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TL178-C / 179-D. Prof. Carlos Eduardo Ornelas Berriel.

Angelo Gabriel Uehara Ardonde (164239), 22/08/2016.

Introdução: L’Inferno e suas repercussões na cultura italiana e no cenário


cinematográfico mundial.

Portanto, para teu bem, penso e externo


que tu me sigas, e eu te irei guiando.
Levar-te-ei para lugar eterno

de condenados que ouvirás bradando,


das antigas almas que verás, dolentes,
uma segunda morte em vão rogando

e outros verás também que estão contentes


no fogo, na esperança de seguir,
quando que seja, pelas beatas gentes1.
A Divina Comédia; canto I, versos 112-120.

Considerado o primeiro longa-metragem produzido na Itália e a primeira


adaptação do inferno dantesco para o cinema, o filme L’Inferno de 1911 é uma valiosa
obra de arte e um importante documento de cultura preservado para o patrimônio
cinematográfico italiano e mundial.

Neste trabalho serão desenvolvidas algumas considerações acerca desse filme:


desde as suas características internas – cinematográficas e narrativas – até as
repercussões sociais e artísticas que ele suscitou em sua época. Narrativamente, a
representação cinematográfica será colocada em perspectiva frente ao clássico literário
de Dante, com levantamentos acerca das semelhanças e diferenças entre essas duas
obras. Por fim, serão analisadas a recepção de L’Inferno em periódicos brasileiros à
época da repercussão mundial do filme e as semelhanças que ele guarda em relação às
ilustrações do inferno dantesco idealizadas por Gustave Doré.

L’Inferno é um filme de longa-metragem italiano de 1911, produzido pela


empresa cinematográfica Milano Films e com direção atribuída a Giuseppe De Liguoro.
Uma adaptação cinematográfica do Inferno de Dante Alighieri – o primeiro dos livros
que compõem a trilogia da Divina Comédia – ele se caracterizou como um marco inicial

1 ALIGHIERI, p. 29.
para impulsionar a exportação do cinema italiano à sua época, nos anos precedentes à
eclosão da primeira guerra mundial. IANNUCCI (2004) afirma que:

L’Inferno representa a apoteose do uso de textos literários nos primórdios do


cinema italiano, estabelecendo uma série de recordes (...). Sua duração, seu
orçamento, seus efeitos especiais inovadores e sua campanha publicitária
distinguiram L’Inferno da Milano Films como um primeiro e verdadeiro
colossal italiano2 (p.36).

Nesse sentido, tal filme se situa no intermédio entre um primeiro e então recém-
nascido cinema de atrações3 e a gênese das primeiras regras narrativas para um cinema
socialmente reconhecido como expressão artística ao mesmo patamar da literatura e do
teatro (idem, p. 21). L’Inferno representa, portanto, um marco para a transição entre
esses dois horizontes de formas de produções cinematográficas.

Como conclusão, aponto para a participação do filme em um conjunto mais


amplo de dinâmicas envolvendo a interação entre o filme e a literatura, cuja
inter-relação contribuiu para o estabelecimento dos parâmetros da cultura dos
filmes italianos4 (idem, p. 23).

Ao longo de seu percurso de legitimação, o cinema passou a competir com


outros grandes espetáculos artísticos – em especial o teatro – pela atenção e pelo
prestígio dos espectadores pertencentes às elites cultural de sua época. Tal consideração
não se restringe apenas à recepção do filme em território italiano, o que ficará mais
claro quando analisarmos, mais afrente neste trabalho, a recepção de L’Inferno pelo
público brasileiro.

Considerações sobre a representação cinematográfica do inferno dantesco e


suas relações com a obra literária de Dante.

Para as breves considerações que faremos em relação à A Divina Comédia, de


início é importante situarmos tal obra no interior de um determinado contexto sócio-
2 “Dante's Inferno represents the apotheosis of the early Italian cinema's use of literary texts,
and it established a number of records (…). Its length, its cost, its innovative special effects, and
its publicity campaign distinguished L'Inferno by Milano Films as the first true Italian colossal”.
3 Por primeiro cinema de atrações, considero
4 “By the way of conclusion, I point to the film's participation in a broader set of dynamics
involving the interaction of film and literature, whose interrelationship has helped to establish
the parameters of Italian film culture”.
histórico de produção. Se nos propuséssemos a ser historicamente meticulosos, não
poderíamos nem mesmo dizer que à época de Dante Alighieri havia uma única Itália,
uma vez que o território que contemporaneamente corresponde ao Estado Italiano,
durante a Renascença, compunha-se por diversos estados politicamente independentes e
com costumes, leis e línguas muitas vezes divergentes.

Por fim, é fundamental salientarmos como a construção pictórica do filme


L’Inferno – com cenários e figurinos fantasticamente barrocos – se assemelha muito às
ilustrações que Gustave Doré realizou, entre os anos de 1861 e 1868, sobre os episódios
centrais da Divina Comédia. Mesmo assim, não são iguais as formas de repercussão
com que expressões culturais de diferentes materialidades – como a literatura e o
cinema – se inserem nas sociedades e, consequentemente, se relacionam com seus
públicos. Nesse sentido, pensando o caso do filme L’Inferno em relação ao inferno na
literatura de Dante, CROW (2015) afirma que

muito do filme parece ter sido retirado diretamente das famosas


ilustrações de Gustave Dorè para A Divina Comédia. Entretanto, ver a
imagem de um demônio em um livro é uma coisa. Vê-la saltitando e
açoitando as costas nuas dos condenados é algo totalmente diferente. Se
você já foi alguma vez tentado pelo pecado da simonia, vai pensar nisso
duas vezes após assistir esse filme5.

Trataremos da influência das gravuras de Doré sobre o filme mais afrente.

O cinema, desde seu princípio, devotou uma parcela significativa de seu imaginário ao medo e
ao terror (com exemplos temos o Faust aux enfers e le cake-walk infernal, de Georges Méliès,
ambos de 1903; L’inferno de Giuseppe De Liguoro, de 1911, entre muitos outros) substrato
inerente ao medo pelo castigo eterno (VUILLAUME, 2013).

um espetáculo visual para impressionar e causar espanto em seus os espectadores.

A recepção brasileira do filme L’Inferno no início da década de 1910.

Por meio de uma pesquisa em periódicos brasileiros posteriores a 1911,


sincronicamente aos anos de estreia e circulação do filme L’Inferno, foram encontradas

5 “Much of the film looks like it was pulled straight from Gustave Doré’s famed illustrations of
The Divine Comedy. Yet seeing a picture in a book of a demon is one thing. Seeing it leap
around lashing the naked backs of the damned is something else entirely. If you were ever
tempted by the sin of simony, you’ll think twice after seeing this film.”.
fortes evidências que corroboram com as reflexões anteriormente levantadas acerca
desse filme. Tais periódicos do início da década de 1910, digitalizados e disponíveis na
Hemeroteca Digital Brasileira6, constituem indícios importantes para a compreensão do
modo como as expressões da cultura – como a recém-nascida arte do cinematógrafo –
foram recebidas e prestigiadas pelas sociedades à sua época.

Em relação ao prestígio do público brasileiro, é notável como o filme italiano


conquistou aplausos e admirações daqueles que o assistiram nos cinemas do Rio de
Janeiro – a então capital política e cultual da nação. No ano de 1911, o mesmo ano de
estreia do filme em território italiano, um comentarista de cinema do jornal Gazeta de
Notícias (RJ) relata como a sua exibição nos cinemas cariocas impressionava e
encantava o público que presenciava tal espetáculo. É importante notar como esses
espectadores são descritos, a partir desse comentário no periódico em questão, como
pertencentes a um público elitizado de literatos, jornalistas e senhoras da alta sociedade.
A seguir, um trecho desse comentário publicado na coluna do jornal intitulada Sociaes.
Pelo Cinema:

Uma salva de palmas unísona, cantante, sinceramente enthusiastica,


ecoou na sala de projeções do Cinema Pathé. Tinha terminado a
exibição do film "A Divina Comédia", de Dante, depois de tres quartos
de hora.
A sala toda, em que se viam distinctas senhoras e senhoritas da nossa
sociedade, jornalistas, litteratos, poetas e outros convidados, vibrava
emocionada pelo maravilhoso espetáculo a que acabara de assistir.
O film "Divina Comédia" é, efectivamente, uma obra d'arte, de
fidelissima arte, em que não se sabe o que mais admirar; se a beleza
expressiva e flagrante em um arranjo cinematographico, da maior
epopéa italiana; se o grandioso trabalho, forte e de poderosissimo
effeito de colorido e de "mise-em-scéne", propriamente dita 7. (Gazeta de
Notícias, 1911.)

A vista de recortes em jornais de época como esse , reconhecemos como a primeira


adaptação cinematográfica do Inferno de Dante fora, logo a partir de 1911, recepcionada

6 memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx
7 Edição 237, página 5: memoria.bn.br/docreader/103730_04/27734
e apreciada como uma obra de elevado valor artístico. A seguir, serão apresentados
alguns anúncios publicados por casas de cinema e por empresas cinematográficas que
alugavam os rolos de L’Inferno. Nesses exemplares podemos ler mais comentários
fervorosamente positivos em relação ao filme:

Figuras 1 e 2. À esquerda: "aviso: em vista aos grandes pedidos de famílias dos arrebaldes e do
pedido do «Jornal Pequeno», a empresa resolveu conservar hoje na soirée e matinée o grandioso
film que tanto assombro tem causado no mundo civiliz

Figuras 3 e 4. Acima: "Impossível será escrever no


limitado espaço de um annuncio as bellezas d'este
extraordinário film artístico, a que, sem contestação,
se poderá denominar a Chave de Ouro da arte
cinematographica" (Gazeta de Notícias, RJ, 1912). À
direita: Vasta e colossal creação cinematographica
apresentada a suas magestades o REI e a RAINHA de
Itália, aos PRINCIPES da Casa Real, e julgada pelos
mais notaveis DANTISTAS e pelos litteratos e artistas
mais em evidencia, como uma perfeita e grandiosa
obra de arte, não havendo nada que possa offender os
sentimentos mais nobres de quem quer que seja
(Gazeta de notícias, RJ, 1911).
ado" (Jornal de Recife, PE, 1911). À direita: “esse
importantíssimo ‘film’ verdadeiro monumento
cinematographico, de 1.500 metros de extensão, tem
obtido em toda a parte do mundo ruidoso sucesso. Aqui
mesmo no Rio a sua exhibição já despertou grande
enthusiasmo publico” (O Paiz, RJ, 1911).

Figura 5. "A maior novidade até hoje apresentada em cinematographia, inspirada nos versos
«Divinos» do mundial poeta, e das illustrações de Gustavo Dorel" (Gazeta de Notícias, RJ,
1911).
Comparações entre cenas do filme, ilustrações de Doré e versos de Dante.

As ilustrações de Gustave Doré deram forma à imagem socialmente imaginada


sobre os versos de Dante. Alguns anúncios de livrarias encontrados em periódicos do
início do século XX8 são bons indícios para constatar como tais cenários idealizados por
Doré eram conhecidos entre a elite intelectual da época; o mesmo público que assistiu
às primeiras exibições de L’Inferno nos cinemas. Essa é, portanto, uma das explicações
para o sucesso conquistados pelo filme ao longo da década de 1910.

Em 1911, publicada no jornal O Paiz (RJ), a coluna dos Cinematographos elogia


o filme italiano pela maneira como seus cenários foram construídos, de forma a
reproduzir na tela dos cinemas as conhecidas gravuras de Gustave Doré:

O "film" hontem mostrado no cinema Pathé excede a tudo que, até hoje,
a cinematographia tem apresentado. O assistente vê desenrolar-se, com
luxo de detalhes e de "mise-en-scene", todas as scenas descriptas pelo
divino Dante, na primeira de suas obras "O inferno". A verdade palpita
flagrantemente em todo o "film" e a execução do poema do mestre
florentino é uma reprodução fidelíssima das magníficas gravuras de
Gustavo Doré9.

Como conclusão, algumas cenas do filme L’Inferno serão colocadas em


perspectiva respectivamente com as gravuras de Doré e com os versos de Dante às quais
elas remetem.

8 “Direitos de exportação: Pela Agencia Litteraria está sendo distribuído o fascículo n.15 do
Inferno de Dante a que acompanha duas bellissimas e nítidas illustrações de Gustavo Doré” (A
Federação, 1890: “Vai então e co’ “O
memoria.bn.br/DocReader/388653/5384); a tua Inferno,
fala ilustrada / e ocom
Dante, que
mais de salvá-lo for capaz, ajuda-o para que eu
illustrações de Gustavo Doré, um enorme volume com mais de 200 gravuras, em portuguez e
seja confortada. / Eu sou Beatriz, que peço que
italiano, rica encadernação tu vás, / venho
80$000”. (A de aonde retornar almejo,
Federação, 1915:/
amor moveu-me, que falar me faz / Quando do
memoria.bn.br/DocReader/388653/32019)
meu senhor ao bom bafejo / voltar, irei de ti
falar-lhe bem” (Canto II, versos 67-74)
9 O Paiz (RJ), 1911. Edição 9819, página 6: memoria.bn.br/DocReader/178691_04/8097
“A procela infernal, que nunca assenta, / essas
almas arrasta em sua rapina, / volteando e
percutindo as atormenta. / Quando chegam
em face à sua ruína, / aí pranto e lamento e
dor clamante, / aí blasfêmias contra a lei
divina” (Canto V, versos 31-36)
“Ao ver-nos, Cérbero, esse monstro horrendo, / abriu as bocas, suas presas raivosas / expondo e
o corpo todo estremecendo. / Meu mestre, com maneiras cautelosas / inclinando-se, encheu as
mãos de terra / que arremessou nas três fauces gulosas” (Canto VI, versos 22-27).
“De um corpo sem cabeça a caminhada / por
certo eu vi, e parece-me ainda vê-lo, /
seguindo pela turba malfadada. / Tronca, a
cabeça que, pelo cabelo agarrada, pendia
como lanterna, / nos olhava emitindo um
mesto apelo” (Canto XXVIII, versos 118-123)
"'Esse, que sofre aí pena dobrada, / é Judas Iscariote', disse o guia, / 'co'as pernas fora e a cabeça
abocada. / Dos outros dois, o que a cabeça arria / da bocarra da cara preta é Bruto, / que se
contorce e cala todavia; / Cássio é o outro, de corpo tão hirsuto. / Mas, partamos, que a noite
ressurgiu, / e o que havíamos de ver já é resoluto” (Canto XXXIV, versos 61-69)

Bibliografia:

ALIGHIERI, Dante. A divina comédia. Tradução e notas de MAURO, Ítalo Eugenio. São Paulo,
SP: Editora 34, 1998.

CROW, Jonathan. Watch L’Inferno (1911), Italy’s First Feature Film and Perhaps the Finest
Adaptation of Dante’s Classic. openculture.com/2015/07/linferno-1911-italys-first-feature-film,
2015.

IANNUCCI, Almicare A. Dante, Cinema, and Television. Toronto, Canada: University of


Toronto Press, 2004.

Imagens:

1. Jornal de Recife (PE), 1911. Edição 298, página 2:


memoria.bn.br/DocReader/705110/56300

2. O Paiz (RJ), 1911. Edição 9833, página 3:


memoria.bn.br/DocReader/178691_04/8288

3. Gazeta de Notícias (RJ), 1912. Edição 90, página 8:


memoria.bn.br/DocReader/103730_04/29645

4. Gazeta de Notícias (RJ), 1911. Edição 237, página 5.


memoria.bn.br/DocReader/103730_04/27734
5. Gazeta de Notícias (RJ), 1911. Edição 60, página 4.
memoria.bn.br/DocReader/103730_04/26087

- Ilustrações de Gustave Doré:


http://www.worldofdante.org/gallery_dore.html

- Cenas do filme L’Inferno:


http://www.linferno.com/

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