O meu primeiro semestre de 2018 foi um tanto conturbado. Logo no
início houve uma confusão na hora da matrícula e os horários que eu havia programado não foram compreendidos por erro institucional. A sexta-feira, dia que eu trabalhava como freelancer, ficou comprometida com as matérias da universidade e me impediu de trabalhar, o que ocasionou em uma briga extrema entre mim e meu pai. Meu pai, durante todo o semestre disse coisas como: “Você deveria largar a faculdade e fazer um curso técnico”, ou “Você vai ser um vagabundo até quando? Depois que você acabar essa sua faculdade não vai ter onde cair morto! ”. Além das falas, meu pai parou de me ajudar financeiramente, já que eu não estava trabalhando e na mentalidade dele, ele estava sustentando vagabundo. Isso fez eu procurar emprego desesperadamente, mas como os horários que eu tinha disponíveis eram ruins, apenas pela manhã até, no máximo, onze e meia, nada consegui. Porém, minha tia optou por me contratar como babá. Pelas manhãs, enquanto ela trabalhava, eu cuidava da minha prima de um ano e era remunerado por isso. A noite era o período que eu tinha para procurar vagas de freelancer e conseguir uma renda extra para suprir as minhas necessidades: Alimentação e contas fixas. Fiquei mentalmente exausto e psicologicamente afetado, principalmente com o desentendimento com meu pai e com a responsabilidade de ter que correr atrás para me manter. Mesmo minha mãe ajudando com o que ela podia, não era suficiente. As crises de ansiedade e os ataques de pânico eram frequentes. Cogitei desistir das matérias, mais uma vez, desta vez seria pelo simples motivo: Não é possível conseguir um emprego fixo, bem remunerado e de carteira assinada ao mesmo tempo que se cursa licenciatura em Teatro na UDESC, muito menos ter saúde mental. Conversei com alguns professores sobre essa situação e que provavelmente reprovaria nas matérias. Fui encorajado a não desistir, tentar ir até o final. Foi o que fiz. Eu não desisti e continuei indo até o fim. Havia vezes em que eu fiquei muito bravo comigo mesmo, pois não estava conseguindo dar o melhor de mim em nada. Parecia que tudo o que eu estava fazendo dentro e fora da universidade, era fraco, não possuía potência, eu sei que poderia ter feito melhor, ter feito mais. No entanto eu sei que fiz o que foi possível, estava dando o meu melhor da maneira que eu estava conseguindo. Foi nos dada a tarefa de assistir dez horas de estágio e fazer um relatório sobre a experiencia. Não tiro em nenhum momento a importância e o teor pedagógico da observação, porém, nas situações em que eu me encontrava não encontrei uma solução para fazer o exercício. Para um aluno que mora no subúrbio continental e leva cerca de cinquenta minutos de casa até o terminal de ônibus central (TICEN), as dez horas se multiplicariam e isso afetaria diretamente as minhas atuais e frágeis fontes de renda. A minha prioridade ainda é alimentação e conseguir manter a minha moradia. Isso é fundamental. No dia 21 de junho, uma quinta-feira, eu e meu pai discutimos mais uma vez e desta vez eu decidi falar com o advogado que cuidou da separação dos meus pais. Entrei com uma ação contra meu próprio pai, afim de garantir meus direitos enquanto filho. Sinto que perdi a oportunidade de observar os estágios, contudo, não acredito que a falta desse exercício tenha desfalcado a minha trajetória e a minha jornada enquanto artista. A exposição dos meus problemas não é uma justificativa de não ter feito o que foi proposto, a cima de tudo expões problemas estruturais: A negligência paterna, a desvalorização da arte e dos artistas, políticas de permanência estudantil e políticas que ajudam a preservar a integridade mental e psicológica dentro do ambiente acadêmico.