
1w97edl
-----------------------------._--_.- .••.•0,5 Paracima e para baixo nos retornos econômicos associados ao nível superior. O
---_ ..... --_ ..:._-_.
.. qUeprecisa ser examinado são os fatores que provocam esse comportamento.
•••••• ---
!
I ! I I I I I I ! ! ...J O Pode ser que isso reflita um comportamento genuíno da interação entre oferta e
24 26 28 30 32 34 36 ~ ~ G G 44 % ~ m ~ 54 56
dernanda por qualificação ou (mais provável em nosso entender) um efeito
Idade
cornposição. Esse efeito teria lugar, por exemplo, se no período de recessão as
249
248
.- ...-- .... ---- Gráfico 10 lrmas demitem os trabalhadores menos habilidosos o que poderia enviesar a a
~
~
-<:> 5 - Conclusão .~
'"
::s.. '"
" 0,1 Neste artigo demos início à analise do comportamento dos salários da força :g
'"~" "
0,08 de trabalho masculina no Brasil nas décadas de 80 e 90. Os resultados mostram ~
]
que os retornos à educação declinaram no período, com a importante exceção ~
.'~" 0,06
dos retornos à educação universitária. Os diferenciais 90-10 do logaritmo dos @'C
0,04
.alários permaneceram basicamente constantes ao longo do tempo, o mesmo ~
0,02 acontecendo com a desigualdade intragrupos educacionais. Ao longo do ciclo 3ê.
~
o de vida, mostramos que os retornos à experiência aumentam com a educação e &5
que esses retornos crescem para o grupo de menor nível educacional, permane- ~
-0,02
(endo constante para os mais educados. Finalmente, parece que os retornos à ~
-0,04
educação variam substancialmente ao longo do ciclo econômico. Conciliar to- ~:;;
,
..,, ,:',
-0,06 dos esses aspectos é uma grande tarefa que pretendemos realizar em estudo :~
-0,08 posterior. ~ -
.:=:;
\.' -0,1 '"~
I I I I I I I I I I I I I I ! I ! ! I I '~
~iO,12
77 78 79 1980 81 82 83 84 85 86 87 88 89 1990 91 92 93 94 95 96 ~;:;
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As autoras agradecem a colaboração das assistentes de pesquisa Vãnia Cristina LiberalO e Gláucia
ves Macedo.
Da FGV-SP e do Cebrap.
'. Do Cedeplar e do Departamento de Demografia da UFMG.
252 253
.y. ,i~' ----~ d.iversas, as implicaçõ~s sociais de seu comportamento podem ser também di _ 2 _ Breve revisão da evolução histórica dos diferenciais ~
~ tintas e a escolha dos I.nstrumentos para combatê-lo depende da identificaçã
A literatura americana documenta fartamente as evidências de redução no ~
g correta de seus determmantes. Parte do hiato deve ser atribuída aos dife '.
~ d d t' .d d d I renoa hialO salarial por sexo, a partir do final dos anos 70, depois de três décadas em 2
1; e pro. u IVI a e a popu ação, outra parte pode ser explicada pela alocação di-
~ ferenClal de homens e mulheres em postos de trabalho de qualidade dif . que este diferencial foi persistentemente alto [ver Goldin (1990), Blau, Ferber. e j
{;
{l
d f' 'd f
a e, por Im, como resl uo, ica a discriminação puramente salarial que s', .
erenoa- inkler (1998), Bianchi e Spain (1986) e Jacobsen (1994)]. De fato, Goldm ê
~ Cc . d"d 'd" ' Igm- 1990), por meio de uma análise histórica detalhada desde o início do século, ~
.~ I a que m IVI uos I. entlcos quanto a seus atributos produtivos e em idêntico
demonstra que por longas décadas, antes dos anos 50, ogap salarial era instável, .~
25 postos de trabalho sao remunerados diferenciadamente. Mensurar adequada-
mas se mantinha abaixo do nível observado a partir dessa década. Segundo sua ~
.",
n:e.nte cad~ uma dessas parcelas e identificar seu papel na redução dos diferen-
CIaiS tem sido o desafio de diversos trabalhos sobre o tema. interpretação, é justamente com a entrada em massa de mulheres no mercado g
d' trabalho, sobretudo com a redução da segregação ocupacional por sexo e a ~
. !' r~dução do hiato salarial entre os sexos não está ocorrendo só no Brasil: in 'crção das mulheres em ocupações superiores, que emerge a discriminação ]
eVI?enClaS en~ outros países mostram que essa é uma tendência relativament I uramente salarial, num ambiente em que as barreiras à entrada de mulheres .ê
~11l~ersal. A lIteratura internacional tem mostrado, também, que a redução
nas II'hite-collar occupatiol1S não são explícitas. ~
parll~ularm~nte relevante para as coortes mais jovens e que a tendência de me- ~
Embora os números das distintas fontes não sejam de todo compatíveis, as
nor diferenCIal quando da entrada dos indivíduos no mercado de trabalho tende
vidências para o período anterior e posterior ao início do estreitamento do gap
a ser mantida à medida que as coortes envelhecem. Assim, a análise dos diferen.
r velam que, em média, a razão do rendimento feminino com relação ao mas-
ciais na ~er:pectiva ~as coortes parece ser a mais adequada, já que a medida de
ulino manteve-se em torno de 0,60, entre o início da década de 50 e o final da
coorte nao e contammada pelos efeitos de composição das coortes mais velha
d> 70. os anos 80, entretanto, essa razão começa a aumenlilr. atingindo 0,72
que afetam as medidas de período. Ademais, a identificação dos indivíduos se-
m 1995. A observação dos diferenciais por faixas etárias permite moS! rar que o
gundo sU,as ~oortes é também mais apropriada a esse estudo, já que, a despeito
treitamento tem sido particularmente evidente para as (oorte" 111,1 is jovens. o
das ten.deI:CI~s de_mercado de trabalho que podem refletir conjunturas distin-
que sugere que a tendência prospectiva seja de con tinuidade de red uçiio de dife-
tas, a dls~nmmaçao, como resultado de processos socioculturais cujos determi-
r nciais, à medida que mulheres mais velhas, de menor escolaridade, mais segre-
nantes ~a~ nos ca~e aqui discutir, refere-se a exatamente uma das principai
auas em ocupações de pior qualidade e com os salários mais baixos, estejam sen-
caractensllcas que Identificam uma coorte das demais: seu ambiente de sociali-
do substituídas pelas mais jovens [Blau, Ferber e Winkler ( 1998)].
zação. Mais ainda, a escolaridade, variável-chave nas equações de rendimento.
perten~e tamb.ém a uma categoria de atributos estabelecidos numa fase específi- Investigando as causas da tendência de convergência dos salários, esses
ca do CIclode VIda, tomando-se fixa a partir de então, com o que é mais adequada- llIores argumentam que esta é resultado da combinação da estagnação do
mente medida por meio da comparação entre coortes. il11ento dos salários masculinos - enquanto os femininos continuam a
e ccr -, do aumento dos retornos à escolaridade feminina e da redução na
O objetivo. deste trabalho é identificar o papel de um conjunto de possívci
mponente não-explicada do diferencial, atribuída à discriminação. Nesse
f~tores d~termm~ntes do estreitamento do hiato salarial que se verifica no Bra-
mcxto, o aumento da qualificação feminina e a diminuição da discriminação
s~lno p~nodo ma,ls recente. Para tanto, após uma seção em que uma breve revi-
reforçariam mutuamente, criando incentivos tanto para o aumento da ativi-
s~o da lIteratura e apresentada, examinamos a evolução dos diferenciais de ren-
de quanto para o da qualificação, num processo retroalimentador.
dllnentos por sexo, numa perspectiva puramente descritiva Como a coorte é a
. dim~nsão ~ri:ilegiada nesta análise, descreve-se a evolução dos diferenciai
<
Numa análise de coorte, por meio de um pull de cross-sectiol1s, semelhante
l~~r I~termedlo das coortes, e considera-se também o comportamento das \'<1- que realizamos neste trabalho, Hill e O'NeilI (1992) estimam um efeito posi-
navels. supostamente determinantes. Na seção seguinte, apresentam-se ~ . da Coorte interagindo com experiência, mostrando que mulheres de coortes
equaçoes de re~dimentos por sexo para duas coortes separadas por 10 anos- I recentes obtêm maiores retornos de seus investimentos em capital humano.
coorte dos naSCIdos em 1952 e a dos de 1962 - e, finalmente, os diferenciais d Para o Brasil, são também vários os exemplos de trabalhos que abordam a
rendimentos são decompostos em efeitos explicados pelas diferenças entre ho- I .tão do diferencial salarial por sexo, com ênfase na componente atribuída à
mens e mulheres nos ?tributos incluídos na equação e os fatores não explica- crinlinação, embora a perspectiva histórica fique comprometida pela limita-
dos, dentre os quais figura a discriminação. das informações disponíveis.l Num dos primeiros trabalhos, Camargo e
ara uma revisão bastante atualizada destes trabalhos. ver Baptista (1998).
254 255
Serrano ( 1983) estimam equações de salários para homens e mulheres na in- dasPNADs, em 1977 os homens ganhavam aproximadamente 70% a mais do -/-.- .
1; queas mulheres e em 1997 esse diferencial ?a.via caído para algo em, t?rno de ~
E dústria, incluindo, além da escolaridade, variáveis de mercado (como o tama.
'Q
g nho do estabelecimento, intensidade de capital no setor e a proporção de traba. 25%, reduzindo-se, portanto, a uma taxa media de 1,4% a.a. (ver Graflco 1). i
~ lhadores em cargos administrativos). Concluem que os processos de determina- Na perspectiva de coortes, essa tendência é também evidente. O Gráfico 2 E
mostra que, para cada coorte relativamente mais jovem, o diferencial tende a ~ê
-<>
~ ção de salários femininos e masculinos são inteiramente distintos, sendo a esco-
{j laridade a variável mais importante para as mulheres, enquanto para os ho- 'er menor em quase todas as idades. Além disso, por meio desse tipo de infor- {j
~
] mens as variáveis de mercado são as decisivas. Demonstram também a existên- mação, é possível recompor o perfil de ciclo de vida dos diferenciais, que tende a :g
.~
2'1
cia de diferencial entre salários nlédios de homens e Illulheres com as 11lesnla lermais elevado nas idades extremas. É interessante observar que o diferencial g
características individuais e trabalhando em mercados com estruturas similares. é menor nas idades associadas à fase reprodutiva das mulheres, justamente na ~
Em trabalho posterior, Barros, Ramos e Santos (1995), utilizando-se de etapado ciclo de vida em que as taxas de atividade femininas deixam de crescer, ~
dados das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (PNADs) de 198\ a oque sugere que, nesse período, apenas as mulheres com maior custo de opor- 8
1989, estimam a magnitude do diferencial salarial (acima de 50%), e pela sua tunidade (melhores salários oferecidos pelo mercado) tendem a trocar o traba- {j
.~
decomposição, mostram a reduzida importância relativa das componentes de lhodoméstico pelo de mercado. ."
'"
• produtividade e segregação ocupacional, vis-à-vis a componente da discrimina. A redução dos diferenciais de rendimentos, tanto por meio do tempo quan- ~
ção. Do ponto de vista temporal, evidenciam não ter havido redução substancial todas coortes, poderia ser fruto, entre outras coisas, de uma redução do diferen-
deste diferencial durante o período analisado. cialde escolaridade entre homens e mulheres ao longo do tempo. De fato, como
Kassouf ( 1998), com dados da PNAD de 1989, também estima os compo- seobserva no Gráfico 3, para a população total, o diferencial de escolaridade que
nentes da desigualdade salarial por sexo, tomando por base os coeficientes de é favorável aos homens das coortes mais velhas deixa de sê.lo para as coortes
equações de rendimentos obtidas de um modelo de correção de seletividade maisjovens. Quer dizer, a escolaridade masculina das coortes mais antigas era
amostraI. Para além da discussão metodológica quanto ao viés das estimativas superior à feminina, mas essa relação se inverte a partir da coorte de 1955.
tradicionais, compara os diferenciais nos setores formal e informal da econo-
mia, revelando que os retornos à escolaridade são muito maiores no primeiro
que no segundo, além de evidenciar grande discriminação por gênero, ao simu- Gráfico 1
lar o salário feminino por meio da substituição das características masculinas
pelas femininas na equação dos homens.
Diferencial de rendimentos por sexo no tempo
Num último exemplo, Baptista (1998), pelos dados da PNAD de 1996, con' _____________________________ 2
firma a existência de diferenciais de rendimentos por sexo, comparando casa-
dos com solteiros e as posições na ocupação. Demonstra que apesar de as dife- - 1,75
renças penalizarem muito mais as casadas do que as solteiras, em ambos os ca-
sos o impacto do componente residual (atribuído à discriminação) é tão grande
que anula as vantagens das mulheres em atributos produtivos. -.+'
-~----- .•..•••
1,50
Média de anos de estudo das coortes por sexo - população Diferencialde escolaridade dos ocupados no tempo
total
7
- _---------------------- -
.....••.
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
lO
40 50 60 70 80 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998
O 10 20 30
Coortes Tempo
258 259
Gráfico 5 lU nte, participavam do mercado de trabalho mulheres mais escolarizadas, e à .,
~:;
'Cl
medida que a participação foi aumentando, este viés foi desaparecendo. Como ~
g . Diferencial de escolaridade dos ocupados por idade nseqüência dessa recomposição temos o resultado, aparentemente parado- :s.
.S!
~ segundo coortes aI. de que a redução e eventual reversão do diferencial de escolaridade entre c
t b mens e mulheres ao longo das coortes não correspondeu a uma redução do ~
" dif'rencial de escolaridade da população ocupada. ~
."~
."
]
.2'
Além da educação, outras variáveis de mercado de trabalho apresentaram :g
:c
c:, olução diferenciada ao longo do tempo para homens e mulheres, afetando de g
maneira diferenciada o rendimento por sexo. Como se observa no Gráfico 7, ~
tanto na indústria como na agricultura a proporção de homens é maior do que a 11
1 mulheres, com ligeira tendência de crescimento nessa última. Nos serviços, i
omo é de se esperar, essa proporção se inverte. ."
--------------------------------0,6
Outra mudança interessante que se observa ao longo dos anos é a evolução
.ê
~
--------------------------------0,4
lo diferencial da proporção dos trabalhadores com carteira assinada (Gráfico 8), ~
ue vem caindo ao longo dos anos. Já o diferencial da proporção de trabalhado-
________________________________ 0,2 r por conta própria (Gráfico 9), que mostrou poucas alterações até o final da
.cada de 80, passou a crescer a partir de então. Esses dados refletem principal-
lIlente a redução da proporção de mulheres nessa posição, que passou de 20%
'--....L...-'---'_.1...-....L--'-_L....-...l..---'---1._.L.--'- ....•.. -'----''--'---'---'-_~~~_1o
--'_"'---- ....•....
1o 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 n final da década de 70 para cerca de 14% das ocupadas em 1996, não havendo
Idades llaiores mudanças entre os homens, que se mantiveram numa proporção de
dos ocupados.
Gráfico 6 Gráfico 7
Média dos anos de estudo das coortes de mulheres Diferencialde ocupação por setor no tempo
ocupadas e total
_____________________________ -9 2,5
____________________
Ocupadas,'
~----------
,- .--•• 8
2
,
6
1,5
-
.,,'*'*
i'
,, Serviços
0,5
,..'
1960 1970 1980 1980
o
1910 1920 1930 1940 1950 1985 1990 1995 2000
Coortes Ano
260 261
Gráfico 8
~ . Determinantes do diferencial de rendimentos:
l'! diferenças de atributos e discriminação ~
~ Diferencial de proporção de empregados com carteira •..
lS..
análise agregada é interessante na medida em que permite avaliar a evo- :s
tl assinada no tempo
li
lS..
"
I ão do diferencial de rendimentos e seus determinantes em suas dimensões
I eríodo,de idade e de coorte. No entanto, para avaliar quanto desses diferen- E
J
{i
~ is e deve a diferenças de atributos entre homens e mulheres e quanto se {i
~
.,", '\ e à discriminação, assim como essa relação se modificou no tempo, o mais .:el.S!
~ - 12
propriadoé fazer uma análise com dados individuais. Para tanto foram esco- ~
idasduas coortes: a de 1952 e a de 1962, acompanhadas durante 11 anos. ~
g
j a coorte de 1952, no período de 1977 a 1987, os homens ganhavam, em ~
--------------------------0,8 It"dia,38%a mais que as mulheres, apesar de estas terem escolaridade superior 8
{i
11 l.5 ano de estudo. Na coorte de 1962, no período de 1987 a 1997, a diferença '"
--------------------------0,6 .g
rendimento cai para 21 % enquanto a diferença de escolaridade se manteve, .~
inda que os anos de estudo tenham aumentado para ambos os sexos - de 7 ]
---------------------------0,4 ara 8,1 anos para as mulheres e de 5,5 para 6,6 anos para os homens.
_________________________ 0,2 Evidentemente, não é apenas na escolaridade que homens e mulheres são
iferentes.O tipo de inserção no mercado de trabalho é também bastante dis-
L6 10 (into:os homens estão mais presentes na indústria e na agricultura, enquanto
,gL --'-98.J
- ---'-98.L ---'9-8--'-9.1 ---,-gg.L0---'9=9-=-2
--:-:'9~94:----:':::9~96~-;-;;1998
8 0 2 4 88 mulheres prevalecem nos serviços. Na coorte de 1952 ambos se igualavam no
Ano
mércio,já na de 1962, aumenta a participação das mulheres nessa atividade.
Tambémna posição na ocupação existem diferenças marcantes entre os sexos,
mascom pequena variação entre as coortes - quase 90% dos homens são em-
Gráfico 9 regadosou trabalham por conta própria, contra 70% das mulheres.
Paraavaliar quanto da diferença de rendimentos pode ser explicada por di-
Diferencial da proporção de trabalhadores por conta própria rençasnessas variáveis entre os sexos e quanto se deve ao fato de as mulheres
no tempo r ceberemmenos apenas por serem mulheres, utilizamos a decomposição pro-
PO la por Oaxaca,2 cuja técnica consiste em:
=;,..
________________________ -1,8 a) Estimar para cada um dos sexos a equação de salários:
Wm=Um+ L~imXim
~1,
,-~~
~ 1.2
1
Wf = Uf + L ~if x if
i
ndeIV,. e w/são o logaritmo dos salários masculino e feminino, respectivamente.
______________________ --0.8
d b) ~omar a diferença entre as duas equações, avaliadas nos pontos médios
______________________ --0,6 a vanaveis, e somar e subtrair
btendo a expressão:
L
~im X if' de forma a não alterar a igualdade,
____________________ --0.
______________________ --0.2 wm -W f =(um -u f) + L Xif (J3im-~if) + L ~im (Xim -x if)
.-lO i i
,gL77-------'9-82L-------'9.J8-7 -------:-'9~9-=-2------;,997 nde IV m - W f é a diferença do logaritmo dos salários médios .
Ano ;---
Para OUtras aplicações, ver Goldin (1990) e Borjas (1996).
262 263
. , '•....
----~ O terceiro termo I~im (i im - i if) é a parte da diferença de salários que b) Dwnl1lÍes de atributos ocupacionais: --~-.
~ deve às diferenças de características ponderadas pelo valor que se dá a es as <)_ • Posição na ocupação: Com carteira = 1 se empregado com carteira assinada;
g racterísticas para o homem. Esta seria a parte do diferencial que ocorreria se
= O se outra posição.
~ mercado de trabalho fosse cego quanto ao sexo das pessoas.
=
~
~
O segundo termo, I i if @im - ~if)' é a parte da diferença de salários que
Sem carteira 1 se empregado
= O se outra posição.
sem carteira assinada;
NÃO-EXPLICADA TOTAl
contribuição total da variável para a diferença salarial. 'ª
Ê
~" Na coorte de 1952, o diferencial total de salário entre homens e mulheres ~
~ Constante 0,862 0,862 oide 38%. Se esse diferencial respondesse apenas às diferenças do atributo in- :~
~
.~
:c Educação -0,167 -0,050 -0,209 dividualeducação, os homens ganhariam 17% a menos que as mulheres, isto é, E
Q ~
-0,025 -0,052
e a escolaridade das mulheres fosse remunerada como é a dos homens, o salá- .",
g
Com carteira assinada -0,076
riodestes, por terem escolaridade mais baixa, seria 0,83 do salário das mulhe- "
1:::
Sem carteira assinada 0,013 -0,029 -0,016 res.' Os atributos ocupacionais contribuiriam com mais 4,6%, mostrando que as 8
Conta Própria -0,005 -0,031 -0,036 mulheresestão em maior proporção do que os homens nas situações que contri- ~
buem positivamente para seu salário e em menor nas que diminuem seu salá- :~
Nordeste 0,001 0,066 0,067 rio.A passagem do tempo, que deve estar captando alguma mudança no ambien- ]
Sudeste -0,001 -0,005 -0,005 teeconômico ou social do país, também favorece as mulheres. Por outro lado, os
homens se beneficiam grandemente do fato de serem homens, principalmente
Agricultura -0,065 -0,015 -0,079
e não estiverem na região Sudeste, nem no setor agrícola e não forem empre-
Indústria 0,009 0,022 0,031 gadosou trabalharem por conta própria. Em conjunto, esses atributos ocupacio-
0,027 0,063 0,092 naisdobrariam o salário do homem em relação ao das mulheres. No entanto, a
Serviços
discriminação a favor das mulheres nesses atributos ocupacionais e no atributo
Anos -0,004 -0,020 -0,024 individual reduz um pouco essa diferença, de modo que, em termos líquidos, o
Total -0,210 0,757 0,388 omponente discriminação levaria a um salário dos homens 75% mais elevado
do que o das mulheres.
É interessante notar ainda que, com exceção dos trabalhadores com cartei-
maiores do que zero, a aproximação logarítmica subestima a contribuição da
raassinada, o sinal do componente associado aos atributos ocupacionais é igual
variáveis. Para evitar essa distorção exponenciamos os termos e os apresentamo
ao da discriminação, mostrando que homens e mulheres tendem a se dirigir
em taxas de variação. Assim, valores positivos indicam a contribuição de cada
para os setores/posições em que são melhor remunerados.
atributo para o aumento do diferencial de salários de homens e mulheres e valo-
res negativos a contribuição para a redução do diferencial. Na primeira coluna. Na coorte de 1962, o salário dos homens é 21% maior do que o das mulhe-
estão os componentes explicados pelos atributos individuais e ocupacionai . re . Comona coorte de 1952, esse resultado não se deve ao fato de os homens se-
Como discutido anteriormente, este termo capta o impacto da diferença de atri- r m mais qualificados, pois se fosse apenas pela educação, seus salários estariam
butos entre homens e mulheres na diferença de salários. Na segunda coluna e.- 14,5% abaixo do das mulheres, o que é uma melhora de 2,5 pontos percentuais
tão os termos associados à discriminação de cada variável. Como incluímo di- m relação à coorte anterior. Esse resultado se deve menos a um aumento na
versas variáveis dummies na análise, o termo constante da decomposição não qualificação relativa dos homens do que a uma redução no coeficiente da edu-
mais a diferença de rendimentos entre homens e mulheres em geral, para qual- ação nas regressões dos homens entre as duas coortes, como se pode ver no
quer nível das demais variáveis, mas a diferença de rendimentos entre homen pêndice A. O componente associado à discriminação dá um salário para os ho-
e mulheres com as características das dummies omitidas nas regressões (empr - O1ens82% superior ao das mulheres, novamente, devido à discriminação que
gadores, no setor comércio, que não estão nem na região Nordeste nem na u- orre fora da região Sudeste, nos setores não-agrícolas e entre os trabalhadores
deste, em 1977 para a coorte de 1952 e em 1987 para a coorte de 1962), e o coefi- ue não são nem empregados nem trabalhadores por conta própria. Ainda que
ciente de cada uma das dummies mostra o diferencial com respeito à dU11/11lY d1 ontinue bastante elevado, com respeito à coorte de 1952, observamos uma
categoria omitida. O termo do componente explicado dessas dummies pode' r
diferente de zero quando a proporção de mulheres e homens no atributo ocupa- :---
fu Comoa escolaridade média e o retorno a cada ano adicional de estudo são superiores para as mu-
cional é diferente. Assim, por exemplo, controlando para as demais variávei ' ercs, se avaliássemos o diferencial de escolaridade pelo retorno à educação das mulheres a dife-
estar na região Sudeste aumenta tanto o salário do homem como o da mulher nça de salários associada a este atributo seria ainda mais favorável às mulheres.
266 267
'õ; redução considerável neste componente, de cerca de 20 pontos percentuilis, ~tilanálise, a dimensão idade confunde-se com a dimensão tempo, mas c
,{i todos os atributos ocupacionais que favorecem os homens. A discriminilç.'i 1;10 nessa fase do ciclo de vida os diferenciais salariais são pequenos, optam~s ~
g
j
favor das mulheres praticamente não se altera entre as duas coortes. Assim
grande redução do diferencial salarial entre as coortes de 1952 e 1962 pode '
r interpretar a variável tempo, que estaria captando algum fenômeno maIS i
ral do país. ;;;
~
~ atribuída principalmente a uma redução na discriminação contra as mulher
associada a alguns atributos ocupacionais.
Apartir dos resultados dos determinantes salariais, considerando não ape-
nilSa escolaridade, mas também atributos ocupacionais, como setor de ativida-
i
{;
=:;
~ I" região e condição na ocupação, calculamos a decomposição de Oaxaca, que :g
.~ Tabela 2
iG
Cl permiteavaliar, no ponto médio .dasvariáveis, o qu~nto da va~iaç~o?bse:vada é
ju tificada por diferenças de atnbutos e o quanto ,e ~penas dlscnmmaçao: N~S
I
Decomposição de Oaxaca: coorte 1962 :g
dUilScoortes, o diferencial salarial se deve a esse ultImo componente: a dlscn- ~
VARIAÇÃO PERCENTUAL minação contra as mulheres ocorre fora da região Sudeste, nos setores 8
EXPLICADA NÃO-EXPLICADA TOTAL não-agrícolas e entre os que não são empregados e nem trabalham por conta ~
Constante 0,729 0)29 própria.A decomposição de Oaxaca também permite inferir que a grande redu- <~
5 - Conclusões
É surpreendente constatar que, se o diferencial de escolaridade,da popula-
ção tornou-se favorável às mulheres a partir das coortes nascidas em mead
. dos anos 50, entre os indivíduos ocupados, as mulheres sempre tiveram fran
superioridade educacional em relação aos homens, desde quando os dados per-
mitem observar. Portanto, o atributo produtivo dado pela escolaridade, de fal
"desexplica" o hiato salarial, e a tendência de redução desse hiato vem na con-
tramão da tendência mais recente de convergência dos níveis de escolaridild
de homens e mulheres iltivos.
Para investigar essa redução do diferencial salarial acompanhamos dua
coortes, com idades entre 25 e 35 anos: a coorte nascida em 1952, entre 19í7
1987, e a nascida em 1962, entre 1987 e 1997, separando homens e mulhere'.
269
268
.,
:::: Apêndice A continuação)
~
'"
E MULHERES COORTE DE 1962 •...,
HOMENS - COORTE DE 1962
CC>
"'-
g Regressões por sexo e coorte 3
;;; Ln SALÁRIO C;::
~ 11'SALÁRIO
~;::
.,
"'" COEFICIENTE MÉDIA
"'- HOMENS - COORTE DE 1952 MULHERES - COORTE DE 1952 COEFICIENTE MÉDIA ~
"
{; {;
.:;; Ln SALÁRIO Ln SALÁRIO Constante -0,26518 -161,097 ."l
""~ Constante 0,282103 233,0351 .g
.~
~
COEFICIENTE MÉDIA COEFICIENTE 0,114719 1238,3768,050005 ~
MÉDIA
Educação 0,108414 1636,483 6,60066 Educação ."
Cl """'"
Constante 0,42917 310,99 Constante -0,19275 -89,5647
Com
Com ê
284,366 0,435986 carteira -0,15097 -156,608 0,369752 l:'.,
Educação 0,121167 1875,114 5,466309 Educação carteira 0,22539
0,128545 1260,962 6,973625 :3
{;
Sem
Com Com Sem -0,33064 -280,258 0,229966 '"
.g
0,4632 -491,293 0,177493 carteira
carteira -0,22393 -257,25 0,459172 carteira -0,06922 -57,2609 carteira ,c
0,343895
"'2
Conta
Sem Sem Conta
própria -0,0121 -10,5531 0,19184 ~
carteira -0,42717 própria 0,23482 271,06 0,245781
-413,27 0,176698 carteira -0,28674 -200,946 0,2071
Nordeste -0,49845 -540,218 0,23382
Nordeste 0,31316 460,412 0,241997
Conta Conta
própria -0,17181 -181,451 0,248079 própria -0,02539 -18,2917 0,216614 Sudeste 0,087612 113,9571 0,494575
Sudeste 0,027505 47,48967 0,470559
Nordeste -0,18258 -259,052 0,23934 Nordeste -0,44005 -399,449 0,24705 Agri-
Agri- -0,29346 -161,4340,042194
cultura 0,45713 -622,985 0,186421 cultura
Sudeste 0,083917 139,9406 0,495909 Sudeste 0,092995 100,673 0,506001
0,19088 Indústria 0,039071 35,873470,127147
Agri- Indústria 0,114668 166,8366
Agri-
cultura -0,42056 -575,05 0,224615 cultura -0,19413 -104,261 0,065156 Serviços -0,24607 -262,701 0,305535
Serviços -0,12853 -159,713 0,113054
Indústria 0,127937 186,6208 0,203478 Indústria -0,03657 -27,8086 0,131334 Ano 1988 -0,13643 -98,421 0,103741
Ano 1988 0,14217 140,146 0,110482
Serviços -0,12347 -135,74 0,087068 Serviços -0,327 -281,975 0,302289 Ano 1989 -0,08615 -63,40860,112304
Ano 1989 0,01389 -13,6866 0,110245
Ano 1978 0,034058 28,08185 0,08044 Ano 1978 0,079183 41,96704 0,080288 0,011422 8,421836 0,113472
Ano 1990 0,03774 -37,3329 0,112233 Ano 1990
Ano 1979 -0,00267 -2,29941 0,096532 Ano 1979 0,005288 2,872033 0,089202 0,015017 11,007360,111336
Ano 1992 0,10523 -104,432 0,113821 Ano 1992
Ano 1981 0,011516 9,924792 0,098481 Ano 1981 0,042821 23,00515 0,091882 -0,02216 -15,928 0,102938
no 1993 0,06688 -65,1747 0,106137 Ano 1993
Ano 1982 0,03289 28,99242 0,109257 Ano 1982 0,071361 39,36271 0,105428 0,259361 192,285 0,116787
Ano 1995 0,178022 176,6706 0,114136 Ano 1995
Ano 1983 -0,13442 -116,294 0,101155 Ano 1983 -0,06327 -34,5959 0,100749 0,292713 215,0219 0,112458
Ano 1996 0,175662 170,6223 0,104823 Ano 1996
Ano 1984 -0,14523 -126,02 0,101879 Ano 1984 -0,10492 -56,9455 O,0978~ 0,335339 248,2071 0,116334
Ano 1997 0,182143 179,1197 0,110395 Ano 1997
Ano 1985 -0,00819 -7,22042 0,110083 Ano 1985 -0,06937 -38,5685 0,1113~ Ln salário 0,447397
Ln salário 0,637099
Ano 1986 0,388903 340,4599 0,107159 Ano 1986 0,336249 187,7151 O,l14~ R2 = 0,50
RI == 0,484
Ano 1987 0,054583 48,29016 0,112747 Ano 1987 0,136151 78,06416 O,130~
Ln salário
R2 = 0,5515
0,815055 Ln salário
R2 = 0,5817
-
0,447397
(co~
-
270
Abertura comercial e
liberalização do fluxo de
Teste de Chaw para a estabilidade dos coeficientes capitais no Brasil:
Para a coorte de 1952 F = 78158,45 impactos sobre a
Para a coorte de 1962 F = 54846,10 pobreza e a desigualdade*
Bibliografia
BAPTISTA, D. Diferenciais de rendimento e discriminação por sexo no mercado de
trabalho brasileiro, na década de noventa. Departamento de Economia da Ricardo Paes de Barros**
UFMG, 1998 (Monografia de conclusão de curso de graduação). Carlos Henrique Corseuil**
Samir Cury***
BARROS,R. P., MENDONÇA, R. Os determinantes da desigualdade no Brasil. A
Economia Brasileira em Perspectiva 1996. Rio de Janeiro: IPEA, v. 2, 1996.
BARROS, R. P., RAMos, L., SANTOS, E. Gender differences in Brazilian labor
markets. In: SCHULTZ,P. 1nvestiment in women's capital. Chicago: Universit)
of Chicago Press, Capo 3, 1995. 1 . Introdução
A economia brasileira, até o final da década de 80, caracteriza-se por ser ex-
BIANCHI, S., SPAIN, D. American women in transition. New York: Russel Sage
Fundation, 1986. tremamente fechada. Em 1985, por exemplo, a tarifa legal média atinge seu
ápice com um valor superior a 130%, levando as importações a representarem
BLAU, F., FERBER, M., WINKLER, A. The economics of women, men and Il'ork. pouco mais que 4% da demanda doméstica, enquanto as exportações corres-
Prentice HalL Capo 8, 1998. pondiam a cerca de 9% do produto nacional.
BORJAS, G. J. Laboreconomics. McGraw Hill, Caps. 2-3,1996. No final da década de 80, um processo gradual de abertura econômica e de
integração regional é deslanchado, provocando uma redução na tarifa média de
CAMARGO, J. M., SERRANO, F. Os dois mercados: homens e mulheres na 130%, em 1987, para menos de 15% em 1994. Além da redução na tarifa média,
indústria brasileira. Revista Brasileira de Economia, Rio de Janeiro, V. 34, n. 4, é removida, significativamente, uma série de restrições não-tarifárias de preços
out./dez. 1983.
e quantidades.
GOLDIN, C. Understanding the gender gap: an economic history of American lV01l/t'I1. Neste artigo, utilizamos um Modelo Aplicado de Equilíbrio Geral (Brasil
New York: Oxford University Press, 1990. CGE 1995) para avaliar o impacto do processo de abertura sobre o bem-estar das
famílias e dos indivíduos. Como o modelo utiliza uma base de dados de 1995, o
HILL, M. A., O'NEILL, J. E. Intercohort change in women's labor market status.
Research of Labor Economics, V. 13, 1992. ercício realizado é uma inversão, ou seja, sobre a economia brasileira de 1995
plicamos as condições externas do ano de 1985.
JACOBSEN,J. P. The economics of gender. Blackwell, Capo 4, 1994. Além do objetivo relacionado à simulação de mudanças no setor externo
. J(ASSOUF, A. Wage gender discrimination and segmentation in the Brazilian a economia, o artigo procura realçar a importância da estrutura desagregada de
labor market. Economia Aplicada, V. 2, n. 2, abr./jun. 1998. fatorese famílias existentes no modelo. São estas as características que tornam o
MINCER, J., POLACHEK,S. Ramily Investiments in human capital: earnings af ---Simulaçõesrealizadas como parte do projeto de pesquisa Balance of Payments. Liberatization:
women. Journal of Political Economy, V. 82, Mar. 1974, supplement. lson Employment. Income Distribution. PovertyandGrowth, da UnitedNationsDevelopmentProgram
I~P), RegionalBureaufor LatinAmericaand Caribbean.Esseprojetode pesquisa é coordenado
.RicardoPaesde Barros,do IPEA.Oartigocontou com a participaçãoextremamente valiosade
l~hpp GeorgePereira (co-responsávelpelaoperacionalizaçãodas simulações)e CarlosFrederico
aUla,ambos do IPEA.
DaDiretoriade Estudos Sociaisdo tPEA.
DaFGV-Sp.
272 273
instrumental utilizado apto para a avaliação dos efeitos das políticas de comér- Grafico 1
~ cio exterior sobre a desigualdade e a pobreza.
'"g Dessa forma, este artigo está organizado em quatro seções, além desta in. Diagrama circular com bens intermediários
i'j
~ trodução: na Seção 2 apresentamos uma descrição genérica do modelo e dos
2." principais submodelos comportamentais adotados; na Seção 3 descrevemos a
~ simulações e os respectivos resultados; e na Seção 4- a conclusão - destacamos
.~ os principais resultados alcançados. Visando à explicitação total do modelo, o ar-
~ tigo apresenta no Anexo a íntegra das equações que formam o Brasil CGE 1995. Oferta
~
E
La(l) =1 ~
"
Implicandoretornos constantes de escala, ou seja, um incremento idêntico de ~
de fatores. Financeiramente, eles remuneram nossas firmas pelos bens exp r- odosos tipos de trabalho, Lik, resulta num incremento idêntico do trabalho ê
tados e são receptores da remuneração de fatores. Na Subseção 2.2, apresenta- agregado. ~
mos as formas funcionais que representam essas transações.
]
Num segundo passo, os fatores trabalho agregado, Ld, e capital, K, são ~
01, regados,utilizando-se uma função com elasticidade de substituição constan-
2.1.3 - Economia aberta com governo te (CES),para obter o valor de produção, A, isto é,
Completando nosso esquema de representação, incluímos a ação do gover-
no. Na parte superior do Gráfico 2, podemos verificar que o governo demanda
oferta bens e serviços, que podem ser pagos ou não. No mercado de fator "
governo também oferta fatores, tais como infra-estrutura ou mesmo educação.
Uma função desse tipo possui elasticidade de substituição diferente de 1 e
Ele também demanda fatores para realizar suas atividades.
presenta retornos constantes de escala (homogênea de grau 1). A elasticidade
Dentro do diagrama foi representada uma série de tributos, dentre os qua de SUbstituiçãoé dada por:
destacamos:
• o imposto sobre propriedade e renda, pé£gopelas famílias e empresas; <J=1/(l-p)
• as obrigações sociais, pagas pelos individuos e empresas;
Finalmente, num terceiro passo agregamos o valor adicionado como os di-
• os impostos sobre mercadorias, pagos nas transações com bens finais e inl 'r-
rsos insumos intermediários com base numa função do tipo Leontief (pro-
mediários;
rção fixa ao produto total). Desse modo, a função de produção do modelo
• o imposto de impo,rtação, incidente sobre o comércio externo; Podeser representada da seguinte forma: .
• os impostos incidentes sobre as transações das empresas estrangeiras; e
• as taxas e licenças, pagas pelo fornecimento de bens, serviços e capital P I
governo.
276 277
2.2.2 - Comportamento da firma Quando os agentes, com uma função de utilidade acima, maximizam sua ~
~
£ Admitimos que a firma tem por objetivo maximizar o lucro e que tOn ilidade sujeitos à restrição orçamentária, a demanda relativa entre produtos ~
: como dados tanto o preço dos insumos e fatores de produção como o preço d mésticos e importados passa a ser governada pela seguinte função: .~
{J
1; produto. A firma procura maximizar o seu lucro, dadas as restrições tecnolÓ~l-
~ ""
" cas concedidas pela função de produção especificada anteriormente. De ::l
~ ~
~ modo, como resultado da maximização, os salários igualam o valor da produti- "'~
"
1
g
vidade marginal do trabalho. nde Pid é o preço do produto doméstico d setor ie Pim é o preço do produto im- ]
nado também do setor i. ~
2.2.3 - Comércio internacional no modelo
Para modelar o comércio internacional é fundamental determinar como
Essas duas equações determinam o subsistema de importações no modelo, 1
1 queas elasticidades e parâmetros são específicas de cada setor. ~
dá a demanda relativa de bens importados e nacionais de um determinado 5 - No modelo, as exportações brasileiras têm um tratamento similar ao das £
tor. A hipótese mais natural seria a de que estes bens seriam perfeitos substitu- mportações. Consideramos que o agente externo se comporta identicamente .~
tos. O problema com esta hipótese é que ela implicaria que em cada setor a solu- iante dos produtos brasileiros exportados, ou seja, eles são considerados pelo .~
ção ótima seria sempre apenas importar ou apenas produzir domesticament aoente externo como substitutos não-perfeitos dos respectivos produtos do- ~~
Não haveria casos em que há consumo simultâneo de bens importados e nacio- ésticos. ~
nais. Para que algum consumo simultâneo venha a ocorrer é necessário que ~
Do ponto de vista da opção por exportações pelas firmas brasileiras, segui-
!
-@
bens importados e nacionais, inclusive de um mesmo setor, não sejam substitu-
Dl0Sa hipótese de que o produto brasileiro exportado tem uma qualidade dife-
tos perfeitos.
:ntedo produto vendido no mercado doméstico. Desse modo, a produção do- ~
Assim, para introduzirmos a hipótese de que os produtos importados d méstica total é dividida, com substituição imperfeita, entre produtos vendidos ~
resto do mundo pelo Brasil são substitutos imperfeitos dos mesmos produto nomercado doméstico e produtos destinados ao mercado externo. A forma fun- l
produzidos internamente, utilizamos os modelos de Armington. ' nal escolhida é uma função com elasticidade de transformação constante ê
Nessa formulação, podemos encontrar elementos tanto da teoria neoclá - CET), assumindo o seguinte formato no modelo: ~
sica de comércio externo quanto da nova teoria de comércio externo. Da primei- ]'"
'E **(pit+ t)/pit (1-' )D**(Pit+ t)/pit] **pit/(pit+ t) -.:
X. -
ra, incorporam-se as hipóteses de que os bens são produzidos pelas firmas com T[
l-ai YI i + YI i
constantes retornos de escala, e de que existe competição perfeita, mesmo etU
a mobilidade dos fatores de produção. Das teorias mais recentes, adota-se a hi-
deX, é a produção doméstica totaL Ei é o volume de exportação do setor i, e Di
pótese de que os consumidores aumentam a utilidade quando consomem pr -
dutos diferenciados.
prOdução doméstica do setor ivendida no mercado interno, a e Yi são parâ- T
Na forma funcional específica escolhida por Armington, os bens são iden- Iras do modelo e Pit é a elasticidade de transformação.
tificados de acordo com sua origem (domésticos ou externos) e os consumid . Quando o produtor maximiza seu lucro, a relação entre produtos exporta-
res (firmas e famílias) não avaliam esses bens como substitutos perfeitos, sen- r vendidos internamente é governada pela seguinte equação:
do sua utilidade medida por uma função com elasticidade de substituição con .
tante (CES) tendo o seguinte formato:
max{U(e):y=p*e}
utilizados pelo setor. Desse modo, a determinação do valor nominal do investi-
Olentoagregado é a variável que praticamente comanda o investimento setorial.
!
1l
"
E se processo, nos modelos de equilíbrio geral computável, é denominado ]
onde y é a renda familiar. .d . ma ro-c/osures e determina a forma pela qual a identidade entre poupança e in- ã
limento é alcançada no modelo. ê
Se a função utilidade for do tipo Cobb-Douglas, a ~emanda do bem I en-
vada desse problema de otimização é dada pela equaçao: Nessa identidade, quando o investimento agregado é uma variável endó- ]
"
'na no modelo, a sua determinação dependerá do valor agregado da poupança
total formada por cinco componentes: poupança das famílias (endógeno), pou-
pança ou déficit do governo (endógeno), depreciação (endógeno), poupança
onde Ài é o parâmetro estimado que representa a proporçao- fIxa de renda r empresas (endógeno) e poupança externa -fluxo de capital (endógeno ou
ógeno). Na literatura, esse tipo de fechamento é denominado savings-driven
gasta no bem i. ,. ir UI
bin e1, sendo geralmente identificado como um fechamento neoclássico [Ro-
Esse formato da função utilidade respeita as proprie~ad.es t~on:as ( nan- on, Lewis e Devarajan (1991)].
sistema de consumo, mas devido à sua simpli~idade traz hmItaçoes 1:I;í~el
tes, como' a constância da elasticidade-preço, mdependentemen~e ddO tipo Alternativamente, o investimento pode ser nominalmente fixo e, nesse
consumo, e a constância da parcela de renda gasta num deten11lna so, a poupança deve se ajustar ao nível preestabelecido pelo investimento. O
< produto (elasticidade-renda unitária). canismo utilizado nesse ajustamento envolve a endogeneização da propen-
a POUpar de um tipo de família no modelo ou a propensão das grandes em-
2.2.5 - Subsistema de investimentos e estoques de produtos as. Esse tipo de fechamento é denominado investment driven models, tendo
. stimer1l0 roo base teórica, principalmente, os trabalhos do economista britânico Ni-
O investimento no modelo possui dois componentes: o mve Ad I
las Kaldor sobre crescimento, poupança e distribuição funcional da renda_
bens de produção e o investimento em estoques de prod~tos acabados. lei
minação desse segundo componente é realizada setonalmente, por n fel!
uma proporção fixa do produto setorial que é considerado como esto~U~ ob . E SeCoeficiente no modelo é denominado ksl1r,. sendo seu somatório igual a I, devido ao rateio
ves.limento total. No modelo, sua determinação inicial é obtida das tabelas insumo-produto e
em cada setor. Dessa forma, o total de investimento em bens de produçao e atnz de composição setorial do capital. O parãmetro kshr; também é uma variável de política
PodeSer modificada para simular uma mudança na composição setoriardo investimento.
280 281
De uma forma geral, Adelman e Robinson ( 1988, p. 980) co.nsideram queo aolongo da curva de demanda por trabalho como ao longo da curva de salário,
{!
~ primeiro fecho seria mais apropriado para um horizonte de médlO prazo e emsi. de forma a determinar endogenamente tanto o nível salarial como o (des )em- ~
~ mulações de estratégias de desenvolvimen~o, enquanto o ~egund~ fecho, dado prego. .~
'"
i seu caráter keynesiano, seria mais apropnado para anahsar efeitos no CUrto Esse formato do mercado de trabalho, associado com as formas funcionais ~
! prazo.2 deprodução utilizada, permite a representação da segmentação do mercado de ~
Irabalhona economia brasileira e de sua influência sobre o processo produtivo e !
~ 2.2.7 - O comportamento no mercado de trabalho a remuneração do trabalho. ~
'"
.~
Uma das conseqüências de termos admitido que as empre:as. maxin:izam ""s;
2l
lucros, é que a derivada da função lucro das empresas com relaçao a ~u_antldad.e 3 - As simulações realizadas - simulando o comércio e o ~
demandada de cada fator deve ser igual ao preço dos fatores (condlçao de pn. fluxo de capital externo de 1985 ~
.;::,
Laticínios e carnes
2,94 1,5
1,1
Iniciando pelas simulações Sav, Exr e lnv do ano de 1985, identificamos '1
.l::)
2,36 lima queda do PIE da ordem de 1,26%, 1,19% e 0,61 %, respectivamente (ver co- {;
memário a seguir). Entretanto, essas reduções são acompanhadas por uma ~
queda significativa da absorção interna,? variando, respectivamente, entre ~
Fechos macroeconômicos específicos adotados nas simulações -4.42%, -4,38% e -3,77%. Como conseqüência do fecho poupança-investimento, '~s.
• Preços e setor externo: Todos os preços do modelo são endógenos, inclusive o ~
abela 1 :2!
PINDEX (numerário), formado pela ponderação dos preços de produção. A
taxa de câmbio nominal é exógena e a taxa de câmbio real, determinada pel Indicadores macroeconômicos (VARIAÇÃO PERCENTUAL EM RELAÇÃO AO ANO-BASE)
índice de preços do modelo. O fluxo de capital (líquido de acumulação) ou
déficit em conta corrente é fixado exogenamente. SAV8S EXR8S INV8S
PIS
• Governo: Nas simulações, a quantidade de consumo do governo é fixa, llla: -1,26 -1,19 -0,61
seu custo de produção é endógeno, devido à variação dos preços dos insulllO bsorção
-4,42 -4,39 -3,77
e da mão-de-obra para produção desses bens. As despesas do governo comju-
Consumo
ros da dívida interna e transferências da seguridade são flexíveis e acompa- -3,14 -2,52 -8,82
nham o movimento geral de queda ou elevação dos preços relativos. Isso ig- Investimento
-10,65 -12,18 8,48
nifica que, diante de uma queda de preços relativos, essas despesas sofr~I1l
eita do governo
uma redução nominal proporcional para manter o mesmo valor real anlen~r 3,65 3,38 4,74
ao choque. Desse modo, a poupança ou déficit do governo é totalmente endo- Déficitdo governo
-23,49 -17,24 -31,52
gena, dependendo do fluxo de receitas e despesas endógenas. Xportação
8,41 9,08 8,87
• Poupança-investimento (simulações Sav85 eInv85): A principal diferença com r~-
-!.ortação -27,33
lação às simulações Sav85 e Inv85 está no "fecho" entre poupança e inve'l~- -26,77 -26,94
~ mento. No primeiro caso, (Sav85) o modelo é savings driven, com o inVC 11-
mento total sendo determinado pelo valor da poupança agregada. Nesle (a. o
o investimento é totalmente endógeno e apenas as propensões a poupar., da
famílias e das empresas, exógenas. Na literatura sobre CGEs, este fecho e o-
mumente identificado como neoclássico. :----
e
Alternativamente; o modelo pode ter investimento fixo, ficando a propen- E8sSsvalor é compatível com a desvalorização real da ordem de 15% atingida nas simulações
e Inv85.
são de uma das famíli~s endógena. ~sse .fech.o é ide~tificad~ com? Kal~~f/f,
~ ~~nCeito d.e absorção interna corres~~nde à parcela do PIB que é consumida internamente por
closure ou investment dnven model, pOIS a f!xaçao nommal do mvesumen soma tono do consumo das famliJas, do consumo do governo e do investimento,
284 285
no caso de Sav85 e Exr85, a queda da absorção é sustentada principalmenl R nda dos fatores
~ pela queda do investimento (-10,65% e -14,34%), enquanto no caso de Inv85 a
'":i! queda é concentrada na variável consumo (-8,82%). Tabela 2
~
.t Essas diferenças na composição da demanda agregada podem ser exp)j- Remuneração dos fatores (VARIAÇÃO PERCENTUAL EM RELAÇÃO AO ANO-BASE)
~ cadas basicamente pelos efeitos dos "fechos" adotados. Nas simulações
SAV8S EXR8S INV8S
~ Sav85 e Exr85, a queda significativa da poupança externa (fluxo de capital)
~ provoca uma diminuição da poupança total, mesmo diante de uma diminui- Informal com baixa qualificação -9,19 -5,41 -9,08
.~
g ção do déficit público da ordem de 23% (R$ 6,8 bilhões em 1995) e 17% ( R
Informal qualificado -5,45 -3,55 -6,00
5,1 bilhões).
Por outro lado, na simulação Inv85, o investimento nominal fixo força Ruralformal -12,22 -2,93 -20,86
uma compensação da perda de poupança externa, por meio do aumento da Formalurbano com baixa qualificação -5,56 -3,72 -0,96
poupança das famílias8 (propensão endógena) e de uma redução adicional do
déficit operacional do setor público. A conseqüência é uma queda substancial Formalurbano com média qualificação -1,93 0,31 -0,88 .'"-~
do consumo. Formalurbano com alta qualificação -4,67 -3,08 -7,19 ~
~
Nessas simulações, a quantidade do consumo do governo é fixa, mas seu -2,77 -6,39
g
Funcionário público com baixa qualificação -4,70 E,
custo de produção é endógeno, devido à variação dos preços de insumos e da .g
mão-de-obra para produção desses bens. Desse modo, variações na redução do Funcionário público com alta qualificação -4,70 -2,77 -6,39 ,~
Apesar de uma queda um pouco menor do que a dos salários, 10 a renda das
Somente em Exr85 temos uma pequena variação do desemprego, C0111 ex-
all1ílias sofre uma queda generalizada e significativa nas simulações. Em
ceção apenas dos informais não-qualificados. Nas demais simulações, a queda
.av85e lnv85, as famílias pobres rurais lideram as perdas, resultando na queda
de salários não evita totalmente a queda do nível de emprego.9 Os trabalhadore~
~gnificativados salários e dos empregos rurais. Em Sav85, as demais perdas
informais não-qualificados e os trabalhadores rurais sofrem as maiores queda:
.lgnificativas são das demais famílias pobres, com exceção das chefiadas por
no nível de emprego, sendo -0,77% e -0,68% em Sav85 (aumento de desempreg
Inativos.Em Inv85, além das famílias rurais são bastante atingidas as famílias
9 Contribuem para a queda do emprego o aumento de produtividade de alguns setores beneficia- ;---
dos e as diferentes elasticidades adotadas para cada tipo de trabalho. o ESse fato confirma a importância das fontes de renda familiar, distinta de salários.
288 289
pobres chefiadas por mulheres. As menores reduções de renda são das famílias As variações da desigualdade também acompanham essa evolução com
~ urbanas de renda média, sendo esse efeito mais significativo na simulação 1nv85.
"l
menor intensidade. Esse efeito é menor do que a pobreza devido ao resultado j
g No caso de Exr85, as famílias pobres urbanas e rurais perdem igualmente, das famílias de renda média urbana. Tomando como referência o índice de Theil, .~
~
ê sendo as mais atingidas. As famílias urbanas de renda média também sofrem as a desigualdade aumentaria em 0,75% em Sav85 e 1,02% em 1nv85, como conse- ~
'""
! menores reduções. qüência das famílias rurais.
1\
~
~ "'"
Indicadores de preços ~
'" Tabela 6
~
f Indicadores de pobreza (VARIAÇÃO PERCENTUAL EM RELAÇÃO AO ANO-BASE)
~b~8 "'a"
2
SAV85 EXR85 INV8S
Indicadores de preços (VARIAÇÃO PERCENTUAL EM RELAÇÃO AO ANO-BASE) .I
Linha de R$ 50 SAV85 EXR85 INV85
6,60 4,18 7,79 Como havíamos comentado anteriormente, ocorre uma queda acentuada ]
P1 do índice de preços relativos de produção, -10,60% em Sav85 e -11,33% em ~
Linha de R$ 100 Inv85.Essas variações são necessárias para provocar uma desvalorização real ~
1,67 0,99 4,31 docâmbio de 15,01% e 15,66%, respectivamente. Em termos de preços relativos ~
PO
etoriais, o setor de agricultura/pecuária é perdedor, com queda dos termos de ~
6,18 3,95 8,75
P1 trocade --4,03%em Sav85, chegando a -7,0% em 1nv85. ~
Em Exr85, o movimento de preços relativos é para cima, com uma elevação ~
P?nd~radado índice de preços de produção de 4,23%. A desvalorização real do
Esses fatos resultam num aumento inequívoco da pobreza em ambas as si-
cambIOacompanha as demais simulações, mantendo-se em 14,03%.12Existe
mulações e em todas as linhas de pobreza de R$ 50, R$ 75 e R$ 100 (valores de
U~1d melhoria para os termos de troca agrícola com relação às demais simula-
1995). Em Sav85 a Pl da linha de R$ 50 apresenta um aumento da pobreza de es, com perda de apenas -2,7%.
9,06%, enquanto em 1nv85 este valor é de 6,98%. Essas diferenças não se man~
têm para as linhas de R$ 75 e R$ 100, sendo o aumento da pobreza em Sav8) . ~o ponto de vista da evolução da receita bruta setorial, os setores mais be-
u fIcl~do~são aqueles protegidos pelo acúmulo de alíquotas altas e restrições
menor que o de lnv95.11
antIlauvas, tais como automobilístico-mecânica, plástico-borracha e têxtil-
tuário.
Tabela 7
SAV85 EXR85
- 4 • Conclusão
Coeficiente de Gini
0,75
0,39
-0,77
-0,33
-1,02 on~ramoscom freqüência aplicações voltadas para simulações de mudanças
regIme no comércio exterior, envolvendo tanto modelos de um único país
t---
o . .
~~ol~d;cado~de taxa de câmbio é uma ponderação dos preços domésticos setoriais (pd) divi-
no c p. e~os mtemos dos produtos importados (pm) e exportados (pe), ponderados pelo seu
rdo~I~~fCIo.extemo total (E + M). Ou seja, uma desvalorização é resultado de uma elevação
I I Para a linha de R$ 100, o aumento na pobreza d e 8, 75~o slgm"f'Ica uma d'elenoraça'odascondi
li'
inler~o. ços mtemos dos bens lradeables com relação aos preços dos produtos vendidos no mer-
para uma parcela significativa da população brasileira.
290 291
-....
~J,.- _
como modelos que incorporam vários países de uma determinada zona geográ- pela queda acentuada na renda das famílias pobres rurais. Entretanto, esse fato
'ê fica ou comercial. 13 não ocorre na simulação Exr85. Uma explicação para essa diferenciação é a me- ~
~
~
:::
Essa aplicabilidade do instrumental para avaliação de políticas de conlér- lhor performance das famílias rurais, pobres e médias, nessas simulações. j
~ cio exterior pode ser explicada pela capacidade de incorporarmos num modelo Para finalizar, podemos constatar, por interméido das simulações anterio- '"
1 ;
" CGE varias particularidades empíricas da estrutura econômica de um país, bem res, a importância do instrumental aplicado de equilíbrio geral para análise de ~
~ como especificidades do setor externo que são fundamentais na determinação políticas que têm impacto sobre a pobreza e a desigualdade. Esse fato pode ser t
'" dos resultados de política econômica. constatado tanto na multiplicidade de fatores que influenciam o bem-estar das ~
.~
,g Neste artigo, seguindo essa tradição, utilizamos um CGE Model para a eco- famílias como diante das diferentes combinações de simulações que uma mu- ~
nomia brasileira a fim de simular os efeitos de um processo de " fechamento" de dança de política permite. ~
ê-
nossa economia. Evitando arbitrariedades, reproduzimos algumas característi- .:::
cas básicas do setor externo da economia brasileira em 1985, tais como tarifas, ~;::
Anexo 1 CQ
controles quantitativos e magnitude do déficit externo em conta corrente. g
.~
Primeiramente, os resultados alcançados demonstram uma certa sensibi- As equações e variáveis do modelo .~
lidade com relação ao formato adotado para as simulações. Esse fato é particu- ~
larmente evidente para as variáveis de emprego e desigualdade, principalmente O modelo utilizado é de equilíbrio geral computável, simultâneo, multisse- -'!i
na simulação em que a modificação dos parâmetros externos é acompanhada toria l,êheterogêneo e sistêmico, que soluciona endogenamente para quantidades .,;:,;
de uma desvalorização da taxa de câmbio (Exr85). Essa mesma sensibilidade e preços. O ponto de partida desse modelo é Robinson, Lewis e Devarajan (1991). ~
,~
não pode ser verificada na utilização de fechos diferenciados para a identidade Basicamente, é um modelo de equilíbrio geral com especificação neoclássica, em ]
entre poupança e investimento (Sav85 e Inv85). que os agentes respondem aos preços relativos como resultado da maximização ;::
de lucros e utilidade, determinando níveis de produção e consumo. Nesse caso, o ~
Quando analisamos os resultados, verificamos que os agregados macroe-
equilíbrio dos mercados de fatores e mercadorias é alcançado por meio da varia- ~l;;
conômicos apresentam a mesma direção de queda em todas as simulações. Esse
mesmo comportamento é verificado para os salários. Particularmente, os seg-
ção de preços, simulando o funcionamento dos mercados de trabalho, produtos e ê
cânlbio. ;::
:::
mentos mais prejudicados são os trabalhadores rurais e os trabalhadores por
conta própria (em Sav85/Inv85) e o informal não-qualificado (em Exr85). Os As equações e identidades do modelo relacionadas a seguir estão agrupa- ]i
-..:
que perdem menos são os trabalhadores urbanos formais de média qualifica- das em seis blocos distintos: preços, produção, renda, demanda, equilíbrio de
ção. Quanto ao nível de emprego, os resultados são dúbios, com as simulações mercados e fechamentos do modelo.
Sav85/Inv85 apresentando uma queda suave e a simulação Exr85 apresentan-
Bloco de preços
do uma pequena elevação.
Por outro lado, quando analisamos os indicadores de renda, existe uma 1) Pmi =Pwim(l+tim)R
única tendência de queda da renda familiar, com pequenas variações de magni- 2) Pie=PWie(l+tie)R
tude entre as simulações. Em Sav85/Inv85 as famílias mais prejudicadas são a- 3) Piq=(Pid.Di +Pim.Mi)/Qi
rurais pobres, seguidas das demais famílias pobres. No caso de Exr85, essas fa-
4) Pi X=(Pid.Di +Pie.E i)1 X i
mílias pobres perdem igualmente.
5) PiV=Pix(l-tix-tisOC)- ~jPjq.a ji
Diante dos resultados expostos, todos os indicadores de pobreza, em toda-
as linhas, apresentam deterioração. Em geral, a sensibilidade é mais acentuada 6) Pik= ~jPjq.b ji
para a intensidade da pobreza do que para o número de pobres. Entre as simula- 7) PINDEX= ~ipwtSi .Pix
ções, os piores resultados são os da simulação Inv85.
O primeiro bloco de equações traz as relações entre preços. O modelo per-
Com relação à desigualdade, os resultados não são uniformes. Pequena. mite substituição imperfeita, no consumo e na produção, entre bens domésti-
variações positivas nos índices de Theil e Gini, nas simulações Sav85/Inv85, cos e bens importados. Nas equações 1 e 2, os preços (internos) dos bens impor-
indicam uma deterioração da distribuição de renda, provocada principalmente tados e exportados são iguais ao preço no exterior (pW111, Pw,e), convertidos pela
t~xa de câmbio (R) e ajustados pela incidência de tarifas (importação) ou subsí-
13 Um texto dc referência para essas aplicações podc ser encontrado cm François e Reinert (1997)- diOS (exportação).
r.~ __ 2_9_2 293
Na equação 3, os preços dos bens compostos de cada setor (formado ifot'matiol1.Adicionalmente, a demanda de produtos exportados é determi-
~ uma combinação de bens importados e produzidos domesticamente) são l n ~conjuntamente pelas equações 13 e 14, que representam a maximização ~
~ média ponderada dos preços dos bens domésticos e importados. Da mesma ladodo exportador e a demanda externa que compete por preços, com bens l
~ ma, na equação 4, os preços dos bens produzidos internamente (Pix) são uu [ilUlOS produzidos por outros países (pwsei). {l
! média ponderada dos preços vendidos no mercado doméstico(Pi d) e os prc '"'"
1'\
~. dos bens exportados (Pi e). oco da renda das instituições e tributação 1:
-ii
g Na equação 5, temos o preço do valor adicionado líquido, que é obtido r
t
'"1:
E dualmente do preço doméstico, descontado dos bens intermediários (Pjq) ed
enda bruta dos fatores
Renda bruta dos trabalhadores por tipo de trabalhador
~
alíquotas de impostos indiretos. Finalmente, na equação 6, os preços dos bcn
de capital são uma média ponderada dos preços dos bens compostos, de acord
com a composição setorial do capital (bji)'
17) YI = LiW!I .WFDISTil,Fil
Renda do capital
.i
Bloco de produção ou quantidades
18) K1NCi=(Piv-mgl).Xi- LIWFI,WFDISTil.Fil
Renda do pequeno capital
8) Ldi=nIFi?li J9)IaNCSMi =smcoe/; .IaNCi
9) X i =a f .[
a i .Ld ;*piP + (l-az).K(*pip (*l/pip
Rendados agentes
**pip . **pip
la) WFI.WFDISTil,Fil =(Piv-mgil,Pli .ai.X i .Ldi /[aI.Ldi + Renda das famílias
'+ (l-ai ).K ;*piP] 20) YHh = LIEM'YI +Eh,smjirm.YDSFIRM+ Lho 8hho ,YDh +
+6h,jinn .YDFIRM + PINDEX .gtranph.gtranl+ PINDEX ,strant(h)+remith.R
11) INTi =L.a ji'X j
Renda das firmas grandes
12) xi=aT[y/E;*Pit + (l-YilD;*Pit (*(l/pit-l)
21) YFIRM= Li (I(]NCi-I<INCSMil+ Lho 6 jinn,ha .YDha +
**l/pit
13) E i =Di[Pie(l-yz)/ Pid.Yil +PlNDEX.gtranp(jinn) .gtranl+t(jinns,w).R
**(-l1i) Renda das firmas menores
14) Ei =econi[PWie/pwsei]
22) YSMFIRM= L/<INCSMi +PINDEX.glranpi(smjinn) .gtrant
15) Qi =aic[Oi .M;*(-piC) +(l-OI)D~-PiC)(*-l/(pic)
Rendadisponível
16) Mi =Di[Pid.oi/ Pim(l-Ol) (*-(1/1 + pic)
Famílias
No bloco de produção, a equação 8 é uma agregação dos vários tipos de tra- 23) YDh =(l-Ihl-YH h -R.intjlh(h)
balho, utilizando uma Cobb-Douglas. Na equação 9, a produção é uma agrega- Firmas grandes
ção Constant Elasticity ofSubstitution (CES) de trabalho e capital (fixo no períod~l.
24) YDFIRM=(l-tJ -pinslax{firm) ).YFIRM -R.intfli{firm)-DEPRBC
A demanda intermediária do bem) no setor i é dada por uma função de LeonUt'
na equação 11. Os salários de cada tipo de trabalho (equação la) são dados pela Firmas pequenas
maximização dos lucros da função de produção e dependem da produtividade 25) YDSMFjRM=(l-lsmjinn -pinstax(smjirm) ).YSMFIRM
marginal de cada tipo de trabalho. Renda do governo
Na equação 15, os bens domésticos vendidos no mercado interno são (onl- 26) TARIFF= L.Pwim.Mi,lim ,R
binados com os bens importados por meio de um CES system, resultando no ~ro- 27) INDTAX= ~
duto composto (Q) ofertado no mercado doméstico. A demanda pelos bens 101- Li p.xI .x. I' t.IX
28) EXPSUB= L/Wie.Ei,tie.R
portados é dada pela equação 16.
Na equação 12,a produção doméstica (X) é alocada entre a exportação (~) eO 29) DIRTAX= Lhthh'YH h +t J .YFIRM+tsmjirm.YSMFIRM
mercado doméstico (D), através de um sistema de (CETsystem) Constant ElastlC1Iy4 32) GR=TARIFF+INDTAX +DIRTAX +gjbor.R+SOCBAL-EXPSUB
294 295
-----
....
35) SOCBAL = Li tsoei .Pi x.X i + pinstax ([zrm)YFIRM + úb!icos.A equação 32 calcula a receita total do governo, incluindo o balanço da ",-
...----
+pinstax (sm[zrm)YSMFIRM + PlNDEX .gtranpi(prev) .gtrant- re\'idência e os subsídios, e as receitas provenientes de impostos. ~
-PlNDEX. Li/trant(h) Desse modo, a equação 34 calcula o déficit (ou superávit) do governo, em .~
{j
unçãoda diferença entre receita total e os gastos totais do governo, inc!u~ndo o ;;
Poupança
onSUIl10 total do governo, as transferências totais e o pagamento do debito ex- ~
30) DEPREC= Lidepri ,Pik.Ki terno em dólares. t
31) HHSAV= LhMPSh .YDh Finalizando este bloco, a poupança total (equação 33) é dada pela soma da ]
34) GOVSAV=GR- L/iq.GDi-gtrant.PlNDEX -R.gfdebser poupançadas famílias (equação 31) e das e~presas, .pe~adepreciação do c~pi- ~
33) SAVING=HHSAV+GOVSAV+DEPREC+mpsi([zrms) .YDFlRM+FSAV.R taLpelosuperávit da conta de capitais em reais (multIplIcada pela taxa de cam- ~
bio)e pelo déficit ou superávit das contas públicas. t
No bloco de renda, a equação 18 representa a renda total do capital (KINCi), ;:<
co
que é dada pelo valor adicionado setorial menos o total pago em salários. 'a Bloco de demanda e de despesas i:'
equação 19, a renda do pequeno capital (autônomos e pequenas empresas) é
~ma proporção setorial da renda total do capital. A equação 21 representa a ren-
36) CDi .Piq=~ih 'LhQ-MPSh)[l- Lho8hoh -iheoef([zrm.h) ]YDh I
.;::
da das grandes empresas, formada pela remuneração do capital, pelas transfe- 37) GDi=~f .GDTOT ~
rências do governo (renda de juros da dívida interna) e pelas transferências re- ~
38) DSTi=dstri .Xi ~
cebidas do exterior. Na equação 24, a renda disponível das firmas é dada pela
renda total anterior menos os impostos diretos das grandes empresas, as remes-
39) FXDlNV=INVEST- L/iq.DSTi !
sas para o exterior em dólares e a depreciação do estoque de capital. 40) Pik.DKi =kshri .FXDlNV E
As pequenas empresas estão representadas nas equações 22 e 25, com a 41) lDi= Ljbij .Dk j ~
renda sendo formada pela remuneração do pequeno capital e pelas transferên-
Nobloco de demanda, o consumo das famílias (CDi) é dado pela maximiza- ~
cias do governo (corrigidas pelo PlNDEX), e a renda disponível sendo dada pela
dedução dos impostos diretos e da contribuição dos autônomos para a previ-
çãode uma função utilidade do tipo Cobb-Douglas, restrita pelo orçamento fa- ê
miliar,resultando na equação 36. Na equação 37, o consumo do governo é uma ~
dência. proporçãofixa dos gastos totais do governo. <>:
que são mais usuais; entretanto, ao longo das simulações serão utilizadas dife- Por outro lado, parâmetros específicos, como as elasticidades das funções ]
rentes regras de fechamento. Na equação 48, a taxa de câmbio é nominalmente comp~rtam~ntais externas e de produção, foram retirados da literatura empíri- ~
ca aplicada as economias brasileira e norte-americana.
fixa e o PINDEX é endógeno, determinando a taxa de câmbio real.
O modelo na maioria das simulações é savings driven com o investimento t -
tal sendo determinado pelo valor da poupança agregada, sendo a propensão a Bibliografia
poupar exógena (fixa) das famílias (equação 50). Na literatura sobre CGEs,e DEà~A~, I:, ROBINSON: S. Macroeco.nomic adjustment and income
fecho é comumente identificado como neoclássico. Alternativamente, o mod - IstnbutlOn: alterna tive mo deis aphed to two economies. Journal of
lo pode ter investimento fixo, ficando a propensão endógena, o que é identifica- Development Economics, v. 29, North Holand, 1988.
do como Kaldorian closure ou investment driven modelo
B RRos,R. P., CRUZ,L. E., FOGUEL,M., MENDONÇA, R. Brasil: abertura comercial e
No caso do governo (equação 51), a quantidade de consumo é normalmen- mercado de trabalho. Peru: OIT, 1996, 75 p. (Documento de Trabajo, 39).
~ te fixa. Entretanto, seu custo de produção é variável devido à variação dos pre-
ços dos insumos e da mão-de-obra para produção desses bens. Alternativamen- BL\\~~~~OWER,D. G., OSWALD,A. J. The wage curve. Cambridge: MlT Press,
te, o déficit do governo poderia ser endógeno.
CUR':, S. t:I0delo de equilíbrio geral para simulação de políticas de distribuição de renda e
~esclmento no Brasil. São Paulo: FGV, 1998, 175 fl. (Dissertação de
Outorado ).
--
14 Dado que o modelo respeita a lei de Walras, para equilibrarmos n equações precisamos de equi
brio em n-1.
uafro
15 A função-objetivo não influencia a solução do modelo, pois esse tem solução única dada a ig
16 Para d t Ih
dade entre equações e variáveis. e a amento do processo de elaboração da MCS Brasil 1995, ver Cury (1998).
298
~ DE JANVRY,A., .SAUDOLET,E. Quantitative development policy analysis. Baltim . Geografia e convergência
E Jonh Hopkms University Press, 1995. ore.
<Q da renda entre os
g estados brasileiros
il FRANÇOIS,~. F., REINER! K. A. Applied methods for trade policy analysis: a handbook
15 Cambndge: Cambndge Umversity Press, 1997, 560 p. .
~
"
~ KUME, H: A política tarifária brasileira no período 1980-88: avaliação e reforma. Rio de
51 JaneI~o: IPEA/INPES, mar. 1990 (Estudos de Política Industrial e Comércio
.:!!> Extenor, 17).
2$
..A política de in:portação no plano real e a estrutura de proteção efetiva. Rio Carlos Azzoni*
de JaneIro: IPEA, maIO 1996 (Texto para Discussão, 423). N aércio Menezes- Filho*
MARKWALD, R., PIN!,!E.IRO,A:, FA~CÃO, c., POURCHET, H. Índices de preço e
Tatiane Menezes*
quantum. do comemo exterIOr. RIO de Janeiro: Projeto IPEA/Funcex, mar. Raul Silveira Neto*
1998, mImeo.
n+g+o)
f,yit =lny(t2)-lny(tI)
Com o produto por trabalhador efetivo dado por y(t)=ka (t)G, podemo Y=(l-e-À.1: )
aproximar sua variação de tempo em torno dosteady state para obter (em log5):
Si =(l-e-À.1: )_1_[ alns-(a+p)ln(n+ g+O)+ InA(O)/_I_]
I-a-p I-a-p
dln(Y(t)) -À( In(Y*)-ln(Y(t))1
dt
111 =g(t2_e-À.1: tI)
onde À=(n+g+O)(l-a).
O crescimento do produto per capita durante o período 't = t2 - tl em tofll ndeG e H representam as variáveis de capital humano e geográfico.
do steady state será: .
A.Construção das coortes
dk ~ . A
!
.;'>
tes geográficas com base em datas de nascimento e calcular médias de cOar(
por ano para todas as variáveis de interesse, incluindo renda, educação, parti i.
d o subscrito c significa que as variáveis são agora médias de coortes por es-
\OCe por ano, X = controles familiares e L F = variáveis do ciclo de vida.
]
~
~
~
~ pação da força de trabalho e condições de vida [Browning, Deaton c Iri
~
.~ (1985) e Attanasio e Browning (1995) l. Propomos estender esta metodologi
~ 5 . Dados utilizados ~~
de forma a incluir o estado de residência como uma nova variável e derivar ll1 '.
dias de coortes por anos e estados para as variáveis de interesse. O valor atribuí. A implementação do modelo descrito acima requer dados de painel, não :~
do para cada coorte no estado s e no ano t é: iltnente disponíveis em geral. No caso brasileiro estão disponíveis as PNADs, ~
nduzidas pelo IBGE anualmente. Essa informação pode ser usada como um ~
ncsr 'udo-painel, por intermédio da construção de um modelo que se assemelha a ~
L InYi 111 modelo de nível individual, mas que no entanto é para coortes [ver Ravallion
J 98a) l. Devido às limitações dos dados. apenas 19 dos 27 estados foram con-
~
y(S(------
idcrados no estudo, sendo que os excluídos pertencem à relativamente mais
abitada região Norte. O número total de domicílios considerados em dife-
ntes anos varia de49.514a 90.776, com uma média de 58.328.' O número mé-
onde: n,sr é a proporção de indivíduos de uma família nascidos em um inter.
I de domicílios por coorte é 269. Devido ao pequeno número de observações
valo determinado de anos (por exemplo, 1940 a 1945), que vivem no estado,
n algumas coortes, apenas 2.166 delas foram consideradas na análise.2
no período t. Dez coortes foram construídas para cada estado em cada ano.
mesmo procedimento foi aplicado para todas as demais variáveis incluídas na As principais variáveis são as apresentadas na Tabela 1. A variável depen-
análise, de forma a gerar, por exemplo, um número médio de anos de estud JJle (y) usada é a renda mensal do trabalho na ocupação principaL per capita.
mbém realizamos alguns experimentos com duas outras variáveis, renda do
para as pessoas inclusas em cada coorte, e assim por diante para todas as outr
balho por hora e renda total, com nenhuma alteração aparente aos resulta-
variáveis.
. o Gráfico 1 mostramos a evolução da renda per capita ao longo do período
As vantagens de tal procedimento são muitas. Em primeiro lugar e ma: vai de 1981 a 1996 para quatro macrorregiões do Brasil. A primeira observa-
importante o uso de microdados permite controlar as mudanças na campo 1 indica o nível de renda: a média de todos os estados no Brasil ao longo do pe-
, - . d
ção da população em cada estado, o que nao pode ser controlado por melO de 16anos é de US$ 45 por mês, ou US$ 540 a.a., o que indica um baixo nível
uso de dados agregados. Um segundo aspecto está no fato de que podemos con- nda em todo o país. Em segundo, uma leve tendência de declínio é observada
trolar os efeitos do ciclo de vida e das gerações, o que vale dizer que estamo . todos os estados e regiões, mostrando que a renda média reduziu-se no Brasil
fato, considerando os efeitos das variáveis geográficas sobre o crescimento me o período em estudo.
renda e a convergência dentro de uma geração ou para uma população dc m
ale destacar o pico verificado em todas as regiões no ano de 1986, relativo
ma faixa etária. Em terceiro, pode-se identificar os efeitos fixos por estado
ano Cruzado, que incluía grandes controles de preço como forma de redu-
que seja preciso basear- se nos componentes temporais da série, uma vez qu I
inflação. Como o plano foi antecedido por uma depressão aguda em 1983,
.. mos diversas observações (neste caso 10) para cada estado em um dado ano.
) ante de 1986 algum crescimento da renda pode ser observado. Os níveis
nalmente, podemos nos basear nas diferenças entre gerações dentro de um::
da caíram após 1986, apresentando apenas alguma recuperação em 1994,
po de estado por ano, de forma a identificar os efeitos de capital humano obr
a implementação do Plano Real, que acabou produzindo o pico observado
crescimento, por exemplo, que não são facilmente identificados através do li
I 95. Finalmente. vale mencionar a diferença entre a região Nordeste e as
de dados agregados [1slam (1995) l. A maior desvantagem do uso de dado
três regiões em termos de níveis de renda, sendo que esta apresenta níveis
coortes é que, caso haja erros de medição no nível das famílias, estes prova
mente serão carregados para as médias das coortes, a menos que os taman
bela 8 apresenta médias e desvios. padrão para todas as variáveis de cada estado.
das células sejam suficientemente grandes.
z. dos 3.040 casos possíveis (10 coortes x 19estados x 16 anos). As pequenas coortes estão
da entre os mais jovens nos primeiros anos do período e entre os mais velhos para os anos
entes. Apenas Coortes com pelo menos 30 domicílios foram incluídas na amostra.
4:
",
O
"""
Desigualdade e pobreza 110 Brasil 0\
Tabela 1
NORDESTE E SUL E
BRASil CENTRO-OESTE SUDESTE
CÓDIGO
MÉDIA DP MÉDIA DP MÉDIA DP
Variável dépendente
Renda familiar mensal per capita y 71.103 156.911 56.522 121.330 96.097 201.583
Familia
Sexo do chefe da família (masculino = 1; feminino = O) Sexo do chefe 0,835 0,079 0,832 0,077 0,840 0,081
Educação: anos de educação do chefe da família Educação do chefe 3,858 1,654 3,199 1,367 4,987 1,486
Domicílio
Densidade - pessoas por cômodo Densidade 0,913 0,206 0,982 0,203 0,796 0,152
(("()lIlilllltl)
NORDESTE E SUL E
BRASil CENTRO-OESTE SUDESTE
CÓDIGO
MÉDIA DP MÉDIA DP MÉDIA DP
Fogão (possui fogão = 1; não possui = O) Fogão 0,915 0,110 0,876 0,121 0,983 0,016
Refrigerador (possui refrigerador = 1; não possui = O) Refrigerador 0,572 0,208 0,457 0,147 0,771 0,136
Eletricidade (possui energia elétrica = 1; não possui = O) Eletricidade 0,769 0,166 0,694 0,152 0,898 0,092
Água (possui água encanada = 1; não possui = O) Água 0,621 0,185 0,522 0,140 0,792 0,116
Lixo (coleta de lixo disponível = 1; não-disponível = O) Lixo 0,497 0,191 0,418 0,163 0,633 0,157
Geográficas
Urbana/rural (urbana = 1; rural = O) Urbana 0,675 0,140 0,618 0,121 0,773 0,114
Expectativa de vida (IDH) Expectativa de vida 61,199 4,001 59,694 3,640 63,778 3,196
Mortalidade infantil (IDH) Mortalidade infantil 65,473 35,407 82,187 34,048 36,821 10,758
Temperatura - graus celsius Temperatura 19,892 4,334 21,778 3,738 16,661 3,241
índice pluviométrico - mm/ano Chuva 103,039 24,553 92,485 22,393 121,133 16,079
~ Renda per capita das macrorregiões brasileiras Renda per capita por idade do chefe da família entre
~
1:
t•.. Log da renda per (apita (R$/mês) coortes
•.. 4.5
11 tog da renda (R$/mês)
~ 5
il Sul
,~
---
Sudeste
4
3.8
3.5
3
I I I I I I I I I I 13
I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I 12
1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996
11 14 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 62 64 66 68
Idade do chefe da família
mais baixos, e as demais, níveis mais altos. Os dados de médias anuais para o uI,
Sudeste e Centro-Oeste estão próximos a US$ 800, sendo que para o Nordeste Gráfico 3
estão em torno de US$ 360. Ao longo do tempo, não há indicações de que e~t
diferença esteja declinando.
Escolaridadedas famílias entre coortes
No Gráfico 2, apresentamos a renda per capita por domicílio por coorte (ali
faixa etária). Cada coorte é representada por uma linha, sendo que o conjUJ1l s de estudo 6,5
de linhas indica a tendência geral. O tradicional comportamento do ciclod
vida da renda é verificado, ainda que não tão claramente quanto se dados indi-
viduais tivessem sido utilizados. A renda cresce conforme envelhecem os indi-
víduos mas, até certa idade, cresce também o número de filhos, o que não pennil
que haja um crescimento da renda média. Para indivíduos acima dos 40 ano d
idade, a renda média declina conforme o esperado. Para cada coorte (cada linha).
verifica-se o comportamento do ciclo de vida da renda.
A mesma disposição de coortes é utilizada no Gráfico 3, para o nível de e -
colaridade do chefe de família. De modo geral, o número de anos de escolarida-
-.•_--_ •.•.•... ----- .•.•. - .... --_ ..
de é muito baixo, com uma média geral de 3,8 anos para o país como um todo.
inclinação positiva das curvas por coorte mostra que o número de anos de es(~-
laridade cresce em cada uma das coortes conforme o chefe de família fica mal.
- •... -~
.\.,......
.•-_ •.
velho, mas apenas até um determinado nível de faixa etária (em tomo de ~ " -- 1.5
anos), após o qual as curvas são planas, revelando que os chefes de famílias na -.....L_...L_...L_l...-_l---l_-l._.....L_....L_....L.._--'-_-'--_'------:--:--''---::::-1
25 28 31 34 37 40 43 46 49 52 55 58 61 64 67
mais investem em educação. A disposição geral de declínio das curvas rnOS1ra
310 311
,,\~-'J..-:'--':
que as gerações mais jovens apresentam maiores níveis de escolaridade quand Gráfico 5
~
E comparadas às gerações mais velhas, como resultado das melhorias realizada
'"ê no sistema educacional brasileiro ao longo do tempo. Comportamento das variáveis geográficas nos estados
~
~ Isso também pode ser visto no Gráfico 4, onde o número total de anos d brasileiros
â" escolarida d e para cada macrorregião e' mostrado. Uma tendência crescente é
~ observada para cada região mas as diferenças de níveis são importantes: as dife-
:i!
.~
renças entre as regiões Sul e Sudeste são pequenas, com o Centro-Oeste ficando
log
------'
~- -
Indice pluviométrico (cm'la~
.
da) latitudeJ e a temperatura em junho (mês que apresenta a maior variação en. .. ------------_.------
tre os estados do Brasil). Elas são mostradas no Gráfico 5, no qual os estados são
posicionados sobre o eixo horizontal em ordem decrescente de níveis de renda
per capita. O gráfico deixa claro que há uma correlação positiva entre o nível d' 2
renda e as variáveis Índice pluviométrico e latitude, e uma correlação negativa
entre renda e temperatura.
11
SP MS RJ RS MT SC PR GO MG ES SE BA PE AL RN CE PB MA PI
Gráfico 4
Nível educacional nas macrorregiões brasileiras Duas variáveis de controle são mostradas no Gráfico 6: situação urbana
(I )/rural(O) e densidade (pessoas por cômodo no domicílio). A primeira apre-
--------------------- 6 enta correlação positiva com a renda, o que significa dizer que os estados mais
•....... 5.5 pobres têm uma porcentagem maior de pessoas vivendo em áreas rurais. A den-
Sudeste .,._" _ • __.......•.,.""
•••• _.- .-.- •.- .-.- idade, por outro lado, apresenta relação negativa com a renda, uma vez que os
~~~~ 5 tados mais pobres tendem a ter mais pessoas por cômodo no domicílio.
._---_
~~
.•...... -....
.......... ,,:, .. As variáveis de infra-estrutura incluem acesso a saneamento básico, ener-
•...... 4,5
ia elétrica e sistema de coleta de lixo. Os níveis médios por estado são mostra-
,,---'" ,#-------------- no Gráfico 7, no qual os estados são posicionados em ordem decrescente de
....... -_ --_ .. Í eis de renda (domicílios com acesso ao serviço = I, sem acesso = O). Como
Ir ser visto, há uma correlação positiva entre a porcentagem de domicílios
25'"
1981 1982 1983 1984 1985 1986
I
1987
1
1988
I
1989
I
1990
I
1991
I
1992
I
1993
I
1994
I
1995
I.-J
1996
2
m acesso e a renda, para todas as três variáveis.
Finalmente, o Gráfico 8 apresenta duas proxies para a eficiência dos serviços
üblicos: a taxa de mortalidade infantil e a expectativa de vida. Fica claro que a
I eClativa de vida aumenta com o nível de renda do estado e que a mortalida-
infantil decresce com a renda. Também está claro que há uma grande dife-
n a entre os estados da região Nordeste e os demais, já que os primeiros apre-
ntam níveis muito mais altos de mortalidade infantil.
Outras variáveis de capital humano são a escolaridade do parceiro do chefe
3 Por todo o artigo a negativa da latitude será utilizada de forma a facilitar a interpretação do
fall1ília e uma medida da defasagem de escolaridade dos filhos (número de
ficientes. Portanto, os estados (mais ricos) do Sudeste mostrarão um maior valor e os estados (I
pobres) do Nordeste apresentarão um valor menor para esta variável. n de escolaridade efetivamente realizados dividido pelo número esperado de
312 313
.• -....... Gráfico 6
~
::
CCl
"F.-~;,"~..
,~ " ~ •• 20
g
.. -- ,,,
, . , - 65
0.8
80 -
--...•
.• ,,
0,6 - 60
60 -
Região urbana (7) região rural (O)
\,
0,4 Mortalidade infantil
40- Expectativa de vida
- 55
--------------------------------- 0,2
20 -
O
'--SP-..L-M-S--'--RJ-..L-R-S--'-M-T---'--S-C--'--PR---'--G-O--'--M-G..L--ES--'--S-E.l-B-A....L-PE-L-A-l....LR-N-L-C-E ....LP-B....L-M-A..!-P......JI
! O LI
_L.-L_L.....L_.L---l._...L--l_...L._L--l..._.l-~_...J....--'--'-_.L-- .....•..
_! 50
SP MS RJ RS MT SC PR GO MG ES SE BA PE Al RN CE PB MA PI
colaridade para aquela faixa etária). As variáveis de ciclo de vida incluem ida-
Gráfico 7
d e participação do chefe de família, cônjuge e filhos na força de trabalho. Ou-
rrasvariáveis de controle incluem o sexo do chefe de família e medidas de rique-
Variáveis de infra-estrutura para os estados brasileiros 'la da família. tais como existência de fogão e geladeira. Dummies de tempo e co-
rte também foram incluídas. As correlações simples entre as principais variá-
is usadas na análise são apresentadas na Tabela 2.
"
"
.:.;'
~
~
Des(qllaldade e pobreza 110Brasil ,j:l.
Tabela 2
Ln (y) to In (y)
1
EDUCA ÃO
DO CH FE
SEXO DO
CHEFE
PARTICIPAÇÃO
DO CHEFE
EDUÇAÇÃO DO
CONJUGE
PARTICIPAÇÃO
DAS CRIANÇAS
FOGÃO
REFRIGE-
RADOR
DENSI.
DADE
METRO-
POLlTANA
Ln(y)
--
D In(y) 0,378*
Densidade 0,002 0,077* -0,187* 0,488* 0,159* -0,011 -0,255* -0,492* -0,561 *
(("()lI/in/uI)
(('OllliJ1Iltlr(i(J)
----
SEXO DO PARTICIPAÇÃO EDUÇAÇÃO DO PARTICIPAÇÃO REFRIGE- DENSI- METRO-
EDUCAÇÃO FOGÃO
Ln (y) to In (y) CHEFE DO CHEFE CONJUGE DAS CRIANÇAS RADOR DADE POLlTANA
DO CHEFE
0,296* 0,008 0,414* -0,078* -0,013 0,255* -0,063* 0,316* 0,419* -0,174*
Metropolitana
0,508* 0,063* 0,652* -0,039* 0,039* 0,494* -0,072* 0,711* 0,773* -0,485* 0,605*
Urbana
0,554* 0,053* 0,617* -0,019 0,004 0,467* 0,031 0,698* 0,838* -0,506* 0,448*
Água
0,455* 0,039* 0,662* -0,074* 0,264* 0,531* -0,019 0,743* 0,881 * -0,612* 0,376*
Eletricidade
0,536* 0,029 0,605* -0,059* -0,03 0,429* 0,054* 0,690* 0,821 * -0,508* 0,535*
Esgoto
0,505* 0,03 0,609* -0,071 * 0,093* 0,460* 0,011 0,672* 0,818* -0,527* 0,447*
Lixo
0,419* 0,002 0,314* 0,144* 0,050* 0,221* 0,086* 0,105* 0,490* -0,191 * 0,073*
Chuva
0,607* 0,033 0,548* 0,067* -0,002 0,384* 0,063* 0,581 * 0,788* -0,495* 0,377*
Latitude
-0,546* -0,033 -0,450* -0,099* -0,040* -0,333* -0,062* -0,547* -0,664* 0,451 * -0,228*
Temperatura
0,251* 0,473* -0,157* 0,449* 0,362* 0,119* 0,419* 0,738* -0,620* 0,158*
Expectativa de vida
° -0,391 * -0,103* -0,519* -0,775* 0,563* -0,214*
Mortalidade infantil -0,455* -0,01 -0,530* 0,018 -0,189*
(COlllilllla)
(cal/til/Ilação)
Desiglhlld,7dt' (' I'(J/Jn'Ztllh) Hr,'Sil -
IJJ
0\
Ln(y)
D In(y)
Educação do chefe
Sexo do chefe
Participação do chefe
Educação do cônjuge
Fogão
Refrigerador
Densidade
(co/1/i/1l1a)
Metropolitana
--
Urbana
-
Água 0.785*
Expectativa de vida 0,463* 0,485* 0,681* 0,505* 0,539* 0,429* 0,534* -0,522*
I
Geografia e eOl/vergência da rmda entre os estados br,lSi/d/H'
•...
IJJ
-...]
318 319
~ 6 - Resultados econométricos
J- ••.•• --
abela 3 ~
E
~
':;: Estimamos a principal equação de interesse de duas maneiras distintas ~sultado das regressões para o nível da renda - variável ~
~ para a variável dependente: o logaritmo da renda percapita (níveis) e as primeiras dependente In (y)
"""
~
i diferenças do logaritmo da rcnda per capita para cada estado.4 A maioria das va.
(3) (4) (s) (6) (7)
<::
'5
:s
.;;; riáveis do lado direito varia em todas as coortcs, anos e estados, com exceção (1) (2)
•.."
~~ para mortalidade infantil e expectativa de vida, que variam de acordo com o ano -0,064 -2,942 -2,734 -2,369 0,436 2,894 3,697 E
Constante (0,720) (0,770)
.~ (0,692) (0,494) (0,421) (0,459) (5,552) ~
t; e o estado, mas são invariáveis entre as coortes, e as variáveis geográficas, que
E
Cl apenas sofrem alterações entre os estados. Os erros-padrão foram corrigidos 0,424 0,236 0,219 0,301 0,303 0,443 ~
Chuva (0,153)
pelo fato de que os dados podem vir de uma população com uma estrutura de (0,222) (0,195) (0,198) (0,136) (0,151 ) .~
.c
grupo, de acordo com a localização geográfica (estado). A presença de erro de 0,281 0,163 1:'
Latitude 0,563 0,327 0,236 0,284 ~
correlação intragrupos e o fato de que os regressores incluem variáveis com va. (0,113) (0,108) (0,107) (0,056) (0,063) (0,081) :3
lores repetidos entre os estados (por exemplo, variáveis climáticas) significa "
Temperatura 0,206 0,351 0,470 0,464 0,455 0,316 <S
que os erros-padrão estimados podem ser inválidos para inferência estatística. (0,155) (0,159) (0,199) (0,129) (0,170) (0,170) "
%'
• Portanto, adotamos a abordagem descrita por MouIton ( 1986) e ajustamos os erros- <5
0,009 0,008 0,003 -0,003 0,041 0,063
padrão OLS; os erros-padrão também são robustos em termos de heterocedastici- Idade
(0,012) (0,019) (0,013) (0,013) (0,009) (0,011)
dade. Variáveis dummies para cada ano foram incluídas em todas as regressões.
Idade" 2 -O 0008 -0,0001 -0,0001 -0,00004 -0,0004 0,001
A Tabela 3 apresenta os resultados das estimações usando níveis de renda (0:0001) (0,0002) (0,0001) (0,0001) (0,0001) (0,0001)
como variável dependente. A coluna (1) apresenta os resultados da regressão
Educação do chefe 0,241 0,168 0,093 0,089 -0,002 0,060
incluindo tanto as dummies de tempo quanto variáveis geográficas. Apenas a (0,028) (0,035) (0,024)
(0,051) (0,035) (0,029)
(negativa da) latitude é estatisticamente significativa e seu sinal revela que,
quanto mais ao Sul, maior a renda do estado. Na coluna (2) foram incluídos os Participação do 2,390 2,726 2,656 2.637 2,775 2,713
chefe (0,227) (0,257) (0,206) (0,193) (0,156) (0,127)
controles de capital humano. Conforme esperado, os coeficientes de escolarida-
de do chefe de família e participação na força de trabalho entram com sinal po- Sexo do chefe 0,621 0,636 0,689 0,617 0,290 0,209
(0,400) (0,418) (0,299) (0,284) (0,261) (0,200)
sitivo, enquanto, condicional a esses resultados, o coeficiente da participação
do cônjuge na força de trabalho entra com sinal negativo. O nível de escolarida- P?rt.icipação do -0,855 -0,885 -0,451 -0,439
de do parceiro não é significa tivo; entretanto, a participação (ou não) dos filho conJuge (0,304) (0,289) (0,131) (0,166)
na força de trabalho apresenta coeficiente positivo e significativo. Vale notar Educação do -0,024 -0,047 -0,019 -0,017
que nesta coluna a latitude permanece positiva e significativa, mas a tempera- cônjuge (0,057) (0,044) (0,035) (0,037)
tura também se torna significativa e positiva.
P~rticipação das -1,442 1,225 1,326 1,320
Esses sinais alternados para as duas variáveis criam um problema, pois o' cnanças (0,230) (0,230) (0,161) (0,164)
estados mais ao Sul (valores de latitude maior) também são mais frios (valore- Fogão -0,408 -0,374
-0,204
menores para temperatura). Criamos alguns experimentos com a variável di - (0,251) (0,243) (0,238)
tância da capital do estado em relação ao mar, para controlar o fato de que as ci- -0,061
efrigerador 0,821 0,529 0,528 0,184
dades costeiras apresentam temperaturas mais altas, independentemente da (0,280) (0,278) (0,224) (0,249) (0,230)
~ latitude, e que a maioria das cidades que são capitais está no litoral. Por outrO
Densidade -0,365 -0,504 -0,457 -0,585 -0,781
lado, os estados mais ricos e com crescimento mais rápido do Centro-Oeste (0,188) (0,135) (0,128) (0,138) (0,137)
apresentam altas temperaturas, estão nas áreas de latitude intermediária e en-
etropolitana 0,180 0,191 0,275 0,469
contram-se bem distantes do mar. Uma interação dummy para temperatura
distância em relação ao mar foi testada mas não se revelou significativa; poréIl1,
fez com que o coeficiente da temperatura também se tornasse não-significativo.
--
Urbana
(0,118)
0,422
(0,120)
0,401
(0,131) (0,351)
4 Dado que os níveis de renda são expressos em logaritmos, as primeiras diferenças indicam as la-
-- (0,247) (0,302)
(contillua)
xas de crescimento.
320 321
~.•...•~...•.. (continuação)
m o mesmo sinal anterior. As proxies para a eficiência dos serviços públicos - -..,---- .•...
..,
':::
l'! (1) (2) (3) (4) (5) ducação infantil, expectativa de vida e mortalidade infantil- incluídas na co- ~
'<l (6) (7)
~ Esgoto luna (5) não são significativas; a posse de geladeira reaparece como significativa. l'!
-0,392 -0,381 -<:o
ê
-<:o (0,256) (0,255) A coluna (6) exclui algumas das variáveis para evitar multicolinearidade, i
'"'"-
" Eletricidade -0,521 -0,523
correndo certas alterações de menor relevância nos resultados. O nível de es- tl:::
{;
~ (0,303) (0,348) olaridade do chefe de família torna-se significativo, o mesmo ocorrendo com ~
~ temperatura. As variáveis de ciclo de vida aparecem agora como significativas ~
.~. Lixo
tl 0,896 0,894 0,949 0,320
Cl
(0,231) (0,190) (0,214) (0,134) e com o sinal esperado; a situação metropolitana é significativa e positiva. E
Apenas uma pequena queda em R2 é observada da coluna (5) para a (6). Final- .:;j .~
E~ucação das 0,138
crianças (0,071) mente, a coluna (7) exclui as variáveis geográficas e inclui as dummies de esta- .!:i
dO,6comalgumas alterações nos resultados dos coeficientes: o nível de escolari- '"
)::
Expectativa de vida -00401
(1,297)
dade do chefe de família volta a aparecer como significativo, as variáveis do ci- ª
elode vida continuam significativas e com o sinal esperado. A maior mudança é '%
Mortalidade infantil -0,030
(0,130)
-0,125
(0,123)
-1,101
(0,239)
a inclusão da mortalidade infantil como significativa e com sinal negativo, revelan- ,g
do que esta é negativamente associada ao nível de renda do estado. Portanto, a
Dummies de tempo ubstituição das variáveis geográficas por dummies não provoca grandes alterações
x X X X X X X nos resultados, que em alguns casos tornam-se inclusive mais razoáveis, como
Dummies dos nos sinais das variáveis do ciclo de vida.
estados x Considerando-se os resultados como um todo, a latitude parece ser a mais
R2 0048 0,88 0,89 0,91 0,91 0,89 0,92 estável das variáveis geográficas, estando presente em todas as regressões com
o sinal esperado e significativo em cinco das seis especificações; as outras duas
ariáveis geográficas aparecem apenas em algumas especificações, com a tem-
A partir desses experimentos, fica claro que a latitude é a mais estável das variá- peratura sempre com sinal contraditório. A participação dos membros da famí-
veis geográficas, sendo que as demais são mais sensíveis à inclusão de variávei lia na força de trabalho é a mais robusta das variáveis de capital humano, com
adicionais. inais positivos para chefe de família e filhos, e com sinal negativo para o cônju-
Com relação às variáveis de riqueza incluídas na coluna (3), apenas a posoe e.Isso mostra que os cônjuges tendem a ter maior participação na força de tra-
de geladeira gera uma diferença positiva e significativa no nível da renda fami- balho quando a renda per capita da família é mais baixa e, conforme aumenta a
liar. Todas as outras variáveis apresentam resultados similares, conforme mo Ira renda, os cônjuges tendem a participar menos. A escolaridade do chefe de famí-
a coluna (2). Variáveis que indicam a situação rural/urbana e o capital de infra- lia não é significativa em apenas um caso. Com relação às demais variáveis, o
es~rutur.a das famílias estão incluídas na coluna (4). Neste caso, a posse de gela- número de pessoas por cômodo (densidade) aparece sempre com um sinal ne-
deIra deIxa de ser significativa,S porém a densidade torna-se significativa, man- ~tivo e é significativo em quatro de cinco especificações. O capital familiar, in-
ten?o o sinal negativo como no caso anterior. Isso revela que os estados com Icado pela posse de geladeira, aparece como significativo e positivo apenas em
maiOr cobertura de coleta pública de lixo e com poucas pessoas por cômodo ten- uas das cinco especificações, ainda que em todas apresente sinal positivo. A
dem a apresentar maiores níveis de renda. O sexo do chefe de família torna--e e ri tência de serviço de coleta de lixo também é importante, pois esta variável
também significativo, mostrando que as famílias chefiadas por homens tendem i ignificativa em todos os casos em que foi incluída.
a apresentar maiores rendas per capita (o sinal é o mesmo da coluna anterior. A Tabela 4 apresenta os resultados das especificações das primeiras dife-
mas os coeficientes não são estatisticamente significativos nelas). Com relaçã nças, com a inclusão do nível inicial de renda como regressar. Na primeira
às variáveis geográficas, o nível pluviométrico aparece como significativo, sen- luna pode-se ver que não há nenhuma relação significativa incondicional en-
do que o sinal indica maiores níveis de renda para os estados com maiores nÍvei e as alterações na renda e as variáveis geográficas "puras", o mesmo valendo
pluviométricos; as ~utras duas variáveis geográficas permanecem significativa:, ra o nível inicial de renda. Os resultados tomam-se um pouso mais interessantes
5 Multi~?linearidade entre os regressares torna o teste ineficiente, mas os coeficientes não .1p
-=----
teOte-seque as variáveis geográficas, assim como as variáveis dUllllllies dos estados, não variam
sentam vles. mpo. e Comotal podem substituir-se mutuamente e não estar simultaneamente na regressão.
(I) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8)
(continua)
..,.
.
324 325
lIando são incluídos os controles de capital humano e participação na força de tra- r ._
~ oíD rt'l0 ~
E LlHO rt'lr-- lO alho (coluna 2). Pede-se observar que o nível inicial de renda apresenta sinal ne- e
'il" S IO~ ~o X lO ~
.;;;
àS 0'0' à ativOsignificativo, que revela que os estados com níveis iniciais de renda mais bai- E
i'5
I~ ..,
..,~ s tendem a crescer mais rapidamente do que os estados com maiores níveis de -@
.::!
2. 0)0
N~
~N
rt'lLJ"l renda. Latitude e temperatura aparecem como significativas, tendo o mesmo :c
00
-;:;" E N~ O) N X X LJ"l :s
àS àà à nflito de sinais anteriormente apontados.7 Os sinais para escolaridade e parti- ~
'"
""l; I~
jpação na força de trabalho são os mesmos daqueles das regressões com os nÍ- E
.~
:c ~
:::> q-N ~N
'is de renda apresentados anteriormente: quanto maiores o nível de escolari- E
~N
ê LJ"l~
LJ"llO
00 X
N
LJ"l dade do chefe de família e dos filhos e a participação na força de trabalho, e ~
àS àà
I~
à lIanto menor a participação do cônjuge na força de trabalho, maior será o cres- '~
.;;:;
<;:>
imento da renda. ~
Nr--
00rt'l
00;:::-
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rt'lrt'l
NOO
rt'lrt'l
O)~
100)
00 a>
rt'l r-- lO A inclusão do capital das famílias e da densidade (coluna 3) faz com que a ê
'" q-N LJ"l~ 00 000 00 X LJ"l "
àà
I~
àà
I~ àS àS àS àS à latitude se torne não-significativa, mas não altera o sinal e a significância do nÍ- ~E
Iinicial de renda e da temperatura. Apenas a posse de geladeira é (positiva- ~a'
10;:::- LJ"la> OM lO
mente) associada ao crescimento da renda. Todas as variáveis de escolaridade e
O)LJ"l 0)0 r-- LJ"l
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rticipação na força de trabalho mantêm seu status como na coluna anterior. A
àà àà àS à
I~ I~ mclusão da situação metropolitana/urbana/rural e da infra-estrutura pública
eita na coluna (4) torna a latitude e a densidade significativas, comparando-se
N m a coluna anterior. Das últimas variáveis incluídas, apenas conexão ao ser-
6 x LJ"l
à içode coleta pública de lixo está (positivamente) associada ao crescimento da
'nda; a densidade torna-se significativa. Na coluna (5) todas as variáveis são
lllídas, sendo que as últimas são as de nível de escolaridade dos filhos e de-
N
3 x LJ"l volvimenta humano, que se revelaram significativas. Nenhuma alteração
à
portante com relação aos resultados da coluna (4) foi observada.
A coluna (6) exclui algumas variáveis para reduzir a multicolinearidade
O)
tre os regressores. Comparando-se as colunas (5) e (6), há uma substituição
- x N
à níveis pluviométricos por latitude. Tanto o nível de escolaridade do chefe de
mília quanto a posse de geladeira tornam-se insignificantes, havendo ainda
pequeno decréscimo em R2. A equação (7) substitui as variáveis geográficas
rdummies de estados, com um pequeno ganho em R2 e algumas alterações de
nor relevância nos resultados: agora as variáveis de ciclo de vida e escolari-
do chefe de família tornam-se significativas, enquanto a posse de geladeira
a-se insignificante. Como na regressão por níveis de renda, a mortalidade
ntil aparece negativa e significativa, o que mostra que os estados com maio-
nívei de mortalidade infantil tendem a crescer menos do que os estados
níveis mais baixos de mortalidade infantil.
'"ltl '"o Pinalmente, na coluna (8) o crescimento da renda foi medido em terceiras di-
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c:: ltl .~ o "O
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nças e todas as variáveis do lado direito em seus níveis no ano inicial do período
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V1 anos, como uma tentativa de lidar com preocupações de causalidade. Como
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pode ser visto, a renda inicial permanece tão significativa quanto nas dema
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especificações; o nível pluviométrico e a latitude aparecem como significati\ ~
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com o mesmo conflito de sinais; os indicadores de ciclo de vida são significat M~ 00 0-
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problemas de causalidade, os principais resultados mantêm-se. \.O~ 1'00
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Considerando-se esses resultados sobre crescimento da renda, fica cla 0 ~OO ll'l0 00 00 X X X X X X Lf'I
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que o nível inicial de renda é uma variável importante, estando presente emt . I~ I~ ~~
das as especificações. O mesmo vale para a participação do chefe de família e
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dos filhos (sinal positivo) e do cônjuge na força de trabalho. A densidade é sem,
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dade da convergência. Na coluna (4) são acrescentadas as variáveis de in c: Ql
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levando a um período de oito anos para meia convergência. A introduçao Qj a: c: .~ VI .c:
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fantil. Outras variáveis apresentam uma importância muito inferior na decom- 0,4808 0,4830 0,4831
. . 06044 0,5139
posição. A temperatura aparece como importante apenas na explicação da dI- oeficiente de Glnl '
- . X ) ~ (t corresponde aos estados).
ferenças entre o Sul e o Nordeste. Variave' da coluna (1)-(4): Y; = Y, ~ (X, - á"f'" s
I 'á eIs geog' lCa. .- t
Rfnda, controlando pe as varl. ,v . fáticas e pelo capital humano. . . T grau de urbanização, reglao me (o.
A Tabela 7 mostra o índice de desigualdade de Gini entre os estados brail nda, controlando pejas va~/~v~,S geo~áficas, pejo capital humano, capital domlCllar, _'._
Renda, controlando pelas vanavelS geog , . 'liar rau de urbanizaçao, reg1ao metro
ros (ponderado pela população de cada estado). O número da primeira colu ana e infra-estrutura. .,' o rMicas, pelo capital humano. cap'tal domlCl •9
Renda',controlando pelas Yáan~v~;sa:sinvolvimento humano.
(renda média) é representativo da desigualdade utilizando os dados de ren doa, ,nfra-estrutura, vafl vels e
todas as variáveis de interesse, e rodamos regressões entre níveis e crescimen \D <:t ~ <:'"
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f•.. Os principais resultados revelam que as variáveis geográficas são imp f.
tantes para a explicação das diferenças nos níveis e no crescimento de renda d
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Considerando-se as perspectivas da intervenção governamental, fica dar ~ o o li)
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que o investimento em infra-estrutura pública possui um papel relevante, es .
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renda entre as regiões cai a 36%, sendo que o patamar anterior era de 82%). Ou o \D
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tal humano aparecem de modo geral como significativas, especialmente a p3r-
ticipação na força de trabalho. Entretanto, a decomposição dos diferenciai d
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renda indica um papel quantitativo inferior dessa variável. Todavia nenhUl ra
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controle é realizado para variações na qualidade da educação provida entr I/l N
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sentam os piores níveis de qualidade em termos de educação. Infelizmenle. n
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há informações acerca dessa variável para o período considerado. PortanlO. i I/l
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uma grande influência nos níveis de desigualdade da renda do país. In 'i:
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nhuma evidência sobre esse aspecto possa ser derivada deste estudo. ra
Com relação às variáveis geográficas, elas entram significativamente na m< "IraO
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ESpíRITO SANTO MARANHÃO
SANTA CATARINA
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RIO GRANDE DO SUL
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MÉDIA DP MÉDIA DP MÉDIA DP
(continlla)
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Desigualdade e pobreza no Brasil I ~
(contil/uação) .
SANTACATARINA RIOGRANDEDOSUL EspíRITOSANTO MARANHÃO
VARIÁVEL
MÉDIA DP MÉDIA DP MÉDIA DP MÉDIA DP
Eletricidade 0,928 0,039 0,899 0,053 0,865 0,089 0,507 0,135
Expectativa de vida 65,38 2,83 65,46 2,72 63,10 2,91 59,84 2,17
Morte infantil 34,46 9,33 26,07 6,27 39,28 7,95 97,08 14,03
-- --- ----
-- --
PIAUI CEARÁ RIOGRANDEDONORTE PARAíBA
MÉDIA DP MÉDIA DP MÉDIA DP MÉDIA DP
Sexo do chefe 0,830 0,063 0,846 0,066 0,833 0,085 0,814 0,083
Educação do chefe 2,329 .1,155 2,744 0,935 3,276 1,196 3,236 1,279
Educação do cônjuge 2,156 1,145 2,481 1,023 3,044 1,328 3,050 1,398
Participação do chefe 0,879 0,122 0,868 0,129 0,838 0,160 0,831 0,146
Participação do cônjuge 0,334 0,130 0,335 0,098 0,290 0,105 0,286 0,113
Participação da criança 0,248 0,165 0,232 0,158 0,218 0,158 0,217 0,146
(contil/ua)
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Desigualdade e pobreza no Brasil I 0\
(continua,lia)
Expectativa de vida 59,63 2,79 59,02 3,59 58,45 4,07 57,53 3,55
Morte infantil 73,54 14,83 103,45 23,55 107,19 27,67 113,48 25,94
Sexo do chefe 0,808 0,077 0,824 0,090 0,805 0,091 0,823 0,072
Educação do chefe 3,479 1,031 2,780 1,132 3,084 1,199 3,071 1,088
Educação do cônjuge 2,879 1,170 2,239 1,135 2,666 1,217 2,467 1,050
Participação do chefe 0,824 0,159 0,821 0,178 0,843 0,160 0,869 0,129
Participação do cônjuge 0,288 0,087 0,271 0,100 0,313 0,109 0,304 0,090
Participação da criança 0,230 0,154 0,236 0,156 0,236 0,165 0,229 0,157
(continua)
l.I.l
l.I.l
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(COlllilllllIÇtiO)
Expectativa de vida 58,84 2,76 56,71 2,76 59,07 3,41 60,52 2,92
Morte infantil 100,77 22,36 122,99 17,54 79,95 14,49 70,91 11,61
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(colltinua)
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m coeficientes das dummies sendo significativos, conduzindo à mesma interpreta-
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\:l sões em níveis, uma vez que o R2 está acima de 0,9. Infelizmente, é impossível
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delinear qualquer lição conclusiva a partir dos resultados das dummies estaduais, ~
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ainda que sejam suficientemente interessantes para sugerir que diferenças ins- :~
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De modo geral, os resultados deste estudo revelam que os investimentos ~E
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em infra-estrutura pública e em educação podem ajudar na redução das desi- 8'
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<:t gualdades regionais no Brasil. Outro aspecto importante é a participação na for- "
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ça de trabalho, uma vez que essa variável apareceu praticamente todas as vezes
como fator importante na definição dos níveis e crescimento da renda. Portan-
~ la, a provisão de oportunidades de trabalho parece ser fator relevante.
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m Entretanto, mesmo depois de considerar os efeitos positivos esperados dos
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investimentos públicos, há indícios de que a desigualdade da renda se auto-
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o alimenta, uma vez que os estados mais ricos e aqueles com mercados de traba-
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rapidamente. Mais ainda, a importância das variáveis geográficas mostra que
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provavelmente uma boa dose de intervenção governamental deveria ser direcio-
nada para o desenvolvimento das instituições e a melhoria da eficiência gover-
namental. Mesmo após o controle das variáveis relacionadas ao capital huma-
no,ao capital do domicílio e ao capital social. ainda há muito a ser explicado em
lermos das diferenças de crescimento da renda entre os estados brasileiros.
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Capítulo 12 "-
Desesperança de vida: homicídio
em Minas Gerais, Rio de Janeiro e
São Paulo no período 1981/97
Mônica Viegas Andrade /
Marcos de Barros Lisboa
Capítulo 13
Desigualdade, desenvolvimento
socioeconâmico e crime
Claudio C. Beato F. / I1ka Afonso Reis
Capítulo 14
Pelo fim das décadas perdidas:
educação e desenvolvimento
sustentado no Brasil Ricardo Paes de Barros /
Ricardo Henriques / Rosane Mendonça
Capítulo 15
As desigualdades regionais no sistema
educacional brasileiro
Maria Helena Guimarães de Castro
Capítulo 16
A desigualdade entre os
pobres - favela, favelas Edmond Preteceille /
Licia Valladares
Capítulo 17
Percepções da elite sobre pobreza
e desigualdade Elisa P. Reis
Desesperança de vida:
homicídio em Minas
Gerais, Rio de Janeiro e
São Paulo no período
1981/97*
1 . Introdução
Nos últimos 20 anos a violência cresceu assustadoramente nos Estados do
Riode Janeiro e São Paulo, tornando-se, inclusive, a principal causa de mortali-
dade para os homens entre 15 e 44 anos de idade. Em São Paulo, o número de
homicídios por 100 mil habitantes passou de 54,4 em 1981 para 128,4 em 1995,
nogrupo dos homens jovens entre 15 e 24 anos, e de 49,3 para 106,2 para os ho-
mens entre 25 e 44 anos de idade.l Esse aumento representa um crescimento de
136%e 115%, respectivamente. O Rio de Janeiro apresenta taxas de homicídio
por 100 mil habitantes ainda maiores nesse período, embora o crescimento da
\ iolência não tenha sido tão elevado quanto o observado em São Paulo. Para os
homens entre 15 e 24'anos, a taxa específica de mortalidade passa de 148,9 para
_75,3 entre 1981 e 1995, significando um crescimento de 85%.
Em Andrade e Lisboa (2000) é calculado o número de anos de vida perdi-
dos para diversas causas de mortalidade, que estima quantos anos, em média,
um indivíduo viveria a mais caso cada causa de mortalidade não existisse. O re-
Ultado surpreendente é o crescimento relativo da violência como causa de
mortalidade, contrastando com as demais causas que apresentam, na sua gran-
de maioria, uma tendência de convergência aos índices dos países desenvolvi-
do ,embora ainda estejam em níveis mais elevados. No começo da década de 90
a violência aparece como a principal responsável pela perda de anos de vida para os
homens no Estado do Rio de Janeiro, e a segunda em São Paulo, sendo superada,
• aércio Aquino e Carlos Martins comentaram com a generosidade habitual uma versão prelimi-
r deste artigo. Os erros remanescentes são de nossa responsabilidade.
Da EPGE!FGV-Rioe do Cedeplar/UFMG.
• DaEPGE!FGV.
Dados apresentados em Andrade e Lisboa (2000).
348 349
1:; ape~as, pela mortalidade infantil. Entre 1981 e ' , ermenor do que para um homem mais velho que participa do mercado de tra- "-
~ de vida perdidos por cada homem residente no E~~:~~ ~ nU~lero med!o de ano balholegal. Nesse caso, as variáveis econômicas podem ter um impacto maior ~
~
~ de 1,57 para 3,42. Isso significa que se o roblem o ~I~ ~e Janeiro pas Oll obre os jovens do que sobre os mais velhos. Caso a freqüência de homicídios
~ do cada homem viveria em média 3 42 P ~ do ~onuCldlO fosse erradica_ aumente com a parcela da população envolvida com atividades ilegais, o impac- ~
.~
! dios na mortalidade entre os home~s n~~~: a ma~s. A l~lportância dos homicí. [O das variáveis econômicas sobre a taxa de homicídio será, igualmente, dife- ~
~ sua evolução ao longo do tempo e sua po ' vIou la I~vestigar, em maior detalhe, renciado ao longo do ciclo de vida. ~
:fi sSlve re açao com fatores '.
,~ O objetivo deste trabalho é analisar a evol _ economlcos. Em terceiro lugar, o acesso diferenciado ao mercado de trabalho entre a po- ~ ,g
~ Estados de Minas Gerais Rio de J an' S_ uçao da taxa de homicídio no pulação que participa do mercado legal de trabalho e a que participa de ativida- ~
t" I ' elro e ao Paulo entre 1981 1997
ICUar, procuramos verificar a existência d I _ e. Em par- de ilegais pode resultar em efeitos geracionais sobre a taxa de homicídios (efeito ,~ :::
veis econômicas como salário real d e re açao e~t:e essa evolução e variá- inércia). Suponhamos, uma vez mais, que os homicídios cresçam com a parcela ~ ::;
tras. Em que medida a tendência d' esen~prego, coefICiente de Gini, entre Oll- dapopulação dedicada às atividades ilegais. Caso o retorno às atividades legaisS!
. d .
sOCla a a crise econômica das décad
e cresCimento da taxa de h
d 80 '
. 'd'
omICI 10 está a -
'"
sejacustoso, uma geração que quando jovem tem maior parcela dedicada às ati- ,:d
padrão recorrente nos dados de h a.s 'd~
omlCl lO?
e 90? E possível identificar algum \'idades ilegais tende a manter essa maior parcela ao longo de todo o ciclo de 8
vidae, portanto, uma taxa maior de homicídio. Isso significa a possibilidade de ~
• A relação entre variáveis econômi
sos trabalhos na literatura econôm' car '. I" .
e ~IO enCla te?l sido objeto de diver- existência de um efeito inércia dos homicídios em cada geração. Em particular, '!
medida da violência a taxa de h ~c~d~PIca a que, mUItas vezes, utiliza como a taxa de homicídios em um ano pode ser elevada não porque as variáveis eco- ,~ :':!
_ onuCl lOSpor 100 mil h b' t
raça o, entretanto, não nos parece d d ' ~ I antes. Essa mensu- nômicas apresentam certo comportamento naquele ano, mas porque esse com- 'E
meiro lugar a taxa de homic'd' a e~ua a por tres motivos principais. Em pri- portamento foi observado quando a geração era jovem, sendo seus efeitos diluí- li
, I 10 vana consideravelm t
sexos. Em geral, as principais vítimas de h .,. _en e entre as idades e o dos ao longo do ciclo de vida da geração. ~
idades entre 15 e 30 anos Dess f
.
omICldlOs sao os homens jovens, com
a orma as taxas de hom' 'd' A eventual existência do efeito inércia pode ser testada desagregando-se os t
tantes podem variar significa tiva' ._ ICI lOSpor 100 mil habi- dados de homicídio por cada grupo etário distinto e acompanhando esses dados ~
diferença nas composições etá . me~te entre reglOes em decorrência apenas da paracada geração por vários anos. A existência de autocorrelação na série de taxas ~ :c
na
tes entre os homens com idad ou e sexo. Por exemplo, a freqüência de mor- dehomicídio por geração, quando controlada pelas demais variáveis, é um indica- Q
e entre 15e24anosfoic d' .
em 1981 no Rio de Janeiro do _ erca e tres vezes maIOr dorda possível existência do efeito inércia. Nesse caso, a taxa de homicídio de uma
que em Sao Paulo (1498 544 .
te ), enquanto a taxa de homic'd' '. ' e " respectivamen- dada geração em um certo ano seria uma das variáveis relevantes para prever a taxa
~oi apenas duas vezes superio~ :~6~~100 nul habItantes nesse mesmo período da mesma geração no ano seguinte. Uma geração violenta quando jovem tenderia
Idade média e maior partici - d' e 15,31). Esse resultado reflete a maior a apresentar maiores índices de violência por todo o seu ciclo de vida.
de Janeiro em relação ao E~~~~o das ~l:ulheres na população do Estado do Rio
Neste trabalho, a violência é mensurada através da construção de freqüên-
pode resultar em viés nas a '1' o e ao Paulo. Essa diferença de magnitlld
• < na Ises controladas da e I - d .. cjasde morte por homicídio para cada idade, sexo, ano e região de residência. A
dlO, tratando-se de um caso (' d . _ vo uçao a taxa de honllCl-
IpICO e omlssao de variáveis. reqüência é construída a partir dos dados de homicídios divididos pela popula-
Em segundo lugar, a relação ent e h .,. .,. ão residente em cada região condicionados na idade, sexo e ano. A construção
mudar ao longo do ciclo de vida Dive:s Ol~u~ldlOe vanavels econômicas pod . e sa base de dados nos permite estimar a relação entre probabilidade de morte
crescentes com a especializa ã~ de as atiVidades legais,a?resentam retorno r homicídio e ciclos econômicos para cada idade específica. Como o fenôme-
que os retornos não se'a ç corrente do seu exerCIClO repetido. Mesm
no da violência é concentrado na população masculina em idade ativa, calcula-
mercado de trabalho p~dmecresc~nl'tes, a participação prévia do trabalhador n
ser Utl Izada pelas emp . lJio a probabilidade de morte para os homens dos 15 aos 40 anos de idade.
sua qualidade ou produtividade. Alé' r~s~s com? ~m sm~1 so~rc d ém disso, esse tratamento dos dados nos permitiu construir a base de dados
passado pode compromet m diSSO,o exerClClO de atiVidades Ilegal' n
.gllndo coortes,2 em que cada uma foi definida pelo ano em que os homens
indivíduos com exper"' ~r o acesso ao mercado de trabalho legal. Dessa formJ,
lenCla no mercado legal de t b Ih em 15 anos de idade.3
munerações e empregos
essa diferença pode aun
,
maiores
ros - Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais - durante o período 1981;9 m detalhes na Seção 3. , Itados principais. Em primeiro ~
com dados anuais. A análise em séries de tempo é privilegiada por ser mais ade- t basicamente tres resu ~
O trabalho apresen a d rtes dos indivíduos parece ser um "
quada para se estudar a relação entre ciclos econômicos e violência e também o lugar, a organização dos dados segun o ads~oo nto dos ciclos de violência. A ob- ~_
efeito inércia. De fato, uma das dificuldades com análises em cross-sectiol/ é . dequado no enten lme d .
natamento bastante a ., d d te segundo as coortes escnta nos ~
possível ocorrência de correlações espúrias. A possibilidade de migração entr l -da probablllda e e mor . I' . O ~
ervação da evo uçao . .' d ersistência do ciclo de VlOenCla. :;,
diversos estados sugere que o bem-estar para indivíduos semelhantes em re. Gráficos 1,2,3 e 4 dá robustez a hlPotesr~ese:praticamente o mesmo: a probabi- ~
giões distintas deve ser igualmente semelhante, caso contrário estes poderiam padrão de comportamento entre a.s c~o t' indo na grande maioria, o pico na ,g
g
simplesmente emigrar para a região com maior bem-estar. Por essa razão, re- \idade de morte é crescente com a Ida e,.a m se inverte e se torna decrescente ~
giões com maiores taxas de homicídio devem oferecer aos seus habitantes ou- quando o mOVlmen to I -
faixados 20 aos 25 anos, , a roximadamente 25 anos. Esse resu - -i;j
tras compensações de bem-estar tais como maiores salários reais ou melhor com a idade.5 O ciclo de cada coort.ede de PRo de Janeiro mas o padrão se repete ~
acesso a outros bens públicos que não segurança. Nesse caso, a existência de . d maior nitl ez no 10' g
tado é pronunCla o com d d Rio de Janeiro apresentamos os ~
correlação positiva em uma base de dados cross-section - por exemplo, entr . t dos Para o Esta o o . h 15 tl
para os outros d OISes a . I - das coortes que tm am g
salário real e violência - pode não significar que aumentos do salário real au- Gráficos 1 e 2. No primeiro, mostra.mos a evocu~~oo a base de dados disponível
84 resl)ectlVamente. , .
mentem a violência, mas apenas que o custo de bem-estar decorrente da maior anos em 1982, 1983 e 19 , t , d 1997 o período maXlmo que po-
. f ções ate o ano e ,
violência em uma região é compensado pelo maior salário real, evitando a 6 nos permite obter m orma é de 16 anos. No segundo gráfico, apr~senta-
ocorrência de migração. Inclusive, é possível que um aumento do salário real demos acompanhar essas coortes , d 1972/76 evidenciando o ntmo de
simultâneo nas diversas regiões tenha como conseqüência a redução da vi - mo as coortes que tinham 15 anos no peno o 'dad; A construção dos dados
lência. A construção de uma base de dados em painel pode permitir obser ar b bTd dedemortecomal . .
decrescimento da pro .. a I I a cada idade parece sugerir que a taxa de homl-
flutuações concomitantes das possíveis variáveis explicativas da taxa de ho- m termos de probablhdade para d d .olência que se superpõem, em que
micídio em todas as regiões, evitando a ocorrência de correlações espúria o
ídio em cada é ano é a soma de on as e VI , .
Esse ponto é retomado na Seção 5, quando comparamos nossos resultado d a uma geração espeClflCa. ,
ada onda correspon e < • I ' .a das variáveis econo-
com a literatura existente. t balho se refere a re evano
O segundo resulta d o d o ra .,' A . 'veis econômicas parecem ser
. . de hOlUlCldlO s vana
O método de estimação utilizado neste trabalho é uma generalização ti mica para exphcar a taxa . A rtir dos 20 anos de idade, a va-
. s entre 15 e 19 anos. pa . , .
método do Mínimo Qui-Quadrado aplicado ao modelo Logit de Berckson [\cr reIevantes para os loven . . I' . e' o componente de merCla
.. exphcar a VlOenCla I
Maddala (1983) e Amemya (1985) l. Esse método consiste da estimação de UH navel mais importante para. ão da robabilidade defasada. Esse resu -
modelo logístico para variáveis qualitativas quando os dados estão disponívc' mensurado neste trabalho pela mclus l' P t ra na medida em que incorpo-
., . t ntes na ltera u
na fom1a de freqüências. No caso específico deste trabalho os dados estão aglllpà- tado difere dos trabalhos la eXIS e d' d um indivíduo da mesma coor-
dos segundo idade, região de residência e ano de ocorrência do homicídio. A varia- ra o efeito coorte. A probabilidade de~asa a e a e
vel dependente é a probabilidade de morte por homicídio em cada idade, regiã? t ter sido assassinado no ano antenor.
ano, obtida pelos dados do sistema de informações sobre mortalidade disponibili- ----- _' 'd d é levantada por vários autores e parece ser
zados pelo Datasus. Como variáveis independentes, utilizamos indicadore - Arelação entre taxa de partic~paçao no cnm~ ~~7~j~stifica esse padrão por mei~ do comporta-
lista para qualquer tipo de cnme. Grogge.r (d' d'da que os indivíduos adqUIrem maIOrex-
mento dos salários que são crescentes com a Id~ e a me 11. 'os quando os salários se elevam a taxa
o. d . ne é senSlVel aos sa an o.
4 Freeman (1994) faz uma síntese dos resultados encontrados para a economia americana n nencia. Seocomportall1ento OCfU 'd d da atividade criminosa se eleva.
três tipos de abordagem. criminalidade cai. pois o custo de oportuO! a e
353
-
352
Gráfico 1
~
~
g Evolução da taxa de homicídios por gerações - Rio de Janeiro Evoluçãoda taxa de homicídios por gerações - São Paulo
%
0,004 '4 0,0021
0,0035 0,0018
0,003 0,0015
0,0025
0,0012
..... 0,002
0,0009
0,0015
0,0006
0,001
0,0003
0,0005
I I I I I 10 I I I I I I I I I I I I I I I I 10
24 25 26 27 28 29 30 31 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
15 16 17 18 19 20 21 22 23
Gráfico 2 Gráfico 4
Evolução da taxa de homicídios por gerações - Rio de Janeiro Evoluçãoda taxa de homicídios por gerações - Minas Gerais
% 0,0005
% 0,005
1974 1982
0,004 0,0004
,,\" ,
,, ,,
1975 ,,' ,, 0,003 0,0003
0,002 0,0002
0,001 0,0001
1973
I I ! I I I I I I 10 I I I I I I I I I I I I I I 10
I I I I
-
41 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
-
354
355 <
Uma possível interpretação desse resultado relaciona, como já sugen
as variáveis econômicas utilizadas não são específicas a cada coorte, mas
~ a idade da geração e a parcela dedicada às atividades ilegais. Indivíduos 111m 0, f
todas aquelas que vivem na mesma região em cada ano. Dessa orma, nos- "-e:.
g vens se moveriam das atividades legais para as ilegais com maior facilida maresultados devem ser tratados como uma primeira abordagem, am . d a pre l'1- ~
~ que os mais velhos, e esse movimento seria influenciado pelas variáveis e -@
llinar, que deverá ser objeto de estudos adicionais sobre o dramático aumento
! micas. O aumento da população dedicada às atividades ilegais, por Sua v 7. i] mortes por homicídios durante as décadas de 80 e 90.
'[
{! sultaria em maiores taxas de homicídio. Dessa forma, uma geração que qua '"
Este trabalho contém cinco seções adicionais. A próxima seção descreve a .Q"
~ jovem apresente uma parcela elevada dedicada às atividades ilegais ten
lse de dados utilizada e as principais variáveis incluídas no modelo. A terceira ~
~ manter essa parcela elevada durante todo o ciclo de vida e, portanto, uma
ão discute a metodologia empregada. Na quarta seção apresentamos os prin- ~
maior de homicídio. Essa hipótese, porém, ainda está por ser testada. Penn, :::"
~)ais resultados encontrados na estimação do modelo. Na quin~a seç_ão dis.cu- .~
ce como resultado da nossa análise, no entanto, que a política pública de
Irmos alguns resultados existentes na literatura e algumas estImaçoes feItas ...,
rança talvez deva se focar na população jovem masculina e que o contro! ~
ra o caso brasileiro confrontando-os com os resultados empíricos encontra- .~
~
taxa de homicídio nesse grupo tem impactos sobre a taxa de homicídio de to I
neste trabalho. A sexta seção discute possíveis extensões do trabalho.
geração. Entretanto, os efeitos dessa política só podem ser percebidos no I .~
\:)
• prazo. ~
Em terceiro lugar, a diferença entre as taxas de homicídio no Rio de Jan 2 • Aconstrução da base de dados ~
e São Paulo é significativamente reduzida quando essas taxas são control S
2.1 - Séries utilizadas '"
pelo efeito inércia e pelas variáveis econômicas. Para a maioria das idade, ~
"E
ferença não-controlada das taxas de homicídio é duas vezes superior no Ri este trabalho, a variável utilizada para mensurar a taxa de criminalidade '"
..:::
Janeiro do que em São Paulo, enquanto na maioria das regressões essa difc a freqüência de mortes por homicídio. Para cada ano e região dividimos o total ~
:::
ça cai para cerca de 20%. de homicídios para cada idade pela população masculina residente com a mes- {!
Provavelmente, a principal fragilidade da nossa análise é a não-indu ã la idade. Os dados de população foram obtidos a partir dos Censos de I980 e g
991 e a Contagem de I996. Para os demais anos, estimamos a população utili- ""-:c
ª'
uma variável como proxy para o sistema de punição e a política ~e seguran .i]
ando uma interpolação log-linear. . :c
únicos dados disponíveis para uma série contínua são as ocorrências poh Q
correlacionadas com a própria taxa de criminalidade.6 Infelizmente, n,;o o A fonte de dados de mortalidade utilizada é o Sistema de Informação de
guimos base de dados confiável que descrevesse o número de prisões por a onalidade (SIM), disponibilizado pelo Ministério da Sa~de por intermédio
gasto com segurança, ou qualquer outro indicador da atividade policial. \ a Fundação Nacional de Saúde e do Datasus para o período 1979/97.7 A fonte
xistencia de base de dados minimamente confiáveis talvez seja o principal e informação primária dessa base são os atestados de óbito emitidos pelos car-
blema da análise empírica da violência no Brasil, além de refletir, do n05'0 rios civis, que contêm informações sobre data do óbito, idade, sexo, estado ci-
to de vista, um aparente descaso do Estado com qualquer política de seg~lr llocal de ocorrência, causa de mortalidade, área, bairro e município de resi-
de longo prazo. Surpreendeu-nos, em particular, a inexistência, indu I 'ncia, ocupação e instrução. Apesar da enorme gama de informações, essa
qualquer série temporal para o período analisado informc1ndo o número d e apresenta deficiência de algumas variáveis como educação, estado civil,
sos em cada um dos três estados. Upação, entre outras, que dificultam o seu uso. Neste trabalho utilizamos
nas as variáveis consideradas prioritárias pelo Ministério da Saúde - idade,
Nossos resultados parecem sugerir, porém, que as eventuais diferen. a
o e causa de mortalidade - nas quais o índice de não-preenchimento chega
políticas de segurança talvez não tenham um impacto significativo na. _dlf
média a 7%. A causa de mortalidade está codificada até I996 segundo a 9a
" ~ ças entre as taxas de homicídio observadas no Rio de Janeiro e em aO P
a sificação Internacional de Doenças, (CID9), e em 1997 de acordo com a roa
quanto o sugerido pelos dados não-controlados. Esses resultados, no en. Vi ão (CIDro).
devem ser tratados com cautela. Pode ser que a política de segurança ele]
I os Estados de São Paulo e Minas Gerais, o número de homicídios foi con-
relacionada com as variáveis econômicas dos estados, onde os mais rico: t
maiores recursos para a execução de uma melhor política de segurança. bilizado utilizando-se as freqüências observadas. No Estado do Rio de Janeiro,
entanto, para computar o número de homicídios, duas causas de mortalidade
arn consideradas: o grupo "homicídios e lesões provocadas intencionalmente",
. .
6 Em versão pre I1Il111l,U, tentamos .me I'lIlr vanavelS,
. . . i /llIIlIlICS. aSSOCla(uS
. j";' u> elriçú<:'""((l1110
maçües para o sistema de segurança de cada gowrno. Entretanto, o número de ob,cf\"açoc
APe 'ar de os dados de mortalidade estarem disponíveis a partir de 1979, os dois anos iniciais da
ses por idade n.;o é sulirknre p.Ui! se estimar com signifieãncia os coeficientes.
uisa apresentam muitos problemas de tabulação dos dados.
356 357
e algumas das causas classificadas como "outras violências". O Rio de Janeiro probabilidade de um indivíduo da mesma coorte ter morrido no ano anterior. "-
~ apresenta um elevado número de mortes por arma de fogo ou branca, porém OsGráficos 1 a 4 ilustram com clareza a superposição dos ciclos de violência. ~
'"ê classificadas como de intencionalidade ignorada. Enquanto essas mortes em Cadanova coorte tem um pequeno deslocamento, de modo que toda a geração ~
~
~ São Paulo, por exemplo, jamais atingem 7% da mortalidade por homicídio dos se diferencia da anterior. 1
!
~
homens entre 15 e 24 anos, no Rio de Janeiro em alguns anos esse número che-
ga a 37%, apresentando, no entanto, um comportamento bastante errático.8
Vale ressaltar o trade-of! existente na construção dessas duas bases de da- ê
dos.Por um lado, a cada idade elas permitem inferir o impacto diferenciado das ..g
~ Esses resultados sugerem um problema com as bases de dados de atestado de diversas variáveis independentes na probabilidade de homicídio. Em particu- ~
.g
.~ óbito nesse estado.9 Para contornar essa dificuldade utilizamos o seguinte ajus- lar, podemos verificar em que medida esses coeficientes mudam significativa- ~
2í
te nos dados de homicídios: supusemos que a participação dos homicídios no mente com a idade. Essa abordagem, porém, reduz o número de células. A base .~
'"
total das causas homicídios e outras violências no Rio de Janeiro fosse, em cada de dados completa, embora nos permita obter resultados com maior grau de ~
ano, para cada idade e sexo, idêntica à obtida em São Paulo. A hipótese básica significância,requer a especificação de uma forma funcional prévia relacionando ~
para esse procedimento é que as mortes acidentais correspondem a um evento os diversos coeficientes das variáveis independentes com a idade da geração. !O 'ê
aleatório de igual distribuição no Rio e em São Paulo, sendo porém correlado- Asvariáveis de controle utilizadas tentam, na medida do possíveL incorpo- i5
nadas com o nível de homicídios. Essa padronização; contendo a descrição das rar as variáveis discutidas na literatura sobre economia do crime, que segue a .~
::;:
variáveis utilizadas, está detalhada no apêndice 1. contribuição de Becker ( 1968). Em decorrência do mau preenchimento dos da - ~
A escolha dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro se devea dos,não podemos utilizar as variáveis dos próprios indivíduos contidas na base ]
dois motivos: em primeiro lugar, como já mencionado na Introdução, pela inte- dedados de mortalidade, caso contrário incorreríamos em viés de seleção amos- j
gração do mercado de trabalho desses três estados, e, em segundo, pelos meno- traI.Diante disso, utilizamos as variáveis médias para cada região em cada ano. ~
res índices de subenumeração de óbitos. Nas regiões Norte e Nordeste, por As seguintes variáveis de controle foram incluídas: nível de escolaridade {j
exemplo, os índices de subenumeração estimados pelo IBGE alcançam 50%em média da população economicamente ativa (PEA), coeficiente de Gini, taxa de ~
alguns estados. desemprego, número de domicílios chefiados por mulheres, salário real médio ~
:c
A mensuração da taxa de criminalidade por meio da probabilidade de mor- da população ocupada, nível de preços, probabilidade defasada e duas variáveis ~
te a cada idade permitiu construir a base de dados de duas formas. No primeiro dummies: uma para o Estado do Rio de Janeiro e outra para o Estado de São Pau-
caso construímos uma base para cada idade e em cada estado dos 15 aos 40 10.11 Essas variáveis são os controles usualmente utilizados nos trabalhos empí-
anos, que corresponde à faixa etária em que a violência é a principal causa de ricos.Onível de escolaridade e o salário real seriam medidas dos retornos da ati.
mortalidade. As bases de dados para cada idade específica contêm em média 42 \'idade legal; a taxa de desemprego se associa a uma medida das oportunidades
células. Com isso, obtemos 25 bases de dados e podemos estimar coeficientes dosindivíduos no mercado de trabalho; a taxa de domicílios chefiados por mu-
específicos para cada idade. lheresé uma aproximação do grau de integração social e das mudanças sociais.
A segunda foi construída acompanhando os indivíduos de acordo com sua O índice de desigualdade da renda descreve a posição relativa dos indivíduos.
coorte, que é definida pelo ano em que os indivíduos tinham 15 anos. A primei- Umaumento da desigualdade, para os indivíduos mais pobres, faz com que a
ra coorte corresponde aos indivíduos que tinham 15 anos em 1981. A primeira distância entre o retorno da atividade legal e da atividade do crime se eleve. To-
observação dessa coorte é a probabilidade de morte por homicídios dos homens das essas variáveis são condicionadas ao ano e à região.
de 15 anos em 1981, a segunda é a probabilidade de morte dos homens que ti- A taxa de inflação foi incluída para captar possíveis distorções dos preços
nham 16 anos em 1982, a terceira é a dos que tinham 17 anos em 1983, e assim relativosdecorrentes do processo inflacionário vivido nessas duas décadas que
sucessivamente até a probabilidade de morte dos homens aos 31 anos em 199í. alterem os retornos das atividades, além das possíveis implicações decorrentes
A segunda coorte corresponde aos homens com 15 anos em 1982, e assim suces- d.amaior volatilidade da renda real em períodos de inflação elevada. Ao contrá.
sivamente. Desse modo, foram construídas 43 coortes para cada estado, conta- no das demais variáveis, a taxa de inflação é condicionada apenas ao ano, sendo
bilizando 1.410 células. A organização das observações segundo coortes no"
permitiu perceber o efeito inércia do ciclo de violência. Ademais, a probabilida-
de defasada foi construída incorporando o efeito coorte, já que se constitui da --omum às três regiões.
~ Uma extensão possível desse trabalho seria utilizar uma abordagem não paramétrica para esti-
ar essa forma funcional
~ Os dados de probabilid~de defasada foram construídos também por coortes. Witl e Wilt (1998)
8 Para a série temporal desses dados, ver Andrade e Lisboa (2000). trO~tramem.um modelo de série de tempo que o aumento da participação feminina no mercado de
9 Esse problema é bem conhecido na literatura. Ver. por exemplo. Carneiro e Phebo (1999). a alho esta positivamente correlacionado com taxas de criminalidade mais elevadas.
358 359
=ti;
As dummies para os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo foram incluída li<:o 5
~ para verificar a existência de especificidade regional não-tratada pelas demai
<Xl
~ variáveis de controle. Evoluçãoda taxa de homicídios por idade - Rio de Janeiro
iii .:g
~ A probabilidade defasada busca captar o efeito inércia 12 e é condicionada à 'Sg
! geração e à região. Em cada ano, utilizamos como uma das variáveis de Controle ~-------------:2::5-------------- 0,0005
~ a freqüência de homicídios da mesma geração no ano anterior. Considere, por
].~ exemplo, a geração que tinha 15 anos em 1985 no Rio de Janeiro. Assim, em
,
, "
,\
\,
" 0,0004~
-~
-2
ter impacto na criminalidade e que talvez sejam distintas nos diversos estadose 0,000211 "
<5
ão longo do período. Não conseguimos encontrar qualquer base de dados con- ................... ~
....... ..
fiável contendo o número de prisões efetuadas em cada ano e região ou, mesmo, '
o total de presos existentes. O único dado disponível que encontramos foio to-
........ . .
tal de ocorrências, correlacionado com a própria atividade criminal e, portanto,
não serve como indicador da política de segurança.
..................................................................................
...../5...
I I I I I I I
1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995
2.2 - Comportamento das variáveis
As freqüências de homicídio não-controladas apresentam um compona-
mento distinto nos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo em comparação como
Estado de Minas Gerais (Gráficos 5, 6 e 7). Nos dois primeiros, as freqüência 06
apresentam um comportamento relativamente similar nas diversas idades. J TO
Estado do Rio de Janeiro esse comportamento é bastante nítido. Todas as ida- Evoluçãoda taxa de homicídios por idade - São Paulo
des, exceto 35 anos, apresentam um movimento ascendente da probabilidade
de morte até o ano de 1989, quando ocorre o pico, seguido de uma longa infle- 0,002
xão dos anos 90 até 1993, pequena elevação em 1994 e tendência de queda a
partir de 1995. No caso da probabilidade aos 35 anos, o movimento ascendent
se inicia em 1989. 0,0016
Em São Paulo o movimento é menos homogêneo, apresentando um pa-
drão distinto para os grupos mais jovens. As probabilidades de 15, 18 e 21 ano
apresentam movimento similar: elevação até o ano de 1987, queda em 19 ' 0,0012
. ,novo ciclo ascendente em 1990 e 1991, redução nos anos de 1992 e 1993e ten-
dência de elevação a partir de 1994. As idades de 25 e 30 anos apresentam eleva-
ção até o ano de 1983 seguida de estabilidade das taxas até 1986, pequena ele a- 0,0008
ção em 1987, redução novamente em 1988, novo ciclo ascendente em 1989
18
1990, retração de 1991 a 1993 e tendência de elevação a partir de 1994. A com- ................. ..................
............ ......................... 0,0004
paração entre os dois Estados sugere um comportamento mais cíclico no Est~~
de São Paulo e tendência de elevação da violência no final dos anos 90, contran 15
o
12 Fajnzylber, Lendennan e Loayza ( 1999) também utilizam como controle a taxa de criminalida 1997 1999
defasada.
361
360
Gráfico 7 com a recessão iniciada em 1981, caindo, porém, em 1982 e 1983, quando ainda "-
~ c observa uma ret.ração do produto. O Estado do Rio de Janeiro apresenta alte- ~
l:!
~
g Evolução da taxa de homicídios por idade - Minas Gerais rações significa tivamen te menores do que São Paulo na taxa de desemprego em
~
i:l
.t~ 0/0
praticamente todo o período após 1986. Esse comportamento p~ovavelmente 1
-----------------------------0,0005 está associado à elevada participação do setor informal na economia. O compor- g
{l lamento do rendimento médio da população ocupada é bastante similar entre ~
'"
:l! os três estados, parecendo refletir os ciclos do produto da economia brasileira: o ~
il
.~ 0.0004 salário real tem uma redução forte de 1981 a 1984, recupera-se a partir de 1985 e ~
<::l
se eleva com o cruzado; em seguida, torna-se estável, passando a decrescer a .~
partir de 1990 até 1993, e novamente a partir de 1994, com o controle inflacio- ~
0,0003 nário, passa a apresentar tendência crescente. Todas as variáveis estão descritas ~
no Apêndice 1.
0,0002
3 - Metodologia
............... 18
;:;
--
,1
II (5) ~
~ (2)
t '~
ê
~" ' .Q
i] A unica dificuldade com esse modelo é que, sob a hipótese de que r
.~ z~çõ~s da variável aleatória,seguem uma distribuição binomial, a variân~;~: ~ onderé o coeficiente da probabilidade defasada. Assim temos a seguinte equa- ~"
g nao e co~stante e o modelo e heterocedástico. Aplicando uma expansão de T '1 ão para a variância: ~
:=
na funçao: a} ar .~
~
~
Log~
(l-p il
:g
-em torno de Pi' obtemos: y2 Pt-I (l-pt-il 1 Pt(l-Ptl
=----- ------+--- ---- (6) ~
2
ft2_1 (fit-il nt -1 ft (fitl nt
(3 ) Como:
Assim, temos:
a fórmula final da variância é dada por:
Var- --------+
l 1 (7)
Pt-I (l-Pt-I )nt-I Pt (l-P! )nt
que pode ser estimada por:
o modelo é estimado em dois estágios: estimamos a variância e no segun-
do estágio estimam-se os coeficientes das variáveis explicativas. Uma simples
Var(uil= __ l__ eneralização do argumento utilizado por Amemya ( 1985, p. 276-277) mostra
ni (fii (l-pil) quea distribuição do estimador corrigido pela variância converge para uma dis-
ribuição normal.
A correção do modelo corresponde a uma estimação em mínimos quadra-
dos em que se utiliza como fator de ponderação:
3.2 - Testes de hipóteses
I Neste trabalho utilizamos dois tipos de teste: especificação do modelo e
--
1-Pi
(4)
Suprimimos o superescrito i para não abusar da notação.
•
364 365
onde Pi é a freqüência observada. Calcula-se a soma do quadrado dos desvios economias a relação entre violência e taxa de desemprego passada é diferente
~ p~nderada pela variância estimada do modelo, isto é: daverificada para a taxa de desemprego contemporânea. A Tabela I sistematiza "-~
<Xl
g os II modelos estimados. ~
~
<::
T
! L(Li -x'~il(J-2 (fi -x'~il==x 2 Tabela 1
~ 1=1
~ Especificação dos modelos
~
.~
g Em seguida, para cada modelo dividimos o valor da estatística MOOELO VARIÁVEIS INCLUíDAS
qui-quadrado obtida pelo número de graus de liberdade, X 2/ gl. O número de Modelo 1 Salário real + desemprego + Gini
graus de liberdade corresponde a T - K onde T é o número de células e K o nú' Modelo 2 Salário real + desemprego + Gini + Prob (-1)
mero de parâmetros estimados. Para estabelecer a classificação dos modelos
observamos os menores valores da estatística obtidos, que indicam um melhor Modelo 3 Salário real + desemprego + Gini + dummyRio + dummySp
ajustamento da especificação aos valores observados. Modelo 4 Salário real + desemprego + Gini + dummyRio + dummySp + Prob(-l)
Para testar a significância das variáveis, implementamos o teste descrito Modelo 5 Salário real + desemprego + Gini + dummyRio + dummySp +
em Amemya ( 1985). Neste caso, calculamos a soma do quadrado dos resíduos + Prob(-1) + Ano
ponderada pela variância estimada do modelo completo para os dois modelos
Modelo 6 Salário real + desemprego + dummyRio + dummySp + Prob(-l) + Ano
- completo e restrito - e verificamos se esta diferença é superior ao valor da
estatística qui-quadrado. Isto é, definindo a soma do quadrado dos resíduo' Modelo 7 Salário real + desemprego + dummyRio + dummySp + Prob(-l) .s'::;
como: Modelo8 Salário real + desemprego + dummyRio + dummySp + Prob(-l) + INPC ~
~
Modelo 9 Salário real + desemprego(-l) + dummyRio + dummySp + Prob(-l) "
~
"~
iC
Modelo 10 Salário real + desemprego + Gini + dummyRio + dummySp + c::o
+ Prob(-l) + INPC
não podemos rejeitar a significância da variáveis restritas desde que: odeio 11 Salário real * [(100-Des/1 00)) + Gini + dummyRio + dummySp +
+ Prob(-l) + INPC
2
SQRmodelorestrito - SQRmodelocompleto > Xq Uma extensão natural dessas especificações é estimar um modelo conten-
dotoda a base de dados, aproximando a forma funcional para a idade utilizando
onde q é o número de variáveis restritas. umpolinômio de segundo grau. Desse modo, para a base contendo as 1.410 cé-
lulas foram regredidos dois modelos nos quais todas as variáveis independen-
3.3 - Modelos estimados t s.exceto a probabilidade defasada, foram estimadas segundo uma especifica-
Para cada base construída por idade foram rodadas II especificações dife. .0 multiplicativa com a idade.
rentes incluindo as variáveis desemprego, desemprego defasado, salário rea Foram regredidos os seguintes modelos:
coeficiente de Gini, dummies para os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, ano.
índice de preços e probabilidade defasada. Em função dos problemas de carrel - MOdelo 12
ção existentes entre escolaridade e taxa de domicílios chefiados por mulher.
com as dummies de região e com a probabilidade defasada, essas variávei n. Log (prob/ (l-prob) )==Ut cte+ U 2salreal* idade + ex 3salreal* idade"'2 +
foram incluídas no modelo. Como mencionado anteriormente, essas variá i
apresentam comportamento crescente mono tônico ao longo do tempo, ten +U4desemprego * idade + U sdesemprego* idade"'2 + ex 6dummyRio * idade+
portanto correla~ão forte com as variáveis de tendência e nível incorporadas I,
modelo. O coeficiente de Gini, embora também apresente elevada correia. + U 7dummyRio * idade"'2 + U 8 dummySP * idade+ U 9 dummySP* idade"'2 +
principalmente com as dummies de região, foi incluído em algumas especificaç
O modelo com a taxa de desemprego passada foi incluído porque em algutl1 +UIQ (L6g(prob(-I)/(l-prob(-I)) )+UII Gini* idade + Ul2Gini* idade"'2
366 367
(2000b) l. Os resultados dos modelos regredidos evidenciam que para os ho- •...
ns mais jovens, 15 a 19 anos, as variáveis econômicas são importantes para ~
~
Log (prob/Q-prob) )=aI cte+ a 2salreal * idade + a 3salreal* idade"2+ l)licara violência. Para essas idades, o salário real apresenta o sinal esperado, .g
I
I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I 1-0,01
Gráfico 8 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
-0,05
2
-0,1
1,5
-0,15
I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I ! .0,2
I....J
15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
0,5
-
17 Uma forma de tentar controlar este problema é incluir no conjunto das variáveis independente
uma variável que controle o crescimento do setor informal. Tanto no Estado do Rio de Janeiro, como
I! I I I I I I I I I I I I I I I I I 10
18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
em São Paulo, a participação dos trabalhadores por conta própria no total da população ocupada
crescente nesse /período, sugerindo um arrefecimento da taxa de desemprego nesses estados.
370 371
Gráfico 11
~~ nlicídio tende a apresentar elevadas taxas durante todo o seu ciclo de vida, "
i ---
Coeficiente da propabilidade defasada por idade - modelo 7
loerindo a existência de uma persistência da violência específica a cada geração.
~
As dummies de região apresentam coeficiente positivo e significativo para
g;
'ª~
lo;. 0/0
t -----------------------------_ todasas idades, mostrando que as regiões do Rio de Janeiro e São Paulo apre- 1
" enlam taxas de homicídio significativamente superiores às do Estado de Mi- ~
~
.;:; nasGerais em praticamente todas as idades, mesmo quando controladas pelas .g
1i ~
.~ ariáveis econômicas utilizadas. Os coeficientes das dummies sugerem que esta ~
~ 0,8
diferença é mais importante para as idades mais jovens, 15 a 17 anos, e vai per- ~
dendoimportância com o crescimento da idade. O mesmo padrão de comporta- .~
.s;
0,6
mento é sugerido pelo modelo completo. Esse resultado é interessante porque o ~
fenômeno da violência no Estado de Minas Gerais ainda se encontra bem me- ~
nosdisseminado que nos outros dois estados e, desse modo, os dados parecem .~
\:;
0,4 ugerir, caso a nossa interpretação esteja correta, que os jovens em Minas Gerais
.~
ainda tentam ingressar inicialmente na atividade legal. A decisão de ir para a ~
atividade do crime parece ser tomada em idades um pouco mais avançadas. ~
.S!
----------------- 0,2 Surpreendeu-nos, no entanto, a significativa redução da diferença entre ]
Riode Janeiro e São Paulo quando os dados são controlados pela variáveis eco- ]
I ( I ! I ! I ! ! I ! I ! ! I I I !! I ! ! I I I nômicas e pelo efeito inércia. Enquanto nos dados não-controlados a diferença ~
15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 o oscilaem torno de 100%, nos dados controlados essa diferença cai para cerca de ~
20%. Isso apesar de os dados não serem controlados por diferenças nas políticas ~
~
de segurança, que talvez apresentem diferenças significativas em ambos os es- ~
idades, apresentand.o, inicialmente, um impacto crescente com a idade. A partir tados nesse período. Talvez essa diferença não seja tão significativa, ou ao me- ,g
dos 30 anos esse efeito volta a se reduzir. Tanto o teste de robustez como o te le nos seu impacto não o seja. Talvez, ainda, a política de segurança esteja correla-
de espec!ficação revelam o poder explicativo da probabilidade defasada, que danada com as variáveis econômicas: estados mais ricos em certo período teriam
proc~r~ ~ncorporar o efeito inércia: gerações que apresentam elevada taxa de maior acesso a instrumentos de segurança mais eficazes. O melhor entendi-
hom.ICldlOs quando jo~:m ~enden: a manter uma taxa maior por todo o seu ciclo
mento dessas possibilidades requer, no entanto, o acesso a dados confiáveis so-
de vida. Como as vanaveiS economicas afetam a probalidade de homicídio
bre a política de segurança aos quais, no entanto, não tivemos acesso.
qu~ndo as g.era~õ~s ~ão j~vens, e esse efeito é perpetuado por toda a geração por
melO do ef~lto merCla, o impacto dessas variáveis é muito superior ao sugerido Tanto com a introdução da variável ano, como com a introdução do índice
pela magmtude dos coeficientes. de preços, os coeficientes de todas as variáveis, exceto a constante, pratica-
mente não se alteram [ver Andrade e Lisboa (2000b) l. A introdução do coefici-
Co~o disc~timos na intro'dução, uma possível interpretação dos resulta-
ente de Gini no modelo também não altera de forma relevante os coeficientes
dos relaClona a idade da g:ração à fração dedicada às atividades ilegais em cada
ano: Sup.onhamos que seja custoso o retorno das pessoas dedicadas às ativida- da variáveis econômicas. O coeficiente que mais se modifica é o da dummy
des il.e~a.isao mercado legal ~e trabalho. Suponhamos, além disso, que a taxa d para o Estado de São Paulo, resultado esperado uma vez que essas variáveis
hom~~idlO cresça com ~ ~raçao da geração dedicada às atividades ilegais e que a apresentam correlação positiva. O coeficiente de Gini apresenta sinal positivo
mobilidade ~~tre as atlVldades legais e ilegais se reduza com a idade: jovens dei- ignificativo para todas as idades, entretanto, não é possível distinguir com
xam uma atiVidade legal por alguma ilegal com maior facilidade do que os mai lareza os efeitos da desigualdade de renda e estado específicos. O que se evi-
v:lhos. ~esse caso, uma geração que quando jovem apresenta uma elevada fra- dencia nos dados é que o Estado do Rio de Janeiro é mais violento que o Estado
ç~o dedicada à atividade ilegal. decorrente, por exemplo, de uma queda do salã' . e São Paulo e os dois, por sua vez, mais violentos que o Estado de Minas Gera-
no real:. tende a manter essa elevada fração ao longo de todo o ciclo de vida e, . Essas diferenças, entretanto, podem não ser unicamente creditadas à desi-
consequentemente, uma elevada taxa de homicídio ao longo desse mesmo ciclo. . aldade de renda. Para captar este efeito com mais segurança seria necessá-
~ndependente da validade dessa interpretação,
A porém, permanece a evi- no expandir o número de regiões, de modo que a variabilidade da desigualda-
denCla de que uma geração que quando jovem apresente elevadas taxas d e de renda fosse ampliada.
372 373
'õ; 5 - Relação com a literatura sobre economia do crime -odo indivíduo ao crime no período corrente será mais elevada geran-
E ropcn sa .., ~
~ . ,NO.SEstad,os .Unidos uma vasta literatura procura estudar a relação en efeito de persistência da violência. O efeito das taxas de cnmmahdade pas- ~
'" vanavelS econonucas e taxa de criminalidade • No Brasil , entretanto , a mal. . sobre a criminalidade corrente depende do tempo do ciclo ativo de cada
t-> JS ~
i. parte dos trabalhos concentra-se nas áreas de criminologia e aspectos sociai nc.19 1
j criminda~idad~b' !l~dlvedzedsse aspecto da literatura brasileira deva-se, em pan , Existem basicamente três tipos de abordagem empírica que buscam en- ~
~ pouca lspom lia e e base de dados confiáveis, principalmente no que se Iller a relação entre os incentivos econômicos e a taxa de criminalidade: os 1
.~ fere à política de segurança. balhos em séries temporais, os trabalhos em cross-sections e os trabalho: b~se- ~
ti
t:> A maior parte dos trabalhos da literatura econômica americana tem con s no comportamento individual. Os resultados encontrados nesses tres tIpOS "
arcabouço básico a teoria dos incentivos, proposta inicialmente por Beck abordagem são bastante diferenciados. Freeman ( 1994) faz uma resenha dos .~
( 1968) na qual a atividade do crime é considerada substituta da atividade I incipais resultados que são robustos para cada uma das três abordagens. ~
gal.18 Nesse modelo, a cada instante os indivíduos tomam uma decisão em 1 TOStrabalhos em séries de tempo, os resultados dependem do período em .~
alocar seu tempo na atividade legal ou alocá-lo à atividade do crime. A cscoLh Ut foram estimados, da região e de como a taxa de criminalidade é mensurada, 'ê
c::;
-sobre em qual atividade se engajar depende do retorno líquido esperado n 1 o fornecendo uma regra única entre as relações econômicas e a atividade d o !fi
duas oportunidades. No cálculo do retorno líquido esperado do crime, os indi ime. Entretanto, essa parece ser a base de dados mais adequada para se expli- .~
duas consideram tanto os ganhos e perdas materiais quanto a probabilidade I T como em determinada região geográfica a taxa de criminalidade responde ~
.S!
ser preso e condenado por cometer atividade criminosa, e ainda os custos de r . oscilações econômicas. ]
putação e acesso ao mercado de trabalho no longo prazo, caso sejam conden - Os trabalhos em cross-sections utilizam comumente dados de diversas locali- ]
dos. ades, sendo mais indicados para explicar a variância da taxa de criminalidade ~
Recentemente, incorporar a idéia de inérci I
alguns autores têm tentado ) diferentes regiões e não os seus determinantes. Nesse tipo de abordagem, os ~
persistência dos ciclos de violência. No modelo construído
por Sah ( 1991 ) o re ul- lIltados são bastante robustos e a taxa de criminalidade apresenta comporta- i}
E
tado de persistência da criminalidade decorre da endogeneização da probabil- nto anticíclico. A relação entre desigualdade de renda e criminalidade tam- 1:;.
dade de ser punido por ato criminoso. No arcabouço tradicional, a probabilid 1 parece ser robusta nesse tipo de análise. Fajnzylber, Lederman e Loayza ~
de de ser punido é exógena, constante ao longo do tempo e idêntica entre O' in- 99) a partir de uma base de dados para 45 países encontram uma relação po-
divíduos. Ao decidir se participam ou não da atividade do crime, os indivídll iva entre níveis de desigualdade de renda, mensurados pelo coeficiente de
consideram a sua percepção individual da probabilidade de punição, e ná 'ni, e taxa de homicídio intencional. A fragilidade desse tipo de análise é que
probabilidade verdadeira. A prior dos indivíduos sobre a probabilidade de plll r 'ultados podem estar, em alguma medida, associados a diferentes caracte-
ção depende do comportamento das pessoas que eles têm capacidade de ob licas da população não-controladas nos experimentos gerando, portanto,
var a cada período, enquanto a probabilidade verdadeira depende do nível rrelação espúria entre as variáveis analisadas,
gastos realizados no sistema e da taxa de participação do crime. A cada perí O modelos com dados individuais são os que apresentam relação mais for-
uma nova coorte passa a integrar o número total de pessoas ativas decidind ntre as variáveis econômicas e a decisão de participar do crime. Essas pes-
participam ou não do crime. A taxa de participação no crime no período T I I as, em geral realizadas em penitenciárias, não consideram todo o universo
pende de todas as coortes ativas. Nesse sentido, à medida que os agentes en indivíduos se restringindo aos que já se decidiram pela atividade do crime.
lhecem, o conjunto de informação se eleva, e a prior dos indivíduos tende J O elevado número de trabalhos reflete tanto a gravidade do problema da
. , aproximar do valor da probabilidade real.
linaliclade, sobretudo na economia americana, como também a dificuldade
Sah supõe que para dado nível de gastos do sistema existe um nível 111 iidar com o tema sob uma abordagem econômica. Entre as principais difi-
mo de apreensões pela polícia, de forma que o aumento da criminalidade r I dades, citamos: a) a não-existência de uma medida dos retornos do crime
a probabilidade real de ser punido, assim como influência a prior dos indivíd permita separar os efeitos de redução das oportunidades legais e os efeitos
e suas escolhas futuras. Desse modo, se a taxa de criminalidade passada for ~I
t!O argumento da literatura que pode ser alçado para explicar a persistência dos ciclos de via-
e o da il1leração social proposto por Glaeser, Sacerdote e Scheinkman (t996). Estes autores
18 Tauchen e Will ( 1994) e Grogger ( 1997) utilizam um arcabouço um pouco diferenciado. I am interessados em explicar a elevada variância das taxas de criminalidade ao longo 1~0tempo
delo proposto, a atividade do crime não é um substituto da atividade legal. Os indivíduos pod~
r: re~iões não explicada pela variância das condições econômicas. Segu~do ele~,_ex~ste um.a
alizar as duas atividades conjuntamente. Nesses tipos de modelo a escolha do indivíduo não c !anCla positiva entre as decisões dos agentes em participar do crime e asslln a vananCla do cn-
se engajar ou não na atividade do crime, mas qual o tempo ótimo de alocação nessa ati\'idad Um múltiplo da variância se os agentes tomassem as decisões de forma independente.
-._------
374
't;; de elevação da probabilidade de ser punido e de aumento dos retornos do crim macomo a taxa de criminalidade é mensurada. O trabalho, no entanto, nã.o
~ b) a não-existência de medidas exatas de criminalidade dado o elevado númn r ura controlar simultaneamente todas as variáveis independentes, examI-
~ de sub-registros; e c) a dificuldade em se mensurar a probabilidade de ser pun_ ~ldoapenas a correlação e a dispersão entre cada par de variáveis.
~ do, já que as variáveis comumente utilizadas - gastos da polícia, número Umaprovável dificuldade comum aos dois trabalhos é a unidade de análi-
! policiais per capita e taxa de prisões - podem estar correlacionadas com o au- . Aintegração do mercado de trabalho nas regiões metropolitanas provavel-
~ mento da violência ou mesmo apresentar erros de mensuração. Um fato estili. menteimpede que as flutuações econômicas sejam diferenciadas ao nível dos
] zado da literatura é a associação entre maiores retornos do crime e economia municípiosque pode resultar em uma correlação espúria, como discutimos na
g onde existe maior produção e comercialização de drogas. Em função da prolif_ Il1lfodução.Suponhamos que dois municípios próximos apresentem taxas de
ração do uso de drogas, alguns autores [Freeman (1994)] defendem que os r _ riminalidade significativamente distintas. Ora, o município com maior crimi-
tornos ao crime têm aumentado nas últimas duas décadas. nalidade,na ausência de migração, deve apresentar alguma compensação de
Os resultados de três trabalhos recentes para a economia americana vãoa bem-estar para os seus moradores, por exemplo maior salário real ou menor
encontro das evidências encontradas neste artigo. Grogger (1997) mostra que taxade desemprego. Dessa forma, uma base de dados em cross-section que indi-
comportamento dos homens jovens apresenta elevado grau de resposta aosin- quea existência de correlação positiva entre salário real e criminalidade não
céntivos econômicos e que, portanto, a queda do salário real nas duas última ignificaque um crescimento do salário real aumente a criminalidade. De fato,
décadas é determinante importante da elevação da taxa de criminalidad . lalvezexatamente o oposto seja verdadeiro: caso o salário real aumente em am-
Tauchen e Witt (1994), por outro lado, demonstram, que os jovens que alocam bosos municípios, a criminalidade pode cair sem contradizer a correlação obti-
maior tempo no trabalho ou na escola apresentam menor probabilidade de par- daemcross-section que, inclusive, pode ser p'reservada para o novo salário real. O
ticipar do crime. Ambos os estudos acompanharam durante o período de seI r sultadoobtido talvez apenas signifique que, se um município apresenta maior
anos uma coorte de homens nascida em 1945 na Pensilvânia. Freeman ( 1996) riminalidade, o bem-estar dos seus habitantes é compensado pelo maior salá-
defende que a taxa de criminalidade tem aumentado em decorrência da redu- rioreal. Por essa razão, parece-nos importante considerar uma base de dados
ção das oportunidades de trabalho para os homens jovens menos qualificado. comsérie de tempo em que se observam flutuações concomitantes das variáveis
Segundo o autor, o retorno das atividades legais para os indivíduos menos qua- econômicasem diversos períodos em todas as regiões.
lificados se reduziu em contrapartida à elevação dos retornos do crime. Além Além disso, como discutimos na introdução, a utilização como base de da-
disso, a elasticidade da oferta de trabalho às variações no salário é suficientemen- dosdas taxas de homicídios por 100 mil habitantes pode viesar os resultados,
te elevada para aumentar a propensão à atividade do crime. Acrescente-se ainda 111decorrência tanto da existência de composições de sexo e idade distintas nas
o argumento de que a atividade do crime pode não ser necessariamente sub li- regiõesquanto da omissão da variável idade. Por essa razão, neste trabalho
tuta da atividade legal, podendo ser exercida conjuntamente pelos jovens para Ct:>nstruÍmos a base de dados calculando a freqüência de morte por homicídio a
garantir elevação da renda. da idade em cada ano e região.
Sobre o caso brasileiro, os resultados ainda parecem incertos. Carneiro A construção dessa base de dados nos permitiu considerar dois aspectos
Phebo (1999) encontram resultados bastante distintos dos esperados. Osaul ue parecem extremamente relevantes no entendimento dos ciclos de violên-
res analisam a relação entre taxa de criminalidade, medida como homicídi ia:incorporar o efeito inércia e estimar coeficientes específicos a cada idade.
por 100 mil habitantes nos municípios das regiões metropolitanas do Riode J oincorporar o efeito inércia como específico à geração, a inércia dos ciclos de
neiro e São Paulo, e flutuações econômicas, utilizando um modelo em pain 'olência,já observada em outros trabalhos, ganha nova interpretação. O resul-
desbalanceado para quatro anos, estimado por mínimos quadrados ponder- adomais robusto encontrado neste artigo se refere, precisamente, à importân-
o dos. Os resultados indicam relação negativa entre desigualdade de renda e 11- ciada probabilidade defasada para explicar os ciclos de violência, obtida a partir
minalidade e comportamento pró-cíclico da criminalidade. acOnstruçãodas freqüências de homicídio por coortes. Os coeficientes estima-
Beato e Reis (1999) analisam a correlação entre taxa de criminalidade, m - o para a probabilidade defasada sugerem que os indivíduos tomam a decisão
dida de forma desagregada como crimes contra o patrimônio e contra a pe - deentrar no crime dos 15 aos 20 anos e, uma vez que decidam participar dessa
e desenvolvimento econômico nos municípios da região metropolitana de Be alh~dade,tendem a continuar na mesma. Foge do escopo deste trabalho expli-
Horizonte em um modelo cross-section.20 A correlação encontrada depende i r os determinantes dessa inércia.
_ Aestimação do modelo para cada idade nos permite sugerir algumas rela-
20 Os autores utilizam como proxies. para grau de desenvolvimento, o índice de desenvo1\'ÍI1l esentre os ciclos econômicos e os ciclos de violência. Os resultados encontra-
humano. a taxa de analfabetismo e a taxa de mortalidade infantil. Os evidenciam que as variáveis econômicas são relevantes para explicar a
376 377
'C; criminalidade até no máximo 20 anos de idade. Este resultado corrobora os Ir esgota na punição, e nem mesmo fica claro em que medida o efetivo polic.ial ~
~ balhos de Grogger e Tauchen e Witte e parece ser extremamente importante j iescreveadequadamente esse comprometimento. Ness.easpecto, cabe um~ ~n- ~
g ponto de vista da intervenção pública. Os dados sugerem que políticas voltall~ stigaçãomais cuidadosa de critérios e indicadores maISadequados da pohtlca .;g
~ para a população masculina jovem podem reduzir a criminalidade no longopra- desegurança. _ 1
;:;- zo. Entretanto, como o impacto dessas políticas é defasado ao longo do cicloli A inclusão de uma variável de controle para a participação do .seto: 1I1for- g
~ vida, seus efeitos somente podem ser percebidos no longo prazo, o que talvez I 1aabsorção de mão-de-obra nos permitiria investigar com mais cUld~do o ~
] torne sua implementação menos atraente para os governantes. IIlal h .'d .. ' I aoda-
.s;;>
inal da relação entre desemprego e taxas de OlmCl 10,Ja que a.e~~ uç . c ~
~ Os resultados encontrados para a relação entre desigualdade de renda e vio- .ade desemprego no Brasil parece sugerir uma mudança de senslblhdade nos 2
lência, embora apresentem o sinal positivo e significativo, não são muito robus- ~~~~sde retração do produto ao longo dos anos ~oe 90. O ~1.aiorvolume de,p.es- .~
tos. A enorme disparidade observada nos níveis de violência dos três estado soasno setor informaL em sua maior parte, reahzando atIVidades temporanas, ~
pode, talvez em parte, ser explicada pela desigualdade de renda, mas este resul- fazcom que esse contingente deixe efetivamente de procurar emprego, passan- J2
t~~o pode estar associado a características estado-específicas relacionadas à po- doa ser considerado como parcela da população ocupada. .~
ht~ca de segurança. Como já enfatizamos anteriormente, porém, a ausência li . Por fim, no que se refere ao peso da desigualdade na taxa ,de homicídi.o ~
base de dados confiáveis inviabilizou uma extensão do trabalho para investigar duasextensões parecem adequadas. Por um lado, aumentar. o nume~o de um- ~
essa relação. dadesda Federação analisadas de modo a permitir diferenCIar a ~eslgualdad.e .~
de outros aspectos regionais e, por outro, testar índic~s altematlvos, de desl- ~
6 - Agenda de pesquisa gualdade.A principal dificuldade com essa extensão e.st~no elevado numero de ~
ubenumeraçao de óbitos em diversos estados braSIleIros, sobretudo nos do ~
Muito embora os resultados encontrados neste trabalho nos pareçam ro- arte e Nordeste. ~
bustos, a precariedade dos dados econômicos por coorte e a falta de acesso a da- :s.,
dos sobre ,a política de segurança enfraquecem nossa confiança nos modelo ê
testados. E possível apontar pelo menos quatro extensões deste trabalho:
a) Construção de uma base de dados em que as variáveis econômicas refli-
1
tam as características de cada idade. Neste artigo as variáveis econômicas foram
aproximadas pela média.
b) Inclusão de variáveis instrumentais para a política de segurança.
c) Ampliação do número de unidades da Federação analisadas, de formaa
se obter maior dispersão e maior desigualdade de renda, e se testar medida al-
ternativas de desigualdade.
d) Inclusão de uma variável que controle a participação do setor inform I
na absorção de mão-de-obra.
Em princípio, as variáveis relevantes para a entrada em atividades ilegai
devem ser condicionadas às características individuais e não à média da popu-
lação em cada região e ano. Uma desagregação interessante seria condicionar ~
dados de freqüências de homicídios à escolaridade e às características dos pai
assim como condicionar as variáveis econômicas à idade e à escolaridade. Inf -
lizmente, porém, os dados disponibilizados pelo SIM apresentam problema
precisarnente no preenchimento desses dados. Uma solução intermediária s -
ria condicionar ao menos ~s variáveis econômicas por idade, além de regiãoe an
No que se refere à política de segurança, algumas variáveis alternativa.,
como efetivo policiaL poderiam ser tentadas como proxy do grau de éomproI1l.'-
timento do Estado com políticas punitivas. A política de segurança, porém, na
378 379
':::Apêndice 1 • probabilidade de morte "-
~ Os dados de probabilidade de morte foram calculados segundo as técnicas ~
g Descrição das variáveis ~
usuaisde demografia utilizando a base de dados sobre mortalidade disponibili- "'E
'l
~ Variáveis econômicas zada(SIM) pela Fundação Nacional de Saúde através do Datasus.21 Para os es- 'ê~
~ ladosde São Paulo e Minas Gerais foram utilizados apenas os registros de morte g
~" • Taxa de desemprego porhomicídio e no Estado do Rio de Janeiro foram utilizados os registros de ~
~:;; Tax~ de dese~~rego aberto em cada região metropolitana calculada pelo
,~
mortes por homicídio e mortes por outras violências. Estes grupos correspon- ,~
InstItutpoBra~I!eIrode Geografia e Estatística (IBGE) através dos dados obti- demaos seguintes códigos: homicídios e lesões provocadas intencionalmente: ~<:
21 d os n~ esqmsa Mensal de Emprego (PME).
CID99600-9699 e na CID 10 X850-Y099; outras violências: CID9 9700-9999 e ';;;
Co~ceIto: pessoas que efetivamente procuraram emprego nos últimos 30 dias ~
na CIDIOYI00-Y369. ~
e nao exerceram nenhum trabalho nos últimos sete dias.
O elevado número de homicídios classificados como outras violências no '~
Rendimento
Estadodo Rio de Janeiro parece ser um problema com as bases de dados de ates- .ê
Índice do rendime~to médio real no trabalho principal por região metropoli- lado de óbito neste estado. Para contornar essa dificuldade padronizamos as ~
tana a da p~pulaçao ocupada. Deflator utilizado: Índice Nacional de Preços mortespor acidente no Estado do Rio de Janeiro, incluídas no grupo outras vio- ~
ao ConsumIdor (INPC). Base do índice' jul/94-100 Dados d' ,. lências,de acordo com a distribuição do Estado de São Paulo. A categoria outras ~
partir do ano de 1982. . . -. Ispomvels a
violênciasinclui mortes ocasionadas em sete circunstâncias: lesões por inter- ]
Fonte: IBGE/PME.
vençãolegal, lesões de guerra, envenenamentos, enforcamentos, lesões devido ~
Dados coletados da revista Conjuntura Econômica da Fundação Getulio Vargas ""
aqueda, lesões de intencionalidade ignorada causadas com armas de fogo e ar- ~
- dezembro de 1997 e novembro de 1998. mas brancas e lesões por meios não especificados. Os dois primeiros grupos ~
• Índice Nacional de Preços ao Consumidor apresentam registro praticamente nulo nos dois estados. O grupo dos envene- it
Variação mensal acumulada anualmente para o Brasil. namentos, enforcamentos e lesões devido a queda constitui o das mortes causa- ~
Fonte: IBGE. ~
daspor acidente. São precisamente os dois últimos subitens que apresentam a ~'"
Da,d?scoletados da revista Conjuntura Econômica da Fundação Getulio Varga maiorparticipação na probabilidade de morte associada a esta categoria no Rio
(varIas anos). deJaneiro em quase todos os anos. Carneiro e Phebo ( 1998) encontram o mes-
• Coeficiente de Gini moproblema ao utilizar essa base de dados. Eles supõem que todas as mortes
Índice ~alculado para as unidades da Federação baseado em dados da Pesqui- provocadaspor armas de fogo teriam sido homicídios, as mortes provocadas por
sa NacIOnal por Amostra de Domicilias do (PNAD) do IBGE. . objetoscortantes teriam sido acidentais e 50% das demais causas cuja intencio-
Para os anos ~e 1991 e 1994 o índice foi interpolado linearmente. nalidadeé ignorada seriam homicídios. A comparação da série temporal do Rio
Dados forneCIdos pela equipe de pesquisa de Ricardo Paes de Barro deJaneiro com a série de São Paulo revela o (relativo), reduzido volume de re-
(IPENRJ). gistrosde morte na categoria outras violências em São Paulo, onde seu peso na
probabilidade de morte raramente ultrapassa 1% ao longo de todo o período.
Variáveis de família Esseresultado sugere a existência de um problema de mensuração estado-
• Escolaridade e pecífica.Como os índices de homicídio em São Paulo são relativamente altos
e estáveis, não sugerindo uma eventual sub enumeração maior neste caso do
~ Nível médio de anos de estudos médio da PEA das unidades da Federação
calculado com base na PNAD.
Para os anos de 1991, 1994 e 1997 as informações foram interpoladas linear- z I Co~o estimamos a probabilidade de morte para a população acima dos 10 anos, podemos utili-
mente. ar a formula de cálculo básica da construção da tábua de vida, isto é:
.., em cada ano, para cada idade e sexo, idêntica à obtida em São Paulo. No
@
~ hipótese é de que as mortes acidentais correspondem a um evento aleatório d
L---------------------------- 180 1
ê
.g
{; igual distribuição no Rio e em São Paulo, sendo, porém, correlacionadas COm __ ---------------------------160 ~
~
~ nível de homicídios. Tendo por base essa hipótese, estimamos a probabilidad ,~
K
V)
140
de morte por homicídio para os três estados segundo as técnicas demográfica "
.~
usuais. Os dados de população residente foram obtidos por meio de uma expao- 120
~
são log-linear dos dados de população para cada idade dos anos censitários, iSI {;
é, 1980 e 1991, e da Contagem Populacional de 1996. 100 .~
.~~
Para os Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, a subenume- 80 ~
ração de óbitos contabilizada pelo IBGE é relativamente pequena e a perda d
_____________________________ 60
"ti
informação decorrente da base de dados utilizada alcança em média 7% do uni. ~
verso global.
----------------------------- 40
----------------------------- 20
I ! I ! I I I I ! I I I I I I I 10
1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997
Apêndice 2
Gra ICO 3
Gráfico 1
Chefe de família - São Paulo/Rio de Janeiro/Minas Gerais Escolaridade - São Paulo/Rio de Janeiro/Minas Gerais
%
0,35
-------------------------------9
------------------------------=--8
0,3 Rio de Janeiro ~
--_::: 7
-------------------------------- 4
_0,5
--------------------------------3
-------- -- 0,1
-------------------------------2
__________________________ --0,05<
I I I I I I ! ! ! I I I I I I 10
I I I I I I I I I ! ! I I ! ! I I .-JO
981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997
1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997
382 383
Gráfico 4
~
~
'"i! Taxa de desemprego - São Paulo/Rio de Janeiro/Minas Gerais IN PC • São Paulo/Rio de Janeiro/Minas Gerais
~
~ %
1 -'-------------------------------
"
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Rio de Janeiro
5
~ ~ ~
llA": I I I I ~ I I I I [ I I I [ ~"""UJ""~ O
I I I I I I I I ! I I I I I II O I I 982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997
1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997
• São Pa.ulo  Rio de Janeiro • Minas Gerais
Bibliografia
Gráfico 5
T. Advanced econometrics. Oxford, Basil BlackwelL
IE,\'!YA, 1985.
índice de Gini - São Paulo/Rio de Janeiro/Minas Gerais
DRADE,M. V., LISBOA,M. B. Alguns fatos estilizados sobre o setor saúde no Brasil.
%
EPGEIFGV, 2000a, mimeo.
07
_< ---0 KER,G. Crime and punishment: an economic approach. Journal of Political
Economy, v. 76, n. 2, p.169-217, 1968.
mostram o crescimento verificado nos últimos anos. A partir do final dos a.1 por faixas de população
70, o Rio de Janeiro triplica suas taxas de homicídio e São Paulo e Porto AI ~ a de crimes violentos por 100 mil habitantes 600
quadruplicam as suas. Belo Horizonte tem assistido a um aumento em torno
50% a.a. dos crimes violentos, especialmente nos anos recentes. Esse incrern
500
to nas taxas tem sido largamente documentado nos maiores centros urbal
brasileiros [Adorno (1998), Caldeira (1989) e Feiguin (1995)].
400
O maior aumento, entretanto, tem sido dos crimes violentos contra o pal De 50 mil a 700 .mil habitantes
mônio, que tem crescido a taxas realmente alarmantes. Vejamos o que oco De 700 mil a 250 mil habitantes .. .'
'
300
~ nas cidades de Minas Gerais: De 250 mil a 500 mil habitantes ••••••
Conforme observamos no Gráfico 2, os aumentos mais acentuados da- ............................. 200
xas de crimes violentos contra o patrimônio se deram em cidades com mai Até la mil habitantes
populações. Cidades situadas na faixa de mais de 50 mil habitantes assi -leI De 70 mil a 25 mil habitantes
100
Pobreza e crime
Uma parte dessa crença provém de uma questão bastante discutida no Bra- Gráfico 4
sil já há duas décadas a respeito da afinidade entre pobreza e crime [Pinheiro
(1983)). Não obstante as inúmeras vezes em que a afinidade entre esse fenôme-
Taxasde crime violento por 100 mil habitantes 300
nos foi rechaçada, ora em referência a inconsistências teóricas ora às suas insu-
ficiências empíricas [Coelho (1978), Paixão (1990) e Zaluar (1985)], essa di -
cussão ainda permanece no cenário de nossos formuladores de políticas. Tra- 250
ta-se de argumento de grande apelo sensitivo, dado o enorme déficit brasileiro
na promoção de bem-estar social das populações mais pobres. As evidência Rsq = 0,0266
..
empíricas nais quais se assentam tais crenças, entretanto, revelam-se contradi-
tórias. Resultados de diferentes pesquisas dedicadas à demonstração da impor- .. ....
200
tância dos fatores econômicos sobre a criminalidade não são consistentes ent
si [Land, MacCall e Cohen (1990)]. Variáveis tais como tamanho e densidad
.. ','-
~
..
.. .
150
Em Minas Gerais, ao tomannos a taxa de criminalidade violenta correladO- nad ••• •••• 11••• 1:-" ~-.: •• ~ ;I .11" -. •
. -:. .-.: ........•• . "'7';.. .~.,. .. ..;..
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•.. I .~.:
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• --.
•••. .. '.1
com o coefidente de Gini, um indicador de pobreza relativa, e com o percentual de f •.. I ! , . 10
100
mílias que vivem com menos de um salário mínimo, um indicador de pobreza ab olu- w ~ W 80
ta, obtivemos os seguintes resultados, ilustrados nos Gráficos 3 e 4 [Beato (1998)). Percentagem de chefes com menos de um salário mínimo
390 391
't;; C~nforme se pode ver, a percentagem da variância das taxas '. Illprego e crime "
UO
~ ~ade VIOlenta explicada pela hipótese da privação relativa e da POb~e Cflbll "S"
~ e de pouco mais de 1% (R2 = O 0139 e O 0266 . ezaa sol Outro aspecto bastante ressaltado, especialmente nos últimos anos, diz
1:i h " ,respectivamente) A po 'ilO à relação entre recessão econômica, taxas de desemprego e criminali- .~
.ti q.uase ,nen uma variação nas taxas de criminalidade violenta pare' uca
~ Clada as medidas de desigualdade adotadas. ce estar a [Gunn (1998)]. Esta é uma das grandes questões da criminologia, tanto .~
{l ~uasimplicações teóricas como para a definição de políticas públicas [Land, 'g
~ Presença do Estado nlOre Russel (1995)]. Não obstante a importância da relação entre desem- .2
] E
.!!> o e crime, há um grande consenso na literatura criminológica de que ela é .~
~ O~tra ela.boração recorrente a respeito das relações entre estrutura
A
Crimes violentos de 1997 "One's natural instinct would be to interpret this [positive relationship]
600 as meaning that rising unemployment causes rising crime. But rising
crime might as easily cause rising unemployment. If young men
examining the world about them conclude that crime pays more than
500 work (...) they may leave their jobs in favor of crime" [Wilson (1983,
p.80)].
Por outro lado, o desemprego pode atuar como um fator de diminuição das
4
_ nUnidades para o crime, na medida em que multiplica o número de guar-
c
c Rsq = 0,0286 e instâncias de vigilância na sociedade [Cohen e Felson ( 1979) ]. Os meca-
~:-:o~--------------- 300 lOSalavancados pelo crescimento das taxas de desemprego, portanto, são
6'0 c t:J
o o traditórios. Daí a razão dos resultados inconsistentes alcançados pelos mais
'" rentes estudos sobre o tema.
200
A seguir, estão reproduzidos os resultados de 36 observações mensais
áficos 6 e 7), que correia danam crimes violentos e crimes violentos contra a
100 priedade às taxas de desemprego nos anos de 1996, 1997 e 1998, em Belo Hori-
o
o
o
te. As correlações foram calculadas com as séries deslocadas de um a sete me-
O . Um dos problemas desse tipo de análise relaciona-se com o fato de estarmos
10 20 30 ando com duas séries em crescimento. Tanto o desemprego como a crimina-
Instituições oficiais por 10 mil habitantes
de têm tido incrementos acentuados em Belo Horizonte nos anos analisa-
392 393
_','1,..---- Gráfico 6
i ,O que significa que ambas não são estacionárias em suas médias e variân- "
~;:
~ as. Para corrigir isso, procuramos diferenciar as séries, substituindo cada ob- '~
~ Desemprego versus taxas de crimes violentos 'rvaçãoda série original pela diferença entre o seu valor e o valor do mês ime- ,ê
~ díatamente anterior. Os resultados, ilustrados nos Gráficos 6 e 7, mostram que <~
t CCF
nenhuma correlação significativa foi encontrada. ,~
{;------------- a
~ Os efeitos dramáticos do desemprego sobre a vida das pessoas provavel- g
_ Coeficiente
menteserão visualizados no bem-estar e sobrevivência dos trabalhadores, mais .~
'ª
,S!'
la
Cl C
Limite de confiança
o que no perigo que eles possam representar para os mais bem aquinhoados ~
iJ
I Q
pdo destino nos tempos de recessão da atividade econômica. ]
j
4 - Metodologia ~
,~
o la
Neste estudo sobre a criminalidade violenta, considerou-se o Estado de c.
1inasGerais dividido em 723 municípios, nos quais foram registradas ocorrên-
I ias de crimes violentos e observados dados para variáveis socioeconômicas,
'o
"
L ImIte de confiança
J u ando como fonte o IBGE.
Esses dois conjuntos de dados possuem a particularidade de serem rde-
r I1lesa áreas geográficas, o que lhes confere um componente espacial impor-
~~,7';--::_6;_~_5--_4:----J-3::-~,2:-----L,'--OL----J----1--L--L---L-.l.--L--1
,1 tante, pois áreas próximas umas das outras tendem a ter valores mais similares
4
loque áreas distantes. Em outras palavras, as observações em cada área podem
cr espacialmente dependentes, o que vale dizer que as observações possuem auto-
c rrelaçãoespacial. Se valores de áreas vizinhas tenderem a ser mais similares do
Gráfico 7 quede áreas mais distantes, fala-se em autocorrelação espacial positiva. Espera-se
ue muitas das variáveis socioeconômicas possuam autocorrelação positiva.
a primeira fase da pesquisa, as taxas de criminalidade violenta foram cor-
Desemprego versus taxas de crimes contra o patrimônio ri idas por meio de técnicas de estatística espacial para eliminar o problema da
CCF lta instabilidade das taxas brutas. Essas técnicas consideravam, além da ob-
rvaçãodo próprio município, as observações dos municípios vizinhos, na ten-
_ Coeficiente tativade melhorar a estimativa da taxa naquele município. Assim, foram coos-
Limite de confiança ruídas as chamadas taxas de criminalidade corrigidas, que serão usadas ao
C ngode todo o trabalho. O próprio método de correção levou a taxas de criminali-
I - de corrigidas, que possuem autocorrelação espacial positiva.
essa segunda fase, o interesse é encontrar alguma associação entre as ta-
as de crime e as variáveis socioeconômicas, como auxílio no entendimento do
racesso de criminalidade violenta no Estado.
Aassociação entre duas variáveis pode ser medida pelo Coeficiente de Cor-
lação Linear de Pearson. Se as observações de cada uma dessas variáveis fo-
I 'm independentes, a significância do coeficiente pode ser verificada por meio
' , J
Li mlte de confiança te tes estatísticos. No entanto, Cliff e Ord (1981, p. 184) colocam que no caso
~l~correlação positiva, uma observação caliega menos informação do que uma obser-
ao Independente, desde que ela é parcialmente predizível por seus vizinhos. Observa-
,7 ,6 ,5 _4 ,3 ,2 ., o 6
3 4
r empíricas mostram que, quando pelo menos uma das duas variáveis tem
Utocorrelaçãoespacial positiva, o coeficiente de correlação amostrai fica inflado.
394 395
~
~ É conhecido ainda que a autocorrelação espacial ou temporal influencia a disrri-
«
M cn-::t ~ ]'
E buição nula do Coeficiente de Correlação de Pearson, e, conseqüentemente, o
q o
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'Xl ~ooô
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~ testes de hipóteses baseados nela [Student (1914), Bartlett (1935), Richardson 2- S "
" 1:: Hémon (1981) l.
111
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Desse modo, a significância da correlação en tre uma variável de crime e uma E o o o' :::
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~" variável socioeconômica não pode ser calculada com base nos métodos usuai', 'I:
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'" pois esses requerem a suposição de independência entre as observações de cada
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c:, variável. Para contornar esse problema, foi proposto como método alternativo "
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um teste de permutação para se ter acesso à significância dos coeficientes de correia- "
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ção observados. Esse teste de permutação consiste em obter um conjunto de valo. "
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res do coeficiente de correlação sob permutação, representando a distribuição de o ~
probabilidade desse coeficiente quando não há associação entre as variáveis.
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Em cada permutação, uma das variáveis é mantida fixa, enquanto os valo- u
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res da outra variável são permutados. A seguir, calcula-se o coeficiente de corrc-
lação. Depois de um número razoável de permutações, a distribuição de fre-
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qüências do coeficiente de correlação sob permutação é construída, represcn- ãi ~~~~ 2- 2- 2- 2- 2- 2- S 2- 2-
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tando a distribuição do coeficiente se não houvesse correlação linear entrc a -::t -::to M
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variáveis. O valor observado da correlação para as variáveis originais é então cn ~
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comparado a essa distribuição. Calcula-se a proporção de valores da distribui- ",o
ção sob permutação que são mais extremos do que o valor observado. Essa pro-
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:2:330.-
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porção é usada como estimativa da probabilidade de signifieância do teste (p-valor). C >z N N N
Proporções muito baixas mostrariam que o valor observado não proveio daquc-
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Ia distribuição, o que revelaria que a correlação entre as duas séries é significante. QI "' "'-
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No entanto, no caso de variáveis com observações espacialmente autocorre- O :2:Za:::1--
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lacionadas, nem todas as permutações dos valores podem ser aceitas, pois podem 111 5~~~
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mascarar o componente espacial das variáveis. Para solucionar esse problema e >
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preservar esse componente espaciaL se impôs uma restrição às permutações do u
1II
valores: o Estado de Minas Gerais foi dividido em suas 10 regiões de planejamen- Q. <o
to e os valores dos municípios de uma região só poderiam ser permutados entr
os municípios daquela região. Todas as permutações possíveis em cada uma da
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regiões foram feitas - ou pelo menos uma grande parte delas, no caso de regiõ~ :J "O <o
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com muitos municípios - num total de mil permutações. Os valores dos coetiCl- o
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entes de correlação calculados com essas permutações foram reunidos para for- I/l VI
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mar a distribuição de freqüência sob permutação do coeficiente de correlação. u z c: <o <o <o (])
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5 - Resultados para o ano de 1991
Como 1991 foi um ano de censo demográfico, é o que dispõe de mais dad
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socioeconômicos desmembrados por município. Os resultados são apresenta- 'ij
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dos para cada tipo de crime violento.
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As variáveis socioeconômicas - cujas correlações com as taxas de crim
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dessas modalidades de crime. Assim, os crimes contra o patrimônio são positi-
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~~~~ 8 8 8 8 8 8 8 0,38,0,39), com o número médio de anos de estudo (0,47), e com a taxa de inci-
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Os resultados aqui expostos, entretanto, servem para propor uma perspec-
a distinta para a explicação da incidência da crirninalidade. O desenvolvi-
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~ certamen.te o é, se considerarmos as explicações na produção latino-americana so- b) os mecanismos de controle e vigilância são enfraquecidos; e c) há um maior "
&S bre cresClmen.to_ d~ taxas. de crin:inalidade [Pinheiro ~1~83 ) e Boschi ( 1982)I número de ofensores motivados. .~
~ Em contraposlçao as teonas que lidam com as caractenstlcas individuais ou do Entretanto, pode-se argumentar que, se isso ocorre em níveis regional e .~
~ gru~os sociais, procuraremos utili~ar modelos que lidam com a distribuição e . municipal, não significa necessariamente que no interior dos centros urbanos.o .~
! paClal e com contextos de oportumdades para a ação criminosa. O primeiro pa . mesmo padrão seja reproduzido. Bairros e logradouros com altas ta~as de cn- 'g
~ so a ser dado nessa direção consiste em separar analiticamente a "incidência de 'nalidade podem se referir também às desigualdades de oportumdades nas '"
~ crimes" das "características sociais dos criminosos". Em termos teóricos, isto
1111
grandes cidades. A análise ecológica da distribuição
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f implica um reconhecimento de que delinqüentes não são diferentes do , randes centros urbanos terá de lidar com algumas questões de natureza teon-
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não-delinqüentes: ambos estão igualmente predispostos ao crime [Newman. ca e prática. Em termos práticos, a questão é por que a guns amos e oca I a- ~
Clarke e Shoham ( 1997) l. A motivação para o crime pode ser vista como o resul. des de uma cidade têm altas taxas de criminalidade. ~
tado de um ambiente imediato de ação e pode estar orientada para tipos especí- Teoricamente a literatura que lida com a hipótese da desagregação social ~
ficos de atos criminais [Opp (1997), Clarke e Felson (1993) e Newman, Clark e confere esta maio; incidência às características socioeconômicas das comuni- "g
Shoham (1983) l. Daí alguns autores lidarem com o conceito de "racionalidade dades cidades, bairros e vizinhanças [Shaw e McKay (1942), Park e Burguess
limitada" [Simon (1978) 1 para reconhecer que delinqüentes são atores que (1924') e Bursik (1986) l. Na realidade. esse mecanismo de c~usaç.ão ~ão se d.á
ném sempre têm completo domínio de informações ou estão plenamente con . de forma direta, mas como resultado do fato de áreas com maIOr pnvaçao relati-
cientes das situações com as quais estão lidando [Clarke (1997) l. va e absoluta provocarem incrementos de mobilidade e heterogenei~a.de P?PU-
Note-se que não se está negando a importância dos fatores de backgrOlllld lacional, conduzindo, assim, a um enfraquecimento dos laços tradICionaiS de
socioeconômicos como elementos que podem predispor alguns indivíduos ao controle social e, conseqüentemente, a um maior número de crimes. Contudo,
crime. O que ocorre é que eles se tornam apenas um dos elementos na definição evidências empíricas mostram que existem lugares em uma cidade que apre-
do contexto da atividade criminosa. Os outros elementos têm a ver com a dispo. sentam uma alta incidência de delitos, cuja explicação não se dá apenas pelas
nibilidade de alvos para a ação criminosa e com a ausência de mecanismos de características de suas populações. Existe alguma coisa a mais que estaria rel~ci~-
controle e vigilância [Cohen e Felson (1979) l. Daí a literatura sobre situatiol1al nada com as características ambientais que podem estar favorecendo essa mCl-
crime prevention estabelecer uma clara distinção entre motivos, que são orienta- dência de atividades criminosas [Stark (1987) l. Uma abordagem sociológica
dos para alvos específicos, e motivações, que se relacionam com necessidades ge- deverá levar em conta os traços de lugares e grupos, em vez de enfocar apenas as
neralizadas ou impulsos que não estão orientados para objetos específicos. características dos indivíduos ou de grupos sociais. Uma breve análise da distri-
Contudo, esse ambiente específico de ação refere-se a um contexto socioe- buição espacial dos crimes violentos na cidade de Belo Horizonte ilustra a natu-
conômico macroestrutural que torna possível tanto a disponibilidade dos alvo reza dos problemas envolvidos.
como o enfraquecimento de mecanismos de controle e de vigilância, além de er Como pode ser visto no mapa a seguir, a distribuição das "manchas de cri-
um determinante importante das motivações e predisposições à delinqüência. minai idade" na cidade de Belo Horizonte, no ano de 1998, repete o mesmo pa-
presente em contingentes específicos de uma população. Em nível micro de drão observado em nível dos municípios do estado. Na região central da cidade,
análise, somos conduzidos ao exame dos ambientes imediatos de ação como predominam os crimes contra o patrimônio, ao passo que nas favelas e bairros
contextos de deliberação. Em nível macro, essa disponibilidade situacional mais pobres há uma incidência maior de homicídios. Embor~ est~ não seja a
relaciona-se com o desenvolvimento de uma estrutura socioeconômica que for- OPortunidade de avançarmos numa análise mais detalhada do mteno~ do~ cen-
nece o contexto de oportunidades para a ação criminosa. Daí a importância de Iras urbanos, é plausível lançarmos a hipótese de que o centro com.e~c~al.e ~oAcal
"analisarmos simultaneamente tanto a distribuição ecológica dos delitos coma de grande circulação de "alvos", de delinqüentes motivados, e?e dl~ICllvlgIlan-
éontexto socioestrutural no qual eles ocorrem. cia devido à grande densidade demográfica. Nos bairros e locaiS mais. P?~res da
No caso dos municípios do Estado de Minas Gerais, observa-se claramcnl cidade, especialmente nas favelas, a natureza e a motivação dos homlCldlOs pa-
um padrão de distribuição da criminalidade violenta, especialmente o crim recem estar relacionadas ao tráfico e ao consumo de drogas.
contra o patrimônio, que se distribui em torno das regiões e cidades mais desen-
volvidas. Segundo a abordagem aqui proposta, isso acontece porque, nesses lu-
gares, ocorre a confluência dos fatores necessários à incidência da criminalida-
de nos termos da teoria das oportunidades: a) temos mais riquezas disponíveis;
401
400
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~
g Manchas de criminalidade na re iã ---. '"<>
j Belo Horizonte em 1998 g o central e adjacênciasde CHI,R. Violência e cidadania. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. ~~
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ZALUAR, 1985.
, . Introdução
Asllstentabilidade do desenvolvimento socioeconômico está diretamente
ociadaà velocidade e à continuidade do processo de expansão educacional.
a relação direta se estabelece a partir de duas vias de transmissão distintas.
um lado, a expansão educacional aumenta a produtividade do trabalho,
l1lribllindopara o crescimento econômico, o aumento de salários e a diminui-
- da pobreza. Por outro, a expansão educacional promove maior igualdade e
bilidadesocial, na medida em que a condição de "ativo não transferível" faz
educaçãoum ativo de distribuição mais fácil do que a maioria dos ativos físi-
. Alémdisso, devemos observar que a educação é um ativo que pode ser re-
uzido e geralmente é ofertado à população pobre por intermédio da esfera
blica.Essas duas vias de transmissão, portanto, tornam transparente que, do
lOde vista econômico, a expansão educacional é essencial para fomentar o
cimento econômico e reduzir a desigualdade e a pobreza.\
Ta ociedade brasileira contemporânea, as defasagens, absoluta e relativa,
colaridade da população explicam, de modo significativo, a intensa desi-
Idadede renda do país. Especificamente no que se refere ao mercado de tra-
ho, observamos que a heterogeneidade da escolaridade entre os trabalhado-
o valor atribuído aos anos de escolaridade adicionais representam os prin-
a Diretoria de Estudos
ba Diretoria de Estudos
Sociais do lPEA.
Sociais do lPEA e do Departamento de Economia da UFF.
evidente que o impacto da expansão educacional ultrapassa as dimensões referentes à igual-
e.ao crescimento econômico. Antes de mais nada trata-se de um imperativo universal para a
nUa da cidadania. Além disso, temos. por exemplo, que a educação induz a relevantes impactos
Os sobre o crescimento populacional. o ambiente familiar e a participação política. Por meio
canais. a educação pode, também, aumentar a eficiência econômica, reduzir a pobreza e faci-
r a mobilidade social.
407
406
Reconhecendo a importância dos impactos positivos da expansão da es~o-
'---"~I ----'õ;
~
Neste artigo, as rel~ções de causali.dade entre expansão educacional e d
gual?~de Adere,nl.da sera~ .abordadas, simultaneamente, de forma conceitua
'1 le média da população devemos procurar identificar as relações causaIS e
nl a( , "1 .
l"
" empmca. ana Ise empmca recorre tanto à descrição de algumas dime -. r lcvância dos hiatos educacional e de renda per capzta brasl eIros ante a ~xpe- "
'" oA. b '1' c nsoe 1 ;ncia internacional. Barros e Mendonça .( 199~~, comparan?o a reahdade ]
~ exper~enclla rasl el.ra como a estudos comparativos internacionais. O reco
t conceltua procura Isolar tanto os efeitos de heterogeneidade educaciO! I 'Ieira com a dos países industrializados, Idenuflcaram nas dIferenças entre ~
~ di' - . la com ra I d r - d' -,
__
" os e va onzaçao salan<;ll resultante do acesso à educação. A partir desse r'c escolaridade formal dos trabalhadores a principal fo~te e exp ICaç~o o Slg- ~
~ b .d •. , . e an aI se
g c?m ase n.a ~VI enCla empmca, procuramos demonstrar que a realidade edu I ificativOhiato de renda percapita entre o Brasil e o conJunbto d:ls~es p(U S CO~-)
$s5' ~
E Clonal,b~asl!elra encontra-se em uma encruzilhada no que se refere aos dilem 'I rando que, no início dos anos 90, a renda per capita raSI eira
tte ' . d . r d
ml_
E
estrategICos para construção de um processo de desenvolvimento sustentável. uivalia a cerca de 1/3 da renda per capita observada nos paIses m ustna Iza os ~
. . O reconhecimento dos dilemas estratégicos da transição educacional bra-
U 15mil), os autores mostram que uma elevação na educação formal da força ,i
le trabalho brasileira para níveis idênticos aos dos países industrializados te~- ~
slle;r.a não ~eve, co.nt~do, alimentar o ceticismo ou imobilismo na condução da
I'ria a dobrar a renda per capita no Brasil. Como decorrência, a renda per captta 1:
pohtlCa sOCIal brasllelra. Este artigo procura propor, para a realidade brasilein
~m ~iagnóstico das relações entre educação e desigualdade que justifica a n': b~asileirapassaria de 1/3 para 2/3 do valor correspondente nos países industria.-
lizadas,sugerindo que a metade do enorme hiato de renda percapzta entre o Bra:ll
~
1:.
cessldade de definir uma política de expansão acelerada da educação de modoa
assegurar as bases de um desenvolvimento sustentável.
cos países industrializados origina-se no baixo nível educacional da populaçao j
brasileira. :;
.:g
O artigo procura, inicialmente, apresentar a importância relativa da het -
rogeneidade da escolaridade entre os trabalhadores e do valor atribuído, pel Especificamente no que se refere ao impacto da educaçã~ sobre.a ren~a p.er ª'
lpita e o nível de salários, vemos, por exemplo, que Lau, Jamlson, LlU e RlUkm ~
mer~a(~o de trabalho, à escolaridade para compreender a desigualdade salarial
(1996) estimam que um ano a mais de escolaridade da força de trabalho au-
b:as~lelra. Em seguida, fornecer evidências empíricas e teóricas sobre a impor-
tanCla do processo de expansão acelerada e contínua da educação para as egu- melllaria a renda per capita brasileira em 20%. Barros e Mendonça ( 1998 )'. ~or
ua vez, mostram para a região metropolitana de São Paulo que cada ano adICIO-
rar o ~esenvovimento socioeconômico sustentável. Por fim, avaliar alguma di-
mensoes do desempenho educacional brasileiro, procurando identificar o nal de educação superior aumentaria os salários, em média, em 16%.3
principais obstáculos à aceleração da expansão educacional no país. As canside- Na verdade, a desigualdade salarial retrata duas origens básicas. Por um
r~ç?es finais do artigo procuram enfatizar o aspecto estratégico da decisão hi-. lado, pode estar traduzindo diferenças de produtividade entre os trabalhadores
tonca que parece se impor ao país. ma', por outro, pode corresponder à remuneração distinta de trabalhador~s
om idênticas características produtivas. Assim, para conceituar essas duas on-
ens de explicação da desigualdade salarial, podemos interpretar a desigualda-
2 - Educação e desigualdade de renda: uma investigação de resultante de diferenças na produtividade intrínseca dos trabalhadores
de causalidades
omo revelada pelo mercado de trabalho, enquanto a desigualdade referente
As relações entre educação e desigualdade, evidentemente, remetem a s processos de discriminação e segmentação deve ser reconhecida como gera-
múltiplas e complexas dimensões sociais, econômicas e culturais. Especifi a- da pelo mercado. O mercado de trabalho, portanto, pode gerar desigualdades ou
mente, ao destacarmos os impactos da educação sobre a evolução de diver~ rrvelar desigualdades pretéritas. No primeiro caso, a desigualdade salarial ~eri-
aspectos socioeconômicos agregados, observamos que Barros, Henrique. ada da remuneração diferenciada de trabalhadores igualmente pro~utlVOS
Mendonça (2000b) produziram estimativas para a realidade brasileira recenl deve ser interpretada como gerada pelo mercado de trabalho, na medIda em
.• dem~ns~rando que os impactos da expansão da educação sobre o cresciment que o mercado de trabalho está tratando de forma diferenciada trabalhadores
econonllCO, a redução no crescimento populacionaL a queda na mortalidade in- que estão provendo serviços equivalentes. No segundo caso, os trabalhadores
fantil e o aumento na expectativa de nascimento são, recorrentemente, po -iti- om características individuais similares mas diferentes produtividades pres-
vos e significativos." tam serviços diferenciados e são remunerados de forma distinta. Nesse caso, o
mercado, em última instância, revela as diferenças existentes anteriormente ao
ingresso dos trabalhadores no mercado de trabalho.
2 Destaca-se. por exemplo, que o impacto de um ano extra na escolaridade média da popula -
deve aumenta~ a tax~ de crescimento anual da renda percapita em 0.35 ponto percentual. ExerCÍ~
sen~elhan~es sao re.ahzados para medir os impactos do aumento da escolaridade sobre as diIl1el1'
soclOecononucas CIladas, O presente artigo correspode a uma versão modificada e atualizada
---
3 O impacto do aumento de um ano de escolaridade secundária sobre os salários seria de 12% e de
Barros. Henriques e Mendonça (2000b). m aumento equivalente na escolaridade primária aproxima-se de 9%.
---
408 409
.~~~
.••.~----
.. ".
.-._- ..••~_._~
'2 Essa distinção conceitual pode ser traduzida empiricamente a pa t' l A partir desse exercício podemos reconstituir a origem de quase 60% do to- :c;
-. ,. d d r Ir (
~ um exerCICIO e ecomposição da desigualdade salarial brasileira de a d lalda desigualdade salarial observada. Como lemos na Tabela 1, a desigualdade ~
. . . f Cor o entre os níveis de escolaridade dos indivíduos representa a principal fonte da ~
~ c?m suas pnnCIpalS ontes. A Tabela 1apresenta valores que indicam a int _
desigualdade salarial brasileira. Na hipótese de eliminação da heterogeneidade ~
t"~ sldade da contribuição de cada fonte para a desigualdade observada E en
f f . ssa
ontes re. erem-se, respectivamente, à capacidade de o mercado de trabalho educacional obteríamos uma redução de 40% na desigualdade salarial; mos- I
;I gerar deslgual~ades ~por ~ntermédio de discriminações de gênero ou de raçae trando que a educação responde por 2/3 de todas as fontes que somos capazes .9
deidentificar para explicar a desigualdade observada. Esse resultado significa, l
g de segmentaçoes reglOnals, setoriais ou derivadas do grau de formalidade d
~ relações trabalhistas) e à capacidade de o mercado de trabalho revelar de~~ portanto, que o mercado de trabalho brasileiro, de forma preponderante, rev:la ~
gualdades preexistentes (representadas por diferenças de treinamento e heter _ uma desigualdade pretérita ao acesso dos trabalhadores no campo das negOCIa- ]
geneidades ocupacionais ou educacionais). Assim, por exemplo, o valor associ~- çõessalariais. Assim, as diferenças de produtividade resultantes d: diferen~as -i
do à ?iscrimina~ã? racial indica em quantos pontos percentuais a desigualdade educacionais correspondem à principal fonte de desigualdade salanal. Isso Slg-, ~
salanal se reduzma caso o salário médio de brancos e não-brancos fosse igual.~ nificaque a heterogeneidade na escolaridade dos trabalhadores, muito mais do ~
que o tratamento diferenciado de trabalhadores igualmente produtivos, res- ~ 1"
Tabela 1
• ponde, de forma primordial, pela desigualdade de salários.s t.
oualdade salarial) seria tão maior quanto maior fosse o objeto original (hetero- {i
~eneidade educacional da força de trabalho) e quanto maior fosse a curvatura .i
ª
doespelho (o valor que o mercado de trabalho atribui a cada ano a mais de esco- .;::
laridade). oj
»
413
412
I Gráfico 2. Por um lado, quando o nível de escolaridade média de um país é de
~
~
g
re?ução na escassez de trabalhadores . . .
mltante no valor de mercado da ed qu_ahflcados e mduz um declínio co
tende ucaçao Por outro o n
I 'que porte, a desigualdade tende ",erred uúda. Se, em um exemplo ex Ire-
no
1
UIO, a maioria dos trabalhadores é analfabeta, a média da escolaridade e a desi. g
'" a gerar um viés contrário aos trabalh: d _' progresso tecnológi
~ em q,ue pressiona por um aumento na d a ores nao-qualificados, na mectid ualdade educacional são muito baixas. Por outro, há um limite superior para a ~
~ relativamente à demanda emanda por trabalhadores qual'f' I ;nédia da escolaridade da população em uma sociedade, implicando que, na hi- ~ ;:;
~ por trabalhadores - . . I !Cal
~ portanto, um aumento na escassez rei' nao-quahfIcados, produzindo pótes de essa média ser muito alta, teríamos uma parcela extremamente alta 2
l
""
e
conseqüente aumento no valor de m anvda dd trabalh~dores qualificados con'
erca o a educaçao I
e
detrabalhadores com o nível superior completo e, conseqüentemente, a hetero- ~
eneidade educacional tenderia a ser baixa. ~E
~ E~se processo está ilustrado no Gráf .
sas dOIs indivíduos com distintos ' . d lCO1. Observamos no eixo das abscis Desse modo, aparenta ser exatamente nas situações em que a média da es- ~
t _ . mvels e escolaridad l'f' .
uaçaoonginal (AA') recebe . eequa aI Icaçãoquena i. . enorme para a
olaridade atinge valores intermediários que se cria um potencial "
'~-
, m, respectivamente, os salários w a ' emergência da desigualdade educacional. Esse estágio intermediário caracteriza- -
Clal observado é a = wa a . I e w 2' O dlferen-
2 - wI . Considerando somente o im -e,em geral, por uma distribuição etária da escolaridade em que uma parcela ~
, .
tecnologlCo no novo equilíb' d' pacto do progres o
no a economia (BB') ,o d'fI erencial salarial aume
significativa da população mais velha possui reduzida escolaridade ou é analfa- l
ta para ~ = w b _ wb O beta e outra parcela igualmente relevante da população mais jovem concluiu o -
2 I' processo de expansão educa '. n-
nomia se reequilibrasse no estad CC' . Clonal fana com que a eco-
nsino secundário ou encontra-se na universidade. Assim, há uma tendência ~
~
natural para países com níveis intermediários de escolaridade, como é o caso do ~
com a mesma qualificação se red o .. e o diferencial salarial dos indivíduo
uzma para X = WC - WC Brasil, apresentarem níveis elevados de desigualdade. ~
N 2 I'
Observamos, portanto, que aumentos no nível de escolaridade de uma so- ~
o que se refere, especificamente ao con
educacional devemos destacar que a r 1portamento da heterogeneidade í _ eiedade constituem um instrumento essencial para reduzir a desigualdade sa-
de uma sociedade e a intensidade d de a.çao entre o nível de escolaridade média larial. Entretanto, necessitamos reconhecer que existe um trade-of! potencial
camente representada por uma cur: eSlgufaldade educacional pode ser generi- entre acelerar a expansão educacional e reduzir a desigualdade educacional, na
a com ormato em "U" invertido, ilustrada
Gtáfico 2
educacional
S
Média de escolaridade
2
Nível de qualificação
Fonte: Elaboração dos autores. ~te Elaboração dos autores.
415
414 As tabelas mostram que entre meados das décadas de 70 e 80 a desigualda- 1;
--."',-----~ medida em que priorizar a redução na desi ualda '
~ velocidade da expansão educacional D g dde educacIOnal pode reduzira salarial caiu, respectivamente, 10 e 15 pontos percentuais na Coréia do Sul e CC>
E
g pa ti' esse mo o apesar de a est " naColômbia.? Nessas tabelas, podemos observar ainda a decomposição das va- g
u ar-se pe a tentativa de tornar comp t'" rategla ideal
~ colaridade com reduções na desigl ald da Iviels a~mentos do nível médio de e . riaçõesna desigualdade educacional em três componentes: a) a contribuição de ]
1 d f' .
"
,,' ,us
I( a e ec ucaClonal a aç-
e 1011', de forma pragmática os gra d f ,ao
A
~
t
Tabela 3 cacional aumentava nos dois países. Em terceiro, essas duas tabelas revelam ~'<:
quea forte queda no valor de mercado da educação foi o principal fator determi- ~
..,
Desigualdade salarial: uma sim I -
Coréia do Sul em 1976 e 1986 u açao contrafactual com a nante na redução da desigualdade salarial durante o período.
Na medida em que, para a década analisada, a redução observada no valor ~
ª'
demercado da ed ucação resulta da rápida expansão ed ucacional promovida por
íNDICE
DE
THEll
ambos os países, devemos reconhecer as fortes evidências de que Coréia do Sul e
Desigualdade salarial na Coréia do Sul em 1976 0,44 Colômbia resolveram o trade-oJ! entre a taxa da expansão educacional e a redu-
Desigualdade salarial na Coréia do S I em ção na desigualdade educacional, favorecendo nitidamente a primeira opção.
educacional fosse igual àquela reg' IS tU
ra d a em
1976 caso sua desigualdade 0,47
1986 E )cs países optaram, portanto, por um processo de rápida expansão educacio-
naLmesmo diante do custo de um aumento moderado no grau de desigualdade
Desigu~ldade salarial na Coréia do Sul m
educacional fosse igual àquela re . t d
1976 caso sua desigualdade
trabalho valorizasse a educaça-o tglls ra a em 1986 e seu. mercado de 0,35 educacional.
a como em 1986
A experiência internacional analisada e a posição intermediária da escola-
Desigualdade salarial na Coréia do Sul em 1986 0,34 ridade da população brasileira sugerem que, provavelmente, a melhor estraté-
Fonte: Elaboração dos autores. ~ia para o país consiste na expansão de seu sistema educacional com máxima
rapidez, mesmo que isso implique um aumento moderado na intensidade da
I sigualdade educacional. Esse conteúdo da política pública na área de educa-
Tabela 4
ào, por sua vez, aparenta ser um elemento vital na tentativa de reduzir a desi-
ualdade salarial no Brasil, uma vez que os ganhos decorrentes da diminuição
Desigualdade salarial" u
Colômbia em 1976 e 19~a slmulaçao
. -
contrafactual com a
no valor de mercado da educação poderiam mais do que compensar um aumen-
_~~IN~D~ICA~D~O;;;R----------------------------
to eventual na desigualdade educacional.
íNDICE
DE
THEIl
A referência empírica da experiência internacionaL aliada à reflexão teóri-
Desigualdade salarial na Colômbia em 1976 0,55 apresentada acima, torna evidente que a heterogeneidade educacional re-
Desigualdade salarial na Colômbi m 1976
t~ ~nta um dos principais determinantes da elevada desigualdade de renda no
educacional fosse igual àquela rea.et
gls ra d a em caso
1985sua desigualdade 0,56 ra 11. I as últimas décadas, o Brasil passou por um acelerado processo de pro-
resso tecnológico associado a um lento processo de expansão educacional. Um
Desigualdade salarial na Colômbia
educacional fosse igual àquela re _e;n 1976 caso sua desigualdade
trabalho valorizasse a educaça-o tgl1s rada em 1985 e caso seu mercado de
___ __ _ _ a como em 1985
_______________ ~O,51 n~~"~ ~xercício contrafactual implica simular qual seria a desigualdade salarial em cada país du-
c llIeados dos anos 70. caso, nesse período, a desigualdade educacional fosse idêntica à observa-
Desigualdade salarial na Colômbia em 1985
nl llIeados dos anos 80.
Fonte: Elaboração dos autores.
417
416
áfiC~O~3~ ~-~~
dos resultados dessa combinação estratégica é um aumento da escassez relati a
~ de mão-de-obra qualificada com o decorrente aumento no valor de mercado da
'll -, _ da taxa de analfabetismo por coorte de nascimento
g educação. Em outras palavras, na experiência brasileira dos últimos 30 anos,o Eva uçao
;;: progresso tecnológico claramente venceu a corrida de Tinbergen contra o siste-
I" ma educacional. %
55
50
~ O Brasil em 1970já era um país que apresentava moderado nível de escola-
] ridade, encontrando-se no espectro intermediário da transição educacional e 45
~ submetido, portanto, a significativos níveis de desigualdade educacional. Areali- 40
dade brasileira nas últimas décadas corresponde, portanto, a um país relativa- 35
mente aprisionado nesse patamar intermediário do nível de escolaridade da po-
30
pulação com um nível de desigualdade educacional (objeto original) natural-
mente elevado e, em simultâneo, um país que expandiu seu sistema educacio- 25
nal de forma muito lenta, produzindo um aumento na escassez de trabalhado- 20
res-qualificados e um aumento no valor da educação (curvatura do espelho). 15
Em decorrência dessa armadilha derivada da estratégia de desenvolvimento 10
adotada, a desigualdade salarial cresce de forma contínua, reforçando a ten-
5
dência histórica de elevada desigualdade de renda no país. Os horizontes de li-
bertação dessa armadilha passam, necessariamente, por uma aceleração sem I I I o
I 1965
! I I
1945 1955
precedentes no ritmo de expansão do sistema educacional brasileiro. 905 1915 1925 1935
Ano de nascimento
~fon~tes~'~ce~ns~o~de~m~og~rá~fi~co~e!.PNt::A~D~. _
4 - O desempenho educacional brasileiro: algumas
tendências históricas - da escolaridade média da população adul-
OGráfico 4 apresenta a evoluça~f la que a escolaridade média da po-
Acreditando ter apresentado as bases do argumento que justifica a acelera- taporcoorte de nascimento. Esse gra IC~r~v.e do século a uma taxa de um ano
ção da expansão do sistema educacional como instrumento central para o de- mentando no m1ClO '
pulaçãoadulta estava au "d nos anos 40 a escolaridade esta-
senvolvimento sustentado do país, necessitamos, ainda, investigar alguns do , d Em relação aos nasCl os' .
adicionalpor deca a. .' 1d escolaridade por década. A partIr
obstáculos estruturais que se impõem à implementação de políticas dirigida' a
aaumentando à taxa de 1,5 ano adlCl~na d ecacional caiu para menos que 0,5
essa expansão do sistema educacional. da metade da década de 50, a expansao e u
Uma breve descrição do desempenho do sistema educacional brasileiro anode escolaridade por década. 1 tanto uma tendência
visto a partir das coortes de nascimento serve de indicador desses obstáculo ses gráficos reve am, por, . .
Os dados apresenta d os nes - d istema educacional brasllel-
potenciais. O Gráfico 3 apresenta a evolução da taxa de analfabetismo revelan- b' ,. 1 - taxadeexpansao os , .
1 IOncade desace eraç~o na d letar esse quadro de anahse po-
do que, entre o início do século e meados dos anos 50, a taxa de analfabeti mo
rodurante as últimas decadas. De mo o a dcomp. aI brasileiro em relação a al-
caiu de oito a nove pontos percentuais por década. Após meados dos anos 50, mosavaliar o desempenho do sistema e ucac~on
entretanto, a velocidade na queda da taxa de analfabetismo passou a ser signi~-
umas experiências internacionais. _ B'l e Taiwan. Essa
cativamente mais lenta, com uma redução de apenas três pontos percentual comparaçoes entre o raSI
1
ATabela 5 apresenta a gumas 1 'd de média do grupo de idade
pór década. Mantida a velocidade da primeira metade do século, seriam nece.-
b t em 1992 a esco an a d
sários 10anos para erradicar o analfabetismo; entretanto, a redução na inten:I- ela revela que, enquan o d 1 ridade superior à do grupo e
dade da queda da taxa de analfabetismo indica uma reversão de tendência, C.- ntre 15-30 anos no Brasil era de 0,8 a~o e escdOa colaridade entre esses dois
. d Taiwan a dIferença e es ,
tabelecendo a necessidade de pelo menos mais duas décadas.8 a e de 50-65 anos, em 1 .d de Em outras palavras, ate o
upos de nascimento é de 1,6 ano, d: esc03~r~:OS~ expansão educacional em
8 É imponanIe ressalIar que essa análise refere-se aos anos de nascimenIo, que correspondel~l ni io da década de 90, durante os ultImos -o educacional no Brasil. Em
algo enIre tO e 20 anos antes que a pessoa se exponha efetivamenIe ao sistema educacional. A 'Sl~ iwan foi duas vezes mais rápida do que a expansa d 'dade de 15-30 anos em
a desaceleração da queda da taxa de analfabetismo está provavelmente associada a ~llI~a?~asd d -o média do grupo e I
sistema educacional ocorridas na metade dos anos 60 e que não foram revertidas ate o 1I11C1Ü
~seqüência, em 1992 a e ucaça ondente no Brasil, ou seja, enquanto
anos 90.
alwan era quase o dobro do valor corresp
"-.r-.•••.•..
418
_
419
Gráfico 4 ico 5
~
~
g Evolução da escolaridade por coorte de nascimento Escolaridade média de brancos e não-brancos
~
~ na África do Sul e no Brasil
t Escolaridade média
~" 8 Escolaridade média
13
~
] 12
.~
~
Cl
11
6 10
África do Sul- não-brancos
9
8
Brasil - brancos 7
1
I I I I I I ! I I I I t I 10 ! I t I I I I I I I I I I I I I I I ! I I I I I I I '0
1905 1910 1915 1920 1925 1930 1935 1940 1945 1950 1955 1960 1965 1919 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 62 64 66
Ano de nascimento Idade
Fontes: Censo demográfico e PNAD. fQmes: iam e Levison (1990) e PNAD.
Tabela 5 Brasil. Esse resultado não chega a surpreender dado que a África do Sul assu-
miu durante décadas a política oficial do apartheid social. No entanto, essa maior
Escolaridade média por ano e grupo de idade discriminação decorre essencialmente do elevado nível da escolaridade média
da população branca na África do Sul. Quando comparamos com o Brasil vemos
BRASIL TAIWAN
GRUPO DE IDADE
que a escolaridade média dos brancos no Brasil é historicamente muito seme-
1979 1992 EVOLI)ÇÃO 1979 1992 EVOLI)~
Ca) (b) ENTRE DECADAS' (a) (b) ENTRE DE lhante à dos não-brancos na África do Sul. Assim, a discriminação racial em
nosso país traduz-se em um perfil de escolaridade média dos não-brancos no
15 - 30 (i) 4,9 6,0 0,9 9,6 11,3 1.3
Brasil consideravelmente' inferior ao dos não-brancos na África do Sul e dos
30 - 50 3,8 5,6 1,4 6,9 9,6 2,1
- brancos no Brasil. Nossa discriminação é de menor intensidade, mas os níveis
50 - 65 (ii)
0,6
3,4
0,8
0,6 5,1
1,3
5,6
1,6
0,4
-- históricos de escolaridade são significativamente inferiores no Brasil.
No entanto, mais problemático do que essa constatação é o sinal da ten-
ência histórica recente, na medida em que para os grupos de gerações mais jo-
Fontes: Para o Brasil. PNAD. e para Taiwan. Bourguignon. Foumiere Gurgand (199B).
a[(b)-(a)]x I0/13. ens o nível educacional da população branca no Brasil está crescendo a uma
b[(i)-(ii)]x I0/35.
taxa mais lenta do que a dos não-brancos na África do Sul. Assim, a África do
uI, mesmo durante a vigência do apartheid, desenvolveu políticas ativas de ex-
no Brasil a escolaridade média desse grupo de idade era de seis anos, em Tah a ansão educacional que sinalizam uma tendência de redução de seu hiato edu-
a escolaridade média era superior a 11 anos. cacional expresso em termos raciais. Além disso, em relação ao Brasil, significa
Se passarmos à comparação com a África dos Sul, vemos no Gráfico 5 o- r Utn aumento da vantagem educacional dos não-brancos na África do Sul ante
sultados educacionais por grupo de idade e segundo raça para ambos os paí'c () brancos no Brasil. De fato, para as coortes de nascimento mais jovens obser-
Esse gráfico demonstra que a intensidade da discriminação racial, expressa I arnos que o patamar da escolaridade média dos brancos brasileiros permane-
termos educacionais, é significativamente superior na África do Sul do que 11 U basicamente inalterado.
420 421
---~.;_.-;.'.:'":...
..-----
.~.'-
=t; Para finalizar com nosso recurso de comparação internacional para i 7
~
<Q
posição relativa do Brasil podemos, ainda, destacar alguns resultados do
~ dos de Behrman (1993a e b). Esses resultados nos permitem verificar esti fasagem do nível de escolaridade em relação ao
~ vas do desempenho do sistema educacional brasileiro ante um padrão int adrão internacional - 1987
! cional que leva em consideração o nível de desenvolvimento relativo de p
~
~ da América Latina e do Caribe durante duas décadas.
Argentina
:'l
.~ O Gráfico 6 permite comparar a taxa de expansão do sistema educa i Bolívia
--
Brasil
~ brasileiro e o padrão internacional referente ao conjunto desses países. Chile
gráfico mostra que o sistema educacional brasileiro entre meados dos ano Colômbia
Costa Rica
80 se expandiu a uma taxa bem mais lenta do que a média internacional cor blica Dominicana
pondente. De acordo com esse gráfico, simplesmente para alcançar o padrã Equador
EI Salvador
ternacional (referido com o nível O no eixo das abscissas), a taxa de expan j Guatemala
• sistema educacional brasileiro deveria assegurar que a escolaridade médi Honduras
população aumentasse em um ano adicional por década. Jamaica
---
México
Por fim, o Gráfico 7 revela que o número médio de anos de escolaridade Panamá
Peru
Brasil é praticamente um ano inferior a esse padrão internacional. Consider Trinidad e Tobago
do que o sistema educacional no Brasil apresen tava uma tendência de expan Uruguai
Venezuela
-2 -, o , 2 4
Anos de escolaridade
Gráfico 6
Defasagem do desempenho escolar em relação ao txa média de um ano por década, podemos ~s~um~r,considera~~oi~:e~~~c~~~
padrão internacional - 1965/87 nosgráficos,que o sistema educacional brasIlerro dl~nte do padr
de sua região está defasado em cerca de 10 anos. . ,.
Argentina
.
Essa seção do artigo confIrma, portanto, que nas tendências
. hlstoncas
,. dde
Bolívia
~ .
ngoprazo o desempenho do SIstema e ucaCl d 'onal no BrasIl '. ao contrano
d' Idao
Brasil
Chile eindicávamos como uma neceSSI'd a d e pnm . ordial para reduzrr
- as eSlgua I .d d -
Colômbia de salário e de renda, não definiu a prioridade de expansao da esco an a e
Costa Rica
República Dominicana dia da população.
Equador
EI Salvador
Guatemala
Honduras • . Considerações finais
.'
Jamaica O objetivo básico desse artIgo demonstrar, em. termos
fOi . empíricos e teóri-
I _
--
México
,a necessidade de se definir, para a realidade brasIlerra, um processo a~e.e
Panamá
Peru • do e contínuo de expansão da escolaridade como um ele~1ento est~ateglco
Trinidad e Tobago ra o desenvolvimento socieconômico eqüitativo e sustentavel do paIS.
Uruguai
Venezuela
-2 -',5 -, -0,5 0,5 , ',5 2,5
d or níveis de escolaridade mostra, segundo
Anos de escolaridade análise desse fraco desempenho desagrega a P la ão ao padrão internacional de-
Fonre: Behrman (1993b).
hrman (1993a), que a maior componente da de!asagem de~.rebrÇasl'lel'raA taxa de matrícula na
- h d educaçao secun ana. _ .
se, sobretudo, ao fraco desempen o a . d d - internacional, enquanto estlmatl-
la secundária no Brasil encontrava-se 15'J!: abaIXO opa rao nesses níveis as taxas de matrí-
'imilares para a educação primária e su~er~or demo.nstram que, '
brasileiras são bem próximas' do padrao mternaclOnal.
423
422 e o Brasil é mais pobre do que os paísc:s
A análise do funcionamento do mercado de trabalho, nos permite idenLi 1- RROS, R. P. de, MENDONÇA~IR. Pfi';;~o século: desafios e propostas para a açao ~
l car a heterogeneidade da escolaridade da força de trabalho como o principal d _ industrializados? O BraSl .no. tPEA p 157-160,1994.
ernamental. Rio de JaneHO. ,.
g
-i5
g terminante do nível geral da desigualdade salarial observada no Brasil. A com. gov 'co A ~
A
- o e desenvolvimento economl. ~
!
~ paração internacional nos permite, ainda, reconhecer que essa heterogeneida.
de educacional aparenta responder, de forma significativa, pelo excesso de d _
_--o
-Economia
Investimento em ed~caça
Brasileira em PerspectIva -
1998 Rio de Janeiro: IPEA, v. 2, a
. '"
{j sigualdade do país em relação ao mundo industrializado. p.605-6I4, 1998. . .. ~
~
. . d the Caribbean. Washmgton. ~
~
.!!l O processo de desenvolvimento
econômico brasileiro nas últimas década,
~ no entanto, reforça as conseqüências da heterogeneidade educacional no paí .
R Human
EHRMAN, J . .
B1O, 1993a, 281 p.
resources in Latm Amenca an
. '"
!
A acelerada expansão tecnológica brasileira, constitutiva de nosso propalad . 'n human ressources. Economic and social progress m Latm ,:g
período de "milagre" econômico, esteve sistematicamente associada a um lel1\ ----o Investmg 1 3'
America. Report, IDB, 1993b. ~
processo de expansão educacional. O progresso tecnológico claramente venc u
a corrida contra o sistema educacional. Vitória de Pirro, anunciando um triun~ M GURGAND, M. Distribution, development and ~
pe~verso da sociedade brasileira. BOURGUIG~ON,
~., FOU19R7N9I:1~92
educatlOn: Tazwan,
'['S.l. : s.n.], Jan. 1998.28 p.
. . . ~
I
A comparação da realidade brasileira com a experiência internacional con- !.AJ\1 D LEVISON,D.Age, experienceand schooling: decomposing earnings inequalzty m ~
firma esse fraco desempenho de nosso sistema educacional nas últimas dé a- íhe"U. S. and Brazil. [S.l.: S.n.], May 1990. ~
das. O Brasil apresenta um atraso, em termos da educação, de cerca de uma d'-
S Education and econ,?mi~ growt~: ~
cada em relação a um país típico com padrão de desenvolvimento similar a LAu, L. J., JAMISON, ~. T., LIU: S., RIU~IN'oriunity joregone: educatlOn m Brazll. ~
nosso. some cross-sectlonal eVldence. pp
Washington: BID, p. 83-1 16, 1996.
Enfim, a história recente demonstra a inquestionável relevância da década
. - Paulo" Companhia das Letras, 2000.
de 70 para o crescimento econômico. No entanto, como sugere Sen (2000, E, ,A. Desenvolvimento como lzberdade. Sao .
p. 29), "o crescimento econômico não pode sensatamente ser considerado Ulll h O f rd' North-Holland
BERGEN, J. Income dijjerences: recent researc. x o .
fim em si mesmo. O desenvolvimento tem de estar relacionado sobretudo com
Publishing, 1975. 73 p.
melhora da vida que levamos e das liberdades que desfrutamos". Assim, d
ponto de vista de um olhar preocupado com a construção de uma sociedadeju -
ta e o desenvolvimento sustentado do país, talvez a década de 70, assim como a
de 80 e 90, seja uma década perdida.
Essa análise não deve conduzir ao ceticismo ou ao imobilismo. A vergonha
desigualdade brasileira não decorre de nenhuma fatalidade histórica, ape ar d
perturbadora naturalidade com que a sociedade brasileira a encara. Impõe-
uma estratégia de aceleração sem precedentes no ritmo de expansão do istem
educacional brasileiro. Não se trata evidentemente de uma panacéia para no'
males; trata-se de uma dimensão central para a redefinição do horizonte de d
senvolvimento do país. Ensino de qualidade para todos, por evidentes razÓC
cidadania e justiça social, mas, além disso, como precondição absolutamente n
cessária para o desenvolvimento socioeconômico sustentado do Brasil.
Bibliografia
BARROS, R. P. de, HENRIQUES, R., MENDONÇA, R. Desigualdade e pobre!.a
Brasil: retrato de uma estabilidade inaceitável. Revista Brasileira de Cz 11
Sociais, n. 42, fev. 2000a.
1 . Introdução
Este artigo tem por objetivo analisar as principais características das desi-
ualdades regionais do sistema educacional brasileiro, que enfatizam as dife-
r nças sociais e econômicas entre as regiões mais ricas (Sul e Sudeste) e as me-
no desenvolvidas do país (Norte e Nordeste). Argumenta-se que, a despeito da
melhoria dos indicadores educacionais verificada na última década, de forma
maisacentuada a partir de 1995, vem se aprofundando o grau de desigualdade
I gional e interestaduaL especialmente em relação aos indicadores de transi-
autora agradece à equipe técnica do [nep pelo apoio na elaboração deste documento e, especi-
nte. a Simon Schwartzman, pela leitura crítica e pelos seus comentários à primeira versão.
Presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), autarquia vincu-
a ao t:'l.i~istério da Educação, responsável pela implementação de sistemas nacionais de avalia-
re.de mdlcadores e estatísticas educacionais, e professora licenciada do Departamento de Ciência
!lI a da Unicamp.
~ te fundo, instituído pela Emenda Constitucional n° [4/96, estabelece como critério redistribu-
d os ~eCltrsOSvinculados ao financiamento do ensino obrigatório, no ãmbito de cada unidade da
raça o, o número de alunos matriculados nas escolas estaduais e municipais.
427
426 ____ l.-.•\: ••
-/-,,-----~ Pode-se afirmar que o acesso ao ensino fundamental é o único indicador ienação desempenhada pelo Ministério da Educação (MEC) é, sem ne- E
~ que foi praticamente universalizado nos últimos três anos. Os demais indicado. oore du'vI'da um fator crucial para explicar a melhoria dos indicadores em to- ~
nhuma , .' d f ~
g res, como promoção, repetência, abandono escolar, distorção idade/série e, sa- dosos estados brasileiros, especialmente a,par:Ir de :995. Pesou am a avo~a-
1
-<:>
i bretudo, os indicadores de aprendizagem, embora tenham apresentado ten. ehnente a atenção dispensada pelo MEC a artl~~laçao.com o Co~~elho NaClo-
~ dência sistemática de melhoria em todas as unidades da Federação, sobretudo Dalde Secretários de Educação (Consed) e a Umao ~aClonal de Dmg.entes Mu- ~
~ na segunda metade dos anos 90, delineiam um quadro de profundas desigual. nicipaisde Educação (Undime), estimulando o regime d.ecolaboraçao e p~rce- ~
] dades regionais, algumas até mais acentuadas que o quadro observado no início _ 'ndispensável dos estados e municípios. Não menos Importante tem SIdo a ~
-5' da década de 80.
e)
~~:~centemobilização da mídia e da sociedade civil, por .~eio de u~a extensa -~
Três fatores associados podem explicar tal situação: redede organizações não-governamentais, com o consequente e~gaJamento, de -~
novOSatores sociais no esforço pela melhoria do quadro educaCIOnal do PaIs. -~
a) Em razão dos desníveis socioeconômicos existentes no país, o processo
Vistos em conjunto os fatores acima permitem formular as seguintes inda- {J
de melhoria gradual dos indicadores educacionais observou ênfase e ritmos di. {l
ferenciados de desempenho nos estados e regiões, uma vez que o perfil das ne. gações: ~
cessidades de oferta e demanda por serviços educacionais nas diferentes locali. • Emque medida a evolução dos indicadores educacionais o?serva~a na últi- t
-dades apresentava características peculiares. A região Sul, por exemplo, a mais ma década reduziu as disparidades regionais e interestaduaIS ou ate que pon- ;;:
homogênea de todas, que desde meados dos anos 80 apresentava clara tendên- to contribuiu para realçá-las e aprofundá-las?
cia de universalização do acesso ao ensino fundamental, deu passos acelerado • A partir dos resultados das políticas educacionais implantadas no.~.últimos
em direção à melhoria dos indicadores de qualidade na década de 90. Já o Nor. quatro anos, é possível vislumbrar um cenário de maior grau de eqmdade na
deste, que no final dos anos 80 ainda detinha enormes contingentes de criança
fora da escola, apresenta hoje indicadores que apontam para a universalização próxima década?
do acesso ao ensino fundamental, processo acompanhado de rápida redução do • Quais os principais estrangulamentos do sistema educacional brasileiro e
analfabetismo jovem. No entanto, do ponto de vista dos indicadores de qualida. quais as estratégias para superá-los?
de, o Nordeste segue apresentando um quadro deficitário, sob alguns aspecto • Quais prioridades de políticas deverão ser promovidas na próxima década?
em pior situação do que aquela em que a região Sul se encontrava há 10 anos. Sem a pretensão de explorar devidamente todos os temas mencio~ado~,
Comparativamente, as duas regiões configuram realidades bastante distinta, e te artigo examina o comportamento dos princip~i~ indica.do:es educaCIonaiS
do ponto de vista dos indicadores educacionais, neste final de década. brasileiros,na última década, e apresenta uma analIse prehmmar das pergun-
b) A despeito dos indicadores de desigualdade regional e das condições sacio. tasque têm preocupado freqüentemente a autora e a atual equipe do M~C. :rrata-
econômicas de cada unidade da Federação, alguns estados e municípios muitas e,portanto de um texto que se propõe a levantar problemas e a contnbuu com
vezes apresentam indicadores superiores às respectivas médias regionais, em odebate, a ~artir do qual se espera um aprofundamento das análise,s ~obre os
conseqüência das prioridades das políticas implementadas no setor educacional. desafios educacionais do país na próxima década e sobre as estrategIas para
No Sudeste, Minas e São Paulo se destacam em relação aos demais, o que indicao enfrentá-los com sucesso.
impacto positivo das suas políticas educacionais sobre indicadores como repetên.
cia, número de concluintes, distorção idade/série, entre outros. No Nordeste, Ceará
e Bahia chamam a atenção pela intensidade do processo de universalização do 2 . Uma visão geral sobre o d~semp~nho educacional na
atendimento de crianças de sete a 14 anos. É possível dizer- se que, em grande década de 90 na perspectiva regional
- ~ medida, tais resultados vinculam-se à orientação das políticas promovidas no' Conforme assertiva já apresentada, a melhoria global dos in~icadores ed~-
últimos anos, como a implantação do ciclo básico, das classes de aceleração e do acionaisverificada em todo o país na última década não proporCIonou reduçao
regime de progressão continuada - no caso dos estados do Sudeste - e de outra ubstancial dos desníveis regionais e interestaduais. Em alguns ~asos,.o gra~ de
lado, da intensa mobilização para assegurar mais vagas nas escolas, noS estado desigualdade regional parece ter se apr?fundado, refletindo aSSl.mo ntn~~ dIfe-
nordestinos. Esta ação ganhou maior consistência com a implantação do Fundef. renciadodos avanços em cada região. E o que se observa a partlr da anahse do
e) Estrategicamente, coube ao governo federal, como coordenador das políti- comportamento dos indicadores de analfabetismo, atendimento escolar, tran-
cas nacionais e responsável por ações supletivas que promovam maior eqüidade, ição(promoção, repetência e abandono), gasto por aluno, per~il do magisté~io
assumir uma liderança mais dinâmica, passando a atuar como eixo aglutinador e públicoe desempenho dos sistemas de ensino no Sistema NaCIonal de Avaha-
dinamizador de políticas direcionadas prioritariamente à educação básica. Es-a ão da Educação Básica (Saeb).
428 429
1:; ~a realidade, o exame da série histórica dos principais indicadores edu
• As regiões Sul e Sudeste caracterizam bem, na década de 90, a virada pro- l:
£ ClonalS parte de uma situação extremamente desigual entre as regiões bra iI zida pelo vigoroso impacto da universalização do ensino fundamental na er- ~
~ raso ~omo a evoluç~oAde.sses indicadores não se deu de forma homogênea n~ dicação do analfabetismo jovem, reduzido a taxas inferiores a 3% na popula- ~
" seguIU a mesma dmamlca em todas as regiões, a tendência foi naturalm' o até 24 anos (PNAD/1996). Situação distinta é observada no Nordeste, que ~
! ampliar a distância entre os estados mais desenvolvidos do Sul e do Sudesteee
n
mente nos últimos quatro anos conseguiu lograr importantes avanços na am- 'i
{í estados mais pobres do Norte e, sobretudo, do Nordeste. Iiaçãoda cobertura escolar de sete a 14 anos. Cabe notar, no entanto, que, em- ~_
~ s
.~ Esse quadro mostra ainda que algumas unidades da Federação alcançara ra ainda mantenha taxas de analfabetismo extremamente e Ieva d as em to d as .~
.g avanços significativos, diferenciando-se dentro da região à qual pertencem faLxasetárias, o Nordeste também vem apresentando uma rápida redução do g
melhorando sua posição em comparação com outros estados que apresentam nalfabetismo na população de 15 a 24 anos. Esta tendência deverá se acentuar :1
características socioeconômicas similares. Essas exceções, em grande medida na próxima década, refletindo mais intensamente a universalização do acesso ~
resultaram das prioridades estabelecidas pelos governos estaduais e municipa" aoensino fundamental alcançada na segunda metade da década de 90, especial- {l
e do esforço empreendido no setor educacional, imprimindo assim uma velod- mente em decorrência das polí.ticas implementadas, como o Fundef e o Projeto 1
da de de mudança mais intensa que o compasso seguido no restante do paí . ardeste de Educação Básica. !'
• Pode-se afirmar que as melhorias observadas nos últimos quatro ano, em Quando a situação do Nordeste é contrastada com os indicadores de anal- ~
todas as regiões do país, apontam com clareza para uma tendência à progressi\ abetismo do Sul e Sudeste, constata-se que na década de 90 houve um alarga-
reversão do quadro de desigualdades educacionais, tal a magnitude das mu- mento dos desníveis que eram observados no início da década de 80. Na realida-
danças em curso.2 de, é preciso frisar que esse fenômeno está diretamente relacionado ao avanço
do processo de universalização do ensino fundamental e, mais recentemente,
2.1 - Declínio do analfabetismo demassificação do ensino médio. Ambos os movimentos experimentaram im-
O analfabetismo é freqüentemente apontado como uma das principais evi- pulsos com larga defasagem temporal nas diferentes regiões do país. Por isso, o
dências do atraso educacional do país, sobretudo em comparações internacio- recuo do analfabetismo foi mais lento nas regiões em que a universalização do
nais. De fato, a despeito da sensível redução verificada nas últimas décadas, o nsino fundamental ainda está em curso.
Brasil segue exibindo uma das mais elevadas taxas de analfabetismo da Améri- Em 1980, o Nordeste apresentav~ índice de analfabetismo de 45,5% na po-
ca Latina (14,7%), o que corresponde, em números absolutos, a cerca de [5, pulação com 15 anos ou mais, um percentual 2,7 vezes maior que o da região
milhões de pessoas, contingente superior à população total da maioria dos paí- udeste, de [6,3%. Em 19.96, a taxa de analfabetos da região Nordeste havia re-
ses da região.3 Nos anos 90, o país avançou na superação desse quadro, inten i- ado para 28,7%, ao passo que a do Sudeste declinou para 8,7%, mas a diferença
ficando o esforço de universalização do ensino fundamental. Essa política pro- ampliou-se para 3,3 vezes (Tabela [). Pode-se, no enianto, fazer uma leitura
moveu um declínio mais acelerado do analfabetismo nos grupos etários mai
jovens, imprimindo-lhe um forte viés geracional. Por outro lado, desenhou- ,!,bela 1
uma clara tendência de regionalização do analfabetismo e de sua concentraçã
nas regiões Norte e Nordeste, nas áreas rurais de todo o país e nas periferias do Taxade analfabetismo da população de 15 anos ou mais -1970/96
grandes centros urbanos.
TAXA DE ANALFABETISMO (%)
IL E REGiÕES
1970 19BO 1991 1996
ardeste
36,0
54,2
29,3
45,5
24,6
37,6
12,4
28,7
~
redução de 8,7%. A mesma comparação é válida para a região Sul, pois nó perí
indicado o seu índice de analfabetismo recuou de 16,3% para 8,9%. A região
tro-Oeste também registrou uma queda bastante acentuada na taxa de ani]J
Esse quadro se inverte nas regiões Norte e Nordeste, onde o peso da matrí-
la ainda está fortemente concentrado nas quatro séries iniciais (69,7% e
,5%, respectivamente), com uma participação bem menos expressiva das
1
""
~
~ betismo, de 25,3%, em 1980, para 11,6%, em 1996, aproximando-se assim lalro séries finais na matrícula total do ensino fundamental (30 ,3%e 31,,5~, ~
:!l
~ perfil das regiões Sul e Sudeste. Na população urbana da região Norte, a qu pectivamente). É importante destacar q~e essa com~osição d a. n:atncu a 'i;;
.!!'
2l foi maior ainda: de 29,3% para 12,4%. lá diretamente associada a pelo menos tres fatores: balXa produtividade do i1
1 lema, denotada pela persistência de altas taxas de repetência, abandono e .~
2.2 - Universalização do ensino fundamental i torção idade/série; expansão da cobertura escolar, como resultado direto do .~
Conforme já assinalado, o desenvolvimento do ensino fundamental ap arme esforço de universalização do acesso desenvolvido nos últimos quatro "'_~
nos; e, por fim, a estrutura demográfica dos estados da região, caracterizada ~
senta nítidos contrastes regionais, tanto em termos de cobertura quanto em r
la elevada proporção da população em idade escolar. ~
lação aos indicadores de eficiência interna do sistema. As regiões Sul e Sude
promoveram ainda na década de 80 políticas de universalização do acesso e, Em relação à distribuição da matrícula entre as séries iniciais e as séries fi- ;;:
multaneamente, a implantação do ciclo básico como estratégia para reduzir nais,o atual perfil do ensino fundamental no Nordeste apresenta grande seme-
repetência nas séries iniciais. Com isso, alcançaram altas taxas de cobertur lhança com aquele que se observava nas regiões Sul e Sudeste no final dos anos
O. Essa distância poderá, contudo, ser superada num prazo mais curto, pois a
uma significativa melhoria dos indicadores de transição do fluxo escolar - au-
inãmica de mudança vem se dando de forma mais acelerada no Nordeste, con-
mento da taxa de promoção e redução das taxas de repetência e evasão.
orme evidenciaram os indicadores de cobertura nos últimos anos.
As regiões Norte e Nordeste, por sua vez, somente na segunda metade
Entre 1989 e 1998, foi justamente n~s regiões Norte e Nordeste que se verifi-
década de 90 passaram a adotar uma nova agenda de políticas educacionais,
ram as maiores taxas de crescimento da matrícula do ensino fundamental, fe-
tabelecendo como prioridade a universalização do atendimento e a promo -
nÔmenoque se deu com maior intensidade nas séries finais (91 % e 86,7%, res-
da melhoria da qualidade. Esse novo direcionamento das ações dos sistema
ctivamente). No mesmo período, a matrícula da 5a à 8a série também registrou
ensino dessas regiões já se reflete no comportamento dos indicadores de prado- rte expansão nas regiões Sudeste e Sul (57,4% e 49,7%, respectivamente). Mas
tividade. Porém, por enquanto, os resultados mais expressivos foram alcan grande diferença ocorreu no comportamento da matrícula da Ia à 4a série: en-
dos na ampliação da cobertura escolar, sobretudo em razão do salto dado com lIanlOo Nordeste e o Norte tiveram expressivo crescimento (39, 1% e 35,8%, res-
Fundef. A performance do ensino fundamental no Nordeste segue abaixo da n Clivamente), o Sul e o Sudeste apresentaram taxas negativas (5,6% e 5%). Are-
dia nacional em todos os quesitos. Em comparação com os indicadores do ui ião Centro-Oeste, por sua vez, apresenta uma estrutura da matrícula no ensino
Sudeste, o descompasso é de mais de um decênio, o que não significa que o ndamental muito semelhante ao perfil observado no Sul e Sudeste, com ten-
°
deste precisaria de I anos para atingir o patamar em que essas regiões já se 'ucia à estabilização da la à 4a série e forte crescimento da 5a à 8a série.5
contram. Portanto, fica evidente o esforço que as regiões Norte e Nordeste vêm fazen-
Como a implementação de políticas mais incisivas de universalização ao expandir simultaneamente a matrícula nas séries iniciais e finais do ensino
acesso e de promoção da qualidade do ensino fundamental se deu com um undamental, o que obviamente representa um extraordinário aporte de recur-
tervalo de mais de uma década em relação ao Sul e ao Sudeste, o Nordeste ap humanos e financeiros, como veremos mais adiante (Tabela 2).
sénta um quadro atual que, em termos de eficiência do sistema, mal se eqlIiI a
aos indicadores exibidos por aquelas regiões no final dos anos 80. Esse contr
te fica evidenciado quando são comparados os indicadores de transição que,
-- A p~oporção da população na faixa etária de cinco a 14 anos, em relação à população total, é .sig-
atIvamente mais elevada nas regiões Norte (25,54%) e Nordeste (24,24%) do que nas reglOes
deste (l9,33%) e Sul (19,86%). De acordo com projeções do IBGE, a mudança do perfil demográ-
sua vez,. repercutem no perfil de distribuição da matrícula entre as oito série..
será mais lenta nas regiões Norte e Nordeste, que em 2005 continuarão com uma proporção da
ensino fundamental. Nas regiões Sul e Sudeste, já se observa uma compO"I. pulação de cinco a 14 anos mais elevada do que a que se verificà nas regiões Sudeste e Sul- de
quase paritária entre a .participação da matrícula das quatro séries iI1l 1 -1,9.%e 21,89%, respectivamente.
(52, I % no Sudeste e 53,4% no Sul) e das quatro séries finais (47,9% na sud E preciso ressalvar que os indicadores do Distrito Federal produzem uma distorção positiva, ele-
nrlo a média da região. Se forem considerados apenas os dados de Mato Grosso, Mato Grosso do
e 46,6% no Sul). Essa tendência, que deverá consolidar-se nos próximoS an Ie Goiás, o quadro torna-se semelhante ao observado nos estados mais desenvolvidos das regiões
te e Nordeste.
433 -'''-'-' .
.~
TOTAL " À 4' SÉRIE> % 5' À 8' SÉRIE % ~
..,~
~
.~
2.574.270 64,5 1.418.081 35,5
989
1991
3.992.351
-
6 Utilizam-se três indicadores para medir a abrangência da cobertura escolar: a) Taxa de Escolari-
I.dçãoLíquida, que indica a proporção de crianças de sete a t4 anos matriculadas no ensino funda-
lJIentalem relação ao total da população nessa faixa etária; b) Taxa de Atendimento, que revela o
Percentualde crianças de sete a 14 anos que recebe algum tipo de atendimento escolar, indepen-
dentemente do nível de ensino; e c) Taxa de Escolarização Bruta, que mostra a relação entre o total
d~matrÍCulano ensino fundamentaL independentemente da idade dos alunos, e o total da popula-
Çaodesete a 14anos. Em razão do fenômeno da distorção idade/série, bastante acentuado no Brasil,
eSsataxa permite verificar o excedente de matrÍCulas existente.
434 435
-- ....• --.--'-----
1:; Apesar de os desníveis regionais ainda persistirem ,. l:
J5 q~e: ~o período mais recente, as regiões Norte e N d ' e ill1portante assin Tf\XA DE ATENDIMENTO
'Ii:
1;
TAXA DE ESCOLARIZAÇÃO DO ENSINO FUNDAMENTAL
~ d~ano na expansão da cobertura escolar N t ar este deram um saltoex!
i ç~o ~as desigualdades existentes na déc~dae~ee8~specto,houve uma clarareI BRUTA LíQUIDA 7A14ANOS 15A17ANOS ~
]
~
" çao lIquida, que em 1980 era de apenas 670/< N' ~e fato, a taxa de escolari
cançou 90%, em 1998. Este feito é m' o no . or este e de 70% no Norte
106 90 1
] s~s regiões a m'atrícula cresceu de for~: exp~esslvo quando se observa que ~ 980
£'"
l 95
passou a apoiar mais fortemente os e r
CIO dos 90, te?dência que se inverteu a a~~I~o lenta ao longo dos anos 80e in
e 19~4, quando o governo fede
damental, por meio do Projeto Nord:s:~~:~:I~~I)~~rsalização do ensino fun.
991
-998
111
135 97 98 86
.~
~
.~
.~
Sul ~
99 84 ."lC
1980 ~
110 94 g
1991 .g;
lC
97 84 ."
Taxa de escolarização líquida e b
taxa de atendimento nas faixa
_ 1970/98 s e
;u~a .
do ensino fundamental e
a 14 anos e de 15 a 17 anos
1998
Centro-Oeste
124 96 .:;:
1980 103 80
B:RA:SI~L
E~R:E:G~'Õ:ES~---==T~AXA~~DE~E~S~CO;;;LA;;'RI;ZA~Ç~Ã;;-;;OD-;O-;EN;;;:S;;IN:;-;O~F~U:N:DA:::M-::E~N::TA-::L---------
1991 119 94
Tf\XA DE ATENDIMENTO
BRUTA LíQUIDA 94 96 86
7 A 14 ANOS lS A 17 ANOS 1998 141
Brasil
Fonte: MECllnep/Seec.
40
Foi a criação do Fundef que injetou novo dinamismo na expansão da co-
56
berturaescolar, aquecida ainda por outras ações mobilizadoras, como a campa-
69 nha"Toda Criança na Escola", desencadeada pelo MEC no segundo semestre
81 de1997,com o objetivo de articular os esforços das três esferas de governo para
aarantira universalização do ensino obrigatório. O Fundef incentivou a amplia-
çãoda matrícula pela sua própria lógica na redistribuição dos recursos - nú-
merode alunos no ensino fundamental por rede de ensino. De fato, quando se
comparaa evolução da matrícula na rede pública de ensino fundamental, de
1997para 1998, verifica-se um crescimento de cerca de 6%, o que representa a
incorporação,em termos absolutos, de 1,8 milhão de alunos.8 O aumento da
matrículafoi mais expressivo nas redes públicas das regiões Nordeste (12,1 %) e
arte (7,7%), exatamente onde se concentravam os maiores contingentes de
criançasfora da escola. Outro efeito do Fundef foi um forte movimento de mu-
nicipalizaçãoda matrícula do ensino fundamental. Em 1998, as redes munici-
paisregistraram um crescimento de 21,5%, ao passo que nas redes estaduais a
matrícula decresceu 4,6%.
(continua ~----
Este salto na matrícula não pode ser explicado apenas pela incorporação ao sistema de crianças
quepermaneciam fora da escola. Na verdade, grande parte do crescimento resultou da transferên-
7 . O Projeto de: Educação Básica para o Nordeste' '. . Qade matrículas, seja de crianças com mais de sete anos que ainda se encontravam na pré-escola ou
~B~d), proporCIonou investimentos da d d ,parcialmente fmancIado pelo Banco Mundial
ultImos seis anos. Essa ação, que se enceo:rae~st~ ~S$ 80~ milh?es.nos nove estados da região, n05 classesde alfabetização, seja de jovens e adultos que freqüentavam cursos supletivos. Em alguns es-
mento .da Escola (Fu?descola), iniciado em 1998 no, ter: cont~nUl~ade com o Fundo de Fortaleci, tados.como Bahia e Minas Gerais. o supletivo foi praticamente eliminado, dando lugar às classes de
mos seis anos, benefIciando também as ._ . e preve a aplIcaçao de US$ 1,3 bilhão noSpró~I' aceleraçãode aprendizagem. Com isso. a matrícula do ensino fundamental apresentou espantoso
reglOes Norte e Centro-Oeste. crescimento.
436 437
-~,~....,.-..•-----
t1: das as séries. Esse fenômeno foi observado em todas as regiões, embora com
" significativas variações. Tomando em separado apenas os dados das séries de
j início de ciclo - 1a e 5a séries - que tradicionalmente representam os maiore
.~ gargalos do ensino fundamental, verifica-se uma tendência muito positiva de
BRASilE REGiÕES
1989 1992
TAXA DE PROMOÇÃO
l' SÉRIE
1995
DO ENSINO FUNDAMENTAL (%)
1997* 1989
S' SÉRIE
(43%) e Nordeste (45%) foram inferiores às atingidas em 1989 pelas regiões Sul
(64%) e Sudeste (70%). O grau de desigualdade regional ganha contornos dra- Tabela5
máticos quando são cotejadas as taxas de repetência. Nas escolas do Norte e
Ensino fundamental - taxa de repetência da 1 a e sa séries:
Nordeste, mais da metade dos alunos da 1a série é afetada pela repetência.9 Are-
gião Centro- Oeste também apresenta elevada taxa de repetência (41 %), diferenci- 1989/97
ando- se do Sudeste e Sul, que têm as menores taxas do país -16% e 25%, res- TAXA DE REPETÉNClA DO ENSINO FUNDAMENTAL (%)
pectivamente (Tabela 4).
l' SÉRIE S' SÉRIE
BRASilE REGiÕES
A situação das regiões Norte e Nordeste, em relação à repetência na 1a série 1989 1992 1995 1997' 1989 1992 1995 1997*
do ensino fundamental, permanecia, em 1997, pior do que aquela observada 26
Brasil 48 46 44 40 41 38 35
nas regiões Sul e Sudeste há uma década. A taxa de repetência era de 55% para o
Norte e de 53% para o Nordeste, em 1997, enquanto, em 1989, já era de 35% no Norte 62 59 57 55 44 42 43 32
Sul e de 29% no Sudeste. Confirma-se novamente, portanto, um atraso de mais 44 45 40 33
Nordeste 63 62 58 53
de um decênio na evolução do indicadores de transição das regiões Norte e Nor-
deste. Com a implantação do ciclo básico, na década de 80, e das classes de ace- Sudeste 29 23 25 16 40 35 32 18
leração, regime de progressão continuada e outras políticas de combate à repe- Sul 33 28 25 36 34 31 24
35
tência, na década de 90, os sistemas de ensino das regiões Sul e Sudeste alcan-
Centro-Oeste 48 42 41 41 46 44 41 33
çaram resultados bastante expressivos, elevando para 75% e 83%, respectiva-
mente, as taxas de promoção na 1a série, em 1997 (Tabela 5). Fonte: MECllneplSeec. . .
• Taxas estimadas por Ruben Klein - LNCC. Estimativas preltmmares.
Quando são comparadas as taxas de promoção da 5a série do ensino funda-
mentaI, as diferenças regionais diminuem ligeiramente, embora o Sudeste, que
apresenta a maior taxa (76%), esteja à frente do Norte e do Centro-Oeste, respon- d . O fundamental das regiões
Pode-seafirmar que, enquanto os alunos o ensl~. ar alo a 1a série na
sáveis pelas menores taxas (55% e 57%, respectivamente). Nessa série, o Norde-- 'Ortee Nordeste continuam enfrentando como pnnClpal g ~ 1 d d'
te alcança seu melhor resultado, com uma taxa de promoção de 60%, um pouco qUalse verificam as menores taxas de promoçao - e as taxas maIS e evabarreira
a maior as e re-
na
atrás da média para a.região Sul (65%). Com base na análise desses indicadore', Petência,os alunos das regiões Sul e Sudeste encon~ra~ su b dono
5a série, na qual incidem as maiores taxas de repetenCla e ~ an ,.
9 As taxas de transição apresentadas neste trabalho foram estimadas por Ruben Klein com base A gradual melhoria dos indicadores de transição ocornda na de~addadfIe90
nos resultados do Censo Escolar de 1997. .
aindanão foi suficiente para proporClonar .,
maIOresImpa ctos na correçao o uxo
438 439
.--' •..••... ~'--'-
escolar. Um fenômeno diretamente decorrente das altas taxas de repclêl 6 ;:
~ ~
E
<Xl
abandono é a distorção idade/série, situação na qual se encontram 16,7milh- . f U ndamental" " taxa de distorção idade/série - 1996/98
'to;
SinO E
-<>
ê alunos - o equivalente a 46,7% do total de matrículas do ensino fundam ~:::
~ Este é, seguramente, um dos mais graves problemas da educação básica, TAXA DE DISTORÇÃO IDADE/SÉRIE (%)
.~
! a distorção idade/ série está fortemente associada ao baixo rendimento TOTAL " SÉRIE 2' SÉRIE 3' SÉRIE 4' SÉRIE 5' SÉRIE 6' SÉRIE 7' SÉRIE 8' SÉRIE
~
~ alunos, ao fracasso escolar e - em última instância - à evasão escolar. C
:'i forme já foi visto, uma proporção muito significativa dos alunos repete a Ia ~
.~
.;;;> 76,2 71,9 76,5 77,2 76,6 80,4 80,2 79,8
.g rie do ensino fundamental, isso sem contar com aqueles que já ingressam (
67,4
ê
.~
64,1 59,5 62,6 63,3 62,7 70,2 68,6
diamente no ensino regular, retidos na pré-escola ou em classes de alfabetiz '"
:::
.:2
ção, anacronismo que ainda sobrevive em alguns municípios do Nane c 46,6 38,2 43,9 44,5 45,7 54,3 52,5 52,0 50,6 ê'
Nordeste. ..,tl
'"
::;;
O problema da distorção idade/série se coloca, portanto, desde o iníciod 78,2 87,3 88,3 87,9 90,2 90,0 90,9 :'i
982 84,4 .;;;>
t'nsino fundamental e se prolonga ao longo das oito séries, repercutindo noen- 84,3 83,1 81,8
~
991 79,0 72,5 81,0 81,6 81,4 ~
sino médio e até no ensino superior. Basta observar que, em 1998, cerca de 54 65,7 63,6
1998 61,3 51,2 62,3 64,5 64,9 69,7 67,4
dos alunos do ensino médio freqüentavam séries fora da idade recomendada.
Ao mesmo tempo, 23,6% dos alunos matriculados no ensino fundamentalt;- ordeste
nham mais de 14 anos - o que corresponde em números absolutos a 8,5 mi- 85,1 80,9 87,0 87,8 87,6 89,7 89,2 88,9
1982
lhões de matrículas. Esses alunos, que já deveriam estar no ensino médio, r - 1991 80,6 75,7 82,9 82,6 81,6 84,5 82,9 82,6
presentam um contingente maior do que o total de matrículas nesse níveld 72,2 69,2 70,2 67,3
1998 64,1 54,1 65,0 67,7 66,2
ensino (6,9 milhões). Os indicadores de disto~ção idade/série, obviamente, ain-
da são alarmantes, mas apresentam uma tendência de evolução positiva. 1 o Sudeste
ensino fundamental, essa taxa, que em 1994 era de 66%, caiu cerca de 20 ponto 1982 69,8 61,0 68,9 70,7 70,5 76,2 76,2 75,7
percentuais em apenas quatro anos. 1991 54,7 39,6 49,0 53,8 54,1 64,5 63,5 61,6
Esse recuo, porém, não se deu com a mesma intensidade em todas as re- 1998 34,2 14,7 22,6 25,6 34,3 43,9 45,5 45,4 44,6
giões, o que não é difícil explicar, pois existe uma correlação direta entre a redu-
Sul
ção das taxas de repetência e abandono e a diminuição da taxa de distorção ida-
1982 70,5 64,3 70,1 71,1 71,7 74,2 74,8 74,3
de/série. Portanto, esse processo tem sido muito mais lento nas regiões Nortee
1991 33,3 38,1 40,0 44,3 52,5 53,0 52,6
Nordeste do que no restante do país. Entre 1982 e 1998, a distorção idade/série 43,8
no ensino fundamental apresentou uma queda acumulada de 37% no Nortee 1998 25,8 10,5 17,6 21,4 24,0 35,8 33,1 32,2 37,7
de 32% no Nordeste. Nesse mesmo período, essa taxa caiu 77% no Centro-Oeste. Centro-Oeste
104% no Sudeste e 173% no Sul. Com isso, no Nordeste a taxa de distorção no 86,6 86,0 86,3
1982 80,8 82,9 83,0
ensino fundamental diminuiu de 85,1% para 64,1%; no Norte, de 84,4% para -
1991
80,8
65,9
73,7
55,0 63,1 65,0 65,5 73,9 72,9 72,1
61,3%;no Sul, de 70,5%para 25,8%;no Sudeste, de 69,8%para 34,2%;e no CentrO-
. 'Oeste, de 80,8% para 45,5% (Tabelas 6 e 7).
-
1998 45,5 25,1 36,3 42,2 43,4 56,7 58,0 57,5 56,1
Em razão dessa dinâmica, a diferença entre as regiões Norte e Nordeste ea" Fonte: MEOlneplSeec.
•...
441
observa-se um quadro de acentuadas disparidades regionais, que reprodu- -,_
..'
, 2
111 as taxas de transição e distorção idade/série. No Brasil, os alunos levam em ~
'dia 10,3 anos para concluir as oito séries do ensino fundamental, segundo
lculode 1997. Esse indicador apresentou uma significativa melhora nos últi-
mosdois anos, pois em 1995 o tempo médio era de 11,3 anos. .
l
]
~
Comas menores taxas de repetência e abandono, as regiões Sudeste e Sui ~
tambémapresentam o tempo médio de conclusão mais curto: 9,1 anos e 9,7 &
noS,respectivamente. A mesma similaridade é observada nas regiões Norte e .~
'ardeste, que possuem as maiores taxas de repetência e, conseqüentemente, o ."l
rempomais longo de conclusão (11,8 anos e 11,5 anos, respectivamente). A re- .~
~
~iãoCentro-Oeste, por sua vez, encontra-se em posição intermediária, com tem- ~
pumédio de conclusão de 10,9 anos. Outra forma de contrastar os desníveis re- ~
gionaisé comparando o número médio de anos desperdiçados pelos alunos que .~
:c
logramconcluir o ensino fundamental. No Norte, os alunos perdem, em média, ~
3,8 anos e no Nordeste, 3,5 anos, contra um desperdício de 1,7 ano no Sul e de
l.l ano no Sudeste (Tabela 8).
Tabela8
Ensinofundamental: tempo médio de permanência no sistema
(anos), número médio de séries concluídas, taxa de conclusão e
tempo médio de conclusão - 1981/97
CONCLUINTES
TEMPO MÉDIO NÚMERO MÉDIO
DE PERMANÊNCIA DE SÉR)ES TAXA DE CONCLUSÃO TEMPO MÉDIO DE
(ANOS) CONCLUIDAS (%) CONCLUSÃO (ANOS)
BRASILE REGiÕES
la À4d laÀSd
la À4d ld,Àsa ld,À4a "ÀS' 4' SÉRIE S' SÉRIE
SÉRIE SÉRIE SÉRIE
SÉRIE SERIE SERIE
Brasil
Rede pública municipal: estimativa de remuneração de professores com carga de 40 horas semanais
- valores de ago./1998 e dez./1997. Variação média ponderada no período
BRASIL E REGiÕES
10 grau completo 175 264 50,9 487 496 1,8 364 365 0,4 n.d. n.d. n.d. 296 350 18,3 119 225 89,3
20 grau magistério 419 547 30,5 549 571 4,0 716 830 16,0 934 1.022 9,4 457 526 15,1 226 386 71,0
Superior licenciatura
plena 973 1.104 13,5 916 997 8,8 916 1.077 17,6 1.392 1.496 7,5 663 795 20,0 585 716 22,3
Total 627 762 21,5 663 721 8,6 901 1.081 20,0 1.255 1.354 7,9 479 555 16,0 276 416 50,7
syg: ~
.IiMA
Rede pública municipal: estimativa de remuneração de professores com carga de 20 horas semanais
_ valores de dez./1997 e ago./1998. Variação média ponderada no período
BRASIL E REGIÕES
NORTE NORDESTE
SUL SUDESTE
BRASIL CENTRO-OESTE
VAR.
DEZ. DEZ. AGO.
CATEGORIA
DEZ. DEZ.
~~~8 VAR.
DEZ.
~~~8 VAR. % 1997 ~~~8 VAR. % 1997 199B %
DEZ.
~~~8 VAR. % 1997 ~~~8 VAR.% 1997 % 1997
1997
Por essa razão, apesar de o PIE do Nordeste ser 4,3 vezes menor do que o d
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Sudeste, não se verifica a mesma discrepância no gasto per capita no ensino fun-
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damental e médio. Sem incluir os gastos com os inativos, no ano de 1995 o Nor- VI
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deste destinou R$ 278 por aluno/ano matriculado no ensino fundamental e O
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.R$ 502 por aluno/ano do ensino médio. Na região Sudeste, o gasto foi de R$ 60 U"
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por aluno/ano do ensino fundamental e R$ 780 por aluno/ano do ensino médio. U
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Já o PIE per capita naquele ano era de R$ 1.919,10 para o Nordeste e de R$ 5.573,80 'ti « LI'
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para o Sudeste. Dividindo os gastos com aluno/ano por nível de ensino pelo PIB
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per capita, pode-se concluir que o gasto nordestino por aluno/ano, comparati- C ::>
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vamente à renda per capita, é maior do que a média da região Sudeste e da média O
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nacional. Embora os valores absolutos sejam menores, o esforço per capita feito
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pelo Nordeste é superior. ...• ffi
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Em razão disso, os gastos com educação básica em relação ao PIE, tomando
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por base o exercício de 1995, foram maiores no Nordeste do que nas demais re- lI\
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giões do país. A soma de recursos aplicados pelos governos estaduais e munici- w 00 o LI' "'"
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pais da região correspondeu a 4,2% do PIE, bem acima do gasto do orte 'ti ~ ffi r-- ID o o m r--
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(3,6%), Sudeste (3%) e Sul (2,9%). No Centro-Oeste, o cálculo fica distorcido o tl: "'"
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Por isso, os gastos dos governos estaduais e municipais equivalem a 2,8% do PIE. CII N "'"
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As regiões Norte e Nordeste passaram, a partir de 1998, a receber recur o ~ ;;t ci m o oi
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adicionais do governo federal, em decorrência da in1plantação do Fundef. o Q. t- "-:
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ano passado, a complementação federal foi de R$ 534 milhões. Neste ano, a
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União deverá repassar R$ 848,6 milhões para os estados que não alcançam o va- '/li N 00 M o ID
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lor mínimo de R$ 315 por aluno/ano. Desses recursos, R$ 155,5 (18,3%) serão /li LI' M
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destinados para a região Norte, beneficiando o Pará, e R$ 693 milhões (81.7 ) ~ S
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para a região Nordeste, beneficiando Maranhão, Pernambuco, Piauí, Bahia, Pa- CII '"
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'raíba, Ceará e Alagoas. /li "'"
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Constata-se, portanto, que os gastos da região Nordeste com educação, O
apesar de elevados em comparação com o seu PIE, ainda são insuficientes pa~a .~
compensar as desigualdades econômicas. Observa-se, ainda, que os gastoS pro-
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prios com educação estão perto do limite, havendo poucas possibilidades de qu .
os estados do Nordeste consigam elevar os investimentos sem que haja ~IIl1 .•.
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crescimento do PIE da região. Daí a importância do Fundef e da ação suple\1~
do governo federal. É importante, porém, destacar o esforço que vem sendo feI-
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to pela região Nordeste para melhorar a situação educacional (Tabelas 15 e 16). ~ ~ ~ o o "O
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453
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452
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lamentaI responderam a questões nas áreas de língua portuguesa, matemática
, ciência. Os alunos da 33 série do ensino médio, por sua vez, responderam ]
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-----------------~G;:;::AS;T;:;-;;;OPU:;;;' B;;-;L1::::CO~--=--~---- érie do ensino fundamental atingiram, em matemática, uma média de 181,
GASTOPÚBLICO MÉDIOPOlI
BRASILE REGiÕES PIB PIB MEDia PORALUNO ALUNOEM RELAÇÂO AO contra 179 na avaliação de 1995. A média nacional manteve-se estabilizada em ~
PER CAPITA
(R$ MIL) PER CAPITA (R$) (R$)
19\ pontos. Na 83 série, os alunos nordestinos obtiveram a média de 240 pon- ~
FUNDAMENTAL MÉDIO FUNDAMENTAL MÉDIO toS, em 1997, contra 232, em 1995. Foi na }3 série do ensino médio, entretanto, '~
Brasil 646.191.514 4.148,60 682,00 0,11
quehouve um avanço estatisticamente significativo no desempenho da região ~
."
0,16
ardeste. A proficiência média variou de 261 para 290 pontos, numa escala de ~
.Si
Norte 32.558.492 2.925,90 499,00 0,10 0,17 zeroa 400 pontos. tl ::_'"
Nordeste 85.277.368 1.919,10 502,00 0,14 Esse resultado fez com que, entre os concluintes do ensino médio, a região :g
0,26
S~deste 370.429.183 5.573,80
Nordeste superasse, em matemática, a média dos estados do Sudeste, de 283 '6'
780,00 0,11 0,14
pontos, e da região Norte, de 270 pontos, ficando atrás somente das regiões ~
Sul 107.595.700 4.606,50 591,00 0,12 Centro-Oeste e Sul, de 302 e 310 pontos, respectivamente. Nas demais regiões,
0,13
Centro-Oeste 45.373.546 4.370,10 457,00 808,00
oresultado permaneceu estável. A única exceção foi a região Sul, onde a média
0,10 0,18
Fonte: IPEAlOISOe
deproficiência em matemática, na Y série do ensino médio, cresceu de 291 para
rotas:
R$ 4,957.225 (R$ mil) do valor do PIB d '- - 3\0 pontos.
2 Os gastos não incluem os destt'nad bOpa/~.s~o nao-regionalizáve;s.
05 a enel/Clos. A liderança do Nordeste, conforme já foi dito, pode ser explicada pelo fato
dea região ter um sistema educacional de nível secundário menos massificado
3 - Principais resultados do Saeb/1997 do que no Sul e no Sudeste. No Nordeste, apenas 14,5% dos jovens de 15 a 17
Jnos estão freqüentando regularmente escolas de ensino médio, contra 44,8%
O Saeb, desenvolvido na década de 90' . doSule 42,5% do Sudeste. Em língua portuguesa, há poucas alterações nas mé-
pesquisa que permite avaliar a efetividad ,real.lza a cada dOIs.anos uma ampla
na qualidade, eficiência e e üidade A e ~~s sistemas d~ ensmo, com enfoque diasde proficiência das regiões entre o Saeb de 1995 e o de 1997. A região Nor-
3
Saeb de 1995 e 1997 mostr q . b analise comparativa dos resultados do deste novamente se destaca na 83 série do ensino fundamental e na 3 série do
velmente o acesso à educaç~~ ~~e: e~ ora ~ Brasil tenha expandido considera- ensino médio.
de, o que não significa que o as~ca,IS~Ona~ se d:~ em detrimento da qualida- Na4 série do ensino fundamental, nenhuma região registrou variações, po-
3
apontada pelo Saeb/1997 foi aq~:l~~:i~a satIsfatono. Outra tendência positiva sitivasou negativas, significativas na disciplina de língua portuguesa. A média
da região Nordeste nas dis . r d do des:~penho dos alunos dos estado nacional manteve-se estável, oscilando negativamente de 188 para 186 pontos
Clpmas e matematICa e português (Tabela17). Na 8 série, os alunos do Nordeste voltaram a melhorar seu desem-
3
De fato, os resultados apontam uma 1 - ,.' penho, de 230 para 241 pontos. Houve queda de desempenho na região Sudes-
alunos do Nordeste nas treA ,. . e evaçao dos mvels de proficiência do
s senes avaliadas 43 83 ,. •
te,de 267 para 251 pontos. Nas demais regiões, os resultados continuaram esta-
mental e 3 série do ensino médio Na
3 ._ - e senes do enSinOfunda-
sultado obtido por Minas G . . r~glao Sudeste, apesar do expressivo re- bilizados.
3
o ensino médio apresentou er~ls: o rendimento médio dos alunos da 3 série do A proficiência em língua portuguesa dos concluintes do ensino médio
, vanaçao negativa E .
em razão da rápida expans - d ' . sse resultado pode ser explicado apresentou oscilação negativa no resultado nacional: baixou de 290 para 284
_ ao esse mvel de ensi ..'
raçao de segmentos mais hetero êne no, com a consequente Incorp~- POntos.A média da região Nordeste oscilou positivamente de 266 para 276 pon-
favorável alcançado pelo N d g os. Da mesma forma, o desempenho mal tos,ficando à frente da região Sudeste também nesta disciplina. No Sudeste, o
, or este na 3 série d . 3 , . '
esta relacionado ao perfl'l . 1" o ensmo medlO provavelmenl desempenho voltou a cair, de 299 pontos para 283 (Tabela 18).
naquela região. mais e ltista que ess e mve ' 1d'e enSinO ainda manlelll
'
Na média nacional, apenas 5,3% dos alunos da 3 série do ensino médio
3
h
454 455
Tabela17 adoscom os estudantes da região Sudeste (24,6%). No Centro-Oeste, 30,3%
:-e; l 2
~ dosalunos tiveram desempenho acima de 325 pontos. ~
~ Desempenho médio dos alunos na 4a série do ensino
O desempenho dos alunos da região Sudeste na 3a série do ensino médio ~
<;
1'1 fundamental - Saeb 1995/97
nãochega a surpreender. Ele deve ser relativizado, pois se se observar o perfil .~
f.. PROFICIÊNCIA MÉDIA NA 4" SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAl -
dosalunos concluintes do ensino médio no Nordeste, veremos que a maioria ~
~ BRASIL E REGiÕES dosalunos que conclui a 3a série é oriunda de famílias cujos pais possuem um ~
'"
:ll MATEMÁTICA PORTUGUÊS
::l
1995 1997
nívelde escolaridade mais elevado, enquanto os alunos do Sudeste, onde o ~
.~
.!!> 1995 199
<::
I::l acessoa este nível de ensino é muito mais democratizado, são provenientes de iê
Brasil 191 191 188 186 famíliascom um nível de escolaridade mais heterogêneo (Tabela 19). :1
Norte 174 175 173 172 ~
<::
Nordeste 179 181 178 178
Tabela 19 '"
~
<;
Sudeste 199 198 195 193 Desempenho médio dos alunos na 3a série do ensino médio - "<::
.!!>
cia do Saeb, que é o nível de desempenho esperado para os concluintes do o dÚvidaa mais importante foi a implantação do Fundef. Essa reforma tem
no médio, 26,3% dos alunos. Esse percentual é maior na região Sul (36,5 rO\ocadomelhorias evidentes no ensino fundamental, particularmente nas
menor na região Norte (16,2%). Dos alunos do Nordeste, 24,2% obtiveran1iI1 ~smunicipais das regiões Norte e Nordeste e das regiões metropolitanas das
tas acima da escala de proficiência em português, ficando tecnicamente em Ilais.
456 457
~'--"-.-
----:c; Outra importante ação do governo federal para compensar as diferen a . . a formação de conselhos escolares e de associações de pais e mes- 2
• Il1centlvar I I rofes ~
~ regionais é o Fundescola, que vem promovendo a capacitação dos dirigem' ra l)romover uma interação maior entre a esco a, os a unos, os p --to;
Ires pa I - I' ]
ii! municipais de educação e estimulando e financiando a melhoria da qualidad' sares e a comunidade, e melhorar a gestao esco ar. ~
~ das escolas nas regiões Norte e Centro-Oeste. Com o fim do Proieto Norde I . )andir os programas de renda mínima vinculada à educação. para garantir -~
~ J ,
~ que cumpriu o mesmo propósito nos últimos cinco anos, a partir desle ano. • eXI • cI'a na escola das crianças oriundas de famílias de baixa renda; "'"
~ Fundescola também tem como foco os nove estados da região Nordeste.
a permanen _ ,. g
melhorar as condições físicas das escolas, dotando-as do padrao mmm?o ne- _~
1 A terceira iniciativa do MEC que merece destaque é o Pró-formação. pro-
cessário para o seu funcionamento; ii!
.g grama que estimula a capacitação de professores leigos e que está sendo execu-
tado em parceria com as secretarias estaduais. Finalmente, é preciso mencionar
• desenvolver programas em parceria com orga.niz~ções não-gover~ame.ntais _I
para ações específicas. como combate à repetenoa e ao analfabetismo, ~
o programa Alfabetização Solidária, experiência inovadora que vem alcançan-
do resultados expressivos no combate ao analfabetismo. Há, ainda, outros pro- incentivar parcerias com o setor empresarial em prol do fortalecimento e do ~
gramas desenvolvidos pelo Ministério da Educação que beneficiam diretamen- desenvolvimento da escola pública; e _~
'"
te as regiões mais pobres do país. Compete, portanto, ao governo federal mamer • disseminar o uso de novas tecnologias educacionais, tanto com o.objetivo ~e ~
esses programas em funcionamento para que as profundas desigualdades regio- proporcionar às escolas públicas acesso aos novos. recursos de mformaçao
nais ainda existentes na área educacional sejam superadas. (computadores, internet etc.) quanto como alternativa ~ara c~m?e~sar as ca-
Mas, para que esta meta seja alcançada, é preciso mais do que a ação equa- rências educacionais por meio de programas de educaçao a distanCia.
lizadora que compete constitucionalmente ao governo federal desempenhar. Esse conjunto de ações, entretanto, só produzirá resultados efet~vos. se. ~er
Em primeiro lugar, requer-se ações mais incisivas dos governos estaduais e mu- acompanhado de um esforço que envolva as t:ê.s esfera: de governo, as mStltUlçoes
nicipais, não só para garantir o acesso, mas a permanência e a progressão do de ensino superior, as ONGs e a sociedade Civil orgamzada, numa cr~~ad~, par~
alunos no sistema. Além do mais, é preciso que haja uma intensa mobilização promover o desenvolvimento profissional dos prof:ssores. Essa po_htlca Ja esta
da sociedade, como a que se deu com o programa Toda Criança na Escola, para desenhada pelos referenciais nacionais para formaçao de professores, el~bora~os
mudar o quadro da educação. Portanto, estas são algumas das iniciativas de re - sob a coordenação da Secretaria de Educação Fundamental do MEC. E preCiSO
ponsabilidade dos estados e dos municípios que podem contribuir para a corrc- avançar na revisão dos programas d e formaçao-' mio.. ai e estimular
_ programas
.•. de
ção das desigualdades regionais existentes na educação: formação continuada, em serviço. Só assim poderá ser cumP!lda a eXlgenCia da
lOB, incorporada como meta no Plano Nacional de Ed~caça?, de que todo: ~s
• garantir a efetiva aplicação dos recursos vinculados à educação e incentivar
professores da educação básica tenham formação supenor ate meados da proXI-
participação da comunidade, por meio de conselhos representativos, na fiscali-
ma década.12
zação dos programas, a exemplo do que está previsto na legislação em relaçã
ao Fundef; Há um consenso disseminado, hoje, entre os especialistas ern políticas
educacionais, de que a qualificação e valorização do professor - que re~uer n~-
• incentivar o regime de colaboração entre estados e municípios na ofena da
e ariamente políticas adequadas de formaçao-' mlCia .. I .e con (nuada
I . e mcentl-.
educação básica, com participação efetiva do governo federal mediante pro-
os à carreira _ é fator crucial para assegurar a melhona da qualidade do ens~-
gramas de apoio e ações supletivas para compensar diferenças regionai ;
no e a correção das desigualdades regionais. A formação d: pr?f~ssores d~v:ra,
• ampliar os programas das classes de aceleração de aprendizagem para alen- POrtanto, ser uma das prioridades das políticas de educaçao baslc.a na proxlma
der aos alunos com distorção idade/série, promovendo assim a correção d écada. A implantação dos Institutos Normais super~ores, pre:lstos na nova
fluxo escolar e adotando, simultaneamente, medidas para combater a rq - LOBo bem como o aproveitamento de profissionais de mv~1 supenor sem fo:n:a-
tência e o abandono; ão específica para o magistério, mediante oferta de tremamento pe~agog1Co
• implantar o sistema de ciclos, com ênfase na progressão continuada. para ' em serviço, são alternativas que já se incorporam ao esforço que o BraSil vem fa-
alunos da la à 4a série, a fim de diminuir a repetência e o abandono escolar:
• investir em programas de capacitação
melhorar o aprendizado dos alunos;
dos professores como estratégia par
-- .
I~ Deacordo com o Censo Escolar de 1998. existem ~erca de 2 milhões de ru~ções d?c.entes nos t~~~
lllVeisda educação básica (Educação Infantil. Ensmo Fundamental e Ensmo MedlO). das qu
ua"e a metade não possui nível superior.
458
:::: zendo para melhorar o nível de qualifica Ç ão docent " , A desigualdade entre os
~ no de qualidade exigido pela sOciedade. e, mdlspensavel para o en pobres - favela, favelas*
;E
~
~
a" Bibliografia
~ BRASIL. .Ministério da Educação. Secretaria d -
{J Instituto Nacional de Estudos e Pes ui e E~uca~ao Fundamental e
~
.~ ano do Fundef _ Relatório. Brasília: ~E~~~~~~~e~~~~~~/alanço do primei~
tl
Q
CASTRO, M. H. G. de Avaliação do . t d .
per~pectivas. Brasíli~: Instituto Na~~~mf de ~caC1odnalbrasilei~o: tendências (
nalS, 1998. a e stu os e PesqUisas Educacio-
Edmond Preteceille**
. A educação para o século XXI.
Janeiro: Programa de Promoção d~ ~
Caribe, 1999 (Preal Debates, 1).
r
d aifi d .
10 ~~ualzd~de e da eqüidade. Rio de
e orma ucatIVa na América Latina e
Lida Valladares***
--
Passos) nos forneceu. em abril de 1999. os seguintes números para o município do Rio de Jancl o\izar o migrante pobre, semi-analfabeto, biscateiro, incapaz de se integrar e
604 favelas. 783 loteamentos irregulares e clandestinos, 508 conjuntos habitacionais popUI,lrd
Observe-se que esses números correspondem a unidades cadastradas pelo Iplan-Rio. sen,doc~"
um desses universos certamente maior ainda. A população correspondente a cada um não e con A discussão entre os vários autores é apresentada em detalhe em Valladares ( 1998).
cida. pois os recenseamentos apenas distinguem. no conjunto da população do município. a pOpl O principal defensor da tese de que o processo de favelização teria se iniciado já nos anos 20 é
lação das favelas. que hoje estaria por volta de 1 milhão de habitantes. segundo a mesma fonte. reu (1994),
462 463
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terceiros ou de propriedade desconhecida; d) melhoramentos públicos: au ên.
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emplacamento, Dos cinco critérios adotados, quatro estão referidos aos aspe _ ..
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tos físicos da favela: tamanho, tipo de habitação, disponibilidade de serviçosco- /O
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letivos, urbanização. Oliveira cf alii (1983), discutindo a definição primeira d " O
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IBGE, lembram que subjacente à mesma encontrava-se também a visão da fa- 'Q. :J :J :J :J
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465
464
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1 no concentrado no município do Rio de Janeiro, sendo necessário ter cautela
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a correspondência, pois 98% dos domicílios com localização em favela são ~E
mbém contabilizados como em aglomerado subnormaL e que reciprocamen- ~
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1 rados não se localizam nas favelas recenseadas.
Ao se considerar exclusivamente os municípios com pelo menos mil domi-
'os classificados em aglomerado sub normaL é fora do Rio que a divergência
Iõ Iõ Iõ Iõ Iõ Iõ Iõ faz notar mais fortemente: não foram classificados em favela 100% dos do-
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licílios em aglomerados subnormais em São Gonçalo; 42% em São João de
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j ilerói; e somente 7% no município do Rio de Janeiro (muito embora em
VI VI VI VI VI VI VI
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a das favelas que os demais municípios).
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A título de conclusão, a coerência entre as duas variáveis é boa no seu con-
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to, Podemos supor que fora do município do Rio de Janeiro o peso das fave-
-teja subestimado pelos próprios dados do IBGE. No entanto, a grande maio-
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Q) Q) Q) do domicílios em favela está concentrada no Rio, 83% ou 87%, segundo
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a a a a a a a o o o o o o o ~piodo Rio de Janeiro só detém 58% do total de domicílios da região metro-
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uana quando considerada em seu conjunto.
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uma tipologia de setores censitários em função do nível do equipamento ur lU
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senta os valores médios das variáveis para cada um dos tipos.8
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o mais elevado, assim como o número de cômodos não correspondente' a N
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O segundo tipo, URB2, é bastante parecido com o primeiro, apresentan
um pouco menos de domicílios conectados à rede de esgoto, menor númc ..;:,
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O terceiro tipo, URB3, é próximo dos dois primeiros no que tange à ágll
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mais de 90% dos domicílios têm acesso à rede geral; e no que se refere à colela E c
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lixo - mais de 80%. Esse tipo, entretanto, se distancia dos precedente qllan
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ao saneamento, pois as ligações diretas do domicílio à rede geral são em bai :J u
sima proporção - apenas 3%. A marca distintiva do tipo URB3 é dada J1 I CT o.. '"OI
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85% dos domicílios que têm fossa séptica ligada à rede fluvial (dos quais O "O E
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equipados individualmente e 8% com fossa séptica comum a mais de um dOIl O
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dos domicílios têm água corrente direta, sendo 12% com acesso a água sem
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A Tabela 3 apresenta a distribuição dos setores censitários, por tipos, nos
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ou o bretudo no tipo URB4: dentre os 1.075 setores desse tipo, 699 correspondem
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U Z Z Z Z z a que correspondem aos de favela, 699 (54%) são do mesmo tipo URB4.
I o caso do município do Rio de Janeiro que, como vimos, é aquele em que
favelas se fazem mais presentes, o tipo URB4 aparece como mais específico
C' lUdada favela: 621 dos 852 setores desse tipo no Rio são de favela, ou seja, 73%.
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w , r OUtro lado, observamos que todas as favelas não estão concentradas nesse
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470 471
Tabela 3 ------.-
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3 8 515
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15
19
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25
254
14 -
-
1.102
61
um nível adequado. Em Nova Iguaçu e Niterói, a diversificação se dá pelos níveis
mais baixos, com uma proporção nada desprezível de setores nos tipos URB5 e
URB6.
Total 3 8 518 34 332 268 1.163
~ A hipótese de que as favelas do Rio de Janeiro se encontram em uma pro-
(colll;1II
?orção nada desprezível nos seto.res bem equipados poderia ser explicada pelos
~vestimentos que há décadas vêm sendo realizados pelo. poder público, por setores
naO-governamentais e pela população local em prol da chamada "urbanização de
472 473
favelas", lembrando que desde os anos 50 muitas delas vêm recebendo - em. Comoo Questionário 1 do Censo de 1991 comporta uma pergunta sobre a _::l----~'-..
~'.
~ ndiçãoda ocupação do domicílio, com oito modalidades de res?osta ~ossíveis, ~
~ bora sem continuidade e sem qualidade - investimentos públicos e privado
g inicialmente pela política clientelista da "bica d'água" e em seguida por aç" lidemosconstruir, usando o mesmo método da Tabela 3, uma tlpologla do~ se- .oi
~ pontuais da Fundação Leão XIII e das associações de moradores [Sagma lorescensitários da região metropolitana do Rio de Janeiro segund~ o perfil de ~
! (1960), Parisse (1969), Leeds e Leeds (1978)]. No final dos anos 70, a Lighl dislribuiçãodos domicílios entre as diferentes condições da ocupaçao. A Tabela
]
I
~ também inaugurou o seu programa de favelas, em princípio extensivo alada apresenta os perfis médios dos vários tipos. : ii
~
] elas [Bronstein (1982)]. Seguiu-se o Programa de Favelas da Cedae (Profac Osquatro primeiros tipos (COCI, COC2,COC3,COC4) podem ser considera- ~
'6' que, entre 1983 e 1985, levaria sistemas de água e esgoto a cerca de 60 favela, los,numa primeira leitura, como ordenados segundo um continuum de percenta- iS
c:o
incorporando-as à rede dos seus bairros [Cavallieri (1986) e Britto (1995) J. o 'ens decrescentes a partir de proprietários da construção e do terreno (71,9%, :I
anos 80, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e o Unicef fariam 56,8%50,5%,48,5%), um percentual fraco mas crescente de proprietários uni- .~
igualmente operações em parceria em algumas áreas faveladas, visando à im- amente da construção (0,7%,4,5%,4,1 %, 15,2%) e um percentual estável nos {i
plantação de saneamento básico via Projeto Mutirão [Brasileiro et alii (1982)I. lrêsprimeiros e crescente no quarto, no que se refere a locatários (18,~%, 18,~%, "<:
Passando ainda por iniciativas da Feema [Feema-Finep (1980)], Comlurb 17,5%,21,7%).Os dois primeiros tipos e o quarto contam com um numero Im-
t1980) e Souza (1983), temos hoje o Favela-Bairro,9 iniciado na segunda meta- portante de setores (3.531, 1.278 e 2.280, respectivamente), o terceiro muito
de da década de 90, última versão da chamada política de urbanização de fave- poucos(66 setores), conforme a Tabela 5.
las cujos efeitos ainda não se fizeram sentir nos dados do Censo de 1991aqui Noquinto tipo, COC5, o percentual de proprietários da construção e do ter-
analisados. !O
renoé menor do que nos tipos anteriores, mas o percentual de domicílios aluga-
Nos outros municípios tudo indica que esse tipo de ação, se já iniciado, nã dos(locatários) é muito superior (uma taxa recorde, acima da média). O percen-
se refletiu de forma significativa nos dados do Censo de 1991. lua!de proprietários só da construção é irrisório. Esse tipo abrange um total de
1.942setores.
Condição da ocupação, propriedade do solo
O sexto tipo, COC6, tem como característica principal o percentual elevado
Uma das principais dimensões que caracteriza, a priori, uma área enquaI1lo dedomicílios cedidos pelo empregador (nos demais tipos esse percentual é bai-
favela é a idéia da sua precariedade jurídica. Parece consensual que a favelare- '0). O COC6 compreende um total de 475 setores.
sultaria de um processo de invasão de terreno, na maioria das vezes desocupa- O sétimo tipo, COC7, é maciçamente constituído por setores em que a pro-
do, de propriedade pública ou privada: seus moradores, na origem, teriam um priedadesó diz respeito à construção, não ao terreno (83%, enquanto a média
status jurídico ilegal, variando, segundo cada caso, o grau de segurança quanl nãopassa de 15% nos demais). Esse tipo corresponde a 853 setores.
às possibilidades de permanência na área e seriam proprietários das conSlru-
Tabela 4
ções em favela, não dos terrenos onde as mesmas estivessem situadas.
Sabemos hoje que as situações são as mais variadas e que muitas favela Tipologia dos setores censitários segundo a condição da
cariocas não podem mais ser consideradas como áreas de ocupação ilegal. A po- Ocupação na região metropolitana do Rio de Janeiro -1991
lítica de remoção que perdurou até os anos 80 foi substituída pela política da r . ÉDIA DA DISTRIBUiÇÃO DOS DOMicíLIOS POR MODALIDADE EM CADA TIPO, EM %)
gularização e da urbanização - hoje em vigor por intermédio do programa d
Prefeitura do Rio de Janeiro, o Favela-Bairro. Estudos pioneiros feitos nos ano ~DIÇÃO DA OCUPAÇÃOfTIPOS COC1 COC2 COO (OC4 COCS COC6 COG COC8 TOTAL
. ~60 e 70 por advogados [Conn ( 1968) e Santos ( 1977) ] já mostravam diferenç~ Próprio - construção e
substanciais entre os direitos dos posseiros e os dos favelados, assim como a. il- erreno 71,9 56,8 50,5 48,5 46,4 29,6 5,5 10,0 52,5
ferentes formas que a lei podia tomar nas favelas.
-
Próprio - só construção 0,7 4,5 4,1 15,2 0,8 5,0 83,3 3,3 11,3
9 Inúmeras são as avaliações que o Programa Favela-Bairro vem suscitando. Com financiameo
da Finep várias instituições de ensino e pesquisa do Rio de Janeiro realizaram em 1996 e 1997 e lU'
dos de avaliação. Uma boa síntese das políticas públicas nas favelas cariocas, no período que co
da experiência dos parques proletários (anos 40) até os dias atuais do Favela-Bairro, encontra-
em Burgos ( 1998).
-
~
~por
lugado
por empregador
particular
18,6
1,4
2,9
18,8
1,0
8,5
17,5
0,8
3,8
21.7
0,8
6,4
42,7
1,4
3,5
5,7
23,2
6,3
7,1
0,2
1,7
0,9 22,2
1,1
1,8
2,1
4,5
la Vale lembrar que estamos nos referindo a uma época em que os serviços públicos ainda ~ã~)ha-
~a condição 0,4 0,9 18,6 0,2 0,3 0,7 0,2 80,0 0,7
viam sido privatizados no Rio de Janeiro e que predominava uma tendência de estendê-los a> ar
pobres da cidade.
~
Desigualdade e pobreza no Brasil I --.J
~
Tabela 5
-- ---
coes eoe6 eoC7 coe8 S/RESP. lOlAl
coel eoe2 eoC3 eoe4
4 23 5 50
3 4 11
Mangaratiba Não-favela
1 2
Favela
1
4 23 6 52
Total 3 4 12
41 1 67
Não-favela 5 8 12
Maricá
41 1 67
Total 5 8 12
49 144
Não-favela 33 22 1 39
Nilópolis
2 4
Favela 1 1
49 2 148
Total 34 22 2 39
73 11 15 8 455
Não-favela 227 45 1 75
Niterói
22 2 35
Favela 5 1 5
73 11 37 10 490
Total 232 46 1 80
25 14 5 1.102
310 260 19 366 103
Nova Iguaçu Não-favela
39 4 61
Favela 9 4 5
103 25 53 9 1.163
Total 319 264 19 371
(continua)
A desigualdade entre os pobres - favela. favelas ~
--.J
VI
476 477
::::: co cn cn •..... \O cn
•..... cn LI"l co rtl ~ Enfim, o oitavo tipo, COC8, está constituído em 80% por "outra condição ". '<
<o
E ~ rtl rtl N ~ '<t
•..... rtl LI"l LI"l cn
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N --: '"'1
\O \O rtl rtl N "'! LI"l la ocupação". Apenas 31 setores censitários correspondem a esse tipo. ~
..:!..
g '" \O ai o
~ A Tabela 5 cruza a tipologia dos setores censitários segundo a condição da ~~
~ o:
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~ N N
•.....
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•..... N N '<t N \O
lCupação por municípios e favela. Diferentemente da Tabela 4 (que apresenta- ..:!..
'"
V>
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\'a a média da distribuição em cada tipo em %), ele apresenta o número de seto- ~
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.:. re- censitários em cada tipo. t:g
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Comecemos examinando a penúltima linha do quadro. A grande maioria ~
Cl
dos setores censitários de favela, no conjunto da Região Metropolitana do Rio {; E
•... cn de Janeiro, pertence ao tipo COC7. Não são menos de 724 setores, ou seja, 56% ~
u \O LI"l co co rtl N LI"l cn
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u •..... o co N
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N
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LI"l dos setores em favela. Apenas 129 setores do tipo COC7 não são de favela, o que .. ~
\O \O •..... co i:)
no leva a considerá-lo como tipicamente característico da favela. .".
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LI"l
\O \O '<t
•.....
LI"l É importante assinalar que 357 setores censitários de favela, ou seja, 28%
.u •.....
'<t '<t do total de setores de favela, estão distribuídos entre os três primeiros tipos-
COC1, COC2 e COC3 - os quais, como vimos, con tam com mais de 50% de pro-
Ln
u
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o ~ N
~ o o \O \O ~ ~ N
o u: N u:
\O \O LI"l LI"l N N '<t prietários da construção e do terreno e um percentual marginal de proprietários
U O) O)
que detém exclusivamente a construção. No tipo COC4 são 176 os setores censi-
co co •.....
tários em favela (14%). Esse tipo, conforme indicado na Tabela 4, apresenta
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u rtl •..... co LI"l '<t rtl '<t \O o
o rtl •..... LI"l rtl
'<t '<t '<t '<t o •..... co menos de 50% tendo como condição da ocupação a propriedade da construção e
u •..... cn N N N
N N do terreno, e 22% de locatários. Nos demais tipos os setores censitários de favela
'"
u
praticamente não se fazem presentes.
\O co LI"l LI"l
o N N N '<t \O
u N \O \O A tabela mostra ainda que a proporção de setores em favela pertencentes
aos quatro primeiros tipos é sensivelmente mais elevada no município do Rio de
u
N
cn cn cn cn \O \O •..... co Janeiro que nos municípios da periferia, sugerindo uma tendência à "normali-
o •..... •..... LI"l o N N LI"l LI"l o •..... •.....
u •..... N
'<t LI"l "'! "'!
zação" que já ocorre no município central, onde as favelas são mais antigas.
Esse resultado converge para o resultado anterior relativo ao nível de equipa-
•..... •.....
Li \O o ~ co
~ co \O
•..... rtl cn
•.....
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•.....
~ mento urbano .
o '<t LI"l LI"l rtl
u N "': N N "'! N LI"l
N N rtl rtl Os dados apresentados na Tabela 4 correspondiam às médias de percenta-
<ti
gem por setor. Vimos que, muito embora certos tipos como o COC7 e COC8 se-
<ti <ti <ti
ãi ãi ãi ãi
<ti
jam caracterizados pela forte dominância de uma só condição da ocupação
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como o COC7 com seu altíssimo percentual em "próprio - só construção"),
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nem por isso tal condição deixa de se fazer presente em outros tipos. É portanto
Conveniente construir uma outra tabela, baseada desta vez não mais na média
de percentagens por tipo, mas em números absolutos (Tabela 6).
A Tabela 6 confirma os resultados precedentes no que se refere à forte con-
Centração em favela (53%) de domicílios cuja propriedade só se aplica à cons-
trução (e não ao terreno). Por outro lado, mostra que o número de domicílios
em tal condição é maior fora da favela do que na mesma: não sendo portanto a
:-e
Q; propriedade somente da construção uma especificidade da favela.
e
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~ <ti
l:: Aparentemente paradoxais - já que a definição oficial de favela até hoje
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pressupõe a ilegalidade e a irregularidade (construções sem licenciamento e sem
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'ü u ....• fiscalização, em terrenos de terceiros ou de propriedade desconhecida) - tais
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~ <ti resultados chamam certamente a atenção. Podem, por um lado, estar indicando
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Vl
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478 479
Tabela 6 'pologiados setores censitários segundo educação e renda~ -1[1_ '.',
~ -Sl
:: J a elaboração dessa tipologia selecionamos duas variáveis referentes aos ~
~ Número de domicílios segundo a condição da ocupação na
~ região metropolitana do Rio de Janeiro - 1991 fesdo domicílio, nível educacional e renda. Consideramos seis modalidades ~
~
"'~
"
níveleducacional e 10 de renda para construir, mais uma vez, uma tipologia t
CONDIÇÃO DA OCUPAÇÃO NÃO.FAVELA EM FAVELA setorescensitários. A Tabela 7 apresenta o perfil médio dos tipos conforme ~
"
{;
~ Próprio - construção e terreno 1.473.470 86.074 \ariáveis utilizadas. 2.:s
g
.~ A Tabela 8 apresenta a distribuição dos setores censitários, fora e em fave- ~
Próprio - só construção 149.678 137.824 '6
~ egundo a tipologia educação e renda. Permite que voltemos à questão que "
Alugado 613.216 26.181 is nos interessa neste artigo, as favelas. g~ ==-'"
.::,>
Cedido por empregador 47.242 384 ~
Cedido por particular 132.303 5.789
"
Ipologia dos setores censitários segundo a educação e a renda:
Outra condição 16.938 1.797 perfil médio dos tipos na região metropolitana do Rio de .
Janeiro- 1991 (EM %)
o pouco que conhecemos sobre a origem da ocupação de áreas de tipo favela.Le RED1 RED2 RED3 RED4 REDS RED6 RED7 RED8 RED9 TOTAL
( 1969) já alertava para o fato de muitas dentre elas em sua origem serem lo
mentos ou áreas de ocupação regular, com seus donos "comandando" ou au! instrução ou com menos de
2,0 1,6 4,2 9,320,9 18,4 21,5 27,4 11,2
zando a "invasão". Os dados podem, por outro lado, também estar reveland
tendência, já em curso há algum tempo, de regularização da ocupação de t
-ano de estudo 1,8
2,8 3,4 3,5 8,2 14,0 21,1 19,5 19,0 22,9 16,3
áreas. Vale lembrar que no Rio de Janeiro, diferentemente de São Paulo ond 7,1 12,6 16,0 29,8 39,0 39,3 38,8 36,7 34,5 38,1
nos anos 70 o fenômeno favela vai se desenvolver em larga escala [Tascbn
(1997)], temos assistido a uma sucessão de experiências no sentido de reglll .6,5 10,8 13,8 19,4 19,3 12,8 14,3 13,0 10,1 17,1
zar a posse da terra nas favelas. Os casos mais conhecidos são: Guararapes, 21,927,7 34,1 27,4 15,2 4,9 7,7 8,0 4,3 14,5
experiência remonta aos anos 70, época da Codesco [Bohadana (1983)]; P
grama cada Família um Lote, implementado durante o Governo Brizola;Pr . ou mais anos de estudo 60,0 43,5 30,9 11,0 3,2 0,9 1,3 1,8 0,8 2,8
Rio, na área do complexo de favelas da Maré, já por iniciativa do BNH[Pog"i 2,7 1,1 0,5 0,4 0,3 0,4 0,4 0,4 0,4 0,3
(1985); Valladares et a/ií (1986)]; e, enfim, a experiência da Pastoral de Fav
2,0 2,5 2,3 3,2 4,2 6,0 6,8 7,1 6,6 4,2
com a forte atuação do seu departamento jurídico [Carvalho ( 1991)l.
Note-se também que o percentual de domicílios alugados é relativam
0,3 0,9 1,4 4,0 3,8 1,9 7,6 18,8 39,3 7,4
baixo nas favelas (10%), enquanto atingem 23% na média geral.
de 1/2 a 1 salário mínimo 1,3 3,2 3,8 9,7 15,5 11,8 29,0 26,9 25,1 20,4
3 - Unidade ou diversidade social? de 1 a 2 salários mínimos 4,2 7,4 8,9 18,2 29,4 47,5 28,9 22,6 15,8 26,9
< Renda e educação são os indicadores mais usados no estudo da desigll de 2 a 3 salários mínimos 3,7 6,8 9,4 15,4 18,3 18,5 13,3 10,9 6,4 15,9
de social quando se trabalha com o Questionário 1do Censo. II Embora dea de 3 a 5 salários mínimos 4,0 14,0
5,3 11,3 16,6 20,4 16,4 10,0 9,1 7,8
ce limitado, tais indicadores permitem uma leitura dos diversos setores cen
rios segundo seu perfil socioeconômico. de 5 a 10 salários mínimos 14,6 24,8 31,6 20,6 9,7 3,4 4,0 4,2 1,9 8,7
de 10 a 15 salários mínimos 15,6 16,9 13,8 5,1 1,6 0,4 0,6 0,7 0,4 1,4
de 15 a 20 salários mínimos 12,0 9,7 5,9 1,6 0,5 0,1 0,2 0,2 0,1 0,4
11 No estudo da desigualdade social pode-se também trabalhar com outra variável descrilL
categorias socioocupacionais. Neste caso, torna-se necessário lançar mão do QuestionáriO::' j sde20 sa I"
anos mínimos 5,5 1,4 0,4 0,1 0,2 0,3 0,1 0,4
38,3 15,5
so que não tem representatividade em nível de setores censitários. Para uma análise a parnfl
tegorias socioocupacionais. remetemos a Preteceille e Ribeiro ( 1999) e Ribeiro e Lago ( 199
481
mais pobre, nem entre os dois tipos mais pauperizados. A assimilação dos espa- '"
s pobres às favelas tampouco fica comprovada, pois em nenhum dos quatro ~
tipos mais pobres do que a média a maioria cios setores se encontra em favelas :;
onforme a Tabela 8, as percentagens cios setores em favela em cada tipo são as ~
~uintes: RED6, 47%; RED7, 27%; RED8, 20%; RED9, 40%). Concluindo, mais I
da'metade dos setores mais pobres do que a média se encontra fora das favelas. t
Se em nenhum dos -tipos RED as favelas são predominantes, isso sugere. ~
!::
ua similitude (do ponto de vista das variáveis descritivas analisadas) com ou- c
nos tipos de espaços populares mais populosos. As variáveis renda e educação ~
não deixam transparecer a especificidade das favelas, contrariamente às outras il
.!;l
\ariáveis analisadas no nível do setor censitário. ~
"'"
--
caracteriza pela forte predominância da propriedade apenas da construção.
Há, assim, evidências de uma certa diversidade quanto ao nível social das fa-
velas. Não se trata de uma diversidade espetacular e sua presença nos tipos su- - Valeressaltar aqui o estudo pioneiro de Machado da Silva (1967) que chamou a atenção nos
periores é quase nula (dois setores no Tipo 2, o que pode ser um erro estatísti ano 60 para a diversidade social presente na favela carioca. Naquela época a presença de uma "bur-
a ser verificado). No entanto, um percentual nada negligenciável encontra- Slafavelada", que então controlava os recursos como água e luz na favela, além dos cargos nas
CX:açõesde moradores, já se fazia sentir. Também vale mencionar o livro de Pino (1997), que
acima da média, superior, aliás, àquele encontrado no tipo mais pobre denlT 1'iamIna o mercado de trabalho e as ocupações nas favelas da Praia do Pinto (hoje extinta), Brás de
todos, o RED9. Outro aspecto a ser sublinhado é que, contrariamente à imag~jl na e Jacarezinho nos anos de 1940 a 1960. Os estudos recentes que tratam da composição social
generalizada, as favelas não se encontram maciçamente reagrupadas no li moradores tendem a reduzi. los a dois grupos: trabalhadores e bandidos ou traficantes.
482 483
-.-..'""----,...-;;; No entanto, perto de 30% dos setores em favela estão em espaços caracterizad das favelas. Essas, aliás, não são áreas tão distintas das demais áreas da cidade '"
~ pela predominância da propriedade tanto da construção quanto do terreno. N quanto se pensa (sobretudo se comparadas com outros espaços pobres, como os ~
il vamente aqui temos um perfil idêntico ao de uma "urbanização regular". loteamentos da periferia metropolitana). E os pobres que residem nas favelas :;
i'I
1; c) No caso do perfil socioeconâmico, a grande maioria dos setores em fa\ _ não são todos iguais, revelando a presença de desigualdades dentro da pobreza. ~
~ la está abaixo da média quanto à renda e à educação; mas tais setores se distri- Num momento em que as políticas sociais se tornam cada vez mais focalizadas, I
ia
~ buem nas quatro modalidades diferentes da tipologia encontrada abaixo da tais resultados nos parecem importantes de ser assinalados: políticas exclusivas t
1 média, sendo proporcionalmente menos numerosos nas duas modalidad para as favelas, quando o universo da pobreza é muito mais heterogêneo do que ~
~
~ mais baixas. É interessante notar que 12% dos setores em favela estão ligeira. se supõe? ~
mente acima da média. Foi o estudo do conjunto do espaço sociaL e não de uma parte dele, que nos ~
d) Nessa diversidade irredutível da situação das favelas ficou claro que o permitiu ver o real lugar das favelas no espaço metropolitano. Vale ressaltar 1
município do Rio de Janeiro é o lugar onde mais se constata a proximidade da mais uma vez que o método aqui utilizado foi o de mostrar a diversidade entre {l
caracterização urbana e social dos setores em favela com os demais setores d setores censitários de favela e não-favela na região metropolitana do Rio de Ja- -.:
município. Posteriormente, a pesquisa irá verificar se esse contraste entre o mu- neiro. Nossa intenção, em trabalho subseqüente, é continuar trabalhando com
nicípio central e os demais municípios da região metropolitana procede devido elOres censitários, restringindo- nos num segundo momento somente àqueles
à maior antiguidade das favelas no Rio de Janeiro ou devido às característica de favela, para verificar o grau da diversidade ou não entre as favelas identifica-
da situação dessas favelas na estrutura urbana; ou, ainda, devido aos efeitos di- das pelo IBGE e o grau da diversidade ou não encontrado no interior de cada fa-
ferenciados das políticas urbanas. vela.
2) Quanto à comparação entre as favelas e o restante da urbanização, pu- Finalmente, vale lembrar que a definição do IBGE para favela deve ser re-
demos constatar uma série de resultados bastante interessantes: vista e alterada. Mas mesmo assim permitiu percebermos importantes diferen-
a) Se o baixo grau de equipamento da maioria dos setores de favela corre. ças e semelhanças entre as áreas que são ou não são de favela.
ponde a um perfil típico (URB4), 1/3 dos setores desse mesmo tipo está fora da
favelas. E o número total de setores fora das favelas que têm um nível de equi- Bibliografia
pamento tão ou mais baixo que as favelas corresponde ao dobro do número t
ABREU,M. Reconstruindo uma história esquecida: origem e expansão inicial
tal de setores favelados.
das favelas do Rio. Espaço & Debates, São Paulo, v. 14, n. 37, p. 34-46, 1994.
b) A condição da ocupação não é, tampouco, muito discriminante (com
seria de se esperar). Se considerarmos a condição mais típica das favelas - pr . E. (org.). A cidade é nossa. Rio de Janeiro:
BOHADANA, Codecri, 1983.
priedade somente da construção - constatamos haver mais domicílios ne
BRASILEIRO, A. M. et alii. Extending municipal services by building on local
condição fora das favelas do que nas mesmas. O traço mais específico dos seto' initiatives: a project in the favelas of Rio de Janeiro. Assignement Children,
res de favela a esse respeito é a baixa percentagem de locatários (10% contf n. 57/58, p. 67-100, Unicef, 1982.
23% no conjunto).
BRIITO,A. L. N. de P. Les modes degestion des services d'eau et d 'assain issement à Rio de
c) As características de renda e de educação não distinguem as favelas do Janeiro (1975-1986): logiqU;! technico-seetoriel!e nationale vs logiques politiques
demais bairros populares, muito embora as situações de maior pobreza e n- locales. Nouveau Régime, üniversité de Paris XII - Vai de Mame, Institut
contrem majoritariamente fora da favela. Comparando as favelas com o re tan- d'Urbanisme de Paris, 1995,518 p. (Tese de Doutorado).
te (como costuma fazer a maioria das pesquisas), essas são mais populare ql
a média do conjunto da região metropolitana do Rio de Janeiro. Por outro lad BRONSTEIN, O. De cima para baixo ou de baixo para cima? Considerações em torno da
oferta de um serviço público nas favelas do Rio de Janeiro. VI Encontro Anual da
se se comparam as favelas aos outros bairros populares, elas não aparec I Anpocs, Friburgo, 1982, 38 p.
como espaço específico.
Há, portanto, que ter cautela diante da associação que vem sendo feita, ca. BURGOS,M. B. Dos parques proletários ao favela-bairro - as políticas públicas
nas favelas do Rio de Janeiro. In: ZALUAR, A., ALVITO,M. (orgs.). Um século
vez mais freqüentemente, entre favela e exclusão social. Os dados e as tipolo!!la
defavela. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1998.
que construímos mostram que não podemos, de modo algum, assimilar favela
espaço de exclusão sociaL uma vez que estas não se distinguem assim tão [of! CARVALHO,E. O negócio da terra: a questão fundiária e a justiça. Rio de Janeiro:
mente, e que as situações de pobreza urbana extrema são mais freqüente f UFRJ, 1991, Il9p.
484 485
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Elisa P. Reis*
1 . Introdução
Pobreza e desigualdade são temas tradicionais das ciências sociais, embora
noBrasil os economistas pareçam às vezes mais preocupados com essa questão
do que os sociólogos, antropólogos ou cientistas políticos. Poder-se-ia buscar
justificar isso argumentando que a economia está mais próxima às questões de
formulação de políticas sociais, uma vez que estas envolvem opções quanto à
aplicação de recursos escassos. Contudo, não é fácil explicar por que a pobreza e
a desigualdade são relativamente negligenciadas nas outras ciências sociais, já
que - além da indiscutível dimensão ética - colocam questões teóricas tão
centrais em nossas disciplinas.
Como não se perguntar, por exemplo, sobre os fundamentos da solidarie-
dade social em sociedades que exibem níveis de desigualdades tão acentuados
comoa brasileira? A pergunta clássica da sociologia, "o que torna possível a so-
iedade?", é inevitável quando se observa que as experiências de vida de dife-
rentes setores da população são tão discrepantes e muitas vezes incomensurá-
'eis. O que é que preserva o status quo? Como e por que uma dada ordenação so-
ial se torna aceitável ou legítima? Parece bastante claro que a capacidade de
empatia decresce significativamente à medida que nos diferenciamos social-
mente do outro. Isso explica, embora não justifique moralmente, por que as tra-
édias e vicissitudes que abalam a classe média repercutem muito mais na mí-
.ia que aquelas que vitimam as classes baixas. Se há baixa capacidade de empa-
la entre setores muito díspares da sociedade, como se resolve a questão da coo-
ração?
É preciso reconhecer que grupos desprivilegiados têm, sim, sido objeto de
JnUitaatenção nas ciências sociais brasileiras. Entretanto, meu argumento aqui
489
488 iaiscoma uma dimensão explicativa central. Na sua perspectiva, somente
'C; é que, salvo notáveis exceçõe t f "ndo as dites viram vantagens na coletivização de soluções a pcoblemas soei - ~
Jj ter mais sistemático s'. en: altado maior empenho n
~ tre
a análise da formul en.- o: CIentistas sociais. Tem sido tam~: estud~s de a jSé que o poder público tornou-se o agente natural na provisão de "bens de ci- .~
.li análise de como g'ti a~ao e ,mplementação de políticas soeia~mneg1<g,"ci.
dania" como educação, saúde e previdência. ~
~
{; za e a desigualdad e.p s e setores particulares vivenciam e' m t erpretam
s, aSSll11
acomb a Oque o estudo citado revela é que, enquanto os membros das elites acre di- "~'"
'" No u d' { ])0 r aval11 que podiam proteger-se individualmente das calamidades e incertezas, ~~
~ . q e IZ respeito a esse últi . enhum incentivo existiu para a coletivização de soluções. Quando, porém, â
l!' mUItos estudos de caso di ,. mo tipo de preocupação é v
~ vham, em última instân~ia°7:~'" entee nós sober estmtégi;s de~~~,~:.'~~' . lentificaram situações em que a proteção individual era ineficiente, como no ~
asodo cólera, descobriram as vantagens ou a necessidade de soluções cole ti" ~'G
:i~:r~~:l~:i~aãç~edsinere~te; ~os ~:;ul~~/~:~:s~,;~J~:tpã~addapobre~a. C;I~~:;d
, a teona nao s esconslderaç d \as. Inicialmente, eles próprios ensaiaram medidas de saneamento e prevenção
;;:-
'ª'
~7:'~ ~speetos nneiais da' pcoble~~t7~:a~~g,and~ acúmulo de con1<'ei:::;OI; dedoenças. Contudo, diante do problema crônico de "aproveitadores" indivi- ~
p slçao de interferir na realid d ~uestao. Curiosamente a ' . duaisdo esforço coletivo, as elites européias viram no Estado nacional o agente
oletivoadequado para assegurar a colaboração compulsória dos indivíduos
~~:~~~:~ei~~~~~::o é, a iden tifi:a~ã~:7:t~~~ ~~;;,v~~'::e:t~náli" ma's ,;;;;~:"
ai d' eCImento gerado No d' o se confunde com viatributação) e a própria provisão dos serviços sociais.
n~' a 7a1s es~assas as análises disp~nívei~~e l~ r~spe~to à desigualdade, ã . Oestudo histórico de De Swaan e a observação impressionista que as elites
ave exceçao de alguns poucos es ora o ambrto da economia Com doTerceiroMundo têm uma percepção da pobreza diferente daquela das elites
~:~~ra;a .de pesquisa mais amplo qu~~~~~eS~bre ebstratificação, falta-~os lUI européiasà época da implantação das políticas nacionais de welfare inspiraram
e eSlgualdade. uz so re a dinâmica das eSlfutu- oprojetode pesquisa comparada que desenvolvo no momento com três colegas
uropeus.A pesquisa está em fase avançada no Brasil, na Índia, em Bangladesh
Mais surpreendente
bre com _ . d a, nao
am - existem ent '
guald da os nao-pobres e particularmente as r re nos estudos sistemáticos s - cna Áfricado Sul, e é possível que outros dois ou três países em breve venham a
dad ~ ~. Mesmo nos países mais próspero e Ites percebem a pobreza e a de i- r incorporados ao estudo.
[H' a. em de alguns estudos clássicos s essa questão é pouquíssimo e lU- Nocaso do Brasil, eu mesma já tinha realizado uma pesquisa sobre o tema
Immelfarb ( 1991)], contamos com a' mas e.scassos, para o caso da Inglaterra queacabou funcionando como uma espécie de estudo exploratório para a con-
os Estados Unidos e, como desd b pesqUIsa de Verba e Orren ( 1985) sob duçãodo projeto comparado. Nessa primeira pesquisa, analisei por meio de um
Verba
s b et ali'I (198 7) acerca da visãoo das
ramento
elit ddela ' com a análise comparadal lveya cultura política de quatro amplos setores da elite brasileira: políticos,
o re o problema. es os Estados Unidos, Suécia e Japã burocratas, líderes empresariais e líderes sindicais. I Trabalhando com uma
amostraaleatória de 320 casoS, examinei uma série de questões sobre atitudes e
na form A questão
_. edaImplementação
visão d as e rrtes não pode ser b .
u Iaçao de pol't' su estimada, pois o papel deI, alorespolíticos básicos diretamente referidos a questões de justiça e igualdade.
que _ por qu es t"oes mteresseiras
. ou ltI Icas ' sociais é' mquestlOnavel.
., A men Noestudo comparado que desenvolvemos agora, optamos por uma análise
como necessá na . ou d esejável esta nãoa t rUIstas' h - ela s percebam uma políti a eada em entrevistas abertas com um número muito menor de pessoas em
os tendem
• a n egar essa centralidade
' d eraI' c ance de ser Imp . Iementada. UI- da um dos países envolvidos. Por outro lado, os setores de elite considerados
t
pre, .f erencias af .
etlvas. Entretanto ash e Ites em no d . ,.
me e pnnCIplOSmora . ram ampliados para incluir, além dos quatro já referidos, as elites militares,
tegICasen 1 processos decisórios e' recon d' ecer que ertI es ocupam posições etra- T Iigiosas,intelectuais e outras. Enquanto, na primeira pesquisa, restrita à elite
. d/ elas [Etz'10m_ . Halevy ( 1983) ]. que etem poder d e fato não implica a dde ra ileira, a amostra do survey teve escapa nacional, no estudo internacional
mparado preocupamo-nos também em buscar eventuais diferenças entre eli-
tânci Reconhecer .a atores
a d os demaiS
im portancla
•.
sociais das
O elites tamb' em nao
- slgmfica
. . negar a iml regionais. Assim, no caso do Brasil, selecionamos para fins de pesquisa os
te, reativo às pressões e ações vind~omdpObrt.amentodas elites é, em grande! lados do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Ceará.
como as elit es reagem, suas ações es . e alxo " ._Com o quer que seja, a mane. Em cada um desses estados realizamos entre 15 e 20 entrevistas. Tanto no
~ne, entender a dinâmica das desig 'I~a~oes sao aspeetos centeais quando tlrvey como no estudo qualitativo a seleção dos representantes da elite atendeu
ater a pobreza e reduzir as de' ula a es e/ou identificar maneiras de co
slgua dades
o S~II:ey em queslão foi desenvolvido como parte do projeto "Elites estratégicas e consolidação
. Em estudo clássico sobre a emer' .' ~cral1ca", desenvolvido por um grupo de pesquisadores no Instituto Universilário de Pesquisas
sOCIalna Europa, De Swaan (1988) . genCIa de políticas nacionais de bem-eeIl1 r
VIU a percepção das elites sobre os probl
o de Janeiro (Iuperj) no período 1993- I 995.
490 491
a um critério institucional. Isto é, selecionamos indivíduos que OCupavam d _ de problemas sociais constitui o desafio mais sério enfrentado por
lue a agen d a
1 terminadas posições dentro de instituições previamente definidas. Embora seja
, .
f ' I'1 ordem democratlCa. _
g inevitável uma forte dose de subjetivismo no discurso de indivíduos, a opçà nossa rag , ' d m democrática, é significativa a concentraçao de
~ por posições institucionais e pela comparação internacional cumpre o papel d Quanto as ameaças a or e b' nI'vel educacional da população, da po-
das em torno d o aIXO ,
t" relativizar as idiossincrasias dos discursos individuais. respostas centra recem recorrentemente no dISCurSO
breza e da desigualdade. Esses asp~ctos ap~ões fechadas do survey de 1993/94,
~ Uma terceira fonte de informação utilizada para identificar a visão das eli.
g~ tes sobre pobreza e desigualdade foram as matérias assinadas sobre tais que . aberto das elites e nas br~sP10s~~~ea~p~u~;resposta se destaca também q~ando
.
~ tões publicadas em jornais de grande circulação. No caso do Brasil, minha equi- como se pode v<:rna T.a e ~re' as rincipais ameaças à democracia, mas. SIm s~-
pe trabalhou com uma ampla amostra que incluiu dois jornais de grande circu. perguntamos nao ~aI.s s~ p as nacionais. Neste caso, apenas a mflaçao
bre quais são os pnnCIpaIs problem .' como mostra a Tabela 2. Somados,
lação em cada um dos quatro estados selecionados, durante um período de cin. . o que os problemas SOCIaIS, , ,
co anos (1992/96). No caso dessa fonte de informação, interessa sobretudo obteve maIOr pes 'd b a e a desigualdade constltUlam
os problemas da educação e da sau e, a po rez
identificar o tipo de argumentação ideológica invocada para justificar ou negar
o status quo. quase 40% das respostas. . . . . _ na sua visão, os principais pro-
Uma vez que as elites IdenufIcam quaIS sao, f 't para combatê-los? A
As entrevistas em profundidade com setores da elite brasileira estão quase .' I acham que deve ser el o
concluídas. As informações provenientes das entrevistas feitas na África do Sul
blemas naCIonaIS, ~ue? e a.s . , , médio razo para o país pode ser vista
identificação de objetIvos pnontanods a Prgunta O que deveria ser feito?
e em Bangladesh já estão disponíveis. Nesse estágio preliminar já é possível como uma forma indireta de respon er a essa pe .
identificar convergências e divergências interessantes entre as elites brasileiras
e entre elas e as outras elites nacionais. Entretanto, trata-se de resultados parciai , Tabela 1
e por isso as análises que se seguem têm caráter meramente exploratório.
Principais obstáculos à democracia no Brasil segundo as elites
Na primeira parte deste artigo vou me concentrar na análise de percepçõe
%
compartilhadas pela elite brasileira, utilizando para tanto as três fontes de in- OBSTÁCULOS
formação de que disponho: o survey original, o material de imprensa e as entre- 24,1
Baixonível educacional da população
vistas em profundidade. As entrevistas do survey foram realizadas há bastante
23,4
tempo ( 1993/94), mas esse problema foi pelo menos parcialmente contornado Altos índices de pobreza e desigualdade social
com a exclusão das informações que dizem respeito à conjuntura de então. 1 a 15,8
Ausência de tradição partidária
verdade, grande parte das questões refere-se a valores, atitudes e visões de 10,4
. .
CorporativIsmo de grupos e s etores da sociedade
mundo cuja estabilidade no tempo é muito maior. É também importante salien-
tar que as entrevistas em profundidade realizadas recentemente tendem a cor- 6,0
Incompetência dos governantes
roborar as informações do survey. Passarei em seguida a uma comparação entre 5,4
Falta de organizações políticas populares
as elites brasileiras e aquelas de Bangladesh e da África do Sul no que diz respei-
4,7
to à percepção das questões relativas à pobreza e à desigualdade. Concluirei, en- Egoísmo das elites
tão, com uma breve referência às possíveis implicações das visões em pauta 3,8
C1ientelismo político
para a formulação e implementação de políticas sociais.
3,2
Concentração de poder no Executivo
1,3
, 2 - A visão das elites brasileiras Altas taxas de inflação
1,3
Tanto no survey como nas entrevistas em profundidade, chama a atenção, Empobrecimento da classe média
de imediato, a grande importância que a questão da pobreza e da desigualdade 0,6
Recessão econômica prolongada
parece ter para nossas elites. Seja em termos absolutos, seja em termos relati- 0,0
vos, questões dessa natureza se destacam. Assim, por exemplo, interrogadoS ~eaça de intervenção milítar
sobre quais os principais problemas do Brasil, nossos entrevistados tendem a Total 100,0
(n = 316)
conferir prioridade a questões sociais. Da mesma forma, quando indagadas so-
bre as principais ameaças à democracia no Brasil, as elites tendem a acreditar
"
492 493
. '.""."'- ---- Tabela 2
~ a3
~ Principais problemas nacionais segundo as elites "ncipaisobjetivos nacionais a médio prazo segundo as elites
1:
~<::
~
PROBLEMAS
,--. %)
~
~
l::'
Políticas prioritárias no combate à desigualdade segundo as
fata~~~~~. Na visão ias
próprias elites o Estado é o grande.culpado, .como se ve
lO: frei b la 5. A maior proporção de respostas refere-se ao nao cumpnmento d~s
;:: elites (EM %) na a e .. d Estado (260/<)Os empresários são, naturalmente, os que maIS ~
~ funçõesSOCIaISo o . , b' bastante ex ;::
t INICIATIVAS TOTAL
e o roblema deve ser creditado ao Estado. Mas e tam em ,. - ~
(1)
~"" (2) (3) (4)
a~~:s~~;~pr~porção daqueles que responsabilizam a falta de vontade pobtlca: ~
'"
::;; Promover a reforma agrária
g 31,1 35,3 32,6 6,8 53,8 P O adrão de respostas mais comum entre as elites suge:e. que elas acredI- ~
~ Aumentar a eficiência dos serviços tam q~ as coisas poderiam mudar se houvesse vontade polltlca e se o Estado ~
públicos 16,4 21,6 17,4 21,6 6,3
I~
Desregulamentar a economia
13,4
10,2
7,8
5,9
14,0
4,7
26,1
26,1
2,5
U
Tabela5 I
Explicações para o fracasso de políticas sociais segundo as elites
Tornar a .tributação da renda mais
progressiva 9,5 11,8 12,8 9,1 (EM%)
5,0
(4)
Expandir os gastos sociais 8,5 9,8 10,5 5,7 TOTAL (1l (2) (3)
8,8 RAZÕES
{i
~ ridad~ conferida à filantropia no Islamismo diferenciaria Bangladesh do B
'
am nl com mais destaque para justificar a necessidade de combater a po- ~
" e da Africa do Sul. Por outro lado, podemos supor também que a debilidade aparece .' d ç' o para '"
f estruturas estatais em Bangladesh, por oposição às estruturas consolidada r za,Até mesmo a prioridade conferida aos mvestlmentos ~m e uca a. . _ a
ombater a pobreza tem, entre a elite de Ba~gl~desh, uma ~nterpretaçao dlS ~
autoridade pública no Brasil e na África do Sul, tornaria imprescindível o p,
ela dominante entre as elites brasüeua e sul-afncana. Enquanto, \:l
do terceiro setor. nta daqu . d' I . strumento 'a-
raessas últimas, a ed ucação é percebida pnmor . la mente como m ._ e-
Deve-se notar, aqui, que quando as elites nacionais comentam sobre la mobilidadesocial, por significar maiores oportumdades no m~rca~o, p.ara a p~ ~
questões elas falam tanto de suas preferências normativas quanto de avalia . educação aparece sobretudo como instrumento de consClentlZaçao,mobl-
objetivas sobre quais seriam os atores mais capacitados a combater a pobrez e~:oaeassociativismo. Uma vez mais, essa peculiari.d~deda elite de Bangladesh
Q1derdizer, comparações implícitas entre iniciativas do Estado e iniciativasda de ser vista tanto como expressão de um etos rehglO~o quan~o como reflexo
ciedade civil sempre mesclam dimensões cognitivas e normativas. No casod magnitude e relevância do terceiro setor naquela sOCledade:~ de se observar
elites brasileiras e sul-africanas, observamos não apenas uma desconfia0 ul', no caso dos outros dois países, argumentos não-e~onom~Cl.stasem. defesa
quanto à eficiência e à regularidade das iniciativas voluntárias, como tamb In políticaseducacionais são freqüentes apenas entre ehtes rehglOsas e hderan-
uma clara adesão à crença que atribui à autoridade pública a obrigação mor
de movimentos sociais.
pela condução da política social. Naturalmente, há exceções a essa visão rnl
Asobservações anteriores sugerem que, em muitos sentidos, a,:;elites nos
as elites de ambos os países. Entretanto, no contraste que se observa com a clJ-
tes de Bangladesh fica bastante clara a predominância, entre aquelas, da vi a í e menos desenvolvidos atualmente parecem ter uma p~r~epçao d~s pro-
pró-Estado na condução da política social. lemas sociais que as circundam bastante diferente daquela tlplCadas elItes eu-
péias,que optaram por investir em soluções coletivas para ~ombater a p~br~~
Há também diferenças dignas de nota entre as percepções das elites bra i. ,1 Issoquer dizer que essas elites não parecem reconhecer a mterdependenc
leira e sul-africana. Por exemplo, no Brasil, o reconhecimento da questão da i teote entre elas próprias e os setores pobres da populaçã?, .neo: tampouco
trema desigualdade é central no discurso das elites. Todos se referem à nos a li- arecemabsolutamente convencidas da necessidade de coletlvlzaçao das so~u-
derança no ranking mundial da desigualdade, fato avaliado como "lamentável c ociais. Quando atribuem ao poder público a responsabilidade ~e ~oluClo-
"vergonhoso" e outras expressões negativas. Mesmo que um contingente ar problemas, fazem-no, com freqüência, como um modo de se eXlmuem de
pressivo dos entrevistados tenda a subsumir o problema à questão da pobreza . -
bngaçoesSOClalS. . . Por outra parte, quan d o ch am am a .,.
SI'a tarefa .de buscar solu-
quando fala de medidas de política não há dúvida de que a desigualdade é anl- . , ,essas são pensadas quase sempre como soluções mdlV1du~l~,excluden.tes.
pIamente reconhecida.
im, por exemplo, na questão da segurança: o recurso ao pohClamento pnva-
Já na África do Sul as elites tendem a minimizar a desigualdade socialre - é uma clara indicação nesse sentido.
lada pelas estatísticas. Com freqüência elas observam que existem sociedad Mesmo quando as elites reconhecem que investiment~s sociai: ?odem ter
muito mais desiguais que a sua, referindo-se, a título de exemplo, a paíse' qtl itos benéficos ao mercado, não parecem conectar tais beneflClos a seus
objetivamente, no ranking estatístico, ocupam posições tão ou mais elevad
quanto a de seu país.
Mas, se a percepção da desigualdade é variável entre elites no Brasil e n ~e.se dizer que, de certa forma, as próprias elites dos países mais desen.volvidos t~m hoje ~.ma
-o diferente da uela que levou à implantação do Estado de bem-estar ~oClal. Quer dizer, as e I~es
África do Sul, também é verdade que a desigualdade de fato existente no d i hoje não se tê;; mostrado tão sensíveis à interdependência entr~ os dlferen~es setores d~ so~~~-
casos faz com que a insegurança e a ameaça da violência sejam vistas como e como o foram à época da coletivização dos problemas de saude, educaçao etc. Atua me ,
principais fatores a exigir que algo seja feito para combater a pobreza e a de ~ ndo pressionam o Estado por menos taxação e menos investimçntos em welfare, elas parecem
ar reCUando para uma percepção muito mais individualizada dos p.roblemas d~corr~ntes da po.
gualdade. Uma vez mais essa percepção contrasta bastante com a visão da' li' a e da desigualdade Mais ainda no mundo globalizado em que Vivemos, se na mais ou menos
tes de Bangladesh. Entre essas últimas as questões relativas à segurança pes o rável que elas perc~bessem os p'roblemas sociais dos países mais pobres como problema~ que
ao respeito à propriedade privada e à violência não são imediatamente atrelad Iam sua própria sociedade. No entanto, se se reconhece q~e os pro.blemas acarr~tados peloe ev:~
nuxo de imigrantes têm raízes na pobreza dos países de ongem, nao se segue dai uma clara opç
aos níveis de pobreza e desigualdade existentes na sociedade. As elites tend U soluções sociais internacionalizadas.
500
_----
~,~ ...
políticas de com~ate à
~ interesses imediatos. Assim, por exemplo, embora as elites brasileiras ll1'/) desigualdade e a pobreza
E nem com freqüência que mais saúde e educação melhoraria a qualidade do
'Q
li balhador e com isso poderia beneficiar tanto o empresário como os consll'!lli no Brasil: marcos de
~ res, esse argumento genérico não parece repercutir sobre os interesses pan0
""
avaliação e, d.::senho de
iS.. lares das elites econômicas.
"
Ou melhor, elas não reconhecem diretamenr políticas publicas
~ pertinência de cooperar nessas tarefas.
~
~
.::> Pode-se argumentar, acertadamente, que a visão das elites sobre como n-
~ frentar os problemas decorrentes da pobreza e da desigualdade é afetada Capítulo 18 ,
sua percepção da capacidade do poder público para levar à frente políticas sacia' políticas estruturais de com~ate a
Como quer que seja, o que interessa ressaltar aqui é que a maneira como a li. pobreza no Brasil Marcelo Nen
tes representam a pobreza e a desigualdade tem conseqüências tangíveis sob Capítulo 19 , .
as formas concretas como as sociedades respondem a esses problemas. Combinando compensatorlo e ,.
redistributivo: o desafio. das pohtlcas
Feitas essas observações, resta-nos concluir que se bem seja tão difícil arr .
sociais no Brasil Lena LaVlnas
• gimentar apoio para implementar políticas de combate à pobreza e à desigual-
dade, é ainda com o recurso à persuasão e/ou à coerção que é preciso contar para Capítulo 20
alterar resultados de mercado que nos pareçam inaceitáveis por questões éli O seguro-desemprego no contexto do
sistema público de emprego e o seu
ou pragmáticas. Parece ser possível concluir também que se identificarmos a
papel no combate à pobreza no caso
motivações das elites será mais fácil assegurar sua adesão. Se pudermos identi. brasileiro José Paulo Zeetano Chahad
ficar que argumentos sensibilizam os interesses desses atores teremos expandi.
Capítulo 21
do nosso conhecimento de forma a precisar melhor que tipo de incentivos el _
políticas voltadas para a .p~breza:
tivos podem ser administrados para fomentar a cooperação ou pelo meno
o caso da formação profiSSional
aquiescência das elites.
Eduardo Luiz G. Rios-Neto /
Ana Maria H. C. Oliveira
4 - Bibliografia Capítulo 22
A eficiência do Plano Nacional de
DE SWAAN,A. In careo/the state. Health care, education and welfare in Europeand ( Qualificação Profissional como
USA in the modem era. Cambridge: Polity Press, 1988. instrumento de combate à pobreza no
Brasil: os casos de Pernambuco e
ErzloNI-HALEVY, E. The elite connection. Cambridge: BlackweIl, 1983. Mato Grosso Alexandre Rands Barros /
Sandra Correia de Andrade /
HIMMELFARB,G. Poverty and compassion: the moral imagination o/the late victorians
Nova York: Vintage Books, 1991. Roberto AcciolyPerrelli
Capítulo 23
VERBA, S. et alii. Elites and the idea o/ equality. Cambridge: Harvard Univer-il. Impactos da distribuição da terra sobre
Press, 1987.
a eficiência agrícola e a pobreza no
Nordeste Ricardo Paes de Barros /. .
. ~ VERBA, S., ORREN, G. Equality in America: the view /rom the topo Cambridgc: Rosane Mendonça / Priscila Pereira Dehberalh /
Harvard University Press, 1985.
Cristiana Lopes
Capítulo 24
A focalização do gasto social sobre a
po b reza no Brasil
. Joachim von Amsberg /
Peter Lanjouw / Klmberly Nead
Capítulo 25 • "
Focalização dos gastos públicos s~lclals
e erra d"Icaça" o da pobreza no Brasl
RicardoPaesde Barros/ MiguelNathan Foguel
,'..c/-,
Políticas estruturais de
combate à pobreza no
Brasil
Marcelo Neri*
1 - Introdução
O Brasil é um caso importante para se estudar a pobreza, não somente porque
possui uma grande parte da população pobre da América Latina, mas também
porque apresenta um grande potencial para erradicar a pobreza. O relativamen-
te alto PIE per capita brasileiro, combinado com um alto grau de desigualdade da
renda, gera condições favoráveis para o desenho de políticas redistributivas.
Esse potencial é exemplificado pela alta sensibilidade dos índices de desigual-
dade e pobreza a mudanças em certos instrumentos de política (por exemplo,
mudanças no salário mínimo e nas taxas de inflação). Por outro lado, talvez de-
vido a instabilidades anteriores o Brasil não tenha avançado muito na imple-
mentação de políticas estruturais de alívio de pobreza, indu toras de um reforço
do portfólio de ativos dos pobres.
Um aumento na posse de ativos dos pobres pode ocasionar três efeitos no
nível de bem-estar social: primeiramente, os indivíduos extraem utilidade dire-
tamente do fato de possuir altos níveis de ativos. Isso implica a prática de ex-
pandir as medidas usadas de bem-estar social para incluir a posse de diferentes
tipos de ativos. Esse ponto é especialmente importante na América Latina, de-
vido à sua longa tradição no uso de medidas de pobreza baseadas em renda.
O segundo efeito é que altos níveis de ativos podem aumentar a capacidade
de geração de renda dos pobres tornando-se um condutor potencial para a redu-
ção das medidas-padrão de pobreza. Em termos de políticas de alívio de pobre-
za, deve-se separar as de transferência de renda compensatórias (por exemplo,
programa de imposto de renda negativo, previdência e seguro desemprego) da-
quelas que aumentam a renda per capita permanente dos indivíduos pela trans-
ferência de capital (por exemplo, provisão pública de educação, políticas de
• Da FGV/RJ.
b
504 505
~ micr~crédito e reforma agrária). A avaliação das taxas de retorn .. si!metropolitano. Quando nos mudamos do nível nacional para o Brasil me- ~
~ dos dl~erentes tipos de ativos podem ajudar no desenho de Pol't~ e a U~I11Z politano,a disponibilidade de dados aumenta, especialmente em termos da ~
g de capItal para a redução da pobreza. I ICasde r C sede diferentes tipos de capitais. Essa alta disponibilidade de dados prova- g
~
t .O ~lt,imo efeito do aumento da posse de ativos é o de melhora .. hnente se explica pela distribuição espacial da população brasileira, com 81%
la morando em áreas não-rurais, e pelo baixo custo de coleta de informaçã6
~
â
~ d?s l~dlVlduos pobres em lidar com choques adversos da renda Or: hablhd el ""
1 vlzaçao do consu~o assumido pelos ativos depende da importâ~ci~ efe ~~ I 111 regiõesde maior densidade populacional. Nossa análise empírica e institu-
Ilal será centrada nos segmentos metropolitanos que possuem metade da
]
::
8
.;:> qu~s e de q~anto sao desenvolvidos os diversos segmentos do mercado fi~~s ~
g (at~vos, creditos e segmentos de seguros). Portanto, a avalia ão de ,',nc. pulação urbana. Outra vantagem estratégica do foco metropolitano é a dis- ~
.~
~f~l.t~~equer uma análise das propriedades dinâmicas do proc~sso deS:;n~ltl~1 nibilidade das linhas de pobreza calculadas [Rocha (1993)]. ~
f
m IVI uos p~bres e ~ma avaliação das instituições que condicionam s a ~
portamento fmancelro. eu com-
PARTE 1 .ª
. ~s:e artigo estabelece uma base de pesquisa na relação entre obreza di A pobreza e os efeitos diretos da posse de ativos no ~
~nb~lçao de r~cu~sos e operação de mercados de ativos no Brasil. : estratégia - bem-estar
ana I~~ros tr~s diferentes tipos de impactos que o aumento dos ativos do; )
~:~s, Ja me,nClonados, P?de ~xercer sobre o bem-estar social. O artigo está dl j. 3 . Avaliação de pobreza
~ ~ e; tr~~p.a~tes:a pnmelra avalia a posse de diversos tipos de capital ao lon- Esta seção discute a quantidade de pobres existentes no Brasil, descreve a
g b a Istn Ulçao d: renda. Como ponto de partida, discute medidas-padrão d voluçãotemporal da pobreza e seus determinantes próximos e, finalmente,
po reza,
, . sua "evoluçao temporal e sua composlçao . - transversal (cross-section). O
traçaum perfil de pobreza de acordo com as características do chefe de domiCÍ-
~roPO;ItOpnnc~pal dessa parte corresponde à ampliação das medidas-padrã lio.Esses perfis fornecerão algumas sugestões iniciais sobre os ativos mais im-
e ~ol re~a ?el~ mcorporação dos efeitos diretos da posse de ativos no bem-e tar
sOCla. A portantes a serem observados.
. Idela e de que a falta d e certos ativos
'. pode Implicar uma insatisfação. d
nebcessldades básicas do mesmo modo que um nível de renda abaixo' da l;nha de
po reza. Níveis de pobreza e mudanças
Começaremos analisando a pobreza em nível nacional. Usando dados da
d dA segunda parte do artigo aval"la o Impacto d a posse de ativos sobre medi. PNAD. construímos três índices de pobreza (PO,Pl e P2). Cada um desses índices
as e pobreza baseadas em renda usando regressões logísticas.
foicalculado de acordo com três linhas de pobreza correspondentes a 0,5, 1,0e 1,5
_ A terceira estuda os aspecto s d'ma,.mICos d a pobreza, levando em considera- dosvalores básicos da linha de pobreza ajustada para os diferentes custos de vida
çao o comportamento
..,. do pobre e a per d a d e b em-estar ao lidar com descompa . entreas regiões brasileiras, usando estimativas de Rocha ( 1993). A análise dessas
sos d e a Ita frequenCla entre renda e consumo. novemedidas de pobreza executadas será centralizada na proporção de pobres de
acordocom a linha de pobreza básica (isto é, a segunda coluna da Tabela 1). De
2 - Questões sobre as bases de dados acordocom essa tabela, em 1995 a proporção de pobres (PO) era de 27,7% que,
combinada com uma população de 151 milhões de pessoas, implicava a existên-
Esta. seção oferece uma visão geral das principais bases de dados usada
neste artigo: ciade 41,8 milhões de indivíduos vivendo abaixo da linha de pobreza .
.! Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilios (PNAD) de 1976 1981 1985. Mudanças na pobreza
1990, 1993, 1995 e 1996; , '
A Tabela 1 também apresenta as diferenças percentuais dos níveis de po-
• Pesquisa Me?s~l de Emprego (PME) - Pesquisa de mercado de trabalho brezaentre 1985 e 1995 ajustados para uma taxa de crescimento do PIB percapita
com caractenstIcas de painel rotativo - do período 1980/97' e de 2,09% observada durante o período. Isso demonstra que usando a linha de
• Pesquisa de comportamentos financeiros da Associação Bra~ileira de Crédi. pobreza básica a proporção de pobres cai para 2,74 pontos percentuais, o que
to e Poupança (Abectp) - sobre gastos e finanças dos consumidores - d equivale a 9% em termos relativos. Dada a mudança na distribuição da renda
1987. observada no período, quando pesos maiores são dados para os segmentos mais
, IFoc~lizaremos nossa análise empírica em duas dimensões geográficas: a) Pobresda sociedade, observamos que os índices de pobreza realmente aumen-
nIve nacIOnal', e b) seis pr"mClpals
. . areas
, metropolitanas que serão denominada. taram na década analisada. Para a linha básica de pobreza, o hiato de pobreza
506 507
1,-
Tabela 1
'(;; . danças de pobreza através das diferentes sociedades e diferentes ~
::: eralSdas mu ~
~ Pobreza no Brasil: níveis e mudanças - 1985/95 (EM "lo) l'ríodosde tempo. . . ualdade quando aplicada para as ~
'"
~ P A decomposição cresClmento-des~g nto explica uma pequena parte das 1
{ íNDICES DE POBREZA
~"
~
LINHA DE POBREZA
Nível da pobreza
PERíOQODE
REFERENCIA
PO
O,S
PO PO
1,5 0,5
Pl Pl
1 _
Pl
1,5
P2
0,5
P2 -PI
1.5
P AOSde 1985 e 1995 revela que o cres~~e de pobreza (Tabela I). Para a pro- ';:
n~udançascalculadas nas d~ere~te~~: ~o~~eza básica, o componente de cres- i
] 1985 10,03 30,42 47,01 3,85 11,9721,01 porçãode pobres (PO)usan o a m entual da queda da pobreza. O co~po- ~
,~ 2,36 6,68 12,32
iG
Cl Nível da pobreza 1995
cimentoexplica menos que I ponto perc obreza responde ao dobro do efeito de 'ê
11,0527,6842,71 5,73 12,45 20,10 4,42 8,07 12,78 nentede desigualdade da m~da~,ç~ dad~pobreza. Todavia, esse não é um resul- ~
Mudança total
da pobreza"
crescimentopara nossa me?l.da aSlcarezado componente de desigualdade te.n- iG
1985/95 1,02 -2,74 -4,31 1,88 0,48 -0,91 2,05 1,40 0,46 ladorobusto. O efeito de ahviOde pO.bb' for a linha de pobreza usada e maiOr j~
Componente de breza quanto mais alxa P2) ~
crescimento"
dea aumen tar a po '. b (P I e especialmente, .
1985/95
-0,41 -0,97 -0,87 -0,12 -0,38 -0,54 -0,06 -0,22 --0,36 foro peso atribuído aos mais po res ,
Componente de
• desigualdade" 1985/95 1,48 -1,67 -3,60 2,00 0,80 -0,44 2,11 1,58 0,77 Perfil de pobreza d do com as principais atri-
Fonte: PNAD, fi d pobreza e acor . .
a Ajustado pelas Contas Nacionais .. Esta subseção traça u~ ?:r I e idade escolaridade, raça, setor de atlVI-
buiçõesdos chefes de dO~llClho(~~x~~ opuÍacional e região) usando a PNAD
dade,posição na ocu?açao, den~~l: 2 a~resenta os três índices de pobreza FGT
(P I) aumentou 0,48 ponto percentual enquanto o hiato médio quadrado depo. de 1995em nível naClonal. A Ta
breza (P2) aumentou 1,4 ponto percentual.
Similarmente, os índices de pobreza apresentam quedas maiores ou meno. Tabela 2 as
res quando utilizamos a linha de pobreza mais alta. No caso da linha de pobreza , .
de obreza de acordo com
baixa, a Proporção de pobres (PO) aumentou 1,02 ponto percentual e caiu 4,31 Decomposição dos md~cesde :omicílios _ 1995
características dos che es
pontos percentuais quando foi utilizada a linha de pobreza alta. Essas estatÍsti.
(UNIVERSO: TODOS os DOMicíLIOS)
cas são, respectivamente, 1,88 e-0,91 para o hiato médio de pobreza (Pl) e 2,05
e 0,46 para o hiato quadrático médio de pobreza (P2). Juntos, esses resultado CONTRIBUIÇÃO PARA A
POBREZATOTAL
POPULA~O
implicam que o padrão de crescimento não-balanceado dos diferentes segmen. CARAaERísTICAS DO CHEFE PO Pl P2 TOTA
DEDOMicíLIO PO Pl P2
tos da economia brasileira produziu resultados diferentes, dependendo da li-
nha de pobreza utilizada. Essa falta de robustez das mudanças de pobreza é Total 27,68 12,45 8,07 100,00
também influenciada pelo baixo crescimento do PIE per capita observado no pe-
ríodo (média de 0,2% por ano). Sexo
11,40 7,09 82,79 79,35 75,84 72,69
Homem 26,53
Decomposição das mudanças de pobreza 24,16 27,32
33,22 17,47 12,81 17,21 20,65
Mulher
Aplicaremos aqui a metodologia de decomposição de Ravallion e Dal!
(1995) para as mudanças na pobreza no período 1985/95. Essa decomposição Idade
' 'coloca em evidência o que está direcionando o processo de mudança de pobreza 29,63 0,02 0,03 0,06 0,09
Menos de 10 anos 36,99 31,40
discutido anteriormente.
19,49 5,73 8,89 11,3813,84
15 a 25 anos 42,95 24,71
A idéia é de que as mudanças de pobreza podem ser melhor entendidas em 59,66 59,55
31,71 14,49 9,38 51,24 58,70
termos de três determinantes próximos: a) mudanças na renda percapita média; 2S a 45 anos
b) mudanças no g,,ªu de desigualdade da renda percapita; e c) mudanças no temlO 10,02 6,08 27,87 24,04 22,43 21,00
4S a 6S anos 23,88
residual que captura a Ü1teraçãoentre esses dois termos (não apresentadas aqui). 8,33 6,47 5,53
15,25 5,32 2,95 15,13
Essa decomposição simples entre um crescimento do componente balanceado Mais de 65 anos
(conlinua)
que afeta todos os agentes e um componente redistributivo permite comparações
508 509
(continuaçào) ---' . ~
(colltilluaçào) .~.
""'"i:! ~
CQ CONTRIBUIÇÃO PARA A CONTRIBUIÇÃO PARA A ~
'"
l::
CARACTERíSTICAS
DE DOMICILIO
DO CHEFE
PO P1 P2
POPULAÇÃO POBREZA TOTAL CARACTERíSTICAS DO CHEFE PO Pl P2
POPULAÇÃO POBREZA TOTAL '""
l::
TOTAL TOTAL
~ PO
DEOOMICILlO
PO Pl P2 ~
-<>
P1 P2 <:
-<>
a Anos de estudo completos "...
"
{l
Densidade populacional ."
~ Oano 43,06 19,18 11,84 21,04 32,74 33,70 15,61 10,23 21,10 25,70 26,47 26,74 '"
-<>
'" 32,43 30,86 Rural l::
"
.~ 8
iG Oa 4 anos 36,16 16,19 10,20 21,56 28,17 28,05 27,25 25,36 11,36 7,26 49,25 45,12 44,94 44,32 ~
Q Urbana ,~
i:!
4 a 8 anos 25,09 10,96 7,23 31,13 28,21 27,40 27,88 Metropolitana 27,24 12,00 7,88 29,65 29,18 28,59 28,94 "
~
'5
8 a 12 anos 14,10 6,71 4,86 19,51 9,94 10,52 11,75 Região ::l
,~
:.::;
Mais de 12 anos 3,85 2,94 2,72 6,76 0,94 1,60 2,27 Norte 44,23 20,67 12,96 4,47 7,14 7,42 7,18 :i;
Indígena 53,17 27,64 18,23 0,11 0,22 0,25 0,26 Sudeste 20,94 8,94 5,87 43,39 32,82 31,1831,53
Branco 18,07 7,89 5,26 53,03 34,62 33,63 34,58 Sul 13,49 5,80 3,92 15,16 7,39 7,07 7,37
Preto 38,82 17,68 11,29 46,31 64,94 65,80 64,76 Centro-Oeste 24,61 10,19 6,82 7,41 6,59 6,07 6,27
Amarelo 10,86 7,24 5,99 0,54 0,21 0,31 0,40 Fonte: PNAD.
Setor de atividade
propostos para a linha de pobreza básica. Novamente, a análise será centrada
Agricultura 39,81 17,99 11,20 24,69 35,51 35,68 34,27 em torno da proporção de pobres (PO) para a linha de pobreza básica usada.
Indústria 21,25 7,83 4,26 15,89 12,20 10,00 8,39 A proporção total de pobres (PO) durante 1995 era de 27,07%. Como espe-
rado, os grupos com maior proporção de pobres (PO) eram chefiados por: mu-
Construção 27,36 9,75 5,17 9,96 9,85 7,81 6,38 lheres (33%), famílias jovens [15 a 25 anos deidade (43%)], analfabetos (43%),
Setor público 15,80 5,85 3,09 10,18 5,81 4,79 3,90 não-brancos [indígenas (53%) e pretos (38%)), moradores de áreas rurais
(34%), moradores das regiões Norte (44%) e Nordeste (43%) do Brasil, traba-
Serviços 21,38 8,17 4,49 39,28 30,33 25,80 21,86
lhadores na agricultura (40%), construção (27%), desempregados (74%) e tra-
Posição na ocupação balhadores informais (40%).
Desempregado 74,02 53,43 46,14 3,18 13,64 18,16 As últimas ~rês colunas da Tabela 2 apresentam a contribuição dos índices
8,50
agregados de pobreza para cada uma dessas células. Já que os grupos são sempre
Inativo 28,42 15,45 11,90 17,17 17,64 21,32 25,32 minoria, nem sempre apresentam a maior contribuição para os resultados de po-
Empregado com carteira 19,74 6,36 3,11 27,16 19,37 13,87 10,46 breza. Chefes de domicílio mulheres, famílias chefiadas por indivíduos com ida-
de menor do que 25 anos, famílias chefiadas por desempregado ou indígena, mo-
Empregado sem carteira 40,09 15,57 8,30 15,43 22,35 19,30 1~ rando em áreas rurais ou na região Norte do país, se situam nessa categoria.
Conta própria 30,75 13,40 8,05 31,12 34,57 33,50 31,02
-
Empregador 5,37 2,73 2,03 5,95 1,15 1,30
- 1,49 4 • Distribuição de ativos
Servidor público
Não-remunerado
15,44
38,20
5,81
25,61
3,10
21,60
10,04
2,27
5,60
3,13
4,68
4,6
-
3,86
6,07
A análise da posse de ativos será estruturada
• capital físico (ativos financeiros,
blicos e transporte);
bens duráveis,
em três grupos:
moradia, terra, serviços pú-
-
(COl/tilll/a)
• capital humano
doin9); e
(escolaridade, educação técnica, idade, experiência e learn by
511
....... 510
• capital social (emprego, sindicatos e associações, participação política e e . !olllinuação)
1;
~
E trutura da família). POBRE NÃO-POBRE
~E
~ <:>
lO::
~ A disponibilidade de novas fontes de dados fornece condições inéditas, no Rádio 92,80 97,71 i5
i5 ~
~ caso brasileiro, para traçar um perfil de acesso a ativos dos pobres. A conjuntura "'a"
! de diferentes pesquisas de domicílio abre a possibilidade de se ter uma ampla
Televisão em cores 72,88 93,96
.'"~
~ visão da posse de ativos durante 1996. Nossa estratégia é comparar o acessoa Televisão 92,17 98,19 1l
.g 56,69
.!::l
E
Máquina de lavar 22,71 ::
4.1 - Capital físico g
Acessoa serviços públicos :c
A literatura sobre o acesso dos pobres a diferentes tipos de capital físicoé
quase nula no Brasil. Tentaremos aqui discutir as relações entre renda per capita Abastecimento de água 90,24 97,76 J
<i;
e taxas de acesso a serviços públicos, bens duráveis e moradia (ver Tabela 3a).
Redede esgoto 73,65 89,33
Qualidade da moradia A PNADde 1996 mostra que o financiamento para moradia de acordo com
a renda da população pobre é dividido aproximadamente da seguinte maneira:
Acesso a construção 95,62 99,19
71% moram em casa própria já paga, 5% ainda pagam pela casa própria, 10%
Acesso a banheiro 92,14 97,98 moramem casas alugadas e 22% moram em casa cedida. Essas mesmas estatís-
3,03
ticaspara a população não- pobre são: 68% moram em casa própria já paga, 8%
Número de indivíduos no domicílio 4,05
aindapagam pela casa própria em que moram, 17% moram em casa alugada e
Densidade de dormitório 0,58 0,37 24% moram em casa cedida. A comparação entre a população pobre e a
1,43 1,04 não-pobre mostra que a primeira mora em casa própria já paga e casas cedidas
Densidade de cômodo
commais freqüência do que o último grupo. I Essas estatísticas mostram que o
Acesso a bens duráveis aluguelou o pagamento da casa própria podem ser percebidos como práticas de
luxono financiamento de moradia.
--
Fogão. 99,65 99,91
Chefe
A questão utilizada aqui para captar a qualidade do transporte na PNAD é:
"Quanto tempo você demora para chegar ao trabalho?"2 Pode-se usar essa in- 36,03 42,19
--
Ao pai
38,10 45,5
2 Computamos somente os dados daqueles que vão direto para o trabalho. Esse dado correspondc
a 96% dos chefes e 97% de cônjuges na amostra.
--
Àmãe
(continua)
514 515
(conlinuação)
a 3c
(APIT AL SOCIAL
34,84 43,8& POBRE
bn
516 517
Associações e sindicatos
~ do Brasil (Fernando Henrique Cardoso). Quando se impõem condições ~
~
l:Q Uma primeira o b servação nos indicadores sociais está relacionada com a dente ., . em pIo se o chefe sabia o nome do presidente, e seu ~
mais dlflCels, como, por ex, , 620/< 710/< res ê
~ taxas de adesão a sindicatos e atividades de associações não-comunitária. respectivo governador e prefeito, essas estatísticas calam para o e o, - ~
i Existe uma relação inversa entre taxas de associados nessas organizações e p _ pectivamente. -'a.
"
{; breza (18% para os chefes pobres e 26% para os não-pobres). Consistente com .'"~
~ esse resultado é o fato de que chefes com maior nível formal de educação POSsuem -2;::
.~ maior probabilidade de ser um membro dessas organizações. A análise do uni- 8
iC ~~~~reza e os impactos geradores de renda dos ativos . ~
Cl verso daqueles que hoje não são membros de sindicatos ou de associaçõe .;:0
Esta segunda parte do artigo estuda como a acumulação de diferentes opos ~
não-comunitárias, mas que foram nos últimos cinco anos, é mais parecida ( 15 E!
de capital impaGta medidas de pobreza baseadas na renda. t:
para chefes pobres e 16% para todos os chefes). As taxas atuais de efetividade '5
nessas atividades é muito menor em ambos os grupos - somente 2,9% dos che- .ª
fes pobres assistem pelo menos a uma reunião por ano. A mesma estatística cor- 5 • Oimpacto da posse de ativos na pobreza ~
o responde a 4,8% no caso de chefes não-pobres.
A questão central adotada nesta parte é o papel desempenhado ~ela acu-
As taxas de adesão às associações comunitárias são muito menores ( 12% mulação de capital no potencial do pobre gerar renda. Um passo essenCIal nessa
para os chefes pobres e 13% para os chefes não-pobres) e mais uniformemente d' - , studar a relação entre a posse de diferentes ativos e a pobreza. Na se-
repartidas ao longo da distribuição de renda do que aquelas encontradas para ç~~e~~~:r~oranalisamos a taxa de acesso a diferentes tipos ,de .c~pital entr~ os
sindicatos e associações não-comunitárias mencionados antes. Entretanto. a pobres e a população não-pobre. Aqui, estudaremos os posslvels llnpacto~ es-
proporção de indivíduos que assistem pelo menos a uma reunião por ano é mai- ses ativos na pobreza considerados juntamente e co.ntr~lados por deten~man-
or para associações comunitárias do que para qualquer outro tipo de relação tes demográficos. Esse exercício procura ~judar o direCIonamento dos opos de
com as associações analisadas. Note-se que a diferença entre taxas de associa-
políticas de aumento de capitais a serem llnplementados. . .
dos pobres e não-pobres (especialmente controlada pela intensidade) é tam-
Analisamos o impacto de capital humano, ativos físicos e.caplt:~ SOCIal~a
bém menor no caso de associações comunitárias.
pobreza da seguinte forma: os efeitos de capital hU?lanO e.aovos flSlcosdsedrao
A análise da composição de associações comunitárias revela uma impor- .. d o a PNAD d e 1996 em mvel naCIonal. O estu o os
estudados juntos uohzan
tância maior para as associações de moradores (39% para os chefes pobre ' efeitos dos itens de capital social na pobreza será feito separadamente usando o
32% para os não-pobres) e associações religiosas (37% para os chefes pobre' e
suplemento especial da PME implementado em 1996.
35% para os não-pobres) entre as associações pobres.
5.1 - Capital físico, capital humano e pobreza
Atividades políticas
Esta subseção analisa a relação entre a probabili~ade de un: ind!~íduo s~~
As taxas de afiliação formal para campanhas políticas são realmente P - pobre. de um lado, e variáveis demográficas e alguns tl?O.Sde ~a~ltal fl~1Coe h
quenas (3,3% para os chefes pobres e 4,5% para os não-pobres), especialment mano de outro. A Tabela 4 apresenta a regressão loglsoca baslCa estimada.
se levarmos em conta o fato de nossa análise estar restrita às seis principais re-
~mitiremos aqui a análise dos controles d.emográficos e regionais esti~~~
giões metropolitanas do Brasil. A taxa de participação dos membros de partido
dos, iniciando pela análise das variáveis dummzes representando o ,a~esso a dlf
políticos é relativamente alta entre os pobres (40% para os chefes pobres e 44 - . direta com pohocas
I
rentes tipos de capital físico, dada sua re açao mais , . de com-
~para os não-pobres). A baixa taxa de afiliação pode ser resultado de altos reque-
bate à pobreza. Essas variáveis incluem tanto o acesso a bens duravels e morda-
rimentos para uma afiliação política em termos de participação efetiva. . quanto a serviços pubhcos.
, .
dia Apesar d e a re lação entre pobreza e taxas . e
Dada a menor taxa formal de afiliação a partidos políticos, usaremos o con- acesso a ativos físicos sofrer sérios problemas de simultaneidade, acre~lt~m~s
ceito menos convincente da simpatia por partidos políticos (19% para chef que a regressão logística pode tornar clara a correlação existente (nã~ ha re ~ça.o
pobres e 22% para todos os chefes). Os resultados qualitativos produzidos pel. de causalidade implicada neste caso) entre a posse de cada tipo de aOvo e a mCl-
dois conceitos são similares, incluindo sua relativa estabilidade ao longo da dl.-
dência da pobreza. . _
tribuição de renda. Uma questão final em termos de política mostra que íí.
Quase todos os parâmetros de capital físico estimados no modelo fmal s~.o
dos chefes pobres (84% dos chefes não-pobres) sabiam o nome correto do pre I- . , I d e con f'lança de 950/<o e al)resentam os 51-
estatisticamente significaovos ao I1lve
519
~
OBSERVAÇÕES ESTIMATIVA ESTATíSTICA t DEVIÂNCIA ~
Ol
g
Tem acesso a -O,6470c -17,3458 33.512,85 ~
~
Tem acesso a -O,6015c -16,7083 33.224,13 ""~
Televisãoem cores .'"
-O,1490c -2,9681 33.214,95 "
Rádio Tem acesso a ~
33.183,20
~
Tem acesso a -0,4506c -5,3643 ~
Apartamento .~
Tem acesso a -O,0724c -1,9462 33.179,42 ê
Construção '"t':
mero de observações: 38.698 Valor GL Valor/GL "E
log Likelihood:-16680.8932 Pearson Chi-Square 42416.600 39000 1.097 ::l
.~
~
Fonte: PNAD de 1996. ,;:
" A ciJtegoria omitida é periferia metropolitana.
b Ao nível de confiança de 90%.
cAo nível de confiança de 95%.
nais esperados no sentido de que o acesso de dado ativo, em geral, implica uma
menor probabilidade de ser pobre. A exceção é o acesso a eletricidade, que apre-
senta sinal negativo. Os maiores coeficientes são encontrados para bens durá-
I'eis de luxo e serviços públicos, como coleta de lixo urbano (-0,39), telefone
(-0,67) e máquina de lavar (-0,65).
A relação entre pobreza e acumulação de capital humano é menos afetada
por problemas de simultaneidade, desde que esse ativo seja acumulado em lar-
ga medida antes de o indivíduo entrar no mercado de trabalho. Isso significa
que podemos interpretar a relação entre pobreza e perfil educacional de maneira
causal.3 Os coeficientes de ano de estudo de chefes e cônjuges são precisamente
estimados em torno de 0, I.
As variáveis que se referem ao status educacional dos pais de chefes e cônju-
ges captados pelo conhecimento do perfil educacional do domicílio também fo-
ram incluídas no modelo. O coeficiente dessas variáveis está entre 1/3 e 1/4 dos
encontrados para a posição educacional atual dos chefes e cônjuges. Esse ponto
mostra a importância relativa da transmissão entre geração de capital humano.
A experiência, um tipo de capital humano captado por meio da proxy da
idade do indivíduo, apresenta um efeito de redução da pobreza. A variável idade
ao quadrado é positiva e significativa, indicando a ocorrência de retornos de-
crescentes à experiência. Finalmente, as dummies da posição ocupacional dos
chefes e cônjuges apresentaram sinais negativos. Essas dummies podem ser in-
terpretadas como uma medida de taxa de utilização de capital humano acumu-
lado. A análise do perfil do ciclo da vida da renda média e taxas ocupacionais
será implementada na Subseção 6.1.
--
3 Porexemplo, famílias com chefes e cônjuges alfabetizados têm 56% e 36%,respectivamente, me-
noschances de ser pobres quando comparadas com as famílias com chefes e cônjuges analfabetos.
520 521
5.2 - Capital social e pobreza (COlJlilllwçüo)
~
~ ESTATíSTICA t DEVIANCIA ~
£
<:>
Esta subseção analisa a relação entre a probabilidade de ser pobre e os vários
ESTIMATIVA
'Q
g
~ tipos de capital social tomados conjuntamente, além das variáveis demográfi- Membro de sindicato Sim -0,4647 b -8,8596 21.274,56
f cas e de capital humano similares àquelas usadas na subseção anterior. A dife-
Tem simpatia por partidos
~
"'"<:>
"'-
" rença é que o presente exercício usa o suplemento da PME de 1996 como fonte políticos Sim -0,1323b -3,1727 21.228,03 .'"~
~
~ de dados, se beneficiando das variáveis de capital social incluídas no questionário.
.~ Devemos ressaltar que o conceito de renda e as dimensões geográficas da PME Sabeo nome correto Do presidente da
-3,5470 21.127,46
"ª~
República -0,2341b ~
.g são mais restritos que os dados da PNAD utilizados nas regressões logísticas .~
~
apresentadas anteriormente. Os dados de renda da PME incluem somente a Sabeo nome correto Do prefeito, governador .::;
e presidente -0,1722b -3,1830 21.274,56 i:
renda do trabalho das seis principais regiões metropolitanas. Por outro lado, B
Valor GL Valór/GL ::;
usamos aqui uma amostra expandida que também inclui chefes de família sol- Número de observações: 18.308
L09 Likelihood: -10371.4604 Pearson Chi-$quare 18206.932 18000 0.996 ."~
teiros. A idéia é avaliar a influência da presença do cônjuge na incidência da po- ~
Fonte: /8GE/PNAD de 1996.
bre~a. A fim de não tornar a análise excessivamente complexa, não utilizamos a Ao nível de confiança de 90%.
as características dos cônjuges como variáveis explicativas. A Tabela 5 apresen- b Ao nível de confiança de 95%.
Posição na ocupação Conta própria -0,6066b -12,2298 1!.269, Aspectos dinâmicos da pobreza e da posse de ativos
-33,6112 18.948, O último efeito para aumento da posse de ativos sobre a pobreza é o de me-
Posição na ocupação Empregador -1,7377b
lhorar a habilidade individual em lidar com mudanças adversas da renda. O pa-
I de suavização do consumo assumido pelos ativos depende da importância
522 523
desses choques e o quanto é ?es~nvolvid~ (isto é, ativos, créditos e segmentos mo tempo, reforça a importância das cadernetas ao longo dos segmentos mais
~
~ de se~uros). Portanto, a avalIaçao desse ultimo efeito requer uma aná!' d pobres da população brasileira. ~
'~
" propnedades di.nâmicas do processo de renda dos indivíduos pob Ise as '"
11 !' _ d . . . - res e uma ava A determinação automática das taxas de juros nominais das cadernetas a ~
11
l:: laça0 as mstItUlçoes que detêm seu comportamento financeiro. - 0,5% ao mês mais a correção monetária defasada pressupõem que transições
." l::
iS.
em direção a maiores taxas de inflação gerariam perdas do rendimento real. Si-
t
.'"
"
]~ 6 . Comportamento financeiro de curto prazo dos pobres nlilarmente, quedas da taxa de inflação produzirialn efeito inverso. Por exen1- j
pio, a retomada da inflação observada depois do fracasso do Plano Cruzado em "ã
~ Esta ,:;eçãodi:cute os efeitos dinâmicos de curto prazo, comentados ao lon-
1986 (de 3% ao mês, para 20% ao mês em um ano) implica queda do valor real ~
go da se~ao antenor, do comportamento financeiro e do bem-estar dos h f ~
de família pobres. c e es dos depósitos da ordem de 14%. Esse mecanismo defasado de correção monetá- g:::
ria não era sempre percebido com clareza pelos agentes. De acordo com a pes- lJ
~omeçaremos traçando um perfil dos poupadores pobres de acordo com a quisa da Abecip, em 1985 cerca de 18% dos poupadores adultos com primário .i:~
AbeClp.A pes~uisa da Abecip sobre finanças dos consumidores mostra que du- incompleto concordavam com a proposição de que o rendimento das caderne- ~
raI}t~ 1:87,47 Yodos adultos pobres não possuíam nenhum ativo financeiro 'Essa
. tas sempre ultrapassava a taxa de inflação. No outro extremo, apenas 3% da-
estatI:tlca aumenta par~ 70~ no segmento pobre da população. Tal pes~uisa
queles com curso superior completo concordavam com a proposição.
tambem revela que o ativo fmanceiro mais popular no Brasil é a caderneta d
poupança. Noventa e cinco por cento dos indivíduos pobres que têm algum ati~ Dentre as características reconhecidas como importantes pelos depositan-
vo possuem son:ente cad~r?etas de poupança. Isso significa que pouco se perde tes captadas por quesitos como segurança ou garantia dada pelo governo, o risco
quando se restnnge a analIse de ativos financeiros dos pobres a cadernetas de aparece em primeiro lugar tanto entre os segmentos mais pobres quanto entre
poupança. osmais ricos da população. Em segundo lugar, aparece o atributo de retorno es-
perado, com 26% e 40%, respectivamente. Liquidez aparece em terceiro lugar,
. Uma primeir~ ~xpl~cação da popularidade da caderneta de poupança é o
com 5% e 6%. Além do retorno do trinômio rentabilidade, risco e liquidez, o que-
baixo grau?e re~~lSltos IInpos~osaos indivíduos para sua abertura. Isso é expli- sito "facilidade de aplicação" aparece em 4% e 3% das respostas, respectiva-
cad? pela SimplICidade operaCional conferida pelo período mensal de capitali-
mente.
zaça? das .cadernetas. A p:ópria filo.sofia de sua implantação como ativo popu-
Os segmentos mais pobres parecem valorizar mais o atributo risco. Por ou-
~ar ~m~n~lado~?~ moradia det~rmmou a inexistência de barreiras a algumas
mstItUlçoes tro lado, o quesito rentabilidade parece ser o mais importante entre os poupado-
. ,. d' ofiCIaiS,como a Caixa Econômica Federal " Em 1987 36°/ d os pro-
/0
res mais ricos, refletindo talvez a alta margem de substituição entre os ativos
pnetanos e poupança tmham depósito nessa instituição.
utilizados por eles. A baixa importância atribuída ao quesito liquidez é explica-
. . ~m~ indicação do fácil acesso às cadernetas de poupança é encontrada nas da pelo período de capitalização mensal das cadernetas de poupança, o que im-
JustifIcativas para a "não-posse de cadernetas", em que o item "limite muito possibilita o seu uso para fuga de moeda no período compreendido entre recebi-
alto. para a abertura" aI)arece com uma proporçao - nula mesmo nos segmentos
mentos mensais de renda.
mais pobres da população. Por outro lado, o difícil acesso a outros ativos, além
A maioria das operações de cadernetas de poupança possuía uma alta fre-
~a: cadernetas, pode ser captado pelo fato de nenhum adulto pobre justificar
qüência. A data média do último depósito era 6,9 meses para o segmento mais
nao pretender depositar em caderneta por preferir aplicar em outro ativo" en- pobre e 3,7 meses para o grupo de renda mais alta. Por outro lado, a data média
quanto _37% dos. grupos con1 ren d a mais. e Ievada apresentaram essa justificativa
'
de retirada era 4,9 meses e 5,2 meses, respectivamente.
para nao depositar em caderneta de poupança.
As principais razões apresentadas para "não depositar em cadernetas nos
Confo:me ~ esperado, o saldo médio das cadernetas dos indivíduos mais próximos meses" foi o fato de que não havia nenhum dinheiro sobrando ou so-
pobres era mfenor ao dos grupos com renda mais elevada - 5, I5 salários míni- brava pouco (90% para o segmento mais pobre e 46% para o mais rico). Por ou-
mos contra 2 I,8. Entretanto, a relação saldo médio das cadernetas de poupança tro lado, a principal motivação apresentada para "retirar o dinheiro nos próxi-
sobre a renda era maior para os poupadores mais pobres - 2,5 salários mínimoS mos meses" foi para completar o orçamento (83% para o segmento mais pobre e
contra 1,1. Se computarmos também os indivíduos que não aplicaram em ca- 36%para o mais rico). Essas justificativas, combinadas com as altas freqüências
dernet.as de p~upança, a relação saldo médio da poupança sobre a renda se tor- de saques e retiradas das cadernetas de poupança, sugerem a ocorrência de um
na '.mais pareCida
" - . O '_72 e O ' 64 , re spectlvamente.
. Esse resultado pode ser atn-. processo de suavização do consumo em relação às flutuações de curto prazo da
bUldo a alta dlverslflCaçao do portifólio dos grupos de renda mais alta. Ao mes- renda da família.
525
524
traram que, como esperado, anos completos de estudo parecem ser a variável ~
~ O processo de suavização do consumo parece ser mais intenso entre os
econômica mais importante entre todas as usadas para explicar a pobreza. ~
'" poupadores de caderneta de poupança mais pobres. Esse resultado é cons'
~ te c .d' . d Isten- A primeira parte do artigo desenhou um mapa simples caracterizando a ~
~ . om a: eV.I e?~las e uma alta variabilidade da renda familiar na cauda infe-
~ nor da dlstnbUlçao observada no Brasil. A alta freqüência e a baixa duraç d )Ossede vários tipos de ativos ao longo da distribuição da renda. Isso foi realiza- i
! p.ob~eza podem ser explicadas por estados de desemprego com caracterí:t~ca~ ~o utilizando-se a média das variáveis dummies univariadas, indicando a taxa ';;:
j sImilares como os observad.os freqüentemente no mercado de trabalho brasilei- de acesso a diferentes ativos na população total e na renda da população pobre. ~
~ r? Entretanto, apesar de o Item "eu estou desempregado" explicar pouco as re- A renda da população pobre apresentou baixas taxas de acesso a diferentes ser- ~
f tIradas ex-post das cadernetas, a motivação do desempregado pode estar im r '_
ta . tT' . P ICI
viços públicos como água canalizada. esgoto, coleta de lixo e telefone. Outros j
em JUs. I !CatIvas maIs genéricas. As principais justificativas apresentada erviços, como eletricidade e transporte (medido pelo tempo de deslocamento), S
para a retlf~da de dinheiro das cadernetas eram: complementar o orçamen~~ apresentaram taxas homogêneas pelos diferentes níveis de distribuição de renda. ~
(56% do maIS pobre e 26% do mais rico) e para emergências (21 % do mais pob
e 22% do mais rico). re
Similarmente, ativos privados podem ser divididos em
tra, TV em coresJreezer e máquina de lavar, apresentados
duas categorias: fil-
como bens de luxo,
J
. • Outra po:síve.l razão para a alta variabilidade das rendas das famílias pode- enquanto fogão, geladeira, rádio e propriedade de moradia foram distribuídos
r~a ser a combmaçao entre alta inflação e infreqüentes ajustes nominais do salá- mais uniformemente. A análise destacou a necessidade de se considerar os as-
no, gerando o movimento oscilatório do salário mínimo real em diversas fases pectos qualitativos. especialmente em termos de moradia e transporte.
da política salarial brasileira. Uma interpretação simples para a alta freqüência
Taxas de acesso a diferentes portifólios de capital social considerados apre-
d~s depósitos e das retiradas para complementar o orçamento seria a suaviza-
sentaram uma amostra valiosa quando comparadas para a população não-pobre
çao dessas flutuações, tipo "dente de serra", sobre o seu consumo no consumo e
renda. e a pobre. O número de membros de associações profissionais (sindicato~, c~o-
perativas etc.) é muito maior entre os não-pobres, enquanto os de assoClaçoes
comunitárias (de vizinhança e religiosas) são mais uniformemente distribuí-
7 • Conclusões dos. Finalmente, taxas de afiliações formais para partidos políticos pareciam
. ~st~ ~rtigo tenta estabelecer uma pesquisa sobre a relação entre pobreza. ser diferenciadas para os segmentos pobres e não-pobres. mas o resultado en-
~Is~nb~Içao d~ ativos e operação do mercado de ativos no Brasil. O objetivo final contrado mostrou que essa diferença é pequena.
e direcIOnar a Implementação de diferentes políticas de aumento de capital. A segunda parte do artigo aplicou regressões logísticas para estudar os efei-
. A disponibilidade de novas fontes de dados abriu condições inéditas para tos gerados nos portifólios de ativos já mencionados, nas medidas de pobreza
Impl.en~entar uma .an~lise de posse de ativos e pobreza nas áreas metropolitanas baseadas na renda. O método difere do implementado na primeira parte por
brasileiras. A avaliaçao de distribuição de recursos foi estruturada sobre três duas razões básicas. Primeira, consideramos o efeito dos ativos juntos e tam-
itens: capital físico, capital humano e capital social. bém levamos em conta variáveis demográficas e regionais. Segunda, tentamos
~ artigo for~eceu um mapa em três partes dos vários efeitos que a posse fornecer uma interpretação mais casual dos resultados encontrados. como o pa-
d?s dIferentes atIvos pode ter na pobreza. A primeira parte considerou o efeilO pel potencial de provisão de diferentes ativos para combater a pobreza. Essa in-
dIreto do bem.-estar derivado da posse de ativos. A segunda discutiu o impaclO terpretação só é garantida para variáveis de capital humano e demográfic~s.
da posse de atl:os no potencial de geração de renda dos pobres. A terceira pane Entretanto. acreditamos que essa regressão logística possa tornar clara a eXIS-
debateu os efeitos da posse de ativos na habilidade do pobre em suavizar mu- tência da relação parcial (nenhuma casualidade envolvida nesse caso) entre a
dahças adversas na renda. posse de cada tipo de ativo e os resultados de pobreza.
. ::m .1995, a proporção de pobres brasileiros era de 27,7%, o que implicou a Os resultados foram consistentes (qualitativamente) em relação aos en-
eXlstenCla de 41,8 milhões de indivíduos vivendo abaixo da linha de pobreza. COntrados na primeira parte do artigo. Vale a pena enfatizar o papel assumido
Em 198~, essa estatística alcançou 30,4%. A partir dessa época houve um escas. pela variável de anos completos de estudo dos chefes e cônjuges, assim como as
so crescimento entre os dois anos considerados, sendo que a maior parte da mu. variáveis de background familiar para explicar a pobreza. Esse resultado nos for-
dança observada em PO pode ser atribuída a uma redução nos níveis de desi- nece confiança para usar anos de escolaridade média do chefe de domicílio
gualdad~. Entretanto, esse resultado qualitativo não é robusto para mudanças como uma variável classificatória para dividir a amostra em domicílios pobres e
nas medidas de pobreza e nas linhas de pobreza. Perfis-padrão de pobreza 1110S- não-pobres. Em outras palavras, considerou-se anos de educação como uma
526
".~ proxy para renda permanente per capita na análise da dinâmica da renda realiza. Combinando
~~ da na última parte do artigo. compensatório e
tO
1 - Introdução
Bibliografia As políticas sociais são constituídas de transferências de renda, seja na sua
forma monetária ou por meio da provisão de serviços, que independem do po-
. NERI, M.Inflação e consumo: modelos teóricos aplicados ao imediato pós-cruzado. Rio der de barganha individual ou de grupos socioocupacionais. Daí entender-se o
de Janeiro: BNDES, 1990.
"Estado do Bem-Estar", ou welfare, como um regime específico de transferências
RAVALLION,M., DATI,G. Growth and poverty in rural India. The World Bank, Jan. sociais,de base fiscal, cujo objetivo é promover o bem-estar dos indivíduos me-
1995 (Policy Research Working Paper, 1405). diante uma redistribuição da renda e da riqueza (ativos) comprometida com a
idéiade justiça. I Para Van Parijs (1991 ), a questão da justiça se coloca em razão
ROCHA,S. Poverty linesfor Brazil new estimatesfrom Recent empirical evidence. IPEA. de os recursos2 serem escassos3 e não prevalecerem em nossas sociedades prin-
jan. 1993, mimeo.
cípiosaltruístas e de homogeneidade que orientem o comportamento dos seus
membros.
Ainda na visão de Van Parijs (1995), há três modelos ocidentais referenciais
de welfare: o primeiro, de inspiração bismarkiana, se baseia num sistema de se-
guros sociais de caráter obrigatório, que funciona ex-post em favor dos que con-
tribuíram, na qualidade de trabalhadores, ao longo da sua vida ativa para um
fundo e podem se beneficiar dele em caso de sinistro. É um modelo em que pre-
valeceo interesse pessoal com o intuito de reduzir o risco, e no qual não estão
presentes a idéia de solidariedade nem tampouco a de eqüidade. Um segundo
dos da atividade laboral ou de qualquer outra contrapartida. Até porque a socie- ção de terras, proteção social, políticas de igualdade salar~aL planeJame~to cen- ~
dade do trabalho reduz-se a cada dia. Esses direitos não dizem respeito apenas à traI e investimento em capital humano tornam-se ~tr~tlvo,S por su~enrem ser à
garantia de uma renda, mas à garantia de poder dispor de um patrimônio inicial possível vincular a redistribuição de vantagens economlCas a melhona ~~perfor-
comum a todos, como ilustram propostas recentes, entre elas a elaborada por mance do sistema econômico como um todo". Presume-se que ?S trade-oJJs e?t~e
Ackerman e Alstott (1999, p. 5 ).6 esses dois tipos de valores - de eqüidade e de eficiência - sejam compatlVe~s
Essa visão de proteção social- quaisquer que sejam seus modelos referen- ou contraditórios em função dos mecanismos usados para engendrar maIS
ciais - vem, no entanto, sendo contestada desde meados dos anos 80, quando eqüidade, ou seja, em função do desenho institucio~al ~ue leva a f~m~nt~r
crescentes pressões fiscais e demográficas, por um lado, e a expansão da cober- mais ou menos valores redistributivos. "Avanç~~ na d~re5ao de uma dls:n~~~
tura assegurada ao público-alvo potencial. por outro, levam ao questionamento ção de ativos mais equânime não apenas propICla maIS l~~aldade no mve na
do princípio de justiça enquanto pedra angular dos modelos redistribu tivos. Em bem-estar entre as pessoas, mas, ao incrementar a produtIVIdade, aumenta,
seu lugar, surge um enfoque filosófico distinto, em que a questão não é mais a verdade, também o bolo a repartir" [Wright (1998)].
coincidência entre direito à proteção social e direito à cidadania, mas sobre a re-
lação que deve existir entre benefícios sociais e responsabilidades cívicas. as 2 - A matriz dos programas cC!mpensatórios e sua leitura
palavras de Gilbert ( 1995, p. 66), a pergunta passa a ser formulada da seguinte no campo de segurança alimentar
maneira: até que ponto os direitos sociais concedidos pelo Estado do Bem-Estar
Os programas compensatórios integram o arcab?uço i~s~ituc~o~~l das po-
implicam responsabilidades individuais? Assim reconfigurado, o debate move--e
líticas sociais. Sua matriz tem origem na prática asslste~Clahst~, l~lClalmáev:~~
em mãos da igreja. Estruturam-se em valores de solidanedade, mdlspens .
. 4' Thomas Paine escreveu, em 1796, The agrarian jus/ice, em que defende que, ao nascer, cada indi- nas sociedades modernas, fortemente diferenciadas e desiguais,8 pois permItem
víduo receba incondicionalmente uma renda derivada do seu não-acesso a ativos, como terras elC. mitigar os efeitos da pobreza, propiciando um aumento do bem-e~tar C?~u:r
5 John Friedmann, Eduardo Suplicy, Antonio Maria são alguns autores que exploraram o impoS-
Tais programas, todavia, não incorporam forç~sam:nte ~alor.es. e eqUl_ a e~
to de renda negativo como forma de combater a pobreza e redistribuir a renda. Para entendimento
do debate sobre o tema, ver Lavinas e Varsano (1997). Costumam ser, por isso mesmo, focalizados e nao umverSals. Dlstmguem se n
6 Os autores pretendem, por meio da atribuição de um patrimônio de US$ 80 miL transferido eI1l
quatro anos a cada indivíduo que tenha concluído o segundo grau, assegurar uma verdadeira igual. - . 'd d " b' ó'a nesse suporte. É responsa-
7 Vale registrar que o conceito de "empregablll a e ta~ em se ap ~. entar suas caracte-
dade de oportunidades, num quadro de livre comércio e abertura econômica. O princípio que fU~- bilidade do trabalhador aumentar seu grau de empregablhdade, ou seja, mcrem
damenta essa transferência é o da responsabilidade individual e coletiva em meio à liberdade .i: rísticas individuais de aptidão ao mercado de trabalho. . . 1-
escolha (cada beneficiário pode "usar seu dinheiro para o que quiser: iníciar um negócio, iO\:~sllr .• d ., os a expliCitar a vmcu açao
8 O texto clássico de MarshalL Classe social e cidadama, e um os pnmelf
em mais educação, comprar uma casa ou educar uma família ou ainda poupar para o futuro ). entre política social e cidadania.
531
530
interior das 'políticas sociais comprometidas com a busca de maior eq"'d d
'õi de uma transferência direta de renda às famílias ou aos indivíduos. As polí-
~ por atenderem a uma clientela específica - a dos pobres. Na classificUI-a I' i~asde renda mínima ou renda de subsistência, de subsídio à moradia e até 1
~ Abranches (1987), tal seletividade, baseada em critérios de necessidadeaç;ao( 'ilquelasdestinadas a viabilizar a acessibilidade alimentar, com? o :~~d Stamps .~
~
~ disc"nmmaçao- pOSltlVa.
.. S-ao, em gera,I específicos e com duração limitad' e uma
' program(FSP)ll norte-americano, são todas voltadas para cobm defICIt?~e ren- 'g
1ldo
::-
't
cara er ~obml'
I'd a, ten-
p emI entar e reSI ua!. Ainda assim, são absolutamente essenciai da.Na sua grande maioria, 12não são implementadas com base na provlsao. gr~- .ª
~ para seu pu ICo-avo: a ?opula.ção em situação de carência, qualquer que cja llitade um serviço13ou no fornecimento de produtos in natura, mas na atnbUl- 1
l ela, aspecto que por SIso questIona o aporte residual que se lhes reconhece. Iãomensal de uma renda monetária vinculada ou não à finalidade da conces- ~
g . _oS'prolgramas compensatórios voltados para o combate à fome e à desnu- sãodo benefício. '%
tnçao tem o?ga tradição no Brasil. Valladares (1999) aponta, com base em e'- Já no Brasil ocorre o inverso, pois a complementação de renda na sua for- ~
tU.dosde DraIbe, Castro e Azeredo, um conjunto importante de programas federais mamonetária limita-se a pouquíssimos programas, como o de renda mensal vi- .~
cnados ?esde os anos 40 (Programa de Comida para os Trabalhadores) e renovado lalícia_ com extensa cobertura, é verdade, mas elevado grau de ineficiência {1
por mUltas décadas, cujo intuito é reduzir os riscos de fome e desnutrição. vertical- e outros benefícios distribuídos pela Lei Orgânica da Assistência 50- .'iõ
dai (Loas) (com valores inexpressivos), além de algumas iniciativa:, loc~is de ~
• A ?istribuição de cestas de alimentos aos mais carentes é, sem dúvida, a
forma mstit~cional mais banalizada do viés compensatório da segurança ali-
mentar de?t.lI-:adaa garantir acessibilidade àqueles cuja renda é insuficiente
programasbolsa-escola. Os programas voltados para a suplen:enta~ao ahmen- :~
tardos grupos sociais em situação de risco adotam, quase que mvanavelmente,
adistribuição do benefício in natura ou na forma de refeições. :;
I
para a aqu1Slç~0regu~ar da dieta calórica e protéica adequada. Além deste pro-
grama de cara ter maIS emergencial, cuja escala9 denota quão persistente é o O debate acerca da melhor modalidade de benefício - se in natura, tíque- ~
problema e quão ineficaz sua abordagem, há, neste final dos anos 90, outras tesl4ou atribuição de renda - opõe duas linhas de argumentação, como bem 1
formas de intervenção pública nesta área, de tipo mais estrutural-como a me- lembramOhls e Beebout (1993). A primeira delas enfatiza a vantagem do bene- ~
r~n~a e.scola~,o fornecimento de gêneros alimentícios para a rede de saúde e as- fícioin natura ou na forma de tíquetes sobre a renda monetária, por levar as fa-
sIstenCIa socIal- ou por meio da comercialização subsidiada de alimentos ali míliasbeneficiárias a consumirem maiores quantidades de alimentos, tal como
refeições. 10 pretende tal política assistencia!.15 Esse aspecto é positivo na medida em qu: é
apreendido favoravelmente pelos contribuintes e cidadãos em geral, que nao
En;-~ora~ersistentes.em seus desenhos e modalidades, os programas com-
apreciariam fomentar o consumo de outros bens de menor necessidade, engen-
pensa tonos sao reconheCIdos como pouco eficazes e bastante ineficientes, cor-
drandoriscos de "vazamento", e também porque, ao consumir mais alimentos,
roborando evidências de que o aporte compensatório pouco agrega ao
as famílias estariam forçosamente melhorando seu padrão de vida. A ~~fase
bem.-e,st~rdos grupos sociais em situação de risco alimentar e extrema pobreza.
destalinha de argumentação é a preferência do contribuinte pelo uso efICIente
InefIc~c~a~ue acaba por desacreditar esse tipo de ação, entendida cada vezmai
dosrecursos públicos. Indiretamente, o benefício in natura contaria igualmente
como mutilo No entanto, a magnitude da indigência que ainda hoje compromel
o.desenvolvimento do país não permite que se descartem medidas compen aló- coma preferência de lobbies do setor agroalimentar.
r~asque ?ossam verdadeiramente aliviar a pobreza e assegurar um patamar bá. A outra vertente, em favor da atribuição de renda monetária, elenca um
SICOde CIdadania. Ao contrário, é urgente e indispensável dar-lhes consistência conjunto de desvantagens da forma in natura: a) os constrangimentos inlpOStoS
e um novoframework para que possam, de fato, atingir seus objetivos e meia,
ganhando em efetividade. II É bom lembrar que o FSP substituiu um programa de distribuição direta de cOl/ll/lodities.
12NosEstados Unidos, o FSP e o Special Supplemental Nutrition progran~ forWomen, I?fants an~
. Nas democracias ocidentais, as políticas compensatórias permanecem aluai Children(WIC) garantem diretamente às famílias be~?f~ciárias ~upon~ VInculados estntaIl~en~e a
e'abrangentes, inquestionavelmente indispensáveis, sendo asseguradas na for- aquisiçãode alimentos para aumentar seu consumo dlano. Contmu~ vlg~nte um progr~ma InlItU:
ladoEmergency Food Assistance Program, também baseado no subsidio a compra de alimentos. Ja
o Nalional School Lunch Program (NSLP), o School Breakfast Program (S~:) e o Child Care Fo?d
9 Segundo a ~o~pa~ia Nacional de Abastecimento (Conab), no seu site informativo, o balanço Program(CCFP) transferem preferencialmente renda para as es.c~~a~parllClpantes, e sec:mdana~
Programa de Dlstnb.ulçao Em~rg~nci,alde Alimentos (Prodea) mostra-se positivo, uma vez que o nu' mente para as famílias de baixa renda selecionadas como beneflClanas. Ver, a este respeito, ROSSI
mero de ce~ta: de ahmentos dlstnbUldas pelo Comunidade Solidária evoluiu de 3, I milhões em I 1998).
p~ra 7,5 mrlhoes em 1996, 14,8 milhões em 1997, alcançando a soma de 29,8 milhões em 1998. ~IU
13 Como, por exemplo, ofertar moradia gratuita num imóvel de propriedade do governo.
numero absolutamente surpreendente, dado tratar-se de uma intervenção de caráter emergenClal.
14 Sejam eles cupons, cartões de crédito ou outra modalidade afim. .
10 A m~t~dol?gia qu~ ~lassifica os programas compensatórios em estruturais, emergenciais o~
comerclahzaç~o subSidIada encontra-se explicitada no capítulo m, "Avaliação das políticas pub 15Várias pesquisas realizadas nos Estados Unidos convergem p~ra a con~lusão de que os FSPs le-
c~s descentr~hzadas de segurança alimentar", de autoria de Maria Regina Nabuco et alii, no rdar . am a um aumento do consumo de alimentos. Ver, a este respeIto, ROSSI( 1998), Fraker (1990) e
no da pesqUisa coordenada por Lavinas (1999). Fraker,Martini e Ohls (1995).
532 533
à liberdade de escolha dos beneficiários no uso do recurso que lhes é alocado, . .. I' ação de alimentos de maior cobertura no país, e de relativa eficácia: o ~
~ uerClaIZ
E
CQ
duzindo o nível de bem-estar possível das famílias; b) o incentivo à fraudecOIll rOgrama Cesta do Povo [ver Lavinas ( 1999) l. _ . . CQE
~ intuito de "curto-circuitar" os constrangimentos impostos pela forma do b I . A idéia é avaliar qual o aporte desses programas à reduça.o do ~r~u.de mdI- .~
~
~ fício; c) os trade-offs entre benefício in natura e altos custos administrativos;\ . do pu'blico-alvo contra-argumentando sobre a maIOr efIcaCla de se .~
i" o estigma social que pesa sobre famílias e/ou indivíduos identificados como tu- 'nCla ' .
nsferir renda à clientela preferencial. Fmalmente, vamos co~~ara
r o custo
.
.ªi
{j digentes.
~ a . t 'buição de uma cesta de alimentos do Prodea com seu SimIlar, :rendidO
d tS n . d'o paiS, para o qual dispomos ...,
~ Os que defendem a adoção do benefício na forma de renda consideram q . all'mentar de três cidades rmportantes ~
.~ novarejo ..
.g o essencial é reduzir o déficit monetário das farm1ias mais vulneráveis pennitind e informações que permitem tal comparablhdade . ~:c
lhes viver mais confortavelmente, ainda que ao custo de um grande "vazamen- '"<>
to": segundo estimativas realizadas por estudiosos americanos [citados p .~
Rossi (1998, p. 4)], cada dólar transferido na forma defood stamps leva a um au- 3. Escopo de um programa de combate à carência ~
mento médio de 30 centavos por dólar das despesas com alimentos, tal razão cain- alimentar ~
do para 10 centavos por dólar no caso de transferência monetária de renda nii O de carência alimentar depende essencialmente do déficit de renda .~
\inculada.
No BrasiL muito embora os estoques reguladores - que, no passado, a
guravam baixo custo à distribuição de alimentos por parte do governo federal
!l'gistr;~~upor uma família ou indivíduo, portanto, varian~~ bastante.e~l_fun-
-~ da distância da renda disponível vis-à-vis o patamar baslco de aqulSlçao de
ma dada pauta de alimentos. Graus agudos de carência alimentar po~em ser
1
'-'l
;:
nas frentes de emergência - tenham se reduzido drasticamente em razão ia
abertura da economia, onerando, portanto, a aquisição de grãos (preços de DI r-
inônimo de fome, mas nem toda carência alimentar expressa automatlcamen- 1
lI'tal fenômeno. , . 1)
cado) para fins da distribuição de cestas básicas, predomina ainda o bencfíci . . 'o de farm1ias que sofrem de algum grau de carenCla. <3
Para estlmarmos o numer
natura nos programas assistenciais. O custo desta opção jamais foi corretamen , . a cnaçao
. - de uma linha a ser adotada como
limentar no país, faz-se necessana . cn-
d
estimadol7 em cada uma das modalidades atuais dos programas compensatóri .
tériode seleção deste grupo. As formas dc se calcular tal linha podem vanar, c-
Pode-se supor, entretanto, que o benefício aportado por estes programas é mar-
ndendo da seleção de variáveis a serem agregadas (renda, autoconsumo etc.).
ginaL além de ser quase impossível mensurar seu impacto nutricional.
este trabalho, optamos por definir a linha dc carência alime.ntar.: tendo
A finalidade deste artigo é investigar se, no caso brasileiro, a adoção de b -
r base o consumo de 2.200 kcal diárias, recomendado p~la Orga~lzaçao para
nefícios na forma de renda, nos programas voltados para o combate à carên i
alimentar junto às populações em situação de risco, deve prevalecer sobre IOd imentação e Agricultura (FAO ) como pa d r ão ideal de ahmentaçao. Uma . vez d
finida a quantidade de calorias, calculamos o custo desse c?nsumo a partlf .0
qualquer modelo de distribuição in natura. Para taL vamos estimar qual o quad
reçodos 13 produtosl8 que compõem a cesta do Decreto-Lei 399, de 193,8, .cuJo
de carência alimentar existente hoje no Brasil- por ser esta a clientela poten i
I é feito pelo Departamento Intersindical de EstatIstlCa e
de programas de segurança alimentar, que costumam utilizar benefícios in ri Ii 'antamento mensa '1' 20 E dimos
- e cruzar tais dados com o custo anual aproximado e o grau de cobertura tudos Socioeconômicos (Dieese)\9 para 16 cidades brasl eiras ... xpan
programas como o Prodea. Em segundo lugar, vamos tomar como eslU I 'es valores para as zonas urbanas dos estados brasileiros, ~tlhzando como
caso, no Estado da Bahia, um dos programas compensatórios de subsídio à proximação os valores das capitais e, na ausência de tal valor, I~putan~o °dda
pital mais próxima ao estado. Para o cálculo dos valores da reglao rura , re UI ~
10530%21 dos valores para a zona UI b ana. Como esperado , o Nordeste rura e
16 Nos Estados Unidos, estima-se que os custos administrativos do FSP alcancem em 19961
- igualmente distribuídos (50%-50%) entre os governos federal e estadual. Se fosse adotada a t
ferência de renda monetária, haveria uma economia anual de US$ 3 milhões, num progral~l . - , f' me bovina sem osso, arroz, pão fran-
Os13produtos levantados pelo Dlees~ sao: ~çucar, ca e c~ h d trigo ou farinha de mandioca
custo anual é de US$ 26 bilhões em 1996, atingindo 25,5 milhões de pessoas, isto é, aprox10I i
banana, tomate, feijão, óleo, marganna, leite, batata, ann a e
mente 10% da população americana ou 70% da população pobre. e como substituto da farinha de trigo no Nordeste). , .
17 Um estudo do Banco Mundial para o Nordeste, de dezembro de 1998, intitulado Pub/icexl fi Optamospelo Dieese, em lugar de outras re~erência: ~o~s~ve~~~~~:~lt~~~~~~I~,: I~~~c;e~~~~~~
for poverty alleviation in Northeast Brazi/: promoting growth and improving services, limita-se a a: om cobertura metropolitana que oferec~ ong~ sene In ~r . omo TO do custo
página 43 que não existe informação disponível para se avaliar o grau de eficiência na .foe a Usoem outros estudos e pesquisas por nos re~ltzabdos.TaiS ~al~~~Sr~ep%~~~~ação ~o ~drão ali-
dos programas de doação de. alimentos (largeted food handouts), evidenciando que, maiS UjOl o ai de aquisição a preços de mercado de c~lonas . a~atas e l e a
esse tipo de política, na forma implementada, impede qualquer tipo de avaliação acerca l ': nlar das camadas mais pobres da populaçao braSileira. . , I'
qualidades ou falhas. De fato, nem mesmo a Conab que gera e coordena a distribuição das c~ d . . tes cidades brasileiras: Flonanopo IS,
O Dieese levantou os preços ~o.s 13 pro utos nas s.egXI~ . Salvador São Paulo, Brasília,
sicas no programa federal dispõe de uma estimativa rigorosa que considere, além do CUSIO l o
HOrizonte,João Pessoa, CuntIba, Porto Alegre, RIO. e anelro, '
fício direto, os custos administrativos . finia,Fortaleza, Recife, Belém, Vitória, Natal e AracaJU.
535 .,-
534
a zona que apresenta os menores valores de linhas de indigência, sendo que
~~ Sul e Sudeste urbanos são as que apresentam
° Tabela 1 ::::
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os maiores (ver Tabela 1). Custo mensal de aquisição diária de 2.200 calorias a preços da tQ
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cesta básica,a pelo levantamento do Dieese - 1997b (EM R$) '"
g É importante ressaltar que o cálculo do total Brasil foi feito tendo como "
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~ base as diferenças de preços regionais (por estado e áreas rural e urbana). Logo, CUSTO DO CONSUMO DE 2.200 CALORIAS
número de famílias, o total de pessoas e o público- alvo potencial de um eventual 35,81 51,15
'"'"
Mato Grosso do Sul
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programa de erradicação da fome. Alagoas 35,12 50,18 :s
Nordeste ~
Como podemos observar na Tabela 2, o Nordeste é a região mais crítica, isto Bahia 34,23 48,90 .E
é, a que apresenta a maior proporção de famílias em situação de carência ali- ~
Ceará 33,01 47,15 "
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méntar, junto com o Estado do Tocantins. No Brasil como um todo, cerca de 47,15 ''''
Maranhão 33,01 ã
21 % da população não têm renda para adquirir as calorias necessárias, o que
Paraíba 33,35 47,65 ~
pode ser visualizado no Gráfico 1. O número de famílias consideradas alvo che- E
50,41 8
ga a 7 milhões. O público beneficiário estimado para esse programa seria, apro- Pernambuco 35,28 -@
33,01 47,15 "
ximadamente, de 32 milhões de indivíduos. Piauí
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Rio Grande do Norte 35,50 50,72 E
Uma vez estimado o público-alvo de um programa nacional de combate à <3
carência alimentar, cabe calcular seu custo mensal. Calculamos o benefício a Sergipe 35,12 50,18
ser dado por família, pois acreditamos que um programa de distribuição de ren- Norte Acre 53,27
da deva ter como objetivo a família, e não apenas o indivíduo.22 Assim, estima- Amapá 53,27
mos inicialmente o gap per capita a partir do número médio de membros na fa- 53,27
Amazonas
mílias. Como podemos observar na Tabela 3, para um benefício médio por faml-
Pará 53,27
lia de R$ 95,60, o custo mensal do programa seria de R$ 706 milhões, desp n-
Rondônia 53,27
dendo anualmente perto de R$ 8,5 bilhões.
Roraima 53,27
Como o atendimento integral dos indigentes representa um custo mui
Tocantins 37,29 53,27
elevado, fizemos algumas simulações, para que pudéssemos ter idéia das di -
rentes combinações de grau de atendimento das necessidades calóri Espírito Santo 36,55 52,21
vis-à-vis o custo do programa para, em seguida, definir qual a melhor rcla Minas Gerais 41,12 58,74
Rio de Janeiro 40,77 58,24
2t Com base em tabulações especiais (POF I986/PNAD t997) de Sônia Rocha, com cálculo. d São Paulo 44,56 63,65
nhas de pobreza urbana e rural de algumas regiões, arbitramos um valor médio p~ra zon~ I 61,47
Paraná 43,03
inferior em 30% ao estimado nas zonas urbanas. Segundo a referida autora. esse (hfcrenClil
. em 1997, entre 27% no Rio de Janeiro, 40% no Nordeste e 33% no Sul. Rio Grande do Sul 41,82 59,74
22 A opção por uma transferência de renda individual ou familiar não é trivial nem tampo~
mática. Os programas de garantia de renda mínima em vigor na Europa, por exemplo, ca Santa Catarina 36,82 52,60
valor do benefício com base na composição da família (estrutura e nÍlmero de pessoas) e na • e; PNAD de 1997.
familiar percapita. Em princípio, é atribuído o valor percapita integral do benefício ao c~ef:, e Cesta básica do Decreto-Lei 399/38 que contempla: no Nordeste, 3kg de açúcar, 0,3kg de café, 4,Skg de carne bovina sem
. 3,.6kg de arroz, .6kg de pão fran~és, 7,5kg de banana, 12kg de tomate, 4,5kg ~e feijão, uma lata de óleo, O,l5kg de rnarga-
dele aos demais membros da família até um determinado limite. Somente portugal atribUII I 50 se" litros de leite, 3kg de farinha de mandioca e, nas outras regiões, 3kg de açucar, O, 6kg de café, 6kg de carne bOVina se~
lor do benefício a cada indivíduo, rompendo com o princípio da "solidariedade famili~r" pafil s.3k~ de arroz, 6kg de pão francés, 7,Skg de banana, 9kg de tomate, 4Skg de feijão, uma lata de óleo, O,lSkg de margart-
da e o consumo. Nossa opção ~ distinta das duas formas de cálculo anteriores, por cSlJn~a~m p ,,/tros de 'eite, I,Skg de farinha de trigo, 6kg de batatas.
teças coletados para as capitais, em valores correntes de 1997.
médio per capita para todos os membros da família, embora considere a família como nuCeu
rio. Tal opção apóia-se no trade-ofJentre elevada intensidade e abrangência da pobreza, P ~
e baixa disponibilidade orçamentária, por outro. A individualização do benefício .dCVC~:l
tese, o critério mais adequado no nosso entender, embora julguemos que ele hoje SCJil de
cação no Brasil.
VI
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Desigualdade e pobreza no Brasil I 0\
Tabela2
•
Público-alvo potencial de um programa de combate à carência alimentar (2.200 kcal)a
NÚMERO MÉDIO , NÚMERO DE FAMíLIAS PÚBLICO-ALVO
UNIDADE DA PROPORÇÃO DE FAMíLIAS GAPMÉDIO DE MEMBROS NAS FAMIlIAS INDIGENTES APROXIMADO
REGIÃO FEDERAÇÃO INDIGENTES (%) PER(APITA (RS) INDIGENTES
dução de quase 20%do seu valor, caindo para R$ 76,22.Já o custo total do programa
(colltillua)
é reduzido mensalmente para R$ 384 milhões, e o anual, para R$ 4,6 bilhões. OU
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Desigualdade e pobreza no Brasil I ~
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zese altamente ineficientes, e cujos recursos poderiam ser realocados (talvez num
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Ll'I N Ll'I N N to atualizado em valores de 1999 alcançaria R$ 5 bilhões anuais, representaria '"
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FEDERAÇÃO
INDIGENTES FAMíUA(R$}
O SALARIO
MíNIMOO POR UF (RS)
Cabe à Conab a operacionalização do programa. Entre as suas funções, es-
.".:;;
..,l:: Sudeste Espírito Santo 84.966 73,90 0,62 6.279.242
~
li tão: definir a localização das unidades armazenadoras (PRDs) de onde os ali-ª
~"
ii!
Minas Gerais 562.250 74,12 0,62 41.672.283 lI1entos são levados para os municípios; prestar todo apoio logístico, desde a l
Rio de Janeiro 268.682 75,91 0,63 20.395.113 aquisição dos produtos até a sua distribuição nos municípios, e realizar o con- ~
"'"
.~
:c São Paulo 590.067 104,20 0,87 61.483.801 trole de qualidade desses produtos. A Conab também acompanha e executa as ~
~"<>
Q
Sul Paraná 243.994 75,81 0,63 18.495.965 deliberações da Conex, órgão superior de acompanhamento do Prodea que con-
Rio Grande do Sul 237.583 77,64 0,65 18.445.944 ta com representantes do governo federal. .~
Santa Catarina 62.814 76,57 0,64 4.809.417 Além da Conab, participam das operações do programa as prefeituras e a 'E
4.612.956.107
sociedade civil, representada em cada município pela comissão municipal. Em :€~
Custo anual Brasil
regra, é a comissão municipal que realiza a seleção e o cadastramento das famí- "
• Fonte: PNAD de 1997.
a Preços cafetados para as capitais, em valores correntes de 1997.
lias a serem beneficiadas, além de elaborar relatórios mensais para a Conexo É :~g
b O vator do salário minimo. em setembro de 1997. era de R$ 120. ainda função da comissão organizar a distribuição das cestas. Quanto às prefei- ~'
tUfas, suas principais atribuições são a criação das comissões municipais e o ê
Tabela7 transporte dos alimentos das centrais de armazenamento da Conab até o local ~
onde é feita a distribuição no município. ~l::
Estimativa de impacto da implantação do programa de Para ser beneficiário do programa, são exigidas algumas contrapartidas, a
distribuição de renda no déficit público esperado para 1999 que, em geral, estão ligadas à área de educação (por exemplo, participar de pro-
gramas de alfabetização, matrícula dos filhos na escola etc.), à área de saúde
PIB estimado para 1999 R$ 1 trilhão
(apresentação de carteira de vacinação dos filhos etc.), à realização de trabalhos
Déficit público esperado para 1999 como proporção do PIB 8% comunitários, entre outras.
Déficit público esperado para 1999 em valores monetários R$ 80 bilhões De cunho compensatório, o Prodea atua na distribuição de cestas de ali-
mentos. A sua composição sofreu alterações desde o início do seu funciona-
Custo de imRlantação do programa de distribuição de renda
para o atendimento de 75% do requerimento calórico' R$ 5 bilhõesb mento, sobretudo em função de dificuldades na liberação dos estoques públi-
cos. Como mostra a Tabela 8, de 1995 para 1997 foram agregados mais dois ali-
Impacto dei programa de distribuição de renda no aumento do déficit mentos no mixoferecido na cesta: farinha de mandioca e macarrão. Apesar disso,
público 0,5%
ocorre uma redução na sua quantidade e sobretudo nas kcal proporcionadas, que
Fontes: PIB: analistas de mercado; déficit. analistas de mercado; programa de renda. Lavinas e equipe. do IPEA.
a O requerimento calórico dIário per C'p,ta é determinado pela FAO. tiveram uma variação negativa ao redor de 20% entre 1995 e 1996, permanecen-
b Valores atualizados pelo IGP.M da FGV para junho de 1999.
do praticamente inalterada em 1996 e 1997.23
A Tabela 9 traz o aporte calórico per capita médio proporcionado pela cesta
4 - As experiências nacionais dos programas de combate à do Prodea em cada unidade da Federação, no ano de 1997, com base no número
fome: o caso do Prodea de membros das famílias pobres, segundo dados da PNAD 1997. Pode-se obser-
Existem no Brasil programas que visam reduzir a carência alimentar de Varque no Ceará o número adicionado de calorias é menor (15 mil kcallmês), ao
grupos sociais em situação de risco, e cujo desenho guarda um viés de cunhO passo que em São Paulo alcança valor mais favorável (19 mil kcallmês). Para o
emergencial. Um deles é o Prodea, do governo federal. Na perspectiva de estio Brasil, esse valor é de 16.647 kcal/mês.
mar sua eficácia na redução dos níveis de carência alimentar no Brasil, foi to-
mado como objeto de avaliação no âmbito deste artigo.
O Prodea foi criado em 1993 em caráter emergencial com a finalidade de -----
23 Em 1998. houve nova variação da composição da cesta, que passou a ser constituída de 5 kg de
socorrer a população carente atingida peia seca no norte de Minas e no Norde - arr~lZ,5 kg de feijão, 5 kg de flocos de milho. 3 kg de macarrão. I kg de farinha de mandioca, 1kg de
açUcare duas latas de óleo, Em termos de calorias, essas ficaram na faixa de 84 mil kcal.
te. Posteriormente, a seleção dos municípios a serem beneficiados foi ampliada
546 547
Tabela 8 Tabela9
~ ~
E E
':::" Composição da cesta do Prodea
<:> Aporte calórico proporcionado pela cesta do Prodea ':::"
<:>
termos de suplementação familiar, no que tange ao atendimento da demaod . PB 5,44 87.895 16.148 538
-
SP
-
4,51 87.895 19.478 649
derando seu foco o quantitativo de famílias que, segundo a PNAD 199 . o TO 5,67 87.895 15.512 517
possuíam renda suficiente para a aquisição das 2.200 kcal per capita/dia, o -
de cobertura (total I) do Prodea é de 15,93% (razão entre o número l11é~jj
cestas distribuídas por mês e o número de famílias em situação de risco alll
l1 - 5,28
Folltes: PNAD de 1997. Conab e Estudo Multicêntrico (Unicamp).
87.895
Elaboração:
16.647
Lavinas e equipe. do IPEA.
555
24 Optamos por calcular dois totais, em virtude do número médio de famílias indigente .
das a partir da PNAD.de não-coleta de dados no meio rural da região Norte.
549
Tabela 11
Grau de cobertura
TOTAL la
1997
~
.;:,
mentar das famílias beneficiadas? Custo por cesta distribuída mais custo dos municípios
O grau de eficácia é de difícil estimação, sobretudo porque não dispomos (EM R$ DE DEZEMBRO DE 1997)
de uma avaliação específica sobre as formas de focalização do programa - que
variam de município para município. Logo, não há como supor que o programa Custo total do Prodea sem pessoal 153.588.412
realmente atenda àqueles que estão em situação de maior risco alimentar. nem 295.974.148
Custo total do Prodea com pessoala
tampouco pode-se identificar o lugar de cada família de beneficiados ao longo
~sto total dos municípiosb 524.500
Número
do Prodea com pessoal (exceto
de cestas distribuídas
Brasília)a 295.974.148
14.840.693
- em Brasília.
b E~;mativa dos gastos de todos os municípios
6r-'sa de campo em municípios
Icas, FinepIIPEAISBE.
com a distribuição
da Bahia do projeto Segurança
das cestas do Prodea. O valor foi calculado com base na pes-
alimentar e descentralização: novos rumos para as políticas pú-
----------------------------------
10,35
19,94
-
27 Comentários baseados na pesquisa de campo do projeto Segurança alimentar e descentralização: no-
vos rumos para as políticas públicas, realizada em municípios da Bahia.
553
552
Gráfico 3
2.600
2.200 kcal/dia per capita 2.400
2.200
2.000
1.800
1.600
1.400
1.200
1.000
800
600
400
A partir da Tabela 2, é possível fazer uma caracterização do público-alvo
200
O potencial de um programa baiano de combate à carência alimentar. A propor-
4 8 10 12 14 16 18 20 22
% da população
ção de indivíduos com algum grau de carência alimentar na Bahia é de 27%, o
Fonte: PNAD de 1997.
que gera um público-alvo potencial de 4,3 milhões de indivíduos ou 903 mil fa-
mílias, com base no cálculo da PNAD 1997, O Prodea, por sua vez, atendeu,
Resumidamente, observamos nest ,.,
distribuição baixa efica'cI'a b' b e exerClClo Importantes ineficiências d segundo dados de 1997, a 220.238 famílias em 98 municípios baianos, o que re~
, e aIXa co ertura c . d' d
vidade do programa como . d : o~~ In Ica ores da pouca cfcti- presentaria perto de 30% da população-alvo.
melO _e combate a mlseria,
Quanto custa adquirir os alimentos distribuídos pelo Prodea na rede Cesta
do Povo?
5 - Comparando vantag d d"f
e I erl~ntes programas
compensatórios de seengsu A Tabela 15 apresenta em paralelo os custos da cesta de alimentos do Pro-
rança a Imentar
dea vis-à-vis os do Cesta do Povo, Constata-se que é cerca de R$ 3,50 mais barato
Para refletir sobre o grau de eficiê . d adquirir a mesma pauta de alimentos na rede baiana. Em termos calóricos, em
metro de comparaça-o d d _ nCla o Prodea, estabelecemos um pará-
, a a a nao-co 'bTd dezembro de 1997, gastando R$ 19,98 em uma loja do Cesta do Povo, uma família
distribuída pelo Prodea d D mpa~1 I I ade entre a pauta de alimento
e a o ecreto-LeI399/38, teria acesso a 24% mais calorias da pauta de alimentos distribuída pelo Prodea.
Estudaremos o caso da Bahia ond .
segurança alimentar com base n~ v e eXiste ~~ programa compensatório
Povo, Apesar de não se t t d enda subsidiada de alimentos, o Cesta d
~ ra ar e um program' .
efeito regula tório importante no a gr~tUlto, nem focalizado, po . UI
além de compensatório, mercado varejista de alimentos do estad • 28 Não há fornecimento de embalagens.
29 São comercializados cerca de 93 produtos: 57 alimentos e o restante dividido entre higiene peso
g cio no acesso alimentar às famílias beneficiárias que alocassem essa renda 0,35 0,42
Cesta do Povo,
0,35 0,36
Usando, portanto, a linha do requerimento calórico (2.200 kcalldia) a p
porção de pessoas abaixo da linha de carência alimentar permanece inalterada 0,35 0,35
mas a intensidade do déficit cai de 42% para 36%. Acrescentando o diferenci
calórico proporcionado pelo Cesta do Povo, esse número chega a 35%, eviden . re. PNAD de 1997. d 1997
Preços coletados para ~s capitais, .em valores correntes e da c~sta básica levantados pelo Dieese.
ando acréscimo residual (ver Tabela 16). iMdd familiar per caP.lta convertld~ com ba~e nos preçO~a ro ordonadas pela cesta do Prodea. ., .
enda familiar per caplta em kcal/dJd, acreSCida das ca/o.n 5 p p. d ela cesta do Prodea e do diferenCIaI ca/oflco ad-
Essa diferença entre o aporte calórico obtido por meio do Cesta do Povo' lMda familiar per capita em kca/ldia. acrescida das caloflas proporCiona as P
fNida, no Cesta do Povo.
obtido pelo Prodea é, na verdade, muito pequena. Entretanto, há outras vant _
gens ofertadas pelo Cesta do Povo em comparação com o Prodea:
lamer ambos dadas as caractensticas , ' do Cesta d o P ovo que , aliás 'brefocalizou
f'
a) redução do grau de ineficiência
porque o gasto do Prodea tem alto Cll. ( centemente ~ subsídio público nos produtos básicos, aumentando 0dene 1C;0
administrativo (praticamente roO% sobre o custo de aquisição de alimento '), '
ransferido à população. Mas o caso b alano na- o pode se estender a to obo pais.' ,
que não se verifica no caso do Cesta do Povo; e
sim resta saber se na hlpotese e uma esa t'Iva ção do Prodea "d
" d d e sua su StltUl-
b) a alocação do benefício por intermédio da compra no Cesta do Povo _ r -o por' uma transferenCla
" . direta
. d e ren d a, a ace ssibilidade sena garanti a no
melhor por causa do maior grau de liberdade dos beneficiários na escolha ejo em geral, ou se havena per a d o b ene f"IClO,dado o valor elevado dos preços.
, d
produto que mais lhes convém, reduzindo, portanto, o desperdício e aumeIllall-
do o bem-estar.
"6. O varejo
Quanto às desvantagens, sem dúvida a mais relevante diz respeito à utili-
zação de dois subsídios, um pelo lado do Cesta do Povo e outro pela tran 'fer n- Nesta seção, comparamos o custo estimado da cesta do Prodea ~~m os pre-
cia de renda. Dois benefícios quase idênticos na sua finalidade, levando, poi . de mercado pesquisados em tres , capitaiS,
.. co mo obJ'etivo de venfIcar.' se um
uma elevação ainda maior do gasto social. A pergunta que se coloca, ponant nefício cedido na forma de ren d a monetana, e vez de cestas de alimentos,
"m . ,
se seria adequado manter esses dois subsídios. Talvez na Bahia fosse po í nseguiria garantir o mesmo grau d e acessl 'b'l'd
I I a de alimentar _ . Isso sena
, POSSI-
' ,
, . Ieva d o a uma forte reduçao
Ipor ter a estabilização econOllllca . . dos diferenCiais
Tabela 15 preços entre o varejo e os equipamentos públicos subsidiados. .
A Tabela 17 mostra os preços no varejo de três capitais selecionadas (Cun-
Aporte calórico do Prodea a preços do Cesta do Povo . Belo Horizonte e Salvador) dos mesmos produtos que sao - d'Istn 'b UI'dos nas
.
36 Como. por exemplo. a obrigatoriedade de conclusão do primeiro grau para toda criança.
35 A linha de 2 .200 k ca I/dla
. e. cerca de 30% m enor na area
. 37 PNAD 1997 (Brasil. exceto a área rural da região Norte).
urbana.
560
'õ;
E
.B., ALSTOIT,A. The stakeholder society. New Haven and London: Yill
ACKERf':'lAN,
Umversny Press, 1999. .
o seguro-desemprego
no contexto do sistema
""g
~ BOWLES, S., GINT~S:H. Efficient redistribution: new rules for markets, stiltes público de emprego e o
-i
'"
and commuml1es.ln: WRIGHT,E. (ed.). Recasting egalitarianism. London and
New York: Verso, 1998.
seu papel no combate à
'"
pobreza no caso
1.~ FRAKER,T. T~e effects of food stamps food consumption: a review of the literature.
0~1
Alexandna, Va: U. S. Dep. of Agnculture, Food and Nutrition Service, 1990.
brasileiro*
Cl
FRAKER,T., .MARTINI, N., OHLS, J. C. The effect of food stamp cashout on food
expendnures: an assessment of the findings from four demonstrations.
Joumal of Human Resources, v. 30, n. 4, p. 633-649, 1995.
GILBERT,N. Welfare justice: restoring social equity. New Haven and London: Yale José Paulo Zeetano Chahad**
University Press, p. 66, 1995.
WRIGHT, E. (ed.). Recasting egalitarianism. London and New York: Verso, 1998. • Oautor agradece à mestranda Claudia Ferreira Cruz pela leitura e revisão do texto, e à estagiária
PriscillaMatias Flori pelo levantamento de informações e pela edição do texto. Os erros remanes-
centes são da inteira responsabilidade do autor.
" Professor titular da FENUSP e Pesquisador sênior da Fipe.
562 563
da pobreza dependem menos das políticas do mercado de trabalho do que d ~adro 1
'Ei uma efetiva retomada do crescimento com distribuição de renda. Mas somente
~ isto não basta. É preciso iniciar esta modernização desde agora, uma vez que a Objetivos básicos do programa de seguro-desemprego
~ transformações no mercado de trabalho não dependem, necessariamente, da volta
a do crescimento, pois o know-how dessas nludanças já é conhecido, e o prograrna de
I . Assistência ao trabalhador durante o desemprego ~
~ seguro-desemprego conta com os recursos necessários para iniciá-las.
~ a) garantir segurança econômica e nível de subsistência de uma forma digna, ordeira e !
!:: Este texto procura, assim, mostrar que se o seguro-desemprego é limitado, automática àqueles involuntariamente desempregados, por meio do pagamento de um i
~ por sua natureza, no que diz respeito ao combate direto à pobreza, sua articulação benefício monetário; ~
com outras políticas voltadas para o mercado de trabalho é indispensável para b) capacitar o trabalhador a manter seu padrão de vida, repondo parcialmente o seu nível ~
promover a elevação do bem-estar dos trabalhadores, e para aumentar a eficiên.
cia do mercado de trabalho, contribuindo, dessa forma, ainda que indiretamente,
salarial; 1
c)permitir que o trabalhador preserve sua habilidade e experiência adquirida ao longo do ~
para uma melhor distribuição de renda e diminuição dos níveis de pobreza. seu período de engajamento na força de trabalho; e . ;;
• Com este objetivo, o texto encontra-se estruturado da seguinte forma: a d) minimizar o ingresso de outros membros da família no mercado de trabalho, mantendo "~
Seção 2 traz as finalidades do programa de seguro-desemprego, indicando a ne- parte da renda familiar. ~
cessidade de sua integração com outras políticas da área trabalho, para que ele ~
11- Organização do mercado de trabalho e menor utilização da mão-de-obra ]
..,
possa atuar em sua plenitude. A Seção 3 contém uma retrospectiva sumária do
'[
programa brasileiro, mostrando que este vem se tornando um importante in - a) encorajar e manter o incentivo ao trabalho;
';;;"
trumento de assistência ao desempregado. A Seção 4 traz a discussão da nece . '"
b) colocar em novas vagas e manter informados os desempregados sobre as .~
sidade de se integrar as políticas ativas e passivas da área trabalho, inclusive o oportunidades de emprego, de acordo com sua habilidade; ~
seguro-desemprego, em direção a um sólido SPE, entendido como um caminh c)incentivar a mobilidade do trabalho e as potencialidades do trabalhador, retreinando os 'lit"i
seguro para promover o alívio da pobreza por meio do mercado de trabalho. A desempregados; e :3
Seção 5 indica as principais causas, condicionando a adoção das proposta' de ~
d) acompanhar as necessidades da demanda de trabalho e as mudanças no perfil da
reformulação apresentadas. Seguem-se as principais referências bibliográfica oferta de trabalho.
que deram suporte à elaboração do texto.
111
- Envolvimento direto do empregador na solução do desemprego
l'!
~ Mesmo com essa ampla gama de objetivos, enfatiza-se que o seguro- Brasil: histórico do seguro-desemprego - 1990/98
~ desemprego não pode, nem deve, ser tomado como uma panacéia, seja na solu-
i ção do desemprego involuntário, seja na eliminação da pobreza. Ele representa TAXA DE
DESEM-
SEGU-
RADOS
íNDICE DE
HABJLli,
COBER-
TURA
COBERTURA VALOR
MEDIO DO
GASTOS
COM %00
~ apenas um instrumento a mais no arsenal de políticas sociais do Estado, com ANOS PREGO
ABERTOa
(EM MIL TAÇAO DA PEAc FO~SALd BENEFlClOe BENEFíCIOS PIB
HAB.) (%) (%) ('lo) (EM SM) (EM US$ MIL)
~ intuito de minorar os males da desocupação da pobreza e da concentração de ('lo)
.~ salários e rendas. Não representa, e nem deve ser entendido como solução má- 1990 4,4 2.807 90,6 4,9 16,0 1,75 1.236.731 0,32
:c
Q gica para esses problemas, pois, sob a ótica da ocupação, não fornece emprego
1991 4,8 3.498 93,9 5,8 16,3 1,83 1.412.894 0,34
diretamente ao desempregado e, sob a ótica da 'pobreza, destina-se somente aos
trabalhadores do mercado formal, ainda assim para repor parcela da renda per- 1992 5,7 3.895 97,1 6,1 18,7 1,69 1.440.626 0,35
dida pelo desemprego. Sua função primária é distribuir, da maneira mais eqüi- 5,7 18,0 1,41 1.559.106 0,36
1993 5,3 3.756 98,2
tativa possível, e da forma mais justa e ordeira, os riscos do desemprego entre os
tralYalhadores assalariados. 1994 5,1 4.030 98,5 6,0 19,0 1,55 1.846.799 0,34
Ademais, o seguro tem seu alcance limitado, uma vez que se restringe so- 1995 4,6 4.737 98,9 6,4 22,5 1,54 3.146.552 0,44
mente a uma parcela da força de trabalho. Mesmo para os trabalhadores do 99,2 5,7 20,9 1,56 3.289.269 0,44
1996 5,4 4.359
mercado formal, os benefícios não são pagos em qualquer situação de desempre-
1997 5,7 4.381 99,0 5,6 21,1 1,57 3.200.348 0,44
go, nem garantidos durante todo o período de desocupação, além de repor apc-
nas parcela do poder de compra do desempregado. 1998 7,7 4.424 99,0 6,1 18,8 1,57 3.494.328 0,58
O seguro-desemprego compulsório, organizado e comandado pelo Estado, Fontes: MTblDised; Rais e Caged; IBGfIPMf; e Banco Central do Brasil .
• Média nas seis principais regiões metropolitanas.
sempre prevê condições de acesso, exceções, exclusões, carência, valor e dura- •% de segurados em relação ao total de requerentes.
ção máxima do benefício, os quais buscam limitá-lo e torná-lo operacionalmen- Requerentes como % da PEA.
• % de segurados sobre o total de trabalhadores no mercado formal (RaisICaged). '"2'
te administrável. Assim sendo, seu alcance para aliviar a pobreza e redistribuir a ~5M = salário mínimo. ;:,.
renda fica bastante restringido, ainda que claramente definido, o que não tcm ;:;
~
"t
impedido de transformá- lo num mecanismo justo e organizado de assistência os preceitos constitucionais.2 Ao final de 1998, pagava benefícios para cerca de s
aos trabalhadores involuntariamente desempregados. 4,4 milhões de trabalhadores, representando aproximadamente 6,1% da popula- ~
ção economicamente ativa (PEA), cerca de 18,8% dos desligados do setor formal,
3 - A dimensão do atual programa brasileiro de pagando, em média, 1,57 salário mínimo de benefício, representando perto de
seguro-desemprego US$ 3,5 bilhões, ou seja, 0,58% do PIB.
Apesar de ser relativamente novo, o programa de seguro-descmprcgn j,í Nota-se, também, que tanto a habilitação, quanto a cobertura e os gastos
encontra consolidado no instrumental de políticas sociais disponível para a i- do programa têm revelado constante crescimento, o qual não deve ser atribuído
tir o trabalhador brasileiro. Trata-se, entretanto, de um instrumenLO ba~tal1t SOmente ao aumento do desemprego. Embora venha ocorrendo uma elevação
limitado, cumprindo apenas algumas de suas funções, e não se articulando (011 no patamar do desemprego, mormente após o Plano Real, o aumento daqueles
os êlemais programas voltados para o mercado de trabalho, conforme aprc,en- indicadores deve-se a outras causas. Em primeiro lugar, a legislação tem se tor-
tado na subseção anterior. nado bastante permissiva quanto aos critérios de ingresso, "flexibilizando as
Condições de habilitação, acesso, e permanência dos desempregados em mo-
3.1 - A evolução histórica do seguro-desemprego na década de 90 mentos de elevação do desemprego aberto (involuntário), em decorrência de
rises econômicas conjunturais"( Chahad (1999, p. 111) l. Em segundo lugar,
A Tabela I contém uma retrospectiva dos principais indicadores dc t'\olu-
çilo do seguro-desemprego, desde que foi regulamentado o Fundo de Ampa
ao Trabalhador (FAT) quando o seguro passou a operar em conformidade J
--
tem aumentado o número de parcelas a serem pagas, notadamente em áreas
~ a eles e que se destina. Como tal, tem contribuído para aliviar as mazelas do de- Beneficiários com menos de 24 anos 30,4 29,6 22,7
se~llp_rego e, conseqüentemente, da pobreza que possa dele advir. Além disso, a
7'
cnaçao do FA s~ fez com a dotação de recursos do PIS-Pasep, o que representa
Beneficiários com escolaridade primária
ou menos 28,5 31,6 24,0
uma transferenCla de recursos do setor produtivo para os trabalhadores.3 e te
Beneficiários recebendo dois salários mínimos ou
sentido, parece_legítimo afirmar que o programa de seguro-desemprego brasilei- menos 40,1 42,9 28,6
ro, apesar de nao ter como objetivo final eliminar a pobreza (assim como não é ° 'Ocupados na construção civil 12,2 12,8 4,6
• em nenhum país que o adota), acaba por contribuir, também, por esse cami-
Fonte: Caged/MTE.
nho, para impedir que o bem-estar do trabalhador desempregado caia tanto
quanto sua renda, com impactos positivos para minorar sua pobreza temporária.
4 - A reformulação do programa brasileiro de
3.2 - Perfil do beneficiário e combate à pobreza seguro-desemprego sob a ótica da consolidação de um
SPE e sua importância para as políticas sociais de
Conforme mencionado anteriormente, o seguro-desemprego tem endere-
combate à pobreza
ço certo, limitando-se aos trabalhadores absorvidos pelo mercado de trabalho
formal, uma vez que o engajamento prévio nesse mercado é condição essencial Esta seção traz inúmeras sugestões e recomendações tendo em vista uma
ampla reformulação no seguro-desemprego, procurando moldá-lo mais ade-
p.~r~ o enqua~ramento. Dessa forma, é interessante saber se o perfil dos bendi-
quadamente ao objetivo de sua inserção no SPE, o qual deverá servir para arti-
Clanos pOSSUIalguma correspondência com o perfil dos desligados e dos ocupa-
cular as políticas ativas e passivas no mercado de trabalho brasileiro.
dos no setor formal, buscando tirar inferências de seu impacto sobre renda e po-
breza. Este, sem dúvida, é o caminho que se deve percorrer para capacitar o seguro-
desemprego a ser um instrumento eficaz no combate à pobreza.4
A Tabela 2 contém um sumário do perfil dos segurados do programa, com-
parando-o com as principais características dos desligados do mercado formal. Dentre as principais razões para essa reformulação, podemos destacar as
assim como do perfil dos ocupados neste setor (público potencialmente apto ao seguintes. Em primeiro lugar, embora tenha se consolidado como um benefício
seguro), para o ano de 1998. De fato, é possível verificar que o perfil dos segura- importante ao bem-estar da força de trabalho brasileira, seu funcionamento
dos tende a ser igual ao dos desligados, não havendo indicações de que aquele- padece de inúmeros problemas burocráticos e administrativos, levando-o a so-
que recebem benefícios constituem um conjunto de trabalhadores COIll"mc- frer burlas, fraudes e vícios, cuja solução é imperiosa para não desmoralizá-lo
lhores" atributos relativamente aos demais trabalhadores. perante os trabalhadores e a sociedade.
Em segundo lugar, é preciso adaptar o seguro-desemprego aos imperativos
Nesse sentido, pode-se inferir que, dentre os desligados no mercado for-
da moderna sociedade, onde rápidas transformações produtivas, científicas e
maI,. o seguro-desemprego tem sido canalizado para aqueles que mais dele ne-
ceSSItam, não contribuindo para aumentar as desigualdades, o que, em si. 11<10
deixa de ser útil no que se refere à pobreza. 4 As políticas ativas compreendem um amplo conjunto de medidas e ações voltadas para melhorar
o acesso dos desempregados ao emprego e ao mercado de trabalho, bem como os aspectos de quali-
ficação da mão.de-obra e outros detalhes referentes a aconselhamento profissional e vocacional a
todos os trabalhadorcs. Engloba. regra geral. os seguintes programas: SPE, formação profissional.
apoio aos jovens. subsídios ao emprego, medidas para os incapacitados. assistência à procura por
trabalho, criação direta de emprego no setor público e auxílio para os desemprcgados (e outros lra-
balhadores) se estabelecerem em negócio próprio. As p,,/íticas p,lssivas compreendem os gastos com
3 Não s.eadentra aqui o mérito de se esta é ou não amclhor forma de financiamento para o F,\T. benefícios do seguro-desemprego e outros benefícios a ele relacionados. inclusive os referentes à
menos amda em outros aspectos distributivos de tributos e pagamento de benefícios. aposentadoria precoce.
571
570 .. -......
..- - ..•.
~-~"-:_~' .•..
'õ; tecnológicas resultam em rápidas mudanças nos padrões de empreg i 4.1 - A integração do seguro-desemprego com as demais políticas .ê
E prego rotar 'd d d - d b - o, (eSelll- voltadas para o mercado de trabalho requer um sólido SPE ~
'" ' IVI a e a mao- e-o ra e outros aspectos que determinam o funcio- E
i: namento do programa. Deve-se levar em conta, também, o fato de que o Antes de reformas pontuais no programa de seguro-desemprego é impres- ""
~
"" do de.. trabalho b rasl'1'elro tem se mo d i f icado em direção à maior informalidade
merca- cindível insistir no caminho de sua integração às demais ações passivas e ativas !
~ nas lelaçoes. de trabalho, trazendo complicações relativamente à identifica ão voltadas para o melhor funcionamento do mercado de trabalho. A experiência :;
í!
1 correta do ti abalhador que procura habilitação ao seguro-desemprego. ç dos países da OECD é bastante clara sobre a necessidade de articulação e inte- i
.~ Em terceiro lugar, é ~ec~ssário aproximá -lo mais da forma de funcionamen- gração entre esses programas. Embora isto não seja garantia de pleno sucesso, .~
g to cons~grada nos padroes mternacionais, seja com relação aos instrumentos sua inexistência certamente acarreta enormes dificuldades para administrar ~
normativos propostos pela OrT, seja adaptando a experiência vivida por naçõ' quaisquer tipos de políticas destinadas ao bem-estar da força de trabalho, em ~
~nde_o seguro-desem~rego já se consolidou, tendo inclusive passado por mod~~ particular a habilitação ao seguro-desemprego. "à
fl.caçoes recen~es. Onel,1tando-se pela experiência internacional, e tendo em Essa integração insere-se no contexto da necessidade de coexistência de ~
vlsta.tr.~tar.-se e um pais carente de recursos, é imprescindível aumentar o grau políticas passivas com as medidas ativas voltadas para atender os trabalhado- ~
de e!I~lenCI~.e mel~orar a eficácia do seguro-desemprego, articulando-o com as res. É importante que as ações ativas endereçadas ao trabalhador não acabem se ~
demaiS polItIcas atIvas exercidas na área trabalho. transformando em local de "estacionamento" para o mesmo, perpetuando sua ~
Em quarto lugar, ainda que seja um programa voltado para os trabalhado- condição de "desempregado de longo prazo" e/ou fique um eterno dependente ~
~
r~.sdo.mer~ad~ formal, é necessário melhorá-lo para elevar seu potencial redis- dos "programas de renda mínima". Por outro lado, os beneficiários de políticas ~
"'-
tllb~tIVO, localIzando suas ações em grupos específicos da força de trabalho, em passivas não devem se acomodar a esta situação, devendo ser induzidos, por ~ :;
partlcular os desempregados de baixos salários, e aqueles cuja contribuição meio de inúmeros mecanismos, a buscar ativamente uma ocupação. .õ;
~ara o orçam~~to familiar é mais importante, concorrendo, dentro de seus obje-
'"
Uma forma de minimizar essas distorções, em que pesem outras dificulda- ~
tIV~S, pa:a alIv~ar a po?reza. Considerando-se que a pobreza possui formas di- des de menor expressão, é implantando um SPE moderno e utilizando "sinais ~3
vel sas e mtensldade diferente entre os vários grupos populacionais o aumento de mercado" para seu funcionamento. No caso brasileiro, essa articulação impõe- i:
de ".bem-estar" oriundo da melhoria do programa de seguro-desen;prego pode se ainda que nenhum dos programas voltados para o mercado de trabalho, ~
ser mterpretado como alívio dos níveis de pobreza.
seguro-desemprego, formação profissional, recolocação e políticas de emprego ~
~
_ Outras razões poderiam ser acrescentadas à lista, mas estas, certamente, e renda tenha tido pleno sucesso em assistir o desempregado e/ou ainda padeça .",
e:tao ~ntre as mais importantes. De qualquer forma, apesar disso, as modifica-
çoes .nao de~em ser realizadas sem um amadurecimento das propostas e das su-
de distorções. a
t,
gestoes, razao pela qual o conjunto de recomendações que se seoue tem o cará- 4.1.1 _ A importância para o seguro-desemprego da existência de um SPE
ter ?~ provocar a discussão nas esferas decisórias, assim como "'entre os alOre eficiente
SOCIaiS,tendo em vista aumentar o potencial de adoção de cada medida a ser 10- Sua existência contribui para promover o desenvolvimento econômico e
~lada. Este procedimento, muito mais do que qualquer expediente demaoógico, social, equilibrar o mercado de trabalho e aumentar o nível de bem-estar da po-
~ um elemento indispensável para a garantia de sucesso nas mudanças a"'serem pulação. Ele é importante ao sinalizar para a sociedade que o governo está aten-
Implementadas. lo e vigilante com sua força de trabalho. O pleno exercício de suas atribuições
As reformas pelas quais deve passar o programa brasileiro de seguro- redunda em taxas positivas de retorno, seja porque contribuem para a diminui-
de.sem~rego podem ser enquadradas em três categorias. A primeira refere- se à ção do tempo de desemprego, ou auxiliam a demanda em selecionar os traba-
necessidade de o programa articular-se com as políticas ativas, em direção a um lhadores mais adequados, ou porque eleva a produtividade dos trabalhadores
n:oderno SPE. A segunda diz respeito às mudanças na própria forma de conces- que utilizam os serviços de emprego.
sao e pagamento do benefício. A terceira compreende as reformas de caráter
Trata-se de uma instituição de caráter público, que tem grande comple-
complementar ao seguro-desemprego.
mentaridade com atividades semelhantes no setor privado, mas com uma van-
tagem: atende tanto a clientela mais qualificada como, também, aqueles seg-
mentos da força de trabalho com maiores dificuldades no mercado de trabalho,
particularmente os desempregados de longo prazo, os trabalhadores de baixa
qualificação, os incapacitados, os migrantes e outros grupos de risco. Ademais,
573
572 ..••.••.
.:•• :_~.J"•..•.••._._.
A questão que emerge aqui é como garantir.a.~lel.hor in.te~r.ação entre os ~
a existência de diferentes tipos de serviços oferecidos de forma centralizada faz
'i::;
ramas, a qual conduza a um aumento de ehoenCla e eflcaoa: devem estar ~
í5 com que os mesmos se reforcem mutuamente. Com o pagamento do seguro. prog '". I h' nte"
g desemprego atrelado à procura por emprego e ao treinamento, a duração ciopa-
juntos OUfisicamente separados?5 Nesse caso, a expe.nenCla reve ~ que. a som~. -<>
~
~
~ retreinamento, ambos se tornam atividades menos onerosas.
Numa realidade que se transforma rapidamente, o desempregado deve ter
bilidade dos programas em determinadas situ,ações, como, por _exemplo, em i
épocas de recessão mais acentuada, quando ha uma concentraçao no seguro- .~
.~ acesso imediato aos serviços que podem acelerar seu reingresso, em curto perío-
desemprego. ~
g do, no mercado de trabalho, uma vez que, quanto mais se retardar seu retorno As vantagens de uma localização única são, contudo, maiore~, ~uper.ando os ~
às atividades produtivas, maior será a probalidade de se tornar um desemprega-
do de longo prazo, ou dependente de programas de assistência social. Isto é faci-
inconvenientes. Em especial, promove maior coordenação admmlstratlVa e a:-
segura que os beneficiários do seguro terão acesso direto e imediato aos .d~~la~s
i
-
litado quando o SPE se encarrega de articular as políticas ativas e passivas. Iso- serviços do SPE. Além disso, a operação conjunta força o aumento ~a efloenoa ~
ladamente, qenhuma dessas ações é, por si mesma, eficiente como deveria ser. pela necessidade de haver maior coordenaç~~ en~re?s progra~as. :m~lmente, a ~
A combinação das medidas passivas e ativas eleva substancialmente o im- operação conjunta é útil, pois pode condUZlr a c:laçao. de eqUIpes tecmca: que se ~
pacto dos programas, projetos e medidas voltados para o mercado de trabalho. complementam, possibilitando ainda uma eqUIpe cUJo tamanho global e menor ~
As medidas ativas necessitam de mecanismos de suporte para se tornarem me- relativamente à soma dos funcionários quando os programas atuam separada- ~
nos custosas (cost-ejJective), como, por exemplo, orientação e aconselhamento ao mente, conduzindo à economia de recursos com pessoal de ambos os programas. .~
trabalhador quanto ao treinamento, e assistência técniCa, inclusive com aporte Isto tem levado à reformulação dos SPE nos países onde estes já operam há .~
de capital, para os trabalhadores que buscam superar o desemprego tornando-se décadas, como, por exemplo, nos Estados Unidos (em muitos d~ s~us estados), ~
pequenos empresários. A necessidade desses serviços é o reconhecimento de el11direção ao chamado Serviço de Emprego com Parada Unt~a (One-Stop ~
que a existência isolada do seguro-desemprego não é um bom investimento Employment Service). Nesse centro integrado, as ações de emprego sao des~nvol- ê
para a sociedade quando a perspectiva é de longo prazo. vidas com as demais políticas que atingem os desempregados em partlcular, ~
mas voltam-se pôra toda força de trabalho. Até mesmo políticas.de welfare como ~
4.1.2 - A integração das funções básicas do SPErequer uma estreita aposentadoria são atendidas. Todos que procuram esses serVlço: encontram g
coordenação com o seguro-desemprego
num único lugar todas as informações para escolher UI~a ?cupaçao ~dequada, ~
Um poderoso fator institucional determinando o grau de eficiência das po- acesso ao treinamento para formação e reciclagem prohsslOnal, serVIços de re- ~
líticas ativas e passivas no mercado de trabalho, para o qual o programa brasilei- colocação, assim como acesso aos demais serviços públicos de caráter passivo, o
ro deve voltar-se, é a criação de mecanismos que integrem as três funções mai em especial o seguro-desemprego.
importantes de SPE: a) o pagamento do seguro-desemprego; b) a busca por tra- Neste caso, o elo entre o SPE e o seguro-desemprego não deve perder s.ua
balho pelo desempregado; e c) o endereçamento e preparação deste para políti- importância, decorrente dos inúmeros serviços a serem prestado? no centro m-
cas ativas. tegrado. O serviço de emprego deve ser responsável pelo monttora.~e~t~ da
Uma coordenação estreita entre a intermediação e a concessão de benefício procura por trabalho dos beneficiários do seguro, assim como pelas mlOatlV~S
é fundamental para a elegibilidade do trabalhador, assim como para aferir sua referentes ao processo de sua recolocação. Como esse processo tende a ser mUI-
continuidade como beneficiário. Uma articulação eficiente entre o apoio à bll-- to automatizado, principalmente para facilitar a execução de t?~as as tarefas de
- 'ca por trabalho e o endereçamento a políticas ativas assegura que o desempr - um centro dessa natureza são necessários procedimentos espeoills para acompa-
gado pode adquirir os atributos necessários para se adequar às condições da d - nhar os esforços do trabaíhador durante o período de recebimento do benefído.
manda e para preencher as vagas captadas. Já a coordenação entre o pagaIl1eI~- O serviço público de emprego, estabelecido nesses moldes, f~c.il.ita bastante
to do desempregado e sua disponibilidade para as políticas ativas é indispcn a- a Correta identificação do trabalhador (profiling) com pouca posSlblhdade,de en-
vel para evitar sua dependência (em longo prazo) aos programas de suporte d COntrar emprego, tendo por base sua experiência passada e seu atual ntvel de
renda, inclusive o seg\-lro-desemprego, assim como evitar sua participação CI1I qualificação. Identificada a necessidade de treinamento desse desempregado,
políticas com o único objetivo de renovar sua elegibilidade para recebimento d
benefício. ~ara uma discussão mais ampla ver, entre outros. US Department of Labor ( t998). Fretwell c
Goldberg (t994). OECD (1997b) e Chahad ( 1989 e 1999).
574 575
assim como da utilização de outros serviços, a assistência a ele é imediata e mais Alguns países têm introduzido nas atividades dos SPEs - recomendan-
~ rápida do que se os serviços fossem oferecidos de maneira dispersa, produzindo do-se experiências no caso brasileiro - os seguintes estímulos orientados para o ~
'"g efeitos positivos, seja na forma de redução do número de parcelas de seguro pa- mcrcado: ~12
º gas, seja pela redução de outros custos inerentes à procura de enlprego
t não-organizada, ou 111eS1110 enl tern10S do aumento do ben1-estar do trabalha-
• Licitação (contracting out): Consiste no processo de usar procedimentos com- ~ g
petitivos para decidir quem tem o direito. de produzir e~o~ entregar bens e ~
]" dor assistido.
serviços. Seu objetivo é ser uma alternallva ao monop?ho d.a ?fe~ta pelas i
~ Nesse sentido, o progralna brasileiro de seguro-desemprego deve ser inlci. agências públicas. Um obstáculo a vencer nesse processo e a resl~tenCla corpo- .~
;f ramente remodelado, ainda que de forma paulatina, em direção não só à articu-
lação das políticas ativas e passivas, mas também no provimento aos trabalha-
rativa do staJJ governamental envolvido na provisão desses serviços. 1
• Vale-serviço (voucher): O beneficiário do serviço recebe um voucher que o habi- g
dores em geral, e aos desempregados em particular, de serviços a partir de um
centro integrado, com ganhos seja no menor desperdício de recursos, seja no con-
lita a escolher a melhor oferta de emprego ou treinamento, obrigando o "pro- I
dutor" a buscar seu melhor desempenho. De posse desse vale, o trabalhador i;:
trole do pagamento dos benefícios, ou mesmo para acertar o descompasso entre
pode selecionar a melhor oferta, evitando o monopólio do governo e introdu- ~
o perfil de trabalhador demandado pelas empresas e a qualidade da mão-
zindo a competição entre os ofertantes. Muitas vezes, visando tornar esse ex- ~
de-'lbra disponível, ou então, na redução do tempo e da taxa de desemprego.
pediente mais realístico, e para contar com a participaçã~ efet~va do tr~?alha- ~
4.1.3 - O SPEdeve ser orientado por padrões de mercado dor, exige- se sua contrapartida financeira. Para produz~r ~feltos pOSl,ll.VOS, a ]
4.2 - A adequação do pagamento do benefício ao perfil do segurado SPE é provedor universal, uma ampla oferta de serviços de aconselhamento, as.
sistência à obtenção de emprego e treinamento acompanha es~e mo~ento. Isso
Outra mudança fundamental é modificar a sistemática de concessão e pa- facilita a identificação dos desempregados de "maior risco", mcluslve por eles
gamento do seguro. O desemprego incide de forma diferente sobre os vário
próprios. Em nações onde isso não ocorre, é necessário decidir para quem esses
segmentos da força de trabalho. Tratá-los igualmente, no que diz respeito à a-o
serviços serão inicialmente oferecidos, e quem será elegível para receber o seguro-
sistência global de que necessitam, não se tem revelado um bom procedimento.
desemprego. Nesse caso, existem métodos para seleção dos desempregados.
Tem-se consagrado internacionalmente a idéia de que a natureza da interven-
ção e da assistência deve ser diferente, tanto entre os tipos de desempregada, Um desses métodos de proJiling consiste em três etapas:
quánto, também, se a mesma se realiza tão logo o desempregado busca o segu~o- a) identificação dos requerentes do seguro-desemprego que possuem maior
desemprego, ou depois de muito tempo de desemprego. Além disso, é preCl Possibilidade de esgotar suas parcelas de benefícios;
respeitar a severidade da recessão e do desemprego. b) oferta de serviços de intermediação e reingresso no mercado de traba-
lho; e
4.2.1 . Identificação dos desempregados de maior risco (profilíng)
c) um conjunto de informações acerca dos resultados decorrentes dos pro-
Para desfrutar de uma escolha mais racional e seqüência de intervençõc cedimentos anteriores, tendo em vista a continuidade do enquadramento como
corretas durante o período de desemprego, devem ser estabelecidas normas ~o. beneficiário, assim como ser submetido a avaliações sucessivas.
bre os critérios de elegibilidade de acordo com o tipo de desemprego, aS5Ill1
como as obrigações e os deveres do desempregado, especialmente daqueles qu
578 579 _~- '_'.J~' •.•.•••~._ '_. ;" •• __
A identificação é realizada com base em métodos estatísticos refinados, . 'ro de arcelas de benefícios. De qualquer ma- <:
~ trabalhoa uml~~terml~Sa~ogi~~~:veser~companhada de um sistema de apela- ~
~ quais permitem estimar a probabilidade de um desempregado exaurir seus b _
<X:l eira uma po ltlca mal ., . .t
~ nefícios. Para tanto, são utilizadas as seguintes variáveis: taxa de desempreg nões~ de defesa, com o intuito de evitar abusos e mJustiças. ~
~ local, nível educacional, mudança de emprego na ocupação/setor prévio e enga-
! jamento no trabalho. Os resultados são considerados definitivos, não envolven_
.'
, . "
423 - A estrategla o que e quan
do" modificar o procedimento com relação
d
à melhor orientação ao desemprega o _ .
~
~
R
~ do qualquer julgamento por parte da equipe técnica.
]
.~ Os desempregados submetidos a essa identificação devem participar do
~ programas de assistência à procura por emprego oferecidos, mas não são obri-
dIque devem buscar ocupaçao, seja .'"
para~~~~;c~~~~i;~~:Ç:~r~~~:~i~rc:raS::'e~:~~dade ao seguro- desemprego, po- t
gados a participar de programas de treinamento quando esses são pagos. A re- demser classificados nos segumtes grupos. d d longo ~
cusa em ser assistido em sua busca por emprego desqualifica o trabalhador a a) aqueles praticamente sem risco de se tornarem desemprega os e I
continuar recebendo o benefício. Além disso, na existência de programas de
prazo; t- disponíveis para o <:>~
treinamento gratuitos, os desempregados considerados de "alto risco" são esti- b) aqueles com risco de cair nessa situação mas que es ao ::::
mulados a freqüentá-los. ê'
trabalho; d d longo prazo e ~
c) aqueles com alto risco de se tornarem desemprega os e ~
4.2.2 - Avaliação da dis['lonibilidade para o trabalho e sanções sobre o sem ossibilidade de serem absorvidos pelo mercado. . ]
recebimento indevido do benefício
~ara aumentar a eficiência das políticas voltadas para a melhOr~;:: ~~~:~~ 1
Somente o tratamento mais personalizado não garante uma boa procura 1, . (vas é preciso saber o que propor para ~
de emprego pelo desempregado. Em adição a este procedimento, devem ser cria- desempregoedaspo lticaSa 1 , d . adaorientação Ogrupoa) pode 'C;
. mo quando propor etermm . .
dos mecanismos indutores à pesquisa ativa por trabalho durante o período de sesgrupos, aSSImco ,. . r meio da utilização dos serVIços ~
serdeixado aos seus propnos mteresses, p~ necessita de um apoio maior no ~
desemprego. A definição de "emprego adequado" a ser preenchido pelo traba-
normais dos sistemas de emprego. O gru~o ). tindo sua busca por emprego, :3
lhador deve envolver uma dimensão temporal, como forma de evitar protela- .,. . 'd' o de serviços normaIS assls _ ~
mlClo,por mterme ~ _ J' o rupo c) deve merecer atençao <:>
ções desnecessárias. Após determinado número de parcelas recebidas, o de- comfax, telefone, onentaçao ~ transporte .. a h ~o principalmente, ao treina- ~
sempregado deverá aceitar uma ocupação que difira - em determinadas carac- especial, uma vez que neceSSIta ser encamm a , i
terísticas e valor dos rendimentos - daquela que considera plenamente ade- mento para se habilitar a um empregoJ d) é
quada. Caso contrário, deverá sofrer sanções no recebimento de benefícios, seja ,' . ber também qual o tempo que os trabalhadores os grupo~ a ~
no número ou no valor das parcelas, ou mesmo uma combinação de ambos. E preCiSOsa, '. d dos como potenciais beneficiários do tipo a
e b) devem levar para serem conSl era oio do se uro-desemprego, do SPE, as-
A utilização de "testes de disponibilidade" para controlar a procura por tra- e). Isso depende da infra-estruturadde ap f lme;te das pressões exercidas por
balho é difícil quando há escassez de vagas, ou existem inúmeros solicitantes às simcomo do fluxo de desem~res~:1Po:ee~a~~ acabel~ por aceitar ocupações que
vagas de um determinado setor e/ou empregador. Assim, é importante comple- essesprogramas para que os e I . .
mentar essa oferta de vagas com outras alternativas de medidas ativas, mudan- estão abaixo de suas expectativas ocupacionais e/ou sa anaIS.
do o conceito de "teste de disponibilidade" para uma noção mais ampla de "tes-
te de atividade". 4.3 _ Propostas complementares para a reformulação do programa
de seguro-desemprego _
Por outro lado, impor sanções pelo uso indevido do benefício é uma tarefa 1 mentam qualquer reformulaçao que se
administrativa delicada e indesejada, com a qual hesitam os responsáveis pela Dentre as propostas que comp e . egra geral possuem caráter su-
desemprego - as quaIS, r ,
habilitação e pagamento do seguro-desemprego. Isso somente deve ocorrer em empreen d a no seguro- d destacadas.8
gestivo e/ou para a discussão - algumas po em ser , . '. _
conjunto com medidas pró-ativas para assistir e motivar os beneficiários a buS-
'd ma importante política atIva no am-
car trabalho, de forma que a sanção exerça uma função de reintegração ao mer- Subsídios salariais: Têm apareo o com~ u eguro-desemprego. Representa
o cado de trabalho. bito da OECD, inclusive como alte;a~lv~ ao ; sua curva de demanda por tra-
A demonstração da prova de procura ativa por emprego deve ser a mais ob- uma ação sobre a empresa, buscan o es oca
jetiva possível, independentemente de julgamento da equipe do seguro- ----- Z lberstajn e Balbinotto Neto (1998).
desemprego e/ou do SPE. Uma forma que preserva, inclusive, os encarregadoS 7 A esse respeito, ver, entre outros, y. ( 1997 1998) Oliveira (1998) e Chahad
8 Consultar, entre outros, Zylberstajn e Balbmotto Neto e ,
do serviço público de arcarem com o ônus da prova, é associar a procura de (1999).
580 581
t'
balho. A participação do trabalhador seria de caráter voluntário, recebend que a coexistência do Fundo de Garantia ~~ Ten:po d: Serviço (FGTS) e do~ :.:.".c •. ' •.- ...•.•
] um voucher de emprego ou treinamento. A duração e o montante deste de. seguro-desemprego pode estar causando se:Ias dI~torço~s na of~rta de traba- ~
'"'" pend~riam dos seguintes f,at.ores: a) montante do seguro- desemprego; b) lho dos desempregados. Por um lado, a nao-artIculaçao do Sme, do se?~- ]
"~
1::
"'2.
"
duraçao do desemprego prevlO; c) montante do treinamento oferecido pela o-desemprego e do treinamento profissional transformou esse benefiCIo !
empresa; e d) duração do emprego obtido. No caso brasileiro, isso poderia ser ~quivocadamente em uma "indenização compulsória" ~um d.ireito em q~e o ~
~"
~
experimentado em grupos muito específicos de trabalhadores, desde que pu- trabalhador tem de adquirir todas as parcelas que lhe sao devIdas no penado I
g desse ser contemplada uma legislação que não colidisse com ou tras objetivos aquisitivo, independentemente de qualquer esforço para obter ~ma nova .~
,~
:c
Q
do seguro-desemprego. ocupação. Por outro, temos o recebimento do FGTS e su~ m~lta, alem de ou- ~
tros direitos que, somados ao seguro, acabam por contnbuu para a protela- :::
• Cadastro nacional de empregos: Trata-se de uma proposta antiga, mas que
recai no âmbito do Cadastro Nacional de Infomlações Sociais (CNIS). A idéia é, ção do reemprego e/ou levar o trabalhador a receber o benefício e trabalhar na ~
~
na realidade, a qe reduzir os custos de informação, tanto para os trabalhado- informalidade. -
~
res quanto para as firmas, possibilitando que se realize o preenchimento da '"
"
vagas no menor prazo possível. Sem questionar a necessidade desse cadas. 5 - As condições necessárias para a implementação da ~
tro, é preciso reafirmar que o Ministério do Trabalho e do Emprego já possui reformulação proposta ~
know-how para implantá-lo em curto espaço de tempo e dentro do conjunto ~
Qualquer que seja a concepção do novo programa de. seguro-desempre~o, ]
de políticas públicas de emprego. sua adoção e sua implementação estarão fadadas ao lllsucesso, caso nao ~
• Pagamento do benefício condicionado à obtenção do emprego: Existem ver. sejam preenchidas algumas condições a seguir mencionadas. ~
sões alternativas procurando pagar o benefício em parcela única. A primeira .~
seria de somente destinar o valor do benefício, uma vez habilitado, após de- 5.1 - Existe a necessidade de uma nova postura dos agentes ~
terminado período de procura por emprego. Isto seria útil, caso, de fato, haja envolvidos ~
B
um novo fluxo operacional em que o trabalhador é submetido às ações de em. O Ministério do Trabalho e Emprego, a quem cabe a condução de toda re- g
prego e treinamento. Outra alternativa seria condicionar o pagamento do e- formulação, deverá adotar uma nova postura, em direção ao firme propós~to de ~
guro- desemprego somente após o sucesso na procura de emprego, confe- implantar definitivamente um SPE. O esforço até aqui realizado deve contmuar ~
rindo-lhe um caráter de "indenização ex-post". Esta alternativa faz sentido,
caso o trabalhador dependa menos do seguro-desemprego para sobrevivência,
e ser acompanhado de uma férrea vontade política no âmbito do gover?o fed~-
ral. Essa vontade deve ser canalizada, inclusive, para uma ampla artIculaçao
1 ~
e também como uma nova sistemática que aumente a possibilidade de suces. pró-ativa com os governos estaduais e municipais, como forma de ang~riar o a
so na busca por uma nova ocupação. Além do mais, isso implica uma revisão apoio das esferas de governo onde, de fato, deverão se concentrar as açoes d.e
da legislação referente aos demais tipos de benefícios relativos à dispensa do emprego. Além disso, é imperiosa a atuação conjunta entre os p~dere~ ExecutI-
trabalhador. voe Legislativo, locus fundamental de ação, seja na implementaçao, seja na con-
• Imposto de renda negativo e programa de renda mínima: Uma das imagen. solidação e no próprio funcionamento de um SPE .
negativas do seguro-desemprego é a indução do ócio e a falta de estímulo ao Espera-se das secretarias estaduais de trabalho um comportament~ pauta-
emprego que provoca em determinados trabalhadores desempregados. por do pela valorização e permanência de um quadro de pessoal de ?abanto para
outro lado, argumenta-se que os programas de bem-estar são vantajosO', atender à clientela do sistema. Isso é o que estabelece a Convençao de 1988 da
pois são mais fáceis de administrar, além de evitar as fraudes fiscais. Exi'. OlT, sobre serviços de emprego, instrumento normativo orie~~ador do sistema.
tem, porém, críticas com relação à substituição do benefício do seguro pore'- Ademais, essas equipes técnicas deverão desfrutar de condIçoes modernas .de
ses programas. A primeira argumenta que eles são assistências por natureza trabalho, por intermédio de meios de comunicações modernos e totalmente I~-
não cumprem, propriamente, sua função de seguro. A segunda é que têm formatizados Deverão ainda zelar pelo caráter técnico do serviço prestado, eVI-
efeito perverso sobre o estímulo a trabalhar por salários mais elevados. A últi- tando toda e ~ualquer influência de outra natureza, tendo em v~sta a credibili-
ma é que, para determinadas classes de renda, levará à retração total da ofer' dade do sistema e a utilização do mesmo aos fins a que se destIna.
ta de trabalho. . Ao Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat)
• Revisão dos sistemas de indenização por despedida imotivada: É preciso re. cabe um lugar especial nesse processo, uma vez que, além de ser, junt~m~nt.e
ver a legislação trabalhista neste campo, uma vez que existem evidências de com o Ministério do Trabalho e do Emprego, o órgão responsável pelas prmCIpaIs
582 583
't:;P?l~ticas na área trabalho, conta com a representação da sociedade civil (empr _ 5.3 - A importância da preservação dos recursos do FAT
l:! sanos e trabalhadores) em seu interior. Assim, deverá atuar como u
~. .
'" CIasupenor, uma vez que desse fato depende boa parte do sucesso do . ,
. .
ma mSlan- Esta subseção aborda, provavelmente, o ponto mais polêmico da reforma
doprograma de seguro-desemprego, paralelamente à implantação de um ver-
i'i
~. 'f d . SISlema
1 aSSImcomo e un amental para'a correta alocação dos recursos do FAT. ' dadeiro SPE, tendo em vista lançar o país na modernidade das políticas públicas c
" . No que se refere à Caixa Econômica Federal (CEF) - agente pagad ti deemprego: o desafio de garantir, da existência do PAr. o volume de recursos suficiente '"~~
s ema-, a coIocaçaoesImp
-i!; SI t
~ -,. Ies: d evese limitar ao pagamento do benefício de art. d para implantação dessas mudanças. Hoje eles existem, mas sua existência encon- 2.
~:::'"
u b . l' , 1110
o,," m arc~ ouço em que ISSOocorra após as ações de emprego e assistência à busca por empn'- tra-se ameaçada. .~
.2
~ go, realzzadas na esfera ~o Sine. Este deverá ter seu papel de órgão central do siste- Várias são as manifestações de que o financiamento das políticas públicas :: 3
ma bastante fortaleCIdo, não cabendo ao agente pagador a execução de q l- combase nesses recursos pode sofrer um colapso em futuro próximo. A primei- il
quer atribuição que lhe é inerente. ua
rapreocupação diz respeito ao contínuo aumento no déficit primário do FAT.9Em 1
Deve-se ainda estabelecer a prioridade do Sine em todo o processo de paga- 1998, verificou-se um déficit de aproximadamente 37,6% da arrecadação bruta, &
mento d~ seguro-desemprego, o qual, conforme revela a experiência, some~le revelando um quadro preocupante no que diz respeito ao futuro dos desembol- ~
~eve ser lIberado após a realização de ações de emprego, após a busca infrutífera 50S do FAT. Isso significa que as receitas correntes do fundo têm sido insuficien- ~
de ~rabalho e dep?is do encaminhamento do desempregado aos programas de tespara cobrir os atuais gastos do programa, principalmente pelo aumento dos t
tremamento e reCIclagem. Com o tempo, deve-se pensar que o pagamento, com dispêndios com o treinamento e a formação profissional. ~
ou s~~ a CEF, possa ser realizado por quem executa, acompanha, avalia e su- ~
Uma conseqüência imediata tem sido a utilização de parte das receitas fi- .~
perVISIonaas ações de emprego, um caminho seguro para minimizar os proble-
nanceiras decorrentes das aplicações do fundo, para atender às despesas cor- ~
mas de burlas, fraudes e vícios na concessão e utilização dos benefícios.
rentes do programa. O avanço nesse item do patrimônio indica a vulnerabilida- oi;;
dedo FAT,principalmente porque cerca de 2/3 das disponibilidades financeiras ~
5.2 - É preci~o uma es.tratégia articulada de implantação e de
execuçao das açoes correspondem à reserva mínima de liquidez, revelando que, em futuro próxi- ~
~
mo,essas reservas terão de ser utilizadas para fazer frente às despesas correntes c
A grande transformação requerida nas atividades hoje vigentes na área
doF~. ~
~
tra.balho, as.quai~ são fundamentais para o SPE, é a redefinição dosfluxos operacio-
naIs dos servIços eXIstentes, sem o que não se implantará uma versão moderna de Assim, por essa ótica, já se verifica uma grande vulnerabilidade do FAT, I~
sistema. O desafio que se coloca, além de uma radical postura, uma nova forma tendoem vista sua utilização na implantação de um SPE, o qual deve ser o destino úl- ~
de comportamento dos agentes, é adaptar toda a rede de atendimento existem limodos recursos desse fundo. Isso é relevante, caso se deseje preservar a reparti- :::
~
para que a mesma venha a ser moldada para o exercício de múltiplas e compl - çãoque existe no fundo, e corresponde aos 40% de empréstimos ao BNDES, o o
xas funções, preferencialmente num mesmo local físico, em si uma garantia de l11 '- quetem representado a garantia de alguma complementaridade entre as políti-
lhoria do bem-estar do trabalhador. caspassivas e a geração de empregos.
A implantação do sistema reveste-se de complexidade, pressupondo medi- A segunda preocupação refere-se aos "desvios de princípios" com relação à
das de caráter legal, mudança de fluxos operacionais, ampliação da rede d utilização dos recursos do FAT.Com a edição e regulamentação da Lei 7.998/91,
atendimento, treinamento de recursos humanos, fortalecimento das açõe d o programa de seguro-desemprego ganhou uma sólida fonte de recursos, com
inúmeros agentes, modernização das instalações, constituição de uma base d uma finalidade clara e bem-definida: gastos com seguro-desemprego. Posterior-
dados que permita amplas informações da história de vida do trabalhador. in- mente, com o sucesso do fundo, fato já mencionado, a Lei 8.352/9 I estabeleceu
~formatização maciça dos postos e de toda a rede de atendimento, além de ou- queas reservas financeiras, além das aplicações em títulos do Tesouro Nacional,
t:os aspectos. Nessa perspectiva, não se deve imaginar uma adoção imediata d Poderiam igualmente ser aplicadas em "depósitos especiais remunerados",
sIstema. para a imediata utilização por meio da rede oficial de instituições financeiras.
Desdeentão tem-se assistido a um crescimento vertiginoso desse tipo de utiliza-
Rec~n:enda-se que sua implantação seja paulatina, prevendo-se açõe" ~
ção,com o agravante de que o mesmo é destinado a finalidades completamente
cur~?, medlO e longo prazos, com base em experiências-piloto em áreas, local
diferentes de gastos com políticas ativas ou passivas no mercado de trabalho.
reglOese estados específicos, de forma a permitir a correção dos erroS detectad
e a reorientação das atividades para caminhos considerados mais desejado- ti
ponto da consolidação definitiva, assim como atuação plena, e bem-sucedi i~ ~ Odéficit primário considera somente as receitas e despesas correntes do FAT,não se computan-
de um SPE. o os resultados decorrentes de suas aplicações financeiras.
585
584 , 'or
ossibilidade de sucesso em sua implan-
".-.-'"
-.
.••.
---.-.- ..~
..•..-- ..•.
Para a realização da ampla reformulação aqui proposta, e para a própria manu- envolvidos, o q~e representdara mal dP da vontade política da Nação. ~
~ - Este cammho depen e, con u o, t
E
<Xl
tenção do equilíbrio do sistema, isso não pode mais continuar. laça0. ~E
g Finalmente, existe a preocupação com o destino das fontes de receitas do :::
i5 g
~ FAT. Mesmo reconhecendo-se as desvantagens para o sistema produtivo do Bibliografia . ~
! PIS-Pasep, como um tributo financiando este fundo, não há dúvida sobre a soli-
ATKINSON,A. B., ~1JCKLEW~I.GHIT,
Unem loyment compensatlOn a labour .<;
J "ew JozEnal ofEconomic Literature, v. XXIX, ~
~ dez que sua arrecadação conferiu ao FAT. Ocorre, porém, que o país deverá pas- market transaOons: a cnOca revI. ~ .:::
Si
.~
sar, cedo ou tarde, por uma reforma fiscal, de amplitude desconhecida, mas n. 4, Dec. 1991. ~
~ com a certeza de que tributos como o PIS-Pasep deverão ser extintos. Fica então '1' S- Paulo" :3
"t' . blicas de emprego - a experiência brasl eIra. ao . g
a pergunta: como será financiado o PAr, tendo em vista a necessidade de promover cada AZEREDO,B. PoII Icas pu .
vez mais as políticas ativas e passivas no mercado de trabalho?
Abel, 1998 (Série Tese & PesqUisas). . t
. I .' the figth against unemployment. ~
As propostas de reforma fiscal até aqui dadas ao conhecimento público BENGOCHEA, J. A. S. The role/o~JoCClasec~~~;\~bour Law and Industrial Relations, ~
apenas mencionam um tributo para financiar os gastos com a seguridade social. The InternatlOnal Journa Oj ompara ~
Poucos detalhes adicionais têm sido fornecidos, e desconhece-se qualquer dis- v. 10, issue L Spring 1994. . ~
cussão mais séria a esse respeito. Isso não é nada útil ao programa de seguro- W Unemployment insurance in the U!1lted ]
BLAUSTEIN,S. ~., COHEN, W. J .,!1~rgE:~. K~lamazooThe W. E. Upjohn Instltute B
desemprego, e muito menos ainda ao futuro das políticas sociais no Brasil, pelo States, thefirst halfcentury. M lC . ~
menos nos moldes aqui estabelecidos. for Employment Research, 1993. ~
d
MATOS F Sistema nacional de emprego: &
6 - Considerações finais
CACCIAMALl,M. C., SILVA,G. B. ~O
EIR~ M
A de (org.).ReformadoEstadoe ~
desempenho interestadua.l. In. u,v . Úni~a~1p/IE, 1998. '"
politicas de emprego no Braszl. Campmas. ~
Este texto abordou a necessidade de se implantar um verdadeiro SPE no
. d nem loyment: a fi"amework for t~e B
Brasil, que permita fortalecer o programa de seguro-desemprego, através da ar-
ticulação das políticas ativas e passivas voltadas para o mercado de trabalho,
CALMFORS,L. Active labour market pollcy aJ~ . u S . P g 1994 (OECD Econ0l11lC
analysis of crucial design features. Pans. pnn
g
t
trazendo impactos positivos para o aumento de "bem-estar" da força de traba- Studies, 22). iii
lho e contribuindo para aliviar os problemas causados pela pobreza. . l" -es da história aspectos teóricos e perspectivas ~
CHAHAD,J. P.? sefJuro-dese~Psr1/Io'plo1987 (Série 'Ensaios Econômicos, 64). ~
A mensagem nele contida é clara: ainda que a erradicação ou a redução da para o BraSIl. Sao Paulo. U , . _ ~
pobreza advenham somente de um processo de crescimento econômico com . b a ótica da intermedlaçao da a
distribuição de renda, muito se pode fazer para melhorar o desempenho do ----o O programa de seg~ro-deSemplego s~rasileiro Brasília: SPES/MTb,
mão-de-obra: teoria e perspect(ITvaspara ~ac~~~cussãO, 20).
mercado de trabalho, enquanto isso não acontece. O país possui conhecimenlO Relatório para a OIT, 1989 exto pa
técnico para isso, bem como dispõe de uma fonte de recursos cujo destino últi-
I - d -ama brasileiro de seguro-desemprego
mo é promover a assistência à força de trabalho, assim como permitir a melho-
ria dos padrões de qualidade da mesma.
----.As bases para a reformu aça~ ~prof
e sua integração com o sisteJ,ll~ ~t~~fode
Fipe/MTE, abr. 1999 (Re atono
~:~~~i:).
São Paulo: Convênio
Apesar do relativo atraso em inúmeras áreas, esse fato não deve ser tomado
.. rofesional y servicios de empleo-
como impeditivo de uma luta por modernização em outras. É preciso ousar para CONTE-GRAND,A. Segu!o.S.dedesempleo, fir~;~~~~~-:Conversión económica. Sa.ntiago:
acompanhar o processo de globalização, o qual traz efeitos adversos sim, quan- sus relaciones y PO~lbllldades enbelF E il)O Tecnico Multidisciplinano, Out.
do nela nos inserimos, mas será muito mais problemático se dela ficarmoS l'X- Oficina InternaCIonal del Tra aJo, qu
cluídos. Nessa perspectiva, as proposições aqui contidas buscam conciliar a' 1997.
. ial de los trabajadores desempleados.
transformações impostas ao mercado de trabalho, decorrentes da inserção num CORTÁZAR, R. EI combate ai desemJ!le~~ la pro~~c:~~f~~al sobre políticas de Emprego.
mundo cada vez mais competitivo, com a necessidade de proporcionar Ul1llra- Texto apresen.ta.dop? sdemTma~ lY~~/~ssessoria EspeciaL abr. 1997.
tamento ao trabalhador que vá além de considerá-lo um simples "anônimo es- São Paulo: MmlstenO o ra a
tatístico", um ser inanin1ado povoando o mundo das tabelas e dos gráficos. . effective through the introductiol1
FAY, R. G. Making the public el11plOYI~leni~~~c( ~c;~ur Market and Social Policy
A implantação dessas reformas não pode mais ser adiada, devendo ser rea- of market signals. OECD, Pans,
lizada com muita paciência e perseverança. Seu arcabouço institucional e ~e.u Occasional Papers, 25).
desenho final deverão ocorrer após ampla discussão com todos os agentes SOClJI
586 587
FELDSTEIN, M., ALTMAN, D. Unemployment insurance savings aCCO/lnt . of purchaser/provider arrangements. '" ---"~.•.. ""-,-"'-- •.....••.
MITH,C. Clarifying the exchange: a frevFl~wnce Management lmprovement ~
~
<Xl
Washington, 1998 (NBER Working Paper, 6.860). . ' nwealth Department o ma ~
g CDol'S~~n;~on
Series, Nov. 1995 (Discussion Pape r, 2). -<>
LAZERUS,S. et alii. The public employment service in one-stop world. New York: lohns
Hopkins University/lnstitute for Policy Studies 1998 (Policy lssues
Monograph, 98-02).
MARTIN, J. P. What works among active labour market policies: evidence from OECD
countries' experience. Paris, Oct. 1998 (Labour Market and Social
Policy-Occasional Papers, 35).
OECD. Labour market policies: new challenges policies of low-paid workers and
unskilled job seekers. Paris: Labour and Social Affairs Committee at
Ministerial LeveI, Meeting of the Employment, Oct. 1997a.
1 - Introdução
Este estudo discute a relação entre pobreza e políticas de trabalho, em par-
ticular o papel da qualificação profissional. A ênfase será na comparação entre
as experiências internacionais e brasileira. Ao observar as políticas de trabalho
no contexto mais amplo das políticas de combate à pobreza, três aspectos cha-
mam a atenção: a) as diferenças entre políticas de trabalho ativas versuS passivas
(políticas de bem-estar versus de seguridade social); b) no caso das políticas de
qualificação, a discussão da noção de programas com participação compulsória
versus voluntária; e c) a comparação das políticas de treinamento no Brasil e no
exterior, com ênfase nas características de concepção, execução e desempenho,
assim como nas experiências recentes de avaliação.
Uma das ênfases principais do trabalho é a exploração da análise das políti-
cas de bem-estar (passivas) americanas e sua ligação com políticas ativas de
trabalho, principalmente a qualificação profissional. A pobreza entra tanto
como pano de fundo para a ênfase nas políticas de focalização, de acordo com a
definição e os determinantes da pobreza e da exclusão, quanto pela importância
que a discussão dos conceitos gera em termos de definição de políticas. O siste-
ma de proteção social e políticas de bem-estar social podem ser vistos na pers-
pectiva da sua relação com a dinâmica social que gera a pobreza e a exclusão so-
cial. Uma linha de análise é centrada na questão da pobreza e, segundo essa li-
nha, as políticas respondem a falhas do mercado e a provisão social é redistribu-
tiva. Outra linha é centrada na questão da exclusão e inclusão sociais. Nela, as
políticas de bem-estar social são um princípio organizador da sociedade, enfati-
zando a relação entre os grupos sociais que caracterizam a dualidade exclusão/
inclusão.
* Professor Titular do Departamento de Demografia do Cedeplar/UFMG.
** Aluna do Curso de Doutorado em Demografia do Cedeplar/UFMG.
591
590 ..-•.."'-...••.
-"-~ , '"
pamentos de transporte, eletrônica e metalúrgica). Esses egressos vão mais
1 A base empírica para a discussão tem por arâmetr
1:; nares da avaliação do Programa Estadual de QP l'f' ~ os(PEQ)
resultados para empresas de grande porte do que para pequenas e médias empresas. Fo. ]
:::. . ua I lCaçao d M'prelimi.
Cl:l
ram encontradas evidências de que há um excesso de qualificação do Senai. ~;:
~ rals e os resultados de avaliações internacion IS . d ~ mas Ge.
~ avaliações uma vez que parte do conteúdo das disciplinas oferecidas não encontra aplica- Ia. "-
::: . internacionais apontam para ca mm .a h os que
e programas
podem s SImilares.. As
çãonos empregos. O aumento na oferta de cursos de curta duração prejudicou ê
t no BrasIl, caso a política social de pob reza seja. um cammho . er persegUIdos
efetivo.
" oscursos formativos de longa duração sem contrapartida em maior efetividade ~
~ dos primeiros. O sistema de isenção dos impostos tem facilitado a provisão de '" 8
.~ 2 - O caso do Plano Naci Id F - um serviço público para necessidades privadas de algumas empresas. '"
g (Planfor) e do PEQ deoMn~ eGor":,açao Profissional
mas erals O sumário das conclusões do estudo de Amadeo mencionado mostra bem j
Nesta seção será discutida a experiência b '1' , os limites do chamado sistema "S". Num país onde a população economica- ~
profissional e qualificação, tendo como eix ra~1eIra n~, ar~a de formação mente ativa (PEA) possui baixa escolaridade, o sistema mostra claramente uma ::: li
ção do PEQ de Minas Gerais em 1996 o centra a.exper~enCIade implanta-
relação complementar e positiva entre escolaridade e formação profissional. O j
dos dilemas centrais discutidos nas s~O.ponto d~ partIda sera mencionar alguns
o caso brasileiro. çoes antenores para tentar contextualizar sistema de financiamento similar ao do modelo francês discutido anteriormente ~-
não parece ter sido suficiente para motivar a maioria dos pequenos e médios .ª
Doponto de vista histórico a educ - 1T . empresários dos diversos setores de atividade a investir em treinamento especí- ~
aceleram o processo de indus;rializa ~ça~e a qua I Icaçao profissional no ~rasil ficodos seus trabalhadores. Um fator associado a essa aceitação limitada deve
por uma grande ex ansão do . ç o o~ anos 50, momento caractenzado ter sido a alta flexibilidade da mão-de-obra brasileira medida em termos de ro-
(Senai) e do serviçoPNacional d~e::lço d~aCIonalde Apr~ndizagem Industrial tatividade. Também o alto grau de segmentação da ocupação brasileira nos se-
pren Izagem ComerCIal (Sen ) P .
mente o chamado sistema "s" ' 1 ac. ostenor- tores formal e informal (incluindo os dois segmentos relevantes dos trabalha-
formação profissional S ~ comp ementado com as demais instituições de doresautônomos e dos empregados sem carteira) impunha limites à atuação do
Serviço Nacional de APrend~rvlço N~cional de Aprendizagem Rural (Senar) e sistema de treinamento instalado. Mesmo com o sucesso relativo do Senai,
é marcada pela dicotomia "I~agen: os Tran~portes (Senat). Essa época inicial comparado à experiência do sistema de aprendizagem alemão anteriormente
sendo que a educação téc .e ucaçao par~ a VIda':e "educação para o trabalho",
mencionada, a experiência brasileira deixou a desejar - como de resto a de vá-
ríodo é m d mca estava contIda no SIstema formal de ensino. Ope-
arca o por uma perda de controle d 'b . rios países de industrialização avançada.
ções de formação prof" 1[ . . o setor pu hco sobre as institui-
_ , .. IssIona VIeIra e Alves (1995)]. O corolário dessa insatisfação é a tentativa de se organizar uma atuação do
Nao"S"
e obJetIVO governo na área de qualificação e formação profissionais do trabalhador. A pri-
sistema ent t desta seção efet uar um h"Istonco . ou avaliação do chamado
, re anto, torna-se necessário t l' meira tentativa foi marcada'pela proposta de reestruturação do Sistema Nacio-
caracterizar seu IJapelh' t' . con extua Izar sua atuação para nal de Empregos (Sine) em 1994. No bojo dessa reforma, o Programa Governa-
O Senai e o Sen c IS onco e sua atuação no momento d'e cnaçao - do Planfor.
h' ,. d . a ,como representativos do chamado sistema "s" marcaram a mental de Reciclagem profissional (PRP) do Ministério do Trabalho foi lança-
Istona o tremamento vocacion do,visando proporcionar a9 trabalhador desempregado conhecimentos básicos
comparativa intern' 11 ,a 1 no BraSI.
'1
Sob o ponto de vista ' da literatura
d d aCIOna este e considerado um caso de sucesso pela qualida- e específicos para ajudar sua reinserção no mercado de trabalho - a prioridade
e os seus cursos de. longa duraçã' - d os seus profissionais, principal- erapara o beneficiário do seguro-desemprego [Vieira e Alves (1995)]. O progra-
mente na chamad d' . d o e mserçao
ma não deslanchou mas teve vários de seus aspectos incorporados ao Planfor,
tos sobre o Sena' f a.m bustnda e transformação. Um dos estudos mais compie-
. I OIe la ora o por Amadeo ( 1992) 1 . ' que cobre o período 1995/98, implementado a partir de 1996 com a Resolução
Senai treinava trab Ih d' ' que conc UlUque na epocao 126/96, utilizando recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
. . a a ores e Jovens estudantes, mas não tinha programas es-
p~CIalspara os d:sempre~ados. O nível de escolaridade dos seus treinandos era O PRP já delimitava uma mudança de clientela ou foco para privilegiar os
ata duração
o comparado
of a.d escolandade méd'la d a popu 1-açao brasileira. Os cursos de cur- desempregados, principalmente beneficiários do seguro-desemprego. É possí-
_ ereCI ?S por ele parecem eficientes para a população ocupada mas velsugerir que o paradigma da exclusão dominava absolutamente essa proposta,
nao para apel
formados populaçao
S ., q ue se matncu
. 1ou voluntariamente. A maioria dos aluno
' muito nos moldes europeus de política social e refletindo a influência do movi-
o enaI e <;mpregada em algum setor industrial (mecânica, equi- mento sindical paulista da época no Ministério do Trabalho. O Planfor radicali-
Zaessa proposta e assume o desafio de qualificação e formação profissionais
para segmentos de baixa escolaridade que, conseqüentemente, teriam maiores
t o documento do Banco Mundial Vi . I . dificuldades de obter altas taxas de retorno com o investimento em treinamento.
bom exemplo dessa apreciação PO;itiv~~a/lona and Techmcal Education and Training. de 199 L é UOl
592 593
'õ; Nessa proposta, a perspectiva da exclusão é mantida, mas é ampliada para propósitos deste trabalho discutir a implementação do Planfor, que foi estrutu-
~ uma multidimensionalidade que englobaria também aspectos de pobreza e rada em três eixos: avanço conceitual (novos conceitos e novas metodologias), 1
~ privação associados com as características adscritas (como, por exemplo. articulação institucional (incorporação de novos agentes na rede de educação ~
] raça/cor e sexo) e deficiências adquiridas (por exemplo, baixa escolaridade) profissional e fortalecimento das instituições locais) e apoio à sociedade civil ,~
~
~ pela clientela alvo. O mérito de trazer a qualificação e formação profissionais
para os segmentos de baixa escolaridade impunha os limites de sucesso de re-
(educação permanente com prioridade para desempregados e grupos críticos
de trabalhadores) -Avaliação Gerencial 2 [MTb (1998)]. A implementação do
r
~
{4
1; torno econômico do programa em termos de ganhos de renda de trabalho (em Planforbaseou-se em dois mecanismos: os PEQs e as parcerias nacionais e regio- ~
.~
~ empregos formais e informais). Se a experiência de treinar trabalhadores des- nais. Certamente os relatórios de avaliação e supervisão no âmbito dos PEQs <:>
favorecidos nos Estados Unidos já apresentou resultados conflitantes, com apontaram problemas de implementação, mas de qualquer forma o resultado ]
maiores taxas de retorno para mulheres adultas do que para homens, e com decumprimento das metas de cobertura é positivo. Comparativamente a outros ~
baixíssimo retorno para os jovens, o que se especulava era que as chances de projetos sociais da esfera federaL o Planfor teve o grande mérito de definir ~
sucesso entre os desfavorecidos brasileiros com escolaridade mais baixa seri- ex-ante uma avaliação, determinando os critérios de avaliação da implementa- '"
am ainda menores.2 çãodo programa. Por causa disso, possui um relativo controle de dados agrega- ~
• A meta global do Planfor era bastante ambiciosa, sendo, para o período dos sobre sua implementação que outros programas carecem. As avaliações .ª
1995/98, "qualificar ou requalificar, anualmente, até 1999, pelo menos 20%da ex-post compreendem o estudo das metas quantitativas de focalização dos gastos ~
PEA, ou seja, 15 milhões de trabalhadores ao ano". Os documentos do Planfor sociaise da eficácia. Essas abordagens priorizam as variáveis resultados e tomam
estimavam uma PEA brasileira de cerca de 70 milhões de trabalhadores e esta- aimplementação como uma verdadeira "caixa-preta" que não é objeto de análi-
beleciam uma meta de 5 milhões de trabalhadores (7% da PEA) em 1996,8 mi- se;discute-se apenas a relação entre os insumos e o produto final do programa.
lhões (11% da PEA) em 1997, 11 milhões (15% da PEA) em 1998 e 15 milhões Destaca-se o modelo tripartite de gestão das comissões estaduais e munici-
(20% da PEA) em 1999. Já a meta global dos PEQs dentro do Planfor era tam- paisde emprego. O PEQ do Planfor apresenta similaridades com algumas par-
bém ambiciosa, mas envolvia magnitudes menores, sendo de 750 mil trabalha- tesdo programa americano Job Training and Partnership Act (JTPA) de 1983 - o
dores (1% da PEA) em 1996; 1,8 milhão (2,5% da PEA) em 1997; 2,5 milhões PEQnão possui o componente de treinamento no serviço (on-the-job training).
(3,5% da PEA) em 1998; e 3 milhões (4,2% da PEA) em 1999. Isto significa que Osprogramas se assemelham em vários pontos, por exemplo, na proposta de
os PEQs aumentariam sua participação no estoque de treinandos de cerca de atendimento dos seguimentos desfavorecidos, no seu caráter voluntário e tam-
14%em 1996 para 20% em 1999. As metas absolutas e relativas dos PEQseram bémna distribuição dos recursos, que são transferidos para os governos estaduais.
mais factíveis. A documentação avaliada mostra que inicialmente o Planfor definiu seu
Questionou-se muito em que medida essas metas ambiciosas seriam factí- focono mercado e na clientela. A proposta sugere a abertura para clientelas di-
veis. No contexto da avaliação do PEQ de Minas Gerais no ano de 1996, efetua- Versificadascom prioridade para os desempregados atendidos pela intermedia-
mos uma análise de conteúdo do programa e também consideramos as metas çãodo Sine, trabalhadores sob risco de perda do emprego e outras populações
ambiciosas. De fato, o Planfor teve uma implementação impressionante e em emrisco ou desvantagem social [MTb (1996a)]. Em documento anterior é enfa-
massa nos anos de 1996 e 1997. Os dados publicados pelo relatório Avaliaçâll tizadoo privilégio para" desempregados epopulações excluídas, especialmente grupos
Gerencial2 [MTb (1998)] indicam cerca de 1,2 milhão de treinandos em 1996e 2 críticos de jovens e mulheres, usualmente também marginalizados do sistema
milhões em 1997, representando um investimento de R$ 220 milhões em 1996 deeducação e formação profissional no país" [MTb (1995a, p.18) l. As priorida-
e R$ 348,1 milhões em 1997. Na hipótese de que os dados reflitam a realidade, des acima listadas dão uma idéia de focalização da clientela (targeting).
eléS são impressionantes, mas não há como ter certeza da proporção de sobre- Dentro das linhas de atuação dó Planfor, os PEQs devem integrar mais dois
registro. Mesmo que os números estejam exagerados, o apoio financeiro do FAI níveis de programas: emergenciais e nacionais. Nos programas nacionais são
ao programa impediu que o mesmo fosse uma experiência-piloto como o PRP definidas clientelas, compostas por grupos socialmente vulneráveis. Entre es-
de 1994, tornando-se uma realidade. sesgrupos vulneráveis estão os jovens de baixa escolaridade (em risco social),
Programas de política pública podem ser avaliados tanto no que tange à Osdetentos e egressos do sistema penitenciário e os portadores de deficiência
implementação e eficiênGÍa quanto no que se refere a sua eficácia. Foge aos [MTb (1995b)]. Cumpre destacar que, para além dos atributos sociais dos gru-
possocialmente vulneráveis acima listados, os programas emergenciais e naci-
2 Outros aspectos como a dificuldade de se combinar os conteúdos de habilidades básicas, específi- Onaisdiscriminam regiões e setores econômicos como alternativas de qualifica-
cas e de gestão numa estrutura que estava sendo construída no processo não serão abordados aqUI. Çãoe requalificação profissional.
595
1,-----
A descrição parcial do conteúdo do Planfor, delineada com a descrição de
ARe so Iuçao
- 194/98 regula o Planfor para o triênio 1999/2002 d
't:;
JS do algumas modificações no programa. A focalização da clientela ara
.
' eterm!nan:
alguns resultados de implementação do programa,3 permite que se faça uma re- 1
flexão sobre ele no contexto da literatura de políticas sociai~ e de qualificação ~
~g... conce~t~~d.a em quatro grupos de população alvo: trabalhador:s o penodo e
(beneflCIanos de seguro-desemprego e candid t rofissional previamente discutidas. l~
a .. desocupados l:>.
P
!
~ _
nos e microprodutores urbanos e rurais trab:lhoasd pnmeIbro~mprego), peque-
. 'd ' ,ores so nsco de deso
A definição do foco da clientela e da preferência de acesso ao programa dei- ê
~ çao em atIvI ades urbanas e rurais e trabalhadores autônomos . . cupa- xa claro que o Planfor segue uma tradição mista entre o modelo europeu conti- ~
1 aqueles afetados pela sazonalidade). (pnnopalmellle nenta!, que enfatiza aspectos relacionais (sociológicos) de exclusão, e o modelo ~
anglo-saxão, que enfatiza aspectos de privação (econômicos) distributivos. Os '" ~
~ Os segmentos populacionais "desfavorecidos" são der'd I aspectos de exclusão trazem como corolário o debate sobre a empregabilidade 1;
ção 194/98 como pessoas "vulnera"veIS economIca
,. InI os
e socialme t "pe a Resolu-
d (ou "trabalhabilidade"), enquanto os aspectos distributivos trazem à baila o ~
:~~sC~l~~:~:e~:~~~:~
t~C~~~:;;~~:rmas.Essap"o"dad~~e'a~~:soo
treinados ao mercado de trabalh'
d;~:
d o progra~a. O encaminhamento dos
combate à pobreza no seu aspecto de privação. Esta ambigüidade provavelmen- :::
te reflete a própria diversidade do país. A questão do desemprego aberto e do "'_;
~
o e um os mecalllsmos dess " d d sindicalismo no ABC paulista reflete uma realidade muito mais próxima do ~
~::.~:;:'ot:,ç~da,cnda
cIitérios de atendimento preferencial são definidos'
prr mpUa
a pn~~I a. e. Sete
famiBa,I, escol~~;::~:~
;~~:.~~a::~~~~:.s contexto de exclusão europeu do que do debate de pobreza americano. Já o foco
no trabalhador autônomo é mais relacionado com o incentivo à formação de ~
renda, de acordo com a ênfase na privação econômica (econômico) e não na in-
.ª
chefes d/;~~ft~a~~;~~:~~o~~~;~:~~ ~~ estudos ~o~pletos), sexo (mulhere~
. . - anos, pnnopalmente candidatos ao clusão (social). Os grupOS preferenciais de acesso são mais ligados a questões
pnmerro emprego), raça/cor (etnias afro-brasileira e indígena) I r - econômicas de privação, na melhor tradição anglo-saxã, do que com a proble-
~~~i~~c;es de.p:r~feria de áreas metropolitanas e municípios do p~o;~:n~:a~~~ mática da exclusão social. É possível que avanços nessas clarificações contribuam
d' _ e Sohdar.Ia), pessoas com necessidades especiais (visão locomoção para uma melhor definição dos parâmetros quantitativos e objetivos de avalia-
au Iça0 o~ mentaIs). A despeito do critério de atendimento prefe;encial a do: ção da eficácia nos diversos segmentos.
~.ur~enGtaçao.elsclarece que o Planfor pretende atingir o conjunto da PEA":"-Ava- Uma a ser mais explorada no futuro refere-se à possibilidade de se definir
laça0 erencza 2 .[MTb
. (1998)] . No contexto d essa nova resolução os níveis de objetivos complementares de avaliação de eficácia, tendo em vista as ligações
dprogramas classIfIcados em nac"IOnaIS,esta d'uaIS e emergenciais são elimina- de alguns focos de clientela com outros programas sociais existentes, principal-
os, ~o~ os estados e parceiros tendo flexibilidade para definir um duplo foco' mente no caso de políticas passivas de trabalho. Um exemplo claro nessa linha é
popu açao alvo e setores de atividade econômica. . oseguro-desemprego. Estudos futuros poderiam avaliar o impacto de emprega-
t _ O Planfor contemplou
.. a pos SI'b ITId a d e d e parcenas
. desde a sua implemen- bilidade acoplado a uma possível redução na duração e freqüência do desem-
açao :Essadsparcen~s ~Isam ampliar a capacidade de execução dos PEQs e fo- prego, incluindo aí a diminuição no período da coleta do benefício de seguro-
t d' fIrma as com sIndlCatos ,erSI
ram univ 'd a d es e fun d açoes - públicas A maior par- desemprego. No caso dos programas de renda mínima, à medida que eles se tor-
se das parcenas (75%) firmadas no período 1996/97 concentrou'-se na região nem cada vez mais generalizados, uma atuação alternativa do Planfor seria
Au Reste,I que
_ apresenta a maior capa o.d a d'e Insta Iada de educação profissional.
• complementar, uma vez que os grupos preferenciais de acesso são similares ao
1999~~~~2çao.1~4/:8 ddefine um novo foco para ~s parcerias no período público alvo de renda mínima - os desfavorecidos ou vulneráveis. Nesse caso,
_' pnvI egIa? o a formação de formadores, gestores e avaliadores: a um parâmetro extra e objetivo de avaliação de eficácia seria a redução na dura-
f
. -dormaçao e desenvolVImento d e mem bros d as comIssoes
.- estaduais e municipai çãodo período de coleta dos benefícios - uma saída da condição de privação que
e ~mprfego;OId~senvolvimento e produção de metodologias e materiais didáti- não só aumentaria a empregabilidade como também reduziria a privação, além
cos, e o orta eomento e articul açao- d a re d e nacional de ensino profissional. de poupar recursoS públicos dos gastos de políticas sociais. Nessa linha de racio-
No que tange ao aspecto de localização, o Planfor tem abrangência nado- cínio é possível prever que algumas clientelas do Planfor poderiam transitar de
na I em
geu 700/<termos
d de .mun° , . se~ d o que a cobertura dos PEQs de 1997 abran-
, . IOPIOS, programas voluntários para compulsórios, sendo que os elementos já estão dis-
. o os mUllloplOs. A relaçao com os municípios do Comunidade Solidá- poníveis no arcabouço institucional- de fato, a iniciativa recente de imple-
na merece destaque ' sendo qu e 925 mUllloplOs
. , . do programa (68%) foram co-
laça0 Gerencial 2 [MTb (1998) l.
b ertos pe Ios PEQs de 1997,segun d o o Ava 1'- 3 A documentação oficial sobre a concepção do Planfor e os relatórios de avaliação gerencial são
claros e detalhados, estando disponíveis na Secretaria de Formação e Desenvolvimento Profissional
(Sefor) do Ministério do Trabalho.
596 597
1.----';;; mentar o lay-oJJpor parte do Ministério do Trabalho representou uma tentativ~ ---_.:--,._ -.- ..
..•.. _;.
no sentido da qualidade de alguns cursos implementados no período. Não se ..•....• -
E nessa direção. descarta a possibilidade de que este tenha sido um problema específico de im- .~
'" plementação do primeiro ano, em que a liberação dos recursos ocorreu no se- ~
~ Em suma, é claro que a formação profissional não cria emprego. O cresci-
~ mento econômico e a política macroeconômica são os determinantes funda- gundo semestre e a maioria dos cursos foi concentrada no período que vai de ,~
~ mentais. Já a formação profissional pode afetar a empregabilidade (inclusão) novembro de 1996 a fevereiro de 1997. Em 1997 foram treinados 159,4 mil pes- gt::
~ dos segmentos excluídos, além de gerar ganhos salariais e de produtividade da- soas no PEQ de Minas Gerais e mais 30 mil em parcerias. Minas Gerais realizou ~
~
~ q~eles segmentos empregados. Muito menos a formação profissional é pana- 58% das suas metas previstas de treinamento para o período 1995/98, uma im- ~
g cela para resolver os problemas da privação e da pobreza. Ela pode contribuir plementação abaixo da média nacional (65%), mas alta para os parâmetros da <::>
para aliviar o problema em duas linhas: melhorando a capacidade de formação região Sudeste. A avaliação do caso de Minas Gerais será baseada numa análise ~
de renda das famílias e, em segundo lugar, reduzindo os problemas de incentivo do perfil da clientela e da análise de eficácia tendo por base o acompanhamento !
e custo dos programas de renda mínima destinados a aliviar a pobreza - é aqui de egressos com grupos de controle escolhidos de maneira quase experimental. E
1t
que pode surgir a possibilidade histórica de se criar subprogramas de formação A análise do perfil da clientela e avaliação de foco dos PEQs é etapa impor- j
profissional compulsórios no âmbito do Planfor. tante do processo de avaliação. O documento PEQs 1996: Perfil da Clientela & ~
Mencionou-se anteriormente o aspecto de localização e o papel do Planfor Avaliação de Foco dos Programas (1997) apresenta uma análise desse perfil ao j~
no Programa Comunidade Solidária. Na mesma linha do comentário anterior comparar os dados dos treinandos (com base nas fichas de inscrição) com o per- ~
sobre os programas compulsórios, a literatura internacional de combate à po- fi! da população residente e da PEA obtido a partir da Pesquisa Nacional por
breza na tradição americana enfatiza intervenções comunitárias, principal- Amostra de Domicílios (PNAD) de 1995 do IBGE. Os relatórios técnicos de ava-
mente tendo por modelo o conceito de underclass e o papel da segregação resi- liação para Minas Gerais produziram estatísticas similares com base na PNAD
dencial em comunidades excluídas. Há um potencial para participação do Planfor para esta unidade da Federação, mas neste trabalho serão apresentados resul-
em projetos-pilotos de intervenção comunitária integrada, incluindo ações de tados da avaliação de foco com base na comparação entre uma amostra de trei-
habitação, educação, vitalização da área e formação profissional. A avaliação de nandos do PEQ de 1996 na região metropolitana de Belo Horizonte (RMBH)4e
implementação e de eficácia de intervenções dessa natureza constitui um desa- os egressos de treinamento captados por um suplemento da Pesquisa de
fio, mas há evidências de experiências bem-sucedidas. Emprego e Desemprego (PED) da Fundação João Pinheiro, aplicado nas entre-
vistas domiciliares durante os três primeiros meses de 1997. Tal procedimento
permite uma comparação do perfil da clientela do mercado de "treinamento e
3 - O caso de Minas Gerais: perfil da clientela
formação profissional da RMBH" (egressos PED) com o perfil da clientela do
Concluída uma breve análise histórica da formação profissional no Brasile PEQ (treinandos PEQ).
a apreciação da concepção e de alguns aspectos da implantação do Planfor em O suplemento da PED pergunta sobre a participação da população com 15
escala nacional, cabe discutir uma experiência concreta de avaliação da eficácia anos ou mais de idade (PIA) em algum programa de treinamento formal
do PEQ implantado no Estado de Minas Gerais em 1996. No caso do PEQ-MG.a (TPTF).Cerca de 20% da PIA da RMBH participaram de algum treinamento for-
Sefor estima uma PEA de 8 milhões em 1996. A meta global de treinandos em mal nos últimos cinco anos - essa taxa de participação é pouco diferenciada
1996 era de 52.526 (0,65% da PEA estimada para o Estado de Minas Gerais) e por sexo. A taxa de participação é um pouco acima da média (21,7%) no grupo
menos do que 80 mil treinandos, que seria a participação compatível com a de 15 a 19 anos, alcança o máximo de 27,7% no grupo de 20 a 24 anos e atinge
meta global nacional. Caso o PEQ-MG se aproximasse da meta total nacional, 20%novamente no grupo de 40 a 44 anos. Como era de se esperar, a TPTFé infe-
então seria de se esperar uma meta global de 200 mil treinandos (2,5% da PE ) rior a 10% a partir dos 55 anos de idade. Finalmente, cabe destacar que a TPTF
para 1997; 280 mil (3,5% da PEA) para 1998; e 336 mil (4,2% da PEA) para cresce com a escolaridade. Essa taxa é de 9,5% para o segmento com primeiro
1999. Os diagnósticos de avaliação gerencial de 1996 e 1997 mostram que o nú- grau incompleto, no segmento de primeiro grau completo a taxa de participa-
mero de treinandos no estado (70,2 mil) foi maior do que a meta prevista (52.3 çãoé de 22,2%, no segmento de segundo grau incompleto é de 34,9%, no segun-
mil) - um desempenho técnico 34% acima do previsto. A despeito desse nú- do grau completo de 36,7% e no terceiro grau situa-se pouco acima de 42%.
mero positivo, é P9ssível afirmar, com base nas dificuldades encontradas para a
amostragem do campo e relatada nos relatórios, que este primeiro ano foi com- 4 Os treinandos PEQ foram entrevistados nos meses de dezembro de t 996. janeiro e fevereiro de
plicado em termos de monitoramento da implementação do PEQ, possivell11e~t' 1997e amostrados a partir do sub segmento das inscrições do PEQ-MG composto pelas instituições
gerando problemas com a qualidade dos dados utilizados no relatório gerenCIal que participaram da licitação pública. No questionário-âncora da avaliação foram amostrados
1.188homens e 272 mulheres na RMBH.
599
598 ~~.•..-... ...•........
'- _
Tabela 1 ""i;
Esses dados confirmam a idéia de que o mercado reforça a relação complemen-
"
.2
] tar entre educação formal e formação profissional. É exatamente essa tendên- Distribuição segundo os grupos de idade (EM %) ~
'":E cia de mercado que os PEQs tentam compensar ao focalizar a clientela priorita-
~ riamente nos segmentos desfavorecidos. EGRESSOS PED TREINANDOS PEQ
""'-
t~
'to:"
! A TPTF difere pouco entre as pessoas ocupadas e em desemprego aberto
GRUPOS DE IDADE
HOMENS MULHERES HOMENS MULHERES "
-a.
~
~ (quase 25%), mas é bastante menor entre os inativos puros5 (menos de 10%).Já 16,4 18,2 5,5 9,9 ~
15-19 ::l
] o padrão de TPTF é bastante diferenciado por posição na ocupação: empregado 42,3 ""
.~ 18,2 20,4 49,7 ~
.g (26,3%), conta-própria (18,7%), empregador (25,4%), profissional universitá- 20-24
..,~
rio autônomo (32,2%), dono de negócio familiar (13,3%) e trabalhador familiar 14,7 15,7 16,8 12,0 """'-
25-29 'E"
sem remuneração (10,1%). A TPTF dos assalariados divididos pela condição de 11,8 9,9
14,8 12,8 [
carteira assinada é a seguinte: empregados com carteira (27,3%), empregados 30-34
12,1 6,1 4,7 ~
sem carteira (18%) e funcionários públicos estatutários (37,6%). Os dados aCÍ- 35-39
13,1 $!
~
ma.mostram a maior deficiência de qualificação entre os inativos - um fato 9,5 8,3 4,2 10,6
40-44 .~
que pode indicar uma condição de privação pelo menos entre os inativos puros
6,0 5,1 3,9 4,4 ~
em idade de trabalhar. No caso dos ocupados observa -se um padrão de deficiên- 45-49
cia nos subsegmentos do informal, indicativos do impacto da rotatividade na 3,6 3,8 1,4 2,2
50-54
provisão de treinamento. 3,6
2,1 2,0 0,6
Uma vez descrita a condição de participação no treinamento formal, obtida 55-59
1,0 0,9 0,2 0,0
a partir do suplemento PED, passa-se à comparação dos "egressos PED" com os 60-64
"treinandos PEQ" da RMBH. Essa comparação será feita segundo atributoS 0,8 0,8 0,0 0,4
65 e mais
pessoais (idade, sexo, posição no domicílio, cor, nível de escolaridade) e ocupa-
Fontes: FJP (1997) e Cedeplar (1997).
cionais (situação ocupacional, posição na ocupação, contribuição à previdência).
a) Idade Tabela 2
Os treinandos do PEQ apresentam uma distribuição etária que contrasta
Proporção de mulheres segundo os grupos de idade (EM%)
com a dos egressos da PED, por estarem mais concentrados nos grupos centrai
de idade (dos 20 aos 44 anos), e por não terem uma regularidade na distribuição EGRESSOS PED TREINANDOS PEQ
GRUPOS DE IDADE
por sexo (Tabela 1). Os egressos da PED apresentam uma distribuição mais re- 53,7 29,3
gular em termos de idade e sexo: metade dos egressos da PED é do sexo femini- 15-19
no, ao passo que entre os treinandos do PEQ essa proporção é de apenas 19%.A 54,1 16,4
20-24
distribuição por idade revela que, entre os egressos da PED, as mulheres são mi- 52,8 14,2
25-29
noria apenas nos grupos etários mais avançados. Entre os treinandos do PEQa'
47,5 16,2
mulheres são minoria em todos os grupos etários; nota-se uma concentraçã~ 30-34
maior de mulheres no grupo de 40 anos e mais, entretanto a sua proporção esta 49,3 15,3
35-39
longe de atingir a metade (Tabela 2). 32,2
48,7
b) Posição no domicílio 40 e mais
51,1 18,7
Uma diferença básica entre os grupos é que existem mais chefes de domicí- Total
lio entre os egressos da PED. Nesse grupo os homens que são chefes são mais ~a Fontes: FJP (1997) e Cedeplar (1997).
metade (54%); entre as mulheres 12% são chefes, 39% são cônjuges e 42% ao
filhas. Entre os treinandos do PEQ, a grande maioria, tanto homens coma mU- c) Cor
lheres, é composta por filhos (74%; 62%) (Tabela 3). Entre os egressos da PED, para ambos os sexos,.a maioria é de raça branca
(58%dos homens e 62% das mulheres). Entre os tremandos do PEQ, a p~op.or:
5 Inativos puros excluem aquelas pessoas em desemprego oculto por desalento.
çãode brancos é de cerca de 29% para ambos os sexos. Nesse grupo a malOna e
600
Tabela 5
~
i'!
~" Distribuição segundo posições no do mlcl
"'I" 10 (EM%) Distribuição segundo o nível de escolaridade (EM %)
â POSIÇÃO NO DOMicíLIO
nr
TREINANDOS PEQ
NíVEL DE ESCOLARIDADE HOMENS MULHERES
10,2 14,0
Filhos 39,3 42,2 73,8 62,2 22 grau incompleto
6,9 7,0
32 grau incompleto
~~;posta por pardos (53% dos homens e 54% das mulheres). Os negros repre-
14,6 17,6
mulham a~enas cerca ~e 10% entre os egressos da PED para o total de homens e 32 grau completo
HOMENS
PED TREINANDOS PEQ
cerc
a de 48% do total. Entre os egressos da PED a malOrJa ~es'p0
namento aJu
. dou em seu aperfeiçoamento
b Ih
pessoal e proflsslOnal e a tra a ar ê
.a,
-1:1 MULHERES HOMENS MULHERES
'"
:!! com mais eficiência (Tabela 9). ~
ii Desocupados 5,4 8,2 3,9 0,4
.~ ~
tl <:>
~ Ocupados 81,1 63,2 46,4 25,5
Inativos 13,5 28,6 49,7 74,2
Fontes: FJP (7997) e Cedeplar (7997).
EGRESSOS PED
Obs.: Os desocupados correspondem ~ situação de desemprego aberto na PED; os o.cupados co.rrespondem às situações ded.,.
semprego oculto pelo trabalho precário, ocupados e matlvos com trabalho excepCional; e os matlvos correspondem às s;rUiJ. MULHERES HOMENS MULHERES
ções de desemprego oculto pelo desalento e inativos puros. HOMENS
Egressos PED
~ 4 - O caso de Minas Gerais: análise de resultados ou dessa lmpossl lIa, ..' d ma de treinamento e as pes- .ê
1;
'Xl
<>
:::
eficácia
diferenciar.as pes~~as ~ue P:~~I:~a:~~:e ;:~~~~:riam e foram alocadas como
soas que nao partlCIpanam,
i,~
~ A avaliação de eficácia empreendida pelo Cedeplar/UFMG ao PEQ de Mi-
tratamento ou como controle. . '"
i nas Gerais em 1996 foi um projeto de desenvolvimento metodológico. A primei- define se' Y = renda sem trema- lê
~'" ra grande novidade do projeto foi a efetivação de uma análise amostrai e domi- Utilizando-sde a notaçã.o dmes~~~;.u:~::si pesso~s ~iis~ostas a participar do ~
ento. Y - ren a com trema , , d <>
~ ciliar de acompanhamento de egressos em duas rodadas (dois follow-ups). A m . mento' d* = O to d os o s demal's'''' = 1 pessoas = 1alocadas ao grupo e ~
~ ,I -
,• , d* <>
amostra do questionário âncora foi aplicada a 3.721 entrevistados, 2.891 (2.202
f homens e 689 mulheres) pertencentes ao grupo de tratamento e 746 (453 ho-
trema .' _ O ' soas d* = 1alocadas ao grupo de controle. O prob~ema de ~
tratamento, 't - ,pes ão é a segumte: ."
mens e 293 mulheres) ao grupo de controle. O segundofollow-up conduzido em seletividade do método anterior ocorre quando a comparaç ~
fevereiro de 1998 conseguiu recuperar 2.839 indivíduos (representando uma 1;
;:;.
perda de pouco mais de 25% em 12 meses), 2.212 pertencentes ao grupo de tra- E(Y1 -Yo) =E(Y! Id* =l)-E(Yo Id* =0) ~
~
tamento e 627 ao grupo de controle - esta perda é considerada pela literatura ~
~
~
uma taxa de atrito característica de dados longitudinais e pode afetar os resul- A expressão de interesse seria a seguinte:
talos. .ª
~
O ponto central desta perspectiva é o pressuposto de que uma análise de E(Y! -Yo) =E(Y! Id* =1)-E(Yo Id* =1)
acompanhamento de egressos dá apenas um indicativo parcial da eficácia do
, . ossível observar o segundo termo do lado direito da equaç~o
programa, uma vez que a comparação do "desempenho depois" com o "desem-
penho antes" pode estar sendo afetada por fatores ambientais (macroeconômi- ante~~~~ ee~:rimento social aleatório possibilita a obtenção da expressa0
cos) e outros fatores irrelevantes ao papel do PEQ no desempenho dos indivíduos. abaixo:
Uma vez decidido que a existência de um grupo de controle é fundamental para
a avaliação da eficácia, a grande questão consiste em se decidir qual seria o gru- E (Y1 -Yo 1d*=I)=E (Y! l't = 1 e d* = l)-E (Yo l't =0 e d* =1)
po de controle ideal. A comparação dos egressos PED e treinandos PEQ efetua-
da anteriormente demonstra claramente que a PEA é bastante heterogênea, O modelo de experimento teria a seguinte forma:
mesmo no que tange a características observáveis. Ao se concordar que a moti-
vação individual (heterogeneidade não-observável) também pode afetar o de- Y=a+pd+u
sempenho relativo de tratamento e controle no mercado de trabalho, constata-se
que a comparação entre tratamento e controle é complicada. A literatura inter- onde: p = efeito comum de treinamento; d = var~ável dummy indicativa deet;~~
nacional sobre avaliação sugere dois métodos alternativos para se utilizar gru- . _ erro afetado por características nao observadas. O valor d p.
pos de controle: o método econométrico e o método experimental. O método namento, eu -. .rr. ) do ex erimento implicando que o lm-
termina o efeito comum (common-ejject p ~o caso de deu serem
econométrico utiliza uma fonte alternativa (pesquisa domiciliar) de grupo de acto do treinamento é o mesmo para todas as pessoas... ._
qmtrole e a econometria para se corrigir os vieses decorrentes dos problemas de ~orrelacionados, o experimento aleatório não garante estlmatIVas que nao se
heterogeneidade não-observada. O método experimental demanda a conduta jam viesadas. d
de um experimento no qual pessoas que se candidatam ao programa de treina- O teste t de médias foi realizado com o objetivo de comparar os grupos e
mento (no caso o PEQ) são alocadas como grupo de controle. Nesses casos, a . I' dio da variável de interesse entre os
sirílples comparação da diferença entre os desempenhos "depois" e "antes" do ~rat.a~ent~ e con:ro~~'r~~~~~~~r:~:sr ~~édias dos efeitos de ter participad,o
grupos de tratamento e controle é um indicativo do ganho (eficácia) causado mdIVlduos, ou seja, _ ' de hi ótese para a igualdade das me-
pelo programaJ ?
do treinamento ou nao. teste t e um teste . p A ariáveis cujas médias são
dias de variáveis dos dOISgrupos de observaçao. sdv ntrole são' a diferença
Heckman e Smith (1995) mostram como todo o problema de avaliação comparadas entre o grupo de tratamento e o grupo e co . b de
consiste na impossibilidade de se observar uma mesma pessoa nos dois estados . f . d 1998) e antes (em novem ro
entre a remuneração depOIS(em evereuo e d' dl'ferenças das taxas de
possíveis: tratamento (treinamento) e controle (não-treinamento). Por causa . (d;rrem) para os ocupa os, e as
1996)dotre.mamento ljl '. • -d de (difatv) depois e antes do trei-
7 Esse ponto é melhor discutido em outros trabalhos científicos e relatórios do Cedeplar/UH"IG; ocupação (difocp), dtelsedm
aPmre;~;:~~~~::~~~id:S análises separadas para grupos
namento, para o to a a -
neste trabalho o foco se concentra mais nos resultados obtidos que na metodologia.
606 607
definidos pelas variáveis de sexo e residência na RMBH: a) homens na RMBH' Tabela 11 "ii
~ b) mulheres na RMBH; c) homens no interior de Minas Gerais; e d) mulheres n .:;,"
"l
ii! interior de Minas Gerais. Os resultados são apresentados a seguir (Tabela 10).
Teste t - diferenças das taxas de ocupação ~'"e
~ "'-
~ HOMENS MULHERES ':"o.
â Tabela 10 g
t::
GRUPO
" MÉDIA DESVIO-PADRÃO MÉDIA DESVIO-PADRÃO ~
~ Teste t - diferença de remuneração (ocupados) ~
] RMBH ~
.!;l
."~
Controle -42,64 28,80 -49.61 47,25 0,044
Controle 0,039 0,042 0,005
Interior ~
Significativo ao nível de 10%
Tratamento 37,06 13,93 -24,75 24,00
RMBH INTERIOR
Controle 163 67 204 193
GRUPO
HOMENS MULHERES HOMENS MULHERES
Controle 84 18 123 85
Tabela 12
. No caso da diferença das taxas de ocupação (difocp), é verificada uma dife- Tratamento 0,071 0,020 0,030 0,041
rença significativa no caso dos homens no interior; não há diferenças significa- 0,074
Controle 0,025 0,047 -0,104
tivas na RMBH e nem para as mulheres no interior (Tabela 11). O aumento da
taxa de ocupação entre os homens do interior foi significativamente maior no Interior
grupo de tratamento do que no grupo de controle, um resultado favorável ao 0,018 0,082 0,027
Tratamento -0,027
programa de treinamento.
Controle -0,005 0,040 0,016 0,044
As diferenças das taxas de desemprego (difdes) não são estatisticamente
significativas para nenhum dos grupos (Tabela 12).
Os resultados a respeito das diferenças das taxas de atividade (difatv) indicaOl
um resultado positivo e significtivo para mulheres (ao nível de 5%) e homens (ao
608 609
'i; nível de 10%) do interior (Tabela 13). A elevação das taxas de atividade entr na diferença dos ganhos do tratamento e do controle dos homens com residên-
~ homens e mulheres no interior também foi significativamente maior nos gru- ]
da na região não-metropolitana do estado - um ganho mensal de R$ 63,79. ."
ê pos de tratamento do que nos grupos de controle. Esseganho refere-se apenas ao segmento ocupado dos treinandos, e dá um alto i
-i .
'"
Em resumo, o impacto do treinamento foi importante para homens no in- limite de possíveis ganhos do programa. Os homens ocupados residentes na ,~
" tenor, mas pouco relevante para os outros grupos quando medido pela diferen-
~ ça das taxas de ocupação antes e depois do treinamento. Em relação ao desem-
RMBH tiveram um ganho mensal de apenas R$ 8,35 (que não é estatisticamen-
tesignificativo). Uma comparação interessante deveria incluir com renda nula
r
i
I prego, ~ impacto do.t~einamento praticamente inexistiu para todos os grupo. aspessoas que não trabalham. Além disso, a comparação feita refere-se à renda ~
,g Houve Impacto POSlllvOdo tratamento nas diferenças das taxas de atividade em fevereiro de 1998 menos a renda no mês que antecede o início do treina- ~
antes e depois para o segmento de mulheres e homens no interior. mento (novembro de 1996). Seria interessante comparar a média de rendimen- 1;
Pelo teste de médias, pode-se concluir que o impacto do treinamento foi to antes do período de treinamento e depois do período de treinamento. Esse ~
geralmente pequeno, mas favorável ao tratamento. Efeitos positivos do trata- exercício é feito a seguir (Tabela 14). ~
mento se fizeram sentir nos diferenciais de rendimento, ocupação e atividade ~'"
par'!, os homens no interior. No caso das taxas de atividade (participação na ~
Tabela 14 ~
PEA), efeitos positivos do tratamento também foram encontrados para as mu-
lheres no interior. Estes resultados são preliminares e mostram apenas um po- Teste t - diferença de remuneração (ocupados e não-ocupados),
.ª~
tencial que o programa pode ter em termos de eficácia, levando-se em conta a médiã de remuneração depois e média de remuneração antes
experiência de Minas Gerais no primeiro ano de funcionamento do PEQ. O
HOMENS MULHERES
grande número de resultados não-significativos estatisticamente comprova a GRUPO
DESVIO-PADRÃO
expectativa de que um programa dessa natureza tenda a gerar pequenos ga- MÉDIA DESVIO-PADRÃO MÉDIA
Interior
Os resultados mostram que não houve impacto estatisticamente signifi-
Tratamento 0,091 0,016 0,116 0,027
cativoem nenhuma das situações - o que pode refletir o problema do tama-
Controle 0,034
Significativo
0,023
ao nível de 10%
0,021
Significativo
-
0,037
ao nível de 5~
nhoda amostra dado o tipo de ganho esperado nesses programas. De qualquer
formao ganho esperado para os homens no interior é em torno de R$ 15 e para
Os homens da capital é de R$ 9. Os ganhos esperados para as mulheres do in-
terior é de aproximadamente R$ 5 e as mulheres da capital apresentam per-
610 611 ,
8 .
~ das. Mais do que se firmar em um único resultado, deve-se especular sobre a Tabela 15
-'-"'-~"""."''--''
<; lições que podem ser tiradas do exercício, além de se esperar por mais result _
'" Taxa interna de retorno (EM %)
g dos. Em primeiro lugar. é possível concluir que o tempo de duração do acampa_
~
.., nhamento do egresso (três meses, seis meses, um ano, dois anos etc.) é uma va- CUSTOfTREINANDO (MÊS 1) CUSTOfTREINANDO (MÊS 1)
R$ 133 R$ 187
~ riável relevante; também é relevante comparar os ganhos médios no período CUSTO DE OPORTUNIDADE CUSTO DE OPORTUNIDADE
R$ 60 R$ 60
~
~ nos extremos - os resultados nem sempre coincidem. Finalmente, fica a (lues-
~
.~ tão sobre em que medida os ganhos mensais observados são compatíveis com Durante 36 meses
g uma avaliação de eficácia favorável ou não. Para tal análise cabe fazer um exer-
cício de custo-benefício à guisa de conclusão. Ganho mensal (tratamento x controle)
4,15 2,34
R$ 10
7,82 5,46
5 - O custo-benefício à guisa de conclusão da avaliação de R$ 15
eficácia 11,29 8,26
R$ 20
. o critério da taxa interna de retorno é bastante adequado para se efetuar
Durante 24 meses
uma análise de custo-benefício. Para saber se o treinamento oferecido pelo
PEQ-MG teve um retorno econômico sobre a perspectiva do treinando e do con- Ganho mensal (tratamento x controle)
tribuinte, fez-se um exercício de cálculo da taxa de retorno para dois cenários. O 2,00 -0,25
R$ 10
primeiro cenário apresenta o custo médio do investimento por treinando em
6,41 3,60
1996 (R$ 133) mais o custo de oportunidade do trabalhador (assumido equiva- R$ 15
lente a R$ 60,00). O segundo calcula o retorno com base no custo médio do in- 10,36 6,92
R$ 20
vestimento por treinando em 1997 (R$ 187) e o mesmo custo de oportunidade.
O cálculo das taxas de retorno é efetuado para três períodos de maturação do in- Durante 12 meses
vestimento medidos em meses (12,24 e 36). Os resultados são apresentados na Ganho mensal (tratamento x controle)
Tabela 15.
-7,65 -11,02
R$ 10
Os resultados mostram que um ganho de R$ 20 por mês é suficiente para -5,29
R$ 15 -1,24
gerar taxas de retorno positivas e altas em todos os períodos de maturação d
primeiro cenário (11,3% em 36 meses, 10,4% em 24 meses e4,2% em 12 mese ). 4,24 -0,52
R$ 20
Isso significa dizer que um ganho de R$ 20 como diferença entre tratamenlO
controle é bastante razoável em termos de taxa de retorno. Um ganho de R 15
já apresenta uma taxa de retorno negativa no período de 12 meses de malllra- . I ir ue e uenos ganhos mensais da or-
ção, mas a taxa é bastante razoável para a maturação de 24 e 36 meses (6,4% c Esses resultados permitem cone .u. q d ~e~rno desde que persistam pelo
7,8% respectivamente). Mesmo o ganho de R$ 10 consegue apresentar um re- dem de R$ 15 a R$ 20 geram taxas po:it;as e stram também que para ganhos
torno razoável para o prazo de maturação de 36 meses (4,2%). Os resultad~ menos por 24 ou 36 meses. Os resu ta os m o. amento devem ser administra-
d' stimento em remt
para o cenário 2 não são importantes, mostrando que a taxa de retorno é scn I. dessa ordem os cust~s., o l~ve roblema de implementação). Diferenças da
\reI mesmo a Uma variação de R$ 54 nos custos do treinamento. Praticamcl1.: dos com bastante eflClenCla (um p d' - do retorno e eficácia obtidos.
ordem de R$ 50 a R$ 100 podem alterar a lreçao
todos os ganhos geram uma taxa de retorno negativa no período de maturaça
de 12 meses. A taxa de retorno para o maior ganho mensal simulado R$ 20 é de
6,9% no prazo de maturação de 24 meses e 8,3% no prazo de 36 meses. Bibliografia
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lados aqui apresentados.
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1993.
1 - Introdução
O Plano Nacional de Qualificação Profissional (Planfor), desenvolvido pela
Secretaria de Formação Profissional (Sefor) do Ministério do Trabalho e
Emprego, consiste no mais audacioso e bem articulado programa de qualifica-
ção profissional já desenvolvido no país. É um dos cinco pilares da política nacio-
nal de emprego, que tem como principais instrumentos: a) a intermediação da
mão-de-obra; b) o Programa de Geração de Emprego e Renda (Proger); c) o
Planfor; d) o seguro-desemprego; e e) os empréstimos do BNDES, que também
se beneficiam dos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
Apesar de representar apenas um pequeno percentual dos gastos de todas
as políticas de emprego implementadas no Brasil, o Planfor não é uma política
secundária nesse contexto. Ele tem um papel estratégico para a geração de em-
prego e renda na economia brasileira atual e pode ser crucial para a determina-
ção de sua forma de inserção futura na economia mundial.
Barros (1997) mostrou que a economia brasileira passa por um processo de
modernização que tem uma particularidade muito importante. O país esgotou
uma etapa de desenvolvimento tecnológico baseada em modelo pré-década de
70 nos países desenvolvidos, e se inseriu, definitivamente, no atual padrão de-
senvolvido nesses países, ainda em processo acelerado de aprofundamento nas
eConomias centrais, e fundado num novo paradigma tecnológico que conside-
ra, acima de tudo, a capacidade intelectual da mão-de-obra. Para que o Brasil
possa continuar em processo de redução do seu atraso relativo em relação aos
países do Primeiro Mundo e reduzir a sua pobreza relativa, é necessário que seja
IL.
619
~
--~ .--••..•..•...".-~
ta neutralização de pressões políticas, como tornou o foco do programa mais di- ".
-. . d d naex- ~
l.'! pectatIva e ren a do trabalhador e, quando não tem credibilidade junto a de emprego; '"
<.:>
~" pres ana. do, e Ia po d e ter um Impacto
. negativo no emprego no curto e médioo em-_ d) as entidades executoras dos programas estaduais de qualificação profis- l:l
~ P d' . pra ~
~ zos. or causa ISSO,seu Impacto final na taxa agregada de desemprego pod
a"
"
. d
P?SItIVOou neg~tIvo, sen o a priori indefinido. Sendo os desempregados os indi-
eser sional; e "
~
e) os alunos que recebem a qualificação. ~
~ vIduos com maIOr probabilidade de ser pobres, o potencial impacto do Planf S
~::l na po breza f'Ica aSSImre. duzido no curto prazo, por causa da possibilidad ar Apreocupação aqui será apenas com os três últimos agentes desse conjunto. ~
I
.~ - . I e (e {;
~ nao ter um Impacto re :vante neste. Quer dizer, a qualificação profissional pode
4.1 - Os incentivos das secretarias de estado ~
ter um papel na reduçao da pobreza, mas pode ser pouco eficaz como instru-
mento de curto prazo para este fim, já que o impacto no desemprego pode ser ir- As secretarias estaduais têm dois estímulos básicos para atuar nos PEQs. O ~
releva~te .ou mes~o contraproducente e o impacto na renda pode ser dirigido primeiro é buscar assegurar seu bom desempenho para obter dividendos políti- ~
para publIcos de nao-pobres. No longo prazo, contudo, o seu impacto positivo cosoCom isso os políticos que a controlam tendem a elevar sua popularidade e g
deverá prevalecer, já que a informação flui melhor e as possibilidades de impac- capacidade de ganhar eleições vindouras. O segundo objetivo é obter benefícios !}
to ~eg~tivo no desemprego desaparecem. Dessa forma, ela pode ser uma alter- pessoais em termos de favorecimentos pessoais. Em termos matemáticos, a ação t.",
natIva Impo~tant~ no combate à pobreza neste horizonte de tempo. A magnitu- das secretarias consiste na solução de um problema, que pode ser definido como: j
de desse efeIto vaI depender de sua eficiência, cujos determinantes são objelo ~
da próxima seção.
~
S
(4) . facilidade as implicações da maximização da .~
Para perce.b~r :om n:a!S
equação (I ), sUJelta a restnçao e
xpressa em (7'), pode-se utilizar uma forma es-
~
~
ondeA é um coeficiente de produtividade; [(i o estoque de capital físico da firma
i; H; o estoque de capital humano utilizado por essa firma; Li a quantidade de
pecífica de (I), tal como: !
trabalho utilizada por essa firma; e H o estoque médio de capital humano da
u= m(7t) V a + F ~ (I') J:,~
economia. Essa especificação é uma versão ligeiramente alterada da função de
:::
produção encontrada em Lucas (1988). A partir da maximização de lucro des 'a
A < I e"" representa um vetor contendo 7tG e 7tA e m (7t) é sempre ~
firma, pode-se obter: ondeO<a< I e O<I-' " .. , Çj
.. , O
POSltlvO mas m (7t)> para 7t pequenoem'(7t)<Opara7t>n.Substllumdo(7 .. )em {í
~
'.
(I') e denvando em re l-V
açao a , a condição de primeira ordem para a maXlllllZa-::; ~
(5) ção de (I') produz: "
~
~Vl-a ~
Dessas especificações, segue que: m(7t) = l-~
(8) .~
.;;:;
a(I-V)
~
-o:
(6) .
Denvan d o-se os dOI'Slados dessa função em relação a 1t, pode-se obter:
dV am'(1t)(l-V)2(1-~)
ou seja, o rendimento do indivíduo empregado na empresa iaumenta quando o (9)
estoque de capital humano da sociedade aumenta. Isto significa que, quanto d1t = ~(l-a)V-a (l_V)I-~ + (l-~)(l-V)
maior o impacto dos gastos com qualificação profissional na disponibilidade de
capital humano na sociedade, maior será o benefício individual obtido por ull1 A e uação (9) mostra que o sinal de dV /d7tdepende de m/(7t). Como m/(1t) é
agente representativo que receba o salário pago pela firma representativa. Isso .. q
POSlllVOpara va Iores de 1t pequeno e negativo para 1t elevado, ,dV / d1tIsegue
_. o
implica que: roposição I este conduz a cone usao.
mesmo perfil. Esse resu Ita d o, com a P ,.
624
rl----- Proposição 2: A eficiência do programa tende a aumentar quando a expecta- 625
~ não leva a que produzam cursos da melhor qualidade possível, considerando os
~ tiva de as pessoas com liderança nas suas decisões voltarem ao poder se aproxi- .,
<Q recursos disponíveis. ~
~ ma de um valor crítico e tende a diminuir quando esta probabilidade se afasta
fl desse valor. A lógica semelhante à da maximização de lucro conduzida pelas entidades ")2
t" Essa proposição mostra que os incentivos gerados para as secretarias de es-
executoras, contudo, assim como esta, tem um universo intertemporal, o que
implica atuação que não visa apenas à comparação de custos e benefícios em
~"
~
~
~ tado não são sempre no sentido de promover a eficiência do programa. Quando um determinado momento, mas às suas perspectivas de médio e longo prazos. ~
] as perspectivas de poder de seus tomadores de decisão se distanciam muito da
.l;;l
iG Umcurso mal ministrado hoje pode repercutir na imagem da entidade amanhã <t
Q situação de risco, mas com chances reais de manutenção do poder, a eficiência e reduzir a probabilidade de ela obter novas oportunidades de qualificação no ~....
do programa tende a cair por causa da recorrência a'estratégias de atuação cen- futuro. Isso implica que: :s
~
tradas na busca do autobenefício.
Proposição 3: Quanto maior a perspectiva de continuidade da entidade no t
4.2 - As entidades executoras programa, maior será sua preocupação com a qualidade dos cursos ministrados, ~~
ou seja, quando aumenta a probabilidade de sobrevivência da entidade por fl'"
Há vários tipos de entidades executoras que participam dos programas es-
taduais de qualificação profissional dos diversos estados, como já discutido na
mais de um ano de programa, cresce também o seu empenho para ofertar cur- t
50S de qualidade. .~
Seção 2. Apesar de serem entidades sem fins lucrativos na sua grande maioria,
Caso se considere que as concepções dos indivíduos em um mundo d e in- Jl~
elas operam sob restrição orçamentária, e a própria existência de inércia e inte-
formação imperfeita sofrem de uma certa inércia, pode-se também concluir ~
resses individuais dos funcionários faz com que elas se comportem como em- que: 2
presas privadas normais, que buscam maximizar receitas e diminuir custos.
Proposição 4: Quando as entidades executoras se defrontam com a perspec- .s~
Diante do exposto, pode-se dizer que o incentivo que motiva as entidades é
tiva de uma mudança de governo, se deparam com três opções de comporta- .s
a maximização de lucro e, por isso, buscam se engajar no menor esforço de trei-
mento estratégico. Aquelas que não têm boa qualidade de cursos, mas que têm ~
namento possível e obter o máximo de receita com esses treinamentos, como
se mantido no programa em uma determinada administração, podem vislum- ]
qualquer empresa privada. Obviamente esse raciocínio simplório sucumbe di-
brar uma incerteza muito grande quanto à sua continuidade, após as mudanças ~.Sl
ante da observação das entidades engajadas nos PEQs, pois muitas operam com
a ocorrer, e por tal podem resolver reduzir substancialmente a qualidade dos J:
fins beneficentes explícitos e isso está claramente impregnado na filosofia dos
seus dirigentes e funcionários. seus cursos, já que supõem ter poucas chances de continuar a operar. Aquelas '~
que oferecem cursos de boa qualidade podem elevar ainda mais essa qualidade; ~
Entretanto, mesmo no caso dessas entidades, muitas vezes a entropia or- para aumentar a probabilidade de se manterem no programa. As de qualidade ~
ganizacional leva a que, na margem de negociação relevante para a definição da mediana também tendem a ter comportamento semelhante a essas últimas na ~ ]
eficiência do programa, elas tenham o comportamento-padrão de empresas in- disputa pela sua manutenção. ~
dividuais, buscando maximizar lucro. Dentro dos limites estabelecidos pela éti-
Esses resultados implicam que, mesmo raciocinando em um contexto di- ~
ca, os profissionais que administram as entidades executoras, mesmo quando
nâmico, a estratégia ótima de algumas entidades, em determinados momentos, ~
beneficentes, se defrontam com um volume de demanda que tenderia a absor-
pode ser a de não ofertar cursos da melhor qualidade possível, dada a disponibi- ~
ver mais recursos do que os disponíveis, tanto em nível financeiro como de re-
!idade de recursos. Essa conclusão torna-se ainda mais forte quando se intro- .~
cursos humanos e materiais. Diante disso, eles passam a administrar essas enti-
duz a hipótese de risco para as entidades, de serem excluídas do programa mes- ~
<>:
dades buscando restringir a utilização dos recursos ao mínimo necessário para
mo quando oferecem cursos de boa qualidade. Esse risco é tanto maior quanto
satisfazer um ou!pU! preestabelecido. Esse comportamento é semelhante ao de
uma empresa privada. mais comprometida com o favoritismo e menos com a eficiência for a secretaria
de estado contratante.2 Essa relação fornece uma outra proposição importante:
Esses argumentos induzem a crer que as entidades tendem a gerar cursos
Proposição 5: Quanto mais comprometida com o favoritismo e menos com a
cuja qualidade não é a melhor possível em face dos recursos disponíveis, pois faz
eficiência for a secretaria de estado que administra o programa, maior o risco de
com que tenham menor custo para um mesmo ou!pu!. Além disso, elas tendem a
as entidades serem expulsas do programa, mesmo ofertando um serviço de boa
declarar o maior número de alunos e turmas possíveis, já que esses são os parâ-
metros relevantes para a determinação de sua receita, ou seja, por esse raciocínio
2 Apesar de não se proceder à demonstração deste argumento aqui. vale lembrar que segue a mes-
pode-se dizer que a estrutura de incentivos gerada para as entidades executoras Ina lógica da ineficiência das [orças de mercado na alocação de recursos na produção de commodities
agrícolas sob risco climático. como demonstrado por Newbery e Stiglitz (1982).
626 627
da do indivíduo em períodos futuros, maior será seu esf~rço, hoje par~ co~- ~
~ qualidade e, conseqüentemente, pior será a qualidade dos seus serviços para
E
<Xl
uma determinada disponibilidade de recursos. ren r essa ueda de renda futura. Isso significa qu: ele nao .so poupara mal, <.:J
g As proposições 3,4 e 5 mostram que as entidades executoras não necessa- pen:~ també~1 aumentará seu esforço de acumulaçao de capital humano. . ~
~
~ riam ente têm estímulo para ofertar cursos da melhor qualidade possível. Esse (on Essa relação pode ser vista de forma clara a partir do problema do consu.m: - j
! estímulo vai depender, entre outras variáveis, do perfil da secretaria contratan- dor em um modelo de otimização intertemporal, onde ele resolve o segu10 e ::
~ te. Quanto mais voltada para o favoritismo for esta, menor será o empenho da problema: ~
11 entidades executoras na promoção da qualidade dos cursos. Quer dizer, o perfil
.~ ~
g da secretaria contratante é essencial para assegurar a qualidade dos cursos não ~ l-a}
Cl-a [(l-e-q)L] e-P1dt ~
só a partir de suas próprias definições como também no próprio comportamen-
to das entidades executoras.
MaxU==
i { --+
I l-a l-a
:s
,~
t
principal deles. Entretanto, além de sua preocupação com o desempenho econô-
mico, eles podem também ter outros incentivos à participação, incluindo-se a te- Para a nossa preocupação específica vale adicionar a hipótese de que o sala- ]
rapia ocupacional e a oportunidade de interagir com outras pessoas. rio real esperado d esse consu ml'dor se comporta como: '(l
~
A opção de fazer um curso de qualificação profissional não é aleatória, ma '"
Y(S-I) (12) ~
faz parte de um processo de decisão racional de um agente econômico. Para fazê-lo, w=woe
~
ele ocupa seu tempo com atividades que exigem uma certa disciplina menlal e
comportamental. Certamente, esse sacrifício exige esforço de sua parte, o que ~~
onde sé qualquertempo futuro (ou seja, s ~ t). Caso y seja negativo, o consumi-
demanda uma recompensa que justifique a decisão racional do indivíduo de
%
, ueda futura' no seu salário. De acordo com essas de- '"
.alocar seu tempo Da qualificação. dor estara esperando uma q h" 't e pode ser representada
finições, a relação teórica apresentada como IPO es
Caso esse indivíduo perceba que existe uma perspectiva de queda em 'ua
nesse modelo como:
renda no futuro próximo, terá mais incentivos para escolher participar de ul11
programa de qualificação profissional; principalmente se essa possibilidade
emergi[ por depreciação de sua qualificação, causada pelo processo de mudança
aq <O (13)
tecnológica. Nessas conçiições, o indivíduo sabe que uma vez não se qualifican-
ay
do, perderá posição relativa no mercado de trabalho.
Dentro de uma visão teórica mais rigorosa, essa explicação é simples. Sendo
a função utilidade convexa e o esforço tendo utilidade negativa, quanto menor a
628 629
.:I...••.
~-
As condições de primeira ordem para a I - d têm melhor qualidade tendem a arregimentar um público interessado que te- -----.--;------~-,--
~1:; combinadas para se obter: so uçao esse problema podem ser
~ nha melhor condição de inserção no mercado de trabalho. ~
<:>
<:>
"
,~ Todos esses resultados levam a crer que os incentivos aos alunos levam à ~'"
{ (y - r)(s - t)+ In Wo = - <jJ(q+e)(s-t)+ In ti. eficiência do programa, já que este tende a produzir maior igualdade de renda. '"
" 't' (14) 8
{I A partir Entretanto, caso a qualidade dos cursos caia muito, o PEQ pode terminar por 1;E
~ dessa equação, pode-se er ceb -
g verdadel'ra para s > Pt E er que a relaçao apresentada em
(13) será sempre atingir uma proporção elevada de pessoas com pouca capacidade de inserção no E
.~ . ssa conclusão" . mercado de trabalho, reduzindo assim o impacto social. &:
C) ~rescer e e decrescer o suficiente ara ue ' so sena revertIda se y {I
E
!
{; obt~rem um emprego em 1998. Esses resultados advêm de pesquisa de campo 1. Constante -1,0290 -8,7792 0,0000
1 reahz~da com amostra composta de indivíduos que participaram do programa 2. Idade 0,0347 4,6540 0,0000
.'" de tremamento no estado, e ainda por um grupo de controle composto de indi-
3. Idade 2 -0,0003 -2,7231 0,0065 ~
2l víduos que não participaram de treinamento, mas residiam nas circunvizi-
nhanças do primeiro grupo. 4. Última série do entrevistado 0,0508 8,4304 0,0000 ~
Para atingir esse objetivo, partiu-se de uma equação da seguinte forma: 5. Sexo do entrevistado (masculino = 1) 0,2161 7,0830 0,0000 i
6. Empregado no momento da pesquisa (sim = 1) 5,0798 130,2233 0,0000 ~
n
7. índice de competência individual" 0,0386 3,5282 0,0004 !
Yi = L/3iXji
j=O
+ei ( 15)
8. índice de competência setorial" -0,0095 -0,4067 0,6843 i
"
634 635
'i; clar,amente em fim de carreira política, considerando os seus 82 a . maior perspectiva de queda de renda, perda de emprego ou de maior probabili-
~ na epoca das eleições, e não apresentava sucessor que pudess nos de Idade dade dejá se encontrar em situação de desemprego. Com isso, o mesmo nível de ~ t.:J
~ dade de manter o seu patrimônio eleitoral Isso sign'f' e mostrar capaci- cursos em Pernambuco e em Mato Grosso tenderia a produzir melhores resulta- <>
• d f' . . I ICaque a secretaria i
!
Cl
~ na e mIr suas ações no sentido de privile'
da eficiência do programa.
f . ( cw-
glar avores pessoais em detrimel1lo
dos no primeiro do que no segundo, ou seja, as contingências do mercado de !
trabalho em Pernambuco induziram uma seleção de treinandos que contribuiu .•.~
~
~g para promover a eficiência do programa nesse estado, relativamente a Mato ê
_Contrariamente
d a essa situação ' o PEQ -MT fOIImp
.. Iementado sob a coo d
.;:, naçao .eum governador jovem, candidato à reeleição e com boas chan d r e- Grosso. ~
~
2; conduzido ao poder por mais quatro anos tanto que f . ces e ser Esses comentários implicam que, apesar de ter havido maior eficiência '"
e.leiçõesde novembro de 1998. Diante dess~ qUadro po~e~~~V~~leernte ven~eu as operacional no PEQ de Mato Grosso do que no de Pernambuco, especificidades ~
:s
tIvos para que' ,que os Jncen- nos incentivos enfrentados pelas entidades executoras e dos diversos grupos de '"
, . a secretana promovesse a eficiência do PEQ-MT foram .
~n:a_ pradtICaconcentrada na obtenção de favores poderia implicar p~;~~o~~~ indivíduos para participarem dos treinamentos fizeram com que o PEQ-PE ti- ~
e eIçoes e novembro no caso desse estado. vesse maior eficiência relativa na geração de renda e elevação da probabilidade i:'
~
pe fato, essa dic~tom~a de comportamento das duas secretarias foi encon- dos indivíduos de obterem um emprego após os cursos, do que o PEQ de Mato .••
;s.
tra~ad'como pode ser mfendo a partir dos relatórios de avaliação dos PEQs con Grosso. .",
d UZI os pela Fade- UFPE, qu e ana rIsam to d o o processo operacional dos dois-
..g '"
programas [ver Barros e Correia de Andrade ( 1999a e b)] O
ê
~
nambuco fo' b . d . programa em Per- 7 - Conclusões
O Planfor consiste em um instrumento importante de combate à pobreza '~ "
'd I em maIS esorganizado, com contratação de entidades com me-
nor C;P~CI. ade de e~ecução de cursos de qualidade,3 acarretando perda muito
no Brasil, podendo desempenhar papel relevante no aumento da renda e na ~
gran e e m~o~maçoes sobre cursos e alunos, uma vez que várias turmas não
probabilidade de obter um emprego, para uma ampla gama de indivíduos que .~ :::
foram supervIsIOnadas pe~a secretaria e suas equipes de avaliação. Em todas as
etapas, desde o seu..•.
planeJament o mICIa,
. . . I o PEQ-PE fOimaIS
.. se beneficia de seus cursos. A prioridade permanente para o atendimento de ~8
b desorganizado e
pessoas com baixa escolaridade e em posição desvantajosa no mercado de tra- .ê
uscou menos a efIClenClana sua atuação do que o de Mato Grosso.
balho faz com que vários indivíduos com riscos de cruzar a linha de pobreza se- ~J:
As entidades executoras de Pe rnam buco po d em ser dIvIdidas
.. em dois gru- jam beneficiados pelo programa. Obviamente, o Planfor pode também contri-
pos. .. Um, formado pelas
_, que tinham poucas ch ances de se manter no programa,
l~
.. buir para que pessoas que estão abaixo dessa linha possam cruzá-la para sair do 8
pOIStm~am I~dICaçao polItica por trás de sua participação no PEQ e provavel-
~ehnte nao.senam r:admitidas, caso houvesse mudança de governo. O segundo
seu estado de pobreza.
O Brasil se encontra em uma encruzilhada importante de seu desenvolvi- ~
t
tm a qualIdade e mdependê' nCla po I'ltIca . para se manter no programa apó
uma mento econômico, necessitando promover um reajuste em seu modelo de de- ]
. mudança de governo . En t re t anto, esse segundo grupo tinha de mostrar a
b oa qualIdade dos seus senvolvimento tecnológico, pois o modelo de desenvolvimento a partir da subs- ~
. serviço s para aumentar suas chances de se manter entre
as. executoras escolhIdas ,IS as qua' rIveram mcentIvos
. . para implementar cursoS tituição do homem pela máquina já se esgotou. Atualmente, é preciso incorpo- -£;:
d e qualIdade. Seguramente os seus es forços estao - entre os responsáveis pelo rar os novoS paradigmas tecnológicos existentes no Primeiro Mundo para que a ~
produtividade do país possa seguir estreitando o gap com o Primeiro Mundo. .g
bom desempenho do_ progra ma, como encontrado pelos resultados empírico-
apresentados na seçao anterior. Esses paradigmas, contudo, demandam um nível de qualificação da
mão-de-obra superior ao que se encontra hoje na maioria da população. Esperar '<:
t
. ~Os treinandos em Pernamb uco t'm h am um perfIl. lIgeiramente
. diferente que somente a educação formal preencha essa lacuna é pôr um freio na capaci-
d os. d e Mato Grosso . Como o merca d o d e trabalho em Pernambuco apresenta
dade de crescimento do país. A qualificação profissional pode ajudar a acelerar
amaIOr" taxa de desemprego
,. e m enor remuneraçao- do que o de Mato Grosso, para
o processo de catching up e estendê-lo a contingentes maiores de mão-de-obra.
maIOna do publIco-alvo do programa, o PEQ-PE teve condições de mobilizar
segmentos da população rela!"Ivamente maIS . competentes, o que decorre de sua A eficiência do Planfor, contudo, se baseia em um equilíbrio muito frágil.
As secretarias de estado responsáveis por sua execução só têm estímulo para
3 A participação de grande número de ONG . - operar de forma eficiente em condições muito específicas, nas quais elas e os
cursos dessa nalureza e de ór - . bl' s, multas ~elas com pouca experiência na execuçao ~e
dos cursos com a qualidade dog~OSp~ . lC~S,fue na maIOr parte dos casos terceirizavam a execuça.o seus suportes políticos têm boas chances de perpetuação no poder. Por outro
dade das instituições executo:a~~C:;~lza os o~a~o controle da secretaria, é indicativo da má quah. lado, as entidades executoras só deverão agir de forma eficiente quando tiverem
nambuco. propensao a perda do controle da execução, no casO de Per-
interesses de longo prazo que possam ser mantidos por uma postura eficiente das
637
636
. I t" . a critique In: LuCAS, R. (1981a). .~~H#H.-.._....•..~_.._.-..•
~ secretarias. O grupo de treinandosque melhor contribuir com o programa tam- LUCAS,R: Econometric pohcy ~va~~L~~R A. H. (eds.). The Phillips c~rve and ~ . --
~ bém só será devidamente engajado caso os demais elos do programa estejam Repnnted from BRUt;lNERR, Ih"ster Conf~rence Series on Public Pohcy, v. 1. ~
labor markets. Carnegle- oc e ~
~ funcionando de forma adequada. Diante de tudo isso, torna-se fácil gerar inefi- Amsterdam: North-Holland, 1976. "
~
o<>
ciência na execução do programa. 8
. On the mechanics of economic development. Joumal of Monetary ~
~ No caso específico da comparação entre Pernambuco e Mato Grosso, por
~ exemplo, percebeu-se que, enquanto as ações da secretaria tiveram uma preo-
--E-c-on-o-m-ics, v. 22, n. 1, p. 3-42, 1988. !
].S;> cupação maior com a eficiência no segundo estado do que no primeiro, as espe- I A liação gerencial 1995/98: balanço de {j
MINISTÉRIODO TRABALHO.S~for/P anor. v; B T FAT mar. 1999a. ~
2l cificidades em que se encontravam as entidades e alunos de Pernambuco leva- um projeto para o desenvolvImento sustenta o. rasl la, , ~
ram a posturas relativamente mais eficientes neste estado do que em Mato
. Anuário estatístico 1995/1998. Brasília. FAT, mar. 1999b. ~
Grosso, e o programa como um todo terminou surtindo maior efeito quanto ao ----- I:Q
1 - Introdução
1.1 - Motivação
As informações disponíveis não deixam qualquer dúvida sobre o alto grau de
concentração da posse da terra no Brasil, que é, certamente, um fator de grande
influência sobre o elevado grau de desigualdade de bem-estar vigente no país.
Assim, a única justificativa para uma elevada concentração seriam os ganhos de
eficiência que eventuais economias de escala na produção e processamento po-
deriam trazer, admitindo-se que a organização de pequenos proprietários em coo-
perativas não seria capaz de integralizar estes mesmos ganhos de escala.
Caso o mercado de terras funcionasse adequadamente, não haveria o que
questionar sobre a adequabilidade em termos de eficiência na distribuição atual
da propriedade da terra no país, pois neste caso, ao menos em equilíbrio, a dis-
tribuição da terra seria ótima do ponto de vista da eficiência. De fato, por um
lado, se houvesse deseconomias de escala, o valor da terra para os pequenos
agricultores seria maior do que para os grandes proprietários, o que os levaria
então a desmembrar suas propriedades. Por outro, na medida em que existam
economias de escala, a soma dos valores de um conjunto de pequenas proprie-
dades contíguas seria menor do que o valor de uma propriedade que agregue es-
Por outro lado, existem diversos fatores que levam a que a desigualdade na 4
Média após a reforma Média antes da reforma
10 12
O
t.s
distribuição da terra esteja tipicamente acima do que seria a eficiente, quer ele-
Tamanho
vando o valor das grandes propriedades acima do seu valor econômico, quer re-
duzindo o valor das pequenas propriedades abaixo do seu valor econômico.
Gráfico 1
8 .-------------- 0,5
Lucro sem desigualdade.J~ _ 0,3
na distribuição da renda
0,1
6
1~
• _'~I!.c.Ic:.~!2te~ !~f9~f"!2'!.
~ _ -0,1
I
I -0,3
4
-0,5
I I 2 • ••• -0,7
I
I
I
I -0,9
I I
li --! -1,1
•
I
I J I J J
I
J O I I I
16 18
O 2 4 8 10 12 14
6 8 10 12 2 4 6
Média após a reforma Média antes da reforma
Tamanho
Tamanho
643
642
Gráfico 4 Assim, na medida em que existem distorções nos preços das propriedades - - -...•._------~~--
~ devariados tamanhos, a distribuição da posse da terra observada não mais re- ~
E
'tl
Presenta necessariamente a melhor solução em termos de eficiência. Além disso,
~ Lucratividade e tamanho do estabelecimento ~
~
~
~ o valor de mercado das propriedades não reflete o seu valor econômico. Para ~
a Lucro por hectare
150
que se possa identificar qual a melhor distribuição de terra do ponto de vista da -i.
~" eficiência, torna-se necessário avaliar como o verdadeiro valor econômico de ~
::;g
!i!
.~
uma propriedade varia com o seu tamanho. Antes, e~tretanto, de passarmos à 1
100 análise empírica dessa relação, vale ressaltar a sua natureza. Considerando-se ~
~
•...... ...........••••••••.•••.... comovalor econômico de uma propriedade o valor presente dos lucros futuros :~
Lucro sem desigualdade
na distribuição da renda
I
I 50
esperados que poderiam ser obtidos explorando-se essa propriedade de forma %
................................
<)
Lucro antes da redistribuição I
I
I
o
eficiente, tem-se que esse deve variar com o tamanho do estabelecimento devi-
do a três razões básicas. Em primeiro lugar, devido à tecnologia de produção e 1~
---~.. -11---
Processamento podem existir economias ou deseconomias de escala na produ- -
~
çãoou no seu processamento, fazendo com que o custo unitário varie com a es- ,~
-50 cala. Em segundo, os preços dos diversos insumos e produtos podem variar com f
otamanho do estabelecimento na medida em que existem subsídios diferencia- ~
dospor tamanho, ou que a escala de produção dê melhor acesso a determinados ~
o 4 8 10 12 14 16 18 20
-100
mercados tanto para a comercialização dos produtos como para a compra de in- _I
sumos. Por fim, a existência de informação assimétrica leva a que, no gerencia- '"
Tamanho
mento das atividades agrícolas, existam importantes deseconomias de escala.
Em particular, é notório que o custo de gerenciamento da mão-de-obra familiar
é bem menor do que o da mão-de-obra contratada. Assim, é de se esperar que,
Eleva-se o valor das grandes propriedades acima do seu valor econômico quan- ao menos em termos de gerenciamento, a agricultura familiar tenha vantagens
do a política agrícola existente oferece subsídios diferenciados aos grandes c - em relação aos grandes estabelecimentos que utilizam prioritariamente
tabelecimentos, sejam eles creditícios, sejam na forma de subsídios à compra de
mão-de-obra contratada.
insumos ou na forma de garantia de compra de produtos acima dos preços de
mercado. Um outro fator que também leva a um aumento artificial no valor da
1.2 - Objetivo
grandes propriedades é a instabilidade econômica. Na medida em que a terra é,
além de um fator de produção, um ativo de baixo risco, uma maior instabilidade O objetivo central deste estudo é verificar empiricamente se de fato exis-
econômica aumenta a incerteza associada à maioria dos demais ativos da eco- tem economias de escala na produção e processamento no caso da produção
nomia, levando a uma valorização da terra como uma reserva de valor. agrícola da região Nordeste.
Diversos fatores levam também a uma desvalorização artificial das peque-
nas propriedades, o mais importante sendo, provavelmente, as imperfeições no 1.3 - Organização
mercado de crédito, que fazem com que os pequenos proprietários tenham de Além desta introdução, este trabalho está dividido em quatro seções. A Se-
enfrentar taxas de juros bem mais elevadas ou restrições quantitativas de crédi- ção 2 apresenta uma descrição da base de dados utilizada e os principais concei-
to. Restrição de crédito é apenas uma das imperfeições de mercado que redu- tos usados neste estudo. Na Seção 3 descrevemos as estatísticas básicas encon-
zem artificialmente o valor das pequenas propriedades. Outros exemplos são o tradas, no que diz respeito a tamanho dos estabelecimentos, lucratividade, va-
acesso mais limitado dos pequenos proprietários às inovações tecnológicas e à riáveis de mercado de trabalho, entre outras. Na Seção 4 analisamos a relação
infra-estrutura pública para distribuir e comercializar seus produtos. entre lucratividade e tamanho do estabelecimento. Finalmente, na Seção 5,
Em suma, existe um grande número de razões pelas quais a distribuição de apresentamos as principais conclusões do estudo.l
terras não está sendo a mais adequada do ponto de vista da eficiência. Entretan-
to, não há, necessariamente, motivos para crer que a distribuição observada I A versão original deste trabalho contém uma seção adicional na qual fazemos uma resenha bi-
bliográfica sobre os trabalhos que tratam da relação entre tamanho do estabelecimento agrícola e
seja mais desigual do que a desejável sob a ótica da eficiência.
eficiência.
645
----~---
•.._----.:--,~ -
644 . tidas como estabelecimentos, dis- ~:c
'E; 2 - Estratégia empírica e base de informações entregues a administrações dlV?rsas, ~;:tabelecimentos distintos a.s ~reas ~
E
tintOs.Consideraram-se, tamb~m, co do os responsáveis por sua admllllstra- ~
'"i! As estimativas obtidas neste estudo baseiam-se nas informações, em nf i!
de estabelecimentos, do Censo Agropecuário de 1985. Nesta seção apres 11 . xploradas em regime de p~rcena, quan ão as parcelas não-confinantes ex- '"~
~
~ ~~oeram os próprios parceuos. Por exten~u~or foram consideradas como um ""
iS. mos uma exposição sucinta das principais características desse cen o e 111
"" iS.
'Ioradasem conjunto, por um mesm~ prosem situadas no mesmo setor e utili- '"
~" descrição detalhada dos conceitos de lucratividade e tamanho utilizados. ~micoestabelecimento, desde ,qu~ estlv~s manos, estando subordinadas a uma
"
oS
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] s mesmos recursoS teclllCOSe u ~
2.1 - Censo agropecuário: características básicas zaSSe m o
.2>
.g única administração. ."
<~
O censo agropecuário atende às solicitações da Organização das Naçõe' Uni-
das (ONU) e de outros organismos internacionais, observando-se o Programa
%
'"~
para o Censo Mundial de Agricultura e o Programa de Investigações e Tabul _ produtor bl'll'dade da exploração do
, , d t' esse a responsa . a
""
ções, que visam assegurar a uniformidade de conceitos e a compatibilidade do Pessoa física ou jundlCa que e lV , , ou de propriedade de terceuos,
estabelecimento, constituído de terras propnas ~
resultados dos censos das nações americanas. Sua coleta foi realizada entrejanei- {l
,g
roe março de 1986, tendo como período de referência o ano de 1985, e C0l110 data .~
de referência o dia 31 de dezembro de 1985. Os dados sobre propriedade, área, va- Utilização das terras . ~"
uintes categonas: ~
lor dos bens pessoais, efetivos da pecuária e outros, relacionados com a organiza- Foram consideradas as seg aro para o plantio de cul- {l
ção dos estabelecimentos, referem-se a 31 de dezembro e as informações sobr , as plantadas ou em prep I n- ~
• Lavouras permanentes - are , Iheita não necessitassem de novo P a {S
investimentos, financiamentos, despesas, receitas, produção e outros, ligado ao turas de longa duração que, apos a co. ' ~
movimento dos estabelecimentos agropecuários, referem-se ao ano, , , s anos sucesslVOS.
tio, produzindo por vano paro para o plantio de cultu-
O censo cobriu 2,7 milhões de estabelecimentos no Nordeste, nUl11aárea , , , plantadas ou em pre d
Lavouras temporanas - areas ano) e que necessitassem e noVO
total de 90 milhões de hectares. Foi o oitavo do gênero realizado no país e abran- ras de curta duração (menor do que um
geu as seguintes atividades econômicas: agricultura, pecuária, avicultura, api- plantio apóS cada colheita, " d ra o plantio de lavouras tem-
cultura, cunicultura, sericicultura, horticultura, floricultura, silvicultura e e.'- h b'tualmente utlhza as pa d por
tração de produtos vegetais. Procedeu-se ao levantamento complementar da • Terras em descanso - a 1 o de 1985 se encontravam em esc.a?so,.
produção particular do pessoal residente, obtida em terras do estabelecimento, Porárias, que em. 31 de dezembr I - o último ano de sua utlhzaçao.
tro anos em re açao a 'd
prazo não supenor a qua . do gado sem terem SI o
bem como do número de seus animais. Também foram investigadas as ativida- , , destinadas ao pastoreIO '
des de beneficiamento e de transformação exercidas nos estabelecimento Pastagens naturars - areas. . d t nham recebido algum trato.
agropecuários, excetuando-se as correspondentes às usinas de açúcar, fábrica~ formadas mediante plantlo, am a que e . e formadas mediante
ntadas _ áreas destinadas ao pastorelO
de polpa de madeira, serrarias e às unidades industriais devidamente licencia- Pastagens pla
das, que foram investigadas por intermédio do censo industrial. plantio. fl t s naturais utilizadas para extração
, , de matas e ores a
Consideraram-se os seguintes critérios: • Matas naturars - areas o reservas florestais.
de produtoS ou conservadas com ara o plantio de essências
Estabelecimento agropecuário • Matas plantadas - áreas plantadas o~ emo~~p~~~rros de mudas de essências
Todo terreno de área contínua, independentemente do tamanho ou situa- florestais, incluindo as áreas ocupa as c
ção (urbana ou rural), formado de uma ou mais parcelas, subordinado a um florestais. 't 'das pelas áreas que se prestavam à
único produtor, onde se processasse uma exploração agropecuária, ou seja. o Terras produtivas não-utilizadas - constl Ul não estivessem sendo usadas
astos ou matas e que , do su
cultivo do solo com culturas permanentes ou temporárias, incluindo hortaliça formação de culturas, P . I' d as terras não-utilizadas por peno -
e flores; a criação, a recriação ou a engorda de animais de grande e médio portes; para tais finalidades. Foram mc Ul as
a criação de pequenos animais; a silvicultura ou o reflorestamento; e a extração perior a quatro anos. , 'mprestáveis para formação de
de produtos vegetais. Excluíram-se da investigação os quintais de residência e ..' formadas por areas 1 , S pe-
Terras inaproveltavelS -. . areais pântanos, encostas mgrem: '
hortas domésticas. As áreas confinantes sob a mesma administração, mas ocu- culturas, pastoS e matas, taISc~mo; o~upadas com estradas, cammhos,
padas segundo diferentes condições legais, foram consideradas como um único dreiras etc e as formadas pe as aredas
estabelecimento. As áreas confinantes pertencentes a um só proprietário, mas ., . d . . ção açu es etc.
construções, canaIS e lrnga ,
IPet_1
647
646
--....~-._----- •.
Horticultura _ foram pesquisados a pro~ução e o valor da produção da horti- .':
Pessoal ocupado ~
~ Z
o cultura e o principa~ desti~o d_ao~::~~~:~~ação vegetal referiu-se aos pro~u- <:>
~ A pesquisa sobre o pessoal ocupado abrangeu todas as pessoas, Com ou !TI l::
onde mij e eij denotam os salários pagos em dinheiro e em produtos, respectivamente, pelo estabele-
cimento i na microrregião j; Pij por sua vez denota o número de empregados permanentes do estabe-
lecimento i na microrregião j; e tikj o número de empregados temporários do estabelecimento i no
mês k na microrregiãoj. Dada esta expressão para o salário médio, o custo de oportunidade do tem-
3 Nesse cálculo consideramos apenas as pessoas com 14 anos ou mais de idade. Assim. implicila: po do produtor e dos familiares que o ajudavam em seu trabalho no estabelecimenlo i na microrre-
menle supusemos que o custo de oportunidade do tempo das crianças com menos de 14 ano e gião j. Cij' foi estimado via Cij = (rij + I). Wj• onde rij denota o número de membros familiares
nulo. não-remunerados que o ajudavam em seu trabalho.
650
651
~ 3 - Preliminares empíricos5
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~ Distribuição da terra ;3~'i),
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Lf'l Lf'l <ri Lf'l Lf'l '<t-
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t A análise empírica da relação entre lucro por hectare e tamanho do estabe- -o> '"s::
" lecimento realizada neste estudo foi conduzida separadamente para cada me- ~8~ ~
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~ sorregião, excluindo-se as do entorno das capitais, devido a Sua natureza predo- ~ ,~~ '"
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,2> minantemente urbana. Ao todo, como a tabela do Anexo revela, a região Nor- ~~~~
<ic:<i<i 1'-0_ ~ <:l:. N Lf'l N \D q co \D ""-"
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I-w>o 1'-0- '<t- 1'-0- ..... Lf'l- 00
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deste é formada por 30 mesorregiões e, excluindo-se as nove capitais dos esta- ~~~~
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dos da região, chega-se a 21 efetivamente investigadas neste estudo. wOOI-
"- c:::l .~
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A área total dos 2,7 milhões de estabelecimentos agrícolas nessas 21 me- ~"'~ô
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sorregiões da região Nordeste é de aproximadamente 90 milhões de hectares, l-oV'lW
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O::i«ü N 1'-0_ Lf'l 1'-0 \D N \D
representando mais de 57% da superfície total da região (ver Tabela I ).6 O ta- g:i=tJ~ cri' N '<t- o 0- ..... .<f N :;:
man}1o das mesorregiões, entretanto, é bastante variável, indo do oeste e leste ~6~~
'<i::<;'! ~
baianos, com mais de 11 milhões de hectares cada uma, até áreas como as ma- ~ze~ .""
tas de Alagoas e Pernambuco e o agreste e brejo paraibanos, onde a área total '" '"'"
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dos estabelecimentos agrícolas não chega a superar I milhão de hectares. .•.•UI
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mais elevada, cerca de 13%, variando significativamente entre as mesorregiões, GI WZw
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0::<<i o co o ..... ~ N o co .....
indo desde valores em torno de 3% no agreste paraibano, até valores superiores J:l ffiü:5 o '<t co o
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a 20% no Piauí e Maranhão. o ~~~ ..... ..... N ~
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As informações apresentadas na Tabela I também revelam que a desigual- 111 ~
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dade na distribuição da terra é elevadíssima, com o coeficiente de variação gi- 'iij
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rando em torno de 15. O grau de desigualdade na distribuição da terra é alto não J:l QJ
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111 '"•...
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5 Algumas das informações para o Maranhão, Contidas nesta e na próxima seção, não estão corre- u c:n
tas devido a problemas encontrados nos arquivos do IBGE. +iUI '"
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6 A área total da região Nordeste é de 1.561.177,8 km' e, portanto, de 156.117.780 hectares (Ikm'
corresponde a 100 hectares) ou 156 milhões de hectares. W
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652
apenas para o conjunto das 21 mesorregiões mas, também. em cada uma. De ~
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..., õwô fato. em todas as mesorregiões o coeficiente de variação é superior a 3,9, fican- ~
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,." do,na maioria das regiões, entre esse valor e 7,0. Em algumas regiões, entretan- ~
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to, esse grau de desigualdade é bem superior. É o caso do Piauí e parte do Mara- ~
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o-o nhão e da Bahia, onde está a região com o maior grau de desigualdade (o oeste ..,
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::1E ,~~ baiano), que possui um coeficiente de variação que chega a 23,8. ;:
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;::0:::«« ro:. ,." lO O'> lO o ,~
'".:; ~"'~ô que a receita contábil média por ano, por hectare, na região foi de Cz$ 335,6, ~
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com a receita média anual por estabelecimento de Cz$ 10,9 mil. Essa tabela 15
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~ mostra também as receitas e despesas econômicas. Note-se que a receita econô- a
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mica média por ano, por hectare, na região foi de Cz$ 557,8, com a receita média il -
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_w anual por estabelecimento de Cz$ 12,9 mil. Esses valores são substancialmente ,:;;
::;w'" maiores do que aqueles apresentados para a receita contábil, uma vez que esses ]'E
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últimos incorporam, além do valor obtido com a venda de produtos, o valor da :;;;
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'<t-' produção. Vale lembrar que o valor da produção engloba o da venda de produtos il
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~ ~ e que, portanto, deve ser deduzido para não haver dupla contagem. ~a
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A despesa contábil média por ano, por hectare, foi de Cz$ 157,4, com a des- .ê
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pesa média anual por estabelecimento de Cz$ 5 mil. Comparando essas despe-
~t:o:::; ,."
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0- ~ N lO "t N q sas contábeis com as despesas econômicas apresentadas na mesma tabela, ob-
M N- N- ...: LI"l- '"
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0..:I:'" servamos que a despesa econômica média por ano, por hectare, foi de Cz$ 152,5,
~::;;::
-!t'.::n com a despesa média anual por estabelecimento de Cz$ 4,9 mil, inferior, por-
-,VIVi" tanto, à contábil. A razão pela qual observamos uma queda na despesa econô-
;::,~~ 00 lO u:. o O'>
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o mica em relação à contábil vem do fato de a despesa econômica não incluir os
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~~::I: O'> valores gastos com arrendamento e parcerias.
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O lucro contábil por estabelecimento foi, em média, de Cz$ 5,8 mil por ano
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otn e de Cz$ 178,1 por ano e por hectare. A Tabela 2 revela também um lucro econô-
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::;« ~ E mico por estabelecimento de Cz$ 8 mil, e o lucro por hectare, de Cz$ 278,5.
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.~ '" Estas médias, entretanto, encobrem grandes diferenças entre mesorre-
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'" giões, seja com o lucro contábil seja com o econômico. A Tabela 2, por exemplo,
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'" :il revela que o lucro contábil anual por estabelecimento varia de valores inferiores
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ozwwo: .g a Cz$ 3 mil no sul do Maranhão e no Piauí a valores superiores a Cz$ 40 mil no
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00 E sul da Bahia. Na maioria das mesorregiões o lucro varia de Cz$ 3 mil a Cz$ 5 mil
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N "" por ano .
ta .,; '" No que se refere ao lucro contábil anual por hectare, as diferenças entre as
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~ ~5 mesorregiões não são menores. Enquanto no sul do Piauí e do Maranhão o lucro
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.g'ê . contábil anual por hectare é inferior a Cz$ 25, no sul baiano esse valor chega a
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Anais do Seminário Desigualdade e Pobreza no Brasil I ~
Tabela 2
Oeste 7,6 146,2 4,1 77,8 3,6 68,4 9,6 184,4 4,0 76,6 5,6 107,8
Leste 12,3 374,9 4,9 148,9 7,4 226,0 15,0 457,9 4,8 147,3 10,2 310,6
Litoral sul 72,2 1.229,1 27,9 474,5 44,3 754,6 74,9 1.274,8 27,7 471,6 47,2 803,2
Sergipe
Sergipana 9,9 612,2 3,7 232,3 6,1 379,9 10,9 675,6 3,7 227,1 7,2 448,5
Alagoas
Sertão e agreste 8,3 754,5 3,5 317,6 4,8 436,8 9,6 869,8 3,4 305,5 6,2 564,3
Mata 88,7 2.067,9 63,8 1.487,0 24,9 580,9 89,8 2.092,9 62,1 1.447,5 27,7 645,4
Pernambuco
Sertão 6,4 219,5 2,6 89,5 3,8 130,0 8,3 282,2 2,4 81,0 5,9 201,2
Agreste 8,3 850,0 3,8 388,5 4,5 461,4 10,2 1.035,3 3,7 381,3 6,4 654,0
Mata 91,3 3.190,8 67,5 2.358,6 23,8 832,2 87,1 3.041,3 65,6 2.293,3 21,4 748,0
Paraiba
Sertão 7,0 219,6 3,2 100,2 3.8 119,5 9,9 312,1 3,0 95,6 6,9 216,4
(confinutl
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Mercado de trabalho: emprego e salário
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-Z«N <i I"'- 00 ~ -.2-
~" tentes nessas regiões geram cerca de 9,6 milhões de postos de trabalho, com OZO~U 01
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i cada estabelecimento empregando aproximadamente quatro pessoas em média. a~~~~
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" Deste total, cerca de 65% são formados pelo responsável pelo estabelecimento e
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~ pelos familiares que o ajudam no trabalho e, do restante, cerca de 79% são con- o a ~ (Y'l I"'- co o ..!l
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tratados de forma temporária. As mesorregiões diferem apenas quanto à força ::>'(;) co :; <D
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- de trabalho contratada, uma vez que em todos os casos o número de familiares ã:~ ~ ~ (Y'l ""!
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que ajudam o responsável pelo estabelecimento no seu trabalho é sempre entre '" %
2 e 2,6 em média (ver Tabela 3). a:o
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No que se refere à contratação de mão-de-obra as diferenças são bem signi-
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ficativas, com a sua utilização sendo muito importante nas matas alagoana e o:::~zu
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pernambucana, sendo esses os únicos casos em que a força de trabalho familiar Z::>::>«
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tem uma participação inferior a 40%. Cabe também ressaltar que aquelas re- "
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giões, além do litoral sul baiano, são as únicas que empregam mão-de-obra per- LlJb2~ .",.'E
manente de forma significativa. °oô~ a ~ a co ~ ....- ~
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O salário médio pago é próximo de Cz$ 1.362 por ano, entretanto, varia LIJ~'~~
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consideravelmente entre regiões, indo desde Cz$ 340 por ano no sertão per- .~~~~ !
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nambucano até Cz$ 4.366 no litoral sul baiano. Pode-se também verificar que W ~
existe uma elevada correlação entre a proporção de empregados permanentes e owo:::o
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o nível salarial. De fato, o salário é muito maior nas regiões das matas alagoana .@~~~
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e pernambucana e litoral sul baiano, onde a proporção de empregados perma- ~a~~ N N N N N N N N
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Como o número de responsáveis e familiares não-remunerados é em mé- wa:o
dia de 2,35 por estabelecimento, admitindo quC;,o custo de oportunidade do O 00>-
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tempo de cada um desses trabalhadores é igual ao salário médio local, chega- e :!2 ::>00
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a um custo de oportunidade médio por estabelecimento de, aproximadamente, /li 01.:)--'
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Cz$ 3.114,39 por ano. Como o número de trabalhadores não-remunerados varia GI ::>"-«
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muito pouco entre as mesorregiões, a grande maioria da variação no custo de O
oportunidade advém da diferença salarial entre as mesmas. Assim, o custo de
oportunidade é bem mais elevado nas matas alagoana e pernambucana e no li-
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toral sul baiano que nas demais regiões pois, como já vimos, essas são as regiõe
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que mais empregam trabalhadores permanentes e oferecem os salários mai I ~
ele~ados. Esse custo de oportunidade irá reduzir o lucro econômico dos estabe- O
lecimentos, como será visto mais adiante. ==/li
Capital: veículos, máquinas e instalações ..
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A Tabela 4 revela que em média um estabelecimento nessas mesorregiõe "C ~ o
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tem veículos, máquinas e instalações no valor total de Cz$ 16,6 mil. Cerca de '"w
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69% desse capital são representados por instalações, 16% por máquinas e 14% /li \3
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Anais do Seminário Desigualdade e Pobreza no Brasil I ~
(continuação)
)
Tabela 4
16,97 75,21
Bahia 22,5 7,81
3,8 16,9
1,8 9,25 86,44
Oeste 30,3 4,31
2,8 26,2
1,3 9,98 79,87
Leste 59,6 10,15
6,0 47,6
6,1
Litoral sul
14,61 76,09
Sergipe 13,7 9,30
2,0 10,4
1,3
Sergipana
18,42 59,59
Alagoas 6,5 21,99
1,2 3,9
1,4 30,22 24,98
Sertão e agreste 51,1 44,80
15,5 12,8
22,9
Mata
16,19 72,50
Pernambuco 11,9 11,31
1,9 8,6
1,3 13,08 70,69
Sertão 6,9 16,23
0,9 4,9
1,1 33,39 35,74
Agreste 40,2 30,87
13,4 14,4
12,4
Mata
21,99 72,74
Paraíba 21,3 5,27
4,7 15,5
1,1
Sertão
(continua)
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ção e a distribuição das terras, levando, em geral, ao aparecimento de pequenas
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~ 5 co 0'1 a q N '<t co lO 0'1 r-. co lO propriedades em áreas mais produtivas. Assim, caso uma única análise fosse rea-
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lizada, utilizando informações de todas as mesorregiões, um viés na direção de
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uma relação inversa entre lucro por hectare e tamanho estaria sendo introduzi-
do, uma vez que as pequenas propriedades apareceriam como mais lucrativas,
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não por causa do tamanho, mas simplesmente porque estariam localizadas em
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áreas com solos e condições climáticas mais favoráveis.
~ Os gráficos revelam que, na maioria das mesorregiões, o lucro por hectare
declina com o tamanho do estabelecimento, apesar de na maior parte das vezes
haver um comportamento inverso quando se avança pelos tamanhos iniciais do
<ti
Q) estabelecimento, ou seja, o lucro por hectare inicialmente cresce com o tama-
~
~ nho do estabelecinlento, mas rapidamente passa a declinar. Essa relação inver-
~ .g sa entre lucro por hectare e tamanho do estabelecimento se mostra bastante in-
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tensa em quase todas as mesorregiões, entretanto é mais branda no oeste e cen-
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> .2 7 Nesta seção utilizaremos a definição de lucro econômico 3.
663
662
Gráfico 5
~
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~ Relação e~tre a lucratividade da terra e o tamanho do Relação entre a lucratividade ~a terra e o tamanho do
! estabelecimento. sergipana estabelecimento. central potlguar
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%
Lucro por hectare (em Cz$)
{l 100 200
] Percentagem de estabelecimentos
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40 45 50 O
Tamanho do estabelecimento em hectares
Tamanho do estabelecimento em hectares
Fonte:Censo agropecuário de 1985.
Gráfico 6
Relação entre a lucratividade da terra e o tamanho do Relação entre a lucratividade da terra e o tamanho do
estabelecimento - oeste potiguar estabelecimento - sertão e agreste alagoanos
% 100
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Percentagem de estabelecimentos
Percentagem de estabelecimentos
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80 640
60
60 480
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Tamanho do estabelecimento em hectares
Tamanho do estabelecimento em hectares
Fonte : Censo agropecuário de 1985.
665
664
Gráfico 9
Gráfico 11
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~ Relação entre a lucratividade da terra e o tamanho do Relação entre a lucratividade d~ terra ~ o tamanho do
~ estabelecimento. mata alagoana estabelecimento. agreste e brejo paraibanos
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30 40 50 60 70 80 90 100 o
Tamanho do estabelecimento em hectares
Tamanho do estabelecimento em hectares
Fonte:Censo agropecuário de 1985. Fonte :Censo agropecuário de 1985.
Gráfico 10
Gráfico 12
Relação entre a lucratividade da terra e o tamanho do Relação entre a lucratividade da terra e o tamanho do
estabelecimento. sertão paraibano estabelecimento. sertão pernambucano
60
300 60 480
40
200 40 320
20
100 20
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O
Tamanho do estabelecimento em hectares
Tamanho do estabelecimento em hectares
Fonte:Censo agropecuário de 1985.
666 667
Gráfico 13 ~G~ra~'f~ic~O~1~5~ _
~
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~ Relação entre a lucratividade da terra e o tamanho do .. d d t rra e o tamanho do
Relação entre a lucratlvlda e a e
..,~ estabelecimento - agreste pernambucano estabelecimento
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Tamanho do estabelecimento em hectares Tamanho do estabelecimento em hectares
Fonte:Censo agropecuário de 1985.
Gráfico 14
~G~ra~'f~ic~O~1~6~ ----------------
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Lucro por hectare
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Tamanho do estabelecimento em hectares
Tamanho do estabelecimento em hectares
Fonte:Censo agropecuário de 1985. Fonte:Censo agropecuário de 1985.
Gráfico 18 Gráfico 20
Relação entre a lucratividade da terra e o tamanho do Relação entre a lucratividade da terra e o tamanho do
estabelecimento - norte piauiense estabelecimento - oeste baiano
%100
Lucro por hectare (em Cz$)
%100 50
Percentagem de estabelecimentos
Percentagem de estabelecimentos
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400 80 40
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Tamanho do estabelecimento em hectares
Tamanho do estabelecimento em hectares
Fonte :Censo agropecuário de 1985. Fonte :Censo agropecuário de 1985.
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670 ~
Gráfico 21 Gráfico 23 :c
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Relação entre a lucratividade da terra e o tamanho do .,
"'lg Relação entre a lucratividade da terra e o tamanho do "
~ estabelecimento - leste baiano estabelecimento - oeste maranhense ...,~
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Tamanho do estabelecimento em hectares
Tamanho do estabelecimento em hectares
Gráfico 22 Gráfico 24
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Tamanho do estabelecimento em hectares
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A Tabela 5 apresenta, para cada mesorregião, o lucro econômico 3 por heClare í rt'I
e por estabelecimento, dada a distribuição de terras em 1985, e apresenta também o r-- :; r-- N
..-- O' .- 00
qual seria esse lucro por hectare e por estabelecimento caso a distribuição das terra
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fosse perfeitamente eqüitativa entre todos e entre os que possuem terras. A redislIi-
buição entre todos revela que, caso as terras fossem repartidas de fornla eqüitali a,
a maioria dos estabelecimentos teria o tamanho médio reduzido em mais de 25%
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do litoral sul baiano e das zonas da mata alagoana e pernambucana, que são as ~
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como já destacado anteriormente.
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Esse aumento pode ser devido a dois fatores: gerado por uma distribuição ~ 'i:
de terras para todos igualmente, ou resultado de uma eliminação na desigual- g>
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que já possuem terra. Podemos observar que o impacto sobre o lucro por hectare %
de uma redução na desigualdade entre os que têm terra é maior do que o impac- ""~
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to causado pela distribuição de terras para todos. ~g
N N \ri -<i Finalmente, vale ressaltar que a lucratividade por estabelecimento obtida ~
'" " \ri
li) rt'l N lO
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após a distribuição eqüitativa das terras é capaz, graças ao crescimento no lucro :ª'
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miliar na área rural, em todas as mesorregiões analisadas, de pelo menos um sa- ~
lário mínimo. Isso, somado ao valor do trabalho dos membros da família seria ~
~ co o o co co certamente suficiente para garantir a todas as famílias na área rural da região! _
~ "
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Esses resultados revelam que uma distribuição eqüitativa da terra no Nor-
o;t o;t rt'l rt'l o o
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deste, com exceção da Zona da Mata e do litoral sul baiano, teria um enorme po-
-<i \ri -<i N -<i \ri ~ -<i tencial, não apenas para elevar a eficiência, e, portanto, o lucro por hectare,
'" mas, também, por se constituir num instrumento poderoso capaz de erradicar a
o o;t o co co N C'\ C'\ N o o co
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o;t co N
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N C'\ pobreza na região.
Por fim, apresentamos na Tabela 6 os lucros econômicos das mesorregiões.
Esses lucros, como já dissemos anteriormente, são resultado da subtração dos
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rt'l
N
co o;t
N
co o N rt'l o;t o;t N
N
diferentes custos de oportunidade do lucro econômico I (que é igual à receita
N lO N
" econômica menos despesa econômica). Assim, o lucro econômico 2 resulta da
subtração do custo de oportunidade do responsável e de seus familiares
~wO co o o rt'l •...
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rt'l rt'l
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rt'l N C'\
~ lO o <:t: ~ <:t:
subtraindo-se, do lucro econômico 2, os custos de oportunidade de veículos,
3~o -<i N rt'l I N rt'l li)
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'5.;;' "'.
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0.."'_ rt'l o subtraímos do lucro econômico 3 os custos de oportunidade das culturas, dos
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Vlo
3:x: animais e das matas .
Ci •
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w Observando os resultados do litoral sul baiano e das zonas da mata nota-
:x: oi
zt:i ~
~ o o o;t C'\ N co li) C'\ C'\ o o;t mos que, mesmo possuindo os maiores lucros por hectare, o desconto do custo de
oiw li) rt'l rt'l rt'l rt'l N C'\ N o rt'l
::;;:x:
~ oportunidade do responsável e seus familiares leva a uma redução nas diferenças
~@ o no lucro econômico 2 por hectare entre as regiões. Essa redução, porém é relati-
~
o
.W' .g V1
o vamente pequena, levando a que nessas mesorregiões o lucro econômico por
.o 'õ
.~
ClJ
C' VI .•..• hectare ainda permaneça acima da média das demais mesorregiões. As três me-
.<:: w ~ VI o .ClJ
E
<.> 'o ClJ c: .•..•
ClJ ClJ
sorregiões também apresentam os valores mais elevados para bens como veícu-
~ f3 .•..•
ClJ
~ ClJ ro... -'6 -t: V1
VI
... c:
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ClJ
.:: '"'" ~ .•..• .•... ClJ
o los, máquinas e instalações. Dessa maneira, o custo de oportunidade desses
~ -eo ClJc: :; ::l 1:
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~ ClJ ClJ
VI
677
L:u:c:r~o:-:u~t~iI:iz:a:n:d~o:-:d~.f;::~~:::==~~~--------
LI I erentes definições de lu cro econômico
(continuação)
LUCRO ECONÔMICO 2
LUCRO ECONÔMICO 3 LUCRO ECONÔMICO 4
-6,9 --43,0
MESORREGIÓES
LUCRO POR HEG AREa (EM Cz$>
40,7 14,9
LUCRO ECONÔMICO 1 LUCRO ECONÔMICO 2
Sul
LUCRO ECONÔMICO 3 LUCRO ECONó
MICO
Bahia Maranhão -15,9
114,6 70,1
190,8
Oeste Oeste 181,4 96,1
277,0 210,6
Leste -59,1 -145,1
61,6 -14,6
Sul
Fonte: Censo Agropecuário
a O tamanho utilizado como de 1985.
referência ê o tamanho total menos as terras inaproveitáveis dos estabelecimentos
.;g
bens reduz ainda mais as diferenças na distribuição do lucro econômico 3, mas, :ª-
E
novamente, continuam acima da média. li
:ii
.;g
~
5 - Conclusões
p~e;~~n~a~m;b~u;cO~====~~~----'-~~---=~~~====~~=
Sertão
O sucesso do processo de redistribuição de terras depende, por um lado, da
existência de uma relação inversa entre lucro por hectare e tamanho do estabe-
lecimento que leve a que a distribuição de terras aumente a eficiência. Por ou-
l
tro, depende da disponibilidade de terras, que deve ser suficiente para garantir
Agreste
que uma vez distribuído de forma eqüitativa, o lucro por estabelecimento seja
Mata suficientemente elevado para permitir que as famílias aufiram um nível de ren-
Paraíba
da mínimo. O que mostramos neste estudo é que, na maioria das mesorregiões
do Nordeste brasileiro, essas duas condições prevalecem. O volume de terras
Sertão disponível é adequado e existe uma clara relação inversa entre o lucro por hec-
Agreste e brejo tare e o tamanho do estabelecimento. Dessa forma, uma redistribuição que ga-
ranta a todas as famílias o acesso à terra elevaria o lucro por hectare e por esta-
Rio Grande do Norte belecimento, vindo a proporcionar uma renda familiar mais elevada, mostran-
Oeste do que a redistribuição de terras é uma política importante e eficaz no combate
Central à pobreza na região.
Piauí
679
678 -- --~- --.tt
(continuação) .'::
~
~ Anexo NÚMERO DE MUNIC[PIOS ~
"ll': ~
MICRORREGIÃO POR MICRORREGIAO
ESTADOS MESORREGIÃO
<:> <:>
"
l"l Altos Piauí e Canindé 13 "l"l
..,~ Divisão da região Nordeste - censo agropecuário de 1985 ..,~
a Chapadas do extremo sul
<:>
"'-
8 '"
~" ESTADOS MESORREGIÃO MICRORREGIÃO NÚMERO DE MUNiCíPIOS
POR MICRORREGIÃO
piauiense "
-S!
'"
:!! <:>
7 '~
o~'"" Maranhão Oeste maranhense Gurupi 5 Ceará Noroeste cearense Litoral de Camocim e Acaraú g>
iG .~
Q
Baixo-médio Acaraú 4 ,c
Baixada ocidental maranhense 22
Uruburetama 10 %
Pindaré 9 ..,'"~
Ibiapaba
7 a
Imperatriz 6
13 ~
Sobral
Altos Mearim e Grajaú 3 '",g'"
Sertões de Canindé 6 o,,"
Médio Mearim 8 il
0I:
3 .'E
São Luís São Luís Ibiapaba meridional
4 '"-ig
Sertões de Crateús 5 2
Leste maranhense Baixada oriental maranhense 7
Fortaleza
6 !
a
Baixo Parnaíba maranhense 10 Fortaleza
Mearim 14 Centro-leste 3
cearense Litoral de Pacajus
Itapecuru 12 11
Baixo Jaguaribe
Alto Munim 8 10
Serra de Baturité
Alto Itapecuru 4 4
Sertões de Quixeramobim
Sul maranhense Chapada do sul maranhense 7 5
Sertões de Senador Pompeu
Baixo balsas 5 3
Médio Jaguaribe
Pastos bons 8 2
Serra do Pereiro
Piauí Norte piauiense Baixo Parnaíba piauiense 9 6
Sul cearense Sertão de Inhamuns
Campo Maior 13 5
Iguatu
Médio Parnaíba piauiense 13 6
Sertão do Salgado
Valença do Piauí 10 7
Serrana de Caririaçu
Baixões agrícolas piauienses 18 9
Sertão de Cariri
Teresina Teresina 8 5
Chapada do Araripe
Sul piauiense Floriano 15 5
Cariri
Alto Parnaíba piauiense 3
Rio Grande 9
Médio Gurguéia 5 Oeste potiguar Salineira norte-riograndense
do Norte
(continua)
(continl/ai
681
680
.':!
(continuação) (continuação) ~
1:; NÚMERO DE MUNIC[PIOS 1:
~
<Xl ESTADOS MESORREGIÃO MICRORREGIÃO NÚMERO DE MUNiCíPIOS MESORREGIÃO MICRORREGIÃO POR MICRORREGIAO ~
ESTADOS
'"" POR MICRORREGIÃO '"
"
~ Açu e Apodi 13 Agreste 7 ~
'"" pernambucano Arcoverde '""
'"'"
lS.
{;" Serrana norte-riograndense 33 Agreste setentrional
""
"
.!l
19
~ Seridó
pernambucano '"
'(:
22 ~
'~ª
.~
Q Central Potiguar Litoral de São Bento do Norte 4
Vale do Ipojuca
17 .::l
,5
Sertão de Angicos 4
Agreste meridional
29 %
pernambucano ~
""
20 '"":;;
Serra Verde 11 Mata seca pernambucana
Borborema potiguar
Mata pernamucana
20
g
16 Mata úmida pernambucana
Agreste potiguar 21 9
'ª'"'""
.~
Recife Recife :::
''S
""
Natal Natal 18 ."J
."
Alagoas Sertão e agreste 7
Paraíba Sertão paraibano Catolé do Rocha 8 alagoano Sertão alagoano
18
'~ª
Batalha ~
Seridó paraibano 7 !
Palmeira dos índios
10
Curimataú 7
15
Arapiraca
Sertão de Cajazeiras 20
5
Penedo
Depressão do Alto Piranhas 34
Mata alagoana
19
Cariris Velhos 22 Mata alagoana
Litoral norte alagoano
9
Agreste e brejo
paraibano Piemonte da Borborema 17 Tabuleiros de São Miguel dos
6
Campos
Agreste da Borborema 12
7
Maceió Maceió
Brejo paraibano 9
Sergipana Sertão sergipano do São
Agro-Pastoril do Baixo Paraíba 9 Sergipe 6
Francisco
Serra do Teixeira 9 9
Propriá
Joao Pessoa Litoral paraibano 17 Nossa Senhora das Dores 18
PerJ']ambuco Sertão 13
pernambucano Cotinguiba
Araripina 8
Agreste de Itabaiana
7
Salgueiro 8
Agreste de Lagarto
8
Sertão pernambucano de São
Francisco 9 4
Sertão do Rio Real
Alto Pajeú 15 Litoral sul sergipano
9
Aracaju
Sertão do Moxotó 6
(continua)
(continua)
683
682
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Total 9 30 127 1.393
Fonte: Censo Agropecuário de 1985.
A focalização do gasto
social sobre a pobreza no
Brasil*
1 - Introdução
Este artigo utiliza dados provenientes da Pesquisa sobre Padrões de Vida
(PPV), uma pesquisa de domicílios similar aos Living Standard Measurement Surveys,
apoiados em muitos países pelo Banco Mundial, conduzida em 1996/97 pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para estimar o direciona-
mento à pobreza do gasto social no Brasil. Das cinco regiões geográficas, a PPV
cobre as regiões Nordeste e Sudeste, que, em conjunto, representam 73% da po-
pulação e 80% dos pobres no Brasil. Todos os resultados apresentados são base-
ados apenas na análise dessas duas regiões.
A PPV representa 10 unidades espaciais (as regiões metropoli tanas de São
Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Fortaleza, o Nordeste
urbano não-metropolitano, o Sudeste urbano não-metropolitano, o Nordeste
rural e o Sudeste rural). O texto relata três tipos de resultados: a) resultados in-
dividuais por unidade espacial; b) agregados para todas as unidades urbanas
(excluindo apenas o Nordeste rural e o Sudeste rural); e c) agregados para todas
as unidades.
O artigo tem como foco a análise da incidência do gasto para o quintil infe-
rior da população brasileira, que, grosso modo, corresponde aos pobres. Estes, por
sua vez, foram identificados recentemente por meio da aplicação de uma linha
de pobreza baseada apenas na alimentação de R$ 65 percapita ao mês para os da-
dos de renda familiar provenientes da pesquisa sobre famílias da PNAD de
1996. Essa linha de pobreza produz uma taxa de pobreza de 22,6% [Ferreira,
* As visões expressas neste artigo pertencem aos autores e não devem ser atribuídas ao Banco
Mundial ou à sua diretoria. Estão incluídas contribuições de Mark Thomas.
** Economistas do Banco Mundial.
*** Consultora do Banco Mundial.
687
686 cações foram ou não adequadamente abordadas por meio da metodologia esCO-
't:; Lanjouwe N eri ( 1998) ]. Uma linha de obr .
~ responde aproximadamente aos do' p. ~z~ de ~$ 130 percapita por mês Cor. lhida é discutida brevemente no contexto de cada programa. ~""
~ A"d A • IS qUllltIS lllfenores (45,3%) A metodologia aplicada possui algumas limitações que são demonstradas ~
f~ _ lllCl enCla do gasto (direcionamento)
mo sao analisadas para a maioria d
b .
e a co ertura por quintil de consu. em muitos programas. Em particular, ela pressupõe que a qualidade do serviço ~
~
~ podem ser adequadamente acom ~~~:ogramas d~ gasto social do governo, que recebido é a mesma para in diví duos em todos os quintis (se as conclusões são ti- ;;
~ tes níveis de educação saúde p dos a partIr dos dados da PPV (diferen. radas em termos da incidência de benefícios), ou que o gasto por beneficiários é ~
~ d' "programas de nutriçã t igual para todos os quintis (se as conclusões são tiradas em termos da incidên- ~
.~ ços e agua e saneamento p _. o, ransporte público, servi.
g _ ' ensoes, aSSIm como seguro-desem ) cia do gasto). Quase universalmente, estas suposições são violadas no que diz ~
A Seçao 2 contém a análise dos r' . . prego . respeito a pessoas pobres receberem serviços menos valiosos ou menos onero- ~
senta suas taxas de cobertura e d' ~ lllClpaIs programas de gasto social e apre.
. . IreClOnamento aos pob A sos. Por exemplo, o gasto relativo e a qualidade de escolas e da saúde em áreas ~
o notIfICados os quintis se' res. menos que quan
d ,
mo em toda a PPV. Os resultad
Jam construídos com b
b d
d" "
ase na Istnbuição do consu-
pobres são tipicamente mais baixos, enquanto serviços de água para áreas po- I
s bres normalmente são intermitentes etc. Isto introduz uma tendenciosidade ~l'l
relatados e discutidos ao finalod ase~ os em quintis de consumo regionais são
a seçao. sistemática nas estimativas que seguem. A incidência de serviços sobre os po- «:
A.Seção 3 combina a análise do direcion bres deveria, portanto, ser interpretada como um limite superior para a incidên-
so~re o gasto social real para gerar um . _ amento dos programas com dados
reClonado à pobreza Aliad . ~ VIsao global do gasto social no Brasil di- cia do gasto.
f . o a SUposIçoes sobre r - d Mudanças importantes em políticas têm ocorrido após a data da pesquisa
erentes programas, um ranking indicativo d az~e: e custo-benefício de di- da PPV, especialmente na área de financiamento à saúde e à educação. Esta
recursos orçamentários necess' . a efetIVIdade da transferência - análise obviamente não reflete nenhuma das mudanças ocorridas após
d anos para transferir .
e monetária para uma pessoa b' o eqUIvalente a uma unida- 1996/97, muitas das quais possivelmente foram positivas, em termos de seu im-
d' po re, seja em renda ou .
ren a e serVIços por toda a vida _ d serviços correntes ou em
pacto sobre a distribuição da incidência dos programas.
tários sobre as implicações e pos ' e.prog~amas sociais é apresentado. Comen-
SIveIS tra alhos futuros concluem o artigo.
Educação
A cobertura de creches para crianças até três anos é muito baixa e aumenta
E InCI"dA~ncia de programas sociais sobre a pobreza
2 - A"
com o consumo, alcançando mais de 5% apenas no quintil superior. Os serviços
sta seçao analisa programas sociais sei . públicos dominam nos primeiros quatro quintis, mas são negligenciados pelo
ferentes. A cobertura por quint's d eClonados em duas dimensões di-
I e consumo mostra I quintil superior. Creches públicas são progressivas com quase 1/4 de todas as
( ou um subgrupo da população) em cada " a parce a da população
parcela da população pobre _ b qUllltll que recebe um dado serviço. A crianças inscritas proveniente do quintil inferior (Tabelas 1 e 2).
. . nao-co erta (que para ' . A cobertura de escolas infantis, para crianças de 4 a 6 anos, se estende de
mItlU-se ser igual à do primeiro . '1) . o propOSItO deste artigo ad-
de exclusão (pessoas pobres exclq~dllltId tem SIdo referida, às vezes, como erro 30% para o primeiro quintil a 70% no quintil superior. Os serviços públicos co-
. UI as o programa) E brem uma parcela de 26% a 30% das crianças nos primeiros quatro quintis, en-
ra lllcompleta sobre uma pop I _ . ntretanto, uma cobertu-
u açao especT ' d quanto os serviços privados aumentam com o consumo, partindo de 3% no
exclusão se toda a população . I IC.aso eve ser interpretada como
A taxa de d" supostamente fIzesse jus aos benefícios. I quintil inferior para 49% no quintil superior. Como resultado da maior parcela
. . IreClOnamento ou alcance do de crianças nos quintis de consumo mais baixos, escolas infantis públicas são al-
partICIpantes do programa o . . ,. grupo-alvo refere-se à parcela dos
. . nglllanos do primeiro . '1 tamente progressivas, com 42% das matrículas se originando no quintil inferior
provementes dos outros quatro . . A. qUllltl. Os participantes
_ "( qUllltIS tem SIdo refer' d
sao pessoas não-pobres inclu'd I os como "erro de inclu- (Tabelas 3 e 4).
Ca I as nos programas). A cobertura de escola primária (da 1a à 83 série) entre crianças de sete a 14
da programa possui características arti anos é de 69% no quintil inferior e alcança 93% no quintil superior. A cobertu-
tanto da cobertura quanto do d" p culares que complicam a análise
IreClonamento . A e x t ensao - com que essas impli- ra urbana é mais alta para todas as categorias. Escolas primárias particulares
possuem cobertura desprezível no primeiro quintiL mas alcançam mais de
50% no quintil superior. Como resultado, os serviços de escola primária são
IN' eSle artigo, c?bertura normalmente refere.
~rograma ser multo menor. O grupo-alvo para ~~ a toda uma população, apesar de o grupo-alvo do
progressivos, com 26% das matrículas pertencentes ao quintil inferior (Tabe-
.esempre?ad.os em vez de toda a população' assO etu~O-desemprego, por exemplo, é o de lodos os
namente mdlca exclusão. ' Im, aIXa cobertura entre a população não necessa- las 5 e 6).
689
688
~
::
Tabela 1
Ta:.!:b~e~la~3!-
~
Atendimento
----------:--=~~==:~~~::-
. .
a escolas infantis por q
uintil de renda: 4 a 6 anos
g Atendimento a creches, por quintil de consumo familiar per
<Q
"
{i 3 4 5
~
~
.~
:c
c:.
------:--:-:==~:,~.:=-:~--
Distribuição das matrículas em creches públicas por quintil de
consumo familiar per capita (EM %)
T~a:.!:b~el~a~4:-
QUINTIS . . . ão dos estudantes de escolas infantis publicas por
TOTAL NElSE TOTAL URBANO NElSE
DlstrlbulÇ f '1' r per capita (EM%)
23,8 35,1 decil de consumo aml la
TOTAL NElSE URBANOS
TOTAL NElSE
2 32,6 17,2
3 14,3 28,3
4 22,6 19,0
5 6,8 0,4
Total 100,0 100,0
4 5
QUINTIS 3
t
~ Total NE e SE
4
Total NE e SE
20,6 27,7 22,4
5,1 9,8
Em escolas primárias públicas 68,3 81,6 84,6 Em escola secundária pública 10,0 28,0
71,6 41,5 0,0 3,1
0,2
Em escolas primárias particulares 0,5 5,5 6,2 Em escola secundária particular 49,6
21,5 51,1 76,3 62,3
94,7 90,2
Nãocu~andonenhuma 31,2 12,9 9,3 6,9 7,4 Não cursando nenhuma
Tabela 6 Tabela 8
Distribuição dos estudantes de escola pública secundária por
Distribuição dos estudantes de e "'"'
de consumo familiar per ca't scola primaria publica por decil decil de consumo familiar per capita (EM %)
p' a (EM%) TOTAL URBANO NElSE
TOTAL NElSE
OUINTIS
OUINTIS 4 S
2
2 3 4 S
Tabela 10
Tabela 12
Distribuição dos estudantes na educa ã Distribuição dos estudantes de educação adulta pública por
quintil de consumo familia . ç o superior pública por
r per cap,ta (EM %) quintil de consumo familiar per capita (EM %)
TOTAL URBANO
TOTAL NElSE
OUINTIS TOTAl EIS£ TOT
OUINTIS 7,4
4.5
0,0 0,0
9,4
15.0
2 0,0 0,0
2 36,3
30,1
3 2,5 6,9
3 18.3
22,5
4 21,8 20,3
4 28,7
27,9
5 75,7 72,9
5 100,0
100,0
Total 100,0 100,0
Total
695
694
Gráfico 1 .. - hos itais e clínicas particular~s d~ SUS
1; pelo quintil superior, a utlhzaç:o do~s é q~ase desprezível na parte mfenor da
~
'Xl
pelo quintil superior alcança 50 Yo, m 17)
::l Parcela dos estudantes de escolas públicas pertencentes a cada distribuição (Tabelas 13, 14, 15, 16 e " 't alcançam maior cobertura
~ grupo de consumo, por nível (NE e SE urbanos) . 'b' - de lelte gratUl o
Programas para a dlstn Ulçao 150/< A incidência é pesadamente concen-
!
" Estudantes de escolas públicas no quintil (%) sobre o segundo quintit com qua~e (33~) quintis (Tabelas 18 e 19),
-"i
{i 80 trada no primeiro (28%) e segun o o
]
.2'
ia
<::l 70
60
~Ta~b~e~la~1~3
Percentagem da
------=-~~~~=:'
populaça~ -
: =-d:~S:a:u:' ~ d~e~n:o:s~
utilizando os serviços e .
quintil de consumo per cap,ta
30 dias anteriores à pesquisa por
Educação secundária (2º grau) 50
QUINTIS
10
----~~--=-=-=:.:'~d:-=::u:m:o~
3 4
Quintil de consumo familiar per capita
~T~ab~e:!!la~14:-
,d ' obtido, por qumtll e cons
Saúde e nutrição Onde o tratamento de sau e e
familiar per capita (EM %)
Ao analisar a cobertura dos serviços de saúde, é interessante perceber que a
QUINTIS
parcela da população que utiliza os serviços de saúde aumenta com o consumo,
Análises mais detalhadas (não relatadas aqui) revelam que isso se deve tanto ao
fornecimento (grandes distâncias ou menor disponibilidade de serviços de saú-
de aos pobres) quanto à demanda (o pobre pode considerar sua enfermidade
pouco emergencial ou não ser capaz de arcar com saídas do trabalho). O pobre
quase exclusivamente depende do sistema de saúde público enquanto há uma
participação significativa do setor privado no provimento desses serviços para
os quintis superiores, Mesmo assim há um número significativo das instalações
públicas, e em especial de instalações particulares conveniadas e financiadas
com dinheiro público (aqui chamadas hospitais e clínicas do SUS), sendo utili-
zádas pelos indivíduos em melhor situação,
A incidência do gasto com saúde baseada nessa análise siinplificada preci-
sa ser tratada com cuidado. Claramente, serviços médicos e seus custos diferem
grandemente de acordo com as instalações, e presumivelmente por grupo de
consumo e paciente. Ignorando essas complicações, o uso geral do financia-
mento público para a saúde parece ser quase plano ao longo dos grupos de con-
sumo (ver Gráfico 2). Entretanto, um quadro muito diverso da incidência do
gasto com saúde emerge, uma vez que os dados são desagregados por tipos de
instalação. Enquanto hospitais e postos de saúde públicos são pouco usados
697
696
~
~--:::~=-:===-~-~~-:------------------
E ('
Tabela 15
QUINTIS
29,3 34,5
32,8 26,8
2
18,2 20,8
3
13,2 7,7
4
6,5 10,2
5
Tabela 16 100,0 100,0
Total
Percentagem de pacientes em d"f "
de consumo per capita I erentes mstalações, por quintil
QUINTIS
699
698
Gráfico 2
Tabela 21
~
!!
Parcela de trabalhadores em cada quintil de consumo utilizando
; :~~~~~:~~:~aa
!Xl
dc~sd~s~::pi~
;as instalaçõe,s de saúde vários meios de transporte para se deslocar - total NE e SE (EM %)
! '. e consumo - areas urbanas
QUINTIS
~ Usuanos das instalações de saúde no quintil (%) 4
MEIO DE TRANSPORTE
:;; 50
g 15 12 10
.~ 45 17 15
ti
::;, Transporte público
48 34 32 23
40 53
Apé
2 7 17 35
35 2
Veículo particular
6 4 6 3
30 6
Outros
29 40 33 29
25 23
Nenhum (trabalha onde mora)
100 100 100 100
Sistema público de saúde 20 100
Total
15
10 Gráfico 3
5
Distribuição de estudantes atendendo às escolas com merenda
'O
3 4
escolar - áreas urbanas
Quintil de consumo familiar per capita
Parcela do quintil na população beneficiária (%) 45
40
Programas de merenda escolar gratuita ' .,
tes pertencentes aos três primeI'ro " at:n~em cerca de 60% dos estudan- .
Estudantes do 2º grau
s qumtIs (GraflCo 3) A' 'd' , , ", 35
va, com cerca de 25% cabendo d d ' " mCl enCla e progressi- ,Estudantes da pré-escola
Tabela 20 15
10
J O
4 5
3
Quintil de consumo per capita
Serviços urbanos
A parcela dos que utilizam o transporte público diminui com os níveis de
consumo, Veículos particulares são usados principalmente por indivíduos per-
tencentes ao quarto e último quintis. Entretanto, a participação da força de tra-
balho no quintil inferior é baixa, e portanto, a alta utilização entre os indivíduos
dos quintis inferiores não se traduz em alta incidência (Gráfico 4). De fato, a in-
701
Gráfico 4 Tabela 23
=a
~
CQ
i~ Composição socioeconômic
região metropolitana
d ' .
a os usuarlos de transporte, por
Quintil de consumo per capita (regional) 4 Parcela de usuários de transporte pertencentes a cada quintil de
consumo per capita, por meio de transporte utilizado para
chegar ao trabalho - total urbano (EM %)
cidência do transporte público para o rimeir '"
çando 28% no quarto quintil (Tab I P2 o qumtll e de apenas 9%, alcan- MEIOS DE TRANSPORTE
e as 2, 23 e 24)
NENHUM
O vale-transporte fornecido Pelos e ' .. , QUINTIS TRAt-ISPORTE
VEícULO OUTROS (TRABALHA ONDE MORA)
formal. Subseqüentement b mpresanos esta atrelado ao emprego PUBLICO
APÉ PARTICULAR
e, a co ertura sobre o primeiro quintil é muito baixa 12,0
26,0 2,3 20,1
12,6
4,6 24,8 16,5
Tabela 22 19,4 23,1
2
10,2 27,2 23,1
23,2 23,0
Parcela de trabalhadores em cad .. 3
vários meios de transport a qUlnt.1 de consumo utilizando 16,6 22,9
e para se deslocar - total urbano (EM %) 27,4 16,7 24,6
4
58,3 11,4 25,5
17,4 11,2
QUINTIS DE CONSUMO
MEIOS DE TRANSPORTE 5
100,0 100,0 100,0
4 100,0 100,0
Total
Tra";-sporte público 23 20 18 15 12
A pé 48 39 26 23 14 (7%). A incidência é até mais baixa (6% para o primeiro quintil). De fato, 31%
dos benefícios cabem ao quintil superior (Tabelas 25, 26 e 27 e Gráfico 5).
Veículo particular 2 3 9 21 42
A cobertura dos serviços de água e saneamento aumenta fortemente com
Outros 7 6 4 5 2 os níveis de consumo. A cobertura com água segura varia de 36% para o primei-
Nenhum (trabalha onde mora) 19 32 43 36 29 ro decil a 96% para o decil mais alto. Conexões de esgoto público atingem 11%
para o primeiro quintil e 84%para o quintil superior. A incidência dos serviços é
Total 100 100 100 100 100
regressiva, com 12% de serviços de água cabendo ao quintil i ferior e 26%, ao
703
702 '.
5 30,8 24,8
Todos 100,0 100,0
Tabela 28 " tOI d
Distribuição do acesso à rede de água potavel por qum I e
Tabela 27
consumo (EM %)
Percentagem vivendo em lares com acesso à água potável, por TOTAL NE E SE
QUINTIS
quintis nacionais de consumo per capita 12,0
QUINTIS 17,0
4 2
21,3
Total NE e SE 36,1 59,4 77,9 88,6 95,8 3
24,0
Total urbano 4
66,1 81,6 93,4 95,1 98,3 25,8
5
100,0
quintil superior. As diferenças são maiores para as redes de esgoto em que apenas Todos
4% atingem o quintil mais pobre e 32%,o quintil mais rico (Tabelas 28, 29, 30 e 31,.
b no são normalmente dirigidos a bairros ir.
É importante notar que a incidência da conexão do serviço corresponde à projetos de melhoramento ur ~ o ob'etivo de abordar a distribuição social
incidência dos gastos correntes do governo apenas se o gasto público cobre uma regulares, cham.ados de favela:: Co san~e saber a posição da população da fa-
quantia fixa dos custos correntes dos serviços fornecidos. Se o gasto público se do gasto para taiS programas, e mteres A arcela da população que vive
concentra mais em custo de investimento para novas conexões, a incidência do vela dentro da distribuição ger~l ~ol~ cfon~umod'un'
Pi'nuipara menos de 1% para o
gasto pode ser significativamente diferente da incidência das conexões atuais, , d 11°/ ra o qumti menor e
nas favelas e e 10 pa , b 860/ dos pobres não vivem em
que refletiriam o resultado do gasto agregado ao longo do passado. Uma abor- ., . A' esmo em areas ur anas, 10 • •
qumtü supenor. te m d f las pertencem ao primeiro qumnl.
dagem para determinar a incidência do gasto incrementaI, apropriada para esse favelas. Cerca de 34% dos moradores e avesdas favelas são originários do pri-
caso, foi recentemente proposta por Lanjouw e Ravallion (1998 ,. . Dentro de áreas urbanas, 44% dos mora dore
705
704
meira quintil. Se esses indícios são apropriados para a estimação da incidência ~
~
~
~~~o:
~
de saneamento. por grupo de consumo familiar per capita
do gasto público depende da condição de esses programas financiados com o di- <~Xl
nheira público serem de fato direcionados a bairros caracterizados como favelas ~
pelos respondentes da PPV (Gráfico 6 e Tabela 32). ~
a a
" QUINTIS DE CONSUMO FAMILIAR PER CAPITA
Gráfico 6
'"l::
j 2 s
a
jl
4 ~
Esgoto público 10,5 35,1 57,2 Parcela do quintil nacional vivendo em habitação sem acesso ~
72,6 84,1 .':l
~
à água potável. por área urbana ~
Fossa de concreto 5,0 14,1 14,0 10,6 8,3 ~
Pessoas sem acesso à água potável no quintil (%) 80 ,~
Fossa 26,6 27,3 18,1 11,6 5,9 ~
70 ~
Vala 5,6 4,1 3,7 2,5 0,1 "
<2,
~ A PPV permite a análise de dois programas de transferência de dinheiro, Distribuição do seguro-desemprego por quintil de consumo <:>
"i'\
~ seguro-desemprego e pensões. Uma vez que os pagamentos de transferênci- familiar per capita (EM %) ~
"'<":>
1; as desses dois programas podem constituir uma grande proporção da renda "'-
R RECEBEDOR
VOLUME/QUANTIDADE
'"
~
" familiar, uma questão importante na análise da incidência de tais progra-
{; "'a"
TOTAL NE E SE TOTAL URBANO
-i'l mas é o tratamento dos pagamentos de transferência na construção dos TOTAL NE E SE TOTAL URBANO
] QUINTIS .~
.~ quintis de consumo. Duas abordagens alternativas são mostradas. Primeiro, NÃO- CORRIGIDO NÃO- CORRIGIDO NÃO-
CORRIGIDO
CORRIGIDO co~~giDO CORRIGIDO
20,3 24,7
"":g...,
28,4 33,4 4,1 13,1 -@
não-corrigidos). Essa abordagem não considera que o consumo de benefi- 6,9 17,9
la
ciários seria provavelmente menor se eles não recebessem o benefício. A 32,5 30,1 28,0 23,6
40,3 33,3 32,1 27,1 ~
2
análise de incidência que adota essa abordagem pode fazer com que um pro- 9,6 10,0 8
9,6 10,2 19,5 14,8 -2,
3 21,8 18,5 «:
grama seja criticado, pois é bem-sucedido na retirada das pessoas da pobreza. 3,4 3,1
4,5 3,9 6,4 4,5
Par'fl superar esse problema, quintis de consumo corrigidos foram construí- 4 6,5 5,9
37,5 37,5 38,6 38,7
dos substituindo-se de famílias beneficiárias pelo consumo presumido na 5 24,4 24,4 25,4 25,4
ausência do programa.2 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Total 100,0 100,0
A cobertura do desemprego é menos de 1% para todos os quintis, com maior
cobertura no segundo. A incidência da quantidade do benefício está concentrada
no segundo e último quintis com o primeiro recebendo apenas 4% (não-corrigido)
ou 13% (corrigido) do benefício. Enquanto a concentração de benefícios no se-
gundo quintil parece plausível (poucos trabalhadores no primeiro quintil estão Receitas de seguro-desemprego por quintil
em situação formal e, são portanto, elegíveis), no último quintil merece uma
"' 45
análise mais detalhada, podendo, além de indicar problemas da administração ~
dos benefícios, ser um artefato da freqüência muito baixa do benefício dentro 40
da amostra da PPV (Tabelas 33 e 34 e Gráfico 7).
35
Tabela 33
30
Proporção da população por quintil de consumo recebendo Total do ME e SE, quintil corrigido
25
seguro-desemprego (EM %)
20
15
10
lO
Total urbano, corrigido 11,0 11,4 13,6 13,8 15,9 3 4
Quintil de consumo per capita
Tabela36
Uma perspectiva federal sobre o gasto social
Distribuição de pensões por quintil d .. A maioria das análises de distribuição neste texto está baseada em quintis de
capita (EM %) e consumo familiar per
consumo construídos tendo como base a distribuição na área coberta pela PPV
(regiões Nordeste e Sudeste). Utilizando esses "quintis nacionais", o impacto
distributivo da maioria dos programas difere significativamente entre unida-
QUINTIS
des espaciais. Em particular, nas unidades espaciais mais ricas, a incidência se
mostra muito mais regressiva do que nas mais pobres. Uma razão simples que
embasa essa observação é que há muito poucas pessoas nas unidades mais ricas
que pertencem ao quintil inferior da distribuição nacional de consumo, e vice-
versa. Simplesmente, existem muito poucas pessoas em São Paulo que são po-
bres pela comparação nacional. No Nordeste rural, há poucas pessoas que são
ricas pela comparação nacional; dessa forma, por definição, todo programa é
bem direcionado a seu grupo-alvo (ver Gráfico 9).
A análise de incidência com base na distribuição nacional é útil para a for-
mulação de políticas nacionais. Se existem muito mais pessoas pobres no Nor-
deste, o direcionamento do gasto social seria mais eficiente se os recursos fos-
sem deslocados das partes mais ricas para as mais pobres do país. Há, entretanto,
um outro ponto de vista igualmente válido. Da perspectiva de um formulador
de políticas locais que decide sobre a alocação das receitas locais, a escolha não
está entre gastar em diferentes partes do país mas em diferentes programas da
mesma região. Dentro dessa perspectiva, toma-se im;trutivo comparar a inci-
711
710
Gráfico 9 Gráfico 10 ~
l:
~ "l
l: ~
"l
~ Composição dos quintis de consumo nacional Parcela de estudantes de escol é:! pri~ária pertencentes a cada ;;,
~
fl
~ grupo de consumo (quintis nacionais) -<>
a
a Número de indivíduos (%)
25.000.000 60
'"~
-<>
" % a
~" ~
Região metropolitana do Rio de Janeiro
~ Nordeste urbano não-metropolitano 50
~
.~
~ -Sudeste rura/J= ~
c::. 20.000.000 .,.,
'"
Sudeste urbanoS-- {;
São Paulo-'= 40 '"
'8,
_ Rio de Janeiro]F .ê
Belo Horizonte~ - 15.000.000 "8
30 <2..
'<:
10.000.000 20
Nordeste urbano~
Salvador
- 5.000.000 10
Região metropolitana
de Salvador
, lO
1 (Poorest) 234
'o 3 4
10
5
lO
3 4
Quintil de consumo familiar per capita
713
712
3 - Incidência do gasto social sobre a pobreza Gráfico 12
]
'Cl
Nesta seção, faz-se uma tentativa de combinar os dados sobre incidência 'rio por benefício corrente ao pobre
Gasto orçamen ta
<:>
" da PPV com dados reais sobre o gasto social no Brasil. Enquanto a análise da in-
~
2. cidência do programa e a classificação do gasto social são pedaços de análise in- l;;
~
~" dependentemente confiáveis, a combinação dos dois introduz uma série de pre- ~
~ ocupações e requer diversas suposições de peso. Como resultado, a seguinte Erradicação do trabalho Infantil
a
]
.S>
tl
Cl
análise deve ser vista como uma tentativa esperançosa, ao fornecer um estímu-
lo para investigações posteriores mais detalhadas dentro das linhas propostas,
Cestas básicas (prodea)
Frentes de trabalho para secas)
(quando relevante
•
~
~
'"'"
.g
<:>
em vez de ser tomada como um julgamento sobre a incidência do gasto social no . BPC (Loas)
',"
Brasil. ]
Pensões na área rural I :::
•
'2..
Dados sobre gasto social são tomados de uma série de estudos realizados ~
Programas de assistência social subnacionaís
pelo IPEA [Fernandes (1998a)] e referem-se ao gasto consolidado em 1995,
Programas de renda mínima (sub nacional) I
com alguma atualização para refletir informações mais recentes.
Serviços a deficientes I
Com o objetivo de chegar a estimativas cruas de incidência de benefícios,
..•••
admite-se que programas de investimento geralmente têm razões custo-benefício Serviços a idoso s •
de 1, enquanto programas de transferência diferentes têm uma razão custo- Serviços à infância (escolas infantis )
benefício de 0,8 ou 0,9, refletindo diversos níveis de custos administrativos. Nutrição maternal (programas de leite )
Além disso, os programas são classificados segundo o tipo de benefício forneci-
--
Merenda escola r
do, ou seja, indireto, tal como saúde, água e saneamento etc., ou predominante-
mente em dinheiro, incluindo programas de transferência assim como serviços
indiretos, como educação cujo benefício é um canal de renda acrescida em di-
Pagamento uniforme de transferênc ia
Reforma agrár ia
•
nheiro. Finalmente, os benefícios imediatos (programas de transferência) são 5eguro-desempreg o
separados daqueles que geram um fluxo de benefício sobre um período extenso Abono salar ial
de tempo (educação e outros investimentos). Pré-esco la
Para itens de gasto social que não podem ser diretamente relacionados à Pagamentos por demissão (FGT5)
análise da PPV, suposições sobre o seu direcionamento foram feitas baseadas
Melhorías em fav ela
na comparação com outros programas, introduzindo incerteza adicional nas es-
timativas agregadas. Educação básica (10 gr au)
Creche
Os Gráficos 12 e 13 mostram uma lista de programas sociais pela sua efeti-
vidade de custo da transferência seja corrente ou total (descontada por toda a Programa do mícrocré dito
vida do beneficiário) da quantia de recursos para o quintil inferior. Saúde pública uníve rsal
A Tabela 37 resume os principais itens do gasto social no Brasil. Uma visão Conexão à água pot ável
geral mostra que o gasto social de aproximadamente R$ 132 bilhões gera bene- Transporte público urb ano
fícÍos para o quintil inferior de R$ 17 bilhões ou 13% do gasto. Esses benefícios Educação secundária (2 g rau)
0
podem ser divididos em dinheiro (R$ 10 bilhões) e indiretos (R$ 7 bilhões). Os Educação/treinamento ad ulto
benefícios incluem aqueles que atuam por toda a vida dos beneficiários, como
Conexão a es goto
no caso da educação.
Investimento geral
A tabela também calcula dois indicadores sobre a efetividade do direciona-
Habitação (carta de cr édito)
mento. O primeiro permite uma comparação do custo orçamentário por trans-
Educação universitária (sup erior) 6O 70 80 90 10O
ferência corrente ao pobre. O segundo calcula o custo orçamentário do total de O 10 20 30 40 50
transferências aos pobres.
714
Gráfico 13 g
.::
~ ~ o ;:
~ Ifl
Ifl o c
~ Gasto orçamentário por benefício total ao pobre M o o -2.
~
f
~"
~ Reforma agrária o N
] o Ifl o M
o o
o o
o::>
~
::::,
Erradicação do trabalho infantil o
<:to
o M o o o
Cestas básicas (Prodea)
BPC (Loas)
Frentes de trabalho para secas o o o o o
(quando relevante) o o o o o M
M M 0'\ o Ifl 0'\ M.
N ~
M..
~ <i <i <:to cõ 00
Pensões na área rural ~ lJ'I
Ifl
00
o
N
N N 00
..-
M M
Pré-escola o o o o
o o o o o o N M O.
00 Ifl
Serviços a deficientes M.. M N <:to
N ~ 00 lJ'I
M ~ <:to N M M
N
N
M
Serviços a idosos
Melhorias em favela
o o o o o
o o o <:to
~. r--. .n- <:to 00.
..-
Serviços à infância (escolas infantis) N
o ..-
..- N
lJ'I
Educação básica (10 grau)
Creche
Nutrição maternal (programas de leite) o o o o o
o o o o o o o. o. o. o. o.
o. 00. o. o. o. C!.
Programa do microcrédito o
Merenda escolar \li
O
Saúde pública universal "tJ
ta o o o o o o o
o
o
o
Pagamento uniforme de transferência C o o o o o o o o
o o o o r--; "'to
O o;f r--; lO r-.: ô lr\ lO
•... •...
Conexão à água potável 'uGI rr1 Ô
"'l "'l "'t "'l
Seguro-desemprego ãi
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Abono salarial \li ro
C 'u
Transporte público urbano GI c o
~ <C1I ~
Educação secundária (2° grau) ..-a;c
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Pagamentos por demissão (FGTS) 'iij ~
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Educação/treinamento adulto
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Habitação (carta de crédi!o) 'uO o
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Educação universitária (superior) \li C1I
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C1I \li C1I C1I
O 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
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~ E a.. Ul U
"
-..J
Anais do Seminário Desigualdade e Pobreza no Brasil I~
(continuação)
(continua)
(continuação)
TOTAL DE TOTAL DE
DIRECIONAMENTO GASTO TOTAL BENEFICIOSAO
EFETIVOAOS RA2ÃO . (EM BILHÕES oRJ~~~~ARIO ORÇAfy1~~iÁ~IO POR POBREEM BENEFICIOSAO
20% INFERIORES' CUSTO-BENEFICIO DE REAIS POR BENEFICIO BENEFICIO CORRENTE DIJI!HEIRO(EM POBREINDIRETOS
('lo) ANUAIS) TOTAL AO POBRE AO POBRE BILHOES DE REAIS (EM BILHÕES DE
REAISANUAIS)
ANUAIS)
I" expressiva parcela dos recursos desses programas e serviços está mal focalizada
~ nos pobres. Isso revela a existência de um significativo espaço para redução da
~ pobreza, sem que seja necessário aumentar os gastos sociais .
.~
g A conclusão, portanto, é que os recursos liberados para uma melhor focali-
zação dos programas sociais seriam mais do que suficientes para erradicar a po- M 00 0'1 1.0 N
O ro ro N 0'1-
breza no país. Dessa conclusão, duas questões se seguem. Em primeiro lugar,
por que esses programas continuam mal focalizados? Em segundo, fica a ques-
tão de como desenhar programas compensatórios bem focalizados no país.
tembro de 1996, variando de R$ 59 a R$ 110, conforme a região. Para estimar o 111 ro- ro- 00 ~ M a) M- M
00 0'1 a L/) M 00 M ro-
grau de pobreza nos demais anos, deflacionamos a renda de cada família de for- m N N M M M M M M
O
ma a expressá-la em reais de setembro de 1996 e aplicamos as linhas de pobreza. c:
111
N
Gráfico 1 ~ r0- q
.c a) r--
N
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00
N
O N M M
a.
Proporção de pobres no Brasil
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111
111
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50.598
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43,784 43.84 '': a ~ N a U"\ a
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1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 \J'I
1991 1992 1993 1994 1995
::J
Fonte: PNADs de vários anos.
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~ w <l:
722 723
o deflator utilizado foi o INPC nacional, que foi aplicado de forma uniforme a 4 - Os gastos sociais no país ';;;
~'Xl todas as regiões. Em outras palavras, admitimos que, apesar de o custo de vida ~
Na seção anterior, estimamos que o custo de erradicar a pobreza é da or- 'Xl
i! ser diferenciado regionalmente, a taxa de inflação é única. i!
~ dem de R$ 30 bilhões a R$40 bilhões por ano. Nesta seção, procuramos verificar '"
~
â"
A evolução da pobreza apresentada no Gráfico 1 revela uma queda signifi-
cativa no grau de pobreza após o Plano Real. Essa queda levou a que o grau de
como a magnitude desses recursos se compara com os gastos públicos dos três I
níveis de governo na área social. Todas as estimativas são apresentadas na Ta- {l
~ pobreza declinasse oito pontos percentuais, passando de 45% em 1993 para 37% bela 2, referem-se ao ano de 1995 e baseiam-se em Fernandes et alii (1998 ).2 '~
"'.:;
fi em 1995. Entre 1995 e 1997, o grau de pobreza permaneceu essencialmente ~~
A Tabela 2 revela que a despesa pública total foi de R$ 377 bilhões em 1995,
~ constante e bem abaixo dos valores ao longo dos últimos 15 anos, exceto imedi- com R$ 212 bilhões representando o volume total de ga~tosdiretos (a diferença re- .~
atamente após o Plano Cruzado, quando a proporção de pobres declinou para presenta as despesas financeiras e as transferências intergovernamentais). Desses .~
29%. Nos demais anos a proporção de pobres permaneceu entre 40% e 45%, à R$212 bilhões, 64% (isto é, R$ 135 bilhões) representam gastos efetivos na área so- ~
exceção de 1984, quando subiu para 50%. cial. Como proporção do PIB,os gastos na área social chegam a 20,9%,um valor que ~
coloca o Brasil como um dos países latino-americanos com maior volume de gastos ~
3 - 6 custo de erradicar a pobreza na área social como proporção do PIB [Fernandes et a/ii (1998, Tabela 7)]. 3 ~
2 Fernandes, M. A. C. et alii. Gasto social das trêsesjerasdegovmlo-1995. IPEA, 1998 (Texto para Dis-
cussão, 598).
3 Entre os paises latino-americanos que gastam mais de 10% na área social como proporção do
1 A renda total das famíli~s foi estimada com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PIB estão: Costa Rica (20,8%), Panamá (20%). Argentina (18,6%), Chile (13,4%), México (13,1%),
(PNAD) do IBGE. Colômbia (12%) e Equador (11,1%).
-..J
N
Desigualdade e pobreza no Brasil I ,j::l.
Tabela 2
\
3. Despesa não-financeira (=1-2) 128.393 82.276 41.077 251.746 51,0 32,7 16,3
5. Total dos gastos diretos (=3-4) 103.184 68.199 41.067 212.450 48,6 32,1 19,3
6a. Gasto social (por responsabilidade do gasto) 75.747 34.601 24.936 135.284 56,0 25,6 18,4
6b. Gasto social (por origem dos recursos) 80.550 32.116 22.619 135.284 59,5 23,7 16,7
7. Gasto social (por responsabilidade do gasto) 75.747 34.601 24.936 135.284 56,0 25,6 18,4
7.1. Previdência social 35.088 58 15 35.161 99,8 0,2 0,0
7.2. Benefícios a servidores 16.660 11.859 1.888 30.408 54,8 39,0 6,2
---
(continua)
(continuaçlio)
CONSOLIDADO
PARTICIPAÇÃO
SOBRE
OTOTAL(EM'lo)
UNIÃO ESTADOS MUNicíPIOS
(a) (b) (c) (d)=a+b+c
ald b/d cid
7.3. Educação e cultura 5.638 13.719 8.611 27.968 20,2 49,1 30,8
7.6. Emprego e defesa do trabalhador 2.912 110 O 3.022 96,4 3,6 0,0
7.7. Assistência social 849 1.148 866 2.863 29,7 40,1 30,2
7.8. Transporte urbano de massa 303 558 1.760 2.620 11,6 21,3 67,2
7.13. Proteção ao meio ambiente 41 209 151 401 10,2 52,1 37,7
Fontes: Adaptado de Fernandes et alii (1998), com base nos sistemas SiafelSidor para o governo federal e IBGEIDecna, para os governos estaduais e municipais.
Nota: Pelo conceito de responsabilidade do gasto determinam-se os níveis de governo encarregados da execução final das ações. No conceito de origem dos recursos indica-se a esfera governamen-
tal de que provêm os recursos para a implementação das ações.
li! "l::
::I pensatórios nacionais básicos: a) aposentadorias e pensões do sistema público; utilizados ::I
~ li
a
"'" e b) seguro-desemprego. Toda a análise se baseia em informações oriundas da a
UNIVERSO
"
{t Pesquisa sobre Padrões de Vida (PPV) coletada em 1995/96. As informações {l
{l
PROGRAMAS .g
dessa pesquisa cobrem as áreas urbana e rural das regiões Sudeste e Nordeste. TOTAL RESTRITO
]
.~
Compensatórios
f~
2l 5.1 - Os conceitos de grau de focalização "
Aposentadoria e .",.S;"
Para avaliar o grau de focalização, dividimos a distribuição da renda domi- pensões População total Pessoas com mais de 60 anos a
ciliar per capita em centésimos e estimamos para cada centésimo um conjunto ]
Seguro-desemprego População total Desempregados
de indicadores.4 O comportamento desses indicadores ao longo dos centésimos "''~"
da distribuição de renda será utilizado então para avaliar o grau de focalização Serviços públicos 2
doS'programas. Como o próprio acesso ao programa tem impacto sobre a renda ~
Creche População total Crianças de O a 4 anos ~
domiciliar, é de fundamental importância que a renda domiciliar percapita utili- '~
zada para desagregar as famílias em centésimos seja expurgada de todas as ren- Pré-escolar População total Crianças de 5 a 6 anos ::I
das eventualmente recebidas do programa sendo avaliado. Caso contrário, esta-
ríamos introduzindo um viés na direção de que o programa atende prioritaria-
1º grau População total Crianças de 7 a 14 anos l
2º grau População total Pessoas de 15 a 18 anos
mente às famílias menos pobres, uma vez que a renda das famílias que têm
acesso ao programa apareceria artificialmente mais elevada que daquelas que 3º grau População total Pessoas de 19 a 23 anos
não o recebem.
Merenda escolar Pessoas no ensino fundamental Crianças entre 7 e 14 anos
O grau de focalização de um programa pode ser sempre medido em relação no ensino fundamental
à população total ou à população de beneficiários potenciais. Assim, por exem-
Livro didático Pessoas no ensino fundamental Crianças entre 7 e 14 anos
plo, um programa de atendimento ao desempregado urbano pode focalizar mui- no ensino fundamental
to bem os desempregados mais pobres. No entanto, se os desempregados urba-
nos estão pouco representados entre o segmento mais pobre na população
como um todo - que são, por exemplo, os trabalhadores rurais -, pode ocorrer Finalmente, antes de passarmos a uma descrição dos indicadores utiliza-
que esse programa, mesmo focalizando muito bem os desempregados mais po- dos, vale ressaltar que, como o gasto com cada beneficiário é variável, existem
bres, não irá beneficiar prioritariamente as famílias brasileiras mais pobres que duas noções de focalização em questão. Por um lado, tem-se a focalização no
estariam na área rural. Assim, é fundamental diferenciar o grau de focalização acesso. Nesse caso, deseja-se verificar em que medida os mais pobres têm maior
condicionado à população de beneficiários potenciais do grau de focalização re- acesso ao programa. Entretanto, como o valor do benefício pode ser maior entre
lativo à população total. Neste estudo, estimamos os dois tipos de grau de focali- os mais ricos, pode ocorrer que um programa, apesar de ter acesso bem focaliza-
zação. Portanto, a distribuição de renda a ser utilizada será ou a distribuição dos do, pode não ter os gastos bem focalizados. Assim, tem-se por outro lado a foca-
beneficiários potenciais segundo a renda domiciliar per capita excluindo-se os be- lização dos gastos, que mede em que proporção os gastos do programa estão mais
nefícios recebidos do programa, ou a distribuição de toda a população segundo a concentrados entre os mais pobres.
renda domiciliar per capita excluindo-se os benefícios recebidos do programa. A
definição de quais são os beneficiários potenciais nem sempre é evidente ou 5.2 - As medidas de grau de focalização
simples de ser empiricamente implementada. As definições utilizadas relativas Para medir o grau de focalização no acesso utilizamos um i!ldicador deno-
aos programas e serviços públicos investigados neste estudo estão apresentadas minado grau de incidência, que representa a proporção dos beneficiários por
na Tabela 3.
centésimo da distribuição de renda. Assim, caso o programa seja distribuído
aleatoriamente entre a população, o grau de incidência giraria em torno de 1%
por centésimo da distribuição de renda. Em outras palavras, caso o acesso fosse
4 Em função do tamanho limitado da amostra da pesquisa. as estimativas apresentadas corres-
pondem. na verdade. a médias móveis centradas de 20 centésimos cada uma. aleatório, então todas as pessoas teriam igual chance de se beneficiar do programa,
IPF:A. -lJuti
728 729
~ levando a que encontrássemos cerca de I% dos beneficiários em cada centésimo
Gráfico 3
O<l: da distribuição. Um programa será tão mais bem focalizado quanto mais acen-
il tuadamente decrescente for o grau de incidência do acesso ao longo dos centé- Grau de incidência dos gastos e acesso a aposentadorias
~ simos da distribuição.
~ e pensões do sistema ~úblico
~ Para medir o grau de focalização do gasto utilizamos também um indica- Universorestrito a pessoas aCimade 60 anos
~ dor de grau de incidência, entendido como a participação dos gastos em cada
].:!' centésimo da distribuição de renda no gasto total do programa.5 Analogamen- % por centésimo 2
~ te, um programa será tão mais bem focalizado quanto mais acentuadamente
1,8
decrescente for o grau de incidência do gasto ao longo dos centésimos da distri-
buição. É interessante notar que o grau de focalização do gasto estende a noção 1,6
de focalização no acesso, tendo em vista que investiga tanto em que medida os 1,4
mais pobres têm maior acesso quanto em que medida é também maior o benefí-
cio dos pobres que têm acesso ao programa. 1,2
Acesso
1,6 600
1,4
500
1,2
400
0,8
Gasto 300
0,6
~--~--~--~--~--~--~---~--~--~ __ ~I 0,4 200
o 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Centésimod~ distribuição de renda domiciliarper capita
Fonte: PPVde 1996. I I I I 1100
I I I
m ~ ~ w m 80 90 100
O 10 20
5 Para avaliar como varia o gasto por beneficiário do programa ao longo dos centésimos da distri- Centésimoda distribuiçãode renda domiciliarper capita
buição de renda, utilizamos também um indicador de gasto unitário. Fonte: PPVde 1996.
730 731
de 1%), a do gasto é bastante regressiva. De fato, ao invés de revelar um perfil Gráfico 6
~
~" decrescente dos gastos por centésimo, esse gráfico revela um perfil acentuada-
g mente crescente, isto é, são os mais ricos os que mais se beneficiam do programa. Grau de incidência dos gastos e acesso com seguro-desemprego
1j
... O Gráfico 3, que apresenta o grau de incidência do acesso e do gasto para o Universo restrito aos desempregados
t" universo de beneficiários potenciais (pessoas acima de 60 anos), mostra uma si-
~ tuação bastante semelhante ao da população como um todo: o acesso é relativa- % por centésimo 1,8
]
.l:'
mente estável em torno de I%, com o gasto bastante concentrado entre os mais
1,6
g ricos. Essa má focalização dos gastos é explicada pelo fato de o gasto por benefi-
ciário ser maior entre os mais ricos que entre os mais pobres, conforme ilustrado 1,4
no Gráfico 4. De fato, este gráfico revela um perfil crescente do gasto por benefi-
1,2
ciário ao longo dos centésimos da distribuição.
Em síntese, as evidências mostram que, embora o acesso a aposentadorias
e pepsões públicas seja relativamente aleatório, o perfil do gasto é bastante re- 0,8
gressivo. Isso decorre do fato de os mais ricos receberem benefícios de aposen-
tadoria e pensões bastante superiores aos dos mais pobres. 0,6
0,4
5.4 - Seguro-desemprego
1 1 1 10,2
Os Gráficos 5 a 7 apresentam estimativas do grau de focalização do progra- 1 1
20
m _ ~ ro ro 80 90 100
lO
ma de seguro-desemprego, com os Gráficos 5 e 6 reportando a incidência do Centésimo da distribuição de renda domiciliar per capita
acesso e do gasto, respectivamente, para os universos da população total e de Fonte: PPV de 1996.
desempregados, e o Gráfico 7 o gasto por beneficiário do programa. Os resulta-
Gráfico 5
Gráfico 7
Grau de incidência dos gastos e acesso com seguro-desemprego Gasto unitário com seguro-desemprego
Universo da população total
R$ por beneficiário 260
% por centésimo
1,8
240
1,6
220
1,4
200
1,2
180
160
0,8
140
0,6
0,4 120
1 I I I I I I
I 1 10,2 I I I I I ! I ! I 1 1100
o lO m m _ ~ ro ro 80 90 100 lO
m m _ ~ ro ro 80 90 100
O
Centésimo da distribuição de renda domiciliar per capita Centésimo da distribuição de renda domiciliar per capita
Fonte: PPV de 1996.
Fonte: PPV de 1996.
732 733
~ dos obtidos nos Gráficos 5 e 6 mostram que o grau de incidência é relativamente
Gráfico 8
1'! maior na parte intermediária da distribuição tanto para o universo da popula-
O:)
~ ção como um todo quanto para o da população de desempregados. Isso revela Grau de incidência do acesso à creche do sistema público
~ que o programa de seguro-desemprego não está bem focalizado, uma vez que os
t"
perfis do acesso e do gasto não se mostram decrescentes. População beneficiada por centésimo (%) 2
~
~ O Gráfico 7 mostra que, para os dois universos analisados, os mais pobres
il recebem em média um benefício inferior ao benefício pago às pessoas que se en-
.~
g contram nas demais partes da distribuição. Interessante notar que o valor do 1,5
gasto unitário no caso da população total é maior do que o do caso da população
de desempregados. Isso indica a existência de um contingente de pessoas não
desempregadas que recebem em média um benefício maior do que o dos de-
sempregados.
Em suma, as evidência mostram que o programa de seguro-desemprego
está mal focalizado. Com efeito, tanto para o acesso quanto para o gasto, a inci-
0,5
dência não declina ao longo dos centésimos da distribuição, revelando que os
mais pobres têm menores chances de se beneficiar do programa.
I I I I I I I I 10
I
6 - O grau de focalização dos serviços públicos o
!
10 20 m ~ ~ ~ m 80 90 100
Gráfico 10
Gráfico 11
Grau de incidência do acesso ao 1 grau do sistema público º Grau de incidência do acesso ao 2º grau do sistema público
População beneficiada por centésimo (%) População beneficiada por centésimo (%)
1,6 2
1,4
1,2 1,5
Pessoas de 7 a 14 anos
0,8
0,6
0,4 0,5
0,2
I I I I ! ! 'O la
O 10 20 B ~ ~ w n 80 90 100 O 10 20 B ~ ~ w n 80 90 100
Centésimo da distribuição de renda domiciliar per capita Centésimo da distribuição de renda domiciliar per capita
Fonte: PPV de 1996.
Fonte: PPV de 1996.
737
736
Gráfico 12 Gráfico 13 1;
~ ~
~ "l
<>
"l
Grau de incidência do acesso à merenda escolar '"
~ Grau de incidência do acesso ao 3º grau do sistema público
;i\ ..,~<>
~ Universo de pessoas no ensino fundamental
t População beneficiada por centésimo (%) ~"-
~" 3,5 -do
Popu laçao
ensino fundamental beneficiada por centésimo (%) 1,6 I~
~li!
1,4 ""~
.ª
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Q
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1i
~
0,5
I ,o
, I
50
I
60
!
70
I
80 90 100
o 10 m ~ ~ ~ ~ ro w o !
O
!
10 20 ~1 !
~ .
90 100 Centésimo da distribuição de renda domiciliar per caplta
Centésimo da distribuição de renda domiciliar per capita
Fonte: PPV de 7996. Fonte: PPV de 1996.
população como um todo, o inverso ocorrendo para o caso do universo de bene- como um todo.
ficiários potenciais (crianças de sete a 14 anos no ensino fundamental). De fato,
enquanto o perfil de acesso mostra-se decrescente por centésimo da distribui-
ção da população total, o tnesmo não ocorre para os beneficiários potenciais.
Isso revela que os mais pobres nesse grupo estão super-representados entre os
mais pobres da população total, permitindo que um programa bem focalizado
IPI? .• _
738
Gráfico 14
~ 739
::: b) programa de seguro-desemprego encontra-se mal focalizado tanto
O
'Q
pelo lado do acesso quanto pelo do gasto, com a parte intermediária da distribui- ~:::
~ Grau de incidência do acesso ao programa
~ do livro didático
~ ção tendo não somente maior chance de se beneficiar do programa, como tam- g
'Q
t População do ensino fundamental beneficiada por centésimo (%) bém de receber um maior valor do benefício concedido; ~
"
{i 2 ..,
-i!l c) os serviços educacionais públicos de creche, segundo grau e terceiro grau il
] 1,8 estão bastante mal focalizados, com o perfil de acesso a esses serviços acentua- ~
,ê
.S!>
ia
Cl 1,6
damente crescente ao longo da distribuição de renda; i
d) os serviços públicos de pré-escolar e de primeiro grau encontram-se bem ~:::
104
focalizados em relação à população total, o inverso se passando relativamente :~
1,2 ao universo de beneficiários potenciais desses serviços; ~
e) o programa de merenda escolar está bem focalizado em relação à popula- ~
0,8 ção que freqüenta o ensino fundamental, o mesmo não ocorrendo para os bene- ~
ficiários potenciais do programa (crianças de sete a 14 anos no ensino funda- 11,
0,6 mental); e {j
004
f) o programa do livro didático está bem focalizado tanto em relação à po- '~~
::::
0,2 pulação como um todo quanto relativamente ao universo de beneficiários po- ~
o 10 'O tenciais desse programa;
w m ~ ~ w ro ~ 90 100
Centésimo da distribuição de renda domiciliar per capita Portanto, a combinação da má focalização dos gastos públicos sociais com
Fonte: PPV de 7996.
o fato de esses gastos representarem cerca de três a quatro vezes do que se ne-
cessita para erradicar a pobreza no país permite concluir que é possível eliminar
1-Conclusão a pobreza sem a necessidade de qualquer aumento no volume total de gastos na
área social. Embora se reconheça que o (re )desenho de programas públicos ade-
o Brasil não pode ser considerado um país pobre, embora possua uma par- quadamente focalizados é uma tarefa complexa, essa conclusão nos parece aus-
cela ainda elevada da população que vive em famílias cuja renda é inferior ao piciosa na medida em que aponta para uma solução do problema da pobreza
mínimo necessário para satisfazer as suas necessidades básicas. Procuramos que depende mais do aperfeiçoamento das políticas públicas do que da elevação
mostrar na primeira parte deste estudo que, apesar do expressivo contingente dos gastos. Isso se torna particularmente relevante em momentos de ajuste fis-
de pessoas pobres, o volume de recursos para erradicar a pobreza é relativamen- cal, tal como o que o país está atravessando.
te reduzido, representando cerca de 4% do PIE e 25% do que o governo já gasta
na área social.
Essa última constatação nos levou a investigar mais detalhadamente o
grau de focalização do gasto público social. Para isso, estimamos com base na
PPV- que cobre as áreas urbana e rural da regiões Nordeste e Sudeste _ o grau
de focalização de um conjunto de programas e serviços públicos sociais. Os re-
sultados dessa análise mostraram que a maior parte dos programas e serviços
públicos sociais analisados está mal focalizada. Mais especificamente, vimos
que:
a) embora o perfil do acesso ao programa de aposentadorias e pensões seja
relativamente uniforme ao longo da distribuição de renda, o perfil dos gastos é
bastante regressivo, com os mais ricos recebendo um benefício médio bem su-
perior ao dos mais pobres;
IPEA - DOCUMENTAÇÃO E BmLIOTECA
1i