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AGROEXTRATIVISMO E CAPITALISMO NA
AMAZÔNIA
AS TRANSFORMAÇÕES RECENTES NO AGROEXTRATIVISMO DO SUL
DO AMAPÁ
BELÉM
2007
ii
AGROEXTRATIVISMO E CAPITALISMO NA
AMAZÔNIA
AS TRANSFORMAÇÕES RECENTES NO AGROEXTRATIVISMO DO SUL
DO AMAPÁ
Belém
2007
iii
CDD 338.17492098116
iv
AGROEXTRATIVISMO E CAPITALISMO NA
AMAZÔNIA
AS TRANSFORMAÇÕES RECENTES NO AGROEXTRATIVISMO DO SUL
DO AMAPÁ
BANCA EXAMINADORA
______________________________________
Prof. Dr. Indio Campos - Orientador
Universidade Federal do Pará
______________________________________
Prof. Dr. Marcos Ximenes
Universidade Federal do Pará
______________________________________
Prof. Dr. Francisco de Assis Costa
Universidade Federal do Pará
______________________________________
Prof. Dr. José Carlos Tavares
Universidade Federal do Amapá
______________________________________
Prof. Dr. Antonio Cordeiro de Santana
Universidade Federal Rural da Amazônia
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
In the south of the State of Amapa, were created Extractive Settlement Projects of
the Maraca I, II and III in 1988, the Extractive Reserve of the Cajari river in 1990, and
the Sustainable Development Reserve of the Iratapuru in 1997. These protected
areas have been destined to the use of traditional populations who survive from
combination of small agriculture of cut and burn, collection of forest products (Brazil
nuts, açai and rubber) and hunt and fishing. The creation of these protected areas
besides other facts as the transformation of Federal Territory of Amapa into a State,
the municipal redivision, the opening of a road that connects Laranjal do Jari with
Macapa City and the appearance of political movements of agroextractivist
populations resulted in a series of socio-environmental changes has affected the life
of a local agroextrativist populations significantly. This research shows that the legal
guarantee of possession of the land and natural resources was conquered; there was
a valuation of agroextractivist production; the families strengthened themselves
politically; it happened improvements in the offered public services; and
agroextrativist populations had access to extra income came from welfare politics
and minimum income. It meant a stabilization of peasant production in region that
contributed to contain feared deforestation related with the opening of a road. The
economical and social agents related with agroextrativist population, starting from the
capitalist rationality or worry about environmental crisis, modified their interaction
forms to adapt themselves to those changes. The transformations were differentiated
in each protected space, where the institutional arrangement and the function of the
public agency in the co-management contributed a lot to those differences.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Foto 1 – RESEX Cajari: Fabrica para palmito de açaí gerenciada pela COOPERCA.
................................................................................................................................334
Foto 2 – RESEX Cajari: Fabrica de castanha dry gerenciada pela COOPERALCA.
................................................................................................................................334
Foto 3 – RDS Iratapuru: Fabrica para óleo de castanha gerenciada pela COMARU.
................................................................................................................................334
Foto 4 – RDS Iratapuru: mutirão para resolver problema de energia elétrica. ........334
Foto 5 – PAE Maracá: Sede da ATEXMA. ..............................................................334
Foto 6 – Laranjal do Jarí: agroextrativistas do Maracá no III Encontro de
Castanheiros. ..........................................................................................................334
Foto 7- RESEX Cajari: Os ônibus de linha que ligam diariamente Macapá a Laranjal
do Jarí. ....................................................................................................................405
Foto 8 - PAE Maracá: Caminhão de transporte da produção para feira em Macapá.
................................................................................................................................405
Foto 9 - PAE Maracá: Motores rabeta usado no transporte da produção de castanha
................................................................................................................................406
Foto 10- RESEX Cajari: Motor rabeta utilizado no transporte interno. ....................406
Foto 11-RDS Iratapuru: Voadeira, transporte muito utilizado internamente. ...........406
Foto 12-RDS Iratapuru: Batelão com motor de popa, utilizado no transporte de carga.
................................................................................................................................406
Foto 13-RESEX Cajari: A motocicleta, vem sendo utilizada no transporte interno..406
Foto 14-PAE Maracá: As vans, utilizadas no transporte escolar.............................406
Foto 15-RESEX Cajari: Casas construídas com recursos do PNRA em Água Branca.
................................................................................................................................407
Foto 16- PAE Maracá: Casas construídas com recursos do PNRA em Vila Maracá.
................................................................................................................................407
Foto 17-RDS Iratapuru: Casa típica de morador da comunidade de São Francisco.
................................................................................................................................407
Foto 18-RESEX Cajari: Casa construída com recursos do PNRA. .........................407
Foto 19-RDS Iratapuru: Residência provisória durante a coleta da castanha.........407
Foto 20-RESEX Cajari: Retiro provisório para a coleta da castanha. .....................407
Foto 21-RDS Iratapuru: Radiofonia no interior do castanhal para comunicar com a
vila. ..........................................................................................................................408
Foto 22-RDS Iratapuru: Módulo para acesso a Internet a energia solar doado a
COMARU pelo GREEN PEACE..............................................................................408
Foto 23-PAE Maracá: O telefone publico o meio de comunicação mais utilizado...408
Foto 24-RESEX Cajari: A televisão tornou-se uma fonte de informação e lazer das
famílias. ...................................................................................................................408
Foto 25-PAE Maracá: Na Vila Maracá, prédio escolar de qualidade.......................408
Foto 26-PAE Maracá: Na área ribeirinha, prédio escolar caindo aos pedaços. ......408
Foto 27-RESEX Cajari: Escola construída pela Prefeitura Municipal de Laranjal do
Jarí. .........................................................................................................................409
Foto 28-RDS Iratapuru: Prédio Escolar construído pela Fundação Orsa................409
Foto 29-RESEX Cajari: Escola muncipal construída na comunidade de Martins....409
Foto 30-PAE Maracá: Prédio da Escola Família Agroextrativista............................409
x
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ABREVIATURAS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................20
2 CONTEXTO TEÓRICO GERAL .............................................................................35
2.1 A RACIONALIDADE, COMO CATEGORIA CENTRAL NA ECONOMIA
POLÍTICA ..............................................................................................................37
2.1.1 A racionalidade enquanto produto do comportamento egoísta do indivíduo
...........................................................................................................................39
2.1.2 A racionalidade enquanto produto do processo histórico..........................42
2.1.3 A racionalidade econômica no mundo rural ..............................................45
2.1.3.1 A racionalidade capitalista destrói o camponês ..................................46
2.1.3.2 A racionalidade capitalista recria o camponês....................................48
2.1.3.3 A racionalidade camponesa viabiliza o camponês .............................52
2.1.3.4 As tentativas de conciliação teórica....................................................55
2.1.4 As racionalidades econômicas e a limitação ambiental.........................59
2.2 CRISE AMBIENTAL E MUDANÇAS NA SOCIEDADE MODERNA................64
2.2.1 Evolução e controvérsias ..........................................................................64
2.2.2 A crise ambiental e a ciência econômica ..................................................71
2.2.2.1 A crise ambiental na economia marxista ............................................71
2.2.2.2 A crise ambiental e a economia neoclássica ......................................82
2.2.2.2.1 A economia ambiental neoclássica .............................................86
2.2.2.3 A economia ecológica.........................................................................97
2.2.2.4 A crise ambiental e a economia institucional .................................105
2.2.3 A crise ambiental e a idéia de desenvolvimento ....................................118
2.2.4 A crise ambiental e os novos movimentos sociais .................................134
2.2.5 A crise ambiental na agricultura e a Agroecologia ..............................151
2.3 CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLOGICAS GERAIS.......................159
3 CONTEXTO TEÓRICO ESPECÍFICO .................................................................162
3.1 A CONSTRUÇÃO SOCIAL DO AGROEXTRATIVISMO NA AMAZONIA......163
3.1.1 A pré-história da Amazônia .....................................................................163
3.1.2 Da agricultura indígena ao agroextrativismo na Amazônia .....................169
3.1.3 O agroextrativismo e a política ambiental ...............................................210
3.2 A CONSTRUÇÃO SOCIAL DO SUL DO AMAPÁ NO AGROEXTRATIVISMO
.............................................................................................................................220
3.2.1 A pré-história do sul do Amapá ...............................................................221
3.2.2 Ocupação das terras amapaense na Amazônia Colonial........................223
3.2.2.1 As políticas iluministas pombalinas na região...................................233
3.2.3 O Sul do Amapá no boom da borracha ...................................................239
3.2.3.1 Coronelismo e extrativismo no Sul do Amapá no boom da borracha
.....................................................................................................................242
3.2.4 O Sul do Amapá na integração nacional da Amazônia ...........................250
3.2.4.1 O agroextrativismo e as empresas estrangeiras no Sul do Amapá .256
3.2.4.2 O agroextrativismo sob o controle de um grande projeto .................263
3.2.4.3 O agroextrativismo em áreas protegidas no Sul do Amapá..............267
3.2.5 Considerações sobre a castanha do pará no agroextrativismo da região
.........................................................................................................................270
3.2.5.1 Considerações ambientais ..............................................................271
3.2.5.2 Considerações socioeconômicas .....................................................275
3.3 CONSIDERAÇÕES TEORICO-METODOLÓGICAS ESPECÍFICAS.............282
xviii
.....................................................................................................................391
4.2.5.5 Síntese da evolução no atendimento de saúde................................394
4.2.6 Evolução demográfica nas áreas protegidas ..........................................395
4.2.6.1 PAE Maracá......................................................................................395
4.2.6.2 RESEX Cajari ...................................................................................398
4.2.6.3 RDS Iratapuru..................................................................................400
4.2.6.4 Estatísticas da evolução demográfica nos castanhais......................401
4.2.6.5 Síntese da evolução demográfica.....................................................403
4.2.7 Registros fotográficos de aspectos ligados a evolução social.................405
4.3 EVOLUÇÃO AMBIENTAL..............................................................................410
4.3.1 A espacialização do PAE Maracá ...........................................................410
4.3.2 A espacialização na RESEX Cajari .........................................................412
4.3.3 A espacialização na RDS Iratapuru.........................................................416
4.3.4 Problemas e conflitos ambientais no PAE Maracá..................................417
4.3.5 Problema e conflitos ambientais na RESEX Cajari .................................421
4.3.6 Problemas e conflitos ambientais na RDS Iratapuru ...............................425
4.3.7 As estatísticas da Evolução Ambiental....................................................427
4.3.8 Sintese da evolução ambiental nas áreas protegidas .............................435
4.3.9 Registros fotográficos de aspectos ligados a evolução ambiental ..........438
4.4 EVOLUÇÃO ECONÔMICA............................................................................440
4.4.1 A evolução econômica do PAE Maracá ..................................................442
4.4.2 A evolução econômica da RESEX Cajari................................................448
4.4.3 A evolução econômica da RDS Iratapuru ...............................................460
4.4.4 Composição da renda familiar nas áreas protegidas ..............................467
4.4.5 As estatísticas da evolução econômica das áreas protegidas ................471
4.4.5.1 A evolução da capacidade produtiva ................................................471
4.4.5.2 A evolução nas atividades produtivas...............................................472
4.4.5.3 A evolução nas relações com os agentes comerciais ......................480
4.4.5.4 A evolução na renda e consumo ......................................................486
4.4.5.5 Síntese da evolução econômica ......................................................494
4.4.6 Registros fotográficos de aspectos ligados a evolução econômica ........499
5 CONCLUSÃO.......................................................................................................501
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................521
20
1 INTRODUÇÃO
1
Subsetor da economia rural que tem como atividade econômica o extrativismo vegetal. Este
consiste na extração ou coleta dos produtos florestais. Apesar desta definição englobar as diversas
formas de extração e coleta, neste estudo estamos considerando apenas as formas não
destruidoras das condições de reprodução dos produtos extrativos, como exemplo: a coleta da
castanha do Brasil, da borracha natural, das sementes oleaginosas e do açaí, e as possíveis formas
manejáveis de madeira e palmito.
21
P A R Á
Procedimentos Teórico-metodológicos
2
ALLAIS, Maurice. Foudements d’une théorie des choix comportant um risque, 1955, p.31.
39
3
GIL VILEGAS, F. El concepto de Racionalidad em la obra de Max Weber. Revista Mexicana de
41
Essa abordagem foi construída a partir do profundo estudo que Karl Marx
desenvolveu sobre o capitalismo, utilizando o método dialético aperfeiçoado de
Hegel, e as teorias essenciais dos economistas clássicos sobre a origem e a
natureza do valor de troca das mercadorias.
43
Ou seja:
5
Zemstvos: são os escritórios de representação da população rural, criados em 1864, em grande
parte para levar adiante as reformas decorrentes da abolição da servidão (1861), para recensear a
população, lançando um vasto programa de pesquisa econômica e estatística sobre os
camponeses(ABRANOVAY,1992).
48
Para Kautsky, esse processo ocorre sem que haja a necessidade do capital
entrar diretamente na produção agrária, ou seja, antes mesmo de se formar
qualquer oposição entre o grande e pequeno estabelecimento agrícola, reafirmando
assim, a sua certeza que “a ação do capital não se restringe apenas à indústria.
Uma vez fortalecido o suficiente, irá apoderar-se também da agricultura”
(KAUTSKY, 1985, p.22).
Quanto, ao lento movimento de concentração capitalista no campo,
50
6
NEP( Nova Política Econômica): é a política implantada pelo governo soviético desde o fim da
Guerra Civil(1922) até 1928, onde se estimulava algo como economia mista, isto é, com forte peso
da iniciativa privada. No meio rural, a NEP cessou a forte perseguição que sofreram os kulaks
(camponeses ricos) no período da Guerra Civil e contava com eles para garantir o abastecimento
nacional com produtos agrícolas e matérias primas. Com o fim da NEP vem a catastrófica
53
sempre a valorização das forças que, não tendo acesso direto ao mercado de
trabalho pela sua fraca mobilidade profissional, oferecem-se à sociedade sob forma
de produtos a preço especial;
5-Um dos aspectos econômicos favoráveis à persistência da economia
camponesa é a possibilidade que ela tem de utilizar o trabalho em tempo parcial
das mulheres, velhos e crianças, além das margens de tempo disponível pelo chefe
da família, em atividades ligadas a criação de pequenos animais. Para o qual
Tepicht denomina de “forças marginais não transferíveis”, pela razão de que, se a
família abandonar a exploração agrícola não poderá mais recorrer a estas forças
para garantir a sua subsistência;
Para Tepicht, é pertinente considerar-se o campesinato como um modo
produção a parte, que subsistiu historicamente aos modos de produção passados,
devido a sua capacidade de submissão:
[...] sem, portanto lhe prever uma existência eterna, como se faz
ainda algumas vezes; sem também pretender que a sua própria
evolução seja independente das ditas formações que, de volta,
sofrem também sua marca. (TEPICHT, 1973, p.41, tradução do
autor).
Para Shanin, a tipologia analítica pode utilizar-se como pauta para definir o
campesinato como:
proteção de espécies parece ser um paliativo a crise ambiental atual e uma forma
de desviar a atenção do núcleo central da crise que está relacionada a grande
emissão de gases-estufa para a atmosfera.
7
Paradigma científico: constelação de crenças, valores, técnicas etc., partilhadas pelos membros de
uma determinada comunidade científica por um determinado tempo(KUHN, 2003)
72
8
POLANYI, Karl. The great transformation. Boston, Beacon Press, 1957.
73
resultado de uma segunda contradição que não esteve presente até então nas
análises marxistas: a contradição entre as relações de produção capitalistas (e as
forças produtivas ) e as condições de produção capitalista, ou “as relações
capitalistas e as forças da reprodução social”. Na sua abordagem, os elementos
geradores das contradições capitalistas passam a ser três: capital, trabalho e
natureza.
Para O’Connor (1977), Marx definiu três tipos de condições de produção: a
primeira são as “condições físicas externas” , ou os elementos naturais que entram
dentro do capital constante e variável. A segunda, a “força de trabalho” dos
trabalhadores foi definida como “as condições pessoais da produção” e em terceiro,
“as condições gerais e comunais da produção social”, por exemplo, os meios de
comunicação.
Para O’Connor:
condições para captar as crise e resolvê-las em seu favor. Uma é nas mudanças
das condições definidas como forças produtivas e a outra é nas mudanças nas
relações sociais de reprodução das condições. As transformações em qualquer dos
aspectos pressupõem ou requerem novas formas de cooperação entre e dentro dos
capitais e/ou entre o capital e o Estado, ou formas mais sociais de regulação do
metabolismo entre a humanidade e a natureza , assim como do metabolismo entre
o indivíduo e o entorno social e físico. Nesse sentido, mais cooperação tem o efeito
de fazer com que as condições de produção já politizadas se façam mais
transparentemente políticas, derrubando com elas ainda mais a aparente
naturalidade da existência do capital. O objetivo definitivo das crises é, portanto
criar a possibilidade de imaginar mais claramente uma transição ao
socialismo(O’CONNOR, 1997).
Essas mudanças pressupõe formas mais sociais de condições de produção
definidas como força produtivas. Um exemplo dessas mudanças na atualidade, é o
planejamento para fazer frente a contaminação das cidades, o qual pressupõe
união de associações e agrupamentos, ou seja de cooperação política com vista a
legitimar medidas severas, porém cooperativas de diminuição da contaminação
(smog). Em resumo:
Daly e Cobb Jr. (1989) denominam nos seus estudos de “falácia da concreção
injustificada”, termo utilizado de Whitehead9, que significa: “a omissão do grau de
abstração envolvido quando se considera uma entidade real somente na medida em
que exemplifica certas categorias do pensamento”, ou seja, a teorização a partir
de uma realidade fictícia.
Para Magalhães (1996), a tentativa dos economistas de igualar a sua
disciplina com a física, chegou a posições extremas como a de Robbins(1962)10:
9
WHITEHEAD, A. N. Process and reality. Nova York: 1929. p.11.
10
ROBBINS, L. An essay on the nature and significance of economics science. London: Macmillan,
1962.
11
FIEDMAN, M. The methodology of positive economics. In: MCKEAN, J.R. e WYKSTRA, R.A.(orgs)-
Readings in introductory economics. New York: Harper and Row, 1971.
85
assim por diante, mas esta imagem de governo benigno pode ser falsa. Nos
extremos, governos podem ser despóticos e interessados somente em favorecer o
interesse de alguma parte da comunidade em vez da comunidade como um todo.
Até mesmo em países democráticos, governos podem agir para favorecer um grupo
de pressão particular em vez da comunidade como um todo. Isto significa que o
governo pode muito bem não agir para proteger o ambiente, especialmente se eles
pensam que a proteção ambiental imporá custos sobre membros de poderosos
grupos de pressão. Desde que a legislação ambiental tende a impor custos sobre a
indústria e agricultura bem como sobre cidadãos comuns, ela é freqüentemente
resistida por muitos grupos interessados.
.Segundo, os governos podem não ser muito bons em adquirir a informação
certa que os permita a localizar pelas conseqüências totais de uma ação particular.
Até mesmo onde um governo é bem intencionado, o que atualmente acontece pode
não ser o que se pretendeu, simplesmente porque o processo sendo informado
torna-se muito complicado. Para os autores, isto é importante no contexto ambiental
porque os políticos freqüentemente não vêem que ações, que são ostensivas, não
sobre o ambiente, vão ter um efeito no ambiente. Os políticos também tendem a
compartimentar os assuntos inter-relacionados. Não se pode ter uma política
ambiental distinta de uma política energética ou uma política de desenvolvimento
regional e assim por diante, enquanto todas elas se interagem.
.Terceiro, governo, na forma de políticos, pode ter boas intenções e moldar
uma lei ambiental boa, em princípio. Entretanto, isso tem que ser traduzido para
prática e isto envolve o uso de peritos que são parte de uma burocracia de
governo. Os burocratas tornam-se muito importantes e podem facilmente influenciar
a natureza da regulação na prática. Já que os burocratas muito freqüentemente não
são eleitos e iguais a muitos trabalhadores eles tendem a não serem pagos por
resultados, eles então têm pouco incentivos explícitos para comportar-se no melhor
interesse da comunidade. Ao menos que fossem examinados de perto pelos
políticos, o que é muito difícil.
Pode-se perceber, que a época de seu surgimento e pelos seus
fundamentos, que a chamada economia ambiental representa uma reciclagem da
economia neoclássica para incorporar na sua agenda analítica a percepção social
de uma crise ambiental, incorporando as duas grandes preocupações da época o
esgotamento (escassez) dos recursos e a poluição (externalidades). Pela tendência
89
12
WALRAS, L. Elements d’économie politique pure. Paris: 1950, p.388.
90
13
http://dieoff.org/page148.htm
91
14
http://eumed.net/cursecon/textos/hotelling-agotables.pdf
92
Para Daly e Cobb Jr. (1989), “externalidades” é um termo tão geral que se
deve fazer algumas distinções, como distingui-las em localizadas e generalizadas.
As primeiras podem corrigir-se pelo menos em uma medida razoável, ajustando os
preços ou mediantes outros caminhos que não são radicais enquanto as
generalizadas que tem um alcance mais amplo e não podem corrigir-se
efetivamente mediante mudanças nos preços relativos, requerem limites
quantitativos ou profundas mudanças institucionais. Existem também alguns casos
intermediários.
Apesar de reconhecer as dificuldades de valorização das externalidades, a
grande preocupação da economia do meio ambiente tem sido com a internalização
desses custos externos, como forma de tornar a utilização dos recursos naturais
mais eficiente procurando reduzir ou afastar os riscos das crises ambientais que
podem afetar com mais profundidade ou até comprometerem o sistema econômico.
As formas encontradas de internalização das externalidades gravitam entre os
extremos de duas abordagens teóricas opostas, desenvolvidas por Cecil Pigou
em 1920 e por Ronald Coase em 1960.
A bibliografia especializada reconhece que Pigou foi o primeiro a ocupar-se
“in extenso”com os impactos negativos sobre o meio ambiente, que originados no
curso das atividades econômicas, prejudicavam a empresas ou pessoas.
Naredo(2003), cita que:
Pigou lamenta que não tenham valor de troca toda uma série de
serviços mais ou menos filantrópicos ou desinteressados que
prestam as pessoas, assim como aqueles outros facilitados pelo
meio natural que transcorrem a margem do mercado: se estes
últimos se cobrarem e contabilizarem no fluxo da renda nacional este
fluxo se veria diminuído no caso em que os serviços prestados pelo
meio ambiente desaparecerem ou se virem reduzidos por algum
impacto desfavorável.(NAREDO, 2003,p.266).
Pigou considera que o Estado deve intervir para corrigir “estas falhas
ou imperfeições[...] que impedem que os recursos da comunidade se
distribuam de modo mais eficiente”( é dizer, aquela que resulte mais
favorável para “a produção de um grande dividendo nacional” em que
se recolheram todos esses aspectos não contabilizados. Também
estima que “é um dever evidente do governo, como depositário dos
interesses da gerações a vir e mesmo das atuais, vigiar e se for
necessário defender por lei os recursos naturais esgotáveis do país
contra uma exploração brutal e imprevisível(NAREDO,2003, p.266).
15
http://eumed.net/cursecon/textos/coase-costo.pdf
96
A resposta deve-se por uma parte a perda de rigor teórico que se observa
nos economistas que seguem dando volta a esse mundo estabelecido no
econômico, desde enfoques parciais que lhes fazem esquecer o que já havia sido
dito e tomá-lo como esplêndidos descobrimentos pelo fato de aparecer sob
roupagem nova. Por outra parte reflete o ambiente receptivo que existe entre os
economistas para tudo que contribua para reduzir a brecha aberta no universo
econômico pela noção de externalidade e o reconhecimento das possíveis
divergências entre os custos sociais e os privados (NAREDO,2003).
Uma questão de natureza política sobre o movimento de internalização de
externalidades pelo Estado para o mercado, pode ser visto também como resposta
a crescente pressão política sobre o Estado, da população, para fazer cumprir
normas mais rígidas de controle dos problemas ambientais, diferentemente do
início da intervenção estatal, que tinha mais um papel de legitimar esses danos
pelas empresas.
16
http://www.timbergen.nl/discussionpapers/00080.pdf
101
decisões, por exemplo como comparar valor de habitat com valor de paisagem e
valor econômico.
Esta incomensurabilidade, está presente no cerne dos conflitos distributivos
de natureza ecológica e na tomada de decisão sobre o melhor uso de um
determinado recurso, visto que seria necessário colocar numa mesma natureza de
medida de diferentes valores. Isto é o que os economistas ambientais tentam fazer
através do mecanismo de preço, o que se processa de um forma extremamente
arbitrária. A economia ecológica tem discutido este problema buscando a
construção e aplicação de métodos multicriteriais para tomada de decisão.
Nos poucos anos, desde a sua configuração enquanto campo do
conhecimento, a economia ecológica tem criticado, discutido e avançado na
construção de indicadores de (in)sustentabilidade. Martinez-Alier(2004) faz uma
discussão crítica sobre alguns desses indicadores como a HANPP, que é “a
apropriação humana da produção primária líquida”, que mede o nível de utilização
pela espécie humana da energia solar armazenada pela plantas na biomassa, e
que mostra quanto mais aumenta essa apropriação menos fica para as outras
espécies, a “pegada ecológica”, ou ecoespaço que mede a carga ambiental da
economia em termos de espaço; o EROI, “o custo energético de conseguir
energia” que tem mostrado uma tendência a diminuição da eficiência energética na
agricultura pelo intensivo uso de insumos energéticos proveniente do petróleo; o
MIPS, o “insumo material por unidade de serviço”, que soma todos os materiais e
compara com os serviços proporcionados por todos os setores e na economia toda;
a “Taxa de Desconto”, que tem dado um valor menor ao futuro que ao presente; a
“Capacidade de Suporte”, que procura determinar a quantidade de pessoas que
podem sobreviver de forma sustentável em um determinado espaço, como exemplo
entre outros.
Na bibliografia disponível, verifica-se um crescimento exitoso no volume de
programas de pesquisa em economia ecológica, o que pode ser creditado a sua
pluralidade e forte interação com outras disciplinas que se preocupam com os
estudos dos problemas ambientais.
105
todo e não como pequenas partes ou entidades separadas, isoladas do todo, pois
um organismo complexo não pode ser compreendido se cada segmento é tratado
como se não estivesse relacionado à entidade maior. A atividade econômica não é
simplesmente a soma das atividades de pessoas motivadas individual e
mecanicamente pelo desejo de ganho monetário máximo. Na atividade econômica
há também padrões de ação coletiva que são maiores que a soma das partes. Um
sindicato, por exemplo, desenvolve um caráter, uma ideologia e um método de
operação próprios. Suas características não podem ser deduzidas do estudo dos
membros individuais pertencentes a ele;
.Ênfase nas instituições: essa escola enfatizava o papel das instituições na
vida econômica. Uma instituição não é simplesmente uma organização ou um
estabelecimento para a promoção de um objetivo especifico como, por exemplo,
uma escola, um presidido, um sindicato e um banco federal. É também um padrão
organizado de comportamento grupal, bem-estabelecido e aceito como parte
fundamental da cultura. Ela inclui costumes, hábitos sociais, leis, modos de pensar
e modos de vida. A escravidão e a crença na escravidão foram instituições. Outros
exemplos são as crenças no laissez-faire, no sindicalismo ou em um sistema federal
de seguridade social. Sair na véspera do Ano Novo para soltar um rojão é uma
instituição. Da mesma forma o foram a ideologia comunista na União soviética e o
anticomunismo nos Estados Unidos. A vida econômica, diziam os institucionalistas,
é controlada pelas instituições econômicas, não pelas leis econômicas. O
comportamento social do grupo e os padrões de pensamento que o influenciam
estão mais ligados à análise econômica do que o individualismo enfatizado na teoria
marginalista. Os Institucionalistas estavam especialmente interessados em analisar
e reformar as instituições de crédito, monopólio, ausência de propriedades, relações
de gerenciamento do trabalho, seguro de renda. Eles defendiam o planejamento
econômico e a mitigação das atividades do ciclo comercial;
.Abordagem evolutiva de Darwin: o método evolutivo deve ser usado na
análise econômica, porque a sociedade e suas Instituições estão em constante
mudança. Em vez de perguntar O que é isso? Os Institucionalistas perguntavam
como chegamos aqui e para onde estamos indo? A evolução e o funcionamento
das instituições econômicas deveriam ser o tema central da economia. Essa
abordagem exige conhecimento não só de economia, mas também de história,
antropologia cultural, ciência política, sociologia, filosofia e psicologia;
107
17
http://www.eumed.net/cursecon/textos/prado_north.pdf
110
18
http://www.eumed.net/cursecon/textos/north-nobel.htm
111
Em sua opinião, isso não é não é um fato lógico, a menos que o número de
indivíduos do grupo seja realmente pequeno, ou a menos que haja coerção ou
112
ator para outrem o direito de controlar uma ação, normalmente porque tal ação tem
“externalidades”, isto é, conseqüências positivas ou negativas para outrem. As
regras são sustentadas tanto por meio de condicionamentos (exemplo: educação
cívica), quanto por meio de sanções. Mesmo que essas normas não tenham força
legal, elas acabam sendo cumpridas. Elas fortalecem a confiança social e vingam
porque reduzem o custo de transação e facilitam a cooperação.
Na visão de Putnam (2002), a mais importante dessas regras, é a da
reciprocidade. Para ele, existem dois tipos de reciprocidade, a balanceada e a
generalizada. A primeira diz respeito à permuta simultânea de itens de igual valor, a
segunda, diz respeito a continua relação de troca, que apesar de desequilíbrios ou
falta de correspondência momentânea, pressupõe expectativas mútuas de que um
favor concedido hoje venha a ser retribuído no futuro. A regra de reciprocidade
generalizada, para o autor é um componente altamente produtivo do capital social,
pois as comunidades em que essa regra é obedecida têm melhores condições de
coibir o oportunismo e solucionar os problemas da ação coletiva.
Um dos exemplos concretos de como o capital social reduz o custo das
transações pode ser extraído da citação utilizada por Putnam:
baseado sobre capital econômico, humano, natural e físico; 2-O conceito de capital
social permite aos estudiosos de analisarem temas sociais de uma forma
quantitativa e incorporando-os em modelos econômicos quantitativos. Além de que
o conceito de capital social tem sido reconhecido como um conceito útil para o
estudo de bens comuns e manejo de recursos naturais baseado nas comunidades.
Como resposta a crise ambiental, no marco analítico do “novo
institucionalismo” tem se desenvolvido importantes trabalhos de pesquisa no
sentido de analisar as diferentes alternativas e mudanças institucionais na gestão
dos chamados “bens comuns”, nas suas formas de superação dos dilemas sociais
envolvidos com esses tipos de recursos. Em 1989 foi criada a Associação
Internacional para o Estudo de Propriedade Comum(IASCP) que congrega
estudiosos dos “bens comuns” incluindo cientistas políticos, antropólogos,
economistas, historiadores, e gerentes de recurso natural, que vinham discutindo
esse problema na Rede de Propriedade Comum criada em 1984. A IASCP tem
patrocinado conferências internacionais onde são divulgados e discutidos os
resultados das pesquisas desenvolvidas sobre o tema.
Entre as principais referências acadêmicas nesse campo, utilizando os
fundamentos analíticos da Nova Economia Institucional, associado ao conceito de
capital social, no estudo dos modelos de governança dos bens comuns, tem se
destacado os trabalhos desenvolvidos por Elinor Ostrom e colaboradores
(1993,1994,2000,2003). Ostrom tem liderado importantes trabalhos de pesquisa
que partem de uma critica as saídas propostas ao dilema social ligado aos bens
comuns, conhecido como “a tragédia dos bens comuns”.
A denominação de “Tragédia dos Bens Comuns” surge em um pequeno
artigo publicado em 1968. Ao citar a refutação de William Forster Lloyd à mão
invisível no controle demográfico em um folheto de 1883, Hardin(1968), cria esse
termo, que representará a sua visão sobre o manejo dos recursos comuns,
exemplificado no caso do uso de pastagens comuns, onde cada pastor agindo
racionalmente na busca do seu próprio interesse vai tentar elevar ao máximo a sua
utilidade, colocando o maior número possível de animais para pastar, até que vai
chegar um dia em que se abaterá a tragédia sobre os pastores e os animais pela
falta de pasto. Ou seja, cada homem está preso a um sistema que o obriga a
aumentar o seu rebanho ilimitadamente em um mundo limitado, levando-o a ruína.
Para Hardin, esse princípio se aplica a todos os recursos comuns, seja através da
117
novo bem comum. Esses modernos bens comuns trazem grandes dificuldades e
não-resolvidas estruturas de governanças. Nesse sentido: “estudar as instituições
que regulam os bens comuns existentes há muito tempo em varias escalas pode
prover importantes lições para governar esses novos bens comuns”(OSTROM;
DOLSAK,2003, p.4).
Conferência das Nações Carta da Terra (Agenda 21) Código de conduta humana
Unidas para o Meio para o século XXI
Ambiente e Convenção do Clima Convenção para controlar
Desenvolvimento: Cúpula as mudanças climáticas
da Terra (1992) devido à poluição da
atmosfera
Convenção da Biodiversidade Convenção para promover
a conservação da
Biodiversidade
Quadro 2- Gênese do Desenvolvimento Sustentável no discurso internacional oficial.
Fonte: SEVILLA-GUZMÁN e WOODGATE (2002).
perdurar no tempo; têm perdido a sua validez. Isto é evidente, na medida em que,
tem agudizado a crise de injustiça entre Norte e Sul e tem provocado uma crise de
caráter múltiplo da natureza, que frustra suas perspectivas futuras. Essas duas
crises mantêm uma relação inversa nas suas resoluções, ou seja, os que defendem
a garantia dos direitos aos pobres entram em contradição com os que defendem a
natureza. Neste sentido a superação dessa contradição exige a busca de modelos
alternativos de desenvolvimento. Essa busca está na gênese do desenvolvimento
sustentável, que junta desenvolvimentismo com ambientalismo, campos mentais,
outrora em oposição, que se estabilizavam na crença da invariabilidade de ambos.
Para que isso prosperasse, era necessário:
capacidade de incorporação dos mais díspares interesses, como resultado das suas
ambigüidades.
A multiplicidade de argumentações críticas, tanto ao conceito de
desenvolvimento sustentável considerado por Carvalho (2003) como um conceito
sem teoria e sem método, quanto a sua operacionalização foi agrupada por
Souza(2002) em três referenciais temáticos principais:
a) Relações Norte-Sul: nesse grupo se encontram as argumentações
críticas à proposta de reestruturação da distribuição do poder no nível mundial, na
busca de uma nova ordem internacional contida no relatório Brundtland,
considerada por Souza(2002) como talvez uma das mais difíceis de ser alcançada,
por envolver interesses seculares dos países industrializados, relativos a
manutenção da hegemonia no cenário mundial. Essa proposta ignora e não
questiona na relação Norte-Sul, a forma como ocorre a apropriação dos frutos do
crescimento econômico; as imposições de condicionantes aos países do Sul para
coibir o uso de tecnologias danosas ao meio ambiente, que significa imposição de
novos custos e barreiras comerciais; o problema da dívida externa dos países do
Sul para com o Norte além de outros mecanismos de natureza econômica e política,
inerentes a essa relação que tem historicamente aumentado o fosso econômico
entre Norte e o Sul.
b) Estilos de desenvolvimento e padrão de consumo: nesse grupo
encontram-se as argumentações críticas, ao fato, do relatório Brundtland esconder
uma contradição do imperativo de crescimento econômico proposto, que diz
respeito, ao fato da apropriação dos frutos do crescimento econômico ter ocorrido
de forma distorcida, gerando padrões de consumo bastante diferenciado entre
centro e periferia. O dilema atual é que o atual padrão de consumo dos países
industrializados baseado na utilização maciça de combustível fóssil não pode ser
generalizado, em função de limites impostos tanto pela natureza, como pelas
próprias características das relações internacionais inerentes ao desenvolvimento
capitalista. Nesse sentido, a busca de eqüidade entre nações e entre gerações do
conceito de desenvolvimento sustentável, tendo como referência estilo de
desenvolvimento e o padrão insustentável de consumo dos países desenvolvidos é
praticamente impossível de se atingir.
c) Pobreza e meio ambiente: engloba-se nesse grupo os enfoques sobre o
ciclo de causação cumulativa entre subdesenvolvimento, condições de pobreza e
125
séculos. Assim, o cenário para o ajuste ambiental não é o sul nem o globo, mais
exclusivamente o norte. Essa perspectiva considera o fato de que em algumas
sociedades industriais o aumento do PNB deixou de corresponder com o aumento
da qualidade de vida, podendo com isso argumentar que uma redução do volume
de produção não significa necessariamente redução do bem estar, pelo contrário,
poderia fazer os meios de vida florescerem ao aumentar a riqueza comum. Porém
esta transição civilizatória, implica novos modelos de prosperidade que não se
baseiem em última instância em crescimento permanente.
Nessa perspectiva, uma sociedade sustentável representaria uma
sociedade sem pressa, um encurtamento das distâncias que reforça as economias
regionais, a criação de serviços inteligentes que substituam os bens desejáveis e
um consumo seletivo que reduza o volume de mercadorias. Ainda assim, o grande
enigma dessa perspectiva continua sendo se o princípio da acumulação de capital
pode ser compatível com uma sociedade conservacionista. É induvidavel, que uma
política de autolimitação implica sempre em perda de poder, inclusive se,
persegue-se em nome de uma nova prosperidade.
As ambigüidades existentes no conceito de desenvolvimento sustentável,
se de um lado agrega os diferentes atores nas suas diversas perspectivas, do outro
lado permite os mais diversos tipos de críticas quanto as suas aplicabilidades
práticas, principalmente, quando se considera a superação da “crise de justiça”
inerente ao próprio conceito de desenvolvimento capitalista. As mesmas
dificuldades são percebidas quando se reduz ao campo prático da aplicabilidade do
conceito de sustentabilidade enquanto superação da crise da natureza no debate
econômico.
A bibliografia que tem discutido a sustentabilidade na sua aplicabilidade,
mostra que existem duas grandes correntes paradigmáticas, uma denominada de
“sustentabilidade fraca” e a outra de “sustentabilidade forte”(MARTINEZ
ALIER,2001; NAREDO;VALERO,1999; TURNER; PEARCE ; BATEMAN, 1993;
ROMEIRO,2003).
A posição identificada como “sustentabilidade fraca”, segundo Martinez
Alier(2001), tem as suas raízes na economia neoclássica e tem duas características
básicas: a complexidade de funções que tem o patrimônio natural tende a diluir-se
em um agregado que é o capital natural e se supõe enormes possibilidades de
substituir capital natural por capital fabricado. A segunda corrente, a
131
19
PEARCE, D.; ATKINSON, G. Capital theory and the measurement of sustainable development, an
indicator of “weak” sustainability. In: Ecological Economics, n. 8, 1993.
132
20
Entendido como “todas as formas de comportamento coletivo que, tanto em seus discursos como
em sua prática, visam corrigir formas destrutivas de relacionamento entre o homem e seu ambiente
natural, contrariando a lógica estrutural e institucional atualmente predominante”(Castels,2002,
p.143-144).
135
com o seu apogeu nos anos 80, nos anos 90, as empresas começam rapidamente
recuperar os anos perdidos, abandonando de forma gradual as atitudes negativas
em relação a questões ambientais. Sendo que, no contexto dessa expansão por
ondas sucessivas e convergentes, vamos encontrar nos anos 90 um ambientalismo
projetado sobre as realidade locais e globais, abrangendo os principais espaços da
sociedade civil, do Estado e do mercado, adotando um perfil complexo e
multidimensional, de grande iniciativa e capacidade de ação ética e comunicativa
que o habilita para se constituir num eixo civilizatório fundamental, na direção de
uma maior cooperação e solidariedade entre nações, povos, culturas, espécies e
indivíduos.
A literatura sobre ambientalismo e desenvolvimento sustentável tem
apresentado algumas tipologias desses movimentos. Essas tentativas de
estabelecer tipos, se de um lado, podem apresentar algum reducionismo, por outro
lado, como recurso didático, ajuda a compreender suas principais semelhanças e
diferenças. Vamos apresentar neste tópico três formas de tipificações encontradas
na bibliografia: uma primeira criada por Turner, Pearce e Bateman(1993) que é
complementada por Foladori(2001)21, privilegiando a dimensão econômica, uma de
natureza preferencialmente sociológica, elaborada por Castels(2002) e uma terceira
discutida por Martinez-Alier(2005). No seu conjunto, essas três formas ajudam a
compreender melhor esse novo fenômeno político que tem contribuído
consubstancialmente para mudanças comportamentais em todos os setores da
sociedade, no que tange a sua relação com a natureza, e no enfrentamento da crise
ambiental, tanto nos seus aspectos ecológicos como nos aspectos da justiça.
A tipificação desenvolvida por Turner, Pearce e Bateman (1993), com
referência particular nas suas dimensões econômicas, agrupa os movimentos
ambientalistas em dois grandes campos ideológicos ambientais, com duas
categorias em cada campo, organizadas segundo os aspectos éticos, tipo de
economia, estratégias de gestão e nível de sustentabilidade que são:
a) Tecnocentrismo: os partidários desse campo têm em comum uma
grande fé no poder da tecnologia para resolver os problemas humanos. Segundo
Foladori(2001), essa corrente de pensamento também é antropocêntrica, ou seja,
na medida em que aceita que o comportamento com o meio está determinado pelas
21
http://www.doctoradoendesarrollo.net/planta/tipologia.pdf
136
bibliografia, o autor optou por incluir as mais antigas com destaque, exceto para o
“ambientalismo moderado” que o autor preferiu um manual muito utilizado.
relação mais direta entre as preocupações imediatas das pessoas à questão mais
ampla da degradação ambiental. Rotulada freqüentemente com certa malícia como
movimento “Não no meu quintal”, organização criada nos Estados unidos em 1978,
em princípio sob a forma de um movimento contra substâncias tóxicas, quando do
acidente de Love Canal, em que toneladas de lixo industrial tóxico foram
despejadas nas Cataratas do Niágara, no estado de Nova York, Lois Gibbs, a
proprietária que ganhou notoriedade em decorrência da luta pela saúde de seu filho,
e contra a desvalorização da sua casa por causa da contaminação na área, acabou
fundando em 1981, a Citizen’s Clearinghouse for Hazard Waste, uma organização
de combate ao lixo tóxico.
Esse tipo de organização proliferou rapidamente nos Estados Unidos
passando de 600 grupos locais contra o despejo de lixo tóxico, em 1984, para 4687
em 1988. Ao longo dos anos, a bandeira de luta desses grupos tem se ampliando
para oposição ao grau excessivo de desenvolvimento, a construção de auto-
estradas e contra instalações que processam e manipulam substâncias tóxicas nas
proximidades de suas residências. Em síntese, esses movimentos questionam a
tendência de escolha de áreas habitadas por minorias e populações de baixa renda
para o despejo de resíduos e a práticas ambientais indesejáveis, e também a falta
de transparência e de participação no processo decisório sobre a utilização do
espaço, cobrando participação local e justiça ambiental. Apesar de representar um
caráter localista, usam todas as formas de protesto, independente de seu conteúdo
de classe, voltam-se ao estabelecimento de controle sobre o meio ambiente em prol
da comunidade local. Para Castells(2002), isso torna essas mobilizações defensivas
locais em um dos principais componentes do movimento ambientalista em um
contexto mais amplo.
c)Movimentos da Contracultura e Ecologia Profunda: alguns
movimentos das contraculturas (tentativa deliberada de viver segundo normas
diversas e, até certo ponto, contraditórias em relação ao institucionalmente
reconhecidas pela sociedade, e de se opor a essas instituições com base em
princípios e crenças alternativos) dos anos 60 e 70, também tiveram no
ambientalismo sua fonte de inspiração, manifestando-se por meio de obediência
única e exclusiva às leis da natureza, afirmando assim a prioridade ao respeito a
natureza acima de qualquer instituição criada pelo homem. Castells(2002)
considera apropriado incorporar na noção de “ambientalismo contracultural”
142
devolverá a terra sua beleza perdida. A tribo será chamada de Guerreiros do arco-
íris”;
2-Uma atitude inspirada nos Quakers, de serem testemunhas dos fatos,
tanto como princípio para a ação quanto como estratégia de comunicação;
3-Uma atitude pragmática, do tipo empresarial, influenciada pelo líder
histórico e presidente do conselho adminstrativo do Greenpeace, David McTaggart
“de fazer as coisas acontecerem”,não há tempo para discussões filosóficas.
Para Castells (2002), o adversário declarado do Greenpeace é o modelo
de desenvolvimento caracterizado pela falta de interesse pelos efeitos sobre a vida
no planeta. Assim, o movimento mobiliza-se em torno do princípio da
sustentabilidade ambiental como preceito fundamental ao qual devem estar
subordinadas todas as demais políticas e atividades. São internacionalistas e
consideram, o estado-nação como o maior obstáculo ao controle do
desenvolvimento atualmente desenfreado e destrutivo.
e) Movimentos da Política Verde: embora a “política verde” não pareça
ser um tipo de movimento, e sim uma estratégia específica, isto é, o ingresso no
universo da política em prol do ambientalismo, para Castells(2002), um exame
detalhado do exemplo de maior destaque nesse tipo de política o Die Grünen,
demonstra com clareza que, originalmente “os verdes” não se enquadravam nos
modelos da política tradicional. O Partido Verde alemão fundado em 1980 com base
em uma coalizão de movimentos populares, a rigor não é um movimento
ambientalista, embora tenha sido mais eficaz na propagação da causa ambientalista
na Alemanha de que qualquer outro movimento europeu em seu próprio país de
origem. A força motriz da formação do partido foram as chamadas Iniciativas dos
cidadãos do final dos anos 70, organizados principalmente em torno de
mobilizações pela paz e contra o uso de armas nucleares, unindo veteranos dos
movimentos dos anos 60 e feministas espelhando-se na revolução sexual
promovida pelos revolucionários dos anos 60, a juventude e a classe média de
formação superior preocupada com a questão da paz, da energia nuclear e do meio
ambiente ( a destruição das florestas, waldsterben), as condições atuais do planeta,
a liberdade individual e a democracia de base popular.
A criação e ascensão dos verdes foi rápida, ingressando no Parlamento
Nacional em 1983, em uma conjuntura favorável, devido a inexistência de formas de
expressão política que dessem voz ativa aos processos sociais na Alemanha, além
145
dos três principais partidos que se alternavam no poder, havendo um potencial “voto
insatisfeito” principalmente entre os jovens, aguardando o momento de se
manifestar; havia um desgaste na reputação dos partidos políticos devido a
escândalos financeiros e dependência desses a contribuição da indústria. Um outro
fator que ajudou a juntar os verdes sob uma única bandeira era a legislação eleitoral
que exigia no mínimo 5% dos votos nacionais para o ingresso no Parlamento. O
programa partidário tratava de temas como ecologia, paz, defesa das liberdades,
proteção às minorias e aos imigrantes, feminismo e democracia participativa. Dois
terços dos líderes do Partido Verde eram membros ativos dos diversos movimentos
sociais da década de 80. O Die Grünen apresentava-se como um “partido
antipartido” voltado a política como uma nova concepção de poder, um
“contrapoder” que seria “natural e comum a todos, compartilhado por todos, e usado
para o bem de todos”. Os verdes faziam uma espécie de rodízio entre seus
representantes eleitos, tomando a maioria das decisões em assembléias, seguindo
as tradições anarquistas inspiradoras do partido.
Para Castells (2002), as provas de fogo impostas pela política na sua forma
real puseram abaixo essas experiências dos verdes após alguns anos,
principalmente, após o fiasco nas urnas em 1990. Os conflitos latentes entre os
realos(líderes pragmáticos que tentavam difundir as idéias de partido por meio de
instituições) e os fundis (fiéis aos princípios básicos da democracia popular e da
ecologia) eclodiram em 1991, resultando em uma aliança entre centrista e
pragmáticos que assumiu o controle do partido, restruturando-lhe sob uma nova
orientação, o que lhe permitiu retornar ao parlamento, ocupando importantes
postos nos governos regionais e locais, por vezes governando em alianças com os
sociais democratas. Para Castells, a partir de então o Partido Verde não era mais o
mesmo partido, havia de fato se transformado efetivamente em um partido político.
Além de que, o partido perde o monopólio de defensor da causa ambiental, pois os
outros partidos passam a ser mais receptivos às novas idéias apresentadas pelos
movimentos sociais. Apesar de tudo, mediante a política verde, o Die Günen
consolidou-se como a esquerda coerente na Alemanha do final do século, e assim,
a geração rebelde dos anos 70 conseguiu preservar a maioria dos seus valores,
transmitindo aos filhos pelas maneiras de viverem as próprias vidas, ajudando a
construir uma Alemanha bastante diferente tanto do ponto de vista cultural quanto
político.
146
valor sagrado da natureza nas crenças dos povos indígenas que sobreviveram a
conquista européia.
Os biólogos e filósofos ambientais são atuantes nessa corrente, irradiando
as suas doutrinas desde as capitais do Norte como Washington, Genebra, para
África, Ásia e América Latina através de estruturas bem organizadas como a
International Union for The Conservation of Nature (IUCN), a Worldwide Fundo for
Nature (WWF) e Nature Conservancy. A organização Amigos da Terra nasceu em
1969, quando o diretor do Sierra Clube, David Brower aborreceu-se pela falta de
oposição do Sierra Club a energia nuclear, sendo hoje uma confederação de
diversos grupos de diferentes países, sendo que alguns se orientam a vida silvestre,
outros se preocupam com a ecologia industrial e outros com os conflitos ambientais
e os direitos humanos provocados pelas empresas transnacionais no terceiro
mundo. Os Amigos da Terra da Holanda obteve um forte reconhecimento no início
dos anos noventa, devido aos seus cálculos sobre o “espaço ambiental”
demonstrando que esse país estava utilizando recursos ambientais e serviços muito
além de seu próprio território e incorporando o conceito da “dívida ecológica” nos
programas e campanhas internacionais dos Amigos da Terra.
b) O evangelho da ecoeficiência : esta corrente preocupa-se com os
efeitos do crescimento econômico não só nas áreas primitivas, mas também na
economia industrial, agrícola e urbana, centrando a sua atenção aos impactos
ambientais e aos riscos para a saúde das atividades industriais, a urbanização e a
agricultura moderna, enfim preocupando-se com a economia na sua totalidade.
Muitas vezes defende o crescimento econômico, ainda que não a qualquer custo.
Acredita no “desenvolvimento sustentável” , na “modernização ecológica” e no “bom
uso” dos recursos. As suas preocupações são com os impactos da produção de
bens e o manejo sustentável dos recursos naturais, e nem tanto pela perda do
atrativo da natureza e seus valores intrínsecos. Seus discursos utilizam a palavra
natureza como recursos naturais, capital natural ou serviços ambientais. A perda de
espécies “bioindica” algum problema, não no sentido do direito indiscutível de viver.
É hoje um movimento de engenheiros e economistas, uma religião da utilidade e da
eficiência técnica sem uma noção de sagrado, seu templo mais importante na
Europa tem sido o Instituto Wuppertal, localizado no meio de uma feia paisagem
industrial.
Para Martinez-Alier(2005), a denominação utilizada de “evangelho da
148
dos anos sessenta. Esse autor também considera que mais que o culto a vida
silvestre, o movimento pela justiça ambiental é um produto da mentalidade norte
americana obcecada pelo racismo e anti-racismo. Muitos projetos sociais nos
centros das cidades e áreas industriais em várias partes do país têm chamado a
atenção sobre a contaminação do ar, a pintura com chumbo, as estações de
tratamento de lixo municipais, os dejetos tóxicos e outros perigos ambientais que se
concentram bairros pobres e de minorias raciais. Até recentemente, a Justiça
Ambiental como movimento organizado tem se limitado ao seu país de origem,
enquanto o ecologismo dos pobres são nomes aplicados aos movimentos do
Terceiro Mundo que lutam contra os impactos ambientais que ameaçam aos pobres
como: movimentos de camponeses cujas terras têm sido destruídas por minas e
pedreiras, movimentos de pescadores artesanais contra a pesca industrial que
destrói seu sustento esgotando seus recursos, movimentos contra minas ou
fábricas por comunidades afetadas pela contaminação do ar ou que vivem rio
abaixo.
Sob o ponto de vista científico, essa corrente recebe o apoio da
Agroecologia, da Etnoecologia, e de alguma forma da Ecologia Urbana e da
Economia Ecológica e, também tem o apoio de alguns sociólogos ambientais. A
justiça ambiental tem dado exemplos de ciência participativa, sob o nome de
“epidemiologia popular”. No Terceiro Mundo tem-se utilizado a combinação da
ciência formal e informal, a idéia da “ciência com a gente” ante a “ciência sem a
gente” ou inclusive “a ciência para a gente”, caracteriza a defesa da agroecologia
tradicional dos grupos campesinos e indígenas, dos quais, há muito o que aprender
em um verdadeiro diálogo de saberes. Essa corrente tem crescido em nível
mundial pelos inevitáveis conflitos ecológicos distributivos.
A análise dessas tipologias mostra o nível da complexidade existente no
fenômeno ambientalismo, que inegavelmente, na sua forma singular, é um corpo
presente no cotidiano das lutas políticas da sociedade contemporânea, em qualquer
parte do globo, adquirindo nas suas manifestações locais a sua expressão plural,
nas diferentes estratégias de atuação que parecem às vezes contraditórias com os
seus objetivos originais. Isto representa a sua capacidade de adaptação para a
transformação da realidade, deslocando-se entre um eixo de “mais justiça” a “mais
natureza”, esverdeando cada vez mais os velhos movimentos sociais e
humanizando cada vez mais o ambientalismo original do século XIX, dos setores
151
Verde(TRUJILLO, 2004).
Para Goodman, Sorj e Wilkinsonl(1989), a realização científica decisiva da
revolução verde foi a difusão de técnicas de criação de plantas desenvolvidas na
agricultura de clima temperado para o meio ambiente das regiões tropicais e
subtropicais. Para esses autores, a força que impulsionou esse processo manteve-
se inalterada: controlar e modificar os elementos do processo biológico de produção
que determinam o rendimento, a estrutura da planta, a maturação, a absorção de
nutrientes e a compatibilidade com os insumos produzidos industrialmente. Nesse
sentido, a Revolução Verde, em grande medida, através da difusão internacional
das técnicas da pesquisa agrícola, marca uma maior homogeneização do processo
de produção agrícola em torno de um conjunto compartilhado de práticas
agronômicas e de insumos industriais genéricos.
Os resultados da Revolução Verde e modernização da agricultura, se de um
lado, afasta a preocupação da incapacidade de se produzir o alimento demandado
pelo crescimento demográfico, aumentando a produção de grãos, quando os
cultivos eram adequadamente irrigados, fertilizados e tratados contra pragas e
doenças; por outro lado, são gerados graves problemas de natureza ambiental e
social. Trujillo(2004) discute alguns desses problemas: em primeiro lugar, as
variedades liberadas nos trópicos perdem rapidamente sua competitividade,
necessitando que se forneçam novas variedades no dobro da velocidade dos
países temperados; o alto custo da produção da novas variedade não estão ao
alcance dos camponeses mais pobres, beneficiando apenas os grandes
proprietários, além de que, o uso excessivo de fertilizantes, pesticidas, herbicidas,
maquinaria agrícola pesada, o monocultivo e o desflorestamento induzido pela
modernização aceleraram os processos de erosão, desertificação, contaminação
ambiental, redução da biodiversidade e o aumento de pragas e doenças.
Também, ressalta Trujillo(2004), o aumento de produção dos países em
desenvolvimento destinam-se a exportação, utilizando uma grande quantidade de
insumos em detrimento aos produtos agrícolas para consumo local, o que aumenta
os custos de produção e produz uma dupla dependência externa desses (insumos
e alimentos para o consumo). Nesses países, a modernização da agricultura
também tem impactado fortemente a população rural, já que as tecnologias
aplicadas e as fórmulas econômicas favoreceram a concentração das terras e o
deslocamento das massas camponesas para as cidades, convertendo-se em
154
subproletários; ou para os altos das montanhas, onde, para subsistir tem que
derrubar as florestas, contribuindo mais ainda com a erosão e desertificação.
Nos países desenvolvidos, a modernização da agricultura tem provocado
importantes impactos sociais e ambientais. No próprio Estados Unidos, onde se
desenvolveu essa filosofia de agricultura devido as suas necessidades internas e
seus grandes recursos em capital, energia e tecnologia, mais de três milhões de
granjeiros perderam suas propriedades pelo endividamento de suas explorações,
reduzindo-se o número de agricultores para cerca de 1% da população, processo
que tem ocorrido na Europa, mesmo que em menor magnitude, sobretudo nas
áreas rurais menos favorecidas. Não só o custo de produção tem levado a quebra
de numerosos agricultores, mas também as políticas de baixos preços impostas aos
produtos agrícolas têm provocado uma forte transferência de riqueza do setor
produtor primário para os setores de transformação e serviços. Um exemplo disso,
é que nos Estados Unidos nos anos 80, os produtores só ficavam com quatro
centavos de dólares para cada dólar que um americano médio convertia em
alimentos. Isso faz com que a sobrevivência de pequenos e médios produtores
aconteça pelos subsídios que recebem (TRUJILLO,2004).
Os problemas ambientais provocados pela modernização da agricultura
começam a ser discutidos pela sociedade a partir de 1962, quando:
Rachel Carson, considerada pela revista Time uma das 100 pessoas
mais influentes do século XX, deu o pontapé inicial na consciência
ambiental popular em1962 com o livro “Silent Spring”. No livro,
Rachel nos dizia que pesticidas como DDT estavam estragando a
terra, deixando-nos de herança uma primavera silenciosa, sem o
canto dos pássaros(LOMBORG, 2002,p.257).
22
PIMENTEL, D.; PIMENTEL, M. Food energy and society. London: Edwards Arnold, 1979.
23
CROUCH, L.; DE JANVRI, A. The class bias of agricultural growth. Food Policy, n. 3, 1980.
GRAHAN, D. Undermining rural development with cheap credit.Bvoulder: Westview Press, 1984.
DEWEY, K. Nutritional consecuences of the transformation from subsistence for comercial
agriculture. Humam Ecology, n. 9, 1981, p. 151-187.
155
24
MEGGRS, Betty, J. Environmental limitations on the development of culture. American
Anthropologist, 1954, 55(5), p. 801-824.
168
25
O termo extrativismo designa os sistemas de exploração de produtos florestais(fauna, flora)
destinados ao comercio regional, nacional e internacional. Diferencia-se portanto das atividades de
coleta cujos produtos estejam limitados ao consumo familiar ou a um escambo local. Extrativismo e
coleta dependem de duas lógicas econômicas diferentes, uma regulada por um mercado externo,
outra pelas necessidades da unidade doméstica(EMPERAIRE; LESCURE,2000, p.15).
170
suas doenças.
A abundância e diversidade de bens produzidos na combinação agricultura,
caça, pesca e coleta garantia a sobrevivência de um grande contingente
populacional distribuído nas margens dos rios da Amazônia do Quito ao Maranhão.
O predomínio de uma atividade sobre a outra, assim como a utilização diferenciada
dos produtos encontrados, parece decorrentes da grande diversidade cultural
encontrada e das condições impostas pelo ambiente, considerando-se a grande
extensão espacial relatada.
A tecnologia da produção agrícola indígena, pelo não domínio dos metais
nos seus instrumentos de trabalho, parecia ser muito simples aos cronistas,
causando surpresas nos seus resultado:
Para semear o que acima disse, que lhes serve de pão, que é a
mandioca, banana, milho, raízes e algumas frutas que não são
silvestres, fazem suas roças e chácaras nestas matas.O modo de
fazê-las é: limpam primeiro e cortam o mato e árvores pequenas que
estão nas raízes e entre as árvores grandes com facas, e os que não
as têm, com madeiras de chonta e outras madeiras fortes, feito ao
modo de espadas com quatro dedos de largura e cinco palmos de
comprimento. Depois de limpo e triturado os debaixo, derrubam as
árvores grandes com machados, que podem ser de pedra ou ossos
de animais, nos povos que ainda não dispõem dos de ferro. Feito o
desmate, deixam secar por muito tempo, e seco, lhe tocam fogo. Não
fazem outro beneficio, nem cavam a terra para a sua semeadura,
apenas fazem a capina da mandioca quando necessário
(FIGUEIROA,1986, p.266-267, tradução do autor).
anos, à buscar de nova propriedade para cultivar. Esse tempo vai depender da
quantidade de escravos do colono.
Registra que nessa época, o processo de distribuição de terra para os
colonos, dava-se através de Carta de Data, uma portaria, que concedia até três
léguas de terras, medida de frente, para serem cultivadas. Quando, a terra
cultivada no modelo indígena já havia perdido a fertilidade, devido a agricultura
rotativa, o colono solicitava uma outra terra, porém permanecia com as antigas,
tendo em vista o investimento em habitação feitos. Uma outra alternativa, era a
compra de áreas com roças já prontas pelos índios.
Mostra ainda, que a produção comercial de cacau, café, tabaco, algodão e
arroz pelos colonos, utilizava-se do preparo de área tipo indígena, utilizando o
trabalho escravo, que era estimulado através de um grande fornecimento de
aguardente.
Discute minuciosamente o cultivo da cana como a atividade mais lucrativa,
onde havia o engenho aonde se produzia o açúcar, o mel, a aguardente, e a
engenhoca, aonde se fabricava a aguardente. Mostra que havia uma preferência
para a produção de aguardente, por exigir menos força de trabalho e ser muito
demandada pelos indígenas que davam o que tivessem em troca desta bebida.
Apesar dos engenhos, havia falta de açúcar, pois, só se produzia este produto, em
função do apoio e pressão da coroa sobre os donos de engenhos. Ou seja, os
engenhos padeciam com a falta de mão de obra(DANIEL, 2004).
Daniel(2004), discorre sobre a importância das missões no abastecimento
de alimento. Trata de forma preconceituosa, da “domesticação das feras” que são
os índios, e o papel das missões no fornecimento de força de trabalho para atender
as necessidades dos colonos, do governo e das próprias missões. Relata as
dificuldades de circulação das mercadorias pela falta de transporte de natureza
pública. Apesar da grande quantidade de produtos existentes nos sítios e nas
missões, esses não chegam nas cidades, pela falta de transporte público, pois a
insuficiência de trabalhadores impedia aos colonos e missionários de enviar os
produtos para serem vendidos na cidade, resultando isso na falta de mercados na
Amazônia:
Pode ser que exista exagero nas contas de João Daniel, mas havia uma
desestruturação dos povoados indígenas. La Condamine observando uma nação
indígena, na sua viagem em 1743 escreve:
177
[..] de sorte que só quem necessita faz diligências para comprar dos
particulares, mas estes nenhuma fazem para vender,e por isso, se
há quem os busque nos seus sítios, muito bem, fazem então seus
negócios; mas se os não vão buscar, lá consomem consigo os seus
frutos, exceto os transportáveis para Europa, porque esses
conduzem aos portos, e embarcam, ou contratam nas frotas; enfim,
só particularmente, e com muita diligência, se fazem as compras e
vendas nas casas particulares, mas não em feiras, ou em praças
publicas( DANIEL, 2004, v2,p.122).
destes contratistas pelos sítios dos índios dispersos por entre rios, e
ilhas,entram-lhes em casa; vêem algumas farinhas, ou qualquer
outra cousa que lhes agrada, e sem mais ajuste lhes metem na mão
umas facas, ou uns bolórios, ou os cariciam com alguma porrada de
aguardentes, e acrescentando: Eu quero tanta farinha, ou tantas
galinhas etc., e logo mandam carregar, porque os índios por mui
tímidos não se atrevem a repugnar-lhes; e se algum o faz, parece
retórica lhes basta para os enganar( DANIEL, 2004, v2,p.123).
Sobre essa forma típica de capital comercial, nos finais do século XIX, José
Veríssimo escreveu:
26
Apesar de existirem varias ordens missionárias na Amazônia trabalhando na catequese indígena,
os jesuítas receberam um tratamento privilegiado pela coroa na sua relação com os indígenas.
Pela lei de 21 de dezembro de 1686, chamada regimento das missões, “que lhes entregava o
governo espiritual das aldeias, senão também o temporal e político, objeto de suas antigas e
constantes diligências”(Azevedo, 1930: 187-188).
184
Uma outra cultura introduzida com sucesso na região foi o café que logo
teve problemas de preço em função da concorrência com o café estrangeiro.
Segundo Gross, o governo colonial sempre enviava produtos possíveis de ser
cultivados para avaliação da metrópole. Da mesma forma, a Coroa enviava mudas
de produtos de outros domínios portugueses, para ser estimulado o plantio na
Amazônia, como o cinamomo, a pimenta (piper langun) e o índigo. Esses produtos
não deram certo na região, mesmo com medidas da Coroa para estimulá-los, como
isenção de impostos e fornecimento de índios para os colonos que introduzissem
novos produtos agrícolas (GROSS, 1969).
Além de isenção de impostos e fornecimento de índios aos colonos, a
Coroa estimulou outras medidas como: unidades de demonstração do cultivo de
cacau para os colonos verem as vantagens do cultivo; isentou-se de proibição ao
comércio dos oficiais da Coroa para se engajarem na agricultura; inventariou-se o
número de pés de cacau plantado por colonos para premiá-los de acordo com seus
esforços. Essas táticas, com relação ao cacau parecem ter dado certo, pois os
colonos adotaram o plantio de cacau nos anos setecentistas(GROSS, 1969).
Apesar do grande esforço da Coroa em promover a agricultura, Gross
concluiu no seu trabalho, que:
Para quem sabe que o produto principal da Amazônia até 1840 era
quase certamente o cacau de origem extrativa, soam prima facie
estranhas as lamentações que desde os anos cinqüenta se ouviam
dos administradores das províncias amazônicas sobre o abandono
da agricultura causado pela sedução da borracha. Com efeito,
substituir a produção de um produto predominantemente extrativo
por outro somente extrativo, mas de cotação mais alta, afigurar-se-ia
à primeira vista vantajoso”(SANTOS, p.69).
Para esse autor, um dos motivos seria a visão crítica que os governantes
tinham de que a substituição não consolidava a economia e representava um
aumento na dependência econômica a atividades rudimentares. Para Oliveira
Filho(1979), essas reações e denúncias violentas contra o caráter nocivo da
produção de borracha expressam interesses de setores bem definidos, reagindo a
diversos fatores, como sejam:
1-O deslocamento dos recursos produtivos da região para a borracha,
provoca drenagem de recursos para importação de alimentos de outras regiões a
preços mais elevados, provocando compressão na produção de outros produtos
como café, tabaco, etc.;
2-A perda de controle sobre a força de trabalho, do setor que a controlava
até então, implica dificuldades para a sobrevivência desse setor e perda do seu
poder político;
3-Abandono relativo dos núcleos urbanos em detrimento das localizações
isoladas no interior, desenvolvendo nas grandes cidades um afluxo de moeda
nunca visto antes. Este fator inquietava as autoridades públicas e o clero,cujas
manifestações expressavam um cunho moralista;
4-Concentração de crédito nas casas aviadoras em Belém e Manaus,
diferente do período anterior em que o financiamento para a produção rural
acontecia através da casas comerciais espalhadas pelos pequenos centros urbanos
da hinterlândia. Esse processo garantia as casas comerciais estrangeiras a maior
fatia da riqueza gerada;
5-A grande concentração do controle sobre os meios de transporte e a
199
27
SILVA COUTINHO, João Martins da. “Breve notícia sobre a extração de salsa e seringa.” In:
Relatórios da Presidência da Província do Amazonas desde sua criação até a Proclamação da
Republica. Vol. III, Rio de Janeiro. Typ. do Jornal do Comercio, 1907.
28
PIMENTA BUENO, M. A. “Officio do gerente da Companhia de Navegação a Vapor do
Amazonas(28-02-1874).” In: Additamento às informações sobre o Estado da Lavoura. Rio de
Janeiro. Typographia Nacional, 1874. e “A borracha. Considerações.” Typographia Imperial e
Constitucional de J. Villeneuve & Co., 1882.
200
1911-1912, tendo como porta voz de seus interesses o Diário do Gram Pará29.
Para Bárbara Weinstein(1993):
Uma das causas que fizeram com que esta situação de descalabro e
29
Diario do Gram Pará, A borracha. Breves reflexões opostas pelo Diário do Gram Pará às
considerações do Sr. Comendador M. A. Pimenta Bueno. Belém, Typ. do Livro do Commercio,1822.
201
recursos naturais.
As políticas do governo federal levam a um notável crescimento da
população amazônica devido aos fluxos migratórios, sendo que os estado que mais
atraíram migrantes foram o Pará e Rondônia. Os fluxos migratórios para Rondônia
eram oriundos das regiões Sul, Centro Oeste e Sudeste, enquanto que os fluxos
migratórios para o Pará eram principalmente oriundos do Nordeste e Centro
Oeste(BRASIL et al,2002).
Para Brasil et al(2002), a atração que a Amazônia exercia sobre as
populações de migrantes, a partir de 1986, foi bastante arrefecida e até mesmo
cessou. Isso devido a fatores como a desarticulação do POLONOROESTE que
financiava e incentivava a ocupação de Rondônia; a retirada de subsídios para a
agricultura da região; o custo da política de subsídios para a implantação de
empresa no Pólo Industrial da Zona Franca de Manaus; as manifestações nacionais
e internacionais contra as políticas públicas que estimulavam o desmatamento
amazônico; e a ausência de soluções tecnológica para a agricultura.
Para Hurtienne(2001):
Ou ainda:
30
DIEGUES, Antonio Carlos et ARRUDA, Rinaldo S. V.(orgs.). Saberes Tradicionais e Biodiversidade
no Brasil. Brasília: Ministério do Meio Ambiente; São Paulo: USP, 2001, p.27.
219
31
HALL, A.. O papel das ONGs na resolução de conflitos para o desenvolvimento sustentável. In:
BECKER e MIRANDA(orgs.). A geografia política do desenvolvimento sustentável. Rio de
Janeiro:Editora da UFRJ, 1997.
220
amazônica.
Para os objetivos desse estudo, além das considerações teórica sobre a
história regional, que tradicionalmente inicia-se com a chegada do colonizador
europeu, é necessário desenvolver uma breve incursão na pré-história da região,
pois nela é que vamos encontrar vestígios da gênese do agroextrativismo
amazônico, na forma de atividades agrícolas, coleta, caça e pesca das populações
que habitavam a região antes da chegada do europeu.
Maracá Vale do rio Maracá no Sul .agricultura de derrubada e século XVI –XVII
do Amapá queima de mata
.cemitérios localizados em
grutas e abrigos –sob-rocha
preta arqueológica (TPA)32 nas regiões dos castanhais. Apesar desses importantes
vestígios arqueológicos, não se encontra na bibliografia uma denominação precisa
dos grupos indígenas que deixaram esses sítios. Em geral, observa-se a região
como uma área de influência da província ou sertão dos tucujus, conforme mapas
apresentados por Lorimer(1989). Baena em 1833, faz uma simples referência: “Nas
vertentes do Rio Maracá moram os Guimáres”(BAENA, 2004, pg.23).
No Mapa Etno-histórico de Curt Nimuendaju (Mapa 4), vamos encontrar
referências da ocupação dos grupos Menejou em 1698, no médio Jarí; Wayampi
no baixo rio Jarí entre 1852 – 1862; e, Tomokow entre 1832-1865, Wayampi entre
1908-1916 e Aparai em 1937 no alto rio Jarí e Iratapuru. Existe a indicação de que
em 1741 habitavam nas cabeceiras do rio Cajari, relativamente próximo do rio
Maracá os povos Arawak-Tocoyenne. Pode-se, nesse mapa, observar um
deslocamento indígena para as regiões de difícil acesso, ou seja, percebe-se as
áreas do sul do Amapá dentro do espaço de deslocamento dos Wayapi que
moravam no baixo rio Jarí no início do século XIX para o planalto guianense (IBGE,
2002).
32
Terra preta arqueológica(TPA):”alterações produzidas na quimica e física dos solos pelos
ancestrais dos índios por processos ainda mal conhecidos, favorecem a formação de uma espécie
de húmus bastante estável, mesmo sob as condições climáticas da região, onde as chuvas
abundantes e o calor não contribuem para o acúmulo de matéria orgânica.[...]é um forte indicador
da existencia de povoamento permanentes, densos, hierarquizados e estáveis, a partir do quinto
milênio aC., hoje desaparecidos”(MIRANDA, 2007, p.74-79).
232
Coroa portuguesa, como também de consolidar o seu poder nas diversas esferas
da vida pública. Foram ações de incorporações das capitanias particulares à
Coroa; delimitação de fronteiras; cassação do poder temporal das ordens religiosas;
a expulsão dos jesuítas; o aperfeiçoamento dos sistemas administrativo, judicial,
fiscal e militar; a difusão da língua portuguesa entre os indígenas; a consolidação de
uma rede escolar oficial, entre outras ações que levaram ao fortalecimento do poder
estatal na região.
A criação da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, instituída por D.
José I em 07 de junho de 1755, com monopólio por vinte anos (possível de
prorrogação) das rotas comerciais de São Luis do Maranhão e Belém do Pará, foi
um instrumento institucional fundamental não só para dinamizar a economia
regional, mas principalmente para garantir a consolidação do projeto iluminista
pombalino na Amazônia.
A criação da Companhia foi proposta em janeiro de 1754 por Mendonça
Furtado como uma solução para o problema da carência de braços para
desenvolver a agricultura na região, através do comércio de escravos. Esta
proposta encontrou um acolhimento favorável do futuro Marquês de Pombal, pois,
além das vantagens apontadas pelo irmão, poderia ser útil para: combater o
contrabando francês com o Pará e Maranhão; introduzir em circulação moedas
metálicas em substituição de novelos de algodão e caroços de cacau utilizados
como meio de pagamento na região; e promover a plena integração econômica
daquele estado nos circuitos econômicos atlânticos, através da aquisição de
escravos em África, da exportação das suas produções para os portos do Reino - e
a partir deste para outros Estados europeus - e da importação de mercadorias
metropolitanas e estrangeiras. Essas vantagens contribuiriam para o aumento da
arrecadação de impostos que financiariam o processo de povoamento, fortificação,
exploração geográfico–científica da região, incentivaria a construção naval e
diminuiria a predominância dos comerciantes ingleses nos circuitos comerciais
portugueses, ao fortalecer a grande burguesia comercial metropolitana(COUTO,
2003).
Para Couto(2003), até a data de sua extinção, em 1778, a Companhia
desempenhou um importante papel no desenvolvimento da economia da região,
contribuindo para intensificar a exportação de madeira e drogas do sertão (cacau,
cravo, canela, salsaparrilha, baunilha, canafístula, quina, etc.), incrementar a
235
concluindo. Ficaram em Mazagão 163 famílias, das 340 vindas da África, conforme
os ANNAES(PARÁ,1916).
Com a consolidação da vila Nova Mazagão, inicia-se um movimento de
exploração de recursos pelos colonos portugueses, em direção ao rio Jarí, iniciando
nos rios circunvizinhos. A região do Cajari, anos depois, vai ser explorada por esses
colonos. Em 1772 foi determinado pelo governador Ataíde Teive ao capitão
Francisco Roberto Pimentel que explorasse o rio Cajari, para o estabelecimento de
um povoado as suas margens, com índios que escolhesse e conseguisse manter
reduzido. Dessa forma:
Sul do Amapá, foi permeado pelo caráter militar e estatal na ocupação do território,
e pelas ações de expansão demográfica e povoamento, como libertação dos índios,
importação de colonos açorianos e madeirenses e fomento a agricultura comercial.
O caráter militar e estatal da ocupação vai representar para a população
indígena na região: violência e tutela. A historiografia nos mostra no início da
ocupação que as formas de relacionamento com os nativos pelos portugueses
foram sempre no sentido de subjugá-los aos seus interesses econômicos e militares
através de práticas predominantemente coercitivas e através do trabalho
compulsório. Assim, verifica-se o índio forçosamente guerreiro, engajado nas
expedições militares portuguesas, combatendo os invasores estrangeiros e seus
aliados nativos; guia e remeiro, levando o colonizador ao conhecimento da região e
de suas riquezas, operário da construção de vilas e fortificações, produtor-coletor
de produtos agrícolas e extrativistas de interesse comercial e do abastecimento das
povoações. Os grupos que resistiam a esse destino, ou que mantiveram relações
com os invasores europeus foram perseguidos e eliminados, em nome de uma
ordem de submissão aos interesses da Coroa.
Com o iluminismo pombalino, a garantia de liberdade e extensão da
cidadania portuguesa aos descendentes miscigenados era necessária ao aumento
demográfico exigido na ocupação territorial. Acontece sob a tutela da Coroa,
principalmente, por ser contrária aos interesses das elites amazônicas de então.
Violência, autoritarismo e tutela de um lado, gerando medo, submissão, apatia e
revolta silenciosa do outro, condicionam a formação de uma sociedade que já nasce
profundamente dividida e dissimulada na região. Essa relação autoritária e
paternalista se expande também aos colonos, negros e missionários.
A importação de colonos das Ilhas portuguesas para a região do Cabo
Norte e a política de fomento a agricultura comercial com a importação de mão de
obra escrava vai gerar uma produção significativa de arroz que é exportada de
Macapá e Mazagão para Belém e Lisboa, durante a vigência da Companhia do
Grão-Pará e Maranhão. A produção comercial de arroz trouxe problemas de
transporte, beneficiamento, endividamentos e preços desestimulantes aos seus
produtores. Essa produção vai perdendo a sua importância com a extinção da
companhia. Nesse período, além do arroz, produzia-se também nas colônias de
Macapá e Mazagão o algodão com fins comerciais.
Quanto as formas de exploração e ocupação econômica do espaço, no Sul
239
1
Relação econômica que se processa entre um comerciante que fornece antecipadamente as
mercadorias essenciais à vida dos seringueiros e castanheiros, em troca da produção. Generalizou-
se na Amazônia no ciclo da borracha, formando diversas cadeias de intermediação, partindo das
casas importadoras e exportadoras até o trabalhador extrativista.
241
José Júlio explorou a área que abrange a atual RDS do Iratapuru. Segundo
Lins(2001, p.83): “No ano de 1924, José Júlio de Andrade demarcou suas terras até
o Itacará, no alto rio Jarí, onde existe até hoje um marco. Existem ainda outros dois
marcos; no Iratapurú e acima da vila de Água Branca”. Foi instalada uma filial
(barracão para aviamento e compra de produtos) em São João do Iratapuru, que
dava suporte a coleta de castanha e borracha nessa região.
A exploração comercial da castanha e seringa na região do rio Cajari, logo
no seu início, segundo Lins(2001), dizem tinha sido livre porém o coronel José Júlio
“comprou” as terras do rio Cajari, para evitar as constantes fugas de trabalhadores
do rio Jarí para lá. Parece evidente, que essa “compra”, pode ser imputada aos
métodos utilizados por alguns aviadores fortes na apropriação dos seus latifúndios
através da influência sobre as estruturas burocráticas e cartoriais municipais, pois
de acordo com Weinstein(1993, p. 345), com base em artigos do jornal “A Província
do Pará” de 3 /abril/1892, 26/ julho/1901 e 28/julho/1902:
Talvez, o mais famoso desses novos homens fortes tenha sido José
Júlio de Andrade, de Almerim e Gurupá. Ele angariou a inimizade de
muitos paraenses de classe alta quando expulsou importantes
proprietários (bem como posseiros impotentes) para fora de terras
que cobiçava. APP, 3/abr/1892; 26/jul/1901, 28/jul/1901.
do extrativismo.
O processo de expropriação de terras através da expulsão violenta, aliado
as manobras cartoriais, foi justificadamente possível, já que esse comerciante e
seringalista,
34
Denominação dada aos pequenos barracos feitos de palha e madeira roliça, que os extrativistas
constroem próximo ao local de coleta, para uso provisório (durante as safras).
249
Por fim, que não houvera para nenhum político decreto de banimento
ou exílio. Dessa forma, o governo autorizava ao autor do artigo,
“pródigo em francesismo e exumações históricas”, a mandar dizer ao
sr. José Júlio que podia voltar ao Pará quando lhe conviesse; e que
nos consulados do Brasil em qualquer país que se encontrasse ser-
lhe-ia fornecido passaporte de retorno, “podendo vir empregar seus
vultosos capitais na exploração ‘honesta’ de qualquer indústria”,
desde que – frisou a nota – fossem respeitados os direitos de vida e
liberdade dos operários e trabalhadores(ROCQUE, 1999, p.190).
explorava castanha, borracha e outros produtos nativos, e era rico também. Mas
adoeceu de beribéri e voltou ao Rio Grande do Norte , vendendo seus negócios do
Rio Maracá”. Isto refere-se a década de 1920.
Nesse período de ocupação inicial, formam-se ao redor dos depósitos da
produção e aviamentos (barracões) os principais povoados que atualmente existem
na região.
A partir do Avança Brasil, a Amazônia entra no século XXI com uma nova
função: contribuir com a redução do custo Brasil, fornecendo novas alternativas
para o escoamento e produção exportável de produtos agrícolas (soja) e minerais,
através da redução dos custos de transporte, tendo em vista a sua localização
privilegiada para a saída aos principais mercados internacionais, através dos Eixos
Nacionais de Transporte e Desenvolvimento.
Quanto ao Amapá, nesse período de integração, em 1943 é transformado
em um Território Federal com três municípios: Macapá, Amapá e Mazagão. Sendo
nomeado como seu primeiro governador o Capitão Janary Gentil Nunes, que teve
como um dos seus principais feitos a abertura, em 1947, da exploração das minas
de manganês de Serra do Navio para a Indústria e Comércio de Minério - ICOMI
associada a uma empresa americana. A extração do manganês torna-se a principal
atividade econômica do Território, até o esgotamento das reservas na década de
1990.
Enquanto Território Federal, com os governadores nomeados pelo
presidente da República, geralmente militares oriundos de outras regiões, que
impuseram ao espaço amapaense, muito pouco além da presença autoritária do
Governo Federal, enquanto os grandes grupos econômicos apossavam-se das
riquezas extrativas minerais e vegetais, como o manganês da Serra do Navio, o
ouro de Calçoene, a cromita do Vila Nova, o caulin do Jarí, a madeira de Macapá e
Mazagão, além da ocupação econômica do Cerrado para a produção de celulose.
Riquezas exportadas com baixo retorno para o desenvolvimento local.
Em 1988, o Amapá e transformado em Estado com 16 municípios,
passando a eleger seus governadores, que se vêem obrigados a propor e
implementar ações que promovam o desenvolvimento socioeconômico da região,
num quadro de esgotamento das reservas do principal produto mineral das fases
anteriores: o manganês. Nesse cenário, em 1991 é criada a Área de Livre Comércio
de Macapá e Santana, que logo se mostra como uma ação inócua para dinamizar a
economia regional, já que o país vive uma fase de abertura comercial. De 1995 a
2002 estabelece-se um programa estadual de governo, com estímulo a
diversificação das atividades econômicas, dentro dos princípios da Agenda 21, o
PDSA. A partir desse programa, o governo estadual articula-se com o governo
federal na busca de integração do Amapá aos mercados das Guianas e Caribe. O
que aparentemente está sendo abandonado pelo atual governo, criando um clima
256
Essa liberação parece ter sido parcial e seletiva, pelo menos logo no início
da gestão da empresa, conforme se verifica em outra análise:
sistema de rodízio entre as filiais, a cada dois anos. Os empregados passaram a ter
seus principais direitos trabalhistas garantidos, com salário e carteira assinada,
embora acabassem sempre recebendo o salário em mercadorias.
Com os investimentos feitos, a empresa dos portugueses superou em
quase todas as atividades produtivas, o que era conseguido na fase anterior.
Segundo Lins(2001), os principais negócios explorados pela empresa extrativista
foram:
- Madeira: era exportada em toras para Portugal e Inglaterra, tendo como
portos de embarque a Ilha do Cajari e Jarilândia.“Para se ter uma idéia do volume
deste comércio, os portugueses faziam embarques mensais, em que às vezes havia
até três navios no Porto de Jarilândia esperando carregamento"(LINS, 2001, p.107).
- Castanha-do-pará: enquanto na fase anterior se chegava ao máximo em
75.000 hectolitros por safra, os portugueses alcançavam 77.000 hectolitros;
- Borracha: continuou sendo um bom negócio para a empresa extrativista,
que a comprava na forma de bolão defumado, ou, no baixo Jarí, na forma de látex
diluído em amoníaco para não coagular. Segundo Lins, a empresa chegou a
comprar até 2.000 tambores de látex, numa safra;
- Balata: Foi um produto muito importante nas atividades da empresa
extrativista, que chegava a comprar, através do aviamento, oitocentas toneladas de
balata, por safra. A borracha da balata é utilizada na fabricação de pneus de
aviação e na fabricação de bolas de golfe. A balateira só pode ser cortada de 15 em
15 anos, o que fazia com que a sua coleta levasse os balateiros a adentrar cada
vez mais na floresta, passando cerca de 6 meses dentro da mata, geralmente em
grupos de 5 balateiros;
Nessa fase, além desses produtos, os portugueses compravam tudo o que
fosse possível negociar em Belém ou em outros mercados, como frutas, peles
silvestres, peixes, caças, grãos etc.
Além dos aviados, a empresa mantinha os seus assalariados nas filiais e
nas fazendas, sendo que a maioria recebia um salário mínimo geralmente pago em
mercadorias. Os assalariados das fazendas foram liberados para criar pequenos
animais e fazer pequenas roças.
As filiais, que eram os locais onde se faziam os aviamentos e o recebimento
dos produtos dos trabalhadores, passaram a ser administradas por gerentes, que
chegaram a ter participação nos lucros das filiais. Na fase anterior, nas filiais ficava
259
No fim dos anos 1930 no caso do Maracá e no fim dos anos 1940 no
caso do Cajari, os rios e os castanhais foram vendidos para
empresas privadas com capital estrangeiro: Agro-Industrial do
Amapá (japonesa) no Maracá e a Empresa de Comércio e
Navegação Jarí Ltda. (portuguesa) no caso do Cajari. As empresas
ampliaram o número de produtos comercializados (incluindo
massaranduba, sorva, madeira, etc.) e não tentaram manter controle
absoluto sobre a vida dos ocupantes dos rios, mas mesmo assim,
continuaram monopolizando a comercialização da produção
extrativista(SILLS, 1991, p.4).
35
Tomé de Souza Belo. Sindicalista no Mazagão e João Florindo de Tavares. Morador antigo do rio
Maracá. Entrevistas concedida a Antonio Sergio Filocreão. Carvão-AP, mai.2006.
261
mãos de três portugueses, sendo que um deles, conhecido como José Braga,
detinha suas estruturas comerciais na localidade denominada de Central do Maracá
enquanto os outros dois, conhecidos como Marcolino e Moutinho, estabeleceram-
se na foz do Rio Mazagão Esses portugueses eram os responsáveis pelas
atividades de aviamento na região, mas trabalhavam para o dono das terras que
morava em Belém. As terras pertenciam [ou arrendadas] a um indivíduo
denominado João Monteiro da Silva. Nessa época produzia-se cerca de 15.000
hectolitros de castanha na região.
De acordo com os informantes, após os três portugueses, sucederam-se
vários prepostos ou arrendatários das terras, como o português conhecido como
João Brasil, que tratava mal os extrativistas, não pagava os saldos, sendo que o
governador do Território do Amapá Janary Nunes (1944 -1956) foi obrigado a
intervir na defesa dos direitos dos extrativistas, o que levou a saída deste
comerciante da região.
Em 1955, quando o informante, sindicalista Tomé de Souza Belo, começou
a trabalhar na região, o responsável pelo aviamento era um comerciante paraibano
conhecido como Raimundo Rodrigues Baia, que tinha comércio também em Cutias
e Belém. O filho do dono das terras conhecido como Alberto Silva, que organizava a
comercialização em Belém. Neste ano, segundo Belo, a safra de castanha da
região do Maracá atingiu 21.000 hectolitros.
Na década de sessenta, os empresários japoneses instalaram em Central
do Maracá uma estufa para secagem da castanha, mas que não deu certo segundo
os informantes. Essas instalações encontram-se atualmente abandonadas.
Na região do Maracá, nessa época, trabalhava-se, no inverno colhendo
castanha, após a castanha plantava-se as roças familiares e no verão colhia-se a
borracha. Os extrativistas tinham a responsabilidade de fazer a limpeza dos
varadouros e castanhais, onde se queimava o excesso de folhas embaixo das
árvores o que trazia melhoras na produção.
Além dos moradores que habitavam na região, para as atividades
extrativistas vinham trabalhadores das vilas de Mazagão e povoados próximos,
além de que, um aviador conhecido como Salomão, trazia anualmente
trabalhadores de Boa Vista no interior do Pará, chegando a trazer duzentos homens
para trabalhar na coleta da castanha. Nas atividades da castanha, os trabalhadores
eram divididos em dois grupos, os que faziam as atividades de coletas, e os que
262
declarando que a empresa teria até mais de 3,5 milhões de hectares. E ainda
existia uma versão da ocupação real: em um levantamento feito pelo INCRA em
1976, para verificar a situação das terras da Jarí, constatou-se que a empresa já
havia se apossado de 6 milhões de hectares através de grilagem.
Um grave e importante problema, é que entre as diversas propriedades da
Jarí, existiam milhares de posseiros:
36
Denominação dadas as favelas que se formaram sobre palafitas as margens do Rio Jarí. Ficou
conhecida como Beiradão a favela que se localizou em frente a cidade de Monte Dourado, e de
Beiradinho a constituída em frente a fabrica de celulose do Projeto Jarí, na localidade de Munguba.
266
p.118).
Em 1981, o Projeto Jarí, em crise, passa às mãos de um grupo de
"empresários nacionais", capitaneados pelo Grupo CAEMI, proprietário da ICOMI
que são financiados pelo governo federal para a compra e recuperação deste
vultoso empreendimento. A nova gestão a cada ano faz redução nos seus quadros
de funcionários, aumentando nos beiradões o número dos desempregados e
subempregados, agravando a situação social da região.
Na gestão dos "grupos nacionais", liderados pelo Grupo CAEMI, além do
aumento do desemprego no Projeto Jarí, verifica-se uma proliferação dos conflitos
deste com os posseiros pelo usufruto da terra, florestas e rios da região. Inclusive,
existiram fortes pressões desse Projeto para inviabilizar a Reserva Extrativista do
Cajari, sob a alegação de que mais de 80% das terras delimitadas eram de sua
propriedade.
Em 2000, o controle acionário do Projeto Jarí passa a propriedade do Grupo
Orsa que oferece a melhor proposta para o endividamento do Projeto Jarí,
quatrocentos e quinze milhões de dólares. Os novos proprietários do Projeto,
através da Fundação Orsa, vêm tentando manter uma relação mais próxima das
populações locais, implementando projetos de assistência social. Também os novos
donos têm atuado em processos de certificação ambiental do empreendimento para
garantir uma melhor colocação dos seus produtos no mercado.
Fonte: FAOSTAT(2007).
37
Pedro Ramos.(Primeiro presidente do SINTRA, vice-presidente do CNS). Entrevista concedida a
Antonio Sergio Filocreão. Macapá, jan.2006.
288
1994, 4 núcleos no interior dos PAEs. Ainda nesse ano foi realizada uma
assembléia geral para escolher o novo conselho diretor composto por 13 pessoas
mais o conselho fiscal de 3 pessoas e o presidente da ATEXMA para o período de
três anos.
Em agosto de 1995, a ATEXMA em assembléia geral aprova o Plano de
Utilização dos Projetos de Assentamento Extrativista Maracá I,II e III. Este Plano
após algumas alterações é aprovado pelo INCRA em maio de 1997, condicionado a
uma revisão dois anos após, através da Portaria INCRA/SR-(21)AP/G/No 37.
Em abril de 1997, a ATEXMA assina com o INCRA o Contrato de
Concessão de Direito Real de Uso dos PAEs Maracá I, II e III, já unificados no
Projeto de Assentamento Agro-extrativista Maracá (PAE Maracá) por um prazo de
10 anos, podendo ser prorrogado por prazo igual, senão houver manifestação em
contrário das partes, comprometendo-se a ATEXMA a cumprir o Plano de Utilização
dos PAEs.
Com o encerramento das atividades do projeto Homem e Ambiente na
Amazônia, a ATEXMA começa a ter dificuldades financeiras para manter as suas
atividades, sendo que em 1997, assume uma nova diretoria, cujo presidente vai se
manter na direção até 2005, quando foi destituído por uma assembléia geral,
acusado no envolvimento em gravíssimas irregularidades administrativas, que vão
desde uso indevido de recursos captados em nome da associação, utilização
irregular de Autorizações de Transporte de Produtos Florestais - ATPFs de um
projeto de manejo florestal do PAE Maracá, e falta de prestações de contas.
Segundo relatório RURAP(AMAPÁ,2005), o ex-presidente da ATEXMA, encontra-se
indiciado pelo Ministério Público Estadual, por irregularidades cometidas enquanto
presidente da associação.
Na gestão do presidente destituído, houve um afastamento da associação
dos seus associados, o trabalho com núcleos foi abandonado, e houve um
isolamento em relação aos antigos aliados como CNS, SINTRA e a ASTEX-CA.
Isto levou a perda de poder político da entidade e dificuldades de captação de
recursos para a continuidade das suas atividades, levando com que as decisões
centralizassem-se apenas na figura do presidente, ou no máximo de alguns
diretores, que utilizaram a entidade no atendimento dos seus interesses
particulares em detrimento da forte responsabilidade da instituição para com a
290
38
Francisco Vieira.(Presidente da ATEXMA) Entrevista concedida a Antonio Sergio Filocreão.
Maracá-AP, mai. 2006.
39
Edmundo Rosa.(Primeiro presidente da ATEXMA). Entrevista concedida a Antonio Sergio
Filocreão. Maracá-AP, mar. 2006.
Jesus Trindade.(Membro da diretoria da ATEXMA). Entrevista concedida a Antonio Sergio Filocreão.
Maracá-AP, dez.2005.
291
Real de Uso.
Na região do rio Preto, foi criada uma organização denominada de
Associação dos Agricultores Agroextrativistas do Alto Rio Preto (AGARPE), cuja
presidente vem também sendo acusada pelos associados de improbidade
administrativa e de constante ausência na região (AMAPÁ,2005).
40
Pedro Ramos. Entrevista concedida a Antonio Sergio Filocreão. Macapá, jan.2006.
292
41
Raimundo Rodrigues de Lima(presidente da ASTEX-CA). Entrevista concedida a Antonio Sergio
Filocreão. Água Branca-AP, mai. 2006.
Calixto Pinto de Souza(Ex-presidente da ASTEX-CA, presidente da ASSCAJARI). Entrevista
concedida a Antonio Sergio Filocreão. Maracá-AP, fev. 2006.
295
42
Valdeci Santa Rosa de Souza(Presidente da COOPERCA). Entrevista concedida a Antonio Sergio
Filocreão. Macapá, fev. 2006.
43
Natanael Gonçalves Vicente (Presidente da COOPERALCA). Entrevista concedida a Antonio
Sergio Filocreão. Macapá, fev. 2006.
297
44
Zenilda Batista de Lima(Presidente da AMAC).Entrevista concedida a Antonio Sergio Filocreão.
Macapá, mar. 2006.
298
de arroz.
Ao se constituir formalmente, a COMAJA conseguiu levantar alguns
recursos creditícios e outras formas de financiamento do Governo do Estado. Em
1989 e 1990, junto com algumas entidades do governamentais e não
governamentais, promoveu o 1o e 2o Encontros de Castanheiros da região do Jarí,
envolvendo, pela primeira vez na região, os produtores agroextrativistas na
discussão dessa atividade, surgindo daí algumas reivindicações referentes a
questão fundiária e ao transporte da produção que foram encaminhadas ao governo
do Estado, conseguindo-se alguns resultados na questão do transporte, como a
venda financiada de burros para o transporte da castanha.
Para Jarilândia, no baixo rio Jarí, a COMAJA consegue um financiamento
de uma mini-usina para o beneficiamento do látex, que acabou não sendo utilizada
nesse objetivo. Em 1990, essa usina foi adaptada para beneficiar castanha,
conseguindo comercializar neste ano um volume de 500 kg de castanha
descascada, que foi vendida a Prefeitura Municipal de Macapá para ser utilizada na
merenda escolar. O sucesso dessa experiência estimulou a COMAJA a instalar
uma usina de beneficiamento de castanha em Laranjal do Jarí no ano seguinte, com
capacidade mensal de 2.000 a 3.000 kg de castanha descascada e desidratada.
A partir de 1985, o SINTRA começa a atuar na região do Jarí, onde foram
criadas várias delegacias sindicais, entre 1986 e 1987, contando inicialmente com o
apoio informal do STR Almerim na organização dessas delegacias.
Nos anos de 1980, a COMAJA teve uma ação mais política na reivindicação
dos direitos dos agroextrativistas, e aliando-se com o SINTRA, vai ter uma atuação
muito forte na luta pela terra. Assumindo um papel importante na pressão ao
MIRAD/INCRA, para resolver os problemas fundiários da região, tendo participado
ativamente da realização dos estudos de 1988 para definição de áreas prioritárias
para os assentamentos extrativistas, que vão resultar na criação dos PAEs Maracá
e na RESEX Cajari.
Em 1990, é eleita uma nova diretoria para a COMAJA, e, na composição
desta diretoria verifica-se um número significativo de agricultores, que têm a sua
principal atividade no comércio. Essa diretoria passa a impor um caráter
empresarial à COMAJA, dentro de uma proposta de capitalização imediata da
Cooperativa. Esta capitalização rápida significava a busca de uma valorização
máxima do capital de giro disponível, que se dava na comercialização da produção
301
de sócios e não-sócios.
A partir de 1990, a atuação da COMAJA vai se dar mais no campo
econômico, conseguindo através de recursos do governo estadual e federal
implantar uma estrutura de beneficiamento com capacidade de processar até
40.000 hectolitros por ano, de acordo com seu presidente(informação verbal)45.
Segundo Abrantes(2003), entre 1995 a 2002, a COMAJA conseguiu através do
governo federal e estadual, um volume de recurso estimado em R$1.722.174,65
aplicados na instalação da fábrica e processamento da castanha.
Ao sair da diretoria da COMAJA em 1990, o ex-presidente vai trabalhar na
organização de uma nova cooperativa, conseguindo em 1991 juntar um grupo de 11
casais, sendo alguns desses, moradores de Iratapuru e fundar, em 1992, a
Cooperativa Mista de Produtores e Extrativistas do Iratapuru (COMARU), composta
de 22 sócios(informação verbal)46.
As atividades iniciais da COMARU foram relacionadas à instalação de uma
fábrica artesanal de processamento de castanha, como experiência, para processar
óleo, doce, paçoca, e farinha de castanha, cujos produtos foram levados para
Macapá para serem testados na merenda escolar, obtendo boa aceitação. Com
recursos do Ministério da Agricultura e Reforma Agrária e da Prefeitura Municipal de
Laranjal do Jarí, construíram através de mutirão a sede da cooperativa, composta
de dois galpões e uma estufa, no ano de 1994(PDA,1996).
Em 1995, a COMARU consegue um financiamento de R$ 25.000,00 do
Banco do Estado do Amapá (BANAP), que é utilizado na compra de motores de
popa, melhorias da estufa e como capital de giro para comercialização da safra. A
partir desse ano, a COMARU inicia o fornecimento de castanha para a merenda
escolar da rede estadual de ensino(PDA,1996). A partir daí, a COMARU notabiliza-
se no Amapá e fora do estado, como produtora de biscoitos de castanha no meio da
floresta, tornando-se um dos principais ícones do Programa de Desenvolvimento
Sustentável do Estado do Amapá (PDSA).
Além da sua forte atuação econômica, a COMARU assume também o papel
de porta voz das reivindicações dos direitos dos moradores do Iratapuru,
45
Elizeu Cardoso Vianna.(Presidente da COMAJA e representante da OCEAP no Amapá). Entrevista
concedida a Antonio Sergio Filocreão. Macapá, mai. 2006.
46
Sebastião Braz Castelo de Araújo.(Ex-presidente da COMAJA).Entrevista concedida a Antonio
Sergio Filocreão. Santana-AP, mai.2006.
302
47
Sebastião de Freitas.(Gerente da fabrica de biscoito da COMARU). Entrevista concedida a Antonio
Sergio Filocreão. Iratapuru, jul.2006.
48
Luis de Freitas.(Presidente da COMARU). Entrevista concedida a Antonio Sergio Filocreão.
Iratapuru-AP, jul.2006.
303
Houve grandes dificuldades de implementação dos PAEs, por ser algo novo
na cultura institucional agrarista do INCRA. Nesta, os assentamentos são pensados
em termos de lotes individuais, com o deslocamento de produtores rurais para
essas áreas, cuja destinação é o desenvolvimento da agricultura. O extrativismo e
as especificidades de suas relações era algo novo aos técnicos que ficaram
responsáveis pela fiscalização e assistência aos assentados.
A gravidade da situação nos PAEs denunciada pelos assentados somada a
pressão das organizações envolvidas com o extrativismo como o CNS-RA, o IEA, o
SINTRA e a ATEXMA, obrigaram o INCRA a criar em 1993 um Grupo de Trabalho
(GT) interinstitucional composto por INCRA(coordenador), IBAMA/CNPT,
Secretaria de Estado da Agricultura (SEAGA), Instituto de Desenvolvimento Rural
do Amapá (RURAP), Instituto de Terras do Amapá (TERRAP), Coordenadoria
Estadual de Meio Ambiente (CEMA), CNS, ATEXMA e IEA, para apresentar uma
proposta de implantação efetiva dos PAEs Maracá I, II e III a Presidência do INCRA
304
em Brasília.
O documento elaborado pelo Grupo de Trabalho (INCRA,1993), identifica
uma série de problemas, dentre os quais citamos alguns pela sua gravidade:
..O não gerenciamento dos Projetos pelo INCRA facilitou a invasão e
instalação permanente de pessoas e empresas na área, que ali estão
desenvolvendo atividades incompatíveis com a filosofia dos PAEs;
..Cadastros rurais emitidos pelo INCRA a pessoas que estão invadindo a
área, mesmo após a sua destinação, vêm sendo utilizados como instrumento de
persuasão contra os moradores beneficiários dos Projetos. Do mesmo modo, a
emissão desse documento declaratório aos moradores beneficiários facilita a
“compra” de colocações por invasores e sua expulsão das áreas que ocupam.
..A não demarcação do perímetro dos PAEs e a não identificação de seus
limites têm servido de pretexto para invasões, sob o argumento de que não se sabe
onde começam e terminam os Projetos;
..Há atividades de mineração dentro da área dos PAEs, fora do controle do
INCRA e das comunidades beneficiárias;
..Derrubadas, extração de madeiras, devastação de açaizais para produção
de palmito e de outros recursos por terceiros, inclusive a permanência de serrarias
na área dos Projetos vem descaracterizando e empobrecendo a base de recursos
extrativos dos PAEs e deixando sua população cada vez mais sem alternativa de
sobrevivência;
..A caça e pesca predatória aumentou pela falta de fiscalização, facilitado
pela abertura da estrada Macapá – Laranjal do Jarí;
..A permanência das antigas e implantação de novas fazendas na área do
projeto, cujos animais, principalmente búfalos são criados soltos, provocando a
invasões e destruição dos roçados dos moradores, que são obrigados a buscarem
áreas cada vez mais distantes para garantirem a sua sobrevivência.
Esses problemas e outros, ligados às deficiências dos serviços púbicos de
saúde, educação, assistência técnica são relatados também. Com base nesse
diagnóstico o Grupo de Trabalho propõe uma série de medidas que vão da
demarcação das terras, retirada dos invasores, elaboração do Plano de Utilização,
formalização do Contrato de Concessão de Direito Real de Uso as populações
locais, cadastramento dos beneficiários, fomento, etc..
A partir das propostas do GT, iniciaram-se as ações do INCRA na tentativa
305
aparece contabilizada como 3 famílias. Essa Tabela, apesar das omissões e erros
de contabilização nas fontes, dá uma idéia dos valores investidos no tempo, e nas
formas de apoio para instalação e créditos, totalizando em 10 anos um volume de
R$1.394.410,00 (Hum milhão trezentos e noventa e quatro mil e quatrocentos e dez
reais).
A forma como foram aplicados os recursos disponibilizados para o PAE
Maracá criou um clima de desconfiança dos moradores para com o INCRA. Existem
suspeitas de que muitas pessoas foram cadastradas irregularmente para acessar os
benefícios destinados aos moradores. Isto motivou o presidente da ATEXMA a
solicitar que fosse realizado, em 2005, um levantamento ocupacional para excluir as
pessoas cadastradas irregularmente pelo INCRA (informação verbal)49.
Em 2007 o INCRA apresenta um relatório sobre a situação ocupacional,
identificando 90 casos de pessoas cadastradas que não residem no PAE, inclusive
responsabiliza a ineficiência administrativa da ATEXMA pela falta de controle e
desconhecimento dos agricultores que estão legalmente cadastrados junto ao
INCRA e não mais exploram suas áreas (INCRA,2007). Quanto aos recursos
disponibilizados e sua aplicação, o relatório não apresenta os valores e os
beneficiários. Enfim, o relatório trata dos resultados dos investimentos ocorridos de
forma vaga e evasiva, como os demais documentos institucionais consultados.
Entre os anos de 1995 a 2002, quando o governo estadual tenta
implementar uma proposta de desenvolvimento sustentável para o Amapá, a
ATEXMA conseguiu acessar alguns recursos estaduais, através de convênios com
o governo, porém não se conseguiu, na pesquisa, acessar aos valores e objetivos
desses convênios. Uma ação do governo do estado que tem perdurado ao longo
dos anos é relacionado ao transporte da produção para a feira do agricultor de
Macapá com linhas quinzenais. Também existe um escritório do RURAP, que
mantém uma equipe composta por um engenheiro florestal e dois técnicos agrícolas
para prestar assistência técnica aos assentados, em convênio com o INCRA.
A relação institucional das famílias beneficiadas do PAE com a prefeitura
municipal de Mazagão, deu-se mais na cobrança de funcionamento de escolas,
postos de saúde e transporte da produção.
A relação estabelecida entre os beneficiários e os governos municipal,
49
Francisco Vieira.(Presidente da ATEXMA). Entrevista concedida a Antonio Sergio Filocreão.
Maracá-AP, mai. 2006.
307
50
Wilson Menescal.(Ex-gerente do CNPT-IBAMA). Entrevista concedida a Antonio Sergio Filocreão.
Macapá, ago. 2006.
309
51
Marcio Matos; Jefferson Pereira.(Técnicos agrícolas do CNPT-AP). Entrevista concedida a Antonio
Sergio Filocreão. Macapá, ago. 2006.
310
administrativa sobre a reserva, na luta por acesso aos direitos sociais de educação,
saúde e transporte da produção, principalmente. Na sua avaliação, as cobranças e
pressões sobre as prefeituras têm garantido uma melhoria na prestação desses
serviços (informação verbal)52.
52
Raimundo Rodrigues de Lima(presidente da ASTEX-CA). Entrevista concedida a Antonio Sergio
Filocreão. Água Branca-AP, mai. 2006.
312
53
Luis de Freitas.(Presidente da COMARU). Entrevista concedida a Antonio Sergio Filocreão.
Iratapuru-AP, jul.2006.
313
Ou ainda o conflito por acesso a recursos naturais com forte demanda pelo
mercado:
São conflitos que vão surgindo em função das dificuldades da aplicação das
regras e normas relativas ao tipo de projeto de assentamento, tanto de parte da
organização gestora que detém a concessão do direito real de uso, como do órgão
público co-gestor e fiscalizador do cumprimento das regras e normas.
Esse problema não foi devidamente enfrentado pelo INCRA, tanto que no
315
54
Pedro Ramos.(Primeiro presidente do SINTRA, vice-presidente do CNS). Entrevista concedida a
Antonio Sergio Filocreão. Macapá, jan.2006.
316
55
RELATÓRIO Final. Reserva Extrativista do Rio Cajari: Levantamento da situação fundiária. Brasília:
PNUD/IBAMA/CNPT/MAPPA, 1999.
317
A partir daí, criou-se uma disputa na esfera jurídica entre o IBAMA, INCRA
e o Projeto Jarí, quanto a valores da indenização e legalidade de alguns títulos.
Segundo o IBAMA(2006, p.12):
56
Raimundo Rodrigues de Lima(presidente da ASTEX-CA). Entrevista concedida a Antonio Sergio
Filocreão. Água Branca-AP, mai. 2006.
57
Jefferson Pereira.(Técnico agricola do CNPT-AP). Entrevista concedida a Antonio Sergio Filocreão.
Macapá, ago. 2006.
319
conforme podemos verificar no Projeto de Lei, faz parte da Gleba Santo Antonio da
Cachoeira, de propriedade do Projeto Jarí, e consta como em negociação (SEMA,
1997).
Esse fato ficou por algum tempo no desconhecimento da sociedade. O
resultado é que, a comunidade de São Francisco ficou fora da RDS Iratapuru, e
com ela, todos os investimentos para industrialização da castanha feitos com
recursos públicos que encontram-se em uma área de pressuposta posse do Projeto
Jarí.
Em 2001, o governo através de negociação tentou reaver essa área junto
ao Projeto Jarí, que se negou a fazer a transferência, alegando que a mesma tinha
sido destinada à implantação de um Projeto de Manejo Florestal Sustentável para
produção de móveis de madeira certificada em parceria com o governo do Estado e
as comunidades locais. O que não interferiria no extrativismo da castanha e demais
produtos, porém a empresa estava doando 25.000 hectares da Vila de Iratapuru
para estruturação urbana(SEMA,2002).
Quanto à posse dos castanhais, não se verifica conflitos entre os
moradores, visto que as atuais famílias mantiveram-se nas colocações que
trabalhavam ainda na época das empresas extrativistas. Apesar de não haver
qualquer documento formalizando a posse, esses direitos têm sido respeitados.
Apenas a distribuição das colocações não obedece mais a homogeneidade
produtiva, que havia naquela época, quando atendia cerca de 80
famílias(JGP,2002).
58
Wilson Menescal.(Ex-gerente do CNPT-IBAMA). Entrevista concedida a Antonio Sergio Filocreão.
Macapá, ago. 2006.
323
A Lei que cria a RDS Iratapuru estabelece que todos os atores sociais
envolvidos direta e indiretamente no processo de criação e implantação da RDS são
responsáveis pelo seu manejo e gerenciamento, em particular os moradores. Esses
manejo e gerenciamento deverão obedecer às diretrizes do planejamento
participativo, das ações integradas e da legitimidade do processo. Define também,
que a gestão deverá ser conduzida por Conselho Gestor constituído por um
representante da SEMA, do Instituto de Terras do Amapá (TERRAP), da Prefeitura
59
Raimundo Rodrigues de Lima(presidente da ASTEX-CA). Entrevista concedida a Antonio Sergio
Filocreão. Água Branca-AP, mai. 2006.
60
Marcio Matos.(Técnico agricola do CNPT-AP). Entrevista concedida a Antonio Sergio Filocreão.
Macapá, ago. 2006.
324
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
Comunitaria
Comunidades
Cooperativa
Outra
Sindicato
Associação
Cantina
de base
ANO
60,0%
1993 100,0% REGIÃO
2006 MARACA
CAJARI
50,0%
IRATAPURU
80,0%
40,0%
Porcentaje
Porcentaje
60,0%
30,0%
55,8% 100,0%
52,8%
87,5%
40,0%
43,1%
20,0%
33,8%
51,1%
20,0%
10,0%
31,1%
10,4% 17,8%
4,2% 12,5%
0,0%
0,0% … … …
NÃO TEM MUTIRÃO TEM, MAS NÃO PARTICIPA TEM E PARTICIPA NÃO TEM MUTIRÃO TEM, MAS NÃO PARTICIPA TEM E PARTICIPA
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
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N C C os U
IB IN P de
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Ex ão
a i to ss
erv ire c e
D on
es C
R
Percebe-se graficamente que houve por parte das famílias dos castanheiros
do PAE e da RESEX, uma melhoria no conhecimento das principais entidades que
desempenham importantes papéis na viabilização dos espaços protegidos, assim
como dos termos chaves das discussões dessas organizações. Isto indica que de
certa forma houve uma presença e uma massificação desses termos e
organizações nos últimos 13 anos. Essas variações são significativas em um
intervalo de confiança de 95%.
Uma das questões importante e mais difícil de responder, diz respeito ao
volume de investimentos ocorridos nessas unidades protegidas nos últimos anos.
Os órgãos federais responsáveis no Amapá pela aplicação dos recursos como o
IBAMA e o INCRA, não formaram uma memória documental confiável, além de que
a maioria das informações disponíveis são evasivas e imprecisas. O controle das
associações e cooperativas é precário por não disporem de profissionais para
organizarem essas informações.
As informações disponíveis indicam que nesses anos ocorreram dois tipos
de investimentos nessas unidades: os recursos públicos estaduais, federais e
municipais e os recursos oriundos das ONGs como WWF e KAS. Os recursos
públicos foram aplicados em sua maioria no fomento e crédito a produção,
industrialização, escoamento da produção, transporte, habitação, etc. As ONGs
investiram mais na capacitação, estudos técnicos e manutenção das organizações
dos extrativistas.
Com base nos diversos relatórios e estudos técnico-científicos, entrevistas
328
60,0%
ANO
1993
2006
50,0%
40,0%
Porcentaje
30,0%
57,7%
20,0%
35,2%
22,5%
10,0% 19,7%
15,5%
12,8% 12,8%
5,1% 6,4%
3,8% 4,2%
0,0% 1,4% 1,4% 1,3%
NÃO TEM CONFLITOS DE VENDA DE ACESSO AOS PESCA CAÇA IRREGLAR OUTRO
TERRA COLOCAÇÃO CASTANHAIS IRREGULAR
ANO
100,0% 100,0%
1993 ANO
2006
1993
2006
80,0% 80,0%
Porcentaje
60,0%
Porcentaje
60,0%
20,0%
20,0%
elas acabaram falindo pelas dificuldades de gestão, pois fazia-se necessário uma
postura mais rígida na cobrança das dividas para manter-se os estoques, e isso não
aconteceu, pela fragilidade dos mecanismos de cobrança das dividas, e as
dificuldades dos gestores dessas cantinas em adequar-se as exigências da
racionalidade e do cálculo capitalista. Ou seja, havia uma grande dificuldade de
compreensão do funcionamento dos mercados em uma época de grande inflação.
As cooperativas foram pensadas como a forma de organização capaz de
superar a figura do patrão através da prática cooperativa na organização da
produção extrativista. Apesar dos esforços dos aliados externos para garantir a
comercialização e o beneficiamento dos principais produtos extrativistas, essas
cooperativas não conseguiram estabelecer o dialogo entre a racionalidade
camponesa com a racionalidade capitalista. Apesar de terem desempenhado um
papel político muito importante para a população extrativista nas conquistas do
direito a terra, não conseguiram até então, superar o controle dos patrões sobre a
produção extrativista. As dificuldades de gestão eficiente, que é agravada pelo
baixo nível de escolaridade; a ação de algumas lideranças oportunistas nessas
atividades; e as estratégias dos patrões cooptando membros importantes das
comunidades, acabaram levando ao descrédito e enfraquecimento desse tipo de
organização.
Hoje, as ações das cooperativas, que foram pensadas para inovar a
organização da produção, tendem apenas a copiar com pequenas diferenças as
praticas dos patrões, ou seja, em cada safra funcionam na dependência de recursos
públicos ou privados captados em forma de empréstimo e doações, que são
aplicados na compra da produção dos cooperados e não cooperados. Esta é
beneficiada, comercializada, e todos os ganhos obtidos são consumidos sem
prestação de contas aos cooperados. Iniciando a nova safra com dividas, ou sem
capital de giro.
Uma outra prática que vem se observando nas cooperativas, quando tem
dificuldades de captar o capital de giro, é a da utilização das suas estruturas de
beneficiamento para vender seus serviços aos compradores de castanha, ou ainda
a pratica de intermediar a compra da produção para esses compradores. Ou seja,
essas organizações que foram pensadas como uma forma de superação dos
patrões, tornam-se pelas suas dificuldades em cumprir seus verdadeiros papéis, em
estruturas que reforçam o papel desses patrões, que conseguiram uma melhor
334
Foto 1 – RESEX Cajari: Fabrica para palmito de Foto 2 – RESEX Cajari: Fabrica de castanha
açaí gerenciada pela COOPERCA. dry gerenciada pela COOPERALCA.
Fonte: Pesquisa de Campo (2006) Fonte: Pesquisa de Campo (2007)
Foto 3 – RDS Iratapuru: Fabrica para óleo de Foto 4 – RDS Iratapuru: mutirão para resolver
castanha gerenciada pela COMARU. problema de energia elétrica.
Fonte: Pesquisa de Campo (2007) Fonte: Pesquisa de Campo (2006)
rio(LITTLE; FILOCREÃO,1994).
Observou-se também, em 1994, que os deslocamentos a Macapá eram
feitos preferencialmente através de barco a motor pelos moradores do PAE Maracá
I e setor Rio Preto, enquanto as famílias do PAE Maracá II preferiam utilizar ônibus
e caminhão. Já os moradores do Maracá III eram obrigados a combinar diversos
meios de transporte para se deslocarem às cidades.
Para o escoamento da produção agrícola havia, em 1994, um caminhão do
governo estadual que transportava produtores e produtos da Vila Maracá a Feira de
Agricultor de Macapá a cada quinze dias.
Quanto a propriedade do transporte da produção, o levantamento de 1994,
mostra que 39,8% das unidades familiares utilizava o transporte do governo, 20,3%
transporte próprio, no caso barco a motor ou canoa, 16,3% fazia uso dos
transportes de vizinhos, enquanto 4,0% servia-se do transporte do patrão para
escoar a produção (LITTLE;FILOCREÃO,1994). Esses dados mostram que o
surgimento de outras alternativas de transporte, levou a uma diminuição da
dependência das famílias aos transportes dos compradores da produção, “os
patrões”.
Em 2006, observamos a existência de 4 linhas diárias de ônibus com ida e
volta Macapá - Laranjal do Jarí. Todas as linhas têm parada obrigatória em Vila
Maracá, atendendo a população assentada nas suas necessidades de transporte
de passageiros e pequenas cargas. Quanto ao transporte para o escoamento da
produção agroextrativista, existe um caminhão do governo estadual com viagens
quinzenais para atender as comunidades do Maracá, levando a produção para a
Feira do Agricultor de Macapá. A Prefeitura Municipal de Mazagão mantém um
caminhão com duas linhas semanais para Mazagão, cobrando dos assentados um
valor de R$ 10,00 por passagem ida e volta (AMAPÁ,2005).
Quanto ao baixo rio Maracá, atualmente não existe transporte público
regular para atender aos moradores. Estes mantêm as suas relações comerciais
com Santana e Mazagão utilizando transporte fluvial próprio. As comunidades do
alto rio Maracá ou antigo Maracá III e as do Maracá II utilizam transporte próprio,
geralmente utilizando os chamados “rabetas” para transportar a produção agrícola
até a Vila do Maracá, de onde acessam os ônibus e caminhões que fazem o
transporte para Macapá, Mazagão ou Laranjal do Jarí. O transporte da produção
extrativista da castanha é feito pelos compradores na maioria dos casos. Este
337
Atualmente o acesso à Reserva Extrativista do Rio Cajari pode ser feito por
transporte fluvial através do rio Amazonas, ou por transporte rodoviário através da
BR 156. Em 1983, o acesso à área da atual RESEX Cajari era feito através de
transporte fluvial pelo rio Cajari chegando até a boca do Braço do Cajari. Para
chegar a Água Branca do Cajari, percorria-se mais 24 km de uma estrada de
serviço feita manualmente, gastando-se nos caminhões que deslocavam castanha
para a Boca do Braço do Cajari, cerca de 2 horas e meia a 3 horas. Na época em
que as águas estão grandes, no período da chuva, conseguia-se chegar em
embarcações pequenas até a Água Branca do Cajari através do igarapé Braço do
Cajari (FILOCREÃO, 1983).
A distância aproximada de Macapá a foz do rio Cajari é de 100 km, o que
equivale a aproximadamente 4 horas de voadeira com motor de popa de 25 HP e
pela estrada, a distância de Macapá ao limite da Reserva é de 163,7 km, e de
221,2 Km à Água Branca do Cajari, principal povoamento da RESEX no leito
rodoviário.
Em 1983, para chegar a foz do rio Cajari, vindo de Mazagão, gastava-se 3
horas de voadeira com motor de 25 HP e para atingir a Boca do Braço, mais 3
horas. Isto equivaleria a um mínimo de 12 horas de viagem em barcos com motor
de centro a diesel. O deslocamento entre as localidades existentes na RESEX, era
feito a pés, de burro, ou nos dois caminhões dos compradores de castanha que
existiam na região, que trafegavam em estradas de serviço feitas manualmente,
com péssimas condições de tráfego( FILOCREÃO,1983).
Em 1985, é registrada a existência de uma estrada de 52 km, ligando Água
Branca do Cajari a Cachoeira de Santo Antonio, que se encontrava em estado de
abandono, impossibilitando o tráfego de transporte rodoviário. Não havia ligação
rodoviária para a Vila de Laranjal do Jarí, que detinha uma população de 21.000
habitantes na vila e adjacências(SANTANA,1985). Em 1986, existe o registro da
338
localidades, muitos deles foram abertos com trabalho braçal em mutirões, não havia
transporte público para essas comunidades. Um desses ramais interligava a BR-
156 a Comunidade de Água Branca, outro à comunidade de Marinho, outro à Santa
Clara, Boa Esperança e Açaizal e o importante ramal ligando a Comunidade de
Boca do Braço a Água Branca permitindo mesmo que precariamente, a interligação
entre os transporte fluvial pelo Rio Cajari com o rodoviário, via BR-156. Esses
ramais existentes permitiam o acesso dos compradores à produção de castanha.
.Era evidente a problemática situação dos pequenos produtores da
Reserva pelas dificuldades enfrentadas para conseguirem escoar suas produções
agroextrativistas até as sedes dos Municípios de Laranjal do Jarí, Santana ou
Macapá, principais mercados compradores. Quando inquiridos sobre a
disponibilidade dos meios de transportes utilizados para escoar suas produções,
28%, dizia depender do Governo; 18% do vizinho; 18% de outros, enquanto 13%
valia-se de transporte próprio e 9% escoava suas produções em transporte de
propriedade de seus próprios patrões. Apenas 6% de um total de 622 famílias
entrevistadas diziam ter acesso a meios de transporte de propriedade da
comunidade. Estes dados refletem ainda o peso do transporte fluvial na reserva,
principalmente os moradores do baixo e médio Cajari, margem do Amazonas e rio
Ajuruxi, sem acesso a estradas.
.Quanto a suficiência e as principais dificuldades relacionadas ao
transporte, um percentual significativo da população (77%) afirmava que os meios
de transporte servindo a Reserva "não eram suficientes" e a principal dificuldade
era, exatamente, a "falta de transporte", opinião que chegava a ser compartilhada
por 76% dos moradores. Com taxas pouco significativas enumeravam outras
dificuldades: “as estradas ruins” apontada por 7% das famílias; outras causas
citadas por 5% dos entrevistados, enquanto 4% consideram a irregularidade nos
meios de transporte como uma dificuldade não desprezível. Apenas 2% referiram-
se a "preços muito caros" como um problema que configurava a precariedade do
setor transporte na RESEX.
Em 2006, vamos encontrar 4 linhas diárias de ônibus ida e volta Macapá-
Laranjal do Jarí. Todas as linhas têm parada obrigatória em Água Branca do Cajari,
atendendo a população assentada nas suas necessidades de transporte de
passageiros e pequenas cargas. Para o transporte da produção, segundo o
extensionista Antonio Nunes, existe o apoio da Secretaria de Agricultura do Estado
341
61
Antonio Nunes.(Extensionista do RURAP na RESEX ).Entrevista concedida a Antonio Sergio
Filocreão. Macapá, set.2006.
342
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
o s o oa or et
a s
hã bu rr ot ro
in ni Bu an m i cl ut
C c
am O
o
a Bi O
C rc
Ba
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
Caminhão
Canoa
Onibus
Outros
Burro
Barco a
Bicicleta
Suficiencia
(produção)
motor
Gráfico 10-Variação nos tipos de transporte utilizados na região e suficiência (1993-2006)
Fonte: Pesquisas de Campo(1993,2006).
100,0% REGIÃO
MARACA REGIÃO
CAJARI
IRATAPURU 60,0% MARACA
CAJARI
80,0%
IRATAPURU
Porcentaje
60,0% 40,0%
Porcentaje
64,6%
85,4% 54,2%
40,0% 50,0% 50,0%
45,8%
66,7% 20,0%
62,5%
25,0%
20,0%
37,5%
33,3%
6,2%
0,0% … 2,1% … … 2,1% … … … … … …
12,5%
0,0% … 2,1% … … … …
A PE CARRO PARTICULAR MOTOCICLETA NÃO RABETA VOADEIRA
MOTOCICLETA NÃO RABETA VOADEIRA
80,0%
60,0%
Porcentaje
Porcentaje
60,0%
40,0%
72,5%
40,0% 80,6%
63,6%
45,5% 47,3%
20,0%
20,0%
18,8%
15,2%
10,6% 8,7%
6,9% 4,5% 4,2% 4,5% 6,9% 5,5%
0,0% … 1,5% 1,4% 1,8%
0,0% …
PATRÃO VIZINHO GOVERNO COMUNIDADE PROPRIO OUTRO MAZAGÃO LARANJAL DO JARI SANTANA MACAPÁ
80,0%
ANO
1993
2006
60,0%
Porcentaje
40,0%
72,9%
62,0%
20,0%
15,5% 14,3%
11,3%
5,7% 7,0%
4,3% 2,9% 4,2%
0,0%
FALTA DE IRREGULARIDADE PREÇO MUITO ESTRADA RUIM OUTRO
TRANSPORTE NO TRANSPORTE CARO
região fosse atendida pelas políticas públicas do governo amapaense. Isto criou as
possibilidades de um melhor acesso da população as políticas de transporte e
fomento da produção agroextrativista, assistência técnica, educação, etc.,
possibilitando com que a população chegasse mais fácil a capital do estado
(Macapá) e sedes municipais (Mazagão, Laranjal e Vitória do Jarí), permitindo
maiores cobranças sobre os gestores públicos de suas ações, até então ausentes
na região.
O contato facilitado da população com as cidades garantiu um maior acesso
as informações importantes para a vida local, como os preços dos produtos
agroextrativistas, direitos sociais básicos, novas tecnologias, etc. Permitiu uma
expansão nas suas relações sociais e políticas. E um acesso mais fácil aos bens
consumidos, barateando os custos da reprodução material das famílias.
Da mesma forma, a melhoria nas condições de transporte entre a capital e
as sedes municipais vai permitir o acesso à região de novos agentes econômicos,
abrindo a possibilidade de novos negócios com as populações, e estabelecendo um
processo de concorrência na compra da produção local extrativista. Isto significou
possibilidades de melhoria dos preços, e a completa monetarização do mercado da
castanha, onde antes as transações eram feitas na base de troca entre mercadorias
sem a utilização do dinheiro. Hoje, quando existe adiantamento, este é feito
predominantemente em dinheiro.
Sobre o ponto de vista da produção agroextrativista, as políticas de
escoamento da produção contribuíram para a consolidação nas unidades
familiares, de uma agricultura com pequena produção de excedentes, que tem
desempenhado um papel fundamental na capacidade de resistência as crise de
quedas de preço da castanha, pelas famílias. Percebe-se que a comercialização da
produção agrícola é feita diretamente ao consumidor nas feiras de produtores em
Macapá, enquanto, a produção extrativista da castanha é entregue aos
compradores que vão buscar nas colocações ou em pontos que seja possível de
transportar através de transporte rodoviário. O Maracá é uma exceção, onde os
compradores responsabilizam-se pelo transporte rodoviário e fluvial.
A abertura da estrada trouxe benefícios diferenciados para as famílias
agroextrativistas que exploram os castanhais. Na RESEX, a estrada cortou o
maciço dos castanhais, o que significou uma grande redução nos custos de coleta.
No PAE e RDS não ocorreram ou foram diminutos os impactos na queda desses
349
eles substituídas. Isto era motivo de conflito com o Projeto Jarí, que se considerava
também dono de muitas casas em que moravam os trabalhadores extrativistas.
Excluindo as casas construídas na época da empresa extrativista,
construídas em madeira, assoalhadas e cobertas com telhas de barro ou amianto,
as demais, na sua maioria, eram construídas de madeira e coberta de palha, com
dimensões menores que 50 metros quadrados. Sendo que:
Além das casas nas vilas, para se abrigarem durante os dias que
passam na floresta coletando castanha, os trabalhadores constroem
‘retiros’ próximos aos castanhais, principalmente naqueles mais
distantes das vilas (FILOCREÃO,1992, p.84).
Nesta pesquisa, foi registrado que 9,8% das moradias já utilizam cimento
na construção do piso. Nas áreas do baixo e médio rio Cajari, onde predomina o
ambiente de várzeas, Dertoni(1999) observa:
Esse fator vai ser também avaliado como muito positivo pelo Relatório de
Avaliação Final do RESEX, IBAMA(2006):
Mas o salto mais importante está sendo dado nos últimos meses,
com o acesso das famílias das RESEX aos financiamentos do
Crédito Habitação, do Programa Nacional de Reforma Agrária
(recursos do INCRA / MDA).A grande maioria das famílias estão
sendo beneficiadas com financiamentos de R$ 5.000,00 para a
construção ou reforma de suas moradias. Estes recursos estão
sendo gerenciados pelas próprias associações, em convênio com o
INCRA. Já foram concedidos, nas quatro Reservas, mais de 2.900
355
ANO
60,0% 80 ANO
1993
2006 1993
2006
60
40,0%
Porcentaje
30,0% 40
55,6%
71,9
20,0% 54,3 53
33,8%
28,2% 20 40 40
10,0%
13,9% 12,5%
11,3% 11,3% 11,3%
9,7% 8,3%
Gráfico 16-Evolução no número de cômodos das Gráfico 17-Variação na área média das
habitações(1993-2006) casas(1993-2006)
Fonte: Pesquisas de Campo(1993,2006). Fonte: Pesquisas de Campo(1993,2006).
40,0%
Porcentaje
Porcentaje
60,0%
30,0%
58,3% 56,3%
91,7%
40,0%
20,0%
63,4%
22,5%
10,0% 20,0%
18,3% 36,6%
12,5% 12,5%
9,7%
6,9%
2,8%
0,0% …
6,9%
NÃO TEM PAU A MADEIRA BRUTA TÁBUA MADEIRA 0,0% … 1,4%
PAREDES PIQUE/TAIPA PINTADA JUSSARA TÁBUA CIMENTO
Gráfico 18-Variação no tipo de parede das Gráfico 19-Variação no tipo de piso das
moradias(1993-2006) residências (1993-2006)
Fonte: Pesquisas de Campo(1993,2006). Fonte: Pesquisas de Campo(1993,2006).
ANO 100,0%
1993 ANO
2006 1993
60,0%
2006
80,0%
Porcentaje
Porcentaje
40,0% 60,0%
59,7% 62,0%
40,0% 81,7%
65,3%
20,0% 40,3%
20,0%
19,7% 18,3% 29,2%
11,3%
0,0% … 2,8% 5,6% 4,2%
0,0% …
NÃO TEM FOSSA NEGRA FOSSA SÉPTICA
NÃO FAZ NADA QUEIMA ENTERRA USA COMO ADUBO
80,0%
ANO
1993
2006
60,0%
Porcentaje
40,0%
72,2%
20,0%
35,2%
26,8%
21,1%
16,7%
9,9% 8,3%
5,6%
2,8% 1,4%
0,0% … …
REGIÃO
MARACA 100,0% REGIÃO
CAJARI MARACA
IRATAPURU CAJARI
60,0%
IRATAPURU
80,0%
Porcentaje
Porcentaje
40,0% 60,0%
66,0% 100,0%
62,5%
54,2% 40,0%
20,0% 41,7%
45,8%
25,0% 25,5% 20,0% 40,4%
25,0%
12,5% 20,8% 21,3%
8,5% 17,0%
14,9%
4,2% 8,3%
0,0% 2,1% 4,3%
0,0% … … … … … … …
NÃO TEM FOSSA NEGRA FOSSA SÉPTICA CACIMBA IGARAPÉ RIO POÇO DO VIZINHO POÇO PROPRIO BOMBA E AGUA
ENCANADA
Enquanto que:
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
Comunidade
Regatão
Patrão
Radio
Outros
Membro da
Associação
Lideranças
ou
REGIÃO
100,0%
Outros Meios de Comunicação Utilizados MARACA
CAJARI
IRATAPURU
80,0%
100,0%
80,0%
Porcentaje
60,0%
100,0%
60,0% 1993
40,0%
77,1%
40,0% 2006
50,0%
45,8%
20,0%
20,0%
20,8%
0,0% 0,0% …
4,2% 2,1% …
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
Radio Difusora Radio Cultura do Radio Nacional Outra
de Macapá Pará de Brasilia
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
EMISSORAS DE TV MAZAGÃO FM
efetiva antes que os prejuízos se propaguem, pois tanto o IBAMA como a SEMA
mantém contato direto com as unidades através de pontos de radiofonia em seus
escritórios. Isso não acontece com o PAE Maracá, pois o único ponto de radiofonia
existente que era na sede da ATEXMA foi desativado, logo não existe uma
integração entre as diferentes comunidades, pois o telefone só atende a Vila
Maracá o que dificulta uma ação integrada dos beneficiários na defesa de seus
interesses frente a invasores. Este tem sido um diferencial muito importante na
participação das famílias no processo de gestão das áreas protegidas.
maioria das famílias assentadas, ou seja 57,8% , e Mazagão por 42,2%, segundo
as bases de dados da pesquisa socioeconômica (FILOCREÃO,1993). Em 1994,
com a criação do município de Vitória do Jarí, desmembrado de Laranjal do Jarí,
parte das famílias detectadas no Laranjal do Jarí vai ser atendida pelas políticas
educacionais do novo município. As Tabelas mostram que o município de Mazagão
apresenta os piores indicadores dentre os três municípios do Sul do Amapá, no
que diz respeito aos serviços educacionais prestados aos seus habitantes tanto no
ano de 1991 quanto em 2000, o que vai atingir 262 famílias da reserva, de acordo
com a base de dados do cadastramento de 1993.
.A pesquisa censitária de 1993, mostra que os indicadores de analfabetismo
relacionados a RESEX Cajari, em termos gerais, eram piores que as médias dos
três municípios. Com exceção da faixa etária de 7 a 14 anos, que apresenta um
percentual de analfabetismo de 32,1%, menor que as médias municipais de 1991.
Nas outras faixas etárias o percentual de analfabetismo vai encontrar-se dentro da
faixa de variação do pior município (Mazagão): na faixa de 15 à 17 anos tem um
percentual de analfabetos de 25,6%, logo encontrando-se na faixa de melhoria de
Mazagão entre 34,42%(1991), reduzindo para 11,03%(2000); na faixa de 18 à 24
anos, o percentual de analfabetos é de 32,3% na faixa de variação de Mazagão que
vai de 35,51%(1991) a 17,83% (2000). Já na idade, acima de 24 anos o percentual
de analfabeto era pior que a situação média dos municípios, isto é, estava também
fora da faixa de variação do pior município: o percentual de analfabetos era de
59,1%, enquanto em Mazagão varia de 55,06% em 1991 para 36,42% em 2000.
Outros indicadores que mostram os resultados do atendimento escolar na
região estão organizados na Tabela 5 e indicam que:
.O percentual de alunos freqüentando a escola na faixa de 7 a 14 anos, na
RESEX era apenas de 46,5 % em 1993, estando fora da variação média do pior
município, Mazagão que aumentava de 51,12%(1991) para 77,23%(2000). Na faixa
de 15 a 17 anos, a situação era pior, pois apenas 21,9% encontravam-se
matriculados, enquanto o pior índice municipal era de Vitória do Jarí, que
aumentava de 34,00%(1991) para 84,12%(2000).
.No que diz respeito à escolarização dos adultos, percebe-se também uma
grande defasagem em relação aos índices do pior município (Mazagão), pois na
faixa etária de 18 à 24 anos, os indivíduos com escolaridade inferior a 4 anos
representavam 76,2% em 1993, na RESEX, enquanto a média municipal sofria
375
idade escolar que não tinham onde estudar. Apenas uma família mantinha, com
grande sacrifício, o filho único estudando em Macapá. A escola mais próxima das
famílias ficava 18 km descendo o rio Jarí, na Comunidade de Cachoeira de Santo
Antônio, que funcionava com as duas primeiras séries do ensino básico(MENEZES;
MORAES, 1988).
Com a criação da COMARU, a comunidade começa a ter força política para
reivindicar os seus direitos sociais, conseguindo em 1995 o funcionamento na vila,
de uma escola municipal de 1a a 4a série, sem prédio próprio, contando com uma
professora, e não conseguindo atender todos os alunos em idade escolar devido às
dificuldades de transporte. Em 1999, essa escola ainda funcionava na casa de um
morador adaptada para essa funcionalidade, contando com duas professoras, e
atendendo com ensino básico e alfabetização 22 crianças e 18 adultos(PDA,
1996; COELHO et al, 1999).
Na pesquisa socioeconômica da SEMA em 1999, os indicadores
educacionais dos moradores da RDS era o seguinte:
.Com relação ao nível de escolaridade: 21,7% dos moradores em idade
escolar eram analfabetos, 13,0% apenas assinavam o nome, 5,2% freqüentavam a
educação infantil, 58,3% cursaram ou cursavam o ensino fundamental e apenas
1,8% freqüentaram o ensino médio. Naquela ocasião 29,9% das pessoas estavam
freqüentando a escola.
.O deslocamento da casa à escola era feito a pé por 51,9% e de canoa por
48,1%, sendo que apenas 14,8% das famílias gastavam um tempo superior a uma
hora para chegar a escola.
Quantos aos principais problemas em relação a escola, para 63% das
famílias, o número de professores era insuficiente, 22,2% consideravam suficiente,
enquanto 14,8% não sabiam opinar. Com a relação à infra-estrutura (prédio
escolar), 33, 4% consideravam inadequada, 33,4% achavam adequada e 25,9%
não souberam informar. Nessa época, ainda não havia prédio escolar, a
comunidade em conjunto com a COMARU fez reformas em uma das casas
existentes para funcionar como escola.
.Em 2001 foi concluída a construção do prédio escolar através do Projeto
Jarí por solicitação da comunidade, como medida compensatória aos impactos
ambientais que virão com a construção da hidrelétrica de Santo Antonio. O prédio
em que funcionava a escola passou a servir de residência aos professores. Em
378
Analfabetismo
100,0%
80,0%
1993
60,0% 2006
40,0% Mazagão
Laranjal
20,0%
0,0%
7 a 14 anos 15 a 17 anos 18 a 24 anos Mais de 24 anos
anos de estudos nas faixas etárias acima de 10 anos. Embora este Gráfico indique
que ainda existe um elevado índice de defasagem de escolaridade entre os jovens.
Frequentando a escola
100,0%
80,0%
1993
60,0% 2006
40,0% Mazagão
Laranjal do Jari
20,0%
0,0%
7 a 14 anos 15 a 17 anos 18 a 24 anos Mais de 24
anos
60,0%
ANO
50,0% 1993
2006
40,0%
Porcentaje
30,0%
58,3%
20,0%
10,0% 19,4%
15,3%
12,5% 13,9% 13,9%
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
100,0%
90,0%
80,0%
70,0%
60,0% 1993
50,0%
40,0% 2006
30,0%
20,0%
10,0%
0,0%
10 a 14 anos 15 a 17 anos 18 a 24 anos Mais de 24
anos
100,0%
ANO
1993
2006 60,0%
ANO
80,0%
1993
2006
Porcentaje
Porcentaje
60,0%
40,0%
63,4%
83,3%
40,0% 56,5%
64,7%
20,0% 38,7%
20,0%
23,9%
Gráfico 34-Variação no tempo gasto para Gráfico 35-Meio de transporte utilzado para ir a
chegar a escola(1993-2006) escola(1993-2006)
Fonte: Pesquisas de Campo(1993,2006). Fonte: Pesquisas de Campo(1993,2006).
contribui para a baixa avaliação que as famílias fazem hoje da escola, conforme
podemos visualizar no Gráfico 37 entre fraca e regular é a opinião de mais de 70%
das famílias, quando em 1993, essas avaliações eram de menos de 50% das
unidades familiares. Em síntese, pode-se concluir que houve melhoria no acesso a
educação básica pelas famílias, porém com baixa qualidade nos serviços prestados
pelas escolas.
Quanto a escolaridade dos chefes os Gráficos 38 mostra que não ocorreram
mudanças significativas na média de anos de estudos dos chefes de famílias na
RESEX e no PAE. Podemos perceber que no ano de 2006, existe um pequena
superioridade na média de anos de estudos dos chefes de unidade familiar da RESEX
em relação as outras áreas com a média de 2 anos de escola, sendo a menor
escolaridade média dos cabeças de famílias, os do PAE Maracá com menos de 1 ano
de estudos. Além da baixa escolaridade, os chefes não apresentaram esforços
significativos no sentido de ampliarem suas escolaridades, apenas 4% freqüentavam a
escola em 2006, e 0% em 1993, quando comparados com as esposas no Gráfico 39,
em que se percebe um crescimento de participação delas na escola de 1,6% em 1993
para 9 % em 2006.
40,0%
ANO
ANO
1993
1993 2006
60,0% 2006
30,0%
Porcentaje
Porcentaje
40,0%
20,0% 39,4%
68,9%
32,4%
30,4%
27,5%
21,7% 22,5%
10,0%
20,0%
37,5% 17,4%
31,2%
21,9% 21,3%
2,9% 4,2%
9,4% 0,0%
1,4%
8,2%
FRACA REGULAR BOA ÓTIMA NSA-NÃO TEM
0,0% 1,6% CRIANÇA NA
DISTANCIA FALTA DE PROFESSOR AS CRIANÇAS OUTRO ESCOLA
TRABALHAM
Gráfico 36-Dificuldades para freqüentar a escola Gráfico 37-Avaliação da escola pelas famílias
(1993-2006) (1993-2006)
Fonte: Pesquisas de Campo(1993,2006). Fonte: Pesquisas de Campo(1993,2006).
385
2,5
ANO
1993
Chefes e Esposas na escola
2006
Media ESCOLARIDADE DO CHEFE
2
100,0%
1,5
80,0%
1993
60,0% 2006
1 2,021
1,875
1,729 40,0%
1,091
0,5
0,875 20,0% 9,0%
0,0% 4,2% 1,6%
0,0%
0
MARACA CAJARI IRATAPURU Chefe na escola Esposa na escola
baixo rio Maracá na localidade de São José e outro no médio Maracá na localidade
denominada de Central do Maracá. No médio Maracá, na localidade de Mari, havia
uma enfermeira atendendo a população local, paga pela Prefeitura de Mazagão. Em
1993, a pesquisa de campo detectou a existência de três postos de saúde
funcionando na região, um na Vila de Maracá mantido pela prefeitura de Mazagão, o
de Central do Maracá mantido pelo governo estadual e um Recreio do Rio Preto,
também mantido pelo governo estadual(LITTLE;FILOCREÃO,1994).
Em 2002 foram registrados no DATASUS, sete postos de saúde funcionando
no assentamento, ou seja, existindo prédio e enfermeiro. Em 2004, no PDA do
assentamento (INCRA,2004) são identificados funcionando, com prédio e
profissionais de saúde, 6 postos, sendo 5 mantidos com recursos do sistema público
(prefeitura ou governo estadual) e um mantido pela igreja católica. Em 2005, o
diagnóstico do RURAP identifica apenas 5 postos de saúde funcionando, sendo que
dos 11 agentes de saúde trabalhando no PAE, 7 se encontram na Vila de
Maracá(AMAPÁ, 2005).
O quadro mostra uma descontinuidade na prestação de serviços básicos de
primeiros socorros na região ribeirinha e uma concentração desse atendimento nas
margens da estrada na Vila de Maracá, local onde a população está se concentrando.
SEMA, 96,3% das famílias afirmaram ter acontecido casos de malária nos seus
membros nos últimos dois anos. Nesse ano, a comunidade contava com uma agente
de saúde ambiental voluntária treinada pela FUNASA para coleta de sangue e envio
da amostra a Laranjal do Jarí. Caso o resultado fosse positivo, era feito o tratamento
do doente, de acordo com o tipo de malária(MORAES,1999).
Em 2001, a comunidade já dispõe de um posto para diagnóstico da malária
equipado com microscópio, lâminas de observação e bateria alimentada por energia
solar. Com isso identifica-se a doença na comunidade e o tratamento passa a ser
prescrito com mais rapidez. Desde o final de1999, os agentes de saúde têm borrifado
sistematicamente as residência com inseticidas para o controle da doença. Isto
provocou uma redução nos casos de 140 em 1999 para 20 casos em
2000(BARBOSA,2001; JPG, 2002).
Em 2006, quando da pesquisa de campo, tivemos informações da ocorrência
de vários casos da doença no local naquele ano. Antes, se a doença contribuía para
a dependência dos trabalhadores ao patrão, comprometendo seus ganhos da safra
presente e futura. Atualmente, continua comprometendo os ganhos familiares da safra
atual, ficando as famílias endividadas com a cooperativa. Continuando a comprometer,
mesmo que em menor escala, a qualidade da reprodução das unidades familiares.
390
Quadro 9- Evolução da infra-estrutura de atendimento a saúde no Projeto de Assentamento Agroextrativista do rio Maracá
Fontes: Gemaque(1988); Filocreão eLittle(1994); DATASUS(2007) e PDA(2004); RURAP(2005).
Quadro 10- Evolução da infra-estrutura de atendimento a saúde na Reserva Extrativista do Rio Cajari
Fontes: Filocreão(1991,1993), DATASUS(2007)
391
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
Malária
Sarampo
Diarréias
Respiratórios
Outras
Verminoses
Acidentes
Problemas
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
o ro o i ra ro sa s
ic ei ut
ic
te ei ca ro
éd rm e r d ut
M fe ac Pa an em O
n ur
E r am C at
a
Fa Tr
60,0%
ANO
1993
ANO 2006
50,0%
60,0% 1993
2006
40,0%
Porcentaje
Porcentaje
40,0%
30,0%
52,1%
65,3%
57,1% 40,8%
20,0%
32,4%
20,0%
10,0% 21,1%
50,0% 100,0%
ANO
ANO 1993
1993 2006
40,0% 2006 80,0%
Porcentaje
Porcentaje
30,0% 60,0%
48,6% 47,2%
91,7% 94,4%
41,7%
20,0% 40,0%
30,6%
10,0% 20,0%
15,3%
8,3%
4,2% 2,8%
1,4% 5,6% 2,8% 2,8% 2,8%
0,0% … 0,0% … …
A PÉ DE BICICLETA DE CANOA DE VOADEIRA OUTRO NÃO UTILIZA ÀS VEZES SEMANALMENTE MENSALMENTE
ANO
1993
2006
80,0%
Porcentaje
60,0%
89,9%
86,1%
40,0%
20,0%
62
Antonio Nunes.(Extensionista do RURAP na RESEX ).Entrevista concedida a Antonio Sergio
Filocreão. Água Branca-AP, mai.2005.
399
[...]os dados nos indicam que 31% das famílias que moram na
RESEX, residem de forma concentrada em pequenos vilarejos que
se constituíram nas margens dos rios, enquanto 62% constituíram
400
ANO 50,0%
10
1993 ANO
Media NÚMERO DE PESSOAS MORANDO NA CASA
2006 1993
2006
8 40,0%
Porcentaje
30,0%
6
45,8%
43,7%
8,75 20,0%
41,7%
4 36,6%
6,75 6,83
6,35
10,0%
2
9,9%
5,6% 7,0%
2,8% 2,8% 4,2%
0,0%
0 SOLTEIRO CASADO AMIGADO VIÚVO SEPARADO
MARACA CAJARI
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
Registro de Carteira de CPF Titulo de Alistamento
nascimento identidade eleitor militar
ANO
1993
2006
60,0%
Porcentaje
40,0%
62,0% 61,1%
20,0%
38,0%
25,0%
13,9%
0,0% …
não possuem qualquer controle informatizado capaz de facilitar a gestão dos seus
recursos e controle dos seus beneficiários.
Das associações, pode-se até certo ponto compreender a não existência
desses instrumentais. Porém, por parte dos órgãos gestores como o INCRA e o
IBAMA que trabalham com sistemas de informação geográfica, dispõem de
estruturas avançadas de informática, o nível em que se encontra o controle das
famílias desses assentamentos, mostram que não existiu prioridades para com a
viabilização da gestão sócioambiental dessas áreas.
O controle atual que existe por parte das associações são algumas
listagens e o conhecimento tácito da região sem os devidos registros. O CNPT do
IBAMA trabalha com as informações não formais das associações, enquanto
INCRA utiliza um cadastramento para o SIPRA, que é fornecida apenas uma
relação de beneficiários, que para o ponto de vista da gestão pouco contribui. Além
de que a relação de beneficiários apresenta sempre nome de pessoas que não são
do conhecimento da ATEXMA, ou seja, são cadastradas por conta e risco de
funcionários públicos que ficam em Macapá e detém poucas informações da
realidade, causando grandes divergências quanto ao número reais de famílias
beneficiárias.
Existe o risco que esse descontrole do INCRA com relação ao PAE,
estenda-se rapidamente para a RESEX a partir do momento em que ela passou a
ser beneficiária do Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA), e as famílias
que lá residem passam a ter direitos aos benefícios creditícios e outros apoios da
reforma agrária. Como não existe um controle formal do IBAMA com as
Associações, é provável que tudo o que aconteceu no Maracá repita-se de forma
ampliada no Cajari, devido ao maior tamanho da área e maior dispersão das
famílias. Embora contrariando essa tendência, exista o fato da cultura institucional
do IBAMA ser diferente da do INCRA, o que pode criar um mecanismo de
fiscalização que iniba essa prática na RESEX.
A análise do que aconteceu em termos da falta de controle da população
beneficiária das áreas protegidas deixa a dúvida quanto as suas principais causas:
ou os órgãos públicos responsáveis estão totalmente desestruturados e sem
recursos para as suas atividades de campo; ou criaram-se mecanismos para
desvio dos recursos públicos destinados aos beneficiários; ou foi fruto de práticas
eleitoreiras; ou não existiu prioridades para a viabilização dessas unidades; ou pode
405
ser a interação de todas essas possíveis causas. Não conseguiu-se levantar o nível
de conivência das associações com esses fatos. Na RDS, a coisa tem acontecido
de forma diferente, o número de família é pequeno, o que favorece o controle. Foi
organizado um sistema informatizado para o cadastramento dos moradores
elaborado por uma empresa contratada pela Natura para trabalhar na organização
das famílias para o Plano de Manejo(Allegretti, 2006).
Observa-se que houve um crescimento no tamanho médio das unidades
familiares, o que pode significar uma redução na migração para cidade, resultante
das melhorias verificadas no acesso a educação das pessoas mais jovens.
Também se verifica que atualmente os chefes de famílias estão com a sua
documentação civil regularizada, o que pode ser resultante das necessidades de
acesso aos benefícios oferecido pela política de reforma agrária, pela política social
e previdenciária e acesso ao crédito rural.
Os dados mostram um processo de urbanização ocorrendo a partir das
maiores vilas existentes nesses assentamentos e um afastamento da moradia
permanente das colocações. Também podemos perceber a existência de um
contingente de famílias que moram nas cidades e trabalham nas suas colocações
apenas no período da safra.
Foto 7- RESEX Cajari: Os ônibus de linha que Foto 8 - PAE Maracá: Caminhão de transporte
ligam diariamente Macapá a Laranjal do Jarí. da produção para feira em Macapá.
Fonte: Pesquisas de Campo(2007). Fonte: Pesquisas de Campo(2007).
406
Foto 9 - PAE Maracá: Motores rabeta usado Foto 10- RESEX Cajari: Motor rabeta utilizado
no transporte da produção de castanha no transporte interno.
Fonte: Pesquisas de Campo(2007). Fonte: Pesquisas de Campo(2007).
Foto 11-RDS Iratapuru: Voadeira, transporte Foto 12-RDS Iratapuru: Batelão com motor de
muito utilizado internamente. popa, utilizado no transporte de carga.
Fonte: Pesquisas de Campo(2007). Fonte: Pesquisas de Campo(2006).
Foto 13-RESEX Cajari: A motocicleta, vem Foto 14-PAE Maracá: As vans, utilizadas no
sendo utilizada no transporte interno. transporte escolar.
Fonte: Pesquisas de Campo(2007). Fonte: Pesquisas de Campo(2007).
407
Foto 15-RESEX Cajari: Casas construídas com Foto 16- PAE Maracá: Casas construídas
recursos do PNRA em Água Branca. com recursos do PNRA em Vila Maracá.
Fonte: Pesquisas de Campo(2007). Fonte: Pesquisas de Campo(2007).
Foto 17-RDS Iratapuru: Casa típica de Foto 18-RESEX Cajari: Casa construída com
morador da comunidade de São Francisco. recursos do PNRA.
Fonte: Pesquisas de Campo(2007). Fonte: Pesquisas de Campo(2007).
Foto 19-RDS Iratapuru: Residência provisória Foto 20-RESEX Cajari: Retiro provisório para
durante a coleta da castanha. a coleta da castanha.
Fonte: Pesquisas de Campo(2007) Fonte: Pesquisas de Campo(2007).
408
Foto 21-RDS Iratapuru: Radiofonia no interior Foto 22-RDS Iratapuru: Módulo para acesso a
do castanhal para comunicar com a vila. Internet a energia solar doado a COMARU pelo
Fonte: Pesquisas de Campo(2007). GREEN PEACE.
Fonte: Pesquisas de Campo(2006).
Foto 23-PAE Maracá: O telefone publico o Foto 24-RESEX Cajari: A televisão tornou-se
meio de comunicação mais utilizado. uma fonte de informação e lazer das famílias.
Fonte: Pesquisas de Campo(2007). Fonte: Pesquisas de Campo(2007).
Foto 27-RESEX Cajari: Escola construída pela Foto 28-RDS Iratapuru: Prédio Escolar
Prefeitura Municipal de Laranjal do Jarí. construído pela Fundação Orsa.
Fonte: Pesquisas de Campo(2007). Fonte: Pesquisas de Campo(2007).
Foto 31-PAE Maracá: Posto de Saúde de Vila Foto 32-RESEX Cajari: Unidade de Saúde de
Maracá. Água Branca.
Fonte: Pesquisas de Campo(2007 Fonte: Pesquisas de Campo(2007
410
garimpeiros nos anos oitenta, mas em 1991 teve menos que 30.
Cassiterita nunca foi explorada na vizinhança do Rio Maracá(SILLS,
1991, p.31).
municipais, vamos ter uma situação em que a área da AMAEX encontra-se apenas
no município de Mazagão, a área da ASTEX-CA faz parte dos municípios de
Mazagão e Laranjal do Jarí, enquanto a área da ASSCAJARI se encontra em
domínios políticos administrativos dos três municípios do Sul do Amapá. Esta
setorização exige um esforço articulador maior por parte da ASSCAJARI para
garantia de direitos sociais dos seus associados, que o das outras associações.
63
Marcio Matos; Jefferson Pereira.(Técnicos agrícolas do CNPT-AP). Entrevista concedida a Antonio
Sergio Filocreão. Macapá, ago. 2006.
424
64
Marcio Matos; Jefferson Pereira.(Técnicos agrícolas do CNPT-AP). Entrevista concedida a Antonio
Sergio Filocreão. Macapá, ago. 2006.
65
Calixto Pinto de Souza(Ex-presidente da ASTEX-CA, presidente da ASSCAJARI).Entrevista
concedida a Antonio Sergio Filocreão. Maracá-AP, fev. 2006.
425
Essas atividades irregulares, nos baixos rios e litoral, eram mais freqüentes
pelas dificuldades de fiscalização do IBAMA, em função da distância a estradas e o
isolamento da região, segundo os técnicos do CNPT-AP.
Quanto ao desmatamento, os estudos da SEMA mostram que até 2004, na
área da RESEX foram desmatados 8.889,27 hectares, o que corresponde a 1,77%
da sua área e 15,78% do total da área desmatada no Sul do Amapá (Tabela 9).
Em síntese, apesar de persistirem ainda ações irregulares ou predatórias
em alguns de seus espaços, sob o ponto de vista ambiental, a RESEX Cajari tem
conseguido enfrentar os seus problemas ambientais com mais competência que o
vizinho PAE Maracá, onde a gravidade desses tomou uma dimensão muito maior e
de difícil resolução a curto e médio prazo.
66
Luis de Freitas.(Presidente da COMARU). Entrevista concedida a Antonio Sergio Filocreão.
Iratapuru-AP, jul.2006.
427
ANO
ANO
5 1993 60,0%
1993
2006
Media ROÇA TOTAL(TAREFAS)
2006
Porcentaje
40,0%
3
69,4%
5,292 66,7%
4,396
2 4,167 4,167
20,0%
16,7% 18,1%
13,9% 13,9%
0
0,0% … 1,4%
MARACA CAJARI
NÃO TEM TEM UMA TEM DUAS TEM 3 OU MAIS
Gráfico 51- Evolução do tamanho médio das Gráfico 52 - Armas de fogo utilizadas para
roças em tarefas por Unidade caçar
Fonte: Pesquisas de Campo(1993,2006). Fonte: Pesquisas de Campo(1993,2006).
Formas de Caçar
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
ra a ro o a
em i lh or or
r m
ag pe ad
r
rn Es ach ach fo
m c ra
nt
e Ar c
m ut
La om se O
C a
di
e
D
por mais de 80% das famílias, hoje menos 60% consegue ainda caçar esta espécie
nos arredores das habitações. O gráfico 57 mostra que houve um crescimento
significativo das unidades familiares que capturam as espécies em outros locais
distante das casas, como castanhais, por exemplo. O caso da cotia é ilustrativo,
pois 25,4% das famílias caçam esse animal em outro local, certamente, os
castanhais, o que significa um outro problema emerge, que é a sustentabilidade dos
castanhais já que esse roedor é o seu principal dispersor de sementes.
Os dados mostram que existe um impacto negativo significante sobre as
espécies caçadas, o que significa dificuldades na alimentação das famílias e risco
na sustentabilidade a longo prazo do principal produto extrativista da região: a
castanha do pará. Quanto a presença de caçadores de fora na região, o Gráfico 58
mostra que não houve mudanças significativas nesses anos, ou seja, 84% das
unidades afirmam não existir, cerca de 7% continuam a dizer que as vezes
acontece essa presença, enquanto 9% reafirmam ser freqüente a presença deles.
60,0%
60,0%
ANO
50,0% ANO 1993
50,0%
1993 2006
2006
40,0% 40,0%
Porcentaje
Porcentaje
30,0% 30,0%
55,6%
53,5% 51,4%
45,8%
20,0%
20,0%
36,1%
36,6% 36,1%
23,6%
10,0% 20,8%
10,0%
15,3% 12,5%
7,0%
0,0%
2,8% 2,8%
0,0% NÃO TEM POUCO TEM MUITO
NUNCA CAÇA UM DIA DE DOIS A TRÊS DIAS QUATRO OU MAIS DIAS
Gráfico 54- Quantos dias caça na semana Gráfico 55- Existência de onça ou gato
Fonte: Pesquisas de Campo(1993,2006). maracajá
Fonte: Pesquisas de Campo(1993,2006).
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
a ia a ti o ri o
ta
ad
o ca ar et
u
ot rib bo c ac ua ec
a at
An Pa iv at ua Ja ag rr m
Ve ap C C
G M
a
M a do
C M
to
Pa
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
a ia a ti o ri o
ta
ad
o ca ar et
u
ot rib bo c ac ua ec
a at
An Pa iv at ua Ja ag rr m
Ve ap C C
G M
a
M a do
C M
to
Pa
100,0%
ANO
1993
80,0% 2006
Porcentaje
60,0%
81,7% 84,7%
40,0%
20,0%
unidades caiu para 34,7% e o uso de zagaia de dia reduziu de 52,8% para 41,7%
enquanto aumentou o uso de malhadeira de 29,2% para 48,6%, as outras formas
como espinhel e armadilhas mantiveram-se inalteradas em valores
residuais(Gráfico 59).
Quanto as principais espécies pescadas e o local da pesca, manteve-se
inalterada de 1993 a 2006 (Gráficos 60 e 61), a pesca continua perto de casa, com
exceção do pacu que significativamente reduziu sua pesca próxima às moradias.
Em síntese, o quadro da pesca não oferece muita alteração tendo em vista já era
uma atividade com muito pouco resultados nas regiões próximas dos castanhais.
Sente-se que a dificuldade aumentou pelas mudanças no tempo destinado à pesca
(Gráfico 61) e a redução nas formas tradicionais de pescar com o aumento no uso
de malhadeiras, que é uma forma menos seletiva de captura. Da mesma forma, que
se observa uma redução significativa na presença de geleiras nas regiões dos
castanhais, o que pode siginifcar a falta de pescados (Gráfico 62).
Formas de Pescar
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
l l
zo
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di
a he ei
ra
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a bó a
ch in m rm
An Fa de p ad ad Ti Fo
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ga M Ar ut
Za O
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
á u e te é u oi a a u já ra aré
c ar rac ag r l ho car ac e b rem a nh ruc ca rai n
i a P x r a a T
A A B F J i Pe Pi Pi
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Pe Tu
50,0% 100,0%
ANO
ANO
1993
1993
2006
2006
40,0% 80,0%
Porcentaje
60,0%
Porcentaje
30,0%
98,6%
45,8% 87,5%
20,0% 40,0%
37,5%
27,8%
12,5% 13,9%
6,9% 5,6%
0,0% 1,4% …
0,0%
NÃO ALGUMAS VEZES MUITAS VEZES
NUNCA PESCA UM DIA DE 2 À 3 DIAS QUATRO OU MAIS
DIAS
Madeira extraida
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
la a ba ba
m i ra ho ap
u
ro au au up du el
Vi m ac c an r m Ac
Su ac Su ar ve
M aç ur o
M
Lo
facho.
O rareamento das espécies caçadas coloca em risco a sustentabilidade a
longo prazo dos castanhais, pois a cotia que é o principal dispersor e semeador
das castanhas apresenta sinais de redução de seus estoque uma vez que diminuiu
significativamente o percentual de unidades que caçavam esse roedor próximo de
casa e aumentou significativamente o percentual de unidades que estão indo a caça
deste animal em outros locais mais distantes.
Os dados começam a indicar à necessidade de estabelecer mecanismos
que evitem à redução do estoque dos animais caçados e estimulem à criação de
alternativas de produção de alimentos protéicos necessários as unidades familiares
agroextratvistas da região, como: repovoamento de lagos e rios; proibições de caça
e pesca de espécies em risco de extinção; o estímulo a criação de peixes,
pequenos animais domésticos e animais silvestres com tecnologias já disponível
como jacaré, paca, catetu, capivara,etc.
Foto 33-PAE Maracá: Serraria localizada de Foto 34-PAE Maracá: Entrada do Projeto de
forma irregular no baixo Maracá. Manejo Comunitário de Madeira.
Fonte: INCRA(2004). Fonte: Pesquisas de Campo(2007).
439
Foto 35-RESEX Cajari: Pastos naturais Foto 36-PAE Maracá: Açaizais que sofreram a
utilizados para criar búfalos. ação das palmiteiras no passado.
Fonte: Pesquisas de Campo(2006) Fonte: INCRA(2004).
Foto 37-RDS Iratapuru: Ataque a um bando de Foto 38-RESEX Cajari: Caça abatida para a
porcos do mato que atravessavam o rio. alimentação dos castanheiros.
Fonte: Pesquisas de Campo(2006). Fonte: Pesquisas de Campo(2007).
Foto 39-RESEX Cajari: Ação de fiscalização Foto 40-RDS Iratapuru: Ação de fiscalização
do CNPT- IBAMA. da SEMA e Batalhão Ambiental.
Fonte: Pesquisas de Campo(2007). Fonte: Pesquisas de Campo(2006).
440
podem atender duas necessidades das famílias, a de ser utilizada enquanto valor
de uso, e a possibilidade de serem convertidas em moeda para comprar produtos
não produzidos nas unidades familiares; a outra característica, importante enquanto
estratégia reprodutiva, é a possibilidade de funcionarem como uma espécie de
poupança. Como exemplo, nas áreas de terra firme: a mandioca e outros tubérculos
como carás e batatas-doce que permanecem no solo por tempo prolongado,
podendo ser colhidos de acordo com as necessidades da unidade familiar,
permitindo uma fácil administração da colheita ao longo dos meses do ano, por uma
população que culturalmente tem dificuldades de administrar poupanças em
dinheiro; nas várzeas: a banana por apresentar a possibilidade de ser colhida
durante todos os meses do ano, e o milho que apesar de ter época propícia para
seu plantio, pode ser armazenado por um longo tempo, permitindo uma
administração prolongada do seu uso, cumprem esse papel onde não é possível
plantar a mandioca.
A produção extrativista é quase que totalmente direcionada e dependente
do mercado, com exceção de alguns produtos que são utilizados como alimento,
como exemplo: o açaí fruto, a caça e pesca, ou utilizados para atender outras
necessidades da unidade familiar como os cipós, palhas e alguns tipos de madeira.
O calendário agroextrativista da região, no passado, permitia que no
“verão”, ou estação seca, (julho a dezembro) coletasse-se o látex da seringueira,
derrubasse-se e queimasse-se a roça, e procedesse-se a limpeza dos castanhais;
enquanto no “inverno” ou estação chuvosa, que vai de janeiro a junho,
trabalhasse-se no plantio da roça, logo no início (janeiro e fevereiro) antes do
deslocamento aos castanhais. Atualmente este calendário vem sofrendo
modificações em função de alguns fatores como: o fim da demanda por
determinados produtos como o látex; as transformações provocadas pela abertura
da estrada e a criação das áreas protegidas; e, o acesso das famílias a algumas
políticas sociais como a bolsa escola e as aposentadorias. Esses fatores têm
contribuído para algumas unidades familiares alterarem suas atividades
agroextrativistas.
442
pesca para a manutenção das unidades familiares, bem como as pressões que
existem sobre essas atividades:
explorar também o alto rio, mas não conseguiu passar as cachoeiras com as
jangadas de toras (SILLS,1991).
Com a falência da BRUMASA, permaneceram pequenas serrarias
beneficiando parte da madeira de várzeas que restou no baixo e médio Maracá,
embora em 1989, a maior parte da madeira ainda sai da região em toras, ou como
cita Dubois(1989):
No Maracá II, o sr. Jean Domingos é a pessoa que mais tira madeira
da área e também é responsável pelo funcionamento de uma
serraria.[..]Uma vez cortada e serrada a madeira, caminhões são
fretados para levar o produto a Macapá. Devido a ilegalidade dessa
atividade, os caminhões saem durante a noite para não serem vistos
pelas autoridades fiscalizadoras ou pelos moradores da área
(LITTLE;FILOCREÃO, 1994, p.108).
famílias.
No geral, percebe-se certa proximidade estatística das características das
unidades da RESEX com as unidades existentes no PAE Maracá pela mesma
época, embora com uma melhor oferta no acesso e/ou utilização dos diversos
produtos da natureza.
Tal como no Maracá, as unidades familiares, atualmente, beneficiárias da
RESEX Cajari, subordinaram-se economicamente às estruturas comerciais, que
dominaram a região a partir do mercado de produtos extrativistas, que consolidou-
se no chamado “ciclo da borracha”, e que continuou se reproduzindo mesmo após a
crise da economia gomífera, através da exploração comercial de outros recursos
extrativos como castanha, madeira e palmito.
No passado, a organização da produção e comercialização dos produtos
extrativistas era centralizada nas mãos dos empresários extrativistas, considerados
os donos das terras. A região ficava bloqueada para atuação de regatões e
pequenos comerciantes locais. Com o controle das terras pelo Projeto Jarí, tenta-
se o arrendamento das atividades extrativistas tradicionais a uma empresa
comercial, a Amapá Importação e Exportação Ltda. (AMPEX), que foi um fracasso
para os moradores, pois recebia a castanha e não pagava. Depois, repassam-se
essas atividades a uma empresa subsidiária do Projeto Jarí, denominada de
Serviços Agrários e Silviculturais Ltda. (SASI), também como uma estratégia de
manter o controle dos posseiros e trabalhadores do Projeto Jarí na região.
Segundo Sills(1991), o SASI começou a comprar castanha vinda do rio
Paru, Jarí e Cajari em 1977. Conseguia comprar cerca de 20% da castanha
produzida no Cajari. O negócio da castanha dava prejuízo ao SASI, pois adiantava
dinheiro aos extrativistas, e muitos não conseguiam pagar. O sistema de
escoamento do SASI era de caminhão de Água Branca até o braço do Cajari, de
onde, transportava de barco até o depósito no igarapé Muriacá, de onde
transportava de caminhão, por 40 km até o porto de Munguba. A sua produção era
vendida para a Sociedade Brasileira da Castanha Ltda. em Belém.
Além do SASI, existiam mais dois grandes compradores da castanha da
reserva, os comerciantes José Valente e Manoel Góes, que transportavam a
castanha por caminhão ou barco para a Boca do Braço do Cajari, onde ficavam os
seus armazéns, de onde enviavam a castanha para armazéns em Santana, ou
diretamente para as fábricas de Belém (SILLS,1991).
451
67
Wilson Menescal.(Ex-gerente do CNPT-IBAMA). Entrevista concedida a Antonio Sergio Filocreão.
Macapá, ago. 2006.
68
Pedro Ramos.(Primeiro presidente do SINTRA, vice-presidente do CNS). Entrevista concedida a
Antonio Sergio Filocreão. Macapá, jan.2006.
452
69
Natanael Gonçalves Vicente (Presidente da COOPERALCA). Entrevista concedida a Antonio Sergio
Filocreão. Macapá, fev. 2006.
455
Foi verificado “in loco”, algo que parece ser uma irracionalidade
econômica, onde uma cabeça de palmito, que representa uma árvore
de açaí derrubada, estava sendo vendida a um preço entre 3 à 7
cruzeiros, comparado ao preço no local de uma caixa de fósforo, que
custa 10 cruzeiros, enquanto a lata do açaí estava custando 80
cruzeiros no local e em Macapá esta produção já transformada em
vinho estava custando ao consumidor final em 400 cruzeiros. Esta
aparente irracionalidade pode ser explicada pela falta de outras
alternativas econômicas favoráveis a sobrevivência desta população,
a desinformação de mercados, a falta de transporte para escoar a
produção e a estrutura de aviamento fornecida pelas
palmiteiras(FILOCREÃO, 1993, não paginado.)
456
70
Valdeci Santa Rosa de Souza(Presidente da COOPERCA). Entrevista concedida a Antonio Sergio
Filocreão. Macapá, fev. 2006.
459
própria sorte, caindo nas mãos dos pequenos comerciantes, com pouco volume de
capital, sem capacidade de manter a estrutura de aviamento existente na fase
anterior. Isto vai levar as famílias a lançar mão da agricultura para sobreviver na
época da entressafra da castanha, visto que a produção da borracha inviabiliza-se
na região em função dos baixos preços. De trabalhadores para um patrão, os
trabalhadores vão se organizando em estruturas camponesas agroextativistas,
semelhantes as que se estruturaram na RESEX Cajari e PAE Maracá, utilizando a
experiência agrícola indígena no cultivo da mandioca e outros vegetais como a
batata doce, banana, o milho feijão e algumas fruteiras em pequenos roçados de
derruba e queima que complementam as atividades de coleta, caça e pesca na
reprodução das unidades familiares(FILOCREÃO, 1992).
Apesar de um grande esforço ocorrido nos últimos anos para melhorias na
produção e comercialização dos seus produtos extrativos principais como a
castanha, a borracha, as resinas e breus, os moradores da RDS ainda são muito
dependentes de comerciantes locais que fazem a intermediação entre os
agoextrativistas e a indústria na compra do principal produto: a castanha do pará,
apesar de uma parte da produção passar por processamento e comercialização
pela COMARU.
A pesquisa socioeconômica realizada em 1999, pela SEMA atingindo as
27 famílias da RDS, dão um quadro quantitativo das principais características da
unidades familiares agroextrativistas existentes:
1-Quanto à diversificação produtiva: apenas 3 unidades familiares não
tinham roçado o que equivale a 11,1% do total das famílias. Quanto ao
desenvolvimento de atividades de coleta, praticamente todas as unidades da
reserva utilizaram algum tipo de recurso da natureza, seja da floresta, como
madeira, cipós, frutos e a caça; e, dos rios, como os produtos da pesca para
atender as necessidades de consumo da unidade familiar. Quanto às atividades de
coleta para atender as demandas de mercado, 23 unidades familiares ou 85,2% das
famílias, produziram borracha ou castanha para venda. Sendo que todas
trabalharam com castanha produzindo 1.932 barricas, e apenas 30,4% destas,
produziram couro vegetal extraído da seringueira, com uma produção de 1.235 kg.
Não houve registro do extrativismo comercial de palmito e madeira.
2-Quanto às atividades agrícolas: a agricultura desenvolvida na região é
basicamente orientada para o autoconsumo (59,3% das famílias), apenas 29,6%
462
71
Luis de Freitas.(Presidente da COMARU). Entrevista concedida a Antonio Sergio Filocreão.
Iratapuru-AP, jul.2006.
466
72
Luis de Freitas.(Presidente da COMARU). Entrevista concedida a Antonio Sergio Filocreão.
Iratapuru-AP, jul.2006.
467
R$ Monetária Autoconsumo
Renda das atividades farinha de mandioca, feijão, milho,
agrícolas 2.490,68 1.939,19 551,49 frutas, jerimum, macaxeira, cará etc.
Renda da criação de
pequenos animais 187,6 19,88 167,72 porco, galinha, pato, etc.
castanha-do-pará, piqui, uxi, açaí,
Renda do extrativismo bacaba, óleos de copaíba e andiroba,
vegetal, caça e pesca 2.243,54 1.710,15 533,39 pesca, caça, etc.
Venda de mão-de-obra, aposentadorias,
bolsas-escola e outras formas de
Outras rendas 1.478,78 1.478,78 - rendas.
TOTAL ( ano) 6.400,60 5.148,00 1.252,60
Fonte: Koury et al(2002).
Abacaxi
Pequenos
Animais
outros
31,8%
Gráfico 64-Composição da renda agropecuária
Fonte: INCRA(2004).
por mês, 40,7% gasta entre 100 a 400 reais, e apenas 7,4% gasta mais de 400
reais.
Infraestrutura Produtiva
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
l
ra do or oa ad
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ha iro io
s er i za zad an iz r in ret Pa
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M u Pu a O
ti t oa as
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C C
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
z o ca ra ce á ci
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ro ilh io ei do ar an
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M M
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Ba
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
o ca ra á a
r oz i lh io ei ce ar ci
Ar M d ax do C l an
an ac ta e
M M ta M
Ba
50,0% 60,0
Media QUANTIDADE VENDIDA DE FARINHA (saca 60kg)
ANO
1993
2006
50,0
40,0%
40,0
Porcentaje
30,0%
30,0
57,7
43,1% 43,5%
20,0%
37,7%
34,7% 20,0
22,2%
10,0%
18,8% 10,0
18,5
0,0
0,0%
NÃO VENDEU MENOS DE 50 % 50 % OU MAIS MENOS DE 50 % 50 % OU MAIS
NO ULTIMO ANO, QUANTO O SENHOR VENDEU DE FARINHA?
Frutiferas Plantadas
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
Abacaxi Abacate Banana Cupuaçu Laranja Limão Tangerina
Venda de Frutas
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
xi te na çu nj
a ão a
ca ca na ua ra m rin
a a a p a Li ge
Ab Ab B u L n
C Ta
sendo que no PAE Maracá a média por família cresceu de 41,8 para 69,5 barricas,
na RESEX Cajari houve aumento de 64,7 para 118,5 barricas por famílias e na
RDS a média em 2006 foi de 161,2 barricas. Percebe-se que está havendo
estímulos ao crescimento da coleta da castanha pelas famílias.
Produção extrativista
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
ito a a á a s a
to nh ch te
x ap ba au tit
ic pó lh
ru lm iro ac ci Pa
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p a sta rra La A
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Aç C de C ut
Aç ite O
Le
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
ito a a á a s a
to nh ch te
x
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Aç ai C
a Bo de An C ut
ro
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Le
ANO
200 200
Media QUANTAS LATAS O SENHOR COLETOU DE AÇAI
ANO 1993
1993 2006
Media PRODUÇÃO DE CASTANHA(BARRICA)
2006
150 150
FRUTO ?
100
100
185,8
161,2
118,5
50
50
77,2
56,7 69,5 64,7
29,1 31,6 41,8
0
MARACA CAJARI IRATAPURU 0
MARACA CAJARI IRATAPURU
100,0% 100,0%
ANO
ANO
1993
2006 1993
2006
80,0% 80,0%
Porcentaje
Porcentaje
60,0% 60,0%
100,0%
92,8%
88,2%
40,0% 80,6% 40,0%
20,0% 20,0%
19,4%
BURROS BOVINOS
80,0%
100,0%
ANO
ANO 1993
2006
1993
80,0% 2006
60,0%
Porcentaje
Porcentaje
60,0%
40,0% 78,3%
97,2%
92,8%
65,3%
40,0%
20,0%
20,0%
26,4%
10,1% 8,3%
5,8% 4,3%
4,3% 1,4%
0,0% … 1,4% 1,4% 1,4% 1,4% 0,0% … …
NÃO TEM TEM 1 A 5 CABEÇAS TEM 6 A 10 CABEÇAS TEM MAIS DE 15 NÃO TEM TEM DE 1 A 10 TEM DE 11 A 20 TEM DE 21 A 30 TEM MAIS DE 30
CABEÇAS ANIMAIS ANIMAIS ANIMAIS ANIMAIS
BUFALOS PORCOS
80,0%
40,0%
ANO ANO
1993 1993
2006 60,0% 2006
30,0%
Porcentaje
Porcentaje
40,0%
20,0%
73,6%
33,3%
68,1%
31,4% 30,6%
24,3%
22,9%
10,0% 19,4% 20,0%
12,9%
11,1%
8,6% 22,2% 20,3%
5,6%
0,0% 7,2%
NÃO TEM TEM DE 1 A 10 TEM DE 11 A 20 TEM DE 21 A 30 TEM MAIS DE 30 0,0%
2,8% … 1,4% 1,4% 2,9%
ANIMAIS ANIMAIS ANIMAIS ANIMAIS
NÃO TEM TEM DE 1 A 10 TEM DE 11 A 20 TEM DE 21 A 30 TEM MAIS DE 30
GALINHAS ANIMAIS ANIMAIS ANIMAIS ANIMAIS
PATOS
do oferecido na cidade.
100,0%
ANO
1993
2006
80,0%
Porcentaje
60,0%
87,3%
40,0%
20,0% 40,9%
73
José Ovídio Carmo. Comprador da RESEX. Entrevista concedida a Antonio Sergio Filocreão.
Martins-AP, mar.2006.
Isidio Brito. Comprador da RESEX. Entrevista concedida a Antonio Sergio Filocreão. Água Branca
do Cajari-AP, mar.2006.
74
Pedro Carneiro. Comprador do PAE Maracá. Entrevista concedida a Rodolfo Sousa. Vila Maracá-
AP, mar.2006.
484
75
Francisco de Alcantara. Comprador do PAE Maracá. Entrevista concedida a Antonio Sergio
Filocreão. Vila Maracá-AP, mar.2006.
485
40,0%
ANO
1993
2006
30,0%
Porcentaje
20,0% 40,0%
35,2%
22,9%
21,4%
10,0%
16,9%
15,5%
12,7%
11,3% 11,4%
7,0%
2,9%
1,4% 1,4%
0,0% …
PATRÃO REGATÃO CANTINA INTERMEDIARIO COMERCIANTE FEIRA OU OUTRO
LOCAL COMERCIANTE DA
CIDADE
Outras Rendas
100,0%
80,0%
60,0%
2006
40,0%
20,0%
0,0%
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As
ANO
4000,00 100,0%
2006
Media VALOR ANUAL TOTAL DE OUTRAS RENDAS
ANO
1993
2006
80,0%
3000,00
Porcentaje
60,0%
2000,00
87,5%
40,0%
74,6%
3054,74 3000,00
1000,00 20,0%
1816,25
25,4%
12,5%
0,0%
0,00 NÃO SIM
MARACA CAJARI IRATAPURU
REGIÃO
Gráfico 80-Evolução das famílias com
Gráfico 79-Renda média externa por região membros recebendo salário
Fonte: Pesquisas de Campo(2006). Fonte: Pesquisas de Campo(1993,2006).
estatístico.
3-Não existe correlação estatística entre tamanho da renda extra com
volume de castanha coletado no ano, embora o estrato que coletou até 25 barricas
tenham a menor renda extra que os outros estratos. Isto pode estar relacionado ao
tamanho da unidade familiar, já que a bolsa família depende do número de filhos na
escola.
A relação entre as três fontes principais de renda reforça o papel que a
mandioca tem na estabilidade das unidades familiares agroextrativistas ao garantir
o mínimo necessário para o autoconsumo e venda para a compra de despesas das
unidades familiares, embora esse papel seja dividido atualmente com os benefícios
das políticas de previdência e de renda mínima. A renda aferida com a coleta da
castanha garante o consumo de luxo, como aquisição de eletrodomésticos, meios
de transportes, algumas melhorias na alimentação vestuário, e ajuda aos filhos que
estão fora, pois os Gráficos 83 e 84 mostram que aumentou significativamente tanto
o numero de unidades familiares que ajudam pessoas que estão fora da
propriedade, que em 1993 era de 11% e passou a 23%; quanto as unidades que
recebem ajuda de familiares que moram fora, que aumentou de 2,8% para 15,5%.
3000,00 3000,00
Media VALOR ANUAL TOTAL DE OUTRAS RENDAS
Media VALOR ANUAL TOTAL DE OUTRAS RENDAS
2000,00
2000,00
2984,00
2877,17
2931,96 2701,07
2677,27 2372,73
2556,30
1000,00
1000,00
1114,00
0,00
ATÉ 25 DE 26 A 50 56 A 75 DE 76 A 100 MAIS DE 100
0,00 BARRICAS BARRICAS BARRICAS BARRICAS BARRICAS
NÃO VENDEU MENOS DE 50 % 50 % OU MAIS CASTANHA BARRICAS
NO ULTIMO ANO, QUANTO O SENHOR VENDEU DE FARINHA?
Gráfico 81-A relação entre a renda externa e a venda de farinha e coleta de castanha em 2006
Fonte: Pesquisas de Campo(2006).
490
125
30,0
100
75
20,0
36,43
127,9
32,0
28,17
50 26,31
90,4 23,12
81,8 10,0
25
0,0
0 ATÉ 25 DE 26 A 50 56 A 75 DE 76 A 100 MAIS DE 100
NÃO VENDEU MENOS DE 50 % 50 % OU MAIS BARRICAS BARRICAS BARRICAS BARRICAS BARRICAS
100,0% 100,0%
ANO
ANO
1993
1993
2006 2006
80,0% 80,0%
Porcentaje
Porcentaje
60,0% 60,0%
97,2%
88,9%
84,5%
40,0% 40,0%
73,2%
20,0% 20,0%
23,9%
12,7%
8,3%
2,8% 2,8% 0,0% 2,8% …
2,8%
0,0%
NÃO AJUDA AJUDA ÀS VEZES AJUDA SEMPRE NÃO RECEBE RECEBE ÀS VEZES RECEBE SEMPRE
Gráfico 83- Evolução na ajuda a pessoas que Gráfico 84-Evolução na ajuda externa
estão fora recebida pela familia
Fonte: Pesquisas de Campo(1993,2006). Fonte: Pesquisas de Campo(1993,2006).
76
Isidio Brito. Comprador da RESEX. Entrevista concedida a Antonio Sergio Filocreão. Água Branca
do Cajari-AP, mar.2006.
492
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
Patrão Regatão Cantina Comerciante Comerciante Outro
local da cidade
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
Aviamento Trocando por Dinheiro Fiado Outro
produção
500
Media PODERIA DIZER QUANTO O SENHOR GASTA, POR
ANO
1993
MÊS, COM AS DESPESAS DA CASA ?
400 2006
300
429,5
200 399,3
343,8
321,7
306,2
100
0
MARACA CAJARI IRATAPURU
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
a o e a
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B A C C
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ast
P
Gráfico 88-Evolução no acesso aos principais itens da despesa básica das famílias
Fonte: Pesquisas de Campo(1993,2006).
494
Posse de bens
100,0%
80,0%
60,0% 1993
40,0% 2006
20,0%
0,0%
o ua s a io io ar ta o o
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ANO
60,0%
1993 30,0%
2006
ANO
50,0%
1993
2006
40,0%
20,0%
Porcentaje
Porcentaje
30,0%
52,1% 28,2%
25,4%
20,0% 40,3%
20,8%
33,8%
10,0% 19,4%
16,9%
13,9% 13,9%
10,0% 12,5%
11,1%
15,3% 15,3% 9,9%
12,5% 11,3% 8,5%
9,7% 6,9%
5,6%
Foto 47- As antenas parabólicas significam o acesso a televisão nas áreas protegidas.
Fonte: Pesquisas de Campo(2006, 2007).
501
5 CONCLUSÃO
pela gestão, têm enfrentado com relativo êxito os problemas fundiários, quando
ocorrem tentativas de invasão, contando com o forte apoio da população. Em
síntese, a população agroextrativista das áreas protegidas do Sul do Amapá tem a
garantia da terra e acesso aos recursos naturais para atender as suas
necessidades de sobrevivência, mesmo que, de acordo com as regras criadas para
cada espaço protegido, que restringem alguns tipos de uso em função do interesse
ambiental.
2-A valorização da produção agroextrativista: a garantia de acesso a
terra e aos recursos naturais, libertando as famílias do completo controle dos
patrões; o fortalecimento político das organizações agroextrativistas; a abertura da
estrada; as políticas públicas para o escoamento da produção; e, a facilidade de
transporte e circulação das informações criaram condições para as famílias
venderem a sua produção agrícola e parte da extrativista diretamente aos
consumidores finais nas feiras de produtores de Macapá e sedes municipais,
garantindo melhores preços. As melhorias de acesso à região contribuíram para o
aumento da concorrência entre compradores de castanha, com a entrada dos
bolivianos, empresários do sudeste do país, e entre os próprios representantes das
indústrias do Pará. Isto faz com que a produção extrativista também consiga
melhores preços, mesmo que dentro das oscilações do mercado, o que vai
contribuir para as melhorias econômicas das famílias.
3-O acesso a outras fontes de renda externa ao agroextrativismo: a
abertura da estrada, a redivisão municipal e o fortalecimento das organizações
políticas permitiram às famílias agroextrativistas o acesso a políticas previdenciárias
e de renda mínima e a muito dos empregos públicos e privados gerados. Isso
garantiu fonte extra de renda às unidades familiares, que são importantes tanto para
a melhoria de vidas das famílias, quanto para a estabilização da forma camponesa
de produzir.
4-O acesso a melhores condições de educação, saúde, moradia,
comunicação, transporte e lazer: a combinação dos diversos fatores garantiu às
famílias melhores condições de acesso as políticas públicas e direitos sociais, com
ganhos significativos na política educacional que atinge a população mais jovem,
na política de transporte para escoamento da produção, no acesso aos créditos e
benefícios para melhoria da habitação, além dos investimentos para o
processamento da produção extrativista.
507
camponesa no agroextrativismo.
A terceira questão norteadora da pesquisa diz respeito ao tipo de
sustentabilidade que as transformações ocorridas indicam para o desenvolvimento
local. Para responder a essa questão é necessário considerar-la sob dois prismas: o
desenvolvimento dos espaços protegidos e o desenvolvimento regional.
Para o desenvolvimento no âmbito dos espaços protegido a coisa parece
mais simples, pois o arcabouço institucional encontra-se desenhado: os estoques
de recursos naturais existentes estão juridicamente protegidos para o uso
sustentável; os responsáveis para a utilização desses recursos estão claramente
definidos e são portadores de uma cultura e racionalidade econômica capaz de se
adequarem às restrições impostas pela resiliência dos ecossistemas; os órgãos
públicos responsáveis pela viabilização dessas áreas estão definidos, assim como a
forma de gestão encontra-se preconizada; existem recursos públicos para
viabilizarem essas áreas. O sucesso desses espaços protegidos sob o ponto de
vista do desenvolvimento local depende exclusivamente de que cada agente
envolvido cumpra eficientemente o seu papel específico, e que se consiga superar
ou conviver com as fragilidades decorrentes dos conflitos de racionalidades
econômicas.
A simples existência de um arcabouço institucional com implementação
embrionária já mostrou resultados ambientais importantes como o de evitar uma
ação devastadora incontrolada com a abertura da estrada ligando Macapá a
Laranjal do Jarí atravessando o PAE Maracá e a RESEX Cajari.
A pesquisa mostrou que a RESEX Cajari tem trilhado caminhos
relativamente exitosos. O efeito aprendizado com os erros e acertos vem
acontecendo e o órgão público responsável tem um entendimento da importância
desse espaço no contexto da crise ambiental global e vem aprendendo a trabalhar
no âmbito das recomendações existentes para o desenvolvimento sustentável,
construindo arranjos institucionais que podem contribuir substancialmente para o
sucesso ainda maior dessa área.
O PAE Maracá apresenta fragilidades no arranjo institucional para a gestão,
o que coloca em risco a utilização sustentável de recursos naturais. A cultura
institucional do responsável público pela co-gestão não absorveu a importância do
PAE no contexto de crise ambiental global. Também inexiste nessa cultura o
entendimento da necessidade de uma gestão da área de acordo princípios da
515
qualidade.
Discute-se nos meios governamentais a implantação de um Parque
Tecnológico para a Castanha no Sul do Amapá com o objetivo de criar condições
para que a produção amapaense seja toda processada na região e transformada
em diversos produtos capazes de entrar em outros mercados além dos de nozes e
amêndoas. É uma proposta importante, que se colocada em prática poderá fazer
com que essas áreas protegidas consigam prestar maior contribuição para o
desenvolvimento sustentável do Sul do Amapá. O exemplo da castanha pode-se
utilizar para outros produtos extrativistas capazes de gerar matérias primas de
forma sustentável para serem processadas na região. Existe ainda a possibilidade
de ganhos econômicos nos mercados verdes de produtos com certificação
ambiental e como produtos orgânicos, além das alternativas para o turismo
ecológico que essas áreas oferecem para o desenvolvimento da região.
Em síntese, as transformações ocorridas indicam amplas possibilidades
para se implementar o desenvolvimento sustentável local de forma mais efetiva e
concreta nas áreas protegidas, mas com contribuições substanciais para o
desenvolvimento regional dentro de uma perspectiva de mercados verdes e de
turismo ecológico. A saída é buscar mecanismos de geração de riqueza a partir dos
recursos existentes nas áreas protegidas, através da integração da racionalidade
camponesa com a racionalidade capitalista com o controle estatal, estabelecendo-
se regras para que a industrialização das matérias primas produzidas seja feita na
própria região.
Quanto as premissa e hipóteses que direcionaram este trabalho, ao
procurar responder as questões norteadoras da pesquisa, constatou-se uma
inconsistência na premissa inicial, construída na aparência dos fenômenos, de
“que a estratégia adotada pelos governos de criar e implementar as unidades de
uso especial para o usufruto direto das populações locais agroextrativistas, apesar
de parecer acertada, não vêm atingindo os seus objetivos de contribuir para o
desenvolvimento sustentável do Sul do Amapá, garantindo melhorias econômicas,
sociais e políticas para as populações locais com baixos impactos sobre os
recursos florestais”.
Mesmo com as dificuldades na implementação de um processo de gestão
mais eficiente das áreas protegidas, os investimentos públicos têm ocorrido na
região. Porém, esses não se devem apenas à criação das áreas protegidas, mas
517
mantém-se na sua essência, sendo um valor menor em forma de crédito, que cria
dividas, que permitem ao comerciante apropriar-se de um valor maior em matéria
prima, que vai agregar mais valor nos processos de beneficiamento até chegar ao
consumidor final, remunerando os diversos agentes intermediários da cadeia que
vai do coletor - compradores locais - compradores regionais – industrias de
beneficiamentos - consumidores finais. A origem do crédito vem das indústrias de
beneficiamento que captam o dinheiro para financiar a cadeia de aviamento, das
importadoras ou do sistema financeiro. Mudaram também as relações sociais
vinculadas ao aviamento onde a violência e o autoritarismo dos patrões cederam
espaço para formas de dominação mais brandas, como troca de favores e
solidariedades para com os coletores.
O aviamento apresenta uma grande sobrevida na região tanto pela
capacidade que teve de se readequar a nova situação, como pelo baixo dinamismo
econômico existente na estruturas camponesas, que preferem investir na segurança
do roçado familiar da mandioca aos riscos e incertezas oferecidos pelos projetos
coletivos de beneficiamento da castanha.
Assim, o aviamento sofreu mudanças e continua eficiente em convencer
aos extrativistas a se deslocarem a floresta para coletar a castanha, associando o
financiamento antecipado em dinheiro com a construção de relações interpessoais
por meio de troca de favores, solidariedade e presença constante junto aos
fornecedores da matéria prima. Apesar de todos os investimentos feitos para
eliminar essa instituição econômica da realidade agroextrativista da região, ela
permanece funcional.
A pesquisa nos mostrou algumas outras questões importantes, algumas
podem servir como lições, outras como referências para aprofundamento em novos
estudos:
.O órgão responsável pela Política Nacional de Reforma Agrária tem
dificuldades de absorver as necessidades de implementar atividades que levem em
conta a preocupação com as questões ambientais nos seus assentamentos na
região. Esta afirmação sustenta-se no fato que isso não consegue acontecer no
PAE Maracá, onde existem exigências jurídicas e pressões políticas a esse respeito
a serem cumpridas. A partir desse fato, podemos imaginar ou até prever o que
acontece, nos outros assentamentos rurais, onde as preocupações de natureza
ambiental não são fortemente cobradas;
519
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