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O pensamento rizomático, como é chamado por Deleuze & Guatari (2000), representa
a própria função sináptica do nosso cérebro que se organiza como um conjunto de sistemas
interconectados. Sua nova lógica é a do hipertexto que se caracteriza como um sistema
multilinear constituído de nós que se conectam por links numa grande rede.
A performance, como coloca Nick Kaye (apud CARLSON, 2009), é a própria
expressão desse novo paradigma de pensamento, rompe com a ideia de uma escrita enquanto
estrutura opositiva e hierarquizada que se direciona para uma sucessão linear de termos que se
fecham num conceito.
Ao invés de uma estrutura, essa escrita, como a própria performance e, talvez por isso,
ela atenda de maneira mais eficaz às necessidades da pós-modernidade, se configura como um
espaço sem centro ou mesmo estrutura determinada, onde conexões e reconexões tornam
possível um processo de recriação.
Pensar a performance nessa condição e, por consequência, seu caráter de escrita, é
assumir sua impossibilidade de escapar à solicitação de uma alteridade, igualmente,
impossível, uma vez que esta escapa a toda tentativa de apreensão.
Esse movimento de perturbação e expansão não pretende uma organização a partir de
nenhuma outra ordem, mas sim a captação de um movimento que lhe é próprio. Assim como
a desconstrução, a lógica da performance parte das diferenças, das margens, do secundário, do
que está ausente. Sua origem não simples, dessimétrica, suspende as barreiras opositivas
impossibilitando toda possibilidade de unificação. Cria-se um espaço em aberto, vazio,
incompleto.
Na década de sessenta, as performances faziam uso de um discurso de guerrilha, de
oposição direta às formas estabelecidas. Atualmente, ela tem de encontrar outras maneiras de
fazê-lo, tendo em vista as tensões, preocupações e afirmações de uma consciência pós-
moderna.
Quando a atividade performativa se vê dentro da estrutura institucionalizada, não há
mais lado de fora da atividade própria por onde agir. Nesse sentido, como bem sugere o
teórico americano Marvin Carlson (2009), é de dentro da estrutura que a performance procura
espaços para subvertê-la.
Por nada guardar, entra num outro regime econômico. Mantendo-se sempre maleável,
a performance sai do seu espaço próprio e busca o espaço do outro, sem assumi-lo
completamente, elementos diferentes que possam se transformar em oportunidades de
subversão.
Se, por um lado, esse caráter de indeterminação chama à tomada de decisão, de
acontecimento, convoca ao engajamento, por outro, dentro da um sistema dado de orientação,
tudo se embaralha sem oferecer, em contra partida, um porto seguro, levando a um risco
maior.
Ao captar não apenas o sentido de um discurso, mas o que se inscreve nele como força
própria do pensamento, tanto a desconstrução quanto a performance apontam na direção do
que escapa a todo controle, a toda esforço organizador, indo além da pura continuidade, ou
mesmo crítica, quando esta representa a continuidade de um discurso. Assim, é possível
comparar o pensamento derridariano à performance, no sentido desse movimento de
exposição das fraquezas e contestação das autoridades instituídas.
Fonte: OLIVEIRA, Joevan. A performance como outro lugar da escrita: escritura, autoperformance e
emergência, 2012.