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12/07/2018 (71) O pragmatismo da geração de 1968 Na filosofia,...

- Rudá Guedes Ricci

Rudá Guedes Ricci


13 h ·

O pragmatismo da geração de 1968


Na filosofia, o pragmatismo significa que o sentido (e até mesmo a validade) de uma ideia ou conceito
corresponde aos seus desdobramentos práticos. Charles Sanders Peirce, que teria sido o criador do termo,
chegou a alterá-lo para pragmaticismo por achar que o uso popular desvirtuava sua intenção. Pierce acreditava
que o pragmatismo não se fundamenta na aprendizagem com o erro. O que valida uma ideia ou crença, são os
efeitos práticos. Em outras palavras, nada garantiria que uma proposta racional seja correta se não confirmada
na prática.
Ocorre que na política, o pragmatismo ganha outra conotação. Um político pragmático é quase um cético:
abandona mudanças radicais ou utopias para se entregar ao jogo do possível, aquele definido pelo status quo.
É aqui que entra minha sugestão sobre como parte considerável da geração de 1968, aquela de jovens
contestadores que caminhou para a esquerda, foi se entregando ao pragmatismo político - não o filosófico -
como caminho do sucesso. E como ela não atingiu nenhum objetivo esperado. Ao menos, nenhum objetivo que
tenha tido sustentabilidade.
Destacarei três expoentes, de distintas concepções políticas, desta geração de jovens que nasceram para a
política em 1960 e que prosseguiram na militância: José Serra, José Dirceu e César Benjamin. Para cada um
deles, poderia juntar mais uma dezena, ao menos, de outros militantes com perfil similar. Ficarei nos três como
"tipos ideais", a expressão cara aos weberianos.
José Dirceu foi aquele que teve a história mais espetacular. Militante de massas do movimento estudantil da
segunda metade dos anos 1960, foi preso e exilado em Cuba. Em Cuba, sofreu desaprovação da cúpula da
ALN que lá estava e acabou criando um grupo guerrilheiro - o Grupo Primavera - que foi desaconselhado a
retornar ao Brasil. Zé Dirceu liderou o retorno e viu este grupo ser dizimado pela ditadura militar. Da
clandestinidade se tornou, em pouco tempo, um expoente do Partido dos Trabalhadores e em uma década já
era visto como o principal estrategista do partido. Nos anos 1990, combateu as estruturas de base e o que
considerava um projeto romântico de luta pelo poder. Foi considerado por muitos o artífice não só da vitória de
Lula em 2002, mas, principalmente, o mentor do projeto político que vinga a partir de 2005, com a aliança com o
PMDB, a ampliação da coalizão de governo, a plataforma social-liberal e o ataque sem tréguas ao DEM e
PSDB. Zé Dirceu sugeria que o partido se concentrasse nos grandes centros urbanos (com mais de 100 mil
habitantes) e em políticas que ampliassem o bloco no poder que se formava ao redor do lulismo. Foi
considerado o político petista mais pragmático de toda trajetória deste partido e acabou sendo caçado como um
jogador que joga como pivô e arma todo um time. Já na segunda década deste século, ficava nítido que a lógica
de cúpula da ação política que engendrou solapou a força de base que consolidou o crescimento do partido nos
anos 1980 e 1990. O partido chegou ao poder, mas se tornou refém do seu pragmatismo sem base.
José Serra foi um dos fundadores da Ação Popular e presidente da União Nacional dos Estudantes. Era uma
liderança estudantil com grande proximidade com políticos católicos. Foi exilado depois do golpe militar de 1964.
Refugiou-se em embaixadas de outros países e radicou-se no Chile. No exílio chileno,frequentava a casa de
Plínio de Arruda Sampaio. Plínio acolheu, logo depois do golpe no Chile, José Serra e sua família nos EUA,
quando já era funcionário do Banco Interamericano de Desenvolvimento. A partir de 1977, um grupo de
intelectuais e militantes, do qual faziam parte José Serra, Fernando Henrique Cardoso, Francisco Weffort,
Almino Affonso e Plínio começou a discutir a ideia de se criar um novo partido de esquerda. Logo mais, Eduardo
Suplicy e Lula foram incluídos (dentre outros) e começaram a discutir a criação de um partido socialista. Plínio e
Almino propuseram lançar a candidatura de FHC ao Senado nas eleições de 1978, a fim de aglutinar as forças
que comporiam a nova legenda. E Serra estava no meio. Nesta época, José Serra já despontava como um dos
economistas "estruturalistas", de esquerda, que se confrontavam com as ideias dos "monetaristas", vinculados
ao regime militar. Tudo parece mudar rapidamente com a vitória de Fernando Henrique Cardoso à Presidência
da República. Nos seus diários, FHC trata Serra como alguém marcado por mágoas e rancores. Em
determinado momento, sugere que em eventos que não era destaque, Serra preferia não comparecer. Nas
disputas do PSDB com Lula, o PSDB foi caminhando lentamente para uma posição mais à direita, como se
buscasse consolidar um eleitorado cativo. De socialdemocrata, passou a defender teses mais liberais, depois,
algo da agenda neoliberal, até finalmente ser tragado pelo discurso de Aécio Neves para se aproximar da

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aventura de extrema-direita propalada pelos jovens do MBL. Serra foi outro que, embora à direita de Zé Dirceu,
foi tragado pelo atalho do pragmatismo.
Finalmente, César Benjamin, o Cesinha. Foi militante secundarista em 1968, considerado por muitos um gênio
tal a precocidade política e intelectual que demonstrava. Com o AI 5, passou à clandestinidade vinculando-se ao
MR-8. Preso em meados de 1971, aos 17 anos, foi torturado e expulso do país no final de 1976, exilando-se na
Suécia. Retornou ao Brasil em 1978 e se engajou na fundação do Partido dos Trabalhadores. Foi um dos
coordenadores da campanha de Lula à Presidência da República, em 1989. Em 1995, e em 1997, atuou na
fundação do movimento Consulta Popular. Em 2004, filiou-se ao PSOL e aceitou ser candidato a vice-presidente
da República nas eleições de 2006, na chapa da senadora Heloísa Helena. No mesmo ano, desfiliou-se do
PSOL. Cesinha sempre demonstrou grande mágoa com a falta de reconhecimento de suas capacidades e
história política. Em 2009, Cesinha escreveu um artigo à Folha de S. Paulo em que acusou Lula de ter revelado,
em 1994, uma tentativa de estupro contra um "menino do MEP", durante a sua prisão, quando líder sindical.
César Benjamin citou, em seu texto, uma testemunha, "um publicitário brasileiro que trabalhava conosco cujo
nome também esqueci". Logo em seguida, o "publicitário" veio à público para desmenti-lo. Tratava-se do
cineasta Silvio Tendler, que em 1994 trabalhou na campanha de Lula à presidência da República. O cineasta
relata que esta história foi contada durante um almoço, em 1994, e que se tratava de uma brincadeira de Lula,
em meio à gargalhadas. Citou Tendler: "Todos os dias o Lula sacaneava alguém, contava piadas, inventava
histórias. A vítima naquele dia era um marqueteiro americano. O Lula inventou aquela história, uma brincadeira,
para chocar o cara...".
Finalmente, em 20 de dezembro de 2016, foi anunciado que seria o secretário de Educação, Esporte e Lazer, da
cidade do Rio de Janeiro, na gestão Marcelo Crivella (líder evangélico filiado ao PRB). No mesmo secretariado
era anunciado o coronel Paulo Cesar Amêndola, da secretaria de Ordem Pública, que havia efetuado a prisão
de Cesinha durante o regime militar. Cesinha, enquanto secretário, divulgava nas redes sociais, quase
diariamente, todas suas ações e agruras e chegou a criticar duramente a atuação da Polícia Militar do Estado do
Rio de Janeiro por promover operações próximas a áreas escolares, nos horários de entrada e saída de alunos.
Também declarou que Crivella lhe dava condições de trabalho que os partidos de esquerda não dariam.
Hoje, o prefeito Marcelo Crivella exonerou o secretário municipal de Educação Cesar Benjamin. O ato está
publicado na edição desta quarta feira do Diário Oficial. Cesinha afirma em sua página no Facebook que foi
pego de surpresa. Denuncia que sua chefe de gabinete atuou nos bastidores para derrubá-lo e tomar-lhe o
cargo. Defendeu que foi exonerado porque “não cedeu à politicagem”. Outro militante desta geração politizada
que escolheu o caminho do pragmatismo.
O que me chama a atenção é o que motivaria esta guinada quase ingênua (ou autoengano) de jovens militantes
de esquerda que, na meia idade, correm para este atalho pragmático, se envolvendo perigosamente com quem
um dia combateu. Uma união que não convence o outro lado, tanto que na primeira oportunidade viável, não
apenas os afastam, mas também os humilham, com requintes de crueldade.
Seria algum sinal de permanência do romantismo? Cansaço das ações ofensivas que exigem tanta energia no
combate? Pressa? O canto da sereia e sua força de sedução?
Há, aqui, um fenômeno recorrente, com cores mais intensas ou amenas, de uma geração que foi ao limite da
sua própria existência e que retornou procurando se insinuar num campo que no passado se apresentava como
minado. Um campo político que, como os pensadores pragmáticos sugeriam, no mundo real e concreto, revelou
que a percepção juvenil era, de fato, a mais correta.

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