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1 ALIGHIERI, p. 29.
para impulsionar a exportação do cinema italiano à sua época, nos anos precedentes à
eclosão da primeira guerra mundial. IANNUCCI (2004) afirma que:
Nesse sentido, tal filme se situa no intermédio entre um primeiro e então recém-
nascido cinema de atrações3 e a gênese das primeiras regras narrativas para um cinema
socialmente reconhecido como expressão artística ao mesmo patamar da literatura e do
teatro (idem, p. 21). L’Inferno representa, portanto, um marco para a transição entre
esses dois horizontes de formas de produções cinematográficas.
O cinema, desde seu princípio, devotou uma parcela significativa de seu imaginário ao medo e
ao terror (com exemplos temos o Faust aux enfers e le cake-walk infernal, de Georges Méliès,
ambos de 1903; L’inferno de Giuseppe De Liguoro, de 1911, entre muitos outros) substrato
inerente ao medo pelo castigo eterno (VUILLAUME, 2013).
5 “Much of the film looks like it was pulled straight from Gustave Doré’s famed illustrations of
The Divine Comedy. Yet seeing a picture in a book of a demon is one thing. Seeing it leap
around lashing the naked backs of the damned is something else entirely. If you were ever
tempted by the sin of simony, you’ll think twice after seeing this film.”.
fortes evidências que corroboram com as reflexões anteriormente levantadas acerca
desse filme. Tais periódicos do início da década de 1910, digitalizados e disponíveis na
Hemeroteca Digital Brasileira6, constituem indícios importantes para a compreensão do
modo como as expressões da cultura – como a recém-nascida arte do cinematógrafo –
foram recebidas e prestigiadas pelas sociedades à sua época.
6 memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx
7 Edição 237, página 5: memoria.bn.br/docreader/103730_04/27734
e apreciada como uma obra de elevado valor artístico. A seguir, serão apresentados
alguns anúncios publicados por casas de cinema e por empresas cinematográficas que
alugavam os rolos de L’Inferno. Nesses exemplares podemos ler mais comentários
fervorosamente positivos em relação ao filme:
Figuras 1 e 2. À esquerda: "aviso: em vista aos grandes pedidos de famílias dos arrebaldes e do
pedido do «Jornal Pequeno», a empresa resolveu conservar hoje na soirée e matinée o grandioso
film que tanto assombro tem causado no mundo civiliz
Figura 5. "A maior novidade até hoje apresentada em cinematographia, inspirada nos versos
«Divinos» do mundial poeta, e das illustrações de Gustavo Dorel" (Gazeta de Notícias, RJ,
1911).
Comparações entre cenas do filme, ilustrações de Doré e versos de Dante.
O "film" hontem mostrado no cinema Pathé excede a tudo que, até hoje,
a cinematographia tem apresentado. O assistente vê desenrolar-se, com
luxo de detalhes e de "mise-en-scene", todas as scenas descriptas pelo
divino Dante, na primeira de suas obras "O inferno". A verdade palpita
flagrantemente em todo o "film" e a execução do poema do mestre
florentino é uma reprodução fidelíssima das magníficas gravuras de
Gustavo Doré9.
8 “Direitos de exportação: Pela Agencia Litteraria está sendo distribuído o fascículo n.15 do
Inferno de Dante a que acompanha duas bellissimas e nítidas illustrações de Gustavo Doré” (A
Federação, 1890: “Vai então e co’ “O
memoria.bn.br/DocReader/388653/5384); a tua Inferno,
fala ilustrada / e ocom
Dante, que
mais de salvá-lo for capaz, ajuda-o para que eu
illustrações de Gustavo Doré, um enorme volume com mais de 200 gravuras, em portuguez e
seja confortada. / Eu sou Beatriz, que peço que
italiano, rica encadernação tu vás, / venho
80$000”. (A de aonde retornar almejo,
Federação, 1915:/
amor moveu-me, que falar me faz / Quando do
memoria.bn.br/DocReader/388653/32019)
meu senhor ao bom bafejo / voltar, irei de ti
falar-lhe bem” (Canto II, versos 67-74)
9 O Paiz (RJ), 1911. Edição 9819, página 6: memoria.bn.br/DocReader/178691_04/8097
“A procela infernal, que nunca assenta, / essas
almas arrasta em sua rapina, / volteando e
percutindo as atormenta. / Quando chegam
em face à sua ruína, / aí pranto e lamento e
dor clamante, / aí blasfêmias contra a lei
divina” (Canto V, versos 31-36)
“Ao ver-nos, Cérbero, esse monstro horrendo, / abriu as bocas, suas presas raivosas / expondo e
o corpo todo estremecendo. / Meu mestre, com maneiras cautelosas / inclinando-se, encheu as
mãos de terra / que arremessou nas três fauces gulosas” (Canto VI, versos 22-27).
“De um corpo sem cabeça a caminhada / por
certo eu vi, e parece-me ainda vê-lo, /
seguindo pela turba malfadada. / Tronca, a
cabeça que, pelo cabelo agarrada, pendia
como lanterna, / nos olhava emitindo um
mesto apelo” (Canto XXVIII, versos 118-123)
"'Esse, que sofre aí pena dobrada, / é Judas Iscariote', disse o guia, / 'co'as pernas fora e a cabeça
abocada. / Dos outros dois, o que a cabeça arria / da bocarra da cara preta é Bruto, / que se
contorce e cala todavia; / Cássio é o outro, de corpo tão hirsuto. / Mas, partamos, que a noite
ressurgiu, / e o que havíamos de ver já é resoluto” (Canto XXXIV, versos 61-69)
Bibliografia:
ALIGHIERI, Dante. A divina comédia. Tradução e notas de MAURO, Ítalo Eugenio. São Paulo,
SP: Editora 34, 1998.
CROW, Jonathan. Watch L’Inferno (1911), Italy’s First Feature Film and Perhaps the Finest
Adaptation of Dante’s Classic. openculture.com/2015/07/linferno-1911-italys-first-feature-film,
2015.
Imagens: